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e Tecidual para
Odontologia
Moléculas,
Células e Tecidos
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Biologia Celular
e Tecidual para
Odontologia
Moléculas,
Células e Tecidos
Victor Arana
Cirurgião-dentista
Mestre e Doutor em Biologia Celular e Tecidual pela Universidade de São Paulo
Professor Titular do Departamento de Biomateriais e Biologia Oral da Faculdade
de Odontologia da Universidade de São Paulo
Vivian Bradaschia
Cirurgiã-dentista
Doutora em Biologia Celular e Tecidual pela Universidade de São Paulo
Pós-doutoranda no Departamento de Biomateriais e Biologia Oral da Faculdade
de Odontologia da Universidade de São Paulo
© 2012, Elsevier Editora Ltda.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19/02/1998.
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reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos,
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ISBN: 978-85-352-5747-2
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Nota
O conhecimento médico está em permanente mudança. Os cuidados normais de
segurança devem ser seguidos, mas, como as novas pesquisas e a experiência clínica
ampliam nosso conhecimento, alterações no tratamento e terapia à base de fármacos
podem ser necessárias ou apropriadas. Os leitores são aconselhados a checar in-
formações mais atuais dos produtos, fornecidas pelos fabricantes de cada fármaco
a ser administrado, para verificar a dose recomendada, o método e a duração da
administração e as contraindicações. É responsabilidade do médico, com base na
experiência e contando com o conhecimento do paciente, determinar as dosagens e o
melhor tratamento para cada um individualmente. Nem o editor nem o autor assumem
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originada por esta publicação.
O Editor
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A679b
Arana, Victor
Biologia celular e tecidual para odontologia : moléculas, células e tecidos / Victor
Arana, Vivian Bradaschia. - Rio de Janeiro : Elsevier, 2012.
328p. : il. ; 24 cm
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978-85-352-5747-2
1. Odontologia. 2. Boca - Citologia. 3. Biologia molecular I. Bradaschia,
Vivian. II. Título.
Aos meus pais, à minha esposa Ruth e ao meu filho Victor André Arana.
v
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Prefácio
Victor Arana
Vivian Bradaschia
vii
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Apresentação
Há muito que a biologia celular procura relacionar forma e função de uma célula,
evitando tanto o simples isolamento de uma descrição estática como os efeitos relatados
sem fundamentação sobre como e onde ocorrem os processos a eles vinculados.
Contudo, a biologia celular depende da interação e interpretação de conhecimentos abran-
gentes que podem e devem ser tratados em diferentes níveis, conforme os objetivos que
pretendem alcançar. Ou seja, a biologia celular pode enfocar desde indispensáveis requisitos
básicos até compêndios especializados abordando os mais complexos conhecimentos da ciên-
cia moderna. Em qualquer hipótese, é importante evidenciar o competente mérito de trans-
mitir o conhecimento por intermédio de um texto “leve”, sem ser prolixo e rebuscado, mas
associado a figuras e esquemas didáticos e facilitadores da boa leitura e seu aprendizado.
Estas premissas continuam sendo cuidadosamente respeitadas por Victor Arana na
biologia celular e, em especial, na biologia oral. Basta recordar a qualidade singular do
seu exitoso livro Histologia e Embriologia Oral, no qual, em parceria com Eduardo
Katchburian, foi suprida inquestionável lacuna na bibliografia brasileira.
Neste livro Biologia Celular e Tecidual para Odontologia – Moléculas, Células e
Tecidos, em coautoria com Vivian Bradaschia, ambos se dedicam a uma tarefa mais
difícil, porém indispensável, visando uma adequada compreensão dos fundamentos
básicos da biologia oral por docentes, discentes e profissionais da área odontológica.
Não porque estejam excluídos seus talentos e habilidades pessoais especializadas, mas
porque lhes possibilita a plena capacidade para conferir às suas ações uma segurança
que vai das moléculas às células, tecidos, órgãos e ao próprio corpo.
Este precioso compêndio tem a finalidade primordial de oferecer e permitir à classe
odontológica a oportunidade, de maneira rápida, coloquial e ilustrativa, de sentir-se
conscientemente confortável de que atua com modernidade, por mais estratégico, com-
plexo ou trivial que seja cada procedimento executado.
É com esta adquirida cultura intelectual e científica que se valoriza o capital humanís-
tico e profissional, mas que exige um aprendizado permanente amparado pela vocação
dos que se dedicam com entusiasmo ao ensino, à pesquisa e à socialização do saber.
Os conteúdos temáticos dos diferentes capítulos foram adequadamente selecionados,
pois agregam peculiaridades que, no conjunto, permitem uma compreensão integral do
protagonismo celular.
Estou convicto de que este livro é mais uma relevante contribuição que Victor e
Vivian proporcionam à literatura biomédica brasileira e que, uma vez mais, destaca o
pioneirismo da Odontologia da Universidade de São Paulo.
Capítulo Capítulo
1 3
Núcleo Interfásico Membranas Biológicas
Envelope nuclear e poros 1 Estrutura da membrana 43
A lâmina nuclear 5 A Bicamada lipídica 44
DNA Cromossomal – genoma 6 Proteínas da membrana 48
Histonas 8 A Superfície da membrana 50
Nucleossomos 9 Funções da membrana 51
Replicação do DNA 12 Transporte através da
Síntese e processamento do RNA 15 membrana 52
Nucléolo 17 Junções intercelulares 61
Controle da expressão gênica 18 Junções oclusivas 61
Controle transcricional 19 Junções de adesão 63
Controles pós-transcricionais 20 Junções comunicantes 68
Reconhecimento celular: integrinas 70
Capítulo
A lâmina basal 74
2 Capítulo
Ciclo Celular 4
Fases do ciclo celular 22 Compartimentos
Controle do ciclo celular 24 intracelulares
Intérfase 25 e endereçamento
Período G1 25 de proteínas
Período S 27
Organelas associadas a membranas 78
Período G2 28
Endereçamento de proteínas 80
Fase M (Mitose) 29
Peptídios e regiões-sinal 82
Prófase 30
Transporte de moléculas para dentro
Pró-metáfase 31
e fora do núcleo 82
Metáfase 32
O retículo endoplasmático 82
Anáfase 34
Polirribossomos 90
Telófase 34
Glicosilação no RER 91
Citocinese 35
O complexo de Golgi 92
Apoptose 36
Direcionamento de proteínas para a
Características da apoptose 40 xi
exocitose 97
Sumário
Capítulo Capítulo
5 8
Sistema Endossômico- Tecido Epitelial
Lisossômico
Epitélios de revestimento 156
Fagocitose 99 Características gerais dos epitélios
Pinocitose 101 de revestimento 156
Endocitose mediada por receptor 101 Classificação dos epitélios
Vesículas recobertas 103 de revestimento 156
Endossomos prematuros e tardios 107 Algumas funções dos epitélios
Endocitose de colesterol 107 de revestimento 167
Transcitose 109 Epitélios glandulares 167
Lisossomos 111 Características gerais dos epitélios
glandulares 167
Classificação dos epitélios
Capítulo
glandulares 168
6 Algumas funções dos epitélios
glandulares 173
Organização
e Funções do Capítulo
Citoesqueleto
9
Microtúbulos 114
Cílios, flagelos e centríolos 126 Tecido Conjuntivo
Filamentos intermediários 128
Filamentos de actina 130 Células do tecido conjuntivo 179
Proteínas de ligação à actina 135 Célula mesenquimal 180
Fibroblastos 181
Macrófagos 182
Capítulo Mastócitos 185
7 Leucócitos 187
Plasmócitos 187
Matriz extracelular 187
Mitocôndrias
Fibras 187
e Peroxissomos
Substância fundamental 196
Mitocôndrias 143 Lâmina basal 200
Ultraestrutura 144 Integrinas 200
Conversão de energia 147 Variedades de tecido conjuntivo
Peroxissomos 151 propriamente dito 201
Reações oxidativas realizadas Tecido conjuntivo frouxo 201
xii por peroxissomos 152 Tecido conjuntivo denso 201
Sumário
10 esqueléticos 259
Célula (fibra) muscular estriada
esquelética 260
Tecido Cartilaginoso Músculo estriado cardíaco 271
Cartilagem hialina 206 Célula muscular cardíaca 272
Características gerais 206
Matriz 206 Capítulo
Pericôndrio 208
Condrócitos 208 13
Organização 210
Formação e crescimento 211 Tecido Nervoso
Cartilagem elástica 213
Cartilagem fibrosa 213 Os neurônios 282
Corpo celular ou pericário 284
Dendritos 286
Capítulo
Axônio 286
11 Fibras nervosas mielínicas
e amielínicas 287
Tecido Ósseo Histofisiologia do neurônio 291
Condução do impulso
Osso compacto e osso esponjoso 220
nervoso 291
Células do tecido ósseo 220
Neurotransmissores e sinapses 293
Osteoblastos 222
Neuroglia 296
Osteócitos 223
Células 297
Células de revestimento
Astrócitos 297
ósseo 226
Osteoclastos 227 Oligodendrócitos e células
Matriz extracelular 229 de Schwann 299
Fase mineral 230 Microglia 299
Matriz orgânica 231 Células ependimárias 299
Osteogênese ou ossificação 233 Sistema nervoso central 299
Ossificação intramembranosa 233 Sistema nervoso periférico 303
Ossificação endocondral 244 Gânglios 304
Periósteo e endósteo 254
Índice 307 xiii
Inervação e vascularização 255
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Núcleo Interfásico 1
28
Sumário
Envelope Nuclear e Poros 1
A Lâmina Nuclear 5
DNA Cromossomal – Genoma 6
Histonas 8
Nucleossomos 9
Replicação do DNA 12
Síntese e Processamento do RNA 15
Nucléolo 17
Controle da Expressão Gênica 18
Controle Transcricional 19
Controles Pós-transcricionais 20
Uma das principais características que diferencia as células eucariontes das procariontes é
a compartimentalização do ácido desoxirribonucleico (DNA) existente nas eucariontes.
O conjunto formado pelo DNA e seu envoltório é denominado núcleo. A existência de um
núcleo nas células está relacionada com vários eventos que ocorrem com o DNA durante
sua transcrição em ácido ribonucleico (RNA). O volume ocupado pelo núcleo em uma
célula é de cerca de 10%, e sua aparência em preparados histológicos está relacionada
com o formato, a polarização e o grau de atividade da célula (Figura 1-1). O envoltório
que separa o DNA do citoplasma é denominado envelope nuclear, constituído por duas
membranas concêntricas.
nucleoporinas. Elas estão dispostas formando dois anéis periféricos, um deles ligado à
superfície nuclear e o outro à superfície citoplasmática do envelope. Cada subunidade do
anel é conectada por uma subunidade colunar, a qual se ancora na bicamada lipídica,
nos pontos onde se fundem as duas membranas do envelope nuclear, por meio de uma
subunidade luminal, que se projeta para o lume da cisterna perinuclear, enquanto outra,
a subunidade anular, projeta-se radialmente, por uma curta distância, para o centro
do poro. Além disso, estruturas filamentosas ligadas às proteínas dos anéis dirigem-se
tanto para o citoplasma (fibrilas citosólicas) como para o interior do núcleo (fibrilas
nucleares), sendo que, do lado nuclear, ligam-se a uma proteína anular, constituindo a
cesta nuclear, com aspecto de cesta de basquete (Figura 1-5).
Um constante e seletivo tráfego ocorre entre o citosol e o compartimento nuclear nos
dois sentidos. Várias proteínas atuam no núcleo (histonas, DNA e RNA polimerases,
proteínas reguladoras, proteínas envolvidas no processamento do RNA), as quais são
sintetizadas no citosol. Por outro lado, RNAs sintetizados no núcleo são exportados
para o citosol.
A seletividade para a importação de moléculas do citosol para o núcleo também
depende de sinais de localização nuclear. A molécula precisa conter em sua sequência
de aminoácidos algumas sequências-sinal que podem estar localizadas em diferentes
posições, geralmente constituídas por quatro a oito aminoácidos ricos em lisina e argi-
nina, os quais têm carga positiva, bem como em prolina. Estas sequências curtas
estão separadas por cerca de 10 aminoácidos. Assim, os sinais devem formar uma alça
na superfície da proteína.
O transporte de grande parte das moléculas entre o núcleo e o citosol ocorre ativa-
mente, em um processo que requer hidrólise de trifosfato de guanosina (GTP, do
inglês guanosine triphosphate), mediante a atividade da Ran, uma GTPase (proteína
que hidrolisa o GTP) monomérica. A molécula a ser transportada se liga a receptores
nucleares que possuem dois domínios, um que se liga à molécula e outro, à Ran. O
receptor que se liga à molécula que está no citosol e deve ser importada ao núcleo é
Figura 1-5 Representação das moléculas que compõem o complexo de poro nuclear.
4
Núcleo Interfásico 1
A Lâmina Nuclear
Uma rede fibrosa com 10-20 nm de espessura, a lâmina nuclear, está associada à
membrana interna do envelope nuclear, interrompendo-se nos poros. A lâmina nuclear
(Figura 1-7) é formada por proteínas denominadas laminas, dos tipos A, B e C. 5
1 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Histonas
As histonas são moléculas muito pequenas, com uma grande proporção de aminoácidos
positivamente carregados (lisina e arginina), cargas que as auxiliam a se ligarem forte-
mente à molécula de DNA (que tem muitas cargas negativas), independentemente da
8 sequência nucleotídica. Os cinco grupos de histonas são divididos entre histonas H1
Núcleo Interfásico 1
Nucleossomos
Os nucleossomos são estruturas compostas pela associação entre um núcleo de
proteínas histônicas e a cromatina que se enrola sobre ele. Estes complexos são
formados com o intuito de compactar a cromatina. Cada um dos núcleos tem forma
de disco, com aproximadamente 10 nm de diâmetro e 6 nm de altura, contendo duas
moléculas de cada uma das quatro histonas nucleossômicas, constituindo, portanto,
um octâmero de histonas. Em volta do octâmero se enrola, por duas vezes, a dupla
hélice do DNA. A molécula de DNA, após se enrolar em um octâmero, segue um
curto trajeto, em geral de até 80 pares de nucleotídeos, para se enrolar em outro
octâmero. Essa porção da dupla hélice de DNA entre dois octâmeros chama-se DNA
de ligação, o qual pode variar em extensão devido a que a flexibilidade local da
dupla fita de DNA determina a posição de cada nucleossomo. Se for considerado
um segmento de vários nucleossomos com seus DNAs de ligação, esta porção da
molécula adota a forma de contas de um rosário, com diâmetro de 10 nm (o diâmetro
dos nucleossomos).
Entretanto, o grau de compactação da molécula de DNA é ainda maior: os nucleos-
somos são compactados uns sobre os outros, formando arranjos regulares em forma de
solenoide, nos quais as histonas desempenham importante papel. Os nucleossomos são
unidos pelas ligações entre as caudas das histonas H4 de cada complexo, além da ligação 9
1 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Replicação do DNA
Como já mencionado, as regiões da dupla hélice de DNA que produzem moléculas de
RNA funcionais constituem os genes, os quais são distribuídos para cada célula-filha
quando a célula se divide. Portanto a célula necessita fazer uma cópia precisa dos seus
genes antes de se dividir. A replicação do DNA em mamíferos ocorre em taxas de
polimerização de aproximadamente 50 nucleotídeos/segundo.
As sequências de nucleotídeos de uma fita de DNA são copiadas por pareamento
complementar de bases (A-T e G-C) em uma sequência complementar. Para tanto, as
duas fitas da dupla hélice de DNA devem ser separadas, pelo menos transitoriamente,
de modo que cada nucleotídeo presente na fita exposta de DNA seja reconhecido por
um nucleotídeo complementar, não polimerizado, estando as pontes de hidrogênio das
bases da fita original, bem como da nova fita, expostas para que ocorra o pareamento.
Assim, os nucleotídeos a serem pareados são alinhados para a sua polimerização, a qual
é catalisada enzimaticamente pela DNA polimerase. Portanto as duas fitas do DNA
original, chamadas de fitas parentais, são copiadas, originando duas moléculas-filhas
de dupla fita. Entretanto, em cada dupla fita resultante, somente uma fita é recém-sinte-
tizada, enquanto a outra é mantida a partir de uma das fitas parentais. Por esse motivo
a replicação do DNA é chamada de semiconservativa (Figura 1-15).
Deve ser também considerado, a respeito do processo de replicação do DNA, que
nem todas as moléculas de DNA do núcleo se replicam ao mesmo tempo. Isso significa
que nem todas as regiões da mesma molécula estão no mesmo estado de replicação.
Esta última característica faz que uma molécula de DNA possa se replicar por diversos
A síntese das novas fitas de DNA é feita pela ação de umas enzimas, as DNA-polime-
rases. Para catalisarem essa síntese, os precursores (desoxirribonucleotídeos) devem
estar presentes sob uma forma trifosfatada, isto é, como trifosfatos de desoxirribonu-
cleotídeos. Estes são: dATP, dCTP, dTTP e dGTP, contendo as bases adenina (A),
citosina (C), timina (T) e guanina (G), respectivamente. Um fato importante é que
esses precursores são trifosfatados enquanto livres, mas tornam-se monofosfatados
quando incorporados na nova fita de DNA; desse modo, um dos fosfatos excedentes
fornece energia para a síntese de DNA, enquanto o outro fosfato é liberado como
fosfato inorgânico.
Existem várias DNA-polimerases, tendo sido identificadas cinco destas enzimas nas
células eucariontes. As DNA-polimerases a e d participariam da replicação do DNA
nuclear, enquanto a DNA-polimerase g seria responsável pela replicação do DNA
mitocondrial. Já as DNA-polimerases ε e b participariam da reparação do DNA.
Entretanto, além das DNA-polimerases, são necessárias outras enzimas. Como o
processo se inicia com o desenrolamento da dupla fita, as DNA-helicases trabalham na
frente da DNA-polimerase, desenrolando progressivamente as fitas como uma alavanca.
Parece que duas DNA-helicases atuam simultaneamente, uma deslizando ao longo da
fita líder e a outra, ao longo da fita retardatária. Uma vez separada a dupla-fita, as
proteínas ligadoras de DNA-fita simples ligam-se às fitas expostas de DNA, porém
sem cobrir suas bases, permitindo que estas fiquem expostas para servirem como moldes.
Estas enzimas não conseguiriam abrir a dupla hélice, mas sua ação é fundamental para
estabilizar as fitas desenroladas.
Quando se inicia o processo de síntese da fita cópia, para produzir a fita inicia-
dora pareada, é necessária a enzima DNA-primase, que utiliza ribonucleosídeos
trifosfatos para a síntese de RNA-iniciadores ou primers. Estes RNA-iniciadores
têm a proximadamente 10 nucleotídeos e são feitos espaçosamente na fita retar-
datária para iniciar um fragmento de Okazaki. A síntese de cada fragmento de
Okazaki termina quando a DNA-polimerase desliza até o RNA-iniciador preso na
extremidade 5’ do fragmento anterior. Um sistema especial de reparação atua para
degradar o RNA- iniciador e substituí-lo por DNA. A seguir, a enzima DNA-ligase
une a extremidade 3’ do novo fragmento de DNA à extremidade 5’ do fragmento
anterior. Desse modo, a DNA-primase está diretamente ligada à DNA-helicase,
formando uma unidade na fita retardatária denominada primossomo. Propulsionado
pela DNA-helicase, o primossomo se desloca com a forquilha, sintetizando os RNA
-iniciadores.
Outro aspecto deve ser lembrado. Embora seja usual imaginar a dupla fita de DNA
plana como uma escada, ela é uma hélice. É, portanto, desconsiderado o problema
do enrolamento: cada 10 pares de bases replicados na forquilha correspondem a uma
volta completa ao redor do eixo de uma dupla hélice parental. Isso levaria ao giro na
dupla fita original na frente da forquilha, ou seja, a um superenrolamento. Para impedir
que voltas adicionais ocorram, um suporte giratório é formado na dupla hélice de
DNA por proteínas conhecidas como DNA-topoisomerases. As DNA-topoisomerases
funcionam como uma nuclease reversível que se adiciona covalentemente a um fosfato
no DNA, quebrando, assim, a ponte fosfodiéster da fita. Como essa ligação covalente
14
Núcleo Interfásico 1
retém a energia da ponte fosfodiéster clivada, a reação de clivagem é reversível,
sendo que a nova ligação é rápida, não necessitando de energia adicional. A DNA
-topoisomerase-I quebra as pontes fosfodiéster das fitas simples, permitindo que dois
segmentos da hélice de DNA girem livremente uma em relação à outra, utilizando a
ponte fosfodiéster da fita oposta à quebra como um ponto de apoio giratório. A DNA
-topoisomerase-II ou DNA-girase forma, simultaneamente, uma ligação covalente
com as duas fitas da hélice do DNA, promovendo uma quebra transitória da dupla
fita da hélice.
Como o DNA está ligado a outras proteínas, estas também devem ser replicadas.
Uma vez que a molécula de DNA se encontra organizada em nucleossomos, a
montagem do DNA recém-replicado em nucleossomos parece ocorrer logo atrás
da forquilha de replicação de tal maneira que, conforme avança, a fibra nucleos-
sômica vai sendo imediatamente reestruturada nas duas novas moléculas de DNA
nascentes.
Nucléolo
Os nucléolos são estruturas esféricas que estão presentes no núcleo. Devido ao seu tama-
nho (1-7 mm) podem ser vistos ao microscópio de luz, sendo particularmente evidentes
nas células que sintetizam proteínas ativamente, como as células dos embriões ou aquelas
dos tumores malignos.
O nucléolo está constituído principalmente por proteínas e rRNA, que vão compor
as subunidades ribossômicas, além de pequena quantidade de DNA que contém os genes
codificadores dos rRNAs, chamado DNA ribossômico (rDNA). São também encontradas
proteínas e RNAs que participam da transcrição e das modificações pós-transcricionais
dos rRNAs, entre os quais estão RNAs nucleolares de baixo peso molecular (snoRNAs),
bem como algumas proteínas estruturais do nucléolo.
O nucléolo contém três componentes ultraestruturalmente distintos: o centro fibrilar
pouco denso, constituído por fibrilas finas com 4-8 nm de diâmetro, o componente fibri-
lar denso, contendo fibrilas muito finas, com 3-5 nm de diâmetro, e o componente granular,
formado por grânulos com 10-15 nm de diâmetro. O centro fibrilar contém DNA que não
está sendo transcrito ativamente, o componente fibrilar denso contém moléculas de RNA
sendo sintetizadas e o componente granuloso contém partículas ribossomais precursoras
maduras (Figura 1-18).
Estão presentes no nucléolo grandes alças de DNA, das quais emanam vários
cromossomos, e cada uma delas contém um agrupamento de genes de rRNA. Esses
agrupamentos são conhecidos como regiões organizadoras nucleolares (NORs). 17
1 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Controle Transcricional
Com base nas etapas anteriormente citadas, o controle transcricional é predominante para
a maioria dos genes. Dessa maneira, existe uma região reguladora do DNA próxima
ao sítio onde a transcrição se inicia. Enquanto algumas regiões reguladoras são simples
e atuam como controles que são acionados por um único sinal, outras são complexas
e atuam como miniprocessadores em resposta a uma variedade de sinais que são inter-
pretados e integrados por elas para ativar ou desativar um gene vizinho. Em geral, estas
constituem as regiões de controle gênico do DNA.
Proteínas reguladoras de genes contêm sítios estruturais específicos que reconhecem
pequenas sequências definidas da dupla hélice do DNA e se ligam a elas, ativando ou
desativando conjuntos específicos de genes. Estas proteínas reguladoras também podem
ser classificadas como fatores de transcrição. Assim são definidos quais os milhares
de genes a serem transcritos em uma célula. Centenas de proteínas reguladoras já foram
identificadas e, embora cada uma delas tenha características particulares, a maioria
se liga ao DNA como homodímeros ou heterodímeros e o reconhece por meio de um 19
1 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Controles Pós-Transcricionais
Muitas das etapas da via entre um RNA e uma proteína são reguladas pela célula,
para controlar a expressão gênica. Embora o controle transcricional pareça ser o mais
efetivo e frequente, muitos genes são regulados em vários níveis. Vários genes são
constantemente transcritos, porém são depois ativados e inativados por processos
reguladores pós-transcricionais. Estes processos incluem: atenuação do transcrito de
RNA por terminação prematura, splicing alternativo de RNA, controle da formação
da extremidade 3’ por clivagem e adição da cauda de poli-A, controle do transporte
do núcleo até o citosol, localização de mRNAs em locais específicos da célula,
edição de RNA, controle do inicio da tradução, degradação controlada do mRNA e
recodificação da tradução.
O splicing alternativo de RNA, de forma semelhante à vista anteriormente, pode ser
realizado de diferentes maneiras para uma mesma sequência precursora, removendo- se
diferentes íntrons aleatoriamente. Dá-se origem, dessa forma, a diferentes cadeias poli-
peptídicas que podem codificar proteínas distintas. Cerca de 75% dos genes humanos
codificam múltiplas proteínas por meio desse mecanismo.
Os micro-RNAs (miRNAs) são RNAs curtos não codificados de grande importância
no controle da expressão gênica por meio de um mecanismo chamado de silenciamento.
Existem 400 diferentes miRNAs expressos por seres humanos, os quais, em conjunto,
regulam mais de um terço dos genes. São sintetizados no núcleo pela RNA-polimerase-II,
apresentando inicialmente formato de grampo de cabelo. Após sua síntese, estas moléculas
sofrem um processamento específico no citosol, no qual são clivadas e associadas a
outras proteínas para compor os complexos de silenciamento induzidos por RNA
ou RISC.
Outros agentes importantes no controle da expressão gênica são os pequenos RNAs
de interferência ou siRNAs. São importantes reguladores de mecanismos de defesa,
nos quais é promovida a degradação de moléculas de RNA estranhas à célula, como
ocorre em infecções virais. Os siRNAs sofrem clivagem de sua molécula e uma de suas
fitas é descartada. A fita simples associada ao complexo RISC direciona-se aos RNAs
estranhos à célula com sequência complementar e causam sua destruição.
20
Núcleo Interfásico 1
Leitura Adicional
Inui M, Martello, Piccolo GS. stability. Nature Rev Mol Cel Strambio-De-Castillia C,
MicroRNA control of Biol 2010;11:317-28. Niepel M, Rout MP. The
signal transduction. O’Sullivan RJ, Karlseder nuclear pore complex:
Nature Rev Mol Cel Biol J. Telomeres. protecting bridging nuclear transport
2010;11:252-63. chromosomes against and gene regulation.
Mekhail K, Moazed D. The genome instability. Nature Rev Mol Cel Biol
nuclear envelope in genome Nature Rev Mol Cel Biol 2010;11:490-501.
organization, expression and 2010;11:171-81.
21
2 Ciclo Celular
Sumário
Fases do Ciclo Celular 22
Controle do Ciclo Celular 24
Intérfase 25
Período G1 25
Período S 27
Período G2 28
Fase M (Mitose) 29
Prófase 30
Pró-metáfase 31
Metáfase 32
Anáfase 34
Telófase 34
Citocinese 35
Apoptose 36
Características da Apoptose 40
Ao longo da vida de um organismo, suas células precisam se dividir para que ocorram
crescimento e desenvolvimento dos tecidos e órgãos. Além disso, as células se dividem
para substituir outras células danificadas, funcionalmente deficientes ou perdidas por
morte celular programada. As células podem também se dividir de forma desordenada em
processos patológicos, como no caso dos tumores. Porém, antes de as células se dividirem,
elas precisam duplicar o seu conteúdo, incluindo o seu material genético. O processo total, in-
cluindo a divisão propriamente dita e a duplicação do DNA, é denominado ciclo celular.
entre duas divisões sucessivas, denominada intérfase, na qual a célula cresce e se prepara
para uma nova divisão. A outra parte do ciclo é a divisão propriamente dita, ou fase M,
que se caracteriza pela divisão do núcleo, chamada de cariocinese ou mitose, seguida
pela divisão do citoplasma, ou citocinese (Figura 2-1).
Quanto à duração do ciclo celular, o período G1 da Intérfase é o mais variável na
maioria das células. Em geral sua duração é de várias horas (6-25 horas), sendo uma das
razões para essa variação o fato de a célula obedecer, neste período, a diversas influências
externas. Uma exceção são as células embrionárias nos estágios iniciais da morfogênese,
nas quais o período G1 é muito curto e, geralmente, pode ser considerado inexistente. O
período S tem uma duração, em quase todas as células, de 7-8 horas, e o período G2, entre
2-4 horas. Em conjunto, a intérfase ocorre em maior intervalo de tempo em comparação
com a fase M, que demora, em geral, 1 hora. Nas células tumorais estão aumentados
tanto o período G2 como a fase M.
Além disso, existem células que, uma vez formadas e integradas a determinado tecido
ou órgão, deixam de se proliferar e passam a desempenhar funções específicas por meio
de um processo denominado diferenciação celular. Por isso as células animais são divi-
didas em três categorias: células que se dividem continuamente (células embrionárias,
epiteliais, dos folículos capilares, do sistema linfático e da medula óssea), células que
geralmente não se dividem, mas que podem fazê-lo em resposta a estímulos (células
endoteliais, hepatócitos, fibroblastos, células renais, do músculo liso, do pâncreas, do
ovário, da glândula adrenal e osteoblastos) e células terminalmente diferenciadas
23
(neurônios, células musculares esqueléticas e cardíacas).
2 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 2-2 A e B.
As moléculas de ciclina
e Cdk separadas e
acopladas, em sua forma
ativa.
sítio ativo, inativando-a. Os complexos ciclina-Cdk permanecem inativos até que so-
fram ativação no momento oportuno do ciclo, pela ação de outras moléculas. A Cdc25
desfosforila as Cdks, restaurando sua atividade. A inativação por meio da CKI é revertida
ao dissociar-se da molécula de Cdk. A eficiênica do complexo ciclina-Cdk pode ser
aumentada pela ação de uma proteína-quinase ativadora de Cdk ou CAK, que fosforila
o complexo, tornando-o mais eficaz (Figura 2-3).
Intérfase
Como visto no Capítulo 1, é na intérfase que ocorre a duplicação dos componentes
da célula-mãe, bem como a replicação do DNA. Entretanto a duplicação do material
genético da célula não se inicia logo que a célula se origina, isto é, logo que a célula sai da
divisão celular do ciclo anterior, havendo um período de tempo entre ambas. Além disso,
a replicação do DNA termina algum tempo antes de a célula entrar em mitose. Por essa
razão, a intérfase foi dividida nos períodos G1, S e G2. O período G1 é também chamado
de pós-mitótico ou pré-sintético; o período G2, pré-mitótico ou pós-sintético.
Período G1
Após a divisão celular, de que resultaram duas células-filhas, cada uma delas com seu
conteúdo de DNA completo, reinicia-se a síntese de RNAs e de proteínas. Assim, no 25
2 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 2-4 Durante o período G1 da intérfase a célula pode interromper a evolução
do ciclo e entrar no período G0 e, posteriormente, retornar ao ciclo se houver condições
favoráveis.
Período S
Nesta fase, a célula duplica seu conteúdo de DNA, elaborando réplicas perfeitas de todas
as moléculas de DNA que possui (Figura 2-6), como estudado no Capítulo 1. Além disso,
ocorre também a duplicação na quantidade de histonas, cuja síntese, diferentemente das
demais proteínas celulares, está restrita a esta fase do ciclo.
Um tipo de controle do ciclo celular é também importante durante a fase S. É neces-
sário assegurar que a duplicação dos cromossomos ocorra apenas uma vez por ciclo
celular, e isto ocorre em dois momentos. Primeiramente, são ligados à molécula de DNA 27
2 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 2-5 No início do período S do ciclo celular, o complexo ciclina A/E-Cdk-2 envia
sinais ao núcleo e ativa a transcrição de moléculas necessárias à duplicação do DNA.
Período G2
Após o DNA da célula ter sido duplicado, a célula realiza os preparativos para a próxima
mitose no período G2. Neste período são ainda sintetizadas as proteínas não histônicas,
que serão necessárias para se associarem aos cromossomos durante sua condensação na
mitose. Ocorre também a síntese de RNAs e de outras proteínas.
Como os mecanismos de controle do ciclo celular agem no ponto de início, controlando
a passagem do período G1 para o período S, outro importante ponto de checagem existe
28
na passagem do período G2 para a fase M. As ciclinas mitóticas aumentam gradualmente
Ciclo Celular 2
durante o período G2 e, quando se ligam a uma Cdk (geralmente Cdk1), formam um com-
plexo denominado M-Cdk, chamado também de fator promotor de maturação. Uma das
ciclinas mitóticas mais frequentes nas células animais é a ciclina B. Na verdade, este com-
plexo está sempre presente, porém inativo por ação da proteína-quinase Wee 1. O complexo
M-Cdk é convertido na sua forma ativa pela ação da Cdc25, como visto anteriormente. Este
complexo coordena mudanças na célula para conduzi-la à mitose, induzindo a condensação
dos cromossomos, a ruptura do envelope nuclear e a organização do fuso mitótico.
Antes da passagem do período G2 para a fase M existe mais um ponto de checagem,
o ponto de checagem G2/M. Neste momento, a célula deve ter todo o seu conteúdo
de DNA replicado, além de assegurar que o meio extracelular seja favorável para a
sequência do ciclo.
Fase M (Mitose)
Esta fase do ciclo celular é a mais evidente morfologicamente e corresponde à divisão ce-
lular propriamente dita. Em termos gerais, os cromossomos são condensados, o envelope
nuclear é desmontado, o retículo endoplasmático e o complexo de Golgi são fragmentados,
a célula perde sua adesão a outras células e a matriz extracelular e o citoesqueleto são 29
2 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Prófase
Nesta primeira etapa da mitose, diversos rearranjos ocorrem na célula, controlados pela
ação do complexo M-Cdk. A cromatina que estava difusa na intérfase se condensa, cons-
tituindo os cromossomos mitóticos. As fibras de cromatina, inicialmente muito alongadas
no núcleo, com 30 nm de diâmetro, vão tornando-se mais espessas, chegando a um nível de
compactação até 1.000 vezes superior ao seu estado na intérfase. Como cada cromossomo
foi duplicado no período S, consta de duas cromátides irmãs, cada uma delas contendo
uma sequência de DNA específica conhecida como centrômero, o qual é necessário para
a separação das cromátides. A condensação dos cromossomos é necessária para evitar que
o material genético possa danificar-se durante sua distribuição para as células-filhas. Esse
processo de condensação dos cromossomos é induzido pelo complexo M-Cdk, que fosfo-
rila a histona H1 e as proteínas não histônicas. Complexos de proteínas especializadas, os
cinetócoros, formam-se em cada centrômero com dois cinetócoros em cada cromossomo,
um em cada cromátide, voltados para direções opostas (Figura 2-7).
A condensação da cromatina a torna inativa, terminando tanto a transcrição de RNAs
como as sínteses de mRNA, rRNA e tRNA. Além da condensação dos cromossomos,
os nucléolos se desorganizam. Como a transcrição de rRNA é interrompida, a síntese de
novas moléculas que constituem a região fibrilar do nucléolo também para.
Os centríolos, que se duplicaram na intérfase, se separam, migrando um par (diplos-
somo) para cada polo da célula, constituindo dois centrossomos, enquanto microtúbulos
com proteínas associadas aparecem entre eles, formando o fuso mitótico. O fator
promotor de mitose (MPF, do inglês mitosis-promoting factor) altera o comportamento
dos microtúbulos da célula pela fosforilação das proteínas a eles associadas. As ciclinas
mitóticas reconheceriam os componentes dos centrossomos, recrutando a quinase Cdc2
para esses locais. Assim, o fuso mitótico começa a ser formado fora do núcleo, enquanto
neste os cromossomos estão sendo condensados. Em geral, os microtúbulos do fuso
desempenham-se como verdadeiros trilhos para o deslocamento dos cromossomos
durante as várias fases da mitose. Porém existem em três classes no fuso mitótico:
microtúbulos polares, que chegam até a linha média do fuso, sobrepondo-se um pouco
nessa região; os microtúbulos cinetocóricos, que se ligam ao cinetócoro especializado,
formado no centrômero de cada cromossomo duplicado, manobrando os cromossomos
pelo fuso; e os microtúbulos astrais, que são radiais a partir do centrossomo e que
parecem contribuir com o afastamento dos polos.
O envelope nuclear é desmontado: a lâmina nuclear se despolimeriza pela ação do
MPF, que fosforila as diferentes proteínas laminas, as quais se dissociam em dímeros de
laminas livres, levando à dissolução de toda a lâmina nuclear. Como consequência disso,
as membranas do envelope se rompem simultaneamente em vários pontos, originando
pequenas vesículas membranosas que se dispersam pelo citoplasma. Os complexos
de poro se dissociam. As laminas do tipo B permanecem ligadas aos fragmentos de
membrana, ficando, portanto, contidas nas vesículas; as laminas A e C são dispersas no
30
citoplasma na forma de dímeros solúveis.
Ciclo Celular 2
Pró-metáfase
Com a ruptura do envoltório nuclear, que se quebra em vesículas, os microtúbulos
do fuso mitótico têm acesso à região nuclear. Complexos proteicos especializados,
chamados cinetócoros, maturam em cada centrômero e se fixam aos cromossomos
cinetocóricos do fuso, tensionando-os. Deve ser considerado que os microtúbulos são
polimerizados e despolimerizados constantemente, nas suas extremidades “mais” e
“menos”, respectivamente, obedecendo a um fenômeno que se denomina instabilidade
dinâmica (que será discutido no Capítulo 6). Esta instabilidade aumenta consideravel-
mente nos microtúbulos do fuso mitótico na prófase e, com isso, a vida média destes
diminui cerca de 20 vezes (de 5 minutos para 15 segundos) e é refletida principalmente
nos curtos, porém numerosos, microtúbulos astrais que se irradiam de cada cen-
trossomo.
Por outro lado, os microtúbulos polares, que se estendem do centrossomo para a região
média do fuso, sobrepondo-se nessa região, parecem ter menos instabilidade, embora
sofram também polimerização e despolimerização nas suas extremidades. Para a sua
manutenção como “pontes” entre os centrossomos, estabelecem-se ligações cruzadas
entre eles, na região de sobreposição. A função dos microtúbulos polares é de separar
os centrossomos à medida que o fuso é formado na prófase (Figura 2-8). 31
2 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Quanto aos microtúbulos cinetocóricos, estes se ligam aos cinetócoros das cromátides
de cada cromossomo. Cada cinetócoro é um grande complexo multiproteico com es-
trutura trilaminar. A informação que leva à construção de um cinetócoro em um sítio
específico do cromossomo está contida na sequência de DNA do centrômero. Estes
possuem sequências muito longas e diferentes, muitas delas repetidas, que formam
cinetócoros relativamente grandes que podem ligar-se a 30 ou 40 microtúbulos. Nestes
microtúbulos, moléculas de tubulina são incorporadas continuamente na região próxima
ao ponto de ligação com o cinetócoro, fato que faz que essa ligação esteja sempre sob
tensão. Enquanto os microtúbulos cinetocóricos tendem a puxar os cromossomos na
direção dos polos do fuso, outra força atua na direção oposta. Esta força, denominada
força de exclusão astral ou círculo polar, não é completamente entendida, mas po-
deria surgir da repulsão das extremidades crescentes livres dos microtúbulos que são
continuamente nucleados nos polos. Contudo a força de exclusão astral desempenha
importante função no alinhamento dos cromossomos na placa metafásica.
Metáfase
Nos momentos finais da prófase (pró-metáfase), os cromossomos já ligados pelos
cinetócoros aos microtúbulos correspondentes movimentam-se como se estivessem
oscilando de um lado a outro. Entretanto, na metáfase, todos os cromossomos são
mantidos em equilíbrio na região central do fuso, equidistante aos dois polos, cons-
tituindo a placa metafásica (Figura 2-9). O posicionamento central dos cromossomos na
metáfase pode ser devido ao efeito de tração dos microtúbulos para os polos, sendo que,
como cada cromátide está unida pelo cinetócoro a um microtúbulo e as duas cromátides
estão estavelmente unidas, as duas forças opostas se equilibram. Por outro lado, como a
extremidade “mais” de cada microtúbulo cinetocórico está localizada na região central
do fuso, a constante incorporação de tubulinas produziria um efeito que “empurraria”
32
os cromossomos para a região afastada do polo. Essa força se equilibraria com a força
Ciclo Celular 2
Anáfase
A anáfase é ativada pela degradação da ciclina e a consequente inativação do MPF.
Isso gera a divisão de cada cromossomo nas duas cromátides irmãs, cada uma com
um cinetócoro. Com isso, as cromátides se liberam das ligações que as prendiam à
placa metafásica, começando sua movimentação em direção aos polos, onde irão
formar os núcleos das duas novas células-filhas. Isso ocorre como consequência de
dois processos independentes, ambos mediados pelo fuso: o primeiro, chamado de
anáfase A, consiste no movimento propriamente dito das cromátides (que agora
se chamam cromossomos-filhos) em direção ao polo, acompanhado pelo encurtamento
dos microtúbulos cinetocóricos devido à despolimerização das suas unidades de tubulina,
especialmente na extremidade “mais” (Figura 2-11). O segundo processo, chamado de
anáfase B, consiste no aumento da polimerização de novas subunidades de tubulina
nas extremidades “mais” dos microtúbulos polares, isto é, nas regiões de sobreposição,
na região equatorial do fuso. Com isso o comprimento destes aumenta, aumentando a
distância entre os polos (Figura 2-12).
Telófase
Ao final da anáfase, os cromossomos-filhos foram separados em dois grupos iguais, um
em cada lado do fuso, havendo desaparecido os microtúbulos cinetocóricos. A telófase
consiste na remontagem do envelope nuclear ao redor de cada grupo de cromossomos,
formando dois núcleos-filhos (Figura 2-13).
A inativação do MPF que resultou na fosforilação de proteínas nucleares reverte-se
após a anáfase. Com isso, essas proteínas são desfosforiladas, criando-se as condições
necessárias para a reconstituição do envelope nuclear. Como as vesículas formadas
pela desagregação das membranas nucleares permaneceram associadas à lamina B, esta
34
proteína ajuda na reorganização do envoltório. Restabelecem-se, então, a lâmina nuclear
Ciclo Celular 2
e os complexos de poro, sendo por meio deles importadas para o núcleo as proteínas
nucleares que permaneceram dispersas pelo citoplasma. Depois da reconstrução do
núcleo, a histona H1 é também desfosforilada, descondensando-se os cromossomos. A
capacidade de transcrição é, então, restabelecida e o nucléolo é reorganizado.
Citocinese
O processo pelo qual o citoplasma se divide é chamado de citocinese. A clivagem que
resulta na separação total das duas células-filhas começa na anáfase e termina logo após
a telófase.
Normalmente, o fuso mitótico determina onde e quando a clivagem ocorre. Durante
a anáfase aparece um franzimento e um leve sulco na membrana plasmática, que ocorre 35
2 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
no plano da placa metafásica, em ângulo reto com o eixo longitudinal do fuso mitótico
(Figs. 2-14 e 2-15). A clivagem é alcançada pela contração de um fino anel composto
por uma rede de filamentos de actina sobrepostos e filamentos bipolares de miosina II.
Esse anel contrátil consiste em um feixe de aproximadamente 20 filamentos de actina
com orientação circunferencial, ligados à face citoplasmática da membrana plasmática.
Esses filamentos de actina e filamentos de miosina deslizam entre si como ocorre nas
células musculares, originando a força no anel contrátil (Figs. 2-16 e 2-17).
Apoptose
O processo normal pelo qual uma célula morre é denominado apoptose, no qual a célula
comete uma espécie de “suicídio”. Para que a célula entre em apoptose, é necessário
que algum sinalizador atue sobre ela. Este sinalizador pode ser um estímulo físico ou
36
químico, proveniente do meio extracelular ou mesmo da própria célula. Ao receber
Ciclo Celular 2
Figura 2-14 Célula entre o final da telófase e o início da citocinese. Um anel contrátil
de actina e miosina se organiza no equador da célula e inicia a separação das duas
células-filhas.
Características da apoptose
Ao sofrerem apoptose, as células se encolhem e o conteúdo de seu citoplasma se conden-
sa. Os elementos do esqueleto celular se colapsam e o envelope nuclear se fragmenta. É
comum, ao observarmos células em apoptose ao microscópio eletrônico de transmissão,
nos deparar com protuberâncias em sua membrana plasmática, como se houvesse
“brotos” em sua superfície. Também é característica de células em apoptose a presença
de compartimentos no citoplasma delimitados por membrana contendo fragmentos
celulares; estas estruturas são denominadas corpos apoptóticos. O núcleo da célula se
compacta, assim, como a cromatina que se apresenta arranjada em forma de “semilua”
à microscopia eletrônica de transmissão (Figura 2-19).
Existe uma maquinaria de enzimas que atuam dentro da célula durante a apoptose
denominadas caspases. Esta denominação é empregada devido ao fato de estas enzimas
possuírem um resíduo de cisteína em sua porção ativa e por clivarem regiões contendo
ácido aspártico em seus substratos. Atuam na apoptose dois grupos de caspases: as
caspases iniciadoras e as caspases executoras. Estas enzimas estão presentes em todas
as células, formando uma cadeia ou cascata de sinalização, que depende de um sinal
para que seja ativada. Nos casos em que o estímulo para a morte celular for proveniente
do meio extracelular, a via extrínseca da apoptose é ativada por moléculas pertencentes
à família dos fatores de necrose tumoral (TNF). Se o estímulo for proveniente do
interior da própria célula, como no caso de algum defeito irreversível no DNA, outra
via intrínseca de sinalização da apoptose é ativada por meio de uma proteína liberada
pelas mitocôndrias denominada citocromo c, a qual vai ativar a cascata de sinalização
da apoptose (Figura 2-20).
Uma vez ativadas, as caspases iniciadoras se clivam e ativam as caspases executoras
40
em um efeito dominó, promovendo a degradação de estruturas no interior da célula. As
Ciclo Celular 2
Figura 2-21 Célula da polpa dentária em apoptose com reação positiva para o método
TUNEL. (Cortesia do Dr. Paulo S. Cerri.)
Leitura adicional
Elledge SJ. Cell cycle envelope disassembly and lessons from fission yeast.
checkpoints: preventing reassembly during mitosis. Nature Rev Mol Cel Biol
an identity crisis. Science Nature Rev Mol Cel Biol 2010;11:149-55.
1996;274:1664-72. 2009;10:178-91.
Güttinger S, Laurell E, Kutay Pollard TD, Wu J.
U. Orchestrating nuclear Understanding cytokinesis:
42
Membranas 3
28
Biológicas
Sumário
Estrutura da Membrana 43
A Bicamada Lipídica 44
Proteínas da Membrana 48
A Superfície da Membrana 50
Funções das Membranas 51
Transporte Através da Membrana 52
Proteínas Carreadoras e Transporte Ativo Através da Membrana 53
Canais Iônicos da Membrana 59
Junções Intercelulares 61
Junções Oclusivas 61
Junções de Adesão 63
Junções Comunicantes 68
Reconhecimento Celular: Integrinas 70
A Lâmina Basal 74
 As membranas biológicas são indispensáveis para a vida das células eucariontes. Enquan-
to a membrana plasmática envolve a célula, definindo seus limites e estabelecendo a di-
ferença entre o citosol e o meio extracelular, as membranas internas compartimentalizam
a célula, a qual pode, assim, conter organelas diferentes, que podem desenvolver funções
também diferentes. As membranas atuam separando diversos ambientes dentro da célula,
por serem impermeáveis a macromoléculas e seletivamente permeáveis para íons.
Devido a sua fina espessura (7,5 nm), as membranas não são visíveis no microscópio
de luz, sendo evidenciadas no microscópio eletrônico de transmissão como uma estrutura
trilaminar, conhecida como unidade de membrana.
Estrutura da Membrana
As membranas biológicas são um filme muito fino de moléculas de lipídios, os quais
estão mantidos juntos devido a interações não covalentes. As moléculas que constituem 43
3 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
A Bicamada Lipídica
As moléculas dos lipídios em geral são insolúveis em água, dissolvendo-se apenas em
solventes orgânicos. As moléculas dos lipídios das membranas são anfipáticas, pois
têm uma extremidade hidrófila ou polar e uma extremidade hidrófoba ou não polar.
Os mais abundantes são os fosfolipídios que possuem uma cabeça polar e duas caudas
Figura 3-1 Modelo atual de membrana, que consiste em bicamada fosfolipídica com
44 proteínas periféricas e integrais.
Membranas Biológicas 3
hidrófobas de hidrocarbonetos. Estes são, geralmente, ácidos graxos, sendo uma das
caudas insaturada, por possuir uma ou mais duplas ligações cis, enquanto a outra é
saturada, por não contê-las. A cauda insaturada apresenta algumas dobras produzidas
pelas duplas ligações (Figura 3-3).
Devido à sua natureza anfipática, as moléculas de lipídios formam micelas esféricas
quando circundadas por água por todos os lados. Entretanto, nessa situação, os fosfoli-
pídios formam bicamadas: as caudas hidrófobas ficam ocultas no interior, enquanto as
cabeças hidrófilas são expostas à água.
Uma característica importante das bicamadas lipídicas é sua fluidez. As moléculas de
fosfolipídios podem rotar sobre seu próprio eixo, flexionar suas caudas e movimentar-se
lateralmente dentro da mesma camada. Desse modo, uma molécula de fosfolipídio pode
difundir-se através da sua camada e percorrer a circunferência da célula em tempos
variáveis. Entretanto, a troca de posição de uma molécula de fosfolipídio de uma camada 45
3 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
para outra (flip-flop) é também possível, mas não tão frequente, pois para isso é neces-
sária a ação de enzimas ligadas à membrana, chamadas por isso de translocadoras de
fosfolipídios. Porém o grau de fluidez de uma membrana depende da sua composição. A
bicamada lipídica das membranas celulares não está constituída apenas por fosfolipídios,
mas contém também colesterol e glicolipídios.
A composição estrutural das membranas celulares é assimétrica. Isto é, as duas camadas
possuem fosfolipídios, colesterol ou glicolipídios em posições e proporções diferentes.
Como todas as membranas celulares, inclusive a plasmática, são sintetizadas no retículo
endoplasmático rugoso, é nessa organela que as enzimas translocadoras de fosfolipídios
passam moléculas específicas de fosfolipídios de uma camada para outra.
A membrana plasmática das células eucariontes possui quatro tipos abundantes de
fosfolipídios: fosfatidilcolina, esfingomielina, fosfatidilserina e fosfatidiletanola-
mina. Como apenas a fosfatidilserina tem carga negativa, os demais fosfolipídios da
46
membrana são eletricamente neutros em pH fisiológico. Outros fosfolipídios, como o
Membranas Biológicas 3
fosfatidilinositol, importante na sinalização celular, também estão presentes, embora
em pequenas quantidades e dependendo do tipo de membrana e de célula.
A membrana possui colesterol em quantidades relativamente grandes, chegando a
conter até uma molécula de colesterol para cada molécula de fosfolipídio. A presença
de colesterol na membrana aumenta sua propriedade de barreira de permeabilidade.
Cada molécula de colesterol se dispõe na bicamada lipídica com seus grupos hidroxila
próximos dos grupos da cabeça polar dos fosfolipídios. Ao mesmo tempo, seus rígidos
anéis planos de esteroide interagem com as cadeias de hidrocarbonetos mais próximas
da cabeça polar dos fosfolipídios. Essa interação imobiliza parcialmente essa porção
das caudas dos fosfolipídios, tornando-se a região da membrana mais rígida e, portanto,
diminuindo a fluidez. Podem ser formadas ilhotas de esfingolipídios e colesterol no
folheto externo da bicamada da membrana plasmática das células. Essas estruturas são
chamadas de jangadas lipídicas ou rafts e apresentam cerca de 50 nm de diâmetro
(Figura 3-4). A essas jangadas lipídicas estão ancoradas proteínas transmembrana de
forma organizada e concentrada. As regiões da membrana plasmática ricas em colesterol
também dão origem a cavéolas, estruturas associadas ao processo de endocitose.
Algumas moléculas de lipídios presentes na membrana contêm açúcares, sendo,
portanto, glicolipídios. Estas moléculas estão localizadas na camada voltada para o meio
extracelular, ficando expostos seus grupos glicídicos para fora da célula (Figura 3-5).
Proteínas da Membrana
Apesar de a estrutura básica das membranas ser fornecida pela bicamada lipídica, a
maioria das suas funções específicas é desempenhada por proteínas. Por esse motivo,
a quantidade e o tipo de proteínas presentes em uma dada membrana são muito variáveis.
Nas membranas comuns, as proteínas representam 50% dos seus componentes, enquanto
na membrana de mielina, que atua como isolante elétrico para os axônios, estas
representam apenas 25%; já nas membranas internas das mitocôndrias, onde as proteínas
estão envolvidas na transdução de energia, alcançam 75%. Contudo, essas porcentagens
referem-se à massa ocupada na membrana, e não à quantidade de moléculas, pois uma
48
molécula proteica é quase 50 vezes maior do que uma molécula de fosfolipídio.
Membranas Biológicas 3
As proteínas associam-se às membranas de diferentes maneiras: as proteínas trans-
membrana estendem-se através da bicamada lipídica, deixando parte da sua molécula
em ambos os lados. Essas proteínas são anfipáticas, isto é, possuem regiões hidrófobas,
que ficam no interior da membrana e interagem com as caudas também hidrófobas dos
fosfolipídios, e regiões hidrófilas, que se expõem à água dos meios intra e extracelulares.
Em alguns casos, ainda, essas moléculas proteicas se ligam covalentemente com uma
molécula de acido graxo, a qual se insere na camada interna da membrana plasmática.
Estas proteínas transmembrana que possuem uma parte dentro da bicamada lipídica
chamam-se proteínas integrais da membrana. As proteínas integrais podem atravessar
a membrana uma única vez, sendo chamadas de proteínas transmembrana unipasso,
ou ser muito longas e dobradas, atravessando a bicamada lipídica por várias vezes, sendo
denominadas proteínas transmembrana multipasso (Figura 3-6). São exemplos de
proteínas transmembrana duas proteínas presentes nos eritrócitos: a proteína banda 3
(multipasso) e a glicoforina (unipasso), bem como as porinas (multipasso), presentes
na membrana externa das mitocôndrias.
Outras proteínas da membrana localizam-se inteiramente no citosol, estando as-
sociadas à bicamada lipídica apenas por uma ou mais cadeias de ácidos graxos ligados
covalentemente ou por outros tipos de cadeias lipídicas chamadas de grupos prenila.
Ainda, outras proteínas ficam do lado externo da membrana, ligadas a esta por uma li-
gação covalente, por meio de um oligossacarídeo específico, ao fosfatidilinositol da
camada externa da membrana. Nesse caso, esse complexo que liga a proteína localizada
no meio extracelular à membrana chama-se âncora de glicosilfosfatidilinositol (GPI).
Outras proteínas ficam no lado externo ou interno da célula, ligadas por interações
não covalentes com proteínas transmembrana. Todas as proteínas deste grupo se
denominam proteínas periféricas da membrana. Pertence a este grupo a espectrina,
uma proteína periférica do lado citoplasmático característica da membrana dos eri-
trócitos.
A fluidez das membranas não está relacionada apenas com a movimentação e a difusão
das moléculas de fosfolipídios, mas também com as proteínas. Entretanto formam-se,
às vezes, domínios de membrana, ou seja, regiões da membrana em que diversos
componentes acumulam-se, diferentemente da sua concentração em outras regiões da
mesma membrana. Isto é característico nas células epiteliais prismáticas ou cilíndricas,
em que as junções oclusivas delimitam um domínio distal (ou apical) de membrana,
diferente do domínio basolateral (Figura 3-7).
A Superfície da Membrana
Em geral, as proteínas da membrana plasmática não fazem protrusão para o meio
extracelular. Elas são revestidas por carboidratos, os quais são tanto cadeias de oligos-
sacarídeos ligados covalentemente a proteínas da membrana, como proteoglicanos,
cujo eixo proteico insere-se na membrana (por essa razão eles são chamados de
proteoglicanos integrais de membrana) ou, então, liga-se à bicamada lipídica por uma
Figura 3-8 A. Glicocálice na porção apical das células do epitélio do intestino delgado.
B. Se observam os microvilos na mesma região das células epiteliais e o glicocálice.
Microscopia eletrônica de transmissão.
Funções da Membrana
Devido à sua natureza lipídica, a qual determina uma região interna hidrófoba, a principal
função da membrana plasmática é desempenhar uma barreira entre a célula e o meio 51
3 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
favor do seu gradiente eletroquímico é utilizada como fonte de energia para bombear
outros solutos contra seus gradientes eletroquímicos. Em outras palavras, estas proteínas
funcionam como transportadores acoplados, seja como simportadores ou como anti-
portadores. Por exemplo, embora seja transportado ativamente da célula para o exterior
pela bomba Na+-K+ ATPase, o Na+ difunde-se passivamente a favor de gradiente para
dentro da célula.
Os canais iônicos formados pelas proteínas-canal diferem das porinas que estão
presentes nas membranas externas das mitocôndrias, nas quais os poros são grandes
e altamente permeáveis, razão pela qual não poderiam estar na membrana plasmática,
na interface com o meio extracelular. Contrariamente, os canais iônicos são seletivos e
oscilam entre os estados aberto e fechado.
Devido à sua seletividade iônica, os canais permitem a passagem de apenas alguns
íons inorgânicos, chamados por isso de íons permeantes. Como os poros dos canais
são muito estreitos, os íons são forçados a passar em íntimo contato com as paredes do
canal, determinando que possam passar apenas íons com tamanho e carga adequados.
Assim, os íons permeantes devem perder a maior parte das moléculas de água a eles
associadas para poder passar, em fila única, através do canal.
Os canais iônicos não estão permanentemente abertos, mas possuem uma espécie de
“portão” que se abre em resposta a um estímulo específico, mas se fecha imediatamente.
Esses estímulos podem ser uma mudança na voltagem através da membrana (canais com
portões controlados por voltagem), uma tensão mecânica (canais com portões con-
trolados mecanicamente) ou a ligação de um ligante intra ou extracelular (canais com
portões controlados por ligante). Os ligantes que controlam a abertura dos portões
podem ser íons, neurotransmissores ou nucleotídeos.
Canais vazantes de K+
Os canais iônicos mais comuns são aqueles permeáveis ao K+ e estão presentes na mem-
brana plasmática de quase todas as células animais. Estes canais desempenham papel
importante na manutenção do potencial de membrana da célula.
Um potencial de membrana origina-se quando existe uma diferença de carga elétrica
nos dois lados da membrana, devido a um pequeno excesso de íons positivos em relação
aos negativos em um lado e a um pequeno déficit no outro lado. Essas diferenças resultam
no bombeamento ativo ou na difusão iônica passiva. Embora em algumas membranas,
como na interna da mitocôndria, a maior parte do potencial de membrana seja gerada
por bombas de H+, na maioria delas é o movimento passivo de íons que contribui com
o potencial de membrana.
Como a bomba Na+-K+ ATPase ajuda a manter baixa a concentração de íons Na+ no
citosol, deve existir quantidade suficiente de outros cátions para equilibrar a carga trans-
portada pelos ânions fixos da célula (as moléculas orgânicas celulares negativamente
carregadas). Esse equilíbrio de cargas é realizado, em grande parte, pelo K+, que é ativa-
mente bombeado pela Na+-K+ ATPase, mas também porque este íon transita para dentro e
para fora da célula através dos canais vazantes de K+ existentes na membrana plasmática.
O excesso de cargas negativas existente no citosol atrai o K+ para dentro, enquanto este
tende a escapar para fora de acordo com seu gradiente de concentração. Desse modo, o
potencial de membrana fica estabelecido. A condição de equilíbrio, na qual não existe
fluxo de íons através da membrana, constitui o potencial de membrana de repouso.
A diferença de potencial de membrana de células animais em repouso varia entre –20 e
–200 mv, dependendo do organismo e do tipo celular. Outros íons além do K+ também
têm influência nesse potencial; quanto mais permeável a membrana a um dado íon,
60
mais fortemente o potencial de membrana tenderá a ser levado em direção ao valor de
Membranas Biológicas 3
equilíbrio para esse íon. Isso quer dizer que qualquer mudança na permeabilidade da
membrana a íons causa uma mudança no potencial de membrana.
Junções Intercelulares
As junções intercelulares estabelecem estreitas relações entre pontos específicos das
membranas plasmáticas de células adjacentes. Do ponto de vista funcional, as junções
podem ser divididas em três grupos: oclusivas, de adesão e comunicantes. As junções
intercelulares estão presentes entre as células da maioria dos tecidos. É importante salien-
tar que os tecidos com escassa matriz extracelular, como o tecido epitelial, apresentam
junções intercelulares mais desenvolvidas (Figura 3-17).
Junções Oclusivas
As junções oclusivas, ou tight, apresentam como principal função separar compartimen-
tos e estabelecer barreiras celulares impermeáveis. Nas regiões onde estas junções são
estabelecidas, um complexo de proteínas estabelece uma região de selamento entre as
membranas adjacentes.
As junções tight formam fileiras que impedem o transporte paracelular, realizando,
assim, a compartimentalização entre dois espaços separados pela camada de células
(Figura 3-18). Essas fileiras localizam-se, geralmente, no polo apical das células
dos epitélios de revestimento, fazendo parte dos chamados complexos juncionais, e
podem circundar completamente as células, estabelecendo uma espécie de cinturão,
ou estar restritas a regiões focais. Assim, as junções oclusivas podem ser zonulares,
no primeiro caso, ou maculares ou focais, no segundo. O número de fileiras também
pode variar, ocorrendo desde uma ou duas até 10-12. A localização e a extensão das
junções tight podem ser vistas em réplicas de criofratura. A variabilidade no número de
fileiras resulta em uma variável impermeabilidade dessas camadas celulares. Enquanto
os epitélios que revestem o tubo digestório ou as vias respiratórias possuem cerca de
oito fileiras, o epitélio de bexiga apresenta ao redor de 15, sendo o mais impermeável
do organismo.
Entretanto as junções oclusivas podem ser encontradas também entre células não
epiteliais, porém constituídas por menor número de fileiras e, geralmente, do tipo
macular, em vez do zonular.
Embora as junções tight apareçam nas micrografias eletrônicas de transmissão co-
mo regiões de fusão dos folhetos externos das membranas de células adjacentes, são
proteínas transmembrana do tipo multipasso as responsáveis pela junção. Duas delas
têm sido até hoje identificadas, as claudinas e as ocludinas, ambas de quatro passos
(Figura 3-19). Todavia outras proteínas citoplasmáticas periféricas fazem parte deste
complexo oclusivo: as proteínas ZO-1, ZO-2 e ZO-3, bem como a cingulina, a Rab3B,
a simplequina e a AF-6. Todas elas estão ligadas, sendo que a ZO-1 também estabelece
Figura 3-18 As junções oclusivas têm como função principal segregar espaços
62 através das células unidas entre si.
Membranas Biológicas 3
ligação com filamentos de actina (Figura 3-20). Assim, a função das junções tight não
está restrita à compartimentalização, mas também participa da polarização das células.
Além disso, o estabelecimento destas junções separa regiões (domínios) de membrana,
impedindo a livre difusão entre os componentes lipídicos e proteicos das membranas
plasmáticas (por exemplo, apical e basolateral), o qual tem também, de certa maneira,
relação com polaridade celular.
Junções de Adesão
Este tipo juncional é o responsável pela manutencão da adesão entre as células, sendo
também muito desenvolvido nos epitélios. Para isto estas junções conectam o citoes-
queleto de duas células adjacentes ou de uma célula com a matriz extracelular. Devido
a esta função, as junções de adesão são também mais desenvolvidas nos epitélios.
No primeiro grupo existem dois tipos de junções de adesão, as junções aderentes e os
desmossomos. No segundo grupo encontram-se os hemidesmossomos.
As junções aderentes estão presentes tanto entre células não epiteliais, nas quais são
em geral focais, como entre células epiteliais, nas quais são zonulares (Figura 3-21).
Nestas junções os filamentos de actina do citoesqueleto das células ligam-se, por meio
de proteínas de ancoragem, com proteínas transmembrana chamadas caderinas,
principalmente a E-caderina. No espaço intercelular, dímeros de caderinas ligam as
anteriores, estabelecendo, dessa meneira a adesão entre as duas células. Pertencem ao
grupo de proteínas de ancoragem que ligam os filamentos de actina às caderinas trans-
membrana: a-catenina, b-catenina, g-catenina (placoglobina), a-actinina e vinculina
63
(Figura 3-22).
3 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 3-21 As
junções aderentes,
além de mediarem
a interação entre
células vizinhas,
estão também
ligadas a uma faixa
de filamentos de
actina que circunda
cada célula.
Figura 3-22 As junções aderentes são formadas por ligações entre as caderinas de
células vizinhas. No citoplasma, a porção intracelular da caderina se liga a um filamento
de actina por meio das -cateninas e p120. 65
3 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Junções Comunicantes
Este tipo juncional está presente entre as células de quase todos os tecidos. São re-
giões pequenas onde as membranas plasmáticas adjacentes ficam a 2 nm de distância,
formando-se canais de até 1,5 nm de diâmetro que permitem a passagem de pequenas
moléculas e íons. Esses canais denominam-se conéxons e são formados por proteínas
chamadas conexinas (Figuras 3-26 e 3-27).
As conexinas são proteínas transmembrana de quatro passos, seis das quais formam
um conéxon, que pode alinhar-se com o conéxon de uma célula vizinha para formar
o canal, sendo que a permeabilidade deste depende do tipo de conexina pela qual está
formado (Figuras 3-28 e 3-29). No humano existem cerca de 14 conexinas identificadas,
cada uma delas codificada por um gene diferente. A conexina-43 é a mais frequente
entre as várias células, embora outras conexinas às vezes sejam características de alguns
tipos celulares específicos, como, por exemplo, as conexinas 32 e 26 nas glândulas
salivares.
As junções comunicantes, ou gap, são muito importantes nos processos morfogenéti-
cos, permitindo o coordenado desenvolvimento tecidual do embrião. Nos organismos adul-
68
tos desempenham importante papel, permitindo a passagem de moléculas informacionais
Membranas Biológicas 3
Figura 3-28 Organização das conexinas formando os conéxons, que, por sua vez,
formam os canais intercelulares nas junções comunicantes.
Figura 3-29 Disposição dos conéxons nas membranas de duas células vizinhas,
formando canais.
matriz extracelular ou partículas na superfície de outras células podem enviar sinais que
regulam a atvividade da célula. As integrinas são diferentes dos receptores de membrana
para hormônios e outras moléculas sinalizadoras solúveis, porque se ligam aos ligantes
com afinidade relativamente baixa, necessária para que a ligação da célula com a matriz
71
não se torne permanente.
3 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
que outros fatores, específicos para cada tipo celular, modulem a capacidade de ligação
das integrinas.
A interação das integrinas com os ligantes depende de cátions bivalentes (Ca+2 ou
Mg+2, dependendo da integrina) presentes no meio extracelular. Para isso sua cadeia
a possui, na sua porção extracelular, três ou quatro domínios de ligação para cátions
bivalentes. O tipo de cátion pode influenciar a afinidade e a especificidade da ligação
da integrina com o ligante.
Uma proteína da matriz pode ser reconhecida por várias integrinas. Existem vários
tipos de subunidades b (ao redor de nove) e também vários tipos de subunidades
a (cerca de 24), determinando uma extensa variedade de integrinas, dependendo das
múltiplas combinações destes. Além disso, existem isoformas de integrinas devido ao
splicing alternativo de alguns RNAs.
As cadeias b1 formam dímeros com pelo menos nove cadeias a diferentes, os quais
são encontrados em quase todas as células de vertebrados. Em contraste, cadeias b2, 73
3 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
que formam dímeros com três tipos de cadeias a, estão presentes apenas na superfície
de leucócitos e têm papel importante na capacitação dessas células no combate a in-
fecções (algumas delas têm denominação específica: LFA-1, Mac-1, por exemplo). As
integrinas com cadeias b2 medeiam interações célula-célula, como, por exemplo, as que
se estabelecem entre os leucócitos e as células endoteliais e que resultam na passagem
destes através da parede dos vasos sanguíneos.
A comunicação via integrinas entre as células e a matriz extracelular determina que as
interações operem nas duas direções. Assim, os filamentos de actina intracelulares podem
influenciar a orientação das moléculas da matriz, por exemplo, da fibronectina. Por sua
vez, as macromoléculas da matriz organizam o citoesqueleto das células com as quais in-
teragem. Isso significa que a matriz pode, a princípio, propagar a ordem célula-célula.
As células podem regular a atividade das suas integrinas, ativando-as temporariamente
ou desativando-as. Diversas vias de sinalização intracelular podem alterar a conformação
da integrina, de modo que sua porção extracelular seja capaz de ligar-se a alguma ma-
cromolécula da matriz. Em outros casos, eventos intracelulares podem fosforilar resíduos
de serina na cauda citoplasmática da cadeia b, prejudicando a capacidade da integrina de
se ligar a algum componente da matriz ou, às vezes, à talina, prejudicando-se a interação
com o citoesqueleto.
As macromoléculas da matriz extracelular podem influenciar a forma, a polaridade,
a movimentação, o desenvolvimento etc. das células. Muitos destes efeitos, os quais
envolvem alterações na expressão gênica, são mediados por integrinas. Desse modo, as
integrinas podem ativar cascatas sinalizadoras intracelulares.
A lâmina basal
A lâmina basal ou membrana basal é um tipo de matriz extracelular encontrada adja-
cente à membrana plasmática de células epiteliais, endoteliais, musculares, adiposas e
também das células de Schwann, formadoras da bainha de mielina ao redor de axônios.
Consiste em um folheto fino e flexível de moléculas interligadas que se interpõe entre
as células mencionadas e o tecido conjuntivo (Figura 3-32).
Entre as funções da lâmina basal, ela determina a polaridade de células a ela adjacentes,
interfere no metabolismo celular e organiza as proteínas presentes na membrana da célula
adjacente, regula a viabilidade, a proliferação e a diferenciação celular. Além disso, possui
um importante papel na resistência mecânica de epitélios, como no caso da epiderme da
pele, por exemplo. A ancoragem de integrinas da membrana plasmática da célula epitelial
à lâmina basal é fundamental para que a epiderme não se desprenda da derme, que é o
tecido conjuntivo subjacente (Figura 3-33).
A matriz da lâmina basal é formada pelas células dos dois tecidos a ela vizinhos. É
composta por moléculas de dois grupos fundamentais, as proteínas fibrilares e os proteo-
glicanos. Os tipos de moléculas que compõem a membrana basal variam de acordo com o
tecido. São componentes típicos de lâminas basais o colágeno do tipo IV, a glicoproteína
laminina, o nidogênio e o proteoglicano perlecan.
O colágeno tipo IV tem suas moléculas formadas por uma tripla hélice interrompida
em 26 regiões, o que permite varias curvaturas. Como os colágenos associados às fibrilas
74
(Capítulo 9), as moléculas de colágeno tipo IV não têm seus pró-peptídios clivados após
Membranas Biológicas 3
Figura 3-32 Lâmina basal subjacente a uma célula do epitélio oral, com a presença de
hemidesmossomos. Microscopia eletrônica de transmissão.
a secreção, o que impede seu empacotamento em fibrilas. Desse modo, elas interagem
umas com as outras por intermédio desses domínios terminais não clivados para formar
extracelularmente uma rede flexível, em folhas dispostas em várias camadas, por meio
de pontes de dissulfeto e outras ligações covalentes. A malha formada pelas moléculas de
colágeno tipo IV forma uma estrutura insolúvel à qual se ligam os outros componentes
da lâmina basal de maneira específica.
Entretanto, apesar de essa malha de colágeno IV servir de arcabouço para a lâmina
basal como um todo, é a laminina uma das primeiras proteínas destes locais a serem
sintetizadas no embrião. A molécula de laminina é um complexo grande e flexível
formado por três cadeias muito longas de peptídios, organizadas em forma de uma cruz
assimétrica, mantida por pontes de dissulfeto.
A laminina possui vários domínios funcionais para se ligar às moléculas de colágeno
tipo IV, ao nidogênio, ao perlecan e aos receptores para laminina das superfícies celula-
res. O nidogênio é uma molécula curta que se liga, de um lado, à laminina e, do outro,
75
ao colágeno IV (Figura 3-34).
3 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 3-34 Estrutura da lâmina basal e sua interação com as integrinas na membrana
76 plasmática.
Membranas Biológicas 3
Leitura adicional
Barczyc M, Carracedo S, Durbeej M. Laminins. Cell McMillan JR, Akiyama M,
Gullberg D. Integrins. Cell Tissue Res 2010;339: Shimizu H. Epidermal
Tissue Res 2010;339:269-80. 259-68. basement membrane zone
Bryant DM, Mostov KE. From Harris TJ, Tepass CU. components: ultrastructural
cells to organs: building Adherens junctions: from distribution and molecular
polarized tissue. Nature Rev molecules to morphogenesis. interactions. J Dermat Sci
Mol Cel Biol 2008;9:887- Nature Rev Mol Cel Biol 2003;31:169-77.
901. 2010;11:502-14. Paris L, Tonutti L, Vannini
Caswell PT, Vadrevu S, Maeda S, Tsukihara T. C, Bazzoni G. Structural
Norman JC. Integrins. Structure of the gap organization of the tight
masters and slaves of junction channel and its junctions. Biochim Biophys
endocytic transport. implications for its biological Acta 2008;1778:646-59.
Nature Rev Mol Cel Biol functions. Cell Mol Life Sci
2009;10:843-53. 2011;68:1115-29.
77
4 Compartimentos
intracelulares
e endereçamento
de proteínas
Sumário
Organelas Associadas a Membranas 78
Endereçamento de Proteínas 80
Peptídios e Regiões-sinal 82
Transporte de Moléculas para Dentro e Fora do Núcleo 82
O Retículo Endoplasmático 82
Síntese Proteica 83
Polirribossomos 90
Glicosilação no RER 91
O Complexo de Golgi 92
Direcionamento de Proteínas para a Exocitose 97
Como visto no Capítulo 3, a membrana plasmática envolve a célula, separando-a do
meio extracelular, enquanto as membranas internas compartimentalizam seu interior,
delimitando o núcleo e, no citoplasma, as organelas, que podem, dessa maneira, de-
senvolver funções diferentes.
Cada operação executada no interior da célula, seja esta de síntese, modificação, degra-
dação ou produção de energia, ocorre no interior dessas organelas especializadas. A síntese
de proteínas, por exemplo, é executada no retículo endoplasmático rugoso; a produção
de energia necessária para a realizacão de outras atividades pela célula ocorre no interior
das mitocôndrias. Dependendo da localização e da função dos diversos tipos de célula no
organismo, a quantidade e o tamanho de cada organela podem variar (Figura 4-1).
Endereçamento de proteínas
Após a transcrição do DNA no interior do núcleo (Capítulo 1), a síntese proteica começa
nos ribossomos do citosol. Algumas das proteínas permanecerão no citosol, enquanto
outras serão destinadas a locais fora deste, seja no núcleo ou no próprio citoplasma
(retículo endoplasmático, mitocôndrias, peroxissomos). As proteínas que são destinadas
80 a outros locais possuem uma sequência específica de aminoácidos, a qual constitui
Compartimentos intracelulares e endereçamento de proteínas 4
Peptídios e regiões-sinal
A molécula de uma proteína que vai ser transportada precisa ter uma ou mais regiões
específicas chamadas de sinal, as quais poderão ser reconhecidas pelo transportador e/
ou pela membrana da organela receptora.
O peptídio-sinal é constituído por uma sequência de aminoácidos, geralmente conten-
do entre 15 e 60 resíduos. As proteínas que são transportadas para o RE, mitocôndrias,
peroxissomos e núcleo possuem um peptídio-sinal, o qual é geralmente removido da
proteína madura por uma sinal-peptidase quando o processo de localização e reco-
nhecimento está terminado.
As regiões-sinal são arranjos tridimensionais de átomos na superfície da proteína,
as quais se formam quando esta se dobra. Os resíduos de aminoácidos que constituem
estas regiões estão distantes um do outro na sequência linear de aminoácidos. Este tipo
de sinal é característico de enzimas, as quais são marcadas com açúcares para serem,
então, transportadas do complexo de Golgi para os lisossomos.
O retículo endoplasmático
Uma vez exportado do interior do núcleo para o citosol, a tradução do mRNA se inicia
no citosol. As proteínas sintetizadas por esse processo nos ribossomos começam a ser
importadas para o RER por transportadores em sua membrana no momento da síntese. Estas
podem ser proteínas transmembrana, que permanecerão embebidas na membrana do
RER, ou proteínas solúveis em água, que passam até o lúmen do RER. Na verdade, essa
importação ocorre ao mesmo tempo em que a cadeia polipeptídica é sintetizada, ou seja,
ocorre cotraducionalmente. Desse modo, uma das extremidades da proteína é transportada
para o RER enquanto o restante da cadeia está sendo sintetizado (Figura 4-4). A proteína
recém-sintetizada nunca é, portanto, liberada diretamente para o citosol; primeiramente ela
é transportada através da proteína transportadora da membrana do RER (Figura 4-5).
A proteína em formação apresenta um peptídio-sinal aminoterminal que a direciona
para a membrana do RER, quando associado a uma partícula de reconhecimento de
sinal (SRP), a qual se liga ao peptídio-sinal e posteriormente se ligará também a um
receptor SRP ou proteína doca, que é uma proteína integral da membrana do RER ex-
posta na sua superfície citosólica. A SRP liga-se ao peptídio-sinal assim que este emerge
do ribossomo, com o qual a síntese proteica sofre uma pausa, enquanto o ribossomo
se liga à membrana do RER, evitando, assim, que a proteína destinada à cisterna do
RER possa cair no citoplasma. Uma vez formado, o complexo SRP-ribossomo liga-se
ao receptor SRP da membrana do RER, ao mesmo tempo em que o ribossomo liga-se a
82
um receptor especifico, também presente na membrana do RER, pela sua subunidade
Compartimentos intracelulares e endereçamento de proteínas 4
Síntese proteica
A síntese proteica como um todo começa no núcleo, com a transcrição do DNA, processo
que resulta na síntese do RNA. Geram-se, assim, o mRNA (que leva a informação para
a síntese proteica), o RNA transportador (tRNA) e o RNA ribossomal (rRNA), todos
com funções estruturais e catalíticas. A transcrição do DNA é realizada pela ação de uma 83
4 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
enzima, a RNA-polimerase, que sintetiza uma cópia de RNA a partir de parte da molécula
de DNA. O processo de transcrição do DNA em mRNA foi descrito no Capítulo 1.
Antes de essa molécula de RNA deixar o núcleo, um processo enzimático de pro-
cessamento de RNA remove todas as sequências de íntrons, deixando a molécula mais
curta, constituída apenas pelos éxons, a qual se dirige para o citoplasma. Frequentemente
uma célula pode processar um transcrito primário de diferentes maneiras, produzindo
diferentes cadeias polipeptídicas a partir de um mesmo gene. Este processo, que é
limitado a apenas alguns tipos de proteínas, chama-se de splicing alternativo.
Uma vez no citoplasma, a molécula de mRNA pode executar a tradução da in-
formação que contém em uma cadeia polipeptídica (proteína). Nessa cadeia, a cada
três nucleotídeos constitui-se um códon. A partir de cada códon será especificamente
traduzido um aminoácido (Figura 4-6).
Cada códon não reconhece diretamente o aminoácido correspondente, sendo neces-
sárias moléculas adaptadoras que reconheçam tanto o códon como o aminoácido a ele
correspondente. Esses adaptadores são as moléculas de tRNA, constituídas por cerca de
80 nucleotídeos de extensão. Os nucleotídeos estão dispostos na molécula de tRNA
de maneira tal que, em determinados trechos, alguns deles poderiam estabelecer interações
não covalentes com outros nucleotídeos da própria cadeia, formando pareamento de bases
84
como aquelas das duas fitas da hélice do DNA, fazendo que a molécula de tRNA se dobre.
Compartimentos intracelulares e endereçamento de proteínas 4
Isso ocorre em quatro regiões, onde se estabelece esse pareamento de bases. O dobramento
determina que a molécula adote uma forma de trevo com a forma tridimensional de um
“L”. Nas duas extremidades desse “L”, curtas sequências de três nucleotídeos não se
paream com outros nucleotídeos da molécula, podendo interagir com outros elementos.
Desse modo, uma dessas extremidades forma o anticódon, que pareia com algum códon
de mRNA, enquanto a sequência CCA na extremidade 3’ da molécula de tRNA liga-se
covalentemente ao aminoácido correspondente. Assim, são os tRNAs que permitem o
alinhamento dos aminoácidos de acordo com a sequência de nucleotídeos do mRNA,
processo denominado tradução, ou seja, uma sequência de nucleotídeos do mRNA é
traduzida em uma sequência de aminoácidos pelo tRNA (Figura 4-7).
Cada tRNA é sintetizado para carregar apenas um dos 20 aminoácidos utilizados na
síntese proteica. Entretanto cada um dos 20 aminoácidos pode ter um ou mais tRNA a
ele designado. Antes que um aminoácido seja incorporado a uma cadeia peptídica, ele
é ligado covalentemente pelo seu terminal carboxila à extremidade 3’ da molécula de
tRNA que contém o anticódon correto. Como resultado desta ligação, o aminoácido
é ativado, gerando-se uma ligação de alta energia na sua extremidade carboxila, de
forma que possa depois interagir com a extremidade amina do próximo aminoácido, na
sequência da proteína, para formar a ligação peptídica.
Como mencionado, uma molécula de tRNA se liga covalentemente a apenas um
aminoácido, que é seu par específico. Esse mecanismo depende de enzimas denomi-
nadas aminoacil-tRNA-sintetases, que acoplam cada aminoácido ao seu conjunto
apropriado de moléculas de tRNA, de acordo com o código genético universal.
Existe uma aminoacil-tRNA-sintetase distinta para cada aminoácido. Por essa razão,
as enzimas aminoacil-tRNA-sintetases são também consideradas, além das moléculas
85
de tRNA, adaptadores indispensáveis no processo de tradução das proteínas.
4 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Polirribossomos
A síntese das diversas proteínas que compõem e atuam no organismo ocorre muito rápido
e continuamente. A duração do processo de síntese destas moléculas pode durar desde
poucos segundos até diversos minutos e, geralmente, é necessária a síntese um grande
número de moléculas da mesma proteína ao mesmo tempo. Para otimização e maior
90
rendimento do processo, a mesma cadeia de mRNA é traduzida simultaneamente em
Compartimentos intracelulares e endereçamento de proteínas 4
Figura 4-11 À medida que são sintetizadas, as chaperonas são ligadas à extremidade
NH2 da cadeia polipeptídica no lúmen do RER.
Glicosilação no RER
Diferentemente das proteínas citosólicas, a maioria das proteínas presentes no RER,
sejam residentes ou em trânsito, é glicosilada, sendo, portanto, glicoproteínas.
Existe um oligossacarídeo pré-formado que é transferido em bloco para proteínas do
RER. Este é composto de N-acetilglicosamina, manose, glicose e mais 14 resíduos de açúcar.
Este oligossacarídeo é transferido para um grupo NH2 da cadeia lateral da aspargina, sendo,
por isso, chamado N-ligado ou aspargina-ligado. Essa transferência é catalisada por uma
enzima ligada à membrana do RER, uma oligossacaril-transferase que tem seu sítio ativo
voltado para o lúmen. O oligossacarídeo precursor fica preso à membrana do RER por uma
molécula especial de lipídio, chamada de dolicol, por meio de uma ligação pirofosfato de
alta energia. Graças a isso é transferido para a aspargina-alvo em um único passo enzimático,
imediatamente depois que o aminoácido aparece no lúmen do RER, ou seja, durante a síntese 91
4 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
proteica. Enquanto ainda presentes no RER, as glicoproteínas que serão transferidas para o
Golgi sofrem a remoção de três resíduos de glicose e um de manose.
Os oligossacarídeos N-ligados são os mais comumente encontrados nas glicoproteínas,
mas existem também oligossacarídeos ligados ao grupo hidroxila na cadeia lateral de uma
serina, treonina ou hidroxilisina, chamados por isso de oligossacarídeos O-ligados.
O complexo de Golgi
Como grande parte das proteínas que passam para o RER é destinada a locais fora da célu-
la, a via biossintética-secretora inclui a passagem pelo complexo de Golgi, uma estrutura
de sáculos e vesículas também membranosos onde as moléculas proteicas são modificadas
em uma série de etapas controladas, armazenadas até o momento oportuno, quando serão
entregues para um domínio específico da membrana plasmática e enviadas para o meio
extracelular por meio de um processo denominado exocitose (Figura 4-16).
Entretanto, macromoléculas são também incorporadas pelas células mediante o proces-
so de endocitose e, por vezes, entregues a enzimas digestivas, as quais são estocadas
92
nos lisossomos, organelas derivadas do complexo de Golgi.
Compartimentos intracelulares e endereçamento de proteínas 4
Figura 4-13 Quando a ação das chaperonas Hsp70 e Hsp60 não é capaz de realizar
o correto dobramento da proteína, moléculas de ubiquitina se ligam à proteína formando
a cadeia de poliubiquitina. Este complexo é direcionado a um proteossomo, onde é
degradado.
Vesículas destinadas ao Golgi brotam do RER a partir de uma região deste denominada
elementos de transição, cuja membrana não apresenta ribossomos ligados. Acredita-se
que o conteúdo dessas vesículas não tenha sido selecionado. As vesículas transportadoras
levariam qualquer proteína sintetizada no RER, desde que esta estivesse corretamente
montada e dobrada. As proteínas incorretamente dobradas e montadas ficariam no RER,
ligadas a binding proteins (BiP), em agregados que não podem ser empacotados, ou sim-
plesmente seriam degradadas no lúmen do RER. Ou seja, para que proteínas saiam do RER
com destino ao Golgi elas não precisam de sinal; porém as proteínas destinadas a ficarem no
RER, como é o caso da BiP, devem estar ligadas a um sinal específico (sinal de retenção
no RER). O sinal de retenção não funciona apenas por ancoramento da proteína no RER,
mas também recupera as proteínas que tenham saído em vesículas e chegado na face cis do
Golgi. Na face cis, uma proteína receptora ligada à membrana liga-se ao sinal de retenção e
empacota as proteínas que possuam este sinal em vesículas de transporte que retornam ao
RER. Isso mostra que o transporte entre o RER e o Golgi ocorre em ambas as direções.
Existem drogas, como a brefeldina A, que desorganizam o Golgi. Quando isto ocorre,
94
todas as proteínas ali contidas voltam ao RER, onde se misturam com as proteínas ali
Compartimentos intracelulares e endereçamento de proteínas 4
existentes. Como o efeito dessa droga é transitório, quando este cessa, o complexo de
Golgi é reconstituído e suas proteínas retornam aos seus compartimentos originais.
Como já mencionado, uma forma de oligossacarídeo N-ligado é adicionada às proteí-
nas no lúmen do RER. Entretanto, modificações e adições posteriores também ocorrem
no Golgi. Assim, duas classes de oligossacarídeos N-ligados são encontradas ligadas
a proteínas: os oligossacarídeos ricos em manose e os oligossacarídeos complexos. Os
oligossacarídeos ricos em manose têm apenas duas N-acetilglicosaminas e muitos
resíduos de manose; porém essa constituição é frequentemente a que trouxeram do RER,
pois no Golgi não são adicionadas mais cadeias de açúcares. Por sua vez, os oligos-
sacarídeos complexos podem conter várias N-acetilglicosaminas e muitos resíduos de
galactoses e ácido siálico e, em alguns casos, fucose. Deve ser mencionado que o ácido
siálico é o único açúcar presente nas glicoproteínas que apresenta carga negativa. Estes
oligossacarídeos são formados pela combinação de processamento dos oligossacarídeos
originais adicionados no RER e da adição de outros açúcares no Golgi.
As várias modificações e adições que ocorrem no Golgi são levadas a cabo enquanto as
proteínas se movem através das várias cisternas do Golgi (Figura 4-17). Cada compartimento
possui seu próprio conjunto de enzimas de processamento. Assim, cada enzima que processa
oligossacarídeos só aceita uma glicoproteína como substrato quando foi devidamente
processada pela enzima precedente da via. Em geral, na face cis, ocorre a fosforilação de
Leitura Adicional
Jackson RJ, Hellen CUT, termination on the ribosome. of proteasome assembly.
Pestova TV. The mechanism RNA 2011;178:1409-21. Nature Rev Mol Cell Biol
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98
Sistema 5
28
Endossômico-
Lisossômico
Sumário
Fagocitose 99
Pinocitose 101
Endocitose Mediada por Receptor 101
Vesículas Recobertas 103
Endossomos Prematuros e Tardios 107
Endocitose de Colesterol 107
Transcitose 109
Lisossomos 111
O conjunto de processos gerais pelos quais a célula capta macromoléculas, partículas
ou até mesmo células chama-se endocitose. Assim, o material a ser endocitado é pro-
gressivamente envolvido por uma porção da membrana plasmática, formando-se uma
vesícula intracelular. Em geral, dependendo do tamanho do material e da sua natureza,
sólida ou líquida, distinguem-se dois tipos de endocitose: fagocitose e pinocitose
(Figura 5-1).
Fagocitose
É a forma de endocitose em que partículas grandes, as quais podem ser microrga-
nismos ou pedaços de células, são ingeridas por grandes vesículas endocíticas deno-
minadas fagossomos. Apesar de os organismos unicelulares utilizarem a fagocitose
como uma maneira de se alimentar, este processo não é frequente nos organismos
multicelulares, pois as células do epitélio intestinal, onde se realiza a absorção,
requerem que as partículas de alimentos sejam quebradas antes de serem importadas
para as células. Por esse motivo, a fagocitose é realizada por células especializadas, 99
5 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Pinocitose
Todas as células eucariontes ingerem continuamente pedaços da sua membrana plas-
mática, originando pequenas vesículas. Nessa incorporação são englobadas pequenas
quantidades de líquidos e solutos, razão pela qual o processo chama-se pinocitose
(“célula bebendo”). A velocidade com a qual isto ocorre varia dependendo da célula. Um
fibroblasto realiza pinocitose muito lentamente, enquanto os macrófagos ingerem 3% da
sua membrana plasmática a cada minuto, isto é, praticamente, toda sua membrana em
cerca de meia hora. Entretanto, simultaneamente, as células repõem sua membrana por
exocitose.
Um dos mecanismos pelos quais a célula forma vesículas de pinocitose é pela for-
mação de cavéolas. As cavéolas são vesículas endocíticas pequenas presentes na mem-
brana plasmática da maioria dos tipos celulares. Na superfície da membrana onde se
desenvolvem as cavéolas há uma cobertura formada pela proteína caveolina. As cavéolas
se formam a partir de regiões da membrana plasmática ricas em colesterol (Capítulo 3)
(Figuras 5-3 e 5-4).
Figura 5-3 As cavéolas são formadas nas áreas da membrana plasmática chamadas
de rafts ou jangadas lipídicas.
102
Sistema Endossômico-Lisossômico 5
serem consideradas vesículas, nem sempre estas são esféricas: em muitos casos estruturas
tubulares se formam da face trans do Golgi ou mesmo sendo endossomos provenientes
do exterior.
Vesículas Recobertas
Em algumas regiões da superfície da célula formam-se pequenas cavidades nas quais a
face citosólica da membrana plasmática recobre-se com clatrina. Estas se denominam
cavidades recobertas por clatrina, por possuírem esta proteína, associada a outras
proteínas como adaptina e dinamina.
A clatrina forma um complexo proteico constituído por três cadeias polipeptídicas
grandes e três pequenas, dispostas de maneira tal que formam uma estrutura de três per-
nas, denominada trisquélion. Vários trisquélions de clatrina formam cestas compostas
por hexágonos e pentágonos que revestem concavidades da membrana plasmática, as
quais invaginam, formando vesículas intracelulares recobertas pela cesta de clatrina.
As vesículas recobertas por clatrina também se formam na face trans do aparelho de
103
Golgi (Figura 5-6).
5 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 5-7 Tráfego das moléculas recobertas por clatrina, COPI e COPII no citoplasma.
rugoso e o complexo de Golgi. As vesículas recobertas por COPI (do inglês “coat
protein I”) mediariam o tráfego de vesículas que brotam nas pilhas do Golgi, bem
como das cisternas da face cis deste de volta para o retículo endoplasmático rugoso
(RER). Já as vesículas recobertas por COPII (do inglês “coat protein II”) mediariam
a passagem de vesículas do RER para a face cis do Golgi (Figura 5-7).
Em geral, o tráfego de vesículas recobertas por clatrina ou por COPs depende de
uma variedade de proteínas que se ligam ao GTP (proteínas ligadoras de GTP), as
quais controlam os aspectos espaciais e temporais do intercâmbio de membranas. Essas
proteínas são os fatores que mudam o nucleotídeo guanina (GEFs), que catalisam
a substituição de GDP por GTP e as proteínas ativadoras de GTPase (GAPs), que
disparam a hidrólise do GTP ligado. Entre as proteínas ligadoras de GTP existem as
monoméricas ou GTPases monoméricas e as triméricas ou proteínas G, sendo
as primeiras as mais importantes.
Um dos mecanismos de regulação do tráfego de vesículas é o controle da montagem
das proteínas recobredoras, somente quando e onde é necessário. Uma das proteínas que
exercem essa função é a proteína ARF, responsável pela montagem de COPI e de clatrina 105
5 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
106 Figura 5-8 Mecanismo de reconhecimento de vesículas pelas proteínas Rab e SNARE.
Sistema Endossômico-Lisossômico 5
diferentes SNAREs, cada uma associada a uma membrana em particular, envolvida na
via endocítica ou biossintética-secretora. Algumas SNAREs são associadas às mem-
branas das vesículas, sendo denominadas v-SNAREs, enquanto outras estão associadas
à membrana de destino (target), sendo chamadas de t-SNAREs. As t-SNARES são, na
verdade, um complexo composto por duas ou três proteínas associadas.
Quando uma v-SNARE interage com uma t-SNARE, os domínios helicoides de uma
se enrolam com os domínios helicoides da outra, constituindo complexos trans-SNARE
estáveis, que mantêm as duas membranas unidas.
As proteínas Rab são GTPases monoméricas que, apesar de serem conhecidas cerca
de 30 delas, têm localização específica em membranas e participam da regulação da
associação entre as v-SNAREs e as correspondentes t-SNAREs.
Uma vez que a vesícula está ligada à membrana de destino, deve ocorrer a fu-
são das duas membranas, a qual é mediada pelas proteínas SNAREs. O complexo
trans-SNARE atua como um guincho, aproximando as duas membranas, até uma
distância de pelo menos 1,5 nm, enquanto a água é expelida para fora da interface.
Então, as camadas lipídicas externas das duas membranas se fundem, formando um
canal contínuo que conecta a região central hidrófoba das duas membranas. Logo
após, as camadas lipídicas internas das membranas contatam entre si, formando-se
uma membrana única, como uma ponte, no local da fusão. A ruptura dessa membrana
completa o processo (Figura 5-9).
Endocitose de Colesterol
Muitas das células animais captam colesterol por meio de endocitose mediada por
receptor, adquirindo parte do colesterol de que precisam para a síntese de nova mem-
brana. O bloqueio deste processo faz que o colesterol se acumule no sangue, formando
107
placas arterioscleróticas.
5
108
Figura 5-9 Sequência do processo de fusão de duas membranas mediado por SNARES.
Sistema Endossômico-Lisossômico 5
Transcitose
Alguns receptores na superfície de células polarizadas transportam macromoléculas
desde um espaço extracelular para outro, mediante o processo denominado de trans-
109
citose (Figura 5-12).
5 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
110
Figura 5-12 Transcitose de partículas endocitadas em uma da célula para serem
exocitadas em outra região.
Sistema Endossômico-Lisossômico 5
Partículas ou proteínas endocitadas em cavidades da membrana plasmática recobertas
por clatrina passam para os endossomos prematuros. Estes são conduzidos até outras
regiões da membrana plasmática por meio de sinais de seleção, fundindo-se nessa
membrana e sendo exocitados para o meio extracelular. Os osteoclastos, células que
reabsorvem matriz mineralizada no tecido ósseo, transportam material orgânico da
lacuna de reabsorção por transcitose (Capítulo 11).
Lisossomos
Os lisossomos são sacos envolvidos por membrana que contêm quase 40 tipos de enzimas
hidrolíticas ácidas, usadas para a digestão intracelular controlada. Elas incluem proteases,
nucleases, lipases, glicosidases, fosfolipases, fosfatases, sulfatases etc. Como essas
enzimas precisam de um meio ácido para atuar, o interior dos lisossomos mantém um
pH de cerca de 5 (enquanto o pH do citosol é de 7,2). Esse pH é mantido pela presença
da bomba de H+ ATPase vacuolar (V-ATPase), responsável pelo bombeamento de
prótons (H+) a partir da membrana do lisossomo, utilizando a energia da hidrólise de ATP.
Por outro lado, as proteínas da membrana dos lisossomos são, na sua maioria, muito
glicosiladas, fator que ajuda a protegé-las das proteases do lúmen. A grande variedade
de enzimas que os lisossomos contêm resulta na marcada heterogeneidade morfológica
que estes apresentam.
As enzimas são levadas até os lisossomos por uma via que sai do RER e passa pelo
aparelho de Golgi. Por outro lado, as substâncias que serão digeridas nos lisossomos
podem chegar por meio de três vias: pela endocitose, por mecanismos de autofagia ou
pela fagocitose de partículas grandes e microrganismos.
As moléculas endocitadas são levadas até os endossomos prematuros, que são
vesículas intracelulares pequenas e de forma irregular. Nessas vesículas, algumas das
moléculas ingeridas são seletivamente recuperadas e recicladas, enquanto outras passam
para os endossomos tardios. O pH no interior dos autofagossomos é levemente ácido,
estando em torno de 6. Estes encontram outros lisossomos saindo do Golgi, fundindo-se
com estes e formando lisossomos maduros (Figura 5-13).
Quanto à autofagia, este é um processo que ocorre em todas as células, pelo qual a
célula pode descartar partes obsoletas. Forma-se um autofagossomo, o qual se funde
com um lisossomo ou com um endossomo tardio. Este processo é altamente regulado,
sendo que as organelas ou componentes celulares são marcados para a destruição, o que
leva à renovação celular.
Finalmente, a terceira via que fornece materiais para degradação lisossomal ocorre
em células especializadas para a fagocitose de partículas grandes ou microrganismos.
Estas células, que são em geral macrófagos e neutrófilos, englobam partículas, for-
mando um fagossomo, que subsequentemente funde-se com um lisossomo ou com
um endossomo tardio.
Existe, entretanto, outra via de chegada de material para degradação lisossomal:
algumas proteínas possuem um sinal, chamado de sequência KFERQ (K = lisina;
F = fenilalanina; E = glutamato; R = arginina e Q = g lutamina). Essa sequência torna a
proteína que a possui capaz de ser seletivamente levada aos lisossomos para degradação. 111
5 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
É possível que proteínas contendo a sequência KFERQ se liguem a organelas que vão
ser autofagocitadas.
As hidrolases ácidas e as proteínas da membrana dos lisossomos são sintetizadas no
RER e transportadas até o aparelho de Golgi. As vesículas transportadoras que carregam
estas proteínas até os endossomos tardios brotam da rede trans do Golgi, incorporando,
assim, enzimas lisossomais. Grupos manose-6-fosfato (M6P) são adicionados ex-
clusivamente aos oligossacarídeos N-ligados destas enzimas lisossomais solúveis.
Acredita-se que esses grupos sejam acrescentados na face cis do Golgi. Desse modo,
os grupos M6P são reconhecidos por proteínas receptoras de M6P, que são proteínas
transmembrana presentes na rede trans, as quais são montadas na superfície da mem-
brana, ajudando o brotamento de vesículas da membrana desta região. Essas proteínas
receptoras ligam-se às hidrolases lisossomais e ajudam a empacotá-las em vesículas
transportadoras específicas.
A proteína receptora de M6P liga oligossacarídeos específicos em pH 7, na rede
trans do Golgi, e os libera em pH 6, nos endossomos tardios. Logo após, dissocia-se do
receptor M6P para iniciar a digestão do material endocitado proveniente dos endossomos
prematuros. Uma vez feito isso, os receptores M6P localizam-se nas vesículas de trans-
porte que brotam dos endossomos tardios e retornam para a membrana da rede trans do
112 Golgi para serem reutilizados, fenômeno que se chama reciclagem de membrana.
Sistema Endossômico-Lisossômico 5
As hidrolases ácidas são selecionadas mediante um processo mediado por vesículas
de transporte, entre as muitas proteínas sintetizadas no RER. Moléculas a serem trans-
portadas são reconhecidas e capturadas por receptores de transporte ligados à mem-
brana durante o brotamento de vesículas específicas recobertas por clatrina. Desse modo,
estas vesículas carregadas movem-se e fundem-se com a membrana-alvo, as moléculas
são liberadas no compartimento-alvo e os receptores vazios são reciclados de volta para
seu compartimento de origem.
O sistema de seleção que segrega as hidrolases lisossomais e as envia para os endos-
somos tardios atua porque grupos M6P são adicionados, no Golgi, apenas às glico-
proteínas apropriadas. Isso requer que as hidrolases sejam reconhecidas, no Golgi, pela
enzima responsável pela adição de M6P. Entretanto, o sinal para a adição de M6P deve
residir em algum lugar na cadeia polipeptídica da hidrolase, pois todas as glicoproteínas
deixam o RER contendo oligossacarídeos N-ligados idênticos.
A primeira enzima que atua para adicionar os grupos M6P nas hidrolases ácidas é uma
fosfotransferase, que possui um sítio de reconhecimento, que se liga especificamente à
hidrolase, e um sítio catalítico, para a própria reação da fosfotransferase. O local reco-
nhecido pelo sítio de reconhecimento é uma região-sinal, mas não um peptídio-sinal.
Uma vez que a hidrolase está ligada, a fosfotransferase adiciona GlcNAC-fosfato a um
dos dois resíduos de manose em cada cadeia de oligossacarídeo. Uma segunda enzima
cliva o resíduo GlcNAC, produzindo a M6P marcadora. Como a maioria das hidrolases
ácidas possui muitos oligossacarídeos, estas podem adquirir muitos resíduos M6P, o que
facilita o reconhecimento da enzima pelo receptor de M6P.
Leitura Adicional
Grant BD, Donaldson JG. Mol Cel Biol 2011;12: rafts: new tools and insights.
Pathways and mechanisms 517-33. Nature Rev Mol Cel Biol
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113
6 Organização e
Funções do
Citoesqueleto
Sumário
Microtúbulos 114
Cílios, Flagelos e Centríolos 126
Filamentos Intermediários 128
Filamentos de Actina 130
Proteínas de Ligação à Actina 135
P
;psme& ara uma célula manter ou adotar uma forma específica, arredondada, fusiforme, prismáti-
ca, ou, ainda, para mudar sua morfologia, contrair-se ou se movimentar, necessita de uma
série de elementos filamentosos ou tubulares, os quais constituem o denominado citoes-
queleto. Milhares de monômeros idênticos se organizam no citoplasma de uma célula em
filamentos lineares, os quais podem ser o suficientemente longos para atravessar a célula
em grandes extensões ou até em todo o seu comprimento. Outros componentes proteicos
ou organelas conectam-se aos elementos do citoesqueleto que, dessa maneira, constitui o
verdadeiro arcabouço celular. Esses componentes ou organelas apoiam-se no citoesqueleto
para movimentar-se dentro da célula ou simplesmente como suporte (Figura 6-1).
Os principais componentes do citoesqueleto das células eucariontes são os microtúbulos,
os filamentos intermediários, os filamentos de actina e as proteínas motoras (Figura 6-2).
Diversas proteínas acessórias participam da interação entre os elementos do citoes-
queleto e os diversos componentes celulares, com os quais interagem. Essas proteínas
possibilitam não apenas a movimentação das organelas ou outros componentes ao
longo dos filamentos do citoesqueleto, mas também a movimentação destes elementos.
Chamam-se, por isso, proteínas motoras.
Microtúbulos
São polímeros longos e rígidos de forma cilíndrica com 24-25 nm de diâmetro, cons-
114
tituídos pela associação de dois polipeptídios globulares, a a- e a b-tubulina. Pares
Organização e Funções do Citoesqueleto 6
Figura 6-7 Uma curta porção na extremidade do microtúbulo contendo GTP nos seus
heterodímeros tem a função de estabilização, impedindo a despolimerização do mesmo.
Quando há perda desta região com GTP, o microtúbulo tende a se despolimerizar (catástrofe). 119
6 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 6-11 A proteína MAP-2 também promove a ligação cruzada entre microtúbulos.
122
Organização e Funções do Citoesqueleto 6
A unidade funcional dos cílios e flagelos não está constituída apenas pelos micro-
túbulos dispostos em “9 + 2”, mas contêm várias proteínas associadas, especialmente
motoras; o conjunto forma o chamado axonema. Algumas proteínas (nexinas) servem
para manter unidos os pares de microtúbulos, mediante pontes transversais; outras, no
caso dos cílios, geram a força que dirige o movimento de curvatura; já no caso dos
flagelos, algumas proteínas formam um sistema de revezamento ativado mecanica-
mente, que controla o movimento que gera a onda. Em geral, as proteínas que geram
os movimentos nos cílios e flagelos são as dineínas, que ligam um par de microtúbulos
com o par vizinho por meio de dois braços, um externo e um interno. Entretanto, o
que resultaria no deslocamento de um par de microtúbulos ao longo do outro, devido
à presença das nexinas que fixam ambos os pares vizinhos, um par de microtúbulos
acaba inclinando-se em relação ao vizinho, gerando, no conjunto, a inclinação do cílio
ou do flagelo. 127
6 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Filamentos Intermediários
Os elementos fibrosos do citoesqueleto cujo diâmetro aparece nas micrografias eletrôni-
cas entre 8 e 10 nm foram denominados filamentos intermediários (diâmetro intermediá-
rio entre os filamentos de actina e de miosina e os microtúbulos). Estes são frequentes
nas células sujeitas à tensão mecânica, como, por exemplo, as células dos epitélios de
revestimento, os fibroblastos, os axônios dos neurônios, as células musculares etc.
Diferentemente dos filamentos de actina e dos microtúbulos que possuem monômeros
globulares, os filamentos intermediários estão constituídos por moléculas fibrosas e
alongadas, as quais têm uma cabeça aminoterminal, um domínio-bastão central e uma
cauda carboxiterminal. O domínio-bastão central consiste em uma região em a-hélice
contendo repetições de uma sequência de sete aminoácidos diferentes que formam as
chamadas repetições hepta. Graças a essas repetições hepta é possível a formação de
estruturas diméricas torcidas entre duas a-hélices paralelas. Ainda mais, dois dímeros
assim enrolados se associam de maneira antiparalela, formando uma estrutura te-
tramérica. Os tetrâmeros constituem, portanto, a subunidade básica a partir da qual os
filamentos intermediários se organizam. Essa maneira de organização significa também
que os filamentos intermediários são, diferentemente dos microtúbulos e dos filamentos
de actina, estruturas não polarizadas do citoesqueleto. As extremidades dos filamentos in-
termediários apresentam uma torção helicoidal que, seguramente, mantém os tetrâmeros
unidos, constituindo o filamento propriamente dito (Figura 6-18).
As células regulam a montagem dos seus filamentos intermediários e determinam sua
localização, quantidade e comprimento. Entretanto, na maioria das células, praticamente
todas as moléculas que formam os filamentos intermediários estão polimerizadas, o que
sugere seu baixo índice de renovação. Além disso, quando tratadas células com solução
salina concentrada ou com detergentes não iônicos, os filamentos intermediários per-
manecem, enquanto a maioria dos outros elementos do citoesqueleto é perdida.
Os filamentos intermediários das células dos vertebrados podem ser agrupados em
quatro classes: filamentos de queratina (ou citoqueratinas), filamentos de vimentina (e
filamentos relacionados com a vimentina), as laminas nucleares e os neurofilamentos.
Os filamentos de citoqueratinas estão presentes nas células epiteliais e apresentam grande
diversidade. Com base na sua sequência de aminoácidos, estes podem ser subdivididos em
dois tipos: citoqueratinas tipo I (ácidas) e citoqueratinas tipo II (neutras e básicas). Uma
única célula epitelial é capaz de sintetizar citoqueratinas diferentes, as quais copolimerizam
para formar um único sistema de filamentos. Nos epitélios estratificados, como a epiderme ou
o epitélio oral, células de camadas diferentes sintetizam classes diferentes de citoqueratinas.
Os filamentos de citoqueratinas das camadas mais superficiais dos epitélios estratificados
queratinizados estão ligados covalentemente uns aos outros e a algumas proteínas associadas;
128 à medida que as células morrem, as ligações cruzadas entre as citoqueratinas persistem,
Organização e Funções do Citoesqueleto 6
Filamentos De Actina
Os filamentos de actina são os mais abundantes nas células eucariontes. São formados
pela polimerização de monômeros globulares da proteína actina (chamada, por isso,
de actina G). Assim, a actina constitui 5% ou mais das proteínas citoplasmáticas na
maioria das células, embora em algumas delas, particularmente nas fibras musculares
esqueléticas, essa porcentagem alcance até 20%.
Existem várias isoformas de actina codificadas por uma família de genes. Assim, as
isoformas de actina dividem-se em a, b e g, sendo que as a-actinas estão presentes
nas células musculares e as b- e g-actinas são constituintes dos filamentos das demais
células do organismo. Apesar dessa diferença nas moléculas de actina, todas formam
filamentos, os quais parecem idênticos.
O diâmetro dos filamentos de actina é de apenas 5-8 nm e estes são constituídos por
monômeros de actina G, polimerizados de maneira a formarem uma estrutura quaternária
fibrosa que lembra um colar de pérolas enrolado helicoidalmente (chamada, portanto, de
actina F). À semelhança dos microtúbulos, os filamentos de actina são estruturas polares,
possuindo, por isso, uma extremidade “mais”, de crescimento rápido, e uma “menos”, de
crescimento lento ou ausente. Como os filamentos de actina interagem muito com a miosina,
130 adotando uma forma que lembra uma “ponta de flecha”, a extremidade “mais” dos filamen-
tos de actina é chamada de “extremidade farpada”, enquanto a extremidade “menos” é
Organização e Funções do Citoesqueleto 6
chamada de “extremidade penetrante”. Entretanto os filamentos de actina são, em geral,
mais curtos e flexíveis do que os microtúbulos, mas, se for considerado o comprimento total
de todos os filamentos, estes alcançam um tamanho pelo menos 30 vezes maior do que o
comprimento total dos microtúbulos. Uma característica adicional é que os filamentos de
actina formam geralmente feixes, estando raramente isolados (Figura 6-19).
131
Figura 6-19 Monômeros de actina se arranjam em filamento contorcido helicoidalmente.
6 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 6-20 A formina e o complexo ARP-2/3 são proteínas que atuam na adição de
monômeros aos filamentos de actina. A timosina se liga aos monômeros livres no citoplasma
132 e impedem sua ligação aos filamentos existentes. A profilina acelera este processo.
Organização e Funções do Citoesqueleto 6
enquanto a molécula pode abrir e fechar. Quando a actina polimeriza, os aminoácidos
das bordas da concha interagem entre si e com a parte posterior da subunidade seguinte
que está sendo incorporada ao polímero, fechando a concha. Esse fechamento dispa-
raria o processo de hidrólise do ATP, ficando incorporada a subunidade ao polímero
(filamento) e sendo aprisionado o ADP resultante no interior da subunidade.
Também como no caso da polimerização dos microtúbulos, a hidrólise do ATP não é
indispensável para a polimerização dos filamentos de actina, mas serve para manter as
ligações estáveis, porém enfraquecidas, permitindo sua fácil despolimerização, quando
necessário. Entretanto, a substituição do ADP pelo ATP na molécula liberada após a
despolimerização de subunidades é muito mais lenta do que o que ocorre com o GDP-
GTP nas subunidades de tubulina recém-liberadas. Isso determina que as moléculas
recém-liberadas demorem tempos longos antes de serem reutilizadas para nova polime-
rização de filamentos de actina.
A grande concentração de actina livre na célula indica que existem algumas outras
proteínas que, ligando-se às moléculas livres de actina, controlariam sua agregação aos
filamentos. Estas são a timosina, presente principalmente em plaquetas e neutrófilos, e
a profilina, presente na maioria das células. A timosina bloquearia os sítios de ligação
de uma subunidade à outra ou cobriria o sítio da abertura da concha, aprisionando o ADP
e impedindo sua troca em ATP. A profilina, pelo contrário, participaria da aceleração da
polimerização, ajudando na troca do ADP pelo ATP.
Uma localização frequente dos filamentos de actina é logo abaixo da membrana
plasmática, formando uma rede característica denominada córtex celular (Figuras 6-21
e 6-22). Nele, os filamentos de actina estão associados a outras proteínas, sendo que o
conjunto responde a estímulos produzidos pela “colisão” de sinais externos com uma
Figura 6-26 Moléculas que medeiam a interação entre uma proteína da matriz
extracelular (fibronectina) e os filamentos de actina do citoesqueleto.
arranjo a miosina-II. Nas vilosidades intestinais, entretanto, participa mais uma pro-
teína, a vilina, que estabelece, juntamente com a fimbrina, as ligações cruzadas entre
os filamentos paralelos de actina (Figura 6-29). Além disso, os filamentos de actina
mais periféricos interagem com moléculas de miosina-I, cada uma das quais ligada
pela sua cauda a uma calmodulina, que por sua vez liga-se à membrana plasmática
lateral da vilosidade.
A a-actinina é um dímero proteico e está concentrada nas áreas tensionais. Já a fila-
mina é um homopolímero longo que, dispondo-se em forma de V, mantém unidos dois
filamentos de actina cruzados, estabelecendo uma ligação flexível entre eles. Quando
estas regiões de filamentos de actina semelhantes a gel sofrem liquefação, o processo
denomina-se solação. Acredita-se que isso seja devido à ação de um grupo de proteínas
138
chamadas de cortadoras da rede de filamentos de actina. A gelsolina é a proteína mais
Organização e Funções do Citoesqueleto 6
Figura 6-28 A filamina é uma das proteínas que promovem a ligação cruzada entre
filamentos de actina.
Figura 6-29 Arranjo do citoesqueleto nos microvilos das células do epitélio intestinal.
Leitura Adicional
Ivaskaa J, Pallarib HM, Nevo Mikhailov A, Gundersen functions. Nature Rev Mol
J, Eriksson JE. Novel GG. Relationship between Cel Biol 2008;9:446-54.
functions of vimentin in microtubule dynamics and Olson EN, Nordheim A.
cell adhesion, migration, lamellipodium formation Linking actin dynamics and
and signaling. Exp Cell Res revealed by direct imaging gene transcription to drive
2007;313:2050-62. of microtubules in cells cellular motile functions.
Lambrechts A, Van Troys treated with nocodazole or Nature Rev Mol Cel Biol
M, Ampe C. The actin taxol. Cell Motil Cytoskel 2010;11:353-65.
cytoskeleton in normal and 1998;41:325-40. Siegrist SE, Doe CQ.
pathological cell motility. Mattila PK, Lappalainen Microtubule-induced cortical
Int J Biochem Cell Biol P. Filopodia. molecular cell polarity. Genes Dev
2004;36:1890-909. architecture and cellular 2007;21:483-96.
142
Mitocôndrias e 7
28
Peroxissomos
Sumário
Mitocôndrias 143
Ultraestrutura 144
Conversão de Energia 147
Glicólise 148
Fosforilação Oxidativa 148
Produção de Acetilcoenzima A 149
Ciclo do Ácido Cítrico (Krebs) 149
Sistema Transportador de Elétrons 150
Peroxissomos 151
Reações Oxidativas Realizadas por Peroxissomos 152
Mitocôndrias
As mitocôndrias são organelas de forma arredondada ou ovalada presentes no citoplasma
das células eucariontes que participam da respiração aeróbia. Sua forma, porém, é variá-
vel, podendo apresentar-se como longos cilindros, retos ou curvados, mas, em geral, com
diâmetro variando entre 0,5 e 1 mm (Figura 7-1). São mais numerosas nas células com
alto metabolismo energético, como as fibras musculares estriadas. Na maioria das células, 143
7 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Ultraestrutura
As mitocôndrias apresentam caracteristicamente duas membranas, sendo a externa
contínua, enquanto a interna apresenta numerosas invaginações, constituindo prateleiras
chamadas cristas mitocondriais. O estreito espaço entre as duas membranas denomina-se
espaço intermembranas ou intermembranoso, enquanto o espaço maior rodeado pela
membrana interna chama-se matriz mitocondrial (Figuras 7-2 e 7-3).
A membrana externa possui muitas semelhanças com as outras membranas da célula,
144 apresentando, porém, a presença de abundantes proteínas transportadoras, as porinas,
Mitocôndrias e Peroxissomos 7
145
Figura 7-3 Mitocôndrias. Microscopia eletrônica de transmissão.
7 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
que formam canais aquosos com diâmetro de 1 nm na bicamada lipídica (Figura 7-4).
Por isso a membrana externa assemelha-se a um filtro permeável a todas as moléculas
com tamanho inferior a 5.000 dáltons, incluindo pequenas proteínas. Devido a isso, o
espaço intermembranoso é quimicamente equivalente ao citosol.
A membrana interna é altamente especializada. Contém um fosfolipídio, a cardio-
lipina, constituído por quatro ácidos graxos, responsável pela impermeabilidade desta
membrana à passagem de íons, isto é, partículas com carga elétrica. Isto é importante para
a função da mitocôndria na respiração celular, pois uma concentração elevada de íons
na matriz perturbaria o gradiente que gera o fluxo de prótons e a captação de energia na
forma de ATP pelo processo quimiosmótico, como será visto mais adiante. Esta mem-
brana possui, também, proteínas transportadoras específicas que a tornam seletivamente
permeável àquelas moléculas que são metabolizadas na matriz ou requeridas nesta pelas
várias enzimas mitocondriais. As numerosas invaginações da membrana interna (as
cristas) proporcionam um grande aumento da superfície desta região da mitocôndria,
o que gera condições para que grandes quantidades de ATP sejam fornecidas por uma
organela que ocupe pequeno espaço no citoplasma.
Na superfície da membrana interna que está voltada para a matriz existem pequenas
partículas em forma de raquete que se inserem pelos seus cabos nesta membrana. São
enzimas denominadas ATP-sintases, com cerca de 10 nm de diâmetro, nas quais se
geram ATP e calor (Figura 7-5).
A constituição molecular das duas membranas parece corresponder à possível origem
evolutiva das mitocôndrias: a membrana externa é parecida com as membranas celulares
em geral das células eucariontes, enquanto a interna tem semelhança com a membrana
das bactérias. Contudo, os fosfolipídios das duas membranas mitocondriais não são
sintetizados por ela, e sim no retículo endoplasmático liso da célula. Entretanto, as
mitocôndrias modificam as moléculas recebidas na hora da sua incorporação nas mem-
branas.
A matriz mitocondrial contém uma mistura altamente concentrada de centenas de
enzimas, incluindo aquelas necessárias para a oxidação do piruvato e ácidos graxos e
para o ciclo do ácido cítrico. Existem também, na matriz, várias cópias idênticas do DNA
genômico mitocondrial, ribossomos mitocondriais especiais, tRNAs e várias enzimas
requeridas para a expressão dos genes mitocondriais.
Conversão de Energia
A energia utilizada pelas células na realização das suas funções é originada da ruptura
gradual de ligações covalentes de moléculas de compostos orgânicos ricos em energia.
Assim, as células não usam diretamente a energia liberada dos hidratos de carbono e
das gorduras, mas utilizam um composto intermediário, o ATP, contido nas moléculas
147
de glicose e dos ácidos graxos.
7 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Glicólise
A glicólise é o processo pelo qual uma sequência de aproximadamente 11 enzimas
do citosol transformam gradualmente uma molécula de glicose, com seis carbonos,
produzindo duas moléculas de piruvato, cada uma com três carbonos, e 2 mols de ATP.
Estas reações ocorrem sem consumo de oxigênio, razão pela qual se chama também
de glicólise anaeróbia. Na verdade, o processo de glicólise consome duas moléculas de
ATP para impulsionar estágios preliminares: uma molécula de glicose (glicose 1-fosfato)
é convertida primeiramente em frutose (frutose 1,6-bifosfato), processo que requer a
hidrólise de duas moléculas de ATP para fornecer dois fosfatos. Subsequentemente,
a molécula de bifosfato de frutose é clivada em duas moléculas de gliceraldeído
3-fosfato, um aldeído de três carbonos, pela enzima aldolase. A oxidação das molé-
culas de gliceraldeído 3-fosfato ocorre pela remoção de elétrons pela molécula de
nicotina adenina dinucleotídeo (NAD), que é reduzida a NADH. A NAD é uma
coenzima que participa de uma reação de oxidação, aceitando um íon hidreto (H-)
de uma molécula doadora. A NADH resultante é uma molécula que desempenhará
importante papel nas etapas seguintes da conversão de energia, atuando como uma
conveniente fonte de grupos fosfato prontos para transferência. A sequência de
reações enzimáticas que convertem o gliceraldeído 3-fosfato em piruvato produz,
finalmente, quatro moléculas de ATP, resultando num ganho de dois ATPs ao final
da glicólise (Figura 7-6).
Fosforilação oxidativa
Após a conversão de açúcares em piruvato no citosol pela glicólise, o piruvato é ime-
diatamente transportado para o interior de mitocôndrias. É provável que a obtenção de
ATP por meio da glicólise tenha sido a única via antes do aparecimento do oxigênio
na atmosfera. Entretanto, com ele, desenvolveu-se uma nova via de maior rendimento
148
energético, denominada fosforilação oxidativa. Por meio deste processo, o piruvato
Mitocôndrias e Peroxissomos 7
Figura 7-6 A glicólise ocorre no citosol das células, gerando duas moléculas de ATP
e duas de NADH por molécula de glicose.
Produção de acetilcoenzima A
A acetil-CoA é originada a partir de duas fontes: o piruvato e os ácidos graxos. A
transformação de piruvato em acetil-CoA deve-se a um sistema multienzimático da
matriz mitocondrial denominado complexo piruvato desidrogenase, constituído por
três enzimas, cinco coenzimas e duas proteínas reguladoras. Esse complexo converte o
piruvato em acetil-CoA, liberando CO2, que é eliminado da mitocôndria.
Os ácidos graxos que penetram na matriz mitocondrial são degradados por um ciclo de
reações denominado b-oxidação dos ácidos graxos, que remove dois átomos de carbono
de cada vez, produzindo uma molécula de acetil-CoA. Tanto a acetil-CoA produzida a
partir do piruvato como aquela originada dos ácidos graxos entram no ciclo do ácido
cítrico (Figuras 7-7 e 7-8).
de acetil-CoA. O grupo acetil não é oxidado diretamente, mas somente depois que ele
é covalentemente adicionado a uma molécula de oxaloacetato, de quatro carbonos, a
qual é regenerada ao final de um ciclo. A adição do grupo acetil ao oxaloacetato forma
uma molécula de ácido tricarboxílico (cítrico), de seis carbonos, daí o nome do ciclo.
Após uma série de reações enzimáticas catalisadas, dois dos seis carbonos do ácido
cítrico são oxidados em CO2, formando-se novamente uma molécula de oxaloacetato,
que entra novamente em outro ciclo, enquanto o CO2 difunde-se para fora da mitocôn-
dria e deixa a célula.
Os átomos de oxigênio necessários para produzir CO2 são fornecidos pela água e não
provêm do oxigênio molecular da atmosfera: três moléculas de água são quebradas a
cada ciclo. Por outro lado, pela ação de desidrogenases, ocorre a produção de hidrogênio,
gerando-se prótons e elétrons. Os elétrons são captados por moléculas carreadoras de
hidrogênio: a cada ciclo, três moléculas de NAD são convertidas em NADH, enquanto
uma molécula de flavina adenina nucleotídeo (FAD) é convertida em FADH2. Os
prótons são liberados na matriz mitocondrial (Figura 7-9).
Figura 7-8 Produção de acetil-CoA a partir de ácidos graxos. Os ácidos graxos são
oriundos de estoques de gordura nos adipócitos e chegam até as células pela corrente
sanguínea.
Peroxissomos
Peroxissomos são organelas de forma arredondada cercados por uma única membrana,
diferentemente das mitocôndrias, que possuem membrana externa e interna. Estas
organelas importam moléculas seletivamente a partir do citosol ou a partir do retículo
endoplasmático. 151
7 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 7-9 Ciclo do ácido cítrico. A cada volta do ciclo são geradas três moléculas
de NADH, uma de GTP, uma de FADH2 e duas de CO2.
Outra função fundamental dos peroxissomos é catalisar algumas das reações que ocor-
rem durante a formação dos plasmalogênios, os principais fosfolipídios que constituem
a bainha de mielina dos neurônios. A falha nessa função gera a deficiência de plasmalo-
gênios no organismo, a qual, por sua vez, resulta na mielinização deficiente dos axônios
dos neurônios.
As proteínas peroxissômicas são sintetizadas pelos ribossomos e possuem uma
sequência sinal-específica composta pelos aminoácidos serina-lisina-leucina (Ser-Lys-
Leu) próxima ao terminal N ou C, que serve como sinal para que sejam importadas ao
peroxissomo. As proteínas que promovem a importação destas outras proteínas são
denominadas peroxinas (Pex).
Leitura adicional
Manella CA. Structure McBride HM, Neuspiel M, peroxisomes revisited. Annu
and dynamics of the Wasiak S. Mitochondria: Rev Biochem 2006;75:
mitochondrial inner more than just a powerhouse. 295-332.
membrane cristae. Curr Biol 2006;16:551-60.
Biochimica et Biophysica Wanders RJA, Waterham HR.
Acta 2006;1763:542-8. Biochemistry of mammalian
154
Tecido Epitelial 8
28
Sumário
Epitélios de Revestimento 156
Características Gerais dos Epitélios de Revestimento 156
Classificação dos Epitélios de Revestimento 156
Glicocálice 160
Membrana Basal 163
Junções Intercelulares 164
Citoesqueleto 164
Microvilos, Estereocílios, Cílios e Flagelos 165
Algumas Funções dos Epitélios de Revestimento 167
Transporte Ativo 167
Pinocitose 167
Epitélios Glandulares 167
Características Gerais dos Epitélios Glandulares 167
Classificação dos Epitélios Glandulares 168
Glândulas Exócrinas 168
Glândulas Endócrinas 171
Algumas Funções dos Epitélios Glandulares 173
Transporte Transcelular 173
Secreção Proteica e Glicoproteica 174
Secreção de Hormônios Esteroides 176
EPITÉLIOS DE REVESTIMENTO
CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS EPITÉLIOS DE REVESTIMENTO
A forma das células epiteliais varia desde achatadas ou pavimentosas até prismáticas
ou cilíndricas altas, com todas suas formas intermediárias. Entretanto, como estas estão
usualmente dispostas nos epitélios com uma justaposição muito estreita, frequentemente
assumem forma poliédrica. Seu núcleo geralmente acompanha a forma da célula; assim,
uma célula pavimentosa tem núcleo na forma de um disco biconvexo, uma célula cúbica
apresenta núcleo esférico, enquanto uma célula prismática possui núcleo elíptico com seu
eixo maior acompanhando o longo eixo celular. Essa característica facilita a visualização
da forma das células na microscopia de luz toda vez que nesta não é possível identificar
nitidamente os limites celulares.
158 Figura 8-4 Endotélio de um capilar sanguíneo, uma espécie de epitélio de revestimento
do tipo pavimentoso simples. Microscopia eletrônica de transmissão.
Tecido Epitelial 8
159
Figura 8-6 Epitélio estratificado pavimentoso ortoqueratinizado do palato.
8 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Glicocálice
Em geral, as proteínas da membrana plasmática não fazem protrusão para o meio ex
tracelular. Como foi visto no Capítulo 3, estas proteínas são revestidas por carboidratos,
os quais são tanto cadeias de oligossacarídeos ligados covalentemente a proteínas da
membrana, como proteoglicanos, cujo eixo proteico insere-se na membrana (por essa
razão eles são chamados de proteoglicanos integrais de membrana) ou, então, liga-se
160
à bicamada lipídica por uma âncora de glicosilfosfatidilinositol (GPI). Essa cobertura de
Tecido Epitelial 8
Membrana basal
A lâmina basal é uma camada fina (40-120 nm de espessura) e flexível, formada por
uma matriz extracelular especializada e localizada na interface entre tecido conjuntivo
e células epiteliais e endoteliais. A lâmina basal determina a polaridade celular nos
epitélios simples, influencia o metabolismo celular, organiza as proteínas nas membranas
plasmáticas adjacentes, participa da indução da diferenciação celular e atua como rota
163
para a migração celular (Figura 8-13).
8 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 8-13 Lâmina basal sob célula secretora de uma glândula salivar.
Junções intercelulares
Como as células epiteliais revestem superfícies do corpo e possuem escassa ou ausente
matriz extracelular, as junções intercelulares estão altamente desenvolvidas entre elas.
A delimitação das regiões funcionais das células epiteliais polarizadas é determinada
por complexos juncionais situados entre as porções apical e basolateral.
As junções oclusivas são o tipo juncional que se apresenta mais desenvolvido entre
as células epiteliais. Todos os epitélios separam compartimentos e para isso devem
estabelecer uma barreira impermeável. As junções oclusivas ou tight cumprem essa
função. As junções de adesão são responsáveis pela manutencão da aderência entre as
células, sendo também muito desenvolvidos nos epitélios, nos quais o desmossomo é uma
das junções mais frequentes (Figura 8-14). Os hemidesmossomos estabelecem a junção entre
a célula epitelial e a lâmina basal. Maiores detalhes a respeito de cada uma destas junções são
fornecidos no Capítulo 3.
Citoesqueleto
Os filamentos do citoesqueleto das células epiteliais apresentam peculiaridades que os
diferem das células de outros tecidos, além do papel estrutural comum a todas as células.
Nas células polarizadas, a distribuição de cada tipo de filamento determina a morfologia
e as regiões funcionais destas. Na região apical há maior concentração de feixes de
filamentos de actina, associada às junções intercelulares. Os filamentos intermediários
164
Tecido Epitelial 8
Figura 8-15 A. A região mais intensamente corada no ápice das células epiteliais
apresenta numerosos microvilos. B. Microscopia eletrônica de transmissão em que os
microvilos são observados.
contendo partículas de poeira e células mortas para o exterior até a cavidade oral,
onde será eliminado (Figura 8-16).
Enquanto os cílios são numerosos e curtos, estando presentes geralmente na superfície
apical de células epiteliais, os flagelos são estruturas únicas em uma célula (no organismo
humano, os flagelos são encontrados apenas nos espermatozoides). O movimento dos
cílios é unidirecional, na forma de chicote, movimentando também o fluido (muco)
em uma única direção, enquanto a movimentação do flagelo é ondulada, na forma de
166
vaivém, impulsionando o espermatozoide para frente.
Tecido Epitelial 8
Pinocitose
Nos epitélios, as células realizam frequentemente o processo de pinocitose para in
corporar pequenas quantidades de líquidos e solutos (Capítulo 5).
Epitélios Glandulares
Características gerais dos epitélios glandulares
As glândulas são originadas a partir da proliferação de células do epitélio de revestimento que
invadem o tecido conjuntivo subjacente. Após a invasão, estas células sofrem um processo
de diferenciação que as tornará especializadas na síntese, no armazenamento e na secreção
de substâncias de acordo com sua função no organismo, constituindo a porção secretora
(Figuras 8-17 e 8-18). Os epitélios glandulares que mantêm continuidade com o epitélio
de revestimento, tanto diretamente com as células secretoras quanto através de ductos,
são denominados glândulas exócrinas. Quando houver descontinuidade entre o epitélio
glandular e o epitélio de revestimento que o originou, denomina-se glândula endócrina. Por 167
8 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
não possuírem sistema de ductos, o produto secretado pela glândula é lançado sobre o sistema
circulatório, por meio do qual circulará pelo organismo e atingirá seu local de ação.
Glândulas exócrinas
As glândulas exócrinas possuem uma porção secretora constituída por células espe
cializadas no processo secretório e por ductos que transportam o produto secretado. De
acordo com o sistema de ductos das glândulas, podemos classificá-las em glândulas
simples, quando possuem somente um ducto não ramificado, ou glândulas compostas
168
quando possuem ductos ramificados.
Tecido Epitelial 8
Glândulas endócrinas
As glândulas endócrinas podem ser classificadas de acordo com a organização de suas
células (Figura 8-27). As glândulas cordonais (Figura 8-28) são constituídas por cordões
de células anastomosadas, situadas nos arredores de vasos sanguíneos; as glândulas
foliculares (Figura 8-29) dispõem suas células formando vesículas que delimitam uma
171
área preenchida por material secretado.
8
172
Figura 8-22 Glândula exócrina tubulosa simples ramificada na mucosa do esôfago.
Tecido Epitelial 8
e são armazenados no citoplasma até o momento em que a célula recebe estímulo para
a secreção. O processo de secreção ocorre por exocitose, quando a membrana que
envolve o grânulo de secreção se funde à membrana plasmática e expõe o conteúdo ao
meio extracelular. Os detalhes sobre o processo de transporte de vesículas e exocitose
são abordados no Capítulo 5.
Leitura adicional
Affolter M, Bellusci S, Itoh elaboration. Develop Biol progress. Curr Gastroenterol
N, Shilo B, Thiery JP, 2010;341:34-55. 2010;12:319-30.
Werb Z. Tube or not tube: Johnston DS, Ahringer J. Cell Knust E, Bossinger O.
remodeling epithelial tissues polarity in eggs and epithelia: Compositoin and formation
by branching morphogenesis. Parallels and diversity. Cell of intercellular junctions
Develop Cell 2003;4:11-8. 2010;141:757-74. in epithelial cells. Science
Andrew DJ, Ewald AJ. Kim YS, Samule BH. 2002;298:1955-9.
Morphogenesis of epithelial Intestinal goblet cells
tubes: insights into tube and mucins in health and
formation, elongation, and disease: recent insights and
177
9 Tecido Conjuntivo
Sumário
Células do Tecido Conjuntivo 179
Célula Mesenquimal 180
Fibroblastos 181
Macrófagos 182
Mastócitos 185
Leucócitos 187
Plasmócitos 187
Matriz Extracelular 187
Fibras 187
Fibras Colágenas 187
Fibras Reticulares 193
Fibras Elásticas 193
Substância Fundamental 196
Proteoglicanos 196
Glicoproteínas Adesivas 199
Lâmina Basal 200
Integrinas 200
Variedades de Tecido Conjuntivo Propriamente Dito 201
Tecido Conjuntivo Frouxo 201
Tecido Conjuntivo Denso 201
Tecidos Conjuntivos de Propriedades Especiais 202
Tecido Adiposo 202
Tecido Adiposo Unilocular 203
Tecido Adiposo Multilocular (Marrom) 204
Tecido Elástico 204
Tecido Reticular 204
Tecido Mucoso 204
178
Tecido Conjuntivo 9
Os tecidos conjuntivos suportam, unem e conectam os outros tecidos do organismo.
São compostos por células e matriz extracelular que, dependendo do tipo de tecido
conjuntivo, são encontradas em proporções diferentes. Nos tecidos conjuntivos, a matriz
extracelular é presente em grande quantidade em relação aos demais tecidos fundamen-
tais, que são constituídos predominantemente por células (Figura 9-1). Dependendo de
sua natureza, os componentes da matriz extracelular, tanto orgânicos como inorgânicos,
tornam os tecidos conjuntivos peculiares entre si, como será visto adiante.
Serão abordados neste capítulo o tecido conjuntivo propriamente dito e, brevemente,
alguns tecidos conjuntivos com características especiais, como os tecidos adiposo,
reticular e mucoso. Outros tecidos conjuntivos especiais, como o cartilaginoso e o
ósseo, serão tratados em capítulos específicos.
Figura 9-1 Enquanto o tecido epitelial possui escasso material extracelular, o tecido
conjuntivo subjacente apresenta matriz extracelular em abundância. 179
9 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Célula Mesenquimal
Os tecidos conjuntivos constituem um grande grupo de variedades teciduais, com uma
série de características comuns. A principal delas é, sem dúvida, a presença de uma célula
formadora típica, responsável pela síntese e secreção da matriz extracelular. Esta, por
sua vez, é constituída, em grande parte, pelo colágeno. Assim, as células formadoras
dos vários tecidos conjuntivos derivam de uma única célula indiferenciada, chamada
de célula mesenquimal indiferenciada pluripotente. Apesar dos numerosos avanços
e estudos das últimas décadas, ainda não se conhecem todas as maneiras pelas quais é
conduzida a diferenciação de uma célula mesenquimal em fibroblasto, osteoblasto
ou condroblasto (Figura 9-3).
Figura 9-3 Linhagens celulares que podem derivar de uma célula mesenquimal
indiferenciada.
Fibroblastos
O fibroblasto é a célula mais abundante dos tecidos conjuntivos e, portanto, é conside-
rada a célula representativa.
O fibroblasto é uma célula fusiforme, com prolongamentos citoplasmáticos longos e
irregulares. O núcleo é claro, grande, elíptico, com cromatina frouxa e nucléolo evidente.
O citoplasma é rico em retículo endoplasmático rugoso (RER) e aparelho de Golgi de-
senvolvido, características que denotam sua atividade de síntese e secreção de proteínas.
Os fibroblastos secretam os componentes da matriz extracelular do tecido conjuntivo, a
qual contém abundante colágeno do tipo I. As moléculas da matriz, sintetizadas no RER,
são transportadas para o Golgi por meio de vesículas de transição, onde são modificadas,
geralmente sofrendo glicosilação. O fibroblasto não armazena grânulos de secreção, os
quais são imediatamente transportados para a membrana plasmática, para sua liberação
na matriz.
Além da sua desenvolvida maquinaria de síntese e secreção, o fibroblasto possui as
outras organelas comuns a todas as células, isto é, mitocôndrias, acúmulos de lipídios,
lisossomos primários e secundários e um citoesqueleto proeminente. Este é representado 181
9 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Macrófagos
Os macrófagos são células tipicamente fagocíticas, as quais foram assim denominadas
por Metchnifoff, em 1882, que observou dois tipos celulares fagocíticos: os neutrófilos, a
quem denominou micrófagos, e estes, que foram chamados, portanto, de macrófagos.
O macrófago é uma célula com grande capacidade de fagocitose. Sua forma é variável,
dependendo de seu estado funcional e sua localização. Seu núcleo tem, em geral, forma
de rim, com cromatina condensada. O citoplasma contém muitos lisossomos, os quais se
fundem com vacúolos que têm material englobado, formando os fagossomos. Sua mem-
brana plasmática apresenta numerosas, porém curtas, projeções e dobras (Figura 9-5).
Os macrófagos originam-se dos monócitos, os quais, após circular no sangue em torno
de 40 horas, atravessam a parede das vênulas e capilares, penetrando no tecido conjuntivo
e adquirindo, neste, o estado de macrófago. Apesar de inicialmente imigrantes a partir de
outro tecido, os macrófagos permanecem no tecido conjuntivo por período relativamente
longo e são considerados, por esse motivo, células residentes. Nesse processo de trans-
formação do monócito em macrófago ocorre aumento da síntese proteica, do aparelho
de Golgi e do número de lisossomos, microtúbulos e filamentos de actina. Com isso
aumenta o tamanho da célula como um todo. Os macrófagos são recrutados em locais
de inflamação em resposta a mediadores químicos como a C5a, uma molécula membro
da cascata do sistema complemento. Em geral, os macrófagos recém-diferenciados
182
são ativados, sofrendo modificações morfológicas e metabólicas após o contato com
Tecido Conjuntivo 9
Os receptores, quando ativados, transmitem sinais para o interior da célula para iniciar
a resposta. Um grupo importante destes receptores para fagocitose são os receptores
específicos para Fc, os quais reconhecem a região Fc de antígenos que recobrem micro-
rganismos ou partículas a serem fagocitadas. A célula emite pseudópodos que engolfam a
partícula, fundindo suas extremidades, formando um fagossomo. Outros receptores reco-
nhecem o complemento (moléculas que circulam no sangue e colaboram na seleção de
células a serem destruídas), enquanto outros reconhecem oligossacarídeos da superfície
de microrganismos. O fagossomo contendo os antígenos internalizados se funde a um
lisossomo e, em seguida, estes são fragmentados em pequenos peptídeos que se ligam a
uma molécula do complexo principal de histocompatibilidade (MHC). Este complexo
é então levado à membrana plasmática para ser apresentado aos linfócitos T ou B, que
darão sequência à resposta imunológica. Esse procedimento realizado pelos macrófagos
os permite serem considerados células apresentadoras de antígenos (Figura 9-6).
Outra forma em que os macrófagos podem estar presentes nos tecidos conjuntivos é
constituindo grandes células denominadas células gigantes multinucleadas, originadas
pela fusão de numerosos macrófagos. Isto ocorre quando macrófagos comuns não
conseguem fagocitar e degradar bactérias ou corpos estranhos e são, portanto, caracterís-
ticas de algumas regiões de inflamação crônica, como os granulomas.
Mastócitos
O mastócito é uma célula grande e globosa (20-30 mm), com núcleo esférico e central
e com seu citoplasma ocupado por numerosos grânulos basófilos, além de mitocôn-
drias, retículo endoplasmático rugoso, complexo de Golgi e elementos do citoesqueleto
(Figura 9-8). A origem do seu nome deriva das primeiras observações, por Paul Ehrlich,
em 1877, quando acreditou que esses grânulos continham nutrientes (do alemão “mas-
tzellen” – mast: alimento; zellen: células). Esses grânulos apresentam metacromasia
quando corados pelo azul de toluidina, com o qual se coram em vermelho. O conteúdo
dos grânulos é principalmente heparina, além de sulfato de condroitina e de histamina,
bem como do fator quimiotático dos eosinófilos na anafilaxia (ECF-A).
Apesar de serem numerosos nos tecidos conjuntivos, os mastócitos são difíceis de
reconhecer nas preparações coradas com hematoxilina-eosina (HE). Acredita-se que
existam pelo menos duas populações de mastócitos, uma das quais contém grânulos de
heparina e estaria presente nos tecidos conjuntivos em geral; a outra, contendo sulfato
de condroitina, estaria presente na lâmina própria das mucosas, como, por exemplo, na
região ventral da língua.
Os mastócitos secretam também alguns leucotrienos (C4, D4 e E4) ou slow reacting
substance of anaphylaxis (SRS-A ), os quais, entretanto, são sintetizados a partir dos fos-
folipídios da membrana plasmática e liberados imediatamente ao meio extracelular.
Figura 9-7
Células de Kupffer
no fígado. 185
9 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Plasmócitos
Os plasmócitos são células ovoides com núcleo esférico, deslocado para uma posição
excêntrica, que possui sua cromatina disposta em grumos compactos que se alternam
com áreas claras, conferindo ao núcleo um aspecto de “roda de carroça”. O citoplasma é
muito basófilo, devido à grande quantidade de retículo endoplasmático rugoso, enquanto
o aparelho de Golgi localiza-se em uma posição central, próximo do núcleo, geralmente
associado a centríolos (Figuras 9-9 e 9-10).
Os plasmócitos se originam dos linfócitos B ativados e, por isso, são pouco numerosos
nos tecidos conjuntivos normais, exceto nos locais onde ocorre penetração de bactérias
e/ou proteínas estranhas ou em locais de inflamação crônica, onde também predominam
linfócitos e macrófagos.
Os plasmócitos sintetizam e secretam anticorpos, que são proteínas específicas
denominadas também imunoglobulinas. Cada anticorpo é fabricado em resposta à
penetração de moléculas estranhas, chamadas de antígenos. Cada anticorpo é especifico
para o antígeno que provocou sua formação.
Matriz Extracelular
Os tecidos conjuntivos são locais em que é característica a presença de elementos
macromoleculares dispostos entre as células, constituindo a matriz extracelular. Os
componentes da matriz exibem uma complexa organização, tanto entre eles como com
as células do tecido.
Em geral, os componentes da matriz extracelular são formados pelas células que
formam o tecido. No caso dos tecidos conjuntivos propriamente ditos, são os fibroblastos
que sintetizam e secretam os diversos componentes da matriz.
Existem proteínas que formam fibras evidentemente identificadas (chamadas, por isso,
proteínas estruturais) e outras que têm propriedades de adesão com as células e/ou
com outros elementos da matriz (denominadas proteínas adesivas), enquanto outros
componentes da matriz são cadeias de polissacarídeos (glicosaminoglicanos) que se
ligam às proteínas (constituindo os proteoglicanos).
Fibras
Fibras colágenas
Os colágenos são uma família de proteínas fibrosas presentes nos tecidos conjuntivos,
187
constituindo cerca de 30% do total de proteínas do organismo.
9 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
188 Figura 9-10 Os plasmócitos apresentam o núcleo com cromatina em “roda de carroça”.
Tecido Conjuntivo 9
Biossíntese do colágeno
As cadeias polipeptídicas individuais são sintetizadas em ribossomos ligados à mem-
brana do RER, para o qual são descarregadas como grandes precursores, chamados de
cadeias a do procolágeno ou pró-a. Estes possuem, na sua extremidade aminoterminal,
além do peptídio-sinal, alguns aminoácidos adicionais, chamados de pró-peptídios ou
peptídios de registro, os quais estão também presentes na extremidade carboxiterminal.
Uma vez no RER, algumas prolinas e lisinas são hidroxiladas, com a participação da
prolina hidroxilase e da lisina hidroxilase em um processo dependente de vitamina C,
formando-se a hidroxiprolina e a hidroxilisina. Na sequência, ainda no RER, algumas
hidroxilisinas são glicosiladas com moléculas de galactose e glicose. Cada cadeia pró-a
liga-se com outras duas, por meio de pontes de hidrogênio que se estabelecem entre os
grupos hidroxila da hidroxilisina e hidroxiprolina, formando uma molécula helicoidal
tripla, denominada procolágeno. As moléculas de procolágeno são transportadas para o
Golgi, onde são empacotadas em vesículas, sendo estas direcionadas para a membrana
plasmática.
Em estados de deficiência de vitamina C ou escorbuto, a hidroxilação da lisina é
defeituosa, sendo prejudicada a estabilidade das ligações entre as cadeias a, resultando
em moléculas de procolágeno com sua tripla hélice instável. A presença dos pró-peptídios
nas extremidades das cadeias a e, portanto, nas moléculas de procolágeno, impede que
várias moléculas se agreguem dentro da célula, o que só ocorrerá no meio extracelular. O
resultado clínico da deficiência de vitamina C no organismo é a cicatrização inadequada
de ferimentos que atinjam o tecido conjuntivo.
Assim, após sua secreção para o meio extracelular, os peptídios de registro das ex-
tremidades das moléculas de procolágeno são clivados por enzimas específicas, as
procolágeno-peptidases. Com isso, as moléculas de procolágeno são convertidas em
colágeno (chamadas também de tropocolágeno), as quais possuem 280 nm de com-
primento e 1,5 nm de espessura. As moléculas de tropocolágeno se agregam seguindo
uma disposição alternada, porém extremamente organizada, resultando em fibrilas que
apresentam uma periodicidade uniforme a cada 64 nm. Ligações intermoleculares entre
as cadeias laterais de lisinas e hidroxilisinas, as quais são deaminadas pela enzima
lisil-oxidase, formando grupos aldeídicos que reagem para formar ligações covalentes
entre eles, mantêm as moléculas ligadas para formar as fibrilas (Figura 9-12).
Nos colágenos tipos I e III, as fibrilas se agregam espontaneamente para formar fi-
bras (Figuras 9-13 a 9-15). Entretanto, independente da sua montagem em fibrilas, ou
até em feixes, a orientação destas é determinada, pelo menos em parte, pelas células
formadoras do tecido. Tanto a orientação como a velocidade de secreção das moléculas
e, consequentemente da fibrilogênese, são reguladas pela célula, particularmente pelo
190
citoesqueleto e pela membrana plasmática. Entretanto a interação das moléculas no meio
Tecido Conjuntivo 9
Figura 9-14 Fibrilas colágenas do tipo I na matriz de dentina com bandas claras e
escuras alternadas. Microscopia eletrônica de transmissão.
Figura 9-15
Fibroblasto
em meio
a abundantes
fibrilas colágenas
do ligamento
periodontal.
Microscopia
eletrônica de
transmissão.
192
Tecido Conjuntivo 9
extracelular com outras moléculas da matriz pode influenciar a sua disposição final. Os
colágenos associados às fibrilas, como as moléculas de colágenos tipos IX e XII, são
importantes neste aspecto. As moléculas desses colágenos têm sua estrutura helicoidal in-
terrompida por alguns domínios não helicoidais, possuindo, portanto, certa flexibilidade.
Além disso, essas moléculas não sofrem clivagem dos seus pró-peptídios, razão pela
qual não se agrupam para formar uma fibrila, e, sim, associam-se à fibrilas de outros
tipos de colágeno. Moléculas de colágeno tipo XII associam-se a fibrilas de colágeno
tipo I, enquanto as de tipo IX se associam a fibrilas de colágeno tipo II. Por outro lado,
as células formadoras exercem certa pressão na matriz em formação, deslizando-se sobre
fibrilas colágenas, por exemplo, para compactá-las.
Algumas patologias estão diretamente ligadas a deficiências na síntese do colágeno.
Um exemplo é a síndrome de Ehlers-Danlos, defeito hereditário na atividade da pro-
colágeno peptidase, na qual os peptídios de registro não são removidos do procolágeno
e resultam na formação de fibrilas colágenas defeituosas. Outra variação desta sín-
drome é o defeito no gene que codifica a lisil-hidroxilase, que promove a hidroxilação
dos resíduos de lisina, o que ocasiona fragilidade das fibrilas colágenas. A síndrome de
Ehlers-Danlos é clinicamente caracterizada pelo frequente deslocamento de articulações
e pela hiperelasticidade da pele. Outro exemplo é a síndrome de Strickler, que ocasiona
hipoplasia de mandíbula e artrite associada à displasia de epífises ósseas, devido à
mutação no gene Col2A1, que codifica a molécula de colágeno do tipo II. Mutações no
gene Col1A1, que codifica o colágeno do tipo I, ocasionam a diminuição da produção
desta variedade de colágeno, sendo insuficiente para o processo de ossificação. Isso gera
um quadro de fragilidade óssea característico da osteogênese imperfeita.
Fibras reticulares
As fibras reticulares são formadas por colágeno tipo III associado a grande quantidade de
glicoproteínas e proteoglicanos. Por essa razão, as fibras reticulares coram-se fortemente
com sais de prata (impregnação argêntica) ou colorações do tipo ácido periódico de
Schiff (PAS).
As fibras reticulares constituem o arcabouço de sustentação das células dos órgãos
hematopoiéticos e de órgãos epiteliais como fígado, rins e glândulas endócrinas.
Devido ao seu fino diâmetro (0,5-2 mm), sustentam também órgãos que sofrem modi-
ficações de forma e volume, como artérias, baço, útero e camada muscular do intestino
(Figura 9-16).
Fibras elásticas
As fibras elásticas estão presentes em alguns tecidos conjuntivos onde é necessária
a distensão temporária destes. Estas fibras são finas, não apresentam estriação trans-
versal e ligam-se umas às outras, formando uma malha irregular (Figura 9-17). Cada
fibra contém elastina, uma proteína altamente hidrófoba que contém muita prolina e
glicina, mas, diferente do colágeno, não é glicosilada e possui pouca hidroxiprolina e
hidroxilisina. Existem dois tipos de segmentos que se alternam na cadeia polipeptídica,
os hidrófobos e aqueles em a-hélice, ricos em alanina e lisina, que formam ligações
cruzadas entre moléculas adjacentes. As moléculas de elastina estão rodeadas por um 193
9 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 9-16 Fibras reticulares no fígado coradas por impregnação pela prata.
Substância Fundamental
A parte não fibrilar da matriz extracelular é chamada de substância fundamental. Até
alguns anos utilizava-se o termo substância fundamental amorfa; entretanto, como a
análise ultraestrutural de diversos componentes da matriz revela sua morfologia, o
termo “amorfa” não é mais considerado adequado. A substância fundamental como um
todo adquire a aparência e a consistência de um gel, muito hidratado e transparente, e
preenche os espaços entre as células e as fibrilas da matriz. Está formado principalmente
por proteoglicanos e um grupo de glicoproteínas adesivas.
Proteoglicanos
Os proteoglicanos (PGs) são complexos constituídos por glicosaminoglicanos (GAGs)
ligados a um eixo proteico, constituindo um conjunto com a forma de uma escova de
limpar tubos de ensaio.
Os GAGs são cadeias lineares, isto é, não ramificadas, de polissacarídeos, constituídos
por unidades repetidas de dissacarídeos, sendo que um dos açúcares do dissacarídeo
repetido sempre é um açúcar aminado (N-acetilglicosamina ou N-acetilgalactosamina),
geralmente sulfatado. O segundo açúcar é um ácido urônico (glicurônico ou idurônico).
Assim, devido aos seus grupos sulfato e carboxila, os GAGs são poliânions e possuem,
portanto, carga negativa. A alta densidade de cargas negativas contribui para serem
moléculas que atraem cátions, como o Na+, que é osmoticamente ativo, resultando na
entrada de grandes quantidades de água. Devido a essa característica, os PGs são res-
ponsáveis pelo turgor que faz que a matriz extracelular resista à compressão. Por esse
196
motivo, tecidos como a cartilagem hialina são ricos em PGs.
Tecido Conjuntivo 9
Glicoproteínas adesivas
Além dos proteoglicanos, a substância fundamental contém uma série de proteínas,
chamadas de adesivas, as quais têm domínios múltiplos para interagir com os vários
componentes do tecido, isto é, células, fibrilas e PGs, desempenhando, portanto, impor-
tante papel na interação entre todos os elementos da matriz.
Fibronectina
A fibronectina é a proteína adesiva da matriz extracelular mais conhecida. É um dímero
proteico composto de duas subunidades unidas por duas pontes dissulfeto próximas
às suas extremidades carboxiterminais. Cada subunidade é dobrada em vários domí-
nios funcionalmente diferentes, em forma de bastão, separados por curtas regiões de
cadeias flexíveis. Cada domínio, por sua vez, consiste em módulos menores, cada um
repetido em série e codificado por diferentes éxons. Um módulo importante é o módulo de
repetição de fibronectina tipo III, que se repete pelo menos 15 vezes em cada subunidade.
Um dos domínios liga-se ao colágeno; outro, à heparina; outro, a receptores específicos
da membrana plasmática e assim por diante. A fibronectina possui uma região constituída
pela sequência de três aminoácidos, Arg-Gly-Asp, chamada, por isso, de sequência RGD,
especialmente responsável pela sua ligação a células. Outras proteínas da matriz também
possuem esta sequência RGD e, portanto, irão competir com a fibronectina pelos sítios
de ligação nas células. Na matriz extracelular do tecido ósseo e do cemento que recobre
a raiz do dente estão presentes duas proteínas não colágenas que possuem também esta
sequência, a osteopontina e a sialoproteína óssea, ligando-se a receptores de membrana
das células desses tecidos.
Existem várias isoformas de fibronectina produzidas pelo splicing alternativo do
RNA. Assim, todas são codificadas pelo mesmo gene, possuindo cerca de 50 quilobases
e 50 éxons de tamanhos semelhantes. A transcrição produz uma única e grande molécula
de RNA que pode sofrer splicing em três regiões diferentes, dependendo dos estados de
desenvolvimento e funcional do tecido. Acredita-se que em humanos sejam produzidos
ao redor de 20 mRNAs diferentes, cada um codificando diferentes subunidades de
fibronectina.
Além da sua importância na adesão celular, a fibronectina participa também da mi-
gração celular que ocorre nos embriões, provavelmente auxiliando as células na sua
fixação na matriz.
Tenascina
A tenascina é um enorme complexo glicoproteico formado por seis cadeias polipeptídicas
idênticas ou muito semelhantes, ligadas por pontes dissulfeto que se projetam do centro
para fora, como os raios de uma roda. Cada uma das cadeias polipeptídicas é composta
por vários tipos de sequências de aminoácidos que se repetem várias vezes. Por exem-
plo, a repetição da fibronectina tipo III ocorre oito vezes em cada cadeia. Cada cadeia 199
9 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Lâmina Basal
A lâmina basal é uma camada fina (40-120 nm de espessura) e flexível, formada por
uma matriz extracelular especializada e localizada na interface entre tecido conjuntivo
e células epiteliais e endoteliais, células musculares lisas, células adiposas e células de
Schwann (Capítulo 3).
A lâmina basal tem papel de filtração em locais como glomérulos renais, determina a
polaridade celular nos epitélios simples, influencia o metabolismo celular, organiza as
proteínas nas membranas plasmáticas adjacentes, participa da indução da diferenciação
celular e atua como rota para a migração celular.
A lâmina basal é sintetizada tanto pelas células epiteliais que nela repousam como
pelo próprio tecido conjuntivo subjacente. Apesar de a composição precisa das lâminas
basais ser muito variável entre os tecidos e até entre diferentes regiões da mesma lâmina,
todas elas possuem colágeno tipo IV, perlecan (sulfato de heparan) e as glicoproteínas
laminina e entactina.
O colágeno tipo IV não forma fibrilas e tem suas moléculas formadas por uma tripla
hélice interrompida em 26 regiões, o que permite várias curvaturas. Desse modo, elas
interagem umas com as outras por meio dos seus domínios terminais para formar uma
rede flexível, à qual se ligam os outros componentes da lâmina basal de maneira es-
pecífica.
A molécula de laminina é um complexo grande e flexível formado por três cadeias
muito longas de peptídios, organizadas em forma de uma cruz assimétrica e mantida
por pontes de dissulfeto. A laminina possui vários domínios funcionais para se ligar às
moléculas de colágeno tipo IV, ao perlecan, à entactina e aos receptores para laminina
das superfícies celulares. A entactina é uma molécula curta em forma de haltere que se
liga, de um lado, à laminina e, do outro, ao colágeno IV.
Integrinas
Integrinas são um grande grupo de proteínas transmembrana homólogas, tanto de ligação
com os diversos componentes da matriz extracelular, como de resposta frente a eles. As
integrinas são diferentes dos receptores de membrana para hormônios e outras moléculas
sinalizadoras solúveis, porque se ligam aos ligantes com afinidade relativamente baixa,
necessária para que a ligação da célula com a matriz não se torne permanente.
Como foi visto no Capítulo 3, as integrinas são heterodímeros de proteínas glicosi-
ladas, isto é, são constituídas por duas subunidades de glicoproteínas transmembrana
denominadas a e b, ambas contribuindo para a sua ligação com a matriz.
Existem integrinas que se ligam apenas a um tipo de molécula, como a fibronectina
ou laminina; outras se ligam a vários tipos de moléculas. Além disso, algumas integrinas
reconhecem a sequência RGD, enquanto outras reconhecem outros domínios específicos.
200
A mesma integrina pode estar presente na membrana de células diferentes, ligando-se,
Tecido Conjuntivo 9
porém, a diferentes ligantes, razão pela qual se acredita que outros fatores, específicos
para cada tipo celular, modulem a capacidade de ligação das integrinas.
Figura 9-21 Tecido conjuntivo frouxo que compõe a derme da pele. Numerosos
fibroblastos são visualizados entre as fibras colágenas da matriz extracelular. 201
9 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 9-22 Tecido conjuntivo denso não modelado na derme da pele grossa de uma
região do corpo sujeita a atritos constantes. Notar a abundância de fibras colágenas
da matriz extracelular.
Tecido adiposo
O tecido adiposo apresenta células especiais, os adipócitos. Estas células são encon-
tradas em pequenos grupos em regiões de tecido conjuntivo frouxo, ou em grandes
grupos distribuídos pelo corpo. Os adipócitos são importantes reservas de energia do
organismo, sendo esta armazenada em forma de triglicerídeos. O conteúdo armazenado
nos adipócitos é renovado constantemente à medida que é consumido, sendo o consumo
202
influenciado por fatores hormonais e por estímulos do sistema nervoso.
Tecido Conjuntivo 9
Tecido elástico
O tecido elástico é encontrado em ligamentos da coluna vertebral, por exemplo. É
composto por abundantes fibras elásticas arranjadas paralelamente em grossos feixes,
apresentando ainda algumas fibras colágenas e fibroblastos. A abundância de fibras
colágenas deste tecido lhe confere cor amarelada a fresco.
Tecido Reticular
O tecido reticular forma uma rede que sustenta células em alguns órgãos. É constituído
por delicadas fibras reticulares formadas pelas células reticulares, que são uma linhagem
de fibroblastos especializada na síntese destas fibras. O tecido reticular está presente
entre as células de órgãos linfoides e hematopoiéticos, como medula óssea, linfonodos
e baço, formando um arcabouço.
Tecido mucoso
O tecido mucoso tem localização no cordão umbilical, onde é denominado geleia de
Wharton. A matriz extracelular do tecido mucoso é composta, em grande parte, por
ácido hialurônico e escassas fibras.
Leitura adicional
Herzog EL, Bucala R. Schaefer L, Schaefer RM. Tsang KY, Cheung MCH,
Fibrocytes in health and Proteoglycans. from Chan D, Cheah KSE. The
disease. Experim Hematol structural compounds to developmental roles of the
2010;38:548-56. signaling molecules. Cell extracellular matrix: beyond
Park H, Ishihara D, Cox D. Tissue Res 2010;339:237-46. structure to regulation. Cell
Regulation of tyrosine Singh P, Carraher C, Tissue Res 2010;339:93-110.
phosphorilation in Schwarzbauer JE. Assembly Weller CL, Collington SJ,
macrophage phagocytosis and of fibronectin extracellular Williams T, Lamb JR. Mast
chemotaxis. Arch Biochem matrix. Annu Rev Cell Dev cells in health and disease.
204
Biophys 2011;510:101-11. Biol 2010;26:397-419. Clin Sci 2011;120:473-84.
Tecido 10
28
Cartilaginoso
Sumário
Cartilagem Hialina 206
Características Gerais 206
Matriz 206
Pericôndrio 208
Condrócitos 208
Organização 210
Formação e Crescimento 211
Cartilagem Elástica 213
Cartilagem Fibrosa 213
Cartilagem Hialina
Características gerais
A cartilagem hialina é a mais abundante no corpo humano. É encontrada no revestimento
das articulações de ossos longos, traqueia, fossas nasais e, no embrião, forma o arcabouço
do esqueleto que é substituído por tecido ósseo. Sua aparência a fresco é branco-azulada
e translúcida. O termo hialos, de origem grega, que significa vítreo, é adotado para
denominar esta variedade de tecido cartilaginoso.
Matriz
Cerca de 70% a 80% da matriz da cartilagem hialina são compostos por água.
Retirando-se a água, a porção orgânica da cartilagem hialina é formada por 40% de
colágeno do tipo II, ácido hialurônico, glicoproteínas e proteoglicanos. Os proteo-
glicanos, como já mencionado (Capítulo 9), são compostos por um cerne ou eixo
proteico, ao qual se ligam cerca de 200 moléculas de glicosaminoglicanos sulfatados
(GAGs). Os principais GAGs que compõem os proteoglicanos são sulfato de con-
Figura 10-3 Pericôndrio que reveste a cartilagem hialina. Observar as camadas fibrosa
e condrogênica.
Pericôndrio
O pericôndrio é uma membrana fibrosa que envolve a cartilagem hialina, exceto
nas superfícies articulares em que a cartilagem está em contato com o líquido sino-
vial. O pericôndrio é responsável pela nutrição da cartilagem hialina devido a sua
irrigação sanguínea e linfática, a qual também recolhe os produtos metabólicos da
cartilagem.
Existem duas camadas que compõem o pericôndrio, a camada fibrosa externa, que
apresenta células progenitoras de formato achatado e é rica em colágeno do tipo I e
elastina, e a camada interna ou condrogênica, que apresenta condroblastos alinhados
tangencialmente à margem da cartilagem (Figuras 10-3 e 10-4).
As células condrogênicas do pericôndrio expressam o fator de transcrição Sox9 na sua
diferenciação em condrócitos, o qual regula a expressão do colágeno tipo II e do agrecan.
A mutação neste gene impede a diferenciação das células condrogênicas em condrócitos
e ocasiona a displasia campomélica, que consiste em hipoplasia das extremidades
articulares, arqueamento de ossos longos e anomalias craniofaciais.
Condrócitos
As células da cartilagem são cercadas pela matriz extracelular. Nas regiões mais
208
periféricas, as células apresentam formato alongado com o longo eixo paralelo à
Tecido Cartilaginoso 10
Organização
Os condrócitos presentes na matriz cartilaginosa são envoltos por uma matriz territorial
composta por fibrilas de colágeno do tipo II em maior densidade arranjadas aleatoria-
mente e associadas aos proteoglicanos e à tenascina R. Observada ao microscópio de luz,
a matriz territorial é corada intensamente. Ao redor da matriz territorial, que envolve os
diversos grupos isógenos no interior da matriz, há a matriz interterritorial, que é mais
ampla e, ao microscópio de luz, é corada com menor intensidade, onde está presente a
210 COMP (proteína oligomérica da matriz cartilaginosa) (Figuras 10-10 a 10-12).
Tecido Cartilaginoso 10
Formação e crescimento
A condrogênese é iniciada durante o período embrionário, quando células mesen-
quimais expressam o fator Sox9 e se proliferam, aglomeram-se e iniciam sua dife-
renciação, que é evidenciada pela mudança em seu formato, que passa de estrelado/
fusiforme para arredondado. As células diferenciadas, denominadas condroblastos,
iniciam a síntese da matriz extracelular. À medida que a matriz é secretada, ela preenche
os espaços entre os condroblastos que se afastam progressivamente uns dos outros.
Com isso ocorre o crescimento do órgão cartilaginoso do centro para a periferia. As
células localizadas nas regiões mais profundas da cartilagem em crescimento sofrem
maturação, passando a apresentar características de condrócitos. Estas células ainda
sofrem algumas poucas divisões nesta fase, que dão origem aos grupos isógenos.
Nas regiões mais periféricas, enquanto há crescimento, as células ainda apresentam
características de condroblastos. As células mesenquimais ao redor da cartilagem em
formação dão origem ao pericôndrio.
O crescimento da cartilagem pode ocorrer por dois mecanismos. No crescimento in-
tersticial, condrócitos preexistentes no interior da matriz cartilaginosa realizam mitose.
O crescimeto intersticial ocorre quando a matriz cartilaginosa ainda é jovem e tem pouca
rigidez, e acontece durante o início da condrogênese. Este tipo de crescimento é muito 211
10 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
ativo durante a ossificação endocondral, que será abordada no Capítulo 11. O outro
mecanismo é o crescimento aposicional, que ocorre a partir de células indiferenciadas
do pericôndrio. No crescimento aposicional, incrementos de matriz extracelular são
depositados sobre a cartilagem já existente. Em ambas as modalidades, os condrócitos
sintetizam e secretam colágeno tipo II, proteoglicanos e glicoproteínas para a matriz
extracelular.
O tecido cartilaginoso, por não conter vascularização, dificilmente se regenera ao so-
frer lesões. Em indivíduos muito jovens a regeneração ocorre com maior probabilidade,
porém, em indivíduos adultos, é raro o preenchimento da área lesada com cartilagem
de reparo. Quando há lesão, ocorre a proliferação do pericôndrio, que preenche a área
com novo tecido cartilaginoso. Em lesões extensas, o pericôndrio preenche a área lesada
212 formando uma cicatriz de tecido conjuntivo denso.
Tecido Cartilaginoso 10
Cartilagem Elástica
A cartilagem elástica possui como principal característica a flexibilidade, a qual, aliada
às demais propriedades do tecido cartilaginoso, faz dela o tecido ideal para compor
órgãos que precisam de suporte e, ao mesmo tempo, serem flexíveis. Ainda, a cartilagem
elástica, após sofrer deformação, é capaz de recuperar sua forma original. Como exem-
plos de órgãos que possuem cartilagem elástica em sua estrutura podem ser citados
orelha externa, parte da epiglote e cartilagem cuneiforme da laringe.
Esta variedade de tecido cartilaginoso possui estrutura semelhante à da cartilagem
hialina: é envolta por pericôndrio e apresenta condrócitos aprisionados em lacunas na
matriz territorial, a qual é cercada por matriz interterritorial. A matriz da cartilagem
elástica é constituída por fibrilas de colágeno do tipo II e abundantes fibras elásticas. A
cartilagem elástica cresce, principalmente, pelo processo de aposição (Figura 10-13).
Devido à presença de fibras elásticas, a cartilagem elástica examinada a fresco apresen-
ta cor amarelada. Ao microscópio de luz, preparados histológicos corados com orceína
evidenciam as fibras elásticas da matriz.
Cartilagem Fibrosa
A cartilagem fibrosa ou fibrocartilagem é uma variedade de tecido cartilaginoso que
apresenta grande força tensora. Desta forma, compõe parte dos discos intervertebrais,
213
sínfise pubiana e está presente nas inserções de tendões e ligamentos aos ossos.
10 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
214
Tecido Cartilaginoso 10
Figura 10-10 A matriz territorial envolve os grupos isógenos; o espaço entre eles é
preenchido por matriz interterritorial.
215
10 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
216
Tecido Cartilaginoso 10
217
10 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 10-14 Cartilagem fibrosa na qual se observam grupos isógenos em meio à matriz
rica em colágeno do tipo I.
Leitura adicional
Becerra J, Andrades JA, development of cartilage: the Heinegard D. Proteoglycans
Guerardo E, Zamora-Navas P, search for the origin of the and more – from molecules
López-Puertas JM, Reddi AH. chondrocyte. Eur Cell Mater to biology. Int J Exp Path
Articular cartilage: structure 2011;21:122-9. 2009;90:575-86.
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Part B 2010;16:617-27. and assembly in articular
Cole AG. A review of diversity cartilage. Cell Mol Life Sci
in the evolution and 2005;62:2241-56.
218
Tecido Ósseo 11
28
Sumário
Osso Compacto e Osso Esponjoso 220
Células do Tecido Ósseo 220
Osteoblastos 222
Osteócitos 223
Células de Revestimento Ósseo 226
Osteoclastos 227
Matriz Extracelular 229
Fase Mineral 230
Matriz Orgânica 231
Osteogênese ou Ossificação 233
Ossificação Intramembranosa 233
Secreção da Matriz Orgânica e Mineralização 236
Remodelação Óssea 240
Osso Primário e Osso Secundário 242
Ossificação Endocondral 244
Molde de Cartilagem Hialina e Ossificação Pericondral 245
Alterações na Cartilagem 246
Crescimento Ósseo na Ossificação Endocondral: O Disco Epifisário 250
Periósteo e Endósteo 254
Inervação e Vascularização 255
Figura 11-1 Fotomicrografia de tecido ósseo onde se podem observar osso compacto
e osso esponjoso.
Osteoblastos
Os osteoblastos, as células que formam o tecido ósseo, derivam das células mesenquimais
indiferenciadas, as quais se proliferam e iniciam o processo de diferenciação em osteo-
blastos, respondendo a um complexo sistema de sinalização no qual o fator de transcrição
Runx2 desempenha um importante papel (Figura 11-2). Proteínas Wnt são liberadas por
células sinalizadoras ou estão presentes na superfície destas, ativando proteínas como
Axina e Frat-1, que atuam como sinais nas células indiferenciadas. Essa liberação
inibe a atividade da enzima glicogênio sintetase quinase 3 e produz a hipofosforilação
da b-catenina, aumentando sua estabilidade pós-translacional. Assim, a b-catenina
se acumula no citosol da célula indiferenciada e depois se desloca para o núcleo, para
ativar a transcrição de alguns genes como Osterix e, principalmente, Runx2. Outra via
de sinalização é por meio das proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs), as quais per-
tencem à superfamília do fator beta de crescimento transformador (TGF-b) e, portanto,
exercem importante papel sinalizador sobre as células ósseas. Enquanto as BMPs 2, 4,
6 e 7 possuem efeito indutor, a BMP-3 regula negativamente a formação óssea, inibindo
a diferenciação de osteoblastos. As BMPs induzem a expressão de Runx2 nas células
indiferenciadas com a participação de Smads, bem como a expressão de Osterix.
Quando os osteoblastos iniciam sua diferenciação, estes se aproximam entre si,
estabelecendo grupos. No citoplasma, desenvolvem-se organelas de síntese e secreção
proteica, cisternas de retículo endoplasmático rugoso (RER), o complexo de Golgi e
grânulos de secreção, os quais se direcionam para o lado da célula onde a matriz está
sendo depositada; os osteoblastos são, portanto, células polarizadas. Dessa maneira,
os osteoblastos formam uma camada contínua com aparência “epitelioide” em torno
da matriz. Os osteoblastos secretores são células ovoides, globosas, com o núcleo
levemente deslocado lateralmente (Figura 11-3). A grande quantidade de organelas de
síntese e secreção proteica outorga aos osteoblastos uma forte basofilia na micros-
copia de luz.
Na sua membrana plasmática, especialmente no domínio basolateral, ou seja, aquele
oposto à matriz óssea, os osteoblastos apresentam receptores para o paratormônio
(PTH), bem como para as proteínas sinalizadoras Wnt, SHH, IHH, Smad e para fatores
de crescimento como TGF-b fibroblástico (FGF) (Figura 11-4).
Osteócitos
Os osteócitos são as células contidas na matriz óssea mineralizada. Como mencionado
anteriormente, os osteócitos são osteoblastos que ficaram envolvidos pela matriz mine-
ralizada e, portanto, cessaram sua atividade secretora. Possuem um corpo celular cen-
tral, onde está localizado o núcleo esférico rodeado por escasso citoplasma com poucas
organelas, refletindo seu baixo metabolismo; do corpo celular se originam numerosos e
finos prolongamentos (Figuras 11-5 e 11-6), os quais contatam com os prolongamentos
dos osteócitos vizinhos, estabelecendo junções comunicantes, as quais contêm, princi-
palmente, conexina 43 (Cx43) nos seus conéxons (Figuras 11-7 e 11-8). A b-catenina
se liga ao promotor da Cx43, estimulando sua expressão e o adequado funcionamento 223
11 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 11-6 Parte de um osteócito no interior de uma lacuna, do qual parte um fino
prolongamento alojado no canalículo. Microscopia eletrônica de transmissão.
das junções comunicantes entre os prolongamentos dos osteócitos. Desse modo, a matriz
óssea mineralizada contém numerosas lacunas onde são alojados os corpos celulares
dos osteócitos e milhares de canalículos, que contêm os prolongamentos destas células,
formando o sistema lacuno-canalicular. Existe, portanto, tanto no osso compacto como
no osso esponjoso, intenso tráfego no interior da matriz mineralizada de um fluido ósseo,
cuja composição é semelhante à do plasma sanguíneo e pelo qual chegam os nutrientes
e sinais a todos os osteócitos.
As pressões e trações que ocorrem nos ossos, seja pelas atividades fisiológicas ou
estimuladas por exercícios físicos, movimentam o tráfego do fluido ósseo pelos cana-
lículos, estimulando a expressão de esclerostina nos osteócitos, a qual funciona como
antagonista do receptor 5 para lipoproteína (LRP5), que por sua vez é um estimulador
da manutenção da massa óssea. Além disso, a esclerostina inibe a via Wnt/b-catenina,
inibindo, dessa maneira, a diferenciação e/ou a ativação osteoblástica. Contrariamente,
a redução na difusão do fluido ósseo pelos canalículos desencadeia alterações nos 225
11 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Osteoclastos
Os osteoclastos são as células que reabsorvem a matriz mineralizada do osso. Di-
ferentemente das células vistas anteriormente, os osteoclastos derivam de células
precursoras mononucleares, as quais, por sua vez, originam-se de células da medula
óssea. As células-tronco multipotentes da medula óssea originam as células mie
loides, capazes de se proliferar e se diferenciar em células sanguíneas da família dos
leucócitos, entre as quais se encontra a denominada célula formadora de colônias da
linhagem monocítica-macrofágica, cujo recrutamento depende de interações entre
osteoblastos/células de revestimento ósseo, células do estroma da medula óssea e as
próprias células hematopoiéticas, as quais liberam fatores como a interleucina-3 (IL-3)
e o fator estimulante de colônias da linhagem monocítica (M-CFS), para os quais
os precursores dos osteoclastos respondem se proliferando e, em seguida, fundindo-se,
originando células multinucleadas, contendo entre três e 50 núcleos. Além disso, os
precursores possuem, na sua membrana plasmática, um receptor denominado receptor
ativador de NF-κB (RANK), o qual é ativado por uma molécula ligante, chamada,
portanto, de RANKL. As células multinucleadas são também ativadas pela interação 227
11 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 11-10 Osteoclasto ativado aderido à matriz óssea, apresentando zona clara
(de adesão) e borda em escova. Notar a lacuna de Howship formada. Microscopia
eletrônica de transmissão.
Matriz Extracelular
Como todo tecido conjuntivo, o tecido ósseo possui células embebidas em matriz ex-
tracelular. A matriz extracelular óssea, entretanto, contém um componente adicional:
cristais de hidroxiapatita estão depositados na matriz orgânica secretada pelos osteo-
blastos, constituindo, assim, o componente inorgânico ou fase mineral da matriz do
229
tecido ósseo.
11 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Fase Mineral
O componente mineral do osso, bem como dos tecidos mineralizados dentários (esmalte,
dentina e cemento) dos vertebrados e, ainda, em regiões de mineralização patológica, é
constituído por fosfato de cálcio na forma de cristais de hidroxiapatita, portanto, em fase
ou estado sólido, razão pela qual o componente inorgânico destes tecidos se denomina
fase mineral. A fórmula da hidroxiapatita pura, que é Ca10(PO4)6OH2 e que significa
uma relação 10/6 entre o cálcio e o fosfato, não se apresenta nos sistemas biológicos,
onde os cristais também contêm carbonato e alguns outros íons, como citrato, sódio,
magnésio, flúor e cloreto, sendo considerada uma apatita deficiente em cálcio, ou uma
apatita carbonatada, contudo a forma de fosfato de cálcio mais estável e, portanto, menos
solúvel, em pH neutro.
Uma condição para que ocorra a precipitação de cristais de hidroxiapatita é a su
persaturação local de íons cálcio e fosfato, fenômeno denominado nucleação. Os
íons cálcio e fosfato estão presentes nos diversos tecidos, combinados com outras
macromoléculas, exercendo importantes funções, como, por exemplo, os íons cálcio
na contração muscular, bem como circulando no sangue e nos fluidos do organismo.
Nestes, tanto o cálcio como o fosfato iônicos estão em concentrações médias (5 mg/dl
230
e 3,5 mg/dl, respectivamente) supersaturadas em relação ao mineral do tecido ósseo.
Tecido Ósseo 11
Figura 11-12 Osteoclasto aderido à matriz óssea apresentando reação positiva para a
enzima TRAP, detectada por método histoquímico.
Essa concentração maior impede a dissolução do mineral do osso, mas não é suficiente
para provocar a nucleação de cristais. Além disso, a supersaturação necessária para
que ocorra nucleação deve ser local, pois de outra maneira ocorreria a mineralização
generalizada no organismo. Isso significa que a nucleação espontânea por supersatu-
ração de íons cálcio e fosfato, que se denomina nucleação homogênea, não ocorre
nos sistemas biológicos, nos quais geralmente existe(m) alguma(s) macromolécula(s)
mediando o processo, denominado, neste caso, nucleação heterogênea. Assim, quando
regiões específicas do organismo necessitam mineralizar, células, no caso do osso, os
osteoblastos, controlam o processo de nucleação heterogênea dos primeiros cristais
de mineral e, posteriormente, o seu crescimento, para garantir a presença da fase
mineral na matriz extracelular óssea, como será explicado na seção correspondente à
ossificação.
Matriz Orgânica
No início da formação óssea, isto é, quando os osteoblastos começam sua diferenciação,
estes depositam uma matriz constituída principalmente por numerosas fibrilas colágenas
do tipo I e abundantes proteoglicanos sulfatados de cadeias longas, do tipo condroitin, 231
11 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 11-14 Matriz óssea onde se visualizam fibrilas colágenas e algumas regiões
nas quais a proteína osteopontina está intensamente marcada com partículas de ouro.
A marcação foi obtida pelo método imunocitoquímico. Microscopia eletrônica de transmissão.
Osteogênese ou Ossificação
A formação do osso, denominada osteogênese ou ossificação, pode ser de dois tipos: em
alguns locais, principalmente na região craniofacial, os osteoblastos se diferenciam direta-
mente das células mesenquimais, as quais inicialmente se proliferam, formando áreas com
aparência macroscópica de membrana, havendo sido este tipo de processo chamado, por isso,
de ossificação intramembranosa. Em outros locais, particularmente em regiões onde é ne-
cessário crescimento, como nos ossos longos ou na base do crânio e na cabeça do côndilo da
mandíbula, é necessária a formação inicial de uma cartilagem hialina, a qual é gradualmente
substituída por tecido ósseo, processo chamado de ossificação endocondral.
Ossificação Intramembranosa
Na maioria das regiões cefálicas do embrião, células indiferenciadas se proliferam e
estabelecem áreas denominadas blastemas ósseos, nas quais se diferenciam em osteo
blastos e formam tecido ósseo. O nome de ossificação intramembranosa deriva das
primeiras observações da segunda metade do século XIX, em que os blastemas das 233
11 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
235
11 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
238
Tecido Ósseo 11
Remodelação óssea
Quando as trabéculas de osso primário estão sendo formadas, aumentando sua espessura
240
e extensão, surge a primeira necessidade de mudança estrutural: o aumento na espessura
Tecido Ósseo 11
Figura 11-21 Matriz óssea em mineralização, onde se observam glóbulos e uma parte
da matriz em que há maior mineralização das fibrilas colágenas. Microscopia eletrônica
de transmissão.
Figura 11-23 Durante a secreção da matriz óssea alguns osteoblastos são aprisionados
na matriz e se diferenciam em osteócitos.
Ossificação endocondral
Com exceção do crânio e da face, os demais ossos do organismo se desenvolvem
subsequentemente à formação de uma cartilagem hialina. A razão fisiológica para isso é
que esses ossos possuem um formato alongado, necessitando, portanto, de um acentuado
crescimento longitudinal. Os condrócitos, como será visto em seguida, respondem
a fatores que geram proliferação. Por esse motivo, a base do crânio e o côndilo da
mandíbula, que são centros de crescimento craniofacial, se desenvolvem também por
244
ossificação endocondral.
Tecido Ósseo 11
Figura 11-26 Linha de revesão entre dois incrementos de matriz óssea. Os pontos
representam a proteína osteopontina marcada com partículas de ouro pelo método
imunocitoquímico. Microscopia eletrônica de transmissão.
Alterações na cartilagem
A presença de um colar de matriz mineralizada envolvendo o molde de cartilagem na
sua porção central passa a representar uma barreira à difusão dos nutrientes para o
centro da cartilagem. Esse fenômeno inicia a ossificação endocondral propriamente
dita, a qual, basicamente, consiste em três etapas (Figura 11-32): hipertrofia dos
condrócitos, mineralização da matriz de cartilagem e apoptose dos condróci
tos e deposição de matriz óssea sobre os finos tabiques de matriz cartilaginosa
calcificada.
Ao terem dificultada sua nutrição, os condrócitos dos grupos isógenos do centro
da cartilagem hialina aumentam seu tamanho, param de secretar colágeno do tipo II
e passam a sintetizar colágeno do tipo X e a liberar algumas metaloproteinases, a
MMP-13 e a MMP-9, as quais degradam fibrilas de colágeno do tipo II, bem como
outras metaloproteinases contendo trombospondina, as ADAMST 1, 4 e 5, que degra-
dam proteoglicanos e complexos de agrecan como um todo. Essa degradação da matriz
permite a expansão do citoplasma dos condrócitos, fenômeno denominado hipertrofia.
O hormônio tireoidiano T3 participa no desencadeamento da hipertrofia dos condró-
citos. Enquanto os condrócitos se hipertrofiam, pequenas porções se destacam da sua
246 membrana plasmática, formando vesículas entre os elementos da matriz cartilaginosa.
Tecido Ósseo 11
Figura 11-28 Matriz óssea apresentando regiões com lamelas concêntricas, onde
no centro se observam canais vasculares.
da regulação da proliferação pelo IHH, a via Wnt também é ativada, bem como a via de
sinalização pelas proteínas morfogenéticas ósseas (BMPs). Nesta última, são ativadas
as moléculas sinalizadoras Smad 1 e 5, as quais também regulam a expressão de IHH
pelos condrócitos. O FGF, especialmente o receptor 3 (FGFR3), também desempenha um
importante papel na regulação da proliferação dos condrócitos. As divisões celulares dos
condrócitos fazem que a faixa de cartilagem da extremidade do molde não seja alcançada
pelas alterações que levam à hipertrofia dos condrócitos e, com isso, gera-se crescimento
direcionado do osso como um todo. A proliferação dos condrócitos ocorre enquanto esses
fatores são liberados, ou seja, até terminar a fase de crescimento do indivíduo.
Nos ossos longos, desenvolvem-se centros secundários de ossificação, os quais
formarão as epífises do osso. Assim, nesses ossos, as regiões da cartilagem em repouso e
a cartilagem em proliferação ficam localizadas entre as epífises em formação e o antigo
molde de cartilagem, que passa a ser a diáfise do osso em crescimento, ou seja, nas
denominadas metáfises, e são chamadas de discos epifisários ou placas de crescimento.
Neles, são sempre observadas cinco zonas, as quais representam a sequência do processo
de ossificação endocondral quando está ocorrendo crescimento longitudinal do osso.
Estas são, no sentido da epífise para o centro da diáfise: zona de cartilagem em repouso,
onde a cartilagem hialina não apresenta alterações; zona de cartilagem em proliferação
ou de cartilagem seriada, onde os condrócitos estão se multiplicando e formando fileiras 251
11 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 11-34 Cartilagem calcificada corada por prata pela técnica de Von Kossa.
Periósteo e endósteo
As superfícies ósseas estão sempre revestidas por uma camada de células: as áreas em
repouso por células de revestimento ósseo, as áreas de formação ou neoformação por
osteoblastos e as áreas onde está ocorrendo reabsorção por osteoclastos. Como nas
superfícies externas, existe uma transição gradual entre a camada de células ósseas e o
tecido conjuntivo que rodeia o osso; nesses locais se observa uma espécie de membrana
fibrosa, denominada periósteo. Diferentemente, nas superfícies internas o revestimento
consiste apenas em uma camada celular, o qual se denomina endósteo.
O periósteo é formado por duas camadas, uma mais profunda, sobreposta às células
ósseas, na qual estão presentes células indiferenciadas, denominada, por isso, camada
osteogênica, e outra, a camada fibrosa, em continuidade com essas células, onde se
encontram algumas camadas de fibroblastos, com fibras colágenas entre eles. O periósteo
desempenha importante papel na reparação óssea, especialmente após fraturas, enquanto
a camada fibrosa é vascularizada, fornecendo, assim, o suprimento sanguíneo necessário.
A camada osteogênica é responsável pelo fornecimento das células que se diferenciarão
em novos osteoblastos (Figura 11-36).
Inervação e Vascularização
O periósteo que envolve o osso é altamente vascularizado. Entretanto poucos canais
vasculares se originam do periósteo para o interior do osso compacto. Geralmente todo
osso possui um canal através do qual penetram arteríolas e saem vênulas. Assim, os vasos
se ramificam na medula óssea e das cavidades medulares se origina a maioria dos finos
capilares contidos nos canais vasculares. Como mencionado anteriormente, o tecido
ósseo é altamente dependente de vascularização (Figuras 11-37 e 11-38).
As fibras nervosas presentes no periósteo penetram também no interior das cavidades
medulares. Porém, estas não estão presentes nos canais vasculares do osso compacto,
sendo raramente encontradas no seu interior.
Leitura adicional
Anderson HC. Matrix vesicles Bonewald LF. The amazing into bone in the developing
and calcification. Curr osteocyte. J Bone Miner Res skeleton. Int J Biochem Cell
Rheumatol Rep 2003;5:222-6. 2011;26:229-38. Biol 2008;40:46-62.
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Bradaschia-Correa V. Clastic Katchburian E. Combined Yang S, Li YP. Signaling
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Riminucci M, Cancedda R. 2003;38:223-6.
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chondrocyte. Matrix Biol Endochondral ossification:
1998;17:185-92. how cartilage is converted
256
Tecido Muscular 12
28
Sumário
Músculo Estriado Esquelético 258
Miogênese 258
Organização dos Músculos Estriados Esqueléticos 259
Célula (Fibra) Muscular Estriada Esquelética 260
Miofibrilas 260
Mecanismo de Contração Muscular Esquelética 264
Túbulos “T” e Tríade 267
Unidade Motora 268
Fuso Neuromuscular 270
Músculo Estriado Cardíaco 271
Célula Muscular Cardíaca 272
Discos Intercalares 273
Miofibrilas e Túbulos “T” no Músculo Cardíaco 274
Mecanismo de Contração Cardíaca 274
Músculo Liso 275
Célula Muscular Lisa 275
Regeneração Muscular 278
sendo sua contração lenta. Em todos os tipos de músculo, a energia liberada pela hidrólise
do trifosfato de adenosina (ATP) é convertida em energia mecânica que gera a contração
muscular.
Miogênese
A miogênese é um processo embrionário que começa com o comprometimento de
precursores originados de alguns somitos do embrião. Esses precursores se proliferam,
abandonam o ciclo celular e entram em um processo de diferenciação em mioblastos,
tornando-se, depois, miócitos pós-mitóticos, os quais se fundem para formar miotubos
multinucleados. O processo de miogênese é controlado por alguns fatores de trans-
258
crição miogênicos que atuam como efetores terminais de cascatas de sinalização,
Tecido Muscular 12
Figura 12-2 Tecido muscular estriado esquelético, onde se veem fibras alongadas
apresentando diversos núcleos.
Miofibrilas
As miofibrilas são cilíndricas, com diâmetro de 1 a 2 mm, e estão dispostas longitudinalmente
à fibra muscular e são os elementos contráteis desta. A estriação característica observada ao
microscópio de luz deve-se à alternância de bandas escuras e claras. A banda escura denomi-
na-se banda A, devido a ser anisotrópica na microscopia de polarização; por sua vez, a banda
260
clara chama-se banda I, por ser isotrópica. A banda I apresenta uma linha escura, chamada
Tecido Muscular 12
de linha Z, enquanto a banda A apresenta uma zona mais clara no seu centro, chamada de
banda H. Como a alternância das bandas se repete ao longo da miofibrila, foi estabelecida
uma unidade de repetição denominada sarcômero (Figura 12-4). Cada sarcômero possui
2,2 mm de comprimento e compreende a parte da miofibrila contida entre duas linhas Z,
261
sendo constituído, portanto, de uma banda A no meio de duas hemibandas I.
12 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
e flexível que liga a actina ao sarcolema. Esta ligação estabiliza o sarcolema durante as
tensões sofridas por este durante a contração muscular. Esta proteína está ausente nos
pacientes com distrofia muscular.
o ângulo da cabeça com a cauda (que era ângulo reto) para um pouco mais de 90°. Com
isso ocorre hidrólise do ATP, porém os seus produtos ADP e Pi permanecem firmemente
ligados à cabeça de miosina. Entretanto, a cabeça liga-se ao filamento por meio de uma
ligação fraca que promove a liberação do Pi, aumentando a força de ligação da cabeça
com o filamento de actina, produzindo-se o movimento de potência pelo qual a cabeça
readquire sua posição (e angulação) original. Como esta está ligada ao filamento,
sua “dobra” para a angulação original desloca o filamento no sentido da extremidade
“menos”, terminando um ciclo de contração. Com o movimento, a cabeça perde o ADP,
retornando tudo ao momento inicial de um novo ciclo (Figura 12-9).
Dessa maneira, a cabeça de miosina “caminha” ao longo do filamento de actina em
uma única direção, no sentido da extremidade “mais” deste, ou seja, aproximando-se da
linha Z (Figura 12-10). Como cada filamento de miosina possui ao redor de 300 cabeças, 265
12 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
cada cabeça realiza cinco ciclos de contração por segundo, fazendo os filamentos de
actina e miosina deslizarem com uma velocidade de 15 nm/s.
Todas as miofibrilas se contraem ao mesmo tempo porque o sinal proveniente da
membrana plasmática da célula muscular é transmitido, via túbulos “T” e retículo
sarcoplasmático, num intervalo de milissegundos para cada sarcômero. O aumento da
concentração do Ca+2 é transitório, pois este é recaptado para o retículo sarcoplasmático
por uma Ca+2-ATPase existente na membrana do retículo. Aproximadamente em 30
milissegundos a concentração de Ca+2 no citoplasma alcança níveis de repouso, com o
266
qual as miofibrilas relaxam.
Tecido Muscular 12
Figura 12-11 Disposição das tríades, estruturas formadas pelos túbulos T e cisternas
do retículo sarcoplasmático adjacentes, no interior de uma fibra muscular.
nas regiões das tríades e das placas motoras e ocupam ao redor de 2% do volume do
sarcoplasma.
Um componente abundante nas fibras musculares estriadas é o glicogênio, disposto
em grânulos que constituem 0,5%-1% do peso do músculo. O glicogênio representa
depósito de energia para a contração muscular. A mioglobina também está presente em
consideráveis quantidades por ser uma proteína que armazena oxigênio e é a responsável
pela cor vermelho-escura dos músculos, especialmente aqueles que contêm as chama-
das fibras do tipo I, que se contraem continuamente; nestas fibras a energia é obtida
principalmente da fosforilação oxidativa dos ácidos graxos. Nos músculos em que a
quantidade de mioglobina é menor, a cor é vermelho-clara; estas são as fibras do tipo II,
que se contraem rápida, porém descontinuamente. Os músculos estriados esqueléticos
humanos possuem proporções diferentes dos diferentes tipos de fibras.
Unidade motora
Uma fibra nervosa pode inervar entre uma e 160 ou mais fibras musculares estriadas
esqueléticas, constituindo uma unidade motora. Assim, várias fibras nervosas podem
inervar um mesmo músculo, o qual estaria então constituindo várias unidades motoras.
Essa característica determina que, em um dado músculo, algumas fibras possam se con-
trair, enquanto outras possam permanecer relaxadas. Por essa razão o grau de contração
268
de um músculo é determinado pelo número de unidades motoras acionadas e o tamanho
Tecido Muscular 12
de cada unidade, ou seja, pelo número de fibras musculares que se contraem. Por isso,
quanto maior o número de unidades motoras de um músculo, maior a precisão dos
movimentos gerados por este, enquanto um músculo com menor número de unidades
motoras contrair-se-á de maneira menos precisa, porém mais potente.
No local da inervação, o nervo perde sua bainha de mielina e forma uma dilatação
que se localiza em uma depressão da superfície da fibra muscular, estabelecendo, com
o sarcolema desta região, a placa motora, um tipo especializado de sinapse química
chamado também de junção neuromuscular (Figura 12-12). Quando o impulso nervoso
vindo pela fibra do nervo motor atinge o terminal do nervo, despolariza a membrana
do terminal. Essa despolarização abre transitoriamente canais de Ca+2 controlados por
voltagem nessa membrana. Como a concentração de Ca+2 é 1.000 vezes maior fora da
célula, entra Ca+2 no terminal nervoso. O aumento da concentração de Ca+2 no citosol
do terminal nervoso dispara a liberação do neurotransmissor acetilcolina, que se difunde
pela fenda sináptica. O neurotransmissor descarregado na fenda sináptica vai prender-se
nos receptores de acetilcolina do sarcolema, ficando este mais permeável ao sódio,
resultando na despolarização da membrana (Figura 12-13).
O receptor de acetilcolina é composto de cinco polipeptídios transmembrana dis-
postos em anel ao redor de um canal transmembrana preenchido por água: dois poli-
peptídios são de um tipo e os outros três, de tipos diferentes, codificados por quatro
genes distintos. Como estes são muito semelhantes nas suas sequências, acredita-se
que os quatro evoluíram de um único gene ancestral. Cada um dos dois polipeptídios
idênticos do pentâmero tem um sítio ligador para acetilcolina. Quando duas moléculas
de acetilcolina ligam-se ao pentâmero, introduzem uma mudança conformacional
que abre o canal, que permanece aberto por cerca de 1 milissegundo e então se fecha. 269
12 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Fuso neuromuscular
A posição dos membros do aparelho locomotor e o estado de contração dos diversos
270
músculos do corpo são continuamente controlados pelo sistema nervoso central (SNC)
Tecido Muscular 12
por meio da propriocepção. Para isso os músculos possuem uma estrutura sensorial
denominada fuso neuromuscular.
Cada fuso neuromuscular é composto por um conjunto de 12 a 14 fibras mus-
culares estriadas e fibras nervosas motoras e sensitivas. No centro do fuso há uma
ou mais fibras musculares intrafusais especializadas, que são cercadas pelas
demais fibras musculares extrafusais não especializadas. As fibras intrafusais
são inervadas pelos neurônios motores gama, enquanto as extrafusais recebem
inervação de neurônios motores alfa (Figura 12-15).
As terminações nervosas sensoriais presentes nas fibras intrafusais percebem o grau
de tensão e o comprimento do músculo. Na contração muscular, o músculo é encurtado,
o fuso neuromuscular se relaxa e não sofre tensão. Neste momento, os neurônios-gama
são ativados e estimulam a contração dos polos do fuso, o que estimula o estiramento do
músculo.
Além do fuso neuromuscular, estruturas denominadas órgãos tendinosos de Golgi
localizadas nas fibras extrafusais transmitem ao SNC informações sobre a força de con-
tração e o estiramento muscular.
A percepção da posição e do comprimento dos músculos pelos fusos neuromusculares
e órgãos tendinosos de Golgi promove a alternância de estímulos de contração e es-
tiramento, permitindo o controle da postura corporal e dos movimentos.
Figura 12-16 O músculo estriado cardíaco apresenta células com aparência estriada,
com um ou dois núcleos.
Discos intercalares
Como as células musculares cardíacas se anastomosam, nas regiões de contato entre
elas aparecem linhas transversais fortemente coradas chamadas de discos intercalares
(Figura 12-16). Estes representam junções intercelulares formadas em linha reta ou com
aspecto de escada entre as extremidades de duas células musculares cardíacas. Estão
localizados nestas regiões dois tipos juncionais: aderentes e comunicantes. As junções
aderentes incluem tanto zônula de adesão como desmossomos. Na zônula de adesão,
que contém a-actinina e vinculina, ancoram-se os filamentos de actina dos sarcômeros
terminais. Os desmossomos exercem forte adesão entre as células, mantendo-as unidas
mesmo durante a contração do músculo cardíaco. As junções comunicantes se situam
na porção longitudinal da célula e são responsáveis pela continuidade iônica das células
273
adjacentes e a contração sincrônica do músculo.
12 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
O arranjo do aparato contrátil das células musculares cardíacas é idêntico ao das fibras
musculares esqueléticas, ou seja, os filamentos de actina e miosina do citoesqueleto e
demais proteínas se organizam formando sarcômeros (Figura 12-17).
Músculo liso
Diferentemente dos dois tipos anteriores de tecido muscular, o músculo liso não apresenta
estriação. Está presente nas paredes contráteis do tubo digestório, do útero, das paredes
das artérias e em outras estruturas que precisam de contração lenta e sustentada. Suas
células são longas, porém afiladas nas suas extremidades, apresentando um único núcleo
central alongado (Figuras 12-18 e 12-19). O tamanho das células varia, sendo muito
pequenas nas paredes dos vasos sanguíneos (20 mm) e muito grandes nas paredes do útero
grávido (500 mm). Todavia, em algumas ocasiões, como na gravidez, são aumentados
tanto o número das células como o tamanho destas.
calmodulina, uma proteína com afinidade por este íon e que participa da contração em
células não musculares. Os complexos Ca+2-calmodulina ativam a quinase da cadeia
leve de miosina, enzima que catalisa a fosforilação da miosina, mudando a conformação
da cabeça de miosina, resultando no deslizamento dos filamentos de actina, contraindo-se
a célula e, portanto, o músculo liso. Como as células musculares lisas não possuem
sistema T e seu retículo sarcoplasmático é muito reduzido, elas não estocam Ca+2,
como ocorre nos músculos estriados. A entrada de Ca+2 ocorre por meio de numerosas
vesículas de pinocitose.
Além dos filamentos de actina e miosina, as células musculares lisas contêm filamentos
intermediários de desmina, embora as células do músculo liso dos vasos sanguíneos
possuam também vimentina associada à desmina.
Umas estruturas características das células musculares lisas são os corpos densos, loca-
lizados tanto associados a regiões do sarcolema como presentes no interior do sarcoplas-
ma. Estes contêm a-actinina, sendo semelhantes à linha Z dos músculos estriados e ser-
vindo de ponto de ancoragem durante a contração muscular (Figuras 12-20 e 12-21).
A inervação do músculo liso provém basicamente do sistema nervoso autônomo. Os
axônios penetram no músculo e terminam formando dilatações a distâncias variáveis
(10-100 nm) das células musculares lisas. Nessas dilatações existem vesículas sinápticas
contendo os neurotransmissores acetilcolina (terminações colinérgicas) ou noradrenalina
(terminações adrenérgicas). Estas terminações têm efeito antagônico; porém esse efeito
não é o mesmo: enquanto para um dado músculo as terminações colinérgicas estimulam
e as adrenérgicas inibem a contração, para outros o efeito é inverso. 277
12 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Figura 12-21 Aspecto da célula muscular lisa não contraída e, abaixo, a célula
contraída. Na contração, os corpos densos se aproximam.
Regeneração muscular
A regeneração não é uma característica notável no tecido muscular. O músculo cardíaco
não se regenera, enquanto esta capacidade é muito limitada no músculo estriado esque-
lético. Entretanto o músculo liso, sim, possui capacidade regenerativa.
No músculo estriado esquelético existem algumas células presentes dentro da lâ-
mina basal que rodeia as fibras, as quais são chamadas de células-satélites. Estas são
mononucleadas e fusiformes, sendo consideradas mioblastos mitoticamente quies-
centes. Quando ocorre uma lesão no músculo esquelético, estas células são ativadas e
expressam o fator de transcrição MyoD, que estimula seu retorno ao ciclo celular e,
com isso, ocorre a proliferação destas células. As novas células se fundem às fibras mus-
culares preexistentes para formar novas fibras musculares (Figura 12-22). Acredita-se
que estas células possam ser ativadas após trauma ou sob estímulos constantes, como
os exercícios físicos intensos. Assim, elas contribuiriam para a hipertrofia muscular
resultante da atividade física.
Já o músculo liso responde melhor a estímulos, entrando em mitose. No músculo liso
presente nas paredes dos vasos sanguíneos a regeneração é possível também graças a
células presentes nestes locais, denominadas pericitos, as quais entram em mitose e
originam novas células musculares lisas.
278
Tecido Muscular 12
279
12 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Leitura adicional
Aoki MS, Miyabara EH, the size of the locomotor Sorrentino V. Sarcoplasmic
Soares AG, Saito ET, cell. J Biochem Cell Biol reticulum: Structural
Moriscot AS. mTOR 2010;42:1376-79. determinants and protein
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induced by stretching. Cell protein kinases critical Vierck J, O’Reilly B, Hossner
Tissue Res 2006;324:149-56. to mammalian skeletal K, Antonio J, Byrne K,
Glass DJ. Skeletal muscle myogenesis. Skel Muscle Bucci L, Dodson M. Satellite
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signaling pathways. Int Kresh JY, Chopra A. myotrauma caused by
J Biochem Cell Biol Intercellular and extracellular resistance exercise. Cell Biol
2005;37:1974-84. mechanotransduction in Int 2000;24:263-72.
Karagounis LG, Hawley JA. cardiac myocytes. Eur J
Skeletal muscle: Increasing Physiol 2011;462:75-87.
280
Tecido Nervoso 13
28
Sumário
Os Neurônios 282
Corpo Celular ou Pericário 284
Dendritos 286
Axônio 286
Fibras Nervosas Mielínicas e Amielínicas 287
Histofisiologia do Neurônio 291
Condução do Impulso Nervoso 291
Neurotransmissores e Sinapses 293
Neuroglia 296
Células 297
Astrócitos 297
Oligodendrócitos e Células de Schwann 299
Microglia 299
Células Ependimárias 299
Sistema Nervoso Central 299
Sistema Nervoso Periférico 303
Gânglios 304
por encéfalo, medula espinhal e porção neural do olho (retina), e sistema nervoso
periférico (SNP), formado por nervos e gânglios.
As células que compõem o tecido nervoso são os neurônios as células da glia,
e, dependendo do sistema (central ou periférico), estas apresentam denominações e
características específicas. No SNC, as diferentes partes dos neurônios se localizam em
regiões diferentes dos órgãos. No cérebro, por exemplo, os corpos celulares ou pericários
dos neurônios (parte da célula onde se situa o núcleo) são localizados na substância
cinzenta, enquanto seus axônios são localizados na substância branca.
Os neurônios
As células que representam a unidade funcional do sistema nervoso são os neurônios,
cuja tarefa fundamental é receber, conduzir e transmitir sinais. Para isso eles apresentam
regiões diferentes de seu citoplasma responsáveis por funções distintas. A porção do
neurônio cujo citoplasma possui o núcleo celular é chamada de pericário, enquanto
sua membrana plasmática apresenta uma série de prolongamentos. Estes são divididos
em dois grupos: os dendritos, que são numerosos prolongamentos arranjados como
galhos de uma árvore, responsáveis em receber os estímulos do ambiente e também de
outros neurônios; e o axônio, que é, na maioria dos casos, um prolongamento único,
que conduz impulsos e transmite informações para outros neurônios ou para células de
outros tecidos.
A superfície dos dendritos apresenta estruturas protrusas denominadas espinhas den-
dríticas, onde são estabelecidas as conexões sinápticas com outro neurônio. O axônio
dos neurônios geralmente apresenta uma ramificação terminal, a qual é denominada
telodendro. As porções terminais de cada ramificação do telodendro apresentam uma
dilatação, que é denominada botão sináptico (Figura 13-1).
As dimensões dos neurônios e dos seus prolongamentos são muito variáveis. O corpo
celular pode ser esférico, piriforme ou anguloso. De acordo com a morfologia dos
neurônios, eles podem ser classificados de maneiras diferentes. Os neurônios multi-
polares apresentam numerosos dendritos originados do pericário e geralmente apenas
um axônio, o qual pode alcançar até 1 metro de comprimento. Os neurônios bipolares
têm apenas um dendrito e um axônio; além disso, alguns neurônios apresentam um só
prolongamento originando-se do pericário, o qual logo se divide em dois, dirigindo-se
um para o SNC e outro para o SNP, denominando-se neurônios pseudounipolares.
Os neurônios bipolares localizam-se nos gânglios coclear e vestibular, na retina e na
mucosa olfatória. Os neurônios pseudounipolares aparecem na vida embrionária como
neurônios bipolares, mas logo os dois prolongamentos se aproximam e fundem. Portanto,
no organismo adulto, são encontrados nos gânglios espinhais, que são gânglios sensitivos
(Figura 13-2).
Os neurônios também são classificados pela sua função: os neurônios motores con
trolam órgãos efetores como glândulas e músculos; os neurônios sensoriais recebem
estímulos sensoriais tanto do meio externo como do próprio organismo. Os interneu-
282
rônios estabelecem a conexão entre diferentes neurônios.
Tecido Nervoso 13
Figura 13-1 Estrutura do neurônio. A bainha de mielina não faz parte do neurônio, ela
envolve o axônio e é formada por outras células.
283
Figura 13-2 Tipos de neurônio de acordo com a morfologia.
13 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Dendritos
Os dendritos são prolongamentos que se originam no pericário, cuja principal
função é aumentar consideravelmente a superfície celular para esta receber impulsos
trazidos por numerosos terminais axônicos. Os dendritos ramificam-se muito, como
galhos de uma árvore, tornando-se a cada vez mais finos nas extremidades. Apre
sentam pequenas projeções citoplasmáticas chamadas de espinhos ou gêmulas, que
correspondem a locais de contato sináptico. O citoplasma da região dos dendritos
próxima ao pericário apresenta composição semelhante à do pericário, exceto pela
ausência de aparelho de Golgi.
Axônio
O axônio é uma projeção única do neurônio, com diâmetro uniforme e muito longo,
podendo alcançar até 1 metro de comprimento. Origina-se de uma estrutura piramidal
do corpo celular, chamada de cone de implantação, a qual é pobre em retículo endo
plasmático rugoso e em polirribossomos. A porção inicial do axônio, próxima do cone
de implantação, denomina-se segmento inicial e recebe numerosos estímulos a partir
dos quais pode originar-se um potencial de ação. Já a porção final do axônio é muito
ramificada e chama-se telodendro.
O citoplasma contido no axônio denomina-se axoplasma e apresenta poucas organelas,
como mitocôndrias e cisternas de retículo endoplasmático liso, porém possui abundantes
microtúbulos e neurofilamentos. A presença desses neurofilamentos é devida ao intenso
tráfego de moléculas e organelas ao longo do axônio. As moléculas proteicas sintetizadas
286
no pericário migram pelos axônios, constituindo o fluxo anterógrado. Consequentemente
Tecido Nervoso 13
Os nervos do SNP são constituídos por várias fibras nervosas. Como geralmente estas
fibras são mielínicas, a cor desta outorga uma cor esbranquiçada aos nervos. O nervo é
rodeado externamente por um tecido conjuntivo denso chamado de epineuro. Entretanto,
como geralmente um nervo tem vários feixes de fibras nervosas, cada um desses feixes
está envolvido por septos de tecido conjuntivo denominado, no conjunto, perineuro. As
células do perineuro estabelecem junções entre si, as quais incluem junções oclusivas,
constituindo uma barreira à passagem de macromoléculas. Além disso, cada fibra nervosa
rodeada por uma célula de Schwann, a qual possui uma lâmina basal, está rodeada por
finas fibras reticulares sintetizadas pelas próprias células de Schwann, que constituem
289
o endoneuro (Figuras 13-10 a 13-14).
13 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
290
Figura 13-11 Nervo composto por diversos fascículos. Observam-se o perineuro
e o epineuro.
Tecido Nervoso 13
Histofisiologia do Neurônio
Condução do Impulso Nervoso
Seja qual for o estímulo ou a intensidade deste, a forma do sinal transportado pelo neu
rônio é sempre a mesma, consistindo em mudanças no potencial elétrico por meio da sua
membrana plasmática. A comunicação ocorre porque uma perturbação elétrica ocorreu
em uma região da membrana. Para a manutenção da intensidade desta perturbação,
evitando que esta se torne fraca à medida que se afasta da região inicial, ocorre gasto de
energia para amplificá-la durante sua propagação. Assim, um estímulo elétrico que exceda
certo limiar dispara uma explosão de atividade que é propagada ao longo da membrana
plasmática do neurônio e mantida por amplificação automática. Essa onda propagada de
excitação elétrica chama-se potencial de ação ou impulso nervoso. Os potenciais de
ação são devidos à presença de canais de cátions regulados por voltagem.
As membranas das células eletricamente excitáveis (neurônios, fibras musculares, cé
lulas endócrinas, células do óvulo) contêm canais de cátions com portões controlados
por voltagem, os quais são responsáveis pela geração de potenciais de ação.
Um potencial de ação é disparado por uma despolarização da membrana plasmática,
ou seja, por um deslocamento do potencial de membrana para um valor menos negativo.
Um estímulo que cause uma suficiente despolarização faz imediatamente abrir canais de
Na+ controlados por voltagem, o que permite que uma pequena quantidade de Na+ entre
na célula a favor do seu gradiente eletroquímico. Essa entrada (influxo) de íons positivos
despolariza mais a membrana, abrindo mais canais de Na+, entrando mais íons Na+ com
os quais a despolarização aumenta. Entretanto, os canais de Na+ possuem um mecanismo
automático de inativação, fechando-se rapidamente, apesar de a membrana ainda estar 291
13 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Neurotransmissores e sinapses
Os impulsos nervosos são transmitidos de um neurônio para outro ou para uma célula
efetora por meio de mediadores químicos acumulados nas vesículas sinápticas, cha
293
mados, por isso, de neurotransmissores.
13 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
As sinapses são estruturas altamente especializadas pelas quais o impulso nervoso é trans
mitido no sistema nervoso. A maioria das sinapses ocorre entre um axônio e um dendrito
(axodendríticas) ou entre um axônio e o pericário (axossomática), mas também ocorrem
entre dendritos (dendrodendríticas) e entre axônios (axoaxônicas) (Figura 13-15).
Na porção terminal de um axônio, estabelecem-se expansões em forma de bulbo,
chamadas de botões terminais. Todavia, quando nessa porção terminal os botões
ocorrem um a continuação do outro, denominam-se botões em passagem.
Nas sinapses, as membranas das duas células nervosas estão separadas por um espaço de
20-30 nm, denominado fenda sináptica. A membrana do terminal axônico é a membrana
pré-sináptica, enquanto a membrana do dendrito, pericário ou axônio é a membrana
póssináptica. Em ambas existe um acúmulo de material proteico elétron-opaco na face
interna (citosólica) que outorga um aspecto espessado a essas regiões da membrana plas
mática (Figura 13-16). Na membrana pré-sináptica, esta característica se deve à grande
quantidade de filamentos da proteína sinapsina.
O botão terminal contém escassos neurofilamentos, diferentemente do axônio. Entretanto
estão presentes nessas terminações abundantes mitocôndrias e numerosas vesículas sinápti
cas contendo neurotransmissores. Estas vesículas formadas na região do pericário transitam
pelo axônio até o botão terminal, sendo carreadas pela proteína cinesina. Na membrana da
294 vesícula estão presentes proteínas de ancoragem vesicular, as quais se ligam às proteínas
de ancoragem da membrana, localizadas na membrana pré-sináptica (Figura 13-17).
Tecido Nervoso 13
Neuroglia
A neuroglia, ou simplesmente glia, é o conjunto de células que estão presentes no
SNC, ao lado dos neurônios. O termo neuroglia, ou “cola nervosa”, foi dado porque se
acreditava que estas células constituíssem uma espécie de tecido conjuntivo do SNC.
Estas células são abundantes, calculando-se sua população em 10 células da glia para
296
cada neurônio. Entretanto, elas são pequenas, representando cerca da metade do volume
Tecido Nervoso 13
celular no SNC. Além disso, devido ao seu reduzido tamanho, as células da glia não são
visíveis nos preparados histológicos de rotina, devendo ser impregnadas pela prata ou
ouro para serem identificadas.
As células da glia orientam o crescimento dos dendritos e axônios durante o desen
volvimento do SNC. No adulto, estas células cobrem completamente os neurônios,
desempenhando, portanto, papel de isolantes elétricos, possibilitando o estabelecimento
de circuitos neuronais independentes e evitando a propagação de impulsos além da região
desejada (Figura 13-18).
Células
As células da neuroglia são os astrócitos, os oligodendrócitos, a microglia e as células
ependimárias. Todavia as células de Schwann do SNP são equivalentes às células da
neuroglia do SNC, razão pela qual serão também abordadas.
Astrócitos
Os astrócitos são as maiores células da neuroglia. Possuem um núcleo esférico e central e
numerosos prolongamentos. O citoplasma destas células é pobre em organelas e rico em
filamentos intermediários (Figura 13-19). Os prolongamentos dos astrócitos dirigem-se
a capilares sanguíneos, envolvendo-os completamente, formando as junções oclusivas
que constituem a barreira hematoencefálica (Figura 13-20). Na sua relação com os
capilares, os prolongamentos dos astrócitos formam dilatações, chamadas de pés vas
culares. Além disso, prolongamentos dos astrócitos dirigem-se para a parte mais externa 297
13 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
dos órgãos do SNC, formando uma camada logo abaixo da pia-máter. Desse modo, criam
um compartimento entre a superfície e os capilares sanguíneos, com moléculas e íons
adequados para o bom funcionamento dos neurônios. Outras funções dos astrócitos são
a síntese de substâncias tróficas para os neurônios e a retirada de excesso de K+ e de
298
neurotransmissores como glutamato e GABA.
Tecido Nervoso 13
Existem dois tipos principais de astrócitos, os protoplasmáticos, na substância branca,
e os fibrosos, na substancia cinzenta. Contudo considera-se que ambos os tipos sejam,
na verdade, duas variedades morfológicas da mesma célula, devido a sua adequação a
diferentes localizações.
Microglia
As células que constituem a microglia são pequenas, com seu corpo celular alongado
e curtos prolongamentos cobertos por saliências finas que lhes conferem um aspecto
espinhoso. Este grupo celular da neuroglia é menos numeroso que os anteriormente
abordados, porém encontra-se tanto na substância cinzenta quanto na branca. São
células com capacidade macrofágica, pertencendo, portanto, ao sistema mononuclear
fagocitário.
Células ependimárias
As células ependimárias derivam do revestimento interno do tubo neural embrionário e
se mantêm em arranjo epitelial. Assim, estas células revestem as cavidades do encéfalo
e da medula espinhal, estando em contato com o líquido cefalorraquidiano presente
nestas cavidades.
As células ependimárias são cilíndricas, porém com base afiada, que dá origem a
prolongamentos que se colocam no interior do tecido nervoso.
destas partes dos neurônios, também estão presentes as células da glia (astrócitos proto
plasmáticos e microglia).
Na substância branca do SNC são encontrados axônios mielinizados, oligodendrócitos
e demais células da glia, sendo ausentes os corpos celulares de neurônios.
No cérebro e no cerebelo, a substância cinzenta se localiza na periferia destes órgãos e
constitui o córtex cerebral e o córtex cerebelar, respectivamente. A substância branca,
por sua vez, tem localização central. Eventuais regiões de subtância cinzenta podem ser
encontradas em meio à substância branca, e denominam-se núcleos.
No córtex cerebral, os neurônios têm propriedades diferentes dependendo de sua
localização. Alguns neurônios recebem e processam informações sensoriais, sendo
considerados neurônios aferentes. Em outras regiões, os neurônios geram impulsos
que comandam movimentos, sendo estes chamados neurônios eferentes.
No córtex cerebelar, diferentemente do cérebro, que tem apenas uma camada, há três
camadas distintas com diferentes grupos de células em cada uma delas (Figura 13-23). A
camada mais externa é a camada molecular. Na camada intermediária estão localizadas
as células de Purkinje, que são neurônios de corpos celulares muito grandes, com nume
rosos dendritos arranjados em leque que preenchem grande parte da camada molecular
(Figura 13-24). Na camada granulosa, que constitui a camada interna, encontram-se muitos
300
pequenos neurônios. No centro do cerebelo há substância branca, como no cérebro.
Tecido Nervoso 13
Figura 13-27 Terminações nervosas sensitivas na pele. Coloração pelo método de Cajal.
Gânglios
Os gânglios são acúmulos de corpos celulares de neurônios fora do SNC. São estruturas
arredondadas revestidas por cápsula de tecido conjuntivo, situadas em regiões específicas
do organismo e até mesmo em alguns órgãos. Os gânglios podem ser classificados de
acordo com a natureza de seus impulsos nervosos: sensoriais ou gânglios do sistema
nervoso autônomo.
Os gânglios sensoriais apresentam neurônios pseudounipolares, que transmitem
para o SNC informações capturadas a partir de estímulos de órgãos sensoriais, como a
pele (Figura 13-27). Geralmente estão associados aos nervos cranianos ou aos nervos
espinhais (Figura 13-28). As células da glia situadas nos gânglios são denominadas
células-satélites.
Os gânglios do sistema nervoso autônomo se localizam no interior de alguns órgãos,
especialmente no tubo digestivo, formando os gânglios intramurais. Estes gânglios não
apresentam cápsula conjuntiva e são constituídos por neurônios multipolares e poucas
células-satélites (Figura 13-29).
304
Tecido Nervoso 13
305
13 Biologia Celular e Tecidual para Odontologia: Moléculas, Células e TECIDOS
Leitura adicional
Baas PW, Lin S. Hooks Lee A, Pow DV. Astrocytes: transport in neuronal
and comets: the story Glutamate transport polarization. Develop
of microtubule polarity and alternate splicing of Neurobiol 2011;71:445-57.
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Casatti CA, Frigo L, Bauer Williams DA. Microglia: system structure, function,
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306
dye fast blue. J Dent Res Funajashi Y, Kaibuchi
1999;78:776-83. K. The role of selective
Índice
I M N
importina, 5 M-Cdk, 29, 30 NADH, 148
impulso nervoso, 269, 291 macrófagos, 99, 182 não polar, 44
imunoglobulinas, 187 mastócito, 185 nebulina, 263
incisuras de Schmidt-Lantermann, matriz, 206 necrose celular, 39
288 extracelular, 179, 187, neurofilamentos, 128, 130,
influxo, 291 229 284, 286
inibidores interterritorial, 210 neuroglia, 296
competitivos, 53 mitocondrial, 144 neurônios, 282
de proteases, 198 pericentriolar, 118 aferentes, 300
iniciação, 87 territorial, 210 bipolares, 282
instabilidade dinâmica, 31, 118 mediadores químicos, 293 eferentes, 300
integrinas, 52, 67, 70, 200 melanina, 284 motores, 282
intérfase, 22 membrana motores alfa, 271
interleucina-3, 227 basal, 74, 163 motores gama, 271
interneurônios, 282 estrutura da, 43 multipolares, 282
internódulo, 288 externa, 146 pseudounipolares, 282
íntrons, 8, 17 interna, 146 sensoriais, 282
íons, 52 pós-sináptica, 294 neurotransmissores, 293
permeantes, 60 pré-sináptica, 294 neutrófilos, 99, 183
isodesmosina, 195 meninges, 303 nexinas, 127
isoformas, 17, 199 meromiosina leve, 262 nicotina adenina dinucleotídeo
meromiosina pesada, 262 (NAD), 148
J mesaxônio, 288 nidogênio, 74, 75
jangadas lipídicas, 47 mesênquima, 155 nódulos de Ranvier, 288
junção neuromuscular, 269 metabolismo aeróbio, 273 nucleação, 230
junções metáfase, 32 heterogênea, 231
aderentes, 63 metaloproteinases, 229, 246 homogênea, 231
comunicantes, 61, 68 micelas, 45 núcleo, 1
de adesão, 61, 63 celular, 79
micro-RNAs, 20
intercelulares, 61, 164 nucléolos, 17
microglia, 185, 299
oclusivas, 61, 61 nucleoporinas, 4
microtúbulos, 284
focais, 61 núcleos, 300
astrais, 30, 31
maculares, 61 nucleossomos, 9
cinetocóricos, 30, 32
zonulares, 61 nucleotídeos, 6
polares, 30, 31
L microvilos, 165
lacunas, 220 mineralização da matriz O
lamelas, 243 de cartilagem, 246 ocludinas, 62
lamelipódios, 133 mioblastos, 258 octâmero de histonas, 9
lamina A, 6 miocárdio, 272 oligodendrócitos, 287, 299
lamina B, 6 miócitos, 258 oligossacarídeos
lamina C, 6 miofibrilas, 260 complexos, 96
lâmina basal, 74, 200 miogênese, 258 oligossacarídeos ricos em
lâmina nuclear, 1, 5, 128, 130 mioglobina, 268 manose, 96
laminas, 30 miosina II, 35 oligossacaril-transferase, 91
laminina, 67, 74, 75, 200 miosinas, 140 organelas, 78
lectina, 51 miotubos, 258 órgãos tendinosos
leptina, 203 miRNAs, 20 de Golgi, 271
leucócitos, 187 mitocôndrias, 80, 143 origem de replicação, 7, 13
leucotrienos, 185 mitose, 23, 29 ossificação, 233
ligação peptídica, 85 molde de cartilagem, endocondral, 233, 244
linha cimentante, 241 245 intramembranosa, 233
linha de reversão, 241 moléculas adaptadoras, 84 pericondral, 245
linha Z, 261 monócitos, 182 osso, 219
linhas cimentantes, 232 monômeros, 114 compacto, 220
lipídios, 43 morte celular programada, 39 esponjoso, 220
lipofucsina, 284 mRNA, 15 imaturo, 243
lipoproteínas de baixa densidade, músculo lamelar, 243
109 cardíaco, 257 primário, 242
lisossomos, 80, 111 esquelético, 257 secundário, 243
lobos, 170 estriado cardíaco, 271 osteoaderin, 197, 233
estriado esquelético, 258 osteoblastos, 220, 222
310 lóbulos, 170
lumican, 197, 233 liso, 257, 275 osteocalcina, 232
Índice
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