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Original: “Christus en Cultuur”.

Klaas Schilder, 1890-1952

Traduzido do inglês: Christ and Culture. Copyright © G van Rongen and W. Helder, 1977.
Disponível em: <http://www.reformed.org/webfiles/cc/christ_and_culture.pdf>. Acesso em 5
abr. 2016.

Traduzido para o português por Fábio Lacerda de Morais e Tharso Augustus.

Atenção! Esta é uma tradução não oficial, provisória, pendente de revisão, disponibilizada
aos participantes do Núcleo Althusius de Estudos em Cosmovisão Cristã com a finalidade
exclusiva de facilitar o acesso às leituras propostas.

O tradutor não autoriza que esse material seja divulgado. Ele será disponibilizado
exclusivamente no grupo do Núcleo Althusius no Facebook
(https://www.facebook.com/groups/althusius/).

Prefácio da tradução em inglês.

A quase 25 anos atrás, em 23 de março de 1952, o Senhor tomou para si seu servo Klaas Schilder.
A presente tradução de um de seus trabalhos aparece assim em tempo apropriado.

Cristo e a Cultura é a tradução inglesa ( e agora em português) dos escritos de Schilder 'Çhristus en
Cultuur”. A versão original de sua publicação foi emitida em 1932 sob o titulo de “Jezus Christus
en het cultuureven”: foi incluída em Jezus Christus en het menschenleven, uma coleção de
contribuições feita por vários autores. Em 1947 foi publicada separadamente como “Christus en
Cultuur”: uma nova publicação deste mesmo texto foi feito em 1953.

o Autor nasceu em 19 de dezembro de 1890 em Kampen na Holanda. Em sua cidade natal, ele
começou tarde seus estudos na Theologische School of De Gareformeerde Kerken, na qual
formou-se “cum laude” (laureado) em 1914. Apos ter servido com ministro (pastor) em diversas
igrejas, em 1933 ele foi premiado com o diploma de Doutor “cum summa Laude” na universidade
Alemã Friedrich-Alexarder da cidade de Erlangen. Sua dissertação foi intitulada de “Zur
Begriffspeschichte des Paradoxon, mit besonderen Berucksichtigung Calvins und des Nach-
kierkegaardschen Paradoxon”. No mesmo ano ele foi empossado professor de teologia sistemática
do seminário de Kampen, no qual ensinou ate a sua morte em 1952.

Dr. K. Schilder escreveu inúmeros livros e artigos. Sua trilogia “Christus in Zijin lijden”tornou-se
conhecida internacionalmente, especialmente sua versão em inglês “Christ on trail” de 1938. ele
contribuía regularmente com o jornal semanal “De Reformatie” desde que começou a ser
publicado em 1920, tornando-se um dos editores em 1924: de 1935 em diante, ele foi o único editor.
Seu posicionamento firme, não só em assuntos teológicos, mas também contra a filosofia nacional
socialista anticristã , levou a sua prisão pelos nazistas. Depois de ser solto ele foi forçado a
esconder-se, pois estava entre os procurados pela forças de ocupação da Alemanha. Ele
permaneceu escondido ate quase o final da segunda guerra mundial.
Duas vezes, em 1939 e em 1947, Schilder visitou os estados unidos da América. O retorno da
viajem em 1947 proveu a ele a oportunidade de revisar e expandir sua sobre-citada dissertação de
1932. o prefacio da nova edição de “Christus en Cultuur” foi assinada e datada abordo do S.S
Veendam em 24 de agosto de 1947. Essa publicação em alemão atraiu a atenção também de países
de língua inglesa, particularmente dos EUA; por exemplo, as ideias de Schilder, juntamente com as
ideias de Aurelius Agustine, John Calvin e Abraham Kuyper foram completamente discutidas por
Henry R. Van Til em seu livro “The Calvinistic Concept of Culture” de 1959 e reimpresso em 1972.
Uma traduçao japonesa feita por Y. Yamanaka da universidade Kansaigakuin da cidade de
Takarazuka, foi publicada em 1974.

A presente tradução em inglês ( agora em português) foi feita com a permissão de Mrs. A.J.
Schilder-Walter e a cooperação do editor original, T. Wever, da cidade de Franeker na Holanda.

Que DEUS abençoe esta publicação e a use na batalha pela verdadeira cultura.

Grand Rapids, Michigan, USA --- G. Van Rongen


Hamilton, Ontario, Canada ---- W. Helder
Dezembro de 1976
Cristo e a Cultura

1.
“Cristo e a Cultura” – este tema tem ocupado as mentes de muitos desde
que o cristianismo foi estabelecido neste mundo. Na verdade, isto já ocorria
muitos séculos antes. Pois o nome “Cristo” é nada mais que a tradução de
“Messias”. Mesmo durante os dias do Antigo Testamento, quando o Messias
ainda era esperado, homens pensavam, lutavam e profetizavam sobre este
assunto, assim como também se rebelavam contra o “Messias” ou “Cristo” e
a sua “Cultura”. Se o que estamos a escrever é verdade, então este tema
antigo ira continuar a capturar nossa atenção com alegria assim como com
tristeza ate o fim dos tempos: A completa solução para este problema não
será alcançada no curso do tempo, mas está reservada para o dia em que
marcara o fim dos tempos. Não será obtida por meio da evolução, mas
através da catastrófica segunda vinda de Cristo. Portanto a grande alegria e
a mais profunda tristeza sobre o resultado final da luta relativa a Cristo e a
Cultura pode ser esperada para o fim dos tempos. Onde um proferirá duas
palavras extremamente fortes: Céu - - e Inferno.
2.
O que foi tratado acima deixa claro que o tema que estamos abordando não
pode ser inserido na lista de assuntos onde o incrédulo (pagão) precipitado
toma antes para si como desprezível e o cristão cuidadoso só toma para si
como importante depois do debate acadêmico. O problema relacionado
entre Cristo e a Cultura deve imediatamente preocupar (permear) as
questões fundamentais do pensamento cristão e das suas ações. Portanto o
cristão deve continuamente contender com isto. Aquele que não contende
contra isto esta negligenciando seu chamado. A definição da vida de serviço
do cristão como é apresentada no catecismo de Heildeberg no dia do
Senhor 12 e no qual o cristão é considerado como profeta, sacerdote e rei, é
tão ampla e compreensível que a importância entre Cristo ( e o cristão) por
um lado, e a vida cultural por outro, esta debaixo de discussão desde que a
questão é levantada como palavras pertinentes que devem ser
interpretadas nesta sessão do catecismo. Por esta razão em particular, não
é permitido a um cristão confesso, antes que ele seja inserido na batalha
cultural, esperar silenciosamente por resoluções acadêmicas (algo que
nunca acontecera – Ad calendas graecas) em relação ao problema cultural.
Nem tem ele a permissão de esperar que algo mais torne-se seu substituto,
sejam as resoluções ou conclusões de uma conferencia.

Pois a vida constrói o conhecimento acadêmico, mas o conhecimento


acadêmico não constrói a vida. No máximo a Academia pensa sobre a vida.
Da mesma forma o problema da correta apreciação da cultura ou da
avaliação de uma situação concreta a qual o cristão se deparou ou tem
ajuda para criar em dada fase cultural, nunca deve ser reduzida meramente
ao que é chamado de assunto acadêmico. A vida precede a academia:
primum vivere, deinde philosophari. Todos tem que lidar com a
temporalidade e a localidade de determinada fase cultural da vida. Em seu
nascimento ele é jogado no meio disto, e ninguém é hábil o suficiente para
sair disto, nem por um dia sequer, supondo que o fosse permitido fazer. O
homem não pode isolar-se, embora ele possa fugir para um claustro que não
destila licor ou algo parecido, nem ajuda a preencher as paginas de uma
revista.

Cristo e a Cultura

3.
Porque é este problema tão difícil? Muitas coisas poderiam ser ditas para
explicar isto. Nós iremos mencionar alguns pontos apenas.

Uma das principais razoes é que as opiniões são amplamente divergentes.


Não apenas do que nos muitas vezes de forma abstrata chamamos de
mundo, mas também no que – novamente devemos dizer, normalmente de
forma abstrata—é chamada de igreja, nós vemos lutas entre opiniões que
são muito opostas entre si. Não há nada de incomum nisto. Aqueles que
realmente aderem a filosofia autentica do puro materialismo irão ter a visão
da cultura que difere completamente das pessoas que seguem a linha de
pensamento do universalismo metafisico. Aqueles que pensam que a
historia é linear configuram (montam) uma construção que é completamente
diferente dos homens que veem a historia como cíclica. O teísta e o
panteísta são oponentes, tanto na concepção e apreciação da cultura. A
avaliação de um luterano – se somente ele é fiel a Martinho Lutero—irá
diferir da avaliação do calvinista; da mesma forma que de um pessimista
não é o mesmo que de um otimista. Um plantonista difere de um Aureliano,
um spinozista de um cartesiano, um Kantiano de um pupilo de Fichte.
Mesmo entre os (irmãos) românticos, Goethe não concorda com Novalis ,
nem Schleiermacher com Schlegel. Nós nem mesmo mencionamos
Bismarck e Rosenberg, Otto e Walt Whitman, ou um budista de uma facção
(linha) ou outra. As diferenças as quais dividem os filósofos irão influenciar
os teólogos e ordinariamente os membros das igrejas. Para quem acredita
que “a ideia cultural” é algum tipo de chave mestra que abre a porta para o
hall da conferencia que oferece uma recepção pacifica para um congresso
cultural, crê em um sonho (fantasia). Pois terá guerra la – isto quer dizer,
que os participantes da conferencia já tem seus juízos estabelecidos sobre
eles, algo que infelizmente não é incomum.

Um segundo fator, então, é que o tempo e, novamente o problema em si,


sempre são dadas novas soluções as quais – mesmo dentro do mesmo
período—se contradizem. Ou toma a forma de fundamentos teóricos. Tudo
isso acontece tanto dentro como fora da igreja. Ambos os conceitos,
``cristianismo`` assim como ``cultura``, são assim frequentemente criados,
fixados, e usados em diferentes sentidos. Consequentemente o problema do
``Cristianismo e Cultura`` é na (assim como devemos ver mais a frente:
incorreto) opinião de muitas pessoas – conscientemente ou
inconscientemente – reduzida a um problema de ``religião e cultura``, ou
``natureza`` e ``graça``, as quais são repetidamente consideradas como
dois territórios separados. De fato, a palavra ‘’ território’’ é fácil de manusear.
Embora, seja mais comumente usada em sentido geográfico e não para
tratar de sentido matemático. E conceitos matemáticos ( como um ponto,
uma linha, um ‘’território’’) não encontra na realidade correlativos
equivalentes. Além disso, pode-se perceber que mesmo assim muitas
perguntas aparecem uma após a outra.

A tudo isso deve-se acrescentar a desvalorização do nome Cristo


causando também a desvalorização da cultura. A igreja começou a “brincar”
(destratar) o nome de Cristo, e a filosofia fez o mesmo. Como resultado eles
também começaram a “brincar” ( tratar com desdém) o problema Cristo e a
Cultura. Assim que dois conceitos são desvalorizados (descontruídos), o
caminho certo que deve ser seguido por aqueles que buscam a relação
entre esse dois conceitos fica apagado.

Temos que apenas considerar como alguns que se chamam igreja, ficam a
deriva de conceitos da confissão de fé, e falam sobre o Cristo. O que é
cristianismo? Quem é Jesus Cristo? Quais são as posições históricas desse
Jesus e qual sua significância para a vida histórica? Tem ele alguma
influencia em toda a nossa vida histórica e com suas continuas relações?
Ele é de fato a palavra de Deus encarnada, ou é Ele nada mais de que um
das muitas formas da palavra de Deus? É a forma da palavra de Deus
adequada ao conteúdo revelado, ou é o conteúdo paradoxalmente oposto a
forma? É o Jesus de Nazaré histórico o cumprimento das expectativas do
antigo testamento com relação ao Cristo ( O Messias), ou a ideia messiânica
não é adequadamente revelada Nele, ou talvez so de forma fragmentada? O
que o nome Cristo significa? O que Deus quer dizer com o nome Messias?
O que seus meios de unção significam? Isso realmente inclui uma comissão
Divina (‘’Ele ser ordenado”), e também um dom real (“ele ser capacitado”),
ou são essas duas designações apenas simbólicas? isto é uma diferença
fundamental entre os "ungidos" os quais consideramos como homens
comuns e Jesus de Nazaré como O Ungido ? ou é esta, sugerida, diferença
fundamenta apenas uma ficção? Em que medida poderia Ele, como um
personagem histórico, atuar na vida humana de forma critica, isto é, a julgar
de maneira absoluta matérias decisivas? Faz ele mesmo, como Jesus, como
personagem histórico, juntamente com toda a vida humana, que se encontra
sob uma crise, isto é, debaixo do radical julgamento de Deus que condena o
mundo como este, como nosso mundo, ou deixaria ele ouvirmos na terra,
de uma maneira pura e efetiva, vivida, julgando e analisando, a voz de Deus
como o perfeito juiz e talvez também como nosso Pai, a voz do supremo e,
de fato, sua criticais únicas, repelindo ou atraindo? isto é realmente algo
para lamentarmos, mas é uma questão de fato que no meio (rodas/círculos)
do que é chamado cristianismo tem serias disputas sobre todas essas
questões hoje em dia. E então nós ficamos lá como concreto (firmes) ou
como uma “comunidade" legendária de “cristãos”; nós todos reivindicamos
este nome, e ficamos com raiva logo que alguém nega este titulo a outro.
Mas enquanto isso nós estamos muito incertos, entre nós mesmos, sobre as
questões fundamentais concorrentes a Jesus e concernentes a Cristo. Nem
estamos certos sobre o outro. Nos posicionando contra o outro
permanecemos com Cristologias escritas e especialmente não escritas no
meio de um mundo multifacetado a qual clama que ele (o mundo) continua a
construir sua “cultura”. E apesar de repetirmos muitas vezes de forma
intensa e agitada, como cristãos, que a cultura desse mundo não é madura
e nem tao pouco pura, que isto é enganoso, e que a recompensa do pecado
(e da cultura também) é a morte, a questão é urgente e fere profundamente,
especialmente porque pergunta, se nós mesmos não somos ( pelo menos
como grupo) completamente desautorizados e incapazes de proferir sequer
uma única palavra sobre este problema, por causa de nossas profundas
diferenças com respeito ao termo “Cristo" assim como encontraremos a
solução para o problema de “Cristo e a vida cultural”. Nos estamos cada vez
mais ativos como grupo de forma internacional, interdenominacional, e
interconfessional, relações ecumênicas, e enviando todo tipo de mensagens
concernente a vida do mundo e da cultura. Mas tudo isso perde força, pois
como grupo, nós não conhecemos Cristo. Enquanto Jesus Cristo, para nós
como grupo, não nos é conhecido e familiar, nos não dizemos nada além de
declarações imaturas sobre a relação entre Cristo e a vida cultural. Pois o
primeiro desses dois termos (Cristo) já esta totalmente nebuloso (confuso).
E uma neblina (confusão) internacional, interacadêmica e ecuménica é a
pior de tudo.

é a situação um pouco melhor tanto quanto o segundo termo do nosso


problema que esta em causa, a saber , vida cultural? O que é realmente
cultura? As respostas diferem. Nos já nos referimos a isso em poucas
palavras. No entanto, isto é realmente opressor mas não obstante ( apesar
disso) nos ainda continuamos apresentando todo tipo de nervosismo
apresentamos nervosos, apressadamente fabricados e ate mesmo, tanto
quanto concernente ao nosso ponto de vista, construções ilegítimas. A pior
parte não é esta: que é o tempo dos filosofo culturais e que eles fornecem
respostas amplamente divergentes ao problema fundamental. A pior parte é
esta, que enquanto todo tipo de filósofos culturais se entrincheiram por traz
de certa — matéria obviamente subjetiva— “teoria de valor”, cristãos, ate os
confessionais, falham em se questionarem mais e mais se não o primeiro e
único valor verdadeiro e real é a aliança de comunhão com Deus, que é
assegurado pela fé, o valor da gratidão crista, o qual em um silogismo
pratico assegura a fé dos seus frutos e assim mostra que esta é a fé
verdadeira. A pior parte é o servilismo com o qual o cristão confesso, assim
que conhecem o problema da cultura, timidamente olham para o filosofo
cultural (incrédulo) mais próximo: seriam eles tão gentis ao ponto de
acenarem (aceno com a cabeça) para nós, mostrando sua aprovação?
Essa submissão progressiva dos pensadores cristãos e teólogos para os
(não cristãos) culturais e outros filósofos, esta tornando-se cada vez mais
um obstáculo para darmos uma resposta unanima e inequívoca sobre a fé.
Os lideres da juventude de hoje em dia e os professores de educação adulta,
na medida que eles tem bases (princípios) cristãos, eles percebem
perfeitamente bem que a elaboração de um conceito de cultura tem que
reunir pesquisa de múltiplas questões. Nas conferencias eles labutam com
o problema da historia, do indivíduo e a sociedade, da essência das nações
e as distintas raças de homens, do tempo e da eternidade, da física e
metafísica, religião, moral e lei natural, do evolucionismo e criacionismo.
Mas sobre o fato que nós como cristãos temos que tomar nosso ponto de
partida nos preconceitos da fé, e que nos temos que aceitar como
autoridade, e consequentemente agir de acordo, que nossas atitudes
positivas ou negativas devem apenas e unicamente serem uma questão de
fé, a qual (como confessamos em nosso catecismo) é a certeza e a firme
confiança — sobre tudo isso que podemos ouvir muitas vezes enquanto
certos pontos da teologia sistemática ( incluída a disciplina eclesiástica )
estão em jogo, mas dificilmente escutam-se o mesmos argumentos assim
que a esfinge da vida cultural fica sob discursão . Há muito orgulho nas
muitas palavras que são faladas sobre o tema de como agir corretamente,
mas neste ínterim os oradores não discernem o fator opressivo (sufocante)
que todo esse ideograma da “cultura" e da “vida cultural” continua muito
nebuloso (confuso), e que alguém só pode trabalhar com esta base de forma
prematura e hipotética. É um termo artificial que muitas pessoas operam;
entretanto, eles fazem isso sem estarem sendo justificados filosoficamente,
teologicamente, e, acima de tudo, a despeito do serviço ao Deus vivo.

f. Quando finalmente nós agirmos como se realmente tivéssemos


estabelecido a conexão entre “Cristo” e a “cultura”, então a questão
principal nem sempre é colocada em primeiro plano: De que se trata tudo
isto afinal (realmente)? Estamos nós tratando sobre cultura como (A cultura)
ou apenas sobre um certo tipo de cultura? Existe de fato uma cultura
permanente, a qual pode ser conhecida por seu estilo peculiar o qual é fiel,
ou nós, se sabemos discernir profundamente sobre as coisas, só achamos o
caos das tendências culturais? Se não é A cultura mas apenas uma forma
particular da cultura, qual é então? A cultura nacional ou apenas mais uma
cultura nacional? Seria a Internacional? Ou temporária? Ou futura? É uma
( ou a) cultura que nós criamos ou temos que criar. Sozinhos somos
capazes de estabelecer --- isto quer dizer, nós como Cristãos? Ou isto é
todo tipo de ideal cultural os quais são requeridos a reconhecer ou esperar?
Devemos como cristãos agirmos neste mundo e na cultura no caminho da
reforma e da revolta? Somos capazes de fazermos isto? Ou talvez tenha
sido concedida a nós somente uma missão limitada que poderíamos de
alguma forma cumprir, ou somos forçados em nosso caminho através das
correntezas rápidas da vida neste mundo multifacetado, e agradecemos a
Deus depois pois não permitiu que o navio das nossas vidas fosse
arrebentado com tremenda força na quebrada das ondas? Existe realmente
uma missão positiva para nós como cristãos? Então o “Seguir a após Cristo”
realmente inclui o incansável realizar de Deus concedendo habilidade
criativa a uma peculiar (ou distinta) Cultura Cristã com tendências a
conquistar o mundo? Pode o “seguidor de Deus” ser reconhecido em certos
atos concretos em conformidade com o conteúdo material dos
mandamentos divinos, e também com atitudes concretas e constantes? Ou
é o “seguidor de Deus” apenas um conceito formal: Deus de fato criou o
mundo, mas Ele permanentemente o muda, e mais uma vez ira mudar mas
de uma maneira catastrófica, portanto somente aqueles que podem seguir
Ele que substitui qualquer “sim” dito com o mundo existente por um “não” e ,
portanto, considera qualquer atitude como sendo do diabo , seja o
revolucionário tanto como o conservador , e vice- versa? É a ação do
cristão realizada de forma verdadeira ou é apenas como um jogo --- em
virtude de uma ordem estabelecida que não nos permite nada além do jogo,
e portanto torna o jogo como única opção?
4.
Enumeras são as questões que não foram respondidas, e, de fato elas ainda
nem foram formuladas. “Jesus Cristo” e a “ Vida cultural” tem sido
chamados amigos e inimigos de forma alternada. Ou até completos
estranhos para com o outro. Um, com Tolstoy, sacrifica a “cultura” ante seu
“cristianismo”. O outro, com Nietzsche, abandona o cristianismo em favor da
“cultura”; um terceiro se inflama com raiva assim que ele escuta que Cristo
e a cultura estão conectados um com o outro ( cf. A critica contemporânea
do assim chamado neo-Calvinismo, por Barth). O ponto de partida das duas
primeiras visões (opiniões)-- e parcialmente também da terceira –-- é uma
relação antiética entre Jesus Cristo e a vida cultural, real e também em
potencial. Por outro lado estão aqueles que também, de maneira avida ou
com o sentimento que afortunadamente ainda os permitem participar,
levantam o slogan que Jesus Cristo e a “cultura” podem certamente serem
reconciliados um com o outro e que a relação entre os dois, em ultima
instancia, pode ser considerada uma relação amigável.

Pode ser sem intenção, mas o resultado inevitável de tudo isto é, claro, que
entre aqueles que orsilão de um lado para o outro de maneira pratica revela
aspectos muito variados. Segundo alguns não há missão mais elevada para
um cristão que come timidamente debaixo da mesa “ as migalhas que caem
da mesa” dos incrédulos “construtores da cultura”, e consequentemente ele
defende esse “comer timidamente” com a tese de que em assuntos culturais
Deus não impôs uma espécie de lei seca. Por outro lado nunca irá adiante
de um argumentum e silentio questionável: O que ele deseja não foi
expressamente proibido; portanto esta tudo bem. Não o pergunte se esse
exercício de comer as migalhas que caem da mesa dos outro é uma refeição
de fé e amor ou se é um gesto de embaraço, com o argumento
correspondente ao seu resgate necessário. O outro, entretanto, entretanto,
alegremente se afirma na vida cultural, incha sua pequena personalidade
cristã a um certo nível de orgulho cultural, e se mantem convencido que o
argumento embaraçoso do irmão antes mencionado, suspirando e
desculpando-se mil vezes por sua refeição de migalhas, não é nada e cita o
apostolo Paulo e diz, que um “não pode sair do mundo” (I Coríntios 5:10).
ele de fato trata (cataloga) este argumento como inferior. Em sua opinião de
ser substituído pelo slogan orgulhoso de que o Cristão tem que promover a
honra de Deus “em todas as esferas (rebanhos) da vida,” incluída a vida
cultural. Entretanto, a questão crucial, o que realmente é a “vida cultural”, e,
em estreita relação com ela, o que são exatamente as esferas ou territórios
da vida cultural, permanece em sua maior parte sem respostas (sem ser
constatada) ao logo do tempo, ate mesmo por ele.

Estamos imobilizados pela neblina. Até os seguidores do Dr. Abraham


Kuyper estão. Por anos e anos eles falaram de nada mais, exceto da “a
honra de Deus em todas as esferas da vida”. Os mais eruditos entre eles
constantemente repetiam o adágio (ditado) do Dr. Kuyper com respeito a
“esfera da soberania” . Toda “esfera” da “vida” tem sua própria “soberania”.
Entretanto; normalmente eles fazem mais que só repetir este slogan. Não é
de se admirar. Pois o próprio Abraham Kuyper não podia explicar
claramente o que exatamente são essas “soberanias” em todas as “esferas”.
Uma única soberania --- que nós podemos aceitar e entender mas assim
que começa a falar sobre “soberanias” no plural, cada uma delas em sua
própria esfera, então as coisas tornam-se muito vagas. Quando Kuyper diz
que Deus criou tudo “segundo seu tipo (gênero),” ele apenas repete um
dado bíblico. Entretanto, o salto da “lei da natureza” para o “Soberano” é
bem grande. O salto de uma criatura de Deus a um produto do homem é
igualmente grande. O mesmo deve ser dito sobre um terceiro (salto), o salto
que faz dos respectivos gêneros das criaturas as assim chamadas “esferas”,
em qual eles desempenham seu papel, seja com ou sem a ajuda ou
resistência dos homens. O linguajar metafórico de Kuyper tem também aqui
a metabasis eis allo genos, isto quer dizer, a maneira de mesclar (misturar)
quantidades desiguais e heterogenias.

Isto é desastroso, em particular quando alguém fala sobre casa “esfera”


tendo sua própria soberania. Verdadeiramente, estamos imobilizados pela
neblina.
5.
Agora, o céu pode ficar limpo e a neblina dispersar somente se nós
silenciosamente colocarmo-nos debaixo da verdade (pregação) das
escrituras. Elas são fundamentalmente a revelação de Deus, conhecida e
reconhecida em Jesus Cristo, Seu Filho. Entretanto, nada pode derivar dos
seus ensinamentos concernente ao tema “Cristianismo e vida cultural” a
menos que ele permita reduzir o problema ao tema de ( não de “ Jesus e a
cultura,” mas particularmente) de “Jesus Cristo e a vida cultural”. Sem
duvida é muito útil considerar brevemente o porque de os dois primeiros
fundamentos do nosso tema não serem capazes de penetrar o fundamento
do nosso problema, enquanto que somente o ultimo mencionado realmente
pode. Assim que nós achamos a resposta para essa pergunta, nós
acreditamos que estamos segurando a pista (relacionada ao nosso tema)
que as escrituras nos apresentam.
6.
Na realidade, como já dissemos, o problema não deveria ser formulado
como “Cristianismo e a vida cultural”, pois esta formulação não nos traria a
raiz do problema. De fato, com o termo “cristianismo” um pode entender ,
entre outras coisas: (1) A comunidade de Cristãos (no sentido apropriado da
palavra ou não, incluindo ou não incluindo aqueles que são cristão só de
nome ), e (2) o resultado visível que foi possível registrar no mundo visível
devido as atividades cristãs das comunidades de cristãos, ou, melhor, o que
foi registrado, e que continua registrando-se, dentro de uma estrutura de
uma communis opinio, mais ou menos fixa. É claro, que a palavra tem mais
significados. Entretanto, por causa da conveniência, vamos deixa-los para o
que são. Pois mesmo quando nos restringimos aos dois significados já
mencionados da palavra, nós já temos problemas suficientes. Como para a
primeira definição, por exemplo, o que significa “comunidade”? É
simplesmente o fato de estar junto, ou a possibilidade de estar junto,
daqueles que, correta ou incorretamente, chamam a si mesmos de cristãos
(sun-ousia)? Ou é uma unidade espiritual, espiritual no sentido de que é
produzida pelo Espirito de Deus? Em outras palavras, é a unidade que esta
em conformidade com a Palavra de Deus (Koinonia)? É Koinonia o resultado
dos esforços dos homens, algo que deve vir a existir por decorrência de
suas ações, ou é isto o produto do esforço de Deus, algo que vem a existir e
agora chama as pessoas a agirem em conformidade, reconhecendo a
comunhão que Deus fez, de jure como também de facto? Ou em que
concerne a segunda definição, depende um da historia e da tradição para o
registro de tal resultado da comunhão cristã, ou pode cada época impingir-
nos (obrigar ou impor) sua própria teoria com respeito a este registro e suas
características? “Cristianismo” é uma palavra difícil—se um examina
somente a substancia.

Mesmo assim, qualquer que seja o sentido em que um tome esta palavra,
uma coisa é certa: é impossível representar qualquer assunto puro da
cultura sobre a base de qualquer noção com respeito ao “cristianismo”,
muito menos resolver o problema de “Cristianismo” e a cultura.

a. Isto é impossível em primeiro lugar porque o Cristianismo nunca é


essencialmente normativo. Tome (em primeiro dos dois significados
antes mencionados) a dos cristãos juntos como uma comunidade, e
então – se pudesse, por essa abstração teórica ( pois não podes ir
mais adiante) – purgue (retire) desta comunidade todos aqueles que
só são cristãos de nome. Ou (conforme o segundo significado da
palavra) tome o cristianismo no sentido do resultado do credo cristão
( que você presume que é católico, ou seja, universal) na vida do
homem e do mundo, e ate mesmo, ser tão rígido com a possibilidade
em aplicar o padrão e a conceder o titulo de hora, “Cristão”. De
qualquer maneira que o tome , em nenhum dos dois casos você será
capaz de derivar deste “Cristianismo” o padrão, uma norma, para
tratar com seu problema. Nenhum cristão pode servir como padrão,
tão pouco pode ser normativo um dado factual. O feitos obrigam as
nossas mãos , nada pode proceder deles, e as ações de todos devem
descansar naquilo que tenha sido dado (os fatos). Nossas mãos
podem facilmente golpear o vento (ar), mas isso não gera nenhum
resultado e nem leva a coisa alguma. Só quando são colocadas em
material produzido pela realidade tal como tem acontecido
historicamente, então são capazes de “dar forma” a este “material”.

E para esta transformação do material (devemos agir com


responsabilidade), dependemos completamente dos padrões que
Deus estabeleceu. Este ultimo não é algo que obriga as nossas mãos,
eles nos ordenam (comandam). Somente a palavra de Deus, a
Sagrada Escritura, é o padrão; não do cristão ou do Cristianismo, mas
do Cristo vivo que nos foi dado a conhecer por meio da revelação, e
quem também nos “explica” a Deus, e como o Doador, Guardador e
interprete da Lei nos fala a Palavra de Deus sem nenhuma restrição
causada pelo pecado ou impotência, Ele que foi enviado aos homens a
favor (da parte) de Deus. Toda tendência histórica, incluindo qualquer
tendência ou descrição cultural, que estaria baseada no Cristianismo
como “dado” ou ate mesmo no Cristianismo ideal, como produto da
mente, deve terminar em pecado, violação da Lei, e irreligião; não
seria capaz de estabelecer nada exceto uma torre de babel. Isso já
começou a ser feito, pois um tomou-se um ponto de partida errado.

Desta mesma maneira, o materialismo e o positivismo histórico tem


tomado coragem de discursar sobre o cristianismo e a cultura. Da
mesma maneira (procedendo de pressuposições diferentes) o
idealismo, em mais de uma forma, tem feito o mesmo. Até o
Barthianism, as vezes, também tem feito, quando diz: “Es predigt”,
existe um fato de “pregação” na igreja, este fato forma o ponto de
partida para o desenrolar teórico posterior. Existe uma certa
quantidade do chamado “cristianismo”. Entretanto, este fato não é a
fundamentação (base) de nenhuma doutrina, embora toda doutrina
deve levar em conta todos os fatos, incluindo este.

Os fatos não formam um fundamento para elaborar a doutrina. Pelo


contrario, já há uma certa medida (quantidade) de doutrina em
qualquer descrição do fato ( ou do que é considerado como tal).
Quando ocorre uma tempestade, isto é um fato. Mas aqueles que
acreditam em Wodan “entenderam” e “descreveram” este fato de uma
maneira completamente diferente que aqueles que podem “explicar” e
estão familiarizados com a doutrina das descargas elétricas.

Há ainda mais de que isto. O “Cristianismo”, a medida que toma forma


no meio do mundo, no sentido que leva o nome de sua própria decisão
e pode se registrar, sempre esta profundamente envolto em um
processo cultural corrente ou em uma serie de processos culturais.
Marxistas, e os Nacionais-Socialistas, contam (dizem) o cristianismo
em si como fenômeno cultural: os fornecedores das teorias que foram
contratados por Antom Musseret quiseram confia-lo o “Departamento
de Cultura” com o interesse de velar pelo Cristianismo ( que so
poderiam ser protegidos na parte da Europa onde ficam os países
baixos). Isto já é suficiente para mostrar como , de maneira seria e
inevitável, o mesmo “Cristianismo”—mesmo se isto foi só para
proteger o seu nome – sempre esta envolvido nos choques (colisões)
das tendências culturais que estão presentes em todas as
constelações da vida neste mundo. Além de variar de acordo com o
local, nação, antropológico, e até tipos climatológicos. Em resumo, o
termo “Cristianismo”, tomado neste sentido, é uma esfinge, e nada
mais.

b. E na medida que não é uma esfinge mas pode ser alocada na historia
de uma forma pura ou fixa ( o qual algumas vezes é, novamente,
diferente), tem em parte interferido constantemente na luta cultural de
uma maneira prepotente e arbitraria e com muitas deficiências e
pecados. Em todo processo subsequente de formação, deformação
ou reforma, as vezes tentava chegar a ser uma força cultural real ou
direta (lembre-se do papado), ou viviam, consciente ou inconsciente,
sobre a base de certos princípios que colocavam sobre seu programa
de trabalho uma tarefa cultural absoluta como sua tarefa essencial.
Claro que isto foi errado. Pois o cristianismo não é uma questão de
cultura. Embora a cultura certamente é algo em que o Cristianismo se
interesse. Mas segunda as repetidas ações de deformação e reforma
tantas vezes repetidas (embora não seja biologicamente ou
evolucionista determinada), o Cristianismo histórico, ao longo dos
tempos, nunca foi capaz de conduzir a uma ideia cultural especifica a
vitória, nem tampouco concluiu totalmente qualquer dos seus
mandatos a respeito da vida cultural. Um encontrara aqui as variações
mais extremas: há uma vasta distancia entre o imperialismo cultural—
tal como foi desenvolvido pela igreja de Roma em certos períodos—e
a posição isolada, o separatismo, e o ascetismo das pequenas
congregações ou rebanhos “piedosos” e relutante em cultura cuja a
opinião é que eles representam o verdadeiro Cristianismo somente
neste tipo de aversão. Quem seria capaz de derivar um padrão cultural
de tal “Cristianismo”? Tao pouco uma maioria ou uma minoria podem
ser decisivas a esse respeito. Justiça assim como poder, saúde assim
como dons de cura, podem pertencer a maioria, mas também a
minoria, inclusive a menor minoria que alguém possa imaginar.

________________________________

1- Anton Mussert foi o líder do partido Nacional Socialista na Holanda


antes e durante a segunda guerra mundial.(nota do tradutor)
2- O departamento de cultura (Cultuur-Kamer) foi uma das instituições
impostas aos Holandeses pelas forças de ocupação alemã. O registro
era obrigatório para artistas, embora muitos deles tenham preferido
cessar suas atividades o realizar as performances em secreto. ( nota
do tradutor)
7.
Em segundo lugar: a historia confirma que, falando estritamente, o problema
não pode ser formulado como “Jesus e a vida cultural”. Pois, para coloca-lo
de forma crua, “Jesus” e nada mais é algo inútil no que concerne a nosso
problema. Temos que considerar que Jesus já explicou a si mesmo como
Cristo. Essa auto explicação (de acordo e com referencia as Escrituras) é
aceita como autoridade por um e rejeitada por outro. Essa rejeição é
normalmente camuflada pelo manto da ignorância. A denuncia (reclamação)
é: Ele é um enigma: por favor me permita fazer a oração do ignorante, afim
de aprender como qualificar (categorizar) este Jesus. Na atualidade um irá
construir para si mesmo uma ou outra imagem de Jesus. Não o enviado de
Deus, o próprio Jesus, mas uma imagem humana conceitualizada de “Jesus”
também é convertida em uma esfinge por aqueles que não reconhecem Ele
como o Cristo.

Entretanto, Ele não é uma esfinge, pois sua auto explicação é


suficientemente clara. Mas Ele chega a ser uma para aqueles que dispõe
de sua auto explicação. Logo, para estas pessoas, Nele se apresenta
(propõe) um enigma. E este enigma não se resolve enquanto que Jesus seja
somente reconhecido com “Jesus”. Uma antiga máxima o declara assim: Ubi
vides, non est fides; quer dizer, cada vez que se pode ver algo, não se
necessita nenhuma fé. Não vamos analisar este adágio (ditado); pode ter
boas intenções, entretanto em termos gerais é incorreto. Pessoas podem ver
o “Jesus Histórico”; Mas, para conhecê-lo e reconhece-lo verdadeiramente,
se necessita de fé. O fato do homem Jesus foi o Cristo de Deus (o Messias),
que Ele era chamado o “filho” de José, ainda sem ter sido gerado por ele, e
muito mais que isto, permaneceu uma questão de fé. Ubi vides, ibi fides.
Visio quaerit fidem. Fides quaerit intellectum.

Este pensamento precedeu o Cristianismo. Pois a Bíblia nuca se restringiu a


falar somente de “Jesus”. No antigo testamento faliu primeiro do “Cristo” (o
Messias). Mas o fato de que este Cristo prometido apareceria mais tarde sob
o nome de “Jesus” ainda não era algo conhecido. Entretanto, desde de que
Ele veio, a Bíblia, objetivamente falando, sempre fala acerca de Jesus Cristo.
Antes que “Jesus” viesse a este mundo como uma pessoa histórica, foi
anunciado como o Cristo.

Isto quer dizer, Deus descreveu sua obra (seu oficio) em sua essência
mesmo antes de dar a descrição mais vaga da Sua aparição histórica sob a
forma humana, e em situação cultural particular. Considere unicamente o
protoevangelho no paraíso. Quando depois de muitos séculos, durante os
quais Deus, por meio dos profetas, falou sobre a vinda do Cristo (Messias) e
deu informações avançadas sobre Seu oficio e obra, este Messias veio ao
mundo e foi registrado como filho de José e Maria e foi chamado “Jesus”,
então todos tiveram que aprender a considerar a este Jesus como o Cristo
plenamente autorizado a menos que Jesus tenha permanecido como um
enigma para Deus, com uma suposta apelação a sua própria autoridade
pretendida para interpretar.

Uma suposta apelação, dissemos, pois o Jesus real esta terrivelmente irado
com aqueles que se recusam a aceitar a chave para a interpretação de sua
pessoa e obra como proveniente da mão de Deus, como o Mestre e Profeta
ungido por Deus. Ele então vem a tal geração – normalmente é uma maioria
– com visitação e com castigo. Ambas as coisas recaem sobre seus
indispostos ouvinte-interpretes tão frequentemente como Ele nos
evangelhos, primeiro aos seus “contemporâneos” mas também a nós (que
somos igualmente “contemporâneos” do Cristo vivo, que nos governa do
céu), fala em parábolas. Incluindo o tema de servir a Deus na vida cultural,
Ele fala repetidamente em parábolas aos seus “contemporâneos” do
passado assim como a nós ( através da Bíblia), e Ele revela o significado
dessa parábolas, também em seu sentido cultural e teológico, somente
aqueles que depois perguntam sobre tudo isso em fé ( hoje, através da sua
palavra).

De que beneficio seria Jesus para nós se n tivesse anda mais para seguir,
se não o fosse adicionado um segundo nome, nenhum segundo nome oficial,
a este primeiro? Isto quer dizer, o nome “Cristo”? os evangelhos não
mostram a biografia de Jesus. Tao pouco “esboçam” sua própria imagem
sobre Ele. Eles já nos dizem que em nosso pensamento nós não devemos
ir além do que esta escrito (concernente a Cristo, no velho testamento) [1
Coríntios 4:6] eles não pretendem prover um resumo cientifico-sistemático
da obra da sua vida a partir de um ponto de vista formal e metodológico,
nem de nenhum ponto de vista cultural. Qualquer tratamento sistemático
com respeito as obras, ensinadas, trabalho profético, construções ou obras
de desconstruções feitas por Jesus estão totalmente ausentes das
escrituras.

O evangelho não é nem uma biografia nem uma novela. Tao pouco um
fenômeno cultural de acordo com métodos filosófico-culturais ou historico-
culturais, como se escreveu a historia da igreja segundo o método da ciência
da historiografia. O evangelho não é uma exposição sistemática da historia
da salvação. Portanto todo o esforço para aprender somente de uma assim
chamada “vida de Jesus”, como se este tivesse sido Seu proposito no
sentido de conhecer m aspecto particular da vida humana, esta condenado
ao fracasso. Pois não temos nenhuma “Vida de Jesus”. Qualquer que
conscientemente queira escrever sofreria uma tremenda pressão da historia
e não faria qualquer justiça a Ele. Um não pode, nem deveria, separar
jamais os evangelhos – que nos descrevem o curso que Jesus Cristo seguiu
através da vida humana para cumprir o conselho de Deus e em
concordância com a vontade revelada de Deus para a auto preservação na
redenção evangélica – desde a profecia do Antigo Testamento; não da
historia da salvação e da redenção, das quais Ele veio em primeiro plano de
acordo com o Plano – assim como esta historia é Dele e esta determinada
por Ele; não das epistolas de Paulo e dos outros autores das epistolas do
Novo Testamento; nem ate do Apocalipse com o qual a Bíblia completa o
seu ciclo. Este Apocalipse, também, contem uma descrição da historia, não
apenas concernente ao futuro, mas também concernente ao passado
(Apocalipse 1:12), e ate concernente ao que era contemporâneo de João,
seu autor ( Com respeito a adoração do imperador de Roma como um
aspecto anticristão, capítulos 13 e 18). Ademais, este ultimo livro da Bíblia
nos permite escutar a verdade revelada com respeito a ao pano de fundo e
elementos e tendências constituintes de toda a historia, incluída a historia
cultural; por exemplo, que havia um impulso satânico por detrás da besta do
anticristo (Apocalipse 12), incluída a batalha cultural, é fundamentalmente a
batalha entre a semente da mulher e a semente da serpente; é a antiga
serpente que em qualquer fase cultural nova persegue a antiga igreja como
a mulher e sua semente única e pretende aniquila-los.

Para resumir tudo, nada é capaz de caracterizar a obra de “Jesus” de uma


maneira fiel enquanto que não se tenha feito claro a partir da totalidade das
Escrituras o que Jesus veio realizar como o Cristo e o que Ele, portanto,
como o portador do oficio dado por Deus por excelência, tem que fazer em,
e para, e também com o cosmos. A pregação Bíblica de Cristo deve, em
termos de seu conteúdo, determinar absolutamente a maneira por qual um
deve falar das historias bíblicas concernente a “Jesus”.
8.
Na realidade isto não é tão estranho. Nada jamais pode chegar a ser grande
neste mundo sem ter sido explicado e entendido parcialmente sobre a base
do tempo no qual ele viveu, mas também parcialmente com referencia a sua
própria personalidade, aquela com qual o Pai dos espíritos lhe dotou,
individualmente e exclusivamente. Entretanto, no que concerne a Jesus, é
realmente diferente em outra maneira. Como já temos falado, em Suas
obras Ele jamais é entendido de maneira isolada do tempo que passou aqui
na terra entre os homens, mas também, e isto também é definido, jamais
sobra a base deste tempo. Um conhece a Ele com, mas nunca com base
em , Seu tempo. Pois ele domina, dirigi e governa todas as épocas. Para Ele
a “plenitude” do tempo não significa uma “oportunidade de sorte”, nem uma
matriz casual sobre a qual Ele, “descobrindo” o campo, poderia plantar o que
quisera (desejara); mas era Seu tempo, o “Kairos”—Tomado por Ele, criado
por Sua causa --- no “Cronos”, estendido segundo plano de Deus.
Tampouco pode Ele ser explicado sobra a base da historia cultural das
“nações” nem sobra a base da historia da salvação de Israel, pois Ele é o
fundamento, o obreiro (trabalhador) e as “primícias”, o começo, o principio, o
objetivo --- e logo outra vez o começo --- e também o novo ponto de partida
dessas “historias”( que são, no fundo, um e o mesmo, e do mesmo campo).
O estudo do Helenismo não pode explicar Ele, mesmo quando pode ser
essencial para a interpretação distintiva de Suas palavras e obras ( e vice
versa). Tampouco o conhecimento do Judaísmo o explica”, ainda que ---
apesar de produzir bons resultados--- afie a ponta do lápis de todos os
interpretes. Este “fiel testemunho” que fala continuamente não é nenhuma
esfinge. Oh não, Ele nunca é. Mas um “conceito de Jesus”, formado com
inumeráveis variações por gente que não o conhece como Cristo, e uma
imagem de “Jesus” projetada de maneira arbitraria --- isto é o que irrita uma
e outra vez e seus projetistas e adoradores com o “grande” e típico sorriso
de uma esfinge. Mais uma vez, este ultimo se coloca perto das grandes
rotas das caravanas da humanidade. Entretanto, quem decide qual rota é
mais importante e central dentre todas se não se permite a Bíblia decidir? Se
pode ver que essa esfinge permanece em meio ao tempo. Mas quem a porá
fim as discursões --- suscitadas mais uma vez este século --- acerca da
verdadeira natureza de “die Mitte der Zeit” ? Muitos séculos passaram por
esta esfinge, cujo olho no viu, nem o ouvido escutado desde o principio da
nossa era, mas seus contornos se deixam vislumbrar uma ou outra vez em
muitos corações, mas esta silenciosa, completamente calada – amenos que
“Cristo” tenha sido encontrado em “Jesus” através das Escrituras. Pois
Jesus Cristo falou e ainda fala. Ele esta “presente” com sua divindade,
majestade, graça e Espirito, falando em sua Palavra. Ate o momento que um
venha a escutar Ele, esse um só poderá compor ficção sobre a esfinge mas
não profecia concernente a ela. Jesus deve ser colocado em sua própria luz.
Mas nesta apresentação e explicação de Si mesmo em sua própria luz,
Jesus já esta fazendo a obra de Cristo. É precisamente nesta obra que Ele é
o Cristo, o Profeta, Sacerdote e Rei de Deus. A luz que na verdade brilha em
Jesus, brilha nEle pois Ele é o Cristo, o Servo do Senhor. Ele não permite
que “Jesus” seja abstraído do “Cristo” --- não no campo acadêmico, porque
tampouco pode “na vida”.

Teria todavia alguma razão para assombra-nos porque as pessoas estão


tremendamente divididas a respeito do assunto da importância de “Jesus”
para a vida cultural? E que o problema de “Jesus e a Cultura” é dado quase
como muitas “soluções” como o numero de mentes são empilhadas em
torno desse problema?

Não, não pode ser de outra maneira. E na inevitabilidade deste fenômeno


opressivo se revela Sua grandeza e se executa Seu juízo. Pois ali
encontramos uma prova negativa da horrível seriedade que é evidente nas
sanções de Seu mandamento positivo, de que jamais “vemos” como “Jesus”
sendo que sempre devemos o “escutar” de forma completa em “Jesus
Cristo”. Pois de outra forma estas “sanções” se tornam ativas. A historia das
“passagens de Jesus” nas obras histórico-culturais é tão confusa que nos
fazem pensar em um juízo histórico-cultural: “porque vendo, eles não veem
e, ouvindo, não ouvem nem entendem”. Pois a prepotência a construir uma
“imagem de Jesus” recebe sua própria recompensa: tem que compartilhar o
campo com uma multiplicidade de visões individuais.

Já temos observado algumas das colheitas fracassadas produzidas por este


nocivo terreno. Mas considerando que este é o “Jesus” que um deseja falar,
a colheita se torna ainda mais impertinente e deprimente. O marxista vê a
“Jesus” na historia cultural como o grande revolucionário. Ernst Haeckel
proclama seus oráculos sobre Jesus como aquele que deprecia a cultura.
Constantino o grande viu nEle um propagandista bem-sucedido de uma
guerra cultural cristã. Oswald Spengel o coloca – a Jesus! – entre as
pseudomorfoses históricas da cultura árabe. Hegel associou a “Jesus” uma
espécie de panteísmo cultural – isto fez dele, quem por certo foi
suficientemente sábio como para recordar que neste assunto nada pode
isolar-se dos motivos trinitários da “representação” cristã de começos.
Muitas pessoas, para quem o sol se pôs somente em Estocolmo ou em
Lambeth, onde um queria formula a “terceira confissão”--- onde esta agora?-
-- viram em “Jesus” o grande formulador de “mensagens” diretas ao mundo
cultural sobre as assim chamadas questões tópicas culturais, ainda que se
deva dizer que o caráter direto de suas “mensagens” só podem ser obtidas,
somente ao custo de uma nebulosidade fundamental.

Outros delegados convencionais se apresentam como apóstolos inspirados


ou com Mahatmas (Gandhi) inspiradores e também proveem (fornecem) a
“Jesus” um lugar humilde entre os “sábios” e que deixou para trás uma
quantidade suficiente de enigmas para fornecer uma conexão duradora
entre “Leste” (ocidente) e o “Oeste” (oriente). Dessa maneira o “Mestre”
tradicional do Ocidente é transformado neste encontro em um “Patriarca” do
Oriente igualmente tradicional. O mundo Ocidental sempre tem colocado
seus “Mestres” para falar muito, enquanto que o Oriental prefere escutar (!) a
seus “patriarcas” ficarem em silencio. Os primeiros expressão sua
aprendizagem conceitual em suas diversas linhas de escrita, enquanto que
os segundos nos fazem conjecturar em seus pensamentos estritamente
paradoxais em suas poucas linhas, ridicularizando qualquer “claridade”
conceitual, o qual é claramente uma falta de claridade. Desta maneira
“Jesus” chega a se tornar um fator cultural, não tanto pelo o que os teólogos
tem ouvido Ele dizer, mas por causa do fato que os teosofistas escutaram
Ele ficar em silencio: a “esfinge” não é aqui um acidente sendo a única figura
apropriada.

E apenas estas pessoas se reuniram em uma conferencia, desejando ( indo


atrás) de uma “mensagem” que inclua uma referencia a Jesus, veja o que
acontece: ascéticos, místicos, sectários de outro tipo, consideram “Jesus”
com total indiferença a cultura. Ele apenas fala sobre Deus, eles dizem, e a
alma, e ao “coração”, mas para vida áspera e para esse grande e difícil
mundo, Ele não fala, na opinião deles, Ele não quer proferir uma so palavra
aparte daquela separação permanente: Saiam da Babilônia, apartai-vos!

Os teólogos que pertencem a escola da Religionsgeschichte (historia


Religiosa) moderna colocam “Jesus” na fila com Mohammed, Zarathustra, e
outros “fundadores de religião” e não querem ouvir sobre uma distinção
factual entre verdadeira e falsa (pseudo-)religião; Na melhor das hipóteses
eles iram consideram a distinção entre graus de capacidade divinatória
(referente à adivinhação). E muitas seitas milenares, que ao longo dos
séculos não apenas “mordiscou” a hierarquia escolástica como também do
Cristianismo vivente e propulsor da Reforma, consideram “Jesus”, falando
estritamente, como o profeta sombrio de seu próprio egoísmo e do
separatismo cultural. De maneira abrupta, se atrevem a estabelecer uma
comunidade privada que , em uma vida retirada da sucção do mundo, busca
a fronteira que separe de uma vez por todas a igreja do mundo.
9.
A igreja também é culpa nisto. Ate mesmo ela (igreja) negligencia em ver em
“Jesus” o “Cristo” de Deus, por tudo que Ele fez e deixou de fazer. Ela é
culpada na medida que ela permitiu teólogos tirarem os quatro evangelhos
da lista dos livros da bíblia e de abandonar a totalidade dos ensinos bíblicos,
quando somente poderiam retirar dos evangelhos uma imagem “objetiva” de
“Jesus”. Enquanto um restringe sua atenção a “Jesus”, pode, talvez no
melhor dos casos, ser capaz de decidir o que “Jesus” não fez concernente
ao assunto cultural: entretanto, não chegara a uma resposta positiva. Pois
para poder da uma resposta positiva devemos, aparte do nome “Jesus” (seu
primeiro nome de oficio), levar em conta o nome “Cristo” (segundo nome de
oficio). Aqueles que consideram unicamente a “Jesus” da historiografia,
negligenciando a profecia que nos é apresentada no nome “Cristo”, não
conseguem nada mais que “coisas insignificantes”: uma interpretação
modelo de fragmentos de texto, um paralelo, uma comparação, uma
parábola. Tais ninharias as vezes despertam sentimentos de vergonha (ou
pena), quando com a ajuda de alguns pequenos detalhes da historia do
evangelho extrai-se certas contribuições a uma doutrina concernente a
“Jesus como teórico cultural”. O ouro, o incenso e a mirra da historia do
nascimento tem as vezes que servir como prova de que Ele, de fato, gosta
de riqueza e da abundancia. Nós normalmente somos referidos ao fato que
Ele deixou-se ser servido pelo dinheiro de algumas pessoas ricas, como por
exemplo da esposa de Cuza, o administrador do rei Herodes, como um
detalhe cuja a intenção é ensinarmos que Cristo instruía “a igreja” a fazer
uma regra, se possível, do que uma vez foi uma medida de emergência para
Israel e uma medida retaliativa sancionada por um decreto especial: saquear
“os egípcios”. O perfume precioso (caro) com o qual Ele permitiu ser ungido
na presença de Simão, seu anfitrião naquele momento, sua entrada na casa
dos escriba ricos para comer com eles, ate mesmo a túnica que foi apostada
pelos soldados aos pés da cruz no calvário e que era “sem costura, tecida
de alto a baixo”, todas essas coisas servem como ilustrações em lições
objetivas sobre problemas tais como “Jesus e o bom gosto”, “Jesus e os
ricos”, “Jesus e a cultura”. Nos absteremos de mencionar mais.

Mas não percebe quão insignificante é tudo isto? O ouro, a mirra e o incenso
não são mencionados outra vez nos evangelhos. O dinheiro foi talvez tenha
sido gatado em uma viajem, a viajem para o Egito. O Rabi de Nazaré não
acumulava o dinheiro que aceitava , mas gastava no ministério de Pregador
do Evangelho do Reino de Deus. O precioso perfume foi aceito, não para
ensinar os discípulos algo sobre a riqueza e o uso da mesma, mas para que
Simão fosse submetido a uma pregação que o envergonhasse, ou para
ensinar seus discípulos –-- era um momento crucial ---- com respeito a Sua
morte eminente. Em ultimo caso esse perfume foi na realidade adicionado
aos ingredientes do funeral.

Que pode um fazer com este tipo de informação se , de fato, um não sabe
mais que isto? É esta, então , uma imagem cultural: “As raposas tem suas
tocas e as aves do céu tem seus ninhos, mas o filho do homem não tem
onde repousar a cabeça” (Mateus 8:20)? É realmente um dato técnico-
cultural o seguinte: “ Se alguém não os receber nem ouvir suas palavras,
sacudam a poeira dos pés quando saírem daquela casa ou cidade” (Mateus
10:14)?

E se um não deseja escutar nenhuma questão mas só afirmações, bem,


aqui estão elas. Ele retirou alguns dos sócios de uma florescente negocio
pesqueiro, Tiago e João. Ele fez, não, não alguns tipos culturais mascarados,
mas os pescadores não mascarados, proveniente da galileia, que seguissem
a Ele, o Nazareno. Um deles fala seu próprio dialeto quando desliza para a
sala da côrte aonde esta sendo realizado o julgamento do mundo. Ele cura
leprosos, ainda que esporadicamente; entretanto, não estabelece colônias
(casa) de leprosos. Ele abre os olhos dos cegos – mais uma vez,
esporadicamente --- mas deixa outros em sua cegueira; de qualquer forma
Ele não funda uma organização para o cuidar de cegos. Para tal milagre em
uma ocasião Ele usa lodo. Embora lhe ofereça uma coroa real, Ele não
aceita. Faz sua entrada a capital sentada em um filho de uma jumenta. Trata
cuidadosamente os servos, e quando um de Seus discípulos machuca a
orelha de um certo escravo chamado Malco, Ele cura o homem; mas é em
vão que um busque o começo de uma associação para a abolição da
escravatura. Ele olha profundamente nos olhos daqueles que tem sido
possuídos por demônios e lhes conduz a luz; entretanto, nunca construiu
uma clinica e não fez nenhum preparativo para isto ––- ao menos, não em
algum sentido direto. E os autores chamados por Ele, que mais tarde
escreveriam os livros, os evangelhos, que mostram uma total

carência de estilo artístico e que estão escritos em linguagem comum. Uma


vez mais perguntamos: Logrará um algum progresso tratando de definir e
resolver o problema com a ajuda deste tipo de detalhes? Pode um desta
maneira contribuir a sua solução?
10 .
Talvez alguém tenha a opinião de que não somos completamente justos, e
certamente que não somos sérios, ao apresentar a coleção anterior de
curiosidades tomadas deste insignificante mercado minoritário. No lugar
destes detalhes, preferiria ver a vida de Jesus em um esboço mais amplo?

Bem, isso pode ser providenciado. Mas o resultado será igual, mesmo assim.

Vamos mencionar só alguns pontos.

Quando o Rabi de Nazaré estava aqui na terra, o Judaísmo --- apenas para
mencionar uma coisa --- não tinha quase que nenhuma significância no que
concernia as artes plásticas. O pano de fundo deste fenômeno
frequentemente observado não poderia ter sido totalmente digno de elogio
em Sua opinião. Pois mais de uma vez é obvio que foi um vidente e um
profeta. O vidente conhece o que há no homem, e o profeta relaciona uma e
outra vez aquilo que vê no homem com as normas dadas nas Escrituras.
Portanto, Seu olho afiado e sua perspicácia profética lhe mostrou --- mas do
que seria possível conosco ---- que essa deficiência era – – em qualquer
medida, que também foi ---- o resultado de uma interpretação errônea do
segundo mandamento que o Pai de Jesus Cristo lhe havia dado na Lei dos
Dez Mandamentos a Seu povo Israel e a todas as nações. Estaríamos
totalmente equivocados se aplicássemos a denuncia e acusação de Cristo
de que os lideres judaicos haviam tornado nulo e vão o mandamento de
Deus por suas ordenanças humanas somente por aquelas poucas máximas
éticas relativas as quais o leitor médio de uma revista eclesiástica solicita
um esclarecimento ao editor da coluna em questão: Somos nos permitidos
comer embutidos com carne, montar nossa bicicleta no domingo, casarmos
com nossa prima? E muitas coisas como esta. A improdutividade que, com
respeito as artes plásticas, diferenciaram os judeus de quase todas as
nações daqueles dias e depois, deveria, na medida em que uma
interpretação errada do segundo mandamento estava envolvida, ter parecido
uma lacuna para o verdadeiro interprete da Lei, cheio do Espirito Santo, e
como tal deve ter machucado Ele.

Um pode expressar esta opinião sem emitir juízo antecipado a pergunta de


se as artes plásticas estão incluídas por Cristo entre as atribuições
concretas que Ele da a seus soldados em sua peregrinação dos últimos dias.
Mas suponha que Ele, com respeito as artes plásticas, não tenha dado a
Seu povo um mandamento incondicional; ainda assim, não pode jamais
tomar sob sua proteção uma espécie de ética negativa e ascética enquanto
ela se origina em uma interpretação errônea da Lei de Deus e que tem como
proposito ser um documento que agrade a Deus mas que apoia esta
interpretação errônea. Isto é mais provável porque o tabernáculo, o mesmo
que o templo, fizeram uso dos serviços de homens que eram competentes
nas artes plásticas, mesmo por determinação divina (pense em Bezaleel e
Aholiab, que receberam um lugar proeminente no conceito da graça comum
do Dr. Abraham Kuyper).

Entretanto, “Jesus” não deu nenhuma instrução direta com respeito,


digamos, a teoria da arte, a qual, em qualquer que seja a maneira em que
um queira responder a pergunta que foi feita anteriormente, seria de
qualquer modo um encaixe. Quando um pensa no homem Jesus como o
principal profeta e mestre, também para o artista, Ele que sempre viveu na
presença de Deus sem pecado, então a Sua “atitude” com respeito a isto
será mais que “decepcionante”, ao menos para aqueles que gostariam de
ouvir da boca de “Jesus” um sistema mais ou menos desenvolvido de ética
ou estética cultural. Ate mesmo as introduções (elaboradas) estão ausentes
em “Seu” ensinos. Ele não ensinou Suas “próprias” ideias: Ele não era um
conferencista mas sim um Profeta. Quantas vezes Ele não diz: “Esta
escrito”? Ao falar desta maneira Ele não toma seu lugar atrás de um púlpito
para ensinar um sistema que carrega Seu próprio nome, mas Ele toma Seu
lugar entre todos os profetas; e ate mesmo quando Ele mostra ser mais do
que estes, como seu “cumprimento”, Ele nunca pode ser separado deles.
Isto é o mais “decepcionante”: Este “Jesus” considera uma honra que não
se espere dEle nenhum ensino ou regra que seja “sua”. Ele veio, como Ele
disse, não para destruir a “Lei” dada (torah) mas para cumpri-la. “cumprir”
não é o mesmo que “destruir” (por meio de um sistema “próprio”), nem é o
mesmo que “complementar”.

Mencionamos anteriormente a ausência de uma teoria positiva e direta da


cultura plenamente desenvolvida. Entretanto, talvez “Jesus” apresente uma
espécie de polemica ou apologética com respeito a teoria cultura? Ou
princípios estilísticos? Ou fragmentos dos mesmos? Ou aforismos?

Um poderia muito facilmente encorajar a noção de que houve, depois de


tudo, algumas razoes para tal coisa durante o período que Ele passou aqui
em baixo entre os homens. Temos aqui em mente a crescente helenização
da vida de Israel naqueles dias. Também as artes foram grandemente
influenciadas pelo Helenismo. Por exemplo, a musica. Assim como a língua
hebraica se guardou de forma obstinada durante as atividades cultuais
“sagradas” enquanto os gregos faziam-se sentir (faziam-se presentes) nos
assuntos da cultura, assim a musica judaica continuou fortemente vinculada
para o uso litúrgico no templo do culto, mas fora, a musica “livre” helenística
batalhava com o estilo israelita em busca da predominância no uso cultural
profano. A arquitetura mostrava a influencia das muitas fases culturais, mas
em particular do helenístico, e cada vez mais necessitava de um caráter
próprio. Os jogos públicos, a maquina governamental, o serviço militar, em
alguma media a moda, todas se estruturavam mais ou menos segundo os
modelos estrangeiros. Isto, uma vez mais, deve ter doído (machucado/ferido)
todos os lados da mente do homem Jesus, uma mente afiada (moldada)
pelas facas da Lei de Deus. A falta de estilo e em particular a perda de
estilo deve ter doído nEle, que como homem passa a ser o segundo e
supremo da composição de Deus, composição esta que não tem falha. Isto
sempre deve ter atingido (machucado/ferido) Ele. Para Ele como leitor da
bíblia, durante o dia e noite, um profeta auto consciente , o nivelamento, a
internacionalização, a desnaturação dos interessados e a quase ecumênica
vida cultural de Seu povo – uma desnaturação que de fato se prostituição
ante todos os “gentios” – deve ter sido para Ele uma razão que produzia
convincente ansiedade.

Não era isto, em parte, uma das consequências da dispersão dos filhos de
Abraão entre as nações? E esta dispersão não havia sido chamada de o
juízo de Deus? Mostrada nos vestígios, nos rastros ou remanescentes, do
domínio dos poderes estrangeiros que haviam imposto seu domínio de
maneira sucessiva sobre o povo de “Jesus”. Nesta dispersão Ele viu os
resultados do pecado de Israel; e apenas em segundo lugar viu nela uma
preparação para Sua própria missão. A dependência de Israel das outras
nações era para Ele um assunto de castigo. Ele distinguia o pecado, perda,
fraqueza, mundanismo. E não é o pecado o castigo mais severo do pecado?
Esta é a maneira como o profeta Sofonias já havia visto as coisas. Pois
também este profeta havia lançado um ataque fulminante contra os delírios
sobre por exemplo, das modas estrangeiras ou contra a pratica de copiar
costumes estrangeiros (“castigarei naquele dia todos aqueles que saltar
sobre o limiar”, Sofonias 1:8,9). Durante a reforma do Rei Josias este profeta
havia se juntado a batalha contra o pecado dos demagogos gananciosos e
condenou “a maneira assíria de atuar”, assim como os calvinistas
“inabaláveis” ate os dias de hoje entre nós, ao menos em teoria, discernem
um odor ruim na moda de Paris, e um puritano esta em alerta contra
qualquer possível infiltração de uma “quinta coluna” cultural. Pois a
sociedade de sargentos exóticos em sua instrução não merece um nome
mais amável. Um profeta protestou contra a população dos jovens a qual
falava “a língua de Ashdod” (Neemias 13:24); outro clama pelo dia quando
já não haverá cerâmica “canaanita” no templo de Yahvé. As influencias
filisteias são quebradas por um reformador no sul, as sírias são quebradas
por outro no norte. A importação de religiões estrangeiras, ao menos suas
“formas”( como se estas pudessem se separar de seus conteúdos) por
causa das relações comerciais e contatos culturais, é algo que é chamado
com toda claridade de “prostituição” por outro profeta.

Todos os profetas sabem bem que Israel é antes de tudo “igreja” e somente
depois “nação”. Só é nação porque primeiro é igreja. E olha, depois de
tantos séculos esta agora “Jesus”, no meio de Seu povo mostrando que Ele
é o precursor-sucessor de Sofonias e de todos os reformadores, purgadores
do templo e profetas, e apesar disto ainda assim Ele não produz para Seus
“contemporâneos” um sistema detalhado e atualizado de homotética com
respeito as “modas” de seus opositores; assim como tampouco oferece de
maneira direta uma ensino sobre estilo e formas culturais. Mas Ele prega,
guia, ora, segurando Sua bíblia em Sua mão e Seus pescadores em Sua
mão. Ate no tema dos problemas matrimoniais Ele se recusa a pronunciar-se
entre as duas teorias que lhe são apresentadas com respeito ao direito do
divorcio ( a doutrina de Hillel contra a de Shammai, Mateus 19). Jamais viu
a uma mulher no sentido em que os homens as veem hoje. Que é tudo isto?
É negativismo? É ascetismo? É uma questão de renunciar as riquezas da
vida que certamente podem ser consideradas riquezas? É um anseio por
uma dome des invalides? Por favor, deixemos de fazer perguntas. Ao invés
disso devemos perceber que com nossas questões sem respostas nós
somos enviados de uma lado para outro enquanto a luz plena bíblica
concernente a Cristo não tenha amanhecido (nos iluminado) sobre os feitos
de Jesus.
11 .
Portanto, o problema não é outro que “Jesus Cristo e a Cultura”

Pois nesta interconexão dos dois nomes nos é dado a chave para a solução.
Jesus: a essência de Seu oficio ( para salvar de maneira pleromático, ou
seja, salvação divina plena). O Cristo: a legitimidade de Seu oficio ( Ele foi
ungido “com o Espirito”, não com algum unguento somente; e por
conseguinte: Ele sempre realiza o que definitivamente quer realizar em um
sentido pleromático). Esses dois nomes que foram combinados desta
maneira somente um vez, de forma exclusiva, nesta única Pessoa com duas
naturezas distintas, criam estilo no que parece faltar estilo, e uma corda fora
dos tons individuais (isolados). Agora que a luz das Escrituras temos visto
estes dois nomes combinados nEle, temos em nossas mãos a pista certa e
somos capazes de ler a musica da “vida de Jesus”: Ein wohltemperiertes
Klavier. Pelo contrario, não “um”, mas “o” Clavicordio bem afinado.

Por enquanto, o oficio desde Homem de Deus requer nossa atenção. E do


cumprimento do oficio o qual Ele detém (segura) quando acorda e quando
adormece, ao sair ou ao sentar-se, ao falar ou ao ficar em silencio, vem a
nós a pregação do conselho de Deus concernente a Jesus Cristo.

De modo que isto concerne (se aplica) ao primeiro termo do nosso problema.
Além disso, a partir do cumprimento do mesmo oficio também obtemos uma
visão clara do segundo termo de nosso problema: a vida cultural, a tarefa
cultural, o conceito de cultura.
12 .
Em tudo que foi abordado anteriormente temos enfatizado, uma e outra vez,
o fato de que Jesus Cristo não pode ser conhecido aparte das Escrituras ---
as quais, por certo, Ele mesmo cita com o proposito de provar Sua
identidade. Tínhamos que ter colocado nosso dedo neste detalhe porque de
outra forma não chegaríamos aonde devemos chegar. Houveram centenas
de “Jesus” (Joshuas). Eles ainda estão por ai, nos guetos e nos mercados.
Falando estritamente, também houveram milhões de “cristos” (ungidos) e
ainda estão por ai, nas catacumbas e felizmente também nas praças das
cidades. Entretanto, quanto ao filho de Maria e José (como se supõe), o fato
de que Ele, de maneira verdadeira e exaustiva, merecia ser chamado de
Jesus ( Joshua), e que nEle a designação divina seria definitiva, a
habilitação suficiente, e assim foi, e ainda hoje é --- isto não sabemos a
partir do som dos nomes, e tampouco deduzimos isto de Sua parúsia
(segunda vinda de Cristo) ou de Sua aparição, mas ouvimos das Escrituras.

E agora que sabemos tudo isso, vemos que, ainda que as Escrituras jamais
separem da gente o oficio do Cristo, e nesse sentido jamais o isolem ou o
abstraiam da gente, entretanto Sua unção totalmente única e exaustiva,
definitiva e pleromatica, e isto associado com sua Pessoa eternamente única
( constituída de duas naturezas distintas), o constituíram como o segundo
Adão e como um Mediador totalmente diferente de qualquer um em toda
Sua obra. Sua obra, uma vez que foi e é a obra que pertence ao Seu oficio,
esta buscando a todos nós. Mas devido ao que foi e é a Sua obra, sempre
define Ele em seu serviço único para Deus. Um não pode copiá-lo sem
menospreza-lo ( o julgar mal). Há milhares de soldados, mas so existe um
general (comandante supremo do exercito). Qualquer que pretenda ver esse
general imitado, paralisa todo o exercito. O general esta intimamente
conectado com todos eles, e ele decide qual será a regulação uniforme para
todos, mas ele mesmo é “sem regulação”. Embora , a lei do pais esteja
escrita em seu coração. A lei e o uniformidade são duas coisas diferentes.

Retomemos novamente o fio da nossa argumentação: não casar-se foi um


mandamento (comando) apenas para Ele. Seu oficio era sofrer e morrer.
Seu oficio consistiu em uma batalha com Deus e Satanás no ponto crucial
de todos os tempos. Seu oficio foi ser o segundo Adão; isto é, estabelecer
uma comunidade de homens. Desta vez não de um só sangue, como uma
alma vivente, mas de um só Espirito como um pneuma (espirito/sopro) de
vivificação. Este comissiona Ele para governar sobre uma grande nação,
não porque esta nação tenha em comum o mesmo sangue forte, nem uma
tenha em comum um triunfo em batalha, mas sobre terreno judicial do
sacrifico único sacrifício do sangue que fluiu apenas a partir do seu corpo
quebrado.

Este oficio o colocou entre os homens, como alguém que jamais estaria
autorizado para isolar-se mas que estaria completamente sozinho no idion
de Suas “experiências internas”. Pois “experiência interna” significa:
experimentar que a palavra que Deus falou sobre nós acabe sendo verdade.
Bem, então, uma palavra bem peculiar foi dita com respeito a Ele, uma
palavra relevante a Sua situação única. Somente suportando esta solidão
poderia Ele agradar (louvar) a Deus e fazer que fosso louvado por uma
“grande multidão”. Este oficio o engoliu (tragou) totalmente, inclusive
corporalmente . O obrigou de forma absoluta. Dominou tão completamente
Sua vida espiritual e corporal que toda Sua carne e sangue se dedicou
plenamente a aquela grande batalha que iria libertar por lei, com poder,
diante da face de Deus (enopion theou: coram Deo). Quem não sente de
maneira imediata que, em principio, se tem dito tudo a respeito do status de
Jesus como uma pessoa não casada? Quem não sente que não haveria
sido mesmo capaz de “curar/sanar” o casamento, incluindo o casamento
como um aspecto cultural, se Ele, como o Servo do Senhor, não tivesse
tomado sobre Se mesmo Seu jugo, sem a adoção ou co-adoção dos “filhos
que lhes foram dados” de acordo com a lei da carne e sangue? “E, visto
como os filhos participaram da carne e do sangue, também ele participou
das mesmas coisas”(Hebreus 2:14). Pois Ele não se envergonhava de ser
chamado o nosso irmão, certo? Este é Seu oficio. Mas certamente se
envergonharia de ser chamado o padre (físico) de alguns outros. Pois este
não é o Seu oficio. Seu estado de não casado não é um padrão para nós,
nem um humilde ideal “elevado” para o homem que não tem o dom da
abstinência. Seu oficio é totalmente único. Uma pessoa que tenha visto este
oficio saberá realmente o que pensar acerca de todos aqueles detalhes que
mencionamos anteriormente e qualificamos como enigmas. O ouro dos
magos do oriente, por exemplo, e seus presentes de incenso e mirra,
haviam apenas de servir a grande comissão. O precioso unguento, a peça
tecida, a mesa fina na casa de pessoas de destaque (proeminentes) – todos
tiveram que servir como complemento de Seu oficio. Pois na verdade, Ele
não tinha um lugar onde recostar a cabeça, mas isto não era nenhuma prova
de desrespeito a , e tampouco era um protesto silencioso contra o fato de
morar em casas requintadas; pois os profetas não amaldiçoaram aqueles
que viviam em casas requintadas mas somente o pecado daqueles que
estavam morando nestas casas e ao mesmo tempo negligenciavam o
templo. Não, foi uma causa de sofrimento necessário em sua luta para nos
dar a verdadeira cultura, entre outras coisas: nesta batalha Seu Deus jamais
lhe deixou ir “sem autorização”. Ele selecionou os Seus pescadores,
pessoas de todos os tipos, não como se, sociologicamente falando, somente
os pobres e despretensiosos neste mundo cultural pudessem agradar a Ele
( além de que aqueles galileus não era tão “pobres”), mas porque Ele
também tinha que trabalhar entre as pessoas da Galileia: e além disso, não
escolheu unicamente pescadores, nem exclusivamente galileus. Os
escolheu dentre os pobres? Um diz que sim Ele fez, o outro lembra de vez
em quando que alguns deles deixaram para traz um negocio: não eram,
neste caso, pobres diabos que reviravam os olhos cheios de inveja contra os
ornamentos das damas de Jerusalém, mas heróis determinados que tinham
desistido da “mina de ouro” de seus negócios: a profecia concernente ao
Messias tinha feito seus corações arderem dentro deles. Cristo escolheu
aquelas pessoas para o apostolado porque queria que eles pregassem que
o ouro talvez possa adornar a cadeira dos proeminentes se essa cadeira
não foi feita sobre a fundação do que faz um grande perante os homens,
mas sobre a fundação do que torna justo perante Deus.

De maneira que, nesta seleção dos apóstolos, estava no caminho para o


momento da revelação quando derrubaria todos os filósofos culturais com
aquela palavra magnifica e decisiva da revelação: “este linho fino”, da cidade
mais bela, “’são as justiças dos santos”(Apocalipse 19:8). O estabelecimento
da casa dos leprosos certamente ocorrerá , se a primeira e única lei e o
conceito do oficio que proíbem a eutanásia são reconhecidas mais uma vez
em concordância com a lei escrita de Deus. Ate mesmo a Lei de Moises já
sabia tudo sobre serviço social --- incluindo o isolamento dos leprosos.
Entretanto, Moises considerava isto um assunto de serviço teocrático na e
para a igreja, em território pactual (aliança). Assim Cristo não provera casa
de leprosos mas os trazia de volta, ainda quando o território pactual já não
era o mesmo geograficamente que o da época de Moises, mas pode
atualmente ser distinguido nas igrejas locais. Ele quer ter uma coroa real.
Mas somente quando tiver obtido a cora de espinhos. Ele transforma Seus
pescadores em Pregadores e Seus pregadores em organizadores, por
exemplo, de um movimento pela a abolição da escravatura, mas primeiro o
mundo deve saber que a escravidão mais seria, dolorosa e humilhante é a
escravidão do pecado, e a base desta escravidão essencial deve ser
retirada da vida do mundo por Sua humilhação ate a morte, Ele se tornou
um escravo (Filipenses 2). Portanto, Ele sabe, com clareza e objetividade,
os tempos e as horas de Seu oficio, por qual razão Ele por exemplo deixa
deliberadamente os enfermos permanecerem com suas enfermidades.

Ainda que cure outros, inicialmente passa por eles, mas faz isto porque os
deixa para serem curados pelo poder carismático de Seus apóstolos. Ali Ele
quer mostrar que, assim como Seus apóstolos curam os doentes depois de
pentecostes, Ele mesmo, com Seu Espirito, voltou a este mundo neles,
continuando vivo depois de Ele ter morrido.

Mas quem vera alguma vez neste fato de deixar os enfermos em suas
enfermidades ( exemplo, aquele servente na porta do templo) a luz disto, se
“Jesus” não tivesse sido para ele o Cristo, o Cristo cuja “visão” aqui esta
acompanhado da profecia?

Sim, de fato, Ele quer ser entendido como o Cristo das Escrituras, também,
a fim de ser capaz de dar-nos uma visão sobre sua atitude positiva para as
dificuldades que abordamos no capitulo 10. Ele falará seja direta ou
indiretamente, e fundamentalmente, sobre arquitetura, artes plásticas,
musica, moda, sobre a luta entre a tendência a nivelação do
desenvolvimento cultural e o impulso de manter o caráter especifico de um
povo. Entretanto, Ele fala isto somente como o Cristo, como aquele que,
sendo a Palavra eterna e incriado (não foi criado, não tem inicio), ate antes
do nascimento de “Jesus”, dominava a historia e a cultura de todas as
nações, e quem na festa de pentecostes iniciou Seu período de trabalho de
“mil anos” do dia da Ascensão e Pentecostes até Sua segunda vinda. Neste
período final da eterna, e agora encarnada Palavra de Deus, Ele deve
completar e aperfeiçoar Sua obra como Cristo --- em todos os aspectos,
também no que diz respeito às questões e lutas sobre as "culturas" do
passado, presente e futuro; e, além disso, também através da criação de
uma cultura cristã no meio do mundo.
13 .
Ademais, também com respeito ao segundo termo do nosso problema, isto é,
para o desenvolvimento do conceito de “cultura” ou “vida cultural” que esta
em plena harmonia com a revelação de Deus, o conceito Escritural do oficio
tem um significado direto e fundamental. Somente quando levarmos em
consideração e com fé o conceito do oficio, como foi compreendido tão bem
por João Calvino, se colocara um fim ao jogo mental tedioso em que um
joga a “religião” contra a “cultura”, e o outro, a “cultura” contra a “religião”.

Aqui nos é comunicado prontamente a cadeia de pensamento.

Com respeito ao “segundo” Adão, devemos voltar ao principio de todas as


coisas, quando o “primeiro” estava ali, o primeiro a quem Deus, que
proporcionou uma relação através da comunicação do pacto, também fez
conhecer os primeiros princípios do mesmo. Pois o primeiro Adão – ao
menos para aqueles que não pensam de maneira evolucionista -- não era
um menino, nem uma pessoa ingênua e brincalhona. Para usar o linguajar
da Confissão de Fé Belga, certamente tinha, junto com todas as demais
criaturas, seu officium, sua tarefa como parte da unidade criada das obras
de Deus. Entretanto, para ele – assim como para os anjos—o officium se
converteu em ofício. Havia sido feito por Deus com o objetivo de ser alguém
que portaria um ofício, não só como parte da enorme maquinaria do mundo,
mas também como o engenheiro designado por Deus, quem responderia
perante Ele, responsável não na primeira mas na segunda capacidade.

Esta designação de adam (homem) a tal ofício de responsabilidade


determina a totalidade do seu curso de ação em todos os seus
relacionamentos. Até mesmo determina suas qualidades. Pois Deus o criou
exatamente como Ele queria que ele fosse. E Deus queria que fosse alguém
que portaria um ofício e que o fizesse (exercesse) com proposito. Deste
ponto de vista desaparece completamente o conceito de “ingênuo” homem
primitivo. O homem recebe o titulo de “colaborador de Deus”. A ele se da
Sua própria obra em um amplo contexto cósmico, e esta obra, no mundo
original da pureza paradisíaca, pode de maneira imediata e continua
(sempre), receber o nome de “liturgia”; isto é, serviço no e para o Reino.
Qual Reino? Aquele cujo Deus é Rei; isto é, o Reino dos céus, cujo súditos
tinha sidos distribuídos em duas seções do cosmos: uma seção “superior” e
uma seção “inferior”.

Se esta é a imagem do primeiro Adão, então o Cristo pode justamente levar


Seu nome de segundo Adão somente se Ele também --- como homem --- se
enquadra e quer ser enquadrado no âmbito desta categoria de ofício. Pois é
precisamente assim que o segundo Adão é revertido em Cristo como
portador do ofício na metade. da historia e tinha que reverter para o começo
e para os princípios então dados (lá atrás). Ao cumprir Seu ofício --- que é
fundamentalmente o mesmo que o de todos os homens – perante o rosto de
Deus, assume sobre Si mesmo a grande tarefa reformadora de voltar
(regressar) ao abc da ordem da vida e do mundo. Servir a Deus, na vida
concreta, obedecer a Deus em qualquer função, cumprir a vontade expressa
de Deus com tudo o que há em nós e fazê-lo no meio do e no
relacionamento e comunhão orgânica com tudo o que esta ao nosso redor –
isto é o ABC. Aqui temos declarado em principio o problema da cultura, e
também sua definição.

Em seguida voltaremos a esse ponto.

Mas quando mais uma vez voltarmos ao segmento, seguindo esta pesquisa
provisional de um ponto de repouso para nossos pensamentos, então vemos
a Cristo em Seu oficio no meio da história mundial. É de tal maneira que se
desenvolve o conceito da “metade da história”(Tillich et al.) em concordância
com as Escrituras. Não é nenhuma “categoria”, no mesmo nível com o
“conceito limitador” de um assim chamado “começo” a-historico ou com
aquele de um “eschaton” igualmente a-histórico – tomado mais uma vez
como um “conceito limitador” --- mas que é resultado de uma genuína
medida do tempo e da divisão do tempo em períodos atuais. Certamente
havia um começo histórico; foi ali que o homem foi criado e quando caiu em
pecado. Também haverá um fim: quando todos receberam as coisas feitas
“em seu corpo” (por ele em sua existência temporal aqui embaixo). De modo
que a “metade” da história é o período em que o Cristo vem para redimir
esse fim, da condenação de ser determinada exclusivamente pela queda e
ruptura que aconteceram logo após o principio (inicio).
14 .
Para que mais uma vez seja possível que o homem cumpra este serviço
original de Deus, e para trazer-lhe de volta a Ele, tanto de maneira legal
como de fato, Seu mundo e Sua comunidade que realiza Sua obra, Cristo
vem fazer duas coisas.

Em primeiro lugar, vem para reconciliar Deus (com os homens) e roubar


(sofrer a aplicação) a sua ira. Ele faz isso em perfeita aliança com o Próprio
Deus, quem é o sujeito da “Katallage”(reconciliação): “Deus estava em
Cristo reconciliando consigo o mundo”( II Coríntios 5:19) . “em Cristo”, Ele foi
o único Autor desta Katallage. Pois a ira eterna flamejante de Deus contra o
pecado não pode manter seus postulados em harmonia com aqueles de Sua
misericórdia eternamente acesa ao mesmo tempo ( na assim chamada
metade da história) o castigo de Deus assim como Sua demanda por justiça
é satisfeita. A justiça retributiva requer a condenação completa do culpado; a
justiça demandante não obstante deseja a entrega de uma obediência
inviolável “no corpo” (isto é, no período que abarca a vida de um homem).
Portanto, o Cristo se ergue (permanece) como garantidor desta justiça dupla.
E Ele certamente paga a garantia (penhor/compromisso). Desta maneira,
Ele, no tempo, produz o veredito judicial que era conhecido e demandado
pela ira de Deus bem como pelo Seu amor. Com o resgate de Seu sangue
Ele compra o direito a renovação do agora chamada “nova” humanidade de
Deus. Agora é chamada de Sua congregação Cristã remida a qual através
dEle e junto com Ele é herdeira da vida eterna.

Portanto, porque para Ele e para toda a gente esta vida eterna --- como a
morte eterna – começou ou começará já aqui, neste “mundo da cultura”, Ele
faz uma segunda coisa. Toda a vida e a morte é agora são dadas a Ele para
serem administradas por Ele, porque eles permanecem determinados no
seu caráter eterno pela razão judicial e constitutiva de Si mesmo na “metade
da história”. De modo que, Ele administra a morte eterna como a sentença
de condenação dada por Cristo para aqueles que estão alienados na sua
existência histórica do Seu veredito judicial (“para o que também foram
destinados” I Pedro 2:8). Por conseguinte, Ele vem a fazer duas coisas, por
meio do Seu Santo Espirito, ( quem promove/impulsiona “a metade da
história” para o seu “fim”). Por um lado, ele irá, no mundo cultural, fazer com
que as uvas da terra amadureçam para que sejam pisadas na prensa da
administração da irá de Deus. Por outro lado, Ele virá, por meio do mesmo
Espirito Santo, em quem Ele mesmo “completa” os “mil anos” de Seu próprio
domínio de paz, para equipar a comunidade trabalha e a comunidade de
Deus que exerce o oficio o qual Ele mesmo comprou para o trabalho e
serviço de Deus, com o objetivo de que todos os seus membros viventes
pudessem entrar a cidade da gloria perfeita.
De modo que é uma batalha judicial.

E portanto, uma batalha de poder.

A batalha judicial que ele lutou diante/perante Deus e satanás decidiu


metade do período de tempo do mundo, restaurando assim os seus
fundamentos.

E a batalha dinâmica , que em primeiro lugar Ele ganhou para toda a


eternidade, produz a recém comprada comunidade da obra de Deus, a nova
humanidade, que é, portanto, fundamentalmente as forças “antigas” do
derramamento do Espirito, forças de Santificação, da conquista da igreja, da
maturação do mundo, do ato cultural.

Esse duplo cumprimento de Seu oficio faz transparecer para nós a vida de
Cristo como portador do oficio tanto aqui embaixo como lá em cima e é de
importância primordial para o problema que esta sendo considerado.
15.
Pois na operação deste oficio, o qual foi chamado, e para qual também é
perfeitamente capaz, este mundo corrupto experimenta mais uma vez o
milagre da aparição do homem completo, belo, original, ou se você preferir,
o “ideal”. Embora seja no estado de humilhação, esta integridade e pureza
pode ser vista apenas de forma oculta: a aparência de uma natureza
humana pura e sem pecado que sempre responde em tempo ao chamado
de Deus, na fidelidade de Sua Lei. Ainda assim, todavia não obteve sua
recompensa, a qual o glorifica externamente também, outorgando-lhe
imortalidade a Sua natureza humana. A recompensa, que também lhe
glorifica publicamente, lhe é dada no estado de glorificação: Ele tornou-se
um Rei em Sua Beleza. O salmo 110:3 se cumpri sempre nEle: e mais de
um filósofo cultural gostaria de ter escrito essas belas palavras, apenas no
momento em que você tenha entendido.

A totalidade do homem, é um dom, um presente? Sim, Ele é. Pois A) Cristo


é a totalidade do homem no meio de nós, onde Ele pode dizer: O Reino de
Deus esta “dentro de vocês”, o que quer dizer, no meio de vocês. Este
homem impecável não virou as costas para os outros nem por um momento.
E não só isso, mas B) pelo tremendo poder do Espirito que havia sido dado
Ele também criou um homem que, em principio, é completa, mais uma vez
fruto da regeneração criativa.

Crer nisto tem consequências.

A) Desde que os arquivos culturais dos homens estão entre seus


mandatos, e visto que nada pode atuar/fazer de tal maneira que suas
ações não tenham algum significado cultural, Cristo, aquele sem
pecado, é o Único que de maneira totalmente pura tem afetado e ainda
esta afetado a vida cultural. Ao menos, é o único entre os homens
depois da queda. Quem pode compreender a plenitude dos
pensamentos, incluindo os pensamentos culturais, incluídos nos
dogmas da igreja que vê e prega a Cristo como o Homem sem pecado?
Ele responde como aquele sem pecado, em palavras e atos, e faz de
uma maneira que sempre vai totalmente ao ponto em toda a situação a
que o Espirito o impulsiona, para que possa provar que é o segundo
Adão, dentro de um mundo que , com respeito a cultura, se acha
extremamente aleijado com relação ao mundo do primeiro Adão. O
que é um ato cultural mais direto que reagir as situações e
complicações culturais plenas, pura e fundamentalmente, e de acordo
com a norma original? E em tudo isto, Ele não é tão somente “um”
homem, mas o Filho do Homem. O que quer dizer: Ele é mais que um
ponto brilhante ou um raio de luz para o mundo que, incluindo o
aspecto da cultura, se dirigi ao abismo; Ele é o Sol da justiça, incluindo
o aspecto da cultura. “Sol” não somente expressa uma fonte de luz,
mas também uma fonte de energia. Como o Logos-Mediador-
Garantidor Ele é a Hipóstase (realidade permanente, concreta e
fundamental), o fundamento sólido, o terreno original, o que leva as
coisas a sua realização, o redentor, o renovador da cultura --- um sinal
cultural que, por esta mesmo razão, receberá oposição.
B) E devido ao que Ele, como Messias, mesmo antes de aparecer aqui
como o homem Jesus, o mesmo que depois --- isto é, por todos os
séculos --- toma ação em virtude do direito, que será obtido ou que já
tenha sido obtido na metade da historia pelo Seu poder redentor, faz
as pessoas novamente como se estivessem “no principio”: homens
Deus. No meio de uma “geração retorcida e perversa” Ele coloca o tipo
de uma humanidade que é pura em principio. Ainda não são perfeitos:
entretanto, estão retornando ao principio. Estão retornando desde o
mesmo momento quando Adão, em fé, se submente a Palavra de
promessa do primeiro Evangelho. E continuam aparecendo,
aumentando, chegam a ser “a grande multidão que ninguém podia
contar”, a multidão daqueles que em Cristo tem sido santificados pelo
Espirito. Sua quantidade aumentara e permanecera numera/acrescida
até o ultimo dia.

Nesta administração de Seu próprio oficio, e na formação daqueles


que são ungidos junto com Ele (os Cristãos) se produz nada menos
que uma ação divina (uma ação procedente do Pai, Filho e Espirito)
pelo Cristo de Deus para conquistar o mundo para Deus...”De Jehová
é a terra e sua plenitude”(Salmo 24:1). Esta conquista é uma
reconquista : a propriedade, na medida em que foi concebida desde a
eternidade, é trazida de volta ao Proprietário em sua relação
apropriada. Cristo conecta o começo do mundo com o final, a primeira
historia coma dos últimos dias, as primeiras coisas com a Eschata
(ἔσχατα, ultimas coisas), o alfa com o ômega, o ABC da palavra
legislativa e eficaz de Deus --- do principio – com o XYZ de Sua
palavra evangélica, e novamente eficaz no fim dos dias. Pois o falar
legislativo de Deus no começo do Mundo --- a Adão que não havia
envelhecido --- foi um assunto de falar em e sobre a base do pacto: um
assunto de ordenar a relação mutua entre Deus e o homem, na
promessa e da procura. Este pacto junto com suas ordenanças tinha
então que governar o mundo desde o principio ate o fim. E agora,
depois da ruptura do pacto por parte do primeiro Adão, o segundo
Adão entra no caminho do pacto e o restaura, agora o fim vem em paz,
mas, ou será Pax Christi ou não será nenhuma em absoluto.

Desta maneira Cristo traz a consumação para tudo o que esta no


mundo; aquilo que é secular e o que é eclesiástico, a semente da
mulher e a semente da serpente, o poder dos anjos e a força bruta dos
demônios. Ele foi antes de nós, e em seguida junto conosco, de volta
as origens da criação de Deus: Ele leu ali as tábuas das Leis
operacionais que Deus, no principio, havia imposto sobre o homem de
Deus. Da mesma maneira leu esta norma pura e operacional da tábua
da Lei: que na historia do mundo criado todo trabalhador criado por
Deus tinha que manter o controle de todos os “talentos” que Deus
havia dado aos seus colaboradores na manhã da criação, e aprender a
usa-los de tal maneira que finalmente, a fazer produtivas as
“possibilidades” postas na criação, depois de serem descobertas pela
investigação do homem e seriam respeitados em sua “classe”, o
homem tiraria dele tudo o que estava nele. Todos os talentos que o
Mestre havia dado aos Seus servos estavam no fim, na tarde, por ter
obtido muitos como foram distribuídos pela manhã. Tinha que manter o
controle de todas as possibilidades ocultas no cosmos, tinham que ser
descobertas e postas a funcionar de acordo com a Lei revelada, e
postas a serviço da edificação do todo, de acordo com o intervalo
definido desde o início para as criaturas separadas. Se o homem
pessoal ( assistido a este respeito por outro portador de um oficio
criado por Deus, o anjo) iria cumprir o seu oficio desta maneira, então,
para usar uma expressão retirada da confissão Belga de fé, toda
criatura não pessoal, e incluído a criatura homem --- e o anjo –
cumpririam mais uma vez seu officium (serviço) [Artigo 12]. Isto é, se
preferir, um arranjo teocrático de todas as coisas.

Nada menos que isto foi o que Cristo encontrou escrito na ordem do
dia que Deus havia inscrito no coração do Homem cultural do começo
(princípio), o homem sem mancha no belo jardim sem uma porta
chamada “The Beautiful”, pois o jardim estava aberto ate então.

O que Ele leu ali chamou tanto a Sua atenção e o dominou de tal
forma que – que apenas para exemplificar --- narrou a parábola dos
talentos, onde se ensina este ABC mais uma vez – pois reformar
significa voltar a ensinar as pessoas o ABC – como o último ( como
parece ser a partir dos evangelhos sinópticos ) antes que Ele, em
concordância com Seu ofício, recorreria ao caminho de Seus
sofrimentos e ressureição. Foi a ultima coisa que Ele narrou antes da
chegada do Seu Reino de “mil anos”. Aquilo o impactou tanto que em
Sua ultima grande oração pela igreja “estabelecida” nos dias de Sua
humilhação disse ao Pai “não peço que os tire do mundo, mas que os
guarde do mal” [João 17:15], que os guarde ali, não em seus
esconderijos (claustros), que se converte em um refugio da religião
obstinada, um refectório da fadiga, caso não tenha janelas e sem uma
porta aberta para o mundo.
16 .
Esse último ponto – o ABC dos primeiros dias do mundo – é o ponto crucial
do nosso argumento. É nesse preciso momento que a porta se encontra
sobre as dobradiças e deve encaixar. E – apenas aqui ela pode encaixar.
Pois apenas aqui chegamos à possibilidade de elaborar o conceito de
cultura antes dado, porém de forma provisória. Pois cultura é uma palavra
que pode ser encontrada na primeira página da Bíblia: “Tomou, pois, o
SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o
guardar.” (Gênesis 2:15; 1:28). Essas primeiras páginas da Bíblia são as
páginas “do ABC”. Elas contêm esses três breves mandamentos na
descrição da fase do assim chamado “pacto das obras”. Elas já se encaixam
no mundo virgem que ainda não foi completo; ou seja, que ainda está em
processo de desenvolvimento – de acordo com o plano da criação – para
alcançar o fim, a teleiosis, a entrada no estado de completo crescimento.
Logo, essa primeira página da Bíblia, repleta como ela é de regulamentos do
pacto, é diretamente de interesse cultural. Pois O próprio Criador é
interessado na cultura. “Cultura”, finalmente, é uma palavra que deriva do
latim colere. Colere significa “cultivar”, “cuidar de”. O agricultor que ara seu
campo está ocupado com essa colere. Há um campo, que é uma promessa.
E há semente, que também é uma promessa. Mas há também o fazendeiro,
que significa: “um mandamento com uma promessa”. Como criatura de Deus,
ele foi colocado numa unidade cósmica junto com o campo e a semente. Ele
mesmo é também um “campo” do eterno Espírito, e ao mesmo tempo ele é
semente. Ele também é, em sua inteira existência corporal, uma criatura das
mãos de Deus, inclusive sua “consciência” e sua percepção. Como criatura
de Deus, ele, também, é incluso quando a Confissão Belga afirma que todas
as criaturas são vários personagens num elegante livro (Artigo 2). Mas Deus
o colocou como uma criatura pessoal, não apenas em, mas sobre todas a
vida criada. Ou seja, o homem é, com sua consciência, não apenas um
personagem no livro da criação, mas também um leitor desse “livro”: ele
deve ler e entender também ele mesmo como personagem, apesar de
nunca se isolar das outras criaturas. Deum scire cupio, et animam: eu desejo
conhecer Deus e a alma. Esse ditado bem conhecido significa, quando se
trata dessa “alma”, conhecida através de Deus, que ela – ou nos deixe dizer:
a consciência, a vida consciente – é um personagem nele, mas também um
leitor do livro de Deus. Então, o homem, como um ser pessoal-espiritual,
como um chamado trabalhador de Deus e como o coroado vice-regente,
encontrando e semeando toda semente, deve tirar do campo o que se
encontra nele. Isso é agri-cultura.
No entanto, para poder cumprir essa tarefa, como senhor desse campo, e
também, sendo um ser pessoal, para confessar que ele (ele de forma
consciente) é um com esse campo, sob Deus, deve dar-se à tarefa da auto-
cultura. Esta auto-cultura encontra imediatamente seus limites aqui
estabelecidos. Pode ou não até ser chamado de “personalismo”. Assim que
a “pessoa” é considerada “divina”, ou (o que é fundamentalmente a mesma
coisa) como um fim em si mesma, como um leitor que não mais quer ser um
personagem no livro de Deus, ele caiu na idolatria, uma idolatria da
“cultivação de pessoas”. Ele então esquece que no “livro” da criação, o
nome de Deus deve ser lido e que o Deus que pode ser conhecido através
desse livro como Criador e Recriador é transcendente a um nível infinito
qualitativamente distinto de todas as criaturas. Auto-cutlivo,
autodesenvolvimento, essa askesis positiva (!), ou seja, o treinamento do
aspecto de criatura em nós mesmos, para que o que é humano e
característico de uma criatura possa encontrar seu officium naquilo que o
homem como criatura possa ver seu munus e cumpri-lo – isso é bom e até
ordenado. Sua mão deve semear e depositar a semente no campo do
mundo. Ele deve ser o meio pela qual, em é e fidelidade às promessas que
Deus falou aos seus colegas de trabalho, as promessas silenciosas que
Deus deu às suas criaturas, cada uma em seu próprio contexto, deve
encontrar seu cumprimento apropriado. Em tal auto-desenvolvimento, tal
auto-cultivação, ele se prepara para a tarefa de crescer e ele deixa seu Deus
ter prazer também nele mesmo como um campo ativo.
Essa era a sábia intenção de Deus quando Ele criou o mundo. Não
agradava a Ele criar o mundo totalmente completo. Ele o criou apenas bom.
O mundo, tal como procedeu das mãos de Deus, era um mundo-na-
promessa, um mundo em esperança; e já que ele era bom, essa esperança
não poderia ser chamada de “ociosa”. Nem as ordenanças da criação,
aquelas “leis” fixas, seriam invalidadas algum dia, “sem poder” (até nossa
perfeição) a não ser pela “carne”. Ou seja, quando o pecado faz sua entrada.
Não que o pecado possa colocar de lado as ordenanças da criação.
Definitivamente não. A continuidade delas é a primeira condição para a
bênção assim como para a maldição – ambos foram anunciados no paraíso.
No entanto, as ordenanças da criação, que num mundo obediente sempre
torna as bênçãos concretas e as multiplicam, farão o mesmo num mundo
caído quando se trata da maldição. Então elas são “sem poder” quanto à
bênção, mas não quando à maldição.
Foi assim que Deus falou imediatamente nas sanções do Seu “pacto das
obras”, e assim, Ele colocou todo o mundo, o homem em particular, sob
grande pressão, sob “tensão”. Pois para o homem, chamado de colega de
trabalho de Deus (e também sob Ele), o mundo não era um mundo do
“ômega”, mas sim do “alfa”. O mundo paradisíaco era um começo. E nesse
começo, foi dado, em princípio, tudo que deveria estar lá potencialmente
para deixá-lo crescer e se tornar um mundo completo de perfeita ordem, a
polis, a civitas, a “cidade” (estado) de Deus, projetado de modo paradisíaco
e presentemente construído. Se um dia, ele estará completamente crescido,
ele precisa de um processo histórico de vários séculos. Nós estamos, de
fato, num “ínterim”: mas ele jaz não entre uma “história” primitiva e uma
escatológica, ambas as quais seriam a-históricas, mas entre as “primeiras” e
as “últimas” coisas, que são históricas como as coisas no “meio da história”.
De outro modo, seria irracional falar de um “meio”. A realidade paradisíaca,
então, é definitivamente não uma chamada “maior” realidade: nem é Adão. É
apenas uma realidade virgem: mas para o resto, ela é, muito concretamente,
inclusa no tempo, sóbria, real, histórica: há carne e sangue nela, como
também há alma e espírito. E Espírito.
E agora, nesta sóbria, rasa e plana realidade da vida paradisíaca histórica,
Deus anunciou que Ele executaria uma evolução na fundação da criação.
Essa evolução, de acordo com a natureza da vida criada não pode
acontecer sem a energia que flui de Deus, nem sequer por um momento.
Mas de acordo com a própria palavra de comando de Deus, que cria ordem
e que atribui a cada coisa seu próprio lugar, ela não deve acontecer, nem
sequer por um momento sem o homem como homem de Deus agindo como
colega de trabalho de Deus. “Porque de Deus somos cooperadores”; lavoura
de Deus, edifício de Deus sois vós.” (I Coríntios 3:9). Isso não é um sedativo
póstumo proclamado por Paulo para uma igreja reclusa em algum lugar
isolado. Não, isso é uma questão de voltar de um modo imperativo para os
“primeiros princípios do mundo” Isso não é apenas um texto apropriado para
o sermão inaugural, mas é também o texto diário para qualquer trabalhador
cultural, para o professor tanto como para o varredor de ruas, para o
cozinheiro e para o compositor de uma Sonata ao Luar.
Logo, o primeiro mandamento com um promessa diz: “cultive o jardim”.
Nenhum castelo nos ares é prometido nesse verso: nem sugerem eles uma
chamada “realidade superior”. Cultive o jardim – aqui, primeiramente a pá,
um instrumento cultural, e mais tarde, botas de borracha, não são colocadas
nas nossas mãos, mas o espírito criado do homem deve inventá-los de
acordo com tempo e espaço e criá-las e adaptá-las às mãos que cultivam e
aos pés que abre e pisoteia o solo. Pois a mão e o espírito trabalham juntos:
o homem deve “cultivar”. Cultivar o jardim – aqui nenhum sermão
moralizante e introspectivo é apresentado, mas há um mandamento
concreto para o trabalho e a vida, um trabalho altamente espiritual e,
consequentemente, diário. A ética do ínterim bíblico podem operar apenas
com um lex que possa ser compreendido. Um “mandamento” de que um não
pode se abrir mão, uma Palavra de Deus com que não se pode trabalhar
não o permitiria cumprir seu chamado pedagógico de prescrição. Pois o
jardim pode ser chamado de “paraíso” e nossa retórica lírica infelizmente
pode o ter mudado como por mágica em um lugar isolado, solidamente
cercado onde zéfiros assopram e que, aparentemente, apenas um
romantismo popularmente mal interpretado pode escrever sobre. Mas, na
verdade é algo completamente diferente. O jardim é o começo de adama, do
mundo habitado. Logo, é também o começo do mundo cultural. O jardim jaz
aberto. Logo, nós previamente falamos do belo jardim, mas um sem cercas
chamado “O Belo”. Tudo aquilo que surge do mundo flui desde ali, incluindo
aquilo que surge da vida cultural e de todos os seus processos. Pois a
CULTURA se torna AQUI:
A BUSCA SISTEMÁTICA DA SOMA TOTAL DO
TRABALHO, QUE SE ALCANÇARÁ POR MEIO DE
UM PROCESSO, PELA SOMA TOTAL DE TODOS
OS SERES HUMANOS COMO PERTENCENTES A
DEUS, SE EVOLUEM PARA DEUS NA HISTÓRIA
COM E PARA O COSMOS, E ESTÁ PREESNTE
EM QUALQUER MOMENTO HISTÓRICO, TENDO
ASSUMIDO A TAREFA DE DIVULGAR AS
POTÊNCIAS DORMENTES NA CRIAÇÃO E
ESTAS, SUCESSIVAMENTE, CHEGAM A ESTAR A
SEU ALCANÇE DURANTE O CURSO DA
HISTÓRIA DO MUNDO; A TAREFA DE
DESENVOLVER-LAS EM CONFORMIDADE COM
SUAS NATUREZAS INDIVIDUAIS, DE PÔ-LAS A
SERVIÇO DE SEU MEIO, TANTO PERTO COMO
LONGE, DE ACORDO COM SUA RELAÇÃO
CÓSMICA E EM SUBMISSÃO ÀS NORMAS DA
VERDADE REVELADA DE DEUS; E TUDO ISSO
COM A INTENÇÃO DE TORNAR OS TESOUROS
ASSIM ADQUIRIDOS ÚTEIS PARA O HOMEM
COMO CRIATURA LITÚRGICA, E,
SUBSEQUENTEMENTE, TRAZÊ-LOS , JUNTOS
COM O HOMEM AGORA MAIS BEM EQUIPADO,
ANTE DEUS E PÔ-LOS A SEUS PÉS, PARA QUE
ELE SEJA TUDO EM TODOS, E EM CADA
TRABALHO POSSA ALEGRAR SEU MESTRE.

Na nossa opinião, essa definição reproduz os aspectos fundamentais da


história bíblica da criação. Cultive o jardim: o mandato cultural concreto de
explorar os potenciais do mundo. Sede fecundos, multiplicai-vos: uma soma
crescente total de humanos a serem sujeitos ao mandato cultural, a
obrigação de se engajar na cultura, repetidamente em cada fase temporal e
em todas as províncias do espaço geográfico. Sujeite a terra. E tenha
domínio: o homem cultural como um produto do trabalho da criação de Deus,
defronte à sua própria posição aquela de vice-regente de Deus. O homem
criou na própria imagem de Deus: o trabalho cultural deve ser espontâneo
(as qualidades do homem foram criadas neles em vista de seu munus): é
uma questão de servir a Deus como representante da Sua suprema
autoridade e, consequentemente, uma questão de descobrir Deus e fazer
com que Ele seja encontrado na descoberta do futuro. Deus fala até o
homem e com o homem, por causa do seu desígnio como o representante
escolhido do domínio de Deus sobre todas as demais criaturas, e dentro da
comunhão do pacto que Deus fez com ele, a respeito do resto dos cosmos,
apesar do fato de que o mesmo é parte desse cosmos – despertando assim
a autodistinção, a autocultura, o autodesenvolvimento, da qual é feito
consciente como responsabilidade, não sendo ele um fim em si mesmo e
sim em virtude do seu mandato. E finalmente, lhe foi dado um mandamento
moral junto com tudo que pertence a ele, ele mesmo está em seu labor
cultural sujeito a seu Criador: na determinação de suas próprias metas a
respeito das coisas criadas, está obrigado e limitado pelo que se escutou da
boca de Deus através da palavra-revelação acerca do próprio propósito de
Deus a respeito dos cosmos. Ele é chamado a ajoelhar-se, agora no
presente, ante seu Criador em e junto com um cosmos preparado pelas
suas próprias mãos sob a providência de Deus, culturalmente engajado
como ele é por si mesmo, mas especialmente ao sabbath divino, a qual o
homem deve entrar.
Sob a influência do pensamento que foi corrompido pelo pecado e é hostil
a Deus, num mundo que corrompe todos os relacionamentos, a cultura é
facilmente separada da “religião”, ou, pelo menos, é fortemente distinguida
dela. Mas não foi assim desde o princípio (Mateus 19:8). Pois a religião não
é uma província da vida, não é uma função separada de ou para o “coração”,
não é uma atividade isolada de um pequeno grupo de devotos durante
certos elementos elevados do tempo de vida do homem. Não, religião, ou
melhor, o serviço a Deus, deve distinguir-se da religiosidade. Shleiermacher,
o filósofo panteísta disfarçado de teólogo do romantismo, escreveu um livro
intitulado: Sobre a religião. No entanto, ele lidou apenas com religiosidade e
afinal – por virtude de seu panteísmo – essa religiosidade era auto-adoração,
na medida que “Deus” e o “universo” se entrelaçam em seu pensamento. Ele,
por necessidade, teve que rejeitar como sendo moralismo qualquer ação
tendo um objetivo. “Religião” era para ele nem uma questão de “saber” nem
de “fazer”. Na nossa interpretação, também não é mero “fazer”. É servir :
porém, não é de uma partícula da natureza oscilando junto com o universo,
uma partícula chamada homunculus, mas sim o serviço do homem que ama
seu Pai, sabe que ele está acima do mundo, que crê nEle no mundo e
deseja retornar a Ele com o mundo, para que assim ele possa,
conscientemente – não derivando toda sorte de “fórmulas” do “universo”,
mas escutando os mandamentos de instruçao de seu Pai-Legislador –
formulas suas máximas no “conhecimento” crente da igreja e, então, cumprir
o desejo de seu Pai. Por essa razão, o trabalho cultural no paraíso é serviço
a Deus. Lá, cultiva-se de tudo, o solo em que se anda e o coração em sua
profundidade completa, plantas também como o espírito que medita. Lá,
lavam-se suas mãos imaculadas também como sua alma em justiça – uma
coisa não pode ser separada da outra.
E a cultura tomará novamente seu lugar designado por Deus somente alí,
onde se faz referência de forma retrospectiva a essa situação original e sua
ordem.
17 .
Nós falamos fazer referência de forma retrospectiva . Essa expressão já
inclui a confissão de que houve um rompimento.
Esse rompimento foi causado pelo pecado; o homem caiu da presença de
Deus.
Então houve a desintegração. Sua vida tornou-se em migalhas. O mesmo
aconteceu ao mundo: todo ele e suas respectivas partes não funcionavam
mais uma para as outras. A mente humana, confusa, errante, pecaminosa,
pretensiosa, ela mesma desintegrada em princípio, começou a praticar
desintegração, ou seja, a abstrair, a dilacerar, a desmoronar-se e separar-se.
O homem deixou de pensar de uma maneira geral e com amplitude,
mantendo as “partes” em uma relação apropriada com o “todo” e colocando
tudo isso aos pés de Deus, mas ele mudou seu interesse “católico” por um
focado na “especialização”, ou seja, um interesse nos detalhes. Detalhes
esses que podem chegar a causar paixão no homem e foram cortados do
“inteiro” em que se deve amar a Deus. Ele tapou seus ouvidos à verdade
revelada a ele na Lei de Deus e confirmou pelos fracassos trágicos da sua
existência, a verdade que ele, uma vez que caiu no pecado, não poderia ou
iria mais pesquisar qualquer tema no grande contexto do todo das
composições de Deus, e muito menos poderia ou iria trabalhar em seu
próprio contexto.
Foi assim que cultura e religião foram separados uma da outra: a
vanguarda da geração de Caim escolheu “cultura” e descartou “religião”
como algo não relacionado; e a retaguarda da geração de Sete concordou
com essa distinção. E essa foi a pior coisa. Mas não foi assim desde o
princípio.

O pecado executou uma destruição ainda maior devido à impossibilidade


de para o processo de desintegração. Não só a ruptura e abstração de tudo
em “partes”, “esferas”, “setores”, “territórios”, “grupos com interesses em
comum”, são em si o resultado do pecado, mas até mesmo dentro destas
“esferas”, “territórios”, “comunidades”(que existem como resultado da
abstração) o fator da diluição torna-se ainda mais ativo para aumentar o
efeito do princípio de des-catolização, Pois, embora Deus permita que as
distinções que Ele colocou em Sua criação se combinem em uma única
unidade “multiforme”7 , Satanás torna essas distinções em princípios de
divisão, forçando uma luta de raças. O mesmo princípio se aplica quando
tratamos de diferentes classes, sexos, personalidades, nacionalidades e
organizações comerciais. Para utilizar a imagem paulina novamente: o olho
cultiva o olho, a orelha cultiva a orelha, a mão cultiva a mão, o pé cultiva o
pé e esse furor pela especialização corre rampante tão profundamente que a
questão da necessidade mútua dessas respectivas partes do corpo é
reservada apenas a momentos em que o mundo tem uma ressaca, por
exemplo, no que é chamado de mentalidade pós-guerra. Até nesses
momentos, levantar essa questão não é nada mais que um memorando. Um
“tipo” logo se torna o oposto de outro, de quem originalmente, era apenas
um complemento. Em todo lugar, diferenças tornam-se antíteses. Cultura
como sendo o esforço sistemático do desenvolvimento da soma total de
seres humanos buscando a aquisição de um conjunto de trabalhos já está
formalmente desintegrando. Pois agindo dessa maneira, as pessoas atacam
o sistema: a confusão linguística é uma punição, mas é imediatamente
apresentada com uma coisa boa. Essa dissolução formal é o fruto de um
afastamento material de Deus. A fé em sua palavra de pacto foi abandonada.
A ideia do ofício do homem foi, então, abandonada. A seriedade de caráter
deu lugar ao jogo e ao jogo de cultura (paixão pelo esporte, quatro colunas
de análise de esporte nos jornais e meia coluna de notícias sobre a igreja;
grandes quantidades de dinheiro para o vencedor de uma partida, mas nem
sequer uma carta para a causa da luta espiritual, até em jornais “cristãos”). A
esperança, que na regeneração de todas as coisas vê cada parte
novamente em seu devido lugar de um todo, foi abandonada; cada dia o
mundo se torna mais nervoso e a “cultura” se converte cada vez mais em
um negócio de armaduras blindadas: cada um se amuralha em sua própria
armadura blindada, sob o comando da “sua” organização de comércio. O
amor a Deus, Que deve ser mostrado em toda Sua glória naquilo que é Seu,
submete-se e dá lugar à paixão por uma criatura que se afastou de seu
Criador. Não existe mais unidade. Não é nem sequer mais buscado, porque
a unidade é encontrada apenas em Deus, e Deus é considerado um inimigo.
Já não se segue mais o estilo original do “mandamento de vida” (no paraíso),
e a razão que se dá- se é que uma razão ainda é dada- é essa: Bem, nós
estamos num deserto agora, e não podemos fazer muita coisa com
mandamentos paradisíacos.
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7 Usamos a palavra “pluriforme”, ainda que sem aspas – pois não


compartilhamos seu pano de fundo filosófico, que permite que o uso deste
termo seja entendido de mais de uma maneira.
Porém, este argumento trai a hipocrisia daqueles que o usam: a lei da vida é
desprezada porque Deus, Quem por e em sua lei deu vida, é ele mesmo
negado. Por sua parte, o homem separado de Deus não mais tem um estilo
cultural que é determinado pela lei moral. Somente enquanto Deus (como na
realidade mostrará que está fazendo), por sua própria causa, ainda mantiver
o mundo criado num contexto natural do cosmos, o homem se sentirá preso
a esta disposição fixa de Deus, inclusive em suas realizações culturais.
Apesar de que a lei moral de Deus não mais determina o estilo cultural do
homem, a lei natural continua a limitar o produtor de cultura com fortes laços.
Entretanto, as cordas desta coerção natural diferem das cordas do amor de
Deus. O nó firme das ordenanças naturais de Deus amarra o amigo de Deus
tanto quanto seu inimigo. Porém, no que se trata do inimigo, se dependesse
dele, ele iria, em sua batalha contra a lei moral, tentaria valer-se daquilo que
é natural e funciona como tal. Se ele pudesse, precisamente em sua cultura
imoral, seria de seu agrado obter o “estilo” próprio de Satanás, que também
tem sido incapaz de destruir a estrutura fundamental da criação original de
Deus, mas que ainda deseja corromper moralmente, com toda sua força, o
mundo dado por Deus. Já houveram “estilos culturais” próprios do
“satanismo”.
18 .
Como implica o que foi dito anteriormente, o mero fato de que a cultura
existe e de que o homem performa trabalho cultural não pode ser
classificado sob a chamada “graça comum”.
Isto tem sido afirmado de forma repetida. Tomando um ponto de vista da
experiência e ao mesmo tempo fazendo um esforço “dirigido” para tomar em
consideração os dados bíblicos, se concluirá o seguinte: devido ao terrível
caráter do pecado e da culpa, nós, homens, merecíamos a descida ao
inferno imediatamente após a queda. Tal descida, pondo um fim a todo
desenvolvimento, seria justa. Entretanto, vemos diante de nossos olhos que
o mundo continuou a existir depois da queda por milhares de anos e que as
potencialidades dadas ao cosmos também estão sendo desenvolvidas. Isto
não é “graça”? A resposta está implícita: é, de fato, graça; é a bondade de
Deus, que ele não deve a nós. É verdade que essa graça não redime para
salvação eterna. Portanto, recebe o nome de “graça comum”. Não obstante,
é, de fato, graça. Nos dá o benefício da restrição do pecado. Se o pecado
não fosse restringido, ele irrompiria em um derramamento da mais flagrante
e diretamente satânica perversidade. No entanto, Deus freia esta perversão
por meio da operação “comum” do espírito, até pelo “testemunho” comum do
espírito cujo testemunho provê ao homem com certeza, a segurança
imediata acerca de algumas porções de verdades centrais, sendo essa
certeza pré-reflexiva. Desta maneira, cai sobre o deserto desse mundo o
contínuo orvalho auto-renovador da graça comum, que torna a vida tolerável
e até – em virtude da operação “progressiva” que lhe é peculiar – cria oásis
no meio do deserto. Incluindo os oásis culturais.
No entanto, há muitas curvas nesse trem de pensamento que debilitam a
conclusão de que o termo “graça comum” é aplicável aqui.
Certamente é verdade que o pecado está sendo “restringido” e que a
maldição não foi derramada em totalidade sobre o mundo. Porém, o mesmo
pode ser dito sobre a obediência que em Cristo se permitiu uma vez mais a
Jesus ser alvo da livre graça de Deus e que pelo poder do Espírito de Cristo
também foi capaz de chegar a ser um alvo desse favor. Qualquer um que
chame de “graça” a restrição da maldição deve também chamar a “restrição”
da bênção de “juízo”. Entretanto nenhum destes termos teria uma base
científica. No melhor dos casos, eles poderiam ser usados numa descrição
não-científica da realidade concreta, porém, um próximo ao outro. Todavia,
esta utilização casual quando se fala em “graça comum” tanto quando se
fala em “juízo comum” já, em si significa uma correção da preferência pelo
termo “graça comum”.
Certamente existe uma retenção [2 Tessalonicenses 2:6]. Porém, a
retenção é uma característica peculiar quanto ao tempo. Onde nada é retido,
existe uma possessio 8 tota simul (uma posssessão de vida de modo que
um sempre possui a totalidade da sua possessão simultaneamente em suas
mãos em medida plena) OU uma privatio tota simul (uma questão de ter sido
roubada uma privação e em seguida, novamente de maneira que a plenitude
desta privação está lá em todo “momento” totalmente, em sua inteireza).
Para dizer de outra forma: onde não há privação, já não há mais existência
temporal; há eternidade. Pois até no paraíso havia uma “retenção”. Se o
espírito de Deus houvesse sido dado a Adão sem nenhuma restrição, então
ele teria sido excluído da possibilidade de cair em pecado.
“Desenvolvimento”- ou de outra maneira, “corrupção”- é uma característica
peculiar ao tempo. Desenvolvimento e corrupção pertencem ao tempo. O
estado de estar sendo desenvolvido e de estar sendo corrompido (ambos
pleromaticamente, de acordo com a natureza e a capacidade do sujeito)
pertencem à eternidade. Consequentemente, o fato de que os dons da
criação mostram desenvolvimento não é graça, e sim natureza. Existe uma
agitação “dentro deles”, nas coisas e nas pessoas. É algo “no” homem: o
impulso violento de um que, posto que o mesmo está “desenvolvendo”, visa
obter o milho e o vinho da terra “em desenvolvimento”; é o impulso de
“colere”, de cultivar o jardim. No entanto, aquilo que antes da queda era uma
obra religiosa de amor dirigido a Deus como o Deus do Pacto se torna,
depois da queda, uma obra de egoísmo, da autopreservação, do entusiasmo
pela vida (a la Pallieter9), não serviço a Deus, mas autoserviço. Se escuta
tanto sobre a “natureza” que é deixada a impressão de que ela é capital
morto, deitada, esperando ser ou não utilizada pelo homem (e pelo mundo).
Então, se pula para a conclusão: esse mundo do homem merecia morrer
uma morte eterna, que tiraria de todos os seus objetos a possibilidade de
qualquer aplicação do capital; Não obstante, o homem é capaz de “usar” a
“natureza”, ou seja, fazer com que esse capital morto ainda produza lucro,
ergo, isto é “graça”.
Porém, todas essas palavras não tem valor algum enquanto natureza for
entendida como natureza temporal. Enquanto o tempo existir, mobilidade,
gravidez e nascimento, reprodução e concepção, pertencem à natureza. O
capital “morto” - e essa é uma terminologia atrevida porque não é relevante
para a natureza-no-tempo e porque serve apenas ingenuamente para
distorcer o problema com a intenção de ser capaz de concluir que o termo
“graça comum” é, de fato, aplicável.
O problema em consideração, então, é fundamentalmente uma questão de
avaliação do “tempo”.
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8 Nós estamos fazendo alusão à bem conhecida definição de Boécio de
Deus como O eterno. De acordo com isso, Deus tem um perfeito e tota
stimul possessio, por exemplo, a possessão de uma vida interminável (uma
vida que não pode ser limitada). Isso sempre mantém algo reservado a Deus
apenas. Tota simul – ao mesmo tempo em sua completude (cf. perfectum
praesens).
Para o homem, porém, sua vida é sempre terminável (limitada porque ele é
uma criatura). Temporalmente, ele não “possui” a vida num sentido perfeito.
Sua possessão não é tota simul. Na eternidade (de acordo com o caráter do
terminável) ele possui a vida (em sua própria maneira) “perfeitamente” e
também (de sua própria maneira novamente) tota simul : não existe mais
nenhum crescimento nela.
9 Pallieter, por Felix Timmerman, publicado em Amsterdã, é um romance
“em que o personagem principal incorpora a glorificação pagã do corpo e de
suas cobiças pela vida correndo nu sob a chuva de primavera e beijando o
chão” (citado por Henry R. Van Till, The Calvinistic Concept of Culture,
página 140, nota 4).
É errado pensar que a prolongação do tempo após a queda é uma questão
de “graça”. De modo que isto nos aponta para a seriedade do pecado,
argumentando que “nós” merecemos, imediatamente depois da queda, ser
lançado no “lago de fogo e enxofre”. Isto não aconteceu; ergo; isso é graça.
No entanto, se esquece de que a primeira frase desse argumento oferece
não mais que uma fábula. Se o homem caído tivesse sido jogado no “lago
de fogo” imediatamente após a queda, então “nós” não estaríamos aqui.
Então apenas duas pessoas teriam sido condenadas e ninguém mais, a
humanidade não existiria, o sujeito do já mencionado juízo hipotético.
Consequentemente, um grande mistério precisamente na prolongação do
tempo após a queda. Essa prolongação não é graça. É simples o suficiente
“comprovar” isso : Suponha que Deus houvesse proposto castigar apenas a
tantas pessoas quantas ele, de fato, punirá eternamente. Não teriam, então,
essas pessoas que nascer primeiro, de forma sucessiva, uma da outra?
Então Deus já teria que prolongar o tempo com o propósito de lançar no
inferno tantos objetos da Sua ira quantos um dia haverão. E não apenas isso.
Durante esse tempo, casamentos teriam que ser formados; em qualquer
ritmo, a cópula entre homens e mulheres deveria ocorrer.
Consequentemente, por exemplo, um equilíbrio econômico seria necessário.
Cultura é a pressuposição de todos os trabalhos de Deus, até quando se
fala do interno.
Glória seja dada a Deus porque nós sabemos que haverá mais do que
apenas o inferno. Um Céu, também, está no programa da ação divina. Para
populá-lo com tantos quantos Deus chamou para habitá-lo, a prolongação
do tempo é necessária, o nascimento de filhos é essencial, e,
consequentemente, o trabalho, em um equilíbrio econômico e climatológico,
é necessário. Mas, precisamente por essa razão é um sério erro designar a
prolongação do tempo e o desenvolvimento cultural do cosmos como graça
(comum).
Essa prolongação e desenvolvimento não são graça. Nem são uma
maldição ou condenação, desde que deseje-se usar esses termos de uma
maneira séria.
Eles são a conditio sine qua non de ambos, o substrato de ambos.
Desde que a ânsia por desenvolver a criação seja natural, e desde que a
abertura de qualquer útero, até o da mãe natureza, seja natural, a cultura é
uma coisa natural. É o substrato de dois extremos: a absolvição de tantos
quanto foram predestinados a essa absolvição ou o banimento daqueles que
foram predestinados a esse banimento.
A graça não é inerente à cultura (colere) como tal. Nem é inerente, do
mesmo modo, ao comer, ao beber, ao respirar ou à geração de filhos. Graça,
se há graça, seria inerente apenas em colere onde se teme a Deus, comer,
beber e gerar filhos não como pessoas mortas, mas vivas.
E a maldição não está na cultura (colere) como tal. Nem está no comer, no
beber, no respirar, ou no gerar filhos, como tal. A maldição, se há uma
maldição, estaria apenas em colere ímpia, no comer, beber e gerar filhos de
modo ímpio – não como pessoas vivas, mas mortas.
Dentro da estrutura do tempo pós-queda, a antítese era inevitável não na
natureza, mas no uso da natureza, e, consequentemente, na cultura. Essa é
a antítese entre a atividade cultural na fé e na descrença.
Há, de fato, graça comum na cultura (graça para mais de uma pessoa).
Mas não existe graça universal (ou geral) para todos os homens. Por
conseguinte, a construção de Abraham Kuyper estava errada.
Há também, de fato, uma maldição “comum” na vida cultural (uma maldição
compartilhada por mais de uma pessoa). Mas não há maldição universal (ou
geral).
“Comum” pode, muitas vezes, ser o mesmo que universal, mas não é
necessariamente sempre assim. Algo pode ser comum a todas as pessoas,
mas pode também ser comum a mais de uma pessoa, não a todas.
No esquema presente, “comum” tem a intenção de significar: compartilhado
por muitos, não por todos.
Há uma graça comum (não universal) na cultura, desde que o trabalho
redentor de Cristo seja compartilhado por todos aqueles que são Dele – cuja
graça tem um efeito sobre suas conquistas culturais.
Porém, todos os outros se encontram sob a maldição comum. Ela foi dada
ao homem de Atos 17:31 10 para pronunciar juízo sobre ele

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10 Veja mais em: K. Shilder, Is de term 'algemeene geneade'
weteschappelijk verantwoord? (Kampen: Ph. Zalsman, 1947).
19 .
O filho de Deus agiu imediatamente depois da Queda, ainda não como
Jesus, mas como Messias, conhecido apenas por Deus, sendo o Logos
asarkos incarnandus, a Palavra ainda não incarnada, que ainda iria chegar a
ser carne. Ele entrou em ação para começar a obra e o ministério da graça
nesse mundo, e para marcar como sendo determinado pela Sua obra, o
terreno (não o da eleição e da reprovação, pois o terreno deles é
unicamente a boa complacência de Deus) da salvação e da condenação. O
fundamento da salvação seria: os méritos de Cristo. O fundamento da
condenação seria: a culpa do homem, que, depois da Queda, prova estar
determinada pela presença da obra de Cristo: a culpa do homem é a sua
rejeição a Cristo. Assim, pois, Cristo age tanto como o Salvador-Redentor
como o Salvador-Vingador. O elemento construtivo em abas as funções é:
Sua obra evangélica de redenção, que nunca está satisfeita em ser uma
quantidade insignificante.
Porque neste espírito e com esta dupla intenção, Cristo tomou sobre si
mesmo o fardo do mundo, Ele se tornou o Redentor do mundo, incluindo a
cultura. Além disso, Ele também deu – a partir de agora, cristologicamente
determinado -sentido a toda atividade cultural. Este significado
cristologicamente determinado é universal, geral. A graça nela não é
universal, mas comum. É a única graça para salvação, redenção e recriação.
Pois Cristo agora garante que o mundo, que no conselho eterno de Deus
havia sido “preordenado”, retornaria a Deus, seu Criador.
Consequentemente, uma história de muitos séculos é , por sua própria
causa, “inserida” entre o primeiro pecado já cometido e a maldição final.
Repetimos: por Sua causa. Depois do que temos dito, isso não pode
significar: apenas por causa da Sua obra redentora (ou por causa dos
eleitos). Isso deve significar: por causa da sua dupla função como Salvador-
Redentor e como Salvador-juíz. Ele dá espaço à história para que tudo que
aconteça possa ser cristologicamente determinado: tanto pro como contra. E,
claro, o verbo “inserir” é nada mais que linguagem metafórica. A história
apenas aparenta estar “inserida”. Mas na realidade, ela foi determinada
desde a eternidade. Na história, Deus abre espaço para a toda dominante
obra da redenção de Cristo e para sua aparição no presente, como Jesus,
para morrer aqui na Terra, levantar-se novamente dos mortos e mudar o
curso do mundo, mudando a direção do leme com mãos de carne e sangue
através do poder do Espírito de Deus.
Nessa história – estabelecida pela vontade de Deus para que o mundo
possa se manter, ainda quando se trata de um mundo caído- Cristo deve ser
considerado como Aquele que leva todos os fardos do mundo, enquanto Ele
transfere todos os prazeres do mundo a Deus o Pai, para que Deus possa
ser tudo em todos – veja os versículos de conclusão em 1 Coríntios 15. De
modo que Deus dirige tudo que acontece nesse mundo em direção a Cristo.
Ele direciona toda a cultura em direção a Cristo, que deve determinar a
plenitude do tempo: a cultura das nações antigas antes do dilúvio, a cultura
do Egito, Pérsia, Roma, Grécia e Babilônia. Tais profetas do advento de
Cristo como Isaías e Daniel são os instrutores de todo filósofo cultural
verdadeiro. Por causa dEle e também por Ele, cada processo é dirigido a
este pleroma do tempo. E portanto, toda cultura tem que servir para criar
espaço para uma aparente manjedoura cultural, e também para uma cruz
em aparência culturalmente indiferente, e para abrir em breve um buraco,
em algum lugar num jardim pertencente a José de Arimateia. Porém, na
manhã de Páscoa, o corpo desse Filho do Homem se levanta outra vez
dessa tumba, estando inteiro, são e em perfeitas condições. Então ele
regressa ao mundo de Deus no espírito, este Cristo Jesus, e põe o mundo
em seu lugar devido. Ele põe pessoas sãs - ou seja: renascidas - no lugar
em que lhe é adequado e sara sua vida, tanto que a vida reconhece ele
como a Cabeça mística (por exemplo, escondida) da Sua comunidade.11
Desta forma, se restauram as relações respectivas, em princípio, com sua
origem eticamente normal (como temos visto, as normas originais são as
ordenanças naturais para a vida criada). A carne e o sangue não proclamam
nenhuma norma ética, apenas o Espírito, através da palavra de Deus, faz
isso – incluindo aquilo que está relacionado com o governo, estímulo e a
subserviência escatológica da carne e do sangue.
Isto porque, quando o mundo estava submetido a uma pseudocultura que
não reconhecia a Deus como o Proprietário do cosmos, que arruinava as
coisas e, então, deteriorava a cultura, um punhado de simples artesãos em
pequenas cidades da Ásia menor – obreiros que, pela pregação do
evangelho de Cristo, aprenderam a servir a Deus em seu trabalho diário,
enquanto diligentemente e com suas mentes postas em Deus, curtiam um
pedaço de couro ou faziam uma tenda ou completavam certa tarefa, - faziam
mais, precisamente, pela cultura, que toda a comitiva imperial de César de
Roma com seus palácios, suas bailarinas, seus mecenas e sua metrópole.
Por causa disso, quando um certo dia uma escolta de prisioneiros foi levada
a Roma, entre os quais se encontrava um certo Paulo, este homem foi de
maior significância, particularmente, para a vida cultural, do que toda Roma
embriagada em cultura: ele significava uma mudança radical contra todos
aqueles proeminentes personagens que dirigiam o espetáculo – ele, que
chamou a si mesmo de “aborto”.
Sim, de fato, isso é verdade, alguém pode dizer, pois mais tarde Paulo iria
criar cultura através de seus seguidores. Mas, não, dizem os anjos, ele criou
cultura justamente ali, naquele mesmo momento. Um homem com caráter,
um homem de Deus, entrou na decadente e corrupta cidade de Roma, um
construtor de tendas e um filósofo, um teólogo e missionário; alguém que
teria a coragem de olhar nos olhos do imperador, até quando o mesmo não
tinha coragem para fazer o mesmo. Um homem que mostrou a seus
companheiros de prisão uma grande luz, e que converteu uma casa alugada
em Roma na precursora de uma academia filosófica. Há um pequeno poema
escrito por um poeta latino que diz:
Occurri nuper, visa est mihi digna relatu
pompa: senen potum pota trahebat anus
Ou seja, na rua eu encontro uma estranha procissão: uma velha feiticeira
bêbada estava arrastando um companheiro velho bêbado. Me perdoe esta
tradução rudimentar, mas ela se encaixa aqui. Este pequeno som, em seu
realismo e também

_____________________________________________________________
______
11 “Místico” é um adjetivo (cf. união mística). O substantivo “misticismo”,
porém, designa algo repreensível: a doutrina e os métodos de um (suposto)
imediato conhecimento de Deus – as escrituras não permitem nenhum
espaço a tal coisa.
em sua franqueza histórico-cultural, é tão típica dos dias em que o apóstolo
Paulo entrou na cidade de Roma embriagada de cultura como aquela outra
pequena canção em que um imperador de Roma se lamentava por sua
“alma” por causa de sua pobreza e, displicente, a dava boa noite. Sim, na
verdade, isto era típico das grandes cidades naqueles dias: a bebedeira, que
é então considerada uma piada. Os relacionamentos estavam virados
completamente ao avesso: a mulher arrasta o homem atrás dela, o cabelo
grisalho não é mais uma coroa elegante e o poeta, rindo, faz dinheiro com
isso. Aqui vemos a queda de todo esse mundo. Mas então, o apóstolo Paulo
entrou na cidade acorrentado, pois o servo não é mais que seu mestre. No
entanto, esse Paulo – apesar dele ter um espinho na carne e, de acordo
com sua própria declaração em 1 Coríntios 15:8, foi trazido para a igreja
como um “nascido fora de tempo”, e ainda que soubesse que havia sido
posto na procissão onde não havia muitos ricos, nem muitos nobres, a
procissão dos fracos, daqueles que não são nada nesse mundo, 1 Coríntios
1 – esse homem, Paulo, era, pela graça que lhe havia sido dada, um
exemplo de caráter e sensatez. Incluindo a sensatez cultural. Da mesma
maneira, as sete epístolas, escondidas em algum lugar no começo de um
Apocalipse, no livro de Apocalipse, são, pela graça que fala nele,
monumentos de cultura. E são tão verdadeiramente como o sermão do
monte é um monumento não apenas da história da revelação, mas também
da cultura. Pois no sermão do monte, Jesus Cristo nos ensina daqui da Terra
e nestas sete epístolas, o mesmo Jesus Cristo nos ensina do Céu como na
sala de jantar, no escritório, no tempo, na fábrica, na academia e no estúdio
do artista, deve-se dar conta uma vez mais que o ponto de partida, propósito
e direção são determinados por Deus, que Ele deve preencher seu “sim” e
seu “não” com a força de um juramento, e fazer a sua obra sob a tensão de
viver entre o começo e o fim da história como um kohen, por exemplo, como
uma pessoa que “se põe de pé e serve” diante de Deus. No sermão do
monte e nessas sete epístolas, o mundo dá uma meia volta, como deveria
dar, para assim preparar um fundamento e para edificar uma oficina, mesmo
que fosse para apenas um homem de Deus. Cristo, em princípio, condena
aqui para todos a fragmentação da vida e a conquista na vida de Seu próprio
povo. Ele fundamentalmente conecta as respectivas faculdades até que elas
cheguem a formar uma “universidade”. Novamente Ele vincula a “religião”
junto com a “cultura”, convertendo a atividade cultural em um serviço
concreto a Deus, e quando não é assim, nega a qualquer coisa que não
provém de Deus o nome e a honra de “atividade cultural positiva”. Porque,
estritamente falando, tudo que não provém de fé é pecado. A ânsia cultural
per se é, como vimos, um dos dons “naturais”, os “dons da criação”. Logo,
nós também podemos falar de colere no reino animal. Quem sabe se algum
progresso é feito na questão de organização? Quem sabe se até as
formigas e as abelhas mostraram um certo “progresso” na construção de
seus formigueiros e na maneira de coletar e preservar mel? Mas o uso
proposital desses dons da criação, atividade cultural positiva de acordo com
o mandamento dado por Deus a respeito do propósito e com direção
escatologicamente determinada, é possível apenas em uma obediência
recuperada através do espírito de cristo. O pecado, onde quer que possa
aparecer, também na vida cultural, é incapaz de ser persistentemente moral
em seu pensamento cultural, nem pode construir ou criar de uma maneira
culturalmente positiva. Pois colere significa “construir”, mas o pecado destrói.
No dicionário da revelação original de Deus, cultura é sempre construtiva,
mas o pecado é destrutivo. Nós voltaremos a esse ponto mais tarde.
Como era nos dias em que Paulo entrou tropeçando na cidade de Roma,
assim tem sido desde sempre no mundo. Toda reforma que, dirigida pelo
Espírito de Cristo, retorna às escrituras, a palavra de Deus, é ao mesmo
tempo uma cura da cultura. Quando Martinho Lutero, com sua cabeça
redonda, finalmente casou-se e pode rir novamente de uma maneira
saudável, ele bem valia uma centena de ducados como alguém que
produzia sanidade para a cultura e que ao mesmo tempo a dava direção,
enquanto toda a comitiva papal e imperial valeria dificilmente mais do que
um ducado, até quando se considera o ponto de vista cultural. Isso é
evidente quando se compara as esferas de atividade de países Luteranos e
Católicos Romanos. No entanto, ainda que Lutero tenha cometido erros nos
princípios fundamentais, ou, deixe-me falar dessa maneira, nos fundamentos
da relação entre natureza e graça – erros que foram superados por João
Calvino – os países calvinistas exibiram mais tarde uma construção cultural
que era, em tese e antiteticamente muito mais forte e produziram uma força
muito maior do que era o caso em países luteranos. O caos cultural que
Adolf Hitler deixou atrás de si, porque primeiro trazia consigo, poderia surgir
em países Luteranos inclusive com o apoio de Luteranos “ortodoxos”, porém
enfrentou uma resistência inquebrável e positiva entre grupos calvinistas.
Essa resistência não se despojou de “valores” (que podem ser
compreendidos de forma direta e que possuem uma utilidade tangível) que
se opõem a outros “valores” (o “americanismo”, comunismo versus nazismo,
a democracia real versus uma mística “opinião pública saudável”), mas
continuadamente manteve em mente os projetos históricos do Apocalipse,
os quais são de largo alcance incluem a totalidade da história e que também
são protológicos e escatológicos, e consequentemente conectou suas
atividades culturais com os princípios fundamentais da Reforma Calvinista.
João Calvino em Genebra e Estrasburgo, nos mostra o que o serviço a Deus
é concretamente capaz de realizar, incluindo na área da vida cultural. Ele
criou uma cultura cristã, livre das aspirações imperialistas secularistas que
arruinavam a imaginação de Roma, estando inspiradas pela mesma falsa
distinção entre “natureza” e “graça” que confundiu Martinho Lutero.
Quando pensamos nessas coisas, nos impacta que o nome que o livro de
Apocalipse aplica ao império romano e que é tão significativo precisamente
para o exame e a avaliação cultural é aquele do protótipo anticristão, a
palavra “meretriz”. Quando a Bíblia chama o império romano de meretriz,
tudo depende de uma exegese correta. O mesmo é verdade quando
Martinho Lutero dá ao seminário filosófico uma noz difícil que quebrar
quando fala sobre die Hure Vernunft (a meretriz razão). Isto não era uma
condenação da “razão” (pois uma rameira não está condenada por ser
mulher), mas da razão orgulhosa e pecaminosa que se emancipou de Deus
( como em uma meretriz, apenas o uso da sua natureza feminina contrária à
natureza divina à feminilidade há de ser acusada). Uma única falsa
interpretação da palavra “meretriz” que não mais distingue uma coisa da
outra, é a de que é necessário jogar Martinho Lutero – erroneamente, claro –
no grupo daqueles que desprezam o grande dom da razão dado por Deus.
De igual maneira, uma interpretação indiscriminada do termo “meretriz” e a
igreja de Roma já não sabe em que sentido particular o império era uma
rameira. Era uma rameira em sua perseguição aos cristãos? Oh, não, aquilo
era apenas a consequência. Era uma rameira quando se recusava a colocar
os dons, dons que havia recebido como criatura, a disposição do Deus que
deseja ser o noivo da sua fiel comunidade de colaboradores. Logo, como
consequência de tal exegese falsa, uma igreja mundial pode chegar a
apaixonar-se do que em última instância é a prostituição do império romano.
Então se apresenta uma igreja que atua como “o estado”, idealizando o
estado como um poder cultural, e imitando-o, até ao custo de mutilar o
testemunho cultural, e dessa maneira, esquecendo que a profecia acerca da
relação entre natureza e graça (e também entre natureza e pecado) que é
fiel à palavra de Deus é uma força cultural maior que a mais assombrosa
vitória pírrica de uma igreja culturalmente expansiva. Contra tal vitória pírrica
de Roma, João Calvino visava a restauração. Ele criou uma cultura cristã,
protestante, reformada, precisamente fazendo uma distinção – que não
significa uma separação – entre igreja e estado. Ele chegou ante os recrutas
de Deus com uma ordem do dia que também era uma questão cultural. Ele
viu novamente que no antigo testamento os “pastores” tinham uma tarefa
mais ampla do que apenas cuidar das almas, pois também haviam sido
comissionados para um cuidado natural. Ele ensinou novamente um vívido
amor ao chamado divino, foi a todos os recantos e gretas do mundo, e
aprendeu a entender aquela palavra preciosa da graça e,
consequentemente, também da cultura: “Tudo é vosso[...]e vós, de Cristo, e
Cristo, de Deus” (1 Coríntios 3:21,23).
E o caminho do mundo continuará em concordância com essa lei.
Uma revista da igreja que, quando necessário, faz uma capinagem e
mantém seus pirncípios puros significa mais para a cultura do que um palco
dourado. Contra um ministro que, numa revista reformada semanal,
exclamou que algumas vezes, uma simples dramatização tem mais
significado que sete esboços de estudo, a distinção reformada da natureza-
graça-pecado mantém a opinião de que apenas um esboço significa mais
que sete, até boas encenações, dado que o poder da palavra de Deus é
mais forte que a da imagem, e a doutrina é a doutrina é mais do que um
sinal. Uma família cristã, vivendo um estilo de vida distintivamente cristão
em qualquer complicação que possa encontrar-se, é, para a vida cultural,
outra revelação daquele poder saudável que é buscado em vão em
Hollywood (de qual se dá uma descrição deprimente – especialmente
deprimente, tomando um ponto de vista cultural – é dado no livro de Vicky
Baum, Leben ohne Geheimnis [a vida sem mistério]). Um trabalhador cristão
que se atreve a ser ele mesmo como cristão, novamente representa
salubridade em um mundo a-histórico, americanizado e similar ao mundo
dos negócios; ele vale mais como uma força potencial do que toda uma
escola de ciência que não viu a Deus.
De modo que Cristo se mantém trabalhando, em todo Seu povo, até o fim
dos tempos. Neste mundo, que tem que correr seu curso segundo Seus
direitos validados na Páscoa, Ele, ocasionalmente, coloca à frente novas
forças para a vida cultural em seu sentido mais amplo, por meio de um
milagre criativo solenizado na república da comunhão dos santos: pois toda
nova regeneração, reconhecido na maneira calvinista como a nova criação é
uma questão da Sua intervenção transcendente e misericordiosa, inclusive
na vida cultural. Ele continua e Ele vai presentemente revelar novas fontes,
tão frequentemente quanto na vida de um indivíduo, ou, por conseguinte, em
uma comunidade, esforços são feitos e trabalho é feito no Seu poder e de
acordo com Sua palavra revelada.
Portanto, o livro de Apocalipse desenha uma figura da cidade culturalmente
pura e em descanso do futuro, a nova Jerusalém, com seu perfeito estilo,
um estilo verdadeiramente satisfatório para seus habitantes. Não, essa nova
cidade cultural – nova devido ao fato dela ter vindo à existência pela
renovação e por ser elevada acima do nível da batalha – não chega à
existência gradualmente.
A “catástrofe” do último dia é essencial para sua aparição, também como as
“catástrofes” tiveram um papel fundamental na criação. 12 No entanto, não
devemos esquecer que no momento em que acontece essa catástrofe, seja
“acima nos céus” ou “abaixo na terra” ou “nas águas debaixo da terra”, todos
os potenciais espirituais e materiais já estão presentes que são necessárias
para construir ou restaurar essa cidade cultural e, então, de acordo com Seu
mandamento, continuadamente moldar o material feito disponível pelo
providência de Deus a Sua comunidade de homens, a moldá-la numa
maneira lógica” - que aqui significa, por meio do Logos que se fez carne e
declarou Deus a nós. Esta catástrofe, em si, não criará “caos”, nem destruitá
nem pisoteará nenhuma semente. Pelo contrário, purgará e purificará este
cosmos de todo elemento “produtor” de decadência na cultura. Pois quando
Deus abre os novos céus, não será, por assim dizer, uma donum super
additum que foi obtida por um novo ato de criação, por haver descartado ou
coberto a antiga criação. Esta nova Jerusalém ofuscará o velho lugar de
habitação do homem, mas não cobri-lo como uma redoma. A história sem
fim da maravilha desse lugar de habitação de Deus entre os homens não
será mecanicamente adicionado e imposto como um capítulo
completamente novo que seguirá a narrativa da história do nosso mundo
como uma espécie de apêndice, mas será apenas um relato do evangelho
não reprimido e não diluído acerca do ininterrupto desenvolvimento – dado
por Deus em Cristo – de todas essas forças que foram postas por cristo na
nova (ou seja, renovada) humanidade, a comunidade dos servos de Deus, e
já foram inicialmente desenvolvidos desde então.

_____________________________________________________________
_______ 12 Cf. K. Shilder, Was is de Hemel? (Kampen : J.H. Kok, 1935).
20 .
Aqui, teremos que retornar brevemente a um ponto que já havia sido
discutido na seção anterior. Dissemos lá, estritamente falando, que o
outorgamento de uma licença pela atividade cultural positiva pode ocorrer
apenas quando as pessoas constroem e trabalham de acordo com a
vontade de Deus.
Isso pode ser uma afirmação bastante forte, na opinião de muitos.
Nós imediatamente admitimos que isso precisa de uma ampliação adicional,
apesar de que nós já nos referimos ao fato de que o ato de colere é natural
a todas as pessoas, desde que elas, como um resultado da sua ânsia inata
ao trabalho e ao movimento, participam do cultivo e desenvolvimento dos
cosmos segundo seu envolvimento como criaturas no nunca ocioso campo
de trabalho.
Contudo, há uma possibilidade de mal interpretação que deve ser evitada.
Pois depois da queda, Deus não dividiu o mundo em duas metades para
que uma realizasse serviços culturais de acordo com o mandamento de
Deus e a outra e a outra fosse um deserto ou um caos contendo apenas
ruínas e caricaturas. A mera noção é, em si, absurda. Essa ideia não apenas
se choca com os fatos óbvios mas também não leva a sério cada
pressuposição da atividade cultural.
Não existe nenhuma koinonia real entre os homens, a menos que tenha
sido produzida pelo espírito de Deus. “Koinonia” significa comunhão. Ela não
deve a sua existência ao simples fato de que várias pessoas possuem a
mesma natureza ou os mesmos interesses. Pois se apenas isso
estabelecesse uma comunidade, então haveria uma comunhão de pacto por
todas as partes. Então, não poderia haver um inferno. Aqueles que têm a
opinião de que a comunhão já é estabelecida pelo compartilhamento da
mesma natureza e interesses, esquecem que a mesma coisa é essencial
também para brigar e pelejar uns com os outros de uma maneira que um
realmente toca o outro. Não, comunhão real é outra coisa. Ela pode apenas
ser conquistada onde a mesma natureza é direcionada a uma meta comum
pelo amor aos mesmos princípios básicos e onde quer que os mesmos
interesses forem promovidos em fé comum e esperança e amor. Koinonia
cultural, então, é basicamente uma questão de companheirismo de fé. Aqui
são pertinentes nossas observações a respeito da antítese encontrada
também na vida cultural.
No entanto, ainda que a koinonia una apenas uma parte da humanidade,
existe também uma sunousia, um “estar-juntos”, entre todos os homens.
Agora, Deus impôs uma “sunousia” sobre todos os homens. O trigo e o joio
não foram separados de forma definitiva um do outro. Um dia até essa
sunousia será retirada deles. Porém, as coisas ainda não alcançaram esse
ponto. Em direção a todas essas pessoas posicionadas uma ao lado da
outra em sunousia, vem o comando de se envolverem em trabalho cultural
(cujo mandato é geral, porque Deus não aboliu nenhum mandamento que
seja original e permanente em caráter) como também a ânsia pelo trabalho
cultural é uma característica nata.
Além disso, o material dado que deve-se dar forma é o mundo habitado por
nós (e quem pode dizer se até o mundo ainda não habitado por nós não se
tornará parte da nossa área de desempenho?). Por essa razão não
podemos falar do desempenho cultural de um sem o do outro. A koinonia
nos é dada por Cristo, a sunousia vem de Deus o Criador.
Há apenas uma natureza, mas um duplo uso da mesma: um material, mas
duas maneiras distintas de lhe dar forma; um território, mas um
desenvolvimento duplo dele; uma ânsia cultural, mas duas formas distintas
dela.
E posto que todo processo de modelagem do material, tanto o bom como o
mal, está limitado à natureza, a estrutura e as leis desse material particular,
os produtos do trabalho do incrédulo e dos do trabalho do crente são muito
parecidos. Esta semelhança não é causada pela semelhança de suas
mentes divergentes, e sim por aquele material recalcitrante e rígido. Há uma
grande diferença entre um oleiro e outro, entre um escultor e outro. Um
constrói um tempo, outro constrói um salão de dança, mas ambos vão
buscar sua argila no mesmo poço e seu mármore na mesma pedreira.
Esse é um primeiro aspecto.
Há também um segundo.
Tocamos aqui o problema da “restrição comum”. Pois Deus pôs freio ao
curso do pecado humano. Agora, ainda permanece a rigidez do material a
qual há de se dar forma e permanecerá assim até o último dia. Porém, assim
também será a vontade de se livrar desse material – Fichte, em sua filosofia,
ao menos sonhou com tal “liberdade” - ela também será freada em seu
arrogante avanço satânico neste mundo de restrição geral. Cristo (pois este
controle é um ato da providência de Deus e, por conseguinte, é determinado
pela história da revelação e da salvação) atou Satanás para que ele não
possa tentar as nações durante o período de tempo indicado em Apocalipse
20, exceto no último período dos “mil anos” que compreende o progresso
desde o dia da Ascensão e Pentecostes até a segunda vinda. Ele freou o
processo de pecado e maldição; a “retenção” do Anticristo é um fato. No
entanto, essa retenção do Anticristo se corresponde com a retenção de Si
mesmo por parte do Cristo triunfante. Ele também não permite a Si mesmo
“soltar-se”. Ele, também, ainda não concede a esse mundo, o qual se
encontra freado e mantido sob controle em todos os movimentos da sua vida,
a visão da plena expansão de Seu poder exaltado. Todas as carroças ainda
são mantidas sob controle, todos os cavalos têm as flanges postas. O juízo
está retido, mas também está a graça nesse mundo.
Portanto, nada é completamente desenvolvido e consumado , nada
alcançou sua maturidade. Em nenhum lugar o poder da misericórdia de
Deus se revelou em sua total força, nem no céu. Nem o poder destruidor de
Satanás, de acordo com seu próprio esquema, teve sua influência sentida
em seu total poder em nenhum lugar do mundo, nem no inferno. Qualquer
tipo de música, de anjos tanto como de demônios, é wohltempertiert, e quem
a controla é Deus.
Este é o mistério da restrição comum no problema da cultura (o substrato
da graça comum e o juízo comum antes mencionados). A vida, todavia, não
se dividiu em formas diferentes do inferno e do céu. Os ímpios são, no
entanto, impedidos em seu labor cultural de enlouquecer com raiva contra
Deus no paroxismo do satanismo, ainda que este se derive diretamente de
seu desejo oculto: e a comunhão dos santos de Deus, em parte pelo pecado
que habita neles, mas também pelo governo do seu próprio Rei, que está
buscando as metas da história da salvação e da revelação, é ainda impedido
de cumprir adequadamente o seu papel. De modo que, pelo governo de
Cristo, que restringe tudo até o último dia, há, para aqueles que servem a
Deus, tanto para o aqueles que não servem, a possibilidade de estarem
simultaneamente envolvidos e trabalhando no uso do mesmo fragmento
cultural aqui e ali – obra que acontece em sunousia e é limitado pela
estrutura do material do cosmos. 13 Aqueles que servem a Deus e aqueles
que não o servem não foram geograficamente separados no mundo. O
próprio Cristo os mantém ainda juntos. Nesse mundo misturado e contido
ainda é possível fazer trabalho construtivo, ainda quando os construtores
não são homens de Deus. A família de Noé não foi a única que construiu a
arca. Os candidatos para a morte sempre estão contribuindo com sua parte.
Mas também devemos observar um terceiro aspecto: a saber, que a
temperantia é sempre constante, mas a restrição ou a prevenção não é. Até
agora, nós mencionamos estas duas coisas seguidamente. Isso era
permissível, pois Deus tempera (por exemplo, controla, guia, mantém o
controle) por meios de restrição (retendo). Porém, a temperantia é uma
questão de governo (algo que permanece para sempre, também no céu e no
inferno e em todas as eras) e a restrição é um modo especial de governar
(cujo modo pode mudar). Apocalipse, capítulo 20, e também 2
Tessalonicenses, capítulo 2, nos conta que Satanás será liberto, o que
acontecerá dentro da duração do tempo, e que o que detém o Anticristo um
dia (também no tempo) será “tirado do meio do caminho”. Esta restrição
nunca estará completamente ausente nesse mundo. Porém, estará
completamente ausente no céu e no inferno. No entanto, durante a duração
do tempo, ela não será uma medida constante. Um dia, ela é mais forte que
no outro. Em certos períodos, Deus entrega seu povo a suas ideias ilusórias,
e envia-os (!) uma “energia” de erro (com efeitos culturais horríveis), e em
outros períodos, Ele desperta em Sua igreja o Espírito de arrependimento e
conversão, que, às vezes, faz com que o impacto da pregação da palavra de
Deus penetre profundamente até nos círculos dos incrédulos. De modo que,
esta restrição diminuirá até um mínimo no final dos tempos. Então, qualquer
status quo existente entre a igreja e o mundo será cancelado – de ambos os
lados – também na vida cultural, de fato, precisamente ali.
Então todo o mundo – exceto os eleitos de Deus – se congregarão ao redor
do Anticristo. Então seus milagres (culturais) – que Deus o permite realizar
por meio de sua permissão ativa, ou seja, tornando o material cósmico (com
suas possibilidades inerentes, como descobertas com uma velocidade
impressionante) livremente acessível – irão, como com grandes sinais e
maravilhas falsas, apartar a igreja de sua
_____________________________________________________________
_______
13 A bem conhecida ária da ópera A flauta mágica, In diese heiligen Hallen,
poderia, além do “lugar” onde ela pertence, também ser cantada na igreja,
sem ofender muitos ouvidos. Por quê? Porque a mente do compositor, ainda
que bêbada em temas budistas, foi incapaz de expressar seu próprio ciclo
pagão teutônico de pensamentos em formas adequadas de estilo: o estilo da
igreja, esse produto de vários séculos, ainda o preocupava porque ele não
poderia deixar seu paganismo (Ísis e Osíris) falar (cf. o já mencionado
“silêncio”). Na minha opinião nós não podemos, nessa linha de raciocínio, ter
nosso ponto de partida sendo a graça comum, mas sim a impotência comum,
que é o resultado do temperamento que não permite que ninguém
transcenda a criação.

proclamação da verdade e a empurrarão no canto distante das antiguidades


e dos fanáticos separatistas de mente retilínea. Logo, as chamas da guerra
cultural se levantarão como nunca antes: a propaganda da falsidade
aparecerá “respaldada” por alguns fatos deslumbrante, enquanto a
propagação da verdade dependerá unicamente da palavra fiel que, sob
estas circunstâncias, mostra a seus fiéis o significado da “dura” afirmação:
“Bem-aventurados os que não viram e creram”.[João 20:29].
Se entende que estamos vivendo num ínterim, e no ínterim do ínterim.
Já discutimos o tema anterior: o ínterim entre as primeiras e as últimas
coisas da história (“ordinária”).
Esta última foi mostrada no seguinte: é o ínterim entre a era ainda não
anticristã e a certamente atual parúsia de fato anticristã do homem de
pecado, o grande herói cultural, ainda que em pecado, escoltado pelo
departamento propagandístico do falso profeta: a besta da terra (Apocalipse
13).
Que o conhecimento disso faça os crentes cuidadosos como nunca antes.
Até quando as formas culturais são as mesmas, ele deve distinguir as
diferenças na direção cultural.
Pois quando se está sob o impacto da lei do temperamento e da restrição
por parte de Deus, há “ainda” uma possibilidade de uma ampla variedade do
desenvolvimento da ciência e arte, do comércio e da indústria, da
comunicação nacional e internacional, de tecnologia ou de qualquer outra
coisa, então isto é, na verdade, “ainda” “cultura” até um certo nível. Mas este
“ainda” é determinado pelo fato que Satanás “ainda não” foi solto. Quem não
sente a derrapagem em direção ao fim do ínterim-do-ínterim quando se
escuta Bach ou ... Jazz? Desde que as atividades culturais não são
motivadas por fé, não são feitas de acordo com a Lei de Deus e para Sua
honra, elas operam com “vestígios” corruptos e são, de fato, um mero
resíduo. O material (de Gênesis 1, natureza cósmica) remanesceu. E ainda
há remanescentes, resíduos, dos dons originais.
A palavra “resíduos” é, claro, não expressa apenas um sentido quantitativo,
pois mesmo que ainda existam “restos” quantitativamente medíveis dos
dons originais, isso que é quantitativo pode, e de fato, irá, murchar. Portanto,
esses resíduos de dons são também chamados de vestigia, ou vestígios, i.e.
pegadas. “Vestigia” não é um conceito quantitativo, pois as pegadas
deixadas pelas patas de um cachorro ou o sapato de um homem não são
remanescentes deles. Reconhecendo o duplo fato de que sempre haverá
remanescentes dos dons originais – a temperantia é constante – mas que
eles sempre se tornarão menores e menores e a “luz da natureza” mais e
mais suprimida (Cânones de Dort), e que (para o crente, de acordo com a
força do seu entendimento de fé) sempre haverá vestigia claro nesse mundo
bêbado, vestígios dos dons paradisíacos (até na paixão cultural anticristã),
nós, no entanto, falamos, nesse sentido e com estas reservas, de resíduos e
vestigia. Nossa conclusão, então, é de que a cultura nunca é nada mais que
uma mera tentativa e que, já que é restrita aos remanescentes, é uma
questão de tragédia. Deus certamente deixou algo no homem caído. Porém,
estas coisas são apenas “pequenos resíduos” dos dons originais do homem,
a respeito dos quais a confissão calvinista fala de uma maneira brilhante e
perigosa. 14 Até quando eles terão sido reduzidos a seu mínimo ou
corrompidos ao seu máximo (Cânones de Dort), eles ainda são vestígios. No
iminente pandemônio da revolução cultural contra Deus e Seu Ungido, o
crente descobrirá a vestigia das riquezas da vida paradisíaca – mas ele
apenas. O grupo dos anticristãos não verão, então, os vestígios do “ontem”,
mas apenas as primícias do “amanhã”, aquele amanhã que eles esperam
(em vão), e que é cortado pelo juiz celestial. Até lá, nós, cristãos, devemos
continuar edificando, em esperança contra esperança – assim como Noé
construiu a arca, em seus “últimos dias”. Nós sabemos: estes resíduos,
tendo efeito num mundo que está “restringido” por Deus de acordo com a
medida de todos seus tempos, e onde nenhum simples vulcão de pecado,
nem um único coração de graça, pode esvaziar-se de uma maneira absoluta
e adequada, um mundo que dia após dia é preservado do summum da sua
própria destruição e que é continuamente protegido do sucesso ilimitado das
suas próprias tendências destrutivas – esses resíduos de tal mundo ainda
são capazes, de acordo com o esquema do desenvolvimento e restrição que
Aquele que enviou Cristo mantém no processo cristológico de toda a história,
para instigar novas contribuições culturais, desde que O apraze. Esta é uma
instigação da possibilidade que já foi dada no mundo paradisíaco e que tem
seu kairos apenas porque Cristo tem Seu próprio alvo e intenção com o
mundo e poupou-o das chamas do dia do juízo. No entanto, os resíduos em
questão nunca podem forçar uma irrupção, ou, o que é ainda pior, eles
nunca podem produzir qualquer trabalho que é são precisamente dirigido
para cumprir seu objetivo e, devido a seu estilo, nem sequer um trabalho
que seja fiel à natureza. Pois ser limitado pela natureza é totalmente
diferente de ser fiel à natureza. O atuar de alguém (intervindo na história de
maneira responsável), só pode ser fiel à natureza quando se é eticamente
fiel a seu Criador. Uma cultura que quer se manter longe de Deus não pode
alcançar a consumação se ela constantemente continua a seguir o curso
que escolheu. Ela nunca pode alcançar a unidade. Ela nunca vai
amadurecer. Ela se consume e se dispersa ao longo dos séculos. O não
regenerado detém o que retém (o detém com injustiça, Romanos 1:18;
Cânones de Dort III/IV, Artigo 4). Nunca nasceu um único estilo contínuo em
que Cristo não foi reconhecido como o Legislador. Vez ou outra, o monstro
da iminente parálise cultural aparece lado a lado às tendências culturais que
se fizeram sentidas. Em nações, raças e sociedades: os arquitetos podem
estar construindo, mas o design original se perdeu. Eles estão construindo
de maneira fragmentária. Cada século tem seu próprio fin-de-siecle. Tudo
que é pesado se torna ainda mais pesado. Com a ajuda de instrumentos
culturais – tome como exemplo o cinema, que foi o resultado de construção
social, mas que, uma vez que estava lá, deveria ser um instrumento cultural
e então poderia manter seu lugar no todo pedagógico – pessoas não irão
construir para destruir: elas irão roubar Deus. Todo construtor irá à falência
quando seus empregados se apaixonarem pelas ferramentas, se as
“refinarem” e as cultivarem para si mesmos, mas ao mesmo tempo não
mostram nenhum amor pelo ato de construir. Aqueles que lembram disso
sabem: nosso construtor chefe (Deus) nunca irá à falência, porém ele tem
uma grande multidão
_____________________________________________________________
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14 Francis Julius, um teólogo do “florescimento” da Reforma, fez uma
afirmação semelhante: de Deo etium verum dicere periculosum est (até falar
da verdade acerca de Deus é perigoso).
desse tipo desprezível de pedreiros e trabalhadores, também entre seu povo
cristão. Pois até entre eles, há tolos que quando se trata de qualquer
instrumento cultural, clamam: o cultivo de tal coisa é cultura real! Eles se
sentem envergonhados por não comungar com os outros. Mas isso é tolice.
A cultivação de um instrumento cultural em si mesmo e para seu próprio
bem não é nada mais que idolatria – cai no mesmo cabeçalho que a
adoração a ídolos, que também inclui o personalismo que rejeitamos
anteriormente. Um filme com um fim em si mesmo, um esporte com o fim em
si mesmo, belas artes com um fim em si mesmo, todos tiveram algo a ver
com cultura; mas a técnica de cultivar esses chamados “territórios”(ai,ai)
aparte da meta e do todo do território universal da operação do mundo que
deve ser trazido de volta a Deus, é como uma atividade, não uma questão
de construir, mas de destruir: o agape para a meta cultural se converte então
em eros a respeito dos meios culturais. Com a ajuda de um martelo, pode-se
tanto construir como destruir. Então esse mundo é destruído não pelos
esportes, cinema, etc., mas por eles serem isolados como fins em si
mesmos. Os filmes em nossos dias estão sendo mais e mais tecnicamente
aperfeiçoados. No entanto, o cinema não é uma coisa construtiva, mas sim
destrutiva. Ao invés de ser um meio de educação, se tornou um meio de
cegar os olhos das pessoas. Quem chama essa atividade de cultura porque
o cinema se origina no poder cultural, esquece que colere ainda significa
“construir ou cultivar”, não “quebrar”. Até Satanás pode lutar contra nós
apenas com a ajuda do material que lhe está disponível no mundo da nossa
sunousia. Acerca do Anticristo, o mesmo pode ser falado. A besta de
Apocalipse 13 não entra no nosso mundo através de uma chaminé, mas
esteve conosco em nossa sunousia desde o nosso nascimento.
21 .
É verdade que nos últimos dias, quando Deus abolir a lei-ínterim da Sua
restrição e em uma dramática tensão repentina, trará sobre o mundo a
catástrofe do grande juízo, o Anticristo estabelecerá um plano de ação com
o objetivo de levantar rapidamente uma visão da anti-cultura inspirada no
pecado ante os olhos do mundo, uma visão que estará contra qualquer
aspecto da cultura que tenha a menor remanescência da influência cristã e
que tratará de realizá-lo por meio de um anti-programa. Porém, para nós
entendermos o que isso significa para nosso tema, temos que prestar
atenção a duas coisas: primeiro, o Anticristo é um ditador. Segundo, será
lançado entre as ameias em que glorifica a si mesmo “na metade de seus
dias”.
Em primeiro lugar, ele é, como dissemos, um ditador. Isto significa que as
origens de suas atividades, incluindo seus planos demoníacos anti-cultura,
não procedem das vias normais do desenvolvimento do que já existe, e sim,
impostas por força sobre um mundo dividido contra si mesmo. De acordo
com as estritas normas da lógica do juízo de Deus do endurecimento do
coração, e a medida que se dispersa sobre o mundo, Deus mesmo o
capacitará para executar seus planos. O mundo “democrático” sofrerá seu
castigo quando acabar nas mãos do Ditador da Culpa. Como e de que
maneira Deus permitirá que ele faça esse trabalho maligno? Pela sua já
mencionada “permissão ativa”, que garante ao Anticristo a execução de
tantas descobertas quanto são necessárias para os “milagres do Anticristo”
(2 Tessalonicenses 2; Apocalipse 13). Ele se exibirá com eles: os materiais
do cosmos serão usados no grandioso jogo da imoralidade última
organizada. A paixão por fragmentos culturais, clarões culturais e
instrumentos culturais – mal serão registrados, pois foram inventados de
forma milagrosa – esta paixão se converterá, então, no mais frívolo
exibicionismo, um carnaval de imoralidade, desavergonhado e
desrespeitando a Deus e ao homem. “Colere” chegará ao fim, o
estabelecimento de metas a longo prazo cessará, e devido a mera paixão
por coisas culturais, a comissão cultural como foi dada por Deus será
rejeitada. Mas, devemos adicionar: essa realidade dura não será
reconhecida, exceto entre o grandemente reduzido número dos últimos,
perseguidos cristãos. Essa paixão por coisas culturais se identificará como o
mandato cultural do louvor do homem pelo homem. Aqueles que não
participarem na canção desse louvor serão sentenciados como estraga-
prazeres: os ditadores não conhecem a misericórdia.
E o fato que mencionamos no segundo lugar, que no juízo de Deus, o
Anticristo será lançado de entre as ameias “na metade de seus dias”, prova
que seu “estilo de desenvolvimento” não pode chegar a seu fim e que seu
programa não chega a completar-se. Qualquer cultura de paixão exclui o
amor e deve impelir como a fumaça, pois é a última contração convulsiva do
“ímpio” do Salmo 68. Isso significará punição para o Anticristo, seu
julgamento. Sim, de fato, mas, ao mesmo tempo, significará a revelação de
sua impotência: todo juízo corresponde com a condição imanente da pessoa
em questão.
Logo, é muito apropriado que o último livro da Bíblia nos diga que o número
7 se ajusta à obra de Deus, como também o número 1000, o número daquilo
que está completo de forma perfeita, mas que o Anticristo não pode chegar
mais longe que o número 3,5. Ou seja, a metade do caminho (pois 3,5 é a
metade de 7) sua obra será destruída, junto com ele mesmo. A “cultura” do
Anticristo deixará em seu rastro apenas torsos, quando o horizonte arder
com o fogo que será visto até nas margens do mar de cristal, o fogo do juízo
de Deus. A feira cultural anticristã do Jogo Sério, em honra ao Homo Ludens,
esse ídolo, será o último esforço espasmódico do homem, que foi criado
com a habilidade natural de uma mente esquemática, esquematicamente
(ou seja, em estilo satânico e até satanista) levantar contra o coetus de Deus
uma anti-congregação. Mas a Bíblia, ao escrever o número “3,5” sobre os
brilhantes produtos culturais desta “guerra final pela cultura” e convulsão de
pecado, mostra que a estrutura cultural dos últimos dias é apenas uma
pirâmide truncada.
Daí em diante, se confirmará ao olho da fé o que já afirmamos, a saber,
que ninguém é capaz de construir ecumenicamente, de criar uma “colere”
contínua e homogênea no sentido real e escatologicamente determinado
pela palavra, a menos que se viva e trabalhe “a partir” de Deus. Tampouco é
capaz nenhum tipo de comunidade.
22 .
Contra o deprimente quadro de tal pirâmide truncada se levanta a estrutura,
inicialmente fiel às normas, da igreja e do reino dos Céus. Enquanto a
palavra de Deus governar e prevalecer ali.
Este reino se preparou para a dor que terá de ser suportada ante a vista
desta pirâmide truncada. Enquanto o povo de Israel ou seus reis
esquecerem que a nação também era igreja, e que a igreja em cada batalha,
incluindo a cultural, pode conquistar apenas por fé – ou seja, aceitando
alegremente o conteúdo da revelação que lhe foi confiada – então apenas
essa nação, com sua casa real, permanecia em lágrimas à vista do toco de
uma árvore que um dia já foi majestosa. A casa de Davi, a construção
nacional de Israel, se tornou em tal toco. Se tornou assim particularmente a
respeito da cultura: o exílio babilônico, a destruição de Jerusalém. Então o
povo, que havia dirigido seu olhar para a cultura das “nações civilizadas” (os
pagãos), que estavam ansiosos para competir com eles e para ultrapassá-
los no mercado cultural, disseram: Ai de mim, nenhum bastão se erguerá da
descendência de Jessé! Quem já viu algo tão impossível? Mas então os
profetas falaram: “Reprime tua voz de choro e as lágrimas de teus
olhos”(Jeremias 31:16). E Ezequiel teve que tornar-se um sinal para o povo
que viu a destruição do desejo de seus olhos – o desejo dos olhos que
apenas veem quantidades culturais. O mesmo também perdeu o desejo de
seus olhos (sua esposa) mas não foi autorizado a prantear (Ezequiel 24: 16,
25). Por que não? Porque pela congregação fiel ao pacto, a que levaria a
sério a Palavra do pacto uma vez mais (Jeremias 31), um bastão iria erguer-
se do toco de cultura, um “ramo”, que seria o Cristo, o Bom Pastor. Ele é um
pastor porque provê em cada necessidade, também nas necessidades
culturais: “o seu pão lhe será dado, as suas águas serão certas”(Isaías
33:16).
Ali nós temos a atividade cultural dos membros fieis da igreja: é de acordo
com a promessa de Deus. Essa promessa também é de acordo com a
natureza cultural: foi dada através da graça e através do evangelho. Esse
presente da graça será “suficiente”: “A minha graça te basta” (II Coríntios
12:9). Suficiente para quê? Suficiente para alcançar o fim do tempo em
fidelidade ao ofício dado a cada um e para não perder vista da colere ou do
Deus que sempre quer ser louvado pelas Suas criaturas.
Nós acabamos de dizer: é suficiente. Não é orgulho cultural dizer que a
graça é suficiente? É disso que é acusado o “Neo-calvinismo”.
Não, nós não encorajamos nenhum orgulho cultural cristão. Pois nós não
dissemos mais que isso: que a graça é suficiente. Além do mais, nós
reconhecemos que também a igreja e o Reino de Deus estão vivendo sob a
pressão universal da lei da restrição, esta aguda resolução da atenuação
promulgada por Cristo, o Rei. Até os crentes nunca acabam suas atividades
culturais. Eles também têm suas pirâmides truncadas. Há muito remendos
no que eles estão fazendo. Não, isso não é motivo para orgulho. Pois, de
fato, os números 7 e 1000 se encaixam no Reino de Deus e na igreja não
porque eles envolvem ou incluem trabalho humano, mas apenas porque em
ambos os números, Cristo é efetivamente ativo com Seu espírito. Mas – por
esse Cristo, foi comprovada ao menos esta grande realidade: essa estrutura
sã e com propósito, um estilo limitado pelas normas e cultura harmoniosa
estão presentes, verdadeiramente presentes, apenas lá onde Deus, pela sua
graça especial, novamente cria pessoas vivas dentre os mortos e onde os
“homens de Deus” são “preparados para toda boa obra” (II Timóteo 3:17): ali,
além disso, toda vez que Ele os vincula mutualmente às suas obras. Pois a
construção cultural teleologicamente dirigida não é uma questão de
indivíduos separados, e sim de uma forte comunhão. Portanto, o artigo da
nossa fé concernente à “comunhão dos santos” (a koinonia) é também de
significância direta para a cultura. E uma cisma na igreja – uma cisma
verdadeira, não uma criada pela hierarquia – sempre significará destruição
cultural. Por um lado, a reforma da igreja, ainda que a quantidade de
pessoas que confessam a fé seja reduzida, também é sempre uma
restauração cultural. E quando esses que confessam a fé verdadeiramente
são boicoteados e removidos com violência das oficinas e dos centros
geradores de cultura, ainda assim serão evangelistas: placas de cultura,
ainda que tenham sido jogados fora. Pois Jesus Cristo é o único que pode
ser chamado verdadeiramente de fonte de cultura.
Estamos cientes de que este ponto de vista tem sido chamado de
“insolente”.
No entanto, aqueles que fazem tal declaração não compartilham do nosso
“credo”. Não conhecem uma palavra de Deus que eficazmente entra na
história de uma maneira histórica; ou seja, continuamente produzindo frutos
da sua própria semente. A “Palavra de Deus”, tal como a consideram, não é
uma “semente de regeneração”. Na sua visão, nenhuma “corrente de
salvação” é forjada aqui, sob as nuvens do céu. O que produz frutos, trinta,
sessenta e até cem vezes, aqui em baixo, na sua opinião, não pode ser
semente do alto.
Não trataremos mais dessa teoria. Deveríamos ser capazes de opor-nos
com seriedade ao Barthianismo se tivéssemos mais espaço do que nos foi
dado aqui.
No entanto, que ninguém se engane com a ideia que isto seria unicamente
um choque de argumentos. Pois no fundo, nos encontramos ante uma
decisão de fé. As escrituras ou são aceitas como são, como a Palavra de
Deus, ou não as aceita. Somos bem conscientes que, no momento que
somos privados das escrituras, nosso ponto de vista não pode produzir
nenhuma prova da sua exatidão – tanto como o outro ponto de vista também
não pode. Mas nós não queremos fazer nada exceto uma declaração de fé
neste momento. Não apenas questões acerca da igreja e do perdão de
pecados são questões de fé, mas de todas as coisas deve ser dito que são
conhecidas apenas por fé e não por “experiência”. Até questões acerca da
“substância” e “aparência” da cultura são respondidas por fé apenas.
Conceitos tais como “comunhão” e “construção” são questões de fé: se a
confissão não tivesse nada a falar acerca delas, ela não mereceria esse
nome.
Mas porque aceitamos esse ponto de vista como sendo bíblico, nós não
encolhemos pelas suas consequências.
Mencionemos algumas delas.
23.
A primeira é que, estritamente falando, é incorreto falar de “a” cultura, da
cultura como tal. Esta maneira de falar faz uso de uma quantidade
imaginária: ou seja, na medida em que pode sugerir que há unidade na
atividade cultural. Essa unidade está faltando até “transcendentalmente”.
Assim como não há “reine” Vernunft (razão pura), nem reine Verstand
überhaupt (intelecto puro em geral), não há tal coisa como reine Kultur
(cultura pura). Apesar de a natureza ser uma, há mais do que um uso e
cultivação dela. Querer é inerente ao homem, também culturalmente;
pertence a sua natureza. Mas o esforço cultural é mais do que querer: ele
inclui objetivos de longo prazo e de longa distância.
Tendo chegado nesse ponto, nós novamente nos encontramos com a
antítese e com a maldição que é o resultado do pecado, a maldição da
desintegração e da dispersão. O mundo ainda sonha com uma Torre de
Babel, e, todavia, sua língua é confundida onde quer que esse grande
projeto seja empreendido, não mais ocorre na mesma maneira
impressionante como na primeira Torre de Babel. Acontece mais
gradualmente agora. A punição nunca é tão severa nem a maldição tão
imensa quando as coisas acontecem dessa maneira gradual. Em princípio,
há novamente alguma produção cultural einheitlich (unificada), nascida do
espírito de Deus. Mas porque o descrente, este grande sectário, se distancia
dela – no entanto, nas aproximações ao material cultural a ser estilizado, ele
mais e mais põe suas sentinelas, que mandam embora todos os que são
incapazes ou não querem produzir a senha do pecado (na realidade isto
será o nome da besta) – portanto, a cultura que é construída pela fé cobrirá
áreas cada vez menores. Essa cultura é einheitlich, mas do material que
suporta “oportunidades” para o impulso cultural, ela usa não mais que
fragmentos apenas. O mundo dos incrédulos cismáticos – o pecado é
cismático – ele não quer de nenhum outro jeito. Contra isto, está o fato de
que este próprio “mundo” cismático, ainda quando conquista todas as
aproximações em direção às fontes naturais, o material que há de ser
moldado e cultivado e os já descobertos meios culturais, por causa de seu
caráter pecaminoso e da inerente destruição da comunhão, produz não mais
que meros fragmentos culturais no seu presente quase universal território
cultural. Com os crentes, há unidade no trabalho, mas apenas fragmentação
das áreas de trabalho. Com os ímpios, há uma área de trabalho unificada,
mas fragmentação do trabalho: fragmentos, torsos, os expoentes das
divergentes aspirações e esforços que não procedem de Deus se
contradizem uns aos outros, se cancelam uns aos outros, e nunca são
capazes de consolidar-se em uma unidade. Pois a unidade imposta do
estado totalitário anticristão não durará muito tempo: se não fosse imposto,
esta paródia da unidade se romperia em pedaços.
Nós já vimos isto, parcialmente com um sentimento de vergonha: até a
cultura que está de acordo com a vontade de Deus não alcançará
completude antes do dia do juízo. Enquanto isso for uma questão da lei
universal da já discutida retardação dos poderes, a “restrição”, isto nos torna
humilde: nossa vida não é se não breve e dependemos do “clima” em que
nascemos. Enquanto isso for uma questão de sermos saqueados pelo
“mundo” que nos expulsa do “território” a ser cultivado, nós temos que
carregar a cruz de Cristo. Enquanto isso for uma questão do pecado de
todos nós, que (nós agora seguimos a linha infralapsariana), desde o alfa
até o ômega, perturbou o gradual desenvolvimento do já dado mundo
(cultural), e agora torna inevitável a aguda ascendência e descendência na
curva do retardo da besta e do Espírito, então temos que confessar nosso
pecado em Adão diante de Deus. E ao passo que o fato que nós não
podemos terminar nossa tarefa é mais uma questão de nosso pecado
diretamente individual e da nossa preguiça e falta de sabedoria, temos que
cumprir penitência por isso e mais ainda esforçar-nos em trabalhar em
direção a uma vida cultural sã, rica e ampla, enquanto isso é possível. Pois
cristo põe ante nós o mandato da atividade cultural. Não contribuir para o
trabalho cultural significa desobediência proposital da parte dos
trabalhadores de Deus. Significa não servir a Deus no que pertence a ele.
Mas também temos que distinguir o governo de Deus no fato que a cultura
como tal, a dos crentes não menos que a dos descrentes, não pode ser
finalizada, pois Deus não deixa que nenhum poder se desenvolva
plenamente, nem sequer o poder de Cristo e de Seu Espírito, antes da
grande catástrofe do juízo final. O retardo, temos dito, é a vontade de cristo
e a lei estabelecida para o Anticristo até que a hora do retorno de Cristo
chegue. Contra uma “lei”, uma ordenança fixa, o poder do homem não pode
fazer nada. Não podemos desafiar o touro para que ele entre na arena antes
do tempo estabelecido. Não podemos livrar-nos da mão restritora de Deus.
Tanto no seu pesar como na sua leveza, inquebrável, mas com a
inquebrável intenção de Deus de garantir-nos “tempos de refrescamento” ela
paira sobre o mundo e seu alvoroço, mas não nos esqueçamos: essa lei
opera também de maneira evangélica : é cristológica. Deus não permite que
os termômetros da cultura sejam quebrados por calor prematuro também por
esta razão: que Ele está esperando pelo último dos eleitos, tanto como o
oposto, o último dos reprovados. Ambos ainda estão por nascer nesse
mundo. Eles ainda terão que ser rodeados pela atmosfera protetora da Terra
que os garante um lugar e que sem a qual ninguém pode fazer nenhum
trabalho. Eles devem ser imersos na atmosfera do temperamento que ainda
restringe o brilho da grande ira da redenção, para que no fim do prolongado
curso do tempo possam cumprir o conselho de Deus a respeito deles
mesmos, lutando uns com os outros em uma batalha de vida ou morte, um
armado, o outro desarmado, cada um obedecendo um mandato diferente.
Não há nesse retardo, no fato que a atmosfera não está sendo destruída em
pedaços, um espantoso tipo de ira, além de uma graça assombrosa? O
poder retardador jaz sobre a vida mundana como uma pressão atmosférica.
O equilíbrio não será quebrado e a atmosfera não será destruída antes
desses dois completarem seus cursos. Então a todos aqueles que são do
segundo Adão lhes será permitido que levem com eles para sempre os
frutos da batalha cultural, já que o novo mundo de Deus proverá espaço
para eles. Então eles entrarão no mundo da satisfação plena, que também
desfruta dos frutos da cultura, mas já passou adiante da batalha cultural.
Assim será, mas não antes disso.
24 .
Uma segunda consequência do ponto de vista que temos tomado é que em
nossa discussão a respeito do cristão e da cultura, nós também não
devemos proceder da ficção da “cultura como tal”. Não há uma única
“substância cultural”, certas “formas” com as quais nos encontramos o que
nós mesmos poderíamos chegar a “ser”. Não há alma, espírito, razão ou
logos universal. Todos esses termos são meras abstrações. Eles seriam
mais ou menos inofensivos se eles não fossem sempre relacionados à ideia
panteísta de que a lei moral acompanha a própria cultura universal, porque
na cultura “Deus” se torna “autoconsciente” e, logo, determina a si mesmo.
Contra isso, o cristão professa que Deus não chega à existência, mas sim
que Ele é, que tomou e estabelece sua decisão desde a eternidade e que
impõe sua lei moral sobre nós do alto. A esta lei nós estamos presos em
nossas ações. Elas são ações ou do novo homem que foi criado por Deus
ou do velho homem que foi deslocado por Satanás. Logo, nós não estamos
tentando encontrar um contrapeso prático em uma adaptação cristã
(supondo que tal coisa fosse possível) do romance sobre la peur de vivre em
oposição às versões cripto-vitalistas de uma versão “cristianizada” e
retocada de Pallieter, por exemplo. Devemos servir a Deus, cada um da sua
própria maneira, vestindo quer seja um avental de couro ou uma toga
acadêmica – não faz nenhuma diferença. Todos temos que servir a Deus,
usando botas de borracha ou carregando uma lata de gasolina, tendo como
emblema um martelo e uma foice (estes símbolos nos pertencem) ou com a
paleta de um pintor, em vez de um incensário per se. Temos que servir a
Deus, cada um no que lhe é próprio, na nova comunidade criada por Deus.
“No que lhe é próprio” significa aqui: de acordo com seu próprio chamado.
Pois o chamado, não a aspiração, e sim a inspiração, determina o que é
“nosso”. Devemos detestar como a praga a formação de qualquer grupo que
determina seus limites e critérios para a membresia, enquanto ignora o
papel do chamado divino. O caráter individual ou a disposição de todos deve
estar alerta contra o perigo de crescer de maneira egoísta além de seus
limites e deve tratar de ajustar-se na estrutura da comunhão em que o
chamado divino (a ser conhecido pelas Escrituras e pelo curso de nossas
vidas) nos reserva um lugar. Estabelecer koinonia na sunousia, como
membros da união mística de Jesus Cristo, isto é cultura cristã.
25 .
Uma terceira consequência do nosso ponto de vista tem a ver com o tema
da abstenção do esforço cultural. Há espaço para isso? Se sim, até quando
devemos nos abster e com que intenção?
Este problema tem aspectos demais para ser resumido aqui. Terão que
bastar algumas poucas observações.
Primeiramente, nós devemos enfatizar que, já que há um mandato cultural
que existia até antes do pecado, abstenção do esforço cultural é sempre
pecado: aqueles que se abstêm dele estão de greve. E agora que Cristo fez
habitar nEle mesmo todos os verdadeiros tesouros da “cultura” - ou seja, da
“graça” - abstenção pela abstenção não é nada mais que uma renúncia de
Cristo, pobreza autoimposta e pecado perante Deus. Nesse sentido a
abstenção cultural de um cristão nunca deve ser pregada. “Pois tudo que
Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável,
porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado. (I Timóteo 4:4,5).
Lê-se: toda criatura.
Os produtos das mãos de Deus não são os mesmos que os das nossas.
Seu “milho e vinho” diferem dos nossos produtos de malte ou do nosso licor
destilado. E precisamente porque cada criatura de Deus é santificada pela
“Palavra de Deus” (Deus falando conosco) e pela “oração” (nossa
comunicação com Ele), ou seja, em uma verdadeira comunhão de pacto, a
abstenção do trabalho cultural, ou, em outras palavras, a recusa de deixar a
criatura de Deus aparecer na comunhão de pacto com Deus, é nada mais
que uma questão de limitar sua comunhão. E o que nós normalmente
falamos sobre o amor que limita sua comunhão propositalmente?
Há também um tipo de abstinência em que o fiel evita certas áreas da
cultura porque ele acha muito difícil seguir os mandamentos de Deus nessas
áreas, se julga incapaz, considera a alta pressão de ser sujeito à lei de Deus
um fardo, e, por essa razão, evita aquela área particular. Deve estar claro
que tal abstinência é pecaminosa. Ele evita a zona cultural preocupado pois
ele não quer um conflito com a Lei de Deus. No entanto, esta abstinência é,
na realidade, uma esquiva do próprio Deus. A pessoa em questão não quer
ter problemas com Ele, o Legislador, mas, ao mesmo tempo, ele fracassa
em deixar Deus o revelar Sua vontade. A renúncia da participação cultural
nunca deve ser desejada com o fim em si mesma. Ela pode ser justificada e
imperativa apenas quando é imposta a nós como uma medida de
emergência.
Pois haverá de ter, de fato, uma situação emergencial até o fim dos tempos.
E essa situação emergencial crescerá gradualmente para pior, pois são
tempos de guerra.
Devido à guerra que Deus ainda mantém contra o pecado e que o pecado
mantém contra Deus, não há em nenhuma parte a possibilidade de um
desenvolvimento simultâneo, harmonioso e centralmente guiado de todas as
forças culturais. Assim como o desenvolvimento normal das forças inerentes
na vida de uma nação que está envolvida em uma guerra é possível
unicamente no momento em que as armas são abaixadas, assim, a
comunidade da nova humanidade pode encontrar seu “repouso” unicamente
no trabalho normal da nova terra. Então a guerra terá acabado.
Este motivo de guerra nos mostra ainda outro aspecto sobre o tema da
abstinência. Deus tem milhões de pessoas em sua criação, porém, apenas
uma parte desses milhões sequer começa a cumprir suas obrigações. Logo,
a comunhão dos filhos fiéis de Deus se faz muito mais carregada de
responsabilidades do que seria se todos temessem e servissem a Deus. Em
nosso tempo, se escutam queixas frequentes de parte dos descrentes
acerca da distribuição desigual de bens. Porém, aqueles que se queixam
disso separados de Deus estão fazendo basicamente a mesma coisa que
eles repreendem na sociedade. Vá e dê um passeio em frente aos cinemas,
dê uma olhada nas placas reluzentes e veja como até os pobres em grandes
quantidades pagam suas entradas. Pense na enorme organização detrás
desse “trabalho cultural” carente de poder e lamentavelmente praticado de
forma anticristã, e nesse único exemplo verá a prova de uma distribuição
ímpia dos bens. O obreiro cristão que trabalha duro por uma moeda e que
no domingo faz sua contribuição para o trabalho missionário também está
engajado na “cultura”, mesmo indiretamente. Metade desse valor seria
suficiente para ele dar se os ociosos que gastam suas duas moedas no
cinema fossem capazes de achar a linha divisória entre entretenimento e
trabalho, esforço criativo e recreação, a soma de dinheiro que é oferecida
para um filme ruim foi tirada de, por exemplo, trabalho missionário, que
também é um trabalho cultural, ainda que não exclusivamente. Esses
poucos exemplos podem ilustrar o fato que os cristãos como uma
comunidade carregam um fardo pesado a respeito da educação, missão,
igreja, caridade, etc. Em cada passo eles são acompanhados pela
anormalidade, pois o filho que trabalha na vinha de seu pai está
sobrecarregado pois seu irmão que não trabalha é infiel ao pai.
Logo, abstinência cultural, em qualquer forma e acerca de qualquer detalhe,
desde que origine ressentimento, preguiça, acanhamento, frouxidão ou
intolerância é pecado diante de Deus. Infelizmente nós devemos admitir que
nesse sentido, o mundo incrédulo frequentemente nos critica com razão.
Pois aparte do ressentimento que faz com que inclusive os cristãos corram
atrás das coisas que não podem nem sequer manejar, um pietismo quase
edificante se esqueceu com bastante frequência – e até catalogado como
heresia – que o trabalho da redenção que nos leva de volta às coisas
“originais” impõe sobre o novo homem a responsabilidade da cultura. Porém,
por outro lado, enquanto os críticos descrentes, negligenciando seu
chamado, estão, de fato, de greve e em questões culturais sempre recusam
uma divisão normal do trabalho, cristãos que continuamente se abstêm são
heróis quando recorrem a seu “ascetismo” negativo para preservar o positivo
para o futuro desempenho de suas responsabilidades, colocando em
primeiro lugar aquilo em que eles são particularmente chamados. Um povo
cristão mantendo suas próprias faculdades, apoiando missionários e
cuidando dos necessitados que lhes foram entregues por Cristo, salvando-
os das garras do absolutismo estatal (esse pioneiro do anticristo!), fazendo
mil outros trabalhos de obrigação divina e por causa disso, é incapaz, por
exemplo, de produzir um imponente teatro cristão, suponto que tal coisa
fosse possível, ou de estabelecer uma exaustiva organização cristã de
caráter estético e artístico, tal povo é, de fato, uma comunhão heroica.
Quando se abstêm de maneira voluntária por essa razão, tal abstenção é,
entre outras coisas, autocontrole e abnegação, autodesenvolvimento do
homem de Deus que quer permanecer engajado no que ele foi chamado a
fazer. Outros podem zombar dele, mas ele é nisto dominado por um amplo
discernimento cultural. Pois sua abstenção por causa da situação
emergencial põe o tempo sob o arco da história do princípio e do fim. Este
tipo de abstenção não deve ser tipificado com a palavra “ressentimento”,
mas encontra seus limites e legitimação em, por exemplo, Mateus 19:12,
onde Cristo fala sobre aqueles que “a si mesmo se fizeram eunucos, por
causa do reino dos céus” e não para evitar seu reino. Ele se reconhece na
cena apresentada em Apocalipse 12. Ali, a mulher (a igreja) vai ao deserto.
No entanto, ela – pois ela vai para o deserto após a ascensão de Cristo ao
Céu, no começo dos “mil anos” do Seu reino glorioso – foi liberada pelo Filho
do Homem. Ela tem os direitos de Sara, a mulher livre. Mas ela sofre fome
no deserto junto com Agar, a serva. Sua abstinência voluntária
definitivamente não é negação dos seus direitos hereditários, mas sim a
manutenção do seu próprio estilo e uma questão de assumir uma tarefa
cultural que a maioria das pessoas jamais toma em consideração: o serviço
a Deus na plena extensão da vida humana, hic et nunc, de acordo com a
ocasião (kairos) do tempo de Cristo (chronos).
É tempo de guerra, até no nosso próprio coração. Também por essa razão,
a abstenção pode ser vez ou outra uma obrigação para a pessoa individual
em muitos sentidos distintos que hão de estar determinados individualmente
em cada ocasião: daqui um olho que deve ser retirado, a mão ou o pé que
deve ser cortado, o campo ou a família que são deixados para trás, o corpo
mutilado, a alma solitária, tudo isso por causa do reino dos céus. Mas isso,
novamente, não é abstenção pela abstenção. É um esforço poderoso para
prevenir uma pesada falta de temperamento no qual o menor se torna
senhor sobre seu superior. Em outras palavras, não é uma questão de
indiferença ao estilo ou hostilidade à cultura, mas, pelo contrário, de cultura
em estilo, treino e ativação, auto-temperamento do homem de Deus (em e
para seu serviço no sentido mais amplo).
26 .
Uma quarta consequência é que até num contexto de uma linguagem
inexata, não científica e popular, é definitivamente incorreto caracterizar o
problema de “Cristo e a cultura” como um assunto de “graça comum”.
Nós já expressamos como nossa opinião que numa concepção exata e
conceitual da nossa crença, não há espaço para o termo “graça comum”,
pelo menos não no sentido Kuyperiano, em que “graça comum” é
identificada como “graça universal”. Não vamos entrar em mais detalhes
sobre isso.
No entanto, pode-se perguntar: quem está sempre preparado para produzir
um conceito exato? Quem é capaz de usar uma linguagem que é totalmente
adequada? Quem é capaz de escrever uma única página sem usar
linguagem figurada? Não pode ser que em uma certa definição que, ainda
que inexata, alegremente damos graça pelo que ainda é deixado a nós, que
uma acumulação dos vestígios dos dons da criação e “luz natural” e seu uso
não serão chamados “graça”? Não somos nós permitidos a dar apenas um
passo junto com os remonstrantes ou os arminianos, que (segundo os
Cânones de Dort) falavam frequentemente da “luz natural” como “graça
comum”?
Nossa resposta a essa questão de boa natureza é, nessa hora, de não tão
boa natureza. Dessa vez dizemos não, e nós acreditamos que a experiência
nos ensinou uma lição aqui.
Pois em primeiro lugar, há uma diferença entre “o brilho fraco da luz natural”
que “permaneceu” no homem e o uso dessa luz. Os recitais épicos em que
Abraham Kuyper é apresentado enaltecendo a graça comum nas artes e nas
ciências já negligenciaram mais de uma vez a distinção entre a luz e seu uso.
Mas assim que se pergunta que “graça” realmente é, essa distinção é de
maior significância.
Mas com exceção do que dissemos antes, nós temos ainda outra objeção
contra o uso unilateral da palavra “graça”. Hoje em dia nós frequentemente
ouvimos pessoas falando desdenhosamente do pensamento “retilíneo” e da
teologia “de um único trilho”. Normalmente, nós então temos certa
dificuldade em manter nossa compostura. Isso requer um esforço adicional
quando escutamos isto de certos autores que funcionam como apologistas
dos Sínodos Reformados Holandeses nos anos 1942-1944 (e até depois de
1946) e, em seguida, marcham contra aqueles que realmente não poderiam
(à parte de alguma visão diferente) sustentar que os filhos do pacto sejam
retilíneos. 15 Às vezes ouvimos esses apologistas fulminarem contra o
pensamento “retilíneo” e “de um único trilho” de seus oponentes. Mas eles
mesmos tiveram que prometer (e a respeito dessa promessa, nada mudou)
que eles não ensinariam nada que não fosse em total concordância também
com a declaração sinódica do ano de 1942, que teve o cuidado de nos
assegurar que “entre nós” (significando aqueles de confissão reformada) tais
resíduos no homem como a “luz da natureza” foram realmente chamados
pelo mesmo nome que também os remonstrantes usaram: graça comum.
Bem, isto é muito retilíneo para nós. Isso nos lembra de um trem com um
único trilho. Pois “graça”, sendo imerecida, “favor” ao qual não se tem direito,
é então uma palavra relacionada com aquilo que é permissível. Logo muitos
cristãos vêm olhar para o problema cultural como uma questão do que é e
do que não é permitido.
Aqui estão os numerosos contratempos.
Pois na nossa opinião – e toda nossa argumentação confirma isso – nosso
mandato cultural deve ser visto primariamente como uma questão de
“mandamento comum”, um “chamado comum”, um “mandato comum”. Aqui
nosso “posso” é o nosso “devo”. Nosso ponto de vista já explicado mostra
que a questão cultural é, até antes da Queda, uma questão de dever, um
mandato desde o princípio, um serviço da criatura a Deus. E quando o
catecismo de Heidelberg corretamente e com total ênfase diz que Deus não
faz mal ao homem quando requer dele aquilo que já foi imposto a ele no
paraíso, apesar dele não mais poder fazer isso, então essa resposta mostra
sua ponta afiada contra aqueles que deixam a teoria da “graça comum”
ensinar apenas e exclusivamente sobre aquilo que pelo estatuto de Deus
nos foi deixado como sendo permitido. Cultive o jardim – Deus não faz mal a
nenhum homem quando Ele requer o mesmo dele, mesmo quando ele não o
pode fazer.
Tudo isso é intimamente conectado com mais que um importante teorema,
também de estrutura metodológica. A doutrina da graça comum que tem
“graça” como ponto inicial, escolhei como ponto inicial da sua problemática
as coisas que foram deixadas a nós depois da Queda. Mas aqui ela comete
mais que um erro. Sem negligenciar o que aconteceu após a queda, ela tem
que voltar para o que aconteceu antes da queda para entender as intenções
de Deus. Além disso, vez ou outra fala sobre aquilo que ainda foi deixado
para nós (os homens), como se os homens fossem o mais importante aqui,
no lugar de Deus. Portanto, esta teoria é mais antropocêntrica que teológica.
E ao cometer esse erro, necessariamente comete um terceiro: começa a
lançar notas culturalmente otimistas de uma maneira culpável. Pois a
“natureza” (como o material a ser moldado ou desenvolvido pelo homem)
nunca nos foi dada, apenas foi “posta à nossa disposição” - da mesma
maneira que uma companhia de navios coloca um barco à disposição de um
capitão com o propósito de que possa trabalhar para a companhia no
negócio do transporte marítimo; o barco não é um presente. Quando Deus
nos permite seguir sendo parte da Sua criação e quando a natureza
continua coexistindo conosco, então o homem que se sente rico por causa
do que ele já possuiu dirá: várias coisas permissíveis foram deixadas para
mim. O outro, que nunca negaria que ama seu trabalho e aproveita a vida
como um banquete, diz, por sua vez: estejam alertas para a teologia de trilho
único. Pois o homem que percebe que foi escolhido por Deus para ser o
capitão do navio do eterno dono do navio deve admitir: eu recebi mandatos
firmes: ainda há trabalho a ser feito. Enquanto acerca da natureza – de qual
sou parte, junto com minha ânsia cultural – várias coisas acontecerão a ela
antes que o mundo pereça: ou, ao invés disso, será transferida (a um modo
diferente de existência). O mandato para desenvolvê-la dentro e fora de mim
mesmo como portador de um ofício designado por Deus jamais foi
cancelado – o que é um sério aviso contra a axiologia Pallieter.
_____________________________________________________________
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15 O autor aqui se refere às declarações feitas pelo já mencionado sínodos
acerca de, por exemplo, regeneração presumível e graça comum e sua
decisão que “nada deve ser ensinado que não esteja de total acordo com”
estas declarações que causaram uma cisma na De Gereformeerde Kerken
na Holanda. [Nota do tradutor]
Portanto, a cultura é um dever. Ela também se situa sob o “mandato de
vida” original, de vida em seu sentido mais amplo. Esta expressão não
significa que haja um mandamento: viva! Nem, tampouco : homem, atreve-te
a viver! Mas significa que há um comando que em si mesmo comunica vida
a todos que o obedecem.
Logo, o conteúdo do chamado cultural nunca é determinado por nossas
aptidões ou gostos, como se esses pudessem determinar as normas, pois o
chamado primário é para todos: o de ser prudente e íntegro, teleios, no
sentido de Cristo dizendo a nós: sejam, então, perfeitos, completamente
crescidos, humanos, mas nunca humanistas. Todos, junto com tudo que
pertence a ele e que pertence a comunidade, tem que se apresentar perante
Deus. Nem todos têm as aptidões requeridas para participação em cada
fenômeno cultural. A variedade das habilidades naturais não é culpável. No
entanto, não possuir a habilidade de se engajar diretamente em um campo
cultural ou outro (e.g., música) não é o mesmo que propositalmente excluir-
se dele. Olhar para o esforço cultural como um todo sem mostrar qualquer
interesse é o oposto de lutar por treinamento no serviço consciente.
Logo, nós não podemos concordar com aqueles que, junto com Abraham
Kuyper, afirmam que o cristianismo ou o calvinismo não pode nem deve criar
seu próprio estilo artístico. Alguém disse que o calvinismo fracassou em
desenvolver seu próprio estilo artístico porque sua preocupação é a religião
e ele foi forçado a deixar as coisas “inferiores” em favor das “superiores”, ou
pelo menos, não foi capaz de desenvolver o primeiro. Na nossa opinião, o
perigo de mais uma vez separar religião e cultura é iminente aqui. Apesar
disso, a impressão é então criada que seria possível criar um estilo para
uma “área da vida” e não para outra. “Estilo” é sempre, primeiramente, uma
questão da construção inteira, e só depois das suas respectivas partes. Se
um calvinista pode falar de um estilo de vida, ele também pode falar de um
estilo artístico. Nos tememos que o fundador da Universidade Livre tenha
limitado demais sua tarefa. O serviço a Deus é, acima de tudo, criativo,
modelador e também estilizante. Visto que o Calvinismo – para não
mencionar mais – não desenvolveu seu próprio estilo em nenhum campo,
este contratempo é parcialmente (pois a reserva antes feita ainda está em
vigência) um sinal de fraqueza. Se a cultura é uma questão do serviço diário
a Deus, esse chamado é e permanece sendo inexorável, dentro dos limites
de cada período da história da salvação enquanto esses limites são postos
pelo governo de Cristo, e todos têm que lutar para serem homens íntegros e
completos, proporcionalmente e em relacionamentos corporativos edificados
segundo as normas que correspondem a seus propósitos. Pois esse
chamado nunca acontece sem efeito social.
27 .
Devido às normas eleitorais dessas comunidades cooperativas serem suas
normas peculiares, derivadas da Lei, cuja pregação e administração com
que foi confiada à comunidade de santos, portanto a quinta consequência do
nosso ponto de vista deve ser a profunda reverência que, inclusive no ponto
de vista cultural, deve ser demandada da igreja.
Como o rei da igreja, Cristo é o Rei de todo o mundo, o consumador da
natureza em sua história (pois Rickert 16 corretamente nos lembra do fato
que a natureza também tem uma história), o embaixador de Deus, que
deseja pôr aos pés de Deus todos os resultados do processo cósmico de
desenvolvimento e recrutamento, e, consequentemente, Ele também é o
Governador da cultura e o Juiz e Redentor de seus órgãos. N'Ele, Deus
“recapitulará” todas as coisas (Efésios 1:10).
Acabamos de mencionar Efésios 1:10 e temos falado de uma
“recapitulação universal”. Para ser capaz de responder a questão de que
lugar em particular Cristo foi dado a respeito do também a ser culturalmente
determinado sumário da história, devemos prestar atenção brevemente à
declaração de Paulo. Ele diz: “de fazer convergir nele, na dispensação da
plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra”.
Nós derivamos a frase “recapitulação universal”, entre outras fontes, de uma
tradução da declaração de Paulo tal como foi citada por Irineu, um dos “pais
da igreja” (uns ainda tem o habito de referir-se a esse tipo nem sempre
inofensivo de filhos da igreja). Irineu (c. 140-c 202 d.C) discutiu uma vez a
ascensão de Cristo, sua entrada ao Céu e o fato de sentar-se à direita de
Deus com referência a Efésios 1:10. Onde Paulo diz que Cristo regressará
para “reunir e juntar em um” todas as coisas, o texto grego de Irineu usa a
palavra anakephalaiosasthai, que no excelente texto latino de Rouet de
Journel, se traduz pelo verbo latino “recapitular”.
O dia da ascensão, visto a esta luz, significa o começo desta recapitulação
universal.
Essa palavra nos ajuda de algum modo? Isso depende da questão se a
tradução da palavra de Paulo em Efésios 1:10. A vulgata (a versão oficial da
Bíblia da Igreja de Roma) faz uso de uma expressão diferente em Efésios
1:10 (instauração) – uma razão a mais do porque a palavra “recapitulação”
chama nossa atenção.
Muitos 17 têm feito uso dela. Daremos aqui apenas poucos exemplos que
ao mesmo tempo nos permitirão compreender a intenção de Paulo ao usar
essa palavra.
John Owen (Works, 1, 147) se refere a Efésios 1:10 quando ele expressa a
opinião que os anjos são incluídos na “resturação” e recapitulação de todas
as coisas que Deus deu em Cristo. Subsequentemente, ele dedica um largo
tratado a esse tema, entitulado A glória de Cristo na recapitulação de todas
as coisas nEle (pp. 357f). Se referindo a Colossenses 1:20, 1 Coríntios 11:3,
Efésios 1:22-23, ele exalta o poder da redenção, pelo que aquilo que no
mundo de Deus foi estilhaçado e quebrado separadamente é coletado sob
uma cabeça como uma família de Deus, como um corpo.
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16 Heinrich Rickert (1863 – 1936) pertenceu aos “Neo Kantianos” do início
do século vinte. [Nota do tradutor]
Essas interpretações são corretas?
A palavra grega usada em Efésios 1:10, de fato, permite outras traduções;
e.g. “reunir”(KJV), “unir”(RSV). É tudo uma questão da “atmosfera” a qual se
pensa de que esse mundo em particular se derivou, ou da “esfera” a que ele
aponta em seu simbolismo.
De acordo com a opinião de uns, esse mundo teve sua origem num cenário
militar. Quando os soldados perdem contato com sua unidade e perambulam
de um lado para o outro, um deles deve tentar, se possível, trazê-los de volta
a sua própria esquadra. Isso, então, é o significado da palavra preocupado.
18
No entanto, outros oferecem uma interpretação diferente. Eles têm em
mente não tanto operações militares, mas sim aritméticas. Adicionando
certos números, obtêm-se a “soma”, o “resultado”. “Soma” é ,em latim,
summa. A ideia é aquela da com-sumação. A soma final é criada e
sublinhada, e todos sabem o resultado. 19 Cristo poderia, então, ser
considerado como aquele que faz a soma final, a soma total, nos mostrando:
aqui está tudo junto. Outros têm em mente contadores, que somam quantias
de dinheiro 20 e nos dão o resultado na quantidade final. 21
Na língua grega, tal resumo, tal recapitulação, pode ser chamado
kephalaion (algo como: cabeça, principal), e o verbo que é usado pelo
apóstolo Paulo é derivado dele. De acordo com esse trem de pensamento, o
próprio Cristo é a cabeça, o principal, a soma total. Mas ao mesmo tempo (!)
“todas as coisas” são reunidas, recapituladas nessa soma ( a soma é, então,
incluída “na” soma; todas as coisas são a soma, incluindo Cristo, de acordo
com esse peculiar trem de pensamento que opera de uma maneira um tanto
estranha com as palavras “em Cristo”).
Porém, o número de interpretações propostas ainda não está completo.
Outros se referem a uma certa palavra que foi usada entre os judeus nos
dias do apóstolo Paulo. Ela significa “acordo” ou “harmonia” e se deriva de
uma raíz que pode traduzir-se como “cabeça” ou “resuldado da soma”. Este
termo técnico estaria então em harmonia com a palavra grega kephalaion, e
consequentemente seu significado seria “reunir (toda a soma)”, tanto como
“estar em harmonia uns com os outros”; ergo:
_____________________________________________________________
_______17 E.g., Cornélio a Lápide, que se refere a Jerônimo como alguém
que respalda a tradução “recapitulação” e também a Irineu, Bibl. Cr. i.l., 92,
se refere a Erasmo de Roterdã e conclui que a tradução correta é: ad caput
revocare; que é aceito por Valtabus, que, no entanto, adiciona: vel, in
summam et compendium redigere (op. cit. 95). Cf Clarius (op. cit 98):
recapitulare, h.e. summatim comprehendere et compendiose instaurare; e
também Zegerus (op. cit. 99): brevi recapitulatione implere et summatim
complecti universa mysteria longo tempore praenunciata. A tradução
“recapitulação” ocorre frequentemente, mas sua interpretação, no entanto,
varia. Em Agostinho, veja Menochius e outros.
18 Hugo Grotius, Hammondus, citado em J.C. Wolfii, Curae Phil et Cr., (1734,
p. 23); para Grotius, cf seu Ann. No NT., e Bibl. Cr. VIII, i.l. col 106, 113/4.
Grotius não é categórico: quae significatio huic loco maxime convenit, Bibl.
Cr., 106.
19 Dinant, sobre Efésios: cf. Wolfii, 23; Camerun Bibl. Cr. VIII, 101.
20 Cf. H. Grotii, Ann., i.l. 884 b.
21 Leidsche Vertaling (Tradução Leyden): in Christus saamvatten.
“ser reunidos em paz”. 22
Nós gostaríamos de mencionar uma última opinião, uma que aponta para
as escolas dos retóricos. Ali, um ato como o de Paulo significava um breve
resumo, em uns pontos principais, do que foi explicado antes de uma
maneira mais elaborada. 23 Geralmente, tal resumo não era uma
representação “neutra”, “desinteressada” em uma soma total, e sim, era
acompanhado por uma espécie de “aplicação”: uma admoestação, um
castigo, uma palavra de consolação ou uma conclusão declarando uma
exigência, como em um caso num tribunal. 24
Também se encontram várias combinações destas etimologias e
interpretações. Por exemplo, se entra na cabeça de alguém ensinar que o
homem é um microcosmo, um mundo em miniatura, compreendendo os
elementos do mundo criado como em um resumo; e que Cristo, como o
segundo Adão, é Deus e homem em uma pessoa; o homem (aquele resumo
de “todas as coisas”, aquele microcosmos) será finalmente reunido com a
Palavra eterna, o Logos. 25 Ou: assim como algumas vezes nos assuntos
civis, um “membro” que foi separado de sua cabeça (e.g. uma mulher
separada de seu esposo, a cabeça) é trazida de volta à sua “cabeça” e
assim retorna a “casa”, a comunidade a qual pertence (e.g. uma mulher que
retorna a sua família), assim toda a criação, agora separada de Deus,
regressará a Cristo, sua cabeça, e voltará a “casa” outra vez. 26 Então a
criatura é a parte reconciliada. 27
Como se pode ver, as opiniões variam bastante.
Quem quiser chegar a sua própria conclusão tem que considerar que a
palavra grega utilizada aqui não remete a kephale (cabeça), mas a
kephalaion. A última tem claramente o significado de “resumo”, como, por
exemplo, em Romanos 13:9 e Hebreus 8:1. Em Romanos 13:9, Paulo diz
que os mandamentos da segunda tábua podem ser resumido na seguinte
frase: “amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Isso é, em todos esses
mandamentos, o recorrente ponto principal. É o resumo da Lei. Em Hebreus
8:1, o autor declara: “Ora, o essencial das coisas que temos dito é que
possuímos tal sumo sacerdote” como foi introduzido a nós no Novo
Testamento. Isso é o resumo de todo o argumento. Mas quem anuncia uma
soma ou um resumo, fecha seus livros na mesma hora. É assim que Deus
na plenitude dos tempos nos dará a soma da história, da história de “todas
as coisas”. Ele dará a soma de e na história de todas as coisas. Ele as dará
por Ele mesmo (o meio). Poderia traduzir-se livremente em algo como: Ele,
para si mesmo, trará todas as coisas para e em sua soma. 28

_____________________________________________________________
_______
22 Cf. Cameron in Bibl. Cr. 1.1.101
23 Cameron, 1.1., Cf. a Lapide, i.v. 475, b.
24 Aretius, Comm. No N.T., 1612, i.l. 249.
25 Irineu mencionado em a Lapide, i.l. 475/6 Cf. Photius, mencionado em
Zanchius. Opera, t. VI 19, b.
26 Aretius, op. cit.
27 Aretius, op. cit.
28 Medium, e ademais: “a ideia causativa... não é devido à voz, mas ao
verbo em si”(-0-00), Robertson, Gramática N.T., 2ª edição, 809.

Não é isso uma recapitulação universal, a finalização e a elaboração da


soma da história? É universal: pois “todas as coisas” estarão envolvidas nela
e serão trazidas à sua consumação.
No entanto, essas “todas as coisas” não foram quantias estáticas: elas
estavam permanentemente em movimento. Nelas uma única história foi
atuada. O sentido da mesma não entendemos não a partir dessas coisas
nem do seu movimento em si. Pois, como temos dito também em outras
partes, o aspecto enigmático não jaz na Palavra de Deus falada ou escrita e
sim nos fatos da história em si. Entendemos as coisas e seus movimentos
somente a partir da palavra de Deus.
E nada entre os homens é capaz, na maneira de um retor, de comprometer
a soma da história de todas as coisas em nenhuma fórmula, nem se ele
subisse nos pés de seu retor. Pois vemos apenas partes e nós mesmo
somos apenas uma parte. Até o Messias confessou Sua inabilidade nesse
ponto: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe...senão o
Pai”(Mateus 24:36).
Mas Deus é o grande Retor-orador, e também o grande Poeta-Criador.
Então ele é revelado como o único Recapitulador-contador. Seu trabalho de
contar ou adicionar não é o ato de uma criança que faz suas somas, mas
aquele do administrador do tempo: Ele realmente está fazendo algo. Ele
força as coisas ao seu final, à decisão. Ele fala em palavra e em Fato. Em
Sua Palavra, Ele nos dá revelação: nos fatos, Ele mesmo é revelado. É por
essa razão que Ele pode fazer nossas somas e de fato, as faz; nossas
somas são Suas somas. Ele já as tinha em mente até antes do começo de
nossas vidas. Ele é como o orador que capta e mantém a atenção da sua
audiência. O que ele falará depois? Mas de repente, Ele diz “Obrigado” ou
“Amém”. O próprio orador sabe muito bem como chegou a sua conclusão,
seu epílogo, no que resume tudo que foi dito e assim traz a sua fala a um
fechamento, às palavras de resumo. Mas porque estamos tratando de Deus,
que não somente é o Orador, mas também o feitor, o epílogo de Seu
discurso é ao mesmo tempo o fim da sua atuação. Porque seu fazer é
também seu falar, logo, assim que Ele chega na soma da sua revelação, Ele
ao mesmo tempo chegou na soma da sua ação. Ele completa Sua fala
histórica e também sua ação histórica e o trabalhar e o mover de todas as
coisas. “Findam as orações de Davi, filho de Jessé”, diz no livro de Salmos
(Salmos 72:20). A tradução grega diz, portanto: são trazidas a
anakephalaiose – a mesma palavra que usamos no nosso texto. O sumário
reflexivo dado pelo retor e o encerramento do ato do trabalhador são o
mesmo – mas com Ele apenas.
E tudo isso é feito por Deus “em Cristo”. Não apenas Nele como o Filho
(Logos), que pela eternidade é intimamente relacionado ao Pai e ao Espírito
como seus Iguais (como em Colossenses 1), mas sim também nEle como o
Salvador glorificado, que está sentado e foi colocado à direita de Deus.
Nesse Cristo glorificado, Deus reina sobre todas as coisas, para o bem e
para o mal, em bênção e juízo. Nele, Ele traz todas as coisas a seu fim, sua
consumação, pois Ele, em seu conselho e como Ele, em Sua fala e ação as
revelou e realizou.
Pois essa é a grande significância da glorificação de Cristo: o Filho do
Homem como o Agente plenamente autorizado de Deus pôs sua mão sobre
todas as coisas. O discurso de Deus passou de sua marca de meio caminho.
A história foi levada a uma decisão. No grande drama, o terceiro – e decisivo
– ato foi completo. E agora todas as coisas devem chegar a sua conclusão.
A última, como Paulo diz, é dominada por Ele. Há apenas uma única
história e isso é de um caráter “cristão”, ou seja, dominado por Jesus Cristo.
A história também é pneumática, ou seja, dominada pelo Espírito, que leva
tudo de Cristo. Nós lemos nosso jornal e ouvimos o rádio e nós tateamos
pelo pano de fundo do que os nomeados democratas nessa era de quasi-
democracia sistematicamente retém de nós em sua imprensa enganosa e
sua diplomacia secreta. Nós não podemos encontrar a soma. Nenhum retor
diz exatamente o que pensa. Ele mesmo nem sabe suas próprias somas,
pois os desenvolvimentos históricos os arrastam e os programas são coisas
temporais, e essas temporadas se fazem cada vez mais curtas. Porém,
nosso Deus em Cristo tem a soma em Sua mente, e quando ele pôr um fim
em tudo que acontece, então nós finalmente veremos a soma da Sua
política. E bem-aventurado aquele que não for subjugado por ela.
Pois a soma de “todas as coisas” está dominada por Cristo, porém ele foi
dado como “Cabeça” da “congregação”, e somente a ela. Ele foi posto não
no centro de “todas as coisas”, como seu compêndio ou microcosmo, mas
foi colocado acima e sobre todas as coisas, como seu Regente absoluto.
Na Cabeça da igreja, é elaborada a soma de todas as coisas. Essa
declaração destrói a teoria de que a própria igreja é um estado cultural ou é
permitida a ser uma. Nenhum encorajamento aqui é dado a qualquer
sugestão de que a igreja – que sempre, como instituto, há de ser instruída e,
portanto, nunca dá o nome de igreja a qualquer outra coisa que caracterize a
comunhão cristã em uma escola, família, vida social, vida política, etc., se
chama falsamente “a igreja como organismo” - seja diretamente um negócio
cultural prático, muito menos um expoente de cultura. Esse tipo de conceito
acerca da Igreja iria assassiná-la, violá-la. Um culto na igreja em que se
prega a Palavra não é uma palestra direta sobre a cultura que cobre toda
classe de detalhes técnicos, um a universidade pobremente disfarçada para
as pessoas. Mas, por outro lado, a administração da Palavra de Deus coloca
o todo da vida sob as promessas e normas. E Deus juntou grandes
promessas ao ministério oficial da palavra, que é a administração da
“semente da regeneração” (Romanos 10:17): a fé vem pela pregação, e a
pregação, pela palavra de Cristo. A fé, portanto, efetua o novo nascimento
(Artigo 24 da confissão belga). E essa regeneração, então, acontece na
igreja, que dá luz a filhos por meio da Palavra de Deus. É dessa maneira
que a igreja pode, deve e é permitida a ser uma lareira onde o homem de
Deus é “carregado” do alto com força do alto. Da igreja, onde o Espírito de
Cristo distribui os tesouros da graça obtidos por Ele, o povo de Deus deve
espalhar-se por toda a terra em todas as direções e atividades humanas
para proclamar sobre tudo isso e também para mostrar em suas próprias
ações o domínio de Deus, o reino dos céus. Da igreja, o fogo da obediência,
com o brilho cultural puro incluído, deve arder e cobrir todo o mundo. Tire a
igreja do panorama e o Reino de Deus se torna nebuloso. Ponha o reino de
Deus na névoa e o Cristo é renunciado, também em questões culturais. É na
igreja que Cristo deixa o Espírito procriar filhos de Deus. Apenas a igreja,
como a mãe dos crentes, gera “novos” homens, que, quando se trata de vida
cultural, suporta os fardos do mundo. Apenas a igreja os junta em uma
comunhão inquebrável e ensina as normas para todos os relacionamentos
da vida, até fora da igreja. A igreja sozinha (Não um clero nominal) é a
portadora da palavra de Deus, e em uma comunidade nacional pode
proclamar as normas de Deus na linguagem do tempo e lugar de interesse e
assim, se fazer conhecer àquela comunidade que riquezas podem, de
acordo com sua própria natureza, ser desenvolvida em sua vida e como isso
pode e deve ser feito. Nos dias em que a igreja cristã era forte, a arte cristã
florescia e a cultura era uma questão de virar os rostos das pessoas em
direção ao céu. Hoje, nós decaímos ao baixo nível de filmes gritantes e de
um teatro que apenas pode manter-se se itens inferiores não forem retirados
da sua programação, de jornais que dependem de manchetes
sensacionalistas, em programas de rádio em que um romance é comprimido
em forma de diálogo com conversa fiada como um método, até de uma
fachada de igreja que carece da coragem para manter os anúncios de todas
as suas atividades no seu quadro de notícias. E uma comunidade de
homens que não mais lê artigos, mas apenas devoram suas manchetes,
presentemente se permitem ser devoradas. É uma presa fácil para os textos
atuais e slogans efêmeros que fazem a corrupção universal e impertinente
por meio de obstinação e autoadoração nos negócios e no comércio, na
imprensa e na política, no atacado transbordante do pecado, que foi
organizado tão bem e tão rapidamente que ataca o indivíduo com um
sentimento de impotência que nem sequer o dá tempo de estremecer.
Logo, para o benefício de uma cultura cristã, ou seja, uma cultura que é fiel
a seu próprio sentido e propósito, todos devem trabalhar com força e
seriedade pela edificação da igreja, o corpo de Cristo. Retire a igreja e o que
é realmente humano se vai, enquanto o humanismo, vangloriando-se da sua
ruína, retorna. Retire a igreja e suas confissões e o hubris (numa forma de
humildade) cultural retornará, que no auge do romantismo filosófico,
hipnotizou toda a nação alemã e outras, pelo seu credo imamentista
panteísta da oscilação de um Gebildete 29 individual autônomo e autárquico
junto com o espírito divino que assopra ao redor de todo o universo. Pois é
verdade que em seu último período, a escola romântica da época, pela boca
dos irmãos Schlegel, simultaneamente contradisse quase todos os seus
próprios slogans como derivados de Fitche, mas sua raíz mais profunda, a
doutrina do homem crescendo junto com Deus, não foi desenraizada: o
Nacional-socialismo com seu projeto cultural é prova disso. Retire a igreja –
a qual, começando desde o companheirismo local dos crentes, logo
estabelece conexões nacionais e até internacionais – e o que sobra é tão
somente uma série repetitiva de “batalhas culturais” que colocam o mais
forte no trono. O slogan panteísta acerca “do” direito que é inerente às
coisas pode estabelecer tribunais que sentenciará pessoas não no nome do
Legislador Divino que, pela graça de Deus, fez dos reis pastores culturais,
mas em nome da “justiça” (Seyss Inquart). 30 Então, a “lei do mais forte” é a
fórmula judicial mais simples. As fórmulas de justiça e poder se misturam no
final. E então,
_____________________________________________________________
_______29 Gebildete significa literalmente: “pessoas que foram formadas”,
“moldado”. No contexto do Romantismo, no entanto, esse termo significa:
pessoas que elevaram a um nível a qual eles são bem conscientes de sua
própria historicidade e individualidade (nota do tradutor)
30 Seyss Inquart foi o Reichscomissar durante a ocupação alemã dos
Países Baixos nos anos 40. (nota do tradutor)
pela decadência da igreja e sobre os cadáveres dos membros da igreja, se
constrói uma plataforma para o ditador dos últimos dias, o Anticristo. Ele
instruirá a todos, de acordo com o seu sistema, que é o mais horrível dos
sistemas. A igreja não deve ser nem sequer o menor centro direto de cultura,
mas ela deve ser a maior força cultural. Ela é a noiva de Cristo, ou seja, a
noiva de tal Noivo, que, ante Si mesmo e ante Seu Deus, reúne toda glória
das nações e que está edificando uma cidade com a mais perfeita simetria.
Daí a forma cúbica da Nova Jerusalém.
28 .
A sexta consequência é que apenas seguindo a Cristo, a pessoa pode
obter valor para a vida cultural. A cultura é sempre um ato comunal. Porém,
toda comunhão que não foi atada pelo Espírito de Deus deixa a multitude
vegetar no indivíduo e usurpar sua devida posição. Algumas vezes – um
ditador saudado como salvador é prova disso – ele se dá (e o indivíduo
deixa essa comunhão) a impressão de que esse serviço do individual às
multidões é seu ornamento divino e imarcescível e, consequentemente, eles
o tornam o objeto de adoração e louvor. Um movimento nacional que é
baseado em tal fundação pode sacudir e arrastar as massas, porém mata a
personalidade. O que é anunciado como envolvimento é nada mais que
conformidade. No entanto, quando no antigo testamento, a Lei de Sinai se
dirige a si mesma, não a igreja em geral, mas ao indivíduo israelita, e
quando no Novo Testamento, o Sermão do Monte, esse grande Cânon
também da cultura, faz o mesmo, então, até na vida cultural, é o indivíduo,
que em qualquer batalha comunal, sempre aquele diretamente discutido,
aquele a quem Deus se dirige. Somente aquele que chegou a ser, de
maneira intencional e voluntária, um portador de ofício em seguir a Cristo e
que por meio de Cristo, preserva na sucessão das correntes culturais
comumente turbulentas, seu idion pessoal no meio da força corrente das
formações massivas do “poder humano” que arrastam o indivíduo ou o
pisoteiam. “Poder humano” - é o termo petulante normalmente reservado
para a descrição de um exército que foi mobilizado: reis e ditadores fazem
uso desse “poder humano”. Como se as juntas dos “sindicatos” não agissem
da mesma maneira.
Mas alguém que foi extraído da rocha que é Cristo nunca – desde que
dependa dele – irá se separar, mas sempre se distinguir (I Coríntios 2).
Assim como o decálogo se dirigia ao homem israelita, o Sermão do Monte
se dirige a ele individualmente, também como aos outros, e o Espírito,
unindo-Se com a totalidade da Palavra de Deus enquanto esta é proclamada,
estabelece, por atos de re-criação, uma politeuma (Filipenses 3:20), de qual
somos cidadãos e que tem seu centro e morada real nos céus e que na
Terra, opera coisas poderosas, precisamente em criar uma comunhão. A
politeuma ou estado que está no Céu nunca irá, por sua parte, se revoltar
contra a politeuma aqui embaixo. Mas assim que a politeuma terrena, por
sua parte, comanda seus cidadãos da celestial a negar a última (e a arena
da batalha que se segue é sempre uma religiosa-cultural), então surge o
doloroso trabalho de nadar contra a correnteza. Mas até nessa situação, em
cada período da decadência cultural, o grande Mordomo e Curador de Deus
preserva “o sal da terra”, para que seja são e íntegro.
Qualquer um que tenha sido exposto ao Sermão do Monte talvez fique
admirado quando confrontado com aquela estranha palavra bíblica que diz a
ele: faça isso ou aquilo, ou então, “teríeis que sair do mundo” (I Coríntios
5:10). Essa palavra aparentemente obsequiosa pode fazê-lo ter dúvidas
porque, depois de haver escutado o Sermão do Monte, na realidade, pensou
que jamais poderia permanecer quieto e sereno outra vez quando escutasse
sermões moralizantes que acomodam. Não é isso uma questão de causar
atrito e beliscar? Dar e tomar – acaso não é esse sistema detestável no
sermão do monte? Não é o chamado apocalíptico : “Retirai-vos dela, povo
meu, para não serdes cúmplices em seus pecados” (Apocalipse 18:4) um
motivo muito mais direto e claro?
A resposta é : de modo nenhum. Sair da Babilônia não é o mesmo que sair
do mundo. Na linguagem bíblica, “o mundo” é frequentemente, mas não
sempre idêntico a “Babilônia”. Deixar “a meretriz” (veja acima) não significa
condenar a condição de mulher, ou renunciar a natureza (Ezequiel 16). Não
ser cúmplice de seus pecados não significa negar ou abdicar da sunosia
com sua condição de criatura. A palavra de Paulo em I Coríntios 5:10 então,
não contradiz o estilo e a complexidade de pensamento encontrado no
Sermão do Monte, mas foi organicamente inclusa nele. Pois o Sermão do
Monte foi dirigido aos cristãos, também em sua capacidade como
missionários de Deus nesse mundo e como construtores do novo mundo.
Por essa razão, um cristão nunca é permitido a deixar esse mundo. Nesse
mundo distorcido, ele simplesmente deve cumprir seu dever perante Deus. A
tensão que surge do nosso contínuo conflito com “esse” mundo e a ordem
para nunca sair “do” mundo é, em última instância, a tensão entre nossa
porção de estar em contato com os homens (sunousia) e nosso dever diário
de ter comunhão (koinonia). O último, exatamento como Deus quer,
pertence nesse mundo pecaminoso ao antilegomena, as coisas e símbolos
contra os quais sempre serão falados.
Retire do Sermão do Monte o elemento da instrução de portadores de
ofício e a palavra sobre não sair do mundo será mal interpretada numa
maneira horrível pela “carne” como se fosse uma desculpa geral e uma carte
blance para fazer tudo aquilo que deseja “a carne”. Mas é exatamente o
oposto. Alguém disse (Prof. B. Holwerda, De reformatie van onzen “omgang”
[Utrecht, 1947], p. 15):
Se você quer usar essa palavra, você deve a tomar exatamente como está
escrita lá.
Isso não significa: quando você entra em contado com o mundo, você pode
modelar seus princípios e não ser tão meticuloso. Pois Paulo havia acabado
de dizer: você foi redimido pela cruz de Cristo e agora você deve celebrar o
banquete de nada exceto pureza e verdade... Tudo aqui está sob o clima de
absoluta seriedade: tem a ver com a cruz do Calvário, e logo, você não pode
agir permissivamente quando se trata da igreja, em particular a respeito da
disciplina eclesiástica. Você pensa que Paulo adicionaria agora: no entanto,
no mundo, isso não importa tanto? Pelo contrário, ele fica no alto clima de
perfeita seriedade. Por causa da cruz do Calvário, a questão do seu
intercurso social com o mundo deve ser tomado com perfeita seriedade... O
intercurso social com pessoas ímpias na igreja é permitido? Não, não é, pois
Deus lhe deu as chaves do Reino dos Céus... O intercurso social com
ímpios no mundo é permitido? Sim, é, pois se você recusasse, você estaria
fora do “mundo”.

29.
Nossa sétima e última conclusão, então, é que nossa filosofia cristã da
cultura terá que começar a raciocinar de forma mais consistente sobre a
base do conceito do ofício, procedendo desse conceito de ofício.
Como teórico cultural cristão, não se deve mais tomar seu ponto de vista
na “graça comum” no sentido antes rejeitado. O ponto de partida deve ser: o
chamado original, a tarefa dada na criação, o ofício original – para que não
sejamos entorpecidos pelo otimismo cultural ou desprezo cultural. No
momento em que essa ideia é deixada, até o melhor entre nós começa a
cometer erros.
Dr. Abraham Kuyper, por exemplo, em sua obra De Gemeene Gratie in
Wetenshap em Kunst (1904). p.44. Admite ante Von Hartmann que a
“religião” em sua forma mais elevada se despoja de sua vestimenta artística.
Nós tememos que esse pensamento sobre “religião” seja panteísta em vez
de teísta. Nós somos da opinião que “religião” não “se” veste, e sim,
transforma seus profetas em liturgistas (e não apenas eles) e os veste nas
togas do ofício. Até um artista pode participar em tecer essas vestimentas.
Não, não o artista exclusivamente, mas o artista também – tanto como
qualquer um que tenha uso exclusivo do tear. A “Religião” nunca foi vestida
em aparência artística, mas proveu a muitos uma vestimenta artística com a
marca do ofício e os distribuiu como togas do ofício, no entendimento que
essa marca seria deixada e tolerada por seu portador. Uma vestimenta de
ofício nunca deve ser retirada; em vez disso, sua distinção deve ser
renovada regularmente. É por isso que nós dissemos que no calvinismo, o
serviço a Deus deve chegar a seu próprio estilo peculiar em todas as áreas
da vida, ao ponto que a “restrição” já discutida e a “abstinência” não fiquem
no caminho.
Nós também não, acerca do problema mencionado acima, buscamos
nosso ponto de vista em uma “consciência religiosa inata”, que trataria então
de expressar-se e realizar-se em uma cultura religiosa. Pois o homem,
inclusive o homem piedoso, não deve simplesmente viver de maneira
despreocupada, mas deve cumprir seu ofício.
O conhecimento do seu ofício sempre impulsará alguém a voltar-se à
revelação da Palavra de Deus, com a intenção de reler as normas. A
“natureza”, enigmaticamente, não nos ensina nada a não ser que seja
colocada à luz das escrituras. O conhecimento permanente de seu ofício,
também acerca de sua tarefa cultural, faz que o cristão, como profeta
busque sempre a Palavra de Deus. Ela o ensina como um sacerdote a
nunca confundir o amor à vida – temperado pelo ofício – e alegria na cultura
como ágape com a função puramente natural do seu eros, como se por meio
do último, o chamado de Deus fosse cumprido – Pallieter é um pagão! E
como rei, ela não o permite buscar a vida por si mesma, mas por causa de
seu Criador, de quem ele é servo e representante.
Logo, o centro desse problema jaz na segunda resposta do 12º dia do
Senhor do Catecismo de Heidelberg. Lá, João Calvino por meio de seus
discípulos Ursinus e Olevianus, se torna, pela graça de Deus, um profeta
cultural. Ele pregou e deu profundidade ao conceito do ofício do homem e
nos ensinou a entender novamente como a batalha entre pecado e graça, da
obediência e da desobediência é de grande importância na cultura. Aqueles
que passaram pela escola de João Calvino nunca proferirão exclamações
como aquelas das pessoas que – com um estremecimento que,
incidentalmente, podemos entender – veem como, e.g., a ciência técnica
está desenvolvendo em proporções gigantescas e então em total ênfase
clamam que na tecnologia, o homem alcançou seu triunfo, porém ele
triunfou para a morte: Er hat gesiegt aber er hat sich tot gesiegt (H. Lilje).
Isso não pode estar correto. Quando alguém encontra sua morte em
qualquer campo cultural, nunca é a consequência de qualquer ato cultural,
mas apenas da sua própria desobediência e infidelidade em cumprir seu
ofício. “pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças,
nada é recusável” (I Timóteo 4:4). O conceito de Calvino de autarquia é anti-
gnóstico.
JESUS CRISTO E A CULTURA, agora pela última vez.
Agora os corações podem se abrir, e as bocas; agora as mãos podem
dedicar-se ao trabalho e os pés moverem-se para o serviço. O homem que
segue Jesus Cristo é esplêndido e são, desde que continue O seguindo.
Aparte disso, ele professa precisamente no seu dia de assembleia e
festividade (na mesa da Ceia do Senhor) que ele jaz no meio da morte.
Homo est, humani nihil a se alienum putat. Ele também chegou a ser
bastante concreto em tudo que faz e fala. Novalis, o poeta romantista, disse
certa vez:
Onde quer que a escuridão se intensifique
Nova vida brota, novo sangue flui;
Para estabelecer paz eternal a nós
Ele mergulha na enchente da vida
Com suas mãos cheias, Ele está em nosso meio,
Amavelmente ouvindo a oração de todos.

Sim, de fato, Ele ouve as orações de todos, mas também as ações de


todos, as ações propositais dos sóbrios “os que se embriagam é de noite
que se embriagam. Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios”, diz
uma voz no meio do coro dos autores da Bíblia (I Tessalonicenses 5:7-8).
Novalis, um romantista em princípio, e consequentemente um panteísta e
pancristista, vê a vida levantar novamente onde a escuridão se intensifica;
ou seja, onde contrastes não podem mais ser distintos, onde a unidade dos
opostos é “experimentada” e, consequentemente, onde a ação proposital,
ação que está ciente da antítese fundamental, está faltando. Mas nosso
Cristo não conhece nenhum soldado exceto aqueles que pertencem ao dia
(que causa a distinção entre as coisas). Nós não temos um Cristo que
meramente escuta (as orações de sentimento), mas Um que olha para ver
como nós seguramos a pá, o martelo, o livro, a agulha, o pincel e qualquer
outro instrumento, para extrair do mundo – nós estamos incluídos nisso –
tudo que Ele colocou nele.
“Sermões escatológicos, por favor!” é o clamor de muitos. Mas deixe outros
então clamar que devemos semear, serrar e voar e comunicar-nos numa
maneira escatológica. “Teologia” escatológica é requerida em algum lugar.
Mas é melhor falar da cultura escatológica em todos os lugares.
Logo, quando Novaliz diz:
Deixe-nos no jardim divino cheio de bênçãos
Fielmente tratar dos brotos e das flores
Então nós respondemos que esse mundo não é mais um jardim de Deus,
que é um “jardim do Éden”. O último retornará. Mas nesse momento, o
mundo é uma oficina, uma arena, um lugar de construção. E o lugar onde se
encontra com Deus diferentemente do que Novalis aparenta ter em mente,
não é uma canto isolado onde a alma romanticamente disposta pratica
“religião”, num província separada para sua alma. Nem é o “universo” posto
num crepúsculo, sem traçar nenhum laço entre Deus e a natureza. Pois o
fórum de Deus é hoje Sua oficin, que é tão ampla quanto o mundo e é lá que
nós encontramos nossa oficina, nossa fábrica, o forno fumegante, o estúdio,
o salão de preparação; em uma palavra, qualquer província, todo plano não-
matemático onde “o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado
para toda boa obra” (II Timóteo 3:17) “fielmente tratar dos brotos e das
flores”, onde quer que elas estejam, calce suas botas de borracha ou retire
ervas daninhas ou desenvolva uma região desertificada.
É isso uma “tarefa sem fim”? Sim, de fato. Ele não sabe de nada exceto
essas tarefas sem fim, esse “tolo” que ele é - “em Cristo”. São os outros que
são imprudentes na sua opinião. E ele está certo.
Nossa tarefa cultural em seguir Jesus Cristo é, de fato, uma “tarefa sem
fim”. Bem-aventurado seja meu sábio co-pastor que faz visitas domiciliares
da maneira correta. Ele é uma força cultural, mesmo que ele não tenha
noção disso. Deixe que ele seja zombado: eles não sabem o que eles estão
fazendo, esses vagabundos culturais do outro lado!
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