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O SALMO 23: SUFICIÊNCIA, SERENIDADE, CERTEZA E ETERNIDADE

TEXTO-CHAVE
“O SENHOR é o meu pastor. Ele me dá tudo de que eu preciso!

Ele me leva aos pastos de grama bem verde e macia para descansar. Quando sinto sede, Ele me leva para os
riachos de águas mansas. Ele me devolve a paz de espírito quando me sinto aflito.

Ele me faz andar pelo caminho certo para mostrar a todos quão grande Ele é.

Eu posso andar pelo vale escuro, onde a morte está bem perto; mas continuo tranquilo e não sinto medo.
Tu, Senhor, me guias e proteges constantemente!

Preparas uma refeição deliciosa para mim, na presença dos meus inimigos. Tu me recebes como um
convidado de honra; e a minha vida fica cheia das tuas bênçãos!

Eu tenho absoluta certeza de que a tua bondade e o teu amor cuidadoso me acompanharão todos os dias
da minha vida, sim; eu viverei na presença do Senhor para sempre!”

(Salmo 23 – Bíblia Viva)

INTRODUÇÃO
O Salmo 23! Por que ele se localiza onde se localiza na Bíblia, entre os salmos 22 e 24? Há alguma razão específica?

Há uma impressionante conexão existente entre os salmos 22, 23 e 24. É uma trilogia das Escrituras Sagradas que
podemos denominar: “A cruz, o cajado e a coroa.”

a) A Cruz

O Salmo 22 é um dos mais citados no Novo Testamento e fala da obra salvadora de Cristo, descrevendo o
sofrimento e a vitória do Messias prometido simbolizados pela cruz.

b) O Cajado

No Salmo 23 é descrito, em curtos versos, o resumo de uma vida que é conduzida por Cristo. O cajado é o
instrumento pelo qual o pastor toca suavemente a pata de sua ovelha, quando esta se desvia do caminho, trazendo-
a de volta para o rumo certo. O cajado simboliza uma vida, iniciada na cruz, e conduzida pela graça de Jesus a todo o
momento.

c) A Coroa

Já no Salmo 24, a vinda do Senhor da Glória é cantada em um hino de louvor. Ele é o Deus eterno, o Rei dos
reis que reinará para sempre. Jesus veio nos salvar, passou pela cruz, viveu sob a direção do Pai e recebeu a coroa, a
vitória sobre o pecado e a morte.

É pela “cruz” que se entra na vida eterna desde agora, pelo “cajado” que se vive neste mundo guiado pelo bom
Pastor até alcançar a “coroa”, porção da herança destinada aos que com Cristo reinarão por toda eternidade.

A trilogia destes salmos descreve a trajetória de todo ser humano do ponto de vista de Deus e do Seu propósito
redentor.
I. NOS PASTOS – SUFICIÊNCIA (VV. 1-3)
A. “O Senhor é o meu Pastor” (23:1a)
a. Quem é o Senhor (Pastor)?

Quem é o Senhor? Como é Seu caráter? Será que possui credenciais para ser meu Pastor, meu
Administrador, meu Dono? E se possui, como faço para me colocar sob Sua orientação? De que modo me torno
objeto de Seu interesse e cuidado intenso?

“O Senhor é” - eis um excelente paralelo para a expressão “EU SOU”, quando Deus Se manifestou a Moisés,
no deserto de Midiã.

“EU SOU” transmite uma ideia de infinitude, em contraste com o verbo estar, algo transitório, finito,
tipicamente humano.

No Novo Testamento, Jesus apresentou-se como o “EU SOU” por diversas vezes:

i. “EU SOU o Pão da Vida” (João 6:25-35)


ii. “EU SOU a Luz do Mundo” (João 8:12-20)
iii. “EU SOU a Porta” (João 10:1:10)
iv. “EU SOU a Ressurreição e a Vida” (João 11:17-27)
v. “EU SOU o Caminho, a Verdade e a Vida” (João 14:1-6)
vi. “EU SOU a Videira” (João 15:1-8)
vii. “EU SOU o Bom Pastor” (João 10:11-18)

Quando Jesus esteve neste mundo, afirmou taxativamente: “Eu sou o Bom Pastor”. O mesmo Deus que foi
responsável pela criação de todas as coisas, também é o meu Pastor!

As mais maravilhosas imagens do relacionamento entre Deus e o homem são as de pai e filho, pastor e
ovelha (a palavra ovelha é citada mais de 300 vezes nas Escrituras).

b. Quem é a ovelha?

Se Ele é nosso Pastor, somos Suas ovelhas e isto traz consigo implicações, porque ovelhas são indefesas,
não cuidam bem de si mesmas, são míopes, cansam-se facilmente, tímidas, pouco inteligentes, sua cabeça é a única
proteção e correr é seu único recurso.

Uma palavra para definir ovelha: dependência. Quando dizemos que “o Senhor é o meu Pastor”,
declaramos que somos ovelhas - dependentes, incompetentes, incapazes de fazer qualquer coisa sozinhos.

c. Meu Pastor

O Salmo 23 tem como referência a caminhada da primavera/ verão, que parte do aprisco, onde o rebanho
passou o inverno protegido, rumo a novos pastos em lugares mais altos. Estamos em pleno deserto. O pastor é tudo
para as ovelhas. É guia, companheiro de destino, segurança e proteção.

“Ele vai na frente e elas O seguem porque lhe conhecem a voz” (João 10:4).

Somos simples mortais que se tornam objetos queridos da diligência divina – isso confere propósito e
sentido à nossa curta passagem por este planeta.

Jesus digna-Se a chamar-se de meu Pastor e convida-me a considerar-me Sua ovelha, objeto especial de Seu
cuidado e afeição. Quem melhor para cuidar de mim?

Veja quem é meu Pastor: Ele é meu Dono, meu Administrador. Ele é o Senhor...

Pertenço a Ele porque Ele deliberadamente resolveu criar-me. Pertenço a Ele porque me comprou por
preço incrível, o de Sua vida imolada e pelo Seu sangue derramado.

Nosso Pastor liberta-nos de nossos pecados, de nós mesmos e de nossos temores!

E há ainda algo especial em pertencer a este Pastor: adquirimos uma marca que nos distingue do restante
da multidão!
B. “Nada me Faltará” (23:1b)
a. Nada me falta

Como o Senhor é meu Pastor, “nada me faltará” ou “de nada tenho falta”. A expressão traz um conceito de
que não sofrer deficiência de nada – nem de carinho, nem de orientação, nem de cuidados.

b. Não anseio por nada

É a ideia de estar plenamente contente com os cuidados do Bom Pastor, e, consequentemente, não
desejando, nem ansiando por nada.

“... Tu me seguras pela mão direita, Tu me guias segundo Teus planos e me levas a um destino
glorioso. Se Tu, a quem eu tenho no céu, estás comigo, nada mais desejo na terra” (Salmo 73:23-
25).

A satisfação deve ser a marca do homem ou mulher que deixou seus problemas nas mãos de Deus. Para Ele
nenhum problema é grande demais!

O vazio infinito que nos devora só pode ser preenchido pelo infinito de Deus. Nesse podemos confiar,
porque efetivamente “só Deus basta”, “de nada tenho falta”.

c. O Pastor cuida de Sua reputação

Mais uma razão para estarmos tranquilos: Cristo cuida de Seu nome e de Sua reputação de Bom Pastor!

C. “Deitar-me Faz em Pastos Verdejantes” (23:2a)


a. Pré-requisitos para deitar-se

Um fato interessante com relação às ovelhas é que, por sua própria constituição, é-lhes quase impossível
deitar-se, a menos que se satisfaçam quatro condições:

i. Devem estar tranquilas e sem temores

Devido à sua timidez, elas se recusam a deitar-se a não ser que estejam plenamente tranquilas
e sem temores. Em meio às desventuras, subitamente, nos sobrevém a consciência de que Ele,
o Cristo, o Bom Pastor, está ali. Essa certeza muda tudo. Sua presença lança uma luz diferente
sobre a situação. De repente, as coisas já não parecem tão sombrias, tão aterrorizantes.
Modifica-se a perspectiva de tudo. Volta-nos a calma, e já podemos repousar.

ii. Sem atritos com outras ovelhas

Por causa de seu comportamento social, no grupo do rebanho, não se deitam enquanto
houver quaisquer atritos com outras ovelhas. Em geral, uma ovelha mais velha, arrogante,
ardilosa e dominadora se coloca como líder no rebanho. Ela mantém sua posição e prestígio
com marradas, expulsando as outras fêmeas e cordeiros das melhores partes dos pastos ou de
um recanto predileto. As vítimas tornam-se nervosas, tensas, insatisfeitas, inquietas.
Emagrecem e ficam irritáveis. A presença do pastor causa enorme diferença nesse
comportamento: diante dele elas esquecem-se rapidamente de suas tolas rivalidades e cessam
de lutar.

iii. Sem moscas e parasitas

Se estiverem sendo importunadas por moscas e parasitas, também não se deitarão. Só


conseguem relaxar quando estão livres dos insetos. Ele aplica aos nossos problemas o antídoto
de efeito curativo, aliviando o sofrimento, o antídoto da presença de Sua presença e Sua
pessoa.

iv. Sem fome

Por último, as ovelhas não se deitam enquanto estiverem com fome!


b. Em pastos verdejantes

Os países possuidores dos maiores rebanhos de ovelhas do mundo localizam-se em regiões áridas ou
semiáridas. A maioria das raças de ovelhas prospera melhor nesse tipo de terreno. O clima é seco e elas se acham
menos expostas a problemas de saúde e parasitas. Porém, não é natural nem comum encontrarem-se em pastos
verdejantes.

Nos dias de Davi, o pastor precisava limpar o solo árido e áspero; arrancar espinheiros, raízes e tocos de
árvores; arar profundamente e preparar o solo; semear e plantar grãos e ervas especiais; irrigar e cuidar das
plantações de forragem que serviam de alimento para o rebanho. Isso demandava tempo e muito trabalho!

Nenhum espetáculo é mais grato ao coração do pastor do que ver seu rebanho, depois de bem alimentado
até a satisfação plena, em uma forragem verde, deitar-se para descansar e ruminar...

D. “Guia-me Mansamente às Águas Tranquilas” (23:2b)


a. Água é vida

Embora as ovelhas se desenvolvam bem em terrenos secos e semiáridos, elas precisam de água, em vista
dos altos riscos de desidratação. E novamente a chave para a localização da água está nas mãos do pastor! Ele é que
sabe onde se acham os melhores bebedouros. Aliás, muitas vezes, é ele próprio quem cava estes poços, com muito
trabalho e esforço.

Quando as ovelhas estão sedentas, tornam-se inquietas, e partem à procura de água para se satisfazerem.
Se não forem conduzidas a bons depósitos de água pura e limpa, muitas vezes acabarão bebendo de fontes poluídas,
infectadas com futuros parasitas.

Jesus nos oferece a Água da Vida por meio do Espírito Santo!

b. Três fontes de água

Em termos gerais, a água para o rebanho provinha de 3 fontes principais: do orvalho da relva, de regatos ou
nascentes e de poços profundos:

i. Orvalho da relva

As ovelhas podem passar meses a fio, quando não faz muito calor, quase sem beber água,
principalmente se a relva estiver sempre bem orvalhada pelas manhãs. As ovelhas têm o hábito de
acordar bem cedo. Nós também precisamos acordar cedo para beber da água revitalizante da
comunhão!

ii. Regatos ou nascentes

Águas puras e claras, límpidas como cristal.

iii. Poços profundos

Alguns poços eram enormes cavernas cavadas a mão, em formações arenosas ao longo dos rios.
Assemelhavam-se a amplos aposentos esculpidos em rochas, com rampas que desciam até a água,
ao fundo. Os rebanhos eram conduzidos até ao fundo dessas cisternas, onde havia água fresca,
pura e límpida. Veja lá no fundo o pastor tirando água para matar a sede de suas ovelhas. Mais
uma vez, tudo depende do pastor!
E. “Refrigera a Minha Alma” (23:3a)
Certamente podemos imaginar que qualquer um que se ache sob os cuidados do Bom Pastor nunca chegue
a ficar perturbado e necessitar de refrigério para a alma. Mas a verdade é que isso acontece! Até mesmo Davi sabia
o que era estar abatido e desalentado!

a. Ovelha Virada não Tem Refrigério

Uma ovelha virada é uma cena triste. Após um tempo deitadas numa depressão confortável, as ovelhas
mais gordas rolam ligeiramente de lado. De repente, o centro da gravidade de seu corpo desloca-se e ela se vê de
costas, com as patas para o alto! Ela se debate freneticamente, lutando para pôr-se de pé, mas sem sucesso.

Se o pastor não aparece no local dentro de certo período de tempo, a ovelha fatalmente morre, pois nesta
posição gases se formam em sua bolsa ruminante, o que torna mais difícil a circulação do sangue nas extremidades
do corpo, especialmente as patas.

E não apenas o pastor se mantém alerta para com as ovelhas viradas. Os predadores também o fazem, pois
ovelhas viradas são presa fácil!

O pastor precisa agir rápido. Quando chega junto da ovelha, e seu primeiro impulso é pegá-la e virá-la.
Massageia suas patas para restabelecer a circulação, o que leva bastante tempo. Quando a ovelha começa a
caminhar de novo, muitas vezes tropeça, cambaleante e cai novamente.

Esta cena faz nosso coração compreender o que significa: “Refrigera a minha alma”. Pois quando um filho
de Deus cai, quando se sente frustrado e desemparado, o Senhor não fica desgostoso, irritado ou furioso. Ele vem de
maneira rápida, pronta em seu socorro, sempre paciente, terno e prestimoso.

b. Um lugar confortável é o mais perigoso

Aqui descobrimos que quando achamo-nos mais seguros de nós mesmos é que tropeçamos e caímos.

Procuramos o lugar mais fácil, o canto mais agradável, a posição mais confortável, onde não ocorram
dificuldades e não precisemos resistir às durezas da vida e nem exercitar a autodisciplina.

Quando chegamos a pensar “consegui afinal”, realmente estamos diante de um perigo mortal.

Muitas vezes, é possível que o Bom Pastor venha a nos transferir para uma pastagem onde a situação não é
tão confortável para o nosso bem!

c. As ovelhas repletas de lã “viram-se” muito

Nas Escrituras, a lã representa a velha vida egoística. É uma expressão exterior de uma atitude interior.

O sumo sacerdote no Antigo Testamento não tinha permissão para usar roupas de lã quando entrava no
lugar santíssimo do santuário. Ela é uma figura do ego, do orgulho...

Se desejo continuar caminhando com Deus e não ficar sempre abatido, o Senhor precisará disciplinar
seriamente este aspecto da minha vida.

Uma ovelha virada quase sempre se vê nesta situação ou porque está gorda demais ou porque está com
uma lã muito cheia e pesada (repleta de esterco imundo, lama, carrapichos e carrapatos). Neste caso tosquia é
necessária, algo que nem sempre é um processo agradável, porém, no final, pastor e ovelha sentem-se aliviados.
Não existe mais o perigo de o animal ficar virado de novo.

Que refrigério sabermos que estamos livres de nós mesmos!


F. “Guia-me pelas Veredas da Justiça por Amor do Seu Nome” (23:3b)
a. Mudança constante de pasto

As ovelhas são, reconhecidamente, criaturas orientadas por hábitos. Se entregues a si mesmas, seguirão
sempre os mesmos caminhos até que estes se tornem gastos. Pastam nas mesmas colinas até que elas fiquem
destituídas de vegetação; defecam na própria terra até que se torna poluída com vermes e parasitas.

Assim, o melhor recurso de que o pastor pode lançar mão na criação de ovelhas, é mudar sempre de pastos.

b. Seguir pelo meu caminho versus ser guiado pelas veredas da justiça

Assim como as ovelhas, nós seguimos uns aos outros ao longo das mesmas estradinhas até que, afinal se
tornam enormes regos. Assim como as ovelhas nós também agarramo-nos a hábitos capazes de arruinar nossas
vidas.

Seguir pelo caminho significa simplesmente fazer o que eu quero. A dificuldade é que a maioria de nós não
deseja ir a Ele. Não temos nenhum interesse em segui-Lo. Não queremos ser conduzidos aos caminhos da justiça.
Preferimos andar pelos nossos próprios caminhos, somente para no final nos tornarmos feixes de ossos, numa terra
arruinada, como ovelhas sem pastor.

Este é o ponto central em que o crente ou segue a Deus ou deixa de segui-Lo.

Deus está disposto a guiar-nos pelas veredas da justiça, por amor do Seu nome, em amor a nós e em amor
àqueles que nos rodeiam...

II. NO VALE - SERENIDADE (V. 4)


Do ponto de vista do pastor, esta declaração marca a metade do salmo. É como se até este ponto a ovelha estivesse
se gabando para um vizinho infeliz, do outro lado da cerca, dos excelentes cuidados que seu criador lhe dispensa no aprisco
da fazenda durante o inverno e a primavera. Ela fala do pastor...

Mas agora, a ovelha muda o foco e fala para o pastor! Entram os pronomes “eu” e “Tu” no seu discurso! Eis uma
conversa mais íntima e do mais profundo afeto...

A. “Ainda que Eu Andasse pelo Vale da Sombra da Morte, não Temeria Mal Algum, Porque Tu Estás
Comigo (23:4a)
a. No vale a subida é mais gradativa e segura

Os bons pastores esforçam-se para levar o rebanho a pastagens distantes durante o verão. Em muitos
casos, isto implica longas caminhadas pelos vales, um caminho em que a subida é mais gradativa e segura, As
ovelhas, dentre as quais há cordeirinhos novos, movem-se lentamente, pastando à medida que avançam,
caminhando para o alto, seguindo o trilho deixado pela neve derretida.

Na vida cristã, falamos muitas vezes de querer subir para os montes altos com Deus! Erroneamente
imaginamos que podemos ser “içados” a este nível mais alto. Na verdade, nós só chegamos aos lugares altos
subindo as encostas dos vales!

Toda montanha tem seus vales e o pastor guia seu rebanho mansa e persistentemente montanha acima,
pelas trilhas que atravessam aqueles vales escuros.

Interessante é notar que o texto não diz que no vale eu morro ou paro, mas sim, que o atravesso! Nosso
pânico, temores e dúvidas cedem lugar a uma confiança calma e tranquila nos cuidados do Pastor, que nos conduz,
ainda que pelo vale da sombra da morte...

É bom saber que pelo vale, o caminho que o Pastor escolheu, há uma caminhada gradativa e segura.
b. No vale há maior suprimento de água

Há bebedouros encontrados ao longo da rota pelo vale, que saciam nossa sede em dias quentes de verão!
Há rios, regatos, fontes e lagunas calmas nas depressões mais profundas...

c. No vale há as mais ricas fontes de alimento e a melhor forragem

A terceira razão pela qual o Pastor prefere levar o rebanho para a montanha, passando pelo vale, é que,
geralmente, ali se encontram, ao longo da rota, as mais ricas fontes de alimento e a melhor forragem!

Muitas vezes, a relva está no fundo de íngremes canyons e gargantas. É possível que haja também
penhascos elevados de um e outro lado. Ali pode haver escuridão, pois o sol raramente bate ali. Há também
predadores vorazes nestes penhascos. Tempestades súbitas e inundações bruscas podem ocorrer! Pode haver
avalanches de pedras ou deslizamentos de barrancos ou neve. Mas ainda assim, o vale ainda é o melhor caminho
para conduzir as ovelhas até o alto!

Mais cedo ou mais tarde descobrimos que é nos vales da vida que encontramos o refrigério proveniente de
Deus! Somente depois de caminharmos com Ele através dos profundos vales das dificuldades, aprendemos que Ele
pode levar-nos a encontrar refrigério nEle bem em meio às tribulações.

Q questão principal não é se encontramos muitos ou poucos vales. Não é se estes vales são escuros. A
questão é: como reajo a eles? Como os atravesso? Com o Pastor, eu enfrento as calamidades tranquilamente...

Venha o que vier, tempestades podem rebentar ao meu lado, predadores podem atacar, os rios dos revezes
podem ameaçar e inundar-me. Mas quando Ele está comigo, não temerei nada!

“No mundo tereis aflições; mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo” (João 16:33).

B. “A Tua Vara e o Teu Cajado me Consolam” (23:4b)


a. Vara – a Palavra de Deus

A ovelha declara que a vara do pastor é uma contínua fonte de conforto para ela. Para nós, a vara revela
intenção expressa da mente e vontade de Deus por meio de Sua Palavra. Que conforto é dispor deste instrumento
poderoso, claro e legítimo, pelo qual podemos ser conduzidos!

i. Segurança e disciplina

A vara era uma extensão do braço do pastor. Era um símbolo de sua força, poder e autoridade. A
vara era a arma em que ele confiava para a sua segurança, bem como do rebanho. Era também o
instrumento que usava para disciplinar e corrigir ovelhas rebeldes que insistiam em afastar-se do
grupo.

ii. Exame e Contagem das ovelhas

Outro interessante aspecto da utilização da vara pelo pastor era contar as ovelhas e certifica-se de
cada uma estava bem. Devido à sua lã abundante, nem sempre é fácil detectar doenças,
ferimentos ou lesões nas ovelhas. O pastor experiente corre os dedos por todo o corpo do animal à
procura de sinais de irregularidade; examina a ovelha com cuidado, pois só assim seus problemas
ocultos podem ser expostos perante o pastor.
“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos;
vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” (Salmo 139:23,24).

b. Cajado – o Espírito Santo


Ninguém, em nenhuma outra profissão, carrega um cajado de pastor. É um instrumento usado unicamente
para cuidar de ovelhas.

O cajado é um símbolo do interesse e da compaixão que o pastor tem por seu rebanho. Nenhuma outra
palavra descreve melhor o trabalho em favor do rebanho do que consolo. Enquanto a vara comunica o conceito de
poder, autoridade, disciplina e defesa contra o perigo, a palavra cajado fala de tudo o que é magnânimo e bom!

O cajado do pastor é normalmente longo e fino, com a ponta em formato de gancho.

O cajado tem duas funções importantes:

i. Trazer as ovelhas para um contato mais íntimo com o pastor


Ele usa o cajado para erguer um cordeirinho recém-nascido e reconduzi-lo à mãe, se por
acaso se separam. Faz isso para evitar o contato do cordeirinho com suas mãos, para
evitar que a ovelha, por conta do seu cheiro, rejeite o recém-nascido. O cajado também é
útil para as ovelhas tímidas e temerosas que normalmente tendem a manter certa
distância do pastor.

ii. Dirigir as ovelhas


O pastor, por diversas vezes, usa o cajado para guiar as ovelhas mansamente em direção a
um novo trilho, ou para atravessar um portão ou ao longo de estradas difíceis e perigosas.
Veja uma cena inusitada: lá está o pastor apenas tocando a cabeça de sua ovelha com o
cajado ao longo do caminho – parecem estar de mãos dadas! Isto nos faz compreender o
que é consolo numa dimensão mais profunda.

Jesus Cristo nos diz que, em nossa caminhada com Deus, o Espírito Santo seria enviado a fim de nos guiar e
conduzir-nos a toda a verdade (João 16:13). Ele, mansa e ternamente, mas com persistência, nos diz: “Este é o
caminho – andai por ele”.

Existe, para o verdadeiro filho de Deus, aquela experiência íntima e sutil, mas ao mesmo tempo grandiosa,
de saber que o Seu Espírito nos toca!

III. NO APRISCO – CERTEZA (VV. 5)


A. “Preparas uma Mesa Perante mim na Presença dos meus Inimigos” (23:5a)
a. Uma mesa preparada

O final da caminhada por meio dos vales até as regiões mais altas apresenta-nos um lindo cenário: planaltos
bem elevados, também chamados de “mesas”.

Mas este cenário não é novo para o pastor. Antes que as ovelhas chegassem, ele já havia estado lá
preparando as pastagens, preparando a “mesa”. Ele estuda as melhores regiões deste planalto para que suas
ovelhas obtenham conforto, nutrição e segurança, arranca as ervas daninhas que podem matar o rebanho, leva sais
e minerais que espalhará por pontos estratégicos da região, para que o verão seja agradável!

Nosso Pastor já passou pela “mesa” antes de nós, enfrentando cada situação que nos teria destruído.

b. Perante os inimigos

Outra tarefa que o cuidadoso pastor realiza durante o verão é manter uma vigilância constante por causa
dos predadores de ovelhas. Estes animais ardilosos muitas vezes se colocam na beira de um penhasco, observando
cada movimento das ovelhas, esperando uma chance de ataque súbito, que provocará o estouro do rebanho.
Somente a atenção do pastor que vigia o rebanho no planalto, com uma visão plena de seus inimigos, pode evitar
que as ovelhas caiam vítimas de seus ataques.

O pastor, destemidamente, vai à caça dos lobos, coiotes, onças e ursos, ou prepara armadilhas para
apanhá-los, a fim de que o rebanho descanse e se alimente em paz...

O Bom Pastor conhece nosso inimigo. Ele conhece cada ardil, cada truque... Estamos sempre em perigo de
ataque! É com o um "leão" andando em derredor, buscando a quem possa tragar. Porém, estamos seguros no
planalto, sendo nutridos pela Sua Palavra, na presença deste inimigo voraz!
B. “Unges a Minha Cabeça com Óleo e o Meu Cálice Transborda” (23:5b)
a. Verão – estação das moscas

O verão é tempo de moscas. Estes insetos representam sérios riscos para os animais. O ataque deles pode
transformar os dias dourados do verão em dias de tortura para as ovelhas, quase enlouquecendo-os.

As ovelhas são muito assediadas pela mosca nasal. Estes insetos voam ao redor da cabeça da ovelha
tentando depositar ovos na narina do animal. Se conseguem, os ovos se chocam em poucos dias e surgem as
pequeninas larvas, que penetram pela cavidade nasal para o interior da cabeça da ovelha, causando severa
inflamação.

Para se livrarem do mal estar, as ovelhas batem com a cabeça contra árvores, pedras ou arbustos. Esfregam
a cabeça no chão ou procuram coçar-se contra a vegetação. Em casos extremos, a ovelha pode até se matar para
obter alívio daquele tormento. Por vezes, a infecção pode causar cegueira...

Quando as moscas começam a voar no meio do rebanho, algumas ovelhas tornam-se inquietas pelo medo e
pelo pânico. Batem as patas freneticamente, correm de um lado para o outro, abanam a cabeça para cima e para
baixo durante horas.

Somente uma atenção constante para o comportamento dos animais por parte do pastor pode prevenir as
dificuldades que surgem nesta época. Ao primeiro sinal de presença dos insetos, o pastor aplica o antídoto na
cabeça delas.

Logo que o óleo é aplicado na cabeça das ovelhas, ocorre uma mudança imediata em seu comportamento.
Desaparecem a importunação, a inquietação, a irritabilidade e o desassossego. Agora as ovelhas começam a pastar
com tranquilidade, depois voltam a repousar satisfeitas e em paz...

É a aplicação diária do precioso Espírito Santo de Deus em nossa vida que produz nela traços de
personalidade que contrastam com nossa natureza irritada, explosiva, marcada por tantas frustrações.

b. Verão – estação da sarna

Mas o verão, para as ovelhas, não é só época de moscas, mas também de sarna, uma doença altamente
contagiosa, muito comum entre os rebanhos. É causada por um parasita microscópico, que prolifera na época do
calor e se espalha pelo grupo, passando de um animal infectado para outro.

As ovelhas gostam de roçar as cabeças umas nas outras, num gesto afetuoso. O problema é que a sarna se
aloja normalmente na cabeça. Quando duas ovelhas se aproximam, a infecção passa imediatamente de um animal
para o outro.

A sarna é um símbolo de contaminação, de pecado e do mal.

Neste caso, como no das moscas, o único antídoto eficaz é a aplicação de um óleo que pode controlar esta
afecção. Mais uma vez o Pastor é figura fundamental para o bem-estar das ovelhas...

c. Cálice transbordante

Olhe mais uma vez para o calendário: vemos agora o verão passando e a aproximação do outono.
Tempestades de saraiva e granizo bem como as primeiras aparições da neve começam a varrer os planaltos. Breve
os rebanhos terão que deixar os montes e as “mesas”, descer para lugares mais baixos.

Estes dias de outono são os melhores: as ovelhas já estão livres das moscas e outros insetos, bem como da
sarna. Nenhuma outra estação encontra as ovelhas tão bem: fortes, resistentes e saudáveis.

Aqui Davi pode exclamar: “Meu cálice transborda!”.


Se é o Pastor que tem todo o conhecimento, sabedoria e entendimento de minha vida, pode muito bem
enfrentar por mim toda e qualquer situação que encontra, seja ela boa ou adversa. Então me satisfaço com Seus
cuidados. De uma forma maravilhosa, meu cálice é dos mais felizes e transborda com bênçãos de todo tipo!

Na verdade, o Bom Pastor nunca dorme. Nunca é descuidado ou relaxado. Nunca está indiferente ao nosso
bem-estar. Ele tem em mente os nossos melhores interesses.

Por fim, já no fim do ano, passado o outono, as ovelhas são conduzidas para a fazenda, onde permanecem
durante todo o inverno, quando o rebanho fica inteiramente a sós com o pastor.

IV. NA CASA DO PAI – ETERNIDADE (V. 6)


A. “Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida (23:6a)
Quantos de nós estão realmente certos de que, aconteça o que acontecer em nossa vida, seremos alvo da bondade
e misericórdia de Deus?

É fácil dizer isto quando tudo vai bem conosco. Mas, e quando a vida entra em colapso?

Quando nosso mundo particular está se desmoronando e os castelos de sonho de nossas ambições e esperanças se
desfazem em ruínas, será que podemos sinceramente dizer “bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias
da minha vida”?

Em nosso limitado entendimento de ser humano finito, nem sempre entendemos os atos executados por Deus em
Sua infinita sabedoria! Mas apesar de nossas dúvidas e apreensões acerca de Sua administração de nossos interesses, Ele nos
recolhe e reconduz para Si, com grande ternura.

Este é o retrato supremo do Bom Pastor. Continuamente, Sua bondade e misericórdia fluem para nós, e embora nós
não as mereçamos, elas procedem de Sua inesgotável fonte – Seu grande coração e amor!

B. “...e Habitarei na Casa do Senhor por Longos Dias” (23:6b)


O Salmo 23 inicia-se com uma afirmação alegre: “O Senhor é o meu Pastor...” Agora encerra-se com uma declaração
igualmente positiva e feliz: “E habitarei na casa do Senhor por longos dias”, ou “para todo o sempre”.

Vemos aqui uma ovelha plenamente satisfeita com sua vida, tão contente com o cuidado que recebe, tão feliz com o
pastor, que não tem nenhum desejo de modificar sua situação ou viver em outro aprisco!

Em outras palavras, o salmista conclui dizendo: “Nada me fará deixar este lugar – ele é maravilhoso”.

Nós também podemos dizer alegremente: “Ele nos conduziu pelos pastos verdejantes e para junto das águas
tranquilas da fazenda; e depois, passando pelos trilhos montanhosos, até aos planaltos onde se acham as pastagens de
verão. O outono chegou, com tempestades, chuva e granizo, que nos obrigaram a recuar montanha abaixo, de volta à
fazenda, onde passaremos o longo e calmo inverno”.

Num certo sentido, isto simboliza a ida para o céu! É um retorno aos campos, apriscos celeiros e abrigos do
proprietário da casa. Durante as estações do ano, com seus acidentes, perigos e perturbações, é pela atenção do pastor que
as ovelhas atravessam os dias satisfatoriamente.

E é com sublime sentimento de realização e contentamento que esta declaração é feita: “E habitarei na casa do
Senhor para todo o sempre”.

CONCLUSÃO
Devíamos orgulhar-nos de pertencer a Cristo!

Como deveríamos nos alegrar de contemplar o passado e recordar as maneiras maravilhosas em que Ele tomou
providências em favor de nosso bem-estar!

Devíamos sentir prazer em descrever com detalhes as experiências difíceis por que passamos, na companhia dEle...

Devíamos estar ansiosos para falar aos outros de nossa confiança no Pastor!
Devíamos ser orgulhosos de pertencer a Cristo a ponto de outras ovelhas, que estão fora deste aprisco, quererem
entrar pela “Porta das Ovelhas”.

Salmo 23: Nos pastos, suficiência; no vale, serenidade; no aprisco, certeza; na casa do Pai, eternidade...

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