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Caxias-Maçom e Católico

Irm. ", Morivalde Calvet Fagundes


Academia Brasileira Maç6nica de Letras
Oro •• do Rio de Janeiro - RJ

,------------------------------, através de uma das Lojas do Grande Em 1969, quando eu era membro efeti-
Oriente do Passeio, onde o seu tio, José vo do Supremo Conselho do Grau 33, en-
"Na verdade, hoje em dia nin-, I Joaquim de Lima e Silva, o futuro Visconde contrei lá o original de uma carta patente,
guêm mais tem dúvida sobre a Vida"jl de Magé, ocupava o cargo de Grande expedida pelo Supremo Conselho da In-
maçônica do Duque de Caxias,
Chanceler Interino. glaterra, onde o Irmão Duque de Caxias
atestada que está por inúmeros do-
era nomeado Garante de Amizade junto ao
cumentos e atos oficiais, da mais
Supremo Conselho do Brasil. Estava data-
comprovaria idoneidade".
do de 13 de outubro de 1869. Publiquei có-
pia na revista Astréa, de agosto de 1969.
Outros documentos existem, mas' creio
Coube ao gal. Rinaldo Pereira da Câ- que os citados já bastam, para a plena
mara (meu velho comandante de batalhão, convicção dos leitores. .
em São Leopoldo, RS, em 1942/43) o "pri- Há mais de 40 anos, falando sobre Ca-
vilégio" de, nos idos de 1971, endossar, xias já tive ocasião de citar Carlyle: "A vi-
em conferência pública, a tese de que Ca- da dos grandes homens é a sfntese per-
xias não poderia ter sido maçom, pelo feita da história dos povos".
simples fato de que fora, durante toda a A vida de Caxias é a própria vida da
sua longa e brilhante existência de 77 nacionalidade.
anos, "um cristão de fé robusta", endos- Sua longa e luminosa existência de 77
sando, assim, o "prindpio" da irreconcllia- anos enche sozinha o capftulo que vai da
bilidade entre a doutrina cristã e os postu- nossa emancipação polâica até os pródo-
lados maçônicos. mos da república, através de lutas inces-
No caso do "Condestável do Império", santes para a manutenção da unidade na-
acho que grande parte da culpa por essa cional, para a preservação do equillbrio po-
interpretação errônea da Hist6ria cabe à Irtico do continente e para a conservação
própria Maçonaria brasileira, que, confor- O certo é que o seu nome já aparece do ritmo de evolução administrativa do
me atesta o historiador Kurt Prober, pelo com o grau 33 nos documentos maçônicos país, em cujos processos influiu sempre
espaço de 60 anos esqueceu completa- de 1846. No ano seguinte, segundo o seu decisivamente não só com o brilho ra-
mente o Irm.·. Caxias, talvez (quem sa- bi6grafo-maçônico Kurt Prober, Caxias diante de sua inteligência privilegiada e a
be?) magoada pela sua atitude desassorn- pediu licença do Comando das Armas da ação benfazeja de seu caráter de escol,
brada em defesa da anistia aos bispos, na Corte, para fundar um Supremo Conselho mas também com a força serena de sua
Questão Religiosa. O fato é que foi preciso Independente, onde assumiu pessoal- espada invicta.
que o gal. José Maria Moreira Guimarães mente o cargo de Soberano Grande Co- A estrela de Caxias é a pr6pria estrela
assumisse o Grão-Mestrado, para em mendador e Grão-Mestre do Grande dos destinos do Brasil, que opera milagres,
1939, promover homenagens ao valoroso Oriente Brasileiro. Como comprovação que transforma derrotas em triunfos, que
Duque, com uma conferência do gal. Va- deste fato há um folheto impresso, conten- aponta o caminho certo quando tudo se
lentim Benício da Silva. do os discurssos pronunciados no dia 26 afigura perdido, que nos guia em meio de
Na verdade, hoje em dia ninguém mais de julho de 1847, por ocasião da posse borrasca, como outrora o farol da ilha de
tem dúvida sobre a vida maçônica do Du- das luzes da Loja "União Escocesa", ofe- Faros, iluminando as noites do Mediterrâ-
que de Caxias, atestada que está por inú- recidos ao Conde de Caxias, Soberano neo.
meros documentos e atos oficiais, da mais Grande Comendador. E também um so- É esta estrela-guia que n6s invocamos,
comprovada idoneidade. neto do Irm.·. Francisco Leal e Passos, aqui e agora, com toda a nossa fé e toda a
E se isto não bastasse, ainda teríamos em honra ao "Herói famoso" e Venerável nossa esperança, para a salvação da Pá-
a sua expulsão da Irmandade da Cruz dos Irmão. tria!
Militares, em 1876, ainda em vida, justa-
mente por ser maçom, conforme se vê da
"Revista lIustrada", Rio, nº 27, de
15.07.1876.
Caxias teve o raro galardão de receber,
em vida, a glória de uma biografia, escrita
pelo monsenhor Joaquim Pinto de Cam-
pos. Há quem diga que este também foi
maçom. .
Seja como for o fato é que a vida por-
tentosa de Caxias prova exuberantemente
que religião e Maçonaria se casam harmo-
nicamente, sem prejufzo nenhum entre si.
Os arquivos maçônicos - quase sem-
pre muito falhos - não dizem onde e quan-
do o Grande Marechal foi iniciado na Arte
Real. Acho muito provável que sua inicia-
ção tenha se dado' quando da reorganiza-
ção da Maçonaria brasileira, em 1831,

JULHO-AGOSTO/88 - N2 36

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