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EDITORA PRO-LOGOS
BRASÍLIA
2019
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Impresso no Brasil

Tiragem: 1.000 exemplares

ISBN: 978-85-66265-00-2

Capa: Fabricio Thomaz Design & Comunicação

Revisão: Dora Ramos e Malena Rehbein Rodrigues

Projeto Gráfico e Diagramação: Marcos Vinícius Braga

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

D213c
D’Araujo Filho, Caio Fabio
Um só caminho / Caio Fabio D´Araújo Filho. Revisão Dora Ramos e
Malena Rehbein Rodrigues. – Brasília 2019.
220 p.
ISBN: 978-85-66265-00-2
1. Discípulo. 2. Missão. 3. Igreja. 2. Caminho. 3. Graça. 4. Simplici-
dade. 5. Cristianismo. 6. Protestantismo. 7. Teologia da prosperidade.
8. Salvação. 9. Cruz. 10. Revelação. 11. Liberdade. 12. Libertinagem.
CDU: 248.48

© Caio Fabio 2019


Todos os direitos reservados. De acordo com a Lei nº 9.610, de 19-2-1998, nenhuma parte
desta obra pode ser fotografada, gravada, reproduzida ou armazenada em sistema de recu-
peração de informações ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio, digital,
eletrônico ou mecânico, sem o prévio consentimento do autor.
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Dedicatória

Ao meu filho no amor, Marcelo Quintela, que se em-


penhou mais do que eu mesmo pela publicação deste
livro. A todas as pessoas que fizeram as revisões, bem
como ao Fausto Castelo Branco e ao Reverendo Eudal-
do Gomes de Almeida, que ajudaram a colocar as notas
de rodapé, assim como contribuíram com sugestões. Ao
Chico, que também fez sugestões. E, sobretudo, minha
gratidão à Adriana, minha mulher, que, de fato, ao reler
o livro, não apenas fez muitas correções de conteúdo,
mas, também, me pediu que o fizesse na forma em que
esta edição agora possui. A todos manifesto aqui a minha
gratidão.
...Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,
nem os vossos caminhos os meus caminhos! – diz o Senhor.
Isaías 55.8
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...Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,


nem os vossos caminhos os meus caminhos! – diz o Senhor.
Isaías 55.8
Nos últimos dias, Deus é o assunto!
Deus. Este é o tema. Este é o assunto. Deus tema. Deus
assunto. Deus criado. Deus pensado. Deus explicado. Deus
filosofado. Deus objeto. Deus de estudo. Deus de discus-
são. Deus de letras. Deus de palavras. Deus de ideias. Deus
segundo o homem. Deus conforme a nossa imagem. Deus
de acordo com os tempos. Deus segundo as Eras. Deus
de doutores em Deus. Deus de divinos mestres em Divin-
dade. Deus esquadrinhado. Deus dividido em atributos.
Deus feito uno pelo fragmentado homo-sistematikus. Deus
ora livre, ora preso a si mesmo. Deus do não. Deus do sim.
Deus? Deus! Deus?!
Deus fora do interior do homem: Deus na “cabeça”.
Deus na mesa de cirurgia de ideias. Cirurgiões de Deus.
Deus cadáver. Deus de ontem. Deus da vida oca. Deus
morto. Deus que não é visto no que de Deus se pode conhe-
cer... Deus que não é visto onde disse ser.
Deus sem Deus. Deus sem Mistério. Deus manco.
Deus ajudado. Deus em perigo. Deus salvo por Teologia.
Deus “indegustável”. Deus cozido. Deus temperado. Deus
servido em bandejas de pensamentos. Deus preso ao tem-
po. Tempo no qual Deus tem de caber. Tempo no qual o
Deus segundo o homem existe. Deus disputado em bata-
lhas. Deus perdido em disputas. Deus ganho em querelas.
Deus assim, Deus me livre!
4
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Sumário

Apresentação 7
Glossário 9
Introdução: Jesus e os do Caminho 13
O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje? 51
O Caminho da Graça para todos 63
O Deus da Graça e a Graça de Deus 67
A Graça da salvação 69
A vida cheia de Graça 77
Dois modos de se conhecer a Graça de Deus 81
É para comer, não é para conhecer o cardápio 83
A boa notícia é a manchete de hoje! 89
A Graça é a lei do Caminho 93
A liberdade de ser do Caminho 101
O caminho da simplicidade 109
A loucura da Cruz e o escândalo da Graça – para os cristãos 121
O Caminho da experiência comunitária, segundo Jesus 129
Um convite à doce revolução 145
O encontro no Caminho 151
O Caminho versus a instituição 163
O Caminho da Graça – uma denominação evangélica light? 171
O Caminho como atalho 177
A Esperança como Caminho 181
O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho 183
A Teologia e o Caminho da Graça 197
Conclusão – Um só Caminho 207
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Apresentação

Onde abundou o pecado, superabundou a graça!


Romanos 5:20
Antes de qualquer coisa quero dizer, em nome de Je-
sus, que sendo um pecador dentre todos os pecadores
da Terra, nem por isso posso negar que Deus habita em
mim, e que dele recebo a Luz.
Dou a conhecer aos meus amados irmãos que encon-
trei e conheço a nosso Senhor Jesus Cristo – Deus conos-
co –, a quem o Pai constituiu como meu Salvador por
sua exclusiva Graça, hoje e para todo o sempre.
O conteúdo a seguir é uma espécie de “apresentação”
aos que chegam às Estações do Caminho da Graça. Nosso
público é formado por aqueles que, pela leitura do meu site
(www.caiofabio.net), se identificaram com o que ensino
acerca de Jesus, bem como por aqueles que já se cansaram
de tanta tolice religiosa e, pela compreensão do Evange-
lho, querem viver a simplicidade de algo que apenas deseja
ser lugar-caminho de fomento da Palavra; e, no caso de
não se fazer “lugar”, ainda assim pode se fazer “caminho”
no coração e na vocação. Ou, ainda, também formado por
aqueles que nada sabem de coisa alguma, mas anseiam
pelo Evangelho. Estes últimos chegam apenas para crescer
na graça e sem os vícios de doenças de “crentes amargos”.
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Apresentação

A esses companheiros de jornada, dedico esse trabalho.


Boa Leitura!
Caio Fábio

8
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Glossário

Aqui segue um glossário de termos presentes tanto no


site como nos livros. Creio que a leitura dele é autoexpli-
cativa e pode facilitar o processo de comunicação no que
tange à terminologia.
»» Igreja (com I maiúsculo) corresponde ao que Jesus e o
Novo Testamento definem como Igreja: a Assembleia
dos que foram chamados à fé, ou seja, o encontro com
Deus e uns com os outros em torno do nome de Jesus
– o que faz de todo Encontro Humano, em fé, um
Encontro-Igreja no qual Jesus promete estar presente,
mesmo que sejam apenas dois ou três re-unidos1 por se
saberem a ele unidos!

»» “Igreja” (entre aspas) refere-se às representações


institucionais do fenômeno histórico, social, econô-
mico, político e culturalmente autodefinido como
“igreja” – e que tem uma hierarquia (clero), sigla
(denominação), geografia fixa (prédio) e membros-
-sócios. Ou seja, Igreja encontramos no caminho.
“Igreja”, vamos ao encontro dela ou a identificamos
pela placa!

1 Mateus 18:19-20
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Glossário

»» Cristianismo é a expressão histórica da religião que


confessa Jesus como Filho de Deus, mas cujo processo
de institucionalização trabalha com mais frequência
contra os interesses do Reino de Deus que no sentido
indicado pelo Evangelho.

»» Catolicismo é um derivado do Cristianismo que se


vê como o “Reino Estatal de Deus na Terra” – tudo
entre aspas.

»» Protestantismo é o movimento histórico-cristão que


quase conseguiu... Mas perdeu o pró-testo, que é sem-
pre algo pró-teste! Assim, virou apenas uma Re-Forma2!

»» Evangélico é o ente que crê no evangelho e que crê


na salvação em Jesus, conforme a graça revelada em
Cristo. Por exemplo, o apóstolo Paulo era um genuíno
evangélico!

»» “Evangélico” (entre aspas) é o ente que tem sua fé


em Jesus mediada pela “Igreja Evangélica”, que é a
autodefinição coletiva dos cristãos que nem sempre
confiam uns nos outros ou gostam uns dos outros.
Apesar disso, só se enxergam coletivamente sob esse
guarda-chuva, furado de baixo para cima pelas pontas
afiadas dos guarda-chuvas menores que cada um usa
para garantir sua própria proteção enquanto aniquila
o que confessa como devoção: o evangelho!

2 Lucas 5:36-39

10
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Glossário

»» Cristão (historicamente) é um ser no limbo, vivendo


entre a lei e a graça; sofrendo entre o medo de Deus e
o amor irresistível que por ele sente.

»» Discípulo de Jesus é o ser que, apesar de se reconhe-


cer relativo, se sabe – pela fé na graça de Deus que gera
o dom da fé – como alguém que é irreversivelmente
de Jesus, e que aprendeu que o caminho acontece na
companhia de irmãos que sempre sujam os pés na jor-
nada. Por isso lavam os pés uns dos outros em nudez,
crendo que quem já está limpo pela Palavra3 de Cristo
não necessita lavar senão somente os pés.

»» Liberdade é a capacitação na graça e na verdade de


poder escolher-se-deixar-levar pelo Espírito, que rea-
liza o Bem de Deus no ser humano, conduzindo-o no
caminho estreito que acontece em fé – entre os polos
da lei e da libertinagem –, na vereda do que é bom, faz
bem, é justo e se chama vida conforme Jesus4.

»» Pecado é... Sou. Cada um deveria saber o que é peca-


do. De fato, cada um sabe, especialmente se não for
instruído moralmente a respeito. Somente os instruí-
dos pela Moral é que têm pecados listados5. Os da fé

3 João 13:10
4 2 Coríntios 3:1 a 8; Romanos 8
5 Colossenses 2:8-23

11
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Glossário

seguem a justiça do evangelho na consciência, por isso


sabem que são pecado. Sabem e não ficam neuróticos.
Afinal, aquele que não teve pecado, Deus o fez pecado
por nós6. Quem olha para o coração sabe a diferença.

»» Graça é toda manifestação do amor criador-redentor


de Deus – e que se expressou supremamente no Es-
cândalo da Cruz – e que sempre é favor imerecido,
incluindo a criação de todos os seres7.
Paulo fala em Igreja mais que qualquer outro dos após-
tolos. Para ele, no entanto, a igreja tem dois tratamentos:
1. A igreja como ente espiritual que existe aos olhos de
Deus como a Universal Comunhão dos Santos. É a
igreja como verdade e como proposta8.
2. A igreja instituída como organismo, não como uma
empresa com uma missão de conquista. Nesse aspec-
to, Paulo não fala em corpo, membros e dons. Para
Paulo, alguém era membro da igreja não quando se
filiava, mas pela sua própria inserção em graça na
comunhão do corpo de Cristo e sua mutualidade 9.

6 2 Coríntios 5:21
7 Colossenses 1: 1 a 23; Efésios 2:1-10
8 1 Coríntios 1:1-9; Efésios 4:1-16
9 Romanos 8:16-17; Efésios 2:4-10; Colossenses 1:17-29

12
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Introdução: Jesus e os
do Caminho

Jesus é O em relação a todas as coisas que existem. Pois


todas as coisas vieram dele e para ele10. Ele esteve neste
mundo, tudo é dele11, mas dele não era e nem é deste
mundo12. Ele amou o amor do Pai pelo mundo13, embora
o mundo o tenha odiado14. Ele, porém, como Deus, não
se enche de ciúmes ante a cegueira humana15, e conti-
nua amando mesmo quando julga e decreta, pois, sendo
amor, tudo o que faz é amor em terapia para a vida16.
Jesus é Deus. É Deus desde que Deus é Deus17. Ou
seja: ele e o Pai são Um18, e não “se tornaram” Um.
Por isso, tudo nele é simples e soberano. Ele vem ao
mundo como um anônimo e se esconde em simplicida-
de anônima aproximadamente 92% dos 33 anos de sua

10 João 1: 1-14
11 Romanos 11: 33-36
12 João 8:21-24; 17:4-16
13 João 12:20-32; João 13:1; João 15:9-13
14 João 7:1-7
15 Atos 17:22-31
16 Hebreus 12: 4- 8
17 João 13
18 João 10:22-30
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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

existência histórica. Não se importa com o tamanho de


nada19, não se aflige em posicionar-se bem20, não é estra-
tégico segundo o mundo em nada do que fez21, escolhe a
via que é vista de modo inverso pelo mundo22, andando,
assim, na contramão de tudo o que o homem chama fá-
cil23, bom e largo; escolhe a vereda que ninguém aprecia,
que é o caminho da graça24, do perdão25, da misericór-
dia26, da bondade simples e natural27, da compaixão28, da
verdade conforme o entendimento29 e da disposição de
morrer30, mas não de matar31.
O mundo, como sistema humano, é anti-ele como
Caminho, Verdade e Vida32!

19 Marcos 13:1-2
20 João 6:14-15
21 João 7:2-10; João 12:20-26
22 Lucas 13:22-30
23 Provérbios 16:25; Mateus 7:13-14
24 João 1:17; Romanos 6:14; 11:6; Efésios 2:1-10
25 Lucas 6:37-38; Mateus 6: 14,15; Colossenses 3:13
26 Oséias 6:6; Mateus 5:7; 9:10-13; Colossenses 3:12
27 Salmo 23:6; Lucas 6:27-31; Colossenses 3:12; Gálatas 5:22
28 Jó 6:14; Marcos 5:19; Efésios 4:31-32
29 Mateus 25:14-15; Marcos 4:33
30 Mateus 10:39; Lucas 14:25-27; João 12:24-25; 2 Timóteo 2:11
31 Mateus 19:18; Lucas 9:51-56; 18:20; Romanos 13:9
32 João 15:18-21; 1 João 5:18-20; Efésios 2:1-2

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

Ele, todavia, é o Caminho, a Verdade e a Vida33, e, portan-


to, não pede licença para ser e nem julga que, para que ele
mesmo fosse, tivesse de acontecer no palco das vaidades hu-
manas34. Assim, sua simplicidade de encarnação é sua maior
soberania, pois, em qualquer lugar, aquele que é se faz ser.
Ele era desde antes de haver antes ou depois, pois ele é o
Alfa e o Ômega35. Ele é aquele que veio segundo a ordem
de Melquisedeque36, pois Melquisedeque é aquele que se
manifesta sem explicação e sem pedir licença37.
Ele é Senhor de tudo, pois decreta que todas as coisas
estão sob a provisão de sua graça (favor) desde antes de se-
rem criadas, sendo esta a razão pela qual Jesus, o Cordeiro
Eterno, foi imolado antes da fundação do mundo de todos os
mundos38. Por isso é que todas as coisas que vieram dele para
ele voltarão39, pois fez a paz mediante o sangue de sua cruz40,
o qual foi a expressão temporal e histórica da cruz eterna da
imolação do Cordeiro antes da fundação do mundo41.

33 João 14:5-6; 17:9-14; Tiago 4:4; 1 João 2:15-17; 5:19


34 João 7:24
35 Apocalipse 1:8; 21:6; 22:13
36 Salmo 110:4; Hebreus 5:1-10; 6:17-20; 7:17
37 Gênesis 14:17-20; Hebreus 5:1-10; 6:20; 7:1-3, 11-28
38 1 Coríntios 5:7; 1 Pedro 1:17-21
39 Colossenses 1:13-20
40 Colossenses 1:20
41 1 Pedro 1: 19, 20, 21; Filipenses 2:5-11

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

Ele redime exatamente como cria. Ou seja, tirando as


coisas do nada ou do caos, e, além disso, criando gradu-
almente, com a paciência de Deus.
Ele não sente necessidade de se explicar, pois sabe que
as trevas não prevalecem sobre a luz42. Entretanto, ele
se revela aos simples, e todo aquele que pode enxergar
divindade na simplicidade discerne a sua presença43. Por
isso, entre nós, ele se fez acompanhar dos que se alegra-
vam com o derrame de amor que ele fazia, e não tinham
questões, mas apenas o coração carente e aberto44.
Do ponto de vista de seu olhar humano, do alto da
cruz, o que ele via era derrota e deserção. Nós é que jul-
gamos que suas palavras ecoavam aos ouvidos de todos.
Mas não. Ele dizia coisas que, além dos executores, so-
mente a mãe dele e umas amigas puderam escutar. É infi-
nitamente pior do que morrer na UTI longe dos amigos
que fugiram45. É a morte do herdeiro de todas as coisas
acontecendo quase sem testemunhas. E as que testemu-
nharam não possuíam “valor histórico”.
Ele venceu tudo em silêncio. Até a morte ele venceu
e o imperador não ficou sabendo. Assim, o caminho de
Deus é silencioso e poderoso; e não é feito por mãos hu-

42 João 1:1-9
43 Salmo 25:8-9; 119:129-130; Lucas 10:21-24; 1 Coríntios 1:18-
31 a 2:1-10; Filipenses 2:5-11; Tiago 4:6
44 Mateus 5:18-22; Marcos 5:21-42; Lucas 7:36-50
45 Isaías 53:3-8; Marcos 16:33-41; João 19:25-30

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

manas, mas por rendição do homem a Deus, sozinho,


com ou sem companhia.
Há vários livros meus que falam acerca do ser de Je-
sus, de seus modos, de seu jeito-ser como Palavra, como
Verbo Encarnado e como Chave Hermenêutica para in-
terpretação de suas próprias Palavras46.
No presente livro, minha intenção é conduzir você
por uma viagem que começa na revelação de quem é Je-
sus, se aprofunda na consciência de quem ele é para você
e cresce para fazer sua aplicação do significado dessa fé
em Jesus na sua relação com os irmãos e com o próximo.
Ou seja, este é um livro simples, mas que fala séria e
profundamente sobre as implicações do evangelho para
o todo de nossa existência.
Sim! Porque o que as pessoas precisam saber é que se
elas creem em Jesus, então nada pode continuar a ser como
tem sido, pois se as coisas são conforme Jesus disse que
elas são, implica que Deus é amor47; é Pai48; é Filho49; é ir-
mão dos homens50; é Consolador51; é a força que acompa-

46 “Seguir Jesus, o mais Fascinante Projeto de Vida”, “Oração para


Viver e Morrer” e “Um Projeto de Espiritualidade Integral”, en-
tre outros.
47 1 João 4:7-21
48 João 14:7-13
49 Mateus 3:16-17; Marcos 1:10-11; Lucas 8:21
50 Mateus 12:49-50; Marcos 5:34-35; Lucas 8:21
51 João 14:16-27

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

nha afirmando e emprenhando de esperança aqueles que


creem52 – ao mesmo tempo em que, se creem em Jesus,
precisam admitir que os corações dos homens serão jul-
gados53 e as aparências serão desvestidas até os porões da
verdade54, pois somente os atos de amor sobreviverão55.
O que as pessoas precisam saber é que se elas creem
em Jesus, então elas também creem que no fim a recom-
pensa é a de quem foi feliz porque era humilde e ensiná-
vel; e porque chorou os bons choros, porque dominou o
coração contra os impulsos do ódio ou do descontrole,
porque andou com o olhar limpo, com a vontade feita
de paz, com a perseverança fundada na justiça e com a
alegria advinda dos céus – de onde terá vindo a redenção
de quem creu, até o fim de tudo56.
O que as pessoas precisam saber é que, se elas creem
em Jesus, então, devem assumir que o mundo vai aca-
bar; a natureza vai gemer até parir algo novo; as nações
se odiarão; os povos se ajuntarão apenas para a guerra; e
a maioria esmagadora amará muito mais a mentira que
a verdade57.

52 Mateus 28:18-20
53 Romanos 2:12-16; 1 Coríntios 4:1-5
54 Romanos 2:16
55 1 Coríntios 13: 8,13
56 Mateus 5:1-12
57 Romanos 1:25; João 3:16-21

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

O que as pessoas precisam saber é que, apesar disso,


devem servir ao próximo e às causas da esperança e da
vida até o fim, mesmo que ninguém mais no mundo tra-
balhe para reverter o processo de calamidade provocado
pelo homem. Calamidade esta que da Terra se avizinha58.
O que as pessoas precisam saber é que, se elas creem
em Jesus, então também creem que os vivos que crerem,
quando soar a última trombeta, serão transformados, e,
arrebatados por anjos, irão ao encontro do Senhor nos
ares. Antes disso, porém, todos os que tiverem morrido,
no leito da fé da graça, na ressurreição serão levantados
da morte. Os mortos ressuscitarão primeiro. Depois os
vivos serão transformados. Assim creem os que creem59.
O que as pessoas precisam saber é que, se elas cre-
em em Jesus, então elas creem também que as coisas são
como Jesus nos disse que elas são, foram e serão60.
Se assim é, por que, então, conseguimos não ser nada
do que dizemos crer? Ou será que de fato não cremos em
nada do que confessamos com os lábios?
Ora, se você não crê em mais nada disso, então diga:
“Eu não creio em mais nada disso. Para mim Jesus é o
máximo, é meu guru, é meu poder; é o poder que me
ensinaram e que funcionou para mim”.
Certamente ainda seria mais agradável a Deus!

58 Mateus 24 e 25
59 1 Tessalonicenses 4:13-18
60 Mateus 24:35; Marcos 13:31; Lucas 21:33

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

Na realidade, as pessoas ficam assim, desse jeito de


não-ser em Jesus, apenas porque já de início não admitem
quem são de fato. Pois, como diz minha mulher: “Se al-
guém não é sincero com sua própria queda, como o será
com a graça de Deus?”
Por isso, aqui, desde o início, quero convidar você a
saber como você e eu somos em nós mesmos, por mais
“vestidos” que estejamos com as justiças de nossas pró-
prias presunções.
Pois, como está escrito:
Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda;
não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram;
juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o
bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepul-
cro aberto; com as suas línguas tratam enganosamen-
te; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios; a
sua boca está cheia de maldição e amargura. Os seus
pés são ligeiros para derramar sangue. Nos seus ca-
minhos há destruição e miséria; e não conheceram o
caminho da paz. Não há temor de Deus diante dos
seus olhos61.

Assim sou eu, assim é você, assim somos nós, assim é


o mundo.
Alguém lê e diz: “Exagero! O homem não é assim, pois
sou homem e assim não sou!”. Este, entretanto, nunca se
viu. Um cego imagina sua própria aparência e a de outros
com muito mais exatidão do que o homem enxerga a si

61 Romanos 3:10-18

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

mesmo de modo natural. Nossa visão de nós mesmos é


sempre moral e sempre vinculada a nós mesmos como
referências do que seja bem e mal em nós e fora de nós.
Entretanto, vergonha não é verdade; é culpa. E nem
sempre a culpa conduz alguém à Verdade. Aliás, está es-
crito que é a Bondade de Deus que nos leva da culpa sem
verdade ao arrependimento na verdade62.
Toda-via...
Comemos do fruto da Árvore. Por isso, sentimos ver-
gonha, mas não abraçamos a verdade. Daí mesmo Adão
ter tentado transferir a culpa de tudo para a mulher e esta
para a serpente. Vergonha sem Verdade.
Ora, se em lenho verde não enxergamos a nós mesmos
em Adão, por que haveríamos de pensar que os bilhões
de “Adões” adoecidos e piorados, em estado de lenho
seco como hoje estamos, ver-se-iam melhor?
De fato homem algum aceita a descrição acima. Um ju-
deu da época diria: “Jamais”. Um grego diria: “Nem o pior
dos deuses é assim”. Um humanista pós-moderno dirá: “É
a desgraça da culpa insuflada pela droga da religião da ida-
de da pedra”.
Entretanto, quem fala acima não é homem falando do
homem e nem um homem falando de si mesmo, pois o
homem que assim se visse não escreveria jamais tal coisa; an-
tes, a esconderia, e aquele que honestamente assim se visse,
matar-se-ia. A alternativa não existe sem revelação na graça.

62 Romanos 2:1-11

21
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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

De fato quem fala é Deus. É ele quem diz que somos


assim em vista de quem fomos feitos e capacitados a ser.
Sim! É Ele quem nos diz quem não somos quando me-
didos ante o homem Jesus. Na realidade, por mais que
uma figura como Jesus tivesse de ser vista com alegria
e simpatia, o que Ele gera, apesar de todo o bem que
espalha, é o oposto. É inegável que Jesus divide a huma-
nidade sempre que alguém fica cara a cara com ele e tem
de se decidir.
Entretanto, o que espanta é ver que existe um ódio
estranho, um ente impessoal latente na natureza humana
e que odeia a Jesus assim como o homem odeia a vida; e
tudo faz para se matar enquanto diz buscar viver...
Os da sinagoga de Nazaré bem ilustram essa minha
afirmação63.
Sim! Porque diante de Jesus e de seu ensino e ousa-
dia profética de dizer que, naquele dia, Isaías 61 ganhava
seu cumprimento nele, os da assembleia manifestaram-
-se com uma admiração que os fez “maravilharem-se”, e,
logo depois, com ódio, tentarem empurrá-lo do penhas-
co da cidade64.
E por quê?
Ora, mesmo que não queiramos admitir, temos, en-
tretanto, de afirmar que a exposição ao evangelho, a Jesus
e à Palavra, caso não se faça acompanhar de fé, é insupor-

63 Marcos 6:1-6; Lucas 4:16-30


64 Lucas 4: 28, 29

22
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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

tável, pois nos faz sentir – quase nunca ver – que somos
conforme acima descritos.
Foi essa revelação que fez Pedro ser honesto com sua
condição de corrompido, brotando a necessidade de aco-
lhimento na graça, ao expulsar Jesus de si mesmo agar-
rando-O para sempre em si.
“Arreda-te de mim, pois eu sou pecador” – disse Pedro65.
Mas qual Psicologia tem a coragem de expor o ho-
mem de tal forma? Ou que Filosofia? Ora, pela pior visão
filosófica, o homem seria apenas um nada, uma náusea
da consciência-acidente.
Mas o que se diz acima não é tão bom assim. Pois
o que está dito e escrito é que o homem ficou assim; e
assim se mantém; de tal modo que optou pela cegueira,
posto que, em seu narcisismo, desfila como um deus e
se imagina como uma divindade, de tão bom que é por
pagar as contas, cumprir com seus deveres sociais e reli-
giosos e, se possível, por evitar confusão.
Eu, no entanto, sei por mim mesmo que não há justo,
nem sequer um; que não há quem entenda; e que não há
quem busque a Deus66. Sim! Sei a partir de mim mesmo
que todos se extraviaram; e que juntamente se fizeram
inúteis. Olho para mim e vejo que não há quem faça o
bem, não há nem um só. Ah, minha garganta! Deixada a
si própria é um sepulcro aberto...

65 Lucas 5:8
66 Salmo 14:2-3; Romanos 3:10-12, 23

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

E a língua? Ora, esta é mestra em destilar engano e


peçonha de áspides – que ficam guardados debaixo dos
nossos lábios. Por isso é que a nossa boca é tão cheia de
maldição e amargura.
E quando olho para o meu caminho e para o cami-
nho humano, como posso eu negar que nossos pés são
ligeiros para derramar sangue e não para socorrer ao pró-
ximo? Assim, como posso também negar que o que me
habita e a todos os humanos – vide a humanidade, o
mundo – é caminho de destruição e miséria? Sim! É pos-
sível negar que nós não conhecemos o caminho da paz?
Ou negar que não há temor de Deus diante dos nossos
olhos? Quem disser que não é assim tanto nunca conhe-
ceu a Deus como não entende a profundidade do mal
que emana até de nossas melhores virtudes.
Ora, digo isto não para esmagar. Pelo contrário: ma-
taria eu a mim mesmo? Esta não é minha intenção! Digo
o que digo apenas porque sei que onde abundou o peca-
do, superabundou a graça67. Entretanto, sem consciência
honesta de quem se é sem a graça, jamais se provará a
abundância da graça que nasce de tal reconhecimento68.
Sem este primeiro passo não dá nem para iniciar a
falar sobre o significado de nossa tão grande salvação.
Entretanto, isso me leva a dizer que, ao falar de Jesus, não

67 Romanos 5:20
68 Nos livros “O Enigma da Graça” e “Sem Barganhas com Deus”,
falo extensamente o tema.

24
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Introdução: Jesus e os do Caminho

estou falando dos “jesuses” que habitam a imaginação


dos “cristãos” como se fossem Jesus mesmo.
Digo isso porque a “converseira” sobre Jesus não tem
fim. É o Jesus papo. É o Papo Jesus. É o Jesus do Papa. É
a papa Jesus. É o Jesus Papa. É o Papa de Jesus. É, enfim,
tudo papo furado... Logorreia é o nome dessa doença
venérea da língua que fala, fala, fala; que pinga de tanto
falar, mas nunca gera nada além de masturbação de pala-
vras, num derrame de sêmen contaminado pela frequên-
cia ao bordel das ideias prostituídas.
Mas se você quer falar sério, ser honesto, sem autoen-
gano, sem autoproteção, sem autoajuda contra a verdade,
sem “auto-lá para nada”, então leia as afirmações de Jesus
por mim transcritas abaixo, todas sobre “mundo” numa
perspectiva de sistema maligno (nem sempre este é o senti-
do do termo; e aí reside grande confusão) e as responda de
coração. Ao final, você saberá o que Jesus de fato significa
para você e o que a Palavra dele importa em sua existência.

E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as


guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar
o mundo, mas para salvar o mundo69.
Pergunta: Se você lesse isso e não soubesse que
foi Jesus quem falou, o que você, como religioso,
diria de tal pessoa?

69 João 12:47

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Introdução: Jesus e os do Caminho

Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais;


mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós vivereis70.
Pergunta:Você de fato aceita a ideia de que a vida
com Jesus só se faz visível no mundo pelo amor, e
que sem amor nada de Deus é visto? E crê que a
verdadeira vida com Deus acontece na existenciali-
dade, no coração e não no palco das apresentações
de “fé”? Você prefere, no fundo do coração, que o
mundo perceba você ou que Deus saiba você?

Perguntou-lhe Judas (não o Iscariotes): O que hou-


ve, Senhor, que te hás de manifestar a nós, e não ao
mundo71?
Pergunta: Você não acha que a pergunta de Ju-
das é idêntica à pergunta de um marqueteiro reli-
gioso? Afinal, quem quer Jesus como relacionamen-
to? A maioria O quer como ajuntamento poderoso
e influente. Um Jesus global-grupal é melhor do
que o Jesus íntimo?

70 João 14:19
71 João 14:22

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Introdução: Jesus e os do Caminho

Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não


vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso
coração, nem se atemorize72.
Pergunta: Se você de fato cresse nisso sua vida
seria tão frágil e levada por todos os ventinhos de
brisas de contratempo? Então, por que você não
começa a crer e a confiar?

Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que


a vós, me odiou a mim73.
Pergunta: Por que você acha que crente tem a
expectativa de ganhar o mundo e de fazer da “Igre-
ja” a consciência moral da sociedade? E por que
tudo o que a “Igreja” faz é provocar o ódio do mun-
do ao querer mandar nele ao invés de provocar o
ódio do mundo apenas por curar e acolher os que o
mundo quer que morram e desapareçam?

72 João 14:27
73 João 15:18

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Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era


seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos es-
colhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia74.
Pergunta: Você acha que poder diante do mun-
do significa poder diante de Deus? O mundo odeia
Jesus e o discípulo tanto mais quanto o discípulo
seja como Jesus? Se é assim, por que então essa von-
tade de ser “amado pelo mundo”?

E quando ele [o Espírito Santo] vier, convencerá o


mundo do pecado, da justiça e do juízo75.
Pergunta: Você acredita mesmo nisso? E se
acredita, por que, então, você tenta tanto ser o “Es-
pírito Santo” de seu próximo ao invés de ouvir a
Voz do Espírito para você?

74 João 15:19
75 João 16:18

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Introdução: Jesus e os do Caminho

Em verdade, em verdade, vos digo que vós chora-


reis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós
estareis tristes, porém a vossa tristeza se converterá em
alegria76.
Pergunta: A ressurreição de Jesus é para você
uma “certeza” histórica e uma “doutrina cristã”
(apenas), ou é o fator que energiza a sua existencia-
lidade com força e poder e que converte tristeza em
alegria todo dia?

Tenho-vos dito estas coisas para que em mim te-


nhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende
bom ânimo, eu venci o mundo77.
Pergunta: Você acredita que possuir consciência
acerca da inevitabilidade da dor e da tribulação é o
que põe você no caminho no qual aprende a ter paz
em Jesus, e paz acima das circunstâncias da existên-
cia? E se é assim, por que tanta revolta?

Ora, alguns dizem que não entendem o que Jesus que-


ria dizer. Mas, de fato, não é verdade. O difícil é admitir
que não se quer mesmo viver o Evangelho, não porque
não se compreenda as palavras de Jesus, mas, sim, porque

76 João 16:20
77 João 16:33

29
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Introdução: Jesus e os do Caminho

não se deseja render a vida à Palavra de Deus para a prá-


tica da existência que conduz à Vida.
Entretanto, essa questão de não se compreender o que
Jesus está dizendo foi por ele mesmo abordada: “Por que
não compreendeis a minha linguagem? É porque não
podeis ouvir a minha palavra”78.
Assim, para quem deseja debater com a verdade, eu
digo que a verdade é mais simples que a simplicidade.
“Por que não compreendeis a minha linguagem? É
porque não podeis ouvir a minha palavra!”
Ora, no contexto do evangelho de João, capítulo 8,
tudo começa com a cena da mulher flagrada em adultério,
a qual é salva do apedrejamento por uma única resposta-
-pergunta de Jesus. Naquela ocasião, eles entenderam a
linguagem de Jesus. Entenderam em si mesmos, a partir
do que criam sobre si mesmos. Sem “fé” ninguém enten-
de linguagem alguma. Depois, entretanto, Jesus lhes diz
coisas que só poderiam ser discernidas a partir do pressu-
posto de que Jesus não era louco, mas Deus. Sim, porque
o que Jesus diz só cabe entre o doido e Deus.
Ele diz coisas de si mesmo que são inconcebíveis. É
acusado de fazer autopropaganda, e a isso responde que
Moisés dissera que se houvessem duas testemunhas toda
palavra se firmava como verdadeira, e conclui: “Eu falo a
verdade porque meu Pai dá testemunho de mim79”.

78 João 8:43
79 João 8: 14 a 18

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“Quem é teu pai?” – perguntam eles.


Resposta: “Se conhecêsseis a mim, conheceríeis tam-
bém a meu Pai”80; e, assim, questiona todo o pressu-
posto da percepção deles. Afinal, Jesus era visível e per-
ceptível; porém, para Jesus havia um “Eu” que eles não
conheciam, o qual, sendo conhecido, era equivalente a
conhecer Seu Pai.
Mas quem ousaria suspeitar que ele não era louco,
mas a própria Luz-cidez?
Quando indagado acerca do que dizia e do que inten-
tava ao dizer que não seria mais achado entre eles depois
de um tempo – se era porque se suicidaria ou porque iria
ensinar aos gregos na dispersão –, ele apenas diz: “Vós
sóis cá de baixo; eu sou lá de cima”81.
Assim, quanto mais explica “em verdade, em verdade”
menos é entendido. Pois era impossível compreender a lin-
guagem sem crer na palavra dele. Então, ele diz: “Por que
não compreendeis a minha linguagem82? É porque não
podeis ouvir a minha palavra”. Ninguém jamais entenderá
nada do Evangelho a menos que creia na Palavra de Jesus,
em razão de poder ouvi-la, dando razão a Deus a priori.
E quem tem tal disposição, a menos que seja tocado
por uma revelação de amor divino? E quem terá tal insi-
ght se já não tiver o coração propenso à simplicidade da

80 João 8:19
81 João 8:23
82 João 8:43

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Introdução: Jesus e os do Caminho

linguagem do amor? Se não for assim, a Linguagem de


Jesus é incompreensível até para o mais refinado teólogo
ou filósofo. No entanto, quando alguém pode ouvir a
Palavra, então passa a compreender a linguagem; e tudo
fica mais que claro.
Você compreende essa linguagem?
Jesus é a linguagem. Jesus Deus. Deus Jesus. Jesus
Filho. Deus Pai do Filho. Filho de Deus. EleEle (não
Eles) = Um.
Se essa equação entra em nós por revelação, então a
linguagem é compreendida, pois a Palavra foi ouvida e
crida. Somente a fé que ouve, e ouve crendo, é que capa-
cita a entender a linguagem de Jesus, que é a linguagem
de Deus; do contrário, como os judeus de então, pensa-
mos que ele está saindo para viajar ou para se suicidar83.
Quando, porém, se compreende a linguagem de Jesus,
passa-se a discernir quais são os temas da Vida e quais são
os enganos de temas que a existência chama de vida. Sim,
pois em Jesus – nos evangelhos – temos os temas por
ele propostos, que eram sua agenda, os temas propostos
pelos homens – que eram suas angústias e/ou tentações e
dúvidas – e temos os temas que ele se nega a responder e,
menos ainda, a propor.
Entretanto, mesmo quando a resposta a uma propos-
ta seria para Jesus como o lançar pérolas aos porcos, ou
ainda algo como ideologizar a Palavra – ainda que não

83 João 8:21-22

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Introdução: Jesus e os do Caminho

tratando da proposta, é possível ver por que ele não a


respondeu, ao mesmo tempo em que é possível saber o
que ele pensava, não o expressando apenas para não fazer
de algo tópico um dogma para os incautos ou um motivo
de acusação desnecessária dado aos abutres.
Assim, os temas de Jesus são os de sua mensagem de-
clarada e espontânea. E o Sermão do Monte bem ex-
pressa quais são esses elementos essenciais da agenda do
Evangelho de Jesus84.
Nos diálogos com as multidões ou com os religiosos
(de todos os pedigrees), vemos as respostas que ele julga
fundamentais, e que, em geral, carregam os elementos
mais próximos da compreensão humana, mesmo quan-
do era uma disputa dos fariseus ou escribas dos sacerdo-
tes, buscando algo a fim de o acusarem85.
Nos diálogos com os discípulos, há tanto o que ele
propõe como também o que eles criam como problema
ou circunstância da vida para a qual a Palavra de Jesus
tem sua direção sempre86.
Até mesmo o tema da vinda do Filho do Homem,
conquanto seja uma proposta dele, nele sempre é tratada
de passagem, como certeza para além da óbvia claridade
do sol. Quando, porém, o tema “escatológico” (últimas

84 Mateus 5:1 a 7:29


85 Mateus 12:9-14; Marcos 3:1-6; Lucas 6:6-11; 11:53,54
86 Mateus 19:23-30; 24:1 a 25:46

33
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coisas) é ampliado, é porque os discípulos curiosos per-


guntam sobre o fim de tudo aquilo87.
No mais, ele força a pensar, a sentir, a intuir, a abrir-
-se à revelação, a comparar as coisas com a natureza das
coisas e com a natureza humana também, e, sobretudo,
sempre dá a chance de que a história-parábola-da-vida
fale por si mesma aos de coração ávido pela verdade do
reino88. Ele explica as parábolas apenas quando dúvidas
aparecem, e, nesse caso, tal extensão explicativa acontece
apenas na do Semeador e na do Joio e do Trigo89. Nas de-
mais, os fatos da vida se impuseram como ilustração vívi-
da do que estava acontecendo no coração dos circunstan-
tes, de tal modo que as explicações eram eles próprios90.
Dos temas tópicos, o que ele mais menciona é o di-
nheiro91. Seja como denúncia de seu poder corruptor92,
seja até como ilustração em parábolas – para o bem e
para o mal–93, seja no desfecho da história do evangelho,

87 Mateus 13:24:3; Marcos 13:3-4


88 Mateus 13:34-35; Marcos 4:10-13, 34, 35
89 Mateus 13:1-30, 36-43; Marcos 4:1-20; Lucas 8:4-15
90 Mateus 13:10-23; Lucas 8:9-15
91 Mateus 4:8-10; 6:19-21, 24; 13:44-46; 21:33-41; Marcos
10:17-31; Lucas 18:18-30; 19:11-27
92 Mateus 28:11-15; Lucas 16:19-31
93 Mateus 25:14-30; Lucas 16:1-17

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quando é por dinheiro que Jesus é traído94. Ele não fala


nada de questões morais. Diferente de João Batista, ele
nada tem a dizer acerca dos bacanais dos Herodes e das
orgias dos romanos.
Também nada diz dos publicanos, meretrizes e pecado-
res sem que seja mediante parábolas de amor e perdão95.
Sua pior descrição de tais situações acontece quando diz
que o pródigo judeu foi cuidar de porcos (o que era ofen-
sivo aos judeus) e disputava babugens com eles. Mas isso
tudo para trazer o rapaz de volta para o abraço do Pai96.
Nele também não vemos traumas. Ele bem que pode-
ria falar da “matança dos inocentes97” – quem resistiria
se isso fosse sua história mais primitiva? –, de seu exílio
no Egito98, da visita dos magos99, da vida em Nazaré100,
do pai, da mãe, dos irmãos, dos amigos, de tudo. Mas ele
não toca nesses assuntos jamais. Ele não tinha “testemu-
nho” a dar. Ele era o testemunho. E o testemunho do Pai
a cada dia era confirmado nele de todos os modos no dia
chamado Hoje.

94 Mateus 26:14-16; 27:3-10; Marcos 14:10-11; Lucas 22:3-6


95 Mateus 21:31
96 Lucas 15:11-32
97 Mateus 2:13-18
98 Mateus 2:13-23
99 Mateus 2:1-12
100 Mateus 13:53-58; Marcos 6:1-6; Lucas 4:16-30

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Ao contrário, houve coisas para as quais ele não só


não levou quase ninguém consigo para que fossem vistas;
mas, além disso, proibiu as testemunhas de relatarem o
que haviam visto até que ressuscitasse dos mortos101 – e
pediu que fosse assim até no caso dos outros apóstolos, os
que não tinham presenciado o ocorrido, como a Transfi-
guração, por exemplo.
De temas políticos explícitos ele não tratou. Entretan-
to, denunciou-os mediante ilustrações sarcásticas, irôni-
cas e mordazes102. Ou seja, ele fez cartoons; charges de
imagens-histórias. Fez isso de modo sutil, como quando
diz que o centurião romano tinha mais fé que qualquer
judeu que tivesse encontrado na vida103, ou quando, por
exemplo, elege um samaritano para herói da história da
bondade solidária104. Sua manifestação política mais ex-
plícita está na denúncia ao fermento de Herodes e dos fa-
riseus, que era a hipocrisia105. No mais, não entra em rota
de colisão com Roma, não aceita a polêmica sobre o que
era de Deus e o que era de César, embora com toda fineza
diga que Deus está acima de César106. Não se empolga

101 Mateus 8:4; 16:20; Marcos 8:30; Lucas 5:14-16;


102 Mateus 20:25-28; Marcos 10:42-45; Lucas 13:31-35; 14:7-24;
22:24-30; João:19:10-11
103 Mateus 8:10-13
104 Lucas 10:25-37
105 Marcos 8:14-21
106 Mateus 22:15-22

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com a possibilidade de mediar uma questão de bens de


família e herança (ao contrário: nega-se a fazê-lo)107, e,
quando denuncia politicamente, dirige sua denúncia à
política feita em nome de Deus, no templo e entre os
“representantes” da “divindade”108.
O que ele faz o tempo todo é dizer que o homem –
qualquer homem – pode: viajar da pocilga para a herança
do Pai Celestial109; ser infinitamente melhor do que é;
vir a se parecer tanto com Deus que a vida se torne sem
ansiedade e sem guerra110; amar, e nunca odiar111; vencer
pelo amor e pelo perdão, e não pela espada e pela opres-
são112; conhecer o amor como poder que vence tudo,
mesmo quando quem ama morre113. O tempo todo ele
diz que o homem pode viver sem saber por que uns mor-
rem antes e outros depois114; por que uns são vítimas de
calamidades (como aqueles que tiveram seu sangue mis-

107 Lucas 12:13-21


108 Mateus 12:1-14; 21:12-17; Marcos 11:15-19; Lucas 19:45-48;
João 2:13-25
109 Lucas 15:11-32
110 Mateus 5 a 7
111 Mateus 6:14-15; 18:21-22; Marcos 11:25-26; Lucas 17:3-5
112 João 15:9-17; Romanos 5:5; 8:31-39; 13:8-10
113 Romanos 5:8; 1 João 4:16-21
114 João 21:20-23

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Introdução: Jesus e os do Caminho

turado com oferendas de ódio no altar)115 e outros estão


ao lado e não são “apanhados” 116; ou por que uns veem
e outros não117; ou por que uns padecem e outros ape-
nas riem118; ou por que a casa cai e mata a família boa,
enquanto a casa rebelde dá festa durante o enterro do
Lázaro119; ou por que alguém nasce eunuco – sexualmen-
te disfuncional ou “invertido” –120, ou cego, ou aleijado,
ou qualquer coisa121.
Sim, para ele nada havia a saber sobre isso como ques-
tão essencial em relação a Deus, pois a vida que confia
no amor do Pai sabe que ele cuida de todos, e que tem
glória para todos122. O que ele faz o tempo todo é dizer
que o homem pode amar a Deus e a seu próximo como a
si mesmo123. E diz que, se assim fosse, ele mesmo reuniria
todos os homens, de todas as “Jerusaléns”, e os poria sob
suas asas, como a galinha ajunta seus pintinhos124!

115 Mateus 5:10-12; Lucas 6:22-23; João 12:23-15


116 João 8
117 Mateus 13:10-23; Marcos 4:10-20; Lucas 8:10
118 Lucas 6:20-23
119 Lucas 16:19-31
120 Mateus 19:12
121 João 9:12
122 João 9:3
123 Mateus 22:37-40; Marcos 12:28-34; Lucas 10:25-37
124 Mateus 23:37; Lucas 13:34

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Introdução: Jesus e os do Caminho

Mas há os que preferem eleger para a vida os temas


que ele não propôs e fazer deles a agenda de Deus, sem
saber que cumprem os desejos homicidas daquele que é
mentiroso e pai da mentira125.
Se a agenda é de Deus, é divino-humana (como vimos
em Jesus). Se a agenda é humana, é divina em sua real
e necessária humanidade (como vimos em Jesus). Mas
se a agenda não vem de nenhuma dessas duas fontes-
-propostas, então saiba: ela pode ser confessada em nome
de Deus, mas o proponente é o diabo; e acerca dele Jesus
diz: “Eia! Vamo-nos daqui; pois aí vem o Príncipe deste
mundo; e ele nada tem em mim” 126.
O que se faz mais necessário hoje é tirar uns certos
“jesuses” do que se diz sobre Jesus. Pois Jesus não é o
Gadareno, que diria: “Jesuses é o meu nome, pois somos
muitos” 127. A maior marca de Jesus era a simplicidade
esmagadora de seu ser. E isto o diferencia dos “Jesuses” e
seus “temas” religiosos.
Ora, a cada dia mais me impressiona a simplicidade
de Jesus em relação a tudo. Ele negou-se a tratar de quase
tudo o que a Filosofia e a Teologia tratam com avidez.
Simplesmente desprezou a origem do mal em qualquer

125 João 8:41-59


126 João 14:30
127 Marcos 5:9; 1-20

39
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que seja a explicação “metafísica”. Simplesmente disse


que o mal existe. E o tratou com realidade óbvia128.
O problema da dor foi por ele tratado com as mãos,
não com palavras e discursos129. As desigualdades so-
ciais foram todas reconhecidas, mas não se vê Jesus
armando qualquer ação popular contra elas130. Seus
protestos eram todos ligados à perversão do coração,
mas nunca se tornavam projeto político, passeatas ou
bandeiras131.
A “queda” não é objeto de nenhuma especulação
da parte dele. Bastava a todos ver as consequências
dela132. Sobre a morte, sua resposta foi a paz e a vida
eterna133.Jamais tentou justificar o Pai de nada. Ape-
nas disse que ele é bom e justo134. Mandou lutar con-
tra os poderes da hipocrisia e do desamor, mas não
deu nenhuma garantia de que os venceria na Terra135.

128 O modo como Ele tratou de centenas de temas acerca do bem e


do mal que lhe foram trazidos não apenas em palavras, mas em
situações concretas, dá testemunho dessa resposta de Jesus à dor e
à calamidade com ação de amor e compaixão, e não com filosofia.
129 João 9:1-12
130 Mateus 26:6-13; Marcos 14:3-9; João 12:1-8
131 Mateus 23:1-36
132 Mateus 19:3-12; Marcos 10:2-12; Lucas 16:18
133 João 5:24-47
134 João 12:26-28
135 Mateus 6:5-8; 16-18

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Sua grande resposta à catástrofe humana foi a promes-


sa de sua vinda, e nada mais136.
Nunca pediu que se estabelecesse o Reino de Deus
fora do homem, mas sempre dentro dele137, pois fora, o
reino, por ora, era do príncipe deste mundo138. Não bus-
cou ninguém com poder a fim de ajudar qualquer coisa
em sua missão. Adulto, foi ao templo apenas para pregar
aquilo que acabaria com o significado do templo como
lugar de culto139.
Fez da vida o sagrado, e de todo homem um altar no
qual Deus é servido em amor140. Chamou o dinheiro de
“deus” 141, mas se serviu dele como simples meio142. Pa-
gou imposto143, mas nunca cobrou nada de ninguém144,
exceto amor ao próximo145. A morte, para ele, não era

136 Mateus 24:19-31; Marcos 13:14-27; Lucas 21:20-28


137 Lucas 17:20-21
138 João 14:30-31
139 Mateus 12:6-8; 24:1-2; Lucas 21:5-6
140 Lucas 10:25-37
141 Mateus 6:24; Lucas 16:13
142 Lucas 8:2-3; João 13:29
143 Mateus 17:24-27
144 Mateus 5:42; Lucas 6:35
145 Mateus 22:39; Marcos 12:31

41
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a mesma coisa que é para nós. Morrer não era mau146.


Viver mal é que era mau147.
Em seus ensinos, sempre parte do que existe como
realidade e nega-se a fazer qualquer viagem para aquém
do dia de hoje. Para ele, o mundo se explicava pelas ações
dos homens e prescindia de análises, pois tudo era mais
que óbvio.
Não teologizou sobre nada. E quase todas as suas
respostas aos escribas e teólogos eram feitas de questões
sobre a vida e seu significado agora, sempre relaciona-
do ao que se tem de ser e fazer148. Quando indagado de
onde vinha o “joio”, simplesmente diz: “Um inimigo fez
isso...”, referindo-se ao diabo149.
Prega a Palavra, e não tenta controlá-la150. Deixa “a
terra frutificar de si mesma”, como dissera151. Vê pessoas
crerem, mas não tem nenhuma fixação em fazê-las suas
seguidoras físicas e geográficas152. Não tem pressa153, em-

146 João 11:25-26


147 João 12:23-28
148 Mateus 8:18-22; 9:1-8; 12:38-42; 15:1-20; Marcos 2:1-12; 15-
17; 7:1-23; Lucas 5:29-32
149 Mateus 13:27-28
150 Mateus 13:1-9; Marcos 4:1-9; Lucas 8:4-8
151 Mateus 13:8; Marcos 4:8; Lucas 8:8
152 Mateus 13:18-23; Marcos 4:14-20; Lucas 8:11-15
153 Mateus 13:24-30

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bora saiba que o mundo precisa conhecer sua Palavra154.


Cita as Escrituras sem nenhuma preocupação com auto-
res, contextos ou momentos históricos155. Arranca cer-
tezas da Palavra baseadas em um verbo: ser – aludindo
ao fato de Deus ser Deus de vivos e não de mortos, pois
para ele todos vivem156.
Ensina que a morte é o fundamento da vida, e tira dela
o poder de matar, dando a ela a força das sementes que,
ao morrerem, dão muito fruto157. E assim ele vai...158. A
questão é que segue como o vento159; mas a maioria de
nós não segue nada pela fé, apenas em razão de certezas e
seguranças palpáveis160.
Assim, o modo de Jesus ser tanto é o que pode atrair
irremediavelmente o discípulo, como também aquilo em
razão de que a pessoa que não deseje render-se a ele e ha-
verá de odiá-lo, ainda que por “associação”. Mas aquele

154 Mateus 13:36-43


155 Marcos 12:10; Lucas 4:4, 8, 12; 24:25-27; 32:44-49
156 Mateus 22:29-33; Marcos 12:24-27; Lucas 20:34-38
157 João 12:23-25
158 Veja, no evangelho de Marcos, as muitas vezes em que se diz que
Jesus estava indo, saindo, mudando para outro lugar, atraves-
sando fronteiras, cruzando... Ou seja, tais passagens revelam a
dinâmica hebreia de Jesus.
159 João 3:8
160 Mateus 4:18-22; 19:27-29; Marcos 1:16-20; 10:21, 22, 28; Lu-
cas 5:11; 18:28-30

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que é dele, esse sempre deseja saber como segui-lo. Daí


vir sempre a pergunta: “Como é ser discípulo de Jesus?”
Ora, é simples e terrível. E é tão terrível justamente por-
que é tão simples; e gera tanto esforço justamente por
isso, pois nada há tão difícil quanto a simplicidade, nem
que demande mais esforço que descansar no descanso.
A tendência natural da alma humana é oferecer os
mesmos sacrifícios de produção própria de Caim. Em
Caim nasceu a religião. E é no espírito da oferenda au-
tojustificada de Caim que ela é praticada161. É difícil não
oferecer nada a Deus. É muito difícil apenas confiar que
o sangue de outro cobriu você. É loucura para os gregos
e intelectuais; é escândalo para os judeus e para todos os
religiosos162. Para ser discípulo de Jesus a pessoa tem de
renunciar ao “si-mesmo” 163. Ora, isso significa desistir de
si mesmo como “produção” de algo que comova Deus.
Negar o “si-mesmo” é abandonar a presunção da persona.
Negar a si mesmo é o que se tem de fazer para que o “eu”
seja alcançado, e, em seu estado mais verdadeiro, possa
ser atingido pelo amor de Deus164. Negar a si mesmo
é deixar toda justiça própria e descansar na justiça de

161 1 João 3:11-12; Judas 11-16


162 1 Coríntios 1:18-25
163 Mateus 10:37-39; Marcos 8:34-37; Lucas 14:33
164 Mateus 10:39; 16-22; Marcos 8:35; Lucas 9:24

44
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Deus, que, antes de tudo, é justiça justificadora165. Negar


a si mesmo é abandonar a presunção de agradar a Deus
pela imagem e pelas produções próprias166.
Quem quer negar a si mesmo?
Se alguém quiser, então tome a sua cruz. Cruz? Que
cruz? Ora, a única. A minha cruz será sempre me gloriar
na Cruz167.
Alguém diz: “Mas não sobrou nenhum sacrifício
para mim?”.
O sacrifício é aceitar que o sacrifício foi feito e con-
sumado168.
Alguém pensa que isso é fácil? Sim, tente apenas e
tão-somente confiar que está pago e feito. Ou seja, glo-
rie-se exclusivamente na Cruz169. Tente crer que Jesus
é suficiente, não como chefe de religião, mas como o
Cordeiro que tira o pecado do mundo todo170.
Tente rejeitar todo pensamento de autojustificação
toda vez que se vir tentado a se explicar para Deus e para
os homens171. Tente apenas confiar na única Cruz, e, as-

165 Filipenses 3:7-11; Romanos 4:6-13; 5:12-21; 10:4; 2 Coríntios 5:21


166 Lucas 18:9-14
167 Mateus 16:24; Marcos 8:34; Lucas 9:23; 14:27
168 João 19:28-30
169 Gálatas 6:14
170 João 1:29, 35-36
171 Romanos 3:21-31; 10:4

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sim, levar a sua cruz, que é andar pela fé, nunca tendo
justiça própria senão a justiça que vem de Deus172.
Tente, e você verá como todos os seus sentidos se re-
voltarão, e como todos os seus instintos se eriçarão, e
você se sentirá inseguro, como se a lei do Reino fosse a da
sobrevivência dos mais aptos. Sim, porque nos sentimos
seguros no sacrifício de Caim, embora ele nada realize
diante de Deus. E nos sentimos muito inseguros na hora
de praticar na vida o sacrifício de Abel.
Jesus disse “Está consumado”. E a nossa alma, em si
mesma, pergunta: “O que mais eu devo fazer?”.
Jesus terá de repetir seu sacrifício todos os dias outra
vez173? Ou terei eu de oferecer alguma coisa a mais174?
Ora, se a pessoa consegue desistir do “si-mesmo”
e tomar a sua cruz, então Jesus diz que esse tal vai
poder segui-lo175. “Segue-me” é o convite. E aí? O
que acontece? Fica tudo resolvido? É claro! Está tudo
resolvido! Eu agora é que preciso aprender a usufruir
o que já está consumado. Assim, tendo já tudo con-
sumado em meu favor, caminho para experimentar o
que já está feito e pronto176. E como é esse caminho?

172 Romanos 3:21-31; 5:1-21


173 Hebreus 7:26-28
174 Salmo 116:12-14
175 Mateus 16:24; Marcos 8:34
176 Filipenses 3:12-16

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Introdução: Jesus e os do Caminho

Como se faz para seguir Jesus? Ora, ande após ele


como Pedro e os outros.
O discípulo é um ser em disciplina. Disciplina é o
que o discípulo vai aprender. Que disciplina? A dos cen-
turiões? É claro que não. A disciplina que o discípulo
vai aprender é amor177. Assim, no caminho, o discípu-
lo cai178, levanta-se179, chora180, questiona181, se oferece
para o que não deve182, ambiciona ser maior183, mais
amado184, mais devotado185, mais, mais... E, então, vai
aprender enquanto cai186, enquanto erra187, enquanto su-
gere equivocadamente188, enquanto acerta189, enquanto

177 Gálatas 5:6


178 Mateus 14:30-31
179 Mateus 14:31
180 Mateus 26:75; Marcos 14:72; Lucas 22-62
181 Mateus 13:10; 17:19; 19:25-26; 24:3; Marcos 10:26; Lucas 8:9;
João 9:1-3
182 Mateus 16:21-23; Marcos 8:27-39; João 18:10-11
183 Lucas 9:46-48
184 João 21:20-23
185 João 21:11
186 Mateus 14:28-31
187 Mateus 16:23
188 Mateus 16:22
189 Mateus 16:16-17

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Introdução: Jesus e os do Caminho

nega190, enquanto corta orelhas191, enquanto quer fazer


fogo cair do céu192 e enquanto pensa que sabe, sem nada
saber193.
O caminho do discípulo é igual ao caminho dos dis-
cípulos no Evangelho, e acontece do mesmo modo. E
só será discipulado se for igualmente acidentado, ex-
posto, aberto, equivocado, humilde, capaz de aceitar
a repreensão do amor e apto a aprender sempre, sem
jamais acreditar que se terminou qualquer coisa antes
que se ouça: “Vem, servo bom e fiel; entra no gozo do
teu Senhor”.
O caminho do discípulo não está escrito em manuais,
nem em cartilhas de igreja, nem em tábuas de pedra194.
O caminho do discípulo é todo o chão da existência195.
O discípulo é forçado a só aprender a viver196. E ele não
precisa ter medo da vida, pois é na vida que ele vai seguir
a Vida197.

190 Mateus 26:69-75; Marcos 14:66-72; Lucas 22:54-62; João


18:15, 18, 25-27
191 Mateus 26:51-52; Marcos 14:47; Lucas 22:50-51; João 18:10-11
192 Lucas 9:54-56
193 João 13:7
194 2 Coríntios 3:1-5
195 Mateus 10:22
196 Mateus 7:14
197 Mateus 10:31; 14:27; 28:5; Marcos 6:50; Lucas 2:10; 12:4-32

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Introdução: Jesus e os do Caminho

No caminho do discípulo, o mar se encapela, as ondas


se levantam e os ventos sopram198. Por isso, o discípulo
muitas vezes tem medo, grita, vê coisas, interpreta-as de
modo errado: “É um fantasma!”199.
Seguindo Jesus, o discípulo está sempre seguro, mes-
mo quando pede o que não deve, e mesmo quando mui-
tas vezes deseja o que lhe faz mal200.
No caminho, ele vê demônios saírem201 e dificultarem
a saída202; julga e é julgado e aprende que não pode jul-
gar203; afoga-se204, é erguido e caminha sobre as águas205;
vê maravilhas206; encara horrores...207, mas adiante dele
está Jesus208!
Para ser um discípulo de Jesus, a pessoa tem de ficar
sabendo que o Evangelho não são quatro livros acerca do

198 Mateus 7:24-27; Lucas 6:46-49


199 Mateus 14:26-27; Marcos 6:49-50
200 Mateus 20:20-28; Marcos 10:35-45
201 Mateus 17:14-21; Marcos 9:14-29; Lucas 9:37-42
202 Mateus 17:19-23; Marcos 9:28-32
203 Mateus 7:1-5; Lucas 6:37, 38, 41, 42; Romanos 2:1-16; 14:13;
Tiago 4:11-12
204 Mateus 14:30
205 Mateus 14:29-32
206 Mateus 14:33
207 Hebreus 11:36-40
208 Mateus 14:27-33; 28:20; Marcos 6:48-52

49
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Introdução: Jesus e os do Caminho

que aconteceu entre Jesus e alguns homens e mulheres


muito tempo atrás. Sim! O discípulo tem de saber que se
trata da Palavra como espírito e vida209.
Para ser um discípulo de Jesus, a pessoa tem de sa-
ber que o Evangelho está acontecendo hoje, do mesmo
modo, na vida dela. E precisa saber que as coisas escri-
tas no Evangelho são apenas para sabermos como é que
acontece na nossa própria vida210.
O Evangelho só é Evangelho se for vivido hoje. Não
com a pretensão de dizer que seremos como Jesus. Mas
pelo menos com a declaração de que seremos como os
discípulos, e que, adiante de todos nós, está o Senhor.
Ora, se tais verdades entrarem em você e você as aga-
salhar com fé, então o resto da viagem deste livro é para
você, tanto como indivíduo quanto como membro do
corpo de Cristo, e, sobretudo, como ser humano vivendo
neste planeta no Tempo do Fim.

209 João 6:63


210 João 20:30-31

50
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O que está acontecendo à alma


dos cristãos hoje?

Comamos e bebamos, que amanhã morreremos! – Paulo,


ironizando a desesperança cristã
Na primeira carta enviada aos cristãos em Corinto, na
Grécia Antiga, o autor faz uma gravíssima declaração ao
alertar que se a nossa esperança em Cristo se limita apenas
a esta vida, então, apesar de dizermos que cremos em
Cristo, ainda assim somos os mais infelizes de TODOS os
homens da Terra211.
Veja, ele não falava dos homens, mas, entre eles, de
“nós”, de nossa esperança feita religião sem transcendên-
cia, sem amor pelo eterno, sem alegria no invisível. Por-
tanto, o cenário existencial que Paulo pintava era o de
cristãos sem esperança ou com a esperança confinada
por algo como a teologia da prosperidade. Tal teologia
não celebra a eternidade, mas apenas a temporalidade
dos sucessos humanos mensuráveis pelas quantificações
materiais. Para a teologia da prosperidade, o maior poder
da ressurreição de Jesus é a ressurreição de negócios e a
restituição de finanças dos falidos212.
Paulo está afirmando que é possível haver pessoas que
confessam que creem em Cristo, mas confinam sua rela-

211 1 Coríntios 15:1-28


212 2 Timóteo 6:3-12
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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

ção com Jesus apenas aos horizontes deste mundo. Elas o


veem apenas como um poder; um mestre-de-resultados;
um Cristo para consumo social, psicológico, comunitá-
rio, mágico-imediato para ser acionado como solução
para as questiúnculas desta existência. “Jesus” é uma
massa energética de natureza psico-religiosa, que dá às
pessoas a magia necessária para que não vivam sem cren-
ça, o que, para muitos, é algo indispensável.
Essa foi uma crença comum no primeiro século,
quando havia uma horda de falsos apóstolos, obreiros
fraudulentos, profetas e mestres213. Todos afirmavam um
Cristo à feitura do paganismo da época e que se rela-
cionava com os homens dependendo da generosidade
deles para com esses “seus” supostos “representantes”.
Mesmo na tentativa de confinar a esperança somente a
esta existência, esse não seria o “produto” do Evangelho,
que propõe frutificar ainda que a videira não floresça.
O contentamento produzido pela palavra, em qualquer
circunstância, é o poder de Deus que não se transforma
em mercadoria.
Sim, a tal declaração de Paulo sobre os cristãos se torna-
rem os mais infelizes de todos os seres humanos tem um con-
texto muito claro. De fato, o apóstolo estava lidando com
uma comunidade perdida entre a fé que ouviu dos discí-
pulos de Jesus, os assédios dos cristãos judaizantes (que

213 2 Coríntios 11:1-20

52
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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

queriam fazer um mix entre Jesus e Moisés), a sedução dos


gnósticos e a volúpia dos milagreiros oportunistas – sem-
pre (e todos) desejosos de cativar o interesse “dos de Co-
rinto” para o seu próprio “mover-movido-de-ganância”.
O fato é que entre tantas loucuras, que iam desde
legalismos judaicos tornados obsoletos em Cristo até a
submissão burra a tudo o que se dizia em nome de Jesus
(não importando se o que se ensinasse fosse o oposto do
que Jesus viveu e ensinou), não havia nada diferente do
que se tem hoje!
E Paulo prossegue fazendo outras assertivas. Entre-
tanto, a mais forte delas, para a existência presente,
é aquela que afirma que a Ressurreição de Jesus é o
fator de transcendência sem o qual o espírito humano
não tem razão para viver, especialmente depois de ter
dito que crê em Cristo. Paulo é claro: “Se Cristo não
ressuscitou, comamos e bebamos, que amanhã morre-
remos!”. Fica tudo sem razão de ser, porque tudo que é
na Fé é em função da esperança de transcender a própria
morte!
Desse modo, Paulo revela-nos uma categoria existen-
cial desgraçada, a saber, a daqueles que “creem em Jesus”
como instrumento de manipulação dos destinos desta
vida, numa esperança oca, tosca e de curta validade, que
está destituída de reais referências à segurança eterna de
pertencer a ele! Assim, se tudo vai bem, o céu desceu à
Terra; entretanto, se algo vai mal, é a alma que desce ao

53
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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

Inferno: “Onde foi que eu errei?”.


Esse tal “Cristo de Corinto” é como o “Jesus” pregado
nos cultos cristãos de hoje! Ora, entre nós, quase que in-
variavelmente, o que se tem é essa crença num Cristo que
é o Despachante dos Crentes que dão ordens a Deus,
conforme a diabólica “Teologia da Prosperidade” e seus
filhotes confessionais – e que nada mais são que ensino
de demônios. Sim, ninguém duvide: a desgraça da Teolo-
gia da Prosperidade é que ela transformou os cristãos em
discípulos de um “Cristo” que não é Jesus214.
É o Cristo da primeira casa, da segunda casa, da casa
com piscina, da casa de campo. É o Cristo do primeiro
emprego, do melhor emprego, da primeira empresa, das
muitas empresas e das vitórias sobre sócios inconvenien-
tes. Esse “Jesus”, além disso tudo, ainda funciona como
Cupido em problemas amorosos!
O problema é que a Verdade demanda verdade na
pessoa; caso contrário, a própria Verdade a precipitará
no abismo de um pânico existencial difuso, mas que
um dia se torna angústia inexplicável quando perce-
ber que poderá até ter tudo, mas não terá NADA215.
Esse “Cristo”, que apresenta esperança apenas para
esta vida, somente torna a existência muito pior. Como
diz Pedro, melhor é viver sem consciência, como um

214 João 16:33; Gálatas 1:6-9; 1 Timóteo 4:1-2


215 Lucas 12:13-34

54
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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

pagão, do que uma vez que se tenha conhecido a Pa-


lavra da Verdade, vir a trocá-la pela mentira do “deus-
-do-imediato”216. Esse “Senhor e Salvador” serve apenas
para as conquistas perversas e para os ganhos malandros
e mágicos, conforme entre nós se vê sendo pregado!
Esse “Cristo” é o diabo! – Creiam-me! Porque quando
um filho morre, desse “Cristo” não se tem consolo; quan-
do o marido se vai, “dele” não se tem carinho, só culpa;
quando um parente adoece e não é curado, “dele” só se
tem juízo contra aquele que, pela fé, não conseguiu a cura;
e quando se peca feio, “dele” não se tem perdão, mas ape-
nas uma longa e infindável penitência. E tudo isso tendo
em vista não perder as conquistas materiais ou amorosas
obtidas até então. Diz-se que se “volta para o final da fila!”.
Todos os líderes desse “Cristo” só são fortes e vee-
mentes quando a vida não demanda a paz que excede a
todo entendimento217; do contrário, morrem de angústia.
Todos os líderes desse “Cristo” têm um medo desgraça-
do de morrer. Sim. Eles temem terrivelmente a morte,
pois sabem que terão de prestar contas de suas perversões
contra a verdade.
Sim! Eles não têm a esperança da Glória de Deus218,
não são filhos da eternidade, não celebram a ressurreição

216 2 Pedro 2
217 Filipenses 4:1-9
218 Romanos 5:1-11

55
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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

como esperança e nem tampouco aguardam novo Céu


e nova Terra nos quais habita justiça 219. O céu deles é a
prosperidade do mundo!
Quem tiver dúvidas acerca do que digo, aguarde e
verá que esse irremediável déficit de esperança induzirá a
grande angústia, que tomará tais cristãos em pouco tem-
po, quando caírem as últimas máscaras. Então, haverá
muita gente se entregando ao Nada, ao Vazio, à Promiscui-
dade, ao Medo, ao Pânico, à Depressão, e ao Cinismo!
Falar-se de Cristo, mas só ter esperança para esta vida
é algo muito pior do que ser ateu. Sim, bem-aventurados
os ateus, pois, honestamente não criaram um “Cristo-
-Mercadoria”. A alma destes está sob melhores cuidados
espirituais do que a daqueles. A tais “cristãos”, Pedro diz:
“Melhor lhes teria sido jamais terem dito que conheceram o
caminho da verdade!”.
Veja a “questão evangélica”. Em décadas passadas,
ainda era possível ser Evangélico entre os “evangélicos”,
pois, de fato, o fenômeno ainda era somente o da exis-
tência de sementes das perversões que vieram a corrom-
per quase que por completo o “meio evangélico”. A coisa
ficou muito mais feia ainda!
Todavia, há algo acontecendo. Sim! Nem tanto por-
que as pessoas estejam, pela Palavra, entregando-se à
Verdade, mas, sobretudo, porque estão sendo espancadas
pela verdade das práticas abusadas desses “ambientes da

219 2 Pedro 3

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

Fé”, e então já não conseguem mais dar tanto crédito à


mentira desavergonhada. Uma hora cansa! Portanto, tais
pessoas (e são milhões aqui no Brasil) estão vazias, e, de
algum modo, estão se tornando cínicas...
É claro que todos os dias há desesperados entran-
do no engano. Ora, se eles vão à macumba, não têm
por que resistir ao convite para enriquecer rápido num
“Templo Lotérico Maior” qualquer ou em alguma de
suas “agências lotéricas” espalhadas por todo o país.
Isso sem falar nas “Casas de Câmbio” que aplicam em
menor escala o jogo que tão bem aprenderam com os
inventores das regras. Entretanto, os discípulos desse
Evangelho “David-Cooperfieldiano” estão perdidos e
sem saber o que buscar.
O estrago que é feito em razão de alguma falência
aqui ou ali, por mais forte que seja, não necessariamente
os empurra para fora da fé. Mas a perversão sistêmica,
virulenta, constante, diuturna e midiática contra o es-
pírito do Evangelho tem o poder de anestesiar a alma
de milhões. É o que aconteceu entre nós, tornando o
Evangelho o “evangelho” do dinheiro, da insinceridade e
do abuso de poder
O resultado é esse que todos podem ver! Uma imen-
sa horda de fiéis está deixando de ir às “igrejas”, e, en-
quanto isso, tomados pelo vazio ou pela descrença, di-
zem que são de Jesus, mas, cada vez mais, vão vivendo
com raiva de “Deus”, pois transferem o engano dos ho-
mens para a conta divina.
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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

E, interiormente, com ou sem palavras, dizem: “Deus


às favas! De que me adiantou? Só perdi tempo. Fui enga-
nado!” Assim, por tal decepção e segundo os milhares de
cartas recebidas, há “evangélicos” “tirando o atraso” em ca-
sas de swing, em casos extraconjugais, viajando a esmo pela
internet, vivendo em chats cheios de “evangélicos” desejosos
de “soltar a franga”... Também estão em todos os esquemas
de lavagem de dinheiro, de exploração ilegal de madeira e
do meio ambiente, de contravenções e de trapaças políticas.
O que está acontecendo com a alma dos discípulos
de Jesus hoje? Ora, o que antes era orgulho, arrogância
e surto de superioridade, agora se transformou em in-
diferença impressionante, em cinismo equivalente e em
mornidão incomparável.
Quem, todavia, for discípulo de Jesus, por mais cho-
cado que fique com esse retrocesso “evangélico” à Idade
das Trevas, não desanimará, e nem se tornará cínico. Ao
contrário, não perderá mais tempo com o que já morreu,
deixando que os mortos se ocupem de tal funeral, e, en-
quanto isso, olhará para cima, exultará no Espírito e sairá
para pregar e viver o Evangelho220. Fará de todo banco
um púlpito, de cada esquina uma Catedral, de cada mesa
um encontro de alegria com a Boa Nova e de todo rela-
cionamento humano uma chance de comunhão fraterna
ou de anúncio bondoso da Graça de Deus221.

220 Lucas 9:57-62


221 Lucas 10:1-24; 2 Timóteo 4:1-5

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

Ao contrário de ser uma palavra de denúncia, esta é


uma palavra de ânimo e de consolação. Portanto, volte a
ler os evangelhos e a meditar na Palavra. E não se escon-
da. Do jeito que as coisas estão, a maioria dos que dese-
jam ser do Evangelho precisa romper com os dogmas de
morte e juízo proclamados por aqueles que profanaram o
sangue da Nova Aliança 222, que pisaram sobre a Cruz de
Cristo e transformaram a pregação da fé em negócio...
Um “bom negócio” 223!
É para esses tais “cristãos”, que se flagraram sob a con-
dição existencial da desesperança e do cinismo que im-
permeabiliza o coração como proteção, que escrevemos
este texto. A Doce Revolução é para vocês!
É também para os “meninos da fé” que estão com
o coração todo depositado genuinamente na busca de
Deus, sendo, todavia, levados como ondas para lá e para
cá, por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens
que induzem ao erro com astúcia224. Sim, é para os que
estão confusos, por que:
1) Pensam que se algum milagre acontece é por po-
der do milagreiro, não levando em consideração os
magos do Faraó (que também sabiam fazer varas se
transformarem em serpentes) e não levando a sério

222 Mateus 26:26-29


223 2 Timóteo 6:3-10
224 Efésios 4:14

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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

Mateus 7:16-24, onde Jesus diz que milagres, curas e


exorcismos acontecem pelo seu nome apesar do mi-
lagreiro ser um “desconhecido” para o próprio Jesus.
2) Pensam que a unidade no Corpo de Cristo é um acor-
do mafioso de silêncio ante o que é mau e que nega o
espírito do Evangelho, engolindo blasfêmias cometi-
das pela manipulação-em-proveito-próprio do nome
de Deus contra o povo, como se Deus fizesse parte de
alguma corporação ou quadrilha. Daí a neutralidade,
a passividade e a cumplicidade que obscurecem o enten-
dimento 225.
3) Pensam também que tudo o que é falado atrás de um
púlpito vira Palavra de Deus oriunda de um “ungido”
intocável que transforma qualquer frase de efeito em
oráculo226. E depois combatem a “mesa branca dos es-
píritas” quando, de fato, eles são o povo do “púlpito
branco”, que é um espiritismo sem transe, mas cheio
do transe da arrogância e interpretações bíblicas “con-
venientes”.
Tudo isso porque, de fato, tal meninice religiosa se
revela, principalmente, em não se saber fazer distinção
entre o nome “Jesus” e a Pessoa de Jesus, o que faz com
que celebrem um “Nome” que não tem correspondência

225 Efésios 4:7-24


226 Mateus 7:15-27

60
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O que está acontecendo à alma dos cristãos hoje?

com a Personalidade que o possui, com seu ensino e com


sua prática, conforme as narrativas dos evangelhos.
A esses irmãos, pedimos que considerem a bênção de
simplesmente pensar227.

227 Hebreus 5:12-14; Tiago 1:5

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O Caminho da Graça
para todos

Graça: proveniente do latim gratia; tradução da pala-


vra grega charis. Significado: graciosidade, benevolência,
favor ou bondade.
O apóstolo Paulo, em suas cartas e discursos, usou
o termo charis 133 vezes, e, em todas elas, sempre com
o significado de “favor livremente concedido”, espe-
cialmente para se referir ao que Deus fez por nós em
Jesus Cristo, bem como ao que ele faz em nós pelo seu
Espírito.
»» O que se fala agora sobre Graça?
Para uns, ela é uma “doutrina”. Para outros, uma
“função divina”. Para alguns ela é “aquilo que nos sal-
va”. Há ainda aqueles para os quais ela é a “nossa chance
de barganha” com Deus. Para outros é um tema “legal”,
bom, humano, generoso... E há a maioria que fala na
Graça como “sedução evangelizadora”. Para todos esses,
a Graça não serve para nada em suas vidas cotidianas,
sendo apenas um “papo de crente”.
»» Os que pensam na Graça como uma “doutrina” não
sabem que, ao torná-la qualquer coisa, mesmo uma
“doutrina”, a convertem numa espécie de Lei da Graça
Escrita, a Lei Aristotélica de Moisés, visto que, neste
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O Caminho da Graça para todos

caso, ela não é nada para o ser além de uma definição


intelectual. Um ídolo da mente228.

»» Os que tratam a Graça como uma “função divina”


veem-na como algo que se pareça com um “órgão de
Deus”, assemelhando-se a uma espécie de fígado di-
vino, ou seu pulmão, ou seu coração, ou seus rins...
Como se uma cirurgia estivesse tentando mostrar a
constituição interna da Anatomia Divina. Uma obra
de exumação teológica do ser de Deus, como numa
necropsia: “Vejam: aqui temos seus atributos de Justi-
ça, e, no exato oposto, sua graça. Aqui do outro lado,
pinçamos sua santidade, e logo acima estão os olhos
da sua onisciência!”229.

»» Os que pensam na Graça como uma “chance de bar-


ganha” com Deus veem-na como se fosse uma opor-
tunidade para apresentar um caso a um Rei. No en-
tanto, nesse caso, a Graça é uma “oportunidade”. O
resto, porém, fica por conta da malandragem do cren-
te-súdito quanto a aproveitar a chance na “mesa de
negociações do Rei” e apresentar uma proposta, fazer
um acordo ou um sacrifício. É o que Graça é para es-
ses tais: a chance de sentar-se à mesa de “negociações”
com Deus. Ou seja, a Graça seria apenas uma lobis-
ta com a prerrogativa de secretária de Deus, poden-

228 1 Coríntios 2
229 Romanos 11:33-36

64
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O Caminho da Graça para todos

do definir quem consegue o direito de se assentar na


mesa das santas negociações230.

»» Para aqueles para quem a Graça é um tema “legal”,


bom, humano e generoso, ela é apenas um sentimen-
to, uma escolha pelo que é humana e politicamen-
te correto entre os liberais da Terra. É um tema bom
para um livro, para um best-seller agradável de ler. É
“sadio”, é mais “humano”, é mais “cult”. Gera uma es-
pécie de posicionamento cristão belo e correto, porém
pouco para além daí. Nesses casos, para ser “cult”, ela
não pode ser nem Loucura e nem Escândalo231.

»» Para quem a Graça é uma “sedução evangelizadora”,


ela é uma estratégia, é o que se deve dizer aos que
“ainda estão fora da igreja”, os quais ainda não foram
presos pelas forças da Religião Cristã. Mas logo depois
que a pessoa é “laçada”, a Graça é esquecida, ou vira
doutrina, ou função divina, ou é aquilo que seduz o
aflito ou garante a oportunidade da barganha na mesa
de negócios do Reino de Deus232.
Quando comecei a falar em Graça explicitamente
não como doutrina, não como função divina, não como
“oportunidade” de barganha, não como um tema teoló-

230 Oséias 5-6; Mateus 9:10-13


231 1 Coríntios 1:17-30
232 Mateus 23:1-24:14

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O Caminho da Graça para todos

gica e politicamente correto, e muito menos como “se-


dução evangelizadora”, milhares estranharam... Isso há
apenas três anos e meio.
Recebi milhares de cartas me acusando de ser “liberal”,
exagerado ou provocador; de estar desconstruindo antigos
esquemas teológicos ou de estar “autojustificando” meus
pecados. Acusam-me de estar expondo “conclusões recentes
e circunstanciais”, talvez em razão de que creiam que, nos
últimos anos, eu tenha precisado mais da Graça de Deus do
que antes, ou, quem sabe, mais do que eles precisam.
Eu, todavia, insistia em que ela não é doutrina, mas
uma consciência espiritual, fruto do entendimento do
significado da Cruz, cuja realidade não foi uma inven-
ção divina para “remediar” a Queda ou uma espécie de
remendo de pano novo em veste velha233. Antes de tudo,
a Graça equivale ao Conhecimento Experiencial de Deus.
Uma Graça que é só logorréia religiosa, enfeite de uma
mensagem ou qualquer outra coisa que não seja a experi-
ência de Deus na vida, não é Graça!
A Graça gera o fruto da paz e inicia o processo de
transformação do ser; e, sobretudo, dá à pessoa a certe-
za da confiança, a qual é a demonstração mais palpável
da Graça na experiência humana em Deus. A Graça não
apenas é melhor que a vida 234. Sem a Graça não há vida235.

233 Marcos 2:21-22


234 Salmo 63
235 Efésios 2

66
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O Deus da Graça e a
Graça de Deus

... pelo precioso sangue, como de Cordeiro sem defeito


e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito,
ANTES da fundação do mundo, porém manifestado no
fim dos tempos, por amor de vós…
Primeira Epístola do Apóstolo Pedro 1:20
As Escrituras revelam que houve Redenção de toda a
Criação antes de qualquer coisa ter sido criada, pois o
Cordeiro de Deus foi sacrificado antes da fundação do
mundo236. Então, toda a criação é graça divina, posto que
NADA é sua própria causa, visto que tudo procede de
Deus e nada o precede. Se nada havia, então tudo o que
há é Graça. Pois, se o que não É passa a SER por um ato
de vontade de Quem É, então, tudo o que daí decorre
é Graça, pois somente a Graça fornece o material que a
inexistência necessita para existir: Amor doador e criativo.
Deus é Amor 237 porque Amar é a sua Vontade Essencial
de Ser e Criar. Amor é o motor de qualquer existência.
Amor é o mantenedor da vida. Nenhuma energia vibrou
no Cosmos antes do Amor. O Universo, portanto, é um
derrame cósmico de Graça238.

236 1 Pedro 1:17-21; Apocalipse 13:8


237 João 4:1-21 – 5:4
238 Efésios 3:8-19
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O Deus da Graça e a Graça de Deus

E se a Criação evoluiu para complexos estágios de


desenvolvimento e diversidade, mesmo isso é Graça aos
olhos de quem crê que há um Ser Criador e Mantenedor
de tudo que há – a Pessoa que é Deus de Eternidade a
Eternidade – o Senhor239.
Aliás, um Deus que não fosse Graça não criaria coisa al-
guma, pois o ato de chamar à existência aquilo que não exis-
te para que venha a existir é uma decisão de Favor, visto que
Deus não criou para se fazer acompanhar no Universo.
Afinal, um Deus que se entrega como garantia de sua
própria criação antes de realizá-la é mais multiforme em
seu Amor do que se pode imaginar, assim como chocan-
temente diversas são as criaturas que fez e as inconcebí-
veis variáveis de todos os seus atos criadores240.
Se a Graça vem antes de tudo – o Cordeiro imolado
antes da criação do mundo –, então pode-se ver nas va-
riedades da criação uma analogia da multiforme Graça
de Deus, que se faz crescer em adaptabilidades infindas,
posto que a Forma não é a Vida, porém a Vida tem mui-
tas formas e evolui de modo pertinente ao crescimento
da vida.
Os aplicativos da Graça em relação aos homens são,
no mínimo, tão variados quantas são as variedades das
criaturas criadas.

239 Salmo 90
240 Eclesiastes 3:1-11; Jó 38:1 – 42:6

68
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A Graça da salvação

Pela Graça sois salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós,
é Dom de Deus, não vem de obras, para que ninguém se glorie!
Carta de Paulo aos Efésios 2:8-9
O mesmo princípio resumido acima se aplica a
tudo que concerne a Deus e à criação em sua forma
“consciente” – a dos humanos – incluindo a chamada
“Salvação”.
Salvação é termo relacionado à redenção eterna da
Culpa que nos desencontrou do Amor de Deus e nos
trans-tornou em seres espiritualmente irreconciliáveis;
condição a que, essencialmente, designou-se Pecado. E
todos pecaram! – é um grito nas Escrituras 241 e na pró-
pria história humana!
Sim, nós não temos nenhum tino natural para viver-
mos entregues a ele em confiança. Espiritualmente, o
que se tem é que simplesmente esquecemos o caminho
de volta para Casa.
Portanto, somos salvos pelo favor de Deus, por sua
total iniciativa, por sua vontade de que os homens che-
guem ao pleno conhecimento da Verdade242. E se é favor,

241 Romanos 3:9-23; 5:12


242 1 Timóteo 2:1-6
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A Graça da salvação

não decorre de nenhuma forma de “pagamento” divino


ao comportamento humano243.
No texto bíblico citado acima, se lê que tal Salvação
também é mediante a fé. Contudo, até a Fé é Graça de
Deus, visto que nenhum de nós arregimenta em si mes-
mo tamanha confiança que nos faça viver em paz com
Deus. Tal fé é nossa, porém não nasce em nós do ‘nada’
e nem nos é inata, mas é fruto do trabalho do Espírito
Santo na consciência humana. Pois nossa insegurança
nos remete naturalmente à necessidade de fazer alguma
forma de “barganha com Deus” e não para a fé que ape-
nas confia. Assim, o próprio ato de crer é, também, uma
dádiva de Deus244.
Portanto, a Graça é dom de Deus, recebido por fé,
pela revelação da Verdade, que é Cristo Jesus, manifes-
tada através da sua encarnação, morte, ressurreição e as-
censão acima de todas as coisas. E foi ele quem estabe-
leceu que, por sua Graça, se pode ter Vida, tanto nessa
existência como na Eternidade! Perceba essa síntese na
segunda carta do Apóstolo ao seu companheiro Timóteo,
no capítulo 1, versículos 9-10.
A leitura das Epístolas de Romanos e Hebreus, por
exemplo, nos afirma de modo repetitivo que a Remissão
decorre da fé que se centra no que Jesus já realizou por

243 Isaías 55
244 Romanos 12:1-3

70
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A Graça da salvação

todos os homens. Sim, quando ele bradou “Está Con-


sumado!”, declarava que todo o trabalho para a salvação
estava feito e toda dívida contra nós estava cancelada;
não pelo homem, mas por Deus245, que estava em Cristo
reconciliando o mundo consigo mesmo246.
Assim, não somos salvos pela Lei, nem pela Moral,
nem pela Ética e nem pelas Obras de Caridade. Todas
essas coisas são boas, mas não são elas que realizam nossa
salvação. Pois se assim fosse, ninguém precisaria de um
Salvador, bastando, para tanto, que fôssemos os salvado-
res de nós mesmos.
... aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida
do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.
Apocalipse 13:8
Uma questão subliminar quase sempre resulta das de-
clarações acima: “E aqueles que não receberam tal infor-
mação salvadora? Que destino eterno terão?”. A questão
tanto diz respeito aos que viveram num tempo anterior a
Cristo como àqueles que vivem em lugares e regiões nos
quais a informação não se fez circular. Como se processa
a salvação deles?
Ora, nada diferente do que se disse até agora: No
que tem relação com o tempo que antecedeu a cha-

245 Colossenses 2:6-15


246 2 Coríntios 5:14-21

71
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A Graça da salvação

mada plenitude dos tempos247, na qual Jesus encarnou-


-se, viveu, morreu e ressuscitou, o que não se entendeu
ainda é que a Redenção do Homem é anterior à Cria-
ção do Homem.
Logo, a Cruz é anterior à crucificação. Explicando: o
Sacrifício que tira o pecado do mundo248 foi realizado na
Eternidade, fora do tempo-espaço, e a crucificação foi
sua manifestação histórica ante a Humanidade.
A crucificação foi o cenário de um fato que, em Jesus,
aconteceu o tempo todo. Aliás, antes de qualquer tempo
ou Era. E a Cruz da Eternidade se fez Cruz na História.
Ele tomou sobre Si as dores do existir antes de elas existi-
rem. E ele as fez dele antes de elas existirem para nós249.
Tudo começou com a Cruz. E a consumação de to-
das as coisas é a Cruz. É por causa da Cruz Eterna que
tudo já Está Feito ainda que nada tenha acabado aqui!
Portanto, qualquer ser humano que tenha vivido antes
de Cristo, ao fechar os olhos aqui no Tempo, “acor-
dou” na Eternidade diante do Cordeiro que foi morto
e agora vive250.
Afinal, Abraão, o pai da fé, viveu e foi justificado, tan-
to quanto nós, antes da cruz histórica ter sido levantada.

247 Efésios 1:3-14


248 João 1:29-34
249 Isaías 52:13-53:12
250 Apocalipse 5:1-10

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A Graça da salvação

Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo,


não imputando aos homens as suas transgressões...
Segunda Carta de Paulo à Igreja em Corinto 5:19
E no que tange aos não-alcançados pela pregação do
Evangelho – os chamados “povos não-evangelizados”–,
deve-se dizer aquilo de que os evangelistas já se esque-
ceram: não somos o veículo exclusivo do testemunho da
Salvação aos homens251. Deus fala onde quer, como quer
e pelo que quer que seja. Quanto a nós, pregar o Evan-
gelho é o resultado natural de, à semelhança de Pedro,
termos respondido “eu te amo”, quando Jesus nos co-
missionou para o amor. Afinal, o Sacerdócio de Jesus, o
Salvador de todos os homens, mas especialmente dos fiéis252,
é segundo a Ordem de Melquisedeque253, pois, sendo ele
também o Cordeiro imolado antes da fundação do mun-
do, derrama Graça e Virtude sobre a Humanidade desde
sempre. E sempre fazendo em razão de que a Redenção
precede a Criação em todos os sentidos, visto que o Cor-
deiro se deu pela Criação antes de qualquer coisa ter sido
criada. O Big Bang da Criação foi a Cruz Eterna do Cor-
deiro do Amor de Deus.
Então alguém pergunta: “Por que então anunciamos
a Palavra do Evangelho como Caminho Único de Salva-

251 Salmo 19; Romanos 10 e 11


252 1 Timóteo 4:10
253 Gênesis 14:17-20; Salmo 110:1-4; Hebreus 5:1-10; 6:17-7:22

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A Graça da salvação

ção?”. Ora, anunciamos o Evangelho porque ele é o poder


de Deus para a salvação de todo aquele que crê254. Também
anunciamos a palavra do Evangelho porque somente ele
pode dar sentido à vida humana neste mundo, sendo, por-
tanto, o único preventivo contra a autodestruição humana.
Além disso, anunciamos o Evangelho porque amamos
os homens e desejamos que todos conheçam a Graça que
decorre da fé no amor de Deus255. Sim, anunciamos a
Palavra porque é tanto uma ordem como também um
privilégio sermos embaixadores de Deus no mundo, ro-
gando aos homens que se reconciliem com Deus256.
De fato, anunciamos a Palavra da fé a todos os ho-
mens porque nada há de melhor e mais seguro nesta vida
do que confiar de tal modo no amor incondicional de
Deus por nós (Graça) que se possa andar sem a fobia da
morte e sem medos de juízos finais. Quem crê nisso anda
em paz, vive em paz e morre em paz! E quem não ficou
sabendo, nem por causa disso está perdido. Isso porque
Deus não fez e não faz nada que, sendo dele, dependa
dos homens para fazer bem aos homens257.
Deus é Deus e a Obra é dele, e sua Igreja tem o santo
privilégio de participar!

254 Romanos 1:16-17


255 1 Timóteo 2:1-6
256 2 Coríntios 5:18-20
257 Isaías 65:1; Salmo 67; Salmo 72

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A Graça da salvação

Por conta disso, é impossível chamar de Igreja aqui-


lo que costumo chamar de “igreja”, que é a antítese do
Chamado, pois sabendo que pregar a certeza da salvação
liberta o povo, os “homens de Deus na Terra” apregoam
a incerteza da salvação justamente para manter o povo
dependente da validação da salvação pelo autodesignado
“cartório celestial”, que tem a arrogância de dizer quem
é, quem não é, quem está, quem esteve e quem perdeu.
Mas a Graça é o Amor de Deus agindo em nosso favor
por sua própria iniciativa, dando-nos livremente o seu
perdão e a sua aceitação incondicional, de uma vez por
todas e sem revogação nenhuma, já que a Aliança feita
no seu sangue é sempre nova, última, definitiva e eterna.
Assim, quem não soube que a dívida já está paga e que
Deus já se reconciliou com os homens, até que venha a
saber, sofre; e, frequentemente, entrega-se, pelo medo, a
toda sorte de crenças que demandam obras, sacrifícios,
esforços pessoais e virtudes que assegurem um “melhor
acerto de contas entre o homem e Deus”.
Mas a Palavra do Evangelho, quando crida, acaba com
tal escravidão e mergulha a pessoa na paz com Deus, po-
dendo assim descansar de suas obras para efeito meritório.
Ora, Deus já se reconciliou com o mundo. O mundo
é que ainda não sabe disso! Se soubesse, também seria
outro! Daí a religião realizar o mais inadequado esque-
ma de seleção de “salvos e alcançados”, que é aquele no
qual só entram os contabilizados no censo interno, na
membresia ao “lugar”. O “Rol de Membros” determina a
75
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A Graça da salvação

“listagem” escrita no Livro da Vida! Santa estupidez! Essa


prática não se concilia com a Verdade em Cristo, pois
vemos que Jesus via quem era quem, e quem desejava o
quê em relação a ele258.
Conforme os convites de Jesus para o caminho, pode-
mos saber que nem todos têm vocação para a “caminha-
da comunitária”. Outros a fazem solitariamente. Outros
não sentem nem mesmo a necessidade. Alguns não têm
o alcance para certas ambições do espírito. E muitos não
se fariam bem se navegassem no mesmo barco da fé com
Pedro, Tiago e João, por exemplo, pois há gente tão per-
dida de si mesmo que, ao ser liberta por Jesus, só volta a
si quando volta para os seus, como bem ilustra o caso do
Gadareno259!
Todos têm, todavia, para seu melhor bem, de co-
nhecer Jesus. E se alguém diz tê-lo conhecido, esse não
pode mais continuar a existir como se dele nada soubes-
se. Pois o que entra no coração só se faz verdade quando
se encarna e quando se torna confissão da boca ao todo
da vida260.

258 João 2:23-25; 10:1-16


259 Marcos 5:1-20
260 Mateus 7:21-23; Romanos 10:8-13

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A vida cheia de Graça

Nisto conhecemos o Amor: que Cristo deu a Sua vida


por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos.
Primeira Carta de João 3:16
A Graça, todavia, não é apenas algo para se crer, mas,
sobretudo, algo para se viver. Assim, não apenas somos
salvos pela Graça, mas também para uma vida de Graça,
que se manifesta como uma existência na qual a cons-
ciência do perdão gera um espírito de misericórdia em
relação ao próximo. E isso tudo fundado numa percep-
ção apenas: aqueles que receberam Graça, esses são filhos
dela, e praticam-na como amor e misericórdia.
Veja a Parábola do Credor Incompassivo, descrita no
Evangelho segundo Mateus 18, e você vai perceber como
a base de tudo é uma só: como fui perdoado de Graça,
devo também em Graça perdoar, pois o Espírito da Gra-
ça me leva a fazê-lo.
Não somos salvos pelas obras, para que ninguém se glorie,
mas somos salvos para boas obras261, e isso para a glória de
Deus. Desse modo, a Graça gera uma vida cheia de obras
que nada mais são do que frutos naturais dela mesma. A
Graça é a semente e as obras são o fruto; e esse fruto é
Amor; do qual todas as demais virtudes derivam.

261 Efésios 2:1-10


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A vida cheia de Graça

Daí, podemos afirmar que a fé em Jesus é a fé no


amor. Amor de Deus por nós. Fé na possibilidade do
amor de nós pelos outros. E fé que vem da certeza que
nos é dada por Jesus, a Palavra Encarnada, de que o
amor vence até mesmo a morte, e gera ressurreição de
mortos262.
A Bíblia fala de muitos chamados “atributos” divi-
nos. Ela diz: Teu Deus é Deus de Justiça. Ou então: Ó
Israel, teu Deus é Santo. Ou ainda: Teu Deus é Miseri-
cordioso. No entanto, em todas essas “definições” fica
claro que em Deus há também aquele “atributo”, em-
bora tal atributo não confine o ser de Deus. Todavia,
somente em João, já nas suas correspondências finais,
se diz: Deus é amor.
Desse modo, caminhando do complexo para o sim-
ples, João chegou àquela uma só coisa que Jesus disse
que é a “equação” de um só elemento essencial à vida:
Amor263. Por isso, quem ensina o Amor de Deus ensina
tudo; afinal, Jesus disse que o resto é conversa para erguer
os meninos, em sua dureza de coração e sua trágica vo-
cação suicida, incapazes de escolher o caminho excelente,
que é amor264.

262 João 6:28-40; 11:1-46; Romanos 8:31-39


263 Lucas 10:25-42; 1 João 4:7-21; 5:1-5
264 1 Coríntios 13

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A vida cheia de Graça

Tal entendimento, sobre nós derramado, só se man-


tém se esse Entendimento for praticado265, visto que é
somente pela prática que as coisas se enraízam em nós,
que somos caídos e destreinados para o bem266.

265 Romanos 12:9-21


266 Romanos 7

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Dois modos de se conhecer a


Graça de Deus

Nada nos põe neste caminho do amor se a pessoa não


receber:
1. Uma revelação da Graça no coração, e a acolher para
si, dando razão a Deus, admitindo que dela necessita.
Isso pode acontecer de modo tranquilo, via reflexão
espiritual267.
2. Ou, então, possivelmente levar uma grande “caceta-
da” da vida como disciplina, tendo, assim, de conhe-
cer o perdão sem autojustificação ou justiça própria.
Então, o indivíduo, caso não se endureça, aprenderá o
significado do Dogma do Amor; e isso porque terá de
prová-lo como perdão de Deus para a sua vida268.
Depois disso, a fim de não se tornar um “Credor
Incompassivo”, terá, ele mesmo, de aprender a perdo-
ar o próximo e a jamais buscar maquinar nada contra
ele; visto que é no exercício do perdão que o amor se
faz exercitar no coração humano269. Do contrário, para
esses que nunca conheceram o amor de Deus e nunca

267 Atos 8:26-39; Atos 10


268 Atos 9:1-22; 1 Coríntios 15:1-11
269 Mateus 18:21-35
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Dois modos de se conhecer a Graça de Deus

acharam que “precisaram” de Graça (pobres coitados!), a


não-experiência da Graça será morte-em-vida; sim, uma
existência de zumbis comportamentais da religião, da
moral ou da libertinagem.
Assim, seja mediante a revelação/descoberta que ilu-
mina o entendimento ou pela via do “tranco”, da corre-
ção e da santa disciplina de um Deus de Amor, que faz
intervenções na nossa história pessoal, a única realidade
que nos pode salvar de nos tornarmos estátuas falantes
é a rendição à Graça, o que é sinônimo de rendição ao
amor de Deus.
Muitos me escrevem buscando soluções para suas di-
ficuldades de amor e conciliação. Eu, porém, sou apenas
mais um irmão andando e aprendendo, no caminho, o
que seja o Caminho sobremodo excelente do amor. Assim,
não é um especialista quem fala, mas apenas um homem
que também quer ser maduro em seu amor.
Aliás, quem acha que já é maduro no amor? Ora, este
tal está morrendo e não sabe, visto que o amor jamais
acaba também no que tem a nos ensinar!

82
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É para comer, não é para


conhecer o cardápio

O castigo que nos traz à Paz estava sobre ele; e sobre as


suas pisaduras fomos sarados.
Isaías 53.5
O Evangelho é o chamado para a viagem de cura da
existência na Graça de Deus. Viagem essa que começa
agora e só termina quando nasce o homem conforme
a imagem de Cristo, o homem refeito em Deus na
Eternidade.
Mas o Bem do Evangelho é para HOJE! Estou afir-
mando isso porque as pessoas pensam que salvação é
apenas um levantar de mãos que supostamente sinaliza o
fato de nós “aceitarmos Jesus”. Quem “aceita Jesus” ainda
está colocando algo em sua vida, dando permissão para
alguma coisa entrar em sua existência. A questão é que a
salvação implica o caminho oposto. Ela vem de eu entrar
na Vida de um Outro: Aquele que por mim morreu e
ressuscitou. Isto é “estar em Cristo”270. Você pergunta: “E
que diferença isso faz”? Ora, faz toda a diferença.
A começar pelo fato de que somos salvos da ideia de
uma salvação estática e paralisante. É essa salvação estáti-
ca que gera o mal dessa presunção que hoje nos acomete.

270 2 Coríntios 5:14-19


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É para comer, não é para conhecer o cardápio

Somos os salvos mais doentes da Terra! Somos os salvos


em quem não é possível enxergar salvação, mas, no má-
ximo, “declarações de salvação”.
Vou explicar: pela Graça eu sou e estou salvo para
sempre. Mas é pela mesma Graça que eu caminho na
direção de minha Total Salvação. A verdadeira salvação
nos faz entrar na paz. Daí em diante acaba-se o medo em
relação a Deus e inicia-se o caminho da pacificação da
alma – de onde vem a nossa cura progressiva271.
O alvo do Evangelho é gerar seres humanos cada vez
mais sadios de alma e espírito. E essa é uma realidade que
só nos acontece quando estamos na paz. Daí para frente,
a jornada é toda terapêutica. Mas não há cura enquanto
pender sobre nós a culpa do pecado. Ninguém é curado
enquanto existe como culpado. Ninguém cresce no ca-
minho da cura enquanto caminha na fobia do pecado272.
Assim, a grande questão da vida já não é o pecado, mas
a vida. Quem vive de pensar, ver e falar do pecado é aquele
que ainda está profundamente doente. Interessante isso.
Nos evangelhos, quem mais fala de pecado é a religião,
não Jesus. Jesus fala em pecado sob duas perspectivas:
1. Como denúncia aos religiosos: curiosamente tais dis-
cursos se dirigem aos que só falavam em pecado – o
dos outros273.

271 Filipenses 2:12-16


272 Mateus 12:28-20; João 14:1-27; Romanos 5:1-5
273 Mateus 23:23-28; João 8:1-11

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É para comer, não é para conhecer o cardápio

2. Como uma realidade sobre a qual ele traz Graça; e


também é interessante que aqueles aos quais ele disse
estão perdoados os teus pecados são justamente aqueles
acerca dos quais a religião dizia: “Este é pecador”274.
A religião fala de pecado. Jesus fala de perdão de pe-
cados. E fala de pecado àqueles que denunciam o pecado
sem enxergarem que quanto mais falam no assunto mais
doentes em sua presunção de não serem pecadores eles se
tornam275.
Desse modo, a questão do perdão dos pecados é a pri-
meira a ser resolvida – e para sempre –, a fim de que se
possa crescer no dom da salvação como saúde humana.
Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundân-
cia276, disse ele.
Se a compreensão do Evangelho não nos levar até aí,
ficaremos falando de pecado a vida toda e nos agarran-
do nervosa e neuroticamente à Salvação, mas sem jamais
usufruirmos seu primeiro bem, que é a paz com Deus277;
e sem jamais podermos crescer em sua promessa, que é a
vida abundante, começando aqui na Terra.
Mas quando a existência vai se mostrando tão aflita
como a de qualquer outro ser humano da Terra, e quan-

274 Lucas 7:36-50; João 9:1-34


275 Lucas 18:9-14
276 João 10:10
277 Romanos 4:18-25 - 5:1-2

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É para comer, não é para conhecer o cardápio

do o “benefício espiritual” não se manifesta como amor,


alegria, paz, bondade, paciência, mansidão e domínio
próprio, mas como infelicidade, amargura, ânsia perse-
cutória, juízos e frustrações, então a honestidade manda
perguntar: O que está errado? É o Evangelho que não é
verdade? Ou será que eu, na verdade, é que não vivo, em
verdade, o Evangelho?
Tem gente que pensa que o Evangelho é o corpo de
doutrinas da igreja e seu modo de entender o mundo.
Tem gente que pensa que o Evangelho é a igreja, de tal
modo que ele mesmo é capaz de se referir ao crescimento
da igreja no país como o “crescimento do Evangelho”.
Um “Evangelho” que seja um pacote de crenças e dou-
trinas e uma “embalagem de Deus” serve muito à criação
de um espírito religioso, que se arroga ser melhor não
por causa do Bem que realize, mas em razão da suposta
superioridade dos valores de conduta apregoados.
Porém, Eu vim para que tenham vida, e vida em abun-
dância jamais poderá ser substituído por eu vim para que
vocês fiquem sabendo qual é o conjunto da verdade e, assim,
sejam superiores aos demais homens ignorantes.
E o único modo de aferição da verdade do Evangelho
só acontece na vida. Não é de um manual de condutas
que vem o crescimento da fé, mas de um modo de ver,
de ser, de valorizar, de desvalorizar, de reagir, de agir con-
forme princípios e de enfrentar a existência.
A verdade do Evangelho não acontece só porque al-
guém ganhou uma discussão teológica contra um herege,
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É para comer, não é para conhecer o cardápio

mas sim pelo resultado da própria existência, se é plena


de vida, conforme a justiça, a paz e a alegria no Espírito
Santo278. Assim, aquele que se entrega a Jesus não recebe
um pacote de explicações, mas aceita seguir porque foi
convencido pela experiência do bem do Evangelho, que
tocou o indivíduo de alguma forma, fazendo-o provar
que o Senhor é bom279.
Portanto, tal pessoa não fica preocupada em “enten-
der Deus”280. Sua felicidade está em que Deus a enten-
de281. Assim, ela caminha sem querer saber o que Deus
está planejando, mas apenas o que Jesus propõe como
caminho. E, para ela, cada coisa não é passível de uma
explicação, mas sim de uma resposta própria.
Desse modo, se impotente, ela ora; se abastada, ela
agradece; se visitada pela calamidade, ela confia no bem
oculto no amor de Deus; se é objeto de perseguição, ela
exulta; se milagres acontecem, ela se alegra; se não acon-
tecem, ela se entrega ao milagre da confiança282.
Não é à toa que Paulo diz que é a bondade de Deus
que conduz ao arrependimento283. Sim, no Evangelho,

278 Romanos 14
279 Salmo 34
280 1 Coríntios 2:10-16
281 Jeremias 29:11; Salmo 139
282 Filipenses 4:10-19
283 Romanos 2:3-4

87
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É para comer, não é para conhecer o cardápio

tudo o que se estabelece como genuíno e duradouro de-


corre da experiência da bondade de Deus. É, portanto,
a experiência de Deus como bem para o ser aquilo que
muda a mente, que provoca a metanóia, que gera o arre-
pendimento – a mudança de mente e, por conseguinte,
de caminho.
A “Queda” se consumou na experiência, não na espe-
culação acerca da verdade ou da mentira, do bem ou do
mal. Tomou do fruto e comeu – é o que se diz. Assim foi
com o primeiro Adão, e muito mais é assim concernente-
mente ao segundo Adão, Jesus: Quem comer tem a vida,
quem de mim se alimenta, por mim viverá284.
Ora, assim como o pecado se fez consumar pela ex-
periência, assim também o bem do Evangelho se faz co-
nhecer pela experiência da fé, e que dá acesso ao fruto da
Árvore da Vida285.
Tomai e comei! – é assim no Evangelho.

284 João 6:22-69


285 Apocalipse 2:7

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A boa notícia é a
manchete de hoje!

Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração.


Carta aos Hebreus 4:7
O Evangelho é a Boa Notícia do Reino de Deus. O
Evangelho é a certeza de que Deus se reconciliou com
o mundo, em Cristo, e que agora os homens podem se
desamedrontar, pois foi destruído aquele que tem o poder
da morte, a saber, o diabo; bem como foram libertos aqueles
que estavam sujeitos à escravidão do medo da morte por
toda a vida, conforme esclarece o autor da carta aos cris-
tãos hebreus, no capítulo 2:14-15.
Já o “evangelho” que nada realiza hoje e transfere
tudo para o céu, para o porvir, é como o espiritismo
kardecista, que transfere para o passado as causas das
fraquezas de hoje ou os infortúnios e limitações desta
vida. No espiritismo, tudo é baseado no passado. Em
um passado que se teria vivido, mesmo que dele não se
tenha nenhuma memória.
E o “evangelho” sem vida e sem Boa Nova para Hoje
alimenta sua existência nas recompensas do céu em con-
traposição às desgraças desta vida, produzindo não espe-
rança, mas conformismo e alienação. Ora, conquanto o
Evangelho carregue a promessa da Glória Eterna – como
já foi explanado introdutoriamente –, que é a razão de
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A boa notícia é a manchete de hoje!

nossa esperança, se, contudo, tal Evangelho não fizer bem


à vida Hoje, ele não é nada, e muito menos a Boa Nova.
No kardecismo, a esperança de hoje é buscar existir
num estado de caridade humana e de busca de conheci-
mentos acerca dos modos de se promover o “desenvolvi-
mento espiritual”. Já no “evangelho” sem Boa Nova para
Hoje, o que se diz é que a garantia de salvação é a fideli-
dade à frequência à “igreja” – isso se a pessoa “se segurar”
e não fizer nada “muito errado”, pois se fizer, ainda que
Deus o perdoe, os discípulos do “evangelho” sem Boa
Nova haverão de se tornar o próprio cumprimento da
Lei do Carma, pois não perdoam ninguém que, depois
de “iniciado”, erre de modo verificável.
Assim, nesse caso, não se paga por erros de uma exis-
tência passada, mas de qualquer que seja o passado da
presente existência – isso se a pessoa cometer o erro
depois do “batismo”, ou seja, depois de ser “membro
da igreja”.
O Evangelho de Jesus não é apenas o benefício da
consolação ante a morte! Não! Se o Evangelho entrar na
pessoa, mesmo o Paraíso fica menos importante do que
ouvir Jesus dizer: Hoje mesmo estarás comigo... Isso por-
que, de fato, não há Paraíso sem Jesus, mas onde Jesus
está, aí há Paraíso. Daí o Paraíso importar muito menos
do que a relação com ele286.

286 João 8:31-36

90
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A boa notícia é a manchete de hoje!

Assim, o Evangelho não é para o céu, mas para a Ter-


ra. Quem precisa de Boa Nova no céu? Lá tudo isto já
não é. Lá é o cumprimento absoluto e pleno de todas as
promessas presentes também na Boa Nova.
Mas a grande Boa Nova do Evangelho não é o “céu”,
mas sim o perdão287, a reconciliação288, o descanso289 e a
paz290, usufruindo plenamente sua Presença na eternida-
de que já é.

287 João 1:29


288 2 Coríntios 5:18-19
289 Mateus 11:28-30
290 João 14:27

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A Graça é a lei do Caminho

Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no


Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo ca-
minho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo.
Hebreus 10:19-20
A Graça e somente a Graça é e sempre será a base do
nosso relacionamento com Deus. Todavia, os cristãos se
convertem a Jesus num dia e, no dia seguinte, tentam ban-
car sozinhos, por esforço próprio, as transformações que
julgam serem decorrentes dessa conversão, buscando o me-
lhoramento comportamental que a justifique ou mantenha.
Chamam isso de “Santidade pessoal” ou “Santificação”291.
Não percebem que adotam, então, um “outro deus”, pois
se o relacionamento com Deus depende da santidade do
cristão, logo, o amor de Deus é condicional292.
Aqui começa o esgotamento espiritual da maioria.
Estabelece-se uma nova base para o crescimento cristão.
E isso, inevitavelmente, vai falhar! Vai falhar sempre! Ne-
nhum passo rumo a qualquer maturidade espiritual pode
ser dado senão no caminho dessa Graça. Já está eviden-
te que a vida dita “cristã” que acontece fora do chão da

291 João 15:3-5; Efésios 2:4-9; Filipenses 1:6; Colossenses 2:18-23


292 1 João 4:16-19; Romanos 5:5-11
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A Graça é a lei do Caminho

Graça de Deus só gera doenças espirituais, psicológicas


e existenciais. Gera religião, mas não sedimenta a paz de
Deus. Gera mudanças comportamentais, mas não reno-
va o homem interior. Pode gerar novos hábitos, mas não
assegura um novo coração.
Santidade pessoal é fruto da entrega ao Amor Incon-
dicional do Pai, e não uma nova base. Ao contrário do
que se propõe, a “santidade” dos cristãos só alimenta a
carne, pois tal esforço de desempenho para Deus foca
a espiritualidade no pecado e não em Deus, e produz a
obsessão de vencer por conta própria o pecado que habita
em mim, segundo Paulo. E, então, a certeza da culpa nos
deita nos braços do pecado (leia Romanos 7, em especial
os versículos 5-8). Como a força do pecado é a Lei293, fica
estabelecido um ciclo infeliz: o cristão opta pela hipo-
crisia para sua aceitação no meio “santo”, opta pela per-
formance para se destacar nesse meio, e prefere obedecer
a uma lista de regulamentos comportamentais para que
fique “quite” com sua consciência religiosa, que é pagã,
ameninada, orgulhosa e meritória, por ser toda funda-
mentada em Justiça Própria294.
A Lei da Graça inverte os polos da Ética Religiosa,
muda a direção da espiritualidade. Veja que eu sou aceito
para poder ser melhor, não sou melhor para poder ser aceito295.

293 1 Coríntios 15:56


294 Filipenses 3:8-9
295 Efésios 2:1-7

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A Graça é a lei do Caminho

Uma vez interiorizada, a Conversão remove uma


montanha infindável de culpas que foram abolidas em
Cristo; não só as culpas decorrentes das ações pratica-
das, mas a culpa própria da minha essencialidade, por-
que eu sou pecador por natureza. É o que sai do meu
coração que me contamina. Não veio de fora de mim.
É o pecado que me habita, conforme Paulo diz em Ro-
manos 7:7-25.
Sendo assim, o Pecado que está abolido é o Pecado
que eu SOU, e não só o que eu FAÇO. Assim, santidade
vem de sentir-se em paz na Graça, quando entendo, pela
FÉ, que o que sou em Cristo é o que vale296; isso para
que eu possa ir sendo à medida que cresço297. Portanto,
santificação é o apelido do crescimento da consciência na
Graça dentro de nós.
Por que isso parece diferente do que chamamos santi-
dade no meio cristão? Porque, no meio cristão, a visão de
santificação não é bíblica; ao contrário, é pagã e cheia de
justiça própria. Sim, o que chamamos de “santificação” é
exatamente aquilo que os fariseus ensinavam: ser zeloso
da lei ou de uma lista de comportamentos, ainda que se
saiba que se tornar um perfeito cumpridor da lei não tem
valor algum298.

296 2 Coríntios 5:14-21


297 2 Coríntios 3:18
298 Filipenses 3:4-8

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A Graça é a lei do Caminho

Agora olhe para Jesus e veja o que é Santidade. Santo,


para Jesus, é aquele que não julga o próximo299; que anda
mais de uma milha com o inimigo; que dá a capa para co-
brir o frio do adversário300; que não passa ao largo quando
vê um homem caído na estrada301; que dá água com amor
aos irmãos como se fosse o próprio Jesus quem bebesse;
que veste o nu, abriga o órfão, acolhe o desamparado, abre
a alma ao faminto, e não se esconde de seu semelhante302.
Sim, para ele, o santo é quem crê; é quem busca a
verdade e a humildade, enquanto o pecado é a increduli-
dade303. Santidade, para Jesus, é simplicidade e gratidão.
E, conforme Jesus, o santo é alguém livre para amar...
Quanto mais santo se é, mais voltado se fica para o próxi-
mo e menos egoísta se torna o ser. Por quê? Ora, porque
aumentando a consciência na Graça, aumenta, naquele
que recebeu de Graça, a vontade de doar Graça.
Desse modo, a Graça opera a Lei do Amor. Quem
recebeu perdão perdoa; quem recebeu graça derrama gra-
ça; quem não foi julgado, porque Jesus foi julgado em
seu lugar, não julga304.

299 Lucas 6:37


300 Mateus 5:38-41
301 Lucas 10:25-37
302 Mateus 25:34-40
303 João 10:22-38
304 Romanos 12:9-21

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A Graça é a lei do Caminho

A Lei da Graça, portanto, é o Amor e a Síntese do Evan-


gelho pregado por Jesus, que ensinou a Graça de Deus o
tempo todo sem, contudo, nunca ter se valido do termo.
Mas, em Cristo, temos a Lei da Graça para os humanos:
1º Ama a Deus com a plenitude de teu ser305.
2º Ama o teu próximo como a ti mesmo306.
3º Ama teu próximo fazendo a ele tudo aquilo que tu
mesmo queres que os outros façam a ti307.
4º Jamais faças ao teu próximo aquilo que tu mesmo
não queres que seja feito a ti308.
5º Sê justo com a Justiça que faz o bem e que é capaz
de perdoar o erro309.
6º Sê misericordioso conforme a misericórdia que tu
queres receber de Deus e dos homens310.
7º Sê grato em todas as coisas de acordo com a cons-
ciência que tens de que nada te é devido, posto que
tudo que és e tens te foi dado311.

305 Mateus 22:36-38


306 Mateus 22:39-40
307 Mateus 7:1-12
308 1 Pedro 3:8-9
309 João 7:24
310 Lucas 6:27-38
311 1 Timóteo 6:6-8; 1 Tessalonicenses 5:18

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A Graça é a lei do Caminho

8º Sê cheio da fé que age pelo amor e que realiza o fru-


to da justiça, que é paz e alegria no Espírito Santo312.
9º Perdoa sempre e sempre serás perdoado, posto que
assim confirmas com atos a fé que tens de fato acerca
de que tudo Está Consumado, pois quem perdoa
também está confessando que crê na Cruz313.
10º Admite o pecado, abraça o perdão, levanta-te, anda
e segue o verdadeiro Amor314.
Esta é a Lei da Graça conforme o ensino do Evange-
lho. Ora, tal lei não vem de fora, mas nasce dentro, e não
é algo que se alcance por esforçado-esforço, mas sim com
o supremo esforço-da-entrega que se traduz em Confian-
ça Total na Graça de Deus.
Na Lei da Graça, a obediência amorosa é gerada pelo
descanso, e não o descanso pela obediência315. Isso é san-
tidade, conforme Jesus.
Na Lei da Graça, as obras sucedem a fé, embora a fé
que não produza obras de amor esteja morta. Na Lei
da Graça, o trabalho é confiar e descansar no que Está
Feito, pois é daí que o ser capta sua energia para rea-
lizar eficazmente aquilo que é Lei do Amor. Assim é o

312 Romanos 14:17-18


313 Mateus 18:21-35
314 Mateus 9:1-13; 1 João 4:7-21
315 Romanos 4:4-6

98
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A Graça é a lei do Caminho

Caminho-Lei-da-Graça! Bem-aventurado aquele que o


segue em confiança. Ora, isto é verdade de sempre. Mas
hoje, se praticado, é pura revolução!
O que pode haver de mais divino que o amor, e, ao
mesmo tempo, tão pouco escolhido quanto ele? O que
pode haver de mais duradouro e eterno que o amor, e
que seja mais rejeitado do que ele? Que há de mais im-
portante que o amor, e, apesar disso, possa ser deixado
tão para depois quanto ele?
Assim, a Porta é Estreita porque ela leva para o ca-
minho do amor. E nada há que os nossos instintos mais
aborreçam do que o amor. Quem está disposto a perdoar
sempre? Quem devolve o mal com o bem? A maioria
foge. E muitos praticam o mal apenas para não serem
importunados. Não querem se envolver com a bondade
e a misericórdia, pois sabem que todo aquele que se deixa
enlaçar nas redes do amor e seus frutos certamente sabe-
rá que o amor tudo sofre316. E os preguiçosos existenciais
tornam-se maus porque têm preguiça de amar. Esta é a
trilha mais escolhida; são muitos os que andam por esse
caminho, pois ele é largo.
Se alguém não quiser ser molestado, não cometa ne-
nhuma bondade e não se vicie nela. A trilha menos per-
corrida é o Caminho do Amor. Nele se entra pela “Por-
ta Estreita”, e poucos são os que se deixam seduzir pelo

316 1 Coríntios 13

99
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A Graça é a lei do Caminho

encanto do amor pela vida, que é também paz e alegria


simples. É muito estreita a vereda do contentamento. E a
maioria se sente otária quando anda por ela317.
Contudo, quem preserva sua vida do Bem a perde,
mas aquele que a doa no ínfimo espaço de tempo dessa
existência se preservará para a vida eterna318.

317 Provérbios 4:10-18; Mateus 7:13-14


318 Marcos 8:34-37

100
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A liberdade de ser do Caminho

Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarre-


gados, e eu vos aliviarei. Aprendei de mim, que sou manso e
humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas.
Jesus de Nazaré
A Graça é o convite de Deus a crescermos como Gente
ainda nesta vida. Veja: Quando meus filhos eram meni-
nos, eu os tratava com lei, embora a graça do amor fosse
a razão das regras. Mas à medida que foram crescendo, ia
ficando claro para eles que o tempo da “tutela paterna”
estava cessando: fui deixando-os mais livres, visto que
a estação da “consciência própria” estava pronta para se
abrir em frutos de autocompreensão.
Paulo diz que a Lei foi um tutor, um escravo a serviço da
infantilidade da consciência. Quando, porém, veio a pleni-
tude dos tempos – a idade para se ficar adulto –, Deus enviou
o Seu Filho e nos deu a Nova Aliança, inscrita na mente e
no coração, a fim de que deixássemos de ser crianças em
estado debilóide de tutela permanente e nos tornássemos
homens, com consciência própria319. Esta é a Vontade de
Deus: nos tornar à semelhança do Seu Filho Jesus Cristo320.

319 Gálatas 3:19-29 - 4:1-7


320 Romanos 8:29; 2 Coríntios 3:13-18; Efésios 4
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A liberdade de ser do Caminho

Crescimento espiritual não é outra coisa senão nos


tornarmos parecidos com aquele que agora vive em nós.
Ele vive em nós para crescermos! E crescer pressupõe ser
livre e consciente.
Sendo assim, o grande “problema” da Graça é a liber-
dade que ela gera. E liberdade é apavorante, nos deixa
sem chão, dá vertigens na alma. Ninguém quer liberda-
de, porque ela nos obriga a andar com as próprias pernas,
concede-nos a bênção de pensar, sentir, discernir e nos
julgar – ou seja, nos faz seres autoconscientes. Tornamo-
-nos capazes de olhar para dentro, de crescer como gente,
de repensar valores, de conhecer a nós mesmos, de cami-
nhar por princípios e não por regulamentos, de escolher
o bem e rejeitar o mal por nós próprios321.
Consciência pressupõe a preexistência de liberdade. E
tal liberdade só se manifesta em plenitude quando debai-
xo da Graça, pois é somente nela que se perde o medo de
ser, pois, nenhuma condenação há322.
O problema é que a maioria das pessoas pensa que
liberdade induz ao erro. Nenhum erro poderia ser maior!
A Graça não é compatível com a entrega da vida à prática
do pecado e da iniquidade! Liberdade e Santidade não
são antagônicas entre si: “Continuaremos nós a pecar para
que a Graça aumente?”323 A liberdade da Graça está a fa-

321 Hebreus 5:13-14


322 Romanos 8:1
323 Romanos 6:1-23

102
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A liberdade de ser do Caminho

vor da santidade e não contra. Quem é santo é também


livre, pois não existeSantificação semliberdade!
Em resumo: Santidade é saber viver todas as coisas que
são lícitas, tendo discernimento do que convém e o que
edifica a própria vida e a do próximo324. O santo viverá pela
fé. Ou seja, em confiança não em si, mas no Amor de Deus.
E toda conquista interior que lhe aconteça não é seu méri-
to, mas Graça de Deus sobre ele; e sobre tais conquistas ele
não fica alardeando com a boca, visto que, se são verdadei-
ras, elas serão percebidas pelo fruto da vida, em amor e mi-
sericórdia325. O santo nem percebe que é santo, enquanto o
religioso precisa que os outros percebam sua “santidade”, e
para tanto ele trabalha, conforme sempre se vê nos choques
de Jesus com os fariseus e “mestres” de seu tempo326.
Portanto, o Caminho da Graça não cria o espaço da li-
bertinagem, mas tão-somente o da Liberdade de Ser, sem
os medos que decorrem das neuroses provocadas pela Lei
ou pelas listas religiosas de “podes-e-não-podes”.
A libertinagem é o polo oposto do legalismo, e ambos
nascem da glorificação do egoísmo e fazem sempre mui-
to mal ao indivíduo e ao próximo com ele. Liberdade
em Cristo não serve para dar ocasião à carne – o culto ao
umbigo – 327, mas para nos colocar a serviço do bem de

324 1 Coríntios 10:23-31


325 Mateus 12:33
326 Mateus 6:1-8,16-18
327 Gálatas 5:13-23

103
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A liberdade de ser do Caminho

todos na vida! Ninguém se esqueça de que a Fé que nos


libertou se manifesta em nós pelo Amor328! Do contrário,
tal fé já nasceu morta!
Sou acusado por alguns de pregar uma vida livre para
pecar. Mas saibam: prego a Palavra que afirma que o ho-
mem é livre para ficar livre do pecado se caminhar na
liberdade do Evangelho da Graça, o qual sempre nos põe
diante do Caminho sobremodo excelente, que é o Amor,
ante o qual não há Lei329, posto que o amor projeta a si
mesmo para além da Lei de Moisés, pois ele se submete
à Lei do Espírito e da Vida. Quem segue a Lei da Vida
sabe (ou virá a saber) queo pecado pode secar a alma e
tirar dela a alegria de ser de Deus330.
O que os cristãos precisam entender com urgência é
que não há melhor lugar para conhecer nossa própria
verdade senão no solo seguro da Graça de Deus, onde
nada pode nos separar do Amor de Deus331! Há somente
aceitação e renovação! Primeiro se percebe tal qual se é332;
depois, o Espírito promove seus frutos em nós, enchen-
do a vida de paz, alegria e amor333.

328 Efésios 3:14-19


329 Gálatas 5:22-23
330 Salmo 51
331 Romanos 8:35-39
332 Isaías 6:5-7; Tiago 1:23-25
333 Efésios 5:8-10

104
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A liberdade de ser do Caminho

Mas, paradoxalmente, os cristãos têm medo de se en-


xergar como gente. Desse ponto em diante, a maioria
confunde descanso e pacificação com vagabundagem
existencial. Há pastores e mestres que, embora convenci-
dos, não pregam o caminho da Graça por medo de que
os cristãos vivam vidas anárquicas. E assim negam a Ver-
dade – o que se torna um crime maior do que abusar
dela! Sim, será que porque tem gente que só quer se sen-
tir melhor ao contrário de melhorar, a Mensagem de Je-
sus é punida? É porque o ouvinte a perverte cinicamente
que a Palavra da Boa Notícia do Amor Incondicional de
Deus é censurada como culpada?
Não se engane: crescer em entendimento e experi-
ência da Graça de Deus demanda esforço de fé e busca
disciplinada de desenvolvimento interior, que é fruto de
autoexame, tarefa que seria insuportável sem um coração
pacificado pela Graça. Quem pode ser transformado a
partir do medo da condenação334?
A ameaça, a insegurança e a punição – comuns nas
pregações dos pastores do medo – não aperfeiçoam coi-
sa alguma, pois acentuam a consciência de pecados sem
removê-los completamente, exigindo os constantes sacri-
fícios e votos que os cristãos tanto se orgulham de ofere-
cer. Basta uma leitura atenta do capítulo 10 de Hebreus
para isso ficar bem claro!

334 Romanos 7:18-25, 8:1-6

105
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A liberdade de ser do Caminho

As consequências da falta de liberdade de Ser-Sendo


estão aí, bem diante de nós. Só não vê quem não quer,
pois, para corresponder o quanto antes à norma massi-
ficada, as pessoas artificializam o agir de Deus, operan-
do em si mesmas uma “transformação de ocasião”, uma
conversão para fins eclesiásticos, uma supressão de tudo
que choca a religião, uma espiritualidade de “fachada”,
mas que seja compatível com a média comunitária.
Essa falsificação do lavar regenerador e renovador do
Espírito dá conta de instituir mudanças para fora do ser,
exclusivamente comportamentalistas, baseadas no fazer
e medidas pelo desempenho, a priori, dentro dos muros
da “igreja”. E tudo isso sem seu correspondente interior
de crescimento na Graça e na Verdade. É a figueira sem
frutos, mas adornada pelas folhagens que camuflam a
nudez, própria do outono da vida335.
Fora do Espírito e do ambiente de Graça, quem se
percebe assim não se reconhece, e se assusta, se escandali-
za, se choca, se culpa, se penitencia. Quando finalmente
“surta” e se sente sem qualquer identidade em Deus, se
afasta ou é afastado do seu meio religioso, porque o que
“sobe” das profundezas da alma é como um vulcão em
erupção por muito tempo reprimido, não tratado, ne-
gligenciado! O cristão, então, não sabe por que “depois
de tanto tempo de evangelho” o que habita seu interior

335 Salmo 1:1-3; Mateus 21:18-20

106
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A liberdade de ser do Caminho

são as mesmas raivas, angústias e escravidões de outrora,


mas agora travestidas de “santidade exterior”; e existem
os mesmos bichos vociferando rancores e preconceitos,
só que agora legitimados pela interpretação adaptada da
Bíblia, que esconde o crente sob plumagens triunfalistas:
a raça cheia de méritos por ser eleita uma nação “santara-
da”, um povo que “se acha” por ser designado proprieda-
de exclusiva de Deus. Habilidosos em ocultar a verdade
do Ser, seguem sem qualquer compreensão de que tudo
que se manifesta carrega a intervenção da luz336.
Portanto, na comunidade dos discípulos não carrega-
mos ilusões! Não estamos esperando ninguém virar anjo,
nem levitar a 10 centímetros do chão, nem ser levado
pela carruagem de fogo de “santidades” que não conse-
guem viver neste mundo337.
Ao contrário, posso afirmar que meu esforço pessoal
é na tentativa de não me chocar com mais nada, posto
que não há nada que você tenha feito que, ao menos em
potencial, não exista em mim também338. Não lidamos
com robôs, nem com supercrentes ufanistas, nem nos
interessamos por comportamentos performáticos só para
dar a sensação de que tudo está sob controle na comuni-
dade “vigiada”.

336 Efésios 5:13-14


337 João 17:15
338 Romanos 3:21-27

107
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A liberdade de ser do Caminho

Diante disso, fica aqui declarada a base de qualquer


aconselhamento: está suspenso o “direito” de se escanda-
lizar com o que quer que seja verdade sobre você. Prefiro
caminhar com você a partir de suas lutas e temores do
que fingirmos que não trazemos essas coisas embutidas
no cerne de nossas tribulações e dramas de vida.
O Caminho, portanto, está aberto a todos! Somos
“devedores” a homens, mulheres, adolescentes e jovens
de todas as tribos; prostitutas, homossexuais, bissexuais
e transexuais; fiscais de tributos, empresários, estudan-
tes, políticos e donas de casa; ateus, católicos, espíritas e
esotéricos; ricos e pobres; intelectuais e broncos; casados,
descasados, solteiros, amasiados, juntados, separados,
divorciados, viúvos339. E a todos quantos se encontram
carecidos da Glória de Deus porque não conhecem, em
seus corações, a conversão que o Evangelho realiza por
meio da fé, através da Graça de Nosso Senhor Jesus Cris-
to – único mediador entre Deus e os homens340.
... Ide para as encruzilhadas dos caminhos e convidai
para a Festa a quantos encontrardes. E, saindo aqueles servos
pelas estradas, reuniram todos os que encontraram, maus e
bons; e a sala do Banquete ficou repleta de convidados.
A Parábola das Bodas, Mateus 22:9-10.

339 Mateus 21:32-32; Tiago 2:1-13


340 1 Timóteo 2:1-6

108
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O caminho da simplicidade

Não temas, crê somente!


Jesus, ao chefe da Sinagoga
O desespero do homem religioso, especialmente do cris-
tão ou do judeu praticantes, é o mais intenso e forte deses-
pero que o coração humano já experimentou. Isso porque
esses dois credos religiosos são aqueles que propõem a sal-
vação humana como obra de justiça própria, especialmente
de natureza moral.
É verdade que qualquer cristão doutrinado que leia essa
afirmação imediatamente dirá que isto não é verdade quanto
ao Cristianismo, e, especialmente, não é verdadeiro em rela-
ção ao Protestantismo, em razão de que o arcabouço doutri-
nário da Reforma postula a salvação pela fé na Graça de Jesus.
Todavia, todos sabem que a doutrina é esta, mas que, na
prática, isto nunca foi verdade para a “igreja”. Sim, porque
se prega essa salvação pela fé apenas como argumento alen-
tador na chegada do “novo-crente”. Porém, no dia seguinte
ao da “Decisão de ser Crente”, o indivíduo já começa a ser
doutrinado na salvação e na santificação moral e autônoma,
realidades essas que cada um tem de conquistar a fim de se
manter no posto da salvação pela via de sua irrepreensibili-
dade moral341.

341 Mateus 20:1-16; Gálatas 3:1-11


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O caminho da simplicidade

Assim, inicia-se falando o Evangelho como sedu-


ção, e, uma vez feito o prosélito, imediatamente ele é
transformado num cristão fariseu342. O que segue são
barganhas e mais barganhas com Deus343, acrescidas de
um estado perene de inquietação, nervosismo e culpa
– medo de cair. Ou, então, no caso de o indivíduo es-
tar se sentindo “bom” o suficiente para agradar a Deus
pelas suas próprias obras e pela sua própria moral, surge
um ser arrogante e insuportável para a normalidade do
convívio humano.
Assim nascem os crentes, tanto os neuróticos pela cul-
pa e pela barganha quanto o crente “santarado”, que trata
com raiva e com inveja aqueles aos quais acusa de serem
pecadores. Sim, porque nesse caso o espírito de juízo e
acusação é proporcional à inveja que se tem da liberdade
ou do “pecado” do outro. Ou, ainda, um terceiro grupo
de crentes, que não tem inveja do pecado, mas sofre da
prepotência da “retidão”.
Tenho muita pena desses grupos, mas especialmente
dos que ficam neuróticos pelo peso das acusações que
vêm dos crentes fariseus. A leitura de Mateus 23 nos
mostra que, para Jesus, esses tais eram seres profunda-
mente danosos quando estabeleciam contato com outros
seres humanos, sempre com a vontade obstinada de des-

342 Mateus 23:15


343 Eclesiastes 9:2; Mateus 5:33-37

110
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O caminho da simplicidade

construir a individualidade do outro, fazendo deste um


clone do crente-boneco-fariseu. “Ai de vós...” – foi o que
Jesus repetidamente disse a eles, aos fabricantes de “cren-
tes em série”.
Minha angústia tem a ver com o estado mental adoeci-
do que esses cristãos-fariseus multiplicam e aprofundam a
cada novo “discípulo” que fazem. Toda hora atendo “discí-
pulos” desses “cristãos-fariseus” e, quase sempre, eu os en-
contro surtados de culpa, medo, débito e pânico de maldi-
ção, visto que, para se amoldarem à forma dentro da qual
são postos a fim de se plastificarem nos moldes “legitima-
dos” pela “religião dos bonequinhos movidos a corda”, tais
pessoas precisam matar a si mesmas, aceitando como novo
“eu” a caricatura humana proposta pela “igreja”.
Não há alma humana sensível e sincera que aceite tais
coisas e que não adoeça seriamente. Ora, faz anos que digo
isso, bem como faz muito tempo que atendo pessoas so-
frendo dos males existenciais produzidos pela religião. No
entanto, nos últimos anos, a “porteira da alma” se abriu,
e a boiada dos angustiados saiu numa corrida atropelada
buscando aos pinotes de angústia um pasto de liberdade.
Mas os vícios mentais incutidos pela religião são os
mais difíceis de serem removidos e tratados. Isto porque,
quando você ensina às pessoas acerca da Graça de Deus,
a questão que invariavelmente chega é a mesma: Mas
como pode ser tão simples? Não há mais nada a fazer a não
ser confiar que já está pago e viver apenas nesta fé? – é o que
me perguntam.
111
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O caminho da simplicidade

A pedra de tropeço dos crentes é o Evangelho de Je-


sus344. Sim, são os “crentes” os que terão mais dificul-
dades de crer que é apenas crer. O que vejo prevalecer
entre os cristãos é a mentalidade do “difícil”, a consciên-
cia pagã de Naamã 345 e os mecanismos de cura sempre
carregados de “correntes e campanhas”, todas baseadas
em barganhas com a divindade, sendo que tal prática é
desavergonhadamente chamada de “sacrifício”. Para esses
nunca haverá descanso, nem paz e nem a alegria que vem
da segurança que se arrima na fé simples e convicta.
Na caminhada, as pessoas revelam que não enten-
dem, ao terem passado a apenas aceitar a simplicidade
do Evangelho de Jesus346, crendo que está tudo feito e
pago347, como que a vida com Deus é simples e que o
andar com Jesus é sereno348, e tudo começou inexpli-
cavelmente a mudar para o bem em seus corações349.
Mas alguns estão tão viciados na barganha com Deus
e nos muitos e intermináveis sacrifícios de presença a
todos os cultos, células, campanhas, atividades e muita
mão-de-obra dedicada aos líderes da “igreja”, que não

344 1 Pedro 2:1-10


345 2 Reis 5:1-12
346 1 Coríntios 2:1-5
347 Efésios 2:11-15
348 Mateus 11:28-30; 1 João 5:3
349 2 Coríntios 5:17

112
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O caminho da simplicidade

conseguem nem mesmo crer que o bem que os está


atingindo é verdadeiro; pois, para tais pessoas, “não é
possível que seja só isso”.
Todavia, é simples mesmo! E bem-aventurados são
aqueles que não tropeçam na Pedra de Tropeço e nem na
Rocha de Escândalo, que é Jesus350, e nem na total simpli-
cidade de seu Caminho, que é o único Caminho de Paz
para a vida.
Quem não crê, que faça seu próprio caminho pelos
infindáveis labirintos da religião...
Eu, todavia, me agrado de todo o coração no que
Jesus já fez por mim, perdoando todos os meus peca-
dos, justificando-me perante anjos, demônios e homens,
dando-me a chance de andar com tranquilidade e paz
entre os homens, com o coração pacificado na confiança
no amor de Deus, de cujas mãos ninguém e nem coisa
alguma pode me arrebatar351.
Quem crê tem... – disse Jesus352. Sim, quem crê tem
tudo. Quem não crê, todavia, pode ter tudo – igreja,
moral, credo, dogma, sacrifícios, barganhas, etc.–, po-
rém não terá nem paz e nem descanso, visto que paz e
descanso apenas habitam a fé simples, que não pergunta:
“Quem subirá aos céus”? (isto é, para trazer Jesus à Terra

350 Lucas 7:23; Romanos 9:30-33


351 João 10:1-17, 27-30
352 João 5:24, 6:47

113
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O caminho da simplicidade

pela encarnação); e nem tampouco diz: Quem descerá ao


inferno? (isto é, para dar uma ajudinha a Jesus na ressur-
reição dos mortos)353.
É porque não acreditam no Caminho da Simplicida-
de proposto por um Deus que abriu mão do status divino
e assumiu a forma de um servo humilde de coração que
os homens se entregam às infindáveis barganhas patro-
cinadas pelos Líderes Fariseus. Esses tais, não contentes
em se fazerem filhos do inferno (conforme Jesus disse)354,
ainda desejam corromper a alma de muitos, criando seres
atormentados pelas chamas das culpas e acusações do in-
ferno, negando a eles a chance de viverem em liberdade
no amor de Deus355.
Portanto, saibam todos: sem fé simples e pura, posta
em Jesus, confiante no Evangelho da Graça, não há nem
paz, nem alegria, nem espontaneidade diante de Deus, e,
sobretudo, não há saúde de alma para viver a vida como
Vida, e não como tormento sem fim.
Ora, quando é assim, a religião se torna a ante-sala do
inferno!
Logo, ser discípulo de Jesus é simples, mas nada há tão
difícil quanto a simplicidade, nem que demande mais es-
forço que descansar no descanso, pois essa não é a tendên-

353 Romanos 10:6-11


354 Mateus 23:15
355 Mateus 23:13

114
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O caminho da simplicidade

cia natural da alma humana356. É difícil não oferecer nada


a Deus. É muito difícil apenas confiar que o sangue de
outro cobriu você357. É loucura para os gregos e intelec-
tuais; é escândalo para os judeus e todos os religiosos358.
Para ser discípulo de Jesus a pessoa tem de renunciar
ao “si-mesmo”. Ora, isso significa desistir de si mesmo
como “produção” de algo que comova Deus. Negar a si
mesmo é deixar toda justiça própria e descansar na jus-
tiça de Deus, que, antes de tudo, é justiça justificadora.
Negar a si mesmo é abandonar a presunção de agradar a
Deus pela imagem e pelas produções próprias.
Quem quer negar-se a si mesmo359? Se alguém quiser,
então, tome a sua cruz. Cruz? Que cruz? Ora, a única. A
minha cruz será sempre me gloriar na Cruz360. Alguém diz:
“Mas não sobrou nenhum sacrifício para mim?”. Sim! O
sacrifício é aceitar que o Sacrifício foi feito e consumado361.
Alguém pensa que isso é fácil? Tente apenas e tão-
-somente confiar que está pago e feito. Tente crer que
Jesus é suficiente, não como chefe de religião, mas como
o Cordeiro que tira o pecado do mundo todo. Tente apenas

356 Hebreus 4:10-11


357 1 João 1:7; 1 Pedro 1:18-21
358 1 Coríntios 1:18-25
359 Lucas 9:23
360 Gálatas 6:14
361 João 19:28-30

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O caminho da simplicidade

confiar na única Cruz, e, assim, levar a sua cruz, que é


andar pela fé, nunca tendo justiça própria, senão a que
vem de Deus. Tente mesmo, e você verá como todos os
seus sentidos se revoltarão, e como todos os seus instin-
tos se eriçarão em insegurança.
Jesus disse: “Está Consumado”. E a nossa alma, em si
mesma, pergunta: “O que mais eu devo fazer? Jesus terá
de repetir seu sacrifício todos os dias outra vez? Ou terei
eu de oferecer alguma coisa362 a mais?”.
Ora, se a pessoa consegue desistir do “si-mesmo”, e
tomar a sua cruz, então, Jesus diz que esse tal vai poder
segui-Lo:
Quem me segue não andará em trevas363!
“Segue-me”– é o convite. E aí? O que acontece? Como
é esse caminho? Como se faz para seguir Jesus? Ora, ande
após ele, como Pedro e como os outros.
O discípulo é um ser em disciplina. Disciplina é o
que o discípulo vai aprender. Que disciplina? A dos cen-
turiões? É claro que não. A disciplina que o discípulo vai
aprender é a disciplina do Amor364.
O caminho do discípulo hoje é igual ao caminho dos
discípulos nos evangelhos e acontece do mesmo modo. O
discípulo só será discipulado se for igualmente acidentado,

362 Hebreus 9:24-28


363 João 8:12
364 Hebreus 12:4-11

116
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O caminho da simplicidade

exposto, aberto, equivocado, humilde, capaz de aceitar a


repreensão do amor e apto a aprender sempre sem jamais
acreditar que se terminou qualquer coisa antes que se ouça:
“Vem, servo bom e fiel; entra no gozo do teu Senhor”365.
Assim, no caminho, o discípulo cai, levanta, chora366,
questiona367, se oferece para o que não deve368, ambiciona
ser maior, menor, mais amado, mais crido, mais usado,
mais devotado, mais, mais369, e, então, vai aprender en-
quanto cai, enquanto erra, enquanto sugere equivocada-
mente370, enquanto acerta371, enquanto nega, enquanto
corta orelhas372, enquanto quer fazer fogo cair do céu373 e
enquanto pensa que sabe sem nada saber374.
O caminho do discípulo não está escrito em manuais
e nem em cartilhas de igreja. O caminho do discípulo
é todo o chão da existência. O discípulo é forçado a só
aprender se viver.

365 Mateus 25:14-23


366 Mateus 26:69-75
367 Mateus 16:21-23
368 Mateus 13:27-29
369 Marcos 10:35-37; Lucas 9:46-48
370 Lucas 9:28-33
371 Mateus 16:13-18
372 Mateus 26:48-52
373 Lucas 9:51-56
374 Mateus 16:5-12

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O caminho da simplicidade

No caminho do discípulo o mar se encapela, as on-


das se levantam e os ventos sopram. Por isso, o discípulo
muitas vezes tem medo, grita, vê coisas, interpreta-as er-
rado – É um fantasma375!
Seguindo Jesus, o discípulo está sempre seguro, mes-
mo quando pede o que não deve e mesmo quando mui-
tas vezes deseja o que lhe faz mal.
No caminho, ele vê demônios saírem e não saírem376;
julga e é julgado e aprende que não pode julgar377; se
afoga; é erguido e caminha sobre as águas; vê maravilhas;
encara horrores... Mas adiante dele está Jesus378!
Para se ser um discípulo de Jesus a pessoa tem de ficar
sabendo que o Evangelho não são quatro livros acerca do
que aconteceu entre Jesus e alguns homens e mulheres,
há muito tempo.
Para se ser um discípulo de Jesus a pessoa tem de fi-
car sabendo que o Evangelho está acontecendo hoje, do
mesmo modo, na vida dele. E precisa saber que as coisas
escritas no Evangelho379 são apenas para ficarmos saben-

375 Mateus 14:22-33. Ora, a “exposição” ao Evangelho tem o poder


de renovar a mente dos discípulos. Todavia, isso é um processo;
e cada um está em uma etapa distinta da mesma Jornada de Fé.
E todos estão juntos!
376 Mateus 17:14-20
377 Lucas 6:37
378 Mateus 28:20; João 10:2-4
379 João 20:30-31, 21:25

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O caminho da simplicidade

do como é que acontece na nossa própria vida, que é o


cenário do discipulado.
E adiante de nós, de todos nós, está o Senhor.
Portanto, numa Estação do Caminho da Graça você
encontrará o que Jesus encontrava pelo caminho – ou
seja, GENTE! Gente quase sem problemas. Gente com
problemas. Gente com muitos problemas. Gente atolada
em problemas. Gente-problema. Gente solucionadora
de problemas apesar de ser perseguida por problemas.
Gente se casando. Gente que chegou descasada e se re-
casou. Gente que vivia traindo e parou de trair. Gente
que ainda trai. Gente que se encara. Gente que mente
e nunca se encara. Gente que muda. Gente que ouve,
ouve, gosta, mas não muda. Gente madura. Gente infan-
til. Gente que entendeu. Gente que está entendendo...
Gente que não entendeu nada ainda. Gente que vai lá
e supostamente anda conosco por interesses de todas as
ordens... Gente que logo vê que é vista em sua dissimula-
ção. Gente que aceita a verdade. Gente que gosta de tudo
até que a verdade as moleste.
Enfim, gente é o que somos. Mas, no Caminho, so-
mos gente que prossegue desejosa de encontrar mais da
Graça, a fim de aproveitá-la, mesmo que muitas vezes
seja dolorido.

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A loucura da Cruz e o
escândalo da Graça – para
os cristãos
Meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto,
até ser Cristo formado em vós; pudera eu estar presente
convosco e falar em outro tom de voz; porque me vejo per-
plexo a vosso respeito!
Paulo, aos cristãos na Galácia 4:19-20
Por conta do pouco que foi dito até aqui, a Graça é
hoje a mais escandalosa de todas as mensagens cristãs!
No entanto, também é a única que existe! É a loucura
da Cruz! E o mais “louco” disso é que nada disso deveria
ser louco para nós e nem fonte de escândalo, posto que
essa mensagem seja o próprio Ensino e Vida de Jesus. É o
espírito do Evangelho! Mas, incrivelmente, estranhamos
a Graça de Jesus, nos assustamos com ela e aceitamos um
enredo de perversões da Mensagem que é muito mais
assustador que qualquer Loucura!
Sinceramente, quem não percebe que atualmente nos-
so Cristianismo é, quase sempre, a repetição dos mesmos
conteúdos contra os quais Jesus, os profetas do Antigo
Testamento, Paulo, os apóstolos e a Palavra se levantam
nas Escrituras380?

380 1 Timóteo 1:1-7


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A loucura da Cruz e o escândalo da Graça – para os cristãos

Hoje as pessoas se convertem à “igreja”, não a Cris-


to! É por essa razão que os conteúdos do Evangelho de
Jesus estão tão adulterados entre nós. E pior, parecemos
estar com os sentidos embotados para esta percepção, de
modo que o que hoje se vê é uma caricaturização de Je-
sus. O Jesus que nos foi apresentado é um composer do
Jesus da “igreja”, moldado para ficar “parecido” com o
grupo religioso ao qual a pessoa pertence. Portanto, o
Jesus da “igreja”, na maioria das vezes, é uma fabricação
feita para validar as teses do grupo. E tal “Jesus” não faz
nada de bom ou de mal que qualquer outro condiciona-
mento mental, psicológico e cultural também não reali-
ze. A leitura que fazemos do Evangelho é uma adaptação.
E é também num “Jesus de terceira ou quarta mão” que
a maioria das pessoas crê381!
Posso asseverar, com convicção e tristeza, que, na igre-
ja evangélica atual, primeiro a pessoa tem de ser salva do
Jesus inventado. Primeiro precisa ser salva do Jesus dos
“evangélicos” a fim de conhecer o Jesus do Evangelho.
É exagero tal dedução? Então, permita-se uma reflexão
honesta. E se Paulo estivesse presente num ano eleitoral
no Brasil? Se visse e soubesse de todas as negociações de
almas-votos que são feitas em Nome de Jesus? E se assis-
tisse pela televisão à venda de todos os significados cris-
tãos em objetos de energia espiritual pagã? E se visitasse

381 2 Timóteo 4:1-4

122
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A loucura da Cruz e o escândalo da Graça – para os cristãos

uma “igreja” e assistisse às filas de pessoas para andarem


sobre sal grosso ou para mergulharem em águas tonifi-
cadas do Jordão e a passarem pela Cruz de Jesus a fim
de ganharem um carro zero, como pagamento pela sua
crença? E se ele soubesse agora que a fé é um sacrifício
que se expressa como dízimos, como troca de bênçãos
por dinheiro, “sacrificados” no altar-bolso dos pastores,
em longas novenas e correntes as mais mirabolantes?
O que enojaria Paulo seria ver pastores oferecendo o
“sangue do Cordeiro” a fim de ungir a casa de trás para
frente e da frente para trás. O “Sangue do Cordeiro” não
é mais o que Jesus fez na Cruz, mas passou a ser um feti-
che, uma mágica de bruxos, uma blasfêmia, um estelio-
nato satânico dos símbolos de uma Verdade com a qual
não se brinca impunemente382.
A carta aos Hebreus foi escrita por muito menos! O
escritor dela diria que estão brincando com fogo ardente
e consumidor e crucificando o Filho de Deus não apenas
uma segunda vez, mas todos os dias – fazendo de Jesus
um produto de troca383. Sim! Aquilo que custou o alto
preço de Seu sangue, para que nos fosse gratuito, agora
é mercadoria a ser vendida pelos camelôs do engano, em
repetidos sacrifícios e indulgências384!

382 Hebreus 10:28-31


383 Hebreus 6:4-6, 7:26-27
384 2 Coríntios 2:14-17

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A loucura da Cruz e o escândalo da Graça – para os cristãos

Admira-me que estejais passando tão depressa Daquele


que vos chamou na Graça de Cristo para outro evangelho...
Paulo aos Gálatas 1:6
Meu Deus, e se Paulo visse?!... Sim, se Paulo nos visi-
tasse? Que epístola nos escreveria?
Veria aturdido o regresso da fé evangélica aos tempos
dos cultos feitos a Baal e às imagens de escultura. Àque-
le tempo onde nem sombra ainda havia das sombras das
coisas que haviam de vir – coisas que, inclusive, perderam
a simbolização em razão de Jesus haver sido o cumpri-
mento de todas elas385.
Ser evangélico, para o Apóstolo, significava ter com-
promisso de fé e vida com o Evangelho de Jesus386. Hoje,
ser “evangélico” é pertencer a uma instituição religiosa
que roubou o direito autoral do termo e se utiliza dele
praticando um terrível “estelionato” de símbolos, histó-
rias, mensagens e ilustrações.
Hoje, de maneira geral, quando um evangélico “evan-
geliza”, ele o faz a fim de que a “igreja” cresça como po-
der visível. Ou seja, “evangelização” significa crescimento
numérico sob o pretexto de salvar as almas do inferno.
Quando Paulo evangelizava, isso significava levar as
pessoas à consciência da Graça salvadora de Jesus e da
possibilidade da experiência da liberdade-salvadora, tan-

385 Colossenses 2:6-17; Hebreus 8:8-13


386 Filipenses 1:27

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to na vida pessoal como também na comunitária. O re-


sultado, portanto, não é o surgimento de um número a
mais para as estatísticas celestiais, mas uma nova criatura
que o Espírito da Graça, em Cristo, faz nascer no Novo
Homem387!
Desse modo, se Paulo estivesse vivo hoje, provavel-
mente nos diria que ainda não somos convertidos, pois
voltamos atrás e aderimos aos conteúdos que negam a
Cruz de Cristo388!
A doutrina do Purgatório é uma verdade existencial
para todos os cristãos – incluindo os protestantes e evan-
gélicos! E por quê? Ora, dizemo-nos “salvos” pela Graça
na chegada. Daí em diante, somos “santificados” pela Lei
(ou por nossas Listas, o que é a mesma coisa na inten-
ção). Porém, tal “santificação” anula a Graça, pois, se a
justiça vem pela Lei, Cristo morreu inutilmente389. Se é pela
GRAÇA, já não é mais pelas obras; se fosse, a GRAÇA já
não seria GRAÇA390. Então ficamos num purgatório exis-
tencial sobre a Terra, pois nem nos tornamos verdadeiros
filhos da Graça e nem nos entregamos aos rigores da Lei
com honestidade. Ao contrário, fazemos o malabarismo
de tentar conter o Vinho da Nova Aliança nos odres da

387 2 Coríntios 5:14-18; Efésios 4:17-24


388 Hebreus 10:32-39
389 Gálatas 2:21
390 Romanos 11:6

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Antiga, que se tornaram extintos e obsoletos391.


Assim, não usufruímos nem a saúde nem a paz que
vem da Graça e, tampouco, conseguimos viver pela Lei.
Ou seja, vivemos em permanente estado de transgres-
são e culpa. E quanto mais existimos nesse “purgatório”,
mais orgulhosos, raivosos, arrogantes e mal-humorados
nos tornamos, pois no coração temos consciência de que
não somos nem uma coisa nem outra: nem Gente da
Graça e nem tampouco o Povo da Lei392.
Jesus, porém, não veio ao mundo para criar um Circo,
em alguns casos; uma Penitenciária, conforme outros; um
Hospício, como acontece cada vez mais, ou um Estado
Soberano como o Vaticano Católico e os “vaticaninhos”
dos outros grupos cristãos. Em Cristo, não temos de ser
pré-condicionados por nada que não seja o fundamento
dos Apóstolos e Profetas, cuja Pedra Angular responde
pelo nome histórico de Jesus de Nazaré.
Quanto à igreja cristã, sabemos que ela não deixará
de crescer em número e em poder terreno. Não. Seus
templos estarão cheios e seu fervor religioso pode até au-
mentar. Mas saiba que esse nosso Cristianismo não terá
qualquer mensagem do Evangelho a pregar para as pró-
ximas gerações (com suas complexidades psicológicas e
espirituais), a menos que se converta radicalmente à Gra-

391 Hebreus 8:13


392 Apocalipse 3:14-22

126
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A loucura da Cruz e o escândalo da Graça – para os cristãos

ça, não como uma doutrina teológico-moral, mas como


a essência de nossa relação com Deus, com o próximo e
com o nosso próprio ser!
Nossa esperança é a possibilidade de que ele ainda ve-
nha a gerar consciências libertas do medo de ser, podendo
experimentar a Graça de viver em Cristo, sem os temores
que hoje são tão bem administrados pela “igreja”, na sua
obsessão de ser a “conquistadora” do mundo e de seus
poderes – incluindo almas humanas –, embora não ajude
as pessoas a terem uma alma para gozar a vida em Deus
e Deus na vida, ainda na Terra, pois o “Jesus” da “igreja”
veio para que tenhamos medo, e medo em abundância!

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O Caminho da experiência
comunitária, segundo Jesus

Eu Sou o Caminho...
Jesus
O termo Ekklesia sintetiza de forma impressionante
o ser Igreja de Jesus: são os chamados para fora. No en-
tanto, na história cristã preponderou o caminho inverso
que torna os discípulos em gente “chamada para dentro”,
chamada para deixar o mundo, para só considerarem “ir-
mãos” os membros do “clube santo” e a não buscarem re-
lacionamentos fora de tal ambiente. Mas, lendo o Evan-
gelho, é difícil conceber que Jesus sonhasse com aquilo
que depois nós chamamos de “igreja”.
Quem pode ouvir o ensino de Jesus, com toda sua de-
sinstalação, com toda a sua mobilidade, com toda ênfase
na igualdade de todos, com toda denúncia aos poderes
religiosos e com toda a pertinência à vida – fosse para
curar a mente, o corpo ou o espírito393; fosse para anun-
ciar a destruição do Templo como lugar de Deus394; fosse
para “beatificar” samaritanos395 e “demonizar” religiosos

393 Mateus 9:1-13


394 Marcos 13:1-2; João 4:19-24
395 Lucas 10:30-37; Lucas 17:11-19
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O Caminho da experiência comunitária, segundo Jesus

sem coração396 – e ainda assim imaginar que Jesus tenha


qualquer coisa a ver com o que nós chamamos de “igre-
ja”, seja aquela que se abriga em Roma, sejam aquelas
que têm tantas sedes quantos pastores, bispos e apósto-
los megalomaníacos existirem? Não se vê Jesus tentando
criar uma comunidade fixa e fechada, como também não
percebo, em seu espírito, qualquer interesse nesse tipo de
reclusão comunitária.
Por isso, o termo igreja perdeu seu significado original,
e, pelo uso milenarmente pervertido, a expressão já não é
útil para designar a jornada individual e comunitária dos
discípulos de Jesus. De fato, a ideia de igreja ficou tão pos-
sessa de outros significados que usar o termo fala da antí-
tese do que se desejaria expressar, conforme o Evangelho.
Jesus não plantou igreja em nenhum chão que não
fosse o do coração das pessoas397.
Igreja, de acordo com Jesus, é comunhão de dois ou
três em seu Nome e em qualquer lugar398. Igreja, de acor-
do com Jesus, é algo que acontece como encontro com
Deus, com o próximo e com a vida, no caminho do Ca-
minho. Para Jesus, o lugar onde melhor e mais propria-
mente se deve buscar o discípulo é nas portas do inferno,

396 Mateus 23:13-35


397 Lucas 17:20-21
398 Mateus 18:20

130
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O Caminho da experiência comunitária, segundo Jesus

no meio do mundo399!
Nesse Caminho, as maiores demonstrações de fé vêm
de fora da religião. Vêm de publicanos como Zaqueu400 e
de meretrizes como a pecadora que ungiu seus pés401. Vêm
da mulher samaritana402, do centurião romano403, da mu-
lher siro-fenícia404 e do ladrão da Cruz405. Percebe-se que
tanto “malandros arrependidos” quanto “réus confessos”
podem encontrar seu repouso.
Portanto, seus discípulos são treinados a espalhar se-
mentes, a salgar, a levar amor, a caminhar em bondade e
a sobreviver com dignidade no caminho, com todos os
seus perigos e possibilidades em aberto406. Com demô-
nios, tempestades, competições entre si, certezas satâni-
cas, exageros desnecessários, medo de trair, frágeis certe-
zas de jamais trair, traição explícita, negação e morte!
E, além disso tudo, vê-se que no Caminho com ele os
ventos cessam, as ondas se abrandam, as Leis do Univer-

399 Mateus 10:16; João 17:15-23


400 Lucas 19:1-10
401 Lucas 7:36-50
402 João 4:1-42
403 Mateus 8:5-13
404 Marcos 7:24-30
405 Lucas 23:39-43
406 Lucas 10

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O Caminho da experiência comunitária, segundo Jesus

so são relativizadas407, os demônios sabem quem ele é e


quem nós somos nele408!
Jesus é o Caminho em movimento nos caminhos da
existência. E seus discípulos são acompanhantes sem hie-
rarquia entre eles409. No mais, existem as multidões, as
quais Jesus organiza apenas uma vez, e isso a fim de mul-
tiplicar pães. De resto... Elas vêm e vão... Ficam ou não...
Voltam ou nunca mais aparecem... Gostam ou se escan-
dalizam... Maravilham-se ou acham duro o discurso...
Mas Jesus nada faz para mudar isso. Ele apenas segue e
ensina a Palavra, enquanto cura os que encontra.
Não, Jesus não pretendia que seus discípulos fossem
mais irmãos uns dos outros do que de todos os homens410.
Não, Jesus não esperava que o sal da terra se confinas-
se a quatro dignas paredes de um Saleiro Comunitário411.
Não, Jesus não deseja tirar ninguém do mundo, da
vida, da sociedade, da terra, mas apenas deseja que seja-
mos livres do mal.
Não, Jesus não disse: Eu sou o Clube, a Doutrina e a
Igreja; e ninguém vem ao Pai senão por mim.

407 Lucas 8:22-25


408 Atos 19:13-16
409 Lucas 22:24-27
410 Marcos 12:28-31
411 Mateus 5:13

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Assim, na assembléia dos chamados para fora412, to-


dos se encontram com o irmão de fé e também com o
próximo que não tem fé, e todos são tratados com amor
e simplicidade.
Em Jesus, o discípulo é apenas um homem que ga-
nhou o entendimento do Reino e vive como seu cidadão,
não numa “comunidade paralela”, mas no mundo real.
A comunidade “do Caminho”
No livro de Atos dos Apóstolos, um dos modos de desig-
nar a Igreja como comunidade dos discípulos era chamá-la
de “o Caminho”, e os discípulos, de “os do Caminho413”.
Portanto, tal designação é anterior ao tempo em que os
cristãos vieram a ser “oficialmente” nomeados “cristãos”.
Paulo é o apóstolo em razão de quem essa designação
de “o Caminho” mais aparece em Atos. No início, ele
perseguia “os do Caminho”; ou, como ele também diz,
“... para levar presos os que eram do Caminho”, ou ain-
da “... este Caminho, ao qual chamais de seita...”. Ora, a
designação “o Caminho” é, no meu modo de ver, aquela
que melhor expressa o espírito do Evangelho como mo-
vimento humano no mundo. E por quê?
Primeiro, porque Jesus é o Caminho. Segundo, por-
que o chamado da fé é “hebreu”, e ser hebreu é ser al-
guém do caminho, da viagem, da peregrinação, como

412 Hebreus 13:10-14


413 Atos 19:8-9, 23; 24:14-16

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foi Abraão, o hebreu – o Pai da Fé. “Hebreu” vem da


raiz da palavra que expressa o ato de cruzar, de atravessar,
de seguir em frente. E terceiro, porque, historicamente,
um dos maiores problemas da Igreja foi o fato de que
ela deixou o mundo e, assim, deixou de ser Caminho no
chão da Terra.
Por conta disso, logo a palavra “igreja” passou a de-
signar algo geográfico, fixo, estático e imutável, e perdeu
assim sua vocação caminhante. E, por essa via, tornou-se
cada vez mais uma estrutura que vive de sua própria
institucionalização.
No entanto, a designação “o Caminho” propõe que
a Igreja seja a comunidade dos que se reúnem para ado-
rar, discernir a Palavra e ajudar-se mutuamente, mas que
não se fecham num ambiente e nem chamam o ambiente
físico de “Igreja”, posto que Igreja, de fato, é um movi-
mento de discípulos que andam no Caminho enquanto
trilham a Fé no chão desse mundo, como gente boa de
Deus na Terra!
Portanto, a referência paulina aos “do Caminho” é,
provavelmente, a melhor designação para traduzir o es-
pírito livre, desinstalado, peregrino, ajustável aos tempos
e aos desafios da jornada que o Evangelho propõe aos
discípulos de Jesus. O Caminho em Cristo, conforme as
narrativas dos evangelhos, é mais que um lugar ou um
“clube de iluminados”. Trata-se de um movimento de
subversão existencial do Reino de Deus na Terra.

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O Caminho da experiência comunitária, segundo Jesus

Por essa razão, o Caminho da Graça é feito de gen-


te desafiada a assumir seu papel de sal que se dissolve
e some para poder salgar; de fermento que se imiscui
na massa e desaparece a fim de subverter com a vida
do reino414; de pequena semente que se torna grande e
generosa árvore que a todos acolhe415; de Casa do Pai
para os Filhos Pródigos e também para os irmãos mais
velhos para que se alegrem com a Graça do Perdão416;
e um ambiente espiritual no qual até o “administrador
infiel” possa se “consertar”, e, assim, tentar fazer o me-
lhor do que restou417.
No Caminho, todos são irmãos e ninguém é juiz do
outro. Assim, ajudam-se, mas não se esmagam uns aos
outros, posto que no Caminho todos caem e se levan-
tam; todos enfraquecem, mas não desanimam; todos são
humanos, e com humanidade são tratados, conforme o
Dogma do Amor.
E o mesmo Dogma não permite abusos de uns para
com os outros, posto que o Caminho é de Graça e Per-
dão, e não a espinhenta vereda da disputa, da supremacia
e do abuso; pois a Graça jamais será a Graxa dos descom-
prometidos!

414 Lucas 13:20-21


415 Lucas 13:18-19
416 Lucas 15:11-32
417 Lucas 16:1-12

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O Caminho da experiência comunitária, segundo Jesus

Jesus nunca quis fundar uma religião418. Essa foi a ra-


zão pela qual nada foi mais danoso para a genuína fé do
que terem-na feito tornar-se uma religião entre as de-
mais. Seguir Jesus é aceitar o seu modo de ser, é assu-
mir como vida as suas palavras e é dar testemunho do
Evangelho não como uma “estratégia de evangelização”
(proselitismo e marketing), mas como a natural vocação
da Vida em Cristo419.
»» O modelo do Caminho
O que será, então, que o Senhor tinha em mente
quando disse aos seus discípulos que permanecessem em
Jerusalém até que do Alto fossem revestidos de poder420?
Jesus determinara que o poder do Espírito os fizesse
sair em desassombro pelo mundo, pregando a Palavra
da Boa Nova, ensinando singelamente os discípulos a
serem de Jesus em suas próprias casas e culturas. Desse
modo se teria sempre um movimento hebreu, crescente,
progressivo, livre, guiado pelo Espírito, e completamente
semelhante ao que eles haviam vivido com Jesus durante
o Caminho, naqueles três anos de estrada em que cons-
truíram o Evangelho ao ar livre, nas praias da Galileia,
nos desertos da Judeia, nas passagens por Samaria, nas
terras de Decápolis e nos confins da Terra.

418 João 18:36


419 Romanos 8
420 Atos 1:4, 8

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O Caminho da experiência comunitária, segundo Jesus

Tudo o que Jesus queria era que os discípulos continu-


assem discípulos e que os apóstolos fossem os servos de to-
dos, sem haver alguém maior nem menor, e muito menos
um lugar mais santo ou um centro de poder. O que sei é
que Jesus esperava que tudo quanto ele havia dito antes
acerca de como se deveria proceder, de cidade em cidade421,
fosse agora vivido como uma ação contínua, num fluxo
ininterrupto, num vai-e-vem constante, e como um poder
que nunca tivesse um trono, nem uma cidade santa, nem
um vaticano.
Alguém, com razão, diria que tal projeto não seria pos-
sível, visto que ninguém consegue viver sem um centro
de poder. Entretanto, parece que ainda não se discerniu
que o convite de Jesus é contrário a toda lógica de poder,
e não propõe nada que não seja Hoje, e não obriga nin-
guém a pavimentar o futuro de Deus na Terra mediante
a construção de alguma coisa duradoura422.
O que os cristãos precisam saber é que Jesus não era
cristão e tampouco quis fundar o cristianismo, nem mes-
mo teve interesse em algo que se assemelhasse à “civiliza-
ção cristã”, conforme a conhecemos do ano 332 de nossa
era até hoje.
Na realidade, quem entendeu o Evangelho e seu signi-
ficado sabe que o “cristianismo” se tornou uma perversão
da proposta de Cristo, transformando o Evangelho puro e

421 Lucas 10:1-20


422 Lucas 21:5-6

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simples numa religião, com dogmas, doutrinas, usos, cos-


tumes, tradições imutáveis e muita barganha com os ho-
mens, em franca e pagã manipulação do nome de Deus.
Um ateu famoso não está errado ao afirmar o óbvio: “A
religião agrava e exacerba os conflitos humanos, muito
mais do que o tribalismo, o racismo ou a política”423.
O poder dos discípulos, paradoxalmente, está em não
ter poder. E o convite para que se morra a fim de que
se tenha vida é também para a igreja, que é ansiosa para
mandar na vida e controlar o mundo. Assim, pretenden-
do “salvar” a sua vida neste mundo, a igreja não só perde
a sua própria vida, mas deixa de ganhar o mundo.
Para Jesus, o duradouro era justamente aquilo que não
se poderia pegar, nem fixar, nem pontuar, nem ser obje-
to de visitas turísticas, dada a permanência sucessiva do
arbítrio caracterizado pelo cheiro da urinas dos mandões.
O que ele queria era uma multidão de seres-sal-e-luz se
espalhando pela terra e se diluindo em sabores e luzes, que
só seriam sentidas, mas jamais se tornariam Salinas ou
Usinas de luz cristã a serem visitadas pelos curiosos424. E o
que esperava era que os discípulos fossem como o Mestre,
e que aqueles anos de Caminho não ficassem cristalizados
nas páginas dos registros dos evangelhos, mas que se tor-
nassem um modo de ser daqueles que o seguem.

423 Harris, Sam. Carta a uma nação cristã. Companhia das Letras. 2007.
424 Mateus 5:13-16

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Já o Reino de Deus é como o fermento escondido...


Até que invade e permeia toda a massa da humanidade...
Sem ninguém saber como! E sem que ninguém possa dar
glória a mais ninguém, senão ao Pai que está nos céus.
Aliás, a proposta de Jesus é tão extraordinária que a
vontade de aparecer não pode resisti-la. O sal, por exem-
plo, foi usado por Jesus como ilustração desse “desapa-
recimento” da Igreja na terra. Ele associa o sal ao sabor
e nada mais. O sal tem de ter sabor, senão já não presta
para nada! E para que o sal salgue e dê sabor, de fato, ele
tem de se dissolver nos elementos que recebem o seu be-
nefício. O sal só salga quando morre como sal visível e se
torna apenas gosto, presença, tempero, realidade e bem,
embora ninguém possa dizer onde ele está, podendo ape-
nas dizer: “Está na panela. Mas onde?”.
Já a Luz do mundo – “vós sois”! – deveria ser a ação
contínua da bondade e da misericórdia, de tal modo
que os “de fora”, ao receberem os benefícios da luz, pu-
dessem discerni-la como boas obras, e, assim, eles mes-
mos agradecessem a Deus pelos filhos da misericórdia
que espalhou pela terra.
Entretanto, o que Jesus propõe como simplicidade
total logo deu lugar às complexidades regimentais e
aos centros de poder. Mesmo dizendo “tal não é en-
tre vós”– referindo-se ao poder de governar dos reis
e autoridades –425, o que se criou desde bem logo foi

425 Mateus 20:20-28

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aquilo que era comum, não o que era completamente


incomum.
No cristianismo, Deus tem seus representantes fixos e
certos na terra – o clero, seja ele católico ou protestante –,
tem suas doutrinas e dogmas escritos por concílios de ho-
mens patrocinados por reis e tem na sabedoria deste mundo
seu instrumento de elaboração lógica de Deus: a teologia.
Desse modo, no cristianismo, “Deus” não passa de
uma “potestade religiosa” e de um poder mantido pelos
homens, posto que se acredita que, sem o cristianismo,
Deus está perdido no mundo426.
O mundo conheceu o cristianismo, mas não teve muita
chance de conhecer o Evangelho conforme Jesus e segun-
do as dinâmicas livres e libertadoras do Caminho, narradas
nos evangelhos, nas quais o único convite que existe é para
seguir Jesus. O Brasil, por exemplo, está cheio de cristia-
nismo427 e, paradoxalmente, quase morto do Evangelho.
»» O Caminho não é uma reforma!
Mas, e a Reforma? Para que serviu, então? Qual o fru-
to dela hoje? Diante do exposto, talvez não seja a hora de
propor uma Nova Reforma, tal qual alguns têm ideali-
zado? Não! Reformar a religião é ainda remendo de pano
novo em veste velha428! Buscar reformar o cristianismo

426 Atos 17:24-28


427 Mateus 7:21-23
428 Lucas 5:36-39

140
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nada muda, visto que apenas se adia o comprometimen-


to radical que o Evangelho requer!
O Evangelho não propõe uma religião, mas um Ca-
minho Existencial!
A Reforma Protestante elegeu 95 teses, arrancou os
ídolos do lugar do culto e os retirou da devoção dos fiéis,
aboliu o papado, acabou com boa parte do clero confor-
me a formatação católica e afirmou que a Graça, Cristo,
a Escritura e a Fé eram os “pilares” sobre os quais a igreja
deveria ter seus fundamentos. No entanto, a Reforma
seguiu se utilizando dos mesmos métodos de estudo e
interpretação bíblica, criando seus próprios credos, dog-
mas, doutrinas e leis morais. A Reforma transformou-se
num Catolicismo que fez Dieta.
De fato, a coragem que se demanda desta geração é
bem maior do que aquela que levou camponeses oprimi-
dos pelo papado de Roma à Reforma Protestante. Digo
isso porque, naquele caso, a mudança não era radical.
O Evangelho permaneceu “aprisionado” à Religião; e a
coragem revolucionária para se viver o processo contínuo
de conversão e de não-conformação com este mundo é
aquela que se deixa levar pelo vento do Espírito e cami-
nha pela Fé em contínuo processo de transformação429.
»» A revolução do Evangelho
Diferentemente de uma reforma, nós cremos numa
Revolução do Evangelho. A Revolução só incluirá os

429 João 3:8; Romanos 12:2

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cristãos se eles tiverem a coragem de desistir do cristianis-


mo e abraçar o supremo e seguro risco de apenas andar
conforme a revelação da Graça de Deus em Cristo, pela
fé, visto que a promessa é que o próprio Espírito sempre
haverá de nos conduzir a toda Verdade430.
A Revolução do Evangelho não se atém a nenhuma
preocupação com construção de coisa alguma. De fato,
o grande problema sempre teve a ver com a necessidade
de segurança que as pessoas dizem precisar – o que a re-
ligião ficticiamente oferece – e que as impede de apenas
andar pela fé no que Jesus já fez e consumou por todos
os homens, daí a perplexidade e a insegurança de ser dos
do Caminho.
Se quisermos algo sério de verdade, temos de saber
que isso demandará de nós uma volta humilde e sem
tradições para a Palavra, a fim de sermos completamente
lavados das tinturas com as quais o cristianismo pintou
a fé para nós.
Sei que o que digo é verdade segundo o Evangelho,
mas também sei que tal fé é incompreensível para as
mentes viciadas no cristianismo como religião431, e sei
que é desinstaladora demais para aqueles que vivem do
negócio clerical cristão432. O que creio, portanto, é que

430 João 16:13


431 1 Coríntios 2:14
432 1 Timóteo 6:3-6

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há um “Basta” de Deus em processo de eco no ar... O


Reino é dele. A Igreja é dele. O Povo é dele. E Ele mesmo
haverá de nos surpreender!
Quem, todavia, deseja “Reformar o Sinédrio”, e
pensa que esta é nossa intenção, não nos procure;
pois “reformar o Sinédrio” é sonho de fariseu; sonho
esse que Jesus nunca sonhou; por isso mesmo nunca
fez nada a respeito! Não adianta brigar contra a Po-
testade da Religião. Ela se alimenta da briga contra
ela. Sim! O ódio a alimenta e a rejeição a fortalece em
seus ódios.
Quem, porém, desejar o Novo, então, se quiser aju-
dar, que não faça mais nenhuma barganha com a reli-
gião cristã e, em contrapartida, se entregue de coração
ao Evangelho de Jesus. Que viva conforme a simplici-
dade da fé que confia que Tudo está Feito, e que não
sobrou tarefa complementar e vicária a ser realizada por
mais ninguém, nem pela igreja.
O preço que as pessoas pagam pela submissão aos
mandamentos de homens é absolutamente inconcebí-
vel433. Esta é a razão por que a maioria dos cristãos tem
apenas “apologia” doutrinária para fazer em defesa da
fé, mas não é ela mesma a grande apologia do Evange-
lho pela demonstração natural de uma existência livre e
pacificada no amor de Deus.

433 Tito 1:10-14

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Agora, posto o machado na raiz de toda árvore434, che-


gou o tempo de ser ou não ser; de abraçar o Evangelho,
ou, de uma vez, assumir que somos apenas filhos de um
híbrido, de uma “frankensteinização” que monta peda-
ços da revelação conforme a necessidade moral, social,
política, econômica e conforme o curso deste mundo435.
Desse modo, sei que sou uma voz quase solitária no
deserto.
Mas na hora em que milhares e milhões que assim
crerem passarem a viver livres conforme o Evangelho,
então, sem pai, sem mãe e sem fundador, a revolução
se estabelecerá: sem sede, sem geografia, sem dono, sem
tutor e sem reguladores da fé. Isso, todavia, só será real e
genuíno se Jesus for tudo e se o espírito do Evangelho da
Graça se tornar a única Lei da Vida.

434 Lucas 3:7-9


435 Efésios 2:1-2

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Um convite à doce revolução

O Reino é simples!
O texto a seguir expressa de modo simples o sentido
de andar na pureza e na leveza do Evangelho.
Artigo 1º – Fica decretado que agora não há mais ne-
nhuma condenação para quem está em Jesus, pois o
Espírito da Vida em Cristo436 livra o ser humano de
todo o pecado437.
Artigo 2º – Fica decretado que todos os dias da sema-
na, inclusive os sábados e domingos, carregam consi-
go o amanhecer do Dia Chamado Hoje, por isso qual-
quer pessoa terá sempre mais valor que as obrigações
de qualquer religião438.
Artigo 3º – Fica decretado que a partir deste momen-
to haverá videiras, e que seus vinhos podem ser bebi-
dos; olivais, e que com seus azeites todos podem ser
ungidos; mangueiras e mangas de todos os tipos, e
que com elas toda pessoa pode se lambuzar439.

436 João 1:29


437 Romanos 8:1-2
438 Lucas 13:10-17
439 Isaías 65:17-25; 1 Coríntios 3:21-23
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Um convite à doce revolução

Parágrafo do Momento
Todas as flores serão deesperança, pois todas as cores,
inclusive o preto, serão cores de esperança ante o olhar
de quem souber apreciar. Nenhuma cor simbolizará
mais o bem ou o mal, mas apenas seu próprio tom, pois
o que daí passar estará sempre no olhar de quem vê440.
Artigo 4º – Fica decretado que o homem não julgará
mais o homem, e que cada um respeitará seu próximo
como o Rio Negro respeita suas diferenças com o So-
limões, visto que com ele se encontra para correrem
juntos o mesmo curso até o encontro com o Mar441.
Parágrafo que nada para
O homem dará liberdade ao homem, assim como a
águia dá liberdade ao seu filhote para voar442.
Artigo 5º – Fica decretado que as pessoas estão livres
e que nunca mais nenhuma será diferente de outra por
causa alguma.Todas as mordaças serão transformadas
em ataduras para que sejam curadas as feridas provo-
cadas pela tirania do silêncio. A alegria do ser humano
será o prazer de ser quem é para aquele que o fez e para
todo aquele a quem encontre em seu caminhar443.

440 Lucas 11:34-36


441 Lucas 6:37-38; Romanos 14:10
442 2 Coríntios 3:17
443 Isaías 58:6

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Artigo 6º – Fica ordenado, por mais tempo que o


tempo possa medir, que todos os povos da Terra serão
um só povo, e que todos trarão as oferendas da Grati-
dão para a Praça da Nova Jerusalém444.
Artigo 7º – Pelas virtudes da Cruz fica estabelecido
que mesmo o mais injusto dos homens que se arre-
penda de seus maus caminhos terá acesso à Arvore da
Vida, por suas folhas será curado e dela se alimentará
por toda a eternidade445.
Artigo 8º – Está decretado que pela força da Ressur-
reição nunca mais pessoa alguma apresentará a Deus
a culpa de outra, rogando com ódio as “bênçãos” da
maldição. Pois todo escrito de dívidas que havia con-
tra o ser humano foi rasgado, e assustados para sempre
ficaram os acusadores da maldade446.
Parágrafo único
Cada um aprenderá a cuidar em paz de seu próprio
coração447.
Artigo 9º – Fica permanentemente esclarecido, com a
Luz do Sol da Justiça, que somente Deus sabe o que se
passa na alma de uma pessoa448. Portanto, cada cons-

444 Apocalipse 21:21-26


445 1 João 1:9; Apocalipse 22:1-5
446 Colossenses 2:13-14
447 Romanos 14:10-12
448 Salmo 139:1-6, 23-24

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ciência saiba de si mesma diante de Deus, pois para


sempre todas as coisas são lícitas, e a sabedoria será
sempre saber o que convém449.
Artigo 10º- Fica avisado ao mundo que os únicos tra-
jes que vestem bem o homem diante de Deus não são
feitos com pano, mas com Sangue; e que os que se
vestem com as Roupas do Sangue do Cordeiro estão
cobertos mesmo quando andam nus450.
Parágrafo certo
A única nudez que será castigada será a da presunção
daquele que se pensa por si mesmo vestido451.
Artigo 11 - Fica para sempre discernido como verda-
de que nada é belo sem amor, e que o olhar de quem
não ama jamais enxergará beleza alguma em nenhum
lugar, nem mesmo no Paraíso ou no fundo do Mar452.
Artigo 12 - Está permanentemente decretado o
convívio entre todos os seres; por isso, nada é feio,
nem mesmo fazer amizades com gorilas ou cha-
mar de “minha amiga” a sucuri dos igapós. Até a
“comigo-ninguém-pode” está liberta para ser so-
mente a bela planta que é.

449 1 Coríntios 6:12


450 1 João 1:7; Hebreus 10:19-23; Apocalipse 7:13-17
451 Mateus 22:8-13
452 Mateus 6:22-23; 1 João 4:7; 1 Coríntios 13

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Parágrafo da vida
Uma única coisa está para sempre proibida: tentar ser
quem não se é453.
Artigo 13 - Fica ordenado que nunca mais se ofere-
cerá nenhuma graça divina em troca de nada, e que o
dinheiro perderá qualquer importância nos cultos do
homem454. Os gazofilácios se transformarão em baús de
boas recordações; e todo dinheiro em circulação será pas-
sado com tanta leveza e bondade que a mão esquerda não
ficará sabendo o que a direita fez com ele455.
Artigo 14 - Fica estabelecido que todo aquele que
mentir em nome de Deus vomitará suas próprias menti-
ras, e delas se alimentará como o camelo, até que decida
apenas glorificar a Deus com a verdade do coração456.
Artigo 15 - Nunca mais ninguém usará a frase “Deus
pensa...”, pois, de uma vez e para sempre está estabeleci-
do que o homem não sabe o que Deus pensa457.
Artigo 16 - Estabelecido está que a Palavra de Deus
não pode ser nem comprada e nem vendida, pois cada
um aprenderá que a Palavra é livre como o Vento e pode-
rosa como o Mar458.

453 Romanos 12:3


454 Isaías 55:1;
455 Mateus 6:2-4
456 Jeremias 27:11-32
457 Isaías 55:8-9; Romanos 11:33-34
458 Atos 8:14-24

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Um convite à doce revolução

Artigo 17- Permite-se para sempre que onde quer que


dois ou três invoquem o Nome em harmonia, nesse
lugar nasça uma Catedral, mesmo que esteja coberta
pelas folhas de um bananal459.
Artigo 18 - Fica proibido o uso do Nome de Jesus por
qualquer pessoa que o faça para exercer poder sobre o
seu próximo, e estabelecido que melhor que a insin-
ceridade é o silêncio. Daqui para frente ninguém dirá
“O Senhor me falou para dizer isto a ti”, pois Deus
mesmo falará à consciência de cada um. Todos os ho-
mens e mulheres que crêem serão iguais, e ninguém
jamais demandará do próximo submissão, mas apenas
reconhecerá o seu direito de livremente ser e amar460.
Artigo 19 - Fica permitido o delírio dos verdadeiros
profetas, e todas as utopias estão agora instituídas
como a mais pura realidade461.
Amém!

459 Mateus 18:20; Atos 17:24


460 Hebreus 8:10-11
461 Atos 2:17-18

150
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O encontro no Caminho

Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos


ao amor e às boas obras. Não deixemos de nos congregar,
como é costume de alguns...
Aos Cristãos Hebreus 10:24-25
O que estou dizendo? Que nada valeu a pena? É claro
que não! O que estou dizendo é que o mundo ainda não
acabou, e que a cada nova geração os discípulos de Jesus
têm, outra vez, a chance de viver o Evangelho assim, sim-
ples e puro, leve e livre, dissolvido em sabores sentidos,
mas sem sede física de poder e sem qualquer mandão
entre nós.
A história não acabou ainda e a luz do mundo pode
brilhar no mundo, não como uma ação oficial da igreja,
mas como fruto da bondade misericordiosa de cada dis-
cípulo que não queira ser um agente especial da igreja,
mas apenas um filho do Amor de Deus solto nesta terra e
irmanado com todos quantos puder caminhar para me-
lhor ainda servir!
“E não nos reuniremos mais?”. É a pergunta angustia-
da de alguns.
É claro que nos reuniremos sempre! Mas tais encon-
tros não têm por objetivo centralizar as forças, organizar
as ações de poder, coordenar a produção dos “frutos” e
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O encontro no Caminho

“divinizar” a visão e a pregação do “método”, mas apenas


renovar as alegrias da fé e da esperança, fortalecer o amor
e devolver as pessoas à vida com a simplicidade do sal e
da luz. Ou seja, com sabor e boas obras462.
De minha parte, quero apenas ver os discípulos de
Jesus crescendo em vida com Deus, em amizade clara e
respeito uns para com os outros e em saúde relacional na
vida. Gente descomplicada e desviciada de “igreja” e livre
dos estilhaços das guerras fratricidas, e, assim, compro-
metidas com plantar sementes por onde for463.
O “ajuntamento” a que chamamos igreja deve ser esse
encontro, essa estação, esse lugar de bom ânimo, adora-
ção e ensino. O ideal é que tais encontros gerem amiza-
de, e que pela amizade as pessoas se ajudem; e não apenas
em razão de um espírito maçônico-comunitário ou ainda
porque se deu alguma contribuição financeira no lugar.
Não. A verdadeira igreja não tem sócios ou associados.
Tem apenas gente que se reúne e ajuda a manter tudo
aquilo que promove a Palavra na Terra. O que promove o
Evangelho deve ser sustentado e mantido com propósito
apaixonado, e o que não promove o Evangelho não deve
receber nossa energia e atenção.
Portanto, não se trata de um movimento “sacerdotal”,
intimista e fechado, mas sim de um andar profético, con-

462 1 Tessalonicenses 5:11-15


463 Marcos 4:26-28

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O encontro no Caminho

tínuo e aberto, que tem nos alegrado muito, pois, dentre


tudo, estamos também reaprendendo a chance de termos
amizades não-pagãs entre nós.
Isso porque no meio cristão, em geral, existe a for-
ma de amizade mais pagã possível. As amizades cristãs
são pagãs! Como assim? Que forma de amizade é esta? É
aquela que ama moralmente. Amar moralmente significa
amar enquanto a pessoa se comporta “como a gente”, e
não necessariamente como GENTE. Se ela for diferente
ou se tornar diferente, ou mesmo tiver um comporta-
mento diferente, mesmo que tal coisa seja apenas na área
particular e privada, nesse dia tal pessoa perderá todos os
seus “amados”, pois era amada apenas moralmente. Para
esses, o irmão é o igual e o próximo é aquele que é pa-
recido com eles. Ora, Jesus mandou amar até o inimigo,
quanto mais o diferente464!
Além disso, ele disse que amar os que nos amam e
tratar bem os que nos tratam bem é apenas um compor-
tamento pagão, posto que é assim que qualquer pagão,
minimamente, trata um ao outro465.
Jesus considerou que deveríamos buscar amar e ser
amigos do jeito do Pai Celeste, que é bom para com maus
e bons, e derrama Graça sobre todos. Acontece que entre
os cristãos, em geral, não se alcança nem mesmo o nível

464 Mateus 5:43-45


465 Mateus 5:46-48

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O encontro no Caminho

pagão. A sociedade pagã é capaz de aceitar e defender o


diferente, mas a igreja não é. E enquanto este “pequeno
detalhe” for assim, os cristãos não terão o respeito da hu-
manidade, posto que até os bárbaros os superam no trato
de uns para com os outros.
A meu ver, no dia em que prevalecer o modelo do
Caminho, conforme Jesus no Evangelho, a vida vai arre-
bentar em flores e frutos entre nós e no mundo a nossa
volta; e as pessoas serão sempre muito mais humanas e
sadias. Mas jamais antes desse dia! E nisto posso dizer que
profetizo sobre a certeza das certezas, pois é conforme a
Palavra de Jesus466. Porque, se continuar a prevalecer o
modelo de “igreja” tal qual aqui tem sido denunciado,
jamais se terá nada além do que se teve nesses últimos
dois mil anos... Nada diferente disso! E para isto, para
esta coisa, não tenho mais nenhuma energia para doar.
Mas, para a vida como caminho, ofereço meu coração
mais jovem do que nunca!
»» Para onde caminha o Caminho da Graça?
O vento sopra onde quer, não sabes de onde vem, nem
para onde vai. Assim é todo o que é nascido do Espírito.
Essas palavras de Jesus parecem nos apavorar! E por
quê? Porque ninguém quer ficar sem saber para onde
vai! E ninguém quer, de fato, confiar a vida a Deus. Por
que videntes e astrólogos têm tanta popularidade? Ora, é

466 João 13:35

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O encontro no Caminho

porque todo mundo quer saber o futuro, enquanto todo


mundo tem medo do futuro! O justo, porém, viverá a
cada dia apenas pela Fé467!
A questão, no entanto, não é saber para onde se vai.
A única coisa que interessa é a Quem estou seguindo468.
Ora, nesse caso, não se trata nem mesmo de buscar se-
guir algo visível, mas de se deixar levar pela leveza do
intangível, sem medo, e com total confiança.
Hoje em dia ninguém mais quer seguir o Vento, se
é que algum dia já se aceitou isto. Uma mente religio-
samente estruturada acaba por tentar “sistematizar” o
Vento, o Espírito e a Vida. O interessante é que Jesus é o
Caminho, e segui-lo é a própria certeza de “para onde se
está indo”, pois o alvo da jornada é Vida no Pai.
“Vós sabeis o caminho...” – disse Jesus. Eles responde-
ram: “Como saber para onde vais, sem saber o caminho?”.
Todos conhecem a resposta: “Eu sou o Caminho, a Ver-
dade e a Vida, e ninguém vem ao Pai senão por mim”469.
Ora, é aqui que mora a angústia da alma religiosa.
Depois de milênios de treinamento para pensar no Ca-
minho como Conduta, na Verdade como Doutrina e na
Vida como Performance, quem ainda sabe intuir a sim-
plicidade das palavras de Jesus? E pior, depois de pensar

467 Hebreus 10:38


468 2 Timóteo 1:12
469 João 14:4-6

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O encontro no Caminho

no Caminho como um “projeto”, na Verdade como um


“sistema” e na Vida como um “modo de ser” conforme a
religião, quem pode ainda entender o significado do cha-
mado de Jesus? E, mais desgraçadamente ainda, depois de
pensar no Caminho como o “Pacote da Salvação”, na Ver-
dade como a “Certeza dos Crentes”, e na Vida como uma
“Longínqua Eternidade”, quem consegue ainda discernir
a concreta subjetividade do chamado de Jesus Hoje?
E, só para concluir, depois de anos confundindo o
Caminho com uma “Estrada Institucional”, a Verdade
com a “Teologia” e a Vida com a “Disciplina da Igreja”,
quem ainda pode, apenas de leve, perceber o convite de
Jesus para segui-lo no Caminho, sendo levado pelo ven-
to, seja andando em Verdade no ser e experimentando
a Vida na vida?
Não! Nós queremos um mapa, um sistema, uma estra-
tégia, um planejamento de curto, médio e longo prazo.
Queremos saber como acontecerá: “Qual a estrutura que
nos governará? Quais os sistemas que nos conduzirão?
Quais os objetivos concretos a serem declarados? E que
organização terá?”.
Para mim, se discirno com alguma correção o Evan-
gelho, o espírito é outro. Jesus nunca organizou muita
coisa, a não ser chamar doze homens para estarem mais
próximos dele470, reunir a multidão em grupos a fim de

470 Marcos 1:14

156
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O encontro no Caminho

repartir o pão471, e enviar alguns antes dele a fim de faze-


rem preparativos específicos472. No mais, nada mais!
Não andeis ansiosos473 quanto ao vosso ministério,
pois a vida é mais que o ministério. “Não vos preocupeis
com o que haveis de falar, pois o Espírito vos concede-
rá474”, “eis que vos envio como ovelhas para o meio de lo-
bos475...”. E ele lhes deu NADA como armadura, exceto a
simplicidade do poder que vem da Graça.
Tudo que diz respeito ao Evangelho que surge com a
pretensão de ser uma organização já nasce moribundo. A
vitalidade do Evangelho está em se deixar conduzir pelo
Espírito, conforme a verdade da vida e a vida na verdade.
Portanto, para mim, o melhor governo é o menor possível;
o melhor modo é o mais simples; a melhor forma é aquela
que serve à vida; e o melhor meio é aquele que vai sendo!
Eu creio que a sabedoria do Caminho é deixar que o
vinho designe o odre e deixar que o pano determine a
melhor veste para ele. E mais, é saber que o Vinho Novo
sempre haverá de demandar, a cada momento ou gera-
ção, o odre apropriado; e que a Veste Nova haverá de ser
combinada com o feitio que lhe for próprio.

471 Lucas 9:11-17


472 Marcos 14:12-16
473 Mateus 6:25
474 João 14:26
475 Mateus 10:16

157
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O encontro no Caminho

Assim, as formas servem às essências, e não o contrá-


rio! Para andar no Caminho deve-se desistir do modelo
industrial, ou da montagem em série, ou da franquia,
ou do modelo pré-fabricado, ou de toda fixidez de for-
mas, com suas Constituições e Regimentos, sejam es-
critos ou subentendidos, visto que todas essas coisas só
servem para agarrar-se às paredes do visível, para apli-
car fórmulas de sucesso ministerial conforme o Mundo,
para instituir hierarquias engessadas e para nos proteger
uns dos outros.
E não haverá formas e governos eclesiais? Ora, nin-
guém que viva no tempo e no espaço pode crer que as
formas sejam evitáveis. Nossa dimensão precisa de for-
ma: tempo e espaço produzem formas. Porém, quem deu
forma aos mares, às montanhas, aos rios, às florestas, aos
desertos, aos vales e à vida? Por que não se pode confiar
que aquele que fez isso em rocha, pedra, areia, poeira,
vegetação e todas as demais coisas também pode dar for-
ma ao que também é de sua criação no coração humano,
conforme a necessidade de cada geração?
No que depender de mim, o Caminho da Graça con-
tinuará a caminhar conforme a água. Alguém já viu a
água ter algum problema com a forma? Não! A água se
serve de todas as formas. As formas servem à água, não a
água às formas!
O espírito da caminhada é a simplicidade. Há um
só Pastor. Há um só Guia. Há um só Mestre. E a ele,
158
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O encontro no Caminho

conforme os princípios do Evangelho, nós todos segui-


remos476. E orientadores e supervisores servem apenas
para manter as formas a serviço da essência, sem nun-
ca maculá-la, pois nossa segurança está na essência do
Evangelho. Onde quer que esse espírito do Evangelho
tenha prevalência, todas as boas formas lhe prestarão
serviço, mas jamais se tornarão um fim em si mesmas.
Serviu, serve; não serviu, então já não serve. E a única
coisa que não serve mesmo é atrofiar a Palavra para
que ela fique conforme a forma e a “forma”.
Ora, se um dia tivermos presbíteros, saiba: eles não se-
rão fiscais da vida e nem senhores da doutrina, mas gente
da misericórdia e da paz. Se tivermos diáconos, saiba:
eles não serão porteiros de reunião, mas pessoas que só
serão servos se servos forem na vida. No entanto, muitas
vezes, a melhor maneira de não matar a vida espontânea
é não batizá-la de modo oficial.
Criar muitas e muitas formas de governo não é difícil.
E há muitas roupas de grife se oferecendo como modelo
para a vestimenta do pano novo. Mas é disso que fujo.
No que nos diz respeito, o Espírito conduzirá as coisas
conforme a pertinência. E nisto, também, o justo terá de
se alegrar na aventura da fé.
A questão do Caminho como lugar é simples: por que
a gente apenas não se reúne com alegria singela, não ex-

476 Efésios 4:1-7

159
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O encontro no Caminho

perimenta o amor que liberta, não goza o privilégio da


simplicidade, não se alimenta da Palavra, e não volta à
vida cheios das Boas Novas para contar ao mundo?
Por que a gente não faz do lugar só um lugar? Lugar
onde se faz um pouso, uma estação de bom ânimo e re-
vigoramento da fé e que abasteça a vida na troca e minis-
tração dos dons?
Já somos, em muitos lugares, um “pouso” para quem
pede. E quando digo “somos”, apenas digo que os que
se designam “do Caminho” são apenas discípulos de Je-
sus que se encontram em torno da mesma percepção do
Evangelho.
Uma “Estação” do Caminho é uma paragem para os
peregrinos. O Caminho não é na Estação; é na estrada, é
na pluralidade da existência, é em meio a tudo e a todos,
é nas portas do inferno. A Estação é um pouso rápido,
um pernoite; ou, no mundo moderno, nem mesmo isso,
posto que “estar na estação” – num metrô, por exemplo –
é coisa tão rápida que a pessoa quase nem chega a “estar”.
Não temos, todavia, a aflição das estações de metrô.
Preferimos as Estações das estadas andantes, antigas ou
primitivas, nas quais a Estação era apenas uma “ramagem”
na beira da estrada. Ou apenas um lugar comum onde os
peregrinos, os hebreus do caminho, se encontram.
Quanto ao senso de “grupo”, no Caminho ele não
existe como tentativa de separação do mundo. Existe
apenas o senso de unidade na fé, em meio à pluralidade
das muitas expressões humanas.
160
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O encontro no Caminho

O fato é que a mentalidade da “igreja” sempre foi a


de criar uma “sociedade paralela” com todas as formas de
governo secular (e hoje empresarial) a fim de que alguns
sejam donos do processo, controladores do povo, gover-
nadores de Deus e xerifes da santidade. A “igreja” quer
tirar as pessoas da vida e do mundo, criando um viveiro
de doentes e arrogantes.
O Caminho do Evangelho, porém, não é assim! Não
é477! Nele, as pessoas não fogem do mundo e nem da
vida. Nele não tem de haver governadores e nem prínci-
pes. Nele, confia-se na Soberania de Jesus e na efetivida-
de de seu poder. Nele, cada pessoa é uma testemunha no
mundo, não um militante de um partido eclesiástico. É
dessa mentalidade que queremos estar longe!
E quanto ao futuro? Ora, amigos de caminhada, se já
não temo a morte, por que haverei de temer o futuro? O
Senhor nos guiará se nós não tentarmos guiar o Senhor!
Aonde vai dar esse caminho? Já deu no Pai. E nos con-
duzirá a cada dia no caminho da pacificação!
Assim, sirvo a Deus Hoje, e não vivo a neurose de
como será amanhã. Não sofro dessa ansiedade. Hoje, to-
davia, há milhares de filhos de Deus que andam disper-
sos. Quem está feliz onde está, deve ficar onde está. Ape-
nas proponho que os que parecem não caber em lugar
nenhum, ou os que amam a Jesus, mas justamente por

477 Lucas 10:3; João 17:15; 1 Coríntios 5:9-10

161
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O encontro no Caminho

isso não suportam a convivência religiosa – conforme ela


se tornou –, que não se sintam “desviados”, que não se
tornem solitários e que se ajuntem, que se reúnam, que
se encontrem, que se fortaleçam na fé, mutuamente; e,
sobretudo, que ensinem o Evangelho uns aos outros. E
que saiam para a vida, para toda ela, por todo o mundo,
qualquer mundo, até os confins de qualquer fim de terra.
E que, indo, preguem, testemunhem e façam discípulos
de Jesus478, ensinando a eles que o lugar onde se serve a
Deus é no mundo, e que o lugar chamado Igreja é qual-
quer lugar onde dois ou três se reúnam em Seu nome, até
numa “Estação do Caminho” ou em qualquer estação,
com ou sem nome, desde que seja um lugar de refrigério,
acolhimento amoroso e manifestação do Poder de Deus,
em meio aos dons espirituais.
Há certas coisas que só são provadas se são provadas
e se fazem provadas, ainda que para alguns pareçam im-
prováveis. É bom, todavia, que se saiba que o Evangelho
é apenas para gente que crê no impossível479.
Por fim, pensem em Abraão, que saiu, e foi sem saber
para onde ia. Daí Deus ter considerado que ele era um
amigo. A grande recompensa da confiança é a amizade de
Deus480! Se alguém ouvir e crer, e levantar-se para a Vida
em nome de Jesus, esse é membro da Doce Revolução!

478 Mateus 28:18-20


479 Lucas 1:37, 18:26-17
480 Hebreus 11:8; Tiago 2:23

162
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O Caminho versus a instituição

Não carregamos alguma espécie de fobia institucio-


nal, como se o simples fato de desviar-se da instituição
promovesse o Evangelho. Não é o caso. Toda instituição
que existe para servir aos homens é boa e útil. Porém,
quando demanda que os homens existam para mantê-la
e servi-la como finalidade, torna-se demoníaca e instru-
mento do congelamento das almas humanas.
Penso que a instituição é sempre algo como o Sábado
nas narrativas do Evangelho: pode ser dia de descanso
ou pode ser dia de prisão, juízo e morte. Assim como o
Sábado foi feito para o homem e não o homem para o
Sábado481, também a instituição existe para servir ao ho-
mem, e não o homem à instituição. Sim, o institucional
nos serve.
Reconhecimento e afinidade geram instituição. Institui-
ção é fruto da convicção em comum. Onde quer que
pessoas se encontrem em razão de uma convicção em
comum, ali há uma instituição, mesmo que seja nos en-
contros do bar da esquina.
Ora, nesse sentido, até o espaço virtual do portal
www.caiofabio.net, pela convergência de milhares de pes-

481 Marcos 2:23-28


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O Caminho versus a instituição

soas que a ele se ligaram pela convicção e em razão de


cuja convergência veio a surgir naturalmente o Caminho
da Graça, é também uma instituição.
Parece tudo muito simples de entender, mas a história
mostra como o poder de perversão humana é facilmente
exposto quando a instituição se instala em nós com I
maiúsculo. É assim em todos os níveis sociológicos e,
naquilo que nos interessa aqui, também é assim no cris-
tianismo protestante do qual descendemos. Ora, isso vai
das formalidades e das politicagens dos concílios e das
convenções denominacionais e ministeriais até as mais
cretinas formas de perversidade praticadas em nome de
Jesus, feitas de intrigas, tiranias, perseguições neuróticas
e invenções mirabolantes que tiram a simplicidade do
Evangelho e pervertem o sentido de ser evangélico.
Por isso, minha luta nunca foi contra a instituição, pois
tal luta é tão inglória e tola quanto correr da própria som-
bra. Minha luta sempre foi contra a institucionalização.
A instituição deve ser fruto do que é. Já a institucionaliza-
ção põe o que é a serviço de algo que já não é, posto que
apenas um dia foi. Como assim?
O princípio do Evangelho acerca do que se institui
pela realidade e necessidade, em contrapartida àquilo que
um dia foi e hoje já não é, nos é apresentado por duas
imagens: a dos odres velhos e dos novos e a da veste velha e
do pano novo482. A instituição é validada pela sua relevân-

482 Lucas 5:36-39

164
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O Caminho versus a instituição

cia e pelo seu significado real para a vida hoje. Instituição


é um ente vivo se é feito de gente e para gente! Mas insti-
tucionalização é o esforço presente por manter o passado e
suas regras humanas de ontem válidas para hoje, mesmo
que ninguém consiga ver a sua significação. Logo, é só a
ditadura dos defuntos483.
Assim, o pano novo e o vinho novo correspondem à ins-
tituição do que é – do que é necessário e do que é verda-
deiro e sincero com a realidade. Do mesmo modo, a veste
velha e o odre velho, com seu vinho velho, correspondem à
institucionalização.
Jesus disse que era para não se tentar instituir o novo no
velho instituído, pois jamais haveria compatibilidade. Já
o que se faz instituído como algo fixo (institucionaliza-
ção) deseja vestir para sempre as pessoas com as vestes de
ontem e almeja que cada nova geração goste do mesmo
vinho produzido num ontem eterno. Assim, o que antes
fora vinho novo, tendo sido condicionado por um odre de
imutabilidade, pode hoje já não ser nada, além de vinagre.
E o perigo é esse: beber vinagre como quem bebe vinho!
O Evangelho imutável é o Vinho, e o resto tem a ver
com o tempo, com a hora, com a ocasião. Só que nós,
cristãos, acabamos institucionalizando o Odre, e o Odre
ganhou uma importância tão grande que a gente briga,
mata e morre pelo Odre, mas são poucos os que estão
interessados na qualidade do Vinho.

483 Lucas 9:59-60

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O Caminho versus a instituição

Saibam todos: é por ter entregado a alma à “Institu-


cionalização”, e as instituições a gente sem alma, que a
“igreja” carrega as mazelas desse estado de ser. A lei, o or-
gulho, a vaidade, o mercado, a vanglória, a fama, o culto
à imagem, o comportamentalismo, a superficialidade, o
formalismo, os ciúmes, a picaretagem, a fixação no con-
trole das pessoas, as jogadas políticas, a venda de votos,
as negociatas e a grotesca hipocrisia tornaram os evangé-
licos insuportáveis até para os evangélicos mais sensíveis!
Portanto, algumas coisas precisam ficar claras:
Não é a instituição que tem o poder de matar as coi-
sas, mas sim o coração que se deixa fixar pela Institui-
ção, fazendo da existência dela um fim em si mesmo – a
Institucionalização da Fé! Basta, entretanto, um cora-
ção se sentir superior, alguém se sentir dono histórico
da casa, sendo sempre um ser mais importante do que
os que forem chegando depois, então tudo se perverte!
Eu estou me referindo àquelas tentativas de ir fazendo
pequenas leis que não são da Palavra, mas que vamos
chamando de “sabedoria” no início. Depois muda: “É o
nosso costume”. Em seguida se torna: “É o nosso modo
de ser”. E, então, quando os que começaram já não es-
tão, a gente diz: “Não era assim que se fazia” ou “não
podemos mudar como era. Se mudar nós perderemos a
nossa identidade”484.

484 Mateus 15:1-9

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O Caminho versus a instituição

Se mantivermos a alma no Evangelho, com o software


da graça e do amor rodando na mente o tempo todo,
com a consciência simples, andando no Senhor Jesus,
tratando uns aos outros como irmãos – sem se impo-
rem, sem evocarem pedigree, sem dizer “Eu cheguei aqui
primeiro”, sem ficar auditando uns aos outros, sem fi-
car fiscalizando uns aos outros, sem ficar impondo suas
próprias decisões pessoais e particulares como sendo leis
comunitárias para o outro –, então não há perigo algum!
Não há perigo se o que está instituído é apenas uma
referência histórica para o momento de hoje, não sendo
o teto, nem a parede, nem o chão do movimento, mas
apenas o tabernáculo da viagem, a tenda que se arma
enquanto se caminha, e a Estação da jornada.
Não há perigo se cada um de nós souber que o único
poder de institucionalizar a coisa é aquele que procede de
nós. Porque a instituição como mal e como finalidade só
pode acontecer em gente. São as pessoas que projetam o
que neles está instituído como algo que a instituição será,
com a soma dos interesses e das divisões da média pon-
derada dos associados e dos interessados na manutenção
desse ente. Mas o ente institucional, em si, não é nada.
Ela, a Instituição, não acorda e diz: “Bom dia!”. Ela não
lhe dá boa noite. Se o seu pai morrer, a instituição não
lhe diz: “Sinto muito, de todo coração”. Se o seu filho
nascer, ela não o aplaude. Agora, se o seu filho morrer
e ela for solidária, não foi ela que foi solidária; é porque
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O Caminho versus a instituição

tem gente lá dentro que se solidarizou. E ela não existe,


só existem pessoas. Portanto, o grande mito a se acabar
é essa coisa de que se tiver CNPJ, conta bancária, um
nome ou logotipo, aí institucionalizou-se! Um logotipo
não vira Instituição. Razão social não vira Instituição.
Conta bancária não vira Instituição. Em nosso tempo,
para que um encontro comunitário seja legalizado e au-
ditável tem de ser institucional. Mas não há problema
nisso, porque eu tenho CPF, RG, título de eleitor, ates-
tado de reservista, certidão de casamento, passaporte e
continuo não-institucionalizado. Eu sou “eu” todo dia.
Desse modo, digo: o Caminho da Graça é uma insti-
tuição pelo simples fato de milhares de pessoas – seja pelo
site, seja em razão dos encontros nas dezenas de grupos
e Estações – afirmarem sua convergência de convicção nas
mesmas coisas, confessando os mesmos objetivos no Evange-
lho, e que estão, de modo relativo e secundário, expressos de
forma atualizada nos conteúdos que publicamos.
Entretanto, o principal conteúdo do Caminho da
Graça é sua disposição de existir em metanóia, no per-
manente encontro entre a Palavra e a Existência485.
Assim se espera que o processo de se converter ao novo
não cesse jamais, conforme a revelação do Evangelho,
o qual é Palavra viva, e se re-atualiza a cada nova rea-
lidade ou geração.

485 2 Coríntios 4:16; Efésios 4:22-24

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O Caminho versus a instituição

Saiba-se, contudo, só uma coisa a mais: eu já tomei


atitudes deliberadas que puseram abaixo algo que era
considerado “muito importante” para milhões; e isso
porque eu senti que estava traindo o Chamado de minha
existência como homem. Assim, por que achariam que
eu tenho dificuldade em ver acabar qualquer coisa que
eu tenha ajudado a construir? Não! Não tenho nenhum
compromisso com perdas, padrões de um dia ou com a
manutenção do que um dia foi bom. O que é de Deus,
sempre é Hoje!
Eu creio que tudo aquilo que vira um fim em si mes-
mo precisa ser destruído. Sim, qualquer coisa. Ou seja,
no Caminho nada é erguido para ser um fim em si mes-
mo. Se assim for, bem-aventurado é todo aquele que o
puser abaixo. Afinal, é assim, ou deveria ser assim, com
todas as coisas debaixo do sol.

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O Caminho da Graça – uma


denominação evangélica light?

Muita gente pensa que criei uma denominação evan-


gélica light em razão do surgimento do Caminho da Gra-
ça. Mas não poderiam estar mais enganados em seus jul-
gamentos.
O Caminho da Graça não é uma “denominação re-
ligiosa”. Apesar da inevitabilidade da instituição, nosso
modo de ver e sentir a experiência da fé não tem qual-
quer outra referência absoluta senão o Evangelho em sua
simplicidade. Fugimos de tudo aquilo que signifique o
“emolduramento” da experiência do tempo presente,
evitando a tentação de que a experiência de hoje se torne
perene nas formas e nos modelos quando estes já não
forem pertinentes ou próprios em outra geração, tempo
ou realidade.
Hoje mesmo, cada Estação do Caminho da Graça já
tem sua identidade e modos próprios, conforme a cul-
tura e sensibilidade das pessoas do lugar. No Caminho
da Graça, os formatos e modos são tão variáveis quanto
variáveis são as realidades que culturalmente nos cons-
tituem. Os odres e as vestes são circunstanciais e gene-
racionais. O Evangelho – essência vital – é que nunca
precisa mudar, nunca necessita ser adaptado aos sabores
de novos conteúdos, posto que a essência da Palavra é
imutável em seu espírito.
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O Caminho da Graça – uma denominação evangélica light?

Assim, que ninguém veja o Caminho da Graça como


uma nova denominação evangélica light, pois, no que nos
diz respeito, buscamos o compromisso com uma forma
permanente de mudança conforme a Palavra e o Espíri-
to nos convençam em relação à realidade de hoje ou de
qualquer outro tempo posterior a este.
A Videira486 Verdadeira – ele, que é o Evangelho Imu-
tável – nos dá o Seu Vinho Novo a cada nova geração.
Cabe a nós ter a coragem de trazermos odres novos, assim
como cabe a nós vencer a tentação do remendo de pano
novo em veste velha. O que se espera é que tão-somente
nos vistamos com a nova vestimenta, feita do pano novo
da Graça de Deus em nossa geração.
O Caminho da Graça é a simples busca de viver o
Evangelho com tal consciência entre os homens. Nada
mais e nada menos do que isso!
Portanto, se o que você aqui ler for algo que receba o
testemunho interior do Espírito Santo como sendo ver-
dade conforme o espírito do Evangelho, então se una
àqueles que desejam apenas andar conforme o chama-
do original dos “do Caminho” neste mundo. Foi para
isso que nele fomos transportados da fixidez do Império
das Trevas e plantados no chão vivo e móvel do Reino do
Amor de Deus487.

486 João 15:1


487 Colossenses 1:3

172
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O Caminho da Graça – uma denominação evangélica light?

O grande dano que a Institucionalização realizou na


história da igreja foi transformar o cristianismo na mes-
ma “coisa” que o judaísmo do primeiro século significou
para o Evangelho como Novidade. Como assim?
Ora, Deus não tem compromisso com a manuten-
ção de instituições que se entendem representantes de
seus interesses na Terra. Não. Ele não veste as camisas de
nossos times eclesiásticos e nem carrega o orgulho besta
de pertencer a qualquer estrutura denominacional. Deus
não tem espírito de seita!
O Evangelho de João registra a profundidade do pro-
blema de “ser e pertencer a” com as seguintes palavras:
Veio para os seus, mas os seus não o receberam, mas a
todos quanto o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus, a saber: os que crêem no seu Nome488.
Pensemos: Se quando ele veio para os que eram na-
turalmente “os seus” na Terra (os judeus, descendentes
da promessa feita a Abraão), esses tais nem sequer o re-
conheceram, por acaso Deus manteve-se limitado a eles
na manifestação histórica do seu amor? Não. Aqueles
que “o receberam” – os quais também dele “receberam
o poder de serem feitos filhos de Deus” – são vistos
por João como sendo todo e qualquer ser humano que
acolhe Jesus com a gratidão de quem “foi feito”, posto
que “não era”.

488 João 1: 11,12

173
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O Caminho da Graça – uma denominação evangélica light?

Assim, esses são porque sabem que não mereciam te-


rem se tornado. Ou seja, quando quem era creu que era
tanto que não poderia deixar de ser (o Israel histórico),
então não O reconheceu. E quando aqueles que não
eram passaram a ser, assim foi porque aceitaram a oferta
da Graça como quem recebe aquilo que não merece, po-
rém crê no poder da promessa feita por aquele que nos
chamou de filhos.
Desse modo, a Igreja de Jesus Cristo é feita dos que
“O receberam” (não sendo naturalmente “os seus”), os
quais, por esta razão, não apenas receberam “o poder de
serem feitos filhos de Deus”, mas também se tornaram
“o Israel de Deus”, e contra ela as portas do inferno não
resistirão.
Ora, o verdadeiro “Israel de Deus” é feito de gente
que se vê como aqueles que não deveriam ser, pois, no
momento em que julgam que são, e creem que esse é
um estado cristalizado, nesse mesmo momento deixam
de ser. De modo que, fazendo um paralelo com o prin-
cípio do texto, os cristãos, supostamente “seus” – sejam
católicos, ortodoxos, protestantes ou o que for –, podem
assumir, no tempo presente, a correspondência exata da-
quilo que os judeus significaram para o Evangelho no
primeiro século.
Veja se não é assim: a religião prega que “os seus” que
não O recebem são todos aqueles que ouvem a mensa-
gem da “igreja” acerca de Jesus e não O aceitam como
Salvador; portanto, não aceitando também serem mem-
174
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O Caminho da Graça – uma denominação evangélica light?

bros da “igreja”, decisão essa que se tornou a única prova


real de que alguém pertence a Jesus!
De acordo com esse ponto de vista, fora da religião
ninguém é feito filho de Deus! E quem não é membro
está “desviado dos caminhos do Senhor”; posto que tais
caminhos devem passar pelo grupo religioso que julga
“possuir” Deus!
É assim que a cultura da religião pensa! Não é de ou-
tro modo! E por carregar a pretensão orgulhosa de pos-
suir um pedigree genético, tal instituição, sem saber, passa
a fazer parte do grupo com potencial para “não o reco-
nhecer” Hoje.
No Caminho da Graça, todavia, sabemos que Deus
não é evangélico (e nem qualquer outra coisa) e que
Seu compromisso no mundo não é com a religião. No
Caminho da Graça, ninguém vai simplesmente vi-
rar “evangélico”, mas todos serão estimulados a serem
Evangélicos naquilo que de mais simples e profundo tal
definição possa incluir: Ser Evangélico é ser do Evange-
lho. É conhecer a Jesus no espírito, conhecer o espírito
do Evangelho, e, no poder e na liberdade no Espírito
Santo, experimentar o Evangelho como supremo bene-
fício para a vida.
Quem busca a renovação do entendimento confor-
me o Evangelho, esse é Evangélico. Mas quem busca a
conformação da mente à “igreja”, esse não é Evangélico.
Inclusive, sou evangélico porque sou do Evangelho. E
não sou “evangélico” pela mesma razão.
175
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O Caminho como atalho

Uma franca advertência


Os dias são maus. O mundo perece aos nossos olhos,
e o cristianismo encarna o pior das profecias de apostasia
feitas nas escrituras (nos Evangelhos, nas Cartas Apostó-
licas e no Apocalipse).
Não estamos aqui para lamentar enquanto assistimos.
Estamos aqui com a loucura de desejar encher o Brasil e
o mundo com a Palavra da Graça do Evangelho de Jesus.
Quando iniciei com alguns amigos o Caminho da Gra-
ça no Brasil, não foi como “alternativa” aos “evangélicos”.
Jamais faria ou começaria algo “alternativo”. Não conhe-
ço “evangelho alternativo”, mas tão-somente o Evangelho
Único e Absoluto. “Evangelho alternativo” é o que Paulo
chamaria de “outro evangelho”, e que já foi maciçamente
denunciado nestas páginas como um espírito e uma cul-
tura fortemente presente na cristandade contemporânea.
Denunciar sem nada propor é denuncismo e levian-
dade! Nosso Chamado não é para desconstruir nada e
nem para colocar abaixo coisa alguma! São os mortos que
sepultam seus próprios mortos. Nós anunciamos a Vida
e a Ressurreição dos que creem!
Entretanto, muita gente se sente “solidária” ao Cami-
nho da Graça como movimento humano apenas e sim-
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O Caminho como atalho

plesmente porque tiveram um “trauma evangélico”. Al-


gumas dessas pessoas se aproximam das nossas iniciativas
motivadas pela força da amargura, do criticismo, da des-
confiança e do cinismo! Nada poderia ser pior, pois os tais,
na maioria das vezes, só pretendem fazer um “caminho
paralelo” à igreja. Desejam um atalho para “não dar o bra-
ço a torcer” e nem decretar a total falência de seus costu-
mes de fé ou mesmo para “mandar um recado” para seus
rivais, vivendo como quem pleiteia uma Reforma Eclesi-
ástica, como quem adere ao Sindicato da Desconstrução!
As razões são as mais diversas. Alguns vêm porque têm
no espírito a necessidade de somente ficarem se forem
“convencidos”. (Alguém viu Jesus tentando convencer
quem quer que fosse a andar com ele?) E dificilmente
o serão. A maioria aprende, aprende, mas jamais chega ao
conhecimento da verdade489. Tais pessoas estão viciadas em
discussões infrutíferas que a nada levam! Aparecem por-
que gostam de provocar discussões e debates que para “os
do Caminho” já não existem.
Há também os que chegam porque desejam “refor-
mar” o Caminho da Graça a fim de que ele fique no lim-
bo: entre os “evangélicos” e o Evangelho. Ou seja: sem
consequências para a vida!
De fato, toda vez que aparece no Caminho da Graça
um “líder evangélico” que só está magoado com seus

489 2 Timóteo 3:1-7

178
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O Caminho como atalho

irmãos, no melhor dos casos, ou com seus “comparsas”


na pior hipótese, sei que teremos problemas. Sim, por-
que para eles ou somos de-mais ou de-menos. O fato é
que gostariam que fôssemos um híbrido conforme os
desejos deles. Porém, não somos e nem seremos. Assim,
não temos nada a fazer com o fermento dos fariseus (re-
ligião das máscaras) e nem com o de Herodes (política
e manipulação)490!
O Caminho da Graça é para ser mentoreado, orien-
tado e servido por gente do Caminho de Jesus que está
buscando de modo social e comunitário aquilo que já crê
de modo individual e existencial.
Também quero dizer que o Caminho da Graça não
é lugar para quem busca “moda”. Não! Ele é apenas
um caminho-modo-de-ser. “Moda” é coisa de quem, à
semelhança dos atenienses, de nada mais cuidam senão
de saber das últimas novidades491.
O Caminho da Graça não tem nada novo, mas
tão-somente o antigo-novo mandamento ensinado
por Jesus. Para esses outros, que sempre querem no-
vidades, se lhes oferece algo simples, lhes parece tão
inacreditável que eles têm de já chegar duvidando.
E fico vendo o pessoal ir e vir... Se embalando na falta
de raiz e de convicção. Borboleteando... Sem compreen-
der nada de nada.

490 Marcos 8:13-21


491 Atos 17:21

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O Caminho como atalho

Ora, já que a nossa questão nada tem a ver com nú-


meros, mas com Entendimento Espiritual; e como so-
mos alegres, mas terrivelmente sérios com o que esta-
mos fazendo, aos que entenderam, digo que apareçam.
Entretanto, se não for o caso, leiam antes a Palavra e a
confiram com o que está dito no site e nos livros, e, se
houver acordo, venham – e nos ajudem! Do contrário,
peço encarecidamente que não tentem mudar aquilo que
está mudando, pela verdade, o coração de milhares.
O site não é o Evangelho do Caminho da Graça. O
Evangelho é Jesus. É conforme o Evangelho que o Cami-
nho da Graça está caminhando feliz e em paz!
O Caminho é Estreito; e no Caminho da Graça amamos
essa estreiteza. Sim, porque nele e por causa dele não se en-
tra, a menos que se tenha deixado a bagagem toda para trás:
toda justiça própria, toda malícia religiosa, todo espírito de
fofoca e toda certeza de juízo contra o próximo. E mais,
não estou convidando ninguém a fazer isso, mas apenas di-
zendo “Vem e vê” àqueles que já querem e desejam o que,
no Caminho de Jesus, há em abundância e no Caminho da
Graça há como esperança: a possibilidade de uma vida em
amor reverente para com o próximo em razão do entendi-
mento da Graça nos haver simplificado a vida com Deus.
Enquanto isso os “publicanos e pecadores” estão vin-
do, ouvindo e se convertendo, e a salvação tem entrado
em suas casas; mesmo no lar dos “Zaqueus” de Brasília492.

492 Lucas 19:1-10

180
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A Esperança como Caminho

Tendo dito tudo o que disse com absoluta franque-


za com o que creio. Sei que pareço insano para alguns,
pretensioso para outros, ou ambas as coisas e mais al-
gumas. Sei que provoco o “ranger de dentes” dos mal-
-intencionados e certa angústia nos homens de bem que
zelam pela Ética Religiosa e pela manutenção das coisas
com medo do seu desmonte gerar rupturas e fissuras nas
hierarquias sacralizadas. Não nasci ontem. Conheço os
mecanismos de poder dos quais a “igreja” se alimenta. E
também sei que apenas um punhado mínimo de pessoas
tem a coragem que o Evangelho do Reino requer para
abrir mão do poder e para liderar, pela simplicidade e
pelo amor que a todos serve, sem lucros ou vantagens
pessoais e sem tronos a nos acolher em honras.
Quem, no entanto, tiver tal coragem, esse conhecerá
o significado do poder que nasce da fraqueza – que, aliás,
é o único poder que Jesus quer ver sendo vivido pelos
seus discípulos493. Esse é o meu convite. Espero que pelo
menos alguns poucos entendam e creiam. Todavia, carre-
go a esperança de que o Espírito ainda “converta os cris-
tãos” à consciência da Graça, para que aquilo que hoje
chamamos de cristianismo seja ainda liberto do poder

493 2 Coríntios 12:7-10


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A Esperança como Caminho

diabólico que o invadiu. Do contrário, talvez o Senhor


chame por outro nome o seu povo; ou, mais provavel-
mente, por nome nenhum.
Com Paulo também me ponho de joelhos, pois, em
meu coração, amo a mesma realidade-humana-redimida
que ele chamava de família de Deus:
Por esta causa, me ponho de joelhos diante do Pai,
de quem toma o nome toda família, tanto no céu
como sobre a terra, para que, segundo a riqueza da
sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos com
poder, mediante o seu Espírito no homem interior;
e, assim, habite Cristo no vosso coração, pela fé,
estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim
de poderdes compreender, com todos os santos,
qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a
profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que
excede todo entendimento, para que sejais toma-
dos de toda a plenitude de Deus.

Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamen-


te mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos,
conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja
a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as
gerações, para todo o sempre. Amém!494

494 Efésios 3: 14-20

182
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O Evangelho nas Escrituras e


as Escrituras no Evangelho

Jesus, a Chave que abre as Escrituras


Cristo é o Mestre, as Escrituras são apenas o servo. A
verdadeira prova a submeter todos os Livros é ver se eles
operam a vontade de Cristo ou não. Nenhum Livro que
não prega Cristo pode ser apostólico, muito embora seja
Pedro ou Paulo seu autor. E nenhum Livro que prega a
Cristo pode deixar de ser apostólico, sejam seus autores
Judas, Ananias, Pilatos ou Herodes.
Martinho Lutero
Os evangelhos são narrativas históricas das ações e
acontecimentos relacionados a Jesus, bem como de suas
Palavras. O Evangelho, todavia, é um espírito. Os evan-
gelhos são o corpo. O Evangelho é o espírito no corpo.
Para muitos, os evangelhos são apenas narrativas. Para
outros, eles são palavras inspiradas. Para muito mais gen-
te ainda, eles são apenas palavras mágicas. E para a maio-
ria, eles são somente os quatro primeiros livros do Novo
Testamento, sendo, portanto, parte da Bíblia Sagrada.
Todavia, o Evangelho é espírito e vida. Deus é espí-
rito, e, portanto, suas palavras são espírito e vida, pois
carregam o poder da Verdade Absoluta e produzem vida
aonde quer que cheguem495. Para melhor entender, su-

495 João 6:63


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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

ponha que os evangelhos não tivessem sido escritos. De-


certo, sabemos que ainda assim haveria um Evangelho a
ser anunciado até os confins da Terra como Boa Notícia,
visto ser o Evangelho Espírito, e não um livro.
O Evangelho é a expressão da essência da Palavra. É
a Plenitude da Revelação. Trata-se da forma de interpre-
tação bíblica que olha para Jesus Cristo como a Chave
Hermenêutica dessa Revelação. De modo algum se está
dizendo aqui que só Jesus interessa na Bíblia, mas, por
outro lado, nada interessa senão a partir Dele, e nada é
Palavra de Deus se não for compatível com Ele, por mais
“bíblico” e “teológico” que seja496!
Leio a Bíblia a partir de Jesus e não Jesus a partir da
Bíblia. Assim, meus livros não são considerados “teoló-
gicos” pelos teólogos, posto que nesses escritos raramen-
te haja uma designação hermenêutica teologicamente
aceitável; nem tampouco há neles sistematizações que
busquem o fechamento lógico de qualquer pacote de
pensamento. Isso porque creio que Jesus – que é Deus
Manifesto entre nós – abre as Escrituras para nós. Cristo
é a síntese das Escrituras e o Espírito da Graça; é o agente
hermenêutico que me aproxima do texto com fé em que
encontrarei a Palavra.
É a partir daí, então, que se interpreta a Antiga Alian-
ça, os Profetas e todo o Novo Testamento. Isso porque
ele é a Palavra! A Encarnação Absoluta dela, o Verbo

496 Romanos 11:36; Colossenses 1:15-17

184
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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

Vivo de Deus, cheio de Graça e Verdade497! E as próprias


palavras de Jesus só podem ser entendidas se tiverem sua
concreção no Evangelho vivido por Jesus de Nazaré.
Veja o livro de Atos dos Apóstolos: é um livro de atos,
de ações. Mas sabemos que os únicos atos absolutos e
irretocáveis feitos na Terra são os Atos de Jesus. Portan-
to, há Evangelho em Atos, mas Atos não é o Evangelho.
Digo isso porque se os critérios de Jesus forem aplicados
aos atos dos apóstolos, os próprios apóstolos serão sem-
pre relativizados.
Quando lemos Atos, não se lê o Evangelho da Graça
– este só está plenificado em Jesus –, mas a tentativa hu-
mana de começar a viver conforme a fé em Jesus. E em tal
processo, há acertos, erros, equívocos, ação do Espírito,
infantilidades, ambiguidades, milagres, diferenças, medos,
ousadias, coragens maravilhosas, dúvidas atrozes e todas
as demais coisas concernentes aos homens que vivem no
Caminho. Assim, o livro dos Atos Apostólicos é um livro
de história, e não quer ser visto como o Evangelho.
A tentativa infantil de dizer que a igreja é o Corpo de
Cristo – e logo, Cristo estava agindo como antes agira, só
que agora em seu Corpo Comunitário – é bela, mas não
é verdadeira como valor absoluto. O Pedro que recebeu
a revelação é o mesmo que recebeu a repreensão: Arreda,
Satanás498!

497 João 1:1, 14


498 Mateus 16:13-23

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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

Em Jesus está toda a revelação e toda a referência para


se julgar e entender o que quer que pretenda ser canô-
nico. Onde o espírito do Evangelho está presente, aí há o
que levar para a alma e para a vida. No mais, vejo regis-
tros históricos da infância da fé e da consciência perme-
ando toda a Escritura.
O exercício não é difícil: basta olhar para Jesus, fazen-
do um caminho de observação. Deve-se perguntar: Qual
o significado das falas e dos ensinos de Jesus para o pró-
prio Jesus? E a resposta é uma só: Veja como ele tratou a
vida, a religião, os políticos, os pobres, os ricos, os doen-
tes, os párias, os segregados, os esquecidos, os seres proi-
bidos, os publicanos, as meretrizes, os santarrões, e tudo
e todos. Conferindo uma coisa com a outra, ficamos li-
vres da construção de dois seres irreconciliáveis: o Jesus
que viveu cheio de amor e graça e o Jesus que ensinou
coisas que só os intérpretes autorizados conseguem “cap-
tar”. Desse modo, então, não se faz jamais uma interpre-
tação textual que não coincida com o comportamento e
com a atitude de Jesus na dinâmica de seus movimentos
e encontros narrados.
Assim, eu confiro tudo com o espírito de Jesus, con-
forme o Evangelho. Só assim Jesus não fica esquizofrêni-
co ante os nossos sentidos: o que ele disse ele viveu, e o
que ele viveu é o que ele disse.
Nele habita corporalmente toda a plenitude da
divindade, e nele estão TODOS os tesouros da

186
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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

sabedoria e do conhecimento499! Ele é o resplen-


dor da glória do Pai e a expressão EXATA do seu
Ser, sustentando todas as coisas pela Palavra de
seu poder500!

Olhe para ele, e tudo fica interpretado! O resto, ir-


mãos, é invenção de quem não quer lidar com gente e
prefere lidar com letras.
E a leitura do Antigo Testamento? Ouça o grito do
profeta Jeremias 31:31-34
Eis aí vêm dias (...) em que firmarei Nova Aliança
(...). Na mente [não mais em tábuas], lhes impri-
mirei as minhas leis, também no coração lhas ins-
creverei; eu serei o seu Deus, eles serão o meu povo
(...,) pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus
pecados jamais me lembrarei.

Após tais exercícios devocionais sob o Novo Testa-


mento, muitos me endereçam questões de perplexidade
e confusão relacionadas ao conteúdo do Velho Testamen-
to. Mas estou certo de que esse conflito nem Paulo e nem
o escritor de Hebreus, por exemplo, tinham. Digo isso
porque Paulo recorre ao Antigo Testamento, aos salmos
e aos profetas a fim de mostrar que aquela “Fase Huma-
na” havia ficado sepultada em Jesus, e que, conforme as
mesmas Escrituras, em Cristo começaria uma nova cons-

499 Colossenses 2:3, 9


500 Hebreus 1:3

187
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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

ciência, não como mandamentos de exterioridades, mas


como percepção fundada no amor, na justiça e na verda-
de – tudo isso inscrito e gravado no coração.
Paulo também diz que a Lei foi dada, e com ela as
causalidades e seus efeitos, a fim de que se avultasse a
consciência do pecado em nós. O próprio Paulo revelou
que a Lei era parte da infância da consciência, como já
nos referimos aqui, pois nos servia de guia, de servo que
pega a criança e a leva para a escola – embora, agora, já
andando no Caminho pela fé, ele diga que já não se pre-
cisa mais da Lei-Babá.
Além disso, toda a argumentação do apóstolo acer-
ca da justificação pela fé, conforme o dom da Graça, se
fundamentava nas declarações dos salmos e dos profetas,
bem como, além do que estava declarado abertamente
nos textos, Paulo interpretava também o que estava ape-
nas implícito na leitura – e ele faz isso lendo a Escritura a
partir de Jesus, e não Jesus a partir da Escritura.
Isto porque Paulo lia o Velho Testamento a partir
da consciência adquirida em Jesus. Ou seja, Jesus era a
“Chave Hermenêutica” de Paulo, e a partir dessa Chave,
Paulo interpreta Abraão, Sara e Hagar, Ismael e Isaque,
Esaú e Jacó e outros – sempre com o propósito de mos-
trar como Jesus era o cumprimento de todas as coisas. E
foi também a partir da mesma “Chave Hermenêutica”
que o escritor de Hebreus interpretou os cerimoniais e os
ritos descritos nos Livros da Lei, discernindo seus símbo-
los, utensílios e arquiteturas.
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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

A carta aos Hebreus chega ao ponto de dizer que Je-


sus era maior do que Moisés, e maior do que tudo no
Velho Testamento; chamando o que era pertinente à Ve-
lha Aliança de coisa obsoleta e sem utilidade, antiquada,
envelhecida e prestes a desaparecer501. Hoje, ele diria que a
Velha Aliança era chamada “velha” devido ao seu prazo
de validade vencido.
Assim, o que se tem no Velho Testamento, na Antiga
Aliança, é o seguinte:
1. A justificação pela fé, mediante a qual todos foram jus-
tificados, de Adão a João Batista. Hebreus 11 declara
isso. E isso embora as pessoas vivessem sob “o regime da
lei”, conforme Paulo. A justificação, entretanto, segun-
do Hebreus e Paulo (em todas as suas cartas), sempre
aconteceu pela fé, e nunca pela lei. Esta é, afinal, a tese
de Paulo em Romanos e Gálatas, em especial.
2. A busca humana de se justificar pela lei, pois estava dito
que aquele que desejasse se justificar pela lei, esse te-
ria de cumpri-la toda. E Jesus, dando continuidade aos
profetas, deixou claro que tal obediência à lei deveria
ser por dentro e por fora. Mas é Davi quem diz: “Se ob-
servares iniquidade, quem, Senhor, subsistirá502?”. Para
então também declarar: “Bem-aventurado o homem a
quem o Senhor não atribui iniquidade”503.

501 Hebreus 8:13


502 Salmo 130:3
503 Salmo 32:2

189
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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

3. A declaração, especialmente fundada no Livro de Jó,


de que as calamidades da vida não são absolutas quan-
to a determinar o juízo de Deus sobre os homens. E
Jó é a prova disso. Normalmente, todo homem aca-
ba colhendo o que planta, mesmo que isso não che-
gue com cara de calamidade. Muitas vezes, somente
a própria pessoa sente as consequências. Entretanto,
conforme Jó e Eclesiastes, as calamidades não nos
vêm como aplicativo absoluto de uma Lei de Causa
e Efeito, e, menos ainda, têm elas o poder de justiça,
pois muitas vezes é o homem inocente de certos ma-
les aquele que recebe as suas consequências, e outras
vezes aquele que faz algo, que deveria trazer um efeito
negativo equivalente ao mal-causa praticado, aparen-
temente sai ileso. E o que ninguém sabe é o tamanho
do desmonte na alma desse ser, pois, quando não vem
como mal externo (calamidade), sempre vem como
mal interno (medo, solidão, angústia, dessignificação
existencial, amargura, sofreguidão do ódio, desespero
da morte, etc.)504.
4. O que não há no Velho Testamento é justificação
sem Sangue. Na Antiga Aliança, a própria lei foi san-
cionada com derramamento de sangue, conforme o
primeiro rito de “vestimenta espiritual” praticado
“por Deus” no Gênesis, quando cobriu o homem e

504 Eclesiastes 8:14, 9:1-3

190
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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

sua mulher com as peles de um animal morto para


vesti-los505.
Assim, meus irmãos, no Antigo Testamento, nós te-
mos tanto a manifestação da devoção humana de forma
primitiva como temos a linha mestra de indicação do
Caminho, que é uma linha carregada de sangue de bodes
e de touros, até que chegou o Cordeiro, que já havia sido
imolado desde antes da fundação do mundo (portanto,
infinitamente anterior à Lei) e, nele, toda a Lei – tanto
os mandamentos de conduta individual e social (os dez
mandamentos, por exemplo), como também as leis e ri-
tos cerimoniais – foi cumprida506. Com isso, tudo o mais
se torna obsoleto, visto que o que agora prevalece explí-
cita e encarnadamente é o Evangelho da Nova Aliança,
e, nele, a obediência é consequência da fé que nasce do
Amor que nos amou primeiro e que se entregou por nós.
Para os que ainda são da lei, a emoção prevalente
como “motor da obediência” é o medo. Já no Caminho
do Evangelho nada tem sentido se não for o amor geran-
do consciência e gratidão no ser.
Por último, quero dizer que, na existência, existe cau-
sa e efeito em tudo – na justiça legal, nas leis naturais,
nas leis econômicas, nas leis físicas, nas leis relacionais,
nas leis conjugais, nas leis negociais, etc. –, menos no

505 Gênesis 3:21


506 Romanos 10:4

191
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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

que tange à salvação em Cristo, conforme o Evangelho.


No Evangelho, a lei fica para o Estado na regulamenta-
ção dos vínculos sociais (Romanos 13). Mas a lei nada
tem a ver com a justiça de Deus para salvação, que salva
até o condenado pela lei507, como fez com o ladrão ao
lado de Cristo.
Assim, no tempo Antigo, temos gente tentando viver
pela lei, com toda sinceridade; temos gente fazendo de
conta que guardava a lei, com toda falsidade; e temos
indivíduos que viviam sob a lei por fé e esperança num
Amor Maior, que os absolvesse dos rigores da própria lei
que os expôs como transgressores.
Quem se dedicar à leitura atenta dos evangelhos e das
inúmeras afirmações de Paulo em suas cartas, mas em
especial em Romanos de 9 a 11, saberá que a finalidade
da lei é Cristo.
»» Jesus, a chave que abre o coração
Perguntou-Lhe Pilatos: O que é a verdade?508
Ora, conquanto Jesus seja também uma informação
histórica – afinal ele existiu e nós não estávamos lá quan-
do isto aconteceu, razão pela qual dependemos comple-
tamente das descrições que os evangelhos fazem de Jesus
a fim de melhor discernir seu espírito –, no entanto, o

507 Romanos 1:17


508 João 18:38

192
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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

discernimento de Quem Ele era só acontece como reve-


lação de Deus no coração.
A Verdade não existe como Explicação, mas tão-so-
mente como Encarnação. A Verdade se fez carne! É Al-
guém. A Verdade é uma Pessoa509. Por isso, a Verdade só
pode ser vivida, não pensada. Todo pensamento a respei-
to dela decorre da experiência. A Verdade não é objeto de
prosa... O Jesus do Evangelho não é para ser aceito, mas
para ser conhecido. A Verdade que vejo em Jesus – En-
carnada nele – eu mesmo tenho de conhecer na minha
própria encarnação, que é o único estado de existência
que eu tive até hoje.
Foi assim com Pedro. Ele conheceu a Verdade em Je-
sus, e teve de experimentá-la em si mesmo. E provavel-
mente, o dia no qual ele negou a Jesus tenha sido um dia
de muito mais verdade que a noite da Transfiguração.
Portanto, é preciso que cada um conheça Jesus e sua
Palavra para si mesmo. É preciso que cada um aprenda a
ter sua própria consciência em fé, a fim de viver a Palavra
por si mesmo510.
Em resumo, a Encarnação é a chave hermenêutica do
conhecimento bíblico, mas essa chave tem de abrir antes
o meu coração. E isto só acontece no encontro entre a
Verdade e a Vida.

509 João 1:14


510 1 Coríntios 7:17

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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

Ora, tal encontro só se dá no Caminho, e é a isso que


chamamos Consciência do Evangelho. Por isso, aprovei-
to-me deste trabalho para propor um exercício pessoal
libertador:
1. Quero convidá-lo a pegar os evangelhos e relê-los
como se fosse a primeira vez, e faça-o como se nun-
ca tivesse ouvido nenhuma interpretação deles. Assim
fazendo, você logo saberá que o que eu digo é apenas
uma Nova Repetição do que não muda nunca, pois
quando se tenta mudá-lo, nunca é para o bem, visto
que se trata-se daquilo que é eterno: o Evangelho.
A necessidade de escrever a mensagem de Jesus veio
do afastamento cada vez maior da sua fonte histórica:
o próprio Jesus de Nazaré511. Em meados de 70 d.C., já
não vivia a quase totalidade das testemunhas oculares do
Senhor ressuscitado512. Esse distanciamento cronológico
entre Jesus e as comunidades só poderia ser vencido pela
palavra escrita. E assim se formaram as duas grandes co-
leções ou corpus das Cartas de Paulo e dos Evangelhos.
2. Depois, eu gostaria de enfatizar a necessidade de ler
o Novo Testamento na ordem cronológica da mais
provável sequência de sua produção: 1 e 2 Tessalo-
nicenses, Gálatas, Efésios, 1 e 2 Coríntios, Roma-

511 Lucas 1:1- 4; João 20:30-31


512 Lucas 1:2; 1 Cor 15:3-8

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O Evangelho nas Escrituras e as Escrituras no Evangelho

nos, Colossenses, Filemom, Filipenses, 1 e 2 Timó-


teo, Tito, 1 Pedro, Marcos, Mateus, Hebreus, Lucas,
Atos, Tiago, Judas, 1, 2 e 3 João, o Evangelho de
João, 2 Pedro e Apocalipse.
Como alerta, devo dizer que o primeiro inimigo a ser
vencido no estudo bíblico é o pré-condicionamento na
interpretação. Então, meu irmão, soda cáustica na ca-
beça, uma boa chacoalhada, limpeza, e início de leitura
pessoal e aberta para a Palavra e para o Espírito. Então
você verá que começará a surgir, das páginas dos Evange-
lhos, o Jesus real! Experimente!

195
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A Teologia e o
Caminho da Graça

Qual o entendimento no Caminho sobre Teologia?


...Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,
nem os vossos caminhos os meus caminhos! – diz o Senhor.
Isaías 55:8
Nos últimos dias, Deus é o assunto!
Deus. Este é o tema. Este é o assunto. Deus tema.
Deus assunto. Deus criado. Deus pensado. Deus explica-
do. Deus filosofado. Deus objeto. Deus de estudo. Deus
de discussão. Deus de letras. Deus de palavras. Deus de
ideias. Deus segundo o homem. Deus conforme a nossa
imagem. Deus de acordo com os tempos. Deus segundo
as Eras. Deus de doutores em Deus. Deus de divinos
mestres em Divindade. Deus esquadrinhado. Deus di-
vidido em atributos. Deus feito uno pelo fragmentado
homo-sistematikus. Deus ora Livre, ora preso a si mesmo.
Deus do não. Deus do sim.
Deus? Deus! Deus?!
Deus fora do interior do homem: Deus na “cabeça”.
Deus na mesa de cirurgia de ideias. Cirurgiões de Deus.
Deus cadáver. Deus de ontem. Deus da vida oca. Deus
morto. Deus que não é visto no que de Deus se pode conhe-
cer... Deus que não é visto onde disse Ser.
Deus sem Deus. Deus sem Mistério. Deus man-
co. Deus ajudado. Deus em perigo. Deus salvo por
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A Teologia e o Caminho da Graça

Teologia. Deus “indegustável”. Deus cozido. Deus


temperado. Deus servido em bandejas de pensamen-
tos. Deus preso ao tempo. Tempo no qual Deus tem
de caber. Tempo no qual o Deus segundo o homem
existe. Deus disputado em batalhas. Deus perdido em
disputas. Deus ganho em querelas.
Deus assim... Deus me livre!
Esse Deus é à nossa imagem e semelhança. Ele está
mesmo todo perdido como nós, que falamos, mas não
queremos de fato conhecer; que discursamos, mas não
provamos; que buscamos sem a ânsia do achar; um Deus
que não é crido no que declara de Si mesmo, e que tem
de ser objeto de nossa especulação que apenas adia o dia
de nossa conversão ao Mistério e à Sua Graça.
No Mistério encontramos o Conhecer que é. Em Sua
Graça somos. Mas quem é suficiente para estas coisas? Se
ninguém é suficiente nem mesmo para o que recebe e
não discerne, como o será para entender ou explicar
Aquele que é Mistério?
Ora, eu só SEI em quem tenho crido! Nascer de novo
faz a gente entrar e ver o Reino de Deus. Mas quem en-
trou e viu desistiu de explicar. É Mistério. É Graça. É
irreferível!
O meu justo viverá pela fé.
E assim me atrevo a falar da PESSOA a QUEM cha-
mamos DEUS, só para, por fim, lhes dizer que DEUS
NÃO É TEOLOGIZÁVEL.
198
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A Teologia e o Caminho da Graça

No Caminho da Graça, não se faz teologia tal qual a


conhecemos. O Caminho não serve para isso. O Cami-
nho é sua Mensagem e sua Mensagem é o Evangelho, e
o Evangelho é Experiência e não Conhecimento! Sim, o
Evangelho de Jesus Cristo é para ser experimentado, e
não “estudado” com categorias mentais de absorção de
uma verdade intelectual.
Teologia, no Caminho da Graça, é o exercício da Psi-
cologia da Graça no trato humano. Portanto, o nome
nem deveria ser “teo-logia”, pois se é acerca do cuidado
com as pessoas, não se está falando de nada que não seja
antropológico e psicológico.
Então, nossa Teologia não estuda Deus, “estuda” o
homem!
Cremos que tudo na vida é parte do trato de Deus
para as pessoas, e que não há situação que não possa se
tornar em bem para a alma513.
Cremos que a Misericórdia cura514!
Cremos que nossos “teólogos” precisam ser honestos
com sua própria condição humana, a fim de que pos-
sam se condoer dos que sofrem; possuir um olhar sem
julgamentos, pois o moralismo impede as pessoas de se
enxergarem e não tem o poder de libertar ninguém de
coisa alguma.

513 Romanos 8:28


514 Tiago 2:13

199
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A Teologia e o Caminho da Graça

Na “nossa” Teologia, quem vai para o divã é o homem,


e não perdemos tempo construindo um Deus! Deus É515!
Por isso não sei o que dirão ao Eterno aqueles que, em
Tempos do Fim, ainda passam a vida discutindo ideias e
pensamentos vãos – supostamente – sobre Deus, tanto
em livros como em seminários, grupos virtuais e pales-
tras de reflexão.
O Apocalipse está às portas, mas os teólogos e erudi-
tos não têm tempo para as calamidades da vida. Preferem
discutir se Deus sabe das calamidades, se ele se assusta
com elas ou se determina friamente se elas acontecem ou
não. Também querem continuar divagando sobre o livre-
-arbítrio humano em contrapartida à Soberania Divina.
Querem saber até onde vai a liberdade do homem num
tempo em que essa liberdade está acabando com a Terra.
O que se vê nesses dias se assemelha de modo paté-
tico ao que aconteceu durante o naufrágio do Titanic.
O navio naufragava, mas os homens ainda disputavam
lugares, status, posições, paixões, bens, pérolas e jóias; e,
além de tudo, ainda tinham tempo para disputas pesso-
ais e para a dedicação das últimas energias ao espírito de
vingança ou de prevalência sobre o próximo.
Assim, de modo semelhante, os teólogos discutem à
beira do precipício. O fato é que os temas que elegem, o
tempo que gastam, os esforços intelectuais que dedicam
e a importância que atribuem a tais nulidades é algo

515 João 8:24:28, 58

200
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A Teologia e o Caminho da Graça

tão grandemente insólito ante os fatos dos Tempos que


fica difícil entender como pessoas que creem em Jesus
e nas Escrituras conseguem se dar ao Nada com tanta
avidez. Só me é possível pensar que não sabem o que
está acontecendo!
Teólogos filhos do Seminário Titanic de Reflexão Teo-
lógica, ACORDEM, O NAVIO ESTÁ AFUNDANDO!
Na água gelada desse Naufrágio, terá razão quem tiver
se ajudado e ajudado outros, e não quem, morrendo de
frio e congelando, disser: “Viu? Eu disse que o navio é que
afundava e não o mar que tragava o navio!”. Isso enquanto
o outro dirá: “Tolo! Eu falei que é o mar que traga o navio
e não o navio que se enche do mar!”. E essa conversa con-
tinua até debaixo d’água!
Mas só tem uma coisa pior que o saber teológico de
hoje: é o fazer teológico desses dias, que é resultado da
vaidade da “nobreza” do nosso labor sem Amor e sem Fé!
Aquilo que é elevado entre os homens é abominação
diante de Deus516.
A maior parte das coisas nobres que nos ocupam não
tem valor diante de Deus, da vida como um todo, e, no
final, nem para nós mesmos. Nós, entretanto, cuidamos
de nos dedicar a muitas tarefas da vaidade disfarçando-as
de piedade. As obras do homem são vaidades. Até mesmo
as mais nobres são eivadas de vazio de um real significado.

516 Lucas 16:15

201
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A Teologia e o Caminho da Graça

Jesus foi o único que viveu as obras de Deus e do


homem, até a mais profunda plenitude, no limitado
ambiente da existência como a conhecemos. Ele, entre-
tanto, nada fez! Como assim? Ora, qualquer discípulo
dirá: “Jesus curou. Jesus fez o bem. Jesus tirou gente da
morte. Jesus deu a alegria do perdão aos que o procura-
ram. Jesus amou. Jesus morreu. Jesus ressuscitou e apa-
receu a alguns discípulos. Jesus ascendeu aos céus. Jesus
é o meu Deus e Salvador! Jesus voltará! Jesus é Senhor
de tudo e todos!”.
Todavia, quase nenhum desses discípulos – que con-
fessam tais coisas como sendo a obra de Deus por ex-
celência – é capaz de celebrar as mesmas coisas em sua
própria vida, a menos que elas se façam acompanhar de
outras obras.
Para nós a obra de Deus é visível em números, em
prédios, em estatísticas, em prestígio, em fama santa,
em interesse social, em escolha das causas do bem, em
esforço pela expansão da visibilidade do “Evangelho”,
em aparições de discípulos na grande mídia de modo
“bom e digno”, em piedade visível aos sentidos mediante
a aparência do bem, em dedicação às chamadas “causas
da igreja” como “reino”, em serviço aos líderes ungidos,
em planejamento evangelístico, em cursos teológicos, em
belos templos, em meiguice estereotipada, em vaidades
de ser, de estar, de pertencer, de possuir, de aparecer, de
ambicionar, de conseguir, de morrer...
202
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A Teologia e o Caminho da Graça

Todo mundo quer fazer alguma coisa, mas poucos


querem fazer a obra de Deus.
A obra de Deus está em fazer a vontade de meu Pai –
disse Jesus517.
Fazer a vontade do Pai é a obra de Deus. Claro! Reali-
zar a Vontade é fazer a Obra.
Mas e a vontade do Pai? Quem a sabe?
Ora, essa é sempre a pergunta de quem não quer fazer
a Vontade do Pai. É como a pergunta do jovem rico: “O
que farei para herdar a vida eterna518?”. É como a per-
gunta do bom escriba: “Quem é o meu próximo519”? É
como a pergunta de Pilatos: “O que é a verdade520?”.
A Sua Voz se faz ouvir em toda a Terra e as Suas palavras
até os confins do mundo521!
Até mesmo aquele que nada sabe da revelação de
Deus, seja a escrita ou a encarnada em Jesus, quando
teme a Deus e busca o que é bom sabe qual é a Vontade
de Deus522.
A Vontade de Deus se faz impulso operacional em todo
aquele que O ama. Pois todo aquele (qualquer um) que

517 João 4:34


518 Mateus 19:16-26
519 Lucas 10:25-37
520 João 18:28-40, 19:1
521 Salmo 19:4
522 3 João 1:11

203
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A Teologia e o Caminho da Graça

ama conhece a Deus, visto que Deus é amor523. Assim,


quem ama é nascido de Deus e, por isso, carrega a semente
divina em si mesmo. E essa semente é amor.
Por isso quem ama conhece a Deus, é nascido de Deus
e, por tal razão, ama a todo aquele e a tudo aquilo que
por Deus foi gerado524. Ora, quem quer que, em qual-
quer lugar ou mundo, tema a Deus e ame o seu próximo,
esse conhece a Deus, pois Deus é amor. Quem está em
amor está em Deus, e Deus nele – simples assim, conforme
o apóstolo João525.
Desse modo, esse tal (sem nome, sem escola, sem re-
velação, sem instrução, sem ensino, sem filosofia, sem
teologia, sem religião, sem informação histórica e sem
nada que julguemos essencial ao saber, ao ser, ao edificar,
ao alcançar, ao ambicionar e ao atingir) CONHECE a
Deus mais do que teólogos, mestres, educadores, pas-
tores, sacerdotes, eruditos, etc. Se estes sabem, mas não
vivem; se instruem, mas não crêem; se confessam, mas
não encarnam; labutam, mas na inércia; acumulam na
“cabeça”, mas não conduzem nada ao coração526.
Para saber a vontade de Deus, basta amar de verdade.
Quem ama sempre sabe o que fazer. (Mas amor aqui é
AMOR. É amor conforme Deus.)

523 1 João 4:7-8


524 1 João 5:1
525 1 João 4:16
526 Eclesiastes 1:12-18

204
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A Teologia e o Caminho da Graça

Ninguém jamais viu um ser humano cheio de amor


sem saber o que fazer!
O amor que não faz a Vontade de Deus é romance
teológico!
No fim, somente no fim, é que a maioria quase abso-
luta descobre – já na virada, na passagem – que labutou
por importâncias que não importavam e que deu de si
ao que não era, pois não realizava a vontade do Pai, mas
apenas atendia às demandas das nobres ocupações dos
que vivem para falar, dizer, almejar, ensinar e lamentar,
mas que nada fazem, pois o que fazem não enche o co-
ração, posto que o coração só se realiza na obra simples
do amor.
O resto é a piedosa, vã e nobre vaidade orgulhando-se
de sua nulidade!
Sem amor nada me aproveitará! Nada527!

527 1 Coríntios 13:3

205
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Conclusão – Um só Caminho

Embora já tenhamos falado em Ekklesia no corpo des-


te livro, aqui, como conclusão, desejo retomar o assunto
por entender que agora, para muitos, o problema já não
seja a Graça, mas o que fazer com a “igreja” como movi-
mento humano.
Assim, repito e acrescento que no Caminho como ca-
minhada comum dos discípulos não existe uma “Eclesio-
logia”. E muito menos ainda os termos relacionados ao
que chamamos de “Eclesiologia” são – para os discípulos
– importantes como conjunto de palavras, mas apenas
em seus significados originais528.

528 E todas as designações são de serviço: o apóstolo é um men-


sageiro (no caso dos doze, são mensageiros oculares da vida e
da mensagem de Jesus, sendo, segundo Paulo, parte dos fun-
damentos do qual Jesus, não Pedro, é a pedra angular); um
bispo cristão (o termo grego designa um supervisor de alguma
coisa) ou um ancião ou um pastor (nomenclaturas judaicas) é
um ser sóbrio e piedoso o suficiente para modelar o grupo pelo
exemplo da verdade simples, prática e mansa. Um diácono (no
grego, garçom) é, no ministério da fé, um ser dedicado por
vocação aos serviços práticos aos irmãos; um mestre (entre os
gregos e entre os judeus (rabi), um professor), no ministério da
fé, é alguém maduro e com um dom especial para clarificar a
Palavra; um evangelista (no mundo grego, um anunciador de
novas) é uma pessoa com um dom especial de comunicação
dos conteúdos básicos do Evangelho, etc. No entanto, cada
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Conclusão – Um só Caminho

Não existe uma “Eclesiologia” na medida em que não


existe um sistema único de condução comunitária. Não
há modelos. Há somente princípios. E esses princípios
não obedecem a uma “logia”, mas apenas ao espírito do
Evangelho, o qual não é fixo e nem fixador de nada, pois
é conforme o fluxo da verdade e da vida, que são vivos e,
portanto, dinâmicos.
De fato, no Novo Testamento, as comunidades de dis-
cípulos tinham características muito distintas, conforme
a geografia, a cultura, a cidade, os membros do grupo
ou mesmo a idade deles no Evangelho. Há vários livros
meus que tratam de tais peculiaridades em detalhes e
com farta documentação bíblica e histórica.
Entretanto, é óbvio que, por exemplo, o modelo de
Jerusalém no início do Livro de Atos dos Apóstolos nun-
ca mais foi repetido ou documentado na sequência da

termo se originou de seu significado na língua grega ou hebrai-


ca, assim como igreja (ekklesia), que designa sair para se ajun-
tar e o dispersar para a vida, ou seja: uma assembleia não fixa.
Em alguns livros meus, mas especialmente no “Espírito Santo:
O Deus Que Vive em Nós”, gasto tempo na análise desses e de
trinta outros tipos e manifestações de dons neotestamentários.
No entanto, fora os apóstolos originais, todos os demais dons
não são Evangelho, mas apenas meios de Graça visando ao
serviço ao próximo (à exceção das “línguas estanhas”, dom que
apenas edifica a quem solitariamente o pratica). Entretanto,
se nenhuma dessas designações aparecer num grupo, mas to-
dos os dons estiverem sendo praticados livre e anonimamente,
nada estará fazendo falta, pois o dom deve sempre preceder
qualquer que seja a designação grupal.

208
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Conclusão – Um só Caminho

experiência apostólica até ao fim do 1º Século. Foi um


modelo que teve a sua significação e funcionalidade cir-
cunstanciais. Mas foi cessando até que se dissolveu em
alguns anos.
É também óbvio que o que aconteceu no auditório
da Escola de Tirano – na área da Ágora de Éfeso, onde
Paulo ensinou por cerca de cinco horas, diariamente, por
quase dois anos, dando assim ensejo a que todos os habi-
tantes da Ásia pudessem ouvir a Palavra do Senhor – foi
uma experiência sem paralelos em sua inserção secular
ininterrupta no mesmo lugar529.
Os princípios de Jerusalém e de Éfeso como modos não
se tornaram obsessivos na mente dos discípulos, embora
os princípios da comunhão solidária (Jerusalém) e da in-
serção secular tenham prosseguido. Afinal, eles são prin-
cípios do Evangelho: o reino tanto é aconchego e abrigo
como também é fermento virulento ou sal impregnante.
É também claro que a qualidade de maturidade e
consciência dos que conduziam a Igreja em Antioquia
era feita de pessoas de densidade espiritual e histórica530,
e que só tem paralelos na lista de servos notáveis apre-
sentada por Paulo no final de sua carta aos Romanos531.

529 Atos 19:9-10


530 Leia Atos 13 e veja a diversidade de dons e de experiência histó-
rica existente no grupo.
531 Leia Romanos 16 e veja “apóstolos” de ministério mais velhos na

209
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Conclusão – Um só Caminho

Em ambos os lugares encontra-se gente que carregava


história e raiz na jornada inicial da fé. Entretanto, na
maioria dos lugares, o grupo se movia de casa em casa,
através de famílias que se alternavam na hospedagem da
igreja e sem tantas raízes históricas que remontassem ao
“testemunho ocular” dos fatos dos evangelhos.
Além disso, nos dias dos apóstolos, os bispos eram
mentores locais de grupos, e não grandes e oficiais super-
visores de muitos grupos de casas-igrejas. E nem eram sa-
cerdotes do grupo: suas mãos não eram beijadas religiosa-
mente, por exemplo, entre milhares de outros fatos muito
mais sérios. Apenas na virada do século I para o II é que
surgiram os primeiros bispos de supervisão mais ampla.
Entretanto, o papel do bispo, supervisor, mentor ou pres-
bítero era o de assistir aos discípulos e coordenar tanto os
encontros como o atendimento às necessidades espirituais
dos irmãos. Os bispos originais jamais poderiam imaginar
que bispos se tornariam essas figuras inflacionadas e mer-
cenárias nas quais logo depois eles começaram a se tornar
pela via da corrupção política e eclesiástica.
É também claro que a figura do bispo cresceu em im-
portância imensa em razão de que os evangelhos e cartas
apostólicas já estavam escritos, mas não estavam disponí-
veis e organizados como compêndio de consulta, como
depois se veio a ter na Bíblia ou no Novo Testamento,

fé que Paulo, parentes dele e gente que já tinha posto a cabeça a


prêmio pela defesa do Evangelho; sem falar nos fortes laços de
intimidade familiar e fraterna que ligava o grupo.

210
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Conclusão – Um só Caminho

como livros532. Assim, a figura do bispo carregava tam-


bém o papel de depositário do ensino apostólico, em
razão de que as coisas aconteciam, na maior parte das
vezes, fundadas nas tradições orais. Afinal, pouca gen-
te sabia ler. Assim, jamais haveria necessidade de bispos
pesados numa sociedade, por exemplo, como a nossa,
na qual meios de comunicação e possibilidade de leitura
fornecem oportunidades fáceis de ajuda e pastoreio mú-
tuo e diário e sem peso hierárquico, mas apenas pela via
da autoridade de vida na Palavra e na experiência.
É simples ver também que Paulo lançou princípios
cujos aplicativos foram feitos em circunstâncias distin-
tas533. Ele recomenda algo óbvio como que o bispo seja
marido de uma só mulher534, coisa que hoje nos soa in-
suportavelmente óbvia; tão óbvia que os comentaristas
nem sempre aceitam o que está dito. Paulo, no entanto,
estava falando a pessoas que eram egressas de socieda-
des polígamas ou bastante alheias quanto ao significado

532 Existencialmente, o meu bispo é Paulo e, também, os demais


apóstolos. A Palavra é o governo “dos do Caminho”. O bispo
atual não deve ser nada além de um sábio que orienta e concilia,
mas não é oráculo de nada, a menos que possua o dom de mestre
e de conhecimento segundo a Palavra.
533 Em Cristo, diz Paulo, não há escravo nem liberto, mas assim
mesmo ele aplica o princípio da igualdade fraterna a fim de “hu-
manizar” os cristãos senhores de escravos (veja em Efésios 6:9,
Colossenses 4:1 e Filemom 1:8-20).
534 1 Timóteo 3:12

211
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Conclusão – Um só Caminho

do casamento monógamo. Assim, ele recomenda que o


bispo, o mentor, o servo condutor de um grupo de discí-
pulos, fosse e seja marido de uma só mulher, pois, entre
eles, havia pessoas crendo no Evangelho que vinham de
situações nas quais já estavam ligados a uma ou mais es-
posas, quase sempre com filhos. Desse modo, tais pessoas
eram incluídas, mas, a fim de estabelecer o princípio que
é “desde o Princípio”, Paulo manda que os bispos sejam
como Adão, marido de uma só mulher, conforme o proje-
to original respaldado por Jesus535.
Desse modo, o princípio da Inclusividade ampla exis-
te sem transigência da indicação da Exclusividade do
Princípio536. Todos podem ser inseridos, mas o que anda
adiante do grupo deve manter o modo original537, pois é
na direção do Princípio Original que as novas gerações,
livres ainda para escolher, poderão fazê-lo conforme o
Princípio do princípio ensinado por Jesus538.
Paulo fazia assim porque foi assim que Jesus ensinou
ao incluir a todos, porém sem deixar de afirmar o prin-
cípio do Princípio como valor excelente e exclusivo no
bem que propõe. Assim, em Atos dos Apóstolos, não se

535 Mateus 19:1-12; 1 Timóteo 3:12-13, Tito 1:5-6


536 Jesus aceitou a todos, mas só escolheu doze apóstolos.
537 1 Pedro 3:1-7
538 Mateus 19:7-8

212
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Conclusão – Um só Caminho

tem doutrinação de modelo algum539, mas apenas qual


deve ser o significado do espírito da Igreja, do Grupo de
Gente Boa de Deus, uns com os outros, amando-se; e
com o resto do mundo, vivendo em testemunho de amor
vivido e Palavra falada540.
Portanto, o que se tem em Atos são os erros e acertos
dos discípulos, ao mesmo tempo em que se vê a sobe-
rania do Espírito os disciplinando e ensinando no que
seria o espírito do Evangelho. Portanto, em Atos, não se
tem modelo de nada que seja absoluto, mas se tem o es-
tabelecimento do espírito que tem de estar determinado
à vivência e atitude dos discípulos em qualquer que seja
o modelo comunitário.
E mais. Em Atos aprende-se que tais modelos não se
fixam em nada, estando em permanente mutação dos
discernimentos do Espírito. Desse modo, em Atos, eu
tenho que “os do Caminho” são pessoas marcadas pelo
Espírito541: que buscam discernir a Palavra542; que pre-
gam por impulso543, por determinação e por orienta-

539 Digo isto em muitos livros e mensagens publicados na década


de 80, mas especialmente no livro “Espírito Santo: O Deus que
Vive em Nós”.
540 João 17 e todas as epístolas de Paulo, especialmente Colossenses,
Filipenses e Efésios.
541 Atos 4:5-13, 6:1-3, 7:55-56, 9:17-22, 11:19-24,
542 Pedro e o entendimento da revelação em Atos 10, por exemplo.
543 Atos 17:1-3

213
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Conclusão – Um só Caminho

ção544; que sabem que o homem tem de ser bem maior


do que a função visível que representa545; que bati-
zam onde estejam, tão-somente porque alguém creia
e peça546; que o batismo não se vincula a um modo
externo, mas apenas a um estado interno, pois o batis-
mo é apenas uma sinalização externa de algo interno547;
que o grupo de discípulos evolui nas soluções buscadas
em amor e para servir548; que quando os discípulos não
vão, não se hebraízam no caminhar, no mover adian-
te, na tabernacularidade da missão, e ficam, e por mais
que fiquem em amor estão em desobediência, e, por
isso, haverão de ser dispersos, a fim de cumprirem sua
missão549; que o povo do Caminho crê no sobrenatural
e o experimenta550; que preconceitos são profundos, e,
por vezes, somente um ataque de Deus pode mudar

544 Atos 8:26-40


545 Gálatas 1:13-24, 2:1-21
546 Atos 16:25-34, 8:26-40
547 Atos 8:37: “É lícito se crês...” (Filipe, ao alto oficial da rainha dos
etíopes); Atos 10:47: “Como negaremos a água a quem como nós
recebeu o Espírito Santo?” (Pedro, na casa de Cornélio).
548 Atos 2:42-47; Tito 1
549 Atos 8:1-4 (Os convertidos foram dispersos – em grego, semea-
dos – com a perseguição à igreja depois da morte de Estevão.)
550 Atos 2:43; 3:1-8; 4:30-31; 5:12-21; 6:8; 8:6-8; 9:1-20, 32-35;
36-42; 12:1-11;13:4-12; 14:8-10; 16:16-34; 19:11-12; 23:11;
27:21-25; 28:3-6

214
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Conclusão – Um só Caminho

a mente do discípulo preconceituoso551; que ninguém


é poderoso o suficiente a fim de vencer o cuidado de
Deus por Seu povo552; que os inimigos podem se tornar
os maiores aliados553; que é com solidariedade que se
arrisca que se tem de acolher as pessoas, mesmo as mais
improváveis554; que os que começam cheios do Espí-
rito podem se tornar engessados e sem mobilidade555;
que os que antes eram colunas podem ser ultrapassados
pelo que simplesmente ama sem obstáculos em razão da
Graça recebida556; que Deus é livre a fim de fazer todas
as coisas sem pedir autorização a ninguém557 – dentre
dezenas de outros princípios do amor, da misericórdia,
da justiça, da solidariedade, da compaixão e da verdade.
Além disso, para “os do Caminho” a ceia do Senhor é
como o convite para a Festa, para as Bodas, conforme Je-

551 A conversão de Paulo foi essa suprema provocação. O torturador


se converteu.
552 Pedro é liberto e Agripa II é morto, comido por vermes: Atos 12:1-24
553 Paulo, o pior inimigo: Atos 26:1-29
554 Barnabé em relação a Paulo: Atos 9:26-28
555 Tiago e os discípulos de Jerusalém: Atos 15:1-4
556 Este é o tom de Paulo em Gálatas acerca dos já estavam antes
deles: as antigas colunas (2:6-9).
557 Em Atos, as iniciativas humanas nem de longe têm significado per-
to da quantidade imensa de ações do Espírito chocando a todos e
sempre fazendo o totalmente inesperado. Os Atos dos Apóstolos
são, de fato, os Atos do Espírito Santo e os sustos dos apóstolos.

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Conclusão – Um só Caminho

sus insistiu nos evangelhos558 – sendo, portanto, não um


vestibular de virtudes morais, mas de busca de alimento
e força em Deus, conforme a Graça. Assim, para “os do
Caminho”, quem qualifica alguém para a Festa é o Pai,
é o dono da casa, é o Senhor. Somente ele pode vestir
alguém para dela participar559.
No Caminho o grande feito não é aumentar a Igreja,
mas viver o Evangelho560. Desse modo, só vale crescer em
número se a Palavra crescer no grupo.
Para “os do Caminho” o dinheiro fica sob os pés561, e
tem de ser dado com sinceridade e gerido com honesti-
dade, em confiança entre todos562; e há lugar para se falar
em dinheiro563; e ele tem de ter finalidade clara: ajudar
os pobres, sustentar os que se entregam totalmente à pre-
gação e ao ensino da Palavra e socorrer necessidades de
irmãos, ainda que distantes564.
“Os do Caminho” veem a tentativa de barganha com
Deus, de venda de bênçãos ou de virtudes divinas su-
postamente presentes em um homem, ou qualquer outra

558 Mateus 22:14


559 Mateus 22:11-13
560 Atos 6:7
561 Atos 2:44-45, 4:32-35
562 Atos 5:1-11
563 Marcos 12:38-44; 2 Coríntios 8:1-24, 9:1-15, 11:7-9
564 1 Timóteo 5:17-18; Romanos 15:26-27

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O Caminho como atalho

coisa do gênero, como sendo coisa de bruxo565.


No Caminho alguém pode ser muito usado por Deus
de um modo, por um tempo, e, depois, já não mais ser
daquele modo. De tal sorte que ninguém vive o carma
de ter de existir para algo que se fixe nele e se torne não
sua sombra, mas sua persona e sua obrigação de ser sem
ser – como teria sido o caso de Pedro e a sua sombra566.
As ironias são normais no Caminho. O livro de Atos
dá irrefutável testemunho disto!
Quem anda no caminho do Caminho agora sabe que
o Paulo Hitler de cristãos pode se tornar o maior divul-
gador da fé, sendo perseguido agora e até o fim da vida
por “cristãos híbridos”, por exemplo, entre centenas de
outros. Assim, andar no Caminho é ter de andar aberto
para obedecer a livre soberania de Deus.
As consequências disso na composição de um grupo
são muitas. E a primeira delas é a paciência no processo
do Espírito com cada pessoa, sem que ninguém de fora
deseje ser “o Espírito Santo” do outro.
Desse modo, ensina-se o Evangelho como ele é,
sem rodeios e sem enganos ou acomodações, porém,
sempre em amor. E mais: sempre deixando tudo o
mais com Deus.

565 Atos 13:5-12


566 Atos 3-4: A sombra de Pedro ou os lenços de Paulo não viraram
“campanha” e nem ministério ou mover, como seria hoje, com
ambos virando Pedro Hinn e Paulo Cerullo.

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O Caminho como atalho

O espírito comunitário entre os do Caminho deve


ser aquele mesmo do Senhor das Bodas: chamar a todos,
sem exceção; já que “os dignos” não quiseram vir.
As consequências disso na prática do espírito do Evan-
gelho entre os tabus de nosso tempo também existem.
Por exemplo, entre os do Caminho pratica-se a mesma
discrição de Jesus. Ele jamais escarafunchou a vida de
ninguém. Zaqueu só ouviu o que ouviu por ter decla-
rado o que declarou567. Do contrário, acabaria o jantar
e Jesus seguiria seu caminho. Além disso, não se vê em
Jesus nenhuma curiosidade acerca do pecado humano.
A mulher adúltera não teve de contar nenhuma história.
Assim, no Caminho, confessa quem quer e o faz a quem
desejar. Afinal, o propósito do Evangelho é deixar a pessoa
só, com Jesus, da presença de Quem ela sairá justificada.
O espírito do Caminho deve ser bem superior ao de
uma Cidade de Refúgio do Velho Testamento568. Afinal,
se no ministério da lei, com toda a morte que ela anuncia-
va aos transgressores, havia o lugar de Graça Geográfica
(as Cidades de Refúgio), com muito maior razão o ajun-
tamento dos do Caminho precisa ser possuído de muito
mais excelente Graça, posto que não se preconiza sepa-
ração entre os marginais e os santos, conforme era nas
Cidades de Refúgio, separando os criminosos da lei dos
que a ela obedeciam. Não! No Caminho, todos andam

567 Lucas 19:8-10


568 Números 35:9-15; Josué 20:2-3, 21:13-40

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O Caminho como atalho

juntos. E juntos precisam aprender a viver em amor e ver-


dade seguidos por cada um, enquanto se tem misericórdia
dos processos de cada outro, assim como se espera que se
receba Graça e Paciência quando for a nossa vez de apren-
der com o Mestre na vida, nas esquinas da existência.
Os do Caminho têm de ser apenas gente andante, se-
guindo a Jesus com outros, cada um com seu nível de
compreensão e percepção, porém todos desejosos de
aprender a Cristo, conforme Jesus nos ensinou a sermos
o caminho de gente que busca se tornar semelhante a ele.
Este é o convite aos do Caminho: tornarem-se seme-
lhantes a Jesus no curso da jornada da fé, dia a dia sendo
transformados de glória em glória, até que se vá chegan-
do à estatura do Novo Homem, o qual se renova segun-
do Deus mediante a prática do amor e da verdade.
Ora, tudo o que está dito aqui só é ruim para o diabo
ou para os diabos. Entretanto, para quem tem bom cora-
ção ou deseja obter um, nada pode ser mais maravilhoso
e desafiador.
Agora depende apenas de você decidir quem é o seu
Senhor e Mestre.
O que tinha a dizer já o disse. Agora é com você!
Vem e vê!
Nele, que me deu Graça e saúde para escrever estas palavras,
Caio Fábio D’Araújo Filho
30 de outubro de 2008
Manaus | AM | Brasil
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Saiba como contribuir

Contribuir é algo que muda a vida da gente. Muda


as referências e prioridades. Altera a sensação de pra-
zer e de realização. Subjuga o poder do Diabo como
Dinheiro em nossa vida. Eleva os alvos da vida. Faz
pensar nos outros; especialmente, muitas vezes, na-
queles que nem conhecemos. E, entre outras coisas,
nos põe no caminho da generosidade e da fé que lan-
ça o pão sobre as águas para só achá-lo depois de
muito tempo... Portanto, se você deseja contribuir
para aquilo que entende ser obra da Graça de Deus
para nossos dias, por favor, faça seu depósito confor-
me a disposição do seu coração em uma das contas
abaixo.

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