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SOCIOLOGIA, EXTENSÃO E
COMUNICAÇÃO RURAL
AULA 4
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CONVERSA INICIAL
Dois temas de centralidade importantíssima na atualidade no meio rural são abordados ao longo
desta etapa. Primeiro, trata-se da questão de gênero a partir da inclusão da mulher nos espaços de
poder do meio rural. Há um crescente protagonismo não apenas na posse, mas também no recorte
de produção no campo. Cada vez mais, as mulheres reivindicam e alcançam isonomia de direitos na
sociedade, e no setor agropecuário isso não é diferente. Percebe-se isso não apenas a partir dos
dados de produção, mas também da sensibilidade dos movimentos sociais que buscam ampliar o
protagonismo.
científico no campo. Percebe-se que, ao longo da última metade do século, o Estado foi o grande
financiador de instituições que atuam na assistência técnica e na extensão rural. Essa postura de
centralidade do Estado, contudo, vai se reduzindo à medida que os governos estaduais retraem os
investimentos nas Ematers. Por outro lado, a iniciativa privada vem buscando fortalecer sua
participação nesse processo. Confira os tópicos que abordaremos ao longo desta discussão:
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padrões na sociedade. Ou seja, o espaço rural, em questão de costumes, pode ser um espaço em que
o patriarcalismo e determinadas formas arcaicas de reprodução do poder tendem a se manter mais
reforçados do que em outros espaços. A visão histórica machista e patriarcal é de que o espaço da
mulher é a vida privada, com dedicação ao cuidado do lar e dos filhos, com deveres considerados de
menor destaque (Silva, 2010). Um mercado conservador, como o agronegócio, operado a partir de
um cenário predominantemente masculino, tende a reproduzir essa mesma ótica. Contudo, isso não
significa que não haja mobilizações ou espaços de contestação a tais posturas patriarcais.
É preciso reforçar que a maioria da população brasileira é formada por mulheres, como destaca o
IBGE. A última edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) com indicativos sobre
o cenário populacional brasileiro revelou que 51,1% da população é composta por mulheres. No
entanto, quando se trata da administração da área rural ou da participação no campo, essa proporção
não é refletida. Dados do Censo Rural de 2017 indicam que os estabelecimentos rurais administrados
por mulheres no país, em conjunto, somam aproximadamente 30 milhões de hectares. Embora seja
Mais da metade dos estabelecimentos (57%) estão concentrados na região Nordeste. No entanto,
as maiores áreas reunidas estão na região Centro-Oeste, cerca de 8,7 milhões de hectares. Não
apenas o espaço de atuação é menor, mas também os salários. Outra pesquisa realizada pela ONG
Agroligadas e pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) aponta que 56% das 408 mulheres
que atuam no agronegócio acreditam que recebem salários inferiores aos homens que desempenham
É importante destacar que esses dados, embora representem um longo caminho de lutas e
desafios, também reúnem avanços e conquistas que foram acumulados paulatinamente através dos
esforços dos movimentos pela maior participação das mulheres no campo e pela igualdade de
direitos no espaço rural. Essas bandeiras de igualdade de direitos e empoderamento feminino no
campo encontram apoio na mobilização das mulheres, especialmente nos movimentos sociais que
buscam a construção de um feminismo camponês e popular. Podemos destacar pelo menos duas
frentes de mobilização que visam estabelecer essa representatividade no meio rural. Uma delas é o
Movimento de Mulheres Camponesas (MMC). Fundado em 2004, o MMC surge na esteira de grupos
de defesa das mulheres do campo, vinculados à Pastoral da Terra, que desde a década de 1980 vêm
buscando o fortalecimento e a valorização do papel da mulher no campo. O MMC busca representar
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Outro movimento social que aborda as questões femininas no campo é o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por meio da constituição de um setor dentro da organização
para discutir questões de gênero. Passa pela igualdade no campo e pela reforma agrária a luta pela
participação das mulheres como produtoras, agricultoras, com o direito à terra e atuando nas mesmas
Considerando a abordagem do MST dentro de uma análise de classes, como percebemos a partir
a partir de interseccionalidades, ou seja, não como um grupo homogêneo, mas como um “movimento
das contradições sociais que formam os sujeitos da classe, sendo um desafio fundamental para
qualquer organização que se proponha a ser um Instrumento Político” (MST, 2017, p. 9). É nesse
aspecto que surge, entre as demandas pela Reforma Agrária, a percepção de que é necessário
compreender que a justiça social no campo só é possível por meio da busca pela igualdade de gênero
e pela participação ativa das mulheres, incluindo a documentação e posse das terras, atuando como
líderes e desempenhando um papel ativo e independente no mercado agropecuário.
produção; e o combate ao processo de naturalização “dos papéis sociais estabelecidos pela sociedade
patriarcal, que define rigidamente o lugar ocupado por mulheres e homens” (MST, 2017, p. 23).
específica do feminismo no espaço rural em relação a outros espaços, como o urbano. Nesse sentido,
há o reconhecimento das particularidades da cultura e identidade das mulheres do campo, em um
tipo de feminismo que “não abandona as questões de classe e que considera as relações das
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conhecimentos guiados pela experiência. Por outro lado, há o conhecimento científico, que resulta de
assistência técnica, a extensão rural tem se consolidado no país como uma ferramenta fundamental
Segundo Peixoto (2008), a história nos apresenta uma série de situações que podem indicar
atividades de extensão no meio rural ao longo da antiguidade. No entanto, o termo adquire um papel
no campo a partir da segunda metade do século XIX, com atividades desenvolvidas por instituições
universitárias britânicas, que auxiliavam na produção rural, e ganha mais força no início do século XX
com a criação de um serviço cooperativo por meio das universidades americanas focadas no
No Brasil, a extensão rural ganha status de política pública e uma atuação significativa no campo
a partir da instituição da Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), com profissionais formados em
áreas como agronomia, engenharia agrícola, zootecnia, engenharia florestal e economia doméstica.
Conforme destaca Pereira (2017), o extensionista rural é um profissional responsável por “orientar os
agricultores sobre como utilizar as práticas e técnicas mais eficientes na produção agropecuária. Esse
novo modelo de desenvolvimento agrícola foi adotado principalmente pelos produtores rurais do
segmento capitalista e, em menor escala, pelos produtores rurais do segmento atualmente conhecido
como agricultura familiar” (Pereira, 2017, p. 132).
partindo da fonte geradora desse conhecimento até o consumidor ou receptor final. No contexto
contemporâneo, entretanto, esse processo ocorre por meio de uma educação técnica ou de outra
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extensão busca auxiliar o produtor na resolução de questões pontuais, sem necessariamente capacitá-
lo.
Assim, a extensão rural pode ser compreendida a partir de três perspectivas. Primeiro, como a
integração de assistência técnica, com a prestação de serviços ou consultoria. Em segundo lugar,
como uma organização que atua no suporte ao desenvolvimento dos pequenos produtores,
geralmente ligada às Ater nos estados. A terceira abordagem é a continuação do segundo ponto, na
medida em que a extensão também pode ser interpretada como uma política pública de promoção
do desenvolvimento rural.
Do ponto de vista histórico, é na metade do século passado que o conceito de extensão rural
começa a ser estabelecido no país, sendo que o estado de Minas Gerais teve a primeira experiência
que se aproximou desse conceito, por meio da implementação do modelo de extensão pela
Associação de Crédito e Assistência Rural (Acar). O objetivo era promover o aprimoramento social e
econômico da população rural. Como destaca Pereira (2017), a Acar “seguiu o modelo norte-
americano de difusão de inovações, oferecendo assistência técnica e financeira aos produtores rurais
É importante ressaltar que essa primeira iniciativa está mais relacionada ao conceito
contemporâneo de extensão rural. Isso não significa que antes disso não existissem organizações ou
instituições comprometidas com o desenvolvimento rural. Podemos observar isso desde a época do
Brasil Império, com os institutos imperiais de agricultura, ou no início do século XX, com a criação do
Ministério dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, e também com a regulamentação
do ensino agronômico, incluindo cursos de medicina veterinária, zootecnia, entre outros. No entanto,
foi com a Acar que tivemos um instituto com uma finalidade próxima ao conceito atual.
A partir da Acar, outras iniciativas com postura semelhante foram sendo estabelecidas pelas
Ateres em vários estados. Já no final da década de 1950, praticamente metade dos estados havia
consolidado suas instituições, que ao longo do tempo foram vinculadas ao modelo estatal. Em 1975,
com a criação da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater), os estados
ajustaram suas Acar ou Ateres para se tornarem Empresas Estaduais de Assistência Técnica e Extensão
Rural (Emateres), subordinadas à Embrater (Peixoto, 2008). Posteriormente, a Embrater foi extinta
durante o governo Collor, e parte de suas funções foram incorporadas ao Ministério da Agricultura,
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enquanto outras ficaram sob responsabilidade dos estados (Pereira, 2017). Na época, a Embrater
atuava em parceria com a Embrapa. Enquanto esta última desenvolvia inovações tecnológicas, a
Embrater se encarregava de disseminá-las e aplicá-las no campo.
extensão. Do ponto de vista legal, como política pública, a extensão rural voltou a ser central na
agenda nacional em 1990, com a instituição da Política Agrícola Brasileira, que em seu capítulo V
Segundo a lei, a assistência técnica atuaria na viabilização do acesso do produtor rural a soluções
para problemas relacionados à agricultura, pressionando por um papel exclusivo do poder público,
com atendimento gratuito aos pequenos produtores e associações, buscando “difundir tecnologias
Em 2010 (Brasil, 2010), uma nova legislação norteou a extensão rural a partir da instituição da
Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária
Reforma Agrária (Pronater). A nova legislação das Ateres compreende a extensão rural como um
serviço de educação não formal no meio rural, com o objetivo de promover a gestão e melhorar a
Não há um consenso sobre o tipo e modelo de extensão mais adequado para a agropecuária e
para a produção extrativista que possa ser aplicado de forma generalizada. Cada país ou local deve
adotar uma abordagem que se ajuste melhor à realidade produtiva e ao contexto social de sua
organização. Portanto, existem vários modelos e abordagens de extensão que podem ser adotados.
Em termos de financiamento, Peixoto (2008) destaca pelo menos cinco abordagens de extensão com
empresas, o terceiro setor por meio de ONGs e, por fim, o terceiro setor por meio de organizações
rurais.
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Neste caso, é possível pensar em uma gestão que não necessariamente está vinculada à fonte de
financiamento. Conforme Peixoto (2008), uma fonte pública de financiamento, se operada pelo
próprio setor público, certamente é oferecida de forma gratuita e sem taxas. No entanto, se for gerida
por terceiros, pode haver custos e gestão diferenciada. Os contratos de serviços são financiados com
recursos públicos, mas se a gestão é realizada pela iniciativa privada, as formas de distribuição ou
aplicação dos serviços seguem as dinâmicas institucionais da empresa que administra os recursos.
Nos outros modelos, as formas de subsídio e atuação são alteradas de acordo com a fonte e a
gestão. Assim, um serviço público também pode operar com fontes de financiamento de terceiros. No
entanto, ainda onera o estado, uma vez que isso ocorre por meio de subsídios públicos, como
isenções fiscais para empresas privadas.
Destaca-se aqui também modelos nos quais os próprios produtores arcam com os custos,
contratando assessorias e extensionistas para auxiliar em suas questões, ou ainda com ONGs que
articulam recursos públicos por meio de financiamento estatal, ou recursos privados por meio de
Isso ocorre por diversos fatores. Primeiro, pelo papel de destaque do Estado na agricultura,
conforme já discutido, e por sua liderança nos modelos de aprimoramento e modernização no
campo. Em segundo lugar, pela forma como as Ateres se especializaram e agregaram conhecimento
sobre as demandas e características da produtividade e das necessidades dos produtores brasileiros,
direcionou a atenção das Ateres para os sujeitos que apresentavam fragilização social ou que estavam
à margem da modernização conservadora do século XX. Ou seja, houve uma mudança ideológica
predominante na nova Ater, com ações voltadas para agricultores familiares, quilombolas, indígenas,
assentados e outros trabalhadores do campo. Segundo Castro (2017), esse novo paradigma da
política nacional de extensão rural fica mais evidente nos princípios orientadores da Ater Pública
definidos em 2004 pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), que busca assegurar um
serviço público e gratuito de extensão rural pela Ater, com atendimento exclusivo para agricultores
familiares e outros beneficiários do MDA; promover uma produtividade rural sustentável no campo;
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adotar uma abordagem multidisciplinar com foco nos princípios da agroecologia na extensão rural;
Castro (2017) destaca ainda que esse novo paradigma da extensão rural surge em meio a um
cenário de modelo de agricultura focado na sustentabilidade, pelo menos do ponto de vista dos
pequenos produtores. Dessa forma, é questionado o tripé que se tornou predominante na Revolução
Verde, que foi o momento da modernização conservadora no país, no qual o aumento da
produtividade estava vinculado à aplicação de defensivos agrícolas para controle de pragas e insetos,
Uma das principais formas de analisar as dinâmicas sociais em termos de políticas públicas é por
meio de dados concretos. Por isso, uma das principais ferramentas para o debate sobre as ações do
Geografia e Estatística (IBGE). O Censo contabiliza e mapeia uma série de dados que apresentam um
retrato do cenário agropecuário do país. Esses dados podem nos ajudar a compreender um pouco
sobre a situação atual da extensão rural e os impactos da falta de investimento por parte dos estados
na sua desestruturação.
A partir dos dados da última aplicação do Censo, em 2017, em comparação com o retrato do país
em 2006, quando o IBGE realizou a pesquisa anterior, Pereira (2021) observa que houve uma redução
de cerca de 2% entre os produtores que indicaram terem recebido orientação técnica ou serviços de
extensão rural. Em 2017, apenas 20% dos estabelecimentos contabilizados no país tiveram acesso a
esses serviços. A única região brasileira que não registrou queda na solicitação de serviços de
extensão foi o Sul, com um crescimento inferior a 1% (IBGE, 2017). Em parte, essa redução pode ser
atribuída à oferta estatal, que foi impactada negativamente pela redução dos investimentos nas
Ematers, afetando a cobertura da extensão rural no país.
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Outro recorte importante dos dados para analisar a Ater na atualidade em relação ao cenário
produtores nos últimos anos, considerando as categorias que abordamos anteriormente referentes ao
tipo de financiamento, sendo eles: fonte governamental (sem considerar a distinção entre orientação
Os dados de 2017 (IBGE) indicaram que a maior parte ainda é proveniente do Estado,
representando 37,8%, seguida pelo próprio produtor, com 30%, e depois por cooperativas, com 24%.
A sequência é a mesma, mas os percentuais são bem diferentes em 2006, quando o Estado atendia a
42% das orientações, seguido pelo próprio produtor, com 22%, cooperativas, com 19,7%, e empresas
privadas, com 7,4%. As cooperativas estão aumentando seu papel na orientação e formação no
campo, à medida que o Estado (devido à falta de investimento) está reduzindo sua função que antes
era quase exclusiva na educação no campo, e o próprio produtor também está reduzindo seus custos,
em parte devido ao cenário econômico desfavorável. Essa análise é reforçada por Pereira (2021) ao
indicar que “a diminuição da participação de cada Emater em grande parte do Brasil é resultado da
redução dos investimentos públicos nessa política, devido à crise fiscal dos estados […] com o fim da
Embrater, a situação da assistência técnica pública ficou dependente dos estados, que apresentam
Pensando agora a partir do recorte por tipo de estabelecimento, Pereira (2021) analisa os dados
do IBGE referentes aos produtores que indicaram ser de agricultura familiar ou não em 2017.
financiamento da extensão rural para a agricultura familiar, representando 43%, enquanto para os
produtores que não são de agricultura familiar, o Estado responde por apenas 25%. No que diz
Apenas 21% dos produtores de agricultura familiar indicaram ter financiado sua assistência com
recursos próprios, enquanto mais da metade dos produtores que não são de agricultura familiar
investiram com recursos próprios. Isso evidencia a importância da Ater, principalmente para os
pequenos produtores e para a agricultura familiar. Como destaca Pereira (2021, p. 139), “essa
importância justifica uma maior discussão sobre esse serviço e, possivelmente, sua ampliação […] além
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da questão da Ater pública, sua qualidade em todas as fontes é importante para a eficiência produtiva
O que caracteriza a extensão rural? Alves (2016) aponta pelo menos cinco aspectos que ajudam a
compreender a função e a forma de legitimação da extensão no meio rural. O primeiro aspecto diz
universidades, em pesquisa com aplicabilidade no meio rural. Dessa forma, a hipótese de que existe
um amplo estoque de conhecimento sem uma difusão para além da academia é um dos principais
conhecimento e a tecnologia, desde que amparados por um sistema de extensão e aprendizado que
permita o diálogo entre eles e o conhecimento formal. Um terceiro ponto é que a falta de um sistema
de extensão que facilite a disseminação do conhecimento é vista como uma falha na comunicação,
combinada à produção no campo, tanto em termos de gestão quanto de aplicação para aumentar a
produção direta (por meio de maquinário e tecnologia associada a sementes, por exemplo). Por fim,
Alves (2016) também menciona a possibilidade e a liberdade de escolha por parte do agricultor, ou
seja, que não seja um processo sem diversidade de oferta (por entidades privadas, públicas etc.) e que
do Censo Agropecuário, a Extensão Rural no Brasil não depende apenas do Estado ou de recursos
próprios. Parte da assistência no campo também é realizada por entidades privadas sem fins
lucrativos, como ONGs ou instituições do terceiro setor. Como destacado por Peixoto (2008),
de parcerias ou editais). Além disso, o financiamento também pode vir do setor privado, seja por meio
de pagamento direto pelos serviços prestados pelos contratantes, seja por empresas que contratam
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Além das ONGs, também podemos perceber o aumento da participação de agentes corporativos,
como as instituições que integram o Sistema S: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai);
Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional de
Transporte (Sest). No contexto da Extensão Rural, destaca-se principalmente o Senar como uma
dessas instituições. Embora tenha uma pequena porcentagem de indicações no Censo Agropecuário
(IBGE, 2017), representando menos de 1% do total nacional, é importante ressaltar que houve um
reposicionamento e aumento de atuação no campo em comparação aos dados de 2006. Vale ressaltar
também o papel mais forte do sistema S na região Centro-Oeste, representando quase 2% das
indicações.
Conforme apontado por Alves (2016), o Senar contribui para o aumento da produtividade e
renda no meio rural, principalmente por meio do Programa de Assistência Gerencial com
Segundo a descrição fornecida pelo Senar em seu site, esse serviço se manifesta por meio da
Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), que busca não apenas a melhoria da produtividade, mas
que a metodologia adotada na ATeG é baseada em uma análise real da produção e gestão, com foco
na identificação dos pontos fortes e fracos de cada propriedade assistida. Essa metodologia é
propriedade. Nesse momento, a equipe do Senar coleta dados sobre a produção, o meio ambiente e
o contexto social e econômico, a fim de planejar estratégias e estabelecer um cronograma de ações.
Em seguida, utiliza-se esses dados para desenvolver ações estratégicas. O terceiro passo consiste na
implementação das ações locais visando melhorias na produção e na gestão do espaço produtivo por
meio da assistência técnica. Posteriormente, busca-se promover a capacitação tanto dos produtores
quanto dos profissionais complementares, visando a autonomia do produtor. Por fim, realiza-se o
monitoramento dos resultados, o que sugere a possibilidade de novos aprimoramentos, entre outras
ações.
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Além do Senar, existem outras entidades privadas de extensão com foco na educação e
comunicação no campo, como as cooperativas. Como discutido em outro tópico, a atuação dessas
cooperativas no campo é expressiva em termos de arrecadação. O setor emprega mais de seis mil
FINALIZANDO
realizadas por instituições públicas, tendem a ficar restritos ao meio acadêmico e a eventos científicos,
sem um diálogo efetivo com o campo. Inovações tecnológicas, como equipamentos, técnicas
aprimoradas e uso de recursos naturais para controle de pragas, são alguns dos avanços que
podemos observar nas universidades e no mercado de agronegócio de ponta, mas nem sempre são
refletidos ou incorporados pela maioria das áreas de produção, especialmente pelos pequenos e
médios produtores.
campo. Isso vinha ocorrendo ao longo da criação e consolidação dos sistemas de Extensão Rural e
Assistência Técnica subsidiados pelo governo, principalmente tratados como políticas públicas. No
entanto, na década de 1990, devido a crises financeiras e à extinção da Embrater, principal órgão
federal responsável pelo gerenciamento e fomento da extensão rural, houve uma redução nos
investimentos no setor, o que também afetou os estados, que eram responsáveis pela extensão rural
por meio das Ematers em cada estado. Os produtores marginalizados do processo de modernização e
os produtores da agricultura familiar são os mais afetados por essa redução de investimentos.
REFERÊNCIAS
ALVES, E. Extensão rural: seu problema não é a comunicação. In: VIEIRA FILHO, J.; GASQUES, J.
(Orgs.). Agricultura, transformação produtiva e sustentabilidade. Brasília: IPEA, 2016.
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BRASIL. Lei n. 8171, de 17 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política agrícola. Diário Oficial da
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo agropecuário 2017. Rio de Janeiro,
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Setor de Gênero. Caderno de formação.
PEIXOTO, M. Extensão Rural no Brasil: uma abordagem histórica da legislação. Senado: Brasília,
2008.
PEREIRA, C. Assistência técnica e extensão rural no brasil: uma análise do censo agropecuário de
feminismo camponês e popular. Caderno CRH, [S.l.], v. 34, p. e021007, 2021. Disponível em:
<https://periodicos.ufba.br/index.php/crh/article/view/42344>. Acesso em: 9 jun. 2023.
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. Assistência técnica e gerencial (ATeG). 2020.
Disponível em: <https://www.cnabrasil.org.br/assistencia-tecnica-e-gerencial>. Acesso em: 9 jun.
2023.
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