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Os Direitos Das Mulheres*

Frederick Douglass

Um dos eventos mais interessantes da semana passada foi a


realização do que é tecnicamente denominado Convenção dos
Direitos da Mulher em Seneca Falls. Os discursos e resoluções
desta reunião extraordinária foram quase totalmente
conduzidos por mulheres, e embora elas evidentemente se
sentissem em uma posição nova, é apenas uma simples justiça
dizer que todo o processo foi caracterizado por habilidade e
dignidade marcantes. Nenhum dos presentes, pensamos, por
mais que esteja disposto a diferir das opiniões expostas pelas
principais oradoras naquela ocasião, não lhes dará crédito por
talentos brilhantes e disposições excelentes. Nesta reunião,
como em outras assembleias deliberativas, houve frequentes
diferenças de opinião e discussões animadas, mas em nenhum
caso houve a menor ausência de bom sentimento e decoro.
Vários documentos interessantes estabelecendo os direitos, bem
como as queixas das mulheres, foram lidos. Entre eles, havia uma
Declaração de Sentimentos, a ser considerada como a base de um
grande movimento para alcançar os direitos civis, sociais,
políticos e religiosos das mulheres. Não podemos fazer justiça às
nossas próprias convicções, ou às excelentes pessoas ligadas a
este movimento iniciante, se não oferecermos, neste contexto,
algumas observações sobre o assunto geral pelo qual a
Convenção se reuniu para considerar e os objetivos que elas
procuram alcançar. Ao fazê-lo, não somos insensíveis quanto a
que a simples menção deste assunto verdadeiramente
importante em qualquer outra forma que não nas de
ridicularização, desdenho e desprezo, provavelmente excite
contra nós a fúria do fanatismo e a loucura do preconceito. Uma
discussão sobre os direitos dos animais seria considerada com
muito mais complacência por muitos dos que são chamados de
sábios e bons de nossa terra, do que uma discussão sobre os
direitos das mulheres. É, na opinião deles, um ser culpado de
maus pensamentos, o que pensa que uma mulher tem direito a
direitos iguais ao dos homens. Muitos que finalmente fizeram a
descoberta de que os negros têm alguns direitos, assim como
outros membros da família humana, ainda precisam ser
convencidos de que as mulheres têm direito a qualquer um. Oito
anos atrás, várias pessoas dessa descrição realmente
abandonaram a causa antiescravista, já que, dando sua influência
nessa direção, talvez estivessem dando expressão à perigosa
heresia que a mulher, em respeito aos direitos, está em pé de
igualdade com o homem. No julgamento de tais pessoas, o
sistema escravista americano, com todos os seus horrores
concomitantes, é para ser menos deplorado do que essa ideia
perversa. Talvez seja desnecessário dizer que guardamos pouca
simpatia por tais preconceitos. Permanecendo como estamos na
torre de vigia da liberdade humana, não podemos ser
dissuadidos de expressar nossa aprovação a qualquer
movimento, por mais humilde que seja, para melhorar e elevar o
caráter de qualquer membro da família humana. Embora seja
impossível abordarmos esse assunto longamente, e
descartarmos as várias objeções que muitas vezes são feitas
contra uma doutrina como a da igualdade feminina, somos livres
para dizer que, no que diz respeito aos direitos políticos,
defendemos que a mulher tenha justamente direito a tudo que
reivindicamos para o homem. Vamos mais longe, e expressamos
a convicção de que todos os direitos políticos que são
convenientes para o homem exercer são igualmente para as
mulheres. Tudo o que distingue o homem como um ser
inteligente e responsável é igualmente verdadeiro para a mulher,
e se um governo justo é apenas o que governa pelo livre
consentimento dos governados, não pode haver nenhuma razão
no mundo para negar à mulher o exercício da franquia eletiva, ou
uma participação na criação e administração das leis da terra.
Nossa doutrina é que o direito não é do sexo. Por isso,
oferecemos às mulheres envolvidas neste movimento nosso
humilde “boa sorte e vão com Deus”.

*Editorial publicado no jornal North Star, de Frederick Douglass, em 28 de Julho de 1848

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