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Bad Prince Livro Unico Zoe X 084903
Bad Prince Livro Unico Zoe X 084903
BAD PRINCE
1ª Edição
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ouça caos
então me olhe nos olhos, diga-me o que você vê. paraíso perfeito se
desfazendo. eu queria poder escapar. eu não quero fingir. eu queria
poder apagar, fazer seu coração acreditar, mas eu sou um péssimo
mentiroso.
bad liar, imagine dragons.
Eu voltei, Red.
nada é divertido, não como antes. você não me deixa bem, não
mais. costumava tomar um, agora é preciso quatro. você não me
deixa bem, não mais.
you don’t get me high anymore,
three days grace.
Era ela.
Soube no instante em que vi as chamas refletidas nos olhos
verdes assustados me encarando, em choque. Inevitavelmente, a
segui como um caçador que reconhece sua presa, que está pronto
para acertá-la. Mas Scarlet se recuperou mais rápido do que deveria
e fiquei parado na porta, vendo sua corrida desengonçada para
longe.
Quis rir.
— Não adianta correr quando não há onde se esconder,
desgraçada — falei tão baixo quanto um murmúrio e fiquei
encarando o final do corredor por onde ela havia sumido.
— Ei, o que tá fazendo? — Thomaz colocou um dos braços
sobre o meu ombro e olhou na mesma direção que eu. — Quem
era?
— Quem você acha? — Meu meio-sorriso o fez abrir a boca.
— O que Scarlet faria aqui, tão tarde? Ela odeia ser notada.
— Ela sabia que eu vinha? — perguntei para ele, voltando para
dentro.
— Não. — Meu melhor amigo negou com a cabeça. — Fiz
questão de guardar esse segredo de todos, até de Bella. Inclusive,
você vai ficar puto comigo se eu disser que fodi com ela algumas
vezes durante esses anos que esteve longe?
Meus olhos foram do garoto de cabelos escuros para a morena
de cabelos curtos, maquiagem pesada e corpo esculpido.
— Nenhum pouco. — Eu não poderia me importar menos.
Roubei um cigarro do bolso de Thomaz, o acendi, traguei, e
ainda olhando para o escuro, soltei a fumaça para cima, tombando
um pouco a cabeça.
— Que bom, porque tenho certeza de que ela tem algo para te
dar de boas-vindas, e isso vai além de uma boa chupada.
Ele se afastou para comandar a mudança de lugar da festa
para a sala da fraternidade, e aproveitei o momento sozinho para
mandar duas pequenas mensagens no número que eu havia
conseguido fuçando a agenda do meu pai quando decidimos que eu
viria para essa merda de lugar.
se você não consegue lidar com um coração como o meu, não perca
seu tempo comigo. se você não está disposto a sangrar, não, oh. se
você não consegue lidar com os enforcamentos, as mordidas, o amor, o
sufocamento até você não aguentar mais, não aguentar mais, vá para
casa.
high school sweethearts, melanie
martinez
É a oportunidade perfeita.
Meu coração pulou no peito.
Estamos sempre
dispostos. ;)
Estamos te esperando
no corredor dos Viper.
Susan me mataria.
Isaac ficaria bravo com ele.
Mas eu não teria feito diferente, e por seu meio-sorriso ao sair
de mãos dadas comigo, eu sabia que ele também não.
e aqui estamos, nossa última noite vivos, e à medida que a Terra vai
queimando. oh, garoto, é com você que eu me deito enquanto a
bomba atômica se aproxima. oh, garoto, é você com quem assisto
TV à medida que, à medida que o mundo desmorona.
as the world caves in, sarah
cothran.
Foi como estar presa dentro de uma onda. Minha cabeça foi
jogada de um lado para o outro algumas vezes e quando abri os
olhos, sabia que queria vomitar.
Conrad foi rápido, abriu a porta do carro, segurou meu cabelo
no alto da cabeça e me manteve segura até toda a mistura de
bebida e biscoitos sair do meu estômago.
— Aqui, toma — ele me ofereceu papel e, morta de vergonha,
limpei minha boca depois de cuspir, joguei o papel no chão e bati a
porta, apoiando a cabeça com cuidado no banco, morrendo de dor.
— Que merda aconteceu? — perguntei de olhos fechados.
— Sinto muito — podia saber que ele sorria pelo seu tom de
voz —, mas não vou te contar.
Forcei um pouquinho e abri os olhos, vendo que não
estávamos na praia.
— Onde estamos?
— No estacionamento da farmácia.
Minha careta o fez rir.
— Não é engraçado.
— Ah, é. É sim, agora espere aqui um pouco que vou atrás de
remédio, mas antes, preciso elogiar. Adorei os desenhos que você
fez de mim, me faz parecer melhor do que sou.
— O quê? — Ergui a cabeça e arregalei os olhos com tudo, mas
ele já tinha descido.
O mundo girou, me larguei sobre o banco de novo, gemendo
de dor e vergonha, e fiz o meu melhor para não vomitar antes dele
voltar.
Quando ele o fez, me fingi de boba e aceitei o remédio, a água
e mais alguma coisa de gosto meio amargo.
— É bom para o fígado — ele avisou e não discuti.
Conrad com certeza tinha um histórico de bebedeira maior que
o meu. Ele sabia do que falava.
Fiquei cinco minutos quieta até o remédio começar a fazer
efeito e quando abri os olhos, a primeira coisa que fiz foi roubar uma
bala de menta do pacotinho que ele tinha no porta-copos do carro.
— Está melhor?
— Não muito.
— Espere até amanhã…
— Isso não ajuda.
— Eu sei. — Ele deu partida.
Ergui as mãos para colocá-las sobre o rosto e notei estar com
uma blusa de moletom que não era minha.
— Que horas eu vesti isso?
— Ah, você estava com frio, então te vesti.
A farmácia era na rua de cima de casa, então me ajeitei para
tirar a blusa e devolvê-la, mas com a mão na minha perna, Conrad
me impediu.
— Não precisa, depois você me devolve.
— Ok.
Estava constrangida demais para continuar qualquer conversa
e me esforcei mais do que nunca naqueles minutos para tentar
lembrar o que fiz nas últimas horas. Os flashes vinham rápido, mas
tão inconsistentes que eu não sabia se era real ou imaginação.
Quando ele estacionou em frente à minha casa, eu não tive
coragem de abrir a porta e descer. Encarei o porta-luvas do carro e
suspirei.
— Conrad, eu não sei o que me deu, não sou de fazer isso…
Me desculpe.
— Eu já disse isso mil vezes, mas vou repetir, não foi culpa sua.
Só me preocupa que você tenha se sentido pressionada, e acho que
você precisa me fazer uma promessa agora. — Encarei-o curiosa e
ele continuou: — A de nunca mais fazer nada se sentindo forçada,
não importa se isso for comigo, seu avô, sua irmã ou outras
pessoas. Você pode, e deve, falar não, ok?
— Ok. Eu prometo.
Por um segundo, a vontade de correr para casa foi gigantesca.
Abri a porta, joguei as pernas para fora com cuidado e depois de
fechá-la, quando notei que Conrad ainda estava de olho, voltei para
encará-lo.
— Preciso fazer uma pergunta.
— O que é?
— Somos amigos?
— Acho que sim — ele me respondeu sem entender aonde
queria chegar.
— Então talvez eu não queira ser só sua amiga. — Usei cada
grama de coragem que tinha para ser tão verdadeira e direta, e a
resposta daquilo não podia ser melhor.
Conrad me encarou surpreso, abriu um sorriso que era digno
de outdoor, e me respondeu com os olhos escuros queimando minha
alma:
— Que bom, porque eu também não quero.
Quando me virei para entrar em casa, senti as borboletas no
meu estômago mais vivas do que nunca. Se aquilo realmente fosse
um sonho, eu nunca mais queria acordar.
conrad
você está contando isso da forma como vê, como se a verdade fosse o
que você decide. algumas pessoas vão acreditar e algumas vão ler nas
entrelinhas.
skin, sabrina carpenter
Vendendo trabalhos
esta hora da noite,
Red?
Não é da sua
conta.
eu ainda escuto sua voz no trânsito, nós dois rindo por cima de todo
aquele barulho. deus, eu estou tão triste, sei que terminamos, mas
eu ainda te amo pra caralho, amor.
drivers licence, halocene.
oh, a miséria. todo mundo quer ser meu inimigo. poupe a simpatia,
todo mundo quer ser meu inimigo.
enemy, imagine dragons.
Já temos mais
produto?
Ótimo. Me deixe
informado.
Tá sabendo de hoje?
Vai rolar uma festa
pré-Halloween.
Era Thomaz.
estou paralisado, estou com medo de viver, mas estou com medo de
morrer. e se a vida é dor, então eu enterrei a minha há muito tempo
atrás, mas eu continuo vivo.
paralysed, nf
envenenados até a raiz, qual de nós dois enfim vai sucumbir? somos
uma tragédia anunciada, vender minha alma ainda parece nada.
peço perdão pois prefiro esse caos a um amor mortal.
caos, camaleoa - música feita para
Bad Prince
agora você me pegou porque estou drenado. tento tanto que meu
cérebro está ficando dormente. mais do que eu posso aguentar,
esperando aqui, eu sei que está longe de ser luxúria. muito fodido
para dizer que você é quem está controlando nós dois. por que você
tenta jogar? todas as palavras que eles dizem se alinham. você
aparece quando estou sozinho, quando estou preso nesta zona,
quando estou caindo mais rápido do que respiro.
apareça quando eu estiver preso nesta zona. agora, você me pegou
porque é fraca. eu posso ver como você mudou, sentindo todo o
peso do mundo, nunca pensei que esse fosse o seu destino.
numb, kiiara, pvris & deathbyromy.
quando você esteve aqui não conseguia te olhar nos olhos. você é
como um anjo, sua pele me faz chorar. você flutua como uma pena
em um mundo tão belo. eu queria ser especial, você é especial pra
caralho, mas eu sou uma aberração. eu sou um esquisitão. que
diabos estou fazendo aqui? eu não pertenço a este lugar.
creep, glee cast.
— Isso não se parece com Conrad. Digo, por que é que ele não
me mandou nada? Como é que…
— Garota — o olhar dela no meus quando pegou o celular da
minha mão, gritava sua opinião sobre mim —, se poupe. Se ele não
te mandou uma mensagem é porque…
Então minha ficha caiu.
— Porque ele não se importa.
Ninguém disse nada.
Ninguém mal respirou.
E por isso, acreditei que eles foram capazes de ouvir a
rachadura que surgiu no meu coração se formar.
Não consegui me despedir. Não pude fazer isso.
Meus pés seguiram enquanto meus olhos estavam cegos.
Minha mente nublou. Mil e duzentos pensamentos,
possibilidades e conversas que nunca existiriam surgiram na minha
mente, mas nenhum deles era seguro, ou bom, ou serviu para me
acalmar.
Quando dei por mim, o sino da porta que eu abria anunciou
minha chegada e os olhos claros de Caroline encontraram com os
meus. Não consegui nem mesmo dizer oi.
— O que aconteceu? — perguntei, vendo seu rosto com os
claros sinais de recuperação da agressão.
— Eu não sei também. — Percebi que ela queria chorar. Sua
voz embargou.
A mulher fungou, ajeitou o cabelo e olhou em volta,
confirmando que estávamos sozinhas na loja de conveniência do
posto de gasolina.
— Não posso falar ou ver meu filho sem supervisão. E não
posso tê-lo de volta até ter um canto decente para morar… — A
mulher encarou as próprias mãos, desconfortável, derrotada, em
uma dor que eu nunca pensei ser capaz de entender.
— Você o viu?
— Por quinze minutos, na semana passada — ela admitiu
depois de limpar a garganta.
— Ele está bem?
— Melhor. O pai tem dinheiro para pagar por bons médicos. —
Havia mágoa naquela declaração.
— E quando vai vê-lo de novo? — erguendo a cabeça para me
fitar, Caroline respondeu.
— Amanhã. Às quinze. Quer que eu dê algum recado?
— Não. — Neguei com a cabeça. — Eu vou com você. — Não
era uma pergunta, era um aviso, e eu não dei tempo dela me dizer
que não.
Conrad?
Nada. E você?
Agora?
É. Precisamos
conversar
Estou indo.
Eu não sei por quanto tempo dormi, mas quando acordei com
as batidas violentas na porta, já estava escurecendo.
— Acha que ela está bem? — alguém perguntou.
— Scarlet, se você não abrir, vou entrar. — Reconheci a voz
John e eu dei um pulo, sentando e fazendo tudo girar.
— Espere — falei o mais alto que podia e voltei a fechar os
olhos, tentando me localizar no mundo.
Respirei fundo algumas vezes, esfreguei o rosto e me
espreguicei.
Ao abrir os olhos e ver a bagunça do ambiente, soube
exatamente onde estava. Por que estava. Como estava. E a tristeza
me abraçou.
Sem conseguir me olhar direito no espelho quebrado, sabendo
que estava uma bagunça, prendi o cabelo no alto da cabeça, tentei
tomar mais cuidado onde pisava e me enrolei na colcha da cama.
Aquela era a única possibilidade de atender a porta antes de
invadirem e verem o estado do meu quarto.
Tentando o meu melhor para esconder as marcas que sabia ter,
abri uma fresta da porta e vi os olhos de John mais aflitos do que
nunca sobre mim.
— Você está bem?
— Eu… — Movi um pouco a cabeça, não entendendo o que
acontecia, vendo Maressa ao seu lado. Ambos pareciam muito
preocupados. — Estou. O que aconteceu?
O alívio dele ao ver minha confusão foi imediato.
— Estão dizendo por aí que Conrad te…
— John — eu o interrompi —, não quero falar disso, mas —
desviei o olhar por um segundo, repensando se deveria dar aquela
satisfação, e sabendo que para ele eu realmente precisava, encarei-o
como nunca na vida e completei — tudo foi consensual.
— Tem certeza?
Comprimi os lábios, confirmando com a cabeça.
— Certo. Precisa de algo?
— Não — menti.
Precisava de outra vida, mas ele não queria me dar uma.
— Então, por favor, se arrume e desça. Você é um dos nomes
inscritos para a última prova do torneio.
— Eu? — Fiquei confusa. — Mas não me inscrevi em nada…
— Não, mas eu inscrevi meus três filhos na caça ao tesouro. —
Não era algo negociável. — Te vejo depois.
John saiu andando pelo corredor antes que eu tivesse tempo
de pensar em fechar a porta.
Por sorte, Maressa ficou ali. A mulher de pele negra e grandes
olhos sábios se aproximou da fresta da porta e me perguntou:
— Scarlet, querida?
— Oi… — Minha voz saiu flácida. Eu queria chorar.
— Você precisa de alguma ajuda?
— Não preciso, eu já… — Ela me interrompeu:
— Ajuda feminina, sabe?
— Ah. — Ergui o rosto, entendendo o que ela me oferecia. Abri
um pouco mais a porta para vê-la melhor e confirmei com a cabeça
enquanto a lágrima muda rolava pela minha bochecha.
— Vocês usaram proteção?
— Não. Na hora, eu nem pensei nisso… — Mais uma burrada
para a lista interminável.
— Ah, menina. — Doce como sempre, ela sorriu para mim,
tentando me confortar. — Não se preocupe. Mais tarde, encontro
você com ajuda.
— Certo. Obrigada. — Tentei sorrir de volta. — O que eu devo
vestir?
— Roupas de banho e algo atlético por cima. Vocês vão para a
floresta.
— Ok… E — antes de fechar a porta, precisei perguntar —
quem foi até John? Quem inventou isso?
— Isaac. E eu sinto muito, mas parece que todos estão
comentando.
Meu estômago revirou.
— Obrigada. — A palavra saiu num ruído maldito da minha
boca antes de eu fechar a porta e voltar para a cama, me sentando
sem saber o que fazer.
Eu não podia conversar com Conrad. Não me atrevia ficar
sozinha com ele de novo.
E não queria mais falar com Isaac. Sabia que aquele boato
ganhava vida pela minha traição à sua confiança, mas também tinha
dedo do seu ego quebrado por saber que eu tinha dado ao irmão
algo que sempre neguei a ele.
Ignorei a dor dos pés feridos e tive plena certeza de que ainda
havia estilhaços de caco de vidro neles. Mesmo assim, não parei de
correr por nenhum segundo. Meus pulmões reclamaram daquele
esforço já que eu não era dada a exercícios e fumava feito uma
chaminé, porém, nada me fez parar de correr na direção da grande
fogueira que brilhava há vários e vários metros à nossa frente.
Thomaz também tinha a desvantagem de ser fumante, e
mesmo que praticasse esportes, não parecia confortável em correr
no escuro, precisando desviar de raízes que poderiam quebrar seus
tornozelos, monte de folhas que podiam abrigar animais
peçonhentos, ou moitas com bichos que não daríamos conta.
Essa sensação só piorou quando algo grande uivou e fez todas
as equipes pararem no lugar. Eu mesma fui uma que desacelerou
bruscamente para ouvir melhor.
— Isso é… — Nem terminei minha pergunta.
— Um lobo, eu acho — a garota Bird respondeu, tão atenta
quanto eu.
— Bom, se vocês quiserem ficar aqui paradas, eu vou indo. —
Thomaz foi o primeiro a se recuperar. Outros o imitaram e eu não
me deixei ficar para trás.
Era óbvio que competiríamos pelo lugar da liderança.
Depois de quase meia hora de corrida intensa, chegamos
aonde as tochas estavam.
Fomos o segundo grupo no meio da balbúrdia e conseguimos
acendê-la com rapidez.
— Certo, agora, pra onde? — a menina dos Badgers que eu já
tinha esquecido o nome perguntou e me esforcei para analisar o
pequeno mapa atrás do meu card.
— Acho que é a faca. Com ela, nós vamos cortar a corda da
chave e então vamos para o lago.
— Vamos precisar entrar na água? — O tom desanimado da
garota me confortou.
— Acho que um de nós já basta, e eu voto que seja o homem.
— Eu não vou entrar naquela porra. A água vai estar mortal,
além de que é fundo. — Ele tentou fugir.
— Eu voto pelo homem — a Badger disse.
— Eu também — A Bird a seguiu.
— Ótimo. A maioria vence. — Encarei Thomaz, devolvendo
todo deboche dele sobre mim ao longo daqueles anos e, da forma
mais ameaçadora que podia, disse: — Não se constranja de nadar
na água gelada. Ninguém liga muito para o que você esconde dentro
das calças. — Dei as costas, já caminhando para onde achava que
devia ir.
Sete mil libras me deixaram corajosa, e assumindo o posto na
marra, segui na frente na direção que o mapa indicava, sabendo que
ele estava carregando a tocha bem atrás de mim com as garotas
que, infelizmente, estavam no meio de um fogo cruzado.
Eu queria afastá-la.
Queria matá-la, verdade fosse dita.
De vergonha ou de ódio, no final das contas, eu não me
importava.
O plano daquela noite era parte disso.
Feito para ela quebrar, para ela enxergar — pensei, enquanto
cavava aquela cova mais cedo.
Eu só não esperava que, naquela merda toda, eu fosse atingido
junto.
Quando Scarlet se ergueu, quando se aproximou, eu nunca a vi
tão furiosa.
Seus olhos queimavam em mim, sua voz era clara, mas suas
palavras trouxeram muita confusão. Ela me acusava de ser insano, e
aquilo eu realmente era. Mas onde é que havia perdido todo o resto?
De repente, eu me senti burro.
Você realmente não sabe? — o diabo soprou na minha orelha
enquanto a multidão avançava pelo terreno, me deixando ali
sofrendo pelo tapa verbal e físico de Scarlet, enquanto o nome de
meu irmão brilhava em vermelho na minha mente.
— Filho da puta — xinguei baixo e me virei para procurar por
ela.
Nós tínhamos, finalmente, muito para conversar.
Uma conversa que John Prince e seu filhinho amado fizeram de
tudo para não acontecer no passado, que minha mãe havia sido o
maior peso para isso, que minha idiotice e rebeldia tinha falhado em
deixar ver a necessidade.
Caralho, se o que ela dizia fosse realmente verdade, se fizesse
sentido…
Não quis pensar na possibilidade de não ser.
Queria muito, pela primeira vez na vida, estar errado.
Ela ainda era minha.
Ela ainda me esperava.
E eu corri atrás dela.
Desci pelo terreno, abri caminho entre os idiotas que seguiam
minha ideia de acabar com a vida de alguém, e quando vi a cabeça
ruiva na ponta do píer, tirando os tênis, gritei:
— SCARLET, NÃO!
Meu grito não superou o coro de “vadia Prince” da multidão.
Eu ainda estava muito longe e ela ia pular sob aquela
acusação.
Ela ia se matar porque eu arranquei tudo dela.
E eu não podia deixar.
Precisava impedir, precisava ser rápido, mas nem todo o
controle do mundo me daria o poder de desacelerar o tempo, ou
revertê-lo. Foi por isso que quando ouvi o baque do corpo na água e
a comemoração em volta, o desespero me consumiu.
No mesmo segundo, achei o rosto do meu melhor amigo na
multidão.
— Que… — Cortei a pergunta de Thomaz que me olhava sem
entender.
— CHAMA A PORRA DA AMBULÂNCIA, ELA NÃO SABE NADAR!
Minha ordem não abriu nenhuma brecha para discussão.
As pessoas com velas nas mãos pararam de aplaudir quando
me viram correndo desesperadamente entre elas.
Eu não pensei no que fazia.
Avancei o mais rápido que meus pés podiam para perto do píer.
Não, não, não — minha mente repetia continuamente — por
favor, não.
Mesmo rápido, quando a madeira do píer reclamou sob meu
peso, eu sabia que era tarde.
Qualquer segundo respirando aquela água era demais.
Vasculhei com os olhos a superfície escura, procurando
qualquer ponto laranja e não encontrei, ainda assim, quando deu
espaço, peguei impulso e mergulhei de cabeça.
Eu precisava encontrá-la, precisava salvá-la.
Porque se não fizesse, aí sim eu realmente seria um assassino.
conrad
todas estas palavras não são da boca para fora e nada mais importa.
nothing else matters, metallica.
Porque eu preciso. E
você ainda é minha
amiga com benefícios.
Esperei cinco minutos para receber uma resposta, mas ela não
veio.
Estarei lá.
Eu estava em choque.
Lembrava exatamente da sensação do meu cérebro dizendo
"Conrad te traiu. Conrad colocou fogo na sua casa. Conrad matou
sua irmã". Mas não conseguia reagir. Não conseguia falar, nem
andar, nem chorar.
Era como se tivessem jogado cimento dentro do meu corpo e
tudo se solidificasse rápido demais para que eu agisse.
"Susan está morta." Ouvi minha mente dizer, mas não
conseguia processar.
A sensação era de que aquilo era um sonho lúcido, um
pesadelo intenso, um estado de alucinação desconhecido e, por isso,
quando me afastaram do meu avô para o colocarem na ambulância
e examiná-lo, fiquei parada na rua, junto do resto dos vizinhos,
olhando para os bombeiros que não conseguiam apagar o fogo de
jeito nenhum.
Foi naquele momento, em que eu me dei conta de que não
sabia onde ia passar a noite, que a mão de John Prince pesou no
meu ombro.
— Scarlet, querida. Eu sinto muito. — Lembro-me de erguer os
olhos e vê-lo concentrado no fogo. — Podemos conversar em
particular?
Que opção eu tinha? Concordei com a cabeça.
John Prince me guiou para o outro lado da rua, minhas pernas
só seguiram, tanto que eu mal notei quando entramos em seu carro.
— O que aconteceu? — ele disse, após um suspiro, tentando
buscar minha atenção.
Encarei primeiro a traseira do encosto de banco do passageiro
e vi a cena queimando diante dos meus olhos.
— Eu vi Conrad saindo pela janela. A casa já estava em
chamas. Minha irmã morreu lá dentro. — Minha voz era robótica
diante do processo de buscar informações.
Sentia-me uma estranha no meu próprio corpo.
— Você contou isso para mais alguém? — O tom terno e
preocupado na voz do homem ao meu lado não me comprava, mas
ele também não me assustava.
— Não. — Suspirei e encarei o pai de Conrad sentado com as
pernas cruzadas e o braço apoiado no banco, meio virado para mim,
me analisando como se eu fosse um grande experimento que podia
dar errado a qualquer segundo. — Não contei — sussurrei.
— E você vai contar?
Franzi minhas sobrancelhas ao ouvi-lo.
— Minha pergunta é clara. Você vai contar? Porque, se o fizer,
Conrad não tem escapatória. Se souberem o que ele fez, de colocar
fogo em sua casa e causar essa fatalidade com sua irmã, ele será
preso.
— Não entendo… — Encarei o que restava da minha casa para
o fogo terminar de consumir. — Por que ele fez isso? Por que
Conrad… — Eu nem mesmo terminei a pergunta. A confusão dentro
da minha cabeça fazia tudo doer. Cérebro, rosto, garganta, peito e
estômago. Tudo doía. Principalmente o coração.
— Scarlet, escute. Sei que está magoada, mas preciso da sua
ajuda agora. Pense no seu futuro, no do seu avô. Sei que Charlie
não tinha um seguro, que mal recebe do governo. Sei que você é
uma aluna exemplar, uma garota bem-educada…
— O que quer, John? — Virei o rosto com os olhos
desconfiados, analisando o rosto do patriarca Prince e o vi dar um
meio-sorriso. Seus olhos brilhavam na fraca iluminação, e por onde
ele levava a conversa, sabia que viria algo pesado.
— Não quero que isso vaze. Não posso deixar meu filho ir
preso, e vim perguntar se você está disposta a aceitar esquecer que
viu Conrad aqui hoje por uma ajuda. — Ele ajeitou o paletó e voltou
com a mão para perto do meu cabelo, pegando uma mecha entre os
dedos, me causando estranheza. — Estou aqui oferecendo ser seu
tutor. Seu avô e você terão um teto, e quando chegar a hora, Charlie
terá à sua disposição enfermeiras, ou uma casa de repouso da
melhor qualidade, o que ele e você acharem melhor. Para você, eu
serei como um pai. Ou melhor do que isso, já que talvez tenha
falhado na missão com pelo menos um dos meus filhos.
— Está disposto a assumir essa dívida só por causa do meu
silêncio? — Eu podia estar abalada, mas não era burra.
— Quero o bem do meu filho, assim como você também quis
um dia, estou errado? Se firmarmos este acordo aqui, se você disser
que aceita, Conrad estará fora da cidade na primeira luz do dia e
você e seu avô estarão seguros.
Meu coração se apertou de um jeito tão doloroso que quis me
estapear.
— Eu… — Os olhos de Conrad, suas mãos, seu último beijo,
tudo passou pela minha mente naquele minuto e eu me curvei,
escondendo o rosto entre as mãos, querendo ser capaz de não
sentir o impacto do que falaria em seguida. — Eu aceito. Só... só me
deixe falar com ele antes dele ir.
— Farei o meu melhor, mas você o conhece…
— Certo. — Respirei fundo, não acreditando que era naquele
maldito segundo que carimbava o meu futuro, e olhei para fora,
vendo meu avô cambaleando para fora da ambulância. — Eu tenho
dois pedidos para agora. Tire meu avô daqui em segurança antes
que ele tenha um ataque do coração e cuide para que Susan tenha
um funeral decente.
— Seu pedido é uma ordem. Vou mandar arrumar os quartos
de vocês também.
Eu não agradeci.
Quando desci daquele carro, sabia que não fazia aquele acordo
por mim, ou por meu avô.
Eu fazia por Conrad, para livrar sua cara. Para tentar amenizar
as coisas e dar a chance de ele explicar o que tinha acontecido, já
que, nem com ele acabando com tudo, meu coração conseguia amá-
lo menos. Nem com ele colocando fogo em tudo, não conseguia
transformar meu amor por ele em cinzas.
E depois do mergulho naquela memória desgraçada, depois de
encarar o ponto de virada do meu destino, do que me levou até ali,
eu acordei.
se você me disser que está indo embora, eu facilitarei. vai ficar tudo
bem. se não podemos parar o sangramento não temos que repará-
lo, não temos que ficar.
it’ll be okay, shawn mendes
Então eu afogo isso como sempre faço dançando pela nossa casa
com o seu fantasma, e eu o persigo, com um tiro de verdade.
dançando pela nossa casa com o seu fantasma.
ghost of you, 5 seconds of summer
gritando para o céu, gritando para o mundo, querido, por que você
foi embora? eu ainda sou sua garota. me mantendo firme, com a
cabeça nas nuvens. só o céu sabe onde você está agora. como eu
amo de novo? como confio novamente? eu fico acordada a noite
toda, digo a mim mesma que estou bem. querido, você é mais difícil
de ver do que a maioria. eu coloco música para tocar, espero até eu
ouvir a nossa música. toda noite eu danço com seu fantasma.
dancing with your ghost, sasha
sloan.
o que eu sou agora? e se eu for alguém que não quero por perto?
estou caindo de novo, estou caindo de novo, estou caindo. e se eu
estiver disposto? E se eu desistir? e se eu for alguém de quem você
não falará? estou caindo de novo, estou caindo de novo, estou
caindo. e eu tenho a sensação de que você nunca mais precisará de
mim novamente.
falling, harry styles
Tentei salvar tudo o que estava no chão, mas assim que entrei
no carro e espalhei as coisas no banco do passageiro, percebi que
havia perdido muito. Era a mesma sensação de quando o correio
não entrega algo e você precisa ir buscar, mas quando chega lá, o
pacote já voltou para o remetente.
O foda era, eu não reconhecia nenhum daqueles envelopes, eu
não recusei nada, mesmo que o endereço estivesse certo. Como
podia?
Boa parte das cartas estavam encharcadas. Se forçasse para
tentar abri-las ali, o papel ia se desfazer na minha mão e não
sobraria nenhuma palavra, nenhuma frase para eu tentar desvendar.
Tentei escolher as menos afetadas, as que ainda pareciam inteiras e
liguei o ar-condicionado do carro, colocando-as sobre a saída de
vento em cima do painel.
Com resto, eu não tinha muito o que fazer.
Na outra caixa, onde meu moletom antigo e que nem cabia
mais em mim estava, vi guardanapos com os logotipos de onde já
tinha ido com Scarlet e, infelizmente, pela chuva, os desenhos que
ela fez sobre eles viraram borrões.
A compreensão daquilo me bateu aos poucos.
De repente, eu não podia mais esperar.
Abri cada uma das cartas do painel com o maior cuidado
possível e, até a penúltima, todas estavam estragadas. Ainda assim,
conseguia ler vários “sinto sua falta”, “volte”, “me perdoe”.
Sinceramente, havia algo pelo qual eu precisava perdoá-la?
Eu era um idiota e Scarlet só me ajudou a ver isso com maior
clareza quando abri aquela carta entre as centenas que ela
escreveu.
Conrad, eu não sei até quando vou ter forças para isso.
Já escrevi em algumas cartas antes que elas seriam as últimas,
e eu realmente diminuí a frequência, mas em dias como hoje, tarde
da noite, quando olho pela janela do quarto da casa que você
aprendeu a odiar e se tornou meu lar, me pergunto se algum dia vou
ter a chance de ver você entrando pelos portões e atravessando o
arco das árvores nesse outono monótono para fazer tudo voltar a ter
vida para mim.
Hoje faz oitocentos e cinquenta e dois dias que você se foi, e
apesar de todos os medos, todas as coisas que ficaram entreabertas,
todas as dores que você me causou, eu ainda não consigo te odiar.
Eu ainda não consigo aceitar que o garoto de olhos ônix pelos quais
eu me apaixonei tenha sido capaz de tanto para me machucar, ainda
mais de propósito.
O quão mal-agradecida sou ou louca e fora de mim, eu devo
estar para admitir que sou apaixonada pelo assassino da minha
irmã, ou o assassino da minha própria alma?
Quantos romances eu vou precisar ler para entender onde nos
encaixamos? Talvez, por nunca conseguir encontrar uma resposta,
eu venha deixando meus livros de lado.
Droga. Estou chorando de novo. Estou caindo de novo, Conrad.
Desta vez, acho que não posso me levantar.
Desta vez, memória nenhuma nossa, das boas, parece ser
suficiente já que eu as usei todas. Elas estão velhas, puídas, sem
brilho. Não são mais tão resistentes para me segurar quando eu
caio.
E eu caio quase todos os dias quando, antes de dormir em
uma cama que ainda não sinto cem por cento como minha, sinto sua
falta.
Espero que um dia você volte.
Espero que quando isso acontecer, eu ainda seja capaz de te
perdoar como sou agora, já que eu preferia morrer naquela casa em
chamas do que sentir a dor da sua perda dia após dia.
Espero que eu ainda tenha coragem de te enviar esta carta, e
espero muito mais que, finalmente, você a receba. (Se aceitá-la,
saiba que outras centenas te esperam.)
Por favor, volte enquanto eu ainda me sinto… eu.
Com amor, sempre sua, Red.
PS: acho que consegui algo. Acho que, agora, sou Heahtcliff.
“E o que não me faz recordá-la? Não posso olhar para este
chão, pois seus traços estão impressos nas lajes! Em cada nuvem,
em cada árvore…enchendo o ar à noite, e vislumbrada em cada
objeto de dia… Estou cercado pela sua imagem! Os rostos mais
comuns de homens e mulheres, meus próprios traços, debocham de
mim com alguma semelhança. O mundo inteiro é uma terrível
coleção de recordações de que ela existiu, e de que eu a perdi!”[9]
nunca nos libertaremos, cordeiro para o abate, o que você vai fazer
quando houver sangue na água? o preço da sua ganância é seu filho
e sua filha, o que você vai fazer quando houver sangue na água?
blood // water, grandson.
— Olha só, isso está ótimo! — meu pai elogiou quando entrou
pela porta da sala carregando alguns presentes. — Já posso colocar
sob a árvore?
Scarlet desceu da escada que usava para terminar de pendurar
os enfeites e, depois de olhar tudo em volta e se dar conta de que
não havia nada fora do lugar, fez que sim com a cabeça.
— Acho que vou colocar os meus agora também... — ela
comentou mais para si e eu perguntei:
— Eu posso também?
Tanto ela quanto meu pai me fitaram, surpresos.
— Você trouxe algo? — Não era uma provocação vindo dela e
sim pura surpresa.
— Trouxe — provoquei, me aproximando — e olha só como eu
sou bonzinho, não é nenhuma bomba. — Apesar da minha ideia de
fazer graça, nem ela ou meu pai riram.
— Certo. — Ela juntou as mãos, meio desconfortável. — Acho
que vou acordar meu avô e nós podemos jantar… O que acham de
pedir comida hoje?
— Acho que uma pizza cairia bem — meu pai me incentivou.
— Eu vou fazer o pedido, e vocês dois estão liberados. Aviso
quando chegar.
A garota sumiu corredor adentro e eu a segui com os olhos,
não disfarçando o interesse.
— Demorou muito tempo para que eu me permitisse ver —
meu pai falou baixo, só para mim —, mas conforme os anos foram
passando, cada vez mais eu entendi o que você viu nela.
— E o que vocês tentaram tirar de mim — quando respondi,
nem mesmo me preocupei de olhar para ele.
Só atravessei a sala e subi as escadas, de volta para o que era
o meu quarto.
Sinceramente, eu não estava tão a fim de participar daquele
teatrinho de família feliz e quando Scarlet bateu no meu, quarto
horas mais tarde, eu não atendi.
Ela deve ter pensado que eu tinha dormido ou qualquer coisa
do tipo, mas a verdade é que passei boa parte da noite jogando
videogame como não fazia há muito tempo.
Quando o relógio marcou 23h, larguei o controle do
videogame, tomei um banho decente, me lembrando do quanto era
bom o chuveiro daquele banheiro, e vesti as calças de moletom. A
verdade é que eu tinha me acostumado a dormir só de cueca, até
por causa do piercing, e mesmo no frio não conseguia ficar com
tanta roupa. Achava que aquilo era resquício de uma infância vivida
em uma casa sem tanta proteção térmica. Aquela experiência tinha
endurecido meus nervos.
Antes de deitar, não pude negar que me arrependi de não
descer para comer, e contrariando a ideia de adolescente rebelde
que dorme com fome para contrariar os pais, do jeito que estava,
resolvi descer.
tenho medo de tudo que eu sou. minha mente parece uma terra
estrangeira. o silêncio ressoa dentro da minha cabeça. por favor me
leve para casa.
arcade, duncan laurence
Eu tinha me empenhado.
O velho galpão mal parecia o lugar abandonado que encontrei
depois de tantos anos.
Precisei me virar para superar a ausência de um aquecedor,
mas depois de espalhar quase duas mil velas pelo chão, o lugar
parecia muito mais quente e confortável. Com ajuda de Bella, me
esforcei para ser o mais romântico possível, colocando um colchão
de casal com cobertas fofas bem em frente ao desenho que tinha
feito, uma mesa de centro virou o único apoio para as taças, a
garrafa de vinho e os petiscos.
E, ansiosamente, me sentei sozinho, encarando os olhos que
havia pintado, e esperei.
Esperei tanto que achei que ela não fosse vir.
Quando o relógio marcou dez e meia da noite, pensei em
mandar uma mensagem, em sair apagando tudo, entendendo que,
mesmo com o que havia acontecido na noite passada, mesmo com a
minha carta, com o meu levantar de bandeira branca, talvez não
fosse o suficiente.
Jurei que, se ela não aparecesse até à meia-noite, eu iria
embora e enfrentei aquela uma hora e meia como uma das piores
da minha vida.
Eu não era bom esperar. Não era bom em pedir desculpas. Eu
não suportava olhar para os possíveis erros que tinha cometido, mas
esperava ansiosamente por Scarlet, que era a manifestação de todas
essas coisas em forma física.
Passei a base do polegar da mão esquerda pelo rosto, com o
cigarro queimando entre os dedos e o isqueiro sendo aberto e
fechado na outra, lembrando-me da noite passada, da falta de
controle, de como ela cedeu, de como havia se entregado, e agonia
comeu meu peito. Aquela mulher tinha algum defeito? De fato, se
ela não aparecesse, eu sofreria duas vezes mais para tentar apagá-
la de novo. Se isso já tinha sido difícil antes, só por tê-la beijado, eu
não queria nem ver como seria a minha fase de procurá-la em
outros corpos pela cidade.
Meu relógio apitou cinco para meia-noite.
Traguei o final do cigarro profundamente, segurei a fumaça por
alguns segundos, e jogando longe a bituca que apaguei na sola do
tênis, soltei o ar com força, incrivelmente decepcionado, me
achando um imbecil por acreditar que o meu perdão viria tão fácil.
De fato, eu não merecia. Mas achei que estivesse a caminho de
conquistá-lo.
Ergui-me preguiçosamente, encarei o lugar à minha volta, todo
aquele trabalho para nada. Assim que dei o primeiro passo para
começar a apagar as velas, a fim de evitar outro incêndio no meu
histórico, tomei um susto quando, brutalmente, a porta se abriu.
Meu corpo pareceu congelar no lugar pelo choque.
Eu realmente achei que ela não fosse vir, mas, pouco a pouco,
a felicidade de ver Scarlet parada ali, me encarando de volta, fez
com que todo e qualquer frio corresse para longe da expectativa que
aquecia minhas veias.
Mas, ainda que minha vontade fosse ir até ela, pegá-la no colo,
girá-la no ar, beijar sua boca e todo o resto, usei todo meu
autocontrole e fiquei onde estava.
— Achei que você não fosse vir — falei alto o bastante para ela
me ouvir.
Só então ela pareceu tomar coragem para entrar.
Fugindo do frio e fechando a porta às suas costas de maneira
bem barulhenta antes de me responder, Scarlet arrancou o capuz da
cabeça e olhou em volta impressionada.
— Eu não sabia se devia vir. — Quando seus olhos encontraram
meu rosto de novo, ela indagou, firme, direta: — Sua carta, Conrad.
Se tudo aquilo é verdade, como é que chegamos nisso?
Neguei com a cabeça, buscando fôlego.
— Não tenho uma resposta fácil, Red — confessei.
— Então me dê a parte difícil.
Era uma súplica que, se feita antes de eu ver sua nova
dinâmica familiar, eu teria respondido. Mas eu não podia quebrá-la
mais, não podia fazer aquela garota perder o único rumo que a
sustentou durante todos aqueles anos.
Suspirei mais uma vez, finquei os dentes no lábio inferior
enquanto repensava o que faria, e com as mãos na cintura, encarei
o teto por um segundo antes de respondê-la:
— Que resposta você quer, Scarlet? — Meus olhos foram sobre
os dela com toda a crueldade que sabia que escondia dentro de
mim. — Porque, sabendo que eu te traí, que queimei sua casa, e
assassinei sua irmã, você ainda está aqui — pontuei em claro e bom
tom. — Você ainda é a garota com quem eu passei a noite passada,
que me esperou para tirar sua virgindade, que tentou dar chances
mesmo quando eu não merecia.
Era nítido o desconforto dela ao ouvir toda a verdade sendo
jogada daquela forma.
Scarlet engoliu em seco algumas vezes, seus dedos nervosos
brincaram com o zíper da jaqueta, e mesmo de longe, vi seus olhos
encherem d'água.
— Você sabe que tudo isso é verdade — continuei —, até
mesmo, porque essa foi a realidade que você viveu durante todos
esses anos. Então, me responda, o que muda a minha versão dos
fatos? Muda que você vai ter uma justificativa para dizer que eu me
arrependi, que eu que mudei, ou que eu não fiz por mal? — Sabia
que abria uma ferida em seu peito naquele momento, mas não tinha
jeito. Antes algo que eu poderia curar do que algo que arrancaria o
chão sob seus pés. — Por que você quer tanto ouvir uma versão de
fatos que só vai te magoar mais?
Scarlet parecia perdida.
Seus olhos tentaram fugir dos meus por um minuto, ela abriu a
boca, mas não tinha nada para dizer, fechando-a logo em seguida.
Dando um passo para trás, vi quando a primeira lágrima rolou pelo
seu rosto.
Senti dor física por magoá-la mais uma vez.
— Acho que — ela suspirou — eu preciso da sua versão dos
fatos para não me sentir tão culpada por te amar mais do que talvez
você mereça. — Finalmente, ela enxergava. — É — ela sacudiu a
cabeça e fechou os olhos de forma pesarosa antes de me mirar com
os olhos verdes quase em chamas —, acho que foi um erro vir até
aqui.
Ela estava pronta para ir embora, eu não podia deixar.
— Scarlet! — gritei seu nome e ela parou no lugar,
completamente imóvel, parecendo ter medo. — Se você sair por
essa porta agora, se desistir, acha que vai conseguir superar? — Eu
a coloquei contra a parede quando disse: — Eu lutei contra isso por
muito tempo, mas estou pronto para admitir que, qualquer que seja
a substância das almas, a minha e a sua são feitas da mesma
coisa[10]. Estou desistindo de fugir, Red. Estou pronto para admitir
que é você quem eu quero.
Ela deu um meio-sorriso triste, limpando as lágrimas antes de
me encarar.
— É completamente injusto com o resto do mundo que você
seja como é e ainda saiba esse tipo de coisa… — Scarlet repetiu
para mim a mesma frase que usou no passado, e eu sabia que tinha
ganhado.
Devagar, começamos a andar na direção um do outro, até que
aquela velocidade não supria a necessidade. De repente, entre as
velas todas, a garota de cabelos ruivos correu para mim e pulou no
meu colo, e eu, sem poder esperar, sem poder me conter, a beijei.
Beijei Scarlet como deveria ter beijado anos atrás, antes de ir
embora, deixando muito claro que não importava a distância, o
tempo, as circunstâncias, os acidentes e as perdas no caminho. Não
importava nada nem ninguém, eu era dela, sempre seria.
— Eu te odeio — ela disse quando afastou a boca da minha
numa sofreguidão dolorosa. — Eu te odeio tanto!
— Eu sei, Red. Eu mereço que seja assim — respondi contra
sua boca e tentei beijá-la novamente, mas ela afastou o rosto do
meu, segurou-me entre suas mãos, e me fazendo me perder nos
caleidoscópios verdes que eram seus olhos, disse:
— Não há vida sem você, Conrad Prince. E não há romance na
Terra que vá conseguir traduzir isso.
Era tudo que eu precisava ouvir.
Se ela queria padecer no paraíso, era minha missão
proporcionar.
conrad
querida, este amor, eu nunca vou deixar morrer. não pode ser
tocado por ninguém, eu gostaria de vê-los tentar. eu sou louco pelo
seu toque. menina, eu perdi o controle. eu vou fazer isso durar para
sempre, não me diga que é impossível. Oh querida, minha alma,
você sabe que ela anseia pela sua, e você tem preenchido este
espaço desde que você nasceu. porque você é a razão pela qual eu
acredito no destino, você é o meu paraíso e farei qualquer coisa para
ser seu amor, ou ser seu sacrifício porque eu te amo até o infinito.
infinity, james young
A primeira coisa que fiz quando Scarlet entrou no meu carro foi
pegar seu rosto entre minhas mãos e beijá-la. Intensamente.
Desesperadamente.
Aquilo não era confortável. Sentir tanta necessidade de
alguém, sentir falta mesmo com a pessoa em frente aos meus olhos.
A única coisa que acalmou meu coração foi ver que, toda aquela
confusão, aquele caos, era correspondido.
— Senti sua falta, Red — murmurei contra seus lábios.
— Sinto a sua o tempo todo. — A resposta não podia me
deixar mais feliz. — Mas precisamos ir. — Selando os lábios nos
meus, Scarlet se afastou e não me deixou escolha.
Quando saímos pelo portão da mansão, pensei em um bilhão
de desculpas para fugir daquela situação, mas quando parei em
frente à casa da minha mãe, nenhuma pareceu forte o bastante para
convencer Scarlet.
Suspirei, olhando para fora pelo vidro fumê, e desliguei o carro.
— Podemos esperar até depois do Ano Novo? — Tentei.
— Não. Vocês dois precisam disso, e precisam logo. — Ela já
soltava o cinto de segurança e colocava a mão na porta. — Vamos
lá. É sua mãe, não um monstro, amor.
Naquele momento, eu não sabia muito bem diferenciar uma
coisa da outra, mas imitei Scarlet e saí do carro, encarando a porta
por onde entraríamos, me sentindo a porra de um covarde.
Foi Scarlet quem teve coragem de tocar a campainha. Quando
a voz da minha mãe respondeu no interfone, suspirei, pensando em
desistir pela milésima vez.
— Quem é?
— Caroline, Oi. Sou Scarlet, se lembra de mim? Estou com
Conrad. Podemos subir?
Rezei para ela dizer não, mas o barulho que ouvi foi o da trava
elétrica abrindo a porta.
— Obrigada — Scarlet respondeu para o interfone, mas não
houve resposta.
A ruiva me ofereceu a mão e, quando a peguei, me guiou para
dentro.
Fechei a porta e, tentando não pensar muito, subi os degraus,
um a um, atrás dela.
A visão das pernas de Scarlet ajudou. Minha cabeça tinha
maneiras muito sujas de fugir das coisas que me perturbavam e, por
causa disso, senti pena da garota à minha frente.
Ainda pensando em maneiras de fazer Scarlet se esquecer
daquilo, de me afundar tão profundamente dentro dela, foi
arrancada de qualquer pensamento leviano, quando, nos
esperando com uma fresta da porta aberta, minha mãe nos
encarava, desconfiada, parecendo com medo, sem acreditar que eu
realmente estava ali.
Nós nos encaramos por um minuto inteiro em silêncio, então
Scarlett o quebrou.
— Podemos entrar? — Seu tom gentil não me contaminou.
Minha mãe não respondeu, mas abriu a porta, em um claro
sinal de que nos queria dentro.
Scarlet foi a primeira a entrar. Pensei em desistir mais uma vez,
mas com ela lá dentro, não podia ser tão covarde. Meti as mãos
dentro dos bolsos, sentindo meu isqueiro lá no fundo, e acariciando
a caixinha de metal, passei pela porta na maior distância física que
podia da mulher que havia me colocado no mundo.
— Oi… — Minha mãe tentou me cumprimentar, mas a ignorei
olhando para a janela da sala, suspirando, demonstrando o meu
desagrado por estar ali.
A porta se fechou às nossas costas, e Caroline, meio perdida
nos vendo em volta de sua mesa de jantar, perguntou, meio
insegura:
— Vocês querem beber alguma coisa?
— Não. — A palavra saiu da minha boca de forma mais
grosseira e fria do que eu esperava.
Minha mãe esfregou os braços, visivelmente desconfortável, e
perguntou:
— Como você passou o Natal, filho?
— Bem. — Eu ainda não conseguia olhar nos seus olhos.
— Que bom. Eu passei aqui. Sozinha. — A maneira como ela
quis se justificar me fez dar um sorriso amargo.
Eu não acreditava.
— Sozinha? — A ironia me ganhou em segundos quando,
finalmente, encarei minha mãe. Seu rosto era uma mistura de
tristeza e vergonha. — Tem certeza?
Scarlet, ao meu lado, mordeu os lábios, obrigando-se a calar a
boca.
— Conrad, o que você viu aquele dia… — Ela bem que tentou
me enrolar, mas não permiti.
— Prova que você é completamente diferente do que eu
acreditei. — Minhas palavras foram quase como um tapa em seu
rosto.
— Filho, eu… — Dando um passo na minha direção, ela parou
do outro lado da mesa.
— Me viu crescer sendo espancado. Quase morrendo.
Miserável. E mentiu.
— Não é isso… — ela choramingou, as mãos foram para o
rosto, mas não a poupei.
A raiva aquecia meu peito de uma maneira tão brutal que me
senti dentro do próprio inferno.
— Me conte, Caroline. Você ficou feliz quando fui embora?
Porque, ganhou uma casa nova muito melhor do que a antiga. —
Tirei a mão do bolso para indicar o ambiente. — Continuou com a
pensão que meu pai já te dava, com o dinheiro que eu mandava… —
Meu tom de voz foi ficando cada vez mais cruel. — Você tem ideia
das coisas que fiz por você? De como, depois de espancado,
praticamente torturado, eu sacrifiquei tudo o que tinha naquela
época por sua causa, pelo seu futuro e segurança?
— Eu nunca quis que você passasse por nada disso, Conrad! —
Seu tom desesperado era de quem não queria mais ouvir. Perdendo
a paciência, eu gritei:
— MAS FEZ! — Empurrei a cadeira na minha frente, num
acesso de raiva, e bati na mesa, me curvando para ela como um
animal. — Você se fazia de coitada, me fez acreditar que precisava
ser a porra do seu super-herói, mãe! VOCÊ ACABOU COMIGO, EM
TROCA DO QUÊ? De uma boa foda? — A palavra a ofendeu. — De
migalhas do que você pensa que é amor?
— Você não entende — chorando, ela tentou se defender,
enquanto negava com a cabeça.
— Então tente explicar. Tente me trazer algum bom argumento
que justifique tudo o que fez.
— Eu não tinha amor, Conrad. Seu pai me transformou em uma
leprosa. Sabe o que é ter um filho de John Prince?
— Então a culpa é minha? — Aquilo era o mais absurdo de
tudo.
— Não. Mas Philip foi bom para mim, ele… — Ela se enrolou. —
Ele sóbrio era bom. — Sua voz quase sumiu.
— E isso durou quanto tempo? Porque, desde que nós
mudamos para debaixo do teto dele, eu não consigo me lembrar
nem de ele sóbrio, nem de um bom tempo entre vocês.
— Pare, Conrad! — Tapando as orelhas, Caroline balançou a
cabeça enquanto chorava. — Pare de me torturar. Eu sou sua mãe!
— Não, você é uma estranha — vociferei. — E tem mais, quero
saber onde é que o dinheiro que meu pai te deu, por todos esses
anos, foi parar. — Os olhos dela se arregalaram ainda mais.
Um tom de azul opaco e sem vida, triste demais de se ver.
Caroline não tinha uma resposta para me dar.
Nunca teria.
Tudo o que eu tinha dado, tudo o que tinha feito para a minha
mãe, foi em prol de uma pessoa que não existia. Foi para a ilusão
que montei dela como coitada na minha cabeça.
E ali, descobri que quando você vê alguém como coitada, você
realmente acredita que ela nunca vai sair daquela merda toda. Você
acredita que ela é incapaz.
E, mais do que nunca, eu sabia que todo mundo era
responsável por si.
Pelas próprias escolhas. E que, cedo ou tarde, colheria as
consequências.
Ver que minha mãe se recusava a ver o que eu via, me
enfureceu.
Minha vontade foi de quebrar tudo.
A mão de Scarlet no meu ombro foi a única coisa que me
impediu.
— Escute — soltei com raiva, encarando minhas mãos sobre a
madeira. — É a última vez que venho aqui. É a última vez que quero
falar com você, porque isso só prova que eu não te conheço, e se
essa é você, acredite, é alguém que eu não quero conhecer. — O ar
nos meus pulmões machucava, mas mesmo brigando com as
lágrimas, deixei que elas descessem enquanto continuava meu
discurso: — Estou tentando entender que, o que você tinha para me
oferecer, era isso. Que, se você dizia me amar, e permitiu que eu
vivesse nesse mar de merda, o modo como se trata deve ser ainda
pior. A diferença aqui, mãe, é que eu sei o que quero, o quanto
valho, e me recuso a aceitar menos, mesmo que seja de você.
Espero que você e meu pai continuem nos bons termos, que o
dinheiro que te dei por todos esses anos a mantenha na velhice,
porque de mim, não espere mais nada. Não sou mais um garoto
assustado e você deveria saber que, um dia, eu descobriria.
— Conrad, você é o que mais amo no mundo.
— Não. Você ama o que eu pude te dar, mas estou cansado
disso, mãe. Não quero mais ser a porra do herói de ninguém. Se
você acha que vai ser feliz com Philip, se é esse o tipo de coisa que
se vê disposta a acreditar que merece, vá em frente. Eu não te
perdoo. Eu não consigo. Não agora. Mas acredito que deve ser
muito pior ser você, deitando a cabeça tarde da noite no travesseiro,
sabendo que falhou em tudo.
— O que quer dizer?
— O óbvio. Que não sou como você e me orgulho disso. Tenha
uma boa vida, Caroline.
A adrenalina me consumiu.
Meu peito doeu quando saí pela porta.
Scarlet não me seguiu, mas eu não conseguia mais ficar.
Definitivamente, eu tinha muito mais para falar.
Queria dilacerar minha mãe viva. Que o remorso e a dor a
fizessem acordar para a vida.
Mas ela tinha quarenta anos. Não era mais uma criança.
E eu não tinha responsabilidade sobre ela.
scarlet
nosso amor está a sete palmos abaixo da terra. eu não posso deixar
de me perguntar: se o nosso túmulo fosse regado pela chuva rosas
floresceriam?
six feet under, billie eilish
diga adeus enquanto nós dançamos com o demônio esta noite. não
ouse olhá-lo nos olhos, enquanto nós dançamos com o demônio esta
noite.
dance with the devil, breaking
benjamin
estou tão cansada de estar aqui reprimida por todos os meus medos
imaturos. s se você tiver que ir embora, eu queria que você
simplesmente fosse, porque a sua presença ainda permanece aqui e
ela não me deixa em paz. essas feridas parecem não se curar, essa
dor é muito real e existe muita coisa que o tempo não pode apagar.
my immortal, evanescence
pois, estou quebrado quando estou aberto e não sinto que sou forte
o bastante pois, estou quebrado quando estou sozinho e não me
sinto bem quando você vai embora.
broken, amy lee, seether
estou tão cansada de todo esse azar, ouvindo mais um: mantenha
sua cabeça erguida. isso nunca vai mudar?
you don't know, katelyn tarver.
Filho da puta — pensei, mas foi tudo o que tive tempo para
processar, porque no segundo seguinte, Scarlet estava de pé, saindo
pela porta, e meu único reflexo, assim como o de Isaac, foi ir atrás
dela.
conrad
Uma da manhã.
Eu ainda não tinha dormido. Não conseguia.
Era aniversário dela.
E eu era a porra de um covarde.
Rodei pela cidade a noite toda, querendo uma desculpa para
invadir seu espaço, quebrar sua muralha, mas não me sentia digno.
Não daquela vez.
Ver através de Scarlet, das merdas que nos enfiaram, tê-la tão
intensamente sob a pele… O que eu poderia dizer? Eu a entendia
por não conseguir me perdoar. Minha única alternativa era esperar
passar.
Foi o que tentei fazer naquela última semana, mas como um
cachorro rodando atrás do próprio rabo, eu sempre acabava nela.
Em alguma memória, com algo seu, preso na minha maior cobiça,
sofrendo dos efeitos da minha pior maldição.
Meu carro estava no acostamento.
Há cinco minutos da casa que agora era dela.
Ela só precisava chamar, ela só precisava querer, e eu estaria
lá.
Como um sinal divino, meu celular vibrou no bolso.
O nome dela na tela fez meu coração martelar.
— Ei… — cumprimentei, mas a risada do outro lado fez toda a
boa-fé do meu corpo evaporar.
— Conrad, ela não te perdoou ainda, não é? — O riso de Isaac
não era natural. — Babaca.
— Onde está Scarlet? — Entredentes, já ligando o carro,
coloquei o celular no viva-voz.
— Ela está aqui, comigo… Estava passeando por aí, nesta noite
fria e a encontrei desamparada, desprotegida. Achei que Scarlet
seria a minha melhor companhia no inferno. — O tom de voz dele
mudou completamente. — Essa puta, desgraçada. Me conte,
Conrad, é gostoso foder com ela? Como a acertei com muita força
na cabeça, ela não gemeu nenhuma vez quando me enterrei…
— ISAAC, SAI DE PERTO DELA! — Minha fúria rugiu.
Meu peito ardeu.
Eu o mataria.
Com certeza, eu o mataria.
Ainda mais por seu riso, sua provocação.
— Há dois anos, eu lhe dei uma camisola francesa, desses
modelos cheios de babados e amarras. Vesti-la para nossa primeira
vez foi mais complicado do que eu esperava. Você quer saber como
foi, Conrad?
— Cale a boca. — Eu não queria ouvir, mas não podia desligar.
Pisei mais fundo no acelerador.
— Foi como vi você fodendo com a minha mãe. Em cima da
mesa da biblioteca. Entre suas pernas. Depois de tocar Scarlet toda,
depois de ver as marcas que você deixou nela, eu a tornei minha.
Podia jurar que ela seria mais molhada. Me conte, com você ela fica
molhada?
— Eu vou pegar você. — Foi meu último aviso.
Mas do outro lado da linha, eu sabia que Isaac sorria.
— Isso, venha participar, venha queimar conosco.
— Desgraçado.
— Ei, Conrad. Eu achei vinte comprimidos daquela sua
Supernova nas coisas do papai. O que acontece se eu enfiar todos
de uma vez pela garganta de Scarlet? Acha que ela vai sentir
quando o fogo nos consumir?
E, para o meu desespero, ele desligou quando joguei o carro
contra os portões da mansão Prince. Eu não corri por ver as árvores
queimando. Não corri por ver a fumaça preta ganhar o céu enquanto
a obra de arte de Isaac virava um monstro sem controle.
Eu corri porque eu a salvaria.
Nem que tivesse que dar minha vida no lugar.
[1]
Droga similar a MDMA.
[2]
Droga similar a ritalina.
[3]
Razão e Sensibilidade – Jane Austen.
[4]
Orgulho e Preconceito – Jane Austen.
[5]
A Abadia de Northanger – Jane Austen
[6]
Jane Eyre - Charlotte Brontë.
[7]
O morro dos ventos uivantes - Emily Brontë.
[8]
Piercing no pênis.
[9]
O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë.
[10]
O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë.
[11]
Persuasão – Jane Austen.
[12]
Orgulho e Preconceito – Jane Austen.