Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Entre o Cã©u e o Inferno
Entre o Cã©u e o Inferno
CAPÍTULO 2
Mais tarde, Helen levou James Stanford até a estação. Ele mesmo
tinha insistido com Jarret para que usasse seu carro até receber de volta a
Ferrari. Assim, a Mercedes do editor ficou em King’s Green e James foi para a
estação no pequeno Alfa de Helen, por sugestão da sra. Chase, depois do jantar.
A noite estava escura e anunciava tempestade, o que fez Helen
pensar em desistir de ir até Ketchley, como tinha prometido a Charles. Mas,
depois de deixar James Stanford na estação, sentiu necessidade de ver o noivo,
com ou sem chuva. Tomou a direção do haras, mas foi impedida de chegar até
lá pela tempestade forte que desabou. Felizmente Charles decidiu ir a procura
dela e ajudou-a a livrar o carro da lama.
Chegando à casa dos Connaught, Helen tirou o casaco e deu uma
enxugada no cabelo com uma toalha trazida pela mãe de Charles.
— Que falta de sorte! – exclamou Charles, e Helen concordou.
— É uma pena que nosso jogo de tênis tenha ido por água abaixo –
comentou Helen, sorrindo.
— Não foi isso que eu quis dizer. Vai ser difícil chegar até Exeter
amanhã, com esse tempo – disse Charles. — Você sabe, tenho dois cavalos que
vão correr amanhã, e se essa chuva continuar...
— Ora, não se preocupe com os seus cavalos, Charles – protestou
Helen, sentindo-se rejeitada.
— Sei que não gosta dos meus animais, Helen, mas pelo menos
podia mostrar alguma preocupação pelo bem-estar deles. A chuva deixa a pista
escorregadia e...
— Sei disso, Charles. E não sou insensível, pode acreditar – Helen
hesitou. — Por falar nisso, eu... bem... eu acariciei o cavalo de Jarret hoje à tarde.
O que você acha disso?
— Você fez o quê? – a expressão de Charles não agradou nem um
pouco a Helen. — Você... acariciou o cavalo de Manning! Desde quando ele tem
um cavalo? Você não tinha me dito isso.
— Só faz alguns dias que ele comprou o Horácio de Burt Halliday
– Helen foi se sentar perto da lareira e procurou mudar de assunto ao perceber
que Charles estava irritado. — Onde está sua mãe?
— Burt Halliday! – interrompeu-a, ríspido. — Manning comprou
um cavalo dele? Aquele... aquele cafajeste! Espero que tenha sido enganado.
— Ele...eu... Ele parece ser um bom animal – arriscou Helen, mas
Charles reagiu com impaciência outra vez.
— O que é que você entende disso? – ironizou. Depois, lembrando-
se do que a noiva tinha dito antes, perguntou: — Como é que chegou tão perto
do cavalo para acariciá-lo? – olhou para ela com raiva. — Por acaso Manning
estava montando o animal, na ocasião?
— Não, claro que não. – embora fosse verdade, Helen ficou
vermelha. — Ele... nem estava lá. Eu só... bem, Horácio estava lá...
— Horácio!
— ... e eu... fiquei com pena, porque os mosquitos estavam
atormentando o coitado.
— Então você o acariciou... – o tom de Charles era de desprezo.
— Por coincidência, sim. – Helen procurou não se deixar intimidar.
— Pensei que você fosse ficar contente. – Depois, como Charles não dissesse
nada, ela continuou — Você ainda não disse onde está sua mãe.
— Ela e papai foram ao teatro – declarou, seco. — Parece que é um
musical qualquer. Mas ela quis ir e papai teve que levá-la.
— Sei. – Helen recebeu a notícia com preocupação. Preferia que os
pais do noivo estivessem em casa naquela noite, porque pressentia uma
discussão.
— Quer dizer que agora você vai poder aprender a montar? –
insistiu Charles, disposto a atormentá-la.
Helen suspirou.
— Um dia... talvez – concordou Helen, sem vontade de discutir.
— Quando penso no número de vezes em que tentei aproximar
você dos meus animais! – exclamou Charles, tentando controlar a raiva. — E,
agora, bastou esse Manning comprar um pangaré qualquer para você ir logo
para cima dele!
— Não é verdade! – Helen ficou em pé, furiosa, decidida a não
deixar que o noivo a tratasse como a um ser inferior. — Já expliquei que Jarret
não estava por perto.
— Ah, quer dizer que agora ele virou Jarret para você? Muito bem!
Ficaram íntimos em pouco tempo!
— Não seja tolo, Charles. – Helen sentia raiva do noivo e dela
mesma. — É possível que você tenha tentado... não sei.. O que sei é que o
cavalo estava lá, eu também estava, aconteceu.
— Muito bem! – Charles cerrou os punhos, furioso. — Mas com
certeza você vai querer repetir a façanha.
— Não entendi.
— Agora. Aqui e agora. Pode me provar que é corajosa.
— Isso é necessário? Não acredita em mim.
— E se eu disser que não?
— Ora, Charles, que infantilidade!
— Por quê? Só porque quem está pedindo sou eu e não Manning?
— Jarret não tem nada a ver com isso, Charles. Quantas vezes
preciso repetir isso?
— Está bem – Charles não desistiu. — Então prove que pode entrar
no estábulo sem ficar em pânico.
— Francamente, Charles... – Helen suspirou. — Está bem. Se você
faz questão... Mas não espere demais, porque ainda preciso de tempo.
Um corredor coberto levava até a construção central onde ficavam
os cavalos. Ao cruzar a primeira porta, Helen sentiu uma pontada de pânico.
Fique calma, dizia a si mesma ao sentir o cheiro dos cavalos. Mas, sabendo que
Charles esperava tanto dela, não era nada fácil. A mistura de cheiros de palha e
couro, a visão dos puros-sangues cada vez mais próximos quase fizeram Helen
virar as costas e sair correndo.
— Pronto – disse Charles, apontando para um belo cavalo cinza na
primeira baia. — Este é Moonmist. Acha que pode montá-lo?
— Montar? – Helen deu uma risadinha nervosa. — Claro que não!
Não posso montar cavalo nenhum. Ainda não...
— Que tal o Lacey? – Charles acariciou o pescoço de outro animal,
que deu um relincho de satisfação. — Venha passar a mão nele. Ele não vai
morder você.
Helen quis dizer que não, mas o rosto contraído de Charles não lhe
deixava escolha. Não se perdoaria se falhasse naquele momento. Meio às cegas,
estendeu a mão e tocou o pelo macio.
— Muito bem, muito bem... – Charles estava impressionado, mas
seu tom de voz não era nada amigável. — Quando foi que aconteceu esse
milagre?
— Não é milagre, Charles – heroicamente, Helen deixou que o
animal esfregasse o focinho na sua mão. — Aconteceu... só isso.
— O que Manning achou? – perguntou Charles, sarcástico.
— Ele ficou surpreso, é claro...
— Você não disse que ele não estava lá? – interrompeu Charles,
percebendo a contradição.
— E não estava mesmo. Eu contei a ele.
— Contou? – Charles era a fúria personificada. — Foi direto contar
que tinha acariciado o cavalo dele?
— Não foi bem assim.
— Como é que foi então.
— Charles! Quer parar com isso? Já fiz o que você queria...
acariciei... ah... Lacey. Vamos entrar agora. Estou com frio.
— Já, já. – Charles foi para o fundo do estábulo, conversando com
os animais à medida que passava pelas diversas baias. Parecia determinado a se
vingar, e Helen se arrependeu de ter ido a Ketchey.
— Venha aqui, Helen.
Helen seguiu a voz e descobriu o noivo na última baia, agachado
ao lado de um monstruoso cavalo negro. Num esforço supremo de vontade, ela
conseguiu não gritar, e a ausência de reação desapontou Charles.
— Este é Poseidon – disse ele, e o coração de Helen deu um salto
ao ouvir o nome. — Veja, venha ver o que aquele idiota do meu irmão fez com
o animal. Está vendo? Chegue mais perto.
Helen deu um passo para trás. Poseidon estava imóvel, mas ela
não gostou do olhar do cavalo, nem do jeito como ele mantinha as orelhas
deitadas para trás.
— É melhor eu ficar aqui – implorou, petrificada. — Por que não
voltamos para casa? Estou com frio.
— É demais para você, não é, Helen? – Charles olhou para ela,
triunfante. — Exatamente como eu esperava. Você não é uma amazona, Helen,
e nunca vai ser. Pode dizer a Manning que eu disse isso.
A atitude do noivo entristeceu e chocou Helen, que chegou a
conclusão de que havia na personalidade do noivo recantos obscuros e
insensíveis. Sem pedir licença, virou as costas e foi embora.
Já estava na porta quando um raio cortou o céu, seguido de um
trovão assustador. Os cavalos se agitaram nas baias, inquietos, tão apavorados
com a tempestade quanto Helen com eles. Nesse instante um grito de dor soou
mais alto que o trovão. Helen pensou que fosse mais um truque de Charles, mas
ao ouvir os relinchos fortes de Poseidon percebeu que alguma coisa muito
grave tinha acontecido.
— Charles... – parou diante da baia e chamou o noivo, mas não
obteve resposta. — Charles! Charles, responda! Pare com isso. Está me
assustando!
— Helen – a voz de Charles era fraca. — Helen, pelo amor de
Deus, me ajude. Prendi a perna e não consigo sair.
Helen não se mexeu. Devia ser mais um truque de Charles.
— Onde é que você está? – perguntou com voz trêmula, e recebeu
como resposta um palavrão.
— O que é que você acha? Na baia de Poseidon. Ele me deu um
coice, o maldito! Pelo amor de Deus, me ajude.
Helen sentia os protestos do estomago, mas caminhou decidida na
direção de Charles. Afinal, não podia abandonar o noivo numa situação
daquelas.
— Maldito cavalo – exclamou Charles quando Helen se
aproximou, tremendo – Esse maldito podia ter me matado.
— O que aconteceu? – Helen correu para o noivo estendido no
chão, preocupado demais para sentir medo. — Pensei que você fosse capaz de
dominar o animal.
— Não seja idiota! – retrucou Charles, furioso, levantando-se com
esforço e apoiando todo o peso do corpo em Helen. — Como é que eu podia
saber que o trovão ia assustá-lo daquele jeito? Se ele tivesse atingido minha
cabeça, e não meu joelho...
Com dificuldade, saíram da baia e fecharam a porta. Charles
andava com dificuldade, e Helen procurou ficar de boca fechada para não irritá-
la ainda mais. Chegando em casa, ela o deitou num sofá e só então percebeu a
gravidade do ferimento.
— Acha que a perna está quebrada? – murmurou Helen,
preocupada.
— Não, está só machucada – garantiu Charles, dobrando a perna
com evidente dificuldade. — Vá buscar um uísque com soda para mim.
Nenhum maldito animal vai me derrubar!
— É melhor chamar o médico – sugeriu com delicadeza. – Ele pode
receitar algum analgésico...
— Não me diga o que devo fazer, Helen. – tirou o copo de uísque
da mão dela sem a menor delicadeza. — Sei muito bem o que você está
pretendendo. Quer que o médico venha e depois conte a todo mundo que
Connaught não é capaz de dominar seus animais!
— Não, Charles!
Helen estava chocada com tanta maldade. Ele tomou vários goles
de uísque e depois olhou para ela de um jeito estranho.
— Venha cá – ordenou, apontando para o sofá. — Você vivem se
queixando de que eu não tento nada com você quando estamos sozinhos. Quero
fazer você mudar de opinião.
— Charles, o que está acontecendo com você? – Suspirou,
desanimada. — Por favor, vamos chamar o Dr. Bluthner.
— Já disse que não. Venha cá, Helen.
Puxou-a com força para o sofá, os olhos transtornados pela bebida,
e passou as mãos pelas coxas dela.
— Minha Helenzinha – sussurrou, cheio de desejo, afundando a
cabeça no pescoço dela. — Minha doce salvadora! Você merece uma
recompensa.
Procurou o fecho do zíper da calça de Helen, sem se importar com
a reação de asco e rejeição da noiva. Tinha só um objetivo em mente: sua
própria satisfação. Ela tentou afastar a mão dele, mas era mais fraca e não
conseguiu. O zíper foi aberto com violência e a mão de Charles invadiu sem
escrúpulos a região quente e macia.
— Não, Charles!
Lutou como uma louca para se livrar daquelas mãos insensíveis,
debatendo-se e chutando as pernas dele, até que um chute no joelho ferido
obrigou-o a soltá-la.
— Sua cadela! – gritou, agarrando o joelho com as duas mãos.
Helen sentiu uma pontada de arrependimento.
— Desculpe, mas... – Ia continuar, mas o som de vozes de pessoas
que entravam a interrompeu. Apavorada com o próprio estado, fechou
depressa o zíper e ajeitou o cabelo despenteado.
Um segundo depois, Vincent aparecia na porta, acompanhado de
nada mais, nada menos, Jarret Manning. Os dois pararam ao ver a cena que
estavam interrompendo. Foi Vincent quem quebrou o silêncio, constrangido.
— Noite horrível! – comentou, divertido.
Helen quase morreu de vergonha, mas Charles não parecia nem
um pouco embaraçado.
— Que diabos você está fazendo aqui, Manning? – perguntou
ríspido, sem se preocupar em cumprimentar o irmão.
— Ele não queria vir, Charles – interveio Vincent -, mas eu insisti.
Como não havia táxis na estação, telefonei e pedi a ele que me trouxesse até em
casa. Pode ao menos oferecer uma bebida a ele?
— Nós... não ouvimos o carro. – Helen se dirigiu a Vincent,e ele
sorriu.
— Acredito – brincou. – Quer um drinque, companheiro? –
perguntou a Jarret.
— Não, obrigado. – Jarret olhou de Helen para Charles, e de novo
de Charles para Helen. — Já vou embora. Quer uma carona, Helen?
— Ela veio no carro dela, Manning – explodiu Charles. — Não
precisa de carona nenhuma.!
— As estradas estão péssimas – argumentou Vincent. —
Honestamente, aconselho você a voltar com Jarret, Helen. Posso levar seu carro
amanhã de manhã.
Charles ficou furioso e começou uma discussão com o irmão, que
aceitou o desafio e respondeu a altura.
— Pelo amor de Deus! – exclamou Helen. — Isso é ridículo! Vou
para casa sozinha. Vocês que se arrebentem!
Virou as costas e saiu. Vincent tinha razão: a noite estava horrível,
mas Helen não podia voltar atrás. Entrou no pequeno Alfa e tomou a direção da
estrada sem olhar para trás. A luz dos faróis não era suficiente para iluminar a
estrada, mas ela se recusava a entrar em pânico. A lembrança da cena com
Charles lhe dava forças e eliminava o medo.
De repente, os pneus começaram a girar em falso na lama e o carro
derrapou, deslizando para o acostamento. Por pouco não capotou, mas
felizmente o choque contra o barranco não foi muito forte e Helen não se
machucou. Estava imóvel no assento, chocada demais para pensar, quando
alguém abriu a sua porta. Era Jarret, e parecia muito ansioso.
— Helen, pelo amor de Deus... – começou, zangado. Mas ao
perceber o olhar assustado de Helen, se acalmou. — Você está bem?
Ela fez que sim com a cabeça e só então percebeu que ele não
estava agasalhado. Ao contrário dela, só estava usando uma camisa de seda,
encharcada pela chuva.
— Estou... estou bem – disse com voz trêmula. — Você está
ensopado. Vá embora.
— E como é que pretende sair daqui? – perguntou, ríspido.
— Já disse que dou um jeito. Vá embora, sr. Manning. Não preciso
de sua ajuda. Volte para o seu livro. – Helen sentia que estava agindo
irracionalmente, mas não tinha condições emocionais para raciocinar.
— Só porque sua vida sexual com seu noivo não é satisfatória, não
precisa me agredir – explodiu Jarret.
— O que é que você sabe sobre isso? – protestou, furiosa.
— Ora, não banque a inocente. Pensa que não percebi o que
Vincent e eu interrompemos?
— Não se atreva a continuar, sr. Manning. Vá embora
imediatamente! Já disse que não preciso da sua ajuda.
— Está bem. Está bem! – virou as costas, louco de raiva, e entrou
no Mercedes sem olhar para trás.
Helen ouviu o ruído do motor em movimento e caiu em si. Ele
estava indo embora! Como ia fazer para sair dali? A ideia de passar a noite
sozinha naquela escuridão, debaixo daquela tempestade, a apavorou. Num
impulso de pavor, saiu correndo do Alfa atolado, sem se importar com a chuva
e com o barro. Chegou perto do automóvel de Jarret já quase sem fôlego e
parou do lado da janela, humilhada, temendo a reação dele. Percebendo os
sentimentos dela, ele abriu a porta e desceu outra vez.
— Helen... – murmurou com suavidade e, num impulso, abraçou-a
e beijou-a na boca.
Era uma loucura ficarem ali parados debaixo daquele aguaceiro,
mas Helen não tinha forças nem vontade de se afastar. Aquele era o lugar dela,
aquele era o homem que amava! A revelação caiu sobre ela como um raio. O
corpo de Jarret estava frio, mas seus beijos queimavam como fogo, cada vez
mais intensos à medida em que ela se entregava. Apesar do frio, uma onda de
calor corria pelas veias dela, espalhando-se pelo corpo todo numa avalanche de
desejo. As roupas ensopadas tornavam o abraço ainda mais íntimo e revelador,
e Helen perdeu a noção de tudo, a não ser do desejo de passar a noite nos
braços dele.
— Precisamos voltar – gemeu Jarret, levantando a cabeça com
esforço. — Sua mãe deve estar preocupada.
— Eu... eu sei...
Mais um beijo cheio de paixão, e depois Jarret a soltou e abriu a
porta do carro. Helen entrou, obediente. Ele entrou também, acendeu a luz
interna e examinou-a de alto a baixo com um brilho atormentado nos olhos.
Com a chuva, a blusa de Helen tinha colado no corpo, delineando nitidamente
as formas dos seios rijos.
— Helen – murmurou com um gemido. — Tem alguma ideia do
que estou sentindo agora?
— Eu... acho que sim – sussurrou com voz insegura, chegando
mais perto.
Sem forças para resistir, ele tornou a abraçá-la e cobriu seu rosto de
beijos.
— Que loucura – murmurou com a boca colada a dela. — Eu
desejo você, Helen, mas não aqui... não desse jeito. Eu amo você e quero fazer
amor com você. Mas amor mesmo, de verdade, e não seduzir você dentro de
um automóvel.
— Você ... você me ama? – Helen prendeu a respiração e escondeu
a cabeça no peito dele.
— Claro que amo. – Afastou a gola da blusa e beijou o pescoço
dela, ansioso. — Não tinha percebido ainda? Meu Deus, como foi difícil ficar
longe de você, sem tocá-la, sabendo que ia casar com aquele almofadinha do
Connaught! Sentia vontade de matá-lo cada vez que ele tocava você, e naquela
noite... quando você voltou com aquela marca no pescoço, minha vontade foi
dar um tiro nele.
— Jarret...
— Você me ama, não ama? Não sente a mesma coisa com
Connaught, sente? Ele faz isso com você? – inclinando a cabeça, acariciou o bico
do seio de Helen com os lábios.
— Não... oh... não! – balançava a cabeça de um lado para o outro,
enlouquecida. — Ninguém...ninguém jamais me tocou... como você.
— Ótimo! – ele parecia satisfeito. Afastando-se, encostou a cabeça
no vidro embaçado e olhou-a com um olhar de posse. — Vamos embora. Temos
muito tempo pela frente. Temos a noite inteira. Precisamos é de um bom banho,
de preferência juntos, mas se não for possível...
— Se não for possível? – perguntou, ansiosa.
— Você pode ir ao meu quarto depois? Prometo que não vou
fechar a porta. Pelo menos não antes de você estar lá dentro.
— Jarret... eu... eu não posso...
— Não diga que não, por favor – pediu, suave. — Preciso de você,
Helen. Quero você comigo, e não quero que nada nos impeça de ficar juntos.
Stanford veio a King’s Green para me dizer que preciso ir aos Estados Unidos
assim que meu livro estiver pronto... para assinar os contratos do filme. E quero
que você venha comigo. Você vai?
— Stanford? Mas... e Margot?
— Margot não significa nada para mim.
— Nada?
— Nada. Sei que ela pretendia fazer de mim o marido número
quatro, mas estava perdendo tempo.
— Você... dormiu com ela? – arriscou, espantada com própria
audácia.
— Não.
— E... com... Vivien Sinclair?
— O que é que você quer de mim, Helen? – ele estava meio
divertido, meio impaciente. — Um relatório das mulheres que conheci? Que
importância tem isso? Nunca disse a Vivien que a amava e é isso que importa.
Nunca disse a mulher nenhuma, a não ser a você.
— Isso... é verdade?
—É. Eu amo você, Helen. Não estou brincando. Mas se esperava
que eu bancasse o celibatário todos esses anos, então é muito ingênua.
— Não disse que esperava isso – protestou, trêmula.
— Desculpe... – Jarret passou a mão pelo cabelo, agitado. —
Desculpe se magoei você, mas que diabo! Será que eu devia ser virgem até hoje?
Garanto que você mesma não ia gostar. – Helen ficou vermelha e embaraçada,
e Jarret a puxou para perto dele outra vez. — Helen, até conhecer você, eu não
sabia o que era um interesse real por uma pessoa. Pode acreditar... foi terrível
pensar que você me odiava!
— Eu nunca odiei você, Jarret.
— Não mesmo? – segurou o rosto dela com as duas mãos. — Pois
eu acho que odiou. Mas não vamos falar nisso agora. Acha que sua mãe vai
deixar você ir comigo?
Helen não respondeu, atormentada pelos problemas que ainda
estavam por vir: Charles, a mãe, o futuro. Percebendo que ela estava indecisa e
que precisava de tempo para pensar, Jarret se afastou e deu a partida no carro.
Chegaram logo a King’s Green e Jarret parou bem em frente à
porta para que ela pudesse descer sem se molhar mais.
— O... o que você vai dizer? O que é que nós vamos dizer? –
perguntou, indecisa.
Jarret ficou impaciente
— O que você quer que eu diga? Vamos ver... “Eu amo sua filha,
sra. Chase, e quero que ela desfaça o noivado para vir comigo para Nova
Iorque”. Que tal?
— Só isso? – Helen não conseguia controlar a ansiedade.
— O que mais você quer?
Helen olhou para ele, incrédula.
— Que... que tal falar de casamento?
— Casamento? – repetiu, espantado.
—É, casamento. – a voz trêmula de Helen não demonstrava muita
convicção. — Você quer... casar comigo... não quer?
Jarret apoiou a cabeça na direção, e sua demora em responder deu
a Helen a convicção de que precisava. Sentindo-se profundamente rejeitada e
infeliz, estendeu a mão cegamente para a maçaneta da porta. Mas antes que
pudesse alcançá-la, Jarret esticou o braço na frente dela, impedindo-a de sair.
— Antes que se tranque no quarto outra vez, vou lhe falar uma
coisa – disse Jarret com raiva. — Está bem, não tenho intenção de providenciar
uma certidão de casamento antes de chegar aos Estados Unidos. Não concordo
com essas convenções.
— Claro – interrompeu-o, amarga. — Todas aquelas mulheres!
Devem ter pensado a mesma coisa que eu...
— Pensado o quê?
— Que... que você as amava...
— Já disse que você é a única mulher que eu...
— Ora, pode deixar os detalhes de lado! – uma lágrima escorreu,
teimosa. — Como posso acreditar em você...
— Nunca menti para você, Helen. Você sabe disso.
— Eu sei?
— Pois devia saber. Se eu quisesse mentir, acha que ia contar
minha vida a você?
— Isso não altera o fato de...
— Santos Deus! – cerrou os punhos. — Eu amo você, Helen, e se é
uma certidão de casamento que você quer, então vai ter uma. Mas não pense
que esse pedaço de papel vai fazer a menor diferença nos meus sentimentos por
você!
— Não... não! – Helen sacudiu a cabeça, teimosa. — Não, obrigada.
Posso viver sem o seu... sem o seu paternalismo. Talvez você esteja enganado.
Talvez eu seja mais feliz com Charles. Ele pelo menos tem a decência de me
oferecer uma aliança antes de tentar deitar na minha cama.
— Está bem! Está bem! – com uma imprecação, Jarret se afastou
dela. — Já estou cheio. Desça daqui ou não me responsabilizo pelos meus atos.
Volte para o seu querido noivo. Ele merece você!
— Jarret...
Por um momento, a enormidade do que ela estava rejeitando a
assustou, mas o rosto contraído de Jarret não encorajava um pedido de
desculpas. Com o coração pequenino, abriu a porta e saiu. Jarret, em vez de
guardar o carro na garagem, acelerou e desapareceu na estrada, os pneus
cantando.
FIM