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Era uma manhã comum de outono, o céu cinzento pairando sobre a

pequena cidade em que vivíamos. Eu, Alec, sentava na última fileira da


sala de aula, tentando prestar atenção na aula de história, mas meus
pensamentos vagavam longe. Meu albinismo sempre me fez sentir
diferente, mas naquele dia, eu me sentia ainda mais distante dos meus
colegas, sem saber o quão verdadeiro isso se tornaria em breve.

A professora falava sobre guerras e epidemias do passado, sem saber que


uma nova ameaça se aproximava, uma que mudaria nossas vidas para
sempre. O Sypilus, uma doença terrível que havia surgido na Europa,
estava nas manchetes, mas ainda parecia algo distante, um problema de
outro mundo.

Meu irmão, Luca, sentava-se à minha frente, ocasionalmente virando-se


para me dar um sorriso encorajador. Seus cabelos pretos e olhos azuis
eram o oposto do meu branco pálido, mas nunca nos sentimos separados
por isso. Ele era mais do que um irmão para mim; ele era meu herói,
sempre me protegendo, mesmo quando eu não queria.

Durante o intervalo, encontrei Paty, minha melhor amiga, com seus


cabelos cacheados tingidos de rosa, um toque de cor em um mundo que
começava a parecer cada vez mais cinza. Ela falava animadamente sobre
um novo jogo que queria experimentar, mas eu mal conseguia me
concentrar. Uma sensação estranha de apreensão crescia em mim, algo
que eu não conseguia explicar.
O dia passou lentamente, com as horas se arrastando como se
antecipassem o que estava por vir. Ao voltar para casa, eu ainda não
sabia, mas aquele seria um dos últimos dias de normalidade em nossas
vidas. Amanhã, o primeiro caso de Sypilus seria reportado nos Estados
Unidos, e nosso mundo seria virado de cabeça para baixo.

Enquanto comíamos nosso humilde jantar de macarrão com ervilhas, a


televisão exibia imagens que pareciam distantes e irreais. O noticiário
mostrava o primeiro caso de Sypilus nos Estados Unidos: um homem
amarrado a uma maca, se debatendo em agonia, com enfermeiros
lutando para contê-lo. O contraste entre a nossa tranquila refeição e o
caos na tela era perturbador.

"Como foi a escola hoje, meninos?" a voz de minha mãe cortou meus
pensamentos, me puxando de volta para a realidade da nossa cozinha
modesta.

"Normal," respondi automaticamente, trocando um olhar preocupado


com Luca. Ele deu de ombros, como se também quisesse evitar falar
sobre o que vimos na TV. Sabíamos que nossa mãe já tinha preocupações
demais, trabalhando incansavelmente para nos sustentar desde que
nosso pai nos deixou. Não queríamos adicionar mais um peso aos seus
ombros.

Luca, sempre mais falante, começou a contar sobre um projeto que


estava fazendo na escola, tentando manter o ambiente leve. Nossa mãe
sorria, ouvindo atentamente, mas seus olhos ocasionalmente se
desviavam para a televisão, onde a notícia do Sypilus continuava a ser
transmitida.

O jantar seguiu com conversas triviais, mas a tensão era palpável. A


notícia do Sypilus nos Estados Unidos era como uma sombra se
aproximando, um lembrete de que nossa vida simples e pacata poderia
mudar a qualquer momento. Eu não conseguia deixar de pensar no que
viria a seguir, preocupado com o futuro incerto que nos aguardava.

O quarto dia amanheceu diferente. Apesar do sol que brilhava no céu,


algo no ar parecia errado. Enquanto esperávamos pelo ônibus, que
estava estranhamente atrasado, comecei a sentir uma inquietação
crescente.

"Será que as aulas foram canceladas e ninguém nos avisou?" perguntei,


meus olhos sensíveis se apertando contra o brilho do sol.

Luca olhou ao redor, e sua expressão mudou. "Alec, reparou que as ruas
estão... vazias?" Sua voz tinha um tom de preocupação que raramente
ouvia.

Realmente, as ruas normalmente movimentadas estavam silenciosas e


desertas. As lojas, que deveriam estar abrindo, permaneciam fechadas, e
não havia sinal dos costumeiros transeuntes matinais. Uma sensação de
desolação tomou conta de mim.
"Deve ser por causa do Sypilus," murmurei. As notícias sobre a doença
estavam ficando cada vez mais alarmantes, mas até aquele momento,
parecia algo distante, não algo que afetaria nossa vida diária tão
drasticamente.

"Vamos voltar para casa," disse Luca, decidido. "Algo não está certo.
Melhor verificarmos se nossa mãe está bem e o que está acontecendo."

Caminhamos de volta para casa sob um silêncio opressor, nossos passos


ecoando nas ruas vazias. O mundo que conhecíamos estava mudando
rapidamente, e uma sensação de incerteza e medo começava a se
instalar. Era como se, de repente, estivéssemos em um filme de ficção
científica, só que a realidade era muito mais assustadora.
Caminhando de volta para casa, cada passo parecia pesado, carregado de
uma mistura de medo e incerteza. As ruas vazias pareciam um cenário de
filme pós-apocalíptico, algo que eu e Luca só tínhamos visto em jogos e
filmes. A realidade, no entanto, era bem mais ameaçadora.

Ao chegarmos em casa, encontramos nossa mãe na sala, olhos fixos na


TV, que transmitia notícias de última hora. "Os meninos! Vocês estão
bem?" ela perguntou, aliviada ao nos ver. "As escolas foram fechadas.
Eles acabaram de anunciar. O vírus... está se espalhando mais rápido do
que esperavam."

Luca e eu trocamos um olhar de consternação. A decisão de fechar as


escolas significava que a situação estava se agravando. "E o trabalho,
mãe? Eles disseram algo?" perguntei, preocupado.
Ela suspirou, "A fábrica também fechou, pelo menos por enquanto. Eles
disseram que é uma medida de segurança."

A atmosfera na sala era tensa, quase palpável. Nossa rotina havia sido
interrompida abruptamente, jogando-nos em um estado de incerteza. "O
que vamos fazer?" perguntei, minha voz mal mais do que um sussurro.

"Agora, o mais importante é ficarmos seguros e juntos," disse nossa mãe,


tentando manter a calma. "Vamos estocar alguns mantimentos e nos
manter informados. Precisamos ser cautelosos e seguir as orientações
das autoridades de saúde."

Nos dias seguintes, a cidade parecia cada vez mais um fantasma de si


mesma. As ruas permaneciam vazias, e as poucas pessoas que se
aventuravam fora de casa usavam máscaras e evitavam contato. As
notícias sobre o Sypilus eram constantes e assustadoras, com relatos de
novos casos e medidas cada vez mais restritivas.

Luca e eu passávamos horas olhando pela janela, observando o mundo


que mudava diante de nossos olhos. Conversávamos sobre tudo e sobre
nada, tentando manter algum senso de normalidade. Paty nos ligava
todos os dias, sua voz usualmente animada agora carregada de
preocupação.

À medida que os dias passavam, a realidade da situação começava a


pesar sobre nós. Estávamos presos em uma espera angustiante,
observando o mundo mudar de uma forma que nunca poderíamos ter
imaginado. E em meio a tudo isso, eu carregava um segredo que nem
mesmo eu sabia - minha imunidade ao Sypilus, uma faísca de esperança
em um mundo cada vez mais sombrio.
Naquela manhã fatídica, enquanto eu observava o mundo lá fora, a
quietude foi abruptamente interrompida. Um carro, descontrolado,
chocou-se contra um poste bem em frente à nossa casa. O barulho do
impacto foi ensurdecedor, e em segundos, pessoas começaram a surgir
nas ruas, atraídas pelo estrondo.

Foi então que eu os vi. Criaturas que, um dia, foram humanas, mas agora
estavam transformadas em algo grotesco e assustador. Um deles, com
braços que mais pareciam carcaças secas, balançava-se perigosamente.
Sua boca, distorcida e pendendo anormalmente até o peito, emitia sons
que eram uma mistura de grunhidos e gemidos.

Não era apenas um; havia mais, cada um com deformações diferentes.
Um tinha o rosto tão desfigurado que era impossível discernir seus
traços originais, outro arrastava um pé, enquanto outro parecia ter
perdido completamente um dos braços. Era um cenário de horror, algo
que eu jamais poderia ter imaginado, mesmo nos meus piores pesadelos.

As pessoas na rua começaram a correr em pânico, percebendo que essas


criaturas eram os infectados pelo Sypilus em estágios avançados. O medo
se espalhou como um incêndio, e gritos de terror ecoaram pelo ar.

Corri para chamar Luca e nossa mãe. Juntos, nos aglomeramos na


janela, observando a cena com horror e incredulidade. "Temos que nos
manter seguros dentro de casa," disse Luca, sua voz tremendo
ligeiramente.
Nossa mãe nos abraçou, tentando nos oferecer algum conforto, embora
ela mesma estivesse visivelmente abalada. "Não vamos sair," ela disse
firmemente. "Vamos trancar tudo e nos manter juntos. Vai ficar tudo
bem."

Mas, enquanto observávamos as criaturas se afastando lentamente, com


a multidão dispersando e o silêncio retornando, um sentimento de
desesperança se instalou em nós. O mundo lá fora estava mudando
rapidamente, se tornando um lugar onde o medo e o desconhecido
dominavam. E nós estávamos presos ali, observando tudo desmoronar,
sem saber o que o futuro nos reservava.
Naquela noite, Luca e eu tentávamos manter um pouco de normalidade,
jogando xadrez no tapete da sala após o jantar. A tensão dos últimos dias
parecia diminuir um pouco enquanto nos concentrávamos no jogo. Foi
então que as luzes começaram a piscar, oscilando como se estivessem
respirando, antes de se apagarem completamente, mergulhando a sala
em escuridão.

Um som inesperado quebrou o silêncio - alguém batendo na porta,


desesperadamente, pedindo para entrar. "Por favor, me ajudem!"
ouvíamos a voz suplicante do lado de fora.

Hesitante, me levantei e caminhei em direção à porta. Luca me chamou,


"Alec, não abra! Pode ser perigoso!"

Mas eu respondi, "Se fosse um infectado, ele não estaria falando assim."
Algo na voz do homem do lado de fora soava genuíno, cheio de medo e
dor.
Com cautela, abri a porta. Um homem tropeçou para dentro, ofegante.
Na escuridão, era impossível ver seus traços claramente. "Obrigado," ele
sussurrou, antes de colapsar no chão.

Luca correu para trazer uma lanterna enquanto nossa mãe buscava o kit
de primeiros socorros. Quando a luz retornou, finalmente pudemos ver o
homem claramente. Era alto, loiro, e segurava seu braço, de onde sangue
escorria profusamente. A origem do sangue era clara - uma mordida
profunda.

O medo nos envolveu. Uma mordida. Isso significava...

"Ele está infectado!" exclamou Luca, dando um passo para trás.

O homem, ainda consciente, olhou para nós com olhos suplicantes. "Eu...
eu não queria... foi um acidente..."

Nossa mãe, sempre a mais prática de nós, disse firmemente, "Precisamos


cuidar do ferimento dele agora e depois decidir o que fazer. Não
podemos simplesmente deixá-lo aqui."

Enquanto ela cuidava do ferimento, Luca e eu trocávamos olhares


preocupados. O que isso significava para nós? Estaríamos agora em
perigo? A presença daquele homem em nossa casa havia trazido o
mundo caótico e assustador lá fora para dentro de nosso lar. A situação
estava se tornando cada vez mais complexa e perigosa, e eu sabia que as
decisões que tomaríamos a seguir poderiam mudar nossas vidas para
sempre.
A manhã seguinte trouxe um frio cortante, e a TV, com seu sinal
oscilante, conseguia apenas captar fragmentos do noticiário. O que
conseguíamos ver era suficiente para nos encher de terror: os hospitais
estavam abarrotados de pessoas nos estágios iniciais do Sypilus. Aqueles
no terceiro estágio, se não contidos, tentavam atacar os outros. Os
relatos eram de pesadelo - pacientes se autolesionando até a morte
quando confinados.

Jared, o homem que havíamos acolhido, parecia um reflexo da situação


lá fora. Sentado no canto da sala, abraçando os joelhos, sua cabeça baixa
e respiração ofegante, ele era a personificação do medo e do desespero
que todos sentíamos.

Foi quando meu celular finalmente captou sinal, inundando-se de


mensagens não lidas. Rapidamente, abri as mensagens de Paty. Ela
escreveu que seu pai tinha um bunker e estava nos convidando para nos
juntarmos a eles lá. Uma ponta de esperança surgiu em meio ao caos.

"Luca, olha isto," disse, me aproximando dele que estava enrolado em


uma manta no sofá. Estendi meu celular para ele, mostrando a
mensagem.

Ele leu atentamente, mas logo um semblante de preocupação se formou


em seu rosto. "Mas ela mora a quase duas milhas daqui," ele disse, seu
tom de voz revelando a dúvida e o medo.
O silêncio se instalou entre nós enquanto considerávamos as opções. Ir
até o bunker de Paty significaria uma jornada perigosa pelas ruas
infestadas de infectados. Mas ficar significava enfrentar uma ameaça
crescente em nossa própria casa, especialmente com Jared ali, cujo
estado de saúde era incerto.

Nossa mãe se juntou a nós, ouvindo nossa conversa. "Precisamos pensar


com cuidado," ela disse, com uma calma forçada. "É uma decisão difícil,
mas temos que considerar todas as possibilidades. Estar em um lugar
seguro e bem abastecido como um bunker pode ser nossa melhor
chance."

Olhamos uns para os outros, cientes de que qualquer decisão que


tomássemos moldaria nosso futuro em um mundo que já não
reconhecíamos mais. A escolha entre partir em uma jornada arriscada ou
permanecer na incerteza do nosso lar nos pesava enormemente.
A voz baixa e rouca de Jared interrompeu nosso intenso debate. "Estou
com fome... Tanta fome..."

Instintivamente, minha mãe correu para a mesa e pegou um pão, mas


uma sensação de pavor tomou conta de mim. Eu sentia, no fundo, que a
fome de Jared não era comum.

Meus olhos se arregalaram em horror quando vi seu dedo mindinho cair


no chão com um som surdo. Ele ergueu a cabeça lentamente, e o que
vimos foi aterrorizante: sua mandíbula começava a se soltar, pendendo
de forma grotesca, como se as próprias estruturas de seu rosto
estivessem se desintegrando.
Luca recuou, uma expressão de choque e nojo em seu rosto. "Ele... ele
está no terceiro estágio," ele murmurou, sua voz quase um sussurro.

Nossa mãe, paralisada com o pão ainda na mão, parecia incapaz de


processar a cena diante dela. "Isso não é possível," ela sussurrou,
negando a realidade que se desdobrava diante de nós.

Jared, agora mais uma criatura do que um homem, se contorcia no chão,


grunhindo e gemendo em agonia. O cheiro de decomposição começava a
se espalhar pelo ambiente, um lembrete pungente da gravidade da
situação.

"O que vamos fazer?" perguntei, minha voz trêmula. O perigo que Jared
representava era inegável, mas ele também era um ser humano, alguém
que havia buscado ajuda. Estávamos presos entre a compaixão e a
necessidade de sobrevivência.

Luca se aproximou de mim, sua expressão sombria. "Temos que tomar


uma decisão, e rápido. Não podemos colocar nossa mãe em risco," ele
disse, determinado, mas eu podia ver a dor em seus olhos.

A escolha era cruel e dolorosa. Deixar Jared significava abandonar nossa


humanidade; ajudá-lo, por outro lado, colocaria todos nós em perigo
mortal. A realidade da nossa situação, tão brutal e desoladora, pesava
sobre nós como uma névoa sufocante.

A situação escalou rapidamente para um pesadelo. Com uma agilidade


horripilante, Jared, em seu estado grotesco e descontrolado, avançou
sobre Luca. Meu irmão, reagindo instintivamente, ergueu as mãos na
frente, tentando desesperadamente manter a boca distorcida de Jared
longe de si.

Nossa mãe, impulsionada pelo instinto maternal de proteger seu filho,


correu para ajudar Luca. "Mãe, não!" gritei, mas minha voz se perdeu no
caos. Antes que pudéssemos reagir, Jared girou com uma rapidez
monstruosa e mordeu o ombro de nossa mãe, arrancando carne com
seus dentes deformados.

O grito de dor e choque de nossa mãe encheu a sala, um som que jamais
esqueceria. Luca, usando toda a sua força, empurrou Jared para longe
dela, mas o dano já estava feito. A cena diante de nós era de um horror
inimaginável: nossa mãe ferida, sangrando profusamente, e Jared, mais
fera do que homem, ofegante e selvagem.

Em pânico, agarrei o que estava mais próximo - um abajur - e, com toda


a minha força, atingi Jared na cabeça. Ele cambaleou para trás,
atordoado pelo impacto, mas ainda perigosamente ativo.

Luca rapidamente se colocou entre Jared e nossa mãe, gritando para


mim, "Alec, leve a mãe para o quarto e tranque a porta!" Seus olhos
estavam cheios de medo, mas também de determinação.

Com lágrimas nos olhos e o coração batendo desesperadamente, ajudei


nossa mãe a se levantar e a arrastei para o quarto. Ela estava fraca e em
choque, sangrando muito. Tranquei a porta atrás de nós, e enquanto
tentava estancar o sangramento com toalhas, minha mente estava em
um turbilhão.

Do outro lado da porta, podia ouvir os sons de luta e os grunhidos


ferozes de Jared. Luca estava lá fora, enfrentando aquela criatura para
nos proteger. O medo e a preocupação por ele eram quase insuportáveis.

O que havia começado como um simples ato de humanidade, abrindo


nossa porta para um estranho, havia se transformado em um pesadelo
que ameaçava devorar tudo o que conhecíamos e amávamos. Naquele
momento, enquanto segurava minha mãe nos braços, senti o peso
esmagador da realidade que nos cercava, uma realidade de terror, dor e
incerteza.

A mão de minha mãe, fraca mas determinada, segurou a minha


enquanto eu tentava desesperadamente estancar o sangramento. Seus
olhos, cheios de dor e amor, encontraram os meus. "Filho, você e seu
irmão precisam ir para o bunker," ela disse com firmeza, apesar da voz
fraca.

Antes que eu pudesse responder, um barulho na porta chamou nossa


atenção. Era Luca batendo. "Alec, abre! Consegui... consegui controlar a
situação."
Abrindo a porta com cuidado, vi Luca parado ali, ofegante e coberto de
suor, mas vivo. Seu olhar rapidamente se voltou para nossa mãe, e ele
percebeu a gravidade da situação.

"Como ela está?" perguntou, aproximando-se.

"Não está bem," respondi, tentando conter as lágrimas. "Ela disse que
devemos ir para o bunker de Paty."

Luca olhou para nossa mãe, seu rosto um misto de dor e resolução. Ele
sabia, assim como eu, que a mordida significava uma infecção certa.
"Mãe, você precisa vir conosco," disse ele, tentando manter a voz firme.

Ela balançou a cabeça lentamente. "Não, eu não posso... Eu vou... Eu vou


me transformar, e isso colocaria vocês em perigo. Vocês precisam ir,
agora."

As palavras dela caíram sobre nós como uma sentença. A realidade de


que teríamos que deixá-la para trás era inimaginável, mas sabíamos que
ela estava certa. Ficar significaria expor todos nós ao mesmo destino
terrível.

"Prometam-me que vão ficar seguros," ela disse, a voz tremendo.


"Prometam."

"Prometemos, mãe," dissemos juntos, as palavras saindo de nossas bocas


com dificuldade.
Após um último e doloroso adeus, Luca e eu pegamos nossas mochilas, já
preparadas para uma eventual fuga. Com o coração pesado e os olhos
cheios de lágrimas, deixamos nossa casa - e nossa mãe - para trás.

A jornada para o bunker seria perigosa, mas era a única chance que
tínhamos. Enquanto caminhávamos pelas ruas desoladas, cada passo
nos afastava de nossa antiga vida e nos levava para um futuro incerto e
aterrorizante. A única coisa que nos restava era a promessa feita à nossa
mãe e a esperança de encontrar segurança no bunker de Paty.

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