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ESTUDO DOS PILARES

Pilares são elementos estruturais lineares, em geral verticais, cuja função é receber as ações
atuantes nos diversos níveis e conduzi-las até a fundação (figura). Junto com as estruturas de
fundação, os pilares constituem-se nos principais elementos estruturais de uma construção, pois a
ruína de um deles pode provocar danos globais, podendo acarretar até mesmo o famigerado
colapso progressivo.

Nos pilares de edifícios, em geral, o esforço predominante é a força normal de compressão.

Nas construções térreas sem paredes internas, como por exemplo os barracões industriais, as
forças verticais nos pilares são de pequena intensidade, predominando as forças horizontais
devidas ao vento. Nesses casos, o esforço principal é o momento fletor, com os pilares
funcionando como contrafortes.

Junto com as vigas, os pilares formam os pórticos, que resistem às ações verticais e horizontais e
garantem a estabilidade global da estrutura. As ações verticais são transferidas aos pórticos pelas
estruturas dos pavimentos e as ações horizontais decorrentes do vento são levadas aos pórticos
pelas paredes externas.

Outros elementos de contraventamento podem ser associados aos pórticos para dar maior rigidez
à estrutura. Os principais são os pórticos entreliçados, as paredes estruturais e os núcleos, estes,
em geral, situados no contorno da abertura para os elevadores, como mostra a Figura (Elementos
de contraventamento). As lajes, com rigidez praticamente infinita no plano horizontal, dão
travamento ao conjunto, promovendo a distribuição dos esforços entre os elementos de
contraventamento.
As estruturas dos edifícios podem ser classificadas, segundo sua rigidez, em contraventadas e
não-contraventadas.

As estruturas contraventadas são as que dispõem de uma subestrutura de contraventamento


suficientemente rígida para absorver praticamente todas as ações horizontais.

Os nós dessas estruturas em geral apresentam pequenos deslocamentos, podendo-se, assim,


dispensar a consideração dos efeitos globais de segunda ordem, constituídos pelos esforços
adicionais advindos desses deslocamentos. Neste caso, a estrutura é dita indeslocável ou de nós
fixos. Os pilares abordados neste trabalho são admitidos de nós indeslocáveis.

As estruturas não-contraventadas, ao contrário, não possuem capacidade de resistir às ações


horizontais sem que os nós apresentem deslocamentos significativos. Portanto, os efeitos globais
de segunda ordem, sendo bastante expressivos, precisam ser levados em consideração no
dimensionamento das peças. As estruturas não-contraventadas são também conhecidas como
estruturas deslocáveis ou de nós móveis. A verificação da estabilidade da estrutura e a
consideração dos efeitos de segunda ordem serão apresentados oportunamente.

Os esforços solicitantes nos pórticos podem ser determinados pelos processos conhecidos da
Estática das Estruturas, inclusive utilizando programas para computador.

Posicionamento
Recomenda-se iniciar a localização dos pilares pelos cantos e, a partir daí, pelas áreas que
geralmente são comuns a todos os pavimentos (área de elevadores e de escadas) e onde se
localizam, na cobertura, a casa de máquinas e o reservatório superior. Em seguida, posicionam-se
os pilares de extremidade e os internos, buscando embuti-los nas paredes ou procurando respeitar
as imposições do projeto de arquitetura.

Deve-se, sempre que possível, dispor os pilares alinhados, a fim de formar pórticos com as vigas
que os unem. Os pórticos, assim formados, contribuem significativamente na estabilidade global
do edifício.

Usualmente os pilares são dispostos de forma que resultem distâncias entre seus eixos da ordem
de 4 m a 6 m. Distâncias muito grandes entre pilares produzem vigas com dimensões
incompatíveis e acarretam maiores custos à construção (maiores seções transversais dos pilares,
maiores taxas de armadura, dificuldades nas montagens da armação e das formas etc.). Por outro
lado, pilares muito próximos acarretam interferência nos elementos de fundação e aumento do
consumo de materiais e de mão-de-obra, afetando desfavoravelmente os custos.

Deve-se adotar 19cm, pelo menos, para a menor dimensão do pilar e escolher a direção da maior
dimensão de maneira a garantir adequada rigidez à estrutura, nas duas direções.

Posicionados os pilares no pavimento-tipo, deve-se verificar suas interferências nos demais


pavimentos que compõem a edificação.

Assim, por exemplo, deve-se verificar se o arranjo dos pilares permite a realização de manobras
dos carros nos andares de garagem ou se não afetam as áreas sociais, tais como recepção, sala
de estar, salão de jogos e de festas etc.

Na impossibilidade de compatibilizar a distribuição dos pilares entre os diversos pavimentos, pode


haver a necessidade de um pavimento de transição.

Nesta situação, a prumada do pilar é alterada, empregando-se uma viga de transição, que recebe
a carga do pilar superior e a transfere para o pilar inferior, na sua nova posição. Nos edifícios de
muitos andares, devem ser evitadas grandes transições, pois os esforços na viga podem resultar
exagerados, provocando aumento significativo de custos.

PRÉ-DIMENSIONAMENTO
Inicia-se o pré-dimensionamento dos pilares estimando-se sua carga, por exemplo, através do
processo das áreas de influência.
Este processo consiste em dividir a área total do pavimento em áreas de influência, relativas a
cada pilar e, a partir daí, estimar a carga que eles irão absorver.

A área de influência de cada pilar pode ser obtida dividindo-se as distâncias entre seus eixos em
intervalos que variam entre 0,45l e 0,55l, dependendo da posição do pilar na estrutura, conforme
o seguinte critério ver Figura (Áreas de influência dos pilares).

0,45l: pilar de extremidade e de canto, na direção da sua menor dimensão;


0,55l: complementos dos vãos do caso anterior;
0,50l: pilar de extremidade e de canto, na direção da sua maior dimensão.

No caso de edifícios com balanço, considera-se a área do balanço acrescida das respectivas áreas
das lajes adjacentes, tomando-se, na direção do balanço, largura igual a 0,50l, sendo l o vão
adjacente ao balanço.

Convém salientar que quanto maior for a uniformidade no alinhamento dos pilares e na
distribuição dos vãos e das cargas, maior será a precisão dos resultados obtidos. Há que se
salientar também que, em alguns casos, este processo pode levar a resultados muito imprecisos.

Após avaliar a força nos pilares pelo processo das áreas de influência, é determinado o coeficiente
de majoração da força normal (α) que leva em conta as excentricidades da carga, sendo
considerados os valores:

α = 1,3 → pilares internos ou de extremidade, na direção da maior dimensão;

α = 1,5 → pilares de extremidade, na direção da menor dimensão;

α = 1,8 → pilares de canto.

A seção abaixo do primeiro andar-tipo é estimada, então, considerando-se compressão simples


com carga majorada pelo coeficiente α, utilizando-se a seguinte expressão:

Ac = hy × hx → área da seção de concreto (cm²)

α → coeficiente que leva em conta as excentricidades da carga


A → área de influência do pilar (m²)

n → número de pavimentos-tipo

(n+0,7) → número que considera a cobertura, com carga estimada em 70% da relativa ao
pavimento-tipo.

fck → resistência característica do concreto (kN/cm²)

A existência de caixa d’água superior, casa de máquina e outros equipamentos não pode ser
ignorada no pré-dimensionamento dos pilares, devendo-se estimar os carregamentos gerados por
eles, os quais devem ser considerados nos pilares que os sustentam.

Para as seções dos pilares inferiores, o procedimento é semelhante, devendo ser estimadas as
cargas totais que esses pilares suportam.

CARACTERÍSTICAS GEOMÉTRICAS
COMPRIMENTO DE FLAMBAGEM

Denomina-se comprimento de flambagem l e a distância entre os pontos de inflexão da deformada


do pilar, cujas posições dependem das condições de apoio. Os casos mais usuais estão indicados
na Figura (Comprimento de flambagem).

Segundo SCADELAI (2004), o comprimento equivalente de flambagem do pilar (le), suposto


vinculado em ambas extremidades, é o menor dos seguintes valores:

lo é a distância entre as faces internas dos elementos estruturais, supostos horizontais, que
vinculam o pilar, Figura abaixo, (Distâncias lo e l);

h é a altura da seção transversal do pilar, medida no plano da estrutura;

l é a distância entre os eixos dos elementos estruturais aos quais o pilar está vinculado.
No caso de pilar engastado na base e livre no topo, le = 2l.

RAIO DE GIRAÇÃO

Sendo I o momento de inércia e A a área da seção transversal, o raio de giração é dado pela
expressão:

Para seções retangulares e circulares, que são as mais comuns, tem-se, respectivamente:

resultando nos raios de giração:

ÍNDICE DE ESBELTEZ

O índice de esbeltez λ de um pilar não cintado é dado por:

Pode-se dizer que, quanto maior a esbeltez, maior a possibilidade do elemento comprimido
flambar. A convenção adotada para a determinação do índice de esbeltez, neste trabalho, está
mostrada na figura (Convenção adotada para o cálculo do índice de esbeltez), onde é
apresentado um exemplo para a determinação do índice de esbeltez de uma seção retangular com
relação à direção x. Sendo assim, λ x é a esbeltez relacionada à possibilidade do pilar flambar e se
deslocar na direção x. Resumindo: o índice x representa a direção na qual o pilar vai se deslocar
em decorrência da flambagem.

Com base na figura acima, tem-se que

Analogamente, tem-se que:

Portanto, com os valores dos raios de giração dados no item anterior, os índices de esbeltez para
seções retangulares e circulares são dados, respectivamente, por:

Onde: h é dimensão da seção transversal paralela à direção em que o pilar vai se deslocar pelo
efeito da flambagem.

DIMENSÕES MÍNIMAS

Este item foi inteiramente adaptado do trabalho de SCADELAI (2004) Com o objetivo de evitar um
desempenho inadequado e propiciar boas condições de execução, a NBR 6118:2003, no seu item
13.2.3, estabelece que a seção transversal dos pilares, qualquer que seja a sua forma, não deve
apresentar dimensão menor que 19 cm. Em casos especiais, permite-se a consideração de
dimensões entre 19 cm e 12 cm, desde que no dimensionamento se multipliquem as ações por um
coeficiente adicional γn, indicado na Tabela (Valores do coeficiente adicional γn em função de
hx), onde:
Sendo: hx a menor dimensão da seção transversal do pilar, em cm (Notação adotada)

TABELA - Valores do coeficiente adicional γn em função de hx

Portanto, o coeficiente γn deve majorar os esforços solicitantes finais de cálculo nos pilares,
quando de seu dimensionamento.

Todas as recomendações referentes aos pilares são válidas nos casos em que a maior dimensão da
seção transversal não exceda cinco vezes a menor dimensão (hy ≤ 5hx). Quando esta condição
não for satisfeita, o pilar deve ser tratado como pilar-parede.

Em qualquer caso, não se permite pilar com seção transversal de área inferior a 360 cm².

1.1CLASSIFICAÇÃO DOS PILARES


Os pilares podem ser classificados conforme as solicitações iniciais e com relação à esbeltez .

CLASSIFICAÇÃO CONFORME AS SOLICITAÇÕES INICIAIS

Os pilares podem ser classificados de acordo com a solicitação inicial a que estão submetidos.

Serão considerados pilares internos (ou interiores) aqueles submetidos a compressão simples, ou
seja, que não apresentam excentricidades iniciais. Estes pilares localizam-se no interior do edifício,
de modo que as lajes e as vigas que neles se apoiam têm continuidade nas duas direções. Admite-
se que as reações sobre os pilares sejam centradas e que os momentos fletores a eles
transmitidos sejam desprezíveis, figura (Pilar interno).
Nos pilares de borda (ou de extremidade), as solicitações iniciais são constituídas por uma força
normal de compressão e um momento fletor atuando no plano perpendicular à borda,
caracterizando uma flexão composta normal, Figura (Pilar de borda ou de extremidade).
Portanto, há uma excentricidade inicial na direção perpendicular à borda. Este fato ocorre porque
as lajes e a viga perpendiculares a esta borda são interrompidas no pilar.

Pilares de canto são submetidos a flexão composta oblíqua. As excentricidades iniciais ocorrem
nas direções das bordas. As vigas e a laje são interrompidas no pilar nas duas direções, nas quais
são gerados momentos fletores, além da força normal de compressão, conduzindo a uma situação
inicial de flexão composta oblíqua, Figura (Pilar de canto). As excentricidades iniciais, portanto,
ocorrem nas direções das bordas.

1.1.1CLASSIFICAÇÃO CONFORME A ESBELTEZ

De acordo com o índice de esbeltez (λ), os pilares podem ser classificados em:

Pilares robustos ou pouco esbeltos → λ ≤ λ1


Pilares de esbeltez média → λ1 < λ ≤ 90
Pilares esbeltos ou muito esbeltos → 90 < λ ≤ 140
Pilares excessivamente esbeltos → 140 < λ ≤ 200

Segundo a NBR 6118:2003, os pilares devem ter índice de esbeltez menor ou igual a 200 (λ ≤
200). Apenas no caso de postes com força normal menor que 0,1 fcd Ac, o índice pode ser maior
que 200.
Segundo a NBR 6118:2003, item 15.8.2, os esforços locais de 2a ordem em elementos isolados
podem ser desprezados quando o índice de esbeltez λ for menor que o valor limite λ1.

A esbeltez limite (λ1) corresponde ao valor da esbeltez a partir do qual os efeitos de 2a ordem
provocam uma redução da capacidade resistente do pilar no estado limite último, quando
comparada com a capacidade resistente obtida de acordo com a teoria de 1a ordem. Essa redução
é definida arbitrariamente, não devendo ser superior a 10%, segundo a NBR 6118:2003. Os
principais fatores que influenciam essa redução da capacidade resistente são:

A excentricidade relativa de 1a ordem (são excentricidades iniciais provenientes da


transmissão de momentos das vigas aos pilares, uma vez que a ligação desses elementos
estruturais é monolítica. Nos casos usuais, admite-se que as excentricidades iniciais surgem
nos pilares de extremidade e de canto, em função da falta de continuidade das vigas);
A vinculação dos extremos do pilar isolado;
A magnitude e a forma do diagrama de momentos de 1a ordem.

Os cálculos relativos a Esbeltez Limite será abordada no decorrer do curso de engenharia civil.

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