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“O monte está em silêncio. Não parado, mas em silêncio.

Pela primeira vez durante todo o dia não


há barulho. O clamor começou a acalmar quando a escuridão-aquela atordoante escuridão do
meio-dia dissipou-se. O como a água mergulhada no fogo, as sombras mergulharam no ridículo.
Cessaram os insultos. Cessaram as piadas. Acabaram os gracejos. E, nesta hora, não havia mais
escarnecedores. Um a um, os espectadores viraram-se e começaram a descer.” (Max Lucado)

Em toda a história da humanidade, nenhum homem conseguiu mobilizar a


crença, a fé e o modo de viver das pessoas como Jesus. Sua história perpetuou por mais
de dois mil anos.
Continua sendo algo singular: A paixão de Cristo.
Era tardinha no jardim do Getsêmane. Ele pede para que três de Seus discípulos
o acompanhem no intuito de interceder ao pai juntamente com Ele. Em um dado
momento, aqueles que com Ele estavam encontram-se dormindo. Ele está só.
Fico imaginando, naqueles instantes decisivos, a poucas horas de ser preso,
condenado e crucificado. O que se passava em sua mente. Como filho do homem, Ele
sentiu-se tentado a fugir daquele propósito: “Pai, se queres, passa de mim este cálice”.
Como Deus, Ele estava abnegado: “Todavia, não se faça a minha vontade, mas a tua”.
As escrituras asseveram que Sua angústia era tanta que seu suor transformou-se
em sangue. “E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se
grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão”.
Fico me perguntando, às vezes, o que fez com que Jesus não desistisse do
propósito divino. Acredito piamente que Ele enxergou além de seu tempo. Ele viu a
mim, você e a muitos que pelo Seu nome iriam alcançar a salvação. Vidas estas
oprimidas, sofridas, escravizadas no cais do ostracismo. Como prognosticou o profeta
Isaías, considerado por muitos teólogos como o profeta Messiânico: “O trabalho de sua
alma ele verá, e ficará satisfeito”. Com o seu conhecimento, o meu servo, o justo (Jesus)
justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. (Isaías, 53.11)
Os soldados romanos levaram-no preso, é julgado e condenado. Nem um dos
que com Ele estiveram tivera a ousadia de fazer algo. Nem mesmo Pedro, o porta-voz
dos discípulos, o mais impetuoso. Muito pelo contrário, este discípulo o negou três
vezes perante as pessoas.
Um dos sentimentos mais negativos que considero é a indiferença, pois ele dói
na alma. Fico imaginando o homem que andou e viveu com Jesus, contemplou seus
milagres, conhecia sua história e, naquele momento crucial, ele diz: “Não conheço este
homem”. Naquele instante, Jesus olhou para Pedro com olhar de misericórdia e
conhecedor da fragilidade humana. O galo cantou e Pedro chorou amargamente.
Mas não podemos negar que aquela atitude de Pedro, o seu mais fiel dentre
todos os discípulos, cortou-lhe o coração. Posso ir mais longe ainda, isso doeu mais em
Jesus do que as bofetadas e cuspidas que levara no rosto.
O sofrimento de Jesus não se resume tão-somente ao aspecto físico, mas, além
disso, Ele sofreu a dor emocional, psicológica e espiritual.
A dor emocional, por saber que fora abandonado por seus discípulos, traído por
seu povo Israel, que preferiram um ladrão, salteador chamado Barrabás, em vez de
Jesus.
A dor psicológica, porque naquele momento da cruz em sua agonia, ninguém
pode ajudá-lo. Onde estão aqueles que creram em sua palavra? Onde estão os que
gritavam “Hosana, Hosana nas alturas”? Ou melhor, onde estão o cego de Jericó, os
muitos enfermos curados por Jesus, Maria Madalena, a mulher do fluxo de sangue e
muitos e muitos? Jesus estava na solidão. “Afrontas me quebrantam o coração, e estou
fraquíssimo. Esperei por alguém que tivesse compaixão, mas não houve nenhum; e por
consoladores, mas não os achei”. (Salmos 69.20,21).
E, por último, a dor espiritual, quando até mesmo Deus, sim, o grande Deus, o
abandonou. Você pode indagar: mas como isso é possível? Caro amigo, naquele instante
Jesus carregava sobre si todo flagelo e corrupção humana. Como profetizou Isaías:
Verdadeiramente, Ele (Jesus) tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas
dores levou sobre Si; e nós O reputamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas Ele
foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que
nos traz a paz estava sobre Ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados... o Senhor fez
cair sobre Ele (Jesus) a iniquidade de nós todos. (grifo meu)
Desta forma, o sofrimento de Jesus, acima de tudo, é uma mostra indizível do
grande amor de Deus a humanidade, demonstrando o elevado amor ágape (universal), a
todos os homens de boa vontade. Uma reflexão, não devemos somente lembrar-se disto,
tão-somente no momento da Páscoa, mas, a cada dia, não somente nas situações
difíceis, mas a cada instante, a cada hora que nos sentir tocados e motivados por Ele a
encarar o nosso dia a dia, com outro olhar, outra perspectiva.

Jairo Cardoso da Costa é professor e escritor

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