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Homilia

Texto-base: João 10.11-18

Gostaria de começar essa mensagem com uma pergunta um tanto quanto inesperada. O que
é um pastor de ovelhas? Qual a sua função? Admito que antes de dar uma pesquisada sobre,
imaginava que o trabalho deles era algo bem mais simples. A sua função é um tanto quanto
cansativa e intensa, pois um pastor de ovelhas cuida do seu rebanho, mas além de só cuidar,
no sentido de vigiar, é ele quem providencia o alimento de seus animais, garante a saúde
deles, doméstica, guia as ovelhas para que não se percam. Muito além dos cuidados básicos,
o pastor está completamente conectado ao seu rebanho. Ele sempre sabe se algo não está
acontecendo da forma correta e procura manter todas as ovelhas saudáveis. A ovelha, por ser
um animal o tanto quanto dócil, sem defesa, necessita da proteção do seu pastor, sendo ela
um animal totalmente dependente dele.
No texto-base para essa homilia, o próprio Cristo inicia afirmando: “ — Eu sou o bom
pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas”. Jesus, ao mesmo tempo que se coloca como o
bom pastor, nos compara com ovelhas. Por que essa comparação? A resposta talvez seja por
causa da nossa dependência. Nossa mente humana, muitas vezes, nos faz pensar que somos
independentes, fortes o suficiente para encararmos tudo com a nossa força. Pensamos: “Já
conquistei muitas coisas nessa vida, tenho uma casa, um ótimo carro, uma bela família, sou
graduado, tenho um emprego dos sonhos e tudo isso que conquistei foi através unicamente do
meu esforço”. Temos o perigo de cairmos no erro de pensar que somos auto suficientes, que
através de nossos méritos conquistamos tudo, até é uma tendência do homem achar que
através de suas obras, seus méritos, ele chegará longe, sempre voltando o foco para si. Mas,
por vezes, aparecem momentos de dificuldades, aparecem as doenças gravíssimas, algum
acidente, uma fatalidade, a própria morte parece que se aproxima e aquela auto-suficiência
vai caindo por terra. E onde está a força humana no sofrimento, cadê a bravura e a
determinação? Cadê a autossuficiência? Pensamos que somos grandes o suficiente em certos
momentos, mas quando as adversidades aparecem, elas nos mostram a nossa fragilidade, a
nossa pequenez.
Assim como as ovelhas necessitam do pastor, assim, quando percebemos a nossa
fragilidade e dependência, observamos que precisamos de alguém que nos cuide, nos ampare,
nos guie e nos dê forças. Quando o sofrimento chega até nós, percebemos a nossa fraqueza, a
nossa imperfeição, ali precisamos de um pastor que esteja ao nosso lado de sua ovelha e essa
certeza nós temos, que o bom pastor Jesus caminha conosco nos momentos bons e ruins. Ele
disse: “— Eu sou o bom pastor”, como é consolador saber que em Jesus temos a certeza que
não estamos desamparados. Além de nos cuidar, como um pastor também faz, Deus nos
concede todo o necessário para a vida. Martinho Lutero afirma na explicação da quarta
petição do Pai-nosso: “Deus, em verdade, dá o pão de cada dia, mesmo sem a nossa prece, a
todos os homens, também aos ímpios”.
Um pastor está disposto a arriscar a sua vida pelas ovelhas, combatendo o predador. Não
sabemos se muitos pastores morreram por tais motivos e isso nem entra muito em discussão,
mas a intenção do pastor nunca seria a de morrer, pois ele sabe que se isso acontecesse, iria
deixar o rebanho totalmente exposto. Quando Jesus diz: “ — Eu sou o bom pastor. O bom
pastor dá a vida pelas ovelhas”, em sua afirmação, ele aponta para si mesmo. Ele não arrisca
simplesmente a sua vida, ele a entrega, em harmonia com a vontade do Pai. A morte de Jesus
o qualifica como o bom pastor. Ao contrário da morte de um pastor comum, que poderia
expor as suas ovelhas ao perigo; a morte do pastor digno é salvação para o seu rebanho, a
morte de Jesus é o sacrifício perfeito dirigido para a redenção de suas ovelhas.
Quando seguimos no texto: “O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as
ovelhas, vê o lobo chegando, abandona as ovelhas e foge; então o lobo as arrebata e
dispersa. O mercenário foge, porque é mercenário e não se importa com as ovelhas”,
observamos que o empregado, ao contrário do pastor, em momentos de perigos para si,
simplesmente foge, abandona as ovelhas. Ele primeiro está comprometido com o seu
bem-estar e depois com o das ovelhas, elas não são uma prioridade. Primeira coisa vem a sua
vida e a vida das ovelhas e seu cuidado é deixado em segundo plano. Jesus afirma novamente
no versículo 14: “Eu sou o bom pastor”, mais ainda, ele coloca um laço de intimidade
quando diz: “Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem”. O fato desse conhecimento
mútuo entre as ovelhas e o pastor faz com que o rebanho reconheça a voz do guia e siga ele,
de forma que nele encontra proteção. Essa comparação do conhecimento entre Jesus com nós,
suas ovelhas, é comparada por ele mesmo no texto com o mútuo conhecimento do Pai e do
Filho.
Um pastor, que conhece o seu rebanho, que quando vê sua ovelha perdida vai atrás para
resgatá-la do perigo que possa assombra-lá. Jesus, em sua íntima relação com as suas
ovelhas, ele primeiro nos conhece perfeitamente, sabe todas as nossas falhas, as nossas
maldades, todas as nossas fraquezas e, principalmente, ele conhece o nosso estado de
perdidos e condenados. Jesus, para resgatar as suas ovelhas, ele espontaneamente dá a sua
vida, a entrega, por amor ao seu rebanho. A morte sacrificial do bom pastor não deve ser
entendida como acidente ou, meramente uma tragédia, mas a sua morte é o plano do Pai, pois
ele mesmo diz; “Este mandato recebi de meu Pai”. Deus enviou seu unico Filho ao mundo
para livrar suas ovelhas da escravidão do pecado, livrar elas das mãos do predador e traz elas
para a vida. Cristo é o sacrifício perfeito para a expiação de nossos pecados e só ele que nos
guia pelo caminho seguro, longe dos perigos, das adversidades, dos predadores, pois ele
mesmo é o caminho que nos leva ao Pai. Que o bondoso Deus continue a nos abençoar nesta
verdade e que o nobre pastor Jesus continue amparando e guiando seu rebanho na única
verdade, hoje e para todo o sempre.

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