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Investigaçõesresearchs

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Lívia C Magalhães Vanessa Maziero Barbosa

Federal University of Minas Gerais University of Illinois at Chicago
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Angelica Araujo Elyonara Mello Figueiredo

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Federal University of Minas Gerais
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Investigaçõesresearchs

Análise do desempenho de crianças pré-termo no

Teste de Desenvolvimento de Denver nas idades de
12, 18 e 24 meses
Analysis of the performance of preterm infants on the Denver Developmental Test at ages 12,
18 and 24 months
Lívia C. Magalhães1, Vanêssa M. Barbosa2, Angélica R. Araújo3, Maria L. Paixão4, Elyonara M. Figueiredo5 , Ana Paula B. Gontijo5
Departamentos de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Unitermos: avaliação do desenvolvimento, validação de testes, Teste de Desenvolvimento de Denver, prematuridade

Keywords: developmental assessment, instrument validation, Denver Developmental Test, preterm infants

Resumo e as crianças da amostragem normativa do

Dentre os vários instrumentos usados para
detecção de distúrbios do desenvolvimento
infantil, destaca-se o Teste de Desenvolvimento
de Denver – TDD – que é muito conhecido em
nosso meio e bastante utilizado por pediatras e
outros profissionais de saúde para triagem de
crianças que apresentam atraso no
desenvolvimento. Apesar de reconhecido
internacionalmente, existem evidências da
influência de fatores culturais nos escores do
TDD, o que pode invalidar seu uso em certas
populações. O objetivo desse estudo foi
examinar a validade do TDD para um grupo de
crianças pretermo, que participavam de um
programa de acompanhamento de recém-
nascidos de alto risco. A amostragem incluiu 29
crianças (idade gestacional ≤ 32 semanas e/ou
peso ≤ 1.500 gramas), nas quais o TDD foi
aplicado nas idades corrigidas de 12, 18 e 24
meses. As respostas das crianças pré-termo
foram comparadas aos dados da amostragem
normativa do instrumento através do
procedimento de Qui-quadrado (X2). Dos 53
itens examinados, 12 (22%) apresentaram
resposta diferencial entre as crianças pretermo
TDD. Estes resultados colocam em dúvida a
validade do TDD para a amostragem em estudo,
sendo recomendada análise mais detalhada da
validade do TDD para a criança brasileira. São
discutidos aspectos da influência cultural em
alguns itens do teste e a importância de se
validar medidas de desenvolvimento para nossa
população.
Introdução
O número crescente de unidades de terapia intensiva,
(UTI) assim como os avanços tecnológicos na área de
neonatologia, têm contribuído para redução na
mortalidade e morbidade de bebês prematuros 35. O
nascimento pretermo, no entanto, representa um fator
de risco para o desenvolvimento, pois muitas vezes está
associado a problemas, tais como hemorragia
intraventricular, hipóxia neonatal, baixo peso ao
nascimento e outras intercorrências neurológicas, que,
de acordo com sua intensidade e duração, podem
resultar em seqüelas permanentes, que vão interferir em
diferentes aspectos da vida da criança 2, 8, 16, 22, 24, 29, 30.
Devido a evidências de maior freqüência de distúrbios do
desenvolvimento entre crianças pré-termo, é importante
acompanhar o desenvolvimento dessas crianças durante

1. Professora-adjunta do Depto de Terapia Ocupacional, UFMG, Doutora em Educação

2. Professora-assitente do Departamento de Terapia Ocupacional, UFMG, Mestre em Terapia Ocupacional
3. Estudante de Fisioterapia, Bolsista PIBIC-UFMG
4. Professora-assistente, Chefe do Depto. de Fisioterapia, UFMG
5. Professora-auxiliar do Departamento de Fisioterapia, UFMG

330 Pediatria (São Paulo), 21(4) : 330-339, 1999

Investigaçõesresearchs
Análise do desempenho de crianças...
os primeiros anos de vida, de forma a detectar
precocemente possíveis desvios e intervir para prevenir
ou minimizar seqüelas. Programas de acompanhamento,
geralmente implementados por equipes interdisciplinares,
consistem em avaliações periódicas em idades-chave,
com uso de testes específicos para detecção de desvio
no desenvolvimento neuropsicomotor. A literatura
internacional nessa área é muito rica, havendo uma
variedade de propostas tanto de programas de
acompanhamento, ou follow-up, como de instrumentos
específicos para detecção precoce de distúrbios do
desenvolvimento3, 6, 7, 9, 32.
Apesar de serem rotina na maioria dos centros de
atenção materno-infantil em países de primeiro mundo,
no Brasil, programas de acompanhamento do
desenvolvimento de recém-nascidos pretermo ainda
constituem iniciativa isolada, havendo escassez de
instrumentos de avaliação padronizados para a criança
brasileira, que permitam uma triagem confiável das
crianças que apresentam atraso moderado no
desenvolvimento. Encontramos na literatura brasileira
referência a uma única escala de desenvolvimento com
estudos de padronização para nossas crianças31, mas
ela aborda apenas o primeiro ano de vida, não podendo
ser usada em acompanhamento longitudinal mais
extenso.
Frente à escassez de instrumentação brasileira com
validade comprovada, muitos profissionais que atuam
com crianças optam pela utilização de testes já
reconhecidos internacionalmente. Este é o caso do Teste
de Desenvolvimento de Denver (TDD)13, que é utilizado
por profissionais da área de saúde, tanto em estudos de
acompanhamento infantil, como na prática clínica11, 17, 20, 26.
O TDD é um instrumento de triagem, de fácil e rápida
aplicação, próprio para detecção de atrasos no
desenvolvimento em crianças de zero a seis anos. Ele foi
normatizado para crianças norte-americanas e é
composto por 240 itens, distribuídos em quatro áreas do
desenvolvimento: pessoal-social, motor fino-adaptativo,
motor grosso e linguagem.
Apesar de ser um instrumento bastante conhecido em
nosso meio e gozar de reputação internacional, alguns
estudos apontam falhas na validade preditiva e na
sensibilidade do TDD para detectar casos de atraso leve
no desenvolvimento15, 27. Essas críticas levaram a uma
nova normatização, com revisão de alguns itens e
atualização das normas por idade, resultando no Denver
II12, que começa a ser citado na literatura brasileira17.
Apesar da revalidação, alguns autores persistem
criticando o Denver II1, 14, fazendo restrições ao seu uso,
especialmente em populações para as quais o teste
ainda não foi normatizado, como ocorre no Brasil.
Dentre os fatores que restringem a validade do teste em
diferentes países destaca-se a influência da cultura em
itens individuais, tanto do TDD quanto do Denver II,
como discutido a seguir. MILLER, ONOTERA &
DEINARD 28 aplicaram o TDD em crianças asiáticas,
encontrando discrepâncias de desempenho com relação
à amostragem normativa nos setores pessoal-social,
motor fino-adaptativo e linguagem. Segundo estes
autores, as diferenças em alguns itens comprometem a
interpretação dos resultados do teste nas crianças
estudadas. Resultados semelhantes foram encontrados
por KERFELD, MARK & STEWART19 numa comparação
do desempenho de crianças do Alasca com a população
normativa do Denver II. Os resultados apontam
discrepâncias no setor motor grosso, com vantagem
para as crianças do Alasca, e no setor de linguagem,
com vantagem para a população normativa do Denver II.
Estes resultados foram considerados clinicamente
relevantes, sendo recomendada cautela no uso do
Denver II com crianças do Alasca. Resultados indicando
o impacto de diferenças culturais nos escores tanto do
TDD quanto do Denver II são também apresentados em
estudos desenvolvidos na Singapura, México e outros
países 23, 34, 36.
Num dos poucos estudos com crianças sul-americanas,
LEJARRAGA e colaboradores 21 examinaram a validade
de itens do TDD para crianças argentinas, não
encontrando diferenças significativas no desempenho em
itens individuais. Foi observada, no entanto, uma
tendência para desempenho mais precoce do que o
indicado nas normas do TDD, o que é caracterizado
pelos autores como uma "tendência secular" de
aceleração no ritmo de desenvolvimento infantil, que já foi
apontada por outros autores5.
Embora o TDD, cujas normas foram coletadas na
década de 70, seja bastante utilizado no Brasil20, 26,
ainda não existem estudos sobre a validade do
instrumento para a criança brasileira. Como o TDD vem
sendo usado em programas de acompanhamento de
bebês pré-termo, deve-se examinar a validade do teste,
Pediatria (São Paulo), 21(4) : 331-339, 1999 331
Investigaçõesresearchs
Lívia C. Magalhães, et al.

de forma a avaliar se contamos com um critério confiável maioria com renda mensal abaixo de 4 salários mínimos.
para detecção precoce de distúrbios do desenvolvimento Os pais foram informados dos objetivos assistenciais e
nestas crianças. de pesquisa do programa, sendo que todos autorizaram
O objetivo deste estudo, portanto, foi examinar a validade o uso dos dados para fins de pesquisa.
dos itens do TDD na avaliação do desenvolvimento de
crianças pré-termo da região metropolitana de Belo Tabela 1 - Caracterização da população
Horizonte. Neste estudo examinamos se existe diferença IG Peso ao nascimento Sexo Nº de
na porcentagem de passa/falha nos itens do teste nas (meses) (média em gr.) Feminino Masculino crianças
idades de 12, 18 e 24 meses entre o grupo de crianças 27 870,0 0 1 1
pré-termo brasileiras e a amostragem normativa do 28 1.296,7 1 2 3
30 1.166,7 1 2 3
TDD13. Levanta-se a hipótese de que, como as crianças 31 1.590,0 0 2 2
pré-termo foram avaliadas na idade corrigida, as duas 32 1.607,1 4 3 7
amostragens deverão apresentar níveis similares de 33 1.278,0 3 2 5
34 1.290,0 2 3 5
desempenho. A presença de resposta diferenciada para 35 1.490,0 0 1 1
itens específicos comprometeria a validade do TDD na 36 1.345,0 1 1 2
detecção de problemas do desenvolvimento nas Total de crianças 12 17 29
crianças pré-termo avaliadas.
Instrumentação e procedimentos
Metodologia As crianças foram avaliadas pelo TDD aos 12, 18 e 24
Participantes meses de idade corrigida, por fisioterapeutas e
As crianças analisadas neste estudo participam de um terapeutas ocupacionais com ampla experiência clínica e
programa interdisciplinar de acompanhamento de bebês treinamento na aplicação do teste. Para cada uma
de alto risco, desenvolvido no Ambulatório de destas idades são aplicados itens específicos, como
Acompanhamento do Recém-Nascido de Alto Risco indicado nas Tabelas 2, 3 e 4. O desempenho em cada
(AARNAR) do Hospital das Clínicas da UFMG. A amostra item é avaliado como (a) Passa, se a criança executou o
foi selecionada a partir de um banco de dados de 272 item com sucesso ou se seu desempenho foi relatado
crianças que freqüentam o AARNAR. Inicialmente pela mãe (ou responsável); (b) Falha, se a criança não
selecionamos todas as crianças pretermo (< 37 semanas conseguiu executar o item e (c) Não Observado, se não
de idade gestacional - IG - ao nascimento) do banco de foi possível observar o desempenho da criança no item
dados, sendo em seguida feita uma triagem de acordo durante a avaliação. Itens não observados foram
com o seguinte critério de inclusão: idade gestacional considerados como falha, para fins de análise estatística.
menor ou igual a 32 semanas ou peso ao nascimento Os itens foram administrados de acordo com as
(PN) menor ou igual a 1,500g. Com base nesse critério, orientações do manual do teste e o resultado final foi
obteve-se uma amostra de 40 crianças, das quais foram interpretado em termos Normal, Questionável, Anormal e
selecionadas para o estudo apenas aquelas que Impossível Testar. Uma vez que o teste requer
tivessem dados completos do TDD nas idades corrigidas cooperação ativa da criança, foram feitos todos os
de 12, 18 e 24 meses. A escolha dessas idades deve-se esforços para ganhar a confiança da mesma e estimular
ao fato de que elas estão relacionadas a marcos sua participação.
importantes do desenvolvimento, tais como, aquisição da
marcha e linguagem. Análise dos dados
Como indicado na Tabela 1, obteve-se assim uma Os dados foram analisados pelo método estatístico Qui-
amostra final de 29 crianças, sendo 12 (41,4%) do sexo quadrado, teste de goodness-of-fit18. O manual do TDD
feminino e 17 (58,6%) do sexo masculino. A idade apresenta as porcentagens de passa/falha para cada
gestacional média (IGm) foi de 32 semanas e peso médio item do teste, nas diferentes idades-chave. Estas
ao nascimento (PNm) de 1.369 g. Predominam crianças porcentagens foram utilizadas para calcular o número de
de famílias de baixo nível socioeconômico, em sua Passa ou acertos esperados para os itens aplicados

332 Pediatria (São Paulo), 21(4) : 332-339, 1999

Investigaçõesresearchs
Análise do desempenho de crianças...

neste estudo. Com base nestes dados foi computado o
X2 global para cada setor ou área do TDD (pessoal-
social, motor fino-adaptativo, motor grosso e linguagem)
nas três faixas etárias. Nos setores onde foram
encontradas diferenças significativas entre o resultado
esperado e o observado, foi feito o cálculo do resíduo
estandartizado, de forma a determinar qual item
contribuiu para a diferença significativa no setor.
Para considerarmos o desempenho nos itens do TDD
como equivalente para as duas amostragens, espera-se
que não mais que 5% dos itens apresentem
comportamento diferencial para os dois grupos de
crianças. Ou seja, como estão sendo analisados 53
itens, não mais que 3 itens podem apresentar diferenças
significativas nas porcentagens de Passa/Falha entre a
população normativa e a amostragem deste estudo.
Resultados
Como indicado nas Tabelas 2, 3 e 4, dentre os 53 itens
analisados, 12 apresentaram diferenças estatisticamente
significativas entre as normas norte-americanas e a
amostragem em estudo. Dentre os itens estatisticamente
diferentes, as crianças da região metropolitana de Belo
Horizonte (BH) apresentaram maior porcentagem de
acertos (Passa) em 7 itens quando comparadas com o
grupo normativo do TDD, enquanto nos outros 5 itens a
porcentagem de Passa dessas crianças foi menor. A
Tabela 5 apresenta um sumário das diferenças
encontradas.
No setor pessoal-social houve diferenças
estatisticamente significativas nas idades de 18 meses
(item: ajuda em casa tarefas simples) e 24 meses (itens:
separa-se facilmente da mãe; brinca com jogos
interativos; lava e seca as mãos). Em ambas as idades, a
porcentagem de Passa das crianças da amostragem foi
maior do que a do grupo normativo do TDD.
No setor motor fino-adaptativo houve diferença
estatisticamente significativa apenas na idade de 12
meses (item: rabisca espontaneamente). Neste item a
porcentagem de Passa das crianças em estudo também foi
maior quando comparada com o grupo normativo do TDD.
No setor linguagem houve diferenças significativas nas
idades de 12, 18 e 24 meses. Na idade de 12 meses
(item: 3 palavras além de papai e mamãe) as crianças
pré-termo da região metropolitana de BH tiveram maior
percentual de Passa. Já nas idades de 18 meses (item:
nomeia uma figura) e 24 meses (item: usa plurais) a
porcentagem de Passa foi menor em relação ao grupo
normativo do TDD.
O setor motor grosso também apresentou diferenças
significativas nas idades de 12, 18 e 24 meses. Nas
idades de 12 meses (itens: anda bem; tropeça e
recupera) e 24 meses (item: pedala triciclo) as crianças
pré-termo da região metropolitana de BH apresentaram
menor porcentagem de Passa, enquanto na idade de 18
meses (item: arremessa bola de cima para baixo), o
percentual de Passa das crianças em estudo foi maior
que o do grupo normativo do TDD.

Tabela 2 - Relação de itens e porcentagem de acerto esperada e observada aos 12 meses

Área Item Esperado Observado X2 por área Resíduo
estandardizado

Pessoal/social Bebe água de um copo 18,0 14,50

Joga bola com o examinador 19,0 14,50
Indica desejo (não-chora) 20,0 14,50
Dança, imita brincadeira ritmada 24,0 26,10 4,50

Motor fino - adaptativo Rabisca espontaneamente 16,0 7,25 3,25*

Boa pinça fina para bolinhas 23,0 21,75 0,27
Bate dois cubos seguros nas mãos 21,0 26,10 11,63* -0,99

Linguagem 3 palavras além de papai e mamãe 13,0 7,25 2,13*

Papa/Mama específico 20,0 21,75 4,70* -0,37

Motor grosso Anda bem 3,0 14,50 -3,02*

Tropeça e recupera 3,0 14,50 -3,02*
Mantém-se bem de pé 9,0 14,50 -1,44
Fica em pé momentaneamente 16,0 21,75 -1,23
Anda segurando nos móveis 22,0 26,10 22,49* -0,80

NOTA – * Diferença significativa, p≤0,05.

Pediatria (São Paulo), 21(4) : 333-339, 1999 333

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Lívia C. Magalhães, et al.

Tabela 3 - Relação de itens e porcentagem de acerto esperada e observada aos 18 meses

Área Item Esperado Observado X2 por área Resíduo
estandardizado

Pessoal/social Ajuda em casa tarefas simples 23,0 14,50 2,23*

Usa colher, derrama pouco 14,0 21,75 -1,66
Remove roupas 22,0 21,75 0,05
Imita trabalho caseiro 26,0 26,10 7,75* -0,02

Motor fino - adaptativo Derrama bolinha do vidro espontaneamente 19,0 26,10

Torre de quatro cubos 14,0 14,50
Rabisca espontaneamente 27,0 21,75
Derrama bolinhas do vidro c/ demonstração 26,0 21,75
Torre de dois cubos 26,0 21,75 4,88

Linguagem Segue direções - duas em três 19,0 14,50 1,18

Nomeia uma figura 6,0 14,50 -2,23*
Combina duas palavras diferentes 8,0 14,50 -1,71
Aponta para uma parte do corpo 21,0 14,50 1,71
Três palavras além de papai e mamãe 22,0 21,75 12,21* 0,05

Motor grosso Arremessa bola de cima para baixo 29,0 14,50 3,81*
Chuta bola para frente 22,0 14,50 1,97
Sobe degraus 12,0 14,50 -0,66
Anda para trás 22,0 21,75 18.81* 0,05

Nota – * Diferença significativa, p≤0,05.

Tabela 4 - Relação de itens e porcentagem de acerto esperada e observada aos 24 meses

Área Item Esperado Observado X2 por área Resíduo
estandardizado

Pessoal/social Separa-se facilmente da mãe 22,0 7,25 5,48*

Brinca com jogos interativos 25,0 14,50 2,76*
Lava e seca as mãos 26,0 14,50 3,02*
Põe roupa 21,0 14,50 59,65* 1,71

Motor fino - adaptativo Torre de oito cubos 12,0 14,50

Imita linha vertical a 30 graus 14,0 21,75
Derrama bolinhas do vidro espontaneamente 25,0 21,75
Torre de quatro cubos 26,0 26,10
Rabisca espontaneamente 28,0 26,10
Derrama bolinhas do vidro com demonstração 28,0 26,10 3,96

Linguagem Dá o primeiro e último nome 6,0 7,25 -0,46

Usa plurais 3,0 14,50 -3,02*
Segue direções – duas em três 26,0 21,75 0,91
Nomeia uma figura 22,0 21,75 0,05
Combina duas palavras diferentes 21,0 26,10 11,17* -0,99

Motor grosso Salto amplo 2,0 7,25 -1,95

Equilibra-se sobre um pé por um segundo 21,0 14,50 1,71
Pedala triciclo 6,0 14,50 -2,23*
Pula no lugar 15,0 14,50 0,13
Arremessa bola de cima para baixo 29,0 21,75 1,55
Chuta bola para frente 28,0 26,10 14,27* 0,37
Nota – * Diferença significativa, p≤0,05.

334 Pediatria (São Paulo), 21(4) : 334-339, 1999

Investigaçõesresearchs
Análise do desempenho de crianças...
Das três idades estudadas, houve maior número de itens
(5) com diferenças estatisticamente significativas na idade
de 24 meses, sendo que em 3 desses itens as crianças
pretermo da região metropolitana de BH apresentaram
maior porcentagem de Passa e em 2, menor
porcentagem de Passa. Na idade de 18 meses, houve
menor número de itens (3) com diferenças significativas;
desses 3 itens, em 2 houve maior porcentagem de
Passa e em 1 menor porcentagem de Passa para as
crianças em estudo.
Tabela 5 - Sumário das diferenças entre os itens aos 12, 18 e 24 meses
Setor 12
Pessoal/Social (não houve diferenças significativas)
➝
Motor fino - Adaptativo Rabisca espontaneamente
➝
Linguagem Fala três palavras além de papai e
mamãe
➝➝
Motor grosso Anda bem
Tropeça e recupera
Nota - Sumário dos itens que apresentaram diferenças estatisticamente significativas. Onde indica maior porcentagem de Passa para as
➝
crianças pretermo da região metropolitana de BH e indica menor porcentagem de Passa para as crianças pretermo da região
metropolitana de BH.
teste. Examinando detalhadamente os padrões de
respostas das crianças, detectamos erro nos escores do
item “arremessa bola para baixo”, na idade de 18 meses,
no qual observou-se melhor desempenho para as
crianças pré-termo. Apesar do treino dos examinadores,
constatamos diferenças individuais no critério utilizado
para escore do item, com vantagem para as crianças
pré-termo, o que invalida o resultado desse item.
Um outro item que nos chamou atenção foi rabisca
espontaneamente, aos 12 meses, cuja diferença
também indica desempenho superior para as crianças
pré-termo. Como não detectamos falhas na
administração desse item, é possível que, de acordo
Discussão
Os resultados indicam que 22% dos itens examinados
apresentam resposta diferencial entre crianças pré-termo
da região metropolitana de BH e crianças norte
americanas (população normativa), o que compromete a
validade do TDD para a amostragem em estudo. Dentre
os fatores que poderiam levar a resposta diferencial nos
itens do TDD, um aspecto que precisa ser descartado é
a possibilidade de erro na administração de itens do
Idade (meses)
18 24
➝
➝➝ ➝
Ajuda em casa tarefas simples Separa-se facilmente da mãe
Brinca com jogos interativos
Lava e seca a mão
(não houve diferenças significativas) (não houve diferenças significativas)
➝
➝
Nomeia uma figura Usa plurais
➝
Arremessa bola de cima para baixo Pedala triciclo
➝
com a "tendência secular" de aceleração do ritmo de
desenvolvimento21, as crianças brasileiras estejam
rabiscando mais precocemente. Existem também
evidências de que certos aspectos do desenvolvimento,
como a coordenação motora fina33, são mais
influenciados pela estimulação extra-uterina, o que daria
vantagem para as crianças pré-termo. Para confirmar
qualquer uma das hipóteses, recomenda-se que o item
seja monitorizado em estudos futuros com amostragem
mais ampla.
Fatores sociais e culturais também parecem influenciar o
desempenho das crianças pré-termo da região
metropolitana de BH em alguns itens do TDD. No setor
Pediatria (São Paulo), 21(4) : 335-339, 1999 335
Investigaçõesresearchs
Lívia C. Magalhães, et al.
da linguagem, o desempenho mais pobre das crianças
pré-termo no item "usa plurais" parece relacionado a
características lingüísticas regionais, pois uma das
características da fala da população mineira é a
supressão do "s" no final das palavras. Resultados
semelhantes são relatados em estudos com crianças
asiáticas, cuja língua não faz uso do plural23, 28. LIM,
CHAM & YOONG23 propõem uma nova versão do TDD
para crianças de Singapura, da qual foram retirados
itens, tais como "usa plurais" e "dá primeiro e último
nome", que são irrelevantes na cultura do país.
No setor pessoal-social, a propalada espontaneidade do
brasileiro, ou talvez a necessidade de ajudar a mãe o
mais cedo possível, parecem levar a um número maior
de itens com diferenças estatisticamente significativas
favoráveis às crianças pré-termo. Já itens como "pedala
triciclo" e "nomeia figuras" foram inferiores para as
crianças do estudo pelo fato da amostragem envolver
crianças de famílias de baixa renda, cujo relato indica
pouco acesso a livros com figuras e poucos recursos
para aquisição de brinquedos mais caros como o triciclo.
Quanto aos itens motores "anda bem" e "tropeça e
recupera", nossos dados dão suporte a estudo anterior25,
que detectou tendência para atraso nas aquisições
dinâmicas, como o engatinhar e a marcha, em uma
amostragem de recém-nascidos pré-termo
acompanhados no AARNAR. Ressaltamos também, que
em famílias de baixa renda, observa-se uma combinação
de baixa nutrição e pouca estimulação, sendo possível
que estes fatores, somados ao risco biológico da
prematuridade, também tenham contribuído para atrasos
na marcha e equilíbrio nestas crianças. Estudos futuros
devem procurar comparar o desenvolvimento entre
crianças pré-termo de diferentes níveis socioeconômicos.
Deve-se também coletar mais dados que permitam
examinar se o desempenho inferior nas aquisições
motoras dinâmicas é uma característica típica de
crianças pré-termo e de baixo peso.
O setor motor fino-adaptativo foi o que apresentou
menores diferenças, sendo observada apenas vantagem
para as crianças pretermo no item “rabisca
espontaneamente”, aos 12 meses, como já discutido
anteriormente.
Um último fator que poderia influenciar os escores das
336 Pediatria (São Paulo), 21(4) : 336-339, 1999
crianças pretermo no TDD, é o uso da correção integral
de idade nas avaliações. Apesar das controvérsias
relativas ao uso da idade corrigida4, 10, é rotina do
AARNAR fazer a correção integral até a idade de dois
anos, sendo que até o momento ainda não temos dados
suficientes para avaliar o impacto deste procedimento
nos resultados das avaliações. Considerando, no
entanto, que o efeito da correção seria uma elevação
global dos escores das crianças pré-termo, isso resultaria
em vantagem significativa nos escores com relação a
amostragem normativa do TDD, em todas as área
examinadas, o que não ocorreu. Como já discutido,
muitas das diferenças têm explicação lógica, que aponta
mais para o efeito da cultura do que para o do impacto
específico da correção para idade gestacional.
Conclusão e recomendações
Apesar deste estudo ter limitações devido à pequena
amostragem, restrita a recém-nascidos pré-termo, os
resultados indicam que: a) existem diferenças
significativas entre o desempenho das crianças pré-
termo brasileiras e a amostragem normativa do TDD;
b) fatores culturais parecem influenciar o desempenho da
criança brasileira em alguns itens do teste; c) as normas
do teste precisam ser atualizadas para nossas crianças e
d) há necessidade de treinamento rigoroso mesmo para
aplicação de instrumentos simples como o TDD. Nossos
dados colocam em dúvida a validade do TDD para a
criança brasileira, sendo importante dar continuidade a
estudos sobre a validade do instrumento. Até que se
tenha dados mais conclusivos, recomenda-se cautela
nas decisões baseadas nos resultados do TDD,
especialmente quando se aplica versões curtas, sem
estudo sobre a validade dos itens.
Considerando que no Brasil existe um número crescente
de crianças expostas a uma variedade de condições de
risco, que podem levar a atraso no desenvolvimento, a
validação ou desenvolvimento de bons instrumentos para
detecção precoce de distúrbios é um passo essencial
para implementação de programas preventivos de
assistência. Na ausência de instrumentos brasileiros com
maior abrangência de idade, recomenda-se o uso de
testes de estandardização mais recente, que devem ser
validados para a criança brasileira.
Investigaçõesresearchs
Análise do desempenho de crianças...
Agradecimentos
Ao CNPq que, através do Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) e do incentivo à
produtividade em pesquisa, apoiou o projeto. À
Professora Cibele Comini Cesar, Depto. de Estatística da
UFMG, por sugestões na análise dos dados. À equipe
do AARNAR pelo estímulo e constante suporte e
trabalho desenvolvido. Um agradecimento especial às
crianças e famílias acompanhadas no AARNAR-UFMG,
sem as quais nosso trabalho não seria possível.
Summary
Analysis of the performance of preterm infants on
the Denver Developmental Test at ages 12, 18, and
24 months
Among the several instruments utilized to detect
disturbances in children’s development there is the
Denver Developmental Test (Denver Test), that is
very well known and utilized by Brazilian
pediatricians and other health professionals to
screen children for developmental delays. Although
the Denver is internationally recognized, there are
evidences of the influence of cultural factors on
test scores, which would invalidate its use in
certain populations. The objective of this study was
to examine the validity of the Denver Test for a
group of preterm infants that participated in a
follow-up program for high-risk neonates. The
sample included 29 infants (gestational ages ≤ 32
weeks or weight ≤1500g) that were assessed with
the Denver Test at ages 12, 18, and 24 months.
The performance of the preterm children was
compared to the normative sample of the Denver
Test using the procedure of Chi-Squared (X2). Of
the 53 items examined, 12 (22%) presented
differential response between the preterm and
normative sample of the Denver Test. These results
place doubt on the validity of the Denver Test for
the sample in this study, therefore, a more detailed
analysis of the validity of Denver Test for the
Brazilian children is recommended. The influence
of culture on several items and the importance of
validating developmental measures for our
population are discussed.
Pediatria (São Paulo), 21(4) : 337-339, 1999 337
Investigaçõesresearchs
Lívia C. Magalhães, et al.
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Recebido para publicação: 31/5/1999 Aceito para publicação: 14/7/1999
Endereço para correspondência:
Professora Lívia C. Magalhães,
Rua Chicago, 337 - apartamento 41 - Bairro Sion
Belo Horizonte - MG
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Telefone: (0XX31) 285-5163 - Fax: (0XX31) 285-5189 - E-mail: liviam@gcsnet.com.br
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