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Traduzido do inglês: Christ and Culture. Copyright © G van Rongen and W. Helder, 1977.
Disponível em: <http://www.reformed.org/webfiles/cc/christ_and_culture.pdf>. Acesso em 5
abr. 2016.
Atenção! Esta é uma tradução não oficial, provisória, pendente de revisão, disponibilizada
aos participantes do Núcleo Althusius de Estudos em Cosmovisão Cristã com a finalidade
exclusiva de facilitar o acesso às leituras propostas.
O tradutor não autoriza que esse material seja divulgado. Ele será disponibilizado
exclusivamente no grupo do Núcleo Althusius no Facebook
(https://www.facebook.com/groups/althusius/).
A quase 25 anos atrás, em 23 de março de 1952, o Senhor tomou para si seu servo Klaas Schilder.
A presente tradução de um de seus trabalhos aparece assim em tempo apropriado.
Cristo e a Cultura é a tradução inglesa ( e agora em português) dos escritos de Schilder 'Çhristus en
Cultuur”. A versão original de sua publicação foi emitida em 1932 sob o titulo de “Jezus Christus
en het cultuureven”: foi incluída em Jezus Christus en het menschenleven, uma coleção de
contribuições feita por vários autores. Em 1947 foi publicada separadamente como “Christus en
Cultuur”: uma nova publicação deste mesmo texto foi feito em 1953.
o Autor nasceu em 19 de dezembro de 1890 em Kampen na Holanda. Em sua cidade natal, ele
começou tarde seus estudos na Theologische School of De Gareformeerde Kerken, na qual
formou-se “cum laude” (laureado) em 1914. Apos ter servido com ministro (pastor) em diversas
igrejas, em 1933 ele foi premiado com o diploma de Doutor “cum summa Laude” na universidade
Alemã Friedrich-Alexarder da cidade de Erlangen. Sua dissertação foi intitulada de “Zur
Begriffspeschichte des Paradoxon, mit besonderen Berucksichtigung Calvins und des Nach-
kierkegaardschen Paradoxon”. No mesmo ano ele foi empossado professor de teologia sistemática
do seminário de Kampen, no qual ensinou ate a sua morte em 1952.
Dr. K. Schilder escreveu inúmeros livros e artigos. Sua trilogia “Christus in Zijin lijden”tornou-se
conhecida internacionalmente, especialmente sua versão em inglês “Christ on trail” de 1938. ele
contribuía regularmente com o jornal semanal “De Reformatie” desde que começou a ser
publicado em 1920, tornando-se um dos editores em 1924: de 1935 em diante, ele foi o único editor.
Seu posicionamento firme, não só em assuntos teológicos, mas também contra a filosofia nacional
socialista anticristã , levou a sua prisão pelos nazistas. Depois de ser solto ele foi forçado a
esconder-se, pois estava entre os procurados pela forças de ocupação da Alemanha. Ele
permaneceu escondido ate quase o final da segunda guerra mundial.
Duas vezes, em 1939 e em 1947, Schilder visitou os estados unidos da América. O retorno da
viajem em 1947 proveu a ele a oportunidade de revisar e expandir sua sobre-citada dissertação de
1932. o prefacio da nova edição de “Christus en Cultuur” foi assinada e datada abordo do S.S
Veendam em 24 de agosto de 1947. Essa publicação em alemão atraiu a atenção também de países
de língua inglesa, particularmente dos EUA; por exemplo, as ideias de Schilder, juntamente com as
ideias de Aurelius Agustine, John Calvin e Abraham Kuyper foram completamente discutidas por
Henry R. Van Til em seu livro “The Calvinistic Concept of Culture” de 1959 e reimpresso em 1972.
Uma traduçao japonesa feita por Y. Yamanaka da universidade Kansaigakuin da cidade de
Takarazuka, foi publicada em 1974.
A presente tradução em inglês ( agora em português) foi feita com a permissão de Mrs. A.J.
Schilder-Walter e a cooperação do editor original, T. Wever, da cidade de Franeker na Holanda.
Que DEUS abençoe esta publicação e a use na batalha pela verdadeira cultura.
1.
“Cristo e a Cultura” – este tema tem ocupado as mentes de muitos desde
que o cristianismo foi estabelecido neste mundo. Na verdade, isto já ocorria
muitos séculos antes. Pois o nome “Cristo” é nada mais que a tradução de
“Messias”. Mesmo durante os dias do Antigo Testamento, quando o Messias
ainda era esperado, homens pensavam, lutavam e profetizavam sobre este
assunto, assim como também se rebelavam contra o “Messias” ou “Cristo” e
a sua “Cultura”. Se o que estamos a escrever é verdade, então este tema
antigo ira continuar a capturar nossa atenção com alegria assim como com
tristeza ate o fim dos tempos: A completa solução para este problema não
será alcançada no curso do tempo, mas está reservada para o dia em que
marcara o fim dos tempos. Não será obtida por meio da evolução, mas
através da catastrófica segunda vinda de Cristo. Portanto a grande alegria e
a mais profunda tristeza sobre o resultado final da luta relativa a Cristo e a
Cultura pode ser esperada para o fim dos tempos. Onde um proferirá duas
palavras extremamente fortes: Céu - - e Inferno.
2.
O que foi tratado acima deixa claro que o tema que estamos abordando não
pode ser inserido na lista de assuntos onde o incrédulo (pagão) precipitado
toma antes para si como desprezível e o cristão cuidadoso só toma para si
como importante depois do debate acadêmico. O problema relacionado
entre Cristo e a Cultura deve imediatamente preocupar (permear) as
questões fundamentais do pensamento cristão e das suas ações. Portanto o
cristão deve continuamente contender com isto. Aquele que não contende
contra isto esta negligenciando seu chamado. A definição da vida de serviço
do cristão como é apresentada no catecismo de Heildeberg no dia do
Senhor 12 e no qual o cristão é considerado como profeta, sacerdote e rei, é
tão ampla e compreensível que a importância entre Cristo ( e o cristão) por
um lado, e a vida cultural por outro, esta debaixo de discussão desde que a
questão é levantada como palavras pertinentes que devem ser
interpretadas nesta sessão do catecismo. Por esta razão em particular, não
é permitido a um cristão confesso, antes que ele seja inserido na batalha
cultural, esperar silenciosamente por resoluções acadêmicas (algo que
nunca acontecera – Ad calendas graecas) em relação ao problema cultural.
Nem tem ele a permissão de esperar que algo mais torne-se seu substituto,
sejam as resoluções ou conclusões de uma conferencia.
Cristo e a Cultura
3.
Porque é este problema tão difícil? Muitas coisas poderiam ser ditas para
explicar isto. Nós iremos mencionar alguns pontos apenas.
Temos que apenas considerar como alguns que se chamam igreja, ficam a
deriva de conceitos da confissão de fé, e falam sobre o Cristo. O que é
cristianismo? Quem é Jesus Cristo? Quais são as posições históricas desse
Jesus e qual sua significância para a vida histórica? Tem ele alguma
influencia em toda a nossa vida histórica e com suas continuas relações?
Ele é de fato a palavra de Deus encarnada, ou é Ele nada mais de que um
das muitas formas da palavra de Deus? É a forma da palavra de Deus
adequada ao conteúdo revelado, ou é o conteúdo paradoxalmente oposto a
forma? É o Jesus de Nazaré histórico o cumprimento das expectativas do
antigo testamento com relação ao Cristo ( O Messias), ou a ideia messiânica
não é adequadamente revelada Nele, ou talvez so de forma fragmentada? O
que o nome Cristo significa? O que Deus quer dizer com o nome Messias?
O que seus meios de unção significam? Isso realmente inclui uma comissão
Divina (‘’Ele ser ordenado”), e também um dom real (“ele ser capacitado”),
ou são essas duas designações apenas simbólicas? isto é uma diferença
fundamental entre os "ungidos" os quais consideramos como homens
comuns e Jesus de Nazaré como O Ungido ? ou é esta, sugerida, diferença
fundamenta apenas uma ficção? Em que medida poderia Ele, como um
personagem histórico, atuar na vida humana de forma critica, isto é, a julgar
de maneira absoluta matérias decisivas? Faz ele mesmo, como Jesus, como
personagem histórico, juntamente com toda a vida humana, que se encontra
sob uma crise, isto é, debaixo do radical julgamento de Deus que condena o
mundo como este, como nosso mundo, ou deixaria ele ouvirmos na terra,
de uma maneira pura e efetiva, vivida, julgando e analisando, a voz de Deus
como o perfeito juiz e talvez também como nosso Pai, a voz do supremo e,
de fato, sua criticais únicas, repelindo ou atraindo? isto é realmente algo
para lamentarmos, mas é uma questão de fato que no meio (rodas/círculos)
do que é chamado cristianismo tem serias disputas sobre todas essas
questões hoje em dia. E então nós ficamos lá como concreto (firmes) ou
como uma “comunidade" legendária de “cristãos”; nós todos reivindicamos
este nome, e ficamos com raiva logo que alguém nega este titulo a outro.
Mas enquanto isso nós estamos muito incertos, entre nós mesmos, sobre as
questões fundamentais concorrentes a Jesus e concernentes a Cristo. Nem
estamos certos sobre o outro. Nos posicionando contra o outro
permanecemos com Cristologias escritas e especialmente não escritas no
meio de um mundo multifacetado a qual clama que ele (o mundo) continua a
construir sua “cultura”. E apesar de repetirmos muitas vezes de forma
intensa e agitada, como cristãos, que a cultura desse mundo não é madura
e nem tao pouco pura, que isto é enganoso, e que a recompensa do pecado
(e da cultura também) é a morte, a questão é urgente e fere profundamente,
especialmente porque pergunta, se nós mesmos não somos ( pelo menos
como grupo) completamente desautorizados e incapazes de proferir sequer
uma única palavra sobre este problema, por causa de nossas profundas
diferenças com respeito ao termo “Cristo" assim como encontraremos a
solução para o problema de “Cristo e a vida cultural”. Nos estamos cada vez
mais ativos como grupo de forma internacional, interdenominacional, e
interconfessional, relações ecumênicas, e enviando todo tipo de mensagens
concernente a vida do mundo e da cultura. Mas tudo isso perde força, pois
como grupo, nós não conhecemos Cristo. Enquanto Jesus Cristo, para nós
como grupo, não nos é conhecido e familiar, nos não dizemos nada além de
declarações imaturas sobre a relação entre Cristo e a vida cultural. Pois o
primeiro desses dois termos (Cristo) já esta totalmente nebuloso (confuso).
E uma neblina (confusão) internacional, interacadêmica e ecuménica é a
pior de tudo.
Pode ser sem intenção, mas o resultado inevitável de tudo isto é, claro, que
entre aqueles que orsilão de um lado para o outro de maneira pratica revela
aspectos muito variados. Segundo alguns não há missão mais elevada para
um cristão que come timidamente debaixo da mesa “ as migalhas que caem
da mesa” dos incrédulos “construtores da cultura”, e consequentemente ele
defende esse “comer timidamente” com a tese de que em assuntos culturais
Deus não impôs uma espécie de lei seca. Por outro lado nunca irá adiante
de um argumentum e silentio questionável: O que ele deseja não foi
expressamente proibido; portanto esta tudo bem. Não o pergunte se esse
exercício de comer as migalhas que caem da mesa dos outro é uma refeição
de fé e amor ou se é um gesto de embaraço, com o argumento
correspondente ao seu resgate necessário. O outro, entretanto, entretanto,
alegremente se afirma na vida cultural, incha sua pequena personalidade
cristã a um certo nível de orgulho cultural, e se mantem convencido que o
argumento embaraçoso do irmão antes mencionado, suspirando e
desculpando-se mil vezes por sua refeição de migalhas, não é nada e cita o
apostolo Paulo e diz, que um “não pode sair do mundo” (I Coríntios 5:10).
ele de fato trata (cataloga) este argumento como inferior. Em sua opinião de
ser substituído pelo slogan orgulhoso de que o Cristão tem que promover a
honra de Deus “em todas as esferas (rebanhos) da vida,” incluída a vida
cultural. Entretanto, a questão crucial, o que realmente é a “vida cultural”, e,
em estreita relação com ela, o que são exatamente as esferas ou territórios
da vida cultural, permanece em sua maior parte sem respostas (sem ser
constatada) ao logo do tempo, ate mesmo por ele.
Mesmo assim, qualquer que seja o sentido em que um tome esta palavra,
uma coisa é certa: é impossível representar qualquer assunto puro da
cultura sobre a base de qualquer noção com respeito ao “cristianismo”,
muito menos resolver o problema de “Cristianismo” e a cultura.
b. E na medida que não é uma esfinge mas pode ser alocada na historia
de uma forma pura ou fixa ( o qual algumas vezes é, novamente,
diferente), tem em parte interferido constantemente na luta cultural de
uma maneira prepotente e arbitraria e com muitas deficiências e
pecados. Em todo processo subsequente de formação, deformação
ou reforma, as vezes tentava chegar a ser uma força cultural real ou
direta (lembre-se do papado), ou viviam, consciente ou inconsciente,
sobre a base de certos princípios que colocavam sobre seu programa
de trabalho uma tarefa cultural absoluta como sua tarefa essencial.
Claro que isto foi errado. Pois o cristianismo não é uma questão de
cultura. Embora a cultura certamente é algo em que o Cristianismo se
interesse. Mas segunda as repetidas ações de deformação e reforma
tantas vezes repetidas (embora não seja biologicamente ou
evolucionista determinada), o Cristianismo histórico, ao longo dos
tempos, nunca foi capaz de conduzir a uma ideia cultural especifica a
vitória, nem tampouco concluiu totalmente qualquer dos seus
mandatos a respeito da vida cultural. Um encontrara aqui as variações
mais extremas: há uma vasta distancia entre o imperialismo cultural—
tal como foi desenvolvido pela igreja de Roma em certos períodos—e
a posição isolada, o separatismo, e o ascetismo das pequenas
congregações ou rebanhos “piedosos” e relutante em cultura cuja a
opinião é que eles representam o verdadeiro Cristianismo somente
neste tipo de aversão. Quem seria capaz de derivar um padrão cultural
de tal “Cristianismo”? Tao pouco uma maioria ou uma minoria podem
ser decisivas a esse respeito. Justiça assim como poder, saúde assim
como dons de cura, podem pertencer a maioria, mas também a
minoria, inclusive a menor minoria que alguém possa imaginar.
________________________________
Isto quer dizer, Deus descreveu sua obra (seu oficio) em sua essência
mesmo antes de dar a descrição mais vaga da Sua aparição histórica sob a
forma humana, e em situação cultural particular. Considere unicamente o
protoevangelho no paraíso. Quando depois de muitos séculos, durante os
quais Deus, por meio dos profetas, falou sobre a vinda do Cristo (Messias) e
deu informações avançadas sobre Seu oficio e obra, este Messias veio ao
mundo e foi registrado como filho de José e Maria e foi chamado “Jesus”,
então todos tiveram que aprender a considerar a este Jesus como o Cristo
plenamente autorizado a menos que Jesus tenha permanecido como um
enigma para Deus, com uma suposta apelação a sua própria autoridade
pretendida para interpretar.
Uma suposta apelação, dissemos, pois o Jesus real esta terrivelmente irado
com aqueles que se recusam a aceitar a chave para a interpretação de sua
pessoa e obra como proveniente da mão de Deus, como o Mestre e Profeta
ungido por Deus. Ele então vem a tal geração – normalmente é uma maioria
– com visitação e com castigo. Ambas as coisas recaem sobre seus
indispostos ouvinte-interpretes tão frequentemente como Ele nos
evangelhos, primeiro aos seus “contemporâneos” mas também a nós (que
somos igualmente “contemporâneos” do Cristo vivo, que nos governa do
céu), fala em parábolas. Incluindo o tema de servir a Deus na vida cultural,
Ele fala repetidamente em parábolas aos seus “contemporâneos” do
passado assim como a nós ( através da Bíblia), e Ele revela o significado
dessa parábolas, também em seu sentido cultural e teológico, somente
aqueles que depois perguntam sobre tudo isso em fé ( hoje, através da sua
palavra).
De que beneficio seria Jesus para nós se n tivesse anda mais para seguir,
se não o fosse adicionado um segundo nome, nenhum segundo nome oficial,
a este primeiro? Isto quer dizer, o nome “Cristo”? os evangelhos não
mostram a biografia de Jesus. Tao pouco “esboçam” sua própria imagem
sobre Ele. Eles já nos dizem que em nosso pensamento nós não devemos
ir além do que esta escrito (concernente a Cristo, no velho testamento) [1
Coríntios 4:6] eles não pretendem prover um resumo cientifico-sistemático
da obra da sua vida a partir de um ponto de vista formal e metodológico,
nem de nenhum ponto de vista cultural. Qualquer tratamento sistemático
com respeito as obras, ensinadas, trabalho profético, construções ou obras
de desconstruções feitas por Jesus estão totalmente ausentes das
escrituras.
O evangelho não é nem uma biografia nem uma novela. Tao pouco um
fenômeno cultural de acordo com métodos filosófico-culturais ou historico-
culturais, como se escreveu a historia da igreja segundo o método da ciência
da historiografia. O evangelho não é uma exposição sistemática da historia
da salvação. Portanto todo o esforço para aprender somente de uma assim
chamada “vida de Jesus”, como se este tivesse sido Seu proposito no
sentido de conhecer m aspecto particular da vida humana, esta condenado
ao fracasso. Pois não temos nenhuma “Vida de Jesus”. Qualquer que
conscientemente queira escrever sofreria uma tremenda pressão da historia
e não faria qualquer justiça a Ele. Um não pode, nem deveria, separar
jamais os evangelhos – que nos descrevem o curso que Jesus Cristo seguiu
através da vida humana para cumprir o conselho de Deus e em
concordância com a vontade revelada de Deus para a auto preservação na
redenção evangélica – desde a profecia do Antigo Testamento; não da
historia da salvação e da redenção, das quais Ele veio em primeiro plano de
acordo com o Plano – assim como esta historia é Dele e esta determinada
por Ele; não das epistolas de Paulo e dos outros autores das epistolas do
Novo Testamento; nem ate do Apocalipse com o qual a Bíblia completa o
seu ciclo. Este Apocalipse, também, contem uma descrição da historia, não
apenas concernente ao futuro, mas também concernente ao passado
(Apocalipse 1:12), e ate concernente ao que era contemporâneo de João,
seu autor ( Com respeito a adoração do imperador de Roma como um
aspecto anticristão, capítulos 13 e 18). Ademais, este ultimo livro da Bíblia
nos permite escutar a verdade revelada com respeito a ao pano de fundo e
elementos e tendências constituintes de toda a historia, incluída a historia
cultural; por exemplo, que havia um impulso satânico por detrás da besta do
anticristo (Apocalipse 12), incluída a batalha cultural, é fundamentalmente a
batalha entre a semente da mulher e a semente da serpente; é a antiga
serpente que em qualquer fase cultural nova persegue a antiga igreja como
a mulher e sua semente única e pretende aniquila-los.
Mas não percebe quão insignificante é tudo isto? O ouro, a mirra e o incenso
não são mencionados outra vez nos evangelhos. O dinheiro foi talvez tenha
sido gatado em uma viajem, a viajem para o Egito. O Rabi de Nazaré não
acumulava o dinheiro que aceitava , mas gastava no ministério de Pregador
do Evangelho do Reino de Deus. O precioso perfume foi aceito, não para
ensinar os discípulos algo sobre a riqueza e o uso da mesma, mas para que
Simão fosse submetido a uma pregação que o envergonhasse, ou para
ensinar seus discípulos –-- era um momento crucial ---- com respeito a Sua
morte eminente. Em ultimo caso esse perfume foi na realidade adicionado
aos ingredientes do funeral.
Que pode um fazer com este tipo de informação se , de fato, um não sabe
mais que isto? É esta, então , uma imagem cultural: “As raposas tem suas
tocas e as aves do céu tem seus ninhos, mas o filho do homem não tem
onde repousar a cabeça” (Mateus 8:20)? É realmente um dato técnico-
cultural o seguinte: “ Se alguém não os receber nem ouvir suas palavras,
sacudam a poeira dos pés quando saírem daquela casa ou cidade” (Mateus
10:14)?
Bem, isso pode ser providenciado. Mas o resultado será igual, mesmo assim.
Quando o Rabi de Nazaré estava aqui na terra, o Judaísmo --- apenas para
mencionar uma coisa --- não tinha quase que nenhuma significância no que
concernia as artes plásticas. O pano de fundo deste fenômeno
frequentemente observado não poderia ter sido totalmente digno de elogio
em Sua opinião. Pois mais de uma vez é obvio que foi um vidente e um
profeta. O vidente conhece o que há no homem, e o profeta relaciona uma e
outra vez aquilo que vê no homem com as normas dadas nas Escrituras.
Portanto, Seu olho afiado e sua perspicácia profética lhe mostrou --- mas do
que seria possível conosco ---- que essa deficiência era – – em qualquer
medida, que também foi ---- o resultado de uma interpretação errônea do
segundo mandamento que o Pai de Jesus Cristo lhe havia dado na Lei dos
Dez Mandamentos a Seu povo Israel e a todas as nações. Estaríamos
totalmente equivocados se aplicássemos a denuncia e acusação de Cristo
de que os lideres judaicos haviam tornado nulo e vão o mandamento de
Deus por suas ordenanças humanas somente por aquelas poucas máximas
éticas relativas as quais o leitor médio de uma revista eclesiástica solicita
um esclarecimento ao editor da coluna em questão: Somos nos permitidos
comer embutidos com carne, montar nossa bicicleta no domingo, casarmos
com nossa prima? E muitas coisas como esta. A improdutividade que, com
respeito as artes plásticas, diferenciaram os judeus de quase todas as
nações daqueles dias e depois, deveria, na medida em que uma
interpretação errada do segundo mandamento estava envolvida, ter parecido
uma lacuna para o verdadeiro interprete da Lei, cheio do Espirito Santo, e
como tal deve ter machucado Ele.
Não era isto, em parte, uma das consequências da dispersão dos filhos de
Abraão entre as nações? E esta dispersão não havia sido chamada de o
juízo de Deus? Mostrada nos vestígios, nos rastros ou remanescentes, do
domínio dos poderes estrangeiros que haviam imposto seu domínio de
maneira sucessiva sobre o povo de “Jesus”. Nesta dispersão Ele viu os
resultados do pecado de Israel; e apenas em segundo lugar viu nela uma
preparação para Sua própria missão. A dependência de Israel das outras
nações era para Ele um assunto de castigo. Ele distinguia o pecado, perda,
fraqueza, mundanismo. E não é o pecado o castigo mais severo do pecado?
Esta é a maneira como o profeta Sofonias já havia visto as coisas. Pois
também este profeta havia lançado um ataque fulminante contra os delírios
sobre por exemplo, das modas estrangeiras ou contra a pratica de copiar
costumes estrangeiros (“castigarei naquele dia todos aqueles que saltar
sobre o limiar”, Sofonias 1:8,9). Durante a reforma do Rei Josias este profeta
havia se juntado a batalha contra o pecado dos demagogos gananciosos e
condenou “a maneira assíria de atuar”, assim como os calvinistas
“inabaláveis” ate os dias de hoje entre nós, ao menos em teoria, discernem
um odor ruim na moda de Paris, e um puritano esta em alerta contra
qualquer possível infiltração de uma “quinta coluna” cultural. Pois a
sociedade de sargentos exóticos em sua instrução não merece um nome
mais amável. Um profeta protestou contra a população dos jovens a qual
falava “a língua de Ashdod” (Neemias 13:24); outro clama pelo dia quando
já não haverá cerâmica “canaanita” no templo de Yahvé. As influencias
filisteias são quebradas por um reformador no sul, as sírias são quebradas
por outro no norte. A importação de religiões estrangeiras, ao menos suas
“formas”( como se estas pudessem se separar de seus conteúdos) por
causa das relações comerciais e contatos culturais, é algo que é chamado
com toda claridade de “prostituição” por outro profeta.
Todos os profetas sabem bem que Israel é antes de tudo “igreja” e somente
depois “nação”. Só é nação porque primeiro é igreja. E olha, depois de
tantos séculos esta agora “Jesus”, no meio de Seu povo mostrando que Ele
é o precursor-sucessor de Sofonias e de todos os reformadores, purgadores
do templo e profetas, e apesar disto ainda assim Ele não produz para Seus
“contemporâneos” um sistema detalhado e atualizado de homotética com
respeito as “modas” de seus opositores; assim como tampouco oferece de
maneira direta uma ensino sobre estilo e formas culturais. Mas Ele prega,
guia, ora, segurando Sua bíblia em Sua mão e Seus pescadores em Sua
mão. Ate no tema dos problemas matrimoniais Ele se recusa a pronunciar-se
entre as duas teorias que lhe são apresentadas com respeito ao direito do
divorcio ( a doutrina de Hillel contra a de Shammai, Mateus 19). Jamais viu
a uma mulher no sentido em que os homens as veem hoje. Que é tudo isto?
É negativismo? É ascetismo? É uma questão de renunciar as riquezas da
vida que certamente podem ser consideradas riquezas? É um anseio por
uma dome des invalides? Por favor, deixemos de fazer perguntas. Ao invés
disso devemos perceber que com nossas questões sem respostas nós
somos enviados de uma lado para outro enquanto a luz plena bíblica
concernente a Cristo não tenha amanhecido (nos iluminado) sobre os feitos
de Jesus.
11 .
Portanto, o problema não é outro que “Jesus Cristo e a Cultura”
Pois nesta interconexão dos dois nomes nos é dado a chave para a solução.
Jesus: a essência de Seu oficio ( para salvar de maneira pleromático, ou
seja, salvação divina plena). O Cristo: a legitimidade de Seu oficio ( Ele foi
ungido “com o Espirito”, não com algum unguento somente; e por
conseguinte: Ele sempre realiza o que definitivamente quer realizar em um
sentido pleromático). Esses dois nomes que foram combinados desta
maneira somente um vez, de forma exclusiva, nesta única Pessoa com duas
naturezas distintas, criam estilo no que parece faltar estilo, e uma corda fora
dos tons individuais (isolados). Agora que a luz das Escrituras temos visto
estes dois nomes combinados nEle, temos em nossas mãos a pista certa e
somos capazes de ler a musica da “vida de Jesus”: Ein wohltemperiertes
Klavier. Pelo contrario, não “um”, mas “o” Clavicordio bem afinado.
De modo que isto concerne (se aplica) ao primeiro termo do nosso problema.
Além disso, a partir do cumprimento do mesmo oficio também obtemos uma
visão clara do segundo termo de nosso problema: a vida cultural, a tarefa
cultural, o conceito de cultura.
12 .
Em tudo que foi abordado anteriormente temos enfatizado, uma e outra vez,
o fato de que Jesus Cristo não pode ser conhecido aparte das Escrituras ---
as quais, por certo, Ele mesmo cita com o proposito de provar Sua
identidade. Tínhamos que ter colocado nosso dedo neste detalhe porque de
outra forma não chegaríamos aonde devemos chegar. Houveram centenas
de “Jesus” (Joshuas). Eles ainda estão por ai, nos guetos e nos mercados.
Falando estritamente, também houveram milhões de “cristos” (ungidos) e
ainda estão por ai, nas catacumbas e felizmente também nas praças das
cidades. Entretanto, quanto ao filho de Maria e José (como se supõe), o fato
de que Ele, de maneira verdadeira e exaustiva, merecia ser chamado de
Jesus ( Joshua), e que nEle a designação divina seria definitiva, a
habilitação suficiente, e assim foi, e ainda hoje é --- isto não sabemos a
partir do som dos nomes, e tampouco deduzimos isto de Sua parúsia
(segunda vinda de Cristo) ou de Sua aparição, mas ouvimos das Escrituras.
E agora que sabemos tudo isso, vemos que, ainda que as Escrituras jamais
separem da gente o oficio do Cristo, e nesse sentido jamais o isolem ou o
abstraiam da gente, entretanto Sua unção totalmente única e exaustiva,
definitiva e pleromatica, e isto associado com sua Pessoa eternamente única
( constituída de duas naturezas distintas), o constituíram como o segundo
Adão e como um Mediador totalmente diferente de qualquer um em toda
Sua obra. Sua obra, uma vez que foi e é a obra que pertence ao Seu oficio,
esta buscando a todos nós. Mas devido ao que foi e é a Sua obra, sempre
define Ele em seu serviço único para Deus. Um não pode copiá-lo sem
menospreza-lo ( o julgar mal). Há milhares de soldados, mas so existe um
general (comandante supremo do exercito). Qualquer que pretenda ver esse
general imitado, paralisa todo o exercito. O general esta intimamente
conectado com todos eles, e ele decide qual será a regulação uniforme para
todos, mas ele mesmo é “sem regulação”. Embora , a lei do pais esteja
escrita em seu coração. A lei e o uniformidade são duas coisas diferentes.
Este oficio o colocou entre os homens, como alguém que jamais estaria
autorizado para isolar-se mas que estaria completamente sozinho no idion
de Suas “experiências internas”. Pois “experiência interna” significa:
experimentar que a palavra que Deus falou sobre nós acabe sendo verdade.
Bem, então, uma palavra bem peculiar foi dita com respeito a Ele, uma
palavra relevante a Sua situação única. Somente suportando esta solidão
poderia Ele agradar (louvar) a Deus e fazer que fosso louvado por uma
“grande multidão”. Este oficio o engoliu (tragou) totalmente, inclusive
corporalmente . O obrigou de forma absoluta. Dominou tão completamente
Sua vida espiritual e corporal que toda Sua carne e sangue se dedicou
plenamente a aquela grande batalha que iria libertar por lei, com poder,
diante da face de Deus (enopion theou: coram Deo). Quem não sente de
maneira imediata que, em principio, se tem dito tudo a respeito do status de
Jesus como uma pessoa não casada? Quem não sente que não haveria
sido mesmo capaz de “curar/sanar” o casamento, incluindo o casamento
como um aspecto cultural, se Ele, como o Servo do Senhor, não tivesse
tomado sobre Se mesmo Seu jugo, sem a adoção ou co-adoção dos “filhos
que lhes foram dados” de acordo com a lei da carne e sangue? “E, visto
como os filhos participaram da carne e do sangue, também ele participou
das mesmas coisas”(Hebreus 2:14). Pois Ele não se envergonhava de ser
chamado o nosso irmão, certo? Este é Seu oficio. Mas certamente se
envergonharia de ser chamado o padre (físico) de alguns outros. Pois este
não é o Seu oficio. Seu estado de não casado não é um padrão para nós,
nem um humilde ideal “elevado” para o homem que não tem o dom da
abstinência. Seu oficio é totalmente único. Uma pessoa que tenha visto este
oficio saberá realmente o que pensar acerca de todos aqueles detalhes que
mencionamos anteriormente e qualificamos como enigmas. O ouro dos
magos do oriente, por exemplo, e seus presentes de incenso e mirra,
haviam apenas de servir a grande comissão. O precioso unguento, a peça
tecida, a mesa fina na casa de pessoas de destaque (proeminentes) – todos
tiveram que servir como complemento de Seu oficio. Pois na verdade, Ele
não tinha um lugar onde recostar a cabeça, mas isto não era nenhuma prova
de desrespeito a , e tampouco era um protesto silencioso contra o fato de
morar em casas requintadas; pois os profetas não amaldiçoaram aqueles
que viviam em casas requintadas mas somente o pecado daqueles que
estavam morando nestas casas e ao mesmo tempo negligenciavam o
templo. Não, foi uma causa de sofrimento necessário em sua luta para nos
dar a verdadeira cultura, entre outras coisas: nesta batalha Seu Deus jamais
lhe deixou ir “sem autorização”. Ele selecionou os Seus pescadores,
pessoas de todos os tipos, não como se, sociologicamente falando, somente
os pobres e despretensiosos neste mundo cultural pudessem agradar a Ele
( além de que aqueles galileus não era tão “pobres”), mas porque Ele
também tinha que trabalhar entre as pessoas da Galileia: e além disso, não
escolheu unicamente pescadores, nem exclusivamente galileus. Os
escolheu dentre os pobres? Um diz que sim Ele fez, o outro lembra de vez
em quando que alguns deles deixaram para traz um negocio: não eram,
neste caso, pobres diabos que reviravam os olhos cheios de inveja contra os
ornamentos das damas de Jerusalém, mas heróis determinados que tinham
desistido da “mina de ouro” de seus negócios: a profecia concernente ao
Messias tinha feito seus corações arderem dentro deles. Cristo escolheu
aquelas pessoas para o apostolado porque queria que eles pregassem que
o ouro talvez possa adornar a cadeira dos proeminentes se essa cadeira
não foi feita sobre a fundação do que faz um grande perante os homens,
mas sobre a fundação do que torna justo perante Deus.
Ainda que cure outros, inicialmente passa por eles, mas faz isto porque os
deixa para serem curados pelo poder carismático de Seus apóstolos. Ali Ele
quer mostrar que, assim como Seus apóstolos curam os doentes depois de
pentecostes, Ele mesmo, com Seu Espirito, voltou a este mundo neles,
continuando vivo depois de Ele ter morrido.
Mas quem vera alguma vez neste fato de deixar os enfermos em suas
enfermidades ( exemplo, aquele servente na porta do templo) a luz disto, se
“Jesus” não tivesse sido para ele o Cristo, o Cristo cuja “visão” aqui esta
acompanhado da profecia?
Sim, de fato, Ele quer ser entendido como o Cristo das Escrituras, também,
a fim de ser capaz de dar-nos uma visão sobre sua atitude positiva para as
dificuldades que abordamos no capitulo 10. Ele falará seja direta ou
indiretamente, e fundamentalmente, sobre arquitetura, artes plásticas,
musica, moda, sobre a luta entre a tendência a nivelação do
desenvolvimento cultural e o impulso de manter o caráter especifico de um
povo. Entretanto, Ele fala isto somente como o Cristo, como aquele que,
sendo a Palavra eterna e incriado (não foi criado, não tem inicio), ate antes
do nascimento de “Jesus”, dominava a historia e a cultura de todas as
nações, e quem na festa de pentecostes iniciou Seu período de trabalho de
“mil anos” do dia da Ascensão e Pentecostes até Sua segunda vinda. Neste
período final da eterna, e agora encarnada Palavra de Deus, Ele deve
completar e aperfeiçoar Sua obra como Cristo --- em todos os aspectos,
também no que diz respeito às questões e lutas sobre as "culturas" do
passado, presente e futuro; e, além disso, também através da criação de
uma cultura cristã no meio do mundo.
13 .
Ademais, também com respeito ao segundo termo do nosso problema, isto é,
para o desenvolvimento do conceito de “cultura” ou “vida cultural” que esta
em plena harmonia com a revelação de Deus, o conceito Escritural do oficio
tem um significado direto e fundamental. Somente quando levarmos em
consideração e com fé o conceito do oficio, como foi compreendido tão bem
por João Calvino, se colocara um fim ao jogo mental tedioso em que um
joga a “religião” contra a “cultura”, e o outro, a “cultura” contra a “religião”.
Mas quando mais uma vez voltarmos ao segmento, seguindo esta pesquisa
provisional de um ponto de repouso para nossos pensamentos, então vemos
a Cristo em Seu oficio no meio da história mundial. É de tal maneira que se
desenvolve o conceito da “metade da história”(Tillich et al.) em concordância
com as Escrituras. Não é nenhuma “categoria”, no mesmo nível com o
“conceito limitador” de um assim chamado “começo” a-historico ou com
aquele de um “eschaton” igualmente a-histórico – tomado mais uma vez
como um “conceito limitador” --- mas que é resultado de uma genuína
medida do tempo e da divisão do tempo em períodos atuais. Certamente
havia um começo histórico; foi ali que o homem foi criado e quando caiu em
pecado. Também haverá um fim: quando todos receberam as coisas feitas
“em seu corpo” (por ele em sua existência temporal aqui embaixo). De modo
que a “metade” da história é o período em que o Cristo vem para redimir
esse fim, da condenação de ser determinada exclusivamente pela queda e
ruptura que aconteceram logo após o principio (inicio).
14 .
Para que mais uma vez seja possível que o homem cumpra este serviço
original de Deus, e para trazer-lhe de volta a Ele, tanto de maneira legal
como de fato, Seu mundo e Sua comunidade que realiza Sua obra, Cristo
vem fazer duas coisas.
Portanto, porque para Ele e para toda a gente esta vida eterna --- como a
morte eterna – começou ou começará já aqui, neste “mundo da cultura”, Ele
faz uma segunda coisa. Toda a vida e a morte é agora são dadas a Ele para
serem administradas por Ele, porque eles permanecem determinados no
seu caráter eterno pela razão judicial e constitutiva de Si mesmo na “metade
da história”. De modo que, Ele administra a morte eterna como a sentença
de condenação dada por Cristo para aqueles que estão alienados na sua
existência histórica do Seu veredito judicial (“para o que também foram
destinados” I Pedro 2:8). Por conseguinte, Ele vem a fazer duas coisas, por
meio do Seu Santo Espirito, ( quem promove/impulsiona “a metade da
história” para o seu “fim”). Por um lado, ele irá, no mundo cultural, fazer com
que as uvas da terra amadureçam para que sejam pisadas na prensa da
administração da irá de Deus. Por outro lado, Ele virá, por meio do mesmo
Espirito Santo, em quem Ele mesmo “completa” os “mil anos” de Seu próprio
domínio de paz, para equipar a comunidade trabalha e a comunidade de
Deus que exerce o oficio o qual Ele mesmo comprou para o trabalho e
serviço de Deus, com o objetivo de que todos os seus membros viventes
pudessem entrar a cidade da gloria perfeita.
De modo que é uma batalha judicial.
Esse duplo cumprimento de Seu oficio faz transparecer para nós a vida de
Cristo como portador do oficio tanto aqui embaixo como lá em cima e é de
importância primordial para o problema que esta sendo considerado.
15.
Pois na operação deste oficio, o qual foi chamado, e para qual também é
perfeitamente capaz, este mundo corrupto experimenta mais uma vez o
milagre da aparição do homem completo, belo, original, ou se você preferir,
o “ideal”. Embora seja no estado de humilhação, esta integridade e pureza
pode ser vista apenas de forma oculta: a aparência de uma natureza
humana pura e sem pecado que sempre responde em tempo ao chamado
de Deus, na fidelidade de Sua Lei. Ainda assim, todavia não obteve sua
recompensa, a qual o glorifica externamente também, outorgando-lhe
imortalidade a Sua natureza humana. A recompensa, que também lhe
glorifica publicamente, lhe é dada no estado de glorificação: Ele tornou-se
um Rei em Sua Beleza. O salmo 110:3 se cumpri sempre nEle: e mais de
um filósofo cultural gostaria de ter escrito essas belas palavras, apenas no
momento em que você tenha entendido.
Nada menos que isto foi o que Cristo encontrou escrito na ordem do
dia que Deus havia inscrito no coração do Homem cultural do começo
(princípio), o homem sem mancha no belo jardim sem uma porta
chamada “The Beautiful”, pois o jardim estava aberto ate então.
O que Ele leu ali chamou tanto a Sua atenção e o dominou de tal
forma que – que apenas para exemplificar --- narrou a parábola dos
talentos, onde se ensina este ABC mais uma vez – pois reformar
significa voltar a ensinar as pessoas o ABC – como o último ( como
parece ser a partir dos evangelhos sinópticos ) antes que Ele, em
concordância com Seu ofício, recorreria ao caminho de Seus
sofrimentos e ressureição. Foi a ultima coisa que Ele narrou antes da
chegada do Seu Reino de “mil anos”. Aquilo o impactou tanto que em
Sua ultima grande oração pela igreja “estabelecida” nos dias de Sua
humilhação disse ao Pai “não peço que os tire do mundo, mas que os
guarde do mal” [João 17:15], que os guarde ali, não em seus
esconderijos (claustros), que se converte em um refugio da religião
obstinada, um refectório da fadiga, caso não tenha janelas e sem uma
porta aberta para o mundo.
16 .
Esse último ponto – o ABC dos primeiros dias do mundo – é o ponto crucial
do nosso argumento. É nesse preciso momento que a porta se encontra
sobre as dobradiças e deve encaixar. E – apenas aqui ela pode encaixar.
Pois apenas aqui chegamos à possibilidade de elaborar o conceito de
cultura antes dado, porém de forma provisória. Pois cultura é uma palavra
que pode ser encontrada na primeira página da Bíblia: “Tomou, pois, o
SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o
guardar.” (Gênesis 2:15; 1:28). Essas primeiras páginas da Bíblia são as
páginas “do ABC”. Elas contêm esses três breves mandamentos na
descrição da fase do assim chamado “pacto das obras”. Elas já se encaixam
no mundo virgem que ainda não foi completo; ou seja, que ainda está em
processo de desenvolvimento – de acordo com o plano da criação – para
alcançar o fim, a teleiosis, a entrada no estado de completo crescimento.
Logo, essa primeira página da Bíblia, repleta como ela é de regulamentos do
pacto, é diretamente de interesse cultural. Pois O próprio Criador é
interessado na cultura. “Cultura”, finalmente, é uma palavra que deriva do
latim colere. Colere significa “cultivar”, “cuidar de”. O agricultor que ara seu
campo está ocupado com essa colere. Há um campo, que é uma promessa.
E há semente, que também é uma promessa. Mas há também o fazendeiro,
que significa: “um mandamento com uma promessa”. Como criatura de Deus,
ele foi colocado numa unidade cósmica junto com o campo e a semente. Ele
mesmo é também um “campo” do eterno Espírito, e ao mesmo tempo ele é
semente. Ele também é, em sua inteira existência corporal, uma criatura das
mãos de Deus, inclusive sua “consciência” e sua percepção. Como criatura
de Deus, ele, também, é incluso quando a Confissão Belga afirma que todas
as criaturas são vários personagens num elegante livro (Artigo 2). Mas Deus
o colocou como uma criatura pessoal, não apenas em, mas sobre todas a
vida criada. Ou seja, o homem é, com sua consciência, não apenas um
personagem no livro da criação, mas também um leitor desse “livro”: ele
deve ler e entender também ele mesmo como personagem, apesar de
nunca se isolar das outras criaturas. Deum scire cupio, et animam: eu desejo
conhecer Deus e a alma. Esse ditado bem conhecido significa, quando se
trata dessa “alma”, conhecida através de Deus, que ela – ou nos deixe dizer:
a consciência, a vida consciente – é um personagem nele, mas também um
leitor do livro de Deus. Então, o homem, como um ser pessoal-espiritual,
como um chamado trabalhador de Deus e como o coroado vice-regente,
encontrando e semeando toda semente, deve tirar do campo o que se
encontra nele. Isso é agri-cultura.
No entanto, para poder cumprir essa tarefa, como senhor desse campo, e
também, sendo um ser pessoal, para confessar que ele (ele de forma
consciente) é um com esse campo, sob Deus, deve dar-se à tarefa da auto-
cultura. Esta auto-cultura encontra imediatamente seus limites aqui
estabelecidos. Pode ou não até ser chamado de “personalismo”. Assim que
a “pessoa” é considerada “divina”, ou (o que é fundamentalmente a mesma
coisa) como um fim em si mesma, como um leitor que não mais quer ser um
personagem no livro de Deus, ele caiu na idolatria, uma idolatria da
“cultivação de pessoas”. Ele então esquece que no “livro” da criação, o
nome de Deus deve ser lido e que o Deus que pode ser conhecido através
desse livro como Criador e Recriador é transcendente a um nível infinito
qualitativamente distinto de todas as criaturas. Auto-cutlivo,
autodesenvolvimento, essa askesis positiva (!), ou seja, o treinamento do
aspecto de criatura em nós mesmos, para que o que é humano e
característico de uma criatura possa encontrar seu officium naquilo que o
homem como criatura possa ver seu munus e cumpri-lo – isso é bom e até
ordenado. Sua mão deve semear e depositar a semente no campo do
mundo. Ele deve ser o meio pela qual, em é e fidelidade às promessas que
Deus falou aos seus colegas de trabalho, as promessas silenciosas que
Deus deu às suas criaturas, cada uma em seu próprio contexto, deve
encontrar seu cumprimento apropriado. Em tal auto-desenvolvimento, tal
auto-cultivação, ele se prepara para a tarefa de crescer e ele deixa seu Deus
ter prazer também nele mesmo como um campo ativo.
Essa era a sábia intenção de Deus quando Ele criou o mundo. Não
agradava a Ele criar o mundo totalmente completo. Ele o criou apenas bom.
O mundo, tal como procedeu das mãos de Deus, era um mundo-na-
promessa, um mundo em esperança; e já que ele era bom, essa esperança
não poderia ser chamada de “ociosa”. Nem as ordenanças da criação,
aquelas “leis” fixas, seriam invalidadas algum dia, “sem poder” (até nossa
perfeição) a não ser pela “carne”. Ou seja, quando o pecado faz sua entrada.
Não que o pecado possa colocar de lado as ordenanças da criação.
Definitivamente não. A continuidade delas é a primeira condição para a
bênção assim como para a maldição – ambos foram anunciados no paraíso.
No entanto, as ordenanças da criação, que num mundo obediente sempre
torna as bênçãos concretas e as multiplicam, farão o mesmo num mundo
caído quando se trata da maldição. Então elas são “sem poder” quanto à
bênção, mas não quando à maldição.
Foi assim que Deus falou imediatamente nas sanções do Seu “pacto das
obras”, e assim, Ele colocou todo o mundo, o homem em particular, sob
grande pressão, sob “tensão”. Pois para o homem, chamado de colega de
trabalho de Deus (e também sob Ele), o mundo não era um mundo do
“ômega”, mas sim do “alfa”. O mundo paradisíaco era um começo. E nesse
começo, foi dado, em princípio, tudo que deveria estar lá potencialmente
para deixá-lo crescer e se tornar um mundo completo de perfeita ordem, a
polis, a civitas, a “cidade” (estado) de Deus, projetado de modo paradisíaco
e presentemente construído. Se um dia, ele estará completamente crescido,
ele precisa de um processo histórico de vários séculos. Nós estamos, de
fato, num “ínterim”: mas ele jaz não entre uma “história” primitiva e uma
escatológica, ambas as quais seriam a-históricas, mas entre as “primeiras” e
as “últimas” coisas, que são históricas como as coisas no “meio da história”.
De outro modo, seria irracional falar de um “meio”. A realidade paradisíaca,
então, é definitivamente não uma chamada “maior” realidade: nem é Adão. É
apenas uma realidade virgem: mas para o resto, ela é, muito concretamente,
inclusa no tempo, sóbria, real, histórica: há carne e sangue nela, como
também há alma e espírito. E Espírito.
E agora, nesta sóbria, rasa e plana realidade da vida paradisíaca histórica,
Deus anunciou que Ele executaria uma evolução na fundação da criação.
Essa evolução, de acordo com a natureza da vida criada não pode
acontecer sem a energia que flui de Deus, nem sequer por um momento.
Mas de acordo com a própria palavra de comando de Deus, que cria ordem
e que atribui a cada coisa seu próprio lugar, ela não deve acontecer, nem
sequer por um momento sem o homem como homem de Deus agindo como
colega de trabalho de Deus. “Porque de Deus somos cooperadores”; lavoura
de Deus, edifício de Deus sois vós.” (I Coríntios 3:9). Isso não é um sedativo
póstumo proclamado por Paulo para uma igreja reclusa em algum lugar
isolado. Não, isso é uma questão de voltar de um modo imperativo para os
“primeiros princípios do mundo” Isso não é apenas um texto apropriado para
o sermão inaugural, mas é também o texto diário para qualquer trabalhador
cultural, para o professor tanto como para o varredor de ruas, para o
cozinheiro e para o compositor de uma Sonata ao Luar.
Logo, o primeiro mandamento com um promessa diz: “cultive o jardim”.
Nenhum castelo nos ares é prometido nesse verso: nem sugerem eles uma
chamada “realidade superior”. Cultive o jardim – aqui, primeiramente a pá,
um instrumento cultural, e mais tarde, botas de borracha, não são colocadas
nas nossas mãos, mas o espírito criado do homem deve inventá-los de
acordo com tempo e espaço e criá-las e adaptá-las às mãos que cultivam e
aos pés que abre e pisoteia o solo. Pois a mão e o espírito trabalham juntos:
o homem deve “cultivar”. Cultivar o jardim – aqui nenhum sermão
moralizante e introspectivo é apresentado, mas há um mandamento
concreto para o trabalho e a vida, um trabalho altamente espiritual e,
consequentemente, diário. A ética do ínterim bíblico podem operar apenas
com um lex que possa ser compreendido. Um “mandamento” de que um não
pode se abrir mão, uma Palavra de Deus com que não se pode trabalhar
não o permitiria cumprir seu chamado pedagógico de prescrição. Pois o
jardim pode ser chamado de “paraíso” e nossa retórica lírica infelizmente
pode o ter mudado como por mágica em um lugar isolado, solidamente
cercado onde zéfiros assopram e que, aparentemente, apenas um
romantismo popularmente mal interpretado pode escrever sobre. Mas, na
verdade é algo completamente diferente. O jardim é o começo de adama, do
mundo habitado. Logo, é também o começo do mundo cultural. O jardim jaz
aberto. Logo, nós previamente falamos do belo jardim, mas um sem cercas
chamado “O Belo”. Tudo aquilo que surge do mundo flui desde ali, incluindo
aquilo que surge da vida cultural e de todos os seus processos. Pois a
CULTURA se torna AQUI:
A BUSCA SISTEMÁTICA DA SOMA TOTAL DO
TRABALHO, QUE SE ALCANÇARÁ POR MEIO DE
UM PROCESSO, PELA SOMA TOTAL DE TODOS
OS SERES HUMANOS COMO PERTENCENTES A
DEUS, SE EVOLUEM PARA DEUS NA HISTÓRIA
COM E PARA O COSMOS, E ESTÁ PREESNTE
EM QUALQUER MOMENTO HISTÓRICO, TENDO
ASSUMIDO A TAREFA DE DIVULGAR AS
POTÊNCIAS DORMENTES NA CRIAÇÃO E
ESTAS, SUCESSIVAMENTE, CHEGAM A ESTAR A
SEU ALCANÇE DURANTE O CURSO DA
HISTÓRIA DO MUNDO; A TAREFA DE
DESENVOLVER-LAS EM CONFORMIDADE COM
SUAS NATUREZAS INDIVIDUAIS, DE PÔ-LAS A
SERVIÇO DE SEU MEIO, TANTO PERTO COMO
LONGE, DE ACORDO COM SUA RELAÇÃO
CÓSMICA E EM SUBMISSÃO ÀS NORMAS DA
VERDADE REVELADA DE DEUS; E TUDO ISSO
COM A INTENÇÃO DE TORNAR OS TESOUROS
ASSIM ADQUIRIDOS ÚTEIS PARA O HOMEM
COMO CRIATURA LITÚRGICA, E,
SUBSEQUENTEMENTE, TRAZÊ-LOS , JUNTOS
COM O HOMEM AGORA MAIS BEM EQUIPADO,
ANTE DEUS E PÔ-LOS A SEUS PÉS, PARA QUE
ELE SEJA TUDO EM TODOS, E EM CADA
TRABALHO POSSA ALEGRAR SEU MESTRE.
_____________________________________________________________
_______
10 Veja mais em: K. Shilder, Is de term 'algemeene geneade'
weteschappelijk verantwoord? (Kampen: Ph. Zalsman, 1947).
19 .
O filho de Deus agiu imediatamente depois da Queda, ainda não como
Jesus, mas como Messias, conhecido apenas por Deus, sendo o Logos
asarkos incarnandus, a Palavra ainda não incarnada, que ainda iria chegar a
ser carne. Ele entrou em ação para começar a obra e o ministério da graça
nesse mundo, e para marcar como sendo determinado pela Sua obra, o
terreno (não o da eleição e da reprovação, pois o terreno deles é
unicamente a boa complacência de Deus) da salvação e da condenação. O
fundamento da salvação seria: os méritos de Cristo. O fundamento da
condenação seria: a culpa do homem, que, depois da Queda, prova estar
determinada pela presença da obra de Cristo: a culpa do homem é a sua
rejeição a Cristo. Assim, pois, Cristo age tanto como o Salvador-Redentor
como o Salvador-Vingador. O elemento construtivo em abas as funções é:
Sua obra evangélica de redenção, que nunca está satisfeita em ser uma
quantidade insignificante.
Porque neste espírito e com esta dupla intenção, Cristo tomou sobre si
mesmo o fardo do mundo, Ele se tornou o Redentor do mundo, incluindo a
cultura. Além disso, Ele também deu – a partir de agora, cristologicamente
determinado -sentido a toda atividade cultural. Este significado
cristologicamente determinado é universal, geral. A graça nela não é
universal, mas comum. É a única graça para salvação, redenção e recriação.
Pois Cristo agora garante que o mundo, que no conselho eterno de Deus
havia sido “preordenado”, retornaria a Deus, seu Criador.
Consequentemente, uma história de muitos séculos é , por sua própria
causa, “inserida” entre o primeiro pecado já cometido e a maldição final.
Repetimos: por Sua causa. Depois do que temos dito, isso não pode
significar: apenas por causa da Sua obra redentora (ou por causa dos
eleitos). Isso deve significar: por causa da sua dupla função como Salvador-
Redentor e como Salvador-juíz. Ele dá espaço à história para que tudo que
aconteça possa ser cristologicamente determinado: tanto pro como contra. E,
claro, o verbo “inserir” é nada mais que linguagem metafórica. A história
apenas aparenta estar “inserida”. Mas na realidade, ela foi determinada
desde a eternidade. Na história, Deus abre espaço para a toda dominante
obra da redenção de Cristo e para sua aparição no presente, como Jesus,
para morrer aqui na Terra, levantar-se novamente dos mortos e mudar o
curso do mundo, mudando a direção do leme com mãos de carne e sangue
através do poder do Espírito de Deus.
Nessa história – estabelecida pela vontade de Deus para que o mundo
possa se manter, ainda quando se trata de um mundo caído- Cristo deve ser
considerado como Aquele que leva todos os fardos do mundo, enquanto Ele
transfere todos os prazeres do mundo a Deus o Pai, para que Deus possa
ser tudo em todos – veja os versículos de conclusão em 1 Coríntios 15. De
modo que Deus dirige tudo que acontece nesse mundo em direção a Cristo.
Ele direciona toda a cultura em direção a Cristo, que deve determinar a
plenitude do tempo: a cultura das nações antigas antes do dilúvio, a cultura
do Egito, Pérsia, Roma, Grécia e Babilônia. Tais profetas do advento de
Cristo como Isaías e Daniel são os instrutores de todo filósofo cultural
verdadeiro. Por causa dEle e também por Ele, cada processo é dirigido a
este pleroma do tempo. E portanto, toda cultura tem que servir para criar
espaço para uma aparente manjedoura cultural, e também para uma cruz
em aparência culturalmente indiferente, e para abrir em breve um buraco,
em algum lugar num jardim pertencente a José de Arimateia. Porém, na
manhã de Páscoa, o corpo desse Filho do Homem se levanta outra vez
dessa tumba, estando inteiro, são e em perfeitas condições. Então ele
regressa ao mundo de Deus no espírito, este Cristo Jesus, e põe o mundo
em seu lugar devido. Ele põe pessoas sãs - ou seja: renascidas - no lugar
em que lhe é adequado e sara sua vida, tanto que a vida reconhece ele
como a Cabeça mística (por exemplo, escondida) da Sua comunidade.11
Desta forma, se restauram as relações respectivas, em princípio, com sua
origem eticamente normal (como temos visto, as normas originais são as
ordenanças naturais para a vida criada). A carne e o sangue não proclamam
nenhuma norma ética, apenas o Espírito, através da palavra de Deus, faz
isso – incluindo aquilo que está relacionado com o governo, estímulo e a
subserviência escatológica da carne e do sangue.
Isto porque, quando o mundo estava submetido a uma pseudocultura que
não reconhecia a Deus como o Proprietário do cosmos, que arruinava as
coisas e, então, deteriorava a cultura, um punhado de simples artesãos em
pequenas cidades da Ásia menor – obreiros que, pela pregação do
evangelho de Cristo, aprenderam a servir a Deus em seu trabalho diário,
enquanto diligentemente e com suas mentes postas em Deus, curtiam um
pedaço de couro ou faziam uma tenda ou completavam certa tarefa, - faziam
mais, precisamente, pela cultura, que toda a comitiva imperial de César de
Roma com seus palácios, suas bailarinas, seus mecenas e sua metrópole.
Por causa disso, quando um certo dia uma escolta de prisioneiros foi levada
a Roma, entre os quais se encontrava um certo Paulo, este homem foi de
maior significância, particularmente, para a vida cultural, do que toda Roma
embriagada em cultura: ele significava uma mudança radical contra todos
aqueles proeminentes personagens que dirigiam o espetáculo – ele, que
chamou a si mesmo de “aborto”.
Sim, de fato, isso é verdade, alguém pode dizer, pois mais tarde Paulo iria
criar cultura através de seus seguidores. Mas, não, dizem os anjos, ele criou
cultura justamente ali, naquele mesmo momento. Um homem com caráter,
um homem de Deus, entrou na decadente e corrupta cidade de Roma, um
construtor de tendas e um filósofo, um teólogo e missionário; alguém que
teria a coragem de olhar nos olhos do imperador, até quando o mesmo não
tinha coragem para fazer o mesmo. Um homem que mostrou a seus
companheiros de prisão uma grande luz, e que converteu uma casa alugada
em Roma na precursora de uma academia filosófica. Há um pequeno poema
escrito por um poeta latino que diz:
Occurri nuper, visa est mihi digna relatu
pompa: senen potum pota trahebat anus
Ou seja, na rua eu encontro uma estranha procissão: uma velha feiticeira
bêbada estava arrastando um companheiro velho bêbado. Me perdoe esta
tradução rudimentar, mas ela se encaixa aqui. Este pequeno som, em seu
realismo e também
_____________________________________________________________
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11 “Místico” é um adjetivo (cf. união mística). O substantivo “misticismo”,
porém, designa algo repreensível: a doutrina e os métodos de um (suposto)
imediato conhecimento de Deus – as escrituras não permitem nenhum
espaço a tal coisa.
em sua franqueza histórico-cultural, é tão típica dos dias em que o apóstolo
Paulo entrou na cidade de Roma embriagada de cultura como aquela outra
pequena canção em que um imperador de Roma se lamentava por sua
“alma” por causa de sua pobreza e, displicente, a dava boa noite. Sim, na
verdade, isto era típico das grandes cidades naqueles dias: a bebedeira, que
é então considerada uma piada. Os relacionamentos estavam virados
completamente ao avesso: a mulher arrasta o homem atrás dela, o cabelo
grisalho não é mais uma coroa elegante e o poeta, rindo, faz dinheiro com
isso. Aqui vemos a queda de todo esse mundo. Mas então, o apóstolo Paulo
entrou na cidade acorrentado, pois o servo não é mais que seu mestre. No
entanto, esse Paulo – apesar dele ter um espinho na carne e, de acordo
com sua própria declaração em 1 Coríntios 15:8, foi trazido para a igreja
como um “nascido fora de tempo”, e ainda que soubesse que havia sido
posto na procissão onde não havia muitos ricos, nem muitos nobres, a
procissão dos fracos, daqueles que não são nada nesse mundo, 1 Coríntios
1 – esse homem, Paulo, era, pela graça que lhe havia sido dada, um
exemplo de caráter e sensatez. Incluindo a sensatez cultural. Da mesma
maneira, as sete epístolas, escondidas em algum lugar no começo de um
Apocalipse, no livro de Apocalipse, são, pela graça que fala nele,
monumentos de cultura. E são tão verdadeiramente como o sermão do
monte é um monumento não apenas da história da revelação, mas também
da cultura. Pois no sermão do monte, Jesus Cristo nos ensina daqui da Terra
e nestas sete epístolas, o mesmo Jesus Cristo nos ensina do Céu como na
sala de jantar, no escritório, no tempo, na fábrica, na academia e no estúdio
do artista, deve-se dar conta uma vez mais que o ponto de partida, propósito
e direção são determinados por Deus, que Ele deve preencher seu “sim” e
seu “não” com a força de um juramento, e fazer a sua obra sob a tensão de
viver entre o começo e o fim da história como um kohen, por exemplo, como
uma pessoa que “se põe de pé e serve” diante de Deus. No sermão do
monte e nessas sete epístolas, o mundo dá uma meia volta, como deveria
dar, para assim preparar um fundamento e para edificar uma oficina, mesmo
que fosse para apenas um homem de Deus. Cristo, em princípio, condena
aqui para todos a fragmentação da vida e a conquista na vida de Seu próprio
povo. Ele fundamentalmente conecta as respectivas faculdades até que elas
cheguem a formar uma “universidade”. Novamente Ele vincula a “religião”
junto com a “cultura”, convertendo a atividade cultural em um serviço
concreto a Deus, e quando não é assim, nega a qualquer coisa que não
provém de Deus o nome e a honra de “atividade cultural positiva”. Porque,
estritamente falando, tudo que não provém de fé é pecado. A ânsia cultural
per se é, como vimos, um dos dons “naturais”, os “dons da criação”. Logo,
nós também podemos falar de colere no reino animal. Quem sabe se algum
progresso é feito na questão de organização? Quem sabe se até as
formigas e as abelhas mostraram um certo “progresso” na construção de
seus formigueiros e na maneira de coletar e preservar mel? Mas o uso
proposital desses dons da criação, atividade cultural positiva de acordo com
o mandamento dado por Deus a respeito do propósito e com direção
escatologicamente determinada, é possível apenas em uma obediência
recuperada através do espírito de cristo. O pecado, onde quer que possa
aparecer, também na vida cultural, é incapaz de ser persistentemente moral
em seu pensamento cultural, nem pode construir ou criar de uma maneira
culturalmente positiva. Pois colere significa “construir”, mas o pecado destrói.
No dicionário da revelação original de Deus, cultura é sempre construtiva,
mas o pecado é destrutivo. Nós voltaremos a esse ponto mais tarde.
Como era nos dias em que Paulo entrou tropeçando na cidade de Roma,
assim tem sido desde sempre no mundo. Toda reforma que, dirigida pelo
Espírito de Cristo, retorna às escrituras, a palavra de Deus, é ao mesmo
tempo uma cura da cultura. Quando Martinho Lutero, com sua cabeça
redonda, finalmente casou-se e pode rir novamente de uma maneira
saudável, ele bem valia uma centena de ducados como alguém que
produzia sanidade para a cultura e que ao mesmo tempo a dava direção,
enquanto toda a comitiva papal e imperial valeria dificilmente mais do que
um ducado, até quando se considera o ponto de vista cultural. Isso é
evidente quando se compara as esferas de atividade de países Luteranos e
Católicos Romanos. No entanto, ainda que Lutero tenha cometido erros nos
princípios fundamentais, ou, deixe-me falar dessa maneira, nos fundamentos
da relação entre natureza e graça – erros que foram superados por João
Calvino – os países calvinistas exibiram mais tarde uma construção cultural
que era, em tese e antiteticamente muito mais forte e produziram uma força
muito maior do que era o caso em países luteranos. O caos cultural que
Adolf Hitler deixou atrás de si, porque primeiro trazia consigo, poderia surgir
em países Luteranos inclusive com o apoio de Luteranos “ortodoxos”, porém
enfrentou uma resistência inquebrável e positiva entre grupos calvinistas.
Essa resistência não se despojou de “valores” (que podem ser
compreendidos de forma direta e que possuem uma utilidade tangível) que
se opõem a outros “valores” (o “americanismo”, comunismo versus nazismo,
a democracia real versus uma mística “opinião pública saudável”), mas
continuadamente manteve em mente os projetos históricos do Apocalipse,
os quais são de largo alcance incluem a totalidade da história e que também
são protológicos e escatológicos, e consequentemente conectou suas
atividades culturais com os princípios fundamentais da Reforma Calvinista.
João Calvino em Genebra e Estrasburgo, nos mostra o que o serviço a Deus
é concretamente capaz de realizar, incluindo na área da vida cultural. Ele
criou uma cultura cristã, livre das aspirações imperialistas secularistas que
arruinavam a imaginação de Roma, estando inspiradas pela mesma falsa
distinção entre “natureza” e “graça” que confundiu Martinho Lutero.
Quando pensamos nessas coisas, nos impacta que o nome que o livro de
Apocalipse aplica ao império romano e que é tão significativo precisamente
para o exame e a avaliação cultural é aquele do protótipo anticristão, a
palavra “meretriz”. Quando a Bíblia chama o império romano de meretriz,
tudo depende de uma exegese correta. O mesmo é verdade quando
Martinho Lutero dá ao seminário filosófico uma noz difícil que quebrar
quando fala sobre die Hure Vernunft (a meretriz razão). Isto não era uma
condenação da “razão” (pois uma rameira não está condenada por ser
mulher), mas da razão orgulhosa e pecaminosa que se emancipou de Deus
( como em uma meretriz, apenas o uso da sua natureza feminina contrária à
natureza divina à feminilidade há de ser acusada). Uma única falsa
interpretação da palavra “meretriz” que não mais distingue uma coisa da
outra, é a de que é necessário jogar Martinho Lutero – erroneamente, claro –
no grupo daqueles que desprezam o grande dom da razão dado por Deus.
De igual maneira, uma interpretação indiscriminada do termo “meretriz” e a
igreja de Roma já não sabe em que sentido particular o império era uma
rameira. Era uma rameira em sua perseguição aos cristãos? Oh, não, aquilo
era apenas a consequência. Era uma rameira quando se recusava a colocar
os dons, dons que havia recebido como criatura, a disposição do Deus que
deseja ser o noivo da sua fiel comunidade de colaboradores. Logo, como
consequência de tal exegese falsa, uma igreja mundial pode chegar a
apaixonar-se do que em última instância é a prostituição do império romano.
Então se apresenta uma igreja que atua como “o estado”, idealizando o
estado como um poder cultural, e imitando-o, até ao custo de mutilar o
testemunho cultural, e dessa maneira, esquecendo que a profecia acerca da
relação entre natureza e graça (e também entre natureza e pecado) que é
fiel à palavra de Deus é uma força cultural maior que a mais assombrosa
vitória pírrica de uma igreja culturalmente expansiva. Contra tal vitória pírrica
de Roma, João Calvino visava a restauração. Ele criou uma cultura cristã,
protestante, reformada, precisamente fazendo uma distinção – que não
significa uma separação – entre igreja e estado. Ele chegou ante os recrutas
de Deus com uma ordem do dia que também era uma questão cultural. Ele
viu novamente que no antigo testamento os “pastores” tinham uma tarefa
mais ampla do que apenas cuidar das almas, pois também haviam sido
comissionados para um cuidado natural. Ele ensinou novamente um vívido
amor ao chamado divino, foi a todos os recantos e gretas do mundo, e
aprendeu a entender aquela palavra preciosa da graça e,
consequentemente, também da cultura: “Tudo é vosso[...]e vós, de Cristo, e
Cristo, de Deus” (1 Coríntios 3:21,23).
E o caminho do mundo continuará em concordância com essa lei.
Uma revista da igreja que, quando necessário, faz uma capinagem e
mantém seus pirncípios puros significa mais para a cultura do que um palco
dourado. Contra um ministro que, numa revista reformada semanal,
exclamou que algumas vezes, uma simples dramatização tem mais
significado que sete esboços de estudo, a distinção reformada da natureza-
graça-pecado mantém a opinião de que apenas um esboço significa mais
que sete, até boas encenações, dado que o poder da palavra de Deus é
mais forte que a da imagem, e a doutrina é a doutrina é mais do que um
sinal. Uma família cristã, vivendo um estilo de vida distintivamente cristão
em qualquer complicação que possa encontrar-se, é, para a vida cultural,
outra revelação daquele poder saudável que é buscado em vão em
Hollywood (de qual se dá uma descrição deprimente – especialmente
deprimente, tomando um ponto de vista cultural – é dado no livro de Vicky
Baum, Leben ohne Geheimnis [a vida sem mistério]). Um trabalhador cristão
que se atreve a ser ele mesmo como cristão, novamente representa
salubridade em um mundo a-histórico, americanizado e similar ao mundo
dos negócios; ele vale mais como uma força potencial do que toda uma
escola de ciência que não viu a Deus.
De modo que Cristo se mantém trabalhando, em todo Seu povo, até o fim
dos tempos. Neste mundo, que tem que correr seu curso segundo Seus
direitos validados na Páscoa, Ele, ocasionalmente, coloca à frente novas
forças para a vida cultural em seu sentido mais amplo, por meio de um
milagre criativo solenizado na república da comunhão dos santos: pois toda
nova regeneração, reconhecido na maneira calvinista como a nova criação é
uma questão da Sua intervenção transcendente e misericordiosa, inclusive
na vida cultural. Ele continua e Ele vai presentemente revelar novas fontes,
tão frequentemente quanto na vida de um indivíduo, ou, por conseguinte, em
uma comunidade, esforços são feitos e trabalho é feito no Seu poder e de
acordo com Sua palavra revelada.
Portanto, o livro de Apocalipse desenha uma figura da cidade culturalmente
pura e em descanso do futuro, a nova Jerusalém, com seu perfeito estilo,
um estilo verdadeiramente satisfatório para seus habitantes. Não, essa nova
cidade cultural – nova devido ao fato dela ter vindo à existência pela
renovação e por ser elevada acima do nível da batalha – não chega à
existência gradualmente.
A “catástrofe” do último dia é essencial para sua aparição, também como as
“catástrofes” tiveram um papel fundamental na criação. 12 No entanto, não
devemos esquecer que no momento em que acontece essa catástrofe, seja
“acima nos céus” ou “abaixo na terra” ou “nas águas debaixo da terra”, todos
os potenciais espirituais e materiais já estão presentes que são necessárias
para construir ou restaurar essa cidade cultural e, então, de acordo com Seu
mandamento, continuadamente moldar o material feito disponível pelo
providência de Deus a Sua comunidade de homens, a moldá-la numa
maneira lógica” - que aqui significa, por meio do Logos que se fez carne e
declarou Deus a nós. Esta catástrofe, em si, não criará “caos”, nem destruitá
nem pisoteará nenhuma semente. Pelo contrário, purgará e purificará este
cosmos de todo elemento “produtor” de decadência na cultura. Pois quando
Deus abre os novos céus, não será, por assim dizer, uma donum super
additum que foi obtida por um novo ato de criação, por haver descartado ou
coberto a antiga criação. Esta nova Jerusalém ofuscará o velho lugar de
habitação do homem, mas não cobri-lo como uma redoma. A história sem
fim da maravilha desse lugar de habitação de Deus entre os homens não
será mecanicamente adicionado e imposto como um capítulo
completamente novo que seguirá a narrativa da história do nosso mundo
como uma espécie de apêndice, mas será apenas um relato do evangelho
não reprimido e não diluído acerca do ininterrupto desenvolvimento – dado
por Deus em Cristo – de todas essas forças que foram postas por cristo na
nova (ou seja, renovada) humanidade, a comunidade dos servos de Deus, e
já foram inicialmente desenvolvidos desde então.
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_______ 12 Cf. K. Shilder, Was is de Hemel? (Kampen : J.H. Kok, 1935).
20 .
Aqui, teremos que retornar brevemente a um ponto que já havia sido
discutido na seção anterior. Dissemos lá, estritamente falando, que o
outorgamento de uma licença pela atividade cultural positiva pode ocorrer
apenas quando as pessoas constroem e trabalham de acordo com a
vontade de Deus.
Isso pode ser uma afirmação bastante forte, na opinião de muitos.
Nós imediatamente admitimos que isso precisa de uma ampliação adicional,
apesar de que nós já nos referimos ao fato de que o ato de colere é natural
a todas as pessoas, desde que elas, como um resultado da sua ânsia inata
ao trabalho e ao movimento, participam do cultivo e desenvolvimento dos
cosmos segundo seu envolvimento como criaturas no nunca ocioso campo
de trabalho.
Contudo, há uma possibilidade de mal interpretação que deve ser evitada.
Pois depois da queda, Deus não dividiu o mundo em duas metades para
que uma realizasse serviços culturais de acordo com o mandamento de
Deus e a outra e a outra fosse um deserto ou um caos contendo apenas
ruínas e caricaturas. A mera noção é, em si, absurda. Essa ideia não apenas
se choca com os fatos óbvios mas também não leva a sério cada
pressuposição da atividade cultural.
Não existe nenhuma koinonia real entre os homens, a menos que tenha
sido produzida pelo espírito de Deus. “Koinonia” significa comunhão. Ela não
deve a sua existência ao simples fato de que várias pessoas possuem a
mesma natureza ou os mesmos interesses. Pois se apenas isso
estabelecesse uma comunidade, então haveria uma comunhão de pacto por
todas as partes. Então, não poderia haver um inferno. Aqueles que têm a
opinião de que a comunhão já é estabelecida pelo compartilhamento da
mesma natureza e interesses, esquecem que a mesma coisa é essencial
também para brigar e pelejar uns com os outros de uma maneira que um
realmente toca o outro. Não, comunhão real é outra coisa. Ela pode apenas
ser conquistada onde a mesma natureza é direcionada a uma meta comum
pelo amor aos mesmos princípios básicos e onde quer que os mesmos
interesses forem promovidos em fé comum e esperança e amor. Koinonia
cultural, então, é basicamente uma questão de companheirismo de fé. Aqui
são pertinentes nossas observações a respeito da antítese encontrada
também na vida cultural.
No entanto, ainda que a koinonia una apenas uma parte da humanidade,
existe também uma sunousia, um “estar-juntos”, entre todos os homens.
Agora, Deus impôs uma “sunousia” sobre todos os homens. O trigo e o joio
não foram separados de forma definitiva um do outro. Um dia até essa
sunousia será retirada deles. Porém, as coisas ainda não alcançaram esse
ponto. Em direção a todas essas pessoas posicionadas uma ao lado da
outra em sunousia, vem o comando de se envolverem em trabalho cultural
(cujo mandato é geral, porque Deus não aboliu nenhum mandamento que
seja original e permanente em caráter) como também a ânsia pelo trabalho
cultural é uma característica nata.
Além disso, o material dado que deve-se dar forma é o mundo habitado por
nós (e quem pode dizer se até o mundo ainda não habitado por nós não se
tornará parte da nossa área de desempenho?). Por essa razão não
podemos falar do desempenho cultural de um sem o do outro. A koinonia
nos é dada por Cristo, a sunousia vem de Deus o Criador.
Há apenas uma natureza, mas um duplo uso da mesma: um material, mas
duas maneiras distintas de lhe dar forma; um território, mas um
desenvolvimento duplo dele; uma ânsia cultural, mas duas formas distintas
dela.
E posto que todo processo de modelagem do material, tanto o bom como o
mal, está limitado à natureza, a estrutura e as leis desse material particular,
os produtos do trabalho do incrédulo e dos do trabalho do crente são muito
parecidos. Esta semelhança não é causada pela semelhança de suas
mentes divergentes, e sim por aquele material recalcitrante e rígido. Há uma
grande diferença entre um oleiro e outro, entre um escultor e outro. Um
constrói um tempo, outro constrói um salão de dança, mas ambos vão
buscar sua argila no mesmo poço e seu mármore na mesma pedreira.
Esse é um primeiro aspecto.
Há também um segundo.
Tocamos aqui o problema da “restrição comum”. Pois Deus pôs freio ao
curso do pecado humano. Agora, ainda permanece a rigidez do material a
qual há de se dar forma e permanecerá assim até o último dia. Porém, assim
também será a vontade de se livrar desse material – Fichte, em sua filosofia,
ao menos sonhou com tal “liberdade” - ela também será freada em seu
arrogante avanço satânico neste mundo de restrição geral. Cristo (pois este
controle é um ato da providência de Deus e, por conseguinte, é determinado
pela história da revelação e da salvação) atou Satanás para que ele não
possa tentar as nações durante o período de tempo indicado em Apocalipse
20, exceto no último período dos “mil anos” que compreende o progresso
desde o dia da Ascensão e Pentecostes até a segunda vinda. Ele freou o
processo de pecado e maldição; a “retenção” do Anticristo é um fato. No
entanto, essa retenção do Anticristo se corresponde com a retenção de Si
mesmo por parte do Cristo triunfante. Ele também não permite a Si mesmo
“soltar-se”. Ele, também, ainda não concede a esse mundo, o qual se
encontra freado e mantido sob controle em todos os movimentos da sua vida,
a visão da plena expansão de Seu poder exaltado. Todas as carroças ainda
são mantidas sob controle, todos os cavalos têm as flanges postas. O juízo
está retido, mas também está a graça nesse mundo.
Portanto, nada é completamente desenvolvido e consumado , nada
alcançou sua maturidade. Em nenhum lugar o poder da misericórdia de
Deus se revelou em sua total força, nem no céu. Nem o poder destruidor de
Satanás, de acordo com seu próprio esquema, teve sua influência sentida
em seu total poder em nenhum lugar do mundo, nem no inferno. Qualquer
tipo de música, de anjos tanto como de demônios, é wohltempertiert, e quem
a controla é Deus.
Este é o mistério da restrição comum no problema da cultura (o substrato
da graça comum e o juízo comum antes mencionados). A vida, todavia, não
se dividiu em formas diferentes do inferno e do céu. Os ímpios são, no
entanto, impedidos em seu labor cultural de enlouquecer com raiva contra
Deus no paroxismo do satanismo, ainda que este se derive diretamente de
seu desejo oculto: e a comunhão dos santos de Deus, em parte pelo pecado
que habita neles, mas também pelo governo do seu próprio Rei, que está
buscando as metas da história da salvação e da revelação, é ainda impedido
de cumprir adequadamente o seu papel. De modo que, pelo governo de
Cristo, que restringe tudo até o último dia, há, para aqueles que servem a
Deus, tanto para o aqueles que não servem, a possibilidade de estarem
simultaneamente envolvidos e trabalhando no uso do mesmo fragmento
cultural aqui e ali – obra que acontece em sunousia e é limitado pela
estrutura do material do cosmos. 13 Aqueles que servem a Deus e aqueles
que não o servem não foram geograficamente separados no mundo. O
próprio Cristo os mantém ainda juntos. Nesse mundo misturado e contido
ainda é possível fazer trabalho construtivo, ainda quando os construtores
não são homens de Deus. A família de Noé não foi a única que construiu a
arca. Os candidatos para a morte sempre estão contribuindo com sua parte.
Mas também devemos observar um terceiro aspecto: a saber, que a
temperantia é sempre constante, mas a restrição ou a prevenção não é. Até
agora, nós mencionamos estas duas coisas seguidamente. Isso era
permissível, pois Deus tempera (por exemplo, controla, guia, mantém o
controle) por meios de restrição (retendo). Porém, a temperantia é uma
questão de governo (algo que permanece para sempre, também no céu e no
inferno e em todas as eras) e a restrição é um modo especial de governar
(cujo modo pode mudar). Apocalipse, capítulo 20, e também 2
Tessalonicenses, capítulo 2, nos conta que Satanás será liberto, o que
acontecerá dentro da duração do tempo, e que o que detém o Anticristo um
dia (também no tempo) será “tirado do meio do caminho”. Esta restrição
nunca estará completamente ausente nesse mundo. Porém, estará
completamente ausente no céu e no inferno. No entanto, durante a duração
do tempo, ela não será uma medida constante. Um dia, ela é mais forte que
no outro. Em certos períodos, Deus entrega seu povo a suas ideias ilusórias,
e envia-os (!) uma “energia” de erro (com efeitos culturais horríveis), e em
outros períodos, Ele desperta em Sua igreja o Espírito de arrependimento e
conversão, que, às vezes, faz com que o impacto da pregação da palavra de
Deus penetre profundamente até nos círculos dos incrédulos. De modo que,
esta restrição diminuirá até um mínimo no final dos tempos. Então, qualquer
status quo existente entre a igreja e o mundo será cancelado – de ambos os
lados – também na vida cultural, de fato, precisamente ali.
Então todo o mundo – exceto os eleitos de Deus – se congregarão ao redor
do Anticristo. Então seus milagres (culturais) – que Deus o permite realizar
por meio de sua permissão ativa, ou seja, tornando o material cósmico (com
suas possibilidades inerentes, como descobertas com uma velocidade
impressionante) livremente acessível – irão, como com grandes sinais e
maravilhas falsas, apartar a igreja de sua
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13 A bem conhecida ária da ópera A flauta mágica, In diese heiligen Hallen,
poderia, além do “lugar” onde ela pertence, também ser cantada na igreja,
sem ofender muitos ouvidos. Por quê? Porque a mente do compositor, ainda
que bêbada em temas budistas, foi incapaz de expressar seu próprio ciclo
pagão teutônico de pensamentos em formas adequadas de estilo: o estilo da
igreja, esse produto de vários séculos, ainda o preocupava porque ele não
poderia deixar seu paganismo (Ísis e Osíris) falar (cf. o já mencionado
“silêncio”). Na minha opinião nós não podemos, nessa linha de raciocínio, ter
nosso ponto de partida sendo a graça comum, mas sim a impotência comum,
que é o resultado do temperamento que não permite que ninguém
transcenda a criação.
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22 Cf. Cameron in Bibl. Cr. 1.1.101
23 Cameron, 1.1., Cf. a Lapide, i.v. 475, b.
24 Aretius, Comm. No N.T., 1612, i.l. 249.
25 Irineu mencionado em a Lapide, i.l. 475/6 Cf. Photius, mencionado em
Zanchius. Opera, t. VI 19, b.
26 Aretius, op. cit.
27 Aretius, op. cit.
28 Medium, e ademais: “a ideia causativa... não é devido à voz, mas ao
verbo em si”(-0-00), Robertson, Gramática N.T., 2ª edição, 809.
29.
Nossa sétima e última conclusão, então, é que nossa filosofia cristã da
cultura terá que começar a raciocinar de forma mais consistente sobre a
base do conceito do ofício, procedendo desse conceito de ofício.
Como teórico cultural cristão, não se deve mais tomar seu ponto de vista
na “graça comum” no sentido antes rejeitado. O ponto de partida deve ser: o
chamado original, a tarefa dada na criação, o ofício original – para que não
sejamos entorpecidos pelo otimismo cultural ou desprezo cultural. No
momento em que essa ideia é deixada, até o melhor entre nós começa a
cometer erros.
Dr. Abraham Kuyper, por exemplo, em sua obra De Gemeene Gratie in
Wetenshap em Kunst (1904). p.44. Admite ante Von Hartmann que a
“religião” em sua forma mais elevada se despoja de sua vestimenta artística.
Nós tememos que esse pensamento sobre “religião” seja panteísta em vez
de teísta. Nós somos da opinião que “religião” não “se” veste, e sim,
transforma seus profetas em liturgistas (e não apenas eles) e os veste nas
togas do ofício. Até um artista pode participar em tecer essas vestimentas.
Não, não o artista exclusivamente, mas o artista também – tanto como
qualquer um que tenha uso exclusivo do tear. A “Religião” nunca foi vestida
em aparência artística, mas proveu a muitos uma vestimenta artística com a
marca do ofício e os distribuiu como togas do ofício, no entendimento que
essa marca seria deixada e tolerada por seu portador. Uma vestimenta de
ofício nunca deve ser retirada; em vez disso, sua distinção deve ser
renovada regularmente. É por isso que nós dissemos que no calvinismo, o
serviço a Deus deve chegar a seu próprio estilo peculiar em todas as áreas
da vida, ao ponto que a “restrição” já discutida e a “abstinência” não fiquem
no caminho.
Nós também não, acerca do problema mencionado acima, buscamos
nosso ponto de vista em uma “consciência religiosa inata”, que trataria então
de expressar-se e realizar-se em uma cultura religiosa. Pois o homem,
inclusive o homem piedoso, não deve simplesmente viver de maneira
despreocupada, mas deve cumprir seu ofício.
O conhecimento do seu ofício sempre impulsará alguém a voltar-se à
revelação da Palavra de Deus, com a intenção de reler as normas. A
“natureza”, enigmaticamente, não nos ensina nada a não ser que seja
colocada à luz das escrituras. O conhecimento permanente de seu ofício,
também acerca de sua tarefa cultural, faz que o cristão, como profeta
busque sempre a Palavra de Deus. Ela o ensina como um sacerdote a
nunca confundir o amor à vida – temperado pelo ofício – e alegria na cultura
como ágape com a função puramente natural do seu eros, como se por meio
do último, o chamado de Deus fosse cumprido – Pallieter é um pagão! E
como rei, ela não o permite buscar a vida por si mesma, mas por causa de
seu Criador, de quem ele é servo e representante.
Logo, o centro desse problema jaz na segunda resposta do 12º dia do
Senhor do Catecismo de Heidelberg. Lá, João Calvino por meio de seus
discípulos Ursinus e Olevianus, se torna, pela graça de Deus, um profeta
cultural. Ele pregou e deu profundidade ao conceito do ofício do homem e
nos ensinou a entender novamente como a batalha entre pecado e graça, da
obediência e da desobediência é de grande importância na cultura. Aqueles
que passaram pela escola de João Calvino nunca proferirão exclamações
como aquelas das pessoas que – com um estremecimento que,
incidentalmente, podemos entender – veem como, e.g., a ciência técnica
está desenvolvendo em proporções gigantescas e então em total ênfase
clamam que na tecnologia, o homem alcançou seu triunfo, porém ele
triunfou para a morte: Er hat gesiegt aber er hat sich tot gesiegt (H. Lilje).
Isso não pode estar correto. Quando alguém encontra sua morte em
qualquer campo cultural, nunca é a consequência de qualquer ato cultural,
mas apenas da sua própria desobediência e infidelidade em cumprir seu
ofício. “pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças,
nada é recusável” (I Timóteo 4:4). O conceito de Calvino de autarquia é anti-
gnóstico.
JESUS CRISTO E A CULTURA, agora pela última vez.
Agora os corações podem se abrir, e as bocas; agora as mãos podem
dedicar-se ao trabalho e os pés moverem-se para o serviço. O homem que
segue Jesus Cristo é esplêndido e são, desde que continue O seguindo.
Aparte disso, ele professa precisamente no seu dia de assembleia e
festividade (na mesa da Ceia do Senhor) que ele jaz no meio da morte.
Homo est, humani nihil a se alienum putat. Ele também chegou a ser
bastante concreto em tudo que faz e fala. Novalis, o poeta romantista, disse
certa vez:
Onde quer que a escuridão se intensifique
Nova vida brota, novo sangue flui;
Para estabelecer paz eternal a nós
Ele mergulha na enchente da vida
Com suas mãos cheias, Ele está em nosso meio,
Amavelmente ouvindo a oração de todos.