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1. Situando a discussão
Trazendo esta reflexão para nossa discussão, que aborda uma situação
completamente diferente já que trata da materialidade digital, é possível entender que
assim como a reconstrução de um monumento e o preenchimento de um espaço vazio
pode causar esquecimentos, o excesso de informações, disseminadas através da língua
de vento, também. Em nosso caso, não há o “uma coisa no lugar da outra”
explicitamente, mas, sim, posts, turbilhões de (des)informações existindo ao mesmo
tempo. Contudo, se pensarmos nas telas de vidro dos smartphones e computadores, que
permitem o deslizar do dedo pela linha do tempo das redes sociais (que nunca para de se
“atualizar”), notamos um movimento permanente, uma constante substituição de um
dizer por outro, de um post por outro. Por conta do excesso constitutivo deste ambiente
e da nivelação alisada no vidro, esta substituição é ininterrupta, incessante. É neste
sentido que ela causa esquecimentos, uma vez que, por não permitir nem o vazio e nem
a fixidez, pode diluir a força do que se diz pelo excesso.
É por conta disso que, anteriormente, dissemos que o digital, de alguma maneira,
interdita uma estadia dos sentidos: na cultura metaforizada pelo vidro e pelo vento, o
silêncio dificilmente encontra modos de perdurar. Orlandi nos ensina, logo no início de
As Formas do Silêncio, que
Se não há silêncio, o sentido não encontra uma morada, ele não respira, ele
não é. Portanto, neste modo ainda inicial de entendimento do digital, que estamos
tentando conceber como pleno e excessivo (pelo vento) e, ao mesmo tempo,
escorregadio e sem possibilidade de alicerces (pelo vidro), quase não há lugar para o
vazio, para este fôlego. É claro que os sentidos se estabelecem, pois significamos, mas
isto se dá através de um jogo de repetição (galvanização do mesmo); por conta de sua
constituição pela quantidade, há uma plenitude de sentidos no digital instituída pelo
“velho mascarado de novo” que tenta estancar o movimento.
Admitindo essa nova forma de interpretação, cabe agora dizer que é pelas
formações algorítmicas que os sujeitos são atravessados pelo digital. Isso quer dizer que
não há nada no digital a que o sujeito tenha acesso sem ser pelas FAs. Isso,
diferentemente do que possa parecer, não implica na anulação da ação de outras noções
basilares para a AD como as formações discursivas, por exemplo. O que acontece é que,
quando tratamos da materialidade digital, esses atravessamentos se complexificam e
novos elementos aparecem como forma de auxiliar os analistas no processo das
análises.
Tendo isso em vista, nos questionamos sobre como se configura essa “nova”
língua usada pelo sujeito para interpretar o mundo pelo digital. Ou conforme define
Dias (2018), pelo sujeito de dados. Neste ponto, conseguimos começar a entender
melhor como se dá a relação entre os dois conceitos aqui propostos. A saber: formações
algorítmicas e a língua de vidro.
Para nós, a língua de vidro é aquela que deixa marcas no digital. Essas marcas
retornam, pelo funcionamento dos algoritmos, nas formações algorítmicas. Expliquemo-
nos. Ao retomar as palavras de Pêcheux (2016 [1980]) sobre como a circulação
discursiva não é nunca “não importa quê”, precisamos pensar sobre como essa
circulação se dá pelo digital. Conforme Pariser (2012) ao explicar o funcionamento do
algoritmo do Facebook, uma das maiores redes sociais do mundo, todas as interações
que acontecem no site são classificadas.
Considerações Finais
Referências Bibliográficas