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Hoje, essa atitude é típica demais. A maioria das pessoas se alegra em concordar que Deus
existe, mas em nossa sociedade pluralista tem-se tornado politicamente incorreto sustentar
que Deus revelou a si mesmo de modo decisivo em Jesus. Que justificativas os cristãos
podem apresentar, em contraste com hindus, judeus e muçulmanos, para entenderem que o
Deus cristão é real? A resposta do Novo Testamento é: a ressurreição de Jesus. “[Deus]
determinou um dia em que julgará o mundo com justiça, por meio do homem que
estabeleceu com esse propósito. E ele garantiu isso a todos ao ressuscitá-lo dentre os
mortos” (At 17.31). A ressurreição é a prova que Deus apresenta para as reivindicações
pessoais e radicais de Jesus acerca de sua autoridade divina.
Assim, como sabemos que Jesus está ressuscitado dos mortos? O escritor do conhecido
cântico de Páscoa diz: “Tu me perguntas como sei que ele vive? Ele vive no meu coração!”.
Essa resposta é perfeitamente apropriada em nível individual. Mas, quando os cristãos
envolvem os incrédulos em praça pública — como nas “Cartas à Redação” de um jornal
local, ou em programas em que o ouvinte ou o telespectador faz perguntas ou emite
opiniões ao vivo, em reuniões de pais e mestres ou numa mera conversa com colegas de
trabalho —, então, é crucial nossa capacidade de apresentar evidências objetivas que
sustentem nossas crenças. Caso contrário, nossas reivindicações não são mais substanciais
do que as afirmações de alguém que alegue ter uma experiência particular com Deus.
Fato número 1: Depois da crucificação, Jesus foi sepultado num túmulo por José de
Arimateia. Esse fato é muito importante, pois significa, contrariando críticos radicais como
John Dominic Crossan do Jesus Seminar [Seminário Jesus], que o local onde estava o
túmulo de Jesus era igualmente conhecido de judeus e de cristãos. Nesse caso, os discípulos
jamais poderiam ter anunciado a sua ressurreição em Jerusalém se o túmulo não estivesse
vazio. Pesquisadores de Novo Testamento constataram o primeiro fato com base em
evidências como as seguintes:
e foi sepultado;
Paulo não usa apenas os típicos termos rabínicos “recebi” e “entreguei”, com relação à
informação que ele está passando aos coríntios, mas os versículos 3-5 são uma fórmula de
quatro linhas carregada de características não paulinas. Isso tem convencido todos os
especialistas de que Paulo está, conforme ele diz, citando uma antiga tradição recebida por
ele após tornar-se cristão. Essa tradição remonta provavelmente à sua visita investigadora a
Jerusalém por volta de 36 d.C., quando passou duas semanas com Cefas e Tiago (Gl 1.18).
Datada, portanto, dentro do limite de cinco anos após a morte de Jesus. O curtíssimo
intervalo de tempo e esse contato pessoal tornam, nesse caso, inútil discutir a possibilidade
de lenda.
2. O relato do sepultamento faz parte de material muito antigo usado por Marcos ao
escrever seu evangelho. Os evangelhos tendem a consistir de breves instantâneos da vida de
Jesus vagamente ligados e nem sempre organizados cronologicamente. Mas, quando
chegamos ao relato da paixão, temos uma narrativa única, regular e continuamente fluente.
Isso sugere que a história da paixão foi uma das fontes de informação usadas por Marcos ao
escrever seu evangelho. Porém, a maioria dos eruditos entende que Marcos já é o evangelho
mais antigo, e a sua fonte sobre a paixão de Jesus é, evidentemente, ainda mais antiga.
A comparação das narrativas dos quatro evangelhos mostra que seus relatos não divergem
entre si até após o sepultamento. Isso significa que o relato do sepultamento era parte da
narrativa da paixão. Mais uma vez, a sua antiguidade milita contra a possibilidade de ser
lendário.
3. Como membro do tribunal judaico que condenou Jesus, é improvável que José de
Arimateia fosse invenção cristã. Havia um forte ressentimento contra a liderança judaica
em razão do seu papel na condenação de Jesus (1Ts 2.15). É, portanto, altamente
improvável que os cristãos inventassem um membro do tribunal que condenou Jesus e que
o honrou ao lhe dar um sepultamento adequado, em vez de deixá-lo ser despachado como
criminoso comum.
Por essas e outras razões, a maioria dos críticos de Novo Testamento concorda que Jesus
foi sepultado num túmulo por José de Arimateia. De acordo com o falecido John A. T.
Robinson, da Universidade de Cambridge, o sepultamento de Jesus em um túmulo é “um
dos fatos mais antigos e mais bem atestados sobre Jesus”.1
1. O relato do túmulo vazio também faz parte da antiga fonte sobre a paixão usada por
Marcos. A fonte sobre a paixão não termina em morte e derrota, mas com o relato do
túmulo vazio, formando uma única peça gramatical com o relato do sepultamento.
2. A tradição antiga citada por Paulo em 1Coríntios 15.3-5 implica o fato do túmulo vazio.
Para qualquer judeu do primeiro século, dizer que um homem morto “estava sepultado e
agora ressurgiu” implicava que se tinha deixado para trás uma sepultura vazia. Além disso,
a expressão “ao terceiro dia” deriva provavelmente da visita das mulheres ao túmulo no
terceiro dia, na contagem judaica, após a crucificação. A tradição tetrástica citada por Paulo
sintetiza tanto os relatos dos evangelhos como a pregação apostólica primitiva (At 13.28-
31); significativamente, a terceira linha da tradição corresponde ao relato do túmulo vazio.
Poderíamos seguir adiante, mas penso que já se disse o bastante para indicar por que, nas
palavras do austríaco Jacob Kremer, especialista na ressurreição, “a grande maioria dos
exegetas acredita com firmeza na fidedignidade das declarações bíblicas acerca do túmulo
vazio”.2
1. A lista de testemunhas oculares das aparições de Jesus ressurreto que é citada por Paulo
em 1Coríntios 15.5-7 garante que tais aparecimentos ocorreram, incluindo aparecimentos a
Pedro (Cefas), aos Doze, aos 500 irmãos e a Tiago.
3. Certas aparições têm marcas próprias de historicidade. Por exemplo, temos boas
evidências a partir dos evangelhos de que nem Tiago nem nenhum dos irmãos mais novos
de Jesus acreditavam nele enquanto viveu. Não há razão para imaginar que a igreja
primitiva produziria relatos fictícios acerca da incredulidade dos familiares de Jesus se eles
tivessem sido sempre seguidores fiéis. Mas é indiscutível que Tiago e seus irmãos se
tornaram de fato cristãos ativos após a morte de Jesus. Tiago era considerado apóstolo e
ascendeu à posição de liderança da igreja de Jerusalém. De acordo com o historiador judeu
Josefo, do século I, Tiago foi martirizado por sua fé em Cristo no final da década de 60 d.C.
Ora, a maioria de nós tem irmãos. O que seria necessário para convencê-lo de que seu
irmão é o Senhor, a tal ponto que você estaria pronto para morrer por essa fé? Seria
possível haver alguma dúvida de que essa notável transformação no irmão mais novo de
Jesus tenha ocorrido porque, nas palavras de Paulo, “depois [ele] apareceu a Tiago”?
O próprio Gerd Lüdemann, o principal crítico alemão da ressurreição, admite: “Pode-se
considerar como historicamente certo que Pedro e os discípulos passaram por situações,
depois da morte de Jesus, nas quais Jesus lhes apareceu como o Cristo ressurreto”.3
Fato número 4: Os discípulos originais acreditavam que Jesus ressuscitara dos mortos,
apesar de terem toda predisposição para não crer. Pensem na situação que os discípulos
enfrentaram depois da crucificação de Jesus:
1. O líder deles estava morto. E os judeus não tinham nenhuma crença acerca de um
Messias morto, muito menos ressurreto. Esperava-se que o Messias expulsasse os inimigos
de Israel (isto é, Roma) e reinstaurasse o reino davídico — e não que sofresse a morte
vergonhosa de um criminoso.
2. De acordo com a lei judaica, a execução de Jesus como criminoso demonstrava que ele
era herege, um homem literalmente debaixo da maldição de Deus (Dt 21.23). Para os
discípulos, a catástrofe da crucificação não era simplesmente que seu Mestre se fora, mas
que a crucificação mostrou de fato que os fariseus estavam certos o tempo todo, que
durante três anos eles tinham seguido um herege, um homem amaldiçoado por Deus!
Em síntese, há quatro fatos acerca dos quais concorda a maioria dos acadêmicos que
escrevem sobre essas questões e que qualquer hipótese histórica adequada tem de levar em
consideração: o sepultamento de Jesus por José de Arimateia, a descoberta do túmulo
vazio, suas aparições depois da morte e a origem da crença dos discípulos na sua
ressurreição.
Agora, a pergunta é: qual é a melhor explicação para esses quatro fatos? A maioria dos
estudiosos permanece agnóstica acerca dessa pergunta. Mas o cristão pode sustentar que a
hipótese que melhor explica esses fatos é: “Deus ressuscitou Jesus dos mortos”.
2. Ela tem grande poder explanatório: explica por que o corpo de Jesus se fora, por que as
pessoas viram Jesus vivo várias vezes apesar da sua execução pública recente, e assim por
diante.
4. Ela não é ad hoc nem inventada: requer somente uma hipótese a mais: que Deus existe.
Não é necessária nem mesmo essa hipótese adicional, caso já se acredite que Deus existe.
5. Ela está de acordo com as crenças estabelecidas. A hipótese “Deus ressuscitou Jesus dos
mortos” não está de modo algum em conflito com a crença estabelecida de que as pessoas
não ressuscitam naturalmente dos mortos. O cristão aceita essa crença tão sinceramente
quanto aceita a hipótese de que Deus ressuscitou Jesus dos mortos.
6. Ela supera em muito qualquer de suas hipóteses rivais no cumprimento das condições 1–
5. Ao longo da história, foram apresentadas várias explicações alternativas para os fatos.
Por exemplo, a hipótese da conspiração, a hipótese da morte aparente, a hipótese da
alucinação, e assim por diante. Essas hipóteses têm sido rejeitadas quase universalmente
pelos estudos contemporâneos. Nenhuma dessas hipóteses naturalistas conseguiu atender às
condições tão bem como a hipótese da ressurreição.
Ora, isso coloca o crítico cético em situação um tanto desesperada. Algum tempo atrás, tive
um debate sobre a ressurreição com um professor na Universidade da Califórnia, em Irvine.
Ela havia escrito a sua dissertação doutoral sobre a ressurreição de Jesus e estava
totalmente familiarizado com as evidências. O debatedor não podia negar o fato do honroso
sepultamento de Jesus, seu túmulo vazio, suas aparições post-mortem, e a origem da crença
dos discípulos na sua ressurreição. Portanto, seu único recurso era apresentar alguma
explicação alternativa para esses fatos. E, assim, ele alegou que Jesus tinha um irmão
gêmeo idêntico e desconhecido, separado dele ao nascer, que retornou a Jerusalém no
momento exato da crucificação, roubou o corpo de Jesus da sepultura, e se apresentou aos
seus discípulos que, erroneamente, deduziram que Jesus ressuscitara dos mortos! Bem, não
me incomodaria em estender a respeito de como refutei essa teoria, mas acho o exemplo
ilustrativo da profundidade a que o ceticismo desesperado precisa descer para negar a
historicidade da ressurreição de Jesus. De fato, as evidências são tão fortes que um dos
principais teólogos judeus de hoje, o falecido Pinchas Lapide, que ensinou na Universidade
Hebraica em Israel, declarou-se convencido, com base nas evidências, de que o Deus de
Israel ressuscitou Jesus de Nazaré dos mortos!7
Notas
1 John A. T. Robinson, The Human Face of God (Filadélfia: Westminster, 1973), p. 131.
3 Gerd Lüdemann, What Really Happened to Jesus?, trad. John Bowden (Louisville, Kent.:
Westminster John Knox Press, 1995), p. 80.
4 Luke Timothy Johnson, The Real Jesus (São Francisco: Harper San Francisco, 1996), p.
136.
7 Pinchas Lapide, The Resurrection of Jesus, trad. Wilhelm C. Linss (Londres: SPCK,
1983).