Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
16/2014
PROGRAMA DE APOIO E_16/2014 - CONTEMPLADOS - INCT/FAPERJ - Bolsas TCT – 2018 NO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
PROCESSO E-26/200.575/2019
SERGIO DE AZEVEDO
Orientador
Rio de Janeiro
Março de 2022
1
Introdução
O presente relatório apresenta as atividades desenvolvidas pelo bolsista de Treinamento e
Capacitação Técnica 5 - FAPERJ, Vinicius dos Reis Soares, voltadas para o projeto de pesquisa
“Gestão das águas e do saneamento básico no âmbito da governança metropolitana: o caso da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, sendo coordenado no âmbito nacional pelo Observatório
das Metrópoles (INCT-CNPq).
A pesquisa se situa no campo que procura construir interfaces entre gestão de recursos
hídricos e gestão de serviços de saneamento e planejamento e gestão metropolitanos.
Planejamento e gestão, pela ótica dos regimes urbanos são os temas que associam as diferentes
pesquisas desenvolvidas pelo Observatório das Metrópoles.
A questão do acesso aos serviços de saneamento e da qualidade dos recursos hídricos na
Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ) vem ganhando cada vez maior visibilidade na mídia:
no debate em torno do não cumprimento das metas relacionada à recuperação das águas da Baía
de Guanabara; na disputa recente com São Paulo em torno das águas do Paraíba do Sul, das quais
deriva o Guandu que abastece 80% da Região Metropolitana do Rio de Janeiro; os conflitos em torno
do abastecimento do leste metropolitano; nos cenários relacionados às mudanças climáticas, a
possível escassez hídrica e a questão da segurança hídrica; as perspectivas de ampliação da
participação privada na prestação dos serviços, proposta pelo governo federal no caso da CEDAE e
as articulações políticas e econômicas, relacionadas à essa privatização; a nova estrutura de gestão
cooperativa, adotada a partir da aprovação da lei 10/ 2015 (que institui a governança
metropolitana) em dezembro de 2018 e do Pano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado
da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Todos esses novos temas que se somam à questão que tem pouco espaço na mídia e nas
agendas de pesquisa atuais: a desigualdade histórica no acesso à água e ao saneamento da
população das regiões metropolitanas, sobretudo a que marca as diferenças entre núcleo e as
periferias metropolitanas.
Os temas serão analisados de forma associada à temática dos regimes urbanos, desenvolvida
pelo núcleo Rio de Janeiro e por outros núcleos do Observatório das Metrópoles. As análises em
torno dos regimes urbanos buscam responder a três questões básicas: Quem decide? Como
decidem? Como os padrões de decisões se transformam? Soma-se ainda à essa questão a discussão
da financeirização na gestão de serviços públicos, dentro de um padrão de crescimento econômico
e acumulação de capital no qual a produção do lucro se dá crescentemente através de canais
2
financeiros ao invés de ser pela via do comércio e da produção de commodities. Esse processo se
faz dentro de um movimento no capitalismo, em simultâneo à globalização e à predominância do
pensamento neoliberal, em que o lucro das instituições financeiras cresce mais rapidamente que o
das corporações não financeiras
A agenda neoliberal incorporada à política de saneamento básico tem como característica a
desterritorialização dos mercados financeiros, acompanhada da ampliação da participação privada
na prestação dos serviços; o desenvolvimento de uma gestão orientada por uma lógica de negócios
ou de mercado, em sintonia com as estratégias para a geração de lucro privado. Nesse sentido os
investidores começaram a explorar novas fronteiras para o investimento de capital e a água surge
como uma possível nova fronteira a ser explorada, com o forte potencial de transformar a água, não
na perspectiva de atender a população, mas visando ganhos para empresas privadas. O processo
não ocorre sem resistência; em regimes democráticos, movimentos sociais e sindicais colocaram
barreiras a essas mudanças. No cenário internacional, observam-se plebiscitos e remunicipalizações
em disputa pela garantia de uma lógica de serviço público.
Essas questões serão respondidas à partir de uma análise situada no campo da gestão das
águas e do saneamento, na escala metropolitana e na escala municipal.
1. Objetivos gerais
A pesquisa busca analisar e avaliar a gestão das águas e do saneamento básico na Região
Metropolitana do Rio de Janeiro em três dimensões: política, ambiental e técnica.
II) Caracterizar a atuação dos agentes relacionados à gestão das águas (gestores públicos estaduais
e municipais, órgãos de controle da política pública - Conselhos Municipais e Comitês de Bacia-,
movimentos sociais, empresas privadas) em torno dos seguintes aspectos: (a) mudanças nas
práticas e organização da governança; (b) natureza da coalizão de interesses em torno da
governança; (c) os meios através dos quais as coalizões são criadas e operadas e (d) as agendas
pretendidas por essas coalizões.
3
(III) Caracterizar as políticas municipais de saneamento básico, através dos PMSBs, e de outros
programas e ações e sua relação com as ações desenvolvidas em território metropolitano pela
Companhia Estadual de Saneamento Básico.
2.2 – Levantamento de dados sobre saneamento básico e gestão das águas na região
metropolitana do Rio de Janeiro:
5
Quadro 1 – Características dos prestadores de serviços de saneamento dos municípios da RMRJ referente ao ano de 2020. (FONTE: SNIS, 2021)
MUNICÍPIO NOME DO PRESTADOR DE SERVIÇOS SIGLA ABRANGÊNCIA NATUREZA JURÍDICA DO PRESTADOR DE SERVIÇOS SERVIÇOS
Belford Roxo Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Cachoeiras de Autarquia Municipal de Água e Esgoto de Cachoeiras de Macacu AMAE Local Autarquia Água e Esgoto
Macacu Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água
Duque de Caxias Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Guapimirim Fontes da Serra Saneamento de Guapimirim Ltda FSSG Local Empresa privada Água
Itaboraí Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Itaguaí Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Japeri Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água
Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água
Magé
Prefeitura Municipal de Magé PMM Local Administração pública direta Esgotos
Maricá Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Mesquita Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Nilópolis Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Niterói Águas de Niterói S/A CAN Local Empresa privada Água e Esgoto
Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Nova Iguaçu
Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu PMNI Local Administração pública direta Esgotos
Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água
Paracambi
Prefeitura Municipal de Paracambi PMP Local Administração pública direta Esgoto
Queimados Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água
Rio Bonito
Prefeitura Municipal de Rio Bonito PMRB Local Administração pública direta Esgoto
Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Rio de Janeiro
Fab Zona Oeste S.A. FABZO Local Empresa privada Esgoto
São Gonçalo Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água
São João de Meriti
Concessionária Águas de Meriti LTDA AM Local Empresa privada Esgoto
Seropédica Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água e Esgotos
Companhia Estadual de Águas e Esgotos CEDAE Regional Sociedade de economia mista com administração pública Água
Tanguá
Prefeitura Municipal de Tanguá PMT Local Administração pública direta Esgotos
6
Quadro 2 – Composição acionária das empresas prestadoras de serviço de saneamento da RMRJ.
No entanto, até esse momento a participação do setor privado ainda era muito pequena
quando analisamos o tamanho dos serviços prestados por cada concessionária evidenciando a
hegemonia da CEDAE principalmente em relação ao abastecimento de água, como pode ser visto
na Figura 1 a seguir.
2.500.000,00
2.000.000,00
1.500.000,00
Água Produzida
1.000.000,00
Água Faturada
Esgoto Coletado
500.000,00
Esgoto Tratado
Esgoto Faturado
-
AM AMAE CAI CAN CEDAE FABZO FSSG PMP PMRB
Figura 1 – Água e esgoto produzida, coletado, tratado e faturados (m³) para cada concessionária de saneamento da
RMRJ referente a 2020. (FONTE: SNIS, 2021)
7
Apesar da hegemonia da CEDAE em termos quantitativos, ao analisarmos os índices de
atendimento urbano dos serviços em cada município, destaca-se o município de Niterói atendido
pela empresa Águas de Niterói – controlada pelo grupos Água do Brasil – com quase 100% da
população urbana abastecida com água e de esgoto tratado, conforme representado na Figura 2.
120
100
80
60
40
Atendimento urbano
20 de água
Atendimento urbano
de esgoto
-
120
100
80
60
40
Esgoto coletado
20
Esgoto tratado
Figura 2 – (a) Índices de atendimento de água e esgoto (%) dos municípios da RMRJ referente a 2020 (b) Índices de
coleta e tratamento de esgoto referente a água consumida (%) dos municípios da RMRJ referente a 2020. (FONTE: SNIS,
2021)
8
dada pelos órgãos governamentais a este direito fundamental. Também neste caso, percebe-se que
a mudança de rota mais significativa na evolução da rede se deu a partir da concessão de parte do
serviço do esgotamento da capital ao setor privado em 2011, quando a empresa FAB Zona Oeste
assumiu a coleta e o tratamento do esgoto da Área de Planejamento 5 [AP5] que abrange a zona
oeste da cidade. É importante destacar que a variação nos dados dos municípios do entorno entre
2009 e 2010 se dá em função da maior disponibilização dos dados e não devido à ampliação da rede
de fato.
1.400 3.000.000
1.200 2.500.000
1.000
2.000.000
800
1.500.000
600
1.000.000
400
200 500.000
0 0
km 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
8.000 2.500.000
7.000
2.000.000
6.000
5.000 1.500.000
4.000
3.000 1.000.000
2.000
500.000
1.000
- 0
km 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Economias residencias na capital Economias residencias no entorno
Extensão da rede na capital [km] Estensão da rede no entorno [km]
Figura 3 – (a) Evolução da extensão da rede de abastecimento de água [km] e das economias residenciais ligadas à rede
entre os anos 2007 e 2020; (b) evolução da extensão da rede de coleta de esgoto [km] e das economias residenciais
ligadas à rede entre os anos 2007 e 2020 [Fonte: SNIS, 2021]
9
que seja possível uma análise minuciosa e precisa da situação do saneamento básico em cada parte
do país. Nesse sentido, foi realizado o levantamento de informações complementares disponíveis
em diversos planos, estudos e pesquisas publicados relacionados ao saneamento da RMRJ. A relação
detalhada dos documentos analisados é apresentada no Quadro 3. A análise desses documentos
teve como foco a compilação dos dados referentes à infraestrutura de abastecimento de água e
coleta e tratamento de esgoto, com o objetivo de estruturar uma base dados geoespaciais acerca
do saneamento da RMRJ. Atualmente esses dados sobre a infraestrutura encontram-se dispersos
em diversas fontes, impossibilitando uma visão de conjunto, e assim comprometendo uma
investigação aprofundada sobre o assunto, já que a região metropolitana é composta
majoritariamente por sistemas integrados extremamente complexos. Sendo assim, a compilação
realizada constitui um banco de dados inédito e completo acerca do saneamento da RMRJ
(considerando os dados publicados), e será disponibilizado através do Sistema de Informações
Geográficas do Observatório das Metrópoles na internet, podendo ser acessado gratuitamente por
qualquer usuário.
A Figura 4 demonstra a dimensão da base de dados constituída pelo Observatório das
Metrópoles, a partir da quantidade de Estações de Tratamento de Esgotos registradas em seu banco
de dados. Destaca-se sobretudo a deficiência de informações apresentadas nos Planos Municipais
de Saneamento Básico, que juntos registram apenas cerca de 30% das informações existentes.
Figura 4 – Quantidade de Estações de Tratamento de Esgotos [ETEs] registradas na base de dados do Observatório das
Metrópoles em comparação com as fontes pesquisadas, de acordo com a situação da operação [ativa ou inativa].
10
Quadro 3 – Estudos e planos relacionados ao saneamento analisados.
Plano Estadual de Recursos Hídricos Conselho Estadual de Recursos Hídricos 2014 Estado do RJ
11
12
13
2.3 – Levantamento de informações sobre as políticas municipais de saneamento básico nos
municípios metropolitanos
Não EM ELABORAÇÃO
23% 23%
Sim
54% CONCLUÍDO
14% APROVADO
63%
Em elaboração
23%
Sim
Sim
Sim, em conjunto 9%
com outras políticas
14%
Não
Não 91%
73%
Figura 7 – Situação da implementação das Políticas Municipais de Saneamento Básico dos Municípios da RMRJ. (a)
Política Municipal (b) Plano Municipal (c) Conselho Municipal (d) Fundo Municipal. (FONTE: MUNIC – Saneamento IBGE,
2018)
14
2.4 – Acompanhamento da elaboração/revisão de Planos Municipais de Saneamento Básico.
15
Figura 8 – Situação da elaboração dos Planos Municipais de Saneamento Básico para cada município da RMRJ [Fonte:
elaboração própria com base em dados das Prefeituras e do PSAM]
16
Quadro 4 – Situação dos Planos Municipais de Saneamento Básico dos Municípios da RMRJ. (FONTE: MUNIC – Saneamento IBGE, 2018)
NOME MUNIC SITUAÇÃO ATUALIZAÇÃO INSTRUMENTO NUM DATA_ANO
Belford Roxo APROVADO DESATUALIZADO Lei 1555 2017 Água, Esgoto, Drenagem e Resíduos Sólidos
Cachoeiras de Macacu APROVADO PARCIALMENTE DESATUALIZADO Lei 1991 2013 Água e Esgoto
Duque de Caxias APROVADO PARCIALMENTE DESATUALIZADO Lei 2881 2017 Água, Esgoto e Drenagem
Guapimirim APROVADO PARCIALMENTE DESATUALIZADO Lei 806 2013 Água e Esgoto
Itaboraí APROVADO PARCIALMENTE DESATUALIZADO Decreto 58 2014 Água e Esgoto
Itaguaí APROVADO ATUALIZADO Lei 3842 2020 Água, Esgoto, Drenagem e Resíduos Sólidos
Japeri - - - - - -
Magé APROVADO PARCIALMENTE DESATUALIZADO Lei 2221 2014 Água e Esgoto
Maricá APROVADO DESATUALIZADO Lei 2660 2015 Água, Esgoto, Drenagem e Resíduos Sólidos
Mesquita APROVADO ATUALIZADO Decreto 2771 2020 Água, Esgoto, Drenagem e Resíduos Sólidos
Nilópolis CONCLUÍDO - Não regulamentado Água, Esgoto, Drenagem e Resíduos Sólidos
Niterói APROVADO ATUALIZADO Decreto 13669 2020 Água, Esgoto, Drenagem e Resíduos Sólidos
Nova Iguaçu APROVADO PARCIALMENTE DESATUALIZADO Lei 11102 2017 Água e Esgoto
Paracambi - - - - -
Queimados EM ELABORAÇÃO - - - - -
Rio Bonito APROVADO DESATUALIZADO Decreto 326 2015 Água e Esgoto
Rio de Janeiro EM REVISÃO DESATUALIZADO Decreto 34.290 2011 Água e Esgoto
Rio de Janeiro APROVADO DESATUALIZADO Decreto 41.173 2015 Drenagem
Rio de Janeiro EM REVISÃO DESATUALIZADO Decreto 42.605 2016 Resíduos Sólidos
São Gonçalo APROVADO DESATUALIZADO Decreto 274 2015 Água, Esgoto, Drenagem e Resíduos Sólidos
São João de Meriti APROVADO DESATUALIZADO Lei 1852 2012 Água, Esgoto, Drenagem e Resíduos Sólidos
Seropédica - - - - - -
Tanguá APROVADO PARCIALMENTE DESATUALIZADO Decreto 132 2013 Água e Esgoto
17
Quadro 5 – Avaliação qualitativa dos planos municipais de saneamento básico dos municípios da RMRJ quanto ao
diagnóstico da situação dos sistemas de coleta e tratamento de esgotos.
Japeri - - - - - -
Paracambi - - - - - -
Petrópolis Sim
Seropédica - - - - - -
18
2.5 – Acompanhamento dos processos de privatização e PPPs associados ao saneamento básico:
19
inclui o serviço de esgotamento sanitário, incluindo coleta e tratamento, a exceção dos casos onde
este serviço já se encontre concedido ao setor privado, como no caso da Zona Oeste da capital.
A concessão dos serviços foi dividida em quatro blocos de municípios, dado que a CEDAE
detém a concessão de água de 64 municípios do ERJ, incluindo a capital e a maior parte dos
municípios da RMRJ, excluindo Niterói, Guapimirim e Petrópolis que já tem os serviços de água e
esgoto privatizados. Cada um dos 4 blocos de concessão compreendem uma parte do município do
Rio de Janeiro, além de municípios da RMRJ e do interior do estado. De acordo com Hélio Cabral
(2019), ex-presidente da CEDAE demitido em função da crise da qualidade da água do Guandu em
fevereiro de 2020, essa divisão busca possibilitar o subsídio cruzado, de modo que quem ficar
responsável pelos serviços em cada um deles, levará “o filé e o osso”. Os municípios que compõem
cada bloco estão apresentados na Figura 9 a seguir.
Figura 9 – Blocos para concessão dos serviços de saneamento segundo estudo do BNDES.
Figura 10 - Empresas prestadoras dos serviços de água e esgoto em cada município da RMRJ. [Fonte: CEDAE, 2022]
É importante destacar o que representa essa concessão para o setor privado em termos
quantitativos. De acordo com dados do jornal Valor Econômico, apenas 6 de 23 empresas do setor
de água e saneamento que aparecem entre as mil maiores empresas do país são privadas. As 6
maiores empresas de saneamento do país ainda são controladas pelo estado – SABESP, CEDAE,
COPASA, SANEPAR, EMABASA e CORSAN -, enquanto as empresas que estão assumindo os serviços
no estado do RJ, AEGEA, SAAB e Iguá ocupavam as 7ª, 13ª e 18ª posições respectivamente em 2020.
Conforme pode ser visto na Figura 11, a receita liquida da CEDAE em 2020 corresponde a mais de
120% das receitas liquidas dessas três empresas privadas somadas. Isso significa que essas empresas
têm um potencial de dobrar de tamanho a partir dessa concessão.
Em 2020 a CEDAE teve um prejuízo de cerca de 250 milhões, no entanto este parece ter sido
um ano atípico impactado pela pandemia do coronavírus, já que desde 2012 a empresa vinha
apresentando crescimento constante da receita e da margem líquidas, com uma margem líquida
média de aproximadamente 10% no período. Já em 2019 a margem líquida chegou a 16,7% e o lucro
líquido foi de mais de um bilhão de reais.
21
CEDAE SABESP
19000 90,0
17000 80,0
15000 70,0
13000 60,0
11000 50,0
9000 40,0
7000 30,0
20,9
17,8 17,0 17,2 17,6 18,7
5000 15,3 16,7 20,0
11,2
8,2 8,9 8,1
4,7 6,1 5,9 4,6 5,5
3000 10,0
-4,2
1000 0,0
-1000 -10,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
COPASA SANEPAR
6000 70,0
5000 60,0
4000 50,0
3000 40,0
2000 13,7 11,2 14,6 15,3 21,4 22,9 20,8 30,0
7,7 10,8 13,0 12,2 15,8 17,0 16,1 18,0 17,7
1000 20,0
-0,3
0 0,5 10,0
-1000 0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
AEGEA SAAB
3000 70,0
2500 60,0
2000 50,0
40,0
1500 25,9
19,1 30,0
1000 17,7
14,8 16,7 15,4 16,5 17,3 18,7
11,5 11,6 10,4 10,3 13,1 20,0
7,2 8,7 7,8 8,4
500 10,0
0 0,0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
IGUA
1000 70
RECEITA LIQ. LUCRO LIQ.
800
50 MARGEM LIQ.
600
400 30
200 5,3 5,0
2,4 -0,6 10
0
-200 -10
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Figura 11 – Receita, lucro e margem líquidos das principais empresas do setor de saneamento no Brasil [Fonte: Valor
Econômico, 2022]
22
2.6 – Levantamento de informações sobre financiamentos para a política de saneamento
2.000
1.750
1.500
1.250
Milhões [R$]
1.000
750
500 FECAM
250 FUNDRHI
CEDAE
0
-250
-500
2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Figura 12 – Arrecadação anual das principais fontes de recursos estaduais [FECAM - Fundo Estadual de Conservação
Ambiental e Desenvolvimento Urbano; FUNDRHI - Fundo Estadual de Recursos Hídricos/RH Baía de Guanabara e RH
Guandu; Lucro Líquido da CEDAE] disponíveis para investimento em saneamento na RMRJ [em milhões R$]. [Fonte:
INEA/SEA/CEDAE, 2022]
1.000
750
Milhões [R$]
500
250 Água
Esgoto
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
Figura 13 – Total de investimentos em abastecimento de água e esgotamento sanitário nos municípios da RMRJ [em
milhões R$]. [Fonte: SNIS, 2021]
23
Outro aspecto importante a ser analisado é o investimento realizado por cada prestador de
saneamento na região, em relação ao seu faturamento, conforme apresentado na Figura 14. Nesse
caso é evidente o baixo investimento realizado pela CEDAE, que mesmo apresentado lucro líquido
médio de 380 milhões, investiu somente cerca de 3,3% da receita operacional direta incluindo os
investimentos não onerosos realizados pelo estado, enquanto as empresas Águas de Niterói e Zona
Oeste Mais investiram 3,2% e 9,10% respectivamente de recursos próprios. O investimento com
recursos onerosos também é bem menos significativo no caso da CEDAE, a empresa Zona Oeste
Mais, por exemplo, que iniciou a operação do serviço nesse mesmo período investiu cerca 32% da
receita utilizando recursos emprestados de terceiros.
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10% Recursos Prórpios
5% Recursos onerosos
Recursos não onerosos
0%
CAN CEDAE FABZO
Figura 14 – Investimento total realizado em saneamento em relação à receita operacional direta dos prestadores no
período de 2012-2020. [Fonte: SNIS, 2021]
24
Maricá
Queimados
Seropédica
Nilópolis
Nova Iguaçu
Magé
Belford Roxo
Tanguá
Japeri
Mesquita
Duque de Caxias
Rio Bonito
São Gonçalo
Niterói
Rio de Janeiro
São João de Meriti
Guapimirim
Itaguaí
Paracambi
Itaboraí Esgoto
Cachoeiras de Macacu
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 110%
Figura 15 – Investimento em água e esgoto em relação à receita operacional direta dos prestadores em cada município
realizado no período de 2007-2020. [Fonte: SNIS, 2021]
Nilópolis
Seropédica
Maricá
Queimados
Nova Iguaçu
Niterói
Rio de Janeiro
Belford Roxo
Mesquita
Duque de Caxias
São Gonçalo
Rio Bonito
Magé
Japeri
São João de Meriti
Tanguá
Itaguaí
Guapimirim
Paracambi
Itaboraí Água [R$/hab.]
Cachoeiras de Macacu Esgoto [R$/hab.]
- 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 60,00 70,00
Figura 16 – Investimento em água e esgoto em relação à população de cada município [R$/habitante] realizado no
período de 2007-2020. [Fonte: SNIS, 2021]
25
2.7- Levantamento de estruturas tarifárias, modelos de tarifas sociais e impactos das tarifas na
renda familiar
27
7,00 70%
6,00 60%
5,00 50%
2.8.2 Monitoria
4. Dificuldades encontradas
O período entre março de 2020 até o final da vigência da bolsa foi marcado pelas
dificuldades impostas pela pandemia de coronavírus. No âmbito pessoal, o estresse
ocasionado pelo confinamento, a preocupação com a própria saúde e de amigos e
familiares, além do sofrimento ocasionado pelo falecimento de muitas pessoas
queridas, impuseram enormes desafios para o desenvolvimento normal de todas as
atividades. Além disso, o fato de as atividades terem sido desenvolvidas dentro da
própria residência com recursos próprios, impôs também dificuldades técnicas para o
desenvolvimento dos trabalhos, tendo em vista que algumas atividades da pesquisa
requerem o uso de computadores de alta capacidade e um acesso adequado à internet,
o que nem sempre foi possível.
29
Além disso, há a dificuldade do acesso aos dados requisitados pela pesquisa, pois
em diversos casos estes não são disponibilizados em formatos adequados à análise da
área de interesse da pesquisa, necessitando longo trabalho de sistematização. Os
sucessivos adiamentos que resultaram na não realização do censo nacional dentro do
período da pesquisa também impactou significativamente o seu desenvolvimento
conforme planejado, tendo em vista que a divulgação dos dados censitários atualizados
teria contribuído substancialmente para o aprofundamento da análise da situação do
saneamento básico na RMRJ.
Deve ser considerado ainda como uma dificuldade para o desenvolvimento
adequado das pesquisas a lacuna proporcionada pela pandemia na realização de
reuniões, audiências públicas, fóruns e congressos presenciais sobre o tema do
saneamento.
30
No. ATIVIDADES ANO 1 ANO 2 ANO 3
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
1 Aprofundamento do referencial teórico da
X X X X X X X X X X X X X X X
pesquisa/ atualização revisão bibliográfica
2 Levantamento de dados sobre
saneamento básico e gestão das águas na X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
RMRJ
3 Levantamento de informações sobre as
X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
políticas municipais de saneamento básico
4 Acompanhamento da elaboração/revisão
de Planos Municipais de Saneamento X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
Básico
5 Acompanhamento dos processos de
privatização e PPPs associados ao X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
saneamento
6 Levantamento de informações sobre
financiamentos para a política de X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
saneamento
7 Levantamento de estruturas tarifárias,
X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
modelos de tarifas sociais
8 Organização e análise dos dados e
X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X
informações levantadas
9 Redação dos relatórios parciais da
X X X X X X
pesquisa
10 Redação do relatório final da pesquisa X X X X X X
x Atividade já realizada
x Atividade que será realizada
31
6. Referências Bibliográficas
BAKKER, K. The “commons” versus the “commodity”: Alter‐globalization, anti‐privatization and the
human right to water in the global south. Antipode, v. 39, n. 3, p. 430-455, 2007.
BAYLISS, K. The financialization of water. Review of Radical Political Economics, v. 46, n. 3, p. 292-307,
2014.
BRASIL. Balanço Execução dos Empreendimentos da Carteira PAC - DEZ-2018. (Disponível em:
http://pac.gov.br/sobre-o-pac/documentos-tecnicos
BRITTO, A. L.; REZENDE, S. C. A política pública para os serviços urbanos de abastecimento de água e
esgotamento sanitário no Brasil: financeirização, mercantilização e perspectivas de resistência. Cadernos
Metrópole, v. 19, n. 39, p. 557-581, 2017.
CONEN; SEA. Estudo Regional de Saneamento Básico. Parte I: caracterização e diagnóstico. SEA. Rio de
Janeiro, p.219. s/d.
IBGE. Pesquisa de Informações Básicas Municipais – MUNIC: Saneamento Básico, 2017 (disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/10586-pesquisa-de-informacoes-basicas-
municipais.html?=&t=downloads)
LOFTUS, A.; MARCH, H.; NASH, F. Water Infrastructure and the Making of Financial Subjects in the South
East of England. Water Alternatives, v. 9, n. 2, 2016.
MMA. Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima. Vol. 2 […]. Brasília: MMA, 2016.
PDUI. Produto 18: Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana do
Rio de Janeiro – Tomo I. Disponível em: < https://www.modelarametropole.com.br/wp-
content/uploads/2018/09/Produto-18-Tomo-1.pdf>. Acesso em 20 mai. 2019.
PRYKE, M.; ALLEN, J. Financialising urban water infrastructure: Extracting local value, distributing value
globally. Urban Studies, v. 56, n. 7, p. 1326-1346, 2019.
_____________________________
Vinicius dos Reis Soares
______________________________
Sergio de Azevedo
32