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QUÍMICA AMBIENTAL

INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de


aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar,
interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja
esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em
voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa.
Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento
que serão respondidas em tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é


preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações
propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para
isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos


definidos para as atividades.

Bons estudos!
Capítulo 2  Estrutura e Ligações Atômicas 21

2.3 ESTRUTURA ELETRÔNICA DOS ÁTOMOS


2.3.1 Teoria quântica de Planck e radiação eletromagnética

No início dos anos 1900, Max Planck15, um cientista alemão, descobriu que os átomos e as moléculas
emitem energia somente em certas quantidades discretas, denominadas quanta. Até então, os cientistas
acreditavam que a energia, em qualquer quantidade (contínua), podia ser emitida de um átomo. A teoria
quântica de Max Planck mudou os rumos da ciência. A fim de entender essa descoberta, deve-se partir
primeiro da natureza das ondas.
Há muitos tipos diferentes de onda, como, por exemplo, ondas na água, ondas sonoras e ondas de
luz. Em 1873, James Clerk Maxwell16 sugeriu que a luz visível é, na verdade, radiação eletromagnética.
Na radiação eletromagnética, energia é liberada e transmitida sob a forma de ondas eletromagnéticas,
que se propagam à velocidade da luz, c, igual a 3,00  108 m/s (186.000 milhas/h) no vácuo.

14Henry G. J. Moseley (1887-1915). Físico inglês.


15Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858-1947). Físico alemão e ganhador do prêmio Nobel (1918). Três dos seus orientados
de doutorado também receberam o prêmio Nobel.
16James Clerk Maxwell (1831-1879). Matemático e físico escocês.
22 Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais

ELEMENTOS
DO GRUPO
PRINCIPAL
Tabela Periódica dos Elementos ELEMENTOS
DO GRUPO PRINCIPAL
Metais (grupo principal)
IA Metais (transição) VIIIA
(1) Metais (transição interna) (18)
1 Metaloides 2
1 H IIA Não metais IIIA IVA VA VIA VIIA He
1,008 (2) (13) (14) (15) (16) (17) 4,003
3 4 5 6 7 8 9 10
2 Li Be B C N O F Ne
6,941 9,012 10,81 12,01 14,01 16,00 19,00 20,18
11 12 ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO 13 14 15 16 17 18
3 Na Mg IIIB IVB VB VIB VIIB VIIIB IB IIB Al Si P S Cl Ar
22,99 24,31 (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) (12) 26,98 28,09 30,97 32,07 35,45 39,95
19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
4 K Ca Sc Ti V Cr Mn Fe Co Ni Cu Zn Ga Ge As Se Br Kr
Período

39,10 40,08 44,96 47,88 50,94 52,00 54,94 55,85 58,93 58,69 63,55 65,39 69,72 72,61 74,92 78,96 79,90 83,80
37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54
5 Rb Sr Y Zr Nb Mo Tc Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te I Xe
85,47 87,62 88,91 91,22 92,91 95,94 (98) 101,1 102,9 106,4 107,9 112,4 114,8 118,7 121,8 127,6 126,9 131,3
55 56 57 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86
6 Cs Ba La Hf Ta W Re Os Ir Pt Au Hg Tl Pb Bi Po At Rn
132,9 137,3 138,9 178,5 180,9 183,9 186,2 190,2 192,2 195,1 197,0 200,6 204,4 207,2 209,0 (209) (210) (222)
87 88 89 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117
118
7 Fr Ra Ac Rf Db Sg Bh Hs Mt Uun Uuu Uub Uug Uuh 118
Uuo
(223) (226) (227) (261) (262) (266) (262) (265) (266) (269) (272) (277) (285) (289)

ELEMENTOS DE TRANSIÇÃO INTERNA


58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71
6 Lantanídeos Ce Pr Nd Pm Sm Eu Gd Tb Dy Ho Er Tm Yb Lu
140,1 140,9 144,2 (145) 150,4 152,0 157,3 158,9 162,5 164,9 167,3 168,9 173,0 175,0
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 100 101 102 103
7 Actinídeos Th Pa U Np Pu Am Cm Bk Cf Es Fm Md No Lr
232,0 (231) 238,0 (237) (242) (243) (247) (247) (251) (252) (257) (258) (259) (260)

Figura 2.3
Tabela periódica atualizada mostrando os sete períodos, oito grupos principais de elementos, elementos de transição e elementos de transição
interna. Observar que a maioria dos elementos é classificada como metais ou metaloides.

Como em qualquer outra forma de onda, as características importantes que definem ondas eletro-
magnéticas são o comprimento de onda (normalmente dado em nm ou 10–9 m), frequência (s–1 ou Hz)
e velocidade (m/s). A velocidade da onda, c, se relaciona à sua frequência, ν, e ao seu comprimento de
onda, λ, por
c
v (2.1)
l
Vários tipos de ondas eletromagnéticas, incluindo-se ondas de rádio, micro-ondas, infraver-
melho, visível, ultravioleta, raios X e raios gama são apresentados na Figura 2.4. Estas ondas
diferem entre si pelos seus comprimentos de onda e frequências. Por exemplo, uma antena de
rádio gera grandes comprimentos de onda (1012 nm ~ 1 km) e baixa frequência (106 Hz); um forno
(do tipo micro-ondas) produz micro-ondas com comprimentos de cerca de 107 nm (muito meno-
res do que aquelas das ondas de rádio) e frequências de 1011 Hz (muito maiores). À medida que
o comprimento de onda diminui e a frequência aumenta, chega-se à faixa do infravermelho com
comprimento de onda de 103 nm e frequência de 1014 Hz (as lâmpadas incandescentes operam
Capítulo 2  Estrutura e Ligações Atômicas 23

10–3 10–1 10 103 105 107 109 1011 1013


Comprimento
de onda (nm)

1020 1018 1016 1014 1012 1010 108 106 104


Frequência (Hz)

Visível
Raios Raios X Ultra- Infravermelho Micro-ondas Ondas de rádio
gama violeta
Tipo de radiação

3
1

9 8 7

# 0
*

Raio X Lâmpadas de Lâmpadas Fornos de micro- TV UHF, Rádio FM, Rádio


bronzeamento de -ondas, radar de telefones TV VHF AM
aquecimento polícia, estações celulares
de satélites
(a)
violeta verde amarelo vermelho

(b)

Figura 2.4
O espectro eletromagnético que se estende dos raios gama, com pequeno comprimento de onda e alta frequência, às ondas de rádio, com
grandes comprimentos de onda e baixa frequência. (a) Espectro completo. (b) Espectro visível.

nesta faixa). Quando o comprimento de onda estiver na faixa de 700 nm (luz vermelha) a 400 nm
(violeta), a radiação resultante torna-se visível (faixa do visível). Os raios ultravioleta (10 nm), os
raios X (0,1 nm) e os raios gama (0,001 nm) recaem novamente na faixa do não visível.
Quando, por exemplo, um filamento de tungstênio é aquecido, seus átomos emitem energia sob a for-
ma de radiação eletromagnética que vemos como luz visível branca. Planck sugeriu que os átomos que
emitem esta radiação o fazem em quantidades discretas (quanta). A energia contida em um único quan-
tum de energia é dada pela seguinte equação, na qual h é a constante de Planck igual a 6,63  10–34 J.s
(Joules.segundo) ehn é a frequência de radiação (Hz).

E hn (2.2)

Mais precisamente, segundo Planck, energia é sempre emitida em múltiplos inteiros de hν (1 hν,
2 hν, 3 hν, ...) e nunca em múltiplos não inteiros, por exemplo, 1,34 hν. A Equação 2.2 também impli-
ca que, à medida que a frequência da radiação aumenta, sua energia também aumenta. Desse modo,
referindo-se ao espectro eletromagnético, os raios gama têm mais energia do que os raios X; os raios X,
mais energia do que os raios ultravioleta, e assim por diante.
Inserindo a Equação 2.1 na Equação 2.2, a energia associada a uma dada forma de radiação pode ser
calculada em termos do seu comprimento de onda:

hc
E (2.3)
l
24 Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais

Elétron Elétron 2.3.2 Teoria de Bohr


hv hv do átomo de hidrogênio
fóton fóton
Em 1913, Neils Bohr17 se baseou na teoria quântica
de Max Planck para explicar como átomos de hidro-
n1 n1 gênio excitados absorvem e emitem luz somente em
n2 n2
certos comprimentos de onda, um inexplicado fenô-
meno na época. Ele sugeriu que os elétrons se movem
n3 n3 ao longo de trajetórias circulares em torno do núcleo
(a) Energia absorvida (b) Energia emitida com valores discretos de momento angular (produto
da velocidade pelo raio). Sugeriu ainda que a energia
Figura 2.5 do elétron seja limitada por um nível de energia que
(a) O elétron de hidrogênio sendo excitado para uma órbita mais alta.
(b) Um elétron de hidrogênio em uma órbita mais alta descendo para uma fixa a distância radial do elétron ao núcleo. Ele cha-
órbita mais baixa, resultando na emissão de um fóton de energia hv. mou essa trajetória circular fixa de órbita do elétron.
(Esta figura é aceitável somente para o modelo de Bohr.)
Se um elétron perde ou ganha uma quantidade de-
terminada de energia, ele mudará de uma órbita para
outra a uma distância fixa do núcleo (Figura 2.5). Nesse modelo, o valor da órbita – o número quântico
principal n – pode variar de 1 ao infinito. A energia do elétron e o raio de sua órbita aumentam à medida
que n aumenta. A órbita correspondente a n = 1 representa o nível de energia mais baixo e, portanto, é a
mais próxima do núcleo. O estado normal do elétron de hidrogênio se dá para n = 1 e é chamado de estado
fundamental. Para um elétron se mover de uma órbita mais baixa, por exemplo, do estado fundamental
n = 1, para uma órbita mais alta correspondente a um estado excitado, n = 2, ele deve absorver uma
quantidade definida de energia (Figura 2.5). Inversamente, quando um elétron se move de um estado
excitado, n = 2, para o estado fundamental, n = 1, a mesma quantidade de energia deve ser liberada.
Conforme explicado anteriormente, este quantum de energia emitida ou liberada ocorre sob a forma de
radiação eletromagnética, denominada fóton, com comprimento de onda e frequência determinados.
Bohr desenvolveu um modelo para a determinação da energia permitida ao elétron de hidrogênio em função
do seu estado quântico, n (Figura 2.6). Somente níveis de energia calculados por esta equação são permitidos:
13,6
E 2p2me4/n2h2 (2.4)
n 2 eV
na qual m e e são a massa e a carga do elétron, respectivamente, e 1 eV = 1,60  10–19 J. O sinal nega-
tivo foi introduzido porque Bohr atribuiu o valor zero à energia de um elétron completamente isolado e
sem energia cinética em n = infinito. Logo, a energia de qualquer elétron em uma órbita mais baixa seria
negativa. Segundo a equação de Bohr, a energia de um elétron no estado fundamental, n = 1, é –13,6 eV.
A fim de separar o elétron de seu núcleo, deve-se fornecer-lhe energia. A energia mínima requerida para
se realizar esta tarefa é chamada de energia de ionização. À medida que n aumenta, a energia associada
ao elétron em uma determinada órbita também aumenta (se torna menos negativa). Por exemplo, em
n = 2, o nível correspondente de energia é 13,6/22 ou –3,4 eV.
Bohr explicou a quantidade de energia liberada ou absorvida pelo elétron quando muda de órbita
em termos da diferença de energia do elétron entre as órbitas inicial e final (ΔE > 0 quando energia é
liberada e ΔE < 0 quando energia é absorvida).
E Ef Ei 13,6 (1/nf 2 1/ni 2) (2.5)

onde f e i representam os estados final e inicial do elétron, respectivamente. Por exemplo, a energia as-
sociada à transição de n = 2 a n = 1 seria ΔE = E2 – E1 = –13,6 (1/22 – 1/12) = 13,6  0,75 = 10,2 eV.
O elétron emite um fóton de 10,2 eV ao descer para n = 1 (energia é liberada). O comprimento de onda
deste fóton é determinado por λ = hc/E = (6,63  10–34 J ⋅ s) (3,00  108 m/s)/10,2 eV (1,6  10–19 J/eV)
= 1,2  10–7 m ou 120 nm. Na Figura 2.4, este comprimento de onda corresponde à faixa do ultravioleta.
Várias transições possíveis do elétron de hidrogênio ou do espectro de emissão do hidrogênio são
apresentadas na Figura 2.6. Nesta figura, cada linha horizontal representa um nível aceitável de ener-

17Neils Henrik Davis Bohr (1885-1962). Físico dinamarquês e ganhador do prêmio Nobel (1922).
Capítulo 2  Estrutura e Ligações Atômicas 25

gia, ou órbita, para o elétron de hidrogênio Continuum


n 0
de acordo com o número quântico principal
n. As emissões visíveis são todas descritas
n5
pela série de Balmer. A série de Lyman cor- Pfund
responde às emissões ultravioletas enquanto n4
Brackett
as séries de Paschen e de Brackett corres-
pondem às emissões infravermelhas. n3 1,5 eV
Paschen

E n2 3,4 eV
Balmer

Figura 2.6
Diagrama de níveis de energia do espectro de linhas
do hidrogênio.
(De F.M. Miller, Chemistry: Structure and Dynamics, McGraw-Hill, Estado fundamental
1984, p. 141. Reproduzido com permissão de The McGraw-Hill n1 13,6 eV
Companies.) Lyman

Seja um átomo de hidrogênio com elétron no estado n = 3. O elétron sofre uma transição para o estado exemplo
n = 2. Pede-se (a) calcular a energia do fóton correspondente, (b) sua frequência e (c) seu comprimento de 2.3
onda. Pede-se ainda dizer (d) se a energia é absorvida ou emitida e (e) a qual série ela pertence, e qual tipo
específico de emissão ela representa.

 Solução
a. A energia do fóton emitido é

13,6 eV
E
n2
¢E E3 E2 (2.3)
13,6 13,6
2
1,89 eV
3 22
19
1,60 10 J 19
1,89 eV 3,02 10 J
eV

b. A frequência do fóton é
¢E hn
19
¢E 3,02 10 J
n
h 6,63 10 34
J #s

4,55 10 14 s 1
4,55 10 14 Hz

c. O comprimento de onda do fóton é


hc
¢E
l
34 #
hc 16,63 10 J s213,00 10 8 m/s2
ou l 19
¢E 3,02 10 J
26 Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais

7
6,59 10 m
7 1 nm
6,59 10 m 9
659 nm
10 m

d. A energia é liberada, pois o sinal é positivo e, consequentemente, o elétron está efetuando uma transição
de uma órbita mais alta para uma órbita mais baixa.
e. A emissão se enquadra na série de Balmer (Figura 2.6) e corresponde à luz visível vermelha (Figura 2.4).

2.3.3 Princípio da incerteza e funções de onda de Schrodinger

Embora o modelo de Bohr tenha explicado satisfatoriamente o comportamento de um átomo simples


como o hidrogênio, o modelo não teve o mesmo êxito no caso de átomos mais complexos (multielé-
trons) e deixou muitas perguntas sem respostas. Duas novas descobertas ajudaram os cientistas a expli-
car o verdadeiro comportamento dos átomos. A primeira foi a hipótese elaborada por Louis de Broglie18,
segundo a qual partículas de matéria, como os elétrons, poderiam ser tratadas tanto como partículas
quanto ondas (de maneira semelhante à luz). Ele propôs que o comprimento de onda de um elétron (ou
de qualquer outra partícula) pode ser determinado pelo produto de sua massa e pela sua velocidade (seu
momento) conforme descrito pela Equação 2.6.
h (2.6)
l
mv
Mais tarde, Werner Heisenberg19 propôs o princípio da incerteza ao afirmar que é impossível de-
terminar simultaneamente a posição e o momento exatos de um corpo, por exemplo, um elétron. O
princípio da incerteza é expresso matematicamente pela Equação 2.7, na qual h é a constante de Planck,
Δx é a incerteza na posição e Δu é a incerteza na velocidade.
h
¢x m¢u (2.7)
4p

exemplo Se, de acordo com Broglie, todas as partículas possuem propriedades características tanto de ondas como de
2.4 partículas, comparar o comprimento de onda de um elétron se movendo a 16,67% da velocidade da luz com o
comprimento de onda de uma bola de beisebol com uma massa de 0,142 kg e com velocidade de 96,00 milhas
por hora (42,91 m/s). Qual é a sua conclusão?

 Solução
De acordo com a Equação 2.6, são necessárias a massa e a velocidade da partícula para se determinar o seu
comprimento de onda. Assim sendo,
34
h 6,62 10 kg m2/s
lelétron
mv 19,11 10 31
kg210,1667 3,0 10 8 m/s2
1,5 10 10 m 0,15 nm
(observar que o diâmetro do átomo é cerca de 0,1 nm)
34
6,62 10 kg m2/s 34
lbeisebol 1,08 10 m
10,142 kg2 142,91 m/s2
1,08 10 25 nm

18Louis Victor Pierre Raymond de Broglie (1892-1987). Físico francês e ganhador do prêmio Nobel (1929).
19Werner Karl Heisenberg (1901-1976). Físico alemão e ganhador do prêmio Nobel (1932).
Capítulo 2  Estrutura e Ligações Atômicas 27

O comprimento de onda da bola de beisebol é 1024 vezes menor do que aquele do elétron (pequeno demais
para ser observado). Em geral, partículas com tamanhos usuais têm comprimentos de onda imensuravelmente
pequenos e não se podem determinar suas propriedades ondulatórias.

No exemplo anterior, se a incerteza associada à medida da velocidade da bola de beisebol for (a) 1% e (b) 2%, exemplo
quais são as incertezas correspondentes na posição da bola de beisebol? Qual é a sua conclusão? 2.5
 Solução
De acordo com a Equação 2.7, o valor de incerteza na medida da velocidade é (0,01  42,91 m/s) = 0,43 para
a parte (a) e (0,02  42,91) = 0,86 m/s para a parte (b).

a. Reescrevendo a Equação 2.7, obtém-se:


34
h 6,62 10 kg m2/s 34
¢x 8,62 10 m
4pm¢u 4p10,142 kg210,43 m/s2

b. Reescrevendo a Equação 2.7, obtém-se:


34
h 6,62 10 kg m2/s 34
¢x 4,31 10 m
4pm¢u 4p10,142 kg210,862

À medida que a incerteza na medida da velocidade aumenta, a incerteza na medida da posição diminui.

O raciocínio de Heisenberg se baseou no fato de que qualquer tentativa de medida alteraria a velo-
cidade e a posição do elétron. Heisenberg também rejeitou o conceito de Bohr de uma “órbita” de raio
fixo para o elétron; ele afirmou que o melhor que se pode fazer é trabalhar com a probabilidade de se
encontrar um elétron com uma dada energia em uma determinada região do espaço.
Chegou-se ao entendimento quase completo quando Erwin Schrodinger20 usou a equação da onda
para explicar o comportamento dos elétrons. A solução da equação da onda foi dada em termos da fun-
ção de onda, ψ (psi). O quadrado da função de onda, ψ2, representa a probabilidade de se encontrar um
elétron com um dado nível de energia em uma dada região do espaço. Essa probabilidade é denominada
densidade eletrônica e pode ser expressa graficamente por uma matriz de pontos (chamada nuvem ele-
trônica), na qual cada ponto expressa a posição possível para um elétron com um dado nível de energia.
Por exemplo, a distribuição de densidade eletrônica na Figura 2.7a se refere ao átomo de hidrogênio
no estado fundamental. Embora o formato geral seja esférico (conforme sugerido por Bohr), o que este
modelo deixa claro é que o elétron pode se situar em qualquer posição ao redor do núcleo. Mais ainda,
a probabilidade máxima de se encontrar um elétron no estado fundamental ocorre em uma região muito
próxima ao núcleo (onde a densidade de pontos é máxima). Ao se distanciar do núcleo, a probabilidade
de se encontrar um elétron diminui.
Ao se resolver a equação da onda, diferentes funções e, portanto, diferentes gráficos de densidade
eletrônica, serão obtidos. Essas funções de onda são chamadas de orbitais. É importante distinguir
imediatamente o termo “orbital” aqui citado do termo “órbita” empregado por Bohr. Esses termos re-
presentam dois conceitos distintos e não devem ser usados indistintamente. Um orbital tem distribuição,
bem como nível de energia, característico de densidade eletrônica.
Outra maneira de representar probabilisticamente a posição de um elétron com um dado nível de
energia é pelo traçado da fronteira no interior da qual se tem 90% de chances de se encontrar esse
elétron. No estado fundamental, há 90% de probabilidade de se encontrar um elétron no interior de uma
esfera de raio igual a 100 pm. A esfera na Figura 2.7b é uma alternativa ao diagrama de densidade ele-

20Erwin Rudolf Josef Schrodinger (1887-1961). Físico austríaco e ganhador do prêmio Nobel (1933).
28 Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais

trônica e é chamada de representação da superfície de


fronteira. Deve-se enfatizar que a superfície de fronteira
correspondente a 100% de probabilidade para o mesmo
elétron teria dimensões infinitas. Conforme discutido
anteriormente, a probabilidade máxima de se encontrar
um elétron na Figura 2.7a é na região bem próxima ao
núcleo; entretanto, se a esfera for dividida em segmen-
tos concêntricos uniformemente espaçados, conforme a
(a) gráfico de densidade eletrônica (b) superfície de fronteira
0,05 nm Figura 2.7c, a probabilidade total (gráfico de densidade
eletrônica) de se encontrar um elétron será máxima não
no núcleo, mas a uma pequena distância deste. Probabili-
dade total, também chamada probabilidade radial, refe-
re-se à probabilidade de um elétron se encontrar em uma
camada esférica com relação ao volume desta camada.
Próximo ao núcleo, por exemplo, na primeira camada, a
probabilidade é alta, mas o volume é pequeno; na segun-
(c) probabilidade radial da camada, a probabilidade de se encontrar um elétron é
menor do que na primeira, porém o volume da segunda
Figura 2.7 é muito maior (o aumento no volume é maior do que a
(a) Gráfico de densidade eletrônica para o elétron de hidrogênio no diminuição na probabilidade) e, por conseguinte, a pro-
estado fundamental, (b) diagrama de superfície de fronteira corres- babilidade total de se observar um elétron é maior na se-
pondente a 90% da nuvem eletrônica e (c) superfícies esféricas suces-
sivas e distribuição radial de probabilidade (linha mais escura).
gunda camada. Esta segunda camada se localiza próxima
ao núcleo a uma distância de 0,05 nm ou 50 pm como
apresentado na Figura 2.7c. Este efeito diminui à medida que a distância do núcleo aumenta, porque os
níveis de probabilidade caem muito mais rapidamente do que aumenta o volume das camadas.
Os diagramas de superfície de fronteira para elétrons com níveis de energia mais altos se tornam
mais complexos e não são necessariamente esféricos. Essa questão será discutida mais detalhadamente
nas seções a seguir.

2.3.4 Números quânticos, níveis de energia e orbitais atômicos

A mecânica quântica moderna proposta por Schrodinger e outros requer um conjunto de quatro números
inteiros, chamados números quânticos, para a identificação da energia e da forma da fronteira do espaço,
(nuvem eletrônica), e a rotação de qualquer elétron no átomo. Essa descrição não se limita ao átomo de
hidrogênio. Os primeiros números quânticos são n, ,, m, e ms.
O número quântico principal, n: principais níveis ou camadas de energia O número quântico
principal, n, é o mais importante para a identificação do nível de energia de um elétron. Ele assume so-
mente valores inteiros iguais à unidade ou maiores, isto é, n = 1, 2, 3, ... . Cada um dos principais níveis
de energia é também chamado de camada e representa um conjunto de subcamadas e orbitais com o
mesmo número principal n. À medida que n aumenta, também aumenta a energia do elétron em ques-
tão, que está menos firmemente preso ao núcleo (mais fácil de ser ionizado). Finalmente, à medida que
n aumenta, também aumenta a probabilidade de se encontrar um elétron distante do núcleo.
O número quântico de momento angular ou azimutal, ,: subcamadas No interior de cada camada
principal, n, existem subcamadas. Quando n = 1 há apenas um tipo de subcamada possível, semelhante
àquela apresentada na Figura 2.7. Entretanto, quando n = 2, duas subcamadas diferentes são possíveis; três
subcamadas diferentes são possíveis quando n = 3; e assim por diante. As subcamadas são representadas
pelo número quântico orbital, ,, também chamado de número quântico de momento angular ou azimu-
tal. A forma da nuvem eletrônica da fronteira do espaço orbital é determinada por este número. O número
quântico , pode ser representado por um inteiro variando de zero a n – 1, ou ainda por letras.
Designação numérica , = 0, 1, 2, 3, ..., n – 1
Designação alfabética , = s, p, d, f, ...
Capítulo 2  Estrutura e Ligações Atômicas 29

Logo, para n = 1, , = s; para n = 2, , = s ou p; para n = 3, , = s, p ou d; e assim sucessivamente.


Assim sendo, a denominação 3s corresponde a um nível de energia principal, n, igual a 3 e uma subca-
mada, ,, s.
A subcamada s (, = 0), independentemente de n, é sempre esférica (Figura 2.8a). Todavia, à medida
que n aumenta, o tamanho da esfera amplia, o que significa que os elétrons podem se encontrar mais
distantes do núcleo.
As subcamadas p (, = 1) não são esféricas. Na verdade, elas têm formato de halteres com dois lóbu-
los de densidade eletrônica de cada lado do núcleo (Figura 2.8b). No interior de uma dada subcamada,
há três orbitais p que diferem entre si pela sua orientação no espaço. Estes três orbitais são mutuamente
perpendiculares. As subcamadas d possuem forma bem mais complexa, conforme a Figura 2.8c, e de-
sempenham um papel importante na química dos íons dos metais de transição.
O número quântico magnético, m,: os orbitais e suas orientações O número quântico magnético,
m,, representa a orientação dos orbitais dentro de cada subcamada. O número quântico, m,, assumirá
valores na faixa de +, a –,. Por exemplo, quando , = 0 ou s, o valor correspondente de m, é zero; quan-
do , = 1 ou p, os valores correspondentes de m, são –1, 0, e +1; quando , = 2 ou d, os valores corres-
pondentes de m, são –2, –1, 0, +1, e +2; e assim por diante. Portanto, para cada subcamada ,, existem
2, + 1 orbitais no seu interior. Em termos de s, p, d, e f, há um máximo de um orbital s, três orbitais
p, cinco orbitais d e sete orbitais f em cada nível de subenergia. O número total de orbitais em uma
camada principal (incluindo todas as subcamadas possíveis) pode ser expresso por n2; por exemplo, há
um orbital para n = 1, quatro para n = 2 e nove para n = 3. Os orbitais com a mesma subcamada têm o
mesmo nível de energia. Os diagramas de superfície de fronteira dos orbitais s, p, e d são apresentados
na Figura 2.8. É importante observar que o tamanho das superfícies de fronteira aumenta à medida que
n aumenta, indicando uma probabilidade maior de se encontrar um elétron com aquele nível de energia
mais distante do núcleo do átomo.

(a)

1s
2s
3s

(b) z z z

x y x y x y

2px 2py 2pz

(c) z z z z z

x y x y x y x y x y

3dx 2 – y 2 3dz2 3dxy 3dxz 3dyz

Figura 2.8
Diagrama esquemático dos orbitais (a) s, (b) p, e (c) d.
30 Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais

Tabela 2.2
Valores permitidos para os números quânticos dos elétrons.

n Número quântico principal n = 1,2,3,4,. . . Todos inteiros positivos

, Número quântico azimutal , = 0,1,2,3,. . . , n – 1 n valores permitidos de ,

m, Número quântico magnético Valores inteiros de 2, + 1


–, a +,, incluindo zero

ms Número quântico de spin 1 1 2


2, 2

O número quântico de spin, ms: spin do elétron No átomo de hélio (Z = 2), ambos os elétrons ocu-
pam a primeira camada principal (n = 1), a mesma subcamada (, = 0 ou s) e possuem o mesmo número
quântico magnético (m, = 0). Possuem estes dois elétrons números quânticos idênticos? A fim de des-
crever completamente qualquer elétron em um átomo, além de n, ,, m,, devemos identificar também o
seu número quântico de spin, ms. O número quântico de spin pode assumir o valor + 12 ou – 12 . O elétron
pode ter somente duas direções de spin, não sendo permitida nenhuma outra posição. Além disso, pelo
princípio da exclusão de Pauli, no máximo dois elétrons podem ocupar o mesmo orbital do átomo e
estes devem ter spins opostos. Em outras palavras, dois elétrons não podem ter jamais o mesmo conjun-
to de números quânticos. Por exemplo, no átomo de He, o que difere um elétron de outro, do ponto de
vista da mecânica quântica, é o número quântico de spin: ms = 12 para um e ms = –  12 para o outro. Um resumo
dos valores permitidos para os números quânticos é apresentado na Tabela 2.2.
Uma vez que somente dois elétrons podem ocupar um mesmo orbital e que cada nível de energia
principal ou superfície n permite n2 orbitais, uma regra geral pode ser enunciada segundo o seguinte pre-
ceito: cada nível principal de energia pode acomodar um número máximo de 2n2 elétrons (Tabela 2.3).
Por exemplo, o nível de energia principal n = 2 pode acomodar um máximo de 2(2)2 = 8 elétrons, dois
na sua subcamada s e seis na sua subcamada p, a qual contém três orbitais.

2.3.5 Estado de energia de átomos multieletrônicos

Até o momento, a maior parte da discussão se concentrou no átomo de hidrogênio, que possui apenas um
único elétron; e este pode ser energizado em diferentes níveis principais de energia e, independentemente
do número quântico azimutal (subcamada), seu nível de energia será aquele da camada principal na qual
ele existe. Entretanto, quando houver mais de um elétron, os efeitos da atração eletrostática entre o elétron
e o núcleo, bem como os efeitos de repulsão entre os próprios elétrons, levarão a estados de energia mais
complexos ou à divisão dos níveis de energia. Deste modo, a energia de um orbital em um átomo multiele-
trônico depende não somente do seu valor de n (tamanho), mas também do seu valor de , (forma).
Por exemplo, seja o elétron único em um átomo
Tabela 2.3
Número máximo de elétrons em cada camada atômica principal.
de H e o elétron único em um átomo de He ionizado
(He+). Ambos os elétrons encontram-se no orbital 1s.
Número da Número máximo Número máximo Todavia, deve-se lembrar que o núcleo do átomo de
camada, n de elétrons em de elétrons He possui dois prótons contra um próton no núcleo
(número quântico cada camada (2n2) nos orbitais
principal) de H. As energias orbitais são –1.311 kJ/mol para o
elétron do H e –5.250 kJ/mol para o elétron do He+.
1 2
2(1 ) = 2 s 2
É mais difícil remover o elétron do He+ porque este
2 2(22) = 8 s2p6
possui uma atração maior ao seu núcleo de dois pró-
tons. Em outras palavras, quanto maior a carga do nú-
3 2(32) = 18 s2p6d 10 cleo, maior a força de atração sobre o elétron e mais
4 2(42) = 32 s2p6d 10f 14 baixa a energia deste (sistema mais estável); este fe-
nômeno é denominado efeito da carga do núcleo.
5 2(52) = 50 s2p6d 10f 14... Agora, comparando o átomo de He e o íon He+,
6 2(62) = 72 s2p6... ambos possuem a mesma carga no núcleo, mas dife-
rem no número de elétrons. A energia orbital 1s do elé-
7 2(72) = 98 s2... tron de He é –2.372 kJ/mol, enquanto aquela do He+
Capítulo 2  Estrutura e Ligações Atômicas 31

é –5.250 kJ/mol. É bem mais fácil remover um dos dois elétrons do átomo de He do que remover o elétron
único do He+. Isso se dá principalmente porque os dois elétrons no átomo de He se repelem mutuamente,
o que se opõe à força de atração do núcleo. É quase como se os elétrons se protegessem um ao outro da
força total do núcleo; este fenômeno é denominado efeito de blindagem.
Em seguida, façamos uma comparação entre o átomo de Li (Z = 3) no seu estado fundamental e o primei-
ro estado excitado do íon Li2+. Deve-se observar que ambos têm uma carga no núcleo de +3; o Li tem dois
elétrons 1s e um elétron 2s, enquanto o Li2+ possui um elétron excitado para o seu nível 2s (primeiro estado
excitado). A energia orbital do elétron 2s do Li é –520 kJ/mol, enquanto aquela do Li2+ é –2.954 kJ/mol.
É mais fácil remover o elétron 2s, do átomo de Li porque o par de elétrons 1s na camada mais interna
protege o elétron 2s do núcleo (na maior parte do tempo). O elétron 2s do Li2+ não conta com a proteção
do par de elétrons 1s e é, portanto, mais fortemente atraído pelo núcleo. Vê-se, então, que os elétrons mais
internos protegem os elétrons mais externos e o fazem de maneira mais eficaz do que os elétrons no mes-
mo subnível (comparar os níveis de energia do orbital com aqueles no parágrafo precedente).
Finalmente, vamos analisar uma comparação entre o átomo de Li no seu estado fundamental e o átomo
de Li excitado até o seu primeiro nível. O átomo de Li no estado fundamental tem o seu elétron mais exter-
no no orbital 2s, enquanto o átomo excitado de Li tem o seu elétron mais externo no orbital 2p. A energia
orbital do elétron 2s é –520 kJ/mol, ao passo que aquela do elétron 2p é –341 kJ/mol.
Logo, o orbital 2p possui um estado mais elevado de energia do que o orbital 2s. Isso
ocorre porque o elétron 2s passa um tempo relativamente maior penetrando em direção ao 6d
5f
núcleo (muito mais do que o elétron 2p), sofrendo assim uma atração maior por ele, o que 7s
6p
o coloca em um estado de menos energia e mais estável. É possível generalizar ainda mais 5d
4f
se afirmando que para átomos multieletrônicos, em uma dada camada principal, n, quanto 6s
5p
mais baixo o valor de ,, mais baixa a energia da subcamada (isto é, s < p < d < f). 4d
5s
O raciocínio acima mostrou que, devido a vários efeitos eletrostáticos, os princi-
4p
pais níveis de energia, n, se subdividem em vários níveis de subenergia, ,, conforme 3d
apresentado na Figura 2.9. Essa figura mostra a ordem dos vários níveis principais e de 4s
subenergia existentes uns em relação aos outros. Por exemplo, os elétrons no interior da
subcamada 3p têm energia mais alta do que aqueles da subcamada 3s e, por outro lado, 3p
energia mais baixa do que aqueles na subcamada 3d. Observar nessa figura que a subca-
mada 4s possui energia mais alta do que a subcamada 3d.
3s

2.3.6 Modelo quantum-mecânico e tabela periódica


Energia, E

Na tabela periódica, os elementos são classificados de acordo com a sua configuração


2p
eletrônica no estado fundamental. Consequentemente, os átomos de um dado elemento
(por exemplo, Li, com três elétrons) contêm um elétron a mais do que o elemento que
o precede (He, com dois elétrons). Estes elétrons se encontram nas camadas de energia
principais, subcamadas e orbitais. Mas como saber a ordem específica de preenchimento
dos orbitais pelos elétrons? Os elétrons começarão por preencher os primeiros níveis de 2s
energia principal disponíveis. O número máximo de elétrons em cada nível de energia
principal consta na Tabela 2.3. Em seguida, dentro de cada nível de energia principal, eles
preencherão primeiramente as subcamadas de energia mais baixa, ou seja, s seguida por p,
d e, finalmente, f. Os níveis de subenergia s, p, d e f permitem um máximo de 2, 6, 10 e 14
elétrons, respectivamente. Cada nível da subcamada tem seu próprio nível de energia e a
ordem em que cada nível de subenergia é preenchido consta na Figura 2.9.
Há duas formas diferentes de se expressar a ocupação do orbital: (1) configuração
eletrônica e (2) diagrama de blocos do orbital.
A notação pela configuração eletrônica é composta pelo valor da camada principal, n,
seguida da designação alfabética da subcamada, ,, e, finalmente, o número de elétrons
1s
naquele subnível em forma de expoente. Como ilustração, a configuração eletrônica do
oxigênio, O, com oito elétrons, é 1s22s22p4. No caso do oxigênio, após se preencher o Figura 2.9
orbital 1s com dois elétrons, restam ainda seis elétrons. Pela Figura 2.9, dois dos seis Os níveis de energia para
todos os níveis de subenergia até
elétrons preencherão o orbital 2s (2s2) e os quatro restantes ocuparão o orbital p (2p4). O n = 7. Os orbitais se enquadrarão
próximo elemento, flúor, F, possui um elétron adicional de modo que sua configuração em ordem idêntica.
32 Fundamentos de Engenharia e Ciência dos Materiais

Tabela 2.4 é 1s22s22p5 enquanto o elemento imediatamente prece-


Valores permitidos para os números quânticos e os elétrons. dente, nitrogênio, N, possui um elétron a menos e sua
configuração é 1s22s22p3. Para maior clareza, a estrutura
Configuração eletrônica Diagrama de orbitais
eletrônica dos dez primeiros elementos na tabela perió-
1s 2s 2p
dica é apresentada na Tabela 2.4.
Seja agora o elemento escândio (Sc), com 21 elé-
H 1s1
trons. Os primeiros cinco níveis de energia em ordem
crescente são (Figura 2.9) 1s2, 2s2, 2p6, 3s2, 3p6. Isso
He 1s 2
equivale a 18 elétrons. Restam ainda três elétrons para
se completar a estrutura eletrônica do Sc. Cronologica-
Li 2
1s 2s mente, pode-se presumir que os próximos três elétrons
preencheriam o orbital 3d, completando, assim, a con-
figuração com 3d3. Entretanto, pela Figura 2.9, o pró-
Be 1s22s1 ximo orbital a ser preenchido é 4s e não 3d. Isso ocorre
porque o nível de energia 4s é mais baixo do que o nível
B 1s22s22p1 3d (devido a efeitos de penetração em direção ao nú-
cleo e efeitos de blindagem) e, conforme discutido ante-
2 2 2 riormente, os níveis de energia mais baixos são sempre
C 1s 2s 2p
ocupados primeiro. Por conseguinte, os dois elétrons
seguintes (19o e 20o) preencherão os orbitais 4s e o úl-
N 1s22s22p3 timo elétron (21o) ocupará o orbital 3d. A configuração
final para o Sc, pela ordem de preenchimento dos orbi-
O 2 2
1s 2s 2p 4 tais, é 1s22s22p63s23p64s23d1; porém, é também aceitá-
vel denotar a configuração segundo o nível principal de
energia 1s22s22p63s23p63d14s2. Observar que os elétrons
F 1s22s22p5
mais internos, 1s22s22p63s23p6, representam a estrutura
eletrônica do gás nobre argônio. Consequentemente, a
Ne 1s22s22p6 configuração eletrônica do Sc pode também ser repre-
sentada por [Ar]4s23d1.
A ocupação orbital pode também ser denotada por
meio do diagrama de orbitais. A vantagem deste diagrama é: contrariamente à notação pela configura-
ção eletrônica, esta também mostra os pares eletrônicos de spins (spins contrários) em um orbital. Os
diagramas dos orbitais para os dez primeiros elementos na tabela periódica constam na Tabela 2.4. Para
o oxigênio, O, com sete elétrons, os primeiros dois elétrons ocuparão o orbital 1s (orbital de energia
mais baixa) com spins emparelhados, seguidos pelos próximos dois elétrons que ocuparão o orbital 2s
(próximo orbital de energia mais baixa) com spins emparelhados da mesma forma. Todavia, os três elé-
trons seguintes preencherão os três orbitais p aleatoriamente (todos os orbitais p têm o mesmo nível de
energia) com o mesmo spin. Embora o preenchimento do orbital p seja aleatório, por questões didáticas
o preenchimento foi apresentado como se ocorresse da esquerda para a direita. O último elétron então
se emparelhará com o spin de um dos três elétrons no orbital p aleatoriamente (observar que a direção
do spin do último elétron é oposta àquela dos três elétrons no orbital p). Em outras palavras, os elé-
trons não ocuparão os três orbitais p aos pares. Para o elemento F, com um elétron a mais do que o O, o
próximo orbital p será emparelhado e, finalmente, para o Ne, com dois elétrons a mais do que o O,
todos os três orbitais p serão emparelhados. Esse também é o caso para os cinco orbitais d na terceira
camada principal: após cada um dos cinco orbitais d ter sido preenchido com um elétron de mesmo
spin, qualquer eventual elétron remanescente emparelhará os orbitais d um a um e com spin contrário.
É importante notar que existem algumas irregularidades na ocupação dos orbitais dos elementos e
que nem todos seguem exatamente as regras enunciadas acima. Por exemplo, seria de se esperar que o
cobre, com 29 elétrons (oito a mais do que o Sc) teria a estrutura eletrônica [Ar]3d94s2, entretanto, sua
estrutura eletrônica é na realidade [Ar]3d104s1. As razões para essas irregularidades não são completa-
mente conhecidas, mas uma explicação possível é que o nível de energia correspondente aos orbitais
3d e 4s é extremamente próximo, como o caso do cobre em questão.

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