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FAUUSP / AUT.

0186 – CONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO 3 / 2012


Prof. KhaledGhoubar

PRÉ DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO CONVENCIONAL

PROCEDIMENTOS FUNDAMENTAIS PARA O PRÉ‐DIMENSIONAMENTO DE UMA ESTRUTURA


RETICULAR (pilares + vigas + lajes) DE CONCRETO ARMADO CONVENCIONAL:

A.1. Para se garantir a estabilidade e resistência dos elementos estruturais, de pilares, vigas elajes planas, deve‐
se saber ao menos:

1.1. As cargas atuantes, que são predominantemente verticais, nos pilares resultam em compressão, enquanto nas lajes e vigas
resultam emcompressão(que tende a “encurtar” as peças), tração (que tende a “esticar” as peças), torção (que tende a “espiralar”
as peças), eflexão(presença concomitante de compressão e tração, que tendem a “embarrigar” as peças). Por essas razões os
critérios de cálculo são diferenciados;

PILAR VIGA

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1.2.Observar que nos pilares– elementos estruturais verticais –temos de considerar a compressão axial, agindo no
eixo vertical e que tende a encurtas e consequentemente esmagar a peça, e as flexões resultantes de esforços
horizontais chamados de “empuxos”, por conta da ação dos ventos e de contenções laterais (arrimos, represas,
etc.). Também deve‐se levar em conta a deformação que pode vir a ocorrer durante a compressão, pela excessiva
esbelteza da peça, e que chamamos de “flambagem”. O concreto é um material excelente para a resistência à
compressão, como aliás são todos os materiais da natureza (madeira, pedra, terra, ar e água).

PILARES

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1.3. Observar que as vigas, bem como as lajes, elastêm comportamentos semelhantes entre e si e também são
complementares na definição dos elementos estruturais horizontais. Os principais esforços que eles têm a resistir
são os resultantes de cargas verticais que provocam uma deformação (flexão) das peças pela conjugação da força
decompressão (zona negativa), que tende a encurtar a dimensão horizontal das peças – e da força de tração (zona
positiva) que tende a esticar a dimensão horizontal das peças.

1.4. A carga incidente total, uniformemente distribuída sobre as lajes, por conta do peso estático próprio da
estrutura mais o peso dinâmico e acidental de pessoas e mobiliário, será considerada genericamente da ordem de
1000 kg/m2 para um prédio residencial;
VIGA

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1.5.Embora nesta modelação, de pré‐dimensionamento, ainda não seja necessário empregar nos cálculosoconcreto
armado pesa aproximadamente 2400 kg/m3;

1.6.Aresistência do concreto à compressão (fck), a ser adotada nestas simulações, será de20 Mpa (200 kgf/cm2), a
mínima permitida, conforme exige a NBR.6118;

1.7. A resistência do aço CA.50, tanto à compressão, como à tração (essa é uma notável característica do aço) é de
5000 kgf/cm2. Portanto um cm2 de barra de aço CA.50 é 25 X mais resistente que o concreto de 200 kgf/cm2 de
resistência à compressão.

1.8.As dimensõesmínimasde qualquer elemento estrutural, tratadas nos próximos itens a seguir,obedecem o
disposto na referida norma NBR.6118;

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A.2. Apresentamos algumas configurações espaciais da estrutura reticular em concreto armado
convencionalpara o pré‐dimensionamento dos seus elementos estruturais:
O sistema estrutural “reticular” composto de pilares, vigas e lajespode ser mais simplificadopelo sistema
“cogumelo”que por sua vez é composto somente de pilares e lajes. Esta observação aponta pra uma conclusão
importante: “a estrutura de concreto pode ser concebida corretamente só composta de pilares e lajes”. Essa é a
estética estrutural proposta ao prédio sede da FAU por Vilanova Artigas. Também é a estética predominante nas
obras de Niemeyer, como se pode notar nas obras dos palácios de Brasília e no Parque do Ibirapuera.

vista externa do Palácio do Planalto, durante o velório do Vice Presidente José Alencar ‐ Folha de S. Paulo

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vista interna do Palácio do Planalto, durante o velório do Vice Presidente José Alencar ‐ Folha de S. Paulo

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vista interna atual do edifício da Bienal
constelar.com.br

vista interna atual da marquise vistainterna da inauguração da marquise


vitruvius.es mariolopomo.zip.net

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B. PRÉ‐DIMENSIONAMENTO DE PILARES DE CONCRETO ARMADO CONVENCIONAL:

Vejamos agora as recomendações, de forma simplificada e rápida, sobre o pré‐


dimensionamentoestrutural em concreto armado convencional (não protendido). Neste ambiente o
projetista mostrar inicialmente ao calculista estrutural as proporções e o posicionamento dos
elementos estruturais que interessam ao projeto arquitetônico. Nas duas lajes ilustradas abaixo, temos
uma com a distribuição não regular das vigas e pilares, enquanto na outra a distribuição é regular.
Embora seja para o ritmo da obra e para a economia dos custos desejável a distribuição regular, não há
proibição da solução não regular, justificada por outros critérios que não os da economia e rapidez de
obra.
a) distribuição não regular de pilares b) distribuição regular de pilares

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B.1. Modulação da grade dos pilares, definida em planta:

1.1.A modulação dos pilares objetiva adequar a sua grade(distâncias entre eixos)às exigências funcionais de
compartimentação dos espaços; bem como às vagas de garagem dos prédios; tambémà altura das vigas e espessura
das lajes que têm suas dimensões em parte condicionadas pelo espaçamento entre os pilares. Masa modulação
estrutural também atendeos demais elementos dos sistemas construtivos, a qualidade dos recursos humanos, e os
recursos financeiros disponibilizados no local e região.Não há limites teóricos para o tamanho das vigas,
consequentemente não há restrição ao espaçamento entre os pilares, evidente nos projetos de pontes.

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1.2.A modulação e posicionamento dos elementos da estrutura definem e qualificam fortemente a espacialidade da
edificação, cuja volumetria se completa com as paredes, caixilhos e cobertura, onde as suas texturas, paginações e
cores são importantes auxiliares. Mas a estrutura, como bem compreenderam Mies, Le Corbusier, Niemeyer e
Artigas é um elemento importante e muito forte na definição tanto volumétrica como estética do edifício, dando‐
lhe assim condições de efetiva originalidade.

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Placas de solário, de obra em Madrid, década de 1960, foto de S.V. Kaskel
in “Razón y ser de los Tipos Estructurales”, de E. Torroja, IET/CyC, Madrid, 1960, p.230
1.3.Portanto, a modulação da grade dos pilares busca a funcionalidade do programa de usos da arquitetura, e
também a racionalidade construtiva econtextualidade do canteiro, bem como a economia da construção.

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Sistema Dom‐ino em concreto armado (1915) de Le Corbusier
in “Le Corbusier”, de Kenneth Frampton, T&H, Londres, 2001, p.20

B.2. Procedimentos para o pré‐dimensionamento dos pilares:

2.1.Primeiramente define‐se a resistência à compressão (fck)que se quer da massa do concreto empregada na


estrutura. Quanto maior o fck, maior será a quantidade de cimento na composição do concreto, dando‐lhe maior
resistência e plasticidade, possibilitando um acabamento mais liso e homogêneo das superfícies.Adotaremosfck=20
Mpa = 200 kgf/cm2.

2.2.Em seguidaestima‐se a carga total por m2 de lajeque a edificação descarregará sobre cada pilar. Essa carga
corresponde ao peso próprio da estrutura de concreto armado, mais todos os demais elementos construtivos
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(alvenarias, revestimentos, caixilharia e instalações prediais de água e eletricidade), e a carga acidental estática e
dinâmica dos móveis, equipamentos e pessoas. Adotaremos a cargatotal para as lajes de piso de um edifício
residencial (excetuando o piso que estiver em contato com o solo, que não é considerado) em 1000 kg/m2.

2.3.Calcula‐se o total das cargas da edificação por m2, incidente nos pilares, através da soma das suas “áreas de
influência”. Prestar atenção no número de lajes de piso e da cobertura, pois “as áreas de influência são lidas em
planta” e a carga incidente nos pilares é a soma das cargas de todos os pavimentos da edificaçãoque se
descarregam sobre os pilares que estamos estudando.

2.4.Dada a carga total, em kgf, incidente no pilar, de um edifício residencial, divide‐se ela pela resistência do
concreto à compressão (fck), e o resultado será a seção estimada do pilar em cm2.

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CÁLCULO DAS SEÇÕES DOS PILARES

Primeiramente desenha‐se a “área de influência” do pilar em questão, que corresponde a área do


perímetro definido pelas medianas da distância entre os pilares adjacentes ao pilar. Calcula‐se:
a carga incidente nessa área multiplicando‐a por 1000 kgf/m2; multiplica‐se essa carga pelo
número de lajes que esse pilar está sustentando, tem‐se agora a carga total incidente nesse pilar
em kgf; divide‐se essa carga total pela resistência do concreto à compressão (fck, em kgf/cm2)
aqui adotado igual a 200 kgf/cm2. Finalmente o resultado é a seção estimada do pilar em cm2.

2.5.Para se ter uma primeira ideia volumétrica da dimensão do pilar, calcula‐se a raiz quadrada da sua seção
calculada em cm2, e se obtém a sua representação numa seção quadrada. A NBR.6118 exige que os pilares não
pode ter dimensão alguma menor do que 19 cm, portanto um pilar deverá ter necessariamente uma seção mínima
de 19 cm x 19 cm = 361 cm2.

2.6.Para o pilar não “flambar”, dobrando‐se sobre seueixo vertical, e chegar a resultando no desastre da sua
quebra, sugere‐se uma proporção entre a sua seção horizontal quadrada e a altura, não ultrapasse a proporção
de1:15. Por exemplo, para um pilar de seção horizontal quadrada de aresta igual a 19 cm, a altura do pilar
deveria ter sua altura limitada a =19 cm x 15 = 2,85 m; ou para aresta de seção quadrada igual a50 cm, a altura
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do pilar deveria se limitar a =50 cm x 15 = 7,50 m; ou ainda para aresta de seção quadrada igual a 100 cm a sua
altura se limitaria a =100 cm x 15 = 15,00 m. Estas considerações são para aproximar os desenhos de uma
dimensão que dialogue com o cálculo estrutural, mas que também deverá atender àoutras exigências de cálculo
definitivo.

2.7. Também nada nos proíbe de desenhar os pilares com seçõessuperioresàs necessárias se isso fizer parte de uma
estratégia da estética e da modulação pela regularidade (todos os pilares desenhados com a mesma seção). A
compensação se dará através de uma menor quantidade de armaduras.
C. PRÉ‐DIMENSIONAMENTO DE VIGAS RETAS DE CONCRETO ARMADO CONVENCIONAL:

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C.1. Modulação de vigas retas:

1.1. Podemos pensar as vigas como “coadjuvantes” das lajes, à semelhança do que a natureza faz
espetacularmente com os vegetais, pois tudo ali está concebidopara reduzir o volume das seções estruturais e
consequentemente o seu peso. A substituição do sistema estrutural “convencional e reticular” que tem pilares,
vigas e lajes, pelo sistema “cogumelo” que só tem pilares e lajes, objetivaa redução do prazo das obras, ainda que
isso resulte emaumento no custo das fundações.

1.2.As vigas ou se apoiam diretamente sobre os pilares, ou se apoiam umas nas outras. Por essa razão chamamos
de vigas “principais” aquelas que se apoiam diretamente sobre os pilares; e vigas “secundárias” aquelas que se
apoiam nas vigas principais; e “terciárias” aquelas que por sua vez se apoiam nas vigas secundárias.

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1.3.A altura das vigas leva em conta a economia estrutural e as exigências funcionais. E uma dessas exigências
funcionais pede que a altura do vão livre, debaixo da viga, permita a colocação das portas com altura da ordem de
2,15m.
ESTRUTURA RETICULAR

1.4. Embora as espessuras das vigas não criem muitos problemas funcionais, elas precisam ser concebidas
pensando‐se na espessura das paredes que ficariam expostas debaixo delas. A NBR.6118só estabelece que as “vigas
convencionais” devem ter a sua largura mínima igual a 12 cm, ouigual a 15 cm para as “vigas parede”.
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1.5.O espaçamento entre as vigas obedeceuma relação com os pilares,considerando também a posição das
paredes sobre elas e a espessura que se quer das lajes que elas apoiam, bem como aberturas para passagem de
escadas e vazios de pátios, etc.

C.2.Procedimentos para o pré‐dimensionamento das vigas retas:

2.1.Primeiramente verifica‐sequal é o vão estrutural da viga, que é a distância entre os eixos estruturais das peças
de apoio, sejam elas pilares ou vigas. Nesses casos a altura da viga será entre L/10 e L/20, onde L é a dimensão do
vão estruturalque a viga deve vencer;

2.2. Em segundo lugar define‐se o espaço livre que se quer, ou se precisa, debaixo das vigas(para montagem das
portas, instalação de armários e passagem de equipamentos) e se é compatível com a altura calculada segundo o
critério acima de L/10 a L/20. Por exemplo: para um vão estrutural de 6,00 m, a altura da viga variaria entre 60 cm
e 30 cm, já incorporando a espessura das lajes. Mas, se o pé‐direito for de 2,50 m e a altura das portas igual a
2,15 m, a altura visível da viga não poderá ser maior do que 35 cm, que somadaà uma espessura de laje igual a 10
cm, a altura total estrutural dela seria de 45 cm, portanto satisfatoriamente entre 60 cm e 30 cm.

2.3. Em terceiro lugar define‐se a largura da viga numa relação com a sua altura, onde a largura seria no mínimo
aproximadamente de1/3podendo chegar aos 2/3 da altura. Por exemplo: para uma viga que atendeu a relação
L/10 e teve a sua altura definida em 60 cm, a sua largura (que não pode ser menor do que 12 cm, segundo a

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NBR.6118) poderá ser de 20 cm delargura.Em casos especiais a viga pode ser “chata”, isto é, ter a sua largura
superior a sua altura.

2.4. Para as vigas em balanço, que estão engastadas de um só lado, admite‐se que esse balanço seja da ordem de
1/2 do vão estrutural se for uma viga contínua (apoiada em 3 ou mais pilares); ou de 1/3 do vão estrutural se for
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uma vigabiapoiada (apoiada somente em 2 pilares). Por exemplo: uma viga contínua com vãos de6,00 m e altura
igual a 60 cm poderá sair num balanço de até 3,00 m (1/2 de 6,00 m); por outro lado, se essa mesma viga for
biapoiada o balanço deverá se limitar a 2,00 m (1/3 de 6,00 m). A seção da viga se mantém igual, mas na
colocação das armaduras há uma inversão: nas vigas entre apoios a armadura principal (positiva) fica na parte de
baixo (banzo inferior), enquanto no trecho em balanço essa armadura fica na parte de cima da viga (banzo
superior).

C. PRÉ‐DIMENSIONAMENTO DE LAJES DE CONCRETO ARMADO CONVENIONAL, PLANAS E RETANGULARES

C.1. Modulação de lajes planas e retangulares:


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1.1. As lajes se comportam como uma prancha qualquer apoiada sobre um quadro nas suas bordas, podendo
configurar também um conjunto de laje e vigas. Semelhantemente às vigas, as lajes não têm praticamente limitação
de tamanho. A definição do seu tipo: maciça ou nervurada (aliviada em massa) fica a cargo da economia que se
queira para as cargas das fundações, ou para atender à velocidade nas obras.

1.2. As lajes maciças são as mais comuns e simples, porque são adotadas economicamente para pequenas
dimensões (menores que 6 m, na menor dimensão da laje), mas têm mais massae consequentemente mais peso
com relaçãoàs nervuradas, pois estasestão aliviadas do material estruturalmente excedente (que não está cobrindo
as barras de ferro). A natureza faz suas lajes (ver as folhas) nervuras para reduzir o peso da vegetação. Embora as
lajes nervuradas resultem num conjunto de formas mais sofisticado e de área muito maior daquele empregado nas
lajes maciças, elas têm a mesma capacidade de vão das lajes maciças.
C.2. Procedimentos para o pré‐dimensionamento de lajes planas e retangulares:

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2.1. Vamos considerar que genericamente a espessura das lajes, tanto nas maciças como nas nervuradas, seja da
ordem de Lm/40, onde Lm é o comprimento do lado menor da laje retangular. Por exemplo: uma laje retangular
maciça ou nervurada, de 5 m x 10 m, a sua espessura seria estimada em 12,5 cm = 500 cm/40; e para uma laje de
10 m x 40 m, a sua espessura seria de 25 cm = 1000 cm/40.

2.2. A NBR.6118 exige que a espessura das nervuras das lajes nervuradas seja ≥ 5 cm para lajes leves de cobertura;
e ≥ 7 cm para lajes de piso; e ≥ 12 cm para lajes de circulação de veículos. Para as lajes nervuradas a norma dita que
as nervuras não podem ser inferiores a 5 cm e que essa espessura deve satisfazer também a exigência de ser ≥ 1/15
da distância entre o eixo delas. A mesa, que faz o papel de laje de vãos muito pequenos, deve ser ≥ 3 cm. Entende‐
se como nervurada a laje que tiver essa sequência de nervuras espaçadas entre si de no máximo100 cm.

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2.3. A modulação das lajes (de como elas serão subdivididas dentro da área maior da laje que as contêm) é feita
simultaneamente à definição da existência ou não de vigas expostas. O resultado é uma modulação bastante livre
que dependente da cooperação de vigas quando estas existirem.

a) distribuição não regular de pilares b) distribuição regular de pilares

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