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Estruturas de

Concreto Armado I
Material Teórico
Determinação das Armaduras de Cisalhamento de Vigas

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Antonio Carlos da Fonseca Bragança Pinheiro

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Determinação das Armaduras
de Cisalhamento de Vigas

• Introdução;
• Verificação do Estado Limite Último: Modelos
de Cálculo 1 e 2 da NBR 6118;
• Solicitações Tangenciais em Estado Limite Último;
• Mecanismos de Ruptura de Peças Submetidas
às Solicitações Tangenciais;
• Método de Análise Clássico de Dimensionamento
e Detalhamento de Peças;
• Disposições Gerais e Construtivas.

OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apresentar a verificação do Estado Limite Último: modelos de cálculo 1 e 2 da Norma
Brasileira ABNT NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento;
• Apresentar as solicitações tangenciais em Estado Limite Último, bem como os mecanis-
mos de ruptura de peças submetidas às solicitações tangenciais;
• Apresentar os métodos de análise clássico de dimensionamento e detalhamento de peças;
• Apresentar as disposições gerais e construtivas.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
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horário fixo aprendizagem.
para estudar.

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de se alimentar
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da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Determinação das Armaduras de Cisalhamento de Vigas

Introdução
As vigas, em geral, são submetidas simultaneamente a momento fletor e à força
cortante. Elas são armadas com barras longitudinais tracionadas, para resistir aos
esforços de flexão, e com estribos, para resistir aos esforços de cisalhamento.

A armadura de cisalhamento pode, também, ser constituída por estribos asso-


ciados a barras longitudinais curvadas (barras dobradas).

Para pequenos valores das ações atuantes, enquanto a tensão de tração for inferior
à resistência do concreto à tração na flexão, a viga não apresenta fissuras, ou seja, as
suas seções permanecem na condição de deformação denominada Estádio I. Nessa
fase, origina-se um sistema de tensões principais de tração e de compressão.

Com o aumento dos valores das ações, no trecho da viga de momento fletor
máximo, a resistência do concreto à tração é ultrapassada e surgem as primeiras
fissuras de flexão (verticais).

Nas seções fissuradas, a viga encontra-se com deformações, denominando essa


condição de Estádio II, em que a resultante de tração é resistida exclusivamente
pelas barras longitudinais.

No início da fissuração da região central, os trechos junto aos apoios, sem fissu-
ras, ainda se encontram no Estádio I.

Continuando o aumento das ações, surgem fissuras nos trechos entre as forças
e os apoios, que são inclinados, por causa da inclinação das tensões principais de
tração (σ) (fissuras de cisalhamento).

A inclinação das fissuras corresponde aproximadamente à inclinação das traje-


tórias das tensões principais, isto é, aproximadamente perpendicular à direção das
tensões principais de tração.

Com ações elevadas, a viga, em quase toda sua extensão, encontra-se no Está-
dio II. Em geral, apenas as regiões dos apoios permanecem isentas de fissuras, até
a ocorrência de ruptura.

O modelo clássico de treliça para as vigas de concreto armado sujeitas à flexão


foi idealizado por Ritter e Mörsch, no início do século XX, sendo baseado na ana-
logia entre uma viga fissurada e uma treliça.

Considerando uma viga biapoiada de seção retangular, Mörsch admitiu que,


após a fissuração, seu comportamento é similar ao de uma treliça, que é formada
pelos elementos:
• Banzo superior: Cordão de concreto comprimido;
• Banzo inferior: Armadura longitudinal de tração;
• Diagonais comprimidas: Bielas de concreto entre as fissuras;

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• Diagonais tracionadas: Armadura transversal (de cisalhamento).

A analogia de treliça clássica considera as seguintes hipóteses básicas:


• Fissuras (as bielas de compressão) com inclinação de (45°);
• Banzos paralelos;
• Treliça isostática (não há engastamento nos nós, ou seja, nas ligações entre os
banzos e as diagonais);
• Armadura de cisalhamento com inclinação entre (45°) e (90°).

Em ensaios laboratoriais, foi observado que existem imperfeições na analogia de


treliça clássica de Mörsh. Essa condição ocorre, principalmente, devido a três fatores:
• A inclinação das fissuras é menor que (45°);
• Os banzos não são paralelos (há o arqueamento do banzo comprimido, princi-
palmente nas regiões dos apoios);
• A treliça é altamente hiperestática (ocorre engastamento das bielas no banzo
comprimido, e esses elementos comprimidos possuem rigidez muito maior que
a das barras tracionadas).
Para um cálculo mais refinado, tornam-se necessários modelos que considerem
melhor a realidade observada nos experimentos físicos. Por essa razão, como mo-
delo teórico padrão, adota-se a analogia de treliça, introduzindo-se correções, para
levar em conta as imprecisões verificadas.

Verificação do Estado Limite Último:


Modelos de Cálculo 1 e 2 da NBR 6118
A Norma Brasileira ABNT NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concreto
– Procedimento admite a utilização de dois modelos para o cálculo das armaduras
transversais, denominados:
• Modelo de Cálculo I;
• Modelo de Cálculo II.

MODELOS DE CÁLCULO DAS


MODELO DE CÁLCULO 1 ARMADURAS TRANSVERSAIS MODELO DE CÁLCULO 2
DAS VIGAS DE CONCRETO ARMADO

Figura 1 – Modelos de Cálculo das Armaduras Transversais


Fonte: o autor

O modelo de cálculo I tem como premissa admitir que a viga em concreto ar-
mado trabalhe como uma treliça isostática que é constituída por bielas de concreto
comprimido que são inclinadas a (450), banzos paralelos e nós rotulados.

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UNIDADE Determinação das Armaduras de Cisalhamento de Vigas

Em vários experimentos, foi constatado que o modelo da treliça clássica conce-


bida por Mörsch faz com que as armaduras transversais sejam exageradas.
Em função disso, surge a variação de (300) a (450) para a inclinação das bielas
comprimidas, com a intenção de aproximar o modelo de treliça dos resultados ob-
tidos nos experimentos.
Essa aproximação fez surgir o modelo da treliça generalizada de Mörsch, adota-
do no modelo de Cálculo II.

Analogia da Treliça
A analogia da treliça é baseada na relação de semelhança entre uma viga fis-
surada e uma treliça e tem como hipótese que uma carga aplicada em um ponto
qualquer da viga chegará até os apoios percorrendo as barras de uma treliça isos-
tática (Figura 2).

Figura 2 – Fissuras em Viga de Concreto Armado Flexionada


Fonte: o autor

No modelo, a treliça é composta por diagonais comprimidas de concreto (bielas),


diagonais tracionadas (armadura de cisalhamento), banzo superior de concreto com-
primido e banzo inferior tracionado (armadura longitudinal de tração) (Figura 3).

α θ

Diagonal Tracionada Banzo Tracionado


Banzo Comprimido
Diagonal Comprimida

Figura 3 – Analogia da Treliça em Viga de Concreto Armado Flexionada


Fonte: o autor

Na Figura (3), o ângulo (α) é a inclinação das diagonais tracionadas e o ângulo (θ)
é a inclinação das diagonais comprimidas.

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Modelo da Treliça com Contribuição do Concreto (Vc)
Os modelos conceituais de treliça assumem que a biela de compressão do con-
creto é paralela à direção das fissuras e não transferem esforços ao longo das fissu-
ras, resultando aproximações aos resultados obtidos em ensaios laboratoriais.
Os modelos de treliça podem apresentar a influência de dois mecanismos resis-
tentes complementares.
Um mecanismo que ocorre devido à contribuição da resistência à tração do
concreto (Vc). Outro mecanismo ocorre devido à tensão de cisalhamento, que é
transmitida por intermédio das fissuras inclinadas, por meio do fenômeno de engre-
namento (dentes de engrenagem) que ocorre entre agregados (Figura 4),

Engrenamento

Agregado Graúdo

Fissura

Figura 4 – Fenômeno do Engrenamento em Viga de Concreto Fissurada


Fonte: o autor

As teorias utilizadas na formulação desses modelos consideram a parcela resis-


tente Vc de maneiras distintas.

Verificação dos Estados Limites Últimos


A Norma Brasileira ABNT NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concre-
to – Procedimento, indica que a resistência de um elemento estrutural submetido à
força cortante é satisfatória se atender às condições apresentadas nas Expressões
(1) e (2) (Figura 5).

força cortante resistente


Vsd de cálculo, relativa a ruina
das diagonais comprimidas
Vsd de concreto

força cortante
força cortante resistente
solicitante de cálculo, Vsd de cálculo, relativa a ruina
na seção analisada
por tração diagonal

Figura 5 – Condições de Resistência para Elementos Submetidos à Força Cortante


Fonte: o autor

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UNIDADE Determinação das Armaduras de Cisalhamento de Vigas

VSd ≤ VRd 2 (1)

VSd ≤ VRd 3 (2)

Sendo:

VRd=
3 VC + VSW (3)

Onde:
• VSd: Força cortante solicitante de cálculo, na seção analisada;
• VRd2: Força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína das diagonais com-
primidas de concreto;
• VRd3: Força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína por tração diagonal,
onde (VC) é a parcela de forca cortante absorvida por mecanismos complemen-
tares ao de treliça;
• VSW: Parcela de força cortante resistida pela armadura transversal.

Modelo de Cálculo I (θ = 45°)


O modelo de cálculo I adota a treliça clássica de Ritter-Mörsch, admitindo que as
diagonais comprimidas de concreto estejam inclinadas com um ângulo (θ = 45°) em
relação ao eixo longitudinal do elemento estrutural (Figura 6).

α θ=45º

Diagonal Tracionada Banzo Tracionado

Diagonal Comprimida Banzo Comprimido

Figura 6 – Modelo de Cálculo I – θ = 450


Fonte: o autor

Esse modelo admite, também, que a parcela complementar de (VC) tem valor
constante, independente da força cortante solicitante (VSd).

Na verificação da compressão diagonal do concreto não haverá esmagamento


da biela comprimida de concreto se for atendida a Expressão (1), sendo (VRd2) dada
pela Expressão (4).

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VRd 2 = 0, 27 αV 2 f cd bw d (4)

Sendo:

f ck (5)
αV 2 = 1 −
250
Onde:
• fck: tensão característica do concreto (MPa);
• bw: largura da viga;
• d: altura útil da viga.

A armadura transversal deve ser dimensionada para resistir a aplicação de uma


força cortante igual a (VSW)). Com as Expressões (2) e (3), tem-se a Expressão (6).

VSd ≤ Vc + VSw → VSw ≥ VSd − Vc (6)

Sendo:

A  (7)
= VSw  Sw  0,9 d f ywd ( senα + cos α )
 s 
Onde:
• α: Ângulo de inclinação da armadura transversal em relação ao eixo longitudinal
do elemento estrutural, podendo tomar seu valor no intervalo (45° ≤ α ≤ 90°);
• fywd: Tensão na armadura transversal passiva, limitada ao valor (fyd) no caso
de estribos e a 70 % desse valor no caso de barras dobradas, não se tomando,
para ambos os casos, valores superiores a 435 MPa. No caso de armaduras
transversais ativas, o acréscimo de tensão devida à força cortante não pode
ultrapassar a diferença entre (fpyd) e a tensão de protensão, nem ser superior a
435 MPa.

A Expressão (8) ocorre nos elementos tracionados, quando a linha neutra está
fora da seção transversal:

VC = 0 (8)

A Expressão (9) ocorre na flexão simples e na flexo-tração, quando a linha neu-


tra passa na seção transversal:

VC = VC0 (9)

A Expressão (10) ocorre na flexo-compressão:

 M0  (10)
VC 0 1 +
VC =  ≤ 2 VC 0
 M
 Sd , máx 
Sendo:

VC 0 = 0, 6 f ctd bw d (11)

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UNIDADE Determinação das Armaduras de Cisalhamento de Vigas

f ctk ,inf (12)


f ctd =
γc
f ctk ,inf = 0, 21 f ck2/3 (13)

Onde:
• bw: Menor largura da seção, compreendida ao longo da altura útil d;
• d: Altura útil da seção, igual à distância da borda comprimida ao centro de
gravidade da armadura de tração;
• S: Espaçamento entre elementos da armadura transversal (Asw), medido segun-
do o eixo longitudinal do elemento estrutural;
• M0: Valor do momento fletor que anula a tensão normal de compressão na
borda da seção (tracionada por Md,máx), provocada pelas forças normais de di-
versas origens concomitantes com (VSd);
• MSd,max: Momento fletor de cálculo máximo no trecho analisado.

Por meio da análise de equilíbrio estático de forças verticais da treliça clássica, é


possível terminar a armadura transversal (ASw) com a Expressão (14):

s (VSd − VC ) (14)
ASw =
0,9 d f ywd ( senα + cos α )

Modelo de Cálculo II (30° ≤ θ ≤ 45°)


No modelo de cálculo II, é admitido que o ângulo de inclinação das diagonais de
compressão (θ) possa variar entre 300 e 450 e a parcela complementar (VC) sofre
redução com o aumento de (VSd) (Figura 7):

α 30º≤θ≤45º

Diagonal Tracionada Banzo Tracionado

Diagonal Comprimida Banzo Comprimido

Figura 7 – Modelo de Cálculo II – 300 ≤ θ ≤ 450


Fonte: o autor

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Considera-se que não haverá esmagamento da biela comprimida de concreto se
for atendida a Expressão (1):

VSd ≤ VRd 2 (1)

Onde:

=VRd 2 0,54 αV 2 f cd bw d sen 2θ ( cotg α + cotg θ ) (15)

Sendo:

f ck (5)
αV 2 = 1 −
250
A armadura transversal (Asw) pode ser calculada por meio das Expressões (2) e (3).

VSd ≤ VRd 3 (2)

Sendo:

VRd=
3 VC + VSW (3)

Onde:

A  (16)
=VSw  Sw  0,9 d f ywd senα ( cotg α + cotg θ )
 s 
s (VSd − VC ) (17)
ASw =
0,9 d f ywd senα (cotg α + cotg θ )

A Expressão (8) ocorre nos elementos tracionados, quando a linha neutra está
fora da seção transversal:

VC = 0 (8)

A Expressão (18) ocorre na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra


passando na seção transversal:

VC1 = VC0 (18)

A Expressão (19) ocorre na flexo-compressão:

 M0  (19)
VC1 1 +
VC =  < 2VC1
 M
 Sd , máx 
Onde:
• VC1 = Vc0 quando VSd = VC0 ... (20);
• VC1 = 0 quando VSd = VRd2 ... (21), interpolando-se linearmente para valores
intermediários.

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UNIDADE Determinação das Armaduras de Cisalhamento de Vigas

Solicitações Tangenciais em
Estado Limite Último
As solicitações tangenciais, ou solicitações de cisalhamento, decorrentes das
ações atuantes em elementos estruturais, são caracterizadas pelos momentos torso-
res (T) e forças cortantes (V) (Figura 8).

ESFORÇOS INTERNOS
MOMENTOS TORSORES (T) SOLICITANTES QUE GERAM FORÇAS CORTANTES (V)
SOLICITAÇÕES TANGENCIAIS

Figura 8 – Esforços Internos Solicitantes que Geram Solicitações Tangenciais


Fonte: o autor

As tensões decorrentes dessas ações são as tensões de cisalhamento (τ), relacio-


nadas aos momentos torsores (T) e forças cortantes (V).

Como as ações a serem consideradas no Projeto Estrutural correspondem às


ações de cálculo (ações combinadas), as solicitações e as tensões deverão, também,
ser representadas pelos seus valores de cálculo.

Assim, para efeito de dimensionamento e verificação de elementos estruturais os


valores das solicitações e tensões a serem consideradas nas solicitações e tensões
de cisalhamento são:
• TSd: Momento torsor solicitante de cálculo;
• VSd: Força cortante solicitante de cálculo;
• TSd: Tensão de cisalhamento solicitante de cálculo.

Os elementos lineares submetidos à força cortante, devem ter armadura trans-


versal mínima constituída por estribos, com taxa geométrica apresentada na Ex-
pressão (20).

ASw f (20)
=ρ Sw ≥ 0, 2 ct ,m
bw s senα f ywk
Onde:
• Asw: Área da seção transversal dos estribos;
• s: Espaçamento dos estribos, medido segundo o eixo longitudinal do elemento
estrutural;
• α: Inclinação dos estribos em relação ao eixo longitudinal do elemento estrutural;
• bw: largura média da alma, medida ao longo da altura útil da seção;
• fct,m: Resistência à tração direta média.

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Sendo:

f ct ,m = 0,3 f ck2/3 (MPa) , para concretos de classes até C50. (21)

A armadura transversal (Asw) pode ser constituída por estribos (fechados na região
de apoio das diagonais, envolvendo a armadura longitudinal) ou pela composição de
estribos e barras dobradas; entretanto, quando forem utilizadas barras dobradas, elas
não podem suportar mais do que 60 % do esforço total resistido pela armadura.

O ângulo de inclinação (α) das armaduras transversais em relação ao eixo longitu-


dinal do elemento estrutural deve estar situado no intervalo (450 ≤ α ≤ 900) (Figura 9).

45º≤α≤90º
α θ

Diagonal Tracionada Banzo Tracionado


Banzo Comprimido
Diagonal Comprimida
Figura 9 – Ângulo de Inclinação (α) das Armaduras Transversais
Fonte: o autor

Cargas próximas aos apoios


No cálculo da armadura transversal, na ocorrência de apoios diretos (se a car-
ga e a reação de apoio forem aplicadas em faces opostas do elemento estrutural,
comprimindo-o), deve-se:
• Na região entre o apoio e a seção situada à distância (d/2) da face de apoio, a
força cortante oriunda de carga distribuída pode ser considerada constante e
igual à força cortante dessa seção;
• A força cortante devida a uma carga concentrada aplicada a uma distância
(a ≤ 2d) do eixo teórico do apoio pode, nesse trecho de comprimento (a), ser
reduzida, multiplicando-a por[a/ (2d)].

As reduções indicadas não são aplicadas à verificação da resistência à compressão


diagonal do concreto. No caso de apoios indiretos, não são permitidas essas reduções.

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UNIDADE Determinação das Armaduras de Cisalhamento de Vigas

Mecanismos de Ruptura de Peças


Submetidas às Solicitações Tangenciais
Numa viga de concreto armado submetida à flexão simples, vários tipos de ruína
são possíveis.
No caso de peças submetidas às solicitações tangenciais, tem-se (Figura 10):
• Ruptura por esmagamento da biela;
• Ruptura da armadura transversal;
• Ruptura do banzo comprimido devida ao cisalhamento.

TIPOS DE RUÍNAS EM 3 - RUPTURA DO BANZO


1 - RUPTURA POR
PEÇAS SUBMETIDAS A COMPRIMIDO DEVIDA AO
ESMAGAMENTO DA BIELA
SOLICITAÇÕES TANGENCIAIS CISALHAMENTO

2 - RUPTURA DA ARMADURA
TRANSVERSAL

Figura 10 – Tipos de Ruínas em Peças Submetidas à Solicitações Tangenciais


Fonte: o autor

Ruptura por Esmagamento da Biela


Quando ocorrem seções transversais muito pequenas para as solicitações atuan-
tes, as tensões principais de compressão podem atingir valores que são elevados,
sendo incompatíveis com a resistência do concreto à compressão com tração per-
pendicular (estado duplo de tensões).
Nesse caso, ocorre uma ruptura por esmagamento do concreto (Figura 11).

Região de
esmagamento
da biela

Diagonal Tracionada Banzo Tracionado


Banzo Comprimido
Diagonal Comprimida

Figura 11 – Ruptura por Esmagamento da Biela


Fonte: o autor

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A ruptura da biela (diagonal comprimida) determina o limite superior da capaci-
dade resistente da viga à força cortante (V).
Esse limite depende da resistência do concreto à compressão (fck).

Ruptura da Armadura Transversal


Essa ruptura corresponde a uma ruína por cisalhamento (τ), decorrente da rup-
tura da armadura transversal (Figura 12).
Banzo Comprimido
q

Ruptura da Banzo Tracionado


Diagona Tracionada
Diagonal Comprimida

Figura 12 – Ruptura da Armadura Transversal


Fonte: o autor

É o tipo mais comum de ruptura por cisalhamento. É resultante da deficiência


da armadura transversal (ASW) para resistir às tensões de tração devidas à força
cortante. Isso faz com que a peça tenha a tendência de se dividir em duas partes.

Ruptura do Banzo Comprimido Devida ao Cisalhamento


No caso de armadura de cisalhamento insuficiente, essa armadura pode entrar
em escoamento, provocando intensa fissuração (fissuras inclinadas), com as fissuras
invadindo a região comprimida pela flexão.
Isso diminui a altura dessa região comprimida e sobrecarrega o concreto, que
pode sofrer esmagamento, mesmo com momento fletor inferior àquele que provo-
caria a ruptura do concreto por flexão (Figura 13).
Região de Ruptura do
Banzo Comprimido Banzo Comprimido
q

Diagonal Tracionada Banzo Tracionado


Diagonal Comprimida

Figura 13 – Ruptura do Banzo Comprimido Devido ao Cisalhamento


Fonte: o autor

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UNIDADE Determinação das Armaduras de Cisalhamento de Vigas

Método de Análise Clássico de


Dimensionamento e
Detalhamento de Peças
Para garantir ductilidade à ruína por cisalhamento, a armadura transversal (ASW)
deve ser suficiente para suportar o esforço de tração resistido pelo concreto na
alma, antes da formação de fissuras de cisalhamento.

A armadura transversal mínima deve ser constituída por estribos, com taxa ge-
ométrica dada pela Expressão (20).

ASw f (20)
=ρ Sw ≥ 0, 2 ct ,m
bw s senα f ywk
Assim, a taxa mínima (ρsw,min) da armadura transversal depende das resistências
do concreto e do aço. Os valores da armadura transversal mínima (ρsw,min) são dados
na Tabela (1):

Tabela 1 – Valores de (ρsw,min) (%).


CONCRETO
AÇO
C20 C25 C30 C35 C40 C45 C50
CA-25 0,1768 0,2052 0,2317 0,2568 0,2807 0,3036 0,3257
CA-50 0,0084 0,1026 0,1159 0,1284 0,1404 0,1580 0,1629
CA-60 0,0737 0,0855 0,0965 0,1070 0,1170 0,1265 0,1357
Fonte: o autor

A armadura mínima é obtida pela Expressão (21).

ASw (21)
aSw=
, mín = ρ Sw,mín bw
s

Força Cortante Associada à Taxa Mínima


A força cortante solicitante associada à taxa mínima (VSd,min) é dada pela Expres-
são (22):

V=
Sd , mín VSw,mín + VC (22)

Sendo:

VSw,mín = ρ Sw,mín 0,9 b d f ywd (23)

20
Detalhamento dos Estribos
Diâmetro Mínimo e Diâmetro Máximo
O diâmetro dos estribos deve estar no intervalo da Expressão (24):

bw (24)
5 mm ≤ φt ≤
10
Quando a barra for lisa, o limite do diâmetro dos estribos é o da Expressão (25):

φt ≤ 12 mm (25)

Quando os estribos forem formados por telas soldadas, o diâmetro dos estribos é
dado pela Expressão (26), desde que sejam tomadas precauções contra a corrosão
da armadura:

φt ,mín = 4, 2 mm (25)

Espaçamento Longitudinal Mínimo e Máximo


O espaçamento mínimo entre estribos, na direção longitudinal da viga, deve ser
suficiente para a passagem do vibrador, garantindo um bom adensamento (Figura 14).

Bom adensamento
Garantir

Espaçamento mínimo Finalidade


Passagem do vibrador
entre estribos

Figura 14 – Finalidade do Espaçamento Mínimo entre Estribos


Fonte: o autor

Para que não ocorra ruptura por cisalhamento nas seções entre os estribos, o
espaçamento máximo deve atender às condições das Expressões (26) e (27).

VSd ≤ 0, 67 VRd 2 → smáx = 0, 6 d ≤ 300 mm (26)

VSd > 0, 67 VRd 2 → smáx = 0,3 d ≤ 200 mm (27)

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UNIDADE Determinação das Armaduras de Cisalhamento de Vigas

Número de Ramos dos Estribos


O número de ramos dos estribos deve ser calculado em função do espaçamento
transversal máximo, entre ramos sucessivos dos estribos (Expressões 28 e 29).

VSd ≤ 0, 20 VRd 2 → st ,máx =


d ≤ 800 mm (28)

VSd > 0, 20 VRd 2 → st ,máx = 0, 6 d ≤ 350 mm (29)

Disposições Gerais e Construtivas


Armadura Transversal para Força Cortante
As armaduras destinadas a resistir às forças de tração provocadas por forças
cortantes podem ser constituídas por estribos, combinados ou não, com barras
dobradas ou telas soldadas (Figura 15).

COMPOSIÇÃO DAS
ESTRIBOS COMBINADOS
ESTRIBOS ARMADURAS DE
COM TELAS SOLDADAS
CISALHAMENTO

ESTRIBOS COMBINADOS
COM BARRAS DOBRADAS

Figura 15 – Composição das Armaduras de Cisalhamento


Fonte: o autor

Elementos Estruturais Armados com Estribos


Os estribos para suportar as forças cortantes devem ser fechados por meio de
um ramo horizontal, envolvendo as barras da armadura longitudinal de tração, e
ancorados na face oposta (Figura 16).

Quando essa face também puder estar tracionada, o estribo deve ter o ramo
horizontal nessa região, ou complementado por meio de barra adicional.

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Estribo - Ramo
Estribo - Ramo Vertical
Horizontal

d h
Estribo - Ramo
Vertical Estribo - Ramo
ΦL Horizontal
Φt
ΦL
C + Φt +
2
b

Figura 16 – Estribo
Fonte: o autor

O diâmetro da barra que constitui o estribo deve ser maior ou igual a 5mm, sem
exceder 1/10 da largura da alma da viga (Expressão 24).

Quando a barra for lisa, seu diâmetro não pode ser superior a 12mm. No caso
de estribos formados por telas soldadas, o diâmetro mínimo pode ser reduzido para
4,2mm, desde que sejam tomadas precauções contra a corrosão dessa armadura
(Expressão 25).

Emendas
São permitidas emendas por transpasse quando os estribos forem constituídos
por telas. Embora não sejam usuais, as emendas por transpasse, também, são
permitidas se os estribos forem constituídos por barras de alta aderência, isto é, se
forem constituídos por barras de aço CA-50 ou CA-60.

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UNIDADE Determinação das Armaduras de Cisalhamento de Vigas

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Livros
Introdução à engenharia de estruturas de concreto
FUSCO, P. B.; ONISHI, M. Introdução à engenharia de estruturas de concreto.
São Paulo: Cengage Learning Editores, 2017. (e-book)
Concreto Armado Eu te Amo Vai para Obra
BOTELHO, M. H. C.; FERRAZ, N. N. Concreto Armado Eu te Amo Vai para
Obra. 8.ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2015. v. 1. (e-book)
Caderno de Receitas de Concreto Armado – Vigas
PILOTTO NETO, E. Caderno de Receitas de Concreto Armado – Vigas. São
Paulo: LTC, 2017. v. 1. (e-book)
Caderno de Receitas de Concreto Armado – Lajes
PILOTTO NETO, E. Caderno de Receitas de Concreto Armado – Lajes. São Paulo:
LTC. v. 3. (e-book)
Curso Básico de Concreto Armado
PORTO. T. B.; FERNANDES, D. S. G. Curso Básico de Concreto Armado. São
Paulo: Oficina de Textos, 2014. (e-book)

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Referências
BOTELHO, M. H. C.; MARCHETTI, O. Concreto Armado Eu te Amo. 4.ed. São
Paulo: Edgard Blucher, 2015. v.1. (e-book)

BOTELHO, M. H. C.; MARCHETTI, O. Concreto Armado Eu te Amo. 8.ed. São


Paulo: Edgard Blucher, 2015. v.1. (e-book)

FUSCO, Péricles Brasiliense. Técnica de armar as estruturas de concreto. 2.


ed.rev.ampl. São Paulo: Pini, 2013.

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