Você está na página 1de 8

ARTIGO FORMATIVO

FORMAÇÃO – SEMANA SANTA – PAIXÃO DE CRISTO - N03 27/03/2024 - Pe. Angel Miguel Fuentes IVE

OS ATOS DE CRISTO EM SUA PAIXÃO


“Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os
nossos sofrimentos.... ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado
por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos
curados graças às suas chagas.” (Is 53,4).

alamos de Cristo como o


Grande Perdoador. Ele é
o buscador das ovelhas
perdidas, o criador da misericórdia.
Mas a sua grande obra pelos
pecadores – por nós – foi a sua
Paixão. Ali ele não só procurou,
chamou, convidou os pecadores,
mas POR ELES PADECEU,
SOFREU, SE HUMILHOU E
MORREU. A Paixão é a grande obra
do Amor de Deus por nós.

I. O QUE CRISTO FEZ EM SUA PAIXÃO: OPUS PASSIONIS


-Jeremias: Ó vós todos, que passais pelo caminho: olhai e julgai se existe
dor igual à dor que me atormenta. * (Lm 1,12).

O que podemos dizer sobre as dores de Cristo na sua Paixão?


1. Durante a sua Paixão, Nosso Senhor sofreu todo tipo de dor.
1) Ele sofreu de parte de todos os tipos de homens:
a) Pagãos: como Pilatos e os soldados do Pretório.
b) Judeus inimigos; e de todos os tipos:
-Príncipes como Herodes: Os reis da terra se amotinam e os príncipes
conspiram juntos contra Deus e contra o seu Cristo (Sl 2:1).
-Sacerdotes: Anás, Caifás...
-A população, homens e mulheres, nobres e pobres: Todos começaram a dizer:
fora com ele! Fora com ele! Crucifica-o! Solte Barrabás para nós! Crucifica-
o! Aqueles que passaram pela cruz zombavam dele.
c) Amigos judeus:
-Seus discípulos: Judas entregando-o, Pedro negando-o, João e Tiago não
podendo vigiar com ele, os outros fugindo de medo.
-Aqueles que receberam seus benefícios: os cegos, os aleijados e os doentes
que ele curou: onde estão? Será que este homem nunca fez o bem a ninguém
para que ninguém, mesmo por gratidão, o defenda agora?
2) Sofreu em todos os bens que um homem pode sofrer ou ser privado:
a) dos amigos: abandonaram-no.
b) Na sua fama: porque blasfemaram dele, dizendo coisa que ele não era.
c) Em sua honra: porque zombaram dele e o insultaram como:
•um louco: Herodes o desprezou... zombando dele (Lc 23,11)
•um blasfemador: ouvistes a blasfêmia... e todos o condenaram (Mc 14,64)
•agitador político do povo: o encontramos conspirando com o povo (Lc
23,2)
d) Nas suas coisas: despojado até da roupa; pregado nu na cruz: Dividiram
suas vestes e sortearam sua túnica.
e) Na alma: tristeza, tédio, medo: começou a ficar triste e a se sentir abatido.
E ele lhes disse: a minha alma está triste até morrer (Mt 26:37-38).
3) Ele sofreu corporalmente em todos os
seus membros:
a) Na cabeça, coroado de espinhos.
b) Nos pés e nas mãos, perfurados por pregos.
c) No rosto, cuspido e esbofeteado.
d) Em todos os seus sentidos:
•no tato: chicoteado e ferido. Davi o
descreveu em seu salmo 128,3: “lavraram em
minhas costas os lavradores, tirando longos
sulcos do arado”.
•no paladar, saboreando fel e vinagre.
•no olfato, condenado a morrer num lugar de
execuções, fétido pelo fedor dos cadáveres.
•no ouvido: condenado a morrer ouvindo as
zombarias e blasfêmias da plebe.
•nos olhos: vendo sua Mãe e o discípulo que
ele amava chorando.

Verdadeiramente Ele é, como diz Isaías: “Homem de dores,


familiarizado com o sofrimento” (Is 53,3).

4. A intensidade das dores de Cristo foi, na sua Paixão, a maior que pode
atingir o tormento de um homem. E isto por todas as circunstâncias que se
assomam à sua dor:
1) A enormidade das causas que o produziram:
a) Dor sensitiva: causada pela generalidade das feridas, por todo o corpo; a dor
suprema que significava a morte na cruz.
b) Mas as causas da dor espiritual interna:
•Os pecados de todos os homens que ele carregava nas costas. Deus fez pecado
aquele que não conhecia o pecado, diz São Paulo em 1 Cor, e em Gal ele
acrescenta, fez dele uma maldição.
•A queda da cruz daqueles que pecaram com a morte, dos seus algozes, dos
seus discípulos escandalizados.
•Aqueles que rejeitaram o seu sangue e o seu perdão ao longo dos séculos.
•A dispersão dos seus: ferirei o pastor e eles dispersarão as ovelhas.
•A consideração da morte corporal, que a natureza de qualquer homem rejeita.
2) Por causa da perfeita sensibilidade de Jesus. Sua humanidade perfeita
permitiu-lhe perceber perfeitamente a intensidade de cada dor.
3) Pela pureza da dor, ele não quer nada que a mitigue; por isso rejeita o
vinagre que os soldados lhe oferecem para entorpecê-lo.
4) Por fazer tudo voluntariamente. Toda a sua paixão foi um ato pleno de sua
liberdade que se rendeu totalmente à dor pelos meus pecados.

II. TUDO PROFETIZADO DESDE SÉCULOS


Todas essas dores de Cristo foram profetizadas desde a antiguidade, para
que quando os homens vissem Jesus na Cruz soubessem que Ele é o Senhor
prometido desde o princípio do mundo.
1) Isaías o via profeticamente em suas visões:
-Sem aparência, nem beleza, nem esplendor para se deleitar (53,2)
-Desprezado e rejeitado pelos homens, homem das dores (53,3)
-Traspassado por nossos crimes, esmagado por nossos pecados (53,5)
-Cheio de chagas, pelas quais somos curados (53,5)
-Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua
causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu
povo? * (53,8)
-Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me
arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros. (50.6)
-Assim como, à sua vista, muitos ficaram embaraçados – tão desfigurado
estava que havia perdido a aparência humana –, * (52,14)
-Não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma
ovelha muda nas mãos do tosquiador. Ele não abriu a boca.* (53,7)
2) O rei Davi via em suas visões:
-Eu, porém, sou um verme, não sou
homem, o opróbrio de todos e a abjeção
da plebe. (Sl 21:7)
-Derramo-me como água, todos os meus
ossos se desconjuntam; meu coração
tornou-se como cera e derrete-se (de
tristeza) nas minhas entranhas. (Sl 21:15)
-Minha garganta está seca qual barro
cozido, pega-se no paladar a minha
língua (Sl 21:16)
-Traspassaram minhas mãos e meus pés
(Sl 21:17)

III. O QUE CRISTO NOS DIZ COM A SUA PAIXÃO


Cristo pregou e ensinou com a sua palavra e com as suas obras. O que
ele nos diz então com a sua Paixão?
Com a sua paixão ele nos mostra e nos declara o seu Amor; a sua
“paixão” no sentido de “apaixonamento”, de “amor ardente”. Como disse São
Bernardo:
- “A cruz clama, os pregos clamam, as feridas clamam, que Deus nos amou
verdadeiramente”.
- “Ele quis sofrer isso para que através das feridas da sua carne se vissem as
entranhas da sua caridade”.
E São Tomás de Villanueva:
-"Fizeste tudo com número, peso e medida, Senhor, mas não me amaste com
número, nem com peso, nem com medida"
Tudo o que ele fez, ele fez por mim. Uma homilia muito antiga (do
século IV) colocou estas palavras na boca de Cristo dirigida a Adão (ou seja,
em última instância a nós): «Para ti, homem, tornei-me como um homem sem
forças, abandonado entre os mortos... Olhe as cusparadas em meu rosto, que
recebi para ti, para te restituir o primitivo sopro de vida... Olhe as bofetadas
em meu rosto, que suportei para reformar minha imagem que em ti esta
deformada. Veja os açoites nas minhas costas, que recebi para tirar o peso
dos pecados das tuas costas. Olha para minhas mãos, fortemente sujeitas com
pregos à árvore da cruz, por ti... Adormeci na cruz e a lança penetrou no meu
lado, por ti... O meu lado curou a tua dor" (Anônimo do século IV).

4. O QUE NÓS TEMOS QUE FAZER


[Esta é uma ficção retórica] Num antigo e belo crucifixo em tamanho
natural onde se via um Cristo coberto de feridas, com a cabeça reclinada sobre
o peito, os olhos fechados pela morte, a cabeça coroada de espinhos, o lado
aberto pela lança deixando ver o coração ferido, o corpo vestido com o manto
vermelho do seu próprio sangue, uma inscrição colocada sob os pés perfurados
dizia:
Eu isto fiz por ti.
Tu isto fizestes a mim
Por Ti (da cruz) não desci
e por Ti não descerei até o fim dos séculos.
Tu Subirás por mim?
Se tivermos consciência do amor que Jesus Cristo teve por nós, devemos
estar mais convencidos da nossa obrigação de retribuir amor com amor.
1. Quem ama quer ser amado. São Bernardo: “Deus, com o seu amor, não quer
nada mais que ser amado”.
E para ser amado, ele quer ser conhecido; porque não se ama a quem não
se conhece. Por isso São Luís Maria disse que o mundo não o ama porque não
o conhece: «O mundo não conheceu Jesus Cristo... falando com razão,
conhecer o que Nosso Senhor sofreu por nós e não amá-lo entranhavelmente,
como o mundo faz, é coisa moralmente impossível” (ASE 166).
2. Podemos fazê-lo, porque todos podemos pelo menos meditar no amor que
Cristo nos mostrou na sua Paixão; e esta meditação é o que acende o nosso
amor.
3. Ame e imite
Digamos pois:
No século XIII, Clara de Assis escreveu numa carta à sua irmã que,
como ela, abraçou a vida religiosa: «Vede como Ele se tornou objeto de
desprezo por ti e segue o seu exemplo, fazendo-se, por amor a Ele, desprezível
neste mundo. Olha... a teu Esposo, o mais belo entre os filhos dos homens, que
para a tua salvação tornou-se o mais vil dos homens, desprezado, maltratado
e açoitado repetidas vezes por todo o corpo, e inclusive agonizando entre as
dores mais terríveis da Cruz. Medite, contemple e tente imitá-lo. Se com Ele
sofres, com Ele reinarás; Se com ele choras, com Ele gozarás; Se como Ele
morreres na cruz da tribulação, possuirás com ele as moradas celestiais no
esplendor dos santos, e o teu nome ficará escrito no livro da vida” (Carta 2).

Por ti:
Braços rígidos, tão hirtos,
por dois pregos trespassados,
que aqui estais por meus pecados,
“para receber-me, abertos,
para esperar-me, cravados”.

Corpo chagado de amor!


Eu te adoro eu te sigo;
Eu, Senhor dos senhores,
quero compartilhar suas dores
subindo até a cruz com contigo (Pemán)

Não me move, meu Deus, pra amar-te


o céu que me prometestes;
nem o inferno tão temido
para deixar de ofender-te

Tu me moves, Senhor! Move-me o ver-te.


pregado na cruz e escarnecido!
Move-me ver teu corpo tão ferido.
Move-me tuas humilhações e tua morte.

Mova-me, em fim, teu amor e de tal maneira


que, mesmo que não houvesse céu, te amaria
e, mesmo que não houvesse inferno, eu temia.

não precisa me dar (nada só) porque eu te amo


porque, ainda que muito espero não esperaria,
Da mesma forma que eu te amo, te amaria.

A tal ponto tudo isso se cumpriu em Nosso Senhor que muitos se


converteram vendo Nele cumpridas as profecias do Antigo Testamento.
Assim, por exemplo, o Rabino Chefe de Roma, Eugenio Zolli (que se
converteu durante a Segunda Guerra Mundial). Desde jovem teve um gosto
particular pelas descrições que o profeta Isaías fazia do Servo Sofredor, o
futuro Messias. Um dia, visitando um colega de escola cristão, ele viu um
crucifixo: “Quem é este homem crucificado como criminoso?”, perguntou.
“Jesus Cristo”, respondeu o companheiro. Desde então – escreveu mais tarde
Zolli – a hipótese de que Jesus pudesse ser o Servo de Javé, um homem
inocente e puro, mas humilhado e espancado até a morte pelos nossos pecados,
nunca o abandonou (Rev. 30DIAS).

Texto de Pe. Miguel Fuentes,


a maioria do conteúdo se encontra no seu livro INRI

Traduzido e adaptado por:

Pe. Maciel José da Silva, IVE


Vigário da Pq. São Paulo Apóstolo de Piracicaba/SP
(@portaldaliturgia) • Artigos e materiais litúrgicos no Instagram
Subsídios para quaresma

Você também pode gostar