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Memoria, Aprendizagem, Emocoes e Inteligencia
Memoria, Aprendizagem, Emocoes e Inteligencia
Abstract
This article presents a review about memory with concepts for its different types and
links memory and cognition, showing its importance in the development of both learn-
ing and intelligence. Presenting the different types of memory, it is shown how they are
related to each other in the processing of what must both be stored and discarded, as
well as which factors influence them. A parallel is made among the influences of emo-
tions in the way memories are acquired, stored and retrieved. It is also shown how the
Cattel-Horn-Carroll theory of cognitive skills can help improving memory and, con-
sequently, the intelligence and the processes of learning. Furthermore, it discusses the
importance of early stimulus to someone´s cognitive abilities, starting from his/her birth
and continuing throughout his/her life.
Keywords: Learning. Emotions. Memory.
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil. Docente do Curso Técnico de Química da Fundação Escola Técnica Liberato Vieira da Cunha
(FETLSVC), Novo Hamburgo, RS. E-mail: aline.sousa@liberato.com.br
2 Doutora em Ciências e mestre em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre. Professora
do Departamento de Físico-Química, Instituto de Química, UFRGS, Porto Alegre. E-mail: tania.salgado@ufrgs.br
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memórias semânticas. Ainda, para as memórias não, ou se é relevante para ser guardada ou mes-
semânticas, como a aquisição da língua mater- mo para modificar uma informação pré-exis-
na, há o uso da forma implícita. tente. A capacidade de gerar aprendizado ou
As memórias implícitas ou não declarativas não da informação dependerá das conexões da
são as que adquirimos de forma inconsciente, memória de trabalho com os demais sistemas
como tarefas ou habilidades. Dirigir, andar de mnemônicos. Esses sistemas são técnicas utili-
bicicleta e ler são exemplos desse tipo de me- zadas no processo de memorização e podem ser
mória. As memórias de procedimentos são as mecanismos criados pelo próprio cérebro, que
que armazenam capacidades ou habilidades auxiliarão no armazenamento e posteriormen-
motoras e sensoriais, que chamamos de hábi- te no resgate da informação. Podem ser criadas
tos. Elas são, por exemplo, andar de bicicleta, pelo indivíduo, para facilitar o seu processo de
dirigir um carro, nadar, pois é difícil declarar memorização como, por exemplo, em química,
que as temos. Para demonstrar que as temos, a técnica utilizada para lembrar a ordem decres-
precisamos executá-las. Elas são adquiridas de cente dos elementos mais eletronegativos “Fui
forma implícita, sendo difícil descrever com Ontem No Clube, Briguei I Sai Correndo Para
exatidão o passo a passo para adquirir a habili- (o) Hospital” - flúor, oxigênio, nitrogênio, clo-
dade (IZQUIERDO, 2011). ro, bromo, iodo, enxofre, carbono, fósforo, hi-
As memórias de curta duração são aquelas drogênio. O ato de memorizar um número de
que permanecem em nosso cérebro por curto telefone, até que esse seja discado ou anotado, é
espaço de tempo, cerca de um minuto, e podem um exemplo de memória de trabalho. Podemos
dar lugar a memórias de média duração ou se- guardá-lo por alguns segundos e depois des-
rem esquecidas. Segundo Atkinson e Shiffrin cartar a informação. Ao longo desse processo,
(1968), a informação deve acontecer primeira- podem-se lembrar fatos relativos ao dono do
mente na memória de trabalho e posteriormen- número de telefone e, também, lembranças,
te ser passada para a memória de curta dura- imagens, cheiros e sensações podem ser recor-
ção, sendo então, esquecida ou passada para o dados. A memória de trabalho é de fundamental
armazenamento na memória de longa duração. importância no processo de tomada de decisão,
Contudo, para passar a informação da memória uma vez que usa de informações pré-existentes
de curto prazo para a memória de longo prazo, e faz a sua interlocução com o presente. Estados
depende de alguns fatores, como a importân- de ânimo negativo, privação de sono, depressão
cia dessa informação para a pessoa, a repetição ou tristeza afetarão a memória de trabalho e,
da informação e a sua codificação adequada na por consequência, os outros tipos de memória
memória de longo prazo. Estratégias de recupe- (de curto e de longo prazo), interferindo desde
ração ou pistas auxiliariam no processo de recu- a aquisição de um fato, até o resgate do que foi
peração dessa memória (IZQUIERDO, 2011). memorizado (IZQUIERDO, 2011).
A memória de trabalho é aquela responsá- A memória de trabalho não deixa de ser
vel por dar continuidade aos nossos atos coti- uma memória de curta duração. O que diferen-
dianos, armazena por poucos segundos a infor- cia uma da outra é o fato de a memória de cur-
mação, permitindo que saibamos onde estamos ta duração apenas armazenar a informação de
e o que estamos fazendo a cada instante e nos forma passiva por um curto espaço de tempo,
momentos anteriores. Essa memória não deixa enquanto que a memória de trabalho faz todo
rastro, não produzindo armazenamento. Esse o gerenciamento da informação de forma mais
tipo de memória, além de fazer o processamen- ativa, durante o seu processamento, armaze-
to temporário, gerencia o que será guardado ou nando-a, transformando-a ou a descartando,
não, determinando se a informação é nova, ou conforme o que for necessário. A memória de
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das tarefas, nas quais tiveram mais êxito. Isso estímulo, seja consciente ou inconscientemente,
demonstra que a recuperação da memória pode o mesmo não é recebido, impedindo, portanto,
estar diretamente ligada ao estado de humor que seja recordado. Por consequência, é gera-
atual do indivíduo. da uma falha no sistema atencional. A falta de
Quanto à emoção, ela pode afetar a re- atenção pode acontecer por uma simples ques-
cordação e o reconhecimento de diferentes tão motivacional ou por transtorno perceptivo.
formas, mas citaremos apenas duas delas. Na Como sintoma, há prejuízo do processo de me-
primeira forma, a emoção estreitaria o foco da morização ou mesmo de evocação.
memória, tornando-a mais permeável a conte- Em se tratando de memorização, o uso de
údos emocionais e deixando de lado detalhes imagens, como estratégia de aprendizagem,
mais periféricos (ELLIS; MOORE, 1999). Na demonstrou melhora no desempenho a lon-
segunda forma, níveis moderados de emoção go prazo (de um até sete dias) dos indivíduos
potencializariam o processo de codificação, avaliados em testes de lembrança livre e re-
melhorando assim a sua performance, em con- conhecimento, quando comparado apenas
trapartida, níveis extremos de emoção preju- com palavras (CAMPOS; GÓMEZ-JUNCAL;
dicariam o processo de codificação (YERKES; PÉREZ-FABELLO, 2008). Isso se dá porque os
DODSON, 1988). traços visuais altamente característicos e únicos
Possivelmente, eventos emocionais são das figuras, que não são compartilhados por
mais lembrados, porque a emoção acompa- outros estímulos, são codificados de forma di-
nha eventos novos e julgados importantes ferente, permitindo um reconhecimento futuro
para o indivíduo, direcionando a atenção para mais eficaz (HUNT; McDANIEL, 1993).
eles, de forma que melhora a consolidação do O aprendizado é um processo que conduz
evento na memória. Isso é claramente adap- ao armazenamento de informação como conse-
tativo, porque estímulos emocionais, sejam quência da prática, da experiência e ou da in-
prazerosos ou aversivos (medo, raiva, tristeza, trospecção, produzindo uma alteração relativa-
alegria, nojo e surpresa), são geralmente mais mente permanente no comportamento real ou
importantes para a sobrevivência (BRADLEY; potencial. A informação gerada pelo aprendi-
LANG, 2000). Dessa forma, histórias com zado torna-se memória. O estabelecimento du-
passagens emocionantes são mais facilmente radouro de um traço mnemônico é produto de
recordáveis, do que histórias uniformemente uma longa fase de consolidação, durante a qual
desinteressantes (CAHIL; McGAUGH, 1998). as informações recentemente adquiridas são
Nesse sentido, o prazer é considerado um fa- progressivamente estabilizadas, tornando-se
tor importante para a memória emocional resistentes a eventos nocivos ou agentes amné-
(KENSINGER; CORKINS, 2004). sicos. Grande parte do aprendizado decorre de
Na etapa de codificação da memória, ob- processos associativos: um ou vários estímulos
serva-se que o nível de alerta provoca um es- associam-se com outros estímulos ou respostas.
treitamento atencional, direcionando a atenção Por exemplo, uma dica ou uma incitação sen-
para um foco específico – a informação central sorial, proveniente do meio externo, associa-
da experiência emocional (CHRISTIANSON, se com outro de índole interna (um mal estar
1992). O alerta emocional beneficia a memó- abdominal) ou externa (um choque elétrico),
ria, em parte, pela facilitação dos processos de estabelecendo um elo entre ambos, de tal ma-
consolidação, os quais necessitam de tempo neira que uma nova apresentação do primeiro
para ocorrer. Para se armazenar uma informa- estímulo gera uma resposta característica do se-
ção é necessário receber o estímulo e arquivá-lo. gundo. A importância adaptativa desse tipo de
Quando não se emprega a devida atenção ao aprendizado, com forte conteúdo emocional, é
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extremamente clara: permite-nos guardar infor- generalizar regras, formas, conceitos e ob-
mação, tanto acerca do estímulo que nos produ- servar implicações estão entre as deficiên-
ziu medo, prazer, saciedade ou desprazer como cias neste fator.
de sua relação com outros estímulos presentes • O conhecimento quantitativo está rela-
no momento de viver a experiência, de forma cionado à habilidade de compreender
que, esses últimos, possam vir a ser utilizados conceitos e relações quantitativas e ma-
como sinais de advertência. O modelo de apren- nipular símbolos numéricos. Falhas nesse
dizado que melhor exemplifica essa situação é fator são percebidas como dificuldades
o condicionamento ao medo, que é um tipo de em tarefas numéricas.
condicionamento clássico, que permite exami- • A inteligência cristalizada é definida
nar experimentalmente os mecanismos envolvi- como a profundidade e a quantidade de
dos na aquisição, armazenamento e expressão de experiências e conhecimentos aprendi-
memórias emocionais associadas com eventos dos, seja pela experiência educacional ou
estressantes, intimidadores ou atemorizantes. pelo contato com a cultura. Deficiências
Em situações ou eventos que podem produzir de informações e inabilidade linguística
estresse pós-traumático, os melhores sobrevi- estão entre suas carências.
ventes (aqueles que conseguem levar adiante • A leitura e a escrita envolvem as habilida-
uma vida mais saudável e adaptativa) são justa- des utilizadas na compreensão da lingua-
mente aqueles que conseguem extinguir melhor gem escrita e na expressão de pensamen-
a experiência traumática. Não necessariamente tos pela escrita.
esquecê-la, mas sim extingui-la (PÔRTO, 2006). • A memória de curto prazo compreende a
retenção e o uso da informação em um
4 Inteligência
curto espaço de tempo. A sua deficiência
A inteligência parece estar diretamente as- caracteriza-se pela dificuldade em recor-
sociada a diversos fenômenos sociais como o dar informações recém recebidas.
rendimento acadêmico, o rendimento no tra- • O armazenamento e a recuperação a longo
balho, a vulnerabilidade a acidentes e, até mes- prazo associam-se à fluência e facilidade
mo, à longevidade (COLOM, 2006). Existem com que as ideias e conceitos são recupe-
diversas teorias e estudos que tentam dar conta rados. Sua escassez relaciona-se com a di-
de elucidar o que é inteligência e como ela se ficuldade em recordar dados importantes
caracteriza em seres humanos. Aqui, iremos e aprender novas informações.
tratar rapidamente dos dez aspectos apresenta- • A velocidade de processamento envolve a
dos na teoria Cattell-Horn-Carroll das capaci- habilidade de realizar rapidamente tare-
dades cognitivas, que é considerado o modelo fas comuns. Sua deficiência reflete-se na
mais avançado das teorias psicométricas da in- lentidão para desenvolver trabalhos de
teligência (SANTOS; PRIMI, 2005; SCHELINI; baixa complexidade.
WECHSLER, 2005). • A velocidade de decisão/reação está relacio-
• A inteligência fluida é a capacidade para nada à rapidez em responder corretamente
raciocinar em situações inesperadas, re- a questões de compreensão e raciocínio.
organizando, transformando e generali- • O processamento visual relaciona-se à ca-
zando informações. Envolve a formação pacidade de processar estímulos visuais,
de conceitos, compreensão de implica- além de geração, percepção, armazena-
ções, resolução de problemas e transfor- mento, análise, manipulação e transforma-
mação de informações. Dificuldades para ção de imagens visuais.
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memórias podem ainda ser extintas por desuso A estimulação precoce das habilidades cog-
ou substituídas por novas habilidades. nitivas parece ter papel positivo na melhora das
Muito se tem estudado a respeito da inteli- capacidades intelectuais. O aprender brincando,
gência, no entanto, não há consenso sobre o seu com atividades e jogos lúdicos, com foco dire-
conceito exato. Teorias têm sido elaboradas com cionado em desenvolver habilidades cognitivas,
o intuito de esclarecer sobre o assunto. Três im- resolução de problemas, tomada de decisões, a
portantes explanações sobre o tema são encon- atenção, a memória e a relação causa-efeito, pre-
tradas na teoria Cattell-Horn-Carroll das capa- cisam estar frequentemente presentes nas roti-
cidades cognitivas, na teoria das Inteligências nas da criança. Programas como o de Promoção
Emocionais de Goleman e na teoria das Cognitiva de Almeida, Morais e Ramalho (2009),
Inteligências Múltiplas de Gardner. Em todas que trabalham a ideia do “aprender a pensar” e
elas, os autores buscam, através da associação de o “aprender a aprender” têm se mostrado efe-
capacidades, explicar o que é inteligência. tivos nas atividades de resolução de problemas.
Para Cattell-Horn-Carroll, os processos As atividades que propiciam ao grupo a discus-
que delineiam a inteligência estão associados são sobre diferentes possibilidades na resolução
às capacidades cognitivas que permeiam a in- das tarefas se mostram positivas no aumento da
teligência fluida, o conhecimento quantitativo, autoestima, na satisfação pessoal e profissional,
a inteligência cristalizada, a leitura e a escrita, no êxito na resolução de situações cotidianas,
a memória de curto prazo, o armazenamento permitindo a autonomia do indivíduo no meio
e a recuperação a longo prazo, a velocidade de em que vive.
processamento, a velocidade de decisão/rea- Além disso, melhoras nas condições de nu-
ção, o processamento visual e o processamento trição, saúde, educação, ambiente social e pa-
auditivo. Considera-se o modelo mais avan-
drão de fertilidade, nos últimos anos, parecem
çado das teorias psicométricas da inteligência
ser alguns dos fatores responsáveis pelo aumen-
(SANTOS; PRIMI, 2005).
to do quociente de inteligência (Efeito Flynn),
Na teoria das Inteligências Emocionais de
observado nas últimas gerações (FLYNN, 2006).
Goleman (2012), além das aptidões mentais,
O incentivo das capacidades intelectuais em
qualidades pessoais, como autoestima, felicida-
bebês, com estimulação desde o nascimento, a
de e empatia atuam como uma entidade única.
promoção da saúde, como o acompanhamento
Para ele, a Inteligência Emocional é a capacida-
médico adequado e melhora nos padrões nutri-
de de reconhecer os sentimentos do outro e de
si próprio, de se motivar e gerenciar de forma cionais, assim como o suporte para famílias de
adequada as emoções em si e nas relações. baixa renda são ações essenciais, no que diz res-
Já Gardner apresenta em, sua teoria das in- peito ao aprimoramento cognitivo.
teligências múltiplas, a ideia de oito habilidades, 6 Considerações finais
trabalhando em conjunto: a inteligência lin-
guística, lógico-matemática, musical, espacial, Ao se levar em consideração os aspectos
corporal-cinestésica, interpessoal, intrapesso- apresentados, conclui-se que a aprendizagem
al e naturalista. Ele fala também do papel da para os alunos deve ocorrer de forma prazero-
identificação de potencialidades de cada pessoa sa. Por se mostrarem positivas para uma me-
com o objetivo de canalizá-las e aperfeiçoá-las, lhor aquisição e evocação da memória, ativida-
proporcionando, dessa forma, que os indivídu- des que promovam estados de emoção positiva
os estejam mais motivados para desenvolver e aulas que se utilizam de imagens podem ser
as atividades, para as quais possuem talento usadas como ferramentas que podem aprimorar
(GARDNER; CHEN; MORAN, 2010). o aprendizado. Nessa ótica, o estado de emoção
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