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Primeiro Capítulo

A estrada morta
A história começa com dois refugiados, Tuahir (o velho protetor) e Muidinga (um jovem órfão
coxo) que tem o sonho de encontrar seus pais, e com isso, eles fogem do campo de refugiados a
procura deles e tentando se salvar da guerra que assola o país. Durante o percurso eles decidem
passar a noite em um machimbombo (auto-carro) que estava incendiado na estrada, ao retirar os
mortos do veículo, descobrem uma mala que estava com um garoto. Durante a noite, a luz da
fogueira, Muidinga começa a ler o pequeno caderno de Kindzu.
Primeiro Caderno de Kindzu - O tempo em que o mundo tinha a nossa idade Este primeiro
capítulo do caderno, relata a vida de Kindzu quando era pequeno. Relata a vivência de sua
família pré-guerra. Seu pai tem sonhos que relatam o futuro e durante um, ele recebe a visão de
que um de seus filhos irá morrer, e ao contar aos seus filhos, ele afirma que o escolhido será
Junhito (o último habitante do ventre). Para reverter essa situação, seu pai decide que Junhito irá
morar no galinheiro, falar que nem uma galinha e se vestir que nem uma galinha, pois ninguém
persegue galinhas. Após um tempo, o filho mais novo desaparece, e logo em seguida, seu pai
morre. O vidente da região diz a mãe que será necessário levar seu barco para uma casa - mais
distante possível - para que ele sempre saiba onde se encontrar, e com isso, começam a deixar
comida todas as noites que somem misteriosamente. Em uma noite, Kindzu observou um vulto
saindo do casebre, e foi falar com sua mãe, dizendo que aquele era um impostor e que seu pai
não estava mais lá. Sua mãe, questiona, dizendo que aquele vulto era seu pai sim e questiona que
ela teve tantos filhos, mas apenas o pior ficou com ela. Nesse momento, entra uma reflexão
dizendo que o país é como uma baleia encalhada, que tenta lutar pra sobreviver, mas há pessoas
retirando pedaços de carne (caracterizando as terras) para ter pra si. Apenas um comerciante
permaneceu na região, o indiano Surendra Valá e sua esposa Assma (que passa os dias escutando
o chiado do rádio dizendo que é a música indiana). Surendra e Kindzu passam horas observando
o mar, sem dizer nada e ao mesmo tempo dizendo tudo. Ele tem um ajudante (Antoninho).
Durante uma de suas "conversas", Kindzu percebeu que um homem estava furtando objetos do
comércio e logo contou ao comerciante. Surendra questiona o homem e pede que ele devolva, e o
negro diz que ele deve se por em seu lugar e que o seu comércio um dia amanhecera em chamas.
Após a saída do roubador, aparece uma figura misteriosa na loja, Kindzu percebe que era o vulto
que observou no casebre, e questiona o lojista que afirma que aquele era um naparama
(guerreiros que lutam contra os fazedores de guerra). E assim, desperta a vontade no garoto.
Certa manhã, a loja amanhece incendiada, e o casal decide se mudar da região. Inconformado
com a decisão, ele vai até a casa de seu professor (o velho pastor Afonso) e se depara com luto,
pois este tinha sido assassinado e suas mãos tinham sido arrancadas, para servir de lição. Kindzu
decide que deve fugir daquele lugar, se tornar naparamas talvez, mas seu pai reaparece em um
sonho e proíbe que ele siga esse caminho. Após isso, ele vai até um vidente para saber de seu
futuro, e descobre que para se livrar dos sonhos com seu pai, será necessário fugir sem deixar
rastros (andar paralelamente ao mar), e assim, ele se despede de sua mãe, dizendo que irá fugir.
E ela responde dizendo que está grávida de novo, mas que não irá tê-lo agora, pois a época não é
boa.
Segundo Capítulo - As letras do sonho Se passaram dias, Muidinga e Tuahir estão vivendo no
automóvel. Durante as noites o jovem lê o caderno encontrado para afastar o medo da escuridão.
Uma madruga, enquanto dormiam, apareceu uma cabra e os acordou, Muidinga decide brincar
com a cabra e de subido começa a recordar de sua vida passada, pois este sabia escrever. Ao
contar ao tio sobre isso, este se nega dizendo que ele não é seu tio, e sim seu pai. E que não havia
escola nem garotos, pois a doença retirou tudo dele. Durante a tarde, eles se deparam com um
elefante que chegou ao esconderijo e estava ferido (vagando moribundo que nem a humanidade)
e retribuíram essa ação aos causadores de guerra, que retiram suas presas pra vender no mercado
negro.
Segundo Caderno Kindzu – Uma cova no teto do mundo Kindzu está na sua aventura à procura
de se tornar um naparama. Enquanto anda junto ao litoral, percebe que está deixando pegadas,
então decide jogar uma pena em cada pegada, e delas surgia uma ave, que levada seu rastro
assim que voada. O feitiço estava em torno dele, dos rasgos da caravela surgiam peixes, seu
remo virou árvore. E ele, em um sonho, se deparou com mãos saindo da areia (era a morte) e
pedia pra ele ir para a cova. Kindzu acordou de sobressalto desse primeiro pesadelo. Logo após,
sonho com seu pai. Este disse que todas as dificuldades que enfrentava era por não ter seguido
seu destino e não ter rezado pela sua morte. Contou que sua mãe estava casada com outro e no
final desse pesadelo, rogou uma praga. “ - Você me inventou em seu sonho de mentira. Merece
um castigo: nunca mais você será capaz de sonhar a não ser que eu lhe acenda o sonho”
Terceiro Capítulo – O amargo gosto da maquela Ao acordar, Muidinga descobre que a cabra
havia sido morta (e segundo os vestígios, teria sido uma pessoa), Tuahir ao saber que miúdo
amarrou a cabra, se descontrola de raiva, pois poderiam ter sido pegos. A comida acabou então
tiveram que andar pelas matas pra procurar alimento. Encontraram uma fazenda, onde não
restava nenhuma plantação, apenas velhas mandiocas. Tuahir proíbe miúdo de comer, pois foi
elas que deram a sua doença. Nesse momento Tuahir começa a contar como ele encontrou
Muidinga. Ele estava num grupo de crianças mortas, ao começar enterra-las, Tuahir percebe que
mui do está vivo, e promete que irá cuidar dele. Durante os dias ele começa a piorar, fica sem
sombra (sinal de que a morte está chegando), magro e bebendo apenas água. Tuahir pede pra ele
se deitar e esperar a morte, mas ele resiste e ao acordar está vivo e forte, voltou a ser criança.
Terceiro Caderno de Kindzu – Matimati, a terra da água Kindzu chega em uma ilha mal
assombrada, ao perceber sua chegada, os moradores pedem que ele regresse, pois há muita
anomalia naquelas terras, contam que o navio que estava trazendo mantimento bateu em uma
pedra que apareceu misteriosamente, e agora, estavam culpando os habitantes. Antes de
regressar, ele dançou sobre os costumes para pedir alimentos, e por beber muito, foi carregado ao
barco e, de lá, seguiu para o mar. Acordou, a noite, no meio do nada, ficou observando uma
fogueira em pleno mar, até que começou a chover, e de repente, cai do céu um anão. Kindzu,
enfim, pode acreditar nas histórias sobre anões que seu pai contava. Este, disse que precisava ir
ao navio naufragado, e assim, um tchoti (fantasma) os guiou até o navio. Lá, foram até o porão,
onde o anão desapareceu; Kindzu, estando sozinho, observa a âncora balançando e acredita que
foi um oxiporo (fantasma) que a balançou. Ele se depara com uma mulher, que pede que saia do
barco, ao questiona-la, ela cai e começa a tremer. Kindzu pede que ela conte a sua história e ele
promete contar se ele solta-la.
Quarto Capítulo – A lição de Siqueleto Miúdo deseja se mudar daquela estrada, pois lá não
tem vida, nem nada, o velho questiona, dizendo que é por isso que estão vivos. Cansado dessa
discussão, decide mentir e começa a fazer caminhos que sempre retornam ao machimbombo. Em
uma dessas viagens, caem em um buraco usado como armadilha. Um velho os tira de lá, e os
leva – arrastados – para sua casa. Diz que todos do vilarejo se foram e só ele ficou, e que todos
os homens que apareciam, eram causadores da guerra, por isso, decidiu matá-los. Muidinga
escreve seu nome na terra e o velho fica admirado. Durante a noite, são acordados pelo velho,
que os leva até uma árvore e pede que escreva seu nome nela. Após escrita, ele diz que será
eterno, pois seu nome circula no sangue da aldeia, e decide morrer, enfiando o dedo no ouvido
até sangrar e se transformar em semente.
Quarto Caderno de Kindzu – A filha do céu. Neste caderno, Farida – a mulher do navio –
conta a sua história. Ela nasceu em uma tribo onde o nascimento de gêmeos era significado do
começo do mal, e por isso, era necessário sacrificar uma das crianças para que o mal não
assolasse a tribo. Farida foi a sobrevivente, e foi morar com sua mãe em uma casa distante da
aldeia, ninguém se aproximava delas, apenas sua tia Euzinha as visitavam. O mal assolou o local,
pois sua irmã gêmea não morreu conforme o costume, ela foi entregue a um viajante, e por isso,
sua mãe foi levada para o rio para realizar uma cerimônia para que o mal acabasse. Sua mãe,
depois de uma noite, some trazendo boasnovas, deixando Farida órfã, fazendo com que ela
decidisse ir embora da tribo. Em uma vila encontra Dona Virgínia e Romão Pinto, que a adotam.
Virgínia amava a África, mas desejava voltar para a Europa, pois doía seu coração ver como
aquela terra estava sendo tratada. Cuidaram de Farida como se fosse uma filha, mas Romão tinha
segundas intenções com a garota. Certo dia, Virgínia – já enlouquecendo – diz que Farida tem
que ir embora, levando-a para a missão. Ela ficou um tempo lá, mas percebeu que não era seu
lugar, e por isso, decidiu voltar. Ao chegar a sua casa, descobre que sua mãe adotiva não está,
então decide esperar. E é nesse momento, que Romão abusa de Farida. Esta decide voltar para
sua aldeia, e ao chegar, descobre que está grávida, decidindo deixa-lo na missão. Depois de
alguns anos, ela se arrepende e decide cuidar de seu filho Gaspar, ao descobrir que sua mãe o
queria de volta, ele foge da missão. Cansada de tudo, Farida decide andar pelo mundo e através
de um barco, ela chega ao navio naufragado. E assim, ela termina sua história, dizendo a Kindzu
que ela é como um fantasma e que foi ela que o trouxe até o navio.
Quinto Capítulo – O fazedor de rios. Miúdo e Tiahur estão sentados no machimbombo quando
observam Nhamataca vindo ao seu encontro, ele está cavando uma trilha. Este é muito amigo de
Tuahir e explica que está fazendo um caminho, pois surgirá um rir. Os dois decidem ajudar e ,em
determinado ponto, começa chover e o rio ganha vida. Nhamataca comemora, mas é arrastado
pela correnteza e assim desaparece. E assim, sobra apenas os dois, que se encontram perdidos,
Tuahir diz que sente falta das estórias e Miúdo diz que os cadernos ficaram no machimbombo
mas ele lembra do quinto caderno.
Quinto Caderno de Kindzu – Juras, promessas, enganos Kindzu começa a suspeitar que não
exista o anão, pois este não regressa do porão, ele decide ir até lá e percebe que tudo aquilo
poderia ser coisa de sua imaginação. Kindzu e Farida estavam se tornando apenas um, durante as
noites ela devaneava contando estórias de seu passado, pedindo para que Kindzu esquecesse de
procurar os naparamas e fosse procurar seu filho, pois os naparamas também causavam a guerra.
Kindzu nega, dizendo que não desistirá de seu sonho, fazendo com que os dois se afastem, para
acabar com essa discórdia, Kindzu aceita procurar, também, seu filho Gaspar. Kindzu percebe
que está começando a se tornar parte do navio, então, decide partir. Ele vai até o porão para ter
certeza que não existe nenhum anão e quando regressa, encontra Farida tomando banho, e assim,
os dois se deitam durante a noite. Farida decide que está na hora de Kindzu partir, e isso
acontecerá na manhã seguinte. Durante a despedida ela conta para Kindzu que deseja que seu
filho esteja morto
Eu, Deus me esqueça, só peço uma coisa: é que meu filho já não viva. - Não diga uma coisa
dessas. O que é isso, mulher? - Mas, Kindzu, acredita que eu quero mal ao meu menino? É que
quase eu penso que na morte se está melhor que aqui. E, depois, são pressentimentos, coisas de
mãe, nem você pode nunca entender. - Eu prometi que iria buscar seu menino. É isso que farei,
Farida.”
Sexto Capítulo – As idosas profanadoras Inacreditavelmente, os dois conseguem encontrar o
machimbombo e lá, descansam durante as noites. Miúdo percebe que a natureza só se altera após
ler o caderno de Kindzu. Uma manhã, Tiahur decide que precisam buscar água, Miúdo diz que
não quer ir, preferindo ficar no machimbombo. Então, Tiahur contesta dizendo que ele pode até
não ir junto, mas que é proibido ficar sozinho no automóvel. Portanto, cada um segue para um
lado da estrada. Miúdo encontra uma plantação e se depara com um grupo de senhoras, estas ao
perceber sua presença, atacam. Após o agredirem, abusam do garoto, que se perde no tempo e só
reencontra sua consciência com a chegada do velho Tiahur, este explica que a plantação está
repleta de gafanhotos e que as senhoras estavam fazendo uma cerimônia para afastá-los, e que
homens não poderiam presenciar. Por isso que ele foi atacado. Sexto Caderno de Kindzu – O
regresso a Matimati Farida deu gosto à vida de Kindzu, pois sua vida não fazia sentido e ela
trouxe a alegria e o preparou para o mundo. Kindzu segue de volta a Matimati, a chegar lá,
percebe que a ilha não é como antes, está quieta e com menos movimento, ele decide subir o
morro e se depara com Antoninho – antigo ajudante da mercearia de Surendra – ele pergunta
sobre seu antigo patrão, e Antoninho diz que este está na sua loja e o leva até o antigo
administrador Assane. Assane é paralítico e empresta sua cadeira de rodas em troca de dinheiro
para que a população possa se divertir. Ao se encontrarem, Kindzu pergunta de Surendra e este
fala que vá a sua casa a noite, pois Surendra está hospedado lá. Kindzu e Antoninho combinam
de se encontrara, a noite, na praia para irem até a casa de Assane. A noite, ao chegar a praia,
Kindzu vê uma movimentação e ao chegar perto, se depara com uma mulher amarrada. O moço
que se diz dono dela, fala que a encontrou no mar e que a deixará exposta para ganhar dinheiro.
Ao olhar nos olhos da garota, Kindzu fica surpreso, pois acredita que já a viu em algum lugar.
Antoninho chega e juntos vão até a casa de Assune, este começa a beber e a mostrar sua casa,
dentro dos quartos ele abriga várias crianças – consequência da guerra, que são apresentadas
como sobrinhos -. No fundo, ele mostra seu tesouro, um tanque de guerra que é utilizado como
abrigo para galinhas (capoeira). Voltaram a sala e Assune diz que irá se livrar de Surendra, pois
não se deve confiar em indianos, e por isso, irá esperar a abertura do mercado ( os dois são
sócios) e, depois, despachar Suendra e Assna. E ele diz também que foi despedido de seu cargo,
pois não foi capaz de matar uma mulher: Farida. Antoninho chega com Surendra e comenta que
esse amarrou sua mulher num barco e a lançou ao mar, Kindzu associa com a cena da praia e
avisa que ela foi resgatada. Antoninho e Assune saem e vão buscar Assna, levando-a ao hospital.
Surendra está vegetando, parecendo sua mulher na época da vila. Este não vai visita-la enquanto
estava no hospital. Durante uma noite, Kindzu acorda, pois uma música de sua infância está no
ar, ele é guiado até a capoeira e ao olhar lá dentro acredita ter visto Juninho. E é nesse momento
que ele se lembra de sua família. Chega o dia da abertura da mercearia, estavam todos lá, até que
chegou um grupo de matadores que queriam matar Surendra, ateam fogo no mercado, e Kindzu,
ao ouvir tiros, sai correndo até um corredor. Logo depois, ele vê Antoninho carregando Surendra
e esse diz que não conseguiu pegar Assna. Kindzu vai procurá-la, mas já era tarde demais. Na
casa de Assune, todos se sensibilizam pela morte e Kindzu ao olhar pela janela, percebe que o
homem que estava deitado no banco morrerá a dias, e só agora, os soldados vieram pegá-lo.
“O morto ali ficou, na berma da estrada todo o dia.Na manhã seguinte ainda estava no mesmo
lugar, louvado pela moscaria. Vendo bem, o cadáver descuidado no passeio não descondizia com
tudo o resto. Simbolizava aquilo que a vila tinha se tornado: uma imensa casa mortuária. Ao
meio-dia um grupo de soldados veio remover o corpo. Arrastou-lhe pelos pés, a o longo da
Estrada. Aquele era o funeral que cabia ao anônimo desvalido: poeirando pela rua, as moscas
zunzinando, contratadas carpideiras dos ninguéns.
Sétimo Capítulo – Mãos sonhando mulheres A chuva caiu durante toda a noite e os dois ficaram
dentro do machimbombo. Lá, eles começam a devanear e falar sobre mulheres, que as melhores
mulheres são as pagas, pois é melhor pagar pelo bolso do que pelo coração. Miúdo pergunta
porque ele não tem memória, e Tihuar fala que o levou num feiticeiro para apagá-las, pois é
melhor viver sem memória do que tê-la durante essa guerra. Tiahur percebe que Miúdo está
quieto, então decide ajudá-lo. Chega perto dele e começa a masturba-lo, pois é necessário para
ficar feliz, pede para que ele pense em uma mulher. E assim, os dois dormem encostados um no
outro. Ao acordarem, percebem que a chuva passou, e com isso, começam a celebrar a
felicidade. Com medo de serem escutados, param de gritar e se refugiam nos cadernos. Sétimo
Caderno de Kindzu – Um guia embriagado
Kindzu e Antoninho vão ao bar para procurar o atravessador que o levará até o campo de
deslocados, onde, possivelmente, tia Euzinha estará. Ao chegaram no bar, observaram Quintim
Massua vociferando que no amanhã ele seria rico. Depois de um tempo, entra no bar Shetani,
todos tem medo dele e logo Antoninho diz que é melhor irem embora, mas Kindzu o ignora.
Shetani começa a se irritar com Tuintino, e para não gerar confusão, Abacar resolve dar um basta
na situação (ele dá um soco em Quintino que o faz desmaiar). A prostituta cega, Juiana Bastiana,
chega ao bar acompanhada de um cachorro, que ela manda que fique lá fora. Ela se encaminha
até Kindzu e este começa a dizer que está procurando um menino, eles ficam conversando
durante toda a noite (falam sobre o amante brigadeiro Silvério Damião). Até o momento em que
Shetani a chama e entrega as orelhas de seu cão, Kindzu quer ensinar uma lição ao Shetani, mas
Bastiana se põem no caminho e fala que foi feito a seu pedido, pois o cão estava doente. Ao
saírem do bar, encontram Quintino deitado desacordado e ela diz que é ele que conhece as matas
e pode leva-lo ao menino. Kindzu decide andar um pouco até que Quintino acorde e durante sua
caminhada, se depara com a mulher do administrador (Carolinda) e os dois vão para o curral e lá
despiram-se com ânsia e passaram a noite juntos.
Oitavo Capítulo – O suspiro dos comboios Tuahir comenta com Miúdo que quando estão no
machimbombo, a paisagem se modifica, parecendo que eles estão à bordo de um trem. O velho
comenta que antes da guerra começar, ele trabalhava na estação de trem, e com o começo da
guerra, todos os trens pararam de chegar, mas ele ficou esperando na esperança de que um dia
retornassem. Tuahir entrega um apito para Miúdo, dizendo que aquilo o protegerá. Miúdo o
questiona, pois este diz que esta sem fé, mas é capaz de entregar seu amuleto. Para não gerar
discussão, Tuahir pede para Miúdo voltar a ler enquanto ele começa a limpar o machimbombo.
“Então, o velho improvisa um xipefo (lamparina a petróleo), solta um pano vermelho. Apanha
um ramo de palmeira e inventa uma vassoura. Varre o interior do machimbombo enquanto canta.
O Miúdo desfolha os cadernos sorridente. E é como se o próprio Muidinga estivesse sentado na
estação, aguardando o próximo comboio. Tuahir vai juntando os resíduos do queimado numa
velha tampa. Depois sai do autocarro e espalha as cinzas pelas terras em volta. - O que está a
fazer, tio? - Estou semear este adubo. É para amanhã quando chover. Continue, filho. Não pare
de ler.”
Oitavo Caderno de Kindzu – Lembranças de Quintino
Kindzu acorda sozinho no curral, começa a pegar suas coisas e encontra um colar de Carolinda e
o guarda também. Ele vai até o bar e percebe que Quintino está sendo carregado por Shetani, ao
vê-lo, Shetani pede que o acompanhe até a administração também. Chegando lá, o administrador
Estevão Jonas pede que chame sua esposa Carolinda, e esta confirma dizendo que foi Kindzu que
rasgou as notas e as jogou ao mar. Estevão pede para ficar sozinho com os dois acusados e então
pergunta se Kindzu dormiu com sua esposa, este nega. Então Estevão promete vinganças
jurídicas e os deixam trancados na cela. Kindzu aproveita que estão sozinhos e pergunta se
Quintino pode levá-lo até o campo de deslocados, em troca ele lhe dará o barco para ir até o
navio naufrago para poder pegar mantimentos. Quintino diz que irá contar sua história, então ele
relata que seu patrão era Romão Pinto e este morreu sem motivo exato, ele decidiu que iria
visitar a sua residência para poder “nacionalizar” (roubar) seus pertences, ao chegar lá ele se
depara com seu patrão fora do caixão. Romão pede que chame o administrador. Romão pergunta
qual foi a causa de sua morte, Quintino disse que não se sabia, então ele rebate dizendo que era
porque se deitou com uma mulher impura e que por vingança, ele fez a amante (Salima) dormir
com o esposo, para que ele morresse também (Abdul). Após isso, ele desaparece durante o dia
todo, ele vai até a casa de Salima, lá eles se deitam novamente, após o ato ele percebe, ao chegar
ao lago, percebeque estava sangrando. Então Salima estava impura novamente, ele decide voltar
a casa e obvriga sua amante a se deitar com seu marido, pois ele não iria morrer sozinho. Ao
voltar para sua casa, pergunta sobre Farida. Quintino disse que só quem sabia dela e de seu filho
era Virgínia. Assim, acabou sua recordação. Na prisão, eles percebem que Carolinda veio os
soltar, e ela pede que Kindzu se vá e não volte mais para esta terra, pois ela não gosta de quem é
estrangeiro. Nono Capítulo – Miragens da solidão Miúdo fica observando as nuvens e diz ao
Tiahur que se sente só, este diz que é culpa da guerra, deixa todas as pessoas solitárias. Miúdo
pede para que entrem num jogo, que Tiahur seja seu pai, ele rebate dizendo que não se pode
brincar com os mortos. Então ele comenta que tem a história do pescador Nipita. Ele fora
esfaqueado por um bando armado, ele volta a noite para buscar suas tripas, os viventes disseram
que a levaria depois, como não levaram, o pescador começou a assombrar os viventes. Eles
começam a brincar de pai e filho, e Tiahur mostra, através da brincadeira, seus defeitos e medos.
Miúdo era diferente do mundo, o mundo era cruel e Miúdo escutava o coração. Isso começa a
deixa-lo bravo, pois era para seu pai estar a cuidar dele e não o inverso. Com isso, ele decide
parar a brincadeira, mas Tiahur quer continuar, com isso, eles se embalam na felicidade e ao
cansarem, deitam-se no machimbombo.
Nono Caderno de Kindzu – A apresentação de Virgínia
Kindzu estava esperando Quintino para partirem a procura de Gaspar, mas este não apareceu. Ele
foi procurá-lo e o encontrou deitado bêbado, disse que estava bebendo com seu patrão. Por isso,
ele decide procurar Virgínia para entender um pouco mais sobre Farida. Ele fica observando
dona Virgínia e percebe que ela está sempre rodeada de garotos negros – suas famílias a ajudam
com alimentos. Vírginia idealiza e fantasia a vida, dizendo que seu marido está por vir (Romão
Pinto). Ela criava sapos, os alimentando e se preocupando de quem iria cuidar deles após sua
partida. Kindzu decide contatar a senhora, esta começa a conversar com ele e ao perguntar de
Gaspar pede para que vão à sua antiga casa. Chegando lá, ela conta que certa vez ele apareceu
em sua casa todo cansado, ela e os meninos cuidaram dele, o guardaram no poço e quando deu-
se uma chuva o tiraram de lá, ele decidiu falar e contar sobre sua história. Virgínia conta que
Gaspar é meio filho dela e ele foge dias depois. Eles estão sentados na varanda e observam que
está chegando o administrador. Romão Pinto apareceu carregando o caixão e pede para que
Estevão o ajude, quer doalo para os pobres. Eles começam a conversar, arquitetam um plano,
onde devem-se desprezar os brancos para que não seja possível descobrir esta associação. Romão
some nas trevas, e nesse momento, Carolinda aparece e encontra seu marido nas terras do
falecido. Esta acredita que Estêvão está traindo-a. Ao contar o esquema do pseudo falecido, ela o
chama de administraidor. Carolinda não aceita está traição, diz que não aceitará dinheiro sujo e o
obriga a sair daquela propriedade. “- Agora te apanhei, Estêvão. Você está combinado com os
antigos colonos. - Combinado como? - Sempre u dei nome certo à tua função: você é um
administraidor! Afinal que moral era a dele? O administrador contrargumenta: ninguém vive de
moral. Será, cara esposa, que a coerência lhe vai alimentar o futuro² - Você, Estêvão, é como a
hiena: só tem esperteza para as coisas mortas.”
Virgínia e Kindzu saem da casa e se deparam com Carolinda, Virgínia vai embora, enquanto os
dois ficam sentados na varanda, começam a se beijar e Kindzu a chama de Farida, ela escuta e
diz que se parece com seus dois maridos. O primeiro, ela se casou quando pequena e este morreu
na guerra. Ela queria sair daquele lugar, por isso se interessou por EEstêvão, pois ele era
militante e poderia tirála daquela vila, mas ele se tornou administrador e ela começou a criar ódio
por ele. Quando Farida apareceu, ele começou a se interessar por ela, e sua esposa começou a
invejar a novata, que se intensificou quando ela conseguiu fugir para o navio naufragado.
Décimo Capítulo – A doença do pântano
do diz que queria conhecer o mar, os dois começam a andar, adentrar no pântano e começam a
ser picados por mosquitos. Tiahur começa a ter febre, dizendo que é culpa dos pássaros, pede
que Miúdo vá andar para espantá-los, pois assim sua febre diminuirá. Quando volta, vê que o
velho criou uma jangada e os dois começam a navegar pelo pântano até chegar no mar. Tiahur
pede para que Miúdo se deite com ele, pois ele precisa do calor para espantar o medo da morte.
Décimo Caderno de Kindzu – No campo da morte Kindzu sabia que não poderia contar com
Virgínia para encontrar Gaspar, pois ela interpretava uma loucura para que fosse esquecida e
ninguém se lembrasse dela. Kindzu vai atrás de Quintino para que comecem a procurar Euzinha,
estão caminhando a horas, Quintino percebe que Kindzu está cansado, então, pede que ele
descanse em baixo daquela árvore que ele termina o resto do percurso (Faltava pouca distância).
Kindzu começa a perceber que a árvore é amaldiçoada, ele observa um pássaro e nota que era o
que seu pai falava, ele sente sua ausência e pede que Tânio retorne e fale com ele. Nesse
momento a ave se rasga em duas e a voz da árvore (voz de xipoco fantasma) o manda voltar para
sua casa. Nesse momento, Quintino retorna e o leva até o campo de deslocados – muitas pessoas
famintas esperado a morte – eles encontram Euzinha e é esclarecido, a partir da entrega do colar
de Carolinda, que ela é a irmã gêmea que foi entregue ao viajante. Ela comenta, também, que
Gaspar foi levado para outro campo. A noite, Quintino se engraça com Jotinha, que dizem
enfeitiçar os homens, estão deitados nas covas quando Carolinda aparece dizendo que veio para
fugir, e os quatro vão para um armazém. Durante a noite, Jotinha começa a se aproveitar de
Kindzu, que não resiste, e passa a noite com ela. De manhã, Carolinda mostra a Kindzu que os
alimentos estão sendo carregados por insetos, pois seu marido só deixa entregar em sua presença
e fazia semanas que eçe não aparecia por lá. Eles vão contar lenha, e Euzinha explica que só é
aceito os velhos que trabalham, os outros são esquecidos. As crianças avisam que uma panela
rachou, e Euzinha explica que isso acontece quando um recém-chegado faz amor no campo,
todos acham que foi Quintino e pedem que Kindzu vá avisar a moça. Ao vê-la, ele observa que
ao invés de tatuagens, têm-se arame e que ela está toda ensanguentada. Kindzu avisa que partirá
e Quintino diz que ficará, durante a noite eles oferecem a farinha ao povoado, e todos se
esbaldam e a felicidade é tamanha, que começam a dançar. Durante a dança, Euzinha cai morta,
Kindzu decide voltar para Farida, e retrocede o caminho até chegar na árvore que avistou seu
pari no dia anterior.
Décimo Primeiro Capítulo – Ondas escrevendo estórias
Tuahir esá piorando e ele pede que faça que nem Suendra fez com sua esposa, Miúdo protesta,
mas a palavra final é de Tuahir, eles veem um barquinho que coincidentemente se chama Taime.
Eles esperam a maré subir, para facilitar ao empurrar o barco, enquanto isso, Miúdo lê o último
caderno de Kindzu. Último Caderno de Kindzu – As páginas da terra Ao regressar a casa de
Assune, ele descobre que Farida morreu. Antoninho navegou até o navio e ela pediu que a
ajudasse a acender o farol, enquanto ela estava lá tentando arrumá-lo, houve uma explosão que
tirou sua vida. Kindzu fica transtornado, e decide ir para sua verdadeira casa viajando com o
machimbombo. Ele tenta dormir mas muitas perguntas e pesadelos o assolam e ele decide
escrever o último que teve. Era de manhã e um feiticeiro apareceu no povoado, ele gritava um
presságio e convenava a guerra. Após seu discurso, todos os seguidores começaram a se
transformar em animais e Junhito virar gente, chega Romão Pinto, Assune e querem matar seu
irmão. Pois dizem que seu pai estava certo, era necessário que ele morresse, Kindzu aparece para
defende-lo e percebe que ele era um naparama, e ao vê-lo, todos fogem. Sua mãe reaparece e
juntos entoam uma canção de ninar para Junhito completar sua transformação, e assim, eles
desaparecem. Kindzu é arrastado até um machimbombo queimado, ele está baleado e ao olhar
em volta, encontra Gaspar com seus papéis, uma ventania surge e faz com que suas folhas se
tornem parte da terra. “Fui sendo levado sem conta nem tempo. Até que meu coração se apertou
em sombrio sobressalto. Me surgiu um machimbombo queimado. Estava derreado numa berma,
a dianteira espalmada de encontro com uma árvore. De repente, a cabeça me estala em surdo
baque. Parecia que o mundo inteiro rebentava, fios de sangue se desalinhavam num fundo de luz
muitíssimo branca. Vacilo, vencido por súbito desfalecimento. Me apetece deitar, me anichar na
terra morna. Deixo cair ali a mala onde trago os cadernos. Uma voz interior me pede para que
não pare. É a voz de meu pai que me dá força. Venço o torpor e prossigo ao longo da estrada.
Mais adiante segue um miúdo com passo lento. Nas mãos estão papéis que me parecem
familiares. Me aproximo e, com sobressalto, confirmo: são os meus cadernos. Então, com o peito
sufocado, chamo: Gaspar! E o menino estremece como se nascesse por uma segunda vez. De sua
mão tomba os cadernos. Movidas por um vento que nascia não do ar mas do próprio chão, as
folhas se espalham pela estrada. Então, as letras, uma por uma, se vão convertendo em grãos de
areia e, aos poucos, todos os meus escritos se vão transformando em páginas da terra.

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