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DICASTÉRIO PARA A DOUTRINA DA FÉ

NOTA GESTIS VERBISQUE


SOBRE A VALIDADE DOS SACRAMENTOS
Apresentação
Por ocasião da Assembleia Plenária do Dicastério em janeiro de 2022, os Cardeais e
Bispos Membros tinham manifestado sua preocupação pela multiplicação de situações
em que se era obrigado a constatar a invalidade dos Sacramentos celebrados. As graves
modificações aportadas à matéria ou à forma dos Sacramentos, tornando nula a sua
celebração, tinham em seguida levado à necessidade de reencontrar as pessoas
envolvidas para repetir o rito do Batismo ou da Crisma e um número considerável de
fiéis havia justamente expressado a sua perplexidade. Por exemplo, ao invés de usar a
fórmula estabelecida para o Batismo, foram utilizadas fórmulas como as que seguem:
«Eu te batizo em nome do Criador…» e «Em nome do papai e da mamãe… nós te
batizamos». Numa tão grave situação se encontraram também alguns sacerdotes. Estes,
tendo sido batizados com fórmulas desse tipo, descobriram dolorosamente a invalidade
da sua Ordenação e dos Sacramentos celebrados até aquele momento.
Enquanto que em outros âmbitos da ação pastoral da Igreja existe um amplo espaço para
a criatividade, no âmbito da celebração dos Sacramentos tal criatividade transforma-se
no mais das vezes em “vontade manipuladora” e por isso não pode servir de escusa.[1]
Modificar, pois, a forma de um Sacramento ou a sua matéria é sempre um ato
gravemente ilícito e merece uma pena exemplar, porque tais gestos arbitrários são
capazes de produzir um grave dano ao fiel Povo de Deus.
No discurso dirigido ao nosso Dicastério, por ocasião da recente Assembleia Plenária,
em 26 de janeiro de 2024, o Santo Padre recordou que «mediante os Sacramentos, os
fiéis tornam-se capazes de profecia e testemunho. E o nosso tempo tem necessidade
com particular urgência de profetas da vida nova e de testemunhas da caridade:
amemos, pois, e façamos amar a beleza e a força salvífica dos Sacramentos!». Neste
contexto, indicou ainda que «aos ministros é pedido um particular cuidado em
administrá-los e em abrir aos fiéis os tesouros de graça que comunicam».[2]
É assim que, de uma parte, o Santo Padre nos convida a agir de tal modo que os fiéis
possam aproximar-se frutuosamente dos Sacramentos, enquanto que, de outro lado,
sublinha com força a chamada a um “particular cuidado” na sua administração.
Portanto, a nós ministros é pedida a força de superar a tentação de nos sentirmos
proprietários da Igreja. Devemos, ao contrário, tornar-nos muito receptivos diante de um
dom que nos precede: não somente o dom da vida ou da graça, mas também o tesouro
dos Sacramentos que nos foram confiados pela Mãe Igreja. Não são nossos! E os fiéis
têm o direito, por sua vez, de recebê-los assim como a Igreja dispõe: é dessa maneira
que a sua celebração corresponde à intenção de Jesus e torna atual e eficaz o evento da
Páscoa.
Com o nosso religioso respeito de ministros a quanto a Igreja estabeleceu acerca da
matéria e da forma de cada Sacramento, manifestamos diante da comunidade a verdade
que «a Cabeça da Igreja, logo o verdadeiro presidente da celebração, é somente Cristo».
[3]
A Nota que aqui apresentamos não trata, portanto, de uma questão meramente técnica
ou até mesmo “rigorista”. Publicando-a, o Dicastério pretende principalmente exprimir
com clareza a prioridade do agir de Deus e salvaguardar humildemente a unidade do
Corpo de Cristo, que é a Igreja, nos seus gestos mais sagrados.
Possa este Documento, aprovado unanimemente em 25 de janeiro de 2024 pelos
Membros do Dicastério reunidos em Assembleia Plenária e depois pelo Santo Padre
Francisco, renovar em todos os ministros da Igreja a plena consciência de quanto Cristo
nos disse: «Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi» (Jo 15,16).

Víctor Manuel Card. FERNÁNDEZ


Prefeito
[1] Congregação para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre a modificação da fórmula
sacramental do Batismo (24 de junho de 2020), nota 2: L’Osservatore Romano, 7 de
agosto de 2020, 8.
[2] Francisco, Discorso ai partecipanti all’Assemblea plenaria del Dicastero per la
Dottrina della Fede, Sala Clementina (26 de janeiro de 2024): L’Osservatore Romano,
26 de janeiro de 2024, 7.
[3] Dicastério para a Doutrina da Fé, Nota Gestis verbisque sobre a validade dos
Sacramentos (2 de fevereiro de 2024), n. 24.
______________________________________________________________________
Introdução
1. Com eventos e palavras intimamente conexos, Deus revela e atua o seu desígnio de
salvação para cada homem e mulher, destinados à comunhão com Ele.[1] Esta relação
salvífica se realiza de maneira eficaz na ação litúrgica, em que o anúncio da salvação,
que ressoa na Palavra proclamada, encontra a sua atuação nos gestos sacramentais.
Estes, com efeito, tornam presente na história humana o agir salvífico de Deus, que tem
o seu ápice na Páscoa de Cristo. A força redentora destes gestos dá continuidade à
história de salvação que Deus vai realizando no tempo.
Instituídos por Cristo, os Sacramentos são, pois, ações que fazem acontecer, por meio de
sinais sensíveis, a experiência viva do mistério da salvação, tornando possível a
participação dos seres humanos na vida divina. São as “obras primas” de Deus na nova
e eterna Aliança, forças que brotam do corpo de Cristo, ações do Espírito Santo operante
na Igreja.[2]
Por isso, na Liturgia a Igreja celebra com amor fiel e veneração os Sacramentos que o
próprio Cristo lhe confiou, para que os conservasse como preciosa herança e fonte da
sua vida e da sua missão.
2. Infelizmente, deve-se constatar que não sempre a celebração litúrgica, em particular a
dos Sacramentos, realiza-se na plena fidelidade aos ritos prescritos pela Igreja. Mais de
uma vez este Dicastério interveio para dirimir dúbia sobre a validade de Sacramentos
celebrados, no âmbito do Rito Romano, com a inobservância das normas litúrgicas,
devendo às vezes concluir com uma dolorosa resposta negativa, constatando, naqueles
casos, que aos fiéis foi roubado aquilo que lhes era devido, «ou seja, o Mistério Pascal
celebrado na modalidade ritual que a Igreja estabelece».[3] Como exemplo, seria
possível fazer referência a celebrações batismais em que a fórmula sacramental foi
modificada em algum elemento essencial, tornando nulo o Sacramento e
comprometendo deste modo o futuro caminho sacramental daqueles fiéis para os quais,
com grave incômodo, foi necessário repetir a celebração não só do Batismo, mas
também dos Sacramentos recebidos sucessivamente.[4]
3. Em algumas circunstâncias, pode-se constatar a boa-fé de alguns ministros que,
inadvertidamente ou movidos por sinceras motivações pastorais, celebram os
Sacramentos modificando as fórmulas e os ritos essenciais estabelecidos pela Igreja,
talvez para torná-los, segundo sua opinião, mais idôneos e compreensíveis. Com
frequência, porém, «o recurso à motivação pastoral mascara, ainda que
inconscientemente, um desvio subjetivístico e uma vontade manipuladora».[5]
Manifesta-se também deste modo uma lacuna formativa, sobretudo quanto à
consciência do valor do agir simbólico, traço essencial do ato litúrgico-sacramental.
4. Para ajudar os Bispos na sua tarefa de promotores e guardiães da vida litúrgica das
Igrejas Particulares a eles confiadas, o Dicastério para a Doutrina da Fé pretende
oferecer nesta Nota alguns elementos de caráter doutrinal para o discernimento sobre a
validade da celebração dos Sacramentos, prestando atenção a alguns aspectos
disciplinares e pastorais.
5. O presente documento, além disso, tem a intenção de dirigir-se à Igreja Católica no
seu conjunto. Todavia, as argumentações teológicas que o inspiram recorrem a
categorias próprias da tradição latina. Confia-se, portanto, ao Sínodo ou à Assembleia
dos Hierarcas de cada Igreja Oriental Católica a devida adequação das indicações deste
documento, recorrendo à própria linguagem teológica onde está seja diversa daquela em
uso no texto. O resultado seja submetido, antes da sua publicação, à aprovação do
Dicastério para a Doutrina da Fé.
I. A Igreja se recebe e se exprime nos Sacramentos
6. O Concílio Vaticano II aplica a noção de Sacramento à inteira Igreja. Em particular,
quando na Constituição sobre a Sagrada Liturgia afirma que «do lado aberto de Cristo
adormecido na cruz brotou o admirável Sacramento de toda a Igreja»,[6] isto se refere à
leitura tipológica, cara aos Padres, da relação entre Cristo e Adão.[7] O texto conciliar
evoca a conhecida afirmação de Santo Agostinho,[8] o qual explica: «Adão dorme para
que seja formada Eva; Cristo morre para que seja formada a Igreja. Do lado de Adão
que dorme é formada Eva; do lado de Cristo morto na cruz, ferido pela lança, brotam os
Sacramentos com os quais é formada a Igreja».[9]
7. A Constituição dogmática sobre a Igreja reafirma que esta é «em Cristo como um
Sacramento, isto é, sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo
o gênero humano».[10] E isto se realiza principalmente por meio dos Sacramentos, em
cada um dos quais é atuada a seu modo a natureza sacramental da Igreja, Corpo de
Cristo. A conotação da Igreja como Sacramento universal de salvação «mostra que a
“economia” sacramental determina, em última análise, o modo como Jesus Cristo único
Salvador, por meio do Espírito, alcança a nossa vida na especificidade das suas
circunstâncias. A Igreja recebe-se e simultaneamente exprime-se nos sete sacramentos,
pelos quais a graça de Deus influencia concretamente a existência dos fiéis para que
toda a sua vida, redimida por Cristo, torne-se culto agradável a Deus».[11]
8. Constituindo a Igreja como seu Corpo místico, Cristo faz os fiéis participarem da sua
mesma vida, unindo-os à sua morte e ressurreição de modo real e misterioso através dos
Sacramentos.[12] A força santificadora do Espírito Santo age de fato nos fiéis mediante
os sinais sacramentais,[13] tornando-os pedras vivas de um edifício espiritual, fundado
sobre a pedra angular que é Cristo Senhor,[14] e constituindo-os como povo sacerdotal,
partícipe do único sacerdócio de Cristo.[15]
9. Os sete gestos vitais, que o Concílio de Trento solenemente declarou como sendo de
instituição divina,[16] constituem assim um lugar privilegiado do encontro com Cristo
Senhor que doa a sua graça e que, com as palavras e os atos rituais da Igreja, nutre e
fortalece a fé.[17] Na Eucaristia e em todos os outros Sacramentos «é-nos garantida a
possibilidade de encontrar o Senhor Jesus e de ser alcançados pela potência da sua
Páscoa».[18]
10. Consciente disso, a Igreja desde as suas origens teve particular cuidado pelas fontes
das quais recebe a linfa vital para a sua existência e o seu testemunho: a Palavra de
Deus, atestada pelas Sagradas Escrituras e pela Tradição, e os Sacramentos, celebrados
na Liturgia, mediante os quais ela é continuamente reconduzida ao mistério da Páscoa
de Cristo.[19]
As intervenções do Magistério em matéria sacramental foram sempre motivadas pela
fundamental preocupação de fidelidade ao mistério celebrado. A Igreja, com efeito, tem
o dever de assegurar a prioridade do agir de Deus e de salvaguardar a unidade do Corpo
de Cristo naquelas ações sem igual, porque são sagradas «por excelência», com uma
eficácia garantida pela ação sacerdotal de Cristo.[20]
II. A Igreja preserva os Sacramentos e é preservada por eles
11. A Igreja é “ministra” dos Sacramentos, não é sua proprietária.[21] Celebrando-os,
ela mesma recebe deles a graça, preserva-os e é, por sua vez, preservada por eles. A
potestas que ela pode exercitar em referência aos Sacramentos é análoga àquela que
possui em relação à Sagrada Escritura. Nesta, a Igreja reconhece a Palavra de Deus,
colocada por escrito sob a inspiração do Espírito Santo, estabelecendo o cânone dos
livros sagrados. Ao mesmo tempo, porém, submete-se a esta Palavra, que
«piedosamente escuta, santamente preserva e fielmente expõe».[22] De modo
semelhante, a Igreja, assistida pelo Espírito Santo, reconhece aqueles sinais sagrados
mediante os quais Cristo distribui a graça que emana da Páscoa, determinando o seu
número e indicando, para cada um deles, os elementos essenciais.
Fazendo isto, a Igreja é consciente que administrar a graça de Deus não significa
apropriar-se dela, mas fazer-se instrumento do Espírito em transmitir o dom pascal de
Cristo. A Igreja sabe, em particular, que a sua potestas em relação aos Sacramentos
limita-se à sua substância.[23] Como na pregação a Igreja deve sempre anunciar
fielmente o Evangelho de Cristo morto e ressuscitado, assim nos gestos sacramentais ela
deve preservar os gestos salvíficos que Jesus lhe confiou.
12. É verdade que nem sempre de modo unívoco a Igreja indicou os gestos e as palavras
em que consiste esta substância divinitus instituta. Para todos os Sacramentos, porém,
mostram-se fundamentais aqueles elementos que o Magistério eclesial, escutando o
sensus fidei do povo de Deus e em diálogo com a teologia, denominou matéria e forma,
aos quais se acrescenta a intenção do ministro.
13. A matéria do Sacramento consiste na ação humana através da qual Cristo age. Nesta,
em algumas vezes, é presente um elemento material (água, pão, vinho óleo); outras
vezes, um gesto particularmente eloquente (sinal da cruz, imposição das mãos, imersão,
infusão, consentimento, unção). Tal corporeidade é indispensável porque enraíza o
Sacramento não só na história humana, mas também, mais fundamentalmente ainda, na
ordem simbólica da Criação e o reconduz ao mistério da Encarnação do Verbo e da
Redenção por Ele operada.[24]
14. A forma do Sacramento é constituída pela palavra, que confere um significado
transcendente à matéria, transfigurando o significado ordinário do elemento material e o
sentido puramente humano da ação realizada. Tal palavra toma sempre inspiração, em
medida variável, da Sagrada Escritura,[25] afunda as suas raízes na viva Tradição
eclesial, tendo sido definida com autoridade pelo Magistério da Igreja mediante um
atento discernimento.[26]
15. A matéria e a forma, pelo seu enraizamento na Escritura e na Tradição, jamais
dependeram e não podem depender da vontade de cada indivíduo ou de cada
comunidade. A tarefa da Igreja a seu respeito não é de determiná-las segundo o gosto ou
o arbítrio de quem quer que seja, mas, salvaguardando a substância dos Sacramentos
(salva illorum substantia),[27] de indicá-las com autoridade, dócil à ação do Espírito.
Para alguns Sacramentos, a matéria e a forma aparecem substancialmente definidas
desde as origens, motivo pelo qual resulta imediata a sua instituição por parte de Cristo;
para outros, a definição dos elementos essenciais foi sendo precisada ao longo de uma
história complexa, às vezes com uma relevante evolução.
16. A este propósito, não se pode ignorar que quando a Igreja intervém na determinação
dos elementos constitutivos do Sacramento, ela age sempre enraizada na Tradição para
melhor exprimir a graça conferida por ele.
É neste contexto que a reforma litúrgica dos Sacramentos, realizada segundo os
princípios do Concílio Vaticano II, pedia a revisão dos ritos, de modo que eles
exprimissem mais claramente as realidades santas que significam e produzem.[28] A
Igreja, com o seu Magistério em matéria sacramental, exerce a sua potestas no sulco
daquela Tradição viva «que vem dos Apóstolos e progride na Igreja com a assistência do
Espírito Santo».[29]
Reconhecendo, pois, sob a ação do Espírito, a natureza sacramental de alguns ritos, a
Igreja os considerou correspondentes à intenção de Jesus de tornar atual e participável o
evento pascal.[30]
17. Para todos os Sacramentos, seja como for, a observância da matéria e da forma foi
sempre requerida para a validade da celebração, com a consciência de que modificações
arbitrárias de uma e/ou de outra – cuja gravidade e força invalidante devem ser apuradas
em cada caso – colocam em risco a efetiva distribuição da graça sacramental, com
evidente dano aos fiéis.[31] Seja a matéria, seja a forma, compendiadas pelo Código de
Direito Canônico,[32] são estabelecidas nos livros litúrgicos promulgados pela
competente autoridade, os quais devem portanto ser observados fielmente, sem
«acrescentar, retirar ou mudar seja o que for».[33]
18. Unida à matéria e à forma está a intenção do ministro que celebra o Sacramento. É
claro que a intenção se distingue da fé pessoal e da condição moral do ministro, que não
incidem sobre a validade do dom da graça.[34] O ministro deve ter a «intenção de fazer
ao menos aquilo que a Igreja faz»,[35] tornando a ação sacramental um verdadeiro ato
humano, livre de todo automatismo, e um ato plenamente eclesial, livre do arbítrio de
um indivíduo. Além disso, já que aquilo que a Igreja faz não é outra coisa senão aquilo
que Cristo instituiu,[36] também a intenção, junto com a matéria e a forma, contribui
para tornar a ação sacramental o prolongamento da obra salvífica do Senhor.
Matéria, forma e intenção são unidas intrinsecamente entre si: elas se integram na ação
sacramental de tal modo que a intenção se torna o princípio unificante da matéria e da
forma, fazendo delas um sinal sagrado mediante o qual a graça é conferida ex opere
operato.[37]
19. À diferença da matéria e da forma, que representam o elemento sensível e objetivo
do Sacramento, a intenção do ministro – junto com a disposição daquele que recebe –
representa o seu elemento interior e subjetivo. A intenção, todavia, tende por natureza a
manifestar-se também externamente através da observância do rito estabelecido pela
Igreja, de modo que a grave modificação dos elementos essenciais introduz igualmente
a dúvida sobre a real intenção do ministro, comprometendo a validade do Sacramento
celebrado.[38] De fato, parte-se do pressuposto que a intenção de fazer o que a Igreja
faz exprime-se no uso da matéria e da forma que a Igreja estabeleceu.[39]
20. Matéria, forma e intenção são sempre inseridas no contexto da celebração litúrgica,
que não constitui um ornatus cerimonial dos Sacramentos, menos ainda uma introdução
informativa à realidade que se atua, mas é no seu conjunto o acontecimento em que
continua a realizar-se o encontro pessoal e comunitário entre Deus e nós, em Cristo e no
Espírito Santo, encontro no qual – através da mediação de sinais sensíveis – «Deus é
perfeitamente glorificado e os homens são santificados».[40]
A necessária solicitude pelos elementos essenciais dos Sacramentos, dos quais depende
a sua validade, deve portanto harmonizar-se com o zelo e o respeito pela inteira
celebração, em que o significado e os efeitos dos Sacramentos mostram-se
perfeitamente inteligíveis por uma multiplicidade de gestos e palavras, favorecendo de
tal modo a actuosa participatio dos fiéis.[41]
21. A mesma Liturgia permite aquela variedade que preserva a Igreja da «rígida
uniformidade».[42] Por este motivo, o Concílio Vaticano II estabeleceu que, «salva a
substancial unidade do rito romano, também na revisão dos livros litúrgicos dê-se
espaço às legítimas diversidades e às legítimas adaptações aos vários grupos étinicos,
regiões, povos, sobretudo nas missões».[43]
Em virtude disso, a reforma litúrgica desejada pelo Concílio Vaticano II não só
autorizou as Conferências Episcopais a introduzir adaptações gerais à editio typica
latina, mas também previu a possibilidade de adaptações particulares por parte do
ministro da celebração, com a única finalidade de vir ao encontro das necessidades
pastorais e espirituais dos fiéis.
22. Todavia, para que a variedade «não prejudique a unidade, mas antes a ela sirva»,[44]
não há dúvida que, além dos casos expressamente indicados nos livros litúrgicos,
«regular a sagrada Liturgia compete unicamente à autoridade da Igreja»,[45] que reside,
segundo as circunstâncias, no Bispo, na Assembleia episcopal territorial, na Sé
Apostólica.
É claro que «modificar por própria iniciativa a forma celebrativa de um Sacramento não
constitui um simples abuso litúrgico, como transgressão de uma norma positiva, mas um
vulnus provocado simultaneamente à comunhão eclesial e à possibilidade de se
reconhecer a ação de Cristo, que nos casos mais graves torna inválido o próprio
Sacramento, porque a natureza da ação ministerial exige que se transmita com
fidelidade aquilo que se recebeu (cfr. 1Cor 15,3)».[46]
III. A presidência litúrgica e a arte de celebrar
23. O Concílio Vaticano II e o Magistério pós-conciliar possibilitam enquadrar o
ministério da presidência litúrgica no seu correto significado teológico. O Bispo e os
presbíteros seus colaboradores presidem as celebrações litúrgicas, e em modo
culminante a Eucaristia, «fonte e ápice de toda a vida cristã»,[47] in persona Christi
(Capitis) e nomine Ecclesiae. Em ambos os casos, trata-se de fórmulas que – mesmo
com algumas variantes – são bem atestadas pela Tradição.[48]
24. A fórmula in persona Christi[49] significa que o sacerdote representa o próprio
Cristo no evento da celebração. Isto se realiza em modo culminante quando, na
consagração eucarística, pronúncia as palavras do Senhor com a mesma eficácia,
identificando, em virtude do Espírito Santo, o seu eu com aquele de Cristo. Quando o
Concílio precisa que os presbíteros presidem a Eucaristia in persona Christi Capitis,[50]
não pretende avalizar uma concepção segundo a qual o ministro disporia, enquanto
“cabeça”, de um poder a ser exercido arbitrariamente. A Cabeça da Igreja e, em
consequência, o verdadeiro presidente da celebração, é somente Cristo. Ele é «a Cabeça
do Corpo, que é a Igreja» (Col 1,18), enquanto a faz brotar do seu lado (cfr. Jo 19, 34),
nutre-a e dela cuida, amando-a até doar-se por ela (cfr. Ef 5, 25.29; Jo 10, 11). A
potestas do ministro é uma diaconia, como Cristo mesmo ensina aos discípulos no
contexto da Última Ceia (cfr. Lc 22, 25-27; Jo 13, 1-20). Aqueles que por força da graça
sacramental são configurados a Ele, participando da autoridade com que Ele guia e
santifica o seu povo, são portanto chamados, na Liturgia e no inteiro ministério pastoral,
a conformar-se à mesma lógica, sendo constituídos pastores não para dominar o rebanho
mas para servi-lo, segundo o modelo de Cristo, Bom Pastor das ovelhas (cfr. 1Pd 5, 3;
Jo 10, 11.14).[51]
25. Ao mesmo tempo, o ministro que preside a celebração age nomine Ecclesiae,[52]
fórmula que esclarece que ele, enquanto representa Cristo Cabeça diante de seu Corpo
que é a Igreja, torna igualmente presente diante da mesma Cabeça este Corpo, antes
esta Esposa, qual sujeito integral da celebração, Povo todo sacerdotal, em nome do qual
o ministro fala e age.[53] De resto, se é verdade que «quando alguém batiza é Cristo
mesmo que batiza»,[54] igualmente é verdade que «a Igreja, quando celebra um
Sacramento, age como Corpo que opera inseparavelmente da sua Cabeça, enquanto é
Cristo-Cabeça que age no Corpo eclesial por Ele gerado no mistério da Páscoa».[55]
Isto evidencia a recíproca coordenação entre sacerdócio bastismal e ministerial,[56]
consentindo compreender que o segundo existe a serviço do primeiro e por isso mesmo
– como se viu – no ministro que celebra os Sacramentos não pode jamais faltar a
intenção de fazer o que faz a Igreja.
26. A dúplice e combinada função expressa pelas fórmulas in persona Christi – nomine
Ecclesiae, e a recíproca e fecunda relação entre sacerdócio batismal e sacerdócio
ministerial, unida à consciência de que os elementos essenciais para a validade dos
Sacramentos devem ser considerados no seu contexto própro, ou seja, a ação litúrgica,
tornarão o ministro sempre mais atento a que «as ações litúrgicas não são ações
privadas, mas celebrações da Igreja», ações que, mesmo na «diversidade dos estados,
dos ofícios e da participação ativa», «pertencem ao inteiro Corpo da Igreja, manifestam-
no e o implicam».[57] Por tal motivo, o ministro compreenda que a autêntica ars
celebrandi é aquela que respeita e exalta o primado de Cristo e a actuosa participatio de
toda a assembleia litúrgica, também através da humilde obediência às normas litúrgicas.
[58]
27. Aparece sempre mais urgente amadurecer uma arte de celebrar que, afastando-se
tanto de um rígido rubricismo quanto de uma fantasia desregulada, conduza a uma
disciplina a ser respeitada, para ser autênticos discípulos: «Não se trata de ter de seguir
um protocolo de boas maneiras litúrgico: trata-se antes de uma “disciplina” – no sentido
usado por Guardini – que, se observada com autenticidade, nos forma: são gestos e
palavras que põem ordem dentro do nosso mundo interior fazendo-nos viver
sentimentos, atitudes, comportamentos. Não são a enunciação de um ideal em que
procuramos inspirar-nos, mas são uma ação que implica o corpo na sua totalidade, ou
seja, no seu ser unidade de alma e corpo».[59]
Conclusão
28. «Nós […] trazemos este tesouro em vasos de argila, para que se manifeste que esta
extraordinária potência é de Deus e não vem de nós» (2Cor 4, 7). A antítese utilizada
pelo Apóstolo para evidenciar como a sublimidade do poder de Deus se revela através
da fraqueza do seu ministério de anunciador descreve bem o quanto acontece nos
Sacramentos. A Igreja toda é chamada a guardar a riqueza nela contida, para que jamais
seja ofuscado o primado do agir salvífico de Deus na história, mesmo na frágil
mediação de sinais e de gestos próprios da natureza humana.
29. A virtus operante nos Sacramentos plasma o rosto da Igreja, habilitando-a a
transmitir o dom de salvação que Cristo morto e ressuscitado, no seu Espírito, quer
comunicar a cada homem. À Igreja, aos seus ministros em particular, é confiado este
grande tesouro para que, quais «servos premurosos» do povo de Deus, nutram-no com a
abundância da Palavra e o santifiquem com a graça dos Sacramentos. Corresponde a
eles por primeiro fazer com que «a beleza do celebrar cristão» se mantenha viva e não
seja «deturpada por uma compreensão superficial e redutora do seu valor ou, pior ainda,
por uma instrumentalização dela ao serviço de uma qualquer visão ideológica, seja ela
qual for».[60]
Só assim a Igreja pode, de dia a dia, «crescer no conhecimento do mistério de Cristo,
imergindo a […] vida no mistério da sua Páscoa, na esperança da sua vinda».[61]
O Sumo Pontífice Francisco, na Audiência concedida ao subscrito Prefeito do
Dicastério para a Doutrina da Fé em 31 de janeiro de 2024, aprovou a presente Nota,
decidida na Seção Plenária deste Dicastério, e ordenou a sua publicação.

Dado em Roma, na sede do Dicastério para a Doutrina da Fé, aos 2 de fevereiro de


2024, festa da Apresentação do Senhor.

Víctor Manuel Card. Fernández


Prefeito

Mons. Armando Matteo


Secretário para a Seção Doutrinal

Ex Audientia diei 31-1-2024


FRANCISCUS

[1] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum (18 de novembro de 1965), n. 2:
AAS 58 (1966) 818.
[2] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 1116.
[3] Francisco, Carta Ap. Desiderio desideravi (29 de junho de 2022), n. 23:
L’Osservatore Romano, 30 de junho 2022, 9.
[4] Alguns sacerdotes constataram a invalididade da sua Ordenação e dos atos
sacramentais por eles celebrados devido à falta de um Batismo válido (cfr. can. 842),
fruto da negligência de quem lhes teria conferido o Sacramento de modo arbitrário.
[5] Congregação para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre a modificação da fórmula
sacramental do Batismo (24 de junho de 2020), nota 2: L’Osservatore Romano, 7 de
agosto de 2020, 8.
[6] Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de 1963),
nn. 5, 26: AAS 56 (1964) 99, 107.
[7] Comenta a este propósito Papa Francisco: «O paralelismo entre o primeiro e o novo
Adão é surpreendente: tal como Deus tirou Eva do lado do primeiro Adão, depois de ter
feito cair sobre ele um sono profundo, assim do lado do novo Adão, adormecido no
sono da morte, nasce a nova Eva, a Igreja. O espanto para nós reside nas palavras que
podemos pensar que o novo Adão faça suas, olhando para a Igreja: “Desta vez é osso
dos meus ossos e carne da minha carne” ( Gn 2, 23). Por ter acreditado na Palavra e
termos descido à água do Batismo, nós tornamo-nos osso dos seus ossos, carne da sua
carne». Francisco, Carta Ap. Desiderio desideravi (29 de junho de 2022), n. 14:
L’Osservatore Romano, 30 de junho de 2022, 9.
[8] Cfr. S. Agostinho, Enarrationes in Psalmos 138, 2: CCL 40, 1991: «Eva nasceu do
lado [de Adão] adormentado; a Igreja do lado [de Cristo] sofredor».
[9] Id., In Johannis Evangelium tractatus 9, 10: PL 35, 1463.
[10] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium (21 de novembro de 1964), n.
1: AAS 57 (1965) 5. Cfr. Ibid., nn. 9, 48: AAS 57 (1965) 12-14, 53-54; Id., Const. past.
Gaudium et spes (7 de dezembro de 1965), nn. 5, 26: AAS 58 (1966) 1028-1029, 1046-
1047.
[11] Bento XVI, Exort. Ap. pós-sinod. Sacramentum caritatis (22 de fevereiro de 2007),
n. 16: AAS 99 (2007) 118.
[12] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium (21 de novembro de 1964),
n. 7: AAS 57 (1965) 9-11.
[13] Cfr. Ibid. n. 50: AAS 57 (1965) 55-57.
[14] Cfr. 1Pd 2, 5; Ef 2, 20; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium (21 de
novembro de 1964), n. 6: AAS 57 (1965) 8-9.
[15] Cfr. 1Pd 2, 9; Ap 1, 6; 5, 10; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium
(21 de novembro de 1964), nn. 7-11: AAS 57 (1965) 9-16.
[16] Cfr. Conc. de Trento, Decretum de sacramentis, can. 1: DH 1601.
[17] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de
1963), n. 59: AAS 56 (1964) 116.
[18] Francisco, Carta Ap. Desiderio desideravi (29 de junho de 2022), n. 11:
L’Osservatore Romano, 30 de junho de 2022, 8.
[19] Cfr.Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum (18 de novembro de 1965), n.
9: AAS 58 (1966) 821.
[20] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de
1963), n. 5, 7: AAS 56 (1964) 99, 100-101.
[21] Cfr. 1Cor 4, 1.
[22] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum (18 de novembro de 1965), n. 10:
AAS 58 (1966) 822.
[23] Cfr. Conc. de Trento, Sessão XXI, cap. 2: DH 1728: «O Concílio declara, além
disso, que a Igreja sempre teve o poder de estabelecer e modificar na administração dos
Sacramentos, salva a sua substância, aqueles elementos que considerasse mais úteis para
quem os recebe ou para a veneração dos mesmos Sacramentos, segundo a diversidade
das circunstâncias, dos tempos e dos lugares»; Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit.
Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de 1963), n. 21: AAS 56 (1964) 105-106.
[24] Cfr. Francisco, Carta Enc. Laudato si’ (24 de maio de 2015), nn. 235-236: AAS 107
(2015) 939-940; Id., Carta Ap. Desiderio desideravi (29 de junho de 2022), n. 46:
L’Osservatore Romano, 30 de junho de 2022, 10; Catecismo da Igreja Católica, n. 1152.
[25] Nos Sacramentos propriamente, e sobretudo na Eucaristia, a Palavra de Deus
alcança a sua máxima eficácia.
[26] Cfr. Jo 14, 26; 16, 13.
[27] Conc. de Trento, Seção XXI, cap. 2: DH 1728. Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit.
Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de 1963), n. 38: AAS 56 (1964) 110.
[28] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de
1963), n. 21: AAS 56 (1964) 105-106. A Igreja sempre teve a preocupação de conservar
a sã Tradição, abrindo caminho para um legítimo progresso. Por isso, na reforma dos
ritos seguiu a regra que «as novas formas, de algum modo, brotem organicamente
daquelas já existentes»: Ibid., n. 23: AAS 56 (1964) 106. Como comprovação disso,
veja-se: Paulo VI, Const. Ap. Pontificalis Romani (18 de junho de 1968): AAS 60
(1968) 369-373; Id., Const. Ap. Missale Romanum (3 de abril de 1969): AAS 61 (1969)
217-222; Id., Const. Ap. Divinae consortium naturae (15 de agosto de 1971): AAS 63
(1971) 657-664; Id., Const. Ap. Sacram unctionem infirmorum (30 de novembro de
1972): AAS 65 (1973) 5-9.
[29] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Dei Verbum(18 de novembro de 1965), n. 8:
AAS 58 (1966) 821.
[30] Cfr. Bento XVI, Exort. Ap. pós-sinod. Sacramentum caritatis (22 de fevereiro de
2007), n. 12: AAS 99 (2007) 113; Código de Direito Canônico, can. 841.
[31] É necessário reafirmar a distinção entre liceidade e validade, assim como seja
recordado que qualquer modificação na fórmula de um Sacramento é sempre um ato
gravemente ilícito. Também quando se considere que uma pequena modificação não
altera o significado originário de um Sacramento e, em consequência, não o torna
inválido, ela permanece sempre ilícita. Nos casos duvidosos, quando houve uma
alteração da forma ou da matéria de um Sacramento, o discernimento sobre a sua
validade compete a este Dicastério para a Doutrina da Fé.
[32] A título de exemplo, veja-se: Código de Direito Canônico, can. 849 para o Batismo;
can. 880 § 1-2 para a Confirmação; cans. 900 § 1, 924 e 928 para a Eucaristia; cans.
960, 962 § 1, 965 e 987 para a Penitência; can. 998 para a Unção dos enfermos; cans.
1009 § 2, 1012 e 1024 para a Ordem; cans. 1055 e 1057 para o Matrimônio; can. 847 §
1 para o uso dos santos óleos.
[33] Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de 1963),
n. 22: AAS 56 (1964) 106. Cfr. Código de Direito Canônico, can. 846 § 1.
[34] Cfr. Concílio de Trento, Decretum de Sacramentis, can. 12: DH 1612; Canones de
Sacramento Baptismi, can. 4: DH 1617. Escrevendo ao imperador em 496, o Papa
Anastásio II assim dizia: «Se os raios deste sol visível, mesmo passando através de
lugares fétidos, não são por nada contaminados pelo contato com a poluição, com muito
mais razão a potência daquele [sol], que fez este visível, não é diminuída por alguma
indignidade do ministro»: DH 356.
[35] Concílio de Trento, Decretum de Sacramentis, can. 11: DH 1611. Cfr. Concílio de
Constança, Bula Inter cunctas, 22: DH 1262; Concílio de Florença, Bula Exsultate Deo:
DH 1312; Código de Direito Canônico, cans. 861 § 2; 869 § 2; Catecismo da Igreja
Católica, n. 1256.
[36] Cfr. S. Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 64, a. 8; Bento XIV, De
Synodo dioecesana, l. VII, c. 6, n. 9, 204.
[37] Concílio de Trento, Decretum de Sacramentis, can. 8: DH 1608.
[38] Cfr. Leão XIII, Carta Ap. Apostolicae curae: DH 3318.
[39] Todavia, é possível que, mesmo quando exteriormente se observa o rito prescrito, a
intenção do ministro seja diferente daquela da Igreja. Isso acontece ao interno daquelas
Comunidades eclesiais que, tendo alterado a fé da Igreja em algum elemento essencial,
corrompem com isso a intenção dos seus ministros, impedindo-os de ter a intenção de
fazer o que faz a Igreja – e não a sua Comunidade – quando celebra os Sacramentos.
Este é, por exemplo, o motivo da invalidade do Batismo conferido pelos Mórmons
(Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias): dado que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são
para eles algo de essencialmente diverso em relação ao que a Igreja professa, o Batismo
administrado por eles, ainda que conferido com a mesma fórmula trinitária, é viciado
por um error in fide que redunda sobre a intenção do ministro. Cfr. Congregação para a
Doutrina da Fé, Resp. ad propositum dubium de validitate Baptismatis (5 de junho de
2001): AAS 93 (2001) 476.
[40] Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de 1963),
n. 7: AAS 56 (1964) 101.
[41] A este propósito, o Concílio Vaticano II exorta os pastores a vigiar «para que na
ação litúrgica não só sejam observadas as leis para a válida e lícita celebração, mas os
fiéis dela participem de modo consciente, ativo e frutuoso»: Conc. Ecum. Vat. II, Const.
lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de 1963), n. 11: AAS 56 (1964) 103.
[42] Ibid., n. 37: AAS 56 (1964) 110.
[43] Ibid., n. 38: AAS 56 (1964) 110.
[44] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium (21 de novembro de 1964), n.
13: AAS 57 (1965) 18.
[45] Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de 1963),
n. 22 § 1: AAS 56 (1964) 106.
[46] Congregação para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre a modificação da fórmula
sacramental do Batismo (24 de junho de 2020): L’Osservatore Romano, 7 de agosto de
2020, 8.
[47] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium (21 de novembro de 1964), n.
11: AAS 57 (1965) 15.
[48] Cfr. em particular para a fórmula in persona Christi (o ex persona Christi), S.
Tomás de Aquino, Summa Theologiae, III, q. 22 c; q. 78, a. 1 c; a. 4 c; q. 82, a. 1 c; para
a fórmula in persona Ecclesiae (que em seguida tenderá a ser suplantada peela fórmula
[in] nomine Ecclesiae), Id., Summa Theologiae, III, q. 64, a. 8; ad 2; a. 9, ad 1; q. 82, a.
6 c. Tomás é atento a conectar as duas expressões: «… sacerdos in missa in orationibus
quidem loquitur in persona Ecclesiae in cuius unitate consistit. Sed in consecratione
sacramenti loquitur in persona Christi cuius vicem in hoc gerit per ordinis potestatem».
Id., Summa Theologiae, III, q. 82, a. 7, ad 3.
[49] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de
1963), n. 33: AAS 56 (1964) 108-109; Id., Const. dogm. Lumen gentium (21 de
novembro de 1964), nn. 10, 21, 28: AAS 57 (1965) 14-15, 24-25, 33-36; Paulo VI,
Carta Enc. Sacerdotalis caelibatus (24 de junho de 1967), n. 29: AAS 59 (1967) 668-
669; Id., Exort. Ap. Evangelii nuntiandi (8 de dezembro de 1975), n. 68: AAS 68 (1976)
57-58; João Paulo II, Carta Ap. Dominicae Cenae (24 de fevereiro de 1980), n. 8: AAS
72 (1980) 127-130; Id., Exort. Ap. pós--sinod. Reconciliatio et paenitentia (2 de
dezembro de 1984), nn. 8, 29: AAS 77 (1985) 200-202, 252-256; Id., Carta Enc.
Ecclesia de Eucharistia (17 de abril de 2003), n. 29: AAS 95 (2003) 452-453; Id., Exort.
Ap. pós--sinod. Pastores gregis (16 de outubro de 2003), nn. 7, 10, 16: AAS 96 (2004)
832-833, 837-839, 848; Código de Direito Canônico, cans. 899 § 2; 900 § 1.
[50] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Decr. Presbyterorum Ordinis (7 de dezembro de 1965), n.
2: AAS 58 (1966) 991-993. Cfr. também João Paulo II, Exort. Ap. pós-sinod.
Christifideles laici (30 de dezembro de 1988), n. 22: AAS 81 (1989) 428-429; Id., Exort.
Ap. pós-sinod. Pastores dabo vobis (25 de março de 1992), nn. 3, 12, 15-18, 21-27, 29-
31, 35, 61, 70, 72: AAS 84 (1992) 660-662, 675-677, 679-686, 688-701, 703-709, 714-
715, 765-766, 778-782, 783-787; Código de Direito Canônico, can. 1009 § 3;
Catecismo da Igreja Católica, nn. 875; 1548-1550; 1581; 1591.
[51] É quanto afirma também o Ordenamento Geral do Missal Romano, n. 93:
«Portanto, quando celebra a Eucaristia, [o presbítero] deve servir Deus e o Povo com
dignidade e humildade, e […] dar a perceber aos fiéis a presença viva de Cristo».
[52] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de
1963), n. 33: AAS 56 (1964) 108-109; Id., Const. dogm. Lumen gentium (21 de
novembro de 1964), n. 10: AAS 57 (1965) 14-15; Id., Decr. Presbyterorum Ordinis (7
de dezembro de 1965), n. 2: AAS 58 (1966) 991-993.
[53] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium (21 de novembro de 1964),
n. 10: AAS 57 (1965) 14-15.
[54] Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de 1963),
n. 7: AAS 56 (1964) 101.
[55] Congregação para a Doutrina da Fé, Nota doutrinal sobre a modificação da fórmula
sacramental do Batismo (24 de junho de 2020): L’Osservatore Romano, 7 de agosto de
2020, 8.
[56] Cfr. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium (21 de novembro de 1964),
n. 10: AAS 57 (1965) 14-15.
[57] Conc. Ecum. Vat. II, Const. lit. Sacrosanctum Concilium (4 de dezembro de 1963),
n. 26: AAS 56 (1964) 107. Cfr. também ibid., n. 7: AAS 56 (1964) 100-101; Catecismo
da Igreja Católica, nn. 1140-1141.
[58] Cfr. Ordenamento Geral do Missal Romano, n. 24.
[59] Francisco, Carta Ap. Desiderio desideravi (29 de junho de 2022), n. 51:
L’Osservatore Romano, 30 de junho de 2022, 11.
[60] Ibid., n. 16: L’Osservatore Romano, 30 de junho de 2022, 9.
[61] Ibid., n. 64: L’Osservatore Romano, 30 de junho de 2022, 12.

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