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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DA

BAHIA
CAMPUS SALVADOR
DEPERTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

LARISSA EMANUELA CÔRTES SOUZA

DICLOROISOCIANURATO DE SÓDIO ASSOCIADO AO ORTOPOLIFOSFATO: UMA


TECNOLOGIA ALTERNATIVA PARA SISTEMAS DE TRATAMENTO DE PEQUENO PORTE
COM CAPTAÇÃO EM ÁGUA DE POÇO

SALVADOR
2021
LARISSA EMANUELA CÔRTE SOUZA

DICLOROISOCIANURATO DE SÓDIO ASSOCIADO AO ORTOPOLIFOSFATO: UMA


TECNOLOGIA ALTERNATIVA PARA SISTEMAS DE TRATAMENTO DE PEQUENO PORTE
COM CAPTAÇÃO EM ÁGUA DE POÇO

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado à banca examinadora do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da
Bahia, Campus Salvador, como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Engenharia Química.

Orientador: Profº Msc. Marcelo Pestana Vieira

SALVADOR
2021

II
AGRADECIMENTOS
Desde 2012, ano em que iniciei minha graduação na Universidade Estadual de Santa
Cruz, tenho sonhado com o dia hoje de alguma forma. Nesse início, eu não tinha tanta
pressa quanto tive nos últimos 4 anos. Hoje, ao finalizar meu trabalho de conclusão de
curso, me pego sem palavras para expressar tamanha gratidão. São incontáveis os
momentos que durante essa imensa jornada eu achei que não conseguiria chegar até aqui,
mas cheguei e nesse instante sinto um mix de alívio, realização, cansaço, medo, felicidade
e, principalmente, gratidão.
Primeiramente sou imensamente a grata a Deus por ter me pertimido chegar até aqui
regada de tantos privilégios. Não é todo mundo que consegue entrar no curso de
engenharia de instituições públicas recebendo total auxílio dos pais para poder se dedicar
completamente aos estudos. Além disso, Deus colocou pessoas incríveis na minha vida
ao longo dessa caminhada, que me acolheram e contribuiram para que eu me tornasse
melhor do que eu era. Hoje, não tenho dúvida da minha evolução pessoal e profissional
ao longo desses 9 anos. A jornada foi longa, mas cheia de conquistas. Comecei o curso
em uma universidade estadual onde fiz 3 anos de iniciação científica, sendo que no último
ano meu trabalho de pesquisa ficou entre os 10 melhores do Seminário de Iniciação
Científica da UESC; fiz intercâmbio na Espanha através do programa Ciências Sem
Fronteiras; passei na seleção de transferência externa do IFBA, intituição onde o curso de
Engenharia Química está entre os melhores do Brasil; conseguir estagiar na indústria;
conheci diferentes países e culturas; eu e minha família seguimos sobreviventes dessa
pandemia (graças a Deus por isso e que assim seja até o fim) e nesse difícil ano de
2021,concluo minha graduação conseguindo me comunicar em mais dois idiomas além
do meu natural. Sim, eu tenho muito para agradecer!
Por isso, deixo aqui toda minha gratidão ao meu Deus, meu Senhor do Bonfim e aos anjos
da guarda que me acompanham e me protegem. Aos meus pais e minhas irmãs por tudo
que fizeram e fazem por mim desde sempre. Esse diploma dedico a vocês e com ele sinto
que começo a cumprir meu dever nesse mundo de honrá-los. À toda minha família que
sonha esse sonho junto comigo desde o início. Ao IFBA e todos os mestres e profissionais
que encontrei nesses últimos 4 anos, de alguma forma vocês fizeram diferença na minha
vida. À UESC por toda experiência que tive lá, especialmente a Vanessa Leite que era
nosso anjo da guarda naquele lugar. Ao meu orientador Profº Msc. Marcelo Pestana, por
ter aceitado dedicar parte do seu tempo para mim ajudar nesse trabalho. Aos meus amigos
e minhas ticas que me apoiaram e tiverem muita paciência comigo durante esse período
da graduação, especialmente aqueles que caminharam junto comigo, sofrendo, rindo e
chorando como Rwan (que foi tudo para mim durante todos esses 9 anos. Minhas
melhores escolhas durante esse tempo foram feitas com você ou por ter tido você
apertando minha mente. Obrigada para sempre por isso!), Mayline, Emanuele, Marcos,
David, Raquel, Vínicius, Juliana, Clívia, Gabriel, Maroca e tantos outros. Agradeço ao
amor da minha vida José, que desde sempre acreditou muito mais em mim do que eu
mesma.
Agradeço ainda à toda equipe da Quimil Indústria & Comércio, especialmente a Fabiana
Araújo (desde o primeiro dia você foi/é minha salvação, meu porto seguro lá dentro. Fico
besta em ver o quanto você acredita em mim. Obrigada por isso!), Francisco Oliveira pela
oportunidade do primeiro estágio e por todo apoio de sempre, Lucas Costa pela ajuda
nesse trabalho e Morena Campello pela confiança, credibilidade e aprendizado adquirido.
Sem dúvidas essa experiência foi uma grande escola para mim. Por fim agradeço a todos
que de alguma forma estiveram presentes nessa labuta que foi minha graduação e a
elaboração desse tão sonhado TCC. Vocês são muito especiais!

III
“O processo é inerente ao tamanho do
projeto que Deus tem para você!”
Deive Leonardo

IV
RESUMO

A água é de extrema importância para a sobrevivência e progresso da humanidade. A


crescente escassez desse recurso natural fez com que os recursos hídricos subterrâneos se
tornassem uma importante alternativa de abastecimento. A qualidade da água para
qualquer uso é definida por diversos parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos, e seu
padrão de potabilidade é determinado pela legislação local, baseado nas orientações da
Organização Mundial da Saúde. Quando o recurso hídrico disponível se encontra fora das
condições ideias de consumo, é necessário trata-lo da maneira mais adequada, aplicando
somente os processos imprescindíveis para obtenção da qualidade desejada, com custo
mínimo. Dentre as técnicas de potabilização, a desinfecção é, sem dúvida, a mais
indispensável de todas e, no Brasil, o método mais empregado para esse fim é o uso de
desinfetantes à base de derivados clorados orgânicos e inorgânicos. O cloro inorgânico
mais utilizado para desinfecção é o Hipoclorito de Cálcio (65% de teor ativo). Ao
comparar esse produto com o Dicloroisocianurato de sódio – DCIS - (60% de teor ativo),
um cloro orgânico, observa – se alguns inconvenientes como: facilitar os processos de
incrustação, aumento do nível de insolúveis na água, menor estabilidade, gera mais
subprodutos e perde mais rapidamente o teor ativo de cloro com tempo. Outro problema
comum encontrado nos mananciais é a presença de metais em elevadas concentrações,
principalmente de ferro. No caso das fontes subterrâneas, mesmo sendo consideradas de
boa qualidade sanitária em seu estado natural, a presença de Fe é muito frequente,
limitando, na maioria das vezes, sua utilização tanto para uso doméstico como industrial.
Uma alternativa que vem sendo bastante utilizada para solucionar os problemas
provocados devido a presença de metais na água é o uso de complexantes. O
ortopolifosfato é um dos produtos mais comumente empregado nesse tipo de tratamento.
Ele atua como quelante de íons metálicos, tais como Fe e Mn, além de funcionar como
inibidor de corrosão e incrustação. Diante das vantagens encontradas no uso do cloro
orgânico e dos ortopolifosfatos, esse trabalho propõe o uso de uma pastilha combinada
composta por DCIS e ortopolifosfato em sistemas de tratamento de pequeno e médio porte
com captação em águas de poço, visando realização da desinfecção e complexação de
metais com um só produto, desenvolvido e fabricado pela Quimil Indústria & Comércio.
Foram avaliadas a capacidade de complexação e de manter o complexo ferroso formado
do sequestrante utilizado na produção da pastilha, e realizadas análises físico-químicas e
microbiológicas da água de um ClienteX tratada utilizando esse método, com objetivo de
verificar se os indicadores de qualidade encontravam-se dentro os padrões de
potabilidade. Além disso, foi feito o estudo de viabilidade econômica para aplicação desse
sistema. Como resultado, obteve-se que o complexante adotado apresenta capacidade de
formar o complexo ferroso e de mantê-lo formado, conservando a cor da água em níveis
abaixo de 15 uH. Durante os seis meses de acompanhamento das análises de qualidade
expostas nesse estudo, a água tratada do cliente se encontrou dentro dos moldes
estabelecidos pelas autoridades sanitárias e o EVE elaborado para avaliar as vantagens
financeiras de substituir um sistema com oxidação + filtração pela linha de tratamento
com a pastilha combinada apresentou VPL positivo, TIR 2,8x maior que a TMA, VPL/VI
igual a 3,3 e um tempo de retorno de no máximo dois anos.

Palavras-chave: Dicloro, ortopolifosfato, ferro, pastilha, desinfecção, complexação, água

V
ABSTRACT

Water is of utmost importance for the survival and progress of humanity. The growing
scarcity of this natural resource has made underground water resources an important
supply alternative. The quality of water for any use is defined by several physical,
chemical and bacteriological parameters, and its potability standard is determined by local
legislation, based on the guidelines of the World Health Organization. When the available
water resource is outside the ideal conditions of consumption, it is necessary to treat it in
the most adequate way, applying only the processes that are essential to obtain the desired
quality, at a minimum cost. Among the potabilization techniques, disinfection is, without
a doubt, the most indispensable of all and, in Brazil, the most used method for this purpose
is the use of disinfectants based on organic and inorganic chlorinated derivatives. The
most used inorganic chlorine for disinfection is Calcium Hypochlorite (65% active
content). When comparing this product with Sodium Dichloroisocyanurate - DCIS - (60%
active content), an organic chlorine, there are some inconveniences such as: facilitating
the incrustation processes, increasing the level of insolubles in water, less stability,
generating more by-products and loses the active chlorine content faster with time.
Another common problem found in springs is the presence of metals in high
concentrations, especially iron. In the case of underground sources, even though they are
considered to be of good sanitary quality in their natural state, the presence of Fe is very
frequent, limiting, in most cases, its use for both domestic and industrial use. An
alternative that has been widely used to solve the problems caused by the presence of
metals in water is the use of complexing agents. Orthopolyphosphate is one of the
products most commonly used in this type of treatment. It acts as a chelator of metal ions,
such as Fe and Mn, in addition to acting as a corrosion and scale inhibitor. Given the
advantages found in the use of organic chlorine and orthopolyphosphates, this work
proposes the use of a combined wafer composed of DCIS and orthopolyphosphate in
small and medium sized treatment systems with well water collection, aiming at
disinfection and complexation of metals with a single product, developed and
manufactured by Quimil Indústria & Comércio. The ability to complex and maintain the
ferrous complex formed from the sequestrant used in the production of the pellet was
evaluated, and physical-chemical and microbiological analyzes were carried out of the
water from a ClienteX treated using this method, in order to verify whether the quality
indicators were present. within the potability standards. In addition, an economic
feasibility study was carried out for the application of this system. As a result, it was
found that the adopted complexing agent has the capacity to form the ferrous complex
and to keep it formed, keeping the water color at levels below 15 uH. During the six
months of monitoring the quality analyzes exposed in this study, the customer's treated
water met the standards established by the health authorities and the EVE was designed
to assess the financial advantages of replacing a system with oxidation + filtration by the
treatment line with the combined insert presented positive LVP, RRI 2.8x greater than
RAM, LVP/VI equal to 3.3 and a payback time of at most two years.

Keywords: Dichlorine, orthopolyphosphate, iron, wafer, disinfection, complexation,


water

VI
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Ciclo da água................................................................................................... 07


Figura 2. Processos de uma ETA convencional............................................................... 13
Figura 3. Fluxograma linha de tratamento de água convencional.................................... 13
Figura 4. Quantidade de coliformes x etapas de tratamento............................................ 18
Figura 5. Tempo de contato x dosagem de cloro livre para inativação de diversos
microrganismos............................................................................................................... 21
Figura 6. Comparação da eficiência de alguns reagentes oxidantes usuais na eliminação
de diferentes elementos................................................................................................... 22
Figura 7. Derivado clorado em água contendo compostos orgânicos e compostos
nitrogenados.................................................................................................................... 24
Figura 8. Cloração no breakpoint.................................................................................... 25
Figura 9. Dissociação do ácido hipocloroso em função do pH........................................ 26
Figura 10. Concentração de CRL em função do tempo para diferentes derivados
clorados........................................................................................................................... 28
Figura 11. Clorador de pastilhas aplicado em tubulações, canais ou tanques.................. 30
Figura 12. Clorador flutuante de pastilhas....................................................................... 30
Figura 13. Clorador por difusão usado em águas de poço............................................... 31
Figura 14. Exemplo de bomba dosadora e seus componentes......................................... 31
Figura 15. Tina com solução de cloro e bomba dosadora acoplada.................................32
Figura 16. Técnicas de remoção de ferro por faixas de teor.............................................34
Figura 17. Sistema de tratamento com bomba dosadora e dupla filtração.......................36
Figura 18. Íons de ferro complexado............................................................................ ...39
Figura 19. Sistema de tratamento água de poço com complexante.................................40
Figura 20. Pastilha combinada – frente......................................................................... ..41
Figura 21 Pastilha combinada – lateral...........................................................................41
Figura 22 Análise capacidade de complexação início.....................................................45
Figura 23 Análise capacidade de complexação adição de hipoclorito............................ 45
Figura 24 Análise capacidade de complexação adição ortopolifosfato...........................46
Figura 25 Análise capacidade de complexação final.......................................................46
Figura 26 Linha de tratamento com oxidação mais filtração.........................................46
Figura 27 Linha de tratamento com pastilha combinada................................................47
Figura 28. Cor, turbidez e cloro ao longo de 6 meses na saída de tratamento..................52
Figura 29. Fluxo de caixa processo pastilha combinada...................................................56

VII
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Sintomas provocados pela presença de contaminantes metálicos na água........ 2


Tabela 2. Características básicas dos diferentes tipos de água.......................................... 9
Tabela 3. Estimativa consumo de cloro........................................................................... 29
Tabela 4. Propriedades Q Past Mix - composição 60/40................................................. 41
Tabela 5. Métodos de análise de água e VMP.................................................................. 45
Tabela 6. Análise da capacidade de complexação e de manter o complexo ferroso..........48
Tabela 7. Caracterização água do poço ClienteX............................................................. 48
Tabela 8. Resultados do mês 1 ao 3 das análises FQ e microbiologicas do ClienteX..... 50
Tabela 9. Resultados do mês 4 ao 6 das análises FQ e microbiologicas do ClienteX..... 51
Tabela 10. Resultados de cor, turbidez e cloro na saída de tratamento............................ 53
Tabela 11. Dados relacionados ao processo com oxidação + filtração............................ 54
Tabela 12. Dados relacionados ao processo com a pastilha............................................. 55
Tabela 13. Indicadores financeiros projeto com pastilha................................................. 56

VIII
LISTA DE SIGLAS, SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

pH Potencial hidrogeniônico
ºC Graus Celsius
Cl Cloro
Ca(ClO)2 Hipoclorito de Cálcio
Ca Cálcio
THM Trihalometanos
Fe Ferro
PCR Portaria de Consolidação
MS Ministério da Saúde
PPM Parte por milhão
OMS Organização Mundial da Saúde
K2Cr2O7 Dicromato de potássio
F Flúor
KMnO4 Permanganato de potássio
O3 Ozônio
H2O2 Peróxido de hidrogênio
Mn Manganês
OECD Organisation for Economic Co-operation and Development (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)
PVC Policloreto de vinila
NBR Norma Brasileira
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
EVE Estudo de Viabilidade Econômica
ANA Agência Nacional de Água
VMP Valores Máximos Permitidos
EPA Environmental Protection Agency (Agência de Proteção Ambiental dos
Estados Unidos)
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente
uT Unidade de Turbidez
IX
Fe2+ Íon ferroso
Mn2+ Íon manganoso
Al Alumínio
UFC Unidade Formadora de Colônia
ETA Estação de Tratamento de Água
Nm Nanômetro
VRQ Valores de Referência de Qualidade
RDC Resolução da Diretoria Colegiada
UV Radiação Ultravioleta
k Constante correspondente a um determinado microrganismo
CRL Cloro Residual Livre
DCIS Dicloroisocianurato de sódio
Q Vazão em m3/dia
MOD Matéria Orgânica Dissolvida
FDA Filtração Direta Ascendente
FDD Filtração Direta Descendente
NC Número de Coordenação
Kc Constante de estabilidade
>: Maior que
VPL Valor Presente Líquido
TIR Taxa Interna de Retorno
IL Índice de Lucratividade
TR Tempo de Retorno
STD Sólidos Totais Dissolvidos
uH Unidade Hazen
FQ Físico-químicas
TMA Taxa Mínima de Atratividade
VI Valor investido

X
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 1
2. OBJETIVOS ........................................................................................................5
2.1 OBJETIVO GERAL ..........................................................................................5
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................5
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................6
3.1 FONTES HÍDRICAS .........................................................................................6
3.2 DESINFECÇÃO ..............................................................................................18
3.3 PRESENÇA DE FERRO E FORMAS DE TRATAMENTO .........................32
3.4 PASTILHA COMBINADA: DICLORO COM ORTOPOLIFOSFATO ........40
3.5 ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA (EVE) ....................................42
4. METODOLOGIA..............................................................................................44
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................48
6. CONCLUSÃO....................................................................................................57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 59
ANEXO 1 ........................................................................................................................... 65

XI
1. INTRODUÇÃO

Segundo RICHTER (2009), estima-se que na natureza existam 45 x 1045


moléculas de água (considerando todos os estados físicos), equivalendo
aproximadamente a 1.360.0000 milhões de m3, dos quais apenas 0,62% podem ser
diretamente aproveitáveis, sendo desse total, 0,61% recursos subterrâneos. A qualidade
da água para qualquer uso é definida por diversos parâmetros físicos, químicos e
bacteriológicos, e seu padrão de portabilidade é determinado pela legislação local,
baseado nas orientações da Organização Mundial da Saúde. São fixados valores de
referência para os fatores mais representativos de qualidade, para que assim seja definido
se a fonte é ou não adequada para consumo humano (RICHTER,2009). Alguns dos
principais indicadores são: pH, cor, turbidez, sabor, odor, ferro, manganês e coliformes.
Quando o recurso hídrico disponível se encontra fora das condições ideias de uso,
seja ele de origem superficial ou subterrânea, é necessário trata-lo da maneira mais
adequada, aplicando somente os processos imprescindíveis para obtenção da qualidade
desejada, com custo mínimo. Vale lembrar que as escolhas dos procedimentos devem ser
feitas com base em inspeções sanitárias e análises de laboratórios acreditados que cubram
um determinado período de tempo (RICHTER; AZEVEDO NETTO,1991). A capacidade
da instalação do tratamento, o pH da água e a presença de outros contaminantes
determinam o processo mais econômico para cada caso (MADEIRA, 2003).
O processo de desinfecção é, sem dúvida, o mais indispensável de todos. Alguns
microrganismos podem sobreviver na água por várias semanas à 21ºC, ou até por vários
meses em temperaturas mais baixas. Esses organismos são indesejáveis, visto que podem
ser patológicos, desencadeando as chamadas “doenças de origem hídrica” (PAIXÃO;
SILVA; ANDREOLA,2014). Segundo a Portaria da Consolidação N° 5/ 2017 do MS,
água tratada para consumo humano deve está isenta desses microrganismos. Dessa forma,
torna-se fundamental o uso de agentes desinfetantes em qualquer processo de tratamento.
O produto químico mais utilizado para desinfecção, no Brasil, ainda é o cloro.
Este pode ser utilizado de diversas maneiras, variando sua concentração e natureza. A
ação do Cl na água depende de vários fatores, como, por exemplo: pH, temperatura,
concentração do produto e quantidade de microrganismos (MACEDO, 2009). Os
derivados clorados mais empregados nesse processo são:
• Cloro gás;
• Hipoclorito de sódio;
• Hipoclorito de cálcio;
• Dicloroisocianurato de sódio;
• Ácido tricloroisocianúrico.
Esses compostos se distinguem basicamente por suas naturezas orgânicas e inorgânicas,
além do teor de cloro associado, condições de aplicação e armazenamento, forma física
comercial, custo e eficiência (MACEDO,2009).
O clorado inorgânico mais utilizado para desinfecção é o Hipoclorito de Cálcio
(65% de teor ativo). Ao comparar esse produto com o Dicloroisocianurato de sódio (60%
de teor ativo), um cloro orgânico, observa – se que o Ca(ClO)2 apresenta alguns
inconvenientes como: facilitar os processos de incrustação e entupimento (devido a
formação de alguns compostos de cálcio de baixa solubilidade a partir da reação com a
água); aumento do nível de insolúveis em água, visto que o pH torna– se muito elevado;
é menos estável; gera mais subprodutos e perde mais rapidamente o teor ativo de cloro
com tempo. Além disso, dentre as vantagens do uso de derivados clorados orgânicos, está
1
a redução da probabilidade de formação dos Trihalometanos (THM), chegando a níveis
não significativos quando comparados aos formados por derivados inorgânicos
(MACEDO & OLIVEIRA, 2010).
A grande maioria das fontes hídricas potabilizáveis contém ferro (Fe), sendo o
teor desse metal de considerável importância, visto que pequenas quantidades podem
afetar seriamente a utilidade da água, principalmente por suas características
organoléticas. A presença de Fe na água pode conferir cor, odor e sabor, além de manchas
em instalações sanitárias e roupas. Outro problema relacionado à presença desse metal na
água é o favorecimento da proliferação das chamadas “bactérias do ferro”, como as
Crenothrix. Esses organismos se reproduzirem abundantemente nos encanamentos,
sistemas de recirculação e distribuição, alterando o estado de oxidação do metal e
produzindo notória ação destrutiva (corrosão) e redução de vazão (MORUZZI, 2012).
Apesar da maior proteção aos contaminantes externos, águas subterrâneas também
podem apresentar problemas de qualidade, sendo um dos mais frequentes a presença de
ferro (Fe) em concentrações elevadas (água ferruginosa), limitando, algumas vezes, sua
utilização tanto para uso doméstico como industrial (BAUMGARTEN, PAIVA,
RODRIGUES, 2014; OLIVEIRA,SCHMIDT, FREITAS, 2004).
A PCR nº 5/2017 do MS estabelece um limite de 0,3 ppm como valor máximo
permitido para concentração de ferro na água para consumo humano. Esse valor foi
definido visando evitar os fatores organolépticos indesejados. Ainda que os processos de
tratamentos reduzam a concentração de Fe para os limites permitidos, o contato da água
com partes das bombas, tubulações e outros equipamentos pode dissolver o ferro presente
nesses meteriais, aumentando seu residual no meio aquoso e, consequentemente, gerar
problemas como os mencionados anteriormente e até prejudicar alguns processos
industriais. Além disso, nos seres humanos, ao ser ingerido uma pequena quantidade de
água contaminada por algum tipo de metal que se encontre acima do limite permitido
pelas autoridades sanitárias, pode haver um desencadeamento de sintomas, podendo até
ser necessário socorro médico (ROSS; POSSETTI, 2017). Alguns exemplos
disponibilizados pela OMS serão apresentados na tabela a seguir, retirados do livro
Tecnologias Potenciais para o Saneamento, volume 2, da Companhia de Saneamento do
Paraná.
Tabela 1 Sintomas provocados pela presença de contaminantes metálicos na água
METAL VALOR-BASE DE SAÚDE SINTOMAS
Cansaço, fraqueza, náuseas, dor abdominal,
FERRO Nenhum valor estimado
queda de cabelo, arritmias, etc.
Dor abdominal, hipersalivação,lesão da
FLÚOR 1,5 mg/L mucosa, náuseas, hipoglicemia, dor de cabeça,
fraqueza, fluorose, etc.
Tremores, esparmos faciais, insônia, perda da
MANGANÊS Muito superior a 0,4 mg/L
habilidade motora, alucinações, etc.
Complicações hematológicas, infertilidade,
CHUMBO 25 μg/kg do peso corporal
irritabilidade, mudanças comportamentais, etc.
Disfunção renal, hipertensão, lesões no fígado,
CÁDMIO 25 μg/kg do peso corporal
etc.
Fonte: OMS, 2011. Retirado do livro Tecnologias Potenciais para o Saneamento, vol. 2

2
Segundo ROSS e POSSETTI (2017), organizadores do livro citado, os elementos
que não apresentam nenhum valor estimado pelo documento da OMS (2011) ou outros
órgãos regulamentadores, são tóxicos se ingeridos em altas doses. Os seus valores limites
não foram estabelecidos pela falta de casos ou experimentos que definissem uma
quantidade que apresentasse o início dos sintomas de intoxicação.
Diante de todo o exposto, fica clara a importância da remoção de metais, como o
ferro, das fontes hídricas durante os processos de potabilização. Os métodos mais
convencionais para eliminação e/ou controle desses elementos na água são:
A. Aeração com oxidação, seguida de floculação e decantação;
B. Oxidação, em pH adequado, seguida de filtração;
C. Desmineralização;
D. Filtração com carvão ativado (adsorção);
E. Complexação.
O processo de oxidação consiste na conversão de espécies solúveis em insolúveis,
sendo realizado a partir de aeração e/ou adição de oxidante químico forte, que tem a
função de gerar o precipitado. Como em geral os sistemas de aeração não apresentam
100% de eficácia na remoção dos metais, torna-se necessário empregar, também, um
produto oxidante. Alguns exemplos dos agentes que podem ser utilizados são: cloro (Cl);
flúor (F), dicromato de potássio (K2Cr2O7 ), permanganato de potássio (KMnO4 ), ozônio
(O3), e peróxido de hidrogênio (H2O2), tendo eles um funcionamento por mecanismos,
dosagens de produtos e tempos mínimos de contato diferentes (ROSS e POSSETTI,
2017).
É importante lembrar que o método de oxidação pode ser utilizado apenas em pH
maior que 6,5 para formação do precipitado de ferro, e em pH maior que 8,0 para
manganês. Muitas vezes, também são necessários os processos de sedimentação ou
filtração após a oxidação, de forma a torná-la eficiente (Moruzzi; Reali, 2012).
Outra alternativa que vem sendo bastante utilizada para solucionar os problemas
provocados nas fontes hídricas devido a presença de metais é o uso de complexantes. A
Portaria de Consolidação N° 5/ 2017 afirma que para concentrações de Fe até 2,4 ppm e
0,4 ppm de Mn na água bruta, essa técnica pode ser aplicada. Segundo Jones (2002),
pode-se definir um complexo metálico como “um composto formado entre um ácido e
uma base de Lewis”. Ou seja, a união de um ligante químico com um íon metálico central,
onde esse íon coordena os ligantes ao seu redor. Assim, partindo desse princípio, é
possível adicionar na água um composto com a função de complexar os ións de ferro
presentes, evitando que os mesmos sejam oxidados e precipitem, levando a formação de
cor, sabor e odor. O ortopolifosfato é um dos complexantes mais comumente empregado
nesse tipo de tratamento. Ele atua como quelante de íons metálicos, tais como Fe e Mn,
além de funcionar como inibidor de corrosão e incrustação. Ele é considerado como não
tóxico pela OECD e, segundo pesquisas, não traz malefícios ao meio ambiente e nem a
saúde humana (WEIGERT; RATTMANN, 97; CARVALHO,2004; SOUZA et. al, 2019).
A crescente escassez de água que vem atingindo grande parte da população mundial
fez com que os recursos hídricos subterrâneos se tornassem uma importante alternativa
de abastecimento, já que seu estado natural é, na maioria dos casos, de boa qualidade
sanitária e oferece segurança para o consumo doméstico (BAUMGARTEN; PAIVA;
RODRIGUES, 2014, MENEZES; SILVA JUNIOR; SANTOS, 2007).

3
As captações de águas subterrâneas em grande profundidade são feitas através dos
chamados poços artesianos ou tubulares. Eles são construídos através de perfurações
em rochas duras ou moles, em diâmetros variáveis, objetivando explorar o aquífero onde
ocorre água. Após o processo de perfuração, esses canais recebem um revestimento, por
meio da aplicação de uma tubulação de aço ou com policloreto de vinila (PVC), o que
proporciona um invólucro seguro, de forma que o furo não se feche ou permita a entrada
de material abrasivo no seu interior através de suas seções filtrantes (MADEIRA, 2003,
CAPPUCI; MARTINS; MANSUR; MONSORES, 2001). De acordo com Oliveira et.
al (2003), um poço subterrâneo quando bem construído representa uma forma segura e
econômica de abastecimento de água. Por outro lado, quando construído de forma
inadequada, pode permitir a contaminação da água captada. Atualmente, existem
diversas empresas especializadas na perfuração de poços e, dependendo da demanda de
uso da água, pode ser financeiramente mais viável ter essa fonte de captação do que
depender da prestação do serviço de abastecimento estadual.
Diante disto, a proposta do uso da pastilha combinada de dicloroisocianurato de
sódio com ortopolifosfato vem com intuito de otimizar o tratamento de águas
subterrâneas, com concentrações de ferro até 2,4 ppm, visto que com mesmo produto é
possível evitar formação de cor, odor, sabor, turbidez, problemas com manchas e
corrosão provocadas pelo metal, além de agir também na desinfecção, através da ação
do derivado clorado orgânico com 60% de teor ativo, usando um sistema mais simples
em termos de operação, instalação, tempo de tratamento e custo. Além disso, o residual
de complexante na água tratada fornece uma segurança maior que a água chegará ao
consumidor dentro dos padrões de portabilidade, com cor abaixo de 15 uH, ainda que
ocorra algum desprendimento de ferro ao longo das tubulações. É importante ressaltar
que os dois produtos usados na fabricação dessa pastilha são autorizados pela NBR
15784 para uso em tratamento de água para consumo humano.

4
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL

Avaliar a viabilidade econômica e a eficiência do uso de dicloroisocianurato de


sódio associado ao ortopolifosfato como uma tecnologia alternativa para sistemas de
tratamento de pequeno porte com captação em água de poço, visando a desinfecção e
complexação de metais, considerando tanto os fatores econômicos como as exigências de
potabilidade apresentadas nas legislações pertinentes, frente ao processo de oxidação
mais filtração para remoção de cor e turbidez provocadas pela presença do ferro e o
método convencional de cloração com hipoclorito de cálcio. A viabilidade técnica desses
métodos está comprovada na ampla aplicação prática de todos eles nos mais distintos
sistemas de tratamento de água, seja ela superficial ou subterrânea, conforme pode ser
observado na literatura e nas estações de tratamento.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

1. Avaliar a capacidade de complexação e a capacidade de manter o complexo ferroso


do ortopolifosfato utilizado na fabricação da pastilha combinada;
2. Fazer análise da água bruta e acompanhamento mensal, durante seis meses, da água
do ClienteX tratada com a pastilha combinada produzida pela Quimil Indústria &
Comércio;
3. Avaliar a eficiência do produto aplicado através da manutenção do valor dos
parâmetros cor (principal medida das características organolépticas afetadas pela
presença do ferro) e turbidez em conformidade com os padrões de potabilidade. Além
da apresentação dos resultados dos demais indicadores de qualidade dentro dos
limites permitidos;
4. Fazer o estudo de viabilidade econômica (EVE) da troca de um sistema de tratamento
com processo de oxidação mais filtração para remoção de ferro e cloração com
hipoclorito de cálcio para desinfecção pelo tratamento alternativo proposto com uso
da pastilha combinada em pequenas linhas de tratamento que captam águas de poço;

5
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1 FONTES HÍDRICAS

A água é de extrema importância para a sobrevivência e progresso da humanidade.


Manter as águas e seus mananciais em estado natural é uma questão de sobrevivência
para os reinos vegetal, animal e da espécie humana. A Secretaria do Meio Ambiente
(1999) afirmou que “A água representa um insumo fundamental para a produção e
recurso estratégico para o desenvolvimento econômico, mas não é só isso. Ela é vital
para a manutenção do sistema ecológico e significa importante elemento de referência
cultural da população, assim como um bem social”. Ou seja, a água é essencial para a
existência e o bem-estar humano, devendo estar disponível em quantidade e qualidade
adequada para a população (SILVA et. al., 2005; BRAGA, 2014).
Segundo a Agência Nacional de Água (ANA), estima-se que 97,5% da água
existente no mundo é salgada e não é adequada para o consumo humano direto e nem se
quer para irrigação de plantações. Dos 2,5% de água doce, a maior parte (69%) é de difícil
acesso, pois está concentrada nas geleiras, 30% são águas subterrâneas (armazenadas em
aquíferos) e 1% encontra-se nos rios.
O ciclo da água, ou ciclo hidrológico, é a representação da dinâmica natural desse
elemento no planeta, que estar em constante atividade e é movido pela energia solar. Ele
se constitui, resumidamente, do processo contínuo de transporte de massas d’água do
oceano para a atmosfera e desta, através de precipitações e escoamento (superficial e/ou
subterrâneo) novamente ao oceano. Ou seja, o ciclo hidrológico apresenta, nos fenômenos
de evaporação e precipitação, seus principais responsáveis pela contínua circulação da
água na terra.
Como é possível imaginar, a maior parte da energia proveniente do sol que é
aplicada nesse ciclo é utilizada no processo de evaporação da água dos oceanos que,
segundo Esteves (1998), constitui-se quantitativamente como o principal elemento
hidrológico. Daí, estima-se que 75% retornem diretamente para os oceanos através da
precipitação e os outros 25% precipitem no continente, podendo evaporar antes de atingir
o solo ou escorrer na forma líquida, retornando aos oceanos através da rede hidrográfica
pelo escoamento superficial ou indiretamente pelo escoamento subterrâneo (Esteves,
1998; Carrasco e Díaz, 2010; Fritzen e Binda, 2011).
Segundo Varejão-Silva (2006), podemos dividir o ciclo hidrológico em duas
partes: o ramo aéreo e o ramo terrestre. Para Lima, W.P. (2008), essa dinâmica da água
no planeta envolve vários e complicados processos, como: evaporação, precipitação,
interceptação, transpiração, infiltração, percolação, escoamento superficial e escoamento
subsuperficial. Desses, conforme dito anteriormente, a evaporação e a precipitação são
consideradas os elementos mais importantes do ciclo. Porém, vale lembrar que a
evapotranspiração, infiltração, escoamento superficial e subterrâneo são outros elementos
que podem assumir grande importância, especialmente quando se trata de uma análise à
nível regional, onde ocorrem variações nos processos em função das características locais
como, por exemplo, clima e topografia. Na figura 1 podemos observar uma representação
do ciclo hidrológico (Esteves, 1998; Carrasco e Díaz, 2010; Fritzen e Binda, 2011).

6
Figura 1 Ciclo da água
Fonte: United States Geological Survey – USGS via Fritzen; Binda. UFFS, 2011

O chamado ramo aéreo do ciclo da água começa com a incorporação desse


elemento em forma de vapor na atmosfera desde os oceanos, rios, lagos, solos e
plantações. No terrestre, a precipitação da água e sua circulação superficial e subterrânea
até os oceanos são as partes principais do trabalho. Vale ressaltar que parte da água
circulante retorna para ciclo ascendente através do fenômeno chamado evapotranspiração
antes de chegar ao mar (Carrasco e Díaz, 2010).
Basicamente, a dinâmica do ciclo funciona da seguinte forma: as grandes
quantidades de massa de água e a terra são aquecidas pelo sol, fazendo com que suas
temperaturas se elevem. Assim, a água chega na sua temperatura de ebulição, passando
do estado líquido na superfície para o gasoso na atmosfera, ou ela pode entrar na parte
ascendente do ciclo através da transpiração dos seres vivos (PINTO, 2008; MARTINS,
2008). No momento de ascensão do vapor, pode ocorrer o processo de condensação
devido a diminuição da temperatura para um valor abaixo do ponto de saturação. Daí,
forma-se as nuvens e a água retorna para superfície mediante precipitação na forma de
chuva, neve, granizo ou orvalho. Entretanto, durante a precipitação, uma parte da massa
líquida evapora imediatamente (HOLTZ, 2008; AYOADE, 2010). Além disso, da parcela
que precipitou pode ter uma quantidade retida pela vegetação antes mesmo de atingir o
solo. Esse é o fenômeno chamado de intercepção. Essa fração retida pode sofrer também
evaporação ou acabar chegando na superfície (COELHO NETTO, 1995). Finalmente, ao
entrar em contato com a parte terrestre, ocorre infiltração para abastecimento dos lençóis
freáticos e escoamento através da rede de drenagem. Este é o ciclo que ocorreria em
condições naturais, mas sabe-se que ações antrópicas em alguns desses estágios estão
alterando-o profundamente (Fritzen e Binda, 2011).
Devido ao ciclo hidrológico da água, por muito tempo acreditou-se que esta seria
um bem permanente. Porém, conforme citado no parágrafo anterior, as atividades
humanas, tais como desmatamento, emprego indiscriminado de defensivos agrícolas,
assoreamento de rios e nascentes, impermeabilização dos solos, poluição da atmosfera e
ocupação de mananciais, estão fazendo com que a disponibilidade da água venha sendo
alterada, tornando a possibilidade de escassez cada dia mais real (SILVA; COSTA;
WELSCH, 2018).

7
A grande crescente da carência de água que vem atingindo boa parte da população
mundial fez com que os recursos hídricos subterrâneos se tornassem uma importante
alternativa de abastecimento, cada vez mais utilizada nas práticas industriais e para uso
doméstico. Entretanto, é importante lembrar que as alterações sofridas no ciclo
hidrológico afetam diretamente na recarga dos aquíferos e, consequentemente, prejudica
também a alimentação dessas fontes hídricas subterrâneas. (BAUMGARTEN; PAIVA;
RODRIGUES, 2014, MENEZES; SILVA JUNIOR; SANTOS, 2007). De fato, a água
subterrânea é uma fonte bastante confiável e, no Brasil, é largamente utilizada. Além da
utilização doméstica, os poços têm abastecido de maneira muito expressiva a indústria e
comércios (MARTINS NETTO et. al., 2006).
Para Richter e Azevedo Neto (1991), a definição mais importante em um projeto
de abastecimento de água é a escolha do manancial a ser adotado. Quando há mais de
uma fonte possível, a seleção deve ser baseada em estudos que não se restrinjam
exclusivamente aos aspectos econômicos, mas também que avaliem a qualidade da água
e as tendências futuras relativas à preservação e condições de segurança. Ou seja, é
necessária uma avaliação tanto técnica quanto econômica.
De acordo com a OMS, 80% de todas as doenças que se alastram nos países em
desenvolvimento são provenientes de água de má qualidade. As doenças de transmissão
hídrica vistas mais comumente são: disenteria amebiana, disenteria bacilar, febre tifoide,
cólera, diarreia, giardíase e hepatite infecciosa. Sabemos que a conformidade das fontes
hídricas depende de características que variam com o tempo, exigindo para seu controle
a realização de análises constantes e a implantação das correções adequadas. Entretanto,
deve-se ter em mente que o tratamento só deverá ser realizado depois de demonstrada sua
necessidade e, sempre que a purificação for exigida, compreender somente os processos
imprescindíveis à obtenção da qualidade desejada, com custo mínimo (RICHTER;
AZEVEDO NETO, 1991; RICHTER, 2009).
Conforme veremos mais adiante, os tipos de tratamento aplicados são diversos e
visam atender os chamados padrões de potabilidade. Ou seja, os limites permitidos para
os parâmetros físicos, químicos e biológicos padronizados pela legislação, de acordo com
o uso que será destinado a água (RICHTER & AZEVEDO NETO, 1991). A NBR 12216
classifica, de acordo com as necessidades de tratamento, as águas naturais em quatro
tipos:
• TIPO A: águas subterrâneas ou superficiais, provenientes de bacias sanitariamente
protegidas e cuja características satisfazem os padrões de potabilidade;

• TIPO B: águas subterrâneas ou superficiais, provenientes de bacias não protegidas,


com características básicas que podem se enquadrar nos padrões de potabilidade
mediante processos de tratamento que não precisam de coagulação;

• TIPO C: águas superficiais provenientes de bacias não protegidas que exigem


coagulação no processo de tratamento para se adequar aos padrões;

• TIPO D: águas superficiais provenientes de bacias não protegidas, sujeitas a fontes


de poluição, que exigem processos especiais de tratamento para se adequar aos
padrões.

Ainda segundo essa norma, cada um desses tipos de água apresenta valores típicos de
alguns parâmetros característicos, conforme pode ser observado na tabela a seguir.

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Tabela 2 Características básicas dos diferentes tipos de água
PARÂMETROS TIPO A TIPO B TIPO C TIPO D
DBO 5 dias (mg/L)
Média Até 1,5 1,5 – 2,5 2,5 – 4,0 > 4,0
Máxima para qualquer
1,0-3,0 3,0-4,0 4,0-6,0 >6,0
amostra
Coliformes (VMP/100 ml)

Média mensal em qualquer 50 – 100 100 – 5000 5000 - 20000 >20000


mês
>100 em >5000 em >20000 em
Máximo menos de 5% menos de 20% menos de 5% -
das amostras das amostras das amostras
pH 5,0 – 9,0 5,0 – 9,0 5,0 – 9,0 3,8 - 10,3
Cloretos <50,0 50 – 250 250 - 600 >600
Fluoretos < 1,5 1,5 – 3,0 >3,0 -
Fonte: NBR 12216

A implantação de um processo de tratamento adequado é fundamental para


produção de água potável. A seleção dos métodos deve ser feita de forma que seja
possível remover ou reduzir alguns constituintes da água bruta. A escolha das operações
unitárias que serão adotas para alcançar tais objetivos dependem, principalmente, da
natureza do manancial e da qualidade desejada. A decisão final deve ser pautada na
segurança do processo, na facilidade de construção, na existência de equipamentos
adequados, facilidade de operação e manutenção, além dos custos (RICHTER, 2009).
Quando se trata de consumo humano, de qualquer ordem, a aplicação do trato adequado
para o uso da água, quando necessário, é de extrema importância para evitar não só os
riscos à saúde e os problemas estéticos, mas também para conservar os equipamentos e
tubulações envolvidas. As inspeções sanitárias e os resultados representativos de análises
que cobrem um determinado período, feitas por instituições acreditadas, determinam a
necessidade ou não do tratamento e, em caso positivo, quais os processos exigidos
(RICHTER & AZEVEDO NETO, 1991). De qualquer modo, segundo a PCR Nº 5, Artigo
24 do anexo XX, “toda água para consumo humano, fornecida coletivamente, deverá
passar por processo de desinfecção ou cloração”.
As águas que mais frequentemente dispensam tratamento são provenientes de
fontes subterrâneas como poços profundos bem protegidos, galerias de infiltração e bacias
de captação ou acumulação. De fato, diversos autores na literatura afirmam que elas
apresentam maior proteção contra contaminantes que as fontes superficiais, pois a própria
porosidade do solo já funciona como uma espécie de filtro. Entretanto, a contaminação
ainda pode ocorrer devido a possíveis falhas de construção dos poços, negligência
humana ou por ocorrência natural, como acontece com a presença dos íons de ferro e
manganês. Além disso, alguns autores têm relatado a contaminação dessas fontes hídricas
como consequência do uso da terra. Para que o tratamento seja evitado, as águas
subterrâneas deveram ser moles, sem cor, com pouca turbidez, baixos teores de ferro e de
outras substâncias prejudiciais, além, claro, de ter boa qualidade bacteriológica. (CHAE
et al., 2004; DAS et al., 2010; MIRLEAN et al., 2005; CALIJURI et al., 2012; LI;
MERCHANT, 2013; STROHSCHÖN et al., 2013; WHITE et al., 2013; RICHTER &
AZEVEDO NETO, 1991).
Os padrões de potabilidade são valores aceitáveis para os parâmetros mais
representativos da qualidade da água para que ela seja considerada adequada para
consumo humano. Esses VMP (valores máximos permitidos) são definidos pelas

9
legislações vigentes em cada país, baseados, geralmente, nos dados da OMS e da Agência
de Proteção do Meio Ambiente dos Estados Unidos (EPA). No Brasil, a principal
regulamentação referente a potabilidade é a Portaria Nº 2.914 de 12 de dezembro de 2011,
incorporada no anexo XX da Portaria de Consolidação (PCR) N° 5 de 2017. Além dela,
existem outras resoluções e normas técnicas importantes para essa questão, como a
Resolução CONAMA nº 396, Resolução CONAMA nº 430, ABNT NBR 15784:2017,
ABNT NBR 15007:2007, ABNT NBR 12216:1992, ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017,
dentre outras.
Conforme já dito, a qualidade da água é definida pela sua composição física,
química e bacteriológica. As características desejáveis para esse elemento dependem da
sua utilização e, para garantir sua conformidade, são avaliados alguns parâmetros,
definidos nas legislações, através de uma série de análises laboratoriais. Alguns dos
principais indicadores considerados para definir a potabilidade da água, :

1. Cor: É uma propriedade organoléptica que influência na estética da água.


Segundo Richter e Azevedo Neto (1991), normalmente cor na água bruta é
originada através da decomposição de vegetais, levando a presença de
substâncias dissolvidas ou em suspensão no meio. Assim, essa característica
não representaria nenhum risco para a saúde, mas pode gerar uma falta de
interesse do consumidor, fazendo com que eles procurem outras fontes de
melhor aparência que podem acabar sendo mais perigosas. Vale lembrar que a
matéria orgânica em combinação com ferro pode produzir cor de elevada
intensidade. Esse parâmetro deve ser sempre acompanhado e controlado, visto
que a cor de uma água pode ser indicativo de seu grau de poluição. Richter
(2009) afirma que, de modo geral, águas de cor elevada apresentam alta
demanda química e bioquímica de oxigênio. Esse é um indicador sensível a
variações de pH, sendo mais fácil sua remoção em meios mais ácidos. Quando
a cor é devida apenas a substâncias dissolvidas em estado coloidal, chama-se de
cor verdadeira ou real. Porém, quando há matéria em suspensão, diz-se que se
trata de uma cor aparente. O valor máximo permitido fixado na maioria dos
regulamentos para esse parâmetro é de 15 unidades, sendo desejável um valor
inferior a 5.

2. Turbidez: Para Richter e Azevedo Neto (1991), essa característica da água é


devida a presença de partículas suspensas de tamanhos variados. A presença
desses elementos provoca a dispersão da luz, gerando uma aparência turva,
esteticamente indesejável e potencialmente perigosa, pois pode ser causada por
uma variedade de materiais como: lodo, argila, descargas de esgotos domésticos
ou industriais, presença de muitos microrganismos, algas ou até pequenas
bolhas de ar. Os mesmos autores afirmam que, quanto mais subdividida uma
dada quantidade de uma substância no meio, maior será a turbidez. A remoção
desse aspecto é de fundamental importância, visto que a desinfecção da água,
principalmente na questão de inativação dos vírus, é mais eficaz quanto menor
for a turbidez. A grande questão é que, como existe uma numerosa variedade
de natureza das partículas que desencadeiam essa característica na água, a
escolha do processo mais adequado para seu tratamento é bastante difícil. Outro
fator importante relacionado a esse parâmetro é que esse indicador pode ser
tratado como uma medida indireta da quantidade de sólidos em suspensão,
sendo, portanto, muito útil para a potabilidade, onde a quantidade deles é

10
geralmente baixa. Na maioria das regulamentações, o VMP de turbidez para
água potável é de 5 uT.

3. pH: Von Sperling (2009) afirma no seu livro que os valores de pH nas águas
estão relacionados a fatores naturais e antropogênicos como, por exemplo,
dissolução de rochas, absorção de gases atmosféricos, oxidação da matéria
orgânica, fotossíntese e despejo de esgotos domésticos e industriais. Essa é uma
propriedade importante em todas as fases do tratamento, sendo referido
frequentemente em processos como coagulação, floculação, desinfecção e
controle de corrosão. Na desinfecção o controle de pH é fundamental, pois afeta
a disponibilidade do ácido hipocloroso. Além disso, segundo Macedo (2009),
esse parâmetro influencia diretamente na formação de Trihalometanos (THM),
que são possíveis subprodutos da desinfecção considerados cancerígenos,
devido a reação “halofórmica” que é catalisada por uma base. Sendo assim,
conforme evidenciado no estudo de KIM, CHUNG, SHIN, et al (2002), quanto
maior o pH maior a formação de THM. Já no caso da coagulação, o pH atua
junto com a alcalinidade e acidez, pois normalmente o coagulante tem atuação
como ácido na solução, o que reduz, consequentemente, pH e alcalinidade,
sendo necessário muitas vezes à adição de um alcalinizante para equilibrar o pH
do meio (PAVANELLI,2001). Richter e Azevedo Neto (1991) diz que nos
sistemas de abastecimento público, o pH normalmente encontra-se entre 6,5 e
9,5, sendo que águas com baixo pH tendem a ser corrosivas ou agressivas com
certos materiais enquanto com pH alto podem formar incrustações. A PCR nº
5/2017 exige que o pH da água para consumo humano esteja entre 6,0 e 9,5.

4. Cloro: No Brasil, produtos à base de cloro ainda são os mais utilizados no


processo de desinfecção. O acompanhamento da concentração residual desse
elemento na água para consumo humano é de extrema importância, visto que
esse é o principal mecanismo para controle de agentes patológicos que podem
desencadear as famosas doenças de origem hídrica. A legislação permite a
presença de até 5 mg/L de Cl livre na água, exigindo um mínimo de 0,2 mg/L.
Sem dúvidas, esse é um dos indicadores de maior necessidade de
monitoramento (RICHTER, 2009; RICHTER & AZEVEDO NETO, 1991).

5. Ferro e manganês: Esses metais frequentemente encontram-se associados e


são muito comuns em águas subterrâneas, onde estão dissolvidos devido ao alto
teor de gás carbônico presente e ao baixo pH. Os problemas que eles provocam
na água e as formas de tratamento são bastante parecidas. Em ambos os casos,
os mais baixos estados de oxidação (Fe2+ e Mn2+) são mais solúveis. Essas
formas iônicas desses elementos são muito fáceis de oxidar, formando
hidróxidos insolúveis que precipitam, conferindo à água, no caso do ferro, um
sabor amargo adstringente e coloração amarelada turva. Devido a isto, em águas
superficiais bem aeradas o teor desses elementos é bem pequeno. Os VMP para
Fe e Mn são, respectivamente, 0,3 mg/L e 0,1 mg/L. Esses valores foram
definidos mais por razões estéticas e econômicas do que fisiológicas. Quando
estão em concentrações mais elevadas, esses metais podem provocar dureza na
água, manchas em roupas e em objetos, produzem sabor, além de favorecer ao
desenvolvimento de bactérias e a processos de corrosão e incrustação, conforme
já mencionado anteriormente nesse trabalho. É importante lembrar que a PCR
Nº 5, no Art. 39 § 4° permite a utilização do método de complexação para

11
tratamento desses metais quando as concentrações deles no meio aquoso forem
até 2,4 mg/L para o ferro e 0,4 mg/L para o manganês. (RICHTER &
AZEVEDO NETO, 1991; RICHTER, 2009).

6. Bactérias heterotróficas: Esses organismos podem ser utilizados como critério


de avaliação da qualidade microbiológica da água. Sabe-se que alguns desses
organismos são patológicos e podem provocar doenças de origem hídrica
(RICHTER, 2009). Na PCR Nº 5, no Art. 28 diz que: “A contagem de bactérias
heterotróficas deve ser realizada como um dos parâmetros para avaliar a
integridade do sistema de distribuição (reservatório e rede)”. O valor máximo
permitido para esses microrganismos é de 500 UFC/mL.

7. Coliformes totais e termotolerantes: Esses parâmetros caracterizam-se como


sendo grupos de bactérias Gram-negativas em forma de bastonete, não
esporuladas, aeróbios ou anaeróbios facultativos. No caso dos coliformes totais,
temos o conjunto de organismos capazes de fermentar a lactose que produz gás
em 24 a 48 horas sob uma temperatura de 35ºC. No caso dos termotolerantes, é
um grupo restrito a bactérias capazes de fermentar lactose que produz gás em
24 horas numa temperatura de aproximadamente 44,5-45,5ºC e normalmente
são encontradas nas fezes, vegetação e solo, exceto Escherichia coli que apenas
estar presente no trato intestinal de humanos e animais homeotérmicos. Essas
bactérias também são reconhecidas como microrganismos indicadores e seu
controle é de extrema importância para garantir a potabilidade da água (SALES
et. al, 2015; BUZANELLO, 2008). Nas regulamentações, determina-se que
haja ausência desses elementos para cada 100 mL de água.
Nas estações convencionais de tratamento (ETA), geralmente, os processos de
purificação da água bruta são divididos em três etapas principais que englobam diferentes
operações unitárias. Essas etapas são: clarificação, filtração e desinfecção. Além delas,
pode ocorrer também uma espécie de tratamento terciário, que não se faz obrigatório, mas
funciona como refino da água já tratada. Conforme veremos adiante mais
detalhadamente, quando as características da água bruta permitem, apenas a etapa de
desinfecção faz-se necessária. Isso é o que ocorre com maioria das águas subterrâneas
(LIBÂNIO,2010). Na figura 3 podemos observar um esquema geral do processo de trato
da água bruta em uma ETA convencional.

12
Figura 2: Processos de uma ETA convencional
Fonte: SAAE (2006) via LIMA et. al.,2019

Nesse esquema, inicialmente temos as chamadas etapas de clarificação, que


correspondem aos processos de coagulação, floculação e decantação/flotação, tendo eles
como objetivo primordial à remoção dos sólidos suspensos e de uma parcela dos sólidos
dissolvidos. Em seguida, durante a filtração, serão removidos mais sólidos dissolvidos e
microrganismos tais como bactérias, cistos e oocistos de protozoários. Por fim, na
desinfecção, ocorrerá a inativação dos microrganismos ainda presentes. Ou seja, essas
etapas de potabilização funcionam como barreiras consecutivas à passagem de partículas,
suspensas e dissolvidas, e de microrganismos (LIBÂNIO,2010). Na figura 3 pode-se
observar um fluxograma típico de uma linha de tratamento de água convencional, retirado
do livro Fundamentos de Qualidade e Tratamento de Água, de Marcelo Libânio (2010).

Figura 3 Fluxograma linha de tratamento de água convencional


Fonte: LIBÂNIO, 2010

Antes de falar um pouco sobre cada uma das principais operações unitárias
envolvidas na linha de tratamento, é importante entender a influência dos tamanhos das
partículas nesses processos. Segundo CARRASCO E DÍAZ (2010), a grande variedade
de tamanhos das partículas sólidas na água faz com que sua purificação não seja tão
simples e não permite que a definição do tratamento seja baseada unicamente no peso dos
corpos ou no método de filtração direta. Para esses autores, as partículas maiores (em
torno de 100 nm) se encontram na forma de dispersões grosseiras na água e/ou como
sólidos em suspensão, enquanto as menores (próximo de 1 nm) caracterizam os sais
dissolvidos. No intervalo entre esses dois horizontes, encontram-se matérias orgânica e
inorgânica na forma de coloides.
Esses sistemas coloidais são muito importantes porque, em geral, eles apresentam
a propriedade de dispersão da luz, gerando turbidez e cor na água. Além disso, eles
possuem uma elevada capacidade de absorção de substâncias orgânicas e inorgânicas e
13
alta tensão superficial, tornando-se muito estáveis em meio aquoso, pois repelem-se entre
si, não havendo floculação entre eles. Mesmo que os sistemas coloidais apresentem
elevada estabilidade e resistência a decantação, a remoção dessas partículas pode ser feita
com a adição de eletrólitos no meio aquoso, que conseguem desestabilizá-los, levando a
precipitação. Esse mecanismo é o fundamento principal dos processos de coagulação-
floculação (CARRASCO & DÍAZ, 2010).
Devido à alta tensão superficial, existem nas suspensões coloidais dois tipos de
forças: forças de atração do tipo Van Der Waals, relacionadas a estrutura dos coloides e
a natureza do meio, e as forças de repulsão eletrostática que estão ligadas as suas cargas
superficiais. A estabilidade desses sistemas depende justamente do equilíbrio dessas
forças. Para desestabilizá-los, e fazer com que se aglomerem até flocular, é necessário
romper uma barreira energética através, por exemplo, da redução das forças de repulsão
(CARRASCO & DÍAZ, 2010).
O processo de coagulação-floculação ocorre em várias etapas que visam remover,
especialmente, turbidez, matéria orgânica coloidal, substâncias tóxicas de origem
orgânica e inorgânica passíveis de conferir odor e sabor à água, microrganismos em geral
e substâncias precursoras da formação de trihalometanos. No caso da coagulação
especificamente, o que ocorre é a desestabilização das partículas coloidais e suspensas,
realizada através de ações físicas e/ou reações químicas, de curta duração, que envolvem
o coagulante, a água e as impurezas presentes. Essas reações se constituem basicamente
em reações de ionização, hidrólise e polimerização, que formam os sistemas coloidais
poliméricos do tipo “cátion-O-OH”. Essas etapas ocorrem na unidade de mistura rápida
da estação e está presente em quase todas as tecnologias de tratamento de água. Vale
ressaltar que nas ETA’s convencionais a eficiência da coagulação influi no desempenho
das fases seguintes da potabilização, podendo favorecer a qualidade microbiológica do
efluente, aumentando a duração das carreiras dos filtros e reduzindo o custo do metro
cúbico de água tratada (LIBÂNIO,2010; CARRASCO & DÍAZ, 2010).
Para melhor entender os mecanismos que influenciam no processo de coagulação,
é importante lembrar que as partículas suspensas e coloidais dispersas na água apresentam
carga predominantemente negativa. Assim, íons de carga oposta como K +, Na+ e Ca+2
tendem a se aproximar, formando uma camada de íons positivos e negativos denominada
camada compacta ou camada de Stern, decorrente das forças de repulsão eletrostática e
de atração de van der Waals (LIBÂNIO,2010).
Usualmente, os principais coagulantes aplicados nessa etapa são sais de alumínio
(Al) ou ferro. Quando estão em solução aquosa, os íons metálicos de Fe e Al,
positivamente carregados, formam fortes ligações com os átomos de oxigênio da
molécula de água, podendo coordenar até seis dela ao seu redor e liberando os átomos de
hidrogênio. Com isso, a concentração de H+ no meio é elevada e, consequentemente, o
pH da suspensão é reduzido. Assim, quando algum desses sais é adicionado na água,
ocorre uma reação de hidrólise com formação de hidróxido e liberação de acidez. O H +
liberado, por sua vez, irá reagir com os bicarbonatos presentes no meio (LIBÂNIO,2010;
CARRASCO & DÍAZ, 2010). Considerando a aplicação de sulfato de alumínio como
agente coagulante, a reação global que representaria esse processo seria:

Al2(SO4)3 + 6 HCO3- ↔ 2 Al(OH)3↓ + 3 SO42- + 6 CO2 Eq. 1


As espécies iônicas formadas ao longo desse processo reativo são colocadas em
contato com as impurezas presentes na água na etapa da mistura rápida, causando, em
função da dosagem e do pH de coagulação, a desestabilização delas ou envolvimento nos
precipitados. Daí, com a aproximação e colisão das partículas desestabilizadas, ocorre a

14
formação dos flocos que podem ser removidos por sedimentação, flotação e filtração
(LIBÂNIO,2010; CARRASCO & DÍAZ, 2010).
Além desses sais inorgânicos, outros compostos bastante utilizados nessa etapa do
tratamento são os polímeros de alumínio. Eles apresentam algumas vantagens frente aos
demais, pois proporcionam uma coagulação mais eficaz, floculação mais rápida,
produção menor de lodo, são menos ácidos e sua estabilidade é garantida pela presença
de grupos de sulfato que inibem a polimerização espontânea do composto
(LIBÂNIO,2010; CARRASCO & DÍAZ, 2010).
Segundo Libânio (2010), a eficiência dos processos de coagulação é influenciada,
principalmente, pelos seguintes fatores: tipo de coagulante, pH e alcalinidade da água
bruta, a natureza e a distribuição dos tamanhos das partículas causadoras de cor e turbidez,
e a uniformidade de aplicação dos produtos químicos na massa líquida. Além disso,
também podem ser mencionados a presença de íons, a concentração e a idade da solução
de coagulante, a temperatura da água e, dependendo do mecanismo predominante, o
gradiente de velocidade e o tempo de agitação na unidade de mistura rápida. O reagente
adotado pode atuar na velocidade de reação, levando a uma floculação mais rápida, ou na
qualidade do floco, formando-os com mais volume, peso e coesão. Ou seja, a escolha do
coagulante é de extrema importância para o êxito do processo.
Uma característica determinante para seleção de um coagulante é sua capacidade
de produzir precipitados e espécies hidrolisadas no meio aquoso que sejam capazes de
desestabilizar ou envolver as partículas suspensas e coloidais presentes nas águas
naturais. Portanto, a definição do tipo de produto a ser empregado deve se basear em
alguns fatores como as características da água bruta, à tecnologia de tratamento, custo do
coagulante propriamente dito e dos produtos químicos que podem estar associados a ele
(alcalinizantes, ácidos ou auxiliares de coagulação), além do custo e manutenção dos
tanques e dosadores (LIBÂNIO,2010; CARRASCO & DÍAZ, 2010).
Antes do processo de coagulação na linha de tratamento de uma ETA, ocorre a
remoção de sólidos grosseiros em suspensão através das grades e telas. Além disso, é feita
uma pré-cloração, em um ponto à montante da adição de qualquer produto químico ou
simultaneamente a adição do coagulante, visando oxidar a matéria orgânica, sais
dissolvidos e eliminar microrganismos. Passada todas essas fases, segue-se para o
processo de floculação, uma das operações unitárias da etapa de clarificação, que consiste
em um conjunto de fenômenos físicos voltados para união dos flocos através de uma
agitação suave, objetivando aumentar a velocidade de decantação dos mesmos. Na
decantação, ocorre a deposição dos flocos maiores por ação da gravidade. Como esse não
é um processo 100% eficaz na remoção dos sólidos, a água ainda precisa passar pelos
filtros (LIBÂNIO,2010).
Na etapa de filtração, as partículas em suspensão de menores tamanhos, que não
foi possível remover na decantação ou que eventualmente tenham conseguido escapar
com o fluxo da água, são retidas (CARRASCO & DÍAZ, 2010). A função primordial
dessa etapa é a remoção de cor e turbidez, visto que, nesse momento, possíveis falhas que
tenham ocorrido na coagulação, floculação ou decantação, podem ser corrigidas,
garantindo assim a qualidade da água tratada. Devido a isto, a literatura diz que, nas
estações de tratamento, a função dos filtros é uma das mais relevantes. Porém, vale
lembrar que apesar da importância dessa operação, ela e outras da linha de tratamento
convencional são dispensáveis quando a qualidade da água bruta é adequada, como no
caso alguns mananciais subterrâneos, permitindo efetuar apenas desinfecção
(LIBÂNIO,2010). Após as fases de filtração, ocorre os processos de desinfecção,

15
fluoretação e, em alguns casos, algumas etapas do denominado tratamento terciário antes
que a água seja enviada para os reservatórios e distribuída para população.
A Resolução CONAMA N° 396 de 2008 divide as fontes hídricas subterrâneas
em cinco classes distintas mais uma especial, e determina quais as necessidades de
tratamento para cada uma delas. As definições apresentadas para os grupos são:

Classe Especial: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses,


destinadas à preservação de ecossistemas em unidades de conservação de proteção
integral e as que contribuam diretamente para os trechos de corpos de água superficial
enquadrados como classe especial;

Classe 1: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, sem alteração de
sua qualidade por atividades antrópicas, e que não exigem tratamento para quaisquer
usos preponderantes devido às suas características hidrogeoquímicas naturais;

Classe 2: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, sem alteração de
sua qualidade por atividades antrópicas e que podem exigir tratamento adequado,
dependendo do uso preponderante, devido às suas características hidrogeoquímicas
naturais;

Classe 3: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, com alteração
de sua qualidade por atividades antrópicas, para as quais não é necessário o tratamento
em função dessas alterações, mas que podem exigir tratamento adequado, dependendo
do uso preponderante, devido às suas características hidrogeoquímicas naturais;

Classe 4: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, com alteração
de sua qualidade por atividades antrópicas, e que somente possam ser utilizadas, sem
tratamento, para o uso preponderante menos restritivo;

Classe 5: águas dos aquíferos, conjunto de aquíferos ou porção desses, que possam estar
com alteração de sua qualidade por atividades antrópicas, destinadas a atividades que
não têm requisitos de qualidade para uso.

Segundo a mesma legislação, as águas da classe especial devem manter suas condições
de qualidade natural enquanto as classes de 1-4 devem ter o padrão de potabilidade
estabelecidos com base nos Valores de Referência de Qualidade (VRQ), determinados
pelos órgãos competentes, e nos Valores Máximos Permitidos para cada uso
preponderante apresentados no Anexo I da CONAMA N° 396/2008. Nesse anexo, consta
que fontes subterrâneas destinadas para consumo humano podem ter, em caso de
tratamento sem uso de complexante, até 0,3 ppm de ferro na condição dissolvida, 0,1 ppm
de manganês, além da ausência de coliformes termotolerantes e Escherichia coli para cada
100 ml de água. No caso das fontes pertencentes a classe 5, não existem condições e nem
padrões de qualidade.
Na maioria dos casos, para conseguir fazer a exploração das águas subterrâneas,
são utilizados os denominados poços tubulares. Estes podem ser rasos, para a captação
em aquíferos livres, ou podem ser profundos para a retirada em aquíferos artesianos. Os
projetos de construção desses canais devem seguir as recomendações das Normas ABNT
NBR 12.212/2017 e NBR 12.244/2006 (SILVA; COSTA; WELSCH, 2018). Com uso
16
desses sistemas, a liberação da água de um aquífero confinado acontece devido a dois
fatores principais: expansão causada pela queda de pressão e redução da quantidade de
vazios do meio poroso. O que ocorre é que como a pressão do aquífero é maior que a
atmosférica, quando o poço é perfurado a água começa a sair dos poros da rocha,
diminuindo a pressão e fazendo com que as camadas geológicas superiores passem a se
apoiar umas nas outras, reduzindo, consequentemente, a quantidade de vazios. Assim, a
massa líquida se expande e chega no ponto de captação (SILVA et.al., 2018).
Carvalho (2004) afirma que existem diversas vantagens na adoção desse tipo de
abastecimento, sendo algumas delas suficientes para demonstrar que o uso desse tipo de
fonte hídrica é de fato uma excelente alternativa de abastecimento, desde que sejam
respeitadas as condições de preservação e segurança do aquífero. Dentre esses benefícios,
temos como o mais importante a elevada qualidade, principalmente no que tange aspectos
bacteriológicos, pois o próprio solo incumbe-se de purificar a água. Isso ocorre porque as
camadas de rocha que confinam o manancial do meio externo, atuando como espécie de
defesa natural contra a poluição antrópica direta, funcionam como um imenso filtro por
onde a massa líquida percola. Ou seja, quanto mais profundo o aquífero, maior será seu
grau de pureza (SOUZA et. al, 2019; CARVALHO,2004). Devido a isto, essas fontes
hídricas muitas vezes dispensam tratamento ou só exigem o processo de desinfecção,
sendo essa condição reconhecida nas normas regulamentadoras.
Além de Carvelho (2004), existem na literatura outros autores que trazem mais
inúmeras vantagens do uso de águas subterrâneas em sistemas alternativos de
abastecimento. Carmo (2016), Silva et. al. (2018), Nelson (2005) e Souza (2019) e o
próprio Carvalho (2004) apontam mais alguns desses benefícios, como, por exemplo: os
poços artesianos construídos para captação são sistemas livremente disponíveis para
armazenamento de água e, em geral, de grande capacidade volumétrica; não há
praticamente nenhuma perda de água por evaporação; não precisa de um grande projeto
envolvendo, dentre outras coisas, construção de barragens, tomadas d’ água, adutoras e
linhas de distribuição para sua exploração; em um curto espaço de tempo, alguns dias
após a perfuração, já é possível utiliza-las diretamente para abastecimento público ou
industrial e, em comparação com a construção de uma estação de tratamento, a perfuração
dos poços são relativamente baratas e possuem um retorno muito mais rápido.
A grande questão relacionada as fontes subterrâneas é que a maioria delas
possuem minerais dissolvidos, pois as características geomorfológicas do solo podem
promover alteração natural na composição química da água que por ele se desloca. Um
exemplo comum disso são aquíferos formados entre rochas calcárias que acabam
conferindo dureza ao manancial e, nos casos que houver ainda presença de minérios de
ferro e manganês, também serão incorporados íons metálicos desses compostos, podendo
gerar vários transtornos na sua utilização caso não haja antes um tratamento adequado
(SOUZA, 2019; CARMO 2016; CARVALHO,2004).
Sendo assim, fica claro que as águas subterrâneas tendem a aumentar as
concentrações de substâncias dissolvidas à medida que percola em diferentes aquíferos,
mas, além disso, muitos outros fatores interferem, dentre os quais podemos citar: clima,
composição da água da recarga, tempo de contato/meio físico e contaminação antrópica
(CARMO,2016).
É importante ressaltar que uma outra forma de contaminação da água com íons de
Fe é através do contato com o revestimento do poço perfurado para exploração da fonte
subterrânea e partes da bomba e/ou encanamentos que compõem esse sistema. Quanto

17
mais corrosiva a água, mais dissolve o metal das superfícies com as quais entra em contato
(SOUZA et. al, 2019; CARVALHO,2004).
Já foi dito que, para controle ou remoção de ferro e manganês, tanto para águas
superficiais quanto subterrâneas, pode-se adotar os processos de aeração, sedimentação,
filtração com uso de oxidantes e complexação (DI BERNARDO,1993; SOUZA et. al,
2019; CARVALHO,2004). Dentre esses procedimentos, a utilização de suspensão ou
complexantes e filtração associada ao uso de oxidantes como, por exemplo, o cloro, são
os métodos de mais simples aplicação e, por tanto, os mais frequentemente utilizados. Ou
ainda, esse oxidante pode ser usado conjuntamente, em concordância com a ideia da
pastilha combinada apresentada nesse trabalho, com um sequestrante, que solubilizará os
metais e mantendo-os em suspensão, impedindo a incrustação e agindo também como
inibidor de corrosão através da formação de uma camada protetora nas paredes das
tubulações (WEIGERT e RATTMAN, 1997).
O Artigo 13 da Resolução CONAMA N° 396 de 2008 determina que “os órgãos
competentes deverão monitorar os parâmetros necessários ao acompanhamento da
condição de qualidade da água subterrânea”. Em seguida, no § 1° desse mesmo artigo,
afirma-se que a “frequência inicial do monitoramento deverá ser no mínimo semestral e
definida em função das características hidrogeológicas e hidrogeoquímicas dos
aquíferos, das fontes de poluição e dos usos pretendidos, podendo ser reavaliada após
um período representativo”.

3.2 DESINFECÇÃO:

Ainda que nas demais etapas da potabilização, tais como decantação/flotação e


filtração, haja redução do número de microrganismos existentes nas fontes hídricas, esse
não é o objetivo principal desses estágios e operações unitárias. O processo responsável
pela inativação dos microrganismos patogênicos que porventura estejam presentes nas
águas, e por prevenir o crescimento microbiológico nas redes de distribuição, é a
desinfecção, sendo, por isso, a fase mais imprescindível do tratamento.
Para Libânio (2010), pode-se afirmar que as etapas do tratamento que precedem a
desinfecção contribuem para otimização e eficiência deste processo, pois, conforme já
dito anteriormente, removem a matéria orgânica e as partículas suspensas e dissolvidas
presentes nas águas naturais, cuja presença reduz o grau de inativação dos
microrganismos. Na figura 4, retirada do livro Fundamentos de Qualidade e Tratamento
de água, é possível observar a progressiva redução na quantidade de coliformes totais ao
longo da linha de tratamento, verificada em três estações de médio porte.

Figura 4 Quantidade de coliformes x etapas de tratamento


Fonte: LIBÂNIO, 2010

18
Esse autor afirma também que de acordo com a literatura, nos sistemas públicos
de abastecimento de água, deve-se definir qual processo de desinfecção deve ser adotado
para que seja possível alcançar os seguintes objetivos (LIBÂNIO, 2010):

• máximo desempenho do sistema;


• menor custo global;
• atendimento ao padrão de potabilidade vigente e/ou às condições de segurança
sanitária, visando minimizar os riscos de transmissão de doenças;
• minimização da formação de subprodutos com possíveis efeitos deletérios à saúde
humana;
• máxima eficiência do desinfetante, considerando-se a amplitude de variações
possíveis para as características da água e do tempo de contato.
Antes de seguir com uma abordagem mais profunda sobre essa etapa do
tratamento, é importante entender a diferença entre os termos inativação, remoção e
esterilização, além da diferença entre desinfetantes, sanitizantes e germicidas. Na
inativação, devido a ação dos desinfetantes e/ou sanitizantes, os microrganismos tornam-
se incapazes de se reproduzir ou de transmitir qualquer enfermidade, estando, portanto,
inativados. Já no caso da remoção, ocorre a retirada dos microrganismos da massa líquida,
sucedendo nas mencionadas etapas que precedem a desinfecção. A esterilização consiste
no extermínio de qualquer forma de microrganismo, patogênico ou não, presente na água,
podendo ser alcançada, em determinadas circunstâncias, por alguns desinfetantes
utilizados no tratamento e mais facilmente por meio da fervura ou radiações ionizantes
(MACEDO,2009).
No artigo Desinfecção Secundária, Macedo e Oliveira (2010) afirmam que
segundo a RDC nº 14 da ANVISA, desinfetantes são ‘’produtos que mata todos os
microrganismos patogênicos, mas não necessariamente todas as formas microbianas
esporuladas em objetos e superfícies inanimadas. São germicidas dotados de nível
intermediário de ação, ou seja, em geral não são esporicidas e tem ação viricida
incompleta’’. Já os sanitizantes, são ‘’agentes ou produtos que reduz o número de
bactérias a níveis seguros, em conformidade com as normas de saúde’’. No seu livro,
Macedo (2009) fala que pelas definições apresentadas na mesma RDC, os germicidas são
‘’produtos de ação letal sobre os microrganismos, especialmente os patogênicos
(germes). São agentes químicos que inibem ou destroem os microrganismos, podendo ou
não destruir esporos. Eles são classificados como esterilizantes, desinfetantes ou
antissépticos, por isso, são substâncias ou produtos capazes de destruir indiscriminada
ou seletivamente microrganismos na temperatura ambiente’’.
A desinfecção de águas destinadas ao consumo humano pode ser realizada
basicamente por dois grupos principais de desinfetantes: agentes químicos e físicos. Os
primeiros constituem elementos ou compostos com elevados potenciais de oxidação
como, por exemplo, o cloro, dióxido de cloro, peróxido de hidrogênio, ácido acético,
bromo, iodo, permanganato de potássio, cloreto de bromo e ozônio. No caso dos agentes
físicos, a ação deles está relacionada com energia de radiação, destacando-se a radiação
UV, a radiação gama e, em nível domiciliar, a fervura. Esses desinfetantes físicos e
químicos agem sobre os microrganismos basicamente através de três mecanismos: pela
lise da parede celular, difusão do desinfetante no interior dos microrganismos e por
interferência no processo de reprodução das células (LIBÂNIO,2010).

19
É importante lembrar que a ação dos desinfetantes na destruição ou inativação dos
microrganismos não é instantânea. O processo se desenvolve, normalmente, de maneira
gradativa, ocorrendo em diversas etapas físicas, químicas e bioquímicas (MEYER, 1994).
Em primeira instância, as próprias características de cada oxidante, no que diz respeito
aos seus mecanismos de ação e as propriedades relacionadas à interação com os aspectos
físicos, químicos e biológicos da água, irão intervir diretamente na eficácia do processo.
Porém, o que de fato percebe-se é que a eficiência dessa etapa do tratamento é
determinada pelo conjunto dos atributos do produto aplicado, da água, do tipo de
microrganismo a ser inativado e da instalação na qual o processo será realizado. Assim
como a natureza do desinfetante, as características do sistema também influenciam muito
em função do tempo de contato, da dosagem aplicada e da homogeneidade da dispersão
do desinfetante na massa líquida (LIBÂNIO,2010).
Sendo assim, no caso da desinfecção através de agentes químicos, nota-se que o
tempo de contato (T) e a concentração (C) do produto utilizado são parâmetros
fundamentais e que podem fornecer uma análise quantitativa entre o tipo de desinfetante
e a eficiência de inativação. Na literatura, encontramos que utilizando a grandeza CT
obtida através do produto entre tempo de contato e concentração do oxidante, pode-se
realizar comparações entre os diversos tipos de agentes químicos em função da eficiência
de atuação sobre os microrganismos, de forma que, para determinada circunstância, no
que tange as características da água e o tipo de elemento patogênico, quanto maior o valor
de CT menos eficiente é o desinfetante (LIBÂNIO,2010; MACEDO,2009). Essa relação
entre dosagem (C) e tempo (T) foi descrita pela chamada Lei de Chick- Watson, que
definiram:
C.T=k Eq. 2
Sendo k uma correspondente a um determinado microrganismo, exposto a um dado
desinfetante sob condições especificas de pH e temperatura (RICHTER, 2009).
A Eq. 2 partiu do primeiro e mais simples modelo matemático elaborado para
descrever o processo de desinfecção. Ele foi estabelecido em 1908 por Harriet Chick e
determinava que a taxa da reação de inativação dos microrganismos é de primeira ordem
em relação ao número de organismos que são inativados pelo desinfetante. Sendo assim,
o autor concluiu que a velocidade de inativação de um microrganismo por um dado
oxidante era dada por:
𝑑𝑁
= -KN Eq.3
𝑑𝑡
onde K é o coeficiente de mortalidade (constante para um dado desinfetante) e N é o
número de organismos ainda vivos no instante t. Ainda segundo Chink, o valor de K é
uma função da dosagem do desinfetante (C), do tipo de microrganismo e das
características da água (RICHTER, 2009).
Diante disso, Watson, também citado no livro de Richter (2009), definiu que esse
coeficiente K poderia ser determinado através da seguinte equação:
𝐾 = 𝐴𝑐𝑤𝐶 n Eq.4
sendo 𝐴𝑐𝑤 uma constante de inativação, C a dosagem do desinfetante e n o coeficiente
de diluição. A equação 2 é resultante da integral da combinação das equações 3 e 4
(RICHTER, 2009).

20
No seu livro Água: Métodos e Tecnologia de Tratamento, Richter (2009) afirma
que uma forma de avaliar a eficiência de um agente químico através dessa relação entre
C e T, são utilizandos os gráficos do tipo log-log que relaciona a dosagem do produto
empregado no processo, em mg/L, com o tempo de contato dado em minutos, necessário
para se obter uma dada porcentagem de destruição de um dado microrganismos, sob
condições de pH e temperatura específicos. Na figura 5, retirada do livro mencionado
acima, tem-se um exemplo desse gráfico para uma porcentagem de destruição desejada
de 99% e uso do cloro livre como agente desinfetante.

Figura 5 Tempo de contato x dosagem de cloro livre para inativação de diversos microrganismos
Fonte: RICHTER, 2009.

Existem vários critérios que devem ser levados em consideração para seleção do
desinfetante a ser empregado. Dentre eles, podemos citar (LIBÂNIO,2010):
i. Capacidade de inativar um grande espectro de organismos patogênicos nos
tempos de contato normalmente empregados;

ii. Baixa sensibilidade às variações de temperatura e de outras características da


água;

iii. Custo acessível, inclusive para sistemas de pequeno porte, além da facilidade de
aplicação e armazenamento;

iv. Não conferir toxicidade ou outras características à água de consumo que levem a
rejeição pela população abastecida;

v. Conseguir conferir um residual que favoreça ao monitoramento da qualidade da


água e minimize o máximo possível o crescimento microbiológico nas redes de
distribuição;

21
vi. Possibilidade de determinação das concentrações aplicadas de forma precisa
através das técnicas disponíveis e de fácil execução.
Quando se opta por aplicar uma rota química no processo de desinfecção, com
exceção do uso do ozônio, a inativação dos microrganismos ocorrerá por meio da
destruição ou danificação da parede celular, e posterior difusão do desinfetante no interior
da célula. Ou seja, o desinfetante atua sobre os constituintes da parede celular, oxidando-
os e gerando disfunções na ação da membrana semipermeável. Já nos tratamentos com
agentes físicos, o que ocorre é uma interferência na biossíntese e na reprodução celular
devido aos danos fotoquímicos causados aos ácidos nucléicos, coenzimas ou células
estruturais. Assim, a capacidade para oxidar moléculas biológicas e de se difundir através
da parede celular são pré-requisitos essenciais para qualquer agente desinfetante ser
considerado eficiente (LIBÂNIO,2010).
Pensando agora na influência que as características da água exercem nesse
processo, especialmente quando se trata da aplicação de agentes químicos, é importante
destacar alguns fatores que interferem diretamente na eficiência desses produtos nessa
etapa de potabilização:
• pH;
• Temperatura;
• Turbidez;
• Presença de matéria orgânica;
• Presença de compostos inorgânicos, como ferro e manganês, que reagem com o
desinfetante;
Os dois primeiros fatores, conforme será apresentado mais adiante, são bastantes
significativos, especialmente quando compostos de cloro são usados como desinfetante,
visto que influenciam diretamente na formação do ácido hipocloroso que é o composto
mais eficiente na inativação das espécies indesejáveis. Além disso, a turbidez também
desempenha um papel dominante na eficiência da desinfecção, pois ela promove o
chamado efeito “escudo” sobre os microrganismos, protegendo-os da ação do
desinfetante físico ou químico. Diversas pesquisas confirmam a menor remoção
bacteriana na desinfecção, principalmente com uso de derivados cloraods, quando a
turbidez se encontra acima de 1,0 uT (LIBÂNIO,2010; MACEDO,2009).
No livro Nuevos Materiales y Tecnologías para el Tratamiento del Água, Carrasco
e Díaz (2009) trazem uma tabela com alguns dos agentes oxidantes mais empregados,
comparando suas eficácias na eliminação de diferentes substâncias, conforme pode ser
observado na figura 6.

Figura 6 Comparação da eficiência de alguns reagentes oxidantes usuais na eliminação de


diferentes elementos
Fonte: CARRASCO e DÍAZ, 2009.

22
Dentre esses elementos, os compostos clorados ainda são os principais
desinfetantes utilizados no Brasil. Além de ter um amplo espectro de ação germicida, o
cloro tem a importante característica de formar compostos que permanecem na água,
proporcionando uma concentração residual e permitindo que haja inativação dos
microrganismos nos sistemas de armazenamento e redes de distribuição (LIBÂNIO,2010;
MACEDO,2009).
Sabe-se que o objetivo principal do uso de produtos à base de cloro em sistemas
de abastecimento de água é a desinfecção. Porém, devido ao seu alto poder oxidante, sua
aplicação nos processos de tratamento acaba resultando em diversas ações como, por
exemplo, eliminação de sabor e odor, prevenção de crescimento de algas, remoção de
ferro, manganês, cor e no controle do desenvolvimento de biofilmes em tubulações.
Devido a isto, e visando atingir todos esses pontos, na maioria das estações o Cl é
empregado também na etapa de pré-desinfecção ou pré-cloração, que normalmente ocorre
no início da linha de tratamento, simultaneamente ou a montante da dispersão dos
coagulantes (LIBÂNIO,2010). Consciente de que o desinfetante será consumido em todas
essas finalidades, e que em cada fonte hídrica a demanda de cloro varia com o tempo e
com as características da água no momento, o monitoramento constante do residual desse
produto é de fundamental importância para garantir o fornecimento de uma massa líquida
livre de microrganismos indesejáveis.
Para Libânio (2010), diversas razões levaram a disseminação do cloro e seus
compostos como desinfetantes. Dentre elas, as seis primordiais foram:
• Consegue inativar microrganismos presentes nas águas naturais em tempo
relativamente curto;

• Não é tóxico aos seres humanos e não confere, nas dosagens normalmente
recomendadas e obedecendo as demais condições ideias de uso, odor ou sabor;

• Apresenta custo razoável e facilidade de transporte, manuseio, armazenamento e


aplicação;

• Produz residual relativamente estável;

• Possui alta solubilidade em água, podendo atingir 10,0 g/L à 10 °C;

• É de fácil determinação pelo método iodométrico (titulometria).


A premissa básica do processo de desinfecção utilizando derivados clorados
consiste em atender a demanda de cloro do manancial, definida pela diferença entre a
dosagem aplicada e a concentração residual na saída do tanque de contato (ou do sistema),
em função da temperatura e pH. Como a capacidade de oxidação desse produto não é
seletiva, diversas substâncias, tais como amônia, ferro, manganês, sulfatos e matéria
orgânica podem inibir a ação desinfetante contra os microrganismos, consumindo-o
completamente para o controle desses outros parâmetros. Desta forma, a concentração
residual é o que irá assegurar que a necessidade de Cl para fins de desinfecção será
satisfeita, sendo a dosagem requerida, para as condições nas quais se realiza o tratamento,
a dosagem aplicada para se obter o residual na rede de distribuição e a ausência dos
organismos indicadores de má qualidade (LIBÂNIO,2010).
Segundo Macedo (2009), quando um derivado clorado é adicionado na água,
primeiro ele irá oxidar toda matéria orgânica presente, suprindo a chamada “demanda de

23
cloro”. Depois, se houver, o desinfetante reage com os compostos nitrogenados presentes
no meio, na maioria amônias, formando as chamadas cloroaminas, componentes do
chamado cloro residual combinado, que são substâncias que provocam sabor e forte
cheiro de Cl. Por fim, é que se chega ao chamado “cloro livre”, constituído pelo ácido
hipocloroso e pelo íon hipoclorito, sendo esse ácido a forma mais eficientes do produto
para o processo de desinfecção. Assim, considera-se que o cloro residual total presente
em uma fonte hídrica é a soma das concentrações do cloro residual livre com o
combinado. A formação desses compostos, em conjunto com o processo de inativação
dos microrganismos, gera no meio os denominados subprodutos da cloração, mais
conhecidos como trihalometanos – THM (MACEDO,2009). O fluxograma a seguir,
retirado do livro de Macedo (2009), resume essas formas de consumo.

Figura 7 Derivado clorado em água contendo compostos orgânicos e compostos nitrogenados


Fonte: MACEDO, 2009

Diante do exposto, e considerando esses principais destinos dos derivados


clorados ao serem adicionados em água, a literatura diz que existe basicamente três tipos
de cloração: simples, amônia cloração e a cloração no break-point. Macedo (2009) afirma
que segundo Richter e Azevedo Netto (1991), na cloração simples a dosagem do cloro é
feita pensando apenas que após um determinado período, irá existir um residual dentro
da faixa estabelecida na legislação para o padrão de potabilidade. Não é um processo feito
pensado na importância de satisfazer a real demanda de cloro do manancial. Já na amônia
cloração, o que ocorre é a adição simultânea da amônia e de um derivado clorado. Isso é
feito normalmente em águas que apresentam elevada quantidade de matéria orgânica,
principalmente de fenóis. O ponto crucial que fundamenta esse método é a maior
estabilidade encontrada nas cloroaminas, apesar do seu menor poder oxidante. Como elas
são mais estáveis, elas conseguem garantir o residual nas redes de distribuição, evitando
a contaminação no interior dessas tubulações.
Na literatura vemos que, para o processo de inativação dos microrganismos, a
cloração no breakpoint é a forma mais eficiente e segura de aplicação do desinfetante,
devendo ser feita sob condições controladas. No primeiro momento, adiciona-se o cloro
até que toda demanda seja findada. Feito isso, o derivado clorado continua sendo
alimentado, dessa vez até que as cloraminas inorgânicas formadas sejam também

24
oxidadas, visto que por serem responsáveis pela geração do odor e sabor desagradável
conhecidos como característico do cloro, elas não são compostos desejáveis no meio.
Quando esses compostos são completamente oxidados, significa que o chamado
breakpoint foi atingido. Esse é o ponto onde todo cloro adicionado é destinado apenas
para desinfecção e formação de cloro residual livre (LIBÂNIO,2010; MACEDO,2009;
RICHTER, 2009). A figura 8 ilustra essas etapas mencionadas.

Figura 8 Cloração no breakpoint


Fonte: LIBÂNIO, 2010

Conforme pode ser observado na imagem acima, existem três momentos distintos
durante o processo de aplicação dos derivados clorados. O gráfico mostra uma demanda
inicial que logo após ser satisfeita, inicia-se o processo de formação do cloro combinado.
Desse momento até o primeiro pico temos a chamada zona de formação das cloraminas.
Depois que todos os compostos nitrogenados presentes no meio reagem com o Cl, o
excesso do desinfetante adicionado passa a atuar na oxidação desses compostos, até que
o breakpoint seja atingindo. A partir de então, temos a área de formação do cloro livre,
que será dedicado apenas para desinfecção. Nas águas utilizadas para abastecimento
público, o tipo de cloração empregado deve ser a do breakpoint, visando assegurar a
formação de cloro residual livre – CRL. As principais reações entre o ácido hipocloroso
com a amônia presente no meio aquoso para formação de monocloramina (NH2Cl),
dicloramina (NHCl2) e tricloramina ou tricloreto de nitrogênio (NCl3) são (MACEDO,
2009):

NH4+ + HClO → NH2Cl + H2O + H+ Eq. 5

NH2Cl + HClO → NHCl2 + H2O Eq. 6

NHCl2 + HClO → NCl3 + H2O Eq.7

As reações acima são governadas pelo pH e temperatura da água, visto que esses
fatores influenciam formação e dissociação do ácido hipocloroso, além das próprias
concentrações de amônia e cloro. Considerando que NH2Cl, NHC12 e NC13 contribuem
para a concentração do cloro residual combinado, o cloro total disponível na água será
dado pelo somatório entre o cloro livre (HC1O + OC1-) e o combinado formado por esses
grupos. É importante lembrar que na análise de formação desses compostos devem ser

25
consideradas eventuais concentrações de nitrogênio amoniacal e orgânico na água bruta
(LIBÂNIO, 2010; MACEDO, 2009).
Na ausência dos compostos nitrogenados, e com as demais demandas também já
supridas, ao continuar com a adição do cloro na água, pode ocorrer, dependendo do
composto que esteja sendo empregado, alguma das seguintes reações (MACEDO, 2009):

Cl2 (g) + H20 (l) ↔ HCl (aq) + HClO (aq) Eq. 8

Ca(ClO)2 (s) + 2 H20 (l) ↔ 2 HClO (aq) + 2 OH- (aq) + Ca2+ (aq) Eq. 9

NaClO (l) + H20 (l) ↔ HClO (aq) + OH- (aq) + Na+ (aq) Eq. 10

C3Cl2N3NaO3 (s) + 2 H20 (l) ↔ C3H3N3NaO3 (aq) + 2 HClO (aq) Eq. 11

Segundo Libânio (2010), o ácido hipocloroso, formando em todas as reações


anteriores, é um ácido fraco que em solução aquosa pode se dissociar formando as
seguintes espécies:
HClO (aq) ↔ OCl- (aq) + H3O+ (aq) Eq. 12

O HClO corresponde a forma do agente mais ativo da desinfecção, entretanto o OCl-


equivale ao praticamente inativo. A predominância de cada um deles na solução varia,
conforme já mencionado anteriormente, principalmente com o pH. Para diferentes valores
desse parâmetro, o HClO se dissocia de maneira distintas, conforme pode ser observado
na figura a seguir para as temperaturas de 0 e 20º C (RICHTER & AZEVEDO NETO,
1991; RICHTER, 2009; MACEDO,2009):

Figura 9 Dissociação do ácido hipocloroso em função do pH


Fonte: MACEDO,2009

26
De acordo com a figura 9, quando o pH se encontra no valor igual ou menor que
5, a dissociação do ácido hipocloroso praticamente não ocorre, sendo todo residual
presente composto por esse ácido. Já para um pH de 7,5, por exemplo, a concentração do
HClO é praticamente a mesma do íon hipoclorito. Para valores maiores ou iguais a 10,
todo cloro livre na água passa a ser na forma de ClO-. Ou seja, de fato, dentre as
características químicas das fontes hídricas, o pH exerce um papel fundamental na
eficiência da desinfecção, sendo o processo mais efetivos em valores menores de pH,
quando a presença do ácido é dominante (RICHTER & AZEVEDO NETO, 1991;
LIBÂNIO,2010).
Como já dito na introdução deste trabalho, os principais derivados clorados
empregados nos processos de desinfecção, no Brasil, são: cloro gás, hipoclorito de cálcio,
hipoclorito de sódio, dicloroisocianurato de sódio e ácido tricloroisocianúrico. Esses
produtos se distinguem basicamente por suas naturezas orgânicas e inorgânicas, pelo teor
de cloro associado, condições de aplicação e armazenamento, forma física comercial,
custo e eficiência. Apesar dos chamados cloros orgânicos terem sofrido uma certa
resistência por parte do consumidor, por acreditarem que eles são mais tóxicos devido à
falta de conhecimento científico ou até por interesse comercial, atualmente esses
compostos são largamente utilizados e apresentam diversas vantagens frente aos cloros
inorgânicos (MACEDO,2009; MACEDO & OLIVEIRA,2010).
Nas grandes estações de tratamento, por se tratar de grandes volumes de água, o
Cl2 ainda é o desinfetante mais empregado devido ao fato dele ser altamente solúvel em
água, tornando mais simples sua aplicação. Além disso, é um oxidante forte que consegue
inativar a maioria dos microrganismos, deixa residual na água, é eficiente e barato. Porém,
para os pequenos sistemas de potabilização, como o caso dos poços domésticos ou até de
alguns setores comerciais, a técnica mais comum é o uso de cloradores que aplicam
soluções à base de hipoclorito de cálcio, sódio ou dicloroisocianurato de sódio. É
importante ressaltar que esses produtos, geralmente, também são aplicados nas ETA’s
como auxiliares de cloração ou no processo conhecido como desinfecção secundária, que
é uma das etapas do tratamento terciário que tem o intuito de garantir o residual tanto ao
longo das redes de distribuição quanto na água que chega nas casas dos consumidores
finais.
Antes de falar das vantagens e desvantagens de derivados clorados orgânicos e
inorgânicos, é importante entender algumas das características mais marcantes de alguns
deles. Conforme já dito, o cloro gás é bastante utilizado devido sua facilidade de
aplicação, eficiência e preço. Entretanto, esse gás é considerado corrosivo em presença
de umidade e venenoso em grandes quantidades, exigindo muito cuidado no seu manejo
e um pessoal bem capacitado. Além disso, é o um produto vendido em cilindros de aço
com alta pressão, o que aumenta o risco da sua utilização (RICHTER & AZEVEDO
NETO, 1991; RICHTER, 2009; MACEDO,2009).
O hipoclorito de cálcio é um pó branco com cheiro de cloro, normalmente
comercializado na forma granulada ou como pastilhas. Contém 65% de teor ativo, é muito
reativo, facilmente solúvel em água e considerando um forte oxidante, adequado para
pequenas instalações. Sua aplicação não deve ser feita de forma direta, sendo
recomendado o preparo de uma solução em um tanque próximo a dosadora para que o
cloreto de cálcio que será formado precipite e não cause problemas nas canalizações nem
no clorador. Outro ponto relevante é que esse sólido formado gera turbidez no meio que,
se evitada a aplicação direta, não ocorrerá na água que está sendo tratada. Entretanto, é
importante destacar que devido ao cálcio, o uso desse produto pode facilitar processos de
incrustação e entupimento, além de outros problemas associados a solubilidade inversa

27
dos compostos de Ca, fator que contribui também para que o nível de insolúveis desse
produto seja muito elevado (RICHTER, 2009; MACEDO,2009).
Os derivados clorados orgânicos, também conhecidos como “cloraminas
orgânicas”, são compostos de cloro que apresentam elevada estabilidade, baixa
toxicidade, facilidade de manejo e ausência de substâncias indesejadas e metais pesados.
Desse grupo, os elementos que mais se destacam são o dicloroisocianurato de sódio
(DCIS) e o ácido tricloroisocianúrico. Além das características já mencionadas, o pH de
uma solução aquosa desse produto à 1%, varia de 6,0 a 8,0, enquanto o de outros
derivados clorados pode varia de 11,0 a 12,5. Essa faixa de pH, além de está dentro da
recomendada para uso, favorece a manutenção do ativo na forma de ácido hipocloroso no
meio (MACEDO 2017; BUSADO et. al., 2012).
Esse produto é comercializado principalmente na forma granulada, porém pode
ser vendido também como pastilhas de 20g. Assim como o tricloro, além de deixar CRL
no meio, esse desinfetante é mais estável em solução aquosa tendo, por tanto, uma cinética
mais lenta de liberação dos agentes ativos de desinfecção e, consequentemente,
permanecem efetivos na água por um período de tempo maior, mesmo na presença de
matéria orgânica. A figura 9 mostra um gráfico apresentado no artigo de Macedo e
Oliveira (2010), retirado de uma pesquisa feita por Troli et. al. (2002) para comparar a
estabilidade entre os derivados orgânicos e inorgânicos (MACEDO,2009; MACEDO &
OLIVEIRA,2010).

Figura 10 Concentração de CRL em função do tempo para diferentes derivados clorados


Fonte: MACEDO & OLIVEIRA,2010

A partir da figura 10, nota-se que de fato o cloro orgânico apresentou menor
decaimento no valor de CRL durante o tempo de 6 horas. A equação obtida para reta que
corresponde esse composto obteve melhor coeficiente de correlação frente aos demais,
tendo um R2 aproximadamente igual a 0,9. Através dessas equações é possível determinar
em que tempo o cloro residual livre chegará a zero para cada um deles. Trolli et. al. (2002)
fizeram isso e identificaram que o DCIS era o produto que quando empregado na
desinfecção levaria pelo menos 12 horas para que não tivesse mais indícios de CRL na
solução, considerando a demanda de cloro específica para situação testada
(MACEDO,2009; MACEDO & OLIVEIRA,2010).

28
Sendo assim, a primeira vantagem dos cloros orgânicos frente aos inorgânicos que
pode ser destacada é a estabilidade. Além disso, o uso desses compostos diminui a
probabilidade de formação dos Trihalometanos (THM), podendo chegar até a níveis não
significativos. Eles são considerados mais fáceis e seguros quanto ao manuseio e geram
menos sabor e odor na água (MACEDO,2009; MACEDO & OLIVEIRA,2010;
RICHTER, 2009).
Fazendo uma comparação direta entre o hipoclorito de cálcio e o
dicloroisocianurato de sódio, nota-se que apesar o teor ativo do Ca(ClO)2 ser maior que
o DCIS (60%), o primeiro tem uma cinética de liberação do ácido hipocloroso mais
rápida, é menos estável e, por tanto, alcança um nível menor de CRL mais rapidamente.
De qualquer forma, ambos são considerados bons oxidantes. Outra desvantagem do
hipoclorito está relacionada com seu armazenamento. A decomposição desse produto é
um processo exotérmico que libera monóxido de cloro e oxigênio. Se esses elementos
entrarem em contato com ácidos, combustíveis ou até matéria orgânica, podem causar
incêndios (RICHTER & AZEVEDO NETO, 1991; RICHTER, 2009; MACEDO,2009).
Outro fator importante que deve ser considerando ao confrontar esse dois produtos
é que o Ca(ClO)2, conforme já dito, facilita os processos de incrustação e entupimento
devido à baixa solubilidade dos compostos de Ca, além de aumentar o nível de insolúveis,
visto que o pH torna– se muito elevado (MACEDO,2009; MACEDO &
OLIVEIRA,2010). Por sinal,o pH também é considerado uma grande vantagem do uso
de dicloroisocianurato de sódio. Enquanto o hipoclorito de cálcio e/ou de sódio deixam o
pH da solução à 1% na faixa de 11 – 12,5, o DCIS varia entre 6 – 8. Ou seja, o potencial
hidrogeniônico da solução com derivado clorado orgânico favorece a presença do cloro
residual livre na forma do ácido hipocloroso. (MACEDO & OLIVEIRA,2010).
Segundo Macedo (2009), uma das grandes questões levantadas sobre o uso dos
clorados orgânicos era a liberação de cianetos. Devido a isto, o autor fez uma pesquisa
que mostrou que as concentrações desses subprodutos estavam muito abaixo dos níveis
permitidos pela legislação brasileira, mesmo com elevadas concentrações de CRL e em
qualquer condição de desinfecção adotada nos sistemas de tratamento. Ainda assim,
Gruber (2003) traz que existe casos onde durante o tratamento adiciona-se ácido cianúrico
na água em conjunto com um derivado clorado inorgânico, com intuito de conservar o
CRL por mais tempo no meio. Nessa situação, o que acaba acontecendo é a transformação
desse derivado inorgânico em um orgânico sendo, por isso, notada a maior estabilidade
na concentração do cloro residual livre. Porém, vale ressaltar que essa forma acaba sendo
mais cara do que comprar diretamente o cloro orgânico, levando ao aumento do custo
final do consumidor (MACEDO,2009).
A capacidade de cloração de um sistema é definida a partir da vazão máxima de
água que será tratada e das dosagens de desinfetante requerida que deve ser determinada,
inicialmente, através de testes de bancada nos laboratórios. No livro Tratamento de água:
tecnologia atualizada, Richter e Azevedo Neto (1991) fornecem uma tabela com diversas
utilidades do cloro para que, quando a demanda para determinado sistema não for
conhecida, essa possa ser estimada, para efeito de projeto, em função do consumo de Cl.
Para desinfecção, a tabela informa:
Tabela 3 Estimativa consumo de cloro
DOSAGEM TEMPO DE CONTATO RESIDUAL
RESIDUAL
(mg/L) (min) RECOMENDADO (mg/L)
CRL 1,0 – 5,0 NORMALMENTE FIXADO NORMALMENTE FIXADO
PELAS AUTORIDADES PELAS AUTORIDADES
CRC 1,0 – 10,0
SANITÁRIAS – (PCR Nº 5) SANITÁRIAS - (PCR Nº 5)
Fonte: RICHTER & AZEVEDO NETO, 1991

29
Com conhecimento dessas informações, a equação 11 pode ser usada para definir
a capacidade de cloração, dada em kg/dia.

𝑄𝑋𝐷
C= Eq. 13
1000

onde C é a capacidade de cloração, Q é a vazão em m3/dia e D a dosagem em mg/L.


Sabendo que, na maioria das vezes, esse parâmetro é definido a partir de um valor
estimado de D, que só terá seu valor real definido depois da aplicação nos sistemas de
tratamento, é fundamental que os cloradores tenham uma ampla faixa de regulação para
dosagem, mais ou menos de 20:1 (RICHTER & AZEVEDO NETO, 1991).
Assim como na aplicação do coagulante, para garantir a melhor eficiência do
processo de desinfecção, a dispersão do cloro na água precisa ser rápida e perfeita,
formando uma mistura mais homogênea quanto possível. Em alguns sistemas, como nas
ETA’s convencionais por exemplo, esse produto é aplicado em dois pontos, configurando
as chamadas pré e pós cloração. Esses pontos, ainda que não se tenha conclusões
definitivas, devem ser previstos no projeto de tratamento. Normalmente, é recomendado
que a primeira injeção do cloro seja feita a montante dos demais produtos químicos, de
modo que seja possível garantir pelo menos um tempo de contato de 2-3 min antes da
aplicação do coagulante. Já o segundo ponto, o da pós cloração, é pensado para assegurar
que o residual de cloro esteja presente na água que chega ao consumidor final. Dessa
forma, geralmente essa aplicação é feita no final da linha de tratamento (RICHTER &
AZEVEDO NETO, 1991).
Pensando no uso de hipoclorito de cálcio ou DCIS como desinfetantes, existem
três maneiras principais de aplicação desses produtos, vistos que eles podem ser
comercializados na forma de pastilhas ou granulado. No primeiro caso, normalmente o
que se utiliza são cloradores de pastilha e difusores, que devem ser feitos de materiais
resistentes a ação oxidante do cloro, como PVC, por exemplo. Esses dispositivos são mais
direcionados para sistemas de abastecimento de pequeno porte. Nos cloradores, o produto
é colocado entre os espaçadores e confere CRL por meio do contato contínuo da água
com a pastilha durante seu escoamento. Esses instrumentos podem ser instalados no
próprio reservatório, acoplados na tubulação ou até podem ser do tipo flutuante. Nas
figuras 11 e 12 é possível observar exemplos desse tipo de equipamento (LIBÂNIO,2010;
RICHTER & AZEVEDO NETO, 1991).

Figura 11 Clorador de pastilhas aplicado em tubulações, Figura 12 Clorador flutuante de pastilhas


canais ou tanques Fonte: SITE Q CLOR
Fonte: LIBÂNIO, 2010

30
Os difusores são equipamentos similares aos cloradores, contendo várias
perfurações que se completa com mistura de areia e o derivado clorado sólido, hipo de
cálcio ou DCIS, por exemplo. Eles são inseridos no interior dos poços ou dos tanques.
Dependendo da situação, podem ser colocados nas tubulações e/ou canais. Tanto esses
difusores quanto os cloradores de pastilha são de simples instalação e operação, porém
podem produzir, dependendo da vazão conduzida, elevada concentração de cloro
residual. Na figura 13 temos um tipo de difusor de cloro.

Figura 13 Clorador por difusão usado em águas de poço


Fonte: LIBÂNIO, 2010

Outra maneira bastante comum de aplicação do cloro nos sistemas é através das
chamadas bombas dosadoras de diafragma. Esses instrumentos são instalados em tanques
ou tinas (bombonas de 50 kg) contendo soluções concentradas de cloro, ambos com
necessidade de carregamento periódico. Assim como os dispositivos citados
anteriormente, esses também precisam ser compostos por materiais resistentes ao
oxidante. Apesar de partir de uma solução concentrada, o residual de cloro adequado é
assegurado através da dosagem programada para o sistema.
Bombas do tipo diafragma são classificadas como alternativas de deslocamento
positivo. Nelas, o líquido recebe a ação das forças diretamente através de um êmbolo ou
de uma membrana flexível do tipo diafragma. Elas impelem uma quantidade definida de
líquido, por isso são indicadas para casos onde é necessário ter vazão constante
independente de variação da carga sobre a bomba, ou em situações em que o volume
dosado precisa ser medido com precisão. Por isso, são ditas bombas dosadoras. A
descarga desses equipamentos é proporcional à velocidade do propulsor da bomba,
instrumento responsável por comunicar a energia de pressão ao líquido, provocando o seu
escoamento. Elas podem ser de simples efeito, apenas uma face do êmbolo atua sobre o
fluido, ou duplo efeito quando as duas faces atuam (MARCELO,2014; BRASIL,2010).

Figura 14 Exemplo de bomba dosadora e seus componentes


Fonte: MANUAL CAR, 2019

31
Figura 15 Tina com solução de cloro e bomba dosadora acoplada
Fonte: WorTEC BOMBAS

3.3 PRESENÇA DE FERRO E FORMAS DE TRATAMENTO

A grande maioria das águas potabilizavéis, sejam elas de fontes superficiais ou


subterrâneas, apresentam uma certa concentração de íons metálicos dissolvidos
provenientes de substâncias como carbonatos, bicarbonatos, sulfatos ou hidróxidos que
podem fazer parte da composição do solo e/ou rochas por onde elas passam, ou até serem
advindos de fontes de poluição. Dentre os elementos mais comuns, estão os compostos
de ferro e, com menor frequência, os de manganês. Souza (2019) aponta no seu artigo
que a origem desses grupos, em geral, está relacionada com a decomposição de rochas
vulcânicas, que possuem minerais ferro-manganosos, os quais ao se dissociarem,
fornecem elementos de Fe e Mn para os solos e, consequentemente, para as águas que
circulam sobre eles. Ainda que o Mn esteja menos presente nos mananciais, ele sempre
ocorre associado ao ferro e a química de ambos na água é bastante complexa. Por isso, as
formas de tratamento para esses metais são bem parecidas.
Carmo (2016) afirma que o ferro é encontrado em praticamente todas as fontes
hídricas, sendo, segundo Carvalho (2004), comum concentrações de 1 – 5 ppm em águas
subterrâneas, onde normalmente esse metal estar ligado ou combinado com matéria
orgânica. Nesses mananciais, além dos fatores já mencionados, a ocorrência desse
elemento está associada ao baixo pH, elevada concentração de gás carbônico, ausência
de oxigênio dissolvido e sob a forma predominante de bicarbonatos dissolvidos ou como
Fe3+, Fe2+ e FeOH2+ (CARMO,2016). As duas espécies de cátion de ferro mais comuns
são os íons ferroso (Fe2+), que é solúvel, porém instável na presença do ar, e o férrico
(Fe3+) que é insolúvel em água (CARVALHO,2004). O processo de oxidação desse metal
é considerado difícil porque envolve várias reações de oxirredução. A oxidação do Fe2+
para formação do óxido férrico, por exemplo, ocorre quando o íon ferroso é liberado do
mineral a partir, dentre outras vias, de uma reação com gás carbônico dissolvido na água
(ácido carbônico). Daí, ao entrar em contato com oxigênio, esse cátion é oxidado para
forma de Fe3+, formando compostos insolúveis que precipitam. Nas reações 12, 13 e 14 é
possível observar como essas reações ocorrem (CARMO,2016).

32
FeSiO3 + 2 CO2 + 3 H2O ⇌ Fe2+ + H4SiO4 + 2 HCO3 Eq. 14
FeCO3 + CO2 + H2O ⇌ Fe2+ + 2 HCO3 Eq. 15
2 Fe2+ + 4 HCO3- + H2O + ½ O2 ⇌ Fe2O3 ↓ + 4 CO2 + 3 H2O Eq. 16

Um fator que interfere diretamente na solubilidade desses íons é o pH do meio.


Carvalho (2004) afirma que o íon ferroso pode dissolver-se em quantidade de até 50 ppm
em água neutra e em maior proporção se a água for levemente ácida. Em contra partida,
o íon férrico é quase completamente insolúvel em água tanto alcalina quanto fracamente
ácida. Esse é um dos pontos que esclarece os problemas provocados por ferro na água.
Os compostos formados com o íon férrico, normalmente, são o óxido férrico e/ou o
hidróxido férrico, comumente conhecidos como ferrugem.
Sabe-se que as águas de poço contendo ferro, mesmo em quantidades
significativas, podem ser completamente límpidas e incolor logo após seu bombeamento.
Entretanto, ao entrar em contato com ar ou com alguma substância oxidante, o Fe
dissolvido é afetado e, conforme já dito ao longo desse trabalho, diversos problemas
associados a presença do metal na forma férrica podem ocorrer, como, por exemplo:
geração de cor, odor, sabor, manchas em louças, roupas e instalações sanitárias,
desenvolvimento de colônias de bactérias ferruginosas, corrosão e incrustação
(CARMO,2016; CARVALHO, 2004).
Silva et. al. (2018) traz que concentrações de ferro superior a 2,0 ppm e de
manganês maior que 1,0 ppm em fontes subterrâneas, apresenta potencial de
incrustamento mais elevado, comprometendo a eficiência do poço do ponto de vista
hidráulico e sanitário. O autor ressalta que o desenvolvimento de uma incrustação interna
diminui a seção de entrada da água, aumentando a perda de carga, o que reflete
diretamente no atendimento da demanda para abastecimento, tanto devido à redução de
vazão quanto pelo descontrole das características organolépticas da água que, muito
provavelmente, ficaram acima dos padrões permitidos pelas legislações pertinentes. Além
disso, acaba sendo necessário a realização de manutenção desses canais com maior
frequência, elevando assim os custos da operação.
É neste contexto que a efetivação do tratamento dessas águas se impõe. Como já
informado, existem diversos processos conceituados que possibilitam a remoção de
metais como ferro e manganês da água. Nas grandes estações, o processo de aeração ainda
é o mais amplamente utilizando, porém, nos pequenos e médios sistemas de tratamento a
oxidação seguida de filtração é o modelo mais empregado, seguido pelo método da
complexação que vem ganhando cada vez mais espaço nos últimos anos. Para Carmo
(2016), a forma de eliminação desses compostos depende muito da sua concentração,
visto que os métodos convencionais, geralmente, apresentam algum tipo de limitação
relacionada a faixa de teor do metal no meio, de modo que à medida que vai aumentando
a concentração de Fe na água, maiores os custos e possíveis complicações operacionais.
A figura 16 apresenta um levantamento bibliográfico feito por Carmo (2016) para
adequação dos tratamentos de acordo com a quantidade de ferro presente.

33
Figura 16 Técnicas de remoção de ferro por faixas de teor
Fonte: CARMO, 2016

Vale lembrar que apesar da literatura indicar que o processo de complexação seja
adequado para mananciais com concentrações de ferro menor que 4 ppm, a legislação
brasileira só permite que esse método seja adotado quando os teores de Fe for até 2,4 ppm
e 0,4 ppm para Mn.
Os processos de tratamento que envolvem oxidação dos íons de ferro se
constituem, basicamente, de duas etapas principais: a oxidação propriamente dita e a
filtração. A vias de oxidação desse metal são diversas, podendo ser feita com oxigênio
(aeração), cloro, permanganato de potássio ou outros oxidantes químicos. A remoção do
precipitado formado nessa etapa, na grande maioria das vezes, é feita através da filtração.
Porém, em alguns casos raros, pode ser exigido o ciclo completo de floculação,
decantação e filtração (CARMO,2016).
Moruzzi (2012) ressalta que a escolha do melhor oxidante para cada processo deve
ser feita em função das concentrações envolvidas, da disponibilidade e dos custos de
produtos químicos. Outro fator que é importante a se considerar é a presença de matéria
orgânica, visto que a mesma consome uma certa demanda do oxidante, favorecendo a
formação de subprodutos. Além disso, a matéria orgânica dissolvida (MOD) na água pode
formar compostos coordenados com o ferro que são muito estáveis e solúveis,
dificultando assim a precipitação e consequente remoção desse elemento. A capacidade
das instalações, o pH da água e a presença de outros contaminantes também determinam
qual será o processo mais econômico (RAMOS,2010).
Portanto, a oxidação das formas dissolvidas de ferro pode ser muito simples e
rápida, como na maior parte dos casos de águas subterrâneas onde uma simples cloração
ou aeração em pH adequado seguido de filtração em meio granular garante a qualidade
desejada, ou pode ser bem mais complexa, como nos casos mencionados no parágrafo
anterior, chegando a ser necessário a adoção de um oxidante forte e um sistema de
separação sólido-líquido apropriado para retenção dos precipitados formados.
Conforme já dito, existem diversos agentes oxidantes que podem ser utilizados
nesses sistemas, sendo os principais exemplos o oxigênio molecular, cloro e o
permanganato de potássio. As equações a seguir evidenciam as reações que representam
os processos de remoção dos íons Fe utilizando esses compostos (MORUZZI,2012;
CARMO,2016).

34
4 Fe2+ + O2 (g) + 10 H2O ⇌ 4 Fe(OH)3 + 8 H+ Eq. 17
2 Fe2+ + Cl2 (g) + 6 H2O ⇌ 2 Fe(OH)3 + 2Cl- + 6 H+ Eq. 18
3 Fe2+ + KMnO4 (aq) + 7 H2O ⇌ 3 Fe(OH)3 + MnO2 + K+ + 5 H+ Eq. 19

Os autores Di Bernado e Dantas (2005) afirmam que a formação de precipitados


de ferro acontece em valores de pH superiores a 6,5 enquanto os de manganês,
geralmente, é necessário um valor superior a 8,0. É importante destacar também que a
forma mais apropriada para a aplicação do oxidante é antes da adição de
qualquer produto químico, exceto nos que casos que exijam um ajuste de pH ou de algum
outro parâmetro específico (CARVALHO,2004).
A opção pelo uso do cloro também é bastante recorrente para os processos de
remoção de metais, principalmente para o ferro, devido a sua reatividade e elevada
capacidade de oxidação frente a esse metal. O uso desse oxidante, como já informado no
tópico anterior, só não é recomendado em águas com grande quantidade de matéria
orgânica ou fenóis, visto que a reação deles com compostos clorados aumenta a formação
de THM ou pode causar problemas de odor e sabor devido à formação das cloraminas.
As doses requeridas para técnicas de oxidação tanto com cloro quanto com permanganato
de potássio ou oxigênio podem ser obtidas estequiometricamente (MORUZZI 2012,
CARVALHO 2004).
A cloração-filtração é um método simples e que, normalmente, requer pequenas
unidades de cloração e filtros. Em algumas situações específicas, pode ser necessário um
pequeno tanque de retenção e uma estrutura para ajuste de pH. Qualquer derivado clorado
pode ser usado nesse mecanismo, sendo, segundo dados da literatura, a quantidade teórica
requerida para oxidar uma fonte hídrica contendo 1 ppm de ferro solúvel, de 0,62 mg/L
desse oxidante (MORUZZI 2012, CARVALHO 2004). Moruzzi (2012) destaca que a
compreensão do ponto onde acontece a oxidação e redução das espécies solúveis do ferro
é um dos fatores críticos para otimização desses processos de remoção.
Os filtros utilizados nesses sistemas são constituídos, geralmente, de antracito e/ou
areia. O modelo de filtração direta é considerado uma das mais importantes tecnologias
dos sistemas de tratamentos de água, de grande ou pequena escala. Existem algumas
variantes dessa método, como a filtração direta ascendente (FDA) e a filtração direta
descendente (FDD) que são técnicas simples e eficientes, porém possuem limitações
relacionadas a qualidade físico-química e microbiológica da água bruta, especificamente
para os valores de turbidez e cor. Uma forma muito comum de aplicação desses sistemas
é através da combinação de dois tipos de filtração, constituindo a chamada dupla filtração,
onde, por exemplo, primeiro tem-se a FDA, normalmente com leito formado por
pedregulhos ou areia grossa, e depois a filtração rápida descendente. Esse método é muito
empregado porque permite o tratamento de águas de pior qualidade, o uso de taxas de
filtração mais elevada, maior segurança com relação a mudanças bruscas nas
características do manancial e apresenta maior espectro de remoção para microrganismos
(MORUZZI, 2012; DI BERNARDO; DANTAS, 2005). A figura 17 mostra uma pequena
linha de tratamento, contendo uma bomba dosadora para solução de cloro e uma dupla
filtração.

35
Figura 17 Sistema de tratamento com bomba dosadora e dupla filtração
Fonte: Site da FUSATI

O uso de complexantes no tratamento de metais vem como uma alternativa de


mais simples operação e que consegue assegurar a qualidade da água ao longo da rede de
distribuição. Weigert e Rattmann (1997) afirmam que apesar do método de precipitação
ser eficiente, há situações em que esse fenômeno pode ocorrer sem controle, de modo que
os componentes da água que sai das unidades de filtração podem reagir com o novo
ambiente dos sistemas de distribuição, levando a precipitação de outros elementos após o
tratamento. Assim, ao logo do percurso em direção ao consumidor final podem ser
formados precipitados de carbonatos de cálcio, ferro, manganês e diversos outros metais,
compostos que podem causar efeitos adversos tanto na rede, desencadeando corrosão e
incrustação, quanto a entrega de uma água fora dos padrões de potabilidade.
Sendo assim, como a manutenção da qualidade da água ao logo de toda rede de
distribuição e a conservação das instalações devem constituir uma preocupação constante
das instituições e empresas fornecedoras de água para abastecimento, o tratamento com
os chamados compostos de coordenação (quelantes ou complexantes) passou a ser visto
como uma excelente alternativa. Esses compostos, além de evitar a geração daqueles
fatores organolépticos, considerados pelo Ministério da Saúde como únicos impeditivos
do uso de fontes hídricas com teor de ferro maior que 0,3 ppm, também atuam como
inibidores de corrosão e incrustação (WEIGERT, RATTMANN, 1997;
CARVALHO,2004).
Como o próprio nome já diz, o tratamento com complexantes se baseia na
formação de complexos entre compostos “sequestrantes’ de metais empregados nos
processos e os íons metálicos presentes na água. Segundo Jones (2002), esses compostos
de coordenação, ou complexos metálicos, são substâncias formadas entre um ácido (o
centro metálico) e uma base (ligante) de Lewis. O número de átomos doares, ou ligantes,
que se encontram diretamente ligados ao íon metálico define o chamado número de
coordenação (NC), que é uma importante propriedade desses compostos. Esse autor
complementa dizendo que essa característica pode ser determinada também através da
quantidade de pares de elétrons proveniente dos átomos doadores aos quais o metal se
encontra ligado diretamente. Os complexos mais estáveis são aqueles que possuem dois
ou mais átomos doadores ligados ao mesmo íon metálico.

36
Outro fator importante sobre esses compostos é a chamada geometria de
coordenação, que corresponde ao arranjo estrutural dos ligantes ao redor do metal em um
composto complexo. Assim como em todos os outros elementos, essas estruturas são
formadas de modo que seja obtida uma condição de mais baixa energia, influenciando,
portanto, na estabilidade desses grupos. Para diferentes intervalos de NC, existem
geometrias idealizadas, sendo os complexos com metais de transição, elementos que
raramente apresentam baixo número de coordenação, os que mais se enquadram nesses
arranjos teóricos, ainda que frequentemente sejam identificadas algumas distorções
(JONES,2002).
O estudo da termodinâmica de formação dos complexos fornece informações
sobre a ligação entre o metal e o ligante, fazendo com que seja possível entender as
relações existentes entre as estruturas e a força de interação entre esses elementos. Foi
devido a isto que se tornou viável a projeção de substâncias complexas com determinadas
propriedades e para aplicações específicas como, por exemplo, o tratamento de água.
Além disso, nos compostos de coordenação formados com metais de transição, os termos
“estável” e “instável” tem definições próprias e que também estão relacionadas com a
termodinâmica através da constante de estabilidade (Kc). Kc é a constante de equilíbrio
obtida nas reações de formação desses complexos, podendo assim ser definida em termo
das concentrações das espécies envolvidas. Sendo assim, quando Kc > 1 e, portanto,
energia livre de formação negativa nas condições consideradas, diz-se que o complexo
formado é estável. Entretanto, quando o contrário ocorre, tem-se os complexos instáveis
(JONES,2002).
Pavan (2008) aborda no seu trabalho de pesquisa que os metais de transição
possuem grande tendência de formar compostos de coordenação com grupos capazes de
doar um par de elétrons, pois esses elementos formam íons pequenos de carga elevada,
com orbitais vazios de baixa energia e capazes de receber os pares isolados de elétrons
doados por outros grupos ou ligantes. Esses ligantes podem ser de vários tipos, sendo
aqueles que conseguem ocupar simultaneamente dois ou mais pontos de coordenação
denominados de agentes quelantes. Os complexos resultantes da formação de um quelante
com um íon metálico são denominados quelato, compostos que possuem sempre um anel
em sua estrutura, lhes conferindo grande estabilidade (OLIVEIRA el. Al., 2009).
Os complexos formados com íons de ferro, geralmente, são do tipo quelante. Em
geral, os quelatos formados pelos metais divalentes, como os íons de Fe antes de serem
oxidados, se caracterizam como tendo uma estabilidade intermediária e somente se
formam em soluções alcalinas, neutras ou levemente ácidas. Já os quelatos de metais tri
e tetravalentes, que geralmente são mais estáveis, podem existir também em valores mais
baixos de pH, entre 1e 3, por exemplo. Esse seria o caso dos complexos com os íons Fe3+,
formados a partir desses quelantes de maior estabilidade até em condições mais severas,
que por isso conseguem prevenir e eliminar as incrustações nas redes de distribuição e
nas instalações dos sistemas de tratamento. As reações de complexação envolvendo esses
ligantes polidentados são as de maior interesse. Nessas reações o íon metálico reage com
o ligante, em uma única etapa, na proporção de 1:1 independente da carga do íon,
formando quelatos de grande estabilidade e solúveis em água. Por isso, é possível aplicar
esses compostos no tratamento de metais presentes nas fontes hídricas potabilizavéis,
evitando formação de cor, odor, sabor, manchas, incrustação e corrosão (OLIVEIRA et.
al., 2009).
Existem vários elementos que podem atuar como átomos doadores, porém os mais
comumente encontrados na prática são os de fósforo, nitrogênio, oxigênio, halogênios e
enxofre (JONES,2002). No caso da remoção de ferro e manganês da água, o método da

37
estabilização com ortopolifosfato e poliortofosfato é o mais empregado. Além disso, no
uso de águas subterrâneas, as técnicas de desincrustação de poços através da aplicação de
produtos à base de ortofosfatos ácidos também vem se mostrando muito satisfatória,
sendo a velocidade deles de solubilização de íons metálicos, em pH ácido, mais rápida e
efetiva em relação aos polifosfatos (RAMOS,2010; SOUZA,2019). O uso desses
produtos no tratamento de água para consumo humano é respaldado pela norma NBR
15784:2017, que trata sobre produtos químicos utilizados no tratamento de água,
assegurando que se a aplicação for feita dentro dos limites estabelecidos, não ocasionará
nenhum dano à saúde humana e nem ao meio ambiente.
A norma NBR 15007:2017 aborda somente sobre os produtos à base de orto e
polifosfatos para aplicação em saneamento básico. Ela estabelece as especificações
técnicas, amostragem e metodologia de ensaios para utilização desses elementos no
tratamento, além dos requisitos toxicológicos e de desempenho. Segundo esse
documento, os ortopolifosfato podem aplicados no estado sólido ou líquido, tendo seu
teor ativo como P2O5, dependendo qual das formas for empregada, variando de 33 a 67%.
Duas importantes propriedades especificadas nessa norma para esses produtos são a
capacidade de complexação e capacidade de manter o metal complexado. Ou seja, trata-
se de determinar se o produto à base de ortopolifosfato ou poliortofosfato consegue
formar complexos solúveis de metais (quelação) e caso sim, se mantem eles complexados
após um período em repouso. Os resultados dessas análises são dados em termos de
ausência e presença e baseia-se na manutenção da cor em até 15 UC (ou uH), valor
máximo permitido para esse parâmetro pela legislação. Ter informações a respeito dessa
característica é fundamental no momento da escolha do produto que será aplicado no
tratamento.
Essa norma técnica estabelece também que para uso do ortofosfato no estado
sólido deve ser preparada uma solução com concentração máxima de 30%, visando evitar
perdas e depósitos do produto. A dosagem aplicada deve ser até 10 mg/L em base seca,
pois os danos ambientais decorrentes do fósforo, um importante nutriente capaz de
acelerar o processo de eutrofização dos ambientes aquáticos em que ele estiver presente
em elevada quantidade, devem ser prevenidos.
Para Weigert e Rattmann (1997) e Denger (2010), os produtos à base de
ortopolifosfato apresentam as seguintes propriedades:
• Sequestrar (quelar) íons metálicos, especialmente ferro, manganês, cálcio e
magnésio, formando compostos altamente solúveis em água e, consequentemente,
conseguindo eliminar os inconvenientes provocados por essas espécies;

• Estabilizar a água, fazendo com que os elementos minerais dos metais citados se
mantenham em suspensão de forma solúvel durante o tempo de utilização da água,
impedindo, inclusive, a formação de incrustações na rede;

• Remover lentamente as incrustações existentes nas redes, de forma a manter o


padrão de potabilidade da água sem que haja necessidade de interrupção do
sistema de abastecimento;

• A formação de uma película protetora a nível molecular sobre as superfícies


metálicas evitando o processo de corrosão e incrustação;

38
• Não causar esforços desnecessários, como abrasão ou fadiga nos
equipamentos, alongando assim a vida útil e reduzindo custo operacional;

• Devem ser produtos de seguros no manuseio, evitando a exposição dos


funcionários a produtos químicos agressivos.

Diversos autores afirmam que os ortofosfatos atuam quelando as espécies


contaminantes, formando uma estrutura anelar ao redor do íon metálico e, assim, acabam
bloqueando qualquer reação química subsequente com eles. A figura 18 será apresentado
um exemplo de um íon de ferro complexado no interior de uma grande e resistente
molécula de ortofosfato, a qual o isola do meio e, consequentemente, impede que ele seja
oxidado (WEIGERT, RATTMANN, 1997; CARVALHO,2004; NELSON (2005);
DANGER,2010).
.

Figura 18 Íons de ferro complexado


Fonte: WEIGERT, RATTMANN, 1997

O grau de complexação dos metais por fosfatos, de acordo com Weigert e


Rattmann (1997), depende da concentração do complexante aplicada, do pH de
tratamento, da concentração das espécies metálicas que possam formar os precipitados
indesejados e do teor de cloro. Para avaliar se a dosagem injetada está sendo suficiente,
e se o tratamento tem sido eficiente, recomenda-se a realização de análises periódicas dos
parâmetros cor e turbidez na saída do tratamento e em pontos receptores da água tratada,
para que assim seja possível confirmar a conformidade exigida nos padrões de
potabilidade.
Segundo Danger (2010), é muito comum a utilização de misturas de orto e
polifosfatos nos sistemas de tratamento, visando alcançar maiores níveis de proteção
contra corrosão e de retirada da coloração da água, ainda que a utilização de apenas de
um deles já consiga proporcionar esse feito, pois a hidrólise do polifosfato gera o
ortofosfato numa proporção de 5 – 40%. A aplicação dessa combinação é baseada no fato
de que elevadas concentrações da molécula orto oferecem maior proteção contra corrosão
enquanto altas de poli resultam em maior sequestramento.
Carvalho (2004) sugere que o sistema seja composto por uma bomba dosadora,
ligada em paralelo com a bomba do poço, e um tanque para preparo e armazenamento da
solução do complexante. Para determinação da dosagem do sequestrante, em L/h, o autor
se baseou na seguinte equação, considerando uma vazão de água variável entre 0 a 1 L/h:

39
(𝑇𝐸𝑂𝑅 𝐷𝐸 𝐹𝐸𝑅𝑅𝑂+ 𝑇𝐸𝑂𝑅 𝐷𝐸 𝑀𝐴𝑁𝐺𝐴𝑁Ê𝑆) 𝑋 𝑉𝐴𝑍Ã𝑂
Dosagem = Eq. 20
55,8

sendo 55,8 o peso molecular do ferro e a vazão dada em metros cúbicos. A figura 19
expõe o esquema utilizado pelo autor e que é o adotado, geralmente, nos sistemas de
tratamento com complexantes.

Figura 19 Sistema de tratamento água de poço com complexante


Fonte: CARVALHO, 2010

Diante de todo o exposto, é possível observar que um sistema de tratamento para


remoção de ferro da água utilizando complexantes mostra-se muito mais simples, barato
e de fácil operação quando comparado com o método da oxidação. Essa é uma técnica
que expõe menos o operador ao contato com produtos químicos agressivos, apresenta
menos perda de carga, menor necessidade e, consequentemente, custos com manutenção
das instalações, não apresenta danos à saúde nem ao meio ambiente, tem menos
problemas com formação de subprodutos e, conforme proposto nesse trabalho, pode ser
aplicada concomitantemente com a desinfecção, podendo ser realizado os dois processos
com um único produto (CARVALHO, 2004; DANGER, 2010, QUIMIL).

3.4 PASTILHA COMBINADA: DICLORO COM ORTOPOLIFOSFATO

A pastilha combinada de dicloroisocianurato de sódio com ortopolifosfato foi um


produto desenvolvimento pela Quimil Indústria & Comércio, sendo ainda fabricado pela
mesma. Esse produto surgiu com intuito de atender à necessidade dos clientes que
desejavam fazer a cloração da água e eliminar a cor amarelada/vermelha provocada pela
presença de ferro de uma forma mais simplificada. Pensando na combinação ideal que
poderia ser obtida a partir do poder quelante de um produto à base de ortofosfato (66%
de ativo) e o desinfetante do DCIS (60% de ativo), a empresa conseguiu formular e
produzir o Q Past Mix, um produto que assegura a desinfecção através de um derivado
orgânico de cloro e, concomitantemente, a prevenção da geração de cor com a quelação
dos íons de Ferro ou até eliminação de uma coloração já formada (QUIMIL,2021).
Segundo a Quimil (2021), uma das principais vantagens desse produto é sua fácil
aplicação. Ela é feita através do preparo de soluções com concentração adequada para
cada demanda e dosagem direta na água utilizando as bombas dosadoras. Essa pastilha
conjugada caracteriza-se por ter grande solubilidade, sem o inconveniente da formação
de “borras” e turbidez, além do baixo teor de insolúveis e alta estabilidade.
A escolha de combinar um derivado clorado orgânico com o ortopolifosfato e não
o inorgânico foi, primeiramente, pela compatibilidade química, e depois devido ao
interesse de conferir as propriedades mencionadas acima, como a estabilidade, baixo teor
de insolúveis e maior cinética e coeficiente de solubilidade ao produto final. O Q Past
Mix é comercializado como pastilhas de 200g, com aproximadamente 75 mm de diâmetro

40
e na grande maioria das vezes na composição de 60% DCIS com 40% de sequestrante.
Em raras exceções, quando solicitado, são feitas na proporção 80/20. As pastilhas são
produzidas em prensas automáticas com aproximadamente 100 bar de pressão e, segundo
a ficha técnica, esse produto possui as seguintes características:

Tabela 4 Propriedades Q Past Mix - composição 60/40


PARÂMETROS INFORMAÇÕES DO FABRICANTE
Ativo de Cloro 36%
Ativo de Ortofosfato 26,4%
pH 6,0 – 7,0
Aspecto visual Branco
Forma física Pastilha 200 g
Fonte: Quimil Indústria & Comércio

Como a massa da pastilha é conhecida, sabendo as características da água bruta e


a dosagem que será necessária para o tratamento, é possível definir o volume da solução
que precisará ser preparada e a quantidade de produto requerida para atender um sistema
de tratamento específico. Porém, vale lembrar que conforme dito por Weigert e Rattmann
(1997), como o complexante consegue estabilizar a água mantendo os elementos
metálicos na forma solúvel durante seu uso e impedindo a formação das incrustações nas
redes, e considerando também que mais ortofosfato pode ser formado a partir da hidrólise
do poliorto que possivelmente venha ser aplicado de forma conjunta, muitas vezes pode
ocorrer da quantidade real demandada de produto ser muito menor que a exigência teórica
baseada na estequiometria e na vazão de tratamento. Sendo assim, o funcionamento do
sistema na prática é o que definirá a dosagem ótima para cada situação. Nas figuras 20 e
21 podemos ver a pastilha combinada de cloro com ortofosfato em pó.

Figura 20 Pastilha combinada - frente Figura 21 Pastilha combinada - lateral


Fonte: AUTORA, 2021 Fonte: AUTORA, 2021

41
Como cloro também é consumido para oxidação de íons metálicos em solução e,
teoricamente, espera-se que o sequestrante proteja essas espécies dessa ação oxidante, é
normal surgir o questionamento do porquê da maior parte da pastilha ser composta pelo
derivado clorado. Porém, o fato é que quando se trata de teor ativo, nota-se que a
concentrações de ambos no produto final é muito próxima. Além disso, o complexante
utilizado também é adequado para eliminar e prevenir incrustações, pois ele consegue
evitar a precipitação de íons Fe2+ e solubilizar espécies com Fe3+.
Conforme já dito antes, são inúmeras as vantagens desse sistema, dentre elas o
fato da maior segurança operacional, já que o operador não tem contato com pó químico
e nem com nenhuma outra substância agressiva, além da linha ser composta basicamente
por tanques de armazenamento e bombas dosadoras; é um processo mais otimizado, com
menos perda de carga e adequada eficiência; proporciona cloro e evitar formação de cor
na água e confere o efeito de inibir e eliminar (lentamente) incrustações das tubulações,
conseguindo assegurar que a água não sofra reações adversas ao ter contato com as
superfícies ao longo da rede de distribuição, chegando assim ao consumidor final dentro
dos padrões de portabilidade.

3.5 ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA (EVE)


Os estudos de viabilidade técnica e econômica são etapas dos projetos que
auxiliam nas tomadas de decisão ao longo do desenvolvimento de uma nova tecnologia,
processos, produtos ou até nos estudos de melhoria de sistemas já existentes. Segundo
Blank (2008), o time frame da engenharia econômica é o futuro, portanto, os dados usados
nessas análises são estimativas do que se espera que ocorra. Além disso, essa avaliação
também é adequada para analisar resultados passados e até para comparar soluções para
determinado problema ou propostas distintas para uma nova técnica.
Através de um EVE é possível identificar os benefícios esperados de um dado
investimento e a possibilidade de que ele realmente ocorra nas condições almejadas,
comparando-os com os lucros e custos associados ao mesmo. Ou seja, a análise da
viabilidade econômica de dado projeto pode ser definida como um conjunto de técnicas
que permitem, de forma cientifica, a comparação entre os resultados das tomadas de
decisões referentes a diferentes alternativas (ZAGO et. al., 2013).
Lindegger (2012) afirma que o EVE é “a avaliação em termos especificamente
econômicos dos custos e da eficiência das concepções planejadas’’. Para ele, critérios
econômicos devem ser levados em consideração para classificar as diversas alternativas
de projeto até que possa ser definida qual é a ideal. Esta é uma análise que inclui uma
dimensão temporal, várias características do mercado, logo do cenário de negócios
também, e expectativas de retorno.
Como já mencionado, existem várias técnicas para realização desses estudos,
sendo uma delas através do fluxo de caixa e das medidas de valor. Os chamados fluxos
de caixa são descritivos das entradas e saídas de dinheiro, em um período de tempo
específico. Eles podem ser feitos partindo de estimativas ou de valores observados na
prática. Geralmente, esse diagrama é elaborado considerando os seguintes componentes:
receita, investimento, custos fixos e variáveis, empréstimos, amortização, depreciação,
capital de giro, impostos e juros. Entretanto, cada estudo definirá quais variáveis são mais
relevantes para essa avaliação. Com todas as entradas e saídas definidas, o fluxo de caixa
líquido do projeto será dado por (BLANK,2008):

FLUXO DE CAIXA = ENTRADAS – SAÍDAS Eq. 19

42
Assim, com dados do fluxo de caixa líquido ao longo do tempo, em conjunto com
as informações de investimento, é possível determinar as ditas medidas de valor ou
indicadores financeiros do projeto. É importante ressaltar que para determinação de todos
eles o fato de o dinheiro não ter hoje o mesmo valor que terá no futuro deve ser
considerado, sendo então necessário o uso dos fatores de conversão. Dentre os
indicadores existentes, os mais significativos para as tomadas de decisões são
(BLANK,2008):
a) Valor presente líquido (VPL): definido a partir do desconto das receitas líquidas
do projeto, desde o tempo zero, do investimento efetuado. Funciona como uma
espécie de lucro líquido;

b) Taxa interna de retorno (TIR): essa é uma taxa que iguala o retorno ao
investimento. Ou seja, é a taxa de retorno real do projeto e deve ser comparada
com a taxa mínima de atratividade da empresa para que seja definido a aceitação
ou não da proposta;

c) Índice de lucratividade (IL – VPL/VI): corresponde ao retorno obtido por cada


unidade monetária investida;

d) Tempo de retorno (TR)ou pay back: tempo de recuperação do investimento feito.

Como resultado deste trabalho, será apresentado essas medidas de valor para um
projeto que envolve a substituição de um sistema de tratamento com os processos de
oxidação mais filtração pelo uso da pastilha combinada. Para isso, serão utilizados dados
teóricos e os disponibilizados pela empresa para elaboração do fluxo de caixa e
determinação de cada um desses critérios.

43
4. METODOLOGIA

As propostas de serviços de tratamento de água devem incluir análises mensais de


alguns dos indicadores de potabilidade, sendo eles definidos pelo cliente em conjunto
com o projetista do sistema, de acordo com as características da fonte de captação, região
onde será implantada a linha, o destino que será dado para água, as exigências feitas pelos
órgãos de vigilância pra tal destino e os principais pontos que demandam tratamento
específico para ficar dentro dos padrões de consumo estabelecidos.
Neste trabalho, conforme proposto no item dois do tópico 2.1 (objetivos
específicos), será apresentado os resultados de análises físico-químicas e microbiológicas
da água bruta e tratada com uso da pastilha combinada de um ClienteX. Nele, uma solução
à 0,06% do Q Past Mix é injetada na saída do poço, com uma dosagem aproximada de
1,25 L/h. Essa dosagem foi definida através da realização de testes de bancada no
laboratório utilizando o Jar Test. A vazão de água tratada é, em média, 5 m3/h.
Para a água bruta, foram analisados os parâmetros pH, cor, turbidez, dureza,
cloretos, ferro, manganês e sólidos totais dissolvidos (STD). Após avaliar esses
resultados, definiu-se quais são as reais necessidades de tratamento e como ele poderia
ser feito. Com projeto finalizado e o sistema em funcionamento, passa-se a fazer as
análises mensais exigidas pelos órgãos de vigilância para garantir o padrão de qualidade
para o destino em que a água será empregada, que nesse estudo de caso é o consumo
humano. Para esse cliente, foram avaliados mensalmente na água tratada: pH, cor,
turbidez, cloro, manganês, ferro, coliformes totais, termotolerantes e bactérias
heterotróficas.
Todas essas análises físico-químicas e microbiológicas realizadas no laboratório
são baseadas no Standard Methods for Examination of Water and Wasterwater, utilizando
métodos da HACH, desse próprio documento que descreve alguns modelos para análises
de água ou as próprias instruções de trabalho da empresa, elaboradas conforme esse
padrão. Para realização desses ensaios, foram utilizados pHmetro, colorímetro DM,
colorímetro DR 900, analisador portátil de cloro da Hanna, kit teste de dureza total
MColortest, estufa incubadora, placas petrifilme, frascos para coleta microbiológica
contendo tiossulfato de sódio, meio de cultura, luz UV, utensílios para técnica de
titulometria e os reagentes específicos para determinação dos metais nos procedimentos
utilizando o colorímetro. Mensalmente, são feitas amostragens em 5 pontos distintos na
área do cliente, sendo o primeiro deles sempre a saída de tratamento. A forma de
amostragem, a periodicidade com que deve ser feita as análises obrigatórias desses
indicadores e a quantidade mínima de pontos de coleta também são estabelecidos na PCR
nº 5/2017. A tabela 5 resume os métodos utilizados para cada uma das análises e os
valores máximos permitidos (VMP) segundo as autoridades sanitárias brasileiras. Com
os resultados dessas análises, é possível verificar se os pontos se encontram dentro dos
limites estabelecidos e, assim, comprovar a eficiência do tratamento aplicado, conforme
proposto no objetivo específico três.

44
Tabela 5 Métodos de análise de água e VMP
PARÂMETRO MÉTODO VMP
pH SME 4500-H+B 6,0 -9,5
Cor HACH 15 Uh
Turbidez HACH 5 Ut
Cloro ANALISADOR PORTÁTIL 0,2 – 5,0 mg/L
KIT TESTE DUREZA
Dureza total 500 mg/L
TOTAL MColortest
Ferro HACH 0,3 mg/L
Manganês HACH 0,1 mg/L
Cloreto TITULOMETRIA 250 mg/L
STD HACH 1000 mg/L
Coliformes totais QM 002 AUSÊNCIA
Coliformes termotolerantes QM 003 AUSÊNCIA
Bactérias heterotróficas QM 001 500 UFC
Fonte: AUTORA, 2021

A determinação da capacidade de complexação e de manter o complexo ferroso


formado do ortopolifosfato utilizado na formulação da pastilha combinada foi o primeiro
objetivo específico proposto nesse trabalho. Para isto, foram utilizados os procedimentos
descritos nos anexos da NBR 15007:2017. Segundo a norma, o resultado dessas análises
deve ser expresso como “não atende” ou “atende”, tendo como critério de avaliação a
manutenção da cor da água em um valor abaixo de 15 uH. Em ambos os casos, se utilizou
o colorímetro DM para determinação desse parâmetro. Nas figuras de 22 a 25 pode ser
observado algumas das etapas da realização dessa análise, que começa pela contaminação
da água com um sal de ferro (figura 22) até o resultado final após aplicação da solução de
ortopolifosfato sob agitação e um repouso de 5 min (figura 25).

Figura 23 Análise capacidade de complexação –


Figura 22 Análise capacidade de complexação - início
adição hipoclorito
Fonte: AUTORA, 2021
Fonte: AUTORA, 2021

45
Figura 25 Análise capacidade de complexação - final
Figura 24 Análise capacidade de complexação – adição Fonte: AUTORA, 2021
ortopolifosfato
Fonte: AUTORA, 2021

A técnica para determinação da capacidade de manter complexo ferroso é feita com a


solução final do ensaio de capacidade de complexação, apresentada na figura 24, com
duração de 1h e agitação a cada 15 min.
O estudo de viabilidade econômica, proposto no quarto item dos objetivos
específicos desse trabalho, foi realizado a partir da elaboração do fluxo de caixa e
posterior determinação das medidas de valor (indicadores financeiros) do projeto,
utilizando o programa Microsoft Excel. Para isto, foram adotadas algumas premissas
referentes ao funcionamento operacional, pessoal e financeiro do sistema e empregados
os dados coletados na literatura e disponibilizados pela empresa. O resultado obtido com
essa análise evidência se adotar o tratamento com a pastilha combinada apresenta também
vantagens em termos financeiros. As figuras 26 e 27 a seguir mostram um desenho
representativo das linhas de tratamento que foram consideradas para produção do EVE.

Figura 26 Linha de tratamento com oxidação mais filtração


Fonte: AUTORA, 2021

46
Figura 27 Linha de tratamento com a pastilha combinada
Fonte: AUTORA, 2021

47
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme dito anteriormente, para utilizar produtos à base de orto e polifosfatos nos
processos de complexação para tratamento de água é importante avaliar se eles de fato
apresentam a capacidade de formar o complexo e de manter o complexo ferroso formado.
Como pode ser visto na tabela 6, para ambas as análises o ortopolifosfato utilizado na
produção da pastilha combinada teve como resultado a presença da capacidade de formar
o complexo e de mantê-lo formado. Além disso, nos dois casos a cor ficou dentro dos
padrões de potabilidade, abaixo de 15 uH.

Tabela 6 Análise da capacidade de complexação e de manter o complexo ferroso


CAPACIDADE DE CAPACIDADE DE MANTER O
PRODUTO
COMPLEXAÇÃO COMPLEXO FERROSO
RESULTADO COR FINAL RESULTADO COR FINAL
ORTOFOSFATO
ATENDE 12,0 uH ATENDE 12,6 uH
Fonte: AUTORA, 2021

Como dito no tópico anterior, para elaborar uma proposta de tratamento de água,
inicialmente é necessário que se conheça as características da água bruta que será captada.
Os parâmetros avaliados são definidos pela equipe técnica junto com cliente,
considerando alguns fatores como, por exemplo, localização, destino da água tratada e
exigências das autoridades sanitárias para aquele determinado fim. Conforme
mencionado no segundo objetivo específico, aqui será apresentado resultados
correspondentes a seis meses das análises da água tratada de um ClienteX, onde a técnica
da pastilha combinada foi empregada, e a caracterização inicial da água bruta, apresentada
na tabela 7.
Tabela 7 Caracterização água bruta do poço ClienteX
PARÂMETRO UND. POÇO VMP*
pH - 6,02 6,00 – 9,50
COR uH 13,9 15,0
TURBIDEZ uT 6,80 5,00
FERRO mg/L 1,39 0,30
MANGANÊS mg/L 0,30 0,10
DUREZA mg/L 85,0 500
STD** mg/L 165 1000
CLORETO mg/L 125 250
Fonte: QUIMIL,2021
*VMP = Valor Máximo Permitido, de acordo com a PCR n° 5 de 28/09/2017, anexo XX
**Sólidos Totais Dissolvidos

A partir da tabela 7, nota-se que os parâmetros turbidez, ferro e manganês


encontravam-se fora dos padrões de potabilidade estabelecidos pela PCR n° 5, exigindo,
por tanto, a aplicação de um tratamento para adequá-los. No caso da cor, sabe-se que
mesmo contendo altos teores de ferro, no primeiro momento a água é retirada do poço
completamente incolor. Porém, só de entrar em contato com oxigênio do ar, o Fe começa
a oxidar, gerando cor. Nesse caso, apesar do valor encontrado para essa variável ainda
está dentro do limite permitido, se não fosse aplicado nenhum tratamento, a tendência era
que essa água ficasse cada vez mais amarelada, levando esse parâmetro para valores
acima de 15 uH. Como já foi dito, o tratamento deve ser feito nos pontos de real
necessidade e com menor custo, exceto a desinfecção que é o mínimo exigido. É
importante ressaltar que em água bruta de poço não é feita análise de cloro residual livre,
visto que se entende que essa água não foi clorada e, na maioria dos casos, não há presença

48
de compostos que formem no meio aquoso íons hipoclorito ou ácido hipocloroso. Em
todos os testes já feitos, o cloro residual livre é sempre nulo. Esse motivo também
contribui para a não necessidade de realizar análises microbiológicas.
Sendo assim, considerando os resultados obtidos na análise físico-química feita
no laboratório, percebe-se a imprescindibilidade de adotar um tratamento para adequação
dos pontos em destaque, além de controlar a oxidação e precipitação dos compostos de
ferro. Fora isso, como é a exigência mínima da legislação, precisa ser feito o processo de
desinfecção. Segundo o artigo Art. 39°, parágrafo 4° da PCR n° 5, é permitido na água
para consumo humano concentrações de ferro até 2,4 ppm e 0,4 de manganês na forma
complexada. Logo, foi possível aplicar o método de tratamento com a pastilha combinada
no sistema de potabilização dessa água.
Nas tabelas 8 e 9 estão apresentados os resultados das análises físico-químicas
(FQ) e microbiológicas encontrados para essa mesma água após aplicação do tratamento
com a pastilha conjugada de DCIS e ortopolifosfato, ao longo de 6 meses. Essas
avaliações eram feitas mensalmente em 5 pontos de amostragem, onde o primeiro deles
era sempre a saída da linha de tratamento. Os demais pontos eram escolhidos
aleatoriamente nos locais receptores. A análise de cloro residual livre é feita in loco, no
momento da coleta, pelos próprios operadores da estação.

49
Tabela 8 Resultados do mês 1 ao 3 das análises FQ e microbiologicas do ClienteX

MÊS 1
PARÂMETROS UNID. 1 2 3 4 5 VMP*
pH - 6,80 6,50 6,27 6,92 6,32 6,0 – 9,5
COR uH 3,60 4,32 4,10 5,30 3,92 15
TURBIDEZ uT 0,00 0,00 0,00 2,00 1,00 5,0
CLORO mg/L 2,00 2,00 2,00 1,50 1,50 0,2 – 5,0
Fe mg/L 1,51 0,72 0,75 0,83 0,77 2,4**
Mn mg/L 0,30 0,20 0,30 0,30 0,20 0,4**
BACTÉRIAS
UFC < 1,0 < 1,0 < 1,0 5,00 < 1,0 500
HETEROTRÓFICAS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TOTAIS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TERMOTOLERANTES
MÊS 2
PARÂMETROS UNID. 1 2 3 4 5 VMP
pH - 6,55 6,15 6,45 6,48 6,39 6,0 – 9,5
COR uH 2,30 2,80 3,00 3,00 0,00 15
TURBIDEZ uT 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 5,0
CLORO mg/L 2,00 1,00 1,00 1,00 0,50 0,2 – 5,0
Fe mg/L 1,43 0,88 0,81 0,92 0,85 2,4**
Mn mg/L 0,40 0,20 0,30 0,30 0,20 0,4**
BACTÉRIAS
UFC < 1,0 46 412 < 1,0 480 500
HETEROTRÓFICAS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TOTAIS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TERMOTOLERANTES
MÊS 3
PARÂMETROS UNID. 1 2 3 4 5 VMP
pH - 6,12 6,17 6,06 6,22 6,07 6,0 – 9,5
COR uH 4,00 6,30 8,10 8,60 5,50 15
TURBIDEZ uT 1,00 3,00 4,00 5,00 1,00 5,0
CLORO mg/L 2,00 1,50 1,00 1,00 1,00 0,2 – 5,0
Fe mg/L 1,67 0,79 0,75 0,68 0,92 2,4**
Mn mg/L 0,30 0,40 0,20 0,20 0,30 0,4**
BACTÉRIAS
UFC 300 50 87 61 436 500
HETEROTRÓFICAS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TOTAIS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TERMOTOLERANTES
Fonte: QUIMIL,2021
*VMP = Valor Máximo Permitido, de acordo com a PCR n° 5 de 28/09/2017, anexo XX
**Valores Máximos Permitidos para elementos complexados, de acordo com a PCR n° 5 de 28/09/2017, Art. 39o,
parágrafo 4°

50
Tabela 9 Resultados do mês 4 ao 6 das análises FQ e microbiologicas do ClienteX

MÊS 4
PARÂMETROS UNID. 1 2 3 4 5 VMP
pH - 6,55 6,15 6,45 6,48 6,39 6,0 – 9,5
COR uH 2,00 2,80 3,00 3,00 0,00 15
TURBIDEZ uT 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 5,0
CLORO mg/L 1,50 1,00 1,00 1,00 0,50 0,2 – 5,0
Fe mg/L 1,32 0,78 0,77 0,89 1,00 2,4**
Mn mg/L 0,40 0,10 0,40 0,40 0,10 0,4**
BACTÉRIAS
UFC < 1,0 46 412 < 1,0 480 500
HETEROTRÓFICAS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TOTAIS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TERMOTOLERANTES
MÊS 5
PARÂMETROS UNID. 1 2 3 4 5 VMP
pH - 6,80 6,60 6,85 6,79 6,50 6,0 – 9,5
COR uH 3,20 2,40 2,00 1,75 3,80 15
TURBIDEZ uT 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 5,0
CLORO mg/L 2,00 0,50 0,50 0,50 0,50 0,2 – 5,0
Fe mg/L 1,50 0,63 0,70 0,71 0,80 2,4**
Mn mg/L 0,30 0,20 0,40 0,20 0,20 0,4**
BACTÉRIAS
UFC 104 400 281 327 122 500
HETEROTRÓFICAS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TOTAIS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TERMOTOLERANTES
MÊS 6
PARÂMETROS UNID. 1 2 3 4 5 VMP
pH - 7,20 6,80 7,20 6,40 7,40 6,0 – 9,5
COR uH 2,20 2,00 2,00 2,80 1,94 15
TURBIDEZ uT 0,00 0,00 1,00 1,00 0,00 5,0
CLORO mg/L 1,50 0,50 1,00 0,50 0,50 0,2 – 5,0
Fe mg/L 1,40 0,64 0,53 0,50 0,72 2,4**
Mn mg/L 0,20 0,20 0,30 0,20 0,20 0,4**
BACTÉRIAS
UFC 187 256 239 150 122 500
HETEROTRÓFICAS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TOTAIS
COLI.
UFC AUS AUS AUS AUS AUS AUSÊNCIA
TERMOTOLERANTES
Fonte: QUIMIL,2021
*VMP = Valor Máximo Permitido, de acordo com a PCR n° 5 de 28/09/2017, anexo XX
**Valores Máximos Permitidos para elementos complexados, de acordo com a PCR n° 5 de 28/09/2017, Art. 39o,
parágrafo 4°

51
Como pode ser visto, todos os parâmetros foram adequados aos critérios de
potabilidade impostos pela legislação brasileira para água de consumo humano após
aplicação do tratamento com a pastilha. Sendo assim, verifica-se que de fato a técnica
adotada foi eficiente para adequar a água aos padrões de qualidade prescritos,
satisfazendo ao terceiro objetivo específico proposto nesse estudo. Outro fator que chama
atenção nesses resultados é a variação significativa dos valores de cada parâmetro de um
ponto em relação ao outro e, principalmente, quando comparado a saída de tratamento no
mesmo mês e entre meses diferentes. Isso ocorre porque, no caso desse cliente
especificamente, após a água sair da linha de tratamento ela é misturada com uma
quantidade de água da EMBASA no tanque de armazenamento, antes de ser distribuída.
Um possível motivo para realização dessa mistura é que a vazão que consegue ser obtida
no poço durante as 10 horas de operação pode não ser suficiente para atender a demanda
do estabelecimento. Além disso, é importante destacar que diversos fatores podem
influenciar na caracterização dessa água feita no laboratório. Dentre estes, podemos citar:
abastecimento do manancial subterrâneo, pontos de coleta, forma como a coleta é feita,
condições da água que vem da concessionária e é misturada com a que sai da linha de
tratamento e o estado das tubulações ao longo da rede de distribuição. Fazendo um recorte
e observando as variáveis cor, turbidez e cloro apenas no ponto da saída de tratamento
temos:

ACOMPANHAMENTO COR, TURBIDEZ E CLORO NA SAÍDA


DE TRATAMENTO
COR TURBIDEZ CLORO
4,0
3,6

3,2
2,3

2,2
2,0

2,0

2,0

2,0

2,0
1,5

1,5
1,0
0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

1 2 3 4 5 6 MESES

Figura 28 Cor, turbidez e cloro ao longo de 6 meses na saída de tratamento


Fonte: AUTORA, 2021

52
Tabela 10 Resultados de cor, turbidez e cloro na saída de tratamento
DESVIO
PARÂMETRO UNID. MÊS 1 MÊS 2 MÊS 3 MÊS 4 MÊS 5 MÊS 6
PADRÃO
COR - ST uH 3,60 2,30 4,00 2,00 3,20 2,20 0,72
TURBIDEZ - ST uT 0,00 0,00 1,00 0,00 0,00 0,00 0,28
CLORO - ST mg/L 2,00 2,00 2,00 1,50 2,00 1,50 0,22
Fonte: QUIMIL,2021

Nesse caso, o desvio encontrado de um mês para o outro pode ser considerado
aceitável, podendo estar sendo causado, considerando que a concentração da solução da
pastilha é a mesma e a dosagem também, por pequenas contaminações ao longo da linha
ou até mesmo na saída do poço, no material que ele é revestido ou foi vedado, ou ainda
devido a condução da coleta. Além disso, cabe ressaltar que todas as análises de
laboratório estão sujeitas aos erros operacionais e incertezas associadas aos métodos e
equipamentos.
Como indicado no quarto objetivo específico desse trabalho, foi realizado o estudo
de viabilidade econômica dessa técnica, frente ao processo de tratamento com oxidação
mais filtração. Para isso, foi elaborado o fluxo de caixa do método proposto, com tempo
de vida útil do projeto de 10 anos, e determinado os indicadores econômicos adotando as
seguintes premissas:
1. Pelo montante que precisa ser investido nos projetos, supõe-se que a empresa que
vai adotar algum desses sistemas de tratamento pode investir com capital próprio;

2. A linha de tratamento do sistema de oxidação + filtração é composta, basicamente,


por tanques com as soluções de cloro, bombas dosadoras, filtro, tanque de
armazenamento e tubulações. Já no caso do sistema usando a pastilha, temos o
tanque com a solução da pastilha, a bomba dosadora para aplicação, tanque de
armazenamento e tubulações. Exceto para as bombas, o valor residual dos demais
equipamentos e instalações correspondem a 20% do valor de compra;

3. O tempo de vida útil de cada bomba é de 5 anos e o leito do filtro precisa ser
trocado anualmente;

4. Nos dois projetos é necessário a contratação de um operador, no qual o salário é


de R$ 1.300,00;

5. Em ambos os projetos, mensalmente são feitas amostragens em 5 pontos para


realização de análises de potabilidade no laboratório. O custo mensal dessas
análises é de R$ 1.100,00, incluindo todos os pontos;

6. O custo de manutenção dos equipamentos e instalações corresponde a 5% do


investimento;

7. A taxa do imposto de renda considerada nesses projetos é de 34%;

8. O capital de giro corresponde ao valor do investimento no primeiro ano;

9. TMA (taxa mínima de atratividade) desses projetos é de 35%;


53
10. A receita do projeto com a pastilha combinada corresponde a redução de custo
obtida com a troca do tratamento com oxidação mais filtração pelo sistema com a
pastilha;

11. Deseja-se pay back de até 5 anos e VPL/VI > 1,0 com a mudança de sistema;

12. Será considerado um custo com seguro equivalente a 20% do investimento;

13. Será considerado um custo com contingências equivalente a 5% do investimento;

14. Como a receita corresponde a redução de custo obtida com a mudança de


processo, não há incidência de impostos de nota como PIS/COFINS e ICMS.

Essas estimativas para valor residual, custos com manutenção, seguro e contingências
foram baseadas em números típicos de engenharia adotados para realização desse tipo de
estudo. Além disso, foram levantados os seguintes dados relacionados a cada uma das
técnicas:
Tabela 11 Dados relacionados ao processo com oxidação + filtração
PARÂMETRO VALOR

INVESTIMENTO – CAPEX (EQUIPAMENTOS


R$ 12.000,00
+ MATERIAIS + INSTALAÇÃO)

VAZÃO POÇO 5 m3/h


TEMPO DE OPERAÇÃO 10h/dia
TMA (%) 35
IR (%) a.a 34
CUSTO OPERADOR R$ 1.300,00
CUSTO LABORATÓRIO R$ 1.100,00
CUSTO MANUTENÇÃO R$ 600,00

VALOR RESIDUAL FILTRO R$ 540,00

VALOR RESIDUAL TANQUE E INSTALAÇÕES R$ 960,00


CUSTO BOMBA DOSADORA (2 UN) R$ 1.980,00
LEITO FILTRANTE DE AREIA R$ 100,00

R$/Kg DE HIPO DE CÁLCIO GRANULADO R$ 23,00

CONSUMO HIPO DE CÁLCIO/MÊS 45 Kg

R$/m3 DE ÁGUA TRATADA (CONTANDO


COM OPERADOR, LAB, MANUTENÇÃO, R$ 4,10
VISITA TÉCNICA, LUCRO, PRODUTO)
CONSUMO MÉDIO DE ÁGUA
1.500 m3
TRATADA/MÊS
CONSUMO MÉDIO DE ÁGUA NO ANO 18.000 m3
CUSTO ANUAL DO TRATAMENTO R$ 73.800,00
Fonte: QUIMIL,2021; HASTENREITER,2013; DUARTE,2011;
ALMEIDA,2019; SILVA et.al., 2006

54
Tabela 12 Dados relacionados ao processo com a pastilha
PARÂMETRO VALOR
INVESTIMENTO – CAPEX
(EQUIPAMENTOS + MATERIAIS + R$ 6.500,00
INSTALAÇÃO)
VAZÃO POÇO 5 m3/h
TEMPO DE OPERAÇÃO 10h/dia
TMA (%) 35
IR (%) a.a 34
CUSTO OPERADOR R$ 1.300,00
CUSTO LABORATÓRIO R$ 1.100,00
CUSTO MANUTENÇÃO R$ 325,00
VALOR RESIDUAL TANQUE E
R$ 740,00
INSTALAÇÕES
CUSTO BOMBA DOSADORA R$ 990,00
R$/Kg DE PASTILHA COMBINADA R$ 29,00
CONSUMO PASTILHA A CADA 2
10 Kg
MESES
R$/m3 DE ÁGUA TRATADA
(CONTANDO COM OPERADOR, LAB,
R$ 2,95
MANUTENÇÃO, VISITA TÉCNICA,
LUCRO, PRODUTO)
CONSUMO MÉDIO DE ÁGUA
1500 m3
TRATADA/MÊS

CONSUMO MÉDIO DE ÁGUA NO ANO 18.000 m3

CUSTO ANUAL DO TRATAMENTO R$ 53.100,00


CUSTO COM SEGURO R$ 1.300,00
CUSTO COM CONTINGÊNCIAS R$ 325,00
Fonte: QUIMIL,2021

Como visto no desenho representativo de cada processo apresentado na


metodologia desse trabalho, a linha de tratamento com a pastilha combinada é mais
simples do que a com sistema de oxidação, apresentando menos equipamentos e menor
consumo de produto. Esse fato reflete tanto no montante correspondente ao investimento
que precisa ser feito para construção dessas estações de pequeno porte como no custo
global por metro cúbico de água tratada que envolve operador, análises laboratoriais,
visitas técnicas mensais, gastos com produtos e o próprio lucro da empresa fornecedora e
responsável pelo tratamento. Analisando as tabelas 11 e 12 acima, é possível notar essas
diferenças em termos financeiros. Como esperado, o capex na tabela 12 corresponde
aproximadamente a 54,1% do apresentado na tabela 11 e o custo/m3 de água tratada é
aproximadamente 1,4x menor. Nota-se que, para ambos os casos, pode-se considerar que
são projetos de baixo investimento. De posse desses dados e considerando as premissas
adotas, o fluxo de caixa líquido encontrado para o processo de tratamento com a pastilha
combinada foi:

55
Figura 29 Fluxo de caixa processo pastilha combinada
Fonte: AUTORA,2021

Conforme pode ser observado na figura 29, o fluxo de caixa líquido dessa proposta
foi positivo em todos os anos, não sendo necessário, como visto no cálculo do tempo de
retorno, mais do que dois anos para que o projeto seja pago. Como os custos totais,
representado pelo preço/ m3 de água tratada dos projetos, já estava parametrizado no item
da receita desse fluxo, foram considerados os gastos com seguro e contingências na linha
de custo dessa planilha. Com esse resultado líquido, elevada receita (que na verdade
corresponde a redução de custo com a substituição de um projeto pelo outro) e baixo
custo, já se esperava que os indicadores financeiros apresentassem valores satisfatórios.
Em um EVE, considera-se que o projeto é bom quando ele resulta em uma TIR > TMA,
VPL positivo, VPL/VI > 2 e pay back até 5 anos. Observando os dados da tabela 13, nota-
se que além de todas as vantagens descritas até o momento para o uso da pastilha
combinada, o fator financeiro também se mostra bastante vantajoso.

Tabela 13 Indicadores financeiros projeto com pastilha


INDICADORES FINANCEIROS
VPL R$ 21.271,09
TIR 97%
VPL/VI 3,3
TEMPO DE RETORNO ENTRE O 1° E 2° ANO
Fonte: AUTORA,2021

Vendo a tabela 13, percebe-se que a TIR obtida foi cerca de 2,8x maior que a
TMA, o pay back estar entre o 1º e 2° ano, aproximadamente 3 anos antes do desejado, e
para cada unidade monetária investida é obtido um retorno de 3,3 unidades. A planilha
do fluxo de caixa e cálculo desses indicadores será colocada em anexo.

56
6. CONCLUSÃO

Diante do uso cada vez maior de fontes hídricas subterrâneas tanto para
abastecimento público quanto privado em pequenos e médios estabelecimentos
comerciais ou domésticos, pensar em alternativas de tratamentos eficientes e de baixo
custo para essa água vem se tornando mais e mais necessário. Sabe-se que como as
superfícies por onde esses mananciais percolam atuam como uma espécie de filtro, essas
fontes são consideradas de boa qualidade e, por tanto, com pouca imposição de
tratamento. Entretanto, para qualquer condição, o processo de desinfecção em águas
destinadas para consumo humano é imprescindível e, principalmente no caso dessas
fontes, o controle de metais também, para evitar formação de características
organolépticas indesejáveis.
Como visto neste trabalho, existe uma variedade enorme de possibilidades de
tratamento e produtos químicos que podem ser aplicados em cada um deles. Porém, no
Brasil, algumas técnicas ainda são tidas como convencionais por serem as mais
comumente aplicadas. Um exemplo típico disto é o processo de desinfecção à base de
derivados clorados, tanto nas grandes ETA’s quanto nas linhas de tratamento de pequeno
porte. Atualmente, são usados produtos com cloro de origem orgânica e inorgânica nesses
sistemas, sendo as principais diferenças entre eles o teor de cloro associado, condições de
aplicação e armazenamento, forma física comercial, custo e eficiência.
Ao comparar o Dicloroisocianurato de sódio, composto orgânico, com o
hipoclorito de cálcio, inorgânico, nota-se que, dentre outros fatores, o Ca(ClO)2 apresenta
alguns inconvenientes como: facilita os processos de incrustação e entupimento, aumenta
o nível de insolúveis na água, é menos estável, gera mais subprodutos e perde mais
rapidamente o teor ativo de cloro com o tempo. Além disso, a utilização desse produto
gera maior quantidade dos chamados subprodutos da cloração como os THM. Portanto,
para os casos em que objetiva-se desinfectar a água e garantir residual de cloro por mais
tempo, sem a necessidade de realizar, por exemplo, uma oxidação de choque com resposta
rápida, o mais adequado é o uso de um cloro orgânico como DCIS.
Outro procedimento comum na área de tratamento de água é a realização da
remoção de metais através da aeração ou adição de um produto químico oxidante com
posterior filtração. Nesse último caso, normalmente também costuma-se utilizar produtos
à base de cloro. Entretanto, acontece que os problemas provocados pela presença de
metais na água, como ferro, são em sua maioria de caráter “estético”, resultantes da
geração de cor, sabor e odor quando esses metais formam compostos insolúveis no meio
aquoso. Além disso, a presença dos compostos de Fe pode gerar manchas em instalações
sanitárias e roupas, desenvolvimento das chamadas bactérias do ferro, interferências em
processos industriais e desenvolvimento de incrustações e corrosão. Levando tudo isso
em conta, a legislação brasileira permite que técnicas mais simples, como a complexação,
sejam utilizadas para controle de metais, como Fe e Mn, desde que a concentração deles
não ultrapassem os limites de 2,4 ppm para ferro e 0,4 ppm para manganês.
O método da complexação para controle e tratamento de metais nas fontes hídricas
é de mais simples operação e manutenção, além de apresentar menor custo e boa
eficiência no atendimento dos padrões de potabilidade. Nesse processo, os produtos mais
empregados são os à base de orto e polifosfato. Eles atuam como quelante de íons
metálicos, além de funcionar como inibidor de corrosão e incrustação. Outro fator
importante é que esses compostos são considerados como não tóxico pela OECD e,
segundo pesquisas, quando aplicados dentro dos limites permitidos, não trazem
malefícios ao meio ambiente e nem a saúde humana.

57
Pensando nas vantagens que um produto feito a partir da combinação do cloro
orgânico com um sequestrante de metais derivado de ortopolifosfato poderia ter, a Quimil
Indústria & Comércio desenvolveu o Q Past Mix, uma pastilha conjugada feita com esses
dois compostos, onde é possível desinfetar e resolver problemas de geração de cor na
água com um só produto. Essa pastilha é ideal para sistemas de tratamento de pequeno e
médio porte, com captação preferencialmente em água de poço por ser um manancial que
já apresenta boa qualidade e não requer maiores adequações nos demais parâmetros
indicadores de potabilidade. Entretanto, esse produto também pode ser aplicado nas
grandes estações de tratamento como parte do tratamento terciário, visando garantir que
a água chegue ao consumidor final com residual de cloro, que ela não seja contaminada
com metais advindos do material das tubulações nas redes de distribuição, além da
formação das películas de ortopolifosfato nesses canais que atuam como inibidores de
corrosão e incrustação.
Este trabalho de pesquisa mostrou que são inúmeras as vantagens do uso desses
sistemas de tratamento com a pastilha combinada, dentre elas a maior segurança
operacional, já que o operador não tem contato com pó químico e nem com nenhuma
outra substância agressiva, além da linha ser composta basicamente por tanques de
armazenamento e bombas dosadoras; é um processo mais otimizado e com adequada
eficiência; proporciona cloro residual e evita formação de cor; inibe e elimina
(lentamente) incrustações das tubulações, conseguindo assegurar que a água não sofra
reações adversas ao ter contato com superfícies ao longo da rede de distribuição,
garantindo assim que ela chegue ao consumidor final dentro dos padrões de portabilidade
e, conforme visto no estudo de viabilidade econômica, é um projeto bastante vantajoso
financeiramente.
Os resultados aqui apresentados mostraram que o ortopolifosfato utilizado na
fabricação da pastilha apresenta capacidade de complexação e de manter o complexo
ferroso formado, que a água do ClienteX tratada utilizando essa técnica estava com os
indicadores de qualidade dentro dos limites estabelecidos pelas autoridades sanitárias e
que o projeto para substituição de um sistema com processo de oxidação + filtração para
tratamento da presença de metais e desinfecção com cloro pelo sistema utilizando apenas
a pastilha combinada para ambos os fins apresentou VPL positivo, TIR 2,8x maior que a
TMA, VPL/VI igual a 3,3 e um tempo de retorno de no máximo dois anos.
Como sugestão para trabalhos futuros fica a ideia de continuação desse estudo,
avaliando possíveis interferências que podem atuar reduzindo a eficiência do produto
como, por exemplo, a concentração de ferro, matéria orgânica e outros compostos
metálicos no manancial. Além disso, analisar até que ponto esses fatores podem acabar
restringindo o uso dessa pastilha em sistemas de tratamento maiores utilizando fontes
hídricas tanto superficiais quanto subterrâneas. Essa avaliação pode auxiliar no estudo da
viabilidade de, por exemplo, usar esse produto no tratamento de água para reuso nos
grandes polos industriais. É importante destacar que em qualquer condição sempre deve
ser levado em consideração os limites de residual para os produtos químicos e os VMP
para os indicadores de qualidade que são estabelecidos pela legislação brasileira e pelas
normas técnicas.

58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Requisitos. 3 ed. Rio de Janeiro: Abnt, 2017. 33 p.

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ANEXO 1 – Fluxo de caixa do sistema com pastilha combinada

Figura 30 EVE - Aba premissas


Fonte Autora, 2021

Figura 31 EVE - Aba dados


Fonte Autora, 2021

65
Figura 32 EVE - Aba fluxo de caixa
Fonte Autora, 2021

66

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