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HISTÓRIA DA QUÍMICA

Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 4
1 ORIGEM DA QUÍMICA .......................................................................................................... 5
1.2 Importância da água para a química e sua evolução ......................................................... 7
1.3 A química no século XVIII ....................................................................................................... 9
2 TERMODINÂMICA .............................................................................................................. 12
2.2 O flogistico ....................................................................................................................... 16
2.3 O calórico ......................................................................................................................... 19
3 GASES REAIS .................................................................................................................... 23
3.2 Fator de compressibilidade .............................................................................................. 26
3.3 Equação de van der Waals .............................................................................................. 31
4 REAÇÕES QUÍMICAS ........................................................................................................ 33
4.1.1 Combustíveis e a combustão ............................................................................................. 34
4.2 A oxidação ....................................................................................................................... 38
4.2.1 Número de oxidação .................................................................................................... 40
4.2.2 Determinação dos números de oxidação (Nox) ........................................................... 42
5 GRANDES PERSONAGENS DA QUÍMICA ........................................................................ 46
5.2 Antoine Lavoisier ............................................................................................................. 47
5.3 John Dalton ...................................................................................................................... 48
5.4 Amedeo Avogadro ........................................................................................................... 49
5.5 Joseph Louis Gay-Lussac ................................................................................................ 50
5.6 Humphry Davy ................................................................................................................. 51
5.7 Jacob Berzelius................................................................................................................ 52
5.8 Michael Faraday .............................................................................................................. 53
5.9 Dmitri Mendeleev ............................................................................................................. 54
5.10 Marie Curie ...................................................................................................................... 55
5.11 Gilbert Lewis .................................................................................................................... 57
5.12 Linus Pauling ................................................................................................................... 58
6 LEIS PERIÓDICAS .............................................................................................................. 59
Número atômico (Z) é o número de prótons presentes no núcleo de um átomo. Número de
massa (A) é a soma do número de prótons (Z) e de nêutrons ................................................. 62
6.2 A estrutura do átomo........................................................................................................ 62
6.2.2 Teoria atômica de Thomson ......................................................................................... 62
6.2.3 Teoria atômica de Rutherford ....................................................................................... 62
6.2.4 Teoria atômica de Rutherford-Bohr .............................................................................. 63
6.3 Configuração eletrônica do átomo ................................................................................... 64
7 RADIOATIVIDADE E RADIOISÓTOPOS ............................................................................ 70
7.2 Classificação dos elementos ........................................................................................... 75
7.3 Radioatividade: conceitos gerais ..................................................................................... 78
7.3.1 Efeitos biológicos da radioatividade .................................................................................. 79
7.4 Grandezas e unidades ..................................................................................................... 80
8 FISSÃO E FUSÃO ATÔMICA ............................................................................................. 82
8.1.1 Fissão e desenvolvimento tecnológico ............................................................................. 83
8.2 Fusão Nuclear.................................................................................................................. 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 95
INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da


sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se
levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que
seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a
pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual,
é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e
prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!
1 ORIGEM DA QUÍMICA

1.1 A vida no planeta

A Terra se formou há cerca de 4,6 bilhões de anos, e sua evidência fóssil mais
antiga conhecida tem cerca de 3,5 bilhões de anos. Naquela época, a atmosfera da
Terra consistia em elementos químicos simples como CO2, H2O e N2, além de alguns
compostos como CH4 e NH3. Alguns experimentos de laboratório desde a década de
1920 sugerem que a radiação ultravioleta do Sol e algumas descargas elétricas de
tempestades causaram várias reações químicas na atmosfera que produziram
substâncias orgânicas (SADAVA et al., 2020).
Harold Urey e Stanley Miller são cientistas que conduziram pesquisas e
experimentos usando tubos e balões para simular a Terra primitiva (Figura 1). Nesses
estudos, publicados em 1953, os cientistas misturaram H20, CH4, NH3 e H2, os
aqueceram e os expuseram a descargas elétricas por vários dias. O sistema era
conectado a um condensador que resfriava essa mistura, simulando o resfriamento da
Terra liberando gotículas de água. Na semana seguinte, eles descobriram compostos
orgânicos e vários aminoácidos na água coletada na caixa d'água, além de
substâncias simples que poderiam dar origem às primeiras formas de vida na Terra.

Figura 1 – Experimento de Miller e Urey para simular a Terra primitiva

Fonte: SADAVA et al. (2020, p.72).


Toda a comunidade científica repetidamente se opôs a esse experimento,
sugerindo que havia outros elementos químicos adicionais na atmosfera da época,
além do fato de que as primeiras moléculas biológicas poderiam ter nascido em um
ambiente escuro e subaquático, fontes hidrotermais no fundo do mar que emitem
soluções de sulfeto de metal e temperaturas acima de 400°C que podem fornecer
condições adequadas para a formação de aminoácidos e outras moléculas orgânicas
e pequenas derivadas de compostos simples na água do mar (VOET; PRATT, 2014).
Segundo Reece et al (2015), a atmosfera primitiva consistia principalmente de
dióxido de carbono e nitrogênio, além de carecer de pH básico e ácido. Várias outras
partes da atmosfera primitiva que estavam perto dos vulcões, no entanto, caíram. De
qualquer forma, os autores comentaram que os experimentos em todos os tipos de
ambientes foram "neutros" ou redutores porque observaram a formação de moléculas
orgânicas, portanto outras hipóteses como as primeiras moléculas orgânicas ainda
existem, como a de que foram formadas em fontes hidrotérmicas nas profundezas do
oceano, por onde passam minerais e água quente do interior da Terra, e a hipótese
de que as primeiras moléculas orgânicas vieram de meteoritos.
Estudos do meteorito Murchison revelaram moléculas como açúcares simples,
bases nitrogenadas e lipídios, mas moléculas orgânicas simples não são suficientes
para a formação de vida e células. Essas estruturas são bastante complexas,
constituídas por diversas macromoléculas capazes de sintetizar energia e se
autorreproduzir. No entanto, é possível que os famosos precursores celulares, os
chamados protobiontes, que surgiram da sopa de antigos compostos orgânicos no mar
primitivo (Figura 2), possam até se formar dentro de vesículas (REECE et al. 2015).

Figura 2 - Ilustração fictícia das prováveis características do “Mar primitivo”

Fonte: https://cutt.ly/eMFsRti
1.2 Importância da água para a química e sua evolução

Muitas reações químicas requerem um meio aquoso para realmente ocorrer, a


água contém nutrientes orgânicos e inorgânicos. Responsável por compor cerca de
70% do corpo humano, o que explica porque é utilizado em todas as reações
metabólicas dos organismos, além do fato de que o equilíbrio da biosfera também
depende da água e dos ciclos de chuva e vento na atmosfera, mantêm a existência de
vida terrestre no planeta hoje. Aproximadamente 70% da superfície do planeta
também é constituída por água: lagos, oceanos e rios (REECE et al. 2015).
Com base nesses princípios, a história da química é geralmente vista como uma
ferramenta que permite resolver os problemas relacionados ao ensino das ciências
naturais como um todo, considerando a importância da educação moderna. O início
dessa história bastante antiga, refere-se ao desenvolvimento da humanidademilhares
de anos antes de Cristo, pois inclui o conhecimento da pré-história humana primitiva.
Este, aprendeu com o tempo a manipular e mudar objetos de pedra, rochas,ossos,
peles de animais e madeira para uso próprio, e a descoberta do fogo em seguida, que
provocou ainda mais mudanças, principalmente na alimentação (CHASSOT, 1998).
Toda essa prática e mudança existiram em diferentes civilizações, e logo depois
que os chamados “homens das cavernas” começaram a trabalhar com metais nesse
período, utilizando ouro e cobre, por volta de 6.000 anos a.C., apenas 3.000 anos em
seguida, o homem começou a extrair metais através das minas, e cerca de
1.400 anos a.C., o aço, uma mistura de ferro e carvão, começou a ser feito (VANIN,
1994).

Figura 3 – Representação dos homens das cavernas descobrindo o fogo

Fonte: https://cutt.ly/1MFfKCb
Sem dúvida, uma das descobertas químicas mais antigas e a que mais
revolucionou a vida humana foi o controle do fogo, sendo que no Paleolítico, há cerca
de 400.000 anos, as pessoas mantinham fogueiras em algumas de suas residências
na Europa e na Ásia, onde o barro era cozido no fogo para fazer cerâmica (VIDAL,
1986, p.09). Assim, pode-se dizer que o homem avançou na mineração e na
metalurgia, que ainda é um dos processos de transformação mais importantes.
A tensão superficial é outra propriedade importante da água, essa função ocorre
nos líquidos devido à força de atração exercida pelas moléculas dentro do líquido na
superfície. Em outras palavras, a interação das moléculas de água na superfície é
diferente do interior do líquido.
Moléculas no líquido atraem moléculas próximas em todas as direções durante
este processo, cancelando individualmente as forças que atuam sobre cada uma,
causando uma atração lateral e descendente para as moléculas da superfície do
líquido, essa força lateral e descendente é exercida, fazendo com que as moléculas
fiquem mais coesas e criem tensão na superfície, de forma esticada como se fosse um
filme elástico como mostra a Figura 4 (REECE et al., 2015).

Figura 4 – força lateral e descendente das moléculas

A: Forças de coesão sobre moléculas de água no interior e na superfície da solução,


criando tensão superficial; B: Inseto sobre a película formada na superfície da água.
Fonte: A - magnetix/Shuttterstock.com; B - makamuki0/Pixabay.com.

A temperatura da água tem grande influência na atividade biológica e


crescimento dos animais e plantas aquáticas, pois espécies de macroalgas,
zooplâncton, peixes e outros organismos aquáticos preferem temperaturas, então a
temperatura de um lago, rio ou mesmo oceano diminui ou aumenta muito, o número
de indivíduos dessa espécie pode diminuir ou até mesmo levar à sua extinção. Tal
mudança de temperatura pode ocorrer naturalmente sob a influência do Sol ou
mecanicamente: resíduos industriais e/ou outros tipos de poluição da água e, assim,
afetar as reações químicas e metabólicas dos organismos e a solubilidade das
substâncias (BRASIL, 2006).

1.3 A química no século XVIII

No século VI a.C., Tales de Mileto (Figura 5), grego e conhecido como o


primeiro filósofo ocidental, acreditava que a água era a essência de toda a matéria, e
um de seus sucessores na Escola de Mileto, também grego, foi Empédocles de
Agrigento (Figura 6), o primeiro filósofo que propôs que toda a matéria consiste em
quatro elementos igualmente importantes, embora as ideias sejam semelhantes,
surgiram na China, Egito e Índia (VOET; PRATT, 2014).

Figura 5 – Tales de Mileto (624 a.C. – 546 a.C.)

Fonte: https://cutt.ly/oMFgyUx

Figura 6 – Empédocles de Agrigento (490 a.C. – 430 a.C.)

Fonte: https://cutt.ly/5MFgADz
Em seguida, Aristóteles (Figura 7), considerado um dos maiores filósofos e
pensadores da antiguidade, propôs então, a existência de determinada espécie de
elemento celeste, reunindo os quatro elementos: água, ar, terra e fogo de forma
combinadas por um quadrado, no qual as qualidades contrárias: frio e úmido, quente
e seco.
O argumento era que eles se reuniram em torno de uma força chamada amor-
ódio enquanto discutiam outra teoria, o atomismo, que exigia átomos, a palavra grega
para "partículas indivisíveis que podem considerar a unidade mínima da matéria", esta
ideia continuou até o início dos tempos modernos. No século V a.C., a Alquimia era
usada para referenciar a química, nada mais do que a união da ciência com a arte e
a magia (SADAVA et al., 2020).

Figura 7 – Aristóteles de Estagira (384 a.C. – 322 a.C.)

Fonte: https://cutt.ly/MMFhtHW

A palavra Alquimia vem do árabe AL_KHMY, possui caráter místico e surgiu das
ciências árabes, egípcias, pérsias e mesopotâmicas. Combinava com arte, química,
filosofia, física, medicina, metalurgia e religião. Trata-se de uma prática antiga que
considerava dois propósitos fundamentais, na prática de transformarmetais inferiores
em ouro com a conhecida Pedra Filosofal e na manipulação do elixirda longa vida,
conhecido como Elixir da Vida Eterna (GREENBERG, 2009).
Os alquimistas eram profundamente devotados aos segredos e mistérios. Era
considerada bruxaria na época e a alquimia não era aceita como ciência. Somente no
século XVIII, conhecido como Iluminismo, a química recebeu sua certidão de
nascimento, mas somente no período da Revolução Industrial quando começou a
aparecer com mais frequência o capitalismo, abriu-se espaço para a expansão da
ciência tecnológica. No entanto, alguns historiadores afirmam que Antoine-Laurent de
Lavoisier (Figura 8) é o "pai da química moderna", embora alguns autores discordem.
Antoine-Laurent de Lavoisier, foi um químico francês que contribuiu com o trabalho de
combustão, a publicação de Traité Elementraire de Chimie foi sua maior obra
publicada em Paris no ano de 1789. A química desenvolveu-se juntamente com a
ciência da compreensão da natureza das reações químicas quando Lavoisier
estabeleceu a Lei da Conservação da Matéria, a primeira das leis ponderais da
química (GREENBERG, 2009).

Figura 8 – Antoine-Laurent de Lavoisier (1743 – 1794)

Fonte: https://cutt.ly/pMFjoA2

Ainda assim, foi apenas no século XIX que a ciência química se consolidou com
a proposição de uma teoria atômica, realizada por John Dalton (Figura 9), que
influenciou o desenvolvimento posterior da química.

Figura 9 – John Dalton (1766 – 1844)

Fonte: https://cutt.ly/bMFj051
Dalton, como era conhecido, nasceu na Inglaterra e era autodidata, lecionava
apenas com 12 anos, foi professor de filosofia e matemática, além de percursor da
Teoria Atômica de Dalton, apresentada em conferências realizadas na Royal
Institution em Londres, como o pioneiro em conceito de massa atômica e átomo
(GREENBERG, 2009).

2 TERMODINÂMICA

2.1 A alquimia

Não é possível determinar quando a alquimia começou. Parece que as pessoas


sempre tiveram o desejo de conhecer o mundo ao seu redor, e em algum momento
houve também o desejo de mudá-lo. No entanto, muitas mudanças na história da
humanidade podem ser enfrentadas por pessoas resistentes a mudanças, e a alquimia
não foi diferente. Pode ser descrita como uma mistura de química, física, arte, filosofia,
metalurgia, medicina e religião, uma mistura de arte e magia que contém muitos
mistérios e segredos.
O período místico da alquimia ocorreu entre 300 a.C., e 1.500 d.C., começando
na Grécia Antiga ou Egito Antigo, não se sabe exatamente, e se espalhou para a Idade
Média ou Idade das Trevas. Naquela época, acreditavam na existência da matéria, ou
prima matéria, como a base de toda a existência (ALFONSO-GOLDFARB, 2001).
Terra, água, fogo e ar, definidos como os quatro elementos por Empédocles e
Aristóteles, formam a base do conhecimento alquímico. Quando o poder romano
chegou ao Egito, a alquimia foi condenada, seus praticantes mais ardentes mudaram-
se para a Pérsia, e quando a Europa experimentou a supremacia da Igreja Católica,
os muçulmanos desenvolveram o estudo dos elementos químicos e metais preciosos.
Somente com o Iluminismo e todos os representantes da Revolução Científica, a
Europa viu as possibilidades da alquimia e posteriormente da química.
Aristóteles foi um importante pensador elementar, baseava-se na existência
dos quatro elementos e suas qualidades opostas, como úmido e seco, frio e quente.
Ele considerou que a propriedade do fogo é quente, a qualidade do ar é fria, o molhado
é úmido, e a terra é seca. Além disso, ele acreditava na possibilidade de mudar a
matéria alterando suas propriedades. Por exemplo, o calor pode ser usado para
transformar água, fria e úmida, em vapor, quente e úmido. Essa ideia atingiu o auge
na Idade Média, quando a ideia deu lugar à prática (GREENBERG, 2010).
Ao mesmo tempo em que se criava a teoria dos elementos e suas
transmutações, surgiu a ideia de que toda matéria é constituída por átomos, unidade
mínima e indivisível. No entanto, a prática ou experimentação com o átomo não foi
possível até cerca de 1.500 anos depois que a teoria foi criada por Leucipo e
Demócrito. Os alquimistas acreditavam que a Pedra Filosofal era usada para
transformar uma substância em outra, um excelente exemplo é que se acreditava que
era possível transformar chumbo ou outro metal em ouro. Eles também acreditavam
em um elixir da vida, um remédio ou poção que poderia dar a uma pessoa a vida eterna
ou a cura para todas as doenças. A transmutação, em certo grau, foi obtida pelos
alquimistas (VIDAL, 1986).
Exemplos de sucesso:

• Copelação da prata: calcinação de cinzas de ossos com um pedaço de


chumbo. O óxido formado era absorvido pelo material poroso e sobrava um
pouco de prata metálica no fundo do cadinho.
• Oxirredução entre ferro e sulfato de cobre: nesse experimento, o cobre se
deposita sobre o ferro e forma-se uma lama de sulfato de ferro no recipiente,
enquanto que a solução azul descolore.
• Obtenção do latão: uma liga formada de cobre e estanho, como uma
coloração amarela brilhante muito próxima à coloração do ouro.

Essas buscas, principalmente a de enriquecer ao transformar qualquer metal


em ouro, fizeram com que os alquimistas desenvolvessem experimentos e materiais
para laboratório, como o destilador (Figura 1), utilizado para a separação de misturas
homogêneas, com substâncias miscíveis entre si, além de vários outros
procedimentos, como a extração de óleos essenciais das plantas.

Figura 1 – Destilador de álcool


Fonte: ShutterStock.com/Andrew Angelov.

A prática da alquimia possibilitou o desenvolvimento de inúmeros processos


como fusão de metais, obtenção de ligas metálicas, procedimentos de purificação
como destilação, sublimação, calcinação, dissolução, filtração, cristalização, banho-
maria, etc. Um dos métodos mais comuns é o uso e controle do fogo, principalmente
no desenvolvimento de produtos metalúrgicos e domésticos. Embora o fogo fosse
conhecido e usado desde o Paleolítico para cozinhar e no período Neolítico para a
cerâmica, foi amplamente utilizado para refinar minérios, obter metais e pesquisas
feitas por alquimistas.
O primeiro metal foi o cobre, por volta de 4.000 a.C. no Oriente Médio,
reduzindo o minério de malaquita com carvão em um incêndio. Mais tarde, o bronze
foi obtido pela combinação de cobre e estanho com reações químicas e físicas que
tornaram o material resultante mais duro e maleável do que o cobre puro. A
importância desta descoberta reside na nomenclatura que damos a esta fase histórica:
Idade do Bronze (VIDAL, 1986).
Temos exemplos de outros importantes estudos metalúrgicos com o ferro, o
latão e a prata. Contudo, com o ouro, alterações químicas não são necessárias, uma
vez que ele se encontra no formato de ouro metálico na natureza. Os alquimistas
acreditavam que seria possível fazer crescer todos os metais e que o crescimento
máximo seria a obtenção do ouro. A busca era em acelerar esse processo, tal como
havia sido feito com a obtenção dos outros metais a partir dos minerais (ALFONSO-
GOLDFARB, 2001).
Outra característica da alquimia está no descobrimento/conhecimento das
substâncias e de suas propriedades, que eram estudadas e exploradas:

• Os ácidos, quando dissolvidos em água, possuíam gosto azedo e eram


capazes de corroer os metais. O ácido sulfúrico (óleo de vitríolo), um dos mais
importantes, já era conhecido, assim como os ácidos muriático (clorídrico),
acético (vinagre), cítrico e nítrico.
• A água-régia, que hoje é uma mistura de ácido nítrico com ácido clorídrico na
proporção 1:4, foi obtida por Boyle pela destilação de salitre bruto (origina o
ácido nítrico), que, junto com ácido clorídrico, poderia dissolver ouro com
dificuldade e prata com facilidade. Cristais de prata (AgCl) eram obtidos pela
mistura com água-régia (CECON, 2012).
• Os ácidos, ou águas agudas, foram separados dos álcalis, que conhecemos
hoje como substâncias de propriedades contrárias em termos de pH. Foram os
alquimistas os primeiros a utilizar extrato de repolho roxo para indicar se as
substâncias eram ácidas ou básicas.
• Arsênio, álcalis, sais de álcalis, vinagre de arroz, bórax, nitrato de potássio,
enxofre e sal amoniacal purificado, água-régia, alúmen, sal, enxofre, sais e
espíritos de mercúrio, sal nitrum, vitríolo, óxido de chumbo (II), chumbo
vermelho, óxido de estanho (II), acetato de cobre, óxido de cobre (II), sulfeto de
chumbo, óxido de zinco, óxido de bismuto, óxido de antimônio, ferrugem,
acetato de ferro, amálgama, cinábrio, trióxido de arsênio, soda cáustica e
Qalimiy eram algumas das substâncias já conhecidas e sintetizadas pelos
alquimistas árabes no século XII (PINHEIRO; BELLAS; SANTOS, 2016).
• A pólvora, uma mistura de carvão, enxofre e salitre, foi descoberta pelos
alquimistas chineses no século XIX.
• O fósforo foi sintetizado no século XVII por Hennig Brandt por meio da
destilação do xixi.
• O álcool ficou conhecido e sua forma de produção ficou definida pela
destilação. Seu uso médico como substância para adormecer os que passariam
por uma cirurgia era uma prática comum.

A vida doméstica da Idade Média também foi marcada por práticas alquimistas, sendo
as mais importantes (VIDAL, 1986):

• Tinturaria baseada no uso de extratos vegetais e minerais para a pintura de


tecidos ou como maquiagem;
• Fabricação de bebidas alcoólicas, como a cerveja e o vinho;
• Conservação de peles de animais por meio do curtume;
• Mumificação de cadáveres pelos egípcios;
• Obtenção de vidros coloridos com adição de areia e sais minerais e
submetidos ao calor, também pelos egípcios, entre outras práticas.

Embora a alquimia não tenha desenvolvido métodos científicos e de ser


considerada muito mais arte e magia do que ciência, sua real importância está no
desenvolvimento da experimentação. Para tal, um fenômeno era e continua sendo
muito importante: o calor.

2.2 O flogistico

Segundo Brito (2008), no século XVII, por volta de 1670, Georg Stahl criou a
teoria do flogisto, segundo a qual todas as substâncias inflamáveis possuem uma
substância fundamental e etérea que é liberada dessas substâncias durante a
combustão ou absorvida durante a calcinação. Essa substância básica e etérea foi
chamada de flogisto. A formação de ferrugem também foi causada pela liberação de
flogisto, embora muito lentamente. Além disso, de acordo com a teoria, os metais
foram formados quando o material moído (calcário) se juntou ao flogisto.
Lavoisier respondeu às perguntas e refutou a teoria do flogisto, dando origem
à química moderna. Nas décadas de 1760 e 1770, Lavoisier criou e conduziu uma
série de experimentos que usavam escalas para medir a massa de substâncias.
Colocou uma massa conhecida como estanho em um frasco hermeticamente fechado
e calcinou o metal, novamente pesando e observando se o peso se mantinha.Pesando
o produto da calcinação, ele descobriu que era maior que a massa original do estanho
e concluiu que o estanho havia se misturado com o ar no frasco. Ele repetiu o
experimento com outros metais e observou o mesmo resultado (BRITO, 2008). Alguns
dos dispositivos que Lavoisier criou para realizar seus experimentos são mostrados
nas Figuras 2 e 3.

Figura 2 – Aparato para aquecer mercúrio para obter óxido de mercúrio criado por
Lavoisier

Fonte: ShutterStock.com/Morphart Creation


Figura 3 – Calorímetro criado por Lavoisier

Fonte: ShutterStock.com/Morphart Creation

Ao estudar e realizar uma série de experimentos, Lavoisier conseguiu explicar


que o flogisto nada mais era do que oxigênio, uma substância separada da substância
original. O flogístico era toda a natureza. Apesar disso, havia calorias, um elemento
sem massa incompreensível que era difícil de pensar como não-matéria. Além disso,
era difícil entender a outra entidade, o fogo não é mais um dos quatro elementos da
matéria definidos pelos gregos, e nem é mais o flogisto.
Aristóteles acreditava que o fogo é o movimento de partículas muito pequenas,
esta definição foi mantida nos estudos de Galileu Galilei e Newton na definição de
calor. Roger Bacon, Johannes Kepler e o próprio Lavoisier consideravam o calor como
um líquido que passa pelos corpos dependendo de sua temperatura e capacidade de
mantê-la, ou o resultado da mistura de partículas constituintes (BRITO, 2008).
O interesse pelo calor aumentou às vésperas da Revolução Industrial.
Máquinas térmicas estavam sendo construídas e reconstruídas em toda a Europa,
principalmente para facilitar o bombeamento de água nas fazendas. Vários foram os
avanços e os estudos nessa época, e todos envolvem os conceitos de calor, tanto no
campo da física quanto no campo da química. Alguns deles estão descritos a seguir:
• 1769: James Watt patenteou a primeira máquina a vapor, o que fez com que
uma infinidade de pessoas tentasse melhorar a eficiência construindo outras
máquinas, dando início aos estudos da termodinâmica (OLIVEIRA; SANTOS,
1998).
• 1770: Joseph Black diferenciou pela primeira vez os termos temperatura e
quantidade de calor e postulou que o calor, ou calórico, era um fluido elástico
com partículas que se repelem e que são atraídas por partículas de matéria,
além de conservar, ser sensível à variação de temperatura e possuir massa
(PRADO; CARNEIRO, 2018).
• 1798: Benjamim Thompson investigou a produção de calor por atrito,
atritando duas peças metálicas mergulhados em um recipiente com água e
medindo a elevação da temperatura da água, o que posteriormente deu base
para a primeira lei da termodinâmica. Foi o primeiro a propor que o calor era
energia e não uma substância (BRITO, 2008).
• 1812: Humphrey Davy também estudou a formação de calor por meio do
atrito de dois pedaços de gelo e chegou à conclusão de que a causa do calor
era o movimento. Tanto para Davy quanto Thompson, existe uma relação entre
energia cinética e térmica (BRITO, 2008).
• 1824: Nicolas Sadi Carnot estudou detalhadamente a aplicação dos gases
nas máquinas térmicas e chegou à conclusão de que, independentemente do
gás utilizado, a quantidade de calor absorvida ou cedida pelo sistema era
sempre a mesma, se pressão, volume e temperatura do gás fossem estáveis
(PINTO; SILVA, 2018).
• James Prescott Joule estudou as relações entre o trabalho e as formas de
energia e chegou à conclusão de que o trabalho se converte em calor (BRITO,
2008).
• 1842: Julius Robert von Mayer descreveu que o processo de oxidação era
uma fonte de energia primária de qualquer ser vivo e propôs que as plantas
transformavam a luz solar em energia. Ele foi um dos primeiros a afirmar que a
energia não era criada, mas transformada (GOMES, 2015).
• 1850: Rudolf Julius Emmanuel Clausis teorizou que trabalho e calor eram
fenômenos que envolviam energia (BRITO, 2008).
Do ponto de vista da química, pode-se dizer que os conceitos que definem o
calor como substância, ou apenas como parte das propriedades do quente ou do frio,
ou mesmo em relação à temperatura, são muito imprecisos. Atualmente, o calor pode
ser definido como energia transferida como resultado de uma diferença de
temperatura (ATKINS; JONES, 2001).
Desta forma, o calor é visto como um fluxo de energia através da matéria. Isso
pode ser um fenômeno físico, quando a matéria sofre alteração de seu estado físico,
como na fusão ou na ebulição, em que o calor está presente, ou ser um fenômeno
químico, que ocorre em todas as reações. Assim, se o calor pode ser absorvido em
uma reação química (reação endotérmica) ou liberado em uma reação química
(reação exotérmica) e, se essa liberação for muito forte, como numa combustão,
veremos a emanação do fogo.

2.3 O calórico

O calor sempre foi percebido como algo que produz sensação de aquecimento
nas pessoas, e é possível pensar que a natureza do calor é uma das primeiras coisas
percebidas pela humanidade. É muito falado no dia a dia, principalmente em relação
ao clima. Entretanto, apenas na metade do século XIX tivemos uma verdadeira
compreensão física da natureza do calor, graças ao desenvolvimento da teoria
cinética, que trata moléculas como pequenas esferas que estão em movimento e,
portanto, possuem energia cinética.
Assim, o calor é definido como a energia associada ao movimento aleatório de
átomos e moléculas. Embora tenha sido sugerido no século XVIII e no início do século
XIX que o calor é a manifestação do movimento no nível molecular (a chamada força
viva), a visão do calor que prevaleceu até a metade do século XIX tinha por base a
teoria calórica proposta pelo químico francês Antoine Lavoisier em 1789. Antes dos
experimentos realizados pelo Conde Rumford e por Joule, alguns cientistas
acreditavam que o calor era uma substância que preenchia os poros dos corpos e se
chamava calórico (ÇENGEL; BOLES, 2013).
A teoria calórica afirma que o calor é uma substância chamada de calórico,
semelhante a um fluido, que não tem massa, cor, odor e gosto, e pode ser passada de
um corpo para outro. No início do século XIX, pensava-se que o calor era um fluido
invisível, chamado de calórico, que escoava dos corpos mais quentes para os corpos
mais frios (Figura 4).

Figura 4 – Teoria calórica

Fonte: Adaptado de ÇENGEL; BOLES (2013).

Quando as calorias eram adicionadas ao corpo, sua temperatura aumentava, e


quando as calorias eram removidas do corpo, sua temperatura diminuía. Após as
especulações do Conde de Rumford, o conceito de calor foi confirmado pelos
cuidadosos experimentos de Joule. Se houver duas bebidas: um copo de suco de
laranja e uma xícara de café, ao escolher um copo de suco, a sensação parecerá fria,
mas ao escolher uma xícara de café, a sensação parecerá muito quente.
Durante esse processo ocorre uma diferença de temperatura entre a mão, o
copo e a xícara, e quando objetos de diferentes temperaturas entram em contato, a
energia é transferida do objeto mais quente para o mais frio. Observe a Figura 5:

Figura 5 – Transferências de temperaturas

Transferência de calor de um corpo com temperatura maior para um corpo com temperatura menor:
(a) xícara de café transferindo energia para a mão dá a sensação de calor; (b) mão transferindo
energia para o copo de suco dá a sensação de frio
Fonte: https://cutt.ly/SM6kp4v
Para que essa situação de transferência de energia fique clara, é necessário
entender o que é a temperatura. Todas as moléculas e os átomos de um corpo estão
em movimento de translação, rotação e vibração. De acordo com Bauer, Westfall e
Dias (2013), a temperatura nos fornece uma medida proporcional à energia cinética
média do movimento de translação das partículas. Essa energia está associada à
energia térmica do corpo. O corpo que possui maior energia sempre transfere para o
que possui menor energia, até que eles cheguem a um equilíbrio térmico (mesma
temperatura).
Quando um corpo não podia mais conter calórico, da mesma forma que não se
pode mais dissolver sal ou açúcar em um copo d’água, dizia-se que o corpo estava
saturado com calórico. Essa interpretação deu origem aos termos líquido saturado e
vapor saturado, ainda usados nos dias de hoje. A teoria do calórico foi questionada
logo após sua apresentação. Ela propunha que o calor era uma substância que não
podia ser criada ou destruída. Entretanto, sabia-se que o calor podia ser gerado
indefinidamente esfregando as mãos ou esfregando dois pedaços de madeira.
O conceito de temperatura e de equilíbrio térmico é base para a Lei Zero da
Termodinâmica que, de acordo com Çengel e Boles (2013), diz que se dois corpos
estão em equilíbrio térmico com um terceiro corpo, eles também estão em equilíbrio
térmico entre si. Essa lei, muito simples, valida a medição de temperatura por um
termômetro, por exemplo, que seria esse terceiro corpo. No exemplo da Figura 5, a
mão tem uma temperatura maior (mais energia) que o copo de suco, então ela vai
transferir energia para o copo. À sensação de perder energia, normalmente chamamos
de “sentir frio”. Por outro lado, a xícara tem uma temperatura maior que a mão; logo,
ela transfere energia. À sensação de receber energia, casualmente chamamos de
“sentir calor”. Essa transferência acontece até que os corpos envolvidos entrem em
equilíbrio térmico, ou seja, tenham a mesma temperatura.
De acordo com Hewitt (2015), a esse movimento de energia entre corpos de
diferentes temperaturas, damos o nome de calor. Dessa forma, calor não é uma forma
de energia, mas energia em trânsito, em movimento, e, após a transferência, ela não
é mais chamada de calor. Essa energia já transferida está associada à energia térmica
do corpo. Como o calor não é uma variável de estado, não nos referimos a ele como
uma variação. É seu sinal algébrico que determina se o calor está sendo recebido ou
removido. Quando analisamos um sistema e sua vizinhança e eles possuem
temperaturas diferentes, de acordo com Knight (2009), a quantidade de calor será
positiva se o sistema receber calor de sua vizinhança e será negativo se ceder calor
para a vizinhança. Se estiverem em equilíbrio térmico, nenhuma transferência de
energia ocorrerá, como mostra a Figura 6.

Figura 6 – Equilíbrio térmico

Demonstração do sentido de transferência de energia em função da diferença de temperatura.


Com o sistema sendo a referência, temos Q < 0 quando o sistema perde energia,
Q > 0 quando ele recebe energia e Q = 0 quando o sistema e a vizinhança estão em equilíbrio
térmico. Fonte: https://cutt.ly/SM6kp4v

A unidade de medida de calor utilizada no Sistema Internacional de Unidades


(SI) é a mesma das diferentes formas de energia, o Joule, pois calor é energia em
movimento. Mas é muito comum utilizar a caloria (cal) como unidade de calor, existem
três mecanismos de transferência de calor:

1. condução; 2. convecção; 3. radiação.

A condução ocorre pela colisão das partículas dos corpos em contato, a


convecção utiliza o movimento de fluidos para transferir a energia e a radiação utiliza
ondas eletromagnéticas para esse fim. Mais adiante, você verá em detalhes como
cada um desses mecanismos ocorrem na unidade sobre transferência de energia
térmica. Uma visão geral dos três mecanismos da transferência de calor é dada no
final deste capítulo no quadro Tópico de Interesse Especial (ÇENGEL; BOLES, 2013).
3 GASES REAIS

3.1 Gases reais e os desvios da idealidade

Mais de dois séculos atrás, Boyle, Charles e Gay-Lussac conduziram


experimentos que descreviam o comportamento de gases ideais sob certas condições.
Nesses experimentos, tais gases demonstraram se comportar corretamente,
obedecendo cada vez mais às leis dos gases que, combinadas, expressam a equação
do gás ideal (PV =nRT) à medida que a pressão é reduzida até chegar a zero (P -> 0).
Assim, essa lei exprime um limite no qual ela é válida, isto é, somente até P ->
0. Já a lei para os gases verdadeiros, também chamados “gases reais”, apenas
descreve aproximações, o que remete à existência de desvios de comportamento, e,
portanto, ela já não é adequada para descrever esses gases quando estão em
condições de altas pressões e baixas temperaturas (ATKINS; JONES, 2012).
Os gases reais são aqueles cujas medidas de pressão, volume molar e
temperatura não confirmam a relação com a lei dos gases ideais, PV = nRT (equação
de Clapeyron). Sendo assim, podemos dizer que esses gases desviam da idealidade,
ou que seu comportamento é não ideal (CASTELLAN, 1986).
Para compreender como ocorrem esses desvios da idealidade, precisamos
avaliar que atributos das moléculas foram considerados na teoria cinética molecular
que descreve os gases ideais. A partir disso, podemos comparar as diferenças entre
esses dois tipos de gases e reescrever um modelo apropriado aos gases reais.
A teoria cinética molecular dos gases ideais teve origem nas generalizações
sobre o comportamento dos gases observadas em experimentos realizados por
diversos físicos, como Boltzmann e Maxwell, entre outros. Na formulação dessa teoria,
foram consideradas algumas hipóteses fundamentais, como as apresentadas a seguir
(CASTELLAN, 1986; ATKINS; JONES, 2012):

a) Na composição de um gás, existe um grande número de partículas muito


pequenas, como as moléculas e os átomos. Então, pode-se dizer que um gás
é constituído por pontos infinitesimais e não tem volume, apenas massa.
b) Não há forças de atração ou repulsão entre as moléculas, isto é, não há
campos de força. Portanto, as partículas movem-se em linha reta, obedecendo
à primeira lei de Newton.
c) Há uma frequência pequena de colisões entre as partículas.
d) Em qualquer colisão entre duas moléculas, a energia cinética total é a
mesma antes e depois do evento, isto é, há uma colisão elástica.

Diante dessas hipóteses, é possível compreender que tal modelo não descreve
o comportamento dos gases reais, pois ele não explica alguns fenômenos decorrentes
da existência da atração e da repulsão entre as moléculas, que, portanto, são
considerados desvios da idealidade. Como exemplo, podemos citar a condensação
dos gases, seja por compressão ou resfriamento, em que as forças de atraçãoreduzem
a velocidade das moléculas, permitindo que elas colidam com menor intensidade com
as paredes do recipiente, se comparada com a intensidade das colisões na ausência
de tais forças.
Dessa forma, com a redução da intensidade das colisões entre a parede do
recipiente e as moléculas do gás, a pressão do gás real é menor que a pressão prevista
pela lei dos gases ideais. As interações entre as moléculas também podem ser
percebidas ao se tentar comprimir um líquido; a dificuldade imposta pela tarefa nos
mostra que há forças intensas se opondo quando esse líquido é confinado em um
volume muito pequeno (ATKINS; JONES, 2012; KOTZ et al., 2015).
Para compreendermos melhor esse desvio, observe a Figura 1, a partir da qual
vamos avaliar o efeito da pressão sobre o comportamento dos gases reais.

Figura 1 – Desvio do comportamento ideal em diferentes pressões

Desvio do comportamento ideal em diferentes pressões, onde PV / RT = 1 para os gases reais.


Destaque para baixas pressões e para o pequeno desvio da idealidade.
Fonte: Adaptada de Kotz et al. (2015).
Considerando que, para 1 mol de gás ideal (n = 1), a equação é PV / RT = 1
para qualquer pressão, em elevadas pressões (acima de 10 atm) o desvio do
comportamento ideal é grande e variado para cada gás. Já em baixas pressões (abaixo
de 10 atm), há um pequeno desvio que não compromete a aplicação da equação dos
gases ideais para calcular algumas situações sob essas condições.
Assim, em condições de baixa pressão, o volume livre disponível para as
moléculas é praticamente todo o volume do recipiente. Entretanto, quando esse
recipiente é submetido a altas pressões, como um pistão comprimindo, o volume livre
disponível para as moléculas é menor que o volume do recipiente. Então, nessas
condições o volume de gás tende a ser maior que o previsto pela lei dos gases ideais,
já que as forças de atração entre as moléculas predominam com distâncias
intermoleculares mais curtas (KOTZ et al., 2015).
Além disso, a temperatura também gera efeitos que causam desvios da
idealidade. Ao analisar graficamente o efeito da temperatura sobre o comportamento
do gás nitrogênio, como na Figura 2, é possível verificar que, quanto menor for a
temperatura, maior será o desvio da idealidade do gás, principalmente quanto mais
próxima for a temperatura de liquefação desse gás. A razão para esse efeito é que, à
medida que o gás é resfriado, a energia cinética das moléculas é reduzida, indicando
que as moléculas não têm energia necessária para superar a atração intermolecular,
tendendo a se unir (KOTZ et al., 2015).

Figura 2 - Desvio do comportamento ideal em diferentes temperaturas e pressões,


onde PV / RT = 1 para o gás nitrogênio

Fonte: Adaptada de Kotz et al. (2015).


Então, a fim de investigar melhor as forças intermoleculares, um fator foi
avaliado para ajustar e auxiliar na descrição de um modelo mais adequado aos gases
reais.

3.2 Fator de compressibilidade

Os gases reais tendem a apresentar um desvio do comportamento ideal


conforme aumenta a proximidade da região de saturação ou dos pontos críticos. Isso
é representado na Figura 3 para o desvio de comportamento ideal para o vapor de
água.

Figura 3 – Representação gráfica do erro percentual ao se utilizar a equação


dos gases ideais para o vapor de água

Fonte: Çengel (2013, p. 137).


Uma forma de avaliar quantitativamente o desvio causado em virtude do efeito
das forças intermoleculares é comparando-se o desempenho dos gases reais frente
ao que seria esperado caso esse gás se comportasse como um gás ideal. Essa
comparação é medida pelo fator de compressibilidade (Z), um número adimensional
que pode ser expresso como a razão entre o volume molar do gás real e o volume de
um gás ideal nas mesmas condições (ATKINS; PAULA, 2012):

Onde:
Vm é o volume molar real ocupado por uma massa m ou quantidade de matéria
n de um gás real;
Vm é o volume molar previsto ocupado pela mesma quantidade de matéria
desse gás, considerando-se que seu comportamento seja ideal, nas mesmas
condições de pressão e temperatura.

Assim, o fator de compressibilidade é Z = 1 para um gás ideal a qualquer


temperatura e pressão (ATKINS; PAULA, 2012). O fator de compressibilidade pode
ser avaliado por meio do gráfico das curvas isotermas desse fator em função da
pressão, conforme a Figura 4. Nas curvas representadas, podemos verificar que
algumas delas apresentam tendências dos coeficientes angulares negativas; outras,
positivas; e outra, ainda, nula, para as pressões tendendo a zero.
Quando Z apresenta valores acima de 1 (Vm > Vmideal), podemos considerar que
as forças repulsivas entre as moléculas são dominantes, visto que a grande
proximidade entre as moléculas em um recipiente faz com que suas densidades
eletrônicas (ou cargas negativas) reajam de forma repulsiva umas às outras. Já para
valores de Z abaixo de 1 (Vm < Vmideal), a massa do gás confinado em um recipiente a
uma certa pressão e temperatura ocupa um volume menor do que aquele que seria
ocupado se esse gás apresentasse comportamento ideal submetido às mesmas
condições. Nessa situação, as forças intermoleculares do gás sãopredominantemente
atrativas (ATKINS; JONES, 2012; MAGALHÃES, 2009).
Portanto, pode-se dizer que um gráfico de fator de compressibilidade versus
pressão fornece informações sobre a dependência das forças intermoleculares
relativas à distância entre as moléculas.

Figura 4 – Isotermas do fator de compressibilidade em função da pressão

Fonte: Atkins e Jones (2012, p. 179).

Quando avaliamos as substâncias apolares, como o hidrogênio (H2), o metano


(CH4) e o eteno (C2 H4), o desvio da idealidade é maior tanto quanto maiores forem
suas massas molares, o que é justificado por suas interações intermoleculares, que
são do tipo dipolo induzido-dipolo induzido, também conhecidas como forças de van
der Waals, cuja força será maior quanto maior for o número de elétrons na camada de
valência, que também define a densidade eletrônica nessa camada. O número de
elétrons aumentará tanto quanto o tamanho da molécula, isto é, quanto maior for o
número de átomos que a compõem e quanto maior for o número atômico de seus
átomos (MAGALHÃES, 2009).
Além disso, outra informação que esse gráfico traz é que, quando a pressão
tende a zero, todos os gases apresentam fator de compressibilidade Z = 1,
demonstrando que o comportamento dos gases reais nessas condições é igual ao dos
gases ideais.

1. O fator de compressibilidade leva em consideração dois fatores básicos: a


estrutura molecular e as forças intermoleculares.
2. O fator de compressibilidade para os gases ideais é 1, assim como o
coeficiente angular da curva.
3. Para os gases reais, quando o fator de compressibilidade é 1, suas
propriedades não necessariamente são iguais às dos gases ideais. No
entanto, há uma certa temperatura em que o coeficiente angular é zero por
um intervalo maior, e, nessa ocasião, o comportamento do gás real é igual
ao de um gás ideal. Essa temperatura é denominada temperatura de Boyle.

Apesar de os gases reais apresentarem comportamentos distintos para certas


temperaturas e pressões, existe uma condição que demonstra que todos os gases têm
um comportamento semelhante. Para identificar e avaliar esse comportamento, é
necessário realizar uma normalização das variáveis de temperatura e pressão para
formas reduzidas, que são:

Onde:

• a razão entre a pressão (P) e a pressão crítica (PC ) é a pressão reduzida


(PR);
• a razão entre a temperatura (T) e a temperatura crítica (TC) é a
temperatura reduzida (TR);
• a razão entre o volume molar (V) e o volume molar crítico (VC) é o
volume reduzido (VR).

Nessa condição normalizada, os gases estão em uma mesma escala e


apresentam um comportamento regular quando estão com um mesmo volume e
temperatura reduzidos e exercem a mesma pressão reduzida (Figura 5), o que,nessas
condições, é chamado lei dos estados correspondentes (ÇENGEL, 2013; MORAN et
al., 2014).
Figura 5 – Comparativo de compressibilidade de diversos gases

Fonte: Çengel (2013, p. 138).

Quando é realizada a compressão de um gás abaixo da temperatura crítica, em


um certo ponto ocorrerá sua condensação e será possível identificar as fases gasosa
e líquida. Entretanto, quando essa compressão é realizada na temperatura crítica, não
haverá uma fronteira entre essas fases, e os volumes se confundem em um único
ponto, conhecido como ponto crítico do gás. Nessas condições, a temperatura, o
volume molar e a pressão são chamados: temperatura crítica, volume molar crítico e
pressão crítica, respectivamente (ATKINS; PAULA, 2012).
Ao ajustar a curva de todos os dados e plotá-la em um gráfico, obtemos o
diagrama geral de compressibilidade, aplicável a todos os gases, conforme mostra a
Figura 6.
Figura 6 – Diagrama geral de compressibilidade dos gases

Fonte: Potter e Somerton (2017, p. 372).

3.3 Equação de van der Waals

Buscando uma equação que descrevesse de maneira satisfatória e com


resultados representativos de acordo com a realidade dos experimentos, o físico J. D.
van der Waals propôs, em 1873, um modelo de equação de estado que leva em
consideração os fatores apresentados a seguir (ATKINS; JONES, 2012; ATKINS;
PAULA, 2012).

a) Como as forças repulsivas entre as moléculas do gás exercem um papel


importante sob certas circunstâncias, essas forças são representadas no cálculo como
a constante b, que deve ser pensada como o volume de uma molécula individual, já
que as moléculas passam a ser consideradas como pequenas esferas, impenetráveis
e rígidas.
b) O volume das moléculas não é nulo; então, o volume disponível para que as
moléculas percorram um recipiente deve considerar o volume ocupado por elas.
Sendo assim, o volume V disponível do recipiente é menor, isto é, V – nb, em
que nb é o volume total ocupado pelas moléculas quando as forças de repulsão
apresentarem significância. Logo, a equação dos gases ideais pode ser reescrita
como:
c) A pressão de um gás depende da força das colisões e da frequência das
colisões com a parede do recipiente. Tanto a frequência quanto a força das colisões
são reduzidas pelas forças atrativas entre as moléculas do gás, que têm uma
intensidade proporcional à concentração molar das moléculas do gás, n/V. Então, já
que as forças atrativas reduzem as frequências de colisão e a força de colisão, a
pressão também é reduzida de forma proporcional ao quadrado da concentração
molar. Sendo assim, essa redução de pressão pode ser escrita como –a(n / V)², em
que a é uma constante positiva característica do gás determinada experimentalmente,
representativa das forças atrativas.

Portanto, avaliando as considerações acima apontadas, chegamos à equação


de estado de van der Waals:

As constantes a e b da Equação 4 são chamadas coeficientes de van der Waals


e são características de cada gás, que independem da temperatura e são encontradas
experimentalmente. Ademais, esses coeficientes se correlacionam com propriedades
físicas, como entalpia de vaporização, temperatura crítica e pressão de vapor, e
refletem as interações intermoleculares. Essas interações ocorrem por meio das
forças de van der Waals, que são dipolo induzido-dipolo induzido, dipolo permanente
e dipolo permanente-dipolo induzido. A Equação 4 pode ser combinada para
reescrever a Equação 1, acrescentando o fator de compressibilidade e, assim,
tornando mais claro o papel dessas constantes:

Ao analisar a ênfase na Equação 5, para um gás ideal os parâmetros a e b são


0 e o Z = 1. Quando a contribuição da atração a for muito pequena e a contribuição
das forças repulsivas for representativa b, vamos observar que Z > 1. Já quando a
contribuição das forças atrativas a forem fortes e a contribuição das forças repulsivas
b forem pequenas, teremos que Z < 1 (ATKINS; JONES, 2012; ATKINS; PAULA,
2012).
Alguns desses coeficientes já estão tabelados (Tabela 1) e podem ser utilizados
em cálculos como no exemplo apresentado a seguir.

Tabela 1 – Valores dos parâmetros de van der Waals


Gás a (L2 • atm • mol-2) b (10-2 • L • mol-1)

Amônia 4,225 3,710


Argônio 1,355 3,200
Benzeno 18,57 11,93
Dióxido de carbono 3,658 4,290
Cloro 6,343 5,420
Etano 5,507 6,510
Hidrogênio 0,2452 2,650
Sulfeto de hidrogênio 4,544 4,340
Oxigênio 1,382 3,190
Água 5,537 3,050
Fonte: Adaptado de Atkins e Jones (2012).

4 REAÇÕES QUÍMICAS

4.1 Combustão

Nos processos de reações químicas, as ligações das moléculas reagentes são


quebradas e os átomos e elétrons são reorganizados nos chamados produtos. O
processo de combustão nada mais é do que uma reação química, onde a rápida
oxidação dos elementos químicos do combustível leva à liberação de energia durante
a reação, produzindo produtos como água, gás carbônico e outros gases.
Simplificando, os dois elementos químicos encontrados nos combustíveis
comerciais são o carbono e o hidrogênio, que originam o hidrocarboneto, que se ouve
falar com frequência. Esses elementos químicos são os principais reagentes nas
reações de combustão que acionam diversos tipos de motores e equipamentos.
Enxofre e outros produtos químicos também estão presentes nas reações de
combustão que pode ser observado na vida cotidiana, mas com menor frequência e
geralmente como "efeito colateral" da reação. (ATKINS, P. W.; JONES, L., 2012).
Os hidrocarbonetos são produtos derivados de fontes fósseis, o petróleo. Tais
matérias-primas são desenvolvidas em um processo que dura milhares de anos sob
certas condições geológicas, com pressão e temperatura adequadas. As
características rochosas, características ambientais e do local de desenvolvimento do
petróleo, afetam a qualidade do material extraído durante a produção e atrapalham o
processo de refino e, portanto, o combustível final (hidrocarboneto). Os exemplos mais
comuns de hidrocarbonetos usados nos dias atuais são gasolina, óleo diesel e gás
natural. Em estudos teóricos da energia produzida por esses elementos, é comum
representar os hidrocarbonetos de acordo com sua fração de massa (JESPERSEN;
HYSLOP; BRADY, 2017).
Essa representação pode ser usada para estimar a energia produzida pela
queima de um determinado combustível. Por exemplo, a gasolina é muitas vezes
modelada como octano com as seguintes partes em massa: C8 H18. Já o óleo diesel
é modelado como dodecano C12H26, e o gás natural como metano CH4. Conforme
explicam Çengel e Boles (2013), embora os combustíveis em si sejam misturas de
hidrocarbonetos diferentes, geralmente são considerados um só, com formulação
geral CnHm por conveniência, para facilitar a análise realizada.

Dependendo da quantidade de carbono e hidrogênio no combustível, diferentes


quantidades de energia são liberadas durante a combustão. Nesse contexto, é
necessário entender o conceito de combustão completa e incompleta. Diz-se que a
combustão está completa quando todos os reagentes estão completamente oxidados,
enquanto na combustão incompleta, alguns dos reagentes disponíveis não estão
completamente oxidados devido à falta de oxigênio, danos por falta de manutenção,
tempo de combustão insuficiente ou condições de projeto que não permitem a mistura
eficaz dos reagentes (KOTZ; TREICHEL JÚNIOR, 2005).

4.1.1 Combustíveis e a combustão

Dependendo das características geológicas da fonte de petróleo e do processo


de refino de hidrocarbonetos, é possível obter diferentes combustíveis com diferentes
composições químicas. Como dito anteriormente, os principais combustíveis utilizados
comercialmente são a gasolina, o óleo diesel e o gás natural. As proporções de
carbono e hidrogênio em qualquer combustível afetam diretamente seu valor calorífico,
ou seja, a energia gerada pela sua combustão (JESPERSEN; HYSLOP; BRADY,
2017).
A Tabela 1 mostra uma comparação energética entre alguns combustíveis
usados rotineiramente, além dos três acima. A coluna conteúdo de energia (kJ/L),
observa que o diesel pesado é o hidrocarboneto que produz mais energia quando
queimado, enquanto o gás natural comprimido (GNC) libera menos energia na reação
de combustão. Outra observação importante da Tabela 1 é que a energia produzida
durante a combustão é afetada não apenas pela proporção de reagentes, mastambém
pela fase em que há um hidrocarboneto e pelas condições de temperatura e pressão
(ATKINS, P. W.; JONES, L., 2012).
Por exemplo, GNV e gás natural liquefeito (GNL) consistem principalmente do
mesmo elemento, mas em condições diferentes, o que altera a relação de energia
gerada entre eles em cerca de 2,5 vezes. O GNC é frequentemente encontrado em
veículos e armazenado em cilindros na fase gasosa a uma pressão de 150 e 200 atm.
O GNL, por outro lado, está em fase líquida com temperatura próxima a -160°C. Ambos
são compostos principalmente por metano (além de outras concentrações como
etano, propano, hélio e vapor d'água), mas por estarem em fases e condições

de pressão e temperatura diferentes, a energia liberada é significativamente diferente


durante o processo de combustão (CHANG; GOLDSBY, 2013).

Tabela 1 – Energia de alguns combustíveis


Equivalência de
Conteúdo de
Combustível gasolina* (L/L-
energia (kL/L)
gasolina)

Gasolina 31.850 1

Diesel leve 33.170 0,96

Diesel pesado 35.800 0,89

GLP (gás liquefeito de


petróleo, principalmente 23.410 1,36
propano)

Etanol (ou álcool etílico) 29.420 1,08

Metanol (ou álcool etílico) 18.210 1,75

GNC (gás natural


comprimido,
8.080 3,94
principalmente metano, a
200 atm)
GNL (gás natural
liquefeito, principalmente 20.490 1,55
metano)

*Quantidade de combustível cujo conteúdo de energia pe igual ao


conteúdo de energia de 1L de gasolina.

Fonte: Adaptado de Çengel e Boles (2013).

De forma global, observa-se na coluna “Equivalência da gasolina (L/L-


gasolina)”, no Tabela 2, que gasolina, diesel leve e etanol liberam aproximadamente
a mesma quantidade de energia.

Tabela 2 – Propriedades combustíveis comumente usadas


Combustível Poder calorífico Poder calorífico
Fórmula
(fase) superior,3 kJ/Kg inferior,3 kJ/Kg
Metano (g) CH4 55.530 50.050
Metanol (l) CH4O 22.660 19.920
Acetileno (g) C2H2 49.970 48.280
Etano (g) C2H6 51.900 47.520
Etanol (l) C2H6O 29.670 26.810
Propano (l) C3H8 50.330 46.340
Butano (l) C4H10 49.150 45.370
1-Penteno (l) C5H10 47.760 44.630
Isopentano (l) C5H12 48.570 44.910
Benzeno (l) C6H6 41.800 40.100
Hexeno (l) C6H12 47.500 44.400
Hexano (l) C6H14 48.310 44.740
Tolueno (l) C7H8 42.400 40.500
Heptano (l) C7H16 48.100 44.600
Octano (l) C8H18 47.890 44.430
Decano (l) C10H22 47.640 44.240
Gasolina (l) CnH1,87n 47.300 44.000
Diesel leve (l) CnH1,8n 46.100 43.200
Diesel pesado (l) CnH1,7n 45.500 42.800
Gás natural (g) CnH3,8nH0,1n 50.000 45.000
Fonte: Adaptado de Çengel e Boles (2013).

Embora as proporções de carbono e hidrogênio sejam diferentes em sua


formação, a característica comum desses três combustíveis é que eles estão na forma
líquida. Combustíveis líquidos são frequentemente obtidos de óleo cru por destilação
e craqueamento, conforme explicam Moran et al. (2013). Além dos combustíveis
líquidos, os combustíveis na forma de hidrocarbonetos gasosos ou sólidos são
bastante comuns também.
O GNC mencionado acima é um exemplo de hidrocarbonetos gasosos obtidos
de poços de gás natural ou sinteticamente por meio de processos químicos. O carvão
é um exemplo de combustível sólido e, como outros, sua composição varia
consideravelmente dependendo de onde é extraído. Ao modelar e analisar a
combustão de diferentes combustíveis, a razão ar-combustível é um parâmetro que
expressa a quantidade de ar e combustível durante a combustão de forma
padronizada.
A razão ar-combustível, conforme o nome diz, é a razão entre a quantidade de
ar e a quantidade de combustível presentes em uma reação. Tal razão pode
considerar tanto a base mássica (AC) quanto a base molar, seus cálculos são
realizados seguindo as equações (2) e (3), respectivamente:

Onde m representa a massa e n a quantidade de mols. Desenvolvendo as


equações (2) e (3), é possível encontrar a relação entres ambas as variáveis como
sendo:

Onde Mar representa a massa molar do ar (28,97 kg/kmol) e Mcombustível


representa a massa molar do combustível (que depende do hidrocarboneto utilizado).
É comum encontrar também em alguns manuais e handbooks a recíproca da razão ar-
combustível, que é a razão combustível-ar. Esse parâmetro é obtido apenas
invertendo as equações (2), (3) e (4). No estudo da relação ar-combustível em uma
reação, outro conceito importante surge: o ar teórico.
A quantidade de ar teórico representa a quantidade mínima necessária para
que a combustão completa apresentada na equação (1) aconteça para determinado
hidrocarboneto. Nessa situação, conforme ressaltam Potter e Somerton (2017),
nenhuma quantidade de oxigênio livre aparece nos produtos.

O exemplo a seguir demonstra como fazer o balanço estequiométrico da


combustão completa do octano (usualmente considerado como gasolina) e como obter
a razão ar-combustível.

4.2 A oxidação

Entre as primeiras reações estudadas pelos pioneiros da química estavam as


que envolviam oxigênio. Provavelmente muitos exemplos de reações de combustão
devem ter sido citados ao longo dos anos, onde a queima de combustíveis e a reação
de metais com oxigênio produzem óxidos, que foram descritos sob o nome geral:
oxidação.
A remoção de oxigênio de óxidos metálicos para produzir metais puros foi
descrita pelo termo redução. Com o tempo, no entanto, os cientistas perceberam que
as reações envolvendo o oxigênio eram, na verdade, casos especiais do fenômeno
mais geral da transferência de elétrons de uma substância para outra. As reações que
envolvem a transferência de elétrons são chamadas coletivamente de reação de
oxirredução, ou simplesmente reação redox (BRADY; RUSSEL; HOLUM, 2002).
O termo oxidação foi usado para a perda de elétrons por um reagente, enquanto
a redução foi usada para o ganho de elétrons por outro reagente envolvido na mesma
reação química (ATKINS; JONES, 2012). Para ilustrar esses conceitos em uma reação
química, é possível utilizar a reação simples entre o sódio (Na) e o cloro (Cl),
envolvendo a perda de elétron pelo sódio (oxidação do sódio) e ganho de elétrons pelo
cloro (redução do sódio). A maneira da representação dessas mudanças em forma de
equação inclui os elétrons que serão perdidos e recebidos pelo símbolo de e-, como
segue:

Na → Na+ + e- (oxidação)
Cl2 + 2e- → 2 Cl- (redução)

Nesta situação, dizemos que o sódio é oxidado enquanto o cloro é reduzido.


Outra situação envolvendo a transferência de elétrons, é a reação entre zinco metálico
(Zn) e ácido clorídrico (HCl) é uma forma simples de produzir gás hidrogênio (H2) em
laboratório. A formação de H2(g) acontece quando os íons H+ (aq) em solução entram
em contato com um pedaço de zinco, aceitam elétrons do metal e tornam-se H2(g). A
corrosão do zinco acontece devido seus átomos, que estão presentes no sólido e
tornam-se íons Zn2+ (aq) ao perderem elétrons para os H+ (aq), deixando o sólido e
se transferem para íons H+ (aq), tornando-se íons Zn2+ (aq) deixando o sólido e em
seguida, se dissolvem. A reação química que ocorre pode ser equacionada da
seguinte forma:

Representando o elétron como e-, podemos indicar, nessa equação química, a


transferência de elétrons do zinco para os íons hidrogênios:

No exemplo a seguir, cada Zn perde 2 e-, e cada H+ ganha 2 e-. As equações


podem ser também representadas da seguinte forma:

Zn(s) → Zn2+ (aq) + 2 e-


2H+ + 2 e- → H2(g)

Oxidação e redução acontecem simultaneamente, não existindo uma sem a


outra, pois o total de elétrons perdidos por uma espécie química precisa ser igual ao
total de elétrons ganhos por outra espécie, ou seja, o número de elétrons permanece
inalterado (eles não aparecem, nem desaparecem) (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Assim, podemos somar ambas as equações, a oxidação do zinco e a redução do
hidrogênio, obtendo a equação global do processo:
Os conceitos de oxidação e redução são fáceis de aplicar na reação entre zinco
metálico com solução aquosa de ácido clorídrico, pois a transferência de elétrons do
Zn para o H+ é relativamente fácil de ser percebida. Existem, porém, processos de
oxirredução onde a transferência de elétrons não é tão evidente na equação química.
Exemplo disso, é o caso do processo representado por NH3 + O2 → NO + H2 O.
Casos assim mostram a necessidade de introduzir outro conceito afim de tornar
mais objetiva e clara a identificação da ocorrência de reações de oxirredução. Esse
conceito é o número de oxidação, introduzido na química para facilitar a análise de
processos de transferência de elétrons (POTTER, M. C.; SOMERTON, C. W., 2017).
A tabela 3 pode ajudá-lo a organizar seu raciocínio ao procurar por reações de
oxirredução e usar suas terminologias.

Tabela 3 – Reconhecendo reações de oxirredução


Oxidação Redução
Em termos do número de Aumento do número de Diminuição do número de
oxidação oxidação de um átomo oxidação de um átomo
Perda de elétrons por um Ganho de elétrons por um
Em termos de elétrons
átomo átomo
Ganho de um ou mais Perda de um ou mais
Em termos de oxigênio
átomos de O átomos de O
Fonte: Adaptado de Kotz e Treichel Júnior (2005, p. 154).

4.2.1 Número de oxidação

O número de oxidação (Nox) de um elemento em um composto particular é


obtido através de um conjunto de regras, que serão descritas mais adiante. No caso
de íons simples, monoatômicos, como NaCl, os números de oxidação são idênticos às
cargas relativas dos íons. Desse modo, o número de oxidação do Na+, no cloreto de
sódio, é Nox = +1, e o número de oxidação do Cl- é Nox = -1.
O que acontece por serem compostos iônicos, onde átomos de um elemento
metálico se unem a um elemento não metálico, envolvendo cátions e ânions que
compõem o retículo cristalino. Nestes, os átomos dos elementos que estão presentes,
de fato, estão sob a forma de íons. Sendo assim, é possível considerar que cada um
deles apresenta carga elétrica. As cargas elétricas dos íons de um elemento em um
composto iônico informam o número de oxidação desse elemento no composto
(ATKINS; JONES, 2012). Alguns exemplos de compostos iônicos além do NaCl são:
MgBr2, CaS e Al2 O3.

Como já foi mencionado, o Nox do NaCl, o MgBr2, o número de oxidação do


Mg é +2, e o do bromo é -1. No CaS, o número de oxidação do cálcio é +2, e o do
enxofre é -2. No Al2 O3, o número de oxidação do alumínio é +3, e do oxigênio é -2. A
grande utilidade do conceito do número de oxidação deve-se ao fato de também poder
ser aplicado a átomos em compostos moleculares, e não apenas a compostos iônicos
(JESPERSEN; HYSLOP; BRADY, 2017).
É válido compreender que nesses casos, o número de oxidação não refere-se
ao valor relativo de nenhuma carga de um átomo. Para ter certeza que não há
confusão entre números de oxidação e cargas elétricas reais, foi acrescido um sinal
que antecede o número quando for necessário escrever números de oxidação, e a
seguir do número quando for necessário representar cargas elétricas. Sendo assim,
um íon de sódio tem carga 1+, e o número de oxidação é Nox = +1. Termo utilizado
com frequência e que possui o mesmo significado de número de oxidação, é estado
de oxidação (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Recapitulando o exemplo do NaCl, onde o sódio tem Nox = +1, pode-se dizer
que ele está em estado oxidado +1. De modo parecido, é possível referir que o cloro,
no mesmo composto, está em estado de oxidação -1. Algumas vezes, é conveniente
deixar especificado o estado de oxidação de um elemento ao se escrever seu nome,
colocando o número de oxidação em algarismos romanos entre parênteses, após o
nome do elemento. Por exemplo: o mineral ferro (III), que representa ferro no estado
de Nox = +3. Tendo desses termos novos já definidos, é possível utilizá-los com intuito
de determinar a reação de oxirredução – uma reação de oxirredução é uma reação
química onde ocorrem variações nos números de oxidação. O Nox é definido da
seguinte forma (ATKINS; JONES, 2012):

• A oxidação corresponde ao aumento do número de oxidação.


• A redução corresponde à diminuição do número de oxidação.

Assim, fica claro analisar reações de oxirredução observando as variações nos


números de oxidação. No entanto, deve-se existir algum procedimento simples, afim
de associar números de oxidação a átomos.

4.2.2 Determinação dos números de oxidação (Nox)

Como já mostrado anteriormente, é possível determinar o número de oxigênio


de um elemento observando a fórmula na qual ele é encontrado. Se não for tão óbvio,
é necessário procurar por uma variação no estado de oxidação do elemento durante
a reação. O Nox de um átomo em um íon ou molécula é definido como a carga que o
átomo tem, ou parece ter, de acordo com algumas regras para atribuição de números
de oxidação. (KOTZ; TREICHEL JÚNIOR, 2005).
É importante que haja compreensão da lógica envolvida em cada uma das
regras, tornando mais fácil sua assimilação. Essas regras são:

1ª regra
O número de oxigênio de cada átomo de um elemento (ou substância simples)
é zero, porque como todos os átomos são do mesmo elemento químico, não há
diferença de eletronegatividade entre eles e, portanto, o número de oxigêniodo
elemento é zero. Exemplos incluem substâncias simples que são formadasa
partir de elementos metálicos (ou substâncias metálicas): Au, Ag, Cu, Fe, Pb,
Zn, entre outros. Como exemplos de substâncias simples e formadas por
elementos não metálicos (portanto, substâncias moleculares), é possível citar
H2, O2, N2, F2, Cl2, Br2, I2, S8, C (diam), C (graf), entre outros.

2ª regra
Para íons monoatômicos, o número de oxidação é igual à carga do íon.
Elementos dos grupos periódicos 1A-3A formam íons monoatômicos com carga
positiva e número de oxidação igual ao número do grupo. O Mg forma o íon
Mg2+ e, portanto, seu Nox = +2.

3ª regra
O flúor sempre terá o Nox = -1 presente em seus compostos.

4ª regra
Br, Cl e I sempre têm Nox = -1 nos compostos, exceto quando combinados com
oxigênio e flúor. Ou seja, o Cl tem Nox = -1 em NaCl (onde Na é +1, conforme
foi previsto de acordo de que ele é um elemento do grupo 1A). Porém, no íon
ClO-, o Cl tem Nox +1 (oxigênio tem Nox = -2). Justificando a próxima regra.

5ª regra
O Nox do H é +1, e do O é -2 na maior parte dos seus compostos. Embora a
regra se aplique a um número de compostos enorme, existem importantes
exceções. Sobre o hidrogênio e seus compostos — compostos químicos
(substâncias compostas) são formados por dois ou mais elementos químicos.
Quando o hidrogênio se liga aos não metais (o que ocorre por ligações
covalentes, exemplo A, onde são mais eletronegativos que ele, a atração será
menos intensamente o elétron do que o outro elemento ligado). Assim, seu Nox
será +1. Ao ligar-se aos metais, formando os hidretos metálicos (exemplo B), o
hidrogênio, por ser mais eletronegativo que eles, terá Nox = -1.
Assim, podemos enunciar que: o Nox do hidrogênio em seus compostos é +1,
exceto nos hidretos metálicos, em que Nox = -1. No caso de CaH2, o Nox do
Ca é +2 (igual ao número do grupo), e o do H é Nox = -1.

Sobre o oxigênio e seus compostos — O oxigênio está no grupo 16 (ou 6A) da


tabela periódica. Apresenta 6 elétrons na camada de valência e completa o
octeto ao receber ou compartilhar 2 elétrons. No caso de ligação iônica, o
oxigênio recebe dois elétrons para completar o octeto e transforma-se em íon
O2- (íon óxido), adquirindo o número de oxidação -2 (Nox = -2). É, por exemplo,
o caso dos óxidos iônicos Na2 O e CaO (exemplos C e D).

No caso de ligação covalente, o oxigênio recebe dois elétrons para completar


o octeto. Porém, como o oxigênio só não é mais eletronegativo que o flúor, ao
combinar-se com os demais elementos, os elétrons compartilhados são
atraídos mais intensamente do que o outro átomo ligado, ficando com Nox = -
2. É o que acontece em H2 O e CO2 (exemplos E e F).

De acordo com Potter e Somerton (2017), o oxigênio em substâncias


compostas adquire, em geral, número de oxidação -2. Porém, ao se ligar ao
flúor, a situação se inverte porque o flúor é mais eletronegativo que o oxigênio.
No OF2, portanto, o número de oxidação do oxigênio será Nox = +2. Outra
situação que destoa do valor -2 para o oxigênio é nos peróxidos. O H2 O2,
peróxido de hidrogênio, comercializado em solução aquosa com o nome de
água oxigenada, é um peróxido molecular cuja estrutura está ilustrada no
exemplo G.
Por causa dessa estrutura, o número de oxidação do oxigênio é -1. O oxigênio
é mais eletronegativo que o hidrogênio, mas se iguala com o outro oxigênio. Na
estrutura dos peróxidos dos metais alcalinos e alcalinos- -terrosos (exemplo H
e I), existe o íon O2 2- (íon peróxido). Já que, nesse íon, dois átomos de oxigênio
têm carga 2-, concluímos que cada um tem Nox = -1.
Assim, podemos generalizar que o Nox do oxigênio em seus compostos é -2.
Com exceção do fluoreto de oxigênio, OF2, em que é Nox= -2, e os peróxidos,
em que é -1.

6ª regra
A soma algébrica dos números de oxidação do composto neutro deve ser zero.
Uma molécula é uma espécie quimicamente neutra. Como os elétrons não
aparecem ou desaparecem, uma carga negativa também deve ser determinada
para cada carga positiva em uma molécula. Em outras palavras, se for somado
os números de Nox de todos os átomos da molécula, a resposta é
necessariamente zero. Veja os exemplos J e L.

Um composto iônico como um todo é um grupo de cátions e ânions que


possuem cargas elétricas distintas: os cátions são positivos e os ânions são
negativos. No entanto, o número total de cargas positivas deve equilibrar o
número total de cargas negativas, gerando resultado eletricamente neutro em
um composto, ou seja, onde a carga total é zero.
7ª regra
Em um íon poliatômico, a soma deve ser igual à carga do íon. Essa regra, assim
como a anterior, utiliza a mesma ideia de contabilizar elétrons. Se a sua espécie
é eletricamente neutra, a soma dos números de oxidação dos átomos que a
compõem será igual a zero, que é a carga total da espécie. Por outro lado, se
estamos diante de uma espécie química eletricamente carregada, como NO3 -
, SO4 2-, PO4 3-, O2 2- e NH4 +, a soma de todos os números de oxidação
deve resultar na carga elétrica dessa espécie química. Veja os exemplos M e
N.

5 GRANDES PERSONAGENS DA QUÍMICA

5.1 Robert Boyle

Robert Boyle, nascido na Irlanda no ano de 1627 e falecido em 1691 (Figura 1),
foi responsável por levar à química moderna orientações de métodos baseados em
precisão de medidas e em racionalidade de deduções experimentais. O irlandês
recomendou a publicação detalhada de artigos científicos e que experimentos fossem
aplicados de forma controlados para provar os fatos, relatando tanto perspectivas
quantitativas quanto qualitativas. Foi ele o responsável por retirar o prefixo alchemy,
que significa alquimia, e então, a partir daquele momento passou a ser chamado de
chemistry, a química que se conhece hoje, por ter assumido um verdadeiro caráter
científico, um discurso cada vez mais quantitativo e concreto. Seu conceito foi
confirmado no livro The Sceptical Chymist publicado em 1661.

Figura 1 – Robert Boyle


Fonte: https://bityli.com/Zlevc

Em seu trabalho, ele discorda da teoria que fala sobre os quatro elementos de
Aristóteles (ar, água, terra e fogo) e os três princípios propostos por Paracelso(enxofre,
mercúrio e sal). Trabalhando com Robert Hooke, o cientista Boyle construiu uma
bomba pneumática, sua função era impossibilitar a obtenção de um vácuo
absoluto. Fazendo a análise do ar, Boyle descobriu que funcionava como um meio de
propagar o som, pois consistia em minúsculas partículas movendo-se no vácuo,
descobriu também que o volume se modifica, sendo inversamente proporcional à
pressão em que ele é submetido, e então, a lei passou a levar seu nome. O cientista
também foi fundador e patrono da Royal Society of London, que pagou pela publicação
do Principia de Isaac Newton (ÇENGEL, 2013).

5.2 Antoine Lavoisier

Nascido no ano de 1743 e falecido em 1794 (Figura 2), ficou conhecido como pai
da química moderna, considerado também o maior químico de experimentos antesdo
cientista Michael Faraday. Antoine Lavoisier foi incrivelmente prolífico, chamou os
elementos de oxigênio, carbono e hidrogênio, também descobriu o papel do gás
oxigênio para a respiração e também na combustão, dizia sempre que a água tratava-
se de um composto de oxigênio e hidrogênio, além de ter previsto a presença de silício.

Figura 2 – Antoine Lavoisier


Fonte: https://bityli.com/Zlevc

Boyle descobriu que o enxofre era um elemento, e auxiliou na modificação da


química, migrando do que era uma ciência considerada qualitativa para uma ciência
considerada quantitativa. Além disso, ele auxiliou na construção do sistema métrico,
compilou a primeira lista dos elementos químicos e auxiliou também a reformar a
nomenclatura química. Mais tarde, descobriu que embora a substância mudasse de
forma, a massa permaneceria a mesma, algo que em seguida foi capturado na frase
popular, onde diz que em uma reação química realizada em recipientes fechados, a
soma das massas dos reagentes presentes, é exatamente igual a soma das massas
dos produtos.
Além de pesquisas científicas, o químico também atuou em outras áreas, aos
26 anos, fez a compra de uma empresa que realizava arrecadação de impostos para
o governo da França e então, tentou reformar as leis tributárias afim de auxiliar
contribuintes mais necessitados. Lavoisier também serviu na comissão de pólvora do
governo, o que melhorou muito a qualidade da pólvora na França.
No ano de 1794, ele foi executado por revolucionários da Revolução Francesa,
e as acusações contra o químico incluíam roubar o dinheiro do tesouro da França e
por fim entregá-lo aos inimigos franceses. Lavoisier foi guilhotinado até a morte em
Paris aos 50 anos de idade (CHANG, 2013).

5.3 John Dalton

John Dalton, nascido no ano de 1766 e falecido em 1844 (Figura 3), foi um dos
primeiros cientistas que argumentou sobre a matéria ser composta por partículas
pequenas, chamadas de átomos.
Figura 3 – John Dalton

Fonte: https://bityli.com/Zlevc

As observações experimentais que o cientista fez, permitiram que ele pudesse


desenvolver uma teoria a respeito da mistura de gases e vapor d’água, em 1801,
publicou a lei da pressão parcial: numa mistura gasosa, cada um dos componentes
exerce pressão igual, como se estivesse sozinho dentro do recipiente que o contém.
Dalton, então, concluiu que não apenas os gases, mas também toda a matéria, deve ser
composta por partículas pequeninas. Sendo assim, ele reviveu a velha teoria atômica e
produziu a primeira tabela de pesos atômicos, que foi publicada em 1803.
Nessa teoria atômica, Dalton afirmou que todos os átomos de um elemento
particular eram idênticos. Átomos de elementos distintos possuem propriedades
diferentes, ou seja, têm massas diferentes e reações químicas diferentes. Seusátomos
não podem ser destruídos ou criados divididos. Sabe-se que átomos do mesmo
elemento podem ter massas diferentes (isótopos) e também podem dividir-se em
reações nucleares, embora a maior parcela da teoria atômica, possua mais de 200anos
desde que Dalton a descreveu pela primeira vez. Essa é a base onde a química
moderna foi construída (NETZ; ORTEGA, 2014).

5.4 Amedeo Avogadro

Avogadro, nascido no ano de 1776 e falecido em 1856 (Figura 4), foi


responsável por impulsionar a Física e a Química para patamares elevados pela
criação de leis bastante conhecidas e muitas vezes chamadas de hipóteses, o que é
digno de enaltecimento pois Avogadro viveu na época em que os termos “átomo” e
“molécula” eram usados de forma alternada.
Figura 4 – Amedeo Avogadro

Fonte: https://bityli.com/Zlevc
Então, ele tentou organizar, dando continuidade onde Gay-Lussac e Dalton
pararam. Nesse processo, Avogadro iniciou uma era nova da física de partículas, e as
pesquisas estavam bastante avançadas, quando relacionadas ao seu tempo, que os
demais não demonstraram interesse. Então, apenas após três anos, quando Ampère
redescobriu algumas dessas pesquisas, que passaram a reconsiderá-las. Diversos
experimentos de Química Orgânica conduzidos logo em seguida por Auguste Laurent
e Charles-Frédéric Gerhardt, confirmaram a afirmação de Avogadro, onde dizia que
todos os gases de volumes iguais, continham o mesmo número de moléculas, ou seja,
a temperatura e pressão eram constantes.
Muitos anos passariam desde que as realizações de Avogadro fosse totalmente
e profundamente apreciadas, porém, as contribuições desse químico foramsuficientes
para consolidar-se como um dos fundadores da Teoria Molecular. Para homenageá-
lo, o número de átomos em um mol de qualquer substância, passou a serconhecido
como constante de Avogadro, cujo valor corresponde a 6,02214076 x 1023.Amedeo
Avogadro não realizou o cálculo deste número, porém, a existência dele decorre
logicamente de sua hipótese e trabalho (HAYT; BUCK, 2017).

5.5 Joseph Louis Gay-Lussac

Joseph Louis Gay-Lussac, nascido no ano de 1778 e falecido em 1850 (Figura


5), mostrava sempre uma curiosidade insaciável, tal característica que o predispôs a
se tornar um dos maiores cientistas do século XIX.
Figura 5 – Joseph Louis Gay-Lussac

Fonte: https://bityli.com/Zlevc
Sendo assim, com o auxílio de balões repletos de hidrogênio, seu intuito era
subir quilômetros acima do nível do mar, afim de colher amostras de ar fresco para
realizar análises, que foram diversas, diga-se de passagem. Tais análises levaram a
descoberta de que quando os gases reagem a pressão e temperatura constantes,
combinam-se em volumes que se encontram em proporções simples e ao volume do
produto, quando em estado gasoso. Esse experimento ficou conhecido como a Lei de
combinação de volumes de Gay-Lussac, e pôde fornecer pistas que inspiraram
Avogadro na apresentação de sua hipótese inovadora, após novas pesquisas.
Além de pesquisar sobre gases, Gay-Lussac realizou diversas contribuições
notáveis para a química, como a descoberta do boro com Louis Jacques Thénard e
Humphry Davy. Em paralelo, colaborou com Alexander von Humboldt, descobrindo
que a água era composta por duas moléculas de hidrogênio e uma molécula de
oxigênio por volume, obtendo a sigla H2O. Também trouxe termos como pipeta e
bureta após o desenvolvimento de versões aprimoradas de ambos. Suas análises
quantitativas de álcoois fizeram com que diversos países adotassem “graus Gay-
Lussac” como uma medida percentual por volume padrão para fazer referência ao
etanol (CHANG, 2013).

5.6 Humphry Davy

Na passagem do século XIX, a eletricidade estava na moda. Pessoas


dedicavam-se a produzir baterias e sempre as conectavam em qualquer coisa, apenas
para ver o que acontecia. Pode-se dizer que a eletricidade era como uma espécie nova
de fogo, e um dos cientistas mais viciados em baterias desse período era Humphry
Davy, nascido no ano de 1778 e falecido em 1829 (Figura 6), químico inglêsautodidata.
No ano de 1807, Davy realizava um experimento, onde derreteu carbonato de
potássio, mineral encontrado facilmente no solo e que constitui parte das cinzas de
madeira. Nenhum químico conseguia provar, mas especulavam muito que o carbonato
de potássio podia ser um tipo de composto formado por diversos elementos, e Davy
queria testar se a eletricidade obteria essa resposta, então, instalou fios em uma das
baterias maiores e conectou ao carbonato de potássio que havia derretido, logo, o
potássio puro começou a aparecer. Davy acabara de descobrir o poder que a

eletricidade possui ao reagir com substâncias químicas e ser capaz de transformá-las.

Figura 6 – Humphry Davy

Fonte: https://bityli.com/Zlevc

Em consequência, a eletroquímica teve seu espaço, lançando uma indústria de


alumínio e produzindo painéis solares, semicondutores, mostradores digitais e até
baterias de lítio recarregáveis. O curioso foi que Michael Faraday, assistente de
laboratório de Humphry Davy, foi quem desenvolveu o trabalho e se tornou mais
famoso e ainda mais influente que o próprio cientista (HAYT; BUCK, 2017).

5.7 Jacob Berzelius

Assim como Boyle e Lavoisier, Jacob Berzelius, nascido no ano de 1779 e


falecido em 1848 (Figura 7).
Figura 7 – Jacob Berzelius

Fonte: https://bityli.com/Zlevc

Foi considerado um dos fundadores da química moderna, por ter sido de fato a
primeira pessoa a conseguir medir pesos atômicos de forma bem mais precisa para
os elementos, fato esse que ajudou a confirmar a Teoria Atômica de Dalton, e assim,
tornou-se base da tabela periódica de Mendeleev. Além disso, dentre tantas
descobertas, uma das mais interessantes, foi a de três elementos, chamados de cério,
tório e selênio, conseguiu identificar e nomear o famoso fenômeno da catálise, então
descreveu como as ligações químicas podem formar-se por atração eletrostática,
chamadas hoje em dia de ligações iônicas.
Berzelius também auxiliou a fazer com que a química fosse mais sistemática,
pois na sua época, os elementos possuíam nomes diferentes de acordo com a língua
nativa da região de cada cientista envolvido. Logo, não era comum uma abordagem
consistente, então, Berzelius fundou o sistema que é usado na atualidade, onde é
empregado uma ou mais letras com o intuito de representar os elementos (Tabela 1)
(HAYT; BUCK, 2017).

Tabela 1 – Elementos em línguas diferentes e simbologia

Sueco Alemão Francês Latim Símbolo

FERRO Järn Eisen Fer Ferrum Fe

MERCÚRIO Kvicksilver Quecksilber Mercure Hydrargyrum Hg

ESTANHO Tenn Zinn Étain Stannum Sn

5.8 Michael Faraday


Michael Faraday, nascido no ano de 1791 e falecido em 1867 (Figura 8), foi
experimentalista e foi descrito como o melhor experimentalista em toda a história da
ciência, pois mesmo que não conhecesse sobre matemática avançada, como cálculo
infinitesimal, se destacou. Suas grandes contribuições para a ciência resultaram em
um impacto generoso no que se refere ao entendimento do mundo natural. Sua
atuação na área da química, foi ele o responsável pela descoberta do benzeno, além
de ter produzido os primeiros cloretos de carbono já conhecidos: C2Cl4 e C2Cl6,
também auxiliou na expansão dos fundamentos da metalografia e da metalurgia.
Todas as experiências de Faraday garantiram o sucesso na liquefação de gases antes
nunca liquefeitos, como o cloro e o dióxido de carbono, por exemplo. Tornando
possíveis novas metodologias de refrigeração, onde os princípios continuam sendo
utilizados nos refrigeradores domésticos mais modernos que se tem na atualidade.

Figura 8 – Michael Faraday

Fonte: https://bityli.com/Zlevc

Talvez, a maior contribuição que pudesse ter, seria a de fundar virtualmente a


eletroquímica em parceria com seu mentor Humphry Davy, podendo descobrir as leis
da eletrólise, que têm seu nome, e criando novos termos como ânodo, catodo,
eletrodo, eletrólito e íon, por exemplo. Faraday nasceu em uma família muito humilde,
e conseguiu tornar-se um dos maiores cientistas de toda a história. Tal realização foi
notável na época em que a ciência era bastante seletiva e geralmente acessível
apenas à pessoas nascidas em famílias ricas. Assim sendo, a unidade de capacitância
elétrica passou a ser denominada farad, como forma de homenagear o cientista
(HAYT; BUCK, 2017).

5.9 Dmitri Mendeleev


Dmitri Mendeleev, nascido no ano de 1834 e falecido em 1907 (Figura 9), foi
perdidamente apaixonado pela química, e o desejo mais profundo que ele tinha, era
de encontrar alguma maneira que fosse melhor para organizar determinadas áreas da
ciência. Esse desejo fez com que ele descobrisse a lei periódica e criou a famosa
tabela periódica, um dos símbolos mais icônicos da ciência. Os impactos que os
trabalhos de Mendeleev teve na história da química e da física foram gigantescos,
porque com o auxílio deles, tudo ficou mais simples e fácil, como antecipar as
propriedades, os comportamentos e a natureza, não somente dos elementos, mas
também de suas misturas e compostos.

Figura 9 – Dmitri Mendeleev

Fonte: https://bityli.com/Zlevc

Nos dias atuais, qualquer estudante que entenda sobre como funciona a tabela
periódica, provavelmente dirá que tem pouco ou até mesmo nenhum problema na
compreensão de outros aspectos relacionados à química. Outras contribuições
bastante importantes, porém, menos conhecidas, Mendeleev fez para os campos da
geologia, meteorologia e também para hidrodinâmica. Além de implantar o sistema
métrico de medições na Rússia, Mendeleev auxiliou na fundação da Sociedade
Química Russa, a famosa cratera lunar Mendeleev e o elemento transurânico
radioativo chamado mendelévio, levam seu como como forma de reconhecimento e
homenagem (NETZ; ORTEGA, 2014).

5.10 Marie Curie

Em 1896, Henri Becquerel conduziu diversos experimentos com o intuito de


verificar se vários minerais eram capazes de emitir radiação, e a partir desses
experimentos, Becquerel pôde provar conclusivamente que descobrira a fonte dos
raios radioativos tão misteriosos e que os cientistas tanto procuravam: o tal urânio.
Logo em seguida, a pesquisa referente a radioatividade foi levada adiante por Marie
Curie, nascida no ano de 1867 e falecida em 1934 (Figura 10), e por seu marido Pierre
Curie.

Figura 10 – Marie Curie

Fonte: https://bityli.com/Zlevc

Ambos assumiram a tarefa de isolar todos os elementos que pudessem ser


responsáveis pela radioatividade do minério de urânio, e durante dois anos
aproximadamente, o casal ferveu, filtrou e processou muitas toneladas de minério de
urânio. Quando finalmente conseguiram fazer o isolamento de dois novos elementos
contidos no minério: o rádio e o polônio. Marie Curie concluiu que o rádio era cerca de
um milhão de vezes ainda mais radioativo que o urânio, e então, determinou que a tão
misteriosa forma de energia que era capaz de permitir que a radioatividade penetrasse
em vários outros materiais, não era o resultado de algum processo químico, mas sim
de um processo atômico.
No então, infelizmente, suas descobertas resultaram em um preço bastante alto,
pois naquela época, não era conhecido sobre os perigos da exposição à
radioatividade, e em 1934 Marie Curie faleceu de leucemia, muito provável que toda
a intoxicação tenha sido causada pela radiação excessiva. Desde as descobertas de
Becquerel, Marie Curie e Pierre, foi ensinado muito sobre a radioatividade, dando
possibilidade de se obter diagnósticos por imagem, chances de tratamentos para
tumores, metodologia para calcular a idade do planeta Terra, além de ser uma grande
fonte energética para que as espaçonaves pudessem explorar todo o Sistema Solar
(NETZ; ORTEGA, 2014).

5.11 Gilbert Lewis

No início do século XX, os cientistas almejavam entender sobre o mecanismo


que pudesse permitir que átomos de determinados elementos se combinassem com
átomos de elementos distintos, para assim formar substâncias novas. O químico norte
americano Gilbert Lewis, nascido no ano de 1875 e falecido em 1946 (Figura 11),
conseguiu desenvolver um modelo de átomo que foi capaz de fornecer tal resposta.
Assim, ele pôde explicar que elétrons e ligações químicas de átomos não estavam no
núcleo, mas que os elétrons orbitam em camadas que o rodeiam.

Figura 11 – Gilbert Lewis

Fonte: https://bityli.com/Zlevc

Nesse modelo atômico, cada uma das camadas permitia exclusivamente um


número máximo de elétrons, e apenas dois elementos químicos poderiam combinar-
se entre si para formar um novo composto, ao ceder ou aceitar elétrons de seus
orbitais externos. Segue exemplo: um único átomo de sódio passa a ceder o elétron
de sua última camada, enquanto a última camada do átomo de cloro o aceita. A
ligação é permitida quando essa troca que ambos realizam, acontece, e então podem
formar o composto cloreto de sódio, conhecido como o sal de cozinha.
Chamada de ligação covalente, foi descoberta por Gilbert Lewis e pôde permitir
que os cientistas começassem a realizar milhões de novos compostos químicos, que
moldaram a face da vida moderna. Lewis também contribuiu com muito sucesso para
a fotoquímica, termodinâmica química e separação isotópica, também é conhecido
pelo conceito de bases e ácidos, embora tenha sido indicado por 41 vezes para o
Prêmio Nobel de Química, Lewis nunca o ganhou, o que resultou numa grande
polêmica e injustiça na premiação (ÇENGEL, 2013).

5.12 Linus Pauling

Linus Pauling, nascido no ano de 1901 e falecido em 1994 (Figura 12), foi muito
aclamado e dito como um dos mais importantes cientistas que já existiram. Ele
essencialmente inventou, sozinho, o que conhecemos hoje em dia como a biologia
molecular, o estudo de ácidos e proteínas no organismo. Foi o pioneiro no que diz
respeito à aplicação da mecânica quântica em química, e no ano de 1954, Linus
Pauling recebeu a premiação do Nobel de Química pelo trabalho relativo à natureza
das ligações químicas. Durante o período que realizou suas investigações, esteve
muito próximo da descoberta das estruturas em hélice dupla do DNA, tal descoberta
aconteceu mais tarde por James Watson e Francis Crick, apenas no ano de 1953.

Figura 12 – Linus Pauling

Fonte: https://bityli.com/Zlevc
O cientista ainda é referenciado como sendo um acadêmico versátil, pela sua
intervenção e perícia em diversos campos como a química orgânica e inorgânica,
anestesiologia, imunologia, metalurgia, psicologia e radioatividade, o que trouxe
contribuições especialmente significativas nas fronteiras entre as ditas áreas. Pauling
também recebeu o Nobel da Paz no ano de 1962, pela campanha que fez contra testes
nucleares, sendo o único a receber duas premiações do Nobel sem compartilhamento.
Outras personalidades que receberam duas premiações foram Marie Curie – física e
química, Frederick Sanger – ambos de química e John Bardeen – ambos de física
(CHANG, 2013).

6 LEIS PERIÓDICAS

6.1 Átomo e suas partículas

Em meados do século 20, experimentos de cientistas como John Dalton,


Joseph John Thomson, Ernest Rutherford e Niels Bohr criaram um modelo do átomo
que continua sendo a base da teoria atômica moderna. As teorias atômicas foram
baseadas na descoberta das leis químicas, a lei da conservação da massa e a lei das
proporções constantes ou quantitativas. Esse momento da química foi decisivo para
o conceito de matéria composta por átomos, pois antes disso o conceito de átomo
nada mais era do que especulação filosófica, que teve pouco uso científico até a
descoberta dessas duas leis (BRADY; HOLUM; RUSSEL, 2002).
Segundo as teorias atômicas, podemos definir um átomo a partir de três
partículas subatômicas: prótons eletricamente positivos, nêutrons eletricamente
neutros e elétrons eletricamente negativos. O modelo coloca prótons e nêutrons mais
massivos em um núcleo muito pequeno, o que significa que o núcleo contém toda a
carga positiva e quase toda a massa do átomo. Os elétrons, que têm massa bem
menor que as outras duas partículas atômicas, envolvem o núcleo e ocupam a maior
parte do volume do átomo, formando uma esfera elétrica, cujo nome é eletrosfera. Um
átomo não tem carga líquida, as cargas positivas dos prótons e as cargas negativas
dos elétrons se equilibram. A proporção de cargas positivas para negativas em um
átomo é a mesma para átomos neutros porque o número de prótons no núcleo é igual
ao número de elétrons fora do núcleo (KOTZ; TREICHEL, 2005). A Figura 1 mostra a
estrutura geral de um átomo.

Figura 1 – Representação da estrutura atômica geral


Fonte: https://bityli.com/uLwfq

A matéria, como normalmente a observamos na natureza, consiste em átomos


de elementos químicos e aparenta ser eletricamente neutra. Um elemento químico se
distingue pelo número de prótons no núcleo de seus átomos, pois todos os átomos de
um mesmo elemento químico contêm o mesmo número de prótons. O que significa
que cada elemento está associado a um número atômico característico, que é
idêntico ao número de prótons no núcleo de qualquer um de seus átomos, ou seja, o
número atômico é igual ao número de prótons. O número atômico é representado pela
letra Z. Assim, um elemento químico é um grupo de átomos que possuem o mesmo
número de prótons, ou seja, o mesmo número atômico (ATKINS; JONES, 2012).
Os elementos químicos são caracterizados por seu número atômico, nome e
símbolo. O símbolo é representado pela primeira letra de seu nome em latim e em
letras maiúsculas. Se dois ou mais elementos tiverem a mesma letra inicial, uma letra
minúscula será adicionada (BRADY; HOLUM; RUSSEL, 2002). A Tabela 1 lista alguns
elementos químicos com seus símbolos e números atômicos.

Tabela 1 – Caracterização do elemento químico


Elemento químico Símbolo Número atômico
Hidrogênio H 1
Hélio He 2
Enxofre S 16
Prata Ag 47
Ouro Au 79

O número atômico de um elemento deve ser indicado à esquerda e abaixo de


seu símbolo, como segue:
1H 16S 79Au
Além do número atômico, um átomo pode ser identificado pelo número de
massa, que indica o número de prótons e nêutrons no núcleo de um átomo e é indicado
pela letra A. O número de massa deve ser mostrado no canto superior esquerdo do
símbolo do elemento da seguinte forma:

A apresentação anterior corresponde ao elemento cloro de símbolo Cl e número


atômico 17 (Z = 17), que representa o número de massa 37. Este átomo é composto
por 17 prótons (número atômico Z = número de prótons), 17 elétrons (o átomo é
eletricamente neutro) e 20 nêutrons. A diferença entre A (número de massa) e Z, dá o
número de nêutrons no átomo.
No entanto, nem todos os elementos com o mesmo número atômico têm o
mesmo número de massa. Quando os elementos com o mesmo número atômico têm
o mesmo número de prótons, mas diferentes números de nêutrons, eles são
chamados de isótopos do elemento químico. Os isótopos são identificados colocando
o número de massa após o nome do elemento químico da seguinte forma:

A Figura 2 demonstra os isótopos de carbono.

Figura 2 – Representação dos isótopos dos carbonos 12, 13 e 14

Fonte: Adaptado de Designua/Shutterstock.com

É possível destacar que, dentre todos os elementos conhecidos, apenas os


isótopos do elemento hidrogênio (H) recebem nomes particulares.
A determinação da massa dos elementos e de seus isótopos ocorre através da
soma do número de prótons e do número de nêutros:
Número atômico (Z) é o número de prótons presentes no núcleo de um
átomo. Número de massa (A) é a soma do número de prótons (Z) e de nêutrons

(n) presentes no núcleo de um átomo, expresso matematicamente da seguinte forma:


A = Z + n. O número de massa não tem unidade (é adimensional), sendo apenas o
número de núcleos.

6.2 A estrutura do átomo

6.2.1 Teoria atômica de Dalton

A seguir, de início, as propriedades atômicas principais definidas por Dalton:

• O átomo é maciço, indivisível e indestrutível.


• Átomos iguais são do mesmo elemento químico.
• Quando átomos de elementos distintos se combinam afim de formar novos
compostos, são formadas partículas um pouco complexas, onde os átomos
constituintes estão sempre presentes com a mesma razão numérica e também
em quantidades (ÇENGEL, 2013).

6.2.2 Teoria atômica de Thomson

Thomson propôs o modelo conhecido como pudim de passas analisando


experimentos com descargas elétricas (em pequenas quantidades) de gases raros
onde era evidente a presença de cargas positivas e negativas em um átomo. Assim,
o átomo seria uma enorme esfera positiva e descontínua com cargas negativas,
intercaladas com cargas positivas em números iguais para tornar o átomo
eletricamente neutro (KOTZ, 2005).

6.2.3 Teoria atômica de Rutherford

A descoberta dos nêutrons rejeitou em definitivo o modelo rígido da esfera. Ele


descobriu ainda que o átomo consiste em uma região central chamada núcleo e uma
região fora do núcleo chamada eletrosfera. O núcleo atômico teria partículas positivas,
prótons, e a esfera elétrica teria partículas negativas, elétrons. Para chegar nessas
conclusões, Rutherford estava realizando um experimento que bombardeou lâminas
de ouro com partículas α (dois prótons e dois nêutrons) (KOTZ, 2005).
6.2.4 Teoria atômica de Rutherford-Bohr

Bohr aprimorou o modelo experimental de Rutherford, e partindo dos estudos


do químico, considerou que o elétron se movimentava ao redor de seu núcleo como
algo semelhante a um planeta em sua órbita em torno do sol. Tal teoria fundamenta-
se em três postulados:

• Os elétrons descrevem, em torno do núcleo, órbitas em círculos, com


energia determinada e fixa. Essas órbitas chamam-se camadas, níveis
ou orbitais.
• Os elétrons se movimentam pelos orbitais, e assim não emitem energia
espontânea.
• Quando um elétron recebe energia do exterior suficiente, salta para uma
outra órbita. Após recebê-la, o elétron retorna à órbita original, onde
devolve a energia que recebeu no formato de luz ou de calor. A energia
recebida que foi devolvida é igual à diferença energética dos orbitais
onde o salto aconteceu (esse é o princípio de emissão luminosa e
colorida dos fogos de artifícios).

O modelo de Rutherford-Bohr está longe de ser perfeito, porém, demonstra


duas principais ideias que estão envolvidas no estudo do atual modelo, a saber: os
elétrons existem somente em órbitas de energia discretas, descritas por números
quânticos e sua energia é transferida de um elétron para outra órbita (Figura 3)
(ÇENGEL, 2013).

Figura 3 – Evolução da estrutura atômica geral

Fonte: Adaptado de Nasky/Shutterstock.com


6.3 Configuração eletrônica do átomo

Para estudar a localização dos elétrons, é mais fácil para os cientistas estudar
o elétron em função energética. Por esse motivo que é usado a ideia de nível
energético ou orbital, que é a região onde temos probabilidade maior de encontrar um
elétron.
Os elétrons não são encontrados em nenhuma posição na eletrosfera. Eles
orbitam o núcleo e são chamados de camadas eletrônicas indicadas pelas letras K, L,
M, N, O, P e Q do núcleo ou níveis de energia indicados pelos números 1, 2, 3, 4, 5,
6 e 7 como mostra na Figura 4 (BRADY; HOLUM; RUSSEL, 2002).

Figura 4 – Representação de um átomo e seus orbitais

Fonte: Essa é a configuração dos orbitais. Entretanto, possuem uma estrutura fina, ou seja, algumas
dessas linhas são compostas de duas ou mais linhas muito próximas, chamadas de subníveis. Estes
são designados pelas letras minúsculas s, p, d, f, g, h por exemplo (BRADY; HOLUM; RUSSEL,
2002)

A camada K é formada pelo subnível s. A camada L é formada pelo subníveis


s e p. A camada M é formada pelos subníveis s, p, e d. A camada N é formada pelo
subnível s, p, d e f. Cada subnível comporta uma quantidade máxima de elétrons. Para
compreender melhor os subníveis, a Figura 5 esquematiza as energias relativas dos
subníveis em um átomo contendo dois ou mais elétrons, onde a letra n demonstraos
orbitais.
Figura 5 – Representação do diagrama aproximado de níveis energéticos
para átomos com dois elétrons

Fonte: Adaptado de Magnetix/Shutterstock.com

No diagrama apresentado acima, é possível observar várias características


importantes. Em primeiro lugar, cada camada energética é indicada separadamente
por um quadrado, sendo um para o subnível s, três para um subnível p, e assim
sucessivamente. Em segundo, note que todas as camadas em um determinado
subnível estão associados à mesma energia.
Por fim, note que quando subimos a escala energética, o espaçamento reduz
entre os orbitais, enquanto o número de subníveis aumenta. O que acarreta uma
superposição de camadas com valores energéticos diferentes. Por exemplo, o
subnível 4s possui energia menor que o subnível 3s, o 5s está logo abaixo do 4d e o
6s está abaixo do 5d. Além disso, o subnível 4f está abaixo do subnível 5d e o 5f está
abaixo do 6d (ATKINS; JONES, 2012).
Esse diagrama é muito útil para entender a distribuição dos elétrons em um
átomo. Entretanto, antes é necessário conhecer uma propriedade de extrema
importância dos elétrons, o chamado spin, nada mais é que a rotação ao redor de um
eixo. A quantidade de elétrons e o comportamento em cada uma das subcamadas foi
uma sugestão de Wulfgang Pauli que postulou o princípio de exclusão a partir das
observações dos espectros magnéticos dos átomos.
O spin é o movimento de rotação do elétron em torno de seu eixo, e esse
movimento cria um campo magnético podendo ser de atração quando os elétrons têm
movimento de rotação em sentidos opostos, como é possível ver na Figura 6a, ou de
repulsão quando os elétrons têm movimento de rotação no mesmo sentido, como é
possível ver na Figura 6b (BRADY; HOLUM; RUSSEL, 2002).

Figura 6 – Representação da rotação de spin de elétrons

Fonte: Atkins e Jones (2012, p. 34)

A representação anterior é frequentemente utilizada afim de representar os


elétrons em orbitais, por setas: ↑↓: orbital com dois elétrons emparelhados de spin
contrários. ↑: orbital com um elétron desemparelhado. O princípio de exclusão de Pauli
ressalta a importância do spin do elétron na determinação da estrutura eletrônica dos
átomos e decreta que não deve existir dois ou mais elétrons no mesmo átomo para os
quais os quatro números quânticos sejam idênticos. Para entender melhor o
postulado, deve-se utilizar como exemplo o subnível 1s. Como nesse subnível existe
a possibilidade de haver dois elétrons, temos a orientação dos spins de +½ e o outro
-½, assim, esse subnível não pode ser ocupado por mais de dois elétrons (BRADY;
HOLUM; RUSSEL, 2002).
Dessa forma, partindo do princípio da exclusão de Pauli, conclui-se que é
possível ter no máximo dois elétrons em cada orbital e que, quando dois elétrons estão
no mesmo orbital, seus spins precisam ter orientações opostas. Voltando à Figura 4,
observa-se que as órbitas do diagrama energético são apontadas por um ou por mais
quadrados separados. Tais quadrados correspondem ao número de elétrons que cada
órbita pode suportar e corresponde com o postulado de Pauli. Como exemplo, a órbita
1, no subnível 1s, comporta dois elétrons, com spins contrários (como já mencionado).
O orbital 2, subnível 2s, também apresenta a mesma situação do 1s, comportando dois
elétrons. Já a camada 2p, ainda no orbital 2, comporta seis elétrons, dois para cada
quadrado, com spins contrários. Essa lógica é usada para todos os outros subníveis.
Sabendo das teorias de distribuição dos elétrons, é possível realizar a
distribuição eletrônicas dos átomos, que significa que realizar a distribuição dos
elétrons entre as orbitais de um átomo (1, 2, 3, etc.) e entre os subníveis (1s, 2s, 2p,
3s, etc.) energéticos que cada átomo tem, é possível. A distribuição eletrônica
permitirá conhecer a distância do elétron ao núcleo, o tipo de orbital que ele ocupa e
qual o sentido de rotação do elétron. Ainda é muito útil conhecer essa distribuição para
um elemento químico, pois o arranjo dos elétrons nas camadas de valência, ou seja,
nas camadas externas de um átomo é responsável pelas propriedades químicas do
elemento. A distribuição dos elétrons em átomos tem geralmente uma configuração
estável, ou seja, quando estão em seu estado fundamental, os elétrons têm energias
reduzidas. Isso acontece quando os elétrons ocupam espaços associados aos
menores valores energéticos que estão disponíveis entre os orbitais. (BRADY;
HOLUM; RUSSEL, 2002).
Ilustrando o procedimento, comece sempre pelo mais simples dos átomos, o H.
O número atômico Z do hidrogênio (N) é igual a 1, o que indica que um átomo de H
neutro possui um elétron. Quando em estado fundamental, esse elétron ocupa o orbital
energético mais baixo possível, que é o orbital 1s. Para facilitar a configuração
eletrônica, foi listado simbolicamente subníveis que contêm elétrons e foi indicado
suas “populações eletrônicas” por índices superiores apropriados. Então, a
configuração eletrônica do H é representada por:
H 1s1
Algumas vezes, considere útil a representação das configurações eletrônicas
por um diagrama de orbitais. Nessa representação, cada orbital será ilustrado por um
quadrado, já os elétrons individuais serão mostrados por setas, apontando para cima
orientando o spin e para baixo em caso de orientação oposta. A seguir, o diagrama
de orbitais para o N é simplesmente:

Utilize átomos de elementos químicos mais complexos, na tabela periódica, o


lítio (Li) e o berílio (Be). Onde o Li tem Z = 3 e o Be tem Z = 4, que têm três e quatro
elétrons. Para cada um desses elementos, os dois primeiros elétrons ocupam o orbital
1s, com seus spins emparelhados, ou seja, o orbital 1s possui dois elétrons com os
spins em rotação contrária e com capacidade máxima de elétron que o orbital pode
comportar de acordo com o princípio de exclusão de Pauli (ÇENGEL, 2013).
Para entender melhor, na Figura 4 já apresentada anteriormente, observa-se
que o orbital disponível de energia menor é o 2s, que também pode receber dois
elétrons. Sendo assim, tanto o terceiro elétron do Li quanto o terceiro e o quarto
elétrons do Be vão ocupar o subnível 2s. Então, as configurações eletrônicas do Li e
do Be são realizadas da seguinte forma:

Note que o Li possui apenas um elétron desemparelhado na camada de


valência e o Be possui dois elétrons emparelhados. Na sequência do Be, o boro (B),
que possui Z= 5. E prestando atenção na Figura 5 já mencionada anteriormente, é
possível verificar que os quatro primeiros elétrons preenchem os subníveis 1s e 2s.
Logo, o quinto elétron precisa ser colocado no subnível 2p. No diagrama de orbitais
para o B, o quinto elétron pode ser colocado em qualquer um dos três subníveis 2p,
poruqe todos eles estão associados à mesma energia. A distribuição eletrônica do B
é a seguinte:
Note que quando utilizado o diagrama de orbitais, todos os orbitais de subnível
2p são exibidos, mesmo que dois deles estejam vazios. De acordo com a tabela
periódica, o próximo elemento é o carbono (C), que tem Z = 6, ou seja, o átomo tem
seis elétrons.
Os primeiros quatro elétrons preenchem, como no caso anterior, os orbitais 1s
e 2s. Os elétrons restantes deslocam-se para a camada 2p: C 1s1 2s2 2p2. Entretanto,
para que a distribuição eletrônica utilizando o diagrama de orbitais aconteça, é
necessário levar em consideração a regra de Hund, cujo enunciado é: quando elétrons
são postos em um conjunto de orbitais de mesma energia, precisam ser distribuídos
de modo que possam a formar o menor número de elétrons emparelhados.
Quando essa regra é aplicada, é possível obter a configuração eletrônica com
a energia reduzida. Já no caso do C, dois elétrons p precisam estar em orbitais
separados, e seus spins precisam possuir a mesma orientação. Não importa qual dos
dois orbitais mostrados é ocupado, pois qualquer um será válido, apenas no caso do
C quando em estado fundamental:

Aplicando o princípio de exclusão de Pauli e a regra de Hund, as configurações


eletrônicas e os diagramas de orbitais para outros elementos da tabela periódica são
facilmente obtidos. A seguir, alguns exemplos de configurações eletrônicas para
elementos químicos e a forma eletrônica condensada de expressar a configuração
eletrônica adequada. (Tabela 1).

Tabela 1 – Exemplos de configurações eletrônicas para elementos químicos


Configuração eletrônica
Átomo Configuração eletrônica
condensada
Flúor (9F) 1s² 2s² 2p5 [He] 2s2 2p5
Alumínio (13Al) 1s² 2s² 2p6 3s² 3p¹ [Ne] 3s2 3p1
Ferro (26Fe) 1s² 2s² 2p6 3s² 3p6 4s2 3d6 [Ar] 3d6 4s2
Iodo (53I) 1s² 2s² 2p6 3s² 3p6 3d10 4s2 [Kr] 4d10 5s2 5p5
4p6 4d10 5s2 5p5
Bário (56Ba) 1s² 2s² 2p6 3s² 3p6 3d10 4s2 [Xe] 6s2
4p6 4d10 5s2 5p6 6s2
Fonte: Adaptado de Çengel, 2013.

7 RADIOATIVIDADE E RADIOISÓTOPOS

7.1 História da radioatividade e estrutura da matéria

As radiações podem ser produzidas artificialmente, por meio de uma fonte de


raios catódicos e altas tensões elétricas, além de serem emitidas naturalmente por
elementos radioativos encontrados na natureza. O fenômeno no qual um átomo com
núcleo instável emite radiação ionizante para alcançar a sua estabilidade é conhecido
como radioatividade.
Nesse contexto, um material radioativo sempre emitirá radiação provinda do
núcleo dos átomos instáveis. Finalmente, as principais radiações provindas desses
núcleos são os raios gama e as partículas alfa e beta. Em novembro de 1895, Wilhelm
Conrad Röntgen descobriu um raio X. Nessa época o átomo era conhecido como uma
esfera maciça e indivisível, conforme o modelo atômico de Dalton, visto na Figura 1
(ATKINS; JONES, 2018).

Figura 1 – Modelo atômico Dalton

Fonte: https://bityli.com/CSALz

O final dos anos 1800 foi muito importante, pois, além dos raios X, também foi
descoberta a radioatividade. Os raios X descobertos por Röntgen foram o resultado
da fluorescência produzida pelos raios catódicos em um tubo de raios catódicos.
Antoine Henri Becquerel ouviu Henri Poincaré relatar a recente descoberta de
Röntgen e imaginou que a luminescência era uma condição para a observação de
raios X, e ele já havia estudado a fosforescência dos compostos de urânio.
Uma diferença significativa entre essas duas descobertas é que os raios X de
Röntgen são produzidos artificialmente, e a radioatividade de Becquerel, Marie Curie
e Pierre Curie eram emitidas naturalmente. Pierre Curie e Marie Curie mostraram que
o tório também agia como o urânio descoberto por Becquerel, e, separando os
submateriais (pechblenda) do urânio, eles descobriram os elementos polônio e rádio.
Após essa descoberta incrível da radioatividade, Ernest
Rutherford, acreditando que a radiação emitida naturalmente pelos materiais
radioativos erasemelhante aos raios X descobertos por Röntgen, começou a trabalhar
com os raiosde urânio. Ele descobriu que, ao serem expostos a um campo magnético,
esses raiossofriam desvio na sua trajetória, ou seja, alguns raios eram desviados
para o ladopositivo do campo magnético e outros raios eram desviados para o lado
negativo do campo magnético. A Figura 2 ilustra como foi esse experimento de
Rutherford
(ATKINS; JONES, 2018).

Figura 2 – Experimento de Rutherford

Fonte: https://bityli.com/HDYxE

Por meio do experimento com fontes radioativas, Rutherford descobriu que


havia três tipos de radiação emitidos pelo material radioativo: alfa (α — positiva), beta
(β — negativa) e gama (γ — sem carga elétrica). Lembrando que cargas elétricas
opostas se atraem, a radiação alfa, positiva, sofreu desvio para o polo negativo.
O elétron, com carga elétrica negativa, sofreu desvio para o polo positivo do
campo magnético. Já a radiação gama, que não tem carga elétrica, não sofreu desvio,
seguindo em linha reta. Com a descoberta da radiação alfa, Rutherford fez
experimentos posteriores, usando as partículas alfa para sondar a estrutura dos
átomos. Com isso descobriu que o átomo tem um núcleo positivo com elétrons
negativos ao redor desse núcleo.
A descoberta da radioatividade foi muito importante para as teorias da estrutura
atômica. Um dos problemas associados à descoberta do elétron como constituinte
fundamental da matéria era como explicar a neutralidade elétrica do átomo. Para
explicar essa neutralidade elétrica, Lord Kelvin propôs, em 1902, uma configuração na
qual as cargas negativas dos elétrons e as cargas positivas dos átomos eram
canceladas, feita a partir do modelo atômico de J.J. Thomson, o “pudim de passas”,
que você pode ver na Figura 3 (GUINIER, 1996).

Figura 3 – Modelo atômico de J.J. Thomson

Fonte: https://bityli.com/CSALz

Kelvin considerou que o átomo era constituído por uma esfera, na qual a massa
e a carga são distribuídas uniformemente com elétrons incorporados, como um bolo
recheado de ameixa, onde o bolo era a massa positiva e as ameixas eram os elétrons.
Nesse modelo, a radiação eletromagnética seria emitida se forças externas
causassem vibração nos elétrons do átomo. Em 1903–1904, J.J. Thomson propôs uma
modificação a essa ideia: os elétrons se moviam em alta velocidade, em círculos
concêntricos, em torno de uma esfera de carga positiva contínua.
Em 1911, Rutherford postulou, por meio de experimentos, que a carga positiva
do átomo estava concentrada em um núcleo central muito menor do que o próprio
átomo, e que continha a maior parte da massa do átomo. Os elétrons negativos
estariam girando em torno do núcleo, como em um sistema planetário.
A quantidade de elétrons em órbita ao redor do núcleo deve ser igual ao número
cargas positivas dentro do núcleo atômico para garantir a neutralidade elétrica. Como
o elétron é a unidade fundamental de carga negativa, Rutherford postulou que a
unidade de carga positiva no núcleo é o próton. Acompanhe o modelo atômico de
Rutherford na Figura 4 (KNIGHT, 2009).
Figura 4 – Modelo atômico de Rutherford

Fonte: https://bityli.com/CSALz

No experimento em que descobriu o núcleo positivo e os elétrons ao redor do


núcleo atômico, Rutherford bombardeou folhas finas de ouro com partículas alfa
emitidas por polônio radioativo. Neste experimento foi observado que as partículas alfa
(positivas) passavam diretamente pela folha de ouro, mas outras partículas eram
desviadas da sua trajetória original.
Rutherford logo pensou que existia um núcleo positivo no centro do átomo que
repelia as partículas alfa, pois cargas elétricas iguais se repelem e opostas se atraem.
Ao passarem próximas ao núcleo positivo, essas partículas eram repelidas por causa
da igualdade de carga elétrica e desviadas da sua trajetória inicial. Experimentos
confirmaram as ideias de Rutherford, mostrando que os átomos consistiam em
núcleos carregados positivamente com diâmetro de 5 × 1015 m e que esses núcleos
eram separados por distâncias de, aproximadamente, 1010 m. Verificaram também
que o número de cargas unitárias no núcleo era, aproximadamente, igual ao número
atômico do átomo e cerca de metade do seu peso atômico (ATKINS; JONES, 2018).
Embora esse processo tenha sido revolucionário, apresentava falhas. Por
exemplo, como os elétrons são mantidos no lugar fora do núcleo e como os prótons
podem ser mantidos juntos, tendo em vista as fortes forças repulsivas das partículas
de carga iguais (positivas)? Outra limitação do modelo era o fato de ele não explicar
os espectros de emissão de átomos, identificados pela primeira vez por Gustav
Kirchhoff e Robert Bunsen, que mostraram que as linhas espectrais constituem uma
impressão digital que pode ser usada para identificar átomos. As ideias de Rutherford
eram, de fato inconciliáveis, com a teoria clássica do eletromagnetismo. Novas ideias
estavam surgindo a respeito da estrutura do átomo nessa época.
Em 1913, Niels Bohr desenvolveu um modelo baseado na nova teoria
“quântica” proposta por Max Planck para a radiação. Essas ideias foram
substanciadas ainda mais com a descoberta do efeito fotoelétrico por Albert Einstein,
em 1905. Em suas investigações sobre como os elétrons são emitidos de placas de
metal sob a ação da luz ultravioleta, Einstein mostrou que a energia dos elétrons
emitidos depende apenas da frequência da luz incidente, e não da sua intensidade,
como explicava a teoria clássica. Ele mostrou ainda que a luz deve ser composta por
fótons discretos, cada um com energia (hν).
Bohr, então, propôs que os átomos estão em estados estacionários e que
qualquer emissão de energia está associada a uma transição de um estado para outro.
Com essa ideia, Bohr resolveu a dificuldade das teorias clássicas, nas quais os
elétrons em órbita devem emitir radiação continuamente (SILVA; BARP, 2014).
O modelo de Bohr pode ser resumido da seguinte forma:os elétrons orbitam em
torno do núcleo em estados discretos de energia, sem emitir radiação;

• quando um elétron salta de um estado de energia mais alta para um estado de


energia mais baixo, é emitida a radiação eletromagnética proporcional à
diferença de energia entre a transição de alta para baixa.

O modelo atômico de Bohr, apresentado na Figura 5, explica os espectros


atômicos de linhas nítidas que resultam, por exemplo, da excitação elétrica de gases.

Figura 5 – Modelo atômico de Bohr

Fonte: https://bityli.com/CSALz
Explicar como os prótons podem ser mantidos juntos dentro do núcleo do
átomo, tendo em vista as fortes forças repulsivas das partículas carregadas
positivamente, era uma das dificuldades de Rutherford. Essas dificuldades foram
resolvidas quando, em 1932, James Chadwick descobre o nêutron dentro do núcleo
do átomo. Sua presença no núcleo explica a diferença entre os números atômico e de
massa e, mais importante ainda, explica que o nêutron é responsável pela força coesa
que mantém o núcleo unido. Essa força nuclear é atraente e possui um alcance
extremamente curto — cerca de 2–3 × 1015m.
Devido ao alcance muito curto da força nuclear, os nêutrons só podem interagir
com seus núcleos vizinhos mais próximos, em contraste com as forças elétricas
repulsivas de maior alcance dos prótons. A descoberta do nêutron também explicou a
existência de isótopos, descobertos em 1913 por Frederick Soddy, para elementos
radioativos. A Figura 6 mostra como ficou o modelo atômico após a descoberta do
nêutron (SILVA; BARP, 2014).

Figura 6 – Modelo atômico depois da descoberta do nêutron

Fonte: https://bityli.com/CSALz

7.2 Classificação dos elementos

A tabela periódica é composta de 118 elementos químicos. Cada elemento


representa um tipo de átomo, contendo um número fixo de prótons no núcleo,denotado
pelo número atômico (Z), e um número igual de elétrons orbitais para garantir a
neutralidade elétrica. Além dos prótons, no núcleo contém um número
variável nêutrons (N) eletricamente neutros. Átomos de um mesmo elemento com
diferentes números de nêutrons, mas com número fixo de prótons são conhecidos
como isótopos. Z é o número atômico (número de prótons), N é o número de nêutrons.
Acompanhe a Figura 7 (GUINIER, 1996).

Figura 7 – Isótopos

Fonte: https://bityli.com/CSALz

Mais de 3.000 nuclídeos são conhecidos, mas apenas cerca de 10% deles são
estáveis. O número total de prótons mais nêutrons é conhecido como número de
massa (A) de um nuclídeo, como ilustra a Figura 8.

Figura 8 – Número atômico e de massa

Fonte: https://bityli.com/CSALz

Nuclídeos com número atômico (Z) e número de massa (A) diferentes e mesma
quantidade de nêutrons (N) são chamados isótonos, como mostrado na Figura 9.
Figura 9 – Isótonos

Fonte: https://bityli.com/CSALz

Nuclídeos com o mesmo número de massa (A) e diferente número atômico (Z)
são conhecidos como isóbaros, como mostrado na Figura 10.

Figura 10 – Isóbaros

Fonte: https://bityli.com/CSALz

Para reconhecer um tipo de elemento, basta identificar seu número atômico Z


e depois verificar o símbolo do elemento químico na tabela periódica, que é
representado por uma letra. Por exemplo, hidrogênio (1 H), hélio (2 He), lítio (3 Li), e
assim sucessivamente (GUINIER, 1996).
7.3 Radioatividade: conceitos gerais

Radioatividade é o fenômeno ao qual um núcleo instável emite,


espontaneamente, radiação ionizante, como partículas alfa e beta, e ondas
eletromagnéticas gama. Um núcleo instável que emite radiação é denominado de
radionuclídeo, elemento radioativo ou radioisótopo. A radioatividade poderá acontecer
naturalmente ou de maneira induzida.
Os materiais radioativos encontrados na natureza, por exemplo, têm núcleo
instável e emitem radiação por meio do seu decaimento. Ao decaírem e se
transformarem em outro elemento, esse outro elemento poderá ainda ter núcleo
instável, emitindo radiação, ou ficar com o núcleo estável e cessar a emissão de
radiação.
O tório, o rádio e urânio são exemplos de elementos radioativos naturais que
decaem diversas vezes, emitindo radiação até se transformarem em chumbo e
cessarem a radioatividade. Já a radioatividade induzida acontece quando o núcleo de
átomos estáveis é bombardeado com partículas subatômicas, como nêutrons, prótons
e partículas alfa, e isso acaba deixando o núcleo instável. Após a instabilidade do
núcleo, ele emitirá radiação para buscar sua estabilidade novamente, ou seja,
induzimos um núcleo estável a se tornar instável para emitir radioatividade
(ZIESSMAN; O'MALLEY; THRALL, 2014).
Todo material radioativo tem um tempo de meia-vida específico. Ele emitirá
100% da radiação no início, mas, ao passar o seu tempo de meia-vida, emitirá apenas
a metade, ou 50%, da sua intensidade máxima. O tempo de meia-vida de um
radionuclídeo poderá durar desde poucos segundos até milhares de anos. A
descoberta de que um núcleo estável (elemento não radioativo) poderia ser
bombardeado e se tornar em um núcleo instável (elemento radioativo), emitindo
radiações espontaneamente, foi de grande interesse para a medicina.
Logo, foram criados diversos radionuclídeos artificiais em laboratórios (reatores
nucleares, cíclotrons), com o objetivo tanto de aquisição de imagens para diagnóstico
em medicina nuclear quanto terapêutico em medicina nuclear ou radioterapia, por isso
são tão necessários na imaginologia. Na tabela periódica, os elementos com número
atômico (Z) igual ou maior que 83 têm o seu núcleo instável e são radioativos — por
exemplo, urânio (Z = 92), tório (Z = 90), rádio (Z = 88), polônio (Z = 84) e bismuto (Z
= 83). O elemento com número atômico igual a 82 é o chumbo. Alguns radionuclídeos
com número atômico menor que 82 também são radioativos, como o Potássio 40 e o
Carbono 14 (ZIESSMAN; O'MALLEY; THRALL, 2014).

7.3.1 Efeitos biológicos da radioatividade

As radiações emitidas dos núcleos instáveis dos átomos no processo da


radioatividade são ionizantes, ou seja, são capazes ionizar a matéria e causar danos
nos tecidos, células e DNA do indivíduo exposto. Os riscos são proporcionais ao tempo
de exposição: quanto maior a exposição, maiores são os riscos. Portanto, todos os
exames de imagem para diagnóstico devem ter solicitação médica especificando o
motivo pelo qual o exame está sendo requisitado.
É necessário justificar e assegurar que os benefícios sejam maiores do que os
malefícios causados pela exposição à radiação. Além disso, é indispensável que todas
as normas de segurança e regulamentações da Portaria da Secretaria de Vigilância
Sanitária e do Ministério da Saúde nº. 453, de 1º de junho de 1998, sejam seguidas.
O profissional responsável por produzir as imagens deve aplicar seus
conhecimentos com muito critério e responsabilidade, expondo o paciente a mínimas
doses exequíveis e mantendo a qualidade dos exames por imagem. Isso vale também
para as áreas de tratamento oncológico, na qual uma equipe multidisciplinar avalia
cada situação individualmente, calcula as menores doses e tenta, ao máximo, proteger
os tecidos sadios contra as radiações ionizantes aplicadas no tratamento, pois, além
de destruir células tumorais, essas radiações também poderão destruir células
normais, caso sejam expostas.
Os efeitos biológicos da radiação ionizante são divididos em determinísticos e
estocásticos. Os efeitos a uma exposição a altas doses de radiação, como as pessoas
expostas ao acidente nuclear de Chernobyl (1986) e ao Césio 137 em Goiânia (1987),
caracteriza efeitos determinísticos, que dependem diretamente da exposição
(KNIGHT, 2009).
Já os efeitos daquelas exposições a baixas doses de radiação, como nos
exames de radiografia, tomografia computadorizada e medicina nuclear, e que podem
se manifestar de forma imprevisível após meses ou anos, caracterizam efeito
estocástico. Como a probabilidade de ocorrência do efeito estocástico é muito
pequena, e os benefícios da radiação para diagnóstico ou tratamento de um paciente
superam essa desvantagem, são justificados e sempre indicados os exames e
tratamentos radiológicos pelos médicos. Para evitar os riscos e se proteger das
radiações, tanto os profissionais que manipulam as fontes radioativas quanto os
pacientes que são expostos à radioatividade em algum procedimento médico devem
utilizar as vestimentas de proteção radiológica, que geralmente são feitas de chumbo,
para evitar a exposição direta às radiações ionizantes (SILVA; BARP, 2014).

7.4 Grandezas e unidades

Diversas formas de radiação ionizante são aplicadas na medicina para


aquisição de imagens radiológicas. Embora o risco seja baixo, é apropriado aplicar o
mínimo de dose de radiação possível durante os procedimentos radiológicos e usar
apenas radiação suficiente para produzir uma imagem de qualidade. Além disso,
alguns procedimentos de imagem médica expõem a própria equipe à radiação, por
isso, é necessário determinar sua exposição para que o risco possa ser minimizado
ao máximo e garantir a segurança dos profissionais.
Existem grandezas físicas que podem ser usadas para expressar a quantidade
de radiação fornecida ao corpo humano. Existem aquelas grandezas que expressam
a concentração da radiação em algum tecido ou órgão específico, e também existem
grandezas que expressam a radiação total entregue ao corpo inteiro (KNIGHT, 2009).
As grandezas dosimétricas são necessárias para estabelecer os princípios e os
sistemas de proteção radiológica, quantificando tanto a exposição interna (fonte
radioativa dentro do corpo) quanto a exposição externa (indivíduo exposto à fonte de
radiação fora do corpo) de seres humanos à radiação.
As grandezas físicas, grandezas de proteção e grandezas operacionais são as
principais categorias da física das radiações. As grandezas dosimétricas foram
introduzidas para estabelecer limites de exposição à radiação no corpo humano.
Também conhecidas como grandezas de proteção, elas não podem ser medidas com
equipamentos, por isso foi necessário introduzir as grandezas operacionais para que
se pudesse fazer uma monitoração tanto individual quanto da área.
Com isso, tornou-se possível estimar o limite superior dos valores das
grandezas de proteção no corpo inteiro ou em tecidos e órgãos específicos, quando
expostos à radiação ionizante emitida de uma fonte externa. Quanto às grandezas
físicas, abordaremos a exposição, a dose absorvida e o Kerma.
Para correlacionar os efeitos biológicos com as diversas radiações ionizantes,
foram estabelecidas as grandezas listadas a seguir (ZIESSMAN; O'MALLEY;
THRALL, 2014).

• Atividade: velocidade com que as substâncias que emitem radiações


espontaneamente se desintegram. Mensura a quantidade de radiação emitida
por uma fonte por unidade de tempo. Não se pode adivinhar o momento exato
em que um núcleo instável irá emitir radiação, esse fenômeno acontece de
maneira imprevista.
• Exposição: primeira grandeza relacionada à radiação, criada em 1928. É
aplicada apenas aos raios X e gama que interagem no ar, ou seja, mede a
capacidade dos fótons de raios X ou gama de ionizarem o ar, medindo a
quantidade de cargas elétricas de mesmo sinal no ar por unidade de massa.
• Dose absorvida: esta é a grandeza mais importante na radiobiologia, na
radioproteção e na radiologia, pois as doses de radiação absorvidas pelos
tecidos, órgãos e corpo inteiro estão diretamente relacionadas aos danos
biológicos. É definida como energia média de radiação depositada em um
volume de massa. A unidade de medida utilizada nesta grandeza era o rad e,
atualmente, é o gray (Gy), seguindo a unidade estabelecida pelo sistema
internacional (SI). Esta é uma grandeza que vale para qualquer tipo de
radiação, qualquer meio e qualquer área irradiada.
• Dose equivalente: a dose equivalente nos tecidos ou órgãos está incluída nas
grandezas de proteção, e a dose efetiva é utilizada para limitar a dose tanto no
corpo inteiro quanto nos tecidos e órgãos específicos. A dose equivalente é
aplicada a qualquer tipo de radiação, e pode ocorrer no tecido ou órgão (por
exemplo, cristalino, pele, mãos, pés). A unidade de medida atual para a dose
equivalente é sievert (Sv); antigamente era o rem.
• Kerma: é a soma de todas as energias cinéticas depositada por unidade de
massa, e tem a mesma unidade de medida da dose absorvida, o gray (Gy). Esta
é a grandeza da área do radiodiagnóstico, geralmente utilizada para calibrar os
instrumentos.
• Equivalente de dose: é uma grandeza operacional para monitoramento
individual de exposições externas de radiação, ou seja, o indivíduo fica exposto
a uma radiação que está vindo de fora (meio externo) para dentro (corpo). A
unidade de medida para a equivalência de dose pessoal é o sievert (Sv). O
valor de equivalência de dose pessoal é obtido por meio de um monitor
individual, que geralmente é colocado na altura do tórax do indivíduo exposto
à radiação.
• Dose efetiva: a fim de limitar a ocorrência de efeitos biológicos hereditários e
cancerígenos, foram estabelecidos limites de exposição do corpo inteiro à
radiação, e a grandeza responsável por isso é a dose efetiva. Esta dose se
refere à soma das doses absorvidas pelos tecidos e órgãos (dose equivalente)
multiplicada pelo fator de ponderação (Wt) do tecido ou órgão exposto. A
unidade de medida é o Sievert (Sv). A indução de câncer, os efeitos hereditários
e a sensibilidade de determinado tecido ou órgão são relacionados ao fator de
ponderação do tecido ou órgão exposto à radiação. Por exemplo, as gônadas
têm Wt de 0,08; medula vermelha, Wt 0,12; pulmão, Wt 0,12; mama, Wt 0,12;
bexiga urinária, Wt 0,04; pele e cérebro, Wt 0,01. Os valores de fator de
ponderação utilizados nos exemplos são da ICRP-103 (ICRP, 2007).

8 FISSÃO E FUSÃO ATÔMICA

8.1 Fissão Nuclear

De forma resumida, a reação nuclear mais conhecida nos dias atuais é a fissão,
onde um núcleo pesado faz uma combinação com um nêutron em seguida se separa
em outros dois, com núcleos mais leves (Figura 1).

Figura 1 – Exemplificação da reação de fissão com Urânio

Fonte: https://bityli.com/O3sG2

Como os nêutrons não possuem carga, eles não sofrem interações de


Coulomb. No entanto, os nêutrons livres causam reações nucleares à medida que
viajam pela matéria. Foi comprovado experimentalmente que quanto menor for a
energia do nêutron, maior será a probabilidade de interação dentro do núcleo.
Nêutrons rápidos (com energias superiores a 1 MeV2) na parte interna da
matéria, colidem com núcleos muitas vezes, e em cada colisão transmite energia
cinética ao núcleo até que ele se torne um nêutron térmico, ou seja, sua energia atinge
a ordem da energia térmica kT, onde k representa a constante de Boltzmann e T é
temperatura absoluta. Nesse nível energético, é mais provável que os nêutrons sejam
capturados pelo núcleo e, quando isso acontece, o núcleo emite raios gama. A seguir,
cálculo do processo de captura do nêutron:

Onde:

• 1
0n – Simboliza o nêutron expelido e pego por um núcleo X.
• A
ZX – O núcleo que pegou o nêutron.
• ɣ – Raio gama irradiado pelo núcleo.
• Z – Simboliza o número de prótons existentes num núcleo qualquer.
• N – Simboliza o número de nêutrons existentes num núcleo qualquer.
• A – Simboliza o número de Massa (A = Z + N) existentes num núcleo qualquer.

Embora na equação não esteja representado, o núcleo X em questão


permanece em estado ativo por um intervalo de tempo bastante curto antes de irradiar
raios gama. Em geral, os núcleos produzidos tornam-se radioativos e decaem por
emissão beta. A taxa de captura de nêutrons depende dos materiais que interagem.
Em alguns materiais, as colisões elásticas dominam e moderam os nêutrons de
energia elevada com tanta eficiência que são chamados de moderadores. Boro, grafite
e água são moderadores. Materiais contendo vários átomos de Hidrogênio são
excelentes moderadores porque os nêutrons colidem frontalmente com prótons de
Hidrogênio para produzir colisões elásticas. Entretanto, as colisões com outros tipos
de átomos são oblíquas e, portanto, não perfeitamente elástica (TIPLER, 1995, p.356).
Uma reação de fissão bastante comum que envolve Urânio-235 é a seguinte:

92 U235 + NÊUTRON = 38 Sr96 + 54 XE138 + 2 NÊUTRONS + ENERGIA

Onde a energia liberada é de aproximadamente 200 milhões de electron volts (eV),


um fator de 25 milhões de vezes maior que da reação de combustão do gás metano.

8.1.1 Fissão e desenvolvimento tecnológico


A descoberta do processo da fissão aconteceu no ano de 1938, quando os
cientistas alemães Otto Hahn e Fritz Strassmann puderam observar pela primeira vez,
o fenômeno de um experimento que envolvia a irradiação de nêutron do urânio, porém,
após estudos de físicos nucleares, a interpretação do ocorrido internamente do átomo
foi publicada em um artigo no início de 1939 por Lise Meitner e Otto Frisch com o nome
de fissão do urânio em elementos mais leves (BODANIS, 2001, p.116-123).
Especificamente, a fissão nuclear ocorre quando um nêutron atinge o núcleo já
instável do elemento urânio-235. Essa penetração no núcleo acelera o processo de
desestabilização, convertendo urânio-235 em urânio-236 em um intervalo de tempo
de aproximadamente 10 a 12 segundos, 2,5 nêutrons em cada fissão que são

subprodutos da fissão nuclear e 2 ou 3 nêutrons (aproximadamente 90 subprodutos


nucleares diferentes podem ser formados como consequência da fissão). Esse
produto final, o urânio, é menos massivo que sua massa de repouso inicial, com uma
liberação energética da ordem de 200 megaeletronvolts (200 MeV), confirmando,
então, a equação famosa de Einstein:

Que emite a modificação de matéria para energia (NUSSENZVEIG, 1998,


p.218).
Onde:

• E = energia.
• m = massa.
• c = velocidade da luz no vácuo

Na equação básica da Fissão Nuclear, é possível observar que, o bário e o


criptônio apresentam números de massa igual a 141 e 92, respectivamente, sendo
assim, são instáveis por possuírem número de massa maior que o dos isótopos mais
estáveis listados na tabela periódica e devido a esta instabilidade, decai tanto com
emissões α correspondentes a núcleos de Hélio, ou seja, partículas compostas por 2
prótons e 2 nêutrons, e finalmente também como emissões β.
Ambos os elétrons e pósitrons têm meias-vidas muito longas, então eles são
emitidos em alta velocidade e por um longo período de tempo. Levará centenas de
anos para que as emissões de radiação atinjam níveis considerados seguros para os
seres humanos, portanto, a radiação deve ser armazenada em barris e colocada no
fundo de cavernas ou no oceano, o que infelizmente pode causar problemas muito
sérios no futuro (TIPLER, 1995, p.349).
O gráfico apresentado como figura 2, representa a possibilidade de geração do
produto de fissão representada no eixo vertical em função do número de massa 'A'. A
possibilidade de ocorrer fissão simétrica para massas iguais de produtos de fissão é
muito pequena, da ordem de 0,01%, e ocorre quando A = 118. A fissão é mais provável
de ocorrer para A ≈ 3 95 e A ≈ 140. Nesses casos, produtos da fissão costumam ser
assimétricos e altamente instáveis, liberando dois ou três nêutrons quase
instantaneamente.

Figura 2 – Possibilidade de ocorrer fissão pelo número de massa

Fonte: Adaptado de HALLIDAY, 1996. p.263.

O gráfico apresentado como figura 3 indica a mudança energética de ligação


por núcleo em função do número de massa. Nesta figura é possível verificar que para
os núcleos mais pesados de ordem A = 240, a energia de ligação por núcleon é da
ordem de 7,6 MeV, já para os núcleos com menor instabilidade e números de massa
em torno de A = 90, a energia por núcleon é cerca de 8,5 MeV.

Figura 3 – Mudança energética de ligação por núcleo pelo número de massa


Fonte: Adaptado de HALLIDAY, 1996. p.241.

Como resultado, estes últimos estão ligados mais fortemente e também são
mais leves. Essa diferença de massa também pode ser dosada como uma diferença
energética. Que por núcleon temos:

Já para o caso do Urânio 235, é possível realizar um cálculo aproximado da


quantidade energética (Q), liberada por núcleon::

Esta quantidade, 211,5 MeV, em termos de energia química liberada num


processo é bastante grande. Por exemplo, uma molécula de octano, libera na
combustão de um motor a gasolina, aproximadamente um milionésimo desta energia
(SERWAY, 1992, p.225).
Veja na figura 4 a representação da fissão de um átomo do 235U e a reação
em cadeia que segue.

Figura 4 – Reação em Cadeia


Fonte: Adaptado de https://bityli.com/dS14h

Nêutron liberado na fissão nuclear e capturado por outro nêutron, resultando na


própria fissão e assim sucessivamente. Para sanar curiosidades, a Figura 5, apresenta
foto de réplicas das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão
em 1945.
Figura 5 – Réplicas das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki

Réplicas das bombas atômicas lançadas em Hiroshima, de Urânio, a Litle Boy


e a Fat Man (amarela), combustível Plutônio, lançada em Nagasaki.
Fonte: https://bityli.com/NdQKX

Na parte interna dos reatores de fissão é importante que haja controle das
reações, afim de que não ocorram tais explosões. A primeira pessoa que pôde
controlar uma reação em cadeia, também chamada de reação em cadeia
autossustentada, foi o cientista italiano Henrico Fermi, em 1942.
O urânio natural possui apenas cerca de 0,7% do isótopo 235U e os outros
99,3% que formam a composição é proveniente do 238U, que dificilmente sofre fissão.
Para que exista maior probabilidade de ocorrer fissão, é necessário que se proceda o
enriquecimento do urânio.
O U é considerado fracamente enriquecido quando possui teor de 235U entre
0,7% e 20%. O U com teor de 235U entre 3% e 5% é geralmente utilizado em reatores
de água leve, o tipo mais usado no mundo. Reatores de pesquisa requerem taxas de
enriquecimento mais elevadas, geralmente de 12% a 20%. O U com teor de 235U
entre 1% e 2% pode ser destinado a substituir o U natural como combustível, em certos
tipos de reatores que utilizam água pesada. Quando possui uma concentração de
235U superior a 20% é considerado altamente enriquecido. Essa classe de U é usada
em certos tipos de reatores de nêutrons rápidos, como reatores de motorização de
porta-aviões (propulsão nuclear), os quais requerem taxas de enriquecimento de
50% a 90%. Reatores com nêutrons rápidos para a produção de energia elétrica
podem operar com U enriquecido à cerca de 25%. O U altamente enriquecido com um
teor superior a 90% é dito de qualidade militar e é usado para a fabricação de armas
nucleares. (PERUZZO, 2012, p.120-121).
Existem diversos processos usados com a finalidade de enriquecer o urânio: o
que usa o Espectrógrafo de Massa, o processo de Jato Centrífugo, o processo por
Difusão Gasosa, o processo por Ultracentrifugação que é o mais usado e o processo
de Separação por Laser (PERUZZO, 2012).
Outro fator de suma importância para manter uma reação em cadeia
autossustentada é a quantidade de emissões de nêutrons por fissão. Assim, foi criado
o parâmetro chamado de constante de reprodução k. Logo, o valor médio de k é 2,5.
Para que a reação em cadeia mantenha-se autossustentada, é preciso que se obtenha
k = 1. Assim, é dito que o reator está crítico. No entanto, quando k apresentarvalor maior
que a unidade, (k>1) o reator estará supercrítico e por esse motivo, é possível que uma
reação descontrolada aconteça, superaquecendo o reator. Porém, quando o valor de
k for menor que a unidade, (k<1) o reator estará subcrítico, e então, a reação será
extinta. Sendo assim, para manter o valor de k o mais próximo possívelde 1, barras de
controle no núcleo do reator são utilizadas, geralmente são compostasde cádmio, por
possui grande capacidade de absorver nêutrons.
Foi possível observar anteriormente ao analisar interações nucleares, que os
nêutrons rápidos, com energia cinética maior que 1MeV, possuem pouca possibilidade
de provocar o fenômeno da fissão nuclear, e a fim de desacelerar os nêutrons, são
usados moderadores. Fermi em suas primeiras experiências utilizava tijolos de grafita
(forma alotrópica do carbono), nos dias atuais, os modernos reatores utilizam a água
pesada para alentecer estes nêutrons (TIPLER, 1995).
A figura 6 mostra um esquema de funcionamento de uma usina termonuclear.
O processo de fissão acontece no núcleo do reator através de reações em cadeia. O
calor que foi gerado aquece a água do circuito primário, que é mantida em alta
pressão, evitando assim que a água entre em ebulição. Esta água funciona como
elemento moderador no reator.
O calor é transferido para a água do circuito secundário saindo circuito primário,
e o vapor formado é submetido a altas pressões para que possa acionar as turbinas
acopladas aos geradores, onde transformarão a energia cinética em energia elétrica.
Após passar pelas turbinas, o vapor é condensado para que possa retornar ao circuito
secundário, novamente. Observe que não existe contato da água nos circuitos. Isso
acontece para que a água do circuito secundário não seja contaminada com aradiação
que foi gerada no circuito primário. Este tipo de reator é conhecido como PWR, porém,
existem outros tipos, cujos nomes são BWR, CANDU, HTGR, LMFBR e RMBK
(PERUZZO, 2012).

Figura 6 – Esquema de funcionamento de uma Usina Termonuclear

Fonte: https://bityli.com/XLKwe

Nos exemplos apresentados foi possível analisar a fissão do urânio-235, mas


é evidente que existem outros elementos fissuráveis. Ainda no lançamento das
bombas atômicas que inauguraram a Era Atômica, a lançada sobre a cidade de
Hiroshima teve como combustível o urânio, já a lançada sobre Nagasaki era de
plutônio.

8.2 Fusão Nuclear

Diferente de Fissão, onde existia um núcleo dito como pesado sendo dividido,
na Fusão os núcleos que se fundem, são leves. Na natureza, esse processo acontece
na parte interna das estrelas. Quanto mais massiva a estrela, mais complexo é o efeito
Fusão, produzindo elementos mais pesados. Existem estrelas que fundem Hélio para
produzir Carbono, Neônio e Oxigênio.
Estrelas mais massivas produzem elementos ainda mais pesados nessa ordem
até a produção de ferro. Elementos mais pesados só poderiam ser formados por uma
explosão de supernova. Em nosso Sol ocorre o processo de fusão, sem o qual não
haveria vida na Terra, onde ocorre a transformação do Hidrogênio em Hélio. Essa
mudança não é fácil, o processo envolve basicamente cinco etapas. Na figura 7 vemos
uma representação desta sequência.

Figura 7 – Esquema ilustrativo de etapas no processo de Fusão


TermoNuclear

Fonte: https://bityli.com/A4sbE

A equação correspondente a esta sequência é:

Através da figura 7, que é bastante esclarecedora, vemos que, dois prótons,


(núcleo do átomo de Hidrogênio, 1 1H) se fundem e desta fusão resulta um pósitron1
(0 1e) e um deutério (2 1H). Há também, neste processo, a emissão de neutrino2 (ⱱ).
Após esta primeira fusão o deutério resultante se funde com outro próton produzindo,
nesta segunda fusão, o Hélio-3 (3 2He). Há também a emissão de radiação gama ɣ
1. E finalmente o Hélio-3 se funde a outro Hélio-3, resultante de outro processo que
ocorreu paralelamente a este, e formam o núcleo do Hélio (4 2He), liberando, ainda
dois prótons. Essa reação é chamada de ciclo pp (próton-próton) que é responsável
por 85% da energia produzida pelo Sol. Este processo de fusão termonuclear
acontece em função de valores de temperatura e pressão extremas, da ordem de
quinze milhões de graus Celsius (15.000.000 ºC) e trezentos e quarenta milhões de
atmosferas (340.000.000 atm) (PIETROCOLA, 2010, p.423).
Nesse processo, o núcleo do átomo de Hélio tem massa menor que a massa
dos quatro prótons que iniciaram o processo. Caracteriza a conversão da matéria em
energia e confirma as equações de Einstein:
E = m.c2
A diferença de massa no início e no final deste processo de fusão termonuclear
é de 0,0277 u.m.a.2.
Em kg, a unidade do Sistema Internacional de Unidades (SI): tem-se = 4,5982
x 10 -29 kg. Aplique este valor à equação de Einstein onde c é a velocidade da luz no
vácuo = 3 x 108 m/s, calcula-se a energia produzida por cada fusão. Isso é:
E = 4,14 x 10 -12 Joules

É um valor pequeno, mas se pensarmos que este fenômeno ocorre milhares de


vezes por segundo o resultado final é muito significativo. Medidas realizadas mostram
que a Terra recebe 1367,5 W / m2; com uma variação de 0,3% durante o ciclo solar
de 11 anos. Em termos de comparação, é a quantidade de energia equivalente a
queima de duzentos quintilhões (2 x 1020 ou 200.000.000.000.000.000.000) de galões
de gasolina por minuto, ou ainda, 10 milhõesde vezes a produção anual de petróleo da
Terra no início dos anos 2000 (OLIVEIRA FILHO, 2004, p.127).
Outro fato digno de nota é que os raios gama emitidos nas fusões acima sofrem
tantas colisões dentro do Sol que levam em média 100 mil anos para atingir a
superfície. Como ensinou o professor Alex Filippenko, pode levar até 1 milhão de anos
para realizar uma órbita que levaria cerca de 2 segundos se fosse reta (DISCOVERY,
2014). Como vimos acima, a quantidade de energia produzida no processo de fusão
é enorme, e os cientistas conseguiram descobrir métodos e processos para controlar
esse fenômeno, ao contrário da fissão nuclear, os subprodutos da fusão nuclear são
inofensivos.
Durante décadas, os cientistas desenvolveram reatores de fusão que produzem
energia por meio desse processo. Assim como as reações de fusão nuclear que
ocorrem dentro do sol, elas ocorrem em interações próton-próton porque existem
valores muito grandes de temperatura e pressão. O que está sendo tentado é uma
reação de fusão por outras vias, atualmente não disponíveis no laboratório. Os
elementos que parecem ter mais sucesso no momento são os isótopos de hidrogênio,
deutério (2 1H) e trítio (3 1H). Estas reações são:

2 1H + 2 1H 3 2He + 1 0n (7) Q = 3,24 MeV 2 1H + 2 1H 3 1H + 1 1H (8) Q =


4,03 MeV 2 1H + 3 1H 4 2He + 1 0n (9) Q = 17,59 MeV

Os valores de Q representam a energia liberada em cada uma das reações. O


deutério é relativamente fácil de ser extraído a baixo custo. Como é uma partícula
extraída da água é abundante. Com aproximadamente quatro litros de água é possível
extrair 0,12 g de deutério. Quanto ao trítio, é um material radioativo, de meia vida 12,3
anos (T1/2 = 12,3 anos) e também deve ser produzido artificialmente. A grande
dificuldade de se obter êxito ao se realizar, em laboratório, o fenômeno da fusão é se
conseguir vencer a repulsão coulombiana existente entre os prótons posicionados no
núcleo dos átomos. O gráfico da figura 8 mostra a relação entre a energia existente
entre dois dêuterons1, (U(r)) e a distância entre eles (r). R, que é da ordem de um
Fermi 2 (1 fm), é a distância limite de ação entre as forças coulombianas e a força
nuclear forte. Para os valores de r > R, prevalece a repulsão coulombiana. Para r < R.
prevalece a força nuclear forte. Logo, para que ocorra a fusão é necessário que se
imprima, aos dois núcleos, uma energia cinética o suficiente para vencer a força de
repulsão entre eles. Ocorre que, para se atingir este nível de energia cinética é
necessário que as temperaturas atinjam valores de ordem de cem milhões de graus
Celsius (100.000.000 oC), maiores do que as temperaturas estimadas no núcleo do
Sol (SERWAY, 1992, p.229).

Figura 8 – Gráfico Distância x Energia entre os dêuterons.


Fonte: Adaptado de SERWAY, 1992. p.229.

Apesar dos esforços de se desenvolver um Reator de Fusão Nuclear através


de pesquisas com Reatores de Fusão a Laser e Reatores de Fusão por Eletroímãs,
sabemos que quando esta tecnologia for dominada será uma gigantesca conquista na
geração de energia, pois através da Fusão Nuclear teremos energia limpa e ilimitada.
Infelizmente a humanidade, até o presente momento, não conseguiu produzir, de
forma economicamente viável, a Fusão Nuclear, para fins de geração de energia, o
que se produziu até agora foi a bomba de nêutrons, que usa a bomba atômica como
gatilho para produzir temperaturas o suficiente para provocar a fusão dos materiais
combustíveis.
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