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“No nosso modo de pensar, já não existe aquela calma socrática, em que as ideias se

sucedem ordenada e gradualmente sem aquele receber com nitidez, paz e alegria as impressões com
que o mundo das cores, das formas e dos sons enriqueceria, alegraria e tranquilizaria. Poucos nos
damos conta de tudo isso porque temos a mente ocupada com ambiciosos projetos, com tristezas
e preocupações.
Trocamos a “Sofrosine|” grega ou a equanimidade clássica por tumultos de imagens e
ideias que se amontoam em nós, sem se poder gravar nem assentar na mente. Falta paz para
concentrar a atenção numa só coisa, donde: confusão, cansaço cerebral, nervosismo, inquietude,
insônia, etc.
Na vida afetiva de sentimentos e emoções, aquela moderação de nossos avós, aquelas sãs e
santas expansões da vida de família vão cedendo lugar à multidão de impressões anormais ou sem
coesão, a excitações precoces e brutais, a temores ou desejos exaltados, que se gravam ou se
exageram ou se transferem a objetos indevidos, dando origem a variadíssimas fobias, obsessões,
angústias, preocupações e tristezas.
Na vida volitiva de desejos e decisões, já são poucas as personalidades com normas fixas a
seguir. Poucos são os caracteres que sabem encarar a vida e superar suas dificuldades. Pelo
contrário, a cada passo encontramos homens sem princípios, sem força de vontade, homens e até
jovens derrotados até o suicídio. Ou antes, é uma multiplicidade de impulsos incoerentes ou de
desejos imoderados, procedentes das excitações externas ou dos instintos desenfreados, que
eliminam a decisão deliberada governada pela razão. Tudo isto produz indecisão, abulia,
inconstância e desânimo, a tal ponto que o “eu consciente superior” deixa de exercer o controle
sobre o “eu inferior e inconsciente”, e a vontade perde as rédeas para dirigir nosso mundo
psíquico.”
Narciso Irala, em Controle Cerebral e Emocional.

O excerto acima exposto é apenas a introdução ao livro Controle Cerebral e Emocional, de


Narciso Irala. Fiz alguns destaques, nos quais fica evidente que a profusão de imagens e ideias
externas é a causa principal de vários males da mente e do corpo, e a maioria das pessoas não se dá
conta disso, o que, por conseguinte, a levam a viver numa eterna condição de nervosismo, confusão
e dispersão, achando tudo isso normal. Não se precisa investigar a fundo todas as proposições do
texto quanto a sua validade, elas são autoevidentes, basta um rápido olhar ao mundo atual para
confirmar a verdade delas. Porém, o mais significativo é que esse texto foi escrito em 1964 por um
renomado psiquiatra, sem ainda está disseminado o uso de computadores e celulares, a té mesmo da
televisão. Então, é fácil concluir, onde deve estar a causa da degeneração da sociedade atual, não
que seja o único fator, mas, certamente, é um dos principais.

Honey Lopes

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