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AULA 1

Pensamento Computacional​​
Professora Pedro Henrique Cacique Braga
INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO COMPUTACIONAL ����������������������������������������������������������� 3
INTRODUÇÃO ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 3

A ORGANIZAÇÃO DA CIÊNCIA ��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 4

AS DIMENSÕES DO PENSAMENTO COMPUTACIONAL ����������������������������������������������������������������������� 7

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DECOMPOSIÇÃO ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������

REFERÊNCIAS �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 12

AULA 1 - Pensamento Computacional


INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO COMPUTACIONAL

INTRODUÇÃO

Hoje em dia, os conhecimentos na área da computação são cada vez mais ne-
cessários. Os dispositivos eletrônicos fazem parte do nosso cotidiano e já se fala em
termos como “nativo digital” há algum tempo, quando nos referimos às crianças
que nascem em meio a esta cultura e aprendem desde cedo a manipular os dis-
positivos.

Com o avanço da tecnologia e sua popularização cada vez maior, podemos fazer
coisas que antes não seriam possíveis, como um curso completo de graduação a
distância.

A comunicação é uma das primeiras subáreas da tecnologia que teve um avan-


ço significativo. Há algumas décadas, era possível, por exemplo, fazer um curso por
correspondência. Para estes casos, os alunos recebiam um material impresso pelo
correio e acompanhavam seu progresso neste mesmo material.

Com o tempo, surgiram os telecursos, nos quais o conteúdo era apresentado de


uma forma mais dinâmica, com aulas gravadas e disponibilizadas aos alunos, seja
por correio, seja por canais abertos de televisão.

Mas com a popularização dos computadores pessoais e a disponibilização de


recursos de internet no Brasil, começaram a surgir novas modalidades de ensino a
distância, usando diferentes metodologias e diferentes ferramentas.

Veja que o produto oferecido neste exemplo segue sendo o mesmo: o conhe-
cimento. Mas a forma como ele é entregue ao usuário final (os alunos) foi sendo
alterada ao longo do tempo para que fosse mais engajador e com menor tempo de
resposta entre as etapas.

Podemos dizer que a tecnologia ajudou muito no aprimoramento das técnicas


de ensino nas últimas décadas, fazendo que as sociedades possam continuar seus
trabalhos, mesmo em momentos extremos, como na Pandemia de Covid-19, por
exemplo.

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Mas o impacto da computação não se limita a este caso de estudo. Várias outras
áreas do conhecimento se beneficiam diariamente dos avanços da tecnologia.
“Problemas complexos de diferentes áreas da ciência estão agora sendo abor-
dados com uma perspectiva computacional, uma vez que a Computação provê
estratégias e artefatos para lidar com a complexidade, avançando na solução de
problemas que há poucos anos não seriam possíveis.” (BRACKMANN, 2017).

Podemos perceber esta mudança em pesquisas aplicadas em Biologia,


Matemática, Engenharias e muitas outras áreas, as quais apresentam métodos
computacionais na busca de soluções ótimas para problemas reais.

Perceba que estamos falando de uma estratégia de estruturação do nosso pen-


samento, de uma forma organizada e baseada em certas regras para que possamos
nos comunicar com outras pessoas de maneira inteligível.

O pensamento computacional (PC) não é uma forma de “engessar” nosso racio-


cínio, mas sim de organizar nossas ideias, mantendo toda a nossa criatividade.

Na área de estudos da computação, especificamente, precisamos nos expressar


de forma precisa. Programar é dar instruções claras ao computador para que ele
realize uma série de tarefas. Para isso, precisamos estabelecer algumas regras de
entendimento geral (tanto para nós, seres humanos, quanto para o computador).

O PC, então, é uma estrutura muito bem definida de organização das ideias
que contribuem não apenas para a comunicação de um pensamento, mas para a
programação de computadores.

A ORGANIZAÇÃO DA CIÊNCIA

“A lógica tradicional, desenvolvida por Aristóteles, foi criada originalmente para


ajudar pessoas a pensar de forma mais efetiva, através do uso de silogismo, o qual
é a base da Matemática e da Computação.” (BRACKMANN, 2017).

A base para o PC foi lançada muito antes do surgimento dos computadores.


Veja que os pensadores de antigamente já se preocupavam com formas de ajudar
as pessoas a pensar, a se expressar e a chegar em soluções criativas para problemas
reais.

A lógica foi sendo aperfeiçoada ao longo dos anos pelos sucessores desses pen-
sadores durante o século XIX e foram criados símbolos lógicos para representá-la,
como a lógica booleana, apresentada incialmente por George Boole.

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Durante as últimas décadas, essas estruturas se transformaram no que conhe-
cemos hoje como Pensamento Computacional, em uma tentativa de colocar a
Computação como solução dos grandes desafios da ciência.

Assim, os cientistas da década de 1980 começaram a definir a ciência não só


como teoria e experimentação, como visto anteriormente, mas adicionaram um
terceiro pilar para a Ciência: a computação, como mostra a Figura 1.

Figura 1 – Pilares da Ciência Moderna

Fonte: Brackmann (2017).

E assim surge o termo pensamento computacional, que une a tecnologia aos


métodos básicos de pensamento (teoria e prática).

Definição

Veja então que estamos trabalhando com um termo relativamente novo, o qual
precisou ser definido e aceito pela comunidade acadêmica e científica. Em 2011,
surge uma definição oficial do termo de acordo com (COMPUTATIONAL THINKING,
2009):

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O Pensamento Computacional é um processo de resolução de problemas que
inclui (mas não está limitado a) as seguintes características:

• Formulação de problemas de forma que nos permita usar um computador e


outras ferramentas para nos ajudar a resolvê-los.

• Organização e análise lógica de dados.

• Representação de dados por meio de abstrações, como modelos e simula-


ções.

• Automatização de soluções por meio do pensamento algorítmico (uma série


de etapas ordenadas).

• Identificação, análise e implementação de possíveis soluções com o objetivo


de alcançar a combinação mais eficiente e efetiva de etapas e recursos.

• Generalização e transferência deste processo de resolução de problemas


para uma grande variedade de problemas.

Essas habilidades são apoiadas e reforçadas por uma série de qualidades ou ati-
tudes que são dimensões essenciais do PC. Essas qualidades ou atitudes incluem:

• Confiança em lidar com a complexidade.

• Persistência ao trabalhar com problemas difíceis.

• Tolerância para ambiguidades.

• Capacidade de lidar com os problemas em aberto.

• Capacidade de se comunicar e trabalhar com outros para alcançar um obje-


tivo ou uma solução em comum.

Outra definição muito importante é em relação às fronteiras entre o Pensamento


Computacional e a Computação como um todo. Uma vez que esses termos estão
intimamente relacionados, como distingui-los?

Brackmann (2017) propõe um modelo de separação das áreas envolvidas, mos-


trado na Figura 2, que apresenta o domínio de cada uma delas.

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Figura 2 – Relacionamento entre áreas e seus contextos

Fonte: Brackmann (2017).

Perceba que a computação não é a área que engloba todas as outras, mas sim o
Pensamento Computacional, o qual está diretamente relacionado ao pensamento
crítico, à colaboração, à criatividade e à capacidade de se expressar.

Dentro dele, temos as áreas técnicas da computação que se relacionam com a


solução de problemas e os projetos de sistemas. Para isso, a programação pode ser
utilizada na criação de sequências de instruções, sendo o código gerado o produto
final.

AS DIMENSÕES DO PENSAMENTO COMPUTACIONAL

Agora que temos as definições e que sabemos que o pensamento computa-


cional serve para nos ajudar a nos expressarmos de forma coerente na busca de
soluções para problemas reais, podemos começar a tratar as dimensões desse
processo.

Brackmann (2017) apresenta quatro dimensões ou pilares para o PC, as quais


caracterizam as diferentes fases dessa estrutura, de forma a sustentar a busca pela
solução.

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A primeira dimensão é a Decomposição. Um grande problema pode parecer
muito complexo para ser examinado. Para interpretá-lo de uma forma mais sim-
ples, podemos quebrá-lo em problemas menores os quais podem ser analisados
individualmente, com um nível de profundidade maior.

Quando observamos os problemas menores, é muito comum que eles sejam


comparados com outros problemas conhecidos que já solucionamos anteriormen-
te, consistindo assim na segunda dimensão: Reconhecimento de Padrões.

Perceba ainda que, quando buscamos problemas parecidos que já conhecemos,


acabamos por generalizar o problema e ignorar alguns detalhes não essenciais
para a solução. Essa etapa é conhecida como Abstração, pois nela observamos o
problema como um todo antes de pensar em suas particularidades.

Por fim, desenvolvemos uma série de instruções que serão executadas para so-
lucionar nosso problema, na dimensão do Algoritmo. Esta palavra se tornou muito
popular nos últimos anos, sobretudo para os criadores de conteúdo em mídias
sociais. Sempre se fala no algoritmo do Instagram, por exemplo, que escolhe como
o conteúdo é apresentado aos usuários. Veja que este é um exemplo de conjunto
de instruções dadas ao sistema, ou o algoritmo.

Ainda que neste exemplo o algoritmo seja computacional, estamos nos referin-
do a instruções, à geração de um código (computacional ou não) para execução
em busca de uma solução.

Pensemos juntos em um exemplo (não necessariamente computacional) que


envolva os quatro pilares descritos anteriormente. Imagine a seguinte situação:
você resolveu se mudar para uma nova cidade a fim de aproveitar uma oportuni-
dade de trabalho, mas não conhece o local e precisa se organizar para isso.

Perceba que o problema em questão (sua mudança) é complexo e envolve mui-


tos fatores diferentes. Sigamos, então, os passos do PC em busca de uma solução.

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1. Decomposição

Quando pensamos na mudança, podemos listar uma série de problemas meno-


res a serem resolvidos. Veja, na Figura 3, um diagrama que pode representar esses
problemas:

Figura 3 – Decomposição inicial

Mudança de cidade

Conectar-se Entender
Busca por Localizar-se
com novas o novo
moradia na cidade
pessoas trabalho

Fonte: Elaborada pelo autor.

Veja que cada problema menor pode ser analisado separadamente. Para mo-
radia, por exemplo, você poderia buscar um bairro seguro (o que faz uma conexão
com o item localizar-se na cidade), pesquisar preços, contatar um corretor de imó-
veis, entre outras atividades.

Figura 4 – Decomposição secundária

Busca por Encontrar Pesquisar o Procurar um Visitar


moradia um bairro preço do corretor de apartamen-
seguro aluguel imóveis tos

Localizar-se
na cidade

Fonte: Elaborada pelo autor.

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Veja, na Figura 4, um exemplo de decomposição secundária, quando nos apro-
fundamos em um subproblema.

Podemos decompor o problema principal em quantos níveis julgarmos neces-


sários até que possamos reconhecer padrões conhecidos.

2. Reconhecimento de Padrões

Neste ponto, é provável que você já tenha se identificado com algum desses
subproblemas. Por exemplo, você com certeza já precisou se localizar na sua cidade
atual. Como você o fez? Buscou um aplicativo? Conversou com pessoas?

3. Abstração

Para este problema específico de se localizar, podemos abstrair alguns detalhes,


como a cidade em questão, o tempo necessário para ir de um local a outro, os deta-
lhes de mapeamento. Tudo o que precisamos pensar é que devemos nos localizar
em um local novo.

4. Algoritmo

Uma vez que observamos esse problema de forma cuidadosa, podemos escre-
ver um roteiro para a solução, por exemplo:

I. Baixar um aplicativo de mapa/ buscar um mapa impresso.

II. Localizar o endereço do trabalho.

III. Reconhecer os nomes dos principais bairros ao redor.

IV. Definir uma distância desejável para moradia.

Perceba, então, que resolvemos um problema menor de forma genérica e defini-


mos o que fazer para solucioná-lo. Quando esse passo estiver completo, passamos
para os demais subproblemas do nosso diagrama.

A solução dos problemas menores nos levará à solução do problema geral.

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DECOMPOSIÇÃO

Enfatizamos, no exemplo anterior, a decomposição do problema. Você perce-


beu o quão simples foi chegar a uma solução para um problema menor, quando
comparado com o problema maior?

Algumas vezes, observar um problema complexo pode ser desesperador, so-


bretudo quando ele parece novo e grande demais para nossas habilidades. Mas
lembre-se de que cada um de nós tem uma jornada de vida muito particular e já
vivenciamos muitos problemas ao longo dela. Quando quebramos o desafio em
problemas menores, podemos focar em resolver um de cada vez e, ao final, tere-
mos uma solução para o problema geral.

Utilizamos muito esse conceito dentro da computação, onde, popularmente,


conhecemos tal processo como “Dividir para Conquistar”.

Ao longo das próximas aulas, trabalharemos com problemas reais em busca de


soluções ótimas, utilizando as dimensões do pensamento computacional como
roteiro para o pensamento.

Experimente encarar seus desafios pessoais daqui para frente sob essa ótica!

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REFERÊNCIAS

COMPUTATIONAL THINKING Across the Curriculum. CSTA/ISTE, 2009. Disponível


em: <http://www.csta.acm.org/Curriculum/sub/CurrFiles/CTExamplesTable.pdf>.
Acesso em: 1/1/2016.

BRACKMANN, C. P. Desenvolvimento do pensamento computacional através de


atividades desplugadas na educação básica. Tese (Doutorado em Informática na
Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: 2017.

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