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Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D.

Winter

Capítulo 10
Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico
Vamos começar considerando a Terra como uma simples máquina geradora de magma e
reduzindo o problema de geração por fusão para um parâmetro mais simples. Como os capítulos
seguintes irão revelar, a crosta da Terra é gerada ao longo do tempo pela fusão do manto (embora,
uma vez criada, as rochas crustais podem sofrer vários episódios de retrabalhamento sedimentar,
ígneo e metamórfico).

Vamos, portanto, focar nos processos mais recentes desta sequência, aquele responsável pela
geração da crosta e, permitindo que outros processos ocorram: fusão parcial do manto. Descobriremos
que um produto comum desta fusão é o basalto, de longe o tipo mais comum de rocha vulcânica gerada
nos dias de hoje.

Como veremos no Capítulo 11, muito dos espectros das rochas do tipo ígnea podem ser
derivados a partir de um material basáltico primitivo por algum processo evolucionário tal como a
cristalização fracionada, assimilação magmática, etc.
A geração do magma basáltico a partir do manto é, portanto, o primeiro passo crítico para
desenvolver uma compreensão sobre a gênese magmática.
Devido ao basalto ocorrer mais comumente nas bacias oceânicas, e a estrutura da Terra ser
mais simples nas áreas oceânicas, sem as complexidades físicas e químicas exigidas pelos
continentes, vamos começar nossa investigação nas bacias oceânicas.
A geração do basalto, contudo, não é suficiente para o nosso modelo. A Tabela 8-7 lista as três
séries magmáticas mais comuns, cada uma com seu próprio tipo de basalto parental. Devido à série
cálcio-alcalino estar principalmente associada a limites de placa convergente em cenários mais
complexos, vamos colocá-los de lado para uma análise posterior nos Capítulos 16 e 17. Por enquanto,
focaremos nos basaltos alcalinos e toleíticos como os principais tipos de magma basálticos gerados
sob os oceanos.
As principais características petrográficas de cada um estão resumidas na Tabela 10-1. Embora
estas características sejam comuns, você raramente encontra todas elas numa única amostra. Os
toleíticos são considerados mais volumosos, sendo gerados nas cadeias mesoceânicas (basaltos
das cadeias mesoceânicas, ou MORBs) assim como em algumas aglomerações de vulcões de
zonas intraplaca, gerando ilhas oceânicas.
Os basaltos alcalinos são restritos a ocorrências intraplaca. Ambos os tipos de magmas são
distintos, e cada um evolui para tipos mais silicáticos por meio de caminhos distintos, como discutido
no Capítulo 8, e desenvolvido mais adiante no Capítulo 14.

O nosso modelo para geração de magma a partir do manto, então, não deve ser somente capaz
de gerar basalto, mas também de gerar pelo menos estes dois tipos de basaltos.
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Tabela 10-1. Resumo das Características dos Basaltos Alcalinos e Toleíticos.

Basalto Toleítico Basalto Alcalino


Matriz Geralmente grãos finos, intergranular Geralmente bastante grosseiro,
Sem olivina intergranular para ofítico
Clinopiroxênio=augita (mais a Olivina comum
possibilidade de pigeonita) Augita titaniferro (avermelhada)
Hiperstênio comum Hiperstênio é incomum
Sem feldspato alcalino Feldspato alcalino intersticial ou
Vidro intersticial e/ou quartzo comum feldspatóides podem ocorrer
Vidro intersticial raro, e quartzo ausente.
Fenocristais A olivina é incomum, não zonada, e pode Olivina comum e zonada
ser parcialmente reabsorvida ou mostrar Ortopiroxênio ausente.
reações nas bordas dos ortopiroxênios. Plagioclásio menos comum e posterior na
Ortopiroxênio relativamente comum sequência.
Plagioclásios recentes comuns Clinopiroxênio é a augita titanoférrica,
O Clinopiroxênio é a augita marrom clara avermelhada nas bordas.

Nesta perspectiva, nós devemos começar perguntando se a geração do magma em nossa


máquina magmática é um processo “normal”. Em outras palavras, o gradiente geotérmico natural
resultará na fusão do material comprimido nas profundezas da Terra?

Se sim, em qual profundeza a fusão ocorrerá, o que será fundido, e o que é produzido?
Se não, nós devemos nos perguntar o que pode ser feito para fundir estas coisas antes de nós
partirmos para outras questões.

Devido às rochas vulcânicas e ígneas serem fenômenos relativamente comuns, vocês podem
ser instigados a responder a nossa questão inicial afirmando e dizendo que as fusões são um produto
de um gradiente geotermal normal. Todos os estudantes que tiveram um curso de geologia introdutória,
contudo, têm uma base para responder esta questão com maior complexidade. O estudo das ondas
sísmicas tem nos permitido avaliar o interior da Terra (ver Capítulo 1), e pode nos dizer alguma coisa
sobre o estado do material em profundeza.
Por exemplo, as Ondas S são ondas de cisalhamento, logo elas não podem se propagar através
de um líquido, o qual não resiste ao cisalhamento. Devido a estas ondas passarem através do manto,
nós podemos deduzir que o manto é essencialmente sólido. Apenas o núcleo externo é líquido e não
consegue transmitir ondas S, mas o material desta camada é muito denso e muito profundo para
alcançar a superfície.

As fusões que atingem a superfície devem então ser derivadas do manto ou da refusão da crosta.
As fusões crustais serão tratadas nos Capítulos 17 e 18, devido à crosta ser principalmente derivada
do manto, vamos agora partir de que o manto é a principal fonte dos magmas.

A temperatura de erupção da maioria dos basaltos está nos limites de 1100 – 1200ºC. Como o
magma basáltico deve resfriar ao ascender, está temperatura, quando comparada com o grau
geotérmico na Figura 9-1, estabelece uma profundidade de origem mínima, que indica a fonte do manto
em pelo menos 100Km de profundidade. Esta conclusão é baseada na profunda atividade sísmica que
antecede muitos eventos vulcânicos. Se o manto superior é a fonte dos basaltos, nós devemos saber
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de alguma forma em que ele consiste, antes que possamos abordar como ele é fundido e o que é
produzido quando ele se funde.

10.1. PETROLOGIA DO MANTO

No Capítulo 1, nós aprendemos que o manto era composto principalmente por materiais máficos
silicáticos (olivina e piroxênios). Embora a sísmica e os dados da gravidade/momento angular
possam colocar restrições física na composição e mineralogia do manto, e as nossas teorias, sobre a
origem da Terra, possam adicionar algumas restrições químicas, somente pela observação direta de
amostras, nós podemos ter uma ideia mais exata do que está lá. Amostras de superfície geralmente
aceitas como de origem do manto vêm das seguintes fontes:

10.1.1. Ofiolítos

Estes são grandes lâminas de massas máficas e ultramáficas, presumivelmente da antiga crosta
oceânica e do manto superior empurrado sobre os limites continentais e/ou incorporado nos cinturões
“orogênicos” das montanhas (ver Coleman, 1971, 1977; Peters et al., 1991). A erosão então expõe
uma seção característica de rochas sedimentares, máficas e ultramáficas. Observe a Figura 13-3 para
uma seção típica através de um ofiolíto.

Os ofiolítos apresentam um considerável limite no tamanho, espessura, e grau de integridade


estrutural. Nós discutiremos ofiolítos com maior complexidade no Capítulo 13, mas por agora nosso
interesse primário são as rochas ultramáficas em pequenas porções, visto que se acredita que estas
representam uma porção significante do manto superior, agora exposto na superfície da Terra.
Fragmentos menores de supostos ofiolítos ultramáficos, agora desmembrados e incorporados em
áreas deformadas de cadeias montanhosas, são comumente referidos como peridotitos alpinos
(Alpine Peridotites).

As porções ultramáficas dos ofiolítos e dos peridotitos alpinos contêm uma variedade de tipos de
peridotitos, predominantemente harzburgito e dunito, e secundariamente wehrlito, lherzolito e
piroxenito. A mineralogia é denominada por olivina, ortopiroxênio, e clinopiroxênio, com menores
quantidades de plagioclásio e minerais de óxidos, incluindo magnetita, ilmenita e espinel rico em
cromo. A hornblenda e a serpentina parecem ser os últimos minerais hidratados recolocados. Os
ofiolítos maiores e mais intactos nos permitem ver a relação geométrica entre os vários tipos de rochas,
mas nossas observações são limitadas ao manto superficial (menor do que 7 Km).

10.1.2. Amostras de Dragagem de Zonas de Fraturas Oceânicas

As diferenças nas elevações das cadeias mesoceânicas podem resultar em significantes taludes
em qualquer zona da cadeia fraturada por compressão (falhas transcorrentes). Era a prática favorita
de amostragem do manto nas décadas de 1960 e 1970 dragar amostragens ao longo destas escarpas.
Assim como os ofiolítos, estas amostras representam somente a parte mais superior do manto sob a
crosta oceânica.

É também impossível saber a localização exata da amostra escavada ou a relação entre duas

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amostras qualquer. Amostras escavadas são variadas (Melson & Thompson, 1970; Bonatti et al., 1970;
Thompson e Melson, 1972), mas estes tipos estão mais próximos de serem idênticos àqueles expostos
nos ofiolítos, provendo um forte evidencia de que os ofiolítos são mesmo amostras da crosta oceânica
e do manto superior.

10.1.3 Nódulos nos Basaltos

Xenólitos ultramáficos, chamados de nódulos, são ocasionalmente carregados para a superfície


pelos basaltos, geralmente basanitos ou basaltos alcalinos (White, 1996; Irving, Rodin, 1987). Eles têm
geralmente o tamanho de um punho fechado ou menor, e o tipo mais comum de rochas são gabro,
dunito, harzburgito, lherzorlito espinel e eclogito (rocha composta por granada-piroxênio de elevada
pressão metamórfica, quimicamente equivalente ao basalto).

Alguns xenólitos da crosta inferior são também encontrados em alguma lava basalto. Muitos dos
nódulos são autólitos (autoliths), ou xenólitos de mesma origem (cognate xenoliths), significando
que eles estão geneticamente relacionados ao magma, e não são adquiridos a partir das paredes das
rochas encaixantes distantes da fonte do magma. Alguns destes podem ser acumulados
(particularmente aos gabros e os piroxênios) e outros restitos (restites), um resíduo refratário (alto
ponto de fusão) deixado para trás, após a fusão parcial ter sido já extraída. Devido aos basaltos terem
origem mantélica, os restitos são ricos em olivinas.

Para carregar tais nódulos densos e ricos em olivinas em suspensão para superfície, o transporte
foi aparentemente rápido. Estes nódulos são restritos aos basaltos alcalinos e aos basanitos e não são
encontrados nos basaltos toleíticos mais comuns, indicando que aquele viajou mais rapidamente, e
teve menos tempo para cristalizar ou interagir com as paredes da rocha. Isto levou vários petrólogos
a concluir que os basaltos alcalinos e os basanitos são mais primitivos do que os toleíticos.

A granada lherzolito de alta pressão ocorre somente em basaltos mais alcalinos e deficientes em
sílica, sugerindo que talvez estes basaltos tenham origens mais profundas do que os basaltos menos
alcalinos e mais saturados em sílica. Iremos explorar estas ideias mais detalhadamente a seguir.

10.1.4. Xenólitos em Corpos Kimberlíticos

Os kimberlitos são um fenômeno ígneo incomum que será descrito na Seção 19.3.3. Várias
linhas de evidência sugerem que os kimberlitos partem do manto superior a uma profundidade de 250
a 350Km e viajam rapidamente para a superfície, trazendo uma variedade de amostras do manto e da
crosta para a superfície como os xenólitos.

Assim, os kimberlitos nos dão a única espiada possível de amostras mantélicas abaixo das
camadas superiores. Todo kimberlito conhecido ocorre em áreas continentais, logo os xenólitos
representam a crosta continental e o manto subcrustal. Apesar de tudo, o manto em profundidade,
pelo menos, acredita-se ser similar em ambas as áreas continental e oceânica. Os xenólitos
ultramáficos são diversificados, sugerindo um manto superior heterogêneo, mas a granada lherzolito
e o espinel lherzolito são dominantes entre as amostras profundas inalteradas dos kimberlitos (Boyd e
Meyer, 1979; Mitchell, 1986; Dawson, 1980).
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Os dados provenientes das fontes acima (mais meteoritos rochosos) nos levam a acreditar que
o manto é composto por rochas ultramáficas, como discutido no Capítulo 1. O espinélio e a granada
dos lherzolito se destacam na matriz de amostras do manto como uma principal suspeita de material
do manto primário, porque eles têm a composição (particularmente o cálcio, alumínio, titânio e teor de
sódio) que, quando parcialmente derretido, pode produzir um líquido basáltico. Tal material também
tem uma densidade apropriada e propriedades sísmicas para se equiparar com aqueles estabelecidos
para o manto (Boyd & McCallister, 1976; Green e Liberman, 1976; 1979).

Várias evidências experimentais indicam que os basaltos podem ser gerados por fusão parcial
de tal material lherzolitico. Pelas razões listadas acima, a maioria dos estudos do manto acreditam que
o manto “típico” é composto por peridotito. Mais especificamente, ele é uma quarta fase do lherzolito,
composto de olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio, e uma fase de alumínio em segundo plano, tais
como a granada, espinélio, ou o plagioclásio. Grande parte do manto oceânico superficial, agora
representado pelo dunito e harzburgitos nos ofiolítos, e alguns nódulos no basalto, parecem estar
relacionados à lherzolitos como resíduo refratário, depois dos basaltos terem sido extraídos, como
ilustrado na Figura 10-1.

Figura 10-1. Relação entre o TiO2 e o Al2O3 para a granada lherzolita, harzburgito, e dunito, assim como para o
basalto toleítico, mostrando como a extração de uma fusão parcial basáltica a partir da granada lherzolita pode
resultar na criação de um sólido refratário de harzburgito ou resíduo dunito. De Brown & Mussett (1993)

Note que as composições dos dunitos, harzburgitos, lherzolitos, e basaltos toleíticos são
colineares, e que a composição do lherzolito encontra-se em uma posição intermediária entre o basalto
e os outros dois tipos de rochas. Se o basalto toleítico é criado pela fusão parcial do lherzolito, a
extração do líquido deslocará a composição do material remanescente para longe do toleíto, em
direção ao harzburgito e dunito.

Nós podemos aplicar a regra da alavanca na Figura 10-1 e determinar que de 20 a 25% da fusão
parcial do lherzolito irá produzir basalto toleítico, deixando de 75 a 80% de moléculas livres de Al2O3
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como resíduo de dunito. Uma fusão parcial de 15 a 20% irá deixar um harzburgito com baixo alumínio.
Algumas amostras de dunito/harzburgito têm acumuladas texturas, contudo, estes podem ter sido
formados pela acumulação da olivina e do ortopiroxênio durante a cristalização fracionada do magma
basáltico na câmara magmática no topo do manto ou próximo dele. O alumínio lherzolito representa o
manto não depletado, ou fértil (fertile), com uma composição presumivelmente próxima do manto
original. Ele é uma fonte primária para a geração de fusões parciais basálticas.

A Tabela 10-2 resume a composição mineralógica e química das amostras mais comuns de
lherzolitos encontrados em kimberlitos: granada lherzolita e espinélio lherzolito. Note a grande
similaridade na composição entre os dois tipos de rocha. Eles são essencialmente idênticos. Pela
primeira vez, nós abordamos uma questão metamórfica comum: Como duas rochas quimicamente
idênticas podem ter diferentes mineralogias?

Não podemos apenas responder essa pergunta, mas também ganhar conhecimento
considerável da petrologia do manto ao escolher alguns materiais mantélicos e os submetendo a
experimentos de alta pressão e temperatura. Isso foi feito por diversos profissionais para rochas
mantélicas sintéticas e naturais. O exemplo mais conhecido de um espécime sintético análogo ao
manto é o pirolito, um material olivina-piroxênico sintetizado por. Ringwood, A.E. (1966). A composição
do pirolito está descrita na última coluna da Tabela 10-2.

Tabela 10-2. Composição Mineralógica e Química do Espinel e da Granada Lherzolita.

A Figura 10-2 é um diagrama de fase de pressão-temperatura criado a partir de estudos


experimentais de rochas do manto de composição lherzolito aluminosa. O autor inverteu o eixo da
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pressão de sua orientação convencional para demonstrar seu aumento conforme maior profundidade.
O diagrama mostra o liquidus e o solidus com o intervalo de fusão destacado (compare com a Figura
7-13 para o basalto), e também algumas reações metamórficas subsólidus. As reações metamórficas
mais superficiais determinam qual fase aluminosa é estável.

Figura 10-2. Diagrama de fase do alumínio


lherzolito com o intervalo de fusão (cinza) de
reações subsólidus, e gradiente geotermal
oceânico. Note que a pressão aumenta para
baixo, refletindo a tendência na Terra. De
Wyllie (1981).
Plagioclásio
(< 50 km)
Espinel
50-80 km
Granada
80-400 km

As inclinações superficiais das reações sugerem que ΔV da fusão tem um papel mais importante
do que ΔS (a partir da Equação de Clapeyron 5-15) (inclinação da curva liquido/solido), e, portanto, as
reações são mais sensíveis às pressões do que as temperaturas. Na figura 10-2 também se encontra
um grau geotérmico estimado abaixo da bacia oceânica. Onde este grau geotérmico intercepta uma
determinada reação, as condições de pressão e temperatura se tornam apropriadas para que a reação
ocorra.
Assim, em baixas pressões (abaixo 30Km) o plagioclásio é estável e então o espinélio, a partir
de 30 a 80Km, e finalmente as granadas a partir de pressões aproximadamente entre 80 a 400 Km.
Em maiores profundidades ocorrem as fases de altas pressões. A transição de ~ 600 Km parece
representar o limite superior do Si na coordenação IV, e as estruturas silicáticas similares ao mineral
perovskita, com Si na coordenação IV, provavelmente existem além desta profundidade.
Esta sequência de reações explica como nós podemos ter equivalência composicional do espinel
e das granadas lherzolitas, e também nos diz que os plagioclásios lherzolitos são uma alternativa de
baixas pressões, também com a mesma composição química. Dessa forma, explica porque o
plagioclásio, o espinel, e a granada são raramente encontrados juntos na mesma amostra, e porque o
plagioclásio é encontrado somente em amostras do manto superficial (ofiolítos e alguns basaltos
oceânicos), enquanto as granadas lherzolitas ocorrem mais comumente em kimberlitos que provêm
de fontes mantélicas mais profundas.
Devido ao plagioclásio peridotito ser limitado à profundidades menores do que aproximadamente
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30 Km, a qual é menor do que a espessura da maior parte da crosta continental, nós esperaríamos
que o plagioclásio peridotito estivesse ausente na maioria do manto subcontinental, cuja parte superior
é geralmente mais profunda que 30Km. Isto explica porque é tão raro em kimberlitos. A transição a
partir do plagioclásio para o espinel peridotito, e do espinel para granada peridotito são realizadas a
partir das seguintes reações metamórficas ideais:
CaAl2Si2O8 + Mg2SiO4 = 2MgSiO3 + CaMgSi2O6 + MgAl2O4 Equação (10-1)
(Plag) (Olivina) (Opx.) (Cpx.) (Espinel)

MgAl2O4 + 4MgSiO3 = Mg2SiO4 + Mg3Al2Si3O12 (10-2)


(Espinel) (Opx.) (Olivina) (Granada)

10.2. FUSÃO DO MANTO

Agora que nós temos uma ideia da natureza química e mineralógica do manto, vamos retornar
para a nossa questão original relativa à possibilidade de fusão do manto. O gradiente geotérmico
mostrado na Figura 10-2 não intercepta os solidus para um manto fértil de lherzolitos, o que suporta o
nosso recente ponto de vista, baseado nos dados sísmicos, que a fusão do manto não ocorre sob
circunstancias normais.
Existem várias estimativas para o grau geotérmico médio do oceano, mas nenhuma delas se
aproxima do solidus. Logo, nosso primeiro problema, devido a nós sabermos como os basaltos são
realmente gerados, é entender como o manto pode ser fundido. Existem três maneiras básicas para
alcançar este objetivo, seguindo as três principais variáveis naturais. Nós podemos elevar a
temperatura, diminuir a pressão, ou mudar a composição. É claro, isso deve ser feito de maneira
geologicamente viável. Vamos analisar cada um destes mecanismos por vez.

10.2.1. Elevando a Temperatura

A Figura 10.3 mostra como a fusão pode ser alcançada pelo simples aquecimento do manto,
acima do grau geotérmico natural. Talvez a maneira mais simples que nós podemos fazê-lo é acumular
calor suficiente através do decaimento radioativo dos elementos, devido a esta ser a única fonte de
calor que conhecemos a não ser o escape de calor do processo primordial de diferenciação (Seção
1.8.2).
Os elementos radioativos primordiais (K, U e Th) ocorrem em concentrações muito baixas no
manto e eles são capazes de produzir menos do que 10-8 J g’-V1. Uma rocha típica tem um calor
especifico (o calor necessário para elevar 1g de rocha 1ºC) no sentido de 1Jg’1deg’’1. Assim, seria
necessários mais de 107 anos para o decaimento radioativo elevar a temperatura de peridotito em 1ºC.
A condutividade térmica das rochas é bastante baixa, mas certamente elevada o suficiente para
permitir que este calor se dissipe muito antes que qualquer rocha estivesse próxima de ser fundida.
Na verdade, a geração de radioatividade e a condução do calor é exatamente o processo
responsável por até metade do fluxo de calor que atinge a superfície e que gera o grau geotérmico,
primeiramente. As concentrações locais dos elementos radioativos para aumentar a produção do calor
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requereriam elevados fatores de concentrações não realistas sem qualquer mecanismo de


acionamento para compensar a perda da entropia.

Figura 10-3. Fusão devido ao aumento da


temperatura.

Se neste evento atípico nós conseguíssemos de alguma forma alcançar esta concentração e
aquecer o manto até atingir o solidus, o calor requerido para a fusão deve suprir o calor latente de
fusão dos minerais, o qual é aproximadamente 300 vezes maior do que o calor especifico requerido
para fazer o mineral atingir o ponto de fusão.

O trabalho de produzir fusões suficientes para serem extraídas, portanto, torna-se ainda mais
difícil. Acredita-se amplamente que o salto repentino no calor necessário para aumentar ainda mais a
temperatura das rochas já em estado solidus, tem um papel significante na moderação incomum dos
fluxos termais no manto.

Afinal, se um por cento ou dois de derretimento forem produzidos, o K, U e Th, que são altamente
incompatíveis, se concentrariam na fusão, e escapariam, deixando o peridotito muito esgotado para
produzir mais derretimentos iguais ao vulcanismo superficial que observamos.

O fluxo de calor proveniente do manto inferior ou do núcleo não é muito bem compreendido. Em
geral, ele é compelido pelo gradiente geotérmico por si só na Figura 10-2, mas esse gradiente é uma
média e perturbações locais podem ocorrer. A mais óbvia manifestação de fluxo alto de calor localizado
são os “pontos quentes” hot spot, tais como Havaí, que estão acima de tubos estreitos condutores
de magma basáltico que parecem ter uma fonte estacionária no manto (Crough, 1983; Brown &
Mussett, 1993).
A movimentação das placas acima destes hot spots estacionários resulta numa aparente
migração das atividades vulcânicas através das placas ao longo do tempo, e tem sido usada para
determinar a movimentação “absoluta” da placa.

A origem destes hots spots é ainda desconhecida, mas é popularmente atribuída a processos
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muito profundos presentes na base do manto, e talvez relacionada à produção de calor ou da


convecção do liquido do núcleo. É claro que atribuir problemas a fontes mais profundas é a maneira
mais simples de evitá-los na literatura geológica, mas parece ser justificado neste caso. Existem
inúmeros destes hots spots (Figura 14-1), e eles são definitivamente uma maneira de adicionar um
calor extra ao manto e produzir basaltos, mas eles são fenômenos locais, e não podem produzir
basaltos em qualquer local onde os basaltos comumente ocorrem, tais como as cadeias meso
oceânicas. Nós vamos retornar ao assunto hots spots no Capítulo 14.

10.2.2. Redução da Pressão

Como o peridotito solidus seco tem a curva P/T com inclinação positiva (parece negativa na
Figura 10-2 e 10-3 devido ao autor ter invertido o eixo da pressão), nós poderíamos atingir a fusão por
meio da redução da pressão numa temperatura constante. A ideia mais simples, de que zonas locais
de pressões baixas (pressão equivalente à dos hots spots?) estão instáveis em materiais dúcteis como
o manto, pois materiais de elevadas pressões flutuariam rapidamente para áreas de baixas pressões
até que o equilíbrio litostático fosse atingido. Uma maneira mais plausível de reduzir a pressão é
ascender as rochas do manto para níveis mais rasos enquanto se mantém o conteúdo calorífero
reservado.
Quando o material se move para acima, a pressão é reduzida e o volume aumenta sutilmente,
resultando numa leve redução da temperatura (de 10-20 ºC/GPa ou 0.3-0.3ºC/Km para as rochas do
manto, Ahren & Turcotte, 1979). As massas bem desenvolvidas também se moveriam para áreas mais
frias, e perderiam o calor por condução nas vizinhanças, logo se igualaria ao grau geotérmico, nunca
se aproximando do ponto de fusão. Se, por outro lado, a ascensão for suficientemente rápida para
minimizar a perda de calor para as áreas vizinhas, a única diferença de temperatura seria devido à
expansão. Se a perda da condutividade de calor for zero, o processo é referido como adiabático e
qualquer ascensão do material rochoso seguiria a curva com uma inclinação de ~12C/GPa (Figura 10-
4), chamada de adiabato (adiabat).

Figura 10-4. Fusão por descompressão


(adiabático) por redução da pressão. A
fusão começa quando a curva atravessa o
solidus e o transverso atinge o intervalo de
fusão. As linhas pontilhadas representam à
fusão aproximada em %.

Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 336


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É claro, um puro processo adiabático não é provável, mas a ascensão de material mantélico em
taxas aceitas geologicamente estaria próximo, seguindo uma curva com inclinação mais acentuada do
que a curva de fusão (~130º C/GPa), e poderia iniciar a fusão.
Uma vez que a fusão começa, o calor latente de fusão irá absorver o calor da massa em
ascensão, e fazer com que o processo adiabático siga uma curva de temperatura/pressão mais rasa,
mais semelhante à curva solidus, atravessando assim o intervalo de fusão mais obliquamente. Como
resultado, o material ascendente do manto diverge lentamente do solidus lento, produzindo quantidade
limitada de fusão. Este processo é chamado de fusão descompressional (decompression melting).
Materiais ascendentes do manto ocorrem nos limites das placas divergentes, onde duas placas
sofrem afastamento e o material do manto deve fluir para cima para preenchê-la. Langmuir et al. (1992)
calculou que aproximadamente de 10 a 20% da fusão irão ocorrer em GPa (0.3% Km) de continua de
pressão liberada.
Assim, se o material ascendente começar com a temperatura do solidus, ele teria que ascender
aproximadamente de 65 a 100 km para atingir de 20 a 30% da fusão estimada para formar a cadeia
basáltica meso oceânica. É claro que isso teria que ser associado ao aumento necessário para fazê-
lo atingir a temperatura solidus, em primeiro lugar, aproximadamente há 150 km.

10.2.3. Adicionando Voláteis


Como especificamos a composição do manto, não nos é permitido aqui um grande ajuste criativo.
Embora o conteúdo dos componentes imóveis possa ser limitado, as espécies voláteis são móveis, e
podemos especular quanto ao seu efeito sobre a fusão do lherzolito. Em alguns xenólitos do manto
nós encontraremos flogopita ou anfibólio. Estes minerais são as menores fases, mas eles atestam à
presença de um pouco de H2O no manto.
Wylie (1975) estimou que a quantidade de H2O em um material do manto normal é improvável
de ultrapassar em 0.1 peso%, e sugere que ele não está uniformemente distribuído (contudo o manto
é provavelmente muito mais hidratado em zonas de subducção).
Exames microscópicos revelam inclusões de fluidos (Figura 7-17), acima de 5 μm em diâmetros,
muito dos quais contem H2O, mas alguns são preenchidos com CO2 líquido denso. Isto, e a ocorrência
de inclusões de carbono em alguns minerais do manto (McGetchin & Besancon, 1973) e na matriz dos
kimberlitos, sugere que o CO2 também está presente no manto.
No Capítulo 7, nós exploramos os efeitos do H2O e CO2 nas relações de fusões nos sistemas
silicáticos. A Figura 10-5 mostra um peridotito solidus seco de Ito e Kennedy (1983) a determinações
gerais do peridotito sólido e saturado em H2O.
Como previsto teoricamente e demonstrado experimentalmente no Capítulo 7, o efeito do H2O é
reduzir drasticamente a temperatura do solidus, especialmente em elevadas pressões onde maior
parte das espécies voláteis podem ser acomodadas na fusão.
O grau geotérmico intercepta todos os sólidos saturados em H2O, portanto a fusão do manto é
certamente possível em um ambiente hídrico sem necessitar perturbar de qualquer maneira o grau
geotérmico.
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 337
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

Figura 10-5. Peridotito solidus seco


comparado com alguns experimentos
de peridotitos saturados em H2O.

Este método por si só resolveria o problema da fusão do manto, porém o manto claramente não
é saturado em H2O (ou CO2). Como mencionado previamente, o conteúdo de H2O de um manto
“normal” é provavelmente na ordem de 0.1 a 0.2% peso, e é provavelmente ligado em fases hídricas
minerais.

As três fases hídricas estáveis comuns nos sistemas ultramáficos são a flogopita, o anfibólio e a
serpentina. A última, porém, não é estável acima de aproximadamente 600ºC, e é estritamente uma
alteração de baixa temperatura de rochas mantélicas trazidas próximo à superfície. A Figura 10-6
apresenta o diagrama de fase combinado para um sistema mantélico hídrico.

Figura 10-6. Diagrama de fase


(parcialmente esquemático) para o Manto
solidus hidratado, incluindo o lherzolito
saturado em H2O de Kushiro et al. (1968),
as curvas de desidratação para anfibólio
(Millhollen et al., 1974) e flogopita (Modreski
& Boettcher, 1973), mais os graus
geotérmicos dos oceanos e dos escudos de
Clark & Ringwood (1964) e Ringwood
(1966). Segundo Wyllie (1979).

Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 338


Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

Ele inclui o para o lherzolito solidus saturado em H2O (Kushiro et al., 1968), as reações de
desidratação para o anfibólio e a flogopita, e a estimativa do grau geotérmico do escudo e do oceano.
Todas as três curvas de equilíbrio têm a forma prevista pela Equação de Clapeyron, dada a variação
em ΔV conforme a pressão aumenta (Capítulo 5).

Conforme o aumento da pressão, ΔV decai devido à alta compressibilidade da fase fluida, logo
a inclinação se torna mais íngreme. Em pressões muito elevadas, a inclinação se torna vertical e
reverte à medida que o lado da reação que contém o fluido diminui de volume, e ΔV muda o sinal. Os
requisitos para a fusão neste sistema são os seguintes:
1. H2O livre, não ligado em minerais, e

2. Condições de temperatura e pressão suficientes para fundir o lherzolito sob condições de H2O
saturado.

Se nós assumirmos condições “normais” de grau geotérmico suboceânico, nós devemos


acompanhar o grau geotérmico do oceano na figura 10-6. Em profundidade próxima de 70 Km o grau
geotérmico intercepta o solidus da H2O saturada no ponto a, mas não existe H2O livre, e o sistema
está abaixo do solidus seco. Como resultado, nenhuma fusão ocorre neste ponto, devido a nós termos
o critério (2) atendido mas não o critério (1).
No ponto b, se existir qualquer anfibólio presente, o anfibólio irá se consumir, liberando H2O, o
qual será imediatamente liberado e disponibilizado para produzir um pouco de fusão, devido às
condições estarem acima do solidus da H2O saturada e ambas as condições (1) e (2) são atendidas.

Se a flogopita estiver presente, preferencialmente mais do que o anfibólio, nenhuma fusão será
produzida até o ponto c, em profundidade de 90Km, quando a flogopita é consumida e libera H2O. Se
nós considerarmos uma diferente passagem de P/T, tal como o grau geotérmico do escudo cristalino,
o sistema irá atravessar a quebra do anfibólio primeiro no ponto d, onde o anfibólio desidrata e forma
um conjunto de minerais anídricos e liberando H2O. Como isso ocorre em pressões e temperaturas
abaixo do solidus do peridotito saturado em H2O, nós temos o critério (1) atendido, mas não o critério
(2), logo nenhuma fusão irá ocorrer neste ponto. Somente quando o solidus é interceptado no ponto o
H2O pode ser usado para fundir o peridotito (se ele não migrar do sistema entre os pontos d e e). O
grau geotérmico do escudo cristalino é menor do que o grau geotérmico continental na Figura 1-6, pois
os escudos são antigas áreas estáveis, de alguma forma depletados em elementos radioativos
incompatíveis.

Devido à quantidade de H2O em ambos os casos ser muito pequena, a quantidade de fusão
produzida neste modelo é também muito pequena, menos do que 1% (ver Figura 7-23 como exemplo
do efeito limitado de H2O na fusão). Assim, ao contrário do método atrativo para produzir fusões sem
ter que invocar condições incomuns P/T, a quantidade de fusões que podem ser realisticamente
produzidas no manto hídrico é provavelmente menos do que 1%, o qual será adsorvido pela superfície
dos cristais, provavelmente como uma membrana descontinua, e não pode ser extraído a partir da
fonte do peridotito (ver Seção 11.2).

Embora nós possamos não ter encontrado uma maneira de gerar as fusões para atingir a
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 339
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

superfície, nós podemos ter encontrado uma boa maneira de explicar a ocorrência da baixa
velocidade sísmica das camadas (Capítulo 1). A pequena quantidade de fusão retida no peridotito
ainda irá permitir as transmissões das ondas-S, mas pode-se esperar que ambas as ondas S e P
tenham suas velocidades reduzidas.

A profundidade da camada (de 60 a 120Km) encaixa bem com aquelas esperadas na Figura 10-
6. Para uma discussão desta interpretação para a camada com velocidade reduzida, ver Green e
Liberman (1976) ou Solomon (1976). Nós devemos ver nos Capítulos 16 e 17 que o conteúdo de H2O
do manto nas zonas de subducção é provavelmente muito maior, e é um importante fator no
magmatismo relacionado à subducção.

Experimentos em sistemas de peridotito composto por CO2 podem também produzir pequenas
quantidades de fusões em pressões próximas de 2-4 GPa (Huang e Wyllie, 1974; Wyllie & Huang,
1975; Eggler, 1976). Na Figura 10-7, Ringwood estimou que a curva do grau geotérmico oceânico
intercepta a curva de quebra da dolomita, o que libera CO2, e então o solidus saturado em CO2,
iniciando uma fusão.

Figura 10-7. Diagrama de fase para um sistema carbonático mantélico, incluindo o solidus do lherzolito saturado
em CO2, a curva de quebra de descarbonização para o dolomito cálcico, além dos graus geotérmicos do oceano
e escudo cristalino de Clark & Ringwood (1964) e Ringwood (1966). Também estão inclusas as curvas de reação
do plagioclásio espinel e do granada espinel para as Figuras 10-2. De Wyllie (1979).

O grau geotérmico de Clark e Ringwood (1966) intercepta a curva direta de fusão da dolomita.
Como as amostras do manto sugerem que o conteúdo carbonático é pequeno, isto deve resultar na
produção de quantidades muito pequenas de fusões no intervalo de profundidade de 75 a 120 Km,
dependendo do grau geotérmico escolhido. Então a adição de CO2 pode também produzir pequenas
quantidades de fusões entre 75 e 120 Km com fluxo normal de calor. Retornaremos aos efeitos do CO2
na fusão do manto no Capítulo 19.
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 340
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

10.2.4. Um Breve Sumário da Fusão do Manto

Até agora, começamos bastante bem. Nós temos uma ideia do que consiste em manto típico, e
nós encontramos várias maneiras plausíveis para iniciar a fusão. Todos os métodos explorados acima
para a fusão do manto estão provavelmente em funcionamento em uma área ou outra.

Gradientes geotermais anormalmente altos podem ocorrer em pontos quentes, áreas


ascendentes de células de convecção ou lugares onde os magmas estão ascendendo aos diapiros.

A redução da pressão pode estar associada com ascensões quase adiabáticas de material
mantélico nos rifts, ou em associação com qualquer material ascendente, tais como os mencionados
anteriormente. Os voláteis, em particular o H2O e o CO2, podem reduzir suficientemente a temperatura
do solidus para criar fusões com graus geotérmicos normais, mas o baixo conteúdo de voláteis no
manto limita severamente a quantidade de fusões produzidas.

Nos Capítulos 16 e 17, nós partiremos do magmatismo das zonas de subducção, onde o papel
do H2O (subduzido na crosta hídrica ou sedimentar) é visto como um papel mais importante na geração
do magma.

Nós também sabemos a partir de experimentos que a fusão parcial de um manto lherzolitico irá
produzir basalto. Existe algum debate atualmente sobre o significado das cúspides (cusps), a menor
cavidade em T, onde as reações do plagioclásio espinel e granada espinel interceptam o liquidus na
Figura 10-2.

Estas cúspides são necessárias por motivos teóricos (como descrito na Seção 26.10), mas a sua
magnitude não é conhecida. Alguns autores especulam que eles possam reduzir o solidus
suficientemente para facilitar a fusão, favorecendo assim a geração de fusão em profundidades
específicas (próximo de 40 a 90 Km).
Uma fusão mais completa do manto para produzir o magma ultramáfico costuma ser rara
provavelmente em decorrência do gradiente geotérmico não ser grande o suficiente para produzir tais
elevadas proporções de fusão, e devido às fusões parciais, uma vez que eles atingem de 10 a 20% e
tenderem a separar e ascender, deixando o resíduo refratário que é incomum de fundido.
Komatitos (komatites), rochas vulcânicas ultramáficas, que são quase que completamente
restritas ao Arqueano, quando o gradiente geotérmico era bem mais alto, e uma maior fração da fusão
parcial era mais fácil de gerar (Nesbitt et al., 1979).

Resta saber se podemos gerar uma variedade de tipos de basalto, particularmente toleítos e
basaltos alcalinos, a partir de nosso típico material mantélico. Como primeira aproximação, é útil
considerar o manto como um reservatório de composição uniforme a partir do qual desejamos extrair
mais de um tipo de fusão.

A “Lei da Parcimônia”, geralmente referida como “Navalha de Ockham”, afirma que a solução
mais simples para o problema é provavelmente o mais correto. Se o espectro dos basaltos encontrado
na superfície pode ser gerado a partir de um manto quimicamente uniforme, nós solucionamos nosso
problema da maneira mais simples possível.
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 341
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

Se não, nós teremos que mudar para um modelo mais complexo. Nós devemos agora rever
alguns dados experimentais relacionados à fusão material típico do manto, e ver se os tipos de
basaltos que nós encontramos na superfície nas bacias oceânicas podem ser gerados.

10.3. GERAÇÃO DE BASALTOS A PARTIR DE UM MANTO


QUIMICAMENTE UNIFORME

Se fossemos gerar uma variedade de produtos advindos de um material inicial quimicamente


uniforme, nós teríamos que variar certos parâmetros. Se estivéssemos proibidos de alterar a
composição, nós deveríamos começar testando os efeitos gerados a partir de variações de pressão e
temperatura.

A variação de pressão a uma temperatura em particular implica gradientes geotérmicos distintos.


Baixos gradientes geotérmicos atingem o solidus e a fusão é iniciada a altas pressões, enquanto que,
em gradientes elevados, a fusão é iniciada a baixas pressões.
A variação de temperatura a uma pressão em particular é expressa na medida em que o solidus
é ultrapassado, o que afeta a porcentagem de derretimento parcial produzido. Esta é uma variável
importante a qualquer profundidade, como descobrimos nos Capítulos 6 e 7 com os sistemas
experimentais, assim como a partir dos modelos de fusões parciais discutidos no Capítulo 8. Quais
efeitos a variação de profundidade e extensão da área de fusão terão na fusão parcial advinda de um
Iherzolito aluminoso?

Figura 10-8. Mudança na


composição do eutético (primeira
fusão) com o aumento da pressão
de 1 para 3 GPa projetados acima
da base do tetraedro de basalto.
Porém as pontas finais, de baixa
temperatura, das curvas cotéticas
foram omitidas a fim de evitar
desordem. De Kushiro (1968).

Nós começamos olhando novamente para os efeitos da pressão na fusão. A Figura 10-2 e as
reações (10-1) e (10-2) nos mostram um importante efeito da pressão que causa mudanças sensíveis
na mineralogia do lherzolito mantélico.

Assim, mesmo que a composição química do manto esteja constante, a composição


Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 342
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

mineralógica é variável com a profundidade. Devido ao fato de que os minerais estão sendo fundidos,
a primeira fusão de uma granada lherzolita não seria igual a primeira fusão de um plagioclásio lherzolito
de mesma composição.
Naturalmente uma fusão completa de ambos produziria uma composição idêntica, pois todos os
componentes estariam fundidos.

Na Seção 7.4, nós aprendemos que as mudanças de pressão possuem efeitos diferentes na
fusão de minerais (como resultado das suas diferentes compressibilidades). Isto causa uma alteração
na posição eutética mínima, resultando em diferentes composições eutéticas fundidas.
A Figura 10-8 mostra como o mínimo eutético varia com a pressão no sistema Ne-Fo-Q. Perceba
que o mínimo eutético (a composição da primeira fusão) se desloca conforme o aumento da pressão,
a partir da sílica saturada (toleítico) para altas fusões subsaturadas e alcalinas. Este deslocamento
reflete tanto os efeitos diferenciais de compressão nos minerais quanto as mudanças mineralógicas
controladas pela pressão.
A 1 atm de pressão, a albita é envolvida na fusão, mas a 3 GPa (com calcularemos no Capítulo
27) a albita não é mais estável e um piroxênio jadeítico está começando a ser fundido no lugar, com
um efeito associado no liquidus e no eutético.
O que este sistema basáltico simplificado implica é que os toleítos são favorecidos pela fusão
superficial e basaltos alcalinos subsaturados por uma fusão profunda.
Nós agora retornaremos para experimentos de fusões parciais nas rochas do tipo mantélicas. A
Figura 10-9 ilustra os resultados dos experimentos por Green e Ringwood (1967) no pirolito sintético
de Ringwood de material do manto.
O tamanho dos padrões de cada bloco corresponde à quantidade do mineral presente nas
mudanças experimentais, assim demonstrando uma clara mudança na mineralogia em profundidade
e fusão. Note que a olivina e dois piroxênios dominam a mineralogia do subsólidus (no caso o
lherzolito), e o plagioclásio está na fase aluminiosa abaixo de 1 GPa. Em pressões elevadas a
mineralogia do pirolito mantélico difere do lherzolito na Figura 10-2.
Nos experimentos de Green e Ringwood (1967), o espinélio não formou uma fase separada, mas
dissolveu como um componente dos piroxênios aluminosos antes da temperatura solidus ser atingida.
Isto resulta na reação produtora de granada que é diferente da reação (10-2), não envolve o espinélio,
e ocorre aproximadamente em 3 GPa.
A Figura 10-9 mostra a pressão e a porcentagem distinta do efeito da fusão parcial (os tamanhos
dos blocos vazios é proporcional à quantidade do líquido produzido). Aqui vemos que a primeira fusão
é mais subsaturada (alcalina) em 60 Km, do que em 25 Km, o qual concorda com a Figura 10-8. Note
também que testes diferentes foram descritos feitos em 1 GPa (60 Km), cada um em temperaturas
diferentes, produzindo diferentes frações de fusões.
As baixas frações de fusão parcial nesta pressão resultam em basaltos mais alcalinos. Isto é
devido aos álcalis serem altamente incompatíveis e entrarem cedo nas fusões, enquanto que
sucessivas fusões incrementam lentamente a dissolução das concentrações álcalis (ver as Figuras 9-
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 343
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

2 e 9-3) resultando num caráter toleítico mais saturado em sílica.


Variando a profundidade da fusão e/ou a quantidade da fusão parcial produzida, nós podemos
gerar tanto um basalto alcalino quanto um basalto toleítico. O resíduo sólido entre aproximadamente
20% da fusão parcial é um harzburgito. Pode ser necessário acima de 60% de fusão parcial, para criar
um resíduo de dunito.
Figura 10-9. Variação na natureza do liquidus e resíduos refratários associados com a fusão parcial do pirolito
em várias pressões. Incluído está a próxima mineralogia do solidus. De Green e Ringwood (1967).

Incluído na Figura 10-9 está um breve sumário dos possíveis efeitos da cristalização fracionada
em reservatórios rasos de magmas crustais. Em tais reservatórios há a tendência por líquidos mais
envolvidos por sílica (andesitos, riolitos, etc.).

Note a divisão termal em baixas pressões que separa as séries magmáticas toleíticas e alcalinas
(Figura 8-13), o que torna estas séries distintas à medida que evoluem em câmaras de magma rasas
para membros mais siliciosos, como discutido no Capítulo 8. A natureza da cristalização fracional
também varia conforme a profundidade.

Assim como as fases no manto variam conforme a profundidade na Figura 10-2, as fases que
cristalizam a partir da fusão em ascensão irão variar.
A Figura 10-10 mostra o sumario proposto por Wyllie (1971) dos produtos das fusões e
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 344
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

cristalizações fracionadas dos esquemas de Green e Ringwood (1967) e Green (1969). A cristalização
fracionada, se concluída na mesma profundidade de fusão, é simplesmente o reverso do processo de
fusão parcial, como você pode ver em 1.8 GPa (60 Km) nível da Figura 10-10.

A remoção da enstatita aluminosa (Al-En), a partir da olivina toleítica produzida a 30% de fusão
parcial, resulta em um basalto alcalino que poderia ter sido criado simplesmente por 20% da fusão
parcial na Figura 10-9.

Ao criar fusões parciais numa dada profundidade e fracioná-las a uma profundidade menor, uma
grande variedade de tipos de magmas pode ser gerada. Também, a divisão térmica que separa as
séries alcalinas e toleíticas (D na Figura 10-10) não existe a elevadas pressões, logo é possível ir de
um magma toleítico para uma alcalina via cristalização fracionada em elevadas pressões, como
discutido e amostrado em 1.8 GPa na Figura 10-10a, b.

Figura 10-10a.
Representação
esquemática da
cristalização
fracionada de
Green e
Ringwood (1967)
relacionado a
vários tipos de
magmas
basálticos em
pressões que
variam de
moderadas a
altas. Os minerais
fracionados são
listados próximos
às setas. De
Wyllie (1971).

Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 345


Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

Note as mudanças de acordo com a profundidade nos tipos de minerais que se fracionam a partir
de líquidos. Algo particularmente importante é a solubilidade do alumínio nos piroxênios, o qual é mais
extensivo em elevadas pressões.

Figura 10-10b. Mais


recentes outros
experimentos da
fusão do lherzolitos
fértil (inicialmente
com granada)
confirmam que os
basaltos alcalinos são
favorecidos por P alta
e baixa F. Kushiro
(2001).

Os piroxênios pobres em Al são removidos com o fracionamento superficial, deixando mais Al


para trás, resultando em líquidos com mais elevados índices de Al. Piroxênios com elevados índices
de Al fracionam em profundidades maiores, produzindo líquidos subsaturados com altos índices de
SiO2 e Al2O3 (nefelinitas).

O´Hara (1965, 1968) também investigou a fusão mantélica e o fracionamento dos cristais a partir
dos líquidos basálticos em várias profundidades. Ele também encontrou que os toleíticos saturados
em sílica são gerados superficialmente em pressões menores (abaixo 0.5 GPa), abrindo caminho para
os basaltos alcalinos subsaturados em sílica com o aumento da profundidade. Os toleíticos são
também favorecidos com o aumento do grau de fusão, estendendo seus limites de formação para
maiores profundidades.

O´Hara acreditava que as fusões se fracionavam gradualmente conforme sua ascendência até
a cristalização final da olivina, e que os magmas que atingem a superfície são líquidos residuais, e não
verdadeiramente primários (no sentido de que eles refletiriam a fusão parcial inalterada produzida em
profundidade).

Investigações mais recentes feitas por Hirose & Kushiro (1991) no lherzolito espinélio seco e
natural, concordam que em fusões lentas a fração tende aos basaltos alcalinos, enquanto que em
elevadas frações de fusões há a tendência para composições mais toleíticas.

Isto é ilustrado na Figura 10-11 (uma modificação na base do tetraedro do basalto, figura 8-12)
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 346
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

pela tendência direcional contra ne* e a favor de opx. A fusão em elevadas pressões conduz à picritos
que são nefelina-normativos (alcalinos e subsaturados em sílica) em baixo grau de fusão parcial, e
saturado em sílica em elevadas frações de fusão.

Embora exista alguma discordância de detalhes entre os esquemas de Green e Ringwood


(1967), O´Hara (1968, e Hirose & Kushiro (1991), está claro que uma variedade substancial de fusões
pode ser derivada de um manto quimicamente homogêneo, e que estas variedades incluem todos os
tipos básicos de magma que nós vemos na superfície. Esta generalização é substanciada por outros
extensivos trabalhos (Yoder & Tilley, 1962; Yoder, 1976; Hess & Poldervaart, 1968).

Figura 10-11. A
projeção do diagrama
da normativa de ol*-ne*-
q de Irvine e Baragar
(1971) mostrando as
tendências nas fusões
parciais do espinélio
lherzolito a partir de 6 a
35% da fusão parcial. O
ne* = ne + 0.6 ab, q* = q
+ 0.4 ab + 0.25 opx. De
Hirose & Kushiro (1991).

Finalmente, nós devemos lembrar que os fluidos no manto podem também afetar os tipos de
fusões geradas. A Figura 7-27 ilustra os efeitos da fusão seca, fusão saturada em H2O, e fusão
saturada em CO2 num sistema basáltico análogo a 2 GPa. O ponto eutético Eseco, na Figura 7-27, é o
mesmo ponto em E2GPa na Figura 10-8. O H2O transfere o eutético na direção da saturação em sílica
(toleíticos) enquanto que o CO2 transfere o eutético na direção das composições mais alcalinas.

Embora a quantidade de fluidos do manto como um todo é geralmente considerada pequena,


como discutido em conjunção com a menor velocidade das camadas superiores, nós sabemos a partir
dos kimberlitos e carbonatitos que o H2O e o CO2 podem, localmente, serem muito mais elevados.

Em síntese, a maioria dos modelos da petrogênese dos basaltos demonstram as seguintes


indicações (modificado a partir de Wyllie, 1971, pp 207-208):
1. A composição dos basaltos primários é controlada pela profundidade das fusões parciais e a
segregação do peridotito mantélico, o grau de fusão parcial e a quantidade e os tipos de fases voláteis,
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 347
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

se presentes.
2. A composição do basalto que atinge a superfície da Terra é também controlada por qualquer
fracionamento cristalino subsequente durante uma ascensão posterior à segregação.
3. Os toleítos podem ser formados por uma fusão superficial ou pelo fracionamento de olivina
durante a ascensão de líquidos picríticos profundos. Os toleítos também são favorecidos por voláteis
ricos em H2O. Basaltos alcalinos pobres em sílica se derivam por possuírem um menor grau de fusão
parcial, estarem em fontes mais profundas, e por voláteis ricos em CO2.
4. Os toleítos também podem ser formados quando a olivina se fraciona durante a ascensão do
picrito assentado em profundidades, e basaltos alcalinos pelo fracionamento profundo de fases
silicáticas ricas em Al.

10.4. MAGMAS PRIMÁRIOS

A Figura 10-10 sugere que a cristalização fracionada talvez seja comum durante a ascensão do
magma basáltico. O´Hara (1965, 1968) a considerava inevitável. Logo a questão de quão comuns são
os magmas primários na superfície da Terra vem à tona. Nós definimos os magmas primários nos
Capítulos 6 e 8 como aqueles que são formados pela fusão em profundidade, e não foram modificados
subsequentemente durante a ascensão magmática para a superfície.
Os magmas modificados são referidos como derivativos ou envolvidos. Devido à dificuldade
de determinação do magma, se é verdadeiramente primário, nós introduzimos o termo pai no Capítulo
8 para o magma mais primitivo no espectro magmático de uma dada localidade. O magma pai, sendo
ele primário ou derivativo, é considerado ser a fonte imediata do magma mais evoluído desta série
magmática.

É difícil entender a origem dos magmas derivativos, contudo, sem primeiro entender o magma
primário que o precede. Como nossa discussão acima sugere uma variedade de magmas primários
possíveis, como então nós poderíamos reconhecer um magma primário?

Existem vários critérios que podem ser aplicados à avaliação da natureza de um magma primário.
Como é comum na geologia, estes critérios são úteis para demonstrar que um tipo de magma em
particular não é primário, mas eles não são capazes de provar se um magma é de fato verdadeiramente
primário.

Os critérios mais simples são que o magma plota no fim da extremidade de um índice de
diferenciação (tais como menor porcentagem de SiO2, maior concentração de Mg/ (Mg + Fe), baixa
porcentagem de álcalis, etc.) e que ele tem uma alta temperatura de extrusão. Estes critérios são úteis,
mas só servem para a indicação de um magma pai, não de um magma primário. Apesar de tudo, eles
nos mostram que os basaltos são os tipos de magmas mais prováveis, os melhores candidatos para
magma primário.

Vamos retornar para o momento na Figura 6-11: o eutético da anortita-diopsídio. Logo que
resfriamos a composição a para 1445ºC, nós atingimos o ponto b, onde a fusão, uma complexa solução
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 348
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

de íons e moléculas, se torna saturada em componentes de anortita. Neste ponto a anortita começa a
se cristalizar, muito parecido com a precipitação do sal a partir da solução de sal durante o resfriamento
ou evaporação.
No ponto d, o eutético, a fusão está saturada tanto para a anortita quanto para o diopsídio,
conforme as duas fases se cristalizam. No sistema ternário, quando a fusão atinge o eutético ternário
(ponto M nas Figuras 7-1 e 7-2), a fusão se torna saturada em três fases, ou mais, conforme mais
componentes são adicionados.
Nós nos referimos à fusão que é saturada em várias fases como fusão saturada múltipla. A
maioria dos basaltos, quando em erupção, estão próximos da temperatura de seu liquidus (ou eles
contêm formas de fenocristais, ou fenocristais com pequena adição de resfriamento). Além disto, todos
os tipos principais de minerais começam a se cristalizar dentro do mesmo pequeno intervalo de
temperatura, o qual sugere que eles estão próximos de serem formados por fusão saturada múltipla.
Tome como exemplo o Lago de Lava Makaopuhi no Capítulo 6.

A temperatura de erupção era estimada em 1190ºC (Wright & Okamura, 1977), no ponto em que
a olivina já tinha começado a se cristalizar (Figura 6-2). Assim o magma já estava na temperatura do
liquidus (não superaquecido), e saturado em olivina.

As outras grandes fases, plagioclásio e clinopiroxênio, começaram a se cristalizar dentro de 20ºC


de resfriamento (Figura 6-2). Assim o basalto de Makaopuhi, mesmo sendo um magma de alta
temperatura, estava em erupção na temperatura do liquidus, e estava próximo de ter sofrido uma fusão
saturada múltipla.

Primeiro nós vamos considerar uma fusão saturada múltipla como uma candidata principal a
magma primário. Pois se o magma primário é produzido por uma fusão parcial dos peridotitos do
manto, pelo menos em baixas frações de fusão, deve ser uma fusão eutética, logo considerada uma
fusão múltipla saturada. Isto é verdadeiro, contudo, somente nas pressões de formação em
profundidade, não em pressões de erupção.
A Figura 10-8 mostra que devem ser consideradas diferenças entre o eutético atmosférico (1atm)
e altos pontos de pressão eutética. Se o magma está em saturação múltipla à baixas pressões, seria
impossível estar igual à altas pressões também.
Múltipla saturação de baixa pressão sugere que o magma estava em equilíbrio com a fase sólida
em profundidade menores, superficiais demais para que ocorra a formação do magma. Isto requer que
os minerais estejam cristalizados, mantendo o magma conforme o eutético durante sua ascensão. Tal
magma deve ter sido modificado pela cristalização fracionada e não é um magma primário.
Considere a Figura 10-12, no qual mostra os resultados de experimentos de fusão dentro do
limite de pressão nos basaltos vítreos das cadeias mesoceânicas, suspeitos de serem resultados de
uma fusão primária.
Este método de fusão de uma rocha superficial sob várias pressões para observar as fases
anteriores nas quais ela pode ter estado em equilíbrio é comumente referido como método reverso,
pois ele começa com o produto da fusão parcial como um indicador das características fonte.
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 349
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

Começando com as possíveis amostras do manto e as derretendo observando o resultado, como feito
nas Figuras 10-9 e 10-10, é o chamado de método direto, pois ele tenta imitar a decorrência do
processo original.
De qualquer forma, de volta a nossa amostra: diferentemente da maioria dos basaltos em cadeias
mesoceânicas, esta amostra não foi multiplamente saturada em baixas pressões. Como pode ser visto
na Figura 10-12, a 1 atm ele estava saturado com olivina a 1215ºC, e o plagioclásio somente se juntou
a olivina abaixo dos 75ºC. A amostra foi saturada, contudo, com todas as quatro fases do plagioclásio
lherzolito em 0.8 GPa e 1250ºC.
Isto implica que a fusão representada pelas amostras é de um magma primário, uma vez em
equilíbrio com o manto a 25 Km de profundidade. Esta pode ou não ser a profundidade “de origem”,
indicando o evento de fusão parcial que criou os basaltos.
Multipla
Saturação

Baixa Pressão
Ol. Plag. Cpx.

Multipla
Saturação
(25 Km

Alta Pressão
Cpx. Plag. Ol.
Figura 10-12. Relação da fase anídrica do P/T para os basaltos da cadeia mesoceânicas suspeita de ser o
começo do magma primário. De Fujii e Kushiro (1977).

Provavelmente foi o último ponto durante a ascensão no qual a fusão estava bem misturada com
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 350
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

o manto, o ponto no qual o líquido foi separado dos sólidos do manto e passou a se comportar como
um sistema separado.
Um derretimento que está multiplamente saturado na superfície não é um candidato provável
para magma primário. Uma fusão multiplamente saturada teria curvas de saturação, tais como aquelas
ilustradas na Figura 10-12, uma interseção próxima às superfícies de pressão, e as curvas divergiriam
em grandes profundidades, indicando uma falta de equilíbrio em comparação com o manto.
Infelizmente, o critério para a não saturação múltipla na pressão de superfície é somente negativa,
pois o magma que não está multiplamente saturado também não pode ser classificado como primário.
Somente sujeitando um basalto natural, não multiplamente saturado, a uma experiência de fusão
e recristalização em altas pressões, como na Figura 10-12, nós podemos ver se ela pode se tornar
multiplamente saturada em altas pressões.
Se a fusão parcial é extensiva, contudo, cada fase do manto sucessiva é consumida pela fusão
progressiva, a fusão já não é mais saturada naquela fase, até que finalmente ela é só saturada em
olivina, a última fase do manto residual.
Fusões primárias resultantes de fusões parciais extensivas, então, podem não ser multiplamente
saturadas em quaisquer pressões. Ao menos, contudo, a fusão deve ser saturada somente em olivina
a altas pressões, devido à olivina ser a fase dominante no manto e o último mineral ser fundido.
A Figura 7-13, a qual ilustra os experimentos de fusões nos basaltos toleíticos do Rio Snake,
mostra que a olivina está somente na fase liquidus em pressões abaixo de 0.5 GPa. Ou este basalto
foi formado em pressões muito baixas (nem mesmo no manto, devido à camada Moho ser mais
profunda diante da planície do Rio Snake), ou ele perdeu tanta olivina durante a cristalização fracional
que ele não poderia mais permanecer saturado em olivinas à altas pressões. Das duas opções, a
última é a mais provável, logo este basalto não é um candidato adequado para ser um basalto primário.
Se os experimentos mostrarem que o basalto corresponde às composições eutéticas de altas
pressões, e não aos experimentos de baixas pressões, eles indicariam um equilíbrio em altas pressões
com o manto. Pode-se interpretar então que se trata da fusão de um magma primário naquela pressão,
ou que se formou em maior profundidade, se fracionou naquela pressão indicada, e então ascendeu
essencialmente de maneira inalterada em seguida.

Em tais casos, o suporte à ideia de que se trata de um magma primário seria maior, mas a
evidência pode ser ilusiva. Complicações podem também aparecer na aplicação das técnicas
experimentais quando as relações das reações existem para aqueles minerais. Se a fonte contém
ortopiroxênio, ela pode não aparentar ser uma fase liquidus durante a maior parte do experimento,
devido a ela ter uma relação de reação: “opx = olivina + líquido” (Figura 6-12).

Como discutido no Capítulo 8, as lavas afíricas, devido a elas não estarem contaminadas pela
formação prévia de outros cristais, elas são comumente escolhidas para diagramas de variação como
bons exemplos de fusões derivadas.

Alguns petrólogos também consideram as amostras afíricas primitivas como sendo possíveis
candidatos à magmas primários, pois eles não apresentarem nenhuma evidência de terem formado e
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 351
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

perdido fenocristais.
Outros questionam este conhecimento sobre magmas multiplamente saturados (ver McBirney,
1993, p. 242). Eles pontuam que a saturação multiplicada dos magmas tenha provavelmente perdido
seus primeiros fenocristais.
Eles sugerem que algumas lavas ricas em fenocristais, em particular os picritos ricos em olivinas,
podem conter ainda suas fases inicialmente formadas. Infelizmente é impossível de determinar se
parte dos fenocristais foram perdidos. E, cristais ricos em picritos podem apresentar alguma
acumulação de fenocristais na base da câmara magmática, e podem assim ser mais primitivos do que
a fusão primária.
Dois outros critérios avançados também têm sido utilizados na identificação de magmas
primários. Primeiro, magmas que contém nódulos de dunitos e peridotitos densos, presume-se que
estes magmas tenham ascendido rapidamente a fim de conseguir manter tais nódulos suspensos.
Tais magmas teriam menos tempo para se submeterem ao fracionamento, e logo podem ser
primários. Segundo, a olivina nos nódulos de peridotitos do manto residual é usualmente limitada, na
composição, ao intervalo limite: Fo86 para Fo91.
Líquido basálticos em equilíbrio com tais olivinas devem ter o raio de MgO/ (MgO + FeO) no
limite de 0.66 para 0.75 (Roeder & Emslie, 1970; Green, 1971). Assim nós devemos ser capazes de
julgar rapidamente se o basalto é um bom candidato para ser o magma primário a partir das
composições químicas dos seus maiores elementos ou pela sua posição no diagrama AFM. Outras
características químicas do magma primário incluem altos conteúdos de Cr (> 1000 ppm) e Ni (> 400-
500 ppm).
Lembre-se, os critérios acima são mais critérios exclusivos do que inclusivos, pois eles são
melhores demonstrando que magmas em particular não são primários do que demonstrando que eles
de fato são. Assim, neste caso, um bom candidato para ser magma primário deve possuir ao menos a
maioria dos critérios acima possíveis.

10.5. UM MODELO DE MANTO QUIMICAMENTE HETEROGÊNEO

Nós temos visto que, ao variar as condições de pressão, a porcentagem da fusão parcial da
composição do fluído e a cristalização fracional de maneiras viáveis, é possível gerar toda uma série
de basaltos a partir de uma única composição do manto (incluindo ambos os basaltos toleíticos e
basaltos alcalinos, bem como basaltos com elevados índices de alumínio e picritos).
Nossa jornada ao encontro dos magmas pais para uma série derivada encontrada na superfície
estaria aparentemente chegando ao fim, assim como a maioria dos petrólogos também acreditava em
meados de 1970.
Contudo, técnicas de análise de elementos vestigiais e isótopos têm mudado as nossas
perspectivas tanto sobre as gêneses e a natureza do manto a partir do qual eles são derivados. Este
é um assunto que nós iremos explorar mais completamente nos Capítulos 13 e 14, mas aqui está uma
breve introdução.
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 352
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

Embora um manto quimicamente homogêneo tenha provido uma simples solução para a
variedade de fusões que ocorrem nas áreas oceânicas, e Ockham´s Razor nos diz que a solução mais
simples é a provavelmente aquela mais correta, existem alguns pequenos fatos que nós não podemos
explicar desta maneira.
Primeiro, embora as amostras do manto caiam dentro das grandes categorias de lherzorlito,
harzburgito, e dunito, a variedade é muito maior e muito mais importante. Embora os maiores
elementos aparentam ser relativamente uniformes, a sua variação permite que as amostras possam
serem separadas dentro de dois grupos principais (Nixon et al., 1981).
Os xenólitos férteis (ou enriquecidos) têm de alguma forma altas concentrações de Al, Ca, Ti,
Na, e K e menores de Mg/ (Mg + Fe) e Cr/ (Cr + Al) do que xenólitos empobrecidos. Os xenólitos
férteis assim têm mais elementos incompatíveis, o que pode ser correlacionado com o seu potencial
para produzir magma antes de se tornarem mais refratários, como às amostras empobrecidas.
A granada e o espinélio lherzolito são as amostras mais férteis, e os dunitos são as mais
empobrecidas. Existe uma sutil, porém importante, diferença entre os termos “fértil” e “enriquecido”,
sendo que o último implica que alguma coisa foi adicionada a eles, enquanto que o termo anterior
meramente implica que pouco tenha sido removido da solução.
Nós ainda não discutimos maneiras de avaliar que uma amostra é verdadeiramente
“enriquecida”. Irei mencionar superficialmente deste ponto em diante que alguns dos xenólitos do
manto demonstram evidências de alterações em profundidade.
Embora a flogopita e os anfibólios sejam usualmente primários, alguns apresentam texturas
sugerindo uma origem associada com voláteis e alguns outros componentes oriundos de fluídos,
adicionados via uma fase de fluido externa. Outra alteração mineral inclui a apatita, esfeno, carbonato,
etc.
Segundo, alguns elementos vestigiais de magmas basálticos derivados do manto nos confrontam
com uma complicação. No Problema 9-3 lhe foi pedido para criar um diagrama REE e um diagrama
Spider para dois tipos de rochas. As rochas foram medidas nas suas composições de um “típico”
basalto de ilha oceânica (OIB) e basalto de cadeia oceânica (MORB), e os diagramas são reproduzidos
na Figura 10-13.
A inclinação negativa do padrão do OIB em cada diagrama é um típico padrão de enriquecimento,
e pode prontamente ser explicado via um modelo tanto de fusão parcial do peridotito ou da cristalização
fracional do peridotito derivadas de uma fusão, no qual os elementos mais incompatíveis estão
concentrados na fração do líquido (OIB).
A tendência à inclinação positiva do MORB, por outro lado, não pode ser conciliada com qualquer
processo de fusão parcial ou cristalização fracional do condrito do tipo mantélico que é incorporado ao
HREE e outros elementos relativamente compatíveis dentro do líquido de preferência dos elementos
menos compatíveis. O único método pelo qual a fusão parcial pode ter um padrão de inclinação positiva
no diagrama da Figura 10-13 é fundir uma proporção significativa de um sólido que já seria LREE e
elementos incompatíveis empobrecidos, e assim tem uma inclinação positiva desde o começo.

Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 353


Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

Figura 10-13. Diagrama REE a) e


diagrama Spider b) de um típico
basalto alcalino das ilhas
oceânicas (OIB) e basalto toleítico
das cadeias mesoceânicas
(MORB). Dados de Sun &
McDonough (1989).

Por estes diagramas estarem normalizados para o condrito, e um manto não empobrecido não
deve estar próximo ao condrito, ele deve plotar em rocha/condrito = 1.0 e ter uma inclinação de zero.
No sentido de se tornarem LREE e elementos incompatíveis empobrecidos, estes elementos devem
ser extraídos do manto e incorporados dentro das fusões como prioridade para a formação do MORB.
Em outras palavras, o magma mais comum no planeta deve ser derivado a partir do manto que tenha
sido previamente empobrecido (provavelmente por uma extração inicial das fusões para formar as
crostas oceânicas e continentais).

O outro magma comum das bases oceânicas não nos mostra tais padrões, e parece ser derivado
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 354
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

a partir de uma fonte do manto não empobrecido (fértil). Nós iremos dar de cara com a seguinte
conclusão, mesmo com nosso recente sucesso na geração de diferentes tipos de magmas a partir de
uma fonte do manto singular, o manto não é homogêneo, e contém pelo menos dois principais
reservatórios, um empobrecido, e o outro fértil.

Os dados de elementos vestigiais nos nódulos do lherzolito suportam esta conclusão. A Figura
10-14 mostram ambas as inclinações positiva e negativa nos diagramas REE tanto para a granada
quanto para o espinélio lherzolito, mostrando que as rochas fonte advindas do manto certamente vêm
de um reservatório não uniforme.

Figura 10-14. Diagrama de REE


normalizados pelo condrito para
espinélio (a) e (b) granadas
lherzolitos. Do Projeto de Estudo
do Vulcanismo Basáltico.

Como estas amostras representarem uma rocha fonte em potencial, e não as fusões parciais
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 355
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

derivadas, as rochas enriquecidas em LREE com uma inclinação negativa e raios da rocha/condrito
acima de 10 devem ser verdadeiramente enriquecidas, e não simplesmente não empobrecidas
(férteis).

Em outras palavras, se a nossa suposição de que o condrito meteorito representava as


características do manto primário, alguns processos, talvez a adição da fusão ou fluídos a partir
debaixo, devem ter adicionado os LREE incompatíveis para algumas daquelas amostras do manto.

Finalmente, nós retornamos aos dados isótopos. A Figura 10-15 mostra a variação nos raios de
143Nd/144Nd e 87Sr/86Sr para uma variedade tanto dos basaltos oceânicos quanto para os xenólitos
do manto. Lembre-se do Capítulo 9, que um manto empobrecido irá, com o passar do tempo, evoluir
para raios menores de 87Sr/86Sr (Figura 9-11) e para altos raios de 143Nd/144Nd (Figura 9-13).

Figura 10-15. Valores iniciais


para o 143Nd/144Nd vs
87Sr/86Sr para (a) os
basaltos oceânicos e (b)
xenólitos ultramáficos a partir
do manto subcontinental. De
Wilson (1989). Dados de
Zindler et al. (1982) e Menzies
(1983). MAR = Cadeia
Mesoceânicas, EPR =
Elevação Leste do Pacífico,
IR = Cadeia Oceânica
Indiana.

Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 356


Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

Como estes dois são isótopos, e pesados, eles não irão fracionar durante o processo de fusão e
ou cristalização, logo o raio isotópico inicial (corrigido para a idade) da fusão irá ser idêntico para
aqueles das fontes das fusões.

Majoritariamente linear com uma inclinação negativa como na Figura 10-15A, mostra uma
correlação entre os sistemas Nd e Sr consistentes com um espectro enriquecido de material do manto
empobrecido. Isto era chamado de arranjo do manto por Paolo e Wasserburg (1977) e Zindler et al.
(1982).

A parte superior à esquerda do arranjo (onde o MORB é plotado) tem um elevado 143Nd/144Nd
e baixo 87Sr/86Sr característicos de uma fonte empobrecida e a parte inferior à direita é
progressivamente menos empobrecida.
A grande estrela representa os raios isotópicos do condrito meteorito, os valores que nós
relacionamos à Terra primitiva (nem empobrecido, nem enriquecido). Note, então, que o “manto mais
arranjado” reflete a variação do empobrecimento, com o MORB sendo derivado a partir das fontes
mais empobrecidas.
Ao invés de propor um manto com uma variação contínua ao longo do arranjo linear, uma
interpretação mais simples do arranjo dos dados isotópicos é que ele representa uma linha de mistura.
Os valores intermediários ao longo da linha seriam então representados pela mistura de diferentes
proporções de somente dois componentes, representados pelos pontos finais da linha. Um fim
representa um reservatório empobrecido, similar a um MORB, e o outro é tanto “não-empobrecido”
Os basaltos oceânicos raramente mostram as características enriquecidas (mais enriquecido do
que condrito), mas na Figura 10-15b nós vemos que os xenólitos do manto mostram muito mais
variações do que os basaltos, em particular no que diz respeito ao enriquecimento (especialmente para
os dados do Sr). Como este enriquecimento ocorre para os xenólitos originários diante dos continentes
(xenólitos kimberlitos), parece estarem relacionados ao manto subcontinental.
O fato de que algumas ilhas oceânicas também mostram enriquecimento além do condrito,
mesmo que raro, ainda é significante, e sugere que alguma porção do manto suboceânico também
tenha sido recipiente de componentes incompatíveis. Nós iremos retornar ao assunto do
enriquecimento do manto nos Capítulos 14, 17 e 18.
Nós agora acreditamos que o manto suboceânico está estratificado dentro de dois níveis
maiores. O nível superior é empobrecido, e o nível inferior é menos empobrecido, senão enriquecido.
Acredita-se que o limite está à aproximadamente 600Km, onde há na Figura 1-2 uma descontinuidade
sísmica profunda, nós acreditamos que possa representar uma mudança de fase para as estruturas
parecidas com a perovskita no qual o Si está na coordenação da família VI.
Se existirem mesmo duas distintas camadas no manto, é interessante especular as implicações
que isto teria nas correntes de convecção do manto. A Figura 10-16 ilustra dois modelos para a
convecção do manto. A Figura 10-16a é o modelo original, com as células de convecção se estendendo
por completo através do manto. Alguns geólogos têm proposto que estas células representam as
principais forças condutoras das placas tectônicas. Outras forças podem resultar a partir da mudança
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 357
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

de fase dentro das placas oceânicas, o que as ajuda na subducção, e a movimentação gravitacional
que se afasta dos rifts elevados. Para uma revisão das teorias dos mecanismos das tectônicas das
placas ver Cox e Hart (1986).

Figura 10-16. As duas possibilidades para


os modelos de convecção do manto. De
BVTP (1981).

Se o modelo para o manto inteiro está correto, a convecção do calor deve misturar,
homogeneizar quimicamente e distinguir isotopicamente os reservatórios em uma grande extensão.
Um modelo alternativo mais novo é ilustrado na Figura 10-16b. Neste modelo o manto superior
empobrecido é separado a partir do manto inferior não empobrecido pela descontinuidade sísmica de
600Km.
O modelo de duas camadas propõe que a convecção não pode atravessar esta descontinuidade.
Diferenças de densidade tão pequenas quanto 0.1 ou 3% podem ser suficientes para prevenir que a
convecção atravesse esta camada. Como resultado as duas camadas não se tornam homogêneas
novamente pela convecção de calor do manto. Geralmente se acredita que as camadas empobrecidas
superiores são as fontes dos basaltos das cadeias mesoceânicas.

A geração de uma significante quantidade de basaltos toleíticos da cadeia mesoceânica por


grandes graus de fusão parcial provavelmente causa o empobrecimento ao longo do tempo geológico.
As camadas inferiores não são empobrecidas, e os dados isotópicos, tais como aqueles discutidos
anteriormente, sugerem que, na verdade, são levemente enriquecidas. A camada é tocada por plumas
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 358
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

mantélicas em “hot spots” (Capítulo 14) que alimentam algumas ilhas oceânicas.

A separação de dois reservatórios completamente distintos não condiz com a realidade. Os


magmas advindos de grandes profundidades provavelmente ficarão presos nas camadas superiores,
e a subducção irá retornar ambas as camadas de crosta oceânica, tanto as empobrecidas quanto as
enriquecidas. A convecção pode conflitar com tudo descrito acima, mas ainda deixaria conjuntos e
camadas de material enriquecido através do manto superior.

A exata natureza e forma das células de convecção, em particular aquelas longas e achatadas
no manto superior, são estritamente especulativas neste momento. Se a moção vertical causada pela
indução do calor consegue ter o ímpeto de promover a convecção, tais células amplamente abertas
não serão muito eficientes. Algumas pequenas células podem ser mais apropriadas, com a moção de
uma placa determinado à rede total das células diante dela.

Note a importância e o impacto dos elementos vestigiais e dos estudos isotópicos. Aquelas
inclinações positivas grosseiras nos diagramas REE e nos diagramas Spider não podem ser explicadas
por nenhum dos processos envolvendo fusão parcial do condrito e de um manto quimicamente
uniforme. Ao longo destas tendências isotrópicas uniformes, eles nos forçam a avaliar novamente
nossos modelos do manto e da natureza das convecções do manto. Ainda existe muita incerteza com
relação as verdadeiras naturezas do manto e suas convecções, mas agora novos debates vêm
tomando forma, para excitantes novas avenidas de investigação que estão sendo abertas.

Finalmente, vamos retornar a nossa recente questão da geração do basalto em um possível


manto em camadas. A Figura 10-17 mostra os resultados dos experimentos de fusão em ambas as
amostras de lherzolito fértil e empobrecido. As linhas traçadas com força indicam a extensão da fusão
parcial, contornando o incremento de 10%. As curvas fortemente contornadas representam o conteúdo
de olivina normalizado na fusão.
Os toleíticos saturados em sílica podem ser gerados de 10 a 40% de fusão parcial de ambas as
fontes empobrecidas ou enriquecidas em profundidade de 30 a 40 Km. Os basaltos alcalinos podem
ser gerados em grandes profundidades de 50 a 20% da fusão parcial de lherzolito fértil.

Estes achados estão geralmente de acordo com os dados iniciais, no aumento correlacionado
da alcalinidade com as grandes profundidades e baixa porcentagem de fusão parcial. Contudo, agora
sabemos que a geração do basalto alcalino a partir de um manto empobrecido seria difícil sobre
quaisquer condições. Logo, agora parece que temos um manto heterogêneo, com pelo menos uma
camada superior empobrecida e uma camada inferior fértil. A camada superior teria sido empobrecida
pela extração da fusão, e talvez pela pirólise (desvolatização).

Se processos de fusão parcial estiveram acontecendo ao longo do tempo geológico, então o


manto superior pode ser heterogêneo, comprimindo tanto o lherzolito fértil quanto empobrecido assim
como também mais harzburgito e dunito refratários. Em adição devem existir inúmeros corpo de fusões
parciais congelados que falharam a atingir a superfície. O processo de convecção deve homogeneizar
novamente estas diferenças num grande grau no manto superior sublitosférico. Em contraste, o rígido
manto litosférico deve preservar a maioria destas irregularidades impostas sobre ele desde sua
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 359
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

formação. Como nós devemos ver, esta é uma importante particularidade nas antigas litosferas
continentais.

Figura 10-17. Experimentos resultantes de


fusões parciais em (a) depletado e em (b)
lherzolitos férteis. As linhas traçadas são os
contornos representando a porcentagem da
fusão parcial produzida. As linhas das curvas
fortemente traçadas são os contornos do
conteúdo de olivina normalizado para a fusão.
O “Opx out” e “Cpx out” representam o grau de
fusão no qual estas fases estão completamente
consumidas dentro da fusão. As áreas
escurecidas em (b) representam as condições
requeridas para a geração de magmas
basálticos alcalinos. De Jacques & Green
(1980).

Experimentos recentes de fusão sobre pressões elevadas (Wyllie, 1992) indicam que a
compressibilidade da fusão pode causar ΔV da fusão seca do lherzolito a se aproximar de zero, e
reverter o sinal em pressões maiores do que 7 GPa (logo acima de 200 Km de profundidade). Isto
Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 360
Introdução a Petrologia Ígnea e Metamórfica - John D. Winter

causaria o liquidus (e solidus) a reverter à inclinação (mas permanecendo constantes) na Figura 10-2.

O solidus e o liquidus podem permanecer acima do geoterma nestas profundidades (devido às


ondas S que ainda se propagam), mas a implicação para a gênese do magma pode ser profunda. Se
ΔV da fusão for muito baixo ou negativo, e a flutuação do magma irá, desta forma, também ser baixo
ou negativo, e magmas com estas características não podem ascender para a superfície. Isto pode
ajudar a explicar o porquê alguns reservatórios profundos não se tornaram empobrecidos com o tempo.

A geração de basaltos alcalinos a partir do enriquecimento das camadas abaixo de 600 Km pode
não envolver fusão nesta profundidade. Mas ao invés disso, os diapiros sólidos de material enriquecido
podem ascender de níveis profundos, e passar por uma fusão por descompressão em níveis
superfícies para produzir basaltos alcalinos enriquecidos, como será discutido no Capítulo 14.

Sugestões para leituras futuras

Petrográfica do Manto
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1977.
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HART, S.R. Heterogeneous mantle domains: Signatures, genesis, and mixing chronologies. Earth
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Capítulo 10 - Fusão do Manto e a Geração do Magma Basáltico 361

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