O arquétipo goetheano e a formação epistemológica e a metodológica da
geomorfologia.
Para os estudos da natureza Goethe partia do princípio de que as morfologias seriam
derivadas de uma Urformen, uma forma pura, uma construção mental cujo objetivo seria o de guiar o pesquisador na interpretação da natureza. No caso da geomorfologia um exemplo de fenômeno puro seriam as superfícies pediplanadas. O arquétipo o papel de guiar a percepção científica do pesquisador visando conectar o mundo empírico da natureza à uma estrutura epistemológica e filosófica necessária para a interpretação da natureza. A transformação dos morfotipos resultava dos desequilíbrios que ocorreriam na geoesfera cujo resultado final seriam novos morfotipos e sempre homólogos ao anterior e cuja diferença estava na complexidade de seus conteúdos, no caso as rampas de colúvios. Tal postulado foi demonstrado pelo biogeógrafo Moritz Wagner, mentor intelectual de Ratzel, quando questionou Darwin sobre o papel do espaço na migração e na especiação dos organismos. A noção de arquétipo também trouxe uma discussão epistemológica de ordem escalar e com forte interferência na análise geomorfológica. A manifestação da geoesfera na superfície da Terra, segundo Goethe, ocorreria de maneira regionalizada, pois com a latitude tem a capacidade de determinar as características climáticas de uma região e, com isto, determinar as propriedades e as características das relações entre os elementos da natureza em uma dada geoesfera. Ainda em se tratando de geoesfera as propriedades da morfologia também seriam dependentes das relações entre a sincronia e a diacronia dos fenômenos naturais conforme fora estabelecida por Humboldt. A solução epistemológica foi o conceito de paisagem, enquanto totalidade que se manifestaria regionalmente e, onde cada região apresentaria morfotipos específicos segundo as condições geográficas de cada região. Mas, os morfotipos de uma região seriam dependentes de suas relações com o próprio movimento da paisagem, enquanto uma totalidade. Este fundamento epistemológico permitiu o surgimento da geomorfologia climática e climatogenética representada pelas obras de Humboldt, Passarge, Tricart e Budel. É neste quadro que será organizado o conceito de refúgios biogeográficos, onde a complexidade da trama ecológica e biogeográfica de uma dada região, é dependente de o quanto ela estará exposta às sucessivas fases de expansão e de retração paleoclimática. Finalmente, outra importante contribuição de Goethe para a geomorfologia que fundamentou os processos de mapeamento geomorfológico do relevo é que um morfotipo deve ser analisado em seu conjunto, formando um sistema morfológico, um compartimento onde as formas necessariamente possuem idades e fatores genéticos equivalentes entre si e que podem ser representadas pela pintura de paisagem e pelo mapeamento geomorfológico.