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Euroflina Rosa Francisco Paulo

Actuação do SENAMI na Prevenção ao Trafico de Mulheres para exploração sexual:


Estudo de caso da Fronteira de Ressano Garcia na Província de Maputo: período de
2020-2022.

ACIPOL

2023
Actuação do SENAMI na Prevenção ao Tráfico de Mulheres para exploração sexual:
Estudo de caso da Fronteira de Ressano Garcia na Província de Maputo: período de
2020-2022.

Michafutene, Dezembro de 2023

Supervisor:

_________________________________

Msc. Mateus Silveiro

Monografia apresentada à ACIPOL como


parte integrante dos requisitos para a
obtenção do grau académico de Licenciatura
em Ciências Policiais no Perfil de Migração e
Fronteiras

______________________________

Euroflina Rosa Francisco Paulo


Declaração de honra

Declaro por minha honra que esta pesquisa nunca foi apresentada para aquisição de qualquer
grau académico. Ela resulta da minha investigação pessoal, estando incluídos no texto e na
referência bibliográfia final as fontes que utilizei para o efeito.

______________________________________________

(Euroflina Rosa Francisco Paulo)


Dedicatória

Dedico o presente trabalho à minha família, em especial aos meus pais, Francisco Paulo e
Isabel Paulo, ao meu Avó José Macuinja, a minha Madrinha Lúcia Mbaia e as minhas irmãs
Eurídice Paulo, Francisca Paulo e Euclesia Paulo.
Agradecimentos

Primeiro agradecer a Deus pelo dom da vida, pela protecção diária, pelo sustento e pela força
que me proporcionou para poder lutar e acreditar, dia após dia, que eu poderia vencer esta
batalhaessa batalha eu pudesse vencer., Agradecer pela motivação para as actividades
inerentes ao processo de formação durante os 4 anos de longa e difícil caminhada académica.

De forma especial, quero manifestar a minha imensa gratidão ao Magnífico Reitor, aos
membros da Direcção da ACIPOL, ao Corpo Docente, que de forma profissional
conduziuram a minha formação, e com as suas exigências constituiuíram a força motriz para
a conclusão do curso.

A todos os agentes da Direcção Provincial da Migração da Província de Maputo e ao Ramo de


Polícia de Fronteira, onde fiz o meu estágio pré-profissional, particularmente aos que se
dispuseram de forma directa, paciente e responsável a ensinarndo-me tudo quanto eles sabem
sobre ana área policial, o meu muito obrigado.

Quero de forma particularizada e prestigiada endereçar os meus sinceros agradecimentos ao


meu supervisor Msc. Mateus Silveiro, pela paciência, dedicação, e disponibilidade, qualidades
estas que permitiram a realização deste trabalho.

Endereçar a minha imensa gratidão ao meu Avô,o José Macuinja, pelas orações e pela forçca
de sempre acreditar que um dia poderia-lhe proporcionar-lhe tantoesse prestíigio através da
conclusão da minha formação, aos meus Pais Francisco Paulo e Isabel Paulo pelo suporte,
pelas orações e pela confiança que depositaram em mim ao longo da minha carreira
estudantil. Agradecer ainda, a minha Madrinha Lúcia Mbaia pela forçca e o amor
incondicional que sempre depositou em mim, e a avó Gina pelas vezes que me encorajou-me
a seguir firme, a ela deposito a minha eterna gratidão por tudo quanto fizeram por mim.

As minhas irmãs Eurídice Paulo, Yula Rosa, Francisca Paulo e Euclesia Paulo por terem
sempre me encorajado a abraçar este sonho e por acreditarem sempre em mim e no meu
potêncial, pelo apoio psicológico e moral que sempre me dam, o meu muito obrigado.
Obrigado também, a a Eustasia, a Marlina, a Mirela, o Kayon e a, Euridse pela forma
incansável que me deram forçca.

Quero também endereçar os meus votos de agradecimento ao meu Companheiro Daniel


Tiago, por todo apoio moral prestado, pelo amor, e carinho e a forçca que me deu-me na fase
mais crucial do meu percurso académico, por me motivar a aprender sempre cada vez mais e
pelos sábios conselhos que o mesmo disponibilizava ao longo da minha formação.

Ao meu Padrinho, Salomão Guambe, pelos ensinamentos e a confiança que depositou em


mimsempre prestou, e pela disponibilidade que sempre teve para me apoiar, e as minhas
afilhadas Edia Bernadete e Rosalinda Lendema pela forçca e a motivação diária, o meu muito
obrigada.

Aos meus amigos, em Especial Nilsa Salvador, Filomena Carlos, Olga Faduque, Etelvina
Langa Eunice Alfredo, Amina Amade, Siray de Fátima, Francisco Benhane, Ramos Coana,
Hélio Tembe, Rauldonio Massango, Neusa Venbame, aos colegas das turmas C-F e Perfil de
Migração e fronteiras e ao XX curso pelo companheirismo e força dada durante o percurso
académico, pela força que me proporcionaram no percurso académico, o meu muito obrigada.

Claro que nesta onda de agradecimentos não podia deixar de endereçar o meu especial
agradecimento ao meu tio amado, Gerson da Cruz, pelo apoio incondicional, imensurável e
incomparável que me tem-me prestado desde o meu primeiro dia de vida, por isso a ele
endereço o meu profundo Khanimambo!
Lista Abreviaturas, Siglas e Acrónimos

Art.º- Artigo

CRM- Constituição da República de Moçambique

FADM- Forças Armadas de Moçambique

ISRI- Instituto Superior de Relações Internacionais

MINT-Ministério do Interior
No. - Número
PF- Polícia de Fronteira
PRM- Polícia da República Moçambique
S/D- Sem Data
SENAMI- Serviço Nacional de Moçambique
SERNIC- Serviço Nacional de Migração
TLC- Tipo Legal de Crime
TP- Tráfico de Pessoas
TSH- Tráfico de Seres Humanos
UNESCO- United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

UNICEF- United Nations Internacional Children's Emergency Fund


Resumo
O tráfico de seres humanos, nas suas várias vertentes, tem vindo a conhecer um mediatismo
sem precedentes, nos últimos anos, assumindo-se como um dos temas centrais na agenda
política de vários governos e organizações de âmbito regional e, internacional e Moçambique
tem sido um dos palcos desse fenómeno. Neste sentido, a pesquisa foi desenvolvida tendo em
conta uma abordagem qualitativa, para o efeito de recolha de dados no campo prático, a nossa
amostra foi constituída por vinte e quatro (240) elementos em representação da população em
estudo, sendotendo usados a entrevista e o questionário aberto como instrumentos de recolha
de dados. Com base nos dados obtidos, puodemos concluir que quanto as principais causas do
tráfico de seres humanos, com enfoque nas mulheres para fins de exploração sexual, são as
seguintes: fome, pobreza, miséria, baixo índice de desenvolvimento humano ou baixo grau de
escolaridade, com maior incidência nas zonas em desenvolvimento, a recompensa financeira
que este crime oferece aos seus praticantes e a defeituosa cooperação entre as autoridades
locais e as instituições de segurança. Relativamente aos mecanismos adoptados pelo SENAMI
com vista a prevenir o fenómeno de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual
denota- se que o Estado moçambicano tem criado e ratificado vários dispositivos legais de
ordem internacional assim como de cunho regional virados para a segurança do cidadão, com
vista a visando promover os direitos humanos, ou seja, agora a segurança não pode ser vista
apenas no contexto militar ou belicista, mas sim deve ser extensiva para criarndo condições
para garantir um bem-estar social entre os cidadãos, uma vez que ou seja as instituições de
segurança do Estado não centram as suas preocupações em combater ou prevenir apenas actos
de guerras apenas, mas tambémsim os esforços são centrados na garantira da segurança do
próprio ser humano.a

Palavras -Chave: Prevenção, Crime e Trafico de Pessoas.


Índice
Capitulo I- Introdução...............................................................................................................12

1.1. Problema........................................................................................................................13

1.1. Justificativa....................................................................................................................14

1.3. Objectivos..........................................................................................................................15

1.3.1. Objectivo Geral...........................................................................................................15

1.3.2. Objectivos Específicos...........................................................................................15

1.4. Perguntas de Pesquisa....................................................................................................15

1.5. Delimitação do Estudo...................................................................................................16

1.5.1. DelimitaçãoTemática..............................................................................................16

1.5.2. Delimitação Espacial..............................................................................................16

1.5.3. Delimitação Temporal............................................................................................16

Capitulo II - Revisão Bibliográfica...........................................................................................17

2.1. Prevenção.......................................................................................................................17

2.2. Crime..............................................................................................................................17

2.3. Tráfico de Pessoas..........................................................................................................18

2.4. Operacionalização dos Conceitos...................................................................................19

2.5. Causas do Trafico de Mulheres......................................................................................19

2.6. Modus Operandus de Recrutamento das Vítimas..........................................................20

2.7. Instituições Estatais Responsáveis pela Prevenção e Combate ao TP em Moçambique...20

2.7.1. A Polícia da República de Moçambique (PRM).........................................................20

2.7.2. Polícia de Fronteira (PF).............................................................................................21

2.7.3. Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC)..............................................22

2.7.4. Serviço Nacional de Migração (SENAMI).................................................................22

2.8. Teorias Explicativas do Estudo..........................................................................................23

2.8.1. Teorias Explicativas do Trafico de Mulheres Para Fins de Exploração Sexual..........23

2.8.2. Teoria Realista das Relações Internacionais...............................................................23


2.8.3. Teoria da Desigualdade Social....................................................................................26

Capitulo III- Metodologia.........................................................................................................27

3.1. Descrição dos Procedimentos Metodológicos e Seu Enquadramento Conceptual........27

3.2.1. Definição da População...............................................................................................28

3.2.2. Definição da Amostra..................................................................................................29

3.2.3. Descrição da Amostra.................................................................................................29

Tabela Ilustrativa das características da amostra..................................................................29

3.33. Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados................................................................30

3.3.1. Técnicas de Recolha de Dados....................................................................................30

3.3.2. Pesquisa Bibliográfica.................................................................................................30

3.3.3. Pesquisa Documental..................................................................................................30

3.3.4. Entrevista.....................................................................................................................30

3.3.4. Questionário................................................................................................................31

3.3.5. Instrumentos de Recolha de Dados.............................................................................31

3.3.6. Guião de Entrevista.....................................................................................................32

3.3.7. Guião de Questionário Aberto.....................................................................................32

3.3.8. Questões éticas da pesquisa.........................................................................................32

3.3.9. Limitações do estudo...................................................................................................32

IV-Capítulo Análise e Interpretação de Dados.........................................................................34

4.1. Causas do Trafico de Seres Humanos em Particular as Mulheres em Moçambique.....34

4.2. Modus Operandus dos Traficantes de Seres Humanos em Particular de Mulheres Para
Fins de Exploração Sexual....................................................................................................36

4.3. Mecanismos Adoptados Pelo SENAMI na Prevenção do Crime de Tráfico de Seres


Humanos em Particular Mulheres Para Fins de Exploração Sexual.....................................37

V-Conclusão e Sugestões..........................................................................................................41

5.1. Sugestões........................................................................................................................42

V-Bibliografia.......................................................................................................................43
Índice de Apêndices
Capitulo I- Introdução

O presente estudo, intitulado “Actuação do SENAMI na Prevenção ao Tráfico de


Mulheres para exploração sexual: Estudo de caso da Fronteira de Ressano Garcia na
Província de Maputo: período de 2020-2022.”, cujo objectivo évisa Compreender a
actuação do SENAMI na prevenção dao tráfico de pessoas, em particular de mulheres para
exploração sexual, na fronteira de Ressano Garcia.

Segundo a revista da União Africana (2021), o tráfico de pessoas, por vezes referido como
tráfico de seres humanos, é um crime transnacional que tem afectado o continente africano há
muito tempo. As redes transnacionais de crime organizado exploram a vulnerabilidade dos
migrantes, em algumas partes do continente africano, devido a conflitos, falta de emprego e
outras oportunidades de subsistência.

Como muitas outras partes do mundo, Moçambique é confrontado com o fenómeno do tráfico
de pessoas para variados fins. Shelley (2010), aponta que as mulheres constituem o grupo de
pessoas mais vulneráveis ao tráfico de pessoas, estando, em larga medida, sujeitas à
exploração sexual, à exploração laboral e ao trabalho forçado. Este grupo representaAs
mulheres são a camada mais vulnerável, devido a sua baixa condição social e económica.
Todavia, qualquer um, pode ser uma vítima do crime de tráfico de pessoas, dependendo da
demanda que os traficantes tencionam satisfazer.

O presente trabalho de pesquisa está dividido em 05 capítulos nomeadamente:

O Capítulo I: neste capítulo temos a introdução, a justificativa, os objectivos (geral e


específicos), perguntas de pesquisa, delimitação temática, delimitação espacial e delimitação
temporal.

O Capítulo II: neste capítulo tratou-se da revisão bibliográfica, definição dos conceitos assim
como a operacionalização dos mesmos e enquadramento teórico.

O Capítulo III: neste capítulo foi tratada a metodologia que incorporou a descrição dos
procedimentos metodológicos assim como a opção metodológica, população alvo e
amostragem, técnicas e instrumentos de recolha de dados

Capítulo IV: neste capítulo apresentamos os resultados da pesquisa, e sua análise e


interpretação, através da triangulação dos dados obtidos por meio dos guiões de entrevista e
toda pesquisa já feita.
Capítulo V: incide sobre as conclusões e sugestões do presente estudo, bem como as
referências bibliográficas.

1.1. Problema
O tráfico de seres humanos, nas suas várias vertentes, tem vindo a conhecer um mediatismo
sem precedentes nos últimos anos, assumindo-se como um dos temas centrais na agenda
política de vários governos e organizações de âmbito regional e internacional. A realização de
múltiplos relatórios internacionais, que indicam que o número de pessoas traficadas
despoletou na última década, bem como o crescente interesse dos responsáveis pela segurança
dos estados por este fenómeno, têm captado a atenção dos vários governos perante uma
realidade que consubstancia uma grave violação dos direitos humanos.

De recordar que, este fenómeno não é recente, tampouco se confina hoje às fronteiras de
alguns países e/ou regiões de mundo, entretanto. Marcadamente global e transnacional, a
principal novidade consiste no facto de ser, hoje, é um negócio muito lucrativo e com uma
enorme capacidade de atracção para grupos criminosos organizados que têm vindo a sofisticar
os seus métodos de actuação. Com efeito, o tráfico de seres humanos é considerado como a
terceira actividade ilegal mais rentável no mundo, ficando apenas atrás do tráfico de armas e
de drogas. Acresce que a crescente criatividade dos traficantes, associado a par de algum
vazio legal e das dificuldades de actuação dos órgãos dos serviços de investigação criminal
em alguns países, leva a que este tipo de crime tenha um baixo risco de detecção, investigação
e penalização, comparativamente com outras actividades ilegais.

Uma das formas de tráfico de seres humanos mais visível actualmente é o tráfico de mulheres
para fins de exploração diversificado. Segundo o Informe da PGR (2020, 2021 e 2022), cerca
de 80% das pessoas traficadas todos os anos em Moçambique são mulheres e jovens mulheres
que, na sua maioria, são traficadas para fins de exploração sexual na vizinha Africa do Sul.

De realçar que, a gravidade, é ainda maior, pois o carácter secreto e criminoso do TP faz
acreditar que existam muitos outros casos de crianças traficadas, mas que não chegam ao
domínio público, nem das instituições da administração da justiça. Primeiro, pela sofisticação
do modus operandius dos actores envolvidos no TP; segundo, pelo silêncio das vítimas
(directas e indirectas) devido ao medo de represálias que os traficantes impõem.

APor sua vez a organização não-governamental Save the Children (2009), por sua vez,
acrescenta que em Moçambique, as mulheres de 14-25 anos de idade são transportadas dos
seus locais de proveniência para África do Sul porpelos membros da rede de traficantes, tendo
a sua entrada à África do Sul facilitada e chegado a fronteira, são facilitados a entrada para
África do Sul por indivíduos designados localmente por mareyane que as facilitam a travessia
ilegal em troca de dinheiro. A travessia é normalmente feita , podendo ser a pé ou de táxis
locais, sob cúmplicidade ou osob olhar desatentoa das autoridades fronteiriças nacionais.

Tendo em conta que a legislação internacional e os acordos existentes entre vários estados
permitem que as pessoas façam movimentos migratórios, podendo entrar e permanecer em
território estrangeiro mediante certos condicionalismo de cada Estado, sendo esse movimento
controlado pelos serviços migratórios de cada Estado, como é o caso do Serviço Nacional de
Migração abreviadamente designado (SENAMI), que com base na Lei n.º 8/2022 de 21 de
Junho, tem a responsabilidade de controlar o movimento migratório através das fronteiras
nacionais e gerir o movimento migratório, prevenindo e reprimindo o tráfico de seres
humanos e actos conexos no território nacional.

Tomando em consideração os dados que constam dos relatórios facultados pelo Serviço
Nacional de Migração que apontam a Fronteira de Ressano Garcia como porta de saída mais
usual para os praticantes do crime de tráfico de pessoas em Moçambique, surge a seguinte
indagação: De que maneira o SENAMI Actua do na Prevenção ao Crime de Tráfico de
mulheres para exploração sexual na Fronteira de Ressano Garcia?

1.1. Justificativa

No âmbito pessoal, o estudo é fundamentado pela preocupação que surge ao acompanhar


casos reportados pelos diversos meios de comunicação social sobre relatos de criminalidade
organizada, com maior incidência para o tráfico de pessoas, que se julga-se que serja para fins
de exploração sexual, escravatura e extracção de órgãos., Aassim, com este trabalho pretende-
se contribuir na melhoriao melhoramento da operacionalização das actividades do Serviço
Nacional de Migração no que concerne ao movimento migratório na Fronteira de Ressano
Garcia, Província de Maputo.

Na ordem social, justifica-se a escolha do tema, em razão de seu importante significado


social, em primeiro lugar, por se configurar uma grave violação do princípio da dignidade da
pessoa humana, proclamado na Declaração Universal de 1948, uma vez que aniquila a
liberdade e a segurança das vítimas, em especial das mulheres que visibilizadas como um ser
menor, esgotadas de qualquer dignidade, são utilizadas para serem negociadas como
mercadorias, numa perspectiva de exploração sexual.

No âmbito académico, a pesquisa servirá de ponto de partida para a intensificação de debates


e soluções técnico científico para a prevenção e consequentemente estancamento do crime de
tráfico de mulheres para fins de exploração sexual na Província de Maputo por meio da
fronteira de Ressano Garcia.

No âmbito institucional, os actos criminais criam sentimento de insegurança no meio social e


implantam um afastamento entre a sociedade e os órgãos do Estado tutelares da segurança,
por isso com esta pesquisa pretende-se fazer uma reflexão na actuação do SENAMI face ao
crescente recrudescimento do tráfico de mulheres na Província de Maputo, de modo que esta
instituição evidencie esforços práticos para a prevenção de tráfico de mulheres, no espaço
nacional.

1.3. Objectivos

1.3.1. Objectivo Geral

 Compreender Actuação do SENAMI na Prevenção ao crime de Trafico de Mulheres


para exploração sexual: Estudo de caso da Fronteira de Ressano Garcia na Província
de Maputo.

1.3.2. Objectivos Específicos

 Identificar as causas determinantes do tráfico de mulheres para fins de exploração


sexual na fronteira de Ressano Garcia;
 Descrever os modus operandius dos traficantes de Seres Humanos, caso de mulheres
para fins de exploração sexual através da Fronteira de Ressano Garcia;
 Apontar os mecanismos adoptados pelo SENAMI na prevenção do crime de tráfico de
mulheres para exploração sexual.

1.4. Perguntas de Pesquisa

 Quais são as causas determinantes do tráfico de mulheres para fins de exploração


sexual na Fronteira de Ressano Garcia?
 Qualis ésão os modus operandius dos traficantes de Seres Humanos caso de mulheres
para fins de exploração sexual através da Fronteira de Ressano Garcia?
 Que mecanismos têm sido adoptados pelo SENAMI na prevenção dao crime deo
tráfico de mulheres para a exploração sexual?

1.5. Delimitação do Estudo

1.5.1. Delimitação Temática

O presente estudo tem como focoenfoque na Actuação do SENAMI na Prevenção ao crime de


Trafico de Seres Humanos com enfoque nas Mulheres para exploração sexual: Estudo de caso
da Fronteira de Ressano Garcia na Província de Maputo: período de 2020-2022. Nesse sentido
pretendemos identificar as causas que estão por de trás deste fenómeno, descrever os
mecanismos que têem sido adoptados pelo SENAMI , na perspectiva de estancar este tipo
legal de crime e por fim o estudo iráa avaliar o grau da eficácia dos tais mecanismos
implementados por esta instituição.

1.5.2. Delimitação Espacial


O presente trabalho compreende o espaço geográfico da fronteira de Ressano Garcia. O posto
de travessia de Ressano Garcia situa-se no posto administrativo de Ressano Garcia no Distrito
de Moamba, na Província de Maputo. A fronteira localiza-se concretamente á 120 km do sul
de Moçambique, na zona Oeste da Província de Maputo, no Distrito de Moamba.

Geograficamente, Ressano Garcia apresenta os seguintes limites:

 A Norte o rio Massintonta que a separa do distrito de Magude;


 A Sul limita-se pelo distrito de Namaacha;
 A Este o distrito de Manhiça e Marracuene;
 A Oeste uma linha de fronteira artificial com a Província sul-africana de Mpumalanga.

A escolha do posto de Travessia de Ressano Garcia justifica-se pelo facto de este ser o ponto
apontado como o que mais casos tem registado mais casos de trânsito de traficantes de seres
humanos.

1.5.3. Delimitação Temporal


O estudo tem como foco, actuação do SENAMI na prevenção ao crime de tráfico de mulheres
para exploração sexual: Estudo de caso da Fronteira de Ressano Garcia na Província de
Maputo, período de 2020-2022. A presente pesquisa, circunscreve-se num período temporal
de 2 anos, isto é, de 2020 a 2022. A escolha desse intervalo do tempo deveu-se ao facto de ter
sido o período em que se registou-se um crescimento acentuado de casos de tráficos de
mulheres na Província de Maputo.

Capitulo II - Revisão Bibliográfica

Neste capítulo são apresentados conceitos que são imprescindíveis para a compreensão do
assunto em estudo. Esses conceitos constituem o substrato sobre a qual o estudo se alicerça-
se, destacando-se, dentre vários, os conceitos os seguintes: Prevenção, Crime e Trafico de
Pessoas. Esses conceitos são operacionalizados no âmbito do assunto em estudo para
proporcionar uma base teórica no processo de análise e interpretação dos dados.

2.1. Prevenção
De acordo com Gassin (1994), prevenção é um instrumento utilizado pelo Estado, para
melhor, dominar ou controlar a criminalidade pela eliminação ou a limitação dos factores
criminógenos e pela gestão adequada dos factores ligados ao meio físico e social que criam
condições favoráveis à perpetração dos delitos.

Pode-se definir prevenção como um “conjunto de medidas cuja intenção é minimizar as


infracções sejam de natureza criminal ou outros e sobretudo quando ocorram antes da prática
do acto delinquente” (Oliveira, 2006, p. 79).

Segundo Pires (s/d), prevenir é antecipar-se, predispondo meios que, inibam ou consigam
evitar a ocorrência do crime. A prevenção criminal pode dar-se desde a eliminação do
fenómeno, através da disposição de meios que possam condicionar e evitar comportamentos
ou práticas de carácter criminal.

Tomando em consideração os conceitos acima apresentados, subentende-se que há uma


comunhão, entre os autores, pois ambos consideram prevenção como o meio pelo que se pode
evitar a ocorrência de um crime. Contudo,Mas para efeitos do presente estudo, o conceito do
autor Gassin (1994), apresenta todos os elementos sustentadores para prevenção do tráfico de
mulheres para fins de exploração sexual, na medida em que este descreve prevenção como um
instrumento utilizado pelo Estado, para melhor, dominar ou controlar a criminalidade pela
eliminação ou a limitação dos factores criminógenos.
2.2. Crime

Segundo Durkheim (cit. in Martinez et all, 2016, p.75) ''crime é o acto social que ofende os
estados fortes e definidos na consciência colectiva". Para o autor, o crime é algo normal e não
se pode combater, daí que embora ofenda os sentimentos colectivos, seria impossível que os
estados se afastassem deste fenómeno. O autor discute o conceito deo crime do ponto de vista
sociológico sublinhando a questão dos sentimentos colectivos, o que nos faz entender que só
há crime onde há colectividade., ou seja, onde há mais de uma pessoa.

Para Cezerilo (2014, p.24), o crime é a manifestação da natureza degenerada de alguns seres
humanos, marcada por uma personalidade anormal, problemática, estranha e inferior”. O
autor assume o crime como atitude de pessoas esquisitas, com falta de equilíbrio psicológico e
desconformidade com as regras de convivência na sociedade.

Contudo, tanto Durkheim como Cezarilo, apresentam pontos de vista relacionados quanto ao
conceito em causa, na medida em que, ambos defendem a existência do crime sempre que um
indivíduo age em desconformidade com as normas vigentes na sociedade.

Por sua vez, Santos e Leal-Henriques (2003), defendem que “dir-se-á que o crime se
caracteriza pelo facto humano, em regra voluntário, declarado punível pela norma jurídica”

Para efeitos da presente pesquisa, o conceito apresentado pelos autores Santos e Leal-
Henriques apresenta-se como sendo é o mais viável, visto que na medida em advoga que o
crime ée um acto voluntário, declarado e punível pelas normas jurídicas, pois a lei penal
nacional, pesa embora não apresenta o conceito do crime, mas prontifica-se aem punir actos
de cunho criminal.

2.3. Tráfico de Pessoas

De acordo com o art.3 do Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra a
Criminalidade Transnacional Organizada, relativo à Prevenção, à Repressão e à Punição do
Tráfico de Pessoas, em especial de Mulheres e Crianças, Trafico de Pessoas consiste:

no recrutamento, no transporte, no alojamento ou no acolhimento de pessoas, por meio de ameaça ou


uso de força, rapto, coacçãocoerção, fraude, engano, abuso de poder ou de uma posição de
vulnerabilidade da vítima em relação ao explorador, ou de dar ou receber pagamentos ou benefícios
para obter o consentimento para uma pessoa ter controlo sobre outra, para fins de exploração.
No contexto interno, o Estado moçambicano quanto a problemática do TP encontra-se
tipificado no art.º 10 da Lei n ° 6/2008, de 09 de Junho, que descreve o fenómeno como
sendo:

Todo aquele que recrutar, transportar, acolher, fornecer ou receber uma pessoa, por quaisquer meios,
incluindo sobre pretexto de emprego doméstico ou no estrangeiro ou formação ou aprendizagem, para
fins de prostituição, trabalho forçado, escravatura, servidão involuntária ou servidão por divida.

Fazendo uma análise das duas legislações, tanto o protocolo de Palerma e assim como a lei
interna, observa-se uma total concordância, pois, descrevem o TP como sendo o recrutamento
de pessoas para obter benefícios económicos, dentro ou fora do território nacional, recorrendo
à ameaça ou ao uso de força, ou outras formas de coacção ao rapto, à fraude, ao engano, ao
casamento forçado, ao abuso de autoridade ou da situação de vulnerabilidade, ou a entrega de
uma pessoa que tem autoridade sobre a outra, com a finalidade de exploração, e que inclui a
prostituição sexual, casamento forçado, extracção de órgãos humanos, trabalho forçado
escravatura ou práticas similares, bem como a servidão.

Por seu turno, Monteiro e Osório (2009), aludem que o tráfico de pessoas é a pressão exercida
para um grupo alvo, isto é, de pessoas que necessitam de suprir as suas necessidades básicas.
Estas pessoas. Que são identificadas pelos traficantes e, posteriormente, “exploradas e
controladas em troca de pagamentos, benefícios ou outras formas de pagamentos, como oferta
de emprego”, como forma delas as mesmas consentirem ou se manterem caladas.

2.4. Operacionalização dos Conceitos

Segundo o Estatuto de Roma, o TP é um crime contra a Humanidade, o que desperta a


atenção pública para a respectiva gravidade.

2.5. Causas do Trafico de Mulheres

A nível global, várias pesquisas discutem as causas que concorrem para a ocorrência do TP,.
Mas segundo o relatório da UNESCO (2006), regista-se, porem, algum consenso construído a
volta da ideia de que as causas económicas, socioculturais e motivacionais das migrações são,
em regra geral, similares àqueles que mobilizam as vítimas do TP.

Há consenso nas fontes de pesquisas sobre tráfico de mulheres (Serra, s/d; UNESCO, 2006;
Rodrigues, 2012; UNICEF, 2005), segundo o qual, o principal móbil do tráfico de mulheres
se circunscreve-se na pobreza ou vulnerabilidade sócio económica das vítimas; Demanda pela
exploração sexual de mulheres, dado aos extraordinários lucros que actividade representa aos
elementos da rede de traficantes; A instabilidade política, económica e civil em regiões de
conflito, no sentido de que as pessoas, em particular as mulheres, são obrigadas pela situação
a aceitar qualquer proposta desde que consigam alcançar o seu único objectivo que é a sua
sobrevivência; A corrupção de funcionários públicos afectos nas fronteiras que aceitam
suborno de traficantes para facilitar a travessia deas mulheres traficadas e fragilidade na
aplicação da lei, no sentido de que os agentes responsáveis pela aplicação da lei , não têem um
domínio profundo da matéria em alusão, por falta do necessário preparo., Nneste caso, trata-se
de policiais, procuradores e juízes, que, muitas vezes, absolvem esses criminosos,
alegadamente por falta de provas, ou por meio de corrupção protagonizada pelos traficantes a
estes agentes por forma amolecer o caso em investigação.

2.6. Modus Operandius de Recrutamento das Vítimas


Segundo o estudo Realizado pelo ISRI (2014), o recrutamento das vítimas de TP em
Moçambique circunscreve-se num processo complexo.

Recrutadas nas suas zonas residenciais, transportadas para além-fronteiras através de redes de
cumplicidade entre indivíduos, que operam no país de origem e no país de destino, as vítimas
são levadas a consentir no tráfico através de vários métodos, sobretudo associados a
manipulação e ao aliciamento.

Com efeito, os perpetradores do TP recorrem a uma série de estratégias de recrutamento das


vítimas, nomeadamente:

 Promessas de emprego;
 Promessas de prosseguimento de estudos;
 Promessas de viagens e passeios;
 Promessas de reencontro com familiares e conhecidos;
 Promessas de melhores condições de vida (alimentação, habitação e vestuário);
 Promessas de casamento;
 Promessas de documentos (especialmente passaporte);
 Promessas de diversão em locais de luxo; e
 Intimidação.
2.7. Instituições Estatais Responsáveis pela Prevenção e Combate ao TP em
Moçambique
2.7.1. A Polícia da República de Moçambique (PRM)

A Polícia da República de Moçambique (PRM) é a única, a nível nacional, regulada pela Lei
nº 16/2013, de 13 de agosto. A PRM é um serviço não partidário, de índole “paramilitar”,
pertencente ao Ministério do Interior, responsável pela “segurança e tranquilidade públicas”.
Para a PRM desenvolver as suas funções eficazmente, o Estado tem desenvolvido parcerias
com sectores estatais parano sentido de garantir a ordem, segurança e tranquilidade públicas,
proteger as pessoas e bens, o respeito pelo Estado do Direito Democrático, o exercício dos
direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos 1. Visto que actualmente o Estado não é único
actor no que diz respeito a questões tange dea segurança, por esta razão a Polícia é a
ferramenta do Estado que garante a segurança junto com os parceiros públicos e privados.

Conforme o plasmado na Lei 16 de 13 de agosto, a PRM tem como atribuições:, proteger as


pessoas e bens, prevenir e repreender os crimes e comportamentos que atentam as normas,
proteger e assegurar a costa, “organizar, fiscalizar e controlar” a circulação dos veículos e da
população na “via pública”, contrários à lei; Garantir a protecção e segurança costeira,
lacustre e fluvial; organizar, fiscalizar e controlar o trânsito de veículos e de pessoas nas vias
públicas; zelar pelo cadastro e efectuar o controlo do armamento, “munições, substâncias
explosivas, radioactivas” e outros materiais relacionados com as suas atribuições,
exceptuando as funções exceptos os que estiverem, atribuídas às Forças Armadass de Defesa
de Moçambique (FADM).

Face ao subscrito, Silva (2001, p 63), refere que a “a garantia da segurança humana é da
responsabilidade das FSS, garantir a protecção das populações, em especial as vulneráveis,
para que consigam suprir às necessidades básicas, porque essas só podem ser satisfeitas
quando existir a segurança”. É nesta senda que a PRM no seu dia-a-dia, previne a
criminalidade, sobretudo o TSH, através da patrulha, fiscalização nos Postos de Controlo
Rodoviário, campanhas de sensibilização, entre outras acções que visam combater a
criminalidade no seu todo.

1
CRM artigo 253
2.7.2. Polícia de Fronteira (PF)

A Polícia de Fronteira (PF), é um ramo da PRM responsável pela fiscalização, “controlo e


protecção” das fronteiras a nível nacional, criado pela Lei n.º 16/2013, de 12 de agosto, e pelo
Decreto-Lei n.º 85/2014, de 31 de Dezembro. A PF tem como funções, garantir a protecção
das fronteiras nacionais em conjunto com outras FDS, combater a imigração clandestina,
“contrabando, tráfico de drogas”, e outras actividades ilícitas ao longo da fronteira. As demais
funções previstas no Decreto n.º 85/2014, de 31 de Dezembro, dentre os quais, o garante da
ordem, segurança e tranquilidade públicas e não passagem de pessoas ilegais nas fronteiras;
impedir qualquer alteração dos marcos que delimitam as fronteiras, combater o TSH e partes
ou órgãos, drogas, assegurar a vigilância das fronteiras, bem como a movimentação de
pessoas e bens, garantir os protocolos bilaterais, multilaterais, regionais e internacionais, “em
matéria de segurança fronteiriça”; protege o património cultural, social e económico existente
ao longo das fronteiras nacionais, assegura a “cooperação e coordenação com outros serviços
em matéria de segurança fronteiriça.

2.7.3. Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC)

O Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), é descrito pelo n.º 1 do art.º 3, da


Lei n.º 2/2017, de 9 de Janeirojaneiro como sendo, um servidor público em matéria de
investigação criminal, “de natureza paramilitar” que presta apoio a “administração da justiça”,
provida ou independente tecnicamente e em termos técnicos, respeitando os ditames do
MINT, responsável pela segurança e tranquilidade públicas em Moçambique,

O seu suporte legal encontra aclarado no, n.º 1, do art.º 179 da Constituição da República de
Moçambique (CRM), na Lei nº 2/2017, de 9 de Janeirojaneiro e nos respectivos Estatutos,
Orgânico e Pessoal.

O SERNIC tem como competência especial, a esta investigação dos ilícitos contra as pessoas;
contra o património e informática, contra o Estado, perigo comum, TSH, órgãos e partes do
corpo humano; tráfico de droga e consumo de “estupefacientes, substâncias psicotrópicas e,
outras substâncias e de efeitos similares e criminais”; investigar crimes complexos, crime
organizado transnacional, patrocinadores do terrorismo, “branqueamento de capitais”.
2.7.4. Serviço Nacional de Migração (SENAMI)

O Serviço Nacional de Migração, abreviadamente SENAMI tem como alicerce à Lei nº


6/2014, de 5 de Fevereiro., Éé um serviço de cunho paramilitar, que lhe foi atribuídoa as
seguintes competências: inspeccionar o fluxo deas pessoas que desejam entrar ou sair de
Moçambique através dos Postos de Travessia, zelar pela permanência de cidadãos não
nacionais em Moçambique, emissão da documentação para os viajantes e, emissão de títulos
de residência para os não nacionais (artigos 4º e 5º da Lei que cria o SENAMI e artigos 2º e 3º
do respectivo Estatuto Orgânico, aprovado através do Decreto nº 73/2014, de 9 de
Dezembro).

Quanto ao controlo migratório, SENAMI é competente porara efectuar a gestão e “controlo


migratório", combater/prevenir fortemente o TSH, autorizar a entrada das pessoas no
território moçambicano pelos respectivos Postos de Travessia.

Cabe- lhe ainda, a fiscalização migratória, este serviço é responsável por competente para
controlar os documentos de viagem, elaborar processos em casos de alguma ilicitude e, se
possível. a sua detenção, quando relacionada com a migração, entre outras competências.

2.8. Teorias Explicativas do Estudo


2.8.1. Teorias Explicativas do Tráfico de Mulheres Para Fins de Exploração Sexual

As teorias em geral buscam informações acerca de um determinado evento de modo que o


possa explicar, . cComo cit.in Jackson e Hafemeister (2013), além de melhorar a compreensão
de um fenómeno, uma teoria, em seu núcleo, fornece coerência a este fenómeno, mas ainda
assim relacionado a um conjunto de variáveis; identifica os factores que devem ser incluídos
em modelos explicativos, e facilita a interpretação de observações e resultados da
investigação. Para o presente estudo tomaremos como teoria válida aPara efeitos do presente
estudo apresentaram-se como teorias válidas para o presente estudo as seguintes: teoria
realista das relações internacionais

2.8.2. Teoria Realista das Relações Internacionais

Segundo a teoria realista de relações internacionais, os estudos de segurança por muito tempo
estavam, centradosestiveram centrados nas ameaças militares externas, contra os Estados.
Esta abordagem, assumiu uma posição dominante no período da Guerra Fria, e colocava a
defesa da integridade territorial, da soberania e da independência contra ameaças militares
externaos como o epicentro da segurança. Na perspectiva realista, a guerra era a principal
ameaça e a segurança do Estado era vista como pré-condição para a segurança dos indivíduos,
(Waltz 2002).

Contudo, no período pós-Guerra Fria, as guerras entre Estados tornaram-se pouco frequentes,
enquanto as guerras intra-estatais ganharam maior saliência. Estas guerras tornaram-se
proeminentes pela magnitude de violência, que incidiae, sobretudo, nos indivíduos, tendo
como. Os exemplos mais flagrantes são as crianças-soldados, a violação sexual usada como
arma de guerra e os genocídios. Além disso, em termos de segurança, o período pós-Guerra
Fria é, marcadamente, influenciado pelo processo de globalização, que deu lugar à
emergência de ameaças não-militares como, por exemplo, o Trafico de Pessoas, que inclui,
por exemplo, a “escravatura moderna”, o trabalho forçado, o comércio sexual, e a adopção
ilegal, bem como extracção de órgãos humanos. Estas práticas constituem também uma
ameaça contra a integridade física e a dignidade humana.

Assim, do ponto de vista teórico, o Trafico de Pessoas pode ser enquadrado na visão alargada
de segurança, centrada no indivíduo, nas ameaças militares e não-militares, internas e
externas. Isto tem a sua justificação no facto de o Trafico de Pessoas constituir, na
actualidade, uma actividade organizada, que está supostamente associada a outros tipos de
crimes como, por exemplo, extracção de órgãos humanos e a imigração ilegal, cujo modus
operandius e a finalidade são uma ameaça contra a integridade física e a dignidade humana,
Hough (2004).

Segundo Hough (2004), o crime organizado e transnacional representa uma ameaça não-
militar proeminente contra a integridade física e contra a estabilidade emocional dos
indivíduos. As redes do crime organizado constituem, também, uma ameaça contra as
instituições do Estado, visto quepois minam a sua estabilidade e, por vezes, a capacidade dos
Governos em proteger a integridade física e a dignidade dos cidadãos.

Em Moçambique, o Trafico de Pessoas pode ser assumido como um assunto de segurança


não-militar, mas sim de todos actores da sociedade, tratando-se dum estudo que versa sobre o
tráfico de mulheres para fins de exploração sexual, usando a fronteira de Ressano Garcia
como corredor de passagem, o Serviço Nacional de Migração, entidade responsável pelo
controlo das pessoas que entram e saem por este espaço, é chamado a actuar de modo a
envidar meios e politícaspolíticas, combativa e preventivas de modo a erradicar este crime.

Teoria da Escolha Racional


Nas décadas de sessenta e setenta, Cornish e Clarke (1987) trabalharam num projecto de
investigação que envolvia uma análise do comportamento do delinquente, no qual os. Esses
autores começaram a desenvolver a ideia de que algo nas características físicas específicas de
alguns espaços providenciavam mais oportunidades para um comportamento incorrecto e
mostraram que . De de facto, algumas características do espaço físico forneciam mais
oportunidades para o comportamento desviante do que outras (Cornish & Clarke, 1987). O
modelo de Cornish e Clarke fundamenta-se na decisão do ofensor e nos factores que afectam
a sua avaliação dos riscos e da recompensa (Clarke, 1980). Os ofensores têm objectivos
quando cometem crimes, mesmo que sejam pequenos, e têm em conta apenas alguns
benefícios e riscos de cada vez. Deste modo, a ideia basilar é de que o comportamento
criminal é, em larga medida, racional, uma vez que se verifica uma ponderação entre as
consequências positivas e as negativas, sendo que o crime é cometido se for assumido como
algo vantajoso.

Este modelo racional é afectado por um número de pressupostos (Clarke & Cornish, 1985)
onde:

(i) O criminoso procura o seu benefício pessoal através do crime;


(ii) Para o fazer, tem que tomar decisões e fazer opções, por mais rudimentares que
estas sejam;
(iii) Este processo de tomada de decisão é limitado pelo tempo disponível, pela
acessibilidade da informação relevante e pelas capacidades cognitivas do
indivíduo. Portanto, a racionalidade da decisão será quase sempre limitada, e não
total;
(iv) Há grandes variações no processo de tomada de decisão (e.g., tempo, factores
considerados, etc.) entre diferentes momentos, diferentes crimes e diferentes
infractores.

A condição central dessa teoria é a confluência de três elementos: alvo fácil, ausência de um
guardião e um criminoso motivado para a prática do crime., Aassim, de acordo com esta
abordagem se um destes elementos não estiver presente, o crime não ocorrerá. Tais elementos
podem ser retratados na figura abaixo, que ilustra o triângulo básico do crime.
Figura 1: Resumo da Teoria da Escolha Racional

Fonte: (Peixoto et al. 2007, p.13

Esta teoria permite enfatizar as decisões e as escolhas feitas pelos ofensores, facto que dá
suporte à ideia de que é indispensável uma abordagem preventiva situacional. Para
compreender as escolhas do crime, deve-se sempre analisar categorias altamente
específicas de ofensas,. visto A razão para esta especificidade é que as ofensas têm
inúmeras finalidades diferentes e são influenciadas por factores situacionais distintos.
Naturalmente, muitas investigações no âmbito do crime em espaço urbano podem ser
interpretadas usando a teoria da escolha racional como uma teoria das oportunidades,
porque "racional" envolve a avaliação da oportunidade (Cornish & Clarke, 1986). A teoria
da oportunidade é fundamental na perspectiva da escolha racional, porque esta perspectiva
examina o crime como uma função da oportunidade, onde a estrutura da oportunidade é
determinada por contactos no ambiente físico (Fattah, 1993). Em suma, esta teoria assenta
num modelo económico do crime (ponderação entre custos e benefícios). Trata-se,
sobretudo, de uma visão economicista do comportamento humano: o máximo de
benefícios e o mínimo de custos. A decisão de uma conduta é precedida pela avaliação
dos custos (e.g., ser preso, atentar contra a integridade física) e dos benefícios (e.g., ter
muito dinheiro, não ter oposição, não ser preso), pelo que, por exemplo, quando um
traficante de seres humanos decide cometer o acto vai com a expectativa de que o
acontecimento favorável irá ocorrer.

2.8.3. Teoria da Desigualdade Social

Em termos sociológicos, diz-se que a desigualdade é social quando na medida em que essa
diferenciação é produto da interacção entre sujeitos sociais, nesse sentido, tanto o acesso
diferenciado às oportunidades como à riqueza económica se realizam-se dentro de um sistema
de relações de sentido e poder que geram distinção, estigma, vulnerabilidade, exclusão, tanto
ano nível individual como no nível colectivo, inclusive, tal diferenciação pode dar-se entre
regiões. Essa visão da desigualdade como uma produção social aparece de maneira transversal
na obra de autores como George Simmel, Foucault, Dharendorf.
A teoria da desigualdade social apresenta-se como explicativa para o nosso estudo, uma vez
na medida em que a problemática do tráfico de mulheres é, muita das vezes, explicado pelo
elevado índice de mulheres que vivem em situação de pobreza, facto este que se verifica em
quase todos cantos do território nacional.

Capitulo III- Metodologia

Neste capítulo propusemo-nos a apresentar os procedimentos metodológicos e o seu


enquadramento conceiptual, a população alvo e amostragem bem como as técnicas e
instrumentos de recolha de dados que foram usados para a materialização da presente
pesquisa.

Sob ponto de vista No entender de Minayo cit. in Fonseca (2002, p. 52), a metodologia
envolve “a escolha do grupo de pesquisa, o estabelecimento dos critérios de amostragem, a
construção de estratégias para entrada em campo, a definição dos instrumentos para análise de
dados”.
Cervo e Bervian (2002, p. 23), asseguram que método “é a ordem que se deve impor aos
diferentes processos necessários para atingir um certo fim ou um resultado desejado. Nas
ciências, entende-se por método o conjunto de processos empregues na investigação e na
demonstração da verdade”.

3.1. Descrição dos Procedimentos Metodológicos e Seu Enquadramento Conceptual

Com vista a garantir a materialização dos objectivos pretendidos no presente estudo,


recorreremos a abordagem qualitativa, tal facto prende-se aopelo facto de pesquisa qualitativa
esclarecer que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo
indissociável entre o mundo objectivo e a subjectividade do sujeito que não pode ser
traduzido em números. A interpretação dos fenómenos e a atribuição de significados são
básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas
estatísticas. O ambiente natural é a fonte directa para colecta de dados e o pesquisador é o
instrumento-chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados
indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem, Silva e
Menezes, (2001).

Desta feita, para o desenvolvimento da presente pesquisa foi adoptado essencialmente o


método qualitativo, porém, com recurso, em alguma medida, às técnicas da pesquisa
quantitativa, na interpretação de alguns dados. Todos os dados foram colectados com recurso
exclusivo às técnicas de metodologia qualitativa. Durante a análise e interpretação dos dados,
além das técnicas qualitativas, foram igualmente empregues algumas técnicas quantitativas.
Uma vez que uma especial atenção no trabalho foi atribuída ao método qualitativo,
descrevemos a seguir, de forma detalhada em que consiste o método.

Segundo Strauss e Corbin (2009), a pesquisa qualitativa é aqueles cujos resultados não são
alcançados através de procedimentos que envolvem a estatística ou outros métodos de
quantificação. Por sua vez, Denzin & Lincoln (2006, p. 23) defendem que a palavra
"qualitativa sugere necessariamente a qualidade das entidades envolvidas sobre os processos e
os significados que não podem ser analisados ou medidos por meio de quantidade, volume,
intensidade ou frequência".

Os pesquisadores qualitativos ressaltam a natureza socialmente construída da realidade, a


íntima relação entre o pesquisador e o que é estudado, e as limitações situacionais que
influenciam a investigação. Esses pesquisadores enfatizam a natureza repleta de valores de
investigação. Buscam soluções para as questões que realçam o modo como a experiência
social é criada e adquire significado (Denzin & Lincoln. p. 23).

A pesquisa qualitativa possui três componentes principais: primeiro: os dados são colectados
de fontes como entrevistas, documentos, registos e filmes; segundo: para a interpretação e a
organização dos dados, os pesquisadores usam como procedimentos, a conceptualização e
redacção dos dados, elaboração de categorias de análise, relacionando-as através de uma série
de declarações preposicionais e terceiros: os relatórios são escritos e verbais (Strauss &
Corbin, 2008).

Quanto aos objectivos o presente estudo, é de caracter descritivo e explicativo, segundo (Silva
e Menezes p. 21) a pesquisa descritiva visa descrever as características de determinada
população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis e a Pesquisa
Explicativa visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos
fenômenos.

Estes tipos de pesquisa serviram como a base de abordagem do presente estudo uma vez que a
complementaridade das duas pesquisas possibilitou com que houvesse uma análise descritiva
da atuação do SENAMI para perceber as causas que estão em volta do fenômeno do crime
Tráfico de Pessoas e por sua vez explicar os modus operandus dos infractores.

3.2. População Alvo e Amostragem

3.2.1. Definição da População

Segundo Freixo (2010, p.16) população é uma “colecção de elementos que partilham
características comuns e é delimitada por critérios de seleção destes elementos”.

Para este estudo a população alvo é composta pelos agentes do SENAMI afectos no Posto de
Travessia de Ressano Garcia na Província de Maputo.

3.2.2. Definição da Amostra

Segundo Rudio (1997, p. 50), “uma pesquisa, geralmente não é feita com todos os elementos
que compõem uma população, costuma-se neste caso seleccionar uma parte representativa
dela, que se vai chamar amostra”.

Para Gil (1999, p. 109), existem duas grandes divisões no processo de amostragem que são: a
amostragem probabilística e amostragem não-probabilística.
No presente estudo, usou-se a amostragem não probabilística intencional que segundo Gil
(1999, p.111), este tipo de “amostra parte do princípio de que as pessoas a entrevistar irão nos
dar informação necessária”.

3.2.3. Descrição da Amostra

Para o presente estudo a amostra foi composta por um total de 20 elementos, que são
funcionários do SENAMI no posto de travessia de Ressano Garcia Província de Maputo, a
destacar o colectivo de direcção do posto constituírem a espinha dorsal desta subunidade e
julgou-se o facto destes serem detentores de informações essências para sustentação da nossa
pesquisa, 3 três chefes de pelotões, e 15 guardas patrulheiros pois estes lidam-se directamente
com a realidade do terreno

Tabela Ilustrativa das características da amostra.

Nº dos Nº dos
Ordem Designação Grupo
entrevistados inqueridos
Chefe do Posto de Travessia de
1º Ressano Garcia e o seu respectivo A.1 e A.2 02 0
Chefe de Operações
Chefes das Pelotões Posto de B1, B.2 e
2º 03 0
Travessia de Ressano Garcia B.3.
3º Patrulheiros C. 0 15
TOTAL 5 15

3.33. Técnicas e Instrumentos de Recolha de Dados

3.3.1. Técnicas de Recolha de Dados

As técnicas de colecta de dados correspondem a um conjunto de regras ou processos


utilizados por uma ciência, ou seja, corresponde à parte prática da colecta de dados (Lakatos e
Marconi, 2001). Para a materialização da presente pesquisa recorremos a pesquisa
bibliográfica, a pesquisa documental, a entrevista e o questionário.

No presente estudo serão empregues as seguintes técnicas para a recolha de dados: a pesquisa
documental, a pesquisa bibliográfica, entrevista e o questionário.
3.3.2. Pesquisa Bibliográfica
Para Lakatos e Marconi (2001 p.183), a pesquisa bibliográfica,

abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema estudado, desde publicações
avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, materiais
cartográficos, etc. (...) e sua finalidade é colocar o pesquisador em contacto directo com tudo
o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto.

Para Ruiz (2008, p. 57), pesquisa bibliográfica é

“O conjunto das produções escritas para esclarecer as fontes, para divulgá-las, para analisá-las
para refutá-las ou para estabelecê-las”. Esta técnica consistiu na recolha de dados em diversas
fontes secundárias como artigos científicos, estudos feitos livros, etc. relacionados com o
tema e que serviram de base para clarificar o problema em estudo e delinear o quadro teórico
desta pesquisa.

3.3.3. Pesquisa Documental

Para Marconi e Lakatos (2001, p. 43), “a pesquisa documental tem como características a
recolha de dados e restringe-se a documentos escritos”. Esta técnica apresentou-se útil na
busca de informação nos documentos primários tais como: relatórios, jornais, registos de
ocorrências, estatísticas que são elaborados pelo SENAMI para sistematizar as suas
informações.

3.3.4. Entrevista

Gil (2008, p. 109), define entrevista como a “técnica em que o investigador se apresenta
frente ao investigado e lhe formula perguntas, com o objectivo de obtenção dos dados que
interessam à investigação”. A entrevista é, portanto, uma forma de interacção social. Mais
especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca colectar
dados e a outra se apresenta como fonte de informação.

E para materialização do trabalho escolhemos a entrevista semi-estruturada, pois, Duarte e


Minnayo (cit.in Neves, 2007, p.63), considera como a “aquela que enfoca num tema
específico que permite ao entrevistado a falar livremente do assunto sob orientação do
entrevistador que acompanha o desenrolar da entrevista, possibilitando a colecta de
informações objectivas e subjectiva embutida em valores, atitudes e opiniões”.
A aposta na entrevista semi-estruturada, deveu-se ao facto de esta permitir ao entrevistador
fazer indagações de acordo com o desenrolar da entrevista, possibilitando a colecta de
informações objectivas bem como captar a subjetividade embutida em valores, atitudes e
opiniões.

3.3.4. Questionário

Nesta pesquisa o uso do questionário permitirá recolher junto dos agentes do SENAMI não
abrangidos nas entrevistas. O questionário foi uma série ordenada de perguntas que foram
respondidas por escrito e na ausência do pesquisador. Para efeitos do presente estudo
recorremos ao questionário aberto.

Neves e Domingues (2007), afirmam que o questionário pode ser aberto quando, elabora se
uma série ordenada de perguntas a serem respondidas por escrito pelo informante, onde este é
livre, isto é, o informante escreve o que desejar sobre o assunto em pauta sem nenhuma
espécie de restrição do pesquisador.

3.3.5. Instrumentos de Recolha de Dados

Coutinho (2011), descreve instrumento como conjunto de operações para chegar a um


determinado resultado em investigação (...), é considerado um objecto tangível ou (palpável)
utilizado nas diversas técnicas para obter os dados caracterizada como procedimento
operatório.

Para o presente trabalho de pesquisa foram utilizados os seguintes instrumentos para a recolha
de dados: guião de entrevista e o inquérito por questionário.

3.3.6. Guião de Entrevista

Segundo Gil (1999, p.117), “O guião de entrevista permite que o investigador se apresente
defronte do investigado e lhe formula perguntas, com objectivo de obtenção dos dados que
interessam a investigação”. O guião de entrevista será administrado aos agentes do SENAMI
contemplados na amostra e que ocupam cargos de direção e chefia por disporem de
informação considerada como classificada e fulcral para efeitos do presente estudo.

3.3.7. Guião de Questionário Aberto

O inquérito é uma técnica de investigação que permite a recolha de informação directamente


de um interveniente na investigação através de um conjunto de questões organizadas segundo
uma determinada ordem. Estas, podem ser apresentadas ao respondente de forma escrita ou
oral. É uma das técnicas mais utilizadas, pois permite obter informação, sobre determinado
fenómeno, através da formulação de questões que reflectem atitudes, opiniões, percepções,
interesses e comportamentos de um conjunto de indivíduos (Bardin, 2009).

Para efeitos do presente estudo o inquérito por questionário foi aplicado aos agentes do
SENAMI, que são elementos da amostra e que não foram abrangidos nas entrevistas.

3.3.8. Questões éticas da pesquisa

Para a realização da pesquisa, observou-se as questões éticas sobretudo na colecta de dados de


modo que não haja receio por parte dos inqueridos ou mesmo entrevistados dai que teremos
maior atenção a privacidade para com todos os elementos da amostra, fez-se um requerimento
de pedido de autorização para a colecta de dados para estudo ao Departamento de Ensino e
Aprendizagem da ACIPOL e na colecta e análise de dados haverá codificação de todos os
elementos para garantir a privacidade dos mesmos.

3.3.9. Limitações do estudo


Dentre vários obstáculos enfrentados no processo de elaboração do presente estudo,
apresentaram-se como principais dificuldades os seguintes:

 Constante indisponibilidade por parte dos agentes identificados para fazer parte do
Estudo;
 Dificuldades por parte de alguns membros em responder as questões atinentes ao
estudo;
 Demora por parte do DEA, no processo de tramitação das credenciais para obtenção
de dados;
 Tempo limitado para desenvolver a pesquisa, visto que o período da elaboração da
monografia coincide com o estágio pré-profissional;
 Desconfiança por parte de alguns membros, alegando que o estudo tem orientações de
cunho político;
 Dificuldade de acesso de informação classificada, relacionada ao fenómeno em
estudo.
IV-Capítulo Análise e Interpretação de Dados

No presente capítulo objectivámos apresentar os resultados obtidos através da entrevista e do


guião de questionário aberto administrado aos agentes do Serviço Nacional de Migração,
afectos no posto fronteiriço de Ressano Garcia-Província de Maputo. Fazendo-se uma
triangulação com os estudos de alguns autores citada teoria referenciados nesta pesquisa, que
tenham certos elementos considerados sustentadores dos resultados obtidos no âmbito de
colecta de dados.

De aclarar que a triangulação de dados foi uma técnica qualitativa utilizada na análise e
interpretação de dados. Na pesquisa qualitativa, a triangulação de dados para além de
examinar o mesmo fenómeno a partir de várias perspectivas, enriqueceu a nossa
compreensão, pois permitiu a emergência de novas dimensões (Jick, 1979). No presente
trabalho, a triangulação de dados permitiu um cruzamento de informações da pesquisa
documental com as da entrevista para aprofundar algumas questões atinentes ao estudo.

Segundo Gil cit. in Teixeira (2003, p. 191),

Análise tem como objectivo organizar e sumariar os dados de tal forma que possibilitem o fornecimento
de respostas ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem como objectivo a procura
do sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos
anteriormente obtidos.

4.1. Causas do Trafico de Seres Humanos em Particular as Mulheres em Moçambique


Fazendo uma analogia e censura dos argumentos apresentados pela nossa amostra, apontam
como principais causas do tráfico de seres humanos com enfoque nas mulheres para fins de
exploração sexual as seguintes: fome, pobreza, miséria, baixo índice de desenvolvimento
humano ou baixo grau de escolaridade, com maior incidência nas zonas em desenvolvimento,
a recompensa financeira que este crime oferece aos seus praticantes e a defeituosa cooperação
entre as autoridades locais e as instituições de segurança.

EntrevistadoA.1

Perguntado sobre as possíveis causas determinantes para o Trafico de seres humanos em particular
mulheres este respondeu nos seguintes termos: julgo que são várias as causas que estão por de trás
do crime do tráfico de mulheres em Moçambique, mas tenho a destacar a pobreza, a fome, a
miséria e o fraco índice de desenvolvimento humano, principalmente nas zonas recôndidas, onde os
canais de difusão de informação ainda não conseguem alcançar a maioria. [Entrevista
administrada ao agente do SENAMI, afecto no posto de travessia de Ressano Garcia Provincia de
Maputo no dia 11/10/2023, pelas 08:30]

Entrevistado A2.

Este personagem afirmou que a pobreza afigura-se como principal causa que possibilita o tráfico
de Mulheres em Moçambique, este justifica o seu ponto de vista com base nas estatísticas
apresentadas pela UNICEF, 2021, que aponta os países em via de desenvolvimento como
principais celeiros dos traficantes de seres humanos com maior enfoque para mulheres, sejam elas
maiores assim como menores de idade. [Entrevista administrada ao agente do SENAMI, afecto no
posto de travessia de Ressano Garcia Provincia de Maputo no dia 11/10/2023, pelas 10:30]

O entrevistado B.2 quando direccionado a mesma questão respondeu nos seguintes termos:

Este, parte do pressuposto que todo crime que ocorre no meio da sociedade é motivado, por uma
expectativa de obter um ganho, com isso o criminoso age movido pelos ganhos financeiros que
este tipo legal do crime fornece, sustenta-se ainda em alguns estudos realizados sobre este
fenómeno que é apontado como um dos crimes mais rentáveis no mundo, destaca ainda a
fragilidade das instituições de segurança, afirmando que a polícia deve envidar esforços para
estancar este tipo legal do crime assola o país. [Entrevista administrada ao agente do SENAMI,
oficial subalterno afecto no posto de travessia de Ressano Garcia Provincia de Maputo no dia
11/10/2023, pelas 08:50]

Quanto aos elementos do grupo C, na sua maioria afirmou que uma das principais causas do
trafico de mulheres é a miséria, e os traficantes aproveitam se dessa fragilidade para enganar
as pessoas, prometendo um emprego melhor que pode mudar as condições de vida das
vitimas, os praticantes desses actos até tem a ousadia de se introduzir na família da vitima
enganar os seus parentes, inclusive as estruturas do bairro, abrindo um espaço livre para o
criminoso agir, um desses em jeito de brincadeira apontou um "marandzismo" um termo de
língua local para designar mulheres interesseiras como uma das causas que facilita os
traficantes de pessoas em particular mulheres.

Tendo em conta os pronunciamentos dos entrevistados que na sua maioria apontaram a


desigualdade social, a pobreza, fome, a procura por melhores condições de vida no exterior
como sendo as causas que de certa forma ditam ou propiciam a ocorrência deste tipo legal do
crime, de referir que uma parte destes também apontou a defeituosa colaboração das
estruturas comunitárias com as instituições de segurança na denuncia de casos que se
afiguram anómalas no seio da comunidade, que quando denunciados poderia possibilitar a
pronta intervenção da policia de modo a frustrar o crime, em jeito de brincadeira um dos
elementos deste grupo, apontou o marandzismo ou melhor algumas são marandzas (um termo
da língua local usado para designar mulheres interesseiras), como uma possível causa que
atrai as mulheres para a vitimização pelos traficantes de seres humanos. Estes
pronunciamentos certamente corroboram com a teoria da desigualdade social de Simmel e
Facult, uma vez que estes no desenvolvimento da sua teoria concluíram que as pessoas mais
desfavorecidas financeiramente são as mais vulneráveis em diversas circunstâncias, como se
pode notar as vítimas deste TLC, são movidas pela promessa de emprego, que permitir-lhes-á
combater a miséria, o desemprego, a fome, que possivelmente poderá melhorar as suas
condições de vida.

Sobre o mesmo pressuposto uma parte da amostra aponta a fraca capacidade das instituições
de segurança na prevenção deste tipo legal do crime, os ganhos financeiros que este tipo legal
do crime oferece aos seus praticantes quando bem praticado de certa forma, a estes
pronunciamentos, ganham uma sustentação com base na teoria da escolha racional Cornish e
Clarke (1987), pois estes no seu estudo sobre as causas que motivam o criminoso a pautar
pelo cometimento do crime chegaram a conclusão de que o criminoso avalia o alvo, o meio e
apercebendo-se da exposição do alvo assim como da fragilidade das instituições de segurança
ou seja, os guardiões não estão em condições de inibi-lo a praticar o crime e este vai agindo
movido pelas vantagens ou seja os lucros do crime.

4.2. Modus Operandus dos Traficantes de Seres Humanos em Particular de Mulheres


Para Fins de Exploração Sexual
De um modo geral a nossa amostra, quando questionada sobre os modus operandus dos
criminosos no tráfico de seres humanos em particular as mulheres para fins de exploração
sexual, estes apontaram as seguintes: Intimidação, Promessas de prosseguimento de estudos,
Promessas de viagens e passeios, Promessas de melhores condições de vida (alimentação,
habitação e vestuário), Promessas de casamento, Promessas de diversão em locais de luxo, e
Promessas de emprego. Estas observações não fogem daquilo que foi apurado com o estudo
elaborado pelo ISRI (2014), tráfico de pessoas em Moçambique, em particular de mulheres,
pois a maioria dos elementos da amostra apontou esses truques como sendo os mais usados
pelos traficantes quando pretendem atrair as suas vítimas.

Quando perguntado sobre os modus operandus dos traficantes de seres humanos em particular
de mulheres o agente B1 respondeu nos seguintes termo:

Um dos principais golpes usado pelos traficantes é a promessa de melhores condições de vida,
emprego, prossecução com os estudos, passeios em locais diferentes e luxuosos, promessa de
comprar bens luxuosos e de qualidade na vizinha África do Sul, á isso poucas mulheres resistem,
acabando por cair na rede do tráfico. [Entrevista administrada ao agente do SENAMI, afecto no
posto de travessia de Ressano Garcia Provincia de Maputo no dia 11/10/2023, pelas 08:30])

Sobre o mesmo ponto o agente A.2 disse o seguinte:

Primeiro gostaria de avançar que o ser humano pela natureza, gosta de aventuras coisas novas e uma
vida estável, independentemente da sua condição social, dai que qualquer pessoa esta disposta a
arriscar para ver a sua vida melhorada. É dai onde entram em cena os criminosos, com conhecimento
das nossas fragilidades, a fraca escolaridade, a pobreza e a miséria que em muitas partes do nosso
país verifica-se o criminoso, chega aparece como solução dos nossos problemas, prometendo um
emprego na África do Sul com um bom salário, para melhorar a vida da vitima, em casos mais
extremos os traficantes revestem se de sedutores sem limites fingem amar a moça, promete-lhe
casamento e esta ganha confiança no seu suposto namorado ou futuro marido e agendam uma viagem
e assim vai se consumando o crime quase que sem sinais de maldade, chegados lá é quando o
criminoso retira a capa e revela a sua real imagem e intenção para com a moça. [Entrevista
administrada ao agente do SENAMI, afecto no posto de travessia de Ressano Garcia Provincia de
Maputo no dia 09/10/2023, pelas 08:30]

O agente A.1, respondendo a mesma questão afirmou:

Considero que sejam várias as técnicas que os praticantes deste TLC, usam podemos destacar a questão
da intimidação das vítimas são intimidadas e por medo não contam praninguém abrindo espaço
para a consumação do facto, mas muita das vezes é a promessa de emprego e de uma vida melhor
usado como o truque de atracção as mulheres para acetarem viajar e consequentemente virarem
vitimas dos traficantes.

Fazendo uma análise dos pronunciamentos dos nossos intervenientes nota se uma certa
concordância, quando apresentam os modus operandus dos praticantes deste TLC, pois
quase todos concordam na ideia de que, as vitimas são aliciadas com falsas promessas de
emprego, melhores condições de vida, passeios em lugares bonitos, continuidade com os
estudos. Com isso podemos assumir que este tipo de crime tem como principais vítimas
pessoas maioritariamente consideradas pobres ou de baixa renda, visto que dada a sua
condição vulnerável, a falta de alimentos e da fonte para a sua subsistência qualquer que
lhes prometer vida melhorada, estes sentem se na obrigação de aceitarem. Certamente a
condição vulnerável das vítimas pode ser explicada pela teoria da desigualdade social
desenvolvida pelos estudiosos Simmel, Foucault, Dharendorf.

4.3. Mecanismos Adoptados Pelo SENAMI na Prevenção do Crime de Tráfico de Seres


Humanos em Particular Mulheres Para Fins de Exploração Sexual
Os agentes do SENAMI entrevistados durante a pesquisa avançam que de modo a prevenir o
fenómeno de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual afirmaram que o Estado
moçambicano tem criado e ratificado vários dispositivos legaisde ordem internacional assim
como de cunho regional virados para a segurança cidadã visando promover direitos humanos,
ou seja agora a segurança não pode ser vista apenas no contexto militar ou belicista, mas sim
deve ser extensiva criando condições para garantir um bem-estar social entre os cidadãos ou
seja as instituições de segurança do Estado não centram as suas preocupações em combater ou
prevenir actos guerras apenas, mas sim os esforços são centrados na garantia da segurança do
próprio ser humano. Esta observação nos remete a ideia anteriormente defendida pelo autor
Hough (2004), quando apresentava a Teoria Realista das Relações Internacionais onde
defendia que o crime organizado e transnacional representa uma ameaça não-militar
proeminente contra a integridade física e contra a estabilidade emocional dos indivíduos. As
redes do crime organizado constituem, também, uma ameaça contra as instituições do Estado,
pois minam a sua estabilidade e, por vezes, a capacidade dos Governos em proteger a
integridade física e a dignidade dos cidadãos

No contexto operativo o SENAMI tem recorrido a: fiscalização da linha de fronteira,


solicitação da documentação aos cidadãos e identificação do destino e do propósito da sua
deslocação, palestras na comunidade, redes sociais para a difusão da informação, instauração
de processos crimes em casos de flagrante do crime, encaminhamento do processo ao
ministério público e a devolução das vitimas as suas zonas de origem.

Agente A1 esclarecendo sobre os mecanismos adoptados pelo SENAMI, na prevenção ao


fenómeno do tráfico de pessoas em particular mulheres este respondeu:

Posso considerar que são vários os mecanismos que temos implementado ou adoptado como
SENAMI, no Posto Fronteiriço de Ressano Garcia de modo, a prevenir o tráfico de seres
humanos para fins de exploração sexual, damos primazia a fiscalização renhida de todas
viaturas que entram e saem do território nacional, onde perguntamos a identidade dos
indivíduos, a proveniência, o destino, os motivos da sua deslocação com quem estão e por fim
efectuamos o registo.Pesa embora não sejam suficientes na minha opinião, devido a dificuldades
de meios, desde humanos até os materiais, também posso assumir que não dispomos de pessoas
com uma inteligência policial para fazer face a este fenómeno que preocupa até países do
primeiro mundo. [Entrevista administrada ao agente do SENAMI, afecto no posto de travessia
de Ressano Garcia Provincia de Maputo no dia 09/10/2023, pelas 09:30]

Por sua vez o entrevistado A.2: perguntado sobre que mecanismos o SENAMI tem adoptado
de modo a prevenir o trafico de seres humanos com maior incidência nas mulheres para fins
de exploração sexual, através da fronteira de Ressano Garcia, este respondeu nos seguintes
termos:

A fiscalização da linha fronteiriça como é sabido, queé nossa atribuição especifica, temos
recorrido esta técnica de modo a inibir a entrada e saída de pessoas de forma ilegal no
território nacional, outrossim são as palestras de sensibilização na comunidade sobre as
implicações e as consequências de aceitar propostas de trabalhar no exterior com pessoas
estranhas, fazemos questão de apelar os pais a recusarem-se de deixar os seus filhos/as, viajar
com pessoas desconhecidas.

Na sua percepção o entrevistado B.2 quando questionado sobre este assunto disse o seguinte:

O fenómeno do trafico de pessoas, constitui uma das maiores ameaças desde os tempos remotos,
de tal maneira que podemos vincar o tráfico de escravos para as grandes plantações no
ocidente, mas o actual modus operandus dos traficantes pois como forças de defesa e segurança
responsáveis pela garantia do bem-estar social ou humana, coloca-nos numa situação
desafiadora pois, esse tipo do crime tem vindo a sofisticar as suas formas de actuação, mas
esforços tem sido empreendidos, em todas as facetas a partir da própria comunidade, os órgãos
de comunicação social, as redes sociais tem-nos ajudado fortemente na divulgação de
informação sobre formas de prevenção ao trafico de seres humanos.

Quando flagramos, uma situação de tráfico de seres humanos neste posto fronteiriço assim
como em qualquer outro neste país, um dos primeiros procedimentos adoptados por nós é
devolver as vitimas a custódia familiar e em seguida instauramos um processo-crime contra os
implicados, e encaminhamos as autoridades que compete sancionar aos infractores da lei.

Fora isso temos efectuado diligências, de forma conjunta com o Serviço Nacional de
Investigação Criminal (SERNIC), para identificar os possíveis mandantes do crime, porque
assumimos que este fenómeno pode ser considerado como um crime organizado, para o seu
combate e prevenção requere o desmantelamento das suas raízes. [Entrevista administrada ao
agente do SENAMI, afecto no posto de travessia de Ressano Garcia Provincia de Maputo no dia
11/10/2023, pelas 08:30]

Quando nos dirigimosaos nossos inquiridos sobre que mecanismos o SENAMI tem adoptado
para a prevenção deste TLC, quase na sua maioria asseguram que temos operacionalizado
várias, acções de forma a prevenir o tráfico de pessoas com maior enfoque nas mulheres para
fins de exploração sexual, nos últimos anos temos em primeiro lugar privilegiado as medidas
de polícia (fiscalização pedido de documentos etc..), palestras de sensibilização junto com a
população, onde temos como principal, objectivo a necessidade incentivar esta, a comunicar
as autoridades sobre qualquer movimento ou circulação de pessoas estranhas no seio da
comunidade

Fazendo uma analogia dos pronunciamentos da nossa amostra, estes quase que na sua maioria
asseguram que várias medidas têm sido tomados pelo SENAMI como mecanismo para
prevenir o fenómeno do tráfico de pessoas através da linha de fronteira de Ressano Garcia
desde as medidas de polícia, o uso dos meios de comunicação social na propagação de formas
de se prevenir da vitimização diante dos traficantes de seres humanos. Quando as medidas de
polícia são observadas, os agentes do SENAMI se fazem a linha fronteiriça, a sua presença
certamente diminui as possibilidades de que o crime seja consumado, outrossim quando a
nossa amostra aborda a questão de palestras de sensibilização na comunidade, isso vai munir
os cidadãos num de mecanismos de se auto proteger diante dos malfeitores, isso de certa
forma diminui as possibilidades dos traficantes conseguirem materializar os seus intentos de
forma fácil, desta feita essa percepção vai ao encontro do explanado na teoria da escolha
racional pelos autores Cornish e Clarke (1987), quando estes defendem que o crime so pode
acontecer havendo um alvo fácil de alcançar, neste caso em concreto seria o cidadão não
informado da perigosidade de promessas de vida melhor no exterior, na mesma senda a
questão da ostensividade policial na fiscalização da linha de fronteira inibe com que o crime
se consuma, ficando assim aprovada a ideia de que o guardião é um elemento importante para
a prevenção de qualquer tipo de crime.

Pesa embora todos tenham afirmado que medidas tem sido tomadas para fazer face este
fenómeno o agente C3 trás alguns elementos merecedores de atenção, quando julga que essas
medidas não são suficientes para estancar este mal, apontando a falta de meios, humanos
capacitados de inteligência policial e materiais preparados para responder a demanda do
crime. Esses pronunciamentos podem ser considerados como uma explicação da continuidade
desse TLC, já que o criminoso é um ser que aproveita-se das fragilidades de cada situação
desde o meio, guardião e da vítima para materializar o crime, conforme desta feita a teoria da
escolha racional Cornish e Clarke (1987), apresenta se como a que melhor explica a
ocorrência deste crime, uma vez que advoga queo criminoso para agir faz um balanço das
possibilidades de agir e sair ileso da sua incursão.
V-Conclusão e Sugestões
A pesquisa subordinada ao tema, Actuação do SENAMI na Prevenção ao crime de tráfico de
mulheres para exploração sexual: Estudo de caso da Fronteira de Ressano Garcia na Província
de Maputo: período de 2020-2022, materializado com o pressuposto de Compreender
actuação do SENAMI na prevenção do crime de tráfico de mulheres para exploração sexual
na fronteira de Ressano Garcia, visando responder a pergunta de partida: De que maneira o
SENAMI Actua na Prevenção ao Crime de Tráfico de mulheres para exploração sexual na
Fronteira de Ressano Garcia?

Tendo por base os conhecimentos adquiridos com o levantamento de informações através da


abordagem qualitativa na aplicação dos instrumentos de recolha de dados, concluiu-se como
principais causas do tráfico de seres humanos com enfoque nas mulheres para fins de
exploração sexual as seguintes: fome, pobreza, miséria, baixo índice de desenvolvimento
humano ou baixo grau de escolaridade, com maior incidência nas zonas em desenvolvimento,
a recompensa financeira que este crime oferece aos seus praticantes e a defeituosa cooperação
entre as autoridades locais e as instituições de segurança.

Na mesma ordem a pesquisa procurou identificar os modus operandus dos praticantes do


crime de tráfico de pessoas com enfoque nas mulheres para fins de exploração sexual, onde
apurou-se que, estes têm recorrido a intimidação, promessas de prosseguimento de estudos;
promessas de viagens e passeios; promessas de melhores condições de vida (alimentação,
habitação e vestuário); promessas de casamento; promessas de diversão em locais de luxo; e
promessas de emprego.

No âmbito da prevenção dos actos de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual,
constatou-se que o SENAMI, tem adoptado diversos mecanismos a destaca: fiscalização da
linha de fronteira, solicitação da documentação aos cidadãos e identificação do destino e do
propósito da sua deslocação, palestras na comunidade, redes sociais para a difusão da
informação, instauração de processos crimes em casos de flagrante do crime,
encaminhamento do processo ao ministério publico e a devolução das vitimas as suas zonas
de origem.
5.1. Sugestões
Apresentadas as ilações em relação ao estudo, julgamos oportuno propor ao SENAMI a nível
do Posto de Travessia de Ressano Garcia as seguintes sugestões:

 Reforçar os mecanismos de controlo na linha fronteiriça para prevenir o tráfico de


pessoas;
 Melhorar a cooperação com a comunidade de modo que esta denuncie todos actos
conexos a tráfico de mulheres;
 Difundir com intensidade informações dê a conhecer sobre os riscos de viajar para o
exterior com pessoas estranhas;
 O SENAMI pode trabalhar para fortalecer as leis relacionadas ao trafico de mulheres,
garantindo ordens rigorosas para os culpados, desencorajando assim essa pratica;
 Colaborar com outros países e organizações internacionais para combater o tráfico de
mulheres de forma mais eficaz, compartilhando informações e coordenando esforços;
 Melhorar a capacidade de investigação e aplicação da lei para identificar e processar
os responsáveis pelo trafico de mulheres garantindo que a justiça seja feita;
 Reforçar a segurança nas fronteiras para dificultar a entrada ilegal de pessoas
envolvidas no trafico, implementando medidas mais rigorosas de controle e
identificação.
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Legislação

 Constituição da República de Moçambique 2018;


 Lei n.º 8/2022 de 21 de Junho;
 Lei nº6/2008, de 9 de Junho (Lei de Prevenção e Combate ao Tráfico de Seres
Humanos, Especialmente Mulheres e Crianças);
 Lei n. 16/2013, de 12 de agosto. Lei da Polícia da República de Moçambique.

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