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QUÍMICA INORGÂNICA,

TEÓRICA E EXPERIMENTAL I
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4

2 TEORIA ATÔMICA ................................................................................................... 5

2.1 Estrutura Atômica ................................................................................................. 6

2 GEOMETRIA MOLECULAR E TEORIAS DAS LIGAÇÕES .................................. 11

2.1 Geometrias moleculares ..................................................................................... 11

2.2 Modelo Valence Shell Electron Pair Repulsion (VSEPR) ................................... 14

3 ÁCIDO-BASE DE LEWIS E ESTRUTURA DE LEWIS........................................... 17

3.1 Teoria ácido-base de Lewis ................................................................................ 17

3.2 Estruturas de Lewis ............................................................................................ 21

4 TEORIA DA LIGAÇÃO DE VALÊNCIA .................................................................. 27

4.1 Hibridização em moléculas com ligações duplas e triplas .................................. 30

5 TEORIA DO ORBITAL MOLECULAR.................................................................... 35

5.1 Orbitais moleculares ligantes e antiligantes ........................................................ 35

5.2 Configurações dos orbitais moleculares ............................................................. 39

6 MOLÉCULAS DIATÔMICAS HOMONUCLEARES................................................ 43

6.1 Molécula de Carbono (C2) ................................................................................... 44

6.2 Molécula de Oxigênio (O2) .................................................................................. 45

6.3 Ligações em moléculas diatômicas heteronucleares .......................................... 46

6.4 Orbitais em moléculas poliatômicas .................................................................... 48

7 LIGAÇÃO NOS COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO: TEORIA DO CAMPO


CRISTALINO ............................................................................................................ 50

7.1 Desdobramento do campo cristalino em complexos octaédricos ....................... 51

7.2 Complexos tetraédricos e quadrados planares ................................................... 53

7.3 Cor ...................................................................................................................... 54

7.4 Propriedades magnéticas ................................................................................... 57


8 QUÍMICA DOS ELEMENTOS REPRESENTATIVOS............................................. 59

8.1 Os metais alcalinos ............................................................................................. 59

8.2 Metais alcalinos terrosos..................................................................................... 62

8.3 Hidrogênio........................................................................................................... 65

8.4 Carbono .............................................................................................................. 66

8.5 Nitrogênio............................................................................................................ 67

8.6 Oxigênio .............................................................................................................. 69

8.7 Halogênios .......................................................................................................... 69


INTRODUÇÃO

Prezado aluno,

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao


da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta,
para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No
espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser
direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora
que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida
e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!
1 TEORIA ATÔMICA

Século V a.C. No século IV a.C., o filósofo grego Demócrito expressou sua


crença de que toda a matéria era composta de partículas muito pequenas e
indivisíveis, que ele chamou de átomos (que significa indivisível). As ideias de
Demócrito não foram aceitas por muitos de seus contemporâneos (como Platão e
Aristóteles), mas se tornaram populares. Os resultados experimentais da investigação
científica apoiaram o conceito de "atomismo", levando gradualmente a definições
modernas de elementos e compostos. Em 1808, o cientista e professor britânico John
Dalton formulou uma definição precisa dos blocos de construção indivisíveis da
matéria chamados átomos (CHANG; GOLDSBY, 2013).
O trabalho de Dalton marcou o início da era moderna da química. As hipóteses
de Dalton sobre as propriedades da matéria que fundamentam a teoria atômica pode
ser resumidas como segue:
1. Os elementos são constituídos por partículas extremamentes pequenas
chamadas de átomos.
2. Todos os átomos de um dado elemento são idênticos, tendo a mesma
dimensão, massa e propriedades químicas. Os átomos de um elemento
são diferentes dos átomos de todos os outros elementos.
3. Os compostos são constituídos por átomos de mais de um elemento. Em
qualquer composto, a razão entre os números de átomos de qualquer
dois elementos presentes é um número inteiro ou uma fração simples.
4. Uma reação química envolve apenas a separação, a combinação ou o
rearranjo dos átomos: não resulta na sua criação ou destruição.
A Figura 1 é uma representação esquemática das últimas três hipóteses. O
conceito de átomo de Dalton era muito mais detalhado e específico do que o de
Demócrito. Uma segunda hipótese é que os átomos de um elemento são diferentes
dos átomos de todos os outros elementos. Dalton não tentou explicar a estrutura ou
composição dos átomos (CHANG; GOLDSBY, 2013). Ele não tinha ideia de como um
átomo realmente se parecia. Mas ele reconheceu que existem diferentes qualidades.
Figura 1 - Ilustração de teoria atômica de Dalton para uma reação química,
formação da água.

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

1.1 Estrutura Atômica

Com base na teoria dos átomos de Dalton, um átomo pode ser definido como
a unidade básica de um elemento que pode formar compostos. Dalton imaginou um
átomo indivisível e muito pequeno. No entanto, vários estudos que começaram na
década de 1850, e continuaram no século XX, mostraram que os átomos realmente
têm estruturas internas. Ou seja, são formados por partículas ainda menores
chamadas partículas subatômicas. A pesquisa encontrou três dessas partículas:
elétrons, prótons e nêutrons.

 O elétron

Na década de 1890, muitos cientistas estudaram a radiação, a emissão e


transmissão de energia através do espaço na forma de ondas. As informações obtidas
neste estudo contribuíram muito para nossa compreensão da estrutura atômica. Um
dos instrumentos utilizados para estudar esse fenômeno é o tubo de raios catódicos,
antecessor do tubo de imagem da televisão (Figura 2). Um tubo de vidro com a maior
parte do ar removido. Quando duas placas de metal são conectadas a uma fonte de
alta tensão, a placa carregada negativamente chamada cátodo emite radiação
invisível. Os raios catódicos são atraídos para uma placa carregada positivamente
chamada ânodo, passam por um orifício ali e atingem a outra extremidade do tubo.
Quando um raio de luz atinge uma superfície com um revestimento especial, produz
fluorescência intensa, ou luz intensa (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Figura 2 - Instrumento utilizado para investigas as propriedades físicas do elétron

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

Em alguns experimentos, duas placas carregadas e um ímã foram adicionados


à parte externa do tubo de raios catódicos (Figura 2). Os raios catódicos atingem o
ponto A mesmo na presença de um campo magnético, mas sem campo elétrico. Os
raios catódicos atingem o ponto C quando apenas um campo elétrico é aplicado. Os
raios catódicos atingem o ponto A quando os campos elétrico e magnético estão
desligados ou em equilíbrio. Os raios atingem o ponto B de modo que se anulam.
Segundo a teoria eletromagnética, um objeto carregado em movimento pode
se comportar como um ímã e interagir com os campos elétricos e magnéticos pelos
quais passa. Os raios catódicos devem ser compostos de partículas carregadas
negativamente porque são atraídos por placas carregadas positivamente e repelidos
por placas carregadas negativamente. Conhecemos essas partículas carregadas
negativamente como elétrons. A Figura 2 mostra o efeito dos ímãs nos raios catódicos
(CHANG; GOLDSBY, 2013).
O físico britânico J.J. Thomson usou seu conhecimento de tubos de raios
catódicos e teoria eletromagnética para determinar a razão entre carga e massa dos
elétrons. O número que ele encontrou é -1,76×108 C/g (onde C é o coulomb, a unidade
de carga elétrica). Desde então, em uma série de experimentos realizados entre 1908
e 1917, R. Millikan foi capaz de medir a carga do elétron com muita precisão (ATKINS;
JONES, 2006).

 O próton e o núcleo
No início do século XX, duas propriedades do átomo tornaram-se claras: eles
continham elétrons e eram eletricamente neutros. Para manter a eletroneutralidade,
um átomo deve conter um número igual de cargas positivas e negativas. Assim,
Thomson propôs que um átomo poderia ser pensado como uma substância esférica
uniforme com carga positiva, embebida em elétrons, como passas em um bolo. Este
chamado modelo de "pudim de passas" tem sido a norma por muitos anos (CHANG;
GOLDSBY, 2013).
Em 1910, o físico neozelandês Ernest Rutherford, aluno de Thomson na
Universidade de Cambridge, decidiu usar partículas para estudar a estrutura dos
átomos. Rutherford, juntamente com o colega Hans Geiger e um aluno chamado
Ernest Marsden,11 conduziu uma série de experimentos usando camadas muito finas
de ouro e outros metais como alvos para partículas de uma fonte radioativa (Figura
3). Eles observaram que a maioria das partículas entrava no chute com pouca ou
nenhuma deflexão. No entanto, as partículas podem ser difratadas (ou desviadas) em
grandes ângulos. Em alguns casos, as partículas foram lançadas de volta na direção
de onde vieram.
Esta foi uma descoberta surpreendente porque no modelo de Thomson as
cargas positivas nos átomos eram tão difusas que as partículas positivas deveriam
passar pela folha quase inalteradas. Cito a reação inicial de Rutherford ao saber dessa
descoberta: "Foi simplesmente inacreditável. Foi como se tivéssemos disparado uma
bala de 15 polegadas em um lenço de papel e ela voltasse e nos acertasse" (CHANG;
GOLDSBY, 2013).

Figura 3 - Experimento de Ernest Rutherford (a) esquema dos aparelhos usados (b)
uma visão ampliada das partículas

Fonte: Chang e Goldsby (2013)


Rutherford foi então capaz de usar um novo modelo do átomo para explicar os
resultados dos experimentos de difração de partículas alfa. De acordo com Rutherford,
a maioria do átomo deveria ser um espaço vazio. Isso explica porque a maioria das
partículas alfa passa pela folha de ouro praticamente sem ser desviada. Rutherford
propôs que todas as cargas positivas nos átomos estão concentradas no núcleo, o
núcleo denso dentro do átomo. Em um experimento de difração, toda vez que uma
partícula alfa se aproxima do núcleo, ela recebe uma grande força repulsiva e é
fortemente desviada. Além disso, as partículas cujos caminhos vão direto para o
núcleo são completamente repelidas e sua direção é invertida (CHANG; GOLDSBY,
2013).
Partículas com carga positiva no núcleo são chamadas de prótons. Outro
experimento descobriu que cada próton carrega a mesma quantidade de carga que
um elétron com uma massa de 1,67262×10-24 g. Isso é cerca de 1840 vezes a massa
de um elétron com a carga oposta (CHANG; GOLDSBY, 2013):
Embora a massa do núcleo represente a maioria da massa de todo o átomo, o
núcleo representa apenas cerca de 1/1013 do volume do átomo. As dimensões
atômicas (e moleculares) são dadas em unidades SI chamadas picômetros (pm).
1 𝑝𝑚 = 1 × 10−12 𝑚
Embora a massa do núcleo represente a maioria da massa de todo o átomo, o
núcleo representa apenas cerca de 1/1013 do volume do átomo. As dimensões
atômicas (e moleculares) são dadas em unidades SI chamadas picômetros (pm). Um
átomo típico tem um raio de cerca de 100 pm, mas o núcleo tem um raio de apenas
cerca de 5×10-3 pm. Se um átomo tem o tamanho de um estádio esportivo, podemos
ter uma ideia das dimensões relativas do átomo e de seu núcleo imaginando que o
volume do núcleo é comparável ao de uma bola de gude. Os prótons estão confinados
ao núcleo, mas os elétrons estão espalhados ao redor do núcleo e parecem estar a
alguma distância do núcleo. Embora o conceito de raio atômico seja útil para
experimentação, não devemos concluir que os átomos tenham limites ou superfícies
bem definidos (ATKINS; JONES, 2006).

 O nêutron

O modelo de estrutura atômica de Rutherford deixou um grande problema por


resolver. Sabia-se que o átomo de hidrogênio, o átomo mais simples, contém apenas
um próton e o átomo de hélio contém dois prótons. Portanto, a razão entre a massa
do átomo de hélio e a massa do átomo de hidrogênio deveria ser 2:1. (Como os
elétrons são muito mais leves do que os prótons, a sua contribuição para a massa
atômica pode ser desprezada). Na realidade, contudo, a razão é 4:1. Rutherford e
outros postularam que devia existir outro tipo de partícula subatômica no núcleo
atômico; a prova foi fornecida por outro físico inglês, James Chadwick, em 1932.
Quando Chadwick bombardeou uma folha fina de berílio com partículas alfa, o metal
emitiu uma radiação de energia muito elevada, semelhante aos raios gama.
Experiências posteriores mostraram que a radiação era constituída por um
terceiro tipo de partículas subatômicas, às quais Chadwick denominou de nêutrons,
porque elas mostraram ser partículas eletricamente neutras com uma massa
ligeiramente superior à massa dos prótons. O mistério da razão das massas podia
agora ser explicado. No núcleo de hélio há dois prótons e dois nêutrons, mas no
núcleo de hidrogênio há apenas um próton e nenhum nêutron, daí a razão 4:1
(CHANG; GOLDSBY, 2013).
A Figura 4 mostra a localização das partículas elementares (prótons, nêutrons
e elétrons) em um átomo. Existem outras partículas subatômicas, mas o próton, o
elétron e o nêutron são os três componentes fundamentais do átomo e são
importantes na química.

Figura 4 - O prótons e os nêutrons de um átomo estão contidos em um núcleo


extremamente pequeno.

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

A Tabela 1 mostra a massa e a carga destas três partículas elementares


Tabela 1 - Massa e carga das partículas subatômicas
Carga
Partícula Massa (g) Coulomb Unidade de carga
Elétron 9,10938 × 10−28 −1,6022 × 10−19 −1
Próton 1,67262 × 10−24 +1,6022 × 10−19 +1
Nêutron 1,67493 × 10−24 0 0
Fonte: Chang e Goldsby (2013)

2 GEOMETRIA MOLECULAR E TEORIAS DAS LIGAÇÕES

2.1 Geometrias moleculares

Usamos a estrutura de Lewis para explicar as fórmulas dos compostos covalentes.


Entretanto, as estruturas de Lewis não indicam a forma das moléculas, apenas mostra
o número e tipo de ligações químicas presentes. Por exemplo: podemos escrever a
estrutura de Lewis para a molécula de CF4:

A estrutura é elaborada com todos os átomos no mesmo plano. No entanto, o arranjo


tridimensional mais adequado é o tetraedro, com os átomos de flúor no vértice desta
figura geométrica. Como mostrado na Figura 5.

Figura 5 - Estrutura tetraédrica do tetrafluormetano


Fonte: shre.ink/nK3F

A forma de uma molécula é determinada por seus ângulos de ligação, ângulos


formados pelas linhas que se unem ao núcleo dos átomos da molécula. Os ângulos
de ligação de uma molécula e o comprimento das ligações definem a forma e o
tamanho da molécula. Na Figura 52, veremos que há seis ângulos de ligação 𝐹 − 𝐶 −
𝐹 no 𝐶𝐹4 e todos têm o mesmo valor. O ângulo da ligação é de 109,5°, característico
de um tetraedro. Além disso, todas as ligações 𝐶 − 𝐹 apresentam comprimento igual
a 141 pm (ATKINS; JONES, 2006)
Começamos nossa discussão a respeito de formas moleculares (e íons) que, assim
como o 𝐶𝐹4 , tem um único átomo central ligado a dois ou mais átomos iguais. Tais
moléculas têm a fórmula geral 𝐴𝐵𝑛 , na qual o átomo central A está ligado a n átomos
de B. Por exemplo, tendo 𝐶𝑂2 , como 𝐻2 𝑂 são moléculas 𝐴𝐵2 , enquanto 𝑆𝑂3 e 𝑁𝐻3
são moléculas 𝐴𝐵3 e etc (BROWN; LEMAY et al., 2016).
O número de possíveis formas para moléculas 𝐴𝐵𝑛 depende do valor de 𝑛 . As
moléculas comumente encontradas para 𝐴𝐵2 e 𝐴𝐵3 . Uma molécula de 𝐴𝐵2 pode ter
duas possíveis geometrias lineares (Figura 6a) (ângulo de ligação de 180°) ou angular
(com ângulo diferente de 180°). Para moléculas com fórmula 𝐴𝐵3 , as duas formas
mais comuns, colocam o átomo de 𝐵 no canto de um triangulo equilátero (todos os
lados iguais) (Figura 6b). Se o átomo 𝐴 estiver no mesmo plano, chamamos a
estrutura de trigonal planar (Figura 6c). Agora, se o átomo 𝐴 estiver acima do plano
dos átomos de 𝐵, é chamada de piramidal (Figura 6d).

Figura 6 - Geometrias moleculares (a) geometria linear, 𝐴𝐵2 ; (b) geometria angular,
𝐴𝐵2 ; (c) geometria trigonal, 𝐴𝐵3 ; (d) geometria piramidal, 𝐴𝐵3 .

Fonte: Atkins, Jones, 2006

Podemos dar como exemplo de estruturas lineares as moléculas de 𝐶𝑂2 , 𝐻𝐶𝑙, 𝐻2 e 𝑁2


. Para as estruturas angulares temos, 𝐻2 𝑂, 𝐻2 𝑆, 𝑆𝑂2 e 𝑆𝐹2 . Já as estruturas trigonais
planares, são observadas nas moléculas de 𝐵𝐻3 , 𝑆𝑂3 e 𝑁𝑂3− (ATKINS; JONES,
2006).
Algumas moléculas, como a molécula de 𝐶𝑙𝐹3 , podem ter forma de T, uma forma
incomum. As ligações 𝐹 − 𝐶𝑙 − 𝐹 estão no mesmo plano com um ângulo de 90°,
conforme Figura 7.

Figura 7 - Geometria da molécula de ClF3


Fonte: shre.ink/nKYp

Grande maioria das moléculas dos tipos 𝐴𝐵𝑛 podem ser classificadas em apenas
cinco formas geométricas básicas. Todas são arranjos altamente simétricos dos n
átomos de B em volta do átomo central A. Veremos as primeiras três formas: linear,
trigonal planar e tetraédrica (Figura 4). A forma bipiramidal trigonal para 𝐴𝐵5 pode ser
imaginado como uma trigonal plana com dois átomos adicionais, um acima e um
abaixo do plano triangular. A forma octaédrica para fórmulas 𝐴𝐵6 tem todos os seis
átomos de B a uma distância igual do átomo central A (Figura 5), com ângulo de 90°
𝐵 − 𝐴 − 𝐵 (ATKINS; JONES, 2006)

Figura 8 - Linear, trigonal e tetraédrica, respectivamente

Fonte: shre.ink/nK65

Figura 9 - Geometrias bipirâmide trigonal e octaédrica.

Fonte: shre.ink/nK6d

2.2 Modelo Valence Shell Electron Pair Repulsion (VSEPR)

O modelo de Repulsão de Pares de Elétrons da Camada de Valência (VSEPR)


tenta explicar o motivo pelo qual algumas moléculas tendem a se arranjar de uma
determinada maneira. Em geral, cada par de elétrons não ligante, ligação simples ou
ligação múltipla produz um único domínio eletrônico ao redor do átomo central de uma
molécula.
Entende-se como domínio eletrônico, uma região no espaço que está
diretamente sobre influência do par de elétrons, não sendo localizado como se fossem
balões. O melhor arranjo para um determinado número de domínios eletrônicos é
aquele que minimiza as repulsões entre eles. De fato, observamos que pares de
elétrons não ligantes, tendem a repelir os elétrons pertencentes à ligação, como a
molécula de amônia, que possui um par de elétrons não ligantes (BROWN; LEMAY et
al., 2016).

Esse par de elétrons não ligantes “empurra” as ligações 𝑁 − 𝐻 formando o


ângulo típico para esta molécula (piramidal), isso proporciona uma maior estabilidade
na molécula, uma vez que as cargas negativas (ligação simples e par de elétrons)
estão separadas pela maior distância permitida. Vejamos a molécula da água:

Nela vemos duas ligações simples e dois pares de elétrons não ligantes. Pode-se
concluir, portanto, que os pares de elétrons se organizam deste modo para diminuir a
repulsão existente nesta molécula, uma vez que existe dois pares de elétrons não
ligantes na molécula.
Conform Brown, et al. (2016), no âmbito da teoria VSEPR (Repulsão dos Pares
Eletrônicos da Camada de Valência), é necessário inicialmente proceder com a
elaboração da estrutura de Lewis para a molécula ou íon em questão, seguida pela
contagem do número de domínios eletrônicos que cercam o átomo central. Cada par
de elétrons não ligantes, bem como cada ligação simples, dupla ou tripla, deve ser
considerado como um domínio eletrônico individual. A determinação da geometria do
domínio eletrônico requer a disposição desses domínios ao redor do átomo central de
modo a minimizar as repulsões intereletrônicas. A utilização da disposição dos átomos
ligados ao átomo central é, então, essencial para a determinação subsequente da
geometria molecular.
Exemplo de molécula de fosfina - 𝐻3 𝑃.

Fonte: Adaptado de Brown, et al. (2016)

Para facilitar a etapa 2, descrita acima, usamos a Erro! Fonte de referência não e
ncontrada. para determinar a configuração inicial dos domínios eletrônicos e a
geometria deste domínio.

Tabela 1 - Distribuição dos domínios eletrônicos e suas respectivas geometrias.


Número de Geometria dos Ângulos de
Configuração dos
domínios domínios ligação
domínios eletrônicos
eletrônicos eletrônicos previsto

2 Linear 180°
3 Trigonal planar 120°

4 Tetraédrica 109,5°

Bipiramidal
5 120°/90°
trigonal

6 Octaédrica 90°

Fonte: Adaptado de Brown et al. (2016)

3 ÁCIDO-BASE DE LEWIS E ESTRUTURA DE LEWIS

3.1 Teoria ácido-base de Lewis

Até agora, discutimos propriedades ácido-base em termos da teoria de


Brønsted. Para se considerar uma base de Brønsted, por exemplo, uma substância
tem de aceitar prótons. Por essa definição, tanto o íon hidróxido como a amônia são
bases:
Em cada situação, quando um próton se liga a uma molécula, o átomo receptor
do próton geralmente possui pelo menos um par de elétrons não compartilhado. Essa
particularidade é notável em moléculas como OH e NH3, típicas bases de Brønsted.
Essa observação leva à formulação de uma definição abrangente de ácidos e bases,
onde um ácido é visto como uma substância capaz de doar prótons, enquanto uma
base é caracterizada pela sua habilidade de receber prótons (CHANG; GOLDSBY,
2013).
Em 1932, o renomado químico norte-americano G. N. Lewis apresentou uma
definição paradigmática que redefiniu nossa percepção das interações ácido-base.
Ele postulou que uma base é uma entidade capaz de doar um par de elétrons,
enquanto um ácido tem a propriedade de aceitar esse par eletrônico. Esse conceito
fundamental encontrou aplicação clara na protonação da amônia, NH3, onde a amônia
age como base ao doar um par de elétrons ao próton H, que, por sua vez, se comporta
como ácido ao receber este par de elétrons. Assim, uma reação ácido-base de Lewis
é uma interação que implica na transferência desse par de elétrons de uma espécie
para outra, um entendimento mais abrangente que vai além das reações clássicas
que resultam na formação de sal e água, ampliando nossa compreensão das
intricadas relações entre as substâncias envolvidas (CHANG; GOLDSBY, 2013).
A importância do conceito de Lewis está no fato de ser muito mais genérico que
outras definições. As reações ácido-base de Lewis incluem muitas reações que não
envolvem ácidos de Brønsted. Consideremos, por exemplo, a reação entre trifluoreto
de boro (BF3) e a amônia (Figura 1):
Figura 10 - Reação ácido-base de Lewis envolvendo BF3 e NH3

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

Vimos que o átomo de B em BF3 tem hibridização sp2. O orbital vazio e não
hibridizado 2pz aceita o par de elétrons do NH3. Assim, conforme a definição de Lewis,
BF3 funciona como ácido, apesar de não conter um próton ionizável. Note que se
forma uma ligação covalente coordenada entre os átomos de B e N (CHANG;
GOLDSBY, 2013).
Outro ácido de Lewis que contém boro é o ácido bórico (H3BO3) (Figura 2). O
ácido bórico (um ácido fraco usado como colírio) é um oxiácido com a seguinte
estrutura (ATKINS; JONES, 2006):

Figura 11 - Estrutura do ácido Bórico, modelo de bolas


Fonte: próprio autor

O ácido bórico não se ioniza em água para produzir o íon H. A sua reação com
água é:
𝐵(𝑂𝐻)3 (𝑎𝑞) + 𝐻2 𝑂(𝑙) ⇋ 𝐵(𝑂𝐻)+ +
4 (𝑎𝑞) + 𝐻 (𝑎𝑞).

Nessa reação ácido-base de Lewis, o ácido bórico aceita um par de elétrons do


íon hidróxido derivado da molécula de H2O. A hidratação do dióxido de carbono para
produzir ácido carbônico
𝐶𝑂2 (𝑔) + 𝐻2 𝑂(𝑙) ⇌ 𝐻2 𝐶𝑂3 (𝑎𝑞)

pode ser entendida no conceito de Lewis, como se segue: a primeira etapa envolve a
doação de um par de elétrons isolado do átomo de oxigênio da H2O para o átomo de
carbono do CO2. Um orbital do átomo de C fica vazio para acomodar o par isolado por
meio da remoção do par de elétrons da ligação π 𝐶 − 𝑂 . Esses movimentos de
elétrons são indicados por setas curvas em vermelho (CHANG; GOLDSBY, 2013).

Portanto, H2O é uma base de Lewis e CO2 é um ácido de Lewis. A seguir, um


próton é transferido para o átomo de O com carga negativa para formar H2CO3
(CHANG; GOLDSBY, 2013; ATKINS; JONES, 2006).
3.2 Estruturas de Lewis

Embora o conceito de molécula tenha surgido no século XVII, foi apenas no


início do século XX que os químicos começaram a compreender como e por que se
formam as moléculas. O primeiro avanço importante foi a sugestão de Gilbert Lewis
que uma ligação química envolve compartilhamento de elétrons pelos átomos. Lewis
descreveu a formação da ligação química no H2 da seguinte forma:

Esse tipo de emparelhamento de elétrons é um exemplo de ligação covalente,


uma ligação em que dois elétrons são compartilhados por dois átomos. Os compostos
covalentes são aqueles que contêm apenas ligações covalentes. Para simplificar, o
par de elétrons compartilhados é muitas vezes representado por uma única linha.
Assim, a ligação covalente na molécula de hidrogênio pode ser escrita como H—H.
Em uma ligação covalente, cada elétron de um par compartilhado é atraído
pelos núcleos de ambos os átomos. Esse tipo de atração mantém unidos os dois
átomos no H2 e é responsável pela formação de ligações covalentes em outras
moléculas (CHANG; GOLDSBY, 2013).
A formação de ligação covalente entre átomos polieletrônicos envolve apenas
os elétrons de valência. Consideremos a molécula de flúor, F2. A configuração
eletrônica do F é 1s2 2s2 2p5. Os elétrons 1s têm baixa energia e permanecem a
maioria do tempo perto do núcleo. Por isso, não participam na formação de ligações.
Dessa forma, cada átomo de F tem sete elétrons de valência (os elétrons 2s e 2p). Há
apenas um elétron desemparelhado em F, e, portanto, a formação da molécula de F2
pode ser representada da seguinte forma:
Observe que apenas dois elétrons de valência participam na formação do F2.
Os outros, elétrons não ligantes, são chamados de pares isolados — pares de elétrons
de valência que não estão envolvidos na formação de ligações covalentes. Assim
sendo, cada F no F2 tem três pares de elétrons isolados:

As estruturas de Lewis são ferramentas cruciais na representação de


compostos covalentes, como o H2 e o F2. Elas desempenham um papel fundamental
na visualização das ligações covalentes, permitindo-nos compreender a distribuição
de elétrons nas moléculas. Em uma estrutura de Lewis, as ligações covalentes são
retratadas de forma clara, onde os pares de elétrons compartilhados são
representados como linhas ou pares de pontos entre dois átomos, simbolizando a
partilha de elétrons.
Além disso, os pares isolados de elétrons presentes em cada átomo são
destacados como pares de pontos adjacentes aos átomos correspondentes. É
importante ressaltar que em uma estrutura de Lewis, enfocamos exclusivamente os
elétrons de valência, uma vez que esses são os elétrons envolvidos nas ligações
químicas com maior relevância na determinação das propriedades e comportamentos
químicos das substâncias. Portanto, as estruturas de Lewis fornecem uma
representação simplificada, mas altamente informativa, das ligações covalentes e da
geometria molecular, desempenhando um papel vital em nosso entendimento da
química molecular (CHANG; GOLDSBY, 2013; ATKINS; JONES, 2006).

 Regra do octeto

Formulada por Lewis: qualquer átomo, exceto o hidrogênio, tende a formar


ligações até completar oito elétrons de valência. Em outras palavras, uma ligação
covalente se forma quando não existirem elétrons suficientes para que cada átomo
individual tenha um octeto completo. Os átomos individuais podem completar seus
octetos compartilhando elétrons em uma ligação covalente. No caso particular do
hidrogênio, atinge-se a configuração eletrônica do hélio, isto é, com o total de dois
hidrogênio (ATKINS; JONES, 2006; BROWN, et al., 2016; CHANG; GOLDSBY, 2013)
Os átomos podem formar diferentes tipos de ligações covalentes. Em uma
ligação simples, dois átomos são mantidos juntos por um par de elétrons. Em muitos
compostos existem ligações múltiplas, isto é, ligações em que dois átomos
compartilham um ou mais pares de elétrons. Se dois átomos compartilham dois pares
de elétrons, a ligação covalente é uma ligação dupla. Encontram-se ligações duplas
em moléculas como dióxido de carbono (CO2) e etileno (C2H4):

Quando dois átomos compartilham três pares de elétrons, como na molécula


de nitrogênio (N2), forma-se uma ligação tripla. A molécula de acetileno (C2H2) também
contém uma ligação tripla, neste caso, entre dois átomos de carbono (CHANG;
GOLDSBY, 2013):

 Escrevendo a estrutura de Lewis

Embora a regra do octeto e as estruturas de Lewis não representem uma


imagem completa da ligação covalente, ajudam a explicar as ligações em muitos
compostos e também as propriedades e reações de moléculas. Por essa razão, se
deve saber escrever as estruturas de Lewis dos compostos. As etapas fundamentais
são descritas por Chang e Goldsby (2013):
1. A elaboração do esqueleto estrutural de um composto através das
estruturas de Lewis é um processo fundamental na química. Essa técnica, que
utiliza símbolos químicos, consiste em posicionar próximos os átomos ligados
e representar a conectividade molecular. Em casos de compostos simples,
essa tarefa é relativamente direta, mas para moléculas mais complexas,
demanda informações detalhadas sobre a estrutura molecular ou um raciocínio
lógico embasado no conhecimento químico acumulado. Uma diretriz valiosa é
considerar a eletronegatividade dos átomos, geralmente posicionando o átomo
menos eletronegativo no centro e os mais eletronegativos, como o flúor, nas
extremidades da estrutura, enquanto o hidrogênio também ocupa essas
posições terminais. Esse arranjo possibilita representar a distribuição de
elétrons de valência e as ligações covalentes de maneira precisa, sendo
essencial para compreender a geometria molecular e as propriedades químicas
dos compostos.

2. Uma etapa crucial na criação das estruturas de Lewis é calcular o número


total de elétrons de valência envolvidos. Esse cálculo é essencial para uma
representação precisa. Para alcançá-lo, contamos os elétrons de valência de
cada átomo presente na molécula. Em casos de ânions poliatômicos,
acrescentamos o número de cargas negativas ao total de elétrons de valência.
Por exemplo, para o íon CO_3^(2-), adicionamos dois elétrons, pois a carga 2-
indica dois elétrons adicionais em relação aos fornecidos pelos átomos
constituintes. Em contrapartida, para cátions poliatômicos, subtraímos o
número de cargas positivas desse total. Por exemplo, para NH_4^+, subtraímos
um elétron, pois a carga 1+ indica a perda de um elétron pelo grupo de átomos.
Esse processo é fundamental para garantir que a representação das estruturas
de Lewis reflita com precisão a distribuição dos elétrons de valência,
possibilitando a compreensão da ligação e da geometria molecular.

3. Ao desenhar a estrutura de Lewis para uma molécula, é essencial começar


representando as ligações covalentes simples entre o átomo central e cada um
dos átomos ligados a ele. Este passo permite completar os octetos dos átomos
que estão ao redor do átomo central, garantindo uma distribuição eletrônica
estável. Vale ressaltar que, ao completar os octetos, a camada de valência de
um átomo de hidrogênio é preenchida com apenas dois elétrons. Os elétrons
pertencentes ao átomo central ou aos átomos vizinhos são representados por
pares isolados quando não estão participando de uma ligação. O número total
de elétrons utilizados nesse processo é determinado pelo cálculo do número
total de elétrons de valência na etapa anterior, garantindo uma representação
precisa da estrutura de Lewis e a compreensão da distribuição eletrônica dos
elétrons na molécula.

4. Após a execução das etapas 1 a 3 na elaboração da estrutura de Lewis, é


possível que o átomo central ainda não tenha atingido a estabilidade de oito
elétrons em sua camada de valência. Nesse cenário, é fundamental buscar
soluções para completar o octeto do átomo central, e uma estratégia eficaz é a
formação de ligações duplas ou triplas com os átomos vizinhos. Essas ligações
adicionais permitem a partilha de mais elétrons entre os átomos, contribuindo
para alcançar o octeto desejado para o átomo central. Os pares isolados dos
átomos vizinhos são valiosos nesse processo, pois podem ser utilizados para
estabelecer ligações múltiplas, otimizando a distribuição de elétrons e
conferindo estabilidade à molécula. Assim, essas etapas fornecem uma
abordagem sistemática para garantir que a estrutura de Lewis represente de
maneira precisa a distribuição dos elétrons e a conectividade molecular..

Exemplo 1: Escreva a estrutura de Lewis do trifluoreto de nitrogênio (NF3) em


que os três átomos de F estão ligados ao átomo de N.

Passo 1: O átomo de N é menos eletronegativo que o átomo de F, desta


forma o esqueleto estrutural do NF3 pode ser representado por

Passo 2: A configuração eletrônica das camadas mais externas do N e do


F são, respectivamente. 2s2 2p3 e 2s2 2p5. Assim, existem 5 +
(3 × 7) ou 26 elétrons de valência para distribuir no NF3

Passo 3: Desenhamos uma ligação covalente simples entre o N e cada F e


completamos os octetos para os átomos F. Colocamos os dois
elétrons restantes no N:

Exemplo 2: Escreva a estrutura de Lewis do ácido nítrico (HNO3) em que os


três átomos de O estão ligados ao átomo central N e o átomo de H ionizável está
ligado a um dos átomos de O.
Passo 1: O esqueleto estrutural do HNO3 é
Passo 2: As configurações eletrônicas das camadas mais externas do N, O
e H são, respectivamente, 2s22p3, 2s22p4, 1s1. Assim, existem 5 +
(3 × 6) + 1 ou 24 elétrons de valência para distribuir no HNO3

Passo 3: Desenhamos ligações covalentes simples entre o N e cada um dos


três átomos de O e entre um dos átomos de O e o átomo de H. Em
seguida, distribuímos os elétrons de modo que seja cumprida a
regra do octeto para os átomos de O:

Passo 4: Vemos que essa estrutura satisfaz a regra do octeto para todos os
átomos de O, mas não para o N. Este está com apenas seis
elétrons. Então, devemos mover um par de elétrons isolados de
um átomo de O terminais de modo que seja formada outra ligação
com o N. Assim, a regra do octeto é também satisfeita para os
átomos de N:
4 TEORIA DA LIGAÇÃO DE VALÊNCIA

O modelo de repulsão dos pares de elétrons da camada de valência, baseado


principalmente nas estruturas de Lewis, é um método relativamente simples e direto
de prever a geometria das moléculas. Mas, tal como foi salientado anteriormente, a
teoria de Lewis não explica com clareza por que as ligações químicas se formam. O
estabelecimento de uma relação entre a formação de uma ligação covalente e o
emparelhamento de elétrons foi um passo dado na direção certa, mas não foi
suficiente. Por exemplo, a teoria de Lewis descreve a ligação simples entre os átomos
de hidrogênio na molécula de H2 e entre os átomos de F no F2 essencialmente da
mesma forma (como o emparelhamento de dois elétrons).
No entanto, essas duas moléculas possuem energias de dissociação e
comprimentos de ligação bastante diferentes (436,4 kJ/mol e 74 pm para H2 e 150,6
kJ/mol e 142 pm para F2). Esses e muitos outros fatos não podem ser explicados pela
teoria de Lewis. Para uma explicação mais completa sobre a formação de ligações
químicas, é necessário recorrer à mecânica quântica. O estudo da ligação química
com base na mecânica quântica também permite compreender a geometria molecular
(CHANG; GOLDSBY, 2013).
Atualmente, são usadas duas teorias, com base na mecânica quântica, para
descrever a formação da ligação covalente e a estrutura eletrônica das moléculas. A
Teoria da Ligação De Valência (TLV) supõe que os elétrons em uma molécula ocupam
orbitais atômicos dos átomos individuais. Assim, permite-nos construir uma imagem
de átomos individuais participando na formação das ligações. A segunda teoria,
chamada de Teoria dos Orbitais Moleculares (TOM), já pressupõe a formação de
orbitais moleculares a partir dos orbitais atômicos. Embora nenhuma dessas teorias
explique completamente todos os aspectos da ligação química, cada uma delas tem
dado sua contribuição para a nossa compreensão de muitas propriedades
moleculares observadas (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Comecemos nossa discussão sobre a teoria da ligação de valência
considerando a formação de uma molécula de H2 a partir de dois átomos de H. A
teoria de Lewis descreve a ligação H–H em termos do emparelhamento dos dois
elétrons dos átomos de H. Segundo a teoria da ligação de valência, a ligação
covalente H–H forma-se pelo recobrimento dos dois orbitais atômicos 1s dos átomos
de H. Recobrimento significa o compartilhamento de uma região comum no espaço
pelos dois orbitais (CHANG; GOLDSBY, 2013).
O que acontece aos dois átomos de H à medida que se aproximam para formar
uma ligação? No início, quando os átomos estão bastante afastados, não há interação
entre eles. Dizemos que a energia potencial do sistema (isto é, dos dois átomos H) é
zero. À medida que os átomos vão se aproximando, cada elétron vai sendo atraído
pelo núcleo do outro átomo, ao mesmo tempo, começa a haver repulsão entre os
elétrons e também entre os núcleos dos dois átomos. Enquanto os átomos ainda se
encontram separados, a atração é mais forte do que a repulsão; e a energia potencial
do sistema diminui (isto é, torna-se negativa) à medida que os átomos vão se
aproximando (Figura 1). Essa tendência continua até a energia potencial atingir um
valor mínimo (CHANG; GOLDSBY, 2013).

Figura 12 - Variação de energia potencial de dois átomos de hidrogênio em função


da distância entre os seus núcleos

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

Nesse ponto, em que a energia potencial é a mais baixa, o sistema atinge a


sua maior estabilidade. Essa condição corresponde a um recobrimento significativo
dos orbitais 1s e à formação de uma molécula estável de H2. Se a distância entre os
núcleos continuasse a diminuir, a energia potencial cresceria abruptamente tornando-
se positiva como resultado do aumento das repulsões elétron-elétron e núcleo-núcleo.
Conforme a lei de conservação da energia, a diminuição da energia potencial em
virtude da formação da molécula de H2 deve ser acompanhada de liberação de
energia. Experimentalmente, verifica-se que ocorre liberação de calor à medida que a
molécula de H2 é formada a partir de dois átomos de H. O inverso também é
igualmente verdadeiro. É necessário fornecer energia à molécula para quebrar uma
ligação H–H. A Figura 2 mostra outra forma de visualizar a formação da molécula de
H2 (CHANG; GOLDSBY, 2013).

Figura 13 - Interação entre os orbitais dos átomos de hidrogênio em relação ao


distância

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

Concluímos que a teoria da ligação de valência fornece uma imagem mais clara
da formação da ligação química do que a teoria de Lewis. A teoria da ligação de
valência estabelece que uma molécula estável se forma a partir dos átomos reagentes
quando a energia potencial do sistema atinge um valor mínimo; a teoria de Lewis
ignora as mudanças energéticas que ocorrem durante o processo de formação de
ligações químicas (ATKINS; JONES, 2006).
O princípio do recobrimento de orbitais atômicos é aplicável de maneira
consistente a diversas moléculas diatômicas, não se restringindo apenas ao H2. Esse
conceito é claramente exemplificado na formação de uma molécula estável de F2,
onde os orbitais 2p de dois átomos de flúor, cada um contendo elétrons
desemparelhados, se sobrepõem, resultando numa ligação covalente. De forma
análoga, a molécula de HF se forma através do recobrimento do orbital 1s do
hidrogênio com o orbital 2p do flúor. A Teoria da Ligação de Valência (TLV) analisa
essas interações, considerando variações de energia potencial conforme a distância
entre os átomos participantes da reação. Devido à diversidade de orbitais envolvidos,
é possível compreender por que as energias e comprimentos de ligação podem variar
entre moléculas como H2, F2 e HF. Diferentemente da abordagem de Lewis, que trata
todas as ligações covalentes de maneira uniforme, a TLV nos permite elucidar as
nuances e singularidades de cada ligação, enriquecendo nossa compreensão da
química molecular (ATKINS; JONES, 2006).

4.1 Hibridização em moléculas com ligações duplas e triplas

O conceito de hibridização também é útil para moléculas com ligações duplas


e triplas. Considere, por exemplo, a molécula de etileno, C2H4. A molécula C2H4
contém uma ligação dupla carbono-carbono e apresenta geometria plana. Podemos
explicar a geometria e as ligações no etileno se admitirmos que cada átomo de
carbono apresenta hibridização sp2. Consideramos que apenas os orbitais 2px e 2py
se combinam com o orbital 2s e que o orbital 2pz permanece inalterado. A Figura 3(a)
mostra que o orbital 2pz é perpendicular ao plano dos orbitais híbridos. Como podemos
explicar, agora, a ligação entre os átomos de carbono? Como mostra a Figura 3(a),
cada átomo de carbono usa os três orbitais híbridos sp2 para formar duas ligações
com os orbitais 1s de dois átomos de hidrogênio e uma ligação com o orbital híbrido
sp2 do átomo de carbono adjacente. Além disso, os dois orbitais 2pz não hibridizados
dos átomos de carbono se recobrem lateralmente formando outra ligação [Figura 3(b)]
(CHANG; GOLDSBY, 2013).

Figura 14 - Formação das ligações na molécula de etileno C2H4. (a) vista de topo
das ligações σ; (b) vista lateral mostrando os orbitais 2pz; (c) as interações dos
orbitais formando a ligação π

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

Há dois tipos distintos de ligação covalente na molécula de C2H4. As três


ligações formadas por cada átomo de C na Figura 3(a) são todas ligações sigma
(ligações σ), isto é, ligações covalentes formadas pelo recobrimento dos orbitais pelas
suas extremidades, com a densidade eletrônica concentrada entre os núcleos dos
átomos envolvidos na ligação. O segundo tipo de ligação, designada ligação pi
(ligação π), é definido como ligação covalente formada pelo recobrimento lateral dos
orbitais, com densidade eletrônica concentrada acima e abaixo do plano que contém
os núcleos dos átomos envolvidos na ligação.
Conforme mostrado na Figura 3(b), os dois átomos de C formam uma ligação
pi. É a formação dessa ligação pi que confere ao etileno a sua geometria planar. A
Figura 3(c) mostra a orientação das ligações sigma e pi. A Figura 4 traz outro modo
de representar a molécula C2H4 planar e a formação da ligação pi. Embora
representemos normalmente a ligação dupla carbono-carbono por C=C (como
fazemos em uma estrutura de Lewis) é importante não esquecer que as duas ligações
covalentes são diferentes: uma delas é ligação sigma e a outra é uma ligação pi. De
fato, as energias de ligação são de 270 kJ/mol e 350 kJ/mol para a ligação pi carbono-
carbono e para a ligação sigma carbono-carbono, respectivamente (CHANG;
GOLDSBY, 2013).
Figura 15 - (a) Outra forma de visualizar a ligação π da molécula de eteno; (b) mapa
de potencial eletrostático da molécula de eteno

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

A molécula de acetileno (C2H2) contém uma ligação tripla carbono-carbono.


Como a molécula é linear, podemos explicar a sua geometria e ligações se admitirmos
que cada átomo de carbono apresenta hibridização sp resultante da combinação dos
seus orbitais 2s e 2px (Figura 5).

Figura 16 - Esquema da hibridização sp de um átomo de carbono

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

Tal como mostra a Figura 6, os dois orbitais híbridos sp de cada átomo de


carbono formam uma ligação sigma com o orbital 1s do hidrogênio e outra ligação
sigma com o outro átomo de carbono. Além disso, formam-se duas ligações pi por
recobrimento lateral dos dois orbitais 2py e 2pz não hibridizados. Assim, a ligação 𝐶 ≡
𝐶 é formada por uma ligação sigma e duas ligações pi. A seguinte regra nos ajuda a
prever o tipo de hibridização em moléculas com ligações múltiplas: se o átomo central
formar uma ligação dupla, a sua hibridização é sp2; se formar duas ligações duplas ou
uma ligação tripla, a sua hibridização é sp. Note que essa regra só se aplica aos
átomos de elementos do segundo período. Os átomos de elementos do terceiro
período e de períodos superiores que formam ligações múltiplas constituem um
problema mais complexo (CHANG; GOLDSBY, 2013; BROWN, et al., 2016).

Figura 17 - Ligações na molécula de acetileno. (a) vista de topo mostrando a


recombinação dos orbitais sp dos átomos de carbono; (b) combinação lateral dos
orbitais 2pz e 2py de cada átomo de carbono na formação das ligações π; (c)
esquema dos orbitais recombinados; (d) mapa do potencial eletrostático do eteno

Fonte: Fonte: Chang e Goldsby (2013)

A análise das ligações presentes na molécula de acetileno proporciona uma


compreensão mais aprofundada sobre as interações moleculares envolvidas nesse
composto. Ao observar a molécula de acetileno de cima (vista de topo), é possível
perceber a recombinação dos orbitais sp dos átomos de carbono, o que resulta na
formação de uma ligação covalente. Esse rearranjo dos orbitais é crucial para a
estabilidade da molécula. Além disso, ao observar a combinação lateral dos orbitais
2pz e 2py de cada átomo de carbono, identificamos a formação das ligações π, que
conferem características únicas à molécula. A sobreposição desses orbitais é um
processo fundamental na química orgânica, influenciando propriedades e
comportamentos moleculares. A partir de um esquema representativo dos orbitais
recombinados, podemos visualizar a configuração tridimensional da molécula de
acetileno, essencial para compreender a geometria molecular e a natureza das
ligações presentes.
Complementando, ao observar o mapa do potencial eletrostático do eteno, é
possível compreender a distribuição da densidade eletrônica ao redor da molécula, o
que impacta diretamente em suas propriedades físico-químicas. Aprofundar o
conhecimento sobre as ligações na molécula de acetileno é fundamental para uma
compreensão abrangente da química orgânica e sua aplicação em diversas áreas
científicas e tecnológicas.
5 TEORIA DO ORBITAL MOLECULAR

A Teoria das Ligações de Valência (TLV) é um dos dois métodos de mecânica


quântica que descrevem a formação de ligações químicas em moléculas. Essa teoria
se baseia na extensão espacial dos orbitais atômicos para descrever qualitativamente
a estabilidade das ligações covalentes. Usando o conceito de hibridização, a teoria
das ligações de valência pode explicar geometrias moleculares previstas por modelos
de repulsão de pares de elétrons dentro da camada de valência. No entanto, a
suposição de que os elétrons ocupam orbitais atômicos de átomos individuais em uma
molécula é apenas uma aproximação, uma vez que cada elétron de ligação deve
ocupar um orbital que é característico da molécula. Em alguns casos, a teoria da
ligação valência não pode explicar completamente as propriedades moleculares
observadas. Considere uma molécula de oxigênio cuja estrutura de Lewis é:

Segundo esta explicação, todos os elétrons no O2 estão emparelhados e,


portanto, o oxigênio deve ser diamagnético. No entanto, foi demonstrado
experimentalmente que a molécula de oxigênio tem dois elétrons desemparelhados.
Este fato indica a existência de uma falha fundamental na teoria não ligada e justifica
a busca por abordagens alternativas para explicar a ligação química e as propriedades
do O2 e outras moléculas que não podem ser previstas pela TLV.
Propriedades moleculares, incluindo propriedades magnéticas, podem ser
melhor explicadas por outra teoria da mecânica quântica chamada Teoria do Orbital
Molecular (TOM). A teoria dos orbitais moleculares descreve uma ligação covalente
como um orbital molecular resultante de interações entre os orbitais atômicos dos
átomos envolvidos na ligação e conectados à molécula como um todo. A diferença
entre orbitais moleculares e orbitais atômicos é que os últimos estão ligados apenas
a um átomo (CHANG; GOLDSBY, 2013).

5.1 Orbitais moleculares ligantes e antiligantes

Conforme o TOM, dois orbitais moleculares são formados quando os orbitais


1s de dois átomos de hidrogênio se sobrepõem formando dois novos orbitais,
moleculares ligantes e antiligantes. Um orbital molecular ligante tem menor energia e
maior estabilidade do que o orbital atômico do qual foi formado. Um orbital molecular
antiligante tem maior energia e é menos estável que o orbital atômico do qual foi
formado. Como os termos "ligação" e "antiligação" indicam, a colocação de um elétron
em um orbital molecular ligante resulta em uma ligação covalente estável, enquanto a
colocação de um elétron em um orbital molecular antiligante resulta em uma ligação
instável (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Em um orbital molecular ligante a densidade eletrônica é máxima entre os
núcleos dos átomos envolvidos na ligação. No entanto, em orbitais moleculares
antiligantes, a densidade eletrônica entre os núcleos cai para zero. A compreensão
dessa distinção é facilitada ao se considerar a natureza ondulatória dos elétrons em
orbitais. Uma característica inerente às ondas é a capacidade de interação entre
ondas do mesmo tipo, resultando em ondas com amplitude amplificada ou atenuada
em relação à onda original. No caso da amplificação, essa interação é denominada
interferência construtiva. Na segunda circunstância, onde ocorre a redução da
amplitude, é identificada como interferência destrutiva (conforme ilustrado na Figura
1).

Figura 18 - Tipos de interferência em uma onda (a) construtiva e (b) destrutiva

Fonte: Chang e Goldsby (2013)


A formação de orbitais moleculares ligantes corresponde à interferência
construtiva (o aumento da amplitude da onda se assemelha ao acúmulo de densidade
eletrônica entre dois núcleos). A formação de orbitais moleculares antiligantes
corresponde à interferência destrutiva (uma diminuição na amplitude da onda é
análoga a uma diminuição na densidade eletrônica entre dois núcleos). Interações
construtivas e destrutivas entre os dois orbitais 1s na molécula de H2 formam orbitais
moleculares de ligação sigma (σ1s) e orbitais moleculares σ1s*. Os asteriscos
representam orbitais moleculares antiligantes:

orbital molecular orbital molecular


sigma ligante sigma antiligante
σ1s σ1s*
formado formado
de orbitais 1s de orbitais 1s

Em um orbital molecular sigma (ligação ou antiligação), a densidade eletrônica


é concentrada simetricamente em torno da linha entre os núcleos dos dois átomos
envolvidos na ligação. Uma ligação sigma é formada quando dois elétrons ocupam
um orbital molecular sigma. Observe que as ligações covalentes simples (por
exemplo, H-H ou F-F) são quase sempre ligações sigma (BROWN et al., 2016).

Figura 19 - (a) Níveis de energia dos orbitais moleculares ligantes e antiligantes da


molécula de H2. (b) As interações construtivas e destrutivas entre dois orbitais dando
origem aos orbitais ligantes e antiligantes.

Fonte: Chang e Goldsby (2013)


A Figura 2 mostra o diagrama de nível de energia do orbital molecular, ou seja,
os níveis de energia relativa dos orbitais envolvidos na formação da molécula de H2 e
as interações construtivas e destrutivas entre os dois orbitais 1s. Observe que os
orbitais moleculares antiligantes têm nós entre os núcleos, ou seja, regiões com
densidade eletrônica zero. Como a densidade eletrônica no núcleo é zero, os núcleos
carregados positivamente se repelem em vez de se unirem. Elétrons em orbitais
moleculares antiligantes têm energias mais altas (e menor estabilidade) do que
átomos solitários. Os elétrons em orbitais moleculares ligantes, por outro lado, têm
energias mais baixas (e, portanto, mais estáveis) do que os átomos isolados (CHANG;
GOLDSBY, 2013).
Usamos uma molécula de hidrogênio para ilustrar a formação de orbitais
moleculares (o mesmo conceito pode ser aplicado a outras moléculas). Para a
molécula de H2, consideramos apenas as interações entre os orbitais 1s. Para
moléculas mais complexas, outros orbitais atômicos devem ser considerados. No
entanto, para todos os orbitais s, o processo é o mesmo que usamos para os orbitais
1s. Portanto, as interações entre dois orbitais 2s ou 3s podem ser tratadas de forma
semelhante àquelas mostradas no diagrama de nível de energia do orbital molecular
e no esquema de formação de orbitais moleculares ligante e antiligante, conforme
mostrado na Figura 2 (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Para orbitais p, o processo é mais complicado, pois eles podem interagir de
duas maneiras diferentes. Por exemplo, dois orbitais 2p podem se aproximar de ponta
a ponta para formar dois orbitais moleculares sigma, um ligante e um antiligante,
conforme mostrado na Figura 3a. Alternativamente, dois orbitais p podem se sobrepor
lateralmente para criar dois orbitais moleculares pi, um ligante e um antiligante,
conforme mostrado na Figura 3b:

orbital molecular orbital molecular


pi ligante pi antiligante
π2p π2p*
formado formado
de orbitais 2p de orbitais 2p
Um orbital molecular π (ligação ou antiligação) concentra a densidade
eletrônica acima e abaixo da linha que conecta os núcleos dos dois átomos envolvidos
na ligação.

Figura 20 – Interações possíveis para os orbitais p; (a) quando dois orbitais p


interagem pelas suas extremidades (ligação sigma); (b) quando dois orbitais p
interagem perpendicularmente (ligação pi)

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

Dois elétrons em um orbital molecular pi formam uma ligação pi. As ligações


duplas são mais frequentemente compostas de ligações sigma e pi. Uma ligação tripla
sempre consiste em uma ligação sigma e duas ligações pi.

5.2 Configurações dos orbitais moleculares

Para compreender as propriedades das moléculas, é necessário saber como


estão distribuídos os elétrons nos orbitais moleculares. O procedimento para
determinar a configuração eletrônica de uma molécula é parecido ao utilizado para
estabelecer as configurações dos átomos.

 Regra que regem a configuração eletrônica e a estabilidade molecular

Para escrevermos a configuração eletrônica de uma molécula, devemos


primeiro colocar os orbitais moleculares em ordem crescente de energia. Em seguida,
podemos utilizar as seguintes regras para preenchê-los com elétrons. As regras
também nos ajudam a compreender as estabilidades dos orbitais moleculares
(CHANG; GOLDSBY, 2013):
1. O número de orbitais moleculares que se formam é sempre igual ao número
de orbitais atômicos que se combinam;
2. Quanto mais estável for o orbital molecular ligante, menos estável será o
correspondente orbital molecular antiligante;
3. O preenchimento de orbitais moleculares faz-se em ordem crescente de
energia. Em uma molécula estável, o número de elétrons em orbitais
moleculares ligantes é sempre maior do que o número de elétrons em
orbitais antiligantes, porque colocamos os elétrons, em primeiro lugar, nos
orbitais moleculares ligantes de energia mais baixa;
4. Tal como um orbital atômico, cada orbital molecular pode acomodar, no
máximo, dois elétrons com spins opostos, de acordo com o princípio de
exclusão de Pauli;
5. Quando os elétrons são colocados em orbitais moleculares de mesma
energia, o arranjo mais estável é previsto pela regra de Hund, isto é, os
elétrons entram nos orbitais moleculares com spins paralelos.
6. O número de elétrons nos orbitais moleculares é igual à soma de todos os
elétrons dos átomos envolvidos na ligação.

 Moléculas de hidrogênio e de hélio

Adiante, nesta seção, estudaremos moléculas formadas por átomos de


elementos do segundo período. Antes, porém, será útil prever as estabilidades
relativas das espécies simples 𝐻2+ , 𝐻2 , 𝐻𝑒2+ 𝑒 𝐻𝑒2 , utilizando os diagramas de níveis
de energia de orbitais moleculares mostrados na Figura 4. Os orbitais σ1s e σ1s*,
podem acomodar um máximo de quatro elétrons. O número total aumenta de um
elétron no 𝐻2+ até quatro elétrons no 𝐻𝑒2 . O princípio de exclusão de Pauli estabelece
que cada orbital molecular pode acomodar, no máximo, dois elétrons com spins
opostos. Nesses casos, nos interessam apenas as configurações eletrônicas do
estado fundamental (CHANG; GOLDSBY, 2013).

Figura 21 - Nível de energia dos orbitais moleculares ligantes e antiligantes das


espécies 𝑯+ +
𝟐 , 𝑯𝟐 , 𝑯𝒆𝟐 𝒆 𝑯𝒆𝟐

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

Para avaliarmos as estabilidades dessas espécies, calculamos a ordem de


ligação definida como:

1
𝑂𝑟𝑑𝑒𝑚 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑔𝑎çã𝑜 = (𝑛° 𝑑𝑒 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠 𝑒𝑚 𝑂𝑀 𝑙𝑖𝑔𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 − 𝑛° 𝑑𝑒 𝑒𝑙é𝑡𝑟𝑜𝑛𝑠 𝑒𝑚 𝑂𝑀 𝑎𝑛𝑡𝑖𝑙𝑖𝑔𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠)
2

A ordem de ligação indica a força de uma ligação. Por exemplo, se há dois


elétrons nas orbitais moleculares ligantes e nenhum nas orbitais moleculares
antiligantes, a ordem de ligação é 1, o que significa que existe uma ligação covalente
que a molécula é estável. Note que a ordem de ligação pode ser fracionária, mas, se
for zero (ou tiver um valor negativo), isso significa que a ligação é instável que a
molécula não pode existir. A ordem de ligação só pode ser utilizada para se fazer
comparações qualitativas. Por exemplo, tanto um orbital molecular sigma ligante como
dois elétrons, quanto um orbital molecular pi ligante, também com dois elétrons,
apresentam ordem de ligação 1. Contudo, essas duas ligações são distintas com
relação à força e ao comprimento porque as extensões das interações dos orbitais
são diferentes (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Os íons 𝐻2+ possui apenas um elétron no orbital σ1s. Como na ligação covalente
devem existir dois elétrons no orbital molecular ligante, o 𝐻2+ tem apenas metade de
uma ligação, ou seja, uma ordem de ligação de ½ . Assim, sendo, prevemos que a
entidade 𝐻2+ seja estável. A sua configuração eletrônica é representada por σ1s1
(BROWN et al., 2016).
A molécula de 𝐻2 tem dois elétrons, ambos no orbital σ1s. De acordo com o
nosso esquema, dois elétrons equivalem a uma ligação inteira: portanto, a molécula
de 𝐻2 tem ordem de ligação 1, ou seja, uma ligação covalente inteira. A configuração
eletrônica do 𝐻2 é σ1s2 (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Para o íon molecular 𝐻𝑒2+ , devemos colocar os primeiros dois elétrons no orbital
σ1s, e o terceiro elétron no orbital σ1s*. Como o orbital molecular antiligante
desestabiliza a espécie molecular, esperamos que o 𝐻𝑒2+ seja menos estável do que
o 𝐻2 . Em uma primeira aproximação, a instabilidade resultante do elétron no orbital
antiligante é cancelada pela presença de um dos elétrons no orbital ligante. A ordem
de ligação é ½ (2-1) = ½ e a estabilidade global do 𝐻𝑒2+ é semelhante à do íon
molecular 𝐻2+ . A configuração eletrônica do 𝐻𝑒2+ é (σ1s)2 (σ1s*)1 (CHANG; GOLDSBY,
2013).
O 𝐻𝑒2 teria dois elétrons no orbital σ1s e dois elétrons no orbital σ1s*, a ordem
de ligação seria zero e a molécula seria instável. A configuração eletrônica do 𝐻𝑒2
seria (σ1s)2 (σ1s*)2. Resumindo, podemos colocar essas quatro espécies em ordem
decrescente de estabilidade, da seguinte maneira:

𝐻2 > 𝐻2+ , 𝐻𝑒2+ > 𝐻𝑒2

Sabemos que a molécula de hidrogênio é estável. O nosso método simples de


orbitais moleculares prevê que 𝐻2+ e 𝐻𝑒2+ possuem também alguma estabilidade, pois
ambos têm ordem de ligação ½ . De fato, suas existências foram demonstradas
experimentalmente. O íon molecular 𝐻2+ é um pouco mais estável do que o íon 𝐻𝑒2+ ,
porque possui apenas um elétron e por isso não existe nele repulsão elétron-elétron.
Além disso, a repulsão nuclear também é menor para o 𝐻2+ do que para o 𝐻𝑒2+ . A
nossa precisão acerca de 𝐻𝑒2 é de que essa molécula é instável. Contudo, em 1993,
verificou-se experimentalmente que moléculas gasosas de 𝐻𝑒2 podem existir, mas
apenas sob condições especiais e seu tempo de vida é muito curto (CHANG;
GOLDSBY, 2013; ATKINS; JONES, 2006).
6 MOLÉCULAS DIATÔMICAS HOMONUCLEARES

Agora estamos em condições de estudar as configurações eletrônicas do


estado fundamental de moléculas constituídas por elementos do segundo período.
Consideraremos apenas o caso mais simples de moléculas diatômicas
homonucleares, ou seja, moléculas diatômicas que contêm átomos do mesmo
elemento (CHANG; GOLDSBY, 2013).
A Figura 1 mostra o diagrama de níveis de energia de orbitais moleculares para
a molécula do primeiro elemento do segundo período, Li2. Esses orbitais moleculares
são formados pelo recobrimento de orbitais 1s e 2s. A seguir utilizaremos o diagrama
para construir todas as moléculas diatômicas (CHANG; GOLDSBY, 2013).
A situação é mais complexa quando a ligação envolve também orbitais p. Dois
orbitais p podem formar uma ligação sigma ou uma ligação pi. Como há três orbitais
p para cada átomo de qualquer elemento do segundo período, sabendo que a partir
da interação construtiva dos orbitais atômicos resultarão um orbital molecular sigma e
dois orbitais pi. O orbital molecular sigma forma-se pela interação dos orbitais 2p, ao
longo do eixo internuclear, isto é, do eixo x. Os orbitais 2py e 2pz são perpendiculares
ao eixo x e se recobrem lateralmente dando origem a dois orbitais moleculares pi. Os
orbitais moleculares que se formam são designados 𝜎2𝑝𝑥 , 𝜋2𝑝𝑦 𝑒 𝜋2𝑝𝑧 (CHANG;
GOLDSBY, 2013).

Figura 22 - Diagrama de níveis de energia dos orbitais moleculares para a molécula


de Li2

Fonte: Chang e Goldsby (2013)


Em que os índices subscritos indicam quais são os orbitais atômicos que
participam na formação dos orbitais moleculares. A Figura 1 mostra que o
recobrimento dos dois orbitais p geralmente é maior em um orbital molecular sigma
do que em um orbital molecular pi, assim esperaríamos que o primeiro apresentasse
uma energia menor. Contudo, as energias dos orbitais moleculares aumentam na
seguinte ordem:

∗ ∗ ∗ ∗ ∗
𝜎1𝑠 < 𝜎1𝑠 < 𝜎2𝑠 < 𝜎2𝑠 < 𝜋2𝑝𝑦 = 𝜋2𝑝𝑧 < 𝜎2𝑝𝑥 < 𝜋2𝑝𝑦
= 𝜋2𝑝𝑧
< 𝜎2𝑝𝑥

A inversão de energia entre o orbital 𝜎2𝑝𝑥 e os orbitais 𝜋2𝑝𝑦 = 𝜋2𝑝𝑧 é decorrente


da interação entre o orbital 2s de um átomo e orbital 2p do outro. Na terminologia da
TOM, dizemos que esses orbitais se misturam. No entanto, para haver combinação,
os orbitais 2s e 2p devem ter energias com valores muito próximo. Essa condição
existe para moléculas dos elementos de menor número atômico, B2, C2 e N2, e como
resultado tem-se que o orbital 𝜎2𝑝𝑥 fica com energia relativa superior a dos orbitais
𝜋2𝑝𝑦 𝜋2𝑝𝑧 , como mostramos anteriormente. O processo é menos pronunciado para o

O2 e o F2 e nessa molécula o orbital 𝜎2𝑝𝑥 fica com energia inferior a dos orbitais
𝜋2𝑝𝑦 𝜋2𝑝𝑧 (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Considerando esses conceitos e recorrendo à Figura 2, que mostra a ordem
crescente de energia para os orbitais moleculares 2p, podemos escrever as
configurações eletrônicas e prever as propriedades magnéticas e as ordens de ligação
das moléculas diatômicas homonucleares de elementos do segundo período
(CHANG; GOLDSBY, 2013).

6.1 Molécula de Carbono (C2)

O átomo de carbono tem configuração eletrônica 1s22s22p2, portanto, há 12


elétrons na molécula de C2. Partindo da configuração do Li2, para o C2 temos que
acrescentar quanto elétrons adicionais nos orbitais 𝜋2𝑝𝑦 e 𝜋2𝑝𝑧 . Assim, a configuração
eletrônica do C2 é:
2 2
∗ )2 (𝜎 )2 (𝜎 ∗ )2
(𝜎1𝑠 )2 (𝜎1𝑠 2𝑠 2𝑠 (𝜋2𝑝𝑦 ) (𝜋2𝑝𝑧 )

A ordem de ligação nesse caso é 2 e a molécula não tem elétrons


desemparelhados. A existência de moléculas diamagnéticas C2 no estado gasoso já
foi detectada. Observe que as ligações duplas no C2, são ambas ligações pi, porque
os quatro elétrons estão em dois orbitais moleculares pi. Para a maioria das
moléculas, uma ligação dupla é formada por uma ligação sigma e por uma ligação pi
(CHANG; GOLDSBY, 2013).

Figura 23 - Diagrama geral de nível de energia dos orbitais moleculares para


moléculas diatômicas homonucleares de elementos do segundo período: Li2, Be2,
B2, C2 e N2

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

6.2 Molécula de Oxigênio (O2)

Como afirmamos anteriormente, a teoria da ligação de valência não permite


explicar as propriedades magnéticas da molécula de oxigênio. Para mostrar os dois
elétrons desemparelhados nessa moléculas, precisamos recorrer a uma estrutura de
ressonância alternativa àquela apresentada anteriormente (CHANG; GOLDSBY,
2013):

Essa estrutura é insatisfatória, pelo menos por duas razões. Em primeiro lugar,
implica a presença de uma ligação covalente simples, mas os resultados
experimentais dão forte evidência da existência de uma ligação dupla na molécula.
Em segundo lugar, existem sete elétrons de valência ao redor de cada átomo de
oxigênio, o que viola a regra do octeto.
A configuração eletrônica do O no estado fundamental é 1s2 2s2 2p4: portanto
há 16 elétrons na molécula de O2. Seguindo a ordem crescente de energia dos orbitais
moleculares, podemos escrever a configuração eletrônica da molécula de O2 no
estado fundamental como (CHANG; GOLDSBY, 2013):

2 2 2 1 1
∗ )2 (𝜎 )2 (𝜎 ∗ )2
(𝜎1𝑠 )2 (𝜎1𝑠 ∗ ∗
2𝑠 2𝑠 (𝜎2𝑝𝑥 ) (𝜋2𝑝𝑦 ) (𝜋2𝑝𝑧 ) (𝜋2𝑝𝑦 ) (𝜋2𝑝𝑧 )

De acordo com a regra de Hund, os últimos dois elétrons entram nos orbitais
∗ ∗
𝜋2𝑝𝑦
e 𝜋2𝑝𝑧
com spins paralelos. Se ignorarmos os orbitais 𝜎1𝑠 e 𝜎2𝑠 (porque seus

efeitos na formação da ligação se anulam), podemos calcular a ordem de ligação do


O 2:
1
𝑜𝑟𝑑𝑒𝑚 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑔𝑎çã𝑜 = (6 − 2) = 2
2

Assim, a molécula de O2 tem ordem de ligação 2 e é paramagnética. A previsão


segundo esse modelo, portanto, é coerente com as observações experimentais. A
Tabela 1 resume as propriedades gerais das moléculas diatômicas estáveis do
segundo período (CHANG; GOLDSBY, 2013).

Tabela 2 - Propriedades de moléculas diatômicas homonucleares de elementos do


segundo período
Energia de
Ordem de Comprimento da Propriedades
ligação
ligação ligação (pm) magnéticos
(kJ/mol)
Li2 1 267 104,6 Diamagnético
B2 1 159 288,7 Paramagnético
C2 2 131 627,6 Diamagnético
N2 3 110 941,4 Diamagnético
O2 2 121 498,7 Paramagnético
F2 1 142 156,9 Diamagnético
Fonte: adaptado de Chang e Goldsby (2013)

6.3 Ligações em moléculas diatômicas heteronucleares

A ligação presente em uma molécula diatômica heteronuclear, constituída por


átomos de elementos distintos, caracteriza-se como polar, uma vez que os elétrons
são compartilhados de forma desigual entre esses dois átomos. Podemos então,
escrever:

Ψ = cA Ψ𝐴 + 𝑐𝐵

Os coeficientes cA e cB diferem um do outro. Quando interpretamos essas


funções de onda em termos de probabilidade, conforme a teoria do orbital molecular,
calculamos o quadrado das suas respectivas amplitudes. A proporção de ψ atribuída
a ψ_A é cA², e a proporção atribuída a ψ_B é cB². Os valores relativos de cA e cB
determinam o tipo de ligação:
• Em uma ligação covalente polar, c_A =c_B, resultando em um
compartilhamento equitativo do par de elétrons entre os dois átomos.
• Em uma ligação iônica, o coeficiente de um dos íons se aproxima de
zero, uma vez que o outro íon retém quase toda a densidade eletrônica.
• Em uma ligação covalente polar, o orbital atômico do átomo mais
eletronegativo possui menor energia, resultando numa contribuição
significativa para o orbital molecular de menor energia. Em contraste, a
contribuição do orbital atômico de maior energia, pertencente ao átomo
menos eletronegativo, é mais notável para o orbital molecular de maior
energia (ou mais antiligante) (ATKINS; JONES, 2006).

Para encontrar a configuração eletrônica do estado fundamental das moléculas


diatômicas heteronucleares, utilizamos o mesmo procedimento que usamos para as
moléculas diatômicas homonucleares; mas, primeiro, devemos modificar os
diagramas de níveis de energia. Por exemplo, a molécula de HF. A ligação σ desta
molécula é formada por um par de elétrons em um orbital σ, construído a partir dos
orbitais F2pz e H1s. Como a eletronegatividade do flúor é 4,0 e a do hidrogênio é 2,2,
podemos admitir que o orbital σ ligante tem caráter predominantemente F2pz e que o
orbital σ antiligante tem maior caráter H1s. Estas composições são confirmadas por
cálculos teóricos. Como os dois elétrons dos orbitais ligantes são mais provavelmente
encontrados no orbital F2pz do que no orbital H1s, existe uma carga parcial negativa
no átomo de F e uma carga parcial positiva no átomo de H (ATKINS; JONES, 2006).
6.4 Orbitais em moléculas poliatômicas

A teoria dos orbitais moleculares de moléculas poliatômicas segue os mesmos


princípios descritos para as moléculas diatômicas, porém, os orbitais moleculares se
espalham sobre todos os átomos da molécula. Os elétrons presentes em um orbital
ligante desempenham um papel essencial na união de toda a molécula, não se
restringindo a apenas um par de átomos. A energia dos orbitais moleculares em
moléculas poliatômicas pode ser investigada experimentalmente utilizando
espectroscopia nas faixas visível e ultravioleta (ATKINS; JONES, 2006).
A descrição da ligação em moléculas poliatômicas pode ser muito complexa.
Podemos, entretanto, ilustrar qualitativamente o uso da teoria dos orbitais moleculares
descrevendo as ligações de uma das moléculas poliatômicas simples mais importante,
a água. Os orbitais atômicos na molécula de água compreendem um O2s, três O2p e
dois H1s. Esses seis orbitais desempenham um papel fundamental na formação de
seis orbitais moleculares, nos quais a intensidade do caráter de ligação está
correlacionada ao número de nodos internucleares. O orbital molecular sem átomos
vizinhos é integralmente ligante, e sua ocupação é essencial para manter a coesão
de todos os átomos na molécula.
O orbital entre todos os pares de átomos vizinhos é totalmente antiligante e, se
ocupado, contribui para separar todos os átomos. Existem oito elétrons a serem
acomodados: seis do átomo de oxigênio e um de cada átomo hidrogênio. Dois elétrons
no orbital de menor energia, mais ligante, mantêm os três átomos juntos. Dois elétrons
no orbital formado somente pelo orbital O2px (em que x é perpendicular ao plano da
molécula) estão localizados completamente sobre o átomo de oxigênio e não
contribuem diretamente para a ligação. Quando ocupado, um orbital com essas
características não exibe caráter ligante ou antiligante, sendo designado como um
orbital não-ligante. Em certas situações, um orbital não-ligante pode consistir em um
único orbital atômico. Contudo, em outros casos, pode ser uma combinação linear de
orbitais atômicos de átomos que não são vizinhos, com uma sobreposição
praticamente insignificante (ATKINS; JONES, 2006).
Figura 24 - Distribuições dos orbitais moleculares da água

Fonte: Duarte (2018)


7 LIGAÇÃO NOS COMPOSTOS DE COORDENAÇÃO: TEORIA DO CAMPO
CRISTALINO

Os metais de transição possuem uma tendência característica a formar íons


complexos. Um composto de coordenação consiste tipicamente em um íon complexo
e o seu contra-íon (Note que alguns compostos de coordenação como o Fe (CO)5 não
contêm íon complexo). Nosso entendimento sobre os compostos de coordenação
provém do clássico trabalho do químico suíço Alfred Werner, que preparou e
caracterizou muitos compostos de coordenação. Em 1893, com 26 anos, Werner
propôs o que hoje é conhecida como a teoria de coordenação de Werner (CHANG;
GOLDSBY, 2013).
Os químicos do século XIX andavam intrigados com certa classe de reações
que pareciam violar a teoria da valência. Por exemplo, as valências dos elementos no
cloreto de cobalto (III) e na amônia parecem estar completamente satisfeitas, no
entanto, essas duas substâncias reagem para formar um composto estável com a
fórmula CoCl6.6NH3. Para explicar esse comportamento, Werner postulou que a
maioria dos elementos exibe dois tipos de valências: valência primária e valência
secundária. Na terminologia moderna, a valência primária corresponde ao número de
oxidação e a valência secundária ao número de coordenação do elemento. Segundo
Werner, no CoCl3.6NH3 o cobalto tem valência primária 3 e valência secundária 6
(CHANG; GOLDSBY, 2013).
Hoje usamos a fórmula [Co(NH3)6]Cl3 para indicar que as moléculas de amônia
e o cobalto formam um íon complexo; o íons cloreto não fazem parte do complexo,
mas estão ligados a ele por forças eletrostáticas. A maioria dos metais em compostos
de coordenação são metais de transição (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Uma teoria satisfatória para as ligações nos compostos de coordenação deve
explicar as propriedades como a cor e magnetismo, bem como a estereoquímica e a
força das ligações. Até agora, nenhuma teoria conseguiu alcançar tal objetivo. Em vez
disso, várias abordagens têm sido aplicadas aos complexos dos metais de transição.
Aqui, consideraremos apenas uma delas (teoria do campo cristalino), porque explica
as cores e as propriedades magnéticas de muitos compostos de coordenação.
Começaremos nossa discussão da teoria do campo cristalino com os íons
complexos de geometria octaédrica. Depois, veremos como a teoria aplica-se a outros
compostos de coordenação (CHANG; GOLDSBY, 2013).

7.1 Desdobramento do campo cristalino em complexos octaédricos

A teoria do campo cristalino explica as ligações nos íons complexos puramente


em ermos de força eletrostática. Em um íon complexo, há dois tipos de interações
eletrostáticas. Uma delas é a atração entre o íon metálico positivo e os ligantes
carregados negativamente ou a extremidade negativa de um ligante polar. Essa é a
força que une os ligantes ao metal. O segundo tipo de interação é a repulsão
eletrostática entre os pares não compartilhados nos ligantes e os elétrons nos orbitais
dos metais (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Os orbitais d têm orientações diferentes, mas na ausência de uma pertubação
externa todos têm a mesma energia. Em um complexo octaédrico, um átomo metálico
está circundado por seis pares de elétrons não compartilhados e, portanto, os cinco
orbitais d sentem a repulsão eletrostática. A intensidade dessa repulsão eletrostática
depende da orientação dos orbitais d envolvidos. Considere o orbital 𝑑𝑥 2 −𝑦2 , como
exemplo. Na Figura 1, vemos que os lóbulos desse orbital apontam para os vértices
do octaedro ao longo do eixo x e y, onde os pares de elétrons não compartilhados
estão posicionados. Dessa forma, um elétron presente nesse orbital enfrentará uma
repulsão mais intensa dos ligantes em comparação a um elétron em um orbital d_xy,
por exemplo. Por isso, a energia do orbital d_(x^2-y^2) é elevada em relação aos
orbitais d_xy, d_yz e d_xz. Além disso, a energia do orbital d_(z^2) também é maior,
devido aos seus lóbulos estarem direcionados para os ligantes no eixo z (ATKINS;
JONES, 2006; CHANG; GOLDSBY, 2013).
Figura 25 - Os cinco orbitais d em um ambiente octaédrico

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

Como resultado dessas interações metal-ligante, os cinco orbitais d em um


complexo octaédrico estão desdobrados em dois níveis de energia: um nível mais alto
com dois orbitais (𝑑𝑥 2−𝑦2 , 𝑑𝑧 2 ) com a mesma energia e um nível inferior com três
orbitais de mesma energia ( 𝑑𝑥𝑦 , 𝑑𝑦𝑧 , 𝑑𝑥𝑧 ), como ilustrado na Figura 2. O
desdobramento do campo cristalino (Δ) é a diferença de energia entre dois conjuntos
de orbitais d de um átomo metálico quando os ligantes estão presentes. A magnitude
de Δ depende do metal e da natureza dos ligantes e tem um efeito direto na cor e nas
propriedades magnéticas dos íons complexos (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Figura 26 - Desdobramento do campo cristalino dos orbitais d em complexos
octaédricos

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

7.2 Complexos tetraédricos e quadrados planares

Até agora nos concentramos nos complexos octaédricos. O desdobramento


dos níveis de energia dos orbitais d em dois outros tipos de complexos (tetraédricos e
quadrado planares) também pode ser explicado satisfatoriamente pela teoria do
campo cristalino. De fato, o padrão para o desdobramento de um íon tetraédrico é
exatamente o inverso dos complexos octaédricos. Neste caso, os orbitais 𝑑𝑥𝑦 , 𝑑𝑦𝑧 e
𝑑𝑥𝑧 estão dirigidos mais para perto dos ligantes e, portanto, têm maior energia do que
os orbitais 𝑑𝑥 2 −𝑦2 , 𝑑𝑧 2 (Figura 3). Presumivelmente, o arranjo tetraédrico reduz a
magnitude das interações metal-ligante, resultando em um valor mais baixo de Δ em
comparação o caso octaédrico. Esta é uma hipótese razoável, pois o número de
ligantes é menor em um complexo tetraédrico.
Figura 27 - Desdobramento do campo cristalino entre os orbitais d em um complexo
tetraédrico

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

De acordo com a Figura 4, o padrão do desdobramento para os complexos


quadrados planares é o mais complicado. Certamente o orbital 𝑑𝑥 2 −𝑦2 possui a
energia mais alta (como no caso octaédrico) e o orbital 𝑑𝑥𝑦 a segunda mais alta.
Contudo, a posição relativa dos orbitais 𝑑𝑧 2 , 𝑑𝑥𝑧 e 𝑑𝑦𝑧 não pode ser determinada
apenas por inspeção e tem de ser calculada.

Figura 28 - Diagrama dos níveis de energia para um complexo quadrado planar

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

7.3 Cor

Para podermos perceber as cores, é essencial que os objetos que observamos


absorvam luz visível, que compreende a radiação eletromagnética com comprimentos
de onda variando de 400 a 700 nm (conforme representado na Figura 5). A luz branca,
por definição, incorpora todos os comprimentos de onda nessa faixa visível

Figura 29 - Roda das cores mostrando os comprimentos de onde apropriados e as


cores complementares.

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

As informações sobre a luz refletida são igualmente aplicáveis à luz transmitida,


isto é, àquela que atravessa um meio, como, por exemplo, uma solução. Considere o
íon cúprico hidratado, [Cu(H2O)6]2+, que absorve luz na região laranja do espectro, de
modo que a solução parece azul para nós. A energia de um fóton (partícula da luz) é
igual à diferença entre o estado fundamental e um estado excitado, ocorre a absorção
quando o fóton atinge o átomo (ou íon, ou composto) e um elétron é promovido a um
nível superior. Este conhecimento permite calcular a variação de energia envolvida na
transição do elétron. A energia de um fóton é dada pela seguinte equação:
𝐸 = ℎ𝜈
Onde ℎ representa a constante de Plank (6,63 × 10−34 𝐽. 𝑠) e 𝜈 é a frequência
da radiação, que é 5,00 × 1014 𝐻𝑧 para o comprimento de onda de 600 nm. Aqui o 𝐸 =
Δ, portanto, temos
Δ = (6,63 × 10−34 )(5,00 × 1014 )
Δ = 3,32 × 10−19 𝐽
Repare que esta é a energia absorvida por um íon. Se o comprimento de onda
do fóton absorvido fica fora da região do visível, então a luz transmitida parece-nos
igual à luz incidente, branca, e o íon aparece incolor.
A melhor maneira de medir o desdobramento do campo cristalino é usando a
espectroscopia a fim de determinar o comprimento de onda em que a luz é absorvida.
O íon [Ti(H2O)6]3+ é um exemplo simples, porque o Ti3+ tem apenas um elétron 3d. O
íon [Ti(H2O)6]3+ absorve luz na região visível do espectro. O comprimento de onda
correspondente ao máximo de absorção é 498 m. Esta informação permite calcular o
desdobramento do campo cristalino da seguinte forma:

Δ = ℎ𝜈
Também
𝑐
𝜈=
𝜆
Onde c é a velocidade da luz e λ é o comprimento de onda. Portanto,

ℎ𝑐 (6,63 × 10−34 )(3,00 × 108 )


Δ= = −9
= 3,99 × 10−19 𝐽
𝜆 498 × 10

Está é a energia necessária para excitar um íon [Ti(H2O)6]3+. Para exprimir esta
diferença de energia nas unidades mais convenientes de quilojoules por mol,
escrevemos:

Δ = 3,99 × 10−19 )(6,02 × 1023 )


Δ = 240000 𝐽/𝑚𝑜𝑙 = 240 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙

Com o auxílio dos dados espectroscópicos para uma série de complexos, todos
com o mesmo íon metálico mais ligantes diferentes, os químicos calcularam o
desdobramento cristalino para cada ligante e estabeleceram a série espectroquímica,
que é uma lista de ligantes dispostos em ordem crescente da sua capacidade de
desdobrar os níveis de energia dos orbitais d:

𝐼 − < 𝐵𝑟 − < 𝐶𝑙− < 𝐹 − < 𝐻2 𝑂 < 𝑁𝐻3 < 𝑒𝑛 < 𝐶𝑁 − < 𝐶𝑂

Estes ligantes estão em ordem crescente de Δ. CO e CN- são chamados de


ligantes de campo forte, porque causam um grande desdobramento dos níveis de
energia dos orbitais d. Os íons haleto e o íon hidróxido são ligantes de campo fraco,
porque desdobram menos os orbitais d (CHANG; GOLDSBY, 2013).
7.4 Propriedades magnéticas

A magnitude do desdobramento do campo cristalino também determina as


propriedades magnéticas de um íon complexo. O íon [Ti(H2O)6]3+, tendo apenas um
elétron d, é sempre paramagnético. Contudo, para um íon com vários elétrons d, a
situação é menos clara. Considere, por exemplo, os complexos octaédricos [FeF6]3- e
[Fe(CN)6]3- (Figura 6).

Figura 30 - Diagrama de níveis de energia para o íon Fe3+ nos complexos


com flúor e cianeto

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

A configuração eletrônica do Fe3+ é [Ar]3d5 e há duas maneiras possíveis de


distribuir os cinco elétrons d, pelos orbitais d. De acordo com a regra de Hund, atinge-
se a estabilidade máxima quando os elétrons são colocados em cinco orbitais
separados com spins paralelos. Mas este arranjo apenas pode ser alcançado a um
custo: dois dos cinco elétrons têm de ser promovidos aos orbitais de maior energia
𝑑𝑥 2−𝑦2 e 𝑑𝑧 2 . Este investimento em energia não é necessário se todos os elétrons
ficarem nos orbitais 𝑑𝑥𝑦 , 𝑑𝑦𝑧 e 𝑑𝑥𝑧 . De acordo com o princípio de exclusão de Pauli,
neste caso haverá apenas um elétron desemparelhado (ATKINS; JONES, 2006).
A Figura 7 mostra a distribuição dos elétrons nos orbitais d que resulta em
complexos de spin baixo e de spin alto. A configuração real dos elétrons é
estabelecida pela conquista de estabilidade ao garantir o alinhamento máximo de
spins paralelos, minimizando, assim, o gasto de energia exigido para elevar elétrons
aos orbitais d mais elevados. Como o F- é um ligante de campo fraco, os cinco elétrons
d vão para cinco orbitais d separados com spins paralelos, criando um complexo de
spin alto. Por outro lado, o íon cianeto é um ligante de campo forte, por isso, é
energeticamente preferível que os cinco elétrons fiquem nos orbitais inferiores
formando-se um complexo de spin baixo. Os complexos de spin alto são mais
paramagnéticos do que os complexos de spin baixo (CHANG; GOLDSBY, 2013).

Figura 31 - Diagrama de orbitais para os complexos octaédricos de spin alto e spin


baixo

Fonte: Chang e Goldsby (2013)

É possível conhecer o número real de elétrons desemparelhados (ou de spins)


em um complexo por meio de medidas magnéticas. De maneira geral, os resultados
experimentais confirmam as previsões derivadas do desdobramento do campo
cristalino. No entanto, a distinção entre complexos de spin baixo e alto é possível
somente quando o íon metálico abriga mais de três e menos de oito elétrons d (como
demonstrado na Figura 7).
8 QUÍMICA DOS ELEMENTOS REPRESENTATIVOS

8.1 Os metais alcalinos

Os elementos pertencentes ao Grupo 1, também denominados metais


alcalinos, representam o conjunto mais eletropositivo de elementos identificados na
tabela periódica. Esses elementos compartilham diversas propriedades semelhantes,
algumas das quais estão detalhadas na Tabela 1. De acordo com suas configurações
eletrônicas, é previsto que o número de oxidação desses elementos em seus
compostos seja +1. Isso ocorre porque os cátions resultantes são isoeletrônicos com
os gases nobres (BROWN et al., 2016).
Os metais alcalinos têm ponto de fusão baixo e são suficientemente macios
que podem ser cortados com uma faca. Estes metais possuem uma estrutura cúbica
de corpo centrado com baixa eficiência de empacotamento, o que explica as suas
baixas densidades em comparação com os outros metais. De fato, o lítio é o mais leve
de todos os metais conhecidos. Dada a sua elevada reatividade química, os metais
alcalinos nunca são encontrados na natureza em sua forma elementar, eles se
apresentam sempre combinados com íons como cloreto, brometo, iodeto, fluoreto,
sulfato, carbonato e silicato. A seguir, descreveremos a química dos elementos sódio
e potássio, como principais representantes dos alcalinos (ATKINS; JONES, 2006).

Tabela 3 - Propriedades dos metais do Grupo 1


Propriedades dos metais alcalinos Li Na K Rb Cs
Configuração eletrônica da camada de
2s1 3s1 4s1 5s1 6s1
valência
Densidade (g/cm3) 0,534 0,97 0,86 1,53 1,87
Ponto de fusão (°C) 179 97,6 63 39 28
Ponto de ebulição (°C) 1317 892 770 688 678
Raio atômico (pm) 155 187 227 248 265
Raio iônico (pm) 78 98 133 148 165
Energia de ionização (kJ/mol) 520 496 419 403 375
Eletronegatividade 1,0 0,9 0,8 0,8 0,7
Potencial padrão de redução (V) -3,05 -2,71 -2,93 -2,93 -2,92
Fonte: Chang e Goldsby (2013)
O sódio e o potássio são igualmente abundantes na natureza, e ocorrem em
minerais de silicatos, como a albita (NaAlSi3O8) e ortoclásio (KAlSi3O8). Durante
período muito longo (em uma escala geológica), os minerais de silicato são lentamente
decompostos pelo vento e pela chuva e os seus íons sódio e potássio são convertidos
em compostos mais solúveis. A chuva dissolve estes compostos e os arrasta para o
mar. Assim, quando consideramos a composição da água do mar, verificamos que a
razão da concentração de sódio e potássio é cerca de 28 para 1. A razão desta
distribuição desigual é o fato de o potássio ser essencial para o crescimento das
plantas, diferentemente do sódio. Ao longo do percurso da água do mar, as plantas
aproveitam muitos íons potássio, enquanto os íons sódio seguem livremente. Outros
minerais que contêm sódio ou potássio são: halita (NaCl), o nitrato do Chile (NaNO3)
e a silvita (KCl) (CHANG; GOLDSBY, 2013).
A forma mais conveniente de obter o sódio metálico é por eletrólise do cloreto
de sódio fundido em uma célula de Downs. O ponto de fusão do cloreto de sódio é
bastante elevado (801°C) e são necessárias quantidades elevadas de energia para
manter fundidas grandes quantidades desta substância.
A obtenção do potássio metálico não é uma tarefa fácil através da eletrólise do
KCl fundido, uma vez que ele é altamente solúvel nesse meio. Consequentemente,
não se acumula na superfície da célula e, portanto, sua coleta torna-se uma tarefa
difícil. Além disso, o potássio apresenta alta facilidade de vaporização em
temperaturas usuais de trabalho, resultando em uma situação potencialmente
perigosa. Uma prática comum para a obtenção do potássio é a destilação do KCl
fundido, realizada na presença de vapor de sódio a 892°C. A reação que ocorre a esta
temperatura é
𝑁𝑎(𝑔) + 𝐾𝐶𝑙(𝑙) ⇌ 𝑁𝑎𝐶𝑙(𝑙) + 𝐾(𝑔)

Esta reação pode parecer estranha dado que o potássio é um agente redutor
mais forte que o sódio (Tabela 1). No entanto, o potássio tem um ponto de ebulição
mais baixo (770°C) do que o sódio (892°C), sendo por isso mais volátil a 892°C e
destilado mais facilmente. De acordo com o princípio de Le Châtelier, a remoção
constante do vapor de potássio desloca o equilíbrio da esquerda para a direita,
garantindo a recuperação do potássio metálico (CHANG; GOLDSBY, 2013).
Tanto o sódio como o potássio são extremamente reativos, mas o sódio é o
mais reativo dos dois. Ambos reagem com água para formar os hidróxidos
correspondentes. Na presença de pequenas quantidades de oxigênio, o sódio entre
em combustão para formar óxido de sódio (Na2O). No entanto, na presença de
excesso de oxigênio, o sódio forma o peróxido amarelo-pálido:
2𝑁𝑎(𝑠) + 𝑂2 (𝑔) → 𝑁𝑎2 𝑂2 (𝑠)

O peróxido de sódio reage com a água dando origem a uma solução alcalina e
peróxido de hidrogênio:
𝑁𝑎2 𝑂2 (𝑠) + 2𝐻2 𝑂(𝑙) → 2𝑁𝑎𝑂𝐻(𝑎𝑞) + 𝐻2 𝑂2 (𝑎𝑞)

Tal como o sódio, o potássio forma o peróxido. Além disso, quando entra em
combustão com o ar, o potássio forma também o superóxido:
𝐾(𝑠) + 𝑂2 (𝑔) → 𝐾𝑂2 (𝑠)

Quando o superóxido de potássio reage com a água, libera-se oxigênio gasoso:


2𝐾𝑂2 (𝑠) + 𝐻2 𝑂(𝑙) → 𝐾𝑂𝐻(𝑎𝑞) + 𝑂2 (𝑔) + 𝐻2 𝑂2 (𝑎𝑞)

Está reação é utilizada em equipamentos de respiração. O ar expirado contém


vapor de água e dióxido de carbono. O vapor de água reage com KO2 no equipamento
para formar oxigênio gasoso como mostrado na equação anterior. Além disso, KO2
reage também com o CO2 expirado, produzindo mais oxigênio:
4𝐾𝑂2 (𝑠) + 2𝐶𝑂2 (𝑔) → 2𝐾2 𝐶𝑂3 (𝑠) + 3𝑂2 (𝑔)

Assim, uma pessoa que usa o equipamento pode manter a respiração de


oxigênio sem a exposição aos gases tóxicos do ambiente exterior.
Tanto o sódio quanto o potássio metálicos se dissolvem em amônia líquida,
formando uma solução azul:
𝑁𝐻3
𝑁𝑎 → 𝑁𝑎+ + 𝑒 −
𝑁𝐻3
𝐾→ 𝐾+ + 𝑒−

Tanto o cátion como o elétron existem na forma solvatada; os elétrons


solvatados são os responsáveis pala cor azul característica destas soluções. As
soluções metal-amônia são agentes redutores potentes, por isso, são mais úteis na
síntese de compostos tanto orgânicos quanto inorgânicos. O sódio e o potássio são
elementos essenciais da matéria viva. O íon sódio e o íon potássio estão presentes
nos fluidos intracelular e extracelular e são fundamentais para o equilíbrio osmótico e
para as funções enzimáticas (CHANG; GOLDSBY, 2013).

8.2 Metais alcalinos terrosos

Os metais alcalinos terrosos são menos eletropositivos e menos reativos do


que metais alcalinos. Os metais alcalinos terrosos têm propriedades químicas
semelhantes, com exceção do primeiro membro da família, o berílio, que em alguns
aspectos, se assemelha ao alumínio. Uma vez que os seus íons M2+ atingem a
configuração eletrônica estável do gás nobre precedente, o número de oxidação dos
metais alcalinos terrosos na forma combinada é quase sempre +2. A Tabela 2, lista
algumas propriedades comum dos metais alcalinos terrosos. O rádio não está incluso
na tabela, porque todos os isótopos do rádio são radioativos e, portanto, é difícil e
dispendioso estudar a química deste elemento (CHANG; GOLDSBY, 2013).

Tabela 4 - Propriedades dos metais alcalinos terrosos


Propriedades dos metais alcalinos terrosos Be Mg Ca Sr Ba
Configuração eletrônica da camada de
2s2 3s2 4s2 5s2 6s2
valência
Densidade (g/cm3) 1,86 1,74 1,55 2,6 3,5
Ponto de fusão (°C) 1280 650 838 770 714
Ponto de ebulição (°C) 2770 1107 1484 1380 1640
Raio atômico (pm) 112 160 197 215 222
Raio iônico (pm) 34 78 106 127 143
1° Energia de ionização (kJ/mol) 899 738 590 548 502
2° Energia de ionização (kJ/mol) 1757 1450 1145 1058 958
Eletronegatividade 1,5 1,2 1,0 1,0 0,9
Potencial padrão de redução (V) -1,85 -2,37 -2,87 -2,89 -2,90
Fonte: Chang e Goldsby (2013)

 Magnésio

O magnésio é o sexto elemento mais abundante na crosta terrestre (cerca de


2,5% em massa). Entre os principais minérios de magnésio estão a brucita, Mg(OH)2;
a dolomita, CaCO3.MgCO3 e a epsomita, MgSO4.7H2O. A água do mar é uma boa
fonte de magnésio, há cerca de 1,3 g de Mg por kg de água do mar. Como acontece
com a maioria dos metais alcalinos e alcalinos terrosos, o magnésio metálico é obtido
por eletrólise, neste caso a partir do seu cloreto fundido, MgCl2 (obtido a partir da água
do mar) (ATKINS; JONES, 2006).
A química do magnésio está entre a do berílio e a dos elementos mais pesados
do Grupo 2. O magnésio não reage com a água fria, mas reage lentamente com vapor
de água:
𝑀𝑔(𝑔) + 𝐻2 𝑂(𝑔) → 𝑀𝑔𝑂(𝑠) + 𝐻2 (𝑔)

Ele entre em combustão com o ar para formar óxido de magnésio e nitreto de


magnésio:
3𝑀𝑔(𝑠) + 𝑂2 (𝑔) → 2𝑀𝑔𝑂(𝑠)
3𝑀𝑔(𝑠) + 𝑁2 (𝑔) → 𝑀𝑔3 𝑁2 (𝑔)

Essa característica confere utilidade ao magnésio quando apresentado em tiras


finas ou fibras, sendo aplicado em flashes fotográficos e sinalizadores.
O óxido de magnésio reage muito lentamente com a água para formar hidróxido
de magnésio, uma suspensão sólida branca chamada de leite de magnésia e usada
no tratamento do excesso de acidez no estômago:
𝑀𝑔𝑂(𝑠) + 𝐻2 𝑂(𝑙) → 𝑀𝑔(𝑂𝐻)2 (𝑠)

O magnésio é um metal alcalino terroso típico, pois seu hidróxido é uma base
forte (único hidróxido alcalino terroso que não é uma base forte é o Be(OH)2 que é
anfótero). As utilizações mais importantes do magnésio são em ligas (como metal
estrutural leve para proteção catódica), na síntese orgânica e em baterias. O magnésio
é essencial para a vida de plantas e animais, e os íons Mg2+ não são tóxicos. Um
adulto médio ingere cerca de 0,3 g de íons magnésio por dia. O magnésio
desempenha várias funções biológicas importantes, e está presente nos fluidos
intracelular e extracelular. Os íons magnésio são essenciais para o bom
funcionamento de várias enzimas. O magnésio está também presente na clorofila das
plantas verdes, a qual desempenha um importante papel na fotossíntese (CHANG;
GOLDSBY, 2013).

 Cálcio
A crosta terrestre contém cerca de 3,4% de cálcio em massa. O cálcio ocorre
na rocha calcária, na calcita, no giz e no mármore sob a forma de CaCO3; na dolomita
sob a forma de CaCO3.MgCO3; no gesso sob a forma de CaSO4.2H2O; e na fluorita
sob a forma de CaF2. O cálcio metálico é obtido por eletrólise do cloreto de cálcio
(CaCl2) fundido.
Quando olhamos para o Grupo 2 no sentido descendente, do berílio para o
bário, observamos um aumento nas propriedades metálicas. Ao contrário do berílio e
do magnésio, o cálcio (tal como o estrôncio e o bário) reage com a água fria para dar
o hidróxido correspondente, embora a velocidade da reação seja muito mais lenta do
que a das reações que envolvem metais alcalinos.
𝐶𝑎(𝑠) + 2𝐻2 𝑂(𝑙) → 𝐶𝑎(𝑂𝐻)2 (𝑎𝑞) + 𝐻2 (𝑔)

O hidróxido de cálcio, Ca(OH)2, é comumente conhecido como cal extinta ou


cal hidratada.
A cal (CaO), também chamada de cal viva, é um dos primeiros materiais
conhecido pela espécie humana. A cal é produzida por decomposição térmica do
carbonado de cálcio:
𝐶𝑎𝐶𝑂3 (𝑠) → 𝐶𝑎𝑂(𝑠) + 𝐶𝑂2 (𝑔)

Enquanto a cal extinta é obtida por reação da cal viva com água:
𝐶𝑎𝑂(𝑠) + 𝐻2 𝑂(𝑙) → 𝐶𝑎(𝑂𝐻)2 (𝑎𝑞)

A cal é usada em metalurgia e na remoção de SO2 resultante da combustão


dos combustíveis fósseis. A cal apagada é usada no tratamento de água. Durante
muitos anos, os agricultores usaram cal viva para diminuir a acidez dos solos, a fim
de melhorar a produtividade. A cal viva é ainda hoje aplicada em lagos afetados pela
chuva ácida.
O cálcio metálico tem utilizações bastante limitadas. Ele serve sobretudo como
agente ligante para metais, como o alumínio e o cobre, e na preparação de metal
berílio a partir dos seus compostos. É também usado como agente desidratante para
solventes orgânicos. O cálcio é um elemento essencial na matéria viva, sendo um
componente fundamental dos ossos e dos dentes; íons cálcio está presente em um
sal de fosfato complexo, a hidroxiapatita, Ca5(PO4)3OH. Uma função característica dos
íons Ca2+ nos sistemas vivos é a ativação de diversos processos metabólicos. O cálcio
desempenha um papel vital na atividade cardíaca, na coagulação sanguínea, na
contração muscular e na transmissão nervosa (ATKINS; JONES, 2006).

8.3 Hidrogênio

O hidrogênio é o elemento mais simples conhecido – a sua forma atômica mais


comum contém apenas um próton e um elétron. Contudo, a forma atômica do
hidrogênio existe apenas a temperatura mais elevadas. Normalmente, o hidrogênio
elementar é uma molécula diatômica, o produto de uma reação exotérmica entre
átomos de hidrogênio:
𝐻(𝑔) + 𝐻(𝑔) → 𝐻2 (𝑔) ∆𝐻° = −436,4 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙

O hidrogênio molecular é um gás incolor, inodoro e não tóxico. Em condições


de pressão atmosférica (1 atm), o hidrogênio no estado líquido alcança seu ponto de
ebulição a -252,9°C (20,3 K).
O hidrogênio é, de fato, o elemento mais abundante no universo,
compreendendo cerca de 70% de sua massa total. Na crosta terrestre, é o décimo
elemento mais abundante e, geralmente, é encontrado combinado com outros
elementos, não na forma pura, devido à sua alta reatividade. Apesar de sua
abundância, o hidrogênio não é encontrado na atmosfera da Terra em grande
quantidade, pois sua massa molecular é tão baixa que as moléculas de hidrogênio
podem escapar facilmente da atração gravitacional da Terra. No entanto, em outros
planetas gasosos, como Júpiter e Saturno, onde a gravidade é significativamente mais
forte, o hidrogênio é uma parte importante da composição atmosférica (CHANG;
GOLDSBY, 2013).
O estado fundamental da configuração eletrônica do hidrogênio é 1s1.
Assemelha-se aos metais alcalinos porque pode ser oxidado convertendo-se no íon
H+, que existe em soluções aquosas na forma hidratada. Por outro lado, o hidrogênio
assemelha-se aos halogênios pelo fato de formar o ânion monovalente hidreto (H-),
que é isoeletrônico com o hélio (1s2). O hidrogênio encontra-se em inúmeros
compostos covalentes e também tem a capacidade única de formar ligações de
hidrogênio (BROWN et al., 2016).
O hidrogênio gasoso desempenha um papel crucial em diversos processos
industriais. A maioria do hidrogênio produzido, cerca de 95%, é utilizado ativamente
na própria fábrica onde é produzido, sendo aplicado em processos industriais
essenciais, como a síntese da amônia. A produção industrial em grande escala do
hidrogênio envolve a reação entre o propano (geralmente proveniente do gás natural
e das refinarias de petróleo) e vapor de água na presença de um catalisador a uma
temperatura em torno de 900°C:
𝐶3 𝐻8 (𝑔) + 3𝐻2 𝑂(𝑔) → 3𝐶𝑂(𝑔) + 7𝐻2 (𝑔)

Em outro processo, o vapor de água é passado sobre um leito de carvão em


brasa:
𝐶(𝑠) + 𝐻2 𝑂(𝑔) → 𝐶𝑂(𝑔) + 𝐻2 (𝑔)

A mistura de monóxido de carbono e hidrogênio produzida nesta reação é


conhecida como gás de água. Como tanto o CO quando o H2 entram em combustão
com o ar, o gás de água foi usado como combustível durante muitos anos. Mas como
o CO é tóxico, o gás de água foi substituído por gases naturais, como o metano e o
propano.
É possível preparar pequenas quantidades de hidrogênio de forma adequada
em um laboratório fazendo reagir zinco com ácido clorídrico diluído
𝑍𝑛(𝑠) + 2𝐻𝐶𝑙(𝑎𝑞) → 2𝑍𝑛𝐶𝑙2 (𝑎𝑞) + 𝐻2 (𝑔)

Sim, a informação é verdadeira. O hidrogênio pode, de fato, ser produzido pela


reação entre um metal alcalino ou um metal alcalino-terroso, como cálcio (Ca) ou bário
(Ba), e água. No entanto, essas reações são altamente exotérmicas e violentas,
tornando-as impraticáveis para a preparação laboratorial do hidrogênio.
Além disso, o hidrogênio pode ser obtido de forma muito pura através da
eletrólise da água. No entanto, esse método consome uma quantidade significativa de
energia, tornando-o menos viável para ser empregado em grande escala,
especialmente quando se considera a eficiência energética em relação à quantidade
de hidrogênio produzido (CHANG; GOLDSBY, 2013).

8.4 Carbono

Embora constitua apenas cerca de 0,09% em massa da crosta da Terra, o


carbono é um elemento essencial da matéria viva. Ele encontra-se livre na forma de
diamante e de grafite e também é um componente do gás natural, do petróleo e do
carvão (O carvão é um sólido natural castanho escuro, quase preto, usado como
combustível; é formado por plantas fossilizadas e consiste em carbono amorfo com
vários compostos orgânicos e alguns inorgânicos). O carbono combina-se com o
oxigênio para formar dióxido de carbono na atmosfera e ocorre como carbonato no
calcário e no giz.
O diamante e o grafite são alótropos do carbono, o que significa que possuem
a mesma composição, mas estruturas cristalinas diferentes. Embora a grafite seja a
forma estável do carbono nas condições padrão de 1 atm e 25°C, a conversão
espontânea do diamante para grafite ocorre em uma taxa extremamente baixa. Esse
processo é tão lento que levaria milhões de anos para que um diamante se
convertesse completamente em grafite nas condições normais de temperatura e
pressão, portanto, os proprietários de joias com diamantes não precisam se preocupar
com essa transformação.
𝐶(𝑑𝑖𝑎𝑚𝑎𝑛𝑡𝑒) → 𝐶(𝑔𝑟𝑎𝑓𝑖𝑡𝑒) ∆𝐺° = −2,87 𝑘𝐽/𝑚𝑜𝑙

É possível fazer diamante sintético a partir de grafite aplicando pressões e


temperaturas muito elevadas. Os diamantes sintéticos geralmente não têm as
propriedades ópticas dos diamantes naturais. Contudo, são úteis como abrasivos e
no corte de concreto e de muitas outras substâncias duras, incluindo metais e ligas.
O carbono tem a capacidade única de formar longas cadeias (consistindo em
mais de 50 átomos de C) e anéis com cinco ou seis membros. Este fenômeno é
chamado de catenação, a ligação entre átomos iguais. A versatilidade do carbono é
responsável por milhões de compostos orgânicos (constituídos por carbono e
hidrogênio e outros elementos, como o oxigênio, o nitrogênio e os halogênios) que se
encontram na Terra. A área da química que estuda os compostos derivados do
carbono é conhecida como química orgânica (CHANG; GOLDSBY, 2013).

8.5 Nitrogênio

Cerca de 78% em volume do ar é nitrogênio. As fontes minerais de nitrogênio


mais importantes são o salitre (KNO3) e o salitre do Chile (NaNO3). O nitrogênio é um
elemento essencial da vida: é um componente das proteínas e dos ácidos nucleicos.
O nitrogênio molecular é obtido por destilação fracionada do ar (os pontos de
ebulição do nitrogênio líquido e do oxigênio líquido são -196°C e -183°C,
respectivamente. Em laboratório, pode-se preparar nitrogênio puro por decomposição
térmica do nitrito de amônio:
𝑁𝐻4 𝑁𝑂2 (𝑠) → 2𝐻2 𝑂(𝑔) + 𝑁2 (𝑔)

Sim, a informação é verdadeira. A molécula de N2 possui uma ligação tripla


entre os átomos de nitrogênio, tornando-a muito estável e resistente à dissociação em
átomos de nitrogênio. Apesar disso, o nitrogênio é capaz de formar uma variedade de
compostos com o hidrogênio e o oxigênio, nos quais o número de oxidação do
nitrogênio pode variar de -3 a +5. A maioria desses compostos de nitrogênio são
covalentes, mas quando submetido a altas temperaturas em presença de certos
metais, o nitrogênio pode formar nitretos iônicos contendo o íon N3-.
6𝐿𝑖(𝑠) + 𝑁2 (𝑔) → 2𝐿𝑖3 𝑁(𝑠)

O íon nitreto é uma base de Bronsted forte e reage com a água produzindo
amônia e íons hidróxido:
𝑁 3− (𝑎𝑞) + 3𝐻2 𝑂(𝑙) → 𝑁𝐻3 (𝑔) + 3𝑂𝐻 − (𝑎𝑞)

A amônia é um dos compostos de nitrogênio mais conhecidos. Ela é preparada


industrialmente a partir do nitrogênio e do hidrogênio pelo processo Haber. Em
laboratório, é possível prepará-la ao tratar cloreto de amônio com hidróxido de sódio:
𝑁𝐻4 𝐶𝑙(𝑎𝑞) + 𝑁𝑎𝑂𝐻(𝑎𝑞) → 𝑁𝑎𝐶𝑙(𝑎𝑞) + 𝐻2 𝑂(𝑙) + 𝑁𝐻3 (𝑎𝑞)

A amônia é um gás incolor com ponto de ebulição em -33,4°C e com um cheiro


forte. A maioria da amônia produzida é industrialmente usada em fertilizantes. A
amônia líquida, tal como a água, sofre autoionização:
2𝑁𝐻3 (𝑙) ⇌ 𝑁𝐻4+ + 𝑁𝐻2−
Ou simplesmente
𝑁𝐻3 (𝑙) ⇌ 𝐻 + + 𝑁𝐻2−

O íon NH2-, conhecido como íon amideto, é uma espécie química que possui
um elétron a mais que a amônia (NH3), resultando em uma carga negativa. É
importante notar que tanto o H+ (próton) quanto o NH2- (amideto) estão solvatados
com moléculas de NH3 (amônia), formando uma interação íon-dipolo. Apesar da baixa
concentração de íons H+ e NH2- na amônia líquida a -50°C, ela pode ainda ser um
solvente conveniente para eletrólitos, especialmente quando se requer um meio
básico ou quando os solutos reagem de forma desfavorável com a água (CHANG;
GOLDSBY, 2013).

8.6 Oxigênio

O oxigênio é de longe o elemento mais abundante da crosta da Terra,


constituindo cerca de 46% de sua massa. Além disso, a atmosfera contém 21% de
oxigênio molecular em volume (23% em massa). Tal como o nitrogênio, o oxigênio
livre é constituído por moléculas diatômicas (O2). Em laboratório, pode-se preparar
oxigênio aquecendo clorato de potássio
2𝐾𝐶𝑙𝑂3 (𝑠) → 2𝐾𝐶𝑙(𝑠) + 3𝑂3 (𝑔)

A reação é, em geral, catalisada pelo dióxido de manganês (IV), MnO2. O


oxigênio gasoso puro é obtido por eletrólise da água. Na indústria, prepara-se o
oxigênio por destilação fracionada do ar líquido. O oxigênio é um gás incolor e inodoro.
O oxigênio é um bloco de construção de quase todas as biomoléculas,
constituindo cerca de um quarto dos átomos da matéria viva. O oxigênio molecular é
o oxidante essencial na quebra metabólica das moléculas dos alimentos. Sem o
oxigênio, um ser humano não sobrevive mais do que alguns minutos (CHANG;
GOLDSBY, 2013).

8.7 Halogênios

Os halogênios, compreendendo flúor, cloro, bromo e iodo, são elementos não


metálicos altamente reativos. A Tabela 3 destaca algumas das características desses
elementos. Embora todos os halogênios sejam reconhecidos pela alta reatividade e
toxicidade, em geral, essa reatividade e toxicidade diminuem do flúor para o iodo. A
química do flúor se distingue dos outros halogênios da seguinte maneira:
1. O flúor é o meia reativo de todos os halogênios. A diferença de reatividade
entre o flúor e o cloro é maior que entre o cloro e o bromo. A tabela 3 mostra
que a ligação 𝐹 − 𝐹 é consideravelmente mais fraca do que a ligação 𝐶𝑙 −
𝐶𝑙. A ligação fraca no F2 pode ser explicada em termos de pares de elétrons
não compartilhados nos átomos de F. O tamanho pequeno do átomo de
flúor permite uma grande aproximação dos pares não compartilhados em
cada um dos átomos de F, resultando em uma repulsão maior do que a
encontrada no Cl2, cujos átomos são maiores.

Tabela 5 - Propriedades dos halogênios


Propriedades dos metais alcalinos F Cl Br I
Configuração eletrônica da camada de
2s22p5 3s23p5 4s24p5 5s25p5
valência
Gás Gás Líquido Sólido
Aspecto
amarelo verde avermelhado escuro
Ponto de fusão (°C) -223 -102 -7 114
Ponto de ebulição (°C) -187 -35 59 183
Raio atômico (pm) 72 99 114 133
Raio iônico (pm) 133 181 195 220
Energia de ionização (kJ/mol) 1680 1251 1139 1003
Eletronegatividade 4,0 3,0 2,8 2,5
Energia de ligação (kJ/mol) 150,6 242,7 192,5 151,0
Potencial padrão de redução (V) 2,87 1,36 1,07 0,53
Fonte: Chang e Goldsby (2013)

2. O fluoreto de hidrogênio, HF, tem uma temperatura de ebulição elevada


(19,5°C) em consequência das ligações intermoleculares por ligações de
hidrogênio, enquanto todos os outros haletos de hidrogênio têm ponto de
ebulição muito mais baixo.
3. O ácido fluorídrico é um ácido fraco, enquanto todos os outros hidrácidos
de halogênios (HCl, HBr e HI) são ácidos fortes.
4. O flúor reage com uma solução de hidróxido de sódio a frio produzindo
difluoreto de oxigênio:
2𝐹2 (𝑔) + 2𝑁𝑎𝑂𝐻(𝑎𝑞) → 2𝑁𝑎𝐹(𝑎𝑞) + 𝐻2 𝑂(𝑙) + 𝑂𝐹2 (𝑔)
Por outro lado, a mesma reação com o cloro ou o bromo produz um haleto
e um hipohaleto:
𝑋2 (𝑔) + 2𝑁𝑎𝑂𝐻(𝑎𝑞) → 𝑁𝑎𝑋(𝑎𝑞) + 𝑁𝑎𝑋𝑂(𝑎𝑞) + 𝐻2 𝑂(𝑙)
Onde X, representa Cl ou Br. O iodo não reage nas mesmas condições.
5. O fluoreto de prata, AgF, é solúvel. Todos ou outros haletos de prata (AgCl,
AgBr, AgI) são insolúveis.
O elemento astato também pertence à família do Grupo 17. Contudo, todos os
isótopos do astato são radioativos; o isótopo com maior tempo de vida é o astato-210,
que tem uma meia-vida de 8,3 h. Por isso estudar o astato em laboratório é difícil e
caro (CHANG e GOLDSBY, 2013).
Os halogênios formam muitos compostos. No estado elementar, formam
moléculas diatômicas, X2. Contudo, na natureza, devido à sua grande reatividade, os
halogênios encontram-se sempre combinados com outros elementos. O cloro, o
bromo e o iodo ocorrem com haletos na água do mar e o flúor ocorre nos minerais
fluorita (CaF2) e criolita (Na3AlF6) (CHANG; GOLDSBY, 2013).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATKINS, P., & Jones, L. (2006). Princípios de Química: Questionando a Vida


Moderna e o Meio Ambiente (3 ed.). Porto Alegre: Bookman.

BROWN, T., LEMAY, H. J., BURSTEN, B., MURPHY, C., WOODWARD, P., &
STOLTZFUS, M. (2016). Química: a ciência central. Porto Alegre: Pearson.

CHANG, R., & GOLDSBY, K. (2013). Química (11 ed.). Porto Alegre: Bookman.

DUARTE, G. Você pode precer o número e a natureza das ligações químicas


usando a teoria molecular orbital? Quora, 2018.

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