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WATSON ALEXANDERGANN
Cold Spring Harbor Laboratory Cold Spring Harbor Laboratory
TANIAA BAKER MICHAEL LEVINE
Massachusetts Institute ofTechnology University ofCalifomia, Berkeley
STEPHEN P. BELL RICHARD LOSICK
Massachusetts Institute ofTechnology Harvard University
Com
STEPHEN C. HARRISON
Harvard Medicai School
(Capítulo 6: A estrutura das proteínas)
DO
7 a E O IÇAO -
Versão impressa
desta obra: 2015
2015
Tradução
Andréia Escosteguy Vargas
Bióloga. Doutora em Gen ética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Visitin g Researcher no Diabetes Research Group, Diabetes and
Nutrition al Sciences Division , King's College London.
Luciane M. P. Passaglia
Professora titular do Departamento de Genética da UFRGS.
Doutora em Genética e Biologia Molecular pela UFRGS
Rivo Fischer
Licenciado em História Natural. Mestre em Genética. Doutor em Ciências.
Professor Adj un to Aposentado, Instituto de Biociências, UFRGS.
CDU 577.21
Nota
As ciências biológicas estão em constante evolução. À medida que novas pesquisas e a própria experiência ampliam o
nosso conhecimento, novas descobertas são realizadas. Os autores desta obra consultaram as fontes consideradas confiá-
veis, num esforço para oferecer informações completas e, geralmente, de acordo com os padrões aceitos à época da sua
publicação.
A
NOVA EDIÇ.i\0 DE B/OL()(;JA MOLECULAR DO GENE
ção, cerca de seis décadas após a descoberta da estrutura do DNA, em
1953. A estrutura de dupla-hélice, mantida pelo pareamento específico
entre as bases das duas fitas, tornou-se uma das imagens icônicas da ciência.
A imagem do microscópio talvez tenha sido o ícone da ciência no fim do sé-
culo XIX, substituído na metade do século XX pela representação gráfica do
átomo com sua órbita de elétrons. No entanto, no fim do século, esta imagem,
por sua vez, deu lugar à dupla-hélice.
O campo da biologia molecular como o conhecemos hoje nasceu da des-
coberta da estrutura do DNA e da agenda para pesquisa que esta estrutura
imediatamente forneceu. O artigo de Watson e Crick terminava com uma
frase hoje famosa: "Não escapou à nossa atenção que o pareamento especí-
fico que postulamos sugere imediatamente um possível mecanismo de cópia
para o material genético". A estrutura sugeria como o DNA poderia replicar,
abrindo caminho para investigar, em termos moleculares, como os genes são
transmitidos ao longo das gerações. Também ficou imediatamente aparente
que a ordem das bases ao longo de uma molécula de DNA poderia representar
um "código genético" e, portanto, um ataque a este segundo grande mistério
da genética - como os genes codificam características - também poderia ser
lançado.
Quando a 1• edição de Biologia molecular do gene foi publicada, apenas 12
anos depois, em 1965, havia sido confirmado que o DNA replicava da manei-
ra sugerida pelo modelo, o código genético já havia sido desvendado, e o me-
canismo pelo qual os genes são expressos, e como esta expressão é regulada,
haviam sido estabelecidos pelo menos como esboços. O campo da biologia
molecular estava pronto para seu primeiro livro-texto, definindo pela primei-
ra vez o currículo para cursos de gradução neste assunto.
Nosso conhecimento acerca dos mecanismos subjacentes a estes proces-
sos aumentou enormemente ao longo dos anos desde a 1• edição, geralmente
dirigido por avanços tecnológicos, incluindo o sequenciamento de DNA e o
Projeto Genoma Humano. A edição atual de Biologia molecular do gene come-
mora as bases intelectuais da área, definidas na 1• edição, e o extraordinário
conhecimento mecanístico, biológico e evolutivo que se alcançou desde en-
tão.
Agradecimentos
Partes da edição atual originaram-se a partir de um curso introdutório sobre
biologia molecular lecionado por um de nós (Richard Losick) na Harvard Uni-
versity, e este autor agradece a Steve Harrison e Jim Wang, que contribuíram
neste curso em anos anteriores. No caso de Steve Harrison, estamos ainda
mais agradecidos a ele por ter escrito e ilustrado um novo capítulo sobre a es-
trutura das proteínas especialmente para esta nova edição. Ninguém poderia
ser mais bem qualificado para tal tarefa, e nós somos os beneficiários- pois o
livro ficou muito melhor- de sua contribuição.
Também agradecemos a Craig Hunter, que anteriormente escreveu a se-
ção sobre o verme para o Apêndice 1, e a Rob Martienssen, que escreveu a
seção sobre plantas para o mesmo apêndice.
Mostramos seções do original para vários colegas e seus comentá-
rios foram extremamente úteis. Agradecemos especificamente a Katsura
Asano, Stephen Blacklow, jamie Cate, Amy Caudy, !rene Chen, Victoria
D'Souza, Richard Ebright, Mike Eisen, Chris Fromme, Brenton Graveley,
Chris Hammell, Steve Hahn, Oliver Hobert, Ann Hochschild, Jim Hu, David
jerulzalmi, Leemor joshua-Tor, Sandy johnson, Andrew Knoll, Adrian Krai-
ner, julian Lewis, Sue Lovett, Karolin Luger, Kristen Lynch, Rob Martienssen,
Bill McGinnis, Matt Michael, Lily Mireis, Nipam Patel, Mark Ptashne, Danny
Reinberg, Dimitar Sasselov, David Shechner, Sarah T. Stewart-Mukhopadhyay,
Bruce Stillman ejack Szostak.
Prefácio xi
]ames D. Watson
Tania A. Bak er
Stephen P. Bel!
Alexander Gann
Michael Levine
Rich ard Losick
1
Per Kraulis concedeu permissão para o uso de MoiScript (Kraulis P.]. 1991. MOLS-
CRIPT: A program to produce both detailed and schematic plots of protein structures.
f. Appl. Cryst. 24: 946-950). Robert Esnouf concedeu permissão para o uso de BobScript
(Esnouf R.M. 1997. f. Mo/. Graph. lS: 132-134). Além disso, Ethan Merritt permitiu que
utilizássemos o Raster3D (Merritt E.A. e Bacon D.]. 1997. Raster3D: Photorealistic mole-
cular graphics. M ethods Enzymol. 277: 505-524), e Barry Honig forneceu permissão para
usar GRASP (Nicolls A., Sharp K.A. e Honig B. 1991. Protein folding and association:
Insights from the interfacial and thermodynamic properties of hydrocarbons. Proteins
11: 281-296) . Warren DeLano concordou com o uso de PyMOL (DeLano W.L. 2002. The
PyMOL Molcmlar Graphics System. DeLano Scientific, Paio Alto, California).
Sumário Resumido
PARTE 1 PARTE4
I ·~: li &I
,
HISTORIA 1 EXPRESSÃO DO GENOMA 423
1 A Visão Mendeliana do Mundo 5 13 Mecanismos de Transcrição 429
,
2 Os Acidos Nucleicos Transportam as 14 Processamento do RNA 467
Informações Genéticas 21 15 Tradução 509
PARTE2 16 Código Genético 573
17 Origem e Evolução Inicial da Vida 593
-~
22 Biologia de Sistemas 775
MANUTENÇÃO PARTE6
DO GENOMA 193
8 Estrutura do Genoma, Cromatina e
APÊNDICES 793
Nucleossomo 199
9 Replicação do DNA 257 1 Organismos-modelo 797
10 Mutabilidade e Reparo do DNA 313 2 Respostas 831
11 Recombinação Homóloga em Nível
Molecular 341
12 Recombinação Sítio-específica e
Transposição do DNA 377 Índice 845
Sumário Detalhado
,
PARTE 1: HISTORIA 1
~ 1 A Visão Mendeliana do Mundo 5
AS DESCOBERTAS DE MENDEL 6 MAPEAMENTO CROMOSSÓMICO 11
O princípio da segregaçao Independente dos A ORIGEM DA VARIABILIDADE GENÉ.TICA POR MEIO
fatores 6 DE MUTAÇÕES 13
CONCEITOS AVANÇADOS QUADRO 1-1 Leis de ESPECULAÇÕES INICIAIS SOBRE O QUE SÃO OS
Mendel 6 GENES E COMO ELES ATUAM 1S
Alguns alelos nl!o sl!o dominantes nem recessivos 7 TENTATIVAS PRELIMINARES PARA ENCONTRAR UMA
Princípio da distrlbulçl!o aleatória 8 RELAÇÃO ENTRE GENE E PROTEÍNA 16
TEORIA CROMOSSÓMICA DA HEREDITARIEDADE 8 RESUMO 17
LIGAÇÃO GtNICA E CROSSING OVER BIBLIOGRAFIA 17
(RECOMBINAÇÃO) 9
QUESTÕES 18
EXPERIMENTOS-CHAVE QUADRO 1-2 Os genes
estão ligados a cromossomos 10
PARTE 2: ESTRUTURA
, E ESTUDO
DE MACROMOLECULAS 45
ff-13 A Importância das Ligações Químicas Fracas e Fortes 51
CARACTERÍSTICAS DAS LIGAÇÕES QUÍMICAS 51 Vantagem de ilG entre 2 e 5 kcal/mol 62
Ligações q uímicas são explicadas pela mecânica Ligações fracas unem as enzimas aos substratos 62
quântica 52 Ligações fracas promovem a maioria das interações
A formação de ligações químicas envolve uma proteína-DNA e proteína-proteína 63
alteração na forma de energia 53 LIGAÇÕES DE ALTA ENERGIA 63
Equilíbrio entre a formação e a q uebra de
MOLÉCULAS QUE DOAM ENERGIA SÃO
ligações 53
TERMODINAMICAMENTE INSTÁVEIS 63
O CONCEITO DE ENERGIA LIVRE 54
ENZIMAS REDUZEM A ENERGIA DE ATIVAÇÃO NAS
Keq está exponencialmente relacionada ao ilG 54 REAÇÕES BIOQUÍMICAS 65
Ligações covalentes são muito fortes 54 ENERGIA LIVRE NAS BIOMOLÉCULAS 66
LIGAÇÕES FRACAS EM SISTEMAS BIOLÓGICOS 55 Ligações de alta energia são hidrolisadas com alto
Ligações fracas têm energia entre 1 e 7 kcal/mol 55 ilG negativo 66
Ligações fracas são constantemente formadas e LIGAÇÕES DE ALTA ENERGIA NAS REAÇÕES
rompidas em temperaturas fisiológicas 55 BIOSSINTÉTICAS 67
Diferenças entre moléculas polares e apoiares 55 Ligações peptídicas hidrolisam
Forças de van der Waals 56 espontaneamente 68
Ligações de hidrogênio 57 Acoplamento de ilG negativo a ilG positivo 69
Algumas ligações iônicas são ligações de ATIVAÇÃO DE PRECURSORES NAS REAÇÕES DE
h idrogênio 58 TRANSFERÊNCIA DE GRUPOS 69
Interações fracas necessitam de superfícies Versatilidade do ATP na transferência de grupos 70
moleculares complementares 58 Ativação de aminoácidos pela ligação de AMP 70
Moléculas de água formam ligações de Precursores de ácidos nucleicos são ativados pela
h idrogênio 59 presença de G - G 71
Ligações fracas entre moléculas em soluções O valor da liberação de G - G na síntese dos
aquosas 59 ácidos nucleicos 72
Moléculas orgânicas que tendem a formar as A quebra da ligação G - G caracteriza a maioria
ligações de hidrogênio são hidrossolúveis 60 das reações biossíntéticas 73
"Ligações" hidrofóbicas estabilizam as RESUMO 74
macromoléculas 60
BIBLIOGRAFIA 75
CONCEITOS AVANÇADOS QUADRO 3.1
A singularidade das formas moleculares e o conceito QUESTÕES 75
de viscosidade seletiva 61
~ 4 A Estrutura do DNA 77
ESTRUTURA DO DNA 78 A dupla-h élice é estabilizada por pareamento de
O DNA é composto por cadeias bases e empilh amento de bases 82
polinucleotídicas 78 A formação de ligações de hidrogênio é importante
Cada base apresenta uma forma tautomérica para a especificidade do pareamento de bases 83
preferencial 80 As bases podem ser deslocadas da dupla-hélice 83
As duas fitas da dupla-hélice são enroladas uma na Normalmente, o DNA é uma dupla-hélice
outra em orientação antiparalela 81 dextrógira, voltada para a direita 83
As duas cadeias da dupla-hélice apresentam EXPERIMENTOS-CHAVE QUADRO 4-1 O DNA
sequências complementares 8 1 tem 10, 5 pares de bases por volta da hélice em
solução: o experimento de mica 84
Sumário Detalhado xvii
A ESTRUTURA PROTEICA PODE SER DESCRITA EM Predição da estrutura protelca a partir da sequência
QUATRO NívEIS 126 de aminoácidos 135
DOMÍNIOS PROTEICOS 129 ALTERAÇÕES CONFORMACIONAIS NAS
Cadeias pollpeptidicas geralmente enovelam-se em PROTEÍNAS 136
um ou mais domínios 129 PROTEÍNAS COMO AGENTES DE
CONCEITOS AVANÇADOS QUADRO 6-2 RECONHECIMENTO MOLECULAR ESPECÍFICO 137
Glossário de termos 130 Proteinas que reconhecem sequências de
Lições básicas a partir de estudos das estruturas DNA 137
proteicas 131 Interfaces proteína-proteina 140
Classes de dominlos proteicos 132 Proteinas que reconhecem RNA 141
Conectares e dobradiças 133 ENZIMAS: PROTEÍNAS COMO AGENTES
Modificações pós-traducionais 133 CATALISADORES 141
CONCEITOS AVANÇADOS QUADRO 6-3 REGULAÇÃO DA ATIVIDADE PROTEICA 142
A molécula de anticorpo como ilustração dos
domfnios proteicos 133 RESUMO 143
Proteínas específicas podem ser purificadas a partir A espectrometria de massa também pode monitorar
de extratos celulares 173 estados de modificação proteica 181
A purificação de uma proteína requer um Interações proteína-proteína podem fornecer
protocolo específico 173 informações sobre a função proteica 182
Preparação de extratos celulares contendo INTERAÇÕES ÁCIDO NUCLEICO-PROTEÍNA 182
proteínas ativas 174 A mobilidade eletroforética do DNA é alterada por
As proteínas podem ser separadas umas das outras ligação a proteínas 183
por cromatografia em coluna 174 Proteínas ligadas ao DNA o protegem da ação de
Separação de proteínas em géis de nucleases e de modificações químicas 184
poliacrilamida 17 6 A imunoprecipitação da cromatina pode detectar
Anticorpos evidenciam as proteínas separadas por a associação da proteína com o DNA na
eletroforese 177 célula 185
As moléculas proteicas podem ser diretamente Ensaios de captura de conformação cromossômica
sequenciadas 177 são utilizados para analisar interações de longo
PROTEÔMICA 179 alcance 187
A combinação de cromatografia líquida com a A seleção in vitro pode ser utilizada para identificar
espectrometria de massa identifica proteínas um sítio de ligação de proteína no DNA ou no
individuais em um extrato complexo 179 RNA 189
Comparações entre proteomas identificam BIBLIOGRAFIA 190
diferenças importantes entre as células 181 QUESTÕES 190
PARTE 3: MANUTENÇAO -
DO GENOMA 193
l~l s Estrutura do Genoma, Cromatina e Nucleossomo 199
SEQUÊNCIA DO GENOMA E DIVERSIDADE A estrutura cromossômica altera-se à medida que a
CROMOSSÔMICA 200 célula se divide 212
Os cromossomos podem ser circulares ou A coesão das cromátides-irmãs e a condensação
lineares 200 cromossômica são promovidas pelas proteínas
Cada célula mantém um número característico de SMC 214
cromossomos 201 A mitose mantém o número cromossômico
O tamanho do genoma está relacionado com a parenta) 214
complexidade do organismo 202 Durante as fases de parada (G), as células
O genoma de E. coli é quase inteiramente preparam-se para o próximo estágio do ciclo
composto por genes 203 celular e verificam se o estágio anterior foi
corretamente concluído 217
Organismos mais complexos apresentam
densidade gênica menor 204 A meiose reduz o número de cromossomos
parentais 217
Os genes correspondem apenas a uma
pequena porção do DNA cromossômico de Diferentes níveis de estrutura cromossômica
eucariotos 205 podem ser observados por microscopia 219
A maioria das sequências intergênicas humanas é NUCLEOSSOMO 220
composta por DNA repetitivo 207 Os nucleossomos são os blocos construtores dos
DUPLICAÇÃO E SEGREGAÇÃO cromossomos 220
CROMOSSÔMICA 208 Histonas são pequenas proteínas com carga
Cromossomos eucarióticos necessitam que positiva 221
centrômeros, telômeros e origens de replicação Estrutura atômica do nucleossomo 224
sejam mantidos durante a divisão celular 208 As histonas ligam-se a regiões específicas do DNA
A duplicação e a segregação de cromossomos no nucleossomo 224
eucarióticos ocorrem em fases separadas do EXPERIMENTOS-CHAVE QUADRO 8-1
ciclo celular 21 O A nuclease de micrococos e o DNA associado ao
nucleossomo 226
XX Sumário Detalhado
As DSBs no DNA também são reparadas por CONCEITOS AVANÇADOS QUADRO 10-6
ligação direta de extremidades quebradas 331 DNA-polimerases da família Y 336
CONEXÕES CLÍNICAS QUADRO 10-5 Junção de RESUMO 338
extremidades não homólogas 332
BIBLIOGRAFIA 338
A síntese de DNA translesão permite que a
replicação prossiga pela lesão do DNA 333 QUESTÕES 339
PARTE 4: EXPRESSÃO
DO GENOMA 423
~ 13 Mecanismos de Transcrição 429
RNA-POLIMERASES E CICLO DE TRANSCRIÇÃO 430 Os promotores essenciais da RNA-polimerase II são
Existem dife.r entes formas de Ri~A-polimerases, formados pela combinaçao de diferentes classes
mas todas apresentam diversas características de elementos de sequência 448
comuns 430 A RNA-polimerase IT forma um complexo de
A transcriçao pela RNA-polimerase ocorre em prê-início com os fatores gerais de transcrição
várias etapas 432 no promotor 449
O início da transcriçao envolve três etapas O escape do promotor requer a fosforilação da
definidas 434 "cauda" da polimerase 449
CICLO DE TRANSCRIÇÃO NAS BACTÉRIAS 434 A TBP liga-se ao DNA e provoca sua distorção pela
inserção de uma folha J3 na fenda menor 451
Promotores bacterlanos variam em força e
sequêncla, mas apresentam determinadas Os demais fatores gerais de transcrição também
caracteristlcas definidas 434 têm funções especificas no Inicio 452
TÉCNICAS QUADRO 13-1 Sequências O início da transcrição in vivo requer proteínas
consenso 436 adicionais, incluindo o complexo Mediador 453
O fator a medeia a ligaçao da polimerase ao O Mediador é composto por diversas subunldades,
promotor 437 algumas conservadas de leveduras a seres
humanos 454
A translçllo para complexo aberto envolve
alterações estruturais na RNA-polimerase e no Um novo conjunto de fatores estimula o
DNA do promotor 438 alongamento pela Pol rr e a revisão de leitura do
RNA 455
A transcrlçllo é iniciada pela RNA-polimerase sem
a necessidade de um iniciador 440 A RNA-polimerase em alongamento deve lidar
com histonas em seu caminho 456
Durante a transcrlçllo inicial, a RNA-polimerase
permanece parada e puxa o DNA a jusante para A polimerase de alongamento está associada a um
si 441 novo conjunto de fatores proteicos necessários
para vãrios tipos de processamento de RNA 457
O escape do promotor envolve a quebra
das interações polimerase-promotor e O término da transcrição está ligado à destruição do
polimerase-fator a 442 RNA por uma RNase de alta processividade 460
A polimerase de alongamento é uma máquina TRAt'iSCRIÇÃO PELAS RNA-POLIMERASES I E l i 462
processiva que sintetiza e revisa o Ri~A 442 As RNA Pol I e Pol Ili reconhecem promotores
CONCEITOS AVANÇADOS QUADRO 13-2 distintos, mas ainda requerem TBP 462
RNA-polimerases compostas por uma única Pol I transcreve apenas genes de rRNA 462
subunidade 443 Os promotores da Pol Ili silo encontrados a jusante
A RNA-pollmerase pode ficar presa e necessitar de do sítio de início da transcrição 463
remoçao 445 RESUMO 463
A transcrlçilo é terminada por sinais na sequência
de RNA 445 BIBLIOGRAFIA 464
QUESTÕES 465
TRANSCRIÇÃO NOS EUCARIOTOS 448
As atividades do repressor Lac e da CAP são O repressor e Cro ligam-se em padrões diferentes
controladas alostericamente por seus para controlar os crescimentos lítico e
sinais 626 lisogênico 640
Controle combinatório: CAP também controla CONCEITOS AVANÇADOS QUADRO 18-4
outros genes 627 Concentração, afinidade e ligação cooperativa 641
EXPERIMENTOS-CHAVE QUADRO 18-2 ]acob, A indução lisogênica requer a clivagem proteolítica
Monod e as ideias por trás da regulação gênica 628 do repressor de À 642
Fatores a alternativos direcionam a A autorregulação negativa do repressor exige
RNA-polimerase para conjuntos alternativos de interações de lon ga distância e uma grande alça
promotores 630 deDNA 643
NtrC e MerR: ativadores de transcrição que Outro ativador, À CII, controla a decisão en tre os
atuam por alosteria em vez de atuar por crescimentos lítico ou lisogênico no momento
recrutamento 630 da infecção de um novo h ospedeiro 644
NtrC tem atividade ATPásica e atua a partir de EXPERIMENTOS-CHAVE QUADRO 18-5 Evolução
sítios no DNA distantes do gene 631 do comutador de À 645
MerR ativa a transcrição provocando uma torção O n úmero de partículas de fago que infecta uma
no DNA do promotor 632 dada célula determin a se a infecção prossegue
Alguns repressores retêm a RNA-polimerase no pela via lítica ou pela via lisogênica 647
promotor ao invés de excluí-la 633 As condições de crescimento de E. coli controlam
AraC e o controle do óperon araBAD por a estabilidade da proteína CII e, portanto, a
an tia tivação 634 escolh a lítica/lisogênica 648
CONEXÕES CLÍNICAS QUADRO 18-3 Bloqueio Anti términ o da transcrição no desenvolvimento
da virulência por vias de silenciamento da deÀ 648
comunicação intercelular 635 EXPERIMENTOS-CHAVE QUADRO 18-6
O CASO DO BACTERIÓFAGO À: CAMADAS DE Abordagens genéticas que identificaram genes
REGULAÇÃO 636 envolvidos na escolha lítico/lisogênico 649
,
lndice 845
Quadros
CONCEITOS AVANÇADOS
QUADRO 1-1 Leis de Mendel, 6 QUADRO 13-2 RNA-polimerases compostas por uma
QUADRO 3.1 A singularidade das formas única subun idade, 443
moleculares e o conceito de QUADRO 15-1 Enzimas de adição de CCA: síntese de
viscosidade seletiva, 61 RNA sem molde, 513
QUADRO 6-1 Gráfico de Ramachandran: QUADRO 15-2 Selenocisteína, 520
combinações permitidas de ângulos de QUADRO 15-3 uORFs e IRESs: exceções que
torsão <I> e wda cadeia principal, 124 con firmam a regra, 533
QUADRO 6-2 Glossário de termos, 130 QUADRO 15-4 Proteín as de ligação ao GTP, alterações
QUADRO 6-3 A molécula de anticorpo como conformacionais e fidelidade
ilustração dos domínios proteicos, 133 e ordenamen to dos eventos de
QUADRO 9-3 Controle da função proteica pelo ATP: tradução, 546
adição do grampo deslizante, 282 QUADRO 16-1 Expansão do código genético, 589
QUADRO 9-5 A replicação do DNA de E. coli é QUADRO 18-4 Concentração, afinidade e ligação
regulada pelos níveis de Dn aA·ATP e cooperativa, 641
SeqA, 294 QUADRO 19-5 Existe um código de histon as?, 691
QUADRO 10-3 Quantificação do dano ao DNA e QUADRO 20-1 Óperons biossin téticos de
seus efeitos sobre a sobrevivência e a aminoácidos são controlados por
mutagênese celulares, 323 atenuação, 707
QUADRO 10-6 DNA-polimerases da família Y, 336 QUADRO 21-2 Revisão sobre o citoesqueleto:
QUADRO 11-1 Como resolver um intermediário de assimetria e crescimento, 741
recombinação com duas junções de QUADRO 21-3 Visão geral do desenvolvimen to de
Holliday, 350 Drosophila, 748
QUADRO 12-2 A recombinase Xer catalisa a QUADRO 21-6 Limiares de gradien te, 757
monomerização de cromossomos QUADRO 21-8 Os genes homeóticos de Drosophila
bacterianos e de muitos plasmídeos são organizados em agrupamentos
bacterianos, 392 cromossõmicos especiais, 764
QUADRO 12-4 Mecanismo da imunidade do alvo da
transposição, 413
EXPERIMENTOS-CHAVE
QUADRO 1-2 Os genes estão ligados a cromossomos, QUADRO 6-4 A estrutura tridimensional de
10 uma proteína é especificada por
QUADRO 2-1 Regras de Chargaff, 26 sua sequência de aminoácidos
QUADRO 2-2 Evidência de que os genes con trolam (experimen to de Anfinsen), 135
a sequência de amin oácidos das QUADRO 7-2 Os sequenciadores são utilizados para
proteín as, 3 1 o sequenciamento em larga escala,
QUADRO 4 -1 O DNA tem 10,5 pares de bases 163
por volta da h élice em solução: o QUADRO 8-1 A n uclease de micrococos e o DNA
experimento de mica, 84 associado ao nucleossomo, 226
QUADRO 4-2 Como pontos em um filme de raios X QUADRO 8-2 Nucleossomos e densidade
revelam a estrutura do DNA, 88 super-helicoidal, 230
QUADRO 4-3 Prova de que o DNA apresenta uma QUADRO 8-3 Determinação do posicionamento do
periodicidade h elicoidal de cerca de nucleossomo n a célula, 245
10,5 pares de bases por volta a partir QUADRO 9-4 Identificação de origens de replicação
das propriedades topológicas de an éis e replicadores, 290
deDNA, 103
xxxiv Quadros
QUADRO 12-3 Elementos do milho e descoberta de QUADRO 18-5 Evolução do comutador de À, 645
transposons, 408 QUADRO 18-6 Abordagens genéticas que
QUADRO 14-1 Os adenovírus e a descoberta do identificaram genes envolvidos na
processamento, 471 escolha lítico/lisogênico, 649
QUADRO 14-2 Conversão dos íntrons do grupo I em QUADRO 19-4 Evolução de um circuito regulador,
ribozimas, 479 683
QUADRO 14-3 A identificação do sítio de ancoragem QUADRO 20-2 Descoberta de miRNAs e RNAi, 722
e das sequências seletoras, 490 QUADRO 21-4 Sinergia de ativadores, 752
QUADRO 18-1 Experimentos que dispensam o QUADRO 21-7 Sequências reguladoras em eis no
ativador, 624 desenvolvimento e evolução animal,
QUADRO 18-2 Jacob, Monod e as ideias por trás da 759
regulação gênica, 628 QUADRO 22-1 Biestabilidade e histerese, 782
CONEXÕES CLÍNICAS
QUADRO 5-1 Um riboswitch controla a síntese de QUADRO 12-1 Aplicação da recombinação
proteínas pelo vírus da leucemia sítio-específica na engenharia
murina, 112 genética, 386
QUADRO 9-2 Agentes anticancerígenos e antivirais QUADRO 14-4 Defeitos no processamento do
atuam sobre a replicação do DNA, 268 pré-mRNA causam doenças humanas,
QUADRO 9-6 Envelhecimento, câncer e a hipótese 497
do telômero, 307 QUADRO 14-5 Desaminases e HIV, 503
QUADRO 10-1 A expansão de repetições em trincas QUADRO 15-5 Os antibióticos interrompem a divisão
provoca doenças, 316 celular ao bloquear etapas específicas
QUADRO 10-2 Teste de Ames, 321 da tradução, 552
QUADRO 10-4 Conectando o reparo por excisão de QUADRO 15-7 Um fármaco de primeira linha no
nucleotídeo e a síntese translesão tratamento da tuberculose tem como
a uma doença genética em seres alvo a etiqueta SsrA, 565
humanos, 330 QUADRO 18-3 Bloqueio da virulência por vias de
QUADRO 10-5 Junção de extremidades não silenciamento da comunicação
homólogas, 332 intercelular, 635
QUADRO 11-2 O produto do gene supressor de tumor QUADRO 19-3 Modificações de histonas,
BRCA2 interage com a proteína Rad51 alongamento da transcrição e
e controla a estabilidade do genoma, leucemia, 670
367 QUADRO 19-6 Repressão transcricional e doenças
QUADRO 11-3 Proteínas associadas ao humanas, 696
envelhecimento precoce e ao cãncer QUADRO 20-3 microRNAs e doenças humanas, 727
promovem uma via alternativa para o QUADRO 21-1 Formação de células iPS, 734
processamento da junção de Holliday, QUADRO 21-5 Nicho da célula-tronco, 755
368
TÉCNICAS
QUADRO 5-2 Criação de um RNA que mimetiza QUADRO 13-1 Sequências consenso, 436
a proteína fluorescente verde por QUADRO 15-6 Perfil de ribossomo e polissomo, 561
evolução dirigida, 115 QUADRO 19-1 Teste duplo-híbrido, 664
QUADRO 7-1 Análise forense e a reação em cadeia QUADRO 19-2 Os ensaios de ChiP-Chip e ChiP-Seq
da polimerase, 160 são os melhores métodos para a
QUADRO 9-1 Ensaios de incorporação podem ser identificação de reforçadores, 666
usados para medir a síntese de ácidos
nucleicos e de proteínas, 261
PARTE 1
.,
HISTORIA
--- .
----
f<.f
2 Parte 1 História
A
O CONTRÁRIO DO RESTAK I'E DESrE LIVRO, OS
Parte 1 contêm material praticamente inalterado em relação às edições
anteriores. Mesmo assim, esses capítulos foram mantidos porque o ma-
terial continua sendo importante. Especificamente, os Capítulos 1 e 2 nos for-
necem uma visão histórica de como foram estabelecidos o campo da genética e
suas bases moleculares. Neles, são descritos as ideias e os experimentos básicos
desta área.
O Capítulo 1 aborda os eventos que formam a base da história da genéti-
ca. Será discutido desde os famosos experimentos de Mendel com ervilhas, os
quais revelaram as leis básicas da hereditariedade, até a hipótese de Garrod de
que um gene codifica uma enzima. O Capítulo 2 descreve o desenvolvimento
revolucionário da biologia molecular, iniciando com a descoberta de Avery de
que o DNA é o material genético, continuando com a proposta da estrutura
de dupla-hélice de DNA de ]ames Watson e Francis Crick, até a elucidação do
código genético e o "dogma central" (DNA "produz" RNA, que "produz" pro-
teínas). Esse capítulo termina com uma discussão sobre os recentes progressos
originados pelo sequenciamento completo de genomas de diversos organis-
mos e seu impacto na biologia moderna.
Raymond Appleyard, George Bowen e Martha Chase, Max Perutz, 1971 Simpósio sobre a estrutura e a fun-
1953 Simpósio sobre vírus. Appleyard e Bowen, ambos ção de proteínas em nível tridimensional. Perutz d ividiu
geneticistas de fagos, são mostrados aqui com Chase, que o Prêmio Nobel de Química, em 1962, com John Kendrew;
em 1952, juntamente com Alfred Hershey, realizou um utilizando cristalografia por raios X, e após 25 anos de es-
experimento simples que final mente convenceu a maioria forços, eles foram os primeiros a resolver a estrutura até-
das pessoas de que o material genético é o DNA (Cap. 2). mica de proteínas - hemoglobina e mioglobina, respecti -
va mente (Cap. 6).
Sydney Brenner e James Watson, 1975 Simpósio sobre Francis Crick, 1963 Simpósio sobre a síntese e a estrutu-
a sinapse. Brenner, mostrado aqui com Watson, contribuiu ra de macromoléculas. Além de sua participação na des·
para a descoberta do mRNA e da natureza do código gené- coberta da estrutura do DNA, Crick foi a força intelectual
tico (Caps. 2 e 16); entretanto, sua parte no Prêmio Nobel que impulsionou o desenvolvimento da biologia molecular
de 2002 foi pelo estabelecimento do verme Caenorhabdit is em seus primeiros e decisivos anos. Sua "hipótese do adap·
elegans como sistema -modelo para o estudo da biologia tador" (em nota publicada no informativo do RNA Tie C/ub)
do desenvolvimento (Apêndice 1). previa a existência de moléculas necessárias à tradução do
código genético do RNA para a sequência de aminoácidos
das proteínas. Todavia, somente mais tarde constatou-se
que os tRNAs realizam justamente essa função (Cap. 15) .
4 Parte 1 História
Charles Yanofsky, 1966 Simpósio sobre o código gené- Edwin Chargaff, 1947 Simpósio sobre ác.i dos nucleicos
tico. Yanofsky (à direita), juntamente com Sydney Brenner, e nucleoproteínas. As famosas proporções do célebre bio·
provou a colinearidade do gene - ou seja, que grupos su- químico de ácidos nucleicos Chargaff - de que a quantidade
cessivos de nucleotídeos cod ificava m aminoácidos suces· de adenina em uma amostra de DNA é correspondente à de
sivos no produto proteico (Cap. 2) . Mais tarde, ele desce· timina, e que a quantidade de citosina é correspondente à de
briu o primeiro exemplo de regulação t ranscricional pela guanina - foram posteriormente compreendidas no contex·
estrutura do RNA em sua análise detalhada da atenuação to da estrutura de dupla-hélice do DNA de Watson e Crick.
do óperon triptofano de Escherichia co/i (Cap. 20). Na foto· Talvez um tanto frustrado por não ter, ele próprio, sugerido
grafia, ele aparece conversando com Michael Chambertin, o pareamento das bases, Chargaff tornou-se um crítico áci·
que estudou o início da transcrição pela RNA-polimerase. do da biologia molecular, ocupação que ele descreveu como
"essencialmente a prática da bioquímica sem um diploma" .
CAPÍTU LO 1
A Visão Mendeliana
do Mundo
, entre OS organismos vi-
E
fii<:IL COKSIDERAR O SER HUMANO COMO UM SER ÚNICO
VOS. Apenas os humanos desenvolveram linguagens complicadas que per-
mitem interações complexas e significativas de ideias e emoções. Grandes
civilizações desenvolveram e alteraram o ambiente global de maneiras incon-
cebíveis para qualquer outra forma de vida. Em vista disso, sempre existiu uma
tendência de imaginar que algo especial diferencia os seres humanos de cada
uma das outras espécies. Essa crença encontrou expressão nas muitas formas
de religião pelas quais se buscam as razões de nossa existência e, ao fazer isto,
tentamos criar regras viáveis para conduzir nossas vidas. Pouco mais de um sé-
culo atrás, parecia natural pensar que, assim como toda vida humana começa e
termina em um tempo fixo, a espécie humana e todas as outras formas de vida
deveriam ter sido criadas em um momento exato.
Essa crença foi seriamente questionada pela primeira vez há quase 150 anos,
quando Charles Darwin e Alfred R. Wallace propuseram suas teorias da evo-
lução, com base na seleção do mais adaptado. Eles sugeriram que as diversas
formas de vida não seriam constantes, mas que, contin uamente, dariam origem
a plantas e animais ligeiramente diferentes, alguns dos quais se adaptariam para
sobreviver e se multiplicariam de forma mais eficiente. Na época dessa teoria,
eles não conheciam a origem dessa variação contínua, mas perceberam correta-
mente que para formar as bases da evolução essas novas características deveriam
persistir na progênie.
No início, houve uma grande fúria contra Darwin, a maior parte dela vinda
de pessoas que não queriam acreditar que os seres humanos e macacos de apa-
rência grotesca poderiam ter um ancestral comum, mesmo que este ancestral
tivesse vivido há cerca de 10 milhões de anos. Houve também uma oposição
inicial de vários biólogos que não estavam convencidos pelas evidências de
Darwin . Entre eles estava o famoso naturalista Jean L. Agassiz, na época em
Harvard, que passou muitos anos escrevendo contra Darwin e seu defensor,
Thomas H. Huxley, o mais bem-sucedido popularizador da evolução. Contudo,
no fim do século XIX, a discussão científica estava praticamente concluída;
tanto a distribuição geográfica atual de plantas e animais como sua ocorrên-
cia seletiva em registros fósseis do passado geológico apenas podiam ser expli-
cadas admitindo-se que grupos de organismos sofreram evolução contínua e
descendiam de um ancestral comum. Atualmente, a evolução é aceita como
fato, exceto por uma minoria fundamentalista, cujas objeções baseiam-se em
doutrinas e princípios religiosos e não em conhecimento científico.
Uma consequência imediata da teoria darwiniana é a constatação de que
a vida surgiu na Terra há mais de 4 bilhões de anos como uma forma simples,
6 Parte 1 História
AS DESCOBERTAS DE MENDEL
Os experimentos de Gregor Mendel baseavam-se nos resultados de cruzamentos
experimentais (cruzamentos genéticos) entre linhagens de ervilhas que diferiam
em características bem-definidas, como o formato da semente (liso ou rugoso), a
coloração da semente (amarela ou verde), a forma da vagem (cheia ou enrugada)
e o comprimento da haste (longo ou curto). Sua concentração em diferenças
bem-definidas foi de grande importância; muitos criadores já haviam tentado
seguir a herança de aspectos mais genéricos, como o peso do corpo, e não ha-
viam sido capazes de identificar regras simples sobre a transmissão dessas carac-
terísticas dos progenitores para a descendência (ver Quadro 1-1, Leis de Mendel).
• CONCEITOS AVANÇADOS
Qu a d ro 1- 1 Leis de Mendel
A qualidade mais impressionante de uma célula viva é sua durante a meiose foram identificadas como necessárias para
habilidade para transmitir propriedades hereditárias de uma a manutenção do número cromossômico constante. Esses fa·
geração celular para outra. A existência da hereditariedade tos, no entanto, meramente sugeriam que os cromossomos
deve ter sido observada pelos primeiros seres humanos, que eram portadores da hereditariedade.
testemunharam a transmissão de características, como cor A prova veio na virada do século com a descoberta das
dos olhos ou dos cabelos, de genitores para descendentes. regras básicas da hereditariedade. Os conceitos foram primei·
Sua base física, no entanto, só veio a ser compreendida nos ramente propostos por Gregor Mendel em 1865 em um artigo
primeiros anos do século XX, quando, durante um período entitulado "Experiments in Plant Hybridization" ("Experimen·
excepcional de atividade criativa, a teoria cromossômica da tos em Hibridização de Plantas") apresentado à Natu ral Scien·
hereditariedade foi estabelecida. ce Society em 8rno. Em sua apresentação, Mendel descreveu
A transmissão hereditária pelo espermatozoide e em detalhes os padrões de transmissão das características em
pelo óvulo tornou-se conhecida em 1860, e em 1868 Ernst plantas de ervilha, suas conclusões sobre os princípios da he·
Haeckel, notando que o espermatozoide é composto basica- reditariedade, e sua relevância para as controversas teorias
mente por material nuclear, postulou que o núcleo era res- da evolução. O clima da opinião científica, no entanto, não
ponsável pela hereditariedade. Quase 20 anos se passaram foi favorável, e essas ideias foram completamente ignoradas,
antes que os cromossomos fossem identificados como os apesar dos esforços iniciais de Mendel para chamar a atenção
fatores ativos, porque os detalhes da mitose, da meiose e da dos biólogos notórios de seu tempo. Em 1900, 16 anos após a
fertilização precisaram ser compreendidos primeiro. Quan- morte de Mendel, três melhoristas de plantas trabalhando de
do isso foi feito, pôde-se notar que, ao contrário de outros maneira independente em diferentes sistemas confirmaram o
componentes celulares, os cromossomos são igualmente significado do trabalho esquecido de Mendel. Hugo de Vries,
d ivididos entre as células-filhas. Além disso, as complicadas Karl Correns e Erich von Tschermak-Seysenegg, todos fazendo
alterações cromossômicas que reduzem o número cromossô- experimentos semelhantes aos de Mendel, chegaram a cond u·
mico de espermatozoides e óvulos para o número haploide sões similares antes de conhecer o trabalho de Mendel.
Capítulo 1 A Visão Mendeliana do Mundo 7
··"~ j
uma progênie mista, na proporção de 3:1 de dominantes para recessivos. D Çlr masculinos
Mendel interpretou seus resultados corretamente da seguinte maneira
(Fig. 1-1): as diversas características são controladas por pares de fatores (os ®
quais agora são chamados de genes), um fator proveniente do progenitor 0 0
masculino e o outro proveniente do progenitor feminino. Por exemplo, as li-
nhagens puras de ervilhas lisas contêm duas versões (ou alelos) do gene para
aparência lisa (RR, roundness), enquanto as linhagens puras de ervilhas rugo-
sas apresentam duas cópias do ale lo para aparência rugosa (rr) . Cada um dos
geração F2
gametas da linhagem lisa possui um alelo para a aparência lisa (R); cada um
dos gametas da linhagem rugosa possui um alelo para a aparência rugosa (r).
Em um cruzamento entre RR e rr, a fertilização gera uma planta com ambos FIGURA 1-1 Como a primeira lei
os alelos (Rr) em F,. As sementes terão aparência lisa porque R é dominante de Mendel (segregação independen-
te dos fatores) explica a proporção
sobre r. Refere-se à aparência ou à estrutura física de um indivíduo como seu
de 3: 1 de fenótipos dominante para
fenótipo, e à sua composição genética como seu genótipo. Indivíduos com recessivo entre os descendentes da
fenótipos idênticos podem apresentar genótipos diferentes; dessa forma, para F, . R representa o gene dominante e r , o
determinar o genótipo de um organismo, com frequência é necessário realizar gene recessivo. A semente lisa representa
cruzamentos genéticos por várias gerações. O termo bomozigoto refere-se a o fenótipo dominante, a semente rugosa,
genes nos quais ambos os alelos, materno e paterno, são idênticos (p. ex., RR o fenóti po recessivo.
ou rr). Em contrapartida, os genes nos quais os alelos paterno e materno são
diferentes (p. ex., Rr) são chamados de heterozigotos.
Um determinado gene pode ser representado por uma ou várias letras ou
símbolos. O alelo dominante do gene pode ser indicado por uma letra maiús-
cula (R), por um sinal de + sobrescrito (r•), ou por um sinal de + sozinho. Nas
discussões apresentadas aqui, será utilizada a primeira convenção na qual o
alelo dominante é representado por uma letra maiúscula e o alelo recessivo
por uma letra minúscula.
É importante observar que um determinado gameta contém apenas uma
das duas cópias (um ale lo) dos genes presentes no organismo original (p. ex.,
R ou r, mas nunca ambos) e que os dois tipos de gametas são produzidos em
números iguais. Portan to, há chance de 50:50 de um dado gameta de uma
ervilha de F, possuir um determinado ale lo (R ou r). Essa escolha é puramen-
te aleatória. Não se espera encontrar proporções exatas de 3:1 ao examinar
um número limitado de descendendentes em F2 • A proporção será às vezes
levemente maior e, outras vezes, levemente menor. Porém, à medida que o
tamanho da amostra aumenta, espera-se que a proporção de ervilhas com a
característica dominante em relação às ervilhas com a característica recessiva
se aproxime de 3:1.
O reaparecimento da característica recessiva na geração F2 indica que os
alelos recessivos não são modificados nem perdidos na geração F1 (Rr), mas
que os genes dominante e recessivo são transmitidos de forma independente
e, portanto, são capazes de segregar de maneira independente durante a for-
mação das células sexuais. Esse princípio da segregação independente
dos fatores é frequentemente citado como a primeira lei de Mendel.
el
gametas e)
juntamente com a herança do formato da
semente lisa (R) e rugosa (r). Os alelos R
e Y são dominantes sobre r e y. Os genó-
geração F2
gametas gametas
Inicial mente, todos os experimentes com cruzamentos uti- garrafa de cultivo de moscas de olhos vermelhos. Como es-
lizavam diferenças genéti cas já existentes na natureza. Por sencialmente todas as d rosófilas encontradas na natureza
exemplo, Mendel usou sementes obtidas comercialmente, têm olhos vermelhos, o gene que produz olhos vermelhos
que, por sua vez, devem ter sido obti das de agricultores. foi chamado de gene selvagem; o gene que produz olhos
A existência de formas alternativas de um mesmo gene (ale- brancos foi chamado de gene mutante (alelo).
los) levanta a questão sobre como elas surgiram . Uma hi- O gene mutante do olho branco foi imediatamente usa-
pótese óbvi a afirma que os genes podem se alterar (sofrer do em experimentos de cruzamento (Quad ro 1-2, Fi g. 1),
mutação) para dar origem a novos genes (genes mutantes). com o impressionante resultado de que o com portamento
Essa hipótese foi seriamente testada pela primeira vez, co- do alelo era completamente paralelo à di stribuição de um
meçando em 1908, pelo grande bi ólogo americano Thomas cromossomo X (i.e., estava ligado ao sexo). Esse achado su-
Hunt Morgan e seus jovens colaboradores, os geneticistas geriu imediatamente que esse gene estava localizado no cro-
Calvin B. Bridges, Hermann J. Muller e Alfred H. Sturtevant. mossomo X, juntamente com os genes que controlam o sexo.
Eles trabalhavam com a mosca-da-fruta Drosophila melano- Essa hipótese foi rapi damente confirmada por cruzamentos
gaster. O primeiro mutante encontrado foi um macho com genéticos adicionais usando genes mutantes recém-isolados.
o lhos brancos em vez dos olhos vermelhos normais. A va- Muitos desses genes mutantes adicionais também eram liga-
riante de olhos brancos apareceu espontaneamente em uma dos ao sexo.
X
~ -v X
~
ww genótipo wY ww genótipo WY
I I
!@ t t ! t t
gametas
9 ® 9 gametas
® ®
J""l ~
j j
1--H -.J
f+
geração F1
f+
geração F1
vermelho 9 vermelho O vermelho 9 branco O
X X
Ww
~
@
geração F2 geração F2
vermelho 2 vennolho 2 vermelho Ô branoo Ô vermelhO Ç btanoo 2 votmclho Ô btanco Ô
ww WY wY Ww ww WY wY
QUADRO 1·2 FIGURA 1 Herança de um gene ligado mosca de olho branco (wY}, e o feminino é homozigoto para
ao sexo em Drosophila. Genes localizados em cromossomos olho vermelho (WW). (b) O macho possu i o lhos vermelhos
sexuais podem expressar-se de forma d iferente em descen- (WY) e a fêmea, olhos brancos (ww). A letra Y aqui não re-
dentes masculinos e femininos, porque se houver apenas um presenta um alelo, mas sim o cromossomo Y, presente nos
cromossomo X presente, genes recessivos nesse cromosso- machos de Drosophila no lugar de um cromossomo X homó-
mo serão sempre expressos. Aqui estão dois cruzamentos, logo. Não há nenhum gene no cromossomo Y corresponden-
ambos envolvendo um gene recessivo (w, para olho branco) te aos genes w ou W do cromossomo X.
localizado no cromossomo X. (a) O parenta! masculino é uma
Capítulo 1 A Visão Mendeliana do Mundo 11
MAPEAMENTO CROMOSSÔMICO
Thomas Hunt Morgan e seus alunos, no entanto, não esperaram por provas
citológicas formais do crossing over (recombinação) para explorar as implica-
ções da hipótese de ]anssens. Eles deduziram que genes próximos entre si em
um mesmo cromossomo segregariam juntos mais frequentemente (maior li- cada cromátide se quebra
no ponto de contato e
gação) se comparados a genes afastados entre si em um mesmo cromossomo. se funde com um
Eles imediatamente viram isso como uma maneira de localizar (mapear) as segmento da outra
posições relativas dos genes nos cromossomos e, assim, produzir um mapa
genético. A maneira como eles utilizaram as frequências das várias classes re-
combinantes é bastante simples. Considere a segregação de três genes, todos FIGURA 1·4 Hipótese do crossing
localizados no mesmo cromossomo. A disposição desses genes pode ser deter- over de Janssens.
minada por três cruzamentos, em cada um dos quais dois genes são seguidos
(cruzamentos de dois fatores). Um cruzamento entre AB e ab gera quatro tipos
de descendentes: os dois genótipos parentais (AB e ab) e dois genótipos re-
combinantes (Ab e aB) . Um cruzamento entre AC e ac, da mesma forma, origi-
na duas combinações parentais, bem como as combinações recombinantes Ac
e aC, e um cruzamento entre BC e bc produz os tipos parentais e os recombi-
nantes Bc e bC. Cada cruzamento produzirá uma proporção específica da pro-
gênie parenta) em relação à recombinante. Considere, por exemplo, o fato de
genótipos parentais
material
Wx extracromossômico c Wx FIGURA 1· 5 Demonstraçãodetro·
<.• I• I •=d-
1--lllríl• • cas físicas entre cromossomos homó-
~~~cl~'•x•,--~~~-• ·-~~------~1•• logos. Na maioria dos o rganismos, pares
~6 wx 1 c wx de cromossomos homólogos têm formas
idênticas. Ocasionalmente, no entanto, os
*
progênie sem crossing over
t
progênie com crossing over
dois membros de um par não são idên-
ticos; um é marcado pela presença de
material extracromossômico ou regiões
c Wx c wx
- I I• compactadas que formam, de maneira re-
I• produzível, estruturas semelhantes a um
I•
c Wx c Wx botão, ou nó. McCiintock e Creighton en-
contra ram um par assim e utiliza ram-no
c Wx c Wx pa ra mostrar que o crossing over envolve
-·I I• I I I• trocas realmente físicas entre os cromos-
c-1 r-
wx
c= I somos pa reados. No experimento mostra-
c c Wx
do aqui, o descendente homozigoto c. wx
teria de su rgir pelo crossing over entre os
c wx c
c-1
= I
c
,.
1-
Wx
• c- 1
c
Joci C e wx. Quando essa progênie c, wx
foi citologicamente examinada, observou-
-se cromossomos com nós, mostrando
que uma região Wx sem nó havia sido fi -
c wx c Wx sicamente substituída por uma região wx
I I I• com nó. A caixa colorida na figura iden-
c: I 1=- tifica os cromossomos dos descendentes
c wx c wx homozigotos c. wx.
12 Parte 1 História
ab = ac + cb - 2(ac)(cb)
A c 8
a c b
1
+ i l +
c c c c
: ·:z: z :
A 8 A 8 A 8 A 8
FIGURA 1 · 7 Utilização de cru za·
mentos de três fatores para determi·
a c b
:>z:
a c b
::a c: z :: b a c b
nar a ordem dos genes. O par de re·
combinantes recíprocos menos frequente
deve su rgir a partir de um crossover
A c+ 8 A c
+ b A c
+ b A c
+ 8
duplo. As porcentagens listadas para as
várias classes são os valores teóricos es-
perados pa ra uma amostra infinitamente a c b a c 8 a c 8 8 c b
g rande. Quando números finitos de des-
67,5% 7,5% 22,5% 2,5%
cendentes são registrados, os valores exa- esta classe surge a partir esta classe surge a partir esta classe surge a partir
tos estão sujeitos a flutuações estatísticas de uma quebra entre de uma quebra entre de uma quebra entre
aleatórias. <JCC cob a c c c uma qucbta
entre c e b
Capítulo 1 A Visão Mendeliana do Mundo 13
normal
olhos asas asas asas olhos corpo patas asas aristas
vermelhos retas retas longas vermelhos cinza longas longas longas
5tarsos
--~--~,~
o4-.~
99~.z-.~~~--~·7~s.~s---1
s7..-..-s~4~
. s_____4~a~.s----~--~3f1--~~--~,r~----~o
bw a c vg pr b d dp a/
' 4 tarsos
olhos asas em asas asas olhos corpo dachs asas sem aristas
marrons arco curvas vestigiais purpúreos preto (patas curtas) atarracadas (aristas curtas)
mutante
raízes, já que era óbvio que mesmo os melhores físicos ou químicos teóricos
não se preocupariam com uma substância cuja estrutura ainda aguardava elu-
cidação. Havia apenas um fato que eles poderiam considerar: as descobertas
independentes de Muller e L.J. Stadler em 1927 de que raios X induzem mu-
tações. Uma vez que existe uma maior probabilidade de um raio X atingir um
gene extenso do que um gene pequeno, a frequência de mutações induzidas
em um determinado gene por uma determinada dose de raios X fornece uma
estimativa do tamanho desse gene. Mesmo aqui, porém, tantos pressupostos
especiais eram necessários que praticamente ninguém, nem mesmo Muller e
Stadler, deram crédito a tais estimativas.
RESUMO
A hereditariedade é controlada pelos cromossomos, os quais Os alelos diferentes do mesmo gene surgem por meio de
são os transportadores celulares dos genes. Os fatores heredi- alterações (mutações) herdáveis no próprio gene. Normalmen-
tários foram primeiramente descobertos e descritos por Men- te, os genes são extremamente estáveis e são copiados de ma-
del, em 1865, mas sua importância não foi reconhecida até o neira precisa durante a duplicação cromossômica; as mutações
inicio do século XX. Cada gene pode apresentar várias formas são raras e, normalmente, são prejudiciais. Contudo, as muta-
diferentes, chamadas alelos. Mendel propôs que, para cada ca- ções desempenham um papel positivo, uma vez que o acúmu-
racterística hereditária, um fator de hereditariedade (um gene) lo de mutações favoráveis raras fornece a base para a variabili-
é dado, por cada progenitor, a seus descendentes. A base física dade genética necessária e pressuposta pela teoria da evolução.
para esse comportamento é a distribuição dos cromossomos Durante muitos anos, a estrutura dos genes e o mecanis-
homólogos durante a meiose: um cromossomo (escolhido ao mo químico de controle das características celulares eram um
acaso) de cada par de homólogos é distribuído para cada célula mistério. Assim que um grande número de mutações espon-
haploide. Quando dois genes estão no mesmo cromossomo tâneas foi descrito, tornou-se óbvio que a relação um gene
eles tendem a ser herdados juntos (ligados). Genes que afetam para uma característica não existia e que todas as característi-
características diferentes podem ser herdados de forma inde- cas complexas estão sob o controle de diversos genes. A ideia
pendente, porque estão localizados em cromossomos diferen- mais sensata, postulada por Garrod em 1909, foi a de que os
tes. De qualquer forma, a ligação entre os genes raramente é genes afetavam a síntese de enzimas. Entretanto, as ferramen-
absoluta, pois cromossomos homólogos formam pares duran- tas dos geneticistas mendelianos - organismos como o milho,
te a meiose e, normalmente, quebram-se em locais idênticos o camundongo, e mesmo a mosca-da-fruta Drosophila - não
e religam-se de forma cruzada (crossing over). O crossing over eram adequadas para investigações químicas detalhadas sobre
(recombinação) transfere genes inicialmente localizados no as relações gene-proteína. Para esse tipo de análise, tomou-se
cromossomo de origem paterna para um grupo de genes do indispensável trabalhar com organismos muito mais simples.
cromossomo matemo.
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Press, Oxford. - -.. 1941. The physiology ofthe gene. Physiol. Rev. 21: 487- 527.
18 Parte 1 História
QUESTÕES
Para respostas de quest/ks de número por, wr Apêndice 2: Respostas. terceiro cruzamento. Desenhe um mapa colocando os genes
na ordem correta e dê a distância entre cada gene em unidades
Questão 1. Você está comparando dois alelos do Gene X. de mapa (u.m.).
O que define os dois alelos como alelos distintos?
Questão 9. Você quer confirmar sua ordenaçao da Questão
Questão 2. Verdadeiro ou falso. Justifique sua escolha. Um 8 usando um cruzamento de três fatores (cruzamento XYZ/xyz
gene possui apenas dois alelos. e xyz/xyz). Seus recombinantes menos frequentes são xYZ e
Xyz. Isso confirma seu ordenamento da Questão 8? justifique
Questão 3. Verdadeiro ou falso. Justifique sua escolha. Uma sua resposta.
característica é sempre determlnada por um gene.
Questão 10. Você quer novamente mapear as posições de
Questã o 4. Verdadeiro ou falso. justifique sua escolha. Para três genes em drosóftla (L, Me /\'). Cada gene possui um alelo
um determinado gene, pode-se sempre definir os alelos como dominante e um alelo recessivo. Você realiza os três cruzamen-
dominantes ou recessivos. tos diferentes com dois fatores (Cruzamento I: LM e lm, Cru-
zamento 2: MN e mn, e Cruzamento 3: LN e In). Suponha que
Quest ão S. Você quer Identificar a relação de dominante/ todos os cruzamentos são entre moscas dlploldes homozigotas
recessivo para cor da pele em uma nova espécie de sapos que para os alelos desses genes. Você observa 5% de rccombinantes
você encontrou na floresta troplca.l. Suponha que um gene au- no primeiro cruzamento, 50% de recomblnantes no segundo
tossômlco controla a cor da pele nessa espécie. Todos os sapos cruzamento, e 50% de recombinantcs no terceiro cruzamento.
que você encontrou para a espécie são azul-brilhante ou ama· Com base nos dados fornecidos, o que você pode determinar
retos. Uma fêmea azul-brilhante c um macho azul-brilhante para a ordem dos genes e para a distância entre eles?
acasalam e produzem uma progênie toda azul-brilhante. Uma
fêmea amarela e um macho amarelo acasalam e produzem Questão 11. Seguindo as observações da Questão 10, você
uma mistura de descendentes azuls-brllhantes e amarelos. realiza novos cruzamentos usando o gene O. Você observa
Identifique cada traço (cor da pele azul-brilhante e cor da pele 30% de recombinação no cruzamento entre MO c mo, 35%
amarela) como dominante ou recessivo. justifique suas esco· de recombinação no cruzamento entre LO e lo, c 25% de re-
lhas. Identifique o genótipo de cada genitor nos dois cruza· combinação no cruzamento entre NO e no. Suponha que to-
mentos. Use a letra B para se referir ao gene que confere cor dos os cruzamentos são entre moscas dlploldcs homozigotas
da pele. para os alelos desses genes. Considerando as Informações das
Questões 10 e 11, desenhe um mapa colocando os genes na
Questão 6. ordem correta e dê a distância entre cada gene em unidades
A. Após cruzar plantas de ervllha puras com sementes ama· de mapa.
relas e plantas de ervilhas puras com sementes verdes,
como fez Mendel, que fenótipo você espera para as plan· Questão 12. Defina mutação. A célula possui vários mcca·
tas de ervllha na geraçao F, se as sementes amarelas forem nismos para prevenir mutações. Explique como uma taxa de
dominantes sobre as sementes verdes? mutação multo baixa pode ser vantaJosa em relaçao à inexis·
B. Você faz a autofecundação da geraçao F,. Dê a proporção têncla de mutações em um organismo.
fenotipica esperada na geraçao F2•
Questão 13. Diferende cromossomos e cromátides.
C. Dê a proporção genotfplca esperada na geração F2 •
D. Dê a proporção esperada de heterozigotos para homozigo- Questão 14. Você está mapeando o cromossomo 6 da mos-
tos na geração Fz. ca-varejeira Ludlia cuprina e quer testar como seus cálculos se
comparam a um mapa publicado. Em um cruzamento recente,
Questão 7. Mendel estudou sete características distintas você estudou as mutações tri, pk e y que se relacionam a jun-
para plantas de ervilha. Seis destes traços estavam em cromos· ções venosas espessadas, corpo cor-de-rosa e olhos amarelos,
somos diferentes, e dois traços estavam separados por uma respectivamente. A partir de um cruzamento entre um macho
grande distância em um cromossomo. Se Mendel selecionas· homozigoto para as três mutações e uma fêmea hetcrozigota
se dois traços controlados por genes ligados em seus estudos (tri pk y!+++), você registra os números da progênie. No mapa
iniciais, que lei seria afetada (a primeira ou a segunda lei de publicado, a distância entre y e pk é de 23,0 u .m., a distância
Mendel)? Justifique sua escolha. entre pk e tri é de 18,4 u.m., e a distância entre y c tri é de 41,4
u.m. Com base no mapa publicado e considerando os valores a
Questão 8. Você quer mapear a posição de três genes (X, Y e seguir, calcule os valores esperados para a progênie observada
Z) encontrados em um cromossomo em Drosophila. Cada gene que representam um crossover simples ou duplo. Lembre-se de
possui um alelo dominante e um alelo recessivo. Você realiza que valores observados são dados que Incluem algumas flutua·
os três cruzamentos diferentes com dois fatores (Cruzamento ções estatisticas.
1: XY e xy, Cruzamento 2: YZ e yz, c Cruzamento 3: XZ e xz}. Kúmero total de descendentes: 1.000
Suponha que todos os cruzamentos são entre moscas diploi· Total de recombinantes que representam um cros.sover duplo: 15
des homozigotas para os alelos destes genes. Você observa 7%
de recombinantes no primeiro cruzamento, 20% de recombi· Informações do mapa publicado de Weller e Foster (1993.
nantes no segundo cruzamento, e !3% de recombinantes no Genome 36: 495·506).
Capítulo 1 A Visão Me nd e li a na do Mundo 19
Questão 15. Você está estudando uma nova espécie de aves. 8 . Se o traço for Ugado ao sexo, refine sua resposta em A com
Você sabe que a espécie possui cromossomos sexuais semelhan- respeito à relação dominante/recessivo de um traço ligado
tes aos da galinha. Os machos possuem dois cromossomos Z, ao sexo n o cromossomo Z para a ge.raç3o F,.
enquanto as fêmeas possuem apenas um cromossomo Z e um C. Suponha que preto é dominante sobre verde. Você cru-
cromossomo W. Como o genoma ainda não foi sequendado, za um macho de olhos pretos da geração F1 com uma fê-
você realizará cruzamentos para obter mais informações gené- mea de olhos pretos da geração F,. Se o traço for ligado ao
ticas. Você está Interessado na cor dos olhos das aves. Você ob- sexo, estime as proporções genotlplcas e fenotlpicas para
tém aves puras com olhos pretos ou verdes. Você cruza um ma- a geração F,.
cho de olhos pretos com uma fêmea de olhos verdes. Suponha
que esta caracterlstlca é determinada por um gene.
A. Considerando uma relação dominante/recessivo, você
quer determinar se preto é recessivo ao verde ou se verde
é recessivo ao preto. Como você poderia utilizar os fenóti-
pos de F1 e F2 para aJudá-lo a responder esta questão?
CAPÍTU LO 2
"
Os Acidos Nucleicos
Transportam as
Informações Genéticas
FATO DE QUE MOLÉCULAS ESPECIAIS DEVERIAM mANSPORTAR a informação gené-
O tica foi percebido pelos geneticistas muito antes que o problema atraís-
se a atenção dos químicos. Na década de 1930, geneticistas começaram
a pesquisar que tipos de moléculas poderiam apresentar o nível de estabilida-
de exigido pelos genes e, ainda, ser capaz de modificar-se, de modo estável e
repentino, gerando formas mutantes, para sustentar a evolução. Até meados
da década de 1940, parecia não existir uma maneira direta para se estudar a
essência química dos genes. Sabia-se que os cromossomos possuíam um com-
ponente molecular característico, o ácido desoxirribonucleico (DNA). Apesar
disso, não havia uma maneira de demonstrar se o DNA carregava a informação
genética ou se atuava apenas como um arcabouço molecular para uma classe
ainda não descoberta de proteínas, especialmente desenvolvidas para trans-
portar a informação genética. Supunha-se que os genes seriam compostos por
aminoácidos porque, naquela época, eles pareciam ser as únicas moléculas
suficientemente complexas para transportar as informações genéticas.
Dessa forma, fazia sentido abordar a natureza do gene investigando-se
como eles atuam nas células. No início da década de 1940, as pesquisas com
o fungo Neurospora, lideradas por George W. Beadle e Edward Tatum, gera-
ram evidências progressivamente mais fortes que sustentavam a hipótese de
Archibald E. Garrod, de 30 anos antes, de que os genes atuam controlando
a síntese de enzimas específicas (a hipótese de um gene- uma enzima). As-
sim, como todas as enzimas conhecidas na época eram proteínas, o problema
central era como os genes participavam na síntese de proteínas. Desde a fase
inicial das investigações, a hipótese mais simples sugeria que a informação ge-
nética contida nos genes determinava a ordem dos 20 diferentes aminoácidos
contidos nas cadeias polipeptídicas das proteínas.
Na tentativa de testar essa proposta, a intuição não auxiliava nem mes-
mo os melhores bioquímicas, uma vez que não existia uma maneira ló-
gica de utilizar as enzimas como ferramentas para determinar a ordem de
cada aminoácido adicionado a uma cadeia polipeptídica. Esses esquemas
necessitariam de tantas enzimas organizadoras quanto o número de ami-
noácidos existentes na proteína. Todavia, uma vez que todas as enzimas
conhecidas na época eram proteínas (hoje se sabe que o RNA também pode
atuar como enzima), ainda seriam necessárias enzimas organizadoras adicio-
nais para sintetizar as enzimas organizadoras. Essa situação estabelecia ela-
22 Parte 1 História
~ ,
A INFORMAÇAO BOMBASTICA DE AVERY: O DNA
PODE TRANSPORTAR A ESPECIFICIDADE GENÉTICA
A ideia de que o DNA poderia ser a principal molécula genética surgiu de
forma inesperada, a partir de estudos com a bactéria causadora da pneumo-
nia. Em 1928, o microbiologista inglês Frederick Griffith fez a surpreendente
observação de que linhagens de bactérias não virulentas se tornavam viru-
lentas quando misturadas a bactérias patogênicas mortas por calor. Demons-
trou-se que tais transformações de linhagens não virulentas em virulentas
representavam alterações hereditárias, utilizando-se descendentes das novas
linhagens patogênicas para transformar outras bactérias não patogênicas. Isso
levantou a possibilidade de que, quando as células patogênicas eram inati-
vadas pelo calor, seus componentes genéticos permaneciam intactos. Além
disso, urna vez liberados das células inativadas pelo calor, esses componen-
tes podiam atravessar a parede celular de células receptoras vivas e sofrer
subsequentes recornbinações genéticas com o aparato genético da receptora
(Fig. 2-1). As pesquisas subsequentes confirmaram essa interpretação genéti-
ca. A patogenicidade reflete a ação do gene da cápsula, o qual codifica urna
importante enzima envolvida na síntese da cápsula que contém carboidratos
e que envolve a maioria das bactérias causadoras de pneumonia. Quando o
alelo S (do inglês, smooth [liso)) do gene da cápsula está presente, urna cápsu-
la, necessária para a patogênese, é formada em torno da célula (a formação de
caps
(gene da cápsula) cromossomo
/ cápsula
calor para
inativar
fragmento cap 5
liberado
célula S (lisa)
patogênica
reoombinação e
divisão celular
uma cápsula também fornece uma aparência lisa às colônias formadas a partir
dessas células). Quando o alelo R (do inglês, rough [rugoso)) desse gene está
presente, não há formação de cápsula, as células respectivas não são patogêni- cél ulaS
cas, e as colônias dessas células possuem bordas arredondadas. (lisa) patogênica
Vários anos após a observação original de Griffith, observou-se que ex-
tratos das bactérias mortas eram capazes de induzir transformações heredi-
tárias, e iniciou-se uma busca pela identidade química do agente transfor-
mador. Naquela época, a grande maioria dos bioquímicas ainda acreditava !ruptura das células
que os genes eram proteínas. Portanto, foi uma grande surpresa quando, em
1944, após 10 anos de pesquisas, o microbiologista norte-americano Oswald
T. Avery e seus colegas do Rockefeller Institute, em Nova Iorque, Colin M.
MacLeod e Maclyn McCarty, fizeram a grandiosa comunicação revelando
que o princípio ativo genético era o DNA (Fig. 2-2). Para corroborar suas
conclusões, havia experimentos mostrando que a atividade transformadora
de suas frações ativas altamente purificadas era destruída pela desoxirribo-
nuclease, uma enzima recém-purificada que degradava especificamente mo-
léculas de DNA, reduzindo-as a seus blocos, os nucleotídeos, mas que não
exerce nenhum efeito sobre a integridade de moléculas de proteína ou RNA.
Em contrapartida, a adição de ribonuclease (que degrada RNA) ou de várias ! DNA isolado
enzimas proteolíticas (que degradam proteínas) não apresentava qualquer
influência sobre a atividade transformadora.
--
- - •
-.... --
{Q
extremidade 5'
o
I
I s·
O = P-0-CH
I 'o
o
citosina
?
O=P - C>- CH,
5'
I
o
guanina
ligação
fosfodiéster
o
c0
Jl l
H3 _...H
timina
H N O
o
I = A
extremidade 3' - G
c
F I G U RA 2 • 5 Segmento de uma cadeia polinucleotídica de DNA, mostrando a T
ligação fosfod iéster 3 ' ->5' que conecta os nucleotídeos. Grupos fosfato conectam o
carbono 3' de um nucleotídeo ao carbono 5' do nucleotídeo seguinte.
outra fita era sintetizada (Fig. 2-6). Se essa hipótese fosse verdadeira, então, o FIGURA 2·6 Replicação do DNA.
problema fundamental da replicação gênica, que intrigara os geneticistas por As fitas recém·sintetizadas estão repre·
tantos anos, estaria conceitualmente resolvido. sentadas em cor de laranja .
26 Parte 1 História
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
O bioquímico Erw in Chargaff utilizou uma técnica chamada tórias. O número de resíduos de adenina (A) em todas as
"cromatografia em papel" para analisar a composição nucleo- amostras de DNA era igual ao número de resíduos de t i-
t ídica do DNA. Em 1949, seus dados mostraram não apenas mina (T), e o número de resíduos de guanina (G) iguala-
que os quatro diferentes nucleotídeos não estavam presentes va-se ao número de resíduos de citosina (C). Além disso,
em quantidades iguais, mas também que as proporções exa- independentemente da fonte do DNA. a proporção de
tas dos quatro nucleotídeos variam de uma espécie para outra purinas para pirimidinas era sempre aproximadamente 1
(Quadro 2-1, Tab. 1). Esses achados abriram a possibil idade de (purinas = piri midinas). No entanto, o significado funda-
que é o arranjo preciso dos nucleotídeos em uma molécula de mental das relações A = T e G = C (regras de Chargaff)
DNA que confere sua especificidade genética. só foi compreendido quando se deu considerável atenção à
Os experimentos de Chargaff também mostraram que estrutura t ridimensional do DNA.
as proporções relativas das quatro bases não eram alea-
QUADRO 2-1 TABELA 1 Dados que levaram à formulação das regras de Cha rgaff
Adenína para Tímina para Adenína para Guanína para Purinas para
Fonte guanina citosina ti mina citosina pirimidinas
Gado 1,29 1.43 1,04 1,00 1.1
Ser humano 1,56 1,75 1,00 1,00 1,0
Gali nha 1.45 1,29 1,06 0,91 0,99
Salmão 1.43 1.43 1,02 1,02 1,02
Trigo 1.22 1'18 1,00 0,97 0,99
Levedura 1,67 1,92 1,03 1,20 1,0
Haemophilus influenzae 1,74 1,54 1,07 0,91 1,0
Escherichia co/i K2 1,05 0,95 1,09 0,99 1,0
Bacilo da tuberculose 0.4 0.4 1,09 1,08 1 '1
aviá ria
Serratia marcescens 0,7 0,7 0,95 0,86 0,9
Baci/lus schatz 0,7 0,6 1'12 0,89 1,0
Oe Chargaff E. et ai. 1949. J. Bio/. Chem. 177:405.
H~
H
)t.Á N O
o- OH c 5' o
2 o- OH C 5.
2 o
OH OH
açúcar: desoxirribosc dcsoxirribose
H---17~~
~·-t;À
5 ~N
N N H
OH
açúcar: desoxirribose desoxirribose
5' 5'
3' 3'
adenina-desoxirribose-triloslato
HO T A'P-...1 5' HO ,_;A
.......... ~
........_
........ .
~ '"-"·· ~
G
OH
3'
\.: DNA-polimerase
.--:e
A::j;........
r- ·······
piroloslato
OH
3'
o-o
T
1 pirofosfatase · :::i::=>.... I
:·::::!:;.::
'
'
OH ,
los lato · ···········---··
5'
o 5'
3'
TABELA 2· 1 Comparação da composição de bases de DNAs enzimaticamente sintetizados e seus moldes de DNA
A+T A+ T
Composição de bases do produto enzimático G+ C G+C
g --
o DNA isolado das células é misturado a uma solução de CsCI
(6M, p (densidade) - 1,7g/ml) e colocado em uma ultracentrífuga
p = 1,80
"'d.-.1-/--'f--'~
~. ., ONA "N- 15N DNA
teve DNA híbrido pesado
solução centrifugada a
140.000 x g por -48 h
p = 1,65
15N-'4N
DNA híbrido
15N_15N
'MY111.;,-- --,, p = 1,80
DNA pesado
antes da uma geração duas gerações após
transferência celular após a a transferê ncia
para 14N transferência para 14N para 14N
FI GURA 2-9 Uso de gradiente de cloreto de césio (CsCI) para demonstrar a sepa-
ração de fitas complementares durante a replicação do DNA.
que distribui uma fita parenta! para cada uma das duas moléculas-filhas (por
isso a partícula "semi" em "semiconservativo"). Esses experimentos derruba-
ram outros dois modelos: os modelos de replicação conservativa e dispersiva
(Fig. 2-10). O modelo conservativo sugeria que ambas as fitas parentais per-
maneciam juntas e as duas fitas novas de DNA formariam uma molécula de
DNA inteiramente nova. Nesse modelo, DNA totalmente leve deveria ser for-
mado após uma geração celular. O modelo dispersivo, preferido por muitos,
na época, sugeria que as fitas de DNA eram quebradas frequentemente a cada
10 pares de bases e utilizadas para iniciar a síntese de regiões de DNA também
curtas. Esses pequenos fragmentos de DNA seriam subsequentemente ligados,
formando as fitas de DNA completas. Esse modelo complexo originaria fitas
de DNA compostas tanto por DNA parenta! como por DNA novo (portanto,
não conservativo) e só produziria DNA totalmente leve após muitas gerações.
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Q u adro 2-2 Evidência de que os genes controlam a sequência de aminoácidos das proteínas
A primeira evidência experimental de que os genes (DNA) ça de um aminoácido na cadeia 13: na posição 6, o resíduo
controlam as sequências de aminoácidos veio do estudo da de ácido glutâmico encontrado na hemoglo bi na selvagem
hemoglobina presente em seres humanos com a doença ge· é substituído por vali na. Com exceção dessa alteração, toda
nética anemia falciforme. Se um indivíduo possui o alelo S do a sequência de aminoácidos é idêntica nas hemoglobinas
gene da (3-globina (o qual codifica um dos dois polipeptídeos normal e mutante. Como essa alteração de aminoácido foi
que juntos formam a hemoglobina) em ambos os cromos- observada apenas em pacientes com o alelo S do gene da
somos homólogos (SS), isso resulta em uma anemia grave, (3-globina, a hipótese mais simples é a de que o a leio S do
caracterizada pela forma de foice das hemácias. Se apenas gene codifica a alteração da 13-globina. Estudos posteriores
um dos dois alelos da (3-globina for do tipoS (+S), a ane· da sequência de aminoácidos de hemoglobinas isoladas de
mia é menos grave e as hemácias parecem ter formato quase outras formas de anemia corro boraram totalmente essa
normal. O tipo de hemoglobina das hemácias está correlacio- proposta; análises de sequência mostraram que cada ane-
nado com o pad rão genético. No caso do SS, a hemoglobi· mia específica é caracterizada por uma substituição única
na é anormal, caracterizada por uma solubilidade d iferente de aminoácido em um ponto especifico ao longo da cadeia
daquela da hemoglobina normal, enquanto na condição +S, polipeptídica (Quadro 2-2, Fig. 2).
metade da hemoglobina é normal e metade é anormal.
Moléculas de hemoglobina do tipo selvagem são cons·
t ruídas a partir de dois tipos de cadeias polipeptídicas: ca -
deias a e cadeias f3 (ver Quad ro 2-2, Fig. 1). Cada cadeia
possui uma massa molecular de cerca de 16.100 dáltons (D).
Duas cadeias a e duas cadeias f3 estão presentes em cada
molécula, dando à hemoglo bina uma massa molecular de f~~~~~~V~a;l ~L~eu~~Lys• Glu· Gly H.s• AspN Arg
cerca de 64.400 D. As cadeias a e f3 são controladas por ge· Hb l Asp"
nes diferentes de modo que uma mutação única afetará a Hb G GluN
cadeia a ou a cadeia (3, mas não ambas. Em 1957, Vernon M. Honolutu
lngram mostrou, na Cambridge University, que a hemoglo· Hb
Norfolk
bina falcêmica difere da hemoglobi na normal pela mudan-
HbM
Tyr
BOSioo
HbG
Lys•
HbS Vai
HbC Lys•
HbG
.., San Jos6
Gly
:z:
~ HbE Lys·
•
1: HbM Tyr
••
~
~
Saskatoon
> Hb
Arg•
ZOrich
heméda oom hemàcia com HbM
formato normàl formato de foica Gru-
Milwaul<cc·1
HbD
GluN
QUADRO 2·2 FI GURA 1 Formação das hemoglobinas
selvagem e falcêmica. (Fonte das estruturas da hemoglobi-
na: ilustração, lrving Geis. Direitos autorais de propriedade de QUADRO 2·2 FIGURA 2 Resumo de algumas subs-
Howard Hughes Medical lnstitute. Não pode ser reproduzida tituições de aminoácidos identificadas em variantes de
sem permissão.) hemoglobina humanas.
32 Parte 1 História
extremidade 5'
I
o
I •
o= j-o-cH•o
o
OH citosina
o
I
O=P-0
I
o
guanina
_.H
uracila
o= p-o-.CH,
~Áo
carbono 2' (representado em vermelho).
H N O H Além disso, o RNA possui a base pirimi-
dinica uracila em vez da timina. A uracila
possui um hidrogênio na posição 5 do
Q-oH2c 5' o Q-oH2c 5' o anel da pirimidina (representado em ver-
melho) em vez do grupo m etila encon-
trado na timina, nest a posição. As outras
OH OH OH três bases que ocorrem no DNA e no RNA
desoxirribose ribose são idênticas.
O DOGMA CENTRAL
No outono de 1953, a hipótese vigente era de que o DNA cromossômi-
co funcionava como molde para a síntese de moléculas de RNA, as quais,
subsequentemente, deslocavam-se para o citoplasma e determinavam a
sequência dos aminoácidos nas proteínas. Em 1956, Francis Crick referiu-
-se a esse processo de transmissão da informaç.ã o genética como dogma
cent ral:
transcrição RNA tradução
duplicação @A proteína
grande escala (p. ex., células do pâncreas e bactérias em fase de multiplicação G "" C
rápida), imaginou-se, primeiramente, que o RNA rib ossomal (rRNA) seria G "" U
c ""
o molde capaz de direcionar a ordem dos aminoácidos. Mas assim que os ri- G .... c
bossomos de Escherichia co/i foram cuidadosamente analisados, várias carac- u ..... u
terísticas inquietantes emergiram. Primeiro, todos os ribossomos de E. coli,
bem como os de todos os organismos, são compostos por duas subunida-
des de tamanhos diferentes, cada uma delas contendo RNA, que se unem e
se separam de maneira reversível, dependendo da concentração iõnica do
ambiente. Segundo, todas as cadeias rRNA pertencentes às subunidades pe-
quenas apresentam tamanho semelhante (de aproximadamente 1.500 bases,
em E. coli) e, da mesma forma, todas as cadeias rRNA das subunidades apre-
sentam aproximadamente 3.000 bases. Terceiro, a composição de bases de
ambas as cadeias de rRNA das subunidades pequena e grande é aproximada-
mente a mesma (alto conteúdo G e C) em todas as bactérias, plantas e ani-
mRNA 3'C u ' c: G ! s·
mais conhecidos, apesar das enormes variações nas proporções AT/GC exis- I I
códon
tente em seus DNAs respectivos. Esse fato não seria esperado, se realmente
as cadeias de rRNA fossem uma grande coleção de diferentes moldes de RNA FI GURA 2-14 Estr utura do tRNA
produzidos a partir de um grande número de genes diferentes. Portanto, ne- de alanina em leveduras, determina-
nhum dos rRNAs, fosse o pequeno ou o grande, apresentava características da por Robert W. Holley e seus cola-
de um molde de RNA. boradores. O anticódon deste tRNA re-
conhece o códon para alanina no mRNA.
Existem vários nucleosideos modificados
A descoberta do RNA mensageiro (mRNA) na estrutura: lj> = pseudouridi na. T = ri-
Células infectadas com o fago T4 forneceram um sistema ideal para encon- botimidina. DHU = 5,6-di-hidrouridina,
I = inosina, m'G = 1-metilgua nosina,
trar o verdadeiro molde. Após a infecção por esse vírus, as células param de
m 'I = 1-metilinosina, e m1 G = N,N-dime-
sintetizar RNA de E. coli, e o único RNA sintetizado é transcrito a partir do
tilgua nosina.
DNA T4. O mais surpreendente é que além de o RNA de T4 apresentar uma
composição de bases muito semelhante ao DNA de T4, ele não se liga às
proteínas ribossomais que normalmente se associam ao rRNA, formando os
ribossomos. Em vez disso, após se ligar aos ribossomos já existentes, oRNA
de T4 se desloca através de sua superfície, posicionando suas bases de modo
que possam se ligar aos tRNA-aminoácidos precursores apropriados para a
síntese proteic.a (Fig. 2-15). Assim, oRNA de T4 ordena os aminoácidos, e é
a tão procurada molécula que serve como molde de RNA para a síntese pro-
teica. Visto que essa molécula carreia a informação existente no DNA até os
ribossomos, locais da síntese proteica, ela é denominada RNA mensageiro
(mRNA). A observação de que o RNA de T4 se liga aos ribossomos de E. coli,
feita pela primeira vez na primavera de 1960, foi logo seguida por evidências
obtidas em uma classe separada de RNA mensageiro em células de E. co/i
não infectadas, descartando, definitivamente, o rRNA como molécula mol-
de. Na verdade, como será visto extensivamente no Capítulo 15, os rRNAs
componentes do ribossomo, junto com cerca de 50 proteínas ribossomais
diferentes, atuam como fábricas para a síntese proteica, mantendo os tRNA-
-aminoácidos precursores nas posições corretas, para que possam "ler" a in-
formação contida nos moldes de mRNAs.
Apenas uma pequena porcentagem do RNA celular total é mRNA. Esse
RNA apresenta grande variação de tamanho e a composição nucleotídica ne-
cessária para codificar as várias diferentes proteínas encontradas em uma de-
terminada célula. Portanto, é fácil entender por que o mRNA foi inicialmente
ignorado. Como apenas uma pequena porção do mRNA está ligada em um
determinado momento a um ribossomo, uma única molécula de mRNA pode
ser lida simultaneamente por vários ribossomos. A maioria dos ribossomos é
encontrada como parte de polirribossomos (conjuntos de ribossomos tra-
duzindo o mesmo mRNA), os quais podem conter mais de 50 unidades ribos-
somais (Fig. 2-16).
36 Parte 1 História
!
I H
códon
tradução 1
liberação do
polipeptide<>
oomplet~
polipeptideo
crescente
FIGURA 2 · 1 6 Diagrama de um
polirribossomo. Cada ribossomo liga-
-se a um sinal de início na extremidade 5'
de uma cadeia de mRNA e sintetiza um
polipeptídeo à m edida que prossegue ao
longo da molécula. Vários ribossomos
podem ligar-se a uma ún ica molécula liberação das
de mRNA ao mesmo tempo; a estrutu ra subunidades
ribossomais
completa é chamada de polirribossomo.
Capítulo 2 Os Ácidos Nucleicos Transportam as Informações Genéticas 37
fita-molde
! /
I /
I
I
I FIGURA 2-17 Síntese enzimática
5' fita não utilizada de RNA sobre um molde de DNA, ca-
o molde
talisada pela RNA-polimerase.
TABELA 2-2 Compa ração da composição de bases de RNAs enzimaticamente sintetizados com a composição de bases de
seus moldes de DNA de dupla-hélice
A+U A+T
Composição de bases do RNA G+C G+ C
Fonte do DNA-molde Adenina Uracila Guanina Citosina Observado NoDNA
T2 0,31 0,34 O, 18 O, 17 1,86 1,84
Time fetal bovino 0,31 0,29 O, 19 0,21 1,50 1,35
Escherichia co/i 0,24 0,24 0,26 0,26 0,92 0,97
Micrococcus Jysodeikticus 0,17 O,16 0,33 0,34 0,49 0,39
(uma bactéria)
38 Parte 1 História
• uuu Phe
ucu UAU Tyr UGU Cys
•,. ...
uuc
UUA
UUG
Leu
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UCA
UCG
Ser
..
UAC UGC
IIIT\ término li!êfJ
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•
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CGA
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~
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Q.
AUU
AUC lle
AUA
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ACC
ACA
Thr
AAU
AAC
AAA
Asn
AGU
AGC
AGA
Ser
F I G U RA 2 ·1 8 Demonstração de
que o RNA é sintetizado no núcleo
e t ransportado para o citoplasma. de DNA codificavam aminoácidos sucessivos ao longo de uma determinada
(I magem superio r) Autorradiog rafia de
uma célula (Tetrahymena) exposta à citidi·
cadeia polipeptídica. Uma elegante análise mutacional em proteínas bacte-
na radioativa por 15 minutos. Sobreposta rianas, realizada no início da década de 1960 por Charles Yanofsky e Sydney
a uma fotografia de uma fina secção da Brenner, mostrou que a colinearidade de fato existe. Igualmente importan-
célula está uma fotog rafia de uma emul· tes foram as análises feitas por Brenner e Crick, que em 1961 relataram pela
são de prata exposta . Cada ponto escuro primeira vez que grupos de três nucleotídeos eram usados para especificar
representa a origem de um elétron emi· aminoácidos individuais.
tido a partir de um átomo de ' H (t rítio) A exata correspondência entre os grupos específicos de três bases (có-
que foi incorporado ao RNA. Quase todo dons) e os aminoácidos específicos somente seria descoberta por meio de
o RNA recém-sintetizado é encontrado no análises bioquímicas. O grande avanço aconteceu em 1961, quando Marshall
núcleo. (Imagem inferior) Autorradiogra·
Nirenberg e Heinrich Matthaei, então trabalhando juntos, observaram que a
fia de uma célula semelhantemente ex·
posta à citidina radioativa por 12 minutos
adição do polinucleotídeo sintético poliU (UUUUU ...) a um sistema livre de
e cultivada por 88 minutos na presença de células capaz de sintetizar proteínas resultava na síntese de cadeias polipeptí·
citidina não radioativa. Pratica mente toda dicas contendo apenas o aminoácido fenilalanina. Os grupos de nucleotídeos
a marcação incorporada no RNA nos pri· UUU, assim, devem especificar fenilalanina. O uso de polinucleotídeos cada
meiros 12 minutos deixou o núcleo e mi· vez mais complexos como RNAs mensageiros sintéticos levou à rapida iden-
grau pa ra o citoplasma . (Cortesia de O.M. tificação de outros códons. Particularmente importante para completar o có-
Prescott, University of Colorado Medicai digo foi o uso de polinucleotídeos como AGUAGU, sintetizados pelo químico
School; reproduzida, com permissão, de orgânico Har Gobind Khorana. Esses polinucleotídeos adicionais foram fun-
Prescott O.M . 1964. Progr. Nucleic Acid damentais para testar novos conjuntos de códons específicos. A finalização
Res. Mo/. Biol. 3: 35. © Elsevier.)
do código, em 1966, revelou que 61 dos 64 possíveis grupos permutáveis cor-
respondiam a aminoácidos, com a maioria dos aminoácidos sendo codificada
por mais de uma trinca de nucleotídeos (Tab. 2-3).
~ ,
ESTABELECIMENTO DA DIREÇAO DA SINTESE PROTEICA
Uma vez determinada, a natureza do código genético gerou outras questões
sobre como uma cadeia polinucleotídica comanda a síntese de um polipep-
tídeo. Como foi visto até agora e será discutido em mais detalhes no Capí·
tulo 9, as cadeias polinucleotídicas (DNA e RNA) são sintetizadas por adição
à extremidade 3' da cadeia crescente (crescimento na direção S'-+3'). Mas,
Capítulo 2 Os Ácidos Nucleicos Transportam as Informações Genéticas 39
bg .---------------------------.
:g
~
•
F I G U RA 2-1 9 Incorpor ação d e
g • aminoácidos marcados radioativa-
~ mente em uma cadeia po lipeptidica
~
·g_
• crescente. (a) Distribuição da radioativi-
A ERA DA GENÔMICA
Com a elucidação do dogma central, tornou-se claro, em meados da década
de 1960, corno a matriz genética representada pela sequênda nucleotídica
poderia determinar o fenótipo. Essa constatação significa que informações
essenciais em relação à natureza das coisas vivas e a sua evolução podem ser
reveladas a partir das sequências de DNA. Nos últimos anos, o surgimen-
to de métodos rápidos e automatizados para o sequenciarnento do DNA
permitiu a determinação de sequências genômicas completas de centenas
de organismos. Até mesmo o genorna humano, que em urna única cópia
é composto por mais de 3 bilhões de pares de bases, foi desvendado e de-
monstrou conter mais de 20 mil genes. O sequendarnento dos genornas de
vários organismos tornou muito útil a análise comparativa de sequências
genôrnicas. Ao comparar as sequências de aminoácidos preditas codificadas
por genes semelhantes de diferentes organismos, pode-se frequentemente
identificar regiões importantes de urna proteína. Por exemplo, os aminoád-
dos nas DNA-polirnerases que são essenciais para a ligação ao nucleotídeo a
ser incorporado ou que catalisam diretamente a adição do nucleotídeo são
bastante conservados nas DNA-polirnerases de vários organismos diferentes.
De maneira semelhante, os aminoácidos que são importantes para o funcio-
namento da DNA-polirnerase em bactérias mas não em células eucarióticas
serão conservados apenas nas sequêndas de aminoácidos preditas pelas se-
quências genôrnicas de bactérias.
A com par ação de diferentes genornas também pode oferecer informações
importantes a respeito de sequências de DNA que não codificam proteínas.
A identificação de sequências que dirigem a expressão gênica, a replicação do
DNA, a segregação cromossômica e a recornbinação pode ser facilitada pela
comparação de sequências genôrnicas. Corno essas sequências reguladoras
tendem a divergir mais rapidamente, essas comparações são geralmente fei-
tas entre espécies intimamente relacionadas (p. ex., entre diferentes bactérias
ou entre seres humanos e outros primatas). O valor das comparações entre
espécies relacionadas levou a esforços para sequenciar os genornas de orga-
nismos de relação próxima com organismos-modelo bem-estudados, corno
Capítulo 2 Os Ácidos Nucleicos Transportam as Informações Genéticas 41
RESUMO
A descoberta de que o DNA é o material genético pode ser uma enzima que utiliza DNA de fita simples como molde para
rastreada até os experimentos realizados por Griffith, que de- a síntese de uma fita complementar.
monstraram que linhagens de bactérias não virulentas pode- Como foi visto, de acordo com o "dogma central", o flu-
riam ser geneticamente transformadas com uma substância de- xo da informação segue do DNA para RNA para proteína. Essa
rivada das linhagens patogênicas inativadas pelo calor. Avery, transmissão é alcançada em duas etapas. Na primeira, o Dl\A
McCarty e MacLeod, subsequentemente, demonstraram que a é transcrito em um intermediário de RNA (RNA mensageiro)
substância transformante era o DNA. Evidências adicionais de e, depois, o mRNA é traduzido em proteína. A tradução do
que o DNA é o material genético foram obtidas por Hershey e mRNA necessita de moléculas de Rl\A adaptadoras, chamadas
Chase, em experimentos com bacteriófagos marcados radioa- de tRl\As. A característica mais importante do código genético
tivamente. Com base nas regras de Chargaff e nos estudos de é que cada trinca, ou códon, é reconhecido por um tRNA, o
difração por raios X de Franklin e Wilkins, Watson e Crick pro- qual está associado a um aminoácido correspondente. Dos 64
puseram a estrutura de dupla-hélice do DNA. Nesse modelo, códons possíveis (4 X 4 X 4), 61 são utilizados para especificar
duas cadeias polinucleotídicas estão enroladas uma ao redor os 20 aminoácidos que compõem as proteínas, e três são uti-
da outra, formando uma dupla-hélice regular. As duas cadeias lizados como sinais para a terminação da cadeia. O conheci-
da dupla-hélice são mantidas unidas por ligações de hidrogê- mento do código genético permite predizer as sequências que
nio ent re os pares de bases. A adenina está sempre ligada à codificam as proteínas a partir da sequência de DNA. O sur-
timina, e a guanina está sempre ligada à citosina. A existência gimento de métodos de sequenciamento rápido levou-nos à
do pareamento de bases significa que as sequências de nucleo- nova era da genômica, na qual sequências completas de ge-
tídeos ao longo das duas cadeias não são idênticas, mas sim, nomas de uma grande variedade de organismos estão sendo
complementares. A descoberta dessa relação sugeriu um meca- determinadas, incluindo os seres humanos. A comparação de
nismo para a replicação do DNA, no qual cada fita atua como sequências genômicas oferece um método poderoso para iden-
um molde para a síntese de sua fita complementar. A prova tificar regiões essenciais do genoma que codificam não apenas
dessa hipótese veio (a) da observação de Meselson e Stahl de elementos importantes das proteínas, mas também regiões re-
que as duas fitas de cada dupla-hélice são separadas a cada ci- guladoras que controlam a expressão de genes e a duplicação
clo de replicação do Dl\A, e (b) da descoberta de Komberg de dogenoma.
42 Parte 1 História
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QUESTÕES
Pam respostas de quest/Jes de m1mero par, ver Apê11dice 2: Respostas. Quest ão 2 . No experimento de Hcrshey-Chasc de 1952
(Fig. 2-3), explique por que a proteína é marcada com 3•s c o
Questão 1. Avery, MacLeod c McCarty concluíram que o DNA é marcado com 32 P. É possível fazer a marcação inversa
DNA continha a lnformaçlio genética para transformar Strepto- (DNA com 3'S e proteína com 3"P)?
coccus pneumoníae R (rugoso) nao patogênico em S. pneumoniae
S (liso) patogênico. Explique a lógica experimental por trás do Questão 3.
tratamento da fraçao purificada ativa com dcsoxirribonudea- A. Considerando os dados de Chargaff no Quadro 2-1, expU·
se, ribonudease ou enzimas protcolítlcas. que como os dados humanos aJudaram a refutar a idcia
que a timina parela com a dtoslna no DNA dupla-fita.
Capítulo 2 Os Ácidos Nucleicos Transportam as Informações Genéticas 43
B. Se Chargaff coletasse apenas os dados de E. co/i K2, você por que os valores para radioatividade por comprimento
teria condições de refutar com segurança que a timina pa- de peptídeo não são iguais para cada pepetídeo completo
reia com a citosina no DNA dupla-fita? Explique por que isolado.
ou por que não. B. Deduza como os dados apresentados no gráfico muda-
riam se o passo de clivagem com tripsina não ocorresse.
Qu est ã o 4 . Descreva as diferenças estruturais entre uma
base, um nucleosídeo e um nucleotídeo (que são válidas para C. Deduza como os dados apresentados no gráfico muda-
qualquer base). riam se as proteínas fossem traduzidas no sentido carbo-
xiterminal para aminoterminal. Explique por que você
Quest ã o 5. Revise os dados da Tabela 2-1. Justifique como veria essa mudança.
os dados experimentais para Aerobacter aerogenes corroboram a
hipótese de que uma DNA-polirnerase utiliza um molde para di- Questão 14. Tissieres e Hopkins estudaram a relação entre o
redonar a síntese de DNA novo com uma sequência específica. DNA e a síntese de proteínas. Em um experimento, eles medi-
ram a incorporação de aminoácidos nas proteínas na presença da
Quest ão 6. enzima desoxirribonuclease (DNase). Eles incubaram um extrato
A. Usando a mesma configuração experimental do experi- bruto de E. co/i com concentrações variadas de DNase por 10 mi-
mento original de Meselson e Stahl (ver Figs. 2-9 e 2-10), nutos antes de adidonar os componentes necessários para a rea-
deduza as bandas (pesada, leve e/ou intermediária) que ção de síntese de proteína incluindo alanina marcada com "c. A
você observaria após um dclo de replicação se a DNA-po- quantidade de radioatividade incorporada está representada por
limerase replicasse o genoma bacteriano pelo modelo de cpm (contagens por minuto) nos dados resumidos a seguir.
replicação dispersiva.
B. Usando a mesma configuração experimental do experimen- DNAse (l'g/ml ) o 1 5 10 20 50
to original de Meselson e Stahl, deduza as bandas (pesada, cpm 8 13 334 372 364 386 426
leve e/ou intermediária) que você observaria após um ciclo Inibição (%) 59 54 55 53 48
de replicação se a DNA-polimerase replicasse o genoma bac-
teriano pelo modelo de replicação conservativa. A. Qual é o efeito da adição de DNase na síntese de proteí-
C. Quantos ciclos de replicação o experimento original de nas?
Meselson e Stahl incluiu para distinguir entre os três mo- B. Considerando o que você conhece a respeito do dogma
delos de replicação (dispersiva, conservativa, semiconser-
central, explique por que a adição de DNase causa o efeito
vativa)? Explique sua resposta.
observado na incorporação de aminoácidos.
Quest ã o 7. Revise o Quadro 2-2. Explique como Vernon Dados adaptados de Tissieres e Hopkins (1961. Proc. Natl.
lngram usou o alelo Se a anemia falciforme para fornecer evi- Acad. Sei. 4 7: 2015-2023).
dências de que os genes codificam proteínas.
Questão 15. Audrey Stevens mediu a incorporação de ADP
Qu estão 8. Descreva várias propriedades gerais do RNA que marcado com 32P ou ATP marcado com 32 P ao lU"'A. Ele adi-
forneceram pistas de que o RNA intermediava as informações cionou várias misturas de nucleotídeos a um extrato de E. co/i
genéticas do DNA e da sequência de aminoácidos nas proteínas. que catalisou a síntese de RNA. Os componentes adicionados
por reação estão listados na tabela a seguir. A radioatividade
Questão 9. Forneça justificativas de que o rRNA não dita a observada incorporada no Rl\A está listada em termos de cpm
sequência de aminoácidos na síntese de proteínas. (contagens por minuto).
Quest ão 10. Como a formação de polirribossomos é vanta-
josa para a expressão de uma proteína específica? cpm
Componentes da reação adicionados incorporada
Questão 11. Usando o código genético dado na Tabela 2-3, ATP 790
cite o(s) aminoácido(s) produzido(s) a partir do molde AGUAGU
ATP, UTP, CTP, GTP 3.920
usando um sistema de tradução livre de células.
ADP 690
Qu est ão 12. Descreva as etapas do Dogma Central. üste ADP. UDP, CDP, GDP 1.800
onde cada etapa ocorre na célula. Para cada seta, cite o processo
que a seta representa e a principal enzima (complexo) respon- A. Com base em seu conhecimento deste capítulo e nos da-
sável pela conclusão da etapa. ate a(s) etapa(s) na(s) qual(is) dos fornecidos, qual é a enzima presente no extrato de
o mRNA, o tRNA e o rRNA exercem um dado papel e descreva E. colí!
brevemente o papel de cada um na(s) etapa(s) que você dtou.
B. Por que você acha que a segunda reação possui o maior
Questão 13. valor de cpm comparado às outras reações?
A. Revise o experimento e os dados apresentados na Figura Dados adaptados de Stevens (1960. Biochem. Biophys. Res.
2-19. Em termos de configuração experimental, explique Commun. 3: 92-96).
PARTE 2
ESTRUTURA
E ESTUDO, DE
MACROMOLECULAS
l
o
o
46 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
A cente a estas estruturas e aos métodos pelos quais estas moléculas são
estudadas.
A química básica apresentada no Capítulo 3 foca na natureza das ligações
químicas- fracas e fortes-, descrevendo suas funções na biologia. A discussão
começa com interações químicas fracas, isto é, ligações de hidrogênio, forças
de van der Waals e interações hidrofóbicas. Essas forças promovem a maioria
das interações entre as macromoléculas- entre proteínas, ou entre proteínas
e DNA, por exemplo. As ligações fracas são fundamentais para a atividade
e regulação da maioria dos processos celulares. Dessa maneira, as enzimas
ligam-se aos seus substratos utilizando interações químicas fracas; e os regula-
dores transcricionais ligam-se a sítios no DNA para ativar ou silenciar genes,
utilizando o mesmo tipo de ligações.
As interações fracas individuais são, de fato, muito fracas e, portanto, dis-
sociam-se rapidamente após a sua formação. Essa reversibilidade é importante
para a sua função biológica. Dentro das células, as moléculas devem interagir
de maneira dinâmica (reversível) ou todo o sistema seria comprometido. Ao
mesmo tempo, certas interações precisam ser estáveis, pelo menos em curto
prazo. Para acomodar essas demandas aparentemente conflitantes, múltiplas
interações fracas tendem a ser utilizadas em conjunto.
Então, nossa atenção será para as ligações fortes - ligações que mantêm
unidos os componentes que constituem cada macromolécula. Dessa maneira,
as proteínas são compostas por aminoácidos em uma sequência específica
unidos por ligações fortes, e o DNA é composto por nucleotídeos ligados de
forma semelhante. (Os átomos que compõem os aminoácidos e os nucleotí-
deos também são unidos por ligações fortes.)
O Capítulo 4 explora a estrutura do DNA em nível atômico, desde a quí-
mica de suas bases, até as interações de pareamento de bases, e outras forças
que mantêm as duas fitas unidas. Portanto, vê-se como as ligações fortes e
fracas são essenciais para atribuir suas propriedades à molécula e, assim, defi-
nir suas funções. O DNA está, com frequência, topologicamente restrito, e o
Capítulo 4 considera os efeitos biológicos dessas limitações, juntamente com
as enzimas que alteram sua topologia.
O Capítulo 5 explora a estrutura do RNA. Apesar da grande semelhança
química com o DNA, oRNA tem características e propriedades estruturais dis-
tintas, próprias, incluindo sua incrível capacidade de atuar como catalisador
em vários processos celulares, tema que será retomado em capítulos posterio-
res do livro. A capacidade do RNA de codificar informações (como o DNA) e
atuar como enzjma (assim como muitas proteínas) conferiu a ele um papel
fascinante na evolução inicial da vida, assunto que é tratado novamente no
Capítulo 17.
No Capítulo 6, vê-se como as ligações fortes e fracas em conjunto for-
necem às macromoléculas estruturas tridimensionais distintas (conferindo,
assim, suas funções específicas). Da mesma maneira que as ligações fracas
promovem interações entre as macromoléculas, elas também atuam, por
exemplo, entre aminoácidos não adjacentes dentro de uma determinada pro-
teína. Ao fazer isso, essas ligações determinam a conformação tridimensional
da cadeia primária de aminoácidos.
Também se considera, no Capítulo 6, como as proteínas interagem umas
com as outras e com outras macromoléculas, em particular o DNA e o RNA;
como será visto em várias situações ao longo deste livro, as interações entre
proteínas e ácidos nucleicos estão no centro da maioria dos processos e da
regulação. Será considerado, ainda, como a função de uma proteína pode ser
controlada. Um modo de fazer isso é a alteração da forma da proteína, um
mecanismo chamado de regulação alostérica. Assim, em uma conformação,
uma determinada proteína realiza uma função enzimática específica ou liga-
-se a uma molécula-alvo específica. Em outra conformação, entretanto, ela
pode perder essa capacidade. Tal modificação na forma pode ser provocada
Parte 2 Estrutura e Estudo de Macromoléculas 47
Werner Arber e Daniel Nathans, 1978 Simpósio sobre Kary Mullis. 1986 Simpósio sobre a biologia molecular
DNA: replicação e recombinação. Estes dois pesquisado· do Homo sapiens. Mullis (à d ireita) invent ou a reação
res dividiram com Hamilton O. Smith o Prêmio Nobel de em cadeia da polimerase (PCR), uma das técnicas cen·
Fisiologia ou Medicina, em 1978, pelo trabalho de caracte- t rais da biologia molecular (Cap. 7), pela qual ganhou
rização das enzimas de restrição t ipo 11 e sua aplicação na o Prêmio Nobel de Química em 1993. Aqui, ele foi foto·
análise molecular do DNA (Cap. 7). Esta foi uma das desco· grafado com Maxine Singer (no centro), mais conhecida
bertas essenciais para o desenvolvimento da tecnologia de como a escritora e administradora que escreveu vários
DNA recombinante, no início da dêcada de 1970. livros sobre genética (geralmente, junto com Paul Berg)
e que recebeu a National Medal of Science em 1992.
À esquerda, está Georgii Georgiev, o editor fundador do
Russian Joumal of Developmental 8iology.
Albert Keston, Sidney Udenfriend e Frederick Sanger, Eric S. Lander (falando), 1986 Simpósio sobre a biologia
1949 Simpósio sobre aminoácidos e proteínas. Keston molecular do Homo sapiens. Lander estava prestes a setor-
- o inventor das fitas de teste para detecção da g licose nar um dos líderes do Projeto Genoma Humano público e
- e Udenfriend - d esenvolvedor de triagens e testes para primeiro autor do artigo que o Projeto gerou, relatando esta
antimaláricos - estão aqui apresentados juntamente com sequência em 2001 (Cap. 7). Assim como na foto a seguir, de
Sanger, a única pessoa a ganhar dois Prêmios Nobel de Gilbert e Botstein, Lander está apresentando suas ideias no de-
Química. O primeiro, em 1958, foi pelo desenvolvimento bate de 1986, sobre a validade de tentar sequenciar o genoma
de um método para determinar a sequência de aminoá- humano. Ao seu lado, parecendo pensativo, está David Page,
cido de uma proteína; o segundo, 22 anos depois, foi pelo cujo trabalho tem como foco a estrutura, a função e a evo-
desenvolvimento do método primário de sequenciamento lução do cromossomo Y; em primeiro plano, Nancy Hopkins
do DNA (Cap. 7). Além da conquista tecnológica óbvia, a (bióloga do desenvolvimento e uma das autoras da quarta
determinação de que uma proteína possui uma sequência edição deste livro) e, ao fundo, James Watson, parecem estar
definida revelou pela primeira vez que ela provavelmente mais descontraidos.
teria também uma estrutura definida.
Francis S. Collins e Maynard V. Olson, 1992 Encontro Walter Gilbert e David Botstein, 1986 Simpósio sobre a bio·
sobre mapeamento e sequenciamento genômicos. logia molecular do Homo sapiens. Gilbert, que inventou um
Coll ins foi um dos primeiros "caçadores de genes", encon· método qui mico para seq uenciar o DNA, é apresentado aqui
trando o tão procurado gene da fibrose cistica em 1989. com Botstein durante o debate histórico sobre a viabilidade e
Em 1993, ele assumiu o cargo, até então ocupado por a sensatez de tentar sequenciar o genoma humano. Botstein,
James Watson, de d iretor do National Center for Human após trabalhar com fagos por muitos anos, contribuiu muito
Genome Research e hoje, é diretor do National lnstitutes para o desenvolvimento da levedura Saccharomyces cerevisiae
of Health. Aqui, ele ouve Olson em frente a um pôster como eucarioto-modelo para biólogos moleculares; ele tam-
sobre cromossomos artificiais de levedura (YACs), vetores bém foi um dos primeiros pesquisadores no emergente campo
que Olson havia criado alguns anos antes e que permiti· da genômica (Cap. 7 e Apêndice 1).
ram um salto de 1O vezes no tamanho de fragmentos de
DNA que podiam ser clonados na época (Cap. 7).
CAPÍTU LO 3
J. . ,~f.co(h
~
A Importância das
Ligações Químicas
Fracas e Fortes
ao longo deste livro - e as de maior
A
S )AJ\CROMOLÉCULAS QUE NOS INTERESSAM
importância para os biólogos moleculares - são proteínas e ácidos nu-
cleicos. Estas são formadas por aminoácidos e n ucleotídeos, respectiva-
mente, e em ambos os casos os constituintes são unidos por ligações covalentes
para gerar cadeias polipeptídicas (proteínas) e polinucleotídicas (ácidos nuclei-
cos). As ligações covalentes são ligações fortes e estáveis, e essencialmente nun-
ca se rompem espontaneamente em sistemas biológicos. No entanto, existem
também ligações fracas, as quais são fundamentais à vida, em parte porque
elas podem ser formadas e rompidas sob as condições fisiológicas presentes nas
células. Ligações fracas promovem as interações entre enzimas e seus substra-
tos, e entre as macromoléculas - especialmente, como será visto nos capítulos
seguintes, entre proteínas e o DNA ou o RNA, e entre proteínas e outras proteí-
nas. Igualmente importantes ligações fracas também medeiam interações entre
as diferentes partes de uma mesma macromolécula que determinam o seu for-
mato e, portanto, sua função biológica. Assim, embora uma proteína seja uma
cadeia linear de aminoácidos ligados covalentemente, seu formato e função
são determinados pela estrutura tridimensional (3D) estável por ela adotada.
Esse formato é determinado pela extensa associação de várias interações fracas
individuais formadas entre aminoácidos que não estão necessariamente adja-
centes na sequência primária. Da mesma maneira, são as ligações fracas não
covalentes que mantêm as duas cadeias de uma dupla-hélice de DNA unidas.
A primeira parte do capítulo considera a natureza das ligações químicas
e o conceito de energia livre - isto é, a energia que é liberada (ou alterada)
durante a formação de uma ligação química. Depois, o texto se concentra
nas ligações fracas, vitais para o funcionamento adequado de todas as macro-
moléculas biológicas. Particularmente, descreve-se o que confere às ligações
fracas este seu caráter fraco. Na última parte do capítulo, são discutidas as
ligações de alta energia e considerados os aspectos termodinâmicos da ligação
peptídica e da ligação fosfodiéster.
A quan tidade de energia necessária para romper uma ligação é exatamen te igual
à quantidade de en ergia liberada durante a formação da ligação. Essa equiva-
lên cia segue a primeira lei da termodinâmica, que afirma que a energia (exceto
aquela que for convertida em massa) não pode ser criada n em destruída.
concAB
K = ----.----. [Equação 3-3)
eq concA x conc
8 '
SÁ
atração de
van der Waals • •
muito forte
cerca de4 Á
atração de
van dor Waals em
eq uillbrio com as • •
forças repulsivas
devido à intersecção
das camadas cxtcmas
de elétrons
+
acetato
guanina
glicina
FIGURA 3·5 Desenhos de várias moléculas com os raios de van der Waals dos
átomos mostrados como nuvens sombreadas.
a b
tetraedro
FIGURA 3-10 Diagrama de uma
rede formada por moléculas de água.
A energia ganha pela form ação de liga-
ções de hid rogênio especificas entre molé-
culas de água favorece o arranjo das mo-
léculas em tetraedros adjacentes. (Esferas
vermelhas) Átomos de oxigênio; (esferas
roxas) átomos de hidrogênio. Embora a
rigidez do arranjo dependa da tempera-
tura das moléculas, a estrutura represen-
tada é, ainda assim, predominante tanto
na água quanto no gelo. (Adaptada, com
permissão, de Pauling L 1960. The nature
of the chemical bond and the structure of
molecules and crystals: An introduction
to modem structural chemistry, 3rd ed .,
p. 262. © CorneU University.)
60 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
calor) para assegurar que a maioria das moléculas em solução aquosa formará
ligações secundárias com outras moléculas. A proporção de arranjos ligados e
não ligados é dada pela Equação 3-4, corrigida para levar em conta a elevada
concentração de moléculas em um líquido. Ela mostra que energias de inte-
ração de apenas 2 a 3 kcal/mol são suficientes, em temperaturas fisiológicas,
para forçar a maioria das moléculas a formar a maior quantidade possível de
ligações secundárias fortes.
A estrutura específica de uma solução em um determinado momento é
muito influenciada pelo tipo de moléculas de soluto presentes, não apenas
porque as moléculas apresentam formas específicas, mas também porque as
moléculas diferem quanto aos tipos de ligações secundárias que podem for-
mar. Assim, uma molécula tenderá a se deslocar até se aproximar de uma
molécula com a qual ela possa formar a ligação mais forte possível.
As soluções, obviamente, não são estáticas. Devido à influência do calor
no rompimento das ligações, a configuração específica de uma solução varia
constantemente de um arranjo para outro com conteúdo similar de energia.
Igualmente importante em sistemas biológicos é o fato de o metabolismo
estar continuamente transformando uma molécula em outra e, assim, auto-
maticamente alterando a natureza das ligações secundárias que podem ser
formadas. Portanto, a estrutura das células em solução é constantemente al-
terada não apenas pelo calor, mas também pelas transformações metabólicas
das moléculas solúveis presentes na célula.
~ CONCEITOS AVANÇADOS
a b
L.J
1Á
FI GURA 3·11 Ex emplos de ligaçôes de van der Waals (hidrof óbicas) entre as ca·
dei as laterais apoiares dos aminoácidos. Os hidrogênios não estão indicados individual-
mente. Para maior clareza, os raios de va n der Waals foram reduzidos em 20%. As fórmulas
estrutu rais adjacentes a cada desenho de preenchi mento de espaço indica m o arra njo dos
átomos. (a) Ligação fenilalanina-leucina. (b) Ligação fenilalanina-fenilalanina. (Adaptada, com
permissão, de Scheraga H.A. 1963. The proteins, 2nd ed. (ed. H. Neu rath), p. 527. Academic
Press, NewYork. © Harold Scheraga.)
62 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
energia de
ativação
f ~----~~-----------\----------~
" t.G da
reação
(A- 0) + (C- B)
progresso da reação
FIGURA 3·12 Energia de at ivação de uma reação quimica: (A- B) + (C- D)-+
(A- D) + (C- B). Esta reação é acompanhada por uma redução da energia livre.
Capítu lo 3 A Importância das Ligações Químicas Fracas e Fortes 65
A maioria das reações envolvendo ligações covalentes nas células pode TABELA 3 -4 Relação entre K"' e
ser d escrita por óG [óG = - RT(In Keq)]
t.G
(A- B) + (C- D) ~ (A- D) + (C- B): [Equação 3 -5) K.,. (kcaVmol)
10'' 8,2
A expressão de ação das massas para tal reação é
10 ' 5 6,8
concA- 0 x concc-n 1o· • 5,1
Keq = concA D x concc B'
[Equação 3-6) 10 ' 3 4 ,1
10 ' 2 2,7
em que conc"- 8 , concc- n e assim por diante são as concentrações dos vários 10 ' ' 1,4
reagentes em moles por litro. Aqui, também, o valor de K"' está relacionado a 10° 0,0
I!.G por (ver também Tab. 3-4) 10 1 - 1,4
10 2 - 2,7
I!.G = - RTln Keq ou [Equação 3-7] 10 3 - 4,1
~
energia de
"
.~ ativação da
"'o
'C ____ . __ energia de
reação não FIGURA 3-13 Enzimas redu zem
catalisada as energias de ativação e aceleram a
-~ Ii..o!=:ó' J ativação
da reação taxa da reação. A reação cata lisa da pela
.!!! enzima está representada pela curva roxa .
catalisada
E'
Observa-se que o t.G perma nece o mes-
"
~ L---------~--~~ mo porque a posição do equilibrio não é
progresso da reação alterada.
66 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
ATP'"""" AMP + G- G
Enol fosfatado o::.,_#O Fosfoenolpiruvato PEP...,....:... Pi ruvato + G ó.G = -12
C ?' (PEP)
I
C-0 -~
11
CH 2
Aminoacil adenilato Adenosina AM G- AA'"""" AMP + AA ó.G = -7
I R
@> -o" I
C- C - NHi
/ I
0 H
Fosfatos de guanidina ,f'o Crea tina - G- G __.:.. Creatina + G ó.G = -8
H
12c-c " o-
N
/ "- H
H3 C C-N -~
11
NH
creatina-fosfato
Tio~eres ,f'o Acetil CoA __.:.. CoA-SH + Acetato ó.G = -8
H3 C -C~
S -CoA
acetii-CoA
A ampla gama de valores de ll.G de ligações de alta energia (ver Tab. 3-5)
significa que considerar uma ligação de "alta energia" é, às vezes, arbitrário.
O critério comum é se sua hidrólise pode ser acoplada a outra reação para efe-
tuar uma biossíntese importante. Por exemplo, o ll.G negativo que acompanha
a hidrólise de glicose-6-fosfato está entre 3 e 4 kcal/mol. No entanto, esse ll.G
não é suficiente para a síntese eficiente de ligações peptídicas, de forma que
essa ligação éster fosfato não está incluída entre as ligações de alta energia.
em que as concentrações são dadas em moles por litro. Assim, para um deter-
minado valor de Keq (relacionado a tlG pela fórmula tlG = - RT[ln K,J), uma
concentração muito maior de água implica uma concentração proporcional-
mente muito menor do dipeptídeo. Dessa maneira, vê-se que as concentra-
ções relativas são muito importantes. De fato, um simples cálculo mostra que
a hidrólise pode proceder espontaneamente mesmo quando o tlG para uma
reação não hidrolítica for - 3 kcal/mol.
Assim, em teoria, as proteínas são instáveis e, após determinado período,
serão espontaneamente degradadas, gerando aminoácidos livres. Por outro
lado, na ausência de enzjmas específicas, essas velocidades espontâneas são
muito baixas para surtirem efeitos significativos no metabolismo celular. Isto
é, uma vez formada, a proteína permanece estável, a menos que a sua degra-
dação seja catalisada por uma enzima específica.
Capítulo 3 A Importância das Ligações Químicas Fracas e Fortes 69
Adenosina-0--0-G-G + Hp ~ Adenosina-0-G-G+G
Adenosina-0--0-G-G + HP ~ Adenosina-0-G+G-G
Adenosina-0--0-G + Hp ~ Adenosina-0-() + G
Todas essas reações de quebra apresentam valores negativos para tlG consi-
deravelmente maiores em valores absolutos (valor numérico, independen-
temente do sinal) do que os valores positivos de tlG que acompanham a
formação de moléculas poliméricas a partir de suas unidades monoméricas.
O artifício subjacente a essas reações bioquímicas, que apresentam um tlG
positivo, é seu acoplamento à quebra de ligações de alta energia caracteri-
zadas por .!lG negativo de valor absoluto maior. Assim, durante a síntese de
proteínas, a formação de cada ligação peptídica (.!lG = + 0,5 kcal/mol) é aco-
plada à quebra de ATP em AMP e pirofosfato, que tem um tlG de - 8 kcal/mol
(ver Equação 3-11). O resultado é um .!lG líquido de - 7,5 kcal/mol, mais do
que suficiente para assegurar que o equilíbrio favoreça a síntese proteica, em
vez de sua degradação.
Adenosina-G-G-G + Guanosina-G ~
Adenosina- G-G + Guanosina-G-G, [Eq uação 3-15]
Adenosina-G-G-G + Guanosina-G- G ~
Adenosina- G-G + Guanosina-G-G-G. [Eq uação 3-16]
O grupo de alta energia G-G do GTP permite que ele seja espontaneamente
unido a outra molécula. O GTP é, portanto, um exemplo de molécula a t i -
va da; da mesma maneira, o processo de transferência de um grupo de alta
energia é chamado de a t ivação de grupo .
Como o ATP é o receptor biológico original dos grupos de alta energia, ele deve
ser o ponto de partida para inúmeras reações em que os grupos de alta energia
são transferidos a moléculas de baixa energia, fornecendo-lhes o potencial para
reagir espontaneamente. A função central do ATP baseia-se no fato de ele conter
duas ligações de alta energia, cuja quebra libera grupos específicos. Isso pode
ser observado na Figura 3-15, que mostra três grupos importantes produzjdos a
partir do ATP: G - 4), um grupo pirofosfato; -AMP, um grupo adenosil-mo-
nofosfato; e - 4), um grupo fosfato. É importante ressaltar que esses grupos de
alta energia mantêm suas qualidades de alta energia apenas quando transferidos
a uma molécula receptora apropriada. Por exemplo, embora a transferência de
um grupo - G para um grupo coo- origine um grupo acilfosfato COO - G
de alta energia, a transferência do mesmo grupo para uma hidroxila de um açú-
car (- C- OH), como na formação de glicose-6-fosfato, origina uma ligação de
baixa energia (redução de menos de 5 kcal/mol no llG após a hidrólise).
H R H R 0
I I //0 I. I ,(' <!Y-clY
H-W-C - CY" + Adenosina ---@1-@-@) ---+ H - N -c- e +
I
H
I
H
"o- ~ ~ ' o-@-Adenosina .
[Eq uação 3-18]
Capítulo 3 A Importância das Ligações Químicas Fracas e Fortes 71
ATP
NH2
c-r)N
tJJl~
adenina
CH O +o-o, /.,._1
\ _ J ribose
ROH
A
R- o-0 - 0 + Q-~
AMP
Desoxinucleosídeo- G + ATP ~
Desoxinucleosídeo- G-G + ADP, [Equação 3-21]
Esses trifosfatos podem, agora, ser unidos por ligações fosfodiéster, formando
polinucleotídeos. Nessa reação de transferência de grupos, uma ligação piro-
fosfato é rompida e um grupo pirofosfato é liberado:
Desoxinucleosídeo- G-G-G
+ cadeia polinucleotídica crescente (com n nucleotídeos), [Equação 3-23]
- G-G + cadeia polinucleotídica crescente (n + I nucleotídeos).
Essa reação, ao contrário da que forma ligações peptídicas, não possui um ilG
negativo. Na verdade, o ilG é levemente positivo (-0,5 kcal/mol). Essa situa-
ção levanta imediatamente a questão, já que os polinucleotídeos obviamente
são gerados: qual é a fonte de energia livre necessária?
O valor da liberação de G ~ G na
síntese dos ácidos nucleicos
A energia livre necessária é obtida a partir da separação do grupo pirofosfato
de alta energia, formado simultaneamente com a ligação fosfodiéster de alta
energia. Todas as células contêm uma enzima muito eficaz, a pirofosfatase,
que quebra as moléculas de pirofosfato logo após sua formação:
+ ~
fosfato
nud eosídeo
difosfatado
cadeia em crescimento
(comprimento n)
cadeia em crescimento
(comprimento n + 1)
b
base
base
+ base + ~-~ ~ + ~
pirofosfato fosfato
nud eosídeo
trifosfatado / '
/
cadeia em crescimento ,"'"'
''
(comprimento n) ,~,.,
/ ' cadeia em crescimento
/ '' (comprimento n + 1)
~-
~~
+
nud eosídeo + ~-~ ~ + ~
trifosfatado pirofosfato fosfato
cadeia em crescimento
(comprimento n + 1)
cadeia em crescimento
(comprimento n + 2)
FI GU RA 3 - 1 6 Dois cenári os para a biossínt ese de ácidos nucleicos. (a) Síntese de ácidos nucleicos usando nucleosídeos difosfata -
dos. (b) Síntese de ácidos nucleicos usando nucleosideos trifosf atados.
74 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
RESUMO
Diversos eventos químicos importantes nas células não en- Cada molécula apresenta uma forma molecular única,
volvem a formação ou o rompimento de ligações covalentes. que limita o número de moléculas com as quais pode esta-
A localização celular da maioria das moléculas depende de for- belecer ligações secundárias fortes. As interações secundárias
ças atrativas ou repulsivas, fracas ou secundárias. Além disso, as fortes requerem uma relação complementar (chave-fechadura)
ligações fracas são importantes na determinação do formato de entre as duas superfícies ligantes, além do envolvimento de
muitas moléculas, especialmente das moléculas muito grandes. muitos átomos. Embora moléculas unidas por uma ou d uas
As forças fracas mais importantes são as ligações de hidrogênio, ligações secundárias freq uentemente se separem, um grupo
interações de van der Waals, ligações hidrofóbicas e ligações iô- dessas ligações fracas pode resultar em um agregado estável.
nicas. Mesmo q ue essas forças sejam relativamente fracas, elas O fato de a dupla-hélice de DNA nunca se separar espontanea-
ainda são fortes o suficiente para garantir q ue moléculas (ou mente ilustra a extraordinária estabilidade possível para esse
grupos atômicos) definidas interajam umas com as outras. Por tipo de arranjo.
exemplo, a superfície de uma enzima apresenta um formato A biossíntese de muitas moléculas parece, à primeira vis-
único para permitir a atração espeáfica de seus substratos. ta, violar a lei da termodinâmica que postula que reações es-
A formação de todas as ligações químicas - sejam interações pontâneas sempre envolvem uma diminuição da energia livre
fracas ou ligações covalentes fortes - ocorre de acordo com as (fiG é negativo). Por exemplo, a formação de proteínas a part ir
leis da termodinâmica. Uma ligação tenderá a ser formada quan- de aminoácidos possui um fiG positivo. Esse paradoxo é re-
do resultar em liberação de energia livre (fiG negativo). Para que movido quando se percebe que as reações biossintéticas não
a ligação seja rompida, deve ser fornecida essa mesma quanti- prosseguem como inicialmente postulado. As proteínas, por
dade de energia livre. Como a formação de ligações covalentes exemplo, não são formadas a partir de aminoácidos livres. Em
entre os átomos normalmente envolve um ó.G negativo mui- vez disso, os precursores são primeiramente convertidos enzi-
to elevado, átomos ligados de maneira covalente raramente se maticamente em moléculas ativadas de alta energia, as quais,
separam espontaneamente. Em contrapartida, os valores de fiG na presença de uma enzima espeáfica, se unem de maneira
envolvidos na formação de ligações fracas são apenas algumas espontânea para formar o produto biossintético desejado.
vezes maiores que a energia térmica média das moléculas em Muitos processos biossintéticos são, portanto, o resulta-
temperaturas fisiológicas. Ligações fracas individuais, são, por- do de reações "acopladas"; a primeira reação fornece a ener-
tanto, continuamente formadas e rompidas nas células vivas. gia que permite a ocorrência espontânea da segunda reação.
As moléculas que apresentam grupos polares (carregadas) A fonte primária de energia nas células é o ATP. Este é for-
interagem de maneira diferente das moléculas apoiares (nas mado a partir de ADP e fosfato inorgânico, durante reações
q uais a carga está simet ricamente distribuída) . As molécu- de degradação (como a fermentação e a respiração) e durante
las polares podem formar ligações de hidrogênio, enq uanto a fotossíntese. O ATP contém várias ligações de alta energia,
as moléculas apoiares formam apenas interações de van der cujas hidrólises apresentam um valor elevado de fiG negati-
Waals. A molécula polar mais importante é a água. Cada mo- vo. Os grupos unidos por ligações de alta energia são chama-
lécula de água pode formar quatro ligações de hidrogênio com dos de grupos de alta energia. Os grupos de alta energia podem
outras moléculas de água. Enquanto as moléculas polares são ser transferidos para outras moléculas por meio de reações de
normalmente solúveis em água (em vários níveis), as molécu- transferência de grupo, originando, assim, novos compostos
las apoiares são insolúveis, porque não podem formar ligações de alta energia. Essas moléculas de alta energia formadas são
de hidrogênio com as moléculas de água. os precursores imediatos de diversas vias biossintéticas.
Capítulo 3 A Importância das Ligações Químicas Fracas e Fortes 75
Os aminoácidos são ativados pela adição de um grupo Praticamente todas as reações biossintéticas resultam na
AMP, produzido a partir do ATP, formando uma molécula AA liberação de G - G. Quase imediatamente após a sua for-
- AMP. A energia da ligação de alta energia na molécula AA mação, o pirofosfato é enzimaticamente degradado em duas
- AMP é semelhante à de uma ligação de alta energia do ATP. moléculas de fosfato, tornando impossível a reversão da rea-
Entretanto, a reação de transferência de grupo pode ocorrer ção biossintética. A grande utilidade da degradação da ligação
porque a molécula G - G de alta energia, criada quando a G - G fornece uma explicação de por que o ATP, e não o
molécula AA - AMP é formada, é degradada pela enzima pi- ADP, é o póncipal doador de energia. O ADP não pode transfe-
rofosfatase, gerando grupos de baixa energia. Assim, a reação rir um grupo de alta energia e, ao mesmo tempo, gerar grupos
reversa, G - G + AA - AMP ~ ATP + AA, não pode ocorrer. G - G como produtos secundários.
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Voet D., Voet J.G., and Pratt C. 2.002.. Fundamental.• o{biochemistry.
John Wiley & Sons, New York.
QUESTÕES
Para respostas de questões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. Questão S. Revise a Tabela 3-5. Que processos celulares im-
portantes envolvem a reação de quebra de um nucleosídeo
Questão 1. Quais são os tipos de ligações possíveis entre trifosfato em um nucleosídeo monofosfato e pirofosfato, bem
duas macromoléculas? como a quebra de pirofosfato em dois fosfatos? Por que o tJ.G
dessas reações é significativo para esses processos?
Questão 2. (Verdadeira ou Falsa. Se for falsa, reescreva a fra-
se com a informação correta.) Enzimas reduzem o tJ.G de uma Questão 6. Qual é o tipo primário de ligação responsável
reação. por cada uma das seguintes interações:
Questão 3. (Verdadeira ou Falsa. Se for falsa, reescreva a fra- A . Uma fita de DNA interagindo com outra fita de DNA no
DNA dupla-fita.
se com a informação correta.) Ligações iônicas e ligações de
hidrogênio são mais fortes do que ligações de van der Waals. B. Um dipeptídeo de dois aminoácidos.
Questã o 4 . (Verdadeira ou Falsa. Se for falsa, reescreva a fra- Questão 7 . Descreva a estrutura geral de moléculas de água
se com a informação correta.) A zs•c, uma alteração de 10 sob temperaturas abaixo de zero versus a zs•c, e cite os pônei-
vezes na K,0 corresponde a uma alteração de 10 vezes no tJ.G. pais tipos de ligação entre as moléculas de água.
76 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macromoléculas
Questão 8. Defina moléculas polares e apoiares em termos Questão 13. Explique por que são usados nucleosídeos
de momentos de dipolo. As ligações de van der Waals ocorrem trifosfatados, e não nucleosídeos difosfatados, na síntese de
entre moléculas polares ou apoiares? DNA.
Questão 9. Calcule o valor de J<., a 2s•c, dado o !J.G de -12 Questão 14. Pesquisadores estudaram as interações entre
kcal/mol para a hidrólise de PEP em piruvato e um fosfato. proteínas e DNA em mais de 100 complexos proteína-DNA.
A tabela a seguir fornece um conjunto extraído destes dados: a
Questão 10. Dada a equação AB + energia <=> A + B, calcule distribuição de ligações de hidrogênio únicas entre uma base e
a concentração de A no equilíbrio se K,q = 8,0 x 105 mM, [B] um aminoácido específicos.
= 2 mM e [AB] = 0,5 mM (em que [x] significa "concentração
de x").
Bases do DNA
Questão 11. A estrutura de uma base nitrogenada está re- Aminoácidos Timina Citosina Adenina Guanina
presentada a seguir. Considerando esta estrutura sozinha (não
Arginina 5 4 7 26
no contexto do DNA ou do Rl\A), quantas possíveis ligações
Glutamato 11 1
de hidrogênio aceptoras estão presentes? Quantas possíveis li-
gações de hidrogênio doadoras estão presentes? Triptofano
A Estrutura do DNA
DNA É A MOLÉCULA GEN ÉriCA PRIMORDIAL que contém
A
DESCOBERTA DE QUE O
toda a informação hereditária nos cromossomos atraiu imediatamen-
te a atenção para sua estrutura. Esperava-se que o conhecimento da
estrutura do DNA revelasse como ele transporta as mensagens genéticas que
são replicadas quando os cromossomos se dividem produzindo duas cópias
idênticas. No fim da década de 1940 e início da de 1950, vários grupos de
pesquisa nos Estados Unidos e na Europa buscaram, com grande empenho
-ao mesmo tempo cooperativo e competitivo-, entender como os átomos
do DNA são mantidos unidos por ligações covalentes e como as moléculas
resultantes estão organizadas no espaço tridimensional. Não é de surpreender
que, na época, existissem ideias de que o DNA pudesse apresentar estruturas
muito complicadas e talvez até bizarras, que difeririam radicalmente de um
gene para outro. Foi um grande alívio, e uma alegria geral, descobrir que a
estrutura fundamental do DNA é uma dupla-hélice. Essa descoberta indicava
que todos os genes apresentam basicamente a mesma forma tridimensional
e que as diferenças entre dois genes encontram-se na ordem e no número de
seus quatro nucleotídeos constituintes ao longo das fitas complementares.
Atualmente, mais de 50 anos após a descoberta da dupla-hélice, essa des-
crição simples do material genético continua a ser verdadeira, e não foi ne-
cessário fazer grandes alterações para acomodar as novas descobertas. Apesar
disso, constatou-se que a estrutura do DNA não é tão uniforme como pri-
meiramente se imaginou. Por exemplo, os cromossomos de alguns vírus pe-
quenos são moléculas de fita simples e não dupla. Além disso, a orientação
precisa dos pares de bases varia levemente para cada par de base, influenciada
pela sequência local de DNA. Algumas sequências de DNA até permitem que
a dupla-hélice se enrole para o lado esquerdo, oposto ao lado direito original-
mente formulado para a estrutura geral do DNA. E, enquanto algumas molé-
culas de DNA são lineares, outras são circulares. Uma complexidade adicional
também resulta do superenrolamento (torção adicional) da dupla-hélice, fre-
quentemente em torno de centros de proteínas ligadoras de DNA. Claramen-
te, a estrutura do DNA é mais rica e mais complexa do que originalmente
imaginado. De fato, não existe uma estrutura genérica para o DNA. Como
será visto neste capítulo, existem, de fato, variações de temas estruturais co-
muns que surgem a partir de propriedades físicas, químicas e topológicas úni-
cas da cadeia polinucleotídica.
78 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
ESTRUTURA DO DNA
O DNA é composto por cadeias polinucleotídicas
A característica mais importante do DNA é que, normalmente, ele é composto
por duas cadeias polinucleotídicas enroladas uma ao redor da outra na
forma de uma dupla-hélice (Fig. 4-1). A Figura 4-1a apresenta a estrutura da
dupla-hélice de maneira esquemática. É possível notar que, se for invertida
em 180° (p. ex., se o livro for virado de cabeça para baixo), a dupla-hélice pa-
recerá superficialmente a mesma, devido à natureza complementar das duas
fitas do DNA. O modelo de preenchimento de espaço da dupla-hélice, na
Figura 4-1b, mostra os componentes da molécula de DNA e suas posições re-
lativas na estrutura helicoidal. O esqueleto de cada fita da hélice é composto
por resíduos alternados de açúcar e fosfato; as bases projetam-se para o inte-
rior, mas estão acessíveis através das fendas maior e menor.
Inicia-se considerando a natureza do nucleotídeo, o bloco construtor
fundamental do DNA. O nucleotídeo consiste em um fosfato ligado a um
açúcar, conhecido como 2' -desoxirribose, ao qual uma base está ligada.
O fosfato e o açúcar possuem as estruturas apresentadas na Figura 4-2. O açú-
car é chamado de 2' -desoxirribose porque não possui um grupo hidroxila
na posição 2' (apenas dois hidrogênios). Observe que as posições no açúcar
são designadas com apóstrofos, para distingui-las das posições das bases (ver
discussão a seguir).
Pode-se visualizar como as bases são ligadas à 2' -desoxirribose imaginan-
do a remoção de uma molécula de água entre o grupo hidroxila do carbono
1' do açúcar e da base, formando uma ligação glicosídica (Fig. 4-2). Apenas
o açúcar e a base, ligados, são chamados de nucleosídeo. Da mesma forma,
pode-se imaginar a ligação do fosfato à 2 ' -desoxirribose pela remoção de uma
molécula de água entre o fosfato e o grupo hidroxila do carbonoS', forman-
do um 5'-fosfomonoéster. A adição de um grupo fosfato (ou mais de um) a
um nucleosídeo dá origem a um nucleotídeo. Assim, um nucleotídeo é
formado por uma ligação glicosídica entre a base e o açúcar, e uma ligação
fosfoéster, entre o açúcar e o ácido fosfórico (Tab. 4-1).
a b
"'
Q) 3' 5'
ligação de hidrogênio
"'"'
.o
Q)
'O base
"'
Q)
~
esqueleto de
~
açúcar-loslato
"1.
o
~
I 22A
11
(2.2 nm)
...
o<(
>
~
resíduos de fosfato em cada fita formam
o esqueleto, o qual está representado por c:::> A
círculos amarelos, cinzas e cor de laran- - G
c
ja, mostrando a torção helicoidal geral
da molécula. As bases projetam-se pa ra o
lado interno, mas estão acessíveis através
3' 5' T •
H
o
o
o
C no éster de
o
CeN p
20A (2 nm) losrato da cadeia nas bases
das f endas maior e menor.
Capítulo 4 A Estrutura do DNA 79
ácido fosfórico HO H
H,O H'-N/ H
o ;0~
11
-o - p - OCH2 y o-y ~~
N
I H' ~H'H
o- HO H
nucleotídeo (dAMP)
Os nucleotídeos são, por sua vez, ligados entre si nas cadeias polinucleo-
tídicas por meio do grupo 3'-hidroxila da 2' -desoxirribose de um nucleotídeo
e o fosfato ligado ao grupo S' -hidroxila do outro nucleotídeo (Fig. 4-3). Essa
é uma ligação fosfodiéster, na qual o grupo fosforil entre os dois nucleo-
tídeos possui um açúcar esterificado a ele por meio de um grupo 3' -hidroxila
e um segundo açúcar esterificado a ele por meio de um grupo S'-hidroxila.
As ligações fosfodiéster criam o esqueleto repetitivo de açúcar-fosfato da ca-
deia polinucleotídica, uma característica regular do DNA. Em contrapartida,
a ordem das bases ao longo da cadeia polinucleotídica é irregular. Essa irregu-
laridade, junto com o comprimento extenso, constituem a base do enorme
conteúdo informacional do DNA.
As ligações fosfodiéster conferem uma polaridade inerente à cadeia de
DNA. Essa polaridade é definida pela assimetria dos nucleotídeos e pela
maneira como eles estão unidos. As cadeias de DNA apresentam um grupo
S'-fosfato ou um grupo S'-hidroxila livre em uma extremidade, e um grupo
3' -fosfato ou 3' -hidroxila livre na outra extremidade. Convencionou-se escre-
ver as sequências de DNA da extremidade S' (à esquerda) para a extremidade
3', geralmente com um S'-fosfato e uma 3'-hidroxila.
Ó:>
·o - P- OCH2
N
ó:> ~e~M
~N N
I
OH H H
H~~
H H
OH H
H H
H H
OH H
adenina
5'
H
:Ól
H
1:
.J
•
N
3
H ti mina
O
com diferentes grupos ligados. Da mesma forma, a citosina e a timina são va-
riações da estrutura de um único anel, mostrada na Figura 4-4. A figura tam-
bém apresenta a numeração das posições nos anéis de purina e de pirimidina.
3C
Ht'J:H
As bases estão ligadas à desoxirribose por uma ligação glicosídica pelo Nl , nas
pirimidinas, ou pelo N9, nas purinas.
Cada uma das bases existe em dois estados tautoméricos alternativos,
H N O
I
os quais estão em equilíbrio entre si. O equilíbrio é bastante deslocado para
o lado das estruturas convencionais mostradas na Figura 4-4, que represen-
tam os estados predominantes e importantes para o pareamento de bases. Os
FIGURA 4 · 4 Purinas e p irimidinas.
átomos de nitrogênio ligados aos anéis das purinas e das pirimidinas estão na
As linhas pontilhadas indicam os sítios
de ligação das bases aos açúca res. Pa ra
forma amino no estado predominante e raramente assumem a configuração
simplificação, os átomos de hid rogênio imino. Da mesma forma, os átomos de oxigênio ligados à guanina e à timina
foram omitidos dos açúcares e das bases normalmente estão na forma ceto e raramente assumem a configuração enol.
nas figu ras subsequentes, exceto onde Como exemplos, a Figura 4-5 mostra a tautomerização da citosina na forma
eram necessários à ilustração. imino (Fig. 4-Sa) e da guanina na forma enol (Fig. 4-Sb). Como será visto, a
Capítulo 4 A Estrutura do DNA 81
par de bases também. Um par de bases G:C possui três ligações de hidrogênio,
pois o NH 2 exocíclico do C2 da guanina encontra-se em posição oposta à
carbonila do C2 da citosina, e pode interagir com ela formando uma ligação
de hidrogênio. Da mesma maneira, uma ligação de hidrogênio pode ser for-
mada entre o Nl da guanina e o N3 da citosina, e entre a carbonila no C6 da
guanina e o NH 2 exocíclico do C4 da citosina. O pareamento de bases do tipo
Watson-Crick necessita que as bases estejam em seus estados tautoméricos
preferenciais.
Uma característica importante da dupla-hélice é que os dois pares de
bases apresentam exatamente a mesma geometria; a presença de um par de
bases A:T ou um G:C entre os dois açúcares não perturba a disposição dos
açúcares, porque a distância entre os pontos de ligação do açúcar é a mesma
para ambos os pares de bases. O mesmo acontece com os pares de bases T:A
ou C:G. Em outras palavras, existe um eixo de simetria aproximadamente
duplo que relaciona os dois açúcares, e os quatro pares de bases podem ser
acomodados dentro da mesma disposição sem qualquer distorção na estru-
tura geral do DNA. Além disso, os pares de bases podem ser empilhados em
cima uns dos outros entre os dois esqueletos h elicoidais de açúcar-fosfato.
Assim, a irregularidade na ordem dos pares de bases do DNA está embutida
em uma arquitetura global que é relativamente regular. Isso contrasta com as
proteínas (ver Cap. 6), nas quais a ordem irregular dos amin oácidos resulta
em uma diversidade enorme de estruturas proteicas.
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Quadro 4-1 O DNA tem 10,5 pares de bases por volta da hélice em solução: o experimento de mica
O valor de 1O pares de bases por volta varia um pouco sob 10 e 11, 21, 31 e 32 pares de bases e assim por diante, ou seja,
d iferentes condições. Um experimento clássico, realizado na em múltiplos de 10,5, que é o número de pares de bases por
década de 1970, demonstrou que o DNA absorvido em uma volta. Esse valor de 10,5 pares de bases por volta é próximo ao
superfície apresenta um número um pouco maior do que do DNA em solução, como inferido por outros métodos (ver
10 pares de bases por volta. Pequenos segmentos de DNA seção intitulada A dupla-hélice existe em múltiplas conforma-
foram ligados a uma superfície com mica. Uma orientação ções, a seguir). A estratégia da utilização da DNase para avaliar
fixa sobre a mica foi alcançada pela presença de 5 ·-fosfatos a estrutura do DNA é agora utilizada para analisar a interação
terminais nos DNAs. A seguir, os DNAs fixados à mica foram do DNA com proteínas (ver Cap. 7).
expostos à DNase I, uma enzima (uma desoxirribonuclease)
que diva as ligações fosfodiéster no esqueleto de DNA. Como
a enzima é volumosa, ela somente é capaz de clivar as liga-
ções fosfodiéster nas superfícies do DNA mais afastadas da pb
mica (imagine o DNA como um cilindro deitado em uma su-
perfície plana), devido às dificuldades estéricas para alcançar
as superfícies laterais e basais do DNA. Assim, o tamanho dos
32 -
fragmentos resultantes refletiria a periodicidade do DNA, o 31
número de pares de bases por volta .
Após a exposição do DNA ligado à mica à DNase, os frag- 22
mentos obtidos foram separados por eletroforese em gel de 21 -
20
poliacrilamida, uma matriz semelhante à gelatina (Quadro 4-1,
Fig. 1; ver também Cap. 7 pa ra uma explicação sobre eletro-
11
forese em gel). Como o DNA é negativamente carregado, ele 10
migra ao longo do gel em direção ao polo positivo do campo
elétrico. A matriz do gel retarda o movimento dos fragmentos,
de modo proporcional ao seu tamanho, de tal forma que os
f ragmentos maiores migram mais devagar que os fragmentos
menores. Quando o experimento foi rea lizado, observou-se
agrupamentos de fragmentos de DNA de tamanhos médios de QUADRO 4·1 FIGURA 1 O experimento de mica.
o o
~
H A
A
~... .,_.,.
/ o ....... .,_, .,
A A A \ A
H
o o
fenda menor fenda menor
M A O
CH H A
/~ H~r\
postos nas fendas maior e menor ao
longo das extremidades dos pares de
bases. As letras em vermelho identifi-
cam aceptores de ligações de hidrogênio
A H A
(A). doadores de ligações de hid rogênio
(O). hid rogên ios apoiares (H) e g rupos
metila (M ).
fenda menor fenda menor
86 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
que seja preciso abrir e separar a dupla-hélice. De fato, como será visto, um
mecanismo de decodificação importante baseia-se na capacidade de as cadeias
laterais dos aminoácidos se projetarem para dentro da fenda maior, reconhe-
cendo e ligando-se a sequências de DNA específicas (ver Cap. 6).
A fenda menor não é tão rica em informação química, e o tipo de informa-
ção disponível é menos útil para distinguir entre os pares de bases. O reduzido
tamanho da fenda menor apresenta uma menor capacidade para acomodar ca-
deias laterais de aminoácidos. Além disso, pares de bases A:T e T:A, bem como
G:C e C:G, têm aparências semelhantes uns aos outros na fenda menor. Um
par de bases A:T tem um aceptor de ligação de hidrogênio (em N3 da adenina),
um hidrogênio apoiar (em N2 da adenina) e um aceptor de ligação de hidrogê-
nio (a carbonila no C2 da timina). Assim, seu código é AHA. No entanto, esse
código é o mesmo se for lido na direção oposta e, portanto, um par de bases
A:T não difere muito de um par T:A do ponto de vista de propriedades para for-
mar ligações de hidrogênio com uma proteína que está inserindo suas cadeias
laterais na fenda menor. Da mesma maneira, um par de bases G:C exibe um
aceptor de ligação de hidrogênio (no N3 da guanina), um doador de ligação
de hidrogênio (o grupo amino exocíclico do C2 da guanina) e um aceptor de
ligação de hidrogênio (a carbonila no C2 da citosina), representando o código
ADA. Assim, do ponto de vista das ligações de hidrogênio, pares de bases C:G
e G:C também não parecem muito diferentes uns dos outros. A fenda menor
parece diferente quando se compara um par de bases A:T com um par de bases
G:C, mas G:C e C:G, ou A:T e T:A, não podem ser facilmente distinguidos
(ver Fig. 4-10). Embora a fenda menor seja menos útil na distinção de um par
de bases de outro, o padrão idêntico dos aceptores de ligações de hidrogênio
apresentado na fenda menor de todos os pares de bases Watson-Crick é fre-
quentemente explorado pelas proteínas para reconhecer o DNA B corretamen-
te pareado (p. ex., DNA-polimerases; ver Cap. 9).
disso, sua conformação exata depende de qual par de bases (A:T, T:A, G:C ou
C:G) está presente em cada posição ao longo da dupla-hélice e da identidade
dos pares de bases vizinhos. Ainda assim, a forma B é, para muitos propósitos,
uma boa aproximação da estrutura do DNA presente nas células.
a b
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Quadro 4-2 Com o pontos em um filme de raios X rev elam a estrutu ra do DNA
~
ram o modelo de Watson-Crick para a f orma B do DNA. Além •
d isso, Francis Crick, que havia ajudado a desenvolver a teoria •
da difração de moléculas helicoidais, conseguiu inf erir a partir
•
~
do padrão de pontos que as fitas do DNA estão enroladas uma
•
na outra. À primeira vista, a imagem de Franklin não apresenta •
nenhuma relação reconhecível com uma dupla-hélice. Como, :::::::: •
•
•
QUADRO 4 · 2 FIGURA 2 Padrão de difração de ondas
uniformemente espaçados ao longo de linhas de "camadas" que passam atráves de linhas paralelas.
horizontais (numeradas na figura). Observe que contando
para cima e para baixo a partir do centro da cruz, os pontos
na quarta linha de camada estão ausentes. Observe também
que a cruz de Malta e as regiões muito escuras no topo e na mas se as bases de um conjunto de ondas estiverem alinha-
base da imagem criam uma série de quatro áreas em formato das aos picos de outro conjunto de ondas, as ondas cance-
de diamante (dois exemplos disso estão realçados em azul). lam umas às outras ("interferência destrutiva"). Sendo assim,
Com o será explicado agora, pode-se entender em termos um feixe de ondas passando através de um arranjo que con-
qualitativos a partir de algumas considerações simples sobre a siste em um conjunto horizontal de linhas geraria uma fileira
natureza da difração de onda que este aparente padrão enig- de pontos perpendiculares (verticais) às linhas (Quadro 4 -2,
mático de pontos corresponde à estrutura da dupla-hélice. Fig. 2). Agora suponha-se que as linhas horizontais sejam in-
O princípio subjacente à difração dos raios X é de que clinadas. Isso resultaria em uma fileira inclinada de pontos
quando ondas passam por meio de um arranjo periód ico, (novamente, perpendiculares à inclinação das linhas). Em se-
ocorre interferência entre as ondas se o seu comprimen- guida, suponha-se que as ondas estejam passando através
to de onda for semelhante à distância repetida do arranjo. de dois conjuntos de linhas inclinadas ligadas umas às outras
(Por isso, os raios X, que possuem um comprimento de onda em zigue-zague com o na figura: isso resulta em uma cruz
muito curto de O, 15 nm, são usados para revelar a estrutura composta por duas f ileiras inclinadas de pontos.
atômica.) Se as oscilações das ondas estiverem alinhadas, as Agora a atenção é voltada para o DNA. Imagine o esque-
ondas ref orçam umas às out ras ("interferência construtiva"), leto de uma fita da dupla-hélice projetado em uma superfície
plana . Falando livremente, isso criaria uma série conectada de
zigues e zagues (ou, mais adequadamente, uma curva sinu-
soide). Se pensarmos nos zigues como geradores de um con-
junto de linhas inclinadas e nos zagues como geradores de
outro conjunto, então as ondas passando por meio de zigues
e zagues gerarão duas fileiras de pontos que cruzam uma à
outra como no exemplo anterior. Essa é a base da cruz de
5---~ Malta da f otografia de Franklin e, portanto, a cruz revela que
• o DNA é helicoidal. O conhecimento do comprimento de onda
Quadr o 4 · 2 (Continuação)
particularmente ao norte e ao sul do centro da cruz, para tidas em um espaço de 0,34 nm . Como há um par de bases
criar um padrão de quatro diamantes. Em fotografias de re· por unidade de açúcar-fosfato, a forma B do DNA consiste
solução maior do que a mostrada aqui, pode-se contar 1O em 1O pares de bases por período helicoidal (volta da hélice).
linhas de camadas a partir do centro da cruz para os pelos Assim, um conhecimento rudimentar da difração de on·
norte e sul. Essa característica do padrão de difração revela das torna possível extrair de um simples padrão de pontos
que a periodicidade da dupla-hélice (3,4 nm) é 1O vezes a em um filme de raios X as principais características da estru-
periodicidade atômica, correspondendo a 10 unidades repe· tura do DNA.
TABELA 4-2 Comparação das propriedades estruturais dos DNAs A, B e Z, obtidas a partir de análises por raios X de
cristais isolados
Típo de hélice
A B z
Proporções gerais Curta e larga Mais longa e mais estreita Alongada e delgada
Aumento por par de bases 2,3 Â 3,32 Â 3,8Â
Diâmetro de compactação da hélice 25,5Â 23,7 Â 18,4Â
Sentido de rotação da hélice Voltada para a direita Voltada para a direi ta Voltada para a esquerda
Pares de bases por repetição de hélice 1 1 2
Pares de bases por volta da hélice - 11 -1 0 12
Rotação por par de bases 33,6" 35,9° - 60° por 2 pb
Grau de inclinação por volta da hélice 24,6Â 33,2 Â 45,6Â
Inclinação das bases perpendiculares ao +1 9° - 90
eixo da hélice
Torção helicoidal média dos pares de +1 8° +1 6"
bases
Localização do eixo da hélice Fenda maior Através dos pares de bases Fenda menor
Proporções da fenda maior Extremamente estreita, mas Ampla e com profundidade Achatada sobre a superfície
muito profunda intermed iária da hélice
Proporções da fenda menor Muito larga, mas rasa Estreita e com Extremamente estreita, mas
profundidade intermediária muito profunda
Conformação das ligações glicosídicas anti anti anti em C, syn em G
Adaptada, com permissão, de Dickeo;on R.E. et ai. 1982. Co/d Spring Harbor Symp. Ouant. Bio/. 47: 14 . © Cold Spring Harbor Laboratory Press.
I continuidade da renaturação I
FIGURA 4·14 Reanelamento e hibridização. Uma mist ura de duas moléculas de DNA
de dupla-fita praticamen te idên ticas, uma com DNA selvagem norm al e a outra, uma molécula
mutante que perdeu uma pequena região de nucleotídeos (marcada como região a em verme-
lho), é desnaturada por calor. A renaturação das moléculas desnaturadas ocorre pela incubação
a uma temperatu ra levem en te abaixo da temperatura de fusão. Esse t ratamento resulta em
dois t ipos de moléculas renaturadas. Um, composto por moléculas completa mente renatu ra-
das. no qua l as duas fitas complementares de tipo selvagem restauram uma hélice, e as duas
fitas complemen tares muta ntes restauram a outra hélice. O outro t ipo é formado por moléculas
híbridas, compostas por uma f ita de t i po selvagem e uma f ita mutante, exibindo uma pequena
alça de DNA não pareada (região a).
fita simples
dupla-fita
40 60 Tm 100
temperatura (•C)
•
100 • ..•
•• • •
••
•
••
..••
.• .•
* 80 .·
FIGURA 4·16 A desnaturação do "'
Q)
Isso ocorre por meio do pareamento de bases entre as regiões de fita simples
que se projetam das extremidades do DNA e que apresentam sequências com-
plementares, também conh ecidas como "extremidades coesivas".
TOPOLOGIA DO DNA
Como o DNA é uma estrutura flexível, seus parâmetros moleculares exatos são
uma função do ambiente iônico que o rodeia e da n atureza das proteín as que se
ligam a ele, com as quais o DNA forma complexos. Como suas extremidades são
livres, as moléculas lineares de DNA podem sofrer rotações livremente, acomo-
dando as alterações no n úmero de vezes que as duas cadeias da dupla-h élice se
torcem uma sobre a outra. Porém, se as duas extremidades estão covalentemen te
ligadas, formando uma molécula de DNA circular, e se não existem interrupções
n os esqueletos açúcar-fosfato das duas fitas, então, o número absoluto de vezes
que as cadeias podem se torcer uma sobre a outra não pode variar. O DNA cir-
cular covalentemente fechado (cccDNA, covalently closed, circular DNA) é
dito topologicamente limitado. Mesmo as moléculas lin eares dos cromossomos
eucarióticos estão sujeitas a limitações topológicas, devido a seus comprimentos
extremos, entrelaçamentos n a cromatina e in terações com outros compon en tes
celulares (ver Cap. 8). Apesar dessas limitações, o DNA participa em uma gran-
de quantidade de processos dinâmicos na célula. Por exemplo, as duas fitas da
dupla-hélice, que estão torcidas uma sobre a outra, devem ser separadas rapida-
mente, a fim de serem duplicadas e transcritas em RNA. Assim, o enten dimento
da topologia do DNA e de como a célula acomoda e explora as limitações topo-
lógicas durante a replicação, a transcrição e outras atividades cromossômicas são
de fundamental importân cia na biologia molecular.
a b c
1 1
I I
º 35
c
~
E / 30
(/~ 5-
~
~
topoisomerase
:i 10 - - 25
~
"8\
~
o - 25 10-
I
20 15
Lk = Tw + Wr.
do pelo símbolo Lk0 • O Lk0 para essa molécula é o número de pares de bases
dividido por 10,5. Para um cccDNA de 10.500 pares de bases, o Lk = + 1.000.
(O sinal é positivo porque as torções do DNA são voltadas para a direita.) Uma
maneira de visualizar isso é se imaginar esticando uma fita de cccDNA com
10.500 pares de bases em um círculo plano. Se isso for feito, então a outra fita
cruzará a fita circular plana 1.000 vezes.
Como se pode remover superemo lamentos do cccDNA se ele já não esti-
ver relaxado? Um procedimento é tratar o DNA brandamente com a enzima
DNase I, de forma a romper uma ligação fosfodiéster em média (ou um peque-
no número de ligações) em cada molécula de DNA. Uma vez que o DNA tenha
sido "clivado" dessa maneira, ele não estará mais topologicamente limitado e
as fitas poderão sofrer rotações livremente, permitindo que as supertorções se
dissipem (Fig. 4-19). Se o corte for reparado a seguir, as moléculas de cccDNA
resultantes estarão relaxadas e apresentarão, em média, um Lk que será igual a
Lk0 • (Devido à flutuação rotacional no momento em que o corte é reparado, al-
guns dos cccDNAs resultantes terão umLk um pouco maior do queLk0 e outros
apresentarão um Lk um pouco menor. Assim, o procedimento de relaxamento
gerará uma pequena variedade de cccDNAs cujo Lk médio será igual a Lk0 .)
corte
-' passagem da
fita através da
quebra e ligação
Lk=n Lk=n+ 1
d topoisomerase de tipo 11
a b
CH2
i"'
.&
base
li
3'
..
clivagem e
..
passagem
da fita
abertura
da fenda
5'
a b c
religação
da fita '
clivada
•
liberação
doDNA
e d
FI GURA 4 · 25 Modelo para o ciclo de reação catalisado por u ma topoisomerase
de t ipo I. Uma série de etapas propostas para o relaxamento de uma volta de um plasmídeo
de DNA negativamente supertorcido. As duas fitas do DNA são mostradas em cinza-escuro
(não representadas em esca la). Os quatro domínios da proteína estão marcados no painel a:
(vermelho) Domínio I; (azul -escuro) 11; (verde) 111; (amarelo) IV. (Adaptada, com permissão, de
Champoux J. 2001 .Annu. Rev. Biochem. 70: 369-413. ©Annual Revievvs.)
que a coloca próxima ao sítio ativo tirosina. Essa fita é clivada para gerar o
intermediário covalente DNA-tirosina (Fig. 4-2Sb). Para o sucesso da rea-
ção, é necessário que a outra extremidade do DNA recém-clivado também
esteja firmemente ligada à enzima. Após a clivagem, a topoisomerase sofre
uma enorme alteração conformacional para abrir uma lacuna na fita d iva-
da, com a enzima servindo de ponte para essa lacuna. Então, a segunda fita
de DNA (não clivada) passa por meio da fenda e liga-se a um sítio de ligação
ao DNA em um sulco interno da proteína com forma de anel (Fig. 4-2Sc).
Após a passagem da fita, uma segunda alteração conformacional no com-
plexo topoisomerase-DNA reaproxima as extremidades clivadas do DNA
(Fig. 4-2Sd); a religação das fitas ocorre pelo ataque da extremidade OH so-
bre a ligação fosfotirosina (ver anteriormente). Após a religação, a enzima
deve abrir-se outra vez, liberando o DNA (Fig. 4-2Se). Esse produto de DNA é
idêntico à molécula de DNA inicial, exceto pelo fato de o número de ligação
ter sido acrescido de um.
Esse mecanismo geral, no qual a enzima forma uma "ponte proteica"
para a passagem da fita, também pode ser aplicado às topoisomerases de tipo
11. As enzimas de tipo 11, entretanto, são diméricas (ou em alguns casos, tetra-
méricas). Duas subunidades da topoisomerase, com seus resíduos de tirosina
no sítio ativo, são necessárias para clivar as duas fitas do DNA, produzindo
a quebra da dupla-fita, uma característica fundamental do mecanismo das
topoisomerases de tipo !L
1 02 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
etídeo
nucleotídeo
FIGURA 4 · 2 8 Intercalação do etí·
deo no DNA. O etídeo aumenta o espa- ~ esqueleto molécula
ço ent re pa res de bases adjacentes, dis- intercalada
torceo esqueleto açúcar-fosfato regular e
diminui o enrolamento das hélices.
Capítulo 4 A Estrutura do DNA 103
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Quadro 4-3 Prova de que o DNA apresenta uma periodicidade helicoidal de cerca de 10,5 pares de bases por
volta a partir das propriedades topológicas de anéis de DNA
A observação de que os topoisômeros d e DNA podem ser -se que os anéis de 3.990 e 4.011 pb, em seus estados mais
separados por eletroforese é a base de um experimento si m- relaxados, apresentem números de ligação iguais a Lk0 , ou
ples, que confirma que o DNA tem periodicidade helicoidal de seja, 380, no caso do anel de 4 .011 pb (dividindo-se o ta ma·
cerca de 10,5 pares de bases (pb) por volta, quando em solu- nho por 10,5 pb) e 382, no caso do anel de 3.990 pb. Como
ção. Considere três cccDNAs com tamanhos de 3.990, 3.995 Lk é igual a Lk0 , a diferença de ligação (Lk = Lk - Lk0 ), em
e 4.01 1 pb que foram relaxados pelo tratamento com topoi- ambos os casos, é zero, e não há distorção. Como o número
somerase de tipo I. Quando submetidos à eletroforese em de ligação deve ser um número intei ro, porém, o estado mais
agarose, os DNAs com 3.990 e 4.011 pb apresentam mobili· relaxado do anel de 3.995 pb seria um dos dois topoisômeros
dades essencialmente idênticas. Devido à flutuação térmica, que apresentam números de ligação de 380 ou 381. Entre-
o t ratamento com topoisomerases, na verdade, gera uma pe· tanto, o Lk0 para o anel de 3.995 pb é de 380,5. Assim, mes·
quena diversidade de topoisômeros, mas, para simplificação, mo em seu estado mais relaxado, um círculo covalentemente
será considerada apenas a mobilidade do topoisômero mais fechado de 3.995 pb teria, necessariamente. cerca de metade
abundante (que corresponde ao cccDNA no seu estado mais de uma unidade de supertorção (diferença de ligação de 0,5)
relaxado). As mobilidades dos topoisômeros mais abundan- e, portanto, migraria mais rápido do que os círculos de 3.990
tes dos DNAs de 3.990 e 4 .011 pb são indistinguíveis, porque e 4.011 pb. Em outras palavras, para explicar como anéis que
a d iferença de 21 pb entre eles é insig nificante, quando com- diferem em tamanho por 21 pb (duas voltas da hélice) apre-
parada aos tamanhos dos DNAs circulares relaxados (anéis). senta m a mesma mobilidade, e nquanto um anel que difere
Observa-se, entretanto, que o topoisômero mais abundante em apenas 5 pb (quase a metade de uma volta helicoidal)
no anel de 3.995 pb migra levemente mais rápido do que os exibe uma mobilidade diferente, deve-se concluir que o DNA
outros dois anéis, mesmo sendo apenas 5 pb maior do que em solução apresenta uma periodicidade helicoidal de cerca
o anel de 3.990 pb. Como se explica esse fenômeno? Espera· de 10,5 pb por volta.
RESUMO
Normalmente, o DNA está na forma de urna dupla-hélice volta- beração de moléculas de água, aumentando a entropia. O em-
da para a direita. A hélice consiste em duas cadeias polinucleo- pilhamento das bases também contribui para a estabilidade da
tidicas. Cada cadeia é um polímero de açúcares desoxirriboses dupla-hélice por interações favoráveis de nuvens de elétrons
e fosfatos alternados, unidos por meio de ligações fosfodiéster. entre as bases (forças de van der Waals) e pela ocultação das
Uma de quatro bases possíveis projeta-se para fora de cada açú- superfícies hidrofôbicas das bases (efeito hidrofôbico).
car: a adenina e a guanina, que são purinas, e a timina e a ci- As ligações de hidrogênio são específicas: a adenina em
tosina, que são pirimidinas. Embora o esqueleto açúcar-fosfato uma cadeia sempre está ligada por pareamento de bases com a
seja regular, a ordem das bases é irregular e é a responsável pela timina na outra cadeia e, da mesma forma, a guanina sempre
informação contida no DNA. Cada cadeia apresenta polaridade realiza o pareamento de bases com a citosina. Esse pareamento
de 5' para 3', e as duas cadeias da dupla-hélice estão orientadas específico entre as bases reflete a localização fixa dos átomos
de maneira antiparalela - ou seja, estão dispostas em direções de hidrogênio nas bases púricas e pirimídicas nas formas em
opostas. que as bases são encontradas no DNA. A adenina e a citosina
As cadeias polinucleotídicas são mantidas unidas pelo quase sempre estão na forma tautomérica amino, em oposição
parcamente de bases e pelo empilhamento das bases. O pa- à forma imino, enquanto a guanina e a t imina quase sempre
rcamente é mediado por ligações de hidrogênio e resulta na li- estão na forma tautomérica ceto, em oposição à forma enol.
1 04 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
A complementaridade entre as bases nas duas fitas fornece ao entrelaçam uma sobre a outra. O DNA está topologicamen-
DNA o seu caráter autocodificador. te limitado quando ele está na forma de um círculo covalen-
As duas fitas da dupla-hélice são separadas (desnaturam) temente fechado, ou quando está sob a forma de cromatina.
quando expostas a temperaturas elevadas, extremos de pH ou O número de ligação é uma propriedade topológica invariável
qualquer agente que provoque o rompimento das ligações de do DNA circular covalentemente fechado. É o número de vezes
hidrogênio. Quando ocorre um lento retorno às condições que uma fita teria de passar por meio da outra fita para separar
normais da célula, as fitas simples desnaturadas podem reas- as duas fitas circulares. O número de ligação é o somatório
sociar-se especificamente em duplas-hélices biologicamente de duas propriedades geométricas int erconversíveis: a torção,
ativas (renaturação ou anelamento). que é o número de vezes que as duas fitas estão enroladas uma
O DNA em solução apresenta periodicidade helicoidal de ao redor da outra; e o número de supertorção, que é o núme-
cerca de 10,5 pares de bases por volta da hélice. O empilha- ro de vezes que o eixo longo do DNA cruza sobre si mesmo
mento dos pares de bases origina uma hélice com duas fendas. no espaço. O DNA está relaxado, sob condições fisiológicas,
Como os açúcares se projetam das bases em um ângulo de cer- quando ele apresenta cerca de 10,5 pares de bases por volta
ca de 120•, as fendas são de tamanhos diferentes. As extremi- e não está supertorcido. Se o número de ligação é dinúnuído,
dades de cada par de bases estão expostas nas fendas, criando a torção do DNA torna-se mais tensa, e se diz que o DNA está
um padrão de doadores e aceptores de ligações de hidrogênio negativamente supertorcido. O DNA nas células está, em geral,
e de grupos hidrofóbicos que identifica o par de bases. A fenda negat ivamente supertorcido em cerca de 6%.
mais ampla - ou maior - é mais rica em informação química do O enovelamento do DNA voltado à esquerda ao redor
que a fenda mais estreita - ou menor - e é mais importante para dos nucleossomos introduz um superenrolamento negativo
o reconhecimento por proteínas que se ligam a sequências de nos eucariotos. Nos procariotos, que não possuem histonas,
nucleotideos específicas. a enzima DNA-girase é a responsável pela inserção de super-
Praticamente todo o DNA celular é formado por molé- torções negativas. A DNA-girase é um membro da família de
culas ext remamente longas, com apenas uma molécula de topoisomerases de tipo 11. Essas enzimas alteram o número
DNA por cromossomo. As células eucarióticas acomodam esse de ligação do DNA por um fator de dois, por promoverem
imenso comprimento, em parte, pelo enrolamento do DNA ao uma quebra temporária na dupla-hélice e a passagem de uma
redor de partículas proteicas, conhecidas como nucleossomos. região do dúplex de DNA por meio da quebra. Alguns tipos
A maioria das moléculas de DNA é linear, mas alguns DNAs de topoisomerases de tipo 11 relaxam o DNA supertorcido,
são circulares, como frequentemente é o caso dos cromosso- enquanto a DNA-girase promove supertorções negativas. As
mos de procariotos e de determinados vírus. topoisomerases de tipo I também relaxam DNAs supertorci-
O DNA é flexível. A menos que a molécula esteja topolo- dos, mas por um fator de um, usando um processo no qual
gicamente limitada, ela pode sofrer rotações livremente para uma fita do DNA é passada por meio de uma quebra tempo-
acomodar alterações no número de vezes que as duas fitas se rária na outra fita.
BIBLIOGRAFIA
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sodium thymonucleate. Nature 1 71: 740-741.
QUESTOES
-
Para respostas de questões de número par; ver Apêndice 2: Respostas. C. Complementar.
Questão 1. Explique o que significam os seguintes adjetivos Qu est ão 2.
atribuídos ao DNA dupla-fita ou às duas fitas que compõem o A. Calcule o número aproximado de pares de bases em qua-
DNA. tro voltas de hélice do DNA B (com base nos valores de es-
A. Polar. truturas de difração de raios X iniciais). Calcule o número
B. Antiparalela. aproximado de pares de bases em quatro voltas de hélice
Capít ulo 4 A Estrutura do DNA 1 OS
do DNA B (baseando-se nos valores para o DNA em solu- ii. Como este tratamento altera o estado topológico do
ção). Calcule o compómento vertical das quatro voltas de plasmídeo de 10.000 pb?
hélice no DNA B. B. Você então inativa a DNase I e trata o DNA com Dl\A-Iiga-
B. Calcule o número aproximado de pares de bases em qua- se mais ATP para criar uma nova população de cccDNAs.
tro voltas de hélice do DNA A (com base nos valores de (A Dl\A-Iigase é uma enzima q ue une as extremidades d as
estruturas de difração de raios X inidais). quebras e que necessita de ATP para sua atividade enzi-
mática.) Descreva brevemente o estado topológico dos
Questã o 3 . Verdadeira ou Falsa. Se for falsa, reescreva a frase cccDNAs resultantes. Explique seu radocínio em relação
com a informação correta. ao Lk (número de ligação) e ao Lk0 .
A. Uma sequência de DNA com uma porcentagem maior de
pares de bases G:C do que a porcentagem de pares A:T Qu estão 7. Você isola um plasmídeo com 10.500 pb (super-
possui uma temperatura de fusão (melting temperature, T0 J torcido, cccDNA) de E. coli. O plasmídeo contém um único
maior, principalmente devido às três ligações de hidrogê- sítio de reconhecimento para EcoRI, uma enzima de restrição.
nio encont radas nos pares de bases G:C em comparação Enzimas de restrição reconhecem uma sequência específica e
às duas ligações d e hidrogênio dos pares de bases A:T. clivam ambas as fitas de DNA nesta sequência (Cap. 21). Você
incuba brevemente o cccDl\A a 37•c em q uatro reações sepa-
B. A entropia e o empilhamento de bases são os principais radas contendo os componentes listados a seguir. Você corre
fatores que contribuem para a estabilidade do DNA dupla-
a reação em um gel de agarose e visualiza o DNA usando bro-
· fita. meto de etídeo e luz UV. As reações incluíram o tampão apro-
C. O empilhamento de bases d etermina a especifiddade do priado e ATP quando necessário. Um gel de agarose contendo
pareamento de bases no DNA. quatro canaletas de possíveis produtos é apresentado a seguir.
Para cada reação, indique qual canaleta do gel contém os pro-
Questão 4. Para cada conjunto de par de bases, afirme se dutos que você esperaria ver em seu gel de agarose.
os dois pares podem ser distinguidos usando a fenda menor, a
fenda maior, ambas, ou nenhuma. 1 2 3 4
G:C versus C:G_ _ _ _ _ _ _ __
A:T versus G:C - - - - - - - - -
- --
--- -
A:T versus T:A
Questão 6. A E N X z
A. Você isola um plasmídeo supertorcido com 10.000 pb de
células de E. coli. Suponha que o plasmídeo é um DNA
circular covalentemente fechado (covalently closed circular
DNA, cccDNA). Você trata o plasmídeo de 10.000 pb com
DNase I sob condições tais que a DNase I cliva em média
uma vez por molécula de DNA.
i. Cite a ligação clivada pela DNase I.
N
CAPÍTU LO 5
A Estrutura e a
Versatilidade do RNA
' RNA PARECE SER MUITO SEMELHANTE AO DNA. Certamente,
A
PRIMEIRA VISTA, O
sua composição química difere da do DNA apenas em pequenos deta-
lhes: um grupo hidroxila em vez de um átomo de hidrogênio em seu
esqueleto e a ausência de um grupo metila em uma de suas quatro bases. De
fato, por muitos anos, considerou-se que o RNA exercia apenas um papel de
suporte para o DNA na transferência de informações. Alguns vírus possuem
genomas de RNA, mas na grande maioria das vezes, o DNA é a molécula que
armazena a informação genética na natureza. Por sua vez, o RNA era visto
como o transportador que transferia a informação genética do DNA para o
ribossomo, o adaptador que decodificava essa informação, e como um com-
ponente estrutural do ribossomo. Hoje se reconhece, entretanto, que oRNA
é muito mais rico e mais complexo em estrutura do que o DNA e muito mais
versátil em relação ao que se pensava anteriormente.
ORNA é encontrado principalmente como uma molécula de fita simples.
No entanto, por meio do pareamen to de bases intracadeia, o RNA assume
uma característica de dupla-hélice e é capaz de se enovelar em uma ampla
diversidade de estruturas terciárias. Essas estruturas são cheias de surpresas,
como pareamentos de bases não convencionais, interações base-esqueleto
e configurações semelhantes a nós. O mais surpreendente, e de enorme re-
levância evolutiva, é que algumas moléculas de RNA são enzimas que pro-
movem reações centrais na transferência de informação dos ácidos nucleicos
para as proteínas.
6-Q
O OH
I
O= P - 0 - CH O A
I ~
o· ·r-r·
O OH
I
O =P -0 - CH2 O C
6- Q OH OH
extremidade 3'
grampo
fitas
simples protuberância
''
' ------- .. ---·
'' ' ~' ' ' ........
•' '
'' '' / --
' '
'
t t + 3' 3'
alta T
sem PrfA
expressão do
gene de virulência
g"
FIGURA 5-7 Um ter mômetro para a ex pressão de genes de virulência. O gene
regulador prfA de L. monocytogenes é controlado em nível traducional pela disponibilização
dependente de temperatura do sitio de ligação ao ribossomo (RBS, ribosome-binding site).
As elipses azuis representam as subu nidades do ribossomo. (Adaptada, com permissão, de
Elsevier, de Jo hannson J. et ai. 2002. Ce//110: 551-561, Fig. 7.)
o...
...,,,.,..,,,, ····',..o~-....;:
N N , H...,_ ,_.. H' U
ribose/ Yo '-H.
•••••• N
N ,,...•H
/ NY N'- . r1bose
( A i' O
FIGURA 5·8 Trinca de bases U:A:U.
A estrutura mostra um exemplo de forma-
N ~H ção de ligações de hidrogênio que permi -
ribose/ te o parea mento incomum de uma t rinca
trinca de bases U:A:U de bases.
112 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
~ CONEXÕES CLINICAS
O vírus da leucemia murina (murine /eukemia virus, MLV) Esse esquema possui muitas vantagens. Ele elimina a
é um vírus de RNA que causa câncer em camundongos e necessidade de elementos promotores adicionais em um ge-
outros vertebrados. Assim como o vírus da imunodeficiên- noma já compacto e conecta a produção da enzima vira I à
cia humana (HIV, human immunodeficiency virus), ele é um síntese do componente estrutural , permitindo a fácil incor-
membro de uma classe de vírus de RNA conhecida como re- poração no vírus durante o brotamento viral.
trovírus, que replicam via um intermediário de DNA. O ge- Como o MLV consegue controlar a leitura traducional de
noma do RNA é copiado em DNA pela enzima transcriptase seu mRNA? Victoria D' Souza e Steven Goff e seus colabora-
reversa. O genoma de RNA, que também é o mRNA, codifica dores resolveram essa questão usando a RMN para determi-
uma proteína estrutural do vírus, chamada de Gag, e uma nar a estrutura 30 da sequência do mRNA de MLV a jusante
poliproteína composta por Gag e pela enzima transcriptase do códon de parada para Gag (Houck-Loomis et ai. 2011).
reversa, chamada de Pol. O gene da Gag está imediatamente Eles descobriram que a sequência a jusante possui um pseu-
a montante do gene para Pol. Gag pode ser produzida sozi- donó, e que este não possui uma estrutura única apresen-
nha ou como uma proteína de fusão, Gag- Pol, pela tradu- tando um equilíbrio dinâmico com duas conformações. Uma
ção extendida do gene Pol a jusante (downstream). Quando confonmação limita a tradução à síntese de Gag - conforma-
Gag é produzida sozinha, o ribossomo para a tradução em ção inativa - e a outra permite a leitura para criar Gag- Pol
um códon de parada (ver Cap. 15) localizado no fim da se- - conformação ativa (ver Quadro 5-1, Fig. 1).
quência codificadora de Gag. Quando a proteína de fusão Para assegurar que apenas um número limitado de
é gerada, o ribossomo lê além do códon de parada, conti- mRNAs seja lido além do códon de parada, o pseudonó atua
nuando a tradução por meio da sequência codificadora de como um sensor de prótons. Sob pH fisiológico, a concentra-
Pol, criando Gag-Pol. Como a proteína estrutural é neces- ção de prótons é tal que apenas 5 a 10% dos pseudo nós per-
sária em maior abundância do que a enzima, é importante cebem os prótons e adquirem a conformação ativa. Para efe-
que o vírus mantenha uma proporção adequada das duas tuar isso, a molécula usa o átomo de nitrogênio N1 de uma
proteínas. O vírus faz isso pela limitação da leitura contínua adenina, que geralmente não é protonado, para adquirir um
a 5 a 10% dos ribossomos tradutores. próton e formar uma base tripla na molécula, alterando sua
confonmação para a forma ativa.
fim da
Gag Gag tradução
~
-
~ ....__ _ _ 3'
7
' I
.. '
/
GAC UAG GGA
códon de parada -90%-95%
ll
5'
equilíbrio de pseudonó
tradução
Gag Gag continua
3'
GAC UAG GGA
códon de parada
5'
QUADRO 5·1 FIGURA 1 Um equ ílíbrío entre duas conformação ativa (parte inferior), o ribossomo consegue
estruturas de pseudonós controla a tradução por meío ler através do códon de parada, resultando na síntese da
de um códon de parada. Os ribossomos que traduzem o proteína de fusão Gag- Pol. O equilíbrio entre as duas con-
RNA de MLVencontram um códon de parada (UAG) imedia- fonmações dita as proporções de Gag e Gag- Pol. As formas
tamente a jusante da fase aberta de leitura de Gag. Quando desprotonada e protonada da adenina estão representadas
o pseudonó está na conformação inativa (parte superior), a em vermelho e verde, respectivamente. (Figura gentilmente
tradução termina no códon de parada, resultando na sínte- cedida por V. O' Souza.)
se da proteína Gag. Entretanto, quando o pseudonó está na
Capítulo 5 A Estrutura e a Versatilidade do RNA 11 3
40
....•
~
-... mutar e mapear para uma ribozima. na
qual o eixo horizontal mostra os sítios
50 Lo
- •
de acetilação ao longo do RNA e o eixo
vertical, os sítios de mutação. Os sítios
de acilação estão indicados por quadros
60
70 •.r-
I
• '.., ~' ll
• • •
~
g
cinzas e pretos (com a intensidade da cor
indica ndo a extensão da modificação) .
Apenas os dados mais significativos estão
representados, com base no uso de um
80
.., •
-r. "-"
~
algoritmo de análise estatística. (Adapta -
da, com permissão, de Kladwa ng W. et ai.
T T T 201 1. Nat. Chem. 3: 954-962, Fig. 2A,
20 30 40 50 60 70 80 p. 956 © MacMillan.)
11 4 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
.---
y são ATP, canamicina, tobramicina, neomicina, cianocobalamina, a proteína
priônica PrP e o fator de coagulação X11a. Uma estratégia inteligente, ba-
seada em rodadas de SELEX, produziu ainda outro exemplo - moléculas de
recuperação
deRNAscoma
RNA com alta afinidade para um fluoróforo de maneira semelhante à da
afinidade desejada
proteína fluorescente verde (ver Quadro S-2).
De fato, a natureza fez exatamente isso, como será visto no capítulo 20.
FIGURA 5· 1 O Ciclo para geração Óperons metabólicos de bactérias estão às vezes sob o controle de elementos
de RNAs que se ligam a pequenas de RNA reguladores conhecidos como r#.boswftches, que se ligam e respon-
moléculas por SELEX. dem a pequenas moléculas ligantes no controle da transcrição gênica e da tra-
dução. Exemplos de metabólitos que são reconhecidos por estes riboswitches
são o aminoácido lisina, a base nucleotídica guanina, o cofator enzimático
coenzima B12 e o metabólito glicosamina-6-fosfato, como será discutido a
seguir.
~ TÉCNICAS
Quadro 5 • 2 Criação de um RNA que mimetiza a proteína fluorescente verde por evolução dirigida
, , ~ ,, , ~
~-
teína fluorescente verde (GFP, green f/uorescent protein), que
emite luz verde quando excitada por luz ultravioleta. A pro·
teína f luorescente verde, que gera um fluoróforo covalente· :
mente ligado, foi descoberta na água-viva Aequorea victoria. •
A habilidade para expressar GFP funcional em vários organis· '
mos, desde bactérias até peixes e camundongos, possibilitou
que os pesquisadores utilizassem a GFP em numerosas apli- QUADRO 5 · 2 FI GURA 1 Complexos RNA-fluoróforo
cações científicas. Por exemplo, a proteína pode ser usada exibindo uma variedade de cores diferentes. (Reproduzi-
como um repórter para a expressão gênica em células vivas e da, com permissão, d e Paige J.S. et ai. 2011 . Science 333:
até mesmo para a visualização das localizações celulares de 642 -646, Fig. 20. ©MAS.)
proteínas às quais ela é fusionada. Como foi visto, a grande
diversidade do RNA, sua capacidade de enovelar-se em estru-
turas terciárias complexas e a invenção do SELEX tornaram
possível criar aptâmeros feitos sob medida com muitos tipos dor da subunidade maior do ribossomo, que é sintetizado
de propriedades úteis. Uma aplicação recente e particular- pela RNA-polimerase 111 (ver Cap. 15). Usando o construto
mente marcante do SELEX é a criação de aptâmeros de RNA 55-Spinach, os autores conseguiram visualizar o movimento
que se ligam a pequenas moléculas de fluoróforos para criar do RNA ribossomal do núcleo para o citosol na célula.
miméticos de GFP. desenvolvidos por Jeremy Paige e colabo- Recentemente, o Spinach foi ainda mais modificado
radores (ver Paige et ai. 2011. Science 333: 642-646). Estes para servir como sensor para metabólitos celulares. Isso foi
complexos RNA-fl uoróforo são semelhantes em cor e brilho à realizado pela junção do Spinach a um aptâmero que se liga
GFP. mas possuem característ icas úteis adicionais, como será a um metabólito, como a S-adenosil metionina (SAM) ou o
explicado a seguir. ATP (Quadro 5-2, Fig. 2). O sensor de RNA resultante, o qual
O fluoróforo autogerado na GFP é o 4-hidroxibenzilide- é composto pelo Spinach e por um domínio de ligação ao
no imidazolinona, cuja fluorescência é ativada por contatos metabólito, é projetado de tal maneira q ue não consegue
específicos com a porção proteica da GFP pela supressão do se ligar ao fluoróforo a menos que a estrutura seja também
movimento int ramolecu lar, que previne a f luorescência no estabilizada pela ligação do metabólito. Um desses sensores
fluoróforo livre. Como ponto d e partida, Paige e seus cola- de RNA foi utilizado para fazer imagens da SAM em células
boradores usaram um derivado do fluoróforo natural da vivas de E. co/i. Células privadas de metionina (um precursor
GFP (3,5-dimetoxi-4-hid roxibenzilideno imidazolinona) que, biossintético para SAM) e contendo sensores foram tratadas
da mesma forma, necessita de supressão do movimento com o fluoróforo, seguido pela adição de metionina ao meio
intramolecular para fluorescer. Dez rodadas de SELEX ge- de cultivo, resultando em acentuada estimulação na fluores-
raram moléculas de RNA que se ligavam à 3,5-dimetoxi-4- cência celular. Sensores desse tipo podem ser uma nova e
·hidroxibenzilideno imidazolinona que havia sido imobiliza- poderosa forma para monitorar alterações nos níveis de me-
da em agarose. Um dos RNAs desenvolvidos, chamado de tabólitos em células vivas, em tempo real.
Spinach, induzia fluorescência verde-brilhante quando liga- Esses exemplos ressaltam a notável versatilidade do
do ao f luoróforo livre. Usando outros fluoróforos e rodadas RNA. A natureza explorou essa versatilidade na seleção na-
ad icionais de SELEX, os autores geraram complexos RNA- tural para criar riboswitches, ribozimas, moléculas de tRNA
·fluoróforo exibindo uma paleta d e cores que variava do azul e RNAs reguladores, que serão considerados nos Capítulos
ao vermelho (Quadro 5-2, Fig. 1). Como uma demonstração 15 e 20. Hoje os biólogos moleculares também estão come-
da utilidade destes aptâmeros, Paige e seus colaboradores çando a explorar essa versatilidade para criar uma ampla va-
fusionaram a sequência codificadora de Spinach à extremi- riedade de moléculas de RNA que prometem ser úteis para
dade 3' do gene do RNA 55, um componente não codifica- a humanidade.
o • o •
fluorescência a ligação ao alvo formação de um
mínima reforça a estrutura complexo fluorescente
QUADRO 5·2 FIGURA 2 Uso do SELEX para criar sen- complexo fl uorescente estável será formado apenas quan-
sores de metabólitos. O sensor de metabólito contém domí- do o RNA estiver ligado a ambas as moléculas. (Adaptada,
nios de ligação para um fluoróforo (representado em verde) com permissão, de Paige J.S. et ai. 2012. Science 335: 1194,
e para um metabólito (representado em cor-de-rosa). Um Fig. 1A. © AAAS.)
11 6 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
RESUMO
ORNA difere do DNA das seguintes formas: seu esqueleto con- que são, geralmente, baseadas em interações não convencio-
tém ribose em vez de 2' ·desoxirribose; ele possui a pirimidina nais entre as bases e o esqueleto açúcar-fosfato.
uracila no lugar da timina; e ele existe geralmente como uma Alguns RNAs atuam como enzimas - catalisam reações
cadeia poUnucleotídica simples, sem uma cadeia complemen- químicas na célula e in vitro. Essas enzimas de Rl\A são conhe-
tar. Como consequência de ser uma fita simples, o RNA pode cidas como ribozimas. A maioria das ribozimas atua sobre
dobrar sobre si para formar pequenas regiões de dupla-héUce centros fosfatados, como é o caso da ribonuclease RNase P.
entre regiões complementares. ORNA possibilita uma varieda- A RNase P é composta por proteína e RNA, mas a porção de
de maior de pareamentos de bases do que o DNA. Assim, além RNA é a catalisadora. A cabeça-de-martelo é um RNA autocli-
dos pareamentos A:U e C:G, observa-se pares de bases não vante, que diva o esqueleto do RNA por meio da formação de
convencionais, como o pareamento de U com G. Essa capa- um 2', 3'-fosfato cíclico. A peptidil transferase é um exemplo
cidade para formar pares de bases não convencionais se soma de ribozima que atua sobre um centro de carbono. Essa ribozi-
à tendência do RNA em formar segmentos heUcoidais duplos. ma, a qual é responsável pela formação da Ugação peptídica, é
Livre das Umitações inerentes à formação de longas héUces um dos componentes de RNA do ribossomo.
regulares, o Rl\A pode formar estruturas terciárias complexas
BIBLIOGRAFIA
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just worse. Nat. Stntct Mo/ Biol. 15 : 394-402.
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ribozymes. Nahm 4 18: 222.-228.
QUESTOES -
Para respostas de questões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. B. Desenhe a estrutura da guanosina. Circule e indique os
doadores (D) ou aceptores (A) de ligações de hidrogênio
Questão 1. adequados que participam da formação de ligações de hi-
A. Desenhe a estrutura da desoxiguanosina. Circule e indi- drogênio quando um par de bases com a uridina se forma
que os doadores (D) ou aceptores (A) de ligações de hidro- noRNA.
gênio adequados que participam da formação de ligações
hidrogênio quando um par de bases com desoxicitidina se Quest ã o 2. Pesquisadores descobriram um novo vírus e ca-
forma no DNA. racterizaram seu genoma pela determinação da composição de
bases e da porcentagem de cada base. Você quer categorizar o
Capítulo 5 A Estrutura e a Versati lidade do RNA 119
vírus por seu material genético. Lembre-se de que os vírus po- Questão 9. Alguns RNAs atuam como patógenos ou viroi-
dem conter DNA ou RNA de fita simples ou DNA ou RNA de des. Alguns viroides são capazes de realizar uma reação cata-
dupla-fita como material genético. Dada apenas a informação lítica. Você recebe uma sequência de RNA isolada como um
da sequência, proponha uma forma de distinguir se o material é viroide de uma determinada espécie vegetal. Identifique algu-
RNA ou DNA. Proponha uma maneira para distinguir se a infor- mas características que poderiam indicar que este viroide atua
mação genética é de fita simples ou dupla. como uma cabeça-de-martelo catalitica.
Questão 3. Explique por que a estrutura helicoidal do DNA Questão 10. Cientistas projetam versões modificadas da
difere da estrutura helicoidal do RNA dupla-fita e como esta cabeça-de-martelo com autoclivagem como uma potencial te-
diferença em estrutura afeta a habilidade das proteínas em in- rapia. Para direcionar a clivagem de outra molécula de RKA,
teragir com o RKA helicoidal. descreva como a estrutura projetada da cabeça de martelo é
modificada. Por que esta alteração torna a cabeça-de-martelo
Questão 4. Justifique a razão biológica para a presença da uma ribozima verdadeira?
uractla no RNA, mas não no DNA.
Questão 11. Algumas ribozimas, como as encontradas no
Questão S. A partir da sequência de RKA fornecida, propo- virus da hepatite D e a ribozima/riboswitch encontrada no
nha a potencial estrutura de grampo para este RNA. Indique o mRNA de glmS, são capazes de enovelar-se em um pseudonó
pareamento de bases com uma linha pontilhada. duplo aninhado. Discuta as várias vantagens da formação de
pseudonós nas ribozimas e nos riboswitciles.
5'-AGGACCCUUCGGGGUUCU-3'
Questão 12. A estrutura mostrada a seguir é um análogo de
Questão 6. O tRNA da alanina de levedura é apresentado a nucleosídeo.
seguir (adaptado do Cap. 2, Fig. 2-14). Identifique o(s) tipo(s)
de estrutura secundária presente(s) neste tRNA. Identifique
quaisquer pares de bases não convencionais.
S'ilJB! I
o-
HO
Questão 7. Pesquisadores querem encontrar uma maneira Questão 14. Você encontra um complexo formado por uma
para conferir resistência a antibiótico para selecionar células porção proteica e uma porção RNA que é capaz de clivar um
bacterianas. Para fazê-lo, eles decidem identificar por SELEX substrato de RKA. Você quer saber qual porção é responsável
uma sequência de RNA (aptâmero) que se liga especificamente pela catálise. Você realiza um ensaio de clivagem in vitro no
ao antibiótico de interesse e expressar este aptâmero de RNA tampão adequado contendo uma baixa concentração de Mg•2 •
nas células selecionadas para conferir resistência ao antibiótico. A tabela a seguir resume os resultados de sete reações indepen-
A. Considerando o que você sabe sobre RNA, formule uma dentes. O símbolo + indica os reagentes incluídos na reação.
A espermidina é um peptídeo positivamente carregado não es-
hipótese indicando quais propriedades gerais do aptâme-
pecífico para esta reação.
ro de RNA permitem a ligação específica ao antibiótico.
8. Em vez de usar o SELEX, os pesquisadores poderiam co-
meçar com um conjunto isolado de RNAs codificados Porção proteica + + + +
pelo genoma da bactéria e selecionar o(s) RNA(s) que se Porção RNA + + + +
liga(m) ao antibiótico para identificar o RKA desejado. Dê Espermidina + + +
duas vantagens do SELEX sobre este método. Porcentagem de di vagem o o o 90 o 50 90
A. Quem atua como catalisador nesta reaçao, a porção pro- Selvagem 5'-UAAAGCAG-3'
telca ou oRNA? Explique quais reações o aJudaram ache· GUUUCGUC
gar a esta conclusão. Mutante A 5'-UAAACGAG-3'
B. Proponha a função da espcrmldlna nas duas últimas GUUUCGUC
reações. Mutante B 5'-UAAAGCAG-3'
Questão 15. O genoma do bacterlófago Q~ consiste em GUUUGCUC
cerca de 4.000 nucleotídeos de RNA fita simples. Dentro de Mutante C S'-UAAACGAG-3'
seu hospederiro E. coli, a replicação deste genoma necessita de GUUUGCUC
uma RNA-polimerase dependente de RNA formada por pro- Eficiência de repllcação in vitro (em relação ao selvagem)
teínas do fago e da bactéria. Embora a repllcase se ligue a uma Selvagem: 100%
reglao no centro do genoma de RNA, ela precisa começar a Mutante A: 1,6%
copiar a extremidade 3 ' do molde de RNA para produzir uma Mutante B: 0,6%
nova fita de RNA na dlreção 5'-3'. Pesquisadores levantaram a Mutante C: 42%
hipótese de que a presença de um suposto pseudonó no gene- A. Proponha por que a eficiência de replicação é tão baixa no
ma de ~ permitia que a replicase tivesse acesso à extremidade mutante A.
3' do R."\"A. Para testar esta hipótese, eles mediram a eficiência
de repllcação in vitro usando replicase tipo selvagem e diferen- B. Proponha por que a eficiência de replicação é restaurada
tes venões do RNA de~ contendo mutações em uma região praticamente à metade dos níveis do tipo selvagem no
essencial para a formação do suposto pseudonó. Eles focaram mutante C.
especificamente em uma região de 8 nuclcotfdeos do centro C. Você acha que os resultados corroboram ou refutam a hipó-
do RNA que era complementar ao grampo terminal 3'. As se- tese de que a presença de um pseudonó afeta a repllcaçao?
quênclas mutante e selvagem, bem como os dados de replica-
Dados adaptados de Klovins e van Duin. 1999. f. Moi. Biol.
çao, sao fornecidos a seguir.
294: 875-884.
CAPÍTULO 6
A Estrutura das
Proteínas
isto é, moléculas que contêm várias cópias, cova-
ROTEÍKAS sllo POLÍMEROs,
NOÇÕES BÁSICAS
Aminoácidos
O carbono a (C. ) de um aminoácido possui quatrosubstituintes (Fig. 6-1), dis-
tintos uns dos outros exceto no caso do aminoácido mais simples, a glicina.
Um grupo amino, um grupo carboxila e um próton são três desses substituin-
tes em todos os aminoácidos que ocorrem naturalmente. O quarto, geralmen-
te simbolizado por R e às vezes chamado de "grupo R", é a única característica
distinta. O grupo R também é chamado de "cadeia lateral", por motivos que
ficarão claros na próxima seção. Como seus quatro substituintes são distintos
(exceto para a glicina), o c. é um centro quiral. Todos os aminoácidos que
ocorrem em proteínas comuns possuem a configuração em L neste centro;
o-aminoácidos estão presentes em outros tipos de moléculas (incluindo poli-
peptídeos semelhantes a proteínas em microrganismos).
As propriedades de seu grupo R determinam as características específicas
de um aminoácido. A polaridade do grupo, que está correlacionada com sua
solubilidade em água, é uma propriedade essencial; o tamanho é outra. É útil
agrupar os grupos R dos 20 aminoácidos geneticamente codificados nas se-
guintes categorias: (1) neutro (i.e., sem carga) e apoiar; (2) neutro e polar; e
(3) carregado (Fig. 6-2). O tamanho (volume) da cadeia lateral interfere parti-
cularmente com aminoácidos apoiares porque, como será visto mais adiante,
estas cadeias laterais são embaladas no interior compacto de uma proteína e,
portanto, os papéis funcionais da glicina e da alanina nas proteínas são bas-
tante diferentes dos da fenilalanina e do triptofano. Observa-se também que
o triptofano, embora amplamente apoiar, possui um grupo ligado por ligação
de hidrogênio que lhe confere um grau de característica polar, e que a tirosi-
na, embora classificada como polar na Figura 6-2 devido a seu grupo OH, é
muito menos polar do que a serina. Em resumo, as fronteiras entre os grupos
122 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
H H são menos exatas do que a nomenclatura sugere. Os grupos R podem ser ne-
I I .&o
H-N+- ··c--- c 7 gativamente carregados em pH neutro (ácido aspártico e ácido glutâmico) ou
I ( "-O- positivamente carregados em pH neutro (lisina, arginina e histidina). O pK.
H R da histidina é cerca de 6,5, então, até mesmo em pH neutro, a histidina perde
I I
a maior parte de sua carga. Essa propriedade é particularmente importante
grupo cadeia grupo
amino lateral carooxila para seu papel no sítio catalítico de várias enzimas.
"9
H CH, H CH1
f~ H CH
H
~C CH, H,C
/'-.
CH, I I
/ ~c, CH,
H,C O NHt
I
~c,
OH O NH2
"o
H CHt
H2C ' / CH2 H CH, H CHl H CH,
O::: H
,c
CH
I
11
CH, I
CH,
I
s H,C
CH
/'-.
I
CH,
I
SH
I
CH,
I I
grupo cadeia grupo grupo cadeia grupo
amino lateral carooxila amino lateral carboxila
Cadeias polipeptídicas
A palavra conformação descreve um arranjo de átomos quimicamente li·
gados em três dimensões e, portanto, fala-se da conformação de uma ca-
deia polipeptídica, ou, simplesmente, de sua "estrutura enovelada" ou eno-
velamento. Se for seguida a sequência das ligações covalentes ao longo de
uma cadeia polipeptídica, haverá três ligações por resíduo de aminoácido
- uma que une o grupo NH ao c., outra que une o c. à carbonila e, por
fim, a ligação peptídica com o próximo resíduo da cadeia. As duas primei-
ras são ligações simples com rotação torsional relativamente livre em torno
de si (Fig. 6-4). Mas a ligação peptídica possui liberdade rotacional muito
pequena, devido a seu caráter de ligação dupla parcial. A conformação da
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Quadro 6-1 Gráfico de Ramachandran: combinações permitidas de ângulos de torsâo <!>e tjl da cadeia principal
' oxidação ,
+ redução
FIGURA 6·5 Formação da ponte d issu lfeto. (Adaptada. com permissão. de Kuriyan J.
et ai. 2012. The molecules of fite. © Ga rland Science/Taylor & Francis LLC.)
A ,
A IMPORTANCIA DA AGUA
Todos os fenômenos moleculares nos sistemas vivos dependem de seu am-
biente aquoso. A importân cia da distinção entre as cadeias laterais de ami·
n oácidos polares e apoiares vem de sua propriedade em relação à água como
solvente. Compare as cadeias laterais do ácido aspártico e da fen ilalanina,
que lembram o ácido acético e o tolueno, respectivamente, ligadas à cadeia
peptídica prin cipal. O ácido acético é bastante solúvel em água; o toluen o é
muito insolúvel. Uma cadeia lateral de ácido aspártico, portanto, é chamada
de hid.rofílica, e uma cadeia lateral de fenilalanina, de hid.rofóbica. Mes-
mo cadeias laterais hidrofílicas podem ter partes h idrofóbicas (p. ex., os três
grupos metileno de uma cadeia lateral Lisil).
A água é um líquido extensamente unido por ligações de hidrogênio
(Fig. 6-6). Cada molécula de água pode doar duas ligações de hidrogênio e
receber duas ligações de hidrogênio. A maneira pela qual um soluto afeta as
ligações de hidrogênio da água à sua volta determina seu caráter hidrofílico
ou hidrofóbico. Moléculas h idrofóbicas perturbam a rede de ligações de hi·
drogênio; moléculas hidrofílicas participam dela. Assim, é mais favorável para
as moléculas hidrofóbicas permanecerem adjacentes umas às outras (insolu·
bilidade) do que dispersar-se em um meio aquoso (solubilidade). O caráter
hidrofóbico de várias cadeias laterais de aminoácidos faz elas se agruparem
lon ge da água, e o caráter hidrofílico de outras permite que elas se proje-
tem para dentro da água. A sequência de aminoácidos em uma proteína real
evoluiu de tal man eira que essas ten dên cias fazem a cadeia polipeptídica se
enovelar, sequestran do resíduos hidrofóbicos e expondo resíduos hidrofílicos.
Muitas das inúmeras sequências possíveis para uma cadeia polipeptídica de
tamanho médio n ão conseguem se en ovelar dessa maneira - se produzidas,
elas man têm-se flutuando aleatoriamente, como cadeias estendidas em so-
lução (às vezes chamadas de espirais aleatórias) ou en tão elas se agregam
porque os grupos hidrofóbicos de uma cadeia polipeptídica se agrupam a gru-
pos hidrofóbicos de outras cadeias.
126 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
·-. ·-.
••
·-. ·- .
••
L
o
N
L 5,4Â
K (3,6
G resíduos)
T
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H
••
••
a,_-------------------,
I® ~ © ® @ ® I
5,4 A(3,6
resíduos)
7,0A
d
N N N N N C N C
\ \ \ \ I \ I \
c. c. c. c. c. c. c. c.
1 1 1 1 \ I \ I
o= c o= c C= Q ....H-N C= O ..·•H-N
··o = c \ o= c
\ ...~··· \ .......... .~.....-: \ I \ I \
N-H N-H N-H N-H H- N C= O,,H- N C= O
I I I I \ I \ I
c\ c\ c\ c\ c. c. c. c.
I \ I \
c=o c=o c = o c= o O=C N - H .., O=C N-H
\ I \ I
H - NI ' H - NI ' H - NI ' H- NI N- H·, O = C N- H"" 0 = C
\ \ \ \ I \ I \
I
c.
I
c.
I
c.
I
c.
c\ l c\ l
o= c o= c
.~......o = c \ o= c C=O'"'i-1- N C = 0 "" H-N
\ /' \ ......... \ I \ I \
N- H N- H N- H N- H H- N c = o ,·H - N c= o
I I I I \ I \ I
c\ c\ c\ c\
c. c. c. c...
C= O C= O C= O C= O O= C
I \N - I
H .., O= C
'N - H
I ··..~
I '··· ~
I .... ~
I \ I \ I
H- N H- N H- N H- N N- H""0=C N- H,• O=C
\ \ \ \ I \ I \
c. c. c. c. c. c. c. c.
I I I I \ I \ I
c c c c C N C N
FI GURA 6·8 Estruturas secundárias das proteínas. (a) a·Hélice. As l igações de hidro-
gênio est ão representadas por uma série de linhas verm el has espaçadas. (b) Folhas [3. Ligações
de hidrogênio estão representadas por uma série de linhas verm el has espaçadas. Na parte su-
perior, uma Folha f3 é ilust rada como vista de ci ma. Na parte inferior. uma fol ha f3 é vista lateral-
men te. (c) Folha f3 paralela, mostrando o padrão de ligações de hidrogênio, em que as cadeias
são orientadas na mesma direção a mino para carboxitermi nal. (d) Fol ha J3 anti paralela, mos-
tra ndo o pad rão de ligações de hidrogênio, no qual as cadeias correm em di reções opostas.
(a) Modif icada a parti r de ilustração de l rving Geis. b,c, Ilustrações de lrvi ng Geis. Di reitos au-
torais de propriedade de Howard Hughes M edical l nst itute. Não podem ser reproduzidas sem
permissão. d, Adaptada, com permissão, de Bra nden C. e Tooze J. 1999. lntroduction to protein
structure, 2nd ed., p. 19, Fig. 2.6a e p. 18, Fig. 2.Sb. © Garland Science/Taylor & Fra ncis LLC.)
Capítulo 6 A Estrutura das Proteínas 129
DOMÍNIOS PROTEICOS
Cadeias polipeptídicas geralmente enovelam-
-se em um ou mais domínios
O enovelamento de uma cadeia polipeptídica cria regiões "interna" e "ex-
terna" e, assim, gera cadeias laterais de aminoácidos escondidas e expos-
. CONCEITOS AVANÇADOS
Q u a d r o 6- 2 Glossário de termos
Estrutura primária: sequência de aminoácidos de uma ca- de ocorrência natural (p. ex., dobras em nós não são
deia polipeptidica. encontradas), e alguns tipos de enovelamento são mais
Estrutura secundária: elementos da estrutura regular da comuns do que outros.
cadeia polipeptidica com as ligações de hidrogênio da Domínios homólogos (ou proteínas): domínios (ou proteí·
cadeia principal estabelecidas. As estruturas secundárias nas) que derivam a partir de um ancestral comum . Eles
que ocorrem frequentemente nas proteínas são a a-héli- possuem necessariamente o mesmo t ipo de enovelamen·
ce e as folhas [3 paralelas e antiparalelas. to, e em geral (mas nem sempre) apresentam sequências
Estrutura terciária: a conformação trid imensional enovelada de aminoácidos reconhecidamente semelhantes.
de uma cadeia polipeptídica. Modelagem por homologia: modelagem da estrutura de
Estrutura quaternária: organização das múltiplas subunida- um domínio com base na de um domínio homólogo.
des de uma proteína oligomérica ou de uma reunião de Ectodomínío: parte de uma proteína de membrana de pas·
proteínas. sagem única, localizada na parte externa da membrana
Domínio: porção de uma cadeia polipeptídica com estrutura celular.
enovelada cuja estabilidade não depende de nenhuma Glícosílação: adição de uma cadeia, às vezes ramificada, de um
outra porção da proteína . ou mais açúcares (glicanos) à cadeia lateral de uma pro-
Motivo (de sequência): sequência curta de aminoácidos teína. Os glicanos podem ser ligados a N (unidos à amida
com propriedades características, em geral as adequa- da cadeia lateral da asparagina) ou ligados a O (unidos à
das para a associação com um tipo específico de domí- hidroxila da cadeia lateral da serina ou da treonina).
nio em outra proteína. (Observa-se que o termo "do- Desnaturação: desenovelamento de uma proteína ou de um
mínio" é às vezes utilizado incorretamente no lugar de domínio proteico, por elevação da temperatura ou por
motivos de sequência.) agentes como ureia, cloridrato de guanidina ou deter·
Motivo (estrutural): subestrutura de domínio que ocorre em gentes fortes ("dl'Snaturantes").
muitas proteínas diferentl'S, geralmente tendo algumas Chaperona: proteína que aumenta a probabilidade de eno·
propriedades de sequências de aminoácidos caracterís- velamento nativo de outra proteína, geralmente pela
ticas (p. ex., o motivo de hélice-volta-hél ice em vários prevenção de agregação ou pelo desenovelamento de
domínios de reconhecimento do DNA). uma cadeia polipeptídica mal-enovelada para que ela
Topologia (ou enovelamento): a estrutura da maioria dos faça uma "nova tentativa" de enovelamento correto.
domínios proteicos pode ser esquematicamente repre- Sítio ativo (ou sítio catalítico): o sítio em uma enzima que se
sentada pela conectividade em t rês dimensões de seus liga ao(s) substrato(s), geralmente em uma configuração
elementos estruturais secundários constituintes e o em- que lembra o estado de transição da reação catalisada.
pacotamento desses elementos uns contra os outros. Regulação alostérica: controle da afinidade ou da taxa de
Jane Richardson introduziu os "d iagramas em fitas", uma reação enzimática por um ligante que se liga em um
como os vistos em várias f iguras deste capítulo, como sítio distinto do sítio do(s) substrato(s). O mecanismo de
formas convenientes para visualizar o enovelamento de regulação alostérica geralmente envolve alteração na es·
um domínio (ver legenda da Fig. 6-10). Nem todos os trutura quaternária - isto é, uma reorientação ou reposi·
tipos de enovelamento são encontrados em proteínas cionamento das subunidades em relação umas às outras.
Capítulo 6 A Estrutura das Proteínas 131
Conectares e dobradiças
As conexões entre dois domínios de uma proteína enovelada podem ser bas-
tante curtas, criando uma interface justa e rígida entre eles, ou bastante lon-
gas, permitindo uma considerável flexibilidade . Algumas proteínas possuem
conectares longos extremamente flexíveis, porque sua função dentro da cé-
lula requer que os domínios de ambas as extremidades interajam a distân-
cias longas e variáveis. As sequências de aminoácidos de conectares longos
geralmente não possuem grandes grupos hidrofóbicos, que sua conformação
flexível e extensível não consegue sequestrar da água, e possuem outras carac-
terísticas simplificadas.
A discussão sobre domínios e os quatro níveis da estrutura proteica é re-
sumida com a ilustração de uma molécula de anticorpo (imunoglobulina),
descrita no Quadro 6-3, A molécula de anticorpo como ilustração dos domí-
nios proteicos.
Modificações pós-traducionais
Várias modificações das cadeias laterais de aminoácidos, introduzidas após a
emergência da cadeia polipeptídica de um ribossomo, podem modular a estru-
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Os anticorpos circulantes são moléculas de imunoglobulina G no Quadro 6-3, Figura 1: V" com v, e C" 1 com c ,. formando
(lgG), que contêm duas cadeias pesadas idênticas e duas ca· um fragmento Fab ("antigen-binding", fragmento de ligação
deias leves idênticas. As cadeias leves possuem um domínio ao antígeno); c . 2 e C,.3 de uma cadeia pesada com C11 2 e C"3
variável (VJ e um domínio constante (CJ ; as cadeias pesadas, da outra, respectivamente, formando um fragmento Fc. O ata-
um domínio variável (V") e três domínios constantes (C" 1, C"2 que proteolítico controlado cliva seletivamente a dobradiça,
e C"3). Portanto, existe um total de 12 domínios independen· permitindo a preparação de ambas porções Fab e Fc. Cada um
tes. v,. e V, são "variáveis" porque há uma grande biblioteca dos domínios possui um "domínio de lg" semelhante, ilustrado
combinatória de genes que os cod ifica e porque ocorrem mu- também na Figura 6-1 1 como exemplo de domínio inteiramen-
tações somáticas no gene selecionado durante o curso de uma te composto por f olhas J:l. O conector curto ("cotovelo") entre
resposta imunológica. Os domínios variáveis determinam a afi- os domínios variável e constante possui flexibilidade restrita.
nidade específica pelo antígeno. Os domínios C" 1 a 3 e C, são O conector bem mais longo (dobradiça) entre C" 2 e C" 3 de
"constantes" porque um número bem menor desses domínios cada uma das cadeias pesadas possui flexibilidade muito maior,
é ligado com um dos muitos domínios variáveis durante o ama · permitindo que os sítios de ligação ao antígeno (chamados de
durecimento de uma célula produtora de anticorpos e porque " regiões determinantes de complementaridade") nas extremi-
eles não possuem tendência para mutação somática. Os do· dades de cada Fab se orientem e reorientem de acordo com as
minios pareiam no heterotetrâmero montado como mostrado posições relativas de seus sítios cognatos no antígeno.
c~
CH3
cadeia pesada
QUADRO 6-3 FIGURA 1 Três representações diferen- uma superfície renderizada mostra que as cadeias laterais das
tes da lgG. O painel à esquerda é um diagrama esquemático proteínas enoveladas se empacotam de forma eficiente para
do padrão semelhante a Y resultante da associação entre as preencher o interior hidrofóbico da proteína . Imagens prepa·
quatro cadeias da lgG. No centro, um d iag rama de " fitas" radas com PyMOL (Schrõdinger, LLC) e UCSF Chimera.
enfatiza a estrutura secundária da lgG. E no painel à direita,
134 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
DA SEQUÊNCIA DE AMINOÁCIDOS À
ESTRUTURA TRIDIMENSIONAL
Enovelamento proteico
A sequência de aminoácidos de um domínio determina sua estrutura enovela-
da estável. Essa generalização é uma parte importante do dogma central da bio-
logia molecular, porque significa que a sequência de nucleotídeos de um gene
traduzido especifica não apenas a sequência de aminoácidos da proteína que
codifica, mas também a estrutura 3D e a função da proteína. Um experimento
clássico sobre o reenovelamento de uma proteína não enovelada em laborató-
rio estabeleceu esse ponto pela primeira vez (ver Quadro 6-4, A estrutura tridi-
mensional de urna proteína é especificada por sua sequência de aminoácidos
[experimento de Anfinsen)). Ele também mostrou que uma cadeia polipeptídi-
ca pode se en ovelar corretamente sem qualquer mecanismo celular adicional.
O experimento de reenovelamento de Anfinsen se apoia em vários pon-
tos-ch ave. Primeiro, uma proteína purificada a partir de células ou tecidos
pode ser desenovelada em solução, originando uma espiral aleatória. Esse de-
senovelamento é geralmen te ch amado de desnaturação e realizado, mui-
tas vezes, pela exposição da proteína a altas concentrações de certos solutos
ch amados de desnat urantes (p. ex., ureia ou cloridrato de guanidina). Se
a proteín a for uma enzima, ela perderá sua atividade catalítica. Se ela tiver
alguma propriedade de ligação específica (p. ex., reconhecimento de um sítio
no DNA), ela perderá essa especificidade. Isto é, quase todas as propriedades
fun cionais das proteínas dependem de suas estruturas enoveladas. No caso da
proteína que Anfinsen e colaboradores utilizaram nos experimentos descritos
no Quadro 6-4, o desen ovelarnento completo também exigiu a redução de
suas quatro pontes dissulfeto. Segun do, a remoção cuidadosa dos desnaturan-
tes permite que a proteína se enovele novamente. Esse processo nem sempre
é muito eficiente n o laboratório, por muitas razões. As células possuem enzi-
mas conh ecidas como chaperonas de enovelamento que podem deseno-
velar uma proteín a mal-en ovelada e permitir que ela "faça outra ten tativa".
Algumas dessas chaperonas também sequestram a proteín a desenovelada para
impedir sua agregação com outras proteínas da célula, mas elas n ão especi-
ficam de maneira alguma a estrutura final correta de seu substrato proteico.
Terceiro, a medida da atividade enzimática é um bom monitoramento do re-
enovelamento correto da ribonuclease, a proteína utilizada nos experimentos
de Anfinsen. Ou seja, a recuperação da atividade é urna boa forma de seguir o
acúmulo da enzima reenovelada em sua conformação nativa (i. e., funcional) .
Outra conclusão de experimentos como os de Anfin sen é que a estrutura
nativa de urna proteín a é a conformação mais estável que sua cadeia polipep-
tídica pode adotar, considerando a sequên cia de aminoácidos específica da
cadeia. Em físico-química, seria possível dizer que a estrutura nativa possui a
menor energia livre de qualquer conformação possível.
Capítulo 6 A Est rutura das Proteínas 135
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Quadro 6-4 A estrutura tridimensional de uma proteína é especificada por sua sequência de aminoácidos
(experimento de Anfinsen)
No inicio da década de 1960, Christian Anfinsen e colaborado· rar um alto nível de atividade enzimática. Supondo que ape·
res realizaram uma clássica série de experimentos, mostrando nas uma enzima apropriadamente enovelada pode catalisar a
que a sequência de aminoácidos de uma proteína é suficiente hidrólise das ligações fosfodiéster, a recuperação da ativida·
para determ inar sua estrutura enovelada correta e que ne· de mostrou que a cadeia polipeptídica per se contém todas
nhum "mecanismo" externo de enovelamento é necessário . as informações necessárias para ditar a estrutura enovelada.
Essa conclusão é fundamental para o entendimento de como Quando Anfinsen e colaboradores removeram primeiramente
a sequência nucleotidica de um gene codifica em última análi· o ~-mercaptoetanol, permitindo que as pontes dissulfeto se
se a informação necessária para especificar a função proteica. formassem novamente e depois removeram o desnaturante
A ribonuclease A é uma enzima que d iva o esqueleto por diálise, eles não conseguiram detectar atividade. Oito eis·
fosfod iéster do RNA. A enzima está ativa quando enovelada teínas podem parear de 1OS formas distintas. A formação das
em sua conformação nativa mas é inativa quando desenove- pontes dissulfeto na presença de desnaturante pode permitir
lada por um desnaturante, como a ureia ou o cloridrato de que as cisteínas pareiem aleatoriamente, levando sobretudo
guanidina em concentrações de 2 a 5 M. A proteína de 124 a formas com pontes dissulfeto embaralhadas em vez dos
resíduos possui oito cisteínas, que formam quatro pontes pareamentos característicos encontrados na proteína nativa.
dissulfeto (ver Quadro 6-4, Fig. 1). Esses dissulfetos podem Portanto, a oxidação da ribonuclease A desenovelada gerava
ser reduzidos a sulfidrilas pela adição de um agente redutor, menos de 1% da atividade recuperada pela oxidação e reeno·
como o ~-mercaptoetanol. Anfinsen e colaboradores desco· velamento ao mesmo tem po. Essa expectativa vai ao encon·
briram que se eles desenovelassem a ribonuclease A na pre· tro das observações, fortalecendo a conclusão fundamental
sença de ~-mercaptoetanol e, então, removessem ambos os de que cada cisteína encontrará seu par apropriado apenas
agentes desnaturante e redutor por diálise, poderiam recupe· quando contatos nativos não covalentes puderem se formar.
nativa
remoção dos agentes
desnaturante e redutor
,---..,_::•.:'multaneamente
desnaturada
(aberta)
desordenada
QUADRO 6·4 FI GURA 1 Experimento de Anfinsen. presença de um desnaturante desenovela a cadeia polipeptí·
A ribonuclease A está representada na parte superior esquer· dica. A remoção do agente redutor na presença e na ausência
da como um d iagrama de f ita mostrando a estrutura terciá· de desnaturante leva a dois resultados bastante diferentes,
ria da enzima (aqui as pontes d issulfeto são mostradas em conforme descrito no texto. Na representação esquemática,
amarelo). O esquema correspondente a seguir representa os as pontes dissulfeto estão most radas como linhas verdes, e as
vários elementos da estrutura secundária e as localizações cisteínas, como círculos verdes.
das quatro pontes d issulfeto. A redução dos d issulfetos na
- ,
ALTERAÇOES CONFORMACIONAIS NAS PROTEINAS
A conformação enovelada (ou desenovelada) de uma proteína sob determina-
das condições é aquela com a men or energia livre. Se o ambiente da proteína
mudar, entretan to, a conformação mais estável poderá mudar também. Viu-
-se um exemplo disso - o desenovelamen to e reenovelamento da ribonucle-
ase em resposta à adição e à remoção de uma gran de concentração de ureia.
Alterações muito menos drásticas n o ambiente de uma proteína podem tam-
bém induzir alterações conformacion ais funcionalmente importantes. Por
exemplo, quando apresen tada a seu substrato, a glicose, a enzima de domínio
único h exoquin ase fech a-se em torno dele (Fig. 6-12). A formação de contatos
en ergeticamen te favoráveis com o substrato toma a estrutura fechada mais
menor mooor
FIGURA 6-14 Propriedades dos pares
dosoxir· a a dosoxir-
de bases do DNA nas fendas maior e me-
nor. Os quatro pares de bases do DNA, com
ribosc o •
=·- ':"\r o a
}-ti
rlboso
·R.
identificações nos grupos nas fendas maior
e menor que podem det erminar contatos 'NP-·-H-\ } H T
específicos: a, aceptor de ligações de hidro-
gênio; d, doador de ligações de hidrogênio;
H H~•
N4i- r--"CH
/ a ,
m a d H H d m
m, grupo metila (contato por van der Waa !s).
As ligações de hidrogênio estão representa-
das por linhas pontilhadas. Na fenda maior,
cada um dos quatro pares de bases apresenta
um padrao diferente: T:A. m-a-d-a; A:T, a-d-
-a-m; C:G, d -a-a; G:C, a-a-d . Dois exemplos
de complementaridade de cadeias laterais de
d d
amino~cidos são mostrados com os pa res T:A monor menor
e C:G. Essas duas formas de reconhecimento dosoxir· 8 dosoxlr-
de pares de bases (apontadas em 1976 por
riboso 0 ..... • dosoxlr~ •
8
o riboso
H~
®soxit·
Seeman, Rosenberg e Rich) ocorrem com al- nboso N'
guma frequência, mas a maioria dos casos de H
reconhecimento especifico do DNA envolve
um conjunto de contatos mais complexo. Na H N- H - H- H
fenda menor, T:A e A:T apresentam o mesmo H
I d ' H H • • d ~
padrao de contatos potenciais (a-a); da mes- I I '
ma maneira. C:G e G:C (a-d-a). Portanto, o ma« ~-~H ma«
reconhecimento de sequências especificas do
,C~ ~ - H
DNA geralmente envolve contatos com a fen-
da maior. ftio Ar;
Capítulo 6 A Estrutura das Proteínas 139
a b
r._
(I 6
5' 3'
G c
c G
G c
T A
G c
G c
G c
-1 2 3 6
C G
~ ~~ ~ .,& C
MERPYACPVESCDRRFSRSDELTRHIRIHTGQK
T A
PFQCR 1--CMRNFSRSDHLTTH IR THTGEK
PFACDI--CGRKFARSDERKRHTKI H LRQK D 3' 5'
FIGURA 6 - 15 Motivos dedo de zinco. {a) O motivo dedo de zinco Cys2His2 e as se-
quências de dedo Zif268. Na parte superior, está representado um diagra ma de fitas do dedo 2,
incluindo as duas cadeias laterais da cisteína (em amarelo) e as duas cadeias laterais da histidina
(em vermelho) que coordenam o íon zinco (esfera prateada). As cadeias laterais de resíduos
essenciais fazem contatos de bases com a fenda maior do DNA (os números identificam suas
posições em relação ao início da hélice de reconhecimento). A seguir, está representado o ali-
nhamento da sequência de aminoácidos dos três dedos de zinco de Zif268 com as cisteínas e as
histidinas conservadas em negrito. Elementos da estrutura secundária estão indicados na parte
inferior do diagrama. (b) À esquerda, está o complexo Zif268-DNA. mostrando os t rês dedos
de zinco de Zif268 ligados à fenda maior do DNA. Os dedos estão separados por intervalos de
3 pb; DNA (azul); dedos 1 (vermelho), 2 (amarelo) e 3 (roxo); íons zinco coordenados (esferas
prateadas). A sequência de DNA do sítio de ligação de Zif268 à direita está colorida para indicar
os contatos de bases para cada dedo. (Reproduzida, com permissão, de Pabo C. O. et ai. 200 1.
Annu. Rev. Biochem. 70: 313-340, a Fig. 6-15a é a Fig. 1 da p. 31 5; a Fig. 6-1 5b é a f ig. 2 da
p. 316. © Annual Reviews.)
140 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
Interfaces proteína-proteína
N Interfaces proteína-proteína tendem a ser ainda mais delicadamente comple-
mentares do que interfaces proteína-DNA. A razão para isso é que as primei-
FIGURA 6 · 17 Reconhecímento ras geralmente envolvem superfícies hidrofóbicas consideráveis, enquanto as
de peptídeo . O reconhecimento espe-
cífico do segmento carboxiterminal de últimas são amplamente polares. A água, que é ao mesmo tempo doadora e
uma proteína por um domínio PDZ - um aceptora, pode un ir grupos de ligações de hidrogênio em uma interface DNA-
módulo repetitivo que se associa com as ·proteína, mas uma lacuna entre superfícies apoiares em uma interface protei-
"caudas" citoplasm áticas ca rboxiterminais ca deixaria um buraco ou uma molécula de água isolada - ambos muito desfa-
de proteínas de m em brana. Os contatos voráveis. Como foi visto, um fator de transcrição como o repressor À pode se
principais estão em bolsos (asteriscos re- ligar a alvos de DNA com pequenas diferenças de sequências, cada uma delas
ferentes ao grupo carboxila e a cadeia desviando levemente de um consenso. O mesmo n ão ocorre n a maioria das
lateral apoiar da vali na ca rboxiterm inal) e interfaces proteicas. Para alguns fatores de transcrição, ocorre o pareamen to
por meio do recrutamento da folha 1:1 an-
tiparalela para o domínio (primeiro plano)
alternativo de subunidades estruturalmen te homólogas, para aumentar a di-
por vários resíduos do ligante que precede versidade combinatória. As superfícies complementares relevantes, as quais
a valina (linhas pontilhadas azul-escuras provavelmente surgem por duplicação gênica em algum ponto da história
representam as ligações de hidrogênio da evolutiva da proteína são conservadas nesses casos.
folha J:l). Imagem preparada com PyMOL O reconhecimento proteico específico pode depender da associação de
(Schrõdinger, LLC). superfícies correspondentes pré-enoveladas de duas subunidades, como as
Capítulo 6 A Estrutura das Proteínas 141
a b c
RESUMO
Proteínas são cadeias lineares de aminoácidos, unidos por liga- tagem tridimensional enovelada), e quaternário (a associação
ções peptídicas ("cadeias polipeptídicas"). Os 20 L-aminoácidos de cadeias polipeptídicas enoveladas em um arranjo de múlti-
especificados pelo código genético incluem nove com cadeias plas subunidades). No nível terciário, as cadeias polipeptidicas
laterais apoiares (hidrofóbicas), seis com cadeias laterais pola- enovelam-se em um ou mais domínios independentes, que se
res que não possuem carga em pH neutro, dois com cadeias enovelariam de maneira semelhante mesmo se excisados do
laterais ácidas (negativamente carregadas em pH neutro) e três restante da proteína. A estrutura de um dominio pode seres-
com cadeias laterais básicas (positivamente carregadas em pH pecificada pela maneira na qual seus elementos de estrutura
neutro ou carregada parcialmente, no caso da histidina) . Li- secundária (hélices e fitas) se apresentam em três dimensões.
gações peptídicas possuem caráter de ligação dupla parcial; os Conectares entre domínios de uma cadeia polipeptídica com
ângulos de torsão para as ligações N-Ca e Ca-(C=O) determi- múltiplos domínios podem ser longos e flexíveis ou curtos e
nam a conformação tridimensional de um esqueleto de cadeia rígidos. O ambiente aquoso e o conjunto diverso de aminoá-
polipeptidica. Três aminoácidos possuem propriedades confor- cidos de ocorrência natural são essenciais para a estabilidade
macionais especiais: a glicina é não quiral, com maior liberda- conformacional de dominios enovelados e das interfaces entre
de conformacional do que os outros; a prolina (tecnicamente, eles que criam estrutura quaternária. Cadeias laterais apoiares
um iminoáddo) possui uma ligação covalente entre a cadeia agrupam-se longe da água, de maneira compacta no centro
lateral e a amida, restringindo sua liberdade conformadonal; e hidrofóbico de um domínio enovelado, e qualquer grupo se-
a cisteína, com um grupo sulfidrila em sua cadeia lateral, pode questrado ligado por ligações de hidrogênio, que perde uma
sofrer oxidação para formar uma ponte dissulfeto com uma se- ligação de hidrogênio com a água, deve ter um parceiro deriva-
gunda cisteina, interligando uma cadeia polipeptídica enovela- do de proteína. Elementos de estrutura secundária satisfazem
da ou duas cadeias polipeptidicas vizinhas. O ambiente redutor o último requerimento para a amida e os grupos carbonila da
do interior da célula restringe a formação de pontes dissulfeto a cadeia principal, respondendo, assim, por sua importância na
organelas oxidantes e ao meio extracelular. descrição e na classificação das estruturas de domínios.
A estrutura proteica é tradicionalmente descrita em quatro A sequência de aminoácidos em uma cadeia polipeptidi-
níveis: primário (a sequência de aminoácidos em uma cadeia ca especifica se, e como, ela irá se enovelar. Essa propriedade
polipeptídica - o nível determinado diretamente pelo código permite que o código genético determine não apenas a estru-
genético), secundário (conformações locais repetidas de esque- tura primária, mas também outros níveis e, portanto, dite a
leto, estabilizadas por ligações de hidrogênio da cadeia prin- função proteica. As várias interações não covalentes em um
cipal- principalmente a-hélices e folhas J3), terciário (a mon- domínio corretamente enovelado (e em domínios extracelu-
144 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macromoléculas
lares, as pontes dissulfeto covalentes) criam um mínimo de na superfície de uma proteína enovelada e, às vezes, mesmo
energia livre global (conformação de maior estabilidade), de em um segmento de cadeia polipeptídica não enovelada pode
maneira que a cadeia possa alcançar sua conformação nativa também especificar como ela reconhece uma proteína ou áci-
espontaneamente. Alterações no ambiente de uma proteína, do nucleico parceiro ou uma pequena molécula ligante. As
incluindo modificações pós-traducionais de uma ou mais de proteínas são, portanto, agentes essenciais de reconhecimento
suas cadeias laterais ou a ligação de ligantes, podem alterar a molecular espeáfico, dentro das células e entre as células, bem
posição desse mínimo de energia livre e induzir uma alteração como os catalisadores de reações químicas (enzimas).
conformacional. O arranjo de cadeias laterais de aminoácidos
BIBLIOGRAFIA
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Branden C. and Tooze ). 1999. fntroduction ro protein stmcntre, 2nd ed. descrita em quatro níveis
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Williamson M. 2012. How proteins worl<. Garland Publishing, New
York.
QUESTOES
-
Para respostas de qrsestões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. entre essas duas proteínas é a primária, secundária, terciária ou
quaternária? Explique.
Questão 1. Qual é a ligação que pode se formar entre duas
dsteínas de proteínas secretadas? Por que esta ligação normal- Questão 7. Para os seguintes aminoácidos, indique se eles
mente não se forma em proteínas intracelulares? Como esta têm maior probabilidade de serem encontrados escondidos ou
interação se diferencia das interações que podem ocorrer entre expostos em um domínio proteico enovelado de maneira es·
outras cadeias laterais de aminoácidos? tável: fenilalanina, arginina, glutamina, metionina. Explique
suas respostas.
Questão 2. Cite um exemplo de duas cadeias laterais de
Questão 8. Você trata uma proteína com o desnaturante
aminoáàdos que podem interagir uma com a outra por meio
de uma ligação iônica em pH neutro. Ver Capítulo 3 para uma ureia. Para cada interação ou ligação a seguir, indique se a inte-
revisão sobre ligações iônicas. ração ou ligação é quebrada pelo tratamento com ureia.
A. Ligações iônicas.
Questão 3. Uma mutação que ocorre no DNA pode causar B. Ligações de hidrogênio.
uma substituição de aminoácido na proteína codificada. Subs- C. Pontes dissulfeto.
tituições de aminoácidos são descritas como conservativas
quando o aminoácido na proteína mutada possui proprieda- D. Ligações peptídicas.
des químicas semelhantes às do aminoácido substituído. Re- E. Interações de van der Waals.
ferindo-se à Figura 6-2, identifique quatro exemplos diferentes
de pares de aminoácidos que poderiam estar envolvidos em Questão 9. Considerando o que você aprendeu sobre a es-
substituições conservativas. trutura do DNA no Capítulo 4, explique por que o Gcn4 inte·
rage com o DNA na fenda maior em vez da fenda menor. Des·
Questão 4. A formação de ligações peptídicas é um exem- creva a importânàa das argininas e Usinas na interação entre
plo de reação de condensação. Explique o que significa esta Gcn4eDNA.
afirmação e por que a formação da ligação peptídica também é
chamada de reação de desidratação. Questão 10. Preveja o efeito da substituição de uma ou mais
das cisteínas ou histidinas conservadas por alanina em um
Questão S. Descreva como uma folha 13 difere de um san- dedo de zinco Cys2His2. Explique sua resposta.
duíche [3. Questão 11. Descreva as características incomuns da intera·
ção entre lEF-1 e Dl\A.
Questão 6. As proteínas de ligação ao oxigênio hemoglo-
bina e mioglobina diferem porque a hemoglobina atua como Questão 12. Como as enzimas aumentam a taxa de uma
um tetrâmero nas hemácias, enquanto a mioglobina atua reação?
como um monômero em células musculares. A estrutura glo-
bular da mioglobina e de cada monômero da hemoglobina en- Questão 13. Considere um ligante que é estruturalmente
volve oito segmentos a-helicoidais. A estrutura que difere mais semelhante ao substrato de uma enzima e que se liga forte·
Capítulo 6 A Estrutura das Protelnas 145
mente ao sltlo aúvo, excluindo o substrato normal. Qual é a B. A partir desses dados, qual regUlo da protelna é necemrta
diferença enue um "lnlbldor compelltlvo• como este e um para o crescimento do úpo selvagem a 37•c7
inlbidor alost~rlco? Um novo conJunto de experimentos envolveu um en-
saio de tradução ín vitro, utlll.undo um extrato da linhagem
Questão 14. Um fator de lnldaçlo de traduçlo, chamado desprovida do gene TIFJ. A reaçlo foi lnldada pela adlçlo da
de no ou e1Rf4 B em «<ulas de le~-edura, possui a seguinte proteína 1lf3 purificada ou uma de suas formas uunadas. Os
sequênda de dementos em sua adeJa pollpeplfdica: um d~ resultados estão na tabela a squl.r, qur mosua a porcentagem
mlnlo amlnotennlnal contendo um motivo de reconhecimen- da tradução in >'itro relativa à reaçjo com a no completa.
to de R."A (RR.\.i), um segmento central com uma sequência
repelida com sete dobras rica em reslduos de amlnoáddos bá-
sicos e ~ddos, e uma regllo arboxitermlnal sem evidêndas
de homologia com qualquer motivo ou domínio conheddos. Completa 100
A. Descreva a lmpon!ncla dos RRMs. RRM + primeiras trb repeti~ 4)
A modularidade da protclna sugere a seguinte série de ex- RRM + primeira repet~çAo o
perimentos, para analisar os pa~ls de suas diferentes panes. Todas as sete repetiç~ • ~mento o
Cêlulas com uma deleç!o do gene 1TF3 nlo crescem a 37•c, carboxiterminal
mas crescem normalmente a Jo•c. Adicionando um gene que
codifica um !ragmento da protefna, é possivel fazer um ensaio C. Como esses resultados podem ser comparados aos resulta-
de complementação - a capacidade de o fragmento conferir dos de complementllçao du parte O? F.lcs modiOcam a sua
crescimento do tipo selvagem a 37•c. Os resultados desses ex- conclusão dos experimentos gcnNicos?
perimentos estno uprcsentados na tabcln a seguir, em que + +,
+ e - Indicam o grau de cresci mento/complementação. Dados adaptados de Nlcdcrbcrger ct ai. 1998. RNA 4 :
1259-1267.
Técnicas de Biologia
Molecular
CÉLULA VIVA É UMA ENTIDADE EXTREMAMENTE complicada, que produz mi-
, ' ,
ACIDOS NUCLEICOS: METODOS BASICOS
A eletroforese em gel separa as moléculas de DNA
e de RNA de acordo com o seu tamanho
Primeiramente, será discutida a separação das moléculas de DNA e de RNA pela
técnica de elet r oforese em gel . As moléculas lineares de DNA são separa-
das de acordo com seu tamanho quando submetidas a um campo elétrico, por
meio de uma matriz de gel, um material poroso e inerte, semelhante a uma
gelatina. Como o DNA tem carga negativa, quando é submetido a um campo
elétrico ele migrará através do gel em direção ao polo positivo (Fig. 7-1). As
moléculas de DNA são flexíveis e ocupam um volume efetivo. A matriz de gel
atua como uma peneira através da qual passam as moléculas de DNA; molé-
culas grandes (com um volume efetivo maior) têm mais dificuldade de passar
através dos poros do gel e, portanto, migram mais lentamente através dele do
que o fazem moléculas de DNA menores. Isso significa que, após um período de
"migração, ou corrida, pelo gel", as moléculas de tamanhos diferentes podem
ser separadas, porque elas percorrem distâncias diferentes no gel.
Após o fim da eletroforese, a molécula de DNA pode ser visualizada pela
coloração do gel com corantes fluorescentes como o et ídeo, que se liga ao
DNA e se intercala entre as bases empilhadas (ver Cap. 4, Fig. 4-28). As molé-
culas de DNA coradas aparecem como "bandas", cada uma delas revelando a
presença de uma população de moléculas de DNA de um tamanho específico.
Dois tipos alternativos de matrizes de géis são utilizados: p oliacr ilami-
da e a garose. A poliacrilamida apresenta alta capacidade de resolução, mas
pode separar DNAs somente em uma faixa de tamanho limitada. Portanto, a
eletroforese em gel de poliacrilamida pode resolver DNAs que diferem uns dos
outros em tamanho em apenas um par de bases, mas apenas em moléculas de
até 1.000 pares de bases. A agarose possui menor capacidade de resolução do
que a poliacrilamida, mas pode separar moléculas de DNA com dezenas, e até
centenas, de q uilobases.
Os segmentos de DNA muito longos não podem penetrar nos poros,
mesmo de agarose. Em vez disso, eles serpenteiam seu caminho pela matriz,
com uma extremidade liderando o caminho e a outra seguindo atrás. Como
consequência deste comportamento, moléculas de DNA acima de um certo
tamanho (30-50 kb) migram de forma semelhante e não podem ser resolvi-
das. Esses DNAs muito longos podem, entretanto, ser separados uns dos ou-
Capítulo 7 Té<:nicas de Biologia Molecular 149
tros se um campo elétrico for aplicado em pulsos com orientação ortogonal " / _- eletrodos -
um em relação ao outro. Essa técnica é conhecida como eletroforese em
gel de campo pulsado (Fig. 7-2). Cada vez que a orientação do campo
elétrico é alterada, a molécula de DNA, que está percorrendo um caminho
no gel, deve reorientar-se em direção ao novo campo. Quanto maior a molé-
-
cula, mais tempo ela leva para se reorientar. A eletroforese em gel de campo
pulsado pode ser utilizada para determinar o tamanho de grandes DNAs ge-
nômicos, até mesmo de genomas bacterianos e cromossomos de eucariotos
inferiores inteiros, como fungos - moléculas de DNA contendo várias mega-
bases de comprimento.
A eletroforese separa as moléculas de DNA não apenas de acordo com seu
tamanho molecular, mas também de acordo com seu formato e propriedades
topológicas (ver Cap. 4). Uma molécula de DNA circular relaxada ou clivada
migra mais lentamente do que uma molécula linear de massa igual. Além dis-
so, como foi visto, os DNAs supertorcidos, que estão compactados e apresen-
tam volume efetivo menor, migram mais rapidamente durante a eletroforese
FIGURA 7 - 2 Eletroforese em gel
do que os DNAs menos torcidos ou circulares relaxados de igual massa. de campo pulsado. Esta figura mostra
A eletroforese também é utilizada para separar moléculas de RNA. Os seg- o gel de agarose visto de cima, com uma
mentos de DNA de dupla-fita lineares apresentam estrutura secundária unifor- série de canaletas de amostras na parte
me e suas velocidades de migração durante a eletroforese são proporcionais a superior do gel. A e 8 representam dois
seu tamanho molecular. Como os DNAs, as moléculas de RNA apresentam car- conjuntos de eletrodos. Estes são liga -
ga negativa uniforme. Mas moléculas de RNA são geralmente de fita simples dos e desligados de maneira alternada,
e possuem, como foi visto (Cap. 5), vastas estruturas secundárias e terciárias, como descrito no texto. Quando A está
as quais influenciam em sua mobilidade eletroforética. Para contornar esse ligado, o DNA mig ra em direção à porção
obstáculo, os RNAs podem ser tratados com certos reagentes, como o glioxal, inferior do canto direito do gel, onde o
ânodo desse pa r está situado. Quando A
que reagem com o RNA e impedem a formação do pare.amento de bases (o
é desligado e 8 é ligado, o DNA desloca -
glioxal forma adutos com os grupos amino das bases, evitando o pareamento -se em direção à porção inferior do canto
de bases). Os RNAs glioxilados não podem formar estruturas secundárias ou esquerdo. As setas mostra m. assim, o t ra-
terciárias e, por isso, migram com mobilidade aproximadamente proporcional jeto percorrido pelo DNA à medida que a
a seu tamanho molecular. Como será visto mais adiante, a eletroforese é utili- eletroforese prossegue. (Adaptada, com
zada de maneira similar para separar as proteínas de acordo com seu tamanho. permissão, de Sambrook J. e Russel D.W.
2001. Molecular cloning: A laboratory
As endonucleases de restrição clivam as manual. 3 rd ed ., f ig . S-7. © Cold Spring
Harbor l aboratory Press.)
moléculas de DNA em sítios específicos
As moléculas de DNA que ocorrem naturalmente são, em geral, longas demais
e não podem ser facilmente manipuladas ou analisadas em laboratório. Por
exemplo, os cromossomos são moléculas únicas de DNA extremamente longas
que podem conter milhares de genes e mais de 100Mb de DNA (ver C.ap. 8).
Para estudar genes e sítios individuais no DNA, as longas moléculas de DNA das
células devem ser clivadas em fragmentos menores que possam ser manipula-
dos. Isso pode ser feito pelo uso de endonucleases de restrição que clivam
o DNA em determinados sítios pelo reconhecimento de sequências específicas.
As enzimas de restrição utilizadas na biologia molecular reconhecem, em
geral, pequenas sequências-alvo (4 a 8 pb), normalmente palindrômicas, e cli-
vam em uma posição definida dentro dessas sequências. Assim, considere-se
uma enzima de restrição amplamente utilizada, a EcoRI, assim denominada
por ser encontrada em determinadas linhagens de Escherichia coli, e que foi a
primeira (I) dessas enzimas encontrada nessa espécie. Essa enzima reconhece
e diva a sequência S'-GAATIC-3'. (Como as duas fitas do DNA são comple-
mentares, é necessário especificar apenas uma fita e sua polaridade para des-
crever uma sequência de reconhecimento de maneira inequívoca.)
Essa sequência hexamérica (como qualquer outra) ocorre apenas uma vez
em cada 4 kb, em média. (Isso acontece porque existem quatro bases possíveis
que podem ocorrer em uma dada posição dentro de uma sequência de DNA e,
dessa forma, as chances de encontrar uma determinada sequência de 6 pb es-
pecífica é 1 em 46 .) Assim, considere-se uma molécula de DNA linear com seis
cópias da sequência GAATIC: EcoRI poderia clivá-la originando sete fragmen-
tos com tamanhos que refletem a distribuição dos sítios para a endonuclease
150 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
B -
A -
tamanho menor
o-
e-
F -
G -
tê' ~1~
- ~~ clivagem
mérica 5'-GCGGCCGC-3' e diva, em média, apenas uma vez a cada 65 kb
(Tab. 7-1). Cabe salientar que algumas enzimas de restrição são sensíveis à
metilação. Ou seja, a metilação de uma base (ou bases) dentro de uma se-
quência de reconhecimento inibe a atividade da enzima no sítio.
As enzimas de restrição diferem não apenas em sua especificidade e ex-
tensão das sequências de reconhecimento, mas também na natureza das
Hindlll
extremidades de DNA que elas originam. Portanto, algumas enzimas, como
Hpal, geram extremidades "cegas" (blunt); outras, como EcoRI, Hindiii e Pstl,
geram extremidades coesivas (Fig. 7-4). Por exemplo, EcoRI diva as ligações
covalentes (fosfodiéster) entre G e A em posições alternadas em cada fita. As
ligações de hidrogênio dos 4 pb entre esses sítios de clivagem são facilmente
tras moléculas similares. Por exemplo, isso pode ser útil quando se determina
a quantidade de um mRNA específico expresso em dois tipos celulares dife-
rentes ou o comprimento de um fragmento de restrição que contém o gene
que se deseja estudar. Esse tipo de informação pode ser obtido por meio de
métodos de marcação que localizam ácidos nucleicos específicos depois que
eles tiverem sido separados por eletroforese.
Suponha-se que o genoma de levedura foi clivado com a enzima de restri·
ção EcoRI e que se deseja conhecer o tamanho do fragmento que contém um
determinado gene de interesse. Quando corados com brometo de etídeo, os mi-
lhares de fragmentos de DNA gerados pela clivagem do genoma de levedura são
tão numerosos que não podem ser resolvidos em bandas visíveis e separadas,
e formam um padrão que se assemelha a um arraste, centralizado em torno de
4 kb. A técnica de h ibridização de Southern blot (assim chamada em home-
nagem ao seu inventor, Edward Southern) permite a identificação, dentro desse
arraste, do tamanho do fragmento específico que contém o gene de interesse.
Nesse procedimento, o DNA clivado e separado por eletroforese em gel é
imerso em solução alcalina para desnaturar os fragmentos de DNA de dupla-
·fita. Esses fragmentos são, então, transferidos para uma membrana positiva-
mente carregada à qual aderem, criando uma impressão ou "carimbo" (blot)
do gel. Durante o processo de transferência, os fragmentos de DNA são liga-
dos à membrana em posições equivalentes às que eles assumiram no gel após
a eletroforese. Depois que os DNAs de interesse são ligados à membrana, a
membrana carregada é incubada com uma mistura de fragmentos de DNA
não específicos para saturar todos os sítios de ligação remanescentes na mem-
brana. Como o DNA nessa mistura é distribuído aleatoriamente n a membra-
na e, se escolhido adequadamente, não terá a sequência de interesse (p. ex.,
DNA de um organismo diferente da da sonda de DNA), ele não irá interferir
na detecção subsequente de um gene específico.
O DNA ligado à membrana é, então, incubado com a sonda de DNA con-
tendo uma sequência complementar a uma sequência interna ao gene de in-
teresse. Como todos os sítios de ligação não específicos da membrana estão
ocupados por DNA não relacionado, a única maneira que a sonda de DNA tem
para se associar à membrana é por hibridização a qualquer DNA complemen-
gel membrana de tar presente na membrana. Essa sondagem é feita sob condições de concentra-
transferência ção salina e temperatura próximas às condições de desnaturação e renaturação
o (blot) dos ácidos nucleicos. Sob essas condições, a sonda de DNA somente hibridiza-
rá firmemente ao seu complemento exato. Frequentemente, a sonda de DNA
está em excesso, comparado ao alvo imobilizado na membrana, favorecendo
a hibridização, em vez do reanelamento do DNA desnaturado. Além disso, a
imobilização do DNA desnaturado na membrana tende a interferir na rena-
turação. O local onde a sonda hibridiza na membrana pode ser detectado por
diferentes tipos de filmes ou outros métodos que sejam sensíveis à luz ou aos
elétrons emitidos pelo DNA marcado. Quando, por exemplo, uma sonda de
DNA radiomarcada é usada e um filme de raios X é exposto à membran a e de-
pois revelado, é produzida uma autorradiografia, na qual o padrão de ex-
posição do filme corresponde à posição dos híbridos na membrana (Fig. 7-6).
Um procedimento semelhante, denomin ado hibridização de northern
blot (para distingui-la da hibridização de Southem blot) pode ser utilizado para
FIGURA 7 · 6 Southern blot. Frag- identificar um mRNA específico em uma população de RNAs. Como os mRNAs
mentos de DNA, gerados pela digestão de são relativamente curtos (geralmente menores que S kb), não há a necessidade
uma molécula de DNA por uma enzima de digestão com enzimas (de qualquer forma, existe um número limitado de
de restrição, são submetidos à corrida enzimas específicas que clivam RNA). Exceto por isso, a técnica é absolutamen-
em um gel de agarose. Uma vez corados, te similar à descrita para h ibridização de Southern blot. Os mRNAs separados
observa-se um padrão de fragmentos.
por eletroforese são transferidos para uma membrana positivamente carregada
Quando transferidos para uma membrana
e incubados com a sonda de DNA radioativo. (Neste caso, os híbridos são for-
e sondados com um fragmento de DNA
homólogo a apenas uma sequência na mados pelo pareamento de bases entre fitas complementares de RNA e DNA.)
molécula digerida, observa-se uma única Um pesquisador pode realizar a h ibridização de northern blot para determi-
banda, correspondente à posição do frag- nar a quantidade de um mRNA em particular presente em uma amostra, em vez
mento contendo a sequência no gel. de seu tamanh o. Essa medida reflete o nível de expressão do gene que codifica o
Capítulo 7 Té<:nicas de Biologia Molecular 1 53
• • • • •• • • • ' ••
• los e neurônios) de Caenorhabditis
• elegans. Cada círculo da placa contém
• • •• • •• • • • • • • • •• •• • • '• • um pequeno segmento de DNA da região
•• • • • •• •• • • • • c •• • • codificante de um único gene do geno·
• • • • • •••
, ' • ma de C elegans. O RNA foi extraído de
•• • ••
• •' • ' • • , • músculos e de neu rônios e m arcado com
• ~
corantes fluorescentes (vermelho e verde,
• • •"
•• • •
•• •"
mRNA em questão. Assim, por exemplo, a hibridização de northern blot pode ser
u tilizada para investigar quanto de um determinado tipo específico de mRNA
está presente em uma célula tratada com um indutor do gene em questão, com-
parada a uma célula não induzida. Em um outro exemplo, a h ibridização de
northern blot pode ser realizada com o objetivo de comparar os níveis relativos
de um dado mRNA (e, consequentemente, os níveis de expressão do gene em
questão) em diferentes tecidos de um organismo. Como esses experimentos são
realizados com um excesso de sonda de DNA, a quantidade de hibridização está
relacionada à quantidade de mRNA presente na amostra original, permitindo
que as quantidades relativas dos mRNAs sejam determinadas.
Os princípios das hibridizações de Southem blot e northern blot também
são as bases das análises por microarranjos, consideradas na seção sobre Ge-
nômica deste capítulo. A disponibilidade de informações sobre sequências
completas permitiu o desenvolvimento deste experimento de "hibridização
reversa". Um microarranjo é construído pela ligação de várias centenas a mi-
lhares de sequências de DNA conhecidas a uma superfície sólida, geralmente
uma lâmina de vidro ou plástico (Fig. 7-7). Cada sequência é derivada de um
gene diferente do organismo em estudo. Ao descrever a análise de microar-
ranjo, os termos utilizados são o reverso de seu uso nas análises de Southern ou
northern. Na análise de microarranjos, as sequências fixas não marcadas são
chamadas de "sondas", porque estas são as sequências de DNA conhecidas,
enquanto as sequências-"alvo" são compostas por cDNAs marcados ampli-
ficados, gerados a partir do RNA total de uma célula ou tecido. Quando as
sequências-alvo são hibridizadas ao arranjo de sondas de DNA, a intensidade
do sinal de hibridização a cada espécie de DNA no arranjo é uma medida do
nível de expressão do gene em questão.
Clonagem de DNA
A habilidade para construir moléculas de DNA recombinantes e introduzi-
-las nas células é chamada de clon agem de DNA. Esse processo geralmente
envolve um vetor que fornece a informação necessária para propagar o DNA
clonado na célula hospedeira em divisão. As enzimas de restrição que clivam
o DNA em sequências específicas e outras enzimas que ligam segmentos de
DNA clivados são fundamentais para a construção de moléculas de DNA re-
combinantes. A criação de moléculas de DNA recombinante, que podem ser
propagadas em um organismo hospedeiro, permite que um determinado in-
serto de DNA possa ser purificado a partir de outros DNAs e amplificado para
ser produzido em grandes quantidades.
No restante desta seção, será descrito como as moléculas de DNA são cli-
vadas, recombinadas e propagadas. Em seguida, será discutido como podem
ser produzidas grandes coleções dessas moléculas híbridas, chamadas de bi-
bliotecas. Em uma biblioteca, um vetor comum contém diversos insertos
alternativos. Será descrito como as bibliotecas são feitas e como segmentos de
DNA específicos podem ser identificados e isolados a partir delas.
Uma vez clivado em fragmentos, o DNA precisa ser inserido em um vetor
para a sua propagação. Ou seja, o fragmento de DNA deve ser inserido em
uma segunda molécula de DNA (o vetor) para ser replicado em um organismo
hospedeiro. Sem dúvida, o organismo hospedeiro mais utilizado para propagar
o DNA é a bactéria E. coli. Vetores de DNA geralmente têm três características:
1. Contêm uma origem de replicação, que permite sua replicação indepen-
dentemente do cromossomo do hospedeiro. (Note que alguns vetores de
levedura também necessitam de um centrômero.)
2. Eles contêm uma marca de seleção que permite identificar prontamente
as células que possuem o vetor (e qualquer DNA ligado a ele).
3. Eles possuem sítios únicos para uma ou mais enzimas de restrição. Isso
permite inserir fragmentos de DNA em um ponto definido do vetor, de
maneira que a inserção não interfira nas duas primeiras funções.
Os vetores mais comuns são moléculas pequenas (com aproximadamente
3 kb) de DNA circulares, denominadas plasm ídeos. Essas moléculas foram
originalmente derivadas de moléculas de DNA circulares extracromossômi-
cas encontradas naturalmente em muitas bactérias e eucariotos unicelulares
(Apêndice 1). Em muitos casos (embora não em leveduras), esses DNAs contêm
genes que codificam a resistência a antibióticos. Portanto, plasmídeos de ocor-
rência natural já possuem duas das características desejadas em um vetor: eles
podem propagar-se independentemente no hospedeiro, e eles carregam uma
marca de seleção. Uma vantagem adicional é que esses plasmídeos estão, às
vezes, presentes em múltiplas cópias por célula. Isso aumenta a quantidade de
DNA que pode ser isolada de uma população de células. Plasmídeos de ocor-
rência natural geralmente possuem restrições quanto à quantidade de DNA que
podem carregar (geralmente limitada a 1-10 kb) . Para a clonagem e propagação
de fragmentos grandes, em geral utilizados em análise genômica e no sequen-
ciamento de DNA, como será discutido posteriormente, vários construtos de
vetores artificiais foram criados, corno cromossomos artificiais de bactérias e le-
veduras (BACs e YACs) que podem acomodar de 120 a mais de SOO kb de DNA.
A inserção de um fragmento de DNA em um vetor é um processo relati-
vamente simples (Fig. 7-8). Suponha que um vetor plasmidial apresente um
Capítulo 7 Té<:nicas de Biologia Molecular 155
sítio único de restrição para EcoRI. O vetor é preparado por sua digestão com
EcoRI, que linearizao plasmídeo. Como a EcoRI gera extremidades 5' coesi-
vas que são complementares umas às outras (ver Fig. 7-5), as extremidades
coesivas são capazes de reanelamento, restaurando a molécula circular com
r gene de
r&.sistência à
tetmi ina
duas quebras. O tratamento da molécula circular com a enzima DNA-ligase (I goradas com EcoRI
e ATP religará as quebras, regenerando um círculo covalentemente fechado.
Um DNA-alvo é clivado com uma enzima de restrição, neste caso EcoRI, para
gerar possíveis insertos de DNA. O vetor de DNA é misturado a um excesso
de insertos de DNA clivados com EcoRI sob condições que permitem a hibri-
dização de extremidades coesivas. A DNA-ligase é utilizada, então, para unir fragmentos unidos
as extremidades compatíveis dos dois DNAs. Adicionar um excesso de inserto oom DNA·IIgaso
de DNA em relação ao DNA do plasmídeo assegura que a maioria dos vetores
religue com um inserto de DNA incorporado (Fig. 7-8).
1
Alguns vetores não apenas permitem o isolamento e a purificação de
um determinado DNA, mas também controlam a expressão dos genes no
plasmfdco
inserto de DNA. Esses plasmídeos são chamados de vetores de expressão rccombinantc
e possuem promotores de transcrição, derivados da célula hospedeira, ime-
diatamente adjacentes ao sítio de inserção. Se a região codificadora de um
gene (sem o seu promotor) for colocada no sítio de inserção em uma orienta-
ção apropriada, então o gene inserido será transcrito em mRNA e traduzido cólula de E. co//
transformada com
em proteína pela célula hospedeira. Os vetores de expressão são frequente- plasmfdco
mente utilizados para expressar genes heterólogos ou m utantes, permitindo
a análise de suas funções. Eles também podem ser utilizados para produzir
1rccombinantc
células transf()(madt:~s
Um vetor de DNA pode ser introduzido em
organismos hospedeiros por transformação
A propagação do vetor com o inserto de DNA requer que essa molécula re-
! plaqucadas em meio
contendo tetraclclina
! transformação
de coleção de vetores com insertos de DNA diferentes.
Bibliotecas de diferentes tipos são produzidas utilizando-se insertos de DNA
de diferentes origens. As mais simples são derivadas do DNA genômico total,
clivado com uma enzima de restrição; elas são as ch amadas bibliotecas ge-
nômicas. Esse tipo de biblioteca é mais útil quando se deseja DNA para o se-
quenciamento genômico. Por outro lado, se o objetivo for clonar um fragmento
o de DNA que codifica um determinado gene, uma biblioteca genômica pode ser
utilizada de maneira eficiente apenas quan do o organismo em questão apresenta
uma quantidade relativamente pequena de DNA não codificador. Esse tipo de
biblioteca não é adequado para um organismo com um genoma mais complexo,
porque muitos insertos de DNA não conterão sequências codificadoras.
!
distribuição das células Para enriquecer a biblioteca em sequências codificadoras, cria-se uma bi-
em uma membrana
sobre uma placa de ágar bliot eca d e cDNA. Isso é feito como demonstrado na Figura 7-10. Em vez de
iniciar com DNA genômico, mRNAs são convertidos em sequências de DNA.
O processo que permite essa conversão é chamado de t ranscrição reversa e
é realizado por uma DNA-polimerase especial (a transcriptase reversa), capaz de
sintetizar DNA a partir de um molde de RNA (ver Cap. 12). Quando tratadas com
!-- -
remoção da membrana
e preparação para a a transcriptase reversa, as sequências de mRNA originam cópias de DNA de du-
hibridização pla-fita, ch amadas de cDNAs (DNAs complementares). Deste ponto em dian te,
- -. -- -.- a construção da biblioteca segue a mesma estratégia utilizada para a construção
de uma biblioteca genômica -os produtos de cDNA e o vetor são tratados com
exposição da membrana a mesma enzima de restrição, e os fragmentos resultantes são ligados ao vetor.
! hibridizada ao filme de
raios X
O isolamento de insertos individuais de uma biblioteca é realizado após
a transformação de células h ospedeiras (na maioria das vezes, de E. co/i) com
a biblioteca inteira. Cada célula transformada contém, em geral, apenas um
único vetor com seu inserto de DNA associado. Assim, cada célula que se
FI G U RA 7 - 9 Construção e sonda·
propagar após a transformação conterá múltiplas cópias de apenas um dos
gem de uma biblioteca de DNA. Para
possíveis clon es da biblioteca. As colônias produzidas a partir das células con-
construir a biblioteca, o DNA genômico e tendo qualquer sequência de in teresse clonada podem ser identificadas, e o
o DNA do vetor são digeridos com a mes· DNA, recuperado. Existem várias maneiras de identificar um DNA clonado.
ma enzima de restrição, misturados e in· Por exemplo, como será descrito a seguir, a hibridização com uma sonda espe-
cubados com a DNA·Iigase. A coleção ou cífica de DNA ou RNA pode identificar uma população de células que contém
biblioteca de vetores híbridos resultante um inserto de DNA particular.
(cada veto r contendo um inserto diferen·
te do DNA genômico, representado por
uma cor diferente) é. então, introduzida
A hibridização pode ser utilizada para identificar
em E. co/i e as células são plaqueadas em um clone específico em uma biblioteca de DNA
uma membrana colocada sobre o meio
Para clonar um gene, é necessário identificar os fragmentos correspondentes
com ágar. Quando houver colônias cresci·
das, a membrana será removida da placa a esse gen e entre todos os clones em uma biblioteca. Isso pode ser realizado
e preparada pa ra hibridização: as células utilizando-se uma sonda de DNA cuja sequên cia seja complementar a uma
são lisadas, o DNA é desnaturado e a porção do gene de interesse. Essa sonda pode ser utilizada para identificar as
membrana será incubada com uma sonda colônias de células transformadas com os clones conten do a região do gene,
marcada. O clone de interesse é identifi· como descrito a seguir.
cado por auto rradiografia. O processo pelo qual uma sonda de DNA marcada é utilizada para vascu-
lhar uma biblioteca é chamado de hibridização em colônia. Uma biblioteca de
cDNA típica conterá milhares de insertos diferentes, cada um den tro de um
vetor comum (ver anteriormente). Após a transformação de uma linhagem
hospedeira bacteriana apropriada com a biblioteca, as células são distribuídas
Capítulo 7 Té<:nicas de Biologia Molecular 157
sobre placas de Petri contendo meio de cultura sólido (normalmente ágar; ver 5' ...~. 3'
Apêndice 1). Cada célula multiplica-se para originar colônias isoladas, e cada
oligodT
célula pertencente a uma determinada colônia contém o mesmo vetor e o 3' t nm;;5'
mesmo inserto da biblioteca (existem, geralmente, umas poucas centenas de
colônias por placa).
O mesmo tipo de membrana positivamente carregada utilizado nas técni-
cas de Southern blot e northem blot é, novamente, utilizado para fixar pequenas
quantidades de DNA para a incubação com a sonda. Neste caso, porções da
membrana são pressionadas no topo da placa de colônias, e impressões das
células (incluindo o DNA contido nas células) de cada colônia são feitas na 3'
membrana (observe que algumas células de cada colônia permanecem na pla- 5' .......,.. ~:
ca). Portanto, a membrana retém uma amostra de cada clone de DNA posicio-
nado na membrana em um padrão que corresponde ao padrão das colônias lremoção do RNA
na placa. Isso garante que, uma vez que o clone desejado tenha sido identi-
3' - = = = =;;;;mm;;;;;t 5'
ficado pela incubação da membrana com a sonda, a colônia de células que
contém esse clone pode ser facilmente identificada e o plasmídeo contendo o hexâmeros aleatórios,
DNA-polimerase e
inserto de DNA apropriado pode ser purificado.
A incubação das membranas com a sonda é realizada da seguinte manei-
ra: as membranas são tratadas sob condições que lisam as células na própria
1dNTPs
5'-hidroxila bloqueada dador), utilizando o DNA clonado como molde. Dessa maneira, é sintetizada
porDMT
uma molécula de dupla-fita com um malpareamento. As duas fitas são, então,
/ \• base separadas e a fita contendo a alteração desejada é adicionalmente amplificada.
DMT- O-cH
20 Oligonucleotídeos customizados podem ser utilizados dessa maneira para
introduzir sequências de reconhecimento para enzimas de restrição, que po-
dem ser utilizadas para criar vários DNAs recombinantes, como fusões entre
as regiões codificadoras de dois genes diferentes ou a fusão de um promotor
de um gene com a região codificadora de outro. Alternativamente, mutações
introduzidas podem alterar a sequência que codifica um determinado amino-
ácido em um gen e. Comparando as propriedades da proteína mutante resul-
tante com a proteína selvagem, os pesquisadores podem testar a importância
fosforamidita protonada
deste aminoácido específico para a função da proteína.
FIGURA 7-1 1 Fosforamidita pro- Além disso, os oligonucleotídeos sintéticos são fundamentais na PCR,
tonada . Como mostrado, o grupo descrita a seguir, e são um componente indispensável nas estratégias de se-
5' -hidroxila é bloqueado pela adição de quenciamento de DNA que será descrito mais tarde. Dessa maneira, um aspec-
um grupo de dimetoxitritil (DMD protetor. to fundamental, comum no planejamento dos experimentos para construção
de novos clones moleculares de genes, para detecção de DNAs específicos,
para amplificar DNAs e para sequenciar DNAs, é o desenho e a síntese de oli-
gonucleotídeos sintéticos de ssDNA contendo a sequência desejada.
! por aquecimento
-molde é desnaturado por calor e anelado a oli-
gonucleotideos iniciadores sintéticos (em cor de
laranja -escuro e verde-escuro), correspondentes
aos limites da sequência de DNA a ser amplificada .
u
1 u.
11! 1111 WJ 1!!!1 111111! IJ.UIJIU!!! 11.11! !W A seguir, a DNA-polimerase é utilizada para copiar
o molde de fita simples pela extensão a partir dos
111111 iniciadores (cor de la ranja-claro e verde-claro). Na
anelamento dos
hihi iniciadores próxima etapa, o DNA é novamente desnaturado,
anelado aos iniciadores e utilizado como molde
111111111111111111111111111111111111111111111111 para um novo ciclo de síntese de DNA. Observa-
111111
-se que, neste segundo ciclo, os iniciadores podem
iniciar a síntese a partir das fitas de DNA recém -sin-
tetizadas no ciclo anterior, bem como a partir do
DNA-molde original. Quando a DNA-polimerase
DNA-polimerase faz estende o iniciador marcado em verde que anelou
o alongamento na fita-molde recém-sintetizada (marcada em cor
de laranja) a partir do ciclo de síntese de DNA an-
terior (ou o iniciador marcado em cor de laranja no
molde marcado em verde), a polimerase prossegue
por toda a extensão até o fim do molde e. então,
desconecta-se (na figura (parte inferior]. a polime-
1u•u••"''''UJIUUliiiJIIIIIIII,,,,,.u.uaL rase ainda não alcançou o fim dos moldes). Assim,
neste segundo ciclo, o DNA que será sintetizado
aquecimento e repetição é o que cobre precisamente a sequência de DNA
a ser amplificada. A seguir, ciclos adicionais de
desnaturação, anelamento e síntese de DNA (não
mostrados) produzirão segmentos de DNA que
nnnmnnnnnnnnnnm correspondem ao intervalo de sequência delimita-
do pelos dois iniciadores. Esse DNA aumenta rá em
l
IIIIIIIIIJJIIIIIIIIlJlllllllllll 11111111111111111111 abundância seguindo uma progressão geométrica
a cada ciclo subsequente de reação de cadeia.
l anelamento de iniciadores
e alongamento
aquecimento e repetição
11111111111111111111111111111111
. ............ 111111
............
! por aquecimento
-molde é desnaturado por calor e anelado a oli-
gonucleotideos iniciadores sintéticos (em cor de
laranja -escuro e verde-escuro), correspondentes
aos limites da sequência de DNA a ser amplificada .
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11! 1111 WJ 1!!!1 111111! IJ.UIJIU!!! 11.11! !W A seguir, a DNA-polimerase é utilizada para copiar
o molde de fita simples pela extensão a partir dos
111111 iniciadores (cor de la ranja-claro e verde-claro). Na
anelamento dos
hihi iniciadores próxima etapa, o DNA é novamente desnaturado,
anelado aos iniciadores e utilizado como molde
111111111111111111111111111111111111111111111111 para um novo ciclo de síntese de DNA. Observa-
111111
-se que, neste segundo ciclo, os iniciadores podem
iniciar a síntese a partir das fitas de DNA recém -sin-
tetizadas no ciclo anterior, bem como a partir do
DNA-molde original. Quando a DNA-polimerase
DNA-polimerase faz estende o iniciador marcado em verde que anelou
o alongamento na fita-molde recém-sintetizada (marcada em cor
de laranja) a partir do ciclo de síntese de DNA an-
terior (ou o iniciador marcado em cor de laranja no
molde marcado em verde), a polimerase prossegue
por toda a extensão até o fim do molde e. então,
desconecta-se (na figura (parte inferior]. a polime-
1u•u••"''''UJIUUliiiJIIIIIIII,,,,,.u.uaL rase ainda não alcançou o fim dos moldes). Assim,
neste segundo ciclo, o DNA que será sintetizado
aquecimento e repetição é o que cobre precisamente a sequência de DNA
a ser amplificada. A seguir, ciclos adicionais de
desnaturação, anelamento e síntese de DNA (não
mostrados) produzirão segmentos de DNA que
nnnmnnnnnnnnnnm correspondem ao intervalo de sequência delimita-
do pelos dois iniciadores. Esse DNA aumenta rá em
l
IIIIIIIIIJJIIIIIIIIlJlllllllllll 11111111111111111111 abundância seguindo uma progressão geométrica
a cada ciclo subsequente de reação de cadeia.
l anelamento de iniciadores
e alongamento
aquecimento e repetição
11111111111111111111111111111111
. ............ 111111
............
. TÉCNICAS
Imagine que você está em um laboratório forense e tem uma centrada na cena do crime. A sequência d e nucleotídeos do
amostra de DNA d e um suposto criminoso. Você deseja de- DNA amplificado auxilia a determinar (juntamente com veri·
terminar se o DNAdo suspeito contém um polimorfismo pre- ficações de polimorfismos adicionais) se as duas amostras de
sente no DNA encontrado na cena do crime. Os polimorfis- DNA são idênticas. Esta abordagem para definir a sequência
mos são sequências alternativas de DNA talelos) encontrados de DNA é chamada de "perfil de DNA" ou "fingerprinting de
em uma população de organismos, em uma região comum DNA'', uma analogia entre a identificação que utiliza DNA e
de cromossomos homólogos, como um gene. Um polimor- a identificação que utiliza técnicas convencionais de i mpres·
fismo pode ser simples, com diferença de um único par de sões digitais (fingerprints). O perfil de DNA foi primeiramente
bases no mesmo sítio do cromossomo entre membros dife- utilizado em 1985 (nos Estados Unidos, o F81 [Federal Bureau
rentes da populaç.ão, ou mais complexo, com diferenças no of lnvestigation ) começou a usar a técnica em 1988) e desde
comprimento de uma sequência nucleotídica repetitiva sim- então se tornou amplamente utilizado na análise de evidên·
ples, como CA (ver Cap. 9). Épreciso amplificar um segmento cias de cenas de crime, tanto para condenar como para ino·
de DNA que inclua o sítio do polimorfismo, de forma que centar indivíduos suspeitos (ver, p. ex., The lnnocence Project;
se possa submetê-lo ao sequenciamento (discutido a seguir} www. innocenceproject.org) .
e determinar se existe uma correlação com a sequência en-
a "fita-molde" b o
1 2 3 D 5 6 D 8 9 10 m12 12
3'1 A- r- o: c- o - c c · r · r-=cc Ü 5' 11
iniciador 10
s y 9
comprimento 8
5'II==2:"'=======:: :o
G:J) Y de nucleotídeos 7
para além do 6
iniciador
5
5' G 3'
4
slntese de ONA 3
2
substratos:
1
d !'.ôm d!ffiil
ddCim
dG:iil dÜÜ EB
FIGURA 7 - 15 Sequenciamento de ONA pelo método de terminação de cadeia. Como
descrito no texto, cadeias de diferentes comprimentos são sintetizadas na presença de didesoxi·
nucleotídeos. O comprimento das cadeias produzidas depende da sequência do DNA-molde, e de
qual didesoxinucleotídeo está incluído na reação. (a, parte superior) Sequência do molde. Nesta
reação, todas as bases estão presentes como desoxinucleotídeos. mas G está presente também na
forma didesoxi. Assim, quando a caóeia que está sendo alongada alcança um C no molde, ela adi-
cionará, em uma pequena fração de moléculas. o ddGTP em vez do dGTP. Nestes casos. as cadeias
terminarão neste ponto. (b) Fragmentos separados em gel de poliacrilamida. O comprimento dos
fragmentos vistos no gel revela as posições de citosinas no DNA-molde que está sendo sequencia-
do na reação descrita.
162 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macro moléculas
ddTTP ddGTP gera um padrão semelhante a uma escada de bandas, cada degrau representan-
ddCTP, \ =!/ ddATP
do um C na fita-molde (Fig. 7-15b). Se, de forma semelhante, ddCTP, ddATP e
G A C T
-- a i = ddTTP forem adicionados às reações de síntese de DNA, um a cada subconjunto
de reação, então, no total, serão gerados quatro conjuntos de fragmentos de
··=
• - =i=
~--- término, que, juntos, fornecerão a sequência completa de nucleotídeos do DNA.
- ~i - Para permitir a leitura da sequência, os fragmentos gerados em cada uma das
·= · = quatro reações são resolvidos em gel de poliacrilamida (Fig. 7-16).
---·
=
·-
=
•=
·
--===
---
=
-
-
Como será visto a seguir, essa abordagem conceitualmente simples, de-
senvolvida inicialmente para sequenciar pequenos fragmentos de DNA defi-
nidos, sofreu uma série de adaptações e aperfeiçoamentos técnicos, que per-
=
= --=
= --·
- -
mitiram a análise de genomas inteiros (ver Quadro 7-2, Os sequenciadores são
----
=
~-
- --
- -_
= ::: =
--
'"' ""'
utilizados para o sequenciamento em larga escala).
----
-~ - pelo método de shotgun
-===-
- ·-
A bactéria Haemophilus influenzae foi o primeiro organismo de vida livre a ter
sua sequência genômica determinada de forma completa e anotada. Foi uma
----
• G
••• escolha lógica, uma vez que essa bactéria tem um genoma compacto e peque-
- .-
T
c
ii
---
-- -- -- ---
-
'
'
•
••
•
c
A
A
no, formado por apenas 1,8 milhão de pares de bases (Mb) de DNA (menos
de 1:1.000° do tamanho do genoma humano). O genoma de H. influenzae foi
digerido em vários fragmentos aleatórios com tamanho médio de 1 kb. Essas
;;;; - '
''
A
G
-=-- -
••• G porções de DNA genômico foram clonados em um vetor de DNA plasmidial
G
• c para criar uma biblioteca. O DNA foi preparado a partir de colônias de DNA
=
= •• - T
' recombinantes individuais e sequenciado separadamente em Sequenciadores,
-- =
- '
- --
G
= '•
A utilizando-se o método dos terminadores, discutido anteriormente neste ca-
'' c
•' c pítulo. Esse método é chamado de sequenciamento por "shotgun". Colônias
- •• - T
aleatórias de DNA recombinante são coletadas, processadas e sequenciadas.
-- - T
T
c Para assegurar que cada nucleotídeo do genoma foi incluído na organização
ii
-- - --
G
c
c
final do genoma, algo em torno de 30 mil a 40 mil clones recombinantes se-
parados foram sequenciados. No total, cerca de 20Mb de sequência genômica
c
'-'- - G bruta foram sequenciadas (600 pb de sequência são obtidos em média por
- - -, - -
T
c
A
c
reação, e 600 pb x 33.000 colônias diferentes = 20Mb de sequência de DNA
total). Essa é chamada de uma cobertura de sequência de 10 x. A princí-
~ ' '' T pio, isso significa que cada nucleotídeo no genoma foi sequenciado 10 vezes.
Esse método pode parecer enfadonho, mas é consideravelmente mais
FIGURA 7 · 16 Gel de sequencia· rápido e menos oneroso do que as técnicas originalmente desenvolvidas.
mento de DNA. Os comprimentos das
cadeias de DNA, terminadas pelos dide-
Uma estratégia inicial necessitava do sequenciamento sistemático de cada
soxinucleotídeos indicados na parte supe- fragmento de restrição de DNA definido em um mapa físico do cromosso-
rior de cada linha, são determinados pela mo bacteriano. Uma desvantagem desse procedimento é que a maioria dos
migração em gel de poliacrilamida, como fragmentos de restrição conhecidos era maior do que a quantidade de in-
mostrado. A leitura do gel, de baixo para formação de sequência de DNA que podia ser gerada por uma única reação.
cima, revela a sequência de 5' para 3'. Consequentemente, seriam necessários ciclos adicionais de digestão, mapea-
mento e sequenciamento para que fosse obtida uma sequência completa de
qualquer região determinada do genoma. Estas etapas adicionais de clonagem
e mapeamento de restríção são consideravelmente mais demoradas do que o
sequenciamento automatizado repetitivo de fragmentos aleatórios de DNA.
Em outras palavras, o computador é muito mais rápido na organização das se-
quências aleatórias do que o tempo necessário para realizar um mapeamento
de restrição em pequena escala do cromossomo bacteriano.
As cerca de 30.000 leituras de sequenciamento derivadas de fragmentos
aleatórios de DNA genômico são diretamente inseridas no computador, e são
utilizados programas para unir seq uências de DNA sobrepostas. Esse processo
é conceitualmente semelhante à montagem de um gigantesco jogo de palavras
cruzadas denso no qual as palavras determinadas dão pistas acerca das pala-
vras sobrepostas, porém, desconhecidas. Os fragmentos aleatórios de DNA são
"encaixados" de acordo com as sequências que se emparelham. A montagem
sequencial dessas pequenas sequências de DNA finalmente resulta em uma
montagem contínua única, também chamada de contig (ver Fig. 7-18).
Capítulo 7 Té<:nicas de Biologia Molecular 163
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Quando o sequenciamento do genoma humano foi primeira· terminadas pelo T didesoxi) do DNA-molde são marcados em
mente imaginado, parecia ser uma iniciativa desanimadora, vermelho, enquanto os DNAs que terminam com um resíduo
praticamente sem chance de êxito. Afinal, o genoma humano de G na posição 51 (e em todas posições terminadas pelo G
completo consiste em impressionantes 3 bilhões de pares de didesoxi) poderão ser marcados em preto. Assim, cada seg-
bases (3 x 109 ), e os primeiros métodos para a determinação mento de DNA tem uma única cor e tamanho. À medida que
da sequência de nucleotideos, mesmo de pequenos fragmen· eles são fracionados nas colunas de sequenciamento de acor-
tos de DNA, eram lentos. Na década de 1980 e no início da do com o tamanho, sensores fluorescentes detectam a cor de
de 1990, um único pesquisador poderia produzir apenas ai· cada fragmento de DNA (Quadro 7-2, Fig. 1). Dessa maneira,
gumas centenas de pares de bases, talvez 500 pb, de sequên· uma única coluna produz de 600 a 800 pb de sequência de
cia de DNA em um d ia ou dois de esforço concentrado. Várias DNA em menos de 3 horas de separação por tamanho.
inovações tecnológicas aceleraram de forma significativa a As máquinas de sequenciamento automatizadas - Se·
velocidade e a confiabilidade do sequenciamento de DNA. quencíadores - foram desenvolvidas com 384 d iferentes co-
Como descrito na seção anterior. o método de termi- lunas de fracionamento. A princípio, essas máquinas podem
nação de cadeia produz subconjuntos de DNA que d iferem gerar mais de 200.000 nucleotídeos (200 kb) de sequências
em tamanho por apenas um nucleotídeo. Inicialmente, eram brutas de DNA em poucas horas. Em um dia de 9 horas, cada
necessários longos géis de poliacrilamida para separar esses máquina pode produzir três "corridas" de sequenciamento e
segmentos de DNA (ver Fig. 7-16). Entretanto, nos últimos mais de meia megabase (500 kb) de informações de sequên-
anos, esses géis inconvenientes e de difícil manuseio foram cia. Um conjunto de 100 dessas máquinas poderia gerar o
substituídos por pequenas colunas, que permitem a resolu - equivalente a um genoma humano, 3 x 10' pb, em apenas 2
ção de DNA em apenas 2 a 3 horas. Essas pequenas colunas meses. Atualmente, há cinco grandes centros de sequencia-
reutilizáveis permitem o fracionamento de fragmentos de mento nos Estados Unidos e no Reino Unido. Cada um deles
DNA de 700 a 800 pb, similar à capacidade dos géis de polia· tem grandes conjuntos de máquinas de sequenciamento au-
crilamida mais longos que elas substituíram. tomatizadas. Juntos, esses cinco centros produzem o impres-
O principal avanço técnico no sequenciamento de DNA sionante número de 60 x 109 pb de informação de sequên-
foi resultado do uso de nucleotídeos terminadores de ca· cias brutas de DNA por ano. Isso corresponde ao equivalente
deia fluorescentes. A princípio, é possível marcar cada um a 20 genomas humanos por ano! Mas como será visto mais
dos segmentos de DNA de um f ragmento com uma única tarde, isso é muito pouco quando comparado aos sequen-
"cor" . A cor de cada fragmento de DNA depende da identifi· ciadores de última geração que produzem rotineiramente o
cação do último nucleotídeo. Por exemplo, os DNAs quetermi · equivalente a um genoma humano completo em uma única
nam com um resíduo de T na posição 50 (e em todas posições corrida de apenas algumas horas.
10 20 30 40 50 60
' ~
[TCACT G CCC GCTTT CC AGT CGGG AAACC T GT CGTGCC AGCT GCATTAAT GAAT CGGG CAACGCGCGJ
QUADRO 7 · 2 FIGURA 1 Leitura da sequência de matografia em coluna. O perfil das posições de As está
ONA. Nesta reação, como descrito no texto, foram uti· representado em verde; de Ts, em vermelho; de Gs, em
lizados didesoxinucleotídeos marcados nas extrem.idades preto; e de Cs, em azul.
com fluorescência, e as cadeias foram separadas por cro-
H» KKBK
1 2 3
nn 4,5
biblioteca com
plasmídeos
de 1 kb
o sequenciamento
produz cobertura
de Sx do genoma
13-15 16- 18
(2,5 X 1OS BACs)
biblioteca de o sequenciamento
UICX
19, 20
11111
21, 22
H Xy
X
BACcom
100 kb
produz cobertura
de 1 x do genoma
8
'
' il
)
J
.. i-
'
sequências
curtas de
DNAcom
8
ti(
)
,
sobreposição
'
~~====~~4
K!
q
.. .
,~
'
....... :'' ...:
'
'
~~
'
'
· ----------~
contig 1 ''
'
'
'
''
'
'
'
''
'
ONA de um único
cromossomo
então utilizada como molde para uma rodada adicional de síntese de DNA.
O sequenciamento é realizado por etapas com a placa sendo separadamente
exposta a dATP, dGTP, dCTP e dTTP de maneira sequencial, com um ciclo
de lavagem entre cada pulso de substrato de desoxinucleotídeo. A incorpo-
ração de um desoxinucleotídeo depende da presença da base complementar
no molde e resulta na liberação de pirofosfato. Essa liberação promove uma
reação enzimática que produz pulsos de luz, os quais são detectados por um
microprocessador ligado a um computador. Os pulsos de luz indicam qual
nucleotídeo é incorporado em cada poço durante cada rodada de síntese,
produzindo, assim, a sequência de DNA contida em todos os 400.000 poços.
A adição sequencial de cada nucleotídeo é continuada até que 200 a 250 bases
tenham sido determinadas para cada fragmento de DNA.
O sequenciador 454 produziu o genoma completo do autor principal
deste livro (por algum motivo, a companhia parece menos interessada nos
genomas dos outros autores). A 100Mb de sequência genômica por "corrida",
a cobertura completa de 1x do genoma de Watson necessitou de apenas 30
corridas (2 a 3 semanas em uma máquina). Se iniciado agora (no momen-
to da redação deste texto), o custo total estaria em torno de US$ 10.000 a
US$ 30.000, uma pequena fração do custo da primeira sequência de genoma
humano. A informação de sequência não é necessariamente suficiente para
produzir uma montagem de novo do genoma. Em vez disso, a sequência fina-
lizada do genoma humano produzida pelo NIH é utilizada como molde para
comparações. Cada uma das leituras de sequência de 200 a 250 pb produzi-
das pelo sequenciador 454 são identificadas no genoma finalizado até que
as variantes de cada gene de Watson sejam identificadas. Portanto, o signi-
ficado do sequenciamento de um genoma humano mudou. Como tem-se
uma montagem de sequência finalizada de genoma inteiro disponível, novos
genomas necessitam apenas de curtas leituras de sequenciamento para obter
um atlas abrangente da composição genética única de um indivíduo.
A nova geração de sequenciadores está se aproximando do objetivo do ge-
noma de USS 1.000. A Illumina produziu uma máquina que pode gerar cen-
tenas de milhões de leituras de sequências de 200 pb por corrida. O princípio
básico é semelhante ao visto para o sequenciador 454 Life Sciences. A diferença
é que moléculas de DNA individuais são ligadas a uma lâmina de vidro. Realiza-
-se uma amplificação limitada por PCR para produzir aproximadamente 1.000
cópias por molécula de DNA. Reações de síntese sequencial de DNA são reali-
zadas e detectadas pela liberação de pirofosfato. Os sequenciadores Illumina
produzem rotineiramente vários gigabases de informação de sequência de DNA
em uma única corrida. Uma variedade de métodos de sequenciamento de alto
rendimento de última geração está sendo desenvolvida, incluindo sequencia-
mento por semicondutor de íon, que detecta o íon hidrogênio liberado pela
incorporação de um nucleotídeo durante a síntese de DNA.
GENÔMICA
Fl)llnse trars.
ser humano
100
100 pb
pb I
UI'\ MJ :n !o 100%
zebrafish
(paulistinha)
70%
(\ w!1 I 50%
lanceta
188gg ln
70%
:: ~::J 100%
' '
~~~-·~~~------------------------~~~----~~
_ .: ~~:_ 50%
100%
'
verme 100pb
100 pb [ Q
nematódeo 70% :) \ :
~ A:
~~~----------------------~~--------------------~~==~--~~ 50%
ouriço-
-do-mar
100pb l r
100pb
70%
tJ l 100%
50%
0,05 1<b 1,05 l<b 2,051<b 3,051<b 4,05 1<b 5,05 l<b 6,05 1<b
-
ser hu:nano • 133 -= ~r=:::.=-.=-- • :..;.
flanqueadora 5' do gene da a-catenina
MEF2C
é conservada nos genomas do camun-
camundongo • 78 r.r;..r:::~;.. -
~;..:.:..-:::.-.._,:;:.r;..~, f- dongo, do rato e de seres hu manos.
rato • 78 ,_,r;,r::: __...._ -A_, _,,:., ':: :'.:.,,_.:..rA-,_
A sequência conservada contém sítios
ser hu:nano - 80 .:;.:;..r:::_:..'. :.:.... ~ _,,;::-:-.:., ,"""::.TA::_-,~ ...
- - de ligação para três reguladores cruciais
da diferenciação cardíaca: E47/HAND,
camundongo - 21 MEF2C e GATA. A sequência do camun-
rato • 21 dongo atua como um autêntico reforça-
ser hu:nano - 20
dor cardíaco-específico. A princípio, ele
poderia ser identificado por alin hamentos
em VISTA (ver Cap. 20, Fig. 20-4) ou pelo
agrupamento de proteínas regulado-
mica, permite a remoção ou a modificação de segmentos de DNA específicos ras cardíacas. (Porção reproduzida, com
em um genoma intacto. Essa abordagem envolve a indução de uma quebra permissão, de Vanpoucke G. et ai. 2004.
de dupla-fita (DSB, double-strand break) em um sequência-alvo específica de Nucleic Acids Res. 32:4155-4165, Fig. 1
DNA que estimula a recombinação homóloga para reparar a quebra usando © Oxford University Press.)
DNA modificado introduzido. Durante o evento de reparo da quebra, altera-
ções desejadas são introduzidas especificamente para modificar a sequência
genômica. A clivagem direcionada é realizada por nucleases especialmente
customizadas, geralmente nucleases dedo de zinco e "meganucleases", proje-
tadas para clivar em um determinado sítio-alvo no genoma. Entretanto, uma
nova classe de nucleases "projetadas" -as nucleases efetoras semelhantes a
ativadores transcricionais (TALENs, transcriptional activator-like effector nuclea-
ses) - apresenta maior eficiência. As TALENs estão emergindo como uma fer-
ramenta importante para a edição genômica direcionada tanto em diferentes
organismos-modelo quanto em células-tronco humanas.
PROTEÍNAS
a exemplo, uma proteína de ligação ao DNA específica pode ser analisada pela
'
determinação de sua interação com o DNA apropriado (p. ex., utilizando um
'
~n experimento de alteração de mobilidade em gel de eletroforese, descrito na
seção Interações ácido nucleico-proteína). De maneira similar, uma DNA· ou
~u
~ ~....___
~
_ __,
proteína positivamente
RNA-polimerase pode ser analisada em ensaios de incorporação pela adição
de um molde apropriado e de um nucleotídeo precursor radioativo em um
carregada extrato bruto, semelhante aos métodos utilizados para a marcação de DNA
> esferas negativamente
carregadas
descritos anteriormente. Como será discutido no Capítulo 9, Quadro 9-1, os
ensaios de incorporação são úteis para o monitoramento do grau de pureza e
ct\~ /fr---,__ proteína negativamente função de diversas enzimas diferentes que catalisam a síntese de polímeros,
\ carregada como o DNA, o RNA ou as proteínas.
~.... /~
~
Preparação de extratos celulares contendo proteínas ativas
I
I O material de partida para a purificação de quase todas as proteínas são os
~
extratos derivados de células. Ao contrário do DNA, que é muito resiliente
b moléculas pequenas à temperatura, mesmo temperaturas moderadas desnaturam prontamente
penetram nos espaços
aquosos entre as esferas proteínas uma vez que elas tenham sido liberadas de uma célula. Por isso, a
maioria das preparações de extratos e purificações de proteínas é realizada a
/ '
/ 4°C. Os extratos celulares são preparados de várias maneiras. As células po·
dem ser lisadas por detergentes, quebradas por forças físicas, por tratamentos
com baixas concentrações iônicas de sais (que provocam aumento da pressão
osmótica interna; as células absorvem muita água e "estouram" facilmente)
ou por rápidas alterações na pressão. Em cada caso, o objetivo é enfraquecer
e romper as membranas que envolvem a célula, permitindo que as proteínas
Q 'I moléculas maiores não sejam liberadas. Em alguns casos, isso é realizado em temperaturas muito bai·
Q\'1 \f~ podem entrar nas esferas xas, pelo congelamento das células antes da aplicação de forças de fragmenta·
ção (muitas vezes utiliza-se um triturador ou liquidificador, semelhantes aos
~
utilizados na cozjnha).
-
-
r9
f:,. - ).. .J.. ..\ -
--
Após sua separação po r eletroforese,
as proteínas são transferidas para uma
membrana (novamente pelo uso de ca m-
- -- -- 1" -
....
-<
-- --
po elétrico) de maneira que mantêm a
mesma posição relativa ocupada no gel.
- ~~[
,J.W, Após o bloqueio não específico de sítios
fenil-isotiocianato
degradação de Edman
1 ~ o -N=C=S
! marcação
primeiro
ciclo o- 1 ~ ! marcação
! liberação H S H H O
1 11 I I 11 -fp
o- 1 &-®--@--®
o - N=C-N-C-C
I
~~c,
o
CH3
! marcação
segundo ! liberação
ciclo
0--&--®--@--®
PTH-alanina
peptídeo encurtado em um resíduo
! liberação 0
H2N ~~<
o-e ®--®-® o
PROTEÔMICA
Determinar os níveis globais de expressão gênica fornece uma visão rápida
da atividade de uma célula; entretanto, há níveis adicionais importantes de
regulação que não podem ser monitorados dessa maneira. De fato, o nível de
transcrição de um gene fornece apenas uma estimativa aproximada do nível
de expressão da proteína codificada. Se o mRNA for de curta duração ou tra-
duzido de maneira deficiente, então mesmo um mRNA abundante produzirá
relativamente pouca proteína. Além disso, muitas proteínas sofrem modifica-
ções pós-traducionais que afetam profundamente suas atividades, e o perfil
de transcrição não fornece dados em relação a este nível de regulação.
A disponibilidade de sequências genômicas completas, associada aos méto-
dos analíticos de separação e identificação de proteínas, abriu o caminho para a
proteômica. A proteômica trata da identificação do conjunto completo de pro-
teínas produzido por uma célula ou tecido em um conjunto particular de con-
dições (chamado de proteoma), suas abundâncias relativas, suas modificações
e suas interações com outras proteínas. Enquanto a análise de microarranjos
torna possível a visualização da transcrição gênica ou o conteúdo de DNA em
nível de um genoma completo, as ferramentas da proteômica objetivam captu-
rar uma figura similar no que diz respeito ao repertório completo de proteínas
de uma célula e suas modificações (p. ex., sítios de fosforilação) .
a LC-MS
coluna de cromatografia
líquida \
OOOCJ o •.•
mistura de o Oo oo • • espectrômetro
peptídeo~s::--t~ ~-;'>--'--i.• o o o •• • de massa
~ n o •• • • •
gotas liberando ~ 4t- 0 o o•:•.
íons peptídicos
435.77 I
~
617.28
"'5i 800 300
-8
"'
"'
600
200
617.78
"'
1il
'O
400 617.28
/ 100
li : 8.28
"'
c: 534.75 o
~ 200 615 620
FI G U RA 7 • 3 O Uso de cromatogra· 711.41
f ia líquida - MS/MS para analisar o o IL ..L d.. I. ]L
conteúdo de uma mistura proteica. 400 500 600 700 800 900
(a) Uma mistura de peptídeos é subme- m/z
t ida à cromatog rafia líquida seguida por
espectrometria de massa . (b) A medida c Fragmentos peptídicos comuns utilizados para determinação de sequência por MS/MS
que conj untos de peptídeos eluem da
.-·Yr .- ·Ys .-·Ys ;·Y• ;·Y3 .- ·Y2 .-·Y1
\2 i;..NHyoi:. ~
R· i:..Hyoi 0i JY~íons ye b de
coluna de cromatografia, eles são separa-
dos por massa e os resultados são apre-
oi;, ~,R \136 i HY
sentados de acordo com sua proporção
de massa/ca rga (m/z). Conjuntos sele-
cionados de peptídeos relacionados (as
H2N
Y. R1
,N ,
.H '
' :'
,
'
O':
'
N
,N
'H
R3 :'
;.
'
;..N ;,
,
'
O':
.
OH cada quebra
Rs :
,N
'H
'
.
,
'
:
O'
'
,N
'H
R 7 :· ~
'
. t
m erna
da coluna) e por cromatografia de fase reversa (os peptídeos são separados com
base em interações hidrofóbicas com o material da coluna). Este procedimento
separa a coleção inicial altamente complexa de peptídeos em várias misturas de
peptídeos de complexidade menor que podem ser distinguidas umas das outras
e sequenciadas mais facilmente. Cada subconjunto de peptídeos é submetido
!
produzir o extrato
.- -·
à espectrometria de massa em tandem (MS/MS, discutida anteriormente) para celular
sequenciar a maior quantidade possível de peptídeos da população. Por fim,
considerando-se a existência da sequência genômica completa do organismo QIJi~c;.
que está sendo pesquisado e as sequências peptídicas determinadas, ferramen-
tas de bioinformática permitem correlacionar cada peptídeo a uma determina-
da sequência codificadora de proteína (gene) no genoma.
Na prática, esse método detecta apenas um conjunto das proteínas de
·=-···
<\·--· digerir com protease
sequência-específica
uma mistura proteica complexa, como a derivada de uma célula inteira. Uma (p. ex., tripsina)
análise típica pode detectar aproximadamente 1.000 proteínas diferentes.
Ainda assim, métodos adicionais de fracionamento e a sensibilidade aumen-
tada da espectrometria de massa podem aumentar a performance desses perfis
proteicos no futuro . Embora a análise de LC-MS seja muito boa para identi-
ficar as proteínas que estão presentes em um extrato celular, atualmente é
mais difícil determinar a abundância relativa das proteínas por meio dessa
abordagem. Para resolver esse ponto fraco, novas tecnologias quantitativas
estão sendo desenvolvidas e têm sido utilizadas em alguns casos. coluna de troca
iônica
- ,
INTERAÇOES ACIDO NUCLEICO-PROTEINA
,
Agora a atenção é voltada para os vários métodos que podem ser utilizados para
detectar interações entre ácidos nucleicos e proteínas. Essas ínterações são essen-
ciais para a determinação da especificidade e da precisão dos eventos descritos
neste livro. Sejam eles transcrição, recombinação, replicação do DNA, reparo do
DNA, splicing do mRNA ou tradução, as proteínas que atuam nesses eventos pre-
cisam reconhecer estruturas ou sequências específicas de ácidos nucleicos para
assegurar que esses eventos ocorram no local e no momento corretos na célula.
Capítu lo 7 Té<:nicas de Biologia Molecular 183
* *
nativamente, pode-se introduzir mutações na sonda de DNA para avaliar seus
*' efeitos na ligação da proteína. Embora essas abordagens possam ser realizadas
* * * sem o conhecimento de potenciais sítios de ligação, na maioria dos casos, ex-
~ ..,..._o ~ perimentos prévios ou a conservação de certas sequências de DNA na sonda
*• de DNA ajudam a simplificar a escolha das sequências a serem testadas.
\- -I comprimento
dos
Proteínas ligadas ao DNA o protegem da ação
de nucleases e de modificações químicas
- - fragmentos
Como um sítio de ligação de uma proteína ao DNA, pode ser mais facilmen-
te identificado? Uma série de estratégias eficazes permite a identificação dos
sítios em que as proteínas se ligam sobre o DNA e dos grupos químicos do
DNA (meti!, amino ou fosfato) que interagem com a proteína. O princípio
básico desses métodos é o seguinte: se um fragmento de DNA for marcado
footprint com um átomo radioativo em uma extremidade de apenas uma fita, a lo-
calização de qualquer quebra nessa fita pode ser deduzida pelo tamanho do
fragmento marcado resultante. O tamanho, por sua vez, pode ser determina-
do por eletroforese desnaturante de alta resolução em gel de poliacrilamida
(semelhante aos géis utilizados para analisar os produtos do sequenciamento
de DNA) seguida por detecção dos fragmentos de ssDNA marcados. Por razões
que ficarão claras em seguida, esses métodos são geralmente chamados de
(Ootprlntlng de DNA.
A mais comum dessas abordagens é o footprlntfng com proteção
contra nuclease. Após a incubação do DNA com o DNA de extremidade
FIGURA 7 · 34 Footprinting com marcada, os complexos resultantes são brevemente expostos a uma nuclease
proteção contra nuclease. Os asteriscos
de DNA (geralmente a DNase I, que diva uma fita do dsDNA-alvo). Sítios de
representam as marcações radioativas nas
extremidades dos fragmentos de DNA, as
DNA ligados a proteínas estão protegidos da clivagem pela nuclease, criando
setas indica m os sít ios de d ivagem pela uma região de DNA sem sítios de clivagem (Fig. 7-34). O "footprinting" resul-
DNase e os círculos vermelhos represen- tan te é revelado pela ausência de bandas de tamanhos que correspondam
tam o repressor Lac ligado ao operador. ao sítio de ligação à proteína. O método de (ootprlntfng com proteção
À esquerda, as moléculas de DNA, d iva- química baseia-se na capacidade de uma proteína ligada a um sítio de liga-
das ao acaso pela DNase. estão separadas ção no DNA protegê-lo contra reagentes químicos base-específicos que (após
de acordo com seu tamanho, por eletro- uma reação adicional) originam quebras no esqueleto de DNA. Em ambos os
forese em gel. À direita, as moléculas de métodos, é importante que o n úmero de sítios de clivagem de nuclease ou de
DNA são inicialmente ligadas ao repressor modificações químicas seja titulado para ficar em torno de um por sonda de
e só então são submetidas ao trata mento
DNA. Isso ocorre porque apenas o sítio de clivagem que está mais próximo da
com DNAse. A proteção (footprint) está
indicada à di reita e corresponde ao con-
extremidade marcada do DNA será detectado após a eletroforese em gel e a
ju nto de fragmentos gerados, após a di- detecção do DNA marcado.
vagem pela DNase no DNA livre, mas não A alteração da ordem dos dois primeiros passos origina um terceiro mé-
no DNA ligado ao repressor. No segundo todo, o (Ootprlntlng com interferência química, que determina quais
caso, esses sítios estão inacessíveis, pois características da estrutura do DNA são necessárias para a ligação da proteína.
fazem parte da sequência do operador e, Antes da adição da proteína ao DNA, realiza-se uma média de uma alteração
portanto, estão cobertos pelo repressor. química por DNA. O DNA modificado é incubado com a proteína de ligação
Capítulo 7 Té<:nicas de Biologia Molecu lar 185
proteínas intMigadas a
fragmentos de DNA
fi @, ) (I )
(C)1
i
11 )
anticorpoA,
li (~ ) (! 1T-. )
(I
! imunoprecipitar
complexo ONA-proteína
(! ~ )
proteínas removidas
n[(r=::==~J
FI GURA 7 -3 5 lmunoprecipitação da cromatina (ChiP).
digestão (2)
immuno-
precipitar
reverter a fixação
e purificar
relacionadas à 3C, pesquisadores determinaram que vários reforçadores, dis- biblioteca combinatória
tribuídos em um intervalo de 800 kb, interagem com o promotor de Hoxd13. de DNA
ligação à proteína!
A seleção in vitro pode ser utilizada para identificar
um sítio de ligação de proteína no DNA ou no RNA PCR
À medida que mais proteínas de ligação ao DNA são identificadas e com-
preendidas, os motivos de aminoácidos associados à ligação em sequências Ensaio de
DNA
específicas do DNA tornam-se relativamente fáceis de identificar (p. ex., mo- alteração
- -+ ligado
tivos de hélice-volta-hélice; ver Cap. 6). Apesar desses achados, o conheci- de mobilidade
eletroforética
mento acerca destes domínios proteicos de ligação a ácidos nucleicos não
evoluiu ao ponto de a sequência primária de aminoácidos de uma proteína
ser suficiente para revelar a sequência de DNA à qual ela se liga. Ainda assim,
essa informação é muito importante para identificar regiões potencialmente
reguladoras que podem ser alvo de análises subsequentes.
--
DNA
Como é possível identificar a sequência de DNA reconhecida por uma não ligado
determinada proteína? Uma abordagem poderosa, ch amada de seleçã o I n
vitro ou SELEX (Systematic Evolution of Ligands by Exponential Enrichment), FIGURA 7 - 37 Esquema da seleção
envolve o uso da especificidade de sequência da proteína para triar uma bi- in vitro. Uma biblioteca combinatória de
blioteca diversa de oligonucleotídeos. Ao caracterizar o DNA enriquecido, as DNA, na qual as 1O a 12 bases centrais
sequências que se ligam fortemente à proteína podem ser identificadas. são randomizadas. é ligada à proteína
A primeira etapa desse método é a produção de uma grande biblioteca de interesse. O DNA ligado à proteína é
sepa rado do DNA não ligado usando um
de oligonucleotídeos de ssDNA usando a síntese química de DNA (que foi
EMSA. O DNA ligado é eluído do gel e
descrita na primeira parte deste capítulo). É importante observar que as 10 a submetido à PCR com iniciadores direcio-
12 bases centrais desses oligonucleotídeos são randomizadas (pela adição de nados contra as regiões constantes que
uma mistura de todos os quatro precursores de nucleotídeo a estas etapas da flanqueiam as regiões randomizadas do
síntese de oligonucleotídeos). A região randomizada de cada nucleotídeo é DNA. Estas seq uências são submetidas
flanqueada em ambos os lados por sequências definidas. Após a síntese da bi- a mais dois a cinco ciclos de ligação e
blioteca de oligonucleotídeos, um iniciador curto é anelado à extremidade 3 ' en riquecimento para identificar a maior
definida dos oligonucleotídeos e estendido para converter a biblioteca de ssD- afinidade.
NA randomizado em uma biblioteca de dsDNA randomizado.
O enriquecimento em oligonucleotídeos que se ligam à proteína de inte-
resse pode ser realizado pelo uso de métodos semelh antes aos já discutidos.
Após a incubação da proteína com a biblioteca de oligonucleotídeos, a reação
inteira pode ser separada em um EMSA. O DNA no complexo de migração alte-
rada estará altamente enriquecido para sequências de DNA que se ligam forte-
mente à proteína. Alternativamente, se um anticorpo que reconhece a proteína
de interesse estiver disponível, uma imunoprecipitação semelh ante ao ensaio RB69 RegA logotipo SELEX
de Ch!P pode ser utilizada para separar proteína e DNA ligado de DNA não 11 sítios; Rs = 19,37 +1- 0,68 bits
ligado. Independentemente do mecanismo de enriquecimento, a PCR é, então,
utilizada para amplificar o DNA ligado (usando oligonucleotídeos curtos que
h ibridizam às regiões terminais não randomizadas da biblioteca de dsDNA).
Esta etapa de amplificação é necessária porque apenas uma pequena porcenta-
gem dos oligonucleotídeos iniciais se ligará à proteína. A repetição das etapas -..
:õ
de enriquecimento e amplificação enriquecerá ainda mais para sequências que
estão mais fortemente ligadas à proteína de interesse (Fig. 7-37). Em geral, são
realizadas de três a cinco rodadas de enriquecimento para identificar sequên-
cias de DNA que estão mais fortemen te associadas à proteína de interesse.
A especificidade da proteína pela sequência de DNA pode ser determi- FIGURA 7 - 38 Logotipo desequên-
nada pelo sequenciamento de um conjunto dos DNAs enriquecidos. Geral- cía SELEX. A seleção in vitro foi utilizada
men te, apenas um conjunto de sequên cias de uma região randomizada será pa ra isolar RNAs que se ligam à proteína
conservado, porque a maioria das proteín as de ligação ao DNA não reconh ece repressora da transcrição RB69 RegA.
A imagem mostra o logotipo de sequên-
mais do que seis ou sete nucleotídeos. A análise computacional geralmente
cias selecionadas. A altu ra da letra é pro-
é utilizada para auxiliar na identificação das sequências mais conservadas. porcional à frequência de cada base na
A sequência final de bases pode ser representada por um logotipo de sequên- posição. com a base de maior frequência
cia, n o qual o tamanho dos caracteres G, A, T ou C representa a frequência da no topo. (Reproduzida, com permissão, de
ocorrência de cada nucleotídeo na biblioteca de oligonucleotídeos enriqueci- Dean T.R. et ai. 2005. Virology 336:26-36,
dos (Fig. 7-38). Fig. 4a. © Elsevier.)
190 Parte 2 Estrutura e Estudo de Macromoléculas
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QUESTOES
-
Para respostas de questões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. 94..C => 94..C => ss~c => 72..C => 72 ..C => 4•c
10 m in 30 s 30s 1:30s 10 min
"
Questão 1. Como o DNA migra através de um gel quando (X 25 ciclos)
um campo elétrico é aplicado para eletroforese? Explique sua
resposta e como o DNA é visualizado após a eletroforese. A. Por que a primeira etapa é realizada a 94•c?
Questão 2. A endonuclease de restrição, Xhol, reconhece a B. O que acontece na reação quando a temperatura é altera-
sequênda S' -CTCGAG-3' e diva entre C e Tem cada uma das da para ss·c durante a ciclagem?
fitas. C. Durante a ciclagem, o que ocorre quando a temperatura
A. Qual é a frequência calculada da ocorrência dessa sequên- está em n•c?
da em um genoma?
Quest ão 8. Descreva a base para a separação de proteínas
B. A endonuclease de restrição, Sall, reconhece a sequência por cromatografias de troca iônica, de gel filtração e coluna
S' -GTCGAC-3' e diva entre G e Tem cada uma das fitas. de afinidade.
Você acha que as extremidades coesivas geradas após a di-
vagem por Xhol e Sall poderiam ligar-se umas às outras? Questão 9. Explique o motivo para a adição de SDS a amos-
Explique sua resposta. tras de proteínas para eletroforese em gel de poliacrilamida.
Quest ã o 3. Descreva resumidamente dois métodos para a Questão 10. Três ensaios para testar as interações entre pro-
marcação de uma sonda de DNA. teínas e DNA são o ensaio de alteração de mobilidade eletrofo-
rética (EMSA), o footprinting de DNA e a imunoprecipitação de
Quest ão 4 . Compare e trace um paralelo entre Southem blot cromatina (ChiP).
e northern blot.
A. Em um ensaio de footprinting de DNA, explique por que
Questão S. Vetores de clonagem plasmidiais são especial- apenas uma das fitas do DNA pode ser marcada em sua
mente projetados para conter várias características que são extremidade para que o experimento funcione.
úteis para clonagem e expressão. Em uma ou duas frases, des- B. Seguindo a etapa de imunoprecipitação em uma imuno-
creva o papel de cada uma das seguintes características: origem precipitação de cromatina (ChiP), explique como iden-
de replicação, sítios de reconhecimento de enzimas de restri- tificar as sequêndas de DNA que permanecem ligadas à
ção, marca de seleção e promotor. proteína de interesse.
Questão 6. Explique como uma biblioteca de DNA genô- Questão 11. Você decide realizar o sequenciamento dide-
mico difere de uma biblioteca de cDNA. Qual é a vantagem de soxi em um produto de PCR. Você adiciona o inidador ade-
utilizar uma biblioteca de cDNA? quado, marcado com 32P, Dl\A-polimerase, molde de DNA
(o produto para a PCR), tampão, mistura de dNTPs e uma pe-
Questão 7. Os períodos de tempo e as temperaturas a se- quena quantidade de um dos quatro ddNTPs a quatro tubos
guir são um exemplo das etapas da PCR. Você pode usar a de reação. Você corre as reações no termociclador, aplica cada
Figura 7-12 para a judá-lo a responder as seguintes questões: reação em uma canaleta separada de gel de poliacrilamida e se-
Capítulo 7 Técnicas de Biologia Molecular 191
para os produtos por eletroforese em gel. Na figura a seguir, as northem blot usando uma sonda de DNA marcada especifica-
canaletas estão marcadas de acordo com o ddNTP adicionado. mente para o mRNA do Gene Z, um gene necessário para o
desenvolvimento. Os resultados estão apresentados a seguir:
ddATP ddTTP ddCTP ddGTP C O
o Norlhem blot Adulto Westem blot Adulto
embrião (macho) embrião (macho)
-
- - - -
- -
(f)
canaleta 1 2 3 4 5 6
A noma de uma geração celular para outra. Nos Capítulos 8 a 12, vamos
examinar o seguinte:
• Como as grandes moléculas de DNA, que compõem os cromossomos de
organismos eucariotos, são compactadas no núcleo?
• Como o DNA é totalmente replicado durante o ciclo celular, e como isso
é realizado com alta fidelidade?
• Como o DNA é protegido de danos espontâneos e ambientais, e como
uma lesão, uma vez estabelecida, é revertida?
• Como as sequências de DNA são trocadas entre os cromossomos em pro-
cessos conhecidos como recombinação e transposição, e quais são os pa-
péis biológicos desses processos?
Ao responder essas questões, será visto que a molécula de DNA está sujeita
tanto a processos conservativos, que atuam para mantê-la inalterada de ge-
ração a geração, como a outros processos que geram alterações profundas no
material genético, ajudando a guiar a diversidade e a evolução dos organismos.
Inicia-se, no Capítulo 8, pela descrição de como as grandes moléculas de
DNA que compõem os cromossomos variam em sua organização e tamanho
entre diferentes organismos. O grande comprimento do DNA cromossômico
requer que ele seja empacotado em um formato mais compacto para se aco-
modar dentro da célula. A forma compactada do DNA é chamada cromatina.
Ser compactado dessa maneira reduz o comprimento dos cromossomos, mas
ao mesmo tempo altera a acessibilidade e o comportamento do DNA. Além
disso, a cromatina pode ser modificada para aumentar ou diminuir o aces-
so ao DNA. Essas alterações contribuem para assegurar que o DNA replique,
recombine e seja transcrito no momento exato e no local correto. O Capí-
tulo 8 introduz os componentes histônicos e não histônicos da cromatina,
a estrutura da cromatina e as enzimas que ajustam a acessibilidade do DNA
cromossômico.
A estrutura do DNA sugeriu um mecanismo de como o material genético
é duplicado. O Capítulo 9 descreve esse mecanismo de duplicação de maneira
detalhada. São descritas as enzimas que sintetizam o DNA e as maquinarias
moleculares complexas que permitem a replicação simultânea de ambas as
fitas do DNA. Discute-se, também, como o processo de replicação do DNA é
iniciado, e como esse evento é cuidadosamente regulado pelas células para
garantir que o número cromossômico correto seja mantido.
No entanto, o mecanismo de replicação não é infalível. Cada ciclo de re-
plicação insere erros que, se não forem corrigidos, resultarão em mutações nas
moléculas-filhas de DNA. Além disso, o DNA é uma molécula frágil que sofre
lesões espontâneas ou provocadas por produtos químicos e radiação. Essas le-
sões devem ser detectadas e corrigidas, a fim de evitar o rápido acúmulo de
uma carga inaceitável de mutações. O Capítulo 10 é dedicado aos mecanismos
que detectam e corrigem as lesões no DNA. Os organismos, desde as bactérias
até os seres humanos, possuem mecanismos semelhantes e, com frequência,
altamente conservados, para preservar a integridade de seu DNA. As falhas
nesses sistemas resultam em consequências catastróficas, como o câncer.
Os dois capítulos finais da Parte 3 revelam um aspecto complementar do
metabolismo do DNA. Ao contrário dos processos conservativos de replicação
e reparo, que preservam o material genético com alterações mínimas, os pro-
cessos considerados nesses capítulos provocam novos rearranjos nas sequên-
cias de DNA. O Capítulo 11 dedica-se à recombinação homóloga - processo
de quebra e religação pelo qual cromossomos bastante semelhantes (homó-
logos) trocam segmentos equivalentes de DNA. A recombinação homóloga,
que permite a geração de diversidade genética e a substituição de sequências
perdidas ou defeituosas, é um dos principais mecanismos de reparo de mo-
léculas de DNA rompidas. São descritos modelos de processos de recombina-
ção homóloga, bem como o fascinante conjunto de motores moleculares que
Parte 3 Manutenção do Genoma 195
Reiji Okazaki, 1968 Simpósio sobre Paul Modrich, 1993 Simpósio sobre
replicação do DNA em microrganis- DNA e cromossomos. Um pioneiro
mos. Okazaki havia, nessa época, de- na área de reparo do DNA (Cap. 10),
monstrado como uma das novas fitas Modrich <?Stabeleceu muitos dos me-
durante a replicação do DNA era sinte- canismos básicos de reparo de maus
tizada em fragmentos curtos, os quais pareamentos.
eram unidos mais tarde . A existência
desses "fragmentos de Okazaki" expli-
cou como uma enzima que sintetiza
DNA em apenas uma direção era capaz
de sintetizar duas fitas de polaridades
opostas ao mesmo tempo (Cap. 9) .
196 Parte 3 Manutenção do Genoma
Arthur Kornberg, 1978 Simpósio sobre o Matthew Meselson, 1968 Simpósio sobre replicação do
DNA: replicação e recombinação. As imensas DNA em microrganismos. Meselson foi parceiro de Stahl
contribuições de Kornberg para o estudo da no experimento que mostrou que a replicação do DNA é
repl icação do DNA (Cap. 9) começaram co m a semiconservativa (ver fotografia na próxima página, e o
purificação da primeira enzima capaz de sinte· Cap. 2). Posteriormente, Meselson fez grandes contribu i·
t izar DNA, uma DNA· polimerase de E. co/i. Seus ções em diferentes áreas, incluindo a purificação da pri·
experimentos demonstraram que um molde de meira enzima de restrição, publ icada no ano em que esta
DNA era necessário para a síntese de um novo foto foi tirada. Além disso, ele é muito conhecido por seu
DNA, confi rmando o modelo para a replicação trabalho voltado para a prevenção da produção e do uso de
d o DNA proposto por James Watson e Francis armas químicas e biológicas.
Crick. Por esse t rabalho, Kornberg d ividiu com
Severo Ochoa o Prêmio Nobel de Fisiologia ou
Medicina de 1959.
Parte 3 Manutenção do Genoma 197
)
I
Estrutura do
Genoma, Cromatina
e Nucleossomo
o CAPÍTULO 4, A ESTRUTURA DO DNA foi considerada isoladamente. Den-
SEQUÊNCIA DO GENOMA E
DIVERSIDADE CROMOSSÔMICA
Antes de discutir a estrutura dos cromossomos de maneira detalhada, é im-
portante entender as características das moléculas de DNA, que constituem o
alicerce dos cromossomos. O sequenciamento recente dos genomas de milha-
res de organismos forneceu uma imensa quantidade de informações sobre a
constituição dos DNAs cromossômicos e sobre como suas características fo-
ram modificadas, à medida que a complexidade dos organismos aumentou.
célula haploide
xidade aparen te do organ ismo. Assim, em geral, células procarióticas têm ge-
n omas menores do que 10Mb. Os genomas de eucariotos unicelulares são,
n ormalmente, men ores que 50 Mb, embora os protozoários mais complexos
possam apresentar genomas maiores que 200 Mb. Os organismos multice-
lulares apresen tam genomas ainda maiores, que podem alcan çar tamanh os
superiores a 100.000 Mb.
Embora exista uma correlação relativa en tre o tamanho do genoma e a
complexidade do organismo, ela está longe de ser perfeita. Vários organ is-
mos de complexidades aparentemen te semelhantes possuem gen omas com
tamanhos muito diferen tes: uma mosca-da-fruta tem um genoma aproxima-
damente 25 vezes menor que o de um gafanhoto, e o gen oma do arroz é
cerca de 40 vezes men or que o genoma do trigo (ver Tab. 8-2). Esses exemplos
destacam que o número de genes, em vez do tamanho dos genomas, está
mais correlacion ado à complexidade do organismo. Isso fica claro quando a
densidade gênica relativa de diferentes gen omas é analisada.
transcrito
~ transcrito primário é, então, processado
(por splicing) para remover os íntrons não
1 2 3
primário
deRNA
s·lllill-======- -=======-• 3· codificadores e gerar um RNA mensageiro
(mRNA).
sequências
fragmentos
relacionadas r- de genes
1.152 Mb
genes e sequências
gênicas relacionadas f- Jpseudogenes
1.200Mb
genes
48Mb
RNAs é considerada no Cap. 20). Como essas sequências ainda estão sendo
descritas e caracterizadas, não foram incluídas na Tabela 8-2; entretanto,
estima-se que as células humanas podem ter mais de 500 genes de miRNAs.
Da mesma maneira, milhares de RNAs não codificadores intervenientes lon-
gos (lincRNAs) também foram identificados. Embora esses RNAs não codi-
fiquem nenhuma proteína de tamanho significativo, estudos recentes suge-
rem que eles atuam na regulação da expressão gênica tanto positiva quanto
negativamente, de uma maneira que ainda requer estudos. Outra função
provavelmente codificada nas regiões intergênicas únicas são as origens de
replicação, que ainda precisam ser identificadas na maioria dos organismos
eucarióticos.
telômero
origem de
replicação
membrana -
nuclear
centnômero
a um centrômero
)-
um cromossomo para cada célula
b ausência de centrômero
" -
'
-
a--
·- ....
·-
-' ' --- --·
-
/ -
segregação aleatória dos cromossomos
c dois centrômeros
I
-
-
quebra cromossômica
(devida a mais de um centrômero)
d Ser humano
H : lt
'
) )
240 kb a vários Mb
tides, estas são rapidamente puxadas em direção aos polos opostos do fuso
mitótico. Assim, a coesão entre as cromátides-irmãs e a ligação dos cinetoco-
ros das cromátides-irmãs aos polos opostos do fuso mitótico desempenham
papéis opostos, que devem ser cuidadosamente coordenados para que a segre-
gação cromossômica ocorra de maneira apropriada.
eventos-chave na fase S
-
R
FIGURA 8·11 Eventos da f ase S. início da
replicação mais ~
Dois eventos cromossômicos principais
ocorrem durante a fase S. A replicação do
doONA replicação -
DNA copia completamente cada cromos-
da coesão -
somo, e logo após a replicação, a coesão
ent re as cromátides-irm ãs é estabel ecida
por moléculas de coesina em forma de
R
anel. Acredita-se que elas circundem am-
bas as cópias do DNA recém-replicado.
Cada "tubo" azul ou vermelho represen-
ta uma molécula de DNA de fita simples,
sendo o DNA vermelho a cópia recém-
~
1
cromátides·
-sintetizada. -irmãs
Capítulo 8 Estrutu ra do Genoma, Cromatina e Nucleossomo 213
microtúbulos
proteólise da coesina
centro
organizador
de microtúbulos
FIGURA 8-12 Eventos da mitose (fase M). Três eventos principais ocorrem durante a
mitose. Primeiro. os dois cinetocoros de cada par de cromátides-irmãs unidas ligam-se a polos
opostos do fuso mitótico. Uma vez que todos os cinetocoros esteja m ligados a polos opostos, a
coesão das cromátides-irmãs é eliminada pela destruição do anel de coesina. Por fim, após a eli-
minação da coesão, as cromátides-irmãs são segregadas pa ra polos opostos do fuso mitótico.
interfase fase M
replicação do ONA
coesina )
prófase
<=::)o
condensina
meláfase
divagem ~
da
coesina f)
FIGURA 8·14 Model o para a es·
trutura e a fu nção de coesinas e
condensinas. Coesinas e condensinas
são complexos proteicos em formato de
anel que incluem duas proteínas SMC que
possuem pa pel importante na aproxima-
ção de regiões d istantes ou diferentes
de DNA. A estrutura em formato de anel
proposta para essas proteínas perm itiria
uma ligação flexível, porém, forte, entre
duas regiões de DNA. Nesta ilustração, as
proteínas SMC são mostradas em verde
anáfase
(coesina) ou azul (condensina) . (Adap-
tada, com perm issão, de Haering C.H .
et ai. 2002 . Moi. Ce// 9: 773-788, Fig. 8,
p. 785. © Elsevier.)
216 Parte 3 Manutenção do Genoma
lnterfase
replicação dos
cromossomos descondensados
·~- membrana nudear
metAfase
anAfa se
a
interfase fase M
·-'.
'
'
'' '
-- -- --
''
'' -- '--
'
'' '-- ---
'
''
'
--'
''
'
''
'
'' --
''
''
-----'
... ....
fibra de 30 nm
fibra de 10 nm
NUCLEOSSOMO
Os nucleossomos são os blocos
construtores dos cromossomos
A maioria do DNA nas células eucarióticas está empacotada em nucleosso-
mos. Cada nucleossomo é composto por um núcleo de oito proteínas histô-
nicas com DNA enrolado em torno desse núcleo. O DNA entre cada nucleos-
somo (imagem de "cordão" do "colar de contas" na Fig. 8-17b) é chamado
DNA de ligação. O DNA organizado em nucleossomos é compactado apro-
ximadamente seis vezes. Esse fator está bem longe das 1.000 a 10.000 vezes de
compactação do DNA observada nas células eucarióticas. Mesmo assim, esse
primeiro estágio de empacotamento do DNA é essencial para todos os níveis
subsequentes de compactação do DNA.
O DNA mais fortemente associado ao nucleossomo, o DNA nucleos-
somal, circunda a parte externa do núcleo octamérico de histonas apro-
ximadamente 1,65 vez, como um fio ao redor de um carretel (Fig. 8-18).
O comprimento do DNA associado a cada nucleossomo pode ser determinado
utilizando-se o ttatamento com nuclease (Quadro 8-1, A nuclease de micro-
cocos e o DNA associado ao nucleossomo). Os aproximadamente 147 pb de
comprimento desse DNA é uma característica invariável dos nucleossomos em
todas as células eucarióticas. Em contrapartida, o comprimento do DNA de
Capítulo 8 Est rutu ra do Genoma, Cromatina e Nucleossomo 221
ONA nudeossomal
(147 pb}
a
cauda N-terminal domínio de dobra da histona
H4 H3 H28
N
c
c
N
N
N
N
tetrãmero de H3•H4 dimero de H2A•H28
N
DNA
c.J. c.J.
• ' ' • •
saída '' entrada entrada : saída entrada saída
'' ''
'
' '
12
'
9 3 3 9
6 6 6
a b
FI GURA 8·23 Interações entre histonas e DNA nucleossomal. (a) H3·H4 liga-se no
centro e nas extremidades do DNA. (b) H2A·H2B liga-se a 30 pb de DNA em um dos lados do
nucleossomo (em cor de la ranja). (Luger K. et ai. 1997. Nature 389: 251-260.) Imagens feitas
com MoiScript, BobScript e Raster 3D.
226 Parte 3 Manutenção do Genoma
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
800 -
-
-
400
-
-
partícula central
único fragmento de aproximadamente 147 pb. do nucfeossomo
liberada
a H4
H2B
H4
Heterocromatina e eucromatina
Desde as primeiras observações dos cromossomos no microscópio óptico, fi-
cou claro que eles não eram estruturas uniformes. Estudos iniciais dos cro-
mossomos dividiram as regiões cromossômicas em duas categorias: eucro-
matina e heterocromatina. A heterocromatina era caracterizada pela
densa coloração com uma variedade de corantes e uma aparência mais con-
densada, enquanto a eucromatina tinha as características opostas, com fraca
coloração e estrutura relativamente mais aberta. À medida que o conheci-
mento molecular sobre os genes e sua expressão avançou, ficou claro que as
regiões heterocromáticas dos cromossomos apresentavam expressão gênica
muito limitada. Ao contrário, as regiões eucromáticas possuíam altos níveis
de expressão gênica, sugerindo que essas diferentes estruturas estavam conec-
tadas aos níveis globais de expressão gênica.
Regiões heterocromáticas apresentam pouca expressão gênica, mas isso
não significa que essas regiões não sejam importantes. Como será visto na
discussão sobre expressão gênica, manter um gene desativado pode ser tão
importante quanto ativar um gene. Além disso, a heterocromatina frequente-
mente está associada com regiões específicas do cromossomo, especialmente
com os telômeros e com os centrômeros, sendo importante para o funciona-
mento destes dois elementos cromossômicos essenciais.
Ao longo dos anos, os pesquisadores adquiriram um conhecimento mole-
cular mais completo sobre as estruturas da heterocromatina e da eucromatina.
Está claro que o DNA em ambos os tipos de cromatina está empacotado em nu-
cleossomos. A diferença entre a estrutura da heterocromatina e a estrutura da
eucromatina é como os nucleossomos nessas diferentes regiões cromossômicas
são (ou não são) organizados em estruturas maiores. Ficou claro que as regiões
heterocromáticas são compostas por DNA nucleossomal organizado em estru-
turas de ordem maior que resultam em uma barreira à expressão gênica. Em
contrapartida, os nucleossomos eucromáticos são encontrados em montagens
230 Parte 3 Manutenção do Genoma
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
~~
toroide para a esquerda do DNA em torno do nucleossomo torção toroide _ _
levógira
l ] nucleossomos montados
d iminui o número de ligação do DNA associado. Por essa ra- ,. reduzem o número de
1
zão, os nucleossomos são preferencialmente formados com ) ligação do DNA ligado
DNA que apresenta densidade super-helicoidal negativa. Em ~ I
contrapartida, a montagem de nucleossomos no DNA que
possui densidade super-helicoidal positiva é muito dificil.
A montagem de vários nucleossomos no DNA circular ONA não ligado aumenta
torção pfectonémica o número de ligação para
covalentemente fechado (cccDNA) necessita da presença de
levógira manter o número de ligação
uma topoisomerase para acomodar alterações no número de global inalterado
ligação do DNA ligado às histo nas (ver Quadro 8-2, Fig. 1).
Sem a presença de uma topoisomerase, para cada nucleos-
somo formado com o cccDNA, o DNA não ligado (não as-
sociado aos nucleossomos) teria de acomodar um aumento
equivalente no número de ligação (deve-se ter em mente que adicionar topoisomerase, adicionar topoisomerase,
prevenir nova montagem permitir montagem adicional
o número de ligação geral de um cccDNA é fixo na ausência de nucleossomo de nucleossomo
de uma topoisomerase). Portanto, o DNA não ligado acumu-
laria um número de ligação aumentado e uma densidade
~JJ~'
super-helicoidal positiva . Quanto mais positivamente super-
torcido for o DNA não ligado, mais dificil será a montagem
de nucleossomos adicionais nesse DNA. b
A adição de uma topoisomerase facilita muito a associa- i ~
ção do nucleossomo com o cccDNA. Quando uma topoiso- r DNA não ligado )
merase está presente durante a montagem do nucleossomo,
I relaxado
pela redução do
ela não consegue agir sobre o DNA ligado ao nucleossomo. I número de ligação /
Em vez d isso, a topoisomerase relaxa o DNA não incluido \ pela h
topoisomerase
nos nucleossomos, reduzindo a densidade super-helicoidal
positiva nestas regiões pela diminuição do número de liga-
ção. Mantendo o DNA não ligado em um estado relaxado, d
!
as topoisomerases facilitam a ligação das histonas ao DNA J adicionar detergente
e a formação de nucleossomos adicionais. É importante ob- t(inativa topoisomerase e remove histonas)
Quadro 8 • 2 (Continuação)
servar que o efeito global no plasmídeo é a diminuição do ligação. Mas isso não é verdadeiro para os grandes cromos-
número de ligação à medida que mais nucleossomos são somos lineares das células eucarióticas . Primeiro, o grande
montados. tamanho desses cromossomos não permite uma rotação rá-
A diminuição do número de ligação causada pela topoi- pida o suficiente para dissipar facilmente alterações na super-
somerase durante a montagem de nucleossomos pode ser ·helicoidização do DNA. Mais importante do que isso, como
usada como um ensaio para este evento. O ensaio t ira van- será discutido posteriormente, o cromossomo não é uma
tagem da habilidade da eletroforese em gel para distinguir simples fita linear de DNA. Cada DNA cromossômico é dobra-
entre moléculas de cccDNA relaxadas e supertorcidas (ver do em uma estrutura mais compacta composta por grandes
Cap. 4, Fig. 4-27). O primeiro passo é montar os nucleos- alças que são amarradas a uma estrutura proteica chamada
somos em um cccDNA na presença de uma topoisomerase. de arcabouço nuclear. Essas ligações servem para isolar to-
Em momentos apropriados, um detergente forte (p. ex., SDS pologicamente uma alça da outra e prevenir a rotação livre
[dodecil sulfato de sódio)) é adicionado à reação de monta- do DNA cromossômico.
gem, inativando rapidamente a topoisomerase e removendo
as histonas do DNA. O DNA resultante é, então, separado por
eletroforese em gel para determinar a natureza supertorcida
do DNA. Como o detergente inativa a topoisomerase ao mes-
mo tempo em que remove as histonas do DNA, o número
de ligação do DNA organizado nos nucleossomos é preser-
vado. Em média, a topoisomerase diminui o número de liga-
ção em -1 ,2 para cada nucleossomo montado no cccDNA. tempo de c c
Portanto, quanto mais nucleossomos forem montados no montagem do ·e
c
e
o
e
o
cccDNA, mais negativamente supertorcido será o cccDNA nucleossomo o
"'
~
(Quadro 8-2, Fig. 1c,d). Isso pode ser faci lmente observado
pela migração mais rápida do DNA supertorcido durante a - DNA circular clivado
eletroforese em gel (Quadro 8-2, Fig. 2).
Como o DNA nucleossomal se enrola em torno da
histona 1,65 vez, a formação de um único nucleossomo cccDNA relaxado
usando plasmídeo circular covalentemente fechado cria-
ria uma torção de -1 ,65 e, assim, alteraria o número de
ligação em quantidade equivalente. Como supradescrito,
quando a alteração do número de ligação associado a cada
nucleossomo foi medida, o número foi menor: cerca de
-1,2 para cada nucleossomo adicionado. Esta discrepância
é chamada de "paradoxo do número de ligação nucleos-
somal", e a solução para este enigma foi revelada quando
a estrutura de cristal de alta resolução do nucleossomo foi
- cccDNA supertorcido
resolvida. A análise cuidadosa do DNA associado ao núcleo
de histonas mostrou que o número de bases por volta ha-
via sido reduzido em comparação ao DNA nu (de 10,5 para
10,2 pb/volta). A redução no número de pares de bases
por volta resulta em aumento no número de ligação para %deDNA <1 55 95 99
oDNA. Considere-se o exemplo de um cccDNA de 10.500 supertorcido
pb descrito no Capítulo 4. O DNA B normal terá 10,5 pb/Vol-
ta, resultando em um número de ligação de + 1.000 para o QUADRO 8·2 FIGURA 2 Exemplo de um ensaio de
plasmídeo (10.500/1 0,5). Em contrapartida, o mesmo DNA montagem de nucleossomo que mede a d im inuição as·
com um valor de 10,2 pb/volta terá um número de ligação sociada do número de ligação. A montagem do nucleos-
de aproximadamente +1.029 (10.500/10,2). Portanto, ao somo foi realizada em um cccDNA relaxado na presença de
diminuir o número de pares de bases por volta da hélice, uma topoisomerase. Antes do início da montagem (0 min),
a ligação ao octâmero de histonas causa um leve aumento ou em vários momentos durante a reação de montagem do
no número de ligação ao longo do comprimento do DNA nucleossomo, adicionou-se detergente e o DNA foi separado
ligado ao nucleossomo. Essa alteração reduz a mudança em um gel de agarose não desnaturante, sendo visualizado
do número de ligação por nucleossomo montado de -1,65 por coloração com brometo de etídeo. Embora um gel de
para -1,2. A diferença de aproximadamente +0,4 por nu- agarose não permita distinguir entre moléculas de cccDNA
cleossomo pode ser calcu lada usando a diferença no núme- positiva ou negativamente supertorcidas, a habilidade dos
ro de pares de bases por volta e o comprimento do DNA intercalantes de DNA em aumentar o número de ligação e
associado a um nucleossomo. direcionar o DNA em direção ao topo do gel (e conferir um
Essas questões são relevantes para os cromossomos li- estado mais relaxado) pode ser usada para mostrar que se
neares eucarióticos? Para fragmentos lineares curtos, a super- tratam de cccDNAs negativamente supertorcidos (não mos-
·helicoidização não é relevante porque as extremidades do trados). (Reproduzida, com permissão, de lto T. et ai. 1997.
DNA podem rodar para acomodar alterações no número de Ce/190: 145-155, Fig. 2c. ©. Elsevier.)
232 Parte 3 Manutenção do Genoma
a solenoide
a r-----------------------,
.. FIGURA 8·32 Estrutura de ordem su peri or da cromatina. (a) Uma microg rafia
eletrônica de transmissão mostra a cromatina emergindo da estrutura cent ral do crom os-
• somo. As regiões eletrodensas correspondem ao arcabouço nuclear, que serve para orga-
nizar as enorm es quant idades de DNA encontradas nos cro mossomos eucarióticos. (b) Um
modelo pa ra a estrut ura de um cromossomo euca riótico pro põe que a m aior parte do DNA
esteja empacotada em gra ndes alças de f ibras de 30 nm conectadas pela base ao arcabou-
ço nuclea r. Os sítios de manipulação de DNA ativa (p. ex., sít ios de transcrição ou replicação
do DNA) apresentam-se como f ibras de 10 nm ou como DNA livre (ta mbém referido como
" DNA nu"). (a, Cortesia de J.R. Paulson e U.K. l aemmli.)
b fibra de cromatina
fibra de 10 nm
l
DNA livre
deslizamento
sitio de
ligação à
proteína
ejeçào
dímeros
É importante observar que esta abordagem não exige que todas as interações
entre o octãmero de histonas e o DNA nucleossomal sejam quebradas simul-
taneamente. Em vez disso, um movimento semelhante ao de uma lagarta
do DNA sobre a superfície do octãmero de histonas permite que a maioria
das interações entre o DNA e as histonas seja mantida ao longo do processo
de remodelamento. Deve-se ter em mente que diferentes sequências de DNA
interagem com o octãmero de histonas com afinidades mais ou menos iguais.
Portanto, uma molécula de DNA que está deslizando através do octãmero de
histonas pode ser vista como ligada ao octãmero em vários diferentes estados
energéticos equivalentes e o complexo remodelador do nucleossomo permite
que o DNA acesse esses diferentes estados mais facilmente.
Existem diversos tipos de complexos remodeladores de nucleossomos em
uma determinada célula (Tab. 8-6). Eles podem ter de duas até mais de 10 sub-
unidades. Cada um desses complexos contém uma subunidade hidrolisadora
de ATP que catalisa o movimento do DNA descrito anteriormente e na Figu-
ra 8-36. Embora a subunidade hidrolisadora de ATP seja semelhante dentre os
diferentes complexos remodeladores do nucleossomo, as outras subunidades
associadas a cada complexo modulam suas funções. Por exemplo, esses com-
plexos podem incluir subunidades que os direcionem a sítios cromossômicos
específicos. Em alguns casos, esse direcionamento é mediado por interações
entre as subunidades do complexo de remodelamento e fatores de transcrição
ligados ao DNA. Em outros casos, os complexos remodeladores do nucleos-
somo são localizados pelas subunidades que se ligam a modificações especí-
ficas das caudas de histonas (via cromodomínios ou bromodomínios, como
será discutido adiante).
Capítulo 8 Estrutura do Genoma, Cromatina e Nucleossomo 239
~
();
o DNA da regUlo
de ligaçllo é puxado
do total de 14). (b) Usando a atividade de
translocação do DNA dependente de ATP.
o complexo remodelador do nucleossomo
@ (j) • para o nuciOO$SOmo
primeira mente puxa o DNA do domínio
de ligação mais próximo para o nucleos·
movimento
deslocado t doDNA somo. Isso rompe os cinco contatos histo·
liga-se na-ONA entre a subunidade hidrolisadora
novamente às de ATP e o DNA de ligação (os contatos
posições 1 a 5.
rompidos estão representados em pre-
A alça de DNA
estâ presente to, e os intact os, em branco) e cria uma
na posição6 alça de DNA no lado oposto do domlnio
~
da translocase. (c) Os contatos rompidos
c s.\o restabelecidos com o DNA transloca·
do (posi ções 1 a 5), deixando a alça de
DNA próxima à subunidade hidrolisadora
de ATP (rompendo os contatos na posi·
çao 6). (d) Para remover a alça de DNA, o
modelo propõe que a alça se mova como
uma "onda" através da superflcie das his-
tonas, rompendo um ou dois contatos de
cada vez (primeiro o contato 6, depois o
7, etc.) até que todos os contatos tenham
sido restabelecidos com a quantidade
apropriada de ONA ent re eles, ponto no
qual o DNA em excesso não estará mais
a alça de DNA propaga-se para presente no DNA associado às histonas
d
o domínio da
1- ~· do dominio de lranslocaç6o
e
e o nucleossomo terá alterado sua posi-
çao no DNA. (e) Após a propagação da
alça de DNA até o DNA de ligação distai,
lranslocase a alteração da posição do nucleossomo
recoml>!)e<se a alça de ONA no ONA está concluída. (Adaptada, com
ollga-se\. CCJntlnua a se
propagar até permi ssão. de Saha A. et ai. 2006. Nat.
a um
alcançar o ONA Rl!v. Moi. Cei/Biol. 7: 437-447, Fig. 4a. C
f voONA do llgaç6o distai Macmillan.)
dBslocado move-..se
em dlreç6o ao ONA
de llgaçllo dislal
240 Parte 3 Manutenção do Genoma
a =tl~=~o~~0~=~~~=- <150 pb
montagem de montagem de
nucleossomo nucleossomo
1
octãmero de histonas
domínio de dobra
~ t:>- @ 1
FI GURA 8 · 39 Modificações nas
p da histona
caudas N·t erminais das histonas ai·
rr
teram o funcionamento da cromati·
na. Os sítios de modificações conhecidos H2A
estão ilustrados em cada histona. Apesa r N•'
s1 KK
4 5
de novos tipos de modificações de his-
tonas estarem sendo descritos, para fins
H2B
de simplificação estão ilustrados apenas
sítios de acetilação, metilação, fosforila-
ção e ubiquitinação. A maio ria dessas
N
K
t t rt
K S K
modificações ocorre nas regiões das cau- 5 12 1415
das, mas existem algumas modificações
ocasionais na dobra da histona (p. ex.,
metilação da lisina 79 da histona H3).
(Adaptada, com permissão. de Alberts B.
et ai. 2002. Molecular biology o f the ce/1,
NHr r3
tr !
T K
3 4
JP.c
~~~~:..........+(;íJ\
~ t ,t
K S T K
9 10 1114
RK
1718
K
23
K s
27 28
K
36 K
4th ed ., Fig. 4-35. © Ga rland Science/ 79
N-"5"i!'~t~t~t~t-!~-~~p.c:eo~
Taylor & Francis LLC; e, com permissão,
H4
de Jenuwein T. e Allis C.D. 2001 . Science
293: 1074-1080, Figs. 2 e3. ©AAAS.) S RK K K K K ~
1 35 8 12 16 20
~ §
aoetilação roslorilação
NHAc
H R'-..,/ OH histona
HAT I ~ quinase
VIA N = '
HDAC
07~ histona
rosratase
O H
serina ou treonina
(R= H ou Me)
lisina
metilação
lisina
_ simétrica
~~~
HMT
Me
HDM? Ef) I
~
H
/ Ny NH
HDM? Me I
J NH
arginina
assimétrica •j
~~~ -
lú
~------------------------------------------------~@
FIGURA 8·40 Estrutura das modificações da cauda de histonas. A estrutura molecu-
lar das modificações de histona por pequenas moléculas e a classe da enzi ma responsável estão
ilustradas (acetiltransferase de histona (HAT); desacetilase de histona [HDAcj; metiltransferase
de histona (HMT); desmetilase de histona (HDM J). Apenas o aminoácido afetado é mostrado.
Atualmente, não se conhece nen huma desmetilase de histona pa ra a metilação da argi nina,
sugeri ndo que esta marca é perdida apenas qua ndo a histona é removida do DNA. (Adaptada,
com perm issão, de Lo hse B. et ai. 2011. Bioorg. Med. Chem. 19: 362 5-3636, Fig. 1. © Elsevier.)
244 Parte 3 Manutenção do Genoma
a
acetilada não modificada metilada
H2B
+ +
H3 H4
+
proteína com proteína com
bromodomínio cromodomínio
FI GURA 8 · 4 1 Efeitos das modifi cações nas caudas das hi stonas. (a) Efeito na asso-
ciação do DNA ligado ao nucleossomo. Acredita-se que as caudas de histonas não modificadas
e metiladas se associem mais fortemente ao DNA do nucleossomo do que as caudas de h isto-
nas acetiladas. (b) A modificação das caudas das histonas origina sítios de ligação para enzimas
que modifica m a cromatina.
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
A significãncia da localização de nucleossomos adj acentes a após o sítio de clivagem da enzima de restrição no sítio de in·
sequências reguladoras importantes levou ao desenvolvimen- teresse. Após a hibridização e uma série de lavagens, a sonda
to de métodos para monitorar a localização de nucleossomos de DNA mostrará o tamanho dos fragmentos gerados pela
nas células. Muitos desses métodos exploram a capacidade MNase na região de interesse.
dos nucleossomos de proteger o DNA da d igestão pela nucle- Como os tamanhos dos f ragmentos revelam a localiza·
ase de micrococos (MNase). Como descrito no Quadro 8-1 , ção dos nucleossomos posicionados? O DNA associado aos
a MNase apresenta acentuada preferência para clivar DNA nucleossomos posicionados será resistente à d igestão pela
entre os nucleossomos, em vez de clivar o DNA fortemen - MNase, deixando uma região de DNA de - 160 a 200 pb
te associado aos nucleossomos. Essa propriedade pode ser que não foi clivada . Isso aparecerá como uma grande lacuna
utilizada para mapear os nucleossomos associados à mesma na escada de bandas de DNA detectada pelo Southern blot.
posição em toda uma população celular (Quadro 8-3, Fig. 1). A localização dessas lacunas revela a posição dos nucleosso·
Para mapear a localização dos nucleossomos de maneira mos adjacentes ao sítio de restrição/sonda de DNA marcada .
precisa, é importante isolar a cromatina celular e t ratá-la com Mais recentemente, uma abordagem relacionada foi
uma concentração apropriada de MNase, com rompimento desenvolvida para identificar nucleossomos posicionados
mínimo da estrutura geral da cromatina.lsso pode ser obtido ao longo de genomas intei ros. Este método começa pela fi ·
pela lise branda das células, mantendo-se os núcleos intac- xação das histonas no DNA pelo t ratamento das células de
tos. Os núcleos, então, são rapidamente tratados (em geral, interesse com formaldeído (Quadro 8-3, Fig. 2a). A seguir,
du rante 1 minuto) com várias concentrações diferentes de as células são lisadas, e a cromatina é isolada e tratada com
MNase, uma proteína pequena o bastante para se difund ir MNase até que a maior parte do DNA esteja do tamanho de
rapidamente para dentro do núcleo. O objetivo da t itulação um mononucleossomo (-147 pb). Após reverter a f ixação, o
é clivar a região de interesse, com a MNase, apenas uma vez DNA é separado usando eletroforese em gel, e os fragmentos
em cada célula. Após o DNA ter sido digerido, os núcleos po- de 147 pb resultantes são purificados e submetidos ao se·
dem ser lisados e todas as proteínas podem ser removidas do quenciamento de extremidades pareadas. Este método de se-
DNA. Os sítios de clivagem (e, principalmente, os sítios não quenciamento não apenas sequencia ambas as extremidades
clivados) deixam um registro das proteínas ligadas ao DNA. de cada fragmento de DNA, como também controla quais
Para identificar os sítios de clivagem em uma determi- extremidades são do mesmo fragmento de DNA. Portanto,
nada região, é necessário criar um ponto final defini do para o sequenciamento de extremidades pareadas revela tanto a
todos os fragmentos clivados e explorar a especificidade da locali zação genômica como o comprimento do fragmento
hibridização de DNA. Para criar um ponto final definido, o de DNA sequenciado. Os fragmentos de DNA sequenciados,
DNA purificado de cada amostra é cl ivado com uma enzima com tamanho definido de um nucleossomo, revelam a loca·
de restrição capaz de clivar os sities adjacentes ao sítio de in· lização desse nucleossomo. Essas localizações podem, então,
teresse. Após a separação por tamanho usando eletroforese ser plotadas ao longo do comprimento de cada cromossomo.
em gel de agarose, o DNA é desnaturado e transferido para A localização dos nucleossomos posicionados é revelada por
uma membrana de nitrocelulose, de maneira que sua posição sítios com vários fragmentos de DNA derivados da mesma
em relação ao gel é mantida. Isso permite que uma sonda região de 147 pb (Quadro 8-3, Fig. 2b) . Usando esta aborda·
de DNA marcada e com sequência específica hibridize com gem, todos os nucleossomos posicionados ao longo de um
o DNA ligado à nitrocelulose (método chamado de Southern genoma inteiro podem ser mapeados.
blot, descrito de maneira detalhada no Cap. 7). Neste caso,
a sonda de DNA é escolhida para hibridizar imediatamente (continua)
246 Parte 3 Manutenção do Genoma
Q u a d r o 8- 3 (Contlnuaçlo)
!
clivagens nas duplas-fitas
do ONA de ligação induzidas
pelaMNase
I sltlos de cllvagem
para MNase
I sftlos de cllvagem para a isolamento do ONA clivado e
enzima de restriçlo oorte com enzimas de restrição
IPI I I
DNA detectado em
-o
i Southem blol
·~-
o o :·
I
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I
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· ..,o""''l'"""io
.....: o Ui
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I
o o·. I
o o o:
• ...._ sonda de ONA para ,.
Southem
separaçlo em gel de agarose e
reallzaçao do Southem blot
o (f) o
111 111 1111111 111111 111111 11111 I I I QUADRO 8-3 FIGURA 1 Análise do posicionamento
JO 20 10 dos nucleossomos em uma posição cromossômica defi-
divagem em muitas poslçOes d8Vldo d ivagem em regiões
nida. As etapas experimentais na determinação do posicio-
ao posicionamen1o eleat6no dos específicas entre os namento dos nucleossomos na célula estao ilustradas. Ver o
nudeossomos nudeossomos posicionados texto do quadro para detalhes.
Capítulo 8 Est rutu ra do Genoma, Cromatina e Nucleossomo 247
Qu a d r o 8 · 3 (Continuação)
))7
, formaldeído
1
~·· · ~
digestão forte
com MNase
pb
- 147
-
®
.. purificar o DNA nucleossomal de
147 pb e submetê·lo ao sequenciamento
de extremidades pareadas
b
nucleossomos aleatórios nucleossomos posicionados
~~.) ·~
I I
In y IL!{) I) I
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)
I
-
QUADRO 8·3 FIGURA 2 Análise de geno·
ma inteiro do posicionamento de nucleossomo.
(a) Após a fixação das células com formaldeído e o
)
I
_)
I I
- I
7J
I
I._/
I
J '-
i solamento da cromatina, o tratamento extensivo
da cromatina fixada com MNase resulta na geração
de partículas predominantemente de centro nucle-
l l
ossomal. Após a reversão da fixação, a banda pre-
dominante de 147 pb de DNA é isolada usando ele- DNAs de
troforese em gel e submetida ao sequenciamento de - 147 pb
profundo de extremidades pareadas. (b) Ilustração
do mapeamento cromossômico dos DNAs associa-
dos ao nucleossomo em um sítio com nucleosso-
mos aleatórios e posicionados. posição no cromossomo posição no cromossomo
248 Parte 3 Manutenção do Genoma
MONTAGEM DO NUCLEOSSOMO
Os nucleossomos são formados imediatamente
após a replicação do DNA
A duplicação de um cromossomo requer a replicação do DNA e o reagrupa-
mento das proteínas associadas a cada molécula-filha de DNA. Este último
processo é intimamente ligado à replicação do DNA para assegurar que o DNA
recém-replicado seja rapidamente empacotado em nucleossomos. No Capí-
tulo 9, serão discutidos os mecanismos da replicação do DNA de maneira de-
talhada. Aqui, são discutidos os mecanismos que promovem a formação dos
nucleossomos após o DNA ter sido replicado.
Embora a replicação do DNA necessite da desmontagem parcial do nu-
cleossomo, o DNA é rapidamente recompactado em uma série ordenada de
250 Pa rte 3 Manutençã o do Genoma
fibra de
acetittanslerase
cromatina
de hlstona
de 30 nm
o - proiBIna 2 de
ligaçio ao ONA
fibra de
cromatina
de 10 nm
replicação
tetrãmero
antigo de
H3•H4
tetrãmero
acetiltransferase de histonas liga-se
antigo de
a caudas de histonas acetiladas usando
H3•H4
bromodomínio
modificação de histonas
"novas" adjacentes
RESUMO
Dentro da célula, o DNA está organizado em grandes estru- mossomo duplicado seja distribuída para cada célula-filha.
turas, chamadas cromossomos. Embora o DNA seja a base de Durante a meiose, um ciclo adicional de segregação cromos-
cada cromossomo, cerca de metade de cada cromossomo é sômica (sem duplicação do DNA) reduz à metade o número de
composta por proteínas. Os cromossomos podem ser circula- cromossomos nas células-filhas para gerar gametas haploides.
res ou lineares; entretanto, cada célula apresenta um número e A combinação de DNA eucariótico e suas proteínas asso-
composição cromossômica característicos. Hoje é conhecida a ciadas é denominada cromatina. A unidade fundamental da
sequência do genoma inteiro de milhares de organismos. Essas cromatina é o nucleossomo, o qual é composto por duas cópias
sequências revelaram que o DNA subjacente do cromossomo de cada histona do núcleo (H2A, H2B, H3 e H4) e por um seg-
de cada organismo é usado de maneira mais ou menos eficien- mento de DNA de aproximadamente 147 pb. Esse complexo de
te para codificar proteínas. Os organismos simples tendem a proteína e DNA desempenha duas funções importantes na cé-
utilizar a maior parte do DNA para codificar proteínas; no en- lula: compacta o DNA, permitindo que ele seja alocado dentro
tanto, organismos mais complexos utilizam apenas uma pe- do núcleo, e restringe o acesso ao DNA. Esta última função é
quena porção de seu DNA para efetivamente codificar proteí- extensivamente explorada pela célula para regular muitas ope-
nas. A complexidade aumentada das sequências reguladoras, rações diferentes no DNA, incluindo a expressão gênica.
o surgimento dos íntrons e a presença de RNAs reguladores A estrutura atômica do nucleossomo mostra que o DNA
adicionais (p. ex., miRNAs) contribuem para a expansão das está enrolado cerca de 1,7 vez ao redor de um núcleo proteico
regiões não codificadoras dos genomas dos organismos mais de histonas em formato de disco. Existem muitas interações
complexos. entre o DNA e as histonas, mas, invariavelmente, não são
As células devem manter seus conjuntos de cromossomos base-específicas. A natureza dessas interações explica o dobra-
cuidadosamente à medida que se dividem. Cada cromossomo mento do DNA ao redor do octâmero de histonas, e a capaci-
deve ter elementos de DNA que promovam a manutenção dos dade de praticamente todas as sequências de DNA serem in-
cromossomos durante a divisão celular. Todos os cromossomos corporadas em um nucleossomo. Essa estrutura também revela
devem possuir uma ou mais origens de replicação. Nas células a localização das caudas N-terminais das histonas e sua função
eucarióticas, os centrômeros desempenham papel fundamen- no direcionamento do trajeto do DNA ao redor das histonas.
tal na segregação cromossômica, e os telômeros auxiliam na Uma vez empacotado em nucleossomos, o DNA forma
proteção e na replicação das extremidades dos cromossomos estruturas mais complexas, que permitem sua compactação
lineares. As células eucarióticas separam cuidadosamente os adicional. Esse processo é facilitado por uma quinta histona,
eventos que duplicam e segregam os cromossomos à medida chamada Hl. Por se ligar ao DNA tanto associado ao nucleos-
que a divisão celular prossegue. A segregação cromossômica somo quanto no DNA de ligação, H1 faz o DNA se enrolar
pode ocorrer de duas maneiras. Durante a mitose, um aparato mais firmemente ao redor do octâmero. Uma forma mais com-
altamente especializado garante que uma cópia de cada cro- pacta de cromatina, a fibra de 30 nm origina-se de arranjos de
Capítulo 8 Est rutu ra do Genoma, Cromat ina e Nucleossomo 255
nucleossomos ligados pela histona Hl . Essa estrutura é mais metilação de argininas e fosforilação de serinas, treoninas e ti-
repressiva do que o DNA empacotado apenas nos nucleosso- rosínas. A acetilação das caudas N-terminais é frequentemente
mos. A incorporação do DNA nessa estrutura resulta na redu- associada a regiões de expressão gênica ativa e inibe a forma-
ção drástica do seu acesso a enzimas e proteínas envolvidas na ção da fibra de 30 nm. As modificações nas histonas alteram
transcrição do DNA. as propriedades do próprio nucleossomo e atuam como sítios
A interação Dl\A-histonas do nucleossomo é dinâmica, de ligação para proteínas que influenciam a acessibilidade da
permitindo um acesso intermitente das proteínas que se ligam cromatina. Além disso, essas modificações recrutam enzimas
ao DNA. Os complexos remodeladores dos nucleossomos au- que realizam a mesma modificação, levando a uma modifica-
mentam a acessibilidade do DNA incorporado nos nucleosso- ção semelhante dos nucleossomos adjacentes e facilitando a
mos, porque aumentam a mobilidade dos nucleossomos. Duas propagação estável de regiões modificadas de nucleossomos/
formas de mobilidade podem ser observadas: o deslizamento cromatina à medida que os cromossomos são duplicados.
do octâmero de histonas ao longo do DNA ou a liberação com- Os nucleossomos são formados imediatamente após o
pleta do octâmero de histonas do DNA. Além disso, esses com- DNA ter sido replicado, deixando o DNA não empacotado
plexos facilitam a troca de dímeros H2A/H2B. Os complexos apenas por um breve período. Isso envolve a função de cha-
remodeladores dos nucleossomos são recrutados para determi- peronas de histonas especializadas, que acompanham os te-
nadas regiões do genoma, facilitando alterações no acesso à trâmeros de H3·H4 e os dímeros de H2A·H2B à forquilha de
cromatina. Um subconjunto de nucleossomos está restrito a replicação. Durante a replicação do DNA, os nucleossomos
posições fixas no genoma, os chamados nucleossomos "posi- são temporariamente desmontados. Os tetrâmeros de histonas
cionados". O posicionamento dos nucleossomos pode ser di- H3·H4 e os dímeros de H2A·H2B são distribuídos de maneira
recionado por proteínas de ligação ao DNA ou por sequências aleatória entre as moléculas-filhas. Em média, cada nova mo-
específicas de Dl\A. lécula de Dl\A recebe metade das histonas antigas e metade
A modificação das caudas N-terminais das histonas tam- das h istonas novas. Assim, ambos os cromossomos herdam
bém altera a acessibilidade da cromatina. Os tipos de modifi- h istonas modificadas, as quais atuam como "sementes" para
cações incluem acetilação e metilação de resíduos de lisina, modificações semelhantes das histonas adjacentes.
BIBLIOGRAFIA
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QUESTÕES
Para respostas de questões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. Questão 4 . Sequências intergênicas constituem > 60% do
genoma humano. De onde vêm essas sequências intergênicas
Questão 1. Uste pelo menos três propriedades que diferem e quais são algumas de suas funções?
entre a constituição do cromossomo em E. co/i e em células
humanas. Questão S. Explique por que cada cromossomo de uma
célula eucariótica possui múltiplas origens de replicação mas
Qu estã o 2. Explique onde o DNA cromossômico está locali- tem apenas um único centrômero.
zado em células procarióticas e em células eucarióticas.
Qu estão 6. Como a coesão de cromátides-irmãs garante que
Qu estão 3. O tamanho do genoma está diretamente correla- cada célula-filha receba uma cópia de cada cromossomo?
cionado à complexidade do organismo? Explique sua resposta.
256 Parte 3 Manutenção do Genoma
Questão 7. Para uma célula humana diplolde, cite quantas A. cccDNA relaxado (como mostrado no Quadro 8-2, Fig. la).
cópias de cada cromossomo estão presentes em cada célula (ou B. Iniciar montagem do nucleossomo sem topoisomerase
célula-filha). (como mostrado no Quadro 8-2, Fig. la}, tratar com deter-
lnldo da mitose gente antes de correr os produtos em um gel de agarose.
C. Adicionar topolsomerase à reação anterior mas evitar
Fim da mitose montagem adicional do nucleossomo (como mostrado no
lnfclo da meiose Quadro 8-2, Flg. lb). Adicionar d etergente antes de corre r
os produtos em um gcl de agarose.
Fim da meiose I
D. Adicionar topolsomerase à reação descrita em B e permitir
Fim da meiose li montagem adldonal de nucleossomo (como mostrado no
Quadro 8-2, Fig. I c). Adicionar detergente antes de correr
Quest ão 8. Em seres humanos, quais células sofrem mitose? os produtos em um gcl de agarose.
Quais células sofrem meiose?
Questão 14. Você quer estudar a potencial interação entre
Questlo 9. Descreva os componentes de um nucleossomo. o DXA ligado ao nucleossomo e uma desacetilase de hlstona
especifica, e decide reallzar um ensaio de alteração de mobUJ-
Questão 10. Cite os tipos de ligação que ocorrem entre as dade eletroforétlca (E.\o!SA). Para uma revisão dessa técnica, ver
histonas e o DNA e a região do DNA onde essas ligações se Capítulo 7. Você utiliza como molde um DNA linear com ex-
formam. Essas interações são sequênda-específlcas? Justifique tremidades marcadas com 32P que contém dois sítios de posi-
sua resposta. cio namento de nucleossomo. Você monta dois nucleossomos
no molde de DNA antes da incubação com e sem a desacetilase
Questão 11. Explique por que o estoque de super-helicoidi- de histona. Para algumas reações, você utiliza nucleossomos
zação negativa no empacotamento do DNA em nucleossomos não modificados e, para outras, nucleossomos que são metila-
é vantajoso para as funções celulares. dos na Usina 36 da histona H3.
Questlo 12. Qual(is) domínio(s) protelco(s) reconhece(m)
desacetilase de histona
a acctllação das caudas aminotermínals de h!stonas? Qual(is)
dominlo(s) proteico(s) reconhece(m) caudas am!noterminals ~~ nenhuma
metlladas de histonas?
metilação metilação
Replicação do DNA
UAN DO A D UPLA-HÉLICE DO DNA 1'0 1 DESCOBERTA, a característica que mais
surpreendeu os pesquisadores foi a relação de complementaridade
_...._ entre as bases nas suas cadeias polinucleotídicas entrelaçadas. Clara-
ment , essa estrutura complementar deveria ser utilizada como base para a
replicação do DNA. De fato, foi a natureza autocomplementar, revelada pela
estrutura do DNA, que finalmente convenceu muitos pesquisadores a aceita-
rem a conclusão de Oswald T. Avery de que o DNA, e não alguma forma de
proteína, era o responsável pela informação genética (Cap. 2).
Na discussão sobre a função dos moldes (Cap. 4), enfatizou-se que duas
superfícies idênticas não se atraem. De fato, é muito mais fácil visualizar a
atração de grupos com cargas ou formatos opostos. Portanto, sem um co-
nhecimento estrutural detalhado, poderia se prever que uma molécula tão
complicada como o gene não poderia ser copiada de maneira direta. Em vez
disso, a replicação envolveria a formação de uma molécula com formato com-
plementar, e esta, por sua vez, serviria como molde para produzir uma réplica
da molécula original. Portanto, no período que antecedeu a compreensão de-
talhada das estruturas de proteínas e ácidos nucleicos, alguns geneticistas se
perguntaram se o DNA serviria como molde para alguma proteína específica
que, por sua vez, seria o molde para uma molécula de DNA correspondente.
Porém, assim que a natureza da autocomplementaridade do DNA se tomou
conhecida, a ideia de que os moldes de proteínas poderiam desempenhar um
papel na replicação do DNA foi descartada. Era imensamente mais simples pres-
supor que cada uma das duas fitas da molécula de DNA parenta) serviria como
molde para a formação de uma fita-filha complementar. Embora desde o início
essa hipótese parecesse muito adequada e verdadeira, eram necessárias evidên-
cias experimentais para confirmá-la. Felizmente, cinco anos após a descoberta
da dupla-hélice, evidências decisivas confirmaram a separação das fitas comple-
mentares durante a replicação do DNA (ver discussão sobre o experimento de
Meselson e Stahl, no Cap. 2) e foram fornecidas provas enzimáticas reais de que
o DNA, per se, poderia atuar como molde para a síntese de novas fitas de DNA.
Com esses resultados, a questão da replicação dos genes foi, em parte,
resolvida. Por outro lado, o estudo da replicação do DNA havia apenas ini-
ciado. Como inicia a replicação do DNA? Como são separadas as fitas entre-
laçadas do DNA, para que possam ser usadas como molde? O que regula a
extensão da replicação para q ue as células-filhas não acumulem nem percam
cromossomos? Estudos sobre essas e outras questões revelaram que mesmo
a replicaç.ã o da molécula de DNA mais simples é um processo complexo,
de múltiplas etapas, que envolve muito mais enzimas do que foi inicial-
mente previsto após a descoberta da primeira enzima de polimerização de
DNA. A replicação dos cromossomos eucarióticos, lineares e mais extensos,
é ainda mais complexa. Esses cromossomos necessitam de diversos sítios de
258 Parte 3 Manutenção do Genoma
a
o o o base (A. G. c ou T)
11 11 11
HO-P-O-P-O-P-O-CH2
I I I 0
o- o- o-
OH
dsDNA ssDNA
FIGURA 9-1 Substratos necessários para a síntese de DNA. (a) A estrutu ra geral dos
2' -desoxinucleosídeos trifosfatados. As posições dos a, f3 e .,.fosfatos estão marcadas. (b) Es-
trutura geral de uma ju nção iniciador:molde. A fita iniciadora (mais curta) está completamente
anelada à f ita de DNA-molde (mais longa) e deve apresentar um 3' -OH livre adjacente a uma
região de ssDNA do molde. A fita de DNA mais longa inclui uma região anelada ao iniciador e
uma região de ssDNA adjacente que atua como molde para a síntese do novo DNA. A síntese
do novo DNA ocorre a partir da extrem idade 3' do iniciador.
Capítulo 9 Replicação do ONA 259
pareamento de base
5'
pirofosfalase
5'
5'
MECANISMO DA DNA-POLIMERASE
a base pareada corretamente b base pareada incorretamente FIGURA 9-3 Bases corretamen -
te pareadas são necessárias para a
molde
___/'' c-o-IT-o
? adição de nucleotideos catalisada
pela DNA·polimerase. (a) Diagrama
o esquemático do ataque de uma extremi-
dade 3'-0 H do iniciador a um dNTP com
sem pareamento
base corretamente pareada. (b) Diagrama
de base '
esquemático da consequência do pa rea-
X
A mento incorreto de bases para a catálise
feita pela DNA-poli merase. No exemplo
mostrado, o pa r de bases incorreto A:A
desloca o a-fosfato do nucleotideo que
será incorporado. Esse alinhamento incor-
reto reduz d rasticamente a taxa de catá -
a \
lise, resultando na adição preferencia I de
... . o
0\
dNTPs corretamente pa reados pela DNA-
~
cF \ o -polimerase. (Adaptada, com permissão,
I de Brautigam CA e Steitz TA 1998.
o=P-o
y I Curr. Opin. Struct. Biol. 8: 54 -63, Fig. 4d.
o © Elsevier.)
~ TÉCNICAS
Quadro 9 · 1 Ensaios de incorporação podem ser usados para medir a síntese de ácidos nucleicos e de proteínas
Como se pode medir a atividade de uma DNA-polimerase? precursores marcados em moléculas de DNA. Normalmente,
O ensaio mais simples usado para medir a síntese de um po- os dNTPs são marcados pela inclusão de átomos radioativos
límero é um ensaio de incorporação. No caso da DNA-poli- em uma porção do nucleotideo que será retida no produ-
merase, esse tipo de ensaio mede a incorporação de dNTPs to de DNA final (p. ex., pela substituição do átomo de fós-
a
N:CNH
:N
o
11 11 3211
o o <N N)
HO -P-O-P-O- P- 0 -Ck
2 d
0
I I I
o- o- o-
OH
o OH
COOH
b o o H
N
HNJ• 'I N
H
o
11 Jl Jl
o o À· ·
ON
o fluoresceina
HO -P-0-P-0-P-O-ckd
2
0
I I I
o- o- o-
OH
QUADRO 9·1 FI GURA 1 Duas formas de desoxinu· go de timidina trifosfato fluorescentemente marcado. Neste
cleotideos trifosfato marcados. (a) [a-" P)dATP. Neste nu- precursor marcado, o composto fluorescente fluoresceína foi
cleotídeo, o a-fósforo é substituído pelo isótopo radioativo ligado por um conectar à posição 5 do anel da ti mina, que é
"P. Observa-se que apenas este átomo de fósforo se tornará normalmente ligada a um grupo metil.
parte do DNA após a incorporação do nucleotídeo. (b) Análo- (continua)
262 Parte 3 Manutenção do Genoma
Quadro 9 • 1 (Continuação)
fótons emitidos.
Um ensaio de incorporação requerduas etapas (Quadro 9·1,
Fig. 2). Primeiro, o precursor é incorporado aos polímeros. No
caso da DNA-polimerase, isso é realizado pela incubação da
polimerase com uma junção iniciador: molde e o(s) dNTP(s)
precursor(es) marcado(s) por um determinado período de
tempo. Na maioria dos casos, apenas um dos quatro dNTPs
!
é marcado, porque isso em geral fornece níveis facilmente passar a reação através da
detectáveis dos nucleotídeos incorporados. Segundo, os membrana positivamente carregada
polímeros resultantes devem ser separados dos precursores
incorporados. No caso do DNA, isso pode ser realizado de
duas maneiras. A reação da DNA-polimerase pode ser pas-
sada através de uma membrana positivamente carregada na
ONA liga-se à membrana
presença de concentrações de sal que permitem a ligação do
esqueleto de DNA de alta carga negativa, mas não dos nu-
cleotídeos, que têm carga bem menor. Alternativamente, a
eletroforese em gel pode ser usada para separar os produtos <!'V <! '{ .,lo '{ \> nucleotídeos passam
de DNA por tamanho, porque os nucleotídeos não incorpora-
" '\ 1" "' '{
dos migrarão muito mais rápido do que o produto de DNA.
Em ambos os casos, a quantidade de DNA sintetizado pode medir marcação associada à
membrana para determinar a
ser medida pela determinação da quantidade de nucleotídeo quantidade de nova sintese de DNA
marcado incorporado no polímero de DNA.
Foi descrito um ensaio de incorporação no contexto de [
.e, 3.000
uma reação da DNA-polimerase; entretanto, abordagens se· .,
•
~ 2.000
melhantes são usadas para medir as atividades das enzimas
que dirigem a síntese de RNA ou de proteínas. Por exemplo,
~
aminoácidos marcados podem ser usados de maneira seme- ,., •
lhante para analisar sua incorporação nas proteínas. {!
.!!1
~ 1.000 •
.,
o •
QUADRO 9 · 1 FIGURA 2 Ensaío de incorporação para ·~
medir a síntese de DNA. No exemplo apresentado, a ligação ~ o ---.---
à membrana é usada para separar nucleotídeos marcados :::; 1 2 3 4
Tempo (min)
não incorporados dos incorporados ao DNA.
DNA-polimerase
a b
dedos X polegar
'x
~ palma
iniciador
a o b
I c
c - o- U- o
0
o
c
o
11 °
o- P-o-c ~---:.. . '
c-
c I H' : ""'
~ O ·"= v
íon metálico A a
\
íon metálico B
FI GURA 9-6 Doi s ions met álicos ligados à DNA-polimerase catalisam a adição de
nucleotideos. (a) Ilustração do sit io ativo de uma DNA-polimerase. Os dois íons m etálicos
(mostrados em verde) são mant idos em seus lugares por interações com dois resíduos de as-
pa rtato altamente conservados. O íon metálico A interage. primeiro, com o 3'-0H, resultando
na associação reduzida entre O e H. Isso cria um grupo 3'0 - nucleofílico . O íon metálico B
interage com os t rifosfatos do dNTP que será incorporado, neut ralizando suas cargas negativas.
Após a catálise, o produto de pirofosfato é estabilizado por meio de reações similares com o
íon metálico B (não most rado). (b) Est rutura t ridimensional do sít io ativo dos íons metálicos
associado à DNA-polimerase de T7. a extremidade 3 ' -OH do iniciador e o nucleotídeo que será
incorporado. Os íons metálicos são mostrados em verde, e os demais elementos são mostrados
nas mesmas cores da Figura 9-Sb. A imagem da polimerase mostrada aqui é aproximadamente
equivalente à imagem mostrada na Figu ra 9-Sb após uma rotação de - 180• ao redor do eixo
da hélice do DNA. (Adaptada de Dou blié S. et ai. 1998. Nature 39 1: 251-258. Imagem prepa-
rada com MoiScri pt, BobScript e Raster 3D.)
F I G U RA 9 • 7 A DNA·polimerase a b
"prende" o mol de e o nucleotídeo hélice O - - hélice O
que será incorporado quando um par da DNA· (fechada)
de bases correto é formado. (a) Ilustra- -polimerase ······... 40•
(aberta)
ção das alterações na estrutu ra da DNA· ·· ..\
dNTP
-polimerase após o pa rea mento correto que será
ent re o nud eotídeo que será incorporado incorporado
e o molde de DNA. A primeira alteração
é uma rotação de 40• de uma das hélices
no domínio dos dedos, chamada hélice O íon B
O. Na conformação aberta, essa hélice
está dista nte do nucleotideo que será in-
corporado. Qua ndo a polimerase est á na
conformação fechada, essa hélice desloca-
-se e realiza várias interações im portantes
com o dNTP. Um resíduo de t irosina rea-
rotação da hélice O
liza interações de empilhamento com a
base do dNTP. e dois resíduos carregados
associa m-se ao t rif osf ato . A com binação
dessas interações posiciona o dNTP pa ra
a catálise mediada pelos dois íons metáli-
cos ligados à DNA-polimerase. (Com base
em Doublié S. et ai. 1998. Nature 391:
iniciador molde
5'
251 -2 58, Fig. 5. © 1998.) (b) Est rutura da
5' 3'
DNA-polimerase de T7 ligada a seu su bs-
t rato na conformação f echada . (Roxo) Hé-
lice O; o resto da estrutu ra proteica é mos-
t rada em t ransparente para maior cla reza.
c
~
•
-
(Cor-de-rosa) Os resíduos tirosina, lisina e
arginina essenciais podem ser vistos atrás
,I
da hélice O. (Vermelho) Base e desoxirri-
bose do d NTP a ser inco rporado; (cinza-
-claro) iniciador; (cinza-escu ro) fita-molde;
(verde) os dois íons metálicos catalít icos;
(amarelo) fosfatos. (Adaptada de Doublié
S. et ai. 1998. Nature 391: 251-258. Ima-
gem preparada com MoiScript, BobScript
e Raster 30 .)
totalmente não processiva adicion aria 1pb por segundo. Em contrapartida, as
DNA-polimerases mais rápidas adicionam até 1.000 nucleotídeos/s, porque
permanecem associadas ao molde duran te milh ares de ciclos de adição de
dNTPs. Consequentemente, uma polimerase altamente processiva aumenta a
velocidade total de síntese de DNA em cerca de 1.000 vezes, em comparação
a uma enzima completamen te não processiva.
O aumento da processividade é facilitado pela capacidade de as DNA·
-polimerases deslizarem ao longo do molde de DNA. Uma vez ligada a uma
,~!f~
direção à sua extremidade 5', o esquele- 3'
to de fosf odiéster curva-se abrupta mente
em 90•. Dessa maneira, a segunda base e 5'
todas as bases subsequentes de fita sim- \\/f ' I
ples são posicionadas de modo a impedir curvatura iniciador
qualquer parea mento de bases com um o molde
d NTP ligado ao sitio ativo.
Capítulo 9 Replicação do ONA 267
liberação da DNA-polimerase
a
H
\ H.,,, ,,
N-
junção iniciador:molde, a DNA-polimerase interage firmemente com grande
parte da região de dupla-fita do DNA de maneira não sequência específica. Es- ~N"'"'"' H - N,
sas interações incluem interações eletrostáticas entre o esqueleto fosfatado e o
I
N-{Ú """'"'H -
domínio de polegar, e interações entre a fenda menor do DNA e o domínio de açúcar
palma (descrito anteriormente). A natureza independente de sequência des-
sas interações permite o movimento fácil do DNA, mesmo após sua ligação à dtosina ceto-guanina
polimerase. Cada vez que um n ucleotídeo é adicionado à fita do iniciador, o
DNA libera-se parcialmente da polimerase. (As ligações de hidrogênio com a
fenda menor são rompidas, mas as interações eletrostáticas com o polegar são b
CH3 0 '"'"'" H -
mantidas.) O DNA, então, é rapidamente religado à polimerase, mas agora em
uma posição alterada em 1 pb, utilizando o mesmo mecanismo não específi-
co por sequência. Aumentos adicionais na processividade são alcançados por
~N- H """ '"
timidina enoH~uanina
Exonucleases realizam uma revisão de
leitura no DNA recém-sintetizado FIGURA 9-10 Aalteraçãotautomé-
rica da guanina resulta em um malpa-
Um sistema baseado apenas na geometria do pareamento de bases e na com- reamento com a t imidina . (a) Parea -
plementaridade entre as bases é incapaz de alcançar o extraordinário nível de mento de bases entre a forma ceto normal
precisão observado na síntese de DNA de uma célula (aproximadamente um da guanina com a citosina. (b) Na rara oca-
erro a cada 1010 pb adicionados). A principal limitação na precisão da DNA- sião em que a guanina assu me a forma de
-polimerase é a oscilação ocasional (aproximadamente 1:105 vezes) das bases tautômero enol. ela pareia com a timidina
para a forma tautomérica "incorreta" (imino ou enol) (ver Cap. 4, Fig. 4-5). em vez de parear com a citosina. Embora
tenha sido ilustrado o malpareamento do
Essas formas alternadas das bases permitem que pares de bases incorretos se-
tautômero alternativo da guanina, cada
jam posicionados corretamente para a catálise (Fig. 9-10). Quando o nucleotí- uma das outras bases pode formar tautô-
deo retoma a seu estado "correto", o nucleotídeo incorporado é mal-pareado meros alternativos que mudam sua especi-
com o molde e deve ser eliminado. ficidade de pareamento de bases.
268 Parte 3 Manutenção do Genoma
~ CONEXÕES CLINICAS
O papel central da replicação do DNA durante a divisão celu· DNA e à terminação do alongamento. Como a 6-MP, a AraC
lar faz dela um alvo comum para fármacos quimioterápicos é usada principalmente no tratamento da leucemia aguda.
que visam prevenir o crescimento de tumores. Esses fármacos Uma terceira classe de quimioterápicos danifica o
atuam em vários estágios da replicação do DNA. DNA e bloqueia sua replicação. A cisplatina e a 1,3-bis-(2-
Vários agentes quimioterápicos comuns atuam sobre · cloroetil)-1-nitrosureia (BCNU) causam ligações intra e in-
a biossíntese de precursores de nucleotídeos para o DNA, tercadeias no DNA quando há resíduos de G adjacentes uns
deixando a DNA-polimerase desprovida de novos blocos de aos outros (Quadro 9 -2, Fig. 1d, e). Essas ligações (particu-
construção . Por exemplo, os fármacos 5·fluoruracil (5-FU) e larmente o tipo intercadeia) interferem no alongamento do
6-mercaptopurina (6-MP) são análogos de precursores de DNA. A cisplatina é um dos principais fármacos usados para
nucleotídeos que inibem a síntese de pirimidinas e purinas, tratar câncer testicular metastático, e a BCNU é usada no tra-
respectivamente (Quadro 9-2, Fig . 1a,b). A 5-FU é o princi- tamento de tumores cerebrais e leucemias. Da mesma ma-
pal agente usado no tratamento de câncer colorretal e tam- neira, a camptotecina e o etoposide são inibidores de topoi-
bém no tratamento de cânceres de estômago, pâncreas e de somerases que bloqueiam a habilidade dessas proteínas de
mama avançado. A 6- MP é usada sobretudo para tratar pa- reestabelecerem uma ligação fosfodiéster após a clivagem do
cientes com leucemia aguda (tumor de células sanguíneas). esqueleto de DNA (ver Cap. 4 , Fig. 4-24). O tratamento com
Outros fármacos anticâncer atuam mais diretamente so- qualquer um desses inibidores deixa uma quebra no DNA que
bre a síntese de DNA. A citosina-arabinosídeo (AraC) é um termina a replicação do DNA quando a DNA-polimerase tenta
análogo de desoxicitidina que, após ser convertida em nu- usá-lo como molde.
cleosídeo trifosfato, é incorporada ao DNA no lugar da dCTP Como classe, esses fármacos têm como alvo células que
(Quadro 9-2 , Fig. 1c). Uma vez incorporada ao DNA, a dife- estão replicando o seu DNA e, portanto, que se dividem com
rença entre a desoxirribose da dCTP e a arabinose da AraCTP frequência . Embora a natureza de d ivisão rápida das células
leva ao posicionamento incorreto da 3' -OH do iniciador de cancerígenas as tornem particularmente suscetíveis a tais fár-
macos, outras células do corpo também são afetadas. Não
surpreende que esses inibidores da replicação do DNA tam-
bém sejam tóxicos para células do hospedeiro que crescem
a b
rapidamente, como hemácias e leucócitos, pelos e células
(As nucleases capazes de degradar o DNA apenas a partir de uma extremi- a síntese de ONA lenta ou ausente
dade são chamadas exonucleases; as nucleases capazes de clivar no meio último par
de uma fita de DNA são chamadas endonucleases.) de bases
Inicialmente, a presença de uma exonuclease 3' no mesmo polipeptídeo malpareado
que uma DNA-polimerase fez pouco sentido. Por que haveria necessidade de
a DNA-polimerase degradar o DNA que ela havia recém-sintetizado? O papel
dessa exonuclease tornou-se claro quando foi determinado que ela apresenta
enorme preferência em degradar o DNA com pareamento de bases incorreto. dedos 5'
Assim, na ocorrência da adição de um nucleotídeo incorreto à fita iniciadora, 3'
a exonuclease de revisão de leitura remove esse nucleotídeo da extremidade 3'
da fita. Essa "revisão de leitura" do DNA recém-adicionado fornece à DNA- - - - - ·- sítio ativo da
exonuclease
-polimerase uma segunda chance para adicionar o nucleotídeo correto.
A remoção de nucleotídeos malpareados é facilitada pela capacidade re- b remoção de nud eotídeo(s) malpareado(s)
duzida de a DNA-polimerase adicionar um nucleotídeo adjacente a um ini-
ciador contendo um par de bases incorreto. O DNA malpareado altera a geo-
metria entre a 3 '-OH e o n ucleotídeo a ser incorporado, devido a interações
fracas com a região da palma. Essa geometria alterada reduz a velocidade de
adição do nucleotídeo da mesma maneira que a adição de um dNTP incorre-
tamen te pareado reduz a catálise. Assim, quando um nucleotídeo malpareado
é adicionado, ele diminui a velocidade de adição de n ovos nucleotídeos e 5'
aumenta a velocidade da atividade da exonuclease de revisão de leitura. 3'
Da mesma maneira que a síntese processiva de DNA, a revisão de leitura
pode ocorrer sem a dissociação do DNA da polimerase (Fig. 9-11). Quan do
um par de bases malpareado está presente no sítio ativo da polimerase, a jun- c retomada da síntese de ONA
ção iniciador:molde é desestabilizada, criando vários pares de bases de DNA
n ão pareado. O sítio ativo da DNA-polimerase liga-se muito mal a esse molde
malpareado, mas o sítio ativo da exonuclease possui uma afinidade 10 vezes
maior por extremidades 3' de fita simples. Portan to, a extremidade 3' recém-
-despareada move-se do sítio ativo da polimerase para o sítio ativo da exon u-
clease. O nucleotídeo in correto é removido pela exon uclease (um n ucleotídeo
adicion al também pode ser removido). A remoção da base malpareada pos- 5'
sibilita o restabelecimen to da junção iniciador:molde e sua ligação ao sítio
ativo da polimerase, permitin do que a sín tese de DNA continue. 3'
Essencialmente, as exonucleases de revisão de leitura fun cion am como a
"tecla de deletar" de um teclado, removendo apenas os erros mais recentes.
A presença da exonuclease de revisão de leitura aumenta muito a precisão da F I G U RA 9-1 1 As exonucleases de
revi são de leitu ra removem as bases
síntese de DNA. Em média, a DNA-polimerase insere um n ucleotídeo incorre-
malpareadas d a extremidade 3' do
to a cada 105 n ucleotídeos adicionados. As exon ucleases de revisão de leitura
1 ONA. (a) Quando um nud eotídeo incorre-
dimin uem a ocorrência de uma base incorreta para cada 10 nucleotídeos adi- to é incorporado ao DNA. a taxa de síntese
cion ados. Essa taxa de erro ainda é consideravelmente alta em comparação à de DNA é reduzida devido ao posiciona-
taxa de mutação observada em uma célula típica (aproximadamente um erro mento incorreto da 3' -OH. (b) Na presen-
a cada 1010 nucleotídeos adicion ados). O n ível adicional de precisão é forne- ça de uma extremidade 3' malpareada,
cido pelo sistema de reparo de maus pareamentos pós-replicação, descrito no os últimos 3 a 4 nucleotídeos do iniciador
Capítulo 10. tornam -se fita simples, resul tando em
maior afinidade pelo sít io ativo da exonu -
clease. Uma vez ligado a esse sítio ativo, o
FORQUILHA DE REPLICAÇÃO nudeotídeo malpareado (e, com frequên-
cia, algum nud eotideo adicional) é remo-
vido. (c) Após a remoção do nucleotídeo
malpa reado, uma j unção iniciador:molde
Ambas as fitas do DNA são sintetizadas adequadamente pareada é restabelecida,
juntas na forquilha de replicação e a polimerização é retomada (o DNA
recém-sintetizado está representado em
Até agora, discutiu-se a síntese de DNA em um contexto relativamen te artifi- vermelho). (Adaptada, com permissão, de
cial, isto é, em uma junção iniciador:molde que está produzindo apen as uma Baker T.A. e Bell S.P. 1998. Ce/1 92: 295-
fita de DNA. Na célula, ambas as fitas do dúplex de DNA são replicadas ao 305, Fig. 1b. © Elsevier.)
mesmo tempo. Isso requer a separação das duas fitas da dupla-hélice, forman-
do dois moldes de DNA. A jun ção en tre as duas fitas-molde recém-separadas
e o dúplex de DNA n ão replicado é conhecida como forquilha de rep li-
cação (Fig. 9-12). A forquilha de replicação desloca-se contin uamente em
270 Parte 3 Manutenção do Genoma
direção do deslocamento
da polimerase da fita-lider
fita-líder
\ direção geral da
replicação do DNA
3'
5'
I
DNA-polimerase
I
5'
3'
fita tardia
direção do deslocamento
da polimerase da fita tardia
nova fita de DNA de novo. Então, como inicia a síntese de novas fitas de DNA?
Para realizar isso, a célula aproveita-se da habilidade das RNA-polimerases em
fazer o que as DNA-polimerases não conseguem: iniciar novas cadeias de RNA
de novo. A primase é uma RNA-polimerase especializada em sintetizar peque-
nos iniciadores de RNA (com 5 a 10 n ucleotídeos) sobre um molde de ssDNA.
Esses iniciadores são, subsequentemente, estendidos pela DNA-polimerase.
Embora as DNA-polimerases incorporem somente desoxirribonucleotídeos
no DNA, elas podem iniciar a síntese u tilizando um iniciador de RNA ou de
DNA anelado ao molde de DNA.
Embora ambas as fitas, líder e tardia, necessitem da primase para iniciar a
síntese de DNA, a frequência de funcionamento da primase sobre as duas fitas
é bastante diferente (ver Fig. 9-12). Cada fita-líder necessita apenas de um
único iniciador de RNA. Em contrapartida, a síntese descontínua da fita tardia
requer a síntese de um novo iniciador para cada fragmento de Okazaki. Como
uma única forquilh a de replicação pode replicar milhões de pares de bases, a
síntese da fita tardia pode necessitar de centenas de fragmentos de Okazaki e
de iniciadores de RNA correspondentes.
Ao contrário das RNA-polimerases envolvidas na síntese de RNA men-
sageiro (mRNA), RNA ribossõmico (rRNA) e RNA transportador (tRNA) (ver
Cap. 15), a primase não necessita de uma sequência de DNA estendida para
iniciar a síntese de RNA. Em vez disso, as primases preferem iniciar a síntese
de RNA usando um molde de ssDNA contendo um trímero específico (GTA,
no caso da primase de Escherichia coli). Corroborando essa preferência, a aná-
lise da sequência do genoma de E. co/i mostra que a sequência-alvo GTA para
a primase de E. coli está super-representada nas porções do genoma que servi-
rão de molde para a síntese da fita tardia de DNA.
A atividade da primase é drasticamente aumentada quando ela se associa
a outra proteína que atua na forquilha de replicação, chamada DNA-heli-
case. Essa proteína desenrola o DNA na forquilha de replicação, criando um
molde de ssDNA onde a primase pode atuar. A função da DNA-helicase será
1 RNase H
5'
3'
F IG U RA 9 ·14 As DNA·helicases
separam as duas fitas da dupla·hé·
lice. Quando ATP é adicionado a uma
DNA-helicase ligada ao ssDNA, a helicase
desloca-se com polaridade definida sobre
o ssDNA. No exemplo dado, a helicase
apresenta uma polaridade 5' ..... 3'. Essa
polaridade significa que a DNA-helicase
está usando a fita ta rdia como molde na
forquilha de replicação.
Capítulo 9 Replicação do ONA 273
c•
FIGURA 9 · 1 5 Estrutura e mecanism os propostos para uma DNA· helica se. (a) Es-
trutura geral da helicase hexamérica El do papilomavírus bovino. Cada su bunidade é apre-
sentada em uma cor diferent e, e o com plexo é mostrado em visão lateral (à esquerda) e em
uma visão de cima do ca nal central do hexâm ero (à direita). As su bunidades proteicas são
mostradas em f orma de fita e o ssDNA. como um diag rama de palitos. (b) Ilustração do
movim ento proposto para os grampos de ligação ao DNA. Nestas imagens, são mostrados
apenas o ssDNA no canal central da helicase e dois dos seis grampos proteicos essenciais que
se ligam ao DNA du rante a tra nslocação. As três visões mostram o gram po roxo interagindo
com o fosfato associado ao nucleotídeo preto que se move a partir do estado do topo (a
subunidade associada ao grampo está ligada ao ATP) para o estado central (ligado ao ADP) e
para o estado da base (desligado do nucleotídeo). Observa-se como a base preta do ssDNA se
move com os g ram pos azuis do ATP e do ADP + Pi. mas é li berada na imagem sem nucleo-
tídeo. A religação do ATP move a alça de ligação ao DNA de volta pa ra a posição no topo,
permitindo a ligação a um novo fosfato (como visto para o grampo azul - que está um passo
à frente do grampo roxo - no painel "sem nucleotídeo" ; os cabeçalhos dos painéis referem-
-se à subu nidade do grampo roxo). Observa-se que as outras quatro alças de ligação ao DNA
tam bém estão se movendo através dos m esmos intermediários. (Reproduzida de Enemark
E.J. e Joshua-Tor L. 2006. Nature 442: 270-275. Código PDB: 2GXA. Imagem preparada com
MoiScript, BobScript e Raster 3D.)
ligação de
SSBs adicionais
o
essenciais na duplicação do genoma: DNA Pol õ, DNA Pol e e DNA Pol a/pri-
mase. Cada uma dessas DNA-polimerases eucarióticas é composta por várias
subunidades (ver Tab. 9-2). A DNA Pol a/primase está especificamente envol-
vida na iniciação de n ovas fitas de DNA. Esse complexo proteico com quatro
subunidades consiste em duas subunidades de DNA Pol a e duas subunidades
de primase. Após a primase ter sintetizado um iniciador de RNA, a junção
iniciador:molde resultante é imediatamente transferida à DNA Pol a associa-
da, iniciando a síntese de DNA.
Devido à sua processividade relativamente baixa, a DNA Pol a/primase
é rapidamente substituída pelas DNA Pol õ e Pol e, de alta processividade.
O processo de substituição da DNA Pol a/primase pela DNA Pol õ ou Pol e é
chamado troca d e polimerase (Fig. 9-18) e resulta em três diferentes DNA-
-polimerases atuando na forquilh a de replicação eucariótica. As DNA Pol õ
e Pol e são especializadas na síntese de diferentes fitas na forquilha de repli-
cação, com a DNA Pol e sin tetizando a fita-líder, e a DNA Pol õ, a fita tardia.
Assim como nas células bacterian as, a maioria das DNA-polimerases restantes
está envolvida no reparo de DNA.
DNAPoi Sou e
b direção da replicação
grampo deslizante
I
DNA recém-replicado
a grampo deslizante
m\lde j pNA-polimerase
;~;'""'""'"'"""":üü:fimü:iíU:
iniciador
fimimlimiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiüiiiüiim s·
3'
~ CONCEITOS AVANÇADOS
As cinco subunidades que se unem para formar um carrega- As etapas finais no posicionamento do grampo deslizao-
dor de grampo deslizante de DNA são membros de uma te são estimuladas pela hidrólise de ATP. A ligação do carre-
grande classe de proteínas que possuem um sitio relaciona- gador do grampo à junção iniciador: molde ativa a hidrólise
do de ligação e hidrólise de ATP chamado de proteínas de ATP (pelo carregador do grampo). Como o carregador do
AAA• . Essas proteínas unem -se em arranjos com múltiplas grampo pode se ligar no grampo deslizante e no DNA apenas
proteínas AAA· que usam a energia da ligação e da hidrólise quando ligado ao ATP (mas não ao ADP), a hidrólise faz o car-
do ATP para alterar a estrutura de proteínas-alvo ou do regador liberar o grampo deslizante e dissociar-se do DNA.
DNA. Carregadores de grampos deslizantes de DNA são for- Uma vez liberado do carregador, o grampo deslizante espon-
mados por várias proteínas AAA• diferentes, mas outros taneamente se fecha ao redor do DNA. O resultado líquido
complexos de proteínas AAA• são compostos por múltiplas desse processo é a colocação do grampo deslizante no sítio
cópias da mesma proteína AAA• . Embora as proteínas AAA • de ação da DNA-polimerase - a junção iniciador:molde. A li-
possuam sít ios de ligação e hidrólise de ATP relacionados, beração de ADP e P; e a ligação a uma nova molécula de ATP
elas realizam funções diversas. Além de carregar grampos, permitem ao carregador do grampo iniciar um novo ciclo.
complexos de proteínas AAA• desenrolam o DNA, posicio-
nam a DNA-helicase em t orno do substrato de DNA (p. ex.,
ORCe DnaC, como será visto na d iscussão sobre o início da a
replicação do DNA), desenovelam proteínas e desmontam
complexos proteicos. De fato, é a diversidade de suas fun-
ções que levou à sua denominação AAA: ATPases associadas
a várias atividades.
Como a ligação e a hidról ise do ATP estão relacionadas à
adição do grampo deslizante? Os eventos iniciais do carrega-
mento do grampo requerem a ligação de ATP ao carregador. b
Quando ligado ao ATP. o carregador do grampo pode se ligar
e abrir o anel do grampo deslizante por meio de alterações
em uma das interfaces entre as subunidades, provocando sua
abertura (Quadro 9-3, Fig . 1). O g rampo deslizante, agora
aberto, é posicionado no DNA através de um sitio de alta
afinidade por DNA presente no carregador do grampo. Como
na ligação do grampo deslizante, a ligação do DNA necessita
que o carregador do g rampo esteja ligado ao ATP. Visto que
são necessários grampos deslizantes nos sítios de síntese de c
DNA, esse sitio de ligação ao DNA reconhece, especificamen-
te, junções iniciador:molde. O DNA é ligado de maneira que o
grampo deslizante aberto é posicionado em torno da região
de dupla-fita da junção iniciador: molde.
Quadro 9 • 3 (Continuação)
A função do carregador do gra mpo ilustra várias carac- o complexo estabilizado por ATP estivesse fortemente asso·
terísticas gerais de acoplamento da ligação e da hidrólise de ciado. Para garantir que a desmontagem ocorra no tempo,
ATP a um evento molecular. A ligação do ATP a uma proteína local e velocidade adequados, a hidrólise de ATP é utilizada
está normalmente envolvida no estágio de montagem do para iniciar a desmontagem. Por exemplo, a hidrólise de ATP
evento: a associação da proteína com a molécula-alvo. Por faz o carregador do grampo reverter ao estado no qual ele
exemplo, o carregador do grampo tem duas moléculas-alvo: não pode se ligar nem ao grampo deslizante e nem ao DNA.
o grampo deslizante e a junção iniciador: molde. O ATP é ne· A reversão para esse estado basal deve ocorrer enquanto a
cessário para que o carregador do grampo se ligue a am· enzima ainda estiver ligada aos produtos da hidrólise de ATP
bos os alvos. Da mesma maneira, a ligação de ATP estimula (ADP e P;), ou pode requerer sua liberação.
a capacidade de as DNA· helicases se ligarem ao ssDNA. Em O mecanismo-chave final para acoplar a hidrólise de ATP
cada caso, os eventos acoplados à ligação de ATP podem ser à reação pertence ao gatilho da hidrólise de ATP. É funda·
considerados a parte ativa do ciclo. No caso do carregador do mental que o fator não hidrolise o ATP até que o comple·
grampo, a ligação de ATP. mas não a hidrólise, é necessária xo desejado esteja montado. Em geral, a formação de um
para abrir o anel do grampo deslizante. Para a DNA·helicase, determinado complexo desencadeia a hidrólise de ATP. No
a ligação ao ssDNA parece ser o evento-chave para o desen· caso do carregador do grampo, é um complexo terciário en·
rolamento do DNA. Nesses casos, a ligação ao ATP estabiliza tre o grampo deslizante, o carregador do grampo e a junção
a conformação da enzima que favorece a interação com o iniciador. molde.
substrato em uma conformação particular. Assim, o controle desses eventos moleculares pelo ATP
Qual é o papel da hidrólise de ATP? A hidrólise do ATP está mais d iretamente relacionado ao controle do momento
normalmente leva ao estágio de desmontagem do evento: das alterações conformacionais pela enzima. A enzima pode
liberação dos alvos ligados da enzima. Após o complexo es· executar a sua função pela necessidade da alternância entre os
tabilizado pelo ATP ter sido formado, ele deve ser desmon- dois estados e pela formação de um intermediário-chave para
tado. Isso pode ocorrer por simples dissociação; entretanto, promover a hidrólise de ATP. Em contrapartida, se a enzima
frequentemente, esse processo resultaria no retorno dos simplesmente se ligar e liberar ATP (sem a hidrólise), a reação
componentes às suas situações iniciais (p. ex., o grampo pode, na mesma proporção, ir adiante ou retornar ao estado
deslizante livre em solução), e esse processo seria lento se inicial, resultando em pouco ou nenhum trabalho realizado.
remove os grampos deslizantes do DNA quando eles não são mais utilizados,
apesar desta etapa não necessitar a hidrólise de ATP. Como as DNA-helicases e
as topoisomerases, essas enzimas alteram a conformação de seu alvo (o gram-
po deslizante), mas não a sua composição química.
O que controla a adição e remoção dos grampos deslizantes do DNA?
O carregamento de um grampo deslizante ocorre sempre que uma junção
iniciador:molde está presente na célula. Essas estruturas não são formadas
apenas durante a replicação do DNA, mas também durante os vários eventos
de reparo do DNA (ver Cap. 10). Um grampo deslizante pode ser removido do
DNA somente se não estiver sendo utilizado por outra enzima. Os carregado-
res de grampos e as DNA-polimerases não podem interagir com um grampo
deslizante ao mesmo tempo, porque apresentam sobreposição dos sítios de
ligação no grampo deslizante. Assim, um grampo deslizante que está ligado
à DNA-polimerase não poderá ser removido do DNA. Da mesma maneira, os
fatores de montagem de nucleossomos, as proteínas de reparo dos fragmen-
tos de Okazaki e outras proteínas de reparo do DNA interagem com a mesma
região do grampo que interage com o carregador do grampo. Então, os gram-
pos deslizantes são removidos do DNA apenas quando todas as enzimas que
interagem com eles tiverem completado suas funções.
,
SINTESE DE DNA NA FORQUILHA DE REPLICAÇAO
-
Na forquilha de replicação, as fitas líder e tardia são sintetizadas simulta-
neamente. A síntese simultânea tem a vantagem de limitar a quantidade de
ssDNA presente na célula durante a replicação do DNA. Quando uma região
de ssDNA do DNA é rompida, existe uma quebra completa no cromossomo,
que é muito mais difícil de ser corrigida do que uma quebra no ssDNA em
uma região de dsDNA. Além disso, o reparo desse tipo de lesão frequente-
284 Parte 3 Manutenção do Genoma
FI G U RA 9 • 2 2 Composição da h o·
loenzima DNA Pol 111. Existem quatro
enzimas em cada cópia da holoenzima
núcleo de Pol lll
DNA Pol 111: três cópias da enzima DNA
I
Pol 111 do núcleo e uma cópia do fixa-
dor do g rampo deslizante. O fixador do
g rampo deslizante inclui três cópias da
proteína T, e cada uma inclui um domí-
nio que interage com um núcleo da DNA
Pol lll. A análise da sequência de aminoá- carregador
cidos da proteína T indica que a região de dogrampo -
ligação na DNA Pol i li da proteína está se- deslizante
parada da região envolvida na colocação
do grampo por um espaçador flexível es- grampo deslizante - -t
tendido. Acredita-se que esse espaçador
permite que as polimerases se desloquem
de maneira relativamente independente.
o que seria necessá rio para uma polime- mente leva à mutação do DNA (ver Cap. 10). Assim, é fundamental limitar
rase replicar a fita-líder e para as outras o período em que o DNA está no estado de fita simples. Para coordenar a
duas replicarem a fita ta rdia. {Ada ptada.
replicação de ambas as fitas do DNA, diversas DNA-polimerases atuam na
com permissão. de O'Donnell M. et ai.
2001 . Curr. Biol. 11 : R935-R946, Fig. 6.
forquilha de replicação.
© Elsevier.) Em E. co/i, a ação coordenada dessas polimerases é facilitada pela ligação
física entre elas em um grande complexo multiproteico chamado "holoenzima
DNA Pol III" (Fig. 9-22). Ho/oenzima é um nome genérico para um complexo
multiproteico no qual a atividade de uma enzima central está associada a com-
ponentes adicionais que aumentam a função. A holoenzima DNA Pol III inclui
três cópias do "n úcleo" da enzima DNA Pol III e uma cópia do fixador do gram-
po deslizante de cinco subun idades. Embora presen te em apenas uma cópia na
holoenzima, o carregador do grampo deslizan te in clui três cópias de proteín a 'T,
e cada uma delas liga-se a uma enzima central DNA Pol III (ver Fig. 9-22).
Como as múltiplas DNA-polimerases perman ecem ligadas na forquilha
de replicação enquan to sintetizam DNA nos moldes das fitas líder e tardia?
Um modelo para explicar isso propõe que a maquinaria de replicação explora
a flexibilidade do DNA e da proteína 'T (Fig. 9-23). À medida que a helicase
desenrola o DNA n a forquilha de replicação, o molde da fita-líder é exposto e
sobre ele atua imediatamente uma enzima núcleo DNA Pol III, que sintetiza
uma fita con tín ua de DNA complementar. Em contrapartida, o molde da fita
tardia não sofre imediatamente a ação da DNA-polimerase. Em vez disso, ele
é liberado como ssDNA que é rapidamente ligado por SSBs. De forma intermi-
tente, a primase interage com a DNA-helicase e é ativada para sin tetizar um
a d
DNA-pollmerase
da fila·llder
3'
SSBs ligadas
DNA-polimerase aoDNA
da fita tardia A •segunda• DNA·
-polimerase da fita
tardia liga-se ao
fragmento de Okazaki - grampo deslizante na
junção iniciador:molde
b e inicia a síntese de um
novo fragmento de Okazaki
A •primeira· DNA·
-polimerase da fita tardia
é liberada do DNA e do
grampo deslitante após
a finalização de um
fragmento de Okazakl
primase
é liberada
a b
DNA-helicase
associada à
holoenzima DNA Pol lll
3'
atividade reduzida
da DNA-helicase
FIGURA 9 · 24 A ligação da DNA-helicase à hol oenzima DNA Pol lll estimula a velo-
cidade de separação das fit as do DNA. A subunidade 7 do carregador do g rampo interage
com a DNA-helicase e com a DNA-polimerase na forquilha de replicação. (a) Quando essa inte-
ração ocorre. a DNA-helicase desenrola o DNA aproximadamente na mesma velocidade que a
DNA-polimerase replica o DNA. (b) Se a DNA-helicase não estiver associada à holoenzima DNA
Pol lll, o desenrola mento do DNA fica 10 vezes mais lento. Nessas condições, a DNA-polimerase
pode replicar mais rapida mente do que a DNA-helicase pode separa r as fitas do DNA não
replicado. Isso permite que a holoenzima DNA Poli li "alcance" a DNA-helicase e restaure um
replissomo completo.
presença da DNA Pol III impede que a helicase "escape" da h oloenzima DNA
Pol III e, portanto, coordena a atuação dessas duas enzimas fundamen tais da
forquilh a de replicação.
Uma segunda in teração proteína-proteína importante ocorre entre a
DNA-helicase e a primase. Ao contrário da maioria das proteín as que atuam
na forquilha de replicação de E. coli, a primase não está fortemente associada
à forquilha. Em vez disso, uma vez por segundo aproximadamen te, a primase
associa-se à helicase e ao ssDNA coberto por SSB e sintetiza um novo iniciador
de RNA. Embora a interação entre a DNA-helicase e a primase seja relativa-
men te fraca, essa interação estimula fortemente a função da primase (aproxi-
madamente 1.000 vezes). Após a síntese de um iniciador de RNA, a primase é
liberada da DNA-helicase, ficando em solução.
A interação relativamente fraca en tre a prima se e a DNA-helicase de E. co/i
é importante na regulação dos comprimentos dos fragmentos de Okazaki.
Uma associação mais firme resultaria em sín tese mais frequente de iniciado-
res na fita tardia e, portanto, fragmen tos de Okazaki mais curtos. Uma intera-
ção mais fraca, por sua vez, resultaria em fragmentos de Okazaki mais longos.
A combinação de todas as proteín as que atuam n a forquilh a de replicação
é denomin ada replissomo. juntas, essas proteínas formam uma maquinaria
precisamente ajustada à síntese de DNA que contém várias máquinas intera-
gin do en tre si. In dividualmen te, essas máquinas desempenham fun ções es-
pecíficas importantes. Quando combinadas, suas atividades são coordenadas
pelas interações en tre elas. Embora essas in terações sejam particularmente
bem enten didas n as células de E. co/i, estudos sobre a maquinaria de replica-
ção de bacteriófagos e eucariotos demonstram que há uma coordenação se-
melhante, envolvendo várias enzimas, também na replicação do DNA desses
organ ismos. Na verdade, existem semelh anças claras entre as proteínas en-
288 Parte 3 Manutenção do Genoma
. EXPERIMENTOS - CHAVE
L~)
dor de levedura . Os fragmentos de DNA identificados foram
chamados de sequências de replicação autônomas (ARSs,
autonomously replicating sequences). Embora essas sequên-
cias atuem como replícadores no contexto artificial de um
plasmídeo circular, foram necessárias outras evidências para
demonstrar que essas sequ~ncias também eram replicadores
em suas localizações cromossômicas originais.
Para demonstrar que essas sequências de DNA (ARS)
l {)
atuavam como replicadores no cromossomo, foi necessário
o desenvolvimento de métodos para identificar a localização
das origens de replicaçlio na célula. Uma abordagem para
! transformação das
células com o DNA
contêm DNA
e do DNA na o replicado, o DNA que está sendo replicado não plasmidial com
é linear. Por exemplo, um fragmento de DNA (produzido pela o replicador
l
divagem do DNA com uma enzima de restrição) que não con- se multiplicam ONA iSOlado das células
tém uma origem de replicação adotará várias conformações que se mu l~pllcaram
em formato de "Y" à medida que é replicado (Quadro 9-4,
Fig. 2. fragmentos de DNA em azul). Da mesma maneira, ime-
diatamente após a iniciação da replicação, um fragmento de
DNA contendo uma origem de replicação adotará o formato
de " bolha". Finalmente, se a origem de replicação estiver lo-
calizada assimetricamente dentro do fragmento de DNA, o IT8gmento de DNA
DNA iniciará com o formato de uma bolha e, então, será con- que oontém o replicador
vertido ao formato de Y (Quadro 9-4, Fig. 2, fragmentos de
DNA em vermelho). Esses DNAs de formato incomum podem QUADRO 9 -4 FIGURA 1 Identificação genética de re-
ser distinguidos do DNA linear simples usando eletroforese plicadores. Um plasmídeo (uma pequena molécula de DNA
bidimensional em g~ de agarose (Quadro 9-4, Fig. 3). circular) contendo uma marca de seleç.\o é divado com uma
Para identificar o DNA em processo de replicação, o DNA enzima de restrição, resultando na remoção do replicador
derivado de células em divisão é primeiramente divado com normal do plasmídeo. Isso origina um fragmento de DNA
uma enzima de restriç.\o e separado em um gel bidimensional que não possui um replicador. Para isolar um replicador de
de agarose. Na primeira dimensão, o DNA é separado principal- um determinado organismo, o DNA desse organismo é diva-
mente pelo tamanho, mas na segunda dimensão o DNA é sepa- do com a mesma enzima de restriçlio e ligado ao plasmídeo
rado por tamanho e conformação. Isso é conseguido por meio clivado para regenerar plasmídeos circulares, cada um con-
da utilizaçlio de géis com densidades e velocidades eletroforé- tendo um único fragmento derivado do organismo em teste.
ticas diferentes para cada dimensão. Para separar por tamanho Esse DNA é transformado para o organismo hospedeiro e
e f ormato, os poros do gel de agarose são pequenos (alta den- os plasmídeos recombinantes slio selecionados, utilizando-
sidade da agarose) e a velocidade da eletroforese é rápida . Em -se uma marca de seleção do plasmídeo (p. ex., se a marca
contrapartida, para separar principalmente pelo taman ho, os conferir resistência a um determinado antibiótico, as células
poros do gel de agarose são maiores (baixa densidade da agaro- poderão se multiplicar na presença dele). As células que cres-
se) e a velocidade da eletroforese é mais lenta . Após o término cem são capazes de manter o plasmídeo e sua marca de se-
da eletroforese, as moléculas de DNA são transferidas para uma leção, indicando que o plasmídeo pode se replicar na célula
membrana de nitrocelulose e detectadas por Southem blot (ver e deve conter um replicador. O isolamento do plasmídeo da
Cap. 7). A escolha da enzima de restrição e da sonda de DNA célula hospedeira e o sequenciamento do DNA inserido per-
usada pode afetar drasticamente o resultado da análise. Em ge- mitem a identificação da sequência do fragmento que con-
ral, esse método requer conhecimento prévio sobre a localiza- tém o replicador. A mutagênese adicional do DNA inserido
ção de uma prová~ origem de replicação. Recentemente, no- (como uma deleção de regiões específicas do DNA inserido),
vos métodos foram desenvolvidos utilizando microarranjos de seguida pela repetição do experimento, permite uma defini-
DNA para identificar a localização das origens e não requerem ção mais exata do replicador.
conhecimento prévio sobre as localizações da origem.
Capítul o 9 Replicação do ONA 291
RE2
DNA ~
= = =<=====;+·==:===·:': =::=
'
====:=========:·~:==
==9'ÜF====
<===~---
+ +
QUADRO 9·4 FIGURA 2 O DNA q ue está em processo de em vermelho forem examinados, o padrão no lado esquerdo
replicação apresenta uma estrutura incomum. Os resultados será gerado. Se a enzima de restrição em azul e a sonda de
da clivagem do DNA em processo de replicação com enzimas DNA em azul forem usadas para detectar os fragmentos de
de restrição (RE) são mostrados. A ilustração mostra o cresci· DNA resultantes, o padrão à direita será observado. Observa-se
mento da "bolha de replicação" (formada por duas forquilhas que o padrão do lado esquerdo inicia com um fragmento de
de replicação afastando-se da origem de replicação). As conse· DNA contendo uma "bolha" e progride, gerando moléculas em
quências da clivagem desses intermediários de replicação são formato de Y. O padrão do lado direito nunca apresenta uma
acompanhadas pela hibridização com a sonda de DNA marca· "bolha", mas apresenta vários intermediários em formato de
da, como indicado. Se a enzima de restrição em vermelho for Y. Apenas os fragmentos de DNA que contêm uma origem de
usada e apenas os fragmentos que hibridizam com a sonda replicação podem produzir o padrão à esquerda.
Como os géis bidimensionais podem identificar os inter· cuia com formato de Y resultante de um fragmento quase to·
mediários de DNA associados a uma origem de replicação? O talmente replicado tem formato semelhante a uma molécula
padrão característico de migração do DNA fornece evidências linear com o dobro do tamanho do fragmento não replicado.
inequívocas de uma origem de replicação. As estruturas mais Assim, à medida que uma molécula de DNA é replicada por
incomuns mig ram mais lentamente na primeira dimensão. uma única forquilha de replicação, ela migrará em posições
Por exemplo, uma molécula com formato de Y que apresente que variam desde um ponto próximo ao fragmento não repli·
trés braços de comprimentos iguais migrará mais lentamente cado, formando um arco que atingirá uma localização equi·
que todas as outras moléculas derivadas de um determinado valente à da molécula linear com o dobro de tamanho que
fragmento de DNA (Quadro 9-4, Fig. 3b) e, portanto, estará seria esperado para a migração do DNA não replicado. Esse
na parte superior de um arco de moléculas de DNA não linea· formato é chamado de arco Y e indica que uma molécula
res. Em contrapartida, uma molécula com formato de Y com está em processo de replicação. Como todas as moléculas de
dois braços replicados muito curtos e uma longa região não DNA são replicadas a cada ciclo de replicação, a maior parte
replicada migrará de maneira muito semelhante à versão não dos fragmentos de DNA apresentará esse tipo de padrão.
replicada do mesmo fragmento de DNA. Finalmente, a molé· (continua)
292 Parte 3 Manutenção do Genoma
Quadro 9 • 4 (Continuação)
a b c d
clivagem do DNA RE RE origem RE
replicado com uma
* rw
enzima de restrição sonda * .
'
o ==:O=i o ~.
.
1
: = =
'
'
separação do DNA
na primeira dimensão
(principalmente
e '~' e~
por tamanho)
' '
separação do DNA
na segunda dimensão
o~
(por formato e tamanho)
arco de bolha de bolha para arco Y
o
•n>, - - - - - - - - - - ,
transferência do
DNA separado
"'
15
para nitrocelulose ,.!::
"'
~e_
hibridização do DNA ~ •
marcado radioativamente
ao sítio de uma provável ~
origem de replicação primeira dimensão -
QUADRO 9·4 FIGURA 3 Identificação molecular de ferentes padrões que podem ser observados. (b) Padrão de
uma origem de replicação. (a) Um segmento de DNA em intermediários observados quando a origem está locali zada
processo de replicação pode ser separado do DNA totalmen· f ora do fragmento de DNA detectado por Southern blot.
te replicado e do DNA não replicado por meio da separação Chamado de arco Y, todos os intermediários têm formato de
eletroforética bid imensional do DNA. O DNA total é isolado Y. A molécula com t rês braços de tamanho igual (número 2)
a partir de células em d ivisão (e, portanto , de células que move-se mais vagarosamente na segunda di mensão. (c) Um
estão se replicando) . O DNA é primeiramente separado prin· arco de bo lha é formado quando a origem está próxima do
cipalmente por tamanho (usando eletroforese de baixa vol· centro do fragmento de DNA detectado. O intermediário
tagem através de poros de agarose relativamente grandes), com a maior bolha migra mais vagarosamente na segunda
o campo elét rico é rodado em 90°, e o DNA é, então, sepa- di mensão. (d) Esse padrão surge quando a origem está fora
rado predominantemente por tamanho e formato (sob ele· do centro no fragmento de rest rição. Inicialmente, interme·
t roforese com alta voltagem em poros de agarose menores). diários em formato de bo lha são detectados, mas depois os
A análise por Southern blot é uti lizada para detectar o DNA intermediários em Y (depo is da passagem de uma forquil ha
de interesse. As localizações da origem (verde), dos sítios de por um sítio de restrição) são observados. Esse padrão de
cl ivagem da enzima de restrição (vermelho) e da sonda de bolha para arco Y é considerado o mais indicativo da presen·
DNA do Southern blot (azul) estão ilustradas para três di· ça de uma o rigem .
As molécu las que contêm uma origem de replicação ção estiver localizada assimetricament e no fragment o de
formam intermed iários de replicação com f ormato de bolha DNA. Neste caso, os int ermediários iniciarão como bolhas,
que migram ainda mais lentamente na primeira dimensão mas quando a forquilha de replicação se aproximar do fim
do que as moléculas com formato de Y. Quanto maior a do fragmento para completar a replicação, os intermediá·
bolha, mais diferente é o padrão de migração dessas mo· rios em formato de bolha assumirão o formato de Y. Isso
léculas comparado ao padrão de migração do DNA linear é chamado de t ransição de bolha para Y, a qual é facil·
(Quadro 9-4, Fig. 3c). Infelizmente, é d ifícil distinguir o arco mente identificada como uma descontinuidade no arco, e é
de intermediários produzidos por um fragmento contendo altamente indicativa de uma origem (Quadro 9-4, Fig. 3d).
uma bolha (chamado arco de bolha) do arco produzido por Assim, idealmente, as enzimas de rest rição escolhidas de·
intermediários com formato de Y (Quadro 9·4, Fig. 3b,c). vem f lanquear assimetricamente a origem de replicação a
Essa d ificuldade pode ser resolvida se a origem de replica· ser detectada.
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Em todos os o rganismos, é fundamental que a iniciação da Como descrito anteriormente, somente a DnaA ligada ao ATP
replicação seja extremamente controlada para garantir que o pode direcionar a iniciação da replicação; no entanto, o ATP
número de cromossomos e o número de células permaneçam ligado é convertido em ADP durante a iniciação. Além disso,
adequadamente equilibrados. Embora esse equ ilíb rio seja os grampos deslizantes que são carregados em consequência
mais fortemente regulado nas células eucarióticas, a E. co/i do início da replicação recrutam uma proteína (Hda) que esti·
também impede a duplicação cromossômica descontrolada, mula a hidrólise do ATP pela DnaA. Assim, o processo de pro-
evitando que as origens recém-iniciadas sejam reiniciadas. mover um ciclo de iniciação de replicação resulta na inativa-
Vários mecanismos d iferentes realizam essa função. ção da DnaA, impedindo sua reutilização. A alteração do ADP
Um método explora as alterações no estado de metilação
do DNA antes e depois da replicação do DNA (Quadro 9-5,
Fig. 1). Nas células de E. co/i, uma enzima chamada Dam me-
t iltransferase adiciona um grupo metil aos resíduos de A de
aS'{._GATC
• !c J1\llc ~ _ ~GATC g g!~c ~3·
13
J.
9
Quadro 9- 5 (Continuação)
I c:
(a) Múlt iplas proteínas DnaA·ATP ligam - b 5'
-se às sequências repetidas de 9 nucleotí- * 3'
deos em oriC. (b) A ligação de DnaA-ATP
a essas sequências promove a separação
•5'
das fitas na região das repetições de 1 3 DNA-helicase ~ i y
nucleotídeos. Isso é mediado por um do- (DnaB) ~~
mínio de ligação a ssDNA em DnaA-ATP c carregador da __./"'
que alonga e altera a estrutura do ssDNA DNA-helicase (DnaC)
associado, de maneira que ele não con-
siga hibridiza r ao ssDNA complementa r.
(c) Um complexo da DNA -helicase (DnaB)
e do ca rregador da DNA-helicase (DnaC)
associa-se à DnaA ligada com a o rigem.
Um domínio de ligação a ssDNA no ca r-
regador da helicase e interações proteí-
na-proteína ent re a DnaA e a helicase/
carregador da helicase medeiam essas
interações. (d) Os ca rregadores de DNA-
·helicase cata lisam a abertura do anel
proteico da DNA-helicase e a colocação
do anel ao redor do ssDNA na origem . (e)
Cada uma das DNA-helicases recruta uma
DNA-primase, que sintetiza um iniciador
de RNA em cada molde. A colocação do
iniciador de RNA promove a dissociação
do ca rregador da helicase do replicador e
ativa as DNA-helicases. O movimento das
DNA -helicases ta mbém remove qualquer
DnaA que tenha permanecido ligada ao
replicado r. (f) Os iniciadores recém-sinteti-
zados e as helicases são reconhecidos pe-
los componentes do carregador do gram-
po das duas holoenzimas DNA Pol 111 . Os
g ram pos desliza ntes são colocados em
cada um dos RNAs iniciadores. e a sínte-
se da fita-líder é iniciada por um dos t rês
núcleos das enzimas DNA Pol i li de cada
gmm
po' i
deslizante
holoenzima. (g) Após cada DNA-helicase g
ter se deslocado por aproximadamente s·
1 .000 bases, u m segundo iniciador de s·
3' 3'
RNA é sintetizado em cada molde da fita s·
tardia e um g rampo desliza nte é adicio-
5'
nado. A junção iniciador:molde resulta nte
é recon hecida por um segu ndo núcleo
da enzima DNA Pol 111 em cada holoen-
zima, resulta ndo na iniciação da síntese
gmm
po' i
deslizante
FI GU RA 9 - 28 As quebras cromos-
sômicas como resu l tado da replica-
ção incompleta do DNA. Esta ilustração
!
iniciação das
replicadores é mostrado. Os replicadores
origens 3 e 5
de números 3 e 5 são os primeiros a serem
ativados. levando à formação de dois pa- ~ ~
§§§§~~).(-- ~§§~ ~-~
i •
:§,
res de forquilhas bidirecionais. A ativação
!
do replicador parenta! resulta na inati· origem 1 inicia
vação das cópias de cada replicador em origem 2 é replicada passivamente
ambas as moléculas-filhas de DNA até o
próximo ciclo celular (indicado por um X
vermelho). A extensão adicional das for-
quilhas de replicação resultantes duplica
o DNA que se sobrepõe aos replicadores
de números 2 e 4 antes que eles iniciem
o processo. Quando um replicador é co-
piado por uma forquilha de replicação de
o rigem adjacente antes de sua iniciação, =
diz-se que ele foi passivamente replicado.
Em bora esses replicadores não tenha m
iniciado, eles são ainda assim inativados
pelo ato de replicação de seu DNA (como +
=
será discutido mais ta rde, isso ocorre por- =
que as helicases carregadas na o rigem são
removidas pela passagem da forquilha de
replicação). Em cont rapartida. o replica-
dor 1 não é alca nçado por uma forquilha O carregamento da helicase é o primeiro passo
adjacente antes da sua iniciação e é ca- para a iniciação da replicação em eucariotos
paz de iniciar normalmente. A presença
de um número maior de replicadores do Os eventos da iniciação da replicação eucariótica ocorrem em momentos dis-
que o necessário pa ra completa r a repli· tintos do ciclo celular (ver Cap. 8). O carregamento da helicase ocorre em
cação do DNA é uma maneira redundante todos os replicadores durante a fase G, (antes da faseS). A ativação do replica-
de garantir a replicação completa de cada dor ou da origem, incluindo a ativação da helicase e a montagem do replisso-
cromossomo.
mo, ocorre apenas após a entrada da célula em fase S.
A separação entre o carregamento de helicase e a ativação da origem é
diferente da situação das células procarióticas, nas quais o reconhecimento
do replicador do DNA está intrinsecamente acoplado ao desenrolamento do
DNA, ao carregamento da helicase, e à montagem do replissomo. Como será
visto mais tarde, a separação temporal entre o carregamento da helicase e a
montagem do replissomo durante o ciclo celular eucariótico garante que cada
cromossomo seja replicado apenas uma vez durante cada ciclo celular (células
bacterianas resolvem esse problema de maneira diferente; ver Quadro 9-5).
O carregamento da helicase eucariótica necessita que quatro proteínas
separadas atuem em cada replicador (Fig. 9-30). A etapa inicial do carrega-
mento da helicase é o reconhecimento do replicador pela proteína iniciadora
eucariótica, ORC, ligada ao ATP. À medida que as células entram na fase G,
do ciclo celular, o ORC ligado à origem recruta duas proteínas carregadoras
de helicase (Cdc6 e Cdtl) e duas cópias da helicase Mcm2·· 7 para a origem.
É interessante notar que várias subunidades de ORC e a proteína Cdc6 são
membros da família de proteínas AAA + como a DnaC e as subunidades dos
carregadores do grampo deslizante. Como o carregador do grampo deslizante,
a ligação de ORCe Cdc6 ao ATP é necessária para a ligação de ORC ao DNA
e para o recrutamento estável da helicase e das proteínas carregadoras de he-
licase. A hidrólise de ATP por Cdc6 resulta no carregamento de um dímero
cabeça a cabeça do complexo Mcm2-7, fazendo com que envolvam a origem
de DNA dupla-fita. Durante esse evento, Cdtl e Cdc6 são liberadas da origem.
Acredita-se que a hidrólise de ATP por ORC restabelece o processo e permite o
início de uma nova rodada de carregamento de Mcm2-7 após a ligação de ATP
a O RC. Corroborando o fato de que o complexo Mcm2-7 envolve dsDNA em
vez de ssDNA, o carregamento da helicase eucariótica não leva ao desenrola-
Capítulo 9 Replicação do ONA 299
~---J..---r:m
sociação do complexo de reconhecimento
Cdc6 da origem (ORC) ligado a ATP ao replica -
dor. Uma vez ligado ao replicador, ORC
recruta Cdc6 ligada ao ATP e duas cópias
da helicase Mcm2-7 ligadas a uma se-
gunda proteína ca rregadora de helicase,
f~----,r,..----CDK! DDK
da que as células entra m na fase S do
ciclo celular, duas quinases. CDK e DDK.
são ativadas. A DDK fosforila a helicase
Mcm2-7 carregada, e a CDK fosforila Sld2
Sld2 Q Sld3Q Dpb11D T . Pol e () GINS Q Cdc45
e Sld3. Sld2 e Sld3 fosforiladas ligam-se a
Dpb1 1 e. juntas, essas proteínas facilita m
a ligação de proteínas ativadoras de heli- 9
case, Cdc4 5 e GINS. à helicase. Cdc45 e
GINS formam um complexo estável com a
helicase Mcm2-7 (chamado de complexo
Cdc45/Mcm2-7/GI NS, ou CMG) e ativam
d rasticamente a atividade da helicase
b b+ c
Mcm2 -7. A DNA-polimerase da fita-líder complexo CMG
(e) é recrutada pa ra a helicase nesse está-
gio (antes do desenrolamento do DNA).
Após a form ação do complexo CMG, as
proteínas Sld2, Sld3 e Dpb 11 são libera-
das da o rigem. A DNA Pol a/primase e a Pol a/primase
DNA Pol 8 (que atua m sobretudo na fita
tardia) são recrutadas somente depois do
desenrolamento do DNA. As interações
proteína-proteína que ma ntêm a DNA-
·polimerase na forquilha de replicação
ainda são pouco conhecidas.
'
TERMINO DA REPLICAÇAO -
A finalização da replicação do DNA requer um conjunto de eventos específi·
cos. Esses eventos são diferentes nos cromossomos circulares e lineares. Em
um cromossomo circular, a maquinaria da forquilha de replicação convencio-
nal pode replicar a molécula inteira, mas as moléculas-filhas resultantes esta-
rão topologicamente unidas. Em contrapartida, a replicação das extremidades
dos cromossomos lineares não pode ser finalizada pela maquinaria de replica-
ção discutida até o momento. Assim, organismos que possuem cromossomos
lineares desenvolveram estratégias específicas para a replicação das extrerni·
dades de seus cromossomos.
Capítulo 9 Replicação do ONA 303
J'~iiiiiiiiiiiiiii~~~iiiiiiiiiiiiiiii~~fl
5'-
+
!:llli"'!
.
3'
J· ===============~:
5'
+ f/3'
~:~~~~~~~~~~~~~~~~:~
+ :
J·==========
5'
cromossomo
mais curto
'7
:r;
I...J
ONA·
FI GURA 9 · 37 A iniciação com -polimerase
proteína como uma solução para o
problema da replicação das extremi·
dades. Ao se ligar à DNA-polimerase e à
extremidade 3' do molde. uma proteína
f ornece o grupo hidroxila iniciador pa ra
a síntese de DNA. No exemplo mostrado,
uma proteína inicia a síntese de todo o
DNA, como visto em diversos vírus. Nas
moléculas de DNA mais longas, esse mé·
todo é combinado ao da origem funcio· 5'~0"!:::==============='3'
J' o-e s·
naI convencional para replicar os cromos-
somos.
Capítulo 9 Replicação do ONA 305
ção das extremidades. Essa origem não interage com as mesmas proteínas das
demais origens eucarióticas, mas, em vez disso, recruta uma DNA-polimerase
especializada, chamada telomerase.
repetição
~ CONEXÕES CLINICAS
Todos os organismos são mortais. Sejam os dias ou sema· levou à hipótese de que o tamanho do DNA telomérico limitava
nas vividos por mu itos organismos menores, ou os vários o número de vezes que uma célula poderia se dividir.
anos que um ser humano vive em média, os organismos não Embora o conceito ainda seja uma hipótese, acumulam-se
podem escapar de sua mortalidade intrínseca. Não surpre· comprovações experimentais para a ideia de que os telômeros
ende que pesquisadores (e outros) tenham estudado essas estão conectados ao envelhecimento celular. Por exemplo, para
limitações por muito tempo, esperando entendê-las e, talvez, que a hipótese seja viável, células normais deveriam ter pou·
superá-las para encontrar a mítica "fonte da juventude". ca ou nenhuma atividade de telomerase. Caso contrário, essas
Quando os pesquisadores desenvolveram maneiras para células simplesmente continua riam a estender seus telômeros
cultivar células individuais fora do corpo, eles pensavam que à medida que eles encurtassem. De fato, muitas células nor·
as células eram imortais. Isso sugeria que a mortalidade era mais possuem atividade de telomerase limitada. Em contrapar·
um problema do organismo completo, e não das células. tida, células que possuem capacidade proliferativa aumentada,
Essa hipótese foi eliminada quando Leonard Hayflick estudou como células-tronco e células derivadas de tu mores. possuem
a divisão celular em cultivo de maneira mais cuidadosa. Ele níveis maiores de atividade de telomerase. De fato, estudos de
observou que, mesmo em isolamento, as células podiam se células cancerígenas em cultivo indicam que elas podem se divi·
dividir apenas um número limitado de vezes. ~ interessante di r indefinidamente. Um segundo experimento importante que
notar que os estudos de Hayflick mostraram que o núme· corrobora esse modelo mostrou que a expressão de telomerase
ro de divisões pelo qual uma célula passa é característico da em células normais efetivamente imortalizava as células.
fonte das células. hoje conhecido como "limite de Hayflick". O achado de elevada atividade de telomerase em células
Os estudos de Hayflick levaram à ideia de que as células cancerígenas levou à hipótese de que os telômeros poderiam
contêm um relógio de contagem regressiva interno que limi· representar um método para limitar a capacidade de cres·
ta o número de divisões das quais uma célula pode participar. cimento das células que perderam o controle de seu cresci·
Quando o relógio chega a zero. a célula é impedida de se d ividir mente normal. Se for verdadeiro, isso poderia explicar por
novamente. Durante anos. a identidade molecular desse relógio que organismos multicelulares não permitiram que a ativida·
permaneceu desconhecida; entretanto, à medida que a natu· de de telomerase estivesse presente em todas as células. De
reza dos telômeros e seu papel na replicação do DNA ficaram fato, há vários esforços para a busca de inibidores de telome-
mais bem conhecidos, tornou-se ela ro que o telômero poderia rase como agentes quimioterápicos. A elevação da atividade
ser o tão procurado relógio d ivisionário. Corroborando essa de telomerase em células cancerígenas também sugere que
ideia, o DNA telomérico isolado de pessoas mais jovens é mais a ativação global da telomerase não seria um método inteli·
longo do que o isolado de pessoas mais velhas. Essa observação gente para buscar a imortalidade !
a·E==:==:==:==:~s::,
s· · ==3'
a telomerase estende a
extremidade 3' do telômero
1
a·E==:==:==:==:~
s· s·==--•3"
o segmento de DNA
adicional da extremidade 3'
atua como molde para um
novo fragmento de Okazaki
fi
Todas as três proteínas foram im plicadas
L~~sf9~s·~~·3·
na inibição da atividade da telomerase.
A Cdc13 liga -se ao DNA telomérico repe-
titivo de fita sim ples e está envolvida no
O
recrutamento da telomerase. (b) Células TRFf TRF2 Ra~1
de seres humanos. TRF1 e TRF2 ligam-se
diretamente ao DNA telomérico repetiti-
vo de dupla-fita. O homólogo humano
de Rap1 bem como TIN2 . TPP1 e POT1 células de S. cerevisiae, proteínas ligadas ao telômero atuam como inibido-
associam-se a TRF1 ou TRF2 . Juntas, essas res fracos da atividade da telomerase (Fig. 9-41). Quando existirem apenas
proteínas formam um complexo chamado poucas cópias da sequência telomérica repetida, um número reduzido dessas
de Shelterin (shelter = abrigo, refúgio), proteínas irá se ligar ao telômero e a telomerase poderá estender a extremi·
devido à sua habilidade de "proteger" os dade 3' -OH do telômero. À medida que o telômero se torna mais longo, mais
telômeros da ação de enzimas de reparo proteínas de ligação ao telômero acumulam-se e inibem a extensão da ex-
do DNA. POT1 também se liga diretamen- tremidade 3'-0H do telômero pela telomerase. Esse mecanismo simples de
te ao DNA telomérico repetitivo de fita retroalimentação negativa (telômeros mais longos inibem a telomerase) é um
simples e inibe a atividade da telomerase.
método robusto para manter um tamanho de telômero semelhante nas extre-
midades de todos os cromossomos.
Proteínas que reconhecem a forma de fita simples do telômero também
podem modular a atividade da telomerase. Em células de S. cerevisiae, a pro-
teína Cdc13 liga-se a regiões de fita simples do telômero. Estudos dessa pro-
teína indicam que ela recruta a telomerase para os telômeros. Assim, a Cdc13
é um ativador positivo da telomerase. Em contrapartida, a proteína humana
que se liga ao DNA telomérico de fita simples, POTl, atua de maneira oposta
- ou seja, como inibidor da atividade da telomerase. Estudos in vitro mostram
que a ligação de POTl ao DNA telomérico de fita simples inibe a atividade
da telomerase. Células desprovidas dessa proteína apresentam comprimento
de DNA telomérico extremamente aumentado. É interessante notar que essa
proteína interage indiretamente com as proteínas de ligação ao telômero de
dupla-fita em células humanas. Propôs-se que, à medida que os telômeros
aumentam de tamanho, mais POT1 é recrutada, aumentando, assim, a pro-
babilidade de sua ligação às extremidades de ssDNA do telômero e a inibição
da telomerase.
l mais inibição
sem alongamento
a b
5'
tdobramento
t invasão de fita
alça t
5'
RESUMO
A síntese de DNA depende da presença de dois tipos de subs- tardia) deve ser sintetizada primeiramente como uma série
tratos: os quatro desoxi nucleotídeos trifosfato (dATP, dGTP, de pequenos segmentos de DNA, chamados fragmentos d e
dCTP e dTTP) e a estrutura de molde de DNA, uma junção Okazaki. Cada fita de DNA é iniciada com um iniciador d e
iniciador:molde. O 01\A-molde determina a sequência dos RNA, que é sintetizado por uma enzima chamada primase. Es-
nucleotídeos incorporados. O iniciador serve como substrato ses iniciadores devem ser removidos para finalizar o processo
para a incorporação de desoxinucleotídeos, sucessivamente de replicação. Após a substituição dos iniciadores de RNA por
adicionados à OH em sua extremidade 3'. DNA, todos os fragmentos de DNA da fita tardia que foram ini-
A síntese de Dl\A é catalisada por uma enzima denomi- ciados em separado são unidos, formando uma fita contínua
nada DNA-polimerase, que utiliza um único sítio ativo para de DNA pela DNA-ligase.
adicionar qualquer um dos quatro dNTPs p recursores. Estudos Além das DNA-polimerases, diversas outras proteínas
estruturais de diversas DNA-polimerases revelaram que elas se atuam coordenando e facilitando o processo de replicação
assemelham a uma mão que segura o DNA e o nucleotídeo do DNA. Esses fatores adicionais facilitam o desenrolamento
a ser incorporado no sítio catalítico. As DNA-polimerases são do molde de dsDNA (DNA-helicase), estabilizam o molde de
processivas: uma vez ligadas a um substrato, elas são capazes ssDNA (SSBs) e removem as supertorções geradas na frente da
de adicionar muitos nucleotídeos. As exonucleases de revisão forquilha de replicação (topoisomerases). As DNA-polimerases
de leitura aumentam ainda mais a precisão da síntese de DNA, são especializadas, desempenhando diferentes papéis durante
atuando como uma "tecla de deletar" que remove nucleotí- a replicação do DNA. Algumas estão estruturadas para serem
deos incorretamente adicionados. altamente processivas e outras apenas fracamente processivas.
Na célula, ambas as fitas de um molde d e DNA são dupli- Os grampos deslizantes do DNA aumentam a processividade
cadas simultaneamente em uma estrutura chamada forquilha das Dl\A-polimerases, permitindo a replicação de extensas re-
de replicação. Como as duas fitas do DNA são antiparalelas, giões de DNA. Essas proteínas em formato de grampos estão
apenas uma das fitas do molde de DNA pode ser replicada de ligadas topologicamente ao DNA, mas são capazes de d eslizar
maneira líder (a fita-líder). A outra fita de DNA (chamada fita ao longo do DNA recém-sintetizado enquanto ligadas à DNA-
Capítulo 9 Replicação do ONA 311
-polimerase. Isso impede, efetivamente, a dissociação da DNA- Nas células eucarióticas, a íniciaç.ã o da replicação do DNA
-polimerase da junção iniciador:molde. Complexos proteicos é fortemente controlada para garantir que cada nucleotídeo
especiais, chamados carregadores do grampo deslizante do de cada cromossomo seja replicado apenas uma única vez por
DNA, utilizam a energia da ligação e hidrólise do ATP para ciclo de divisão celular. Essa regulação estóta é realizada pelo
posicionar os grampos deslizantes sobre o DNA próximos às controle do carregamento e da ativação da helicase replicativa
junções iniciador:molde. durante o ciclo celular. Durante a fase G, do ciclo celular, as
As interações entre as proteínas na forquilha de replica- helicases podem ser carregadas mas não podem ser ativadas.
ção desempenham papel importante na síntese de DNA. Em No período restante do ciclo (fases S, G, eM), as helicases car-
E. coli, as três Dl\A-polimerases participam de um grande com- regadas podem ser ativadas, levando à iniciação da replicação
plexo chamado holoenzima DNA Pol III. A ligação da holo- do Dl\A, mas nenhum novo carregamento de helicase pode
enzima DNA Pol III à DNA-helicase estimula a velocidade de ocorrer. Assim, cada replicador pode promover apenas um ci-
desenrolamento do Dl\A. De maneira similar, a ligação da pri- clo de iniciação de replicação por ciclo celular, assegurando
mase à DNA-helicase aumenta a sua capacidade de sintetizar que o DNA seja replicado somente uma vez.
iniciadores de RNA. Assim, a reação de replicação é otimizada O término da replicação do DNA requer a ação de enzi-
quando todo o conjunto de proteínas de replicação está pre- mas específicas. Nos cromossomos circulares, a DNA topoiso-
sente na forquilha de replicação. Esse conjunto de proteínas, merase tipo Il separa os produtos circulares topologicamente
atuando de modo coordenado, forma um complexo chamado ligados um do outro. Os cromossomos lineares também neces-
replissomo. sitam de proteínas especiais para garantir sua completa repli-
A iniciação da replicação do DNA é diógida por sequên- cação. Nas células eucarióticas, uma DNA-polimerase especia-
cias de DNA específicas, chamadas replicadores. O local onde lizada chamada telomerase permite que as extremidades dos
ocorre o início da replicação é chamado oógem de replicação. cromossomos (chamados telômeros) atuem como uma origem
O replicador é ligado específicamente a uma proteína iniciado- de replicação singular. Ao estender as extremidades 3' dos te-
ra, o que promove o recrutamento de outras proteínas neces- lômeros, a telomerase elimina a perda progressiva das extre-
sárias à íniciação da replicação (como a DNA-helicase) e, em midades cromossômicas causadas pela síntese convencional
alguns casos, mas não sempre, o desenrolamento do DNA na da maquinaria da forquilha de replicação. Proteínas ligadas ao
oógem. Os eventos subsequentes na iniciação da replicação do Dl\A telomérico atuam na regulação da atividade da telomera-
DNA são predominantemente comandados por interações pro- se e protegem as extremidades dos cromossomos da degrada-
teína-proteína e por interações não específicas proteína-DNA. ção e da recombinação.
BIBLIOGRAFIA
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initiation. Curr. Opin. Struct Biol. 16: 405-4 15.
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Vos S.M., Tretter E.M., Schmidt B.H., and Berger J.M. 201 I. Ali
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tangled up: How t-ells direct, manage and exploit topoisomerase
In press.
function. Nat. Rev. Moi. Celi Bioi. 12 : 827- 841 .
QUESTOES
-
Para respostas de questões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. A. Em relação à linha pontilhada, em qual(is) direção(ões) -
direita, esquerda ou ambas - a replicação prossegue?
Questão 1. Cite os dois substratos necessários para a síntese
B. Do lado direito da linha pontilhada, a replicação de qual
de DNA. Explique o porquê da necessidade de cada um deles. fita-molde (de cima ou de baixo) será contínua?
Questão 2. Uste as etapas da síntese de DNA, começando C. Do lado esquerdo da linha pontilhada, a replicação com-
pelo molde com inidador e os desoxinucleotídeos trifosfato. pleta de qual fita-molde (de cima ou de baixo) será mais
afetada por uma mutação que faz a DKA-Iigase ser parcial-
Questão 3. Explique por que a síntese de DNA está acoplada mente funcional?
à hidrólise de pirofosfato.
Questão 9. Você quer montar um ensaio começando com
Questão 4 . O fánnaco antiviral Adclovir (estrutura repre- um grampo deslizante ligado ao DNA. Qual propriedade espe-
sentada a seguir) é usado para tratar infecções causadas por cial o DNA deve ter para estabelecer a ligação entre o grampo
vírus de DNA dupla-fita, como o herpes-vírus simples. O Aci- deslizante e o DNA? Quais outros componentes proteicos de-
clovír atua em nivel de síntese de DNA. vem estar na reação para garantir a ligação?
Questão 10.
A. Explique como o tempo necessário para completar a repli-
cação do genoma de E. co/i é de 40 minutos, mas mesmo
assim as células podem se dividir a cada 20 minutos.
B. Por que a telomerase não é necessária em células de E. wli?
Questão 11.
A. Descreva o papel de uma DNA-helicase em uma forquilha
A. O Aciclovir atua como análogo de qual desoxinudeotídeo? de replicação.
B. O Adclovír não pode ser incorporado ao DNA a menos B. Como resultado da atividade da DNA-helicase, as topoiso-
que seja modificado por uma quinase codificada pelo ví- merases também são necessárias durante a replicação. Ex-
rus. Explique por que a atividade de uma quinase é ne- plique como as topoisomerases ajudam as DKA-helicases
cessária para que o aciclovir seja incorporado durante a a funcionarem de maneira mais eficiente.
síntese de DNA. C. Durante a PCR, você não precisa adicionar DNA-helicase à
reação. Explique por que não.
Questão 5. Exp lique por que o cloreto de magnésio é adi-
cionado ao tampão usado para PCR (reação em cadeia da po- Questão 12. Em E. co/i, a DKA-polimerase I possui ativi-
limerase) . dades de exonuclease S' e 3', enquanto a DKA-polimerase 111
possui atividade de exonudease 3'. Explique a funcionalidade
Questão 6. Formule uma hipótese especulando por que algu- por trás das diferenças em atividade de exonuclease associada
mas DNA-polimerases são desprovidas de atividade de exonu- a essas duas DNA-polimerases.
clease sem que isso contribua significativamente para o número
de malpareamentos introduzidos durante a replicação do DNA. Questão 13. Pesquisadores mapearam mutações associadas
a doenças como disqueratose congênita ao DNA que codifica
Questão 7. A seguir, está representada uma longa fita-molde o componente de RNA da telomerase. Descreva por que defei-
de DNA na qual está ocorrendo a síntese de DNA da fita tardia. tos no componente de RNA da telomerase estão associados a
As linhas horizontais curtas representam dois fragmentos de doenças.
Okazaki que já foram sintetizados. No contexto da forquilha
de replicação, selecione a letra (a-d) que indica onde a primase Questão 14. Revise o Quadro 9-1. Ensaios de incorporação
sintetizará o próximo iniciador de RNA. Por que você escolheu medem a síntese de DNA usando dNTPs marcados com "p (em
essa localização? que 32 P substitui o a -fosfato do dNTP).
A. Se você usar dNTPs marcados nos [3 ou 'Y-fosfatos, você
a b c d não d etectará nenhuma radioatividade no DNA recém-
j j j j -sintetizado. Explique o porquê.
5'~--====~~~3' B. Após a incorporação dos dNTPs marcados com n P, você
precisa separar os dNTPs marcados com 3íp não incorpo-
Questão 8. A seguir, está uma figura de uma única origem rados da fita de DNA recém-sintetizada antes de medir a
de replicação em uma célula eucariótica. quantidade de 32P incorporado. Explique como a eletrofo-
rese em gel separa os dNTPs marcados com 32P não incor-
porados da fita de DNA recém-sintetizada.
C. Para a ligação à membrana mostrada no Quadro 8-1,
Figura 2, d escreva um controle negativo que asseguraria
que sua membrana estivesse separando os dNTPs marca-
dos com 3;P não incorporados do DNA.
CAPÍTULO 1o
Mutabilidade e
Reparo do DNA
A
PERPETUAÇAO DO MATERI Al GENÉTICO de geração para geração depende da
manutenção das taxas de mutação em níveis mínimos. As taxas de mu-
tação elevadas na linhagem germinativa destruiriam a espécie, e as ta-
xas de mutação elevadas na linhagem somática destruiriam o indivíduo. As
células vivas dependem do funcionamento correto de milhares de genes, e
cada um deles pode ser danificado por uma mutação nos diversos sítios da se-
quência que codifica as suas proteínas, ou nas regiões flanqueadoras que pro-
movem sua expressão ou o processamento de seu RNA mensageiro (mRNA).
Se os descendentes tiverem boas chances de sobrevivência, as sequências
de DNA devem ser transmitidas de maneira exata e inalteradas à linhagem
germinativa. Da mesma maneira, as células especializadas do organismo adul-
to não conseguiriam realizar sua missão se as taxas de mutação somáticas
fossem altas. O câncer, por exemplo, surge em células que perderam a capa-
cidade de crescimento e divisão controladas em consequência de lesões nos
genes que controlam o ciclo celular. Se as taxas de mutação nas células somá-
ticas forem elevadas, a incidência de câncer será catastrófica e insustentável.
Ao mesmo tempo, se o material genético fosse perpetuado com fidelidade
perfeita, a variação genética necessária para permitir a evolução seria perdida,
e novas espécies, incluindo a humana, não teriam surgido. Assim, a vida e a
biodiversidade dependem de um delicado equilíbrio entre a ocorrência de
uma mutação e seu reparo. Neste capítulo, serão considerados as causas das
mutações e os sistemas responsáveis por sua reversão ou correção, que mini-
mizam as lesões no material genético.
Duas fontes importantes de mutação são as falhas na replicação do DNA e
as lesões químicas no material genético. Os erros de replicação surgem da tau-
tomerização, a qual, como foi visto no Capítulo 9, impõe um limite na preci-
são do pareamento de bases durante a replicação do DNA. A maquinaria enzi-
mática de replicação do DNA tenta compensar a incorporação de nucleotídeos
incorretos por meio de um mecanismo de revisão de leitura, mas alguns erros
escapam da detecção. Além disso, o DNA é uma molécula orgânica complexa
e frágil, de estabilidade química limitada. Ele não apenas sofre lesões espon-
tâneas, como perdas de bases, mas também é atingido por substâncias quími-
cas naturais e artificiais e pela radiação, que quebram seu esqueleto e alteram
quimicamente suas bases. Em poucas palavras, os erros na replicação e lesões
no material genético por causas ambientais são inevitáveis. Uma terceira fonte
importante de mutações é a classe de inserções geradas por elementos de DNA
conhecidos como transposons. A transposição é um assunto importante por
si só, e será considerado de maneira detalhada no Capítulo 12.
314 Parte 3 Manutenção do Genoma
((O
kX f)J c
Outros tipos de mutações causam alterações mais drásticas no DNA,
como inserções extensas e deleções e rearranjos grosseiros da estrutura cro-
mossômica. Essas alterações podem ser causadas, por exemplo, pela inser-
ção de um transposon, que geralmente posiciona vários milhares de nucleo-
FIGURA 1 0 · 1 Substituições do tídeos de DNA exógeno n as sequências codificadora ou reguladora de um
tipo troca de bases. (a) Transições. (b) gene (ver Cap. 12) ou pelas ações aberrantes dos processos de recombinação
Transversões. celular. A taxa geral na qual surgem novas mutações espon taneamen te em
Capítulo 10 Mutabilidade e Reparo do ONA 315
: :
•
;
J
:
segundo ciclo
de replicação T
c
primeiro ciclo FI G URA 1 0 · 2 A replicação pode
.. .. .. de replicação c transformar uma base mal-incorpo-
I Ol~, Q
(incorporação errônea) rada em uma mutação permanente.
, l,.
. . "l' . i Uma mutação potencial pode ser int ro-
f )
, _ . a
« :::
' ::
' ;:;; ~~ duzida pela incorporação errônea de uma
base em um primeiro ciclo de replicação.
No segundo ciclo de replicação, a m uta -
ção torna-se permanentemente incorpo-
rada na sequência de DNA.
316 Parte 3 Manutenção do Genoma
~ CONEXÕES CLINICAS
Outro exemplo bem-conhecido de sequências sujeitas a erros siduos de glutamina na proteína mutante em pacientes com
são as repetições de trincas de sequências d e nucleotideos a doença de Huntington. Pesquisas recentes indicam que esse
CGG e CAG em determinados genes. Nos seres humanos, são trecho de poliglutamina interfere na interação normal entre
f req uentemente encontradas expansões do número de re- uma sequência rica em glutamina de um fator de t ranscri-
petições em trinca de uma geração para a outra, resultando ção chamado Sp1 e uma sequência rica em glutamina corres-
em doenças que são progressivamente mais graves nos filhos pondente em TAFII130, uma subunidade de um componente
e netos dos individues afetados. Exemplos de doenças que da maquinaria de transcrição chamado TFIID (ver Cap. 13).
são causadas pela expansão de tri ncas são a distrofia mus- Essa interferência prejudica a transcrição nos neurõnios do
cular adulta (miotõnica); a síndrome d o X frágil, que causa cérebro, incluindo a t ranscrição do gene para o receptor de
retardo mental; e a doença de Huntington, que causa neu- um neurotransmissor. Da mesma maneira, os segmentos re-
rodegeneração. CAG é o códon que corresponde ao resíduo petidos de poliglutamina gerados pelas expansões CAG em
de glutamina, e a sua expansão na sequência codificadora outros genes também exercem seus efeitos interferindo nas
da proteína de Huntington resulta em uma repetição de re- interações entre fatores de transcrição e TAFII 130.
Mutl
MutH
--t:=)
o t tm (ADP)
quebra ou incisão
! exonuclease
mostrada, mas ver Fig. 10-4). Em etapas
subsequentes, a MutS recruta Mutl e
MutH, e a atividade de ATPase de MutS
catalisa a hidrólise de ATP. MutH é uma
endonuclease que cria uma quebra no
3'
m ,.., ,
....
DNA próximo ao sítio de malpa reamen-
"
S'f ~,
'I
!
to. A seguir, u ma exonuclease digere a
fita quebrada movendo-se pa ra além
DNA-polimerase
do malpa reamento. Por fi m, a lacuna de
fita si mples resultante é preenchida pela
3' t::::::;::::::;;;:;:=====r=====~::::;;~
DNA-polimerase, elimi nando o malpa re-
5' ,.. > - >1 > A .., ) amento. (Adaptada , com permissão, de
malpareamento Junop M.S. et ai. 2001. Moi. Ce/1 7: 1-12,
reparado Fig. 6b. © Elsevier.)
318 Parte 3 Manutenção do Genoma
FI G U RA 1 O· 4 Estrutura de cristal
do complexo MutS·DNA. Observa-se
a dobra no DNA, representado na parte
inferior da estrutura. Além disso, próximo
à parte superior da estrutura da enzima
está o ATP. mostrado em amarelo, verde
e vermelho. O DNA está representado no
modelo de preenchimento. com o esque-
leto de açúcar-fosfato em vermelho e as
bases em cinza. (Junop M.S. et ai. 2002.
Moi. Ce/1 7 : 1-12.) Imagem prepa rada
com MoiScript, BobScript e Raster 3D.
quebra
to, o DNA será removido pela exonuclease I, que degrada o DNA na direção
3' ~ S'. Como foi visto, após a remoção da base malpareada, a DNA Pol III
preenche a sequência que foi removida (Fig. 10-6).
As células eucarióticas apresentam proteínas homólogas à MutS (cha-
madas proteínas MSH para "homólogas da MutS") e MutL (chamadas MLH
e PMS) para corrigir malpareamentos. Na verdade, os eucariotos apresen-
tam diversas proteínas semelhantes à MutS, com especificidades diferen-
tes. Por exemplo, uma proteína é específica para malpareamentos simples,
ao passo que outra recoh ece pequenas inserções ou deleções derivadas de
"deslizes"durante a replicação do DNA. Uma evidência fun damental de que
o reparo de malpareamentos desempenh a uma fun ção essencial nos organis-
mos superiores surgiu da descoberta de que a predisposição genética para o
câncer de colo (câncer colorretal não polipoide hereditário) se deve a uma
mutação nos genes human os homólogos de MutS (especificamente o h omó-
logo MSH2) e MutL.
Embora as células eucarióticas possuam sistemas de reparo de malparea-
men tos, elas não têm MutH nem o truque inteligente de usar a h emimetila-
ção para marcar a fita parenta!, encontrados em E. coli. (De fato, a maioria
das bactérias é desprovida de Dam metilase e também é incapaz de usar a
h emimetilação para marcar a fita recém-sin tetizada.) Como, então, o sistema
de reparo sabe qual das duas fitas deve ser corrigida? A sín tese da fita tardia,
como foi visto no Capítulo 9, ocorre de maneira descontín ua, com a forma-
ção dos fragmen tos de Okazaki que são unidos ao DNA previamen te sintetiza-
do pela DNA-Iigase. Antes da etapa de ligação, os fragmentos de Okazaki estão
separados do DNA já sin tetizado por uma quebra, que pode ser considerada
equivalente à quebra gerada pela MutH na fita recém-sintetizada n a E. co/i. Na
verdade, extratos de células eucarióticas efetuam o reparo de malpareamentos
em moldes artificiais que con tenham uma quebra de forma seletiva na fita
que contém a clivagem. Resultados recentes in dicam que os homólogos h u-
320 Parte 3 Manutenção do Genoma
a b
Mull
3'.....
s·• ' .• ) 3'-0H
holoenzima DNA-
N:b Hl~
H,O
\,
"'\ •
-
o~~ NH3 ON LESOES NO DNA
J J
O DNA sofre lesões espontâneas por
hidrólise e por desaminação
H20
As mutações surgem não apenas por erros na replicação, mas também por
\. • OH
~ J
lesões no DNA. Algumas lesões são causadas, como será visto, por fatores am-
bientais, como a radiação e os agentes químicos, chamados agentes mu-
tagênicos, que aumentam a taxa de mutação (ver Quadro 10-2, Teste de
Ames). No entanto, o DNA também sofre lesões espontâneas pela ação da
c água. (O que é uma ironia, uma vez que a própria estrutura da dupla-hélice
depende do ambiente aquoso.)
O tipo mais frequente e importante de lesão hidrolítica é a desaminação
da base citosina (Fig. 10-?a). Sob condições fisiológicas normais, a citosina so-
fre desaminação espontânea, originando a base que não é natural (no DNA),
a uracila. A uracila realiza pareamento preferencialmente com a adenina, in-
troduzindo a base na fita oposta após a replicação, em vez de G, que deveria
ter sido pareada como C. A adenina e a guanina também estão sujeitas à de-
FIGURA 10·7 Tipos comuns de
dano hidro litico ao DNA. (a) A desa-
saminação espontânea. A desaminação converte a adenina em hipoxantina,
mi nação da citosi na origina uracila. (b) que faz ligações de hidrogênio com a citosina, em vez da timina; a guanina é
A depu rinação da guanina por hid rólise convertida em xantina, que continua a parear com a citosina, embora apenas
o rigina uma desoxirribose apurinica. (c) por duas ligações de hidrogênio. O DNA também sofre depurinação pela
A desaminação de 5-metilcitosi na gera a hidrólise espontânea da ligação N-glicosílica, e isso produz um sítio abásico
ti mina. uma base natural no DNA. (i. e., uma desoxirribose que não possui uma base) no DNA (Fig. 10-?b).
Capítulo 10 Mutabilidade e Reparo do ONA 321
~ CONEXÕES CLINICAS
Quadro 10 · 2 TestedeAmes
1
ausência de histidina (Quadro 10· 2, Fig. 1). Entretanto, se 12 horas de incubação com a adição do
qualquer reagente mutagênico em teste
as células mutantes forem tratadas com um p roduto quí·
mico mutagênico (e, portanto, potencialmente carcinogê·
nico), o produto químico provocará a reversão da mutação
sem sentido ou da mutação que alterou a fase de leitu ra
(dependendo da natureza do mutagênico) em um pequeno
número de células mutantes. Essa reversão regenera a ca·
pacidade das células se multiplicarem, formando colõnias
em meio sólido sem histidina. Quanto mais potente for o
mutagênico, ma ior será o número de colõnias. Alguns pro· colônias formadas a partir colônias de revertentes
dutos químicos que causam câncer não são mutagênicos de reversão espontânea induzidas pelo mutagênico
por si, mas são convertidos em mutagênicos no fígado, que
metaboliza substâncias exógenas. Para identificar produtos QUADRO 1 0 · 2 FI GURA 1 Teste de Ames.
químicos convertidos em mutagênicos no fígado, o test e de
Ames trata os potenciais mutagênicos com uma mistura de
enzimas hepáticas. Os potenciais efeitos carcinogênicos de
p rodutos químicos identificados como mutagênicos notes·
te de Ames podem ser, então, avaliados em animais.
.'
3'
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Quadro 1 O· 3 Quantificação do dano ao DNA e seus efeitos sobre a sobrevivência e a mutagênese celulares
Para estudar dano, reparo e mutagênese do DNA, os pesqui· em cada dose do agente de dano ao DNA ao longo de uma
sadores usam ensaios para medir o dano ao DNA e seus efei· faixa de doses . Um mutante de uma via necessária para re-
tos sobre as células. A princípio, a habilidade para medir o parar um tipo específico de dano produzido pelo t ratamento
dano ao DNA pa rece desafiadora. Como é possível ver quais apresentará um percentual menor de sobrevivência do que
modificações no DNA estão presentes dentro de uma célula? células selvagens ao longo da mesma faixa de tratamentos.
Os cientistas desenvolveram várias técnicas para realizar isso. Uma abordagem diferente é utilizada para medir os efeitos
Em um ensaio, os pesquisadores usam anticorpos contra um dos agentes de dano ao DNA sobre a viabilidade de células
t ipo específico de dano ao DNA, como um dímero de timina. de mamíferos. Neste caso, um corante fluorescente é utili-
Eles medem o nível de dímeros de timina em uma amostra de zado para distinguir células vivas de células mortas. O per-
DNA genõmico de maneira semelhante ao uso de anticorpos centual de sobrevivência celular como função do t ratamento
na medida de níveis proteicos na análise de immunoblot (ver com o agente de dano ao DNA é determinado pela contagem
Cap. 7). Outro ensaio, o cometa ou ensaio de eletroforese de das células que foram ou não marcadas pelo corante, com o
célula única em gel de agarose, detecta a presença de quebras uso de um microscópio de fluorescência.
de fitas simples e dupla, bem como outros t ipos de dano ao Estudos quantitativos de agentes ou condições que
DNA de células individuais por meio de alterações nos padrões danificam o DNA envolvem medidas de mutagênese, bem
de migração durante a eletroforese em gel. O DNA danificado como de sobrevivência celular. Semelhantes ao teste de Ames
apresenta aparência semelhante a um cometa quando obser- (ver Quadro 10·2), os ensaios de mutagênese podem usar
vado por microscopia de fluorescência. O desenvolvimento medidas de reversão de uma mutação específica por meio da
contínuo de novas tecnolog ias promete fornecer métodos habilidade de as células mutantes crescerem em um meio só-
mais precisos e específicos para detectar danos ao DNA. lido desprovido do produto do gene mutado ou do produto
Como se mede o impacto do dano ao DNA sobre a viabi· gerado por ele. Ensaios de mutagênese também podem envol·
I idade celular? Para organismos unicelulares, como bactérias ver mutações diretas (de selvagem para mutante) em um gene
ou leveduras, um ensaio de sobrevivência pode ser tão sim· específico e crescimento em um meio seletivo, permitindo que
pies quanto plaquear as células em um meio sólido e compa· apenas células mutantes cresçam. Semelhantes aos ensaios de
rar o número de colônias (unidades formadoras de colônias) sobrevivência, os ensaios de mutagênese envolvem o t rata ·
que crescem para células tratadas versus células não trata· mento de células com várias doses de um agente que danifica
das. A relação entre mortalidade e um agente ou condição o DNA. A frequência de mutagênese é determinada a partir do
que induz dano ao DNA (a curva de mortalidade) é determi· percentual de revertentes ou de mutantes diretos como uma
nada pela plotagem do percentual de células sobreviventes função da dose do agente relativa à sobrevivência celular.
etídeo
.& ..-:::-
N N(CH3h
H
pronavina laranja de acridina
DNA-fotoliase luz
luzUV ..
~ ---.:--•~ - -
I
\
FIGURA 10- 1 1 Fotorreativação. A irradiação UV provoca a formação de dimeros de
timinas. Após a exposição à luz, a DNA-fotoliase quebra o anel formado entre os dímeros.
restaurando os dois resíduos de timina.
base base
5' normal 5' normal 5' base normal
I I
ft o J a ft
t
O- P- 0-CH O- P- 0-CH O- P -0-CH
I •o H .)< 1 •o I •o
o 1._ uracila O ',-.J o AP endo diva aqui
(produz 3' -OH para Pol I)
o H ~o o 9 /
o=f- o- yH20 1'~/~~silase :o[ o= f-o - po--JH sítio [ o=P- o - CH2 0 a exonuclease
o '9 aqUI 0 )--I ~--A--P.._ 6 Q remove a~q_u_..i---.
? ? oI I
O= P-O - CH2 O= P-O - CH 2 O=P -O - CH2
I O glicosilase I O AP endo/exo I O
o o o
Mas como a enzima pode agir sobre a base se esta está embutida na h élice?
A resposta para esta charada reside na incrível flexibilidade do DNA. Estudos
cristalográficos de raios X revelaram que a base danificada é deslocada, de
maneira que ela se projeta para fora da dupla-hélice, onde se encaixa especi-
ficamente na fenda da glicosilase (Fig. 10-14). A dupla-hélice pode permitir o
deslocamento da base com apenas uma pequena distorção em sua estrutura,
portanto, o custo energético desse deslocamento de base não deve ser alto
(ver Cap. 4 e Fig. 4-8). Apesar disso, é muito pouco provável que a glicosilase
desloque cada base para identificar as anormalidades à medida que se difunde
ao longo do DNA. Assim, o mecanismo pelo qual essas enzimas procuram as
bases danificadas ainda é desconhecido.
FIGURA 1 0 · 14 Estrutura de um
complexo DNA·glicosilase. A enzima
está mostrada em cinza e o DNA, em li-
lás. A base da nificada, neste caso, oxoG
(mostrada em verm elho), está deslocada
da hélice e dentro do centro catalítico da
enzima. (Bruner S.D. et ai. 2000. Nature
403: 859-866.) Imagem prepa rada com
MoiScript, BobScript e Raster 3D.
328 Parte 3 Manutenção do Genoma
reparo de
excisão de base
replicação
' -----<
FI GURA 1 0·1 5 Reparo oxoG:A. A oxidação da guanina produz oxoG. A base modificada
pode ser corrigida antes da replicação pela DNA-glicosilase, por meio do sistema de excisão de
base. Se a replicação ocorrer antes de a oxoG ser removida, resulta ndo na i ncorporação errônea
de um A, então uma glicosilase à prova de fal has pode remover o A, permiti ndo que este seja
substituído por um C. Isso fornece uma segu nda oportunidade para que a DNA-glicosilase
rem ova a base modificada.
FIGURA 1 0·16 Via de reparo por excisão de nucleoti deo. (a) A hidrólisedeATP pro- distorção
move a formação de dimero por UvrA, que forma um complexo com um dimero de UvrB. UvrA \
8 8
de fita simples ao redor da lesão. A seguir, o dímero UvrB recruta UvrC, e UvrC
cria duas incisões: uma localizada a quatro ou cinco n ucleotídeos da lesão, na
extremidade 3', e outra, a oito nucleotídeos, na extremidade 5' . Essas clivagens
criam uma fita de DNA com 12 a 13 resíduos de comprimento que con tém a
lesão. Essa fita contendo a lesão é removida do resto do DNA pela ação da DNA-
·h elicase UvrD, resultan do em uma lacuna de 12 a 13 nucleotídeos. Finalmen-
te, a DNA PolI e a DNA-ligase preenchem a lacuna resultante.
O princípio do reparo por excisão de nucleotídeos em células de orga-
nismos superiores é muito parecido com o de E. co/i, mas a maquin aria para
a detecção, excisão e reparo da lesão é mais complicada, envolven do 25 ou
mais polipeptídeos. En tre estes está o XPC, que é responsável pela detecção de b
distorções na h élice, uma fun ção correspondente à da UvrA em E. coli. Como
n a E. co/i, o DNA é aberto forman do uma bolha ao redor da lesão. A formação
dessa bolha envolve as atividades de helicase das proteínas XPA e XPD (equi-
valentes à UvrB em E. coll) e da proteín a de ligação à fita simples RPA. A bolha
cria sítios de clivagem na extremidade 5' da lesão para a nuclease conhecida
como ERCC1-XPF e na extremidade 3' da lesão para a n uclease XPG (repre-
sen tando a função de UvrC). Nas células superiores, o segmento de DNA de
fita simples resultan te tem de 24 a 32 n ucleotídeos. Da mesma maneira que
n as bactérias, o segmento de DNA é liberado, deixando uma lacuna que é
preen chida pela ação da DNA-polimerase e ligase. c
Como indicado por seus nomes, as proteínas UVR são necessárias para cor-
rigir as lesões provocadas pela luz ultravioleta; os mutantes dos genes uvr são
sensíveis à luz ultravioleta e n ão são capazes de remover adutos timin a-timina
e timin a-citosina. Na verdade, essas proteínas reconhecem e corrigem muitos
tipos de adutos volumosos. O reparo por excisão de nucleotídeos é importan-
te também para os seres h umanos. Os seres h umanos podem apresentar uma
· helicase UvrO
doença genética ch amada de xeroderma pigrnentosa, na qual os in divíduos
afetados são altamente sensíveis à luz solar, resultan do em lesões n a pele, in- DNA·polimerase,
cluindo câncer de pele (ver Quadro 10-4, Conectan do o reparo por excisão de ONA·Iigase
~ CONEXÕES CLINICAS
Quadro 1 O· 4 Conecta ndo o reparo por excisão de nucleotídeo e a síntese translesão a u ma doença genética em
seres humanos
Os seres humanos podem apresentar uma doença genética O que acontece em nível celular, nos indivíduos com XP?
chamada xeroderma pigmentosa (XP), uma doença autossô- Na presença de NER defeituoso, as células possuem capacida-
mica-recessiva na qual os indivíduos af etados são altamente de limitada de reparar danos ao DNA induzidos por UV, como
sensíveis à luz solar, resultando em lesões na pele, incluindo os di meros de ti m ina. Após a exposição à luz solar, a quan-
câncer de pele. Foram identificados sete genes em que as mu- t idade de dano ao DNA aumenta nas células dos ind ivíduos
tações originam a XP. Esses genes correspondem a proteínas com XP, causando aumento na mutagênese e na morte celu-
(como XPA, XPC, XPD, XPF e XPG; ver texto) do sistema hu- lar. Células que possuem uma Pol 11 mutante não conseguem
mano de reparo por excisão de nucleotídeos (NER, nucleotide ultrapassar di meros d e t im ina durante a replicação e preci·
excision repair), ressaltando a importância do NER na correção sam utilizar outra polimerase translesão para isso, evitando
de lesões provocadas pela luz ultravioleta (UV). Além das pro- um bloqueio da replicação. Como a Pol 11 (mas não outras
teínas envolvidas no NER, uma f orma variante da XP chamada polimerases translesão) insere As correta mente em frente a
XP-V é causada por um defeito na DNA-polimerase translesão, um di mero de ti mina, o uso de outras polimerases translesão
a Pol 11 (ver discussão posterior sobre polimerases translesão). pode aumentar a frequência de mutagênese.
O gene que codifica a Pol 11 é chamado, às vezes, de XPV. In-
d ivíduos com XP-V apresentam uma f orma mais branda de XP.
bolha de
~ CONEXÕES CLINICAS
A NHEJ pode repara r DSBs que surgem pela exposição a e RAG2. Assim que as quebras são geradas, a via NHEJ, que
agentes exógenos, como a radiação ionizante, e de insultos não é específica de linfócitos, une as extremidades. Neste
intrínsecos da célula, como falhas na replicação do DNA. caso, entretanto, as extremidades dos segmentos codifica-
Extraordinariamente, a NHEJ também é usada no processo dores de proteínas não são unidos novamente a seus par-
celular intrínseco e totalmente normal de imunidade adap- ceiros originais. Em vez disso, as extremidades são unidas
tativa . O sistema imunológico produz um conjunto extrema- a novos parceiros para criar as sequências codificadoras
mente diverso de moléculas de anticorpos, que são compos- compostas para as cadeias pesada e leve. A NHEJ também
tas pelas chamadas cadeias polipeptídicas leves e pesadas. participa de um segundo exemplo de recombinação V(D)J
As cadeias leves e pesadas são geradas por um processo de que rege a produção de uma categoria adicional de poli-
recombinação que envolve a junção, em um número im- peptídeos imunológicos chamados receptores de células T,
pressionante de combinações, de um grande repertório de como será discutido no Capítulo 12.
elementos de DNA codificadores de proteínas, conhecidos Ressaltando a importância da NHEJ na biologia humana
como segmentos V e J (e, no caso da cadeia pesada do an- estão síndromes hereditárias raras caracterizadas pela hiper-
t icorpo, um segmento 0). Como será discutido no Capítulo sensibilidade à radiação ionizante e a agentes que danificam
12, este processo é conhecido como recombinação V(D)J. o DNA e por imunodeficiência, que é atribuída à recombina-
A recombinação V(D)J é iniciada pela introdução de que- ção V(D)J defeituosa. É revelador que pacientes com esta sín-
bras no DNA, por um processo que é específico de linfóci- drome abriguem mutações nos genes para Artemis, Ligase IV
tos e envolve uma enzima composta pelas proteínas RAG1 ou Cernunnos-XLF, membros da via NHEJ.
bradas. Acredita-se que esse alinhamento não exato ocorra pelo pareamento
entre diminutos segmentos (de até 1 pb) de bases complementares (micro-
·homologias aleatórias bem-sucedidas). Nucleases removem caudas de DNA
fita simples, e a DNA-polimerase preenche as lacunas.
Um grande número de proteínas que medeiam a NHEJ tem sido identifi-
cado. Até o momento, sete componentes da via NHEJ foram descobertos em
células de mamíferos. Estas proteínas, que possuem nomes formidavelmen-
te sonoros, são Ku70, Ku80, DNA-PKcs, Artemis, XRCC4, Cernunnos-XLF e
DNA-ligase IV (Fig. 10-18). Ku70 e Ku80 são os componentes mais funda-
mentais da NHEJ. Elas constituem um heterodímero que se liga às extremida-
des do DNA e recruta DNA-PKcs, que é uma proteína quinase. A DNA-PKcs,
por sua vez, forma um complexo com Artemis. Artemis é tanto uma exonu-
clease S'-3' como uma endonuclease latente, ativada pela fosforilação por
DNA-PKcs. Essas atividades nucleolíticas processam as extremidades quebra-
das e preparam-nas para a ligação. A Ligase IV realiza a ligação em um com-
plexo com XRCC4 e Cernunnos-XLF.
A NHEJ é comum em organismos eucarióticos, mas ocorre também em
bactérias, apesar de ser menos frequente. Ainda assim, um exemplo espe-
cializado fascinante foi descoberto em esporos da bactéria Bacillus subtilis.
B. subtilis produz uma proteína semelhante a Ku e uma DNA-ligase quando
esporula e empacota as proteínas no esporo maduro. A Ku e a DNA-ligase,
representando um sistema de NHEJ simples, com duas proteínas, reparam
as quebras de DNA quando o esporo germina. Esporos mutantes desprovi-
dos dessas proteínas são altamente suscetíveis ao calor seco, condição que
causa quebras no DNA. Após a germinação, esporos mutantes aquecidos não
conseguem continuar a crescer porque são incapazes de reparar as quebras
induzidas pelo calor.
Faz sentido que os esporos germinantes dependam da NHEJ, em vez de
contar com a via de reparo de DSB com base em recombinação, para corrigir
quebras. Esporos possuem apenas um cromossomo. Portanto, eles não podem
depender de um cromossomo homólogo para usar como molde no reparo
da quebra. É interessante notar que o cromossomo do esporo é fortemente
enrolado em uma estrutura em formato de rosquinha que pode manter as
extremidades das quebras do DNA muito próximas umas das outras. Essa pro-
ximidade poderia facilitar a união correta das extremidades, mesmo se o cro-
Capítulo 10 Mutabilidade e Reparo do ONA 333
Artemls
Llgase IV,
Cernunnos-XLF,
XRCC4
}5'
FIGURA 1 0 - 21 Estrut ura de cristal de uma polim erase transl esão. As estruturas
aqui mostradas representam dois t ipos diferentes de DNA-polimerases. A estrutura à esquerda
é uma polimerase da família Y (ultrapassa a lesão); a estrut ura à direita é uma DNA-polimerase
típica do bacteriófago T7. Observa-se a estrutura mais aberta em torno do sítio ativo na es-
trutura da polimerase Y e a ausência da região proteica que fecha o ca nal (indicada pela seta
amarela). Os nucleotídeos que estão entrando são represent ados em vermelho e os nucleotí-
deos do molde, em roxo. (Y poli merase. Ling H. et ai. 200 1. Ce/1 107: 91. Código PDB: 1JX4. T7
polimerase, Doublié S. et ai. 1998. Nature 391 : 25 1. Código PDB: 1T7P.) Imagens prepa radas
com MoiScript, BobScript e Raster 3D.
~ CONCEITOS AVANÇADOS
As DNA-poli merases podem ser agrupadas em famílias, mos· térias, Archaea e eucariotos. Membros da famíl ia Y de DNA·
t radas em várias cores na Figura 1 deste quadro, com base -polimerases realizam, caracteristicamente, a síntese de DNA
nas similaridades entre as suas sequências de aminoácidos. com baixa fidelidade em moldes de DNA não danificados,
Recentemente, descobriu-se que UmuC e algumas outras mas possuem a capacidade de ultrapassar lesões de DNA que
DNA-polimerases t ranslesão são membros fundadores de bloqueiam a replicação por membros de outras famíl ias de
uma família grande e distinta de DNA-polimerases, conhecida DNA-polimerases. No Quadro 10·6, a Figura 1 mostra a árvore
como família Y. encontrada nos t rês domínios da vida: bac· filogenét ica das DNA-polimerases translesão da família Y.
Mtu DinP
Vco DinP Mtu OinX
eco OinS Sco SC10A9.22c
Pmu DinP Sso Obh
Paé OinP Hat YqiH
Nmé OinP Bha BH1472
ua OinP
Bsu Yct<H
Mm Oinb1 Bha BH2741
Bsu YqjW
Hs OINB1
BanpOXZ 69
Bsu SPSC2 UvrX
Spn Orf13
a ONA- b ONA-
-polli!nerase repticativa -PO·I(rnerase replicativa
ONA-
-polimerase translesão
<53 s·
ONA-
-polimerase translesão
ONA-
>s·
(3
} S'
FIGURA 1 0·2 3 Modelos alternativos para a síntese translesão. Dois modelos expli-
cam o mecanismo da síntese t ranslesão. cada um deles com probabilidade de ser verdadeiro
sob determ inadas circunstâncias. (a) No modelo de troca de polimerase. a DNA-polimerase
replicativa processiva sintetiza DNA até encontrar uma lesão na molécula. A DNA-polimerase
para e é deslocada por uma ou mais polimerases de síntese de tra nslesâo, que surgem para
replica r através, e logo depois, da lesão. Após esse desvio da replicação, a polimerase replicativa
volta para deslocar a polimerase t ranslesão e continua r o processo de replicação. (b) No mo-
delo de preenchimento de lacuna, a DNA-polimerase replicativa processiva sintetiza DNA até
encontrar uma lesão na molécula. Em vez de parar na lesão do DNA, a polimerase pula à frente,
continuando a síntese de DNA a jusante do DNA danificado e deixando uma lacuna pa ra trás.
Su bsequentemente, uma ou mais polimerases de síntese translesão sintetizam através da lesão
pa ra preencher a lacuna. (Adaptada de Waters L. S. et ai. 2009. Microbiol. Moi. Biol. Rev. 73:
134-154, Fig. 4, p. 146.)
338 Parte 3 Manutenção do Genoma
RESUMO
Os organismos podem sobreviver apenas se o seu DNA for re- nas o nucleot ídeo danificado, enquanto no reparo por excisão
plicado precisamente e se for protegido de lesões químicas e de nucleotídeo, um pequeno trecho de DNA de fita simples
físicas que possam alterar suas propriedades codificadoras. Os contendo a lesão é removido. Em E. coli, o reparo por excisão
limites para a replicação precisa e para o reparo das lesões são é iniciado pela endonuclease UvrABC, que cria uma bolha so-
revelados pela taxa de mutação natural. Assim, um nucleotí- bre o sítio do dano e corta um segmento de 12 nucleotídeos
deo tem probabilidade de ser trocado por um erro, em média, da fita de DNA que inclui a lesão. As células superiores reali-
apenas cerca de uma a cada 109 vezes em que é replicado, em- zam o reparo por excisão de nucleotídeos de maneira similar,
bora as taxas de erro para bases individuais possam variar em mas um número muito maior de proteínas é envolvido, e o
uma faixa de 10.000 vezes. Muito da precisão da replicação é segmento de DNA de fita simples removido tem de 24 a 32
inerente à maneira pela qual a DNA-polimerase copia um mol- nucleotídeos.
de. A seleção inicial da base correta é dirigida pelo pareamento O tipo de dano mais perigoso é uma quebra do DNA. Ore-
por complementaridade. A precisão é elevada pela atividade paro de DSB por recombinação é uma via que corrige quebras
de revisão de leitura da DNA-polimerase. Finalmente, no repa- onde a sequência ao longo da quebra é copiada de um dúplex
ro de malpareamentos, a fita de DNA recém-sintetizada é veri- diferente, porém, homólogo. Se não houver nenhum molde
ficada por uma enzima que realiza a substituição do DNA que para a síntese de reparo disponível, as quebras no DNA são
contém pares de bases incorretamente pareados. Apesar desses corrigidas por NHEJ, que une as extremidades, mas de maneira
mecanismos protetores, erros de todos os tipos ocorrem: subs- sujeita a erro. Se a célula precisar replicar DNA danificado, a
tituições de bases, adições e deleções pequenas e grandes, e síntese translesão permite que a célula tolere a lesão. A síntese
rearranjos grosseiros das sequências de DNA. translesão possibilita que a replicação prossiga sobre uma lesão
As células apresentam um grande repertório de enzimas que esteja bloqueando a progressão de uma DNA-polimerase
destinadas a corrigir o DNA danificado que, se não for corri- em processo de replicação. A síntese translesão é predomi-
gido, pode ser letal ou alterar o DNA, produzindo mutações nantemente mediada por uma familia distinta e amplamente
prejudiciais. Algumas enzimas revertem diretamente o DNA difundida de DNA-polimerases, que são capazes de realizar a
danificado, como as fotoliases, que revertem a formação de síntese de DNA de uma maneira sujeita a erros e independente
dímeros de pirimidinas. Uma estratégia mais versátil é o repa- do pareamento de bases.
ro por excisão, no qual um segmento danificado é removido A mutagênese e seu reparo são questões preocupantes,
e substituído por meio de nova síntese de DNA, para qual a porque afetam permanentemente os genes herdados pelos
fita não danificada atua como molde. No reparo por excisão organismos e porque o câncer é frequentemente causado por
de base, as DNA-glicosilases e as endonucleases removem ape- mutações nas células somáticas.
BIBLIOGRAFIA
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QUESTÕES
Para respostas de questões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. Questão 7. Descreva uma possível vantagem e uma desvan·
tagem de reparar a 3-metiladenina por meio do reparo por ex-
Questão 1. A DNA-polimerase insere erroneamente um C ctsão de base em comparação ao uso de 0 6-metilguanina por
em frente a um T durante a replicação. Assumindo que as ati· meio de reversão direta por uma metiltransferase.
vidades de revisão de leitura e de reparo de malpareamento
não corrigem o erro, a mutação resultante após o próximo ci· Questão 8. A exposição do DNA ao quimioterápico cispla·
elo de replicação será uma transição ou uma transversão? Ex· tina causa a formação de ligações transversais intrafitas entre
plique sua resposta. duas guaninas adjacentes no DNA. Explique por que a ligação
transversal intrafitas entre duas guaninas adjacentes é um can·
Questão 2. Explique por que a desaminação da 5-metild· didato melhor para o reparo por excisão de nucleotídeo do
tosina leva a Jwt spots para mutações espontâneas com mais que para o reparo por exctsão de base.
frequêncta do que a desaminação da citosina no DNA.
Questão 9. Preveja as consequências imediatas para uma
Questão 3. Considerando a estrutura da base danificada a se- célula na qual o sistema de reparo por excisão de nucleotídeo
guir, circule a(s) modificação(ões) presente(s) em relação à base acoplado à transcrição parou de functonar adequadamente.
normalmente encontrada no DNA. Cite o processo que produz
esse tipo de modificação. Cite a via de reparo do DNA que você Questão 10. Com exceção da tolerâncta ao dano no DKA,
esperaria que reconhecesse e corrigisse esse tipo de dano ao DNA. d te a via de reparo que potencialmente introduz mutações.
Descreva como essa via introduz mutações.
o
OH Questão 11 . Explique a diferença ent re reparo do DNA e
tolerância ao dano no DKA.
Questão 12. Considere um mutante de perda de função nas
OH vias de reparo por excisão de nucleotídeo e de síntese transle-
são. Preveja o nível de dano ao DNA, o percentual de sobrevi-
vênda e o nível de mutagênese em comparação ao tipo selva-
Questão 4. Os termos a seguir descrevem as etapas gerais gem para cada mutante após a exposição à luz UV. Na tabela a
seguir, preencha as lacunas com "aumento", "diminuição" ou
de uma via de reparo do DNA. Posicione as etapas na ordem
"não altera".
correta. Cite a(s) proteína(s) que completa(m) cada uma das
etapas em E. coli para as vias de reparo de malpareamento, re·
paro por exctsão de base e reparo por excisão de nucleotídeo. Percentual de
Via mutante lesão no DNA sobrevivência Mutagênese
Ugação, Síntese de DNA, Reconhecimento, Excisão
NER
Questão S. Síntese
translesâo
A. Calcule o número de malpareamentos que poderiam
ocorrer em uma célula humana durante um ctclo de repli·
cação. Assuma que o tamanho do genoma humano é de Questão 13. Você quer testar duas linhagens de E. coli quan·
3,2 bilhões de pares de bases. to à sensibilidade ao agente de dano ao DNA MMS (metilmeta·
B. Calcule o número de malpareamentos que poderiam nossulfato), um agente alquilante que metila bases específicas
ocorrer em uma célula humana durante um ctclo de repli· no DNA. Após tratar as células com diferentes doses de MMS
cação na ausência de reparo de malpareamento. (incubando-as com MMS em cultivo líquido por vários perío·
dos), você plaqueia as células em meio sólido para contar os
Questão 6. Considerando um mutante de perda de função sobreviventes (fornecidos a seguir). Plote os dados para as duas
para dam (o gene que codifica a Dam metilase) em E. co/i, pre· linhagens (percentual de sobrevivência vs. tempo de exposição
veja o fenótipo que seria observado em relação à mutagênese ao MMS). Qual é a linhagem mais sensível ao MMS? (Observe
espontânea. Explique brevemente sua resposta. que, para contar colônias individuais, você teria de fazer uma
340 Parte 3 Manutenção do Genoma
diluição seriada da cultura. Para este exemplo, vamos ignorar uma das DNA-polimerases e realiza ensaios de processividade
esta etapa de diluição serial.) de polimerase. Você usa um iniciador curto marcado com 32P
na extremidade S' e que se liga a um molde de ssDNA circular
(mostrado a seguir). Você completa as segui ntes etapas para
O minuto em 5 minutos em 10 minutos
obter os resultados do ensaio de processividade para a DNA-
Linhagem MMS MMS em M MS
·polimerase #1 (Pol #1) e a DNA-polimerase #2 (Pol #2).
Linhagem A 254 251 249
1. Sob condições de tamponamento apropriadas, você pré-
Linhagem 8 325 253 189
-incuba o ssDNA circular ligado ao iniciador com Pol #1
ou Pol #2 por S minutos a 37•c.
Questã o 14. Existem várias alegações de que determinadas 2. Você adiciona dNTPs e um grande excesso de ssDl\A para
substâncias químicas que encontramos em nossa vida diária iniciar a reação.
são mutagêrúcas. Você quer saber se as substâncias que nor- 3. Você deixa que a reação prossiga por 10 rrúnutos, inter-
malmente utiliza são mutagênicas. rompe as reações com a adição de SDS e corre as amostras
Para investigar isso, você opta por usar o teste de Ames em um gel de poliacrilamida (que resolve nucleotideos
para testar quanto à reversão de uma mutação de ponto no únicos) sob condições desnaturantes.
gene HisG em Salmonella typhimurium. Você adiciona uma
substância quírrúca ao meio de crescimento da bactéria. Assu-
ma que você plaqueou um número igual de células para cada
placa de mutagênese. Você tambêm calculou o percentual de
sobrevivência das células tratadas em comparação às células
não tratadas. Lembre-se de que o meio de plaqueamento para
sobrevivência não é seletivo. Um resumo dos resultados é molde de
ssONA
apresentado a seguir.
Número de revertentes
Percentual de (número de colônias
Substância química sobrevivência His+/placa seletiva) Você realiza um experimento de acompanhamento, e os
Sem substância química 100 28 resultados são mostrados a seguir. Neste experimento, você in-
Substância química A 50 1.400
cuba separadamente cada DNA-polimerase com as proteínas
acessórias (PCJ\A, RFC e RPA) e um molde de DNA que agora
Substância química B 70 20
inclui uma ligação transversal intrafitas entre duas guaninas
Substância química C 100 7 (induzida por cisplatina). A ligação transversal é adjacente à
extremidade 3' do iniciador, como indicado por uma estrela
A. Qual deve ser o meio usado na placa seletiva como parte (representada a seguir à direita) .
do teste de Ames? Explique como uma mutação origina
um revertente neste experimento. Seja específico. fC. 1\PP. 1\fC· 1\?P.
~i'C)U\· ~ ~vct-\~· iniciador
B. Inicialmente, você fica surpreso ao ver revertentes na IPol li!l [Pol #21 sem Pol marcado
ausência de qualquer substância química que está sendo
testada, mas percebe que isso é normal. Dê um exemplo 32p.s~~
específico de como um revertente pode surgir na ausência ligação
de um mutagênico. transversal
Qu est ã o l S. Você realiza um experimento de acompa- A. Descreva a processividade para cada Dl\A-polimerase na
nhamento para o experimento discutido nas questões do presença de um molde com uma ligação transversal indu-
Capítulo 9. Apresentamos aqui uma revisão do cenário para zida por cisplatina.
este experimento. Você acaba de descobrir duas novas DNA- B. Proponha um papel celular para a DNA-polimerase #1, con-
·polimerases eucarióticas e quer saber mais sobre suas proprie- siderando os dados que foram fornecidos. Seja especifico.
dades. Para começar, você obtém proteína purificada de cada
CAPÍTULO 11
Recombinação
Homóloga em
Nível Molecular
DNA É DNA RECOMBINANTE. As permutações genéticas atuam cons-
T
ODO
tantemente para misturar e rearran jar cromossomos, mais obviamente
durante a meiose, quando os cromossomos homólogos são pareados
antes da primeira divisão nuclear. Durante esse pareamento, ocorre uma
permuta genética entre os cromossomos. Essa permuta, classicamente deno-
minada crossfng over, é um dos resultados da recombinação homólo-
ga. A recombinação envolve a permuta física de sequências de DNA entre
os cromossomos. A frequência de crossing overs entre dois genes no mesmo
cromossomo depende da distância física entre esses genes; quanto maior o
afastamento entre eles, maior a frequência de permuta. Na verdade, os mapas
genéticos derivados das primeiras determinações de frequências de crossing
overs forneceram a primeira informação real sobre a estrutura cromossômica,
ao revelar que os genes estão dispostos em uma ordem linear fixa.
Às vezes, no entanto, a ordem dos genes muda: por exemplo, segmentos
móveis de DNA chamados transposons ocasionalmente "pulam" ao longo
dos cromossomos e promovem rearranjos no DNA, alterando a organização
cromossômica. Os mecanismos de recombinação responsáveis pela transpo-
sição e outros rearranjos genômicos são diferentes daqueles da recombinação
homóloga. Esses mecanismos são discutidos em detalhes no Capítulo 12.
A recombinação homóloga é um processo celular essencial, catalisado por
enzimas sintetizadas e reguladas especificamente para essa finalidade. Além
de gerar variações genéticas, a recombinação permite que as células recupe-
rem sequências perdidas por lesões no DNA, por meio da substituição dare-
gião danificada por uma fita de DNA que não foi danificada proveniente de
um cromossomo homólogo. A recombinação também fornece um mecanis-
mo para reiniciar as forquilhas de replicação in terrompidas ou danificadas
(replication restart) . Além disso, tipos especiais de recombinação regulam a
expressão de alguns genes. Por exemplo, pela alteração de segmentos cromos-
sômicos específicos, as células podem posicionar genes dormentes em sítios
onde eles serão expressos.
Além de explicar os processos genéticos, a elucidação dos mecanismos
moleculares da recombinação proporcionou o desenvolvimento de méto-
dos para a manipulação de genes. Atualmente, a geração de variantes "no-
cautes" e "transgênicas" em muitos organismos experimentais é rotineira
(ver Apêndice 1). Esses métodos, que permitem a remoção ou a introdução de
342 Parte 3 Manutenção do Genoma
,
quebra na lesão noONA
fita-molde da fila-molde
, colapso[
da forquilha
DSB para
recombinação
OSB para
recombinação
;
~
~
:
l
regressão da forquilha
:.;p
:
FIGURA 1 1 - 1 Uma lesão no molde de ONA pode provocar a f ormação de DSB du-
rant e a replicação do DNA. Isto é mais facilmente visual izado quando o molde contém uma
quebra (painel esquerdo), mas também ocorre quando o molde con tém uma lesão que interrom-
pe a forquilha (painel direito). Neste caso, as duas fitas recém -sintetizadas (mostradas em verme-
lho) podem parear e a forquilha pode reg ressar. Essa estrutura pode ser processada mais adiante
de várias maneiras. A extremidade quebrada pode ser utilizada para iniciar a recombinação.
5' C::
A
__)
8 c
3' . ~ )
dúplices A 8 c
homólogos
alinhados
a b c
3' - < < < < < < < -·
5' ..- .>J . .> > > > > >
8 b c
___ ..
.......... ........ ---- ---
b -------··· ---
3·c•======:::.~s@I~~~~:~~
----------. ·--· .. --- .. ·--- .:-:-.- --
--·- ----- --- --
a
3' . «
5' .__..,.
a
'""
"'t :
invasão
invasão da
c
de fita
fa segunda fita
c
invasão da
primeira ~
.,:=====~~i;~~~~~~~~~S
.JJ.,
b c
--Junção
de Holliday
3' ' <40 afita 8 c
5' . ft ..., L ., . ,.., '>.lD
a b c
migração de
ramificação
d-
b --------·----
dúplices
W ---
a c=-~-- -- -~ "!) -- "ê------- ........... ~~!erodúplex híbridos
3'
5' C"""'iFt ...; ~--lij; ~t ~n T .
8 b
..... - .. c
.. .-.... --....
-- .... --.. --.. --
----.... --....
------
__
FIGURA 11·2 Modelo de Holli day ao longo das etapas da migração de ramifi·
cação. As cabeças de seta pequenas nas fitas si mples de DNA indica m a direção para 3' . s·
Observa-se que A e a, 8 e b e C e c especificam ale los diferentes e possuem sequências de DNA
ligeiramente diferentes. Dessa maneira, o DNA heterodúplex que contiver esses genes (ver se-
ção expa ndida no pai nel d) apresentará algu ns malpareamentos.
346 Parte 3 Manutenção do Genoma
l
ó
ó
sítio 1 "'
1
<> FIGURA 11·3 Clivagem da junção
clivagem <> de Holliday. Dois pares de sítios alternati-
clivagem
1 deDNA
produtos "entrelaçados"
deDNA
produtos "emendados"
vos de DNA podem ser clivados durante a
resolução. A clivagem em um par gera os
produtos "entrelaçados" ou com crossing
ou com crossing over dos genes flanqueadores ou sem crossing over over. A clivagem no segundo par de sítios
c origina produtos "emendados" ou sem
S'~~=A::::;;;;;;;;a;;;..::::c::::
A B
5'
3'C
A b c
3'c:=:
A b ' c -== crossing over. (Detalhe) Estrutura do DNA
em uma junção de Holliday. Observa-se
3'
a
s==r
B_ c 3'
a . B_ c
que o DNA está completamente pareado
5'
a b · -c 5'
a b c nesta estrutu ra.
quebra de
a dupla-fita (DSB) '\. +
A 8
5'
3' c =
A t 8
a b
~c c c c
b
5' t="" A Li I :::
3' c =
A 8
a b
3' ~ < < < ·· <
f) FJ •
5' . "
a *' b
invasão de fita
na extremidade 3'
c
A 8
5'
3' I '"A Oi )
a b
3'
5' ~r
a
..,. •t 11Ft
- ,.t
b
..I::::)
invasão da segunda
fita e síntese de DNA
para reparo a partir
das extremidades 3'
d
A 8
5'
3' •
·- A
..... )
3' 5'
8
a b
3' 3' 11:::»
S' LJ§ P) f) •'í » •.l<OJ
a b
migração de ramificação e
formação de um intermediário
com duas junções de Holliday
e
A 8
5'
3'
A ~r
FIGURA 11·4 Modelo de reparo
de DSB para recombinação homólo·
ga. A f igura mostra as eta pas que origi-
nam um i ntermediário de recombinação
a J
3' 1:::;(;~
5' - >
\\
> >
' ...
>
8
b
>
contendo duas junções de Holliday. a b
Capítulo 11 Recombinação Homóloga em Nível Molecu lar 349
~ CONCEITOS AVANÇADOS
A maneira como as junções de Holli day presentes em um crossing over. Um exemplo desse t ipo de resolução está mos-
intermed iário de recombinação são clivadas tem um grande trado na Figura 1c deste quadro. Aqui, a j unção x foi clivada no
impacto na estrutura dos produtos das moléculas de DNA. Os sítio 1, enquanto a junção y foi clivada no sítio 2. Observa-se
produtos terão o DNA que flanqueia o sítio de recombinação que agora o gene A está ligado ao gene b, enquanto o gene a
rearranjado (nos produtos de entrelaçamento/crossing over) está ligado ao gene 8; portanto, ocorreu o rearranjo dos genes
ou não (nos produtos emendados/sem crossing over), depen- flanqueadores. A clivagem da junção x no sitio 2 e da junção y
dendo de como a resolução é realizada. Como os intermediá- no sítio 1 também gera produtos com crossing over.
rios gerados pelo sistema de reparo de DSB contêm duas jun- Por que essa regra simples é verdadeira? Para entender
ções de Holliday, pode ser difícil visualizar os produtos que o que ocorre, compare as j unções aqui ilustradas com a jun-
serão gerados pelas diferentes combinações possíveis para ção de Holliday única da Figu ra 11-3. Pode-se ver que, em
a clivagem da junção de Holliday. De fato, existe um padrão uma única junção, a clivagem no sítio 1 pode dar origem a
simples que determina se serão formados produtos com ou produtos entrelaçados, enquanto a clivagem no sítio 2 pode
sem crossing over. gerar produtos emendados. Portanto, quando os resultados
Para explicar as d iferentes maneiras possíveis de resolu- da clivagem nas duas junções forem combinados, ocorrerá
ção desses intermediários, deve-se considerar as duas junções o seguinte:
(marcadas como x e y) na Figura 1 deste quadro. A regra sim-
• A clivagem de ambas as junções no sítio 2 dará origem
ples que determina se a resolução resultará ou não em produ-
a produtos emendados (emendado + emendado = pro-
tos de crossing over versus sem crossing over é a que segue.
dutos emendados, sem crossing over) .
Se ambas as junções forem clivadas da mesma maneira, isto
é, ambas no sítio 1 ou ambas no sítio 2, então serão gerados • A clivagem de ambas as junções no sítio 1 também dará
produtos sem crossing over. Um exemplo desse tipo de pro- origem a produtos emendados (entrelaçado + entre-
duto é mostrado no painel b da figura; estas são as moléculas laçado = produtos emendados) porque a segunda re-
geradas quando ambas as junções de Holl iday forem clivadas solução de tipo entrelaçado essencialmente "desfaz" o
no sítio 2. Observa-se que os alelos marcadoresA/8 e alb con- rearranjo causado pela primeira clivagem.
t inuam nas mesmas moléculas de DNA em que estavam nos • A clivagem de uma junção no sítio 1, mas de outra no sí-
cromossomos parentais. A clivagem de ambas as junções no tio 2, gera, portanto, produtos com crossing over (entre-
sítio 1 também gera produtos sem crossing over. laçado + emendado = entrelaçado) porque o rearranjo
Em contrapartida, quando as duas junções são d iva- causado pela cl ivagem do sítio 1 é retido no produto
das usando sítios diferentes, são gerados os produtos com f inal.
junção x j unção y
a G) G)
A ~ ~ 8
5'
3'1 =" ::v~
®- -®
3'
s·= 9 t:) f) d :J
8
t
(j)
t
(j)
b
8 b A b
s3·-==g~~~~
3' a= !11 1: t-l ~
5' 0 A
8
jí§ ê)
b
itli = ·-=---- A b
produtos sem crossing over p rodutos com crossing o ver
QUADRO 11 · 1 FIGURA 1 Duas maneiras possíveis de resolver um intermediário da via de reparo de DSB.
As moléculas de DNA parentais eram como as da Figura 11-4. As regiões de DNA em vermelho são as que foram ressinte-
tizadas durante a recombinação.
Capítulo 11 Recombinação Homóloga em Nível Molecular 351
mãxima
! RecB (sem carga)
FI G U RA 11 • 5 Etapas do p rocessa·
mento do DNA pela RecBCD. Observa-
-se que a proteína RecBCD poderia ter
entrado nessa molécula de DNA por qual-
quer uma das duas extremidades quebra-
das. Entretanto, os sítios Chi funcionam
apenas em uma orientação. Na molécula
de DNA mostrada, o sítio Chi está orienta-
do de maneira a somente modificar a en-
zima RecBCD que estiver se movendo da
direita pa ra a esquerda. A enzima RecBCD
possui duas DNA-helicases: RecD (em ver-
de), que se move rapida mente na fita da
extremidade 5' (fita su perior), e RecB (em
!
encurtamento da alça
roxo), que se move vagarosamente na fita
da extremidade 3' (fita inferio r). Como
essas duas su bunidades se deslocam com
veloci dades d iferentes, RecB acumu la
uma alça de DNA fita simples na fita in-
ferior, durante o desenrolamento. Depois
!
que a enzima encontra o sít io Chi, essa . ~~m~a~is~le~n~to~~~~ ;:::z::='=~'•=-=="
alça é "rebobinada" e sua extremidade 3',
agora contendo Chi, fica disponível pa ra
a montagem de RecA. (Adaptada, com
permissão, de Spies et ai. 2007. Ce/1 13 1:
3
5'
-
lento
(com carga)
A cauda de ssDNA gerada pela RecBCD deve ser coberta pela proteína
RecA para que a recombinação ocorra. Entretanto, as células também contêm
proteínas de ligação ao DNA de fita simples (SSB), que podem se ligar a esse
DNA. Para garantir que RecA, em vez de SSB, ligue-se a essas caudas de ssDNA,
o RecBCD interage diretamente com RecA e promove sua montagem. Essa
atividade de carregamento envolve uma interação proteína-proteína direta
entre o domínio da nuclease da subunidade RecB e a proteína RecA, e serve
para carregar RecA no DNA com a cauda 3'.
o 5 10 15 20 kb
c~ o
- ·- -c•
FIG U RA 1 1·7 Ação polar de Chi. A 8
Esta representação esquemática mostra
que um sítio Chi eleva as frequências de
DNAdoador
(linear)
5'
3'' ·=·
A
•
8
•
.
o• -· nl
a b
FIGURA 11·8 Substratos para permuta de fitas por RecA. Aqui, estão apresentadas
três possíveis combinações de estruturas que participam no pa reamento e na permuta de fitas
de DNA. Observa-se que os colchetes nas partes a e c mostram a localização de uma lacuna
em uma das fitas.
356 Parte 3 Manutenção do Genoma
a b
I
• o
\.-
~
.
.' • '
\ .•
..... . .". .
)',
. ·. ... ___
•
..
c FI GURA 1 1 · 9 Três visões do filamento de RecA. (a) M i-
crografia eletrônica de moléculas de DNA circulares que estão
completamente ou pa rcialmente cobertas com RecA. Uma molé·
cuia de DNA não coberta está mostrada para ilustrar como o DNA
é estendido quando ligado a RecA. (Reproduzida, com permissão.
de Stasiak A. e Egelman E.H. 1988. Genetic recombination [ed.
R. Kucherlapati e G. Smith]. pp. 265-307, Fig. 3. © ASM Press.)
(b) Figura com alta resolução do filamento gerado pela média de
diversas imagens de microg rafia eletrônica. A figura à esquerda é
a RecA de E. co/i, e a figura à direita é a proteína de permuta de
fitas Rad5 1 de levedura. (Imagem fornecida por Edward Egelman.
University o f Virgínia.) (c) Visão de alta resolução gerada por cris-
talografia por raios X. Aqui, uma volta do filamento helicoidal é
mostrada como vista do topo. Cada subu nidade está colorida de
maneira diferente; a subu nidade em vermelho está mais próxima
do observador. (Story R.M. et ai. 1992 . Nature 355: 318-325.)
Imagem preparada com MoiScript. BobScript e Raster3D.
s·.,""""~====="""""""="""'"""'""""""""=J·
1
5'«=========!.:.!:;:=======3'
lento J'- 5' l rápido 5'- 3'
+ +t t t t t t t l
5'--======F-&~1~===>3' 5'<=•===~~3'
sem formação de filamento formação ativa de filamento para
cobrir a extremidade 3' do ssDNA
a ptotcrna
RocA
+ +
c
dsONA ONA heterodúplex ssONA
RecA2
RecA5
F I G U RA 11 ·1 6 Proteínas sem e·
lhantes a RecA nos três ramos bíoló·
gícos. Filamentos de nucleoproteína são
mostrados para as proteínas (a) Rad51
humana. (b) RecA de E. co/i e (c) RadA
de Archaeoglobus fulgidus. As proteínas
Rad51 e RecA ta mbém são mostradas na
Figura 11-8. Observa-se a estrutura heli-
coidal semelhante dos filamentos, revelada
pelas listras, nestas imagens de microgra-
fia eletrônica. (Reproduzida, com permis-
são, de West S.C. et ai. 2003. Nat. Rev.
Moi. Ce/1 Biol. 4: 435-445. © Macmilla n.
Imagens fornecidas por A. Stasi ak,
University of l.ausanne, Switzerland.)
a b
5' 3'
3' 5'
a b 5' 3'
RuvC
3' 5'
5' 3'
3' 5'
I
FIGURA 11· 19 Dinâmica do DNA
l
durante a meiose. Aqui, pa ra simplifi-
car, apenas um tipo de cromossomo é
mostrado. Os dois ho mólogos prepa ran- a
do-os estão representados. em vermelho 8
e azul, após terem sido duplicados em um
ciclo de replicação de DNA. A recombina-
ção hom óloga é necessá ria pa ra parea r
esses cromossomos homólogos preparan-
do-os para a primeira divisão nuclea r. Essa
recombinação também pode originar um
crossing over, como é mostrado para os A A a a
genes A e 8. 8 b 8 b
Capítulo 11 Recombinação Homóloga em Nível Molecular 363
esses dois ciclos de divisão. Antes da divisão, a célula apresenta duas cópias de homólogos
cada cromossomo (os homólogos), cada uma herdada de cada progenitor. Du-
rante a faseS, esses cromossomos são replicados, originando um conteúdo total
de DNA de 4N (Fig. 11-20). Os produtos da replicação- ou seja, as cromátides-
-irmãs- permanecem juntos. Então, na preparação para o primeiro ciclo de di-
visão nuclear, os cromossomos homólogos duplicados devem parear e alinhar-se no
centro da célula. É esse pareamento de homólogos que requer a recombinação
homóloga (Fig. 11-19). Esses eventos são cuidadosamente programados. A re-
combinação deve estar completa antes da primeira divisão nuclear para permitir
que os homólogos se alinhem de forma adequada e, então, sejam separados. Du-
rante este processo, as cromátides-irmãs permanecem pareadas (Fig. 11-20; ver
também Cap. 8, Fig. 8-16). A seguir, na segunda divisão, são as cromátides-irmãs
que se separam. Os produtos dessa divisão são os quatro gametas, cada um com cromãtide
uma cópia de cada cromossomo (i.e., seu conteúdo de DNA é IN). de dsDNA
Sem a recombinação, os cromossomos não conseguem se alinhar correta-
recombinação
mente para a primeira divisão meiótica, o que resulta em elevada incidência entre os homólogos
de perda cromossômica. Essa segregação incorreta de cromossomos, deno-
minada não disjunção, origina um grande número de gametas sem o con- FIGURA 11-20 Recombinação
junto cromossômico correto. Os gametas com um número maior ou menor meiótica entre cromátides-irmãs.
Cada estrutura corresponde a uma molé-
de cromossomos não podem se desenvolver após a fertilização, de modo que
cula de DNA de dupla-fita replicada, cha-
uma falha na recombinação homóloga pode se refletir em baixa fertilidade.
mada cromátide. Os pa res são chamados
Os eventos de recombinação homóloga que ocorrem durante a meiose são de cromát ides-irm ãs, e a recombinação
chamados recombinação meiót ica. mediada por Dmc1 ocorre ent re pares de
A recombinação meiótica também frequentemente origina crossing overs cromátides não irm ãs (ver Fig. 11- 19).
entre os genes dos dois cromossomos parentais homólogos. Essa permuta
genética, mostrada esquematicamente na Figura 11-20, pode ser observada
citologicamente (Fig. 11-21a). Uma consequência importante é que os alelos
presentes nas moléculas parentais são rearranjados para a próxima geração.
....
os cromossomos homólogos replicados começam a parear. Os sítios de cliva-
gem de Spo11, embora frequentes, não estão aleatoriamente distribuídos ao
longo do DNA. Em vez disso, em geral esses sítios estão localizados em regiões
cromossômicas que não estão fortemente compactadas nos nucleossomos,
-
....
..,--
como os promotores que controlam a transcrição gênica (ver Caps. 8 e 19). As
regiões de DNA que são submetidas a uma alta frequência de DSBs também
...
~,_
apresentam elevada frequência de recombinação. Assim, os sítios de clivagem
b
FIGURA 11 -21 Visualização citológica do crossing o ver. Crossing o ver recíproco
visualizado direta mente em células de hamster em cultivo. Cromossomos cujo DNA contém
bromodesoxiuridina em vez de timidina em ambas as fitas aparecem mais claros após o t ra-
ta mento com corante de Giem sa, enquanto os que contêm DNA substituído em apenas uma
fita apa recem mais escuros. Após duas gerações de crescimento em bromodesoxiuridina, uma .""'
f
-
__t
cromátide recém-replicada possui apenas uma de suas f itas substituída, enquanto sua irmã
tem as duas substituídas. Assim, cromátides-irmãs podem ser distinguidas por coloração. Dessa
maneira, os crossing overs são facilmente visualizados como extensões alternadas de claro e
escuro (a). Cromossomos recombinantes semelhantes também são vistos quando células em
crescimento mitótico são tratadas com um agente de dano ao DNA (b). (Cortesia de Sheldon
Wolff e Jody Bodycote.)
364 Parte 3 Manutenção do Genoma
de DNA de Spo11 mais utilizados, da mesma forma que os sítios Chi, são sí-
tios preferenciais para a recombinação.
O mecanismo de clivagem do DNA por Spo1 1 é o seguinte: uma cadeia
lateral de tirosina específica na proteína Spo1 1 ataca o esqueleto de fosfodiés-
ter para clivar o DNA e gerar um complexo covalente entre a proteína e a fita
de DNA rompida (Fig. 11-22). As duas subunidades de Spo11 clivam o DNA
com dois nucleotídeos de distância entre as duas fitas de DNA, formando uma
DSB coesiva. Spo1 1 compartilha esse mecanismo de clivagem do DNA com
as DNA topoisomerases e as recombinases sítio-específicas (ver Caps. 4 e 12).
Comparações de sequências proteicas revelam que a Spo1 1 parece ter uma
relação distante com essas enzimas.
O fato de a clivagem de Spo1 1 envolver um complexo covalente proteí-
na-DNA apresenta duas consequências. Primeiro, as extremidades S' do DNA
no sítio de clivagem da Spo11 estão covalentemente ligadas à enzima. Essas
extremidades 5' de DNA ligadas a Spo11 são os sítios iniciais do processamen-
to de DNA para criar as caudas de ssDNA necessárias para o posicionamento
de proteínas semelhan tes a RecA e a iniciação da invasão de fita do DNA
(ver a seguir). Segundo, a energia da ligação fosfodiéster clivada do DNA é
armazenada na ligação proteína-DNA e, assim, as fitas de DNA podem ser
religadas por uma reversão simples da reação de clivagem (ver Fig. 12-5 para
o mecanismo químico). Essa religação ocorre quando as células recebem um
sinal para interromper a meiose.
s·= =====
3' homólogos
replicados
F I GURA 11-23 Visão geral da via
d e recombinação meiótica . A forma-
s·=Spo11=====
3'
~ T J , MRX
(não irmãs) ção de DSBs du rante a meiose requer a
presença de Spo 11 e do complexo MRX.
Essa observação sugere que a formação
de DSB e o subsequente processamen-
to das f itas são normalmente acoplados
~::::::::::::r:=~~~
~~·c::::::::::::
pela ação coordenada de várias proteínas.
formação de A proteína MRX é responsável pela ressec-
s·
s·= ===== DSB por Spo11 ção das f itas que term inam por no sít io
3' da quebra. Então, as proteínas de permu -
ta de f itas Dmc1 e Rad51 são posicionadas
sobre as caudas de ssDNA. Am bas as pro-
teínas participam na recombi nação, mas
o meca nismo de atuação conjunto não é
conhecido. Na figu ra, essas proteínas es-
ressecção 5 • tão mostradas formando filamentos sepa-
s·= ===== para 3' por MRX rados para si mplificação. (Redesenhada,
3' com permissão, de licht en M. 2001 . Curr.
Biol. 11 : R253-R256, Fig. 2. © Elsevier.)
Dmc1 0
Rad51 O
·= montagem dos
filamentos de
s·= ====
3'
proteínas de
permuta de fitas
l •
invasão de fita
recombi nação
• ...
... ~ "•
•••
•,.
..
....
• • •
• •
.,- •-.•
•
.,/':
·~ •
..
.,ti'!
,. . :-,-
•
•
•
••
~ CONEXÕES CLINICAS
Quadro 11 • 2 O produto do gene supressor de tumor BRCA2 interage com a proteína Rad51 e controla a
estabilidade do genoma
O gene 8RCA2 é importante para a manutenção da estabili· células danificadas e apresentam um defeito correspondente
dade do genoma. Em seres humanos, mutações em 8RCA2 no reparo de quebras no DNA. BRCA2 faz contatos diretos
são consideradas responsáveis por metade dos tumores de proteína-proteína com Rad51 (ver Fig. 1, neste quadro), e es·
mama familiais. Essa predisposição ao câncer parece ser sas interações são provavelmente importantes para o recru·
atribuída, pelo menos em parte, ao papel d ireto da proteína tamento de Rad51 para a localização celular adequada para
BRCA2 no reparo de DSB mediado por Rad51. Quando as cé· o reparo, bem como para a modulação da atividade da pro·
lulas são submetidas a agentes que danificam o DNA, focos teína. Portanto, o forte fenótipo associado a mutações em
de Rad51 são montados como pré-requisito aparente para 8RCA2 ilustra a importância central do reparo de DSB e da
a ativação das funções de reparo. Células com defeitos em recombinação homóloga dependente de Rad51 em eucario-
BRCA2 não conseguem montar esses focos nos núcleos das tos, incluindo seres humanos.
~ CONEXÕES CLINICAS
Quadro 1 1 · 3 Proteínas associadas ao envelhecimento precoce e ao câncer promovem uma via alternativa para
o processamento da junção de Hollíday
As DNA-helicas~ RecQ, conservadas desde bactérias até se· recombinação sem crossing over à custa da classe de eventos
res humanos, exercem papéis importantes nos estágios in i· de crossing over (Fig. 1, neste quadro). Em seres humanos,
cíais e tardios da recombinação homóloga . Especificamente, o envelhecimento grave precoce e tumores variados estão
essas helicases podem processar e editar intermediários da associados a mutações de perda de função nos genes que
recombinação, em geral resultando no colapso de moléculas codificam três dessas helicases - WRN, BLM e RTS/RECQ4
ligadas antes do estabelecimento do intermed iário da junção (ver Tab. 1, neste quadro).
de Holliday dupla. Como resultado, as helicases promovem
X crossing over
}'
homólogos
em sinapse via sem
crossing over
- -
- -
••••••
-
desenrolamento____
da helicase - ·····-
• • • • • ----
QUADRO 11·3 FIGURA 1 Vias de recombinação com e sem crossing over. Na via com crossingover (via superior
apresentada aqui), a resolvase de junção de Holliday (mostrada como uma tesoura) é montada na junção e diva de maneira
assimétrica para produzir os produtos de crossing over. Em contrapartida, na via sem crossing over (via inferior), a helicase da
família RecQ (apontada pela seta verde) promove o anelamento de fita e a resolução dependentes de síntese. O mecanismo de
ação parece ser que a atividade de helicase dessas enzimas separa as moléculas unidas inicialmente por proteínas de permuta
de fita. Essa ação também pode deslizar a alça O ao longo do DNA e permitir que a fita invasora seja estendida pela DNA·
-polimerase antes do colapso da molécula unida. (Adaptada e modificada, com permissão, de Zakharyevich K. et ai. 2012. Ce/1
149: 334-347, Fig . 7. © Elsevier.)
t clivagem HO
3'~~~~~§~~~r;:_,~,~~~r;~~·
MA Ta 5'"
l
informação a
resseoção 5'
invasão de fila
c 5'
1
dependente de Rad51
3'
forquilha de replicação
é formada aqui
3'~~---==:::.
5'o:::= Q )
l
cópia do molde
doador (a)
~:~o~ê~=~==;/';:.~:.;;;=:w:'.l._ _:-==~<I~
\L 3 ""~'S>
fila removida
deslocamento do DNA
1
recém-sintetizado
·~ < < ~
~~~~~~~====in:ro:r:m:a:çã:o:•:::§~~~~~~
que codifica a informação de a está repre-
sentada em verde-escu ro; e a região de f
HMRa 5'
MAT que codifica a informação de a está 3'
representada em verde-claro. Após a fina-
lização do processo de SDSA. a região a
originalmente presente em MAT foi su bs·
tituida pela (convertida pa ra a) informa-
ção a, presente na região HMR.
Capítulo 11 Recombinação Homóloga em Nível Molecu lar 373
3'=:===a~=;;;:
5'
a
b
A
exemplo de região
de heterodúplex
formada durante
a reoombinação
r reparo de malpareamento 1
t t nova síntese
A a
5'~<~;;:;;;;;;;;;~~~'"' s·~~~~~~
durante o reparo
!
0000
genótipos
c dos gametas 0000
RESUMO
A recombinação homóloga ocorre em todos os organismos, envolve a quebra e a reUgação de moléculas de DNA. O sistema
permitindo a permuta genética, o rearranjo de genes ao longo de reparo de dupla-fita da recombinação homóloga descreve
dos cromossomos e o reparo de fitas de DNA clivadas e de for- bem muitos eventos de recombinação. Segundo esse modelo,
quilhas de replicação obstruídas. O processo de recombinação a iniciação da permuta requer que uma das duas moléculas de
Capítulo 11 Recombinação Homóloga em Nível Molecular 375
DNA homólogas apresente uma quebra de dupla-fita. As extre- Outras enzimas de recombinação importantes são as que cli-
midades de DNA quebradas são processadas por enzimas que vam o Dl\A, gerando quebras de dupla-fita no DNA para ini-
degradam o DNA, gerando segmentos de DNA de fita simples. ciar a recombinação; essas proteínas parecem ser encontradas
Essas regiões de fita simples participam do pareamento com o apenas em eucariotos e incluem Spoll e HO. As nucleases que
parceiro de DNA homólogo. Uma vez que o pareamento tenha processam o DNA no sítio da quebra para gerar as regiões de
ocorrido, as duas moléculas de DNA são unidas por uma estru- fita simples necessárias ao processo incluem a enzima RecBCD
tura ramificada no DNA, chamada junção de Holliday. A diva- dos procariotos e o complexo enzima-MRX dos eucariotos.
gem do DNA na junção de Holliday resolve a junção e finaliza Outras enzimas promovem o deslocamento (migração de ra-
a recombinação. As junções de Holliday podem ser clivadas mificação) e a clivagem (resolução) das junções de Holliday.
de duas maneiras alternativas. Uma delas gera produtos com Durante a meiose, a recombinação é essencial para opa-
crossing over, nos quais regiões das duas moléculas de DNA pa- reamento correto dos cromossomos homólogos antes da pri-
rentais são covalentemente ligadas. A maneira alternativa de meira divisão nuclear. Portanto, a recombinação é altamente
clivagem da junção gera uma "emenda" de DNA recombina- regulada para assegurar que ocorra em todos os cromossomos.
do, mas não resulta em crossing over. A enzima de clivagem de DNA Spoll e a proteína de permuta
As células codificam enzimas que catalisam todas as eta- de fitas Dmcl estão envolvidas especificamente nessas reações
pas da recombinação homóloga. As enzimas fundamentais são de recombinação. Algumas vezes, a recombinação homóloga
as proteínas de permuta de fitas. Destas, a RecA de E. coli é o também é utilizada para controlar a expressão gênica. A alter-
exemplo principal; proteínas semelhantes à RecA são encon- nância de tipos acasalantes de levedura é um excelente exem-
tradas em todos os organismos. As proteínas de permuta de plo desse tipo de regulação; ela também é um exemplo de
fitas semelhantes à RecA promovem a busca por sequências conversão gênica. A análise do mecanismo de alteração de ti-
homólogas entre duas moléculas de DNA e a permuta de fitas pos acasalantes revelou uma nova classe de modelos para des-
de DNA dentro dos intermediários de recombinação. A RecA crever alguns eventos de recombinação homóloga chamados
atua como um grande complexo proteína-DNA, conhecido anelamento de fita dependente de síntese. Esse mecanismo dá
como filamento de RecA. As células eucarióticas codificam origem a produtos de troca genética do tipo conversão gênica,
duas proteínas de permuta de fitas, chamadas RadSl e Dmcl. mas não resulta em crossing over.
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376 Parte 3 Manutenção do Genoma
QUESTOES
-
Para respostas de questões de nrlmero par, ver Apêndice 2: Respostas.
Questão 3. Após a formação de uma DSB, enzimas proces- Questão 9. Explique o papel mais significativo da recom-
sam o DNA de dupla-fita formando um DNA de fita simples, binação homóloga em eucariotos que não é encontrado em
como mostrado na Figura 11-4b. Existe alguma diferença se a procariotos.
ressecção ocorrer na direção 5' para 3' ou na direção 3' para
5'? Explique sua resposta. Qu estão 10. Descreva brevemente como as células geram a
DSB necessária para iniciar a recombinação homóloga meióti-
Questão 4 . A figura a seguir mostra as três primeiras etapas do ca em eucariotos.
reparo de DSB por recombinação homóloga com alguns erros.
Uste o(s) erro(s), explique por que cada erro é um problema, e Questã o 11. Defina conversão gênica e dê um exemplo de
diga como o(s) erro(s) deveria(m) (ou poderia[m]) ser corrigido(s). um mecanismo que explique como a conversão gênica ocorre.
s·__J ~
etapas da recombinação homóloga (pela via de reparo de DSB) .
Recombinação
Sítio-específica e
Transposição do DNA
DNA É UMA MOLÉCULA MUITO ESTÁVEL Como foi discutido nos capítulos
transposição
+
~ ' '
RECOMBINAÇAO SITIO-ESPECIFICA CONSERVATIVA
A CSSR pode gerar três tipos diferentes de rearranjos de DNA (Fig. 12-3):
(1) inserção de um segmento de DNA em um sítio específico (como ocorre
durante a integração do DNA do bacteriófago À), (2) remoção, ou deleção, de
um segmento de DNA, ou (3) inversão de um segmento de DNA. O resulta-
do da recombinação- inserção, remoção ou inversão do DNA- depende da
organização dos sítios de reconhecimento da recombinase na molécula (ou
moléculas) de DNA que participa(m) do processo.
Para entender como a organização dos sítios de recombinação determina o
tipo de rearranjo de DNA, deve-se analisar os elementos de sequência dos sítios
de recombinação de maneira mais detalhada (Fig. 12-4). Cada sítio de recombi-
nação está organizado como um par de sequências de reconhecimento da
recombinase, posicionadas de forma simétrica. Essas sequências de reconheci-
mento flanqueiam uma pequena sequência assimétrica central, conhecida como
região de crosstng over, onde ocorrem a clivagem e a religação do DNA.
Como a região de crossing over é assimétrica, um determinado sítio de
recombinação sempre apresenta uma polaridade definida. As orientações dos
dois sítios presentes em uma única molécula de DNA serão relacionadas entre
si como uma repetição invertida ou uma repetição direta. A recombi-
nação entre dois sítios invertidos inverterá o segmento de DNA entre os dois
sítios (Fig. 12-3, painel à direita). Em contrapartida, a recombinação pelo mes-
mo mecanismo, porém, entre sítios de repetição direta, removerá o segmento
+
!
{j x §! ! v )
etapa de
! recombinação
etapa de
recombinação
deleção!
etapa de
recombinação :,
(jx i M v ) inversão
inserção!
+
(!X i O )s M ij jv) (J x iljtv) {ix i M o ::>1 § ] v)
FIGURA 12- 3 Os três tipos de recombinação CSSR. Em cada caso, o seg mento de
DNA em vermelho é movido ou rea rranjado durante a recombinação. A, B, C, D, X e Y repre-
sentam os genes presentes nos diferentes segmentos de DNA. Os segmentos em vermelho-
-escuro e azul-escuro são as sequências de reconhecimento da recombinase, e os seg mentos
pretos com pontas de seta brancas são as regiões de crossing over. Juntos, esses elementos de
sequência formam os sítios de recombinação.
380 Parte 3 Manutenção do Genoma
35'·i•====::i-_=:=:,iiI,.iri:c:iaccc=::i:=:=:=:s
-
ção. (Adaptada, com permissão, de Craig
N. et ai. 2002. Mobile DNA 11, p. 4, Fig. 1.
© ASM Press.)
!
ligação da recombinase a
sequências de reconhecimento
~E
' ~O"uco~
de DNA entre esses dois sítios (Fig. 12-3, painel do centro). Finalmente, a
inserção ocorre especificamen te quando os sítios de recombinação de duas
moléculas diferentes são aproximados para a troca de DNA (Fig. 12-3, painel
à esquerda). Os exemplos desses três tipos de rearranjos serão considerados a
seguir, após uma discussão geral sobre as recombinases.
s·-o t>ase
s·-o s·-o
r.--. clivagem H)
o o
~ ..,~ 1 I
~-Ser - vH / ' \0 ,4~'fbase= ~-Ser - ti -P.-0 O=P-0
o o· " ~ o1"''o· I
Q ·Ser - OH o-
oI
oI oI
3' 3' 3'
intennediário covalente proteina-DNA
s·~~~~~
3' ~
sítios de reconhecimento da recombinase
---
serlno-recomblnase i clivagem
s· t
3' ~~:=
as extremidades 3'-0H de cada uma das fitas de DNA clivadas podem atacar
a ligação recombinase-DNA em seu novo segmento parceiro. Como discutido
anteriormente, essa reação libera a recombinase e liga covalentemente as fitas
de DNA, originando um produto de DNA rearranjado.
permuta da fita
inferior para finalizar
1 a reoombinação
~ CONEXÕES CLINICAS
Alguns sistemas de recombinação sitio-específica são tão Frequentemente, a recombinação sítio-específica pode
simples que passaram a ser amplamente utilizados como fer- fornecer a resposta. Utilizando métodos rotineiros, os pes-
ramentas na genética experimental. A recombinase Cre e sua quisadores podem introduzir sítios de recombinação reco-
parente próxima a recombinase FLP são utilizadas experimen· nhecidos por Cre (ou FLP) flanqueando o gene de interesse.
tal mente para remover genes em organismos eucarióticos Esses sítios não apresentam efeitos na função do gene, a
(ver também o exemplo no Apêndice 1). menos que a recombinase também esteja presente. Portan-
A utilidade dessa estratégia pode ser evidenciada pelo to, a proteína Cre (ou FLP) pode ser introduzida no mesmo
exemplo hipotético a seguir. Um pesquisador está interessa- organismo, sob o controle de um promotor que pode ser cui-
do na função de um gene específico no desenvolvimento de dadosamente regulado (ver Cap. 19). Assim, o camundongo
câncer de pulmão e deseja estudar esse processo utilizando pode desenvolver-se na ausência da recombinase e, após o
o camundongo como organismo-modelo (ver Apêndice 1). nascimento, a expressão de Cre pode ser " ligada". A presen-
Entretanto, quando a sequência do gene de interesse é ça da recombinase promove a deleção do gene de interesse.
interrompida ("nocaute gênico") (ver Fig. A -27), todos os Neste caso, a propensão do camundongo t ratado com Cre
camundongos morrem durante a embriogênese. Aparente- (no qual o gene é deletado) para o câncer de pulmão pode,
mente, o gene é necessário no início do desenvolvimento. agora, ser comparada a seus irmãos "normais", nos quais o
Como é possível estudar seu papel no câncer pulmonar no gene de interesse ainda está intacto. Assim, a recombinação
animal adulto? utilizando Cre permite a investigação das possíveis funções
dos genes em diferentes estágios de desenvolvimento.
FUNÇÕES BIOLÓGICAS DA
' -
'
RECOMBINAÇAO SITIO-ESPECIFICA
a b
substrato de
DNAem
sinapse
5' . ~
ll
3'
clivagem da
primeira fita
105Á
ll
permuta da
primeira fita FIGURA 1 2-9 Mecanismo de recombinação sítio-especifica pela recombinase Cre.
(a) Série de estrutu ras intermediárias Cre-DNA que reflete o mecanismo de troca sequencial de
" uma f ita por vez" . Em cada um dos painéis, apenas as duas subunidades coloridas em verde
estão na conformação ativa. Observa-se que após a clivagem da primeira f ita, as cores das
subunidades mudam à medida que o segundo par de subunidades Cre se torna ativo pa ra re-
junção de Holliday
combinação. (Adaptada, com permissão. de Guo F. et ai. 1997. Nature 389: 4 1. © Macmillan .)
intermediária
(b) Estrutura cristalográfica de Cre ligada à junção de Holliday intermediária (corresponde ao
terceiro painel na parte a). As duas subunidades em verde apresentam uma conformação di-
ferente das subu nidades coloridas em roxo. Portanto, o complexo não apresenta uma simet ria
tetraéd rica; observa-se, por exem plo, que dois dos pares de ' braços" de DNA adjacentes na
estrutu ra estão muito mais próximos do que os outros pares. (Gopaul D.N. et ai. 1998. EM80
ll
ctivagem da
segunda fita
~ •.
J. 17: 4175.) Imagem preparada com MoiScript, BobScript e Raster3D.
ll
permuta da
segunda fita
dessa reação de integração/excisão forneceu as primeiras evidências molecu-
lares sobre a recombinação sítio-específica.
Para integrar, a proteína À-integrase (Àint) catalisa a recombinação entre
dois sítios específicos, conhecidos como sítios att (do inglês, attachment (li-
gação)). O sítio attP está no DNA do fago (P, do inglês, phage (fago)), e o sítio
DNA
attB está no cromossomo bacteriano (B, de bactéria) (ver Fig. 12-2). A Àint
reoombinado é uma tirosino-recombinase, e o mecanismo de permuta de fita segue a via
anteriormente descrita para a proteína Cre. Ao contrário da recombinação
mediada por Cre, entretanto, a integração de À requer proteínas acessórias
para auxiliar na formação do complexo proteína-DNA. Essas proteínas con-
trolam a reação para garantir que a integração e a excisão do DNA ocorram no
momento correto do ciclo de vida do fago. Primeiramente, será considerado o
processo de integração e, a seguir, o de excisão.
A organização altamente assimétrica dos sítios attP e attB é importante para
a regulação da integração de À (Fig. 12-10). Ambos os sítios apresentam um
segmento central (- 30 pb). Cada um desses sítios centrais de recombinação
é constituído por dois sítios de ligação de Àint e uma região de crossing over,
onde ocorre a permuta de fitas (como descrito anteriormente). Enquanto attB
388 Parte 3 Manutenção do Genoma
B'
consiste apenas dessa região central no sítio, attP é muito mais longo (240 pb)
e apresenta vários outros sítios de ligação a proteínas.
A região central de attP é flanqueada por duas regiões de DNA conhecidas
corno "braços". Esses braços carregam urna variedade de sítios de ligação a
proteínas, incluindo sítios adicionais ligados por ~Int (marcados corno P, P2 e
P' na Fig. 12-10). Àlnt é urna proteína incomum porque possui dois domínios
envolvidos na ligação a sequências específicas de DNA: um domínio liga-se
aos sítios de reconhecimen to da recornbinase do braço, e o outro liga-se aos
sítios de reconhecimento do núcleo. Além d isso, os braços de attP possuem
sítios ligados por várias proteínas de arquitetura. A ligação dessas proteínas
comanda a direção e a eficiência da recombinação.
p,·
A integração necessita de attB, attP, ~Int e de uma proteína de arquite-
tura, chamada fat or de int egração do hospedeiro (IHF, integration
host factor) . IHF é uma proteína de ligação ao DNA dependente de sequên-
clivagem cia que introduz grandes curvaturas(> 160°) no DNA (Fig. 12-11). Os braços
de attP carregam três sítios de ligação a IHF (marcados corno H,, H2 e H' na
FIGURA 12· 11 Modelo do do· Fig. 12-10). A função de IHF é aproximar os sítios de ~Int nos braços do DNA
bramento do DNA induzido por IHF (onde ~Int se liga fortemen te) dos sítios presentes na região cen tral (onde ~Int
para aprox imar os sítios de ligação se liga fracamente). Assim, a curvatura do DNA, mediada por IHF, permite que
ao DNA. Os sítios de ligação a )..lnt e IHF Àlnt encontre os sítios fracos do núcleo e catalise a recornbinação.
do braço P' de attP estão mostrados. IHF Quando a recornbinação está completa, o genorna circular do fago está
ligada ao sítio H' dobra o DNA, permitin-
estavelmente integrado no cromossomo da célula hospedeira. Corno resul-
do que uma molécula de )..lnt se ligue aos
tado, dois novos sítios híbridos são gerados nas junções entre os DNAs do
sítios P,· e C'. A quebra no DNA no sit io
H' reflete um corte presente no DNA uti- fago e da célula hospedeira. Esses sítios são chamados de attL (L, do inglês,
lizado na análise estrutural do complexo le{t [esquerda)) e attR (R, do inglês, right [direita]) (ver Fig. 12-10). Ambos os
IHF-DNA. (Adaptada, com permissão, de sítios contêm a região cen tral, mas as duas regiões d os braços estão, agora,
Rice P. et ai. 1996. Ce/1 87: 1295-1306, separadas urna d a outra (ver as localizações das regiões P e P' na Fig. 12-10).
Fig. 8. © Elsevier.) Assim, nenhuma das duas regiões centrais, nessa nova organização, é capaz
Capítulo 12 Recombinação Sítio-específica e Transposição do ONA 389
segmento invertível
Os dois genes sob controle desse promotor que "vira" são fljB, que codi-
fica a flagelina H2, e fljA, que codifica um repressor transcricional do gene
da flagelina Hl. O gene da flagelina H1 está localizado em um sítio afastado.
Assim, na orientação ON, a flagelina H2 e o repressor de 1-11 são expressos. Es-
sas células apresentam exclusivamente flagelos tipo H2 na sua superfície. Ao
contrário, na orientação OFF, não há síntese de H2 nem do repressor de H1,
portanto, apenas os flagelos tipo H1 estão presentes.
~~
~ ~~
-...........s . . \ , souos h1X re orçador
Hin . Hin .
Fis -
FIGURA 12 -14 Complexos forma·
dos durante a recombinação catalisa·
da por Hin. A proteína Hin sozinha reco-
nhece e pa reia os dois sítios hix. Quando
a proteína Fis também está presente. o complexo sináptico Hin-hlx invertassomo Hin
complexo de três segmentos é formado.
Esse complexo é chamado invertassomo e
é o complexo mais ativo para promover
a recombinação. (Adaptada, com per-
missão, de Cra ig N. et ai. 2002. Mobile
DNA 11. p. 246, Fig. 9. © ASM Press.)
Capítulo 12 Recombinação Sítio-específica e Transposição do ONA 391
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Xer pertence à família das t irosino-recombinases, e seu me- mossomos bacterianos, chamados sítios dif, possuem uma
canismo para promover a recombinação é muito semelhan· sequência de reconhecimento para XerC em um lado e uma
te ao descrito anteriormente para a proteína Cre. Xer é um sequência de reconhecimento pa ra XerD no outro lado da
heterotetrâmero, contendo duas subunidades de uma pro· região de crossing over (Fig. 1 deste quadro). Existe um sitio
teina chamada XerC e duas subunidades de uma proteína dif no cromossomo. Ele está localizado na região onde ter-
chamada XerD. XerC e XerD são tirosino-recombinases, mas mina a replicação do DNA (ver Cap. 9). Quando o cromosso·
reconhecem sequências diferentes de DNA. Portanto, os si· mo forma um dimero, este terá, obviamente, dois sítios dif
t ios de recombinação utilizados pela recombinase Xer de- (ver Fig. 12-15).
vem apresentar sequências de reconhecimento para cada Como as células asseguram que a recombinação media·
uma dessas proteínas. Os sítios de recombinação nos cro· da por Xer nos sítios dif converta um cromossomo d imérico
em monômeros, sem que ocorra a reação inversa? Essa regu·
lação direcional é alcançada por meio da interação entre a
recombinase Xer e uma proteína da divisão celular chamada
Xe!C FtsK. Essa regulação está il ustrada na Figura 2 deste quadro
e é explicada a seguir. Quando FtsK não está disponível para
interagir com o complexo XerCD no sitio dif, o complexo da
recombinase adota uma conformação na qual somente as
duas subunidades de XerC estão ativas. Assim, XerC promove
a permuta de um par de fitas de DNA. formando a junção de
via independente via dependente Holliday intermed iária (ver a d iscussão prévia sobre o meca·
de FtsK de FtsK nismo da tirosino-recombinase). Como XerD nunca é ativada,
a recombinação nunca é finalizada . No entanto, frequente·
mente ocorre a reversão da reação de clivagem de XerC. Essa
reversão simplesmente regenera o arranjo original do DNA
(ver Fig. 1 deste quadro).
Em contrapartida, quando a proteína FtsK está presen-
te e interage com o complexo XerCD, ela altera a conforma·
XerO
ativa Jl ção do complexo e ativa a proteína XerD. Neste caso, XerD
promove a recombinação do primeiro par de fitas para ge·
rar a junção de Holliday intermed iária. Uma vez fi nalizada
essa reação, XerC promove as reações de permuta de fitas
do segundo par, criando produtos de DNA recombinados
(ver Fig. 1 deste quadro).
FtsK é uma ATPase que se desloca ao longo do DNA.
Xe!C
ativa Jl Ela atua como uma "máquina proteica de bombeamento de
DN~' semelhante à proteína RuvB que promove a migração
da ramificação de DNA durante a recombi nação homóloga
(discutida no Cap. 11 ). FtsK é também uma proteína ligada
à membrana, localizada no local em que ocorre a divisão ce·
lular. Ela atua afastando o DNA do centro da célula antes da
divisão para que a célula possa se dividir neste local.
Essa localização de FtsK no local de d ivisão é funda·
QUADRO 12·2 FIGURA 1 Vias de recombinação me- mental para garantir às células que XerD seja ativada especi·
diada por Xer em dif. Na ausência de FtsK (via independente ficamente na presença de um cromossomo d imérico. Neste
de FtsK, mostrada no painel à esquerda), apenas XerC está caso, o cromossomo ficará " preso" no meio da célula em
ativada para promover a permuta de fitas e formar uma jun- divisão, porque cada metade do dimero cromossômico será
ção de Holliday intermediária. Neste caso (porq ue XerD não movida para cada célu la-f ilha. FtsK também interage com
está ativa), a recombinação não é f inalizada e, em geral, a sequências polares específicas de DNA (chamadas de KOPS)
reação de XerC é revertida. Na presença de FtsK (via depen- que são arranjadas assimetricamente em torno do sitio dif.
dente de FtsK, mostrada no painel à d ireita), XerD, agora ati· Como resultado, FtsK t ransloca sítios dif em direção ao sep·
va, catalisa a formação da junção de Holliday intermediária, to e um em d ireção ao outro. Assim sendo, esse movimen·
e XerC promove a segunda permuta de fitas e com pleta o to facilita o seu pareamento e a ativação da recombinação
evento de recombinação, gerando cromossomos monoméri· XerD. Desta maneira, a recombinação sitio-específica é re-
cos. (Adaptada, com permissão, de Aussel L et ai. 2002 . Ce/1 gulada para ocorrer no momento e local corretos no ciclo
108: 195-205, Fig. 6. © Elsevier.) de divisão celular.
Capítulo 12 Recombinação Sítio-específica e Transposição do ONA 393
TRANSPOSIÇÃO
Alguns elementos genéticos deslocam-se para
novos locais do cromossomo por transposição
A transposição é uma forma particular de recombinação genética que des-
loca determinados elementos genéticos de um local do DNA para outro. Esses
elementos genéticos móveis são chamados elementos de transposição ou
transposons. O deslocamento ocorre pela recombinação entre as sequências
de DNA posicionadas nas extremidades do elemento de transposição e uma
sequência no DNA da célula hospedeira (Fig. 12-16); o deslocamento pode
ocorrer com ou sem a duplicação do elemento. Em alguns casos, a reação de
recombinação envolve um intermediário temporário de RNA.
Em geral, quando os elementos de transposição de deslocam, eles apresen-
tam pouca seletividade de sequência na escolha dos sítios de inserção. Como
resultado, os transposons podem se inserir dentro de genes, alterando comple-
tamente a função destes na maioria das vezes. Eles também podem se inserir
dentro de sequências gênicas reguladoras, onde sua presença pode provocar al-
terações na expressão do gene. Essas perdas de função e alterações na expressão
gênica levaram à descoberta dos elementos de transposição (ver Quadro 12-3,
Elementos do milho e descoberta de transposons). Não surpreende, portanto,
que os elementos de transposição estejam entre as causas mais comuns de novas
mutações em diversos organismos. Na verdade, esses elementos são uma causa
importante de mutações que resultam em doenças genéticas nos seres huma-
nos. A capacidade de se inserir tão indiscriminadamente no DNA exibida pelos
elementos de transposição também levou a sua modificação e utilização como
agentes mutagênicos e vetores de in tegração de DNA na biologia experimental.
Os elementos de transposição estão presentes nos genomas de todas as
formas de vida. A análise comparativa de sequências genômicas revelou duas
questões fascinantes. A primeira é que as sequências relacionadas aos trans-
posons podem compreender enormes frações do genoma de um organismo.
Por exemplo, mais de 50% dos genomas de seres humanos e do milho são
compostos por sequências de DNA relacionadas aos transposons (incluindo-
-se fragmentos de transposons, ou elementos "mortos", que foram inativados
por mutações). Em um contraste extraordinário, apenas uma pequena por-
transposon
DNA genômico (j !'b li) )
sítio antigo sítio novo
deslocamento sem duplicação deslocamento com duplicação
a Milho
elementos repetidos Adh I·F <'genes
I \
() )))) '1 )) )))) l J:lllll r 1 1 ll l I l ))
b Ser humano
V28 V29·1 TRY 4 TRY5
o mumr nmm _ll u Lll 1!l lllll ll D mlll DID llD D_ DDDDJDL lU DD D_ OO!l I Jn: D)
c Orosophifa melanogaster
Ppl Edg78E Po/ycomb
0 t l )DDJ lOOl_ ID==:J IDL IID .JDL JID 1 1JIDm 1na1. u m )[ 11 >r JIJDID )
d Saccharomyces cerevisiae
GLK1 SR09 HIS4 FUS/ AGP/ BUD3
ODJlD 1 J1 1 I li lDDill 101 11 li }t ) D r 1 r l!IDDllll lDI 11 ID t ) )
Ty2
e Eschen.chia cofi
o 10 20 30 40 50 kb
kb
o r~J rp
quências LTR que f lanqueiam uma região
que codifica duas enzimas: a i nteg rase e a
•I EQ· l~ )
transcriptase reversa (RT). (c) Retrotra ns-
LTR integrase e RT LTR poson s com poli(A). O elemen to termina
nas sequências 5'-UTR e 3'-UTR e codifica
c retrotransposons oom poli(A) duas enzi mas: uma enzima de ligação ao
I
5'UTR
• ORF1 ORF2 3'UTR
RNA (ORF1) e uma enzima com atividades
de transcriptase reversa e de endonuclea -
(j tl l: l l ! ~ I ~~~E )
se (ORF2). UTR, região não traduzida .
!
(em azul). Observam-se os sítios de cliva- ligação ao muttimero
gem escalonados no DNA-alvo du rante da transposase
a reação de transferência de fita de DNA
que origina sequências repetidas cu rtas
no novo sítio -alvo (duplicações de sítio-
·alvo). A excisão do t ransposon resulta complexo
em quebra no DNA de dupla-fita no sítio sináptico
de inserção original (aqui, em cinza) . Essa
quebra pode ser reparada por recombina-
ção homóloga ou por junção de extremi -
dades não homólogas (ver Caps. 1O e 11).
As etapas químicas são mostradas sem a
proteína ligada para maior clareza .
divagem do DNA
em ambas as fitas
1
excisão do transposon
5' 5't
3'~ r ;=====:;
:; \~
3'f' H
3'-011~ + 5'õ
DNA·alvo ~=====:;:=====
transferéncia de
filas de DNA
5:0 o
s;. reparo de DNA por síntese
preenche as lacunas
ONA novo
! ligação das quebras
5'==='==-==========
3'
L...J
duplicação
LJ
duplicação
do sitioRalvo do sítio-alvo
3'-
transferência 0H o . ..
\
"o-===3'
de fitas de DNA I
5' *
•
3' - 5'
nova extremidade
do ONA - -:3'-HIO
midades 3'-0H, as quais atuam como iniciadores para a síntese de DNA pelo
sistema de reparo (ver Fig. 12-18). O preenchimento das lacunas origina as
duplicações no sítio-alvo que flanqueia os transposons (ver anteriormente).
Assim, a extensão da duplicação do sítio-alvo revela a distância entre os sítios
atacados nas duas fitas do DNA-alvo durante a transferência de fita de DNA.
Após a síntese de reparo da lacuna, a DNA-ligase é necessária para unir as fitas
de DNA.
A transposição por corte e colagem também deixa uma quebra de dupla-
-fita no DNA no sítio da inserção "antiga", a qual deve ser corrigida para man-
ter a integridade do genoma da célula hospedeira. O reparo de quebras no
DNA de dupla-fita por recombinação homóloga é descrito no Capítulo 11. Às
vezes, essas quebras também são religadas mais diretamente, como será visto
adiante na discussão sobre a família de transposons Tcl /mariner.
OH
•
53·. c:~~3'=;::::=: c:~~5] transposase
ctivagem da
OH
transesterificação
transferência de
1
fitas de DNA
OH
5'<:=>
3' <:=> r :§:~~·> ;:r::::= ::::!:<3§§
OH
+
abertura
do grampo
s·==
3'
transferência de
5' ~~
5' ~3''
3' C w
OH
5'=1=
3'
+
transferência de
3'
fi~s de :~
OH
(Fig. 12-21a). A TnsA possui uma estrutura muito semelhante à de uma en-
donuclease de restrição. A TnsA une-se à transposase codificada por Tn7 (a
proteína TnsB). Ao atuarem em conjunto, a transposase e a TnsA removem o
transposon de seu sítio-alvo original.
A outra maneira de clivar a fita não transferida é promovida pela pró-
pria transposase, por meio de um mecanismo de transesterificaç.ã o de DNA,
similar à transferência de fitas de DNA. Por exemplo, os transposons Tn5
e TnlO clivam a fita não transferida pela formação de uma estrutura co-
nhecida como "grampo de DNA". Para formar esse grampo, a transposase
usa a extremidade 3' -OH do transposon de DNA, inicialmente clivada, para
atacar uma ligação fosfodiéster d iretamente em frente ao dúplex de DNA na
fita oposta (Fig. 12-21b). Essa reação cliva a fita de DNA atacada e também
liga covalentemente a extremidade 3 ' do DNA d o transposon a um lado d a
quebra. Como resultado, as duas fitas de DNA são covalentemente unidas
por uma extremid ade em alça fechada, lembrando o formato de um grampo
de cabelo.
Capítulo 12 Recombinação Sítio-específica e Transposição do ONA 401
Esse grampo na extremidade do DNA é, então, clivado (i. e., "aberto") pe-
las transposases, gerando uma quebra de dupla-fita no DNA. Essa reação de
abertura ocorre em ambas as extremidades do DNA do transposon. Uma vez
que essas etapas estejam concluídas, as extremidades 3 '-OH do DNA estão
prontas para serem unidas ao novo DNA-alvo pela reação de transferência de
fitas de DNA.
O transposon Hermes, um membro da família de elementos hAT, também
usa intermediários de grampo de DNA para excisar o transposon do antigo
sítio de inserção no DNA. Entretanto, neste caso, a ordem das reações de di-
vagem e transesterificação é diferente, de maneira que os grampos de DNA
são formados no DNA da célula hospedeira, em vez de nas extremidades do
elemento de transposição (Fig. 12-21c). Como será visto adiante neste capítu-
lo, essa via de reações de clivagem e junção do DNA é bastante semelhante à
observada durante as etapas iniciais da recombinação V(D)J. Essa semelhança
mecanística corrobora fortemente a hipótese de que a recombinação V(D)J
surgiu a partir da captura e "domesticação" de um transposon por um orga-
nismo hospedeiro durante a evolução dos vertebrados.
Embora não seja mostrado na Figura 12-21, a clivagem do DNA por uma
reação de transesterificação também pode ocorrer entre as duas extremidades
do transposon. Neste caso, uma extremidade 3' -OH clivada ataca a fita de
DNA na extremidade oposta do elemento de DNA e o intermediário de DNA
resultante é posteriormente processado para gerar o transposon excisado.
A família de transposons IS3 utiliza esse mecanismo.
Por que as transposases utilizam a transesterificação como um mecanis-
mo de clivagem? Provavelmente, esta seja uma solução econômica. As trans-
posases têm a capacidade intrínseca de promover (1) a hidrólise sítio-específi-
ca das extremidades 3' do DNA do transposon e (2) a transesterificação dessa
extremidade em um sítio não específico de DNA. Essas mesmas atividades,
com a reação de transesterificação aplicada em um novo sítio no DNA (i.e.,
à fita oposta ao sítio inicial de clivagem), podem permitir que a transposase
promova a excisão do transposon. Esse mecanismo, portanto, torna desneces-
sária a codificação de uma segunda enzima para clivar a fita não transferida
no transposon.
!
provirus integrado. Para uma visão mais LTRI LTRI
detalhada das sequências LTR, ver as figu-
ras no Quadro 12-3. O promotor para a transcrição
t ranscrição do RNA vira I está inserido na
LTR à esquerda, como mostrado. A sintese
de cDNA a partir desse RNA virai é expli-
elemento
RNA
s·.....__,-.. . . __,3.
cada no Quadro 12-3. As etapas de cliva-
gem e transferência de fita do DNA catali- 1 transcrição reversa
sadas pela integ rase estão mostradas.
cDNA
clivagem da extremidade 3 •
catalisada pela integrase
3'
I
dinucleotídeo
liberado
' s·
+
S' ~~~r·
,.#
'3' reparo da lacuna
e ligação
5'==
3'
== 5'3'
posons semelhantes a vírus e retrovírus. Esse mecanismo conservado de re-
combinação reflete-se na estrutura das proteínas transposase/integrase (Fig.
12-24). As estruturas de alta resolução revelam que diversas transposases e
integrases diferentes apresentam um domínio catalítico com formato tridi-
mensional comum. Esse domínio catalítico contém três aminoácidos ácidos
evolutivamente conservados: dois aspartatos (D) e um glutamato (E). Portan-
to, as recombinases dessa classe são chamadas proteínas transposase/integrase
com motivos DDE. Esses aminoácidos ácidos formam parte do sítio ativo e
coordenam íons metálicos divalentes (como Mg2• ou Mnz.) que são neces-
sários para a atividade (como descrito para as DNA-polimerases, ver Cap. 9).
Uma característica incomum das proteínas transposases/integrases é que elas
utilizam esse mesmo sítio ativo para catalisar as reações de clivagem de DNA e
de transferência de fitas de DNA, em vez de apresentar dois sítios ativos, cada
um especializado em uma reação química.
Ao contrário da estrutura altamente conservada dos domínios cata-
líticos, as demais regiões das proteínas dessa família não são conservadas.
Capítulo 12 Recombinação Sítio-específica e Transposição do ONA 405
FIGURA 12-24 Similaridades entre os domínios cataliticos de transposases e de b ligação ao DNA contato
integrases. (a) Estruturas dos dom ínios cent rais conservados (mostrados da direita pa ra a protelna·ptoterna
esquerda) da transposase Tn5 (Davies D.R. et ai. 2000. Science 289: 77-85), da transposase ,--,
MuA
do lago Mu (Rice P. e M izuuchi K. 1995. Ce/1 82 : 209-220), e da integrase RSV (Chook Y.M .
et ai. 1994. J. Moi. Bio/. 240: 476-500). Os elementos com a mesma estrutura secundária estão
mostrados nas mesmas cores. Os resíduos do sítio ativo do m otivo DDE estão m ostrados em
transposasc
form ato de bastão. Imagens preparadas com MoiScript, BobScript e Raster3D. (b) Representa- Tn 5
ção esquemática da organização do domínio das t rês proteínas m ostradas na pa rte a. Os do-
mínios aminoterminais liga m-se ao DNA do elemento móvel. Os domínios cent rais contêm as
regiões catalíticas m ostradas em a. Os domínios carboxiterm inais estão envolvidos nos contatos
integrasc de RSV DOE
proteína-proteína necessários para montar o tra nsposossomo e/ou para interagir com outras
proteínas que regulam a transposição. (Adaptada de Rice P.A. e Baker T.A. 2001. Nat. Struct.
Bio/. 8: 302-307.)
F I G U RA 1 2 • 2 5 Cocristalização
de TnS ligada ao substrato de DNA.
O complexo contém um dímero da tra ns-
posase. Os domínios catalíticos estão colo-
ridos como na Figu ra 12-24. As esferas em
verde correspondem aos íons metálicos di-
valentes ligados no sitio ativo da proteína.
Observe que a su bunidade ligada via seu
domínio de ligação ao DNA a uma extre-
midade do t ransposon doa o domínio ca-
talitico para recombinação na outra extre-
midade do DNA. O DNA está representado
em azul-claro e cor-de-rosa. (Davies D.R.
et ai. 2000. Science 289: 77-85.) Imagem
preparada com Moi Script, BobScript e
Raster3D, com modelamento adicional do
DNA por Leemor Joshua-Tor.
5 '-UTR, neste caso ele pode promover o início da síntese de RNA no primeiro
nucleotídeo da sequência do elemento.
Esse RNA recém-sintetizado é exportado para o citoplasma e traduzido,
produzindo as proteínas ORFl e ORF2 (ver anteriormente). Essas proteínas
permanecem associadas ao RNA que as codifica (Fig. 12-26b). Dessa maneira,
um elemento promove a sua própria transposição e não fornece suas proteí-
nas para elementos competidores.
Então, o complexo proteína-RNA entra novamente no núcleo e associa-
-se ao DNA celular (Fig. 12-26c). Deve-se ter em mente que a proteína ORF2
tem as atividades de endonuclease de DNA e de transcriptase reversa. A endo-
nuclease inicia a reação de integração pela introdução de um corte no DNA
cromossômico (ver Fig. 12-26d). As sequências ricas em T são sítios preferen-
ciais de clivagem. A presença de bases T no sítio de clivagem permite que o
DNA realize o pareamento de bases com a sequência da cauda poli(A) do RNA
do elemento. A extremidade 3 '-0H do DNA-alvo atua como iniciador para a
transcrição reversa do RNA do elemento móvel (Fig. 12-26e). A proteína ORF2
também catalisa essa síntese de DNA. As etapas restantes da transposição, em-
bora não sejam muito bem compreendidas, incluem a síntese da segunda fita
do cDNA, o reparo das lacunas de DNA no sítio de inserção e a ligação para
fechar as fitas de DNA.
Muitos retrotransposons com poli(A) detectados pelo sequenciamento
genômico em larga escala são elementos truncados. A maioria apresenta per-
das na extremidade 5' e não possui cópias completas dos genes codificadores
do elemento ou um promotor intacto. Esses elementos truncados, portanto,
perderam a capacidade de realizar a transposição.
EXEMPLOS DE ELEMENTOS DE
TRANSPOSIÇÃO E SUA REGULAÇÃO
Os transposons tiveram grande sucesso na invasão e colonização dos gene-
mas de todas as formas de vida. Obviamente, eles são entidades biológicas
bastante robustas. Parte desse sucesso pode ser atribuído à regulação da trans-
posição, realizada de maneira a auxiliar o estabelecimento de uma coexistên-
cia harmoniosa com a célula hospedeira. Essa coexistência é essencial para
a sobrevivência do transposon, uma vez que este não pode existir sem um
organismo hospedeiro. Por outro lado, como já foi mencionado, os transpo-
sons podem danificar a célula, causando mutações de inserção e alteração da
expressão gênica e promovendo rearranjos de DNA em grande escala. Esses
danos são observados particularmente nas plantas, uma característica que
Capitulo 12 Recombinação Sítio-especifica e Transposição do ONA 407
b
1
s e55~'U~T~R~. . . .~. . . .~~3'~U~T~RWM:=I ~
de uma sequência UNE integ rada . (b) O
m RNA resu ltante é traduzido para gerar
os produtos das duas ORFs cod ificadas
mRNA
de UNE
1 traduçAo
que se ligam, então, à extremidade 3' de
seu mRNA. (c) O complexo proteína·mRNA
liga-se a um sítio rico em T no ONA·alvo.
(d) As proteínas iniciam a clivagem do
ONA-alvo, deixando um 3' -OH na extre-
ligaçAo ao midade do DNA e formando um híbri-
mRNA deUNE do RNA:DNA. (e) A extremidade 3' -OH
do DNA-alvo atua como iniciador para a
transcrição reversa do RNA do elemento
móvel, produzindo cDNA (síntese da pri·
meira fit a). (f) As etapas finais da reaçao de
transposição incluem a síntese da segunda
fita, a ligação do ONA e o reparo para criar
um elemento UNE recém-inserido.
l ligaçAo ao DNA-alvo
c
clivagem do sítio-alvo,
d
1 formaçAo do híbrido RNA-DNA
f
!! degradaçAo do RNA e
slnlese da segunda fita
~ ~~~~~ ~
DNAde UNE
..
408 Parte 3 Manutenção do Genoma
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Os genomas das plantas são mu ito ricos em transposons. linhagens apresentavam quebras cromossômicas muito fre-
Além disso, a capacidade de os elementos de transposição quentes e nomeou como Os (dissociador) o elemento ge-
alterarem a expressão gênica pode, com frequência, ser facil- nético responsável por essas quebras cromossômicas . Sur-
mente observada como uma variação drástica na coloração preendentemente, ela observou que os locais desses "hot
da planta (Figs. 1 e 2 deste quadro). Assim, não surpreende spots" (ou " sítios preferenciais") para quebras cromossômi-
o fato de os elementos de transposição e muitas de suas ca- cas variavam entre linhagens d iferentes e entre os mesmos
racterísticas marcantes terem sido descobertos em plantas. cromossomos nos descendentes de uma mesma planta. Essa
Barbara McCiintock descobriu os "elementos contro- observação forneceu a primeira evidência de q ue os elemen-
ladores" no milho, no f im da década de 1940. Na verdade, tos genéticos poderiam mover-se (i.e., "t ranspor-se") nos cro-
a capacidade de os elementos de transposição provocarem mossomos.
quebras cromossômicas foi o fator que, inicialmente, cha- Na verdade, Os é um transposon de DNA não autôno-
mou a atenção de McCiintock. Ela observou q ue algumas mo que se desloca pela transposição por corte e colagem.
O deslocamento de Os requer que um elemento Ac (ativador)
- também descoberto por McCiintock - esteja presente na
mesma célula e forneça a proteína transposase. Hoje, Ac é re-
conhecido como parte de uma grande família de transposons
de DNA chamados família hAT, denominados a partir dos
elementos hobo de drosófilas, dos elementos Ac do milho e
dos elementos Tam da boca-de-leão. O elemento Hermes da
mosca-doméstica também é membro dessa família e revelou-
-se um interessante modelo para análise mecanicista.
ser menos prejudiciais à célula hospedeira. Essas regiões são chamadas re-
fúgios seguros para transposons. No segundo tipo de regulação , a lguns
transposons especificamente evitam a transposição em seu próprio DNA.
Esse fenômeno é chamado imunidade do alvo da transposição.
gene da
gene genes de transposase
defeituoso resistência
da transposase à tetraciclina
l llJl ll l IO
IS10àesquerda
• P,~
JS 10 à direita
a
1810 à direita
RNA antissenso q 4
------3·
é frequente ""
P" . promove a expressão de um RNA an- "'
......
t issenso. As primeiras 36 bases de cada ""
5'
t ranscrito são complementares ent re si.
Nas células. o transcrito antissenso inicia-
do em P0"' é m ais estável que o mRNA 5'
iniciado em P". (b) Nas células com alto tradução do mRNA da
número de cópias de Tn 70, o parea mento transposase é bloqueada
RNA:RNA ocorre f requentemente e blo-
queia a tradução do mRNA da t ranspo-
c baixo número de
sase (reduzindo o número de cópias do
elemento de transposição). (c) Nas células cópias de Tn10:
pareamento 5'
• .;~ri~bo~s~s~o~m~
o . .,~~~~~~
3'
com baixo número de cópias do tra nspo- RNA:RNA é raro
son, o parea mento RNA: RNA ocorre ra-
ramente; portanto, a t radução do mRNA
da tra nsposase é eficiente, e o número de tradução do mRNA da
!
cópias nas células é aumentado. transposase é eficiente
Capítulo 12 Recombinação Sítio-específica e Transposição do ONA 411
~l
o complexo MuA DNA-t ransposossomo
para um novo sitio-alvo no DNA. MuB não
está mostrada no último painel porque.
após a transferência de fitas de DNA. ela
não é mais necessária e, provavelmente. ~
dissocia-se do complexo.
complexo
alvo MuB
transposossomo
finalizado
~ CONCEITOS AVANÇADOS
A interação entre a transposase M uA e a ATPase MuB é a Mu; MuB-ATP liga -se novamente, utilizando sua afinida ·
parte central do mecanismo da imunidade do alvo da trans- de por qualquer sequência de DNA. Porém, quando MuA
posição. As interações entre MuA e MuB impedem a ligação e MuB estão ligadas a essa região, elas interagem . Como
de MuB a uma região no DNA próxima ao local em que MuA resultado, MuA estimula a hidrólise de ATP pela MuB e a
está ligada . As interações responsáveis por essa ação recípro- d issociação da MuB deste DNA. Portanto, MuB não se acu -
ca entre MuA e MuB são: mula sobre esse segmento de DNA imune. Desta maneira,
as proteínas de transposição de Mu utilizam a energia ar-
• MuA in ibe a ligação de MuB aos sítios de DNA próximos.
mazenada no ATP para evitar que o genoma de Mu se torne
Essa inibição requer a hidrólise de ATP.
um alvo para a transposição. Como esperado, segundo esse
• MuB auxilia MuA a encontrar um sítio-alvo para a mecanismo, mesmo um único sítio de ligação de MuA em
transposição. uma molécu la de DNA é o suficiente para conferir a imuni·
dade do alvo.
Para ver como as interações individ uais proteína-proteí·
na e proteína-DNA funcionam em conjunto para gerar i muni·
da de do alvo, considere-se a transposição em dois segmentos DNA "virgem" DNA imune
candidatos de DNA: um é qualquer segmento representativo
de DNA, enquanto o segundo possui uma cópia de Mu já in-
serida (ver Fig. 1 deste quadro). O primeiro segmento de DNA
será chamado de região não protegida (virgem) e o segundo
segmento de DNA. de região imune (com Mu).
O que acontece em cada reg ião de DNA à medida que
Mu se prepara para a transposição? Primeiro, serão conside·
rados os eventos na região virgem . MuB, em complexo com
ATP (MuB-ATP), irá se ligar ao DNA, utiliza ndo sua ativida·
de de ligação não específica ao DNA. Ao mesmo tempo, a
transposase MuA formará um transposossomo no DNA de
Mu. MuA do transposossomo pode realizar contatos proteí-
na-proteína com o complexo MuB-DNA na região virgem .
Como resultado dessa interação, MuB libera esse DNA para
que MuA possa utilizá-lo como sítio-alvo .
Em contrapartida, tanto MuA como MuB se ligam ao
DNA na região imune. MuA interage com seus sítios de
ligação específicos que já estão presentes no genoma de
C'
genes de tRNA:
cromossomo V
RECOMBINAÇÃO V(D)J
Viu-se que a transposição está envolvida no deslocamento de vários elemen-
tos genéticos diferentes. As células, entretanto, também aproveitam esse me-
canismo de recombinação para funções que auxiliam diretamente o organis-
mo. O melhor exemplo é a recombinação V(D)J, que ocorre nas células do
sistema imunológico dos vertebrados.
O sistema imunológico dos vertebrados tem a função de reconhecer e agir
defensivamente contra os organismos invasores, incluindo vírus, bactérias e
eucariotos patogênicos. Os vertebrados possuem dois tipos celulares especiali-
zados dedicados ao reconhecimento desses invasores: células B e células T. As
células B produzem anticorpos que circulam na corrente sanguínea, e as cé-
lulas T produzem proteínas receptoras ligadas a sua membrana (chamadas de
receptores de células T). O reconhecimento de uma molécula "estranha"
por qualquer uma dessas classes de proteínas desencadeia uma série de even-
tos cujo propósito é a destruição do invasor. Para desempenhar corretamente
suas funções, os anticorpos e os receptores de células T devem ser capazes de
reconhecer um con junto extremamente diverso de moléculas. O principal
mecanismo utilizado para gerar anticorpos e receptores de células T com ta-
manha diversidade baseia-se em um con junto especializado de rearranjos de
DNA, conhecido como recombinação V(D)J.
Os genes que codificam os anticorpos e os receptores de células T são
compostos por segmentos gênicos que serão organizados por uma série de
rearranjos sequência-específicos de DNA. Para entender como essa recom-
binação gera a diversidade necessária, é preciso analisar a estrutura de uma
molécula de anticorpo (Fig. 12-33); os receptores de células T possuem uma
estrutura modular semelhante. A Figura 12-34 ilustra uma região genômi-
ca que codifica uma meolécula de anticorpo. Os anticorpos são formados
por duas cópias de uma cadeia leve e duas cópias de uma cadeia pesada.
A porção da proteína que interage com as moléculas estranhas é chamada
sítio de ligação ao antígeno. Essa região de ligação é construída a partir
dos domínios Vt e VH da molécula de anticorpo, mostrados na Figura 12-33.
O "V" significa que a sequência proteica nesta região é altamente variável.
Os outros domínios do anticorpo são chamados regiões "C", ou constantes,
e não diferem entre diferentes moléculas de anticorpos.
A Figura 12-34a mostra a região genômica que codifica uma cadeia leve
de anticorpo (de um camundongo), chamada locus K . Essa região carrega cerca
de 300 segmentos gênicos que codificam diferentes versões da região proteica
VL da cadeia leve. Também existem quatro segmentos gênicos que codificam
uma pequena região de sequência proteica chamada região], seguidos por
uma única região codificadora para o domínio CL. Pelo mecanismo que será
descrito adiante, a recombinação V(D)J pode fusionar o DNA entre quaisquer
pares de segmentos V e]. Assim, como resultado da recombinação, 1.200 va-
Capítulo 12 Recombinação Sítio-específica e Transposição do ONA 417
a
DNA da linhagem germinativa
c
w:_.._--:--:::_ _:-:- Dllll D
V1 W ~ ~ J1 J2J3~
l O
FI GURA 12 - 34 Visão geral do
rearranjo de DNA durante a
processo de recombinação V(D)J.
diferenciação da célula B
(Painéis superiores) Etapas envolvidas na
produção da cadeia leve de uma molécu·
la de anticorpo. (a) Organização genéti -
b V1 V2 V3J3 J4 c ca da porção do DNA da cadeia leve em
ONAda célula B{j ' )) ) j ) ) células que não sofreram recombinação
V(D)J (DNA da linhagem germinativa) .
transcrição (b) Recombinação entre dois segmentos
gênicos específicos (V3 e J3) que ocorre
durante o desenvolvimento de células B.
V3J3 J4
RNA transcrito ~ .. .C Este é apenas um dos muitos t ipos de
eventos de recom binação que podem
RNA processado ocorrer em diferentes células pré-B. O lo·
cus recombinado é, então, tra nscrito e o
RNA é processado (Cap. 14) para j ustapor
V3J3 C4
mRNA maduro •••-~:~;;;;;;;~
!
um segmento gênico de região constante.
O m RNA resultante é traduzido, gerando
tradução a proteína da cadeia leve. (c) Representa -
ção esquemática da região genética ainda
vJ c mais complexa da cadeia pesada , com
proteína da ce
~- seus segmentos gênicos " D" adicionais e
cadeia leve múlt iplos t ipos de segmentos de região
constante (CIJ., C-y, etc.). (Adaptada, com
c permissão, de Bushman F. 2002 . Lateral
V1 V2 Vn 0 1 02 On J 1 J2 J3 J4 Cll C6 Cy Ce Cu
))) ) J I'l )) )) ll) ... l }) » )DJ ))
DNA transfer, p. 345, Fig. 11.3. © Cold
Spring Harbor La boratory Press.)
418 Parte 3 Manutenção do Genoma
riantes de cadeia leve do anticorpo podem ser produzidas a partir dessa única
região genômica. Esses segmentos são então unidos à região codificadora de
CL pelo processamento de RNA (Cap. 14).
A construção dos segmentos gênicos que codificam a cadeia pesada dos
anticorpos é semelhante. Neste caso, entretanto, há um tipo adicional de seg-
mento gênico, chamado de D (para "diversidade") (Fig. 12-34c). Genes de
cadeia pesada podem ser bastante complexos. Por exemplo, um locus espe-
cífico de cadeia pesada em um camundongo pode ter mais de 100 regiões V,
12 regiões De quatro regiões]. A recombinação V(D)J pode montar esse gene
para gerar mais de 4.800 sequências proteicas diferentes. Como os anticorpos
funcionais podem ser construídos a partir de qualquer par de cadeias leves e
pesadas, a diversidade gerada pela recombinação nos loci leve e pesado apre-
senta impacto multiplicativo na estrutura da proteína.
espaçado!' b
•
a hepiámero de 12 pb nooâmero v J
l&ACAGTG J ACAAAAAC~
o <t J ) lgH
•
TGICAC T G LT.l.T.I~
J, o ~ J ) lgK
•» •
o o
(J ~--- f~ ~ < t l )
o) ) ) lgÀ
I v,
--
•
região
codificadora
-- o
ACAAAÃACJ.:.
() l J ) TCRIX, TCR'(
heptámero espaçador de 23 pb
GJ TTT T G..G'
nonâmero
() r
• <J
FI GURA 12- 35 Sequências-sinais de recombinação reconhecidas na recombina-
J ) TCR~. TCRÕ
ção V(D)J. (a) Visão detalhada dos dois t ipos de sequências-sinais de recombinação (RSSs).
O espaçador de 12 pb est á mostrado em azul; o espaçador de 23 pb est á mostrado em verde
e os elementos de sequência conservados heptâmeros e nonâmeros, compa rtilhados pelos dois
tipos de sequências, estão em verde-claro. A sequência de nucleotideos na região do espaça-
dor não é importante. O comprimento, ent reta nto, é f unda mental. (b) Exemplos de rearra njos
RSS nas regiões gênicas que codifica m os ant icorpos (genes de lg) e proteínas de receptores
de células T (genes de TCR). (a, Adaptada, com permissão, de Bush man F. 2002. Lateral DNA
transfer, p. 346, f ig . 11.5. © Cold Spri ng Harbor Laboratory Press.)
Capítulo 12 Recombinação Sítio-específica e Transposição do ONA 419
b
1 clivagem de
fita simples
ses catalisa m as clivagens de fita simples
nas extremidades das sequências-sina is,
RAG1 e
deixando um 3' -0 H livre. Cada 3'·0H
5'
3' C :;, ..
3' RAG2,
proteína HMG
inicia, então, um ataque às fitas opostas
para formar um g rampo intermediário
OH- 3'
c
1 formação do grampo
(ver Fig. 12-23b). A seguir. as estrutu ras
em formato de g rampo são hidrolisadas e
unidas para fo rmar uma junção codifica -
dera entre as regiões V e J. As duas extre-
r.::. E ;~ midades que contêm as sequências-sinais
de recom binação tam bém são unidas,
forma ndo uma j unção-sinal. A primeira
d est rutu ra sofre recombinação adicional,
enquanto a última é descartada . (Adapta -
abertura do
formação da, com permissão, de Bushman F. 2002.
grampo,
da junção~
fusão dos Lateral DNA transfer, p. 348, Fig. 11.6. ©
-sinal
segmentos Cold Spring Harbor Laboratory Press.)
codificadores proteínas de
junção da
extremidade
v J
5' ~~:53'5'
3' «=::
de DNA
não homólogas
RESUMO
Embora o DNA seja normalmente considerado uma molécu- A transposição é uma classe de recombinação que envol-
la bastante estática que arquiva o material genético, ele tam- ve o deslocamento de elementos genéticos móveis, chamados
bém está su jeito a vários tipos de rearranjos. Duas classes de transposons, para novos sítios genômicos. Existem três classes
recombinação genética - a recombinação sítio-específica con- principais de t ransposons: os transposons de DNA, os retro-
servativa e a transposição - são responsáveis por muitos desses transposons semelhantes a vírus e os retrotransposons com
eventos. poli(A). Os transposons de DNA mantêm-se como DNA du-
A recombinação sítio-específica conservat iva ocorre em rante todo o ciclo de transposição. Eles deslocam-se tanto por
elementos de sequência definidos no DNA. As proteínas re- um mecanismo de recombinação por corte e colagem, que en-
combinases reconhecem esses elementos de sequência e atuam volve um transposon intermediário removido, como por um
clivando e ligando fitas de DNA para reorganizar os segmentos mecanismo replicativo. As duas classes de retrotransposons
de DNA que contêm os sítios de recombinação. Três tipos de deslocam-se utilizando um intermediário de RNA. Esses "re-
rearranjos são comuns: inserção de DNA, deleção de DNA e troelementos" requerem uma polimerase de DNA dependente
inversão de DNA. Esses rearranjos desempenham muitas fun- de RNA, chamada transcriptase reversa, e uma proteína recom-
ções, incluindo a inserção de um genoma vira) no genoma binase para efetuar o seu deslocamento.
da célula hospedeira durante a infecção, a resolução de DNAs Os transposons estão present es nos genomas de todos
multiméricos e a alteração da expressão gênica. os organismos, onde podem constituir uma grande fração
A organização dos sítios de recombinação no DNA, bem da sequência total de DNA. Eles constituem uma das prin -
como a participação de proteínas de arquitetura do DNA, con- cipais causas de mutações e de rearranjos genômicos. Em
trolam o resultado de uma reação específica de recombinação. geral, a transposição é regulada para reduzir os efeitos preju-
As proteínas de arquitetura provocam curvaturas nos segmen- diciais provocados pelos transposons devido a interrupções
tos de DNA e têm grande influência nas reações que ocorrem muito frequentes no genoma da célula hospedeira. O con-
em uma região específica de DNA. trole da transposição pelo número de cópias e pela regula-
Existem duas famílias de recombinases sítio-específicas ção da escolha dos sítios de novas inserções são comumente
conservativas. Ambas as famílias clivam o DNA utilizando observados.
um intermediário covalente proteína-DNA. Nas serino-re- Finalmente, um mecanismo semelhante à transposição
combinases, essa ligação ocorre por meio de um resíduo de é utilizado para outros tipos de reações de rearranjo de DNA.
serina no sítio ativo; nas tirosino-recombinases, ela ocorre via O principal exemplo é a reação de recombinação V(D)J, res-
resíduo de tirosina. As estruturas das tirosino-recombinases ponsável pela formação de uma enorme variedade de frag-
forneceram valiosos dados sobre os detalhes do mecanismo mentos gênicos durante o desenvolvimento do sistema imu-
de recombinação. nológico dos vertebrados.
BIBLIOGRAFIA
Livros Recombinação sítio-específica
Bushman F. 2002. Lateral DNA transfr!r: Mechanistns and conse.quences. Chen Y. and Rice P.A. 2003. New insight into site-spetific
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QUESTÕES
Para respostas de questões de mlmero par, wr Apêndice 2: Respostas. Questão 9. Forneça uma expllcaçllo para o dado de que o
genoma humano pode conter mais de 50% de sequências re-
Questão 1. Considerando um trecho linear de DNA dupla- lacionadas a transposons, porém, sem apresentar Instabilida-
-fita que inclui duas regUles separadas de crossing overcircunda- de genética importante em consequêncla do movimento dos
das por sítios de reconhedmento para rccombinasc, descreva transposons.
o alinhamento dos sltlos de recomblnação que determina se
o resultado da recombinaçllo é uma delcção ou uma inversão. Questão 10. Explique por que os dentistas utilizam trans-
Explique por que esta organlzaçllo determina o resultado da posons como o Tn5 como ferramenta de engenharia genética
reação. para triagem de uma população de bactérias ou de leveduras
em busca de mutantes para um dete.rmlnado fenótipo. Por que
Questão 2. ExpLique por que as serlno-rerombinases e tiro- a presença do transposon no mutante fadllta uma triagem ge-
sino-recombinases nllo requerem uma fonte externa de ener- nética, quando comparado a mutações geradas por mutagênc-
gia, como a hldr6Llse de ATP, para a catálise. se química?
Questão 3. Explique uma das principais diferenças entre a Questão 11. Pesquisadores observaram que o tratamento
recomblnaçâo sítio-especifica e a transposição. de linhagens celulares tumorals humanas com um inibidor de
transcriptase reversa reduz a taxa de prol!feraç3o das células
Questão 4. Uste as semelhanças e diferenças entre os meca- tumorais. Especule por que a transcrlptase reversa é expressa
nismos da tirosino-recomblnase e da serino-recombinase du- em células humanas. Formule uma hipótese contendo uma ra-
rante a recomblnaçllo sitio-especifica conscrvativa. zão geral pela qual a atividade da transcr!ptase reversa poderia
estar associada às células tumorais.
Questão 5. Descreva vantagens do uso da recomblnase Cre
para a engenharia genética em células cucarióticas. Questão 12. Compare o mecanismo de corte e colagem da
transposição com o mecanismo repllcativo da transposição.
Questão 6. A lnfecçllo de E. co// com o bactcriófago À envol-
ve recombinação integratlva para que o fago entre no estado Questão 13. Descreva o papel da recombinaçao V(D)J na
Jisogênico e recomblnaçao exclslva para que ele entre em cres- diversificação dos anticorpos. Explique por que a junção de
cimento Jítico. }.lnt contribui na recombinação intcgrativa, na extremidades não homólogas é um mecanismo vantajoso para
recomblnação exclslva ou em ambas? Explique o seu raciocínio. reparar quebras de dupla-fita no DNA (fusllo dos segmentos
codificadores após a hidrólise dos grampos) na via de recom-
Questão 7. Descreva a relevância biológica da catálise da
binação V(D)J.
inversão de DNA pela recomblnase Hin no genoma de Salmo-
nella typilimurium. Questão 14. Uma deficiência no fator Vlll causa hemofilia
A, uma doença sanguinca. Pesquisadores que estudam a he-
Questão 8 . Explique a principal característica no ciclo da mofilia A avaliaram o DNA de um paciente afetado c de sua
recombinação que distingue transposons de DNA de retro- mãe, não afetada. Eles analisaram o gene do fator vm, com
transposons.
422 Parte 3 Manutenção do Genoma
186 kb de comprimento, que Inclui 26 éxons (ver Cap. 14). A. Descreva as diferenças entre os resultados da dlgestao com
Após digerir o D="A genômlco com Kpnl ou S.Stl e separar os s.stl do padente e de sua m3e. Seja especifico.
produtos por eletroforese em gel, os pesquisadores hibridiza- B. Descreva as diferenças entre os resultados da digestao com
ram o DNA com uma sonda de cDNA radioativamente matea- Kpnl do padente e de sua mae. Seja específico.
da que se ligava ao gene do fator vm em uma região que inclui
C. Proponha uma hipótese explicando as diferenças observa-
os éxons 14-26. O tamanho dos fragmentos e do(s) éxon(s)
das, incluindo qual éxon do gene do fator vm contém o
correspondente(s) s!o mostrados à direita dos autorradiogra-
rnas. Os pesquisadores conclulram que hâ um transposon in- transposon.
serido em um dos êxons do fator vm. Dados adaptados de Kazazlan jr. et ai. (1988. Nah1re 332:
164-166).
J!l
.i j
i ! f
!
-• -•
kb éxon
- 19.1 (14)
-• -• kb éxon
-30.0 (15-22)
- 21.0 (~25)
-• -
- 12.7 (15-22)
-8.3 (23-25)
• - 7.3 (14)
- -
- 5.5 (14)
-4.0 (26)
-- - 5.3 (14)
-4.3 (14)
• -3.2 (14)
canaleta 1 2 canaleta 1 2
Sstl Kpnl
PARTE 4
-
EXPRESSAO DO
GENOMA
-
424 Parte 4 Expressão do Genoma
A
PARTE 4 ABORDA I'RINCII'ALMENTECOMO a informação na forma da sequên-
cia linear de nucleotídeos na cadeia polinucleotídica (DNA) é conver-
tida na sequência linear de aminoácidos em uma cadeia polipeptídica
(proteína). Também será considerado como esses processos surgiram e evoluí-
ram a partir de procedimentos iniciais mais simples.
Os Capítulos 13 a 16 acompanham o fluxo de informação, desde a cópia
do gene em uma réplica de RNA, conhecida como RNA mensageiro, até a
decodificação do RNA mensageiro em uma cadeia polipeptídica. O processo
pelo qual a informação de uma sequência de nucleotídeos é transferida do
DNA para oRNA é conhecido como transcrição, que é o tema do Capítulo 13.
A enzima RNA-polimerase desenrola um pequeno trecho de DNA local-
mente e utiliza uma das duas fitas de DNA, temporariamente separadas, como
um molde para a síntese progressiva de uma cópia complementar de RNA,
por meio do pareamento de bases, em uma reação química muito semelhante
à síntese de DNA. Embora a enzima básica que produz oRNA seja muito pare-
dda em todas as células, os demais componentes da maquinaria envolvida na
transcrição de eucariotos são mais complexos do que aqueles dos procariotos.
Nos procariotos, oRNA mensageiro recém-sintetizado já está pronto para
a próxima etapa do fluxo de informação, na qual ele é utilizado como molde
para a síntese de proteínas. Entretanto, o mesmo não ocorre nos eucariotos:
nestes, o RNA produzido pela transcrição precisa sofrer uma série de even-
tos de maturação antes de estar pronto para atuar como RNA mensageiro.
O evento mais drástico é chamado processamento do mRNA, o qual está des-
crito no Capítulo 14. Os genes das células eucarióticas são frequentemente
interrompidos por segmentos não codificadores de proteínas, conhecidos
como íntrons. O número de íntrons encontrado dentro de uma sequência
codificadora varia para cada gene, de somente um a vários. Quando o gene é
transcrito em uma cópia de RNA, esses íntrons devem ser removidos para que
os segmentos codificadores de proteína, conhecidos como éxons, possam ser
unidos entre si, formando uma sequência codificadora de proteína contínua.
O Capítulo 14 descreve a elaborada máquina molecular responsável pela re-
moção extremamente precisa dos íntrons.
Os detalhes do intricado processo conhecido como tradução são discu-
tidos nos Capítulos 15 e 16. A tradução é o processo pelo qual a informação
genética, na forma de uma sequência de nucleotídeos no RNA mensageiro,
é utilizada para comandar a incorporação organizada dos aminoácidos na
cadeia polipeptídica de uma proteína. O Capítulo 15 descreve os principais
participantes da tradução: a sequência codificadora do RNA mensageiro; as
moléculas adaptadoras, conhecidas como tRNAs; as enzimas que ligam os
aminoácidos nos tRNAs adaptadores; e a fábrica da síntese proteica propria-
mente dita, o ribossomo, que é composto por RNA e proteína.
O Capítulo 16 descreve os experimentos clássicos que levaram à eluci-
dação do código genético e apresenta as regras para a sua tradução. A in-
formação contida na sequência de nucleotídeos baseia-se em um código de
três letras, enquanto a informação na sequência de proteínas baseia-se em
20 aminoácidos diferentes. O código é degenerado; isto é, dois ou mais cá-
dons especificam um mesmo aminoácido (na maioria dos casos). Também
existem códons específicos para indicar os locais de início e de término da
tradução.
Finalmente, no Capítulo 17, será considerado como a vida surgiu, e como
os mecanismos iniciais para codificação, replicação e expressão da informa-
ção genética evoluíram até ch egar aos sistemas elaborados que são vistos
hoje, como descrito nas Partes 3 e 4.
Parte 4 Expressão do Genoma 425
David Balt imore, François Jacob e Walter Gilbert, 1985 Simpósio sobre
biologia molecular do desenvolvimento. Baltimore descobriu, juntamente
com Howard Temin, a enzima t ranscriptase reversa, que sintetiza DNA usando
RNA como molde (Cap. 12). Jacob, com Jacques Monod, propôs o modelo bá-
sico de regulação da expressão gênica (Cap. 18) e também propôs um modelo
para a regulação da replicação do DNA (Cap. 9) . Gil bert validou bioquímica-
mente alguns aspectos do modelo de regulação gênica de Jacob e Monod;
ele também desenvolveu um método químico de sequenciamento de DNA
(Cap. 7). Todos eles, separadamente, compartilharam Prêmios Nobel em 1975
(de Fisiologia ou Medicina), em 1965 (de Fisiologia ou Medicina) e em 1980
(de Química), respectivamente.
Ada Yonath, 2001 Simpósio sobre o ribossomo. Inspirada pelo fato de os David Allis e Emily Bernstein, 2004 Simpósio
ribossomos formarem cristais bidimensionais nas células de ursos em hiber- sobre epigenética. Allis foi o primeiro a identifi-
nação, Yonath produziu cristais de ribossomo na tentativa de resolver sua car uma enzima que modifica histonas - uma his-
estrutura, objeto de sua pesquisa desde muito antes de a maioria das pes- tona acetiltransferase de Tetrahymena (Cap. 8).
soas acreditar que sua estrutura poderia ser resolvida. Por suas contribui- Desde essa descoberta, um campo inteiro cresceu
ções nessa área, ela dividiu o Prêmio Nobel de Química em 2009 com Venki em torno da investigação das diferentes modifi-
Ramakrishnan e Tom Steitz. cações de histonas existentes e seus efeitos sobre
a expressão gênica. Allis a parece aqui com Berns-
tein, pós-doutoranda em seu laboratório na épo-
ca em que esta fotografia foi tirada e, anterior-
mente, estudante de graduação no laboratório
de Greg Hannon, onde ela identificou a enzima
Dicer envolvida no RNAi (Cap. 20).
426 Parte 4 Expressão do Genoma
Robert Roeder, 1998 Simpósio sobre os mecanismos da transcrição. Reger O. Kornberg, 1977 Simpósio so·
Roeder descobriu as três RNA-polimerases eucarióticas - Pol i, 11 e 111 - e bre a cromatina. Tendo anteriormente
purificou as três enzimas e outros fatores necessários para iniciar a trans· trabalhado na estrutura do nucleossomo
crição a partir de seus respectivos promotores (Cap. 13). À esquerda, (Cap. 8}, Kornberg ganhou o Prêmio No·
olhando ceticamente, está Camilo Parada, pós-doutorando no laborató· bel de Química em 2006 por seus estudos
rio de Roeder na época em que esta fotografia foi tirada. estruturais da RNA·polimerase 11 (Cap. 13).
Seu pai é Arthur Kornberg, cuja fotografia
está na página 196.
Richard Roberts, 1977 Simpósio sobre a cromatina. Grande parte das pesquisas de
Roberts concentrava-se na função e na d iversidade das enzimas de restrição (Cap. 7),
mas ele também participou da descoberta dos "genes descontínuos", pela qual ele
d ividiu o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1993 com Phillip Sharp. Com
ele. aparecem nesta fotografia, da esquerda para a direita. Yasha Gluzman, virologis-
ta tu moral; Ahmad Bukhari, que trabalhou na transposição de fagos Mu (Cap. 12);
e James Darnell, cujo trabalho se concentrou na transdução de sinais da regulação
gênica (Cap. 19).
Mecanismos de
Transcrição
A
TÉ AQUI, CONSIDEROU-SE a manutenção do genoma- isto é, a organização,
a proteção e a replicação do material genético. Agora será discutido
como o material genético é expresso- isto é, como a sequência de bases
no DNA controla a produção dos RNAs e das proteínas que desempenham as
funções celulares e definem a iden tidade celular. Nos próximos capítulos, se-
rão descritos os processos básicos responsáveis pela expressão gênica: a trans-
crição, o processamento do RNA e a tradução.
A transcrição é, química e enzimaticamente, muito semelhante à repli-
cação do DNA (Cap. 9). Ambas envolvem enzimas que sintetizam uma nova
fita de ácidos nucleicos complementar à fita-molde de DNA. Naturalmente,
existem algumas diferenças importantes- a mais marcante é que, no caso da
transcrição, a nova cadeia é formada por ribonucleotídeos, em vez de desoxirri-
bonucleotídeos (ver Cap. 5). Outras características que diferem entre os meca-
nismos de transcrição e replicação incluem as que seguem.
• A RNA-polimerase (enzima que catalisa a síntese do RNA) não requer
um iniciador; ela pode iniciar a transcrição de novo (porém, o início in vivo
é possível apenas em certas sequências, como será visto).
• O produto de RNA não permanece pareado à fita-molde de DNA: a en-
zima desloca a cadeia crescente a uma pequena distância (uns poucos
nucleotídeos) do ponto de adição do novo nucleotídeo (Fig. 13-1). Essa
liberação é fundamental para que o RNA realize suas funções (p. ex., na
maioria dos casos, ser traduzido para produzir seu produto proteico).
Além disso, como a liberação ocorre muito próxima ao sítio de polimeri-
zação, várias moléculas de RNA-polimerase podem transcrever o mesmo
gene ao mesmo tempo, cada uma delas seguindo rigorosamente a enzima
anterior. Dessa maneira, em pouco tempo uma célula pode sintetizar um
grande número de transcritos a partir de um único gene (ou de outra se-
quência de DNA). É importante observar que à medida que o produto de
RNA se dissociado molde de DNA logo após a passagem da RNA-polime-
rase que avança, as duas fitas de DNA reanelam (Fig. 13-1).
• A transcrição, embora bastante precisa, é menos exata do que a replicação
(ocorre 1 erro a cada 10 mil nucleotídeos adicionados, em comparação a
1 em 10 milhões para a replicação). Essa diferença reflete a ausência de
mecanismos gerais de revisão de leitura na transcrição, embora existam
duas formas de revisão de leitura na síntese de RNA.
430 Parte 4 Expressão do Genoma
dúplex de DNA
5'
3' 3'
fita-molde
complexo de
1tanscric;ão
inicial
1
alongamento
o
RNA c:
E
.:v
a potimerase
termina e
libera oRNA
434 Parte 4 Expressão do Genoma
a
•
H +1
)
(17 a 19 pb)
b
•
81 l
elemento UP
I-35 J I-1 0 +1
)
c "-1 Oe~ndido"
•
a c -1 0
.l
+1
) FIGURA 13 - 5 Características dos
promotores bacterianos. Diversas
combinações de elementos promotores
d discriminador bacterianos são apresentadas. Os detalhes
I I • de como cada elemento contribui para a
H -35
l -1 0
lJ +1
) ligação e o fu ncionamento da polimerase
são descritos no texto.
436 Parte 4 Expressão do Genoma
~ TÉCNICAS
As sequências de DNA dos sítios de ligação reconhecidos por mento de sequências foi fáci l. Considere, porém, um exemplo
uma determinada proteína nem sempre são exatamente as bastante diferente: um caso em que nenhum sítio de ligação
mesmas. Da mesma maneira, um segmento de aminoácidos de uma proteína de ligação ao DNA tenha sido identificado.
que confere determinada função a uma proteína pode ser li- No entanto, várias regiões de um cromossomo contêm sítios
geiramente diferente em proteínas diferentes. Em ambos os de ligação em algum ponto. Um algorit mo computacional é
casos, a sequência consenso é uma versão da sequência que utilizado para escanear cada uma das sequências dessas re-
possui, para cada posição, o nucleotídeo (ou aminoácido) mais giões cromossômicas, buscando um potencial sítio de ligação
frequentemente encontrado em diferentes exemplos. Assim, a comum a todas elas.
sequência consenso para os promotores de E. co/i reconheci· Uma segunda abordagem para a dedução da sequência
da pela RNA-polimerase com " " é a apresentada na Figura 1 consenso de uma proteína de ligação ao DNA, quando o sítio
deste quadro. Essa sequência consenso foi deduzida por meio de ligação ainda não é conhecido, utiliza métodos químicos
do alinhamento de 300 sequências que reconhecidamente para sintetizar grandes col eções de pequenos fragmentos
atuavam como promotores para " '" e da verificação da base de DNA, com sequências aleatórias. A proteína de interes-
encontrada com mais frequência em cada posição dos hexâ- se é misturada a essa população de moléculas de DNA e os
meros - 35 e -1 0. O nucleotídeo predominante foi escolhi· fragmentos de DNA aos quais ela se liga são recuperados e
do para ocupar a sequência consenso para a posição; a sua sequenciados. Uma comparação entre as sequências que se
frequênci a relativa e as f requências com que os outros três ligam à proteína revela o consenso rapidamente, porque os
nucleotídeos ocorrem em cada posição são registradas no grá- fragmentos são muito curtos. Este último método (frequen-
fico. Observa-se que não há consenso significativo entre os 17 temente, cha mado de SELEX) é amplamente utili zado para
a 19 nucleotídeos que se situam na região entre - 35 e - 10. definir sítios de ligação para proteínas de ligação ao DNA não
Neste exemplo, a sequência individual de cada promotor caracterizadas previamente. O SELEX está descrito de manei-
já havia sido identificada previamente, de modo que o alinha· ra mais detalhada no Capítulo 7.
100
-
?11
~
"'2
'C
75 'I
2(3 I•
::>
c: 50
.g"'
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"'" 1Hl1n
le~ . 1
1 I•.- I• '
I 11 I
li Ir Ir
I .n
QUADRO 13 · 1 FIGURA 1 Sequência
consenso do promotor e espaçamento de
o consenso. (Redesenhada, com permissão, de
<i r r -I'G) J A J c ) A ) /f= r ) A) r J A JJ A J r.=J
I ' 11 I Alberts B. et ai. 2002 . Molecular biology of
- 35 15 a 19 - 10 the ce/1, 4th ed., p. 308, Fig. 6 .1 2. © Garland
nucleotídeos Science/Taylor & Francis Books LLC)
tores são tão heterogêneos: os genes que precisam ser expressos com mais
intensidade do que outros provavelmente terão sequências mais semelhantes
à sequência consenso.
Alguns promotores fortes, como os que promovem a expressão dos genes
de rRNA, por exemplo, apresentam um elemento adicional de DNA, que se
liga à RNA-polimerase. Ele é chamado elemento UP (ver Fig. 13-Sb) e inten-
sifica a ligação da polimerase por meio de uma in teração específica adicional
entre a enzima e o DNA.
Outra classe de promotores de u 70 não apresenta a região - 35 e, em vez
disso, tem um elemento chamado" - 10 estendido" (ver Fig. 13-Sc). Este cor-
responde a uma região - 10 padrão, com um elemento de sequência curta
adicional a montante. Contatos extras entre a polimerase e o elemento de
Capítulo 13 Mecanismos de Transcrição 437
O ! J
•
- 10 esen
n
Q
d'd • discriminador
1 oo /
)J
r--
I ;
FIGURA 13·6 Regiões deu. As re-
giões do fator u que reconhecem regiões
específicas do promotor estão indicadas
por setas. A região 2.3 é responsável pela
desnaturação do DNA. Para uma visão
esquemática de como u recruta a RNA -
1 ·polimerase pa ra um promotor-padrão,
1,1 ver Figura 13-7. (Adaptada, com permis-
LJ são, de Young B.A. et ai. 2002 . Ce/1 109:
desnaturação 417-420, Fig. 1. © Elsevier.)
438 Parte 4 Expressão do Genoma
~2)
mínio carboxiterminal da su bunidade a
(a CTD) reconhece o elemento UP (quando
uCTD-,.. 64':l "
presente), enquanto as regiões 2 e 4 de a
reconhecem, respectivamente, as regiões
[
l l •
- 10 e - 35, (ver Fig. 13-6). Nesta figura, (l 1
elemento UP
I 35l ! 10l )
a RNA-polimerase é apresentada em uma
forma esquemática diferente das figuras
anteriores. Essa maneira é, particula rmen-
te, conveniente pa ra indicar as superfícies
quên cia de ligação flexível. Por isso, apesar de cxNTD estar inserido no corpo da
que tocam o DNA e as proteínas de re-
gulação. e será utilizada novamente em
enzima, cxCTD consegue alcan çar o elemento UP a montante, mesmo que ele
algumas figuras do Capítulo 18, quando
não esteja localizado diretamente adjacente à região - 35, mas certa distância
for considerada a regulação da transcri- a montante.
ção em bactérias. Na estrutura da holoenzima, a subunidade cr está situada de maneira a
possibilitar o reconhecimento dos vários elementos promotores. Na verda-
de, as regiões de ligação ao DNA projetam-se para fora, em vez de estarem
inseridas no corpo da enzima. Além disso, o espaçamento entre essas re-
giões é compatível com as distâncias entre os elementos do DNA q ue elas
reconhecem. Assim, o distanciamento entre as regiões 2 e 4 de cr é cerca de
•
75 A q uando cr está ligado à holoenzima, e essa dis tância é equivalente à
distância entre os centros dos elementos - 10 e - 35 de um promotor típico
para cr 70 (ver Fig. 13-7). Esse espaçamento bastante grande entre os domí-
nios proteicos é acomodado pela região entre as regiões 2 e 4 de cr, isto é,
a região 3- especialmente a região 3.2, também cham ada de conecto r cr311
(ver Figs. 13-4 e 13-6).
a b
·~
5' 3' -"'"'~
- - - + 02
- ? ;.
T
3' 5'
elemento -1 0
ds07 ~NA
5'
desnaturação do promotor;
transcrição
A.....
~ CONCEITOS AVANÇADOS
No texto, foram discutidas as RNA-polimerases com múltiplas Os complexos de início e de alongamento das poli me-
subunidades, encontradas nas bactérias e nas células eucari· rases bacterianas e do T7 foram comparados. Essas com -
óticas. Porém, existem vários exemplos de RNA· polimerases parações resultaram em um exemplo formidável de como
com subunidades únicas, capazes de realizar as mesmas rea- transições funcionais equivalentes podem ser atingidas por
ções básicas realizadas pelas suas equivalentes mais comple- diferentes tipos de alterações estruturais. No texto, destacou-
xas. Muitos bacteriófagos - por exemplo, o fago T7 de E. co/i -se que, no caso das bactérias, a transição do início para o
- codificam poli merases desse tipo, com as quais transcrevem alongamento envolve uma alteração significativa na posição
a maioria de seus genes, durante as infecções. De maneira de um domínio do fator a . Esse movimento abre o canal de
similar, a maioria dos genes mitocondriais e de cloroplastos é saída do RNA, permitindo a produção de transcritos com
transcrita por polimerases estreitamente relacionadas às en- mais de 10 unidades. A enzima T7 não tem fator a; entre-
zimas de subunidades únicas dos fagos. É surpreendente que tanto, uma alteração estrutural equivalente no corpo dessa
a evolução tenha produzido tais enzimas, tão simples e com enzima de subunidade única promove a transição do comple-
capacidade de realizar a transcrição, uma façanha extraordi- xo de início para o alongamento e essa alteração estrutural é
nária, mesmo para as enzimas com múltiplas subunidades, necessária para a formação do canal de saída do RNA.
muito maiores e mais complexas.
A polimerase T7 é a mais estudada das enzimas com·
postas por uma subunidade única . Ela possui massa mo·
lecular de 100 kDa - comparado aos 400 kDa da enzima
central bacteriana (sem o fator a) - e a estrutura mostrada
na Figura 1 deste quadro. Em geral, ela assemelha -se à fa·
mília de DNA·polimerases Pol i, considerada no Capítulo 9.
Assim, a RNA-polimerase T7 lembra uma mão direita, com
os dedos, o polegar e a palma representando os domínios
arranjados em torno de uma fenda central, na qual está o
sítio ativo.
Embora não seja estrutura lmente relacionada às
RNA-polimerases celulares e se assemelhe mais a uma
DNA· polimerase, a enzima T7 apresenta características
comuns às RNA-polimerases celulares, que são mais facil-
mente evidentes quando as estruturas das enzimas T7 e
bacterianas são comparadas complexadas a seus moldes .
Como foi visto no texto, a enzima bacteriana possui vários
canais de entrada e saída da fenda do sítio ativo (ver Fig.
13-8). Um deles, por exemplo, permite o acesso dos NTPs
ao sítio ativo e ao molde, onde são incorporados à cadeia
crescente de RNA, de acordo com o molde. Outro canal é QUADRO 13·2 FIGURA 1 RNA·polimerase do bac·
uma saída da enzima para o RNA em crescimento. Canais teriófago T7. (Reproduzida de Jeruzalmi O. e Steitz T.A.
semelhantes também são encontrados na estrutura da po· 1998. EMBO J. 17: 41 01.) Imagem preparada com MoiScript,
limerase do fago. BobScript e Raster30.
RNA-polimerase
DNA
!
FIGURA 13-14 Térm ino da trans-
crição. Modelo do mecan ismo de um
terminado r Rho-independente. (Pa rte
superior) O grampo no RNA é formado
(Fig. 13-11) logo após a transcrição dessa
s região pela polimerase (enzima não mos-
3' trada). (Centro) Esta estrutura de RNA in-
terrompe a polimerase exatamente quan-
CCA TT ATT G T
FIGURA 13- 15 Promotor essencial de Poli I. A figura apresenta as posições dos vá rios
elementos do DNA em relação ao sítio de i nício da t ranscrição (indicado pela seta acima do
DNA). Esses elementos, descritos no texto, são os segui ntes: o elemento de reconhecimento
TFIIB (BRE), a sequência TATA (TATA), o elemento iniciador (l nr), o elemento promotor a jusante
(DPE. downstream promoter element) e o elemento central a montante (DCE, downstream core
element). Outro elemento, o MTE (do i nglês, motif ten element [ motivo do elemento - 1O)),
descrito no texto, não é mostrado nesta figu ra, m as está localizado logo a montante de DPE.
Também estão mostradas as sequências consenso para cada elemento (determinadas da mes-
ma manei ra descrita pa ra os elementos do promotor bacteriano; ver Quadro 13-1) e (aci ma) o
nome do fator geral de transcrição que reconhece cada elemento.
Capítulo 13 Mecanismos de Transcrição 449
-
EM FRENTE
complexo de pré-início (Fig. 13-16). Em leveduras, esse fator inclui uma tercei-
ra subunidade (como mostrado na Tab. 13-2), mas a função da terceira subuni-
dade ainda é desconhecida.
TFIIE e TFIIH O TFIIE, assim como o TFIIF, é composto por duas subuni-
dades, liga-se após TFIIF e atua no recrutamento e na regulação do TFIIH.
O TFIIH controla a transição ATP-dependente do complexo de pré-início
para complexo aberto. Além disso, é o maior e mais complexo dos fatores
gerais de transcrição- possui 10 subunidades e uma massa molecular com-
parável à da polimerase. Duas subunidades do TFIIH atuam como ATPases
e outra é uma proteína quinase, envolvidas na desnaturação e no escape
do promotor, como já foi descrito. juntamente com outros fatores, as su-
bunidades da ATPase também estão envolvidas no reparo por excisão de
nucleotídeo (ver Cap. 10).
Como o TFIIH medeia a desnaturação do promotor? Viu-se que, no caso
das bactérias, a desnaturação do elemento - 10 do promotor é mediada por ba-
ses da fita de DNA não codificadora que são deslocadas e se ligam a bolsos da
subunidade a . Isso não requer a hidrólise de ATP e é simplesmente dirigido por
reações de ligação que favorecem a conformação desnaturada (ver Fig. 13-8).
Em eucariotos, as coisas são mais complicadas. Hoje acredita-se que uma su-
bunidade de TFIIH atue como translocador de DNA de dupla-fita dirigido por
ATP. Essa subunidade liga-se ao DNA a jusante da polimerase (como foi mos-
trado na Fig. 13-16) e alimenta a fenda da polimerase com DNA de dupla-fita.
Essa ação leva à desnaturação do DNA porque o DNA do promotor a montante
é mantido em uma posição fixa pelo TFIID e pelo restante dos GTFs.
F I G U RA 13 ·1 9 Formação do com-
plexo de pré-inicio na presença do
Mediador, dos mod if icadores e re·
modeladores de nucleossomos e de
ativadores da t ranscrição. Além dos
fatores gerais de tra nscrição apresentados
na Figura 13-16, os ativadores tra nscri-
cionais ligados a sítios próximos ao gene
recrutam os complexos que modificam e
remodelam os nucleossomos e o comple-
xo Mediador que, ju ntos, auxilia m na for-
mação do complexo de pré-inicio.
454 Parte 4 Expressão do Genoma
componentes da
I
fatores de
maquinaria de processamento ctivagem e
poliadenilação
N·~~~~~~~~ '~ c
Y S P T S P S Jr--
escape do promotor capping
1 2 3 4 5 6 7
N·..-~~~~~~~ ·~ c
Y S P T S P S lr--
alongamento processamento
1 2 3 4 5 6 7
etapa 1
dimero H2A•H2B
etapa 2
1 metiltransferase
gene, ela encontra sequências específicas que, após serem transcritas em RNA,
desencadeiam a transferência das enzimas de poliadenilação para esse RNA,
levando a quatro eventos: clivagem do mensageiro; adição de vários resíduos
de adenina à sua extremidade 3'; degradação do RNA remanescente associado
à RNA-polimerase por uma ribonuclease 5 '-3 '; e, subsequentemente, término
da transcrição. Essa série de eventos ocorre da maneira explicada a seguir.
Dois complexos proteicos são carregados pela CTD da polimerase
quando ela se aproxima do fim de um gene: CPSF (do inglês, cleavage and
polyadenylation specificity factor [fator de especificidade de clivagem e polia-
denilação]) e CSTF (do inglês, cleavage stimulation factor [fator de estímulo da
clivagem]). As sequências que quando transcritas em RNA desencadeiam a
transferência dos fatores para oRNA são chamadas sinais de poli(A), e sua
operação é mostrada na Figura 13-25. Quando CPSF e CSTF estiverem ligadas
ao RNA, outras proteínas também serão recrutadas, levando inicialmente à
clivagem do RNA e, então, à sua poliadenilação.
A poliadenilação é mediada por uma enzima chamada poli(A) polimera-
se, que adiciona cerca de 200 adeninas à extremidade 3' do RNA produzida
pela clivagem. Essa enzima utiliza o ATP como precursor e adiciona os nu-
cleotídeos usando a mesma reação química que a RNA-polimerase. Mas ela
faz isso sem um molde. Por isso, a longa cauda de As é encontrada no RNA,
mas não no DNA. Ainda não está claro o que determina o comprimento da
cauda de poli(A), mas este processo envolve outras proteínas que se ligam
especificamente à sequência poli(A). O mRNA maduro é então exportado do
n úcleo, como será discutido no Cap. 14. É importante ressaltar que a longa
cauda de As é exclusiva dos transcritos produzidos pela Pol 11, uma caracte-
460 Parte 4 Expressão do Genoma
CstF --.._...,.
~
sequência-sinal
de poli(A) no RNA
S'CAP
CPSF_....
clívagem do RNA
< ) cstF
...-cPSF
.::en:::... . . . . . . . .IIÍ::.~
5' CAP .:; 3,
poli(A) polimerase •
(PAP)
~-----=:...:.._...... IJJ'
5' CAP ===s r{ PAP
proteína de ligação ~
a poli(A) adicional . ,
a
Rat1/hXrn2
\Y\ _ _ __
-
5'CAP....._,_,.,..
....
5' CAP >~m._.__rtflll'-• -._,,...~.,.~-
a
B A
I
UCE - promotor essendal -
150 100 -45 +1 +20
BoxA Box B
a montante do sítio de início (nos seres human os). Além da Pol I, o in ício
requer outros dois fatores, chamados SLl e UBF. O SLl compreende TBP e três
TAFs específicas para a transcrição por Pol i. Esse complexo liga-se ao elemen-
to central. SLl liga-se apen as ao DNA n a presença do UBF. Esse fator liga-se
ao UCE, aproximando SLl e estimulan do a transcrição do promotor essencial
pelo recrutamento da Poli.
RESUMO
A expressão gênica é o processo pelo qual a informação conti- Pol I!, porqu e esta é a enzima que transcreve a grande maioria
da na du pla-hélice de DNA é convertida em RNAs e proteínas, dos genes da célula e todos os genes que codificam proteínas.
cujas ativid ades conferem à célula sua morfologia e funções. As plantas possu em duas RNA-polimerases adicionais, Pol IV
A transcrição é a primeira etapa da expressão gênica e envolve e Pol V.
a cópia do DNA em RNA. Essa reação é catalisada pela enzima A parte central da enzima b ásica de E. co/i tem uma cópia
RNA-polimerase. de cada uma das três subunidades - [3, [3' e "' - e duas cópias da
As RNA-polimerases são altamente conservadas, de bacté- subun idade a. Todas estas subunidades possu em homólogos
rias a seres humanos. Os eucariotos possu em pelo menos três nas enzimas eucarióticas. As estruturas das enzimas bacteriana
RNA-polimerases diferentes; as bactérias possuem apenas uma. e da Pol 11 de leveduras também são semelhantes. Ambas têm
As três enzimas eucarióticas são chamadas RNA Pol I, Pol I! e formato semelhante a uma garra de caranguejo, cuja pinça
Pol III. Neste capítulo, o enfoqu e foi dado principalmente a é constituída pelas subun idades maiores, no caso da enzima
464 Parte 4 Expressão do Genoma
bacteriana, f3 e f3' . O sítio ativo está na base das pinças, e cinco A transcrição segue as mesmas etapas nas bactérias e nos
canais permitem a entrada e a saída: um canal permite o aces- eucariotos. Entretanto, há diferenças entre os dois casos. Por
so de DNA de dupla-fita por entre as pinças, na parte anterior exemplo, nas bactérias, a isomerização para o complexo aberto
da enzima; outros dois permitem que as duas fitas simples - a ocorre espontaneamente e não requer hidrólise de ATP. Nos
molde e a complementar - saiam da enzima por trás do sítio eucariotos, esse passo exige a hidrólise de ATP. Mais surpreen-
ativo; outro canal é a via de entrada dos NTPs no sítio ativo; e dente é o fato de o escape do promotor, nos eucariotos, ser
o Ri'\A produzido, separado do DNA-molde Jogo atrás do sitio regulado pelo estado de fosforilação da cauda de CTD. A forma
de polimerização, abandona a enzima através do quinto canal. de Pol I! que se liga ao promotor no complexo de pré-início
A Pol 11 difere da enzima bacteriana em um aspecto im- tem um CTD não fosforilado. A fosforilação desse dominio é
portante. A primeira tem uma "cauda" na extremidade car- feita por uma ou mais quinases, inclusive uma que faz parte de
boxiterminal da subunidade maior, ausente na enzima bac- um dos fatores gerais de transcrição, o TFIIH.
teriana. A cauda é composta por várias repetições de uma Uma vez fosforilada, a cauda do CTD da Pol 11 liberta-se
sequência heptapeptídica. das demais proteínas que estão no promotor e libera a poli-
Um ciclo de transcrição é composto por três fases - iní- merase para a fase de alongamento. o CTD liga-se aos fatores
cio, alongamento e término. Embora as RNA-polimerases envolvidos no alongamento e no processamento do RNA. Des-
possam sintetizar RNA sem auxílio, outras proteínas - chama- se modo, à medida que a polimerase vai se distanciando do
das fatores de início - são necessárias para um início preci- promotor e transcreve o gene, os fatores de início são substi-
so e eficiente. Esses fatores asseguram que a enzima inicie a tuídos pelos fatores de alongamento e de processamento. Exis-
transcrição apenas em sítios apropriados do DNA, cham ados tem, também, interações entre os fatores de alongamento e os
promotores. Nas bactérias, há apenas um fator de início, o fa- envolvidos no processamento, assegurando uma coordenação
tor u, enquanto nos eucariotos existem vários, coletivamente apropriada desses eventos. Outra diferença entre bactérias e
chamados fatores gerais de transcrição. Nos eucariotos, o DNA eucariotos é que os últimos precisam lidar com os nudeosso-
está empacotado nos nucleossomos e, frequentemente, para mos durante o alongamento. Isso requer outro complexo ca-
ser eficiente, o início in vivo requer proteínas adicionais, in- paz de desmanchar os nucleossomos à frente e restabelecé-Jos
clusive o complexo Mediador e as enzimas modificadoras do conforme a polimerase avança.
nucleossomo. Proteínas ativadoras da transcrição também são O término também funciona de maneira diferente em bac-
necessãrias (ver Cap. 19). térias e eucariotos. Nas bactérias, há dois tipos de terminadores:
Durante o início, a RNA-polimerase (juntamente com os os intrínsecos (ou Rho-independentes) e os Rho-dependentes.
fatores de início) liga-se ao promotor, formando um complexo Os terminadores intrínsecos consistem em dois elementos de
fechado. Nesta condição, o DNA permanece como dupla-fita. sequência que atuam assim que são transcritos em RNA. Um
A seguir, esse complexo fechado sofre isomerização para com- elemento é uma repetição invertida que forma uma haste-alça
plexo aberto. Nessa forma, o DNA em torno do sítio de início (ou grampo) no RNA, desconectando a polimerase que está rea-
da transcrição é desenrolado, pelo rompimento das ligações lizando o alongamento. O grampo, juntamente com uma suces-
de hidrogênio ent re os pares de bases, e forma uma bolha de são de nucleotídeos U (que têm ligação fraca com a fita-molde),
DNA de fita simples. Essa transição permite o acesso à fita- resulta na liberação do transcrito. Os terminadores Rho-depen-
-molde, que determina a ordem das bases na nova fita de RNA. dentes requerem a ATPase Rho, uma proteína que se projeta so-
Essa fase de início é sucedida pelo escape do promotor: após a bre os transcritos em alongamento e se transloca sobre eles até
síntese de uma série de RNAs curtos, o chamado início abor- alcançar a polimerase e provocar o término. Nos eucariotos, o
tivo, a enzima consegue fazer um transcóto que ultrapassa os término está ligado a um evento do processamento de RNA, a
10 pb. Assim, a enzima deixa o promotor e ingressa na fase poliadenílação de 5' . Mas também nesses organismos acredita-
de alongamento. Nessa fase, a polimerase desempenha várias -se que o término envolva outra proteína - neste caso, uma en-
funções enquanto se desloca ao longo do gene: abre o DNA a zima RNase - que se desloca ao longo de um transcrito nascente
jusante (à frente) e o recompõe a montante (atrás) do sítio ati- até colidir com a polimerase, desencadeando o término.
vo; adiciona ribonucleotídeos à extremidade 3' do transcóto Neste capítulo, foram considerados o capeamento da
em crescimento; cerca de 8 ou 9 pb atrás do sítio de polimeri- extremidade 5 • dos transcritos de RNA, a poliadenilação da
zação, remove oRNA recém-formado da fita-molde; e corrige o extremidade 3 • e o vínculo entre esta última e o término da
transcrito, verificando (e substituindo) os nucleotídeos incor- transcrição. A retirada de íntrons ou splicing será descrita no
retamente inseridos. próximo capítulo.
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QUESTÕES
Para respostas de questões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. Questã o 7. Descreva as duas funções da revisão de leitura da
RNA-polimerase em procariotos.
Questão 1 . Exceto pela substituição de Ts por Us, o transcri·
to de RNA é idêntico em sequência a qual fita do DKA? Esco- Questão 8. Considere a sequência do terminador Rho·
lha um ou mais dos seguintes termos: fita-molde, fita comple· -independent e 5'-CCCAGCCCGCCUAAUGAGCGGG -
mentar, fita codificadora, fita não codificadora. Explique sua CUUUUUUUU-3'. Por que uma mutação de ponto em qual·
escolha. quer um desses nucleotideos realçados em negrito perturba o
término da transcrição? Como você testaria a sua conclusão?
Questã o 2. Explique por que a regulação da transcrição ge·
ralmente envolve o promotor e as interações proteicas com o Questão 9. Explique por que o mediador e os modificadores
promotor. de nucleossomo são necessários para altos níveis de transcri·
ção em células eucarióticas, mas não in vitro.
Quest ã o 3. Descreva as três etapas do inido da transcrição
que ocorrem antes do início da fase de alongamento, desta· Quest ão 10. Quais etapas do dclo de transcrição eucarióti·
cando as características essenciais da RNA-polimerase em cada co e além são estimuladas pela fosforilação do domínio carbo·
etapa. xiterminal (CTD) da subunidade maior da RNA-polimerase I!?
Questão 4 . Considere um promotor bacteriano com ele· Questão 1 L Você quer marcar radioativamente a ex tremi·
mentos - 35 e - 1O. Qual ensaio é mais adequado para mostrar dade 5' de um mRNA durante a formação do cap 5' de RNA.
que a RNA-polimerase se liga a regiões centrais nas posições Você usaria a, [3 ou -y·" P GTP em sua reação de capping? Expli·
-35 e - 10 a montante do sitio de inicio da transcrição? (Revi· que o porquê.
saro Cap. 7 pode ajudar.)
Questão 12. Como a função da poli(A) polimerase difere da
Questão S. Diga se a seguinte afirmação é verdadeira ou faJ. função da RNA-polimerase?
sa e explique sua conclusão. A sequência do elemento - 35 é
sempre 5'-TIGACA-3'. Questão 13. Para que serve a adição de cap e de poli(A) nos
mRNAs eucarióticos?
Questão 6. Considerando os três modelos para a transcrição
inicial em bactérias (excursões transientes, lagarta e tritura· Questão 14. Pesquisadores que estudam o modelo de torpe·
dor), qual modelo representa a hipótese mais corroborada pe· do para o término em eucariotos queriam verificar o posicio·
los dados? Descreva as conclusões gerais desses experimentos. namento de Rttl03 e Ratl em genes transcritos. Para fazer isto,
466 Parte 4 Expressão do Genoma
amostra de cromatina antes da imunopredpltaçâo. Eles incluí- A. Explique por que todas as bandas são praticamente Iguais
ram uma reação usando iniciadores espcdflcos para a amplifi- em intensidade para as PCRs de amostras anteriores à
cação de uma região não transcrita do cromossomo V em cada imunoprectpltaçao.
canaleta (banda menor em cada reaç.ão). Os dados mostrados B. Qual a principal conclusão dos resultados de ChiP?
a seguir são para as PCRs com amostras de cromatina antes e
depois da imunoprecipitação. C. Os dados de ChiP pa ra os outros gen es altamente
tra nscritos foram semelhantes aos dados para Rat 1 em
ADHl. Expllque como esses dados corroboram o mode-
lo de torpedo.
·- ·
Processamento
doRNA
é uma série
A
SEQUÊl'C!A CODll'lCADORA DE UM GENE C ODll'lCADOR DE PROTEÍKAS
de códons, compostos por três nucleotideos (trincas), que especifica a
sequência linear dos aminoácidos no produto polipeptídico. Até aqui,
assumiu-se que a sequência codificadora é contínua: o códon corresponden-
te a um aminoácido está imediatamente adjacente ao códon do aminoácido
seguinte na cadeia polipeptídica. Isso é verdadeiro para a grande maioria das
bactérias e seus fagos. No entanto, raramente isto é verdade para os genes eu-
carióticos. Nestes casos, em geral, a sequência codificadora é periodicamente
interrompida por segmentos com sequências não codificadoras.
Muitos genes eucarióticos são, portanto, mosaicos compostos por blocos
com sequências codificadoras separadas entre si por blocos com sequências não
codificadoras. As sequências codificadoras são chamadas éxons e as sequências
intercaladas, não codificadoras, são os ín trons. Ao serem transcritos em uma
molécula de RNA, os íntrons devem ser removidos e os éxons, unidos para criar
um mRNA para o gene. Na verdade, tecnicamente, o termo éxon aplica-se a qual-
quer região mantida em um RNA maduro, sendo ou não codificadora. Éxons não
codificadores incluem as regiões 5' e 3' não traduzidas de um mRNA; todas as
porções de RNAs não codificadores estáveis e removidos, como o regulador da
inativação do cromossomo X, Xist (Cap. 20); e regiões que dão origem a RNAs
funcionais, como os micro-RNAs que serão encontrados no Capítulo 20.
A Figura 14-1 apresenta um gene eucariótico típico no qual a região co-
dificadora é interrompida por três íntrons que fragmentam o gene em quatro
éxons. O n úmero de íntrons encontrado em um gene varia muito- desde um,
no caso da maioria dos genes contendo íntrons em levedura (e alguns poucos
genes humanos), a 50, no caso do gene do colágeno de galinha, proa2, e che-
gando a 363 no caso do gene humano Titin. A Figura 14-2 mostra o número
médio de íntrons por gene em uma variedade de organismos. Fica claro que
o número médio aumenta à medida que se passa dos eucariotos unicelulares
simples, como as leveduras, para organismos mais complexos, como vermes e
moscas, até chegar aos seres humanos.
O tamanho dos éxons e íntrons também é variável. Muito frequentemente,
os íntrons são bem mais longos do que os éxons que eles separam. Assim, por
exemplo, em geral, os éxons possuem cerca de 150 nucleotídeos, enquanto os
íntrons- embora também possam ser curtos- podem ter até 800.000 nucleotí-
deos (800 kb). Como outro exemplo, o gene da enzima di-hidrofolatorredutase
de mamíferos tem mais de 31 kb de comprimento, contendo seis éxons dis-
persos que, juntos, correspondem a 2 kb do mRNA. Assim sendo, neste caso,
a região codificadora do gene corresponde a< 10% de seu comprimento total.
468 Parte 4 Expressão do Genoma
l
o pré-mRNA, apresentado na linha inter- éxon 1 2 3
mediá ria, que contém todos os éxons e transcrição
íntrons. O processamento remove os ín- região
t rons e une os éxons, formando o mRNA sequência 5' líder não codificadora
I I 1 2 3 4 r-1
madu ro, que continua a ser modificado
l
pré-mRNA 5' 3'
(ver poliadenilação. Cap. 13) e é exporta-
do do núcleo, para ser traduzido em um processamento (sp/icing)
produto proteico. Tecnicamente, as re-
giões 5' líder e 3' não codificadoras tam- mRNA maduro 5' 3'
bém são éxons porque elas são mantidas 1 2 3 4
no mRNA maduro. Elas estão aqui repre-
sentadas em lilás para indicar sua condi-
ção de éxons não codificadores.
Da mesma maneira que os genes contínuos dos procariotos, os genes des-
contínuos dos eucariotos são transcritos em uma cópia de RNA do gene in-
teiro - o transcrito primário para um gene eucariótico típico contém íntrons
e éxons. Isso é mostrado na parte central da Figura 14-1. Devido ao compri-
mento e ao número de íntrons, o transcrito primário (ou pré-mRNA) pode
ser, de fato, bastante longo. No caso extremo do gene da distrofina humana,
a RNA-polimerase precisa percorrer 2.400 kb de DNA para copiar o gene in-
teiro em RNA. (Considerando que a transcrição avança a uma velocidade de
40 nucleotídeos por segundo, são necessárias 17 horas para sintetizar um úni-
co transcrito desse gene.) Isso levanta a possibilidade de que a abundância e o
comprimento dos éxons podem ter efeito significativo sobre a taxa de expres-
são dos genes, assunto que será retomado quando for considerada a regulação
gênica durante o desenvolvimento, no Capítulo 21.
Como se afirmou, os transcritos primários dos genes que contêm íntrons
devem ser processados para a remoção dos íntrons antes de sua tradução em
proteínas. O processo de remoção dos íntrons, chamado processamento do
FIGURA 14· 2 Número de íntrons
RNA, ou simplesmente splicing, converte o pré-mRNA em mRNA maduro e
por gene em várias espécies eucarió·
ticas. O nú mero médio de ínt rons por
precisa ocorrer com grande precisão, evitando a perda ou adição, ainda que
gene é apresentado para uma seleção
de apenas um nucleotídeo, nos sítios de junção de éxons. Como será visto
de espécies euca rióticas. Os nomes em nos Capítulos 15 e 16, os códons de trincas de nucleotídeos do mRNA são tra-
vermelho são os dos organismos experi- duzidos em uma sequência (ou fase) de leitura constante, determinada pelo
mentais comuns (Apêndice 1): levedu- primeiro códon da sequência codificadora da proteína. A falta de precisão
ra (Saccharomyces cerevisiae), mosca- no processamento- se, por exemplo, uma base for perdida ou adicionada na
-da-fruta (Drosophila melanogaster), fronteira entre dois éxons- deixaria as fases de leitura dos éxons fora de or-
nematódeo (Caenorhabditis elegans),
planta (Arabidopsis thaliana) e camun-
8
dongo (Mus musculus). As outras es-
pécies ap resentadas são : Anopheles 7
Q)
gambiae; Aspergillus nidulans; nu- c:
Q)
.s
Q) 4
Cyanidioschyzon merolae; Dictyostelium o
discoideum; Encephalitozoon cuniculi; ;g 3
E
Giardia lamblia; nucleomorfo de Guillardia o
theta; Homo sapiens; Leishmania li> 2
E
·::>
major; Neurospora crassa; Oryza sativa; c: 1
Paramecium aurelia; Phanerochaete
chrysosporium; Plasmodium falciparum;
Plasmodium yoelii; Schizosaccharomyces
o I Jj
pombe; Takifugu rubripes; Thalassiosira
pseudonana; e Trichomonas vaginalis.
(Redesenhada, com permissão, de Roy
S.W. e Gilbert W. 2006. Nat. Rev. Genet.
7: 212, Fig. 1. © Macmillan.)
Capítulo 14 Processamento do RNA 469
FIGURA 14-3 Sequências das fronteiras entre intron e éxon . A figura apresenta as
sequências consenso dos sítios de processamento 5 · e 3 · e também o resíduo de A conser-
vado no sítio de ramificação. Como em outros casos de sequências consenso, qua ndo duas
bases alternativas são igualmente favorecidas, ambas são indicadas na posição. Nesta figura,
as sequências consenso apresentadas são para seres humanos. O mesmo é válido para todas as
outras figuras deste capítulo. a menos que conste o contrário.
470 Parte 4 Expressão do Genoma
5'-·0C
~ - OH-3'
l
CH 2 ~ processamento.
O OH
I
o=p- o·
I extremidade
O-CH,o 5' do íntron
._..y, ~/
O 0-P-C)-CH.
I I
o= j -o~
· o· base
O -CH,
0
o= F>-·o·
O OH
I
o= p-o·
I
o O OH
---· I
•
•
O= P- o·
extremidade
3' do íntron
3'
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Estudos em bactérias e seus fagos levaram à descoberta de sarnento alternativo às sequências codificadoras do héxon,
que, com relação à sequência de nucleotídeos, o mRNA é uma das fibrilas e de outras proteínas do virion, gerando cada um
réplica exata do gene do qual foi transcrito (ver Cap. 16). Por dos futuros mRNAs virais.
isso, em 1977, a descoberta de que alguns (e como se sabe A demonstração de que esses mensageiros são preces·
hoje, a maioria) mRNAs de eucariotos podem ser cl ivados e sados pela união de RNAs que se originam em diferentes re-
religados, em um trabalho de "corte e colagem", a partir de giões do genoma surgiu por meio de vários experimentos -
transcritos primários muito mais longos, causou espanto ge· um deles é conhecido como mapeamento pela alça R (Fig. 2
r ai. Como essa surpreendente descoberta foi feita? deste quadro). Em condições apropriadas, um RNA é incuba·
Na tentativa de entender a transcrição gênica em euca- do com um DNA de dupla-fita contendo um segmento com
riotos, os cientistas detiveram -se em um vírus de DNA huma· sequência idêntica ao RNA; este RNA se anelará à fita de DNA
no chamado adenovírus. Acreditava-se que o adenovírus pu· complementar, deslocando a fita d e DNA não complementar,
desse servir como modelo para entender a biologia molecular deixando-a em forma de alça (Fig. 2a deste quadro). Após a
dos genes eucarióticos, assim como os fagos T4 e À haviam técnica de coloração utilizada para visualizar ácidos nuclei·
servido para os genes procarióticos (ver Apêndice 1). O vi· cos, a alça R pode ser observada ao microscópio eletrônico,
rion do adenovírus é formado por várias proteínas diferentes, uma vez que os dúplices de RNA-DNA e DNA-DNA aparecem
codificadas por ele, e os mRNAs para essas proteínas foram mais espessos do que os ácidos nucleicos de fita simples.
purificados, na expectativa de que suas extremidades s· in· Quando esse experimento foi realizado em mensageiros de
dicassem precisamente os sítios de início da transcrição de adenovírus, observou-se que as alças R não eram totalmente
cada gene do genoma viral. Em vez disso, todos os mRNAs, contíguas a uma única região do DNA. Em vez disso, e de·
embora codificassem proteínas d iferentes, apresentavam a pendendo do fragmento de DNA viral utilizado, uma ou am·
mesma sequência 5 •. Hoje se sabe que todos os mRNAs de bas as extremidades do RNA projetavam-se das alças de RNA
proteínas do virion do adenovírus derivam de um promotor como caudas de f ita simples (Fig . 2b deste quadro). Em ou-
único, conhecido como promotor tardio principal. O início a tros casos, uma das caudas anela a um fragmento de DNA de
partir desse promotor produz longos transcritos que incluem uma região diferente do genoma viral (Fig. 2c deste quadro).
as sequências codificadoras de várias proteínas (Fig . 1 deste Claramente, esses mRNAs eram moléculas compostas, oriun-
quadro). Então, este transcrito sofre processamento alterna· das de sequências complementares a regiões do genoma que
tivo para gerar mRNAs separados para componentes de vi- não eram contíguas e que haviam sido ligadas. Esses e ou-
rions individuais, como as proteínas héxon e fibrila. Todos os tros t ipos de experimentos de anelamento DNA-RNA foram
mRNAs possuem a mesma sequência 5 ·,que resulta da união usados para deduzir o padrão de processamento alternativo
de três sequências curtas que não codificam proteínas, co· mostrado na Figura 1 deste quadro.
nhecida como sequência-líder tripartida. A líder sofre preces· (continua)
472 Parte 4 Expressão do Genoma
transcrito primário
sequência-líder tripartida
fibrila
•
• • •
•
-
• • • héxon
• • •
• • •
• • •
•
• -
• •
•
o 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
unidades de mapa
QUADRO 14-1 FI GURA 1 Mapa do genoma do adenovírus-2 humano. O mapa apresenta os padrões de transcri-
ção dos mRNAs tardios, incluindo o t ranscrito primário (representado pela seta longa em verde-escuro na parte superior); as
sequências-líderes tripartidas encontradas nas posições 16,6, 19,6 e 26,6 (representadas como barras verdes); e as posições
no mapa das sequências de DNA que codificam os vários mRNAs tardios (representados pelas setas curtas em verde-escuro).
a b
DNA d ivado com enzima de restrição
cap
5'
incubação com
aquecimento
alça R
~:::::::=::::=::::=::::=::::::::~
3
caudas
lit: de DNA
deslocada
QUADRO 14-1 FIGURA 2 Mapeamento de alça R dos mRNAs tardios do adenovírus-2. (a) A representação esque-
mática mostra a formação de uma estrutura de alça R. Um fragmento de DNA de dupla-f ita gerado por digestão com uma
endonuclease de restrição é incubado com mRNA e aquecido um pouco acima da temperatura de desnaturação do DNA, em
80% de formam ida. O híbrido formado entre o mensageiro e sua sequência complementar de DNA causa o deslocamento da
segunda fita de DNA. Observa-se que a cauda poli(A) do mRNA (não codificada pelo DNA) (ver Cap. 12) projeta-se a partir do
fim do dúplex híbrido. (b) Micrografia eletrônica e diagrama esquemático de uma alça R observada após a incubação do mRNA
de héxon com uma sequência de DNA complementar da região tardia do genoma do adenovírus-2. Observam-se as extensões
das extremidades 5 • e 3 • no mensageiro. (Linhas cinzas) DNA; (linhas verdes) RNA. (Reproduzida, com permissão, de Berget
S.M . et ai. 1977. Proc. Natl. Acad. Sei. 74: 3171-3175. © National Academy of Sciences.) (c) Micrografia eletrônica e diagrama
esquemático de uma alça R observada após a incu bação do mRNA de fiber (fibrila) com dois DNAs, o genoma completo do
adenovírus e um fragmento de endonuclease de restrição derivado de uma região inicial do genoma. (Reproduzida, com per-
missão, de Chow L.T. et ai. 1977. Ce//12: 1-8, p. 2. © Elsevier.)
Capítulo 14 Processamento do RNA 473
MAQUINARIA DO SPLICEOSSOMO
VIAS DE PROCESSAMENTO
Formação, rearranjo e catálise no
spliceossomo: a via de processamento
As etapas do processamento são mostradas na Figura 14-7. O que está repre-
sentado é uma via canônica e, em um caso qualquer, determinadas etapas
podem ser levemente diferentes em sua ordem ou podem até mesmo ter
ordem inversa, situações essas que serão retomadas mais tarde. Mas a via,
como primeiramente apresentada, revela a série extraordinária de eventos
realizados pelo dinâmico spliceossomo para dirigir a reação de processa-
mento na célula.
Inicialmente, o sítio de processamento 5' é reconhecido pela snRNP Ul
(pelo pareamento de bases entre seu snRNA e o pré-mRNA, como mostrado
na Fig. 14-6). O U2AF é formado por duas subnidades, a maior delas (65)
liga-se ao trato Py e a menor (35), ao sítio de processamento 3'. A primeira
subunidade interage com a BBP (SF1), auxiliando em sua ligação ao sítio de
ramificação. Este arranjo de proteínas e RNA é chamado de complexo inicial
(E, early).
Capítulo 14 Processamento do RNA 475
\!J
U4
5'
476 Parte 4 Expressão do Genoma
1 1
~
3' 5'--0H~ 3' 3'
! ! ! G
+
+rg 1
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
grupo 11
domínio 5
:::::::::::::
'''.. I
......... OH.
. •I . . - - - - - - - -- ---- --.
-.-
3' ~~intr~
on
~ ----- ----
V
--~--~ ... '
5'
VARIANTES DO PROCESSAMENTO
Antes de abordar o processamento alternativo, serão descritas brevemente
duas variantes da maquinaria de processamento e de reações de processamen-
to discutidas até o momento. No primeiro caso, são considerados exemplos
nos quais os dois éxons que estão sendo unidos residem em moléculas de
RNA diferentes e, no segundo, uma versão especializada da maquinaria de
5'
processamento utilizada para processar um subconjunto de íntrons.
F I G U RA 14· 1 2 Transprocessa·
mento. No transp rocessa mento, dois '
Exons de diferentes moléculas de RNA podem
éxons localizados i niciaImente em duas
moléculas de DNA diferentes são proces·
ser ligados pelo transprocessamento
sados em um mesmo mRNA. A química Na descrição anterior do processamento, considerou-se que o sítio de processa-
desta reação é a mesma do processa- mento 5' de um éxon é ligado ao sítio de processamento 3' do éxon que o su-
mento-padrão descrito anteriorm ente, e cede imediatamente. Porém, nem sempre é assim. No processamento alter-
o produto fi nal é i ndisti nguível. No trans-
nativo, alguns éxons podem estar ausentes, ou um determinado éxon pode ser
processamento, a única diferen ça é que
ligado a outro situado bem mais adiante (como será visto posteriormente). Em
o produto normal - o laço da reação·
-padrão - é substituído por uma estrutura alguns casos, dois éxons diferentes localizados em diferentes moléculas de RNA
ramif icada em form ato de Y Isso ocorre podem ser ligados em um processo denominado transprocessament o . Em-
porque a reação inicial une duas molécu· bora seja um evento geralmente raro, o transprocessamento ocorre em quase to-
las de RNA, em vez de formar uma alça dos os mRNAs de tripanossomos. No verme nematódeo (Caenorhabditis elegans),
em uma única molécula. todos os mRNAs sofrem transprocessamento (para ligar uma sequência-líder 5'),
Capítulo 14 Processamento do RNA 483
PROCESSAMENTO ALTERNATIVO
proteicos (ou isoformas) . Hoje acredita-se que pelo menos 40% dos genes de
Drosophila e até 90% dos genes humanos sofram processamento alternati-
vo. Muitos genes alternativamente processados geram apenas dois produtos
alternativos, mas em alguns casos, o n úmero de potenciais alternativas que
podem ser geradas a partir de um único gene é impressionante- centenas
(p. ex., no caso do gene humano Slo) ou até mesmo milhares (para o gene
de Drosophila Dscam). Às vezes, o processamento alternativo é usado como
maneira de gerar diversidade, com formas alternativas sendo geradas esto-
casticamente. Mas em muitos casos, o processo é regulado para assegurar que
diferentes produtos proteicos sejam feitos em diferentes tipos celulares ou em
resposta a diferentes condições.
Para um caso simples de processamento alternativo, considere-se o gene
de uma proteína muscular de mamíferos, a troponina T. A Figura 14-14 ilustra
uma região de pré-mRNA produzido por esse gene, contendo cinco éxons.
Esse pré-RNA é processado, formando dois mRNAs maduros alternativos, cada
um contendo quatro éxons. Em cada um dos dois mRNAs, um éxon diferente
é eliminado, de modo que as duas mensagens têm três éxons em comum, mas
cada uma tem um éxon exclusivo.
íntron 1 2
ONA r
3'
doRNA 1 2 3
'" .
! '" .
l....
,, ~ .
"
i '" .
l '" . '" .
l
5' 3' 5' 3' 5' 3' 5' 3' 5'
'•
'• .. .. 3'
mRNA
processado
5'
!
3' 5'
! 3' 5'
! 3' 5'
! 3' 5'
! 3'
1 2 3 1 3 1 2 3 1 2 3 1 2
normal éxon omitido éxon estendido íntron mantido +
5' 3'
1 3
éxons
alternativos
FI GURA 14· 15 Cinco maneiras de realizar o processamento de um RNA. No topo.
está representado um gene que codifica três éxons. Ele é transcrito em um pré-mRNA. apre-
sentado na parte intermediária e, então, processado de cinco modos alternativos. Se todos
os éxons forem incluídos, é gerado um mRNA com os três éxons. A omissão de éxon gera um
mRNA que contém apenas os éxons 1 e 3. Na extensão de éxons, parte do int ron 1 é mantida
junto com os três éxons. No outro caso, um íntron inteiro é mantido no mRNA madu ro. Final-
mente, os éxons 2 e 3 podem ser utilizados de maneira alternativa, gerando uma mistura de
mRNAs, e cada um deles contém os éxons 1 e 2 ou os éxons 1 e 3.
Capítulo 14 Processamento do RNA 485
códon de
SST 5' terminação sst 5' SST 3'
DNA {j i
J I
) )) •) •i i)
éxon 1 2
transcrito
primário
doRNA
5'
1
-·
!
- 2
3' 5'
1
-·
!
- 2
3'
mRNA 5'-~11:=!====-~-3'
1 2 5·-~~-
1 2
3'
~
proteína N====c N==== c
"t-ag" "T-ag"
b 1 2 4
AUG UGA
AUG UGA
1 3
----+- degradado
1 2 3 4
m RNA c::=~:J.tC===c;=c=====
4 6 9
- ___...,.....
.. ....
17
de 48 pa ra o éxon 6 (roxo), uma de 33
pa ra o éxon 9 (verde) e uma de duas para
o éxon 17 (amarelo). Os éxons 4, 6 e 9 co-
dificam partes dos três domínios de lg, re-
presentadas nas cores correspondentes, e
segmento o éxon 17 codifica o domínio tra nsmem-
transmembrana
brana. Se todas as combinações possíveis
desses éxo ns forem utilizadas, o gene
proteína Dscam produz 38.016 mRNAs e proteínas
diferentes. (Adaptada, com permissão, de
Schmucker O. 2000. Ce/1 101 : 671, Fig. 8.
de lg © Elsevier.)
488 Parte 4 Expressão do Genoma
membrana (codificado pelo éxon 17, tendo, assim, duas formas alternativas);
domínios de fibronectina que são iguais em todas as isoformas; e domínios
de Ig, sendo que partes de três deles são codificadas pelos éxons altamente va-
riáveis 4, 6 e 9. Assim, a maior parte da variabilidade entre as isoformas reside
nestes domínios de Ig.
A proteína Dscam possui duas funções discrepantes na mosca: ela atua na
formação de padrões neurais no cérebro e também reconhece antígenos como
parte do sistema imunológico inato. Em sua função neuronal, a proteína
Dscam medeia interações específicas célula-célula. Uma isoforma qualquer
da proteína pode interagir com si mesma, mas não com as outras isoformas.
Acredita-se que esta seletividade permita a um neurito distinguir entre outros
neuritos que encontra em relação a serem "próprios" ou "não próprios"- ou
seja, derivados do mesmo neurônio ou de um neurônio diferente. Durante a
formação das redes neurais no cérebro em desenvolvimento, os neuritos exi-
bem um comportamento de "autoevasão": neuritos que se projetam domes-
mo neurônio evitam-se. Demonstrou-se, in vivo, que esse reconhecimento do
próprio é mediado pelo reconhecimento homofílico do conjunto particular
de isoformas DSCAM presentes na superfície de um determinado neurônio.
No sistema imunológico, as diferentes isoformas reconhecem diferentes
antígenos, assim como fazem os anticorpos dos vertebrados. Acredita-se que
a pressão evolutiva que controla a diversidade venha da seleção nesta função.
sitio de
s· ~~
éxon5
6.1
éxon
U AAC u UG AG
··· - AAA UGAA GCCAAUG UUGGGA V GGUACUCGACAA U G- - -
11 1111 111 11 · 1 111 1 11 · I· 6.1 seletora
··· - VV ACUU CGGUUGC AACCCUG CU - · · ·
C C UA U U AA
AAA U
··· -AAAUUrt TYrrTYrtHYYrrrtYt??GUAC UCGACAAUG - ···
- - -CU GACGGACUUCAACCCU AUUU-···
6.5 seletora
GG G
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· · · -AA A GAAA A CU GCC UG A AUG U U GGGAUAGG G UAC U CG ACAAUG- -
1 11 · 1 111 1 11 1 11 1 111 1 11 6.13 seletora
··· - UU UUVU UUGUCAGACUUACAA- ···
A A
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u u
A U
··· - AAAUUGAAAACUGCCUOA GGGA UAGGG UACUCGACAAUG - - -
1 11 11 11111 1 11 11 ooll • ll •l 6.19 seletora
... --AACUU UUGA CGGAC U UU CUGUCUC - ···
GC
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
O sítio de ancoragem possui 66 nucleotídeos em Drosophi/a menos conservadas do que o sítio de ancoragem. Assim, as
melanogaster. Ele é 90 a 100% conservado em outras 10 es- sequências seletoras apresentam relativa conservação nos
pécies de Drosophi/a estudadas. Mesmo quando a compara- íntrons a montante das variantes do éxon 6. Um alinhamen-
ção inclui out ras espécies de insetos - mosquito, bicho-da- to das 48 sequências seletoras das variantes do éxon 6 de
-seda e abelha, por exemplo - , os 24 nucleotídeos centrais O. melanogaster revelou uma sequência consenso de 28 nu-
do sítio de ancoragem são, ainda, bastante conservados. Na cleotídeos que era complementar à sequência de ancoragem
verdade, ela é a sequência mais conservada de todo o gene (Fig. 2 deste quad ro). Quando cada sequência seletora ind i-
Dscam (que possui mais de 60 kb). A identificação inicial da vidual foi comparada ao sítio de ancoragem, cada uma delas
sequência de ancoragem foi inteiramente baseada nesta con- pareou com ele de maneira única, porém, sobreposta. Alguns
servação (Fig. 1 deste quadro). exemplos estão apresentados na Figu ra 14-21.
As sequências seletoras também foram descobertas
por meio de comparações de sequências, embora elas sejam
ro M » ~ ~
D. m~lanogontr AAATTGAAAACTGCCTGAATGTTGGGATAGOGTACTCGACAATGCTGAGA
D. slmulons AAATTGAAAACTGCCTGAATGTTGGGATAGGGTACTCGACAATGCTGAGA
D.yokuba AAATTGAAAACTGCCTGAATGTTGGGATAGOGTACTCGACAATGCTGAGA
D.tr«ro AAATTGAAAACTGCCTGAATGTTGGGATAGGGTACTCGACAATGCTATGA
D. ononossoe AAATTGAAAACTGCCTGAATGTTGGGATAGGGTACTCGACAATGA · AAGA
D.p•eudoobscura AAATTGAAAACTGCCTGAATGTTGGGATAGOGTACTCGACAACGATGCGA
D.penimilis AAATTGAAAACTGCCTGAATGTTGGGATAGGGTACTCGACAACGATGCGA
D.mojovtnsis AAATTGAAAACTGCCTGAATGTTGGGATAGOGTACTCGACAATGCAATGA
O. virilis AAATTGAAAACTGCCTGAATGTTGGGATAGGGTACTCGACAATGCTATGA
O. grlm•hawl AAATTGAAAACTGCCTGAATGTTGGGATAGGGTACTCGACAATGCTATGA
A.gombiae AAA ···CAAATTGCCTGAATGTTGGGATAGGGTACCCTGTGTTGCGTG--
A.aegrprl AAA --·CAAATTGCCTGAATGTTGGGATAGOGTACCCTGTGTTGCGTG · ·
B.m01í AAAT· · · CACTTGCCTGAATGTTGGGATAGOGTACCCTGCAGAGCTTTGA
A. m~llfftto · ·AT· · AAAA · · · CCTGAATGCTGGGACAGGGTACCCCTGCGGGCACGCG
T. casconeum CTTG'l'TAAATTTACCTGAATGTTGGGATAGOGTACCCTTGCTTCTCAAAC
AA
QUADRO 14· 3 FI GURA 1 Alinhamento da sequência de nucleotídeos dos sítios de ancoragem de 15 insetos. Os inse-
tos analisados incluem 1O espécies de Drosophila; duas de mosquito, Anopheles gambiae (mosquito-da-malária) e Aedes aegypti
(mosquito-da-febre-amarela); o lepidóptero Bombyx mo ri (bicho-da-seda); o himenóptero Apis mellifera (abelha); e o coleóptero
Tribolium castaneum (gorgulho-da-farinha). O nucleotídeo mais comum em cada posição está sombreado, e a sequência consen-
so do sítio de ancoragem está representada abaixo como um pictograma. A altura de cada letra representa a frequência de cada
nucleotídeo na posição. (Mod ificada, com permissão, de Graveley B.R. 2005. Ce//123: 65-73, Fig . 2. © Elsevier.)
Capítulo 14 Processamento do RNA 491
.......••.,.
.15
69
• 1
TGCCC• ·•••••
63
......
&31
637
639
• • • •. • •AI:TfAA
• •• ·MTT'A100CT
$23 •• • • •OGTCT
67
•••
• 12
62$
62
6 1$
...
819
625
...••
621
......•••
$13
627 ·CTT
.........
......•••
• 18
• •TTCAO• •GAC
• • • • • • • • •/1/YrAIJA • • •CTTA
QUADRO 14·3 FIGURA 2 Sequência seletora de consenso de D. melanogaster. (Painel superior) As 48 sequências
seletoras e sequências flanqueadoras foram ali nhadas. Os nucleotídeos mais f requentes na porção central do alinhamento es-
tão realçados. (Painel inferior) O alinhamento foi utilizado para gerar uma sequência seletora de consenso. (Reproduzida, com
permissão, de Graveley S. R. 2005. Cel/ 123: 65-73 , Fig. 4. © Elsevier.)
! !
doRNA
minado éxon seja incluído em um mRNA,
enqua nto outro, não.
mRNA
processado
5·- - - -3' 5' •••c o- 3' não processado
sítio de ativador/amplificador do
b processamento processamento
\ I
5·- = =-••3' 5·- = =--•3'
--.,.,,~<\ativador
a b
A1
:=======:JIML_I_
FtMEAS MACHOS
2X:2A 1X:2A
sis-a
sís-b dpn
1X 1X
1 término
DNA (~ IJ DNA HI L r l D •
l não há transcrição
----
transcrição
!
pré-mRNA
processamento
!
não há proteína
!g proteína Tra
gulador de processamento, e atua no pré-
-mRNA do gene doublesex (dsx). Quando
o mRNA de dsx é processado em resposta
funcional à proteína Tra, uma versão da proteína
Tra-2 i l Dsx é produzida (em fêmeas) com um tre-
cho de 30 aminoácidos em sua extremi -
dade ca rboxiterminal que a distingue da
sítio de processamento 3' regulado
5' \ 3' s· ~ 3'
forma da proteína produzida na ausência
3'
da proteína reguladora Tra (em machos).
gene dsx A forma feminina de Dsx ativa os genes
5'- - - - - ··3' 5' necessários ao desenvolvimento feminino
•
N====:::;>c
~
proteínas
Dsx N •
~
c
e reprime os genes de desenvolvimento
masculino. A forma masculina. que tem
um segmento de 150 aminoácidos na
extremidade carboxiterm inal, reprime os
reprime genes femininos reprime genes masculinos e genes que promovem o desenvolvimen-
ativa genes femininos to feminino. A proteína Sxl atua como
!
desenvolvimento masculino
+
desenvolvimento feminino
repressora do processamento ao ligar-se
ao trato de pirimidina no sítio de proces-
samento 3' (ver Fig. 14-3). A proteína Tra,
em cont rapartida, atua como amplifica -
dora do processamento. Ela liga-se a uma
Uma alteração de processamento alternativo sequência reforçadora (enhancer) em um
está no cerne da pluripotência dos éxons do RNA de dsx (ver Fig. 14-11).
EMBARALHAMENTO DE ÉXONS
Os éxons são embaralhados por recombinação,
produzindo genes que codificam novas proteínas
Como já mencionado, todos os eucariotos possuem íntrons; no entanto, estes
são raros- quase inexistentes -em bactérias. Existem duas explicações plau-
síveis para essa situação.
Capítulo 14 Processamento do RNA 497
~ CONEXÕES CLINICAS
Como d iscutido no texto, a grande maioria dos genes huma· sensível a um processamento ineficiente do que outros teci·
nos contém introns. De fato, a grande maioria dos genes hu- dos que não precisam produzir altos níveis de uma proteína
manos contém múltiplos introns. Não surpreende, portanto, específica.
que muitas das mutações de ponto que causam doenças em A atrofia muscular espinhal (SMA, spinal muscular
seres humanos sejam substituições nucleotídicas que prejudi· atrophy) é uma das causas genéticas mais comuns de mor-
cam o processamento do pré-mRNA. Na verdade, estimativas talidade em crianças. Essa doença, caracterizada pela perda
ind icam que pelo menos 15% de todas as mutações de ponto progressiva dos neurônios espinhais, resulta de uma mutação
que causam doenças humanas alteram sequências de reco· em um gene para um componente ubíquo da maquinaria de
nhecimento para o processamento. Um exemplo clássico é a processamento conhecido como SMN (do inglês, survival mo-
JHalassemia. Este distúrbio genético humano é caracterizado tor neuron), cuja função precisa ainda não está bem estabe-
por um defeito na produção de 13-globina, uma subunida· lecida. Como no caso da retinite pigmentosa, permanece o
de da hemoglobina. Um t ipo de fHalassemia é causado por mistério sobre por que o efeito do defeito de processamento
uma mutação no primeiro íntron do gene da 13-globina que é manifestado principalmente em neurônios motores.
altera a sequência TTGGT para TTAGT. Essa mutação cria uma Os exemplos considerados até o momento são de distúr-
sequência que lembra um sitio de processamento 3' normal bios hereditários. Mas mutações causadoras de doenças que
(trato Py AG/G) (ver Fig. 14·3). Como resultado, o processa · prejudicam o processamento também surgem somaticamente.
mente do pré-mRNA da 13-globina em individues afetados Um exemplo disso vem dos mutantes do gene do regulador do
ocorre predominantemente no sítio de processamento 3' ciclo celular p73. A proteína p73 ocorre em múltiplas formas
criado pela mutação em vez de se dar no sítio normal. como resultado do processa mente alternativo de seu mRNA.
Uma doença hereditária chamada "deficiência de hor- Mutações que causam o processamento alternativo defeituoso
mônio de crescimento isolada familial tipo 11" é causada por do pré-mRNA de p73 foram implicadas em um tipo de câncer
um defeito no processamento do pré-mRNA do hormônio de conhecido como carcinoma espinocelular. É provável que mu -
crescimento, resultando em indivíduos com estatura baixa. tações somáticas que prejudicam o processamento ou causam
A síndrome de Frasier é um d istúrbio urogenital atribuído processamento alternativo defeituoso para vários outros pré-
a um defeito no processament o do pré-mRNA de um gene ·mRNAs também contribuam para a etiologia do câncer.
importante para o desenvolvimento dos rins e das gõnadas. Às vezes, diz-se que a med icina é a maior professora de
Dois exemplos ad icionais são um tipo de demência causada biologia. Certamente, e conforme se viu, este adágio aplica·
por um defeito de processamento no mRNA de uma proteína -se perfeitamente ao campo do processamento de pré-mRNA.
do citoesqueleto e uma forma de fibrose cística . no qual o estudo de distúrbios genéticos humanos forneceu
Outros distúrbios também são causados por mutações uma riqueza de detalhes sobre as sequências que controlam
que prej udicam a própria maquinaria de processamento. o processamento e a maquinaria que o realiza. De fato, a
Um exemplo disso é a retinite pigmentosa, caracterizada própria descoberta das snRNPs, os componentes mais funda-
por degeneração progressiva da retina e, por fim, cegueira. mentais da maquinaria de processamento de pré-mRNA, sur-
Mutações em vários genes causam retin ite pigmentosa, e a giu de estudos de uma forma da doença autoimune lúpus
maioria desses genes possui funções específicas na retina. eritematoso, na qual os indivíduos afetados produzem anti·
Algumas dessas mutações, no entanto, estão em genes para corpos contra estas ribonucleoproteinas. Parece provável que
com ponentes do spliceossomo. Como os indivíduos afetados o estudo continuado de distúrbios genéticos humanos levará
possuem uma cópia normal do gene, além da cópia mutante, a descobertas adicionais sobre os mecanismos do amadureci ·
a proteína do processamento é produzida, mas está presente mente do pré-mRNA.
em quantidades menores do que as normais.
Por que o efeito do nível menor do que o normal de um A correção de defeitos de processamento como forma
componente do processamento se manifesta em um tecido de tratar doenças
específico, a retina? Uma provável explicação vem do fato
Estão em andamento tentativas de tratamento para várias
de um fotopigmento da retina, a rodopsina, apresentar alto
destas doenças por meio da correção de seus d efeitos de
nível de turnover. Assim, a maquinaria de processamento
processamento. Aqui, é descrita a abordagem escolhida em
precisa dar conta da grande demanda de produção de cp-
uma delas, aSMA. Como foi descrito, aSMA é o resultado de
sina (o componente proteico da rodopsina) para substituir
a perdida por degradação. Portanto, a retina deve ser mais (continua)
498 Parte 4 Expressão do Genoma
Quadro 1 4 · 4 (Continuação)
mutações que eliminam, da maquinaria de processamento, SMN2, de maneira que ele pudesse ser forçado a produzir
o componente codificado pelo gene SMNI. Normalmente, o mRNAs que incluíssem o éxon 7.
gene SMNI sofre processamento alternativo, de modo que Uma abo rdagem é d ireciona r o ligo nucleotídeos an·
90% de seu mRNA maduro inclui um determinado éxon, o tissenso contra sequências do t ranscrito primário de SMN2
éxon 7, necessário para gerar a proteína completa. Os seres que regulam o processamento do éxon 7. Como mostrado
humanos possuem outro gene, chamado SMN2, que codifica na Figura 1 deste quadro, o o ligo foi desenhado para reco·
uma proteína idêntica. Esta proteína poderia, potencialmen· nhecer uma sequência específica do transcrito por meio do
te, substituir a função de SMNI , mas os transcritos de SMN2 pareamento de base t ipo Watson-Crick e, ao fazê-lo, excluir
são processados de maneira que apenas cerca de 10% do a ligação de um repressor de processamento, hnRNP. Esta
mRNA derivado deste gene inclui o éxon 7 necessário. Assim, estratégia funcionou em camundongos modificados geneti·
decidiu-se que uma forma de compensar a perda completa camente para expressar o gene SMN2 humano e agora está
de SMNI deveria ser a manipulação do processamento de sendo empregada em ensaios clínicos.
íntron íntron
s·c:- 6 5'C:::: 6
éxons 6 éxons 6
QUADRO 14· 4 FIGURA 1 Modulação do processamento de SMN2. O o ligonucleotídeo antissenso de fita simples é
desenhado para ligar-se à região do transcrito de RNA onde normalmente o repressor do processamento hnRNP se liga para
bloquear a inclusão do éxon 7. Ao ligar-se aí, o o ligo desloca hnRNP e permite a inclusão do éxon 7 no mRNA maduro e, assim,
facilita a produção da proteína SMN. (Adaptada, com permissão, de Rigo F. et. ai. 2012. J. Cei/Biol. 199:21 -25, Fig. 2, p. 23.
doi:1 O.1 083/jcb.20127087 © Rockefeller University Press.)
G0G
domínio 1 domínio 2
Independentemente de qual explicação seja a verdadeira - e, a esta altu-
ra, é impossível decidir sobre este assunto de maneira inequívoca-, há uma
segunda questão, talvez mais interessante: por que os íntrons foram retidos
l nos eucariotos e, em particular, na forma extensiva e quantidade vista em eu-
cariotos multicelulares? Uma vantagem clara é que a presença dos íntrons, e
.--
D-2 --.. .--0-2.....,;~ dimerização a necessidade de removê-los, permite o processamento alternativo, que pode
gerar vários produtos proteicos a partir de um único gene. Porém, em uma
escala ainda maior, há possivelmente outra vantagem proporcionada a estes
1,.....-v 1,.....---'J ligação ao DNA organismos: ter a sequência codificadora dos genes dividida em vários éxons
permite que novos genes sejam criados por em baralhamento de éxons. Três
FIGURA 14· 27 Os éxons codifi- observações são um forte indício de que esse processo efetivamente ocorre.
cam domínios p roteicos. Neste exem·
pio, o domínio de ligação de uma proteína • Primeiro, frequentemente, as fronteiras entre os éxons e os íntrons de
ao DNA é codificado por um éxon, enquan· um gene coincidem com os limites en tre os domínios (ver Cap. 6) da
to o domínio de dimerização da mesma proteína codificada pelo gene. Isto é, com muita frequência, um éxon co-
proteína é codificado por outro éxon. Es· difica uma unidade proteica com estrutura independente (em geral, com
ses domínios proteicos sofrem dobramen·
função também independente). Por exemplo, considere-se a proteína de
tos independentes do resto da proteína e,
frequentemente, desempenham uma úni-
ligação ao DNA representada na Figura 14-27. Como na maioria das pro-
ca função (como foi discutido no Cap. 6). teínas de ligação ao DNA, esta possui dois domínios - o domínio de reco-
Portanto, éxons podem frequentemente nhecimento do DNA e o domínio de dimerização. Como se vê na figura,
ser permutados entre proteínas de forma esses domínios (D1 e D2) são codificados em éxons (E1 e E2) diferentes
produtiva. do gene.
Capítulo 14 Processamento do RNA 499
W, F
- axX:xx
c
ancestral
comum
EDIÇÃO DE RNA
códon 2.1 53
pré-mRNA
-------- do éxon 26
,-,
3'
mRNA
-----~-----3'
_ _ _ _IK!U_ _ _ _ _ 3'
tradução 1
-----.a!lf.·U1.------3
' tradução
glutamina
N c=======================~ c
proteína com 4.563 aminoácidos
Nc========== c
proteína com 2. 153 aminoácidos
FIGURA 14-30 Edição de RNA por desaminação. ORNA produzido pelo gene da apo-
lipoproteina humana é editado de modo tecido-especifico, por desaminação de uma citidina
especifica, gera ndo uma uridina. Esse evento ocorre nos RNAs do intestino, mas não nos do
ligado. O resultado, como é descrito no texto. é a int rodução de um códon de terminação no
mRNA do intestino, originando uma versão da proteína mais cu rta do que a produzida no figa-
do. A f igura não está em escala: o éxon editado é o éxon 26, e o códon, que pa rece ocupá-lo
completa mente, na verdade, corresponde a uma pa rte muito pequena do éxon.
em h umanos -, produz inosina. A inosina pode parear com a citosina, alte- a ..H2 o
J~
rando facilmente a sequência da proteína codificada pelo mRNA. O alvo desse cltidina
tipo de edição é um canal iônico expresso no cérebro de mamíferos. Essa
simples modificação em seu mRNA provoca a alteração de um único amino-
N:tJ
O~N
desamlnaM
0 N
~ ~
ácido na proteína, a qual, por sua vez, altera a permeabilidade do canal ao
Ca2 +. Na ausência dessa edição, o desenvolvimento cerebral fica gravemente
comprometido.
Este tipo de edição- desaminação enzimática -parece ser bastante rara,
b Nlf, o
mas importante. Em Drosophila, estimou-se que h á apenas cerca de 20 cito-
sinas marcadas para desaminação, mas todas estão em genes envolvidos na
produção ou na atividade de neutrotransmissores.
Não está completamente esclarecido como as enzimas desaminase atuam
de maneira tão específica: seus sítios ativos poderiam agir sobre qualquer ci- FIGURA 14-31
ADAR
dx>
NN
Desaminação de
tosina. Em geral, essas enzimas fazem parte de complexos nos quais outros citosina e adenina para produzir ura-
componentes podem influenciar a especificidade da atuação da enzima. Além cila e inosina. (a) O grupo amino no anel
disso, no caso da citosina desaminase que atua na apolipoproteína B, a enzi- nucleotidico é removido pela enzima citi -
ma possui um domínio de ligação ao RNA que ajuda a reconhecer o sítio es- dina desa minase. (b) No caso da desami -
nação da adenina, o mesmo grupo quími-
pecífico para desaminação pelo reconhecimento de uma sequência específica
co é removido da adenina por ADAR para
ou, talvez, de uma determinada estrutura secundária no RNA.
gera r mesma.
Outro papel das enzimas desaminase na defesa celular contra a infecção
por HIV está descrito no Quadro 14-5, Desaminases e HIV.
a c sítio de inserção de U
sequêncía 5'•1===JGIAA:ilGl1A(;A~cJ:c::JtC:====~>3'
deDNA
mRNA 5' C':::::GG!1AÓ/G:ui:UL~Al!Jli.:j,A~Ci:3:C~UI::::::::::::Ii 3'
+
transcrito s c;r;;;;;;;::J:G[jA~_.G!;.~Ali.A~Ci:J:C]U[;:::::::::I1 3' gRNA 3' _ ! poli(UJLC U~A~A
~C~A~U.~AJ
~U~G~G~--===-J 5'
primário
região âncora
deRNA edição 2UUU de edição (região de
homologia)
proteína endonuclease
1cliva o malpareamento
5'
ligase une as
5' 1 GA Q"'Qlf~'JÇÇQ
lextremidades 5' a 3'
do mensageiro
1 3'
FI GURA 14- 32 Edição de RNA pela inserção deUs mediada por RNA-guia. Edição
do RNA do gene cox/1 de t npanossomo. (a) Posições dos quatro nucleotídeos U inseridos no pré-
·m RNA do gene cox/1. Eles alteram a fase de leitura e a informação codificada no m RNA, para
sua forma correta. (b) Sequência do RNA-gu ia (gRNA) que determina o pad rão de inserção de
Use a sequência do segmento não editado de m RNA. (c) Reação de edição propriamente dita.
Capítulo 14 Processamento do RNA 503
~ CONEXÕES CLINICAS
A desaminação do mRNA da apolipoproteína 8 humana des· Para contrapor-se a isso, o HIV selvagem produz uma
crita no texto é realizada por uma enzima chamada APOBEC1 proteína chamada Vif (do inglês, vira/ infectivity factor
(do ing lês, apolipoprotein 8-editing enzyme, catalytic [fator de infectividade vira I]) que d irige a degradação pro·
polypeptide·like 1 [enzima de edição de apolipoproteína B, teossômica da enzima A3G, excluindo-a, assim, das parti·
semelhante ao polipeptideo-1 catalítico)). Ela é membro de cuias vira is e protegendo o vírus em seu próximo ciclo de
uma família de enzimas que dirige a desaminação de citidi· infecção. A Vil é necessária para que o vírus cresça em todas
nas no RNA e no DNA. Outro membro da família - APOBEC3G as suas células-alvo biologicamente relevantes in vivo. Algu·
(A3G) - é um potente inibi dor da infecção por uma ampla mas lin hagens celulares usadas em laboratórios para cultivar
variedade de retrovírus, incluindo o HIV. vírus conseguem suportar o crescimento de HIV desprovido
Como partículas virais, os retrovírus como o HIV pos- de Vil. Estas células são chamadas de permissivas. Os hete·
suem genomas de RNA. Após a infecção, o RNA é convertido rocários (células geradas pela fusão de dois tipos celulares)
em uma cópia de cDNA por transcrição reversa (ver Cap. 12). produzidos a partir de células permissivas e não permissivas
A fita menos do cDNA produzido durante a t ranscrição rever· possuem o caráter não permissivo. Isso revelou que as célu·
sa é atacada pela enzima A3G . A enzima desamina Cs para las não permissivas produzem um fator que se contrapôe à
gerar Us na fita de DNA, levando à hipermutação em níveis replicação viral. Demonstrou-se que este fator é a desami na·
que o vírus não pode suportar, ou mesmo à destruição da fita se A3G, e que as células permissivas poderiam tornar-se não
danificada pela DNA glicosilase e pela endonuclease apurini· permissivas simplesmente pela expressão de A3G.
ca-apirimidínica (Cap. 10).
TRANSPORTE DE mRNA
núd eo
··~
por exemplo, indica m que o mRNA foi
adequadamente processado, enquanto
as proteínas que se ligam aos íntrons in- ~
dica m um RNA que deve ficar retido no
núcleo. Chega ndo ao citoplasma, algu- o 00
AAAAAAAAA~·==~=====!~~======~t)O
mas proteínas dissociam-se e outras estão
prontas para serem utilizadas na t radução
citosol
(Cap. 15).
Capítulo 14 Processamento do RNA 505
RESUMO
Em quase todos os genes de bactérias e fagos, a fase de leitura também é necessãrio um elemento de sequência, chamado sí-
é uma simples sucessão de códons, sem interrupções. Mas a tio de ramificação, próximo à extremidade 3' do íntron.
sequência codificadora de diversos genes eucarióticos é frag- A remoção do íntron ocorre por meio de duas reações de
mentada em segmentos que têm códons interrompidos por transesterificação. l\a primeira, uma base A do sítio de ramifi-
segmentos com sequências não codificadoras. cação ataca uma base G do sítio de processamento S '. Na se-
Nesses genes descontínuos, os segmentos codificadores gunda, o éxon liberado em S' ataca o sítio de processamento
são chamados éxons (do inglês, expressed sequences [sequências em 3'. Essas reações têm duas consequências. A primeira, e
expressas]) e os segmentos não codificadores são chamados mais importante, é que elas ligam os dois éxons. A segunda é
íntrons (do inglês, intervening sequences [sequências interve- que liberam o íntron como uma estrutura ramificada em for-
nientes]). Algumas regiões não codificadoras também são in- mato de laço.
cluídas nos mRl\As maduros- as regiões S' e 3' não traduzidas O processamento dos pré-mRNAs nucleossomais requer
do mRNA e RNAs inteiramente não codificadores, como os um grande complexo de proteínas e RNAs, chamado spliceos-
micro-RNAs (Cap. 20). Estas regiões são, portanto, classifica- somo. Este é formado pelas chamadas snRNPs, que são de cin-
das como éxons. O número e o tamanho dos íntrons e dos co tipos - Ul, U2, U4, US e U6. Cada uma delas compreende
éxons varia muito de gene para gene. Assim, nas leveduras, uma molécula de RNA, a snRNA, de Ul a U6, respectivamente,
apenas uma proporção relativamente pequena dos genes apre- e vãrias proteínas, a maioria diferente para cada caso. Os com-
senta íntrons e, quando ocorrem, estes tendem a ser curtos e ponentes de RNA têm papel central no reconhecimento dos
em pequeno número (um ou, ocasionalmente, dois por gene). íntrons e na catálise de sua remoção. O spliceossomo é uma es-
Em organismos pluricelulares, como os seres humanos, o nú- trutura muito dinãrnica. Isto é, a constituição do spliceossomo
mero de genes contendo introns é muito maior, assim como é é alterada durante as diferentes etapas do processamento - dife-
o número de íntrons por gene (até 362 em um caso extremo). rentes subunidades da maquinaria agregam-se ou dissociam-se
O tamanho dos éxons varia, mas, frequentemente, possui cer- do complexo, cada uma desempenhando sua função.
ca de ISO nucleotídeos; os íntrons, por sua vez, podem variar A natureza dinâmica do spliceossomo é tal que a ordem
de 61 pb a até 800 kb. dos eventos nem sempre é exatamente a mesma. Assim, alguns
Quando um gene contendo íntrons é transcrito, o RNA complexos podem ir e vir em uma ordem um pouco diferente
inicialmente contém estes íntrons. Estes são, então, removi- da descrita na via canônica de formação do spliceossomo, e as
dos para gerar o mRNA maduro. O processo de remoção dos etapas podem, ocasionalmente, ser revertidas. É provável que
íntrons é chamado processamento ou splicing. isso seja resultado da cinética que dirige cada etapa, varian-
Muitos genes com íntrons originam apenas um tipo de do em diferentes RNAs e sob diferentes circunstâncias. Após
mRNA. Isso quer dizer que os introns sempre são todos remo- catalisar a reação de processamento, o spliceossomo é des-
vidos do RNA original, resultando em um mRNA constituído montado, o que é importante para garantir que as reações de
por todos os éxons. Em outros casos, porém, o processamento processamento não sejam revertidas como um todo e o mRNA
pode produzir vãrios mRNAs diferentes a partir de um mes- processado seja prontamente liberado.
mo gene, por meio do processamento do RNA original de di- Alguns íntrons raros são capazes de promover sua própria
ferentes maneiras. Assim, por exemplo, alguns genes contêm remoção das moléculas de RNA, em um processo chamado
versões alternativas de alguns éxons, em que apenas uma irá autoexcisão. Embora não se trate de uma reação estritamente
compor um dado mRNA. Em outros casos, um determinado enzimática, oRNA do íntron promove a reação química da ex-
éxon pode ser removido (juntamente com os íntrons) de al- cisão. Esses íntrons com autoexcisão podem ser de dois tipos, e
gumas cópias do RNA - mais uma vez produzindo uma versão um deles (grupo I!) é processado pela mesma via química me-
alternativa de mRNA a partir do mesmo gene. Considera-se, diada pelo spliceossomo. Esses íntrons, provavelmente repre-
de maneira mais detalhada, um exemplo extremo de proces- sentam a origem evolutiva dos íntrons atuais e a via química
samento alternativo- o gene Dscam de Drosophila. Neste caso, em duas etapas, utilizada por ambos, reflete essa relação evo-
um de seus éxons possui 48 variantes, e todas são encontradas lutiva (e talvez explique por que os introns não são removidos
no pré-mRNA, mas apenas uma delas (diferente em cada um por um mecanismo mais direto em apenas uma etapa).
dos casos) é encontrada em cada mRNA. Os sítios de processamento são definidos por sequências
Sequências encontradas na fronteira entre introns e éxons muito curtas e com baixos níveis de conservação. Portanto, re-
permitem que a célula identifique os íntrons a serem removi- conhecer e processar apenas os sítios corretos constitui um de-
dos. Essas sequências de processamento estão quase exclusiva- safio significativo para a maquinaria de processamento. Exis-
mente dentro dos introns (onde não existem restrições impos- tem vários mecanismos pelos quais o spliceossomo aumenta
tas pela necessidade de codificar aminoácidos, como ocorre nos sua precisão. Primeiro, ele liga-se aos sítios assim que estes são
éxons). Essas sequências são chamadas sítios de processamento sintetizados. Isso assegura que eles sejam selecionados antes
3' e 5', denotando suas localizações relativas em uma ou ou- que os outros sítios a jusante estejam prontos para competir.
tra extremidade do íntron. Para haver a excisão de um íntron, Em se1,>undo lugar, há outras proteínas -as proteínas SR - que
506 Parte 4 Expressão do Genoma
se ligam perto de sítios de processamento legítimos e ajudam a ceossomo e disrupctonam este complexo. Foi considerada,
recrutar a maquinaria de processamento para esses sítios. Des- em detalhes, o caso da determinação do sexo em Drosophila,
ta maneira, os sítios autênticos têm, efetivamente, uma maior em que uma cascata de eventos regulados de processamento
afinidade pela maquinaria do que os chamados pseudossítios, alternativo determina se uma mosca se desenvolverá como
com sequênctas semelhantes. macho ou fêmea.
Há uma grande variedade de proteínas SR. Cada uma Juntamente com os demais eventos de processamento
liga-se ao RNA por uma superfície e interage com os com- descritos no Cap. 13, o splicing (retirada de íntrons) é neces-
ponentes da maquinaria de processamento por outra. Al- sário para que os mRNAs estejam aptos a ser transportados
gumas proteínas SR regulam o processamento. Isto é, uma para fora do núcleo pelos poros nucleares.
determinada proteína SR pode ser encontrada em um único Acredita-se que determinados éxons normalmente codifi-
tipo celular e, neste t ipo celular, promover, exclusivamente, quem um domínio proteico com estrutura (e functonamento)
um único tipo de evento de processamento. Outras proteínas independente. Assim, um éxon pode functonar imediatamente,
SR são ativas apenas em presença de sinais fisiológícos espe- em combinação com éxons diferentes. Isso sugere que, duran-
cíficos, de modo que um dado evento de processamento só te a evolução, foi relativamente fácil gerar novas proteínas por
ocorre em resposta àquele sinal. Assim, as proteínas SR atuam meio do embaralhamento dos éxons existentes entre genes.
como ativadores de transcrição, como será visto em capítulos A edição de Rl\A é outro mecanismo que permite a modi-
posteriores. De maneira semelhante à regulação da t ranscri- ficação de um RNA após sua transcrição, de modo a codificar
ção, existem repressores de processamento que impedem a uma proteína diferente da codificada pelo gene. São dois os
excisão de íntrons específicos sob determinadas condições mecanismos de edição: a modificação enzimática de bases e a
ou, em outros casos, interagem com componentes do spli- inserção ou deleção de vários nucleotídeos de U da mensagem.
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QUESTÕES
Para respostas de questões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. Questão 10. Como o decaimento mediado por nonsense
contribui na determinaçl!o dos produtos alternativamente
Questão 1 . Sugira por que o número mêdlo de íntrons por processados finais disponíveis para a tradução?
gene na levedura Saccharomyces cerevisiae é multo menor do
que o número médio de íntrons por gene no Homo sapiens. Questão 11. Explique por que a célula pode usar o mecanis-
mo de desaminaçao de citidina do mRl" A mas não a desami-
Questão 2. Os sítios de processamentoS' e 3' sao assim nação de citosina do DNA para a expressão célula-espedflca de
denominados em relação às extremidades do íntron ou dos um determinado gene.
êxons? Além dos sítios de processamento 5' e 3', qual outra
sequêncla é necessária para o processamento? Onde está loca- Questão 12. Em um experimento bioquímica, você compa-
lizada esta sequência? ra os produtos das reações de processamento realizadas in vitro
usando três substratos diferentes. Em cada caso, o substrato é
Questão 3. Começando com um pré-RNA nllo processado, um construto contendo um único íntron circundado por dois
descreva os intermediários produzidos após a primeira etapa éxons e, em todos os casos, o construto possui o mesmo tama-
na reaçlio de processamento. nho básico. No entanto, em um dos casos, o íntron é do grupo
I, em outro, do grupo 11 c, no terceiro, o íntron é removido
Questão 4. Considerando que as duas prlnclpals reações do pelo spliceossomo. Cada construto é marcado de maneira a
processamento podem ocorrer em ambas as direções, o que permitir que ele seJa detectado após a eletroforese em gel, e
evita que as reações de processamento procedam na direção cada um deles é testado em duas reações- (1) em condições
reversa in vivo? que suportam o autoproccssamento e (2) na presença também
de extrato nuclear. Indique o tipo de íntron aos resultados
Questão .S . Explique a base da interaç.a o entre as snRNPs e o apropriados (A, B ou C) no gel apresentado a seguir. Observa-
substrato do processamento, o pré-mRNA. -se que, para simplificar, apenas os produtos finais da reaçao
Questão 6. Se a sequência do sítio de processamento 5' mu- de processamento são observados, mas antes da degradação
dos íntrons.
dasse de 5'-GUAAGU-3' para S'-GUAUGU-3', qual seria o efei-
to desta alteraçao de sequência na ligação de Ul e U6 em um A B c
ensaio de ligaçao proteína-RNA in vitro?
Questão 7. Compare os mecanismos de autoprocessamento
doslntrons do grupo I e do grupo U. --
extraiO nuclear: , - - -
· - - - - -·- - - - -•-,
-- --
Questão 8. Descreva o produto de uma reaçlio de processa-
mento na qual o spliceossomo reconhece um •pseudossítio"
de processamento 3' no íntron ao inv~s do sítio de processa-
mento 3' verdadeiro. O pseudossítio fica um pouco a montan-
te do sítio de processamento 3' verdadeiro. Como Isso poderia
alterar o produto proteico após a traduçao?
- -- --
Questão 9. Explique como o impedimento estérlco pode le-
var ao processamento mutuamente exclusivo.
CAPÍTULO 15
Tradução
é como a informa-
A
QUESTÃO CENTRAL, TRA!i\ DA NESTE E NO PRÓXIMO CAPÍTULO,
ção genética contida n a sequência de nucleotídeos no RNA mensageiro
(mRNA) é utilizada para originar as sequências lineares de aminoácidos
n as proteínas. Esse processo é conhecido como tradução. Dos even tos já
discutidos, a tradução é um dos mais conservados em todos os organ ismos e
um dos eventos de maior gasto energético para a célula. Em células bacteria-
n as de crescimen to rápido, até 80% da energia celular e 50% de seu peso seco
destinam-se à sín tese proteica. Na verdade, a síntese de uma única proteína
exige a ação coordenada de mais de 100 proteínas e RNAs. Em função da
n atureza complexa do processo de tradução, a discussão foi dividida em dois
capítulos. Neste, são descritos os eventos que permitem a decodificação do
mRNA e, n o Capítulo 16, será descrita a natureza do código genético e seu
reconhecimen to pelos RNAs transportadores (tRNAs).
A tradução é um desafio muito mais formidável, em relação à transfe-
rência da informação gen ética, do que a transcrição do DNA em RNA. Ao
contrário da complemen taridade en tre o molde de DNA e os ribon ucleotídeos
do RNA mensageiro, as cadeias laterais dos aminoácidos têm pouca, ou ne-
nhuma, afinidade pelas bases purínicas e pirimidínicas en contradas no RNA.
Por exemplo, as cadeias laterais hidrofóbicas dos aminoácidos alanina, vali-
n a, leucina e isoleucina não formam ligações de hidrogên io com os grupos
amino e cetona das bases nucleotídicas. Também é difícil imaginar que várias
combinações diferentes de três bases de RNA possam formar superfícies com
afin idades específicas pelos aminoácidos aromáticos fenilalanina, tirosina e
triptofan o. Por isso, parecia improvável que interações diretas entre o molde
de mRNA e os aminoácidos fossem responsáveis pela ordem específica e pre-
cisa dos amin oácidos em um polipeptídeo.
Tendo essas considerações em mente, Francis H. Crick propôs, em 1955,
que os aminoácidos deveriam se ligar a uma molécula adaptadora especial,
capaz de in teragir diretamente com, e reconhecer, as un idades codificadoras
de três nucleotídeos do mRNA, antes de serem incorporados em polipeptíde-
os. Crick imaginou q ue o adaptador seria uma molécula de RNA, porque ele
precisaria reconhecer as regras de pareamen to de bases d o código de Watson-
-Crick. Apenas dois anos mais tarde, Paul C. Zamecnik e Mahlon B. Hoaglan d
demonstraram que, antes de sua incorporação às proteínas, os aminoácidos
ligam-se a uma classe de moléculas de RNA (que constituem 15% de todo o
RNA celular). Esses RNAs são chamados RNAs transportadores (ou RNAs de
transferência [tRNAs)) porque o amin oácido é subsequentemente transferido
para a cadeia polipeptídica em crescimento.
A m aquin aria responsável pela tradução da linguagem do RNA mensa-
geiro em linguagem de proteín as é composta por q ua tro componentes bási-
cos: mRNAs, tRNAs, aminoacil-tRNA sintetases e o ribossomo. juntos,
51 O Parte 4 Expressão do Genoma
RNA MENSAGEIRO
5' 3'
IA u G P1Wjttlt1Jtiii1J(IIIifj[tjlij(tjlhlt11j[tltii](IINJ(Iitlrlttltl!ittlll](il!lij u G AI
@ 0 0 0 0 0 0 0 @ ee@0 @ término
3'
5'
IJ:i:uGG JA~Ir'-1:.11-~'lr!il~ j[~il~,~wF.;:.i!li~ii~l~l:!]ill~ll!]l~ôliijij[!ll!lf~!il!..~!:jj
u~GUA~ijf~:.t~:~
..['!ij![[ijij~i!]J[:!:I)j[lêi~...
!l!lllj~[tl~ijl'!!>~•~ttl~il~
,,[![!l~ll(llnltli!ôl~ôl~i)~
término 0 @ 0@ G) término @ 0@ @) 0 (0 ®
~ y
D!]GIYJ[Itlijt1JIJllllllltfltiiJf.ltiiJGI:t21[1tltjlllllti[êjiltj['![êll'!!4r!il~llr!!ill;]
.t[!ijl[j~ill!l!lit!1ttl~tti!I!IIJijt:JPJ
00000000000®00
FIGURA 15·1 Três possíveís fases de leítura da sequêncía·líder trp de Escherichia
co/i. Os códons de início estão sombreados em verde, e os códons de término, em vermelho.
A sequência dos aminoácidos da sequência codificadora é indicada embaixo de cada códon,
pelo código de uma letra.
RBS
5'
cauda poli(A) na extremidade 3' do mRNA. Como se viu no Capítulo 13, essa
cauda é adicionada enzimaticamente pela enzima poli(A) polimerase. Apesar
de sua localização na extremidade 3' do mRNA, a cauda poli(A) aumenta o
nível de tradução do mRNA pela amplificação do recrutamento de fatores es-
senciais de início da tradução. Além de seus papéis na tradução, é importante
observar q ue estas modificações das extremidades 5' e 3' também protegem
os mRNAs eucarióticos da rápida degradação (como será discutido na seção
Regulação dependente de tradução da estabilidade do mRNA e da proteína).
Conforme foi descrito, a extremidade 5' -CCA-3 ' é universal- lhantes (ver Cap. 9, Fig. 9-6). Dentro desse sít io ativo, um
mente conservada em todos os tRNAs e é absolutamente aminoácido e um fosfato do nucleotídeo terminal do tRNA
necessária para a síntese proteica. Curiosamente, quando formam ligações de hidrogênio com bases A e C, mas não
os genes que codificam tRNAs foram clonados, d escobriu-se com G ou U. Esta especificidade pode ser compreendida pela
que muitos deles não codificam uma extremidade CCA. Em observação do padrão de doadores e receptores de ligações
vez disso, esses genes terminam três nucleotídeos antes das de hidrogênio em cada uma das bases (ver Cap. 6, Fig. 6-14).
extremidades 3' encontradas no tRNA maduro. Na verdade, Os padrões de A e C são sobrepostos, mas os de G eU (ou T)
os genes que codificam muitos dos tRNAs bacterianos e qua- são opostos e complementares. De fato, essa complementa-
se todos os tRNAs eucarióticos não possuem esta sequência ridade é responsável pela especificidade do pareamento de
final de três bases. Então, como estes tRNAs adquirem suas bases na hélice de DNA de dupla-fita. Este padrão de liga·
extremidades CCA? A resposta está em uma RNA-polimerase ções de hidrogênio explica a especificidade da enzima por
especializada, chamada enzima de adição de CCA. Como o C e por A .
nome sugere, essa enzima adiciona o CCA terminal aos tRNAs A especificidade pela adição de C versus A é controla·
que inicialmente são desprovidos dessa sequência. Surpreen- da por alterações no sítio ativo à medida que cada base é
dentemente, não há um componente de ácido nucleico nessa ad icionada. Ao contrário de outras polimerases, o molde de
enzima; isto é, as enzimas de adição de CCA adicionam uma tRNA não altera a sua posição à medida que cada nucleo·
sequência específica à extremidade do tRNA sem um molde tídeo é adicionado. Em vez d isso, o tRNA-molde é mantido
de RNA ou de DNA. firmemente no lugar, e cada nucleotídeo adicionado altera a
Como as enzimas de adição de CCA adicionam uma se· estrutura do sítio ativo. O resultado destas alterações é que
quência específica sem um molde? Uma série de estruturas o sítio ativo é específico para C quando um tRNA sem CCA se
tridimensionais dessas enzimas começou a revelar a solução. liga, mas é alterado para ser específico para A após a adição
Primeiro, como outras RNA e DNA-polimerases, as enzimas de dois resíduos de C. Assim q ue o resíduo de A é adicionado,
de adição de CCA possuem apenas um sítio ativo que usa o sítio ativo não está mais disponível para bases adicionais, e
um mecan ismo de catálise com dois íons metálicos seme· o tRNA com sua nova extremidade CCA é liberado.
514 Parte 4 Expressão do Genoma
uridina cadeia polinucleotídica. Por exemplo, a pseud ouridina ('l'U) deriva da uri-
o dina por isomerização, na qual o sítio de ligação da base uracila com a ribose
H' - H é alterado do nitrogênio na posição 1 do anel para o carbono na posição 5
N3 • si (Fig. 15-3). De modo semelhante, a di-hidrouridina (D) deriva da uridina
À 16
O N H
pela redução enzimática da ligação dupla entre os carbonos nas posições 5
e 6. Outras bases incomuns encontradas no tRNA incluem a hipoxantina,
- ,
LIGAÇAO DOS AMINOACIDOS AO tRNA
b
Os tRNAs são carregados pela ligação de um
aminoácido ao nucleotídeo adenosina da extremidade 3',
por meio de uma ligação acila de alta energia
As moléculas de tRNA que possuem um aminoácido covalentemente ligado
são denominadas moléculas de tRNAs carregadas, e diz-se que as moléculas
que não têm aminoácido estão descarregadas. O carregamento requer uma
ligação acila entre o grupo carboxila do aminoácido e o grupo hidroxila 2' ou
3' (ver discussão posterior) do nucleotídeo adenosina que se projeta para fora
da haste aceptora na extremidade 3' do tRNA. Essa ligação acila é considerada
de alta energia porque sua h idrólise provoca grande variação na energia livre.
Isso é significativo para a síntese proteica: a energia liberada quando a ligação c
acila é quebrada está acoplada à formação das ligações peptídicas que unem
os aminoácidos uns aos outros nas cadeias polipeptídicas.
1
R O O o o
I 11 11 11 11
NH 2-c-c- o-p-o + -o- P- o - P- o-
I I 1 I
H o- o- o-
aminoácido OHOH pirofosfato
adenililado
b aminoácido adenililado
OHOH
!
o
11
+ -o - P- o
I
o-
OHOH
por mais de um códon (ver Cap. 16), é natural que uma mesma sintetase re-
conheça mais de um tRNA (conhecidos como tRNAs isoaceptores). Entretan-
to, a mesma tRNA sintetase é responsável pelo carregamento de um mesmo
aminoácido a todos os tRNAs. Portanto, apenas uma tRNA sintetase liga cada
aminoácido a todos os tRNAs apropriados.
A maioria dos organismos possui 20 tRNAs sintetases diferentes, mas
isso não ocorre em todos os casos. Por exemplo, algumas bactérias não pos-
suem uma sintetase para carregar o tRNA da glutamina (tRNAc 1" ) com o
respectivo aminoácido. Em vez disso, uma única espécie de aminoacil-tRNA
sintetase carrega o tRNAGln bem como o tRNAGlu com glutamato. Em uma
etapa posterior, uma segunda enzima converte (por aminação) as moléculas
de glutamato dos tRNAc 1" em glutamina. Isto é, a Glu-tRNAGln é aminada
em Gln-tRNAGln (o prefixo identifica o aminoácido ligado, e o sobrescrito
identifica o tipo de códon que o tRNA reconhece). A presença dessa segunda
enzima dispensa a necessidade da glutamina-tRNA sintetase. Ainda assim,
uma aminoacil-tRNA sintetase nunca pode ligar mais de um tipo de amino-
ácido a um dado tRNA.
haste do
anticódon
anticódon
alça do
anticódon
"
C~2 / CH3
CH
c~ /H 3
CH
Algumas aminoacil-tRNA sintetases usam um sulco de
I I edição para carregar os tRNAs com alta precisão
/ c'"' H / c'"'H Um mecanismo comum para aumentar a fidelidade de uma aminoacil-
H2N COOH H2N COOH
isoleucina valina
·tRNA sintetase é usar um sistema de revisão dos prod utos da reação de
carregamento, semelhante ao q ue se viu no caso das DNA-polimerases
FIGURA 15·9 Características dis· no Capítulo 9. Por exemplo, além de sua fenda catalítica (para adenilila-
t intivas de aminoácidos semelhantes. ção), a isoleucil-tRNA sintetase possui um sulco de edição próximo (uma
Capítulo 15 Tradução 519
fenda profunda na enzima) que permite que ela revise o produto da rea-
ção de adenililação. O AMP-valina (assim como os adenililatos de outros
aminoácidos pequenos, como alanina) cabe nesse sulco de edição, onde é
hidrolisado e liberado como valina livre e AMP. Em contrapartida, o AMP-
-isoleucina é muito grande para entrar no sulco de edição e, portanto, não
é submetido à hidrólise. Consequentemente, a isoleucil-tRNA sintetase é
capaz de discriminar a valina em dois momentos: na ligação inicial e ade-
nililação do aminoácido (discriminando com um fator de cerca de 100) e,
depois, na edição do aminoácido adenililado (discriminando novamente
com um fa tor aproximado de 100), resultando em uma seletividade to-
tal de, aproximadamente, 10.000 vezes (i. e., uma taxa de erro de cerca de
0,01 %).
RIBOSSOMO
O ribossomo é a máquina macromolecular que promove a síntese proteica.
Assim como a tradução de um código de ácidos nucleicos em um código de
aminoácidos apresenta desafios adicionais em relação à transcrição e à repli-
cação, o ribossomo é, também, maior e mais complexo do que a maquinaria
mínima necessária para a síntese do DNA ou do RNA. De fato, polipeptíde-
os únicos podem realizar a síntese de DNA ou RNA (embora a replicação e
a transcrição do DNA sejam mais frequentemente mediadas por complexos
maiores com múltiplas subunidades). Em contrapartida, a maquinaria de po-
520 Parte 4 Expressão do Genoma
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Q u a d r o 1 S• 2 Selenocisteína
Certas proteínas, como as enzimas g lutationa peroxidase e de selenocisteína nos códons UGA requer a presença de um
formato desidrogenase, contêm um aminoácido incomum, a elemento especial de sequência em outra região do mRNA.
selenocisteína, como parte de seu centro catalítico. A seleno- Portanto, a selenocisteína pode ser interpretada como um
cisteína contém o microelemento selênio no lugar do átomo 21° aminoácido, incorporado às proteínas por uma modifica-
de enxofre da cisteína (Fig. 1 deste quad ro). O interessante ção da maquinaria-padrão de tradução da célula.
é que a selenocisteína não é incorporada às proteínas por
modificação química após a t radução (como ocorre com al-
guns outros aminoácidos incomuns, como a hidroxiprolina, COOH COOH
encontrada no colágeno). Em vez disso, ela é gerada enzima- I I
H2N-C- H H2N-C - H
t icamente, a partir da serina carregada em um tRNA especial,
carregado pela serino-tRNA sintetase. Este tRNA alterado é
I I
CH 2 CH2
utilizado pa ra incorporar a selenocisteína diretamente em I I
enzimas como a glutationa peroxidase, no momento da sua SH Se
síntese. Um fator específico de alongamento da t radução cisteína selenocisteína
(semelhante a EF-Tu; ver a seguir) posicionao selenocisteinil-
·tRNA sobre um códon do ribossomo (UGA) que normalmen- QUADRO 1 5·2 FIGURA 1 As estruturas da císteína e
te seria reconhecido como códon de término. A incorporação da selenocísteína.
5'
centrífuga
50S 70S
subunidades ribossomais
rRNA 5,8S
(160
-•S
(""
rRNASS
(120
nucleotídeos) 50S nud eolídeos)
(PM = 1.600.000)
60S
(PM = 2.800.000) ~ rRNA SS ribossomo rRNA23S
1---- co- (120 procaríóti co -+- (2.900
ribossomo nucleotídeos) 70S nud eolídeos)
eucari6tico (PM = 2.500.000)
aos rRNA28S
(PM = 4.200.000)
(4.700 L--- -34 proteínas
nucleotídeos)
c .:=J
nucleotídeos)
ribossomal
mRNA
início término
polipeptídeo
/ crescente '-......
F I GU RA 1 5 ·1 5 Polirribossomo.
524 Parte 4 Expressão do Genoma
H O
1 Curiosamente, a formação da ligação peptídica ocorre sem h idrólise si-
multânea de um nucleosídeo trifosfatado. Isso acontece porque a formação
I 11 R o da ligação peptíd ica é promovid a pela quebra da ligação da acila de alta
···N- c - c I 11
I I ' N-c - c - N- c - R energia que liga a cadeia polipeptídica crescente ao tRNA. Deve-se ter em
H R I I I
H H H = 0 mente que essa ligação foi produzida d urante o carregamento do tRNA, ca-
talisado pela tRNA sintetase. A reação de carregamento envolve a hidrólise
de uma molécula de ATP. Portanto, a energia para a formação da ligação
peptídica origina-se da molécula de ATP h idrolisada durante a reação de
carregamento do tRNA (Fig. 15-6).
c d
saída]) é o sítio de ligação para o tRNA que será liberado após a transferência
da cadeia polipeptídica crescente para o aminoacil-tRNA.
Cada sítio de ligação ao tRNA é formado na interface entre as subunida-
des maior e menor do ribossomo (Fig. 15-19a,b). Desta maneira, os tRNAs
ligados podem conectar o centro da peptidiltransferase na subunidade maior
(Fig. 15-19c) e o centro de decodificação na subunidade menor (Fig. 15-19d).
As extremidades 3' dos tRNAs ligados aos aminoácidos ou à cadeia peptídica
Capítulo 15 Tradução 527
INÍCIO DA TRADUÇÃO
Para que a tradução inicie com sucesso, três eventos devem ocorrer
(Fig. 15-22): o ribossomo deve ser recrutado ao mRNA; um tRNA carregado
deve ser posicionado no sítio P do ribossomo; e o ribossomo deve ser preci-
l samente posicionado sobre o códon de início. O correto posicionamento do
ribossomo sobre o códon de início é fundamental, porque estabelece a fase
de leitura para a tradução do mRNA. Um deslocamento no ribossomo, ainda
que de uma única base, resultaria na síntese de um polipeptídeo completa-
mente diferente (ver discussão sobre o mRNA anteriormente e no Cap. 16).
As diferenças nas estruturas dos mRNAs procarióticos e eucarióticos resultam
em modos bastante distintos para atingir esse objetivo. Inicia-se abordando
os eventos de início nos procariotos e, a seguir, discutem-se as diferenças ob-
servadas nas células eucarióticas.
FI G URA 15·22 Visão geral dos
eventos de início da tradução.
Os mRNAs procarióticos são inicialmente
recrutados para a subunidade menor pelo
pareamento de bases com o rRNA
A montagem do ribossomo sobre o mRNA ocorre em duas etapas. Primeiro, a
subunidade menor associa-se com o mRNA. Como descrito durante a discus-
são sobre a estrutura do mRNA em procariotos (ver Fig. 15-2), a associação da
sitio de ligação rRNA côdon subunidade subunidade menor com o mRNA é mediada por interações de pareamentos
com o ribossomo inicio
305 de bases entre o RBS e o rRNA 165 (Fig. 15-23). Quando os RBSs estão na po-
sição ideal, a subunidade menor posiciona-se sobre o mRNA, de modo que o
códon de início esteja no sítio P quando a subunidade maior associar-se ao
complexo. A subunidade maior só se associa à menor no fim do processo de
início, imediatamente antes da formação da primeira ligação peptídica. Por-
tanto, muitos dos eventos-chave do início da tradução ocorrem na ausência
- do ribossomo completo.
CH3 CH 3
I I
s s
I I
CH2 CH2
I I
H CH2
I I ft I TH 2
H-N-C-COOH H- C -N-C-COOH
I I
H H
metionina N-formil metionina (fMet)
podem ser ligados em qualquer ordem e independentes entre si. Como dis-
cutido anteriormente, a ligação ao mRNA envolve o pareamento de bases
entre o RBS e o rRNA 16S da subunidade menor. Enquanto isso, a ligação
de fMet-tRNAt 1" à subunidade menor é facilitada por suas interações com o
IF2 ligado ao GTP e, quando o mRNA está ligado, pelo pareamento de bases
en tre o an ticódon e o códon de início do mRNA. De maneira semelhante, o
pareamen to de bases en tre a fMet-tRNA,tM•• e o mRNA serve para posicionar o
IF3 códon de início n o sítio P.
A última etapa do início envolve a associação da subunidade maior,
formando o complexo de início 70S. Quando o códon de início e o
fMet-tRNA/M" pareiam suas bases, a subunidade menor sofre uma alteração
conformacional. Essa nova conformação resulta na liberação do IF3. Na
ausência de IF3, a subunidade maior fica livre para ligar-se à subunidade
menor com sua carga de IFl, IF2, mRNA e fMet-tRNA, IM« . Em particular, IF2
atua como sítio de ancoragem inicial para a subunidade maior, e esta intera-
ção estimula subsequentemente a atividade de GTPase de IF2·GTP. Quando
ligado ao GDP, IF2 possui afinidade reduzida pelo ribossomo e pelo tRNA
iniciador, levando à liberação de IF2·GDP, bem como de !Fl, do ribossomo.
Assim, o resultado final do início é a montagem de um ribossomo comple-
to (70S), formado no sítio de início do mRNA, com fMet-tRNA/''" no sítio P
e o sítio A vazio. Agora, o complexo ribossomo-mRNA está preparado para
receber um tRNA carregado no sítio A e começar a síntese polipeptídica.
fMet-tRNA(
Os ribossomos eucarióticos são recrutados
d
para o mRNA pelo cap 5'
Sob muitos aspectos, o início da tradução nos eucariotos é semelhante ao dos
de
início 30S
procariotos. Ambos usam um códon de início e um tRNA iniciador específi-
co e utilizam fatores de início que se complexam à subunidade ribossomal
menor, antes da associação da subunidade maior. No entanto, os eucariotos
empregam um método fundamen talmente distinto de reconh ecimento do
mRNA e do códon de início, o qual tem consequências importantes na tradu-
ção eucariótica.
e Nos eucariotos, quando a subunidade menor é recrutada para a extremi-
dade cap 5' do mRNA, ela já está associada a um tRNA iniciador. Então, ela
"escaneia" o mRNA, na direção 5' ~ 3', até encontrar o primeiro 5 ' -AUG-3'
(ver discussão sobre sequência de Kozak na seção precedente sobre mRNA),
que ela reconhece como códon de início. Portanto, nas células eucarióticas,
na maior parte das vezes, apenas o primeiro AUG pode ser utilizado como
códon de início da tradução (ver Quadro 15-3, uORFs e IRESs: exceções que
f
confirmam a regra) . Esse método de início é compatível com o fato de a
grande maioria dos RNAs eucarióticos serem monocistrônicos e codificarem
apenas um polipeptídeo; geralmente, o reconhecimento de um códon de
início interno não é possível, nem necessário.
de
70S Como visto em outros processos moleculares (como o reconh ecimen to
do promotor durante a transcrição), as células eucarióticas precisam de muito
FIGURA 15-25 Resumo do inicio mais proteínas auxiliares do que as procarióticas para promover o processo de
da tradução em procariotos. início. Os eventos do início podem ser divididos em quatro etapas. Primeiro,
ao contrário do que ocorre nos p rocariotos, nas células eucarióticas, a ligação
do tRNA iniciador à subunidade menor sempre precede sua associação com
o mRNA (Fig. 15-26a). Segundo, um conjunto separado de fatores auxiliares
medeia o reconh ecimento do mRNA. Terceiro, a subunidade ribossomal me-
nor ligada ao tRNA iniciador escaneia o mRNA à procura da primeira sequên-
cia AUG. Fin almente, a subunidade maior do ribossomo é recrutada após o
tRNA parear com o códon de início. Agora esses eventos serão descritos de
maneira detalhada.
Quando o ribossomo eucariótico completa um ciclo de tradução, ele
dissocia-se em suas subunidades maior e menor, e quatro fatores de início -
Capítu lo 15 Tradução 531
a b
cap s·':o---.a
16" ~~~~--ct=-'-
I ;,'~'--
códon de
inicio (AUG)
eiF3 eiF4G ~
eiF4A ~
complexo de
pré-4nfcio 43S
eiFl, eiFlA, eiF3 e eiFS -ligam-se à subunidade menor. juntos, eiFl, eiFlA e
eiFS atuam de maneira análoga aos fatores de início procarióticos IF3 e IFl
para prevenir a ligação da subunidade maior e do tRNA ao sítio A. O tRNA
iniciador é escoltado até a subunidade menor pela proteína de ligação a GTP
de três subunidades, eiF2. Como IF2, o eiF2 se ligará ao tRNA iniciador ape-
nas no estado ligado a GTP. O complexo entre o tRNA iniciador e eiF2 é cha-
mado de complexo ternário (TC). Para os eucariotos, o tRNA iniciador
(o qual, como seu homólogo bacteriano, é diferente do tRNA(Met) utilizado
após o início) é carregado com metionina, e não com N-formil metionina,
e é chamado de Met-tRNA,~.... O eiF2 posiciona o Met-tRNA," .. no sítio P
da subunidade menor ligada ao fator de início, resultando na formação do
complexo de pré-início 43S (PIC 43S). Deve-se ressaltar que o eiF3 é
quase tão grande quanto a subunidade 405 inteira, mas se liga principal-
mente à lateral da subunidade menor, próximo aos sítios de entrada e saída
de RNA. Ainda assim, o eiF3 interage com todos os membros do PIC 435,
incluindo o tRNA iniciador e, assim, facilita muitas interações envolvidas na
montagem do PIC 435.
532 Parte 4 Expressão do Genoma
proteína de
ligação à cauda
-:-:_;.;..ooo;~ poli(A)
cap
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Nem todos os polipeptídeos eucarióticos são codificados pio específico de como as uORFs podem ser utilizadas para
por fases de leit ura que começam com o AUG mais próxi· regula r a tradução.
mo da extremidade 5'. Em alguns casos, o primeiro AUG Um exemplo ainda mais extremo de início da tradução
não está em um contexto de sequência apropriado, sendo em sítios mais a jusante do AUG mais próximo da extremi·
desconsiderado. Em outros casos, ORFs curtas, a montan· dade 5 • é demonstrado por sítios internos de acesso do ri -
te (uORFs [u, do inglês, upstream), geralmente codificando bossomo (IRESs, internai ribosome entry sites). Os IRESs são
peptídeos com menos de dez aminoácidos), são traduzidas, sequências de RNA que atuam como sítios procarióticos de
mas uma parcela (normalmente 50%) das subunidades 40S ligação do ri bossomo. Eles recrutam a subunidade menor
é retida no mRNA após o término da tradução da uORF. para ligação e início mesmo na ausência de cap 5' (Fig. 2 des·
A curta extensão destas uORFs permite interações entre fa · te quadro). Os IRESs são geralmente codificados em mRNAs
tores de início (p. ex., e1F4G e eiF3) que prendem ao mRNA virais desprovidos de uma extremidade cap 5' e que neces·
a subunidade 405, a ser retida após o térm ino (Fig. 1 deste sitam explorar ao máximo as sequências em seu genoma .
quadro). A subu nidade 40S ret ida continua a escanear pelo Ao util izar IRESs, um mRNA vira! pode codificar mais de uma
próximo AUG, mas só consegue identificar um AUG após proteína, diminuindo a necessidade de extensas sequências
ligar-se a um novo complexo ternário (TC; eiF2· t RNA ini· de regulação da transcrição para cada sequência codificadora
ciador) porque o anticódon do tRNA iniciador é necessário de proteína . Ao evitar a necessidade de um ou mais fatores
para detectar um AUG (ver Fig. 1 deste quadro). Em geral, de início, um IRES pod e continuar funcionando na ausência
as uORFs reduzem, mas não eliminam, a tradução da ORF do fator. Esta necessidade distinta pode ser explorada para
primária . Adiante, neste capít ulo, será d iscutido um exem · permitir que apenas um pequeno subconjunto de mRNAs
uORF
s·.:.• , I (I '
I
f
ud a 3'
portadores de IRES seja traduzido em uma célula desprovida lisia do grilo. A 5'-UTR desse mRNA forma uma estrutura de
de um fator de início. Por exemplo, durante a apoptose (ou RNA complexa que mimetiza um tRNA ligado a um mRNA no
morte celular programada), proteases recém -ativadas destro- estado híbrido PE e se liga diretamente ao sítio P da subuni·
em o eiF4E, mas um subconjunto de proteínas necessárias dade 405. Desta maneira, o mRNA evita a necessidade de
para a apoptose continua a ser traduzido devido à presen- fatores de início e de um tRNA iniciador (Fig. 2b deste qua·
ça de sequências de IRES em suas regiões 5' não traduzidas dro). É importante observar que a sequência de RNA a jusan-
(5'-UTRs) que não necessitam de eiF4E. te desta estrutura está posicionada no sítio A do centro de
Di ferentes sequências de IRESs funcionam de modos decodificação, permitindo-a atuar como o primeiro códon.
d iferentes. Pelo menos uma IRES viral liga -se d iretamente A existência de IRESs que não necessitam de fatores de início le·
ao eiF4G, não necessitando da proteína eiF4E de ligação ao vou à hipótese de que, no início da evolução, todos os mRNAs
cap 5' para recrutar eiF4E (Fig. 2a deste quadro). O tipo mais possuíam esses IRESs e que os fatores de início evoluíram pos·
extremo de IRES é exemplificado pelo mRNA do vírus da para- teriormente, tornando a tradução mais eficiente e versátil.
a b
5~
IRES
eiF4G ~ 60S
5~
1 RES A!WiRJG.__ _ _ _ _, L-.,_ 3'
G 7~
eEF1-GTP
complexo de
pré-início 43S
\ em
r eEF 1-GDP
a +o,
I
aminoaciHRNA
eEF2-GTP
5'
QUADRO 15·3 FIGURA 2 Os IRESs não necessitam grilo codifica um mRNA com um IRES elaborado que se dobra
de fatores para o inicio da tradução. Os virus geralmente de maneira semelhante a um tRNA que se liga diretamente
codificam sequências IRESs que se dobram em estruturas de ao sít io P das subunidades ribossomais 405 e 60S. O mRNA
RNA que não requerem um ou mais fatores de início eucarió- a jusante é posicionado no sítio A e codifica uma Ala como
t icos. (a) O IRES do poliovírus evita a necessidade de um cap primeiro aminoácido.
5' ao ligar-se diretamente a eiF4G. (b) O virus da paralisia do
Capítulo 15 Tradução 535
ALONGAMENTO DA TRADUÇÃO
início (AUG)
escaneamento (ADPI + Q
1
. +Qi
eiF2
(!!; . a ~
eiFSB·GTP e iF1 e iFS eiF4B
~+ Qi
ei FSB
()
eiF1A
/ cadetia polipeptídica de hidrogênio com a fenda menor de cada par de bases corretamente formado
entre o anticódon e as duas primeiras bases do códon no sítio A (Fig. 15-31a).
Deve-se ter em mente (ver Cap. 6, Fig. 6-14) que as propriedades das ligações
de hidrogênio dos pares de bases Watson-Crick G:C e A:U são muito seme-
lhantes na fenda menor. Assim, os resíduos de A adjacentes no rRNA 16S não
discriminam entre os pares de bases G:C ou A:U, reconhecendo ambos como
corretos. Os pares de bases que não são do tipo Watson-Crick, ao contrário,
formam uma fenda menor não reconhecida pelas adeninas adjacentes, resul·
tando em redução significativa de afinidade por tRNAs errados. O resultado
final dessas interações é que os tRNAs corretamente pareados dissociam-se
dos ribossomos em uma taxa muito mais baixa do que os tRNAs incorreta-
mente pareados.
Um segundo mecanismo que ajuda a garantir o correto pareamento entre
códon e anticódon envolve a atividade de GTPase de EF-1\t (ver Fig. 15-31b).
Como foi descrito anteriormente, a liberação do EF-1\t do tRNA requer a hi·
drólise do GTP, que é altamente sensível ao pareamento correto entre o códon
e o anticódon. Mesmo um único malpareamento entre as bases do códon e
do anticódon altera a posição de EF-1\t, reduzindo sua capacidade de inte-
ragir com o centro de ligação do fator. Isso, por sua vez, leva a uma redução
drástica na atividade de GTPase de EF-Tu. Esse mecanismo é um exemplo de
seletividade cinética e está relacionado aos mecanismos utilizados para ga-
rantir o correto pareamento de bases durante a síntese de DNA (ver Cap. 9).
Em ambas as situações, a formação das interações corretas de pareamentos de
. . . . .3' bases aumenta muito a velocidade de uma etapa bioquímica importante. No
caso da DNA-polimerase, esta etapa era a formação da ligação fosfodiéster.
Neste caso, é a hidrólise do GTP pelo EF-1\t.
Um terceiro mecanismo que garante a precisão do pareamento é um tipo
de revisão que ocorre após a liberação do EF-Tu. Quando o tRNA carregado,
complexado com EF-Tu e GTP, é introduzido no sí tio A, sua extremidade 3'
está distante do sítio de formação da ligação peptídica. Para uma participação
bem-sucedida na reação da peptidiltransferase, o tRNA deve girar no centro
da peptidiltransferase da subunidade maior, em um processo chamado aco-
m odação (Fig. 15-31c). Durante a acomodação, a extremidade 3' do tRNA
•
aminoacilado percorre quase 70 A. Os tRNAs incorretamente pareados fre-
quentemente se dissociam do ribossomo durante a acomodação. Acredita-se
que a rotação do tRNA produz uma tensão na interação códon-anticódon, à
qual apenas um anticódon corretamente pareado pode resistir. Assim, o mais
FIGURA 15·30 O EF·Tu escolta o provável é que os tRNAs mal-pareados se dissociem do ribossomo em vez de
aminoacil·tRNA até o si tio A do ribos· participar da reação da peptidiltransferase.
somo. Quando interagem com o sítio A Em resumo, para garantir que o aminoacil-tRNA correto se ligue ao sítio
do ribossomo, os tRNAs ca rregados estão A, além das interações entre códon e anticódon, o ribossomo explora intera-
ligados a EF-Tu-GTP. Quando ocorre a in-
ções com a fenda menor e duas fases da revisão de leitura. Cada um destes três
teração códon-anticódon correta, o EF-Tu
interage com o centro de ligação do fator,
mecanismos de seletividade adicionais inibe a retenção dos aminoacil-tRNAs
hidrolisa sua ligação com GTP e é liberado que não formam interações códon-anticódon corretas.
do t RNA e do ribossomo. Após a liberação
de EF-Tu, o tRNA gira no cent ro da pep· O ribossomo é uma ribozima
tidiltra nsferase do ribossomo (processo
chamado acomodação). Após o posicionamento do correto tRNA carregado no sítio A e sua rotação
para o centro da peptidiltransferase, ocorre a formação da ligação peptídica.
Esta reação é catalisada pelo RNA, especificamente, pelo rRNA 23S que com-
põe a subunidade maior. As primeiras evidências surgiram a partir de experi·
mentos que demonstraram que uma subunidade maior praticamente livre de
proteínas ainda era capaz de catalisar a formação de ligações peptídicas. Cor-
roborando esta visão, estudos estruturais da subunidade maior do ribossomo
•
de uma espécie procariótica mostraram que não havia aminoácido a 18 A do
sítio ativo (Fig. 15-32).
Capítulo 15 Tradução 539
a b pareamento correto
5' 3'
5'.-• EF-Tu-GOP
. . . .3.
hidrólise de GTP e I
liberação do EF-Tu
O +o,
pareamento
incorreto
5' 3'
. . . .3'
c
pareamento incorreto
não hã contato
oom o centro de
~;;:.-:Cro--..../ ligação do fator
acomodação
liberação do
r
EF-Tu•tRNA sem
hidrólise de GTP
pareamento pareamento
correto incorreto
cadeia polipeptídica
H O H O
I 11 H H H 1 11 RO HH
··· N - C- C I I I --- N- c- c, I 11 I I
I I ' N ~- N---C-R I I N - C- C- N-C-R
H R I H R I I I
C= O H H C=O
g g
\ \
H, C O Ade H 2C
g O Adc H,C O Ade
I I I
o o o
I I I
c - c c-
FIGURA 1 5·33 Papel proposto para a 2 ' -0H do tRNA do sítio P na formação da
ligação pepti dica. A 2' -OH do"/\' final no peptidil-tRNA é essencial para a formação da liga-
ção peptídica. Com base neste achado, propôs-se que o hidrogênio da 2' -OH participa de um
" tra nsportador de prótons" , aqui ilustrado. Neste modelo, quando a ligação entre o peptidil-
·tRNA e a cadeia polipeptídica é rom pida, o oxigênio 3' extrai um hidrogênio (destaque em
amarelo) da 2'-0H, e o oxigênio 2', por sua vez, extrai um hid rogênio (destaque em verde) do
aminoácido que ataca a carbonila. As setas em vermelho mostram a direção proposta pa ra o
movimento dos elétrons durante a form ação da ligação peptídica.
uma redução de 106 vezes nas taxas de catálise. Esta "catálise auxiliada
pelo substrato" é um achado particularmente interessante porque indica
que as próprias peptidil-tRNAs carregam elementos ca talíticos essenciais.
Esse achado sugere que, antes da evolução do ribossomo, os tRNAs devem
ter fornecido elementos b ásicos que os permitissem catalisar a síntese de
proteínas por si.
Com base em várias considerações, propôs-se que a 2 ' -OH do tRNA do
sítio P deve atuar como parte de um "transportador de prótons" (Fig. 15-33).
Neste modelo, a 2'-01-1 doa um hidrogênio para a 3'-01-1 do peptidil-tRNA
e recebe um próton do grupo a-amino do aminoácido ligado ao tRNA do
sítio A. Ambos os ach ados corroboram fortemente a hipótese de que é o RNA,
e não a proteína, que catalisa a formação da ligação peptídica. Ainda assim,
h á muito para aprender em relação a como o ribossomo catalisa a formação
da ligação peptídica.
centro de
·- ligação
do fator
rotação da
subunidade
menor
. . . .3'
EF-Tu-GDP. [GDP) ligação peptídica custa à célula duas moléculas de GTP e uma de ATP, com um
"' nucleosídeo trifosfato sendo consumido para cada etapa do processo de alon-
gamento da tradução. O interessante é que apenas uma dessas três molécu-
las (o ATP) está energeticamente conectada à formação da ligação peptídica.
A energia das outras duas moléculas (GTP) é empregada para garantir a preci-
são e a ordem dos even tos durante a tradução (ver Quadro 15-4, Proteín as de
ligação ao GTP, alterações conformacion ais e fidelidade e ordenamento dos
even tos de tradução) .
Durante a discussão sobre o alongamento da tradução, não se fez distin-
ção entre procariotos e eucariotos. Embora os fatores eucarióticos an álogos a
EF-Tu (eEFl) e EF-G (eEF2) recebam nomes diferen tes, suas fun ções são nota-
velmente semelh antes às de seus h omólogos procarióticos.
TÉRMINO DA TRADUÇÃO
aminoacil-tRNA
Os fatores de liberação encerram a tradução
em resposta a códons de término
O ciclo ribossomal de ligação ao aminoacil-tRNA, formação de ligação pep-
tídica e translocação continua até que um dos três códons de término (ou de
parada) entre no sítio A. Inicialmente, acreditava-se que haveria um ou mais
tRNAs terminadores de cadeia que iriam reconh ecer esses códon s. Entretanto,
FI G URA 1 5-36 O EF-Ts estimula a não é isso que ocorre: os códons de término são reconhecidos por proteínas
liberação de GDP de EF-Tu. O GDP ligado ch amadas fatores de liberação (RFs, release factors) que ativam a hidrólise
ao EF-Tu é liberado vagarosamente em iso- do polipeptídeo do peptidil-tRNA.
lamento. O EF-Ts liga-se a EF-Tu-GDP e pro-
Existem duas classes de fatores de liberação. Fatores de liberação de
voca a rápida liberação de GOP. A ligação
de GTP ao EF-Tu no complexo EF-Tu-EF-Ts
classe I reconhecem os códons de término e desencadeiam a hidrólise da ca-
desloca o EF-Ts e deixa o EF-Tu- GTP, que deia peptídica do tRNA no sítio P. Os procariotos possuem dois fatores de
pode liga r-se a um novo aminoacil-tRNA liberação de classe I, ch amados RFl e RF2. RFl reconhece o códon de término
para ser entregue ao ribossomo. UAG, e RF2 reconhece o códon de término UGA. O terceiro códon de térmi-
no, UAA, é reconhecido por ambos. Em células eucarióticas, há um único
fator de liberação de classe I, chamado eRFl , que reconhece os três códons
de término. Os fatores de liberação de classe li estimulam a dissociação dos
fatores de classe I do ribossomo, após a liberação da cadeia polipeptídica. Os
procariotos e os eucariotos possuem apenas um fator de classe li, chamados,
respectivamen te, RF3 e eRF3. Assim como EF-G, IF2 e EF-Tu, os fatores de libe-
ração de classe li são regulados pela ligação e pela hidrólise de GTP.
30$
c
546 Parte 4 Expressão do Genoma
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Q u a d r o 1 S•4 Proteínas de ligação ao GTP. alterações conformacionais e fidelidade e ordenamento dos eventos
de tradução
O GTP é utilizado para controlar eventos-chave durante toda drólise de GTP. Quando ligado a GDP, o EF-Tu é liberado do
a t radução. A energia da hidrólise de GTP não está vinculada aminoacil-tRNA, permitindo que ocorra a formação da liga-
a modificações químicas, como a do ATP. vinculada à ligação ção peptídica.
entre aminoácidos e tRNAs. A energia da hidrólise do GTP é O mecanismo que ativa a hidrólise de GTP é o mesmo
utilizada para controlar a ordem e a fidelidade dos eventos para qualquer uma das proteínas auxilia res reguladas por
durante a t radução. Como isso é realizado? GTP. Em qualquer caso, a atividade de GTPase é estimula-
Uma característ ica essencial das proteínas de ligação ao da pela interação com um região específica da subunidade
GTP envolvidas na tradução é a alteração da sua conforma- maior, chamada centro de ligação d o fator. Essa interação
ção, dependendo do nucleotideo de guanina (GDP vs. GTP) não tem afinidade suficiente para ocorrer isoladamente. Em
ao qual elas estão ligadas. Em relação ao EF-Tu, isso pode ser vez disso, cada fator de tradução controlado por GTP neces-
observado na Figura 1 deste quadro, que mostra a estrutura sita realizar várias outras interações com o ribossomo para
t ridimensional do EF-Tu ligado a GTP ou a GDP. O EF-Tu so- estabilizar a associação precisa com o centro de ligação do
fre uma grande alteração conformacional quando se liga ao fator, que leva à ativação da GTPase. Na verdade, como se
GTP, o que resulta na formação do sítio de ligação ao tRNA. viu para EF-Tu, esta interação é altamente sensível à nature-
Um domínio do EF-Tu (apresentado em cor-de-rosa na Fig. 1 za exata das interações entre o EF-Tu, o aminoacil -tRNA, o
deste quadro), em particular, sofre alteração de posição em mRNA e o ribossomo. Portanto, a interação com o centro de
relação aos demais domínios da proteína, dependendo do ligação do fator controla todas as outras interações dessas
nucleotideo ligado. Essa mudança de posição do domínio, proteínas e dos RNAs com o ribossomo.O sítio de ligação a
bem como alterações de conformação em outros dois domí· GTP do EF-Tu interage de maneira produtiva com o centro
nios (apresentados em azul-turquesa e azul-escuro), resulta de ligação do fator apenas quando um pareamento códon-
na formação de uma nova superfície no EF-Tu, que se liga ·anticódon correto é realizado, levando à hidrólise de GTP e
fortemente aos tRNAs carregados (na Fig. 15·3 5, pode-se ver às alterações associadas na conformação proteica.
o EF-Tu ligado a um tRNA). Assim, dependendo da forma do O uso de GTP durante a tradução é análogo ao uso de
nucleotídeo de guanina ligado, esses fatores podem realizar ATP pelos carregadores de grampo deslizante (ver Cap. 9,
funções diferentes ou ligar-se a diferentes proteínas e RNAs. Quadro 9-3). Naquele caso, a ligação com o ATP era necessá-
Por exemplo, o EF-Tu- GTP é capaz de ligar-se a um aminoa- ria para a formação do complexo inicial com o grampo des-
cil-tRNA, mas o EF-Tu-GDP não. lizante, mas a hidrólise do ATP e a liberação do grampo só
A associação da hidrólise de GTP com o término dos podiam ocorrer quando o carregador do grampo envolvia a
eventos centrais da tradução permite que a ordem desses junção iniciador: molde. Na t radução, o GTP é necessário para
eventos seja estritamente controlada. Para o EF-Tu, a asso- a associação in icial com o ribossomo (e, às vezes, com outros
ciação GTP dependente do EF-Tu com os aminoacil-tRNAs RNAs e proteínas) e a hidrólise do GTP só ocorre quando o
assegura que a formação da ligação peptid ica não ocor- fator t iver interagido corretamente com o ribossomo. Como
ra antes do pareamento correto entre códon e anticódon . no caso do grampo deslizante, a hidrólise de GTP geralmente
A formação dos pares de bases corretos desencadeia a hi- resulta na liberação do fator do ribossomo.
QUADRO 1 5 · 4 FIGURA 1 Comparação do EF·Tu liga- à formação de um forte sítio de ligação ao tRNA quando GTP
do a GDP e GTP. (a) EF-Tu ligado a GDP. (b) EF-Tu ligado a GTP. está ligado (ver Fig. 15-35). O GTP está representado por bas-
O domínio de ligação ao GTP é mostrado em azul-turquesa. tões. (a, Polekhina G. et ai. 1996. Structure 4: 1141-11 51; b,
A rotação do domínio em cor-de-rosa e as alterações na es- Kjeldgard M. et ai. 1993. Structure 1: 35-50.) Imagens prepa-
trutura dos domínios em azul-turquesa e azul-escuro levam radas com MoiScript, BobScript e Raster3D.
Capítu lo 15 Tradução 547
hidrólisc do pcptidoo
rW
RF-3-GDP
FIGURA 1 5 · 38 Comparação entre as estrutu ras de RF1 e de um tRNA. O tRNA
(vermelho-escu ro) e o RF1 (cinza) são mostrados ocupando o mesmo espaço. (Redesenhada,
com permissão, de Petryeta l. 2005. Ce/1 123: 1255-1266, Fig. 3E. © Elsevier.)
IF3 l.----....._
" mRNA
liialiiíi_ _ _._._3. FIGURA 15-40 RRF e EF-G associam-se para estimular a li beração
do tRNA e do mRNA de um ribossomo após o término do pro cesso.
Capítu lo 15 Tradução 549
REGULAÇÃO DA TRADUÇÃO
Embora a expressão de muitos genes seja regulada em nível de transcrição do
mRNA, está se tornando cada vaz mais claro que vários genes são também re-
gulados em nível de síntese proteica. Uma vantagem do controle da tradução
sobre a transcrição é a capacidade de responder rapidamente a um estímulo
externo. A regulação em nível de síntese proteica elimina o tempo necessário
para alterar os níveis de transcrição de mRNA (e em eucariotos, também o
processamento e o transporte do mRNA para o citoplasma), permitindo, as-
sim, uma alteração mais rápida nos níveis proteicos. Assim como em outros
tipos de regulação, o controle traducional normalmente funciona em nível de
início. Em geral, é mais eficiente regular uma via em uma etapa inicial do que
iniciar um processo e depois interrompê-lo. No caso da tradução, a regulação
em nível de início também elimina a produção de proteínas incompletas que
poderiam ter sua função alterada.
Nesta seção, primeiramente serão descritos os mecanismos gerais utiliza-
dos em bactérias e células eucarióticas para regular a tradução. Depois, serão
descritos exemplos específicos nos quais este tipo de regulação é utilizada.
sítio de i gação
..,_-ao fator
3'
eRF3
~
fr...J +O,
mRNA
iiiiiiií...............3' FIGURA 15-41 Término da tradução em euca-
riotos e reciclagem do ribossomo.
Capítu lo 15 Tradução 551
a b
antes da tradução da ORF1
I \ proteína de
ligação ao RNA
I
c _:;
F I GURA 15· 42 Regulação do início da tradução bacteriana pela inibição da liga·
ção à subunidade 305. (a) A ligação de proteínas a sítios próximos ao RBS previne o acesso
do rRNA 165 ao RBS. Neste caso, a proteína codificada pelo mRNA se liga a seu próprio RBS.
(b) O parea mento de bases intramoleculares do mRNA pode interferir no pareamento de bases
pelo rRNA 165. Em muitos casos, esta inibição é modulada pela t radução de outros genes no
mesmo óperon. Se a região do mRNA que está pa reando com a região proximal do RBS estiver
dent ro de uma ORF, quando esta ORF for t raduzida, o pareamento de bases interferente será
rompido, permitindo que um segundo ribossomo reconheça o RBS previamente bloqueado.
~ CONEXÕES CLINICAS
Os antibióticos são um instrumento eficaz de combate a subunidade maior. Uma vez ligada, ela pode substituir um
doenças. Muitos dos antibióticos mais utilizados em medi- aminoacil-tRNA na reação da peptidiltransferase (Fig. 1 deste
cina matam as bactérias, mas têm pouco ou nenhum efeito quadro). Como a puromicina é muito pequena em compara-
sobre células eucarióticas e, portanto, não são tóxicos para o ção a um tRNA, sua ligação ao sítio A é insuficiente para reter
paciente. Desde a sua descoberta, na primeira metade do úl- a cadeia polipeptidica no ribossomo. Com isso, as cadeias
t imo século, os antibióticos aj udaram a curar infecções antes peptídicas transferidas para a puromicina dissociam-se do
sem tratamento, como tuberculose, pneumonia bacteriana, ribossomo como um polipeptídeo incompleto ligado à pu-
sífilis e gonorreia (embora o surgimento de bactérias resis- romicina. Em outras palavras, a puromicina causa o término
tentes a antibióticos esteja se tornando um obstáculo cres- prematuro da síntese polipeptídica. Outros antibióticos têm
cente ao tratamento efetivo). Os antibióticos possuem mui- outros alvos no ribossomo, como o canal de saida do pepti-
tos t ipos diferentes de alvos na célula bacteriana, mas -40% deo, o centro da peptidiltransferase, o centro de ligação do
dos antibióticos conhecidos são inibidores da maquinaria de fator, o centro de decodificação e regiões essenciais para a
t radução (Tab. 1 deste q uadro). Em geral, esses antibióticos translocação (Tab. 1 deste quadro).
ligam-se a um componente do aparato de tradução e inibem Existem, também, outros antibióticos que inibem os
seu funcionamento. Os antibióticos tornaram-se ferramentas fatores de tradução. A quirromicina e o ácido fusidico, por
importantes para estudos do mecanismo da síntese proteica exemplo, são inibidores dos fatores de alongamento EF-Tu e
porq ue d iferentes antibióticos interrompem a tradução em EF-G, respectivamente. Em ambos os casos, o antibiótico inte-
etapas diferentes e o fazem de modo preciso (p. ex., imedia- rage com a forma do fator ligada ao GTP e impede as altera-
tamente antes da liberação do EF-Tu). Portanto, além de seus ções conformacionais que normalmente ocorreriam após a hi-
beneficios médicos óbvios, os antibióti cos passaram a ter o drólise do GTP. Assim, a quirromicina bloqueia os ribossomos
importante papel de auxiliar na compreensão do funciona- por meio da ligação entre EF-Tu·GDP-aminoacil-tRNA. O ácido
mento da maquinaria de tradução. fusídico também sequestra ribossomos por meio da ligação
A puromicina é um antibiótico comumente empregado com EF-G·GDP. Nos dois casos, a etapa seguinte da tradução é
em estudos da tradução. Ela liga·se à região do sítio A da impedida pela não liberação do fator de alongamento.
Quadro 15 · 5 (Continuação)
peptidii·IRNA peptidil-puromicina
no sitio P
QUADRO 1 5 · 5 FIGURA 1 A puromicina encerra da ligação peptidica. Uma vez conclu ída, a pu romicina e
a tradução pela mimetiza ção de um tRNA no sit io A. qualquer polipeptideo associado d ifundem-se pa ra fora do
A puromicina liga-se ao sitio A e pa rt icipa da formação ribossomo.
L11 L1
óperon L 11
promotor
L10 L7112 W
óperon ~
L6 L18 85
_;.; ,___;L;.;_
3_;_
0 .;;
L_;,;
1 5~---....
óperon spc
813 8 11 S4 a L17
óperon a ll::l)::JCCCC==:rcccc~)
FIGURA 15-43 Óperons de proteínas ríbossomaís de E. co/i. A proteína que atua
como repressor t raducional das outras proteínas está sombreada em vermelho. O promotor
está representado em roxo, e cada ORF está marcada de acordo com a proteína ribossomal co-
dificada (p. ex., L14 é a proteína ribossomal maior 14). (Adaptada, com perm issão, de Nomura
M . et ai. 1984. Annu. Rev. Biochem. 53: 75-117. © Annual Reviews.)
que, em alguns casos, possuem seus próprios RBSs? Estes efeitos "polares"
podem ocorrer por vários mecanismos. Conforme se discutiu anteriormen-
te neste capítulo, o acoplamento traducional pode ocorrer quando o códon
de término de um gene a montante está localizado muito perto do códon
de início de um gene a jusante. Essa proximidade pode criar uma situação
na qual a tradução do gene a montante é necessária para que ocorra a tra-
duç.ã o do gene a justante. Um segundo mecanismo explora o dobramento
dos mRNAs em determinadas estruturas. Os mRNAs do óperon das proteí-
nas ribossomais geralmente se dobram em estruturas que permitem apenas
o reconhedmento de RBSs internos se os genes iniciais do mRNA estiverem
sendo traduzidos. Por exemplo, suponha que uma porção da região codifi-
cadora do primeiro gene do mRNA pareie com um sítio próximo ao RBS do
segundo gene. Sob essas circunstâncias, o rRNA 165 poderia reconhecer o
RBS apenas depois que o pareamento inibidor fosse rompido por um ribas-
somo que estivesse traduzindo a primeira região codificadora (Fig. 15-42b).
Como a expressão das proteínas ribossomais se acopla à quantidade de
rRNA da célula? Em ambos os casos, a proteína ribossomal reguladora que se
liga ao mRNA também reconhece um sítio de ligação muito forte no rRNA
apropriado (Fig. 15-44). Se esse sítio de ligação estiver desocupado, a pro-
teína ribossomal se ligará, preferencialmente, a ele. Por outro lado, se todos
estes sítios de ligação em rRNA estiverem ocupados, a proteína reguladora se
ligará ao segundo sítio de ligação, com afinidade mais baixa, em seu próprio
mRNA. Assim, a proteína ribossomal se ligará a seu próprio mRNA apenas
quando estiver presente em excesso em relação a seu rRNA-alvo. Este evento
de ligação competitiva simples assegura que a síntese de proteína ribosso-
mal seja inibida apenas quando a proteína ribossomal reguladora estiver em
excesso.
Não surpreende que, em várias ocasiões, os dois sítios de ligação para a
proteína reguladora ribossomal estejam relacionados um ao outro. No caso da
proteína ribossomal SS, os dois sítios de ligação compartilham semelhanças
Capítulo 15 Tradução 555
a na presença de b na ausência de
rRNA iivre rRNA livre
mRNA
RBS l
proteína ,. proteína proteína proteína
ribossomal 1 ~ ribossomal 2 ribossomal 1 ribossomal 2
na ausência de rRNA para
as proteínas 1 e 2 se se ligar, a proteína 2 se liga
ligam a sítios de alta ao sítio de ligação de baixa
afinidade no rRNA afinidade sobreposto ao
sítio de início da tradução
da proteína 1
a ORF da proteína 1
as proteínas 1 e 2
c )
a proteína 2 impede
pareia com o sítio de
início da tradução da
proteína 2
erel ento de
Oskar é t ransportado da região anterio r
resposta a Bruno
para a posterior do oócito de Drosophila,
é importante que ele não seja traduzido. cup ~ domínio
A inibição da t radução de Oska r é me- 4E·BP
diada por duas proteínas. A proteína de
ligação ao RNA. Bruno, liga-se a múltiplas
"
sequências na região 3' -UTR do mRNA de
Oskar, chamadas elementos de resposta a
Bru no (BREs, Bruno response elements). o dom ínio 4E-BP de
Bruno, então, recruta a proteína 4E-BP cup se liga a eiF4E
Cup para o mRNA. Quando localizada no
mRNA. Cup sobrepõe-se a eiF4G pela li-
gação a eiF4E, inibindo a tradução deste
mRNA.
FI GURA 15· 48 Regulação da tradução da Ferritina por ferro. A região 5'-UTR dos
genes de ferritina inclui uma estrutura em haste-alça chamada de elemento regulador de ferro
(IRE, iron regulatory element). A proteína regulado ra de ferro (IRP. iron regulatory protein) se
liga fortemente a este sítio quando não está ligada a Fe' · . Ao estabilizar a estrutura de haste·
-alça de IRE, IRP impede que eiF4A remova esta estrutura da extremidade do mRNA da ferriti-
na. Sob estas condições, a associação do complexo de pré-início 435 com o mRNA não pode
ocorrer e os genes da ferritina não são traduzidos. Qua ndo os níveis de ferro estão elevados e a
proteína Ferritina é necessá ria . IRPse liga ao Fe' · . o que inibe sua habilidade de se ligar a IRE e,
portanto, permite a tradução da proteína Ferritina.
..
e1F2
11m ~
\_)
rápida
.,> ..
tRNAMet
uORF1 uORF4 GCN4
(traduzida)
rápida
religação
de TC
altos
níveis
dissociação
do ribossomo
___./
uORF4 GCN4
b em condições de privação de aminoácidos
i f -e1F2
subunidade 60S
!
Jl
Gcn2
c;m ~
\lenta) lenta
religação
deTC
tRNA""
uORF1 uORF4 GCN4
(traduzida)
baixos
níveis
~ TÉCNICAS
Existem várias maneiras para medir o nível de expressão cuias 80S (ribossomo mais mRNA protegido) são isoladas e
gênica de uma célula. Muitos ensaios têm como enfoque a desnaturadas, e os RNAs de 28 bases associadas são isolados
determinação da quantidade do produto primário da expres· por purificação em gel. Após a conversão em DNA de dupla·
são gênica, o RNA. Por outro lado, a existência de um mRNA -fita, os RNAs são submetidos a sequenciamento. Analisan·
em uma célula não significa que a proteína cod ificada pelo
mRNA esteja sendo expressa . Para determinar se uma pro-
teína está realmente sendo sintetizada em uma célula, deve·
-se medir a tradução deste mRNA.
Estudos iniciais para determinar a extensão da t radução
de um mRNA focavam na associação do mRNA com os polis·
mRNA
somos. Nesses estudos, os pesqu isadores adicionavam o fár·
maco ciclo-hexim ida às células para interromper a tradução
no estágio de translocação. As células tratadas eram, então,
rompidas, e o extrato celular resultante separado por centri-
fugação em um gradiente de sacarose (Fig. 1 deste quadro) . . .••
•
•
•
•
•
••
•
••
•
Devido ao grande tamanho do ribossomo, os mRNAs asso- • • • •
• • •
• •• •
•
ciados a ele migram muito mais rapidamente durante a cen· •• • •
••
trifugação em relação ao mRNA livre. Além d isso, os mRNAs
que fazem parte de um polissomo migram ainda mais rápido.
•• •
•
.
•• •• •
•
•
•• •• •
A medida da proteína total por meio do gradiente revela vá-
rios picos correspondentes ao mRNA associado a números
.. •• •••
•
•
•
•
• •• • •
• • •• • •
crescentes de ribossomos (i.e., em polisse mos) . A med ida da
presença de mRNA nestas frações (p. ex., por Northern blot
:;:
éj
80S
~
•.
•
•
. • •
• ••
• •
•••
• •
o 60S
ou RT-PCR) revela se o mRNA está sendo traduzido.
~
Mais recentemente, este ensaio foi adaptado para tirar
vantagem das novas tecnologias de sequenciamento e obter
uma medida global dos mRNAs que estão sendo traduzidos
em uma população celular. Cha mado d e perfil ribossomal, polissomos
assim como no ensaio de perfil de pol issomo, este ensaio frações do gradiente de sacarose
começa com o tratamento da população celular com ciclo-
· heximida e a obtenção de um extrato celular. A próxima eta· QUADRO 15·6 FIGURA 1 Perfil do polissomo. mRNAs
pa d o ensaio t ira vantagem do achado de que um ribossomo com diferentes números de ribossomos associados (polisse·
em alongamento protege o trecho de -28 bases do mRNA mos) podem ser separados do mRNA livre e de ribossomos
que está no centro de decodificação contra a digestão por e subunidades ribossomais, pela centrifugação em gradiente
RNase I (Fig. 2a deste quadro). Assim, antes da centrifuga· de sacarose. A presença de um mRNA na fração polissomal
ção no gradiente de sacarose, o extrato celular é t ratado com indica que o mRNA está sendo ativamente traduzido.
RNase I. Após a centrifugação, as frações contendo as parti· (continua)
562 Parte 4 Expressão do Genoma
Quadro 1 5 • 6 (Continuação)
do as sequências de DNA resultantes, pode-se determinar duas populações celulares, pode-se identificar as alterações
prontamente não apenas os mRNAs que estavam sendo ati· nas proteínas que são produzidas nas duas populações ce·
vamente traduzidos no momento do tratamento com ciclo· lulares (p. ex., crescimento em níveis altos ou baixos de ami·
· heximida, mas também exatamente onde cada ribossomo noácidos) (Fig. 2b deste quadro). Além d isso , devido à sua
estava localizado. De fato, o método é preciso o suficiente precisão, este método pode revelar também atributos da
para determinar quais códons estavam nos sítios A e P. tradução. Por exemplo, esta técnica foi utilizada para deter·
Esta abordagem tornou-se rapidamente um método minar que muitos dos sítios de pausa traducional em E. co/i
importante para analisar a expressão gênica. Ao comparar ocorrem devido à presença de uma sequência semelhante ao
os números das leituras de sequências de cada gene entre R8S nas ORFs.
a
bb polissomos QUADRO 15· 6 FI GURA 2 Perfil do ribossomo. (a) Po·
lissomos tratados com RNase I são separados em um gradien·
bb o. b te de sacarose para isolar monorribossomos (partículas 805).
Estes ribossomos possuem apenas 28 nucleotideos de mRNA
1
Qb bQ
por gradiente de sacarose revelar os sítios de contato com ribossomos, representando
os sítios de tradução. Quanto maior o número de sequên·
cias isoladas de uma determinada região, mais ativamente
ela está sendo traduzida . (b) Dados representativos do perfil
bbbbb ribossomal do gene GCN4 de S. cerevisiae sob condições de
crescimento em meio rico e com escassez de aminoácidos.
1
isolamento de RNAs com 28 nucleotídeos
O gráfico é um histograma de um número normalizado de
vezes em que uma determinada sequência estava presente
----
sob cada uma das condições (leituras por milhão de bases,
ou rpM). Observam-se as diferentes taxas de tradução das
mapeamento de sequências
em posições genômicas
uORFs
b
-'y"-.:
UUUUUG AAAAUA
I
1 2
I
3 4
11 -~
·~
o- sítios
80
60
I
:?::o A do
-'O 40
"l(l c:- ribossomo 20
-E (rpM]
""'
~ 0 . . . .. ... - ... .. . -...
"'
o
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(.)
60
sítios 40
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1 ' . ·-· ... ........!.
'O C:
o c.
'r!- 140360 140124 139939 139763
140194 140056
"'a.
,;,
~
chr v
Capítulo 15 Tradução 563
ribossomo estagnado
mRNA com extremidade 3'
rompida
reconhecimento por
RNASsrA
s·. -
~o EF-Tu-SsrA tmRNA
transpeptidação
5' _ .
translocação e
substituição do mRNA
translocação
continuada da fase
de leitura do mRNA
~X~ c etiqueta
"' peptídica
~ CONEXÕES CLINICAS
Quadro 1 5 · 7 Um fármaco de primeira linha no tratamento da tuberculose tem como alvo a etiqueta SsrA
Uma das maiores pragas da humanidade, a tuberculose, data o inicio da t radução. Mas a RpsA também está envolvida na
da antiguidade, com evidências da doença sendo observa- etiquetagem de SsrA. O RNA de SsrA é entregue ao ribosso-
das em múmias egípcias. Seus graves sintomas incluem tos- mo estagnado em um complexo com uma proteína de liga-
se crônica, sangue no escarro e perda de peso (daí o termo ção ao SsrA (Smp8) e, curiosamente, com RpsA (bem como
antigo "tísico", para denominar o doente) . O patógeno que com EF-Tu- GTP). Shi e colegas descobriram que mutantes
causa a tuberculose é a bactéria Mycobacterium tuberculosis. que exibem resistência ao fármaco possuem RpsA alterada.
Acredita-se que um terço da população mundial esteja infec- Eles também observaram que o ácido pirazinoico bloqueia
tada com M. tuberculosis, mas na maioria destes indivíduos, a ligação do RNA de SsrA à RpsA selvagem, mas não à RpsA
a bactéria permanece em estado latente, e os indivíduos são mutante resistente ao ácido pirazinoico. Finalmente, e mais
saudáveis. Cerca de 10% dos indivíduos infectados desen- importante, eles viram que o fármaco inibe a etiquetagem
volvem a doença ao longo da vida, resultando em cerca de com SsrA em um ensaio de síntese proteica in vitro, com um
8 milhões de pessoas com tuberculose e quase 1,5 milhão de mRNA modificado que necessita da função de SsrA. Como
mortes anuais. Indivíduos com sindrome da imunodeficiência controle, o ácido pirazinoico teve pouco efeito sobre a sínte·
adquirida (Aids) e outras imunodeficiências apresentam risco se proteica com um molde de mRNA normal, mostrando que
particularmente alto para tuberculose. ele não estava inibindo a função normal de RpsA.
A tuberculose é tratada com uma combinação de quatro A história da pirazinamida realça as crescentes conexões
fármacos de primeira linha: rifampicina, isoniazida, etambu- entre a biologia qui mica e a biologia molecular na medicina
tol e pirazinamida . O modo de ação de três destes fármacos moderna. Novos fármacos importantes são descobertos, às
é bem conhecido. A rifampicina é um inibidor das RNA-poli- vezes, pela triagem de bibliotecas de pequenas moléculas em
merases bacterianas (Cap. 18), e a isoniazida e o etambutol busca de atividades contra proteínas envolvidas em proces-
inibem a síntese de diferentes componentes do envelope ce- sos celulares importantes nas doenças. Por outro lado, fár·
lular de M. tuberculosis. O mecanismo de ação da pirazina- macos descobertos simplesmente com base em seus efeitos
mida, no entanto, permaneceu um mistério desde que seus terapêuticos podem levar a alvos não reconhecidos previa-
efeitos terapêuticos foram descobertos, há mais de meio sé- mente que controlam o funcionamento da célula. Por f im,
culo. A pirazinamida é um profármaco convertido no agente saber hoje que a pirazinamida exerce seu efeito terapêutico
ativo ácido pirazinoico por uma desaminase (pirazinamidase) pela ligação ao RpsA abre portas para a descoberta de novas
(Fig. 1 deste quadro) ao entrar na célula bacteriana. Recente- classes de compostos contra a M. tuberculosis que possuem
mente, uma equipe de cientistas dos Estados Unidos, da Chi· como alvo a etiquetagem por SsrA.
na e da Corei a do Sul identificou SsrA (ver texto e Fig. 15-50)
como alvo do ácido pirazinoico.
Shi e colaboradores (2001) enfrentaram o problema de
como o ácido pirazinoico atua, imobilizando-o em uma colu-
na e realizando cromatografia de afinidade para identificar
proteínas de M. tuberculosis que se ligam ao fármaco. Uma
das proteínas identificadas foi a maior proteína da subuni-
dade menor do ribossomo, a proteína ribossomal 51 ou pirazinamida ácido pirazinoico
RpsA. A RpsA exerce um papel essencial na t radução, ligan-
do-se ao mRNA a montante da sequência de Shine-Dalga rno QUADRO 15·7 FIGURA 1 Conversão da pirazinamida
e ajudando a ancorar o mRNA à subunidade menor durante em ácido pirazinoico.
0
maturos são alvos de degradação.
(a) A tradução de um mRNA norma l des-
loca todos os complexos de junção de cap 5'(l(l•IIÍI•-
*=-~----~--ÍI::I-AAAAAA
...__Jf ...__Jf
3'
éxons. (b) Decaimento mediado por non-
sense. A tradução de um mRNA com um
códon de término prematu ro não desloca
um ou mais dos complexos de junção de
éxons. Isso resulta no recrutamento das
proteínas Upf1, Upf2 e Upf3 para o ri-
bossomo. Uma vez ligadas ao ribossomo.
l tradução
do mRNA
cap
códon de término
prematuro
enzima de
desadenilação
·-'G a fj...
-.
.' endonuclease s·- 3' Xm1
degrada RNA sem cap
•
à medida que o mRNA ingressa no centro de decodificação do ribossomo.
Entretanto, se houver um códon de término prematuro presente no mRNA
(devido a uma mutação gênica ou a erros de transcrição ou de processamen-
to), o ribossomo é liberado antes da remoção de todos os complexos de jun-
ção de éxons. Sob estas condições, os complexos de junção de éxons e o eRF3
que está ligado ao ribossomo de término prematuro recrutam um conjunto
de proteínas para o ribossomo. Essas proteínas recrutam e/ou ativam múlti·
pias enzimas que clivam o mRNA, removem o cap S' do mRNA ou removem
a cauda poli(A) da extremidade 3'. Como o mRNA é normalmente protegído
da degradação pelo cap S' e pela cauda poli(A), qualquer um desses eventos
resulta na exposição de extremidades S' ou 3' desprotegidas, levando à rápida
degradação do mRNA por exonucleases S' -+ 3' e 3' -+ S'.
Um processo diferente, chamado decaimento de mRNAs sem inter-
rupções, resgata ribossomos que traduzem mRNAs desprovidos de um có-
Capítulo 15 Tradução 567
RESUMO
As proteínas são sintetizadas a partir de moldes de RNA cha- O códon de início geralmente é AUG ou GUG em procario-
mados RNAs mensageiros (mRNAs), em um processo conhe- tos e sempre AUG em eucariotos. Nos procariotos, o códon de
cido como tradução. A tradução compreende a decodificação início é precedido por uma região complementar à sequência
da informação contida em uma sequência nucleotídica para a do rRNA 165, componente do ribossomo, que é responsável
sequência linear de aminoácidos de uma cadeia polipeptídica. pelo alinhamento do ribossomo com o códon de início. Nos
A maquinaria para a síntese proteica é composta por quatro eucariotos, o mRNA tem uma estrutura especial em sua extre-
componentes principais: mRNA; RNAs adaptadores, conheci- midadeS', conhecida como cap 5', que é responsável pelo re-
dos como RNAs transportadores (tRNAs); aminoacil-tRNA sin- crutamento do ribossomo. Os mRl\As eucarióticos terminam
tetases, que ligam os aminoácidos aos tRNAs; e ribossomo, um em uma repetição de resíduos de A, conhecida como cauda
complexo com várias subunidades de proteínas e RNA, que poli(A), que aumenta a eficiência da tradução. Frequente-
catalisa a formação das ligações peptídicas. mente, os mRNAs de procariotos possuem duas ou mais ORFs,
O mRNA contém a sequência codificadora da proteína sendo chamados policistrónicos. Em geral, os mRNAs de eu-
e os elementos de reconhecimento para o início e o término cariotos contêm apenas uma fase de leitura e são chamados
da tradução. A sequência codificadora é conhecida como fase monocistrônicos.
aberta de leitura (ORF), consistindo em uma série de unidades Os tRNAs são a interface física entre os códons do mRNA
consecutivas de três nucleotideos cada, os códons. Uma ORF e os aminoácidos que são adicionados à cadeia polipeptídica
especifica uma cadeia polipeptídica única. Cada ORF inicia crescente. Os tRNAs são moléculas em formato de L com uma
em um códon de início e termina em um códon de término. alça em uma das extremidades que apresenta o anticódon e
568 Parte 4 Expressão do Genoma
Hbs1
Dom34
Dom34
< •
Rli1
Hbs 1 Hbs1
.
exossomo
.,.,.. ~-----"""~
. 1
cap 5'0II_ _ _ _ fl) •
1
•...
,.,.r t....---
~
." endonuclease 5'-3' Xrn 1
degrada RNA sem cap
\
endonuclease 5'- 3' Xrn 1
d egrada RNA sem cap
proteína degradada I
protease
uma sequência S'-CCA-3' que se projeta para fora da extremi- A primeira etapa da fase de alongamento da tradução é a
dade 3'. O anticódon é complementar ao códon, que ele reco- introdução de um t!U'JA carregado no sítio A. Isso é catalisado
nhece pelo pareamento de bases. Os aminoácidos são ligados pela proteina de ligação a GTP, EF-Tu, em procariotos e sua
ao resíduo aminoterminal de 5'-CCA-3' por uma ligação acila equivalente em eucariotos. Vários mecanismos asseguram a
entre o grupo carbonila do aminoácido e a 2' -OH ou 3'-0H da constituição do pareamento correto entre os pares de bases do
ribose terminal. códon e do anticódon antes que o grupo arninoacil seja admi-
As aminoacil-tRNA sintetases ligam os aminoácidos aos tido no centro da peptidiltransferase. A seguir, a formação da
tRNAs, em um processo em duas etapas, chamado carregamen- ligação peptídica acontece pela transferência da cadeia pep-
to. A mesma aminoacil-tRNA sintetase é responsável pelo car- tídica do tRNA no sítio P para o aminoacil-tRNA no sítio A.
regamento de todos os tRl\As correspondentes a um determi- A formação da ligação peptidica é catalisada por RNA no cen-
nado aminoácido. As sintetases reconhecem os tRNAs corretos tro da peptidiltransferase da subunidade maior, bem como
por interações com as duas extremidades dessas moléculas em pelo 2' -OH do tRNA no sítio P. Esta ribozima estimula o ata-
formato de L. As sintetases são responsáveis pelo carregamen- que nucleofílico do grupo arnino do aminoacil-tRNA do sítio
to de seus tRNAs com o aminoácido correto, fazendo isso com A no grupo carbonila que liga a cadeia polipeptidica crescen-
alta fidelidade. Algumas aminoacil-tRNA sintetases têm preci- te ao tRNA no sítio P. Finalmente, o ribossomo transloca-se
são ainda maior, por meio de um mecanismo de revisão. para o próximo códon livre em um processo dirigido pela
O ribossomo consiste em uma subunidade maior, que reação da peptidiltransferase e pela ação do fator de alonga-
contém o sítio da formação da ligação peptidica (centro da mento EF-G (ou seu equivalente eucariótico). Em consequên-
peptidiltransferase), e em uma subunidade menor, que con- cia da translocação, o tRNA desacilado no sítio Pé transferido
tém o sítio de decodificação do mRl\A (centro de decodifica- para o sítio E, para sair do ribossomo, e o peptidil-tRNA no
ção). Ambas as subunidades são compostas por um ou mais sítio A é transferido para o sítio P, agora livre. O códon adja-
RNAs e por várias proteínas. Além de constituirem a principal cente no mRNA é transferido para o sítio A livre, posicionado
característica estrutural das subunidades ribossomais, os RNAs para aceitar o ingresso de um novo tRNA carregado trazido
são também os responsáveis pelas principais funções do ribos- pelo EF-Tu.
somo. O ribossomo completo contém três sítios de ligação ao A tradução termina quando o ribossomo encontra um
tRNA entre as duas subunidades: o sitio A, onde o tRNA entra códon de término, o qual é reconhecido por um dos dois fa-
no ribossomo; o sítio P, que contém o peptidil-tRNA; e o sítio tores de liberação de classe I em procariotos, e um único fa-
E, por onde os tRNAs desacetilados saem do ribossomo. tor de liberação de classe I em eucariotos. O fator de liberação
A tradução de uma proteina envolve um ciclo de associa- desencadeia a hidrólise do polipeptídeo do peptidil-tRNA e,
ção e dissociação das subunidades maior e menor. Nesse ciclo portanto, a liberação do polipeptideo completo. Em proca-
ribossômico, as subunidades maior e menor juntam-se no ini- riotos, um fator de liberação de classe I!, um fator de recicla-
cio de uma ORF e dissociam-se em subunidades livres, quan- gem do ribossomo e um fator de início (IF3 nos procariotos)
do a tradução da ORF foi completada. A tradução do mRNA completam o término, ao provocarem a liberação do mRNA e
começa na extremidade S' da ORF, e a cadeia polipeptídica é dos tRNAs desacilados e a dissociação do ribossomo em suas
sintetizada da direção aminoterminal para carboxiterminal. duas subunidades, maior e menor. Em eucariotos, o término
A tradução ocorre em três fases principais: início, alon- da tradução requer que o eRF3 entre&>ue o eRFl ao ribossomo.
gamento e término. Em procariotos, o início envolve o recru- O mecanismo de reciclagem do ribossomo ainda não está cla-
tamento da subunidade ribossomal menor para o mRNA, por ro, mas provavelmente envolve eRFl exercendo o papel que
meio da interação entre o sítio de ligação com o ribossomo RRF exerce em células procarióticas. Agora, o ciclo ribossomal
(RBS) e o rRNA 165. Essa interação é facilitada por três pro- está completo e a subunidade menor está pronta para começar
teínas auxiliares (chamadas fatores de inicio lFl, IF2 e IF3), um novo ciclo de síntese de um polipeptídeo.
que ajudam a manter as duas subunidades separadas e recru- A maior parte da expressão gênica diferencial é regulada
tam um tRNA iniciador especial para o códon de início. O pa- no nível do inicio da tradução. Em células bacterianas, essa re-
reamento entre o anticódon do tRNA iniciador carregado e o gulação geralmente ocorre pela inibição da ligação da subuni-
códon de início desencadeia o recrutamento da subunidade dade menor ao RBS. Essa inibição pode ser mediada pela liga-
maior, a liberação de fatores de início e o posicionamento ção de proteína ou RNA a sequências de mRNA próximas ao
do tRNA iniciador carregado no sítio P. Este é o complexo de RBS. Níveis globais de tradução eucariótica são regulados por
início procariótico, e ele está pronto para receber um tRNA proteínas 4E-BP, que se ligam ao eiF4E e competem por sua ha-
carregado no sítio A e realizar a formação da primeira ligação bilidade de ligar-se a eiF4G, e por quinases eiF2a, que inibem
peptidica. a habilidade de eiF2 trocar GDP por GTP. A regulação da tradu-
Os mRNAs eucarióticos recrutam a subunidade menor por ção de mRNAs eucarióticos específicos é, às vezes, mediada por
meio do reconhecimento do cap S' e da ação de diversos fato- pequenas uORFs que limitam o acesso da subunidade menor a
res de início auxiliares. Um conjunto de fatores atua da mes- uma ORF a jusante. Versões modificadas de ambos os mecanis-
ma forma que os fatores de início procarióticos, recrutando o mos são adaptadas para regular genes específicos.
tRNA iniciador para a subunidade menor. Um conjunto distin- A tradução também é utilizada nas bactérias e nas cé-
to de fatores, único às células eucarióticas, reconhece o cap S' lulas eucarióticas para monitorar a integridade dos mRNAs
e prepara o mRNA para ligar-se à subunidade menor ligada ao e eliminar mRNAs mutantes e seus produtos proteicos. Os
fator de início (complexo de pré-início 435). Após ligar-se ao mRNAs desprovidos de códons de término resultam na sínte-
mRNA, a subunidade menor desloca-se sobre o mRNA a jusan- se de proteinas que são reconhecidas por proteases celulares e
te até encontrar um AUG, que ela reconhece como códon de degradadas. mRNAs eucarióticos com um códon de término
inicio. Como nos procariotos, a subunidade ribossomal maior prematuro, com um ribossomo estagnado ou desprovidos de
associa-se ao mRNA apenas após o reconhecimento do AUG códons de término são detectados e o mRNA associado é de-
de início. gradado.
570 Parte 4 Expressão do Genoma
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QUESTOES
-
Para respostas de questões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. Questão 5. Explique como a tirosil-tRNA sintetase distingue
entre a tirosina e a fenilalanina para evitar um erro no carre-
Questão 1. Compare as características de um mRNA proca- gamento.
riótico com as de um mRNA eucariótico.
Questão 6. Em qual tRNA sintetase você esperaria encontrar
Quest ão 2. Descreva o significado da sequência 5' -CCA-3' um bolso de edição para hidrolisar um aminoacil-tRNA mal-
presente na extremidade 3' de cada tRNA. carregado com glicina? Explique sua escolha.
Questão 3. Escreva as equações para a primeira e a segunda Quest ã o 7. Múltiplos ribossomos podem traduzir o mesmo
etapas do carregamento do tRNA usando o aminoácido treoni· mRNA ao mesmo tempo. Descreva a vantagem disto para a
na e a treonil-tRNA sintetase. Escreva também a equação geral. célula.
Quest ã o 4. Escreva a equação para a edição do Ser-tRNA11" Quest ã o 8. Descreva um experimento que corrobora a afir·
pela treonil-tRKA sintetase. mação de que é um rRNA, e não um componente proteico do
Iibossomo, que catalisa a reação da peptidiltransferase.
Capítulo 15 Tradução 571
Questllo 9. Explique de onde vem a energia parn a formação diferentes posições do bolso de edição. Eles mediram a
da Ugaçao pcptidica. quantidade de Th.r-tRNA''" sintetizado ou de ATP con-
sumido em uma reaçao de carregamento in vitro que in-
Questllo 10. Explique como os estudos estruturais revelaram cluiu uma VaiRS mutante ou selvagem (Wf, do inglês,
como dois complexos p.rocarióticos diferentes, EF-G-GDP e wild-type). O mutante marcado F264A significa que a
EF-Tu-GTP-tRNA, interagem com o sítio A do centro de decodi- ValRS inclui uma ala nina na posição 264, em vez de fenl-
ficaçao em diferentes pontos durante o alongamento. lalanina. Os dados estão apresentados a seguir.
Questllo 11 . Ca.lcule o gasto energético de nucleosídeos !ri-
fosfatos consumidos durante um ciclo de alongamento, após
a conclusão do inkio. Descreva como o nucleosídeo trifosfato
é utilizado.
Quest llo 12 . Descreva um mecanismo geral para o modo
como os antibióticos inibem a tradução e como eles têm célu-
las bacterianas como alvo específico.
Questão 13. Descreva dois mecanismos das células proca-
rlóticas para inibir o início da tradução como forma de regular Atividades de enzimas de VaiRS mutante. Selvagem, + ; 0279A, e;
a traduçao. K270A, .Ã.; outros mutantes mostrados como • , O, x e •. (Adap-.
tada, com permlss!o, de Fukunaga R. e Yokoyama S. 2005. /. Blol.
Questllo 14. A valil-tRNA sintetase (ValRS) normalmente Cllem. 280: 29937-29945, Fig. 5 B,C, p. 29943. ~ The Amerlcan
adenilila e transfere valina para o tRNAv''. Com alguma fre- Society for Blochemlstry and Mole<.'Uiar Biology.)
quência, ValRS carrega erroneamente o tRNAv'' com treoni-
na. Pesquisadores quiseram determinar quais aminoácidos
do bolso de edição de ValRS eram impo rtantes para editar o B. Considerando os dados à esquerda, qual(is) mutante(s)
p.rovavelmente apresenta(m) perda(s) mais significatlva(s)
Thr-tRNA"' malcarregado.
de função de edlçao em relação à ValRS selvagem? Por
A . Por que a VaJRS carrega erroneamente o tRNA--~ com treo- quê?
nlna, em vez de outro aminoácido?
C. Explique por que o consumo de ATP é maior na ValRS
Para estudar os resíduos crlticos do bolso de edição, os selvagem em comparaçao à K270A VaiRS.
pesquisadores fizeram substituições de aminoácidos em
CAPÍTULO 16
Código Genético
na
O
COJ\"CEJTO DA TRANSFERÊNCIA DA INFORJI,JAÇi\0 DE UMA SEQUÊJ\"CIA LINEAR
cadeia polinucleotídica, escrita em um alfabeto de quatro letras para
a linguagem de 20 aminoácidos da cadeia polipeptídica, está no âma-
go do Dogma Central. Corno já foi visto, a tradução da informação genéti-
ca em sequências de aminoácidos ocorre nos ribossornos e é mediada por
moléculas adaptadoras especiais chamadas RNAs transportadores (tRNAs).
Esses tRNAs reconhecem grupos de três nucleotídeos consecutivos, conhe-
cidos corno códons. Corno existem quatro nucleotídeos possíveis para cada
posição, o número total de permutações para essas trincas é 64 (4 X 4 X 4),
um valor excessivo em relaç.ã o ao número de aminoácidos. Quais desses
códons são responsáveis pela especificação de quais aminoácidos, e quais
são as regras que controlam seu uso? Neste capítulo, os tópicos discutidos
serão a natureza do código genético e a lógica subjacente, corno o código
foi "decifrado" e os efeitos das mutações sobre a capacidade codificadora do
RNA mensageiro.
O CÓDIGO É DEGENERADO
uuu Phe
ucu UAU
Tyr
UGU
Cys
uuc ucc
UUA
UUG
Le u
UCA
UCG
Ser
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GUC GCC GAC GGC
Vai A la Gly
GUA GCA GAA GGA
Glu
GUG GCG GAG GGG
---------------------
:
~-1- 0 - C -C-C-CH2
?i I I r 3
: I I \
: NH3 H CH3
leucina leucina
5' haste
aceptora
I\ '""
h aste O
I I
alça
alça wc
D
h aste do
anticódon
I I
alça V
anticódon
Oscilação no anticódon
Inicialmente, foi proposto que existiria um anticódon de tRNA específico
para cada códon. Se assim fosse, haveria pelo menos 61 tRNAs diferentes e,
possivelmente, mais três para os códons de término de cadeia. Entretanto,
surgiram evidências de que espécies de tRNAs altamente purificados e com
sequências conhecidas podiam reconhecer vários códons diferentes. Também
foram descobertos alguns casos de anticódons contendo uma base incomum,
a inosina, diferente das quatro bases usuais. Assim como todas as outras bases
minoritárias do tRNA, a inosina é produzida por modificação enzimática de
uma base presente em uma cadeia de tRNA já pronta. A inosina é formada
pela desaminação do carbono 6 da adenina, gerando o grupo 6-ceto da ino-
sina. (Na verdade, a inosina é um nucleosídeo composto por ribose e pela
base hipoxantina, mas acabou por ser referida comumente como base, e será
tratada aqui como tal.)
Em 1966, Francis Crick definiu o conceito da oscilação para explicar TABELA 16-2 Combinações de
pareamento de acordo com o
essas observações. Esse conceito afirma que a base da extremidadeS' do an-
conceito de oscilação
ticódon não está espacialmente tão restrita como as outras duas, o que lhe
permite formar ligações de hidrogênio com diferentes bases localizadas na Base no Base no
extremidade 3' de um códon. Nem todas as combinações são possíveis, es- anticódon códon
tando os pareamentos restritos àqueles mostrados na Tabela 16-2. Por exem- G u ou c
plo, na posição de oscilação, a base U pode parear com adenina ou guanina, c G
enquanto a I pode parear com U, C ou A (Fig. 16-2). Os pareamentos permi- A u
tidos pelas regras da oscilação são os que apresentam distância entre as duas u AouG
riboses semelhante à distância observada nos pareamentos-padrão A:U ou A, Uou C
G:C. Pares de purina-purina (com exceção de pares I: A) ou de pirimidina-pi-
576 Parte 4 Expressão do Genoma
a anticódon
b
códon 3' 5'
H~ Ü""'"" H- N
t H
p acleia de mRNA
ribose N =<
/ N: O -H""""NK -H
N,
H (/
),____ ribose
inosina-citosina U na primeira posição do anticódon
(5') pode parear com A ou G
H
~ibose
3' 5' 3' 5'
\ =<
3' 5'
/ Nr r N- H •·""'r
ribose
H
inosina-uracila
H~ 0 ·· ..
r
·-H-x:y I na primeira posição do anticódon
~r\={ ~
(5') pode parear com U, C ou A
M N- H""'" N N,
ribose ) =N ribose
inosina-adenina
' .
FIGURA 16·2 Pareamento oscilante de bases . Observa-se
que, em todos os pares com oscilação, as distâncias entre as ri boses
guanina-uracila aproximam-se das dos pares de bases pad rão A:U ou G:C.
a b
haste T haste aoeptora extremidade
a~tltora 3'
alça T
alça O
32
37
alça variável •- - - extremidade 3'
do antioódon
36
haste do
antioódon
extremidade 5'
do anticódon
anticódon
alçado
antioódon
purin a modificada. Por isso, a restrição de seus movimentos explica por que a
oscilação na primeira posição (5 ') do códon não ocorre.
Estimulação da incorporação de
aminoácidos por mRNAs sintéticos
Alguns bioquímicos verificaram que os extratos preparados a partir de células
de Escherichia co/i ativamente envolvidas em síntese proteica eram capazes
de incorporar aminoácidos radioativamente marcados às proteínas. Nesses
extratos, a síntese proteica ocorria rapidamente por alguns minutos e depois
diminuía, gradualmente, até cessar. Durante este período, havia perda corres-
pondente de mRNA, por ação de enzimas de degradação presentes no extrato.
Entretanto, a adição de novos mRNAs aos extratos que haviam cessado a sín-
tese de proteínas provocavam imediata restauração da síntese.
A dependência da adição de mRNAs externos apresentada pelos extratos
celulares proporcionou uma oportunidade para elucidar a natureza do códi-
go, por meio do uso de polirribonucleotídeos sintéticos. Estes moldes sintéti-
cos foram criados por meio da utilização da enzjma polinucleotídeo fosforila-
se, que catalisa a reação
pollnucleotídeo
fosforllase
+ + o
fosfato
3'-HOOH
ribonucleosídeo
difosfato (ppA) poli(A)n
poli(A)n ••
Ala Ala Ser Cys Met Leu His Ala Ala Ala
5'-GCU GCU AGC UGC AUG CUG CAU GCU GCU GCU-3'
a
-
AS MUTAÇOES SUPRESSORAS PODEM ESTAR NO
MESMO GENE OU EM GENES DIFERENTES
Frequentemente, os efeitos de mutações prejudiciais podem ser revertidos por
deleção de um uma segunda alteração genética. Algumas dessas mutações subsequentes são
nucleotídeo durante
a replicação gênica fáceis de entender, sendo simples mutações reversas (de retorno), que
fazem uma sequência nucleotídica alterada retornar ao seu arranjo original.
Mais difíceis de entender são as mutações que ocorrem em diferentes lugares
do cromossomo que suprimem a alteração devido a uma mutação no sítio A,
ao produzir uma alteração genética adicional no sítio B. Estas mutações su-
~
mRNA 1 mutante
sinal de
parada
pressoras dividem-se em duas categorias: as que ocorrem no mesmo gene
que a mutação original, mas em um sítio diferente do gene (supressão in-
tragênica), e as que ocorrem em outro gene (supressão intergênica). Os
s· liiiiiiiliiimooooooiiim'3.
genes que causam supressão de mutações em outros genes são denominados
códons códons códons genes supressores. Ambos os tipos de supressão considerados aqui resultam
com sentido com sem
na produção de cópias ativas (ou parcialmente ativas) da proteína inativada
~
troca sentido
de por uma mutação prejudicial original. Por exemplo, se a primeira mutação
sentido tiver causado a produção de cópias inativas de uma das enzimas envolvidas
na síntese de arginina, a mutação supressora permite que a arginina seja pro-
\ duzida, restaurando a síntese de algumas cópias ativas dessa mesma enzima.
aminoácidos aminoácidos término
corretos incorretos abortivo Entretanto, os mecanismos pelos quais as mutações supressoras intergênicas
da cadeia e intragênicas causam a restauração da síntese são completamente diferentes.
b Como exemplo de supressão intragênica, considere-se o caso de uma mu-
tação de troca de sentido. Às vezes, seu efeito pode ser revertido por outra mu-
tação de troca de sentido no mesmo gene. Nestes casos, a perda da atividade
enzimática original é devida a uma alteração na configuração tridimensional
inserção de um original, resultante da presença de um aminoácido incorreto na sequência
nucleotídeo durante proteica. Uma segunda mutação de troca de sentido no mesmo gene pode
a replicação gênica restaurar a configuração original na área da parte funcional da molécula e,
assim, restabelecer a atividade biológica. A Figura 16-6 apresenta outro exem-
plo de supressão intragênica, desta vez em um caso de mutação de alteração
de fase.
a gene mutante contendo gene que codifica um tRNA FI GuRA 1 6-7 Supr essão de m u -
um códon sem sentido minoritário de tirosina tação sem sentido. A figu ra demonstra
s·• )J' 5'1 >3' como um tipo minoritá rio de tRNA para
DNA
000~6ij000 UUD~~60UO tirosina atua para suprimir um códon sem
sentido no mRNA.
3'1
OOOM~OOO l 5' 3'1
OOORMOOO )5'
I
o mRNA mutante contendo
transcrição I
o tRNA da tirosina
reconhece os códons
um códon sem sentido é lido de tirosina 5'-UAC-3'
por um lator de liberação, e 5'-UAU-3'
lormando um produto proteico
incompleto e não luncional ~ 5'
3'
1
noog~§ooo
5' 1 13'
recon~ece
transcrição
o
códon sem
3' 5' sentido 5'-UAG-3'
ção 5' para 3'. (Sugestão: veja se você consegue obter as duas sequências de
aminoácidos na ordem NH 2 para COOH, alinhando cada códon de sua solu-
ção na orientação 3' para 5'.)
-..
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cuu ccu CAU His CGU
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CUA (UAG) CCA (UGG) CAA Gln
CAG (UUG)
CGA (UCG)
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(GUU)
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(GCU) iil
AUC (GAU) ACC AAC AGC 3
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AUG (CAU)t
ACA
ACG
Thr
(UGU) AAA
AAG
Lys
(UUU)
ll~ término
IJtltltérmino
õ:
..
!.
·;:
Q.
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Quadro 16 · 1 Expansãodocódigogenético
Como foi visto, 61 dos 64 códons do código genético especi· do um tRNA que reconhece UAG, mas que não é substrato
ficam os 20 aminoácidos mais comumente encontrados nas para nenhuma das aminoacil·tRNA sintetases conhecidas em
proteínas. Algumas proteínas, entretanto, possuem aminoá · E. co/i. Em vez d isso, sintetases cognatas foram geradas por
cidos incomuns que não são especificados pelo código. Por uma estratégia de evolução iterativa que reconhece o tRNA
exemplo, o colágeno contém o aminoácido hidroxipro lina, característico e o carrega com um determinado aminoácido
que é criado pela hidroxilação da prolina após sua incorpo· artificial. Desta maneira, desenvolveu-se uma série de sinteta·
ração na cadeia polipeptídica. E algumas proteínas contêm ses que reconhecem e carregam o tRNA cognato com um dos
selenocisteina, que é gerada em um tRNA especializado car- vários aminoácidos artificiais com características úteis, como
regado com serina. A serina é convertida em selenocisteina sítios de ligação a metais pesados (para facilitar os estudos
pela incorporação enzimática de selênio. O tRNA especiali- de difração de raios X), grupos fluorescentes (para micros·
zado, carregado com selenocisteina, entra no ribossomo em copia de fluorescência), sítios de fotocruzamento ou grupos
um códon UGA especial que é flanqueado por uma sequência quimicamente reativos (Fig. 1 deste quadro). Linhagens de
do mRNA reconhecida por um fator de alongamento espe· E. co/i produzindo o tRNA de reconhecimento a UAG e uma
cífico. O fator de alongamento introduz o tRNA carregado das novas sintetases são capazes de captar um aminoácido
com selenocisteinil no sítio A, onde o aminoácido contendo artificial cognato do meio de cultivo e incorporá-lo em proteí·
o metal é incorporado à cadeia polipeptíd ica crescente. Estes nas nos sítios UAG do mRNA. Por exemplo, se quiser introdu·
e outros casos de aminoácidos modificados envolvem me· zir um sítio de fotocruzamento em uma determinada posição
canismos especializados para a introdução de aminoácidos de uma proteína de interesse, introduz-se um códon TAG na
alterados em proteínas sem a violação da (quase) universa· sequência codificadora desta proteína e expressa-se o gene
Iidade do código genético. Mas e se fosse possível expandir contendo TAG em células de E. co/i projetadas para introduzir
o código genético, por meio da engenharia genética, para o aminoácido artificial nos códons UAG.
especificar aminoácidos artificiais? Haveria a possibilidade de Enquanto isso, em uma segunda linha de pesquisa, está
fazer isso de maneira a permitir a incorporação de aminoá · sendo criada uma linhagem de E. co/i na qual todos os códons
cidos customizados em determinados sítios das proteínas e, de término 314 TAG (UAG) do genoma estão sendo substi-
assim, gerar novas proteínas e até mesmo organismos intei- tuídos por códons de término TAA (UAA). Isso é realizado
ros com propriedades úteis? em duas etapas. Na primeira delas, uma abordagem multí-
A convergência de duas linhas de pesquisa trouxe es· plex conhecida como MAGE (do ing lês, multiplex automated
sas possibilidades para a realidade. Em uma delas, foi cria· genome engineering) foi usada para criar 32 linhagens nas
o o o
o~
o
co,H CO,H CO,H
o NH2
s/"'...... ~~SH
o
SMc
Quadro 1 6 · 1 (Continuação)
quais diferentes conjuntos de códons TAG foram subst ituídos customizados. No futuro, estratégias como estas poderão ser
pelo códon de término sinônimo. Depois disto, uma estraté- aplicadas a outros microrganismos, como leveduras. Li berta-
gia baseada em conjugação genética hierárquica, conhecida das da restrição dos 20 aminoácidos naturais, E. co/i e levedu-
como CAGE (do inglês, conjugative assembly genome en- ras projetadas para ter um códon que especifica um 21° ami-
gineering) está sendo empregada para fundir todas as 314 noácido podem ter uma maior capacidade para desenvolver
substituições de códon em uma única linhagem. Esta estraté- características úteis sob condições laboratoriais controladas
gia promete culminar em uma linhagem de E. co/i na qual o do que seus ancestrais não modificados.
códon TAG foi liberado para a incorporação de aminoácidos
RESUMO
No código genético "universal" usado por todos os organis- sintéticos homogêneos (poli[C] e assim por diante) e mistos
mos, de bactérias a seres humanos, 61 códons determinam (poli[AU] e assim por diante) permitiu a identificação de có-
aminoácidos específicos; os três restantes são códons de tér- dons dos vários aminoácidos. A subsequente determinação da
mino de cadeia. O código é altamente degenerado, com vários ordem exata dos nucleotídeos nos códons foi alcançada por
cõdons (sinônimos) correspondendo a um mesmo aminoáci- meio de estudos sobre interações específicas entre trinucleotí-
do. Às vezes, um determinado tRNA pode reconhecer especi- deo-tRNA-ribossomo e do uso de copolímeros regulares como
ficamente vários códons. Essa capacidade decorre da oscilação mensageiros.
da base na extremidade 5' do anticódon. Os códons de térmi- As mutações de ponto que alteram os códons são: muta-
no UAA, UAG e UGA são lidos por proteínas específicas e não ções de troca de sentido, em que há alteração do códon de um
por moléculas especializadas de tRNA. aminoácido para um côdon de outro aminoácido; mutações
O código genético obedece a três regras principais: os có- sem sentido, que causam o término prematuro da síntese pro-
dons são lidos na direção S' para 3', os códons não são sobre- teica; e mutações de alteração de fase, que alteram a fase de
postos e a mensagem não tem interrupções, e a mensagem é leitura da mensagem. Em alguns casos, os efeitos das mutações
traduzida em uma fase de leitura fixa (constante) determinada de troca de sentido, sem sentido e de alteração de fase podem
pelo códon de início. ser parcialmente suprimidos por supressores extragênicos. Por
O código genético foi desvendado por estudos de síntese exemplo, tRNAs mutantes capazes de ler códons de término
proteica em extratos livres de células. A adição de um novo gerados por mutações sem sentido como se fossem côdons de
mRNA a um extrato desprovido de seu mensageiro original um aminoácido especifico.
resulta na produção de novas proteínas, cujas sequências Um código genético levemente diferente é empregado nas
de aminoácidos são determinadas pelo mRNA adicionado. mitocôndrias e nos genomas principais de alguns procariotos
O primeiro passo (e, provavelmente, o mais importante) para e protozoários, e inclui, por exemplo, o uso de UGA como có-
desvendar o código foi a descoberta de que o polirribonucleo- don para triptofano, enquanto no "código universal" ele é um
tídeo sintético poli(U) codificava, especificamente, uma poli- códon de término.
fenilalanina. A seguir, o uso de outros polirribonucleotídeos
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QUESTÕES
Para respostas de questões de mlmero par, ver Apêndice 2: Respostas. código genético que você precisa conhecer para traduzir corre·
tamente essa sequência em um polipeptldeo?
Questão 1. Cite dois aminoácidos que não apresentam có·
digo degenerado. Explique o porquê. Questão 8 . Você recebe a seguinte sequência de DNA, localiza·
da no meio de um gene de E. co/i: 5'·ACCG'mCGGCTAGG-3'.
Questão 2 . Explique a vantagem celular do códon 5'·AAG·3' Esta representa a fita codificadora. Cite os três possíveis poli·
para codificar llslna e do códon 5'-AGG·3' para codificar peptídeos codificados por essa sequêncla.
arginina.
Questão 9. A seguir, está representada uma porçao de uma
Questão 3. Considere o códon de mRNA 5'·ACU·3'. Qual é sequência de DNA selvagem que codifica os últimos aminoá·
o arninoáddo codificado por esse códon? Qual é a sequência ddos de uma proteína de 270 aminoácidos. Os três primeiros
de o:-;A que codifica esse códon? Forneça a sequência do anti· pares de base em negrito indicam a fase de leitura e Incluem a
códon de tR.'\A que reconhece esse códon. região codificadora.
Questã o 4 . Seguindo a convençao de escrever as sequências 5' ...GCfAAGTKI.rGCI'CAAGATTACCATGATAAATAACI'GC3'
nudeotídicas na direção 5' -+ 3 ', Indique (marcando sim ou
não) se os seguintes códons de mRNA podem ser reconhecidos 3' ... CGATICATAACGAGTI'CTAATCCTACI'ATTTATTGACC5'
pelo anticódon de tRNA lCG.
A. Qual delas é a fita·molde para a transcrlçao deste gene?
_ _ _ A. UGC
Explique brevemente sua escolha.
- 13. CGA
_ _ _ C. UGA
8 . Uma illSerção de um par de bases provoca a diminuiçilo da
proteína em sete aminoácidos. Com relaçao à sequênda
_ _ _ o.ccu fomedda anteriormente, onde ocorre a lnserçao?
E.GCG C. Uma alteração em 11111 par de bases leva ao aumento da pro·
teína em um aminoácldo. Com relaçao à sequência for·
Questão 5. Considerando os experimentos iniciais realiza· necida anteriormente, qual par de bases você alteraria, e
dos por bioquímlcos para desvendar o código genético usando por qual par de bases você o trocaria para que a proteína
sequências de RNA como poll(U), qual é a condição essencial aumentasse em um aminoácido?
que permitiu ao ribossomo traduzir as sequências do polimero
in vitro? Questão 10. Considerando as sequênclas selvagens a seguir,
identifique a mutação em cada sequêncla alterada de acordo
Questão 6. Você quer testar se o códon 5'·GUG·3' codifica com os seguintes tipos: mutação com troca de sentido, muta·
valina. Qual sequêncla de dlnucleotídeo de RNA repetida você ção sem sentido, mutação de alteraçao de fase de leitura, mu·
usaria para obter suporte de que esse códon codifica valina? tação reversa, mutação de supressao lntragênlca, ou mutação
Quando o ribossomo traduzir a sequência de dinucleotídeo de supressão intcrgênica. Para cada sequêncla alterada, mais
repetida, qual outro aminoácido você espera encontrar na se· de uma resposta é possível. Esta sequênda de DNA codifica os
quência polipeptJdlca? últimos aminoácidos de uma protcfna que contém 270 ami·
noácidos. Os três primeiros pares de bases em negrito indicam
Questão 7. Você recebe a seguinte sequênda de O)IA, localiza· a fase de leitura e incluem a regiao cod.iflcadora. Os nucleotí·
da no meio de um gene de E. co/i: 5'-ACCGTITCGGCTAGG·3'. deos inseridos estão em itálico.
Esta representa a fita cod.iflcadora. Quais são as três regras do
592 Parte 4 Expressão do Genoma
Sequênda do tipo selvagem: B. Por que é mais provável que um tRNA''" menos comum
5'...GCTAAGTA'ITGCI'CAAGAITAGCATGATAAATAACJ'GG3' possua uma mutação supressora do que um tR:s'A"" mais
comumente usado?
3'...CGATICATAACGAGTTGTAATCGTACTAITfATIGACC5'
C. Se a mutaçllo supressora envolver apenas uma mutaçllo
de ponto c puder traduzir o códon de término 5'-UAG-3',
A. Sequência alterada 1: forneça a sequência do anticódon no tRNA'-"' mutado e
5'...GCI'AAGTATJ'GCTCAAcu:;ATTAGCATCATAAATAACI'GG3' no tRNA'"' selvagem.
3'... CGATTCATAACGAGTTCGCTAATCCTAC1'ATTTATTGACC5' D. Por que a supressllo de códons 5'-UAG-3' é mais eficiente
do que a supressao de outros códons de término?
8 . Sequênda alterada 2- a paxtir da scquêncla alterada 1: Questão 15. Você está clonando o Gene X de S. cerevisiae em
5'...GCfAAGTAn'GC'fCACCGAT'rAGGATGATAAATAACTGG3'
um plasmídco, e quer íncluir a scquênáa de 1 kb a montante e
3' ...CGATI'CATAACGAGTGGCTAATCCfACTA1TIATTGACCS' a jusante da fase aberta de leitura paxa tentai expressar o gene
sob seu próprio promotoL Paxa esta determínada região do ge-
C. Sequênda alterada 3 - a paitir da sequênda alterada 1:
noma, não há outros códons AUG esperados a montante da
fase aberta de leitura no Gene X. Paxa gaxantir que a proteína
5'... GCfAAGTATTGGTCCCGATTAGGATGATAAATAACI'GG3'
está sendo expressa, você tenta complementar a linhagem
3'...CGATTCATAACGAGGGGTAATCGTACTATTTATTGACC5' desprovida do Gene X com sua versão plasmidial do Gene X,
mas não está conseguindo (não houve retorno para o fenótipo
Questão 11. Pesquisadores observaram que uma única ai· selvagem). Você não está preocupado com as questões de pro-
teração de aminoácido em uma proteína transmembrana, de cessamento em S. cerevísíae, c suspeita de que há uma mutação
clstelna para triptofano, causa degeneraçao da retina. Forneça em seu Gene X clonado. O laboratório de sequenciamento não
a scquêncía relevante do mRNA que codifica esta substituição. está funcionando esta semana, mas você tem acesso a um sis-
Forneça a(s) scquência(s) de mRJ'lA selvagem(ns) e a scquência tema de traduçao 111 vítro em seu laboratório. Você traduz o
mutada. A substituição de aminoácido é causada por uma mu- Gene X selvagem c o gene X clonado usando este sistema, e
taç3o de transição ou de transvcrsão no ONA? separa seus produtos por SDS-PAGE seguida por coloração com
azul de Coomassle (dados apresentados a seguir). Você espera
Questão 12. Descreva a universalidade do código genético. encontrar uma protelna pequena, por isso usa um marcador
Como se explica a ocorrência de exceções à universalidade? de massa molecular baixo.
--
gene de interesse paxa gaxantir que o códon 5'-CUG-3' codifi- 20 kOa Canaleta 3: Marcador de massa molecular
15 kOa
que serlna em vez de leucina?
10 kOa
+
Questão 14. Você está fazendo uma triagem em E. co/i para Canaleta 1 2 3
buscar mutações supressoras paxa um mutante de seu gene de
Interesse. A mutação que atualmente provoca a ausência de
expressao da proteína codificada por seu gene é uma mutação A. Você acha que o gene X clonado possui uma mutaçao? Se
sem sentido. Uma mutação supressora está localizada no gene sim, de que tipo (troca de sentido, sem sentido, alteração
que codifica um tRXA"" menos comum. de fase de leitura)? Explique sua resposta com base nos
dados.
A. Qual tipo de mutação supressora está descrita anterior-
mente? B. Por que você acha que o gene clonado não está comple-
mentando a linhagem deletada? Explique sua resposta
com base nos dados.
CAPÍTULO 17
Origem e Evolução
Inicial da Vida
pela ação orquestrada de um gran-
O
l'UNCIONAMENTO DA CÉLU LA É MEDIADO
de número de máquinas moleculares. Com poucas exceções, essas
máquinas são compostas principalmente por proteínas, executando
coletivamente quase todas as tarefas da vida da célula. Estas incluem muitos
dos processos discutidos neste livro, como a replicação e o reparo do genoma,
o controle da expressão gênica, a divisão celular e a segregação cromossômi-
ca. Além disso, o metabolismo, a produção de energia e a fotossíntese são
mediados por proteínas, embora geralmente atuando em conjunto com pe-
quenas moléculas de cofatores. Resumidamente, vive-se em um "Mundo de
Proteínas" no qual a base da vida consiste amplamente na ação combinada
de polímeros de aminoácidos. Assim sendo, convém perguntar como isso se
estabeleceu. De fato, e indiscutivelmente, nenhum assunto é mais profundo
do que a questão de como a vida baseada em proteínas surgiu na Terra, se, de
fato, ela surgiu neste planeta. Qual sequência de eventos químicos e físicos
foi seguida para que a vida surgisse e evoluísse até o mundo contemporâneo,
baseado em proteínas, dos seres vivos?
A questão da origem da vida representa um enigma. Se a maquinaria para
replicar o DNA e traduzir a informação genética em proteínas é feita de proteí-
nas, então como a duplicação e a expressão do material genético poderiam ter
ocorrido antes da existência das proteínas? Assumindo, por um momento, que
um material genético baseado em ácidos nucleicos poderia, de alguma manei-
ra, ter surgido em uma sopa primordial, como ele poderia dirigir a produção
das proteínas de que ele mesmo necessitaria para propagar-se, antes que hou-
vesse proteínas? E esta propagação poderia ter ocorrido antes da existência de
células primordiais (protocélulas), como as vesículas envoltas por membra-
nas que serão consideradas mais adiante, para abrigar a maquinaria de replica-
ção, e como poderiam ter surgido estas protocélulas? Para além dos problemas
conceituais colocados por estas questões, está o grande desafio de fazer pergun-
tas históricas. Não se pode voltar no tempo para revisitar os eventos da origem
da vida, e têm-se poucos ou nenhum vestígio no registro fóssil. No entanto,
e apesar destes obstáculos, a biologia molecular permite formular hipóteses a
respeito de como a vida poderia ter surgido e a possibilidade, se não ainda uma
realidade, de criar vida em um tubo de ensaio como prova de conceito.
O que se quer dizer com vida, exatamente? É difícil definir vida, porque
ela é um processo, e não uma coisa. Ainda assim, até mesmo uma criança
consegue distinguir um objeto inanimado de algo que está vivo. Aqui, e para
os objetivos deste capítulo, é utilizada a seguinte definição minimalista que
melhor se aplica às formas de vida iniciais: a vida contemporânea surgiu a
594 Parte 4 Expressão do Genoma
Supondo agora que a vida surgiu na Terra (e não que tenha sido semeada aqui
a partir de outro lugar do universo), pode-se presumir que ela não poderia ter
CAPÍTULO 17 Origem e Evolução Inicial da Vida 595
rQ
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+H- -n+-
primeiro organismo
~
:r formação hidrosfera química Mundo de Mundo baseado em diversificação
!3
~
da Terra estável pré-biótica pré-R NA deRNA DNA/Proteína da vida
FIGURA 17-3 Linha do t empo geoló gico para a Terra inicial e o surgimento da
vida. Émostrada a sequência de eventos desde a formação da Terra por meio dos éons Hadea-
no e Arqueano, e os eventos correspondentes na origem da vida de acordo com a hipótese do
Mundo de RNA. (Modificada, com perm issão, de Barton N.H. et ai. 2007. Evolution. Fig. 4.4,
p. 91. © Cold Spring Harbor Laboratory Press. Originalmente, com permissão, de Joyce G.F.
2002. Nature418: 214-22 1. © Macm illan.)
b
/ eletrodos
t H H2
para uma H q<
3 N)i;j-- descarga
elétrica
bomba +-
devácuo l gases
t gotas de água
água contendo
compostos
r.-- orgânicos
água l..::::..::::::;-- água líquida retida na
fervente estrutura em U
( OH HO"---CO
OH
( }-NH2 - i
2-amíno- HO N ,_/NH2
-oxazol ~1
HO
pentose-amino--oxazolina
~-CN ------------------~
FIGURA 17·5 Geração de nu-
cianoac,etileno + cleotídeos p irim idínicos a partir de
moléculas orgânicas simples. ~ mos-
r(H2 trada uma rota recém-descoberta pa ra a
síntese de um nucleotídeo pirimidínico a
HOL4{i partir de moléculas orgâ nicas simples. Os
blocos de const rução glicolaldeído e cia-
HO namida reagem criando 2-amino-oxazol,
anidronucleosídeo o qual pode ser considerado parte de
um anel de pentose e parte de um anel
de pirimidina. A adição de gliceraldeído
completa a pentose, gerando a pentose-
·amino-oxazolina, e a adição de cianoace-
tileno completa a pirimidi na, criando um
anidronucleosídeo. Rearranjos e reação
com fosf ato convertem o anid ronucleo-
sídeo em uma mistu ra de citosina (C) e
uracila (U) . (Adaptada, com permissão,
de Sutherland J.D. 20 10. Ribonucleotides.
Em The origins of /ife (ed. Dea mer D. e
Szostak J.W.), pp. 109-121 , Fig. 2, p. 114.
citosina © Cold Spring Harbor La boratory Press.)
598 Parte 4 Expressão do Genoma
cadeia polipeptídica
H O H O
I 11 H H I 11 R O H
---N- c- c , I I --- N - C - C I 11 I
I I N - C -R H N- C - R I I 'N-C - C- N-
H R I I,..- -_;,';· I H R I I I
H c= o c= o H H H
I} I
o o
peptidil-tRNA aminoacil-tRNA
00
ligação
00
adição de nucleotídeo
capazes de ligar a 3' -hidroxila de uma molécula de RNA aoS ' -trifosfato de
outro RNA, em um molde de RNA complementar a ambos os RNAs. Esta
estratégia de ligação foi usada no primeiro estágio porque a química da
formação da ligaç.ã o fosfodiéster é a mesma da adição de um nucleosídeo
trifosfato à 3'-hidroxila de uma molécula de RNA. Ainda, as moléculas a
serem ligadas poderiam ser facilmente alinhadas umas às outras pelo anela-
mente a um molde de RNA complementar. No segundo estágio, uma ribo-
zima ligase foi submetida a ciclos de diversificação de sequência, mas desta
vez a seleção foi para moléculas de RNA capazes de ligar nucleotídeos às
suas extremidades 3'. A seleção aproveitou-se do fato de que o alongamento
na extremidade 3' causaria o crescimento da ribozima. Foram selecionadas
moléculas nas quais a adição de nucleotídeos ocorria de maneira depen-
dente de um molde de RNA. Ciclos sucessivos de seleção geraram polime-
rases com eficiências progressivamente maiores, e o uso de uma variedade
de moldes assegurou que a sequência dos nucleotídeos incorporados fosse
determinada pela sequência do molde, em vez de por uma propriedade in-
trínseca da ribozima.
Esta estratégia culminou na criação de uma ribozima RNA-polimerase
com cerca de 200 nucleotídeos, capaz de estender sua extremidade 3' de ma-
neira precisa e dependente de molde por pelo menos 20 nucleotídeos, repre-
sentando quase duas voltas de uma hélice. Recentemente, outras estratégias
de seleção geraram uma ribozima RNA-polimerase capaz de gerar RNAs com
até 95 nucleotídeos (embora com baixa eficiência). Neste exemplo recente,
a ribozima RNA-polimerase é capaz de estender um iniciador ligado a um
molde separado de RNA. Um fato incrível, ela é capaz de copiar inteiramente
um molde para a ribozima cabeça de martelo, que foi discutida no CapítuloS,
resultando em um produto de RNA que é enzimaticamente ativo por si.
A ribozima cabeça-de-martelo, gerada pela ribozima, conseguiu clivar precisa-
mente um substrato separado de RNA.
Qual é a aparência destas ribozimas RNA-polimerases, e como elas fun-
cionam? Ainda não se sabe, mas uma pista vem da estrutura de uma ribo-
zima ligase com 120 nucleotídeos, semelhante à utilizada como ponto de
partida para a evolução dirigida das ribozimas RNA-polimerases. A estrutura
terciária da ribozima consiste em três domínios helicoidais que lembram
um tripé, com o centro catalítico identificado em amarelo (Fig. 17-10).
Os nucleotídeos importantes para a catálise foram identificados em expe-
rimentos envolvendo modificações químicas e a substituição de n ucleotí-
deos específicos. Esta evidência atribui um papel crucial para uma citosina
em especial do sítio ativo, levando ao modelo no qual a amina exocíclica
da base estabiliza a carga negativa em desenvolvimento no pirofosfato que
deixa o grupo d urante a formação da ligação fosfodiéster. (Ver Cap. 9 para
uma discussão sobre o mecanismo de formação da ligação fosfodiéster por
polimerases proteic.as.)
Apesar destes experimentos bem-sucedidos, ainda estamos longe de uma
ribozima que seja capaz de copiar-se inteiramente. É necessária uma ribozima
que produza uma cópia completa e separada de si. Isso leva a outro problema
conceitual. Parece difícil imaginar que uma única molécula de RNA possa ser-
vir simultan eamen te como molde para sua própria duplicação e como a po-
limerase que está fazendo a cópia. Em vez disso, é provável que a ribozima
replicase primordial tenha tido que fazer uma cópia de uma molécula-irmã.
Isso teria gerado temporariamente um dúplex RNA-RNA com duas fitas com-
plementares, uma sendo a replicase e a outra, o complemento d a replicase
(Fig. 17-11). Ciclos adicionais de cópia do complemento teriam gerado mais
replicases, en quan to ciclos adicionais de cópias da fita d a replicase teriam ge-
rado mais cópias do complemento que, por sua vez, serviriam como moldes
para gerar replicases adicionais.
Embora ainda não se tenha uma ribozima RNA-polimerase com pleta-
mente autorreplicativa, foi obtida a replicação autossustentada de uma ri-
bozima que liga moléculas de RNA. Este sistema autorreplicativo consiste
em ribozimas ligases complementares q ue ligam pares de substratos de RNA
complementares uns aos outros (Fig. 17-12). Neste sistem a, uma ribozima
ligase chamada de E (em verd e-claro na figura) catalisa a ligação, mediad a
pelo molde, d e duas moléculas de RNA (A e B) que são complementares à
ribozima. Isso gera um RNA complementar chamado de E' (em verde-escuro
no centro da figura) q ue é, ele próprio, uma ribozima ligase para dois RNAs
que são complementares a ele (A' e B', na base d a figura) . Este ciclo d e li-
gação cria uma nova molécula d e E (em verde-claro, no centro da figura).
J._ B
va autossustentável. A ribozima ligase
(E) une duas moléculas de RNA (A e B).
) cada uma delas co mplementar a uma
parte de E, produzindo, assim, a ribozi-
L: E'
I
E
B' A'
tl 1
B'
divisão
forças de
cisalhamento;
instabilidade termodinâmica
RESUMO
A vida surgiu entre 4,4 Ga, quando a água líquida surgiu na zer autorreplicação utilizando métodos de evolução dirigida.
Terra, e 3,5 Ga, quando a vida já estava presente de acordo com Até o momento, estes esforços culm inaram na criação de ribo-
evidências isotópicas e fósseis. A vida, em sua forma mais sim- zimas RNA-polimerases capazes de sintetizar cadeias de Rl\A
ples, é um sistema capaz de autorreplicação e que está sujeito à com até 9 S nucleotídeos de maneira dependente de molde.
evolução darwiniana. A descoberta de que alguns RNAs (ribozi- Entretanto, a criação de uma ribozima replicase capaz de du-
mas) catalisam reações enzimáticas levou à hipótese do Mundo plicar-se ainda não foi alcançada.
de RNA, que diz que a vida baseada em proteínas surgiu a partir Um sistema autorreplicativo que também está sujeito à
de uma forma de vida primorctial na qual o RNA servia tanto evolução darv.1niana deve ter necessitado de compartimentos
como portador de informações quanto como uma ribozima semelhantes a células que eram capazes de crescer e dividir-
RNA-polimerase capaz de autorreplicação. Com o tempo, mo- -se. Tais protocélulas podem ter surgido a partir de vesículas
lêculas de RNA autorreplicativas teriam desenvolvido a capaci- lipídicas compostas por ácidos graxos ou outros anfifilos, que
dade de produzir proteínas, originando o Mundo de Proteínas podem crescem pela agregação de ácidos graxos e fragmentar-
contemporâneo. A ribozima peptidiltransferase contemporâ- -se em protocélulas-filhas. Assim, a forma de vida mais antiga
nea, que catalisa a formação da ligação peptíctica no ribossomo, pode ter envolvido compartimentos semelhantes a vesículas
pode ser um fóssil molecular do Mundo de RNA. que encapsulavam ribozimas replicases e que eram capazes de
Como prova de conceito para a hipótese do Mundo de evoluir por meio de mutação e seleção natural para protocélu-
RNA, os pesquisadores tentaram criar ribozimas capazes de fa- las de propagação mais rápida.
BIBLIOGRAFIA
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conditions. Nah~re 459: 239- 242. life. Cold Spring Harb. Pmpect. Biol. 2: a002212.
QUESTÕES
Para respostas de questões de número par, ver Apêndice 2: Respostas. Qu est ã o 6. Para cada uma das alternativas a seguir, cite a
enzima ou ribozima que realiza a função.
Qu est ã o 1. Cite duas características fundamentais que defi-
i . Transcrição do RNA a partir de um molde de DN A.
nem vida no contexto da origem da vida.
ü . Síntese de uma fita de DNA complementar a partir de um
Qu est ã o 2. Explique por que as bactérias como Mycoplasma molde de RNA_
genitalium são consideradas seres vivos, ao contrário dos vírus iü. Replicação do DNA a partir de um molde de DNA.
e do simbionte Hodgkinia cicadicola.
i v. Replicação do RNA a partir de um molde de RNA.
Questão 3. Considere o experimento de Miller e Urey_ Qual Questão 7. Liste os passos fundamentais necessários para
impacto seus resultados tiveram sobre o estudo da origem da
selecionar uma ribozima com atividade de ligase utilizando o
vida? Qual é uma desvantagem dos resultados? método SELEX_ Suponha que você realizará múltiplos ciclos
Qu estão 4 . Cite um exemplo específico de um RNA catalítico de seleção e que você quer diversificar o conjunto a cada ciclo.
crucial para as células atuais. Como este exemplo ajuda a cor- Você adiciona uma molécula de RNA que inclui uma etiqu eta
roborar a hipótese do Mundo de RNA para a origem da vida? de sequência à mistura de suas potenciais ribozimas. Se uma
rib ozima ligar a etiqu eta à sua própria extremidade 5', a ribozi-
Questão 5. A hipótese mais provável é a de que a vida teria ma ligante pode ser purificada a partir da mistura.
evoluído a partir de um Mundo de RNA. Forneça razões pelas
quais uma hipótese centrada em proteínas não é favorecida. Questão 8 . Explique como a compartimentalização em uma
protocélula aumenta a propagação de uma RNA-replicase mu -
Forneça razões pelas quais uma hipótese centrada em DNA
não é favorecida. tante mais eficiente em relação às outras RNA-replicases.
608 Parte 4 Expressão do Genoma
Questão 9. Descreva a membrana de um modelo de proto- A. Com base nos dados, descreva as diferenças relativas na
célula de laboratório. Como esse modelo de protocélula cresce atividade da ribozima repllcase entre as três reações.
e se divide? B. Formule uma hipótese expllcando por que os produtos na
canaleta 3 possuem um padrao de migração semelhante
Questão 10. Os pesquisadores acham que os potinudeotí-
aos produtos da canaleta I.
deos surgiram a partir de uma reação entre fosfato, ribose e
uma nudeobase, ou a partir de uma reação entre intermediá- Dados adaptados de Wochner et ai. (2011. Sdence 332:
rios derivados de reaçOes entre moléculas orgânicas presentes 209-212).
na Terra primitiva? Explique sua resposta.
Questão 15. Pesquisadores estudaram a permeabilidade de
Quest ã o 11. Expllque como o plrofosfato é estabilizado no vesículas de ácidos graxos como modelos de protocélulas.
mecanismo de formaçllo da Ugação fosfodiéster I'I?Tsus modelo A. Explique por que as propriedades de permeabilidade de
para a formação de Ugaçllo fosfodléster com base em ribozima. membrana são importantes quando consideramos a hlpó-
tese do Mundo de RNA.
Questão 12. Uste os componentes da reação e a função da
B. Em um dos experimentos, os pesquisadores encapsula-
ribozima necessários para a autorrepllcação por uma ribozima.
ram nucleotídeos em vesiculas de ácidos graxos. Em vez
Questão 13. Descreva a diferença entre ligação de RNA e de medir a permeabilidade pela detecção de nucleotídcos
polimerização de RNA. entrando na vesícula, eles mediram o percentual de nu-
clcotídeos de dentro da veslcula que saiam dela. Eles en-
Qu est ão 14. Você está estudando as propriedades de uma contraram perdas não significativas de AMP, ADP c ATP
ribozima RNA-po limerase usando um ensaio de extensão de d as vesículas em um período de 24 h oras. Na presença
iniciadores. Esta ribozi ma em particular possui atividade apri- d e Mg'', eles observaram que AMP e ADP vazavam len-
morada em comparaç.,o a uma versão prévia. A diferença entre ta mente das vesículas, mas nao o ATP. Proponha uma hj-
elas é que a ribozima aprimorada possui um domínio adicion al p ótese explicando por que o AMP c o ADP conseguem
na extremidade 5 '. Em cada reação de extensão de ínidador, atravessar a membrana na presença de Mg' 2• O que a ínca-
você inclui a sua ribozima, seu Iniciador radioativamente mar- paddade do ATP em atravessar a membrana na presença
cado em 5' ligado a um molde de RNA, e rNTPs com um tam- d e Mg' ' sugere a respeito da permeabilidade das protocé-
pão adequado. Na reaçao 2, você alterou a sequênda do molde lulas iniciais?
de RNA. Na reaç.ao 3, você alterou a sequência do molde de Dados adaptados de Mansy ct ai. (2008. Nature 454:
RNA e a sequênda do novo domínio da ribozima. Você separa 122-125).
seus produtos por eletroforese em gel de poliacrilamida e visua-
liza as bandas em uma autorradlografia (apresentada a seguir).
Se:auêru:ias
r relevantes
(alterações em itálico)
- - Reação 1:
RJbozima: 5'-UCAUUG-3 ',
Molde: 5'-CAAUGA-3'
Reação 2:
-
-
-- -
Ribozima: 5'-UCAUUG -3',
Molde: 5' -CAACUG-3'
Reaçao 3:
+
Canaleta 1
--- 2 3
Rlbozima: 5'-CAGUUG-3',
Molde: 5' -CAACUG-3'
PARTE 5
,..,
REGULAÇAO
61 O Parte 5 Regulação
N
A
DNA é expressa. Isso envolve a transcrição das sequências de DNA em
sequências de RNA, que é, então, a forma utilizada como molde para
a tradução em proteínas.
No entanto, nem todos os genes são expressos em todas as células o tem-
po todo. Na verdade, grande parte da vida depende da capacidade de as cé-
lulas expressarem os seus genes em combinações diferentes, em momentos
diferentes e em locais diferentes. Até mesmo uma bactéria menos complexa
expressa apenas alguns de seus genes em um dado momento - assegurando
sua capacidade de, por exemplo, produzir as enzimas necessárias para meta-
balizar os nutrientes disponíveis e, ao mesmo tempo, não sintetizar enzimas
para outros nutrientes. O desenvolvimento dos organismos multicelulares
oferece um ainda mais extraordinário exemplo da chamada "expressão gê-
nica diferencial". Todas as células humanas contêm basicamente os mesmos
genes, mas o conjunto de genes expressos para a formação de um tipo celular
é diferente do conjunto expresso para a formação de outro. Assim, uma célula
muscular expressa um conjunto de genes diferente (pelo menos em parte) do
conjunto expresso por um neurônio, uma célula epitelial e assim por diante.
Em geral, essas diferenças ocorrem sobretudo no nível da transcrição - mais
frequentemente, no início da transcrição.
Nos capítulos a seguir, aborda-se, principalmente, como a transcrição é
regulada. Inicia-se no Capítulo 18, vendo como isso acontece nas bactérias.
Nesses organismos, os mecanismos básicos podem ser mais bem apreciados.
Portanto, lida-se com casos simples que ilustram os diferentes mecanismos
da regulação transcricional. Estes incluem o caso do óperon lac, um grupo de
genes que codifica proteínas necessárias para o metabolismo do açúcar lactose
- expressos somente quando esse açúcar está disponível no meio de cultura.
Neste caso, aprende-se como os genes podem ser ativados (ligados) ou repri-
midos (desligados) em resposta a diferentes sinais. Depois, são vistos outros
exemplos: alguns em que a regulação é semelhante à do óperon lac, e outros
que ilustram mecanismos um tanto diferentes de regulação transcricional.
Por fim, descreve-se como a regulação transcricional de conjuntos alternati-
vos de genes do fago À sustenta a capacidade de este vírus escolher entre vias
alternativas de desenvolvimento durante a infecção de uma célula bacteriana.
No Capítulo 19, são discutidos os mecanismos básicos da regulação trans-
cricional em eucariotos, desde as leveduras até eucariotos complexos. Os me-
canismos de ativação e de repressão da transcrição são comparados aos bacte-
rianos, assinalando os aspectos conservados e suas características adicionais
-mais especialmente os efeitos do posicionamento, da remodelação e da mo-
dificação do nucleossomo, discutidos no Capítulo 8. Também são discutidos
o significado e os mecanismos da chamada regulação epigenética.
Até o momento, a regulação que foi discutida é dirigida por proteínas
reguladoras- ativadores e repressores, e proteínas que eles recrutam para os
genes. No Capítulo 20, são discutidos os RNAs reguladores. Aqui, descreve-se
como as moléculas de RNA podem ativar, ou mais comumente, reprimir, a
expressão de genes em bactérias e eucariotos. Isso inclui mecanismos conhe-
cidos há bastante tempo, como a atenuação do óperon triptofano, e também
mecanismos descobertos mais recentemente, como a interferência do RNA e
o papel dos micro-RNAs em eucariotos complexos.
No Capítulo 21, trata-se da regulação gênica no contexto da biologia do
desenvolvimento e da evolução. Discute-se como os genes são regulados para
conferir especificidade (diferenciação) e determinação do padrão (morfogêne-
se) de um tipo celular, em um grupo de células geneticamente idênticas- por
exemplo, as células de um embrião em desenvolvimento. Também é exami-
nada a diversidade entre organismos intimamente relacionados e verifica-se
como, em muitos deles, as diferenças morfológicas e comportamentais não
são resultado de alterações nos genes, mas sim, de diferenças de "quando" e
"onde" os genes são expressos em cada organismo durante o seu desenvolvi-
mento. A descoberta mais impressionante gerada por sequências de genomas
Parte 5 Regu lação 611
John Gurdon e Ann Mclaren, 1985 Simpósio sobre biologia mole· Christiane Nüsslein·Volhard, 1996 Encon·
cular do desenvolvimento. Gurdon realizou o primeiro experimento de tro sobre desenvolvimento e genética do
clonagem animal, em 1962, quando transplantou o núcleo de uma célu- zebrafish. Triagens de mutantes realizadas
la de sapo adulto em um óvulo desprovido de núcleo, o qual gerou um em moscas-da-fruta po r Nüsslein-Volhard e
girino completamente funcional (Cap . 21). Por este trabalho, ele dividiu seu colega Eric F. Wieschaus identificaram vá-
com Shinya Yamanaka o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2012. rios genes essenciais para o desenvolvimento
Mclaren era especialista em genética e biologia reprodutiva de mamíferos, embrionário inicial deste organismo, e prova·
e sua pesquisa estabeleceu bases essenciais para o desenvolvimento pos· velmente para todos os animais (Cap. 21) . Por
terior da fertilização in vitro, entre outras coisas. Seus conhecimentos em este trabalho, os dois pesquisadores d ivid i-
biolog ia reprodutiva levaram a participações também na política, inclusive ram o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina
como membro do altamente influente Comitê Warnock, no Reino Unido. em 1995 com Edward B. Lewis.
Sra. I. H. Herskowitz com os f ilhos, Ira eJoel, 1947 Simpósio sobre ácidos nucleicos
e nucleoproteínas. Ira Herskowitz foi pioneiro no uso da leved ura Saccharomyces
cerevisiae como modelo experimental para biologia molecular (Apênd ice 1) e fez gran·
des contribuições para ideias sobre a regulação gênica neste organismo, como ele ha·
via feito anteriormente para o bacteriófago À (Caps. 18 e 19). Seu pai, Irwi n, mais tarde
autor de um livro-texto sobre genética, assistiu ao simpósio em 1947.
Parte 5 Regu lação 613
Richard Jorgensen e David Baulcombe, 2006 Jacques Monod e Leo Szilard, 1961 CSH Laboratory. Monod, juntamente
Simpósio sobre RNAs reguladores. Jorgensen com Françoise Jacob, formulou o modelo de óperon para a regulação da ex-
descobriu que a superexpressão do gene de pig · pressão gênica (Cap. 18). Os dois, juntamente com seu colega André Lwoff,
mento da petúnia podia gerar flores de cor branca dividiram o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1965, por esta conquis·
em vez de roxa-escura (Cap. 20). Embora desconhe· ta. Leo Szilard era físico nuclear durante a guerra, e voltou-se para a biologia
cido na época, este efeito era causado por RNAi. molecular depois de fazer um curso sobre lagos em Cold Spring Harbor em
Os pequenos RNAs de interferência - intermediários 1947. Ele dirigiu um laboratório em Chicago com Aaron Novick. (Cortesia de
fundamentais neste processo - foram posterior· Esther 8ubley.)
mente identificados por Baulcombe (Cap. 20).
Shinya Yamanaka, 1994 Curso avançado do CSH Laboratory sobre hibridização in situe imu·
nocitoquimica. Yamanaka (terceiro da esquerda para a d ireita) frequentou este curso como aluno e
aparece juntamente com os outros alunos e seus instrutores. Com John Gurdon, Yamanaka ganhou
o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2012. pela criação das células iPS. Ele mostrou que
a expressão de apenas quatro fatores de transcrição específicos, que se ligam ao DNA, é suficiente
para d irigir células diferenciadas para um estado desdiferenciado e pluripotente. Este experimento
impressionante está descrito no Capítulo 21 .
614 Parte 5 Regulação
-
_, ~
I
•
Jeffrey W. Roberts e Ann B. Burgess, 1970 Simpósio Craig Mello, 2004 Simpósio sobre epigenética.
sobre a transcrição do material genético. A pesquisa Juntamente com Andrew Fire, Mello descobriu
de Roberts estava centrada nos reguladores da expres- que a simples introdução de dsRNAs nas células
são gênica em bactérias e fagos, particularmente anti- poderia silencia r genes homólogos aos RNAs.
termina dores no fago À (Cap. 18). 8urgess tornou-se A partir desta observação, que foi por eles chama-
professora de biologia e está envolvida em esforços na · da de interferência do RNA, houve o surgimento
cionais para melhorar a educação em ciência. Roberts de todo um novo campo, o RNAi (Cap. 20). Eles
foi um dos autores da quarta edição deste livro, e dividiram o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medici·
8urgess é prima de um dos autores desta edição (T8). na em 2006 por seu trabalho.
Regulação
Transcricional
em Procariotos
O CAPÍTULO 13, VIU-SE COMO O DNA É TRAl'SCR!TO em RNA pela enzima
'
PRINCIPIOS -
DA REGULAÇAO TRANSCRICIONAL
ob-.,...,~-,j-=l..-------~ausêncía
aberto e inicia a transcrição. Se ta nto o
,., · ' ·---· de
transcr ição ativador qua nto o repressor estiverem
li r. :J [ J J ) presentes e funcionais. a ação do repres-
sor supera a do ativador na maioria das
vezes. (Esse caso não é apresentado na
figura.)
c
RNA-polimerase
a
RNA-potimerase ausência de isomerização
espontânea e. portanto.
ausência de transcrição
sítio de
ligação do
FIGURA 18·2 Ativação alostéri· ativado r
ca da RNA·polimerase. (a) Ligação da
RNA-polimerase ao promotor em um
complexo fechado estável. (b) O ativador b
interage com a polimerase, promovendo RNA-polimerase
a transição pa ra complexo aberto e níveis
transcrição ativada
elevados de t ranscrição. As rep resenta-
ções dos com plexos fechado e aberto
são apenas esquemáticas; para uma des-
crição mais completa desses estados, ver
Capítulo 13, Figura 13-3.
Capítulo 18 Regulação Transcricional em Procariotos 619
~ , ~
(~ t )
sítio de CAP
I t
operador
Iael JacY
l
lacA
;
promotor
FIGURA 1 8-5 Óperon fac. Os t rês genes (JaeZ, lacY e lacA) são t ranscritos a partir do
promotor como um único mRNA (como i ndicado pela seta). O sítio de CAPe o operador (sítio
ligado ao repressor lac) possuem, cada um, cerca de 20 pb. O operador localiza-se na região
de ligação do promotor à RNA-pol imerase e o sít io de CAP está i mediatamente a monta nte do
promotor (ver Fig. 18-8 pa ra mais detalhes sobre a disposição relativa desses sítios de ligação,
e ver o texto para uma descrição das proteínas que se ligam a eles). A figu ra foi simplificada.
existem outros dois operadores de fac, mais fracos, localizados próximos (ver Fig. 18-12), mas
que não são considerados neste momento.
Capítulo 18 Regulação Transcricional em Procariotos 621
RNA-polimetase
+ +
sítio CAP '1 !
operador
promotor
ÍÂcZ J
nível basal
de transcrição
e glicose cont rola o nível de expressão dos
genes fac. Níveis de expressão elevados
exigem a presença de lactose (e, po rtanto,
a ausência do repressor Lac f uncional) e
a ausência da f onte energética preferen-
cial, a glicose (e, portanto. a presença do
ausência de ativador CAP). Quando ligado ao opera -
transcrição
+ G t= do r, o repressor Lac exclui a polimerase,
independentemente da presença de CAP
ativa. A CAP e o repressor Lac são repre-
sentados como unidades simples, m as,
na verdade, a CAP liga -se ao DNA como
RNA-polimerase
um dímero, e o repressor Lac liga-se como
transcrição
~ tetrâmero (ver Fig. 18-12). A CAP recruta
ativada
+ a polimerase pa ra o promotor fac, o nde
ela sofre isomerização espontâ nea para
o complexo aberto (estado m ostrado na
linha inferior).
622 Parte 5 Regulação
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Se um ativador deve apenas recrutar a polimerase para o ausência de qualquer ativador, contanto que o sítio adequa-
gene, então outras maneiras de trazer a polimerase para o do de ligação ao DNA seja introduzido nas proximidades.
gene deveriam ser igualmente eficientes para a ativação. Isso Um terceiro experimento é ainda mais simples: a polimerase
é verdadeiro para os genes fac, como demonstrado pelos se- pode transcrever os genes fac em altos níveis in vitro na au-
guintes experimentos (Fig. 1 deste quadro). sência de qualquer ativador se a enzima estiver presente em
Em um dos experimentos, outra interação entre pro- alta concentração. Assim, vê-se que o recrutamento artificial
teínas foi empregada, em vez da interação entre a CAP e a da polimerase, ou sua presença em altas concentrações, é
polimerase. Isso é feito com duas proteínas que sabidamen- suficiente para produzir níveis altos de expressão dos genes
te interagem entre si, ligando·se uma a um sítio de ligação fac. Esses experimentos confirmam a teoria de que o ativador
do DNA, e na outra, fazendo-se a substituição do domínio atua apenas auxiliando a ligação entre a polimerase e o pro-
C-terminal da subunidade a da polimerase (aCTD). A polime- motor. Para uma explicação sobre como o simples aumento
rase modificada pode ser ativada pelo "ativador" substituto, da concentração de uma proteína (p. ex. , a RNA-polimerase)
desde que o sítio de ligação ao DNA adequado seja introduzi- auxilia em sua ligação a um sítio do DNA (neste caso, o pro-
do nas proximidades do promotor. Em outro experimento, o motor), ver Quadro 18-4. Os resultados discutidos neste qua-
aCTD da polimerase é substituído por um domínio de ligação dro não seriam esperados se houvesse necessidade de o ati-
ao DNA (p. ex., o de CAP). A polimerase modificada inicia, vador induzir uma alteração alostérica específica no DNA ou
de maneira eficaz, a transcrição a partir do promotor fac na na polimerase para ativar a transcrição.
a
a
NTD
r - - - -+ transcrição
J~;L--~c=::=Jatívada
ligação ao DNA
a
NTD
QUADRO 18·1 FIGURA 1 Dois experimentos que dispensam o ativado r. (a) O aCTD é substituído por uma proteína X,
que interage com a proteína Y. A proteína Y é fusionada a um domínio de ligação ao DNA, e o sítio reconhecido por este domí-
nio é mostrado próximo aos genes fac. (b) O aCTD é substituído pela região da CAP que se liga ao DNA.
41 À 34Â
DBD
cAMP DNA
CBD
hélices c Ligações de H entre cAMP
e T127 e S 128
FIGURA 1 8·14 Mecanismo de controle alostérico de CAP. As estruturas cristalográfi-
cas de CAPem três estados fora m determinadas: CAP sozinha, CAP ligada a cAMP e complexo
CAP-cAM P-DNA. A partir destas, fica claro como a ligação de cAMP (aos domínios de ligação a
cAM P ICBDs) de CAP) causa uma alteração estrutural na proteína que resulta no realinhamento
de seus domínios de ligação ao DNA a uma configuração óti ma para o reconhecimento do
DNA. Isso ocorre porque o cAMP ligado aos CBDs ta mbém faz ligações de hidrogênio com
dois resíduos em uma região enrolada da proteína, desencadeando a formação de uma hélice
nesta região (mostrada em azul). As hélices de reconhecimento do domínio de ligação ao DNA
de CAP estão mostradas em cor de laranja. (Adaptada, com permissão, de Popovych N. et ai.
2009. Proc. Natl. Acad. Sei. 106: 6927-6932, Fig. 7, p. 6931.)
Esta molécula é o efetor alostérico para CAP: a proteína adota uma confor-
mação que se liga ao DNA apenas quando CAP está complexada com cAMP
(o que explica também o nome alternativo de CAP, CRP [proteína receptora
de cAMP]). Portanto, apenas quando há baixos níveis de glicose (e níveis
altos de cAMP) a CAP é capaz de ligar-se ao DNA e ativar os genes lac. A re-
gião da CAP que se liga ao efetor cAMP é d istinta da região da proteína que
se liga ao DNA.
O óperon lac de E. coli foi um dos dois sistemas utilizados pelos biólogos
franceses Françoisjacob ejacques Monod para formular as primeiras teorias
sobre regulação gênica. O Quadro 18-2- jacob, Monod e as ideias por trás da
regulação gênica - apresenta uma breve descrição dos primeiros estudos e o
porquê de suas teorias terem sido tão importantes.
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
A ideia de q ue a expressão de um gene pode ser controlada Primeiro, eles isolaram mutantes de E. co/i que produ-
pelo produto de outro gene - de que existem genes regula- ziam 13-galactosi dase independentemente da presença de
dores cuja única função é a regulação da expressão de ou- lactose - isto é, mutantes em que a enzima era produzida
t ros genes - foi uma das maiores concepções dos primeiros constitutivamente. Havia dois tipos desses mutantes: em
anos da biologia molecular. Ela foi proposta por um g rupo um deles, o gene que codificava o repressor Lac estava de-
de cientistas que trabalhava em Paris nas décadas de 1950 sativado; no outro, o sítio do operador era defeituoso. Essas
e 1960, particularmente François Jacob e Jacques Monod. duas classes poderiam ser distinguidas usando um teste
Eles buscaram explicar dois fenômenos aparentemente não cis-trans, como posteriormente descrito.
relacionados: o surgimento de 13-galactosidase em E. co/i Jacob e Monod geraram células parcialmente d iploides
cultivado com lactose, e o comportamento do vírus bacte- nas quais u ma seção do cromossomo de uma célula selva-
riano (bacteriófago) ).. após a infecção de E. co/i. Seu traba- gem portando os genes fac (i.e., o gene do repressor Lac,
lho culminou na publicação de seu modelo do óperon em Lael, os genes do óperon fac, e seus elementos reguladores)
1961 (e o Prêmio Nobel de Fisiolog ia ou Medicina em foi introduzida (em um plasmídeo chamado F') em uma
1965, que eles compartilharam com seu colega, Andre célula portadora de uma versão mutante dos genes fac em
Lwoff). seu cromossomo. (Este t ruque genético é descrito de manei-
Atualmente, estamos tão fam iliarizados com suas ra detalhada na seção sobre Bactérias do Apêndice 1.) Essa
ideias e dispomos de tantos meios para testar diretamente transferência resultava na presença de duas cópias dos genes
os seus modelos, que é difícil avaliar a magnitude de sua fac na célula, tornando possível verificar se a cópia do tipo
realização. Para se colocar em perspectiva, considere o que selvagem era capaz de complementar uma cópia mutante.
sabia -se quando eles iniciaram seus experimentos clássi- Quando os genes cromossomais eram constitutivamente
cos: a atividade de (3-galactosidase apareceu em célu las de expressos devido a uma mutação no gene Iael (cod ificando
E. co/i apenas quando lactose era fornecida no meio de cul- o repressor), a cópia selvagem do plasmídeo restabelecia a
t ivo. Não estava ela ro se o su rgimento dessa enzima envol- repressão (e a indutibilidade); ou seja, a (3-galactosidase era
via uma alteração na expressão de um gene. De fato, uma novamente gerada apenas quando a lactose estava presente
explicação inicial era de que a célula continha uma enzima (Fig. 1 deste quadro). Isso ocorria porque o repressor pro-
geral (genérica) e que esta enzima adquiria quaisquer pro - duzido pelo gene Iael de t ipo selvagem, local izado no plas-
priedades necessárias de acordo com as circunstâncias. As- mídeo, podia difundir-se e atuar no cromossomo - ou seja,
sim, quando a lactose estivesse presente, a enzima genérica podia atuar em trans.
assumiria o formato apropriado para metabolizá-la, usando Quando a mutação responsável pela expressão cons-
o próprio açúcar como molde. titutiva dos genes cromossomais estava no operador fac,
Jacob, Monod e seus colegas dissecaram o problema ela não podia ser complementada pelo tipo selvagem em
geneticamente. Não entraremos em detalhes sobre os seus trans (Fig. 2 deste quadro). O operador só funciona em eis
experimentos, mas um breve resumo dará uma ideia de sua (i.e., atua apenas sobre os genes diretamente ligados a ele na
engenhosidade. mesma molécula de DNA).
cromossomo
tipo selvagem o z y
(f )
I
)
ü
) l
ausência de transcrição
A
')
repressores
!
ativos
cromossomo
mutante
a l x o z y A
repressores
inativos
l-- ausência de transcrição
QUADRO 18·2 FIGURA 1 Células parcialmente diploides demonstram que os repressores funcionais atuam em
trans. Na ausência de lactose, os genes fac não são expressos; portanto, essas células não produzem níveis significativos de
(3-galactosidase.
Capítulo 18 Regulação Transcricional em Procariotos 629
a
cromossomo
mutante I o. z y A
(l 1 ~ IX
1
1
_/ Cl
o
1
ooo
1
b
cromossomo
z y A
ausência de
transcrição
cromossomo
mutante I z y A
1 1
QUADRO 18·2 FIGURA 2 Células parcialmente diploides demonstram que o operador atua somente em eis. (a) Cé-
lulas haploides contendo um operador mutante (OJ. (b) Células parcialmente diploides contendo um operador normal (0) e um
operador mutante (0,). Os genes fac (l, Y e A) ligados ao operador mutante continuam a ser expressos constitutivamente, mes-
mo na presença de um operador de tipo selvagem em out ro cromossomo da mesma célula . Portanto, o operador só atua em eis.
Esses e outros resultados levaram Jacob e Monod a pro- que eles haviam identificado um mecanismo fundamental de
por que os genes eram expressos a partir de sítios específicos, regulação gênica e que seu modelo podia ser aplicado para
chamados promotores, localizados no início do gene, e que a todos os organismos. Como será visto, embora sua descrição
expressão era regulada por repressores que agiam por meio não estivesse completa - sobretudo porque eles não incluíram
de sítios operadores, localizados no DNA, junto ao promotor. ativadores (como a CAP) em seus estudos -, o modelo básico
Mas esses experimentos com o sistema fac não foram fei· proposto, de sitios reguladores em eis reconhecidos por fatores
tos de maneira isolada; paralelamente, experimentos seme· de regulação em trans, direcionou os experimentos subsequen·
lhantes eram feitos por Jacob e Monod no fago À (um sistema tese a maneira de compreender a regulação gênica.
que será abordado adiante, neste capitulo). O bacteriófago À
pode propagar-se por meio de dois tipos de ciclos vitais, defini·
R~ O/'• s~ 1 S<; ..
dos de acordo com os genes relevantes do f ago que são expres·
sos. Os cientistas franceses observaram que podiam ser isola·
-I -t;:-1
c; (j.
l~RL
dos mutantes defectivos para o controle da expressão gênica ~
neste sistema da mesma maneira que haviam feito no caso de ~
RtiA
fac. Novamente, esses mutantes definiram um repressor que
~ -J,
atua em trans, por meio de sítios operadores agindo em eis.
'V--
]...t
A semelhança entre esses dois sistemas de regulação (apesar <Lo.......-
de sua biologia muito d iferente) convenceu Jacob e Monod de
lo. ofc:<-
QUADRO 18·2 FIGURA 3 Este esboço, mostrando o
óperon fac e sua regulação, foi feito por François Jacob,
2002. (Cortesia de Jan Witkowski.)
11M-'->i~
630 Parte 5 Regu lação
cada gene; cada um dos demais sinais, distintos na maioria dos casos, será
comunicado por um regulador específico. Os organismos mais complexos -
sobretudo eucariotos superiores- tendem a apresentar uma maior integração
dos sinais e neles serão vistos exemplos maiores e mais elaborados de controle
combinatório (Cap. 19).
\
promotor promotor promotor
merT
FIGURA 1 8 · 17 Ativação pelo a
MerR. Os elementos - 10 e - 35 do pro- -35 - 10
motor de merT estão dispostos em lados
quase opostos da hélice. (a) Na ausência
de m ercúrio, MerR liga -se e estabiliza a Hg2•
forma inativa do promotor. (b) Na presen-
merT
ê
ça de mercú rio, MerR faz uma to rção no
DNA, alinhando adequadamente os ele- b
mentos do promotor. -35 - 10
Capítulo 18 Regulação Transcricional em Procariotos 633
RNA·polimerase
a + arabinose AraC transcrição
ativada
b - arabinose
AraC
FI GURA 18-19 Controle do óperon araBAD. (a) A arabinose liga-se a Ara C, alterando
o formato deste ativado r, de modo que ele se ligue como dímero a ara!, e ara/1. Isso posiciona
um monômero de A ra( próximo ao promotor cuja tra nscrição pode ativar. (b) Em ausência
de arabinose, o dímero de Ara( adota uma conformação diferente e liga-se a araO, e a ara!,.
Nesta posição, não há um monômero no sítio do ara/2, de modo que a proteína não pode ativar
o promotor de araBAD (araP..0 ) . Este promotor também é controlado pela CAP (não mostrada
nesta figura).
Capítulo 18 Regulação Transcricional em Procariotos 635
• CONEXÕES CLINICAS
No inicio dos estudos em microbiologia, as bactérias eram onde se ligam a LuxR. LuxR é uma proteína ativadora que
consideradas organismos associais que levavam vidas indivi· consegue ativar a transcrição apenas quando está comple·
dualistas, que envolviam pouca interação umas com as ou- xada com seu ligante AHL. Assim, como o ativador CAP, que,
tras. Entretanto, hoje se sabe que muitas bactérias podem como se viu, depende do ligante cAMP, LuxR liga-se à região
e se comunicam umas com as outras por emissão, detecção promotora dos genes·alvo quando está complexado à sua
e resposta a sinais químicos. Um modo prevalente de co· AH L apropriada . Como a molécula sinalizadora entra na cé-
municação intercelular, conhecido como sensoriamente de lula a partir do meio externo, o sensoriamente de quórum
quórum, permite às bactérias ativar genes de maneira sin· mediado por LuxR é um sistema de transdução de sinal ex-
cronizada em resposta ao aumento na densidade de células tremamente simples no qual o ligante interage d iretamente
na população. A expressão de certos genes, como os para com o regulador transcricional. Neste sentido, LuxR é análo·
bioluminescência, fatores de virulência, antibióticos, forma- go a certas proteínas reguladoras eucarióticas, como o re·
ção de biofilme e competência para a captação de DNA, é ceptor de glucocorticoide, que são d iretamente ativadas por
vantajosa para as bactérias apenas quando as células estão um ligante membrana-permeável (um esterol) que se liga à, e
presentes em grande número . Por exemplo, a bactéria bio· assim ativa, sua proteína reguladora cognata (permitindo sua
luminescente Vibrio fischeri produz a enzima emissora de migração do citoplasma para o núcleo, no caso do receptor
luz luciferase quando chega a uma densidade populacional de g lucocorticoide). Curiosamente, em alguns casos, AHLs
crítica no órgão de luz de seu hospedeiro, a lula. Não é van · atuam de maneira mais complicada, ligando-se a um recep·
tajoso para V. fischeri produzir luciferase quando está sozi· tor inserido na membrana citoplasmática, desencadeando a
nha como uma célula única. Da mesma maneira, o patógeno fosforilação e a ativação de uma proteína reguladora trans·
humano Pseudomonas aeruginosa produz e secreta fatores cricional separada no citoplasma. Isso pode ser comparado
de virulência, como piocianina, cianeto e lipase, apenas em a outro sistema eucariótico, a via STAT, que será descrita no
um estágio da infecção quando a ação conjunta de várias próximo capítulo (Fig. 19-24).
bactérias pode permitir que estes fatores se acumulem em Ao complexar-se com AHL, LuxR liga-se à região premo·
altas concentrações. Em outra parte deste capítulo, discute· tora dos genes-alvo no cromossomo (o gene da luciferase,
-se como as bactérias ligam e desligam genes em resposta a genes de fatores de virulência e outros genes de resposta ao
sinais do ambiente. Aqui, o foco consiste nos mecanismos sensoriamente de quórum, dependendo da bactéria). Um
moleculares por meio dos quais as bactérias respondem a dos alvos, /ux/, especifica a sintetase para AHL. Isso tem uma
sinais químicos conhecidos como autoindutores, que elas consequência importante, na medida em que cria um circuito
mesmas produzem para se comunicar umas com as outras. de retroalimentação positivo, como explicado a seguir. Como
Como será visto, o conhecimento destes mecanismos leva a /ux/ está sob o controle de LuxR, a ligação de AHL a LuxR
novas estratégias para o tratamento de infecções por bacté· si mula a expressão de lux/ e aumenta a produção de AH L. As
rias patogênicas com base no silenciamento químico da co· moléculas adicionais de AHL difundem-se para fora da célu·
municação intercelular. la produtora e para outras células da população. Isso leva a
O enfoque será dado a um tipo bastante difundido de uma maior ativação de LuxR que, por sua vez, promove ainda
molécula sinalizadora conhecida como acil-homosserina lac- maior síntese de AHL, aumentando ainda mais a concentra·
tonas (AHLs) e seu reconhecimento pela família de proteínas ção extracelular de AHL. Este circuito de retroalimentação po·
reguladoras LuxR. As AHLs são moléculas orgânicas simples, sitivo funciona apenas quando as células estão em uma den·
constituídas por um anel de homosserina lactona ligado a sidade populacional suficientemente alta para permitir que
uma cadeia acil de quatro a 18 carbonos. Espécies diferen· AHL alcance um limiar de concentração. Quando a densidade
tes de bactérias produzem AHLs com caudas de d iferentes celular está abaixo deste limiar, a concentração extracelular
tamanhos, cada espécie respondendo apenas ao tipo de mo· de AHL é muito baixa para desencadear o circuito de retroa·
lécula sinalizadora que ela mesma produz. Esta d iversidade limentação positivo. Assim, genes sob o controle de LuxR só
de sinais permite que bactérias capazes de sensoriamente de são expressos quando as células estão presentes em números
quórum tenham, efetivamente, conversas privadas com suas adequados, um "quórum", para desencadear o circuito de
semelhantes. As AHLs são moléculas membrana·permeáveis. retroalimentação positivo.
Elas são capazes de difundir-se para o interior das células (continua)
636 Parte 5 Regulação
Quadro 1 8 • 3 (Continuação)
Este conhecimento foi usado em um esforço para desen- tiva, o dímero não consegue se ligar ao DNA e é incapaz de
volver antagonistas do Sensoriamento de quórum que blo- ativar a transcrição. Experimentos com Caenorhabditis e/~
queiam a expressão de genes de virulência em bactérias pato- gans como hospedeiro-modelo para a infecção por C. viola-
gênicas. Um destes patógenos é Chromobacterium violaceum, ceum mostram que a clorolactona é, de fato, capaz de prote·
cujo fator de transcrição tipo LuxR é ativado por um autoindu- ger o nematódeo da morte mediada por sensoriamento de
tor chamado N-hexanoil homosserina lactona com uma ca- quórum. Estes achados mostram como o conhecimento da
deia de seis carbonos de comprimento. Os fatores t ipo LuxR estrutura e função de um fator de transcrição que possui pa·
são dímeros nos quais cada subunidade consiste em um do- pel central na patogênese pode ser explorado para o desen-
mínio de ligação ao ligante e um domínio de ligação ao DNA. volvi mento de pequenas moléculas antagonistas que podem
Estudos de cristalografia por raios X mostraram que a servir como terapias potenciais.
N-hexanoil homosserina lactona forma um complexo com seu
fator LuxR cognato no qual as duas subunidades estão lado a
lado, permiti ndo que os dois domínios de ligação ao DNA fa- O H
çam contato com o DNA (Fig . 1 deste quadro). O LuxR de C. 0)\...__...N~
violaceum é, no entanto, potencialmente inibido por um an-
tagonista de clorolactona cuja estrutura está mostrada na fi-
U O autoindutor
O CASO DO BACTERIÓFAGO X:
CAMADAS DE REGULAÇÃO
O bacteriófago À é um vírus que infecta E. co/i. Após a infecção, o fago pode pro-
pagar-se de duas formas: liticamente ou lisogenicamente, conforme ilustra-
do na Figura 18-20. O crescimento lítico requer a replicação do DNA do fago e a
síntese de novas proteínas da capa. Esses componentes combinam-se, formando
novas partículas fágicas que são liberadas pela lise da célula hospedeira. A liso-
genia- a via alternativa de propagação- envolve a integração do DNA do fago
no cromossomo bacteriano, onde ele será replicado passivamente a cada divisão
celular, exatamente como se fosse uma parte legítima do genoma bacteriano.
Em circunstâncias normais, um lisógeno é extremamente estável, mas o
fago dormente nele- o prófago- pode alterar seu estado para o crescimento Jí.
tico de maneira eficiente, se a célula for exposta a agentes que danificam o DNA
(ameaçando, assim, a continuidade da existência da célula hospedeira). Esta al-
teração de crescimento lisogênico paralítico é chamada indução lisogênica.
A escolha da via de desenvolvimento depende de qual dos dois programas
alternativos de expressão gênica é adotado pela célula. O programa responsável
pelo estado lisogênico pode permanecer estável durante muitas gerações, mas,
mediante indução, é alterado para o programa lítico com grande eficiência.
infecção
genoma r
bacteriano rep essor{ J enoma À. (prólago)
crescimento litioo
'f'Y;
•
~
j ..
~ i ndução
r
'\
f? '-1 s fu~ "'
\. • ';/ ~
\.. e;;- ~ .)
crescimento
lisogênico )fP~'
novo lago
r • • r ·;; •
~
~· :'~
lf ~
• • •
·~
' •
' •
FI GURA 18· 20 Crescimento e indução de lisógenos À . Na infecção. o>.. pode crescer
pelas vias lítica ou lisogênica. Um lisógeno pode ser propagado de maneira estável por muitas
gerações, ou pode ser induzido. Após a indução, os genes lít icos são expressos em uma o rdem
apropriada, levando à produção de novas partículas de lago.
proteinas de replicação
do ONA do lago
~..,.i'l":ic~
ro cu c::,
excisonase
integrase
genes da
cabeça
cl cro
DNA (! I
PL
L I J [
pRM
- -
J i
PR
l t J )
destes genes são importantes para gerar novas partículas fágicas durante o
ciclo lítico, mas aqui a preocupação está restrita às proteínas reguladoras, e
onde elas atuam. Podemos, portanto, concentrar-nos em apenas algumas de-
las e começar considerando uma área bem pequena do genoma, mostrada na
Figura 18-22.
A região representada contém dois genes (cl e era) e três promotores (PR,
PLe PR,U· Todos os outros genes do fago (exceto um minoritário) estão fora
desta região e são transcritos diretamente de Pn e PL(que significam, respec-
tivamente, promotor à direita [rightward] e promotor à esquerda [lefiward]),
ou a partir de outros promotores cujas atividades são controladas por produ-
tos de genes transcritos a partir de PRe P~.. O PRM (promotor para manuten-
ção de repressor) transcreve apenas o gene cl. PRe P~. são promotores consti-
tutivos fortes; ou seja, eles ligam-se de maneira eficiente à RNA-polimerase
e dirigem a transcrição sem o auxílio de um ativado r. PRM• por outro lado, é
um promotor fraco e dirige a transcrição de maneira eficiente apenas quan-
do um ativador está ligado logo a montante. O PR." lembra o promotor lac,
neste sentido.
Dois arranjos de expressão gênica estão representados na Figura 18-23:
um deles leva ao crescimento lítico, e o outro, ao lisogênico. O crescimento
lítico se dá quando PL e PRestão ligados, enquanto PRM é mantido desligado.
O crescimento lisogênico, ao contrário, é consequência da inativação de PL e
PRe da ativação de PR.,t· Como esses promotores são controlados?
• •
a tI1 II
cl cro
I t ) t
FI GURA 1 8 · 23 Transcrição nas
regiões de controle de ~ durante os
lítico
PL
)
pRM
- PR
)
é )
crescimentos litico e lisogênico. As se-
tas indica m quais promotores estão ativos
em períodos decisivos dura nte o cresci- •
tI
cl cro
mento lítico e lisogênico, respectivamen-
te. As setas ta mbém mostram a direção
da tra nscrição pa ra cada promotor.
lisogênico tL [
PL
i t )
pRM
) I
PR
-
~ [ J )
Capítulo 18 Regulação Transcricional em Procariotos 639
CAP- por recrutamento. A região de ativação do repressor de À está situada tetramerização dimerização
no domínio N-terminal da proteína. Seu alvo na polimerase é uma região da
subunidade a adjacente à porção de a que reconhece a região -35 do promo-
tor (região 4, ver Cap. 13, Fig. 13-6).
região de ativação
Assim como o repressor Lac, Cro (do inglês, contrai ofrepressor and other
things [controle do repressor e outras coisas]) apenas reprime a transcrição.
Cro é uma proteína com um único domínio e também se liga como dímero a
ligação ao DNA
sequências de DNA com 17 pb, usando um motivo hélice-volta-hélice.
Tanto o repressor de À quanto Cro podem ligar-se a qualquer um de seis FIGURA 18-24 Repressor de À .
operadores. Esses sítios são reconhecidos por suas diferentes afinidades a cada A figu ra mostra um monômero do re-
uma dessas proteínas. Três deles encontram-se na região de controle da es- pressor de À, indicando várias superfícies
querda e as outras três, na da direita. Nosso foco é a ligação do repressor de À envolvidas em diferentes atividades reali-
e Cro aos sítios da região da direita mostrada na Figura 18-25. A ligação aos zadas pela proteína. N indica o do mínio
sítios na região de controle da esquerda segue um padrão semelhante. amino, e C indica o domínio carboxila .
"Tetra merização" indica a região onde
Os três sítios de ligação com o operador à direita são chamados OR, OR2
dois dímeros interagem quando se li-
e ORl; eles têm sequências semelhantes, mas não idênticas e- se isolados dos gam cooperativamente a sítios adjacen-
demais e examinados separadamente - cada um pode ligar-se a um dímero tes no DNA. (Adaptada, com permissão,
de repressor ou a um dímero de Cro. Entretanto, as afinidades dessas várias de Ptash ne M. e Ga nn A. 2002. Genes &
interações não são iguais. Assim, o repressor liga-se 10 vezes melhor a OR, do signals, p. 36, Fig. 1.17. © Cold Spring
que a ORz· Em outras palavras, são necessários 10 vezes mais repressor- uma Harbor Laboratory Press.)
concentração 10 vezes maior- para ligar a OR2 do que a OR,. OR3 liga-se ao
repressor com praticamente a mesma afinidade que ORZ. Por outro lado, Cro
liga-se a OR3 com afinidade máxima e liga-se a OR2 e OR, apenas quando pre-
sente em concentrações 10 vezes mais alta. O significado dessas diferenças
ficará evidente a seguir.
a p RM
cl cro
OR3
b
PRM
c l mRNA •
I
TTTTGTGCTCATACGTT~TCT~ACCGCAAGGGAT TTTTACCTCTGGCGGTPATAA GGTTGCATGTACTAA
AAAACACGAGTATGCAAft-rAGA~GGCGTTCCCTATT AAAATGGAGACCGCCAbTATT~CCAACGTACATGArr
FIGURA 18-25 Posições relativas dos sítios promotor e operador em O,. Observa-
-se que 0 01 se sobrepõe à região - 35 de P, po r 3 pb, e de P"" por 2 pb. Esta diferença é su-
ficiente para P• ser reprimido e P.,., ser ativado pelo repressor ligado a 0 02 • (b, Adaptada, com
permissão, de Ptashne M. 1992. A genetic switch: Phage and higher organisms, 2nd ed. ©
81ackwell Science.)
640 Parte 5 Regu lação
OR, (Fig. 18-26). (Sem a cooperação, seria necessária uma concentração 10 ve-
zes maior de repressor para sua ligação a OR2 .) OR3 não está ligado: o repressor
ligado cooperativamente em OR, e OR2 não consegue, simultaneamente, fazer
contato com um terceiro dímero em um sítio adjacente.
O conceito da ligação cooperativa já foi discutido, e foi visto um exem-
plo: a ativação dos genes Jac pela CAP. Como neste caso, a ligação cooperativa
de repressores é mera consequência do contato entre eles quando se ligam
simultaneamente a sítios de uma mesma molécula de DNA.
Uma discussão mais detalhada sobre as causas e os efeitos da ligação co-
operativa é apresentada no Quadro 18-4, Concentração, afinidade e ligação
cooperativa. A ligação cooperativa de proteínas reguladoras assegura que as
FIGURA 18 · 26 Ligação coope· alterações no nível de expressão de um determinado gene possam ser marcan-
rativa do repressor de X ao DNA. Os tes, mesmo em resposta a pequenas alterações no sinal que controla o gene.
monômeros do repressor de À interagem A indução lisogênica de À, discutida a seguir, fornece um excelente exemplo
para formar dímeros, e estes dimeros in-
da sensibilidade desse controle. Em alguns sistemas, a ligação cooperativa en-
teragem pa ra formar tetrâ meros. Essas
tre ativadores também é a base da integração de sinais (ver discussão sobre
interações ga rantem que a ligação entre
~-interferon no Cap. 19).
o repressor e o DNA seja cooperativa. Essa
ligação cooperativa é auxiliada ainda pelas
interações entre os tetrâmeros do repres- O repressor e Cro ligam-se em padrões diferentes
sor em O,, interagindo com outros em O, para controlar os crescimentos lítico e lisogênico
(ver adiante no texto e na Fig. 18-28).
Como o repressor e Cro controlam os diferentes padrões de expressão gêni·
ca associados aos diferentes modos de replicação de À? Como mostrado na
Figura 18-27, no crescimento lítico, um único dímero de Cro liga-se a OR3; este
sítio sobrepõe-se a P RM e, assim, Cro reprime este promotor (que, de qualquer
maneira, na ausência de ativador só funcionaria em baixos níveis por ser um
promotor fraco) (Fig. 18-27). Como nem o repressor nem Cro estão ligados a
OR, ou ORv PRliga-se à RNA-polimerase e dirige a transcrição dos genes líticos;
Pt atua da mesma maneira. PRe Pt são promotores fortes que não necessitam
de ativador.
RNA-polimerase
lisogenia
cl cro
! indução
crescimento lítioo
cl cro
~ CONCEITOS AVANÇADOS
O que significa falar sobre sítios de ligação " fortes" e "fra- São vistos, portanto, três aspectos pelos quais a coope-
cos"? Dizer que duas moléculas se reconhecem ou i nteragem ração pode ser considerada. Também devem ser consideradas
entre si - como uma proteína e seu sitio no DNA. por exem- algumas consequências da ligação cooperativa que a tornam
plo - significa que elas têm alguma afinidade entre si. O fato útil em biologia. Por exemplo, a cooperatividade não apenas
de essas moléculas serem encontradas efetivamente ligadas permite que um sitio fraco seja preenchido em uma concen-
em algum momento depende (1) de quão alta é esta afinida· tração de proteína menor do que sua afinidade inerente po-
de (i.e., quão fortemente elas interagem) e (2) da concentra- deria prever, mas também muda a inclinação da curva que
ção das moléculas. descreve o preenchimento do sítio com alterações em con-
Como foi enfatizado no Capítulo 3, as interações mole- centração. Para entender o que isso quer dizer, considere-se
culares que sustentam a regulação em sistemas biológicos como exemplo uma proteína que se liga cooperativamente
são reversíveis: quando moléculas que interagem se encon- a dois sítios fracos, A e B. Estes sítios passarão de completa·
tram, elas permanecem juntas por um período de tempo e mente vazios para quase completamente cheios ao longo de
então se separam. Quanto maior a afinidade, mais intima- uma faixa de concentração de proteína muito mais estreita
mente as duas moléculas se unem e, em geral, mais longo do que passaria um único sitio (Fig. 1 deste quadro). Na ver-
é o tempo que permanecem unidas antes de se separar. dade, a cooperatividade no sistema À é ainda maior do que
Quanto maior sua concentração, mais frequentemente elas o esperado porque grande parte do repressor livre (i.e., que
se encontrarão. Assim, maior afinidade e maior concentração não está I igado ao DNA) é encontrada como monõmero na
possuem efeitos semelhantes: ambas resultam nas duas mo- célula: em essência, é uma ligação cooperativa de quatro
léculas, em geral, passando mais tempo ligadas uma à outra. monômeros, em vez de dois dímeros estáveis, ad icionando
à natureza coordenada da formação de complexo no DNA
Visualização da cooperação e adicionando, assim, à inclinação da curva. Mas por que a
cooperação torna a curva de ligação mais abrupta?
A cooperação pode ser expressa em termos de afinidade au-
Já se viu como um sítio é preenchido em uma concen -
mentada. O repressor tem maior afinidade por o., do que
tração de repressor mais baixa do que a sugerida por sua
por 0 " . Mas uma vez ligado a o.,.o repressor pode ligar-se
a o., mais fortemente porque ele interage não apenas com
0 02, mas também com o repressor ligado a o.,. Isoladamen-
te, nenhuma dessas interações é muito forte, mas, quando
combinadas, aumentam substancialmente a afinidade da li· 99% 99%
gação do segundo repressor. Como discutido no Capítulo 3, 1,0 -2 kcal + I+
a relação entre energia de ligação e equilíbrio é exponencial
(ver Tab. 3-1). Por isso, a simples duplicação da energia de ~ 0,8 o~
.·. .·.
: :
ligação aumenta a afinidade em uma ordem de magnitude. ~
Outro modo de visualizar o funcionamento da coope- l5 - 10 30x
ração é considerá-la como uma força que aumenta a con- 'li! 0,6
~
kcal
centração local de repressor. Visualize o repressor coopera- "'a.o
tivamente ligado a o.,ou o.,.Embora o repressor em o., -8o
periodicamente se libere do DNA, ele está preso ao repressor 0,4
)
em O., e, assim, permanece próximo de 0 ,. Isso aumenta 'r!.
efetivamente a concentração local de repressor na vizinhança "'
ol:
kcal
0,2
do sítio e garante que o repressor se religue com frequência.
Se dispensarmos a cooperatividade e apenas aumen-
tarmos a concentração do repressor na célula, quando este
0,0
for liberado de o.,. ele não será mantido nas proximidades 1Q-9 1Q-8 1Q-7 10-6 1Q-5
pelo repressor em o., e normalmente será descartado antes concentração do repressor (M)
de poder religar-se a o.,.Porém, em altas concentrações de
repressor é provável que uma nova molécula de repressor se QUADRO 18·4 FIGURA 1 Reação de ligação coope·
aproxime de o., e se ligue a ele. Portanto, mesmo que cada rativa. A linha preta mostra a curva que descreve a ligação
dimero do repressor fique em 0 , por um curto período de de uma proteína a um único sítio fraco no DNA, e a linha
tempo, mantendo-o próximo ou aumentando o número de vermelha mostra a mesma reação quando a mesma proteína
substituições possíveis, a probabilidade de o repressor ser li- pode ligar-se cooperativamente a dois sítios idênticos lado a
gado irá aumentar em um dado momento. lado (a interação adiciona apenas 2 kcaVmol de energ ia de
Outro modo de pensar sobre a ligação cooperativa é ligação extra). O eixo do x mostra uma escala em log da con-
como um efeito entrópico. Quando uma proteína livre em so- centração de proteína, e o eixo do y mostra a ocupação dos
lução altera sua condição para ligada e limitada a um sítio de sítios. Como mostrado, o sitio está 99% cheio em uma con-
ligação com o DNA, a entropia do sistema diminui. Entretan- centração de proteína 30 vezes menor quando a ligação é co·
to, um repressor mantido próximo de 0., pela interação com operativa. (Adaptada, com permissão, de ptashne M. 2004.
outro repressor em O., já está limitado, em comparação ao A genetic switch: Phage Jambda revisited. © Cold Spring
estado livre. A religação desse repressor restringido tem um Harbor Laboratory Press.)
custo entrópico menor do que a ligação de um repressor livre. (continua)
642 Parte 5 Regulação
Quadro 1 8 · 4 (Continuação)
afinidade, mas como a ligação diminui tão rapidamente à retos. Aumentar o número de contatos entre a proteína e seu
medida que a concentração de repressor diminui? Considere sítio no DNA (p. ex., tornando a proteína maior) não resolve,
as interações entre componentes de qualquer sistema: à me- porque também tende a aumentar a ligação aos sítios incor-
dida que a concentração dos componentes é reduzida, uma retos. Se a afi nidade pelos sítios incorretos for muito gran-
dada interação qualquer entre dois deles irá ocorrer com me- de, a proteína jamais encontrará seu sítio correto; ela gas-
nor freq uência. Se o sistema exigir interações múltiplas entre tará tempo demais experimentando sítios incorretos. Neste
vários componentes diferentes, isso se tornará muito raro em caso, um problema de cinética substitui o da especificidade,
baixas concentrações. Assim, a ligação de quatro monõmeros e pode ser igualmente destrutivo.
de uma proteína a dois sítios exige várias interações (na ver- A cooperação resolve o problema. Ligando-se coope-
dade, sete); a chance de associação dos vários componentes rativamente a dois sítios adjacentes, uma proteína aumenta
individuais é drasticamente reduzida à medida que a concen- enormemente sua afinidade por eles, sem aumentar a afini-
t ração de cada um diminui. dade por outros sítios. A afinidade pelos sítios incorretos não
aumenta, simplesmente porque a chance de duas moléculas
Cooperatividade e especificidade da ligação ao DNA de uma proteína se ligarem ao mesmo tempo a sítios incorre-
tos muito próximos (permiti ndo que a cooperação estabilize
Um aspecto final im portante da ligação cooperativa é que
essa li gação) é extremamente pequena. Apenas quando en-
ela impõe especificidade à ligação com o DNA. A ativação do
contram seus sítios corretos é que elas permanecem ligadas
promotor fac pela CAP demonstra isso. CAP recruta a RNA·
por tempo suficiente para dar chance de uma segunda pro-
-polimerase para os promotores que contêm sítios específi-
teína ligar-se.
cos para CAP (em oposição a outros promotores de afinidade
comparável, que não têm sítios de CAP). Da mesma maneira,
o repressor de >.. em O, dirige outra molécula de repressor Cooperatividade e alosteria
para ligar-se ao sítio fraco adjacente a ele, não a outro sítio Neste capítulo, o termo cooperação (ou cooperatividade) foi
de igual afinidade em qualquer outro local da célula. Na ver- utilizado para definir um mecanismo específico de ligação
dade, a cooperatividade é vital para garantir q ue as proteínas cooperativa, porém, esse termo também é usado em outros
possam ligar-se com especificidade suficiente para que a vida contextos que apl icam diferentes mecanismos. Em geral, po-
funcione como a conhecemos. de-se d izer que a cooperação descreve qualquer situação em
Para ilustrar esse fato, considere-se uma proteína ligada a que dois ligantes se ligam a uma terceira molécula, de modo
um sítio de DNA. Essa proteína tem alta afinidade por seu sítio que a ligação de um deles auxilia a ligação do outro. Com
correto. No entanto, o DNA intracelular apresenta um gran- relação às proteínas de ligação ao DNA consideradas aqui, a
de número de sítios potenciais (embora incorretos) de ligação cooperação é mediada por simples interações adesivas que
para essa proteína. Por isso, não é apenas a afinidade absoluta promovem um aumento da energia de ligação, mas em ou-
da proteína por seu sítio correto que é importante, mas sua tras situações a cooperação pode ser mediada por eventos
afinidade por este sítio comparada com a afinidade pelos de- alostéricos. O melhor exemplo disso talvez seja a ligação das
mais sítios incorretos. E deve-se ter em mente que os sítios in- moléculas de oxigênio à hemoglobina.
corretos estão em concentrações muito maiores do que o sítio A hemoglobina é um homotetrâmero , e cada subuni-
correto (representando, como o fazem, todo o DNA da célula, dade liga uma molécula de oxigênio . Essa ligação é coope-
exceto o sítio correto). Assim, mesmo q ue a afinidade pelos rativa: quando o primeiro oxigênio se liga, provoca uma al-
sítios incorretos seja menor do que a afinidade pelo sítio corre- teração conformacional que imobiliza o sítio de ligação para
to, a maior concentração deles assegura que a proteína os ava- o próximo oxigênio em uma conformação de alta afini dade.
lie frequentemente, enquanto tenta alcançar o sítio correto. Neste caso, portanto, não existe uma interação direta entre
t necessária uma estratégia que aumente a afin idade os ligantes, mas, ao desencadear uma transição alostérica,
pelo sítio correto, sem favorecer interações com sítios incor- um ligante aumenta a afinidade do seguinte.
(daí o seu nome; ver Cap. 11), mas tem outra função: estimular a autocliva-
gem proteolítica de determinadas proteínas. O substrato principal para essa
atividade é uma proteína repressora bacteriana chamada LexA, que reprime
os genes que codificam as enzimas de reparo do DNA. A RecA ativada estimu-
la a autoclivagem de LexA, libertando esses genes da repressão. Esse mecanis-
mo é chamado de resposta SOS (ver Cap. 10).
Se a célula for lisógena, o prófago tem o máximo interesse em escapar
dessas circunstâncias ameaçadoras. Assim, o repressor de À evoluiu para asse-
melhar-se a LexA, garantindo que ele também seja autoclivado em resposta
ao RecA ativado . A reação de clivagem remove o domínio C-terminal do re-
pressor, de modo que a capacidade de dimerização e cooperação são imediata-
mente perdidas. Como essas funções são essenciais para a ligação do repressor
com OR, e OR2 (nas concentrações de repressor encontradas no lisógeno), a
perda da cooperação garante a dissociação do repressor desses sítios (e tam-
bém de Ou e 0~.2). A perda da repressão desencadeia a transcrição a partir de PR
e de Pv levando ao crescimento lítico. A transcrição a partir de PRgera rapida-
mente Cro, o qual se liga a OR3 e bloqueia qualquer síntese posterior de repres-
sor a partir de PRw Esta ação garante que a decisão de induzir seja irreversível.
Para que a indução ocorra de modo eficiente, o nível de repressor no li-
sógeno precisa ser rigorosamente regulado. Se os níveis forem baixos demais,
em condições normais, o lisógeno pode sofrer indução espontânea; se os ní-
veis forem altos demais, a indução apropriada seria ineficiente. Neste último
caso, o motivo é que uma quantidade maior de repressor deve ser inativada
(pela RecA) para que a concentração baixe o suficiente para liberar OR, e OR2.
Já se viu como o repressor garante que seu nível nunca atinja níveis mui-
to baixos: ele ativa sua própria expressão, um exemplo de autorregulação
positiva. Mas como ele garante que os seus níveis nunca sejam elevados
demais? O repressor também é capaz de regular-se negativamente.
A autorregulação negativa funciona da seguinte maneira. A Figura 18-27
mostra o PR" sendo ativado pelo repressor (em OR2) para produzir mais repressor.
Se a concentração atingir níveis muito altos, porém, o repressor irá se ligar tam-
bém a ORl e reprimir PR.\ ! (de maneira análoga à ligação de Cro a ORl e à repressão
de PR~1) . Isso impede a síntese de mais moléculas de repressor até que a concen-
tração diminua para um nível que libere ORl.
É importante ressaltar que o termo "indução" é utilizado tanto para des-
crever a alteração do crescimento lisogênico para lítico em À, quanto para
a ativação dos genes lac em resposta à lactose. Esse uso comum origina-se
do fato de os dois fenômenos terem sido estudados em paralelo por Jacob e
Monod (ver Quadro 18-2). Também é importante notar que, assim como a
lactose induz uma alteração conformacional no repressor Lac para aliviar a re-
pressão nos genes lac, também os sinais de indução de À agem causando uma
alteração estrutural (no caso, uma clivagem proteolítica) no repressor de À.
guladora de À para ver onde cll e ciii estão: cll está à direita de cl e é transcrito
a partir de PR; ciii, à esquerda de cl, é transcrito a partir de Pr. (Fig. 18-30).
Como o repressor de À, a proteína CII é um ativador transcricional. Ela
liga-se a um sítio a montante do promotor, chamado PRl'. (do inglês, repressor
stablishment [estabelecimento do repressor]), e estimula a transcrição do gene ci
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Qu a d r o 1 8 • 5 Evolução do comutador de À
Foram enfatizados vários dos meand ros que permeiam os A introdução de outras alterações que fortalecem o promo·
mecanismos de tomada de decisão pelo bacteriófago À: tor de P•.., compensa isso em grande parte, tornando os li·
como ele escolhe entre os desenvolvimentos lítico e liso· sógenos mais estáveis e mais semelhantes aos produzidos
gênico, e como ele pode intercambiar de maneira eficiente pelo À selvagem. O PRM fortalecido pode dirigir a expressão
do estágio de prófago estável para vírus de replicação líti- de mais repressor sem ser ativado pelo repressor existente.
ca. Muitas das sutilezas que conferem estas características Parece que ter regulação autopositiva do repressor fornece
ao sistema foram d iscutidas: ligação cooperativa, regulações ao fago selvagem uma vantagem (explicando por que todos
autopositiva e negativa, uso de repressores com efeitos opos· os fagos lambdoides conhecidos possuem esta característi·
tos, e assim por diante. Enfatizar a intricada interação destas ca), mas não é completamente essencial para que o sistema
características, e quão interdependentes elas são no fago que funcione bem. Assim, pode-se ver um passo intermediário na
se vê hoje, levanta a questão de como este sistema pode· evolução do sistema moderno.
ria ter evoluído em etapas simples a partir de uma versão Em outro exemplo, a ligação cooperativa pelo repres·
primitiva inicial. Esta é uma questão importante quando são sor também mostrou ser uma característica que, embora
considerados todos os sistemas biológicos, e isso é abordado vantajosa, não é completamente necessária para que o fago
aqui para À. funcione em uma maneira rudimenta r. Assim, a ligação coo·
~ apresentado um modelo proposto de passos para perativa foi substancialmente enfraquecida pela introdução
como o comutador de À pode ter evoluído a partir de uma de mutações que haviam demonstrado interromper as intera-
versão rudimentar (Fig. 1 deste quadro). Em cada passo, uma ções cooperativas entre os dímeros de repressor. Fagos con-
simples adição foi feita a um sistema que já é funcional, para tendo este gene de repressor mutante não conseguiam for-
produzir um sistema que funciona um pouco melhor. mar lisógenos. Mas a adição de outras modificações - uma
Nos últimos anos, uma série de experimentos explorou novamente fortalecendo o P...,,. e outra fortalecendo o sítio
as questões levantadas neste esquema. Estes estudos apon- de ligação o., para o repressor - juntamente geraram um
tam para a facilidade relativa com a qual a evolução poderia fago que agora poderia formar lisógenos, embora de manei·
ter moldado o comutador de À. Assim, cada característica ra menos eficiente que o À selvagem .
aparentemente crucial do comutador existente foi eliminada Em um conjunto posterior de experimentos, o comuta·
por mutação, tornando o fago deficiente em vários compor- dor de À foi desmontado e remontado para testar ideias cru-
tamentos; o fago mutante pode, por exemplo, lisogenizar ciais acerca de como ele funciona e como ele surgiu. No mais
com menor eficiência ou formar lisógenos que são instáveis, recente e ambicioso experimento, o gene do repressor foi
ou talvez estáveis demais, tornando a indução muito fácil ou substituído por um gene de proteína repressora bacteriana, o
muito d ifícil. repressor Tet, e no mesmo fago, o gene de Cro foi substituído
Outras mutações que compensavam o defeito original por Iaei, gene que codifica o repressor Lac. Além disso, sítios
foram, então, encontradas em cada caso. Estes experimen- operadores do fago foram modificados para permitir que es·
tos revelaram que, longe da complexidade irredutível que tes dois repressores bacterianos se ligassem com padrões que
pode na superfície parecer existir para esse sistema, a perda mimetizavam alguns dos padrões de ligação essenciais do
de uma característica qualquer, individualmente "essencial ", repressor de À e de Cro no À selvagem.
poderia ser compensada, ao menos parcialmente, pela alte· Fagos gerados com estes trechos heterólogos podiam
ração de outra. Por exemplo, a autorregulação positiva foi recapitula r alguns dos comportamentos do À selvagem.
eliminada pela introdução de uma mutação pc no gene cl Como a ligação de ambos os repressores empregados no
do fago. Uma mutação pc, como se discutiu anteriormente fago modificado pode ser precisamente t itulada por peque-
para CAP, elimina a função de ativação de um ativador. As· nas molécu las (indutores de lac e tet), outras manipulações
sim, neste caso, o fago mutante geraria um repressor que sutis podem agora ser utilizadas para investigações adicio·
ainda consegue ligar-se ao DNA e reprimir a transcrição, mas nais sobre o funcionamento e as possíveis origens do siste·
não consegue ativar a expressão de mais repressor a partir ma de À.
de Prw.· Este fago mutante pode formar lisógenos, mas eles
são muito instáveis porque os níveis de repressor são baixos. (continua)
646 Parte 5 Regulação
Quadro 1 8 · 5 (Continuação)
Em conjunto, estas várias abordagens experimentais neiras alternativas de alcançar um comportamento qualquer.
tornam dois pontos claros. Primeiro, o comutador de À po- Entender os detalhes da solução que finalmente surgiu pode
deria ter facilmente evoluído por meio de uma série de eta· tornar o problema de como ele evoluiu parecer muito mais
pas, cada uma delas adicionando um novo nível de regulação difícil do que necessariamente era; ou seja, a solução final foi
a um sistema que antes funcionava com menor eficiência, apenas uma dentre várias soluções que teriam funcionado se
mas que funcionava. Isso é o que se esperaria de qualquer tivessem sido testadas.
sistema que evoluísse por seleção natural. Segundo, há ma-
1 repressor l - -
~DESLIGADO
Igene unco
LIGADO , _ - DESLIGADO
cl Igene cro
,...--
QUADRO 18- 5 FIGURA 1 Estágios hipotéticos da evolução do comutador de À. (Estágio 1) O genoma primitivo de À
possui dois promotores, um dirigindo a expressão dos genes líticos (PJ e outro para o gene do repressor (P,.J . Um único sítio
de ligação ao repressor À sobrepõe-se a P0 ; quando ligado a este sítio, o repressor desliga os genes líticos, mas sua própria
síntese não é regulada. (Estágio 2) Aqui, o único sítio de ligação ao repressor foi movido para perto de P0 ., (agora na posição
de 0 01 ), de maneira que o repressor ligado contacta a polimerase em P.,,,e, assim, estimula este promotor ao mesmo tempo
em que reprime P•. (Estágio 3) Um segundo sítio de ligação ao repressor foi introduzido (na posição de 0 0 1). Além disso, uma
nova superfície de interação proteína-proteína foi introduzida, permitindo a ligação cooperativa de dímeros de repressor aos
sítios adjacentes. Estas características contribuem com aspectos adicionais de cooperatividade para o sistema que aumentam a
eficiência do mecanismo de comutador. (Estágio 4) O terceiro sítio de ligação ao repressor (003) é introduzido. Quando ligado a
este sítio, o repressor regula negativamente sua própria síntese de modo que sua concentração permanece abaixo de um nível
crítico e garante um mecanismo de comutador eficiente. (Adaptada, com permissão, de Ptashne M. e Gann A. 1998. Curr. 8iol.
8: R812-R822 . © Elsevier.)
Capítulo 18 Regulação Transcricional em Procar iotos 647
• - ct
) 1: r 1
PRM
I
PR
[
cro
1: r r-:=:•
PRE cll /
cll
r ,/
da lisogenia. O gene cl é t ranscrito a
partir de P" para estabelecer a lisogenia
e a partir de P"' pa ra manter essa condi-
OR sítio de ção. o repressor ligado em o_,. o.,
e não
lig{" só ativa o modo de manutenção, como
ta mbém desativa o estabelecimento da
: : : cll
expressão. ObseNa-se que P. não apenas
controla os genes líticos, mas também a
pRM PR pRE
sítio de expressão de cll e, por isso, é importa nte
OR
ligação na lisogenia e no desenvolvimento lítico .
Da mesma maneira, embora não mos-
; ct cro
- i >.:C i
cll
u
trado na figura, P,, que controla muitos
genes líticos. ta mbém controla o gene
)
' pRE c li
sítio de
ligação
c lll, que auxilia no estabelecimento da
lisogenia (ver texto). (Adaptada, com per-
missão, de Ptashne M. e Gann A. 2002 .
Genes&signals, p. 3 1. Fig . 1.14. © Cold
Spring Harbor Laboratory Press.)
(repressor) a partir desse promotor. Portanto, o gene repressor pode ser transcri-
to a partir de dois promotores diferentes (Pnr. e Pn., 1).
Pnr. é um promotor fraco, porque sua sequência -35 é muito pobre. A pro-
teína CII liga-se a um sítio que se sobrepõe à região -35, mas está localizado
na face oposta da hélice de DNA; interagindo diretamente com a polimerase,
CII ajuda esta a ligar-se ao promotor.
Apenas quando repressor suficiente tiver sido gerado a partir de PRFJ este
repressor poderá ligar-se a On1 e On2 e dirigir sua própria síntese a partir de PRM'
Portanto, vê-se que a síntese do repressor é estabelecida pela transcrição a
partir de um promotor (estimulado por um ativador) e depois mantida pela
transcrição a partir de outro promotor (sob seu próprio controle - autorregu-
lação positiva).
Pode-se ver agora, em resumo, como o CII orquestra a decisão entre o de-
senvolvimento lítico e o lisogênico (Fig. 18-31). Durante a infecção, a trans-
crição é imediatamente iniciada a partir dos dois promotores constitutivos,
Pn e P~.. O Pn dirige a síntese de Cro e de CII. A expressão de Cro favorece o
desenvolvimento lítico: uma vez que Cro alcança um determinado nível, ele
irá se ligar a OR3 e bloquear PnM· A expressão de CII, por outro lado, favorece
o crescimento lisogênico, porque promove a transcrição do gene repressor
(Fig. 18-31). Para uma lisogenia bem-sucedida, o repressor deve, então, ligar-
-se a Ü n1 e On2 e ativar Pn.w
A eficiência com a qual CII dirige a transcrição do gene c! e, portanto, a
taxa com a qual o repressor é gerado, é a etapa crítica na decisão de como À
vai se desenvolver. O que determina a eficiência de CII em uma determinada
infecção?
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Os genes envolvidos na escolha lítico/lisogênico foram identi · lisógeno, o DNA do fago integrado (prófago) continua ge·
ficados por triagens em mutantes de À, que cresciam eficien- rando repressor a partir do Prw.. Qualquer novo genoma de À
temente apenas como líticos ou apenas como lisogên icos . que entrar na célula será imediatamente ligado ao repressor,
Para entender como estes mutantes foram encontrados, de· o que não permitirá o crescimento lítico.
ve-se considerar como os fagos são cultivados em laboratório Em um estudo clássico, foram isolados mutantes de À
(ver Apêndice 1). As células bacterianas podem crescer sobre que formavam placas claras. Esses fagos mutantes são inca·
uma placa de ágar, formando uma camada opaca de células pazes de formar lisógenos, mas ainda crescem liticamente.
confluentes. Um fago lítico desenvolvido nessa monocama· Estas mutações claras de À identificaram três genes do fago,
da (ou tapete) produz placas claras, ou buracos (Fig. A-3). chamados cl, cll e clll (para claro I, 11 e 111). Em outros estu ·
Normalmente, cada placa é iniciada por um único fago que dos, foram isoladas mutações consideradas virulentas (vir).
infecta uma célula bacteriana. A progênie do fago dessa in · Elas definem os sítios do operador aos quais o repressor de
fecção infecta as células vizinhas, e assim por diante, causan- À se liga e foram isoladas com base no fato de que esse fago
do a morte (lise) das células bacterianas vizinhas à célula ori · pode crescer em lisógenas. Por analogia ao sistema fac, os
ginalmente infectada, e causando uma zona livre de cél ulas mutantes cl são comparáveis aos mutantes de repressor lac
na monocamada opaca de cél ulas bacterianas. (Iaei); mutantes vir são equivalentes aos mutantes do opera·
O bacteriófago À também forma placas, mas elas são dor fac (tacO) (ver Quadro 18-2) . Outra mutação reveladora
turvas (ou nubladas) - isto é, a região da placa é mais clara em um gene de hospedeiro foi identificada em um experi·
do que o tapete não infectado, mas apenas levemente. Ara· mento d iferente. O mutante é chamado de hff (do ing lês,
zão d isso é que o À, d iferentemente de um fago puramente high frequency of Jysogeny (alta frequência de lisogenia)).
lítico, lisa apenas uma proporção das células que infecta e as Quando essa linhagem é infectada com À de tipo selvagem,
outras sobrevivem como lisógenas. As lisógenas são resisten· ela sempre forma lisógenas, e mu ito raramente permite
tesa infecções subsequentes, podendo crescer na placa sem que o fago cresça pela via lítica. Esta linhagem bacteriana
serem afetadas pela massa de partículas fágicas presentes no é desprovida da protease que degrada a proteína Cll de À
meio. A razão desta "imunidade" é bastante simples: em um (ver texto).
teína N irn pede o término nos óperons iniciais de À, mas não nos outros
óperons bacterianos ou do fago. As sequências específicas de reconheci-
mento pelos antiterrninadores não se localizam nos terminadores onde
eles atuam, mas estão posicionadas em algum ponto entre o promotor e o
terminador. Para N, estes sítios são chamados de sítios nut (N utilization),
que estão a 60 e 200 nucleotídeos a jusante de PL e PR(ver Fig. 18-32). Con-
tudo, N não se liga a essas sequências de DNA, mas sim, ao RNA transcrito
a partir do DNA, que contém urna sequência nut. Portanto, urna vez que
a RNA-polirnerase tenha ultrapassado um sítio nut, N liga-se ao RNA e é
carregado na própria polirnerase. Neste estado, a polirnerase é resistente
aos terminadores que se encontram logo adiante dos genes N e cro. Em À,
N atua em conjunto com os produtos dos genes bacterianos nusA, nusB,
nusE e nusG. A proteína NusA é um importante fator de transcrição celular.
NusE é a proteína da subunidade ribossornal pequena 510, mas seu papel
na funç.ã o da proteína N é desconhecido. Nenhuma função celular da pro-
teína NusB é conhecida. Essas proteínas formam um complexo com N no
sítio nut, porém, se a concentração de N estiver muito elevada, esta pode
atuar na ausência das outras, sugerindo que é a própria N que promove o
antitérrnino.
Diferentemente da proteína N, a proteína Q de À reconhece as se-
quências de DNA (QBE) entre as regiões -10 e -35 do promotor tardio (PR.)
(ver Fig. 18-32). Na ausência de Q, a polirnerase liga-se a PR' e inicia a trans-
crição, para interrompê-la logo após 16 ou 17 nucleotídeos; a seguir, conti·
nua, mas pausa quando chega ao terminador (tR•), cerca de 200 pb a jusante.
Quando presente, Q liga-se a QBE assim que a polirnerase escapa do promotor
e é transferida deste sítio para a polirnerase pausada nas proximidades. Na
presença de Q, a ela ligada, a polirnerase é capaz de transcrever através de tR"
>ç
!i'r'"2
"•
elemento semelhante
-10 ao - 10 indutor
de pausa
b
conector o3.'4 desioca_d:,:o_ _ _ ___
do canal de ......
saída do RNA
S
Y
•
TGATGACAAAAAATTAGCGCAAGAAGACAAAAATCACCTTGCGCTAATGCTCTGT
ACTACTGTTTTTTAATCGCGTTCTTCTGTTTTTAGTGGAACGCGATTACGAGACA
, gene
' int
direção da transcrição
RESUMO
Em geral, um gene é ligado e desligado em resposta à neces- dor liga-se ao DNA com uma superfície e, com outra, liga-se
sidade de seu produto. Essa regulação ocorre predominante- à polimerase e a recruta para o promotor. Este processo é um
mente no nível do início da transcrição. Assim, em E. coli, por exemplo de ligação cooperativa, e é suficiente para estimular
exemplo, um gene que codifica uma enzima que metaboliza a a transcrição.
lactose é transcrito em níveis elevados apenas quando há lac- Os repressores podem inibir a transcrição ligando-se a
tose disponível no meio de cultura. Além disso, quando a gli- um sítio que se sobepõe ao promotor, bloqueando a ligação
cose (uma fonte energética melhor) também está disponível, o da RNA-polimerase. Os repressores também podem atuar de
gene não é expresso, mesmo na presença de lactose. outros modos, por exemplo, pela ligação a um sítio ao lado do
Os sinais, como a presença de um açúcar específico, são promotor e interação com a ligação entre polimerase e promo-
comunicados aos genes por proteínas reguladoras. Estas são tor, inibindo o início.
de dois tipos: ativadores, reguladores positivos que "ligam" os Os genes lac de E. coli são controlados por um ativador e
genes, e repressores, reguladores negativos que "desligam" os um repressor que atuam do modo mais simples explicado an-
genes. Esses reguladores são, basicamente, proteínas de ligação teriormente. Na ausência de glicose, CAP liga-se ao DNA pró-
ao DNA que reconhecem sitias específicos nos genes que elas ximo ao p romotor fac e, recrutando a polimerase para esse pro-
con traJam ou próximo a eles. motor, ativa a expressão desses genes. O repressor Lac liga-se a
Ativadores, nos casos mais simples (e mais comuns), um sítio que se sobrepõe ao promotor e bloqueia a expressão
atuam em promotores inerentemente fracos; isto é, na au- na ausência de lactose.
sência d e qualquer regulador, a RNA-polimerase liga-se fraca- Outro modo pelo qual a RNA-polimerase é recrutada
mente ao promotor (e assim inicia a transcrição). Um ativa- para diferentes genes é por meio do uso d e fatores u alterna-
Capítulo 18 Regulação Transcricional em Procariotos 653
tivos. Diferentes fatores u podem substituir o mais prevalente lador muda na presença de seu sinal. Em um estado, ele conse-
(u 70 em E. coll) e direcionar a enzima para promotores com gue ligar-se ao Dl\A, e no outro estado, não. Assim, por exem-
diferentes sequências. Os exemplos incluem u 32, que dirige a plo, o repressor Lac é controlado pelo ligante alolactose (um
transcrição de genes em resposta ao choque térmico, e u54, que derivado da lactose). Quando a alolactose se liga ao repressor,
promove a transcóção de genes envolvidos no metabolismo induz uma alteração no formato desta proteína; neste estado,
do nitrogênio. O fago SPOl utiliza uma série de u alternativos a proteína não pode ligar-se ao DNA.
para controlar a expressão ordenada de seus genes durante a A expressão gênica pode ser regulada em etapas poste-
infecção. riores ao inicio da transcrição. Por exemplo, a regulação pode
Em bactéóas, há exemplos de outros tipos de ativação ocorrer no nível do alongamento da transcrição. Exemplos
transcricional. A RNA-polimerase liga-se de maneira eficiente, considerados neste capítulo incluem a antiterminação pelas
e sem auxílio, a certos promotores, formando um complexo proteínas N e Q do bacteriófago À . As proteínas l\ e Q de À são
fechado estável, porém, inativo. Esse complexo fechado não carregadas nas Rl\A-polimerases que iniciam a transcóção em
sofre transição espontânea para complexo aberto e nem inicia determinados promotores do genoma do fago. Quando sofre
a transcóção. Em um promotor desse tipo, a presença de um esse tipo de modificação, a enzima pode ultrapassar sítios ter-
ativador é necessáóa para estimular a transição de complexo minadores da transcóção que, de outro modo, bloqueariam a
fechado para aberto. expressão dos genes localizados a jusante.
Ativadores que estimulam este tipo de promotor atuam Concluiu-se este capítulo com uma discussão detalhada
por alosteria; isto é, eles interagem com o complexo fechado sobre como o bacteóófago À escolhe entre dois modos alter-
estável, induzindo uma alteração de conformação que resulta nativos de propagação. Váóas estratégias de regulação gênica
na transição para complexo aberto. Neste capítulo, foram vis- encontradas neste sistema também atuam em outros sistemas,
tos dois exemplos de ativadores transcócionais que atuam por inclusive, como será visto em capítulos posteriores, nos sis-
alosteria. Em um caso, o ativador (NtrC) interage com a RNA- temas que controlam o desenvolvimento de animais - por
-polimerase (portadora de u") ligada como complexo fecha- exemplo, o uso da ligação cooperativa para produzir coman-
do estável ao promotor glnA, estimulando sua transição para dos mais ógorosos de ligar/desligar e o uso de vias separadas
complexo aberto. No outro exemplo, o ativador (MerR) induz para estabelecer e manter a expressão de genes. Também se
uma alteração conformacional no Dl\A do promotor merT. considerou como redes gênicas complexas e intricadas como a
Em todos os casos considerados, os próprios reguladores encontrada em À podem ter evoluído a partir de versões ante-
são controlados alostericamente por sinais: o formato do regu- riores mais rudimentares.
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QUESTÕES
Para respostns de q11est1Jes de ntlmero par, ver Apêndice 2: Respostns. a . na presença de gllcose e ausência de lactose.
b . na presença de gllcose e presença de lactosc.
Questão 1 . O n(vel de re&'Uiação mais comum da expressão
gênica ocorre no ln(do da transcrição. Explique o porquê. c. na ausência de glicose e ausência de lactosc.
d. na ausência de glicose e presença de lactosc.
Questão 2 . Forneça tras exemplos de regulação alostérica
discutidos neste capitulo. Questão 7. Uste três mecanlsmos para repressão transcricio-
nal em procariotos e, em cada caso, dê um exemplo de uma
Questão 3. A perda de repressão pelo ópcron Jac de E. co/i proteína que usa o mecanismo.
necessita de [3-galactosldase (codificada por JaeZ).
A. Explique o papel da [3-galactosidasc na perda de repressão Quest ã o 8. Você está estudando a proteína ZntR de E. co/i,
do óperon lac. homóloga a MerR, que responde a Zn(ll) para regular a trans-
crição de zntA, gene que codifica uma prote(na que auxilia na
8 . Na ausência de gllcose e estando o ópcron Jac no estado detoxificação de Zn(U). Formule duas perguntas para respon-
reprimido, preveJa como a [3-galactosidasc está presente der com seus experimentos que suportariam ou refutariam a
para realizar a função necessária para acabar com a repres- hipótese de que ZntR usa um mecanismo semelhante a MerR
são do óperon Jac. para ativar a transcrição de zntA.
Questão 4. Em uma niagem genética, pesquisadores isola- Quest ão 9. Considerando uma mutação de perda de fun-
ram mutantes de E. co/i que expressam constitutivamente os ção no domínio de tetramertzaçao do repressor ~ e usando a
genes do óperon araBAD. Figura 18-24, preveja o efeito funcional especifico da mutação
A. Descreva o que significa expressão constitutiva em termos no repressor ~-
de óperon araBAD.
8 . Dê um exemplo de uma mutação que poderia levar à ex- Questão 10.
pressão constitutiva dos genes araBAD. (Cite o nome da A. Explique por que é vantaJoso para o bacterlófago ~ regular
região do DNA ou do gene que codifica uma proteína fortemente o nível de repressor ~ produzido nas células
específica.) lisogênicas de E. co/i.
8 . Descreva o mecanismo de autorregulaçâo negativa pelo
Qu estão 5. No laboratório, você quer purificar uma pro- repressor X.
teína que é normalmente tóxica para células de E. co/i. Seu su-
pervisor sugere clonar o gene que codifica sua proteína em um Qu estão 11. Revise a Figura 1 do Quadro 18-4. Para as se-
vetor de expressão que usa o promotor de araBAD. Por que é guintes proteínas de ligação ao DNA, você espera que um grá-
ideal usar o promotor de amBAD para a expressão de seu gene fico da porcentagem de DNA ligado ve13us concentração de
de interesse em células de E. co//? proteína seja parecido com a linha vermelha ou com a linha
preta? Explique o porquê.
Questão 6. Considerando os seguintes mutantes c condi-
ções, preveja a expressao do gene JaeZ (ausência de expressão, A. NtrC e DNA regulador a montante do gene glnA .
nível de expressão basal, ou nível de expressão ativado). 8. CAP na presença de RNA-pollmerase e DNA a montante
A. Um mutante de E. co/1 que possui uma mutação no opera- do operador fac.
dor do óperon lac que impede a ligação do rcprcssor C. Domínio amino do repressor ~ (domín io carboxlla remo-
a . na presença de gllcose e ausência de lactosc. vido) e sítios operadores do repressor de X.
b . na presença de gllcose e presença de lactose. Quest ão 12. Você descobre um novo operador que é regula-
c. na ausência de gllcose e ausência de lactosc. do por um repressor em uma esp&ie procarlótica. Assumindo
d. na ausência de gllcosc e presença de lactose. que o repressor se liga a um sítio operador, proJete um expe-
rimento in vitro para identificar a região especifica à qual o
8 . Um mutante de E. co/i que possui uma mutação no pro- repressor se liga ao DNA sob condlçOes semelhantes às nor-
motor do óperon lac (para os genes JaeZ, JacY e lacA) que malmente encontradas para a repressão na célula.
impede a ligação da RNA-poltmerasc
Capítulo 18 Regulação Transcricional em Procariotos 655
Questilo 13. Descreva como fatores u alternativos atuam na Questão tS. A regulação de um novo óperon em E. coli en-
regulação da transcrição em procariotos. volve dois operadores, entre os quais se encaixa um promotor
e três genes estruturais. A RNA-polimerase transcreve os genes
Questilo 14. Pesquisadores estudando a ligação do repressor estruturais a partir do promotor, e um repressor espeáfico re-
).. aos três sítios de ligação no operador à direita produziram prime a transcriçllo a partir do promotoL Na presença do sinal
os dados da tabela a seguir. No experimento, eles realizaram relevante, a ligaçao do rcpressor ao DNA é rompida e a reprcs·
um ensaio de proteção com DNase I (ensaio de footprinting) são é aliviada.
usando DNA contendo os três sítios de ligaçllo em uma gama Para estudar o mecanismo de repressão, os pesquisadores
de concentrações de repressor. Para isso, eles calcularam a con· criaram um repórter contendo o promotor, mas substituíram
centraçllo relariva de dímeros de reprcssor necessária para ocu· os operadores por sítios operadores lac. O repressor lac selva-
par um sitio de ligação específico em metade das moléculas de gem conseguiu reprimir a expressão deste construto na célula.
DNA presentes (valores fomeddos na tabela). In vitro, os pesquisadores visualizaram complexos prote(na-
·DNA em mlcrografias eletrônicas usando o construto repórter
Concentração relativa de re-pressor
após incubação com o repressor I.ac selvagem ou um repressor
para cada sitio
l.ac mutante que se Uga a sítios operadores, dimeriza, mas não
consegue tetramerlzar. Os dados gerados a partir de suas obser·
DNA o., o., o., vações estão na tabela a seguir.
Tipo selvagem 25 2 I
MutanteX 5 5
Complexos DNA-proteína observados
MutanteY 25 2
Ligação ligação em
Proteína ONA livre únka tandem Alça
A. Com base nos dados para o DNA selvagem c as informa·
çOes do Capítulo 18, explique por que as concentrações Repressor lac 53 29 3 15
selvagem
relativas para O,. e O•z são praticamente as mesmas, ape·
sar de o., ter uma afuUdade 10 vezes maJor pelo repressor Repressor lac 42 44 14 o
de).. do que 0>2 (informações neste capitulo). mutante
Regulação
Transcricional
em Eucariotos
pode ser regulada em
N
AS CÉLULAS EUCARJÓTJCAS, A EXPRESSAO DE UM GENE
todas as etapas vistas para as bactérias e também em etapas adicionais.
Estas etapas adicionais incluem o processamento, como visto no
Capítulo 14. Em muitos casos, um determinado transcrito pode ser processa-
do de modos alternativos, formando diferentes produtos, processo este que
também pode ser regulado.
Mas, assim como nas bactérias, a etapa mais frequentemente regulada
é o início da transcrição. Na verdade, muitos dos princípios discutidos na
regulação da transcrição dos procariotos aplicam-se igualmente à regulação
da transcrição dos eucariotos. Esses princípios estão expostos nas primeiras
páginas do capítulo sobre regulação transcricional em procariotos (Cap. 18)
e no resumo apresentado ao fim daquele capítulo. Solicita-se que os leitores
que não leram o Capítulo 18 previamente (ou recentemente) examinem essas
passagens, antes de continuar o presente capítulo.
Também já se viu que a maquinaria de transcrição dos eucariotos é mais
elaborada do que a equivalente bacteriana (Cap. 13). Isso é especialmente
verdadeiro para a maquinaria da RNA-polimerase 11- que transcreve os genes
que codificam proteínas e a maioria dos genes de RNA reguladores. Apesar
dessa maior complexidade, também aqui a transcrição é regulada por ativado-
res e repressores- proteínas de ligação ao DNA que ajudam ou interferem no
início da transcrição em genes específicos em resposta a sinais apropriados.
Entretanto, existem características adicionais dos genes e das células eucari-
óticas que complicam as ações dessas proteínas reguladoras. A seguir, serão
resumidas as características adicionais mais significativas deste processo.
Os nucleossomos e seus modificadores Como visto no Capítulo 8, o genoma
dos eucariotos está compactado junto a proteínas chamadas histonas, for-
mando os nucleossomos. Por isso, a maquinaria de transcrição é apresentada
a um substrato parcialmente encoberto. Essa condição reduz a expressão de
muitos genes, na ausência das proteínas reguladoras. Células eucarióticas tam-
bém possuem várias enzimas que rearranjam, ou modificam quimicamente, as
histonas. Estas modificações alteram o nucleossomo de maneiras que afetam
a facilidade com a qual a maquinaria transcricional- e as proteínas de ligação
ao DNA em geral- consegue se ligar e operar. Portanto, os n ucleossomos cons-
tituem um problema que não é encontrado nas bactérias, mas sua modificação
658 Parte 5 Regu lação
1 2 3 4
O_llllll ) ) )
J J
275 pb
FI GURA 19· 3 As sequências regu ladoras do gene GAL 1 de levedu ras. A sequência
UAS0 (do inglês, upstream activating sequence for GAL lsequências ativadoras de GALa mon-
tante)) contém quatro sít ios de ligação, e cada um deles se liga a um dímero de Gal4 como mos-
trado na Figura 19-2. Embora não representado aqui, há outro sitio entre estes e o gene GAL1
que se liga a um repressor chamado M ig 1, o qual é discut ido mais adiante (ver Fig. 19-23).
CAPÍTULO 19 Regu lação Transcricional em Eucariotos 661
a b
região de .........._ domínio de ~
ativação ligação ao DNA \i\.,-'OAJ-...
Gal4 domínio
de ligação -......__
aoDNA
a:::::::"-
ij ::;c~~1:=::::.J:fi:a~ DESLIGADO
sítio para LexA
região de
sítio para Gal4 ativação - -" " " " '
deGal4
domínio de
ligação ao ONA
paralexA ' ~
u,.._ _ _ _ __ _ _':.-:.::::~ LIGADO
sítio para LexA
~ TÉCNICAS
Este teste é usado para identificar p roteínas que interagem da proteína (B) é fusio nado a um f ragmento que codifica
entre si. Assim, no caso apresentado na Figura 1 deste qua- uma região de ativação. Nenhuma dessas proteínas, quando
d ro, a ativação de um gene repórter depende da interação separadas, é capaz de ativar o gene repórter que contém os
entre as proteínas A e B (mesmo que normalmente essas sítios de ligação a Gal4 na célula de levedura (como demons·
proteínas não precisem, elas mesmas, atua r na ativação da trado nas duas primeiras partes da figu ra). Entretanto, quan·
t ranscrição). A indicação para o teste baseia-se na descober- do os dois genes formam um híbrido e são expressos juntos
ta, discutida no texto, de que o domínio de ligação ao DNA e em uma célula de levedura, a interação entre as proteínas A
a reg ião de ativação podem estar localizados em proteínas e B gera um ativador completo e o repórter é expresso (como
d iferentes, desde que haja interação entre as proteínase e demonstrado na parte inferio r da figura). Em uma elabora·
que a região de ativação esteja ligada ao DNA nas proximi- ção amplamente utilizada deste ensaio simples, o ensaio de
dades do gene a ser ativado. Na prática, o teste é realizado duplo-híbrido é usado para t riar uma biblioteca de ca ndida·
da seguinte ma neira. O gene que codifica uma proteína A é t os para encontrar qualquer p roteína que irá interagir com
fusionado a um f ragmento de DNA que codifica o domínio uma proteína inicial conhecida. Deste modo, a proteína A da
de ligação de DNA presente em Gal4. O gene de uma segun- figura seria a proteína de início (chamada de "isca"), en·
quanto a proteína B (a "presa") representa uma das muitas
alternativas codificadas pela biblioteca (para a descri ção de
como as bibl iotecas são construídas, ver Cap. 7). As células
& ...- região de de leveduras são transfectadas com as construções gênicas
V ativação que codificam a proteína A fusionada ao domínio de ligação
_ _.,.,gene ao DNA e com um segmento da bi blioteca que codifica vá-
(-.~.!_-:;;~I:-,.,=c::-::--!-,)=.---LT_ _...)] NÃO HÁ transcrição rias proteínas desconhecidas, fusionadas à região de ativa·
sítio de ligação ao DNA ção. Assim, cada célula de levedura contém a proteína A li·
gada ao DNA e a uma das alternativas de proteína B
fusionada a uma região de ativação. Qualquer célula conten·
A A do uma combin ação de A e B que seja interativa ativará o
dom ínio de ( li gene repórter. Essa célula formará uma colõnia, identificada
ligação ao DNA ;,; após o plaqueamento em um meio indicador adequado. Ba-
- r ..-... gene sicamente, o gene repórter seria o Iael, e as colõnias positi·
•==jJL~~-~h;;
1([ l ;;;;;;;;;::~l~~)) NÃO HÁ transcrição vas (as correspondentes a células que expressam o gene re·
pórter) seriam azuis em placas ind icadoras apropriadas.
AA
o
QUADRO 19-1 FIGURA 1 Como f u nciona o ensaio de
<y L gene • duplo-híbrido. O gene repórter usado em um ensaio destes
(lu_---:=-:f
b==="-',....-
?y- -1'---') transcrição seria normalmente o Iael ou algum outro gene que gera um
sítio de ligação ao DNA produto faci lmente detectável.
para uma atividade significativa. Mas se cada região ativadora é apenas uma
superfície adesiva geral, é fácil imaginá-la composta por unidades menores,
mais fracas. Regiões ativadoras e seus alvos não interagem da maneira "chave
e fechadura" .)
Recentemente, uma série de estudos estruturais de NMR investigou a na-
tureza da interação entre uma região ativadora ácida do ativado r de levedura,
Gcn4, e um de seus alvos na proteína Gall l (uma subunidade do Mediador; ver
Cap. 13). A região ativadora forma uma estrutura helicoidal ao ligar-se a uma
fenda do alvo. Mas esta estrutura é dinâmica e, de fato, pode ocorrer em várias
conformações e orientações diferentes, com apenas uma única interação hidro-
fóbica entre um resíduo na região ativadora e o alvo sendo essencial e encon-
trado em todos os casos. Este tipo de "complexo difuso" pode explicar por que
regiões ativadoras parecem ser capazes de interagir com várias proteínas-alvo
diferentes quando ativam a transcrição, como será discutido na próxima seção.
Existem outros tipos de regiões ativadoras. Estas incluem regiões ativa-
docas ricas em glutamina como a encontrada no ativador de mamíferos SPl.
Além disso, regiões ativadoras ricas em prolína foram descritas- por exemplo,
CAPÍTULO 19 Regu lação Transcricional em Eucariotos 665
em outro a tivador de mamíferos, CTFl. Essas regiões também não têm es-
truturas definidas. De modo geral, enquanto as regiões ativadoras ácidas são
tipicamente fortes e funcionam em todos os organismos eucarióticos em que
foram testadas, outras regiões de ativação são mais fracas e apresentam um
âmbito de atuação menos universal do que as da classe ácida.
(I
! ~
J
ativação do gene. Ou seja, a maquinaria não está pré-ligada, confirmando que
o papel do ativador é recrutá-la.
Em bactérias, viu-se que os genes ativados pelo recrutamento (como os
sitio para lexA genes lac) podem ser ativados em experimentos que dispensam o ativador
(Cap. 18, Quadro 18-1). No experimento, a ativação é observada quando a
FIGURA 19-10 Ativaçãodatrans·
crição por meio da ligação direta do
RNA-polimerase é recrutada ao promotor na ausência da interação natural en-
Mediador ao DNA. Este é um exemplo tre o ativador e a polimerase. Experimentos similares funcionam em levedura.
de experimento que dispensa um ati- Assim, o gene GALl (normalmente ativado por Gal4) pode ser ativado da
vador, co mo descrito no Capítulo 18, mesma maneira por uma proteína de fusão contendo o domínio de ligação ao
Quadro 18- 1. Neste caso. o gene GAL1 DNA da proteína bacteriana LexA, fusionado diretamente a um componente
é ativado na ausência de seu ativado r do complexo Mediador (Fig. 19-10).
normal, o Gal4, por uma fusão do domí- É importante notar que esses experimentos não excluem a possibilidade
nio de ligação ao DNA de LexA serem a de que pelo menos alguns ativadores não apenas recrutem partes da maqui-
um componente do complexo Mediador
naria transcricional como também induzam modificações alostéricas nelas.
(Gai11/Med15) (ver Cap. 13, Fig. 13-20).
A ativação depende dos sítios de ligação
Essas modificações poderiam estimular a eficiência do início da transcrição.
ao DNA de LexA serem inseridos a mon-
Entretanto, o recrutamento da maquinaria para um ou outro gene é a base da
tante do gene. Outros componentes sua especificidade; isto é, a escolha do gene a ser ativado depende do gene que
necessários para o início da transcrição - obteve sucesso no recrutamento da maquinaria para si. Além disso, o sucesso
como o TFII D- são supostamente ligados dos experimentos que dispensam o ativador sugerem que quaisquer eventos
junto com o Mediador e a Pol ll. alostéricos que ocorrem durante o início não requerem que o ativador faça
qualquer coisa além de recrutar proteínas para o gene.
~ TÉCNICAS
Quadro 1 9 • 2 Os ensaios de ChiP-Chip e ChiP·Seq são os melhores métodos para a identificação de reforçadores
No Capítulo 7, foi descrito o método de imunoprecipita- No proced imento de ChiP-chip, após a reversão da fi-
ção de cromatina (ChiP). Este método perm ite ao pesquisa- xação, todos os f rag mentos de DNA imunoprecipitados são
dor identifica r a quais sequências específicas do DNA uma amplificados por uma PCR na qual um iniciador genérico é
dada proteína está ligada no genoma de uma célula - e, ligado de maneira inespecífica às extremidades de todos os
de fato, com quais outras proteínas ela também interage. fragmentos d e DNA. Após a amplificação, as moléculas de
Como foi descrito, no proced imento de ChiP, células, teci- DNA são fluorescentemente marcadas e, então, em um pas-
dos, órgãos ou até mesmo embriões inteiros são tratados so final crucial, hibridizadas a um arranjo do genoma inteiro
com formaldeído para fixar proteínas de ligação ao DNA contendo f ragmentos ind ividua is do genoma que, j untos,
com suas sequências de DNA e outras p roteínas associa- representam o genoma intei ro. Isso permite a identificação
das . A cromatina fixada é clivada em pequenos fragmentos de onde estão os fragmentos d e DNA ligados à proteína de
com cerca de 200 pb. Um anticorpo contra a proteína de interesse no genoma inteiro da célula.
ligação ao DNA de interesse é usado para isolar os frag- A técnica de ChiP-chip tem sido utilizada para identificar
mentos de DNA ligados à proteína . Na ChiP convencional, a distribuição de várias proteínas reguladoras de interesse ao
a fixação é revertida e o DNA imunoprecipitado é utilizado longo do genoma. Um exemplo do poder desta técnica é sua
como molde pa ra amplificação pela reação em cadeia da aplicação aos fatores de transcrição sequência-específicos Na-
polimerase (PCR) com iniciadores de o ligonucleotídeos cor- nog, Sox2 e Oct4. Estas proteínas reguladoras são parcialmen-
respondentes a determi nados g enes de interesse. Assim, a te responsáveis pelas propriedades distintas das células-tronco
presença ou ausência de uma sequência amplificada revela embrionárias humanas, como sua capacidade de autorreno-
se a proteína de interesse estava ou não ligada à sequência vação e de gerar diversos tipos de células especializadas. Elas
de DNA nas célu las a partir das quais a cromatina tratada também são suficientes, quando expressas em células adu l-
com formaldeído foi isolada. tas diferenciadas, para induzir nestas células propriedades de
As técnicas derivadas deste método, ChiP-chip e ChiP-Seq, células-tronco que as tornam plu ripotentes - as chamadas
tornam-no muito mais poderoso. Em vez de testar apenas para células-tronco pluripotentes induzidas (células iPS, induced
ver se a proteína está ligada a sítios específicos previamente pluripotent stem cells) (para mais detalhes, ver Quadro 21 -1 ).
ident ificados, estes métodos possibilitam detectar cada sítio Anticorpos contra Nanog, Sox2 e Oct4 têm sido utili za-
ao qual a proteína de interesse se liga no genoma, mesmo que dos para a identificação completa dos sítios d e ligação in vivo
a localização e a sequência destes sítios sejam desconhecidas. para estas proteínas em células-tronco (Fig. 1 deste quadro).
CAPÍTULO 19 Regu lação Transcricional em Eucariotos 667
Mais de 100 potenciais reforçadores-alvo foram identificados mente importantes como reguladores do desenvolvimento,
como conjuntamente regulados pelas t rês proteínas. Alguns como Hoxb 1, o qual está relacionado aos genes homeóticos
destes reforçadores estão associados a genes reconhecida- de Drosophi/a (ver Cap. 21).
A versão mais nova desta técnica, chamada de ChlP-Seq,
9 é ainda mais poderosa e mais simples de executar. Uma vez
que os fragmentos de DNA ligados à proteína de interesse
são liberados pela reversão de sua fixação, eles são identifica-
dos pelo sequenciamento direto usando métodos de sequen·
ciamento de última geração (ver Cap. 7). Desta maneira, a se-
quência exata e a abundância de cada sequência-alvo podem
6 ser prontamente detectadas e medidas.
g
c
Q) Outra extensão destes métodos é vista na captura de
E
conformação cromossômica - ou 3C (descrita no Cap. 7).
&l Esta técnica é usada para identificar quando proteínas regu-
"
.2"
~
ladoras ligadas a um reforçador estão próximas à maquinaria
c
Q)
3 transcricional em um determinado promotor - uma proximi-
dade física interpretada para mostrar formação de alça entre
um reforçado r e o promotor.
Na 3C, o mesmo procedimento básico é seguido, como
já foi descrito, mas neste caso, as proteínas ligadas ao refor-
çador são f ixadas não apenas ao DNA, mas também a quais·
o quer outras proteínas com as quais interagem. Se isso incluir
43.970.295 43.961.219
posição cromossômica Hoxb1 proteínas ligadas a outros sítios do DNA (p. ex., o promotor),
I ~ então estes sítios de DNA também serão precipitados pelo
anticorpo contra a proteína de interesse o riginal. Antes de
reverter a fixação e, assim, enquanto os vários fragmentos de
QUADRO 19· 2 FI GURA 1 Identificação de reforçado· DNA ligados à proteína são mantidos juntos, uma reação de
res regulados por fatores de célu las-tronco pela técnica ligação é realizada, unindo as extremidades dos f ragmentos
de ChiP·chíp. Um arranj o do genoma humano inteiro tipo de DNA ligados à proteína original e as extremidades ligadas
tiling foi hibridi zado com fragmentos de DNA associados a a quaisquer outras proteínas complexadas a ela. A presença
Nanog (verde), Sox2 (vermelho) e Oct4 (azul). As três proteí· de moléculas híbridas específicas pode ser identificada de vá-
nas ligam-se a uma sequência flanqueadora 5' associada ao rias formas e pode revelar os fragmentos de d iferentes locali ·
gene Hoxbl . (Adaptada, com permissão, de Soyer L.A. et ai. zações no genoma (i .e., de um determinado reforçado r e um
2005 . Ce//122: 947-956, Fig . 2b. © Elsevier.) promotor conhecido) que foram aproximados.
a ativador b
complexo de
histona A remodelamento W
acetiltransferase da cromatina
~ ~
a maquinaria de transcrição a maquinaria de transcrição
liga-se ao promotor liga-se ao promotor
FI GURA 19-1 1 Alterações locais na estrutura da cromatina, dirigi das por ativa-
dores. Os ativadores que podem ligar-se a sítios no DNA de um nucleossomo estão ilustrados
ligados a m ontante de um promotor que está inacessível no interior da cromatina. (À direita)
O ativador recruta um remodelador de nucleossomo. o qual altera a estrutura dos nucleosso-
mos ao redor do pro motor, tornando-o acessível e ca paz de liga r-se à maquinaria de transcri-
ção. (À esquerda) O ativador aparece recruta ndo uma histona acetilase. Essa enzima adiciona
grupos acetil a resíduos da cauda das histonas (ba ndeiras azuis). Isso altera a compactação dos
nucleossomos e também cria sítios de ligação pa ra as proteínas portado ras de domínios de
reconhecimento apropriados (bromodomínios) (Cap. 8, Figs. 8-41 e 8-42). Juntos, esses efeitos
permitem a religação da maquinaria de transcrição ao promotor.
quando a cromatina está mais condensada (Cap. 8), essa ativação é elimina-
da, a menos que a acetilase seja recrutada para o gene.
Em leveduras, experimentos recentes forneceram boas evidências de intera-
ções particulares entre ativador e alvo em genes específicos. Como se observou
anteriormente, o ativador ácido Gcn4 interage com Gal11 (Med1S); ele tam-
bém interage com a subunidade TAF12 de TFIID e outros complexos envolvidos
na transcrição, incluindo o remodelador de nucleossomo SWI/SNF. Além disso,
Gal4 parece fazer contato com pelo menos três componentes: o Mediador, o
TFIID e um terceiro complexo chamado SAGA (Spt-Ada-GcnS-acetiltransferase).
O último destes complexos possui atividade de acetilação (ver Cap. 8, Tab. 8-7) e
parece também ser capaz de interagir com a maquinaria transcricional. De fato,
o SAGA, assim como TFIID, contém TAFs (fatores associados a TBP) (Cap. 13),
e é necessário em alguns promotores, no lugar de TFIID. Gal4 também recruta
SWI/SNF. A capacidade de um ativador ácido, como o Gal4, atuar em genes com
diferentes necessidades (p. ex., nos que necessitam de TFIID e de Mediador, bem
como em outros que necessitam de SAGA e de Mediador) pode ser explicada por
sua habilidade de interagir com múltiplos alvos.
Observou-se que fusões de um domínio de ligação ao DNA com uma
subunidade do Mediador podem ser suficien tes para ativação (Fig. 19-10).
Porém, embora a ativação alcance níveis normais nestes experimentos que
dispensam ativador, ela é mais lenta, ou seja, leva mais tempo para que a
expressão atinja níveis rapidamente alcançados por Gal4. Presumivelmente,
níveis considerados de ativação são alcançados mais lentamente no experi-
mento que dispensa o ativador devido à necessidade de outros componentes
da maquinaria chegarem independentemente neste caso, em vez de serem
diretamente recrutados como o são por Gal4.
~ CONEXÕES CLINICAS
Leucemia é um câncer sanguíneo caracterizado pelo aumento Sugeriu-se que a fusáo funcional destes dois complexos
de leucócitos imaturos. Leucemias infantis são bastante co- resulta na expressão gênica "descontrolada" nos leucócitos. A
muns, observadas em uma a cada 2.000 crianças com menos ideia é que os complexos MLL normalmente " marcam" certos
de 15 anos. A forma mais comum é chamada de LLA. ou leu- genes para expressão eventual via H3K4me3 em suas regiões
cemia linf oblástica aguda. Aproximadamente três quartos das promotoras. Essas m odificações geralmente resultam na li-
crianças diagnosticadas com LLA possuem rearranjos cromos- gação e pausa de Pol 11, mas não sáo suficientes para ativar
sômicos que resultam na síntese de proteínas de fusão MML. a expressão gênica. Entretanto, as fusões MLL provocam sua
A MML (do inglês, mixed Jineage /eukemia [leucemia de linha· ativação imediata porque SEC é recrutado para estes genes,
gem mista)) está relacionada à proteína Trithorax de Droso- onde desencadeia a liberação da Pol ll pausada do promotor.
phi/a, que é uma subunidade de um complexo modificador de
histonas chamado Set1 -COMPASS em leveduras. Estes comple-
xos ativam regiões do promotor pela metilação da lisina 4 da ~~\..
Ml l n
histona H3 (trimetilação de H3K4, ou H3K4m3). Em Drosophila, El l
o complexo de metilação H3K4 de Trithorax neutraliza os com- AFF 1 SEC
plexos de repressão Polycomb, responsáveis pela t rimetilação
de H3K27. Assim, os complexos MLL, Set1 e Trithorax são regu- LEDGF
ladores posit ivos da expressão gênica. Eles conferem um sinal
" positivo" à cromatina (H3K4me3) nas regiões promotoras de RNA-
genes programados para ativação. -polimerase 11
Curiosamente, a maioria das proteínas de fusão MLL que
resultam em leucemia linfoblástica aguda sáo fusões entre QUADRO 1 9 · 3 FI GU RA 1 Fusáofuncionaldedoisdos
MLL e uma ou outra subunidade do complexo de superalon- principais complexos reguladores da transcrição: quime-
gamento (SEC, super elongation complex), descrito no texto ras de MLL. Com o ilustrado aqui, a MLL associa-se a, ou fu-
e envolvido no alongamento da Pol 11. A proteína de fusão siona-se a, uma das várias proteínas de SEC. Menin, um cofa-
MLL mais comum é a MLL-AFF1, mas outras incluem MLL-ENL tor oncogênico, une MLL e suas proteínas associadas a LEDGF
e outras subunidades de SEC. Portanto, parece que há um (do inglês, lens epithe/ium-derived growth factor [fator de
mecanismo m olecular subjacente comum a várias leucemias crescimento derivado do epitélio do cristalino)), um coativa-
infantis diferentes: a fusão entre dois dos principais comple- dor t ranscricional. GTF, que se liga à Pol 11, representa um f a-
xos reguladores da transcrição, MLL (ou Set1, Trithorax) e SEC tor de transcrição geral, como uma subunidade do complexo
(ver Fig. 1 deste quadro). Mediador. (Figura gentilmente cedida por Ali Shilatifard.)
É possível que a Pol I! pausada seja também uma forma de excluir nucle-
ossomos inibidores da região promotora, tornando o promotor "engatilha-
do" para ativação rápida por sequências reguladoras a montante. Leveduras
geralmente são desprovidas de PolI! pausada, mas parecem usar uma estra-
tégia diferente para criar promotores engatilhados prontos ou "abertos". Es-
pecificamente, alguns promotores de leveduras contêm sequências ricas em
AT que diminuem a formação de nucleossomos. Talvez a Pol I! pausada e as
sequências ricas em AT do promotor alcancem o mesmo objetivo: manter os
promotores relativamente livres de nucleossomos e, portanto, prontos para
uma rápida indução. Como já foi discutido em detalhes, Gal4 ativa o gene
Gall em leveduras, ao ligar-se a seus sítios em UASg (ver Fig. 19-3). Existe,
na verdade, uma segunda proteína (RSC) que se liga a sítios dentro desta
região reguladora (Fig. 19-13). O papel de RSC é fixar e parcialmente desen-
rolar um nucleossomo sobre UASg. Esta ação tem dois efeitos: ao desenrolar
parcialmente o DNA do nucleossomo, ela garante que os sítios de ligação a
Gal4 estejam livres para sua ligação; e ao manter o nucleossomo em uma
posição fixa, ela coloca os nucleossomos próximos em fase, assegurando
que eles se liguem em locais definidos. Um destes está posicionado sobre
o sítio de início de transcrição e, após a ativação, Gal4 recruta SWI/Snf,
o 1
o
o
nnnum:!
UASg o
o
a
I
I ;•
.c=::> ·
o
j
F I GURA 19·13 O complexo RSC ajuda Gal4 a ativar de maneira eficiente na pre-
sença de nucleossomos. Como visto na Figura 19-3, Gal4 liga-se a quatro sítios de UASg, a
montante do gene Gal1. Outra proteína, a RSC, também se liga em sítios de UASg, conforme
indicado (em roxo). A RSC mantém um nucleossomo parcialmente desenrolado, tornando os
sítios de Ga l4 disponíveis, e coloca os nucleossomos circundantes em fase. Estes suprimem a
expressão basal mas são removidos, de maneira eficaz, após a ativação por SWVsnf recrutado
por Ga14. As localizações dos nucleossomos e o comprimento do DNA que eles incluem estão
indicados a seguir. em elipses verdes e azuis. (Redesenhada, com permissão, de Wang X. et ai.
20 11. Trends Genet. 27: 487-492, Fig . 1. © Elsevier.)
672 Parte 5 Regulação
fl fD, r i, ) LIGADO
res. (a) Promotor ativado por ativadores
ligados a um reforçador. (b) Um isolador
reforçador promotor
está colocado entre o reforçador e o pro-
motor. Quando ligado a uma proteína de
b
~ ligação ao isolador CTCF, a ativação do
I~.
I I
reforçador
l
isolador
t
promotor
) ) DESLIGADO
promotor pelo reforçador é bloqueada,
independente de os ativadores esta rem
ligados ao reforçador. (c, d) Os ativado-
res no reforçador e o promotor não são
c desativados pela ação do isolador. Assim,
d
L-'
H fÃ), · I K]Dj J LIGADO
reforçador isolador promotor reforçador
I
)
I
20kb
reforçador
rne
IFN·fl
'
reforçassomo
foi visto anteriormente). Isso explica por que diferentes reguladores podem
atuar juntos em tantas combinações distintas: como cada um deles pode usar
um arranjo de alvos, as combinações de atuação conjunta são ilimitadas.
Ambos os exemplos de integração de sinal considerados anteriormente
- o do gene HO em levedura e o do gene do interferon-13 humano - envol-
vem ativadores que também regulam outros genes em exemplos de controle
combinatório. Assim, o SWIS, do exemplo da levedura, participa na regulação
de vários outros genes. No caso dos mamíferos, NF-KB regula não apenas o
gene do interferon-13, como também vários outros genes, incluindo o gene da
cadeia leve Kda imunoglobulina em células B. Da mesma maneira, jun/ATF
atua com outros reguladores para controlar outros genes. Anteriormente,
informou-se que algumas proteínas de ligação ao DNA ligam-se a parceiros
alternativos na forma de heterodímeros. Isso oferece um nível adicional de
controle combinatório.
a
F I G U RA 1 9-2 O Controle combi-
gene A
natório. Dois genes estão representados,
cada um deles controlado por múltiplos
sítio 1 sítio 2 sítio 3 sítio 4 sinais - quatro no caso do gene A (a); três
no caso do gene 8 (b). Cada sinal é co-
b municado a um gene por uma proteína
reguladora . A proteína reguladora 3 atua
geneS sobre ambos os genes, em combinação
com regu ladores adicionais, diferentes
sítio 3 sítio 5 sítio 6 nos dois casos.
680 Parte 5 Regulação
+ + + + +
proteínas reguladoras
de genes: 8a
a1 Mcm1
ii
a1
a 8 i Mcm1
i
y
a2 Mcm1 a1 a2
T l
t
J
genes-alvo:
genes
específicos 11
8 l aSG •LIGA DO
)
aSG DESLIGADO aSG DESLIGADO
~
de a
aSG DESLIGADO JaSG •LIGADO uSG DESLIGADO
genes
específicos 11 ) í ) u l )
de ex
•LIGA DO •LIGADO
genes
específicos
de haploides
li
ihSG
) !1
i hSG
) fC!iJ hSG DESLIGADO
)
FI GURA 19- 21 Contro le de genes específicos d o tipo celular em levedu ra. Como
descrito em detalhes no texto, os três tipos celulares da levedura S. cerevisiae (as células ha-
ploides a e a, e a diploide a/a) são definidos pelos conjuntos de genes que expressam. Um
regulador comum (Mcm 1) e três reguladores específicos do tipo celular (a1, a1 e a2) regulam
conjuntamente três classes de genes-alvo. O locus MAT é a região do genoma que codifica os
reguladores do tipo acasalante (Cap. 12).
CAPÍTULO 19 Regu lação Transcricional em Eucariotos 681
que genes específicos de a não sejam aqui expressos: ela cobre a região
ativadora de Mcm l , impedindo que esta proteína atue como ativadora;
ela também reprime ativamente os genes. O mecanismo por meio do qual
o a2 atua como repressor será descrito na próxima seção.
• Nas células diploides, os genes específicos de a e de a estão desligados. Isso
ocorre porque os genes específicos de a ligam-se a Mcml e a2 do mesmo
modo que fazem nas células a. Isso os mantém desligados. Os genes especí-
ficos de a estão desligados porque, do mesmo modo que nas células a , não
existem ativadores ligados a eles.
• Os dois tipos celulares haploides (a e a) expressam outra classe de genes,
chamados genes específicos de haploides. Nas células diploides, esses
genes são desligados pelo a2, que se liga como heterodímero com a pro-
teína a 1 a montante deles. Estes dois reguladores estão presentes simulta-
neamente apenas nas células diploides.
Os detalhes moleculares da regulação dos genes de tipos acasalantes são
hoje conhecidos para outra espécie de leveduras. No Quadro 19-4, Evolução
de um circuito regulador, compara-se como genes específicos de a e de a são
regulados em S. cerevisiae e Candida albicans. A comparação revela como um
circuito regulador gênico pode evoluir, assunto que será retomado em capítu-
los subsequentes.
REPRESSORES TRANSCRICIONAIS
Viu-se que, nas bactérias, muitos repressores funcionam ligando-se a sítios
que encobrem o promotor, bloqueando, desse modo, a ligação da RNA-po-
limerase. Mas também foram vistos outros modos pelos quais eles podem
atuar: podem ligar-se a sítios adjacentes aos promotores e, interagindo com a
polimerase ligada, inibir o início da transcrição por essa enzima. Eles também
podem interferir na ação dos ativadores.
Todos esses mecanismos, exceto o primeiro (ironicamente, o mais comum
em bactérias), são encontrados nos eucariotos. Vê-se também outra forma de
repressão, talvez a mais comum em eucariotos, que funciona da seguinte ma-
neira. Assim como os ativadores, os repressores podem recrutar modificadores
de nucleossomos, porém, neste caso, as enzimas têm efeito oposto àqueles re-
crutados pelos ativadores - elas compactam a cromatina ou removem grupos
reconhecidos pela maquinaria de transcrição. Assim, as histonas desaceti-
lases, por exemplo, reprimem a transcrição removendo grupos acetil das cau-
das das histonas em S. cerevisiae; como já se viu, a presença dos grupos acetil
auxilia na transcrição. Paradoxalmente, a histona desacetilase Rpd3 também
é recrutada para genes ativos para garantir a fidelidade da transcrição. Os nu-
cleossomos são desacetilados atrás da Pol !I em alongamento para evitar o uso
de promotores "crípticos" dentro da unidade de transcrição.
Outras enzimas adicionam grupos metil a caudas de histonas, e isso fre-
quentemente reprime a transcrição, embora em alguns casos esta edição esteja
associada a um gene ativamente transcrito (ver Cap. 8). As modificações na
histona (e no DNA) também constituem a base de um tipo de repressão cha-
mado silenciamento, que será abordado em detalhes adiante, neste capítulo.
Estes vários exemplos de repressão são apresentados esquematicamente
na Figura 19-22. Aqui será considerado apenas um exemplo específico, ore-
pressor chamado Mig1 que, como Gal4, está envolvido no controle dos genes
GAL da levedura S. cerevisiae.
A Figura 19-23 mostra os genes GAL como vistos anteriormente
(ver Fig. 19-3), mas com a adição de um sítio entre os sítios de ligação a Gal4 e
o promotor: este é o lugar em que, na presença de glicose, Migl liga-se e desli-
ga os genes GAL. Portanto, do mesmo modo que ocorre em E. coli, a célula só
produz as enzimas necessárias para metabolizar galactose se a fonte energéti-
ca preferencial, a glicose, estiver ausente. Como Migl reprime os genes GAL?
682 Parte 5 Regulação
d*6
ção do ativador. Em uma variação deste
modo, o repressor pode ser um derivativo
da proteína do ativado r, mas sem a região !I I i $ inibição
ativadora. Uma outra variação, um ati-
vador que se liga ao DNA como dímero
pode ser inibido por um derivativo que
mantém a região da proteína necessá ria
para a dimerização, m as não possui o do-
mínio de ligação ao DNA. Esse derivativo
repressão
forma, com o ativador. heterodímeros direta
inativos. Em (b). um represso r liga-se a
um sítio de DNA ao lado de um ativa dor e
interage com ele, bloqueando sua região
ativadora. Em (c), um repressor liga-se a
um sítio a monta nte do gene e, por in- RNA-polimerase 11
teração com a maquinaria de transcrição
no promotor. inibe o início da t ranscri-
ção de algum modo específico. Em (d).
é demonst rada a repressão por recruta-
mento de modificadores de histonas que
alteram os nucleossomos de modos que
inibem a tra nscrição (p. ex., a desacetila- repressão
ção, demonst rada aqui. ou também pela indireta
metilação observada em alguns casos e.
até mesmo, o remodelamento em alguns
promotores).
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Conforme descrito no texto (e mostrado na Fig . 19-21}, os Ambas as espec1es de levedu ras compartil ham um
di ferentes tipos acasalantes da levedura S. cerevisiae expres· mecanismo comum para a repressão de hsgs em células
sam alguns de seus genes de maneira célula-específica . As· d iploides a/a (Fig . 1 deste quad ro). Célu las d iploides con ·
sim, em células a, os genes específicos de a são expressos e têm ambas as proteínas reguladoras de homeodomínio, a 1
os genes específicos de a não são expressos, enquanto em e a2. Estas proteínas formam um heterodímero fraco ao
células a, os genes específicos de a são expressos e os genes se ligarem a regiões reguladoras de hsgs, e reprimem sua
de a não são expressos. Outra classe de genes - genes especí· expressão. Em S. cerevisiae, heterodímeros a1/a2 também
ficas de haploides (hsgs) - é expressa em ambos os tipos ce· reprimem RME1 , um gene que inibe a entrada de células di·
lu lares (a e a) mas não na célula diploide a/a. Os produtos de ploides na meiose durante condições de baixa concentração
hsgs são necessários para o acasalamento - algo que células de nutrientes.
a e a fazem, mas que células a/a (o produto do acasalamen· A análise do acasalamento em uma terceira espêcie
to} não fazem. Sabe-se, em detalhes, como estes programas (K. lactis) revela uma camada extra na regulação de hsgs
são controlados por reguladores codificados pelos /oci MAT pela "intercalação" de RME1 nesta rede regu ladora (Fig. 1
atuando juntamente com o regulador Mcm1 . deste quadro). Nesta espêcie, RM E1 é um ativador crucial de
Estudos recentes fornecem um exemplo esclarecedor de hsgs em células a e a . Em células diploides, o heterodíme·
como as redes reguladoras gênicas evoluem. Considere t rês ro a1/a2 reprime hsgs, como também o faz em S. cerevisiae
espécies de leveduras, S. cerevisiae, K. /actis e C. albicans. e C. albicans. Porém, embora nestes casos a repressão seja
C. albicans e S. cerevisiae compartilharam um ancestral comum direta, em K. lactis a repressão é ind ireta: a1/a2 reprime a
entre 300 e 900 milhões de anos atrás. Se expressas em termos expressão de RME1 e, assim, eli mina a ativação de hsgs.
da divergência de proteínas conservadas, estas duas leveduras A evolução das redes por meio da intercalação de regu ·
são mais divergentes do que peixes e mamíferos. S. cerevisiae !adores permite que novos sinais sejam adicionados a vias
é usada na fabricação de cervejas e pães, bem como em experi· existentes. A intercalação de RME1 na rede de repressão
mentes laboratoriais, enquanto C. albicans é um patógeno hu- de hsgs adiciona outro nível de regulação ao permitir que
mano. Ainda assim, como ocorre em S. cerevisiae, C. albicans as condições nutricionais afetem a decisão de acasalar ou
apresenta dois tipos acasalantes - a e a - , cada um deles carac· não das células a e a . Estes estudos também mostram a
terizado pela expressão de conjuntos distintos de genes (genes importância de investigar mú ltiplas espêcies de uma filoge·
a-específicos em células a, genes a -específicos em células a, e nia para compreender como as redes reguladoras gênicas
hsgs em ambos os t ipos celulares). evoluem.
S. cerevisiae
hsgs ) ~
essenciais
:f
€@}\ J RME1) )
condições de
baixa concentração
K. Jactis de nutrientes
!
...J..:.
R::.:
M::::E;..:.
1.L- -'
I C. albicans
~
~
o
~ hsgs ) )
essenciats
QUADRO 19·4 FIGURA 1 Modelo simplificado para a evolução da regulação de hsgs essenciais em três leveduras.
As hsgs essenciais são reprimidas por a1·a2 nas três espêcies; assim, elas estão LIGADAS em células a e a , e DESLIGADAS em cé·
lulas a/a . Em S. cerevisiae e C. albicans, a repressão é direta (a 1·a21iga-se aos promotores destes genes), mas em Kluyveromyces
/actis, a repressão é indireta, por meio de Rme1. O circuito de conexão interligada na li nhagem K. lactis resultou em um novo
comportamento de acasalamento; esta espécie só consegue acasalar quando submetida a condições de baixa concentração de
nutrientes. (Adaptada, com permissão, de Booth L. et ai. 2010. Nature 468: 959-965. Fig. 4. © Macmillan .)
684 Parte 5 Regulação
também ser proteínas liberadas por uma célula e recebidas por outra. Isso é
especialmente comum durante o desenvolvimento dos organismos plurice-
lulares (Cap. 21).
Há vários modos pelos quais os sinais são detectados por uma célula e co-
municados para um gene. Em bactérias, viu-se que os sinais controlam as ati-
vidades dos reguladores por meio da indução de alterações alostéricas nestes
reguladores. Frequentemente, este efeito é direto: um pequeno sinal molecu-
lar, como um açúcar, entra na célula e liga-se diretamente ao regulador trans-
cricional. Entretanto, viu-se um exemplo em que o efeito do sinal é indireto
(o controle do ativador NtrC). Neste caso, o sinal (baixos níveis de amônia)
induz uma quinase, que fosforila o NtrC. Esse tipo de sinalização indireta é
um exemplo de uma via de transdução de sinal.
O termo "sinal" refere-se ao próprio ligante de início- por exemplo, o
açúcar ou a proteína. Foi assim que ele foi definido anteriormente. O termo
também pode referir-se à "informação" sobre a detecção do ligante, transferi-
da aos reguladores que controlam diretamente os genes- isto é, enquanto tra-
fega por uma via de transdução de sinal. Nos casos mais simples, em bactérias,
naturalmente não havia diferença, mas a diferença existe quando uma via de
transdução de sinal está envolvida. Será visto, em eucariotos -sobretudo no
Capítulo 21 -, que a maioria dos sinais é comunicada para os genes através de
vias de transdução de sinais, às vezes muito elaboradas. Nesta seção, primeiro
serão examinadas algumas vias de transdução de sinal em eucariotos. Depois
será considerado, de modo mais geral, como os próprios sinais, emergindo
dessas vias, controlam os reguladores da transcrição.
Em uma via de transdução de sinal, o ligante inicial é normalmente de-
tectado por um receptor de superfície celular específico: o ligante liga-se
a um domínio extracelular do receptor, e esta ligação é comunicada ao domí-
nio intracelular. A seguir, o sinal é retransmitido para o regulador de transcri-
ção relevante, frequentemente por meio de uma cascata de quinases. Como a
ligação de um ligante ao domínio extracelular é comunicada ao domínio in-
tracelular? Isso pode ocorrer por uma modificação alostérica no receptor que,
ao combinar-se com o ligante, modifica o formato (e a atividade) do domínio
intracelular. Alternativamente, o ligante pode, simplesmente, associar duas
ou mais cadeias do receptor, permitindo que as interações entre os domínios
intracelulares desses receptores se ativem mutuamente.
A Figura 19-24 mostra dois exemplos de vias de transdução de sinais.
O primeiro é um caso relativamente simples, a via STAT (do inglês, signal
transducer and activator of transcription [transdutora de sinal e ativadora de
transcrição)) (Fig. 19-24a). Neste exemplo, uma quinase é ligada ao domínio
intracelular de um receptor. Quando o receptor é ativado por seu ligante (uma
citocina), duas cadeias receptoras são aproximadas fazendo a quinase de cada
uma das cadeias fosforilar uma determinada sequência no domínio intrace-
lular do receptor oposto. Então, este sítio fosforilado é reconhecido por uma
proteína STAT específica que, uma vez ligada se autofosforila. Uma vez fosfo-
rilada, a STAT dimeriza, desloca-se para o núcleo e liga-se ao DNA.
O outro exemplo é mais elaborado (Fig. 19-24b): a via da proteína qui-
nase ativada por mitógeno (MAPK, mitogen-activated protein kinase) que con-
trola ativadores como jun, um dos ativadores que atuam no reforçador do
interferon-J3 descrito anteriormente (Fig. 19-18). Neste caso, o receptor ativa-
do induz uma cascata de eventos de sinalização, terminando na ativação de
uma MAPK que fosforila jun (e outros reguladores transcricionais). A forma
mais comum pela qual a informação é transmitida através de vias de trans-
dução de sinais é por fosforilação, mas a proteólise, a desfosforilação e outras
modificações também são utilizadas.
CAPÍTULO 19 Regu lação Transcricional em Eucariotos 685
a
citocina exterior da célula
\
11"\
a
citoplasma
SH2-(1~
quinase
núcleo
(JAK)
STA~
b
molécula-sinal exterior da célula
MAPKKK citoplasma
•
Gr~
~ osos r-~
!AoP.l
.... MAPKK
r-r;m [ADP)
entra no núcleo, ~ )
...,
liga-se ao DNA e - - • 7 '\ MAPK
ativa a transcrição f ~
!Aoil '"""
FIGURA 19-24 Duas vias de transdução de sinais em células de mamíferos. São apre-
sentadas as vias STAT e Ras. (a) A ligação da citocina ao seu receptor causa a aproximação das duas
cadeias deste receptor. Cada cadeia tem uma quinase, denominada JAI( ligada ao seu domínio in-
tracelular. A junção das cadeias (acompanhada de uma provável alteração conformacional provocada
pela ligação da citocina) leva à sua fosforilação pelas qu inases JAK (que também são mutuamente
fosforiladas, estimulando sua atividade de quinase). Os sítios fosforilados da cadeia do receptor são
reconhecidos pelas proteínas citoplasmáticas chamadas STATs. Cada STAT possui um domínio chama-
do SH2. Estes domínios são encontrados em várias proteínas envolvidas na transdução de sinal. Eles
reconhecem resíduos Tyr fosforilados em determinados contextos de sequências, sendo essa a base
da especificidade desta via. Isto é, uma determinada STAT, recrutada por um dado receptor, determi-
na q uais genes serão ativados subsequentemente. Uma vez recrutada pelo receptor, a própria STAT
é fosforilada pela quinase JAK. Isso permite que duas proteínas STAT formem um dímero (em que
o domínio SH2 de uma STAT reconhece o sítio fosforilado da outra e vice-versa). O dímero desloca-
-se para o núcleo, onde se liga a sítios específicos do ONA (diferentes para diferentes STATs) e ativa
a transcrição dos genes adjacentes. (b) Via Ras conduzindo para a via MAPK a jusa nte. Um fator de
crescimento (como o fator de crescimento epidermaQliga-se ao seu receptor, aproximando as cadeias
que, como no caso da STAT, fosforilam-se mutuamente. Isso recruta a proteína adaptadora Grb2, que
tem um domínio SH2 que reconhece um resíduo de tiro sina fosforilada no receptor ativado. A outra
extremidade de Grb2 liga-se a 50 5, um fator de permuta de guanina (Ras GEF). O SOS, por sua vez,
liga-se à proteína Ras, que está ligada à superfície interna da membrana celular. Ras é uma pequena
GTPase, proteína que adota uma conformação quando ligada a GTP e outra quando ligada a GOP;
a interação com 50 5 desencadeia em Ras a permuta de sua GOP ligada por uma GTP, promovendo,
assim, uma alteração conformacional. Nesta nova conformação, Ras ativa uma quinase do início da
chamada cascata de MAPK. A primeira quinase dessa via é chamada quinase da qu inase de MAPK
(MAPKKJ<) (Raf); quando ativada pela Ras, ela fosforila os resíduos de ser ina e de treonina da quinase
segu inte (a quinase de MAPK (MAPKK], chamada Mek). Isso ativa Mek que, por sua vez, fosforila e
ativa MAPK (Erk). Esta MAPK então, fosforila vários substratos, inclusive ativadores de transcrição
(p. ex., Jun) que regulam vários genes específicos, incluindo interferon-[3 (Fig. 19- 18).
686 Parte 5 Regu lação
!I ;f)
UASG sítio de Mig 1 LIGADO
os genes-alvo. A fosforilação de Rb causa sua liberação do E2F e, deste modo,
a ativação dos genes. O E2F controla os genes necessários para conduzir uma
célula de mamífero pela faseS do ciclo celular (Cap. 9). Assim, a fosforilação
de Rb controla a proliferação dessas células. As mutações que afetam essa
FI GURA 1 9 · 25 O ativador Gal 4 via frequentemente estão associadas à proliferação celular descontrolada e ao
de levedura é regulado pela p roteína câncer.
Gal80. Gal4 está ativo apenas na presen-
Transporte para dentro e para fora do núcleo Muitos ativadores e represso-
ça de galactose. No entanto, mesmo na
ausência de galactose. Gal4 encontra-se
res são mantidos no citoplasma quando não estão ativos. O ligante de sinali-
ligado a seus sítios a montante do gene
zação provoca seu deslocamento para o núcleo, onde atuam. Há muitas varia-
GAL1 . Nessas circunstâncias. porém, ele ções deste tema. O regulador pode ser mantido no citoplasma por interação
não ativa esse gene porque a região de com uma p roteína inibidora ou com a membrana celular, ou ele pode estar
ativação está encoberta pela ligação de em uma conformação em que uma sequência-sinal necessária à importação
uma proteína chamada Gal80. Na presen- para o núcleo esteja oculta.
ça de galactose, uma proteína chamada A liberação e o transporte para o núcleo, em resposta a um sinal, podem
Gal3 liga-se a Ga l80, desencadeia uma ser mediados pela proteólise de um inibidor ou da região de ligação, ou por
alteração conformacional e revela as re-
modificações alostéricas. Um exemplo disso será visto no Capítulo 21, em que
giões ativadoras de Gal4. Na figura, Gal80
será abordada a formação do eixo dorsoventral do embrião de Drosophila. Neste
aparece dissociada de Gal4, em presença
de ga lactose. Na verdade, supõe-se que
caso, Cactus é uma proteína inibidora que se liga ao regulador de transcrição
ela mude de posição e enfraqueça sua Dorsal, no citoplasma. Em resposta a um sinal específico, Cactus é fosforilada
ligação, mas não se desprenda comple· e destruída, liberando Dorsal, que penetra no núcleo, liga-se a sítios específicos
tamente. Como mostrado, M ig1 não está que fazem parte dos reforçadores adequados e regula a transcrição dos genes
ligado a seu sítio porque não há glicose associados (Cap. 21, Fig. 21-12). Este mesmo mecanismo é utilizado para con-
presente (ver Fig. 19-23). trolar a atividade de NF-KB, um dos reguladores do interferon-13, como discutido
CAPÍTULO 19 Regu lação Transcricional em Eucariotos 687
~ ~
telômero 1 a 5 kb
a b
,...
PRC2 PRC1
PRC1
l
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Foi proposta a existência de um código de histonas. De tilação adicional de outros nucleossomos próximos. Quan-
acordo com esta ideia, d iferentes padrões de modificações do a lisina-9 não está modificada, ela é associada a regiões
em caudas de histonas em um determinado gene poderiam silenciosas (como visto anteriormente para S. cerevisiae).
ser "lidas" de ma neira diferente (Cap. 8, Fig. 8-39). O "signi- Frequentemente, as histonas não acetiladas recrutam as en-
ficado" resultaria do padrão particular de mod ificações em zimas desacetiladoras, reforçando e mantendo o estado de-
cada caso recrutando u m conjunto d iferente de proteínas; o sacetilado (como visto na expansão das regiões silenciadas
conjunto especifico dependeria do número, do tipo e da dis· em S. cerevisiae). Por fim, esta mesma lisina pode, em de-
posição dos domínios de reconhecimento apresentados por terminados organismos, ser metilada: neste caso, o resíduo
estas proteínas. modificado liga-se a proteínas (p. ex., HP1) que estabelecem
Já foram vistas proteínas que reconhecem "marcas" de e mantêm um estado heterocromático.
acetilação ou metilação especificas nas histonas (p. ex., TFIID Mas as combinações de modificações podem ter signifi-
e HP1). Também há proteínas que fosforilam resíduos de se- cados d istintos? Um exemplo de como uma modificação de
ri na nas caudas de H3 e H4 e proteínas que se ligam a essas histona pode aparentemente influenciar uma segunda modi-
modificações. Assim, múltiplas modificações em várias posi· ficação presente nas imediações é novamente ilustrado pela
ções são possíveis nas caudas de histonas (Cap. 8, Fig. 8-39). proteína HP1 de Drosophila (Fig. 1 deste quadro). Durante
Adicione-se a isso a o bservação de que muitas das proteínas a metáfase, a proteína HP1 é temporariamente perdida dos
portadoras de domínios de reconhecimento de modificações cromossomos mitóticos, mesmo que retenham a "marca" es-
também são, elas próprias, enzimas que modificam adicio- sencial - metilação da lisina-9 da histona H3 (H3K9). A perda
nalmente as histonas e começa-se a revelar como pode ser da ligação de HP1 está associada com a fosforilação do resí-
o btido um processo de reconhecimento e de manutenção duo de serina vizinho na posição 1O de H3. Esta fosforilação é
dos padrões de mod ificação. mediada por uma quinase de ciclo celular chamada Aurora B.
Considere-se um caso simples - a lisina-9 na cauda da Esta quinase torna-se ativa apenas durante a fase M do ci clo
histona H3 (ver Cap. 8, Fig. 8-39). Diferentes estados de mo- celular, causando a liberação de HP1 da heterocromatina de
dificação desse resíduo apresentam significados d iferentes . cromossomos metafásicos.
Assim, sua acetilação está associada à t ranscrição ativa de A dissociação de HP1 pela quinase Aurora B parece ser
genes. Esse resíduo é reconhecido por várias acetilases de his- necessária para a ligação dos fusos mitóticos aos centrosso-
to nas portadoras de bromodomínios que estimulam a ace- mos e para a subsequente separação das cromátides-irmãs
durante a citocinese. Quando este processo é concluído, a
fosforilação da serina-10 é perd ida devido à atividade d imi-
I oi
p
domínio de
dobra da histona
nuída da qui nase Auro ra B, e HP1 reassocia-se com o cromos-
somo para manter a heterocro matina. Corroborando este
modelo, mutações que eliminam a quinase Aurora B levam à
metilação
do K9
Nc 1s
K Qj[}-c segregação aberrante.
Apesar destas observações, a existência de um códi-
9 10 go especifico ainda é altamente cont roversa, com padrões
complexos de modificações de histonas em um dado locus
gerando uma leitura altamente especifica. É provável que
ligação do HP1
l
condensação
N S.:
K
9
s
10
Qj[}-c muitas das modificações vistas em um gene sejam apenas
parte do processo pelo qual um gene é ativado ou reprimi-
do, em vez de ser o sinal iniciador; ou seja, eles são uma
da cromatina
consequência do fato de o gene estar "ligado" ou "desliga -
fosforilação
do", e não a causa . De fato, um estudo recente sugere que
linhagens aparentemente normais de Drosophila podem ser
do 5 10
([t::II:::IJ::l===========~ (DESLIGADO)
metilação •l
0 0 f 0 0
El) :!I JL t f f f tl f f f f f f f f
~
!:) (DESLIGADO)
proteínas que
se ligam ao
DNA metilado
histona complexo de
desacetilase remodelamento
da cromatina
--
mento isolador determ ina se a proteína
-........... de ligação ao ICR (CTCF) tem ou não a
ygf2 • LIGADO II ! <f! ) <f $ ES\.IGA0f / IJ capacidade de ligar-se e bloquear a ativa-
::l 7(
II
l 7f ) : ção do gene H19 a partir do reforçador
ICR H19
•
repressor de X • 1x repressor
•
cl
I
1
divisão
l
r
\.
. ~
•' r •r
~
.I.
~ ."";
!I
1t2x repressor
• • ..I
síntese de
repressor
auto positivo 1
r• •"";
• 1) • 1x repressor
.I. •
• :.1
FIGURA 19· 32 ' •
Controle epigenético da manutenção do estado lisogênico.
metitação
citosina c r c
não metilada 3'ê~·:;=:~ 5'
reconheci~tilase
5' 3'
C T T C T
replicação
. . . doONA não de
--------- pela met•lase •
3'
metilação
~ CONEXÕES CLINICAS
Várias doenças humanas são causadas pela desrepressão de empolgante torna a intervenção terapêutica em seres huma·
genes si lenciados. Aqui, serão abordadas duas condições, nos mais viável, apesar de ainda d ifícil.
cada uma delas causada pela perda de repressão de um gene A ligação entre MeCP2 e os sintomas da Rn não é to·
cujo mecanismo de repressão está descrito no texto: primeiro, talmente conhecida. Como se viu, MeCP2 é uma proteína
a síndrome de Rett, causada pela perda da proteína represso- repressora da expressão gênica, e um de seus genes-alvo co·
ra MeCP2; e segundo, a síndrome de Beckwith-Weidemann, difica o fator neurotrófico derivado de cérebro (BDNF, brain
causada pela perda de sítios de ligação para CTCF no ICR do derived neurotrophic factor). Esta proteína, um fator de cres·
gene lgf2. cimento, desempenha papéis no desenvolvimento do cérebro
A síndrome de Rett (RTI) é um distúrbio grave do es- e nas alterações sinápticas associadas à aprendizagem e à
pectro do autismo, observada em 1:10.000 meninas. Esta memória. Recentemente, descobriu-se que a atividade neural
condição é caracterizada pela perda das capacidades linguís- leva à fosforilação de MeCP2, modificação que causa a disso-
t icas e motoras no início da infância, microcefalia, convul- ciação do repressor do DNA, presumivelmente permitindo a
sões, comportamentos estereot ipados (como o torcer repe- expressão de seus genes-alvo. A perturbação destas ativida·
t itivo das mãos) e hiperventilação intenmitente. É uma causa des - expressão inapropriada de BDNF, por exemplo - possui
comum do retardo mental esporádico. A Rn é causada por apelo óbvio como uma explicação para, pelo menos, alguns
uma mutação no gene ligado ao X que cod ifica a proteína dos sintomas cognitivos da RTT.
repressora MeCP2 . Este regulador t ranscricional foi abo r- Existe uma pesquisa em andamento buscando as liga-
dado anteriormente no texto; ele reconhece sequências de ções entre MeCP2 e BDN F, e entre estas proteínas e a doença,
DNA metiladas e silencia a transcrição de genes próximos por assim como há para outros genes provavelmente relevantes,
meio do recrutamento de histonas desacetilases (Fig . 19-3 1). regulados por MeCP2 . O amplo espectro de sintomas - do
Camundongos portadores de um gene MeCP2 interrompido comprometimento cognitivo à marcha incomum - sugere
possuem sintomas semelhantes aos dos pacientes com Rn, que há provavelmente vários genes cuja má expressão é ne·
e isso é preservado em camundongos nos quais a perda de cessária para a expressão de todos os sintomas da doença.
MeCP2 está restrita ao cérebro. A síndrome de Beckwith-Wíedemann (BWS) é um dis·
Como o gene MeCP2 está no cromossomo X, as meninas túrbio de desenvolvimento que afeta 1:15.000. A cond ição é
com uma cópia defeituosa (as pacientes com RTT) são um caracterizada pelo supercrescimento (crianças com esta con·
mosaico: em células nas quais o cromossomo X portando a dição nascem prematuramente e são maiores do que o nor-
cópia (a leio) mutante do gene está inativado, MeCP2 selva- mal) e maior suscetibilidade a uma variedade de cânceres in-
gem é produzida; mas em células nas quais a cópia selvagem fant is (incluindo tumor de Wi lms). A síndrome também está
do gene está na cópia inativa do cromossomo X, MeCP2 não associada com expressão interrom pida de genes que estão
é produzida. Meninos portadores do gene mutante em seu sob impriting no cromossomo 11 p15.5, incluindo o gene do
(único) cromossomo X são desprovidos de MeCP2 em todas fator de crescimento semelhante à insulina2 (Jgf2, insulin·like
as suas células, e geralmente morrem por insuficiência respi- growth factor 2) discutido no texto (Fig . 19-31).
ratória com um a dois anos de idade. Conforme descrito, o gene Jgf2 é geralmente expresso
A Rn é considerada uma condição de neurodesenvolvi- como um monoalelo; ou seja, apenas um dos dois alelos
mento em vez de um distúrbio neurodegenerativo, porque os (neste caso, o ai elo paterno) é expresso como resultado do
pacientes - e os camundongos nocaute - apresentam mor- imprinting d o outro. Ao mesmo tempo, o gene H19 é ex-
fologia neuronal anormal, mas não morte neuronal. Mesmo presso apenas a partir do a leio materno. Vários casos de BWS
assim, acred itava-se que a deficiência de MeCP2 era crucial estão associados à expressão bialélica de lgf2 e nenhuma ex-
em um d eterminado ponto du rante o desenvolvimento, pressão de H19, resultado de uma metilação do ICR em am-
após o qual nem o restabelecimento de sua função rever- bos os cromossomos. IGF2 é um fator de crescimento fetal, e
teria o fenótipo. Recentemente, porém, desenvolveu-se um H19 é um RNA regulador (ver Cap. 20) potencialmente envol·
camundongo-modelo no qual a expressão de MeCP2 pode vido na supressão de tumor e, assim, o fenótipo da condição
ser manipulada, permitindo que o camundongo cresça até - supercrescimento e sensibilidade tu moral - faz sentido.
a vida adulta sem a expressão de MeCP2, antes de ativar a Assim como na RTT, os sintomas da BWS são mimeti·
expressão do regulador. Curiosamente, a produção de MeCP2 zados em camundongos adequadamente manipulados: a
na vida adulta foi suficiente para reverter os efeitos de sua superexpressão de Jgf2 produz supercrescimento geral d os
ausência ao longo d o desenvolvimento inicial. Este achado camundongos e o surgimento de tumores específicos.
teínas de ligação ao DNA dos RNAs (Cap. 20). Após a replicação do DNA, os
sítios hemimetilados em ambas as células-filhas são remetilados. Estes podem
ser reconhecidos pelo repressor MeCP2 que, por sua vez, recruta desacetilases
e metilases de histonas, restabelecendo o silenciamento (Fig. 19-30).
Modificações do nucleossomo poderiam, em princípio, fornecer a base
para a herança epigenética, embora nenhum exemplo disso tenha ainda sido
encontrado. Considere-se um gene que é desligado pela metilação das histo-
nas locais. Quando essa região do cromossomo é replicada durante a divisão
CAPÍTULO 19 Regulação Transcricional em Eucariotos 697
RESUMO
Assim como nas bactérias, o iníóo da transcrição é a etapa mais pria RNA-poHmerasc é trazida com esses outros complexos.
frequentemente regulada da expressão gênica nos eucariotos, O ativador também pode recrutar enzimas modificadoras de
apesar de, nesses organismos, haver etapas adicionais passíveis histonas, e os efeitos dessas modificações podem auxiliar na
de regulação. Também como nas bactérias, o iníóo da trans- Hgação da maquinaria de transcrição ao promotor ou iniciar
crição é caracteristicamente regulado por proteínas que se li- uma transcrição efióente.
gam a sequências específicas do DNA, próximas de um gene, Os ativadores podem interagir com um ou mais dos di-
ligando-o (os ativadores) ou desligando-o (os reprcssores). Essa versos componentes da maquinaria de transcrição ou dos
conservação do mecanismo de regulação é mantida mesmo modificadores de nucleossomos. Gal4, por exemplo, recruta
diante de várias complexidades da organização e da transcrição Mediador, SAGA, Swi/Snf e TFIID para os promotores confor-
dos genes eucarióticos, não encontradas em bactérias. me necessário. Em outros casos, fatores necessários para iní-
Em uma célula eucariótica, o DNA está empacotado com óo ou alongamento efióentes podem ser requeridos após a
histonas, formando os nuclcossomos. Assim, as sequênóas Hgação da poHmcrase - estes também podem ser recrutados
de DNA às quais a maquinaria de transcrição e as proteínas por ativadores. Isso expHca como eles podem atuar juntos tão
reguladoras se Hgam estão, em muitos casos, inacessíveis. En- prontamente, em grande número e em várias combinações,
zimas que modificam histonas, pela adição (ou remoção) de e expHca a generalização do uso da integração de sinais e do
pequenos grupos químicos, alteram estas proteínas de duas controle combinatório que se observa, sobretudo, em organis-
maneiras: mudando a força com a qual os nucleossomos estão mos pluricelularcs.
empacotados (c, portanto, o quão acessível está o DNA den- Alguns ativadores atuam a partir de sítios distantes do
tro dele) e formando (ou removendo) sítios de Hgação para gene, o que exige que o DNA forme uma alça entre os seus
outras proteínas envolvidas na transcrição do gene. Outras sítios de ligação e o promotor. Não está esclarecido como po-
enzimas "remodelam" os nucleossomos; elas usam a energia dem se formar alças em distânóas tão grandes como as que
da hidróHse do ATP para deslocar os nucleossomos, alterando se tornam necessárias em alguns casos, mas, muito provavel-
a disponibilidade das sequências. Um importante mecanismo mente, isso envolve alterações na estrutura da cromatina entre
de ativação transcrióonal é a remoção de nucleossomos no os sítios de Hgação do ativador e do promotor, resultando na
núcleo do promotor. É possível que formas inativas, porém, li- aproximação desses dois elementos, e o uso de coesinas para
gadas, de Pol I! (Pol 11 pausada ou "engatilhada") mantenham estabilizar as alças. Sequências de DNA, chamadas isoladores,
as regiões promotoras em uma condição "aberta" ou Hvre de Hgam proteínas que interferem na interação entre os ativado-
nuclcossomo, promovendo, assim, a indução rápida e eficien- res ligados a reforçadores distantes e os seus promotores. Eles
te da expressão gênica quando sinais apropriados se tornam poderiam funcionar por meio de mecanismos de inibição que
disponíveis. facilitassem a formação das alças (como modificações na estru-
Caracteristicamente, os genes dos eucariotos multicelula- tura da cromatina). Os isoladores ajudam a assegurar que os
res são controlados por um número maior de proteínas regula- ativadores atuem somente sobre os genes corretos.
doras, algumas delas ligadas muito distantes do gene, em com- Repressores eucarióticos atuam de várias maneiras. Entre-
paração a seus equivalentes bacterianos. Isso reflete o maior tanto, o mecanismo mais comum visto em bactérias - Hga-
número de sinais fisiológicos que controlam um gene típico ção do repressor a um sítio sobreposto ao promotor - não é
em organismos multicelulares. normalmente observado em eucariotos. Em alguns casos, os
A enzima RNA-poHmerase é muito conservada entre as repressores Hgam-se próximos a ativadores em reforçadorcs e
bactérias e os eucariotos (Cap. 13). No entanto, um promotor evitam que estes ativadores medeiem a aproximação do refor-
eucariótico típico possui cerca de 50 proteínas adióonais que çador ao promotor via formação de alça. Além disso, os repres-
se ligam junto com a poHmerase. Muitas delas são conduzidas sores eucarióticos funcionam por recrutamento de modifica-
ao promotor em grandes complexos proteicos. dores de histonas que diminuem a transcrição. Por exemplo,
Assim como visto nas bactérias, os ativadorcs eucarióticos enquanto a histona acetilasc está geralmente associada à ati-
funcionam predominantemente por recrutamento. Entretan- vação, a histona desacetilase - isto é, uma enzima que remove
to, nesses organismos, eles não recrutam a poHmcrase direta- grupos acetila - age para reprimir um gene.
mente ou sozinhos. Eles recrutam outros complexos proteicos Em alguns casos, longos segmentos de Dl\A nudeossomal
necessários para inióar a transcrição de um dado gene. A pró- podem ser mantidos em estado relativamente inerte, devido
698 Parte 5 Regulação
a modificações apropriadas nos nucleossomos, mais notavel- Se a expressão de um gene for mantida em um estado ao
mente por desacetilação e metilação. Deste modo, grupos de longo da divisão celular - na ausência de uma mutação ou de
genes podem ser mantidos em um estado "silencioso" sem um sinal que iniciou este padrão- diz-se que ele é epigeneti-
necessidade da ligação de repressores específicos a cada gene. camente herdado. Alças de fatores de transcrição autorregula-
Em alguns organismos eucarióticos, como os mamíferos, dores podem conseguir isso. Além disso, a metilação do DNA
os genes silenciados também estão associados ao DNA meti- pode afetar a expressão gênica e ser facilmente herdada, como
lado. As sequências metiladas podem bloquear a ligação da foi visto. A herança epigenética por meio do uso de modifica-
maquinaria de transcrição e dos ativadores ou essas sequên- ções de histonas é geralmente discutida como uma possibiH-
cias podem ligar-se especificamente a uma classe de repres- dade, mas permanece desconhecida a extensão com qual elas
sores que recrutam enzimas modificadoras de histonas que exercem este papel na ausência de influência das proteínas de
reprimem os genes próximos. A metilação do DNA pode ser ligação ao DNA, RNAs reguladores ou metilação do DNA.
mantida durante a divisão celular, bem como os padrões de
expressão gênica controlados por esta metilação.
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QUESTÕES
Para respostas de questões de número par, wr Apêndice 2: Respostas. B. Um pesquisador deddlu realizar um ensaio de ChiP usan·
do um anticorpo contra a proteína X e iniciadores de PCR
Questão 1 . O tipo mais comum de regulaçao da expressão específicos para a região que inclui o gene Y. Dê um exem-
gênlca ocorre em nível de transcrição. Cite outros tipos de plo de pergunta feita pelo pesquisador que o teria levado
regulação da expressão gêníca em células eucarlóticas. Existe a estas escolhas.
algum tipo de regulação única de células eucarlótlca.s, quando
comparada a células procarióticas? Questão 7. Lembre-se do uso do controle combinatório
na regulação da expressao gênica espeáfica de tipo aca.s a·
Questão 2. Compare os elementos de sequênda de DNA en- !ante de S. cerevisiae. Descreva como Mcm1 atua reprlmin·
volvidos na regulação da transcrição em células bacterianas e do e ativando a transcrição de genes-alvo em células MAT
eucar!ótlcas. a haploides.
Questão 1 2. Você decidiu estudar três proteínas - A, B e C Questão 13. Você quer produzir uma linhagem transgênica
- com potenciais papéis na regulação transcricional em célu- do nematódeo C. elegans. O gene xyz é expresso em todas as
las de mamíferos. Você faz um EMSA (do inglês, electrophoretic células do embrião. Você fusiona o promotor (Pxyz, 300 pb)
mobility shi{t assay [ensaio de alteração da mobilidade eletro- do gene xyz ao gene que codifica a proteína fluorescente verde
fética]). Os dados estão apresentados a seguir. Para revisar esta (GFP, green {luorescent protein) (900 pb). Você injeta o constru-
técnica, veja o Capítulo 7. Todas as reações continham tampão to (ilustrado a seguir) no verme. O construto insere-se alea-
de ligação e fragmentos de DNA marcados, incluindo a se- toriamente no genoma e, então, é herdado de maneira estável
quêncta do sítio de ligação ao DNA para a Proteína A, uma se- por toda a progênie.
quêncta a montante de um gene de mamífero. A(s) proteína(s)
purificada(s) adictonada(s) está(ão) indicada(s) acima do gel. ... ···...... ·· ·· ·----liJP~x~
yzJI~G~F~P::::Jf--- ...... ···· .....
+ + + Proteína A
+ + Proteína B Embora xyz deva ser expresso em todas as células do em-
+ + Proteína C brião, a progênie deste adulto injetado não expressa GFP. Você
confia em suas habilidades de injeção e acredita que o constru-
to, de fato, integrou-se no genoma do verme injetado.
------
Você decide reinjetar o mesmo construto em outro
verme adulto, em uma tentativa de integrar o construto
+ em outro local do genoma. Você fica feliz ao observar que
Canaleta 1 2 3 4 5 6 todos os embriões deste verme adulto apresentam expres-
são de GFP em todas as células (conforme observado no
microscópio de fluorescência).
A . Com base nestes dados, a Proteína A liga-se ao DNA? Ex-
plique sua resposta. B. Você quer estudar a localização subcelular da proteína
XYZ. Sugira uma modificação no construto da parte A que
B. Forneça uma explicação para o resultado observado na
iria permitir o estudo da localização da proteína XYZ na
canaleta S. Use também os dados da canaleta 2 em sua
célula. Explique seu raciocínio.
resposta.
C. Proponha um modelo de como a Proteína B potencial-
mente ativa a transcrição.
CAPÍTULO 20
RNAs Reguladores
como a transcrição é regulada em
N
OS DOIS ÚJ:rJMOS C APÍTULOS, DISC UTIU-SE
procariotos e eucariotos. Aprendeu-se que este controle é alcançado
usando proteínas reguladoras- normalmente, proteínas de ligação ao
DNA sequência-específicas que ativam ou reprimem a transcrição de genes
próximos. Os detalhes mecanísticos da regulação gênica têm sido estudados
desde que François Jacob e Jacques Monod propuseram seu modelo de re-
pressão há mais de 50 anos (Cap. 18, Quadro 18-2). Naquela época, eles não
sabiam se os fatores em trans (repressores) eram proteínas ou RNA. Transpa-
recia que, nos casos que estudaram (e, de fato, na maioria dos casos), os regu-
ladores eram proteínas que atuavam pela ligação a sítios operadores do DNA.
Todavia, em seu artigo original, eles sugeriram que os reguladores poderiam
facilmente ser moléculas de RNA- de fato, eles favoreciam esta possibilidade.
A ideia de que moléculas de RNA poderiam ser reguladores foi ampla-
mente esquecida à medida que mais e mais proteínas reguladoras eram en-
contradas em procariotos e eucariotos. Mas, nos últimos anos, houve uma
explosão no estudo de reguladores de RNA, particularmente em eucariotos,
que operam em nível de transcrição e, sobretudo, tradução. Este novo campo
emergiu a partir de duas fontes: a descoberta dos microRNAs, primeiramente
descritos no início da década de 1990 e, então, a descoberta do fenômeno
conhecido como RNA de interferência no fim da década de 1990. Antes de
estas formas de regulação serem descritas- como elas funcionam e as aplica-
çôes que permitem aos cientistas-, serão abordados casos de regulação gênica
mediada por RNA em bactérias.
Nos últimos anos, a atenção tem sido voltada para pequenas moléculas
de RNA de bactérias que regulam a tradução e a degradação de mRNA. O in-
teresse nestes pequenos RNAs foi aumentado por sua semelhança a RNAs que
regulam a expressão gênica em eucariotos- os pequenos RNAs de interferên-
cia e os microRNAs que serão discutidos na segunda metade deste capítulo.
Uma classe de RNAs reguladores bacterianos (chamados de sRNAs)
atua em trans para controlar a tradução de genes-alvo, parecido com o que
microRNAs fazem em eucariotos. No entanto, eles são maiores (80 a 110 nu-
cleotídeos) do que os RNAs reguladores eucarióticos (que variam de 21 a 30
nucleotídeos) e, em geral, não são formados pelo processamento de precur-
sores de RNA de dupla-fita (dsRNA) maiores (como o são os reguladores de
RNA eucarióticos); em vez disso, eles são codificados em sua forma final por
pequenos genes. Vários destes genes foram identificados por bioinformática,
com mais de 100 sRNAs sendo descobertos em E. co/i. A maioria dos sRNAs
atua pelo pareamento de bases com sequências complementares nos mRNAs-
-alvo e dirigindo a destruição do mRNA, inibindo sua tradução ou até mesmo,
em alguns casos, estimulando a tradução.
A ligação de um sRNA a seu mRNA-alvo é, na maioria dos casos, auxiliada
pela proteína bacteriana Hfq. Esta chaperona de RNA é necessária porque a
complementaridade entre os sRNAs e seus mRNAs-alvo é normalmente im-
perfeita e curta e, assim, sua interação é fraca. A Hfq facilita o pareamento de
bases. Além disso, ao ligar-se aos sRNAs mesmo antes que eles estejam parea-
dos com seus alvos, a Hfq aumenta a estabilidade destes reguladores.
Um sRNA bastante estudado de E. co/i é o RNA RybB, com 81 nucleo-
tídeos. Este sRNA liga-se a vários mRNAs-alvo e desencadeia sua destruição
porque o trecho de dupla-fita do heterodúplex formado pelo pareamento é
reconhecido como substrato pela nuclease RNase E. A maioria dos mRNAs-
-alvo de RybB codifica proteínas de armazenamento de ferro. Ferro livre é ne-
cessário para a célula sob certas condições, mas altos níveis são tóxicos. RybB
regula os níveis de ferro livre pelo controle de proteínas de armazenamento
de ferro. RybB é expresso a partir de um promotor reconhecido por um fator
u especial chamado ut (assim como us, um fator u de resposta ao estresse).
A própria expressão do gene que codifica ut é regulada por RybB e, assim, este
sRNA faz parte de um circuito regulador autonegativo para u E.
O fator u de fase estacionária us, mencionado anteriormente, é codificado
pelo gene rpoS de E. co/i. A tradução do mRNA de rpoS é estimulada por dois
sRNAs: DsrA e RprA. A ativação é alcançada por uma troca no pareamento de
bases de RNA alternativo: os pequenos RNAs ligam-se a uma região do mRNA
que de outro modo parearia com o sítio de ligação ao ribossomo, inibindo a
tradução. O gene rpoS também é controlado negativamente por outra peque-
na molécula, OxyS. A Figura 20-1 mostra estes dois mecanismos.
Outros exemplos de RNAs reguladores em bactérias atuam simplesmente
como RNAs "antissenso": eles são codificados pela fita oposta à fita codifica-
doca de um gene e atuam pelo pareamento de bases homólogas para inibir a
expressão do mRNA produzido a partir do gene. Estes tendem a estar associa-
dos com genes que codificam produtos potencialmente tóxicos, e também
na regulação de alguns genes de fago (como em Ã) (ver Cap. 18). Em geral,
diz-se que estes RNAs atuam em eis porque agem apenas no gene a partir do
qual foram gerados (ao contrário dos sRNAs de atuação em trans descritos
anteriormente).
Os RNAs reguladores de atuação em trans serão retomados na segunda
metade deste capítulo, onde será abordado seu papel na regulação da expres-
são gênica em eucariotos. Mas antes de a atenção ser voltada para este tópico,
serão abordados outros exemplos de regulação gênica mediada pelo parea-
mento de RNA alternativo em bactérias, que operam verdadeiramente em eis.
Estes são elementos reguladores de RNA que controlam a expressão dos genes
em cujos mRNAs eles residem. Os exemplos mais marcantes são os chamados
ribocomutadores, que controlam óperons metabólicos e a atenuação em
CAPÍTULO 20 RNAs Reguladores 703
a
ativação
o pareamento com sRNA expõe o RBS
2! RBSs"::'
eq~u~ê"::'
nc~ia~co
=d:':'
ifi"::'
ca:":d:":'o':':
ra--
b repressão
RBS sequência codificadora o pareamento com sRNA inibe a ligação
ao ribossomo
hélice
sequestradora
DESLIGA DO
SAM 4--~
3'
terminador transcricional haste-alça (ver Cap. 13). SAM- o ligante para este
ribocomutador- liga-se ao aptâmero e estabiliza a estrutura secundária que
inclui este terminador transcricional (como mostrado na base da Fig. 20-3a).
Sob estas circunstâncias, a transcrição é terminada antes que a polimerase
tenha a chance de transcrever o segmento codificador de proteína do gene a
jusante. Esta forma de regulação transcricional é também chamada de ate-
nuação. (Observa-se a semelhança mecanística com o sistema trp descrito no
Quadro 20-1.) Em outro caso- em outro gene- um ribocomutador sensor de
SAM pode atuar pela regulação da tradução. Neste caso, como mostrado na
Figura 20-3b, a estrutura secundária alternativa estabilizada pela ligação de
SAM ao aptâmero inclui uma haste-alça que, embora não seja um terminador
transcricional, inclui o sítio de ligação ao ribossomo (RBS; na região 4). Esta
alteração conformacional sequestra o RBS e bloqueia o início da tradução pe-
los ribossomos (ver Cap. 15). Esta forma de inibição da tradução é, portanto,
essencialmente idêntica à descrita anteriormente para os sRNAs de atuação
em trans (Fig. 20-1). Os detalhes das alterações na estrutura secundária do
RNA induzidas pela ligação de SAM a um ribocomutador estão mostrados na
Figura 20-4.
Vários ribocomutadores foram identificados, e resultados atuais de se-
quenciamento do genoma inteiro sugerem que há provavelmente centenas
ou milhares deles em espécies de bactérias. Mesmo os exemplos bem-carac-
CAPÍTULO 20 RNAs Reguladores 705
ru
5
C
U
U
G C
A U
A U
G c3
A U
A U
G C
Nat. Struct. 8iol. 10: 70 1-707, Fig . Sb. ©
Macmillan .)
UA
Gc c u u
u C G
u ,_.,(,., U A
U A
C G + SAM
U A
CI G U A
U- A C G
1 A- U 2 3 C G 4
U- A C G c
~~ ~u a· ~
ru
5
u
U- A
U- AGAAGCGUU
c U
U
"
~
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Em E. co/i, os cinco genes contíguos trp codificam enzimas segundo grampo (além do grampo de término) pode ser
que sintetizam o aminoácido triptofano. Esses genes só são formado entre as regiões 1 e 2 do líder (ver Fig. 2 deste
expressos de maneira eficiente quando o tri ptofano está em quadro). Segunda, a região 2 também é complementar à
concentração limitante (Fig . 1 deste quadro). Estes genes são região 3; podendo, portanto, ser formado mais um grampo
controlados por um repressor, assim como os genes fac, em- com as regiões 2 e 3 e, quando isso ocorre, não há forma -
bora, neste caso, seja a ausência de seu ligante (o triptofano) ção do grampo de término (3, 4). Terceira, o RNA do líder
que alivie a repressão. contém uma fase de leitura aberta que codifica um peque-
O que é surpreendente, porém, é q ue depois de iniciar no peptídeo-líder, com 14 aminoácidos, a qual é precedida
uma molécula de mRNA de trp, nem sempre a polimerase por um forte sítio de ligação ao ribossomo (ver Fig . 2 deste
completa todo o transcrito. Assim como nos ribocomutado- quadro).
res, a decisão de produzir um transcrito completo é contro· A sequência que codifica o peptídeo-líder tem uma ca-
lada por atenuação; neste caso, a maioria dos transcritos é racterística muito interessante: dois códons de triptofano em
prematuramente terminada, antes mesmo de incluírem o pri- sequência. Quando a concentração de triptofano é baixa, há
mei ro gene de trp (trpé). Contudo, a atenuação é superada muito pouco tRNA de triptofano carregado disponível, e o ri-
se os níveis de triptofano forem baixos na célula; quando o bossomo para ao chegar aos dois códons de triptofano . Nes-
triptofano é limitante, a polimerase não termina e, em vez tas circunstâncias, oRNA nas proximidades dos códons de
disso, transcreve todos os genes trp. A ocorrência ou não triptofano está no interior do ribossomo e não pode partici-
de atenuação depende da habilidade de os RNAs formarem par do grampo. A consequência desse cenário é apresentada
estruturas secundárias alternativas, assim como ocorre com na Figura 3 deste quadro.
os ribocomutadores. Neste caso, entretanto, a escolha entre Um ribossomo parado nos códons de triptofano
estruturas alternativas formadas pelo RNA-Iíder não é contro- (parte b) encobre a região 1, deixando a região 2 livre para
lada pela ligação do ligante d iretamente ao RNA; em vez dis- parear com a região 3; portanto, o grampo de término (for-
so, a escolha de alternativas depende do acoplamento entre mado pelas regiões 3 e 4) não será formado e a transcrição
transcrição e tradução em bactérias. não é atenuada. Por outro lado, se houver triptofano sufi·
A sequência da extremidade 5' do mRNA do óperon trp ciente (e, portanto, suficientes tRNAs carregados com Trp)
inclui uma sequência-líder de 161 nucleotídeos a montante para permitir o avanço do ribossomo por meio dos códons
do primeiro códon de trpE (Fig. 2 deste quadro). Próximo ao de triptofano, o ribossomo bloqueia a sequência 2 e, durante
fim dessa sequência-líder, e antes do trpE, existe um termi- este período, as regiões de RNA 3 e 4 estarão sendo produzi-
nador de transcrição, constituído por uma alça em grampo das. Assim, o terminador forma-se, atenuando a transcrição,
característica no RNA (formada pelas sequências das regiões e os genes trp não são transcritos.
3 e 4 da Fig. 2 deste q uadro), seguida por oito resíduos de O óperon trp é controlado por repressão e atenuação,
uridina (ver Cap. 13, Fig . 13-13). A transcrição geralmente fornecendo uma resposta de dois estágios à redução pro-
para após este terminador (e poderíamos pensar que a pa- gressivamente mais rigorosa dos níveis de triptofano. Con -
rada deveria ser obrigatória) produzindo um RNA·Iíder com tudo, a atenuação, por si, pode fornecer regulação robusta:
139 nucleotídeos. Esse RNA é produzido quando há altos ní- outros óperons de aminoácidos, como leu e his, dependem
veis de triptofano. totalmente da atenuação para seu controle. No caso da leuci-
Três características da sequência-líder permitem que o na, o peptídeo-líder do óperon da leuci na tem quatro códons
terminador sej a transposto pela RNA-polimerase quando a de leucina adjacentes, e o peptídeo-líder do óperon da histi-
concentração celular de triptofano está baixa . Primeira, um dina contém sete códons de histidina em sequência.
operador
promotor
mRNAirp - - -
!
RNA - ...
QUADRO 20 ·1 FIGURA 1 Óperon trp. O óperon do triptofano de E. co/i, mostrando a relação do líder (ver texto) com os
genes estruturais que codificam as enzimas do Trp. Os produtos gênicos são a antranilato-sintetase (produto do trpE), a fosfor·
ri bosila ntra ni lato-transferase (trpD), a fosforri bosila ntra nilato-isomerase-i ndolglicerolfosfato-si ntetase (trpC), a fHriptofano-
· sintetase (trpB) e a a·triptofano-sintetase (trpA).
(continua)
708 Parte 5 Regulação
Quadro 2 O· 1 (Continuação)
~,t.UGCACUUG
<>
.........
<>
"c:.... peptídecHider
C:. Méi-Lys-Ala-lle-Phe-Val-t.&u-Lys-Giy- - Arg- Thr-Ser-(térmmo)
~G~~~~~~~~~~~~~~~7
~CAAUGAAAGCAAUUUUCGUACUGAAA GUUGGUGGCGC,t.CUUCC
1
do líder
(sitio de atenuação)
QUADRO 20·1 FIGURA 2 RNA·Iíder do operador de trp. Características da sequência nucleotíd ica do RNA-Iíder do
ó peron t rp.
região codificadora
do peptídeo-líder
peptídeo-líder
oódons de lriptofano
QUADRO 20· 1 FIGURA 3 Término da transcrição no atenuador de trp. O término da transcrição no atenuador do óperon trp
é controlado pela di sponibilidade de triptofano. A caixa em roxo mostra a região codificadora do peptideo-líder. (a) Condições de
triptofano elevado: a sequência 3 pode parear com a sequência 4, formando um grampo de término de transcrição. (b) Condições
de triptof ano reduzido: o ribossomo para nos códons de triptofano adjacentes, deixando a sequência 2 livre para pareamento com
a sequência 3, impedindo a formação do grampo de término 3-4. (c) Ausência de síntese proteica: se nenhum ribossomo iniciar a
tradução do peptideo-líder AUG, o grampo é formado pelo pareamento das sequências 1 e 2, impedindo a f ormação do g rampo
2· 3 e permitindo a formação do grampo de término com as sequências 3-4. As enzimas Trp não são expressas.
CAPÍTULO 20 RNAs Reguladores 709
~ ~
indicados na parte superior. Na pa rte in-
ferior da figura, vê-se o arranjo destas se-
sequência-lider quências (o número delas é extremamen-
(l r "'"D"'),.-J~) ~
1]DDDDU DfjD te variável); a sequência-lider proximal
ta mbém é apresentada. (Adaptada. com
permissão, de Karginov F.V. e Hannon G.J.
20 10 . Mo/. Cel/37:7-1 9, Fig.1 A.B, p. 8 .
espaçadoras de comprimento semelhante mas com sequências altamente di- © Elsevier.)
vergentes. Em uma das extremidades do arranjo está uma chamada sequência-
-líder, geralmente rica emA-Te com cerca de 500 pb de comprimento.
Estes agrupamentos não são raros- de fato, as CRISPRs foram encontra-
das em metade de todos os genomas bacterianos sequenciados, e essencial-
mente em todos os genomas de arque bactérias. Em muitos casos, há apenas
um agrupamento por genoma, mas não é incomum haver mais, e o número
pode chegar a 20 ou mais - e em um caso quase 400 foram detectados em
uma espécie de Chloroflexus. Mas como eles surgem, e o que eles fazem?
A primeira pista de sua origem veio da curiosa observação (um achado
puramente de bioinformática) de que um número significativo de sequências
espaçadoras eram idênticas a regiões de fagos ou plasmídeos conhecidos. Isso
levou rapidamente à proposta de que estes arranjos estavam envolvidos em
algum tipo de mecanismo de defesa contra a entrada de ácidos nucleicos es-
tranhos na célula.
O suporte experimental para este modelo veio quando células de bac-
térias resistentes que surgiam em populações desafiadas com um dado fago
apresentaram sequências espaçadoras incorporadas derivadas do fago. Da
mesma maneira, a sensibilidade reduzida a um fago poderia ser conferida ou
anulada pela adição ou remoção das sequências espaçadoras relevantes. Além
disso, as bactérias tornavam-se mais resistentes à infecção por um dado fago
à medida que adquiriam mais sequências espaçadoras deste fago. Mostrou-se
também que os vírus recuperam a capacidade de infectar estas células previa-
mente resistentes quando adquirem mutações nestas regiões de seus genomas
que doaram- e, portanto, são complementares- às sequências espaçadoras.
Um conjunto de genes codificadores de proteínas conservado está forte-
mente associado às sequências CRISPR. Os dois membros mais altamente con-
servados (casl e cas2, significando CRISPR associated [associados a CRISPR])
são encontrados em todos os casos, mas outros genes cas, e genes mais distan-
temente relacionados, são menos frequentes. Estes genes codificam proteínas
envolvidas em diferentes aspectos da função de CRISPR, como será discutido
adiante. Um exemplo da complexidade observada em alguns casos reais é
apresentado na Figura 20-7.
CRISPR de E. co/i
l l l i i~l l i i
a
! complexo Cascade
ONA-alvo
t '
5' alavanca
L_
~ 3' 5'
IIAI\Iiih RNA-a
l
'
1
iiiii
t
!llrll!!ftttt!!l ll! l!lrllll!n !!ll!!l!!rllllllltlttllll!l!!
lllllttltltHIItuttllllllllttiUtU UUIIIII
FIGURA 2 0 - 9 A operação antivi ral dos loci CRISPR de E. co/i e P. furiosus. O sistema
de E. co/i (a) tem o DNA exógeno como alvo, enquanto o de P furiosus (b) tem o RNA como
alvo. Embora semel hantes de várias manei ras. o mecanismo de processamento e a operação
f inal dos dois sistemas são diferentes, como dest acado no texto. Em a. o pré-crRNA é pro-
cessado pela subunidade CasE do complexo Cascade (CasE é codificada pelo gene cse3 na
Fig. 20-7). crRNA e Cascade são então dirigidos para, e clivam, o ONA-alvo com auxílio de Cas3
de maneira ainda não totalmente esclarecida. Em b, Cas6 (ver Fig. 20-7) processa o pré-crRNA,
e este, unido a um complexo diferente de Cascade, age sobre o RNA virai com um mecanismo
análogo ao sistema de RNAi de eucariotos. (Adaptada de Jore M .M . et ai. 2012. Cold Spring
Harb. Perspect. Biol. 4 : a003657. © Cold Spri ng Harbor Laboratory Press.)
citoplasma
núcleo siRNAs
~;m"~R4IS-C----------~
to de uma RNA-polimerase dependente
de RNA. pelo complexo siRNA-RISC, pa ra siRNA
o RNA-alvo. e siRNA atua como iniciador
para que esta enzima transforme o alvo
!
em dsRNA. que pode então, ele mesmo, ligação do complexo a
ser processado por Dicer. As RdRPs são mRNA-alvo
encontradas em plantas, vermes e na
levedura Schizosaccharomyces pombe
(Saccharomyces cerevisiae não possui a
maquinaria de RNAi). e a im portâ ncia
desta etapa de amplificação será vista no
!
caso do silenciamento do centrômero de RdRP alonga
S. pombe(Fig. 20-18). siRNA
RdRP
-;-JJi)m!!iWU!!uuu 3•
--1 clivagem por Dicer
novos
siRNAs
, lll!llliii
, -
SINTESE E FUNÇAO DAS MOLECULAS DE miRNA
·'
~ u 2.
~
A
c
~
todos de verme. lin-4 e let-7 fora m ge-
neticamente identificados; os chamados
"= J/ u E ~ c •
u c de miR foram encont rados por bioinfor-
u c
u
c mática. (Modificada, com permissão, de
u c Lim L. P. etal. 2003. GenesDev. 17: 991,
c u u
u
u
A
cffi G
c
Fig. 6. © Cold Spring Harbor Laboratory
~
A Press.)
G c u c
G c
~
A
u c
~ u G
u A u
c
~c c c
G
c G
u
5' 3' 5' 3'
ram identificados nos quais ambos os braços da estrutura dão origem aos
miRNAs fundonais, cada um deles com seu próprio conjunto de genes-alvo
(nestes casos, os dois miRNAs são vermelho e azul na Fig. 20-12). Atual-
mente, considera-se que a produção de miRNAs a partir de ambos os braços
é algo comum. Os pré-miRNAs podem ser codificados por qualquer parte
de um transcrito: ou seja, eles podem estar em regiões codificadoras, em
regiões-líder, ou em íntrons (Fig. 20-13).
A estrutura secundária característica de um transcrito primário portando
um miRNA (pri-miRNA) tornou possível predizer sua presença com base no
dobramento calculado da estrutura secundária da sequência de RNA. Além
disso, em muitos casos, candidatos para os genes-alvo regulados podem tam-
bém ser preditos, porque o silenciamento depende da complementaridade de
sequência entre o alvo e o miRNA maduro. O pareamento de bases entre miR-
NA e o RNA-alvo é iniciado por interações dos chamados resíduos-semente-
em geral, a sequência entre as bases 2 e 9 do miRNA de 22 nucleotídeos. Esta
é a região de maior complementaridade e, assim, é a região mais útil na iden-
tificação de genes-alvo. Obviamente, estabelecer que um miRNA realmente
existe requer que sua presença seja detectada em células (p. ex., por northern
blot) e que a expressão gênica a partir dos mRNAs-alvo seja afetada por sua
presença.
As duas reações de clivagem necessárias para gerar o miRNA a partir des-
tes transcritos primários são mediadas por duas RNases distintas. Uma de-
las é Dicer, que já introduzimos e que também é necessária na geração de
siRNAs. A outra, especificamente necessária para o processamento de miRNA,
é Drosha. Uma característica destas enzimas é que elas reconhecem e clivam
RNAs com base na estrutura de seus substratos, em vez de sua sequência es-
pecífica. Agora a atenção será voltada para como estas enzimas funcionam.
716 Parte 5 Regulação
S1 R
pré-miRNA em íntron de RNA não codificador
cap5' _ _ _ _ _ _ __ _ _ _ __ u.n_______
Um miRNA ativo é gerado por meio de um
processamento nucleolítico de duas etapas
A primeira etapa é realizada pela enzima Drosha, membro da família de enzi·
mas da RNase !I!. Drosha realiza duas clivagens que cortam a região da haste·
-alça do RNA (pré-miRNA) do transcrito primário de RNA (pri-miRNA). Esta
enzima atua junto com uma proteína de subunidade de especificidade es-
sencial (chamada Pasha em alguns organismos e DGCR8 em outros) e, jun-
tas, estas duas proteínas formam um complexo Microprocessador ativo.
O pré-miRNA gerado por Drosha possui geralmente de 65 a 70 nucleotídeos.
Drosha reside no núcleo da célula, e o evento de clivagem catalisado por ela
ocorre neste compartimento celular.
A haste pareada no pri-miRNA possui normalmente cerca de 33 pb (três vol·
tas de hélice de dsRNA) e contém apenas alguns malpareamentos (Fig. 20-14).
No "topo" da haste, há uma alça de tamanho variável (em geral, relativamente
grande, com cerca de 10 n ucleotídeos); a sequência desta região da alça não
é crucial para as reações de processamento. É importante notar que, para o
processamento por Drosha, um RNA de fita simples (ssRNA), desprovido de
estrutura secundária significativa, é necessário no flanqueamento de cada ex-
tremidade (5' e 3') da haste-alça. As junções ssRNA-dsRNA são responsáveis por
determinar, em grande parte, a especificidade de clivagem de Drosha.
A região da haste pode ser dividida em dois segmentos funcionais: uma
haste inferior, com cerca de 11 pb, e uma haste superior, com cerca de 22 pb
(Fig. 20-15). Drosha d iva a 11 pb de distância das junções dsRNA-ssRNA, ou
seja, entre as hastes inferior e superior no pri-miRNA. Portanto, as duas cU-
vagens geram o pré-miRNA com cerca de 65 nucleotídeos, composto pelos
22 pb (duas voltas de hélice) de dsRNA e a alça superior. As enzimas da família
CAPÍTULO 20 RNAs Reguladores 717
da RNase III são específicas para dsRNA e o clivam de maneira a deixar um a prí-míRNA
trecho de dois nucleotídeos livres nas extremidades 3' do produto de dsRNA.
Este trecho 3' não pareado é importante para o reconhecimento desta molé-
cula de RNA pela próxima enzima da via, Dicer.
~~
1i'pb,_-
-
1
2"'2" p:õ:'b..J
a modelo de Dicer os miRNAs são gerados apenas por Dicer; apesar de não estar claro como elas
(Gíardia intestinalis)
conseguem abrir mão da ação anterior de Drosha.
lâmina
SILENCIAMENTO DA EXPRESSÃO
GÊNICA POR PEQUENOS RNAs
Até o momento, vimos como os pequenos RNAs são gerados a partir de pre-
cursores de RNA de dupla-fita ou miRNA. Agora, a atenção é voltada para
como estes pequenos RNAs silenciam a expressão de seus genes-alvo.
domínio PAZ
reconhece a
extremidade
3' do ANA
do que à de S . cerevisiae (ver Cap. 8, Fig. 8-8). Cada centrômero possui uma
região central, de sequências bastante características, flanqueada por uma
série de repetições comuns a todos os centrômeros. As repetições são impor-
tantes para a função, e contribuem para a formação da heterocromatina e
para o silenciamen to transcricional associado com a região, como será visto
adiante. As histonas na heterocromatina possuem marcadores de repressão:
baixos níveis de acetilação e metilação na lisina-9 da cauda da histona H3
(H3K9).
S. pombe possui apen as um único gene para cada um dos principais com-
ponentes da via de RNAi - Dicer e Argonauta. Organismos mais complexos
possuem múltiplos genes para Dicer e Argon auta, com funções parcialmente
redundantes, tornan do mais difícil a manipulação genética desta via. Além
disso, ao contrário da situação em moscas e vermes, a perda da via de RNAi
não é letal para S. pombe, embora isso prejudique o crescimen to das células
ao, por exemplo, perturbar a segregação cromossômica. Foi surpreen dente,
no entanto, descobrir que a perda de qualquer um dos componentes da via de
RNAi levava à perda da metilação da histona H3K9 e à perda do silen ciamen-
to gênico nos cen trômeros, sobretudo porque este silenciamen to era reconh e-
cidamente transcricional. Até esta descoberta, pensava-se que o RNAi atuava
apenas pós-transcricion almente.
O ponto-ch ave para entender este silenciamento transcricional parece ser
as próprias repetições cen troméricas; estes elementos de sequên cia são trans-
critos a partir de ambas as fitas pela RNA-polimerase li, produzindo transcri-
tos complemen tares que podem hibridizar para formar dsRNAs -processo
que é amplificado por RdRP (como se viu na Fig. 20-11). Os RNAs, por sua
vez, sofrem a ação da maquin aria de RNAi para gerar siRNAs que, de alguma
forma - que ainda permanece desconh ecida - d irigem um complexo seme-
lhante ao RISC contendo Argon auta (chamado de complexo de silen ciamen-
to transcricional induzido por RNA (RITS, RNA-induced transcriptional silen-
cing]) para os cen trômeros. Os siRNAs poderiam, teoricamen te, fazer isso pelo
reconh ecimento do DNA nos centrômeros, por meio do pareamento de bases
sequência-específico diretamente com o molde de DNA. Todavia, mais pro-
váveis são modelos nos quais os siRNAs recrutam RITS para transcritos presos
ao centrômero pela RNA-polimerase li. O recrutamento resulta n o fatiamen to
dos transcritos cen troméricos, que, por sua vez, é necessário para alastrar o
aparato de modificação de histon as ao longo do cen trômero (Fig. 20-18). Por-
tanto, a própria transcrição pode alastrar o silenciamen to quando os transcri-
tos são alvos do RNAi.
Como foi mencionado anteriormente, os toei de tipo acasalante de
S. pombe são também transcricionalmente silenciados, e aqui o silen ciamen-
to não é perdido em linhagens mutantes defectivas para RNAi. Acredita-se
que o RNAi atue também neste caso, mas apenas no estabelecimen to ini-
cial do estado de silenciamen to - ele não é necessário para a manutenção
do silenciamen to uma vez que este estiver estabelecido. Outros mecanismos
baseados em proteín as mantêm o estado reprimido- assim como o fazem em
S. cerevisiae (Cap. 19). Acredita-se também que oRNAi possua um papel no
silenciamento da heterocromatina de outros organismos, abrangen do desde
moscas até plantas. O silenciamento da transcrição indesejada de transposons
também parece ser mediado por RNA, como descrevemos a seguir.
Uma série fascinante de observações e experimentos levou ao conheci-
mento atual sobre pequenos RNAs reguladores em eucariotos. Estes iniciaram
no fim da década de 1980 com os resultados aparen temente incompreensí-
veis de tentativas de superexpressar genes de pigmentos em petúnias (para
torná-las roxo mais profun do, mas resultando em flores brancas). Depois
disso, houve a descoberta dos genes reguladores de vermes cujos produtos
mostraram ser miRNAs e, então, experimen tos mostrando que a introdução
de dsRNAs em vermes silen ciava a expressão de genes complementares. Esta
história é descrita no Quadro 20-2, Descoberta de miRNAs e RNAi.
CAPÍTULO 20 RNAs Reguladores 721
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Em 1989, Richard Jorgensen, que trabalhava na empresa de Enquanto isso, outros pesquisadores estavam usando
biotecnologia Adva nced Genetic Sciences em Oakland, Cali- RNA antissenso para abolir a expressão do gene par-1 em
fórnia, estava tentando gerar petúnias com flores de cor roxa vermes. Sua intenção era provar que este gene era respon-
mais profunda do que as linhagens existentes. A estratégia sável por um determinado fenótipo do desenvolvimento.
parecia simples: ele iria introduzir nas plantas uma cópia ex- ORNA antissenso produzido in vitro e injetado no verme em
t ra do gene de pigmento (que codifica a chalcona sintase) desenvolvimento efetivamente induzia o fenótipo previsto
sob o controle de um promotor forte. Estas plantas iriam para a perda da expressão de par-1 . Observou-se, porém,
produzir mais chalcona sintase e as flores seriam mais roxas. que o RNAsenso apresentava o mesmo efeito. Este só havia
O que ele conseguiu, na verdade, foi plantas com graus va- sido incluído no experimento como um controle negativo,
riados de flores mais pálidas, muitas malhadas - com reg iões logicamente; não se esperava que t ivesse qualquer efeito
roxas e brancas - e até mesmo algumas completamente sobre a expressão. RNAs não relacionados ao gene par-1
brancas (Fig. 1 deste quadro). não apresentavam efeito.
Embora decepcionantes, estes resultados foram intri- A explicação para esta repressão gênica RNA-dependen-
gantes. Na tentativa de entender o que estava acontecendo, te foi fornecida por Andrew Fire e Craig Mello, em experi-
Jorgensen revelou várias características do fenômeno, cha- mentos que lhes renderam o Prêmio Nobel de Fisiol ogia ou
mado de cossupressão (porque tanto a expressão do trans- Medicina em 2006. Eles mostraram que, na verdade, não era
gene quanto a do gene endógeno era reprimida). Quanto o RNA senso nem o antissenso que silenciava o gene - era o
maior a expressão do transgene, menor o nível de chalcona dsRNA produzido por uma mistura dos dois. Acontece que
sinta se; isso era válido quando a expressão aumentada resul- as preparações de RNA senso ou antissenso estavam ambas
tava de múltiplas cópias do transgene ou do uso de promoto- contaminadas com pequenas quantidades da fita oposta, e
res mais fortes dirigindo o transgene. Observou-se também era a população de dupla-fita resultante que causava o si-
que alg umas plantas possuíam padrões variegados de pig- lenciamento. Quando dsRNAs eram deliberadamente prepa-
mentação, e que diferentes padrões de variegação podiam rados, mostravam ser bastante potentes na eliminação da
ser encontrados em diferentes flores na mesma planta. Às expressão do gene-alvo. Portanto, o fenômeno do RNAi havia
vezes, estes padrões eram herdados, mas, em outras oca- sido descoberto, achado que foi publicado em 1998.
siões, eram aparentemente alterados ao acaso. Estas o bser- Explicações sobre o funcionamento deste fenô meno
vações sugeriram a Jorgensen e outros (particularmente Mar- surgiram de vários la boratórios. Primeiro, dsRNAs demons-
jari Matzke, que também estava investigando este fenômeno) traram desencadear a degradação de mRNAs homólogos em
que eles estavam lidando com um fenômeno epigenético. extratos de células de Drosophi/a, ensaio que levou à iden-
Outros pesquisadores estavam tentando tornar plantas tificação de RISC. A identificação dos siRNAs - espécies que
resistentes à infecção vi ral. Para isso, uma abordagem consis- dirigem o RISC aos genes-alvo - foi relatada em plantas em
t ia em superexpressar em plantas u m derivado dominante- 1999. Dicer, a nuclease que gera os siRNAs, foi descrita em
-negativo de um fator de replicação vira! comum: esperava-se 2001. E o último dos principais componentes da via, Slicer,
que esta proteína fosse bloquear a replicação de qualquer foi identificado em 2005, quando a estrutura cristalográfica
vírus infectante que usasse este mecanismo de replicação co- de Argonauta revelou que a proteína era uma RNase.
mum. Embora o produto vira! dominante-negativo bloqueas- Além de ser necessária para gerar siRNAs, Dicer é tam-
se a replicação do vírus da batata a partir do qual havia sido bém necessária para o funcionamento de miRNAs durante o
derivado, sua especificidade de ação era fortemente restrita desenvolvimento. O primeiro miRNA e seu alvo haviam sido
ao vírus. Demonstrou-se também que a própria proteína não descritos em 1993, por Victor Ambros e Gary Ruvkun, res-
era necessária - apenas oRNA. pectivamente. Na época, esta observação foi vista como um
resultado correto, mas, ainda assim, estranho; o gene lin-4
codificava um pequeno RNA que atuava em um gene-alvo,
/in-14, por complementaridade de sequência entre o miRNA
e as regiôes da 3' -UTR dos genes-alvo (Fig. 2 deste quadro).
Subsequentemente, outros mi RNAs foram encontrados em
vermes, alguns deles com homologia a genes semelhantes
em animais e plantas, sugerindo que este mecanismo de re-
gulação era mais disseminado. Assim, surgiu o quadro de
um mundo de pequenos RNAs envolvidos na regulação gê-
nica - alguns fornecidos de maneira exógena, outros gera-
dos como parte dos programas de regulação gênica usados
durante o desenvolvimento. O campo desenvolveu-se muito
rapidamente, como as datas neste relato revelam, passando
de um fenômeno obscuro a um Prêmio Nobel e exigindo seu
QUADRO 20·2 FIGURA 1 Flo r da petúnia. Um exem- próprio capítulo em livros-texto, em apenas 15 anos. O pro-
plo dos efeitos da superexpressão do gene do pigmento gresso acelerado talvez tenha sido, em grande parte, devido
chalcona sintase no que seria, no caso de expressão em nível à gama de espécies (leveduras, plantas e vermes) estudadas
normal, uma flor de petúnia completamente roxa. (Cortesia e às abordagens (genética, bioquímica, estudos estruturais e
de Richard A. Jorgensen, University of Arizona.) bioinformática) utilizadas.
CAPÍTULO 20 RNAs Reguladores 723
ÇUCG~~~~~GGGAAC
temporal. Portanto, mutações nos chamados ge· 3
nes heterocrônicos resultam em transformações
temporais em vez de espaciais. Ou seja, as cé· 'JAGVGITG~AGDÇÇC""Ul)G
lulas geralmente adotam destinos específicos a
elas em estágios iniciais ou tardios do desenvol·
vimento. A expressão da proteína lin-14 é, obvia· 4
mente, regulada pelo microRNA /in-4, como des· ITF~rm~rr.~~~nm
D.C.U_C.A.QU_G.AA C_Qc.A.G_G_A.A.U
crito no texto. (Modificada de Ha I. 1996. Genes
fJ AGUvG~UJJG
Dev. 10:3041 -3050, Fig . 1. © Cold Spring Harbor
Laboratory Press.)
6
~00AAAA0CAGGAAC
UG:AGUGUGV G'tJCUUG
724 Parte 5 Regu lação
aquisição
passiva
-polimerase promotor
de T7 Jac
~ CONEXÕES CLINICAS
b alta expressão
111 1111
r'\
O 11 11 11 1 0 --- ~ f ,,,,, ,,,
8
1 11 I I" o ;mL I o
miRNAs oncogênicos
QUADRO 20·3 FIGURA 1 miRNAs como supressores de tumor ou oncogenes. (a) Neste modelo, um miRNA que nor·
malmente reduz a expressão de um oncogene pode atuar como gene supressor de tumor. A perda de função do miRNA por
mutação ou deleçâo, por exemplo, pode resultar em expressão anormal do oncogene-alvo, o que contribuiria para a formação
de tumor. (b) Aqui, a amplificação ou a superexpressão de um miRNA que reduz a expressão de um supressor de tumor ou
outros genes importantes envolvidos na di ferenciação podem contribuir para a formação de tumor por estimulação da proli ·
feração, da angiogênese e da invasão. (Redesenhada, com permissão, de Garzon R. et ai. 2006. Trends Mo/. Med. 12: 580-587,
Fig. 2 . © Elsevier.)
728 Parte 5 Regulação
RESUMO
Apesar da proposta de que moléculas de RNA seriam provavel- a maquinaria usada para alcançar seus efeitos em genes-alvos
mente agentes de regulação gênica datar de 1961, foi apenas sejam bastante diferentes.
na última década que sua ocorrência e significância vieram à Um sistema bacteriano reflete mais de perto o que se vê
tona. Antes disso, a atenuação do óperon trp em E. co/i era em eucariotos, e este é o sistema CRISPR. Agrupamentos de
considerado um caso raro no qual se sabia que as sequências sequências de DNA repetitivas características (diferentes em
de RI\ A na região S' de um mRNA controlavam a expressão cada agrupamento) dão origem a uma classe especial de sRNAs
dos genes a jusante. Neste caso, padrões alternativos de pa- que dirigem uma maquinaria proteica para destruir fagos e
reamento de bases intramoleculares nesta região do RNA dão plasmídeos infecciosos - de fato, qualquer DNA exógeno que
origem a estruturas secundárias alternativas que comunicam entra na célula. A habilidade para distinguir entre "próprio" e
diferentes destinos aos genes. Em uma conformação, a trans- "não próprio" vem do fato de que as regiões CRlSPR acumu-
crição é terminada antes de entrar na região codificadora dos lam fragmentos de genomas de fago de infecções anteriores e
genes a jusante, enquanto em outra conformação, ela permite estes determinam as sequências-alvo dos RNAs.
que a transcrição continue, e os genes são expressos. Os equivalentes mais próximos a CRISPR nos eucariotos
Os ribocomutadores controlam genes de maneira seme- são os chamados agrupamentos de piRNA. Estas regiões con-
lhante: estruturas secundárias alternativas nas S' -UTRs dos têm fragmentos de t ransposons (e são, às vezes, chamadas
genes determinam se a transcrição destes genes continua (ou, de "cemitérios de t ransposons"). Os curtos piRl\As gerados
em outros casos, se a tradução é iniciada). Com os ribocomu- a partir destas regiões silenciam transposons homólogos no
tadores, a escolha da estrutura secundária alternativa depende genoma, particularmente na linhagem germinativa, garantin-
da ligação direta ao RNA dos ligantes que controlam o gene do que eles permaneçam inativos. Pequenos RNAs de interfe-
em questão. rência (siRNAs) e microRNAs (miRNAs) são as duas classes de
E. co/i também codifica pequenos RNAs (sRNAs) que RNAs reguladores curtos encontradas em eucariotos. Ao con-
atuam em trans para regular genes. Assim, pequenos genes trário dos piRl\As, os siRNAs e miRNAs são gerados a partir de
codificam RNAs curtos que pareiam com mRNAs portadores regiões de RNA de dupla-fita por meio do processamento por
de sequências complementares. Esta situação inibe a tradução uma enzima chamada Dicer. Os siRNAs são derivados direta-
destes mRl\As-alvo, desencadeia sua destruição, ou até mes- mente de dsRNA endógeno ou exógeno em uma única etapa.
mo, em alguns casos, estimula sua tradução. As ações de peque- Os miRNAs são codificados no genoma e seu caráter de dupla-
nos RNAs bacterianos são semelhantes em várias maneiras às -fita deriva de regiões de estrutura secundária que são reconhe-
de sRNAs que regulam genes em células eucarióticas, embora cidas primeiramente por uma enzima chamada Drosha, que os
a maquinaria usada para produzir estes reguladores de RNA e processa até um estágio em que Dicer possa atuar. Em ambos
CAPÍTULO 20 RNAs Reguladores 731
os casos, as espécies de RNA regulador ativo geradas por Dicer ao câncer, com alguns miRNAs sendo classificados como su-
possuem de 19 a 25 nucleotídeos. Drosha e Dicer possuem do- pressores de tumor e outros, como oncogenes. Os dsRNAs que
mínios de RNase e clivam seus substratos de RNA com base em dão origem aos siRNAs podem surgir de várias fontes, indo
tamanho e estrutura, em vez de sequência. desde vírus infecciosos e regiões repetitivas transcritas (cen-
Uma vez produzidos, siRNAs e miRNAs atuam essencial- trômeros ou transposons), até dsRl\A introduzido deliberada-
mente da mesma maneira. Eles são incorporados em uma mente em uma célula por um pesquisador que quer reduzir a
maquinaria chamada RISC, onde uma das fitas de RNA é se- expressão de um determinado gene. Este último uso do RNAi
lecionada como o chamado RNA-guia e dirige o complexo tornou-se uma ferramenta regular e é particuiarmente útil em
RISC maduro para RNAs-alvo complementares a este RNA- sistemas nos quais a genética tradicional não é viável.
-guia. Uma vez lá, RISC "fatia" o RNA (por meio de sua subu- Células animais e vegetais também contêm RNAs regula-
nidade catalítica Argonauta, que inclui um domínio relacio- dores "longos" (com 200 nucleotídeos ou mais). Estes possuem
nado à RNase H) ou inibe a tradução do mRNA. A escolha da papéis no desenvolvimento, como visto nos casos de HOTAIR
rota de silenciamento depende amplamente do grau de com- e AIR e, embora seus mecanismos de ação detalhados não se-
plementaridade entre o RNA-guia e o alvo - quanto maior jam conhecidos, eles parecem recrutar complexos proteicos
a correspondência, maior a probabilidade de desencadear o que modificam a cromatina na vizinhança dos genes que regu-
fatiamento. O RNA-guia também pode dirigir o RISC asso- lam. Alguns destes RNAs longos atuam em transe outros, em
ciado a complexos modificadores de histonas para regiões eis. O exemplo mais bem compreenctido deste último é Xist,
promotoras, onde silencia transcricionalmente os genes ao que dirige a inativação de um cromossomo X na compensa-
modificar seus promotores. Mesmo nestes casos, o recruta- ção de dose de mamíferos. As fêmeas de muitas espécies ani-
mento para o promotor se dá por meio do pareamento de mais possuem dois cromossomos X, enquanto os machos têm
bases entre o RNA-guia e um mRNA, mas nesta situação, um apenas um (e um cromossomo Y). Para garantir que ambos
que ainda assim será produzido e, portanto, ligado ao gene os gêneros expressem quantidades semelhantes de produtos
pela RNA-polimerase 11. gênicos do cromossomo X, um mecanismo de compensação
Os mifu"<As são codificados por genes em organismos nos de dose precisa corrigir este número desigual de cromossomos.
quais eles normalmente atuam como reguladores de genes Os mamíferos fazem isso inativando um de seus cromossomos
envolvidos no desenvolvimento - os de vermes e plantas são X nas fêmeas. Uma molécula de RNA (Xist) coctificada no cro-
exemplos bem-estudados. miRNAs também foram associados mossomo X re1,>ula este processo.
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1041- 1045.
QUESTÕES
Para respostas de questões de número par; ver Apêndice 2: Respostas. Questão 9. Descreva as principais características dos piRNAs
(piwi-interacting RNAs) encontrados em eucariotos.
Questão 1. Usando exemplos de bactérias, explique a dife-
rença entre um RNA regulador que atua em eis e um que atua Questão 10. Para usar RNAi como ferramenta experimen-
em trans. tal, os pesquisadores inicialmente introduziram dsRl\A em
vermes alimentando-os com E. co/i modificada para expressar
Questão 2. Preveja o nível de transcrição dos genes do ópe· o dsRNA. Cite duas razões pelas quais a introdução direta do
ron trp (baixo ou alto) na presença de baixos níveis de triptofa- dsRNA não funciona de maneira tão eficiente em células de
no em células de Escherichia co/i que possuem uma deleção, em mamíferos e descreva como os pesquisadores resolveram este
fase, dos dois códons de trp que são geralmente encontrados problema.
no peptídeo-Jíder. Explique sua resposta.
Questão 11. No esquema de alimentação de vermes com
Questão 3. Descreva como os genes bacterianos são regula- bactérias para induzir uma resposta de RNAi em vermes, ex·
dos por ribocomutadores que respondem a metabólitos como plique o objetivo dos seguintes componentes: promotor lac
S-adenosilmetionína (SAM). incorporado no genoma de E. coli, gene T7 incorporado no
genoma de E. co/i, e promotor de T7 no plasmídeo introduzido
Questão 4. Além da regulação da expressão gênica, qual ou· em E. coli.
tro próposito têm os RNAs reguladores encontrados em proca-
riotos e arquebactérias? Questão 12. Como a expressão do lncRl\A Xist silencia um
dos cromossomos X em fêmeas de mamíferos?
Questão 5. Descreva, em linhas gerais, três mecanismos
para o silenciamento da expressão por Rl\As em eucariotos Questão 13. Você quer silenciar a expressão de um gene·
(siRNAs, miRNAs e piRNAs). -alvo usando um shRNA.
Questão 6. Como a fonte e a geração de miRl\As são dife- A. Cite vários ensaios possíveis para testar a expressão do
gene-alvo.
rentes da fonte e da geração de siRNAs?
B. Descreva os controles apropriados para um ensaio que
Questão 7. Uste as etapas nas quais os miRNAs são gerados testa os níveis de proteína do produto do gene-alvo e
e atuam para silenciar a expressão gênica, e cite as principais que prova que a redução da expressão é devida ao shRNA
enzimas envolvidas em cada etapa. envolvido.
Questão 8. Marque a frase como verdadeira ou falsa. Os
pré-miRNAs estão presentes apenas nos íntrons. Explique sua
resposta.
CAPÍTULO 21
Regulação Gênica no
Desenvolvimento
e na Evolução
DESE.t'IV0LVJMEJ\Tr0 ANIMAL DEPENDE DA expressão diferencial deum gene-
interna de células (ICM, inner cell mass), que forma todos os tecidos e órgãos
do adulto. As células da ICM são chamadas de "pluripotentes" porque podem
gerar vários tipos celulares diferentes. A formação de células da ICM depende
das atividades de três fatores de transcrição sequênda-específicos- Oct4, Sox2
e Nanog. A expressão forçada destes três fatores em uma célula diferenciada,
como o fibroblasto (tecido conectivo), é suficiente para transformá-la em cé-
lulas iPS, que possuem as propriedades das células da ICM (ver Quadro 21-1,
~ CONEXÕES CLINICAS
As células ICM dos embriões de mamíferos seguem diversas destes diferentes FTs em fibroblastos, resultando na indução
vias de diferenciação e produzem todos os tecidos e ó rgãos do gene marcador lacZ. Eles então coexpressaram diferentes
dos adultos. combinações dos FTs e viram que três destes fatores - Oct4,
No inicio da década de 2000, quando o interesse pelas Sox2 e Nanog- eram particularmente potentes na conver-
células-tronco atingiu a comunidade de pesquisa biomédica, são ou reprogramação de fibroblastos em células iPS. Estas
pensava-se que o isolamento de células ICM seria o passo limi- células reprogramadas possuem a maioria ou todas as pro-
tante para o uso de células-tronco em medicina regenerativa. priedades de células genuínas de ICM. As células iPS podem
Por exemplo, diabéticos insulinodependentes não possuem ser induzidas para formar praticamente qualquer tipo celular,
células f.l, células secretoras do pâncreas que produzem insu- como, por exemplo, cardiomiócitos (músculo card íaco). Em
lina em resposta a aumentos nos níveis de g licose sanguínea um notável experimento posterior, Yamanaka e colegas mos-
após uma refeição. Espera-se que um dia seja possível restau- traram que era possível obter camundongos adultos a partir
rar o compartimento com células f.l produzidas em laboratório de células iPS injetadas em embriões. Os resultados revelados
usando células-tronco. O isolamento de células ICM a partir na Figura 1 deste quadro mostram que as características asso-
de fetos humanos, porém, apresentou um labirinto vertigino- ciadas às células iPS são t ransmitidas na linhagem germinati-
so de desafios técnicos e éticos. Esta controvérsia, que setor- va da prole resultante.
nou bastante intensa e politizada, dissipou-se em obscurida- A competência de diferentes tecidos adultos serem
de devido a uma marcante série de experimentos conduzidos transformados em células iPS, as quais, por sua vez, podem
por Takahashi e Yamanaka em 2006. Como pós-doutorando, ser induzidas para gerar qualquer tecido, é uma clara de-
Yamanaka havia identificado um gene que é seletivamente ex- monstração de equivalência genética. Estes estudos também
presso em células ICM. Ele inseriu lacZ neste gene e utilizou-o levantam a possibilidade da "medicina de substituição", em
como "marcador" para identificar fibroblastos murinos que que fibroblastos da pele de um indivíduo doente podem ser
haviam sido convertidos em células-tronco (estas células con- usados para produzir células iPS, que são subsequentemente
vertidas são chamadas de células-tronco pluripotentes induzi- programadas para gerar os tecidos ausentes que causam a
das [células iPS)). Em geral, o gene marcador não é expresso doença, como os neurônios dopaminérgicos para os pacien-
em fi broblastos mas é ativado quando as células são trans- tes com doença de Parkinson ou as células f.l para diabéticos.
formadas em células iPS. Vários grupos de pesquisa identifi- Gurdon e Yamanaka receberam o Prêmio Nobel de Fisio lo-
caram cerca de 30 diferentes fatores de transcrição (FTs) que gia ou Medicina em 2012 por sua descoberta de que células
apresentaram expressão em células-tronco de ICM cultivadas. animais diferenciadas podem ser reprogramadas para gerar
Takahashi e Yamanaka forçaram sistematicamente a expressão qualquer tecido .
-
b
QUADRO 2 1 · 1 FI GURA 1 Potencial de desenvolvimento de células iPS. (a) Células reprogramadas (iPS), derivadas de
um camundongo com pelagem preta, foram injetadas no blastocisto (embrião em estágio inicial) de uma fêmea de pelagem
branca, produzindo o camundongo adulto preto (um macho) mostrado aqui. Ao lado do adulto está sua prole, f ilhotes recém-
-nascidos resultantes do cruzamento entre o adulto iPs macho com uma fêmea branca. (b) Os f ilhotes recém-nascidos no
painel a desenvolveram-se em camundongos jovens com coloração marrom, resultado típico visto quando um macho preto é
cruzado com uma fêmea branca. (Reproduzida, com permissão, de Zhao X.Y. et ai. 2009. Nature 461: 86. © Macmillan. a e b
são Fig . 2f e 2g, respectivamente.)
CAPÍTULO 21 Regulação Gênica no Desenvolvimento e na Evolução 735
Formação de células iPS). De fato, as células iPS podem ser usadas para subs- a
tituir as células ICM em um embrião e gerar camundongos adultos cujos teci-
dos são derivados unicamente das células iPS.
Neste capítulo, serão abordados os diferentes mecanismos para alcançar
a expressão gênica diferencial durante o desenvolvimento animal. Na primei-
ra metade deste capítulo, será descrito como as células se intercomunicam ovo fertilizado
durante o desenvolvimento para garantir que cada uma expresse o conjunto comRNA
localizado
específico de genes necessário para o seu desenvolvimento adequado. Então,
são descritos exemplos simples de cada uma dessas estratégias. Na segunda b
metade deste capítulo, será discutido como essas estratégias são utilizadas jun-
to com os mecanismos de regulação transcricional, descritos no Capítulo 19,
para controlar o desenvolvimento de todo um organismo - neste caso, a (
mosca-da-fruta. Na parte final do capítulo, discute-se como as alterações na
célula A -.,.--,,-célula B
regulação gênica podem causar diversidade da morfologia animal durante a sinal
evolução. Uma classe particularmente importante de genes de controle do
c
~@ célula1
desenvolvimento, os genes homeóticos, é descrita.
Já foi visto como a expressão gênica pode ser controlada pelos "sinais" que FI GURA 21- 1 As três estratégias
uma célula recebe de seu ambiente. Por exemplo, em Escherichia coli, o açú- para início da atividade gênica dife-
car lactose ativa a transcrição do óperon lac, enquanto nos mamíferos, a in- rencial durante o desenvolvimento.
fecção vira! ativa a expressão do gene do interferon J3. Neste capítulo, serão (a) Em alguns animais. certos RNAs "ma-
discutidas as estratégias usadas para instruir células geneticamente idênticas ternos" presentes no óvulo tornam-se
a expressarem diferentes conjuntos de genes e, assim, a se diferenciarem em localizados antes ou depois da fertiliza -
ção. Neste exemplo. um mRNA específico
diversos tipos celulares. As três estratégias principais são a localização do
(traços em verde) é localizado na região
mRNA, o contato célula a célula e a sinaJização por meio da difusão
vegetativa (inferior), após a fertilização.
de uma molécula sinalizadora secretada (Fig. 21-1). Nas próximas se- (b) A célula A precisa interagir fisicamente
ções, cada uma dessas estratégias será apresentada brevemente. com a célula B para estimular o receptor
presente na superfície desta célula B. Isso
Alguns mRNAs localizam-se em regiões ocorre porque o " ligante" produzido pela
célula A está ligado à membrana citoplas-
específicas nos ovos e embriões devido a uma
mática. (c) Neste exemplo de sinalização
polaridade intrínseca do citoesqueleto à dist ância, a célula O secreta uma molé-
cula si nalizadora que se difunde através
Uma estratégia para estabelecer diferenças entre duas células geneticamen-
da mat riz extracelular. Diferentes células
te idênticas é distribuir assimetricamente uma molécula reguladora essencial (1, 2. 3) recebem o sinal e, então, sofrem
durante a divisão celular, garantindo, assim, que as células-filhas recebam alterações em sua atividade gênica.
quantidades distintas desse regulador e, por isso, sigam diferentes vias de de-
senvolvimento. Em geral, essa molécula distribuída assimetricamente é um
mRNA. Esses mRNAs podem codificar proteínas de ligação ao RNA ou molé-
culas de sinalização para as células, porém, mais frequentemente, codificam
ativadores ou repressores transcricionais. Apesar da diversidade de funções de
seus produtos proteicos, existe um mecanismo comum para a localização dos
mRNAs. Eles são transportados por elementos do citoesqueleto, filamentos de
actina ou microtúbulos. Nesse processo, a assimetria é dada pela assimetria
intrínseca desses elementos.
Filamentos de actina e microtúbulos sofrem crescimento dirigido nas ex-
tremidades + (Fig. 21-2). Uma molécula de RNA pode ser transportada de
uma extremidade da célula para outra por uma proteína "adaptadora", que
FIG U RA 21 - 2 Uma proteína adap-
se liga a uma sequência específica da região não traduzida 3' (3' -UTR) de tadora liga-se às sequências especifi-
um mRNA. As proteínas adaptadoras contêm dois domínios. Um reconhece a cas da 3 • -UTR do mRNA. O adaptador
3'-UTR do mRNA, enquanto o outro se associa com um componente especí- também se liga à miosina, que "desli-
fico do citoesqueleto, como a miosina. Dependendo do adaptador específico za" ao longo do filamento de actina, de
utilizado, o complexo mRNA-adaptador é "arrastado" deslizando ao longo modo dirigido, da extremidade "-" para a
de um filamento de actina ou move-se diretamente com a extremidade + de extremidade crescente "+" do filamento.
736 Parte 5 Regulação
·-~ ~~=:::::::l
do
l
~omi~io .. transporte para
mtrac•toplasmat•co 0 núcleo e FI GURA 21-3 Diferentes mecanismos de transd ução de sinais. Um ligante (ou "mo-
1_..a ssociação à lécula sinalizadora") liga-se a um receptor de superfície celular. (a) O receptor ativado induz
proteina de quinases celulares latentes leva ndo à fosforilação de proteínas de ligação ao DNA. no núcleo.
! ligação ao DNA
Essa fosforilação faz a proteína reguladora ativar (ou reprimir) a t ranscrição de genes especí-
ficos. (b) O receptor ativado libera no citoplasma uma proteína de ligação ao DNA dormente
que. agora, pode entrar no núcleo. No núcleo, a proteína reguladora ativa (ou reprime) a
!I tra nscrição de genes específicos. (c) O receptor ativado é clivado por proteases celulares e sua
porção C-terminal entra no núcleo e interage com proteínas específicas de ligação ao DNA.
O complexo proteico resultante ativa a t ranscrição de genes específicos.
CAPÍTULO 21 Regulação Gênica no Desenvolvimento e na Evolução 737
• •
.. :==:~~~.....
~ ..
r r c E) ® FIGURA 21 · 4 Umgrupodecélulas
produz uma molécula de sinali zação,
ronte do célula 1 célula 2 célula 3
morlógeno ou morfógeno, que se difunde pela
b
t t t matriz extracelular. (a) As células 1, 2 e
3 recebem quant idades progressivamente
meno res da molécula de sinalização por
número de
receptores
ocupados u esta rem prog ressivamente mais distantes
da origem. (b) As células 1, 2 e 3 con·
têm progressivamente menos receptores
de superfície ativados. (c) As três células
contêm níveis diferentes de uma ou mais
c 1
(!) 1 proteínas reguladoras. No pa norama mais
simples, há uma correlação linear entre re-
~
níveis de !atores ceptores de superfície celular ativados e a
de transcrição ~ quantidade de fator de regulação que in-
ativados nos núd eos
gressa no núcleo. (d) Os diferentes níveis
de fator regulador leva m à expressão de
diferentes conju ntos de genes. A célula 1
expressa os genes A, Be C porque contém
d
gene A gene B gene C os níveis mais altos do fator de regulação.
A célula 2 expressa os genes B e C, mas
([ JíGAêô liGAêô )
não A. porque contém níveis intermediá-
gene A gene B gene C rios do fator regulador. Esses níveis são
) insuficientes para ativar o gene A. Final -
mente, a célula 3 contém os níveis m ais
baixos do fator regulador e só expressa o
gene A gene B gene C
gene C, po rque a expressão dos genes A e
( [oi suaÃ)io ) B exige níveis mais elevados do fator.
738 Parte 5 Regulação
mãe a Cl
a
mRNAde ash1
localizado no broto
filarnento polarizado
de actina
broto
(célula-filha)
mãe
miosina V o
filarnento pt>lar,izaclo de actina
célula-mãe broto
• CONCEITOS AVANÇADOS
a b heterodímero de tubulina
(= subunidade de microtúbulo)
50 nm
LT
protofilamento microtúbulo
QUADRO 21·2 FIGURA 2 Estruturas do monômero e do filamento de tubulina, (a) Est rutu ra do cristal de tu buli na
monomérica com as suas subunidades a (em azu l-turquesa) e i3 (em roxo). As moléculas de GTP em cada subunidade são
vermelhas e amarelas. (De lowe J. et ai. 2001. J. Moi. Biol. 313: 1045-1057. Imagem preparada com MoiScript, BobScript e
Raster3D.) (b) O protofilamento da tubulina consiste em monômeros adjacentes d ispostos em uma mesma orientação.
"
-•
r
f ,,
RNA-polimcrase
p ré-esporo de 8. subtilis depende
da ativação de diferentes classes de
fatores a . O gene spoi/R é ativado por
()'' no pré-esporo. A proteína codificada,
aE inicia a
transcrição
\!.;IR )) ~I • SpoiiR, associa-se ao septo que sepa ra a
célula-mãe (à esquerda) e o pré-esporo
(à direita). Ela desencadeia o processa -
dos mento proteolítico de uma forma inativa
SpoiiR
""
genes-alvo .J de ()'€ (pro-a') na célula-mãe. A proteína
()'' ativada resulta no recruta mento da
célula-mãe pré-esporo
RNA-polimerase e na ativação de genes
específicos na célula-mãe. (Redesenhada,
com permissão, de Stragier P. e Losick R.
1996. Annu. Rev. Genet. 30: 297-341 ,
Fig. 3a. © Annual Reviews.)
O contato célula a célula provoca a expressão gênica
diferencial na bactéria esporulada Bacil/us subtilis
A segunda principal estratégia para estabelecer expressão gênica diferencial
é o contato célula a célula. Novamente, a discussão é iniciada com um caso
relativamente simples, o da bactéria Bacillus subtilis. Em condições adversas,
B. subtilis pode formar esporos. A primeira etapa desse processo é a formação
de um septo, localizado assimetricamente no esporângio, o genitor do esporo.
O septo produz duas células de tamanhos diferentes, que permanecem ligadas
através de membranas confinantes. A célula menor é chamada pré-esporo,
e originará o esporo após uma série de eventos. A célula maior é chamada cé-
lula-mãe; ela auxilia no desenvolvimento do esporo (Fig. 21-8). O pré-esporo
influencia a expressão dos genes da célula-mãe vizinha, da maneira descrita
a seguir.
O pré-esporo contém uma forma ativa de um fator a específico, o a r, que
está inativo na célula-mãe. No Capítulo 18, viu-se como os fatores a se as-
sociam à RNA-polimerase e selecion am promotores-alvo específicos para ex-
pressão. O fator a Fativa o gene spollR, que codifica uma proteína sinalizadora
secretada. Spo!IR é secretada n o espaço entre as membranas confin antes da
célula-mãe e do pré-esporo, onde desencadeia o processamen to proteolítico
do pro-ae na célula-mãe. Pro-at é um precursor inativo do fator at. A pro-
teína pro-at possui um domínio inibidor N-terminal que bloqueia a atividade
de a t e liga a proteína à membrana da célula-mãe (Fig. 21-8). SpoiiR induz
a clivagem proteolítica do peptídeo aminoterminal e a liberação da forma
madura e ativa de a r. da membrana. a r. ativa um conjunto de genes na célula-
-mãe diferente dos expressos no pré-esporo. Neste exemplo, SpoiiR atua como
molécula sinalizadora que age n a interface en tre o pré-esporo e a célula-mãe,
promovendo expressão eênica diferencial na célula-mãe confinada por meio
do processamento de a . A indução requer con tato célula a célula porque o
pré-esporo produz pequenas quantidades de SpoiiR que podem interagir com
a célula-mãe con finada mas são insuficientes para desencadear o processa-
mento de at nas outras células da população.
b
! Notch (Notch 1c) da membrana celular, que entra no núcleo, onde se associa a
uma proteína de ligação ao DNA chamada Su(H). O complexo Su(H)-Notch1c
resultante ativa genes que codificam repressores transcricionais que blo-
inibição lateral
das células queiam o desenvolvimento de neurônios.
circundantes A sinalização por Notch não causa apenas uma simples indução da pro-
pelo neuroblasto teína ativadora Su(H), mas também desencadeia uma comutação reguladora
!
o-- •:éiLIIas-miie do gânglio
do tipo liga/desliga. Na ausência de sinalização, Su(H) está associada a vá-
rias proteínas, in cluindo Hairless, CtBP e Groucho (Fig. 21-10). Su(H), com-
plexada a qualquer uma dessas proteínas, reprime ativamente os genes-alvo
de Notch. Quando Notch 1c entra no n úcleo, desloca as proteínas repressoras
complexadas com Su(H), transformando esta proteína em um ativador. Deste
epiderme modo, agora Su(H) ativa exatamente os mesmos genes que antes reprimia.
A sinalização Delta-Notch depende do contato célula a célula. Para ativar
a sinalização por Notch e inibir a diferenciação em neurônios, as células que
apresentam o ligante Delta (as precursoras de neurônios) têm de estar em
FIG U RA 2 1· 9 O ectoderma neu-
rogênico forma dois tipos celulares
contato físico direto com as células que contêm os receptores de Notch (as de
principais: neurônios e células da epiderme). Na próxima seção, será visto um exemplo de uma molécula de si-
pele (ou epiderme). (a) As células do nalização secretada que influencia a expressão gênica de células distantes das
ectoderma neu rogênico inicial podem células que enviam o sinal.
forma r ambos tipos de células. Entretan-
to. quando uma das células começa a for- Um gradiente do morfógeno Sonic hedgehog
mar um neurônio ou .. neuroblasto .. (célu-
la escura no centro da grade de células), controla a formação de diferentes neurônios
ela inibe todas as células vizi nhas com as no tubo neural de vertebrados
quais tem contato direto. (b) Esta inibição
faz a m aioria das células permanecer na Agora, será discutido o caso de uma molécula sinalizadora de longo alcance,
superfície do em brião e formar células da um morfógeno, que impõe uma informação posicional sobre um órgão em
pele. Ao contrário, o neurônio em desen- desenvolvimento. Neste exemplo, continua a discussão sobre diferenciação
volvimento move-se para a fenda do em- neuronal, porém, no tubo neural de vertebrados. Em todos os embriões de
brião e forma neurônios. vertebrados, há uma fase em que as células localizadas ao longo do futuro
dorso - o ectoderma dorsal - deslocam-se de modo coordenado para as re-
giões internas do embrião e formam o tubo neural, o precursor da medula
espinal do adulto.
As células localizadas na região mais ventral do tubo neural formam uma
estrutura especializada, chamada placa inferior (/loorplate) . A placa infe-
rior é o sítio da expressão de uma molécula sinalizadora secretada, chamada
Sonic hedgehog (Shh), um morfógeno que atua em gradiente.
A molécula Shh é secretada pela placa inferior e forma um gradiente ex-
tracelular na metade ventral do tubo neural. Neste local, os neurônios de-
senvolvem-se nos diferentes tipos celulares, de acordo com a quantidade de
proteína Shh que recebem. Isso é determinado por sua localização em relação
à placa inferior; as células mais próximas recebem as concentrações mais altas
de Shh, enquanto as mais distantes recebem níveis mais baixos. O gradiente
extracelular de Shh leva à especificação de três tipos de células neuronais: V3,
MN e V2. Estas células estão localizadas progressivamente mais distantes da
CAPÍTULO 21 Regulação Gênica no Desenvolvimento e na Evolução 745
a b
atividade de GRN atividade de GRN atividade de GRN
Gli Gli Gli
:t/kx22~
Olig2 Nkx2.2 Olig2 Nkx2.2
t .
.otlllll st/ ~ Shh/ I"'
Shh
gênica
Shh
gênica
Shh
gênica -
"'
~
to t, 12
BIOLOGIA MOLECULAR DA
EMBRIOGÊNESE DE DROSOPHILA
Nesta seção, o foco será o desenvolvimento embrionário inicial da mosca-da-
-fruta, Drosophila melanogaster. Os detalhes moleculares sobre o modo de re-
gulação do desenvolvimento são mais bem entendidos neste modelo do que
em qualquer outro embrião animal. Os vários mecanismos de comunicação
celular, discutidos na primeira metade deste capítulo, e de regulação gênica,
discutidos nos capítulos anteriores, são reunidos neste exemplo.
mRNAs localizados e vias de sinalização celular são usados para estabe-
lecer a in formação posicion al que resulta em gradientes de proteín as regu-
ladoras que padronizam os eixos corporais an teroposterior (cabeça-cauda) e
dorsoventral (costas-ventre). Essas proteínas reguladoras- ativadores e repres-
sores - controlam a expressão de genes cujos produtos definem diferen tes
regiões do embrião. Um tema recorrente é o uso de DNAs reguladores com-
plexos - sobretudo, reforçadores complexos - para o controle combinatório
de padrões altamente definidos de expressão gênica ativa/inativa.
da podem originar qualquer tipo celular. Logo após a formação das células
individuais, porém, os núcleos tornaram-se irreversivelmente "d etermina-
d os" (ou destinados) a diferenciar-se em tecidos específicos da mosca adulta.
Este processo é descrito no Quadro 21-3, Visão geral do desenvolvimento de
Drosophila. Os mecanismos moleculares responsáveis por este processo extra-
ordinário de determinação são descritos nas seções seguintes deste capítulo.
a Dorsal
proteína Dorsal
no citoplasma
vítelo do ovo
l" a\)~
consequência, são ativados mais recep·
to res Toll na região ventral do que nas
A p regiões laterais e dorsal. Esse gradiente
€'\-----' C" na sinalização de Toll gera um amplo g ra-
Dorsal --01..1'---cactus diente nuclea r de Dorsal. (b) Visão lateral
do embrião com a superfície anterior para
v '.
''
t esquerda e dorsal para cima; detalhes da
Pelle () Tube cascata de sinalização por Toll à direita.
'
'
'
''
citoplasma t A ativação do receptor Toll leva à ativação
da quinase Pelle no citoplasma. Pelle, dire-
'
' .'
' .' receptor Toll -
1::=======9 ta ou indiretamente, fosfo rila a proteína
Cactus, que se liga à proteína Dorsal, ini-
' .' bindo-a . A fosf orilação de Cactus provoca
' espaço si, extracelular ventral sua deg radação, de modo que Dorsal é
'' perivitelínico (fragmento de Spãtzle)
liberada do citoplasma pa ra o núcleo.
748 Parte 5 Regulação
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Após a fusão dos núcleos haploides do espermatozoide e do vações levaram à sugestão de que há uma competição entre
óvulo, o núcleo d iploide do zigoto sofre uma série de 1O di- os grandes complexos macromoleculares que promovem a
vagens, rápidas e quase sincrônicas, nas regiões vitelínicas replicação e a transcrição.
centrais do ovo. Grandes arranjos de microtúbulos que ema· Depois de chegar ao córtex, os núcleos sofrem outros
nam dos centríolos dos núcleos em divisão ajudam a dire- três ciclos de clivagens (totalizando 13 divisões após a fertili-
cioná-los das regiões centrais para a periferia do ovo (Fig. 1 zação), gerando uma densa compactação de cerca de 6.000
deste quadro). Após o ito clivagens, os 256 núcleos zigóticos núcleos em formato colunar circundando o vitelo central
começam a migrar para a periferia. Durante a migração, eles (Fig. 1 deste quadro, ciclo 14 de clivagem nuclear). Tecnica-
sofrem mais duas clivagens (Fig. 1 deste quadro, ciclo 9 de mente, o embrião ainda é um sincício, embora a coloração
clivagem nuclear). A maioria, mas não todos, dos cerca de histoquímica de embriões iniciais com anticorpos contra pro-
1.000 núcleos resultantes entram nas reg iões corticais do teínas do citoesqueleto indique que uma malha altamente
óvulo (Fig. 1 deste quadro, ciclo 1O de cl ivagem nuclear). Os estruturada envolve cada núcleo. Durante um período de 1
restantes ("vitelófagos") permanecem nas regiões centrais, hora, 2 a 3 horas após a fertilização, o embrião sofre um pro-
onde desempenham uma função um tanto o bscura no de· cesso drástico de celularização, no qual as membranas celula-
senvolvimento. res são formadas entre núcleos adjacentes (Fig . 1 deste qua-
Após a chegada da maioria dos núcleos ao córtex, cerca dro, ciclo 14 de clivagem nuclear). Cerca de 3 horas após a
de 90 minutos após a fertilização, eles adquirem, pela pri· fertilização, o embrião foi transformado em um blastoderma
meira vez, competência para transcrever os genes da Pol 11. celular comparável a uma "bola oca de células" que caracte-
Assim como em muitos outros organismos, como Xenopus, riza a blástula da maioria dos embriões.
parece haver uma "transição na metade da blástula", em que O recém-desenvolvido método de SPIM (do inglês, single
os blastômeros iniciais (ou núcleos) estão transcricionalmen· plane il/umination microscopy [microscopia de iluminação de
te silenciosos durante o curto período das mitoses. Embora plano único]) foi usado para preparar imagens detalhadas da
as causas não estejam esclarecidas, parece que o DNA sub- embriogênese de Drosophila.
metido a intensas explosões de replicação não consegue sus· Quando os núcleos migram para o córtex do ovo, são
tentar, simultaneamente, a transcrição. Estas e outras obser- totipotentes e podem formar qualquer t ipo celular adulto.
QUADRO 21·3 FIGURA 1 Embriogênese de Drosophi/a. Os embriões de Drosophila estão com as futuras cabeças orien-
tadas para cima. Os números referem-se ao número de clivagens nucleares. Os núcleos do embrião estão corados em branco.
Por exemplo, o estágio 1 contém o único núcleo zigótico resultante da fusão dos pronúcleos do espermatozoide e do óvulo.
O material corado nas áreas superiores à direita dos estágios 1 a 7 são corpúsculos polares. O núcleo zigótico do estágio 1 e os
núcleos dos estágios 2, 3, ..., estão nas regiões centrais do embrião. O estágio 2 contém dois núcleos, que surgem da primeira
d ivisão do núcleo zigótico. No estágio 10, há cerca de 500 núcleos, a maioria deles arranjados em apenas uma camada, situada
no córtex (a periferia do embrião). No ciclo de clivagem nuclear 14, há mais de 6.000 núcleos densamente compactados em
uma monocamada no córtex. A celularização ocorre neste estágio. (Cortesia de W. Baker e G. Shubiger.)
CAPÍTULO 21 Regulação Gênica no Desenvolvimento e na Evolução 749
Entretanto, a localização de cada núcleo é que, afinal, deter- Núcleos di ferentes exibem padrões diferentes de transcrição
mina o seu destino. Os cerca de 30 núcleos q ue migram para gênica antes do término da formação das células. Três horas
a região posterior do córtex encontram determinantes protei· após a fertilização, cada célula possui uma identidade posi·
cos localizados, como Oskar, que programam esses núcleos cional fixa, de maneira que as células localizadas nas regiões
indiferenciados para formarem as células germinativas (Fig . 2 anteriores do embrião irão formar estruturas da cabeça na
deste quadro). Entre os possíveis determinantes presentes mosca adulta, enquanto as células localizadas nas regiões
no citoplasma polar estão grandes complexos nucleoprotei· posteriores irão formar estruturas abdominais.
cos, chamados grânulos polares. Os núcleos posteriores bro· Triagens genéticas sistemáticas feitas por Eric Wieschaus
tam do corpo principal do embrião junto com os grânulos e Christiane Nüsslein-Volhard identificaram aproximadamen-
polares, e as células polares resultantes d iferenciam-se em te 30 " genes de segmentação" que controlam a padronização
espermatozoides ou óvulos, conforme o sexo do embrião . inicial do embrião de Drosophila. Isso envolveu o exame de
A microinjeção de plasma polar em locais anormais, como as milhares de embriões mortos. Na metade da embriogênese,
regiões anterior e central, resulta na diferenciação de células a pele ventral, ou epiderme, secreta uma cutícula que contém
polares supranumerárias. diversos pelos muito finos, ou dentículos. Cada segmento cor-
Os núcleos corticais que não entram no plasma polar poral do embrião contém um padrão característico de dentí·
são destinados a formar os tecidos somáticos. Mais uma culos. Três classes diferentes de genes de segmentação foram
vez, esses núcleos são totipotentes e podem formar qual- identifi cadas com base nas interrupções específicas causadas
quer t ipo celular do adulto. Entretanto, em um prazo muito nos padrões de dentículos de embriões mortos. As mutações
curto (não mais de 1 hora), cada núcleo é rapidamente pro· nos chamados genes "gap" causam a deleção de vários seg-
gramado (ou especificado) para seguir uma via específica de mentos adjacentes (Fig. 3 deste quadro). Por exemplo, muta·
di ferenciação. Este processo de especificação ocorre durante ções no gene gap chamado knirps provocam perdas do segun-
o período de celularização, embora não haja motivos para do até o sétimo segmentos abdominais (os embriões normais
acreditar que a deposição de membranas celulares entre nú · têm oito segmentos). Mutações nos genes "pair-rule" (ou "re-
cleos vizinhos seja crucial para determinar o destino celular. gra dos pares") causam a perda de segmentos alternados.
óvulo
fertilizado
a
! grânulos polares
. vários núcleos
.•. em um sincício
!
.. . . . . . .. . núcleos migram
para a periferia,
limites celulares
. . . .. . . . começam a se
formar
células
somáticas
_;..~..._;).__.~ILi.."i.:.........-\P,
(a) O reforçador do gene rhomboid con-
lu..l_' tém sítios de ligação pa ra Dorsal e para
o repressor Snail. Como a proteína Snail
sítios de ligação de Snail está presente apenas nas regiões ventrais
(no mesoderma), rhomboid é mantido
EN desli gado no mesoderma e restrito às
regiões ventrais do ectoderma neurogê-
EN nico (EN ventral). (b) O reforçador int rô-
ventral nico sog também co ntém sítios para o
repressor Snail. Eles mantêm a expressão
mesoderma de sog desligada no mesoderm a e restri-
ta às largas faixas laterais que abrangem
as regiões ventral e dorsal do ectoderma
neurogênico (EN).
é expresso apenas no mesoderma; portanto, não está presente no ectoderma
neurogênico. O reforçador rhomboid, de 300 pb, contém sítios de ligação para
o repressor Snail, além dos sítios de ligação para o ativador Dorsal. Essa inte-
ração entre o gradiente de Dorsal, de distribuição ampla, e o repressor Snail,
localizado, resulta na expressão do gene rhomboid limitada ao ectoderma neu-
rogênico ventral. Foi visto anteriormente como o repressor localizado Ash1
bloqueia a ação do ativador SWIS na célula-filha no brotamento da levedura
e, adiante, neste capítulo, será visto o extenso uso desse princípio em outros
aspectos do desenvolvimento de Drosophila.
Os níveis mais baixos da proteína Dorsal nas regiões laterais do embrião
precoce são suficientes para ativar o gene sog nas amplas faixas laterais, que
abrangem o ectoderma neurogênico ventral e dorsal. A expressão de sog é
regulada por um reforçador de 400 pb localizado no primeiro íntron do gene
(Fig. 21-14b). Esse reforçador tem quatro sítios de ligação a Dorsal, de alta
afinidade e com espaçamentos uniformes, que podem ser ocupados mesmo
por níveis muito baixos da proteína Dorsal. Como acontece com rhomboid,
a presença do repressor Snail impede a ativação da expressão do gene sog
no mesoderma, apesar dos altos níveis de proteína Dorsal ali encontrados.
Assim, a regulação diferencial da expressão gênica por diferentes limiares do
gradiente de Dorsal depende de uma combinação do repressor Snail com as
afinidades dos sítios de ligação a Dorsal.
A ocupação dos sítios de ligação a Dorsal não é determinada apenas pelas
afinidades intrínsecas dos sítios, mas também depende das interações prote-
ína-proteína entre Dorsal e outras proteínas reguladoras ligadas aos reforça-
dores-alvo. Viu-se, por exemplo, que no ectoderma neurogênico ventral, o
reforçador de rhomboid, de 300 pb, é ativado por níveis intermediários do gra-
diente de Dorsal. Esse reforçador contém, principalmente, sítios de baixa afi-
nidade de ligação com Dorsal. Entretanto, níveis intermediários de Dorsal são
suficientes para a ligação, devido às interações proteína-proteína a outra pro-
teína ativadora, chamada Twist . Entretanto, níveis intermediários de Dorsal
são capazes de ligarem-se a estes sítios devido a interações proteína-proteína
com ativadores adicionais que se ligam ao reforçador rhomboid. Diferentes
mecanismos de interações cooperativas são discutidos no Capítulo 19 e no
Quadro 21-4, Sinergia de ativadores.
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
Proteínas reguladoras bacteria nas, como fac e os repressores volvimento animal, mas o princípio foi ilustrado abordando a
de À, ligam-se como d ímeros com alta afi nidade. Em leve- especificação do mesoderma cardíaco (células precursoras do
duras, o ativador Gal4 liga-se como d imero com alta afi ni- coração) no embrião de ascídia.
dade para induzir a expressão de Gal1 e outros genes ne- Um gene regulador chamado MesP é um determinante
cessários para o metabolismo da galactose (ver Cap. 19). Em crucial do mesoderma card íaco em ascídias e vertebrados.
contrapartida, células animais tendem a ser desprovidas de Ele é seletivamente ativado nos blastômeros 87.5 de embri·
tais f atores de transcrição "dedicados". Muitos ou a maio- ões de 110 células (setas, Fig. 1 deste quadro). Estas células
ria destes fatores ligam-se ao DNA como monômeros com dão origem ao coração de ascídias adultas. MesP é ativa-
baixas afinidades. Como consequência, a regulação gênica é do por dois fatores de t ranscrição, Tbx6b/c e Lhx3. Tbx6b/c
inerentemente mais combinatória em células animais do que é expresso em todos os músculos da cauda em desenvol·
em bactérias ou leveduras. Múltiplas proteínas ligando-se a vimento, bem como nos blastômeros 87. 5 (setas, Fig. 1a
múltiplos sítios são necessárias para alcançar a ativação ou a deste quadro). Lhx3 é expresso em todo o futuro intestino,
repressão da expressão gênica . juntamente com blastômeros 87.5 (setas, Fig. 1 b deste qua-
O princípio do contro le gênico combinatório é uma dro). Apenas os blastômeros 87.5 contêm Tbx6b/c e Lhx3, e
característica global d o desenvolvimento animal. Frequen- nestas células eles atuam sinerg isticamente para ativar MesP
temente, os ativadores A e 8 atuam de maneira sinergística (Fig. 1c deste quadro). Como nenhum dos fatores de t rans-
para deli near um padrão restrito de expressão gênica. So- crição é, sozinho, suficiente para a ativação, a expressão de
zinhos, nem A nem 8 são suficientes para realizar a tarefa. MesP fica restrita a 87.5 e está inativa nos músculos da cau-
Existem vários exemplos de sinergia de ativadores no desen- da e no intestino.
a b c
Tbx6blc
QUADRO 21-4 FIGURA 1 MesP é sinergisticamente ativado por dois fatores de transcrição. Células expressando
cada uma das proteínas estão coradas em azul. (a) Expressão de Tbx6blc. (b) Expressão de Lhx3. (c) Expressão de MesP. (Cor-
tesia de Lionel Christiaen . Reproduzida, com permissão, de Christiaen L. et ai. 2009. Dev. 8iol. 328: 552. Partes a, b e c são da
Fig. 3A, 38, p. 556 e da Fig. 6C, p. 558. © Elsevier.)
b ---r. . .••--
~~ proximal removido
reforçador-sombra distai intacto. A ex-
pressão é esporádica nas regiões anterio-
res. (c) Ativação uniforme e uma borda
precisa são observadas qua ndo ambos os
reforçadores estão intactos. (Cortesia de
Mike Levine; descrita em Perry M.W. et ai.
2011. Proc. Natl. Acad. Sei. 108: 13570-
·13575, Fig. 2A-C, p. 13572.)
c --~~-·--· controle
. CONEXÕES CLiNICAS
Em Drosophila, o óvulo ou oócito su rge a part ir de uma Células do nicho do ovário de Drosophila, chamadas
célula-tronco precursora chamada célula-tronco de linha· de células Cap, secretam uma molécula sinalizadora que se
gem germinativa (GSC, germline stem ce/1). Sabe-se bas- difunde, chamada Dpp. A ativação d o receptor de Dpp nas
tante a respeito da t ransição de GSCs em oócitos no ovário GSCs associadas resu lta no silenciamento de um gene regu-
de Drosophi/a, e é provável que muitos aspectos deste me- lador crucial chamado bam: quando a t ranscrição de bam é
canismo se apliquem ao desenvolvimento de outras classes bloqueada, as GSCs prol iferam. Este silenciamento da expres-
de células-tronco em moscas e seres humanos. Células-tronco são de bam depende do contato físico direto entre as células
proliferam apenas quando estão em contato físico direto com Cap e as GSCs, semelhante ao que ocorre no processo que
células especializadas, coletivamente conhecidas como "ni- resulta na ativação da sinalização de Notch durante a forma-
cho", o qual produz um sinal que desencadeia proliferação. ção do sistema nervoso do inseto. À medida que as GSCs pro-
Quando as células-tronco se separam do nicho, a proliferação liferam, algumas células-filhas separam-se das células Cape,
para e as células sofrem diferenciação em tipos celulares es- assim, não são ma is alvo da sinalização de Dpp. Na ausência
pecializados. No exemplo de Drosophila, a separação de GSCs de sinalização, a t ranscrição de bam é ativada, e a célula para
do nicho do ovário faz elas se desenvolverem em oócitos que de proliferar; em vez d isso, ela di ferencia-se em um oócito
não estão em divisão, em um processo mediado por repres- (Fig. 1 deste quadro).
são induzida por sinal. Este processo é hoje bem conhecido
em nível molecular e funciona como explicado a seguir.
(continua)
756 Parte 5 Regu lação
Quadro 2 1 • 5 (Continuação)
GSC
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Foram vistos vários exemplos de gradientes reguladores pro· Seus distintos limites de expressão parecem depender dare-
duzindo diferentes padrões de expressão gênica. Sonic hed· pressão diferencial por Runt. RT3 é reprimido por altos níveis
gehog e seu efetor transcricional Gli estabelecem padrões di· do gradiente de Runt, enquanto RT2 e RT, são reprim idos por
ferenciais de expressão de Nkx2.2, Olig2 e Pax6 no tubo neural níveis progressivamente mai s baixos. Atualmente, não se
em desenvolvimento de embriões de vertebrados (Fig. 21·1 1). sabe ao certo se estes genes-alvo contêm sítios de ligação a
O gradiente Dorsal gera diferentes padrões de expressão gêni· Runt semelhantes. Talvez suas respostas d iferenciais depen·
ca no mesoderma ventral, no ectoderma lateral (neurogênico) dam do diferente número de sítios, com RT, contendo mais
e no ectoderma dorsal de embriões de Drosophila pré-<elulares sítios repressores de Runt do que RT2 ou RT3 •
(Fig. 21-12). O famoso gradiente Bicoide estabelece padrões Como discutido anteriormente, o g radiente ativador de
sequenciais de expressão gênica de "gap" ao longo do eixo Gli no tubo neural vertebrado também pode depender do
anteroposterior do embrião pré-<elular (Quadro 21 -3, Fig. 3). uso de repressores transcricionais para gerar d iferentes leitu·
Até pouco tempo atrás, assumia-se que a afinidade dos ras do gradiente de Sonic hedgehog (ver Fig. 21·11 ).
sítios de ligação a Gli, Dorsal e Bicoide determinava os lim ites
espaciais da expressão gênica. De f ato, discutiu-se a evidên ·
cia de que um mecanismo assim é usado para o gradiente
de Dorsal. Porém, há novas evidênci as de que diferent es afi ·
ni dades de ligação podem não ser suficientes para explicar
os diferentes padrões de expressão gênica produzidos pelos
gradientes de Gli e Bicoide. Por exemplo, recentement e mos·
Runt
trou-se que os genes-alvo de Bicoide ativados por altos níveis
do gradiente de Bicoide contêm afinidades de ligação se·
melhantes aos regulados por baixos níveis do gradiente. Em
contrapartida, um modelo de afinidade de ligação simples •j
iria prever que os genes ativados por altos níveis do gradiente "'"'
contivessem sítios de baixa afinidade, enquanto genes ati- §
vados por baixos níveis contivessem sítios de alta afinidade.
Na verdade, parece que d iferentes leituras de limiares
o % do comprimento do oócito 100
do gradiente Bicoide dependem de gradientes de repressores
opostos, incluindo o repressor Runt (Fig . 1 deste quadro). Os QUADRO 21 · 6 FIGURA 1 Cooperação de gradientes
genes-alvo RT,, RT2 e RT3 são ativados por níveis progressiva - de ativa dor e repressor. Ver texto para detalhes. (Adaptada,
com permissão, de Roth S. e Lynch J. 201 2. Ce// 149: 511 ,
mente baixos do gradiente de Bicoide. Mas RT, e RT2 contêm
sítios de li gação para Bicoide com afinidades semelhantes. Fig. 1, p. 512. © Elsevier.)
FIGURA 2 1· 19 A expressão de
a hunchback forma padrões de ex pres·
são de gap sequenciais. (a) O gradiente
laixas de eve
anteroposterior do repressor Hunchback
iant
anterior) estabelece diferentes limites de expressão
pa ra Krüppel, knirps e giant. Para a re-
pressão de Krüppel, são necessários níveis
elevados de Hunchback, enquanto níveis
baixos são suficientes para reprimir giant.
(b) As regiões 5' reguladoras dos DNAs de
Krüppel e giant contêm diferentes números
b de sítios repressores de Hunchback. Exis-
tem três sítios em Krúppel, mas sete sítios
Krüppel em giant. O número aumentado de sítios
(I DDD ) Hunchback no retorçador de giant pode
ser responsável por sua repressão com
baixos níveis no gradiente de Henchback.
giant (a, Redesenhada, com perm issão, de
Gilbert S.E. 1997 . Developmental biology,
) 5th ed., p. 565, Fig. 14-2 3. ©Sinauer.)
758 Parte 5 Regulação
-4 kb -3 -2 -1 +1 +2 +3 +4 +5 +6 +7 +8
a r~~p~re~s~s~o~
re~s_-------~~ Fa~
tiv~a~d~o~~~s~~--------~~ FIGURA 21·21 Regulação da fai·
IL•_ Kr_ü_
PP - =.._ . _G_ia_n_t .O
_•_I 0 ;::;.__Ji I• Bicoide (±) • Hunchback (f) j xa 2 de eve. (a) O reforçado< de 500 pb
contém um total de 12 sítios de ligação
(l ffi_ffi ' u:t tl o a .m ) para as proteínas Bicoide, Hunchback,
Krüppel e Giant. A distribuição destas
b proteínas reguladoras no embrião inicial
de Drosophila está resu mida no diagra -
ma mostrado em b. Existem altos níveis
de proteínas Bicoide e Hunchback nas
células que expressam a faixa 2 de eve.
As bordas das faixas são formadas pelos
repressores Giant e Krüppel. (Giant é ex-
pressa nas regiões anterio r e posterior.
l!! Apenas o pad rão anterior é apresentado;
'a;
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
As sequências reguladoras em eis estão organizadas de ma- Alterações específicas em uma região modular eis-regu -
neira modular nos genomas anima is. Em geral, há reforça- ladora são responsáveis também pela evolução de padrões de
dores separados para componentes individuais de um pa - pigmentação distintos em d iferentes espécies de Drosophila .
d rão de expressão complexo. Considere-se um gene que é O clássico locus yellow (y) é crucial para a pigmentação, e mu-
expresso em múltiplos órgãos e tecidos no embrião murino tações simples no gene resultam em moscas com corpo de co-
em desenvolvimento, como ligado, pâncreas e hipõfise. Pro- loração amarela desprovidas de focos localizados de melanina .
vavelmente, o gene possuirá reforçadores separados para O gene y é regulado por reforçadores separados para a expres-
cada um destes locais de expressão. Viu-se que o locus eve são em cerdas, asas e abdome, como será descrito a seguir.
contém cinco reforçadores separados localizados nas regiões Adultos de D. melanogaster (sobretudo machos) pos-
flanqueadoras 5' e 3' (ver Fig. 21·20). Cada reforçadordirige suem pigmentação intensa nos segment os abdominais
a expressão de apenas uma ou duas das sete faixas de eve posteriores. Esta pigmentação é devida à ativação d ireta
no embrião inicial de Drosophila. Este tipo de organização do reforçador abdominal de y pela proteína Hox, Abd-B.
modular facilita a diversidade morfológica pela evolução de Drosofilideos desprovidos de segmentação abdominal. como
sequências reguladoras em eis, como será discutido adiante. Drosophila kikkawai, possuem mutações de ponto em um
sítio crítico do ativador de Abd-8. Isso causa perda da expres-
A organização modular burla a pleiotropia são de y no abdome e a perda de pigmentação observada.
Um reforçado< separado controla a expressão de y nas
Como os pad rões de expressão alteram-se d urante a evolu-
asas. Em algumas espécies de Drosophila, este reforçador
ção? Existem evidências recentes de que alterações de nu-
cleotídeos em sítios cruciais de ligação a ativadores eliminam
a expressão gênica em um tecido específico ou t ipo celu lar a
n~i
durante a evolução. Considere-se o exemplo das nadadeiras
pélvicas do peixe esgana-gata. Existem variantes naturais des-
te peixe que são desprovidas de nadadeiras pélvicas. Quando
c _] [
Pitx 1
!J )
acasaladas com indivíduos contendo nadadeiras, foi possível
í:
b
! l Il :I ~ l
identificar um lo cus gênico principal responsável pela redução
das nadadeiras. Ele está mapeado na região flanqueadora 5'
do gene Pitx1 . Este é um gene de controle do desenvolvimento
(C
ti mo
X
membro neuromasto Pitx 1
lJ
fenda olfativa
)
essencial para o desenvolvimento de vários tecidos mu ri nos posterior
diferentes, incluindo t imo, fenda olfativa e membros poste-
riores. Nos esgana-gatas, parece que as nadadeiras reduzidas QUADRO 21· 7 FIGURA 1 Gene de controle do desen-
resultam de mutações de ponto em sítios cruciais de ativado- volvimento, Pitx1. (a) Estrutu ra do gene Pitx1 com sequên-
res no reforçado r da nadadeira pélvica ("membro posterior") cias 5' a montante. Aqui está representada uma mutação nula
(Fig. 1 deste quadro). Estas mutações perturbam a expressão letal (de um camundongo de laboratório) na região codifica-
nas nadadeiras pélvicas em desenvolvimento, mas não inter- dora (segundo éxon) do gene. (b) No peixe esgana-gata selva-
ferem nas atividades de outros reforçadores necessá rios para gem, uma mutação reguladora viável na sequência 5' a mon-
a regulação de Pitx 1 no ti mo, na fenda olfativa e em out ros tante resulta em nadadeiras pélvicas de tamanho reduzido.
tecidos onde o gene Pitx1 está ativo. (continua)
760 Parte 5 Regulação
a
-..' - r;=:
+1
yel/ow
atividade dos genes Pitx1 e y. Novos padrões de expressão gê·
nica podem surgir por meio da perda de elementos repressores.
s·L
- ''
retorr;ador
do ponto
5'y ' '
J 3' A maioria ou todos os reforçadores ativos no embrião
inicial de Drosophila possuem sítios de ligação a repressor
que são responsáveis por cria r limites bem-definidos de ex·
pressão gênica. Por exemplo, o reforçador da faixa 2 de eve
da asa
possui sítios de ligação para os repressores Giant e Krüppel,
b c que geram limites anterior e posterior de expressão gênica
bem-definid os (ver Fig. 21-2 1). Mutações nestes sítios cau-
sam expansão drástica do padrão de expressão normal: uma
ampla banda de expressão ao invés de uma faixa reduzida.
o. elegans O. gunungco/a Um possível exemplo de evolução por meio de elementos
repressores é visto para o gene da lactase (LC7) em populações
QUADRO 21·7 FIGURA 2 Locus ye/low (y) de humanas. Na maioria dos primatas, o gene LCT é expresso em
Drosophi/a. (a) O painel mostra a estrutura e as sequên· altos níveis no intestino delgado de crianças, durante o pe-
cias reguladoras a montante (reforçadores) do gene yellow. ríodo em que são amamentados por suas mães. Entretanto, o
(b) Pigmentação normal ("ponto de acasalamento") da asa gene LCT é desligado após a adolescência. Certas populações
do macho adulto em uma espécie de Drosophila. (c) Asa de de seres humanos retêm de maneira incomum a expressão do
uma espécie desprovida de pigmentação; esta espécie possui gene LCT na vida adulta. Esta persitência está correi acionada
uma mutação no reforçador S' do ponto. com sociedades pastoris q ue continuam a usar o leite na dieta
mesmo depois do fim da amamentação. Populações indivi-
duais com expressão persistente de LCT possuem substituições
de nucleotídeos em uma sequência intrônica do gene MCM6,
especifica um ponto de pig mentação em um quadrante es- localizado imediatamente a 5' do LCT (Fig. 3 deste quadro).
pecífico da asa do macho adulto (Fig. 2 deste q uadro). Este
Estas alterações nucleotídicas podem danificar elemen-
ponto é um componente crucial do ritual de corte. Espécies
tos repressores que normalmente se ligam a uma proteína
desprovidas do ponto de acasalamento possuem mutações
silenciadora responsável por reprimir a expressão de LCT no
de ponto no reforçador da asa, causando a perda restrita da
intestino delgado de adolescentes e adultos. Esta perda de
atividade do gene y sem comprometer sua função em outros
elementos eis-reguladores críticos poderia ser comparada à
tecidos como as cerdas e a cutícula abdominal.
i nativação do reforçador de membro posterior/ nadadeira pél-
vica no gene Pitx1 de peixes esgana-gatas ou à inativação dos
Alterações em sítios repressores podem gerar grandes reforçadores de abdome e asa no gene y de Drosophila. No
mudanças na expressão gênica caso do gene da lactase, porém, um novo padrão de expres-
A simples perda de sítios críticos de ativadores em diferentes são gênica está envolvido, persistência temporal da atividade
módulos de reforçadores pode explicar a perda localizada de de LCT, devido à perda de elementos de repressão.
QUADRO 21·7 FIGURA 3 Estrutura do gene LCT e sua região reguladora 5' a montante.
gênica com efeitos aditivos? No caso de eve, cinco diferentes reforçadores pro-
duzem sete faixas diferentes.
A repressão transcricional de curto alcance é um mecanismo de garantia
da autonomia do reforçador- a ação independente de vários reforçadores para
gerar os padrões aditivos de expressão gênica. Isso significa que os repressores
ligados a um reforçador não interferem nos ativadores ligados a outro reforça-
e~53~~0 ~ 2~S'r-+LIGADO
- :' ]_)_L! J
dor da região reguladora do mesmo gene. Viu-se, por exemplo, que o repressor
Krüppel se liga ao reforçador da faixa 2 de eve e estabelece o padrão da borda
reforçador da faixa 2 '• reforçador da faixa 3 posterior dessa faixa. O repressor Krüppel só atua dentro dos limites dos 500
repressor Krüppel : ativadores da faixa 3 pb do reforçador da faixa 2. Ele não reprime o promotor central e nem os a ti·
' vadores contidos no reforçador da faixa 3, ambos localizados a mais de 1 kb de
distância dos sítios do repressor Krüppel, no reforçador da faixa 2 (Fig. 21-23).
FI GURA 2 1·23 Repressão de curto Se Krüppel fosse capaz de funcionar a longas distãncias, ou se fosse mapeado
alcance e autonomia do reforçador. próximo ao promotor (como os repressores bacterianos), ele interferiria na ex-
Na região reguladora de eve. diferentes pressão da faixa 3 de eve, porque altos níveis desse repressor estão presentes na
reforçadores atuam independentement e
região do embrião em que o reforçador da faixa 3 de eve está ativo.
uns dos outros, devido à repressão tra ns·
cricional de curto alcance. Os repressores
que se ligam a um reforçador não inter·
ferem nos ativadores dos reforçadores vi-
GENES HOMEÓTICOS: UMA IMPORTANTE CLASSE
zinhos. Por exemplo, o repressor Krüppel DE REGULADORES DO DESENVOLVIMENTO
liga-se ao reforçado r da faixa 2 e mantém
a faixa 2 desligada nas regiões centrais do A análise genética do desenvolvimento de Drosophila levou à descoberta de
embrião. O reforçado r da faixa 3 de eve é uma importante classe de genes reguladores, os genes homeóticos, que cau-
expresso nessas regiões. Ele não é repri-
sam a diversificação morfológica dos diferentes segmentos corporais. Alguns
mido por Krüppel. por que não possui as
genes homeóticos controlam o desenvolvimento de partes da boca e antena
sequências de DNA específicas reconheci-
das pela proteína Krüppel. Além disso, os a partir de segmentos da cabeça, enquanto outros controlam a formação de
repressores Krüppel ligados ao reforçador asas e halteres a partir de segmentos torácicos. Os dois genes homeóticos mais
da faixa 2 não interferem nos ativadores bem estudados são Antp e Ubx, responsáveis pela supressão do desenvolvi·
da fa ixa 3, porque estão muito dista n· mento de antenas e asas, respectivamente.
tes. Krüppel precisa ligar-se a menos de Antp (Antennapedia) controla o desenvolvimento do segmento central
100 pb dos ativadores a montante pa ra do tórax, o mesotórax. O mesotórax produz um par de patas que são mor-
bloquear sua capacidade de estimular a fologicamente diferentes das patas anteriores e posteriores. Antp codifica
t ranscrição. Os reforçadores das faixas 2 uma proteína reguladora com homeodomínio, normalmente expressa no
e 3 estão separados por uma sequência
mesotórax do embrião em desenvolvimento. O gene não é expresso, por
espaçadora de 1,5 kb. exemplo, nos tecidos da cabeça em desenvolvimento. No entanto, uma mu-
tação dominante em Antp, causada por uma inversão cromossômica, coloca
a sequência cod ificadora da proteína Antp sob o controle de um DNA re-
gulador "estranho", que promove a expressão gênica em tecidos da cabeça,
inclusive das antenas (ver Fig. 21-24). Quando expresso erroneamente na
cabeça, Antp provoca uma curiosa mudança morfológica: desenvolvem-se
patas no lugar de an terras.
Ubx (Uitrabithorax) codifica uma proteína reguladora com homeod omí-
nio que controla o desenvolvimento d o terceiro segmento torácico, o me-
tatórax. Ubx reprime especificamente a expressão d e genes necessários ao
desenvolvimento do segundo segmento torácico, ou mesotórax. De fato,
Antp é um dos genes sob seu controle: Ubx reprime a expressão de Antp no
metatórax e restringe sua expressão ao mesotórax de embriões em desen-
FIGURA 21·24 Uma mutação
dominante no gene Antp resul ta na
volvimento. Os mutantes que não têm o repressor Ubx exibem um padrão
transfor mação homeótica de ante· anormal de expressão de Antp. O gene não se expressa apenas em seu local
nas em patas. A mosca da direita é nor· normal de ação, o mesotórax em desenvolvimento, mas também se ex-
mal. Observa-se o conj unto de antenas pressa erroneamente no metatórax em desenvolvimento. Essa expressão
rudimentares na extremidade frontal da indevida de Antp causa a transformação do meta tórax em um mesotórax
cabeça. A mosca à esquerda é heterozi- duplicado.
gota pa ra uma mutação Antp dominante Em moscas adultas, o mesotórax contém um par de patas e asas, enquan-
(AntpD/+ ). Ela é completa mente viável to o meta tórax contém um par de patas e h alteres (ver Fig. 21-25). Os halteres
e praticamente normal em apa rência, são consideravelmente menores do que as asas e atuam como estruturas de
exceto pelo marca nte conjunto de patas
emanando da cabeça em vez de antenas.
equilíbrio durante o voo. Mutantes Ubx apresentam um fenótipo espetacular:
(Cortesia de Matthew Scott.)
eles possuem quatro asas totalmente desenvolvidas, devido à transformação
dos halteres em asas.
CAPÍTULO 21 Regulação Gênica no Desenvolvimento e na Evolução 763
T2
asa
-
T3 (Ubx)
halter
FIGURA 21-2 6 A exp ressão incorreta de Ubx no mesotórax resulta em perda das
asas. A mutação Cbx interrompe a região reguladora de Ubx, provocando sua expressão incor-
reta no mesotórax e resultando na transformação do mesotórax em metatórax.
764 Parte 5 Regulação
~ CONCEITOS AVANÇADOS
Os genes Antp e Ubx são apenas dois dos oitos genes homeó- embrião de Drosophi/a
ticos do genoma de Drosophila. Os oito genes homeóticos de
Drosophila localizam-se em dois agrupamentos, ou complexos
gênicos. Cinco dos oito genes localizam-se no complexo Anten-
napedia e os três restantes, no complexo Bithorax (ver Fig. 1 mx
deste quadro). Observa-se que esses são os nomes dos com- ,/
\\~~ ""
xos. Por exemplo, a denominação do complexo Antennapedia é
uma homenagem ao gene Antennapedia (Antp), que foi o pri-
meiro gene homeótico identificado no complexo. No complexo
Antennapedia, existem outros quatro genes homeóticos: labial lab pb 0/d Ser Anlp I JJ!bx aMA Abd·B
(lab), proboscipedia (pb), Deformed (Dfd) e Sex combs reduced (JC I l t ) L I C l / f' ' :Q ..L..)
(Ser). Da mesma maneira, o complexo Bithorax é assim deno-
minado em homenagem ao gene Ultrabithorax (Ubx), mas há
outros dois genes neste complexo: abdominal-A (abd-A) e Ab-
t I t t
dominai-S (Abd-8). Outro inseto, o besouro-castanho, contém
um único complexo de genes homeóticos, que compreende
homólogos de todos os oito genes homeóticos contidos nos
complexos Antennapedia e Bithorax de Drosophila. Provavel-
mente, os dois complexos foram originados por um rearranj o
cromossômico em um único complexo ancestral.
Existe uma correspondência colinear entre a ordem dos rombencéfalo ~ medula es t.
Pr,<ll
genes homeóticos no cromossomo e seus padrões de ex-
mesencéfalo '<-.,
pressão ao longo do eixo anteroposterior dos embriões em
desenvolvimento (ver Fig. 1 deste quadro). Por exemplo, o
gene lab, localizado na posição 3 · mais extrema do comple- lombar
xo Antennapedia, é expresso nas regiões mais anteriores da
cabeça do embrião de Drosophila em desenvolvimento. Em
prosencéfalo .---<
contrapartida, o gene Abd-8 , que se localiza na posição mais embrião de camundongo
a 5 · do complexo Bithorax, é expresso nas regiões mais pos-
teriores (ver Fig. 1 deste quadro). O significado dessa col inea-
QUADRO 2 1·8 FIGURA 1 Organização e expressão
ridade não foi estabelecido, mas deve ser importante porque
dos genes Hox em Drosophila e no camundongo. A figura
ela é preservada em todos os grandes grupos de artrópodes
compara as sequências colineares e os padrões de transcrição
(inclusive nos besouros-castanhos) e em todos os vertebrados
dos genes Hox em Drosophila e no camundongo . (Adaptada,
já estudados, inclusive camundongos e seres humanos.
com permissão, de McGinnis W. e Krumlauf R. 1992. Ce/1 68:
283-302, Fig . 2. © Elsevier.)
Complexos de genes Hox controlam a padronização
anteroposterior de mamíferos
senta expressão sequencial ao longo do eixo anteroposterior
Os camundongos possuem 38 genes Hox, d istribuídos em
dos membros em desenvolvimento. Não se observa um padrão
quatro agrupamentos (Hoxa, Hoxb, Hoxc, Hoxd). Cada agru-
comparável nos membros dos insetos, o que sugere que os
pamento, ou complexo, tem 9 ou 1O genes Hox e correspon-
genes Hoxd adquiriram "novos" DNAs reguladores durante a
de ao complexo único de genes homeóticos dos insetos que
evolução dos vertebrados. De fato, já se viu no Capítulo 19 que
formou os complexos Antennapedia e Bithorax em Drosophila
uma região de controle global (GCR, global control region) es-
(Fig. 2 deste quadro). Por exemplo, os genes Hoxa-1 e Hoxb-1
peciali zada coordena a expressão dos genes Hoxd individuais
são relacionados ao gene Jab de Drosophila, enquanto Hoxa-9
nos membros em desenvolvimento.
e Hoxb-9 - localizados na outra extremidade de seus respecti-
vos complexos - são semelhantes ao gene Abd-8.
Além dessa homologia " seriada" entre os genes Hox de Padrões alterados da expressão de Hox geram a
camundongos e moscas, cada complexo Hox de camundon- diversidade morfológica nos vertebrados
gos apresenta o mesmo tipo de colinearidade observado em As mutações nos genes Hox de mamíferos causam interrup-
Drosophila. Por exemplo, os genes Hox localizados na extre- ções no esqueleto axial, que consiste na medula espinal e nas
midade 3 · de cada complexo, como Hoxa-1 e Hoxb-1, são diversas vértebras da espinha dorsal. Essas alterações lem-
expressos nas regiões mais anteriores dos embriões de camun- bram algumas das alterações morfológicas vistas nos mutan-
dongo em desenvolvimento (o futuro prosencéfalo). Em con- tes de Antp e Ubx em Drosophila.
trapartida, os genes Hox localizados próximo à extremidade 5 • Considere-se o gene Hoxc-8 no camundongo, que é o
de cada complexo, como Hoxa-9 e Hoxb-9, são expressos nas mais relacionado ao gene abd-A do complexo Bithorax de
regiões posteriores do embrião (regiões torácica e lombar da Drosophila. Em geral, ele é expresso próximo à divisão entre
medula espinal em desenvolvimento). O complexo Hoxd apre- a caixa torácica em desenvolvimento e a região lombar da co-
CAPÍTULO 21 Regulação Gênica no Desenvolvimento e na Evolução 765
c4
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c5 a6 c8 c9 c10
- c11 c12
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c13
_,fL..IO""'--~n..L__-----~"'c:;:~_"'-:,r~vx._:_-:_]í:::._!_-_.vD
Hoxc ru.l______
QU ADRO 2 1·8 FIGU RA 2 Conservação da organização e expressão dos complexos de genes homeóticos em
Drosophila e no camundongo. (Adaptada, com permissão, de Gilbert S. E. 2000. Developmental biology, 6th ed ., Fig . 11 .36a .
© Sinauer.)
I una vertebral, a " cauda" anterior. (0 gene abd·A é expresso complex). O PRC liga-se às sequências reguladoras de Abd-8
no abdome anterior do embrião de Drosophila.) Normalmen- nas células que falham em ativar o gene no embrião inicial:
te, a primeira vértebra lombar não tem costelas. Entretanto, os progenitores da cabeça, do tórax e do abdome anterior.
embriões mutantes homozigotos para uma mutação nocaute Em todas estas células, o PRC causa a metilação da lisina-27
que anula o gene Hoxc-8 apresentam um fenótipo mutante da histona H3, e esta metilação correlaciona-se com a repres-
drástico . A primeira vértebra lombar desenvolve um par de são da unidade de transcrição de Abd-8 associada. Ao con -
costelas vestigiais. Esse tipo de anomalia de desenvolvimen - trário, um complexo ativador ubíquo, o complexo Trithorax
to às vezes é chamado de t ransformação " homeótica", em (TRC), liga-se às sequências reguladoras de Abd-8 nas células
que a estrutu ra apropriada se desenvolve no lugar errado. que expressam o gene no embrião inicial (i.e., os segmentos
Neste caso, uma vértebra t i pica da região torácica posterior abdominais posteriores). A ligação d o TRC leva à metilação
desenvolve-se na região lombar anterior. da lisina-4 na histona H3, e isso está correlacionado com a
transcrição ativa de Abd-8 .
Manutenção dos padrões de expressão dos genes Hox Portanto, o PRC e o TRC mantêm estados ligado/desli -
Padrões localizados de expressão de genes Hox são estabe- gado da expressão de genes Hox dependendo dos padrões
de expressão iniciais destes genes no embrião inicial. Se um
lecidos nos embriões iniciais da mosca e do camundongo
dado gene Hox é reprimido em uma determinada célula, PRC
por combinações de ativadores e repressores t ranscricionais
seq uência-específicos. Algumas destas proteínas reguladoras liga-se e mantém o gene desligado em todas as descendentes
da célula. Ao contrário, se um dado gene Hox for ativado em
são moduladas por vias de sinalização celular, como as vias
uma determinada célula, então o TRC irá se li gar e garantir a
FGF e Wnt. Em Drosophi/a, muitos dos mesmos repressores
expressão estável do gene em todas as suas descendentes.
de gap que estabelecem faixas localizadas de expressão de
TRC e PRC servem para manter uma "memória" reguladora
eve também control am os padrões iniciais de expressão de
genes Hox. Estes padrões são mantidos ao longo do ciclo de dos padrões de expressão dos genes Hox.
vida depois que os repressores de gap são perdidos.
Considere-se, como exemplo, o gene Hox Abd-8 em MicroRNAs modulam a atividade de Hox
Drosophi/a. Ele é expresso especificamente no abdome poste- Vários complexos de genes Hox contêm genes de microRNA
rior, incluindo os primórdios dos segmentos abdominais 5 a 8 . (miRNA ou miR). Po r exemplo, o ANT-C da mosca contém
A expressão de Abd-8 é inicialmente reprimida pelos represso- miR-10, e 8X·C contém miR·iab4. Acredita-se que os miRNAs
res de gap Hb, Kr e Kni na cabeça, no tórax e no abdome an- codificados inibam ou atenuem a síntese de diferentes pro-
terior do embrião inicial de Drosophila. Estes são os mesmos teínas Hox. O miRNA iab4 inibe a síntese da proteína Ubx em
repressores que estabelecem faixas localizadas de expressão tecidos abdominais. Complexos Hox de vertebrados também
de eve (ver Figs. 2 1-19 e 21-20). Estes repressores restringem possuem genes de miR, incluindo miR-10. O gene miR-196
a expressão de Abd-8 aos segmentos abdominais posteriores. está localizado em regiões 5' de vários complexos Hoxde ver-
A manutenção da expressão de Abd-8, bem como a ex- tebrados. Acredita-se que o miRNA codificado iniba a síntese
pressão da maioria dos outros genes Hox em moscas e mamí- da proteína Hoxb8 em regiões posteriores dos embriões mu-
feros, depende de um grande complexo proteico, chamado rinos. Ver Capítulo 20 para mais detalhes a respeito de como
complexo de repressão Polycomb (PRC, Polycomb repression os miRNAs bloqueiam ou atenuam a síntese proteica .
766 Parte 5 Regulação
segmentos rios semelhantes aos dos outros segmentos do tórax (do segundo ao décimo
da cabeça tórax primeiro segmentos torácicos, T2-T11). Artemia pertence a uma ordem de
crustáceos conhecidos como branquiópodes. Considere-se uma ordem
diferente de crustáceos, os chamados isópodes. Isópodes contêm mem-
branquiópode bros natatórios do segundo ao oitavo segmentos torácicos, assim como os
branquiópodes. Mas, nos isópodes, os membros do primeiro segmento to-
rácico foram modificados. Eles são menores do que os demais e funcionam
como membros para alimentação (Fig. 21-27). Esses membros modifica-
dos são chamados maxilípedes (também conhecidos como pés maxilares)
T1 T2 T3 T4 T5
e assemelham-se aos apêndices encontrados na cabeça (não mostrados na
figura).
Padrões ligeiramente diferentes de expressão de Ubx são observados
'\maxilípede
nos branquiópodes e nos isópodes. Esses padrões de expressão diferentes
estão correlacionados com a modificação dos membros natatórios do pri-
meiro segmento torácico dos isópodes. Talvez o último ancestral comum
FIGURA 21·27 Modificações na dos atuais branquiópodes e isópodes contivesse o arranjo de membros to-
morfologia de dois grupos diferen· rácicos observado em Artemia (que é, ele próprio, um branquiópode): todos
tes de crustáceos. Nos branquiópodes,
os segmentos torácicos contêm membros natatórios. Durante a divergên-
a expressão de Ser está rest rita às regiões
cia entre os branquiópodes e os isópodes, as sequências reguladoras de Ubx
da cabeça, onde ele auxilia a promover
o desenvolvimento dos apêndices de ali-
foram alteradas nos isópodes. Em consequência dessa m udança, a expres-
mentação, enquanto Ubx é expresso no são de Ubx foi eliminada no primeiro segmento torácico e limitada aos seg-
tórax, onde cont rola o desenvolvimento mentos T2-T8. Esta alteração na expressão de Ubx permitiu a formação de
dos membros natatórios. Nos isópodes, um maxilípede no lugar do membro natatório Tl. De fato, em diferentes
detecta -se expressão do Ser na ca beça crustáceos, há uma estreita correlação entre a ausência da expressão de Ubx
e no primei ro segmento torácico (T1) e, no tórax e o desenvolvimento dos apêndices de alimentação. Os embriões
como consequência, o membro natatório de lagosta, por exemplo, não expressam Ubx nos dois primeiros segmentos
em T1 é t ransformado em apêndice de
torácicos e têm dois pares de maxilípedes. Os camarões limpadores não
alimentação (o maxilípede). Esta expa n-
são posterior de Ser foi possível pela per-
expressam Ubx nos três primeiros segmentos torácicos e têm três pares de
da da expressão de Ubx em T1 visto que maxilípedes.
Ubx norm almente reprime a expressão de
Ser. (Adaptada de Levine M. 2002. Nature Como os insetos perderam seus membros abdominais
415: 848-849, Fig. 2. © M acmillan.)
Todos os insetos têm seis patas, duas em cada um dos três segmentos toráci-
cos; isso é válido para todas as espécies de insetos (cerca de 1 milhão). Em con-
trapartida, outros artrópodes, como os crustáceos, têm um número variável
de membros. Alguns crustáceos apresentam membros em todos os segmentos
do tórax e do abdome. Essa modificação evolutiva na morfologia, a perda de
membros no abdome dos insetos, não se deve a alterações de expressão de
genes determinantes de padrões, como visto para a formação dos maxilípedes
nos isópodes. Ela deve-se a alterações funcionais na proteína reguladora Ubx.
Nos insetos, Ubx e abd-A reprimem a expressão de um gene essencial ne-
cessário para o desenvolvimento dos membros, chamado Distal-less (DI I). Du-
rante o desenvolvimento dos embriões de Drosophila, Ubx é expresso em altos
níveis no metatórax e nos segmentos abdominais anteriores; a expressão de
abd-A estende-se até os segmentos abdominais mais posteriores. Juntos, Ubx
e abd-A mantêm Dll desligado nos sete primeiros segmentos abdominais. Em-
bora Ubx se expresse no meta tórax, ele não interfere na expressão de Dll neste
segmento, porque Ubx só é expresso nas patas em desenvolvimento em T3,
depois que Dll é ativado. Consequentemente, Ubx não interfere no desenvol-
vimento dos membros em T3.
Nos crustáceos, como o branquiópode Artemia mencionado anterior-
mente, níveis elevados de Ubx e de Dll são encontrados em todos os 11
segmentos torácicos. A expressão de Dll promove o desenvolvimento de
membros natatórios. Por que Ubx reprime a expressão de Dll nos segmen-
tos abdominais dos insetos, mas não nos dos crustáceos? A resposta é que
a proteína Ubx divergiu entre insetos e crustáceos. Isso foi demonstrado no
experimento seguinte.
CAPÍTULO 21 Regulação Gênica no Desenvolvimento e na Evolução 767
FIGURA 21 · 30 AlteraçõesnoDNA a
regulador dos genes·alvo de Ubx.
(a) O repressor Ubx é expresso nos halte·
res dos dípteros e nas asas traseiras dos
lepidópteros (em cor de laranja). (b) Em
- v
dípteros, diferentes genes-a lvo contêm
sítios para o repressor Ubx. Esses sítios fo- dípteros lepidópteros
ram perdidos nos lepidópteros.
b
l l
R I
:
!DESLIGADO ) (
tD : !
I
!
• LIGADO
'
wg f[ J
+1 +1
DSRF fl R I
: J
X
!DESLIGADO
tD : ~
I
!
• LIGADO
J
+1 +1
Hb I I I I I
Transportador
. . .. ... 1 HH .
Hlll I I I
C. in:estinaliscDNA
I
Endog1ucanase
t i fii H t l f l l l l l
l i 11.11 111111111
C. elegans e Orosophila
-···1
-· . '"'
Fator de procesumento
- ....
. ..
1- 1-11
1 ~
~
Seres humanos
-~· I fi
FI GURA 21·31 Um gene de plantas no genoma de Ciona comparado a sequên·
cias de outros animais. É apresentada uma região de 20 kb de uma estrutu ra de cont igs de
Ciona. Essa sequência contém um gene de endoglucanase, que codifica uma en zima envolvida
na deg radação e na síntese de celulose. um dos principais com ponentes das paredes celulares
de plantas. Os retângu los vermel hos no topo representam o gene Kerrigan-1 de Arabidopsis.
O progra ma de busca de genes identificou 15 possíveis éxons no gene de Ciona indicados como
retângulos verdes. Na verdade. existe um éxon a 5' presente no cDNA (retâ ngulos pretos abaixo)
não identificado pelo programa de computador. De mesma maneira. o programa identificou um
pequeno intron em uma grande região codificadora de um gene próximo, que codifica um fator
de processa mento de RNA. enquanto a sequência do cDNA sugere que tal íntron não existe.
Existe. também. uma discrepâ ncia no tamanho do éxon mais a 5' . Os genes flanqueadores são
conservados em verm es, moscas e seres humanos. enquanto o gene da endogluca nase é exclu-
sivo de Ciona, que contém um revestimento de celulose. Observam-se diferenças nas estrutu ras
detalhadas íntron-éxon dos outros genes entre diferentes genomas ani mais. (Reproduzida. com
permissão, de Dehal et ai. 2002. Science 298: 2157-2167, Fig. 8. © AAAS.)
.....
•
r - ......... .
· · · · · · · · · · · · · · • • • · x enoturbe/la
FIGURA 21-32 Filogenia dos deu -
• t ero stômios. Os deuterostõmios incluem
•
•
• crinoides quatro filos animais: XenoturbeUida, Echi -
•
•
• nodermata, Hemichordata e Chordata .
1- asteroides
Existem cinco classes de organismos nos
.... - ofiuroides equinodermos equinodermos, duas classes de hemicor-
r equinoides dados e t rês classes de cordados. Obser-
o.
va-se que os pa rentes vivos mais próximos
"'c:a; '- holoturoides dos vertebrados são os uroco rdados, que
-
iil
pterobrãnquios
incluem as ascídias (ver Quad ro 19-3) .
(Adaptada, com permissão, de Gerhart
an cestral dos
deuterostômios ª'
~:)'
"'
1-
enteropneustos
hemlcorrJados J. 2006. J. Ce/1 Physiol. 209 677-685. ©
W iley-l iss, Inc.)
cefalocordados
1- urocordados corrJados
....
vertebrados
'--
seres humanos
U I dllll • IMI 11 11 11 UI 1 11 I
anêmonas-<lo-mar WIIIIIMII•
FIGURA 21 -3 3 Conservação da ligação genética entre anêmonas-do-mar e seres
humanos . O digrama do topo mostra a região de 4Mb do cromossomo 10 humano (região
q24). As linhas mostram o alinhamento entre 11 diferentes genes neste intervalo e as sequên-
cias correspondentes em uma região de 1 Mb de um cromossomo de anêm ona-do-mar. Todos
os 11 genes estão localizados juntos em ambos os cromossomos, mas a ordem exata dos genes
mudou dura nte o curso dos cerca de 700 milhões de anos desde que os seres humanos e as
anêmonas-do-mar compa rtilharam um ancestral comum.
772 Parte 5 Regulação
RESUMO
As células de um embrião em desenvolvimento seguem vias No contato célula a célula, uma molécula sinalizado-
divergentes de desenvolvimento, pela expressão de d iferen- ra liga-se à membrana e altera a expressão gênica das células
tes conjuntos de genes. A maior parte da expressão gênica vizinhas por meio da ativação de uma via de sinalização ce-
diferencial é regulada no nível de inicio da transcrição. Há lular. Em alguns casos, um ativador transcricional dormente,
três estratégias principais: a localização do mRNA, o contato ou proteína coativadora, é liberado da superfície celular para
célula a célula e a difusão de moléculas sinalizadoras secre- o núcleo. Em out ros casos, um fator de transcrição quiescen-
tadas. te (ou um repressor transcricional), já presente no núcleo, é
A localização do mRNA é realizada pela ligação de sequên- modificado de modo a at ivar a expressão gênica. O contato
cias 3'-UTR específicas às extremidades crescentes dos micro- célula a célula é usado por B. subtilis para estabelecer diferentes
túbulos. Esse mecanismo é usado para localizar o mRNA de programas de expressão gênica na célula-mãe e no pré-esporo.
ashl nas células-filhas de leveduras em brotamento. Ele tam- Um mecanismo semelhante é usado para evitar que as células
bém é usado para localizar o mRNA de oskar no citoplasma cutâneas se transformem em neurônios durante o desenvolvi-
posterior do óvulo não fertilizado de Drosophila. mento do sistema nervoso central dos insetos.
CAPÍTULO 21 Regulação Gênica no Desenvolvimento e na Evolução 773
Os gradientes extracelulares de moléculas de sinalização nas atividades de um reforçador de uma faixa vizinha, loca-
celular secretadas podem estabelecer múltiplos tipos celulares lizado no mesmo gene.
durante o desenvolvimento de um tecido ou órgão complexos. Genes homeóticos codificam proteínas reguladoras res-
Esses gradientes produzem gradientes intracelulares de fatores ponsáveis por tomar os segmentos corporais individuais dis-
de transcrição ativados que, por sua vez, controlam a expres- tintos uns dos outros. Os dois genes homeóticos mais bem
são gênica de modo dependente da concentração. O gradiente estudados, Antp e Ubx, cont rolam o desenvolvimento do se-
extracelular do Sonic hedgehog produz um gradiente do ativa- gundo e terceiro segmentos torácicos, respectivamente, da
dor Gli na metade ventral do tubo neural dos vertebrados. Ní- mosca-da-fruta. A má expressão de Ubx nas asas em desenvol-
veis diferentes de Gli regulam conjuntos diferentes de genes- vimento causa o desenvolvimento de moscas sem asas, en-
-alvo e, assim, produzem diferentes tipos de células neuronais. quanto a má expressão de Antp na cabeça causa transformação
Da mesma maneira, o gradiente de Dorsal no embrião inicial de antenas em patas.
de Drosophila determina diferentes padrões de expressão gêni- Os artrópodes podem ser considerados o filo animal mais
ca ao longo do eixo dorsoventral. Essa regulação diferencial bem-sucedido de todos, em números absolutos e em diversi-
depende das afinidades de ligação de Dorsal aos sítios de liga- dade. Sabe-se mais sobre a base molecular da diversidade dos
ção nos reforçadores-alvo. artrópodes do que sobre qualquer outro grupo animal. Por
A segmentação do embrião de Drosophila depende de exemplo, as alterações no perfil de expressão do gene Ubx es-
uma combinação de mRNAs localizados e gradientes de fa- tão correlacionadas com a conversão de membros natatórios
tores de regulação. Os mRNAs de bicoide e oskar, localizados em maxilípedes em diferentes grupos de crustáceos. As alte-
respectivamente no polo anterior e no polo posterior, resul- rações na função da proteína Ubx poderiam ser responsáveis
tam na formação de um gradiente acentuado do repressor pela repressão dos membros abdominais nos insetos. Final-
Hunchback ao longo do eixo anteroposterior. Esse gradien- mente, as alterações nos reforçadores-alvo de Ubx poderiam
te estabelece padrões sequenciais na expressão de Krüppel, explicar as diferentes morfologias dos halteres, nos dipteros, e
Knirps e Giant nas regiões que originarão o tórax e o abdo- das asas traseiras, nas borboletas.
me. Em conjunto, essas quatro proteínas são chamadas de Montagens de genomas inteiros de diversos grupos ani-
proteínas gap; elas atuam como repressoras transcricionais mais revelam uma marcante conservação do "kit de ferra-
que estabelecem faixas localizadas de expressão gênica de mentas genéticas" central. A maioria dos genomas animais
acordo com a regra dos pares. As faixas individuais são re- contêm um conjunto semelhante de genes, e a maioria das
guladas por diferentes reforçadores localizados nas regiões diferenças resulta da duplicação e divergência de genes "anti-
reguladoras dos genes da regra dos pares, como eve. Cada gos" em vez da invenção de novos genes. A maioria dos genes
reforçador contém vários sítios de ligação, tanto para ativa- não está apenas conservada na maioria dos grupos, mas há
dores quanto para repressores de gap. É a interação entre ati- também conservação da ligação genética, ou sintenia. Cerca
vadores com distribuição ampla, como Bicoide, e os repres- de metade de todos os genes no genoma humano está loca-
sores de gap, localizados, que estabelece o limite anterior e lizada próxima dos mesmos vizinhos em grupos animais al-
o posterior de cada faixa de regra dos pares. Para produzir o tamente divergentes como anêmonas-do-mar. Montagens de
padrão composto, com sete faixas de expressão de regra dos genomas inteiros estão sendo usadas para obter informações
pares, os reforçadores das d iferent es faixas agem indepen- sobre nossas próprias origens humanas. Uma comparação dos
dentemente uns dos outros. Essa autonomia de reforçadores genomas de chimpanzé e Neandertal sugere que os humanos
é devida, em parte, à repressão da transcrição de curto alcan- modernos possuem contribuições significativas dos "extin-
ce. Um repressor de gap ligado a um reforçador não interfere tos" Neandertais.
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774 Parte 5 Regulação
QUESTÕES
Para respos111S de ques~ de número par, wr Apêndice 2: Respos111S. Questão 12. Revise a Figura 21-21. Por que a concentração
de Bicoide e Giant apresenta queda acentuada em vez de gra-
Questão 1. Defina expressão gênlca diferencial. dual da posição anterior para a posterior ao longo do embrião?
Questão 2. Explique a Importância de células-tronco plu- Questão 13. Explique como patas de Drosopllila podem ser
ripotentes induzidas (IPS) que atuam de forma semelhante a expressas em vez de antenas.
células da massa interna de células (ICM).
Questão 14. Por que multas das proteínas slnallzadoras são
Questão 3 . Descreva as trl!s estratégias para o estabeleci- consideradas como importantes genes do"kit de ferramentas"?
mento de expressao gl!nlca diferencial durante o desenvolvi-
mento. Questão 15. O mRNA de bicoidc é maternalmente deri-
vado e localizado na parte anterior dos embriões iniciais de
Questão 4. Resuma as etapas gerais da expressão gênica di- Drosophila. A proteina Bicoide é um atlvador transcriclonal do
ferencial induzida por morfógcnos dependentes de concentra- gene hunchback, dependente de con centraçllo.
ção. A seguir, estão representados embriões nos quais um re-
pórter é expresso sob o controle do promotor do lwnchback
Questão S. Qual estratégia para expressão gênica diferencial selvagem. As regiões escurecidas indicam a expressão do re-
é utilizada pelas células de Saccllaromyces cerevisiae na regula- pórter. Use estes padrões para responder às questões seguintes.
ção da troca de tipo acasalante? Cite o mRNA ou protcina rele-
vante usado na estratégia.
Questão 6. Qual estratégia para exp ressão gênica diferencial anteriol ~ posto!ior anterior ~ pos:tetior antarb' 4 pos.torlor
é utilizada pelas células de Bacillus subtilis quando o pré-esporo padrão A ~B padrlloC
influencia a expressão gênlca na célula-mãe? Cite o mRNA ou
proteina relevante usado na estratégia.
Biologia de Sistemas
natureza da biologia mo-
O
S AVANÇOS TECNOLÓGICOS TRANSFORMARAM A
lecular. Hoje, é possível identificar cada componente- cada gene e
proteína - envolvido em um processo celular complexo como a di-
ferenciação de uma célula-tronco em músculo cardíaco. Antes do advento
das tecnologias de sequenciamento de DNA em larga escala e métodos de
proteômica, os biólogos moleculares buscavam obter princípios gerais a partir
da dissecação sistemática de apenas um subconjunto dos componentes to-
tais - os considerados agentes reguladores limitantes cruciais do processo em
estudo. A capacidade para identificar e caracterizar cada componente de um
processo fornece a oportunidade para uma nova linha de pesquisa: quais são
os princípios de design subjacentes? Neste capítulo, será discutida a disciplina
emergente da biologia de sistemas, que surgiu da união entre a biologia mole-
cular experimental tradicional e a análise computacional.
A biologia molecular deve seu sucesso à abordagem de sistemas relativa-
mente simples, permitindo investigar os mecanismos subjacentes em deta-
lhes. Esta abordagem tradicional começou a dar espaço, no entanto, a estraté-
gias mais ambiciosas e holísticas, nas quais níveis maiores e mais complexos
de organização biológica são examinados por uma combinação de medidas
quantitativas e de alto rendimento, modelagem, reconstrução e teoria. Esta
linha de investigação interdisciplinar veio para definir o campo emergente da
biologia de sistemas. A biologia de sistemas baseia-se em matemática, enge-
nharia, física e ciência da computação, bem como biologia molecular e bio-
logia celular. O objetivo é descrever as propriedades emergentes da rede de
interações que controlam as funções dos organismos vivos, fazendo isso de
maneira quantitativa e preditiva. Esta abordagem pode ser aplicada a siste-
mas biológicos operando em vários níveis, como transferência de informação,
transdução de sinal, divisão celular e dinâmica de citoesqueleto. Aqui, como
é apropriado para um texto sobre biologia molecular do gene, o foco é a bio-
logia de sistemas dos circuitos reguladores gênicos. Espera-se que esta aborda-
gem revele princípios de controle gênico que não podem ser compreendidos
a partir do estudo de componentes individuais de maneira isolada.
A biologia de sistemas está intimamente ligada a outro campo, a bio-
logia sintética . Como a biologia de sistemas, a biologia sintética busca
elucidar princípios de design dos circuitos biológicos. Entretanto, a biologia
sintética tenta fazê-lo pela criação de redes artificiais que mimetizam as ca-
racterísticas das rotas naturais de controle gênico. Esta abordagem permite
testar os modelos de como os sistemas reguladores funcionam. Devido à sua
relativa simplicidade, tais redes artificiais podem ser analisadas de maneira
mais quantitativa do que os circuitos reguladores geralmente mais complexos
encontrados em sistemas naturais.
776 Parte 5 Regulação
I !• T
•
mas, como será visto, alguns de seus princípios derivam de estudos clássicos
de controle gênico, sobretudo os apresentados n o Capítulo 18. Neste capítulo,
entretanto, será introduzida a linguagem formalizada que ajuda a estender estes
alvo B alvo alvo simples exemplos a urna gama de sistemas reguladores biologicamente diversos.
d
eQ
Ci • CIRCUITOS REGULADORES
FIGURA 22-1 Redes simples for- Circuitos reguladores podem ser descritos como redes simples que consis-
madas por nós e bordas. (a) Comuta- tem em n ós e bordas. Os n ós são os genes e estão represen tados por pon tos;
dor simples. Duas versões do comutador as bordas represen tam a regulação de um gen e pelo produto de outro e estão
são apresentadas com sinais negativo (b) representadas por linhas (Fig. 22-la). As bordas podem demonstrar direciona-
e positivo (c). (d) Autorregulação negati-
lidade para indicar se A regula B ou vice-versa. As bordas também podem ter
va; (e) autorregulação positiva .
sin ais para indicar se a regulação é n egativa ou positiva. Assim, uma linha ter-
minando com um "1.", estendendo-se do gen e A ao gen e B, indica que o pro-
duto do gene A é um regulador negativo do gene B (Fig. 22-lb). Inversamente,
uma lin ha com uma seta estendendo-se do gene A para o gen e B in dica que o
produto do gene A atua positivamen te sobre a expressão do gene B (Fig. 22-lc).
Inicia-se com um comutador simples de dois n ós n o qual o produto do
gene A controla a expressão do gene B (Fig. 22-la). Assim, em resposta a um
sinal, a proteína reguladora codificada pelo gen e A desencadeia a expressão
do gen e B. A proteín a reguladora pode ser um repressor; neste caso, a trans-
crição é desencadeada pela presen ça de um indutor, que inativa o repressor
(Fig. 22-lb). Alternativamen te, o regulador pode ser um ativador cuja h abili-
dade de desencadear a transcrição ocorre em resposta a uma molécula sinali-
zadora (Fig. 22- l c).
CAP-
O óperon da lactose (descrito no Cap. 18, Fig. 18-6) é controlado por duas
proteínas reguladoras e fornece exemplos entrelaçados de ambos os tipos de re-
~ri gulação: a transcrição é desen cadeada pela presença de um in dutor, que inativa
o repressor Lac, e por um aumento n a con centração de cAMP, que promove a
ligação do ativador CAP (do inglês, catabolite adivator protein (proteína ativa-
r::eJ dera de catabólito]) ao DNA. Assim, o óperon da lactose n ão é um comutador
l
óperon Jac
simples: sua expressão requer a ausência de repressor e a presença de CAP liga-
do a seu ligante, cAMP. Esta é a lógica de uma "porta AND" (do inglês, em que
AND é a conjun ção coordenativa aditiva "e"), termo da engenharia elétrica que
l in dica que duas condições de entrada devem ser cumpridas para que haja uma
saída. Aqui, as con dições são liberação da repressão e ativação positiva. As por-
saída tas AND estão represen tadas pelo símbolo mostrado na Figura 22-2.
FIGURA22·2 PortaAND.Oóperon
da lactose está sujeito à lógica de uma AUTORREGU LAÇÃO
porta AND na qua I a saida (transcrição do
óperon) requer a presença de CAP-cAMP e Geralmen te, genes reguladores controlam sua própria tran scrição, bem como
(ANO) a ausência do repressor Lael. a transcrição de outros genes-alvo. Este controle é conhecido como aut orre-
CAPÍTULO 22 Biologia de Sistemas 777
gulação, e seu sinal pode ser negativo ou positivo, cada um deles com suas
próprias características peculiares (Fig. 22-ld,e).
100 , - - - -
--
'*
i
FIGURA 22·4 Ruídos íntr ínseco
versus extrínseco. Células de E. co/i con-
tendo duas cópias do mesmo gene - em tempo
um caso, fusionado a um repó rter geran- b
do uma proteína fluorescente vermelha
e no outro, um repórter gera ndo uma
proteína fluorescente verde. (a) Resulta-
"'
'õ
.15
dos previstos se ambos os genes varias- <>
~
:il
sem em expressão ao longo do tem po e
ent re indivíduos dent ro da mesma célula
(ruído intrínseco). (b) Resultados previs-
-o
.2
BIESTABILIDADE
Todos os circuitos reguladores abordados até o momento são reversíveis no
sentido de que, uma vez que o sinal que ativou (LIGOU) um gene (ou genes)
é removido, o circuito volta ao estado desativado (DESLIGADO). Em alguns
casos, no entanto, quando o gene é ativado (LIGADO), ele permanece blo-
queado (LIGADO) por períodos de tempo relativamente longos. Isso é conhe-
cido como comutador biestável.
repressor de').. (que é ele próprio responsável por um exemplo clássico de bies-
tabilidade que será retomado adiante), a cooperatividade deste tipo confere
não linearidade à saída do comutador, como uma função da concentração do
ativador. Em outras palavras, a saída é altamente sensível a alterações no nível
de ComK (o oposto da robustez).
O potencial celular para ativar comK é controlado por uma via regu-
ladora que opera em nível de estabilidade proteolítica da proteína ComK.
Ainda assim, a decisão final de ativar comK é estocástica. Isto é, sob con-
dições nas quais ComK não está sujeita à degradação, apenas algumas das
células da população tornam-se competentes. Isso pode ser observado cla-
ramente usando células que abrigam um repórter fluorescente (o gene para
a proteína fluorescente verde) para a atividade gênica dirigida por ComK.
A Figura 22-5 mostra que as células bifurcam em uma subpopulação na qual
comK está ativo (LIGADO) e uma subpopulação na qual ele está inativo
(DESLIGADO). Isso ocorre porque o circuito de retroalimentação positiva
está posicionado no limiar entre ter ComK insuficiente para ativar comK
e o suficiente apenas (uma quantidade-limiar) para desencadear o circuito
autorregulador positivo necessário para ativar genes controlados por ComK
(ver Quadro 22-1, Biestabilidade e h isterese). Assim, o ruído na expressão do
gene de comK resultando em pequenas variações nos níveis de ComK entre
as células permite que o ativador alcance uma concentração-limiar em algu-
mas células e não em outras. Este exemplo de autorregulação positiva ilustra
como o ruído na expressão gênica pode ser explorado para dirigir as células
a estados alternativos.
A autorregulação positiva não é apenas a base da biestabilidade. Um co-
mutador que é estável em dois estados alternativos também é alcançado pelo
uso de repressores mutuamente reprimidos, ou seja, dois repressores que con-
trolam negativamente a transcrição um do outro. Como mencionado ante-
riormente, o bacteriófago À fornece um exemplo clássico de comutador bies-
tável, mas este é baseado em um circuito regulador duplo-negativo ao invés
de autorregulação positiva; as ações mutuamente antagonistas dos represso-
res CI e Cro juntamente com a cooperatividade travam os estados alternativos
lisogênico e lítico do vírus (Cap. 18). Voltando à linguagem da biologia de
sistemas, seria possível dizer que o bacteriófago À possui um comutador de
dois nós conectado em ambas as direções por bordas negativas.
Embora numerosos exemplos de comutadores biestáveis sejam encon-
trados em bactérias, a biestabilidade não está, de maneira alguma, limitada
aos micróbios. Assim, por exemplo, durante a embriogênese, o nematódeo
Caenorhabditis elegans produz neurônios gustativos bilateralmente simétricos
chamados "ASE esquerdo" e "ASE direito" que expressam genes para recepto-
res gustativos alternativos. Um circuito de retroalimentação duplo-negativo
que pode ser mantido de maneira estável em um ou outro estado dita se uma
célula precursora comum irá expressar um ou outro conjunto de receptores.
Neste caso, o comutador não é lançado estocasticamente. Em vez disso, sinais
a montante ditam em que direção o comutador será lançado, enquanto o
circuito de retroalimentação duplo-negativo subsequentemente trava o co-
mutador em seu estado predeterminado.
~ EXPERIMENTOS-CHAVE
(!)
faz o nível de ComK aumentar até exceder o limiar, causando -8 õ:
a ligação do comutador autorregulador. Agora considere o o
~ 10
Q)
que acontece quando é diminuído o nível de indutor de ma- E
•::>
neira que menos e menos ComK seja produzido a partir da c:
cópia do gene modificada. Observa-se que, à medida que o ~
CIRCUITOS DE FEED-FORWARD
Uma contribuição importante do campo da biologia de sistemas é o achado
de que dentre a miríade de tipos de circuitos reguladores simples que são teo-
ricamente possíveis, apenas um pequeno n úmero é comumente encontrado
na natureza. Evidentemente, certos circuitos possuem propriedades benéficas
que são favorecidas pela seleção natural.
'
saída
'
saída
CIRCUITOS OSCILANTES
Em geral, pensa-se em regulação em termos de genes LIGADOS ou DESLI-
GADOS ou de ajuste de seus níveis de expressão. Entretanto, outro tipo de
controle gênico de grande importância na biologia é a oscilação na qual a
expressão de grandes números de genes é periodicamente ativada e, então,
desativada em intervalos regulares ao longo do tempo. A elucidação do circui-
to que controla este comportamento oscilatório, e fazê-lo de maneira quanti-
tativa, é um dos principais desafios da biologia de sistemas.
.-----~ s~poO
~AJ-------, FIGURA 22-8 Os circuitos que
controlam a formação de espo-
ros são uma série de circu itos de
feed-forward conectados. Os nomes
referem-se a proteinas reguladoras ou
sinalizadoras. Pa ra simplificar, não está
representado que os fatores u G e u< es-
tão sujeitos à autorregu lação positiva.
(Redesenhada, com permissão. de Wang
S.T. et ai. 2006. J. Moi. Biol. 358: 16-37,
.SpoiiR] --------, Fig. 5. © Elsevier.)
1
spoVT
1si o] ]Gt ]
y
~ 7
'-GerE}--
_1
?
tres CtrA e GerA aumentam e diminuem em abundância fora de fase um com
o outro de maneira periódica. Sua presença alternada dirige a expressão gêni-
ca em um padrão oscilatório ao longo do curso do ciclo celular.
Um exemplo bem-conhecido de comportamento oscilatório é o relógio
que dirige a expressão periódica de grandes números de genes em diferentes
períodos durante o ciclo de dia e noite. Em moscas e mamíferos, este ritmo
circadiano é controlado em parte por um circuito de retroalimentação ne-
gativo envolvendo as proteínas ativadoras Clock e Cycle e o autorrepressor
Per (Period). As proteínas Clock e Cycle ligam-se à região reguladora do gene
per, e estimulam sua transcrição. Quando a proteína Per se acumula em ní-
vel crítico, ela consegue contrapor-se à ação de Clock e Cycle e desligar sua
própria síntese. Quand o per é desativado desta maneira, a proteína Per, que
é proteoliticamente instável, é depletada da célula. Isso leva a um nível su-
blimiar do autorrepressor, que é insuficiente para bloquear a a tivação por
Clock e Cycle. O gene per é, portanto, reativado. Este ciclo de ativação/desa-
tivação da expressão de per ajuda a definir o ciclo de 24 horas da atividade
gênica. Ele é criticamente dependente do tempo de síntese e d egradação
da proteína Per. Mudanças na estabilidade da proteína Per podem alterar a
788 Parte 5 Regulação
..
"o 60
~
"'8l 40
ls.
"" 20 - -proteína GerA
"'~
?11
o
o 20 40 60 80 100 120
- -proteína CtrA
140 160
i
tempo (min)
a b célula
Delta Notcll
somitos
r
zona de núcleo
oscilação
RESUMO
A biologia de sistemas é um campo emergente que busca des- regulador (gene B). Este segundo gene regulador também
crever níveis complexos de organização biológica pelo uso de controla a expressão do gene-alvo. Assim, em um circuito
uma combinação de medidas quantitativas e de alto rendi- de feed-forward, o gene A controla a expressão do gene-alvo
mento, modelagem, reconstrução e teoria. Quando aplicada a tanto direta quanto indiretamente, via gene B. A expressão
circuitos reguladores, a biologia de sistemas procura revelar os do alvo está sujeita a uma porta ANO em que a expressão de-
princípios do controle gênico que não podem ser compreen- pende de duas condições: em um caso, a presença de ambos
didos a partir do estudo de componentes individuais isolados. os ativadores e no outro, a presença do ativador e a ausência
O campo complementar da biologia sintética também tem do repressor.
como objetivo elucidar os princípios do design, mas procura Alguns circuitos reguladores na natureza geram ciclos os-
fazer isso por meio da criação de redes reguladoras artificiais cilantes de expressão gêmea, como observado no ciclo celular,
que mimetizam características dos circuitos naturais. no desenvolvimento e nos ritmos circadianos. O design destes
As redes de transcrição consistem em nós, que represen- circuitos é tal que o surgimento de uma proteína reguladora
tam genes, e bordas, que representam a regulação de um gene leva a seu próprio desaparedmento e ao surgimento de uma
por outro. Em um motivo regulador simples de dois nós, um segunda proteína reguladora. Esta segunda proteína regula-
gene controla a expressão de outro, e esta regulação pode ser dora, por sua vez, causa seu próprio desaparecimento e o res-
negativa ou positiva. Outro motivo simples é a autorregulação, surgimento da primeira proteína reguladora, gerando, assim,
na qual um gene regula sua própria expressão. A autorregula- um ciclo LIGADO/DESLIGADO continuo de expressão gênica.
ção negativa, na qual um gene reprime sua própria expressão, Uma rede sintética formada por três repressores ligados em
possui a propriedade de tamponar o ruído, que é a variação tandem em um circuito circular mimetiza osciladores naturais,
na expressão gênica sob condições aparentemente uniformes. pois gera um padrão cíclico de expressão gênica, porém, não
A autorregulação positiva possui a propriedade de permitir que com a robustez dos osciladores naturais.
a expressão basal seja alcançada lentamente. Uma forma ex- Os métodos usados na biologia de sistemas permitem a
trema de autorregulação positiva é o comutador biestável no identificação sistemática de cada componente envolvido em
qual um gene pode estar DESLIGADO ou LIGADO por longos um processo celular complexo. A capacidade para obter tais
períodos de tempo. informações está levando a uma mudança de paradigma na
Outro motivo comum nas redes reguladoras é o circuito maneira como os biólogos analisam dados. Em vez de per-
de feed-forward. Um circuito de feed-forward é um motivo de j,>untar como um processo funciona, é possível hoje perguntar
três nós no qual um gene regulador (gene A) controla a ex- por que ele está organizado de determinada maneira. Olhando
pressão de um gene-alvo e a expressão de um segundo gene para o futuro, os insights obtidos a partir da biologia de siste-
CAPÍTULO 22 Biologia de Sistemas 791
mas em combinaçao com a crescente sofisticação da biologia de células artificiais com características customlzadas, como
sintética poderão algum dia tomar possível a criação de célu- a capacidade de metaboUzar poluentes de maneira eficiente,
las artificiais contendo um conjunto mínimo de circuitos para reddar resíduos, converter energia solar em combustível ou
autopropagaçao. Nesse caso, o futuro também verá a criação combater doenças humanas.
BIBLIOGRAFIA
QUESTÕES
Para respostas de quest/Jes de ntímero par, wr Apêndice 2: Respostas. Questão 9 . Qual tipo de circuito regulador controla a alter-
nância entre os estados de células individuais livres e cadeias
Questão 1. O que representam os nós c bordas em dJCUitos de células em Badllus subtílis? Por quanto tempo as células
reguladores? Como e.les s!o representados? persistem nos estados de célula livre ou em cadela?
Quest ã o 2. Expllque o que significa o termo "porta AND" Questã o 10. Considere um gene ativado por luz. Na pre-
em termos de regulação. sença de luz persistente, o gene é ativado e, logo após, é desa-
tivado. Qual tipo de circuito de f«d-forward você espera que
Questã o 3. Descreva o gráfico para autorrcgulação negativa controle este gene? Explique sua escolha.
(nível de expressão gênlca (%) ao longo do tempo) mostrado
na Figura 22-3. Expllque por que a regulação negativa é sele- Questão 11. O que é um ritmo clrcadlano e como ele é re-
cionada a favor na evolução. gulado?
Questão 4. Descreva a relação entre ruído e cstocastiddade. Questão 12. Usando bordas e nós, cite e desenhe um cir-
cuito regulador que representa a expresslio de uma proteína
Questão S. Considere o experimento no qual a expressão de reguladora quando ativada rapidamente e mantida em nível
duas cópias do mesmo gene é medida usando a proteína fluo- constante.
rescente verde como repórter para a primeira cópia do gene e
a proteína fluorescente vermelha para a segunda cópia, em cé- Questão 13. Usando bordas e nós, desenhe um circuito re-
lulas de E. co/i. Forneça um exemplo de ruído intrínseco versus gulador que represente o repressllador sintético. Cite os genes
extrínseco observado neste sistema. nos nós e descreva o padrão de expressao a partir do rcprcssi-
lador.
Quest ão 6. Explique por que um circuito regulador sob au-
torregulação negativa é descrito como robusto. Quest ão 14. O óperon ara controla a expressão de vários
genes, incluindo araC. Na presença do açúcar arablnosc c da
Quest ão 7. Na Figura 22·3, que porção da curva de autorre- pro teína de ligação ao DNA AraC, a expressão gênlca é ativada.
gulação positiva representa o momento em que a saida alcan- A proteina AraC está envolvida em autorregulação positiva.
ça o estado de repouso? Explique como o estado de repouso é Como representado a seguir, os pesquisadores construí-
alcançado quando a expresslio gênlca está sujeita à autorregu- ram um circuito que consiste em uma série de promotores
lação positiva. artificiais (cada um deles contendo um sítio de ligação para
AraC e um operador lac). Lembre-se de que a presença da ara-
Questão 8. Qual propriedade da ligação de ComK ao pro- binose e de AraC promove a transcrlçllo dos genes a jusantc,
motor para comK faz este circuito regulador ser um comutador Iael codifica o repressor Lael, e a llgaçllo de Lael ao operador
biestável?
792 Parte 5 Regulação
lac desliga a transcrição {mesmo na presença de arabinose e expressao de YFP é observado. Assuma que uma peque-
de AraC). na quantidade de AraC está presente. Explique breve-
mente como a expressão de YFP é ativada após a adlç3o
de arablnose.
B. Após o aumento Inicial na produção de YFP seguindo a
adição de arablnose, como YFP é desativado?
C. Uma vez desligada, como a expressão de YFP é novamente
ativada?
~/////;1--.._
C_yu.;.EPr!...-
_-,
___.___ D. Como a oscllaçao seria afetada se uma pequena quanti-
sitio de ligação a AraC operador Jac dade de IPTG (um lndutor do óperon lac) fosse adiciona-
da ao melo juntamente com a arabinose?
A. Se a arabinose for adidonada à cultura de bactérias con- E. Desenhe o circuito de três nós, marcando os nós {AraC,
tendo todos os três construtos, um padr3o oscilatório de Lael e YFP) e Incluindo as bordas apropriadas {~ repre-
sentando atlvaçao e___, representando repress3o).
PARTE 6
A
APENDICES
794 Parte 6 Apêndices
Robert Horvitz, 1990 Simpósio sobre o cérebro. Horvitz (à esquerda) começou a tra-
balhar com o verme Caenorhabditis elegans durante um pós-doutorado no laboratório
de Sydney Brenner, em Cambridge, em meados da década de 1970, antes de continuar o
trabalho com este organismo experimental em seu próprio laboratório, no MIT. Em 2002,
o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina foi concedido pelo trabalho com o verme, e foi
dividido por Horvitz (por seu trabalho na definição dos genes que controlavam a morte
celular programada) com o próprio Brenner, que estabeleceu o sistema, e outro de seus
pós-doutorandos, John Sulston. Nesta fotografia, Horvitz aparece com dois membros de
seu laboratório na época, Elizabeth Sawin (hoje codiretora da Climate lnteractive) e Asa
Abeliovich (neurobiólogo em Columbia).
Mary Lyon e Rudolf Jaenisch, 1985 Simpósio sobre biologia molecular do desenvol·
vimento. Lyon e Jaenisch trabalham com camundongos. Lyon descobriu o fenómeno da
inativação do cromossomo X em mamíferos, mecanismo pelo qual as células de fêmeas
de mamíferos alcançam a compensação de dose (Cap. 20). Jaenisch teve influência no
desenvolvimento de técnicas para criar camundongos transgênicos e também de técn icas
para a clonagem terapêutica .
Parte 6 Apêndices 795
Michael Ashburner, 1970 Simpósio sobre transcri· Dale Kaiser, 1985 Simpósio sobre biologia molecu lar do desen·
ção do material genético. Ashburner é um campeão volvimento. Kaiser contribuiu bastante para os estudos iniciais so·
de longa data do modelo experimental Drosophila, bre a propagação do fago À (Cap. 18). Um aspecto deste trabalho
com interesses de pesquisa cobrindo vários aspectos levou-o a reconhecer que as moléculas com extremidades de fita
da estrutura e da função do genoma de Drosophila . simples complementares podem ser facilmente unidas, uma des·
Ele fez parte do consórcio que sequenciou o genoma coberta crucial para o desenvolvimento das tecnologias de DNA
da mosca juntamente com a empresa de Craig Venter, recombinante.
Celera Genomics, experiência sobre a qual ele escre·
veu um curto livro chamado Won for Ali. Aqui. ele foi
fotografado beijando a mão de Barbara Hamkalo, na
época, pós-doutoranda em Harvard e, hoje, professora
de biologia molecular na University of California, em
lrvine, e interessada na estrutura da heterocromatina
(Cap. 8).
Organismos-modelo
é que OS problemas
U
M DITADO MUITO CONHECI DO NA BIOLOGIA MOLECULAR
fundamentais são resolvidos com mais facilidade nos sistemas mais
simples e acessíveis aos quais o problema possa ser aplicado. Por este
motivo, os biólogos moleculares voltaram sua atenção, ao longo dos anos,
para um número relativamente pequeno de organismos experimentais. Entre
os mais importantes, em ordem de complexidade crescente, estão Escherichia
co/i e seus fagos, o fago T e o fago À; o fermento de pão ou levedura,
Saccharomyces cerevisiae; a erva daninha semelhante à mostarda, Arabidopsis
thaliana; o nematódeo Caenorhabditis elegans; a mosca-da-fruta Drosophila
melanogaster; e o camundongo doméstico Mus musculus.
O que esses sistemas experimentais têm em comum? Uma característica
importante de todos os sistemas experimentais é que eles podem ser genetica-
mente manipulados e estudados com o uso de várias ferramentas tradicionais
e novas da genética molecular. Uma segunda característica comum é que o es-
tudo de cada organismo atraiu uma massa crítica de investigadores. Isso signi-
fica que ideias, métodos, ferramentas e linhagens podem ser compartilhados
entre os cientistas que estão investigando o mesmo organismo, facilitando
um progresso rápido.
Por exemplo, no início da década de 1940, um círculo de cientistas reu-
niu-se em torno de Max Delbrück, Salvador Luria e Alfred D. Hershey, pas-
sando os verões nos Laboratórios da Cold Spring Harbor, em Nova Iorque,
estudando a multiplicação do fago Tem E. co/i. Estes cientistas, que compu-
nham o chamado Grupo do Fago, estavam entre os que foram importantes
para o estabelecimento do campo da biologia molecular. Muitos membros do
Grupo do Fago eram médicos, atraídos pelo fago não apenas por sua relativa
simplicidade, mas porque o grande número de fagos que poderia ser estudado
em cada experimento gerava resultados que eram quantitativa e estatistica-
mente significativos. Ao fim da década de 19SO, Cold Spring Harbor passou
a oferecer um curso anual sobre fagos, no qual um número sempre crescente
de pesquisadores aprendeu sobre esse novo sistema. Esse foi um exemplo em
que a concentração de esforços sobre um mesmo organismo experimental
garantiu um progresso mais rápido do que teria ocorrido se esses indivíduos
tivessem estudado muitos organismos diferentes.
A escolha de um organismo experimental depende da pergunta que está
sendo formulada. Em geral, é conveniente estudar organismos unicelulares
ou vírus para responder às questões fundamentais da biologia molecular. Esses
organismos crescem rapidamente e em grandes quantidades e, normalmente,
permitem a combinação de abordagens genéticas e bioquímicas. Outras per-
guntas, como as relacionadas ao desenvolvimento, muitas vezes só podem ser
respondidas se for utilizado um organismo experimental mais complicado.
798 Parte 6 Apêndices
Assim, o fago T (e seu membro mais bem conhecido, T4, em especial) mos-
trou ser um sistema ideal para estudar aspectos fundamentais da natureza do
gene e da transferência da informação. Enquanto isso, a levedura, com seu siste-
ma acasalante ótimo para a análise genética, tomou-se o principal sistema para
elucidar aspectos fundamentais das células eucarióticas. A conservação evolutiva
das proteínas e dos mecanismos gerais de regulação de fungos até as células su-
periores permite que as descobertas realizadas nas leveduras, frequentemente,
sejam válidas também para os seres humanos. O nematódeo e a mosca-da-fruta
também oferecem sistemas genéticos bem-desenvolvidos para a pesquisa de pro-
blemas que não podem ser adequadamente observados nos organismos inferio-
res, como o desenvolvimento e o comportamento. Finalmente, o camundongo,
embora mais complexo de ser estudado do que os nematódeos e as moscas-da-
-fruta, é um mamífero e, portanto, o organismo experimental mais adequado
para a compreensão da biologia humana e das doenças humanas.
Neste capítulo, serão descritos alguns dos organismos experimentais mais
estudados, apresentando as principais características e vantagens de cada um
como sistema experimental. Também serão considerados os tipos de ferra-
mentas experimentais disponíveis para o estudo de cada organismo e alguns
dos problemas biológicos que foram estudados em cada caso. Este capítulo
não tem como objetivo fornecer uma descrição completa de todos os organis-
mos experimentais que tiveram impacto na biologia molecular.
BAOERIÓFAGOS
'r'
·' ,i porções esttulurais do lago '"',J~,~~
,~ ...
""'-:. ,~~ ....
fragmentos
celulares ""- .,.....
~ . ~ ~
cromossomo
rante que a progênie de fago produzida pelas infecções não encontre células
hospedeiras para infectar.
A população diluída de células infectadas é, então, incubada para per-
mitir que a infecção prossiga. Em intervalos determinados, uma amostra é
removida da mistura e o número de fagos livres é contado pelo experimento
de placa. Inicialmente, esse número é muito baixo (incluindo apenas os fagos
da infecção inicial que não infectaram uma célula antes da diluição).
Uma vez que tenha transcorrido tempo suficiente para permitir alise das
células infectadas e liberação das suas progênies, é detectado grande aumen-
to no número de fagos livres. (Este período é de cerca de 30 minutos para o
ciclo lítico do fago T4.) O tempo decorrido entre a infecção e a liberação da
progênie é chamado período de latência, e o número de fagos liberados é
denominado tamanho da progênie.
BACTÉRIAS
O fascínio de bactérias, como E. co/i ou Bacil/us subtilis, como sistemas experi-
mentais é que elas são células relativamente simples e podem ser multiplicadas
e manipuladas com relativa facilidade. As bactérias são organismos unicelula-
res, nos quais toda a maquinaria para a síntese de DNA, RNA e proteínas está
contida no mesmo compartimento celular (as bactérias não possuem núcleo).
As bactérias normalmente têm um único cromossomo - em geral muito
menor do que o gen oma de organismos superiores. Além disso, as bactérias
apresen tam um tempo de geração curto (o ciclo celular pode ter apen as 20
minutos), e pode-se produzir facilmente uma população de células geneti-
camente homogênea (um clone) a partir de uma única célula. Finalmen te,
as bactérias são convenien tes para o estudo genético porque, por um lado,
elas são haploides (i. e., o fenótipo de mutações, mesmo mutações recessivas,
manifesta-se facilmen te) e, por outro lado, porque o material genético pode
ser convenientemen te permutado entre bactérias.
Apêndice 1 Organismos-modelo 803
requer que ele esteja sob o controle transcricional do gene-alvo e, ainda, que
ele seja introduzido na mesma fase de leitura do gene-alvo para que possa ser
traduzido de maneira adequada. Uma fusão na qual o repórter está unido ao
gene-alvo, tanto em nível de transcrição como em nível de tradução, é conhe-
cida como fusão gênica.
divisão
mitótica
diploide
acasalamento
0
FI GURA A -1 O Ciclo de vida da le-
vedu ra S. cerevisiae. S. cerevisiae existe
sob t rês formas. Dois tipos celulares ha-
ploides, a e a, e o produto diploide do
divisão acasa lamento entre os dois primei ros.
milótica
A replicação, o acasalamento e a espo-
haploide
1
DNA cromossõmico Devido à sua rica história de estudos genéticos e ao seu genoma relativamen-
te pequeno, S. cerevisiae foi escolhido como o primeiro organismo eucarioto
(não vira!) a ter o seu genoma completamente sequenciado. Esse marco foi
alcançado em 1996. A análise da sequência (1,3 x 106 pb) identificou aproxi·
r madamente 6.000 genes e forneceu a primeira perspectiva da complexidade
genética necessária para dirigir a formação de um organismo eucariótico.
A disponibilidade da sequência genômica completa de S. cerevisiae permi·
o DNA entre as regiões homóiogas
tiu abordagens "de genoma total" para estudar esse organismo. Por exemplo,
substitui o gene de interesse microarranjos de DNA que incluem sequências de cada um dos aproxima-
damente 6.000 genes de S. cerevisiae foram utilizados extensivamente para
FIGURA A · 11 Transformação re·
combinacional em levedura. Qualquer
caracterizar os padrões de expressão gênica sob diferentes condições fisioló·
região do genoma da levedura pode ser gicas. De fato, os níveis de expressão gênica em células de S . cerevisiae foram
facilmente substituída por uma sequên- testados em centenas de condições diferentes, incluindo diferentes fontes de
cia de sua escolha. O DNA a ser inserido carbono (como glicose vs. galactose), tipos celulares e temperaturas de cresci-
é fla nqueado por pequenas sequências mento. Além de serem úteis para determinar a expressão de genes individuais,
de DNA homólogas às que flanqueiam essas descobertas também têm conduzido ao agrupamento de genes em con-
a região no cromossomo a ser substituí- juntos coordenadamente regulados, em que todos os genes do agrupamento
da. Quando os fragmentos doadores são respondem de maneira similar às alterações nas condições.
introduzidos na célula, os altos níveis de
Outros recursos genômicos incluem uma biblioteca de 6.000 linhagens,
recombinação homóloga nesse organismo
assegu ram alta frequência de recom bina-
cada uma com a deleção de apenas um gene. Mais de 5.000 dessas linhagens
ção com o cromossomo, resu ltando na são viáveis como haploides, indicando que a maioria dos genes de levedura
permuta genética mostrada. O DNA in- não é essencial sob condições ideais de crescimento em laboratório. Essa co-
serido pode diferir da sequência residente leção de linhagens tem possibilitado o desenvolvimento de novas triagens
em apenas um único par de bases, ou no genéticas, nas quais cada gene no genoma de S. cerevisiae pode ser testado
outro extremo, pode ser muito diferente individualmente quanto à sua função em um determinado processo. A utili·
em ta manho e sequência. Assim, modifi- zação de microarranjos também permitiu o mapeamento de sítios de ligação
cações genéticas bastante ela boradas po- para reguladores da transcrição em todo o genoma, por meio de técnicas de
dem ser realizadas.
imunoprecipitação de cromatina (ver Cap. 7).
ARABIDOPS/S
A ciência das p lantas possui a h istória mais longa dentre todas as ciên cias
da vida, com suas raízes na agricultura e na medicina botânica: por Mendel,
a ciência das plan tas lançou as bases para a genética; e por Ch arles Darwin,
Barbara McClintock, William Bateson e outros, para a citogenética, o de-
senvolvimen to, a fisiologia e a evolução. A ciência das p lantas con tinua a
fazer avanços importantes em áreas fundamen tais, como RNA de interfe-
rência, ao mesmo tempo em que continua a ter impacto na economia e n o
meio ambiente. Nas últimas décadas, a erva daninha semelhante à mostar-
da, A. thaliana, emergiu como organismo-modelo em paralelo à Drosophila,
C. elegans e ao camun don go. Até mais do que seus corresponden tes animais,
Arabidopsis ilustra a maioria dos aspectos da biologia vegetal, sobretudo entre
as angiospermas (plan tas com flores) . E assim como o milh o revolucionou a
812 Parte 6 Apêndices
• corpUsrulos
•
.~.~~
- - - • fertilização
------- óvulo <>
Y <~co c~
sinérgides
do .
espermatozoodf
\
zigoto
meiose
macho
"'-'-"~-
Epigenética
A variação epigenética é geralmente definida como "mutações" que são her-
dadas cromossomicamente, mas não envolvem uma alteração da sequência
nucleotídica. Estas "epimutações" são geralmente reversíveis em uma fre-
quência significativamente mais alta do que as mutações regulares e estão
associadas com modificações químicas do DNA e suas proteínas associadas
(especialmente histonas). As plantas têm estado na vanguarda da pesquisa
epigenética há várias décadas, e Arabidopsis não é exceção. Como os geno-
mas de mamíferos, mas ao contrário dos de levedura, vermes e moscas, os
genomas vegetais são altamente modificados pela metilação de citosinas,
que, juntamente com a modificação de histonas, possui consequências
epigenéticas para a expressão de genes e elementos repetidos encontrados
no genoma. Estas modificações são guiadas por uma variedade de fatores,
incluindo RNA de interferência, resultando no fenômeno de metilação do
DNA dependente de RNA, primeiramente descrito em plantas, e modifica-
ção de histona dependente de RNA, que também ocorre em leveduras e ou-
tros organismos.
Quando o silenciamento de um dado gene difere entre linhagens germi-
nativas feminina e masculina, o imprinting resulta (geralmente) na expressão
do alelo herdado da mãe. A expressão que sofre a ação do imprinting é preva-
lente no tecido extraembrionário do endosperma, reminiscente do imprinting
na placenta de mamíferos. Nestes exemplos bem-estudados, a desmetilação de
genes envolvidos no imprinting ocorre na célula central, resultando em expres-
são materna no endosperma.
Apêndice 1 Organismos-modelo 81 5
adulto 9 embriogênese
me nematódeo, C. elegans. O ciclo de
vida está mostrado em horas de desenvol-
vimento, desde o prim eiro estágio juve-
nil até o adulto, como descrito no texto.
O estágio alternativo do desenvolvimento -
a larva dauer- t ambém está representado.
2s•c L1
p6s-embriogênese
larva
dauer
b dorsal
faringe intestino ovos gOnada
anterior
••j
ventral
pared e corporal
..-"'
~
~
o
1.2 mm
FI GURA A-15 Plano corporal de C. elegans. (a) Um verme herm afrodita adulto é mos-
t rado em corte. (b) Os vá rios órgãos estão ident ificados no desenho e estão descritos no texto.
(a. Reproduzida, com permissão, de Sulston J.E. e Horvitz H.R. 1977 . Dev. 8iol. 56: 110-156.
© Elsevier.)
818 Parte 6 Apêndices
1 dia
ciclo de vida de Drosophi/a
2l4 a\
3di~s\
larva de
terceiro instar
larva de
segundo instar
, . . - - - - - - parte da boca
placa frontal e
, - - - - - - - lâbio superior
~'I'C :'-~'------ antena
Df264-J2
~
'" (' w• rsr ra-
determinadas ca racterísticas com deter-
minados seg mentos físicos do cromos-
Df258-J3 w• rst• fa- somo. Por exemplo, olhos brancos foram
DfNB
, __ ,_ ... -
w- rsr fa- correlacionados com deleções na região
3C do cromosso mo X. (Com permis-
delações w fã] fenótipo dos são de Hartwell L. et ai. 2004. Genetics:
específicas heterozigotos para From genes to genomes, 2nd ed., p. 816,
reg1ões dos genes mutação/deleção Fig. D-4. © McG raw-Hill.)
822 Parte 6 Apêndices
cromossomo original X, responsável pela remoção das bandas politênicas 3C2 a 3C3, exibem olhos
c==r b CJ y E~ =~J ~ e 9 * bran cos. Isso ocorre porque a cópia n ormal e dominante do gene n ão existe
mais. Esse tipo de análise levou à conclusão de que o gene white está localizado
em algum local entre as bandas politênicas 3C2 e 3C3 no cromossomo X.
j Muitos outros métodos genéticos foram criados para estabelecer a mosca-
.u n e____<D
x [9
c·c
b
T -E
v
rd !;; __;;j •
cromossomo de balanceamento
·da-fruta como o prin cipal organismo experimen tal para os estudos de heran ça
an imal. Por exemplo, foram criados os cromossomos de balanceamento,
os quais con têm uma série de inversões em relação à organização do cromosso-
mo n ativo (Fig. A-19). Esses cromossomos de balanceamento não podem sofrer
FIGURA A·19 Cromossomodeba· recombinação com o cromossomo nativo durante a meiose. Como resultado,
lanceamento. Os cromossomos de ba· é possível man ter culturas permanentes de moscas-da-fruta que contêm mu-
lanceamento (painel inferior) contêm uma
tações recessivas letais. Considere-se uma mutação nula n o gen e even-skipped
série de inversões quando com pa rados
ao cromossomo pa renta I original (painel
(eve), discutido n o Capítulo 21. Embriões homozigotos para esta mutação mor-
superior). Neste diagrama. um cromosso- rem e n ão conseguem produzir larvas e adultos viáveis. O locus eve está mapea-
mo hipotético tem dois b raços. O braço do no cromossomo 2 (na ban da politênica 46C). A mutação n ula pode ser man -
esquerdo do cromossomo de ba lancea- tida em uma população que seja heterozigota para um cromossomo "normal"
mento possui uma inversão interna que contendo o alelo nulo de eve e um segundo cromossomo de balanceamen to,
altera a ordem dos genes a, b e c do cro- que contém uma cópia normal do gen e. Uma vez que o alelo nulo de eve é rigo-
mossomo original. De maneira semelhan- rosamen te recessivo, essas moscas são completamen te viáveis. Entretanto, ape-
te, o braço à direita no cromossomo de nas os heterozigotos são mantidos na progênie adulta em gerações sucessivas.
balanceamento possui uma inversão que Os embriões que contêm duas cópias do cromossomo de balanceamento mor-
reverte a ordem dos genes d, e e f. Além
disso. pode haver uma inversão centrada
rem, porque algumas das inversões produzem interrupções recessivas em genes
em torno do centrômero, revertendo, nes-
essenciais. Além disso, os embriões con tendo duas cópias do cromossomo nor-
te caso, a ordem dos genes 1 e 2. Po r- mal também morrem, porque são h omozigotos para a mutação n ula eve.
tanto, o cromossomo de balanceamento
possui uma ordem significativamente Mosaicos genéticos permitem a análise
diferente dos genes quando com parado
de genes letais em moscas adultas
ao original. Como resultado, existe uma
supressão de recombinação entre os cro- Os mosaicos são animais que con têm pequenas porções de tecidos mutan tes
mossomos nos heterozigotos que contêm presen tes em um constituição genética geralmente "normal". Essas pequenas
uma cópia de cada. regiões não inviabilizam o in divíduo, uma vez que a maior parte dos tecidos do
organismo é normal. Por exemplo, pequenas porções de tecido mutante homo-
zigoto engrailed/engrailed podem ser produzidas pela indução de recombin ação
mitótica em larvas em desenvolvimento usando raios X. Quando estas regiões
são criadas em regiões posteriores das asas em desenvolvimento, as moscas resul-
tantes apresentam asas anormais que possuem estruturas anteriores duplicadas
em vez das estruturas posteriores normais. A análise de mosaicos genéticos forne-
ceu a primeira evidência de que a proteín a Engrailed é necessária para subdividir
os apêndices e segmentos das moscas em compartimentos anterior e posterior.
Os mosaicos genéticos mais espetaculares são os ginandrornorfos
(Fig. A-20), moscas que são literalmente metade macho e m etad e fêmea.
A identidad e sexual em moscas é determinad a pelo número de cromosso-
mos X . In d ivíduos com dois cromossomos X são fêmeas, enquanto os com
apenas um cromossomo X são machos. (O crom ossom o Y não define a id en-
tidad e sexual em moscas corno ocorre em cam und ongos e seres h umanos:
em m oscas, o Y é necessário apenas para a prod ução de esperrnatozoides.)
Em um evento raro, um d os d ois cromossomos X é perdido na primeira
divisão mitótica, após a fusão pronuclear do esperrnatozoide e do óvulo no
embrião XX recém-fertilizad o.
Essa instabilidade do X ocorre apen as na primeira divisão. Em todas as
divisões subsequentes, os n úcleos con tendo dois cromossomos X geram nú-
cleos-filhos com dois cromossomos X, enquanto os núcleos com apenas um
cromossomo X geram núcleos-filhos contendo um ún ico X. Como discuti·
do no Capítulo 21, esses núcleos sofrem uma série de clivagens rápidas, sem
membranas celulares e, en tão, migram para a periferia do ovo. Esta migração
é consistente e h á pouca ou nenhuma m istura de núcleos con tendo um cro-
mossomo X com núcleos contendo dois cromossomos X. Assim, metade do
embrião é macho e metade é fêmea, embora a "linha" que separa os tecidos
masculino e feminin o seja aleatória. Sua posição exata depen de da orien tação
Apêndice 1 Organismos-modelo 823
dos dois núcleos-filhos após a primeira clivagem. Essa delimitação às vezes di- a
vide o adulto em uma metade esquerda que é fêmea e uma metade direita que é
macho. Suponha que um dos cromossomos X contenha o alelo recessivo white.
Caso o cromossomo X de tipo selvagem seja perdido na primeira divisão, a me-
tade direita da mosca- a metade macho- terá olhos brancos (a metade macho
possui apenas o cromossomo X mutante), enquanto a metade esquerda - o
lado fêmea- tem olhos vermelhos. (Lembre-se de que a metade fêmea possui os
dois cromossomos X e de que um destes é o alelo de tipo selvagem dominante.)
extremidades de
elemento P
FLP
l ·x z: e
a ~
consequências do cruzamento de fêmeas da linhagem "M" de D. melanogaster
com machos da linhagem "P" (mesma espécie, mas populações diferentes).
X A progênie F, é frequentemente estéril. O motivo é que a linhagem P contém
várias cópias do transposon elemento P que são mobilizadas em embriões de-
rivados de óvulos M. Estes óvulos não possuem uma proteína repressora que
inibe a mobilização do elemento P. A excisão e a inserção do elemento P são
b cruzamentos não disgénicos
limitadas às células polares, progenitoras dos gametas (espermatozoides nos
machos e óvulos nas fêmeas). Às vezes, os elementos P inserem-se em genes
essenciais para o desenvolvimento destas células germinativas e, como resul-
tado, as moscas adultas derivadas destes cruzamentos são estéreis.
progênie progênie progênie
normal normal normal
Os elementos P são utilizados como vetores de transformação para a intro-
dução de DNAs recombinantes em linhagens de moscas normais (Fig. A-23).
c cruzamentos disgênicos
Um elemento P completo possui 3 kb. Ele contém repetições invertidas nas
extremidades que são essenciais para excisão e inserção. O DNA intervenien-
te codifica um repressor da transposição e uma transposase que promove a
mobilização. O repressor é expresso nos óvulos em desenvolvimento de li·
progênie F 1
nhagens P. Consequentemente, não há movimentação de elementos P em
frequentemente embriões derivados de fêmeas da linhagem P (estes contêm elementos P).
estéril O deslocamento é observado apenas nos embriões derivados de óvulos produ-
!
progênie F2 com
zidos por fêmeas da linhagem M, que não possuem os elementos P.
Um DNA recombinante é inserido em elementos P defectivos que não
muitas mutações
possuem os genes internos que codificam o repressor e a transposase. Esse
DNA é injetado em regiões posteriores de embriões iniciais pré-celulares
FIGURA A·22 Disgenesia do hi·
brido. Elementos t ransposons P residem
(como foi visto no Capítulo 21, essa é a região que contém os grânulos po-
passivamente em linhagens P porque elas
lares). A transposase é injetada com o vetor de elemento P recombinante.
expressam um repressor que mantém os À medida que os núcleos clivados deslocam-se para a região posterior, eles
transposons silenciados. Quando as linha- incorporam os grânulos polares e o DNA de elemento P recombinante junto
gens P são acasaladas com lin hagens M com a transposase. As células polares brotam a partir do citoplasma polar e
que não possuem o repressor, os tra ns- os elementos P recombinantes inserem-se em posições aleatórias nas células
posons são mobilizados dentro das célu- polares. Células polares diferentes contêm diferentes eventos de inserção do
las polares e, frequentemente, integram- elemento P. A quantidade de DNA de elemento P recombinante e de trans-
-se nos genes necessãrios à formação da posase é calibrada de maneira que uma determinada célula polar receba, em
linhagem germinativa. Isso explica a alta
média, apenas um único elemento P integrado. Os embriões desenvolvem-se
taxa de esterilidade na progênie destes
em adultos e, então, são cruzados com linhagens de testes apropriadas.
cruzamentos.
O elemento P recombinante contém um gene "marcador", como white" ,
e a linhagem utilizada para as injeções é um mutante white". As linhagens de
teste também são white·, de maneira que qualquer mosca de F2 que tenha olhos
vermelhos deve conter uma cópia do elemento P recombinante. Esse método de
transformação por elemento Pé rotineiramente utilizado para a identificação de
sequências reguladoras, como as sequências que dirigem a expressão da faixa 2
de eve (discutida no Cap. 21). Além disso, essa estratégia é utilizada para exami-
nar os genes codificadores de proteínas em diferentes composições genéticas.
Em resumo, Drosophila oferece muitas das sofisticadas ferramentas de ge-
nética clássica e molecular que, como vimos, estão disponíveis em sistemas ex-
perimentais microbianos. Uma exceção óbvia era a ausência de métodos para
a manipulação precisa do genoma pela recombinação homóloga com DNA
recombinante, como na criação de deleções gênicas. Entretanto, tais métodos
foram recentemente desenvolvidos e estão sendo aperfeiçoados para a utili·
zação rotineira. Ironicamente, essas manipulações já estão disponíveis, como
Apêndice 1 Organismos-modelo 825
o <?
X ~ ~
w• X
+
no genoma do gameta (J DI ~ )
'
E fácil introduzir DNA exógeno em embriões de camundongo
Foram desenvolvidos métodos de microinjeção para a expressão eficiente de
DNA recombinante em linhagens transgênicas de camundongo. O DNA é
injetado no pronúcleo de ovos, e os embriões são colocados no oviduto de
uma fêmea de camundongo, onde eles têm a possibilidade de ser implantados embriões de fêmeas
e desenvolver-se. O DNA injetado integra-se em posições aleatórias no geno- sacrificadas
ma (Fig. A-25). A eficiência da integração é bastante elevada e normalmente
ocorre durante os estágios iniciais do desenvolvimento, frequentemente em pronúcleo
!
embriões de uma única célula. Como resultado, a fusão gênica insere-se na
maioria ou em todas as células do embrião, incluindo as células ICM que for- DNAa ser
injetado
mam os tecidos somáticos e a linhagem germinativa do camundongo adulto.
Aproximadamente 50% dos camundongos transgênicos que são produzidos
por meio da utilização desse método simples de microinjeção exibem trans-
formação da linhagem germinativa; ou seja, seus descendentes tam-
bém contêm o DNA recombinante exógeno.
Considere como exemplo uma fusão gênica contendo o reforçador do
gene Hoxb2ligado ao gene-repórter JaeZ. Os embriões e fetos podem ser obti-
dos a partir de linhagens transgênicas contendo esse repórter e corados para
revelar o padrão de expressão de JaeZ. Neste caso, a coloração é observada os embriões são colocados no
na parte posterior do cérebro (Fig. A-26). Camundongos transgênicos foram oviduto de uma fêmea reoeptora
usados para caracterizar várias sequências reguladoras, incluindo as que re- FI GURA A - 25 Criação de camun-
gulam os genes de J3-globina e os genes HoxD. Ambos os Joci são complexos e dongos transgênicos pela microinje-
apresentam elementos reguladores de longa distância (LCR e GCR, respectiva- ção de DNA no pronúcleo do óvulo.
mente) que coordenam a expressão de diferentes genes a distâncias de várias Os embriões de uma célula são obtidos a
centenas de quilobases (ver Cap. 19). pa rtir de um camundongo fêmea recém-
-acasalado. O DNA recombinante é in -
jetado no núcleo e, a seguir, o embrião
A recombinação homóloga permite a é implantado no oviduto de uma mãe
remoção seletiva de genes individuais substituta. Após vá rios dias, o embrião
implanta-se e forma um feto que contém
O método individual mais eficiente da transgênese de camundongos é a ca- cópias do DNA recombinante integradas
pacidade para anular, ou "nocautear", toei gênicos únicos. Isso permite a cria- aogenoma.
ção de modelos experimentais de camundongos para doenças humanas. Por
exemplo, o gene p53 codifica uma proteína reguladora que ativa a expressão
de genes necessários ao reparo de DNA. O p53 está envolvido em vários cân-
ceres humanos. Quando a função de p53 é perdida, as células cancerosas tor-
nam-se altamente invasivas devido ao rápido acúmulo de mutações no DNA.
Foi estabelecida uma linhagem de camundongos completamente normal,
com exceção da ausência do gene p53. Esses camundongos, que são altamen-
te suscetíveis ao câncer, morrem jovens. Espera-se que esses camundongos
possam ser utilizados para a avaliação de novos fármacos potenciais e agen-
tes anticancerígenos para a utilização em seres humanos. Embora Drosophila
apresente um gene p53 e mutantes tenham sido isolados, ela não fornece a
mesma oportunidade para a descoberta de fármacos, como ocorre com o mo-
delo de camundongos.
Experimentos de disrupção gênica são realizados em células-tronco em-
brionárias (ES) (Fig. A-27). Essas células são obtidas pelo cultivo de blastocis-
tos de camundongos, de maneira que as células ICM proliferam sem sofrer di-
ferenciação. Um DNA recombinante é gerado, contendo uma forma mutante
do gene de interesse (células ES também podem ser geradas a partir de células
\ .
somáticas por um procedimento recém-desenvolvido, envolvendo repro-
gramação com um pequeno número de fatores de transcrição [ver Cap. 21,
Quadro 21-1]). Por exemplo, a região codificadora de uma proteína de um
determinado gene-alvo é modificada por meio da remoção de uma pequena
região próxima ao início do gene, que remove códons de aminoácidos es-
senciais da proteína codificada e provoca uma alteração de fase de leitura na
sequência codificadora subsequente. A forma modificada do gene-alvo é liga-
da a um gene de resistência a fármacos, como NEO, que confere resistência à
neomicina. Apenas as células ES que possuem o transgene conseguem crescer
em meio que contém o an tibiótico. O gene NEO é colocado a jusante do
gene-alvo modificado, mas a montante da região flanqueadora de homologia
ao cromossomo, de maneira que uma recombinação dupla com o cromosso-
mo irá resultar na substituição do gene-alvo pelo gene mutante com o gene
de resistência ao fármaco. (Alternativamente, o gene NEO pode ser inserido
no gene-alvo.)
Entretanto, existe alta incidência de recombinação não homóloga, na
qual a recombinação ocorre de maneira aleatória em sítios diferentes dos sí-
tios do gene endógeno. Para favorecer os eventos de recombinação homóloga,
o vetor recombinante também deve conter um marcador- o gene da enzima
timidina quinase (TK) - que pode ser submetido a uma seleção negativa pela
utilização do fármaco ganciclovir, que é convertido em um composto tóxico
Apêndice 1 Organismos-modelo 829
óvulos J espermatozoides
l
l
a progênie expressa
aielos diferentes
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APÊNDICE 2
Respostas
CAPÍTULO 1
Questão 2. Falso. Um gene pode ter mais de dois alelos. mossomo, ou estão em cromossomos diferentes. Assim, o gene
Pode-se determinar as relações entre todos os alelos (p. ex., por N está > 50 u.m. de distância de L eM ou em um cromossomo
cruzamentos genéticos e mapeamento ou sequenciamento). diferente.
Questã o 4. Falso. Alguns alelos apresentam dominância in- Questão 1 2. Uma mutação é uma alteração na sequência
completa, como os alelos da flor boca-de-leão. A geração F, de DNA que é hereditária. Uma baixa taxa de mutação permi-
mostra um fenótipo intermediário quando flores puras verme- te a adaptação dos orgarusmos a alterações em seu ambiente
lhas e brancas são cruzadas. Um gene pode ter mais de um ao longo do tempo. Mutações que aumentam a capacidade de
alelo, e a relação entre eles deve ser determinada. sobrevivência do organismo em um novo ambiente seriam
transmitidas para a nova geração.
Questã o 6.
A. Todas as ervilhas com sementes amarelas. Todas as plan- Questão 14. O valor 15 deve ser o mais baixo para a des-
tas devem ser heterozigotas (Yy) para o gene de cor de se- cendência recombinante observada, uma vez que um cros.sing
mente. Se sementes amarelas forem dominantes, apenas o over duplo é o evento menos provável. A partir das informa-
fenótipo de semente amarela será observado. ções fornecidas, sabemos que pk está entre y e tri, portanto,
15 representa a recombinação total observada entre y e pk, e
B. 3 com sementes amarelas: 1 com semente verde.
pk e tri.
C. 1 YY: 2 Yy: 1 yy. Para calcular o percentual de recombinação (ou u.m .),
D. 2 heterozigotos (Yy): 2 homozigotos (YY e yy) ou, simplifi- divide-se o número de recombinantes específicos observados
cando, 1:1. em um crossing over entre dois genes de interesse pelo núme-
ro total de descendentes. Para os recombinantes observados,
Questão 8. adiciona-se o valor de crossing overs duplos porque o crossing
over simples ocorreu nestes descendentes.
7 u.m. 13 u.m. Distância entre y e pk = ((X+ 15) /1 .000) * 100 = 23,0%
ou 23,0u.m.
y X z X = 215 = valor esperado para o número total de descen-
20 u.m. dentes recombinantes representando um crossing over entre y
epk.
Distância entre pk e tri =((X + 15) /1 .000) * 100 = 18,4%
Questão 10. Com estas informações, pode-se dizer que L e ou 18,4 u.m.
M estão ligados e separados por 5 u.m. em um cromossomo. X = 169 = valor esperado para o número total de des-
Uma frequência de recombinação de 50% indica que os genes cendentes recombinantes representando um crossing over en-
não estão ligados - estão distantes um do outro no mesmo cro- tre pk e tri.
CAPÍTULO 2
Questão 2. O esqueleto de DNA consiste em grupos de açú- Questão 4 . As bases são citosina, timina, adenina e gua-
car-fosfato. Portanto, o esqueleto é marcado com 32P. Certos nina no DNA. As bases nitrogenadas possuem uma estrutura
aminoácidos contêm enxofre (cisteína e metionina). Portanto, de anel pirimidinico (citosina e timina) ou purínico (adenina
a proteína é marcada com :.sS. A marcação reversa não é possí- e guanina). Os nucleosídeos incluem uma base nit rogenada
vel. Não há enxofre no DNA e nem fósforo nos aminoácidos. ligada a um açúcar (ribose no Rl\A, desoxirribose no DNA).
832 Parte 6 Apêndices
Os nucleotídeos incluem uma base nitrogenada ligada a uma Qu estão 10. O termo polirribossomo descreve um grupo de
ribose ou a uma desoxirribose, que é ligada a um, dois ou três ribossomos traduzindo o mesmo mRNA ao mesmo tempo. Por
grupos fosfato (mono-, di- ou trifosfato). meio dos polirribossomos, a tradução de uma proteína espe-
cífica é aumentada e o tempo para alcançar um certo nivel da
Questão 6. proteína é reduzido. Isso permite que um mRNA atue como
A. Seguindo uma rodada de replicação pelo modelo disper- molde para múltiplas cópias da proteína, que podem ser feitas
sivo, todo Dl\A deveria conter metade de 15N e metade ao mesmo tempo. Isso é útil porque o mRNA pode não estar
de " N. Assim, a banda resultante após a ultracentrifuga- presente em altos níveis ou pode ter curto tempo de meia-vida
ção em um gradiente de cloreto de césio corresponderia a (vida curta).
uma banda intermediária.
Qu estão 12.
B. Seguindo uma rodada de replicação pelo modelo conser-
vativo, metade das moléculas de DNA de dupla-fita teria transcrição tradução
" N e a outra metade teria " N. Assim, as bandas resultan- duplicação @A RNA proteína
tes após a ultracentrifugação em um gradiente de cloreto
de césio corresponderiam a uma banda pesada e uma ban-
da leve. A DNA-polimerase é responsável pela duplicação do Dl\A ou
C. O modelo conservativo de replicação pode ser eliminado pela síntese do DNA no núcleo. A RNA-polimerase transcreve
em uma rodada de replicação bacteriana, mas são neces- o DNA em mRNA no núcleo. O ribossomo é responsável pela
sárias duas rodadas de replicação para distinguir entre os tradução do RNA em proteína no citoplasma. O mRl\A é o
modelos dispersivo e semiconservativo. Uma rodada de produto da transcrição e o molde para a síntese de proteína
replicação sob o modelo conservativo resultaria em dois (tradução). O tRNA atua como os adaptadores durante a tradu-
produtos de dupla-fita, um inteiramente marcado com ção ao ler o molde e trazer o aminoácido apropriado. O rRNA
15
N e outro, com " N, apresentados como duas bandas atua como componente estrutural do ribossomo bem como
diferentes (HH e LL) após a centrifugação, o que não é componente catalitico para a formação da ligação peptídica
observado. Contudo, uma rodada de replicação, pelo mo- na tradução.
delo dispersivo ou pelo semiconservativo, produziria uma
única banda no gradiente (HL). Uma segunda rodada de Questão 14.
replicação, de acordo com o modelo semiconservativo, A . A síntese proteica é inibida pela adição de DNase em cerca
produziria duas bandas (LL e HL), que são, de fato, obser- de metade do nível na ausência de DNase. A adição de
vadas; enquanto, pelo modelo distributivo, teríamos ape- mais DNase não aumenta o efeito.
nas bandas intermediárias, com cada fita contendo uma B. Embora o DNA não seja o molde direto para a síntese
mistura de sequências leves (maioria) e algumas pesadas. proteica, os dois processos estão conectados por meio
Assim, o modelo semiconservativo é confirmado na se- do mRl\A no Dogma Central. Na presença de DNase, o
gunda rodada de replicação. DNA é destruído. Sem Dl\A, a RNA-polimerase não possui
molde para gerar novos mRNAs. Os mRNAs servem como
Questão 8. O RNA (mas não o DNA) está localizado no cito- molde para a síntese proteica. O mRNA pode ter vida cur-
plasma, onde ocorre a sintese proteica. A estrutura química do ta, portanto, o nível global de mRNA diminui indireta-
RNA é semelhante à do DNA (ribose em vez de desoxirribose, mente como resultado da adição de DNase. Algum mRNA
uracila em vez de timina). O RNA é sintetizado a partir de um precisa estar presente para que se veja o nível observado
molde de 0 1\A. de síntese proteica na presença de DNase.
CAPÍTULO 3
Questão 2. Falso. As enzimas reduzem a energia de ativação Questã o 12. Sim. ATP + Hp <=> ADP + P, tJ.G = - 7 kcall
de uma reação. (O tJ.G permanece o mesmo.) moi (Tab. 3-5).
Acoplar a reação à hidrólise de ATP gera um valor total
Questã o 4. Falso. A zs•c, uma alteração de 1O vezes na K,• negativo de tJ.G.
corresponde a uma alteração de cerca de 1,4 vez no tJ.G. Reação geral: Glutamato + NH3 + ATP <=> glutamina +
ADP + P, tJ.G = - 3,6 kcallmol.
Questão 6.
A . Ugações de hidrogênio entre as bases do DNA. Qu estão 14.
B. Ugação covalente (ligação peptídica). A. A cadeia lateral do triptofano não inclui doadores ou
aceptores de ligações de hidrogênio.
Questão 8. Moléculas polares possuem um momento de di- B. A cadeia lateral do glutamato inclui um ácido carboxílico
polo, enquanto moléculas apoiares não possuem um momen- capaz de participar nas ligações de hidrogênio.
to de dipolo. Forças de van der Waals podem incluir moléculas
C. Embora os números sejam pequenos, há tendência de for-
polares e apoiares.
mação de ligações de hidrogênio entre arginina e guanina
Questão 10. nos complexos proteína-DNA.
Kcq = ([A] x [B]) I (AB] = ([A) x 2 mM) I (0,5 mM) =
8,0 X 105 mM, (A] = 2,0 X 105 mM.
Apêndice 2 Respostas 833
CAPÍTULO 4
Qu estão 2. de um par de bases A:T é AHA, enquanto o padrão da fenda
A. 1O pares de bases por volta de héHce x 4 voltas de héHce menor de um par de bases G:C é ADA.
= aproximadamente 40 pares de bases em 4 voltas de hé-
fenda maior A:T versus T:A
lice.
Em solução: 10,S pares de bases por volta de hélice x
O padrão de grupo químico para a fenda maior de um par
4 voltas de héHce = aproximadamente 42 pares de bases de bases A:T é ADAM, enquanto o padrão para a fenda maior
em 4 voltas de hélice. de um par T:A é MADA. O padrão da fenda menor é o mesmo
Tamanho = 3,4 nm por volta de hélice X 4 voltas de (AHA) para ambos os pares de bases.
hélice = 13,6 nm. Questão 6.
8 . 11 pares de bases/volta de héHce X 4 voltas de hélice =
Ai. Ugação fosfodiéster. (O tratamento leve com DNase I irá
aproximadamente 44 pares de bases em 4 voltas de hélice. quebrar o DNA pela clivagem do esqu eleto de açúcar-fos-
Qu estão 4 . fato do DNA.)
fenda maior G:C versus C:G Aii . O DNA é originalmente supertorcido. Após o tratamento
O padrão de grupo químico para a fenda maior de um par com DNase I, o DNA não está mais na forma de cccDl\A e
de bases G:C é AADH, enquanto o padrão para a fenda maior se toma relaxado.
de um par C:G é HDAA. O padrão da fenda menor é o mesmo 8 . O tratamento com DNA-ligase religa a quebra, perm itin-
(ADA) para ambos os pares de bases. do a formação de um cccDNA novamen te. O valor de Lk0
A, aceptor de ligação de h idrogênio; D, doador de ligação não é um número inteiro (10.000/10, 5). Lk, que é sempre
de hidrogênio; H, h idrogênios apoiares; M, grupos meti!. um número inteiro, não se iguala a Lk0 • Portanto, deve
haver alguma leve su pertorção.
ambos A:T versus G :C
O padrão de grupo químico para a fenda maior de um par Questã o 8. N A Z X E
de bases A:T é ADAM, enquan to o padrão para a fenda maior As linhas do padrão de difração são perpendiculares às linhas
de um par de bases G:C é AADH. O padrão da fenda menor da letra.
CAPÍTULO 5
Quest ã o 2. O método mais direto para determinar se o ma- catálise, enquanto a outra secção do RNA é o substrato. Como
terial genético é Dl\A ou RNA é procurar pela presença de ura- o substrato não está ligado à porção catalítica da molécula,
cila na sequ ência. Se ela estiver p resente, o virus possui RNA o substrato pode ser liberado para permitir a ligação de uma
como seu material genético. Se não, o material genético é o nova molécula. A cabeça de martelo é agora uma ribozima ver-
DNA. Para determinar se o material genético é de fita simples dadeira, capaz de completar vários ciclos da reação.
ou dupla-fita, examine as porcentagens de cada base. Se a por-
cen tagem de G for igual à porcentagem de C, e a porcentagem Questão 12.
de A, igual à de T, então a molécula é DNA de dupla-fita. l\o A . Adenosina.
RNA de dupla-fita, a porcentagem de G = C e a de A = U. Se as
8 . Este análogo de nucleotideo não está su jeito à hidrólise
porcentagens não apresentarem nenhum destes padrões, en-
em uma fita de Rl\A como os outros nucleosídeos.Um
tão o m aterial genético provavelmente é de fita simples.
grupo metil é adicionado à 2' -OH da ribose presente na
adenosina. Quando o grupo metil está presente, o oxigê-
Quest ã o 4. A uracila difere da timina pela ausência de um
grupo meti! no quinto carbono. Uracila e timina pareiam com nio não pode mais ser desprotonado em um pH alto e
a adenina. No DNA, a desaminação espontânea da citosina co- atacar o fosfato na posição 3 ' da ribose na fita de RNA.
mumente resulta na geração de uracila. Se a replicação ocorrer Questã o 14.
e a uracila permanecer, isso gerará uma mutação no DNA (C:G
para T:A). Se a uracila fosse naturalmente encontrada no DNA, A . O RNA é o catalisador ou ribozima. A porção proteica ou a
ela não seria reconhecida por proteínas de reparo do DNA porção de RNA, sozinhas, não clivam o substrato (reações
como incorreta, e m utações iriam ocorrer. 2 e 3), mas a reação prossegue na presença de proteína e
RNA. Como o substrato é clivado (reação 6) na presença
Quest ã o 6 . Estrutura secundária: haste, grampos (haste e da porção de RNA e de espermidina (um peptídeo não es-
alça) e alça interna. Pares de bases não canônicos: G:U e U:U. pecífico), o RNA deve conseguir atuar como cataHsador.
A porção proteica e a espermidina não conseguem com-
Qu est ã o 8. Um Rl\A classificado com o ribozima verdadeira pletar a catáHse sem a porção de RNA (reação S). A porção
possui um sítio de ligação para um subst rato específico, um proteica e a espermidina ajudam oRNA a com pletar a ca-
sítio de ligação para um cofator, um sítio ativo para catálise e a táHse.
promoção de mais de uma reação por sítio ativo, semelhante a 8 . A esperm idina, com carga positiva, ajuda a proteger a re-
uma proteína classificada como enzima. pulsão entre o Rl\A cataHsador e o substrato de RNA, am-
bos negativamente carregados, durante a reação.
Qu est ã o 10 . A molécula cab eça de martelo deve ser dividida
em duas partes separadas. Uma p arte é capaz de completar a
834 Parte 6 Apêndices
CAPÍTULO 6
Questão 2. LlgaçOes Iônicas formam-se entre grupos com Questão 10. As duas histldinas e as duas dsteinas são cru-
cargas opostas. Uma llgaçâo Iônica pode formar-se entre a ciais para a coordenação do Zn" , que, por sua vez, é um ele-
cadeia lateral de um amlnoáddo acídico (ácido aspártico ou mento estabilizador crítico para o domlnlo de dedo de zinco,
áctdo glutâmlco) e um aminoáddo básico (Usina, arginina ou muito pequeno. A substituiçl!o da alanina por qualquer um
histidina). destes quatro resíduos irá eliminar a ligação de Zn 1" e desesta-
bilizar o domínio, levando à perda de função.
Questão 4 . Xa formação da ligação peptídica, o grupo car-
boxila de um aminoácido liga-se covalentemente ao grupo Questão 12. As enzimas catalisam (l.e., aumentam a taxa
amino de outro aminoácido por meio da eliminação de água. de) uma reação pela redução da energia necessária para formar
Como duas moléculas formam uma ligação com a perda de o estado de transição, reduzindo, assim, a barreira energética
água, a reação é chamada de reação de condensação ou de de- entre os reagentes e os produtos. As enzlmas fazem isso em
sidratação (especifica para a perda de água). vários casos porque seus sítios ativos são complementares às
conformações dos estados de transição dos reagentes, em vez
Quest ão 6. Estrutura quaternária. A mioglobina monoméri- de às conformações basais- ou seja, há lnte.raçOes não cova-
ca não possui estrutura quaternária; a hemoglobina tetraméri- lentes favoráveis entre a enzima e as formas de transição de
ca possui estrutura quaternária, que é crucial para sua função seus substratos.
fisiológica. Ambas são proteínas globulares, e suas subunida- Quest ão 14.
des enoveladas são amplamente et-helicoidais; suas estruturas
secundária e terciária são semelhantes. A estrutura primária A. Os RRMs (i.e., os motivos de sequêncla característicos de
determina as estruturas secundária e terciária; as estruturas um t ipo de domínio de ligação ao RNA) são sequências
de 80 a 90 resíduos de aminoácidos enovelados em um
primárias da mlogloblna e da hemoglobina são, portanto,
domínio que reconhece um RNA especifico. (Observe que
provavelmente semelhantes. (Observe que mesmo as cadeias
o termo "RRM" é frequentemente mal empregado para
polipeptídlcas com estruturas primárias bastante diferentes d esignar o domínio; ver Quadro 6-2, Glossário de termos,
podem ter estruturas secundária e terdária semelhantes [p. ex., para o uso correto dos termos "motivo" e "domlnio".)
as hemogloblnas vegetal e humana); mas os domínios protei-
B. Os dados mostram que o RRM amlnoterminal e as três
cos com sequênclas relacionadas sempre possuem as mesmas
primeiras repetições sao suficientes pa.ra uma comple-
estruturas enoveladas, desde que a semelhança de sequência se
mentação completa. O RRM mais uma repetição ou as
estenda por todo o domínio.)
sete repetições mais a regia o carboxlterminal não são ade-
Questão 8. quados para conferir um crescimento do tipo selvagem a
37°C.
A. Rompida, ligação não covalente.
C. Os resultados estao de acordo com o ensaio de comple-
B. Rompida, ligação não covalente. mentação, mas eles sugerem que, lrr vltro, três repetições
C. Integra, ligação covalente. não são suficientes para uma atividade total. Alêm disso, a
D. Integra, ligação covalente. Uma fita~ é uma unidade sim- forma com Rfu\<1 truncado, mas com as sete repetições e a
região carboxiterminal Intactas, não apresentou atividade
ples de uma estrutura secundária; um sanduíche ll é um
i11 vitro, mas restaurou o crescimento pa.rclal írr vivo. Es-
exemplo de estrutura terciária proteica (um determinado
tas discrepâncias sugerem alguma redundância de função
tipo de dominlo enove.l ado). entre os domínios Tif3 ou com outros componentes do
E. Rompida, ligação não covalente. complexo de inído da tradução.
CAPÍTULO 7
Questão 2. teresse com a sonda. Você realiza um conjunto de etapas seme-
A. Para uma enzima de restrição que reconhece uma sequên- lhante para um rrorthem blot, mas nao digere a população de
cia de 6 pb, a frequêncla para encontrar esta sequência em mRNA. Em um rrortlwrn blot, você pode detectar a quantidade
um dado genoma é de 1 em 46 ou 1 em 4.096 pb. de um determinado tipo de mRNA e pode compará-la a outra
B. Sim. Embora as sequ~nclas de reconhecimento sejam di- amostra produzida sob diferentes condições experimentais.
ferentes para Xhol e Sal!, as extremidades coesivas podem
Questão 6. Uma biblioteca genõmlca consiste em um con-
parear umas com as outras porque as regiões de fita sim-
junto completo de fragmentos de DNA, gerados por digestão
ples são complementa.res umas às outras.
do genoma inteiro com endonucleases de restrição. Uma biblio-
Questão 4. Ao realizar um Southem blot, você detecta uma teca de cDNA, que é formada apenas por sequêndas expressas
sequênda de DNA especifica com uma sonda de DNA. Ao rea- do DNA genôm.ico, é gerada pela transcrição reversa de todos
lizar um rrorthem blot, você detecta uma sequênàa de mRNA os mRNAs da célula. Nos dois casos, os fragmentos de DNA
específica com uma sonda de DNA. Ao realiza.r um Southem resultantes são ligados em vetores plasmldlaís. O genoma hu-
blot, você digere o O~ A genômlco com uma enzima de res- mano inclui uma grande proporç.ao de DNA nao codiflcador,
trição, separa os fragmentos de DNA por eletroforese em gel, incluindo sequências que codificam lntrons que são removidos
transfere o D~A para uma membrana positivamente carregada do mRNA. As bibliotecas de cDNA são úteis para o estudo e para
c detecta um fragmento de DNA que contém o seu DNA de in- a expressão destas sequências gênlcas codlficadoras.
Apêndice 2 Respostas 835
Questão 8. A cromatografia de troca iônica separa proteí- ranjo de DNA tipo tiling para identificar várias sequências
nas com base em sua carga. A cromatografia por gel-filtração diferentes.
separa proteínas com base em seu tamanho. A cromatografia
de afinidade separa proteínas com base nas interações com Questã o 12 .
uma molécula, proteína o u ácido nucleico específico, q ue é A . O westem blot detectou uma banda para a Proteína Z nas
acoplado(a) às microesferas. canaletas do embrião e do adulto. O northem blot indica
que há dois transcritos para o Gene Z nos embriões das
Questã o 10. moscas, mas apenas um transcrito na mosca adulta. Uma
A. Apenas uma extremidade (fita) do DNA é marcada de ma- possível hipótese é que o anticorpo usado no western blot
neira que a digestão por nuclease do fragmento de DNA não reconhece a forma da proteína traduzida pelo trans-
ligado irá produzir, após a eletroforese em gel, uma escada crito de migração mais rápida porque ele pode não ter a
visível de fragmentos se estendendo a partir de uma única região codificadora para o domínio carboxiterminal em
extremidade marcada. A digestão de uma fita marcada em razão de processamento alternativo do RNA.
ambas as extremidades iria complicar o padrão e obscure- B. Para a hipótese dada, você poderia usar um novo anti-
cer a "pegada" (footprint) . Além disso, se a proteína se ligar corpo contra a Proteína Z no westem blot. Este anticorpo
de maneira assimétrica, o padrão torna-se ainda mais com- poderia ser policlonal para toda a proteína ou ser mono-
plicado. dona! cont ra uma região central ou aminoterminal da
B. Para determinar se uma região específica está ligada à proteína. Se você observar uma segunda banda no westem
proteína, são utilizados iniciadores específicos para as se- blot na canaleta do embrião ao usar um novo anticorpo,
q uências, para amplificá-las e comparar os resultados com os dados suportariam a hipótese proposta na parte A.
os controles necessários. Outra opção é usar um microar-
CAPÍTULO 8
Questã o 2. O DNA cromossômico está localizado dentro do nor. Estas interações não são sequência-específicas. Em todo o
nucleoide em células procarióticas, e dentro do núcleo em cé- genoma, o DNA enovela-se em torno de histonas. As proteínas
lulas eucarióticas. O núcleo, ao contrário do nucleoide, está que interagem com a fenda menor do DNA têm probabilidade
separado do restante da célula por uma membrana e normal- muito menor de interagir de maneira sequência-específica. Em
mente ocupa uma pequena fração do volume celular. contrapartida, interações com a fenda maior do DNA geralmen-
te fazem interações sequência-específicas (Cap. 4).
Qu est ão 4 . As sequências intergênicas podem ter surgi-
do a partir de eventos de transposição. Elas podem codificar Qu estão 12. O bromodomínio reconhece acetilação. Os
miRl\As, podem servir como sequências reguladoras para a cromodomínios, os domínios TUDO R e os dedos de PHD reco-
transcrição, ou podem simplesmente ser seq uências não fun- nhecem metilação. (Os domínios SANT reconhecem caudas de
cionais, como os pseudogenes. histonas não modificadas.)
Qu estão 6. A coesão mantém as cromátides-irmãs unidas du- Questão 14.
rante a fase S e os estágios iniciais da mitose. Durante o fim da A . A histona desacetilase liga-se ao DNA ligado ao nucleos-
mitose (anáfase), a coesão é eliminada de maneira que os mi- somo (canaletas 1, 2, 3 e 4 comparadas à canaleta 5). As-
crotúbulos ligados ao cinetocoros q ue são montados no centrô- sumindo que a h istona desacetilase seja um monômero,
mero separam os pares de cromátides-irmãs nas células-filhas. duas desacetilases são capazes de se ligar ao DNA ligado
ao nucleossomo ao mesmo tempo (duas bandas de migra-
Questão 8 . Todas as células que crescem e se dividem (cé-
ção mais alta nas canaletas 2, 3 e 4). A histona desacetilase
lulas somáticas e gerrninativas) usam a mitose. Apenas células parece reconhecer melhor os nucleossomos q ue estão me-
que produzem óvulos e espermatozoides (células germinati-
tilados na lisina 36 da histona H3 do que nucleossomos
vas) sofrem meiose.
não metilados (canaletas 1 e 2 vs. 3 e 4).
Qu estão 10. Ugações de hidrogênio são formadas principal- B. Com base nest es dados, a h istona desacetilase provavel-
mente entre as histonas e o esqueleto de fosfodiéster próximo mente possui um cromodomínio para interagir com a bis-
à fenda menor e adicionalmente entre as bases da fenda me- tona H3 metilada.
CAPÍTULO 9
dem a ser nao multo processivas e não realizam a maior parte Questão 12. A atividade de cxonucleasc 3' de cada DNA-po-
da síntese de DNA da célula. Portanto, a revisão é menos im- limerase confere à enzima a habilidade de remover nuclcotí-
portante para estas DNA-pollmerases, que irão inserir um pe- dcos incorretos durante a síntese de DNA. A 0:-\A-pollmerase I
queno número de nuclcotldcos quando comparadas às 0:-\A- possui a atividade adicional de exonuclcase S' para remover
-polimerases das fitas lfdcr c tardia. nudcotídcos à frente da DNA·pollmerase. Especificamente,
esta função ajuda a DNA-poUmerase a remover os Iniciadores
Questão S. de RNA da fita tardia.
A. Ambas. A replicação irá ocorrer em ambas as direções.
Questão 14.
B. A inferior. A fita Inferior serve como molde para a fita-líder
no lado direito. A extcnsao da extremidade 3 ' do inidador A. O fosfato-a é incorporado à fita de DNA recém-sintetizada
de R:-IA anelado a esta fita pela DNA-polimerase consegue por meio do ataque nuclcofíllco pela 3 '-0H. Os fosfatos p
replicar de maneira continua até o fim do molde. ou -y tomam-se pirofosfato, que é posteriormente hidroli-
sado e nunca incorporado na fita crescente de Dl'A.
C. Inferior. A DNA-llgase é necessária para criar ligações fos-
fodiéster entre os fragmentos de Okazaki da fita tardia du- B. A eletroforese em gel s~ara moléculas por tamanho. Os
rante a síntese de DNA. A fita Inferior serve como molde dNTPs marcados com P sao multo menores do que o
para a fita tardia no lado esquerdo, porque a síntese de 0:-.JA recém-sintetizado e migram multo mais rapidamen-
DNA precisa ser dcscontlnua. te do que qualquer fita longa de DNA.
C. Um exemplo de controle negativo é realizar o mesmo en-
Questão 10. saio de síntese de DNA, mas na ausência de DNA-polime-
A. Células de E. cc/llniclam a repllcaç.âo apenas uma vez a cada rase. Sem nova síntese de DNA, a junção inlclador:molde
divisão celular, mas, quando E. cc/i se divide rapidamente, o não será marcada. Se você filtrar adequadamente a reação
início do próximo ciclo de replicação começa antes do fim contendo a junção lnlclador:moldc c os dNTPs marcados
do ciclo de repllcaç,,o anterior. Nestas condições, o tempo com 3'1> em uma membrana carregada positivamente, verá
para a divisao celular pode ser de apenas 20 minutos. que a radioatividade não é mantida no filtro. Você pode
B. O genoma circular de E. co/i não possui extremidades comparar isso à mesma reação contendo a DNA-pollmera-
como os cromossomos lineares. Nestas condições, as cé- se. Se estiver preocupado com qualaucr posslvel efeito da
lulas de E. cc/i nao têm o problema de encurtamento dos ligação dos dNTPs marcados com ' P à DNA-polimerase,
cromossomos após cada ciclo de replicação, na ausência você pode tratar a reaç.ão com proteasc antes de filtrar.
de telomcrasc, porque a maquinaria de replicação pode
replicar completamente o genoma circular.
CAPÍTULO 10
Questão 2. A dcsamlnaçao da dtosina origina uradla. Uma recém-sintetizada. :\>lutH irá cllvar a fita Incorreta com alguma
glicosilase específica para o reparo por exclsão de base reco- frequência. O reparo de malpareamcnto da fita parentalleva-
nhece a uraclla como estranha ao DNA. Se a uradla perma- ria a aumento na mutagênese espontânea (nao Induzida por
necer, uma mutação poderia ocorrer após o próximo ciclo de agente exógeno).
replicação. A dcsamlnaçao da S-metildtosina produz timina,
que não é reconhecida como um erro pela via de reparo do Questã o 8 . Uma ligação entre duas guaninas dlstorce a hé-
DNA. Seguindo a próxima rodada de replicação, a timina pro- lice de DNA de maneira semelhante a um dlmero de timina.
duzida a partl.r da dcsamlnaçao da S-metildtosina pareia com Isso permite que proteínas ).'"ER reconheçam a distorção para
adenina, gerando uma mutação do tipo transição. Portanto, a excisar o trecho de DNA contendo a ligação Induzida por cis-
célula remove a uraclla para prevenir mutações, mas não re- platina. O reparo por excisao de base remove apenas um nu-
move as timlnas produzidas por desaminação. cleotídeo. Além disso, uma DNA gllcosllase especifica precisa
reconhecer a lesão no DNA. Nenhuma gllcosllasc reconhece
Questão 4. ligações induzidas por cisplatina.
Ordem correta MMR BER NER Questão 10. O reparo por junção de extremidades não homó-
Reconhedmento MutS (MutH ONA glicosilase UvrA
logas (NHEJ, nonhomologous end jolnlng) repara quebras de dupla-
determina a fi ta) ·fita (DSBs, double-strand breaks) com o custo da Introdução de
Excisão MutH (ativada ONA UvrC e UvrD mutações. As enzimas NHEJ processam as extremidades livres de
por MutL) e Exo glicosilase, AP (ajuda da uma DSB. Por meio deste processamento, a sequêncla de DNA é
VIl, RecJ ou Exo I endonuclease bolha induzida perdida ou adicionada antes que as duas fitas sejam unidas.
e ex.onuclease por UvrB)
Síntese de DNA ONA Pollll ONAPol l ONA Poli
Questão 12.
ligação ONA·Iigase ONA-Iigase DNA-Iigase
Porcentagem de
Via mutante Lesão no ONA sobreviv~ncla Mutagênese
Questão 6. Sem uma Darn mctllase funcional, a fita paren- NER Aumenta Diminui Aumenta
ta! não seria mctllada durante a replicação. Sem esta metila- Síntese Permanece Diminui Diminui
ção, MutH não consegue distinguir entre as fitas parenta) e translesão igual
Apêndice 2 Respostas 837
Em relação ao tipo selvagem, a quantidade de lesões no DNA mutação deve alterar a sequência de volta à sequência sel-
aumenta para um mutante NER porque os dímeros de timina vagem do gene, que permite que as células cresçam na
não estão sendo reparados de maneira eficiente. A tolerãncia ausência de histidina.
aos danos no DNA por meio da síntese translesão não repara B. Radicais livres na célula podem danificar o DNA, o que
as lesões, de maneira que os níveis de lesões no DNA perma- pode causar mutações que podem levar a uma reversão.
necem os mesmos, embora a perda de tolerância leve a mais Outros processos comuns, como erros de replicação e ata-
morte celular. Isso também ocorre na NER. Com mais lesões que hidrolitico de bases, também alteram o DNA.
no DNA nas células mutantes NER, ocorre mais mutagênese.
C. Substância química A. Há mais revertentes indicando
Menos mutagênese ocorre se a via de síntese translesão for
perturbada, porque as polimerases da síntese translesão contri- maior frequência de mutações induzidas pela Substância
química A (em relação à sobrevivência) do que pelo con-
buem normalmente para a mutagênese.
trole (sem adição de substãncia química).
Questã o 14. D . Substância química C. Há menos revertentes indicando
A. O meio deve ser desprovido de histidina para seleção. menor frequênda de mutações induzidas pela Substância
Apenas outra mutação de ponto no exato local da muta- química C (em relação à sobrevivência) do que pelo con-
ção original no gene HisG pode levar a uma reversão. Esta trole (sem adição de substãncia química).
CAPÍTULO 11
Questão 2. Os alelos diferem um do outro por pequenas Questão 10. Spoll medeia a clivagem do DNA de dupla-
variações de sequência. A maior parte da sequência do gene -fita. Uma tirosina em Spoll ataca o esqueleto de fosfodiéster
permanece a mesma, assim os alelos são homólogos. para clivar o DNA. Spo11 armazena a energia da quebra da
ligação fosfodiéster pela formação de um intermediário cova-
Questão 4 . A terceira etapa mostra a invasão de uma ex- lente de alta energia com o DNA clivado.
tremidade S'. Isso é um problema porque a DNA-polimerase
precisa de uma 3 '-OH na junção iniciador-molde para fazer Questão 12. Assim como o reparo de DSB por recombi-
a extensão. Para corrigir o problema, a terceira etapa deveria nação homóloga, o SDSA começa com uma DSB no sítio de
mostrar a invasão de uma extremidade 3' e o pareamento de recombinação, ressecção de S' para 3', e invasão da extremi-
bases com a fita azul adequada. dade 3' para servir como iniciador para a síntese de DNA. O
SDSA difere do reparo de DSB por recombinação homóloga
Questão 6. RecBCD possui atividades de DNA-helicase e de porque não há resolução via clivagem de uma junção de Holli-
nudease. Especificamente, RecB atua como uma DNA-helica- day. Após a invasão da fita, uma forquilha de replicação com-
se de 3' paraS ' e como uma nuclease. RecD atua como uma pleta forma-se no SDSA. A extremidade 3' que não participa da
DNA-helicase de S' para 3'. RecC ajuda a melhorar a eficiência invasão é removida no SDSA. A fita de DNA recém-sintetizada
de RecB e RecD. RecC reconhece e liga-se ao sítio x, parando é deslocada, e um segundo evento de síntese de DKA completa
a atividade da nuclease na cauda 3'. RecBCD exerce um papel o processo, resultando em conversão gênica.
critico no processamento do DI\A de dupla-fita em uma que-
bra para gerar DNA de fita simples para invasão. Quest ã o 14.
A . A canaleta 2 revela que a Proteína X diva o substrato de
Questão 8. O substrato de Dl\A pode ser analisado pelo uso
DNA semelhante a uma junção de Holliday. Como ape-
de um ensaio de EMSA (ensaio de alteração de mobilidade ele- nas uma fita do DNA está marcada, apenas uma banda
troforética), da seguinte maneira. A proteína RuvA é incubada
é visível na autorradiografia. Como o substrato de DNA
com o substrato de Dl\A marcado na extremidade, e os pro- completo possui 60 nt e o produto clivado, 31 nt, a cliva-
dutos são submetidos à corrida em um gel não desnaturante. gem provavelmente ocorre no centro da fita, próximo ao
Duas bandas devem ser visíveis no gel: a banda de migração ângulo de 9o•c da "junção". A canaleta 3 revela que RecA
mais rápida é o substrato de DNA sozinho, e a banda de migra- (como esperado) não diva o substrato de DNA.
ção mais lenta corresponde ao DNA ligado à RuvA. Uma das
fitas de DNA na junção (marcada na extremidade com S'-n P) B. A função da proteína X lembra a função de RuvC. Em
pode servir como controle negativo no experimento. Aqui, E. co/i, RuvC diva a junção de Holliday da maneira obser-
como RuvA não irá se ligar à fita simples, apenas a banda de vada para a Proteína X.
migração mais rápida será visível.
CAPÍTULO 12
Questão 2. As recombinases armazenam energia da ligação dois dúplices, catalisam reações reversíveis e incluem quatro
fosfodiéster rompida por meio de um intermediário covalente subunidades que reconhecem e se ligam a quatro sítios especí-
de proteína-DNA. Então, a recombinase religa as fitas de Dl\A ficos no DNA. Nenhuma recombinase requer energia externa
quebradas, quando uma fita clivada ataca a ligação covalente para catalisar estes processos.
proteína-DNA. As serinas recombinases clivam as quatro fitas na primeira
etapa. As tirosinas recombinases clivam e religam primeira-
Qu estão 4 . Ambas as recombinases formam intermediários mente apenas duas fitas de Dl\A e, então, clivam e religam as
covalentes recombinase-DNA, usam quatro fitas de DNA de duas fitas restantes. O primeiro evento de clivagem e religação
838 Parte 6 Apêndices
produz uma junção de Holliday que não é formada durante canismo de transferência de fita de DNA, em outro local do
o mecanismo da serino recombinase. O mecanismo das seri- DNA. No mecanismo replicativo, o transposossomo quebra
no recombinases inclui uma rotação de 1so•c dos dímeros do uma fita em cada um dos lados do transposon. As fitas quebra-
complexo proteína-DNA. Este tipo de rotação proteína-DNA das atacam e unem-se ao DNA-alvo em outro local do genoma,
não ocorre no mecatúsmo para tirosinas recombinases. formando uma estrutura duplamente ramificada. Após a repli-
cação, o resultado do processamento deste intermediário é um
Questão 6. >.Int atua tanto na recombinação integrativa cointegrado circular que inclui dois transposons.
quanto na excisiva. >.Int é uma tirosino recombinase que ca-
talisa a recombinação por meio de sítios att. A >.Int também Questão 14.
catalisa a excisão com assistência crucial de Xis e IHF. A. A digestão da amostra da mãe com Sstl não apresenta uma
banda correspondente a um fragmento de S,S kb, mas in-
Questã o 8. Transposons de DNA permanecem como DNA clui uma banda correspondente a um fragmento de 3,2 kb.
ao longo de todo o ciclo, enquanto os retrotransposons in-
Apenas fragmentos incluindo o éxon 14 diferem. Todos os
cluem um intermediário de RNA em seu ciclo de propagação. outros fra1,1J11.entos parecem ter o mesmo tamanho.
Questão 10. A inserção de transposons como o TnS no ge- B. A digestão da amostra do paciente com Kpnl não apresenta
noma hospedeiro geralmente não é sequência-específica. Por uma banda correspondente a um fragmento de 7,3 kb, mas
meio do mecanismo de corte e colagem, o TnS insere-se prati- inclui bandas correspondentes a fragmentos de 5,3 e 4,3 kb.
camente de maneira aleatória no genoma do hospedeiro. De- Apenas fragmentos incluindo o éxon 14 diferem. Todos os
pendendo do local da inserção, este processo pode perturbar outros fragmentos parecem ter o mesmo tamanho.
a sequência codificadora de um gene ou de um elemento de C. Como apenas os fragmentos incluindo o éxon 14 diferem
DNA a montante importante para a expressão gênica. Um pes- entre o paciente e sua mãe, é provável que o transpo-
quisador pode triar células em busca de um determinado fenó- son tenha se inserido no éxon 14. Com base na digestão
tipo e identificar o gene interrompido porque a sequência do da amostra com Sstl, o paciente possuía um fragmento
transposon é conhecida. Em uma triagem usando mutagênese 2,3 kb maior do que o fragmento de 3,2 kb da mãe. Com
química, é muito mais dificil identificar as pequenas mutações base na digestão com Kpnl, o paciente possuía dois frag-
de ponto que são geralmente produzidas. mentos menores em vez do fragmento de 7,3 kb da mãe,
mas a soma dos fragmentos menores é 9,6 kb. Estas obser-
Questão 1 2. l\o mecanismo de corte e colagem, o trans- vações podem ser explicadas por uma inserção de trans-
posossomo excisa-se de sua localização genômica original. poson (éxon 14), e o próprio DNA do transposon inclui
O DNA do transposon ataca e insere-se, por meio de um me- um sítio de reconhecimento para Kpnl.
CAPÍTULO 13
Questão 2. A RNA-polimerase liga-se inicialmente à sequên- de interferir com o término. Depois, poderia mutar o nucleoti-
cia promotora. Uma vez ligada, alterações estruturais ocorrem deo do outro braço da alça-haste de maneira que restabelecesse
no complexo promotor-RNA-polimerase para iniciar a trans- o pareamento de bases com a mutação inicial. O duplo mutan-
crição. Para prevetúr a transcrição ou aumentar a transcrição te iria restaurar o término.
de um determinado gene, é mais direto inibir ou amplificar o
início por meio do promotor. Questão 10. A fosforilação de resíduos de serina na cauda
CTD da Pol 11 é necessária para o escape do promotor e para
Questão 4 . Um ensaio de footprint de DNA é a melhor esco- o alongamento eficiente. Além disso, diferentes padrões de
lha. Este ensaio irá mostrar uma "pegada" (footprint) em torno fosforilação permitem que a cauda recrute fatores necessários
das posições se a RNA-polimerase ligar-se ao promotor. Um en- também para o processamento do Rl\A. Assim, a regulação da
saio de EMSA também irá testar a ligação da proteína ao DNA. fosforilação da cauda garante que estes eventos sejam adequa-
Você poderia ver um resultado quando a RNA-polimerase se damente coordenados.
liga ao promotor por EMSA, mas não saberá se a ligação estará
centrada nos sítios - 35 ou - 10. Também é possível fazer ChiP, Qu estão 12. A poli(A) pollmerase não necessita de um mol-
mas o footprintde DNA é mais relevante quando consideramos de de DNA e adiciona até 200 As à extremidade 3' dos mRNAs.
apenas uma sequência específica de DNA. A RNA-polimerase necessita de um molde de DNA e incorpora
os quatro tipos de NTPs para RNA.
Questão 6. Resultados experimentais suportam o modelo
de "triturador". Estes experimentos indicam que a RNA-po- Questão 14.
limerase permanece ligada ao promotor, enquanto o DNA é A. A reação de entrada inclui todo o Dl\A (cromatina) das cé-
desenrolado e puxado para a RNA-pollmerase durante a trans- lulas. Todas as regiões do DNA devem estar presentes em
crição inicial. níveis iguais na entrada. A amplificação por PCR usando
um conjunto qualquer de iniciadores funcionou.
Questão 8. Os nucleotídeos em negrito estão em regiões
que pareiam umas com as outras para formar o grampo de tér- B. Ligação proeminente da reação de PCR usando iniciado-
res específicos para a amplificação do DNA a 3' da sequên-
mino. Se um destes nucleotideos for mutado, o pareamento de
bases é rompido, evitando a formação do grampo e impedindo cia que codifica a sequência-sinal da poli(A) (reação na ca-
o término. Para testar este modelo, você poderia mutar um naleta 3, banda superior). Isso mostra que Ratl deve estar
destes nucleotídeos, conforme anteriormente descrito, a fim nesta região do gene ADHJ.
Apêndice 2 Respostas 839
C. No modelo de torpedo, Ratl degrada (na diJeção 5' para 3') Ratl se associa à maquinaria de transcrição predominante-
oRNA transcrito a jusante do sítio de poli(A). Isso desloca a mente a 3' do gene, no local previsto se houvesse a junção
RNA-polimerase do DNA. Os resultados deste experimento do transcrito clivado imediatamente após a poliadenilação,
são consistentes com o modelo porque eles mostram que como previsto pelo modelo.
CAPÍTULO 14
Questão 2. Os sítios de splicing 5' e 3' são nomeados em quência inserida. Estas alterações serão quase inevitavelmente
relação ao íntron. O sítio de splicing 5' está localizado na ex- prejudiciais para a proteína.
tremidade 5' do íntron, onde encontra a extremidade 3' do
éxon a montante. O sítio de splicing 3' é encontrado na extre- Questã o 10. O decaimento mediado por nonsense degrada
midade 3' do íntron, onde encontra a extremidadeS' do outro os mRNAs que possuem um códon de térmíno prematuro. Isso
éxon. O ponto de ramificação A, localizado dentro do íntron, fornece à célula um mecanismo que assegura o processamento
também é necessário para a reação de splicing. Um trecho de alternativo em uma classe de genes. Assim, em um determínado
polipirimidina segue o sítio de ramificação. gene, de dois éxons alternativos, apenas um ou o outro - nunca
ambos - será íncluido no mRNA processado final. Isso funciona
Qu estã o 4. In vivo, Prp22 remove rapidamente o mRNA porque, embora cada um dos éxons alternativos possua uma
processado do spliceossomo e desmonta o spliceossomo. Além fase aberta de leitura que se encaixa no resto do mensageiro, a
disso, o laço de RNA é rapidamente degradado. sequência dos dois éxons resulta em um códon de térmíno pre-
maturo se ambos forem incluídos no mRNA maduro.
Qu estão 6. A snRNP Ul liga-se à sequência 5' -GUAA-
GU-3 ' tendo complementaridade perfeita com a sequência Questão 12.
do snRNA Ul, 5' -ACUUAC-3 '. A mutação provavelmente irá A: intron que necessita de spliceossomo. Na presença de extra-
causar dimínuição na ligação de Ul ao sítio de splicing 5', mas to nuclear, vê-se uma banda para o laço e o produto processa-
não irá ínterromper completamente esta ligação, já que per- do. Na ausência de extrato nuclear, vê-se apenas o pré-mRNA.
manecem cinco pares de bases potenciais. O snRNA U6 (se-
quência relevante 5 '-ACAGAG-3 ') pode formar três pares de B: intron do grupo 11. O processamento ocorre na ausência e
na presença de extrato nuclear e, portanto, a reação é auto-
bases com a sequência 5'-GUAAGU-3', e quatro pares de bases
com 5' -GUAUGU-3 '. Isso provavelmente aumentará a ligação processada. Os produtos migram da mesma maneira que na
de snRNP U6 ao sítio de splicing 5'. reação que necessita de spliceossomo, portanto, este deve ser
um íntron de grupo I!.
Questão 8. O produto final irá incluir um pedaço da se- C: intron do grupo I. O processamento ocorre na ausência e na
quência do íntron retida entre os dois éxons. Durante a tradu- presença de extrato nuclear e, portanto, novamente, a reação é
ção, este RNA irá codificar aminoácidos não previstos inicial- autoprocessada. Um produto migra mais rapidamente do que
mente, ou introduzir um códon de término prematuro. Esta o produto em laço das reações A e B, então, ele deve ser linear,
inserção de sequência extra no mRNA também poderia causar uma característica-chave de um íntron do grupo I.
uma alteração da fase de leitura para os códons a jusante da se-
CAPÍTULO 15
Questão 2. O tRNA é acoplado ao aminoácido cognato em Estudos estruturais posteriores confirmaram que o RNA podia
sua extremidade 3'. A ligação acil de alta energia forma-se en- catalisar a formação de ligação peptídica porque nenhum ami-
tre o aminoácido e a 3'-0H ou 2'-0H de 5'-CCA-3'. Todos os noácido está presente a uma distância de 18 À do sítio ativo.
tRNAs terminam com esta sequência.
Questão 10. As estruturas de cada complexo são muito se-
Questão4. melhantes. Uma porção da proteína EF-G adota um formato
Ser-tRNA" " ~ tRNA"" + Ser semelhante ao tRNA no complexo EF-Tu-GTP-tRNA. Isso ajuda
a explicar como ambos se ligam ao sítio A do ribossomo.
Questã o 6. A alanil-tRKA sintetase possui um bolso de edi-
ção que hidrolisa Gly-tRNA'"'. A cadeia lateral da alanina (gru- Questã o 12. Antibióticos atuam sobre e inibem uma das
po metil) é um pouco maior do que o hidrogênio encontrado etapas da tradução ao ligar-se a uma posição específica do ri-
na glicina. Assim, o sítio ativo da alanil-tRKA sintetase pode bossomo ou EF-Tu ou EF-G. A inibição de uma etapa da tradu-
acomodar a glicina e carregar o t!U\A""' erroneamente com gli- ção irá interromper todas as etapas. A tradução deve funcionar
cina. A alanil-tRNA sintetase possui um bolso de edição que para que a célula sobreviva. Os componentes exatos de pro-
pode se encaixar (e, portanto, remover) a glicina- mas não a teína e rRNA do ribossomo diferem em células procarióticas
alanina acoplada ao tRNA'b. versus células eucarióticas. Portanto, os antibióticos ligam-se
especificamente a um componente encontrado em ribossomos
Questã o 8. O experimento mais simples é tratar o ribosso- procarióticos versus ribossomos eucarióticos.
mo com uma protease e verificar se o ribossomo resultante
ainda consegue sintetizar novas proteínas. Depois deste trata- Qu estã o 14.
mento, viu-se que, mesmo após a remoção da maior parte da A . A estrutura da treonina é muito semelhante em tamanho
proteína, a formação de ligação peptídica ainda podia ocorrer. à da valína e poderia encaixar-se no sítio ativo do VaJRS.
840 Parte 6 Apêndices
A treonlna possui urna hldroxlla onde a valina possui ape- B. Grande parte do Thr-tRNA'"' ê produzida na presença dos
nas um grupo meti!. mutantes K270A e D279A (trocando a Usina na posição
270 por alanlna, e o ácldo aspártlco na posição 279 por
H o H alanlna). Esta informação Indica um problema potencial
com a edição.
treonina vafina
C. Cada ddo de malpareamento e edição consome uma mo-
OH OH lécula de ATP. O ATP ê consumido porque um aminoáci-
do é hidrollsado a partir do tRNA, e o novo aminoácido
deve ser adenllllado e transferido. Se o mutante VaiRS não
fizer edição, a quantidade de Thr-tR.'\A'·~ aumentaria e a
quantidade de ATP consumido diminuiria. Isso é o que
observamos para os mutantes VaiRS K270A e 0279A.
CAPÍTULO 16
Questão 2 . A mutaçao mais comum é a transição A:T para leitura faz os códons a jusante codificarem uma sequência
G:C ou G:C para A:T. Se o DNA que codifica o nucleotídeo diferente de aminoácidos.
central do c6don sofresse uma transição, a lisina substituiria C. Inserção de 2 pares de bases da sequêncla alterada 1, dele-
a arginina ou vice-versa. Estes dois aminoácidos são positiva- ção de dois pares de bases Imediatamente antes dos pares
mente carregados. Esta substituição de aminoácido em uma de bases inseridos - elimina a mudança de fase de leirura.
proteína é mais conservatlva do que outras o pções e oferece à Assim, este é um exemplo de mutação supressora lntragê-
célula a melhor chance de não alterar a estrurura ou a função nica (dentro do pró prio gene) que retoma a sequência de
proteica. aminoácidos para o tipo selvagem, mesmo que a sequên-
da de DNA não seja idêntica à selvagem.
Questão 4.
Não A. UGC Quest ão 12. A universalidade refere-se à conservaçao do có-
Slm B. CGA digo genético entre todos os organismos. Em quase todos os
Nall C. UGA casos, os organismos usam o mesmo código genético. Existem
Sim D .CGU variações do código genético padrão para alguns códons espe-
Não E.GCG cíficos ou aminoácidos. As mitocôndrias de mamlferos, Candi-
da albicans e Mycoplasma capricolum usam um código genético
Questão 6. Use a sequêncla de dinucleotídeo repetida GU. que contém exceções.
5' -GUGUGUGUGUGUGU ...·3' codifica um polipeptídeo com
valina (5' -GUG-3') e dstelna (5'-UGU-3') alternadas. Questão 14.
Questão 8 . A fita codlflcadora possui a mesma scquênda do A. A mutação supressora é urna supressora sem sentido inter-
mRNA, exceto pelo fato de o mRNA possuir U em vez de T. gênica - lntergênlca porque a mutação está em um gene
Usando a primeira fase de lelrura (começando com o pri- diferente do gene de Interesse.
meiro nudeotideo na extremidade 5 '), ~'H2 - treonlna - vallna B. Se um tR.'\A""' comumente usado portar uma mutação
- serlna - alanlna- arginlna - COOH. supressora, vários genes da célula terao problemas para
Usando a segunda fase de leitura (começando com o se- codificar leudnas que necessitam deste tRNA específico.
gundo nudeotideo na extremidade 5'), NH2 - prolina - fenlla- C. O códon de término 5 '-UAG-3' é reconhecido pelo anti-
lanlna- arglnlna -leudna- COOH. códon 5'-CUA-3'. S'-UAG-3' possui apenas um nucleoti-
Usando a terceira fase de leitura (começando com o tercei- deo diferente do códon de leudna 5'·UUG-3'. Portanto, a
ro nucleotídeo na extremidade 5'), NHz- arginlna - fenilalanl- scquência do antlcódon mutado é 5'-CUA-3', e a sequên-
na - gliclna - (códon de término) COOH. Como esta sequên- cia do anticódon selvagem é 5'-CAA-3'.
da está no melo de um gene, é pouco provável que esta fase de
D. O códon 5'-UAG-3' é raramente usado como códon de
leírura seja usada.
término em E. wli. Portanto, a Inserção de um aminoá-
Questão 10. cido em vez de terminar a tradução de uma proteína não
causa muitos problemas para outras protelnas de E. co/i, o
A. Inserção de 2 pares de bases - mutação de mudança de que normalm ente faria as células morrerem ou crescerem
fase de leitura. A mudança de fase de leirura faz os có- lentamente. A Inserção de um aminoácido em cada códon
do ns a jusante cod ificarem uma sequência diferente de 5'-UAG-3' como resultado de uma mutação supressora
aminoácidos. iria afetar principalmente a tradução da proteína mutante
B. Inserção de 2 pares de bases da sequência alterada 1, dele- de Interesse.
ção de um par de bases Imediatamente antes dos pares de
bases inseridos - permanece uma mudança de fase de lei- Para mais informações, ver ThorbJamardõttlr et al. (1985.
tura- altera a fase de leitura em um. A mudança de fase de f. Bacteriol. 161: 219-222).
Apêndice 2 Respostas 841
CAPÍTULO 17
Questão 2. Apesar do pequeno genoma de Mycoplasma geni- Questão 10. Pesquisadores geraram pirimidinas usando
talium, ela possui estrutura celular, sofre divisão celular e não moléculas orgânicas possivelmente presentes na Terra primi-
depende de um hospedeiro como os vírus. De maneira seme- tiva como materiais iniciais. Os experimentos que tentavam
lhante, o simbionte Hodgkinia cicadicola depende de células criar um nucleotídeo a partir de fosfato, ribose e nucleobase
hospedeiras para sobreviver e não é considerada um ser vivo. sob condições pré-bióticas não funcionaram. Por isso, os pes-
quisadores não apoiam esta hipótese.
Questão 4. O exemplo mais proeminente é o componen-
te de Rl\A da subunidade maior do ribossomo, que catalisa Questão 12. A ribozima RNA-replicase deve ser capaz de ca-
a ligação peptídica. Outros exemplos são possíveis. Como a talisar a formação de ligação fosfodiéster mais do que apenas
reação primária que ocorre na síntese de proteínas necessita de uma vez. A ribozima replicase também necessita de ribonucle-
RNA, a ideia de que o RNA antecedeu a proteína na hipótese otídeos livres para usar na catálise. A sequência da ribozima
do Mundo de Rl\A parece mais plausível. O RNA catalítico no replicase e seu complemento também devem servir de mol-
ribossomo pode ser um fóssil molecular do Mundo de RNA. de. A replicação da sequência da replicase gera uma sequência
complementar. A replicação da sequência complementar gera
Questão 6. outra cópia da RNA-replicase.
i. RNA-polimerase.
Questão 14.
ti. Transcriptase reversa.
A . A ribozima é capaz de sintetizar produtos de RNA mais
iii. DNA-polimerase.
longos nas reações 1 e 3 do que na reação 2.
iv. RNA-replicase, uma ribozima. (Observe q ue algumas
B . A alteração na sequência do molde na reação 2 teve efei-
Rl\A-polimerases dependentes de RNA também existem.)
to deletério. A alteração na sequência do molde e da ri-
Questão 8 . Quando várias RNA-replicases se tornam liga- bozima restabeleceu a capacidade catalítica da ribozima
das à membrana, a chance de uma replicase menos eficiente para níveis do tipo selvagem. A sequência da ribozima
copiar a replicase mutante aumenta. Quando a protocélula 5'-UCAUUG-3' é complementar à sequência do molde
se divide, há uma chance razoável de duas ou mais replicases 5' -CAAUGA-3' . l\a reação 3, a alteração na sequência da
mutantes serem armazenadas em uma protocélula. Ao longo ribozima e do molde restabelece a complementaridade
entre as sequências . A ribozima provavelmente pareia
do tempo, a propagação das protocélulas contendo a replicase
mutante mais eficiente irá ultrapassar, por competição, as pro- com o molde de RNA durante a síntese.
tocélulas com replicases menos eficientes.
CAPÍTULO 18
Questão 2. A alolactose liga-se ao repressor Lac em uma re- Questão 6.
gião separada de seu domínio de ligação ao Dl\A. Uma vez Aa. Nível basal de expressão. Na presença de glicose, não há
ligada, a alolactose promove uma alteração de formato do ligação de CAP. A mutação evita a ligação do repressor fac e,
repressor Lac e sua liberação do DNA, interrompendo a re- portanto, há expressão basal de lacZ.
pressão. De maneira semelhante, há efetores alostéricos que
regulam os óperons araBAD e gal. Na presença de baixas con- Ab. Nível basal de expressão. Na presença de glicose, não há
centrações de glicose, cAMP liga-se a CAP para introduzir uma ligação de CAP. O repressor não se liga na presença ou ausência
alteração de formato em CAP que permite que este se ligue ao de lactose neste mutante, permitindo a expressão basal de lacZ.
DNA para ativação. Por meio de alosteria, NtrC e MerR ativam
a transcrição dos genes glnA e meff, respectivamente. Respos- Ac. Nível de expressão ativada. Na ausência de glicose, há liga-
tas adicionais são possíveis. ção de CAP. O repressor não se liga na presença ou ausência de
lactose neste mutante, permitindo nível ativado de expressão
Questão 4. de lacZ.
A. A expressão constitutiva significa que os genes no ópe- Ad. Nível de expressão ativada. l\a ausência de glicose, há li-
ron araBAD são expressos na presença ou ausência de gação de CAP. O repressor não se liga na presença ou ausência
arabinose. Ou seja, a regulação é perdida, e os genes são de lactose neste mutante, permitindo nível ativado de expres-
expressos.
são de lacZ.
B. Uma mutação no gene que codifica AraC poderia levar à
expressão constitutiva do óperon araBAD. A mutação deve Ba. Ausência de expressão. Com uma mutação no promotor
impedir a formação da alça d e DNA induzida por AraC, que evita que a RNA-polimerase se ligue, lacZ nunca é expres-
formada na ausência de a rabínose. Além disso, a elimina- so, mesmo que o repressor não esteja ligado ao operador e CAP
ção por mutação do sítio araO~ poderia levar à expressão esteja ligado (aplica-se às alternativas a a d).
constitutiva.
Bb. Ausência de expressão.
Para mais informações, ver Englesberg et ai. (1965. f.
Bacteriol. 90: 946-957). Bc. Ausência de expressão.
Questão 8 . ZntR liga-se a Zn(ll)? O espaçamento entre as contrar a região ligada ao repressor durante o tratamento com
regiões -10 e -35 do promotor não são consenso? ZntR liga-se DNase I. Como potendal controle negativo, Inclua lndutor com
à região promotora de zntA? A adição de Zn(ll) provoca um repressor durante a primeira Incubação. Outro controle negativo
padrão diferente de llgaçllo de ZntR ao promotor? A adição é a Incubação do DNA com a D~ase I primeiro e, então, incubar
de Zn(JJ) provoca dlstorçllo do D:-iA ligado a ZntR? Questões com o repressor. Em vez de DNase I, você pode tentar substân·
adicionais são posslvels como respostas adequadas. das químicas especificas que clivam o DNA não protegido.
Para mais Informações, ver Ounen et ai. (1999. ]. Biol. Questão 14.
Chem. 274: 37517-3 7524). A. O repressor de À ligado em 0 11 auxilia na ligação do re-
pressor a 0 12 por meio de cooperativldade. Isso permite
Questão 10. que o repressor em 0 02 se ligue em concentração mais bai·
A. Se os níveis do repressor calrem muito, as células podem xa do que aquela necessária devido à baixa afinidade de
Induzir o dclo Utico sem que o bacteriófago esteja pronto o...
para llberação. Se os níveis do repressor aumentarem para B. De acordo com o Capítulo 18, o repressor de À liga-se
um nível multo alto, a Indução seria ineficiente, já que a o., e Oou cooperativamente em baixa concentração.
maior quantidade de repressor precisaria ser inativada an- Quando estes dois sítios estllo ligados cooperativamente,
tes que o repressor desocupasse O., ou o., e o crescimento o repressor não consegue llgar-se cooperativamente a o.,.
lítico fosse Induzido. Se as concentrações do repressor de À foram muito altas,
8 . Quando a conccntraçllo de rcpressor À é muito alta, este ele liga-se a 0 113 •
previne a própria transcrlçllo pela ligação a o.,. Isso inibe C. O Mutante X é um DNA com uma mutaçllo em 0". De
a RNA-polimerase de ligar-se a P ",. acordo com os dados da tabela, os pesquisadores não de·
tectaram a ligação a O., com o Mutante X. A mutação
Questão 12. Para encontrar a região específica à qual o re·
provavelmente interrompeu a capacidade de o repressor
pressor se liga, deve-se realizar um ensaio de footprint de DNA
se ligar à sequência. O Mutante Y é um DNA com uma
(ver Cap. 7 para mais Informações). Se a presença de um indutor
mutação em Oou· De acordo com os dados da tabela, os
parar a repressão, as reações não deverão incluir um indutor na
pesquisadores não detectaram a llgação a o•• com o Mu·
reação experimental. A presença de um indutor poderia ser usa·
tante Y. A mutação provavelmente Interrompeu a capaci·
da em um controle. Para o DNA, use um segmento a montante
dade de o repressor se ligar à sequência.
dos genes estruturais do óperon. Se o promotor for conhecido,
assegure-se de Incluir esta região. Marque o DNA radioativamen· D. O repressor de À liga·SC ao DNA cooperativamente. Na au·
te em apenas uma das extremidades. Para a reação experimental, sência de 0 1 1, o repressor de À liga-se a o.. e 0 13 coopera ti·
Incube o DNA com o repressor e, então, trate brevemente com vamente. Isso diminui a concentraçllo relativa necessária
DNase I. Corra os produtos em um gel desnaturante para en· para preencher o..,.
CAPiTULO 19
Questão 2. a lulas bacterlanas e eucarióticas incluem sequên- B. O pesquisador deve suspeitar ou saber que a protelna X
cias promotoras no DNA a montante da sequénda codificadora liga-se ao D:-iA e está perguntando se a proteína X se liga
de um gene. Células bacterlanas e eucarióticas também incluem ao gene Y ou à região promotora do gene Y. O pesquisador
sítios de ligação ao DNA para proteínas reguladoras como re- também pode estar testando a Interação sob certas condi·
pressores ou ativadores. Um atlvador e/ou um repressor nor· ções (p. ex., na presença de lesões no DNA, na presença de
malmente controlam genes bacterianos, enquanto os elementos um açúcar específico).
reguladores dos genes eucarlótlcos podem ser mais elaborados.
Em células eucarióticas, pode haver mais elementos reguladores, Questão S.
que podem estar presentes a montante ou a jusante do promo· A. Metilação, acetilação e fosforllação.
tor, e os elementos reguladores podem incluir sítios de ligação B. Modificações dos resíduos nas caudas das histonas es-
para múltiplos ativadores e/ou repressores. Múltiplos elementos tão geralmente associadas com perfis de expressão es·
reguladores são agrupados como reforçadores em organismos pecíficos em um determinado gene. Assim, a acetllação
multicelulares, e Isoladores ou elementos de borda podem estar está, em geral, assoclada a genes ativamente transcritos.
presentes. Os elementos rej,ruladores dos genes eucarióticos tam· Outras modificações (p. ex., metilação) podem estar as·
bém podem estar locallzados em d istâncias muito maiores do saciadas tanto com a ativação quanto com a repressão
gene que regulam do que no caso das bactérias. da expressão gênica. Portanto, a metilação de diferen·
tes resíduos das caudas das hlstonas pode ter diferentes
Questão 4. O DNA genômlco está empacotado em nucleos·
efeitos, ou o contexto de uma determinada modificação
somos. O início da transcrição envolve o remodelamento ou
(i.e., que outras modificações também estão presentes)
a remoção dos nucleossomos em uma área específica do geno-
pode afetar o resultado de qualquer modificação nos ní·
ma. Este processo necessita de proteínas adicionais. Moldes de
veis de expressão.
DNA como os gerados por PCR não possuem nucleossomos.
Questão 10. Citocina- sinal. Receptor de cttoclna- recep-
Questão 6.
tor. JAK - molécula de transmissão.
A. Ordem correta: d, c, a, e, b. Revise a ordem na Figura 7-35 STAT - molécula de transmlssllo. Expressao transcricional
do Capítulo 7. de genes específicos- produto.
Apêndice 2 Respostas 843
CAPÍTULO 20
Questão 2. Baixa transcrição. O ribossomo irá ler e traduzir se formam quando dois RNAs complementares pareiam. Após
a sequência de mRNA que codifica o peptídeo-Jíder do óperon o processamento por Dicer, eles se assemelham aos miRNAs
trp sem pausar na presença de baixo nível de triptofano. Sem processados e inibem a expressão gênica de maneira similar.
os dois códons de trp, o ribossomo traduz facilmente o peptí-
deo-Jíder. O atenuador 3:4 forma-se para evitar a transcrição Questão 8. Falso. Sequências de pré-miRNAs podem ser en-
dos genes do óperon trp. contradas em íntrons, éxons ou regiões não codificadoras de
transcritos.
Questão 4 . As repetições do tipo CRISPRs (do inglês, clustered
reg~~larly interspaced short palindromic repeats [repetições palindrô- Questão 10. A eficiência da transfecção do dsRNA longo em
micas curtas agrupadas e regtúarmente espaçadas]) do genoma células de mamíferos é baixa. Além disso, as células de mamí-
dos procariotos e Archaea protegem o organismo contra infeções feros podem interromper a tradução de maneira não específica
virais. Sequências espaçadoras são adicionadas aos arranjos e au- quando o dsRNA entra nas células porque o dsRNA desenca-
mentam a resistência a futuras infecções pelo mesmo vírus. deia a mesma resposta que uma infecção vira!. Para superar
isso, os pesquisadores usam genes de pequenos grampos de
Questã o 6. O genoma codifica pri-miRNAs que formam RNA (shRNAs) para expressar um transcrito que se dobra em
uma estrutura secundária (haste-alça) após serem transcritos. uma haste-alça processada por Dicer, resultando em um siRNA.
Os pri-miRNAs são processados por Drosha para a clivagem
entre as hastes inferior e superior, e estes pré-miRNAs podem Questão 12. Xist recruta proteínas para o cromossomo X
ser posteriormente processados por Dicer para liberar miRNAs para a remodelação da cromatina, como met ilases, desacetila-
maduros. Os siRNAs surgem a partir de Rl\As de dupla-fita que ses e enzimas que condensam o genoma.
CAPÍTULO 21
Questã o 2. A capacidade de transformar uma célula di- expressão de SpoiiR. A secreção local de SpoiiR desencadeia a
ferenciada em uma célula iPS demonstra que todos os tipos u•
clivagem de pró-<T" em ativo na célula-mãe.
celulares são geneticamente equivalentes. A célula iPS pode
diferenciar-se em qualquer tipo celular. Este conceito possui Questão 8 . Pesquisadores projetaram um mRNA que pos-
grande potencial para aplicação médica. suía a 3'-UTR de um mRNA de oskarsubstituída pela 3'-UTR de
um mRNA de bicoide. Eles observaram a localização do mRNA
Questão4. de oskar no polo anterior como normalmente se observa para
1. Uma ou mais células sintetizam e liberam o morfógeno o mRNA de bicoide. Isso é suficiente para induzir a formação de
ou molécula sinalizadora. polos celulares nos lugares errados.
2. A d istribuição do morfógeno liberado estabelece um gra- Questão 10. Você pode fusionar o reforçador para a faixa 2
diente de concentração extracelular. ao gene lacZ de E. co/i. Se a expressão de LacZ for observada na
3 . O morfógeno liga-se a receptores na superfície de outras mesma posição, o reforçador para a faixa 2 é suficiente para a
células. O percentual de ocupação do morfógeno dimin ui expressão da faixa 2. Você pode fusionar o gene lacZ ao gene
à medida que aumenta a d istância entre a célula-fonte e a eve na localização endógena e deletar o reforçador para a faixa
célula receptora. 2 na região reguladoraS' do gene eve para testar se ele é neces-
4 . Por meio de uma via de sinalização, o receptor ativado sário. Se ele for necessário, a faixa 2 não deverá ser observada
leva a aumento na expressão de um regulador transcricio- na ausência do reforçador para a faixa 2. O reforçador para a
nal que controla a expressão de vários genes. faixa 2 é necessário e suficiente para a expressão da faixa 2.
Questão 6. Células de B. subtilis u tilizam o contato célula Questão 12. A ligação cooperat iva permite mudanças brus-
a célula para que o precursor do esporo influencie a expres- cas nas concentrações de proteínas das regiões anterior para
são gênica da célula-mãe. u' no precursor do esporo ativa a posterior do embrião.
844 Parte 6 Apêndices
CAPÍTULO 22
Questão 2. Um circuito regulador que segue a lógica de Qu estão 14.
uma "porta ANO" exige que duas condições de entrada sejam A. AraC, na presença de arabinose, irá se Ugar ao sítio de liga-
preenchidas, em vez de operar como um simples comutador ção a AraC e ativar a transcrição dos genes araC, Iael e YFP,
de liga e desliga. ativando, assim, a produção de seus produtos proteicos.
Questão 4 . A estocasticidade significa que um sistema está B. Lael também é produzido na presença de arabinose; por-
sujeito a algum grau de aleatoriedade. Esta aleatoriedade na tanto, ele Uga-se agora a todos os sítios operadores de lac
regulação da expressão gênica gera ruído ou variação na ex- para desligar a transcrição dos três genes, e assim, YFP não
pressão gênica sob condições aparentemente idênticas. é mais produzido.
C. Lael desliga sua própria síntese, mas eventualmente seus
Questã o 6. A autorregulação negativa permite que a saída níveis caem abaixo do necessário para a repressão como
do circuito regulador seja insensível a um parâmetro que causa resultado da diluição que se segue após rodadas de divi-
ruído enquanto mantém a homeostase. são celular e/ou degradação. Na presença de arabinose e
da pequena quantidade restante de AraC, mais AraC será
Questão 8. ComK liga-se cooperativamente ao promotor produzida para ativar a produção de YFP novamente.
de comi<. A resposta na autorregulação positiva é altamente
sensível a pequenas mudanças nos níveis proteicos de ComK D. O sinal YFP irá persistir por mais tempo após a adição ini-
e, portanto, a saída não é linear quando o Umite é alcançado. cial de arabinose. Como o IPTG previne a ligação de Lael,
Diz-se que o comutador encontra-se "em cima do muro", en- mais Lael ou um período de tempo maior será necessário
tre os estados LIGADO e DESLIGADO.
antes que o sistema desUgue a expressão de YFP.
/~
ou saída. A entrada de luz leva à produção de um ativador que
ativa diretamente a saída. Além disso, o ativador leva à pro-
dução de um repressor que bloqueia a saída. A expressão do
gene ocorre no breve período de tempo antes de o repressor ser YFP Lael ~
gerado, mas após a produção do ativador.
Questão 12.
Autorregulação negativa.
Código Genético
segunda posição
uuu Phe
ucu UAU
Tyr
UGU
Cys
uuc ucc UAC UGC
Ser
UCA ilfJJíl término IIICf;Q término
Leu
UCG IIMê'Q término UGG Trp
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ligação d e hidrogênio
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o açúcar-fosfato
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c
3' 5'
20 Â (2 nm)
22 Â
(2,2 nm)
• o
H O
o
C na cadeia
o
Ce N P
éster fosfato nas bases