Você está na página 1de 3

“Uma sala escura? Não...

tem algo cobrindo meu rosto, não consigo sentir meus


pulsos, parecem estar dormentes e inchados, que merda está acontecendo!? Não
consigo ouvir nada, mas sinto como se tivesse alguém atrás de mim me perfurando
com os olhos quase como se quisesse vir para cima de mim agora mesmo.”

Margot – Mas que merda... de novo esse pesadelo estúpido.

1999 - Minha vida mudou completamente desde que saí daquele instituto,
infelizmente não consegui seguir meu sonho na carreira da música, de qualquer
modo não é como se fosse a mesma coisa depois de ter conhecido aquele... Demônio.
Nunca direi que estou infeliz, mas também não significa que estou completamente
satisfeita, ser uma advogada me traz momentos bons devo admitir, mas o único
momento em que não sinto uma vontade terrível de desistir de tudo é quando estou
com minhas filhas.
A maternidade não era algo que eu gostaria de ter conhecido, mas digamos que
devido circunstâncias eu aprendi a amar e ser mais compreensiva, afinal elas
dependem de mim, e do meu carinho para que cresçam bem, sinceramente não acho
que sou e nem vou me tornar uma boa mãe com forme mais tempo passe, porém eu
genuinamente as amo e quero que tenham uma ótima vida, e que não precisem
passar por nenhum pesadelo real.
Sempre me pergunto por que as coisas tiveram que terminar assim, eu não fui uma
boa esposa ou ele simplesmente não me amava o suficiente para entender as minhas
dificuldades? No fundo, eu sei que na realidade eu nunca quis um marido, se fosse
apenas eu e minhas filhas tudo ficaria bem, mas não consigo deixar de me sentir
egoísta por deixá-las sem uma figura paterna presente, já que nem eu mesma sou
presente da forma que crianças precisam.
Minha terapeuta diz que eu deveria tentar me abrir com elas, mas como fazer isso
com crianças? Às vezes eu acho que nem eu as conheço, e me doí imensamente ter
esse pensamento de que não sou boa o suficiente nem para ser mãe. Normalmente
tento observá-las para tentar aprender algo, algumas vezes tentaram me chamar para
brincar e logo em seguida dou um olhar frio e uma resposta curta, eu sinto como se
não tivesse o direito de amá-las porque a última vez que eu amei algo com tanta
intensidade eu me quebrei em vários pedaços.

Playlist para escutar:


https://open.spotify.com/playlist/0qV6jjGDx1stBArtCiOXet?si=2acd1f9ffdcb445c
~A Confissão de Margot~

“Acho estúpida a ideia de escrever um diário, o que eu poderia escrever aqui? A


minha lista de afazeres? Como se eu tivesse muita coisa a relatar a não ser sobre os
casos que chegam até o escritório, não vale a pena lembrar de mais nada, prefiro
guardar todo o resto para mim, e viver cada dia como se fosse um botão de “reset”,
ela me diz sempre que deveria ser mais sincera com meus sentimentos, colocá-los
para fora e me abrir com quem eu amo, mas nessa vida eu só me importo com duas
pequenas pessoas. E eu jamais colocaria o peso dessas memórias sobre seus ombros,
suas vidas têm que ser leves e suaves como a brisa de uma noite de outono, que traz
uma sensação de conforto e ao mesmo tempo o alívio de não ter nenhuma grande
preocupação, minhas filhas não merecem passar por nada de ruim que o ser humano
é capaz de realizar, para ser sincera, acredito que existam pessoas que já não tem
mais a sua humanidade, ou talvez já tenham nascido sem a capacidade de
demonstrar compaixão ou sentir empatia, pelo menos é assim que eu via o Kennet.
Que merda, esse negócio de escrever realmente ajuda.”

“Hoje eu vi uma reportagem sobre um caso de assassinato, e acabei revivendo


algumas memórias do tempo em que estive na Academia Shinyo, sempre me
questiono como eles conseguem esconder as mortes e os desaparecimentos dos
alunos, é como se os pais deles não lutassem por algum tipo de justiça, quase como se
a família inteira fosse apagada do mapa. Se fosse com as minhas filhas eu seria capaz
de derrubar cada tijolo daquele lugar infernal com minhas próprias mãos e acabar
com a raça dos Miyamoto, bom, por mais que meu trabalho seja mediar a justiça o
caso desse lugar não é minha responsabilidade, prefiro não me envolver novamente
com isso, só me trouxe pensamentos desnecessários.”

“Que semana de merda, a onda dos pesadelos voltou e parece que com mais
intensidade, eu consigo sentir toda aquela sensação de vulnerabilidade como se
tivesse sido ontem, é como se minha consciência me dissesse que eu preciso contar
para elas o motivo de eu ser assim, tão distante, mas como contar a crianças de 10
anos que a mãe adulta não deixa espelhos pela casa porque tem medo do que vai ver,
de relembrar tudo o que viveu quando era só uma adolescente desajeitada e imatura.
A Angelica diz que estou melhorando minha forma de me expressar através da
escrita e que eu deveria escrever “Cartas” para elas, por algum motivo algo me diz
que em algum momento algo vai acontecer e será necessário que minhas palavras as
confortem de alguma maneira.”
“Eu estava no 2° ano quando tudo começou, após minha entrada triunfal na
Academia, já havia conseguido muitos contatos de confiança ou pelo menos era o que
eu imaginava que fossem. Vocalista da banda, filha de uma das melhores professoras,
irmã da estrela do time de natação e várias outras coisas pelas quais começaram a
comentar sobre mim nos corredores, todos os dias eu acordava e me olhava por pelo
menos 10 minutos de frente ao espelho, analisando cada pequeno traço para que se
houvesse alguma falha eu a corrigisse, tudo isso por causa de um garoto, o que eu
poderia fazer? Depois de olhar aquele sorriso, aquele maldito sorriso, não tinha como
voltar atrás. Graças as fofocas diárias espalhadas pela academia, foi bem fácil eu me
tornar popular, acabei ficando com todo tipo de garotos e garotas, mas nenhum
nunca havia me chamado a atenção, não do jeito que ele fez meu coração acelerar,
talvez por ser mais velho ou por esconder sua verdadeira personalidade que eu iria
descobrir da pior forma futuramente.

Eu estava no ápice da adolescência, tinha tudo o que queria, os professores e colegas


me amavam, um melhor amigo que conseguia todas as informações que eu
precisasse, mas ainda não tinha conseguido a única coisa que me importava, Logan
Turner. Felizmente ou não, eu era próxima do seu melhor amigo da época, Kennet
Ramsey que tinha se tornado meio obcecado comigo, ficamos algumas vezes, claro foi
ótimo para a minha imagem apesar de algumas pessoas terem me dito para não ficar
com ele eu ignorei, mas depois de um tempo comecei a perceber que os rumores não
eram apenas rumores.
Sua obsessão estava começando a ficar fora de controle, eu me sentia como uma
presa que poderia ser pega a qualquer momento, e mesmo que ele agisse como se não
fosse nada eu conseguia sentir suas segundas intenções através do seu olhar que me
perfurava como uma flecha, ele sabia que eu não o desejava, e isso tornava sua
vontade ainda maior.”

“Durante alguns meses consegui manter o controle sobre a situação, mas quando
exatamente as coisas desmoronaram? Na verdade, eu sei bem como e o porquê. De
algum modo eu podia sentir que aquele dia seria diferente, ao me levantar fiz o meu
ritual como de costume, porém acordei com uma mensagem do meu amigo, dizendo
“Melhor você não fazer a apresentação de hoje, eu vi o Kennet conversando com
umas pessoas hoje”, ele não me explicou direito e nem disse o motivo do aviso, mas
eu a ignorei, afinal não poderia perder a chance dessa apresentação me disseram que
haveria alguém de fora assistindo, essa seria a oportunidade perfeita para criar meu
nome no mundo da música. Fui a primeira a chegar, organizei tudo e para minha
surpresa o Logan apareceu, conversamos um pouco e ele estava tão... radiante, talvez
seja o efeito de estar apaixonada ou realmente tinha algo de errado nele aquele dia,
isso é o que eu vim a descobrir mais tarde.”

Você também pode gostar