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PROPÓSITO
Conhecer as fundações diretas, seus tipos, adequação e projeto. Desse modo, ao final do
texto, você será capaz de identificar os blocos de fundações e diferenciá-los das sapatas,
dimensionar geometricamente as sapatas em suas mais diversas formas, realizar o
detalhamento da armadura e demonstrar como é feito o procedimento para o dimensionamento
de vigas de fundação e o processo executivo para radiers.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar este conteúdo, é recomendado ter calculadora científica em mãos, bem como
conhecer as ferramentas que facilitam os processos de cálculo, como o Excel.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 3
Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km) por
questões de tecnologia e didáticas. No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um
espaço entre o número e a unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais
materiais escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos números e
das unidades.
MÓDULO 1
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Fundações diretas são as mais utilizadas em projetos de engenharia, principalmente no caso
de edificações residenciais. Entre as fundações diretas, podemos encontrar alguns tipos, como
as sapatas, os blocos, o radier e a viga de fundação, que é um complemento para as sapatas
de divisa ou para as situações em que o momento atuante é muito alto.
ATENÇÃO
Ao abordar o tema das fundações, sejam elas diretas ou indiretas, é importante ressaltar que,
independentemente do modelo, qualquer tipo de fundação terá características a serem
definidas em virtude do solo de apoio e características a serem definidas conforme as
propriedades dos materiais que vão constituí-la, como o concreto e o aço.
COMENTÁRIO
Neste módulo serão estudados os blocos de fundação e as sapatas isoladas, ou seja, aquelas
que recebem um único pilar. Em geral, esses dois tipos de fundação diferenciam-se na
necessidade da armadura para flexão. Além disso, serão apresentados outros tipos de sapatas,
bem como suas principais características.
BLOCOS DE FUNDAÇÃO
Os denominados blocos de fundação são definidos como o elemento de fundação superficial
de concreto dimensionado de modo que as tensões de tração nele resultantes sejam resistidas
pelo concreto, sem necessidade de armadura.
Esses elementos de fundação, por serem constituídos de concreto simples, são caracterizados
por apresentarem uma altura relativamente grande, necessária para que trabalhem
essencialmente à compressão.
RESUMINDO
Como esse elemento não tem armadura de aço para combater a tração, todo o esforço gerado
deverá ser resistido pelo concreto.
Blocos de fundação.
Por sua constituição, os blocos são caracterizados por apresentar rigidez elevada. Dessa
forma, seu dimensionamento estrutural é feito de tal maneira que dispensem armadura
(horizontal) para flexão. Logo, as tensões por tração, que são máximas na base, devem ser
inferiores à resistência à tração do concreto. Assim, a condição de segurança ao cisalhamento
será atendida.
Nessa situação, é necessário que o bloco de concreto resista aos esforços de compressão e
tração. Para tanto, a inclinação dada entre a relação da diagonal produzida pela extremidade
do pilar com a do bloco (α) deverá ser maior ou igual a 60° (Equação 1).
α ≥ 60°
(1)
Segundo Velloso e Lopes (2012), o dimensionamento poderá também ser feito por um critério
que leva em conta o valor das pressões de contato
(q)
(Equação 2).
tanα q
= + 1
α σadm,t
(2)
em que
σadm,t
é a tensão admissível à tração do concreto, que geralmente é calculada pela tensão admissível
à compressão do concreto dividida por 10 (Equação 3).
σadm,c
σadm,t =
10
(3)
Além disso, a NBR 6118:2014 recomenda que, para os blocos, podem ser utilizadas a análise
linear, a análise plástica ou a análise não linear. No caso da análise linear, na maioria dos
casos, ela deve ser realizada com o emprego de procedimento numérico adequado, como
diferenças finitas ou elementos finitos.
ATENÇÃO
Uma das principais desvantagens do uso de blocos de fundação é o fato de que, por não terem
armadura, eles acabam exigindo grandes dimensões para combater os carregamentos aos
quais são solicitados. Consequentemente, ocorre a necessidade de escavações mais
profundas, maior custo com formas e com concreto.
Diante disso, os blocos, na atualidade, são pouco usuais, dando espaço para a utilização das
sapatas, no caso de fundações superficiais, que, por usa vez, são armadas e acabam sendo
menores.
SAPATAS
Em uma definição bem direta, sapatas são estruturas de volume usadas para transmitir ao
terreno as cargas da fundação, no caso da fundação direta.
Para compreender melhor o que são estruturas de volume, a NBR 6118:2014 divide os
elementos estruturais em três tipos. Assim, para essa norma, existem elementos estruturais
básicos, que devem ser classificados e caracterizados de acordo com sua forma geométrica e
sua função estrutural.
• São aqueles em que o comprimento longitudinal supera em pelo menos três vezes a maior
dimensão da seção transversal, sendo também denominados barras
ELEMENTOS VOLUMÉTRICOS
• A norma não prescreve com exatidão o conceito de elementos volumétricos; no entanto, eles
podem ser definidos como elementos que apresentam suas dimensões numericamente iguais.
• Lx = Ly = Lz.
No caso das sapatas, é necessário verificá-las quanto à rigidez. Assim, deve-se aplicar a
Equação 4 nas duas direções. Se for válida, a sapata é considerada rígida. Caso contrário, é
considerada flexível.
(a − ap )
h ≥
3
(4)
Sendo:
(h)
a altura da sapata;
(a)
(ap )
Dessa forma, se a sapata for rígida, deve-se admitir a distribuição de tensões normais no
contato sapata-terreno como plana, e, se for flexível, ou, em casos extremos, de fundação em
rocha, mesmo com sapata rígida.
As sapatas, em seu método construtivo, podem ter altura constante ou variável. A escolha do
modelo vai muito em função do projetista. Normalmente, a escolha de sapatas de altura
variável ocorre quando o elemento estrutural tem dimensões muito grandes. Desse modo, a
altura variável colabora para a economia de concreto. Essa opção só não é sempre adotada
porque necessita de um maior uso de formas e é mais trabalhosa para a execução em campo.
SAPATA ISOLADA
Quando se fala em sapatas, as mais comuns são as denominadas isoladas. A principal
característica desse tipo de sapata é o fato de ela receber o carregamento de um único pilar.
Outra característica muito marcante da sapata isolada é o fato de seu centro de gravidade
coincidir com o centro de gravidade do pilar.
Segundo Rebello (2008), nos casos em que os valores da carga sobre a sapata e a tensão
máxima do solo são conhecidos, é possível determinar a área dessa sapata e,
consequentemente, suas dimensões. Em geral, as sapatas isoladas podem ser quadradas,
retangulares ou circulares. A escolha da forma pode estar relacionada com as dimensões do
pilar ou com questões construtivas.
SAPATA ASSOCIADA
Seguindo a classificação dos tipos de sapata com relação à posição do centro de gravidade e
ao número de pilares, há a denominada sapata associada. Essa sapata ocorre quando dois ou
mais pilares estão muito próximos; logo, ao se projetarem as sapatas, elas irão sobrepor-se.
Portanto, para atender, de modo mais eficiente, ao projeto, devem-se associar os pilares sobre
uma única sapata.
Cabe ressaltar que, segundo Rebello (2008), para que a distribuição de tensões no solo seja
uniforme, é necessário que o centro de gravidade da sapata coincida com o centro de
gravidade das cargas dos pilares. Assim, a área da sapata associada será calculada com a
carga dos dois pilares.
SAPATA CORRIDA
A sapata corrida é a descrita pela NBR 6122:2019 da ABNT como a sapata sujeita à ação de
uma carga distribuída linearmente ou de três ou mais pilares ao longo de um mesmo
alinhamento, desde que representem menos de 70% das cargas da estrutura. Logo, entende-
se que a sapata corrida ocorrerá como uma placa de concreto armado, em que uma das
dimensões, o comprimento, prevalece em relação à outra, a largura.
Para Rebello (2008), a função da sapata corrida é dispor pelo solo cargas linearmente
distribuídas. São exemplos de cargas distribuídas linearmente as cargas de paredes, sejam
elas estruturais ou não. Da mesma maneira, uma linha de pilares muito próximos pode ser
considerada carga linearmente distribuída.
SAPATA DE DIVISA OU EXCÊNTRICA
Ao contrário dos outros tipos apresentados, essa sapata tem apenas um pilar, sendo
semelhante à sapata isolada. O que a difere da última é o fato de o centro de gravidade do pilar
não coincidir com o da sapata. Esse fenômeno ocorre com o aparecimento das denominadas
cargas excêntricas.
Para a NBR 6122:2019, uma fundação será solicitada por carga excêntrica quando estiver
submetida a qualquer composição de forças que incluam ou gerem momentos na fundação.
Portanto, o dimensionamento geotécnico de uma fundação rasa solicitada por carregamento
excêntrico deve ser feito considerando-se que o solo é um elemento não resistente à tração.
DIMENSIONAMENTO DE SAPATAS PELO
MÉTODO DAS BIELAS E TIRANTES
A literatura apresenta alguns métodos e modelos para o dimensionamento de sapatas.
Segundo a NBR 6118:2014, no cálculo e no dimensionamento de sapatas devem ser utilizados
modelos tridimensionais lineares ou modelos de bielas e tirantes tridimensionais, podendo,
quando for o caso, ser utilizados modelos de flexão.
A norma também determina a profundidade mínima, em que, nas divisas com terrenos
vizinhos, salvo quando a fundação for assente sobre rocha, a profundidade de apoio não pode
ser inferior a 1,5m.
ATENÇÃO
Cabe ressaltar que a norma também prevê que, em casos de obras cujas sapatas ou blocos
tenham, em sua maioria, dimensões inferiores a 1,0m, essa profundidade mínima pode ser
reduzida.
Isso pode ser feito sempre que a cota de apoio da fundação assegurar que a capacidade de
suporte do solo de apoio não seja influenciada pelas variações sazonais de clima ou por
alterações de umidade.
Por fim, dentro dos critérios adicionais indicados na norma, tem-se que, em todas as partes da
fundação rasa (direta ou superficial) em contato com o solo (sapatas, vigas de equilíbrio etc.),
deve existir um lastro, ou seja, deve haver um lastro de concreto não estrutural com no mínimo
5cm de espessura, que deve ser lançado sobre toda a superfície de contato solo-fundação.
Como já dito, a sapata isolada, também conhecida na literatura como sapata centrada, é
aquela que resulta do carregamento centrado entre o centro de gravidade do pilar e o centro de
gravidade da sapata, ou seja, o carregamento passa pelo centro de gravidade da base da
sapata. Nesse caso, não existe nenhum tipo de excentricidade.
Geometrias da sapata isolada.
Os esforços mais comuns que ocorrem nas sapatas são a força normal (N), os momentos
fletores, em uma ou em duas direções (Mx e My), e a força horizontal (H).
1.
2.
3.
(Nk )
é composta pelos esforços permanentes
(Ngk )
(Nqk )
, que, após serem multiplicados por um coeficiente de ponderação das ações, dado em norma,
fornecem a carga solicitante no pilar
(Nd )
, que é a carga de cálculo que deverá ser usada para efeito de cálculos.
SAIBA MAIS
Os denominados coeficientes de ponderação das ações são fornecidos pela NBR 6118:2014.
Pela norma, é possível obter os coeficientes que vão majorar as ações atuantes no elemento
estudado.
(γc )
e do Aço
(γs )
.
Extraído de NBR 6118:2014 (p. 71).
EXEMPLO 1
Deseja-se obter a carga solicitante de uma sapata na qual estão atuando o esforço permanente
de 1000kN e o esforço variável de 600kN. Considere os coeficientes de ponderação das ações
no ELU para combinações normais, para as cargas permanentes
(γg )
e variáveis
(γq )
Nd = γ Ngk + γ Nqk
g q
(5)
Nd = 1, 4 × (1000 + 600)
Nd = 2240kN
(6)
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Sendo:
σadm
Ssap
SAPATA QUADRADA
a = b
, o procedimento é bem simples. Devem-se aplicar a Equação 6 e a raiz quadrada do resultado
(Equação 7).
(7)
EXEMPLO 2
Dimensione uma sapata para um pilar de
30 × 30cm
1500kN
0, 3M P a
, e a represente graficamente.
RESOLUÇÃO
Conforme recomendado e sendo o mais usual, tem-se que:
Pilar quadrado
Sapata quadrada
Logo,
sendo
γg Ngk = 1500kN
(enunciado)
1, 05 × 1500kN
a = b = √
3 2
0, 3 × 10 kN /m
a = b = 2, 29m
Não é comum trabalhar com números que não sejam múltiplos de 5 para o dimensionamento
de sapatas; logo, deve-se arredondar o valor encontrado para o inteiro mais próximo. Assim:
a = b = 2, 30 m
SAPATA RETANGULAR
(a ≠ b)
, pode-se considerar que, pelo princípio dos balanços iguais, tem-se o sistema a seguir:
a − a0 = 2d
{
b − b0 = 2d
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
em que
a − a 0 = b − b0
Ou seja,
a − b = a 0 − b0
Ssap = a × b
Ssap = (a0 − b0 + b) × b
2
(a0 − b0 ) (a0 − b0 )
a = + √ + Ssap
2 4
(8)
Ou
2
(a0 − b0 ) (a0 − b0 ) 1, 05γg Ngk + γq Nqk
a = + √ +
2 4 σadm
(9)
e
ssap
b =
a
(10)
EXEMPLO 3
Dimensione uma sapata para um pilar de
30 × 100cm
3000kN
0, 3M P a
, e a represente graficamente.
RESOLUÇÃO
Conforme recomendado e sendo o mais usual, tem-se que:
Pilar retangular
Sapata retangular
Logo,
2
(a0 − b0 ) (a0 − b0 ) 1, 05γg Ngk + γq Nqk
a = + √ +
2 4 σadm
2
(1 − 0, 30) (1 − 0, 30) 1, 05 × 3000
a = + √ +
3
2 4 0, 30 × 10
a = 3, 61m
Adotado, então
a = 3, 65m
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Ssap
b =
a
1, 05 × 3000
Ssap =
3
0, 30 × 10
2
Ssap = 10, 50m
Logo,
10, 50
b =
3, 65
b = 2, 87m
Adotado, então
b = 2, 90 m
O próximo elemento a ser dimensionado para compor as dimensões da sapata é sua altura. A
altura total é composta por dois trechos, a denominada altura útil, que, geralmente, em
concreto armado, é dada como a altura da seção, igual à distância da borda comprimida ao
centro de gravidade da armadura de tração. Porém, no caso das sapatas, é a altura que resta
após descontar o cobrimento que a sapata terá com relação ao solo.
Alturas a serem dimensionadas na sapata.
Além da altura útil, existe o cobrimento, que é denominado cobrimento nominal da bainha ou
dos fios, cabos e cordoalhas. Portanto, segundo a NBR 6118:2014, para a armadura passiva, o
cobrimento deverá respeitar os cobrimentos para concreto armado. A norma ainda dispõe de
duas tabelas, representadas abaixo por Tabela 2 e Tabela 3:
Tabela 2
Tabela 3
Classe de agressividade
ambiental
Tipo de Componente ou
estrutura elemento I II III IVc
Cobrimento nominal - mm
Lajeb 20 25 35 45
Concreto Viga/pilar 25 30 40 50
armado
Elementos estruturais
30 40 50
em contato com o solod
Laje 25 30 40 50
Concreto
protendidoa
Viga/pilar 30 35 45 55
b Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de
contrapiso, com revestimentos finais secos, tipo carpete e madeira, com argamassa de
revestimento e acabamento, como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos,
pisos asfálticos e outros, as exigências dessa tabela podem ser substituídas pelas de
7.4.7.5 da NBR 6118:2014, respeitado um cobrimento nominal ≥ 15mm.
c
Nas superfícies expostas a ambientes agressivos, como reservatórios, estações de
tratamento de água e esgoto, condutos de esgoto, canaletas de efluentes e outras obras
em ambientes química e intensamente agressivos, devem ser atendidos os cobrimentos
da classe de agressividade IV.
d
No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a
armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45mm.
Classificação geral
Classe de Risco de
do tipo de
agressividade Agressividade deterioração
ambiente para
ambiental da estrutura
efeito de projeto
Rural
I Fraca Insignificante
Submersa
Urbanaa, b
II Moderada Pequeno
Marinhaa
Industriala, b
Industriala, c
a Pode-se admitir um microclima com uma classe de agressividade mais branda (uma
classe acima) para ambientes internos secos (salas, dormitórios, banheiros, cozinhas e
áreas de serviço de apartamentos residenciais e conjuntos comerciais ou ambientes com
concreto revestido com argamassa e pintura).
b Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) em
obras em regiões de clima seco, com umidade média relativa do ar menor ou igual a
65%, partes da estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos
ou regiões onde raramente chove.
c Ambientes quimicamente agressivos, tanques industriais, galvanoplastia,
branqueamento em indústrias de celulose e papel, armazéns de fertilizantes, indústrias
químicas.
Por fim, no caso de sapatas com altura variável, tem-se a altura da área da sapata de seção
constante, denominada anteriormente
No caso de
, a literatura faz duas recomendações: essa altura deve ser maior que a altura total dividida por
3 e maior que 20 (Equação 11).
H
h ≥ e maior que 20cm
3
(11)
H = d + cobrimento
(12)
Após calcular a altura da sapata, deve ser feita a verificação quanto à sua rigidez. Assim, se a
sapata for classificada como flexível, deve-se redimensioná-la até que trabalhe como uma
sapata rígida. Isso garantirá melhor distribuição das tensões no solo e menores deformações
no elemento estrutural.
a−a0
⎧
⎪
⎪ 4
⎪
⎪
b−b0
d ≥ ⎨ 4
⎪
⎪
⎪
⎩
⎪
1,05×P 0,85×fck
1, 44√ , σa =
σa 1,96
(13)
Em casos de sapata flexível, a NBR 6118:2014 determina que devem ser atendidos os
requisitos relativos às lajes e à punção descritos na própria norma.
. Esse ângulo refere-se à inclinação da sapata. Em geral, recomenda-se que ele seja igual ou
menor do que 30°. Isso é recomendado porque, com o ângulo atendendo a essas
características, tem-se o ângulo do talude natural do concreto fresco. Assim, evita-se a
necessidade de fôrma na construção da sapata.
β
nas duas direções, devem-se aplicar as Equações 13 e 14, ou a Equação 15, nas duas
direções.
H − h
∘
βa = artg ≤ 30
(a − a0 ) /2
(13)
H − h
βb = artg ≤ 30
(b − b0 ) /2
(14)
H − h
tgβ =
a−a0
(15)
Nesta seção, deve-se iniciar o projeto da armadura longitudinal, pelo cálculo dos esforços de
tração na base da sapata, para ser possível realizar o cálculo da armadura longitudinal das
duas direções. Pelo método das bielas no projeto de sapatas, a tração deve ser calculada nas
duas direções (x e y), seguindo a Equações 16 e 17.
Nk × (a − a0 )
Tx = (kN )
8 × d
(16)
Nk × (b − b0 )
Ty = (kN )
8 × d
(17)
Txd Nk × (a − a0 )
= 1, 4 (kN /m)
b 8bd
(18)
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Tyd Nk × (b − b0 )
= 1, 4 (kN /m)
a 8ad
(19)
(Txd /b)
2
Asa = ≥ 0, 15%100. H ( cm /m)
fyd
(20)
(Tyd /a)
2
Asb = ≥ 0, 15%100. H (cm /m)
fyd
(21)
Sendo:
Asa
a armadura na direção x (lado a), que se distribui ao longo do comprimento b (direção y);
Asb
a armadura na direção y (lado b), que se distribui ao longo do comprimento a (direção x).
(fyd )
fyk
fyd =
1, 15
(22)
Cabe ainda ressaltar que o método das bielas define uma área de aço mínima para a armadura
longitudinal, devendo cada direção respeitar a Equação 23.
(23)
ATENÇÃO
Para realizar essa verificação da ruptura do concreto por compressão diagonal, a força cortante
de cálculo
(Vd )
deve ser menor do que/igual à força cortante de cálculo máxima resistida por compressão
diagonal das bielas de concreto
(VRd2 )
(Equação 24).
Vd ≤ VRd2
(24)
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Sendo a força cortante de cálculo expressa pela Equação 25, e a força cortante resistente, pela
Equação 26.
Vd = 1, 4 × Neq → solicitado
(25)
(26)
Em que:
Neq
(abσ − P)
m áx
(Nk )
= coeficiente de redução da resistência do concreto fissurado por força cortante, dado por
, com
fck
em MPa;
fcd
= resistência de cálculo do concreto à compressão, dada por
(fck /1, 4)
u0 = 2(a0 + b0 )
DETALHAMENTO DA ARMADURA
SAIBA MAIS
Tanto a literatura quanto os manuais técnicos que trazem especificações de barras de aço
apresentam a área de aço das seções das barras pelo tipo de bitola.
2
∅(mm) A1∅ (cm )
5,0 0,19
6,3 0,31
8,0 0,50
10,0 0,70
12,5 1,25
16,0 1,98
20,05 2,85
25,0 5,05
Assim, é possível definir quantas barras serão necessárias para compor a área de aço
longitudinal calculada para atender ao projeto.
Após o cálculo do número de barras, deve ser feito o cálculo do espaçamento entre as barras.
No caso das barras calculadas para a direção x, tem-se que deverão ser distribuídas em toda a
largura b da sapata (direção y); logo, considerando um recobrimento, que deverá ser obtido da
Tabela 2, indicada pela NBR 6118:2014, e descontando esse valor duas vezes, será possível
obter o espaçamento entre barras (Equação 27).
b − 2 × cobrimento
Espa ç amento = ∘
N barras − 1
(27)
EXEMPLO 4
Considere que, após os devidos cálculos para dimensionamento de determinada armadura
longitudinal de uma sapata retangular e suas devidas verificações, foram obtidas as áreas de
aço para as duas direções, sendo
2
Asa = 12, 6cm
e
2
Asb = 11, 2cm
. Para o cálculo do número de barras, deve ser adotado aço CA-50 de 10mm de diâmetro e
cobrimento lateral de 4,5cm. Considere a geometria da base da sapata dada pela imagem
abaixo. Diante dos dados, faça o detalhamento da sapata.
RESOLUÇÃO:
A partir dos dados do enunciado, consultando a Tabela 4 anteriormente e adotando a área de
aço unitária para a barra de
10mm
2
0, 7cm
, tem-se:
2 2 2
As ( cm ) Asa = 12, 6 cm Asb = 11, 2 cm
b − 2 × cobrimento
Espa ç amento = ∘
N barras − 1
Espaçamento
180 − 2 × 4, 5 165 − 2 × 4, 5
(cm) Esp⋅ = Esp⋅ =
18 − 1 16 − 1
A primeira dúvida que surge ao se utilizar a expressão sapata excêntrica é entender quando
esse fenômeno pode ocorrer. Imagine a situação de quando o pilar encontra-se faceando a
divisa da construção, seja com o terreno vizinho, seja com área pública.
Sapata excêntrica
Nesse estado, por mais que a fundação esteja enterrada (“ninguém está vendo”), ela não pode
avançar além da divisa. Em tal circunstância, é comum ocorrerem duas situações: as
denominadas sapatas excêntricas e a viga alavanca ou viga de equilíbrio.
Sapata excêntrica com viga alavanca.
Para a sapata ser denominada excêntrica, basta que a carga do pilar se encontre fora do
centro de gravidade da sapata. Esse tipo de situação provoca uma distribuição não uniforme
de tensões no solo e a ocorrência de momento fletor no pilar, ocasionando alterações em seu
dimensionamento.
Além disso, as excentricidades nas sapatas podem ser causadas pela existência de momentos
fletores ou por força horizontal no pilar, bem como pela carga vertical.
Nessa situação, o momento gerado pela excentricidade na sapata foi combatido com o
aumento da área da seção da sapata, o aumento da altura e a inserção de armadura superior.
Conforme o item 3.39 da NBR 6122:2019, sapata associada é a sapata comum a dois pilares.
Normalmente, isso ocorre quando, em razão da proximidade entre os pilares, não é possível
projetar uma sapata isolada para cada pilar. Assim, é necessário projetar uma única sapata
como a fundação para dois ou mais pilares.
ATENÇÃO
A sapata associada pode ser projetada com ou sem uma viga de rigidez.
O método utilizado para o dimensionamento de sapatas associadas, neste módulo, foi proposto
pelo Comité Euro-international du Béton (CEB-70 – Comitê Euro-internacional de Concreto),
tendo sido também apresentado por Rebello (2008). Em geral, para aplicação desse método,
as sapatas devem apresentar as seguintes características geométricas:
h
≤ c ≤ 2h
2
Esse método é aplicado para blocos de coroamento e para sapatas, inclusive sapatas
associadas.
SAPATA CORRIDA
A sapata do tipo corrida pode ser entendida como aquela designada a receber cargas lineares
distribuídas. Em razão dessa característica, apresenta uma dimensão preponderante em
relação às demais.
Dessa forma, as sapatas corridas devem ser classificadas em rígidas ou flexíveis, conforme o
critério da NBR 6118:2014, o mesmo adotado para as sapatas isoladas. Cabe ressaltar que
nas sapatas corridas flexíveis, especialmente, a ruptura por punção deve ser obrigatoriamente
verificada.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
As denominadas vigas de fundação podem ser entendidas como as fundações que associam
dois ou mais pilares alinhados.
Vigas de fundação: (a) com largura constante e enrijecimento longitudinal; e (b) de largura
variável e topo plano.
RELEMBRANDO
Como visto no módulo anterior, normalmente uma viga de fundação apresenta rigidez elevada
se comparada à rigidez do terreno.
OS MÉTODOS ESTÁTICOS.
OS MÉTODOS BASEADOS NA HIPÓTESE DE WINKLER.
OS MÉTODOS BASEADOS NO MEIO ELÁSTICO CONTÍNUO.
DIMENSIONAMENTO DE VIGAS DE
EQUILÍBRIO OU ALAVANCA
O dimensionamento de uma viga de equilíbrio muito se assemelha ao dimensionamento de
uma viga qualquer. De modo geral, os dados iniciais necessários para o dimensionamento de
uma viga de equilíbrio são os carregamentos, o tipo de concreto e o tipo de aço.
COMENTÁRIO
Cabe ressaltar que toda a simbologia utilizada aqui está em conformidade com a simbologia
adotada pela NBR 6118:2014 (capítulo 17 – Dimensionamento e verificação de elementos
lineares; seção 17.1 – Simbologia específica desta seção).
PRÉ-DIMENSIONAMENTO
A estimativa das dimensões da viga pode ser feita a partir da medida do tamanho do vão
efetivo (comprimento entre apoios) da viga.
(h)
pode ser obtida a partir da correlação da Equação 1.
L L
h ≅ a
12 10
(1)
sendo
Seguindo as orientações da NBR 6118:2014, tem-se que a seção transversal das vigas não
pode apresentar largura menor do que 12cm, e a das vigas-parede, menor do que 15cm.
Normalmente, para trabalhar em condições mais econômicas, porém dentro da segurança, são
adotadas dimensões menores e, a partir disso, feitas as verificações. Se as dimensões
adotadas atenderem às solicitações, estarão aptas; caso contrário, deverá ser feito um novo
dimensionamento.
ALTURA ÚTIL
(h)
Tabela 1
Tabela 2
Classificação geral
Classe de Risco de
do tipo de
agressividade Agressividade deterioração
ambiente para
ambiental da estrutura
efeito de projeto
Rural
I Fraca Insignificante
Submersa
Urbana a, b
II Moderada Pequeno
Marinhaa
Industriala, b
Industriala, c
b Pode-se admitir uma classe de agressividade mais branda (uma classe acima) em
obras em regiões de clima seco, com umidade média relativa do ar menor ou igual a
65%, partes da estrutura protegidas de chuva em ambientes predominantemente secos
ou regiões onde raramente chove.
Tipo de Componente ou
estrutura elemento I II III IV
Cobrimento nominal – mm
Lajeb 20 25 35 45
Concreto Viga/pilar 25 30 40 50
armado
Elementos estruturais
30 40 50
em contato com o solod
Laje 25 30 40 50
Concreto
protendidoa
Viga/pilar 30 35 45 55
b Para a face superior de lajes e vigas que serão revestidas com argamassa de
contrapiso, com revestimentos finais secos, tipo carpete e madeira, com argamassa de
revestimento e acabamento, como pisos de elevado desempenho, pisos cerâmicos,
pisos asfálticos e outros, as exigências dessa tabela podem ser substituídas pelas de
7.4.7.5 da NBR6118:2014, respeitado um cobrimento nominal ≥ 15mm.
d No trecho dos pilares em contato com o solo junto aos elementos de fundação, a
armadura deve ter cobrimento nominal ≥ 45mm.
Δc
= 10mm
Extraída de NBR 6118:2014, Tabela 7.2, p. 20.
MOMENTO FLETOR
ESFORÇO CORTANTE
MOMENTO FLETOR
Deve-se obter o momento fletor característico
(Mk )
(Equação 2). A partir desse valor, deve-se calcular o valor do momento fletor solicitante
(Md )
(Equação 3).
Mk = γ g Mg + γ q Mq
(2)
Md = 1, 4 × Mk
(3)
Após obter o momento fletor solicitante de cálculo (máximo), deve-se verificar se seu valor
atende ao momento limite de cálculo, no qual o elemento romperia por escoamento do aço.
Isso é importante, pois, após esse limite, o concreto sofre esmagamento por compressão.
Assim, deve ser calculado o momento limite solicitante de cálculo
(Md,lim )
(Equação 4).
2
Md,lim = 0, 25092 × b × d × fcd
(4)
sendo
fck
fcd = ,b
1, 4
a largura da viga e
a altura útil.
FORÇA CORTANTE
(Vk )
, consideram-se as reações de apoio (nos pilares) para encontrar os estribos, que vencem a
solicitação de cisalhamento.
MODELO DE CÁLCULO I
MODELO DE CÁLCULO II
Assim, o dimensionamento de vigas de fundação de seção retangular à força cortante deve ser
feito para verificar o efeito da força cortante sob a ruptura.
Elementos que influenciam a ruptura por efeito de força cortante.
Sd ≤ Rd → VSd ≤ VRd2
em que:
VSd
Além disso, a força cortante solicitante de cálculo na seção deve ser menor do que o cálculo
relativo de força resistente à ruína das diagonais tracionadas de concreto:
VSd ≤ VRd3
VRd3 = Vc + Vsw
em que:
VRd3
Vc
Vsw
Dessa forma, para o cálculo dos esforços cortantes solicitantes e resistentes, é necessário ter
como dados os elementos indicados na imagem abaixo.
(Vk )
(Equação 5). A partir desse valor, deve-se calcular o valor do esforço cortante solicitante
(Vd )
(Equação 6), ou seja, a solicitação majorada.
Vk = γg Vg + γq Vq
(5)
Vd = 1, 4 × Vk
(6)
Sendo:
Vg
Vq
A força cortante de cálculo deve ser menor do que a força cortante resistente (Equação 7), para
que não haja o esmagamento do concreto. O contrário disso provocará o esmagamento do
concreto, então veja como deve ser feito o cálculo da força cortante resistente sem
esmagamento do concreto:
(7)
sendo
o coeficiente de redução da resistência do concreto fissurado por força cortante (Equação 8).
fck
V = 0, 6 (1 − )
250
(8)
, considerar
sen (2θ) = 1
2
Md,lim = 0, 25092 × b × d × fcd
(9)
xlim = 0, 45 × d
(10)
De posse desses valores, uma armadura mínima de tração será determinada (Equação 11),
dada pela taxa mínima absoluta de 0,15% com relação à resistência característica do concreto.
As,min = 0, 15%(bh)
(11)
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
(x)
(As )
(Equação 13).
Md
x = 1, 25 × d × [1 − √1 − ]
2
0, 425 × b × d × fcd
(12)
fcd
As = 0, 68 × b × x ×
fyd
(13)
sendo
fyk
fyd =
1, 15
A NBR 6118:2014 ressalva que, em vigas usuais, com altura menor que 1,2m, pode-se
considerar atendida a condição de abertura de fissuras em toda a pele tracionada, se a
abertura de fissuras calculada na região das barras mais tracionadas for verificada e se existir
uma armadura lateral, sendo essa a denominada armadura de pele.
0, 10 % Ac,alma
em cada face da alma da viga, ou seja,
0, 10 % bh
, e composta por barras de CA-50 ou CA-60, com espaçamento não maior que 20cm e
devidamente ancorada nos apoios.
ATENÇÃO
A armadura de pele também é utilizada em vigas com altura igual ou maior a 60cm, pois serve
para controlar a fissuração na parte tracionada da viga.
(Asw )
é realizado pela Equação 14.
(Vd − Vc ) s
Asw =
0, 9 × d × fywd × cot θ
(14)
em que:
Vd
Vc
Vc = V0
θ = 45°
Asw
em cm²/m);
fywd
fyk
(fywd = )
1, 15
V0 = 0, 6 × b × d × fctd
(15)
em que
fctd
3
0, 3 × f
ck
1, 4
E se
θ = 45°
, considerar
cot θ = 1
Da mesma forma que a armadura longitudinal, a armadura transversal deve obedecer a uma
área de aço mínima (Equação 16).
fctm
Asw,min = 0, 2 × b × s ×
fyk
(16)
Logo,
Cabe ressaltar que, quando a armadura calculada é muito grande, usam-se estribos duplos.
Veja cada tipo de estribo abaixo:
ESTRIBO DE TRÊS OU QUATRO RAMOS
Asw
O tipo mais aplicado na grande maioria das vigas é o estribo de dois ramos.
Normalmente, em vigas comuns nas construções, com larguras geralmente de até 30cm, o
estribo mais comum de ser aplicado é o de dois ramos verticais, que é simples de ser feito e
amarrado com as barras longitudinais de flexão.
Porém, no caso das vigas de equilíbrio em fundações de edifícios, vigas de pontes, vigas com
grandes vãos etc., que são mais largas, a distância entre os ramos verticais do estribo supera o
espaçamento máximo permitido. Nesse caso, a solução é aumentar o número de ramos,
geralmente fazendo ramos pares, pois assim os estribos podem ser idênticos.
ESPAÇAMENTOS
Além do espaçamento mínimo, deve ser respeitado o espaçamento longitudinal máximo entre
estribos:
E, por fim, deve ser verificado o espaçamento transversal máximo entre ramos:
≥ 5mm
ϕt {
≤ b/10
Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal
Cabe ressaltar que, quando a barra é lisa, seu diâmetro não pode ser superior a 12mm, e que,
para estribos formados por telas soldadas, o diâmetro mínimo pode ser reduzido para 4,2mm,
desde que sejam tomadas precauções contra a corrosão dessa armadura.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A NBR 6122:2019 define radier como o elemento de fundação rasa dotado de rigidez para
receber e distribuir mais do que 70% das cargas da estrutura, ou seja, a fundação tipo radier é
adotada quando a fundação superficial recebe todos os pilares da obra.
Em geral, o radier pode ser entendido como uma estrutura feita em laje sobre o solo, cuja
principal finalidade é suportar as cargas aplicadas pela tensão admissível de carga do solo
(capacidade do solo).
VOCÊ SABIA
Projetos nos quais as sapatas se aproximam muito umas das outras ou mesmo se
interpenetram, seja por cargas excessivas, seja por área disponível.
Situações nas quais o solo tem baixa capacidade de carga; nesse caso, a utilização do radier
permite a uniformização dos recalques.
Projetos nos quais a área total das sapatas é maior do que a metade da área disponível para
construção (mesmo que elas não se sobreponham).
No que tange à forma do sistema estrutural passível de ser constituído pelos radiers, Velloso e
Lopes (2012) apresentam quatro tipos distintos.
ATENÇÃO
Uma das principais características que diferem os tipos de radier, além da forma, é sua rigidez.
Os modelos listados na imagem anterior foram colocados em ordem crescente de rigidez
relativa.
COMENTÁRIO
A literatura em geral é muito escassa sobre o assunto. Até mesmo as próprias normas não
tratam, de forma clara, de como se dão esse detalhamento e esse cálculo.
Porém, mesmo sem grande destaque entre as fundações superficiais e sem grandes exemplos
numéricos na literatura, na prática o radier é um elemento de fundação que apresenta uma
série de vantagens, como:
Simplicidade e facilidade no processo executivo, ou seja, tanto a montagem das formas quanto
a montagem e a distribuição das armaduras são simples, se for feito de concreto armado. O
único caso que exige a presença de empresas executoras especializadas seria o de um radier
protendido.
Pode ser aplicado em solos com baixa capacidade de carga, pois, como a área do elemento de
fundação é muito grande, as forças que são aplicadas no radier vão gerar tensões baixas, o
que minimiza os recalques.
Infelizmente, mesmo sendo um sistema com tantas vantagens, ele nem sempre é a primeira
opção em projetos. Dois fatores colaboram para o radier não ser a primeira opção entre as
fundações diretas. O primeiro motivo, já ilustrado neste módulo, é a dificuldade de obtenção de
esforços internos, deformações etc. Além disso, em razão dos poucos estudos sobre esse
elemento estrutural, existem uma escassez e uma dificuldade na obtenção dos parâmetros
representativos do solo (coeficiente de recalque ou módulo de deformação).
A interação solo-estrutura, no caso dos radiers, assemelha-se à utilizada em outras fundações,
sendo os dois métodos mais aplicados a hipótese de Winkler e o meio contínuo.
MÉTODOS DE CÁLCULO
Velloso e Lopes (2012) descrevem os métodos de cálculo de fundação do tipo radier, que são:
MÉTODO ESTÁTICO
Semelhante às vigas de fundação, os esforços internos em radiers podem ser calculados pelos
chamados métodos estáticos, que se baseiam em alguma hipótese sobre a distribuição das
pressões de contato.
No caso do sistema de vigas sobre base elástica, deve-se separar o radier em dois sistemas
de faixas. Na sequência, cada faixa deverá ser tratada como uma viga de fundação isolada
sobre base elástica.
Existem algumas soluções matemáticas para radiers de forma especial e que estão sujeitos a
carregamentos especiais. São casos de radiers corridos, ou circulares, que caracterizam um
problema assimétrico.
Esse método é normalmente aplicado com a utilização de softwares, que são comercializados.
Na atualidade, os mais comuns no mercado de engenharia são o CypeCad (Multiplus), o
Eberick (AltoQi) e o TQS, todos comerciais. Tais programas são utilizados para análise linear,
bi e tridimensional de estruturas, preferencialmente com elementos de placa disponíveis e com
possibilidade de apoio elástico.
ESTABILIDADE
Para garantir a estabilidade, o radier deve combater o recalque excessivo, que pode ser
imediato ou por adensamento.
Dessa forma, no projeto de um radier, deve-se procurar que a resultante das ações
transmitidas pela estrutura passe o mais perto possível do centro de gravidade do radier.
Assim, será possível distribuir as tensões no solo o mais uniformemente possível e evitar
recalques diferenciais.
O recalque máximo de um radier não deve passar de 5cm, se o radier estiver apoiado
sobre solo sem coesão (arenoso), nem de 7,5cm, se estiver apoiado sobre solo coesivo
(argiloso).
CAPACIDADE DE SUPORTE
A capacidade de suporte será verificada a partir da investigação do subsolo, de forma que
é necessário utilizar processos que forneçam esses valores. Normalmente, o método
empregado é o SPT (Standart Penetration Test, na sigla em inglês).
Após obter os valores da tensão admissível do solo, eles devem ser comparados com as
tensões que o radier provocará no solo, e, consequentemente, devem-se verificar
fenômenos como o recalque.
O processo mais comum é supor uma distribuição uniforme de tensões no terreno. Dessa
forma, será possível fazer uma estimativa dos esforços, gerando economia.
O procedimento mais indicado no cálculo do radier é sobre uma base elástica, em que se
substitui a placa por uma malha sobre apoios elásticos equivalentes.
Para tanto, é indicado que os pilares coincidam com os nós da malha e que as nervuras,
se existirem, coincidam com as vigas fictícias.
Esses três fatores serão parâmetros necessários para a avaliação do ELU e do ELS.
Além disso, é complicado classificar os métodos de cálculo de radiers, como é feito no caso de
outros elementos estruturais, como as vigas, as vigas de fundação etc. Assim, há os métodos
estáticos aproximados, os métodos matemáticos mais elaborados e os métodos numéricos. E,
conforme a natureza do método adotado, existem basicamente os métodos baseados na
hipótese de Winkler e os métodos baseados no semiespaço elástico, de acordo com o modelo
para o solo, uma vez que os modelos disponíveis apresentam mais de uma dessas
características.
Esse modelo é recomendado apenas para o cálculo dos esforços internos na fundação para
seu dimensionamento, visto que só leva em conta o equilíbrio da reação do terreno e das
cargas atuantes. Dessa forma, não é possível fazer uma avaliação da distribuição de
recalques.
(Ai )
e, posteriormente, calcular a pressão média nessa área (Equação 1).
Qi
qi =
Ai
Equação 1
Posteriormente, deve ser calculada a pressão média atuando nos painéis, dada pela média
ponderada dos
Q
i
no painel estudado.
Por fim, devem-se calcular, como em uma laje de superestrutura, os esforços nas lajes e vigas
e as reações nos apoios (pilares).
Velloso e Lopes (2012) ressaltam que, no caso de as reações nos apoios serem muito
diferentes das cargas nos pilares, devem-se redefinir as pressões médias nos painéis. Esse
método é análogo àquele em que as vigas têm suas pressões de contato supostas uniformes
nas áreas de influência dos pilares.
O terreno onde a edificação foi construída é formado basicamente por areia de fina a média
compacidade crescente, com profundidade de até cerca de 20,0m. A partir dessa profundidade,
as investigações apresentam um solo residual de gnaisse. Além disso, o nível d’água encontra-
se a de 2,0m de profundidade.
Pelo fato de o projeto prever subsolos até a profundidade de 12,70m, optou-se por uma
fundação em radier em caixão, e nessa situação o último nível de subsolo foi aproveitado como
uma cisterna.
A tensão média aplicada pelo radier é da ordem de 500kN/m² (0,5MPa ou 5kgf/cm²). Levando-
se em conta a subpressão na base do radier, por causa da submersão de cerca de 11,0m, a
tensão efetiva aplicada ao solo é da ordem de 400kN/m² (valor obtido pela subtração da tensão
total do solo pela pressão de água).
O subsolo foi executado por método convencional, sendo a escavação suportada por parede
diafragma atirantada. A parede diafragma foi incorporada à estrutura do subsolo.
Radier de fundação do antigo Hotel Méridien, atual Hotel Hilton Rio de Janeiro
Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro.
EXEMPLO 2
O projeto especificado a seguir representa uma edificação residencial de alto padrão,
construída em um condomínio fechado na região da Grande Vitória (ES).
Vários locais da capital do Espírito Santo são caracterizados por terem um solo muito mole,
tendo em vista a grande quantidade de mangue; consequentemente, o nível do lençol freático é
alto.
Para a obra em questão, a solução adotada foi o radier, em função das dimensões da casa e
do fato de ela ser linear. Como os carregamentos gerados não foram tão altos, o próprio radier
permitiu, além de suportar as cargas, dissipá-las de forma mais homogênea, o que permitiu ao
proprietário uma solução mais econômica do que o estaqueamento.
Dessa forma, foi possível obter a armadura inferior e superior do radier, além dos detalhes que
devem ser utilizados na base dos pilares para evitar o fenômeno de punção.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o desenvolvimento deste conteúdo, você conheceu os principais elementos estruturais
que compõem os tipos de fundações superficiais. Para as sapatas, foi possível identificar os
principais tipos, o processo de pré-dimensionamento da geometria do elemento estrutural, as
verificações necessárias para atender aos requisitos de segurança e, por fim, o cálculo da
armadura de aço, bem como seu detalhamento para efeito de projeto.
PODCAST
Para encerrar, a especialista Dayanne Severiano Meneguete fala sobre os principais tópicos
abordados. Vamos ouvir!
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT. NBR 6118:2014. Projeto de
estruturas de concreto: procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014. (Norma em revisão).
CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Fundações diretas: projeto geotécnico. 1. ed. São
Paulo: Oficina de Textos, 2011.
HACHICH, W. et al. Fundações: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 2009.
EXPLORE+
Procure na internet e leia o artigo Dimensionamento e detalhamento de radier, da
engenheira Micheli Maria Mohr. Nele, você vai compreender como dimensionar e detalhar um
radier no programa Eberick.
CONTEUDISTA
Dayanne Severiano Meneguete