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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

CLAUDIANA ALMEIDA DE SOUZA GOMES

EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:


Centro Educacional Pereira Rocha em São Gonçalo RJ

Niterói
2017
1 INTRODUÇÃO

A formação dos sujeitos está atrelada a própria construção do homem e do conjunto de


relações estabelecidas entre este e o mundo, transformando de forma a suprir sua
sobrevivência. Essas ações passam pelo cunho pedagógico, pois o homem, desde cedo,
aprende e ensina.
Escolarizar seria então, condição primordial para que os homens pudessem participar da
vida da cidade e do processo político, consolidando a ordem democrática, e a escola seria o
centro desse processo de transformação (SAVIANI, 2001).

Entretanto, não é apenas um determinismo histórico e cultural, onde o conteúdo é


absorvido e reproduzido, mas, é a construção da própria cultura e da história, com vistas a
transformação dos outros sujeitos envolvidos, pois a consciência é a reflexão sobre a
realidade, ambas se complementam apesar de estarem em dimensões diferentes. Cabe a
escola, mediar e articular o desenvolvimento do homem combinando o conhecimento
construído e a reflexão teórica, para a apropriação do conhecimento com suas contradições,
interações e conceitos.
Neste trabalho, foi descrita a experiência de observação no Centro Educacional Pereira
Rocha no Bairro Mutuá em São Gonçalo em relação à Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A instituição é de caráter particular, e possui aproximadamente 150 alunos ativos, que
abrangem turmas que vão do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. A
idade mínima para entrada na modalidade é de 15 anos para o fundamental e 18 para o ensino
médio.
O período letivo se divide em dois ciclos, o aluno tem duas oportunidades para entrar na
EJA. As avaliações possuem questões objetivas e discursivas, somadas à nota do simulado
mensal com 40 questões. Outros trabalhos também tem a nota incorporada ao somatório geral.
O aluno para ser aprovado, necessita de pontuação 5 em sua média final.
O coordenador é um professor de Letras, que já trabalhou com Educação de Jovens e
Adultos e se identifica com esse público. Ele mencionou que muitos dos jovens que se
integraram ao EJA, são obrigados pelos pais a continuarem os estudos e são estes que pagam
as mensalidades. O curso, já aprovou alunos para faculdades públicas, mas sua meta é que o
aluno continue na instituição e curse o ensino à distância oferecido no estabelecimento.
2 PROPOSTA PEDAGÓGICA

As informações abaixo foram baseadas no depoimento do coordenador da EJA na


instituição investigada.
O Centro Educacional Pereira Rocha tem como fim uma educação inspirada nos
princípios de liberdade e solidariedade humana, com vistas ao desenvolvimento do educando,
seu preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho.

Missão

Assegurar qualidade no ensino, construindo cidadãos críticos, conscientes e participativos,


capazes de intervir na realidade;
 Aperfeiçoar a formação pedagógica e técnico-científica, para responder às
necessidades da sociedade.

Objetivos

Oferecer Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, Educação Profissional e Educação


de Jovens e Adultos.
Em suma, busca conciliar humanismo e tecnologia, com os conhecimentos dos princípios
científicos para o exercício da cidadania, a formação ética e a autonomia do indivíduo.

Essa é proposta pedagógica da instituição. Não há uma especificidade para a modalidade EJA.
O coordenador da EJA durante a entrevista se referiu aos educandos como clientes todo o
tempo. Isso reforça o foco da instituição particular de ensino: o consumidor.
3 OBSERVAÇÕES DURANTE A VISITA

Durante a observação na referida escola com a turma do 3º ano do ensino médio, foi
observada uma relação intensa de trocas entre professores e alunos. A turma se mostrou bem
perceptiva em relação aos conteúdos, apesar da dificuldade de alguns, há um ambiente de
compartilhamento de conhecimentos e construção de modelos mentais durante os exercícios.
Os alunos são incentivados através de uma relação dialética entre professores e conteúdo.
O currículo tem caráter interdisciplinar dentro de um espectro que retrata a realidade
do ambiente dos educandos aliado a um plano de aula estipulado pelo professor. No turno da
manhã, a escola utiliza apostilas para as modalidades regulares, entretanto, na EJA, o material
é indicado pelo professor a cada aula: recortes de revistas, jornais, sites etc. A ênfase é a
busca de respostas, e por isso, os alunos são direcionados nas discussões a fazerem as
perguntas e inferirem sobre o tema sua bagagem cultural. A falta de materiais didáticos
padronizados na EJA reflete de certo modo, uma política de economia com este tipo de
modalidade, mesmo dentro de uma instituição privada que cobra pelo material exclusivo em
outras modalidades. Mello (2013, p.115) enfoca a questão da produção de materiais didáticos
para a EJA como um espaço sem ações relevantes ao afirmar que:
“ [...] podemos perceber que as tensões e atuações de diferentes sujeitos, no campo
da EJA, fizeram com que a produção de materiais didáticos adotasse ao longo de sua
história, diferentes modelos, ora admitindo ações centralizadas do governo federal,
ora facultando iniciativas descentralizadas envolvendo diferentes agentes e
instituições. A ausência de uma política nacional centralizada e continuada de
produção de materiais e livros didáticos para a EJA, resultado histórico das políticas
para a modalidade, resultou, portanto numa pluralidade de iniciativas.

A pesquisa prévia dos assuntos abordados em sala de aula é requerida. Ao realizarem


as pesquisas (muitos chegam antes do horário das aulas para utilizarem o laboratório de
informática), os resultados são debatidos, para que todos construam o conhecimento a partir
de suas perspectivas sobre os temas, que vão desde matemática, História, Geografia,
Redação, Português, Ciências (para o fundamental) e Português e Literatura, Língua
Estrangeira (Inglês), História, Geografia, Filosofia, Sociologia, Matemática, Física, Química e
Biologia para as séries do ensino médio. O caderno é exigido, como material primordial em
todas as aulas, mesmo quando há atividades na sala de vídeo ou no laboratório de Ciências.
As anotações servirão como base para estudo e preparo nas avaliações.
A construção do pensamento e suas experiências não são desprezadas e o vocabulário
adaptado para que os educandos compreendam aquilo que está sendo apresentado pelo
professor. Foi percebido um viés, assistencialista por parte do professor. Os educandos são
direcionados para um aprendizado rápido e objetivo, para compensar o tempo perdido,
característica a qual a EJA desses novos tempos, tenta se desvencilhar, conforme apontou
Ventura (2011, p.93): O desafio histórico da EJA continua sendo o de romper com o caráter
compensatório e assistencialista na educação de jovens e adultos trabalhadores [...]”. Não se
trata apenas de compensar mas também de constituir indivíduos pensantes que interfiram na
realidade para modificá-la. A construção do conhecimento deve unir todos os elementos: o
questionamento crítico, a intervenção e o diálogo com a realidade, criando um sujeito,
criativo, com capacidade de avaliação de sua condição social e participação histórica na
construção da sociedade (DEMO, 1996, p.34).
Entretanto, se o aluno somente for “adestrado” a repetir tudo o que lhe é transmitido,
não construirá modelos mentais compatíveis com a realidade e não saberá analisá-la, para
intervir quando for necessário:
A escola voltada à educação de jovens e adultos, portanto é, ao mesmo tempo um
local de confronto de culturas (cujo maior efeito é , muitas vezes, uma espécie de
“domesticação” dos membros dos grupos pouco ou não escolarizados,no sentido de
conformá-los a um padrão dominante de funcionamento intelectual) e, como
qualquer situação de interação social, um local de encontro de singularidades
(OLIVEIRA, 1999, p.72).

O aprendizado mecânico, tolhe a arte de pensar e o desejo de desvendar coisas que


ainda não sabemos. Ensinar as respostas certas poupa o indivíduo da necessidade de pensar e,
o impede que novas descobertas surjam desse processo. Encontrar a explicação para algo é a
coisa mais importante dentro do percurso da aprendizagem. O adulto para o senso comum,
não necessita de mais nada, pois aparentemente não há mais mudanças em seu
desenvolvimento mental. Mas ao chegar à sala de aula, entretanto ele percebe que: “[...] a
escola funciona com base em regras específicas e com uma linguagem particular que deve ser
conhecida por aqueles que nela estão envolvidos”(idem, p.62).
Nesse ponto da observação, percebeu-se que a questão do ensino e aprendizagem não
seguirem um modelo rígido como o do ensino regular, apesar da autonomia do professor na
abordagem do conteúdo, o aluno da EJA não tem acesso a informações para galgar um nível
mais sofisticado (como cursar uma faculdade), com raríssimas exceções. A reclamação de
alguns alunos que aguardavam as provas finais no pátio, foi em relação aos conteúdos, que
não refletem a realidade do ensino regular no tocante a base para encarar um vestibular. Se
por acaso isso acontecer, este aluno deverá investir num curso extra para aumentar seus
conhecimentos.
4 CONCLUSÃO

A análise da observação no CEPRO, apontou para as experiências vividas por jovens

e adultos em geral, com rotinas interativas, uso dos espaços: biblioteca, sala de vídeo,

laboratório de informática e salas de estudo (para os que possuem tempo disponível).

O professor ainda olha para este tipo de aluno, como um excluído, apesar de dar uma boa

estrutura física, os conteúdos são bem condensados, com destaque para assuntos mais atuais,

que são discutidos na sala de aula para traçar o link entre o conteúdo aplicado e a realidade do

aluno e da sociedade. Questões como política, mídia, violência, fazem parte dessa discussão.

São oferecidas também, palestras para esclarecimento e direcionamento para o mercado de

trabalho, para os alunos do último ano do ensino médio. O foco é que este estudante se

prepare para encarar uma carreira. Contudo, se preferir continuar os estudos, a instituição

também oferece cursos de graduação à distância por um preço acessível, no mesmo patamar

da mensalidade da EJA. A observação foi enriquecedora, pois deu uma dimensão do

funcionamento da EJA e da opinião dos alunos sobre seu aprendizado. Tanto o professor

responsável pela EJA, quanto o regente entrevistado, foram enfáticos ao relatarem suas

experiências com a EJA, destacando seus pontos positivos: a facilidade de comunicação com

os alunos, a troca de experiências com os educandos e a sensação de satisfação a cada turma

formada. E negativos: a questão da evasão acima da média (por questões financeiras,

pessoais, de não adaptação ao modelo proposto pela escola e incompatibilidade com o horário

de trabalho), a falta de um acompanhamento por um psicólogo para alguns alunos

considerados “problemáticos” e a falta de respeito em sala de aula (pelo diálogo aberto).


REFERÊNCIAS

DEMO, Pedro. Pesquisa e construção de conhecimento: metodologia científica no caminho


de Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1996. p.79-82.

MELLO, Paulo Eduardo Dias de. Um novo olhar sobre a produção didática da EJA: as
produções do meio escolar. Revista Brasileira de Educação de Jovens e Adultos, n.1, v.1,
2013. Disponível em: <
https://www.revistas.uneb.br/index.php/educajovenseadultos/article/view/246>. Acesso em:
10 dez. 2017.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem.
Revista Brasileira de Educação, n.12, p.59-73, Set/Dez. 1999.

SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. 34. ed. rev. Campinas: Autores Associados,
2001. 94 p.

VENTURA, J. A trajetória histórica da Educação de Jovens e Adultos trabalhadores. In:


TIRIBA, L.; CIAVATTA, M. (Org.). Trabalho e Educação de Jovens e Adultos. Brasília:
Líber, Eduff, 2011. p.57-97.
ANEXO 1 – FOTOS DO CENTRO EDUCACIONAL PEREIRA ROCHA

Biblioteca

Sala de vídeo
Laboratório de informática

Laboratório de ciências
Ginásio Poliesportivo

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