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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO

CARLOS EDUARDO RIGOLO LOPES

ANDRÉ DE PAULA ANDREIS

SIMONE MOURÃO LEMOS

PROGRAMA NOVO RIO PINHEIROS COMO JANELA DE


OPORTUNIDADE: UMA PROPOSTA DE GOVERNANÇA A PARTIR DOS
CASOS DA INGLATERRA E ALEMANHA

SÃO PAULO

2021
CARLOS EDUARDO RIGOLO LOPES
ANDRÉ DE PAULA ANDREIS
SIMONE MOURÃO LEMOS

PROGRAMA NOVO RIO PINHEIROS COMO JANELA DE


OPORTUNIDADE: UMA PROPOSTA DE GOVERNANÇA A PARTIR DOS
CASOS DA INGLATERRA E ALEMANHA

Dissertação apresentada à Escola de Administração de


Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas para
a obtenção do grau de Mestre em Gestão e Políticas
Públicas

Campo de conhecimento: Administração Pública

Orientador: Professor Doutor Marco Antonio Carvalho


Teixeira

São Paulo
2021
Lopes, Carlos Eduardo Rigolo.
Programa Novo Rio Pinheiros como janela de oportunidade : uma proposta de
governança a partir dos casos da Inglaterra e Alemanha / Carlos Eduardo Rigolo
Lopes, André de Paula Andreis, Simone Mourão Lemos. - 2021.
92 f.

Orientador: Marco Antonio Carvalho Teixeira.


Dissertação (mestrado profissional MPGPP) – Fundação Getulio Vargas, Escola
de Administração de Empresas de São Paulo.

1. Administração pública - São Paulo (Estado). 2. Gestão ambiental. 3. Recursos


hídricos - Desenvolvimento - São Paulo (Estado). 4. Rios - Recuperação. 5.
Pinheiros, Rio (SP). I. Andreis, André de Paula. II. Lemos, Simone Mourão. III.
Teixeira, Marco Antonio Carvalho. IV. Dissertação (mestrado profissional MPGPP) -
Escola de Administração de Empresas de São Paulo. V. Fundação Getulio Vargas.
VI. Título.

CDU 556.18(816.1)

Ficha Catalográfica elaborada por: Isabele Oliveira dos Santos Garcia CRB SP-010191/O
Biblioteca Karl A. Boedecker da Fundação Getulio Vargas - SP
CARLOS EDUARDO RIGOLO LOPES
ANDRÉ DE PAULA ANDREIS
SIMONE MOURÃO LEMOS

PROGRAMA NOVO RIO PINHEIROS COMO JANELA DE


OPORTUNIDADE: UMA PROPOSTA DE GOVERNANÇA A PARTIR DOS
CASOS DA INGLATERRA E ALEMANHA

Trabalho apresentado a Escola de


Administração de Empresas de São Paulo da
Fundação Getulio Vargas, como requisito
para a obtenção do título de Mestre em
Gestão e Políticas Públicas. Data da
Aprovação: 24/02/2021

Banca examinadora:

________________________________
Prof. Dr. Marco Antônio Carvalho Teixeira

________________________________
Prof. Dr. Gustavo Andrey Fernandes

________________________________
Prof. Dr. Antônio Sérgio Fernandes

________________________________
Eng. Fernando Moliterno (SIMA)

São Paulo
2021
Agradecimentos

Ao orientador, Professor Doutor Marco Antônio Teixeira, o nosso profundo


respeito e agradecimento pelas elucidações acadêmicas desde o primeiro momento,
quando apresentamos a proposta do trabalho, e durante todo o processo de orientação.
Mesmo diante de uma pandemia fomos acolhidos de forma sábia e virtual.

Ao professor Doutor Cláudio Gonçalves Couto, Coordenador do Mestrado


Profissional em Gestão e Políticas Públicas, e a todos os professores da FGV que toparam
o diálogo e o convívio durante os anos que ocupamos as salas de aula da instituição, e
nos forneceram ferramentas para os desafios profissionais e pessoais. Estendemos nossos
agradecimentos também aos funcionários e colegas da FGV pela convivência amigável.

Ao Secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do Governo do Estado de São


Paulo, Marcos Penido, pelas contribuições fundamentais que nos deu com o seu
depoimento virtual como um dos principais atores desta política pública. Também
agradecemos a toda a sua equipe de governo, pelas contribuições e apoio que tivemos.

À equipe da SABESP, em especial à Andrea Ferreira, Andrea Alves e Rodrigo


Siume, por terem detalhado os desafios que vêm enfrentando há décadas na implantação
de ações de saneamento, em especial na recuperação dos principais rios que cortam a
cidade de São Paulo.

E, por fim, ao engenheiro da Empresa Metropolitana de Águas e Energia,


Fernando Moliterno, pela entrevista em que nos ofereceu uma visão importante sobre a
história do rio Pinheiros e como ela está ligada ao sonho atual de fazer este rio ser uma
referência na cidade de São Paulo.
Agradeço a minha doce esposa, Marina, pelo apoio e incentivo durante esta jornada. À
minha mãe, Katie, a quem me inspiro e tenho total admiração. E ao meu querido pai, João
Carlos, in memoriam, a quem agradeço todos os dias.

Carlos

Agradeço a minha esposa, Mariana Sewaybricker, por estar sempre ao meu lado em todos
os momentos. Dedico também aos meus pais, Ulisses e Andrea, pelo apoio incondicional
e motivador.

André

À minha mãe, Vera Mourão, que sempre me apoiou e que foi a responsável por mais esta
conquista. Quem diria que eu seria aluna da instituição que frequento desde que estava
em sua barriga? Ao meu marido, Rodrigo Lessa, meu pai, Eduardo Lemos, meu
companheiro Scott e aos meus familiares por compreenderem cada ausência neste período
e me incentivarem em todos os momentos. À vó Rosa e à tia Cecília (in memoriam), pela
educação que me deram. Aos meus chefes Fábio Santos e Nunzio Briguglio, que
acreditaram no meu potencial e me incentivaram a entrar no MPGPP, e a todos os meus
colegas de trabalho, em nome da Monique Corrêa, que tanto nos ajudou.

Simone
RESUMO

O trabalho pretende abordar o programa intitulado "Novo Rio Pinheiros", sob


responsabilidade da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Governo do Estado
de São Paulo (SIMA), que prevê intervenções de saneamento e socioambientais, com
estimativas de beneficiar cerca de 3,3 milhões de pessoas que moram em locais
abrangidos pela bacia do rio Pinheiros, em área de 271 km² que inclui bairros nos
municípios de São Paulo, Embu das Artes e Taboão da Serra.
Em meio ao contexto das mudanças climáticas, a recuperação dos recursos hídricos
urbanos vai de encontro aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das
Nações Unidas. No caso do rio Pinheiros, este projeto se torna ainda mais relevante por
estabelecer metas até 2022 para um dos principais rios que cortam a maior metrópole do
país.
Encarar este desafio de melhorar a qualidade de suas águas exige ações acertadas e
parcerias que transformem o objetivo do programa em realidade. Além disso, o modelo
de governança do programa é parte fundamental para o sucesso, visto que há diversas
instituições públicas e privadas envolvidas, além da própria sociedade civil.
Neste aspecto de participação social, a literatura em torno da gestão pública tem
enfatizado a importância do envolvimento de atores da sociedade civil na elaboração e
implantação de políticas públicas para aumentar a eficácia dos resultados. No caso da
recuperação de rios, se não houver mecanismos de aprendizagem que promovam o
envolvimento da população no sentido de conduzir a uma visão mais consciente da
importância da sua preservação, há o risco dos resultados da política não perdurarem ao
longo do tempo, mesmo diante de todos os recursos e investimentos despendidos.
Pretende-se com este trabalho, ressaltar a importância do programa como iniciativa ao
enfrentamento das mudanças climáticas e à perda de biodiversidade nas grandes cidades.
Neste sentido, destaca-se o caráter da pesquisa em compreender o modelo de governança
implementado pelo estado ao promover uma política de recuperação de corpos hídricos
em áreas urbanas, servindo como referência a outros entes federativos brasileiros.
O objetivo principal é construir uma proposta de governança para que as ações
empreendidas no Programa Rio Pinheiros perdurem ao longo do tempo e que possibilitem
novas metas para a limpeza do rio futuramente. Entendemos que o trabalho de
recuperação de rios deve ser contínuo e, portanto, serão utilizados casos internacionais
como benchmark sobre os rios Tâmisa, no Reino Unido, e Emscher, na Alemanha, que
permitirão fornecer aspectos de governança de interesse à SIMA.
Além disso, ainda com o intuito de estabelecer uma análise de política pública que possa
ser de interesse à SIMA, a pesquisa permite a construção de diretrizes e recomendações
ao órgão público estadual no que se refere a potenciais riscos na implantação do
programa.

Palavras-chave: Programa Novo Pinheiros, Governo de São Paulo, Governança das


Águas, Políticas Públicas para Gestão das Águas.
ABSTRACT

This paper seeks to analyze the initiative called "Novo Rio Pinheiros", coordinated by the
Secretariat for Infrastructure and Environment of the State of São Paulo (SIMA). The
project foresees sanitation services as well as social and environmental interventions that
will benefit approximately 3 million people living in the Pinheiros river basin, an area of
271 km² that includes neighborhoods in the municipalities of São Paulo, Embu das Artes
and Taboão da Serra.
The aforementioned project is relevant not only because it promotes the management of
urban water resources, in line with the United Nations' Sustainable Development Goals
(SDGs), but also because it establishes tangible targets for the restoration of one of São
Paulo’s main rivers.
Facing the challenge of improving the river’s quality requires strategic actions and
partnerships. Another key element of the initiative is its governance model, which
involves several public and private institutions, alongside civil society.
From a social participation perspective, the literature on public management has
emphasized the importance of involving civil society actors in the design and
implementation of public policies to increase the effectiveness of their results. In relation
to the Pinheiros river, if there are no mechanisms to raise the public’s awareness of the
importance of its restoration, there is a risk that the outcomes of the initiative may not
continue over time, despite the investments made.
The aim of this study is to highlight the importance of the “Novo Rio Pinheiros” project
to tackle climate change and the loss of biodiversity in large cities. In this sense, it is
important to stress the role of this research in understanding the governance model
implemented by the state of Sao Paulo to promote the restoration of water bodies in urban
areas, serving as a reference to other Brazilian federative entities.
The main goal is to build a governance proposal so that the actions carried out under the
“Novo Rio Pinheiros” project can last over time and enable the setting of new goals for
cleaning the river in the future. We understand that the river restoration must be a
continuous process, and therefore, long-term initiatives such as the cleaning of the rivers
Thames, in the United Kingdom, and Emscher, in Germany, will be used as benchmarks
for governance aspects that might be of interest to SIMA.
Furthermore, this research enables the development of guidelines and recommendations
to SIMA regarding potential risks that may arise during the implementation of the
program.

Keywords: Novo Pinheiros Program, Government of São Paulo, Water Governance,


Public Policies for Water Management.
LISTA DE TABELAS

Quadro 1 - Afluentes do Pinheiros 29

Quadro 2 - Órgãos públicos e as principais responsabilidades no Novo Rio Pinheiros. 36

Quadro 3 - Eixos estruturantes do Novo Rio Pinheiros 38

Quadro 4 - Empresas e órgãos públicos com atuações diretas ou indiretas no rio Tâmisa
59

Quadro 5 - Organizações da Sociedade Civil que possuem conexão com o rio Tâmisa 62

Quadro 6 - Órgãos com atuações diretas ou indiretas no rio Emscher. 67


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Rio Pinheiros, bacias e sub-bacias hidrográficas 28

Figura 2: Sistema de Interceptação Pinheiros (pré-condição): Sistema principal de


transporte de esgoto construído da Billings / Guarapiranga até a ETE Barueri, ao longo
da Marginal Pinheiros 39

Figura 3: Regiões contempladas pelos contratos Novo Rio Pinheiros 40

Figura 4: Visão de saneamento da bacia do Pinheiros e situação dos contratos em


dezembro de 2020 41

Figura 5: Funcionamento das URQs para tratamento de esgoto transportado em meio


hídrico 42

Figura 6: Situação das Obras | PI-34 Ribeirão Aterrado/Zavuvus 44

Figura 7: Cinco contratos assinados para URQs em áreas informais 45

Figura 8: Lotes Usina São Paulo 48

Figura 9: Ações Socioambientais realizadas pelo contrato PI-36 Córrego Pedreira, na


Zona Sul de São Paulo 50
LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 - Vista do rio Pinheiros no ano de 1930 22

Imagem 2 - Prática esportiva no Pinheiros 23

Imagem 3 - Usina Elétrica de Henry Borden na década de 1940 24

Imagem 4 - Usina da Traição em Construção, vista desde a margem direita 25

Imagem 5 - Enchente no rio Pinheiros em 1929, próximo à Rua Augusta 26

Imagem 6 - Rio Pinheiros assoreado, junto a foz do rio Pirajuçara 30


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMLURB Autoridade Municipal de Limpeza Urbana


BTL Bazalgette Tunnel Limited
CCWater Consumer Council for Water
CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
CPTM Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
DAEE Departamento de Águas e Energia Elétrica
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DEFRA Department for Environment, Food & Rural Affairs
DS Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas
DUP Declaração de Utilidade Pública
EA Environmental Agency
EGLV Emschergenossenschaft
EMAE Empresa Metropolitana de Águas e Energia
EU União Europeia
GLA Greater London Authority
GWP Global Water Partnership
MP Ministério Público
Ministry for Environment, Agriculture, Conservation and
MULNV
Consumer Protection of the State of North Rhine-Westphalia
OFWAT The Water Services Regulation Authority
PLA Port of London Authority
PMSP Prefeitura da Cidade de São Paulo
PNRH Política Nacional dos Recursos Hídricos
PPP Parceria Público-Privada
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
RNV Estado da Renânia do Norte-Vestefália
RVR Regionalverband Ruhrgebiet
SABESP Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo
SECOM Secretaria Especial de Comunicação, da Prefeitura de São Paulo
Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Governo do
SIMA-SP
Estado de São Paulo
SMSP Secretaria Municipal das Subprefeituras
TE2100 Thames Estuary 2100 Plan
TfL Transport of London
URQ Unidade de Recuperação de Qualidade
USP Universidade de São Paulo
UWTD Urban Wastewater Treatment Directive
1. INTRODUÇÃO 13

2. METODOLOGIA 15

3. REFERENCIAL TEÓRICO 17

3.1 Governança no Setor Público 17

3.2 Governança Ambiental e Gestão dos Recursos Hídricos 19

4. O RIO PINHEIROS 22

4.1 História do Rio Pinheiros 22

4.1.1 Projeto Billings 23

4.1.2 Outras obras e adensamento 25

4.1.3 Poluição 27

4.1.4 Bacia hidrográfica 28

4.1.5 Um rio é o resultado do seu percurso 29

4.1.6 Tentativas de limpeza 31

5. PROGRAMA NOVO RIO PINHEIROS 34

5.1 Janela de Oportunidade 34

5.2 Órgãos envolvidos e estrutura do programa 35

5.3 Os Eixos do programa Novo Rio Pinheiros 38

5.3.1 EIXO I - Tratamento da água dos afluentes 38

5.3.1.1 Contratos de Performance 43

5.3.1.2 Contrato das URQ’s 44

5.3.2 EIXO II - Ações de desassoreamento e aprofundamento do rio 45

5.3.3 EIXO III - Coleta e destinação dos resíduos sólidos 46

5.3.4 EIXO IV - Revitalização das margens 47

5.3.5 EIXO V - Comunicação 49

5.4 Panorama atual 51


6. ANÁLISES DE BENCHMARKING NO REINO UNIDO E ALEMANHA 56

6.1 Aspectos de governança do rio Tâmisa 56

6.2 ASPECTOS DE GOVERNANÇA DO EMSCHER 63

7. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E PROPOSTA DE GOVERNANÇA 71

8. PROPOSTA PARA O RIO PINHEIROS 74

8.1 Arcabouço legal 75

8.2 Participação 76

8.3 Governança policêntrica 77

8.4 Pilar Habitação 77

8.5 Pilar de Integração do rio com a cidade 79

9. CONCLUSÃO 81

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 84

11. ANEXOS 88
1. INTRODUÇÃO

A cidade de São Paulo se urbanizou em volta dos rios, mas com o passar do tempo
eles passaram a ficar invisíveis. O crescimento fugaz e desordenado da metrópole acabou
levando o Pinheiros a retificações do seu traçado original, a diminuição das suas áreas de
várzea e ao tamponamento, com a intenção de transformar estes locais em vias de trânsito
para os veículos. Essa maneira de tratar os recursos hídricos disponíveis, em nome do
desenvolvimento urbano, conferiu aos rios uma condição de segundo plano ou sem
importância no processo, tanto do ponto de vista do agente de transformação - seja pelo
poder público ou pela iniciativa privada, ou mesmo pela forma como são enxergados pela
população. Neste momento, eles acabam sendo sinônimos de sujeira, abandono e
exclusão social. Nos seus entornos é onde a população mais pobre e excluída encontra
um lugar para morar e aprende a conviver com o mau cheiro, de forma que ele acaba se
tornando imperceptível.

Nos noticiários, os rios ganham espaço nos meses de dezembro, janeiro e


fevereiro, quando acontecem as chuvas de verão. Também ganham repercussão quando
o tempo esquenta e a magia da procriação dos pernilongos acontece, mas ele é assunto
mesmo nos períodos de estiagem, quando a questão da governança da água emerge,
expondo a crise dos recursos hídricos e a fragilidade dos sistemas atuais.

Este estudo nasceu sobre a curiosidade a respeito da governança no projeto “Novo


Rio Pinheiros”. O Termo de Referência com a Secretaria de Infraestrutura e Meio
Ambiente do Estado de São Paulo (SIMA-SP) propõe analisar as condições reais de
gestão e políticas públicas, evidenciando os principais aspectos e apresentando
recomendações relevantes ao órgão público (Anexo 1 – termo de referência).

Assim, o estudo aborda desde a história do Rio Pinheiros, que demonstra a sua
importância para a cidade de São Paulo, a concepção do projeto “Novo Rio Pinheiros”,
até seus estágios atuais, e como se deu a despoluição dos rios Tâmisa, no Reino Unido, e
Emscher, na Alemanha, fazendo uma análise sobre o aspecto da Governança, com o
objetivo de compreender os modelos contemplados nas políticas para a recuperação dos
corpos hídricos em áreas urbanas, servindo como referência para outros entes federativos
brasileiros.

13
O objetivo principal deste trabalho é construir uma proposta de governança para
que as ações empreendidas no Programa Rio Pinheiros, que tem prazo de finalização em
2022, perdurem ao longo do tempo e possibilitem que novas metas sejam adotadas para
a continuidade da limpeza deste rio tão importante para a região metropolitana.

14
2. METODOLOGIA

A pesquisa se baseou em uma perspectiva qualitativa com análise de


benchmarking, para entender a implementação do programa e poder apresentar uma
proposta de governança que contribua para o fortalecimento do projeto Novo Rio
Pinheiros, com práticas dirigidas aos representantes da SIMA-SP, sempre com a
finalidade de fornecer informações coerentes para a compreensão da gestão da água, sua
explicação e casos de sucesso que foram implementados em outros locais.

O primeiro passo foi entrevistar os atores dos principais órgãos envolvidos no


projeto Novo Rio Pinheiros. Com isso, pode-se compreender o modelo de implementação
e os pilares de funcionamento que sustentam o Programa. Não foram entrevistados todos
os órgãos participantes atrelados ao Governo do Estado de São Paulo, pois, apesar do
relevante papel que desempenham para o andamento do projeto, suas ações são
consideradas mais pontuais, o que ficará mais claro no item 4.2. Os autores tentaram ainda
contato com organizações da sociedade civil que poderiam oferecer mais detalhes sobre
o objeto de estudo, mas não obtiveram sucesso e, portanto, decidiu-se limitar aos órgãos
do governo estadual.

As entrevistas realizadas foram previamente agendadas e realizadas virtualmente


(em função da pandemia gerada pela Covid-19) utilizando roteiro de perguntas
semiestruturadas, com o objetivo de coletar dados e informações que pudessem descrever
ações, bastidores, técnicas empregadas, além de identificar possíveis pontos fracos, de
maneira instantânea e sob a ótica dos representantes do governo.

Ao todo foram realizadas três entrevistas com técnicos da Sabesp, EMAE e o


próprio secretário da SIMA, Marcos Penido. Todas elas foram indicadas e marcadas pela
assessoria de imprensa da secretaria. Destaca-se que a realização das entrevistas foi
fundamental para uma melhor compreensão sobre o Programa, visto que ele iniciou há
cerca de dois anos e ainda está em andamento. Portanto, não há resultados consolidados
nem material disponível suficiente que apresente esta política com profundidade,
configurando um dos aspectos de relevância acadêmica que este trabalho busca contribuir
para o debate posterior.

Mesmo assim, foram realizadas pesquisas a partir de dados secundários,


principalmente por documentos oficiais e site dos órgãos públicos envolvidos no

15
Programa, notícias veiculadas na imprensa, além dos referenciais teóricos publicados em
artigos, livros, teses e dissertações, por meio de pesquisas bibliográficas e documentais
que abordassem os casos de benchmarking e os conceitos utilizados ao longo do trabalho.
Também foi possível acompanhar coletivas de imprensa sobre a evolução do Novo Rio
Pinheiros e seminários online sobre o programa.

Dentre os diversos casos e experiências de recuperação de corpos hídricos urbanos


existentes ao redor do mundo, a escolha dos benchmarkings partiu de algumas opções
com destaque internacional, mas buscou também aliar outros critérios, como a
disponibilidade e acesso às informações sobre cada um, similaridades com o contexto
territorial-urbano e relevância em apresentar aspectos inovadores. Um dos principais
casos previamente analisados para este trabalho, refere-se ao rio Cheonggyecheon em
Seul, na Coréia do Sul, que possui extensão semelhante ao rio Pinheiros e também está
inserido no contexto urbano de uma grande cidade. Além disso, a recuperação do rio
Cheonggyecheon e toda a transformação suscitada no seu entorno são considerados como
um caso de sucesso na paisagem urbana reconhecidamente internacional. Entretanto, a
literatura sobre o modelo de governança empregado posteriormente em relação ao rio
mostrou-se insuficiente, ao ponto desta opção ter sido descartada para o presente
trabalho.

Desta forma, outros casos que apresentaram algum grau de dificuldade também
foram descartados ao longo da pesquisa dos benchmarkings, até que se definiram os rios
Tâmisa e Emscher. Ambos estão inseridos em contextos muito diferentes e, ao contrário
do rio Pinheiros, atravessam diversos municípios (devido maior extensão). No entanto,
estas diferenças puderam ser superadas por outros aspectos trazidos pelo levantamento
de referenciais bibliográficos. O que chamou atenção, principalmente, foram os
resultados alcançados e o contínuo processo nas ações que promovem a limpeza destes
rios que não se esgotaram, mesmo depois dos rios serem considerados recuperados. Em
suma, é o modo como as instituições estão organizadas e estruturadas que oferecem as
condições essenciais para um modelo de governança adequado à realidade do rio
Pinheiros.

16
3. REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Governança no Setor Público

A governança no setor público é um tema atual e importante, que foi instituído


pela administração pública federal (por meio do Decreto nº 9.203/2017 e atualizado pelo
Decreto nº 9.901/2019), com o objetivo de fazer com que o cidadão cumpra
voluntariamente determinadas regras sociais. Isso só ocorre quando existe uma confiança
por parte do cidadão naquela política.

“É o conjunto de mecanismos de liderança, estratégia e controle


postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a gestão, com
vistas à condução de políticas e à prestação de serviços de interesse
da sociedade” (BRASIL, Decreto no 9.203, de 22 de novembro de
2017, Poder Executivo, Brasília).

O conceito de governança pública migrou da caracterização da governança


corporativa, tendo como base a forma como as organizações são administradas. A
governança trata da aquisição e distribuição de poder na sociedade, enquanto a
governança corporativa diz respeito à forma como as corporações são administradas. Já
a governança corporativa no setor público, por sua vez, refere-se à administração das
agências do setor público, por meio dos princípios de governança corporativa do setor
privado, que são totalmente aplicáveis no setor geral do Estado, em que as agências de
serviços não públicos são agrupadas (BHATTA, 2003, p. 5-6).

Para Matias Pereira (2010), a literatura evidencia que as boas práticas de


governança também podem ser aplicadas em qualquer tipo de administração que tenha
por objetivo o sucesso do empreendimento. “Uma boa governança corporativa no setor
público exige competência e conduta ética dos gestores em relação à transparência,
prestação de contas e a responsabilização (accountability)” (MATIAS-PEREIRA, 2010).
Buta e Teixeira (2020), em trabalho recente, realizaram uma revisão bibliográfica sobre
o tema da governança pública com resultados que indicam a existência de uma grande
diversidade de conceitos permeando o tema.

As principais motivações para a criação da política de governança surgiram da


necessidade de se fortalecer a confiança da sociedade nas instituições políticas; na busca
por uma maior coordenação das iniciativas de aprimoramento institucional; e da utilidade

17
de se estabelecer patamares mínimos de governança (GOVERNO FEDERAL. Brasil. In:
Guia da Política Pública de Governança. Brasília, 2018)1.

Para Kissler e Heidemann (2006) o significado original da governança pública


contém um entendimento associado ao debate político-desenvolvimentista, no qual o
termo é usado para referir-se a políticas de desenvolvimento que se orientam por
determinados pressupostos sobre elementos estruturais que vão além da efetividade dos
resultados, como gestão, accountability, transparência e legalidade do setor público,
necessários ao desenvolvimento de todas as sociedades e intrinsecamente ligada à
democracia.

Na administração pública, o objetivo é entregar valor diretamente ao cidadão,


como forma de garantir que a atuação pública seja percebida como legítima, assim
fortalecendo o cumprimento voluntário de regras sociais, sem que haja uma necessidade
de controles mais rígidos e burocráticos (GOVERNO FEDERAL. Brasil. In: Guia da
Política Pública de Governança. Brasília, 2018). De acordo com Slomski et al. (2008),
“é a maneira como o poder é exercido na administração dos recursos econômicos e sociais
de um país, com o objetivo de seu desenvolvimento”.

Para que uma política pública se constitua, é necessário que o assunto ou tema
considerado um problema, seja objeto de atenção governamental e assim, exista uma
decisão para dar solução ao que foi levantado. Pressman e Wildavsky (1973) retratam a
implementação de uma política pública como a habilidade de se criar elos com uma
corrente causal, envolvendo comando, obediência, controle, comunicações e recursos,
para que a política seja colocada em prática. Uma visão do processo de implementação
top-down. No entanto, para Hjern e Hull (1982 e 1983 apud Subirats et all. P. 189), este
tipo de abordagem, de cima para baixo, não permite incorporar ações e contribuições não
previstas no processo de formulação da política, gerando um baixo impacto das políticas
públicas, contribuindo para que não haja uma governança e assim, a aderência da
população. Esta pesquisa sobre a implementação diz respeito ao desenvolvimento de
conhecimento sistemático sobre o que emerge, ou é induzido, quando os atores lidam com
o problema objeto da política (O´TOOLE JÚNIOR, 2000, p. 266).

1
Disponível em: <https://www.gov.br/casacivil/pt-br/centrais-de-conteudo/downloads/guia-da-
politica-de-governanca-publica). Acesso em 15 de nov. 2020.
18
Na ótica da ciência política, a governança pública está associada a uma mudança
na gestão política. Nesse sentido, o enfoque da ciência política está orientado para as
formas de interação nas relações de poder entre o Estado, governo e sociedade, dedicando
especial atenção aos processos de cooperação e aos mecanismos para estimular as
relações entre os principais atores envolvidos nesse esforço: governo, setor privado e
terceiro setor (MATIAS-PEREIRA, 2009b; 2010).

Também é importante destacar o papel dos stakeholders e da ação coletiva para a


compreensão da governança. As teorias tornam possível compreender os seus objetivos,
princípios e os mecanismos que permitem uma maior interação dos atores na
administração; a teoria dos stakeholders contribui para a compreensão de como
implementar ações que permitam a efetiva participação dos interessados na administração
do recurso natural (MATIAS-PEREIRA, 2010, p. 115).

Esta cooperação entre os atores sociais e políticos permite um funcionamento


consistente dos arranjos institucionais que coordenam e regulam transações
socioeconômicas entre Estado, mercado e sociedade em um país. A governança pública
“pode ser entendida como o sistema que determina o equilíbrio de poder entre todos os
envolvidos em uma organização – governantes, gestores, servidores, cidadãos – com vista
a permitir que o bem comum prevaleça sobre os interesses de pessoas ou grupos”
(MATIAS-PEREIRA, 2010).

Portanto, uma boa governança no setor público depende da transparência dos atos
administrativos, administração de recursos, responsabilidade dos gestores público,
prestação de contas (accountability), boas relações entre as partes interessadas
(stakeholders) e a entrega de resultados que envolvam a sociedade para que o objetivo
principal planejado seja atingido.

3.2 Governança Ambiental e Gestão dos Recursos Hídricos

No que se refere à governança ambiental, esta passou a ganhar impulso a partir da


década de 1980, referindo-se às formas de governar os recursos naturais envolvendo
diversos atores não só das instituições públicas, mas também da sociedade civil e do setor
privado. Já a governança das águas enfatiza a participação e o envolvimento de diferentes
stakeholders nas negociações e decisões. A tendência demonstrada por diversos casos ao

19
redor do mundo, aponta para um movimento de descentralização e transferência de poder
para governos locais e unidades de gestão de bacia hidrográfica, como forma de promover
mecanismos de resolução dos conflitos socioambientais existentes (JACOBI et al.,
2015).

A Global Water Partnership definiu a governança das águas, originariamente,


como: “Water governance refers to the range of political, social, economic and
administrative systems that are in place to regulate development and management of
water resources and provisions of water services at different levels of society” (ROGERS;
HALL, 2003, p. 7). Para Pahl-Wostl (2015), esta definição foi constituída para dar conta
da complexidade das políticas públicas na prática, ao invés de ser utilizada nas análises
acadêmicas. Mesmo assim, tendo em vista a natureza deste trabalho, esta definição da
GWP interessa pois aponta os sistemas e instituições que devem ser objeto de atenção.
Além disso, é importante considerar outras definições para conceituar a governança,
dentre elas, uma que a coloca como função social centrada em conduzir grupos a alcançar
objetivos comuns e se distanciar de resultados indesejados (PAHL-WOST, 2015).

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 reconhece a necessidade de proteção


dos recursos hídricos, mas é com a Lei de 9433/97, conhecida como Lei das Águas, que
foi estabelecida a Política Nacional dos Recursos Hídricos (PNRH). A medida propôs um
sistema de gestão em múltiplos níveis territoriais, além de estimular a criação de
diferentes comitês por todo o país. Estes órgãos passam a atuar no âmbito das bacias
hidrográficas e são compostos por atores das esferas municipais e estaduais, da iniciativa
privada e da sociedade civil. São comitês que geralmente são direcionados à formulação
de planos de bacia e, principalmente, para a criação de um sistema de cobrança pelo uso
da água (ABERS; JORGE, 2005).

A governança da água está relacionada a um sistema mais amplo que transcende


as fronteiras da metrópole e que pode, ou não, demandar algum nível de ajuste espacial
com as unidades de gerenciamento de recursos hídricos (MOSS; NEWING, 2010) ou
também chamadas de superfícies de regulação de água. Os processos de governança da
água são dinâmicos. Por isso, é importante pensar que quando nos voltamos ao tema, os
desafios mudam em determinado momento e de acordo com o contexto. A tomada de
decisão acaba não se concentrando apenas no estado, mas precisa envolver outros atores

20
sociais, uma dinâmica recente que se deu com a redemocratização do país, na década de
80 (EMPINOTTI, 2016).

Desta forma, pensar em novos padrões de governança, estabelecendo mediações


entre estado e organizações da sociedade civil, poderão representar uma possibilidade
efetiva de transformação da lógica de gestão da administração pública, abrindo um espaço
de interlocução muito mais complexo, que amplia o grau de responsabilidade de
segmentos que sempre tiveram participação assimétrica na gestão pública.

21
4. O RIO PINHEIROS

4.1 História do Rio Pinheiros

As águas do Rio Pinheiros nascem límpidas na Serra do Mar, compondo o Rio


Jurubatuba em direção ao interior do estado de São Paulo. Formado pelo encontro do Rio
Grande com o Guarapiranga, alimentado por 15 outros córregos até chegar a sua foz, no
rio Tietê.

Em 1560 (ainda em tempos coloniais), o rio Pinheiros ganhou este nome pelos
jesuítas durante a criação de um aldeamento indígena de nome Pinheiros2. O “Caminho
de Pinheiros”, como era conhecido, funcionava como uma “estrada líquida” para os
bandeirantes. Com a construção de pontes para permitir a sua travessia, as margens do
rio passaram a ser ocupadas. A sua margem direita tornou-se propriedade do bandeirante
Fernão Dias, enquanto na margem esquerda havia o Forte Emboaçava, que servia para
proteger a Vila de São Paulo de Piratininga dos “ataques indígenas”, constantes naquela
época.

Imagem 1 - Vista do rio Pinheiros no ano de 1930

Fonte: Acervo da Fundação Energia e Saneamento

2
Foi chamado assim por causa da grande quantidade de araucárias (ou pinheiros-do-brasil), que
cobriam a região.

22
Antes que a urbanização alcançasse exatamente a região das suas margens, o rio
Pinheiros fazia várias curvas ao sudeste da cidade. Como todo rio, a área de várzea
passava por inundações cíclicas. No início do século XX, a paisagem em torno do rio
começou a se transformar em função das novas levas de imigrantes (principalmente
italianos e japoneses) que migraram para a cidade. Em 1926, o Pinheiros ainda era
totalmente navegável e abrigava em suas margens grandes clubes esportivos que faziam
nele provas de travessia a nado e regatas náuticas. Até 1970, a população ainda utilizava
o rio para nadar e pescar.

Imagem 2 - Prática esportiva no Pinheiros

Fonte: Acervo Clube Pinheiros

4.1.1 Projeto Billings

Com a expansão da cidade de São Paulo, sobretudo da indústria (que estava em


alta expansão), foi necessário gerar mais energia. Iniciou-se então um ambicioso projeto
da Light and Power Company3, mais conhecida como Light São Paulo, com a proposta
de ampliar a oferta de energia elétrica barata. O chamado Projeto Billings4 tinha o

3
Empresa de capital canadense que tinha a concessão da distribuição de energia e de transporte
público, por bondes.
4
Idealizado em 27 de março de 1925.
23
objetivo de acumular a água do Pinheiros para gerar energia elétrica. No entanto, este não
era um problema simples de se resolver, já que o rio corria em direção ao interior do
estado, longe da costa.

Foi então autorizada uma inversão do curso do rio Pinheiros para aproveitar as
suas águas. A Usina Elevatória de Traição começou a bombear as águas do rio em direção
a Represa Billings, aproveitando o grande desnível de mais de setecentos metros da Serra
do Mar para gerar energia elétrica na Usina Hidrelétrica Henry Borden, na cidade
litorânea de Cubatão. Com capacidade máxima de 839 megawatts, a usina gera
atualmente entre 100 a 120 megawatts médio devido às restrições no bombeamento, que
serão vistos ainda neste capítulo.

Imagem 3 - Usina Elétrica de Henry Borden na década de 1940

Fonte: Acervo da Fundação de Energia e Saneamento

Esta obra acabou condicionando toda a água do Pinheiros para uso energético da
Light e até hoje o rio Pinheiros pode ser encaminhado no sentido mais conveniente,
bastando desligar o bombeamento da Usina de Traição e abrir uma barragem a jusante no
Rio Tietê para ele voltar a correr no curso natural.

24
Imagem 4 - Usina da Traição em Construção, vista desde a margem direita

Fonte: Arquivo da Fundação Energia e Saneamento

4.1.2 Outras obras e adensamento

Junto ao Projeto Billings, em 1928, foram iniciadas as obras de retificação do rio


Pinheiros, que se estenderam até os anos 1950, com o objetivo de acabar com as
inundações.

25
Imagem 5 - Enchente no rio Pinheiros em 1929, próximo à Rua Augusta

Fonte: Acervo da Fundação Energia e Saneamento

Em contrapartida do poder público pelo Projeto Billings, a "City of São Paulo


Improvements and Freehold Land Company Limited", junto a Light, recebeu o direito de
lotear as áreas adjacentes do Pinheiros. Assim, surgiram os bairros de City Lapa, City
Butantã e City Pinheiros, sendo que boa parte dessas áreas foram construídas dentro dos
braços do rio Pinheiros.

Na sua margem leste, em 1957 foi inaugurado o ramal de Jurubatuba da Estrada


de Ferro Sorocabana (que hoje é a Linha 9 - Esmeralda da CPTM). Em 1970, foi
inaugurada (nas duas margens do rio) a Marginal Pinheiros5, que como via expressa de
tráfego, efetivamente isolou o rio Pinheiros do convívio com a população, antes mesmo
de as suas águas serem poluídas.

As margens do rio também perderam as suas matas ciliares e assim, a vegetação


natural foi se extinguindo. Na pequena faixa de terra restante foram implantadas linhas
de transmissão de energia, interceptores e emissários de esgotos, oleodutos, cabos de
telecomunicações, galerias de águas pluviais e pequenas estradas de serviço para as
operações de desassoreamento.

5
Via Professor Simão Faiguenboim
26
4.1.3 Poluição

Toda esta transformação incentivou uma alta concentração de população às


margens do rio. Ao final da década de 80, o rio Pinheiros já estava tão poluído ao ponto
de que o envio das suas águas para a Billings passou a comprometer o abastecimento de
água na região metropolitana, colocando o direcionamento do seu curso em discussão.

Em 1992, o bombeamento para a Billings foi proibido6, com o objetivo de


proteger o reservatório de água da poluição. Hoje, só é permitido o bombeamento para a
Billings em situações de chuva intensa com iminência de enchente, o que compromete a
geração de energia na usina de Henry Borden. Para aumentar a capacidade energética,
seria preciso tratar toda a sua água antes de jogar na Billings. Nos anos 2000, houve um
projeto piloto por flotação para o rio alcançar classe 2 (detalhado mais abaixo). O custo
do tratamento se mostrou inviável, mesmo possibilitando a geração de energia para arcar
com parte do tratamento. A EMAE ainda solicitou a diminuição da exigência, passando
para classe 3, visto que a água do Billings já se encontrava contaminada. No entanto, o
pedido não foi aceito pelo Ministério Público.

O Projeto Novo Rio Pinheiros, como visa melhorar a qualidade da água, permitiria
que a água voltasse a ser bombeada, gastando-se menos com produtos químicos para
deixar o rio em classe 2. Isto seria o passo inicial para voltar a bombear água para o
Reservatório Billings e gerar energia numa usina de 1926, que está subutilizada.

Hoje o rio Pinheiros funciona praticamente como um canal, totalmente operado.


A cada momento você pode definir se vai abrir mais ou menos as comportas e ainda para
onde ele irá fluir. A quantidade de água e em qual velocidade ela anda. No entanto, devido
a sua quantidade de esgoto (são despejados aproximadamente 2.800 litros por segundos),
o Pinheiros acaba não recebendo as águas das nascentes da Billings e Guarapiranga, que
serviriam para limpar esse curso da água. Por isso que ele funciona praticamente como
um lago, que não pode prejudicar sua foz, ou mesmo a Billings, pois parte da população
de São Paulo precisa dessa água para beber.

6
Resolução Conjunta SMA/SES 03/92, atualizada pela Resolução SEE-SMA-SRHSO-I de 13 mar. 1996.
27
4.1.4 Bacia hidrográfica

O rio Pinheiros conta com águas de 15 afluentes, em conjunto com diversos sub-
afluentes. De um lado, as nascentes destes córregos estão parte em São Paulo, descendo
desde a Avenida Paulista. Do outro, além da capital do estado, estão parte dos municípios
de Taboão da Serra e Embu das Artes, até desaguarem no Guarapiranga em direção a ele.

Figura 1: Rio Pinheiros, bacias e sub-bacias hidrográficas

Fonte: Associação Águas Claras do Rio Pinheiros7

Conforme a população ocupou toda a sua bacia hidrográfica, não só o Pinheiros


foi canalizado, como cada um dos seus afluentes. Hoje, poucos segmentos de alguns

7
Rio Pinheiros e seu território: Conhecer para transformar. Disponível em:
<http://docplayer.com.br/54305297-Rio-pinheiros-e-seu-territorio-conhecer-para-transformar.html >,
Acesso em: 15 dez. 2020.
28
afluentes ainda estão a céu aberto. Muitos passam sob grandes ruas e avenidas, ou mesmo
cortando grandes comunidades.

Atualmente, o rio Pinheiros percorre 26 km e recolhe as águas de uma bacia de 271 km²,
uma área onde vivem 3,3 milhões de pessoas. Se ela fosse uma cidade seria a terceira
maior do país, atrás somente de São Paulo e Rio de Janeiro.

Quadro 1 - Afluentes do Pinheiros

AFLUENTES
1 Ribeirão Jaguaré
2 Rio Pirajuçara
3 Córrego Poá
4 Córrego Belini
5 Córrego Corujas
6 Córrego Verde
7 Córrego Iguatemi
8 Córrego Sapateiro
9 Córrego Uberaba
10 Córrego Traição
11 Córrego Água Espraiada (Jabaquara)
12 Ribeirão Morro do "S"
13 Córrego Ponte Baixa
14 Córrego Zavuvus
15 Córrego Olaria
Fonte: Sabesp

4.1.5 Um rio é o resultado do seu percurso

No documentário “Rio Pinheiros – Sua História e Perspectivas”8, o urbanista


Renato Tagnin afirma que “um rio é o resultado do seu percurso, e o percurso é a cidade”.

8
Associação Águas Claras do Pinheiros. Disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=0ZDfLI2BuW4>. Acesso em 15 set. 2020
29
Se atribuiu aos rios e córregos uma função que eles nunca poderiam ter tido, que é a de
afastar o esgoto urbano. Assim como aconteceu nas grandes cidades em todo o mundo, o
rio Pinheiros passou a receber esgoto doméstico e resíduos industriais, comprometendo a
qualidade das suas águas e a sobrevivência da fauna local, pois junto com esse esgoto vai
toda a chamada “carga difusa”9. Cada bueiro é um acesso da água da chuva, que escorre
para um cano, que vai parar em um córrego e depois no rio. Com isso, se acumulam no
leito do rio as chamadas ilhas de assoreamento, formando um volume dentro do próprio
rio, contribuindo para os alagamentos.

Imagem 6 - Rio Pinheiros assoreado, junto a foz do rio Pirajuçara

Fonte: Fernando Goldenstein Carvalhaes

Além disso, existem as ligações irregulares de esgoto, encontradas com


frequência nos drenos que alimentam os córregos. Ou seja, casa por casa, quem não está
conectado na rede da Sabesp está conectado a um bueiro ou diretamente na drenagem de
um córrego, alimentando a poluição do rio Pinheiros.

9
Detritos de varrição, papéis e entulho
30
4.1.6 Tentativas de limpeza

De modo geral, as tentativas para a despoluição do Rio Pinheiros são planejadas


desde a década de 1970, seja pensando na recuperação do rio (pela despoluição), ou até
para a recuperação das suas margens, trabalho que se estende até os dias atuais com as
obras de canalização de esgotos que deságuam no Pinheiros. Entre estas obras está um
túnel inaugurado em 2007 que leva todo o Pinheiros em direção a Barueri, com o
acolhimento de 3 metros cúbicos de esgoto por segundo.

Em 2001 o Governo de São Paulo tentou implantar um sistema de despoluição


por meio de uma técnica de flotação10. A ideia era levar essa água “despoluída” para a
represa Billings, e assim ter um volume suficiente para o aumento da produção de energia
elétrica em Cubatão, como explicou o então Secretário de Estado do Meio Ambiente,
Ricardo Tripoli, em entrevista na época.

“O método escolhido pelo governo do Estado de São Paulo para a


despoluição do rio Pinheiros é ao mesmo tempo simples e inovador.
Resumidamente, o que se faz é jogar na água do rio um polímero - elemento
químico que aglutina as partículas sólidas presentes no rio, ou seja, a sujeira -,
oxigenando a água na sequência. Dessa forma, a sujeira flutua na superfície do
rio e, então, pode ser facilmente retirada.
O projeto prevê também que a água do Pinheiros despoluído seja
bombeada para a represa Billings, o que aumentará a quantidade de água
disponível para o abastecimento doméstico na Grande São Paulo, além de
propiciar o funcionamento da usina hidrelétrica Henry Borden, elevando dessa
forma a oferta de energia elétrica na região metropolitana.
Numa estação piloto de flotação implantada num trecho do rio próximo
à Usina Elevatória da Traição, peixes têm sobrevivido e procriado há mais de
dois anos em pleno Pinheiros. O sucesso desse criadouro, que é monitorado
pelo Instituto de Pesca, prova que a flotação é um método capaz de restaurar a
qualidade da água, tornando-a própria para os usos desejados”, (TRIPOLI,
Ricardo. Sofismas e o Rio Pinheiros. Folha de S. Paulo. 16, jan.
2004. Disponível em:

10
Introdução de produtos químicos e oxigênio na água do rio para que a sujeira virasse um “lodo”, que
boiava na superfície, facilitando a sua remoção mecanicamente por técnicos.
31
<https://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1601200410.htm>. Acesso em:
08 jan. 2021).

A técnica gerou um impasse com alguns ambientalistas. Além disso, por dois anos
o Ministério Público alertou sobre a ineficácia deste projeto.

"O processo de despoluição será o de flotação. O mesmo foi idealizado pelo


governo Mário Covas, em 2001. A flotação, que forma e retira flocos de
poluição, gera impasse, pois alguns ambientalistas consideram um recurso
que afeta a qualidade da água a ser bombeada. Em 2002, os deputados José
Mentor (federal) e Donisete Pereira Braga (estadual), ambos do PT,
embargaram a obra na Justiça. Por conta de um acordo com o Ministério
Público, a administração José Serra conseguiu retomar as obras."
(BATISTA JR. Rio Pinheiros terá obra de despoluição retomada. Folha de
S. Paulo. 03, set. 2007. Disponível em:
<https://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/noticias/gd030907.htm>
Acesso em: 23 jan. 2021).

Dez anos depois, mesmo com o sistema ainda não implementado na sua
totalidade, a tecnologia empregada se revelou incapaz de absorver certos poluentes. A
sujeira era retirada, mas a água não atingia o índice de classe 2, ou seja, continuava
contaminada com resíduos pesados (como nitrogênio, amônia e fósforo) e, por isso, não
poderia ser bombeada em direção à Represa Billings. O Ministério Público interrompeu
a experiência, que teve um gasto aproximado de R$160 milhões.

Outra iniciativa que ainda acontece na capital do estado é o Programa Córrego


Limpo, uma parceria da Sabesp com a Prefeitura de São Paulo, criada em maio de 2007
com o objetivo de recuperar os córregos do município. Vale destacar que a ação foi
pensada para funcionar como um braço do Projeto de Despoluição do Rio Tietê.

A ação se dá em duas frentes: na adequação e complementação das redes de


esgotamento sanitário, pela Sabesp, e pela limpeza dos leitos e das margens dos córregos
(com corte de mato, poda de vegetação, retirada de lixo e entulho), remoção e
reassentamento de famílias que vivem em áreas de risco, implantação de parques lineares
e fiscalização de ligações de esgoto, pela Prefeitura.

32
De acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura de São Paulo, a ação
continua e só entre janeiro e dezembro de 2020, a Secretaria Municipal das Subprefeituras
(responsável pela zeladoria da cidade) retirou cerca de 215.234 mil toneladas de detritos
nos córregos de toda a cidade em 2.352.088 metros de extensão. Em relação à
microdrenagem, foram retirados 17.386 metros cúbicos de detritos das galerias e ramais.
A quantidade de detritos removida em 2020 foi 196% maior do que em 2019, além da
extensão de córregos limpos também ter sido superior, em 96%.

A Sabesp ainda atua ininterruptamente para a permanência dos córregos já


despoluídos, realizando ações constantes de monitoramento da água e das manutenções
necessárias na rede de coleta de esgotos11.

11
Relação mais recente de córregos despoluídos disponível em:
<http://site.sabesp.com.br/site/uploads/file/asabesp_doctos/relacao_corregos_despoluidos_mai19.pdf
> e os últimos resultados sobre monitoramento da qualidade dos córregos disponível em:
<http://site.sabesp.com.br/site/uploads/file/asabesp_doctos/monitoramento_dbo_2018_2020.pdf>.
33
5. PROGRAMA NOVO RIO PINHEIROS

5.1 Janela de Oportunidade

O Novo Rio Pinheiros, programa do Governo do Estado de São Paulo para a


despoluição do rio, estruturou-se de forma a concentrar os esforços e ações
governamentais em torno de uma bacia hidrográfica que oferecesse condições favoráveis
para acelerar e otimizar a obtenção de resultados esperados. Isto porque a despoluição do
Pinheiros faz parte de um projeto mais amplo, que vem sendo desenvolvido desde 1992
para a recuperação do Tietê. Por ser um importante afluente deste na região metropolitana
de São Paulo e localizado em uma região de grande visibilidade, a expectativa é que até
o final de 2022 o Pinheiros atinja condições melhores na qualidade da água, impactando
também a recuperação do Tietê.

Apesar de se valer do conhecimento técnico acumulado na trajetória do Projeto


Tietê (que continua em curso), a atuação focada no Rio Pinheiros propõe reduzir o rol de
variáveis que acabam por pulverizar todo empenho e altos investimentos ao longo do
tempo, que conduzem a percepção de morosidade, ineficiência ou mesmo
desconhecimento de intervenções desse gênero por parte da população.

O Rio Pinheiros possui dimensões reduzidas em comparação ao Rio Tietê e


percorre praticamente toda sua extensão dentro do município de São Paulo, o que
permitiria visualizar melhor o efeito das ações e reduzir a dificuldade imposta pela
existência de maior número de interlocutores em diversas cidades. Assim, o Novo Rio
Pinheiros é tido pelo Governo do Estado como uma bandeira nas ações de recuperação
dos recursos hídricos na capital, demonstrando ser possível atingir um resultado
satisfatório e perceptível para a população em um espaço de tempo relativamente curto.

Tema da campanha para o Governo do Estado de São Paulo em 2018, a


requalificação e despoluição dos rios Pinheiros e Tietê, além das represas Billings e
Guarapiranga, figuraram como uma das principais propostas do Programa de Governo do
então candidato João Dória para a área de saneamento e recursos hídricos. As diretrizes
propostas previam investimentos com adoção de inovações tecnológicas, no sentido de
avançar "na implantação de um Hidroanel Metropolitano, com transporte de passageiros
nas represas Billings e Guarapiranga, turístico e de cargas ao longo dos rios Pinheiros e
Tietê em uma significativa extensão da Região Metropolitana de São Paulo"

34
(PROGRAMA DE GOVERNO, 2018). Se o Hidroanel é o objetivo a longo prazo da atual
gestão estadual, melhorar a qualidade do rio Pinheiros é uma das principais ações nesse
sentido.

Em 5 de junho de 2019 (Dia Mundial do Meio Ambiente), o Governo do Estado


de São Paulo lançou o Projeto Novo Rio Pinheiros. Na oportunidade, o governador João
Dória anunciou que a antiga Usina Elevatória de Traição, próximo à ponte Ary Torres,
seria cedida à iniciativa privada (para que o espaço fosse explorado com diversos usos) e
comparou o projeto com Porto Madero, região valorizada e turística às margens do Rio
da Prata em Buenos Aires (SANTIAGO, 2019). Além disso, houve a promessa do
governador de investir na despoluição, por meio de obras de saneamento nos afluentes do
rio. Para facilitar este processo, o Governo do Estado reestruturou as pastas e empresas
com capital público com o objetivo de melhor atender aos objetivos do Programa.

Como principais desafios enfrentados para o Novo Rio Pinheiros está o intenso
adensamento e a ocupação desordenada da população; as características hidráulicas
semelhantes a um lago (com baixa velocidade das águas); o assoreamento da sua calha;
a presença de resíduos sólidos; além do seu curso d’água ter sido submetido a diferentes
regras operacionais ao longo do tempo, inclusive trazendo a poluição do Tietê para o seu
leito.

5.2 Órgãos envolvidos e estrutura do programa

No âmbito da administração pública, assim que Marcos Penido assumiu a


Secretaria de Infraestrutura e Meio ambiente (SIMA), em janeiro de 2019, houve a
unificação das pastas de meio ambiente e de infraestrutura, já com o objetivo de fortalecer
o papel da secretaria para desenvolver e capitanear as ações do projeto Novo Rio
Pinheiros. Isso se dá pelo fato de trazer para o mesmo “guarda-chuva” de gestão tanto as
questões pertencentes às áreas de recursos hídricos, saneamento e resíduos sólidos
(ligadas à pasta de infraestrutura), quanto às questões relativas à proteção, controle e
desenvolvimento do meio ambiente e uso adequado dos recursos naturais (ligadas à pasta
de meio ambiente). Somando-se a isso, entidades técnicas cruciais para a estruturação e
desenvolvimento do projeto que estão vinculadas à SIMA, como é o caso da Sabesp
(Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), DAEE (Departamento de

35
Águas e Energia Elétrica), EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) e
CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo).

A Sabesp e a EMAE concentram as responsabilidades de execução e intervenções


diretas no rio Pinheiros e seus afluentes, e os detalhes destas serão explorados a seguir.
Já o DAEE e a CETESB possuem dentro do programa tarefas de controle e
acompanhamento dos resultados das operações, pela emissão de outorgas para a
ampliação do sistema de esgotamento sanitário e para interferências no rio (no caso do
DAEE), e no monitoramento da qualidade da água e verificação dos sedimentos (no caso
da CETESB). As incumbências de cada órgão que participa do Novo Rio Pinheiros estão
resumidas no quadro a seguir.

Quadro 2 - Órgãos públicos e as principais responsabilidades no Novo Rio Pinheiros.

Órgão Principais funções


Público

Sabesp -Construção de coletores e rede de saneamento.


-Conexão dos imóveis às redes de esgoto, evitando o despejo de esgoto nos
afluentes.
-Implantação de estações de tratamento especiais dentro dos afluentes do
Pinheiros.

EMAE -Revitalização da sede do Projeto Pomar Urbano


-Retirada dos resíduos do rio Pinheiros
-Estudo de viabilidade do uso do Pinheiros e das áreas do entorno do rio para
lazer, transporte e atividades esportivas.
-Parceria com empresas para plantio de árvores.

DAEE -Emissão de outorgas para ampliação do sistema de interceptores e emissários


de esgoto para estações de tratamento.
-Outorgas necessárias para interferências no curso do rio, como a implantação
de pontos de atracagem para barcos, implantação de novos sistemas de
telemetria e vazões afluentes.

CETESB - Controle e fiscalização de fontes de poluição industrial e de áreas de


preservação ambiental.
- Monitoramento da qualidade da água (oxigênio dissolvido, pH, temperatura,
condutividade, DBO, fósforo, turbidez, sólidos totais e suspensos).
-Ampliação dos pontos de monitoramento no rio e nos principais afluentes.
-Verificação dos sedimentos (carbono orgânico total, nitrogênio amoniacal e
fósforo total).
Fonte: Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo ( Novo Rio Pinheiros)

O Programa Novo Rio Pinheiros foi dividido em cinco eixos centrais sob
coordenação da SIMA: (i) tratamento da água dos afluentes; (ii) ações de
desassoreamento e aprofundamento do rio; (iii) coleta e destinação dos resíduos; (iv)

36
revitalização das margens; e (v) educação ambiental. Desta maneira a Sabesp coordena e
executa as ações previstas para os eixos (i) e (v), enquanto a EMAE responde pelos
demais eixos (ii, iii e iv). Cada um dos eixos será abordado no próximo item.

Essa estrutura de ações se baseou, segundo entrevista com o secretário Marcos


Penido, no trabalho técnico prévio para identificar as principais causas da poluição. A
primeira etapa de diagnóstico foi junto à equipe da Sabesp. Identificou-se que
aproximadamente 560 mil economias12 precisavam ser ligadas à infraestrutura de
saneamento. Isso representava um volume considerado muito grande de esgoto sendo
lançado direto no rio (média de 2,8 metros cúbicos por segundo só de esgoto no
Pinheiros).

De acordo com o secretário, a despoluição do rio Pinheiros é essencialmente um


projeto de saneamento básico, mas o que torna um programa nos moldes do Novo Rio
Pinheiros é trazer as ações dos demais eixos sob uma mesma coordenação. Isto significa
que a partir da então reformulação das pastas de governo, as ações poderiam estar
alinhadas e acontecendo nas etapas previstas, de acordo com a coordenação da SIMA,
acompanhada e monitorada pelo gabinete do governador. A junção das pastas de meio
ambiente, infraestrutura e energia em uma única secretaria, significou reunir todos os
atores públicos estaduais que de alguma forma têm maior responsabilidade sobre o rio
Pinheiros.

"O gerente da Sabesp sai da sala dele e vai bater na sala da gerente da
Cetesb, dentro da mesma empresa. Então ele discute o projeto durante a sua
elaboração. O cara da EMAE discute a questão do rio aqui com o DAEE, para
dar entrada do rio, como que libera o Tietê, como que funciona o retiro,
conversando. Você fez uma interligação entre isso. Isso é possível porque nesta
mesa senta todo mundo. Senta EMAE, senta Cetesb, senta Sabesp, senta DAEE
e senta a Secretaria. Todo mundo com o mesmo objetivo e todo mundo tem uma
interface. Esse legado já está feito" (PENIDO, Marcos, 2020).

12
O termo "Economia" é utilizado pelo órgão estadual para identificar pontos de coleta de esgoto, seja
casa, comércio, prédio ou outros.
37
5.3 Os Eixos do programa Novo Rio Pinheiros

Como visto até aqui, o modelo de governança adotado pela SIMA centraliza as
decisões na secretaria, mas a execução é de responsabilidade dos órgãos do Governo do
Estado, em especial a Sabesp e EMAE. Por isso, além da conversa com o secretário
Marcos Penido, também foram realizadas entrevistas com representantes destes dois
órgãos, que forneceram os detalhes para cada um dos cinco eixos descritos a seguir.

Vale ressaltar que o primeiro eixo possui mais detalhes, por se tratar das obras de
saneamento que de fato determinam se a política pública vai alcançar os objetivos
almejados. Além da descrição das obras, este primeiro item aborda os modelos de
contratos por performance e para as Unidades Recuperadoras da Qualidade das Águas
(URQs) em áreas informais.

Quadro 3 - Eixos estruturantes do Novo Rio Pinheiros

EIXOS ESTRUTURANTES DO PROJETO NOVO RIO PINHEIROS

SANEAMENTO MANUTENÇÃO RESÍDUOS REVITALIZAÇÃO COMUNICAÇÃO


Coleta e
Tratamento da
Desassoreamento Destinação Revitalização das
água dos Comunicação
e ações dos resíduos margens
afluentes
sólidos
Coleta e
Complementação
Destinação Complexo Usina São
dos coletores Desassoreamento
dos resíduos Paulo
tronco
sólidos
Implantação de Comunicação e
cinco unidades Desaterro de 3 Educação
Parque Pinheiros
recuperadoras da botas foras ambiental
qualidade em Remoção de
pernilongos
Retirada de carga Ampliação e
Recuperação de
orgânica dos Integração das
Taludes
afluentes ciclovias
Fonte: Sabesp

5.3.1 EIXO I - Tratamento da água dos afluentes

Este pilar é o eixo principal do programa, demanda a maior parte dos


investimentos, e tem como objetivo principal levar uma infraestrutura de saneamento às
regiões da bacia que ainda não possuem, tais como Jaguaré, Pirajuçara, Água Espraiada
e Cordeiro, e assim recuperar os afluentes do rio Pinheiros. O órgão responsável pelas
38
ações de coleta e tratamento de esgoto é a Sabesp, que utiliza, entre os principais
parâmetros, a qualidade da água a ser alcançada vinculada a Demanda Bioquímica de
Oxigênio (DBO), em até 30, e o oxigênio dissolvido acima de 2 mil gramas por litro (OD
≥ 2 mg/L) em toda a extensão do Pinheiros.

São ações como as que mencionamos que abrangem uma área de 271 km²,
incluindo bairros nos municípios de São Paulo, Embu das Artes e Taboão da Serra, onde
moram cerca de 3,3 milhões de pessoas, número considerado como o público-alvo
beneficiado diretamente pela Sabesp. Por meio da implantação de interceptores, redes
coletoras e ligações, entre outras medidas que envolvem ações de conscientização
ambiental junto à população dos bairros beneficiados, a iniciativa visa elevar o tratamento
de esgoto na região em 2.800 litros por segundo, passando dos atuais 4.600 para 7.400
litros por segundo até o final de 2022. Isso equivale a coletar mais 73 mil economias e
levar para tratamento cerca de 533 mil (cerca de 1,6 milhão de pessoas).

Figura 2: Sistema de Interceptação Pinheiros (pré-condição): Sistema principal de


transporte de esgoto construído da Billings / Guarapiranga até a ETE Barueri, ao longo da
Marginal Pinheiros

Fonte: AIROLDI, Edison / Sabesp

39
As ações de saneamento básico merecem destaque, tendo em vista os
investimentos que são colocados em prática e os resultados esperados, fundamentais para
o sucesso do programa. As contratações funcionam por Bacia de Esgotamento e por
Resultado, com base na quantidade de economias (domicílios) encaminhadas para
tratamento e na qualidade da água dos afluentes. Segundo dados da SIMA (2020), o
investimento previsto fica no entorno de R$1.7 bilhão, dividido em 16 pacotes de
contratação a serem executados por meio da Sabesp para a construção, manutenção dos
coletores-tronco e coleta de economias.

Figura 3: Regiões contempladas pelos contratos Novo Rio Pinheiros

Fonte: AIROLDI, Edison / Sabesp

Segundo entrevista com o corpo técnico do órgão, a melhoria das condições


ambientais do rio só será possível com o controle da poluição no território da bacia. Por
isso, o primeiro passo foi a mobilização de diversas áreas e a formação de grupos de
discussão, com participação direta e coordenação do presidente da Sabesp, Benedito
Braga, para que as expectativas fossem alinhadas com base na experiência acumulada do
corpo técnico. Segundo a entrevistada Andrea Ferreira, desde então, todas as ações são
40
acompanhadas de perto pelo presidente do órgão e as prestações de contas acontecem
mensalmente, com o secretário da SIMA, Marcos Penido, e com o governador João Doria.

Desta forma, desde 2019, a equipe técnica da Sabesp trabalha intensivamente no


planejamento e estruturação das ações do órgão no Programa. A etapa de campo ocorreu
simultaneamente para mapear todas as deficiências que ainda existiam no sistema de
esgotamento implantado na capital. Na margem direita do rio, nos arredores dos bairros
de Pinheiros, Ibirapuera e adjacente, previu-se a ligação de 142.272 mil economias no
entorno dos córregos Corujas, Rebouças, Águas Espraiadas, Cordeiro, Pouso Alegre,
Santo Amaro, Poli, Ribeirão Aterrado/Zavuvus e Pedreira. Enquanto isso, na margem
esquerda seriam 417.315 mil nos arredores dos córregos Jaguaré, Pirajuçara, Cidade
Jardim, Morumbi, Cachoeira/Morro do “S”, Ponte Baixa e Socorro (SABESP, 2020).

Um aspecto importante ressaltado nas entrevistas foi a existência de interceptores


nas duas margens do Pinheiros, já construídos, conectando-se aos interceptores do rio
Tietê e seguindo para a estação de tratamento de Barueri. Isto significa que a estrutura
mais pesada já existia. Neste cenário, restavam construir trechos da rede e coletores
troncos para ligar o esgoto até a estação de Barueri.

Figura 4: Visão de saneamento da bacia do Pinheiros e situação dos contratos em


dezembro de 2020

Fonte: AIROLDI, Edison / Sabesp

Entretanto, a existência de ocupações regulares e irregulares em fundo de vale,


onde seria necessário construir uma rede coletora (e não era possível por conta das
41
construções sobre os córregos), adicionou uma complexidade ao projeto, pois este tipo de
obra só seria possível com a realocação de famílias, o que demandaria mais tempo e
investimento. Além disso, esta é uma atuação que precisaria de um maior envolvimento
da Prefeitura de São Paulo ao Programa, o que não era estratégico devido ao cronograma
apertado e a complexidade deste tipo de ação.

Nestas situações em que não era possível instalar os coletores, a Sabesp optou por
desviá-los para uma rua acima, consolidando assim o tratamento das casas a montante. A
solução encontrada para as casas a jusante demandou que uma equipe trabalhasse
simulando modelos de qualidade do rio, definindo meta de DBO-30 na foz dos afluentes
do rio Pinheiros. Este parâmetro foi retirado conforme a experiência do Programa
Córrego Limpo. A modelagem levou em consideração deixar de coletar em algumas áreas
de ocupação irregular, baseando-se em dados secundários da Prefeitura, pela falta de uma
pesquisa de fonte primária com a quantidade de pessoas para cada comunidade.

Para dar conta deste cenário com diferentes tipos de intervenções, a Sabesp optou
por dois tipos de contratos desenhados segundo a lógica das sub-bacias que compõem a
bacia do rio Pinheiros. O primeiro tipo são os contratos de performance que visam
complementar a infraestrutura na rede de esgoto atrelando o pagamento das empresas
com o cumprimento de metas. O segundo tipo de contrato se destina à instalação das
Unidades Recuperadoras de Qualidade (URQ), nos casos onde a infraestrutura de rede de
esgoto não era uma opção viável, em função das áreas informais.

Figura 5: Funcionamento das URQs para tratamento de esgoto transportado em


meio hídrico

Fonte: AIROLDI, Edison / Sabesp

42
5.3.1.1 Contratos de Performance

Uma inovação introduzida pela Sabesp no Programa Novo Rio Pinheiros foi a
implementação dos contratos de performance. Este modelo de contratação das empresas
foi pensado ainda na etapa de planejamento das ações do órgão estadual, para que
funcionasse conforme as necessidades de intervenções na rede de esgotamento sanitário
e nas metas do Programa.

Neste caso, a empresa que vence a licitação fica responsável por todas as obras de
ampliação e adequação do sistema de esgotamento sanitário e a sua remuneração depende
do resultado obtido. Para avaliar a performance, são consideradas metas como o total de
novos imóveis conectados ao sistema de esgoto e a qualidade da água do córrego
(SABESP, 07/2020).

Os contratos de performance possuem três fases. A primeira é de implantação e


varia de um ano e meio a dois anos, dependendo da região. Nesta fase, a empresa
contratada só começa a receber quando atingir 30% da meta de imóveis conectados à rede
para tratamento. Ao término do período de implantação, iniciam-se as medições oficiais
da qualidade da água. Se atingir a meta de DBO (ficando igual ou inferior), a empresa
recebe o valor proporcional de imóveis conectados e também o equivalente proporcional
da meta de qualidade. Se não atingir a meta, a empresa não recebe nada.

Este dispositivo pode ser considerado severo, pois exige um alto investimento
inicial que pode não ser recompensado se as metas não forem cumpridas. A empresa tem
até um ano de monitoramento para apuração da performance que a contratada precisa
alcançar. Apesar de não ter uma medida de extensão de rede, quantidades de ligações ou
de ações socioambientais, as metas estipuladas no contrato de performance pressupõem
cumprir com todas estas ações. Segundo a gerente de projetos especiais da Sabesp, este
modelo de contrato trouxe, inicialmente, questionamentos das empresas interessadas por
conta dos resultados cobrados, mas pode-se dizer que tem obtido sucesso nas licitações
até o presente momento.

Está previsto também neste tipo de contrato, as ligações intradomiciliares no


mesmo modelo do programa "Se Liga na Rede", voltado para as comunidades de baixa
renda, e a realização de varreduras em todo o sistema existente. Isto porque, por vezes,
as obras de outras concessionárias ou construtoras representando a Prefeitura rompem

43
coletores e a Sabesp só descobre quando aparece algum problema no sistema. Estas
varreduras são feitas por meio de testes, com a utilização de corante, fumaça e outros.
Caso seja identificado algum problema, o contrato com a Sabesp prevê que a construtora
solucione de imediato, reconstruindo o trecho do coletor rompido ou conectando-o a uma
rede ao invés de parar nas galerias.

Figura 6: Situação das Obras | PI-34 Ribeirão Aterrado/Zavuvus

Fonte: AIROLDI, Edison / Sabesp

5.3.1.2 Contrato das URQ’s

Onde não era possível instalar a infraestrutura convencional de saneamento, a


Sabesp optou pelas Unidades de Recuperação de Qualidade (URQs), que são as estações
instaladas dentro dos córregos para tratar o esgoto localmente, antes da água chegar ao
rio Pinheiros. A equipe da Sabesp identificou a necessidade de instalar cinco unidades
recuperadoras em locais diferentes: Água Espraiada, Jaguaré, Cachoeira/Morro do “S”,
Pirajuçara e Antonico. Estas foram pensadas para os locais mais críticos, onde a
implantação da rede coletora convencional não era uma opção sem a remoção de
moradias.

44
Figura 7: Cinco contratos assinados para URQs em áreas informais

Fonte: AIROLDI, Edison / Sabesp

Para a instalação das URQ’s, a Sabesp precisou da liberação de áreas da Prefeitura


de São Paulo, da USP e do Metrô. No caso do córrego do Pirajuçara, foi necessária ainda
uma Declaração de Utilidade Pública (DUP), decretada em abril de 2020, por se tratar de
uma área particular (SABESP, 2020).

Com a implantação das cinco unidades, estima-se que sejam tratados 1.560 litros
de esgoto por segundo, com eficiência de remoção no DBO de até 80%, mesmo sem
ligação direta na rede geral. Esta solução tecnológica representa uma capacidade de
inovação proposta pelo órgão para promover a recuperação destes corpos hídricos em
áreas de difícil acesso.

5.3.2 EIXO II - Ações de desassoreamento e aprofundamento do rio

Ações de desassoreamento no rio visam a retirada dos sedimentos que são


carregados pela água da chuva para o leito. Estes sedimentos contribuem para a
diminuição do fluxo de água do rio e, portanto, é um trabalho que deve ser contínuo e
realizado com a ajuda de barcos.

Além disso, pelo fato do rio Pinheiros ter sido canalizado, boa parte das suas
margens não são naturais, o que implica na necessidade de ações contínuas também para
a recuperação dos taludes. Este pilar do Programa é todo de responsabilidade da EMAE.

45
5.3.3 EIXO III - Coleta e destinação dos resíduos sólidos

Segundo a estruturação do programa, o objetivo deste pilar é coletar e destinar


corretamente todos os resíduos que são retirados do rio Pinheiros. Esta é uma ação
executada há anos pela EMAE, por meio da retenção de parte do lixo que chega às Usinas
São Paulo e Pedreira, para reverter as águas e possibilitar o bombeamento em épocas de
controle das cheias. É um pilar que demanda parceria com a Prefeitura, pois o lixo
coletado é levado para os aterros sanitários da Prefeitura, sem custo para a EMAE (visto
que, pela lei, o serviço de coleta é de responsabilidade do poder municipal). Também
existem estudos para encaminhar os resíduos para queima e geração de energia, segundo
o engenheiro da EMAE entrevistado para este trabalho.

Junto à Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (AMLURB), no que tange às


empresas de coleta de lixo e cooperativas de reciclagem, foram alinhadas ações de
reposicionamento dos pontos de coleta em função das demandas sociais e geração de
trabalho/renda e reciclagem, em parceria com as cooperativas de catadores. Vale ressaltar,
que a AMLURB faz parte do grupo de instituições que serão afetadas pela reforma
administrativa em andamento no município, que extingue 10 órgãos da administração
pública indireta e mais dois departamentos, criando as agências SP Regula e SP Investe.
As competências e compromissos da AMLURB seriam assimilados pela Agência SP
Regula.

A importância do firmamento dessas parcerias, é ressaltada pelo depoimento do


Diretor-presidente da Sabesp, Benedito Braga, em entrevista para a rádio Jovem Pan em
novembro de 2019.

“O que estamos representando com esse acordo é a união para melhorar


a qualidade de vida das pessoas e para cuidar das pessoas que vivem nas
regiões próximas aos córregos da cidade. Vamos trabalhar juntos para
que a questão dos resíduos sólidos, vital para devolver a vida ao Rio
Pinheiros, seja equacionada definitivamente”.

Além disso, a aproximação com a Secretaria das Subprefeituras do município de


São Paulo visa coordenar ações de zeladoria e políticas setoriais no âmbito da Operação

46
Cata-Bagulho13 e de Revitalização Socioambiental (iniciada nas regiões de Pedreira e
Aterrado/Zavuvus).

5.3.4 EIXO IV - Revitalização das margens

Segundo a estruturação do programa, este pilar tem como objetivo criar novos
usos para o rio Pinheiros e seu entorno, e assim atrair as pessoas para aproveitar as suas
margens, fazer com que elas voltem a olhar para o rio, criando um potencial de exploração
para aquela região. Além da ampliação e integração da ciclovia existente, com a
construção de ciclo-passarelas, a EMAE possui um projeto para a criação de um parque
linear entre as pontes Ary Torres e Santo Amaro, na margem esquerda do rio, que inclui
a questão da navegabilidade.

O projeto contratado pela EMAE e desenvolvido com recursos do Governo do


Estado, foi pensado para quando começassem a bombear água do Pinheiros para a
Billings. Vale destacar que a EMAE é uma empresa de Sociedade Anônima14, o que
impossibilita a execução de determinados serviços sem contrapartidas. É preciso
balancear as atividades que são executadas para não favorecer apenas os acionistas
majoritários.

Outra iniciativa de engajamento para o Programa Novo Rio Pinheiros é a


transformação do espaço da Usina Elevatória São Paulo (ex-Usina Traição) como uma
opção de lazer e entretenimento para os paulistanos e turistas, aproximando a população
do rio. O espaço contará com bicicletário, mirante, cafés, bares, restaurantes, lojas,
escritórios e um cinema ao ar livre (com a promessa de que ele pode ser um dos maiores
da América Latina e gratuito ao público). O projeto para a revitalização deste espaço
prevê a concessão da área para exploração comercial em três lotes:

● Espaço A: área localizada a oeste da Usina Elevatória, com 17.974 metros


quadrados, onde haverá a implantação de um edifício para espaços

13
Ação realizada para recolher resíduos volumosos e grandes objetos - como móveis velhos, restos de
madeira, colchões e eletrodomésticos - que devem ser devidamente ensacados pela população e
colocados nas ruas em dias e horários específicos, comunicados pelo órgão.
14
Composta por 40% do Governo do Estado de São Paulo, 40% da Eletrobras e dos outros 20% de
acionistas minoritários.
47
comerciais, a construção de um deck para contemplação e praça de
alimentação.
● Espaço B: cobertura do prédio da Usina Elevatória, com 1.939 metros
quadrados. Neste local, planeja-se requalificar as fachadas da usina, a fim
de modernizar o edifício, além de aproveitar a parte superior do prédio
para a implantação de restaurante, bar ou lanchonete, e de um mirante, que
serão futuramente abertos permanentemente ao público;
● Espaço C: área localizada a leste da Usina, com 9.891 metros quadrados,
onde está previsto um grande espaço comercial, com a requalificação
(retrofit) dos edifícios existentes ou ampliação do espaço livre central. A
ideia é que o lugar tenha lojas, lanchonetes e restaurantes, museu e salas-
escritórios. As demais áreas não edificadas deverão ser requalificada para
lazer;

Figura 8: Lotes Usina São Paulo

Fonte: SIMA-SP

Para garantir a mobilidade ao acesso destes lotes, estão previstas intervenções


viárias, estacionamento e passarelas, que serão conectadas à estação Vila Olímpia da
CPTM e à Praça do Cancioneiro.

48
5.3.5 EIXO V - Comunicação

Com o objetivo de tornar a população mais consciente sobre a preservação do


meio ambiente, outro pilar do programa é a comunicação, que abriga a questão da
educação ambiental. Um diferencial destes novos contratos de infraestrutura sanitária da
Sabesp, além da varredura e reconstrução do sistema dos afluentes existentes, conta com
um Plano de Comunicação Socioambiental nas bacias.

A iniciativa consiste em uma interface para identificar e contratar as lideranças


locais, para que elas sejam multiplicadoras de informações, e assim levar o conceito sobre
a importância do saneamento para a saúde e para o meio ambiente nas regiões mais pobres
da cidade. O trabalho inicial junto às comunidades é realizado pelas empresas licitadas, e
inclui a identificação de possíveis parceiros locais (como ONGs, associações de
moradores e lideranças). Este contratado contará com uma equipe que estará no dia-a-dia,
conversando com as pessoas, porta a porta, e transmitindo o conhecimento, além de gerar
renda nas periferias. A medida consegue envolver a comunidade, fazendo com que o
indivíduo se sinta parte daquela mudança, cuidando da região onde mora.

“Dentro dos termos de referência existe a necessidade do termo


socioambiental, e isso faz com que todos os contratos estejam bem
alinhados quanto aos eixos que atuam. Assim que os contratos são
iniciados, a própria área socioambiental da Sabesp coloca em contato o
contratado com a subprefeitura, agentes de saúde, secretarias da região e
responsáveis pela coleta de lixo, fazendo o alinhamento entre o
contratado e todos os interessados em estruturar o processo.
A gente trabalha com uma metodologia que se chama economia
comportamental. A gente trabalha com a mudança do comportamento
das pessoas através de estratégias que a gente constrói para fazer com
que as pessoas entendam o seu papel. Então, ao invés de colocar uma
placa nesses pontos viciados dizendo para não jogar lixo, que é uma
placa que as pessoas veem e não traz nenhum resultado com ela, a gente
coloca as caçambas em parceria com as Subprefeituras, e nessas
caçambas a gente coloca no lugar que era um ponto viciado uma placa
escrito: a vizinhança da sua comunidade não joga lixo neste local. A
gente mostra o endereço da caçamba mais próxima e o que isso faz? Isso
trabalha com uma estrutura que se chama “normas sociais”. Então se o
meu vizinho não joga, eu vou jogar? E quando o meu vizinho for jogar,
49
ele se sente vizinhança e não deixa ninguém jogar. Com isso, a população
passou a olhar diferente para o processo de sujar o córrego e a rua”
(DUTRA, Juliana, Consórcio Verdagg, 2020)15.

Figura 9: Ações Socioambientais realizadas pelo contrato PI-36 Córrego Pedreira,


na Zona Sul de São Paulo

Fonte: AIROLDI, Edison / Sabesp

A ideia é que as ações socioambientais aconteçam no território pelas instituições


que já atuam nele e que têm proximidade com os moradores para que, mesmo após o
término das obras, o trabalho continue sendo realizado. Segundo a coordenadora desta
área na Sabesp, o vínculo com as organizações locais não é oficial, mas por laços de
fortalecimento das ações já existentes.

"A gente envolveu muito a questão de comunicação


socioambiental numa parceria bem atuante, porque isso vai ser
responsável por divulgar e sensibilizar sobre a importância daquela
obra… Isso vai ser a nossa força maior. Sem essas pessoas, a gente vai
implantar uma infraestrutura lá que vai funcionar inicialmente, mas se
não tiver as responsabilidades de cada um não adianta nada. Este trabalho
socioambiental será um reforço muito forte não apenas para as obras,
mas para deixar um legado” (ALVES, Andreia, SABESP, 2020).

15
Webinar Novo Rio Pinheiros. Disponível em <
https://www.facebook.com/watch/live/?v=2466292260343303&ref=watch_permalink>
50
Outro papel desta área socioambiental é a realização de um estudo
socioeconômico para detalhar como é cada região, qual é o tipo de comunidade e quem é
esse público.

“A gente fala muito bem de comunidades de baixa renda, mas a


gente tem também uma dificuldade com as comunidades de alta renda.
A alta renda não quer obra do seu lado, não quer barulho de obra na sua
região, quer sair da garagem com facilidade. Olhando para a região
metropolitana, ainda existem áreas que têm rede [de esgoto], mas que o
morador não está conectado, seja porque tem uma fossa, ou até mesmo
por achar que a conta vai dobrar. Só que pode estar contaminando o
lençol freático. Então a gente tem que olhar para os dois lados. É claro
que o nosso foco principal é a baixa renda, por ter uma situação de
carência, mas aí tem uma outra veia aqui que é mais a comunicação, para
ir em escolas, enfim, para fazer este outro trabalho também”
(FERREIRA, Andreia, SABESP, 2020).

Esta nova experiência é hoje um braço do “Programa Se Liga na Rede”, que desde
setembro de 2011 atua em todo o estado de São Paulo, custeando as ligações na rede de
esgoto para famílias de baixa renda. A medida tem como objetivo incentivar a ligação de
imóveis ao esgoto, aumentando a eficiência dos programas de saneamento executados
pelo estado, além de ajudar com a despoluição dos rios e córregos. Quando não existe
essa ligação domiciliar, o esgoto doméstico acaba sendo lançado in natura nos corpos
d'água (SABESP, 2011).

5.4 Panorama atual

Segundo informações que constam no portal oficial do Governo do Estado para


acompanhamento do Programa Novo Rio Pinheiros, já estão em execução todos os 16
pacotes para as contratações estruturadas pelo programa, que abrange ações
socioambientais nas sub-bacias do rio Pinheiros e obras de esgotamento sanitário.
Também estão contratadas e em andamento as cinco obras para a implantação das URQs.

De acordo com o seminário online com participação da Sabesp realizado no dia


19 de dezembro de 2020, e confirmado pelo governador do estado em janeiro de 2021, o
programa já executou mais de 150 mil conexões de residências à rede de esgotamento
51
sanitário, o que representa 28% do total (532,6 mil) e está adiantado em 44,8% acima do
previsto para o mesmo período, demonstrando que o cronograma não sofreu atrasos,
mesmo durante o período de pandemia ao longo de 2020.

No quesito que compreende a revitalização das margens, aprofundamento do leito


e retirada de lixo, entre agosto e julho de 2020, a EMAE executou o recorde de
desassoreamento e desaterro dos últimos cinco anos com a retirada de sedimentos.
Somados, os materiais correspondem a mais de 34,6 mil caminhões basculantes. Além
disso, mais de 21 mil toneladas de resíduos superficiais foram retiradas do Pinheiros, por
meio de Ecobarcos, redes e boias. Para as margens dos rios, foi estabelecida uma parceria
que garantiu o plantio de 30 mil mudas de árvores de espécies nativas que estão sendo
plantadas ao longo de 13 quilômetros na margem oeste. No lado leste, em outro convênio,
a empresa de telecomunicações Vivo se responsabilizará pela manutenção.

Por meio da Sabesp, a assinatura dos contratos de ampliação da coleta, tratamento


de esgoto e início das obras seguiram a seguinte cronologia e locais:

● No final de 2019, foram contempladas as sub-bacias dos córregos CT


Pirajuçara/Joaquim Cachoeira, Morumbi/Jardim Tramontano, Ponte
Baixa/Socorro, Corujas/Rebouça, Aterrado/Zavuvus e Pedreira/Olaria. As
obras atingem diretamente 88 mil imóveis e beneficiam uma população de
260 mil pessoas.
● Em maio de 2020, juntaram-se a estas, as sub-bacias Ribeirão Jaguaré,
Alto Pirajussara, Baixo Pirajussara, Cidade Jardim/Morumbi, Águas
Espraiadas e Pouso Alegre/Santo Amaro/Poli, que beneficiam quase 840
mil pessoas.
● No dia 10 de julho, foram assinados os últimos contratos para as sub-
bacias Cordeiro, Cachoeira/Morro do “S”, Baixo Pirajussara-Antonico e
Pirajussara-Poá/Taboão, que beneficiam quase 490 mil pessoas em todo o
entorno.

Em setembro de 2020, a proposta do Consórcio Usina São Paulo16 venceu a


licitação para a exploração da antiga usina de Traição até novembro de 2042, com o valor

16
Formado pelas empresas Kallis Administração e Participações, Eireli, Nacional Shopping
Planejamentos e Reestruturação de Shopping Center Ltda. e Concessões e Participações BR Ltda.
52
de outorga fixa em R$280.050.000,00 (gradual, a partir do funcionamento do
empreendimento), e um ágio de 1.900%. Esta ação gera uma economia estimada em R$12
milhões ao ano com gastos de IPTU e para a manutenção de uma área de 28.804 metros
quadrados, incluindo a cobertura do prédio e seu entorno.

O contrato com o Consórcio Usina São Paulo foi assinado em 11 de novembro de


2020 entre a Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A. (EMAE) e o consórcio
Usina São Paulo SPE S.A.

Hoje nós podemos celebrar um novo passo calcado nesse trabalho sério
de despoluição e de limpeza. Nós passamos para a requalificação e
revitalização do nosso rio Pinheiros, para fazê-lo mais bonito, mais
atrativo, e que a população de São Paulo deixe de virar as costas para o
rio e tenha vontade de ir frequentar e desfrutar do nosso rio. Hoje é uma
comemoração de mais um grande passo no maior programa
socioambiental do país, a despoluição do Rio Pinheiros. (PENIDO,
Marcos, 2020)17.

A remuneração pela concessão será composta de parcelas mensais fixas variáveis,


calculada em percentual do faturamento bruto do empreendimento. A previsão é que o
consórcio invista R$300 milhões nas obras de remodelação do espaço.

Vale lembrar que a previsão de conclusão de todo este complexo vai além da
marca anunciada para os trabalhos de limpeza do rio, em 2022. A projeção inicial, de
acordo com o presidente do Consórcio, Rodrigo Rocha Bonadia, é que seja entregue em
2024.

São quatro anos e quatro etapas de entrega. O módulo da Usina, com o


mirante e os restaurantes, é o primeiro módulo, com expectativa para
2022. Depois haverá os outros módulos. O prédio green building,
obviamente, é um projeto mais complexo, que vai demorar até quatro
anos para ser inaugurado, e o deck do mirante, que seria o primeiro
empreendimento onde o rio é utilizado, com o deck e restaurantes, para
2023. Isso tudo, obviamente, depende não só da gente do consórcio, mas

17
Coletiva de imprensa realizada em 12/11/2020. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=S399Z0_SHVI> Acesso no mesmo dia.
53
de vários órgãos que fazem as liberações e as licenças, mas a nossa meta
é começar a entregar em 2022, que é o que está no edital público que a
gente concorreu e ganhou. (BONADIA, Rodrigo, 2020).

Em 27 de janeiro de 2021, o Governo de São Paulo anunciou a assinatura do


contrato com o Consórcio Parque Novo Pinheiros18 para a criação de uma área de lazer
para o Pinheiros, em sua margem oeste, entre a sede do Pomar Urbano e a Ponte Cidade
Jardim. Com previsão de entrega até 28 de janeiro de 2022, o parque público terá 8,2 mil
metros de extensão e estará interligado a outros parques da região, com pista de
caminhada, ciclovia, cafés e acessos para o público, um investimento de R$ 30 milhões
nos próximos cinco anos, que será feito pelas empresas Amarílis, Farah Service, Jardiplan
e Metalu Brasil, que fazem parte do consórcio.

Também existe a previsão de outra assinatura para um novo edital, ainda neste
ano, para a complementação do parque em um trecho de 8,9 mil metros entre as pontes
Cidade Jardim e Jaguaré (Retiro). As contrapartidas para estes investimentos permitem o
anúncio publicitário e a organização de eventos no espaço concedido.

Até aqui, o trabalho integrado entre órgãos públicos se mostrou um dos principais
aspectos presentes no modelo de governança do Novo Rio Pinheiros. Não só entre os
órgãos estaduais, mas também envolvendo a Prefeitura de São Paulo (PMSP). Como
ressaltado pelo secretário Marcos Penido em entrevista, o intuito é induzir um modelo de
governança colaborativa, a partir de um grupo de gestão integrada para execução das
atividades nas sub-bacias.

Este modelo de governança tem sido favorecido também pelo alinhamento


político entre os dois níveis de governo, visto que tanto o prefeito de São Paulo quanto o
Governador do Estado pertencem ao mesmo partido político (PSDB). Esta condição pode
ser importante em parte dos resultados que o programa Novo Rio Pinheiros vem
atingindo, mas a princípio não configura como determinante, já que o eixo estruturante
do programa se concentra no governo estadual.

Para contribuir com uma visão de governança que busque fortalecer e garantir os
resultados de melhoria na qualidade das águas do rio Pinheiros, no próximo item serão

18
Coletiva de imprensa realizada em 27/01/2021. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=0cges-adHTI&t=383s>
54
abordadas as análises de benchmarking, com a exposição de dois casos internacionais que
institucionalizaram as ações de recuperação dos rios e apresentaram resultados
importantes nas últimas décadas.

55
6. ANÁLISES DE BENCHMARKING NO REINO UNIDO E ALEMANHA

6.1 Aspectos de governança do rio Tâmisa

Com 346 quilômetros de extensão, o rio Tâmisa é o mais conhecido rio da


Inglaterra. Tornou-se um símbolo de Londres e nas últimas décadas ganhou notoriedade
pela melhoria na qualidade de suas águas, que trouxeram aumento da biodiversidade
local. Estima-se que o rio abriga mais de 125 espécies de peixes, além de centenas de
focas e botos. O Tâmisa também é usado para o transporte urbano, com uma rede de
balsas utilizadas por 40 milhões de passageiros nos últimos 20 anos (NETO, 2019).

Embora atualmente o rio seja bastante agradável e faça parte da cidade como uma
opção de lazer, ele ainda não está completamente despoluído. Todos os anos, 39 milhões
de toneladas de dejetos são lançados em suas águas. Em dias secos, 100% do esgoto de
Londres é captado e tratado, mas quando ocorrem as chuvas, as tubulações enchem mais
rapidamente, fazendo com que o esgoto seja lançado diretamente para o rio, sem
tratamento. Para entender a governança existente em torno do rio, e que contribuiu para
os resultados alcançados, é importante contextualizar o processo de formação do sistema
de água e saneamento da cidade, bem como as instituições envolvidas neste processo.

Decorrente do processo de revolução industrial, Londres ganhou destaque como


centro comercial e financeiro internacional ao longo do século XVIII. Este fenômeno
trouxe consigo um rápido crescimento demográfico que alavancou a população de cerca
de 2 milhões, em 1840, para 8 milhões em 1930. Em 1853, a maioria das moradias estava
conectada à rede de esgoto. No entanto, com a ausência de estações de tratamento, os
efluentes eram lançados no solo, nas ruas ou no sistema de drenagem urbana. O resultado
foi o declínio acentuado da qualidade das águas do Tâmisa e seus tributários.

No verão de 1858, ocorreu o mais célebre episódio intitulado de "Big Stink"


(Grande Fedor), responsável pela suspensão dos trabalhos no Parlamento britânico
(COLLINSON, 2019). Episódios como este despertaram maior consciência social sobre
o alto índice de mortes e doenças, e passaram a dominar as discussões para reformas
sanitárias na Inglaterra. As mudanças vieram quando as preocupações sociais estavam
associadas às econômicas. As reformas e as leis criadas contribuíram para alavancar os
investimentos no setor de saneamento básico entre 1880 e 1890 (OLIVEIRA, 2015).

56
A partir de então foi implementado um novo sistema de esgoto em Londres. A
ideia, na época, era construir canos que pudessem receber tanto os dejetos das casas como
a água da chuva. Até hoje ele é considerado um sistema muito bem construído, mas foi
projetado para uma cidade de até 4 milhões de habitantes (BBC, 2014).

Ao longo das décadas seguintes, o setor de saneamento básico foi sendo


melhorado com a construção de novos interceptores e estações de tratamentos, além de
regulamentações quanto ao lançamento de poluentes em corpos de água e efluentes
industriais. Entretanto, o crescimento da cidade em direção às áreas periféricas e o
contínuo lançamento de esgoto em suas águas, contribuíram para que o Rio Tâmisa fosse
declarado como morto pelo Museu de História Natural local em 1957. O parecer
constatou a falta de oxigenação, de peixes e outras formas de vida. Soma-se a isso, o fato
de que a Segunda Guerra Mundial destruiu parcialmente o sistema de esgoto da capital
britânica (BBC, 2015).

O trabalho para a reconstrução da rede de saneamento só recomeçou no final da


década de 1960 e foi crucial para a limpeza do Tâmisa. Como resposta, o Governo criou
um Grupo de Trabalho para o Tratamento do Esgoto em 1969, abordando aspectos de
saúde pública, econômicos e tecnológicos. Nas décadas seguintes, a Inglaterra aprovou a
Lei das Águas, com o intuito de melhorar o gerenciamento dos recursos hídricos e
consequentemente as condições sanitárias. Neste período, uma série de agências foram
sendo criadas e reformuladas posteriormente. Até que em 1989, uma nova Lei das Águas,
ainda mais radical, privatizou o setor (incluindo a gestão das águas, o abastecimento e
tratamento de esgotos), criando um sistema de regulação pela The Water Services
Regulation Authority (OFWAT), responsável pela definição dos preços e qualidade dos
serviços de saneamento, e o Department for Environment, Food & Rural Affairs
(DEFRA), agência ambiental responsável pelo licenciamento dos lançamento de
efluentes e implantação da legislação européia de água (OLIVEIRA, 2015).

O projeto de infraestrutura mais caro da Europa é um túnel de esgoto ao longo do


Tâmisa que começou a ser construído em 2016, com o nome de Thames Tideway Tunnel.
Tendo como diretrizes os requisitos da União Europeia (EU Urban Wastewater Treatment
Directive), o governo da Inglaterra verificou a incapacidade do sistema de drenagem e
esgoto de garantir estes requisitos e um possível aumento populacional de Londres. O
projeto para este túnel começou ainda em 2001, quando foi publicado o estudo

57
envolvendo o DEFRA, Environmental Agency e a Greater London Authority, mostrando
que o sistema de saneamento construído na segunda metade do século XIX era
insuficiente para suportar também os períodos de chuva forte, o que aumentava o volume
de esgoto despejado no Tâmisa. O Tideway vem, portanto, para complementar e
modernizar o sistema de drenagem da época vitoriana, e diminuir este lançamento de
esgoto no rio Tâmisa, melhorando a qualidade de suas águas (GLA, 2018).

A Tideway é uma empresa criada pela Thames Water para administrar a iniciativa
e é formada por um consórcio de investidores chamado Bazalgette Tunnel Limited (BTL).
O investimento, atualmente, gira em torno de £4.9 bilhões, sendo da £3.8 Tideway mais
£1.1 da Thames Water. O projeto é também custeado por 15 milhões de consumidores da
Thames Water, por meio de suas contas de água (não sendo acrescido mais que £25 por
ano na conta de cada consumidor). A previsão é de que o túnel fique pronto no começo
de 2025, tornando o rio mais limpo desde a revolução industrial.

Entretanto, a obra tem sido criticada tanto pelo modelo de financiamento adotado
quanto pela opção em construir uma infraestrutura tradicional frente aos "sistemas de
drenagem sustentáveis" ou de "infraestrutura verde", conceitos tidos como
ambientalmente mais adequados às cidades. Embora o departamento de finanças públicas
do Governo do Reino Unido (HM Treasury) tenha argumentado que esta seria a única
forma de cumprir com as obrigações da UE em relação ao tratamento de esgoto, de outra
forma custaria £100 milhões por ano em multas. Os críticos argumentaram que as opções
mais baratas criadas por tecnologias mais recentes nunca foram adequadamente
exploradas. Alguns exemplos como asfalto poroso, telhados verdes, etc., que impediriam
a chuva inundar e sobrecarregar o sistema de esgoto (PLIMMER, 2015).

Além disso, o projeto envolve riscos de construção, incluindo aumento dos custos,
acidentes ou quaisquer outros incidentes, bem como quaisquer riscos financeiros (como
um colapso de crédito global), que seriam suportados pelos contribuintes, já que o
governo está agindo como fiador. Vale destacar que este modelo não é uma Parceria
Público Privada (PPP) típica, em que o setor público é o cliente e contrata os investidores
para construir a infraestrutura e os paga ao longo dos anos. Aqui, o papel do governo não
é tão direto. Ele oferece várias garantias, como cobrir custos de seguro, ou qualquer outro
"estouro de custo excepcionalmente grande", ao passo que os clientes vêem suas contas
aumentar em até £25 por ano (PLIMMER, 2015).

58
Londres ainda enfrenta o desafio de lidar com as enchentes. Já existem barreiras
construídas ao longo do Tâmisa que impedem que a cidade seja inundada com as
variações de maré. Calcula-se que 1.3 milhões de pessoas morem ou trabalhem em
regiões de alto e médio risco, sendo que aproximadamente um quinto de Londres está
contemplada no plano de contingenciamento contra inundações. O Thames Barrier é uma
das estruturas principais de contenção que fornece segurança contra as enchentes no
Tâmisa. Mesmo assim, a Environmental Agency criou recentemente o TE2100
(LONDON COUNCILS, 2018), plano de gestão de risco para até o final do século XXI,
em resposta aos diferentes cenários de aumento do nível do mar e outras alterações
projetadas, levando em consideração os efeitos das mudanças no clima.

Ao longo dos séculos, muitas instituições responsáveis pelo Tâmisa surgiram ou


foram alteradas. Como o objetivo deste trabalho é compreender a governança atual sobre
o rio, na tabela a seguir estão listados os principais órgãos públicos e empresas privadas
identificadas, bem como as principais funções que estas desempenham na governança.
Após a tabela, encontra-se um descritivo para cada.

Quadro 4 - Empresas e órgãos públicos com atuações diretas ou indiretas no rio Tâmisa

EMPRESAS RESPONSABILIDADES

- Abastecimento de água e tratamento de esgoto


Thames Water
- Financia o Thames Tideway Tunnel

Thames Tideway - Construção do túnel de 25 km para captar, armazenar e transportar esgoto


Tunnel e água da chuva

ÓRGÃOS
PÚBLICO RESPONSABILIDADES

OFWAT - Agência reguladora de abastecimento de água

- Opera o Thames Barrier


Environmental - Fornecimento de licença ambiental
Agency - Construção do Plano de Gestão da Bacia hidrográfica
- Responsável pela construção do Thames Estuary 2100 Plan (TE2100).

59
- Projetar e implementar sistemas de drenagem sustentáveis ao longo da
cidade para diminuir os riscos de transbordamento do Tâmisa.
Great London - Suporte na construção do Thames Estuary 2100 Plan (2018).
Authority
- Controle do órgão Transport of London (TfL)
- Construção do River Action Plan (MAYOR OF LONDON, 2013)

- Controle de tráfego no rio


- Supervisão da segurança nas embarcações
Port of London
- Conservação e manutenção das encostas do Tâmisa
Authority
- Operação da eclusa "Richmond Lock"
- Construção do Thames 2035 Project (2015)

- Representar os interesses dos consumidores de água e esgoto na


Consumer Council Inglaterra e no País de Gales
for Water - Fornece aconselhamento imparcial e/ou defesa para clientes
prejudicados.

● Thames Water:

Empresa privada responsável pelo abastecimento de água e tratamento de esgoto


na grande Londres e outras cidades. É a maior empresa de água e esgoto do Reino Unido
e fornece 2.6 bilhões de litros de água por dia e trata de 4.4 bilhões. Atende 15 milhões
de habitantes. A Thames Water está construindo um plano estratégico para o sistema de
esgoto e abastecimento de água de Londres para o ano de 2100 (THAMES WATER,
2017).

● Thames Tideway Tunnel:

Tideway é a empresa responsável pela construção do "Thames Tideway Tunnel",


um túnel com 25 km de extensão e 7 metros de diâmetro que servirá para ampliar a
capacidade de drenagem, evitando o lançamento de detritos no rio. O valor da obra gira
em torno de £4.9 bilhões.

● Water Services Regulation Authority (OFWAT)

Agência reguladora das empresas de água e esgoto na Inglaterra e País de Gales.


As principais responsabilidades da OFWAT incluem a proteção dos interesses dos
consumidores, a segurança da resiliência a longo prazo no fornecimento de água e
60
esgotamento sanitário, garantindo que as companhias deem conta das obrigações e sejam
capazes de financiá-las. A agência estabelece os limites no preço pelos serviços de água
e esgoto, levando em consideração o capital de investimentos e os ganhos de eficiência
nas operações.

● Environmental Agency (EA):

Agência do Governo do Reino Unido atrelado ao DEFRA (Department for


Environment Food & Rural Affairs), responsável por fornecer licença ambiental,
monitorar as condições da água do Tâmisa e construção do Plano de Gestão da Bacia.

Possui um sistema de alerta em toda a bacia do rio Tâmisa para informar aos
usuários sobre condições que podem tornar a navegação difícil e perigosa.

O órgão é responsável pelo recente plano de gerenciamento das inundações no


Tâmisa com planejamento até o ano de 2100. Conhecido como Thames Estuary 2100
Plan (LONDON COUNCILS, 2018), ele estabelece como forma de manter as barreiras
existentes no rio para conter as recorrentes elevações no nível do rio, por conta do
movimento das marés, e a criação de novas estruturas até o final do século, a leste de
Londres, para ser finalizado até 2050 (London Environmental Strategy, 2018).

● Greater London Authority (London City Hall - GLA):

Atualmente tem um papel fundamental em projetos que buscam ampliar os


sistemas de drenagem sustentável no território. Estas ações têm como objetivo diminuir
a pressão de escoamento da água da chuva para o rio Tâmisa e seus afluentes. Os distritos
são os responsáveis por implementar as ações.

Como órgão público responsável pelo transporte na grande Londres, tem buscado
fomentar o uso do rio como meio de transporte para diminuir a quantidade de carros na
cidade, reduzindo também as emissões de CO2. A Prefeitura de Londres trabalha em
parceria com diversos stakeholders para promover o sistema de esgotamento sanitário
para um formato cada vez mais sustentável, resiliente e eficaz com uso de inovação.

O órgão foi responsável pelo plano de planejamento dos recursos hídricos da


cidade, que leva em consideração todos os rios e córregos que cortam Londres. O plano
é conhecido como London Rivers Action Plan (MAYOR OF LONDON, 2013).

61
● Port of London Authority (PLA):

Órgão público independente atrelado ao City of London, responsável pela


supervisão e controle da navegação comercial e de lazer no rio Tâmisa. Dentre as suas
responsabilidades estão: controle de tráfego do rio, segurança da navegação, conservação
(incluindo drenagem e manutenção de encostas), e proteção ambiental. É responsável
também pela operação da eclusa "Richmond Lock", no sudoeste de Londres. Não recebe
dinheiro do governo e é autofinanciado.

Criaram o Projeto Thames 2035, lançado em 2015, que consiste em uma visão de
desenvolvimento para o rio Tâmisa levando em consideração o crescimento da cidade e
o aumento do uso do rio para abastecimento e transporte. O objetivo é que pelo menos 20
milhões de usuários por ano utilizem o rio como meio de transporte até 2035, com o
objetivo de reduzir as emissões de CO2, tirando veículos de circulação da cidade. Com
isso, o Port of London Authority tem assumido maior importância no controle de
embarcações no Tâmisa.

● Consumer Council for Water (CCWater):

Órgão Público braço da DEFRA. É independente em relação ao órgão regulador


Ofwat e das empresas de água. Representa os interesses dos consumidores de água e
esgoto na Inglaterra e no País de Gales . A organização fornece aconselhamento imparcial
e / ou defesa para clientes prejudicados. Tem como missão apoiar os clientes domésticos
de empresas de água e os clientes comerciais de retalhistas licenciados.

Quadro 5 - Organizações da Sociedade Civil que possuem conexão com o rio Tâmisa
ORGANIZAÇÕES DA
ATUAÇÕES
SOCIEDADE CIVIL

- Promover ações de limpeza e recuperação de rios e


Thames 21 córregos de Londres e arredores
- Ações comunitários
- Financiar iniciativas e projetos de restauração de
Thames River Trust
ecossistemas em torno do Tâmisa e seus afluentes.

62
● Thames 21:

Organização sem fins lucrativos que trabalha pela recuperação de rios e córregos
no entorno de Londres*. Anualmente, mobilizam por volta de 7000 voluntários para
limpar e renaturalizar os corpos d'água, com o objetivo de transformar águas poluídas em
espaços que todos possam desfrutar, utilizando abordagens comunitárias inovadoras e
adaptadas. Possuem diversos projetos de aumento da biodiversidade local; limpeza dos
rios; diminuição das enchentes; programas de educação ambiental nas escolas "guardiãs
das águas"; monitoramento da qualidade da água; parceria com universidades; dentre
outras ações.

● Thames River Trust:

É uma instituição de caridade ambiental que financia projetos de restauração do


ecossistema em torno do rio Tâmisa e seus tributários, desde 1986. Funcionam como um
braço da River Trust Hub e trabalham com parceiros de agências governamentais,
empresas, ONGs e grupos da comunidade local. Tem como objetivo promover ações
integradas de gestão que possam angariar recursos financeiros para projetos de
recuperação em toda a bacia. O foco da instituição é a jusante de Londres. O Fundo
Tâmisa de Restauração já promoveu nove projetos, em um total de £165 mil. Estes
projetos ocorrem em áreas urbanas e rurais e incluem passagens para peixes, remoção de
barreiras no trajeto dos rios, implantação de infraestruturas verdes e verificação da
qualidade da água comunitária.

6.2 ASPECTOS DE GOVERNANÇA DO EMSCHER

A região do Ruhr é o maior conglomerado urbano da Alemanha, localizado no


estado da Renânia do Norte-Vestefália (RNV). Com população de aproximadamente 5,1
milhões de habitantes e PIB de 161 milhões de euros, é um dos principais polos industriais
da Europa, sendo Dortmund e Essen as duas maiores cidades.

Na região central do estado, no sentido leste-oeste, percorre o rio Emscher, um


dos principais da região que deságua no rio Reno. O Emscher é o segundo caso abordado
neste trabalho, pois é referência internacional como modelo de renaturalização da
paisagem urbana-industrial que tem nele o principal eixo das transformações que vêm
63
sendo implementadas por diversos órgãos, representantes de empresas e da sociedade
civil.

Como forma de abordagem sobre a governança do rio, é importante contextualizar


o processo histórico em que ele se insere. Até o início da industrialização do Ruhr, em
meados do século XIX, o Emscher era um rio sinuoso de várzea, com cerca de 109 km
de extensão. As terras no seu entorno eram consideradas férteis, mas pouco povoadas
devido ao constante risco de inundações próximo ao rio. O Vale do Ruhr, composto por
11 municípios, desenvolveu-se e ficou conhecido historicamente pela mineração de
carvão e produção de aço, transformando um vale agrícola tranquilo em uma aglomeração
industrial fervilhante (ANGELO, 2020).

Este rápido processo de transformação promoveu a deterioração dos rios e


córregos que atravessam o Vale do Ruhr, dentre eles o Emscher, que nessa época tornou-
se um canal de escoamento dos resíduos produzidos pelas indústrias. As frequentes
inundações passaram a causar situações extremamente insalubres, ocasionando a
proliferação de doenças e epidemias. Além disso, a poluição também motivou a
destruição de todo um ecossistema e perda de biodiversidade no entorno do Emscher
(WUPPERTAL INSTITUT, 2013).

A ausência de condições ao longo do rio se tornou insustentável. Foi quando


companhias da mineração, indústrias, cidades e comunidades por onde o rio atravessava
se juntaram para criar a Emschergenossenschaft, em 1899. Uma cooperativa
autogestionária com o objetivo de gerir as águas residuais das indústrias. Dentre as
primeiras ações no início do século XX, o rio e seus afluentes foram canalizados com o
intuito de melhorar as condições insalubres decorrentes das enchentes. Esta obra de
saneamento transformou um rio conhecido pela característica sinuosa ao longo de 109
km em um canal de 81 km. No entanto, nada disso trouxe efeitos benéficos para a
qualidade da água ou para a melhoria do ecossistema do rio. Na época, a construção de
rede de esgotamento sanitário subterrânea foi descartada, devido a instabilidade do solo
e o risco de aluimento contínuo, reflexo do período de mineração. Ele foi transformado
em um esgoto a céu aberto, até desaguar no rio Reno.

Foi assim nas décadas seguintes até que em 1970, a Alemanha vinha sendo
marcada pela forte ascensão de movimentos ambientalistas, que chamaram a atenção para
os efeitos da poluição nas regiões industriais, tornando-se tema central em discussões
64
políticas, inclusive como pauta de reivindicação de sindicatos industriais
(SCHEPELMANN, et al., 2016). Estas manifestações levariam o governo de RNV a
investir em projetos de saúde e meio ambiente para a população, contribuindo diretamente
nas ações norteadoras para a transformação do vale do Ruhr nas décadas seguintes.

Com o declínio da indústria de carvão, o cenário na região do Emscher ficou


caracterizado por fábricas vazias, minas fechadas, montanhas de resíduos e barragens
abandonadas em um período de intensa mineração. Até 1980, o rio era considerado um
dos mais poluídos do país, justamente por funcionar como um canal de esgoto residencial
e industrial. A Emschergenossenschaft (EGLV) assumiu então o protagonismo para
reverter esta condição. Primeiro, em 1977, com a construção do que, na época, era a maior
estação de tratamento de esgoto da Europa, na foz do Emscher, despoluindo-o antes que
chegasse ao Reno, e quatro anos mais tarde, com o projeto piloto de renaturalização de
um córrego afluente do Emscher (WUPPERTAL INSTITUT, 2013).

No início da década de 1990, iniciou-se o projeto de transformação ecológica de


toda a paisagem da região que perdura até hoje e é conhecido como a "Conversão do
Emscher". Nesta época, a Emschergenossenschaft (EGLV) decidiu modernizar o sistema
de esgotamento sanitário, incluindo a construção de canais subterrâneos. Neste sentido,
outras quatro estações de tratamento foram construídas ou modernizadas, além de 421
quilômetros de rede de esgoto subterrânea para o atendimento de mais de 2.2 milhões de
pessoas, indústrias e empresas da região. Atualmente, a principal obra de saneamento é
um canal coletor de água residual, considerado um dos mais modernos do mundo, ainda
em construção. Quando concluído, serão 51 quilômetros que transportarão as águas
residuais da região do Emscher para duas estações de tratamento, na foz.

O projeto de conversão do Emscher é considerado ambicioso. Foi concebido


como uma iniciativa a longo prazo e já perdura há 30 anos. Atualmente, o investimento
das obras de conversão está em 5,4 bilhões de euros, com previsão de término no ano de
2021. Além disso, foram pensadas outras 350 ações, sempre voltadas à conservação e
revitalização do rio, dos seus afluentes e de todo o entorno. Enquanto isso, diversas fontes
mostram que já é possível notar a transformação tanto no rio como nas suas margens,
com o restabelecimento da natureza em seu entorno.

A estratégia foi conciliar tanto a despoluição, com foco no combate às enchentes


(reservando uma maior área de várzea para as inundações e retenção da água), e
65
incorporar áreas públicas de lazer (como uma importante ciclovia) e turismo (sobretudo
industrial, nas antigas estruturas de mineração). Todo este processo de transição tem sido
conduzido por agências estatais, mas com a colaboração de uma pluralidade de atores
públicos e privados, que atuam em diferentes níveis, adotando um mix de formas de
participação, de caráter formal e informal, com informação, consulta, envolvimento
ativo/cooperação e participação pública (SDF, 2008, p. 216, apud MOMM et al. 2020, p.
511), sendo considerado por Schepelmann et al. (2016, p. 593) “um laboratório real da
modernização ecológica”.

A revitalização do Emscher é acompanhada também por uma estratégia de


ressignificação cultural da região. Em 2010, o Ruhr foi nomeado Capital Cultural
Europeu, graças ao Internationale Bauausstellung Emscher Park, projeto que promoveu
uma transformação regional de áreas degradadas em parques e estruturas de indústrias
abandonadas em museus a céu aberto. Desta forma, os esforços empreendidos até aqui
vão muito além da modernização da infraestrutura sanitária, integrando demandas
políticas e sociais pela criação de ambientes mais sustentáveis em uma região que já foi
a mais poluída da Alemanha.

De acordo com o relatório Emscher 3.0 - From grey to blue, do Instituto


Wupppertal, a estrutura de governança em sua conversão não partiu de um modelo top-
down, ao contrário, o breve panorama histórico desenvolvido até aqui permite aferir que
a renaturalização da região se deu com o envolvimento de diversos atores locais, mas sem
preponderância de agentes do governo estadual ou federal da Alemanha.

Desde o início, o relatório ressalta que houve uma integração entre alguns órgãos,
como ministério do clima do estado da Renânia do Norte-Vestefália, agências ambientais
de governos locais, autoridades públicas de água, meio ambiente e planejamento urbano.
Entretanto, esta integração se deu diante de uma perspectiva informal e cooperativa. As
soluções foram sendo construídas e compartilhadas por todos os participantes, sem
mandato formal ou força legal, por meio de conselhos e grupos de trabalho que se
formaram ao longo dos últimos 30 anos.

Também vale destacar o papel central da Emschergenossenschaft (EGLV) em


pesquisas e na coordenação das ações com os demais stakeholders, que está
transformando a região durante todo o processo. Este órgão se entende como uma
cooperativa, ou corporação sob lei pública, colocando como missão o bem estar das
66
pessoas e a proteção do meio ambiente. Os membros desta cooperativa incluem as
cidades, comunidades locais e os distritos, juntamente com empresas de mineração,
comércio e indústrias. Isso contribuiu para que os problemas fossem tratados de forma
ampla por diversos especialistas. Desta forma, as tarefas da Emschergenossenschaft
(EGLV) vão além de prover infraestrutura e serviços de saneamento, sendo também um
agente indutor responsável por modelar a paisagem da região.

Um exemplo das conexões de atores promovidas pela Emschergenossenschaft


(EGLV) foi a constituição do Valley Working Group, com o objetivo de criar um cenário
urbano, cultural e aquático atrativo com a construção de um corredor verde na região
metropolitana do Ruhr. Esta iniciativa contou com a cooperação do Ruhr Regional
Association (agência do planejamento territorial do estado), cidadãos, autoridades locais,
políticos, universidades e empresas, na construção do que ficou conhecido como Emscher
Future Master Plan. Publicado em 2006, este documento foi um importante instrumento
de planejamento regional, tendo sido construído com metodologia informal, por meio de
workshops e encontros organizados pelos diversos atores que puderam compartilhar suas
experiências e visões pretendidas para o Emscher.

A conversão de Emscher representa assim um projeto de infra-estrutura


intersetorial, integrado e com a participação de multistakeholders. Pela literatura utilizada
como referência, pode-se dizer que este modelo de integração, envolvendo ações de
gestão das águas, ecologia, desenvolvimento e planejamento, resultou em ganhos
econômicos, ambientais e de progresso social para a região. Um modelo de governança
inovador, que colocou a recuperação de um rio num contexto mais amplo. A seguir,
apresenta-se de forma sucinta os órgãos que estiveram envolvidos diretamente neste
projeto.

Quadro 6 - Órgãos com atuações diretas ou indiretas no rio Emscher.

ÓRGÃOS RESPONSABILIDADES

- Planejamento e desenvolvimento regional.


Regionalverband Ruhrgebiet (RVR)
- Associação Regional do Ruhr - Ampliação dos espaços verdes na região, incluindo o
Emscher Landscape Park.

- Saneamento, tratamento de esgoto,


Emschergenossenschaft and
- Manutenção das encostas,
Lippeverband (EGLV)
- Controle de inundação,

67
- Controle das águas de chuva,
- Construção de diques, estações de bombeamento,
- Promovem ações de integração dos stakeholders locais
- Desenvolvem projetos de planejamento e ocupação no
entorno do rio e seus afluentes.

Ministry for Environment,


Agriculture, Conservation and
- Coordena e investe em projetos de infraestrutura.
Consumer Protection of the State of
North Rhine-Westphalia (MULNV)

Fonte: páginas oficiais da RVR, EGLV e MULNV.

● Regionalverband Ruhrgebiet (RVR) - Associação Regional do Ruhr

Surgiu em 1920 com o objetivo de promover o planejamento na região para


enfraquecer as consequências do rápido avanço da grilagem de terras no contexto do
desenvolvimento industrial da área do Ruhr, por meio de assentamento coordenado,
planejamento de tráfego e lazer, mas também visando melhorar as condições de vida da
população. Em 1979, tornou-se um órgão autônomo de direito público. Em outubro de
2004, a associação municipal foi renomeada como Regionalverband Ruhrgebiet (RVR)
e, ao mesmo tempo, passou a ter competências ampliadas na área de autogoverno
regional.

Atualmente é considerada uma autoridade de planejamento e desenvolvimento


regional da Metrópoles de Rurh. Evolve 11 municípios (Bochum, Bottrop, Dortmund,
Duisburg, Essen, Gelsenkirchen, Hagen, Hamm, Herne, Mülheim, Oberhausen) e 4
distritos (Ennepe-Ruhr, Recklinghausen, Unna e Wesel) atendendo a 5,1 milhões de
habitantes.

As tarefas e atividades da associação regional incluem levantamento topográfico


e cartográfico, planejamento regional de transportes, criação de instalações de lazer e
recreativas, planejamento paisagístico e ambiental, eliminação de resíduos e
desenvolvimento turístico da região.

Uma das principais atividades do RVR é a proteção e o desenvolvimento de


espaços verdes e florestais na região, tornando-os acessíveis para a população. O maior
projeto sobre coordenação da RVR é o Emscher Landscape Park, ou Parque Emscher,

68
considerado o grande espetáculo paisagístico na zona do Ruhr. É um parque regional que
cobre uma área de 450 km², em constante transformação. O circuito de ciclovia possui
atualmente 230 km e está sendo construída em grande parte sobre as antigas linhas de
trem que serviam às empresas de mineração, que perderam a função com o declínio
destas.

Entre 1991 e 2010, foram investidos no entorno cerca de 680 milhões de euros em
mais de 400 projetos no Parque Emscher, por meio da agência que trabalha em
cooperação com órgãos públicos municipais, EGLV e outros parceiros.

● Emschergenossenschaft and Lippeverband (EGLV)

A Emschergenossenschaft está localizada em Essen e foi a primeira Associação


de água da Alemanha (1899), servindo de inspiração posteriormente para a criação de
outras associações de água, incluindo a Lippeverband, em 1926, em Dortmund.
Atualmente, trabalham juntas em um modelo "self-governing corporation under public
law" (modelo público-público), ou de autogestão. Tanto a Emschergenossenschaft quanto
a Lippeverband são apoiadas e financiadas pelos seus membros - cidades e empresas de
mineração - que contribuem para a construção de opiniões e tomada de decisões por meio
das reuniões anuais e dos conselhos de associação.

São prestadores de serviços de gestão das águas residuais (coleta, limpeza e


escoamento), sem fins lucrativos, e têm como objetivo assegurar a boa qualidade dos rios
Emscher e Lippe. Por isso, têm sob a sua responsabilidade ações de saneamento,
tratamento de esgoto, manutenção das encostas, controle de inundação, controle das
águas de chuva, construção de diques, estações de bombeamento, dentre outras ações de
gerenciamento.

Além disso, são responsáveis também pelas principais ações no projeto de


conversão do Emscher, que tem transformado a paisagem urbana-industrial em natural.
Dentre os principais objetivos da atuação da EGLV, está a recuperação total dos rios e
córregos. O Plano do projeto foi lançado em 2006. Atualmente, está em construção a rede
arterial de 51 km para o sistema de esgotamento sanitário entre Dortmund-Deusen,
esperado para 2021. A maior parte do sistema de esgotamento já foi refeito. Outros

69
projetos, como o lago Phoenix em Dortmund, o Berne Park em Bottrop e o Emscher
Experience (festival de artes a cada 3 anos) fazem parte do Projeto de Conversão.

Há também outras empresas que são subsidiárias e prestam serviço para a EGLV
em diversas áreas de água e esgoto, entre elas: EmscherLippe Wassertechnik, Aquabench,
BETREM, Innovatherm, AFRY.

A EGLV está empenhada na construção de um sistema moderno para a gestão das


águas com soluções inovadoras. Participam de diversas rodas de conversas e fóruns no
âmbito nacional e da União Europeia. Tem nos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) da ONU19.

● Ministry for Environment, Agriculture, Conservation and Consumer


Protection of the State of North Rhine-Westphalia (MULNV)

Coordena e investe nas ações de conversão do Emscher. Obtém recursos públicos


de investimentos da União Europeia para financiar obras de infraestrutura.

19
A Agenda 2030 é uma das principais referências para as ações.
70
7. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E PROPOSTA DE GOVERNANÇA

Assim, como ocorrido na capital São Paulo, em ambos os casos analisados a


deterioração dos corpos hídricos esteve atrelada ao rápido crescimento econômico e
populacional combinado com a ausência de planejamento prévio para construção de
infraestruturas de saneamento suficientes e pensadas a longo prazo. As primeiras ações
para reverter este quadro surgiram quando rios e córregos já estavam completamente
comprometidos, o que exigiu grandes esforços, consciência sobre a importância da água
e ações de longo prazo, até que os primeiros resultados fossem verificados na qualidade
da água.

Investimento em saneamento é o principal pilar para a recuperação de corpos


hídricos urbanos. Os casos de recuperação abordados se assemelham na implantação de
redes de esgoto integradas, construção e modernização de estações de tratamento, além
de outras ações relacionadas à infraestrutura de saneamento. Entretanto, cada rio possui
um desafio para o seu processo de conservação, que está atrelado à realidade a qual está
inserido. Aqui se incluem as particularidades político-institucionais, socioeconômicas e
culturais que tendem a diferenciar os casos vistos neste trabalho.

Outro aspecto a ser ressaltado é o arcabouço legal existente em cada país. Na


Europa, a legislação ambiental assume a forma de uma "diretriz", que permite à União
Europeia estabelecer os resultados que os estados membros têm que alcançar, mas deixa
a implementação para cada país individualmente. Isto permite que cada um leve em conta
seus próprios sistemas legais para cumprir as diretrizes europeias que têm precedência
sobre a legislação nacional. Mesmo com a saída do Reino Unido da UE (oficializada, no
final de 2020), a maior parte da legislação ambiental recente tem origem enquanto a
região ainda fazia parte. As principais diretrizes europeias podem ser citadas como sendo:
Water Framework Directive, Urban Wastewater Treatment Directive, Marine Strategy
Framework Directive, Floods Directive, Drinking Water Directive, Bathing Water
Directive e Sewage Sludge Directive.

Importante destacar que em ambos os casos, a governança e a gestão dos rios estão
atreladas à escala da bacia hidrográfica, o que permite uma atuação integrada em termos
de gerenciamento dos objetivos, distribuição dos benefícios e tomada de decisões. Como
demonstra Pahl-Wostl (2015), há sempre uma série de desafios relacionados à
governança das águas na escala das bacias hidrográficas, tais como escolha do limite,
71
responsabilidades, participação e as próprias assimetrias da bacia. Por isso, gestão e
governança não podem operar isoladamente e devem estar dentro de um cenário
institucional complexo. Os problemas de ajuste entre os recursos naturais e as fronteiras
administrativas podem ser resolvidos às custas dos problemas decorrentes da interação
entre diferentes níveis administrativos.

No caso do Tâmisa, predomina um modelo de governança top-down, com


privatizações e agências públicas separadas. Destacam-se alguns órgãos públicos como o
Environmental Agency (EA), Port of London Authority (PLA) e o Greater London
Authority (GLA) na divisão das funções relacionadas à conservação do rio, planejamento
das margens, drenagem, controles da navegação, poluição, recreação e inundação.
Enquanto os serviços de abastecimento de água e saneamento são de responsabilidade
das empresas privadas Thames Water e Tideway, ambas têm suas funções
regulamentadas pela agência nacional OFWAT.

A governança verificada no caso do Tâmisa, permite inferir que a água é uma


commodity, onde as empresas de capital internacional participam e investem nas obras de
melhoria para o setor. Esta perspectiva está atrelada às obras em execução, pautadas em
infraestruturas tradicionais, consideradas caras e insuficientes a longo prazo. A ausência
de espaço para a população neste modelo de governança do Tâmisa contribuiu para a
formação e engajamento de importantes ONGs, que têm como principais funções
mobilizar a população a participar de mutirões de limpeza e ações de recuperação
pontuais em toda a Grande Londres.

Na Alemanha, ainda segundo Pahl-Wostl (2015), a governança dos rios ocorre


tradicionalmente no nível estadual (Bundesländer). O caso analisado segue este modelo,
mas demonstra uma perspectiva multinível entre autoridades do estado e locais, onde o
Ministério de meio ambiente do estado da Renânia do Norte-Vestefália coordena e investe
nos projetos, enquanto municípios, empresas e população formam associações e
cooperativas que definem e implementam as ações de transformação do território na bacia
do rio Emscher.

Este formato se aproxima do que Pahl-Wost (2015) chama de governança


policêntrica, que pressupõe um nível razoável de descentralização e envolvimento de
diferentes stakeholders locais, ao mesmo tempo que há coordenação efetiva em decisões
centralizadas. O modelo, dentre outros fatores, contribuiu para o Emscher ser considerado
72
um "laboratório real da modernização ecológica", ressignificando culturalmente a região.
Importante destacar que não há uma perspectiva top-down nas tomadas de decisão, ao
contrário. De acordo com os materiais de referência, percebe-se um alto grau de
participação de diversos atores locais, possibilitando ações de implantação de
infraestruturas verdes para solucionar os problemas de saneamento e drenagem.

Por fim, sabe-se que há muitas diferenças físicas, socioeconômicas e culturais


entre os casos europeus e o brasileiro. Além disso, a importação de modelos bem
sucedidos necessitam de adaptação para nossa realidade. Spink, Teixeira e Clemente
(2009, pg. 471) retratam muito bem a aplicação de modelos em países diferentes, com
este trecho:

"Sem dúvida, as experiências diferentes ao redor do mundo são


uma fonte importante de inspiração, mas, pela tendência das discussões
no Brasil, dificilmente serão modelos a serem copiados sem adaptação.
Se há uma lição importante das experiências em outras partes do mundo
é que se deve evitar a construção de um modelo único a ser utilizado
por todos, indiscriminadamente."

73
8. PROPOSTA PARA O RIO PINHEIROS

O Governo do estado de São Paulo traçou os objetivos para o rio Pinheiros em até
quatro anos, período do mandato da atual gestão (2019-2022). Portanto, não é intenção
deste trabalho propor alterações no modelo de governança atual. O desempenho ótimo é
aquele que atende tanto às dimensões de esforço quanto às dimensões do resultado
(MARTINS; MARINI, 2010). Por isso, a nossa proposta visa contribuir com possíveis
diretrizes para a continuidade do Programa, após 2022, garantindo a continuidade dos
resultados alcançados.

Como observado ao longo das entrevistas e coletivas de imprensa até o presente


momento (janeiro de 2021), as ações do programa estão dentro do prazo, e ainda com
algumas metas adiantadas, o que pode ser considerado muito satisfatório em um contexto
de pandemia mundial e mérito da articulação entre todos os órgãos envolvidos.

Considerando o método interativo criado por W. A. Shewhart, PDCA20 para a


gestão estratégica em quatro passos - muito utilizado para o controle e melhoria de
processos e produtos - o programa Novo Rio Pinheiros já passou pelas etapas de
planejamento (com a localização dos problemas e estabelecimento dos planos de ação) e
está atualmente em sua fase de execução. Assim, os próximos passos seriam checar o
alcance das metas, com acompanhamento dos indicadores, para então executar possíveis
ajustes necessários e implementar os próximos passos.

Para Martins e Marini (2010), o termo governança significa mais que gestão e
governo, por remeter a papéis preponderantes de múltiplos arranjos de diversos atores
(estado, terceiro setor, mercado, etc.). Os autores elaboram um conceito e uma
metodologia de governança para resultados denominada Gestão Matricial de Resultados,
ou Governo Matricial, baseada na construção de uma agenda estratégica legítima (como
o caso do Programa Novo Rio Pinheiros), no alinhamento das estruturas implementadoras
dentro de fora dos governos, a fim de buscar uma implementação efetiva, e assim evitar
a dissipação fragmentária de esforços na direção de outras agendas, além do
estabelecimento de uma sistemática de monitoramento e avaliação que proporcione a
geração de informações sobre resultados e esforços, promovendo a apropriação da
iniciativa por parte da sociedade.

20
Do inglês: Plan - Do - Check - Act / Adjust
74
Dito isso, considera-se que a estrutura de governança atual do Programa centrada
na figura da SIMA para a coordenação das ações distribuídas em cinco pilares, com o
acompanhamento mensal dos indicadores, metas e prestação de contas sobre o
desempenho do programa, deve continuar, pois tem se mostrado eficaz. Além disso, a
forma como a pasta foi reorganizada, reunindo os principais atores em um mesmo espaço,
foi fundamental para a evolução de todo o projeto. Propõe-se apenas algumas alterações
visto que o programa entra em uma nova fase de apropriação da população das margens
do rio.

8.1 Arcabouço legal

A nova administração para o desenvolvimento é baseada no conceito de


desenvolvimento aberto, em um contexto marcado pela globalização, integração e
interdependência. Busca tratar de forma integrada a dimensão do desenvolvimento
econômico, do desenvolvimento social e da sustentabilidade ambiental, além de atribuir
ao Estado em uma linha de estado-rede, como um elemento consertador, ativador e
direcionador das capacidades do mercado e da sociedade civil (MARTINS, MARINI,
2010, p. 28).

Conforme observado pelos casos estudados, a recuperação dos corpos hídricos


urbanos é uma política de longo prazo que demanda altos investimentos e complexas
intervenções em territórios ocupados, que são atualizadas a cada momento. Isto deve ser
levado em consideração para que os objetivos sejam cumpridos e alterados, conforme as
metas sejam alcançadas.

Por isso, um aspecto importante para garantir a continuidade ao longo do tempo,


é blindar a política de recuperação do rio Pinheiros de interferências políticas que possam
descontinuar as ações ou enfraquecer os resultados, como uma alteração de partidos
políticos com diferentes ideologias no comando do governo estadual ou na esfera
municipal. Portanto, recomenda-se que a secretaria estadual crie arcabouço legal para
garantir a não descontinuidade do Programa.

75
8.2 Participação

A participação social de diversos representantes dos municípios que compõem a


bacia do rio Emscher, contribuíram para um modelo de governança pautado na
participação, que demonstrou resultados positivos tanto na melhoria da qualidade da água
quanto nos projetos de ocupação no entorno do rio. Entende-se que esta abordagem pode
ser adotada também pela SIMA, aumentando a participação de agentes e instituições
externas ao Governo do Estado de São Paulo, tais como ONGs, Universidades, empresas
e, principalmente, novos empreendimentos que tenham atuação direta com o rio Pinheiros
ou que estejam localizados nas regiões próximas às suas margens.

Importante fortalecer os trabalhos de educação ambiental que vêm sendo


construídos com organizações e associações de moradores locais, como condicionantes
dos contratos de saneamento da Sabesp e estender estes projetos às igrejas e
principalmente nas escolas públicas e particulares, incentivando uma mudança
comportamental de crianças e adolescentes, que acabam disseminando este aprendizado
dentro das suas casas.

Ter uma organização que financia e apoia ações de limpeza e recuperação dos
corpos hídricos, a exemplo da ONG Thames River Trust, pode ser uma alternativa, mas
que não depende apenas do poder público, e sim de iniciativas e mobilização da sociedade
civil. Por isso, é fundamental que a população se sinta parte do projeto e entenda os
impactos que um rio limpo traz para a saúde de toda a comunidade, muito mais importante
que a própria estética do bairro. Aos poucos, ampliar a educação ambiental para fora das
comunidades, como forma de abranger cada vez mais a população e conscientizar as
futuras gerações sobre a importância das ações de limpeza e conservação dos espaços
públicos, para assim diminuir a quantidade de materiais despejados em rios e córregos.
Conscientizar que o lixo não desaparece quando você o tira de sua casa e quais
externalidades positivas que isso gera para cada família, para cada vizinhança,
contribuindo para que o programa conquiste valor público.

76
8.3 Governança policêntrica

Como apontado, o modelo de governança centrado na coordenação da SIMA, tem


trazido resultados no Programa e deve se manter, mesmo após o término. O que está sendo
proposto, visto a ampliação de stakeholders na participação da governança do rio
Pinheiros, é a formalização de um comitê específico para tratar das ações relacionadas ao
Pinheiros, aproximando do que foi chamado de governança policêntrica identificado
também no caso do Emscher. Tendo este como base, as decisões continuam centradas na
SIMA, mas a agenda de discussões e definição de prioridades passa a envolver outros
atores, que terão mais espaço para trazer novas perspectivas.

Importante destacar que isto não interfere na autonomia da secretaria e nem na


dos órgãos já envolvidos durante a implementação da política. A ideia é fortalecer a
governança da iniciativa com atores que vivenciam de perto os desafios de manter o rio
limpo e que possam contribuir com propostas de ocupação e lazer, consolidando o
programa como política de estado a longo prazo e em constante transformação.

Justamente considerando que o processo de gestão se encontra bem estabelecido,


uma mensuração sistemática dos processos, com os objetivos bem traçados, pode fazer a
diferença, principalmente se houver a integração entre esse ciclo de gestão orientado para
resultado, em conjunto com a mensuração do processo, com a integração de informações
sobre o desempenho do programa em ciclos de política pública e gestão. Assim, para a
consolidação do Novo Rio Pinheiros, podem ser incorporadas em um segundo momento
múltiplas dimensões, aspectos e determinantes a fim de criar uma cadeia de valor, com a
atuação em distintos níveis, envolvendo a sociedade/cidadãos, governos (inclusive do
ponto de vista interfederativo), setores/domínios de políticas públicas, redes,
organizações, unidades, equipes e indivíduos, para a manutenção do programa como um
todo, em diferentes dimensões. O essencial é que não se percam as conexões e as
integrações com níveis acima e abaixo (IPEA, 2018).

8.4 Pilar Habitação

Considera-se que para melhorar os resultados referentes à qualidade das águas do


Pinheiros, deve-se manter os cinco pilares já existentes no programa e sugerimos a
implantação de dois novos. A proposta aqui considera que para atingir índices abaixo do

77
DBO estabelecido para esta fase do programa, numa segunda etapa de despoluição, novas
ações de saneamento precisarão ser realizadas. Em alguns casos, envolvendo a realocação
de famílias que moram no entorno dos córregos afluentes do Pinheiros. Por isso, em uma
nova fase do Programa Novo Rio Pinheiros, seria necessário a criação do Pilar de
Habitação, responsável por ações de moradia.

Sabemos que este é um desafio complexo, pois depende do envolvimento de


outros entes federativos, sobretudo com as prefeituras responsáveis por estas áreas,
especialmente a Prefeitura de São Paulo, mais impactada - principalmente pela falta de
articulação existente hoje entre as esferas federal e estadual. Levando ainda em
consideração o cenário atual de escassez frente à pandemia mundial, que impacta
diretamente a economia, a questão da moradia deve ser ainda mais agravada nos próximos
anos, principalmente se considerarmos a diminuição dos empregos informais que já vinha
desde a reforma trabalhista.

A Lei 11.124/2005 dispõe sobre o Sistema Nacional de


Habitação de Interesse Social (SNHIS), cria o Fundo Nacional de
Habitação de Interesse Social (FNHIS) e institui o Conselho Gestor do
FNHIS (CGFNHIS). Como princípio para a estruturação e atuação do
SNHIS, encontra-se prevista a compatibilidade e integração das políticas
habitacionais federal, estadual e municipal, bem como das demais
políticas setoriais de desenvolvimento urbano, ambientais e de inclusão
social. Ainda, são princípios do SNHIS a democratização, a
descentralização, o controle social e a transparência dos processos
decisórios. (BERGUES, Martina. 2017, p.86-87).

Portanto, é um processo que envolve muito mais uma perspectiva de negociação


em que as estruturas de poder, as relações entre os atores e a natureza das interações
condicionam o modo como a política é implementada (BARRETT; HILL, 1984; HJERN;
HULL, 1982; PORTER, 1981). Sabe-se que ações como estas, demandam alto grau de
investimentos. Atualmente, a Secretaria Estadual da Habitação possui duas diretrizes para
a política habitacional, seja pelo CDHU (produção) ou pela Casa Paulista (fomento),
ambas destinadas à oferta habitacional de Interesse Social.

Para garantir a implantação de infraestrutura de saneamento adequado, algumas


famílias que hoje residem em áreas contempladas pelo Novo Rio Pinheiros precisam ser
realocadas. Frente a todo o contexto atual, talvez o ideal seja a realização do modelo
78
recente de Parcerias Público-Privadas na área da Habitação - até como fonte de
desenvolvimento para a economia local, com áreas térreas que podem ser exploradas
comercialmente e destinada a equipamentos públicos, como creches e unidades de saúde.

Também seria bom ter como pressuposto deste pilar a permanência das famílias
na mesma região onde residem, em um amplo processo de participação envolvendo a
população afetada, sempre com o objetivo de garantir o direito à moradia justa.

8.5 Pilar de Integração do rio com a cidade

Com a conclusão das fases de formulação e implementação do programa, será


necessário articular uma gestão voltada para os resultados, como maneira de buscar metas
que satisfaçam as expectativas dos legítimos beneficiários da ação. De acordo com
Martins e Marini (2010), isso significa alinhar os arranjos de implementação (que cada
vez mais envolve intrincados conjuntos de políticas, programas, projetos e distintas
organizações) para alcançá-los, além de envolver a construção de mecanismos de
monitoramento e avaliação que promovam aprendizado, transparência e
responsabilização, talvez com modelos focados em dimensões específicas do
desempenho organizacional, como finanças, marketing, operações e logística.

Com este novo pilar, sugerimos concentrar todas as ações que dizem respeito à
revitalização e ocupação das margens, bem como a utilização do rio para que a população
se aproprie do Pinheiros. Estas se referem à utilização dos parques, ciclovias,
equipamentos culturais, quiosques de convivência, exploração de comércios e serviços,
cinema, passeios de barco e outras atrações que sejam de interesse da população e do
Governo do Estado. As ações previstas para este pilar podem ser elaboradas dentro do
comitê do Pinheiros com a participação de atores externos à secretaria.

De acordo com Mark Moore (2003) criar valor público é oferecer respostas
efetivas a necessidades ou demandas que sejam politicamente desejadas; cuja propriedade
seja coletiva; que requeiram geração de mudanças sociais, que modifiquem aspectos da
sociedade. Desta forma, o Projeto Novo Rio Pinheiros, se concluído com sucesso, tem
tudo para ser bem aceito pela sociedade, até pela surpresa de uma nova área, com uma
nova utilidade, após ter sido enxergada por décadas como um espaço degradado que
servia como caminho diário para mais de 3 milhões de pessoas.

79
Quando concluído, o projeto será um novo cartão postal da cidade de São Paulo,
que dará ênfase para uma das principais construções da cidade, a Ponte Octávio Frias de
Oliveira, a Ponte Estaiada, atraindo turistas de todo o mundo.

Quando a população é afetada diretamente por um novo equipamento ou serviço,


acaba reconhecendo as ações de uma gestão e fortalecendo a política que foi
implementada. Para diminuir as expectativas que vimos ao longo da construção deste
trabalho, de que o Novo Rio Pinheiros significaria um rio com águas próprias para banho,
talvez seja necessário reforçar ainda mais a comunicação para a sociedade como um todo
sobre o que realmente o projeto planeja quanto a meta de DBO. Comunicar este fato nas
coletivas de imprensa e entrevistas dos responsáveis, desde agora, até mesmo mostrando
como foram e como estão outros processos para a despoluição de rios em diferentes
países, pode atenuar uma possível repercussão negativa que pode ser levantada
inicialmente com a entrega do projeto, em 2022, ampliando a sua efetividade.

80
9. CONCLUSÃO

A recuperação de rios que atravessam centros urbanos tem se mostrado um grande


desafio para o poder público em muitas cidades, pois demanda não só altos investimentos
e mudanças de comportamento, mas também um sistema de governança capaz de
promover com eficácia as ações nos territórios, articulando órgãos públicos, instituições
e a sociedade civil em torno dos resultados almejados. O contexto urbano exige maior
complexidade nas intervenções, mas a recuperação de rios vem sendo adotada por
diversas cidades, conforme são esclarecidas as vantagens em amenizar os efeitos das
mudanças climáticas e benefícios na qualidade de vida e saúde dos moradores. Os
diversos exemplos existentes pelo mundo mostram que este conjunto de atribuições é
determinante para o sucesso de uma política pública envolvendo recursos hídricos.

O presente trabalho procurou explorar este tema, tendo como referência o


Programa Novo Rio Pinheiros, política do Governo do Estado para recuperação deste rio
de aproximadamente 25 km. O objetivo foi explorar o atual funcionamento do programa
para propor um modelo de governança que contribua para que as melhorias perdurem ao
longo do tempo, de modo a permitir que a população volte a se aproximar do rio
Pinheiros. Há décadas o Governo de São Paulo tem atuado em ações de recuperação do
rio Tietê. Apesar de avanços, os resultados não são perceptíveis à população. Tendo isso
em vista que desde o início de 2019 o governo mudou a estratégia e optou por concentrar
os esforços em um dos afluentes deste rio, como forma de ampliar a visibilidade para este
tipo de ação.

Os referenciais teóricos abordados nesta pesquisa mostram a governança como


um sistema de equilíbrio de poder entre todos os atores envolvidos, que depende de
cooperação e interação, tendo sempre como objetivo a prestação de contas
(accountability) e entrega dos resultados (transparência) perante a sociedade. No caso de
políticas que envolvem a governança das águas, deve-se levar em consideração ainda os
desafios geográficos e de descentralização do poder, contribuindo para a proximidade
com possíveis conflitos socioambientais.

Desta forma, neste trabalho foi utilizada metodologia de análise de benchmarking,


trazendo dois casos internacionais reconhecidamente de sucesso, que poderiam fornecer
lições sobre governança das águas para o Programa Novo Rio Pinheiros. Os casos
escolhidos foram o Tâmisa, na Inglaterra, e o Emscher, na Alemanha. A primeira lição
81
que ambos os casos apresentaram é a de que as ações de recuperação não se terminam,
devendo ser constantes para garantir os resultados alcançados e promover novos, até
mesmo pensados a longo prazo.

O rio Tâmisa é um dos casos de recuperação de um rio mais conhecidos em


andamento. Em seu modelo de governança, o poder público atua na regulação,
fiscalização e planejamento das ações, e conta com forte proximidade na relação com
empresas de capital privado. Este modelo iniciou com a privatização da companhia de
água, o que tem permitido altos investimentos em projetos de infraestrutura, como é o
caso da Thames Tideway Tunnel, atualmente a maior obra de infraestrutura na Europa,
mas também criticada devido ao predomínio das decisões sob a ótica econômica e da
baixa participação da sociedade. Neste aspecto, destaca-se o papel das organizações da
sociedade civil em se organizarem para promover ações de recuperação e limpeza no
Tâmisa.

O caso do Emscher promoveu a transformação de uma zona deteriorada pela


exploração de minério de carvão em um polo cultural e ambiental ao longo dos 83 km do
rio. O modelo de governança é pautado na cooperação entre os entes públicos, privados
e a sociedade civil organizada, por meio de comitês e grupos de trabalho que discutem,
planejam e implementam as mudanças na paisagem do Emscher. Este modelo
descentralizado possibilitou que a região avançasse em infraestrutura de saneamento para
recuperar a qualidade de água, ao mesmo tempo que as "soluções verdes" foram
modificando o cenário e trazendo maior resiliência para a região.

Por fim, este trabalho conclui que o atual modelo implementado pela Secretaria
de Infraestrutura e Meio Ambiente, juntando todos os principais órgãos responsáveis
pelas ações de recuperação do Pinheiros, tem sido bem sucedido em alcançar as metas
estipuladas para a gestão até final de 2022. Assim, espera-se que a política se fortaleça,
mantendo a mesma estrutura dos órgãos públicos, ao mesmo tempo buscando criar
espaços de discussão sobre novos projetos de ocupação ao longo do rio, para ampliar a
participação da sociedade civil e assim fazer com que ela se sinta parte do projeto.

As sugestões propostas, centradas no arcabouço legal, participação, governança


policêntrica e nos pilares de habitação e integração do rio com a cidade, expressam apenas
um ponto de partida aos órgãos envolvidos, quando iniciarem uma nova fase do
Programa.
82
Outrossim, ressalta-se que cada caso de recuperação dos recursos hídricos, precisa
encontrar o modelo de governança mais apropriado para a sua realidade, levando em
consideração aspectos que não foram abordados nesta análise, como os componentes
culturais e socioeconômicos.

83
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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87
11. ANEXO I

TERMO DE REFERÊNCIA A SER FIRMADO COM A SECRETARIA DE


INFRAESTRUTURA E MEIO AMBIENTE DO GOVERNO DO ESTADO DE
SÃO PAULO (SIMA)

OBJETO DO TR: PROGRAMA NOVO RIO PINHEIROS

Autores: André Andreis, Carlos E. Rigolo Lopes, Simone Mourão

Orientador: Marco Antônio Carvalho Teixeira

I – O Programa Novo Rio Pinheiros

O rio Pinheiros possui 25 quilômetros e é um afluente do Tietê. O programa Novo Rio


Pinheiros, elaborado pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Governo do
Estado de São Paulo (SIMA), tem o objetivo de revitalizar este, que é um dos símbolos
da cidade de São Paulo. A iniciativa visa, por meio da união dos órgãos públicos e da
sociedade, reduzir o esgoto lançado em seus afluentes, melhorar a qualidade de suas águas
e integrá-lo à cidade.

Por ser um rio urbano, a água não será potável e também não terá possibilidade de
natação. No entanto, espera-se a melhora do odor, abrigo de vida aquática e, com isso,
trazer a população de volta às suas margens. A iniciativa também tem a proposta de captar
investimentos privados, como a concessão do transporte hidroviário para melhoria da
malha de transporte urbano.
Atualmente, seis dos 16 pacotes de contratação para as obras de esgotamento sanitário
nas suas sub-bacias estão com obras e ações socioambientais em andamento nas regiões
dos córregos Corujas/Rebouças, Ponte Baixa/Socorro, Aterrado/Zavuvus,
Pedreira/Olaria, Pirajuçara e Cidade Jardim/Morumbi. Outros contratos já estão com as
licitações concluídas e com assinaturas previstas.
Também estão em licitação as obras para a implantação das Unidades Recuperadoras da
Qualidade das Águas, que serão instaladas em cinco sub-bacias que apresentam núcleos
de ocupação irregular, onde, de acordo com a SIMA, não é tecnicamente viável implantar

88
ações de infraestrutura e saneamento. Essas unidades irão tratar o esgoto remanescente
desses núcleos, de forma que as águas estejam despoluídas antes de desaguarem no rio
Pinheiros.
Paralelamente, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE), também do
Governo do Estado, realiza um trabalho para a revitalização das margens do Pinheiros
com iniciativas que incluem o aprofundamento e a retirada do lixo do rio. Só entre os dias
6 de agosto de 2019 (data de início dos trabalhos) e 31 de março de 2020, foi constatado
o recorde de desassoreamento e desaterro dos últimos cinco anos, com a retirada de
215.683 m³ e 351.238 m³ de sedimentos, respectivamente. Somados, os materiais
correspondem a mais de 33 mil caminhões basculantes.
Na primeira etapa, prevista até o 2º semestre de 2020, deverão ser retirados 500 mil m³
de detritos no processo de desassoreamento e 700 mil m³ no desaterro, em um total de 1,2
milhão de metros cúbicos, equivalente a 480 piscinas olímpicas. Técnicos da EMAE
também executaram a batimetria do rio (uma medição da profundidade do leito e altura
dos resíduos por meio de sonda). Os resultados mostraram que a profundidade do rio se
alterna entre um e dois metros. A região entre as pontes do Jaguaré e Ari Torres deve ser
priorizada. Já o lixo é retirado por meio de Ecobarcos, redes e boias. Até março deste ano,
foram retiradas mais de 11,7 mil toneladas de resíduos, entre eles garrafas pet, bicicletas,
pneus, plásticos, entre outros.
Desta forma, as ações que estão sendo implementadas através do Programa Novo Rio
Pinheiros estão estruturadas nos seguintes eixos: saneamento, desassoreamento, coleta e
destinação de resíduos sólidos, revitalização das margens e educação ambiental.

II – Descrição do projeto

O presente termo de referência tem por objetivo definir os contornos iniciais para estudo
a ser realizado como trabalho final para o curso de Mestrado Profissional em Gestão e
Políticas Públicas (MPGPP) da Escola de Administração de empresas de São Paulo
(EAESP), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O MPGPP tem como propósito a
apresentação de um trabalho que analise condições reais de gestão e políticas públicas,
evidenciando os principais aspectos e apresentando recomendações relevantes ao órgão
público. A pesquisa a ser desenvolvida em conformidade com este termo de referência
também terá esse condão.

89
O trabalho pretende abordar o programa intitulado "Novo Rio Pinheiros", sob
responsabilidade da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Governo do Estado
de São Paulo (SIMA), que prevê intervenções de saneamento e socioambientais, com
estimativas de beneficiar cerca de 3,3 milhões de pessoas que moram em locais
abrangidos pela bacia do rio Pinheiros, em área de 271 km² que inclui bairros nos
municípios de São Paulo, Embu das Artes e Taboão da Serra.

Em meio ao contexto das mudanças climáticas, a recuperação dos recursos hídricos


urbanos vai de encontro com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das
Nações Unidas. No caso do rio Pinheiros, se torna ainda mais relevante pois estabelece
metas até 2022 para um dos principais rios que cortam a maior metrópole do país.

Encarar este desafio de melhorar a qualidade de suas águas exige ações acertadas e
parcerias que transformem o objetivo do programa em realidade. Além disso, o modelo
de governança do programa é parte fundamental para o sucesso, visto que há diversas
instituições públicas e privadas envolvidas, além da própria sociedade civil.

Neste aspecto de participação social, a literatura em torno da gestão pública tem


enfatizado a importância do envolvimento de atores da sociedade civil na elaboração e
implantação de políticas públicas para aumentar a eficácia dos resultados. No caso da
recuperação de rios, se não houver mecanismos de aprendizagem que promovam o
envolvimento da população no sentido de conduzir a uma visão mais consciente da
importância da sua preservação, há o risco dos resultados da política não perdurarem ao
longo do tempo, mesmo diante de todos os recursos e investimentos despendidos.

III – Objetivos

Pretende-se, através deste trabalho, ressaltar a importância do programa como iniciativa


ao enfrentamento das mudanças climáticas e à perda de biodiversidade nas grandes
cidades. Neste sentido, destaca-se o caráter da pesquisa em compreender o modelo de
governança implementado pelo estado, ao promoverem política de recuperação de corpos
hídricos em áreas urbanas, servindo como referência a outros entes federativos
brasileiros.

Desta forma, o trabalho pretende, a partir dos resultados pretendidos pelo Programa novo
Rio Pinheiros, construir o cenário de governança existente, focando nos mecanismos de
90
aprendizagem entre a SIMA e os parceiros privados e da sociedade civil. O intuito é
identificar como se dá a governança da política durante as etapas de implementação, a
partir do arcabouço teórico denominado Social Learnings (SL). SL é considerado uma
importante base para construir relações de confiança entre os diferentes stakeholders, ao
mesmo tempo que promove engajamento sobre um tema complexo como a recuperação
de rios e córregos urbanos.

Para isso, serão identificados aspectos referentes à participação, compartilhamento de


conhecimentos e as capacidades existentes no modelo político-institucional que compõe
as etapas do Programa Novo Rio Pinheiros, no que se refere à dimensão socioambiental
do programa.

Compreender estes mecanismos de aprendizagem permite que a experiência seja utilizada


por outros governos subnacionais como modelo de benchmarking.

Além disso, ainda com o intuito de estabelecer uma análise de política pública que possa
ser de interesse à SIMA, a pesquisa pretende construir diretrizes e recomendações ao
órgão público estadual no que se refere a potenciais riscos na implantação do programa.

Com base na literatura e nas informações coletadas, interessa como produto final
apresentar uma avaliação sobre os aspectos socioambientais a partir de indicadores que
possam ser utilizados como referência pelo órgão, visando sempre um modelo de
governança capaz de promover a apropriação da sociedade civil para que os resultados
do Programa Novo Rio Pinheiros permaneçam ao longo do tempo.

IV – Produto esperado

O produto final consiste num relatório final de até 70 páginas (Times New Roman 12,
espaço 1,5) acrescidas de anexos e referências bibliográficas, a ser protocolado na
Secretaria de Registro EAESP-FGV e com os seguintes tópicos:

• Diagnóstico da Governança do Programa Novo Rio Pinheiros;


• Diretrizes para a governança socioambiental do programa;
• Indicadores dos Social Learnings;
• Apresentação do relatório diante da banca, com participação de dirigente da
organização envolvida.

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V – Metodologia e ferramentas de pesquisa

A metodologia será pautada no levantamento bibliográfico das referências teóricas acerca


do objeto analisado, incluindo análise de documento públicos e relatórios.
Posteriormente, serão conduzidas entrevistas semiestruturadas junto aos principais
gestores do programa e de diferentes instituições parceiras. Por fim, a partir da análise
dos referenciais e das entrevistas, será construído o diagnóstico da governança
socioambiental para, por fim, discutir e apontar as principais diretrizes e indicadores
visando a maximização dos resultados do programa.

VI – Cronograma

Descrição da Atividade Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out.
Apresentação do tema para SIMA
Avaliação do material e outras iniciativas
Delimitação do objeto
Elaboração do Termo de referência
Definição de orientador
Discussões com o orientador
Elaboração do projeto de pesquisa
Seleção dos referenciais teóricos
Revisão da Literatura de referência
Pesquisas e Benchmarking
Desenvolvimento de roteiro para entrevistas
Entrevistas
Análise dos resultados das pesquisas
Construção de propostas
Elaboração das conclusões
Sistematização das sugestões
Implementação das correções
Redação final do policy paper
Depósito (até 31 de agosto)
Defesa (até 31 de outubro)

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