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Pontes

Aula 2: Introdução ao projeto de pontes

Apresentação
Nesta aula, compreenderemos que a primeira etapa para o projeto de pontes é o planejamento, momento em que se deve
estabelecer a logística de transportes e coletar as informações pertinentes para, em uma etapa seguinte, definir a
geometria da ponte e estipular os esforços que serão despendidos, buscando a adaptação eficaz com o sistema viário
local e as cargas previstas.

Nesta aula, compreenderemos que a primeira etapa para o projeto de pontes é o planejamento, momento em que se deve
estabelecer a logística de transportes e coletar as informações pertinentes para, em uma etapa seguinte, definir a
geometria da ponte e estipular os esforços que serão despendidos, buscando a adaptação eficaz com o sistema viário
local e as cargas previstas.

Bons estudos!

Objetivos
Relacionar planejamento de transportes com planejamento de pontes;

Apontar os estudos necessários para o projeto de pontes;

Examinar um estudo de caso de implantação de pontes.

Introdução ao projeto de pontes

As pontes serviram para ultrapassar obstáculos, como marcos visuais e expressão de poder, tanto de domínio científico como
econômico. Para o homem, significava inclusive a possibilidade de conseguir alimentos e abrigo.

Qual primeiro passo a ser dado na elaboração do projeto de uma ponte?


Segundo Miller et al. (2005), o primeiro passo a ser dado na elaboração do projeto de uma ponte é definir sua finalidade para
assim se obter as cargas para o dimensionamento de sua superestrutura.

Para uma definição acertada da geometria e das cargas úteis a serem utilizadas, o projeto de uma ponte precisa de estudos
técnicos como levantamentos topográficos, hidrológicos e geotécnicos.

 Ponte Rio-Niterói (Fonte: Elder Vieira Salles / Shutterstock)

Os levantamentos topográficos devem ser realizados no local


específico da implantação e na região em redor do empreendimento,
que podem ter influência de fenômenos climáticos sofridos pela obra
durante sua construção e vida útil.

Os levantamentos hidrológicos são realizados a partir de cálculos baseados


no estudo topográfico e nas características da bacia hidrográfica, além de
serem utilizados modelos matemáticos probabilísticos. Em pequenos rios e
córregos, ou seja, aqueles corpos hídricos que possuem pequenas vazões, é
possível fazer o cálculo da cota de máxima cheia através da fórmula de
Manning, utilizada em canais abertos.
Nesse modelo, admite-se a existência de um canal regular com seção transversal igual à seção de escoamento sob a ponte e,
mediante um processo de tentativas, é calculada a área necessária para escoar a vazão máxima de projeto do curso d’água.

A fórmula de Manning é expressa por:

³
 Q  =  V  x A (m /s)

Onde V é a velocidade média de escoamento e A é a área da seção de escoamento.

Segundo Miller et al. (2005), os levantamentos geotécnicos são realizados por meio de relatórios de prospecção de geologia
realizada no local da implantação da obra, considerando sua concepção estrutural e realçando detalhes geológicos existentes.
Os elementos geotécnicos necessários para a elaboração do projeto de uma ponte são:

2
1

O relatório de sondagem com a planta de locação das


O relatório de prospecção de geologia realizada no local de
sondagens, a descrição dos equipamentos empregados e
provável implantação da obra, considerando seu esboço
sondagens de reconhecimento do subsolo em toda a extensão
estrutural.
provável da futura ponte, sempre ao longo de duas linhas
paralelas ao eixo locado da via, uma de cada lado, com
distância de três metros entre si.

É importante considerar algumas questões. Veja:

Deve-se verificar a ocorrência de


Ainda tratando de elementos gases tóxicos em terrenos
geotécnicos, há de se captar pantanosos; observar a possível
informações de caráter existência de moluscos capazes
tecnológico especial sobre a de interferir negativamente nos
agressividade da água em materiais e, além disso, em
relação ao pH ou ao teor de regiões marinhas, verificar se a
substâncias agressivas aos biologia das águas pode influir
materiais que serão utilizados nos métodos construtivos
na construção. utilizados, principalmente em
armaduras submersas.

Usualmente, a concepção das construções deve atender aos quesitos segurança, economia, funcionalidade e estética. No
projeto das pontes, deve-se dar destaque a sua estética e a sua funcionalidade. Em determinadas pontes, onde o impacto
visual no ambiente é importante, a estética assume um papel de grande destaque, ocasionando um aumento acentuado do
custo de construção.

Atividade
1. Como visto no início do estudo, o primeiro passo a ser dado na elaboração do projeto de uma ponte é definir sua finalidade.
Por que essa deve ser a primeira atitude do engenheiro responsável pela ponte?

Planejamento de transportes

Desde que o homem começou a realizar viagens, ele passou a realizar o planejamento de transportes. Isso significa
estabelecer rotas e escolher o modo de transporte mais eficiente para se chegar ao objetivo.

A rota e a escolha do modo de transporte estão diretamente relacionadas à infraestrutura existente, sendo basicamente natural
nos primórdios da humanidade e, posteriormente, detentora de tecnologia rudimentar criada pelo próprio homem com o intuito
de atender as suas necessidades em ultrapassar obstáculos, estando como elementos centrais as pontes.

Segundo Kleiman (2011), os transportes estão associados aos processos de organização territorial em suas diferentes
escalas intraurbana, metropolitana, regional, nacional, internacional e articulados aos processos econômicos e a seus
impactos na urbanização, metropolização e formação e desenvolvimento dos fenômenos da periferização e
periurbanização.

O objetivo dos transportes é reduzir as distâncias, vencer


descontinuidades, sejam físico-geográficas ou econômicas, pois o
modo de produção capitalista impõe movimentos de deslocamentos
rotineiros e superpostos permanentes entre todos seus movimentos
de produção e consumo.
Mas afinal, o que objetiva a atividade de transporte?

1. Reduzir as distâncias conectando, aproximando pontos.

2. Articular atividades e ações.

3. Distribuir mercadorias, serviços.

4. Prover a possibilidade de acesso necessário da força de trabalho ao capital.

5. Propiciar deslocamentos para as áreas de residência, comércio e entre elas.

Os primeiros meios de transporte catalogados pelo homem foram a


caminhada e a natação. Com a domesticação dos animais, foi introduzida
uma nova forma de colocar o peso dos transportes sobre criaturas mais
fortes, permitindo que cargas mais pesadas fossem transportadas, com
maior velocidade e por jornadas mais longas.

Invenções como a roda e o trenó ajudaram a tornar mais eficiente o transporte por animais através da introdução de veículos.
Também o transporte aquático, incluindo embarcações a remo e a vela, remonta a épocas primitivas, eram formas eficientes
de transporte de grandes quantidades ou em grandes distâncias naquela época.

Mas afinal, como ocorreram as principais evoluções nos transportes?


O grande avanço nos transportes foi realizado
pelo padre jesuíta belga, Ferdinand Verbiest
ao idealizar em 1681 uma máquina
autopropulsora a vapor, sendo uma
precursora dos trens.

Até o fim do séc. XIX, as estradas que mais


se desenvolveram foram as estradas de ferro
pela inexistência de automóveis ou
caminhões e pelo transporte ferroviário1
ser muito mais eficiente e barato que seus
concorrentes contemporâneos.

No Brasil, a partir da década de 1950, o


rodoviarismo deu opções para o transporte
de massa2 em todo o país, possibilitando a
ligação rodoviária entre as cidades e estados
e, dentro da cidade, aumentando a
quantidade de linhas de ônibus, táxis e o
desenvolvimento da indústria automotiva,
com o automóvel se tornando um elemento
cada vez mais comum na vida dos
brasileiros.

Segundo Barat (2007), o transporte rodoviário


- não somente o automóvel, mas também a
lotação e os ônibus - tornou-se, a partir dos
anos 1950, o principal meio de transporte da
população. Os ônibus concentraram-se, na
cidade do Rio, entre as zonas norte e sul,
áreas mais dotadas pelos investimentos
públicos, enquanto bondes e trens
continuaram a ser os meios de transporte
mais utilizados pela classe trabalhadora mais
pobre, da periferia da cidade e de outros
municípios.
Essa divisão reside até hoje no imaginário popular brasileiro,
estabelecendo a associação do trem como transporte das
classes menos favorecidas.


Estação Ferroviária terminal Central do Brasil (Fonte: Lazyllama / Shutterstock)

Planejamento de pontes

O planejamento de pontes busca mitigar o tempo excessivo de percurso de um trajeto. Os equipamentos coletivos nas cidades
estão segregados e plenos de desigualdades sociais, principalmente em regiões latino-americanas, com a força de trabalho
submetida a um prolongamento de sua jornada justificada pelo aumento do tempo de viagem entre sua residência e seu local
de trabalho.

Sob este contexto está o bairro de Santa Cruz, na cidade do


Rio de Janeiro. Uma região operária distante 70Km da
região central da cidade, mas com uma grande população
que percorre diariamente grandes distâncias até os seus
postos de trabalho e enfrenta grandes problemas em
mobilidade justamente pela pouca acessibilidade causada
por uma infraestrutura precária e pela segregação física
causada por vias expressas e a linha férrea inseridas em
sua malha viária.


Mapa da Cidade do Rio de Janeiro. Destaque para área de Santa Cruz.

A figura abaixo apresenta o mapa da cidade do Rio de Janeiro e em vermelho a localização do bairro de Santa Cruz.
Essa região, repleta de problemas em transportes e carente em pontes e viadutos é escolhida para um estudo de caso a fim de
apresentar o processo de planejamento e implantação de pontes, baseando-se em um trabalho acadêmico. Nesse trabalho,
uma via expressa, constituída por vias de transito rápido, pontes e viadutos é planejada para conduzir todo o tráfego de veículos
de Santa Cruz (Avenida das Américas) até a Avenida Brasil e consequentemente à BR 101, o que reduziria consideravelmente o
fluxo de veículos transitando pelo centro do bairro de Santa Cruz, atualmente o único acesso possível entre essas vias na
região.

Estudo de Caso

Com o acelerado avanço da urbanização e do distrito industrial na zona oeste, o bairro de Santa Cruz, na Cidade do Rio de
Janeiro, vem sofrendo com o aumento excessivo de veículos automotores.

Esse bairro tem sido alvo de muitos investimentos em infraestrutura urbana nos últimos anos, contando atualmente com uma
via de tráfego especial no centro do bairro para circulação de ônibus biarticulados, além de, em alguns pontos, os veículos
dividirem a pista com os ônibus.

Além disso, ainda existe uma grande parcela de motoristas que utilizam as ruas locais como passagem, para chegar a BR-101
e a Avenida Brasil e, como consequência desta demanda elevada, os congestionamentos nas vias principais do bairro vêm se
tornando cada vez mais comuns.

Tomando como base esse problema, é elaborado um estudo de caso no bairro de Santa Cruz - RJ, com a construção de vias,
viadutos e pontes, a fim de propor uma solução para escoar o tráfego de veículos entre a Avenida das Américas, o bairro de
Santa Cruz, a BR/101 e a Avenida Brasil, visando eliminar o congestionamento e reduzir o tempo no acesso para ambos os
percursos, através da criação deste novo sistema viário.

A figura abaixo apresenta as principais vias do Rio de janeiro, todas com elevado volume de tráfego, estando em destaque à
esquerda do mapa o bairro de Santa Cruz, com a linha superior em amarelo representando a Avenida Brasil e a BR 101 e a linha
em amarelo abaixo representado a Avenida das Américas. Nesta imagem é possível ver a enorme descontinuidade entre as
vias, mostrando que para que possa haver a conexão entre as duas vias há a necessidade de todo o volume de tráfego passar
dentro da malha viária de Santa Cruz.


Figura 02 – Mapa das Principais Vias do Rio de janeiro
A proposta em análise visa uma dupla contribuição, promover um acelerado desenvolvimento para a região e propor uma
melhoria na qualidade de vida da população que utilizam este trajeto para acessar a BR 101 e Avenida Brasil, através desta via
composta por sucessivas pontes e viadutos.

A proposta em análise visa uma dupla contribuição, promover um acelerado desenvolvimento para a região e propor uma
melhoria na qualidade de vida da população que utilizam este trajeto para acessar a BR 101 e Avenida Brasil, através desta via
composta por sucessivas pontes e viadutos.

Veja a seguir os desdobramentos desse estudo de caso.

Escolha do Traçado das pontes


O projeto tem início através do estudo do ordenamento das
principais vias que compõem o bairro de Santa Cruz. Para
se fazer tal análise, tomou-se por base, além da empiria, as
plantas aerofotogramétricas e recursos do software Google
Earth a fim de possibilitar a escolha do melhor traçado das
pontes no novo sistema viário. A figura apresenta o mapa
da área de estudo em Santa Cruz, onde a seta vermelha
representa o trecho final da Avenida das Américas e seta
verde o trecho final da Avenida Brasil e da BR 101.

Fonte: Mapa elaborado por Roberto Lucas Junior - software Google Earth (2017)

Mapa da área de Estudo de Santa Cruz


O processo de monitoramento pode ser realizado com
auxílio da ferramenta “trânsito” do Google Maps. Esse
recurso exibe em tempo real como está o tráfego em uma
determinada região pesquisada, informando com um código
gradual de cores a situação corrente do trânsito. A
classificação é dada da seguinte forma: trânsito livre (verde),
transito moderado (amarelo), trânsito lento (vermelho-claro)
e trânsito muito lento (vermelho-escuro).
Rota Escolhida
Com a nova infraestrutura haveria uma redução drástica no
volume de tráfego do bairro, visto que apenas os veículos
interessados em chegar ao bairro utilizariam as vias antigas.
Além disso, essa nova via, por meio de viadutos, cria novos
acessos para o bairro de Santa Cruz.

Após a escolha do traçado, mas antes da implantação das


pontes e viadutos, é imprescindível a realização de estudos
preliminares. Esses estudos abrangem atividades de coleta
de dados e análise dos custos relacionados diretamente às
avaliações da alternativa escolhida e à elaboração do
anteprojeto. Dentre os estudos, destaca-se a análise sobre a
vegetação e a hidrologia.

Vegetação
Com base em informações obtidas no mapa de cobertura
vegetal e do uso das terras do município do Rio de Janeiro,
foi possível constatar que a maior parte do solo de Santa
Cruz está dividida basicamente em três grandes porções,
sendo elas a área reservada à agricultura, o manguezal e a
vegetação gramíneo-lenhosa. Já o bairro de Guaratiba, onde
algumas das pontes e dos viadutos também serão
construídos, tem a maior parte do solo coberta por dois
tipos de vegetação predominantes, a vegetação secundária
e a vegetação gramíneo-lenhosa. A figura ao lado apresenta
uma área com a vegetação típica de Santa Cruz. 
Composição da Vegetação no Bairro de Santa Cruz.

Hidrologia
Quanto à hidrologia, o bairro de Santa Cruz possui como
principal corpo hídrico influenciador a Baía de Sepetiba, que
é formada por uma área de 447 km², sendo seus principais
rios o Guandu, o Rio da Prata, o Mendanha, o Cabuçu, o
Ipiranga e o Capenga, todos afluentes do Rio Guandu. Essa
Baía é delimitada pelo bairro de Guaratiba, em seu acesso
pelo mar. A figura ao lado apresenta um destes rios
cortados pela rota escolhida.


Corpo Hídrico de Santa Cruz.
Atividades

2. Como apresentado no texto, o estudo hidrológico é realizado durante a etapa de planejamento para o projeto de pontes. Diga
qual a importância dos estudos hidrológicos.

3. Quanto à agressividade química da água, qual estudo deve ser realizado para a sua medição.

a) Estudo hidrológico.
b) Levantamento geotécnico.
c) Levantamento topográfico.
d) Relatório de sondagem.
e) Esboço estrutural.

4. Qual software ou página da Internet ajuda no monitoramento do tráfego de veículos próximo à área onde a ponte será
implantada?

a) Hec-Ras.
b) Google Earth.
c) Autocad.
d) Excel.
e) Google Maps.

5. Ainda sobre o monitoramento do tráfego de veículos por software ou página da internet, qual classificação, em cores, é a
incorreta?

a) Trânsito livre (verde).


b) Trânsito moderado (amarelo).
c) Trânsito lento (vermelho-claro).
d) Trânsito muito lento (vermelho-escuro).
e) Trânsito normal (verde-escuro).

Notas

Transporte ferroviário1
O primeiro metrô, ou trem metropolitano, foi inaugurado em Londres no ano de 1863 para diminuir o tráfego pelas ruas. Quando
inaugurado, era praticamente um trem, que trafegava sob a terra, em túneis e com alguns vagões iluminados a gás, rebocados
por uma locomotiva a vapor.

Opções para o transporte de massa2

As novas ruas, avenidas, estradas, autoestradas e pontes construídas com materiais modernos para a época e com dimensões
compatíveis aos novos veículos rodoviários possibilitaram o maior número de deslocamentos, favorecendo as novas
necessidades por mobilidade.

Referências

BARAT, J. Logística, transporte e desenvolvimento econômico. São Paulo: CLA, 2007.

KLEIMAN, M. Transportes e mobilidade e seu contexto na América Latina. Serie Estudos e Debates nº 61 IPPUR-UFRJ - 2011.

LUCAS JUNIOR, R. Pedágio Urbano. Rio de Janeiro: Agência 2A, 2009.

MILLER, C. P.; BARBOSA, L. R.; PESSANHA, M. C. R. Dimensionamento estrutural de uma ponte em concreto armado. Campo
dos Goytacazes: UENF, 2005.

Próxima aula

Geometria de pontes;

Normas Técnicas para o dimensionamento;

Definição das cargas permanentes.

Explore mais

Assista aos vídeos a seguir e aprenda mais um pouco.

• Megaconstruções: ponte sobre o Estreito de Bering

https://www.youtube.com/watch?v=HqSprCB4pWI <https://www.youtube.com/watch?v=HqSprCB4pWI>

• Megaconstruções - ponte da Dinamarca/Suécia

https://www.youtube.com/watch?v=Dqsi5esq7Yw <https://www.youtube.com/watch?v=Dqsi5esq7Yw>

• Megaconstruções: ponte de Hong Kong.

https://www.youtube.com/watch?v=YbwnJggTee4 <https://www.youtube.com/watch?v=YbwnJggTee4>

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