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ISSN: 2525-8761
DOI:10.34117/bjdv9n1-069
RESUMO
A jabuticaba possui fibras, vitaminas C e do complexo B, sendo uma fruta rica em sais
minerais como, cálcio, fósforo e ferro, com potente ação antioxidante. Estudos de uma
técnica de processamento de alimentos denominada estruturação da polpa de frutas tem
sido realizados obtendo-se resultados promissores. Essa técnica é uma boa alternativa
para garantir as características microbiológicas, nutricionais e sensoriais mais próximas
do produto in natura, possibilitando redução dos desperdícios de grandes safras e
proporcionando o desenvolvimento de produtos inovadores, convenientes e com alto
valor agregado. Neste trabalho foi realizado o estudo de estruturados da polpa
concentrada de jabuticaba pelo uso da técnica de shelf-life em diferentes temperaturas (5,
25 e 35 °C), no período de 120 dias. Durante o acompanhamento da vida útil foram
realizadas análises físico-químicas (pH e acidez titulável), microbiológicas (coliformes
ABSTRACT
Jabuticaba presents fibers, vitamins C and the B complex, being a fruit rich in mineral
salts such as calcium, phosphorus, and iron, with potent antioxidant action. Studies of a
food processing technique called fruit pulp structuring have been carried out with
promising results. This technique is a good alternative to guarantee the microbiological,
nutritional and sensorial characteristics closer to the natura product, allowing reduction
of waste from large crops and providing the development of innovative, convenient and
high-added value products. In this work, an study of the structure of concentrated
jabuticaba pulp was carried out using the shelf-life technique at different temperatures (5,
25, and 35 °C), for a period of 120 days. During the monitoring of the shelf life, physical-
chemical (pH and titratable acidity), microbiological (total coliforms, filamentous fungi
and yeasts), and sensory (acceptance test and purchase intent) analyzes were performed
on the structured days 0, 15, 40, 60, 80, 100 and 120, to identify the characteristics that
most affected the quality of the final products. The pH and acidity analyses of the
structures during the 120 days were around (3.86 ± 0.07) and (1.02 ± 0.03) g citric
acid/100 g of sample, respectively. At temperatures of 5 and 25 °C, the structures
remained suitable for consumption during the 120 days. The kinetic data, Ea (14.33
kcal/mol) and Q10 (1.86), established in the accelerated test, allowed estimating the shelf
life limit of 107 days for the product stored at 25 °C and 405 days for the product stored
at 5 °C with the formulation containing glucose (F1). However, at a temperature of 35
°C, the structured ones were considered unsuitable for consumption, over 83 days, due to
changes in sensory characteristics, especially in flavor. In this way, the elaboration of
fruit structures made it possible to obtain a product with a longer shelf life, practicality,
and sensory characteristics close to fresh fruit, which can be used in the production of
syrups, ice cream, confectionery, jellies, and bilayered yogurts.
1 INTRODUÇÃO
As frutas são consideradas, do ponto de vista referente ao seu valor nutritivo,
como complementos dos alimentos básicos, fornecendo energia, minerais, vitaminas,
fibras, frutose e compostos antioxidantes de maneira equilibrada. Além disso, a falta de
tempo da população para o preparo cotidiano dos alimentos, a praticidade de consumo
oferecida pelas frutas e a preocupação com a saúde, vem aumentando o seu consumo a
cada década (Lins, 2010). A fruticultura está presente em todos os estados brasileiros,
pois sua diversidade de espécies é grandiosa. Como atividade econômica envolve milhões
de pessoas que trabalham de forma direta e indireta neste setor, devido à grande demanda
de mão-de-obra, principalmente, durante a colheita. No contexto da produção de frutas
de clima temperado, segundo Fachinello et al. (2013), as frutas pequenas ainda são pouco
expressivas, mas verificam-se avanços. Dentre elas destaca-se a produção de uvas de
mesa e viníferas, maçãs, pêssegos, ameixas, nectarinas, caqui, morango, amora,
framboesa, figo, pera e marmelo.
Apesar das frutas serem produzidas em grande quantidade, principalmente no
Brasil, devido ao seu clima que favorece o desenvolvimento de uma variedade de frutas
(Antunes, 2002), as perdas dessas durante o transporte são significativas. Além disso, o
clima também pode influenciar na conservação da fruta, o que acarreta um grande
desperdício desses alimentos. Contudo, tem-se buscado alternativas para uma maior
conservação das frutas, sendo a fabricação de polpa talvez a mais simples delas (Carvalho,
2007). A polpa facilita o transporte, diminui a perda e aumenta a vida de prateleira do
produto (Mendes, 2008). Porém, essa polpa quando estruturada tende a ter uma maior
durabilidade comparada a polpa tradicional e ser eficiente quando usada na fabricação de
doces e caldas em geral.
A partir deste contexto são necessárias informações sobre a vida de prateleira de
novos produtos, durante o seu período de desenvolvimento e lançamento no mercado.
Dessa forma, o controle das condições de umidade relativa e temperatura durante o estudo
de vida de prateleira estão diretamente relacionados à obtenção de bons resultados.
Sobretudo, a temperatura é o fator mais determinante da vida útil de um produto, uma vez
que ela é o parâmetro que mais influencia a velocidade das reações químicas, enzimáticas
e biológicas de um alimento.
Por meio de técnicas adequadas é possível acelerar as taxas de transformação
ocorridas no alimento e promover o desenvolvimento de modelos matemáticos, a fim de
obter uma previsão da vida de prateleira, que por sua vez deve relacionar os dados obtidos
àqueles encontrados em condições normais de armazenamento. Em Testes Acelerados de
Vida de Prateleira (TAVP) podem ser observadas alterações tanto na velocidade das
reações como também nos mecanismos de deterioração do produto pela elevação da
temperatura de armazenamento durante o período de estudo.
Uma vez que os alimentos são sistemas extremamente complexos, isto é, várias
reações de deterioração acontecem concomitantemente com diferentes reações cinéticas,
alguns erros e limitações podem ser atribuídos à técnica TAVP. Além disso, as condições
de distribuição dos alimentos nem sempre são realizadas sob condições de temperatura,
umidade e luminosidade constantes, como as obtidas em laboratório. Um tempo de vida
de prateleira inferior àquele previsto por testes estatísticos pode ser observado devido a
essas variações no local de distribuição.
Dessa forma, este trabalho visa pesquisar os parâmetros do processo para a
estruturação da polpa concentrada de jabuticaba, as características físico-químicas e
sensoriais dos produtos elaborados, durante o acompanhamento da vida de prateleira dos
estruturados.
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 MATÉRIA-PRIMA
Neste trabalho foi utilizada a polpa concentrada de jabuticaba (Myrciaria
Cauliflora) previamente obtida da fruta in natura originada da cidade de Florestal (Minas
Gerais, Brasil). Todos os procedimentos foram realizados seguindo as Boas Práticas de
Fabricação (BPF). O preparo das jabuticabas, a elaboração e a estruturação da polpa
concentrada das frutas foram feitos conforme Fonseca et al. (2021). Características como
°Brix e pH foram medidas inicialmente, a fim de caracterizar a polpa da jabuticaba, antes
e após a realização de sua estruturação.
2.2 REAGENTES
Ingredientes como gelatina (marca Royal, Brasil), pectina (marca Dinâmica,
Brasil), glicerol (marca Alphatec, Brasil), glicose (marca Synth, Brasil), sorbitol (Marca
Acs científica, Brasil), sacarose (marca União, Brasil) e bicarbonato de sódio (marca
Synth, Brasil) foram necessários para a elaboração dos estruturados da polpa concentrada
de jabuticaba. Os reagentes, hidróxido de sódio 0,1 M, fenolftaleína, solução de Biureto,
meio de cultura Ágar Batata Dextrose (BDA, marca OXOID, Inglaterra), solução de ácido
tartárico 10% (p/v) e peptona bacteriológica (marca HIMEDIA, Mumbai) foram
utilizados para a realização das análises físico-químicas e microbiológicas da polpa e dos
estruturados de jabuticaba.
𝐸𝑎 1 1
𝑙𝑛𝑘 = − (𝑇 − 𝑇𝑜) + 𝑙𝑛𝐾𝑜 (1)
𝑅
2
𝑄10 = 10 𝐸𝑎/0,46𝑇 (2)
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 TÉCNICA DE SHELF-LIFE
Durante o acompanhamento da vida de prateleira (120 dias) dos estruturados da
polpa de jabuticaba das formulações F1 e F4, nas temperaturas de 5, 25 e 35 °C foram
feitas caracterizações físico-químicas (pH e acidez titulável) e análises microbiológicas
(bolores e leveduras) em cada uma das análises sensoriais realizadas.
Tabela 1 - Média e desvio-padrão das notas de aceitação e intenção de compra dos estruturados de jabuticaba (F1 e F4) à 5 °C.
Tempo de avaliação (dias)
Atributo F 0 15 40 60 80 100 120
Impressão F1 7,16±0,02a 7,72 ±0,01a 7,21±0,02ab 7,64±0,01a 7,3±0,04ab 7,10±0,01a 6,58±0,02c
global
F4 6,51±0,03a 7,24±0,02bc 7,27±0,02ab 7,63±0,02a 7,45±0,01a 7,11±0,02a 6,98 ±0,03a
F4 6,39±0,02a 6,96 ±0,02c 7,45±0,01a 7,75±0,05a 7,37±0,06a 7,24 ±0,04a 6,98 ±0,02a
Médias com letras minúsculas iguais na mesma coluna, não há diferença significativa ao nível de 5 % de significância. Médias com letras
minúsculas diferentes na mesma linha houve diferença entre os estruturados ao nível de significância de 5 % neste determinado tempo.
Tabela 2 - Média e desvio-padrão das notas de aceitação e intenção de compra dos estruturados de jabuticaba (F1 e F4) à 25 °C.
Tempo de avaliação (dias)
Atributo F 0 15 40 60 80 100 120
Impressão F1 5,97±0,01a 6,87±0,03c 7,09±0,02ab 7,47±0,0 a 7,23±0,01ab 7,09±0,01a 6,66±0,02bc
global
F4 6,29±0,02a 7,14±0,01c 7,31±0,01a 7,52±0,01a 7,40 ±0,02a 7,12±0,02a 6,96±0,01ab
Aparência F1 5,58±0,01b 7,04 ±0,02c 7,11±0,01b 7,55±0,03a 7,35±0,01a 7,15 ±0,03a 6,32±0,03c
F4 6,09 ±0,01ab 7,21 0,01±bc 7,51 ±0,01a 7,67±0,01a 7,16±,03 a 7,28±0,01a 6,70 ±0,01ab
Odor F1 6,05±0,02b 7,23±0,01bc 7,66 ±0,01bc 7,77±0,03ab 7,41± 0,01a 7,42±0,02 a 6,83±0,01a
F4 6,22±0,03ab 7,26 ±0,0bc 7,85±0,03ab 7,74±0,04ab 7,46 ±0,02ab 7,44±0,02a 6,92 ±0,04a
Médias com letras minúsculas iguais na mesma coluna, não há diferença significativa ao nível de 5 % de significância. Médias com letras minúsculas
diferentes na mesma linha houve diferença entre os estruturados ao nível de significância de 5 % neste determinado tempo.
Tabela 3 - Média e desvio-padrão das notas de aceitação e intenção de compra dos estruturados de jabuticaba (F1 e F4) à 35 °C.
Tempo de avaliação (dias)
Atributo F 0 15 40 60 80 100 120
Impressão F1 6,75±0,02a 7,61±0,01ab 7,04±0,01b 7,42±0,01a 6,64±0,01c -- --
global
F4 6,55±0,01a 7,09±0,02c 7,07±0,01ab 7,46±0,03 a 7,02±0,03bc -- --
Médias com letras minúsculas iguais na mesma coluna, não há diferença significativa ao nível de 5 % de significância. Médias com letras minúsculas
diferentes na mesma linha houve diferença entre os estruturados ao nível de significância de 5 % neste determinado tempo.
Tabela 4 - Parâmetros cinéticos (k e R²) da alteração nos atributos, impressão global e textura, dos
estruturados de jabuticaba (F1 e F4) nas diferentes temperaturas, por 120 dias.
k R²
Formulação Ordem de reação T (°C)
Impressão Textura Impressão Textura
global global
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo foi realizado a partir de um novo produto (estruturado da polpa
concentrada de jabuticaba) para seu emprego no mercado, tornando-se necessário avaliar
e identificar os principais fatores que afetam a qualidade nutricional e sensorial dos
estruturados em diferentes temperaturas, a fim de analisar a queda da qualidade em função
das condições ambientais estabelecidas até que o produto seja inadequado para consumo.
As formulações dos estruturados da polpa de jabuticaba obtiveram influência do tempo e
da temperatura no qual foram armazenados. A partir das análises físico-químicas e
microbiológicas realizadas obteve-se os tratamentos estáveis durante o período do estudo.
Os atributos quanto às análises sensoriais realizadas que obtiveram maior influência e que
afetaram a qualidade do produto foram a impressão global e a textura durante o período
de 120 dias.
A partir dos resultados obtidos no TAVP, levando-se em consideração os fatores
sensoriais, principalmente a impressão global, a vida de prateleira dos estruturados
armazenados na temperatura de 25 °C foi determinada em 107 dias para a F1 e em 106
dias para a F4 e, pelo teste de extrapolação foi de 236 dias para a F1 e de 192 dias para a
F4. Logo, percebe-se que, o estudo da produção de estruturados possibilita o aumento da
vida útil do produto com maior praticidade e com características sensoriais adequadas
para o consumo, sendo mais próximas da fruta in natura, podendo ser utilizado na área
de iogurtes e confeitarias em geral.
REFERÊNCIAS
FARIA, E. Z., & YOTSUYANAGI, K. (2002). Técnicas de análise sensorial (1. ed., 116
p.). Campinas: ITAL.
Instituto Adolfo Lutz – IAL. (2008). Normas analíticas do Instituto Adolfo Lutz: Métodos
físico-químicos para análise de alimentos (4. ed.). São Paulo: IAL.