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Contadora de estória Para vocês que não sabe onde o nosso protagonista está e o que está fazendo... Eu direi: Ele está na sala estar esperando a Arlinda. Na
cabeça apenas um pensamento. Casar. Pois o nosso personagem tanto procurou uma mulher para se casar e nunca encontrou. Quem o queria ele desprezava. Uma
dessas que “comeu o pão que diabo amassou” era Arlinda, uma moça muito caseira que gostava de Diego e queria casar com ele. No entanto ele sempre fugia. Mas
não encontrando outra solução foi pedir a mão de Arlinda em casamento aos seus pais.
Diego (Sentado). É verdade... “Quem não tem cão, caça com gato”. Mas quem não tem gato? Deve caçar com rato... Chega de imaginar asneira. “Antes só que
mal acompanhado”... Acho que estou ficando louco. “Mas de louco todo mundo tem um pouco”. Meu deus! Onde é que fui parar? Na casa da Arlinda... E eu que
dizia: nem se ela fosse à última mulher do mundo... E aqui estou. Pronto para pedi-la em casamento para seus pais. O que a loucura faz com o homem? Eu não sei.
Comigo? Fez-me noivo. Mas eu não preciso casar. (Levanta-se). Verdade! Cheguei a pensar que estava louco... Não! Não preciso ficar aqui vou embora.
(Música).
Diego (Sem graça). Arlinda... Aonde vou? Parece que ouvi alguém tocando a campainha.
Arlinda Meu pai já deve estar chegando... Não está nervoso não é?
Diego Pelo contrário estou muito feliz. (Para o público). Como é horrível ter que mentir.
Arlinda Sei lá. Esquece isso. Eu estou preocupada com meu pai.
Diego Mas Arlinda ele já sabe do motivo da minha visita. Fiz questão de vir pedi - lá em casamento pessoalmente pelas formalidades da sua família. Não me diga
que não falou?
Diego (Acalmando-a). Não precisa ficar nervosa e muito menos ficar com medo.
Arlinda Meus dedos estão calejados de tanto que peguei no terço essa noite. Fui dormir quase de madrugada.
Arlinda Pela manhã está claro, não tem porque ter medo. Medo! Só de falar essa palavra me faz ficar com mais medo. Falei de novo. E meu pai que
não vem logo. Meu pai deve estar muito bravo! Imagina quando fizer o pedido... Tenho até receio de ele avançar em você e lhe morda.
Diego Calma! Mas ele já mordeu antes algum namorado seu antes?
Arlinda Não! Tenho que lhe falar outra coisa... Você é primeiro namorado.
Diego (Irritado). Quantas mentiras Arlinda. O que faço? Tem alguma mais que queira me falar. (Calmo). Por que acha que seu pai vai morder-me?
Arlinda Sempre que está bravo com a mãe ou comigo... Ele nos morde.
Diego Não se preocupe Arlinda. Pelo visto seu pai é uma piranha. Piranha macho. Mas em “Em rio que tem piranha jacaré nada de costa”.
Arlinda É, vai contando vantagem antes da hora. “Quem procura sempre acha.”.
Diego Fique sossegada enfrentarei seu pai... (Para o público). O pai dela é um fraco.
Diego Destemido! Não só destemido como também fogoso. (Agarra Arlinda, mas ela escapa). “Se correr o bicho pega se ficar o bicho come”.
Arlinda Diego não faça isso! Se meu pai me pega desse jeito com você não haverá casamento.
Diego Raiva! Por que faz isso? Arlinda nós vamos nos casar. Arlinda não me faça sofrer. Qual é o meu problema?
Pai (Falando como se não tivesse ninguém ali). É parece que vai chover... O tempo está escuro... Quando o tempo se fecha desse jeito coisa boa não vem...
Espero que não apareça ninguém nesse fim de semana para me apoquentar. (Para o público). Estou dando algumas indiretas para ver se ‘borra botas’ vai embora.
Arlinda (Amenizando). Pai onde senhor foi todo bonito tão cedo? Cheiroso... Deve ter ido à igreja. Por que não se senta. (Para namorado). Sente-se Diego.
Pai “Ave que canta demais não sabe fazer o ninho”. O que você está querendo filha?
Pai (Mudando de assunto). Diego, não é melhor ir embora antes que a chuva engrosse?
Pai Arlinda depois eu quero ter uma conversa em particular, está bem?
Pai Por que anda falando dessa maneira com seu pai?
Pai "Quem com ferro fere, com ferro será ferido" minha filha. Agora você me trata com indiferença, mas um dia quando for mãe terá o troco.
Arlinda (Irritada). Desculpe-me papai... Mas o Diego está querendo falar e o senhor não deixa.
Pai (Desconversando). E essa chuva que não passa... Vou ligar o rádio que hoje começa o campeonato de várzea.
Diego (Falando para Arlinda). Não tem condições. (O radio começa a chiar e Diego continua reclamando).
Arlinda Calma! (Intimando). Não disse que o iria enfrentar.
Diego Não tenho medo dele.
Pai Arlinda sabe que o padre disse no sermão... "As aparências enganam”.
Diego É por isso que sempre digo... “Homem prevenido vale por dois”.
Arlinda Eu tenho pernas curtas mesmos. Qual o problema falar que tenho pernas curtas.
Mãe Não precisa. Ele vai ficar para o almoço. Filha ajude a mamãe pôr a mesa.
Pai Vá filha ajudar sua mãe que eu faço sala para o Diego.
Arlinda Diego!
Pai Eu não vou mais almoçar. Vou ficar ouvindo rádio porque ele não me maltrata. Ele sabe o quanto sofro nessa casa. (Aumenta o radio).
Arlinda Não adianta chorar sobre o leite derramado.
Pai Não me resta mais nada a não ser ir embora dessa casa.
Mãe Está “procurando sarna para se coçar”? Deixe de denguice e venha me ajudar. (O marido fica cabisbaixo).
Diego Não será necessário minha sogra. O almoço foi apenas idéia de Arlinda para um pedido que vim lhes fazer.
Arlinda Pedido?
Pai Calma mulher! “Não ponha o carro à frente dos bois”. Vamos almoçar primeiro em seguida ele falará o que tem que ser dito...
Diego Meu sogro, minha sogra... Vim aqui hoje com intenção mais honrada possível, para que de um modo especial para que vocês...
Pai Mais que inferno! Minha filha “você está procurando chifre na cabeça de cavalo”? (Avança na filha).
Mãe (Para o marido). Roberto Garrido não queira bater na nossa filha... (O pai a solta e vai para a direção do radio).
Mãe É isso que quer mesmo filha? Se, está feliz também estou... (Abraça a filha). Meus parabéns Diego!
Diego Sua filha será muito feliz. (Abraça a sogra. O casal sai).
Pai Ai Arlinda... Eu rezo... Ai Deus do céu... Alguém no chão me diga o que foi que eu deixei faltar? O que eu não consigo entender como é que minha filha é tão
diferente assim de mim... Faz-me entender... 1 Oh meu deus é esse o sinal?
Pai É minha velha mulher... Nem você fica mais do meu lado... Nossa filha vai se casar... Você já está ficando velha...
Mãe E você Roberto Garrido é igual Cavalo velho não pega andadura.
Mãe E rabugento...
Pai Maria você está contra mim? Mas que maldade Maria.
Mãe Cada um vê mal ou bem, conforme os olhos que tem. Diego é um bom rapaz e tem boas intenções...
Mãe Nunca fecha uma porta sem abrir outra, meu marido.
Pai Eu sei minha velha... (Bravo). E eu também sei o que eu vou fazer... Vou capar aquele filho dum cabrunco! E quando tiver fazendo o corte eu vou olhar para
aquela cara de rato dele e vou falar. “Não queira meu mal cabra, eu só sei querer seu bem”
Mãe Isso Roberto! Isso Roberto Garrido faça isso mesmo. (Chorando). Daí você vai preso e daí cai na boca do povo que tua mulher e tua filha na traças da
miséria esfarrapada pedindo um prato de comida de casa em casa.
Pai E eu? Eu não sei o que vai ser de mim... E esse meu velho rádio que trago na minha vida desde solteiro é a única coisa que tenho... (Falando para si). E essa
chuva que não passa... Lembra quando nossos dois corações era uma batida?
Pai (Como uma última tentativa). Não deixa a nossa filha cometer essa loucura.
Contadora de estória Nem preciso dizer-lhes que o pai de Arlinda ficou magoado de perder sua filha única porque, "para quem sabe ler um pingo é letra"... Então
eles foram almoçar. Conversaram e discutiram muito, mas como diz o velho ditado, “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”. E o pai da Arlinda acabou
aceitando... "Se a vida lhe der um limão, faça uma limonada." E “quem conta um conto, acrescenta um ponto" e o ponto acrescentar é que... Ah! Se todos
soubessem que ainda não nasceram tantas manhãs... Os pais de Arlinda se entenderam. E finalmente Diego iria se casar. E depois de conversar muito...
Conversaram mais um pouco... Mas que beleza, não é? Que beleza é conversar! Por isso que sempre digo... “A palavra é de ouro”
Mãe Minha filha não vê seu marido, digo seu futuro marido. Não quer saber de trabalhar.
Pai Deixe minha esposa "cada qual sabe onde lhe aperta o sapato." (Dirigindo-se a filha). Não vou atrapalhar sua vida, mas pense bem antes de se casar.
Arlinda Pai, mãe... Eu já estou decidida.
Mãe Depois, não vá dizer que não avisamos, pois “cada cabeça sua sentença”... Mas acima de tudo gosto de você Diego, confio em você rapaz.
Pai Realmente não há mesmo saída... Então meus parabéns Diego. (Abraça o genro, a filha, a mulher). “Casarás e amansarás meu genro”.
Pai Pensando bem... Acho que nos sairemos bem como genro e sogro.
Nossas Cadeiras/Esse meu Brasil, feito colcha de retalhos/duma grande arvore espalhando os seus galhos/Nossas Cadeiras!/Nosso sangue é Brasil,/Do Oiapoque
ao Chuí,/Nossos pés é que dançam,/Nossas mãos batem palmas,/Coração não tem raça.../ Região, credo ou cor!/