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RESUMO: TERRA SONÂMBULA - MIA COUTO

Se dizia daquela terra que era sonâmbula. Porque enquanto os homens dormiam, a terra se
movia espaços e tempos afora.

Quando despertavam, os habitantes olhavam o novo rosto da paisagem e sabiam que, naquela
noite, eles tinham sido visitados pela fantasia do sonho. (Crença dos habitantes de Matimati)

O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É
para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro.(Fala de Tuahir)

Há três espécies de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar. (Platão)

Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam,
focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se Mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores
que se pegavam à boca.
Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar
asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em
resignada aprendizagem da morte.
A estrada que agora se abre a nossos olhos não se entrecruza com outra nenhuma. Está mais
deitada que os séculos, suportando sozinha toda a distância. Pelas bermas apodrecem carros
incendiados, restos de pilhagens. Na savana em volta, apenas os embondeiros contemplam o
mundo a desflorir.

Um velho e um miúdo vão seguindo pela estrada. Andam bambolentos como se caminhar fosse
seu único serviço desde que nasceram. Vão para lá de nenhuma parte, dando o vindo por não ido,
à espera do adiante.

Fogem da guerra, dessa guerra que contaminara toda a sua terra. Vão na ilusão de, mais além,
haver um refúgio tranquilo. Avançam descalços, suas vestes têm a mesma cor do caminho. O
velho se chama Tuahir. É magro, parece ter perdido toda a substância.

O jovem se chama Muidinga. Caminha à frente desde que saíra do campo de refugiados. Se nota
nele um leve coxear, uma perna demorando mais que o passo. Vestígio da doença que, ainda há
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pouco, o arrastara quase até à morte. Quem o recolhera fora o velho Tuahir, quando todos outros
o haviam abandonado.

O menino estava já sem estado, os ranhos lhe saíam não do nariz mas de toda a cabeça. O velho
teve que lhe ensinar todos os inícios: andar, falar, pensar. Muidinga se meninou outra vez. Esta
segunda infância, porém, fora apressada pelos ditados da sobrevivência.

Quando iniciaram a viagem já ele se acostumava de cantar, dando vaga a distraídas brincriações.
No convívio com a solidão, porém, o canto acabou por migrar de si. Os dois caminheiros
condiziam com a estrada, murchos e desesperançados.

Muidinga e Tuahir param agora frente a um autocarro queimado. Discutem, discordando-se. O


jovem lança o saco no chão, acordando poeira. O velho ralha:

- Estou-lhe a dizer, miúdo: vamos instalar casa aqui mesmo.

- Mas aqui? Num machimbombo (autocarro) todo incendiado?

- Você não sabe nada, miúdo. O que já está queimado não volta a arder.

Muidinga não ganha convencimento. Olha a planície, tudo parece desmaiado. Naquele território,
tão despido de brilho, ter razão é algo que já não dá vontade. Por isso ele não insiste. Roda à
volta do machimbombo. O veículo se despistara, ficara meio atravessado na rodovia. A dianteira
estava amassada de encontro a um imenso embondeiro. Muidinga se encosta ao tronco da árvore
e pergunta:

- Mas na estrada não é mais perigoso, Tuahir? Não é melhor esconder no mato?

- Nada. Aqui podemos ver os passantes. Está-me compreender?

- Você sempre sabe, Tuahir.

- Não vale a pena queixar. Culpa é sua: não é você que quer procurar seus pais?

- Quero. Mas na estrada quem passa são os bandos (Bandos: designação popular de bandidos
armados).
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- Os bandos se vierem, nós fingimos que estamos mortos. Faz conta falecemos junto com o
machimbombo. Entram no autocarro. O corredor e os bancos estão ainda cobertos de corpos
carbonizados. Muidinga se recusa a entrar. O velho avança pelo corredor, vai espreitando os
cantos da viatura.

- Estes arderam bem. Veja como todos ficaram pequenitos. Parece o fogo gosta de nos ver
crianças. Tuahir se instala no banco traseiro, onde o fogo não chegara. O miúdo continua
receoso, hesitando entrar. O velho encoraja:

- Venha, são mortos limpos pelas chamas.

Muidinga vai avançando, pisando com mil cautelas. Aquele recinto está contaminado pela morte.
Seriam precisas mil cerimónias para purificar o autocarro.

- Não faça essa cara, miúdo. Os falecidos se ofendem se lhes mostramos nojo. Muidinga
arruma o saco num banco. Senta-se e observa o recanto conservado. Há tecto, assentos, encostos.
O velho, impávido, já se deitou a repousar. De olhos fechados, espreguiça a voz:

- Sabe bem uma sombrinha assim. Não descanso desde que fugimos do campo. Você não quer
sombrear?

- Tuahir, vamos tirar esses corpos daqui.

- E porquê? Cheiram-lhe mal?

O miúdo não responde logo. Está virado para a janela quebrada. O velho insiste que descanse.
Desde que saíram do campo de deslocados eles não tinham tido pausa. Muidinga permanecem de
costas viradas. Se escuta apenas o seu respirar, quase resvalando em soluço. Então, ele repete a
sussurrante súplica: que se limpe aquele refúgio.

- Lhe peço, tio Tuahir. É que estou farto de viver entre mortos.

O velho se apressa a emendar: não sou seu tio! E ameaça: o moço que não abuse familiaridades.
Mas aquele tratamento é só a maneira da tradição, argumenta Muidinga.

- Em você não gosto.


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- Não lhe chamo nunca mais.

- E me diga: você quer encontrar seus pais porquê?

- Já expliquei tantas vezes.

- Desconsigo de entender. Vou-lhe contar uma coisa: seus pais não lhe vão querer ver nem vivo.

- Porquê?

- Em tempos de guerra filhos são um peso que trapalha maningue (Maningue: muito,
demasiado).

Enquanto estão a enterrar os cadáveres encontram um homem morto muito recentemente com
uma mala de viagem ao pé dele muidinga decide trazer a mal de volta para o autocarro e dentro
da mala encontram uma serie de coisas incluindo os diários do morto e a sua roupa. Tuahir não
se interessa pelos cadernos pois não sabe ler mas muidinga muito curioso lê as histórias do
misterioso homem.

Começando a ler o livro transportamos para uma era diferente onde nos conta a historia de kdizu
um jovem pescador que vive numa pequena aldeia atingida pela guerra no inicio ele conta a
historia de como a sua mãe que vivia no medo da guerra fechou seu irmão mais novo no
galinheiro para os soldados não repararei nele, depois kidzu continua escrevendo ate se encontrar
na loja da aldeia onde o dono era um grande amigo (Taímo) e desabafa com ele sobre os
problemas de sua mãe.

De volta com tuahir e muidinga ambos passeiam procurando alimento ou água fresca enquanto
muidinga se questiona as acções da mãe de kidzu. Muidinga questiona a tuahir quem ele era e
que vida ele tinha antes de tuahir o encontrar e cuidar dele. Tuahir responde bruscamente apenas
dizendo que o encontro coxeando no campo e cuidou dele. Mais adiante muidinga encontra uma
pequena cabra e condu-la até ao autocarro.

Voltando ao autocarro muidinga lê um pouco mais dos diários contando que kidzu voltando um
dia do mar encontra o amigo de partida pois a sua loja tinha sido vandalizada pelos soldados e de
seguida vai ate a sua quinta e sua mãe e irmão tinham sido violentamente mortos pelos rebeldes.
Muidinga ao ler a triste historia de kidzu começa a ter desejo de encontra os seus pais e perseguir
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a felicidade mas tuahir tira lhe a ideia da cabeça dizendo que eles não o querem e que em altura
de guerra uma criança e algo que só cria peso.

Nessa mesma manha ambos foram procurar alimento e muidinga volta a questionar tuahir onde o
encontrou e porque trouxe e tuahir conta lhe que ele enterra crianças em conjunto com outros
prisioneiros e reparou que muidinga ainda estava vivo então disse aos outro que era seu sobrinho
e cuidou dele ate recuperar todas as forças.

Voltando a ler a historia de kidzu que flutuava no mar na esperança de encontrar uma vida
melhor no meio da sua viajem no meu do mar onde nada se encontrava kidzu encontra um navio
abandonado mas grita por ajuda pois o seu barco estava a afundar com um pequeno buraco no
fundo então vem uma mulher a correr perguntando o que ele queria ele disse que queria abrigo e
ela deixou o entrar no navio com a condição que o consertava.

A mulher conta lhe que o navio esta encalhado há muitos anos e ela espera o capitão do navio
que disse há muitos anos que iria arranjar ajuda em terra e ela o espera no navio. Entretanto e
garoto e o velho encontram uma árvore de fruto mas ao subir fica prendido numa armadilha
numa rede num buraco o velho diz que eles não conseguem fazer nada mas esperar que alguém
os salve passado umas horas um homem aparece e leva os para o seu acampamento tuahir
percebe que estão em perigo por isso consegue solta-los e fugir do cativeiro do homem.

Voltando a aventura de kidzu que se encontra no navio encalhado com a mulher que passado
umas semanas desenvolve um romance e ela acaba por lhe contar que tem um filho em terra,
numa terra que se via a partir do navio mas simplesmente se via um farol que nunca acendia e a
mulher tinha a esperança que quando ele acende-se seria seu filho a sua procura então kidzu
parte para terra para procurar seu filho e trazer de volta a sua amante.

Lendo isto muidinga pensa que a mulher pode ser sua mãe e tem que ir em busca dela no mar
ma tuahir nega e diz que e impossível a mulher ser sua mãe e insiste que seus pais na o quiseram
pôs e altura de guerra. Muidinga na manha seguinte apesar do que tuahir disse decide partir só
ele e a sua cabra mas quando tuahir acorda vê que o rapaz desapareceu vai atrás dele
encontrando-o muito mais a frente.
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A meio do caminho encontram um homem que leva a sua filha amarrada a um barrir e o homem
explicou que a tornava flexível que nem uma cobra e assim ele podia ganhar dinheiro com os
seus espectáculos.

Muidinga na tendo muito contacto com outros humanos sem ser tuahir acho a rapariga cobra a
pessoa mais bonita que alguma vez tinha visto. Continuando na viajem param para comer e a
cabra de muidinga foge e pisa numa mina implantada no chão morrendo no instante.

A noite tuahir não conseguindo dormir pede a muidinga que lhe leia mais historias do caderno e
muidinga assim o faz contando que agora kidzu chegando a terra encontra um amigo da sua vila
que lhe diz que o Taímo o dono da loja se encontrava naquela terra kidzu decidiu ir visita-lo pois
senti muitas saudades dele ai ele informa lhe que ter partido não serviu de muito pois os soldados
perseguiram no e mataram sua mulher passando a conversa o amigo pergunta lhe pela família e
kidzu informa lhe que foram brutalmente assassinados.

Voltando a muidinga e tuahir muidinga interrogam se sobre o amor e tuahir partilha com ele os
seus conhecimentos. Na manha seguinte descobre o mesmo autocarro logo tiveram a andar em
círculos durante dias muidinga fica muito zangado pois queria ir ao mar mas eles voltam a partir
em busca do mar.

Voltando a vida de kidzu que agora se encontra na difícil procura do filho da mulher então
encontra uma viúva portuguesa que diziam que podia conhecer kidzu vai encontro dessa velha
mulher que ao inicio não lhe diz grande coisa sobre o filho da mulher mas depois confessa que a
conhecia e seu filho também mas com a conversa dela kidzu percebe que ela já não esta muito
bem da cabeça… e a velha acaba por lhe contar que o filho de farinda que se chama Gaspar e
também filho do seu falecido marido.

As frases de Virgínia faz muidinga pensar que depois disse será que farinda ainda o vai querer
como seu filho. Entretanto tuahir revela a mudinga que e pai de outra criança que esta muito
longe muidinga lhe diz para fingir ele sendo pai dele e ele sendo seu filho e ai tuahir conta a
história de Adão e Eva a mudinga como tudo começou.
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E voltam no caminho mas voltam a encontrar o mesmo autocarro muidinga fica muito frustrado
e zangado por ter ando sempre em círculos e não encontrar o caminho para o mar e o que ele
acredita ser sua mãe.

Senta-se no chão e começa a escavar um grande buraco no chão e diz a tuahir se os rios morrem
sempre no mar então ele ia construir um rio por sua surpresa muidinga encontra agua depois de
muito escavar e assim vendo a agua escorrer para o final da estrada soube o caminho exacto para
o mar utilizando o autocarro como rio os dois embarcam em direcção ao mar.

Aborrecido muidinga lê um pouco mais dos seus cadernos. Kidzu depois do encontro com
Virgínia decide voltar para sua aldeia que agora era reinado por soldados os mesmo que mataram
sua família e tenta salvar algumas das crianças sendo capturadas mas falha.

Ao longo do rio criado por muidinga ambos encontraram povos da zona felizes por ter agua por
tão perto deles. Passado umas horas de andar a deriva finalmente se encontram perto do mar
entretanto durante a viagem tuahir fica com febre e muito doente mas insiste com muidinga que
não e nada e que esta tudo bem com ele.

Há noite ainda navegando no mar muidinga avista um farol aceso apontando para eles e grita
para tuahir que e o farol de Farida tenta anunciar a tuahir mas esta já esta muito doente e só lhe
pede para lhe ler as ultimas paginas do caderno.

muidinga começa a ler mas não aguentado o velho morre no seu colo e muidinga chora de
desespero e chama por seu nome e quando percebe que e escusado baixa a cabeça como sinal de
fraqueza mas quando levanta a cabeça decide continuar a ler e no final do caderno explica que
kidzu viu o autocarro a ser incendiado com os saldados e ai foi alvejados por um deles e ainda
antes de morrer viu Muidinga e tuahir a chegar e tentou o chamar por Gaspar o filho de Farida.
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Referencia: COUTO, Mia. Terra sonâmbula. Caminho Editorial,

Lisboa, 1992.
Tema: Terra sonâmbula a)

Pag. Observação:
Nota de Resumo: - Ao abordar “a aprendizagem
Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as da morte” o autor nos faz
1-224 hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A entender a situação de
paisagem se mestiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se Moçambique que no ano de
pegavam à boca. Em cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda 1975, após uma década de
a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui o guerra, conquista sua
céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão. independência do
Em resignada a aprendizagem da morte. Colonialismo português.

Gentes imensas se concentravam na praia como se fossem - Em seus cadernos, Kindzu


destroços trazidos pelas ondas. A verdade era outra: tinham vindo escreve “Era preciso haver
do interior, das terras onde os matadores tinham proclamado seu morte para que as leis fossem
reino. esquecidas. Agora que a
desordem era total, tudo estava
Consoante as pobres gentes fugiam também os bandidos vinham autorizado. Os culpados seriam
em seu rasto como hienas perseguindo agonizantes gazelas. sempre os outros
E agora aqueles deslocados se campeavam por ali sem terra para
produzirem a mínima comida. - Os conhecimentos do velho
Tuahir orientam Muidinga,
O velho pede então que o miúdo dê voz aos cadernos. Dividissem assim como os conhecimentos
aquele encanto como sempre repartiram a comida. de Surendra (comerciante
Ainda bem você sabe ler, comenta o velho Não fosse as leituras indiano que se torna amigo de
eles estaria condenados a solidão. Seus devaneios caminhavam Kindzu) e do pai, Taímo,
agora pelas letrinhas daqueles escritos. orientam Kindzu.
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