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UNIDADE • 02

Representação do sistema
de transmissão
representação do sistema de
transmissão

Esparsidade
O número de barras existente em um sistema de potência
pode ser muito elevado (por exemplo, o sistema sul-sudeste bra-
sileiro possui cerca de 1.000 barras). Em um sistema de potência
típico existem em média três linhas conectadas a cada barra.
Como consequência, as matrizes presentes em vários modelos
matemáticos utilizados nos estudos destes sistemas são de gran-
de dimensão e muito esparsas (isto é, com poucos elementos não
nulos em cada linha ou coluna). Devido à sua grande dimensão,
se torna praticamente impossível armazenar todos os elementos
destas matrizes. É necessário o uso de técnicas apropriadas para
sua armazenagem e manipulação. Estas técnicas são conhecidas
como técnicas de esparsidade.
No estudo de técnicas de esparsidade, é útil se estabele-
cer correspondências entre algumas noções de teoria de grafos
e matrizes simétricas esparsas. Por isso, se iniciará este estudo
com uma revisão de noções básicas de teoria dos grafos. Segue-
se o estudo de três estruturas de dados frequentemente utiliza-
dos para o armazenamento de matrizes esparsas:
• Tabela de conexão;
• Lista de adjacências;
• Listas encadeadas.
De posse destas estruturas, se estará apto a elaborar algo-
ritmos para realizar algumas operações elementares envolvendo
matrizes e vetores esparsos.
Em seguida, será abordado o problema da fatoração LU
de sistemas lineares esparsos. Ficará evidente a necessidade
2 Representação do sistema de transmissão

de se utilizar esquemas de ordenação que busquem minimi-


zar a criação de novos elementos não nulos ( fill-ins) nos fato-
res triangulares. Será então introduzido o método do mínimo
grau (ou esquema Tinney II) e serão feitas aplicações a siste-
mas de potência.

Matrizes Simétricas e Grafos de Adjacência


Inicialmente será suposto que as matrizes a serem manipu-
ladas são simétricas e positivas definidas. Se uma matriz A (N
x N) é simétrica e definida positiva, então aii > 0, i = 1, ..., N.
Um grafo G = (X, E) consiste de um conjunto finito X de
nós ou vértices e um conjunto E de arestas ou ramos, que são
pares não ordenados de vértices.
É possível se construir um grafo de adjacência de A. Este
grafo contém N vértices, denotados por {x1, x2 , ..., xn}, um para
cada linha/coluna de A e seu conjunto e de arestas se compõe de
todos os pares {xi, xj} tais que aij = aji ≠ 0.

Exemplo 2.1
Exemplo 2.1: A figura 2.1 apresenta um exemplo do grafo
de adjacência associado a matriz esparsa A (6 x 6):
 (1) a b 
 
 a (2) c d 
 c (3) e 
A= 
 d (4) 
 e (5) f 
 
 b f (6) 

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Despacho econômico de energia

Figura 2.1: Exemplo e grafo correspondente à matriz A (6 x 6).

Quando dois vértices são conectados por uma aresta, diz-


se que são adjacentes. O conjunto adjacente de um vértice xi é
definido como o conjunto de vértices diferentes de xi, adjacentes
a xi. Da mesma forma, o conjunto adjacente de um subconjunto
Y, do conjunto de vértices X, é o conjunto de todos os vértices
adjacentes aos vértices contidos em Y mas que não estão em Y.

Exemplo 2.2
No grafo do exemplo 2.1, pode-se facilmente verificar que
Adj (x2) = {x1, x3, x4} e Adj ({x2 , x3}) = {x1, x4, x5}.
O grau de um subconjunto Y de X é o número de elemen-
tos em Adj (Y).
Define-se como um caminho de comprimento l ≥ 0, de um
vértice x a um vértice y, como um conjunto ordenado de l + 1
vértices distintos (v1, v2 , ...,) tal que:
v1 = x
vl+1 ∈ Adj (vi), i = 1, ...,     (2.1)
vl+1 = y
Um grafo G é conexo se existe um caminho entre quais-
quer dois vértices de G.
Observação: nota-se que a uma matriz bloco-diagonal cor-
responde um grafo desconexo.

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2 Representação do sistema de transmissão

Exemplo 2.3
A figura 2.2 mostra o grafo de adjacência correspondente a
uma matriz esparsa bloco- diagonal.
 (1) * 
 
 * (2) * 
A= * (3) 
 
 (4) * 
 * (5) 
 

Figura 2.2: Matriz esparsa diagonal e grafo correspondente à matriz esparsa bloco-diagonal.

Estruturas de Dados Para Representação de


Grafos e Matrizes Esparsas
Tabelas de conexão
Para uma matriz (N x N) esta tabela terá N linhas e m co-
lunas, sendo
m = máx. {grau (x) | x ∈ X}     (2.2)
Uma tabela com as mesmas dimensões que a anterior pode
ser construída para armazenar os valores da matriz A. As tabe-
las que armazenam os índices de coluna dos elementos não-nu-
los em cada linha de A (ou, equivalentemente, os vértices adja-

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Despacho econômico de energia

centes a cada vértice do grafo de A) e seus valores numéricos


serão denotadas por VIZ e VAL, respectivamente. Um arranjo
de comprimento N pode ser usado para armazenar os elementos
diagonais de A.

Exemplo 2.4
A tabela de conexão para a matriz/grafo do exemplo 2.1 é

Nó VIZ VAL
1 2 6 - a b -
2 1 3 4 a c d
3 2 5 - c e -
4 2 - - d - -
5 3 6 - e f -
6 1 5 - b f -
É fácil se verificar que o esquema de armazenamento
baseado em tabelas de conexão é ineficiente se um número
significativo de vértices tem grau muito menor do que m.

Lista de Adjacências
Formada pelos arranjos:
• ADJ: contêm as listas de adjacências para todos os vér-
tices do grafo de A de forma ordenada; tem compri-
mento igual a 2 x (número de arestas);
• XADJ: contêm apontadores para o começo de cada lista
de adjacências em ADJ; tem comprimento igual a N + 1;
• VAL: arranjo paralelo a ADJ contendo os valores nu-
méricos dos elementos de A fora da diagonal;
• DAIG: de comprimento N, contêm os elementos dia-
gonais de A.

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2 Representação do sistema de transmissão

Nota-se que o arranjo XADJ possui N + 1 posições para


que o final da lista seja indicado.

Exemplo 2.5
A lista de adjacências para a matriz/grafo do exemplo 2.1 é:
XADJ =
1 2 3 4 5 6 7
1 3 6 8 9 11 13

ADJ =
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
2 6 1 3 4 2 5 2 3 6 1 5

VAL =
a b a c d c e d e f b f

DIAG =
a11 a22 a33 a44 a55 a66

Lista Encadeada
Os esquemas anteriores têm a desvantagem de exigir o co-
nhecimento prévio do grau de cada vértice. Caso apareça um
novo elemento não nulo na matriz (por exemplo, durante a fato-
ração LU), será difícil a sua inserção nas listas. Esta dificuldade
é contornada introduzindo-se um arranjo de ligação PROX. A
estrutura resultante é chamada de lista encandeada e correspon-
de aos seguintes arranjos.
• PRIM: aponta para o primeiro elemento da lista de
vértices adjacentes a um dado vértice;

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Despacho econômico de energia

• VIZ: contém os nós adjacentes ao indexador de PRIM;


• PROX: aponta para o próximo nó adjacente em VIZ;
• VAL: guarda os valores numéricos, sendo paralelo a
VIZ e a PROX.
Além destes arranjos, define-se o arranjo DIAG para arma-
zenar os elementos da diagonal de A.

Exemplo 2.6
A lista encadeada para a matriz/grafo do exemplo 2.1 é:

PRIM
1- 10
2- 6
3- 1
4- 12
5- 8
6- 5

VIZ VAL PROX


1- 2 c 11
2- 6 f 0
3- 2 a 0
4- 3 c 7
5- 1 b 9
6- 1 a 4
7- 4 d 0
8- 3 e 2
9- 5 f 0
10 - 6 b 3
11 - 5 e 0
12 - 2 d 0

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2 Representação do sistema de transmissão

Observação: se houver espaço suficiente nos arranjos VIZ,


PROX E VAL novas arestas podem ser facilmente adicionadas
à lista encadeada.

Exemplo 2.7
Para adicionar a aresta {3, 6} com a36 = g nos arranjos do
exemplo 2.6 faz-se as seguintes modificações:
PROX (13) = 1, VIZ (13) = 6, VAL (13) = G, PRIM (3) = 13,
PROX (14) = 5, VIZ (14) = 3, VAL (14) = G, PRIM (6) = 14,
Observação: nas aplicações de listas encadeadas em opera-
ções envolvendo matrizes esparsas, é normalmente necessário
que a lista de vértices adjacentes a cada vértice esteja ordenada de
forma crescente ou decrescente. Mesmo quando a lista encadeada
original está assim ordenada, a inclusão de novos elementos em
geral exige que sejam realizadas reordenações. Para isso, rotinas
eficientes de reordenação da lista encadeada devem ser utilizadas.

Esquemas de Armazenamento Compacto Para


Vetores e Matrizes Retangulares
A utilização de um grafo não-orientado para representar a
estrutura de uma matriz é possível apenas no caso de matrizes
quadradas simétricas. Matrizes quadradas assimétricas podem
ser representadas por grafos ordenados, porém matrizes retan-
gulares, incluindo vetores-linha e vetores-coluna, não podem
ter suas estruturas associadas a grafos. Apesar disso, as estrutu-
ras de dados vistas anteriormente permanecem válidas, com pe-
quenas alterações. Estas, na verdade, se resumem ao fato de que
os elementos aij, para os quais i = j são também armazenados
nos arranjos compactos das estruturas de armazenamento, e

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Despacho econômico de energia

não mais em um arranjo separado como o arranjo DIAG que


foi mencionado anteriormente.

Esquema de armazenamento compacto para vetores


Um vetor v ∈ ℜn é descrito de forma não ambígua atra-
vés da especificação (neste capítulo sempre se estará referindo a
vetores coluna. Os arranjos e algoritmos podem ser facilmente
estendidos para vetores linha.):
• Do número de linhas n;
• Do índice das linhas onde estão localizados os elemen-
tos não nulos;
• Dos valores numéricos dos elementos.
A dimensão do vetor é um número inteiro, as localizações
dos elementos não nulos podem ser feitas em arranjos de nú-
meros inteiros e os valores podem ser armazenados em arran-
jos de números reais. A maneira mais simples de se guardar as
posições dos elementos não nulos e os correspondentes valores
numéricos é através dos arranjos, lin_v, e val_v. Este tipo de
armazenamento é chamado de esquema primitivo de armazena-
mento. Como exemplo deste esquema tem-se que:

Exemplo 2.8
Vetor denso Esquema primitivo
lin_v val_v
 0. 
  1- 2 3.
 3.  2- 4 2.
 0.  3- 7 6.
V= 2. 
  nnz = 3
 0. 
 0. 
 6. 
 

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2 Representação do sistema de transmissão

O esquema primitivo de armazenamento pode ser con-


vertido facilmente para o esquema de listas de adjacências e de
listas encadeadas. Para efetuar a conversão, supõe-se aqui que
o número de elementos não nulos do vetor, nnz é conhecido.
Esta informação não é imprescindível, porém pode ser obtida
com facilidade e ajuda na montagem das listas de adjacências e
listas encadeadas.

Listas de adjacências para vetores esparsos


A montagem das listas de adjacências para vetores esparsos
é trivial uma vez que o arranjo xadj_v terá apontadores apenas
para o começo e fim do arranjo adj_v (onde estão localizados as
posições dos elementos não nulos).

Exemplo 2.9
Para o vetor v do exemplo 2.7 tem-se então o seguinte gra-
fo e as seguintes listas de adjacências:
xadj_v(1) = 1
xadj_v(nnz) = nnz + 1
xadj =
1 2
[1 4]
lin_v =
1 2 3
[2 4 7]
val_v = [ 3. 2. 6. ]
Nota-se que, se lin_v e val_v estão adequadamente orde-
nados em forma crescente, estes dois arranjos do esquema pri-
mitivo de armazenamento são aproveitados nas listas de adja-
cências. Precisa-se, portanto, montar apenas o arranjo xadj_v,
o que é trivial.

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Despacho econômico de energia

Listas encadeadas para vetores esparsos


Estas consistem de um apontador para a localização do
primeiro elemento não nulo de v e um arranjo de apontadores
para as localizações dos elementos não nulos seguintes. Estes
apontadores são chamados de prim_v e prox_v.

Exemplo 2.10
As listas encadeadas para o vetor do exemplo 2.9 são:

Lin_v Val_v Prox


Prim_v 1- 2 3. 2
1- 1 2- 4 2. 3
3- 7 6. 0

Nota-se que lin_v e val_v fazem parte do esquema primi-


tivo de armazenamento, portanto, a criação da lista encadeada
consiste na montagem de prim_v e prox_v.

Esquema de Armazenamento Compacto Para


Matrizes Retangulares
Uma matriz A ∈ ℜmxn é descrita de forma inequívoca
especificando-se:
• Seu número de linha m e de colunas n;
• O número da linha e da coluna de cada elemento não
nulo;
• Os valores numéricos dos elementos não nulos.
Estas informações podem ser armazenadas no esquema
primitivo de armazenamento para matrizes constituído pelos
arranjos lin_A, col_A e val_A.

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2 Representação do sistema de transmissão

Exemplo 2.11
Esquema primitivo

Matriz densa lin_A col_A val_A


1- 1 1 3.0
 3. 0 2. 0 
  2- 1 3 2.0
 0 4. 0 0  3- 2 2 4.0
A= 0 0 0 7. 
4- 3 4 7.0
 5. 0 8. 9. 
 0 0 0 6.  5- 4 1 5.0
  6- 4 3 8.0
7- 4 4 9.0
8- 5 4 6.0

Listas de adjacências para matrizes retangulares


Podem ser feitas por linhas ou por colunas (significando
que o primeiro número a ser acessado poderá corresponder a
uma linha ou a uma coluna). Aqui o esquema de adjacências por
linhas será derivado. O esquema por colunas pode ser construí-
do com pequenas modificações nos algoritmos.
A lista de adjacências por linhas é constituída pelos seguin-
tes arranjos: xadj_A. adj_A e v_A.

Exemplo 2.12
xadj_A =
1 2 3 4 5 6 ↵ nº da linha
1 3 4 5 8 9

adj_A =
1 2 3 4 5 6 7 8
1 3 2 4 1 3 4 4

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Despacho econômico de energia

v_A =
3.0 2.0 4.0 7.0 5.0 8.0 9.0 6.0

Listas encadeadas para matrizes retangulares


A estrutura de listas encadeadas pode também ser aplicada
a linhas ou a colunas de uma matriz esparsa dependendo se um
arranjo de apontadores iniciais é indexado por linhas ou por
colunas para esta matriz. Supondo que a lista seja encadeada
por linhas, os arranjos correspondentes são: lprim_A, col_A,
val_A e lprox_A.

Exemplo 2.13
Para a matriz A dos exemplos anteriores, as listas encadea-
das por linhas podem ser escritas:
lprim_A col_A val_A lprox_A
1- 2 1- 1 3.0 0
2- 3 3- 3 2.0 1
4- 4 5- 2 4.0 0
6- 7 7- 4 7.0 0
8- 8 9- 1 5.0 0
3 8.0 5
10 - 4 9.0 6
11 - 4 6.0 0

Algumas Operações Elementares com Vetores


Esparsos
Adição de um vetor esparso a um vetor denso
Considera-se a operação
w = y + α x         (2.3)

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2 Representação do sistema de transmissão

onde y é um vetor denso e x é um vetor esparso de di-


mensão n, e α é um escalar. O vetor resultante w é obviamente
denso. Os únicos elementos de w que diferem dos elementos de
y são aqueles correspondentes às posições não-nulas de x.

Adição de Dois Vetores Esparsos


Neste caso, a operação considerada é
z = x + α y          (2.4)
onde x e y são vetores esparsos de dimensão n e α é um
escalar. Neste caso o vetor z será em geral esparso. Há entretan-
to uma dificuldade adicional com respeito à operação anterior:
não é possível saber de antemão a estrutura esparsa do vetor
resultante z. Esta estrutura deve ser determinada mesclando-se
as estruturas compactas de x e y. Contudo, tem-se que verificar
se x e y têm elementos comuns, já que um elemento não-nulo
não pode aparecer mais do que uma vez em uma lista encadeada
ou de adjacência. Em casos como esse, o procedimento usual é
separar a operação em duas etapas:
• Adição simbólica, em que se utiliza apenas os aponta-
dores dos elementos das estruturas esparsas dos ope-
radores x e y para determinar inicialmente a estrutura
esparsa de z;
• Adição numérica, em que os valores numéricos dos
operandos x e y são processados para determinar os
valores numéricos de z.

Multiplicação de uma Matriz Esparsa Por um


Vetor Denso
Se A é uma matriz esparsa m x n e x é um vetor n x 1, de-
seja-se implementar o produto

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Despacho econômico de energia

y = A x          (2.5)
em que o vetor y é m x 1 cujos elementos yi são dados por:
yi = ∑ nj =1 Ai j X i         (2.6)
Este produto resultará em um vetor denso, exceto se A
contiver linhas nulas. Como supõe-se que x é denso, haverá uma
contribuição A ij xj para yi sempre que A ij ≠ 0.
Supondo que A está armazenada sob a forma de lista enca-
deada por linhas (lprim_A, col_A, val_A, lprox_A) existe um
algoritmo que forma y por linhas.

Solução de Sistemas Triangulares Esparsos


Fatoração LU
Se irá discutir a fatoração LU apenas de matrizes simétricas
ou estruturalmente simétricas, já que os problemas típicos de
sistemas de potência em sua quase totalidade envolvem matrizes
com estas características.
Se está interessado na solução do sistema linear:
A x = b         (2.7)
onde A é uma matriz n x n não-singular. Neste caso, A
pode ser fatorada como
A = LU         (2.8)
onde L é uma matriz triangular inferior e U é uma matriz
triangular superior unitária (isto é, os elementos diagonais uii de
U são iguais à unidade, por outro lado, o mesmo não se exige dos
elementos diagonais de L, lii). Supondo que a fatoração LU foi
realizada, a solução da equação (2.7) envolve as seguintes etapas:
L x = b          (2.9)
U x = x          (2.10)
A etapa dada pela equação (2.9) é chamada substituição
direta, enquanto que a equação (2.10) é a substituição inversa.

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2 Representação do sistema de transmissão

Será examinado a criação de novos elementos não-nulos


(isto é, o enchimento) nos fatores triangulares de A em decor-
rência da fatoração. Observa-se que estes elementos podem sur-
gir em decorrência de operações do tipo
ak' j = a kj − a kj ⋅ a ij          (2.11)
Se, antes da operação, akj era zero mas o produto aki * aij é
não nulo, então cria-se um enchimento na posição (k, j) em de-
corrência da operação. Para o fator triangular inferior, esta pro-
priedade pode ser assim enunciada: se lki ≠ 0 e lij ≠ 0, então lkj ≠ 0.
Do mesmo modo, para u, se uki ≠ 0 e uij ≠ 0, então ukj ≠ 0. A fi-
gura 2.3 ilustra a criação de enchimento nos fatores triangulares.

Figura 2.3: Ilustração do enchimento na fatoração LU.

Fatoração LU esparsa
No caso de matrizes estruturalmente simétricas, os fatores
L e U terão elementos não-nulos:
• Nas posições em que A tiver elementos não-nulos, e
• Se akj = 0, mas aki * aij ≠ 0, cria-se enchimento nas posições
• (k, j) de U
• (j, k) de L.

90
Despacho econômico de energia

Como antes de se calcular os valores numéricos dos ele-


mentos L e U é necessário saber quais elementos destas matrizes
são não-nulos, a fatoração envolve duas etapas:
• Fatoração simbólica: através da qual se determina em
que posições de L e U ocorrem elementos não-nulos;
• Fatoração numérica: cálculo dos valores numéricos dos
elementos não-nulos de L e U, a partir da alocação de
memória feita no estágio numérico.

Fatoração simbólica
• Entrada:
• Listas encadeadas por linha e por coluna da
matriz estruturalmente simétrica, A;
• Ordem de A, n;
• Número de elementos ≠ 0 em A, nnz.
• Saída:
• Listas encadeadas de A são sobrescritas pelas
listas de L e U;
• nnz conterá o número de elementos ≠ 0 nos
fatores triangulares.
• Equações básicas:
Akj = Akj - Aki * A ij      (2.12)
Ajk = Ajk - Aji * A ik      (2.13)

Fatoração numérica
• Entrada:
• Listas encadeadas por linha e por coluna para
os fatores triangulares determinadas pela fato-
ração simbólica;
• Ordem de A, n;

91
2 Representação do sistema de transmissão

• Saída:
• Arranjos com os valores numéricos de L e U
indexados pelas listas encadeadas atualizadas
na fatoração simbólica;
• Arranjo com os elementos diagonais de A é
sobrescrito pelos elementos diagonais de L.

Substituição direta e inversa


À fatoração LU da matriz de coeficientes de um sistema
linear esparso, seguem-se os estágios de substituição direta e
inversa, conforme dado pelas equações (2.9) e (2.10), que forne-
cem a solução desejada para o problema linear. Tanto no caso
denso quanto no caso esparso, diferentes algoritmos podem ser
utilizados para implementar os estágios de substituição direta e
inversa, dependendo se o acesso aos elementos dos fatores L e
U se faz por linhas ou por colunas.
No caso de substituição direta, serão apresentados alguns
algoritmos que acessam o fator triangular inferior L por colunas.
O algoritmo para o caso de matrizes densas é bem conhecido,
e está apresentado na figura 2.4. Percebe-se que o laço interno
do algoritmo de fato acessa os elementos fora da diagonal de L
por colunas, enquanto que o laço externo acessa os elementos
diagonais de L. A figura 2.4 mostra como os elementos de L são
acessados durante o processo de solução.

Figura 2.4: Acesso às colunas de l durante substituição direta.

92
Despacho econômico de energia

As mesmas conclusões podem ser feitas para a substituição


direta, é claro, se feita com as devidas adaptações.

Ordenação para preservação da esparsidade na


fatoração LU
Ordenação de matrizes
Serão considerados apenas sistemas lineares cujas matrizes
são estruturalmente simétricas.
Define-se uma ordenação de uma matriz estruturalmente
simétrica A como uma permutação de suas linhas e colunas. A
estrutura simétrica das matrizes consideradas implica que estas
permutações têm que ser realizadas em pares linhas-coluna, isto
é, se a linha k for permutada com a linha j, o mesmo acontecerá
com as colunas k e j.
Quando uma matriz é reordenada, verifica-se que o en-
chimento produzido durante a fatoração LU pode variar subs-
tancialmente. Faz sentido, portanto, buscar ordenações que
minimizem o enchimento ou, se isto não for possível, o re-
duzam significativamente. Reordenações de matrizes estrutu-
ralmente simétricas são melhor ilustradas através dos grafos
de adjacências.

Exemplo 2.14
Seja o sistema de potência representado na figura 2.5. A
estrutura da matriz de admitância do sistema e seu grafo de ad-
jacência associado são mostrados na figura 2.6, para duas orde-
nações diferentes.

93
2 Representação do sistema de transmissão

Figura 2.5: Sistema de potência para exemplificar a ordenação.

A ordenação natural é mostrada na figura 2.6. A ordena-


ções {4, 1, 3, 5, 6, 2} (isto é, o primeiro vértice considerado é o
vértice originalmente numerado com 4, etc.)

Figura 2.6: Estrutura da matriz a e grafo associado para: (a1, b1) ordenação natural e (a2, b2)
ordenação {4, 1, 3, 5, 6, 2}.

Interpretação do enchimento usando grafos


reduzidos
O processo de fatoração LU é tal que, quando a linha 1 e
a coluna 1 da matriz A = A (1 : n, 1 : n) são processadas, elas
modificarão o restante da matriz A, isto é, A (2 : n, 2: n). Depois

94
Despacho econômico de energia

desta etapa, a linha 1 e a coluna 1 não serão mais acessadas. Em


geral, no estágio k são modificados os elementos da submatriz
A (k + 1 : n, k + 1 : n). Depois deste ponto, as primeiras k li-
nhas e k colunas não serão mais acessadas durante o processo
de fatoração.
Lembrando-se que um novo elemento diferente de zero
(isto é, um enchimento na posição (k, j) será criado se A(k, j) for
inicialmente nulo e se existir pelo menos um par A(k, i) e A(i, j),
ambos não nulos. Pode-se então estabelecer uma correspondên-
cia entre a operação que cria o enchimento e alterações no grafo
de adjacência da matriz A. Assim, o processamento da primeira
linha e primeira coluna de A provoca mudanças no grafo de
adjacência de A:
• O vértice x1 e todas as arestas nele incidentes são elimi-
nados do grafo;
• Novas arestas são criadas no grafo reduzido, tal que to-
dos os vértices originalmente adjacentes a x1 tornam-se
mutuamente adjacentes.
Deste modo, todo o processo de fatoração LU pode ser
interpretado como uma sequência de grafos de adjacência re-
duzidos. A figura 2.7 ilustra a geração de grafos reduzidos para
a matriz de adjacência do sistema de potência da figura 2.5. As
matrizes H i representam as matrizes reduzidas A (i + 1 : n, i
+ 1 : n), e as arestas mais grossas nos grafos reduzidos repre-
sentam as arestas criadas durante o processo de fatoração. A
cada uma delas corresponde um novo enchimento na matriz
A. Por exemplo, a eliminação do vértice x 2 no grafo G1 gera
três novos enchimentos, que correspondem às arestas {x3, x4},
{x4, x6} e {x3, x6}.

95
2 Representação do sistema de transmissão

Figura 2.7: Interpretação do enchimento usando sequência de grafos reduzidos.

O conjunto de arestas adicionais aos grafos reduzidos cor-


responde, portanto, ao conjunto de enchimentos criados durante
a fatoração. Para o exemplo da figura 2.7, a estrutura da matriz L
+ LT e o grafo correspondente, considerando todos os enchimen-
tos produzidos durante a fatoração são mostrados na figura 2.8.

Figura 2.8: Enchimento total e grafo correspondente para o exemplo 2.11.

96
Despacho econômico de energia

Esta visualização do enchimento em termos dos grafos de


adjacência é muito útil na interpretação dos efeitos da ordenação
durante o processo de fatoração da matriz A.

Algoritmos de ordenação
o enchimento provocado em uma matriz esparsa estrutu-
ralmente simétrica A durante a fatoração LU pode variar signi-
ficativamente com a reordenação de suas linhas e colunas. A in-
terpretação do processo de produção de enchimento utilizando
os grafos constitui-se em uma valiosa ferramenta para avaliação
dos efeitos da reordenação das linhas e colunas de A sobre a
produção de novos elementos não-nulos.
Constatados os efeitos da reordenação sobre a esparsidade
dos fatores triangulares, é natural que se procure uma ordenação
ótima que minimize o enchimento em L e U. Observa-se que este
é um problema combinatório de grande dimensão: há n maneiras
de se escolher a linha/coluna 1, n – 1 maneiras de se escolher a li-
nha/coluna 2, e assim por diante. De fato, nenhum método ótimo
com este objetivo foi desenvolvido a contento até hoje. Tem-se,
portanto, que recorrer a algoritmos heurísticos para gerar ordena-
ções que produzam um número pequeno aceitável, embora não
necessariamente ótimo, de novos elementos não-nulos em L e U.
Serão abordados três métodos heurísticos de ordenação.
Todos são baseados no conceito de grau dos vértices do grafo
de adjacência. Os vértices de menor grau tendem a criar um nú-
mero menor de enchimentos. De fato, no caso da eliminação de
um nó de grau 1, nenhum enchimento é criado.

Algoritmo de ordenação i
Também chamado esquema Tinney-I, baseia-se na orde-
nação a priori (e, portanto, estática) dos vértices do grafo de

97
2 Representação do sistema de transmissão

adjacência em ordem crescente de grau. Sua implementação é


a mais rápida e costuma produzir resultados bastante razoáveis
em aplicações em sistemas de potência. Sua implementação re-
quer o cálculo dos graus de cada vértice do grafo de adjacência.

Algoritmo de ordenação II
É conhecido como método do mínimo grau ou esquema
Tinney-II. Baseia-se na evolução dos graus nodais nos grafos re-
duzidos que resultam da eliminação de vértices. Como a elimi-
nação de um nó em um grafo reduzido pode provocar alteração
no grau dos vértices adjacentes, o método tem características
dinâmicas. A figura 2.9 ilustra o método.

Figura 2.9: Ilustração do método de Tinney-II.

Supõe-se que as linhas/colunas 1 a i – 1 (ou, equivalente-


mente, os nós do grafo de adjacência {x1, ..., xi – 1}) tenham sido
já ordenadas. O número de elementos não-nulos nestas linhas/
colunas é fixo e não será mais alterado, já que elas não serão
mais acessadas. Para reduzir o enchimento na coluna i é eviden-
te que, na submatriz que ainda não foi fatorada, a coluna com o
menor número de elementos não-nulos deve ser deslocada para
a posição i. Portanto, o esquema pode ser considerado como um

98
Despacho econômico de energia

método que reduz o enchimento através de uma minimização


local do número de elementos da coluna i da matriz fatorada.

Algoritmos de ordenação III


Este esquema de ordenação é mais elaborado, pois implica
na análise prévia da criação do enchimento para cada linha/
coluna ainda não processada. Como no caso do esquema II, o
método é mais facilmente apresentado utilizando-se o grafo de
adjacência e os grafos reduzidos dele derivados. Existe a neces-
sidade de se simular todos os possíveis nós candidatos antes de
tomar a decisão de qual nó deverá ser de fato o próximo elimi-
nado. Um possível atalho neste procedimento ocorre quando se
verifica que um nó candidato não provoca nenhum enchimen-
to; neste caso, este pode ser imediatamente selecionado, sem a
necessidade de se examinar todos os nós restantes. As ordena-
ções determinadas por este algoritmo tendem a produzir um
número menor de enchimentos que as fornecidas pelos demais
algoritmos. Apesar disso, este algoritmo requer um tempo de
processamento muito superior ao do algoritmo II, sendo, por
isso, geralmente preterido em relação aquele.

O ambiente econômico
O setor elétrico e a atividade econômica
A gestão econômica de um sistema elétrico de potência é
extremamente complexa devido a fatores, entre outros, da am-
plitude da tarefa que, além de cobrir fatores financeiros, sociais,
administrativos e ambientais, considera ainda o planejamento
de investimento e a operação do sistema, estes estreitamente
relacionados aos aspectos tecnológicos de tais sistemas. Adicio-
nalmente, todos esses aspectos devem ser gerenciados dentro

99
2 Representação do sistema de transmissão

de um contexto de regulação e leis vigentes em cada país. Isto,


naturalmente, condiciona, de forma significativa não somente a
estratégia e os limites dentro dos quais cada uma dessas ativi-
dades deve ser conduzida, mas também determina exatamente
quem são os tomadores de decisão. Com a profunda mudança
em regulação a caminha na indústria em muitas áreas do mun-
do, qualquer tentativa de descrever o ambiente econômico deve
abordar ambos os esquemas tópico por tópico, a seguinte dis-
cussão primeiro fornece uma revisão das funções de planeja-
mento da expansão e operação do sistema bem estabelecidas no
cenário tradicional, e depois apresenta a filosofia e as mudanças
introduzidas pelas novas formas de regulação.
O planejamento e a operação atual de um sistema elétrico
de potência são resultados de uma complexa cadeia de decisões.
O primeiro assunto é a provisão em longo prazo, com a expan-
são da capacidade e os contratos de combustível; o segundo é o
planejamento em médio prazo, como a gestão hidroelétrica, o
programa de manutenção de instalações, e o terceiro são as es-
pecificações em curto prazo, tais como a conexão das unidades
de geração e a reserva de capacidade de geração; e o quarto é
representado pela operação atual do sistema, como o despacho
das unidades programadas, a regulação da frequência e a respos-
ta às possíveis situações de emergência. a tomada de decisões é
apoiada por modelos de computação alimentados por sistemas
altamente sofisticados de aquisição de dados e comunicação. Os
recursos atuais tornam isso possível, como, por exemplo, calcu-
lar de forma precisa o custo marginal da demanda de equilíbrio
(isto é, o custo de um kWh adicional) em um ponto dado do
sistema em um instante de tempo, levando em conta a cadeia
inteira de decisões mencionadas anteriormente.
As decisões que afetam a operação e a expansão do sistema
elétrico de potência devem ser guiadas por critérios de eficiência

100
Despacho econômico de energia

econômica para minimizar os custos de enviar energia elétrica


de qualidade aceitável para os consumidores ou clientes. Apesar
disso, uma parcela das decisões deve levar em conta considera-
ções técnicas para assegurar a possibilidade real de fornecimento
da potência elétrica, um aspecto muito mais vital que em outras
indústrias, dadas suas características específicas. A importância
de tais considerações cresce com o lapso de tempo entre a toma-
da de decisão e a implementação rápida em tempo real, quando
a distinção entre fatores técnicos e econômicos desaparece e não
existe uma linha clara de separação entre eles. Dado o tama-
nho, a dimensão e a complexidade do problema, a cadeia de
decisão inteira deve ser racionalizada e organizada. Isso é con-
seguido ordenando cronologicamente as funções de expansão e
de operação. Em decisões de longo prazo, por exemplo, onde a
incerteza futura e os critérios econômicos têm peso considerá-
vel, uma aproximação grosseira do comportamento tecnológico
do sistema é suficiente. Tais decisões guiam sucessivamente as
tomadas de decisões de curto prazo em que as especificidades
técnicas são mais relevantes, terminando na operação em tempo
real, onde a dinâmica do sistema deve ser analisada com pleno
detalhe, milissegundo a milissegundo.

A expansão e a operação no contexto tradicional


Nesse contexto, o coordenador é centralizado, controlado
pelo governo, é responsável pelas decisões integrais da operação
do sistema de potência, do controle e do monitoramento. O co-
ordenador também é responsável pela formulação dos planos de
expansão do sistema, que considera a instalação de novas usinas
de geração e a construção de linhas de transmissão ou subesta-
ções. Também é, frequentemente, responsável pela implementa-
ção desses planos se a rede é de propriedade pública.

101
2 Representação do sistema de transmissão

O critério fundamental para o processo de tomada de deci-


sões é maximizar o benefício social na produção e no consumo
da energia elétrica. Isso envolve dois aspectos fundamentais: o
primeiro é a tentativa de minimizar a cadeira inteira de custos
relacionados com o fornecimento do serviço, incluindo custos
de investimento e operação. Além disso, o atendimento de um
serviço barato não é o único fator usado para medir o benefí-
cio social. A qualidade do fornecimento deve também ser sa-
tisfatória. O benefício é baixo ara consumidores residenciais e
industriais onde o serviço é barato, mas com saídas constantes.
Um número de incertezas (raios, crescimento real da deman-
da, falhas nos equipamentos de geração, de transmissão e de
distribuição) torna impossível garantir um serviço sem cortes
nos cenários futuros. Em outras palavras, existe sempre alguma
probabilidade de se tornar impossível fornecer a demanda total
em todo instante, o que representa uma medida de confiabilida-
de do sistema. Também está claro que tal probabilidade de falha
pode ser minimizada com investimentos em mais instalações e
operando o sistema de forma mais conservadora. O incremento
da confiabilidade requer maiores custos. Por esse motivo, o pri-
meiro critério mencionado acima, minimização de custos, deve
ser quantificado para levar em conta o segundo critério, que re-
flete a confiabilidade do sistema. Isso pode ser incorporado no
processo de tomada de decisões de muitas formas. Uma é ajustar
a confiabilidade a um limiar mínimo baseado na experiência
passada e na percepção social do conceito, medido em termos
de probabilidade de interrupção do fornecimento de energia elé-
trica ou algum outro indicador semelhante. Outro método mais
sólido consiste em tentar quantificar o custo financeiro causado
pela interrupção do serviço baseado na utilizada para os con-
sumidores. Incorporar esse fator no processo de minimização

102
Despacho econômico de energia

de custos como uma forma de despesa a ser levada em conta é


atualmente uma forma de maximizar a utilidade social do servi-
ço. A dificuldade inerente dessa segunda proposta está na quan-
tificação da utilidade, que pode variar de um consumidor para
outro, e que não existe uma forma clara de medida, apesar de
terem sido feitas tentativas a esse respeito com a elaboração de
relatórios sistemáticos para consumidores, especialmente prepa-
rados para esse propósito.
Confiabilidade é um fator que implica o processo de toma-
da de decisão completa, de longo e de curto prazos. A interrup-
ção do serviço pode ser provocada pelos aspectos relacionados
com investimento: se a capacidade instalado do sistema é in-
suficiente para fornecer a demanda, devido a seu crescimento
abrupto e inesperado, às condições meteorológicas particular-
mente adversas, à capacidade de transmissão insuficiente ou ao
adiamento de novos investimentos; aos problemas de operação:
programação inadequada de reservatórios, resposta inadequada
imediata às faltas em linhas ou geradoras devido à escassez de
capacidade de reserva; ou a problemas de estabilidade do siste-
ma em tempo real. Por esse motivo, em quase todos os cenários
de tomadas de decisão, os fatores de custo e de confiabilidade
devem ser equilibrados para encontrar uma decisão. O termo
adequação geralmente é usado para caracterizar a confiabilidade
em longo prazo e segurança, para a operação no curto prazo.
Não existe forma padronizada para organizar o planeja-
mento e a operação de um sistema elétrico de potência. a so-
lução desse problema complexo envolve quase sempre a se-
paração do problema em problemas mais simples, e todas as
técnicas utilizam dados que envolvem, de uma maneira ou de
outra, decomposição hierárquica na escala de tempo. A toma-
da de decisão é ordenada por escala de tempo, e as respectivas

103
2 Representação do sistema de transmissão

funções são ordenadas de acordo com esse critério. No nível


mais elevado estão as decisões em longo prazo, que tratam de
problemas estratégicos. Então, a solução adotada é passada para
os níveis inferiores, delimitando seu escopo de ação. Descendo
aos níveis inferiores na escala, para as técnicas de tempo real,
deve-se buscar a solução ótima dentro das restrições impostas
pelo problema, assim como pelas diretrizes recebidas dos níveis
mais elevados.

Longo prazo
O primeiro nível da tomada de decisão aborda o longo pra-
zo, projetando de 2 ou 3, para 10, 15 ou mais anos no futuro,
para definir os investimentos em usinas de geração e nas redes
de transmissão e de distribuição. O processo implica determinar
o tipo, as dimensões e a data em que novas usinas de geração e
linhas de transmissão devem ser instaladas com base em vários
parâmetros, tais como a previsão do crescimento da demanda,
alternativas tecnológicas e custos, disponibilidade de combustí-
vel estimada e a tendência de preços, critérios de confiabilidade
adotados, restrições de impacto ambiental, políticas de diversi-
ficação e objetivos relacionados à dependência do setor externo.
Esse horizonte distante é necessário para que os investimentos
(muito grandes) envolvidos sejam justificados sobre a base do
vencimento do tempo de vida útil do serviço das instalações,
que pode variar de 25 a 30 anos, no caso de usinas a vapor, e
muito mais no caso de usinas hidroelétricas.
Com os horizontes de tempo distantes, a incerteza é obvia-
mente o fator chave determinante. O conjunto integral de cená-
rios deve ser considerado, as avaliações probabilísticas devem
ser realizadas, e os critérios mais adequados devem ser adota-
dos, tais como a minimização do custo médio esperado, a mini-

104
Despacho econômico de energia

mização do arrependimento ou a minimização do risco, tomado


como a variância da distribuição de custos.
Pela mesma razão, não faz sentido neste tipo de estudo se
avaliar o comportamento técnico da operação do sistema em
detalhe, visto que não é possível tentar uma avaliação precisa
dos custos de operação quando o processo envolve níveis muito
maiores de incertezas financeiras.
Um dos requisitos principais do processo é uma boa base de
dados que deve conter informações atualizadas sobre tecnologias,
assim como séries históricas de demanda, hidrologia (chuvas), ta-
xas de falhas de equipamentos, entre outros. A previsão da de-
manda em longo prazo assume a forma de uma curva de probabi-
lidade que determina as necessidades de expansão do sistema. O
perfil da demanda é tão importante como a demanda total, já que
a escolha de tecnologia depende muito dessa informação. O pró-
ximo passo é determinar a expansão necessária em usinas de gera-
ção para atender a demanda de forma que, enquanto se respeitem
os diferentes critérios estratégicos, tenta-se a opção que minimiza
os custos antecipados sobre o período considerado. Tais custos
incluem o custo de investimento fixo escolhido e o custo de ope-
ração através do período inteiro que, obviamente, deve depender
do tipo de investimento realizado. O suporte para simulação e os
modelos de otimização estão frequentemente preparados para re-
alizar essa tarefa. Pela escala de tempo do problema considerado,
geralmente são usadas técnicas de análise de decomposição como
as que correm iterativa e alternativamente entre dois módulos, um
especializado no cálculo dos custos de expansão, e o outro, nos
custos de operação, trocando informações entre os dois, sempre
que necessário até obter os resultados desejados.
As decisões de expansão da rede de transmissão tradicio-
nalmente dependem das necessidades de investimento em novas

105
2 Representação do sistema de transmissão

usinas de geração e do crescimento nos centros de demanda. Isso


é devido ao fato de que consideravelmente monos investimentos
e tempo serão necessários para construir as redes de transmissão
do que construir usinas de geração, embora em países onde a
geografia e as distâncias sejam muito grandes e os sistemas de
transmissão são custosos, nesse contexto, esta afirmação pode
não ser certa. Depois de definida a localização das novas usi-
nas e calculadas as taxas de crescimento e de produção, deve-se
encontrar a expansão do sistema e comparar os custos de inves-
timento necessários com o benefício obtido pelo sistema: cus-
tos menores de operação, perdas menores no sistema e maior
confiabilidade em cobrir a demanda. O processo de decisão é
também impactado pelo critério de segurança que garante que
o fornecimento não deve estar sujeito às interrupções, devido a
um reforço do sistema, ou outros aspectos técnicos, como pro-
blemas de tensão e estabilidade. As decisões são, naturalmente,
dinâmicas no tempo; por esse motivo, elas devem ser periodica-
mente ajustadas aos dados de crescimento de demanda real, pois
as inovações tecnológicas ou os termos de compra de combustí-
vel modificam as hipóteses iniciais dos planos de expansão.

Médio prazo
Uma vez que o investimento em longo prazo é definido, os
planos de operação em médio e em longo prazos do sistema de-
vem ser realizados. Para um horizonte de um a três anos, depen-
dendo do sistema, o planejamento deve, além de determinar o
melhor programa do ciclo de manutenção de usinas e linhas de
transmissão, determinar a política mais adequada de compra de
combustível, e de uso mais eficiente das usinas de geração sujei-
to às limitações da energia primária das usinas hidroelétricas em
particular, ou às restrições de produção anual devido às razões

106
Despacho econômico de energia

ambientais. As usinas de geração de eletricidade são sistemas so-


fisticações com milhares de componentes que devem ser revisa-
dos periodicamente para evitar falhas maiores e frequentemente
arriscadas e para assegurar a eficiência da usina, do ponto de
vista técnico. A operação de usinas convencionais a vapor é usu-
almente interrompida em torno de 20 dias por ano para manu-
tenção. As usinas nucleares precisam de recarga de combustível
(barras de urânio) a cada 18 meses; assim, programas de manu-
tenção são elaborados para coincidir com as paradas das usinas.
As linhas de transmissão e as componentes de rede de trans-
missão e de distribuição localizadas nas subestações também
precisam de manutenção, como substituição de isoladores em
falta ou sua limpeza para evitar perdas de potência pelo isolante.
Apesar de a tecnologia para realizar essas tarefas em linhas vi-
vas estar cada vez mais e mais comumente disponível, a maioria
dessas operações é realizada com as instalações desenergizadas
por motivos de segurança, que implica a desconexão de certas
linhas ou partes de uma subestação. Isto por sua vez, requer um
cuidadoso plano de programação da manutenção para interferir
o menos possível na operação do sistema.
A gestão do combustível também precisa de um plane-
jamento cuidadoso, geralmente antecipado. Uma vez que as
necessidades são definidas, a compra de combustível deve ser
planejada frequentemente nos mercados internacionais, para
conseguir preços mais vantajosos, e para realizar o transporte
e armazenamento e tomar todas as medidas de logística neces-
sárias a fim de evitar que a usina não fique sem combustível.
Finalmente, o uso de recursos de água em usinas hidroelétricas
também deve ser planejado como se fosse também um com-
bustível. Na verdade, a água pode ser vista como um combustí-
vel sem custo com suprimento limitado. Portanto, seu uso deve

107
2 Representação do sistema de transmissão

ser programado da forma mais benéfica para o sistema. Usinas


a fio d’água não precisam de planejamento, mas decisões são
imperativas onde exista uma opção entre gerar energia elétrica
ou armazenar água para produção posterior. Dependendo do
tamanho do reservatório, tais decisões podem cobrir intervalos
de tempo que podem variar de um dia a várias semanas, meses
ou anos para os reservatórios maiores, os chamados reservató-
rios de regulação. As usinas onde a programação e regulação
se estendem por vários meses devem ser planejadas sobre uma
base anual ou multianual. Desde que o objetivo lógico desse
planejamento seja tentar substituir a produção térmica mais
cara esse tipo de planejamento é usualmente coordenado com
as usinas térmicas. Uma estratégia semelhante é realizada com
outras tecnologias sujeitas às restrições sobre uso que limitam
a produção acumulada em um intervalo de tempo, tipicamente
sazonal ou anual. Um exemplo pode ser a existência de quotas
obrigatórias de consumo nacional de combustível ou limites de
poluição anual.

Curto prazo
As decisões em curto prazo correspondem a uma escala
semanal, isto é, de alguns dias a um mês. Deve-se determinar
o plano de produção para as usinas hidroelétricas e de vapor
sobre uma base horária para cada dia da semana ou do mês.
Esse plano deve obedecer, entretanto, às instruções recebidas
do nível de decisão imediatamente superior em relação às ações
de manutenção, de programação semanal ou mensal de hidro-
elétricas, de planos de emissão, de programação de quotas de
combustível, etc.
Nesse nível, os detalhes do sistema são extremamente rele-
vantes, e devem ser levados em consideração aspectos tais como

108
Despacho econômico de energia

os processos de partida e parada de usinas de geração a vapor e


os custos; as restrições hidrológicas na bacia dos rios; a ordem
de programação das usinas; o perfil cronológico da demanda ne-
cessária para a monitoração adequada da produção; a capacidade
de geração de reserva para responder imediatamente às falhas
imprevistas de equipamentos e assim por diante.
A possibilidade de variar o nível de geração de uma usi-
na a vapor é limitada pelas características técnicas das unidades
de geração. Uma usina desse tipo fica inativa por um período
de tempo e para atingir o estado operacional demora um cer-
to intervalo de tempo, que é principalmente determinado pelo
tempo necessário para esquentar a caldeira a uma temperatura
determinada. Esse tempo mínimo depende, portanto, do estado
de esfriamento da caldeira: em outras palavras, da quantidade de
tempo que a usina esteve desligada. A maioria das usinas con-
vencionais a vapor pode requerer de 8 a 10 horas se a caldeira
estiver completamente fria. As usinas a gás e CCGT (Usina de
Turbina a Gás de Ciclo Combinado) são mais flexíveis, preci-
sando de 1 a 2 horas, ou, às vezes, alguns minutos para turbinas
a gás simples. Como resultado, o custo de partida de uma usi-
na a vapor é significativo e pode ser considerado no preço do
combustível que deve ser usado apenas para esquentar a caldeira
para uma temperatura adequada. Por esse motivo, se a demanda
diminui muito, pode não ser econômico desconectar uma usina
a vapor à noite, mas manter a usina em um nível de produção
mínimo. Esse nível, conhecido como carga mínima da usina, é
relativamente elevado, geralmente da ordem de 30 – 40% da ca-
pacidade máxima da usina, devido às exigências de estabilidade
de combustão na caldeira. Dependendo dos estudos de custo
-benefício, então, deve-se tomar a decisão se é economicamente
mais adequado arrancar e parar a usina todo dia (ciclo de partida

109
2 Representação do sistema de transmissão

diário), ou parar somente no final de semana (ciclo semanal),


ou simplesmente não parar, como no caso das usinas nuclea-
res. Frequentemente pode ser mais eficiente manter a caldeira
quente sem produção. A constante térmica da caldeira e seus
limites impõem restrições de quanto rapidamente a taxa de ge-
ração de uma usina a vapor pode ser modificada, que são conhe-
cidas como restrições rampa ascendente e descendente. Tudo
isso implica um planejamento cuidadoso de partida e parada das
usinas, um problema conhecido como programação de usinas.
Essa decisão também é fortemente influenciada pela pro-
gramação hidroelétrica semanal ou anual, assim como pelas exi-
gências de capacidade de reserva do sistema. As usinas hidroelé-
tricas são muito mais flexíveis com relação a esse aspecto, com
tempo de reposta praticamente igual a zero, sem custos signifi-
cativos de partida, e, virtualmente, sem limites reais para utili-
zar a capacidade de geração. A programação ótima da produção
hidroelétrica para responder às variações sazonais da demanda
leva em conta várias considerações: decisões de alto nível so-
bre a quantidade de recursos hídricos que devem ser usados na
semana ou no mês, a distribuição horária de custos reais (coor-
denação hidrotérmica durante a semana ou mês) e as restrições
técnicas sobre as usinas a vapor. A geração hidroelétrica e o res-
pectivo uso de água nos reservatórios devem igualmente levar
em conta as possíveis restrições impostas pelo uso da água para
outros propósitos (irrigação, fauna, nível mínimo de água no
reservatório e níveis de fluxo de água no rio, etc.), assim como
outros fatores condicionantes típicos do uso da água e de sua
configuração: canais, limites de reservatório, reservatórios em
cascata, ou aquedutos.
Nesse caso, o critério de confiabilidade desempenha um pa-
pel na tomada de decisão. Devem ser realizadas previsões para a

110
Despacho econômico de energia

substituição imediata de alguma usina no sistema que se espera


que possa falhar, ou ter a capacidade de resposta para saídas
de linhas de transmissão. Isso requer a partida e a conexão de
novas usinas, que embora não sejam necessárias em condições
normais, devem ter a capacidade de gerar a potência requerida
por várias horas, se necessário, para cobrir a emergência.

Tempo real
As funções de operação em tempo real estão baseadas es-
sencialmente no critério de segurança antes que em considera-
ções financeiras. A operação econômica do processo é definida
por decisões de alto nível, embora alguns detalhes nunca devem
ser perdidos de vista, como os aspectos econômicos da confia-
bilidade. A supervisão, o controle e o monitoramento assegu-
ram a viabilidade técnica do imenso e dinâmico sistema elétrico
de potência.

Expansão e operação no novo contexto


regulatório
O novo marco de regulação da indústria de energia elétrica
está trazendo profundas mudanças nos hábitos do planejamento
e na operação dos sistemas elétricos de potência. A liberalização
da indústria trouxe junto uma dramática descentralização das
funções de planejamento e operação. A expansão do sistema,
agora focado no investimento, e a operação são resultados de
decisões de empresas individuais com base na maximização dos
lucros, sob uma organização por concessão ou através de con-
tratos de fornecimento de energia elétrica de empresas privadas.
O risco financeiro e econômico e o retorno antecipado do in-
vestimento, em vez do critério tradicional de minimização de

111
2 Representação do sistema de transmissão

custos, determinam a tomada de decisões. Refletindo nas tarifas


pagas pelos consumidores, o desafio para as autoridades admi-
nistrativas e de regulação é projetar as regras do mercado libe-
ralizado que por sua vez deve assegurar que o comportamento
estritamente empresarial de cada participante do mercado leve a
uma minimização integral dos custos do sistema.
A operação do sistema em tempo real, entretanto, continua
a ser uma tarefa centralizada. O operador central, usualmente
chamado operador do sistema, supervisiona a segurança desse
sistema sob um esquema de supervisão e de controle. Assegurar
a viabilidade técnica em tempo real do sistema implica uma co-
ordenação avançada de todos os recursos disponíveis, que, por
sua vez, requer absoluta independência dos interesses individu-
ais dos outros participantes. A operação de um sistema elétrico
de potência é vista, portanto, sob uma perspectiva totalmente
diferente. Existem novas funções, responsabilidades e formas
para realizar o processo de tomada de decisões e as mudanças
no rol desempenhado por cada um dos agentes envolvidos. As
empresas de eletricidade devem se reorganizar para assumir
suas novas funções no mercado. Elas devem enfrentar o desa-
fio de se adaptarem ao novo ambiente, em que devem mudar
muitas rotinas de operações habituais, e onde novos direitos e
tarefas devem aparecer. Algumas das mais novas tarefas estão
relacionadas com elaboração de contratos e com formulação do
orçamento anual – receitas menos gastos de operação – tudo
dentro de um ambiente de política de gerenciamento de risco.

Longo prazo
O novo ambiente revolucionou completamente a aborda-
gem usada no planejamento da geração. A liberalização e des-
centralização das decisões de investimento atribuem a cada

112
Despacho econômico de energia

participante a responsabilidade para avaliação da conveniência


de investimento em novas usinas, com base na análise de custo
-benefício individual. Portanto, o novo investimento é estudado
sob a perspectiva do rendimento estimado sobre um período
de vários anos; em outras palavras, da avaliação do futuro de-
sempenho do mercado. Tal análise precisa de fatores associados
com preços estimados de combustível, de níveis de demanda, de
novos investimentos de terceiros, de preços de mercado, e assim
por diante. E a avaliação do risco financeiro joga um rol crucial
em tais decisões, porque é a chave para o financiamento adequa-
do do investimento. A precipitação da chuva e a variabilidade da
demanda, assim como a possível interação entre os cenários de
preços e as decisões de expansão de terceiros, são aspectos que
devem ser considerados nesse ambiente. A gestão do risco cons-
titui uma das atividades principais e direciona o planejamento
e a operação dos sistemas de energia elétrica. a formulação de
contratos para fornecimento de potência ou obtenção de finan-
ciamento, junto com o acesso a futuros mercados e opções, são
elementos de imensa importância neste ambiente.
Enquanto o planejamento da rede de transmissão continua
a ser centralizado, a perspectiva está mudando, e as decisões
diárias estão sujeitas a muita incerteza. O critério básico de pla-
nejamento, isto é, a otimização da utilidade social da produção
da eletricidade e do consumo, permanece inalterado. Entretan-
to, não existe mais a forma de minimização dos custos de pro-
dução, mas a maximização do lucro dos agentes individuais do
mercado: para os consumidores, a utilidade do consumo me-
nos o custo de compra da eletricidade, e, para os produtores,
os custos de venda menos os custos de geração da eletricidade.
Além disso, a incerteza em torno das decisões do planejador
cresceu dramaticamente. Tradicionalmente, a rede foi planejada

113
2 Representação do sistema de transmissão

com base em decisões prévias da expansão da capacidade de


geração, informação que, em um ambiente de livre competição,
não está centralmente compilado ou disponível a priori, mas
é resultado de decisões de negócio realizadas individualmente
pelos diferentes participantes em qualquer tempo. Consequen-
temente, nem a quantidade, nem a localização de novas usinas
são conhecidas com certeza quando a rede está sendo planejada.
Adicionalmente, o tempo que pode transcorrer de quando se
tomou a decisão de construir uma linha até que a linha entre
em operação está aumentando muito, devido, em particular, às
dificuldades relacionadas com o ambiente e com a organização
territorial. Como resultado, a construção de uma rede de trans-
missão leva tempo que pode ser maior que a construção de uma
usina de geração.

Médio prazo
Dos diversos agentes participantes no mercado de energia
elétrica, vários devem tratar de otimizar suas decisões em médio
e curto prazos: consumidores, fornecedores e produtores. Na
operação do sistema, entretanto, os produtores jogam o papel
principal. Os três objetivos perseguidos no médio prazo pelos
geradores são:
• Formular previsões econômicas de médio prazo men-
cionadas anteriormente: gerenciamento de contratos,
determinação das estratégias de negócios de longo pra-
zo e avaliações de investimento;
• Prover informação para as funções de longo prazo
mencionadas anteriormente: gerenciamento de contra-
tos, determinação das estratégias de negócios de longo
prazo e avaliações de investimento;

114
Despacho econômico de energia

• Prover informação para as funções de curto prazo, em


particular a formulação de licitações no mercado diário
para a energia elétrica e os serviços ancilares; diretrizes
de produção hidroelétrica, valoração das reservas de
água e diretrizes para produção de usinas a vapor sujei-
tas à provisão de quotas nacionais de carvão, restrições
ambientais, entre outros.
A nova abordagem para desenvolver os modelos de apoio a
essas decisões, que a otimização do ganho de cada agente do mer-
cado, leva de uma forma ou de outra a construir novos modelos
baseados na teoria macroeconômica e em conceitos da teoria de
jogos. Os mercados, sendo vistos como elementos dinâmicos, se
estabilizam em torno de pontos de equilíbrio caracterizados pela
estrutura de produção dos vários agentes. Alternativamente, eles
podem ser vistos como o resultado de um jogo em que as regras
ultimamente estabelecidas impõem uma estratégia a ser seguida
por um agente em resposta para as reações de todos os outros.

Curto prazo
Embora exista uma variedade de formas de organizar os
mercados elétricos, todos eles têm uma série de mercados de
curto prazo (tipicamente diário), assim como mercados intradi-
ários e o mercado de serviços ancilares, onde é determinada a
produção de curto prazo das usinas geradoras. Dos três, a oferta
diária de mercado é, usualmente, a mais importante em termos
de volume negociado. Consequentemente, a operação de cur-
to prazo tende a resolver a preparação do negócio diário. Esse
processo é controlado pela decisão estratégica de maior nível.
Como tal, ele é informado pela decisão de produção analisada
em períodos que cobrem o longo prazo, e seu papel consiste em
ajustar os preços de mercado sobre a base do dia a dia. A esti-

115
2 Representação do sistema de transmissão

mação dos preços de curto prazo, para essa escala de tempo com
as incertezas associadas com chuvas, sendo a disponibilidade de
unidades geradoras muito pequena, é uma tarefa importante,
visto que serve como guia para decisões sobre a internalização
dos custos das unidades geradoras a vapor e se deve mudar para
a produção hidroelétrica. Como resultado disso e esclarecida a
hipótese do comportamento de competição, as empresas esta-
belecem suas ofertas, especificando quantidade e preço, com os
quais elas competem no mercado atacadista.

Tempo real
Como no esquema tradicional, a operação em tempo real
é fortemente influenciada pelas considerações de segurança e
tem uma estrutura semelhante, embora considerável esforço ge-
ralmente seja feito para diferenciar claramente os valores dos
vários tipos dos chamados serviços ancilares fornecidos pelos
agentes. Sempre que possível, os mecanismos de mercado fo-
ram implementados para decidir competitivamente quem deve
prover que serviço e por qual preço. Tais mecanismos de merca-
do foram implementados para decidir competitivamente quem
deve prover que serviço e por qual preço. Tais mecanismos es-
tão frequentemente implantados com a operação, secundária ou
terciária, com a capacidade de reserva, como também com o
controle de tensão e com sistemas com tempo de partida. A fre-
quência primária ou controle de saída continua sendo um servi-
ço básico obrigatório à disposição do operador do sistema como
um elemento vital para a segurança do sistema.
Nessa estrutura competitiva, as empresas devem oferecer
seus serviços levando em conta os custos realizados em suas
usinas para a produção, assim como levando em conta outras
considerações, como as oportunidades do mercado.

116
Despacho econômico de energia

O ambiente regulatório
Regulação tradicional e regulação de mercado
competitivo
A regulação pode ser definida como um sistema que permi-
te a um governo formalizar e institucionalizar seus compromis-
sos para proteger consumidores e investidores. Dependendo do
desenvolvimento da indústria de energia elétrica em cada país e
em diferentes regiões de cada país, da ideologia predominante,
dos recursos naturais específicos e das mudanças tecnológicas,
entre outros fatores, a indústria da energia elétrica adotou di-
ferentes formas de organização e de propriedade (público ou
privado, nível municipal, estadual ou nacional).
A despeito da diversidade, desde que a indústria da eletri-
cidade atingiu a maturidade e até recentemente, a regulação em
todo o mundo foi uniformemente aplicada como se fosse um
serviço público de fornecimento organizado em uma estrutura
monopólica, com garantia de concessão para uma empresa elé-
trica típica e verticalmente integrada e preços regulados basea-
dos nos custos realizados para fornecer o serviço. Esse tipo de
estrutura é chamado, como a abordagem tradicional. sob esse
esquema, as relações entre as diferentes empresas elétricas fo-
ram geralmente caracterizadas como de cooperação voluntária
em um número de áreas, como ligando a gestão da regulação
da frequência ou a capacidade de reserva de operação, o inter-
câmbio por motivos econômicos ou de emergência, e o uso da
rede de transmissão ou distribuição por terceiros sob termos
negociados pelas diferentes partes envolvidas.
Essa uniformidade de regulação foi alterada em 1982, quan-
do o Chile fez uma abordagem inovadora, que separou as ativida-
des básicas envolvidas no fornecimento da energia elétrica. Sob

117
2 Representação do sistema de transmissão

esse novo arranjo, a maioria das empresas foi privatizada, e foi


criada uma organização competitiva (dentro de limites estritos)
ou um mercado atacadista com despacho centralizado baseado
em custos variáveis declarados. Todos os geradores foram pagos
com o preço marginal do sistema, e contratos em longo prazo
foram instituídos para compensar a volatilidade dos preços. O
novo esquema também previu orientações para o planejamento
da geração, em que o estado assume um papel meramente sub-
sidiário, quanto de livre acesso para a rede elétrica sujeito a um
pagamento de pedágio de transmissão. Reformas semelhantes
não foram introduzidas até 1990 quando a indústria elétrica foi
transformada muito mais radicalmente na Inglaterra e País de
Gales e, logo em seguida, na Argentina (1991) e Noruega (1991).
Desde então, muitos outros países, incluindo Colômbia, Suécia,
Finlândia, Nova Zelândia, os estados australianos de Victória e
Novo Gales do Sul (mais tarde dando origem ao mercado na-
cional australiano), América Central, Peru, Equador, Bolívia,
El Salvador, muitos estados nos Estados Unidos e no Canadá,
Holanda, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha, entre outros,
estabeleceram ou estão estabelecendo mecanismos de regulação
da energia elétrica para um mercado livre. Certos elementos da
livre competição foram introduzidos em contextos de regulação
tradicionais por países da Europa Oriental, e países como Mé-
xico, Malásia, Filipinas, Indonésia, Tailândia, Índia e Jamaica.

Novo ambiente regulatório


Motivação
A mudança de regulação na indústria de energia elétrica,
que faz parte de uma onda de liberalização econômica e que
afeta as empresas de transporte aéreo, de telecomunicações, de

118
Despacho econômico de energia

serviços bancários, de fornecimento de gás, e assim por diante,


foi possível graças a uma variedade de fatores. Por outro lado,
o desenvolvimento da capacidade de interconectar sistemas de
energia elétrica levando a um incremento efetivo do tamanho do
mercado potencial eliminou ou reduziu as possíveis economias
de escala que se podem ter uma única unidade de produção. Por
outro lado, a geração de tecnologias competitivas que podem ser
construídas em curto tempo está, ao menos incialmente, abrin-
do os mercados recentemente criados a um número grande de
novos operadores. Em alguns países, o fator determinante foi
a insatisfação com a abordagem tradicional devido a suas defi-
ciências mais comuns: excesso de intervenção governamental,
confusão sobre o papel dual do estado como proprietário e re-
gulador, ineficiência na gestão técnica e financeira devido à falta
de competição ou falta de capacidade de investimento. Final-
mente, o avanço tecnológico em áreas, como medição, comuni-
cação e processamento da informação, abriu o caminho para o
advento da competição no fornecimento da energia elétrica para
os consumidores finais.

Fundamentos
A regulação da indústria de energia elétrica está baseada
em uma premissa fundamental: é possível ter um mercado ata-
cadista para a energia elétrica aberto para todos os geradores,
para aqueles que já existem e para aqueles que, voluntariamente,
entram no mercado, e para todas as entidades consumidoras. A
essência desse mercado atacadista é tipicamente um mercado
spot para a eletricidade, com relação, ou como uma alternativa,
aos diferentes tipos de contratos em médio e longo prazos, e
ainda é estabelecido um mercado organizado para os derivados
da eletricidade. Os agentes participantes nesse mercado são as

119
2 Representação do sistema de transmissão

geradoras, os consumidores autorizados, e as diferentes catego-


rias de empresas fornecedoras, e atuam em nome de grupos de
consumidores não autorizados, ou consumidores autorizados,
ou simplesmente como estritamente intermediários. O novo
contexto de regulação deve também abranger muitos outros te-
mas, como: a criação de um mercado atacadista possibilitando a
todos os consumidores exercer o direito de escolha do fornece-
dor; os mecanismos e instituições necessárias para coordenar o
mercado organizado e, especialmente, a operação técnica do sis-
tema; acesso à rede de transmissão e de distribuição, de expan-
são e de remuneração, assim como a qualidade do fornecimento
e o estabelecimento de pedágios para o uso da transmissão; ou
o projeto da transição de um mercado tradicional para um com-
petitivo, protegendo os legítimos interesses de consumidores e
de empresas.

Requisitos
Neste ambiente, não se devem perder de visa as característi-
cas tecnológicas e econômicas da indústria de energia elétrica que
condicionam os dispositivos de regulação que devem governar:
• A infraestrutura necessária para a geração, transmissão
e distribuição da energia elétrica é custosa, altamente
especializada e demorada;
• A energia elétrica é essencial para os consumidores,
tornando a opinião pública altamente sensível às pos-
síveis saídas de serviços ou de fornecimento pobre
em qualidade;
• A energia elétrica não é economicamente armazenável
em grandes quantidades, e portanto, a produção deve
ser adaptada instantaneamente para a demanda;

120
Despacho econômico de energia

• A operação real de um sistema elétrico de potência é o re-


sultado de uma cadeia complexa de decisões ordenadas;
• O fornecimento de energia elétrica combina ativida-
des que claramente contêm os requisitos de um mo-
nopólio natural (os serviços de transmissão e de dis-
tribuição ou operação de um sistema) com outros que
podem ser realizados em condições competitivas (ge-
ração e fornecimento).
• A organização e a estrutura de propriedade das empre-
sas de energia elétrica variam muito entre os diferentes
sistemas de energia elétrica.
Deve ser levado em conta que o fornecimento da energia
elétrica em um ambiente competitivo está sujeito à existência
de certas atividades associadas essencialmente com a rede de
transmissão e de distribuição, cujo controle envolve um poder
absoluto sobre o mercado de energia elétrica. Consequentemen-
te, essas redes e as atividades a elas associadas devem ser abso-
luta e totalmente independentes das atividades competitivas, ou
seja, a produção e o fornecimento. Por esse motivo, e quando
a maioria dos processos de liberação foi introduzido, a indús-
tria foi dominada por empresas verticalmente integradas, isto
é, empresas conduzindo todos os estágios desde o negócio da
produção até o faturamento ao consumidor final; a organização
industrial e a estrutura de propriedade quase sempre tiveram de
ser mudadas antes de implementar o mecanismo de competição.
Naturalmente, após essa reforma, deve-se dar atenção especial
para questões, como a concentração horizontal de empresas de
produção e de fornecimento e a integração vertical entre elas
para garantir uma competição livre e leal.

121
2 Representação do sistema de transmissão

Atividades de natureza elétrica


Uma avaliação cuidadosa do processo integral do forne-
cimento da energia elétrica para os usuários finais permite a
identificação de várias atividades de natureza técnica e econô-
mica muito distintas e, portanto, capazes de receber um trata-
mento de regulação diferente. A divisão clássica em geração,
transmissão e distribuição é excessivamente simples e também
contém erros grosseiros, como a integração da atividade de dis-
tribuição em uma categoria simples. No mínimo, a distribuição
inclui duas atividades de natureza claramente diferentes: por
um lado, existe o serviço de distribuição que permite que a
energia elétrica chegue fisicamente da rede de transmissão para
os usuários finais e tem a forma de monopólio natural; por
outro lado, existe o serviço de marketing dessa energia que é
adquirida a granel e depois retalhada e pode ser realizada em
um cenário competitivo.
Com a primeira classificação geral, as atividades devem ser
categorizadas em classes básicas: produção (geração e serviços
ancilares), rede elétrica (transmissão e distribuição), transação
(mercado atacadista, mercado varejista, balanço de mercado) e
coordenação (operação do sistema e do mercado), e em algumas
outras classificações complementares tais como medição ou fa-
turamento. Essa discriminação pode ser considerada excessiva;
entretanto, é necessária para iniciar em um nível de projeto com
a pretensão de realizar uma análise adequada da estrutura de re-
gulação. Como exemplo, o planejamento da expansão da rede de
transmissão é uma atividade que deve ser regulada de uma for-
ma ou de outra, dadas suas características de monopólio natural
e sua influência significativa sobre as condições de operação do
mercado elétrico. Inversamente, uma vez que as características
e o início de operação de uma nova linha são decididos, a cons-

122
Despacho econômico de energia

trução pode ser atribuída por algum processo de concorrência


onde exista competição em preço e em qualidade.

Separação de atividades
O número de atividades indicadas não necessariamente im-
plica uma correspondente multiplicidade de entidades para sua
execução. Existe uma sinergia e custos de transação que tornam
inconveniente em certos casos que uma empresa simples em-
preenda várias atividades. Também deve ser especificado, en-
tretanto, que os conflitos de interesses podem aparecer em uma
entidade que é responsável por mais de uma atividade, quando
a execução de uma atividade pode beneficiar a entidade perante
outros agentes na execução da outra atividade que se encontra
aberta à competição. Podem ser aplicados diferentes níveis de
separação, mas é necessário ajustá-los para cada caso particular.
Basicamente, essas atividades podem ser separadas em quatro
tipos: contabilidade, gerenciamento, norma legal (isto é, diferen-
tes empresas que podem pertencer aos mesmos donos através de
um truste) e propriedade.
A regra básica na separação de atividades sob a nova regu-
lação é que uma empresa simples não pode executar atividades
reguladas (por exemplo, distribuição) e atividades competitivas
(tais como geração) ao mesmo tempo. O apoio potencial a ser
fornecido para uma atividade regulada para uma competitiva é
para esta uma vantagem evidente, e tal vantagem, é legalmen-
te inaceitável. Igualmente, o risco da atividade competitiva não
pode ser transferido para uma regulada, já que certamente vai
recair sobre os consumidores, que não têm opção de escolha.
Uma transparência adequada na atividade regulada tam-
bém requer pelo menos a separação de contas entre as corres-
pondentes unidades de negócio. Empregas engajadas em ati-

123
2 Representação do sistema de transmissão

vidades reguladas não estão autorizadas a conduzir atividades


diversificadas (isto é, atividades não relacionadas à eletricidade),
ou devem pelo menos estar autorizadas pela agência reguladora.
Tal autorização deve estar inicialmente amparada na não exis-
tência de impacto negativo sobre os negócios regulados que po-
dem ser finalmente repassados para os consumidores, que não
têm opção de escolha.
O projeto do novo marco regulador deve considerar os vá-
rios benefícios e inconvenientes quando se atribuem atividades a
entidades e se ordena a separação por níveis, e também deve levar
em conta as características específicas do sistema atual, particu-
larmente a estrutura inicial de negócios. Geralmente são possíveis
várias alternativas, como mostram as diversas experiências sub-
metidas em países que adotaram o novo marco elétrico regulado.

Atividades de geração
As atividades de geração incluem a geração elétrica ordiná-
ria e especial. Geração elétrica especial é tipicamente entendida
como as tecnologias de cogeração e de produção que usam fon-
tes renováveis e, normalmente, diferem das ordinárias, porque
recebem um tratamento mais favorável como forma de compen-
sação, prioridade na operação, entre outras, como acontece em
muitos países. Os chamados serviços ancilares ou complemen-
tares devem ser incluídos quando são fornecidos por geradores,
e contribuem com um nível adequado de qualidade e de segu-
rança no fornecimento da energia elétrica.
A geração ordinária é uma atividade não regulada condu-
zida em condições de competição, sem restrições de entrada e
com acesso livre para a rede. A venda da produção pode acon-
tecer através de diferentes processos de transação, basicamente
no mercado spot, ou, através de contratos, quando se trata de

124
Despacho econômico de energia

atividades de transação. A geração especial, do ponto de vista


de regulação, não tem outra diferença da geração ordinária. A
razão fundamental para ajudar a geração especial é seu impacto
ambiental menor quando comparado com a geração ordinária.
A incapacidade de considerar explicitamente os custos ambien-
tais nos preços do mercado elétrico atual é compensada pelo uso
de padrões de regulação diferentes de forma a nivelar todas as
tecnologias de produção, e permite que elas possam competir
em condições parecidas reconhecendo implícita ou explicita-
mente os custos totais efetivamente realizados.
As seguintes regras são incluídas nos esquemas de regula-
ção atualmente em uso, ou são propostas para promover a gera-
ção especial da energia elétrica:
• Obrigação para as empresas que vendem ou distri-
buem energia para oferece-las a preços administrati-
vamente fixados;
• Um prêmio, fixado ou atribuído por meio de mecanis-
mos competitivos, por kWh produzido com geradores
que são elegíveis para esse efeito;
• Isenção de certas taxas, particularmente aquelas que
são aplicadas na produção de energia;
• Ajuda com investimentos ou programas de P&D
(pesquisa e desenvolvimento) relacionados a essas
tecnologias;
• Cotas obrigatórias para a compra de energia do setor
especial por operadores autorizados e consumidores,
encorajando assim a criação de um mercado paralelo
para a compra e venda dessa energia;
• Compra voluntária da energia renovável pelos usuários
finais que pagam uma quantidade extra para financiar
a atividade de geração especial.

125
2 Representação do sistema de transmissão

Quando se escolhe uma abordagem adequada, enquanto


evita a interferência com a operação do mercado tanto quanto
seja possível, a eficiência, isto é, o grau de cumprimento da meta
versus o custo adicional incorrido, será basicamente valorizada.
Além da produção de energia, os grupos engajados na
produção contribuem na provisão de outros serviços que são
essenciais no fornecimento eficiente e seguro da eletricidade:
eles fornecem reservas para operações futuras possibilitando-
lhes atuarem em diferentes escalas de tempo e enfrentando os
inevitáveis desequilíbrios entre geração e demanda; eles ajudam
a regular a tensão na rede elétrica para diferentes condições de
operação, ou permitem a recuperação rápida do serviço quando
acontece uma falha geral. A tendência atual em regulação adi-
cional, globalmente chamado de serviços ancilares, é resumida
em duas visões básicas: o uso, se possível, de uma abordagem de
mercado para a alocação e compensação do referido serviço, ou,
em caso contrário, a aplicação direta de regulação e a atribuição
de encargos decorrentes dos custos incorridos pelos agentes que
causaram a demanda.

Atividades da rede
O fornecimento de energia elétrica requer necessariamente
o uso de redes que, dadas suas características técnicas e econô-
micas, devem ser administradas e reguladas como um mono-
pólio natural. Tal exigência é uma condição básica para a nova
regulação do setor.
As atividades da rede incluem planejamento dos investi-
mentos, construção, planejamento da manutenção, manutenção
propriamente dita e operação. O processo de investimento em
planejamento determina a disponibilidade de dados, a localiza-
ção, a capacidade e outras características dos novos ativos da

126
Despacho econômico de energia

uma rede. O processo de planejamento da manutenção determi-


na os períodos de inatividade para cada linha para fazer reparos
e ações necessárias para manter as linhas operativas e confiáveis.
A construção e a manutenção são atividades que pode ser rea-
lizadas por empresas especializadas, não necessariamente por
empresas elétricas. A operação da rede é o gerenciamento do
fluxo de energia dentro da rede através de ações executadas dire-
tamente nas instalações físicas da transmissão e na coordenação
com ações executadas nas instalações de produção e de consu-
mo. As redes também podem participar na provisão de certos
serviços ancilares, que usualmente são diretamente reguladas,
tais como a regulação de tensão.
O planejamento da expansão e da manutenção para a rede
de transmissão tem um impacto sobre a forma como as ativida-
des são coordenadas que, por sua vez, afetam o mercado elétri-
co. Consequentemente, a independência da entidade competen-
te responsável, ou seja, o operador do sistema, em relação aos
agentes do mercado deve ser preservada. Além disso, ambas as
atividades de planejamento têm efeitos evidentes sobre o plane-
jamento da construção de redes e a manutenção a ser realizada
pelas empresas de transmissão. Da mesma forma, não se pode
negar que a sinergia entre as diferentes redes sugere que elas
devem ser dirigidas por uma única empresa; portanto, existem
importantes motivos de regulação para separar a operação do
sistema de qualquer empresa transmissora.
Por outro lado, a rede de distribuição não tem interferên-
cia na coordenação do mercado. Assim, todas as atividades da
rede em uma área podem ser facilmente executadas pela mesma
empresa, ou seja, pelo distribuidor local. Dentro do contexto
de regulação analisado, existem duas outras diferenças entre a
atividade de transmissão e a atividade de distribuição: a grande

127
2 Representação do sistema de transmissão

maioria dos usuários finais estão conectados à rede de distribui-


ção, que é a razão par a importância particular da qualidade de
serviços e o grande número de empresas distribuidoras torna
impossível o tratamento individual da regulação, particularmen-
te em relação ao pagamento, o que resulta no uso global de pro-
cedimentos simplificados. A nova regulação das redes elétricas
pode ser reduzida a três aspectos principais: acesso, investimen-
to e preço.

Transmissão
Acesso: os sistemas que participam na nova regulação de-
vem ter acesso implícito à rede de transmissão e todos os agen-
tes autorizados a tomar parte no mercado atacadista. A capa-
cidade da rede obviamente impõe limites físicos para o acesso
e existem várias restrições de procedimento de gerenciamento
para resolver os potenciais conflitos que podem aparecer. Es-
ses procedimentos vão desde a aplicação dos preços nodais ou
zonas de preços em um mercado atacadista organizado (assim,
implicitamente resolvem as restrições da rede) aos leilões reali-
zados para atribuir uma capacidade limitada entre os diferen-
tes agentes. Servem ainda para modificar o despacho feito pelo
operador do sistema de acordo com as regras estabelecidas e, até
mesmo, para a atribuição prévia de direitos de uso de longo pra-
zo da rede, seja através de leilões, seja baseado em participação
na construção da linha.
Investimento: o propósito da nova regulação a nível de
projeto é obter uma rede que maximize os benefícios adicionais
para consumidores e produtores, que são os que devem arcar
com os custos da rede. Certos critérios de confiabilidade explí-
citos geralmente são usados no planejamento da rede em vez de
incluir todos eles nas funções de economia a serem otimizadas.

128
Despacho econômico de energia

A abordagem usada, principalmente, é o planejamento


centralizado, atribuída a uma entidade especializada, sujeita a
critérios de seleção preestabelecidos, em relação às melhores al-
ternativas, e sempre sob uma concordância administrativa final
para cada empresa. Tradicionalmente, tal entidade é uma em-
presa verticalmente integrada, que é o operador do sistema sob
a nova regulação. O pagamento da rede, fixado pelo regulador
ou para certas instalações, é determinado diretamente em um
processo de licitação para a construção e a manutenção. Tal pro-
cedimento pode ser aberto para a participação e propostas das
partes interessadas, com a intervenção do regulador para evitar
a possibilidade de sobre investimento. Essa abordagem pode ter
uma dificuldade em um ambiente liberalizado, visto que, é mui-
to difícil prever o desenvolvimento futuro da geração de energia
elétrica que pode ser também afetado pela expansão da rede.
A segunda abordagem faz de uma única empresa de trans-
missão a única responsável pela operação e pelo planejamento
da rede. Neste caso, a empresa pode também ser operadora do
sistema, que deve:
• Informar os usuários da previsão do congestionamento
ou da capacidade remanescente da rede nas diferentes
barras de acesso dentro de um limite de tempo razoável;
• Assegurar que a rede cumpra com certos padrões de
projeto e de serviço formalmente preestabelecidos;
• Assumir a expansão das instalações da rede, se neces-
sário, para atender a pedidos de acesso, desde que os
padrões de qualidade sejam preservados.
O pagamento da transmissão deve ser prefixado pelo regu-
lador e deve cobrir os custos de uma companhia eficiente que
fornece o serviço dentro de condições estabelecidas. Esse méto-
do não garante uma expansão ótima da rede.

129
2 Representação do sistema de transmissão

A terceira abordagem é deixar a iniciativa de reforços da


rede para usuários reais, que podem ponderar a contribuição
para os custos de investimento exigidos deles em relação aos
benefícios decorrentes de cada possível reforço proposto e, se a
avaliação for positiva, pode abrir um processo de licitação para a
execução de sua construção e manutenção. A empresa de trans-
missão ganhadora é compensada de acordo com os termos da
licitação, deixando a operação da instalação para o operador do
sistema. Esse procedimento é como uma orientação de mercado
permitido pela regulação da rede; entretanto, sua administra-
ção é complexa e baseia-se, principalmente, na disponibilidade
adequada de preços de rede para promover uma demarcação
adequada de seus agentes.
Preços: como as atividades de transmissão na rede estão
reguladas, os preços aplicados neste campo devem permitir
fundos suficientes para cobrir o custo integral (critério de equi-
dade ou viabilidade). É também fundamental que os agentes re-
cebam sinais econômicos adequados (critério de eficiência) em
relação a sua localização dentro da rede, no curto prazo, para
uma correta operação do mercado, considerando as perdas e
possíveis congestionamentos e, no longo prazo, incentivando
uma adequada localização de futuros agentes produtores e con-
sumidores. Os preços não podem ser discriminatórios. Quatro
conceitos de preços são frequentemente mencionados sob o tí-
tulo de preços na rede de transmissão que precisam ser dife-
renciados e tratados corretamente: custos de infraestrutura da
rede, perdas ôhmicas, congestionamento e serviços ancilares.
Os únicos custos da rede relevantes são os custos de investi-
mentos em expansão e os custos de manutenção das instala-
ções, e, na prática, nenhum deles está relacionado com o uso
dos ativos da transmissão elétrica. As perdas acontecem na rede,

130
Despacho econômico de energia

mas elas são atualmente repassadas aos custos de produção; o


mesmo acontece com o excedente de custos de reprogramação
que podem aparecer devido ao congestionamento ou a outras
restrições relacionadas com a rede. Os serviços ancilares são,
principalmente, uma atividade de geração e, como tal, devem
ser regulados.
As perdas e o congestionamento na rede originam os si-
nais econômicos que devem ser vistos em qualquer tempo como
modificações do preço do mercado. Assim, o único preço do
mercado torna-se um preço nodal, isto é, um preço diferente
em cada barra da rede que transmite adequadamente o impacto
econômico das diferentes localizações dos geradores e dos con-
sumidores. Se o uso de um preço de mercado único é preferido,
isso não deve conduzir a uma dispensa dos sinais econômicos de
perdas e de restrições. As perdas são imputáveis para cada agen-
te, na forma de valor marginal ou de valor médio, que podem ter
um efeito corretor nos preços de fornecimento, ou, preferivel-
mente, sobre a quantidade atual produzida ou gerada, de forma
que os agentes possam absorver as perdas de seus fornecedores
no mercado atacadista.
O uso de preços nodais, em lugar de um único preço de
mercado origina um excedente que pode ser usado para cobrir
uma parcela dos custos da rede, em geral não mais de 20%. Em
qualquer caso, se um único preço de mercado ou preços nodais
são aplicados, a questão de atribuir tudo ou a maior parcela dos
custos da rede de transmissão para os usuários tem que ser re-
solvida. Vários métodos foram usados ou propostos para reali-
zar essa distribuição. O mais popular, especialmente em países
onde existem redes muito bem desenvolvidas e distâncias não
muito grandes entre a geração e a demanda, é simplesmente o
método selo postal, que consiste em cobrar de forma unifor-

131
2 Representação do sistema de transmissão

me por kWh que é injetado ou retirado da rede, ou por kWh


instalado, independentemente da localização na rede. Quando
a localização de reforços em curto prazo indica uma melhoria
da rede em relação às perdas e restrições, devem-se implemen-
tar procedimentos que levam em conta o uso elétrico da rede
feito pelos agentes da rede, ou os benefícios econômicos que
cada usuário dela recebe, ou, também, a responsabilidade de
cada agente no desenvolvimento da rede existente. No contexto
de vários sistemas interconectados, com esquemas de regula-
ção elétrica geralmente diferentes que permitam as transações
entre seus respectivos agentes, um erro básico de regulação
deve ser evitado: quando se determina o pedágio da rede para
dois agentes envolvidos na transação, que estão localizados em
sistemas diferentes. Nos Estados Unidos, esse erro é chamado
pancaking e significa que são aplicados encargos para a transação
além dos encargos de pedágio pelas redes elétricas que devem
ser usadas na execução da transação. Deve ser observado que,
nesta situação, a quantidade do pedágio depende criticamente
da estrutura territorial, das empresas elétricas, ou países, que
têm pouco a ver com os custos reais impostos por tal transação
sobre a rede elétrica do grupo de sistemas. Fracassando o nível
de coordenação requerido para estabelecer um único pedágio
regional para cobrir o custo global da rede, uma abordagem
razoável e simples de aplicar pode ser que cada agente pague
somente os encargos da rede correspondente à infraestrutura
de rede de seu próprio país, como um direito único de conexão
para a rede regional, com um encargo separado para as perdas e
as restrições consideradas em conjunto. Procedimentos coorde-
nados podem também ser estabelecidos para atribuir os custos
de perdas e de gerenciamento das restrições que afetam as tran-
sações internacionais.

132
Despacho econômico de energia

Atividades ancilares
Geralmente é o operador do mercado quem estabelece as
transações econômicas realizadas nos diferentes mercados que
controla. O operador pode também ser responsável pela liqui-
dação de outras transações e conceitos relacionados ao merca-
do atacadista, tais como os serviços ancilares, perdas, restrições
técnicas, saldos dos desvios finais e, também, em alguns sis-
temas, os acordos bilaterais entre os agentes. A liquidação das
atividades reguladas, como, por exemplo, a transmissão, a distri-
buição e outras questões, como assistência à geração especial, é
geralmente confiada à gestão central ou a uma entidade especia-
lizada e independente, encarregada dessa atividade.
Tradicionalmente, a medida do consumo e o correspon-
dente faturamento faziam parte integrante da atividade de co-
mercialização, porque formavam um conjunto inseparável com
a distribuição. Sob a nova regulação, é possível que essas ativi-
dades sejam realizadas de forma independente por empresas es-
pecializadas que competem pelo fornecimento desses serviços.
Isso também acontece com as instalações para conexão de usu-
ários finais, uma atividade que é considerada parte da distribui-
ção, mas que pode ser, e isso frequentemente acontece, realizada
por competição de instaladores independentes. É possível que,
no futuro, outras atividades sejam identificadas, que logicamen-
te possam ser executadas de forma separada, ou novas ativida-
des possam aparecer, por exemplo, dentro da competência da
filosofia reavivada de multiatividade, em que as empresas co-
merciais oferecem outros serviços além de eletricidade.

133

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