Você está na página 1de 124

ISSN 2525-5703

Revista GeoSertões
(Unageo-CFP-UFCG)
Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

A GeoSertões é uma revista acadêmica com publicação semestral em meio eletrônico


da Unidade Acadêmica de Geografia do Centro de Formação de Professores, campus
Cajazeiras, da Universidade Federal de Campina Grande. Seu objetivo principal é
oportunizar a divulgação de múltiplos conhecimentos da Ciência Geográfica e áreas
afins.

EXPEDIENTE

EDITOR-GERENTE E EDITOR
Dr. Santiago Andrade Vasconcelos, Universidade Federal de Campina Grande (CFP-
UFCG), Brasil.

EDITORES DE SEÇÕES
Dr. Santiago Andrade Vasconcelos, Universidade Federal de Campina Grande (CFP-
UFCG), Brasil.
Dr. Paulo Sérgio Cunha Farias, Universidade Federal de Campina Grande (UAEd-CH-
UFCG), Brasil.

CONSELHO EDITORIAL
Dr. Aloysio Rodrigues de Sousa, Universidade Federal de Campina Grande (CFP-UFCG),
Brasil.
Dra. Ivanalda Dantas Nóbrega Di Lorenzo, Universidade Federal de Campina Grande
(CFP-UFCG), Brasil.
Dra. Cícera Cecília Esmeraldo Alves, Universidade Federal de Campina Grande (CFP-
UFCG), Brasil.
Dr. Marcelo Brandão, Universidade Federal de Campina Grande (CFP-UFCG), Brasil.
Dra. Jacqueline Pires Gonçalves Lustosa, Universidade Federal de Campina Grande (CFP-
UFCG), Brasil.
Dr. Santiago Andrade Vasconcelos, Universidade Federal de Campina Grande (CFP-
UFCG), Brasil.

__________________________________________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

CONSELHO CIENTÍFICO
Dr. Caio Augusto Amorim Maciel, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Brasil
Dr. Ivan Silva Queiroz, Universidade Regional do Cariri – (URCA), Brasil
Dr. Paulo Sérgio Cunha Farias, Universidade Federal de Campina Grande – (UAEd-CH-
UFCG), Brasil
Dr. Gleydson Pinheiro Albano, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Dra. Firmiana Fonseca Siebra, Universidade Regional do Cariri – (URCA, Dep.de
Geociências), Brasil
Dra. Emília de Rodat Fernandes Moreira, Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
Brasil
Dr. Marco Antônio Mitidiero Jr., Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Brasil
Dr. Wagner Costa Ribeiro, Universidade de São Paulo (USP), Brasil
Dr. João Carlos Mendes Lima, Universidade de Licurgo, Moçambique.

APOIO TÉCNICO OPERACIONAL

admin Revista

CAPA, LAYOUT E DIAGRAMAÇÃO


Santiago Andrade Vasconcelos

__________________________________________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

FICHA CATALOGRÁFICA
Revista GeoSertões – Unidade Acadêmica de Geografia do Centro de Formação de Professores da
Universidade Federal de Campina Grande. – v. 6, n. 12 (2021). Cajazeiras: Universidade Federal de
Campina Grande, 2016 -
Semestral: 2016 –

ISSN: 2525-5703

I Ensino superior – Periódicos. II. Universidade Federal de Campina Grande. III. Título

Revista GeoSertões (<https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index>)


E-mail: geosertoes@gmail.com
Unidade Acadêmica de Geografia (Unageo)
Centro de Formação de Professores, Universidade Federal de Campina Grande (CFP-UFCG)
Rua Sérgio Moreira de Figueiredo s/n - Casas Populares – CEP: 58900-000 - Cajazeiras - PB
Tel.: (83) 3532-2000 (ramal 2101)

Licença

by-nc-nd/4.0

__________________________________________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

SUMÁRIO

Editorial/Apresentação [p. 6-9]


Santiago Andrade Vasconcelos

GEOMORFOLOGIA E GEOTURISMO EM UNIDADES [p. 10-32]

DE CONSERVAÇÃO NO ESTADO DO PIAUÍ: Estudos de


caso na Serra da Capivara, Sete Cidades e Serra das
Confusões
Joseani Sousa dos Santos
Cláudia Maria Sabóia de Aquino

ANÁLISE SWOT COMO FERRAMENTA DE GESTÃO [p. 33-52]

PARA O PROJETO GEOPARQUE CARIRI PARAIBANO


Milca Laís da Luz Macieira
Leonardo Figueiredo de Meneses

AS LINGUAGENS E TICS NO ENSINO DE GEOGRAFIA [p. 53-69]

POLÍTICA: PROPOSTAS DE TRANSPOSIÇÃO


DIDÁTICA A PARTIR DAS TIRAS DA MAFALDA
Luiz Henrique Andrade
Renata Barrocas

BIORREGIONALISMO — CONCEITO E ASPECTOS [p. 70-82]


Wellington Amancio da Silva

DINÂMICA ECONÔMICA DO BAIRRO BARRA NOVA [p. 83-100]

EM CAICÓ-RN E A TENDÊNCIA À FORMAÇÃO DE


UMA SUBCENTRALIDADE
Diego Gomes Santos Gomes Santos
João Manoel de Vasconcelos Filho

INSTITUCIONALIZAÇÃO DE REGIÕES [p. 101-124]

METROPOLITANAS NO SEMIÁRIDO DO NORDESTE


BRASILEIRO: possibilidades e desafios para a criação
da região metropolitana de Mossoró/RN (RMM)
João Paulo Silva dos Santos

__________________________________________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

EDITORIAL/APRESENTAÇÃO

Com satisfação estamos aqui para oferecer ao nosso


público leitor mais uma edição da nossa Revista
GeoSertões. Mesmo com atraso, justificado em parte
pela nossa espera para que a Instituição UFCG assuma o
que é de sua responsabilidade, estamos aqui na
resistência.
Nossa espera para lançamento se deve primeiro pela
Santiago Andrade Vasconcelos
promessa de atualização da
Editor-Gerente/Editor doRevista
Open Journal Systems, ou
GeoSertões
simplesmente OJS, que propicia colocarmos a
GeoSertões na rede e fazermos seu gerenciamento. Em
segundo lugar, estamos, nós editores de revistas da
UFCG, desde um bom tempo lutando para que a nossa
Instituição pública assuma seus periódicos públicos e os
financie. No caso específico da Revista GeoSertões, não
lutamos por muito ou algo exorbitante. Queremos
apenas que a UFCG assuma as despesas referentes a
atribuição do Identificador de Objeto Digital – DOI e
nossa Revista continue sendo um periódico gratuito
sem cobrar taxa para autores ou leitores.
Enquanto não houver o aporte financeiro necessário por
parte da UFCG para termos o DOI, seguiremos sendo
penalizados por não poder colocar nossa Revista
GeoSertões em algumas importantes bases
indexadoras. Porém a leitura que temos é a de que é
preferível “pagar o preço” da não indexação em
algumas bases do que termos que cobrarmos valores
dos autores e leitores.
Nossos periódicos precisam de respeito devido seu
caráter público e por oportunizar a divulgação de
conhecimentos, reflexões e resultados de avanços
científicos importantes, inclusive para melhor projetar a
UFCG e propiciar reconhecimento enquanto instituição
pública de ensino, pesquisa e extensão referenciada
socialmente.
Não iremos desistir tão facilmente, afinal somos
GeoSertões.
Santiago Andrade Vasconcelos
Editor-Gerente e Editor

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 6
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

A
brindo este número contamos com a colaboração de Joseani Sousa dos
Santos e Cláudia Maria Sabóia de Aquino que nos propiciam refletir
sobre o geoturismo enquanto importante potencial de atividade
econômica e ao mesmo tempo de conservação do patrimônio Geológico,
Natural, Cultural e Geomorfológico. O estudo se debruça sobre o caso empírico
da “Geomorfologia e geoturismo em unidades de conservação no estado do
Piauí: Estudos de caso na Serra da Capivara, Sete Cidades e Serra das
Confusões”.
Continuando, o segundo artigo intitulado “Análise SWOT como ferramenta de
gestão para o Projeto Geoparque Cariri Paraibano” de autoria de Milca Laís
da Luz Macieira e Leonardo Figueiredo de Meneses visa mostrar os resultados
da pesquisa que trata da necessidade de implementar ações de proteção e
divulgação dos elementos naturais e culturais no território do Projeto
Geoparque Cariri Paraibano – PGCP. Os autores objetivaram identificar os
fatores restritivos e propulsores no território do geoparque usando para tanto a
análise SWOT.
Luiz Henrique Andrade e Renata Barrocas nos presenteia com um estudo que
tem como objetivo produzir material didático para os anos finais do ensino
fundamental na área de geografia política. Para tanto usam as tiras do
personagem Mafalda e a construção de um website que objetiva facilitar o
trabalho do professor. Para saber sobre a curiosa proposta é preciso ler o artigo
“As linguagens e TICs no ensino de geografia política: propostas de
transposição didática a partir das tiras da Mafalda”.
Numa pegada mais conceitual e epistemológica, Wellington Amancio da Silva
nos leva a pensar em seu ensaio sobre o “Biorregionalismo — conceito e
aspectos”, apontando, inclusive, para o desenvolvimento de teses e sugerindo
referencial bibliográfico. No centro do debate promovido pelo autor é colocado
em relevo as categorias e as variáveis do “Paradigma Biorregional” com o
“Paradigma Industrio-científico da Modernidade”.
Diego Gomes Santos Gomes Santos e João Manoel de Vasconcelos Filho
tratam da temática urbana num caso específico enfocando na “dinâmica
econômica do bairro Barra Nova em Caicó-RN e a tendência à formação de
uma subcentralidade”. O estudo mostra que o fenômeno da subcentralidade
pode ocorrer também em cidades do porte como é Caicó, ficando provado
empiricamente que tal fenômeno urbana não é exclusivo das grandes cidades.
Encerrando o presente número João Paulo Silva dos Santos, aborda uma
questão que tem merecido atenção em nosso país que é a criação de regiões
metropolitanas sem metrópole e sem relações socioespaciais que possam
permitir tecnicamente reconhecer uma região metropolitana de fato, que deve
ter como centro, ou cidade mãe, a metrópole e suas relações socioespaciais que
a costuram as cidades da região. O autor tem como centro de suas preocupações
para enfrentar a questão da criação de regiões metropolitanas o semiárido do
Nordeste brasileiro, em especial o caso da proposta legislativa de criar a Região
Metropolitana de Mossoró no estado do Rio Grande do Norte. O artigo é
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 7
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

intitulado de “institucionalização de regiões metropolitanas no semiárido do


nordeste brasileiro: possibilidades e desafios para a criação da região
metropolitana de Mossoró/RN (RMM)” e nele o autor consegue colocar em
relevo justamente a não existência do fato metropolitano, mas outros interesses
políticos e regionalizações.
Enfim, esses são os artigos que compõem o presente número da Revista
GeoSertões e que colocamos a disposição do público leitor, na esperança que
os mesmos possam contribuir para construção de conhecimento, promover
debates e, quiçá, oferecer subsídios para políticas públicas.
Boa leitura!

Santiago Andrade Vasconcelos


Editor-Gerente e Editor

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 8
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

ARTIGOS

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 9
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

GEOMORFOLOGIA E GEOTURISMO EM UNIDADES


DE CONSERVAÇÃO NO ESTADO DO PIAUÍ: Estudos
de caso na Serra da Capivara, Sete Cidades e Serra
das Confusões

GEOMORPHOLOGY AND GEOTURISM IN CONSERVATION UNITS IN THE STATE OF


PIAUÍ: Case studies in Serra da Capivara, Sete Cidades and Serra das Confusões

Ravena Valcácer (1)


Joseani Sousade Medeiros
dos Santos (1)
Cláudia
João Maria
Manoel Sabóia de Aquino
de Vasconcelos (2)
Filho (2)

Conflitos de interesses, filiação institucional e responsabilidades

Os autores declaram não haver interesses conflitantes.


Afiliações Institucionais são informadas pelo(s) autor(es) e de inteira responsabilidade do(s) informante(s).
O(s) autor(es) é(são) responsável(is) por todo o conteúdo do artigo, incluindo todo tipo de ilustrações e
dados.

Recebido em: jun./2021


Aceito em: mai./2022

(1) Graduada em geografia pela Universidade Federal do Piauí. joseani.sousa@outlook.com


(2) Professora da Universidade Federal do Piauí. cmsaboia@gmail.com

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 10
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Resumo
O Geoturismo é uma das atividades turísticas que tem crescido muito nos últimos tempos no mundo e no Brasil
e objetiva a contemplação e preservação de áreas ecológicas, visa a conservação e o desenvolvimento
sustentável do local, assim como uma forma de garantir a preservação do Patrimônio Geológico, Natural,
Cultural e Geomorfológico. No entanto, o geoturismo não se desenvolve apenas pela existência de atrativos,
existe a necessidade de um Trade turístico, um conjunto de interesses públicos e privados. O presente trabalho
tem por objetivo estabelecer relações entre a geomorfologia (formas de relevo) e o geoturismo, tendo por base
as paisagens geomorfológicas encontradas nos Parques Nacionais da Serra da Capivara, de Sete Cidades e Serra
das Confusões. Esses Parques possuem características semelhantes uma vez que estão inseridos dentro da bacia
sedimentar do Parnaíba. E a estreita relação entre feições geomorfológicas identificadas nos referidos parques
e o potencial dos mesmos como atrativo geoturístico justificam a pesquisa. Na metodologia, buscou-se a
pesquisa bibliográfica em autores que discutem a temática, com base em livros, artigos científicos e sites. Foi
possível identificar que os Parques Nacionais do Estado do Piauí no qual foram estudados nesta pesquisa,
representam uma importante área de estudo, por apresentar uma geodiversidade espetacular considerando o
patrimônio geológico e geomorfológico. As feições geomorfológicas se apresentam em destaque na natureza,
revelando grande valor e potencial para a atividade geoturística, favorecendo a geração de renda à população
local. Recomenda-se a fiscalização, a estruturação, o incentivo e a divulgação desses parques e de seu
patrimônio geomorfológico pelo Governo nas distintas esferas.
Palavras-chave
Geomorfologia. Geoturismo. Parques Nacionais.

Abstract
Geotourism is one of the tourist activities that has grown a lot in recent times in the world and in Brazil and
aims at contemplation and preservation of ecological areas, aims at the conservation and sustainable
development of the site, as well as a way to ensure the preservation of geological, natural, cultural and
geomorphological heritage. However, geotourism is not only developed by the existence of attractions, there is
the need for a tourist trade, a set of public and private interests. The present work aims to establish relationships
between geomorphology (relief forms) and geotourism, based on the geomorphological landscapes found in the
National Parks of Serra da Capivara, Sete Cidades and Serra das Confusões. These parks have similar
characteristics since they are inserted within the parnaíba sedimentary basin. And the close relationship between
geomorphological features identified in these parks and their potential as a geotourist attraction justify the
research. In the methodology, we sought bibliographic research in authors who discuss the theme, based on
books, scientific articles and websites. It was possible to identify that the National Parks of the State of Piauí in
which they were studied in this research represent an important area of study, because they present a spectacular
geodiversity considering the geological and geomorphological heritage. The geomorphological features are
prominent in nature, revealing great value and potential for geotourism activity, favoring the generation of
income to the local population. It is recommended the supervision, structuring, incentive and dissemination of
these parks and their geomorphological heritage by the Government in the different spheres.
Keywords:
Geomorphology. Geotourism. National Parks.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 11
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Introdução

O
geoturismo apresenta características essenciais à preservação e conservação da
geodiversidade de um lugar, além de contribuir para o desenvolvimento econômico
local das comunidades. No entanto, o geoturismo não se desenvolve apenas pela
existência de atrativos, existe a necessidade de um Trade turístico, conjunto de interesses
públicos e privados. Para além da visitação, há necessidade de oferta de serviços tais como,
agências de turismo, operadoras, setor hoteleiro, marketing, transporte, alimentação dentre
outros.
Os parques nacionais da Serra da Capivara, Sete Cidades e Serra das Confusões,
localizam-se na bacia sedimentar do Maranhão Piauí, com domínio de rochas sedimentares
Fanerozóicas conforme o Serviço Geológico do Brasil - Companhia de Pesquisa de Recursos
Minerais - CPRM (2010). Tais características fazem com que o estado do Piauí apresente uma
diversidade de paisagens geomorfológicas, que incluem chapadas, chapadões, mesas, colinas,
morros, relevos cuestiformes, ruiniformes, etc.
Vale ressaltar que os parques nacionais da Serra da Capivara, Serra das Confusões
localizam nas bordas da bacia sedimentar exibindo relevo do tipo planalto cuestiforme, e o de
Sete Cidades na Bacia Sedimentar do Parnaíba e apresenta uma topografia ruiniforme com
geoformas que lembram pessoas, animais e coisas. Os referidos parques constituem no Estado
áreas de interesse de pesquisadores, instituições de pesquisas, bem como área de interesse para
os visitantes que as utilizam para fins turísticos e Geoturísticos.
Para Maximiliano (2014), a paisagem, embora tenha sido estudada sob ênfases
diferenciadas, resulta da relação dinâmica de elementos antrópicos, biológicos e físicos. No
bojo dos elementos físicos destaca-se o relevo. Segundo Rodrigues, Rocha e Moura (2020) o
relevo é provavelmente a parte mais visível de uma paisagem quando pensada em função de
interesse turístico e aproveitamento econômico de áreas que efetivamente não possuem outro
recurso disponível, como por exemplo, as unidades de conservação.
Ainda segundo os autores dentre os elementos paisagísticos naturais que expressam
maior qualidade visual, o relevo é sem dúvida o que apresenta maior expressividade, deste
modo o presente estudo, objetiva estabelecer relação entre a geomorfologia (formas de relevo)
e o geoturismo, tendo por base as paisagens geomorfológicas encontradas nos parques nacionais
da Serra da Capivara, Sete Cidades e Serra das Confusões, Piauí.
E perpendicularmente identificar as unidades geomorfológicas dos parques nacionais da
Serra da Capivara, Serra das Confusões e Sete Cidades, e apresentar a caracterização
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 12
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

geomorfológica dos parques nacionais da Serra da Capivara, Serra das Confusões e Sete
Cidades com base em pesquisas Santos (2007), Moura et al. (2017) e Barros et al. (2020), além
de destacar os elementos geomorfológicos mais relevantes que possam ser apontados como de
interesse geoturística na área de estudo.
A necessidade de denotar a estreita relação entre feições geomorfológicas identificadas
nos referidos parques e o potencial das mesmas como atrativo geoturístico justificam a pesquisa.
Como procedimento metodológico, buscou-se a pesquisa bibliográfica, em autores que
discutem a temática, com base em livros, artigos científicos e sites, uma vez que esse tipo é o
primeiro passo para início de uma pesquisa, pois é a partir dela que se terá uma maior
familiarização com o assunto escolhido para estudo.
Por estar em um período atípico provocado por uma pandemia, o mundo parou devido
ao vírus SARS-CoV-2 e por recomendação dos órgãos de saúde os parques estavam fechados
e a pesquisa in locu não foi possível ser realizada em todos os Parque Nacionais. Nos quais a
pesquisa se propôs realizar, tendo em vista as restrições sanitárias recomendadas pelos governos
Federal, Estadual e Municipal. Desse modo, a pesquisa se limitou a apenas ao Parque nacional
de Sete Cidades.

Bases conceituais do Turismo

A origem do turismo está relacionada ao deslocamento de pessoas, com objetivos e


propósitos variados. Deriva do latim tornus, que significa ação de movimento retorno, no qual
deu origem ao nome tornare, que traduzindo significa girar. Mill e Morrison (1992, p.2)
afirmam que “o turismo se iniciou no século VIII a.C., na Grécia antiga, motivado pelos jogos
olímpicos”. É também na Grécia antiga que estes deslocamentos estão registrados, através das
visitações ao oráculo de Delfos, precursor do turismo religioso, conforme Dias (2005, p.32)
“Estas peregrinações envolviam algum tipo de infraestrutura de alojamento, alimentação que,
embora incipiente, continham os elementos que definem o turismo”. Com relação ao turismo
com prática de descanso, contemplação do ócio e terapêutica medicinal, a origem está
relacionada aos romanos,

Os romanos podem ser considerados os primeiros a viajar por prazer. Diversas


pesquisas científicas (análise de azulejos, placas, vasos e mapas) revelaram
que o povo romano ia à praia e a centros de rejuvenescimento e tratamento do
corpo, buscando sempre divertimento e relaxamento (BADARÓ, 2005, s.p).

A definição de turismo é um pouco complexa, pois deve ser analisada em diversas


variáveis, pode ser definida de diferentes formas, em consonância com o que é apresentado e a

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 13
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

realidade na qual está inserida. Nesta perspectiva de conceito, algumas dão prioridade aos
aspectos econômicos, sociais, culturais, antropológicos e até geográficos, mas para Tribe (1997,
p. 640), “o turismo pode ser entendido para envolver uma larga área de fenômenos”.
Em concordância com as afirmações acima citadas, Lages e Milone (2000, p. 26) fazem
a seguinte afirmação, “hoje é impossível limitar uma definição específica de turismo. Sem
dúvida é uma atividade socioeconômica, pois gera a produção de bens e serviços para o homem
visando a satisfação de diversas necessidades básicas e secundárias”.
Atualmente o conceito mais aceito para a definição de Turismo é o da Organização
Mundial do Turismo (OMT, 2001, p. 3) que define como “atividades que as pessoas realizam
durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um período de
tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e outros”. Este conceito foi
estabelecido na Conferência Internacional sobre Estatísticas de Viagens e Turismo (conhecida
como Conferência de Ottawa) em 1991.
O turismo é uma atividade econômica importante, que cresceu muito nos últimos anos,
e que gera inúmeros benefícios para localidades que possuem potencialidade para ser
desenvolvido, segundo Picard (citado por ANDRADE, 1995, p. 33) “a função do turismo é a
importação de divisas pelos países. Seu impacto reside no fato do que as despesas de turismo
podem fazer para os diferentes setores da economia e, em particular, para os proprietários e
gerentes de hotéis”. Porém para desenvolver o turismo faz-se necessário a participação dos
gestores públicos e privados, devido exigir um planejamento adequado além da participação de
todos os atores envolvidos nesta atividade, seja de forma direta ou indiretamente no processo.
O turismo no Brasil vem despontando em seus diversos segmentos, dentre eles o
ecoturismo, atividade turística que tem a finalidade de proporcionar ao turista contato com a
natureza além da vivência e proteção, e que tem como base o tripé: interpretação, conservação
e sustentabilidade, visando a conservação, a educação ambiental e o desenvolvimento
socioeconômico e o Geoturismo encontra-se inserido neste segmento.

Geoturismo, Geodiversidade e Geoconservação

O Brasil apresenta uma riqueza em biodiversidade no qual proporcional a prática de


diversos tipos de turismo, e atualmente além do ecoturismo, uma nova modalidade tem surgido,
o Geoturismo, prática de turismo em áreas que apresenta em suas características os processos
geomorfológicos e geológicos.
Diante do exposto acima surge diversos conceitos a respeito desta atividade, vale
ressaltar que assim como o Turismo tem variação de conceito, o Geoturismo não está isento,
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 14
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

para Santos, Silva Neto, Brito (2020, p. 4), “o geoturismo é uma atividade nova no segmento
do turismo e visa a conservação e o desenvolvimento sustentável do local, como forma de
garantir a preservação do Patrimônio Geológico, Natural, Cultural e Geomorfológico”.
No ponto de vista de Lopes (et. al, 2011), o Geoturismo incentiva não somente a
geoconservação do patrimônio geológico, mas ocasiona também o envolvimento das
comunidades locais com geração de renda. Pois em grande parte a comunidade local depende
economicamente da atividade turística uma vez que esses lugares não existem outra modalidade
de oferta de emprego.
Seguindo o caminho da sustentabilidade e objetivando a participação da comunidade
local, Stueve et al. (2002), define o Geoturismo como, “o turismo que mantém ou reforça as
principais características geográficas de um lugar – seu ambiente, cultura, estética, patrimônio
e o bem-estar dos seus residentes”.
Neste sentido, observa-se que o geoturismo tem uma grande importância para os
visitantes e a comunidade, também contribui para a conservação e sustentabilidade, além de
inter-relacionar elementos dos meios físicos e humanos.
Em 1993, na Conferência de Malvern (Reino Unido) foi a primeira vez em que o termo
“geodiversidade” foi utilizado para designar a “Conservação Geológica e Paisagística”. A
utilização do termo foi uma forma contraria a biodiversidade, para que os elementos não-
abióticos pudessem ser contemplados. (CPRM, 2010).
A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Serviço Geológico do Brasil
(CPRM/SGB) define geodiversidade como:

O estudo da natureza abiótica (meio físico) constituída por uma variedade de


ambientes, composição, fenômenos e processos geológicos que dão origem às
paisagens, rochas, minerais, águas, fósseis, solos, clima e outros depósitos
superficiais que propiciam o desenvolvimento da vida na Terra, tendo como
valores intrínsecos a cultura, o estético, o econômico, o científico, o educativo
e o turístico (CPRM, 2006).

O conhecimento acerca da geodiversidade se faz importante a fim de conhecer as


potencialidades de recursos e a paisagem natural, no qual possibilita uma melhor visão sobre o
uso mais adequado para uma determinada área ou região.
Com relação ao termo geoconservação, o mesmo está relacionado a conservação de
elementos representativos da geodiversidade dado o seu valor e as suas ameaças reais devido à
falta de proteção e gestão. A conscientização acerca da geoconservação na Europa é desde a
década de 1930, com a criação da Lei de Proteção dos Monumentos Naturais, visando à
proteção dos sítios geomorfológicos e cavernas. (JORGE e GUERRA, 2018).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 15
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

O Estado do Piauí possui diversos locais nos seus distintos municípios com potenciais
para a prática da atividade geoturística, considerando os mais distintos aspectos ambientais,
contudo, cabe ressaltar o papel do relevo como atributo fundamental, quer considerando o valor
estético das formas de relevo (morfologia dos terrenos) quer por distintos processos(físicos,
químicos e biológicos), que são elaboradas e se constituem em distintas áreas de visitação
turística a exemplo do Parque Nacional Serra da Capivara, Parque Nacional de Sete Cidades e
Parque Nacional Serra das Confusões.
Considerando a importância destes Parques Nacionais para a preservação da fauna e da
flora local existem propostas de transformação do Parque da Serra da Capivara e de Sete
Cidades em Geoparques (CPRM,2010).

Unidade de Conservação

O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), foi criado com o objetivo de


garantir a preservação da diversidade biológica, promover o desenvolvimento sustentável a
partir dos recursos naturais e fazer a proteção das comunidades tradicionais, seus
conhecimentos e cultura. Sob a lei 9.985, de 18 de julho de 2000, como resposta ao Art. 225,
inciso 1º do Capítulo VI da Constituição Federal que determina a definição de espaços
protegidos.
As Unidades de Conservação (UC´s), são criadas conforme os critérios estabelecidos
pelo SNUC e é definida como:

todo espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas


jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído
pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de
proteção. (Lei n. 9.985, de 18 julho de 2000).

O SNUC proporciona aos gestores acerca das UC, além de conservar os ecossistemas e
a biodiversidade, gerar renda, emprego, desenvolvimento e propicia uma efetiva melhora na
qualidade de vida das populações locais.

O papel do relevo na paisagem

O conceito de Paisagem tem sido muito debatido por vários autores, e em diversas
épocas, no qual varia conforme o tempo, espaço, objetivos e métodos de abordagem. É a partir
da Geografia Física que se busca uma compreensão físico-geográfica. Alexandre Von

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 16
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Humboldt foi pioneiro na introdução do conceito geográfico-científico, no final do século


XVIII e princípio do século XIX.
A escola de Geografia da antiga União Soviética trouxe grande contribuição aos
estudos da paisagem, ao introduzir o conceito de Geossistema (Sistema Geográfico ou
Complexo Natural Territorial), buscando compreender a paisagem como um sistema composto
por outros subsistemas.
Bertrand (1968) afirma que:

A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparados. É


numa determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica,
portanto instável, de elementos físicos biológicos e antrópicos que, reagindo
dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e
indissociável, em perpétua evolução. (p. 49).

Alinhado aos ideais de Bertrand (1968) Ross (1991) afirma que para conhecer os
distintos tipos e formas de relevo é necessário a compreensão das paisagens em sua totalidade
(geologia, geomorfologia, hidrografia, climatologia, pedologia e vegetação).
As afirmações acima permitem inferir que os autores são adeptos da concepção
sistêmica, que considera o caráter integrador entre os elementos da natureza e os da sociedade.
A paisagem transcende a extensão do lugar capturado pelo o olhar humano englobando
outros sentidos, contudo é a beleza cênica, propiciada pela visão que tem destaque e maior
apelo. Desta feita o estudo das paisagens por meio da geomorfologia (relevo) produto da
interface entre as variáveis do meio físico consiste em um dos elementos de análise primordial
para fins turísticos.
Neste sentido, Vieira e Cunha (2002) citado por Godinho et al. (2011), afirmam que os
elementos geomorfológicos constituem palcos de excepcional beleza, dotados de características
ímpares para o desenvolvimento e promoção de atividades relacionadas a turismo.
Guerra e Marçal (2006) citado por Silvestre (2016) destacam que uma das aplicações da
geomorfologia no turismo é atribuída na avaliação estética de uma determinada porção da
superfície terrestre. Para Hart (citado por GUERRA, 2012) estas características
geomorfológicas são determinantes para tornar o local atrativo.

Procedimentos metodológicos

A natureza da pesquisa está fundamentada em uma abordagem qualitativa, que


conforme Minayo (2001, p. 21) “[...] responde a questões muito particulares. Ela se preocupa,
com um nível de realidade que não pode ser quantificado”. Em relação a sua finalidade, esta
investigação se caracteriza como descritiva, que segundo Silva e Menezes (2000, p.21) “[...]
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 17
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento


de relações entre variáveis”.
Quanto às técnicas de pesquisa, o procedimento desenvolvido está baseado na pesquisa
bibliográfica, com a realização de um estudo sistematizado, investigando materiais publicados
em periódicos de eventos científicos nacionais com levantamento dos principais referenciais
teóricos e metodológicos, com base em artigos, livros, dissertações e sites que tratam da
Geomorfologia e Geoturismo de forma geral, e também específica, no tocante da realidade
piauiense. A caracterização geomorfológica da área de estudo pautou-se em Santos (2001),
Moura (2004), Santos (2007), Barros et al. (2014) e Moura et al. (2017).
O presente estudo está caracterizado, quanto aos objetivos, que consistem em caráter
descritivo-exploratório, uma vez que, busca explorar informações relacionadas ao tema com o
objetivo de descrever aspectos relevantes.

Os estudos exploratórios têm por objetivo familiarizar-se com o fenômeno ou


obter uma nova percepção dele e descobrir novas ideias. Realiza descrições
precisas da situação e quer descobrir relações existentes entre seus elementos
componentes. Requer planejamento flexível para possibilitar a consideração
dos mais diversos aspectos e de um problema ou de uma situação.
Recomendada quando há pouco conhecimento sobre o trabalho estudado
(CERVO, BERVIAN e DA SILVA, 2007, p.61).

Os instrumentos de pesquisa utilizados neste trabalho serviram de base para se alcançar


êxito nas informações adquiridas ao longo do desenvolvimento da pesquisa, no qual se
apresenta em forma de textos interpretativos, explicativos e conclusivos.
A Figura 1 apresenta a síntese do roteiro metodológico empregado.

Figura 1 - Roteiro metodológico empregado na pesquisa

Fonte: os autores

Unidades de relevo do Parque Nacional da Serra da Capivara

O Parque Nacional da Serra da Capivara foi criado em 05 de junho de 1979 sob o


Decreto de nº 83. 548, com área inicial era de 100.000 hectares. Em 12 de março de 1990 esta

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 18
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

área foi ampliada com uma área de 35.000 hectares pelo Decreto de nº 99.143/1990 (CPRM,
2010), conforme Figura 2.

Figura 2 - Localização do Parque Nacional da Serra da Capivara -Piauí

Banco de dados: IBGE (2020); Organização e Geoprocessamento: Josêani Sousa

O Parque concentra inúmeros sítios arqueológicos, a maioria com pinturas e gravuras


rupestres, nas quais se encontram vestígios extremamente antigos da presença do homem
(100.000 anos antes do presente). FUMDHAM (2013)
O Parque Nacional da Serra da Capivara possui características peculiares que favorecem
o Geoturismo. Está localizado no sudeste do Estado do Piauí, entre os municípios Canto do
Buriti, Coronel José Dias, São João do Piauí e São Raimundo Nonato, em uma área entre duas
formações geológicas, a bacia sedimentar do Parnaíba e a superfície pré-cambriana da
depressão periférica do São Francisco, representado pela Faixa de Dobramentos da Província
Estrutural da Borborema. CPRM (2010)
Segundo Santos (2007) no Parque Nacional da Serra da Capivara afloram rochas, cujos
os sedimentos foram depositados durante o Siluriano e o Devoniano, correspondendo aos
Grupos Serra Grande e Canindé.
Conforme Pellerin (1984, a, b, citado por SANTOS, 2007) podem ser reconhecidas três
unidades geomorfológicas, no Parque Nacional Serra da Capivara e circunvizinhanças:
planaltos areníticos, cuestas e pedimentos.
Os planaltos areníticos situam-se a oeste do Parque Nacional Serra da Capivara e
constituem chapadas do reverso da cuesta, de relevo regular, de topos tabuliformes de baixa

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 19
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

declividade e baixa dissecação, que passam de 600m a 300m a sudeste a 500m a 520m a
nordeste (Figura 3).

Figura 3 - Aspecto geomorfológico onde se destacam os planaltos areníticos

Fonte: Santos, 2007.

As cuestas (Figura 4) foram modeladas em rochas predominantemente areníticas e


conglomeráticas do Grupo Serra Grande. São projeções da Bacia do Parnaíba sobre a Província
Borborema. O desnível entre a cuesta e o pedimento oscila entre 200m a 250m. O front da
cuesta exibe canyons de entalhe profundo e muito dendriformes, dominados diretamente por
paredões de morfologia ruiniforme-arredondada (SANTOS, 2007).

Figura 4 - Aspecto geomorfológico onde se destacam as cuestas

Fonte: Santos, 2007.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 20
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

O pedimento (Figura 5) é uma vasta área de erosão, situada no sopé da cuesta. É uma
área muito plana, sendo testemunho de uma longa evolução em regime de dissecação, variando
de 60km a 80km de largura. O pedimento se inclina suavemente a partir dos bordos da cuesta
arenito, rumo à calha central do rio Piauí. A sul do pedimento está a área de afloramentos de
gnaisse, composta por numerosos inselbergs isolados, ou dispostos em maciços,
correspondendo a fácies mais resistentes. Ao Norte do pedimento está a área dos micaxistos, é
a mais aplainada, com relevos residuais, compostos de inselbergs isolados de granito intrusivo
e de pequenos maciços carstificados de mármores, localmente chamados de serrotes.
O Principal atrativo do PARNA Serra da Capivara são as paisagens geomorfológicas
elaboradas nas rochas (Figuras 6 e 7A) e os sítios arqueológicos (Figura 7B) com pinturas
rupestres e grafismos gravados sobre os paredões areníticos.

Figura 5 - Aspecto geomorfológico, onde se destacam os pedimentos

Fonte: Santos, 2007.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 21
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Figura 6 – Paisagem geomorfológica Baixão das Andorinhas no Parque Nacional da


Serra da Capivara

Fonte: FUMDHAM

Figura 7 – Paisagem geomorfológica Pedra Furada no Parque Nacional de Serra da


Capivara
A B

Em A: paisagem geomorfológica. Em B: Pinturas rupestres no Parque Nacional da Serra da Capivara.


Fonte: FUMDHAM

Unidades de relevo do Parque Nacional de Sete Cidades

O Parque Nacional de Sete Cidades (Figura 8) está localizado entre as cidades de


Piracuruca e Brasileira, foi criado em 08 de junho de 1961 pelo Decreto Federal nº 50.744/1961,
possui uma área total de 6.221,48 hectares, porém a área aberta ao público é de 1.814,22
hectares. CPRM (2010).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 22
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Figura 8 - Localização da área do Parque Nacional de Sete Cidades

Banco de dados: IBGE (2020); Organização e Geoprocessamento: Josêani Sousa.

Parque Nacional de Sete Cidades está localizado na bacia sedimentar do Parnaíba


pertence ao grupo geológico Canindé, composto pelas Formações Itaim, Pimenteiras, Cabeças,
Longá e Poti. O substrato geológico corresponde à Formação Cabeças (SANTOS, 2001).
Formação Cabeça: é composta predominantemente de arenito brancos a cinza-amarelados,
finos e médios, com seixos alongados de quartzo. Sequência de arenitos duros e homogêneos
decorrente do processo de sedimentação, de idade do Devoniano Médio a Superior. Apresenta
extensa área de afloramento, com aproximadamente 42.000 km², possui uma faixa central do
estado e com espessura média em torno de 300 m (CPRM, 2010).
Formação Pimenteira: é composta principalmente, de folhelhos de coloração cinza e
vermelho, intercalado a fácies heterolíticas e espessamento de camadas de arenitos vermelhos
no topo do afloramento, rico em matéria orgânica e conteúdo fossilífero. Apresenta espessuras
que variam entre 200 e 250 m e profundidade que varia de 180 a 240 m da superfície. Sua idade
é próxima ao fim do Devoniano (CPRM, 2010).
Formação Itaim: é formada por arenitos finos a médios com intercalações de folhelhos
bioturbados na base, grãos sub-arredondados, bem selecionados e com esfericidade alta. Os
depósitos são de origem plataformal com influência de marés e tempestades. De idade do
período Mesodevoniana-Eocarbonífera (CPRM, 2011).
Formação Serra Grande: é originada da sedimentação de arenitos brancos grosseiros,
conglomerados oligoníticos grosseiros com seixos constituídos de quartzo e intercalações entre
falhas. Possui uma área total de afloramento de aproximadamente de 38.000 km², com variações
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 23
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

de espessuras de capeamento entre 50 e 1.000 m, sua origem se deu no Siluriano, de ambiente


deposicional glacial (CPRM, 2010).
O Parque Nacional de Sete Cidades é caracterizado por apresentar rochas arenosas,
principalmente arenitos avermelhados e de origem continental. Estes arenitos são constituídos
por areia fino quartzosa, são bem selecionados, podendo ser amarelos ou brancos (FORTES,
1996). O relevo encontrado é do tipo ruiniforme, ocasionado pelo desgaste como consequência
do processo de intemperismo químico, físico e biológico no qual dão formas às rochas (CPRM,
2010).
Santos (2007) identificou e mapeou as seguintes feições geomorfológicas em Sete
Cidades: a) afloramentos rochosos, maciços ou desmantelados em modelado ruiniforme alto e
modelado ruiniforme baixo; b) lajeado; c) pavimentação de blocos; d) formações arenosas; e)
couraça ferruginosa.
Segundo Santos (2000) o setor norte do Parque, mais acidentado, com altitudes variando
entre 150m e 290m, concentra a maior parte dos afloramentos rochosos. Recebendo as
toponímias de Serra Negra, Serra do Xixá, e Morro do Cruzeiro. As formações arenosas
dominam o restante do parque. A topografia dessa grande área é plana, suavemente ondulada,
interrompida, às vezes, pelos pequenos afloramentos rochosos dispersos.
A porção sul é a parte mais plana do Parque. Os lajeados, os pavimentos de blocos, as
couraças ferruginosas, e a hidromorfia estão em concentrações disseminadas pelo Parque. A
expressão pavimentos de blocos exibe blocos de arenito, in situ ou rolados, em alternância com
estreitas e rasas áreas de formações arenosas acinzentadas (SANTOS, 2000).
O Parque Nacional de Sete Cidades é considerado uma área merecedora de proteção
devido a sua biodiversidade e ao relevo esculpido em afloramentos rochosos datados do
Devoniano (Bacia Sedimentar do Parnaíba), que exibem geoformas/grupamentos rochoso
peculiares em formas (animais, pessoas) denominados de “cidades” que dão nome ao Parque.
(Figura 9).
Schobbenhaus e Silva (2010), afirma que o Parque Nacional de Sete Cidades apresenta
como aspectos relevantes suas características paleoambientais (ambientes antigos em que
existem a formação das rochas), geomorfológicas e sua beleza cênica, constituindo-se em área
de relevante interesse para o geoturismo, como pontuam Lopes et al. (2012).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 24
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Figura 9 - Aspecto característico dos arenitos da Formação Cabeças no PARNA Sete


Cidades exibindo geoformas

Em A: Mapa do Brasil; B: perfil de Dom Pedro I; C – Três Reis Magos.


Fonte: Santos, 2000.

Unidades de relevo do Parque Nacional da Serra das Confusões

O Parque Nacional da Serra das Confusões caracteriza-se como uma Unidade de


Conservação (UC) de Proteção Integral do Bioma Caatinga, da Administração Federal,
localizada no Sudeste do Estado do Piauí (Figura 10). Foi criado pelo Decreto s/n, de 2 de
outubro de 1998. Segundo a Lei 9985, de 18.07.00, tem como objetivo básico à preservação de
ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica (ICMBio, 2005).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 25
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

O Parque, cuja localização geográfica está situada entre os quadrantes 9° 27’ a 9° 31 S


e 43°05’ a 43° 56’ W, engloba os municípios de Canto do Buriti, Tamboril do Piauí, Jurema,
Alvorada do Gurguéia, Bom Jesus, Guaribas e Cristino Castro. O PARNA Serra das Confusões
tem área legal de 823.843,08 hectare (ou 8.238,43 km²), (MOURA et al. (2017).

Figura 10 - Localização do Parque Nacional da Serra das Confusões, Piauí

Banco de dados: IBGE (2020); Organização e Geoprocessamento: Josêani Sousa

O PARNA Serra das Confusões teve forte influência da movimentação da Placa Sul-
americana e dos efeitos orogenéticos do Ciclo Brasiliano. Portanto, o Parque se estabeleceu na
parte Sul da Bacia do Parnaíba, exemplificação mais notória do final do Pré-cambriano, bem
como do início do Paleozóico (BRASIL, 2003; FREIRE, 2006; JUSTO, 2006; MENESES,
2013, citado por MOURA et al. 2017).
A geologia do Parque foi marcada pela intensa movimentação da litosfera regional. Isso
se observa pelo arcabouço litológico regional, uma vez que as feições Estratigráficas
Sedimentares são descontínuas ou interrompidas pela presença de dobramentos e lineamentos
estruturais, produzidas no Complexo do Embasamento Cristalino Pré-cambriano. Esta unidade
litológica é dividida em quatro grupos: Jaibaira, Cariba, Colomi e Salgueiro, os quais
apresentam rochas com alto grau de metamorfismo. Sobreposta ao embasamento se encontra
uma Sequência Estratigráfica Sedimentar, formada nos Períodos Devoniano-Siluriano, ou
Período Ordoviciano Final (Serra Grande, Pimenteiras e Cabeças) (BRASIL, 2003; FREIRE,
2006; JUSTO, 2006; CPRM, 2011; BARBOSA e FUNIER, 2012), citado por MOURA et al.
(2017).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 26
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Com relação a Geomorfologia, situa-se em áreas de Chapadões do Alto Médio Parnaíba


e em menor proporção, em área da depressão periférica do Médio São Francisco. Na Bacia
Sedimentar do Parnaíba há ocorrência de superfície plana com altura média de 700/800 metros,
dissecada por vales (Figuras 11 e 12).

Figura 11 – Vista panorâmica do relevo do Parque Nacional Serra das Confusões

Fonte:cmbio.gov.br

Figura 12 - Aspecto geomorfológico do Parque Nacional Serra das Confusões com


características de elevações onduladas e suave-onduladas configurando os Chapadões

Fonte: Moura, 2004.

Para Moura et al. (2017) há ocorrência na área de Feições do relevo ruiniforme em


sedimentos do Arenito dissecados (figura 13).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 27
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Figura 13 – Dissecação de relevo no Parque no Nacional Serra das Confusões

Fonte: jp-lugares fantásticos

O Parque em sua área e no seu entorno apresenta uma geodiversidade única com um
Patrimônio geomorfológico que alcança bilhões de anos. Desta forma o Parque Nacional da
Serra das Confusões se estabelece como uma importante Unidade de Conservação, pela sua
notável geodiversidade, destacado com o seu patrimônio geológico-geomorfológico potencial
para a prática da geoconservação e do geoturismo do Estado.
De modo geral a área estudada é em sua maior parte assentada sob uma base
morfoestrutural sedimentar e culmina com uma morfoescultura de beleza cênica espetacular. O
Parque Nacional da Serra das Confusões, de acordo com Morais et al. (2017) apresenta feições
geomorfológicas que nobilitar a paisagem, resguardando condições pretéritas de
desenvolvimento geológico da América do Sul. Acredita-se que esta afirmativa possa ser
estendida para os outros dois parques aqui analisados, a saber: o Parque Nacional da Serra da
Capivara e o Parque Nacional de Sete Cidades.

Considerações finais

Os Parques Nacionais do Estado do Piauí que foram estudados nesta pesquisa,


representam uma importante área de estudo, pois apresentam uma geodiversidade espetacular
considerando o patrimônio geológico e geomorfológico. As feições geomorfológicas se
apresentam em destaque na natureza, revelando grande valor e potencial para a atividade
geoturística.
O objetivo da pesquisa foi alcançado, uma vez que tinha como meta estabelecer uma
relação entre a geomorfologia e o geoturismo. A geomorfologia analisa as formas dos relevos,

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 28
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

enquanto que o geoturismo propicia a prática do turismo de forma sustentável e contribuindo


para a preservação, além de ser uma atividade geradora de renda para a comunidade local.
Ao longo da pesquisa foi possível identificar a falta de políticas públicas, fiscalização,
estruturação, incentivo e divulgação desses parques pelo Governo Federal, principalmente o
Parque Nacional Serra das Confusões, pois ainda é dependente do Parque Nacional Serra da
Capivara.
Presume-se que esta pesquisa contribuirá para a divulgação acerca dos parques
estudados, dando visibilidade e notoriedade aos mesmos, ao passo em que se enaltece as belezas
naturais e produz conhecimento que servirá de base teórica para pesquisas futuras.

Referências

ANDRADE, J.V. Turismo: fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática, 1995.

ALENCAR, J.; CORDEIRO, W. P. F de S. STAPLES, G. ;BURIL, M. T. Convolvulaceae


no Parque Nacional de Sete Cidades, Estado do Piauí, Brasil, 2019. Hoehnea 46:
e992018. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/2236-8906-99/2018. Acesso em: 14 de
jan. de 2021.

BARROS, J. S.; FERREIRA, R.V.;PEDREIRA, A.J.; SCHOBBENHAU,C. Projeto


Geoparques Geoparque Sete Cidades – Pedro II – PI: Proposta. CPRM, 2014. Disponível
em: http://rigeo.cprm.gov.br/jspui/bitstream/doc/15145/1/setecidades.2014.pdf. Acesso em:
20 de set. de 2020.

BARROS, J. S. Geoparque Serra da Capivara (PI): proposta. In: SCHOBBENHAUS, C.;


SILVA, C. R. da (Org.). Geoparques do Brasil: propostas. Rio de Janeiro: CPRM, 2012. Cap.
14. Disponível em: http://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/17165. Acesso em: 20 de set. de
2020.

BADARÓ, R. A. L. O Direito do Turismo através da história e sua evolução. São Paulo:


[s.n.], 2005. Disponível em: http://www.ibcdtur.org.br/DireitoDoTurismoHist.pdf. Acesso
em: 25 de set. de 2020.

BERTRAND, G. Paysage et géographie physique globale. Esquisse méthodologique. In:


Revue géographique des Pyrénées et du Sud-Ouest, tome 39, fascicule 3, 1968. p. 249-
272.

BRASIL, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Plano de Manejo do


Parque Nacional da Serra das Confusões. Disponível em:
https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/imgs-unidades-
coservacao/parna_serra_das_confusoes.pdf. Acesso em: 19 de jan. 2021.

BRASIL, Ministério do Turismo. Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais. Brasília:


Ministério do Turismo, 2006. Disponível em: https://www.gov.br/turismo/pt-br. Acesso em:
20 de ago. de 2020.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 29
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

BRASIL. Ministério do Turismo. Ecoturismo: orientações básicas. / Ministério do Turismo,


Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Departamento de Estruturação, Articulação e
Ordenamento Turístico, Coordenação Geral de Segmentação. 2. ed. – Brasília: Ministério do
Turismo, 2010. 90p.; 24 cm. Disponível em: https://www.gov.br/turismo/pt-br. Acesso em:
20 de ago. de 2020.

CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A.; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6.
ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

DIAS, Reinaldo. Introdução ao turismo. São Paulo: Atlas, 2005.

FORTES, F. P. Geologia de Sete Cidades. Teresina: Fundação Monsenhor Chaves, 1996.

FUMDHAM (Fundação Museu do Homem Americano) 2015. Disponível em:


http://www.fumdham.org.br/. Acesso em: 15 de jan. de 2021.

GUERRA, A. J. T.: JORGE, M. do C. O. Geoturismo, geodiversidade e geoconservação:


abordagens geográficas e geológicas. São Paulo: Oficina de Textos, 2018.

GODOY, Arilda Schmidt. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. RAE -


Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 2, p. 57-63, 1995. Disponível em:
http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rae/article/viewFile/38183/36927. Acesso em: 11
de set. de 2020.

GODINHO, R. G.; CRISTÓVÃO, C. A. M.; SIMON, A. P.; ORSI, M. de L.; OLIVEIRA, J.


I. Geomorfologia e Turismo no Município de Pirenopolis (GO). Caminhos de Uberlândia.
v. 12, n.37. Mar/2011. P. 73-84. Disponível em:
http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/view/16160. Acesso em: 12 de
set de 2020.

LAGES, Beatriz Helena Gelos; MILONE, Paulo César. Turismo: teoria e prática. São
Paulo: Atlas, 2000.

LAGESE. 2002. Mapa Geológico do Parque Nacional Serra da Capivara. Recife, UFPE, 1
mapa colorido, 47,5x 55,5 cm, Escala 1.500.000.

LOPES, L. S. de O..; ARAÚJO, J. L. L.; NASCIMENTO, M. A. L. do. Valores de Uso


Turístico dos Geossítios de Sete Cidades (PI). Anuário do Instituto de Geociências – UFRJ.
Vol. 35, 1, 2012, p. 209-221. Disponível em: https://doi.org/10.11137/2012_1_209_221.
Acesso em: 19 de jan. de 2021.

MAXIMIANO, R. L. A. Considerações Sobre O Conceito De Paisagem. In: RA´E GA,


Curitiba, n. 8, p. 83-91, 2004. Editora UFPR.

MILL, R. C.; MORRISON, A. M. The Tourism System:an introductory tex. 2ed,


Englewood Clifss. 1992.

MINAYO, M. C. de S. Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18 ed. Petrópolis:


Vozes, 2001.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 30
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

MOURA, L de S. Estudo da paisagem da caatinga piauiense: parque nacional Serra das


Confusões - PI. 2004, 164p. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente),
Universidade Federal do Piauí, Teresina.

MOURA, D. C.; SILVA, J. B. DA.; MOURA, A. S. S. DE. Mapeamento e Análise


Espectro-Temporal das Unidades de Conservação de Proteção Integral da
Administração Federal no Bioma Caatinga. Parque Nacional Serra das Confusões.
Relatório Parcial. 2017. Disponível em:
https://www.fundaj.gov.br/images/stories/cieg/cap9_parna_serradas_confusoes_caatinga_fjn.
pdf. Acesso em: 10 de set. de 2020.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE TURISMO (OMT). Introdução ao turismo. São Paulo:


Roca, 2001.

PFALTZGRAFF, P. A. dos S.; TORRES, F. S. de M; BRANDÃO, R. de L. Geodiversidade


do estado do Piauí. – Recife: CPRM, 2010. Disponível em:
https://rigeo.cprm.gov.br/bitstream/doc/16772/1/Geodiversidade_PI.pdf. Acesso em: 20 de
jan. 2021.

PRANDI, J. Serra das Confusões - Piauí. Lugares Fantásticos. 2015, Brasil. Disponível
em:https://jp-lugaresfantasticos.blogspot.com/2014/09/serra-das-confusoes-piaui.html.
Acesso em: 22 de jan. de 2021.

SCHOBBENHAUS, C.; SILVA, C. R. Geoparques do Brasil: propostas volume.I.


Repositório Internacional de Geociência – CPRM. Disponível
em:<http://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/1209>. Acesso em 10 de Set de 2020

RODRIGUES, S. C.; ROCHA, M. R.; MOURA, A. A. de. Relevo, paisagem e o potencial


turístico no Parque Nacional da Serra da Canastra. 2018. Disponível em:
http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal8/Geografiasocioeconomica/Geografia
turistica/26.pdf. Acesso em: 27 de ago. de 2020.

ROSS, J. L. S. Geomorfologia, Ambiente e Planejamento. Contexto. São Paulo, 1991.

SANTOS. J. C. Quadro Geomorfológico do Parque Nacional de Sete Cidades, Piauí.


2001, 118p. Dissertação (Mestrado em Geografia), Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis.

SANTOS, J. C. O Quaternário do Parque Nacional Serra da Capivara e entorno, Piauí,


Brasil: morfoestratigrafia, sedimentologia, geocronologia e paleoambientes. Tese
(Doutorado em Geociência) Curso de Pós-graduação em Geociências, Departamento de
Centro de Tecnologia e Geociências, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, 2007.

SANTOS, J. S. dos.; SILVA NETO, M. da; BRITO, C. E. Perspectiva da prática do


Geoturismo no Parque Ambiental Jardim Botânico de Teresina. IN: Educação Ambiental
- o desenvolvimento sustentável na economia globalizada/Giovanne Seabra
(ORGANIZADOR). Ituiutaba: Barlaventos, 2020. P.473 - 482.

SILVESTRE. P. G. Paisagem e turismo: um estudo sobre a região de Saco do Mamanguá –


RJ, como uma oportunidade para o turismo. Trabalho de conclusão de curso de Geografia da
Universidade Federal de Juiz de Fora, 2016.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 31
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

PAKMAN, E. T. Sobre as definições de turismo da OMT: uma contribuição à História do


Pensamento Turístico. Anais do XI Seminário da Associação Nacional Pesquisa e Pós-
Graduação em Turismo Disponível em: https://www.anptur.org.br/anais/anais/files/11/34.pdf.
Acesso em: 25 de set. de 2020.

TRIBE, J. The Indiscipline of Tourisme. Annals of Tourism Research, vol. 24, nº 3 pp. 638-
657. 1997.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 32
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

ANÁLISE SWOT COMO FERRAMENTA DE GESTÃO


PARA O PROJETO GEOPARQUE CARIRI PARAIBANO

SWOT ANALYSIS AS A MANAGEMENT TOOL FOR THE CARIRI PARAIBANO GEOPARK


PROJECT
EL ANÁLISIS DAFO COMO HERRAMIENTA DE GESTIÓN DEL PROYECTO GEOPARQUE
CARIRI PARAIBANO

Ravena (1)
MilcaValcácer de Medeiros
Laís da Luz Macieira (1)
Leonardo
João ManoelFigueiredo de Meneses
de Vasconcelos Filho (2)(2)

Conflitos de interesses, filiação institucional e responsabilidades

Os autores declaram não haver interesses conflitantes.


Afiliações Institucionais são informadas pelo(s) autor(es) e de inteira responsabilidade do(s) informante(s).
O(s) autor(es) é(são) responsável(is) por todo o conteúdo do artigo, incluindo todo tipo de ilustrações e
dados.

Recebido em: ago./2021


Aceito em: mai./2022

(1) Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFPB. mllmacieira@gmail.com


(2) Prof. Adjunto vinculado ao Departamento de Engenharia e Meio Ambiente da Universidade Federal da Paraíba.
lfmeneses@hotmail.com

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 33
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Resumo
Com o intuito de promover conhecimento, proteger o geopatrimônio e desenvolver sustentavelmente as
comunidades, surgiu o conceito dos geoparques como instrumento inovador de conservação. Dessa forma, a
pesquisa trata da necessidade de implementar ações de proteção e divulgação dos elementos naturais e culturais
no território do Projeto Geoparque Cariri Paraibano – PGCP, apresentando como objetivo identificar os fatores
restritivos e propulsores no território do referido geoparque baseando-se na análise SWOT. Para coleta de dados
utilizou-se um questionário estruturado contendo seis perguntas abertas e que foram entregues à gestores
durante visitas a campo ou enviadas por e-mail em alguns casos. Os resultados obtidos através da análise dos
dados indicaram um total de 34 fatores externos e internos que afetam o território, divididos em 17 fatores
propulsores e outros 17 restritivos. No que se refere às propostas baseadas na matriz SWOT indicou-se como
sugestões de incremento da atividade turística e desenvolvimento socioeconômico do território, por exemplo, a
instalação de pontos de informações turísticas e elaboração de políticas de investimento para diversificação e
desenvolvimento do setor hoteleiro e alimentício.
Palavras-chave
Geoparques. Cariri Paraibano. Planejamento Organizacional.

Abstract
Aiming to promote knowledge, protect the geoheritage and sustainably develop communities, the concept of
geoparks as an innovative tool of conservation was introduced. This research addresses the need of
implementing actions in protecting and advertising the natural and cultural elements in the territory of the Cariri
Paraibano Geopark Project, located in the state of Paraíba, northeast of Brazil. The research's goal is to identify
the restrictive and propellent factors in the territory based on SWOT analysis. To collect data, a semistructure
questionnaire of 6 open questions was given to managers during the field visits or sent through email in some
cases. The results obtained through data analysis indicated a total of 34 external and internal factors that affect
the territory, divided into 17 propellent and other 17 restrictive factors. With regards to the proposals based in
the SWOT, it was indicated as suggestions of increasing tourist activity and the socioeconomical development
of the territory, for example, create points of touristic information and elaborate investment policies for the
diversification and development of the hotel and food sectors.
Keywords:
Geoparks. Cariri Paraibano. Organizational Planning.

Resumen
Con el fin de promover el conocimiento, proteger el geopatrimonio y desarrollar comunidades de manera
sostenible, surgió el concepto de geoparques como un instrumento innovador de conservación. Así, la
investigación aborda la necesidad de implementar acciones para la protección y difusión de elementos naturales
y culturales en el territorio del Proyecto Geoparque Cariri Paraibano - PGCP, con el objetivo de identificar los
factores restrictivos e impulsores en el territorio de ese geoparque basándose en el análisis DAFO. Para la
recolección de datos se utilizó un cuestionario estructurado que contenía 06 preguntas abiertas, las cuales fueron
entregadas a los gerentes durante las visitas de campo o enviadas por correo electrónico en algunos casos. Los
resultados obtenidos a través del análisis de datos indicaron un total de 34 factores externos e internos que
afectan el territorio, divididos en 17 factores impulsores y 17 factores restrictivos. En cuanto a las propuestas
basadas en la matriz DAFO, se señalaron sugerencias para incrementar la actividad turística y el desarrollo
socioeconómico del territorio, por ejemplo, la instalación de puntos de información turística y la elaboración de
políticas de inversión para la diversificación y desarrollo del sector hotelero y alimentario.
Palabras clave:
Geoparques. Cariri Paraibano. Planificación Organizacional.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 34
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Introdução

O
s últimos séculos foram marcados pela extinção de várias espécies e pela perda de
importantes elementos da geodiversidade que poderiam contribuir para o
entendimento do passado geológico da Terra.

Com a crescente necessidade do homem na utilização dos recursos naturais, as ameaças


não só a biodiversidade, mas também em relação a geodiversidade têm sido intensificadas e
podem levar a degradação e até mesmo à perda do patrimônio natural, termo que surgiu por
meio da Convenção do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (Unesco) realizada em Paris no ano de 1972. Nessa convenção o
patrimônio natural foi definido como:

[...] monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas ou


por grupos de tais formações com valor universal excepcional do ponto de
vista estético ou científico; as formações geológicas e fisiográficas e as zonas
estritamente delimitadas que constituem habitat de espécies animais e vegetais
ameaçadas, com valor universal excepcional do ponto de vista da ciência
ou da conservação; os locais de interesse natural ou zonas naturais
estritamente delimitadas, com valor universal excepcional do ponto de vista
da ciência, conservação ou beleza natural (UNESCO, 1985, p. 02).

Para Brilha et al. (2018) a geodiversidade representa a diversidade de rochas, minerais,


solos e processos que contribuem na formação das paisagens e que são o suporte para a vida na
Terra, podendo assim, reportar a história geológica do planeta. O conjunto de estruturas
abióticas relevantes que estão nos geossítios de um determinado território (país, estado,
município, unidade de conservação), ou seja, naqueles locais que melhor representam a
geodiversidade de uma dada região, denomina-se de geopatrimônio (FIGUEIRÓ; VIEIRA;
CUNHA, 2013).
Segundo Gray (2005), o ambiente físico desempenha um papel de grande valor na
prestação de serviços para o ambiente, como habitats e substratos que criam e nutrem a
diversidade biológica. Desta maneira, a distribuição geográfica e a sobrevivência das diversas
espécies do planeta estão em uma ligação diretamente proporcional com as condições físicas e
químicas do meio em que ocupam, ou seja, as espécies, sejam elas da fauna ou flora, são
completamente dependentes dos elementos que compõem a geodiversidade do nosso planeta.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 35
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Sendo assim, para que se possa garantir que parte da herança comum seja repassada em
bom estado às gerações futuras é necessário que se defina o que é realmente passível de ser
foco de práticas específicas de gestão e conservação, visto que, quanto maior o conjunto de
formações geológicas e geomorfológicas de uma região, maior é o potencial para usufruir
desses recursos para a conservação da natureza como um todo. O desafio da conservação do
geopatrimônio passa pela difusão do conhecimento geocientífico e pelo desenvolvimento
sustentável das comunidades onde esse patrimônio está inserido. Nessa perspectiva surgem os
geoparques que, de acordo com UNESCO (2015, p. 01), são: “áreas geograficamente
unificadas, onde sítios e paisagens de relevância geológica internacional são gerenciados com
base em um conceito holístico de proteção, educação e desenvolvimento sustentável”.
Para que os geoparques sejam uma alternativa de desenvolvimento e atinjam o objetivo
de mudança é de suma importância que estejam baseados em um planejamento pautado em
metodologias que analisem os aspectos que sejam tidos como potenciais para sua evolução,
bem como aqueles que possam se manifestar como prejudicais ao avanço das atividades.
Dentre as diversas metodologias para planejamento organizacional, uma tem se
destacado no âmbito dos geoparques: a análise SWOT do acrônimo das palavras Strengths,
Weaknesses, Opportunities e Threats. O objetivo dessa metodologia é compreender o ambiente
interno, entendido por forças e fraquezas, elencando as vantagens e desvantagens em relação a
outras instituições e caracterizar o ambiente externo da organização, nomeadas por
oportunidades e ameaças (CAVALCANTI; GUERRA, 2019).
Segundo Medeiros et al. (2010), a análise SWOT produz uma capacidade de
visualização clara, tanto externa como interna da organização, possibilitando ao gestor
potencializar os pontos fortes, minimizar os pontos fracos, bem como aproveitar as
oportunidades e proteger-se das ameaças externas.
Para Banzato et al. (2012), uma vez listadas as forças, oportunidades, fraquezas e
ameaças, essas variáveis devem ser cruzadas entre si (Figura 01) para se ter a análise estratégica
do empreendimento, buscando estabelecer medidas que minimizem as fraquezas e ameaças e
maximizem as potencialidades.
Como resultado desses cruzamentos são gerados cenários que, segundo Medeiros et al.
(2010), podem ser assim definidos:

• Alavancagem = forças e oportunidades: é a combinação mais importante e mais eficaz, pois


visa maximizar suas forças mediante o aproveitamento das oportunidades.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 36
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

• Vulnerabilidade = forças e ameaças: questiona-se como utilizar os pontos fortes para


diminuir o potencial das ameaças.
• Limitações = fraquezas e oportunidades: deve-se usar as oportunidades para diminuir os
pontos fracos.
• Problemas = fraquezas e ameaças: nessa situação são encontrados os fatores de risco para a
continuidade da atividade. Essa combinação deve ser utilizada como base para uma
estratégia mais defensiva.

Figura 01 - Interação das variáveis da análise estratégica

Fonte: Adaptado de Ministério do Meio Ambiente (2002).

Depois de elaborada a matriz de forças, oportunidades, fraquezas e ameaças e de sua


análise deve-se priorizar os esforços na busca de solução para aqueles pontos que mais afetam
negativamente a organização. Com o estudo do SWOT definido, podem-se identificar os fatores
críticos para o sucesso da atividade. Assim, os objetivos e metas podem ser definidos com mais
precisão e coerência.
Como exemplos de aplicação do SWOT no planejamento de geoparques, temos o
Geopark Arouca em Portugal, que em seu plano de gestão abordou o cenário econômico da
área, retratando a importância do geoturismo para o local, tendo a preocupação de mostrar quais
as ações teriam que ser realizadas, os níveis de prioridades, cronogramas e os responsáveis a
executarem as ações, apresentou ainda uma estratégia de marketing e comunicação com o
objetivo de organizar, posicionar e direcionar os serviços, os produtos e a marca “Geopark
Arouca”, além de contribuir para a promoção de ações fundamentais para valorizar, proteger e
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 37
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

dinamizar o território (CARDOSO, 2013). Outro geoparque da Rede Global de Geoparks


(RGG) que utilizou o SWOT em seu plano de gestão foi o English Riviera, no Reino Unido,
tendo sido a análise aplicada ao geopatrimônio da área (CARDOSO, 2013).
No Brasil o Geopark Araripe, no Ceará, integrante da RGG, de acordo com Correia
(2013), aplicou em sua avaliação sistemática a metodologia para analisar as forças, as fraquezas,
oportunidades e ameaças presentes na região do geoparque, ajudando os gestores a encontrarem
suas competências básicas e combiná-las com as possíveis potencialidades com o ambiente que
as cerca. Outro exemplo no Brasil é o Geoparque Aspirante Seridó, no Rio Grande do Norte,
que assim como o English Riviera utilizou a análise baseando-se nos geossítios da proposta.
Nesse contexto, o objetivo geral dessa pesquisa é analisar os fatores propulsores e
restritivos para o desenvolvimento dos municípios que compreendem o Projeto Geoparque
Cariri Paraibano – PGCP, por meio da análise SWOT. Os objetivos específicos são: identificar
forças, oportunidades, fraquezas e ameaças presentes no território da proposta; avaliar sua
situação atual com base na análise SWOT e por fim, sugerir medidas que potencializem as
forças e oportunidades e atenuem as fraquezas e ameaças presentes no território.

Área de estudo

A área de estudo compreende o limite territorial do Projeto Geoparque Cariri Paraibano


– PGCP, que corresponde ao somatório dos territórios dos municípios de Boa Vista, Boqueirão,
Cabaceiras e São João do Cariri (Figura 02) o que totaliza cerca de 1.980 km2.
O clima da região é tipicamente semiárido caracterizado pelos baixos índices
pluviométricos, temperaturas médias elevadas com cerca de 27° C, limitações edáficas e déficit
hídrico acentuado (TRAVASSOS, 2012) os solos em sua maioria se apresentam como litólicos,
com altos teores de salinidade, pouco profundos e com pedregosidade aparente, onde o
intemperismo físico age ao decorrer dos anos.
De acordo com a proposição de Corrêa et al. (2010) a área de estudo constitui parte da
Depressão Intraplanáltica Paraibana, setor esse que devido à longa estabilidade tectônica,
associado à severidade do clima semiárido, permitiu o desenvolvimento de feições bastante
planas (as superfícies aplainadas), sem desenvolvimento de regolito e com exposição de rochas
sãs diretamente à superfície. O relevo é predominantemente plano, com altitudes que variam
400 e 500 metros, podendo ocorrer áreas de exceção como nos casos de inselbergs e serras onde
essas altitudes podem ultrapassar os 600 metros (CARVALHO, 1982). Também são destaque

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 38
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

no Cariri os Maciços Residuais, sendo compostos principalmente por processos de granitização


ocorridos no Pré-Cambriano, compostos por inselbergs e serras.

Figura 02 - Mapa de localização do Projeto Geoparque Cariri Paraibano

Fonte: Os autores (2021)

Segundo Meneses e Souza (2016) a litologia da área é composta basicamente por rochas
magmáticas e metamórficas das quais se destacam granitos, basaltos, gnaisses, filitos, xistos e
migmatitos. A região é possuidora de notável beleza cênica derivada da presença de batólitos,
inselbergs, matacões e diques associados ao magmatismo plutônico ocorrido no período
Neoproterozóico.
A vegetação predominante é do tipo caatinga hiperxerófila e de acordo com Silva e
Meneses (2011) compreende formações vegetais de porte variável, caducifólia, xerófitas, com
grande quantidade de espinhos, o que permite que estas espécies passem por longos períodos
de escassez hídrica, uma vez que a superfície de evaporação se apresenta bem reduzida durante
a estação mais seca.
Na área de estudo encontra-se a Área de Proteção Ambiental (APA) do Cariri Paraibano,
uma Unidade de Conservação (UC) criada pelo governo do estado a partir do Decreto n° 25.083
em junho de 2004, apresentando uma área de 18.560 hectares. A APA do Cariri Paraibano foi
criada com o intuito de assegurar a conservação principalmente dos recursos naturais de âmbito

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 39
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

abiótico (Lajedo de Pai Mateus, Lajedo Manoel de Souza e o Lajedo do Bravo), garantindo a
utilização sustentável ou a proteção integral desses geomonumentos e a biota associada a eles.
Interessante também é destacar que é comum encontrar registros arqueológicos na forma
de inscrições rupestres, artefatos líticos e cemitérios gerados pelas populações que habitavam a
região desde muito antes da ocupação “pós-descoberta” do Brasil, alguns desses sítios
arqueológicos podendo ter alguns milhares de anos de existência (ALMEIDA, 1979).
Outro elemento de destaque é a cultura regional, caracterizada por um povo receptivo e
resistente no que diz respeito à convivência com o regime de estiagem comum do semiárido.
Elementos culturais como o artesanato e a gastronomia também são muito fortes na região do
Cariri, o que desenvolve uma particularidade quando se trata de oferecer uma experiência única
aos visitantes.
No sentido de estimular o desenvolvimento sustentável suportado pela geodiversidade
da região, em particular de caráter turístico, científico e educativo, desde o final do ano de 2014
vêm sendo desenvolvidos estudos com a perspectiva da proposição de criação de um geoparque
que englobe os municípios de Cabaceiras, Boa Vista, São João do Cariri e Boqueirão. Tais
estudos culminaram na publicação da proposta do Geoparque Cariri Paraibano (LAGES et al.,
2018).
Desta forma, a junção desses municípios resulta a existência de particularidades, como
o geopatrimônio, a cultura, a gastronomia e o saber popular, que são pontos bem marcantes, os
quais completam os itens básicos para que a população possa usufruir dessa riqueza por meio
do turismo, da educação e da ciência, pilares necessários para que uma região seja
potencialmente alvo da criação de um geoparque.

Procedimentos metodológicos

Com relação à abordagem do problema, trata-se de uma pesquisa qualitativa, pois


realizou-se a análise organizacional do território através da coleta de opiniões de atores locais
sobre os elementos da análise SWOT.
Para a estruturação da análise estratégica foi necessário realizar adaptações de estudos
pré-existentes visando adequá-los às características particulares da área estudada. As principais
referências utilizadas para construção da matriz SWOT foram os trabalhos de Dantas e Melo
(2008), Medeiros et al. (2010), Banzato et al. (2012), Medeiros (2015), SEBRAE (2015) e
Nogueira e Silva (2017).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 40
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

A população da pesquisa foi composta por 21 pessoas, sendo três prefeitos, dois chefes
de gabinete, um agente de desenvolvimento Ambiental, quatro diretores de turismo, um
secretário de desenvolvimento social, quatro chefes de divisão de cultura, quatro dirigentes
municipais de educação e três secretários de agricultura e meio ambiente. Esse público foi
escolhido por integrarem o corpo gestor dos municípios que integram o PGCP, escolhidos sob
o critério da observância de se ter pessoas chave que representassem os municípios e fizessem
parte da administração pública municipal, levando em consideração o mais amplo leque de
opiniões da forma mais equânime possível atendendo às premissas estabelecidas em Neto
(2011).
Utilizou-se como instrumento para coleta de dados um questionário semiestruturado
contendo seis perguntas abertas e que foram entregues aos gestores durante visitas a campo ou
enviadas por e-mail em alguns casos.
Após respondidos, os questionários foram analisados e sistematizou-se os elementos de
força, fraqueza, oportunidades e ameaças indicados pelos entrevistados, de modo a gerar a
matriz SWOT da área de estudo. Embora a matriz tenha sido fundamentada nas respostas dos
participantes da pesquisa, realizou-se um crivo técnico para filtrar as respostas frente à
possibilidade de ocorrência de um dos três erros de interpretação do questionário SWOT por
parte dos entrevistados, os quais podem ser:

• O fator citado não se encaixa na realidade do território ou da região.


• Houver uma troca referente ao cenário (como por exemplo, o fator deveria ser colocado em
forças do cenário interno e está em oportunidades no cenário externo, não havendo
concordância com o conceito dos itens do SWOT).
• E ainda, no caso que ocorrer a aparição de um mesmo fator em elementos contrários (por
exemplo, o mesmo fator sendo citado em forças e fraquezas). No caso dessa ocorrência,
optará por deixá-lo no elemento que foi mais citado e descartará a resposta onde o fator foi
menos citado.

Em seguida foi calculado o número de relações existentes (potencialidades do cenário


interno nas linhas horizontais e potencialidades do cenário externo nas colunas da matriz) para
se saber qual cenário atual do PGCP, conforme proposto em SEBRAE (2015) e Medeiros et al.
(2010).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 41
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Após a avaliação da matriz SWOT elaborada, foram formuladas sugestões para o


fortalecimento dos pontos fortes e aproveitamento das oportunidades, bem como medidas para
reduzir as fraquezas e ameaças.

Resultados

Tomando por base as respostas recebidas a partir dos questionários, elaborou-se um


quadro síntese das componentes da Matriz SWOT para a área de estudo (Quadro 01).

Quadro 01 - Síntese das respostas do SWOT baseado nos questionários da pesquisa


FORÇAS FRAQUEZAS
Festas e eventos Serviço de apoio ao turismo
Manifestações culturais Meios de hospedagem
Artesanato e produtos típicos Serviços de alimentação
Pontos turísticos Sinalização
Destino turístico consolidado Divulgação
Sítios históricos Estradas e vias de acesso local
Atividades econômicas Capacitação de mão de obra
Atividades técnico-científicas Políticas públicas
Atrativos turísticos naturais Empreendedorismo local
Recursos turísticos naturais Infraestrutura
Espaços para eventos e apresentações
culturais
Proteção ao patrimônio histórico e natural
OPORTUNIDADES AMEAÇAS
Festas e eventos fora do território Regime climático/Segurança Hídrica
Rotas turísticas regionais Segurança pública
Rodovias federais e estaduais Desarticulação dos municípios
Proximidade de grandes centros urbanos Alteração de hábitos
Proximidade de aeroportos Centralização do marketing turístico
Instituições de ensino superior e pesquisa na
região
Interesse da mídia nacional/internacional
pela região
Fonte: Dados da pesquisa

Como se pode observar, a síntese resultou em um total de 34 fatores externos e internos.


Destes, 17 são fatores propulsores, referentes a 10 forças e 7 oportunidades. O número de
fatores restritivos apontados foi de 12 fraquezas e 5 ameaças, mostrando uma maior influência
dos fatores internos (10 forças + 12 fraquezas = 22) do que dos fatores externos (7
oportunidades + 5 ameaças = 12).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 42
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Para se chegar a esse resultado, primeiro foi realizada uma análise das respostas obtidas.
Dessa análise identificaram-se algumas incongruências nas respostas presentes nos
questionários, as quais associamos à inexperiência dos entrevistados em relação à técnica do
SWOT.
A principal dificuldade observada entre os entrevistados foi em apontar fatores do
cenário externo, sendo que muitas das respostas colocadas como oportunidades são apenas
anseios da população (como por exemplo, criação de uma linha de crédito para o homem do
campo e de um voo Campina Grande/Argentina) ou seja, eles veem como algo a ser alcançado
e que poderia melhorar o cenário atual e não que já são oportunidades presentes na região, isto
nos permite dizer que, muitas das respostas não representaram o diagnóstico atual da área.
Outra situação percebida foi que algumas das respostas se encaixam no elemento forças
e não no elemento oportunidades, por exemplo, a Festa do Bode Rei de Cabaceiras. Em outros
casos, algumas das respostas não se encaixam no elemento em que foram colocadas, como por
exemplo, algumas respostas sobre hotelaria foram inseridas no elemento forças no que na
realidade do território cabe à fraquezas. Dessa forma, optou-se por computá-la no elemento que
foi mais citada (mesmo hotelaria também sendo citada em forças, descartou-se o fator do
elemento força e deixou apenas em fraquezas por ter sido citada mais vezes).
Em relação às ameaças, o que ocorreu foi que algumas das respostas contradiziam a
realidade, por exemplo, falta de universidades, mesmo existindo alguns polos de ensino da
UFPB e outras que entraram como ameaças na verdade são intrínsecas ao território, logo, seriam
fraquezas, por exemplo, falta de divulgação e falta de sinalização.
Feitos os devidos ajustes e sistematizados os fatores conforme já apontado no Quadro
01, foi montada a matriz de avaliação estratégica propriamente dita (Quadro 02) para se saber
quantas relações existem quando se relacionam os fatores internos com os fatores externos.
Após estruturar a Matriz SWOT, percebeu-se, que o panorama atual é que o Projeto
Geoparque Cariri Paraibano se enquadra no cenário “desenvolvimento”, conforme metodologia
de SEBRAE (2015) ou “alavancagem” de acordo com Medeiros et al. (2010), ou seja, existe
um número muito maior de ligações entre as forças e as oportunidades do que entre as ameaças
com as fraquezas.
No geral houveram 40 ligações entre forças e oportunidades, 18 ligações entre forças e
ameaças, 33 ligações entre fraquezas e oportunidades e 16 ligações entre fraquezas e ameaças.
Percebe-se que em relação ao cenário externo, observam-se mais oportunidades do que
ameaças e no cenário interno, mais fraquezas do que forças. Dessa forma, a tendência atual é
reforçar o que o território do PGCP já tem de potencial e aproveitar as oportunidades que estão

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 43
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

no cenário externo para maximizar as forças que são intrínsecas da área. A análise de cada
quadrante com suas devidas relações, poderá servir para tomada de decisões no futuro. Tal
tarefa caberá ao futuro corpo gestor do geoparque, que deverá traçar objetivos se o geoparque
irá crescer ou se desenvolver aproveitando as oportunidades para minimizar as fraquezas e
ameaças. A seguir, apresentaremos, sucintamente, a descrição dos fatores da matriz SWOT
baseando-se nos questionários da pesquisa e visitas in loco.

Quadro 02 - Matriz SWOT do Projeto Geoparque Cariri Paraibano


CENÁRIO EXTERNO → OPORTUNIDADES AMEAÇAS

AM1
AM2
AM3
AM4
AM5
CENÁRIO INTERNO
OP1
OP2
OP3
OP4
OP5
OP6
OP7

Festas e eventos X X X X X X X X X
Manifestações culturais X X X X
Artesanato e produtos típicos X X X X
Pontos turísticos X X X X X X
FORÇAS

Destino turístico consolidado X X X X X X X


Sítios históricos X X X X
Atividades econômicas X X X X X X X
Atividades técnico-científicas X X
Atrativos turísticos naturais X X X X X X X X
Recursos turísticos naturais X X X X X X X
Serviço de apoio ao turismo X X X X
Meios de hospedagem X X X
Serviços de alimentação X X X
Sinalização X X X X X
Divulgação X X X X X X X
FRAQUEZAS

Estradas e vias de acesso local X X X X


Capacitação da mão de obra X X
Políticas públicas X X X X X
Empreendedorismo local X X X
Infraestrutura X X X
Espaço para eventos e
X X X X X
apresentações culturais
Proteção ao patrimônio histórico e
X X X X X
cultural
Legenda: OP1: Festas e eventos fora do território; OP2: Rotas turísticas regionais; OP3: Rodovias federais
e estaduais; OP4: Proximidade de grandes centros urbanos; OP5: Proximidade de aeroportos; OP6:
Instituições de ensino superior e pesquisa na região; OP7: Interesse da mídia nacional/internacional pela
região; AM1: Regime climático/Segurança Hídrica; AM2: Segurança pública; AM3: Desarticulação dos
municípios; AM4: Alteração de hábitos; AM5: Centralização do marketing turístico
Fonte: Dados da pesquisa

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 44
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Caracterização das forças e fraquezas da área de estudo

Conforme indicado, foram observados 10 fatores no elemento forças do território, que


se distribuem em componentes do patrimônio cultural e natural.
As principais festividades de ocorrência anual na área de estudo são a Festa do Bode
Rei (Cabaceiras) e a Festa de Nossa Senhora dos Milagres (São João do Cariri) que atraem
milhares de pessoas todos os anos. Destacam-se também as festas de padroeiras dos demais
municípios e as de emancipação política.
As manifestações culturais resistem por meio da memória coletiva, mantendo-se vivos
os costumes e tradições locais. Essas manifestações podem ser exemplificadas pelas romarias,
contação de histórias místicas, literatura de cordel, artesanato (especialmente o crochê e peças
em couro) e gastronomia (pratos à base de bode, doces feitos com cactáceas, dentre outros).
No turismo, observam-se diversos pontos de visitação com relevância cultural como o
Letreiro da Roliúde Nordestina em Cabaceiras, os cruzeiros, os centros históricos e o Açude
Boqueirão. Associados aos atrativos e recursos turísticos naturais temos os lajedos do Pai
Mateus, do Bravo, da Salambaia, do Marinho, os depósitos fossilíferos, dentre outros, que
atribuem à área de estudo a condição de destino turístico consolidado.
As principais atividades econômicas são a caprinovinocultura, o turismo, o artesanato,
a mineração em Boa Vista e a agricultura de hortaliças em Boqueirão.
Por fim, destaca-se a forte presença de atividades técnico-científicas tais como feiras
literárias e eventos de cunho científico, presença de instituições de ensino superior, seja por
meio de polos de ensino, seja pela presença de instalações de pesquisa, como a Bacia Escola da
UFPB em São João do Cariri.
Em relação às fraquezas 12 foram identificadas, e muitas relacionam-se com a prestação
de serviços à visitantes/turistas.
Serviços de apoio direto ao turista, tais como centros de informação, catalogação de
pontos turísticos e promoção de vistas aos atrativos naturais são uma realidade consolidada
apenas em Cabaceiras. Em relação a serviços de hospedagem e de alimentação, apenas
Cabaceiras e Boqueirão se destacam com um número de empreendimentos mais expressivo,
enquanto que em São João do Cariri e Boa Vista esses serviços são incipientes.
As vias de acesso aos centros urbanos dos municípios são asfaltadas, mas as que fazem
ligação aos atrativos da zona rural são todas terraplanadas, o que dificulta o tráfego de veículos
especialmente em épocas de chuvas. Associe-se a isso a precária sinalização nas estradas, o que
prejudica a ida de visitantes aos atrativos.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 45
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Também foram citadas fraquezas relacionadas a competências do poder público. Dentre


elas, destacam-se investimentos em infraestrutura como conservação patrimonial, saneamento
ambiental e acessibilidade; criação de espaços públicos para eventos e apresentações artísticas
e divulgação do potencial turístico.
Do ponto de vista da iniciativa privada, as principais fraquezas indicadas relacionam-se
com a necessidade de fomentar o empreendedorismo na população e a capacitação de mão de
obra, em particular para atuar nos serviços de atendimento ao turista.

Caracterização das oportunidades e ameaças presentes fora do


território do PGCP

Passando aos elementos do cenário externo ao território, destacaram-se 7 oportunidades


e 5 ameaças.
Em síntese, as oportunidades dizem respeito à existência de festas e eventos anuais bem
consolidados em municípios vizinhos à área de estudo, à exemplo do São João de Campina
Grande. Esses eventos podem ser úteis para aumentar a demanda turística no território.
A proximidade com Campina Grande, segunda maior cidade do estado da Paraíba,
também surge nas oportunidades por dispor de aeroporto internacional, instituições de ensino e
pesquisa e por se tratar de um polo concentrador de comércio, serviços e indústrias.
Os municípios em estudo integram rotas turísticas mais amplas, como é o caso da Rota
dos Lajedos e da Rota Cariri Cultural, que contribuem para um número maior de visitantes.
Os dois últimos destaques nas oportunidades são as vias de acesso com rodovias federais
de boa qualidade e o interesse da mídia nacional/internacional pela região do Cariri Paraibano,
especialmente para a produção de teledramaturgia e cinematografia.
Em relação às ameaças, a principal delas diz respeito a uma característica natural da
região que é a baixa pluviosidade, o que reflete na segurança hídrica, muito dependente portanto
de fontes de abastecimento como grandes açudes públicos ou barragens privadas.
A desarticulação entre os municípios estudados e os vizinhos dificulta o estabelecimento
de parcerias que poderiam alavancar a economia local. O marketing turístico é outro elemento
restritivo já que é bastante focado em locais já consolidados, abafando a possibilidade de outros
destinos se desenvolverem.
Foram citados ainda a segurança pública, sob uma ótica mais regional, uma vez que não
é tão incomum grupos criminosos realizarem ações pontuais no território gerando sensação de
insegurança na população e o último item das ameaças seria ligada ao receio da perda da

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 46
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

identidade local devido às alterações de hábitos induzidas por uma onda globalizante que em
geral está associada à consolidação de destinos turísticos.

Análise sob a ótica do pesquisador em relação aos fatores do SWOT na


área do PGCP

Ao decorrer da análise das respostas apresentadas pelos entrevistados no questionário


do SWOT, verificou-se que não foram citados alguns fatores importantes que deveriam fazer
parte do estudo, mas que foram identificados ao longo dos trabalhos de campo. Dessa forma,
foi observada a necessidade de inserção de alguns fatores a mais para se ter um melhor
diagnóstico da área.
No Quadro 03 apresentam-se os itens que na visão do pesquisador são imprescindíveis
para a avaliação de estratégias no processo de tomada de decisão.
Foram identificados, no total, 22 fatores externos e internos com base nas observações
realizadas com a vivência no território. Destes, 8 são fatores propulsores, referentes a 6 forças
e 2 oportunidades. O número de fatores restritivos apontados foi de 11 fraquezas e 3 ameaças,
mostrando uma maior influência dos fatores internos (6 forças + 11 fraquezas = 17) do que dos
fatores externos (2 oportunidades + 3 ameaças = 5).

Quadro 03 - Fatores do SWOT baseado na visão do pesquisador com pesquisa in loco


FORÇAS FRAQUEZAS
Hospitalidade Formação técnica para o turismo
inexistente
Associativismo/cooperativismo Ausência de postos de informação
turísticas
Turismo não sazonal Ausência de agências receptivas
Áreas conservadas para refúgio de fauna Necessidade de priorizar ações na área do
turismo
Estado de conservação dos atrativos Inexistência do Inventário da Oferta
naturais Turística
Localização geográfica Desarticulação política
Mineração
Atrativos em propriedade privada
Caça predatória
Serviços de transporte
Capacitação dos gestores públicos
OPORTUNIDADES AMEAÇAS
Mapa do Turismo do Brasil Fechamento eventual de atrativos para
eventos
GGN/ Rede Latina Obras de infraestrutura
Expansão da atividade de mineração
Fonte: Dados da pesquisa

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 47
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Assim como no SWOT baseado nas respostas dos questionários foi possível identificar
mais fatores internos do que externos influenciando o geoparque. Supõem-se que tal fato se
deve à uma maior facilidade de elencar os aspectos que são intrínsecos à área de estudo. Na
sequência serão apresentadas as descrições dos fatores.

Caracterização das forças e fraquezas presentes no território do PGCP

Além daquelas extraídas dos questionários, foram verificadas mais 6 forças e onze
fraquezas, as quais sintetizamos a seguir.
Das forças, há de se destacar uma que está muito ligada às características culturais do
povo caririzeiro que é a hospitalidade para com visitantes e pesquisadores, o que favorece o
desenvolvimento turístico da região. Verificou-se também uma forte presença de associações e
cooperativas dos mais diversos fins, o que denota um positivo poder de organização social para
o alcance de objetivos comuns das comunidades.
As três últimas forças estão ligadas ao turismo e meio ambiente. A área apresenta uma
localização geográfica estratégica, estando na porção central do estado e possibilitando
conexões com diversos outros destinos turísticos estaduais. Considerando que grande parte dos
atrativos turísticos da área ligam-se à geodiversidade, a visitação independe de sazonalidade,
diferente de práticas como o turismo de sol e praia. O bom estado de conservação dos atrativos
naturais e a existência de várias áreas ainda bem conservadas e possibilitando a criação de
refúgios ecológicos encerram as forças verificadas.
Grande parte das fraquezas, por sua vez, apresentam relação com o turismo, tendo sido
observada a inexistência de programas de capacitação técnica para o turismo, ausência de postos
de informação turística (à exceção de Cabaceiras) e de agências receptivas locais, inexistência
de inventários de oferta turística e necessidade de priorização de ações na área do turismo.
Do ponto de vista de gestão pública destacam-se a desarticulação política entre os
municípios que compõem a área de estudo, bem como a necessidade de maior e melhor
capacitação dos gestores em suas áreas de atuação, especialmente no que se refere à elaboração
de projetos para captação de recursos.
Verifica-se também a presença de duas fontes de pressão ambiental, que é o caso da
mineração e da caça predatória que colocam em risco a fauna/flora e os recursos da
geodiversidade.
Finalizando as fraquezas, citamos a precária estrutura de serviços de transporte que
praticamente inviabiliza a visitação aos atrativos que não estejam situados nos núcleos urbanos
dos municípios caso o viajante não disponha de veículo próprio para o traslado e também o fato
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 48
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

dos atrativos encontrarem-se, em sua maioria, em propriedades privadas, fazendo com que a
visitação fique condicionada à vontade dos proprietários das terras, podendo, em caso de
negativa, impactar significativamente o turismo local.

Caracterização das oportunidades e ameaças presentes fora do


território do PGCP

Verificaram-se duas oportunidades que podem ser aproveitadas para alavancar o


desenvolvimento dos municípios em estudo. A primeira é a possibilidade dos municípios se
integrarem ao Mapa de Turismo do Brasil, organizado pelo Ministério do Turismo, e que elenca
os municípios elegíveis a receberem ações da pasta do turismo do governo federal. A segunda
é a existência de redes internacionais de geoparques às quais o território, após consolidar-se
como um geoparque, poderá pleitear se integrar, possibilitando uma maior projeção
internacional e trocas de experiências em rede.
Sobre as ameaças, foram identificadas três. A primeira é a possibilidade de fechamento
eventual dos atrativos turísticos para eventos de acesso restrito por longos períodos de tempo,
o que pode prejudicar toda a cadeia de atrativos locais pela queda de demanda na região.
A segunda ameaça são as obras de infra-estrutura que podem comprometer monumentos
naturais importantes tanto do ponto de vista ecológico quanto turístico. A última ameaça diz
respeito a possibilidade de expansão da atividade de mineração que pode comprometer o
geopatrimônio e o meio biótico, especialmente no caso das áreas de extração de bentonita, no
município de Boa Vista.

Conclusão

A referida pesquisa demonstrou que os métodos utilizados foram válidos para obtenção
dos aspectos fundamentais para a gestão do PGCP, entretanto, ressalta-se a detecção de algumas
inconsistências nos dados coletados por meio dos questionários, uma vez que algumas das
respostas dadas pelos entrevistados não foram colocadas de forma correta por eles nos
questionários.
Os resultados obtidos mostraram que alguns aspectos importantes para discussão
relativa à gestão territorial e ambiental não foram suficientemente citados pelos entrevistados
entrando como um dos fatores limitantes da pesquisa e, portanto, não se fizeram presentes na
elaboração da matriz de avaliação estratégica, sendo apenas elencados segundo a visão do
pesquisador, auxiliando assim, uma visão mais ampla e completa dos resultados desta pesquisa.
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 49
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

É importante lembrar que a presente pesquisa se baseou na percepção de uma parcela


da sociedade envolvida com a gestão dos municípios integrantes do PGCP, porém, devido ao
não conhecimento do SWOT, as respostas utilizadas para geração dos resultados receberam
resultado de senso comum, trazendo como consequência a confusão das respostas
principalmente no que diz respeito ao ambiente externo.
Apesar das limitações técnicas encontradas, obteve-se um melhor entendimento do que
realmente a área tem de potencial a ser trabalhado e como o cenário atual do PGCP enquadra-
se, nesse caso, cabe atualmente a propositura “desenvolvimento/alavancagem”, onde a
tendência atual é reforçar o que o território do PGCP já tem e pode ser utilizado e aproveitar as
oportunidades que estão no cenário externo para maximizar as forças que foram encontradas
através desta pesquisa.
Desta maneira, a análise SWOT pode ser usada em diferentes períodos, pois apresenta-
se como medidor de desenvolvimento, ou seja, os pontos fracos de hoje podem não ser os
mesmos em momentos futuros, o que pode denotar uma evolução do geoparque ou não.
Portanto, espera-se que esta pesquisa contribua para identificar as principais
potencialidades e problemas na área do PGCP, assim como, ter possibilitado obter dados da
atual conjuntura voltada às atividades turísticas, e com isso, despertar nos planejadores a
iniciativa de elaborar propostas para promover a marca “Geoparque Cariri Paraibano” e assim
desenvolver economicamente os municípios integrantes do mesmo, baseados primordialmente
no turismo.
O estudo apresentado foi relevante ao representar a primeira iniciativa de análise do
PGCP, apontando seus fatores restritivos e propulsores mais críticos que podem auxiliar na
gestão efetiva do geoparque e direcionar os pontos de maior atenção nas ações que serão
propostas futuramente. Além, disso, por ser uma metodologia de fácil aplicação e que gera um
resultado rápido, poderá ser usado como modelo para ser utilizado em outros geoparques.
Desta maneira, todos os objetivos propostos no início do trabalho foram atendidos,
atingindo as perspectivas descritas como objetivo geral da presente pesquisa. É relevante realçar
que este trabalho não encerra o estudo sobre a referida temática, mas pode ser usado como
referência de novas pesquisas, que gradativamente poderão intensificar novos conhecimentos
ao tema.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 50
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Referências

ALMEIDA, R. T. A arte rupestre nos Cariris Velhos. João Pessoa: Editora Universitária,
UFPB, 1979. 125 p.

BANZATO, B. M.; FAVERO, J. M.; AROUCA, J. A. C.; CARBONARI, J. H. B. Análise


ambiental de unidades de conservação através dos métodos SWOT e GUT: O caso do Parque
Estadual Restinga de Bertioga. Revista Brasileira de Gestão Ambiental, v. 6, n. 1, p. 38-49,
jan./dez., 2012.

BRILHA, J. Geoconservation and protected areas. Environmental Conservation,


Cambridge, v. 29 n. 3, p. 273-276, set. 2002.

BRILHA, J.; GRAY, M.; PEREIRA, D. I.; PEREIRA. P. Geodiversity: An integrative review
as a contribution to the sustainable management of the whole of nature. Environmental
Science & Policy. v. 86. p. 19-28. 2018.

CARDOSO, C. S. Geoparque Seridó RN: Valores Turísticos e Gestão. 2013. 142 f.


Dissertação (Mestrado em Turismo) Porgrama de Pós Graduação em Turismo. Universidade
do Rio Grande do Norte, Natal, 2013.

CARVALHO, M. G. R. F. Estado da Paraíba: classificação geomorfológica. João Pessoa:


Editora da UFPB, 1982.

CAVALCANTI, L. M. R.; GUERRA, M. G. G. V. Diagnóstico Institucional da Universidade


Federal da Paraíba a partir da Análise SWOT. Revista Meta: Avaliação. v. 11, n. 33, p. 696-
718, 2019.

CORRÊA, A. C. B.; TAVARES, B. A. C.; MONTEIRO, K. A.; CAVALCANTI, L. C. S.;


LIRA, D.R. Megageomorfologia e morfoestrutura do Planalto da Borborema. Revista do
Instituto Geológico. São Paulo, v. 31, p. 35-52, 2010.

CORREIA, R. R. O geoturismo como estratégia de desenvolvimento regional: o caso do


geoparque Araripe/ Ceará – Brasil. 2013. 87 f. Dissertação (Mestrado em Economia Rural)
– Programa de Pós Graduação em Economia Rural. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,
2013.

DANTAS, N. G. S.; MELO, R. S. O método de análise SWOT como ferramenta para


promover o diagnóstico turístico de um local: o caso do município de Itabaiana/PB. Caderno
Virtual de Turismo, v. 8, n. 1, p. 118-130, 2008.

FIGUEIRÓ, A. S.; VIEIRA, A. A. B.; CUNHA, L. Patrimônio geomorfológico e paisagem


como base para o geoturismo e o desenvolvimento local sustentável. CLIMEP -
Climatologia e estudos de paisagem, v. 8, p. 49-80, 2013.

GRAY, M. Geodiversity and geoconservation: what, why, and how? The George Wright
Forum. v. 22, n. 3, p. 4-12, 2005.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 51
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

LAGES, G. A.; FERREIRA, R. V.; MENESES, L. F.; NASCIMENTO, M. A. L.; FIALHO,


D. Geoparque Cariri Paraibano: proposta. Brasília: CPRM, 2018, 53p. Disponível em:
http://rigeo.cprm.gov.br/jspui/handle/doc/20244. Acessado em: 03 de ago. de 2021.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Roteiro Metodológico de Planejamento – Parque


Nacional, Reserva Biológica, Estação Ecológica. Brasília: IBAMA, 2002.

MEDEIROS, J. L. Práticas Turísticas em Geossítios: Uma Avaliação Ambiental no


Projeto Geoparque Seridó – RN. 2015. 167 f. Dissertação (Mestrado em Turismo) -
Programa de Pós Graduação em Turismo. Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 2015.

MEDEIROS, A. W; CUNHA, G. B; OLIVEIRA, T. C; VIEIRA, R. F. C. Análise Swot: a


simplicidade como eficiência. In: XVI Seminário de Pesquisa do CCSA. Rio Grande do
Norte, 2010. Anais… Rio Grande do Norte: UFRN, 2010.

MENESES, L. F.; SOUZA, B. I. Patrimônio Geomorfológico da Área do Projeto Geoparque


Cariri Paraibano. In: I Workshop de Geomorfologia e Geoarqueologia do Nordeste. 2016,
Recife. Anais… I Workshop de Geomorfologia e Geoarqueologia do Nordeste. 2016.

NETO, E. R. Análise SWOT – Planejamento Estratégico para Análise de Implantação e


Formação de Equipe de Manutenção em uma Empresa de Segmento Industrial. 2011.
41f. Especialização (Gestão de Estratégia da manutenção e produção de negócios). Faculdade
Pitágoras, São João Del Rei. 2011.

NOGUEIRA, D. H. O. P.; SILVA, R. A. A Análise SWOT como diagnóstico


organizacional no serviço de abastecimento de água e esgoto do município de Benevides
- Pará (PA). In: CONTECSI - International Conference on Information Systems and
Technology Management, 2017. São Paulo. Anais… São Paulo. International Conference on
Information Systems and Technology Management – BR AIS. 2017. Disponível em:
http://www.contecsi.tecsi.org/index.php/contecsi/14CONTECSI/paper/view/4716/2956
Acesso em: 05 de ago. de 2021.

SEBRAE. Planejamento Estratégico: manual do educador. Brasília: SEBRAE. 2015.

SILVA, E. G.; MENESES, L. F. Inventário de geossítios como subsídio para o geoturismo no


município de Gurjão (PB). Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.4, n.3, p.361-
382, set, 2011.

TRAVASSOS, I. S. Florestas Brancas do Semiárido Nordestino: desmatamento e


desertificação no Cariri Paraibano. 2012. 148 f. Dissertação (Mestrado em Geografia)
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2012.

UNESCO. Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural. Paris,


1985. Disponível em: http://whc.unesco.org/archive/convention-pt.pdf. Acesso em: 05 de ago.
de 2021.

UNESCO. UNESCO Global Geoparks Celebrating Earth Heritage Sustaining Local


Communities. 2015. Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002436/243650e.pdf. Acesso em: 05 de ago. de 2021.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 52
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

AS LINGUAGENS E TICS NO ENSINO DE GEOGRAFIA


POLÍTICA: PROPOSTAS DE TRANSPOSIÇÃO
DIDÁTICA A PARTIR DAS TIRAS DA MAFALDA

LANGUAGES AND ICT IN THE TEACHING OF POLITICAL GEOGRAPHY: PROPOSALS


FOR DIDACTIC TRANSPOSITION FROM THE MAFALDA STRIPS
LAS LENGUAS Y LAS TIC EN LA ENSEÑANZA DE LA GEOGRAFÍA POLÍTICA:
PROPUESTAS DE TRANSPOSICIÓN DIDÁCTICA DESDE LAS TIRAS DE MAFALDA

Ravena (1)
LuizValcácer
HenriquedeAndrade
Medeiros
(1)
Renata
João Manoel Barrocas (2)Filho (2)
de Vasconcelos

Conflitos de interesses, filiação institucional e responsabilidades

Os autores declaram não haver interesses conflitantes.


Afiliações Institucionais são informadas pelo(s) autor(es) e de inteira responsabilidade do(s) informante(s).
O(s) autor(es) é(são) responsável(is) por todo o conteúdo do artigo, incluindo todo tipo de ilustrações e
dados.

Recebido em: ago./2021


Aceito em: mai./2022

(1) Universidade Metropolitana de Santos (UNIMES). luiz_h91@hotmail.com


(2) Docente permanente do programa de Mestrado Profissional em Práticas Docentes no Ensino Fundamental (UNIMES).
renata.barrocas2@gmail.com

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 53
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Resumo
O objetivo desta pesquisa é apresentar o desenvolvimento de um material didático que colabora no ensino de
Geografia Política, através das tiras da personagem Mafalda, junto aos anos finais do Ensino Fundamental. O
método adotado foi a construção de um website para facilitar ao professor estratégias de ensino em quatro
categorias que contextualizam a Geografia Política na escola: Nova Ordem Mundial, segregação socioespacial,
cartografia aplicada à Geografia Política e os fluxos migratórios com enfoque aos refugiados. Como resultados,
destacamos o desenvolvimento de atividades que envolvem as diferentes linguagens de ensino e técnicas
empregadas por meio das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), tais como: padlet, podcasts,
música e gamificação. Quanto ao uso destes recursos, ressaltamos suas vantagens e também as fragilidades de
suas aplicações no atual contexto educacional brasileiro. Consideramos que uma pesquisa com esta temática
possa contribuir junto às reflexões e desenvolvimento do raciocínio geográfico através da linguagem plural que
as TICs permitem e, sobretudo, com o propósito de estimular o aprimoramento de habilidades que envolvem o
ensino de Geografia Política entre os estudantes.
Palavras-chave
Geografia Escolar. Ensino. Website.

Abstract
This research aims to present the development of didactic material which helps the teaching of Political
Geography, through the comic strips of the character Mafalda, to the final years of Middle School. The method
used is the construction of a website that facilitates the teacher's teaching strategies in four categories that
contextualize Political Geography at school, such as: New World Order, socio-spatial segregation, cartography
applied to Political Geography and migration flows with a focus on refugees. As a result, we highlight the
development of activities that envolve different teaching languages and techniques used through Information
and Communication Technologies (ICTs), such as: padlet, podcasts, music and gamification. As for the use of
these resources, we emphasize their advantages and also the weaknesses of their applications in the current
Brazilian educational context. We believe that research with this theme can contribute to the reflections and
development of geographic reasoning through the plural language that ICTs allow and, above all, with the
purpose of stimulating the development of skills that envolve the teaching of Political Geography among
students.
Keywords:
School Geography. Teaching. Website.

Resumen
En esta investigación se objetiva presentar el desarrollo de un material didáctico que colabore en la enseñanza
de la Geografía Política, a través de las tiras del personaje Mafalda, junto con los últimos años de la Escuela
Primaria. El método adoptado fue la construcción de un sitio web para facilitar las estrategias de enseñanza del
docente en cuatro categorías que contextualizan la Geografía Política en la escuela, tales como: Nuevo Orden
Mundial, segregación socioespacial, cartografía aplicada a la Geografía Política y flujos migratorios con
enfoque en refugiados. Como resultado, destacamos el desarrollo de actividades que involucran diferentes
lenguajes y técnicas de enseñanza utilizadas a través de las Tecnologías de la Información y la Comunicación
(TIC), tales como: padlet, podcasts, música y gamificación. En cuanto al uso de estos recursos, destacamos sus
ventajas y también las debilidades de sus aplicaciones en el contexto educativo brasileño actual. Creemos que
una investigación con esta temática puede contribuir a la reflexión y desarrollo del razonamiento geográfico a
través del lenguaje plural que permiten las TIC y, sobre todo, con el propósito de estimular el desarrollo de
habilidades que involucran la enseñanza de la Geografía Política entre los estudiantes.
Palabras clave:
Geografía Escolar. Enseñanza. Sitio Web.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 54
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Introdução

O
presente trabalho consiste na elaboração de um material didático, cuja proposta é
viabilizar o ensino da Geografia Política para os anos finais do Ensino Fundamental,
sobretudo o oitavo e nono ano. Partindo do princípio que a utilização de diferentes
linguagens de ensino contribui para a consolidação da aprendizagem significativa dos
indivíduos, recorremos às histórias em quadrinhos da personagem Mafalda, criada por Quino,
a fim de usá-las como embasamento principal para a construção de propostas de atividades
ligadas às temáticas da Geografia Política, associando-as a outras linguagens e tecnologias de
informação e comunicação (TICs) para assentar nossos objetivos.
A escolha dessa temática justifica-se pelo estudo realizado durante a graduação sobre
os componentes curriculares; a discussão sobre as metodologias e práticas de ensino em sala de
aula; além do estágio supervisionado, que também colaborou para a elaboração de estratégias
de ensino que fomentam e desenvolvem o raciocínio geográfico. Outrossim, a pesquisa de
Iniciação Científica desenvolvida junto ao curso de licenciatura em Geografia, da Universidade
Metropolitana de Santos (UNIMES), motivou a discussão de estratégias que corroboram o
ensino. Vale salientar que o produto apresentado neste artigo será aplicado em unidades de
ensino da Baixada Santista no ano de 2022, desenvolvendo os critérios do novo edital de
Iniciação Científica, pelos quais a continuidade deste material foi aprovada.
A aplicação de recursos didáticos diferenciados em sala de aula tem se destacado em
muitas instituições de ensino e manifesta-se, acima de tudo, por meio de metodologias didático-
pedagógicas que tencionam a aprendizagem a partir de múltiplas perspectivas, facilitando a
assimilação de inúmeros temas pelos educandos. Mediante essa premissa, o emprego de
distintas linguagens de ensino contribui junto às metodologias direcionadas à Geografia
Escolar, como também à Geografia Política, nosso foco de abordagem para o desenvolvimento
do raciocínio geográfico.
Os referenciais teóricos dialogaram com os propósitos da pesquisa e auxiliaram para a
construção dos resultados. Assim, no que diz respeito à Geografia Escolar, tomamos como
base as autoras Sônia Castellar (2010) e Lana de Souza Cavalcanti (2015); Vesentini (2007) e
Iná de Castro (2005) destacam-se na apropriação referente a assuntos da Geografia Política;

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 55
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Waldomiro Vergueiro e Ângela Rama (2005) discutem o uso das histórias em quadrinhos em
sala de aula; Quino (2003), ao proporcionar a leitura completa da obra “Toda Mafalda” e
permitir a percepção da criticidade de mundo exaltada através dos personagens; e Liana
Gottlieb (1996), a qual apresenta uma análise escolar a partir das tiras da Mafalda. Por fim,
estudamos autores que apontam os benefícios das TICs na educação, como José Moran (2017)
e outros que refletem acerca da acessibilidade do material nas escolas, como Pires e Lopes
(2018).
A construção de um website com propostas que incentivem a discussão da Geografia
Política nos anos finais do Ensino Fundamental foi concebida em quatro categorias de análise,
como forma de colaborar no ensino e desenvolver habilidades para que o raciocínio geográfico
seja construído.
Ao longo deste artigo, apresentamos a importância da personagem Mafalda e nossa
interpretação da seleção de tiras que consideramos relevantes ao ensino de Geografia Política
nos anos finais do Ensino Fundamental. E, para complementar a análise, evidenciamos nossa
interpretação quanto ao uso das TICs como recurso didático a partir das propostas evidenciadas.

As linguagens de ensino, a Geografia e a Mafalda: uma análise


contemporânea

As diferentes linguagens de ensino surgem como alternativas pertinentes na construção


do conhecimento por intermédio de recursos didáticos dinâmicos, interativos e de baixo custo
que se aproximam do universo dos jovens e oportunizam significativas afinidades com a
realidade escolar.
A Geografia, assim como os demais componentes curriculares, carece de meios que
propiciem a apropriação de conteúdos com maior solidez e, ao mesmo tempo, promovam uma
identificação do aluno com os temas em estudo. Yves Lacoste (1997) já sinalizava o estigma
carregado pela Geografia em relação ao ensino sistemático e o pouco interesse dos estudantes
frente às temáticas apresentadas:

Uma disciplina maçante, mas antes de tudo simplória, pois, como qualquer um
sabe, “em Geografia nada há para entender, mas é preciso ter memória...” De
qualquer forma, após alguns anos, os alunos não querem mais ouvir falar dessas
aulas que enumeram, para cada região ou para cada país, o relevo – clima –
vegetação – população – agricultura – cidades – indústrias (LACOSTE, 1997,
p. 21).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 56
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

A introdução das linguagens de ensino nas aulas de Geografia faz-se primordial, até
certo ponto, para proporcionar vantagens tanto para os educandos, quanto para os educadores.
Na condição de mediadores do processo de ensino-aprendizagem, os professores necessitam
buscar novas estratégias pedagógicas que contribuam para o enriquecimento das aulas e
auxiliem na explanação de assuntos que, para os estudantes, possam soar difíceis, complexos
e, até mesmo, desinteressantes. Castellar (2010) ressalta a importância de o docente considerar
o conhecimento prévio ao construir seu plano de aula:

Nessa perspectiva, é condição para aprendizagem significativa não só a


estrutura do conteúdo, mas como ele será ensinado, qual será a proposta
didática para que estimule as estruturas cognitivas do sujeito e também qual a
base conceitual necessária para que o aluno possa incorporar esse novo
conhecimento ao que ele já sabe (CASTELLAR, 2010, p.7).

A partir disso, as linguagens de ensino adquirem um papel fundamental e atuam como


o diferencial em classe. Histórias em quadrinhos, músicas, recursos audiovisuais, imagens,
gamificação e mapas surgem na posição de suporte para o material didático e possibilitam o
desenvolvimento de habilidades nos indivíduos que ressaltam aspectos como autonomia, senso
de criticidade e percepção quanto ao espaço vivido.
O material didático fornecido pelas escolas, inclusive, apresenta-se como significativo
apoio inicial para as aulas, mas não deve ser empregado como recurso singular pelos
professores. Torna-se essencial que o educador busque novas formas para diversificar a
exposição de determinados temas e não se prenda apenas aos conteúdos exigidos pelo livro
escolar, permitindo que os alunos possam conceber uma rede de conceitos a partir de profusos
artifícios. Cavalcanti (2015, p. 26) frisa sobre este fato:

A experiência tem mostrado a ineficácia de se ensinar conceitos à criança ou


ao jovem apenas transmitindo a eles o conceito definido no livro ou elaborado
pelo professor. A pesquisa corrente sugere que o professor deve propiciar
condições para que o aluno possa formar, ele mesmo, um conceito.

Sendo o principal recurso didático a ser aludido nesta pesquisa, as histórias em


quadrinhos despontam como uma linguagem de ensino de fácil acessibilidade e baixo custo
para a aplicabilidade junto aos alunos. O material lúdico é significativamente apreciado por
diversos motivos, entre os quais deve-se mencionar a proximidade com o universo juvenil e a
clareza para o entendimento de conteúdos.
Exprimindo figuras de linguagens, como metáforas, e dotadas de uma alfabetização
própria composta por balões, onomatopeias e signos, as histórias em quadrinhos advêm como
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 57
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

elemento agregador nas aulas de Geografia, favorecendo a apropriação de conhecimento de


forma divertida, ao passo que assegura debates interessantes sob variadas perspectivas. Silva
(2010) concorda com essa estratégia ao relatar a perspectiva dos alunos sobre o uso desta
linguagem:
Observa-se que a maioria dos alunos gosta desse tipo de recurso didático,
quando usado de forma complementar aos conteúdos estudados. Motiva a
discussão e reflexão, tornando a aula mais receptiva e agradável e,
principalmente, estimula uma leitura mais apurada da realidade vivida e a
desmistificação da ideologia que permeia as relações sociais e políticas do
mundo (SILVA, 2010, p.144).

A Mafalda, sendo uma personagem de histórias em quadrinhos recorrente nas aulas de


Geografia, torna-se importante figura com perspectiva, enquanto linguagem de ensino, de
promover discussões plausíveis a muitas temáticas da Geografia Escolar que possam parecer
distantes da compreensão dos alunos. Os assuntos de Geografia Política encontram-se
abarcados nesta abordagem.
A personagem Mafalda foi criada pelo argentino Quino, nos anos 1960, possuindo um
caráter crítico e questionador quanto às atribulações existentes ao contexto histórico e
geográfico efervescente da referida década, além de interagir junto a outros tipos da sua turma
com personalidades diversas e que, de maneira inteligente, foram incorporados nas histórias em
quadrinhos para exaltar temas em uma época onde a censura prevalecia.
É pertinente citar que, mesmo tendo sido criada há décadas, as tiras da Mafalda
continuam atuais e abordam questões argumentadas com veemência na contemporaneidade,
fazendo com que as histórias se enquadrem em uma perspectiva moderna e sustentem sua
utilização nos dias correntes. A relevância das tiras da Mafalda a partir do viés de linguagem
de ensino pode ser percebida no comentário de Liana Gottlieb (1996, p. 181):

O leitor da MAFALDA consegue “ler” com facilidade o que as personagens


estão sentindo, tanto pela expressão facial quanto pela expressão corporal.
Quino faz suas personagens vivenciarem de tudo. Aparecem: medo, angústia,
depressão, entorpecimento, estupefação, raiva, alegria, tristeza, candura,
amor, exaltação, amizade, desconfiança, revolta, impotência, indignação,
dúvida, sofrimento, etc.

Além do mais, os quadrinhos garantem o seu manuseio junto a outros recursos didáticos,
garantindo a sua flexibilidade quanto à aplicação em sala de aula e, sobretudo, por serem de
domínio público. Por isso, as demais linguagens de ensino apresentaram-se no trabalho de
pesquisa como essenciais para a elaboração das propostas por meio das tiras da Mafalda. A
partir de uma história em quadrinho, é possível desenvolver atividades que englobem

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 58
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

criatividade e pesquisa, por exemplo, através da abordagem de recursos audiovisuais ou música,


potencializando a capacidade de compreensão dos estudantes acerca de diversas proposições
da Geografia.
Aliado a isso, as linguagens de ensino possibilitam intersecções com as tecnologias de
informação e comunicação (TICs), ampliando o leque de cenários apropriados para usufruto do
professor e oferecendo opções para diversificar as práticas pedagógicas vigentes na Geografia
Escolar. Porém, o alcance das TICs em escala nacional ainda é restrito e exige avaliação, já que
nem todas as instituições possuem disponibilidade de acesso às tecnologias.

O uso das TICs em sala de aula: um progresso limitado

A imersão das tecnologias no ambiente educacional é um fato que tem tomado


proporções consideráveis nos últimos anos, principalmente em tempos recentes com o advento
da pandemia de COVID-19. O emprego de ferramentas ligadas às tecnologias nas escolas
brasileiras predomina como um tópico discutido com bastante vulto devido aos diversos
entraves existentes no sistema de educação nacional, notavelmente no que diz respeito à
acessibilidade, investimentos e desigualdade socioeconômica.
As tecnologias de informação e comunicação (TICs) são designadas como toda e
qualquer tecnologia que dialoga com a informação e sustenta a comunicação, como hardwares,
softwares, celulares e demais mídias. A prevalência destes mecanismos adjacentes à esfera
juvenil evidencia a necessidade de os professores manterem-se atualizados acerca do
desenvolvimento tecnológico que, por sua vez, acontece de maneira acelerada no mundo
globalizado.
A prática e a aplicabilidade das TICs em sala de aula são consideradas características
positivas pela maioria do corpo docente, devido à função de agregar tecnologia junto às
práticas didático-pedagógicas que permitem o processo de ensino-aprendizagem. Cavalcanti
(2015, p. 184) defende o uso das tecnologias nas escolas:

Considero necessário, no entanto, indicar aqui o empenho em utilizar o


máximo possível os recursos tecnológicos disponíveis na escola, em função
do seu valor didático, não apenas por estar consoante com a cultura dos alunos,
podendo assim motiva-los mais para os estudos, mas também porque por eles
é possível potencializar a aprendizagem, seja pelo acesso à informação e pelo
intercâmbio que oferecem, seja pelas possibilidades de interatividade e
simulação de exercícios, o que pode explorar a construção mental.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 59
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

É necessário levar em conta, sobretudo, que as TICs fazem parte da rotina de alguns
estudantes, e o contato assíduo com o progresso tecnológico pode ser aproveitado nas salas de
aula.
No final dos anos 1990, já era possível perceber a relevância das mídias nas práticas
pedagógicas para quebrar a monotonia existente nas escolas, conforme notado por Kenski
(1996, p. 133):
Estes alunos estão acostumados a aprender através dos sons, das cores; através
das imagens fixas das fotografias, ou em movimento, nos filmes e programas
televisivos. Aprendem através de processos em que existem interações totais
entre o plano racional e o afetivo. O mundo desses alunos é polifônico e
policrômico. É cheio de cores, imagens e sons. Muito distante do espaço quase
que exclusivamente monótono, monofônico e monocromático que a escola
costuma lhes oferecer.

No entanto, há fatores socioeconômicos e culturais que não devem ser desprezados ao


examinarmos o uso das TICs em sala de aula. As disparidades sociais e os obstáculos de
acessibilidade representam dilemas expressivos ao pensarmos nas tecnologias no ambiente
escolar, já que o Brasil é um país de imensas desigualdades regionais e, desta forma, torna-se
impossível generalizar acerca da facilidade quanto ao acesso às tecnologias de informação e
comunicação, configurando limitações para o pleno aproveitamento.
Com isso, ponderamos que a presença das TICs nesta pesquisa e, de forma geral, nas
escolas, surge como alternativa para viabilizar o ensino de determinadas proposições e
funcionar como uma opção viável para os educadores, potencializando a consolidação da
aprendizagem, e associando-se às linguagens de ensino vigentes na realidade escolar. Porém, é
sabido que as limitações quanto ao alcance das tecnologias no âmbito educacional existem e
precisam ser consideradas em projetos de pesquisa como o atual, pois a intenção de difundir o
produto entre os educadores tem em vista as possíveis moderações encontradas frente ao
domínio das TICs.
As TICs, definitivamente, não são a solução para as dificuldades enfrentadas pela
educação no Brasil, mas um caminho possível para minimizar os impactos ao tratar
determinadas ideias junto aos educandos. Pires e Lopes (2018) comentam sobre a importância
de a escola perceber a real finalidade para o uso das TICs em sala de aula:

As tecnologias da informação e comunicação trouxeram muitas mudanças


na sociedade, não deixando de ser diferente dentro da instituição escolar,
mas se a escola não compreende sua finalidade dentro desse contexto
inovador de tecnologias, a inserção das TICs não fará muita diferença, pois se
a escola adota as mesmas posturas, utilizando as mesmas metodologias de
muito tempo, num contexto histórico-social diferente, não compreendendo

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 60
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

qual sua finalidade real enquanto instituição, não fará muita diferença na
vida do indivíduo e na sociedade (PIRES e LOPES, 2018, p. 203).
Ao conectar as linguagens de ensino e as tecnologias de informação e comunicação,
nossa pesquisa procurou oferecer possibilidades para os professores e facultar a explanação de
temas de Geografia Política, de modo descomplicado e, especialmente, simplificado.
Ainda, em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as TICs
alinham-se com as competências gerais propostas pelo documento e reafirmam a tendência de
inovações dos sistemas pedagógicos com a introdução das tecnologias em sala de aula. A quinta
competência esclarece este fato e evidencia o apoio ao uso das tecnologias:

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e


comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas
práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e
disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e
exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva (BNCC, 2017, p. 9).

Os desafios para os professores, relativos às tecnologias, ainda são proeminentes e


acompanham avanços mesmo que mínimos. Mas na concepção principal deste contexto, as
TICs surgem como um modo de auxiliar o docente nos processos pedagógicos, conforme
destacado por Silva (2016, p. 110):

Cabe lembrar que a adoção de novas tecnologias na sala de aula não significa
excluir outras formas, como, por exemplo, as tradicionais aulas expositivas,
mas permitir que não se fique somente nelas. Compete também ao professor
perceber qual tecnologia se aplica melhor a determinado conteúdo e discutir
isso com seus alunos. E também verificar o que mais os motiva e interessa
diálogo esse tão importante entre os sujeitos do processo ensino
aprendizagem.

Em suma, o trabalho de Silva dialoga com as conceituações dissertadas ao longo deste


artigo no que diz respeito às tecnologias de informação e comunicação e coloca-se como
factível para suplementar ao material didático manuseado nas escolas, considerando as
dificuldades no que concerne à acessibilidade às TICs, além das objeções quanto sua introdução
em sala de aula. O produto, conforme será demonstrado abaixo, não busca nenhum ineditismo
dentro da Geografia Escolar, mas colaborar tanto na promoção da sua identificação junto aos
educandos quanto no papel de suporte aos educadores.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 61
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

O produto “Pluralidades Geográficas”: propostas e resultados

A escolha da Geografia Política como foco para a elaboração do material didático deu-
se por razões que envolvem leituras de textos para o componente curricular de metodologia e
prática de ensino em Geografia e o estágio supervisionado. Nestes dois componentes, as
reflexões críticas sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e textos de autores, que
discutem o raciocínio geográfico nos anos finais do Ensino Fundamental, trouxeram reflexões
que favoreceram na consolidação do projeto.
A discussão escalar foi uma condição fundamental para a construção do material
didático e, mesmo com várias fontes de análise sobre o conceito de Geografia Política e
Geopolítica, apontaremos Castro (2005) e Vesentini (2007) como referências que muito
contribuem para a abordagem em questão. A vasta experiência de Vesentini na abordagem
escolar trouxe reflexões para a proposta da Geopolítica e consideramos que, em relação à
Geografia Política, levaria os alunos do final do Ensino Fundamental a um necessário diálogo
entre escalas, seja do local para o regional e deste para o global.
Na atualidade, a Geografia Política compreende a um conjunto de relações atribuídas à
política – esfera de expressão responsável pela organização espacial e gestão de debates
socioeconômicos – e território – espaço produzido pela sociedade a partir de elos de poder,
materializado em fronteiras e delimitações. Castro (2005, p. 17) salienta:

A Geografia Política pode então ser compreendida como um conjunto de


ideias políticas e acadêmicas sobre as relações da geografia com a política e
vice-versa. O conhecimento por ela produzido resulta da interpretação dos
fatos políticos, em diferentes momentos e em diferentes escalas, com suporte
numa reflexão teórico-conceitual desenvolvida na própria geografia ou em
outros campos como a ciência política, sociologia, antropologia, relações
internacionais etc. A dupla necessidade de dar uma resposta acadêmica sobre
os fundamentos geográficos para eventos políticos e a preocupação de
legitimar a sua análise a partir de um enquadramento intelectual em modelos
teóricos reconhecidos resultaram numa forte contextualização da disciplina,
tanto em termos dos temas centrais como das opções metodológicas, além das
práticas, de muitos dos seus formuladores.

A Geopolítica, por sua vez, possuiu uma conotação fortemente associada às estratégias
de dominação e militarização de territórios a partir dos anseios expansionistas e
neocolonialistas em voga na primeira metade do século passado, relacionando-se a métodos
coercitivos efetivados pelos Estados para firmar ideias de hegemonia e supremacia.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 62
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Já a Geopolítica, surgida no início do século XX, tem como preocupação


fundamental a questão da correlação das forças – antes vista como militar, mas
hoje como econômico-tecnológica, cultural e social – no âmbito territorial,
com ênfase no espaço mundial (VESENTINI, 2005, p.10).

Partindo da leitura dos autores citados, a possibilidade de discutir proposições como a


segregação socioespacial, Nova Ordem Mundial, fluxos migratórios e relações entre
Cartografia e Geografia Política, presentes na rotina dos estudantes, torna-se praticável e
incorpora a Geografia Política no espaço vivido pelos alunos. Consideramos que a abordagem
destacada por Castro tende a colaborar com nossos pressupostos para a construção do material
didático em formato digital.
Somada a isso, a falta de recursos didáticos, associada ao desinteresse dos estudantes,
configura questões diferenciais para o docente durante o processo de preparação das aulas e
reafirma a necessidade da idealização de materiais complementares para a Geografia Escolar.
Através da definição do conceito defendido por Castro (2005) e da seleção de algumas
tiras da obra “Toda Mafalda”, de Quino (2003), relacionamos os assuntos a serem discutidos
pela Geografia Política. Para tal, efetuamos um recorte de temas relativos às habilidades que
constam na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para o oitavo e nono ano. Assim, foram
designados os seguintes tópicos a serem trabalhados na pesquisa: Nova Ordem Mundial,
segregação socioespacial, fluxos migratórios e relações entre Cartografia e Geografia Política.
Mediante esta triagem, atingimos o saldo final de quatro tiras da Mafalda que serviram
como fundamento para a elaboração de propostas de atividades que atuam na função de facilitar
a abordagem da Geografia Política nos anos finais do Ensino Fundamental. Abaixo, temos o
exemplo de uma das tiras escolhidas, sendo esta específica da temática de “fluxos migratórios:

Figura 1: Tira presente na obra “Toda Mafalda”, relacionada à temática de fluxos


migratórios

Fonte: Quino (2003, p.134).

Com a apuração das histórias em quadrinhos a serem manuseadas no produto, deu-se


início à discussão quanto ao formato que o material didático iria adquirir, considerando ser
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 63
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

necessário ter fácil acessibilidade aos docentes e sem apresentar qualquer custo monetário.
Após a leitura sobre o uso de diferentes linguagens no ensino de Geografia, acertamos que um
website seria o modelo ideal para a concepção do material didático e, ao mesmo tempo, o
referido recurso enquadrava-se dentro das tecnologias de informação e comunicação (TICs) já
mencionadas no decorrer deste artigo.
Doravante, iniciamos a construção do website com hospedagem na plataforma WIX, e
nomeado de “Pluralidades Geográficas”. Foram consideradas as muitas linguagens de ensino
empregadas para discorrer sobre os assuntos da Geografia e a atuação das TICs como
simplificadoras neste processo. O link de acesso é este: https://luizh91.wixsite.com/plurigeo.
Para o site, optamos por um visual limpo e intuitivo, com possibilidades de acesso tanto
pelo computador quanto pelo celular, e que representassem um veículo de simples manipulação
pelos professores. A seguir, podemos visualizar a página principal do website, com a Figura 2
que mostra o seu layout:

Figura 2 – Página inicial do website

Fonte: https://luizh91.wixsite.com/plurigeo

A organização do “Pluralidades Geográficas” encontra-se na divisão de quatro seções,


destinadas aos temas de Geografia Política escolhidos, organizados por um texto-base
dissertando sobre a temática, os eixos da BNCC que permitem o uso das atividades, um podcast
e, para avaliação, indicamos de duas a quatro propostas de tarefas elaboradas a partir da tira da
Mafalda envolvendo as diferentes linguagens de ensino e as TICs. Foi organizado um passo-a-
passo para a realização das propostas em sala de aula.
As propostas foram construídas a partir do objetivo de fazer com que o estudante pense
geograficamente, englobando os sete princípios do raciocínio geográfico (analogia, conexão,
distribuição, extensão, localização, ordem e diferenciação). Além disso, as atividades

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 64
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

argumentam com as intenções de promover a aproximação da Geografia com os educandos,


ressaltando a sua importância na formação cidadã e em noções observadas no dia-dia.
Entre as atribuições que pretendemos fomentar, o senso de pesquisa destaca-se no
projeto pelo incentivo aos alunos de efetuarem averiguações sobre os assuntos já citados e
estimular o seu contato com informações científicas, viabilizando indicações de textos e artigos
que incitem leituras a partir de fontes confiáveis.
Além disso, trouxemos recomendações que englobam as categorias da Geografia,
buscando capacitar os alunos no tocante à observação e interpretação da paisagem e do
território, apresentando-os como produtos do espaço geográfico e relacionando-os aos
processos que levaram à modificação deste espaço pelo homem. Apoiados nestes pontos,
sugerimos a preparação de representações cartográficas como croquis, com base na observação
da paisagem e no planejamento territorial.
No que diz respeito às TICs, além do próprio website já se configurar como uma,
incluímos plataformas digitais e softwares que se enquadram nas perspectivas educacionais e
impulsionam o dinamismo e a interatividade em sala de aula. Neste contexto, o Padlet
apresenta-se como uma opção fundamental, visto que se trata de um mural em que os próprios
estudantes introduzem seus argumentos, permitindo a inserção de imagens e visualização das
ideias como um todo, propiciando o debate das proposições em aula.
Os Podcasts, por sua vez, aparecem na posição de ferramenta auditiva que oferece um
modo de assimilação dos conteúdos que explora outros sentidos além do visual, atentando-se
para o fato que nem todos os indivíduos têm facilidade para aprender da mesma forma. Então,
os podcasts são uma alternativa para explanar os assuntos de modo sucinto e com linguagem
descontraída, mas sem retirar o foco do ensino da Geografia.
Outras linguagens de ensino, como os recursos audiovisuais, a música e a gamificação,
manifestam-se ao longo das propostas apresentadas em cada parcela do website, confirmando
o nosso objetivo de compor um material didático que opere como um facilitador para os
docentes dos anos finais do Ensino Fundamental acerca do ensino de Geografia Política.
Abaixo, temos um exemplo de proposta da seção de “segregação socioespacial”, ocupando-se
do incentivo à pesquisa, do emprego do Padlet e da promoção de discussões:

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 65
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Figura 3: Exemplo de proposta da seção de segregação socioespacial

Fonte: https://luizh91.wixsite.com/plurigeo

As tiras da Mafalda, na incumbência de servir como alicerce para as propostas de


atividades, assumem uma conotação relacionada à transposição didática, pois objetiva afastar
os assuntos da Geografia Política de uma linguagem essencialmente acadêmica e aproximá-los
da Geografia Escolar e, consequentemente, dos alunos do oitavo e nono ano do Ensino
Fundamental.
O website oferece, de modo geral, uma experiência agradável aos educadores que
vislumbram novos caminhos no processo do ensino de Geografia Política. Assuntos, que uma
vez pareceram complexos ou obscuros, podem se revelar possíveis se analisados a partir de um
viés que permita a imersão dos professores e dos estudantes no universo das diferentes
linguagens de ensino e das TICs, abrindo outras possibilidades para o progresso da Geografia
enquanto componente curricular.

Considerações finais

No decorrer deste artigo, revela-se que a Geografia dispõe de uma gama de recursos
didáticos possíveis para aplicação em sala de aula, admitindo o estímulo à adoção de novas

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 66
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

metodologias didático-pedagógicas que diversifiquem as estratégias utilizadas pelos


professores em sala de aula, sobretudo no que concerne ao ensino da Geografia Política.
Nossa pesquisa não pretendeu gerar nenhuma inovação no âmbito educacional, até
porque não se trata de algo inédito ou renovador, mas sim mostrar que existem opções viáveis
que podem vir a acrescentar no ensino de Geografia Política, sendo passíveis de prática pelos
educadores e que se encaixam nas possibilidades de promover a identificação dos estudantes
com a Geografia de modo geral.
Desta maneira, torna-se primordial quebrar as barreiras que ainda existem quanto ao
ensino de Geografia Política nos anos finais do Ensino Fundamental, ofertando experiências
que dialoguem com as estratégias didáticas pertinentes às explanações referentes a este campo
de estudo, e fazer com que as proposições se apresentem menos complexas ao ângulo dos
estudantes, facilitando a apropriação do saber.
O produto apresentado através da construção do website necessita obrigatoriamente do
acesso à internet e recursos tecnológicos para sua aplicabilidade, inviabilizando que as
atividades propostas sejam implementadas em grande parte das escolas. No entanto, também é
preciso construir estratégias para os professores que têm acesso a estes recursos e muitas vezes
manifestam falta de tempo para desenvolver novos métodos e técnicas na sala de aula. É
lamentável que um projeto viável como esse não possa ser aplicável em grande parte das
unidades de ensino. Nosso propósito não é a defesa sem reflexão crítica sobre o acesso à
tecnologia. As diferentes linguagens estão presentes na literatura acadêmica, e nossa proposta
surge como uma outra alternativa.
O estado de São Paulo, localidade onde a pesquisa foi desenvolvida, apresenta um
contraste que precisa ser mencionado como última reflexão, afinal, o uso da tecnologia excluiu
das aulas cerca de 80% dos estudantes da rede estadual no ano de 2020, conforme dados do
Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. E, neste mesmo ano, numa outra escala, a
municipal, Santos ampliou as salas de Estudioteca, ambientes com aparato tecnológico, onde
os professores têm acesso à internet e equipamentos, possibilitando diversificar as linguagens
conforme projetos e planejamento de suas aulas. São divergências que se refletem na excludente
diversidade brasileira. As escalas geográficas são fundamentais nesta reflexão pois variam
dentro de um próprio município, estado e região, concomitantemente.
Assim, os resultados obtidos com a finalização do website possibilitaram ponderações
quanto à continuidade da pesquisa, prevista para 2022, em que as propostas de atividades serão
aplicadas nas escolas da Baixada Santista. Com o seguimento da pesquisa, será possível

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 67
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

analisar, sob diferentes perspectivas, a acessibilidade às tecnologias em escala regional, bem


como a importância das mesmas enquanto suporte didático para as aulas dos educadores.
Além disso, a sequência da iniciação científica oportuniza o desenvolvimento de outras
propostas, a depender do posicionamento atingido junto às instituições de ensino com o website,
visto que as tiras da Mafalda permitem a discussão de numerosas temáticas. A aplicabilidade
na sala de aula, então, torna-se crucial para o progresso da pesquisa e o surgimento de novas
ideias que ofereçam dinamismo para as aulas de Geografia.
Nossa ideia principal, entretanto, é agregar recursos didáticos para a Geografia Escolar
e trazer novos olhares para a ciência geográfica, concordando com a sua relevância para o
debate de temáticas atuais e argumentos que defendem a necessidade da Geografia para o
estabelecimento das relações em sociedade e a formação de cidadãos reflexivos.

Referências

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional Comum Curricular. Disponível


em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 10 de nov. de 2021.
CASTRO. Iná Elias de. Geografia e Política: Território, escalas de ação e instituições. Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

CAVALCANTI, Lana de Souza. O ensino de geografia na escola. Campinas: Papirus, 2015.

GOTTLIEB, Liana. Mafalda vai à escola. São Paulo: Iglu Editora, 1996.

KENSKI, Vani Moreira. O ensino e os recursos didáticos em uma sociedade cheia


de tecnologia. In: VEIGA, I. P. A. (Org.). Didática: o ensino e suas relações. Campinas, SP:
Papirus, 1996.

LACOSTE, Yves. A Geografia, isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. 6ª
edição. Campinas: Papirus, 1997.

PIRES, Pierre; LOPES, Liziany. Tecnologias de informação e comunicação (TICs) e trabalho


docente: desafio pedagógico. Revista Momento: diálogos em educação. Rio Grande do Sul.
v. 28, p. 201-215, set. /dez., 2019.

QUINO, Joaquin Lavado. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

RAMA, Angela; VERGUEIRO, Valdomiro. (Orgs.). Como usar as histórias em quadrinhos


na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2005.

SILVA, E. I. A linguagem dos quadrinhos na mediação do ensino de Geografia:


charges e tiras de quadrinhos no estudo de cidade. Tese (Doutorado em
Geografia) – Instituto de Estudos Socioambientais – Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2010.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 68
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

VESENTINI, José Willian. Novas Geopolíticas. São Paulo: Contexto, 2005.

VILHENA, Jerusa e CASTELLAR, Sonia. Ensino de Geografia. São Paulo: Cengage


Learning, 2010.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 69
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

BIORREGIONALISMO — CONCEITO E ASPECTOS

BIORREGIONALISM — CONCEPT AND ASPECTS

Ravena Valcácer de Medeiros (1)


Wellington Amancio da Silva (1)

João Manoel de Vasconcelos Filho (2)

Conflitos de interesses, filiação institucional e responsabilidades

Os autores declaram não haver interesses conflitantes.


Afiliações Institucionais são informadas pelo(s) autor(es) e de inteira responsabilidade do(s) informante(s).
O(s) autor(es) é(são) responsável(is) por todo o conteúdo do artigo, incluindo todo tipo de ilustrações e dados.

Recebido em: ago./2021


Aceito em: mai./2022

(1) Universidade Federal de Alagoas - UFAL wellington.silva@cedu.ufal.br

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 70
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Resumo
Este artigo apresenta uma definição conceitual, de caráter introdutório, ao Bioregionalism. Inicialmente,
discorremos sobre o tema em contraste ao paradigma tecnocientífico da Modernidade, apresentando um rol de
autores especializados. Expomos ainda algumas conexões epistemológicas entre Bioregionalism e outras
concepções do Saber. No que se refere ao caráter científico metodológico, tratamos das categorias e das
variáveis do Paradigma Biorregional, num quadro comparativo em contraste ao Paradigma Industrio-científico
da Modernidade. Apresentamos uma proposta metodológica de pesquisa inicial em que nos aprofundamos na
análise das categorias e das variáveis do Paradigma Biorregional, na seção “Proposta de estudo a partir das
variáveis do Biorregionalismo”. Por fim, incentivamos a pesquisa em Biorregionalismo, como urgentemente
e necessária, devido à ausência de publicações em Língua Portuguesa. O Biorregionalismo é uma epistemologia
interdisciplinar que dialoga com a Ecologia Humana, a Geografia Humanista, a Etnicidade, o Paisagismo, a
Economia e Ciências Humanas tradicionais.
Palavras-chave:
Bioregionalism. Biorregionalismo. Biorregião. Ecologia Humana.

Abstract
This article presents a conceptual definition, under introductory character, to Bioregionalism. Initially, we
discussed the theme in contrast to the techno-scientific paradigm of Modernity, presenting a list of specialized
authors. We also expose some epistemological connections between Bioregionalism and other conceptions of
Knowledge. With regard to the methodological scientific character, we deal with the categories and variables
of the Bioregional Paradigm, in a comparative plan in contrast to the Industrial-scientific Paradigm of
Modernity. We present a methodological proposal for initial research in which we delve deeper into the analysis
of the categories and variables of the Bioregional Paradigm, in the section “Study proposal based on the
variables of Bioregionalism”. Finally, we encourage research in Bioregionalism, as urgently and necessary, due
to the absence of publications in Portuguese. Bioregionalism is an interdisciplinary epistemology that dialogues
with Human Ecology, Humanist Geography, Ethnicity, Landscaping studs, Economics and traditional Human
Sciences.
Keywords:
Bioregionalism. Bioregionalism. Bioregion. Human Ecology

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 71
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Introdução

a América Latina, o paradigma tecnocientífico da Modernidade — que propôs até o

N século XX, a tríade mágica “crescimento”, “progresso” e “desenvolvimento” —


perde gradualmente terreno, quando confrontado com fenômenos associados à
expansão do modelo ocidental, tendo isto como efeito o aumento de riscos e de desigualdades.
Tal efeito originou ainda uma tremenda transformação de uma porcentagem considerável de
ecossistemas locais e globais, caracterizando o cerne da atual crise ecológica mundial
(MARQUES, 2015; CANO, 2011). Juntamente com a hegemonia do mercado, a intensificação
da globalização e a influência das empresas transnacionais sobre os territórios nacionais, tem-
se corroído a noção de governança, baseada até hoje no conceito político de soberania dos
estados (SEN, 2010, 2011; POLANYI, 2012; ABERLEY, 1993). Esse contexto geral mostra o
esgotamento de alguns modelos de organização econômica e social, e o impasse no qual a
política internacional parece ter caído, ao lidar com os limites impostos pela capacidade dos
ecossistemas de sustentar processos antrópicos sem pôr em risco a integridade de sua
constituição (MORAN, 2010; FERNÁNDEZ, 1999; LEIS, 1999; THAYER, 2003). Neste
horizonte, diversas outras epistemologias emergiram (Santos, 2010, 2013), sobretudo as
ecológicas, algumas radicais1. Todavia, um saber tradicional e universal, posteriormente
denominado “Bioregionalism” estava sendo reconsiderado e investigado por alguns
acadêmicos norte-americanos (MCGINNIS, 1999). Nascido em meados dos anos 1970,
paralelo ao movimento ambientalista do ecocêntrico2, o Biorregionalismo constitui o primeiro
movimento social a propor uma forte ligação de princípios apresentados séculos atrás, por
diferentes correntes de pensamento e disciplinas, contra o paradigma científico-mecanicista.
Em consultas à palavra-chave “Biorregionalismo” — nas plataformas indexadas de pesquisa
(Scholar Google, Periódicos Capes, Scielo) —, comprovamos a ausência de publicações, em
Língua Portuguesa. Não há referenciação e citação. A literatura sobre as epistemologias do
“Bioregional” ou “Biorregionalism” é absolutamente inédita no Brasil. Não há referência aos
livros essenciais de Kirkpatrick Sale (2000) e de Peter Berg (1990). Neste artigo,

1
A Deep Ecology de Arne Næss, A Earth First! de David Foreman, O Ecofeminismo de Françoise d'Eaubonne,
entre outras novas.
2
O Gaianismo de Marcel Wissenburg, a Ecologia Espiritual de Rudolf Steiner, a Ecoteologia de Lynn Townsend
White Jr. e Jack Bartlett Rogers, o Ecoexistencialismo de Henry David Thoreau (Walden), entre outras
tradicionais.
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 72
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

apresentaremos introdutoriamente seu conceito e aspectos, bem como algumas experiências


latino-americanas. Recomendamos aqui um breve rol metodológico aos interessados em futuras
pesquisas sobre o Bioregionalism, que consiste de analisar suas teorias nas fontes primárias, a
partir dos seus fundadores, Kirkpatrick Sale (2000) e Berg (1990, 1997, 1998, 2001), e ainda
em autores correlatos, Michel V. McGinnis (1999), Frederick Steiner (1991, 2002); Robert
L.Thayer (2003) e Joshua Lockyer e James R. Veteto (2013). É necessário, ainda, investigar as
práticas e as produções acadêmicas de alguns centros de estudos na América Latina, pois estas
ocorrem neste momento. A exemplo da IBC — Instituto Biorregional do Cerrado, Alto Paraíso
(GO); Metropolitan Environmental Management da UBA — Universidad de Buenos Aires, em
parceria com a Drª. Silvana María Cappuccio; Núcleo Interdisciplinario de Estudios
Socioambientales, da Universidad de Chile, sob Professora Drª. Tamara Ortega Uribe 3, entre
outros.

O Biorregionalism e suas conexões

A epistemologia do Biorregionalismo — nos âmbitos da teoria, do conceito e da


experiência — sintetiza uma relação integrativa, histórica do humano com o ambiente.
Considerando a complexidade e o caráter multifacetado desta relação. Segundo Ewert (2002,
p.440), foi Peter Berg quem, na década de 1960, cunhou o termo “Bioregionalism”,
relativamente à uma ecologia das interações humana com o lugar (ambiente), considerando
suas especificidades biorregionais. Este constitui-se de modos específicos de interação,
resultantes do rol de práticas e de conhecimentos de “[...] uma área geográfica definida por
características naturais, incluindo bacias hidrográficas, formas de relevo, solos, qualidades
geológicas, plantas, animais nativos, e clima, incluindo os seres humanos como espécie em
interação no âmbito dessas características naturais4”. Acrescenta-se ao conceito de
Biorregionalismo de Peter Berg a noção de sistema multifacetado, de caráter ecopolítico e
econômico, constituído das especificidades éticas, culturais, sociais, paisagísticas, ecológicos e
espirituais5 (BERG, 1990, p. 82). Tal caráter delineia o “senso de lugar” enraizado na história
natural e cultural. No “recorte da biorregião” (EVANOFF, 1999; THAYER, 2003; SALE,
2000), se dão os modos ecológicos de integração específicos (SALE, 2000, p. 41, 52, 67, 89,

3
É possível intercâmbio com o The Living Awareness Institute, referência em Bioregionalism, mas é improvável
a possibilidade de pesquisa de campo.
4
“[…] a geographic area defined by natural characteristics, including watersheds, landforms, soils, geological
qualities, native plants and animals, climate, and weather, including human beings as a species in the interplay of
these natural characteristics.”.
5
“A multifaceted system, of an ecopolitical and economic nature, made of ethical, cultural, social, landscape,
ecological and spiritual specificities”.
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 73
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

111), as interações humano-ecológicas fundamentadas em experiências e saberes “tradicionais”


ou exitosos e sustentáveis mais aprofundados.
O conceito de Dweller (Habitante) de Sale (2000, p. 41), por exemplo, é essencial à
compreensão da biorregião e do biorregionalismo — o “reconhecimento ecológica de si” como
habitante, exige a compreensão de saberes ecológico tradicionais consolidados da biorregião à
qual pertence. Aos menos dois saberes interessam-nos aqui. Por exemplo, Sale (2000) define-
os como “Knowing the land”, ou Conhecimento do lugar ou ambiente (p. 44) e “Learning the
lore”, ou Aprendizado do saber do lugar (p. 54). Segundo ele (p. 42), de:

[...] reaprender as leis de Gaia, para conhecer a Terra plena e honestamente, a


tarefa crucial e talvez única e abrangente é entender o lugar, o lugar específico
imediato em que vivemos. Os tipos de solos e rochas sob os nossos pés; a fonte
das águas que bebemos; o significado dos diferentes tipos de ventos; os insetos
comuns, aves, mamíferos, plantas e árvores; os ciclos e estações particulares;
os tempos para plantar, colher e forragear — essas são as coisas que são
necessárias para saber —. Os limites de seus recursos; as capacidades de carga
de suas terras e águas; os lugares onde não deve ser estressado; os lugares
onde seas recursos (bounties) podem ser melhor desenvolvidos; os tesouros
que estes lugares detêm e os tesouros que estes lugares retêm — estas são as
coisas que devem ser entendidas. E as culturas de um povo, das populações
nativas da terra e daqueles que cresceram com ela, os arranjos sociais e
econômicos humanos moldados e adaptados às dimensões geomórficas, tanto
em ambientes urbanos quanto rurais — essas são as coisas que devem ser
consideradas. Que, em essência, é o biorregionalismo6.

Ao que se refere à biorregião, como a fonte desta consciência de habitante (Dweller),


Evanoff (1999, p. 60), caracteriza-a tal a um organismo vivo e complexo, desde os corredores
ecológico aos aspectos econômicos e culturais, que é definido pelos rios e pelo maciço de
montanhas. Possui certo tipo de vegetação, geografia do terreno, de fauna e da flora e mostra
uma cultura local própria com seus hábitos, tradições, valores, religião e história feita no local.
A partir desta visão, isto é, do modo biorregional de compreensão do lugar ou ambiente em face
da “compreensão hegemônica de mundo”, Sale (2000, p. 50) apresenta-nos algumas diferenças
paradigmáticas gritantes (diferences starkly):

6
[…] to relearn the laws of Gaea, to come to know the earth fully and honestly, the crucial and perhaps only and
all-encompassing task is to understand place, the immediate specific place where we live. The kinds of soils and
rocks under our feet; the source of the waters we drink; the meaning of the different kinds of winds; the common
insects, birds, mammals, plants and trees; the particular cycles and seasons; the times to plant and harvest and
forage — these are things that are necessary to know. The limits of its resources; the carrying capacities of its
lands and waters; the places where it must not be stressed; the places where its bounties can best be developed; the
treasures it holds and the treasures it withholds – these are the things that must be understood. And the cultures of
the people, of the populations native to the land and of those who have grown up with it, the human social and
economic arrangements shaped by and adapted to the geomorphic ones, in both urban and rural settings —these
are the things that must be appreciated. That, in essence, is bioregionalism” (SALE, 2000, p. 42).
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 74
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Paradigma Biorregional Paradigma Industrio-científico


Escala Região Estado
Comunidade Nação/Mundo
Economia Conservação Exploração
Estabilidade Mudança/progresso
Autossuficiente Economia Globalizada
Cooperação Competição
Política Descentralização Centralização
Complementaridade Hierarquia
Diversidade Uniformidade
Sociedade Simbiose Polarização
Evolução Crescimento/violência
Divisão Monocultura

Como possibilidade de análise, o Biorregionalismo é uma episteme aberta e expansiva,


sendo evidente seu caráter fenomênico, pois é razoável relacioná-lo à “Ecologia dos sons”
(SCHAFER, 2011), a “Ecologia da paisagem” (SCHAMA, 1996), a “Ecologia do imaginário”
(DURAND, 2012), a “Ecologia do espírito” (MARQUES, 2016), a “Ecologia do espírito do
lugar” (RELPH, 2012), “Ecologia Ontogenética” (MATURANA, 2014, 2009), a Ecolinguística
(COLTO, 2007, 2015), entre outros. Neste artigo será possível demonstrar maiores correlações,
num aspecto mais metodológico.
Há duas importantes categorias de análises em Biorregionalismo. São a permacultura
(HOLMGREN, 2013; CÁCERES, 2011; JACINTHO, 2006; SPARES, 2006; WACQUANT,
2007; WOORTMANN, 1983) e a economia solidária (SINGER, 2002; FRANÇA E LAVILLE,
2004; ARRUDA, 2003; BARBOSA, 2007).
A Permacultura é uma dimensão da ecologia sustentada em saberes Científicos e
Tecnológicos e também Conhecimentos Ancestrais/Tradicionais no intuito de
instrumentalização à criação de sistemas humanos sustentáveis, em que confluem as seguintes
variáveis: “conhecimento tradicional”; “agricultura ancestral”; “construções eficientes”;
“equilíbrio ontológico” (mental, físico e espiritual); “recursos naturais” e “sustentabilidade”.
A Economia solidária é uma forma de organização de produção e distribuição de
riqueza centrada na valorização do ser humano e igualdade. Realiza-se através de um conjunto
de atividades econômicas autogestivas que apresenta ao menos três as variáveis — “produção”,
“distribuição” e “consumo”. No âmbito próprio de variegadas práticas econômicas e sociais,
atreladas às condições e possibilidades do lugar, organizam-se as formas de cooperativas,
associações, redes de cooperação, realizando atividades de produção de bens, prestação de
serviços, trocas, comércio justo e consumo solidário.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 75
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Biorregionalismo e a questão de método

O Biorregionalismo é hoje um forte e multifacetado paradigma ecológico, que


rememora às primeiras interações humanas em sua biorregião. O resultado de tais interações e
experiências materializa-se em saberes e práticas sustentadas por significados e conceitos frutos
destas interações e que implicam aspectos epistêmicos, de pertença, afetivos e imanentes dos
sujeitos cônscios dos significados do lugar. Neste sentido, o estudo do Bioregionalism pode
ofertar subsídios epistemológicos e experienciais às investigações em epistemologias da
natureza e ao estudo das interações humanas na natureza, no Brasil, por seu caráter universal.
Ao consideramos estes aspectos já citados, notamos favoráveis possibilidades de correlação e
diálogo científico, a partir de breve análise no âmbito de algumas regras do método —
especificamente a objetivos de pesquisa em Biorregionalismo.
Ao investigarmos o Paradigma Biorregional, acima citado, em suas categorias de
análise e variáveis, notamos o seguinte: no que concerne ao estudo bibliográfico como base à
pesquisa deste tema, o caminho proposto pode ser feito considerando esta ordem a ser
desenvolvida. Precisamente: Escala (“Região”, “Comunidade”); Economia (“Conservação”,
“Estabilidade”, “Autossuficiência”, “Cooperação”); Política (“Descentralização”,
“Complementaridade”); Sociedade (“Simbiose”, “Evolução”, “Divisão”).
Relativamente aos processos da investigação de campo em Biorregionalismo, se
abordarmos os aspectos das categorias de análises citadas acima, bem como suas respectivas
variáveis, além da forte correlação e diálogo com os problemas de pesquisas, hipóteses e
objetivos de pesquisa no contexto brasileiro, torna-se por isso viável responder às nossas
questões ecológicas, econômicas, sociais, antropológicas, entre outras. Demonstraremos em
seguida.

Proposta de estudo a partir das variáveis do Biorregionalismo

As variáveis são todos os aspectos dos fenômenos, suas propriedades, características


particulares ou fatores observáveis e que se pode mensurar. Rauen (2012, p.1) acrescenta que
“definem-se quaisquer eventos, situações, comportamentos ou características individuais e
coletivas que assumam pelo menos dois valores discriminatórios. Isso permite opô-las às
constantes, que se definem por possuir valores estáticos, naturais ou convencionados.” Toda a
abordagem se fará sob os paradigmas da ecologia humana, segundo a anuência do orientador.
O possível estudo abrangerá a análise das categorias gerais do Paradigma Biorregional
e suas variáveis, sob o enfoque interdisciplicar — Escala (Região, Comunidade); Economia

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 76
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

(Conservação, Estabilidade, Autossuficiência, Cooperação); Política (Descentralização,


Complementaridade); Sociedade (Simbiose, Evolução, Divisão).
A Permacultura é uma dimensão da ecologia sustentada em saberes Científicos e
Tecnológicos e também Conhecimentos Ancestrais/Tradicionais no intuito de
instrumentalização à criação de sistemas humanos sustentáveis, em que confluem as seguintes
variáveis: “conhecimento tradicional”; “agricultura ancestral”; “construções eficientes”;
“equilíbrio ontológico” (mental, físico e espiritual); “recursos naturais” e “sustentabilidade”.
A Economia solidária é uma forma de organização de produção e distribuição de
riqueza centrada na valorização do ser humano e igualdade. Realiza-se através de um conjunto
de atividades econômicas autogestivas que apresenta ao menos três as variáveis — “produção”,
“distribuição” e “consumo”. No âmbito próprio de variegadas práticas econômicas e sociais,
atreladas às condições e possibilidades do lugar, organizam-se as formas de cooperativas,
associações, redes de cooperação, realizando atividades de produção de bens, prestação de
serviços, trocas, comércio justo e consumo solidário.
Ainda no âmbito do Paradigma Biorregional, uma proposta de investigação
interdisciplinar torna possível analisar as variáveis de cada categoria de análise: Escala (Região,
Comunidade); Economia (Conservação, Estabilidade, Autossuficiência, Cooperação); Política
(Descentralização, Complementaridade); Sociedade (Simbiose, Evolução, Divisão).
As variáveis da categoria Escala: “Região” e “Comunidade”, podem ser consideradas
para além dos estudos humano-geográficos. Tais variáveis poderão ser correlacionadas às
regiões e comunidades com experiência em Permacultura — Lockyer, James e Veteto (2013).
Morin e Oström (2009); Holmgren (2013); Jacintho, (2009); Cáceres (2011).
As variáveis da categoria Economia: “Conservação”, “Estabilidade”,
“Autossuficiência” e “Cooperação”; as variáveis da categoria Política: “Descentralização”,
“Complementaridade”); as variáveis da categoria Sociedade: “Simbiose”, “Evolução”,
“Divisão”, podem ser observadas sob o paradigma da Economia Solidária (SEN, 2010, 2011;
POLANYI, 2012; ABERLEY, 1993).
No âmbito da categoria analítica Permacultura, tornam-se susceptíveis certas análises:
do ponto de vista do Biorregionalismo, a variável geral “conhecimento tradicional” pode ser
aprofundada ou expandida a partir da sua noção corrente, a saber, o conjunto de saberes e
práticas historicamente consolidadas no que se refere às interações ecológicas de intersecção
cultural e econômica. Com a variável “agricultura ancestral” refere-se às experiências de
interação humano-ecológica culturais e históricas, de perfil agrícola e de subsistência. A partir
da variável “construções eficientes”, pode-se demonstrar os “modos de habitar” exitosos (dwell

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 77
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

manners) e suas concepções e conceitos. Através da variável “equilíbrio ontológico”, é possível


aprender informações acerca dos sujeitos das interações ecológicas no que se refere aos efeitos
subjetivos, qualidade de vida e bem-estar, Marques, (2016); Maturana (2009, 2011, 2014). Por
meio da variável “recursos naturais” é possível saber acerca dos elementos naturais presente
em uma dada região, bem como sua importância. A partir da variável “sustentabilidade”
podemos compreender as concepções de tal conceito e de que maneira este é operalizado por
seus protagonistas.
Em Economia solidária analisaremos as seguintes variáveis:
Por meio das variáveis “produção”, “bens”,” prestação de serviços”, “trocas”,
“comércio” será possível estruturar um panorama econômico de uma dada biorregião. A partir
da variável “distribuição” será analisada através dos meios, finalidades e modos de operação
das formas de cooperativas, associações e redes de cooperação. Analisaremos a variável
“consumo” por levantamento de índices ou percentuais, relacionados às comunidades
favorecidas.

Últimas considerações

A importância da pesquisa em Biorregionalismo é urgentemente necessária, devido à


ausência de publicações concernentes, em Língua Portuguesa, até presente o momento. Tal
ineditismo de pesquisa demonstrará um enorme ganho às ciências nacionais, porque a literatura
sobre as epistemologias do “Bioregional” ou “Biorregionalism” apresentam outras
experiências e outros saberes de aspecto “nativo”, ou “originário do lugar”, de modo que à
grande bibliografia disponível sobre o nosso universo étnico será acrescentada em ganhos esta
nova dimensão epistemológica. Por isso, qualquer percurso de estudos demandará a tradução,
ao menos parcial, das obras de Kirkpatrick Sale (2000) e de Peter Berg (1990).
Há diversos pontos de confluência entre as disciplinas de estudo humano-ecológico no
Brasil e as epistemologias do Biorregionalismo, sobretudo quando se considera a relação
integrativa, histórica do humano habitante (dweler) com o lugar. Em se falando do
Biorregionalismo suas diversas categorias analíticas podem oferecer um horizonte de
conhecimentos, experiência, e certamente novos saberes, abordagens e “modos de ver”,
especialmente por consideramos certas diferenças epistemológicas.
Os impactos sociais da pesquisa são plausíveis quando da abertura ao grande público a
publicações de traduções e estudos em Bioregionalism. Decerto, haveria um extenso aporte
teórico e prático à disposição das comunidades ecológicas e étnicas em geral, considerando-se
os impactos positivos advindos de diálogos iniciados a partir de tais estudos e traduções.
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 78
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Os impactos científicos da pesquisa podem facilmente consistir em subsídios


epistemológicos e experienciais, de modo transdisciplinar, em perspectivas múltiplas que
dialogariam com a Arquitetura, a Geografia humanista, a Filosofia, a Gestão Socioambiental, à
Agroecologia, à Literatura, ao Paisagismo. E se pensarmos o Bioregionalism, a parti da sua
literatura e aplicabilidade cientifica em língua inglesa, possivelmente este possui subsídios
suficientes para implementação de grupo de estudo (CNPq), fundação de revista científica
própria e/ou adoção com disciplina em matriz curricular de cursos interdisciplinares de pós-
graduação em Ecologia, Geografia, Antropologia, etc.
Enfim, no trajeto de pesquisa, aqui esboçado como simples proposta, é preciso
considerar a presença de instituições no Brasil e em alguns países da América Latina
especializadas em práticas biorregionais já consolidadas, a saber, IBC — Instituto Biorregional
do Cerrado, Alto Paraíso (GO); Metropolitan Environmental Management da UBA —
Universidad de Buenos Aires; Núcleo Interdisciplinario de Estudios Socioambientales, da
Universidad de Chile.

Referências Primárias

BERG, Peter; DASMANN, R., “Reinhabiting California”, The Ecologist 7 (10): 399-401,
1997.

______. A Metamorphosis for Cities: From Grey to Green. Planet Drum Foundation, San
Francisco, 1998.

BERG, Peter. Discovering Your Life-Place: A First Bioregional Workbook. Planet Drum
Foundation, San Francisco,1990.

______. The Post-Environmentalist Directions of Bioregionalism. (Lecture at University


of Montana Missoula). Planet Drum Foundation, 2001.

CLARK, John. A Social Ecology. In: ZIMMERMANN, Michael (Ed.) et alii.


Environmental Philosophy: from Animal Rights to Radical Ecology. New Jersey: Prentice
Hall, 1998, p. 417-440.

DYNBALL, Robert. Understanding Human Ecology: A Systems Approach to


Sustainability. London and New York: Routledge, 2015.

EVANOFF, Richard. A Bioregional Perspective on Global Ethics, Eubios Journal of Asian


and International Bioethics #9,1999, p. 60-62.

EWERT, Sara Dant. Bioregional Politics: The Case for Place. In. Oregon Historical
Quarterly. Vol. 103, No. 4 (Winter, 2002), p. 439-451

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 79
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

LOCKYER, J.; JAMES R. VETETO. Environmental Anthropology Engaging Ecotopia:


Bioregionalism, Permaculture, and Ecovillages. Berghahn Books, 2013.

McGINNIS, Michael Vincent. (ed.). Bioregionalism. Londres: Routledge, 1999.

O’CONNOR, James. Socialism and Ecology. In: ZIMMERMANN, Michael (Ed.) et alii.
Environmental Philosophy: from Animal Rights to Radical Ecology. New Jersey: Prentice
Hall, 1998, p.407-415.

SALE, Kirkpatrick. Dwellers in the Land — The Bioregional Vision. Londres: The
University of Georgia Press, 2000.

STEINER, Frederick. The Living Landscape — An Ecological Approach to Landscape


Planning. New york: McGrawHill, 1991.

______. Human Ecology — Following Nature's Lead. 2 ed. Island Press Edition, 2002.

SNYDER, Gary. The Place, the Region, and the Commons. In: ZIMMERMANN, Michael
(Ed.) et alii. Environmental Philosophy: from Animal Rights to Radical Ecology. New
Jersey: Prentice Hall, 1998, p. 441-456.

THAYER, Robert L. Lifeplace — Bioregional thought and practice. Los Angeles:


University of California Press, 2003.

ZIMMERMANN, Michael (Ed.) et alii. Environmental Philosophy: from Animal Rights


to Radical Ecology. New Jersey: Prentice Hall, 1998.

Apêndice

Referências Secundárias (possível ao desenvolvimento da tese)

ABERLEY, Doug. Boundaries of Home — Mapping for local empowernment, Gabriola


Island, New Society Publishers, 1993.

ANGROSINO, Michael. Etnografia e observação participante. Trad. José Fonseca. Porto


Alegre: Artmed, 2009.

ARRUDA, M. Sócio-economia Solidária. In: CATTANI, Antonio. A outra economia. Porto


Alegre: Veraz Editores, 2003.

BOAZ, Franz. Antropologia Cultural. 6. Ed. Trad. Celso Castro. Rio de Janeiro. 2012.
CÁCERES, Adriano. Permacultura e Parques Urbanos – O Caso do Parque Ecológico do
Tororó, Santa Maria-Df. Brasília, FAU/UnB, monografia de pós-graduação, 2011.

CANO, Wilson. Ensaios sobre a crise urbana. São Paulo, Ed. Unicamp, 2011.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 80
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

CARLSSON, Liesel. Understanding Human Ecology: A Systems Approach to


Sustainability by DYBALL, Robert, NEWELL, Barry. In. Human Ecology Review. Vol. 21,
No. 2 (2015).

EUFRASIO, Mário A. Estrutura Urbana e Ecologia Humana. São Paulo: Ed. 34, 2003.

DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. São Paulo: Martins Fontes,


2012.

GEERTZ, C. A Interpretação da Cultura. Trad. Elisete Paes e Lima. Rio de Janeiro: Editora
LTC, 2011.

JACINTHO, C.R.S. Permacultura: Noções Gerais. IPOEMA – Instituto de Permacultura:


Organização, Ecovilas e Meio Ambiente. Brasília, 2006.

HOLMGREN, David Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade. Trad.


Luzia Araújo. – Porto Alegre: Via Sapiens, 2013.

MARQUES, Luiz. Capitalismo e colapso ambiental. 2 ed. São Paulo: Ed. Unicamp, 2015.

MARQUES, Juracy. Ecologia do espírito. Paulo Afonso: Editora da SABEH, 2016.

MATURANA, Humberto. A árvore do conhecimento. Trad. Humberto Mariotti. Palas


Athenas, 2011.

______. A ontologia da realidade. Trad. Cristina Magr. Minas Gerais: Ed. UFMG, 2014.

______. Habitar Humano — Em seis ensaios de biologia-cultural. Trad. Edson A. Cabral.


Palas Athenas, 2009.

MORAN, Emilio F. A Ecologia Humana das populações da Amazônia. Trad. (Não consta).
Petrópolis (RJ): Vozes, 1990.

______. Adaptabilidade Humana. Trad. Carlos E. A. Coimbra Jr. et alii. São Paulo: Edusp,
2010.

______. Meio Ambiente e Ciências Sociais — Interações homem-ambiente e sustentabilidade.


Trad. Carlos Slak. São Paulo: Ed. Senac, 2011.

______. OSTRÖM, Elinor (Orgs.). Ecossistemas Florestais — Interações homem-ambiente.


Trad. Diógenes S. Alves e Mateus Batistella. São Paulo: Edusp, 2009.

ODUM, Eugene P. Fundamentals of Ecology (ou a versão em português). London: W.B.


Saunders Company, 1971.

RAUEN, F. J. Pesquisa científica: discutindo a questão das variáveis. SIMFOP: Santa


Catarina, 2012.

RELPH, Edward. Reflexões sobre a emergência, aspectos e essência de Lugar. In.


MARANDOLA JR., Eduardo; HOLZER, Werther; OLIVEIRA, Livia de (Org.). Qual o
espaço do lugar? São Paulo: Perspectiva, 2012.

______. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 81
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

SCHAFER, Murray R. A afinação do mundo. 2 ed. Trad. Marisa Trench Fonterrada. São
Paulo: Unesp, 2011.

SCHAMA, Simon. Paisagem e Memória. Trad. Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das
Letras, 1996.

SEM, Amartya. A ideia de justiça. Trad. Denise Bottimann. São Paulo. Cia das Letras, 2011.

______. Desenvolvimento como liberdade. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo. Cia das
Letras, 2000.

______. Sobre ética e economia. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo. Cia das Letras,
2004.

SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo,
2002.

SOARES, Bruno Menezes. Permacultura: sociedade alternativa ou alternativa para a


sociedade. Brasília, DAN/UnB, monografia de graduação, 2006.

TUAN, Yi-Fu. Topofilia — um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente.


Trad. Lívia de Oliveira. Londrina: Eduel, 2012.

WACQUANT, Loïc. Notas para Esclarecer a Noção de Habitus. O Centro de Ciências


Humanas, Letras e Artes — CCHLA/UFPB, 2007.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 82
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

DINÂMICA ECONÔMICA DO BAIRRO BARRA NOVA


EM CAICÓ-RN E A TENDÊNCIA À FORMAÇÃO DE
UMA SUBCENTRALIDADE

ECONOMIC DYNAMICS OF BARRA NOVA NEIGHBORHOOD IN CAICÓ-RN AND THE


TREND TO THE FORMATION OF A SUBCENTRALITY
DINÁMICA ECONÓMICA DEL NACIMIENTO DE BARRA NOVA EN CAICÓ-RN Y LA
TENDENCIA DE FORMAR UNA SUBCENTRALIDAD

Ravena Valcácer deGomes


Medeiros (1)
Diego Gomes Santos Santos (1)
JoãoManoel
João Manoelde
deVasconcelos
VasconcelosFilho
Filho(2)(2)

Conflitos de interesses, filiação institucional e responsabilidades

Os autores declaram não haver interesses conflitantes.


Afiliações Institucionais são informadas pelo(s) autor(es) e de inteira responsabilidade do(s) informante(s).
O(s) autor(es) é(são) responsável(is) por todo o conteúdo do artigo, incluindo todo tipo de ilustrações e
dados.

Recebido em: set./2021


Aceito em: mai./2022

(1) Aluno do Curso de bacharelado em Geografia da UFRN/CAMPUS CAICÓ. gomes.diego@hotmail.com


(2) Professor Adjunto do Departamento de Geografia/CERES/CAICÓ/ UFRN. vasconfilho@gmail.com

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 83
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Resumo
O presente trabalho trata de uma breve contextualização acerca da gênese do espaço urbano, refletindo sobre o
processo de formação da área central, ambos relacionados com o contexto da cidade de Caicó/RN. Além disto,
discutiu-se sobre o processo de descentralização, para, posteriormente, debater acerca do problema desta
pesquisa: a tendência do surgimento de uma subcentralidade na perspectiva do bairro Barra Nova. Para o
desenvolvimento desse trabalho buscou-se por um arcabouço teórico envolvendo as questões acima, além dos
dados comerciais do bairro Centro e do Barra Nova, obtidos na Secretaria Estadual de Tributação, enquanto
que os dados populacionais foram obtidos no site do IBGE (2020). Por fim, observou-se uma notória tendência
à formação de um subcentro no bairro a que se objetivou esse trabalho, tendo em vista que o Barra Nova se
mostra como um setor que tende a se tornar mais dinâmico e menos dependente do núcleo central, em razão de
apresentar em sua malha urbana 295 atividades de comércio e serviços que se relacionam diretamente com sua
população local.
Palavras-chave
Descentralização. Subcentralidade. Caicó. Bairro Barra Nova

Abstract
The present work treats an abbreviation contextualization about the origin of the urbane space, thinking about
the process of formation of the central area, both connected with the context of the city of Caicó/RN. Besides
this, one talked about the decentralization process, subsequently, to debate about the problem of this inquiry:
the tendency of the appearance of a subcentrality in the perspective of the district Barra Nova. For the
development of this work, it was looked by a theoretical outline wrapping the questions above, besides the
commercial data of the district I Center and of the Important person Barra Nova, obtained in the State General
office of Taxation, whereas the population data were obtained in the site of the IBGE (2020). For end, a well-
known tendency was observed to the formation of a subcentre in the district that aimed at this work, having in
mind that the Important person shows off Barra Nova how a sector that has a tendency to become more dynamic
and less dependent than the central nucleus, on account of presenting in his urbane mesh 295 activities of
commerce and services that they connect straightly with his local population.
Keywords:
Decentralization. Subcentrality. Caicó city. district Barra Nova.

Resumen
El presente trabajo trata una abreviatura contextualização sobre el origen del espacio urbano, pensando en el
proceso de formación de la zona central, ambos conectados con el contexto de la ciudad de Caicó/RN. Además
de esto, se habló del proceso de descentralización, posteriormente, para debatir sobre el problema de esta
investigación: la tendencia de la aparición de una subcentralidad en la perspectiva del barrio Barra Nova. Para
el desarrollo de este trabajo se buscó mediante un esquema teórico que envuelve las preguntas anteriores,
además de los datos comerciales del distrito I Centro y de la Importante Pieza Informativa, obtenidos en la
Oficina General de Tributación del Estado, mientras que los datos poblacionales se obtuvieron en el sitio del
IBGE (2020). Para el final, una tendencia conocida se observó a la formación de un subcentro en el distrito que
apuntó a este trabajo, teniendo en mente que o Barra Nova es un sector que tiene una tendencia de hacerse más
dinámico y menos dependiente que el núcleo central, debido a la presentación en su malla urbana 295
actividades de comercio y servicios que unen directamente con su población local.
Palabras clave:
Descentralización; Subcentralidad; Caicó, Barrio Barra Nova.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 84
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Introdução

A
s cidades têm sido estudadas por diversas vertentes do conhecimento científico,
dentre elas a Geografia e, particularmente, a geografia urbana que tem se empenhado
em entender os diversos fenômenos que colaboram para a produção e organização
do espaço urbano. A realização deste trabalho preocupou-se em mostrar o contexto da área
central da cidade de Caicó, e seus desdobramentos, precisamente, um recorte espacial da cidade,
o bairro Barra Nova. Esses nos serviram como base empírica para observarmos os seus
diferentes usos do solo urbano, tendo em vista à tendência à formação de um subcentro no
bairro citado.
Inserida no interior do Rio Grande do Norte (Figura 1), Caicó é a maior e a principal
cidade da “Região Geográfica Intermediária de Caicó”. Segundo as estimativas do IBGE para
2020, sua população é de 68.343 habitantes, o que a classifica como a sétima cidade mais
populosa do Rio Grande do Norte e a mais populosa desta Região Geográfica. É considerada
ainda pelo IBGE, um centro sub-regional de categoria B.

Figura 1: zona urbana de Caicó.

Fonte: Adaptado de Agência dos Correios (2014); CAERN (2015). Queiroz, (2018).

O contexto histórico de ocupação e formação do seu território, segundo o IBGE (2017),


apresenta semelhanças a outros municípios de sua região imediata e intermediária. Isto é,
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 85
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

expulsão e perseguição dos povos nativos pelos colonizadores, sobretudo, no século XVIII.
Esses povos habitavam as margens dos rios Seridó e Barra Nova devido às condições climáticas
da região semiárida.
Com a expulsão e a constante perseguição dos nativos, o povoamento do interior no
período colonial brasileiro resultou na formação das primeiras fazendas na região que se
caracterizaram pela atividade pecuária e a agricultura. Posteriormente, a cidade começa a se
expandir ao tempo que apresenta novas configurações com o surgimento dos primeiros fixos, a
exemplo da Igreja de Santana, a Casa de Pedra1 e a Igreja do Rosário, identificados na Figura
2. A partir daí, começam a surgir os primeiros casebres (presentes até hoje na paisagem urbana
da cidade) e, por consequência, surgem os fluxos, ligando a pequena área urbana caicoense com
o entorno rural.

Figura 2: pequena mancha urbana de Caicó no período da pecuária.

Fonte: Faria (2011).

Assim como acontece na maioria das cidades no Brasil, a gênese urbana de Caicó, ou
seja, o sítio original de ocupação se encontra no bairro Centro. É neste setor que se encontram
localizados o aglomerado de atividades de comércio, serviços, algumas indústrias pouco
expressivas e instituições públicas tanto da União como também do Estado e do Município.
Sobre essas diferentes atividades que ocupam a área central da cidade percebe-se,
atualmente, que há uma redefinição acerca das localizações na urbe caicoense, sobretudo, no
âmbito do comércio e serviços. Como aponta Vasconcelos Filho (2016), notou-se que essas

1
Nome dado a primeira casa construída em Caicó devido a sua estrutura composta, principalmente por grandes
blocos rochosos.
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 86
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

atividades começaram a se localizar em bairros que há algum tempo possuíam e eram marcados
por uma função residencial, como é o caso do bairro Barra Nova, que surge no esteio desse
processo de descentralização da área central.
Desse modo, este trabalho tem como ponto de partida analisar e discutir, a princípio, a
gênese e a produção do espaço urbano caicoense para, posteriormente, chegar ao seu objetivo,
o qual está associado ao processo de descentralização da área central e a tendência à formação
de um subcentro no bairro Barra Nova. Para isso, a metodologia inicial foi a seleção e leitura
dos referenciais bibliográficos, onde buscou-se uma variedade deste material, a exemplo de
artigos, livros, monografias, dissertações, artigos científicos, dentre outros, que tratam da
problemática urbana, da dinâmica comercial, dos processos de centralização, descentralização
e subcentralização. Além disso, buscou-se por dados comerciais do bairro Centro e do Barra
Nova na Secretaria Estadual de Tributação, bem como informações no cadastro imobiliário da
prefeitura municipal. Já os dados populacionais foram obtidos no site do IBGE (2020).

A gênese do espaço urbano – a produção do espaço


A transformação de espaço natural em espaço do homem ao longo do tempo ocorre “à
medida que a história vai fazendo-se, a configuração territorial é dada pelas obras dos homens:
estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas, cidades, etc.; verdadeiras próteses”
(SANTOS, 2006. p. 39).
Nessa perspectiva, há o complexo desenvolvimento e formação do espaço urbano pelo
homem sobre diferentes realidades e contextos culturais, econômicos e sociais distintos. Isto é,
ao observarmos a criação da cidade de Caicó a partir de sua trajetória histórica, é relevante
destacar como a divisão social do trabalho e das classes sociais regem a produção e estruturação
do espaço intraurbano, que por sua vez, é resultante de processos e formas espaciais.
Por esta razão, a princípio, para procurar entender a respeito do processo de formação
do espaço urbano se faz necessário ir além do que está exposto na paisagem urbana. Dessa
forma, no contexto histórico-geográfico que Caicó passou, vale destacar as mudanças no que
concerne ao uso e produção do espaço geográfico, sobretudo, devido à doação de Sesmarias
destinadas aos militares como forma de recompensa aos seus feitos. Percebe-se com esse fato
que os agentes sociais atuantes têm uma estreita relação com a Coroa Portuguesa.
Como consequência desse programa político de doações de terras, há a formação das
primeiras fazendas na região caracterizadas pela pecuária. Dessa forma, o território que antes
era tido como de uso pelos indígenas, torna-se um território de recurso pelos colonizadores
(FARIA, 2011). É no século XVIII que o incipiente espaço urbano começa a se desdobrar em

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 87
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

meio às fazendas e aos fixos anteriormente mencionados, o que seria depois considerado distrito
pelo Alvará de 1748, denominado Vila Nova do Príncipe, e que atualmente está localizado o
bairro Centro.
Inicialmente, a economia caicoense foi marcada pelo binômio gado-algodão, que na
década de 1970 começa a declinar devido à seca e, principalmente, segundo Morais (2005, p.
6):
[...] a falta de competitividade do produto no mercado em função do baixo
nível técnico de produção, baixa produtividade, alto custo de produção, difícil
acesso a linhas oficiais de crédito, juros elevados, preços pouco
compensadores no mercado e a estrutura produtiva regional, marcada pela
tradição. Acrescenta-se ainda a modernização e a desconcentração geográfica
da indústria têxtil paulista; os melhoramentos em termos de fibra e de
produtividade do algodão herbáceo; o surgimento e proliferação do bicudo do
algodoeiro.

O declínio da economia pecuária e algodoeira acarretou, dentre outros fatores, no


fortalecimento do setor terciário como fundamento para a economia caicoense e, com ele
mudanças significativas no espaço urbano da cidade.
“A repercussão logo se fez sentir na estrutura do rural e do urbano, através do crescente
número de pessoas que, carregando muito pouco, se arvoraram pelas estradas para tentar a sorte
na cidade, personagens típicos do êxodo rural” (MORAIS, 2005, p. 6). Esse se torna fortalecido
a partir do crescente número de trabalhadores que agora se encontram na urbe e que está
representado pelo aumento constante da população urbana em relação a rural nas décadas de
1950 a 1980 (Tabela 1).

Tabela 1: População urbana e rural de Caicó – 1950 a 2000.

Anos População
Urbana Rural Total
1950 17.755 16.459 24.214
1960 16.233 11.214 27.447
1970 24.427 12.094 36.521
1980 30.828 9.202 40.030
1991 42.783 7.857 50.640
2000 50 522 6.364 56.886
2010 57.461 5.248 62.709
Fonte: Produzido pelo autor com base nos Censos Demográficos do IBGE (1950 a 2010).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 88
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

É, sobretudo, na década de 1960 que o processo de urbanização 2se intensifica em Caicó


devido ao aumento demográfico da população urbana. Tal fato colaborou, assim como em
outras cidades do Brasil, para desenvolvimento do espaço urbano, que no contexto de Caicó foi
concentrado a partir do bairro Centro.
Como veremos a seguir, a área central sempre se constituiu em uma área de maior valor
econômico, tanto devido ao contexto de ocupação quanto por atualmente está associada à área
central de negócios, e possuir maior nível de infraestrutura em relação aos demais bairros. Não
diferentemente de outras cidades, Caicó também apresentou um uso e uma ocupação do solo
urbano bastante desordenada, acarretando em uma urbanização desigual e carente de
infraestrutura, principalmente, nos bairros mais periféricos.

Discussões e reflexões sobre a área central e suas especificidades


na cidade de Caicó

Parafraseando Corrêa (1989), é no início do século XX que o processo de centralização


e sua correspondente forma espacial - a área central - começam a ser sistematicamente
consideradas por aqueles que se dedicam a estudar o espaço urbano. Como já mencionado, a
área central concentra as principais atividades de comércio, serviços e gestão de uma
determinada cidade, podendo ou não exercer influência sobre outras cidades em seu entorno.
Historicamente, a gênese da área central está intimamente ligada ao desenvolvimento
do modo de produção capitalista, podemos perceber isto com a Revolução Industrial no século
XVIII, onde este modo de produção se tornou o principal responsável pela organização do
urbano, utilizando-o como meio para atender as demandas de mercado. Como coloca Corrêa
(1989, p. 40) “o seu aparecimento se deve assim às demandas espaciais do capitalismo em sua
fase concorrencial, onde a localização central constituía-se em fator crucial na competição
capitalista”.
Assim como em diversas cidades do mundo, o capital também buscou organizar o
urbano caicoense para atender as suas necessidades e interesses. Seguindo a tendência imposta
pelo capital, a área central de Caicó começa a se desenvolver, como aponta Santos (2015, p.
39), “essa lógica capitalista foi introduzida a partir de investimentos dos habitantes de maior
renda no município (fazendeiros), criando objetos (fixos) onde hoje se localiza o centro da
cidade”.

2
É oportuno salientar que esta urbanização ocorreu sem o acompanhamento das políticas públicas necessárias a
uma melhor condição de bem estar da população que chegava do campo. Neste caso, ela assume muito mais um
contexto de aumento da população urbana.
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 89
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Com o processo de formação do território da cidade a partir do bairro Centro, pode-se


perceber que a área central de Caicó é marcada por uma organização espacial bastante mutável
que vai ganhando novas configurações. Haja vista as mudanças presentes no embrião da cidade,
o qual apresenta algumas rugosidades, como demonstra a Figura 3, que contrastam com o
moderno que se especializou, sobretudo, com o desenvolvimento e crescimento do espaço
urbano no período técnico-científico Como ressalta Santos (2015, p. 38) “este novo período foi
fundamental para dinamizar o território caicoense no momento de transformação da base
econômica citadina”.

Figura 3: Residências que remontam ao período da pecuária (metade do século


XIX) e ao fundo, prédios construidos recentemente

Fonte: acervo pessoal (2020).

A insuficiência de dados estatísticos e de teorias que trabalhassem a realidade dos países


subdesenvolvidos foi o que levou Milton Santos na década de 1970 a elaborar a teoria espacial
dos dois circuitos da economia urbana. Santos (2008, p. 21-22) define esses dois circuitos como
sendo “responsáveis não só pelo processo econômico, mas também pelo processo de
organização do espaço”. Temos nessa perspectiva, dois circuitos urbanos hierarquizados
presentes na cidade, conforme demonstra Santos (2008, p. 22):

O circuito superior originou-se diretamente da modernização tecnológica e


seus elementos mais representativos são os monopólios. O essencial de suas
relações ocorre fora da cidade e da região que os abrigam e tem por cenário o
país ou o exterior. O circuito inferior, formado de atividades de pequena
dimensão e interessando principalmente às populações pobres, é, ao contrário,
bem enraizado e mantém relações privilegiadas com sua região.

Ambos se espacializam e dividem o espaço urbano, sobretudo, na área central da cidade,


onde as principais atividades do circuito superior, em sua maioria, se encontram. Podemos
observar que, as atividades comerciais e de serviços mais modernas dispõem das melhores
localizações, enquanto as atividades ligadas ao circuito inferior procuram os locais que melhor

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 90
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

se adeque as suas condições financeiras. Santos (2008, p. 40), descreve como os dois circuitos
da economia urbana se espacializam:

Pode-se apresentar o circuito superior como constituído pelos bancos,


comércio e indústria de exportação, indústria urbana moderna, serviços
modernos, atacadistas e transportadores. O circuito inferior é constituído
essencialmente por formas de fabricação não - “capital intensivo”, pelos
serviços não - modernos fornecidos “a varejo” e pelo comércio não - moderno
e de pequena dimensão.

Retomando ao contexto de Caicó, podemos perceber como os dois circuitos estão


relacionados à organização interna da cidade, sobretudo, da área central. As principais
atividades comerciais presentes nessa área estão relacionadas a lojas varejistas como por
exemplo lojas de construção, calçados, vestimentas, informática, tecidos, óticas,
supermercados, camelôs e lanchonetes.
Já no âmbito de atividades de serviços, destaca-se uma considerável quantidade de
agências bancárias, clínicas médicas e veterinárias, escritórios de contabilidade e de advocacia,
imobiliárias e instituições tanto da União como também do Estado e do Município, a exemplo
da Receita Federal, DETRAN, Prefeitura Municipal e algumas secretarias, as quais buscam
atender a demanda da população da cidade e da região de influência. Tais atividades encontram-
se majoritariamente no eixo da Avenida Coronel Martiniano com a Avenida Seridó (Figura 4).

Figura 4: Centro de Caicó, em destaque as principais avenidas comerciais

Fonte: elaborado pelo autor, 2021.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 91
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

É nessa área destacada do mapa que se encontram de forma simultânea atividades tanto
do circuito superior (bancos, supermercados, grandes lojas e pequenas indústrias) quanto do
circuito inferior (comércio varejista3, moto taxistas, borracharias, mercadinhos, camelôs, entre
outros), como demonstra as imagens a seguir (Figuras 4 e 5).

Figura 4: atividades relacionadas ao circuito superior

Fonte: acervo pessoal, 2021.

Figura 5: atividades ligadas ao circuito inferior

Fonte: acervo pessoal, 2021.

Cada circuito se define pelo conjunto de atividades realizadas em cada contexto e pelo
setor da população que se liga a ele, como ressalta Santos (2008, p. 35) “o impacto
modernizador é seletivo, isto é válido tanto no nível nacional quanto no nível regional ou local”.
Esse impacto modernizador seletivo é notório tanto na população quanto no nível
espacial da cidade. Dado que, um número relevante de pessoas não tem acesso ou, em função
da sua condição socioeconômica, sente alguma dificuldade em usar as atividades ligadas ao
circuito superior como alguns serviços bancários, plataformas digitais e lojas de grifes. No nível
espacial, a seletividade é perceptível no momento em que essas atividades estão
majoritariamente especializadas no Centro de Caicó (bancos, supermercados, agências, entres
outros) enquanto que as atividades do circuito inferior ligadas a uma população de baixa renda

3
“O comércio varejista em diversas modalidades (confecções, calçados, equipamentos de informática,
automotivos, materiais para construção civil, dentre outros)” SANTOS, 2015, p. 34).
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 92
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

encontram dispersas no espaço urbano (mercadinhos, borracharias, vendedores ambulantes,


etc.).
Apesar de hierarquizados, ambos se complementam no que concerne ao uso e ocupação
do solo urbano, e, portanto, constituem a paisagem urbana da cidade caicoense, configurando
bairros mais dinamizados, em decorrência de outros que necessitam de mais infraestrutura.
Discutiremos a seguir como ocorre o processo de descentralização no espaço urbano e seus
fatores determinantes, demonstrando sua importância para a dinamização do espaço citadino.

O processo de descentralização da área central

O processo de descentralização está associado a um momento histórico-geográfico


posterior à centralização. De maneira geral, percebe-se que o processo de descentralização torna
o espaço urbano mais dinamizado devido à emergência de outros núcleos secundários das
atividades do setor terciário (REIS, 2005).
Corrêa (2000) afirma que o processo de descentralização pode ocorrer de duas maneiras,
quando há o desdobramento do núcleo central, esse ocupado por classes de alta renda e quando
há a formação de subcentros, caracterizados, em sua maioria, por classes populares onde os
usos e as ocupações do solo urbano ficam reservados às moradias e a pequenos e médios pontos
comerciais. É importante ressaltar que esses processos não se excluem e podem se manifestar
simultaneamente.
Cabe salientar que o processo de descentralização se associa ao crescimento da cidade,
tanto no nível espacial quanto na perspectiva demográfica, ampliando-se a distância entre o
centro e os bairros destinados as moradias. Além disso, há outras forças repulsivas à localização
central que favorecem a descentralização como a dificuldade de obtenção de espaços, o alto
custo de impostos e aluguéis e a concorrência com as grandes lojas que se encontram na área
central (CORRÊA, 1989).
Proudfoot (1937 apud REIS, 2005, p. 5) descreve o significado do núcleo central de
negócios integrando a estrutura comercial em processo de descentralização:

Neste modelo o núcleo central de negócios – principal componente da área


central – se impõe no ápice da hierarquia de centros intraurbanos como o
‘coração’ da cidade; o principal foco da economia da cidade, que concentra
de maneira singular a mais diversificada, maior e melhor oferta de funções
centrais e que possui os mais elevados valores de uso do solo urbano.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 93
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Vale salientar que, em Caicó o núcleo central de negócios está relacionado ao coração
da cidade não somente por ser a área de negócios e funções centrais, mas também devido ao
contexto de formação do território caicoense que nele se originou e deu nome ao bairro Centro.
Contudo, com o crescimento do espaço urbano outros bairros começaram a ser ocupados
por lojas, restaurantes e escolas que antes se concentravam apenas na área central da cidade.
Em outras palavras, é nítida a expansão para outros compartimentos da cidade de atividades
ligadas ao comércio e serviços que acabam beneficiando os bairros e aos moradores nos quais
se localizam.
Esse fato se intensifica tendo em vista a carência de serviços de transporte público
prestados a população caicoense, onde, grande parte da população que não mora no Centro, tem
que buscar meios para se dirigirem até o Bairro. Desse modo, tal fato pode se constituir como
um elemento que contribua ainda mais para o surgimento de subcentros uma vez que, a
população mais pobre não precisa se deslocar tanto para desempenhar determinadas atividades
na área central.
A presença da dispersão comercial e, consequentemente, o surgimento de novos fixos
em outros bairros, como é o caso do bairro Barra Nova, favorece, a princípio, uma maior
dinamização do espaço urbano, tendo em vista que produz novos empregos, fluxos de transporte
e de pessoas. Como ressalta Santos (2006, p. 38) “os elementos fixos, fixados em cada lugar,
permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam as
condições ambientais e as condições sociais, e redefinem cada lugar.”
No próximo item, destaca-se o processo de descentralização e a tendência a formação
de um subcentro no contexto do bairro Barra Nova, evidenciando sua espacialidade
socioeconômica.

O surgimento de uma subcentralidade - a perspectiva do bairro


Barra Nova

A análise do bairro Barra Nova, juntamente com as reflexões mencionadas sobre o


Centro de Caicó, possibilitou refletir sobre o processo de descentralização, principalmente das
atividades terciárias, e observar a tendência à formação de um subcentro, onde outrora se
presenciava um bairro com característica apenas residencial.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 94
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Atualmente, o Barra Nova conta com uma população de aproximadamente cinco mil
habitantes4, sendo um dos 29 bairros5 que compõe a cidade de Caicó. Seu crescimento espacial
limita-se ao sul pelos bairros João XXIII e Paulo VI, a oeste pelo Walfredo Gurgel, já ao norte
e a leste são limitados pelo rio Barra Nova, o qual deu nome ao bairro (Figura 1).
Historicamente, cabe salientar que a economia algodoeira também se fez presente no
contexto de formação do bairro nas décadas de 1970/80, sendo uma das causas responsáveis
pelo seu crescimento a partir da instalação da Algodoeira Seridó (Figura 6), gerando empregos
e construções de casas que apesar de serem de taipa e de palha, denotavam o início de ocupação
do bairro. Conforme exemplifica Araújo (2013, p. 78), “assim, em pouco menos de três anos a
área oeste da cidade, onde a ALSECOSA6 se instalou já havia se constituído em um bairro cuja
denominação fazia menção ao rio Barra Nova”.

Figura 6: Algodoeira Seridó localizada no bairro Barra Nova

Fontes: blog Bezerratim (2012).

Além disso, antes da construção do contorno rodoviário, a BR-427 cortava a cidade no


sentido de leste a oeste, passando pelo bairro Barra Nova e deixando marcas na organização
espacial. Esse eixo é responsável por interligar, principalmente, às cidades que Caicó exerce
alguma influência como Jardim de Piranhas, Timbaúba dos Batistas, Serra Negra do Norte e
São Fernando. Todas essas localizadas a oeste da cidade, onde se situa o bairro Barra Nova.
Diariamente, inúmeros trabalhadores vindos dessas cidades referidas, deslocam-se
pendularmente para Caicó. Nesse sentindo, a construção da rodovia e, posteriormente, de postos

4
Devido à inexistência de dados estatísticos por bairros a informação foi obtida a partir da Unidade Básica de
Saúde do bairro Barra Nova, 2020.
5
Como sugerido por Queiroz (2018), foi-se delimitado a existência de 29 bairros, tendo em vista que Caicó não
conta com uma delimitação oficial de bairros (Figura 1).
6
Refere-se ao nome da empresa algodoeira instalada no bairro Barra Nova, Algodoeira Seridó Comércio e
Indústria S/A (ALSECOSA).
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 95
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

de combustíveis foram de suma importância para o desenvolvimento do bairro (Figuras 7),


favorecendo para que inúmeros motoristas utilizassem a área como ponto de parada para
alimentação, abastecimento, descanso, entre outros serviços básicos.

Figura 7: Novos serviços às margens da BR427

Fonte: acervo pessoal, 2020.

Dessa maneira, a localização passa a ser foco de atividades tanto do circuito inferior
(pequenos restaurantes, borracharias) quanto do circuito superior (postos de combustíveis),
justamente devido ao constante fluxo, sobretudo de veículos grandes, favorecido pelo trecho
urbano da BR-427.
Vale destacar também a construção da ponte sobre o rio Barra Nova, a qual foi de suma
importância para a criação do bairro e, posteriormente serviu de meio para interligá-lo à área
central da cidade. Assim, facilitando e dinamizando o escoadouro da produção algodoeira que
era destinado, segundo Araújo (2008), principalmente, para Campina Grande na Paraíba e
Recife em Pernambuco.
Como aponta Villaça (1998, p. 293) “o subcentro consiste, portanto, numa réplica em
tamanho menor do centro principal, com o qual concorre em parte sem, entretanto, a ele se
igualar”. Sendo assim, um subcentro caracteriza-se por atender a demanda da classe popular;
em geral, não ameaçando a supremacia do centro. Como demonstra a Tabela 2, onde as
atividades presentes no bairro Barra Nova são bem expressivas e diversificadas para um bairro
cuja função principal foi destinada a questão de moradia, e que hoje apresenta 295 atividades
de comércio e serviços, o que o diferencia de muitos outros bairros da cidade.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 96
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Tabela 2: empresas cadastradas em Caicó (Centro e Barra Nova).


Bairro Comércio Indústria Serviços Total
Centro 864 52 1.059 1.975
Barra Nova 94 19 182 295
Total 958 71 1241 2.279
Fonte: Dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Tributações e Finanças, 2020.

Carlos (2007) aponta que para o produtor de mercadorias a cidade é o lócus da produção,
do ponto de vista do morador enquanto consumidor, a cidade é meio de consumo e o lócus da
habitação. Nessa perspectiva de usos do solo urbano, nota-se que no bairro Barra Nova parte
de sua população relaciona-se com o bairro tanto na perspectiva de consumidor; utilizando as
atividades nele presentes como farmácias, escolas, restaurantes, mercadinhos, quanto no nível
de produção; visto que parte da população é proprietária ou trabalha nesses estabelecimentos.
Assim, o comércio do presente bairro está intimamente relacionado, sobretudo, ao
circuito inferior da economia urbana. Com isso, grande parte das atividades comerciais se
manifesta com o ambiente de seu consumidor de maneira muito próxima. Como demonstrado
por Corrêa (1989, p. 51):

Por toda cidade ocorrem pequenos agrupamentos de lojas localizadas em


esquinas: duas a cinco lojas, como padaria açougue, quitanda, farmácia,
armazém, botequim, que atende às demandas muitos frequentes da população
que habita nos quarteirões imediatos ao agrupamento. Os comerciantes são
moradores do bairro e conhecidos dos fregueses.

Da mesma maneira que parte da população tem uma relação de uso e valor com o bairro,
é explicito que o espaço, concomitantemente, se divida entre as moradias e as atividades de
comércio e serviços locais (Figura 8), que procuram atender as demandas recorrentes dessa
população, geralmente classes populares, que não necessitam recorrer com tanta frequência ao
Centro.
Ainda no setor terciário, vale destacar o número expressivo de atividades prestadoras de
serviços (182, como demonstrado na tabela 2) presentes no bairro e que estão relacionadas tanto
ao circuito superior quanto ao circuito inferior da economia urbana. Se destacando as atividades
de transporte, mototaxistas e taxistas; educação, escolas públicas e privadas; serviços
hoteleiros, como pousadas (Figura 9), além da presença de correspondentes bancários
funcionando no interior de algumas farmácias e mercadinhos do bairro.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 97
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Figura 8: diferentes formas de uso e ocupação do solo urbano no bairro Barra


Nova

Fonte: acervo pessoal, 2020.

Figura 9: algumas atividades do setor de serviços presentes no bairro

Fonte: Acervo pessoal, 2021.

Desse modo, o bairro Barra Nova caracteriza-se pela tendência de reproduzir, em uma
escala reduzida, a área central de Caicó, de modo que, as atividades instaladas no local
conseguem suprir grande parte da necessidade da população que nele reside, não ameaçando a
área central, mas sendo responsável por dinamizar os fluxos de transportes, lojas e empregos
tanto na cidade quanto no bairro.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 98
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Considerações finais

As reflexões acerca desse estudo resultam da observação e análise da construção de


Caicó a partir de um processo histórico de produção social, resultado de atividades sobrepostas
ao longo do tempo, as quais produzem processos e formas espaciais na paisagem urbana. O
processo de descentralização demonstra para o espaço urbano a sua expansão e com ela seus
desdobramentos no que tange as atividades de comércio e serviços. Disto resulta, a notória
tendência à formação de um subcentro no bairro a que se objetivou esse trabalho. Pois, podemos
perceber que o bairro Barra Nova se mostra como um setor que tende cada vez mais se
dinamizar e apresentar uma dependência menor em relação ao núcleo central de Caicó. Este
fato é comprovado pela presença em sua malha urbana de 295 atividades de comércio e serviços
que se relaciona diretamente com sua população local tanto como valor de uso quanto pelo
valor de troca.
Deste modo, verifica-se uma reorganização comercial na dinâmica urbana de Caicó e,
sobretudo, no bairro mencionado. Isso se torna perceptível a partir das ocupações de diversas
atividades comerciais e de serviços que colaboram para a formação de outro núcleo comercial
que, apesar de submetido a área central, se constitui como importante elemento econômico para
sua população local, em sua maioria de baixa renda.
Em razão da diversidade de produtos e serviços encontrados no bairro, isso faz com que
sua população não necessite se dirigir com tanta frequência ao centro comercial que se localiza
no bairro Centro. Por fim, este trabalho tenta, a partir de um estudo de caso, contribuir aos
estudos científicos sobre a cidade, destacando o papel fundamental que o processo de
descentralização e a formação de um subcentro tem na dinâmica espacial da cidade de Caicó e,
sobretudo, o papel que desempenha na dinâmica do bairro Barra Nova.

Referências

ARAÚJO, C. M. A representação da mulher e as questões de gênero na toponímia


urbana de Caicó – RN. (Dissertação em História). Natal: UFRN, 2013.
ARAÚJO, M. A. A. Sobre Pedras, entre Rios: modernização do espaço urbano de
Caicó/RN (1950/1960). (Dissertação em Geografia). Natal: UFRN, 2008.
CARLOS, A. Fani A. A Cidade. 8° ed. São Paulo: Contexto, 2007.
CORRÊA, L. R. O Espaço Urbano. 4º ed. São Paulo: Editora Ática, 1989
______. Comércio e Espaço: uma retrospectiva e algumas questões. Texto LAGET - série
Pesquisa e Ensino. Rio de Janeiro: UFRJ, nº 2, p. 1-24, 2000.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 99
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

FARIA, C. E. Os eventos geográficos e a expansão urbana de Caicó. (Dissertação em


Geografia). Natal: IFRN, 2011.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades, Rio Grande do Norte, Caicó.
Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rn/caico/historico.
Acesso em: 16 mai. de 2020.
MORAIS, I. R. D. Seridó Norte-rio-grandense: reestruturação e planejamento regional. In:
Anais... XI Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Planejamento Urbano e Regional – ANPUR. Salvador, 2005.
QUEIROZ, L. M. N. Expansão urbana e vulnerabilidades citadina: carto(grafias)
socioeconômica e de infraestrutura urbana. 2018. (Tese em Geografia) – UFRN, Natal,
2018.
REIS, Luis Carlos Tosta dos. O desdobramento do núcleo central de negócios e a crise do
significado da área central. In: Anais... IX Simpósio Nacional de Geografia Urbana. Cidades:
Territorialidade, sustentabilidade e demandas sociais. Manaus-AM, 18 a 21 de outubro de
2005. (Disponível em CD-ROM).
SANTOS, L. A. O centro e as novas centralidades: considerações a partir dos circuitos
da economia urbana na cidade de Caicó/RN. (Trabalho de conclusão de curso em
Geografia) – UFRN, Caicó, 2015.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo; Razão e Emoção. 4ª ed. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.
______. O Espaço Dividido. 2ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
VASCONCELOS FILHO, João Manoel de. A importância da área central e suas
contribuições para a compreensão e análise da cidade: em discussão o processo de segregação
socioespacial. Revista GeoSertões, [S.l.], v. 1, n. 1, p. 74-89, jun. 2016. Disponível em:
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/article/view/31. Acesso em: 22 de
jan. de 2021.
VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. 2º edição. São Paulo: Studio Nobel,
1998.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 100
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

INSTITUCIONALIZAÇÃO DE REGIÕES
METROPOLITANAS NO SEMIÁRIDO DO NORDESTE
BRASILEIRO: possibilidades e desafios para a
criação da região metropolitana de Mossoró/RN
(RMM)

INSTITUTIONALIZATION OF METROPOLITAN REGIONS IN THE SEMI-ARID OF


NORTHEAST BRAZIL: POSSIBILITIES AND CHALLENGES FOR THE CREATION OF THE
METROPOLITAN REGION OF MOSSORÓ/RN (RMM)
INSTITUCIONALIZACIÓN DE LAS REGIONES METROPOLITANAS EN EL SEMIÁRIDO
DEL NORESTE DE BRASIL: POSIBILIDADES Y DESAFÍOS PARA LA CREACIÓN DE LA
REGIÓN METROPOLITANA DE MOSSORÓ/RN (RMM)

Ravena Valcácer dedos


Medeiros (1)
João Paulo Silva Santos (1)

João Manoel de Vasconcelos Filho (2)

Conflitos de interesses, filiação institucional e responsabilidades

Os autores declaram não haver interesses conflitantes.


Afiliações Institucionais são informadas pelo(s) autor(es) e de inteira responsabilidade do(s) informante(s).
O(s) autor(es) é(são) responsável(is) por todo o conteúdo do artigo, incluindo todo tipo de ilustrações e
dados.

Recebido em: mai./2021


Aceito em: mai./2022

(1)Doutorando em Estudos Urbanos e Regionais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.


joaozxz@yahoo.com.br

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 101
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Resumo
Uma metrópole e o processo que a cria é para muitas pessoas sinônimos da presença de relações sociais,
culturais, políticas e econômicas modernas. A metropolização pode ser entendida como uma conjuntura de
processos socioespaciais que estão interligados a reestruturação do capital e ao mesmo tempo do espaço. A
criação de regiões metropolitanas (RMs) no território brasileiro iniciou-se de forma institucional no ano de
1973. A Constituição Federal possibilitou aos estados da Federação a instituição de RMs em seus territórios. O
resultado é existência atual de 76 RMs. Desde do ano de 2014 existe um embate político pela criação da RMM.
O objetivo deste ensaio é ampliar a visão crítica sobre uma possível institucionalização da RMM, considerando
as iniciativas legislativas, as possibilidades atuais e futuras para os municípios envolvidos e os desafios. A
RMM seria mais uma região metropolitana localizada no semiárido nordestino que iria compartilhar das
mesmas características da maioria das RMs instituídas no recorte do país. A institucionalização de uma RMM
a posicionaria próximo a região metropolitana do Cariri. O projeto de Lei Complementar nº 14/2017 contempla
os itens essenciais citados para a institucionalização de uma Região Metropolitana funcional, mas de forma
genérica.
Palavras-chave
Metropolização. Fluxos. Semiárido.

Abstract
A metropolis and the process that creates it is for many people synonymous with the presence of modern social,
cultural, political and economic relations. Metropolization can be understood as a conjuncture of socio-spatial
processes that are intertwined with the restructuring of capital and, at the same time, of space. The creation of
metropolitan regions (MRs) in the Brazilian territory began institutionally in 1973. The Federal Constitution
allowed the states of the Federation to establish MRs in their territories. The result is the current existence of
76 MRs. Since 2014, there has been a political struggle for the creation of the MRM. The objective of this essay
is to broaden the critical view about a possible institutionalization of the MRM, considering the legislative
initiatives, the current and future possibilities for the municipalities involved, and the challenges. The MRM
would be one more metropolitan region located in the Northeastern semi-arid region that would share the same
characteristics as most of the MRMs instituted in the country's cut. The institutionalization of an MRM would
position it close to the Cariri metropolitan region. The project of Complementary Law No. 14/2017
contemplates the essential items cited for the institutionalization of a functional Metropolitan Region, but in a
generic way.
Keywords:
Metropolization. Flows. Semi-arid.

Resumen
Una metrópolis y el proceso que la crea es para muchos sinónimos de presencia de relaciones sociales,
culturales, políticas y económicas modernas. La metropolización puede entenderse como una coyuntura de
procesos socioespaciales que se entrelazan con la reestructuración del capital y al mismo tiempo del espacio.
La creación de regiones metropolitanas (RM) en el territorio brasileño se inició institucionalmente en 1973. La
Constitución Federal permitía a los estados de la Federación establecer RM en sus territorios. El resultado es la
existencia actual de 76 RM. Desde el año 2014 hay una lucha política por la creación del RMM. El objetivo de
este ensayo es ampliar la visión crítica sobre una posible institucionalización del RMM, considerando las
iniciativas legislativas, las posibilidades actuales y futuras para los municipios implicados y los retos. La MRM
sería una región metropolitana más situada en la región semiárida del noreste que compartiría las mismas
características de la mayoría de las RMM instituidas en el corte del país. La institucionalización de un RMM lo
situaría cerca de la región metropolitana de Cariri. El Proyecto de Ley Complementaria Nº 14/2017 contempla
los ítems esenciales citados para la institucionalización de una Región Metropolitana funcional, pero de manera
genérica.
Palabras clave
Metropolización. Flujos. Semiárido.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 102
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Introdução

U
ma metrópole e o processo que a cria é para muitas pessoas sinônimos da presença
de relações sociais, culturais, políticas e econômicas modernas e da existência de
muitas oportunidades de vida para os seus habitantes. Mais recentemente, fatores
envolvidos na formação de metrópoles como a reestruturação das formas produtivas do modelo
produtivo capitalista , as dinâmicas do capitalismo financeiro, as ações políticas voltadas para
a inserção dos territórios no mercado global e as novas formas de obtenção de renda do solo
urbano e suburbano, ocasionados pela “globalização” acelerada nas últimas décadas do século
XX, intensificada no século XXI, produziram formas diferenciadas de entender o que são áreas
metropolitanas e de como elas podem ser delimitadas em virtude de suas características.
Os termos metrópole e metropolização estão alinhados em uma mesma direção, mas
possuem escalas diferenciadas. Enquanto o conceito de metrópole pode ser associado ao que se
entende como a área de uma grande cidade, o entendimento sobre o que é o processo de
metropolização extrapola a área de uma cidade (LENCIONI, 2006; DI MÉO, 2008).
Lencioni (2020) esclarece que a metropolização pode ser entendida como uma
conjuntura de processos socioespaciais que estão interligados a reestruturação do capital e ao
mesmo tempo do espaço. O consumo do espaço urbano é realizado por interesses
instrumentalizados pelas novas formas de capitalização do solo urbano e por condições que
maximizam os lucros das atividades capitalistas e reforçam os processos de expropriação e
espoliação de áreas urbanas.
Na França o processo de metropolização foi evidenciado por Kayser (1969) quando ele
buscou entender as diferenciações e transformações existentes no território do país. Para isso o
autor distinguiu dois tipos de espaços. Os metropolizados (alto fluxo de capital, pessoas e
mercadorias) e os não metropolizados que continham as características inversas ao primeiro.
Neste sentido, na França, assim como nos Estados Unidos, a partir dos anos de 1950
foram criadas organizações espaciais metropolitanas objetivando ordenar o território, na França
e aglutinar e organizar dados estatísticos nos Estados Unidos. No Brasil a ideia de regiões
metropolitanas foi balizada nos conceitos de metropolização e modelos de ordenação do
território aplicados na França e nos Estados Unidos, mas ela ultrapassou a concepção
relacionada apenas as formas espaciais urbanas (MOURA; FIRKOWSKI, 2001). A
metropolização brasileira passou a ser realizada como uma forma de ordenamento territorial
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 103
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

que envolveu muito mais questões políticas, econômicas e administrativas do que


socioespaciais (FIRKOWSKI, 2013).
A criação de regiões metropolitanas no território brasileiro iniciou-se de forma
institucional no ano de 1973, após a promulgação da Lei Complementar nº 14 de junho do
mesmo ano. Em 1973 foram institucionalizadas as regiões metropolitanas de São Paulo, Belo
Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza. No ano de 1988, a nova
Constituição Federal possibilitou aos estados da Federação, por meio de Lei Complementar,
que eles pudessem realizar a instituição de regiões metropolitanas em seus territórios.
Entretanto o texto da Constituição não delimitou critérios mínimos relacionados a
institucionalização de regiões metropolitanas nos estados como a questão da população, o nível
de urbanização e as dinâmicas socioeconômicas existentes entre um grupo de municípios
(FIRKOWSKI, 2012). O Estatuto da Metrópole (lei nº 13.089 de 12 de janeiro de 2015), em
uma redação textual diferenciada por poucas palavras, reafirma essa condição aos estados da
federação.
O resultado dessa condição é a atual existência de 76 regiões metropolitanas no Brasil.
Dos três estados com o maior número de regiões metropolitanas (RMs) institucionalizadas dois
estão na região nordestina do Brasil. São eles Paraíba (12), Santa Catarina (11) e Alagoas (9)
(IBGE, 2020a). Atualmente na região semiárida do nordeste do Brasil, delimitada pela
Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), estão presentes municípios
localizados em 17 RMs (Figura 01). Todas as RMs existentes no semiárido nordestino
englobam 205 municípios (IBGE, 2020b).
Em uma área entendida com periférica do capitalismo onde a cultura da dádiva (SALES,
1994) ainda coexiste com formas tradicionais e modernas de produção e de reprodução do
capital, a existência destas RMs parece possuir sentido somente se forem entendidas em uma
perspectiva de ordenamento territorial e desenvolvimento regional e não como um processo de
metropolização relacionado com o contínuo consumo do espaço (FERRIER, 2001;
FIRKOWSKI, 2012; LENCIONI, 2020). Nesta perspectiva de constituição de RMs por meio
de processos políticos, em prol de ações integradas de interesses comuns entre municípios,
possivelmente em breve, o número de RMs institucionalizadas na região semiárida do país irá
aumentar.
Um exemplo disto é a busca, que possui como vetores atores políticos, da
institucionalização da Região Metropolitana de Mossoró (RMM) no estado do Rio Grande do
Norte. Desde do ano de 2014 existe um embate político pela criação da RMM. Por meio de um
projeto de Lei Complementar, a então Deputada Larissa Rosado protocolou na Assembleia

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 104
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Legislativa um projeto de lei para a criação da RMM que contemplaria 29 municípios limítrofes
e não limítrofes da região oeste do estado. O projeto de lei não foi aprovado pela plenária da
casa legislativa.

Figura 01 - RMs localizadas no semiárido nordestino

Fonte: SUDENE (2020).

Já no ano de 2017 um projeto de Lei Complementar de autoria do Deputado Manoel


Cunha Neto (Sousa), que contemplava o município de Mossoró e mais oito limítrofes foi
aprovado por unanimidade pela Assembleia Legislativa, mas acabou sendo vetado pelo poder
Executivo Estadual com a justificativa de que a iniciativa deveria partir do Executivo e não do
legislativo (ANTUNES, 2021). Recentemente, mais um projeto buscando criar a RMM foi
enviado para ser apreciado pela Assembleia Legislativa. No ano de 2019, o então Deputado
Allyson Bezerra (atual prefeito de Mossoró), apresentou uma proposta que pretende englobar
os municípios em uma região metropolitana.
Diante do exposto o objetivo deste ensaio é ampliar a visão crítica sobre uma possível
institucionalização da RMM, considerando as iniciativas legislativas, as possibilidades atuais e
futuras para os municípios envolvidos e os desafios que estão relacionados com os processos
socioespaciais e políticos existentes no semiárido nordestino, no atual contexto do processo
capitalista (HARVEY, 2005). Para desenvolver está proposta, em uma lógica dialética, serão

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 105
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

analisados e comparados dados quantitativos, concepções teóricas sobre o processo de


metropolização e estudos técnicos desenvolvidos por órgãos oficiais, como o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA).

A institucionalização de regiões metropolitanas no semiárido


nordestino

Di Meó (2008) defende que o termo “metropolização” pode ser melhor entendido como
um conjunto de processos que produzem as características das formas, das funções e das
dinâmicas que podem ser visualizadas nos locais da terra onde existem grandes aglomerados
de pessoas. Com uma outra perspectiva, mas seguindo a mesma linha de pensamento, Ferrier
(2001) entende que a “metropolização” atualmente está associado a territorialização das áreas
que possuem um acelerado ritmo de desenvolvimento econômico, não importando se isso
ocorre em países desenvolvidos ou subdesenvolvidos.

O termo “metropolização” para Leopoldo (2020), no contexto brasileiro, está mais


associado a um tipo de mescla entre metropolização e regionalização baseada nos moldes do
modelo norte-americano. Neste sentido a metropolização das áreas do país pode ser relacionada
a vontade política de dotar áreas com o status de áreas metropolitanas. O resultado desta política
gerou áreas metropolitanas que possuem características diferenciadas. Entre elas existe uma
hierarquia que envolve aspectos econômicos, políticos e sociais. Considerando estes fatores,
podem ser classificadas, em escalas de importância para a estrutura de acumulação do capital,
12 regiões metropolitanas estruturais, 18 transitivas e 46 que possuem caráter formal ou apenas
institucional (Figura 02) (LEOPOLDO, 2020).
As regiões metropolitanas estruturais constituem os principais canais de convergência
de investimentos públicos e privados do país e possuem sua centralidade principal cravada na
megalópole Rio de Janeiro-São Paulo. As regiões metropolitanas transitivas e seus entornos
metropolitanos não se apresentam considerando os sentidos mais deterministas dos termos. Elas
geralmente possuem, formas, funções e estruturas financeiras próprias, mas não possuem
potência suficiente para sustentaram suas ações de forma individual como as regiões
metropolitanas estruturais. Elas possuem poder polarizador apenas regional. Já as regiões
metropolitanas formais, nas quais se classificam 16 das que existem no semiárido nordestino
(excluindo a RM do Cariri), estão associadas a busca por captação, por meio de instrumentos
políticos locais, de benefícios e investimentos oriundos de ações e recursos federais. Ao mesmo
tempo é possível associar a institucionalização de regiões metropolitanas no semiárido
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 106
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

nordestino a uma política de regionalização de espaços próximos a um polo regional com o


objetivo de diminuir custos por meio da introdução de uma “integração” ou “cooperação” entre
os municípios enquadrados neste tipo de região metropolitana (LEOPOLDO, 2020).

Figura 02 - Tipologia das Regiões Metropolitanas brasileiras

Fonte: Adaptado de Leopoldo (2020).

Essas condições se tornam factíveis ao se analisar os projetos de Leis Complementares


que instituíram RMs no Ceará, na Paraíba e em Alagoas. Todas as leis verificadas citam a
integração ou a unificação, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse
comum a todos os municípios envolvidos nas RMs.
Entre as leis analisadas, as do Ceará são as que possuem seus objetivos mais claramente
expressos. Já na Paraíba as leis possuem diferenças relacionadas ao detalhamento e as funções
públicas que serão alvo de intervenção. As que possuem mais detalhes sobre os objetivos e as
áreas de interesse comum que serão priorizadas são as de Sousa e de Esperança. No nível menor
de detalhamento estão as leis das RMs de Guarabira, Barra de Santa Rosa e Itabaiana. A lei
referente a oficialização da RM do Vale do Piancó, possui uma redação diferenciadas das
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 107
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

demais. Nela está disposto que a finalidade da RM é a promoção do desenvolvimento


econômico equilibrado e sustentável e a diminuição das desigualdades existentes entre os seus
municípios. Em Alagoas, a lei da RM de Palmeira dos Índios possui alta similaridade com as
do Cariri e do Crato. Sancionada no ano de 2012, a redação da lei parece ter sido espelhada no
projeto de lei que criou a RM do Cariri no ano de 2009.
As leis complementares que instituíram as RMs do semiárido, mesmo sendo
juridicamente coerentes com a legislação vigente, apresentam-se muito generalistas já que
dentro da delimitação do semiárido existem contextos socioeconômicos, produtivos e
ambientais diferenciados que não foram considerados como primordiais para a formalização
das RMs. Elas parecem terem sido redigidas, avaliadas e aprovadas a “toque de caixa” pois as
áreas e as formas de ações integradas entre os municípios, não foram detalhadas. Isto
provavelmente dificulta a efetivação do objetivo principal das RMs que é promover o
desenvolvimento socioeconômicos integrado por meio da cooperação entre os municípios.
Diante disto, considerando as características do processo de metropolização (FERRIER,
2011; FIRKOWSKI, 2012), fica evidenciado que a forma de atuação dos atores políticos que
estiveram envolvidos no processo de criação das RMs não fizeram nada mais do que
regionalizar territórios já que as leis não priorizam aspectos relacionados aos processos de
dinamização da mobilidade de fluxos de pessoas, serviços, produtos, informações e capitais e
também não possuem dispositivos de regulação das relações de poder envolvidas na ocupação
de espaços por agentes que possuem objetivos econômicos e sociais divergentes. Agravam essa
condição a não especificação de parâmetros e a falta de relativização dos seus objetivos comuns
com as condições socioeconômicas, naturais e produtivas dos municípios que integram as RMs.

Uma possível RMM

Considerando os dois últimos projetos de Lei Complementar que trataram da instituição


da RMM apresentados na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, ela seria formada,
além do município de Mossoró, por Baraúna, Tibau, Grossos, Areia Branca, Serra do Mel, Açu,
Upanema e Governador Dix-Sept Rosado (figura 03).
Todos os municípios, considerando a regionalização do território nacional em Regiões
Geográficas Intermediárias e Imediatas (IBGE, 2017) realizada pelo IBGE, estão inseridos na
Região Geográfica Imediata de Mossoró, que além deles é composta por outras sete unidades
territoriais localizadas na região oeste do estado. A tabela 01 apresenta dados territoriais e
socioeconômicos dos municípios existentes no projeto de lei do ano de 2019 referente a RMM.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 108
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Figura 03 - RMM de Mossoró de acordo com os projetos de Lei Complementar

Fonte: IBGE (2020c).

Tabela 01 - Dados territoriais e socioeconômicos dos municípios


Empresas e
outras Salário médio
População Pessoal ocupado
Município Área (Km²) organizações mensal (salário PIB (R$ x1000)
(pessoas) (pessoas)
atuantes mínimo)
(unidades)

Açu 1.303,44 58.384 861 6.692 1,8 1.095.809,82

Areia Branca 342,74 27.967 319 4.641 2,2 675.718,04

Baraúna 825,68 28.747 251 3.812 2 546.283,51

Governador Dix-
1.129,55 13.076 141 1.367 1,9 262.924,97
Sept Rosado

Grossos 124,53 10.463 101 1.418 1,7 153.845,69

Mossoró 2.099,33 300.618 6.125 65.533 2,4 6.524.082,90

Serra Do Mel 620,24 12.083 89 737 2,1 329.054,02

Tibau 169,36 4.140 118 757 1,6 95.664,04

Upanema 873,14 14.800 108 1.618 1,8 179.736,99

TOTAL 7.488,04 470.278 8.113 86.575 1,94 9.863.119,98

Fonte: IBGE (2018) e IBGE (2021).

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 109
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

O município de Mossoró, apresenta destaque pois a sua área urbana está classificada
como uma Capital Regional (IBGE, 2020c). Em seguida, destaca-se a cidade do município de
Açu, que é considerada um Centro Sub-regional (B). Os municípios que possuem os menores
valores nos dados apresentados são os de Grossos e Tibau, ambos localizados na zona litorânea.
Sem contabilizar a atividades públicas de administração, defesa, educação e saúde
pública e seguridade social, as atividades produtivas que mais adicionaram valores ao Produto
Interno Bruto (PIB), no ano de 2018, apresentam variações nos municípios da possível RMM
(quadro 01). Mas entre elas, as atividades enquadradas pelo IBGE (2018) como “demais
serviços” e “indústria extrativista” são as que mais contribuíram para a produção de riqueza no
conjunto dos municípios.

Quadro 01 - Atividades produtivas que mais contribuíram para a PIB dos municípios
Atividade com maior valor adicionado Atividade com segundo maior valor
Município
bruto ao PIB adicionado bruto ao PIB
Açu Demais serviços Indústrias extrativas
Areia Branca Indústrias extrativas Demais serviços
Agricultura, inclusive apoio à agricultura
Baraúna Demais serviços
e a pós colheita
Governador Dix-Sept Rosado Indústrias extrativas Demais serviços
Grossos Indústrias extrativas Demais serviços
Comércio e reparação de veículos
Mossoró Demais serviços
automotores e motocicletas
Serra Do Mel Indústrias de transformação Demais serviços
Agricultura, inclusive apoio à agricultura
Tibau Demais serviços
e a pós colheita
Upanema Demais serviços Indústrias extrativas
Fonte: IBGE (2018).

Nessas condições, o IBGE confirma a posição da cidade de Mossoró como uma Capital
Regional importante no semiárido nordestino, já que ela se apresenta como um interposto de
fluxos de mercadorias e de pessoas por meio de acessos rodoviários. Esta condição pode ser
associada a verificação de que o município de Mossoró foi o único em que as atividades de
“Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas” se posicionaram entre as duas
que mais contribuíram para a aglutinação do valor do PIB. Neste mesmo sentido, a publicação
do IBGE (2020c), Regiões de Influência das Cidades (REGIC), demonstra que a cidade de
Mossoró é destino de pessoas e empresas, de muitas localidades da região, que necessitam de
produtos ou serviços (figura 04).
Entre as cidades que estão nos dois últimos projetos de lei que tratam da criação da
RMM, existem ligações de primeira ordem dos fluxos que partem delas em direção ao polo
regional em busca de vestiário, calçados, móveis, eletroeletrônicos e de serviços de saúde de

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 110
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

baixa e média complexidade e de ensino superior. Já para os serviços de saúde de alta


complexidade e de transporte público os fluxos da cidade de Areia Branca e de Açu para
Mossoró possuem ligações menos intensas ou inexistentes de fluxos (figura 05).

Figura 04 - Origens de fluxos para a cidade de Mossoró

Fonte: IBGE (2020c).

Esta condição de intensidade de fluxos está relacionada a dois fatores. Um deles é que
entre eles, em Mossoró estão presentes 75,4% das empresas e outras organizações (IBGE,
2020c). O outro está relacionado a sua posição em relação a centralidade dos fluxos regionais
(TAYLOR; DERUDDER, 2004; TAYLOR; HOYLER; VERBRUGGEN, 2010).
Analisando os resultados apresentados no REGIC do ano de 2018 (IBGE, 2020c),
verifica-se que a cidade de Mossoró apresenta destaque de nível de centralidade em todas as
camadas pesquisadas: gestão de território (nível 2), de atividades financeiras (nível 6), de ensino
de graduação presencial (nível 4), a distância(nível 6) e de pós-graduação (nível 6), em serviços
de saúde (nível 5) e de sua complexidade (3), em redes de televisão (nível 4), em gestão pública
(nível 4) e empresarial (nível 5). O REGIC (IBGE, 2020C) aponta que as conexões de town-
ness entre a cidade de Mossoró e as que estão no seu entorno são fortes, mas que entre elas
existem variações devido a contiguidade e a distância dos centros urbanos. Desta forma, o
estudo demonstra que o polo de uma possível RMM é uma área urbana que disponibiliza a sua

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 111
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

hinterlândia bens e serviços. Mas não somente isto. Ela aglutina algumas conexões regionais
do tipo city-ness que estão relacionadas principalmente com o agronegócio e as atividades
extrativistas de petróleo bruto, gás natural e sal marinho.

Figura 05 - Fluxos das cidades de Açu e Areia Branca com destino para Mossoró em
busca de serviços de saúde de alta complexidade e de transporte público

Fonte: IBGE (2020c).

Outro fator importante é que a cidade polo de uma possível RMM é uma importante
conexão entre a rede urbana do semiárido nordestino por meio de rotas de acesso rodoviários e
aeroviário (possui uma linha aérea para Recife). Mossoró conecta espaços urbanos do oeste do
Rio Grande do Norte, do Nordeste do Ceará e do Noroeste da Paraíba, a arranjos populacionais
(IBGE, 2016) importantes que estão localizadas tanto no sertão como no litoral do Nordeste.
Essa condição põe Mossoró na posição de ponto de partida e interposto para a convergência e
a difusão de fluxos de bens e serviços que possuem como destino mercados consumidores
regionais, nacionais e internacionais. Neste sentido, a cidade, mesmo não possuindo
características de arranjo populacional, nem uma forte intensidade de processos relacionados a
concepção socioespacial do processo de metropolização de uma região, apresenta-se como
indispensável na estrutura urbana regional do extremo nordeste do semiárido brasileiro já que
a sua localização, entre áreas metropolitanas estruturais (Fortaleza e Recife) e transitivas (Natal,

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 112
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

João Pessoa e Cariri), permite que ela atue na rede urbana, não somente como uma cidade de
fornecimento de bens e serviços para sua hinterlândia, mas também como um ponto de
entroncamento de que serve de via de fluidez espacial de pessoas, mercadorias, bens, serviços,
informações e capitais (figura 06).

Figura 06 - Vínculos de rede urbana de Mossoró e dos centros de regiões metropolitanas

Fonte: IBGE (2020c).

Possibilidades e desafios de uma possível RMM

Firkowski (2013) entende que no Brasil a definição e a hierarquia das áreas


metropolitanas é conflitante. Na concepção dela, no país existem três linhas de compreensão
sobre a questão metropolitana que seguem para pontos opostos (quadro 02).
Diante destas compreensões, a institucionalização da RMM estaria associada a
concepção de um RM definida por uma lei onde a sua cidade-polo não seria uma metrópole já
que, mesmo ela apresentando níveis de centralidade em todas as camadas apresentadas pelo
REGIC do ano de 2018 (IBGE, 2020c), a cidade ainda não possui as características necessárias
para ser enquadrada metodologicamente pelo IBGE como uma metrópole.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 113
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Quadro 02 - Compreensões sobre a temática metropolitana no Brasil


Linha Compreensões sobre a temática metropolitana e a metrópole no Brasil

Compreensão teórico-conceitual de metrópole como uma grande cidade, que possui funções
superiores de comando e gestão articulada à economia global, atuando como porta de entrada dos
1
fluxos globais no território nacional e na qual se ancoram interesses internacionais, ao mesmo
tempo que emite, para o território nacional, vetores de modernidade e complexidade.

Compreensão institucional de região metropolitana, definida por força de leis estaduais,


2 relacionadas aos interesses políticos, por vezes, motivadas pela necessidade de ordenamento do
território na escala regional e cuja cidade-polo não é necessariamente uma metrópole.

Compreensão oficial de metrópole, dada pelos estudos do IBGE, que analisa a realidade brasileira
3 à luz da visão conceitual, também utilizando metodologia própria e particularizando a
classificação para a escala nacional.

Fonte: Adaptado de Firkowski (2013).

Neste quadro a RMM seria mais uma região metropolitana localizada no semiárido
nordestino que iria compartilhar das mesmas características da maioria das regiões
metropolitanas instituídas no recorte do país que são: a inexistência de uma metrópole e de
núcleos urbanos conurbados; que se propõem a trilhar políticas de desenvolvimento
socioeconômico integrado e que possuem a intenção de compartilhamento de um conjunto de
funções públicas de interesse comum (IPEA, 2011).
Neste sentido, a instauração da RMM está distante da concepção teórica-conceitual da
temática metropolitana já que ela é impulsionada por forças políticas e não socioespaciais. Os
atores envolvidos no processo buscam estabelecer marcos intermunicipais de cooperação e
formas de desenvolvimento integrado em um território onde os municípios sempre atuaram de
forma isolada.
Normativamente, existe outras maneiras de criar modos de cooperação intermunicipais
sem a necessidade da instituição de uma região metropolitana como a formação de Consórcios
Públicos (Lei nº 11.107/2005). Neste sentido, em uma primeira avaliação, a busca pela
constituição da RMM parece estar relacionada a dotar os municípios da região com o status de
“área metropolitana” e não de municípios consorciados. Mas, aprofundando o nível de
verificação, pode-se considerar também que uma possível implementação da RMM poderia
criar uma tipo de integração intermunicipal que intensificasse a concentração de pessoas,

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 114
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

atividades produtivas, investimentos e do nível de centralidade da cidade polo ocasionando, a


partir da integração de funções públicas de interesse comum e da criação de iniciativa voltadas
para a dinamização socioeconômica regional, o aumento do índices socioeconômico dos outros
municípios da região.
Neste sentido a institucionalização de uma possível RMM não estaria em total
desconexão com fatores socioeconômicos que caracterizam o processo socioespacial de
metropolização. No Brasil, existem conjuntos de aglomerações urbanas que mesmo não
possuindo o status de metrópole possuem importância no desenvolvimento de seus territórios
adjacentes por meio de sua influência sobre uma região, decorrente do seu poder centralizador
de fluxos de bens, serviços, pessoas, capitais e de organizações públicas e privadas (IPEA,
2011).
Essa condição pode ser visualizada empiricamente ao se comparar dados territoriais e
socioeconômicos da RM do Cariri (tabela 02) com os de uma possível RMM (tabela 01). A RM
do Cariri, não possui no seu conjunto de cidades uma capital de um estado da Federação e está
localizada em um extremo do território estadual, assim como os municípios de uma possível
RMM. Neste quadro, as aglomerações urbanas de Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte formam
o núcleo da RM pois entre as três cidades, existe o processo de conurbação. Os três municípios
concentram 76,6% da população, 86,9% das empresas e outras organizações ativas e 84,4% do
PIB da RM do Cariri. As demais cidades dos municípios são classificadas pelo IBGE (IBGE,
2020c) como centros locais que orbitam socioeconomicamente o complexo urbano
CRAJUBAR (Crato, Juazeiro do Norte de Barbalha).
Já o polo da RMM (a cidade de Mossoró), mesmo sendo uma cidade isolada (IBGE,
2020c), sem está enquadrado em um aglomerado populacional e não estando envolvido em um
processo de conurbação com nenhuma cidade dos municípios do seu entorno, apresenta dados
expressivos de população (63,9% do total de uma possível RMM), de empresas e organizações
ativas (75,5% do total de uma possível RMM) e de PIB (66,1% do total de uma possível RMM).
Os valores dos dados das três categorias ficam abaixo da soma total do complexo urbano
CRAJUBAR, mas eles ultrapassam quase a totalidade dos valores isolados dos municípios da
RM do Cariri, menos o valor PIB de Juazeiro do Norte que é maior 0,7% do que o do município
de Mossoró.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 115
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Tabela 02 - Dados territoriais e socioeconômicos dos municípios dispostos no projeto de


lei de institucionalização da RMM
Empresas e
outras Salário médio
População Pessoal ocupado
Município Área (Km²) organizações mensal (salário PIB (R$ x1000)
(pessoas) (pessoas)
atuantes mínimo)
(unidades)

Barbalha 608,16 61.228 717,00 10.691 1,8 861.470,24

Caririaçu 634,179 26.987 176 1.974 1,5 202.562

Crato 1.138,15 133.031 2.056 20.136 1,9 1.348.194

Farias Brito 530,54 19.389 180,00 1.353 1,7 154.741

Jardim 544,98 27.181 228 1.719 1,8 205.432

Juazeiro do Norte 258,79 276.264 5.371,00 54.287 1,8 4.820.056

Missão Velha 613,317 35.480 309 3058 1,7 484.487

Nova Olinda 282,584 15.684 237 1921 1,5 128.999

Santana do Cariri 855,165 17.712 93 1.169 1,8 121.975

TOTAL 5.465,86 612.956 9.367 96.308 1,72 8.327.916,64

Fonte: IBGE (2018) e IBGE (2021).

Comparando o total dos dados entre a RM do Cariri e de uma possível RMM, verifica-
se que, apresar da primeira apresentar uma população com mais de 142 mil habitantes, mais
1.254 empresas e outras organizações atuantes e mais 9.733 pessoas ocupadas, do que a possível
RMM, o valor do seu PIB de 2018 apresenta-se inferior ao PIB da RMM em R$ 1.535.203,34
(x1000). Além disso, é possível identificar que a área territorial de uma possível RMM é maior
2.022,18 Km² do que a RM do Cariri, o que dificulta a conurbação das cidades inseridas nos
municípios, principalmente no de Mossoró que possuí o maior território entre os municípios.
A comparação dos dados selecionados demonstra que o município polo de uma possível
RMM concentra grande parte da população, das empresas e organizações atuantes e do valor
do PIB dos municípios, assim como ocorre com Juazeiro do Norte, na RM do Cariri. Neste
sentido, em termos socioeconômicos e considerando as regiões metropolitanas que existem no
semiárido nordestino, a institucionalização de uma RMM a posicionaria, em termos tipológicos
(LEOPOLDO, 2020), próximo a região metropolitana transitiva do Cariri. Desta forma, mesmo
a RMM possuindo formas, funções e estruturas públicas, empresariais e financeiras, ela teria
poder polarizador apenas na sua região imediata e suas ações públicas e privadas dependeriam
de outros polos urbanos regionais mais concentradores como Natal, Recife, São Paulo, Rio de
Janeiro e Brasília (IBGE, 2020c).
Em um quadro futurístico, localmente a institucionalização da RMM poderia criar uma
área metropolitana em uma região do semiárido que já possuí um poder polarizador regional

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 116
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

associado a cidade de Mossoró. Além disso atribuiria mais centralidade a essa aglomeração
urbana. As outras cidades da RM, neste quadro, continuariam mantendo conexões de town-ness
com o polo e passariam, possivelmente, a ter acesso a benefícios devido ao acesso a
investimentos em suas estruturas urbanas por meio da instalação, na RM, de funções públicas
de interesse comum e de investimentos associados a iniciativas voltadas para o
desenvolvimento socioeconômico integrado dos municípios.
Regionalmente, a cidade de Mossoró por se tornar o polo urbano de uma RM, passaria
a possuir um maior nível de centralidade nas camadas pesquisadas pelo REGIC do ano de 2018
(IBGE, 2020c) pois sua característica de interposto de convergência e de difusão de fluxos de
bens e serviços para mercados regionais, nacionais e internacionais poderia ser fortalecida por
meio do recebimento de investimentos privados e públicos interessados em desenvolver a
exploração de potencialidades naturais e das estruturas urbanas dos territórios dos municípios
da RMM.
Ainda no contexto regional, a instituição da RMM representaria a fixação de um polo
metropolitano em um local do semiárido nordestino que não existe metrópoles nem
estruturantes nem transitivas em um raio de aproximadamente 200 Km (figura 07).
Neste sentido a institucionalização da RMM permitiria a existência de uma maior
capacidade de integração e de facilitação de fluidez dos fluxos socioeconômicos da rede urbana
do extremo nordeste do semiárido nordestino. Essa possibilidade pode ser considerada tendo
em vista uma conjunção, a partir da instituição da RMM, da integração de funções pública de
interesse comum, de uma política de desenvolvimento socioeconômico da região e da
intensificação da reestruturação produtiva do capitalismo globalizado.
Mas para as possibilidades se concretizarem, a RMM precisaria superar desafios
comuns as regiões metropolitanas sem metrópoles que existem no Brasil, mais especificamente
no semiárido nordestino. Nessa área do país, mesmo o processo de consumo e de transformação
dos espaços urbanos ocorrendo de forma mais lenta do que nas grandes áreas metropolitanas,
as dificuldades de gestão dos territórios podem se refletir também no gerenciamento territorial
da possível RMM.
O IPEA (2011) apresentou alguns dos desafios envolvidos na governança metropolitana
de áreas institucionalizadas. O Instituto destacou que no país o tema não possui uma agenda
política nacional para a metropolização e que devido a isto a instituição de RMs está associada
a uma perspectiva de abandono e fragilização de meios de gestão das áreas metropolizadas
institucionalizadas por meio de leis complementares estaduais. Neste sentido a gestão
metropolitana a ser implementada entre os municípios que farão parte de uma possível RMM

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 117
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

deverá considerar que a instauração de uma área metropolitana representará dificuldades


ampliadas (referentes a transporte público, a gestão da ocupação e do uso do solo, na instalação
de estrutura de saneamento básico, no oferecimento de serviços públicos de qualidade e etc.)
para as cidades que estiverem associadas a RMM, já que muitas delas não possuem funções
públicas de interesse comum, nem de desenvolvimento socioeconômico, implementadas.

Figura 07 - Raios de distância das metrópoles regionais mais próximas de Mossoró

Fonte: IBGE (2020c).

Possivelmente essa condição será mais perceptível no polo centralizador da dinâmica


da RMM. A implementação de funções públicas de interesse comum e de políticas de
desenvolvimento integrado dos municípios acarretará um aumento do fluxo de pessoas das
outras cidades em Mossoró tanto para distribuem suas rendas por meio da consumação de bens
e serviços como para realizarem fluxos entre outras cidades da rede urbana por meio da
estrutura citadina mossoroense.
A intensificação dos fluxos poderá acelerar reestruturações dos espaços centrais, tanto
do da cidade polo, como de outras da RMM que melhor se posicionarem no aproveitamento de
possíveis investimento públicos e privados implementados a partir da institucionalização da
RMM. A consumação dos espaços periféricos das aglomerações urbanas poderão também ser
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 118
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

intensificadas com processos relacionados ao aumento do valor da terra devido a aceleração da


atividade imobiliárias, que por meio da instalação de loteamentos habitacionais e condomínios
verticais e horizontais fechados, poderão promover um aumento do valor do preço do solo nas
áreas mais privilegiadas (áreas com acesso fácil devido a boas vias rodoviárias, áreas úmidas
próximas a rios, e lagos e com vegetação perene e em uma altitude elevada) dos municípios da
RMM.
Neste quadro de previsão, é possível apreender que um dos maiores desafios a serem
enfrentados após a institucionalização de um RMM será o desenvolvimento de uma efetiva
gestão metropolitana onde as tensões e disputas entre municípios envolvidos sejam diminuídas
a tal ponto que os representantes de cada um deles possam estabelecer diálogos construtivos de
integração e de consenso buscando a efetivação dos objetivos do estabelecimento da RMM
conforme a lei, em todas as suas perspectivas.
Atualmente, esse quesito parece estar distante pois entre os nove municípios não existe
iniciativas voltadas para a solução de problemas de interesse comum de forma cooperada. Desta
forma, a capacidade regional de ter acesso privilegiado a recursos da União para o
desenvolvimento da RMM passará pela instituição de modos de gestão efetivos que atendam a
expectativa de atores políticos e da sociedade local e regional por meio do estabelecimento
transparente das regras da gestão metropolitana. Estas deveram ter como base órgãos de
consultivos, deliberativos, de planejamento e de fiscalização de ações implementadas no
território da RMM, superando inclusive as diferenças e rugosidades político-partidárias (IPEA,
2011).
A boa gestão de uma possível RMM estará associada, além do funcionamento de seus
órgãos internos, a instrumentos de financiamento do desenvolvimento metropolitano que
incluam a angariação de recursos e de meios de atração de investimentos públicos e privados.
Estes instrumentos devem ultrapassar as diretrizes teóricas da Lei Complementar responsável
pela institucionalização da RMM por meio da instituição efetiva de fundos metropolitanos ou
da dotação de valores no orçamento estadual. Desta forma estes meios de aglutinação de
recursos poderão ter efetividade e não se tornarão apenas figuras legalistas frágeis que não
funcionarão, como as apontadas pelo o IPEA (2011).
Neste sentido, para que a institucionalização da RMM torne-se eficaz é necessário que
o projeto de lei que a institucionalize esteja em consonância com a três itens essenciais: A
claridade na forma de gestão metropolitana (incluindo a participação democrática por meio de
conselhos); os meios de financiamento da RMM, do seu desenvolvimento e das políticas de

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 119
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

integração de funções públicas de interesse comum e descrição de como será realizada a partilha
de responsabilidade e do poder total da região metropolitana entre os seus municípios.
Neste quadro, considerando a atual conjuntura político institucional e as relações
existentes entre o poder executivo e legislativo no Rio Grande do Norte, entre os projetos de
Lei Complementar que buscaram a instituição da RMM, o que ganha força é o que foi
apresentado pelo Deputado Estadual Manoel Cunha Neto (Sousa). Confirmando esta posição
do projeto de Lei Complementar nº 14/2017 apresentado pelo Deputado Sousa, a equipe do
mandato, confirmou que o Deputado está articulando, junto ao poder executivo estadual, o
envio para Assembleia Legislativa o projeto para criação da RMM aprovado em 2017 pela casa
e vetado pelo poder Executivo (ANTUNES, 2021).
Diante desta possibilidade, o projeto que está sendo articulado para ser reapresentado a
Assembleia Legislativa estabelece as bases para o funcionamento da gestão e desenvolvimento
da região metropolitana, por meio da criação de um Conselho de Desenvolvimento
Metropolitano, que irá estabelecer as formas de gestão e de integração entre os municípios para
a execução de serviços públicos de interesse comum. A participação popular está contemplada
por meio da necessidade de convocação de entidades representativas da sociedade civil para
discutir, sugerir e aprovar propostas, planos e projetos e estudos referentes a RMM.
As formas de financiamento de recursos da RMM, no projeto, estão associadas a dotação
próprias no orçamento da Secretarias de Planejamento do Estado. Essa condição de
financiamento, no atual quadro de recessão econômica e de déficit das contas públicas do
Estado do Rio Grande do Norte é preocupante pois será uma despesa extra para o executivo
estadual que já está com seu poder de investimento comprometido (ARAÚJO, 2019). O
gerenciamento dos conflitos e tensões entre os municípios serão mediados por uma Secretaria
de Executiva associada ao Conselho Metropolitano que será exercida prioritariamente pelo
Secretário Estadual de Planejamento. O projeto de Lei Complementar nº 14/2017 não define
nenhuma área de atuação prioritária em comum nem de como será implementada a política de
integração dos municípios. Apenas estabelece que esta tarefa caberá ao Conselho de
Desenvolvimento Metropolitana.
Desta forma, a partir do funcionamento do Conselho, por meio da criação de um estatuto
próprio, serão especificadas por ele as funções e serviços públicos que serão priorizados,
executados e as formas de fiscalização que serão aplicadas. Além disso o Conselho de
Desenvolvimento Metropolitano será um órgão que promoverá medidas de planejamento,
integração das atividades relacionadas ao desenvolvimento de funções pública de interesse
comum e de desenvolvimento socioeconômico no território metropolitano.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 120
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

Comparando os dispositivos da Lei Complementar nº 14/2017 com os que


implementaram outras RMs presentes no semiárido nordestino, eles são semelhantes aos que
existem nas leis que foram aprovadas para a instituição das RMs de Guarabira, Barra de Santa
Rosa e Itabaiana, na Paraíba. Assim como os das RMs paraibanas citadas, o projeto de lei possui
pouco detalhamento na sua estrutura e apoia a formatação detalhada da RM na constituição de
Conselho Metropolitano que será responsável por determinar as funções e o padrão de
funcionamento da região metropolitana.

Considerações finais

A concepções relacionadas aos tipos de desenvolvimento e de implementação de áreas


metropolitanas e de metrópoles baseada em três formas diferenciadas, apontadas por Firkowski
(2013) promove um quadro de complexidade sobre a temática da metropolização no Brasil. A
condição atual da presença de 17 áreas metropolitanas no semiárido nordestino é um reflexo
desta.
O nível generalista das Leis Complementares que institucionalizaram as RMs
localizadas na região semiárida do Nordeste brasileiro demonstram essa condição. As leis que
criaram as RMs dentro da área delimitada pela SUDENE como semiárido não consideraram a
existência de contextos socioeconômicos, produtivos e ambientais diferenciados. Além disto, a
semelhança entre os projetos de lei aprovados para a instituição das RMs provavelmente
dificultam a efetivação do objetivo principal das RMs dessa área do Brasil. Neste sentido fica
evidenciado que a forma de atuação dos agentes políticos que aprovaram as matérias
legislativas das RMs realizaram apenas a regionalização de territórios dentro dos estados, pois
as leis não dão prioridade a processos de dinamização da de fluxos de pessoas, serviços,
produtos, informações e capitais.
Neste quadro a institucionalização da RMM estaria associada a concepção de um RM
definida por uma lei onde a sua cidade-polo não seria uma metrópole já que, mesmo ela
apresentando níveis de centralidade consideráveis, não possui as características oficiais de uma
metrópole. Sendo assim a RMM seria mais uma região metropolitana do semiárido nordestino
que iria compartilhar das mesmas características das regiões metropolitanas instituídas no
recorte do país.
Mesmo assim, pela dinâmica socioeconômica da cidade de Mossoró, localmente, a
institucionalização da RMM poderia atribuir mais centralidade a aglomeração urbana de
Mossoró. A partir disto as outras cidades da RM poderiam ter acesso a benefícios devido ao
acesso a investimentos em suas estruturas urbanas por meio da instalação de funções públicas
_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 121
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

de interesse comum e de aportes associados ao desenvolvimento socioeconômico integrado.


Portanto a institucionalização da RMM criaria a possibilidade da existência de uma maior de
integração e de facilidade de fluidez de fluxos na rede urbana do Norte do semiárido.
Mas para que a institucionalização da RMM se torne frutífera é necessário que o projeto
de Lei Complementar que a tire do papel estabeleça meios para a gestão metropolitana, para
financiamento do desenvolvimento da RMM e para a implementação de políticas de integração
de funções públicas de interesse comum, além de determinar como será realizada a partilha do
poder entre os municípios.
De forma geral o projeto de Lei Complementar nº 14/2017 contempla os itens essenciais
citados para a institucionalização de uma Região Metropolitana funcional, mas de forma
genérica.

Referências

ANTUNES, Jezairon. Projeto sobre criação da Região Metropolitana de Mossoró.


[mensagem pessoal] Mensagem recebida por: <joaozxz@yahoo.com.br>. em: 18 jan. 2021.

ARAÚJO, Ricardo. Os desafios da economia do RN para 2020. 2019. Disponível em:


http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/os-desafios-da-economia-do-rn-para-2020/468352.
Acesso em: 12 jan. 2021.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1967. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao67.htm. Acesso em: 02 jan.
2021.

DI MÉO, Guy. Introdução ao debate sobre a metropolização. Confins, São Paulo, v. 4, p. 2-


11, 2008.

FERRIER, Jean-Paul. Pour une théorie (géographique) de la métropolisation. Cahiers de la


métropolisation, v. 1, p. 41-51, 2001.

FIRKOWSKI, Olga Lucia Castreghini de Freitas. Por que as Regiões Metropolitanas no


Brasil são Regiões mas não são Metropolitanas. Revista Paranaense de Desenvolvimento, n.
122, p. 19-38, 2012.

FIRKOWSKI, Olga Lucia Castreghini de Freitas. Metrópoles e regiões metropolitanas no


Brasil: conciliação ou divórcio. In: FURTADO, B. A.; KRAUSE, C.; FRANÇA, K. C. B. de.
Território metropolitano, políticas municipais: por soluções conjuntas de problemas urbanos
no âmbito metropolitano. Brasília: Ipea, 2013, 21-51.

HARVEY, David. O “novo imperialismo” - ajustes espaço-temporais e acumulação por


desapossamento. Lutas sociais, n. 13/14, p. 9-23, 2005.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 122
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Arranjos


Populacionais e concentrações urbanas no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível
em:
https://geoftp.ibge.gov.br/organizacao_do_territorio/divisao_regional/arranjos_populacionais/
arranjos_populacionais.pdf. Acesso em: 02 jan. 2021.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Produto Interno


Bruto dos Municípios. 2018. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/contas-nacionais/9088-produto-interno-
bruto-dos-municipios.html?t=sobre&c=2401453. Acesso em: 05 jan. 2021.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. IBGE atualiza a


lista dos municípios que integram os recortes territoriais brasileiros. 2020a. Disponível
em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-
noticias/releases/29465-ibge-atualiza-a-lista-dos-municipios-que-integram-os-recortes-
territoriais-brasileiros2. Acesso em: 01 jan. 2021.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Regiões


Metropolitanas, Aglomerações Urbanas e Regiões Integradas de Desenvolvimento.
2020b. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/geociencias/organizacao-do-
territorio/estrutura-territorial/18354-regioes-metropolitanas-aglomeracoes-urbanas-e-regioes-
integradas-de-desenvolvimento.html?edicao=29463&t=o-que-e. Acesso em: 02 jan. 2021.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Regiões de


influência das cidades. Rio de Janeiro: IBGE, 2020c. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=2101728.
Acesso em: 01 dez. 2020.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Cidades@. 2021.


Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/>. Acesso em: 02 jan. 2021.

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA - IPEA. Desafios


contemporâneos na gestão das Regiões Metropolitanas. Brasília: IPEA, 2011. Disponível
em: https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=10881.
Acesso em: 03 jan. 2021.

KAYSER, Bernard. L’ espace non-metropolisé du territoire français. Revue Géographique


des Pyrénées et du Sud-Ouest, n. 4, p. 371-378, 1969. Disponível em:
https://www.persee.fr/doc/rgpso_0035-3221_1969_num_40_4_4863. Acesso em: 02 jan.
2021.

LENCIONI, Sandra. Reconhecendo metrópoles: território e sociedade. Silva CA, Freire DG,
Oliveira FJG (org.). Metrópole: governo, sociedade e território. Rio de Janeiro: DP&A
Editora/Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, p. 41-57, 2006.

LENCIONI, Sandra. METROPOLIZAÇÃO. Geographia, [S.L.], v. 22, n. 48, p. 173-178, 16


jun. 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.22409/geographia2020.v22i48.a43103 e em:
https://periodicos.uff.br/geographia/article/view/43103. Acesso em: 02 de jan. de 2021.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 123
Revista GeoSertões – ISSN 2525-5703

LEOPOLDO, Eudes. Metropolização regional e nova regionalização do capital. Cadernos.


Metrópole, São Paulo, v. 22, n. 47, pp. 85-102, jan./abr. 2020. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2020-4704. Acesso em: 02 de jan. de 2021.

MOURA, Rosa; FIRKOWSKI, Olga Lucia Castreghini de Freitas. Metrópoles e regiões


metropolitanas: o que isso tem em comum. Encontro Nacional da Anpur, v. 9, p. 105-114,
2001.

MOURA, Rosa et al. Hierarquização e identificação dos espaços urbanos. Rio de Janeiro,
Letra Capital/Observatório das Metrópoles, 2009.

PEREIRA, Paulo Cesar Xavier. São Paulo: globalización y transición metropolitana. Diez
años de cambios en el Mundo, en la Geografía y en las Ciencias Sociales, 1999-2008. Actas
del X Coloquio Internacional de Geocrítica, Universidad de Barcelona, 26-30 de mayo de
2008. Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/-xcol/213.htm> Acesso em 04 de jan de
2021.

SALES, Teresa. Raízes da desigualdade social na cultura política brasileira. Revista


brasileira de ciências sociais, v. 25, n. 9, p. 26-37, 1994.

SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE - SUDENE.


DELIMITAÇÃO DO SEMIÁRIDO. Disponível em:
http://antigo.sudene.gov.br/delimitacao-do-semiarido. Acesso em: 12 out. 2020.

TAYLOR, Peter. J.; DERUDDER, Ben. World city network: a global urban analysis.
Psychology Press, 2004.

TAYLOR, Peter. J.; HOYLER, Michael; VERBRUGGEN, Raf. External urban relational
process: Introducing central flow theory to complement central place theory. Urban studies,
v. 47, n. 13, p. 2803-2818, 2010.

_________________________________________________________
Revista GeoSertões (Unageo-CFP-UFCG). Vol. 6, nº 12, jul./dez. 2021
https://cfp.revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/index 124

Você também pode gostar