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Estudo

Debate Revista Estudo & Debate, Lajeado, v. 30, n. 4, 2023. ISSN 1983-036X
em Gestão DOI: http://dx.doi.org/10.22410/issn.1983-036X.v30i4a2023.3428
Planejamento
http://www.univates.br/revistas

O PAPEL DA MULHER EM CARGOS DE LIDERANÇA NO


AGRONEGÓCIO

Fernanda da Silveira Joia1, Laura Helena Orfão2

Resumo: Este artigo de revisão aborda a ascensão das mulheres no agronegócio brasileiro e seu impacto
transformador, utiliza uma metodologia de revisão integrativa de literatura, exploratória e descritiva, com
abordagem qualitativa. Nas últimas décadas, tem havido um movimento em direção à igualdade de gênero, com
mais mulheres assumindo papéis de liderança no setor agrícola. Elas têm desempenhado um papel fundamental
na produção de alimentos e na gestão das operações agrícolas, demonstrando habilidades notáveis em áreas
como agricultura, pecuária, tecnologia agrícola e gestão sustentável. Apesar dos avanços, ainda existem desafios a
serem superados, como acesso a financiamento, acesso à terra, desigualdade salarial e falta de representatividade.
Também é discutido o papel histórico das mulheres no agronegócio, destacando o progresso na conquista de
espaços de liderança e gestão. Mudanças recentes no setor são abordadas, mencionando estudos que mostram o
aumento da presença feminina e os benefícios da liderança feminina. No entanto, obstáculos persistem, como
a falta de modelos femininos e a dominação masculina construída socialmente. O objetivo deste artigo é trazer
informações que serão capazes de subsidiar iniciativas e boas práticas a fim de promover a liderança feminina no
agronegócio, destacando a conexão entre sustentabilidade e diversidade de gênero.

Palavras-chave: agronegócio, liderança feminina, mulher revisão de literatura e igualdade de gênero.

THE ROLE OF WOMEN IN LEADERSHIP POSITIONS IN


AGRIBUSINESS

Abstract: This review article addresses the rise of women in the Brazilian agribusiness and its transformative
impact, employing an integrative literature review methodology with an exploratory and descriptive qualitative
approach. In recent decades, there has been a movement towards gender equality, with more women taking
on leadership roles in the agricultural sector. They have played a crucial role in food production and the
management of agricultural operations, demonstrating notable skills in areas such as farming, livestock,
agricultural technology, and sustainable management. Despite progress, challenges persist, including access to
financing, land, gender wage gaps, and a lack of representation. The historical role of women in agribusiness
is also discussed, emphasizing progress in gaining leadership and management positions. Recent changes in
the sector are addressed, citing studies that show an increase in female presence and the benefits of female

1 Doutoranda no curso de Pós-Graduação em Agricultura Sustentável da Universidade José do Rosário


Vellano - UNIFENAS
2 Discente no curso de Pós-Graduação em Agricultura Sustentável da Universidade José do Rosário Vellano -
UNIFENAS

-- Artigo recebido em 23/05/2023. Aceito em 27/11/2023. --

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leadership. However, obstacles remain, such as the lack of female role models and socially constructed male
dominance. The objective of this article is to provide information that can support initiatives and best practices
to promote female leadership in agribusiness, highlighting the connection between sustainability and gender
diversity.

Keywords: agribusiness, female leadership, woman, literature review and gender equality.

INTRODUÇÃO
O agronegócio no Brasil tem suas raízes históricas em um extenso processo de
desenvolvimento agrícola ao longo dos séculos. A atividade agropecuária sempre foi uma
parte essencial da economia brasileira, remontando ao período colonial, quando o país era
um importante produtor de cana-de-açúcar. A partir da década de 60, a “Revolução Verde”
foi implantada no país, visando a modernização do campo; no entanto, o agronegócio como
conhecemos hoje começou a ganhar forma a partir da década de 1970. Naquela época,
o governo implementou políticas que incentivaram a modernização da agricultura e a
expansão das fronteiras agrícolas, visando aumentar a produção de alimentos e impulsionar
o crescimento econômico (NETO; DE MELO; MAIA, 2010; BUAINAIN et al., 2014;
FARIAS, 2015).
Historicamente, o setor do agronegócio tem sido predominantemente dominado por
homens, com a mulher desempenhando papéis secundários ou ocupando posições menos
visíveis. Mais precisamente a partir de 2010, observa-se um movimento inspirador em
direção à igualdade de gênero, uma vez que cada vez mais mulheres estão assumindo papéis
de liderança e influência no setor agrícola (DIAS, 2008; FAO, 2011).
Sobral e Ribeiro (2018) destacam que a liderança implica na capacidade de exercer
influência por parte de um indivíduo que possui habilidades particulares, tais como
competências de comunicação, conhecimento e habilidades interpessoais. Essa capacidade
de influenciar pode ser aplicada tanto de forma individual quanto coletiva, com o intuito
de atender às necessidades e metas de uma organização.
Desde cedo as mulheres são orientadas sobre os padrões que devem seguir
ao ingressarem na vida adulta dentro de seu contexto social, promovendo assim o
desenvolvimento do autoconhecimento. Durante a infância, as meninas são instruídas a
se tornarem indivíduos autênticos, assumindo a responsabilidade de buscar independência
financeira e profissional (CUNHA et al., 2014). Com as transformações no cenário do
agronegócio, é gerado o interesse nos benefícios associados à liderança feminina nesse setor,
uma vez que as características específicas do agronegócio podem impactar as questões de
gênero, tanto no que diz respeito à participação das mulheres quanto às disparidades de
rendimento (CASTRO et al., 2022).
Pode-se observar que as mulheres têm desempenhado um papel fundamental na
produção de alimentos e na gestão das operações agrícolas. Elas têm demonstrado habilidades
notáveis em áreas como agricultura, pecuária, tanto familiar como na agroindústria,
tecnologia agrícola e gestão sustentável (SILVA, 2019; RODRIGUES, et al., 2023). No
entanto, suas contribuições muitas vezes foram subestimadas ou até mesmo negligenciadas
(ONDEI, 2021; DOS SANTOS et al., 2022).

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Ainda existem desafios significativos a serem superados. Questões como acesso a
financiamento, acesso a terra, desigualdade salarial e falta de representatividade persistem
no setor agrícola. Apesar de haver um consenso na literatura (FEITOSA; DA SILVA
ALBUQUERQUE, 2019; BALTAR; OMIZZOLO, 2020; TEDESCO, SOUZA, 2020)
de que a participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro tem aumentado de
forma geral (CASTRO et al., 2022), entre os anos de 2014 e 2019 a taxa de participação
feminina chegou a 54,34% (ALPACA, 2022) e de que existe uma diferença de rendimento
entre os gêneros, inclusive devido à discriminação, faz-se necessário reunir informações para
um estudo que delimite essa questão especificamente no setor do agronegócio. Sendo assim,
este artigo tem como objetivo analisar a ascensão das mulheres no agronegócio no Brasil,
nos últimos 10 anos e seu impacto transformador nessa indústria em constante evolução,
com o intuito de compreender os desafios, as oportunidades e as estratégias que contribuem
para o avanço das mulheres em cargos de liderança nesse contexto.

METODOLOGIA
Este artigo foi elaborado a partir de uma revisão integrativa de literatura (SOUZA;
SILVA; CARVALHO, 2010), exploratória e descritiva de abordagem qualitativa, já que
esta abordagem envolve a análise de estudos provenientes de distintos métodos, enfoques e
pontos de vista, com o propósito de abranger de o panorama atual de conhecimento sobre
o papel da mulher em cargos de liderança no agronegócio, possibilitando uma compreensão
mais diversificada. Buscou-se por artigo que continham no título ou palavras-chaves os
termos: agronegócio, liderança feminina, mulher, igualdade de gênero e revisão de literatura,
englobando as informações desde 2010 até o primeiro semestre de 2023.
O principal critério de inclusão desta fundamentação teórica foi conter no título e no
resumo pelo menos 1 palavra-chave descritas anteriormente. Para a seleção de artigos, foram
aplicados de modo sequencial, respectivamente pelo título, pela leitura dos resumos e análise
crítica do material – quando aplicável. Não foram considerados cartas e propagandas.
Como fonte de dados, foram utilizados bases de dados como Google Acadêmico,
a Scielo, bem como livros e revistas. A principal base de dados utilizada foi o Google
Acadêmico, conhecido por sua abrangência e diversidade de fontes acadêmicas. Além disso,
a Scielo foi consultada por sua ênfase em publicações científicas de relevância nacional.
Livros especializados em liderança, especialmente aqueles que abordam o contexto do
agronegócio, foram considerados como fontes complementares. Revistas especializadas
em agricultura, negócios e estudos de gênero foram incluídas para garantir uma análise
contextualizada.
Os principais pontos analisados nas pesquisas selecionadas foram: identificar termos
relevantes, como “mulheres no agronegócio”, “liderança feminina”, “igualdade de gênero no
agronegócio”, “desafios para mulheres em cargos de liderança no agronegócio”; e agrupar
os estudos identificados em categorias temáticas, como “história do papel da mulher no
agronegócio”, “mudanças recentes no cenário do agronegócio”, “obstáculos enfrentados por
mulheres em cargos de liderança”, “benefícios da liderança feminina”, e “iniciativas para
promover a liderança feminina”.

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Papel histórico da mulher no agronegócio
Ao longo dos anos, foi observado um progresso significativo na batalha das mulheres
por igualdade e justiça na esfera profissional, especialmente no agronegócio. A participação
feminina tem desempenhado um papel crucial na asseguração da segurança alimentar e
nutricional das famílias ao longo da história, especialmente devido ao seu envolvimento
no progresso da agricultura. Apesar disso, por bastante tempo, a contribuição das mulheres
nesse setor manteve-se subestimada e pouco reconhecida (SUGUIMOTO et al., 2021).
Inicialmente, as mulheres eram consideradas meras ajudantes de seus maridos,
realizando trabalhos sem reconhecimento ou remuneração. Na Idade Média, uma
sociedade dominada pelo sexo masculino atribuiu às mulheres papéis específicos, como as
tarefas domésticas. Durante o período feudal, as propriedades agrícolas eram divididas em
feudos, e as mulheres contribuíam para a economia rural por meio de serviços prestados
aos senhores, incluindo a fabricação de artigos de luxo e a confecção de tecidos. A vida das
camponesas estava centrada na família e nas tarefas do campo, com uma divisão hierárquica
de responsabilidades entre homens e mulheres (BEZERRA, 2010; LANGBECKER,
2016; CARDOSO, 2019). Ao longo do tempo, entretanto, as mulheres conseguiram
conquistar um espaço mais expressivo no meio rural, desafiando estereótipos e contribuindo
significativamente para a vida no campo.
É possível observar uma diferença positiva quanto aos espaços que as mulheres estão
conquistando, já que estão assumindo cargos de gestão de destaque, demonstrando grande
competência. Além disso, muitas têm alcançado posições gerenciais em empresas privadas
anteriormente ocupadas apenas por homens. Atualmente, muitas mulheres têm se tornado
empreendedoras, liderando seus próprios negócios ou ocupando cargos com autoridade
significativa. Suas competências e habilidades são evidentes na maneira como desempenham
suas funções (MACIEL; DOMINGUES, 2016; SILVA, 2021).
A participação das mulheres na agricultura tem como resultado uma notável
valorização. Isso pode ser evidenciado pela eficiência demonstrada por elas durante a
execução de suas tarefas - o que aponta um papel decisivo nos debates sobre as disparidades
de gênero - especialmente no contexto rural. Anteriormente, todas as atividades agrícolas
eram atribuídas aos homens, principalmente devido ao estereótipo de que a força física era
o recurso principal necessário para realizar esse trabalho (TOPA; SANTOS, 2022).
Além do aspecto financeiro, existem múltiplas dificuldades relacionadas à inclusão
das mulheres em um ambiente de trabalho predominantemente dominado pelos homens.
Especificamente, no setor agropecuário, as atividades associadas a ele historicamente
atribuíram prestígio social ao sexo masculino. Nesse sentido, Bourdieu (2011), sociólogo
francês, argumenta que a dominação masculina é uma forma de dominação simbólica
construída socialmente e reproduzida ao longo da história através dos comportamentos
habituais de homens dominantes e mulheres submissas (BOURDIEU, 2011). Essa
dinâmica de dominação masculina ainda está presente e se perpetua de forma acentuada
no meio rural e nas atividades relacionadas aos bens e serviços voltados para o campo (DA
SILVA; REDIN, 2020).

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A crescente participação das mulheres no setor agrícola resultou em seu envolvimento
cada vez maior na gestão de propriedades rurais, proporcionando-lhes a chance de
demonstrar suas habilidades e aptidões no campo do agronegócio (DIAS, 2008).

Mudanças recentes no cenário do agronegócio e os benefícios da liderança feminina


É importante analisar o mercado de trabalho nesta abordagem em particular devido
ao possível impacto das características específicas desse setor nas questões de gênero, tanto
em relação à participação das mulheres quanto às diferenças de rendimento (CASTRO et
al., 2022).
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) da Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq - USP), iniciou a divulgação de um estudo em 2019
com o objetivo de compreender simultaneamente a presença das mulheres tanto dentro
como fora do campo agrícola. O estudo revelou várias descobertas, incluindo o aumento
de 8,3% no número de mulheres no agronegócio entre 2004 e 2015. As mulheres precisam
estar bem preparadas para entrar em qualquer setor do mercado de trabalho, e é por isso
que a presença delas no agronegócio tem sido considerada um sucesso nos últimos anos
(DAHMER; DAHMER; DAHMER, 2020). Já no final de 2017, cerca de 18 milhões de
indivíduos que estavam empregados em setores relacionados ao agronegócio, distribuindo-
se aproximadamente 65,8% (11,9 milhões) do total para o sexo masculino e cerca de 34,2%
(6,2 milhões) para o sexo feminino (SERIGATI; SEVERO; POSSAMAI, 2018).
Para Mourão (2011) e Karam (2004), uma compreensão renovada sobre o papel das
mulheres envolvidas nas atividades relacionadas ao agronegócio é essencial para impulsionar
a competitividade desse setor. A participação das mulheres na produção agropecuária
não apenas contribui para o desenvolvimento econômico da região correspondente, mas
também impacta positivamente a economia do país de maneira geral (VIDAL, 2011;
DOS SANTOS, 2022). Questões de gênero no setor agrícola destacam que as mulheres
demonstram eficiência equivalente à dos homens na atividade agrícola. Quando as
mulheres que vivem em áreas rurais têm acesso a recursos, serviços e oportunidades, elas
desempenham um papel crucial na luta contra a fome, desnutrição e pobreza nessas regiões.
Assim, a melhoria da igualdade de gênero no empreendedorismo no agronegócio é um
instrumento essencial para enfrentar os desafios da pobreza e da fome, conforme indicado
pela ONU Brasil em 2022 (PONTES et al., 2023).
Neste contexto, as metas das empresas que promovem a liderança feminina abrangem
uma variedade de aspectos, como por exemplo, fortalecer sua influência e competitividade
no mercado de trabalho, promovendo o crescimento econômico, social e político do negócio.
Além disso, incentivam a capacidade de inovação ao trazer perspectivas e experiências
diversas para enriquecer as estratégias corporativas (SILVA et al., 2022).
Cavenaghi (2022) menciona que há diversos estudos que indicam que a igualdade
de gênero no ambiente de trabalho pode impulsionar o PIB global em até 35%, de acordo
com o Fundo Monetário Internacional (FMI), além de melhorar o desempenho da empresa
em relação aos concorrentes. Portanto, investir na gestão feminina é uma abordagem que
considera tanto o impacto local quanto o trabalho em escala global.

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Obstáculos enfrentados pelas mulheres em cargos de liderança no setor
Conforme mencionado anteriormente, em inúmeros aspectos as mulheres tiveram que
lutar pelo direito de serem reconhecidas - e seguem lutando para conseguir espaço. Ao longo
da história, as mulheres foram alvo de discriminação tanto na obtenção de empregos quanto
na remuneração associada a esses empregos, enfrentando condições precárias no mercado de
trabalho, além de serem confrontadas com diversas barreiras impostas pelos colegas do sexo
masculino, que as percebiam como concorrentes pelos mesmos cargos. Apesar do aumento
progressivo da participação feminina no cenário profissional, as desigualdades de gênero em
todas as esferas da sociedade ainda são evidentes (TORO, 2018). As mulheres continuam a
enfrentar desafios significativos para obter financiamentos e conciliar suas responsabilidades
familiares com suas atividades profissionais, uma realidade concreta que perdura até os dias
atuais (PONTES et al., 2023).
Durante o processo de desenvolvimento, o trabalho feminino passou por várias etapas
devido às dificuldades enfrentadas ao longo dessas experiências. Uma evidência significativa
que comprova essa observação é a presença reduzida das mulheres em posições superiores de
liderança, como cargos de direção, gerência executiva, chefia financeira, chefia operacional e
outras funções que envolvem responsabilidades de supervisão (HRYNIEWICZ; VIANNA,
2018; ZWANG; ROCHA, 2021).
Este cenário está sendo modificado, à medida que as mulheres começaram a
vivenciar situações que lhes permitiam manter a dinâmica nas atividades diárias - uma vez
que enfrentam desafios cotidianos para equilibrar sua vida pública, pessoal e familiar – com
as contribuições significativas para o setor agrícola (SILVEIRA, 2021). Isso ocorreu porque
elas puderam visualizar o verdadeiro progresso alcançado por seu próprio trabalho, o que foi
um marco importante para avançar nesse projeto de transparência de ações no agronegócio.
Anteriormente, a maioria das negociações e transformações só ocorria quando os líderes (do
sexo masculino) estavam presentes, assumindo o controle e interferindo na possibilidade de
mulheres assumirem o comando (TOPA; SANTOS, 2022).
Desta forma é possível evidenciar que as mudanças são impulsionadas por diversos
elementos demográficos, geográficos, culturais, econômicos e sociais que resultaram em
um aumento da presença feminina em posições relacionadas ao agronegócio. Em 2019,
Xavier descreve que esta participação das mulheres como produtoras rurais aumentou
de 12% em 2006 para 18% em 2017. Segundo os dados do Censo no ano de 2017, há
650 mil propriedades cuja gestão é conduzida unicamente por mulheres, enquanto 1,06
milhão possui a administração compartilhada entre os membros do casal. Essas estatísticas
evidenciam o papel destacado da mulher como líder ou colaboradora na administração de
1,7 milhão de unidades produtivas, representando assim 34% do total de cinco milhões de
estabelecimentos rurais existentes no país (XAVIER, 2019).
Segundo as informações fornecidas por Brito (2020), ainda enfrentam-se obstáculos
no que diz respeito à inserção das mulheres neste setor, especificamente em profissões como
medicina veterinária e agronomia. Isso se deve, em grande parte, à escassez de modelos
femininos no campo do agronegócio, especialmente considerando a vasta extensão territorial
do Brasil. Apesar dessas dificuldades, a autora destaca que as mulheres estão gradualmente

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ganhando espaço no meio rural, seja por meio da agricultura familiar ou assumindo posições
de liderança em fazendas.
Devido ao fato que as mulheres possuem um um forte senso de autocrítica e inclusão,
sua contribuição é extremamente valiosa na reinvenção das pessoas e na transformação
significativa de como realizamos nossas atividades, o que gera impactos sociais concretos.
Essa ascensão das mulheres no campo está intimamente relacionada ao futuro, e é importante
considerar maneiras de criar mecanismos, ferramentas e processos que incentivem a
participação das mulheres gestoras no setor agrícola (XAVIER, 2019).

Iniciativas e boas práticas para promover a liderança feminina no agronegócio


É o momento de acolher e valorizar o aumento da participação das mulheres na
concepção e desenvolvimento das relações com o capital humano rural, sua dedicação
e orientação evolutiva. De acordo com Veronesi (2014), todos os profissionais,
independentemente do gênero, têm como objetivo crescer e alcançar posições de liderança.
No entanto, alcançar essa meta não é uma tarefa simples, pois exige que o profissional
demonstre resultados concretos, esteja focado e possua as qualificações necessárias. Segundo
o autor, existem dez qualidades essenciais que os líderes devem possuir: habilidade de
delegar, confiança, criatividade, capacidade de inspirar, honestidade, intuição, senso de
humor, comprometimento, atitude positiva e habilidades de comunicação.
Por outro lado, de acordo com Frankel (2007), todas as mulheres são naturalmente
líderes e suas características exclusivas desempenham um papel crucial no novo conceito de
liderança que as empresas buscam atualmente. Para a autora, liderança é definida como a
capacidade de influenciar pessoas a segui-las.
O relatório anual (2022) Women Business OwnerSpotlight do Bank ofAmerica,
descreve que as mulheres demonstram uma maior habilidade em se ajustar às transformações
tecnológicas; consequentemente, quanto mais mulheres na empresa, principalmente em
cargos de liderança, melhores são os resultados (SILVA et al., 2022).
Cardoso e Fernandes (2022) ainda relatam que pesquisas têm demonstrado
que há uma conexão entre dois aspectos: a sustentabilidade e a diversidade de gênero,
especialmente quando se consideram mulheres que lideram as organizações e, portanto,
são responsáveis pela formulação das estratégias empresariais. Estudos realizados em vários
países indicam que a presença de executivas nas empresas está relacionada aos resultados em
sustentabilidade, resultando em uma avaliação mais positiva das organizações pelo mercado
financeiro. Existem evidências de que as mulheres têm uma maior preocupação com a
agenda socioambiental, investindo mais em estratégias e práticas de sustentabilidade.
As preocupações relacionadas aos aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG)
(MARX, 2023) têm ganhado maior relevância no setor empresarial. De acordo com o estudo
Global FemaleLeaders Outlook (GFLO), aproximadamente 45% das mulheres enfrentam
pressão dos envolvidos nas empresas para diminuir a desigualdade de gênero. Esse dado
sugere um panorama favorável para o aumento da representatividade feminina em posições
de liderança em um futuro próximo, como evidencia as informações disponibilizadas pelo
Ifood (2023).

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Em um estudo realizado em 99 empresas americanas ao longo de quatro anos
consecutivos, foram encontradas evidências estatísticas indicando que mulheres ocupando
o cargo de CEO têm um desempenho melhor em termos de ESG (ambiental, social e
governança) em comparação com seus colegas masculinos. O mesmo resultado também
foi observado para a diretoria executiva, onde a presença de mulheres diretoras tem um
impacto mais positivo do que os diretores do sexo masculino. Além disso, o estudo revelou
que conselheiras têm um impacto positivo 33% maior do que conselheiros em termos
de desempenho em sustentabilidade (GRAHAM, 2019; CARDOSO, 2021). No Brasil,
a liderança feminina vêm crescendo exponencialmente e, atualmente, cerca de 17% das
presidências são ocupadas por mulheres (ALMEIDA, 2023).
Embora essa evolução seja evidente, seguimos buscando por ferramentas que
auxiliem na iniciativa e boas práticas para promover a liderança feminina em diversas
áreas. É fundamental reconhecer o progresso alcançado até o momento, enquanto se busca
continuamente ampliar as oportunidades para as mulheres no agronegócio. Somente através
do empoderamento, igualdade e inclusão de gênero, poderemos alcançar um agronegócio
mais resiliente, sustentável e equitativo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O papel das mulheres no agronegócio tem evoluído ao longo dos anos, passando
de posições secundárias e subestimadas para assumir papéis de liderança e de influência.
As mulheres têm demonstrado habilidades notáveis em diversas áreas do agronegócio e
felizmente, estamos testemunhando uma mudança significativa nas atitudes e percepções,
à medida que mais mulheres rompem as barreiras de gênero e conquistam posições de
liderança neste setor; elas estão trazendo consigo uma perspectiva única, habilidades diversas
e uma abordagem inovadora para os desafios enfrentados.
Investir na liderança feminina é uma abordagem que considera a diversidade e traz
perspectivas e experiências enriquecedoras para as estratégias corporativas, e garantir essa
igualdade de gênero no ambiente de trabalho pode impulsionar o crescimento econômico
e melhorar o desempenho das empresas. É essencial reconhecer e apreciar as contribuições
das mulheres nesse ramo e continuar trabalhando para criar oportunidades e um ambiente
inclusivo que encoraje sua participação e liderança.

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