walter gropius BAUHAUS : NOVARQUITETURA Equipe de realização — Tradugdo: J. Guinsburg e Ingrid Dormien; Revisio EDITORA PERSPECTIVA o texto ¢ diagramação: Lúcio Gomes Machado; Produgdo: Plinio Martins Filho e Cristina Ayumi Futida. Título do original: Em alemão: Árchitektur Em inglés: Scope of Total Architecture Copyright by ® Harper & Row, Publishers Incorporated, New York A minha querida esposa Tlse-Nova 4t edição Direitos em lingua portuguesa reservados & EDITORA PERSPECTIVA S.A. Avenida Brigadeiro Luis Antonio, 3025 01401-000 - São Paulo - SP - Brasil que estejam fundamentados no conteúdo do pensamento e da sensibilidade da nossa época. Como alcançar uma tal unidade que constitua a expressão visível de uma verdadeira sociedade demo- crática — é o tema do-presente livro. Baseia-se ele principalmente em artigos e conferências oriundos da minha atividade como diretor do Department of Archi- tecture da Universidade de Harvard (1937-1952).* WALTER GROPIUS INTRODUÇÃO * No início de um novo período de minha vida — contrariamente às esperanças normalmente nutridas para a casa dos setenta — parece-me que ele será tão tur- bulento e perigoso quanto o anterior. A mim me pa- rece que me transformei numa figura etiquetada. De- signações como ‘“estilo Bauhaus”, “estilo internacional”, “estilo funcional” quase chegaram a encobrir o homem que existe por trás destas nogdes. Dai por que me sinto levado a romper aqui e ali os lugares-comuns que me conferiram pessoas superzelos: (*) Palestra pronunciada pelo aulor no seu septuagésimo aniver- A idéia de publicar este livro cabe 3 minha esposalise, nascida sério, em malo de 1953, a convite do Illinois Institute of Technology e selecionou e redigiu o material de meus manuscritos. em Chicago, 19 nova criação não é sufocada, em seu nascedouro, por Quando pela primeira vez, em minha juventude, discussões exageradas e antecipadas sobre seu possível atraí o interesse público, fiquei decepcionado ao cons- valor — um mau costume que destrói tantos esforços - tatar que minha mãe se deprimiu com isso e não gostou na Europa. Não se deve deixar perder-se esta louvável .de ver meu nome impresso. Hoje compreendo seus qualidade em favor de teorias destorcidas e briguinhas receios, porque sei que, na nossa era da impressão rá- infrutíferas, principalmente numa época em que deve- pida e da catalogação, a publicity é colada ao indivíduo mos desenvolver nosso poder e originalidade para man- como a etiqueta à garrafa. Repetidas vezes sinto von- ter w:.__om e eficazes os impulsos criativos, frente à ação tade de romper esta crosta para desvendar o homem destrutiva da mecanização e da superorganização que escondido atrás dos rótulos ou das etiquetas. ameçam nossa sociedade. Comunicaram-me que, no campus do hospital Mi- Naturalmente, um espírito pesquisador se expõe a chael Reese, em Chicago, onde fui conselheiro arquite- agressões de todos os lados, por causa da atitude que é tônico durante os últimos dez anos, será plantada uma obrigado a tomar quando abandona caminhos repisados. árvore que levará meu nome. Desejo que nessa árvore Há algum tempo, eu era tachado de “vermelho” pelos pousem pássaros de várias cores e formas e que se sin- nazistas, de “expoente típico da sociedade capitalista”, tam seguros nela. Não quero vê-la reservada apenas a pelos comunistas, e de “estrangeiro” alheio ao modo espécimes raros, com penas quadradas ou linhas aerodi- de vida democrático, por alguns americanos. Todas nâmicas, com características internacionais ou pluma- estas designações dirigidas à mesma pessoa mostram gem Bauhaus. Desejo, em suma, que seja uma árvore a confusão que pode ocasionar, em nosso tempo, um hospitaleira, onde se ouçam muitos trinados, mas não _H.a._ín_:o que só pretende expressar sua própria con- o flautear artificial dos imitadores de aves. vicção. Hoje, olho para estas tempestades passadas de Na infância, alguém me perguntou qual era a minha vida com a distância que se conquista com a ex- minha cor preferida. Anos a fio minha família zombou periéncia. Sei que as fortes correntezas de nosso tempo de mim porque, após alguma hesitação, Tespondi: poderiam ter afundado meu barco com a máxima faci- “Minha cor preferida é o colorido”. Minha vida carac- lidade, se eu não pudesse confiar em minha prépria terizou-se por uma forte necessidade de encampar todos bissola. os componentes vivos da existência, em vez de desligar . Decerto não pretendo dar a impressdo de querer partes em prol de uma visão por demais estreita e dog- distanciar-me da tarefa comum que é a de cuidar para mática. Também por isso é que assisti com bastante des- que ndo se perca o controle da maquinaria do pro- ram gresso, que foi criada por nossa época e estd prestes a gosto às confusas batalhas de palavras que coloca frente a frente os representantes das diversas escolas de deitar por terra a nossa vida. Quero dizer que o mau arquitetura moderna. Em geral, tais escaramuças esté- uso da méquina produziu um espirito de massa, mortal ticas não provêm dos próprios arquitetos, e sim da- para a alma, nivelador da diversidade da expressio queles críticos egocêntricos de boa ou má fé, que, para individual e da independéncia de pensamento e ação. apoio de suas próprias teorias estéticas ou políticas, A diversidade é a fonte vital de uma verdadeira de- causam muitos danos ao trabalho de pessoas criativas, mocracia. Mas os fatores de conveniéncia, assim como sofismando expressões ou arrancando-as do seu con- -as técnicas de venda inescrupulosa, a superorganizagio texto. eo “fazer dinheiro” como fim dltimo, sem divida, di- Em toda a minha vida, sempre observei que pa- minuem a capacidade do individuo de procurar as pos- lavras e sobretudo teorias que a experiência não con- sibilidades mais profundas da vida. firma podem causar mais desgraças do que ações. A democracia baseia-se na interagio de dois fe- Quando cheguei aos Estados Unidos em 1937, agradou- nômenos de vida contrastantes: de um lado, necessidade -me a tendência dos americanos em imediatamente tes- da diversidade de conceitos resultante da produção in- tar na prática toda idéia recém-nascida. Deste modo, a 2] 20 dividual intensiva; de outro lado, necessita de um deno- outra geragdo defrontou-se com um panorama tao vasto de tendéncias antagbnicas como a nossa, e o nosso pen- minador comum na forma de expressão, resultante das experiências somadas de muitas gerações que pouco a dor para a superespecializagio não é uma arma muito boa para vencer esta contradigio. A arquitetura pro- pouco expu expulsam o puramente arbitrário em favor do essencial e tipico. Por mais incompativeis que essas duzida por nosso tempo mostrará impiedosamente até duas manifestações possam parecer, sua fusão pode e que ponto conseguimos ser fiis à estrutura social em deve ser conseguida, pois do contrario nos tornaremos desenvolvimento — da qual fazemos parte — sem com autématos. isso perder nossa individualidade viva. Certa vez um membro da Corte Suprema dos Es- Gostaria no minimo de destruir uma das falsas eti- tados Unidos falou sobre a esséncia dos métodos de quetas com que eu e outros fomos rotulados: fã6há processamento democrético. Achei muito interessante “estilo internacional”, a não ser que se queira designar ouvi-lo definir tais métodos como “fundamentalmente, com isto certas conquistas técnicas universais de nossa época, que pertencem ao equipamento intelectual de um caso de graduagdo correta”. Sua assertiva nio se baseava em principios abstratos de justica ou injustica. toda nação civilizada, ou entdo se pretenda caracterizar Desejava antes examinar cada causa em suas circuns- com o rétulo aqueles exemplos anémicos do que eu cha- mo “arqueologia aplicada”. Encontramo-los nos edifi- tâncias especificas e proporções relativas, pois era de cios públicos de Moscou, Madri e Washington. Esquele- opinião que dependia da sanidade da estrutura social tos de ago ou concreto armado, fachadas envidragadas, em conjunto, e o que hoje é determinante amanhi po- lajes, lajes suspensas ou alas apoiadas sobre colunas são derd ser contingente e vice-versa, já que as prerissas se transformam sempre. apenas meios de expressdo impessoais modernos, por assim dizer, o material bruto com o qual diferentes ma- Agugar o sentido para o equilibrio prético e mo- nifestagdes arquitetdnicas regionais podem ser criadas. ral é uma tarefa que cada um de nós tem de desenvol- As conquistas do gótico — suas abdbadas, arcos, bota- ver por si em sua vida. Quando, por exemplo, acusa- réus, torres ogivais — também se converteram em meios mos a técnica e a ciéncia de haverem destruido nossas de expressdo internacional. No entanto, qudo grande di- concepções tradicionais do belo e da “felicidade de versidade regional surgiu na expressdo arquitetonica em viver”, farfamos melhor se reconhecéssemos que ndo é sua aplicagdo nos diversos paises! o excesso perturbador dos meios técnicos de produgdo Posso dizer, por experiéncia prépria, que, na cons- em massa que determina o curso das coisas, mas que trugdo de minha primeira casa nos Estados Unidos — êste depende da morosidade ou presteza de nossos pen- e era a minha prépria — procurei incorporar caracte- samentos. Assim a nossa geração produziu verdadeiros risticas da tradigdo arquitetdnica da Nova Inglaterra, horrores de conjuntos habitacionais regimentados, os que aceitava como ainda vivas e adequadas, 3 minha quais, embora erigidos em bases artesanais, podem fa- concepção pessoal. Essa fusdo do genius loci com mi- cilmente concorrer na sua moérbida monotonia com nha concepgdo de construgdo moderna deu origem a aqueles malogrados sistemas de pré-fabricagdo, que em uma casa que na Europa, por causa das condigdes cli- lugar de desdobrarem apenas as partes componentes méticas, térmicas e psicol6gicas totalmente diversas, eu (o que manteria a flexibilidade) multiplicam indus- jamais teria construido. trialmente uma mesma casa. Aqui a culpa ndo cabe à . ferramenta, mas sim ao modo erréneo de pensar. A Tentei resolver o problema da mesma forma como arte de saber precisamente até que ponto cumpre conter os antigos construtores dessa regido, os quais, com as ou estimular os instintos individuais, reforgarou domi- melhores possibilidades técnicas a seu dispor, erigiam nar as correntes gerais, é aparentemente privilégio de prédios simples, de linhas nitidamente definidas, capa- alguns poucos sébios, cuja direção espiritual — hoje zes de enfrentar os rigores do clima e adequados aos mais do que nunca — podemos dispensar. hébitos de vida da época. Nenhuma 22 23 Nossa incumbência atual parece ser a de desco- —Én mam. 35mwwwmm\.\r%mwwfiwwn$uwun_<_§omcm=. dus que incorporam os melhores e mais duradouros valorese, por isso, devem ser cultivados como o núcleo — essencial de uma nova tradição. A capacidade para di- ferenciar corretamente valores culturais só pode de- senvolver-se, sem dúvida, por meio de uma educagio que se aprimore constantemente. Uma das principa’s tarefas que cabe a nés, arquitetos, no campo da edu- cação cultural, seria a de apontar e precisar novos va- lores que nos compete peneirar dentre as numerosas tendéncias que surgem e desaparecem no caos da moda | e doprocesso de produgioem massa, o qual não com- preendeu ainda que as inovagdes, em si, não significam também, necessariamente, melhorias. Em meio a uma produgdo imensa e a uma oferta quase itada de mercadorias e objetos de toda espécie, não podemos esquecer que os critérios culturais só podem ser adqui- ridos por meio de um processo de selegdo, que procu- Te o essencial e o tipico. Esta limitagdo voluntéria não gera de modo algum a monétona uniformidade mas possibilita a muitos individuos contribuir com sua pré- pria variagdo individual para um tema comum e, assim, dar novamente ao nosso meio-ambiente a unidade de expressdo que perdéramos no inicio da era da méquina. Entdo, os dois opostos — variedade individual e reco- nhecimento de um denominador comum a todos — hão de, mais uma vez, harmonizar-se. 1. DO METODO * Não é meu propésito introduzir aqui, vindo da Europa, um “estilo moderno”, por assim dizer intei- ramente pronto e acabado, raas, sim, um métédo de abordagem que nos permita tratar um problema de acordo com suas condições peculiares. Quero que o jovem arquiteto seja capaz de encontrar seu préprio caminho, quaisquer que sejam as circunsténcias, que ele crie independentemente formas auténticas, a partir de condições técnicas, econdmicas e sociais a ele dadas, em vez de impor uma f6rmula aprendida a um ambiente que talvez exija uma solugdo completamente diversa. (*) De um artigo que o autor escreveu no principio de sua ativi- dade didética como professor de Arquitetura na Universidade de Harvard, em maio de 1937, para “The Architectural Record”, 25 Não pretendo ensinar um dogma ._nwvwmc. mas, sim, uma atitude perante os problemas de nossa geração, uma uma vida ligada à natureza, significativa, e protegé-los das falsas wvfi-.nflnfim e imitagdes. Só poderemos cor- atitude despreconcebida, original e maleável. A idéia de que minha nomeação para uma cadeira de ensino responder a essa exigéncia, se atacarmos nossos pro- blemas de poderia resultar na imitação superficial de uma concep- ção fixa de “arquitetura Gropius” me é repelente. É da época. antes meu desejo esclarecer aos mogos quão inexauríveis meios estão a seu dispor sob a forma dos incontáveis a fig. as mesmo isso produtos de nossa época e encorajá-los a achar suas ainda não é suficiente. —_Ew que _oa_um esses ramos di- próprias soluções. ferentes da atividade humana formem de -novo uma unidade, são necessários caracteres fortes, e wª: .2.. Fiquei muitas vezes decepcionado pelo fato de as pessoas me perguntarem somente sobre a técnica e os truques dos meus trabalhos, enquanto que meu inte- resse v—n_uonn—wnwn—.o era o da transmissão de minhas mmdmanfiwd muito cedo nos canais experiências e do método que as sustentava. É possível alcançar por certo, em relativamente pouco tempo, de- mh._)m_._Nnnmo Nosso século produziu mi- terminado êxito, apropriando-se de técnicas e truques; mas tais resultados permanecem superficiais e insatisfa- a0 homem de visdo. tórios, pois deixam sempre o estudante desamparado em situagdes novas e inesperadas. Se ele não foi treinado a ter uma perspectiva do desenvolvimento orgânico, ne- nhum conhecimento e wv__oumwc de motivos modernos, por mais elaborados que sejam, voafl: capacitd-lo a realizar um trabalho criativo, Minhas idéias foram amidde interpretadas como se ficassem apenas na racionalizagio. e mecanizagdo. Isto dá um quadro inteiramente falso de meus esfor- gos. Sempre acentuei também o outro aspecto da vida, no qual a satisfagdo das necessidades psiquicas é tdo importante quanto a das materiais, ¢ no qual o propésito de uma nova concepção espacial é algo mais do que economia estrutural e perfeição funcional. O lema “o prético também é bonito” só é real pela me- tade. Quando é que dizemos que um rosto humano é belo? As partes de cada rosto servem a um fim, mas somente quando sdo perfeitas em forma, cor e harmo- nia, o rosto merece o titulo honorifico de “belo”. O mesmo vale para a NSESES. ÉIIOE» % -OQEO:H_BM— poc S« eza/ E é o que torna nossa tarefa tão diversificada e complexa. Mais do que nunca, está nas mãos do arquiteto ajudar nossos contemporineos a levarem novamente 26 2. MINHA CONCEPÇÃO DA IDÉIA DE BAUHAUS * Meta Se antes da guerra de 14 eu já encontrara o meu próprio ponto de vista dentro da arquitetura — como provam o edifício Fagus de 1911 e a exposição do Kolner Werkbund de 1914 — tornei-me inteiramente cônscio, com base em reflexões pessoais, de minha res- ponsabilidade como arquiteto, em conseqiiéncia da Pri- (*) Ct. Gropius, The New Architecture and the Bauhaus, Londres, Faber & Faber; 1935, Gropius, “Education towards creative Design”, Nova York, maio do 1937, American Architect and Architecture, “The Gropius Symposium”, em The American Academy of Arts and Sclences, Arts and Architecture, Caiiférnia, 1952. — . meira Guerra Mundial, em cujo transcurso minhas idéias teóricas tomaram forma pela primeira vez. Após a brutal interrupção, todo indivíduo pen- sante sentia necessidade de uma mudança intelectual de linha. No'seu campo de atividade específica, cada qual tentava contribuir a fim de que fosse transposto o abismo entre realidade e idealismo. Entrevi então pela primeira vez quão imensa era a missão que devia cum- prir um arquiteto de minha geração. Achava que, an- tes de tudo, era mister demarcar novamente a meta e i o campo de atividade do arquiteto, uma tarefa que eu, no entanto, não podia esperar realizar com minha pró- pria contribuição arquitetônica; isso só seria alcançado com o preparo e a formação de uma nova geração de arquitetos em contato Íntimo com os modernos meios de produção, em uma escola pioneira, que deveria conquistar uma significação de autoridade, Compreendi que era preciso uma equipe inteira de colaboradores e assistentes, homens que não traba- lhassem como um conjunto orquestral, que se curva i batuta do maestro, e sim independentemente, ainda que em estreita cooperação, a servico de um objetivo comum. Assim tentej transferir o centro de gravidade de meu trabalho para a integragdo e coordenacdo, in- cluir tudo sem excluir nada; pois sentia que o bom da arquitetura repousa no labor harménico e conjunto de um grupo de colaboradores ativos, cuja cooperação corresponde ao do organismo a que chamamos socie- dade. Assim em 1919 foi inaugurada a Bauhaus. Seu escopo especifico era concretizar uma arquitetura mo- derna que, como a natureza humana, abrangesse a vida em sua totalidade. Seu trabalho se concentrava prin- cipalmente naquilo que hoje se tornou uma tarefa de necessidade imperativa, ou seja, impedir a escraviza- ção do homem pela maquina, preservando da anarquia mecénica o produto de massa e o lar, insuflando-lhes novamente sentido pratico e vida. Isto significa o de- senvolvimento de objetos e construgdes projetados expressamente para a produção industrial. Nosso alvo era o de eliminar as desvantagens da méquina, sem sacrificar nenhuma de suas vantagens reais. Procura- mos criar padrdes de qualidade, e não novidades tran- sitórias, A experimentação tornou-se, uma vez mais, quer, mas sim em exercer uma influéncig viva no “de- o centro da arquitetura; e isto requer um espírito aber- sign” (gestaltung). Um “estilo Bauhaus” significaria to e coordenante, e não o tacanho e limitado espe- recair no academismo estéril e estagnado, contra o qual cialista. . precisamente criei a Bauhaus. Nossos esforgos visa- O que a Bauhaus propds, na prética, foi uma co- vam a descobrir uma nova postura, que deveria desen- munidade de todas as formas de trabalho criativo, e volver uma consciéncia criadora nos participantes, para em sua légica, interdependéncia de um para com o finalmente levar a uma nova concepção de vida. Que outro no mundo moderno. Nosso principio orientador eu saiba, a Bauhaus foi a primeira instituição do mun- era o de que o nosso impulso plasmador não era um do que ousou apresentar este principio em um pro- - caso intelectual nem grama de ensino definido. A formulagio desse pro- grama foi antecedida de uma anélise das condições de nossa era industrial e de suas correntes basicas. Liceus de Artes e Oficios ‘Quando, no século passado, a produção industrial de toda criagio no tocante ao mundo em si opunha-se inundou paulatinamente o mundo, deixando artesios e diametralmente à idéia de l'art pour l'art é à filosofia artistas em má situação, comegou pouco a pouco uma ainda mais perigosa da qual se originava, isto é, a do reagdo natural contra a auséncia da boa forma e da negécio como uma finalidade em si. qualidade. Ruskin e Morris foram os primeiros que É da apaixonada participagdo nesses debates que se colocaram contra a corrente, mas sua oposição à deriva o interesse vivo da Bauhaus pelo processo de máquina em si não podia estancar a enchente. Só bem configuragdo de produtos técnicos e pelo desenvolvi- mais tarde, algumas personalidades, que almejavam o mento orgânico de seus processos de manufatura. Isto desenvolvimento da forma, reconheceram nesta confu- levou ao falso conceito de que a Bauhaus constitufa são que arte e produção só voltariam a harmonizar-se uma apoteose do racionalismo. Na verdade, est4vamos de novo quando também a máquina fosse aceita e posta muito mais ocupados em explorar e fixar o territério que é comum às esferas técnicas e formais, em estipu- a serviço do designer. “Escolas de artes e ofícios para lar onde ficam seus limites. Estandardizagdo da ma- artes aplicadas” desenvolveram-se — principalmente na quinaria pritica da vida não significa robotização do Alemanha — mas a maioria só pôde desincumbir-se individuo, mas, pelo contririo, alivio de um lastro su- de'seus propósitos pela metade, já que a formação era pérfluo de sua existéncia, para que ele possa desen- muito superficial e, do ponto de vista técnico, dema- volver-se mais livremente em um nivel superior. Com siado diletante, para lograr progressos reais. A indús- demasiada freqiiéncia, porém, nossas pretensoes reais tria continuou a lançar no mercado um: sem-número de foram mal compreendidas, e ainda hoje o são, isto &, produtos mal enformados, enquanto que os artistas se interpreta ainda o movimento Bauhaus como uma lutavam em vão para aplicar projetos platônicos. A tentativa de criar um estilo e ainda se vê, em cada deficiência consistia em que nenhum dos dois conse- construção e em cada objeto que não exibam orna- guia penetrar suficientemente no campo do outro, para mentos e não se apoiem em um estilo histérico, exem- atingir uma fusão efetiva dos esforços mútuos. plos desse imagindrio “estilo Bauhaus”, Isto é exata- O artesão, por outro lado, tornara-se com o correr mente o oposto daquilo que pretendiamos. A meta da do tempo um apagado decalque daquele vigoroso e Bauhaus não consistia em propagar um “estilo” qual- autônomo representante da cultura medieval, que do- 32 33 minara toda a produção de seu tempo e que era téc- nico, artista e comerciante em uma só pessoa. Sua oficina transformou-se pouco a pouco em uma loja, o processo de trabalho escapou-lhe da mão, e o artífice converteu-se em comerciante. O indivíduo, a natureza plena, privado da parte criativa de seu labor, atrofiou- -se em uma natureza parcial, incompleta. O artesão perdeu pois, também, sua capacidade de formar dis- cipulos; os jovens aprendizes emigraram gradualmente para as fábricas. Ali a mecanização embotou seus ins- tintos criativos e tirou-lhes a alegria do próprio tra- balho; seu impulso para aprender desapareceu rapida- mente, A diferença entre Artesanato e Trabalho Mecânizado Qual a razão desse processo de entorpecimento? Qual a diferença entre artesanato e trabalho maquini- zado? Apdiferença entre indústria e artesanato reside menos na diversidade das ferramentas de produção do que na divisio de trabalho na indistria em face do con- trole indiviso dos processos de trabalho no artesandto. A limitagio forcada da iniciativa pessoal é o perigo cultural ameagador da atual forma da economia. O tinico remédio está em uma atitude diferente para com o trabalho, que parta do reconhecimento racional de que o progresso da técnica mostrou como uma forma de trabalho coletivo pode conduzir a humanidade a uma produção total maior do que um trabalho auto- crético de cada individuo. Isso ndo reduz o poder e o significado da produgdo individual. Pelo contrário, quando se dá à iniciativa individual o lugar que ela merece no âmbito do trabalho conjunto, o efeito prá- tico será até de incremento. Tal atitude ndo mais considera a méquina como um meio puramente eco- némico, pelo qual o maior número possivel de arte- sãos é poupado e expulso do mercado, nem como um instrumento para a imitagdo do produto artesanal, mas antes como um instrumento que deve aliviar o homem das mais pesadas fainas corporais e servir para poten- ciar sua méo na tarefa de plasmar seus impulsos cria- tivos. O fato de ainda não dominarmos suficientemente nostos meios de produgdo e, por causa disso, sofrermos 34 &w%ãã%. ainda sob a sua ação, não pode naturalmente ser argu- mento contra sua necessidade. O problema principal consistirá em encontrar a distribuição mais efetiva das energias criativas no quadro da produção conjunta. O tipo de artesão inteligente do passado será respon- sável no futuro por preparações especulativas na pro- dução de artigos industriais, Em vez de desperdiçar suas capacidades em um processo de multiplicação pu- ramente mecânico, dar-lhes-á aplicação no trabalho experimental de laboratório e no desenvolvimento de ferramentas. Seu campo de atuação tornar-se-á parte orgânica da unidade de produção da indústria. No' momento o jovem artesão é obrigado muitas vezes, por razões econômicas, a ganhar o pão como operário fa- bril ou a transformar-se em órgão executivo das idéias platônicas de outros, isto é, dos designers. Nos dois casos, não consegue solucionar seu problema pessoal.. Com a ajuda do artista, produz artigos que nos mostram apenas nuanças decorativas de tendência cambiantes de gosto, mas que, a despeito de uma certa, qualidade, não mostram um progresso mais aprofun- dado no sentido do desenvolvimento estrutural, que brota do conhecimento dos novos meios de produção. O que devemos pois fazer a fim de preparar à geração vindoura uma via mais rica em perspectivas para a sua futura profissão de designer, artesão e ar- quiteto? Que institutos de formação devemos organi- zar para descobrir o homem de talento artístico e equi- pá-lo mediante profundo treino espiritual e artesanal para o trabalho criativo, independente, no seio do pro- cesso de produção industrial? Sómente em casos iso- lados foram criados institutos de formação cuja meta era a de gerar ésse novo tipo de colaborador industrial, que reúna em sua pessoa as peculiaridades do artista, do técnico e do homem de. negécios. Uma tentativa assim de retomar contato com a produção industrial e formar jovens quer no trabalho artesanal e mecânico quer no projeto. Formação Bauhaus: Cursos Preparatórios Em objetivo da Bauhaus formar pessoas com ta- lento artístico para serem designers na indústria, arte- 37 sãos, escultores, pintores e arquitetos. Servia de base comego todos os componentes essenciais do projeto e um bem organizado adestramento manual, tanto do da técnica, para que o aluno dispusesse de uma pers- ponto de vista técnico como formal, tendo ª— meta o pectiva imediata do campo total de sua atividade fu- tura, A seguir, a formação posterior apenas continuava éste curso no sentido da ampliagdo e do aprofunda- mento. Ela se diferenciava da “formagdo preparaté- ria” elementar tdo-somente em dimensdo e minfcia, mas não no essencial. A instrução na moldagem da forma principiava ao mesmo tempo que os primeiros exercicios com material e ferramentas. A Linguagem Visual Além de receber uma formação técnica e artesa- porção e .uu&_w. ritmo, luz, sombra e cor. O curso nal, o designer * deve aprender uma linguagem da preparatório permitia-lhe ao mesmo tempo passar por forma a fim de poder exprimir suas idéias visualmente. toda fase da experiência primitiva com materiais e ins- Ele precisa adquirir conhecimento dos fatos cientificos trumentos de toda espécie e assim encontrar-no quadro em óptica, isto &, base teérica que venha guiar a mão de seus dotes naturais o lugar em que pudesse movi- plasmadora e fornecer uma base objetiva em que um -mentar-se com segurança. “Essa formação de seis me- certo número de individuos possa trabalhar em con- es tinha por fim desdobrar e amadurecer a inteligén- junção harmoniosa. Essa teoria não é naturalmente ia, o sentimento e a fantasia, e visava a desenvolver nenhuma receita para a produção de obras de arte, J homem inteiro” que, a partir de seu centro: biolé- porém o meio objetivo mais importante para a reali- ico, E:_a—.n encarar todas as coisas da vida com se- zação de qualquer trabalho de design em grupo. Pode- ranga instintiva e que estivesse à altura do ímpeto e -se expressi-lo melhor por um exemplo da misica: a caos de nossa “Era Técnica”. - A censura de que teoria do contraponto ainda €, embora tenha talvez uma .»ogwnmb tão geral, em nosso mundo de econo- com o correr do tempo se sujeitado a certas mudangas, mia industrial, constitui um extravagante desperdício um sistema supra-individualista para a coordenação do de tempo, não é, na minha opinião e experiência, sus- . mundo tonal. Se não se quiser que a idéia musical tentdvel. Ao contrário, ficou provado que ela, não afunde no caos, é necessério o dominio do contraponto, apenas proporciona maior confianga no -aluno, mas po i tação — também aumenta consideravelmente a produtividade e a rapidez de seu ulterior treinamento_especializado. ição estritamente rTegular. Só quando se desperta nele desde cedo larga compre- A academia, cuja desde o principio (quando ensdo para as cambiantes relages dos fenémenos da n..«.n_n era uma forga vital) a de desenvolver esta teoria Sm.m que o cercam, poderá ele oferecer uma contri- para as artes visuais, malogrou porque perdeu Q con- buição própria ao trabalho criativo de seu tempo. tato com a realidade. Por isso foram efetuados estu- A Visto que tanto o futuro artesão quanto o futuro moo intensivos na Bauhaus a fim de se descobrir a gra- artista eram submetidos, na Bauhaus, 2 mesma forma- itica da plasmagéo da forma, a fim de transmitir aos ção bisica, esta base tinha de ser tão ampla que cada dantes um conhecimento objetivo sobre. os fatos talento pudesse encontrar seu préprio caminho. A es- ticos; tais como proporgdo, iisdes Opticas e cores. trutura concéntrica da formação toda inclufa desde o (%) “Traduziremos Gestalter pela forma inglêsa designer. (N. do T.) 38 39 O cuidadoso cultivo e a exploração posterior dessas as necessidades da indústria, Desse modo surgiu umsa leis da natureza contribuíram mais para continuar a influéncia reciproca, que encontrou expressio em pro- - autêntica tradição do que qualquer ensino na imitação duções valiosas, cuja qualidade técnica e artistica foi de formas e estilos antigos. reconhecida igualmente pelo produtor e consumidor, Formação na Oficina O Desenvolvimento dos Tipos Padrdes Cada estudante da Bauhaus tinha de trabalhar, no A criagio de tipos padrde: curso de sua formação, em uma oficina por ele esco- didrio é um imperativo social. lhida, depois de haver concluído com êxito o prepa- ratório. Ali estudava ao mesmo tempo com dois mes- tres, um de artes: e outro de design, Era preci professores diferentes, pois 1 ci oje mais do que nunca é preciso compreender o significado bésico da expressdo standard de um modo bastante profundo para tomé-la como nova geração capaz de reunir as duas qualidades. So- um titulo cultural honroso, e é preciso opor-s¢ 3 pro- mente anos mais tarde a Bauhaus pôde confiar a dire- paganda superficial e arrasadora, que indiscriminada- ção das oficinas a ex-alunos, agora já dotados de bas- ‘mente eleva todo produto industrial em série à cate- tante experiência técnica e artística; assim a divisão Naíw de produto standard. entre mestres da forma e mestres da técnica se tornou supérflua. A formação artesanal nas oficinas da Baubaus não constituía um fim em si, mas um meio de educação insubstituível.. A meta dessa formação era produzir designers, que por seu conhecimento exato do ma- terial e dos processos de trabalho estivessem em con- o de materiais. dições de influir na produção industrial de nosso tem- a experiéncia de laboratdrio, que dificil- nciar entre po, Por isso tentamos criar modelos para a indústria, te prazos temporais e semelhante trabalho que não eram apenas projetados na Bauhaus, mas efe- que deve ser terminado em determinado de produgdo, tivamente produzidos em suas oficinas. A meta prin- momento; isto é, entre o processo criativo da invenção cipal era o projeto de artigos standard para uso diá- de um modelo e o processo técnico de sua vzx_cowo rio, As oficinas eram sobretudo laboratórios, onde mo- Não é possivel encomendar idéias criati- delos para tais produções eram cuidadosamente desen- em massa. volvidos e constantemente melhorados. Embora esses vas; não obstante é preciso instruir o projetista de um modelos fossem feitos à mão, os projetistas tinham de modélo no julgamento de métodos econdmicos, com fiar-se nos métodos de produção em escala industrial, os quais seu modelo será mais tarde fabricado na linha e por isso, a Bauhaus enviou seus melhores alunos, de produção em série, mesmo que o tempo ¢ o gasto durante a formação, para um certo período de traba- de materiais durante o projeto e execugdo do modelo lho prático nas fábricas, Inversamente, das fábricas desempenhem apenas um papel subordinado. vinham às oficinas da Bauhaus trabalhadores experien- Toda a estrutura da instrugdo dada na Bauhaus tes, a fim de discutir com os professores e estudantes mostra o valor educacional que foi atribuido a proble- 40 4 mas práticos, os quais forçam de fato o estudante a Era essencial para o trabalho da Bauhaus o fato vencer finalmente todas as dificuldades internas e ex- de que no correr do tempo todas as produgdes deno- ternas. O trabalho em conjunto para a execução de tassem certo parentesco: constituia o resultado de um encomendas, que o mestre aceitara, era uma das carac- Rmmmgm.ummminnamwm:»amawmcawmomoE..nm m@ na I édia. Por isso ª ª%wu lidades mais diversas. paren aseava ªn%ªwã. nas quais tanto mestres quan- to discípulos poderiam comprovar suas idéias. em particularidades estilisticas externas, mas antesno - Princi- coisas de de produzir o esforç um modo simples, autên- palmente a construção da sede de nosso instituto em tico, e em concordancia com suas leis. As formas que Dessau, em que a Bauhaus na totalidade, com todas os produtos Bauhaus assumiram não são pois resultado suas oficinas, cooperou, representou uma tarefa ideal. de uma moda, mas sim de uma combinação artística A aplicagdo prética, nessa construção, de muitcs mo- e de inúmeros processos de pensamento e trabalho no delos novos confeccionados em nossas oficinas, con- domínio técnico, econômico e da criação formal. O venceu de tal modo os industriais, que diversos con- indivíduo sozinho não pode alcançar essa meta; só na tratos em bases percentuais foram firmados com a cooperação de muitos é possível achar aquela solução Bauhaus, contratos due, com accrescente aceitagdo dos que transcende o individual e permanece válida por produtos, se tornaram valiosa fonte de renda. O sis- anos a fio, tema de trabalho prético obrigatério resultou ao mes- mo tempo na possibilidade de pagar aos alunos — mesmo no decurso dos trés anos de sua formagdo — pelos artigos e modelos vend4veis que houvessem ela- O Professor Criativo borado. Tal método deu a muitos estudantes capazes uma base de subsisténcia. 7 O êxito de qualquer idéia depende da personali- dade dos responsáveis por sua execução, A escolha do Após três anos de instrução no campo do artesa- professor adequado é decisiva para os resultados que nato e da projeção, o estudante prestava um exame não um instituto de formação visa a obter. As caracteris- só perante os mestres da Bauhaus mas também perante ticas humanas são até mais decisivas do que o conhe- os mestres da câmara artesanal, para receber sua carta cimento técnico e o talento; pois do cardter do mestre de oficial. Para os que quisessem prosseguir nos estu- depende o sucesso fecundo do trabalho em conjunto dos, a terceira fase consistia no aprendizado da cons- trução. Estágio com a juventude. Quando se deseja ganhar para um em canteiros de obras, experiência prá- instituto homens de capacidades artisticas extraordind- tica com novos materiais de construção, cursos de de- senho técnico e de engenharia, ministrados juntamente , é preciso dar-lhes desde o principio tempo e es- com os de projeto, levavam ao diploma de Mestre da ago para que possam fomentar, nas mais amplas bases, Bauhaus. Na prática, os estudantes se tornavam então u desenvolvimento pessoal através do trabalho pri- ado. O simples fato de que tais pessoas continuem a arquitetos, desenhistas, projetistas, industriais, profes- levar adiante seu préprio trabalho mo instituto produz sores, dependendo de suas aptidões pessoais. A me- aquela atmosfera criativa em que jovens talentos podem ticulosa formação artesanal nas oficinas servia de pre- desenvolver-se, e que é tdo imprescindivel numa esco- ciosa bagagem aqueles alunos que não conseguiam pe- la superior de design. Este é o pressuposto principal netrar nas dificeis e extensas tarefas da profissio de a que devem submeter-se todas as outras questdes arquiteto. O ensino gradativo e diversificado da Bau- organizacionais. Nada é mais mortifero para uma es- havs habilitava-osa se concentrarem precisamente na cola superior desta natureza que o professor compelido especie um eecde trabalho L que melhor combinasse com suas ano apds ano a consagrar todo seu tempo ao ensino. capacidades. ' Mesmo os melhores se cansam dessa roda-viva e calci- 42 43 ficam-se ineludivelmente com os anos. Na verdade, a arte não é um ramo da ciência que possa ser aprendida passo a passo em um livro. Só é possível intensificar o talento artístico inato quando a pessoa toda é in- fluenciada pelo exemplo do mestre e por seu trabalho. Os fatos técnicos e científicos podem ser aprendidos em cursos de ensino, mas o método da formação artis- tica, para ser bem sucedido, precisa ser confiado à livre iniciativa pessoal do mestre. As aulas que tenham por finalidade dar rumo e apoio ao trabalho artistico do individuo e dos grupos não necessitam de modo algum ser numerosas, desde que contribuam com ele- mentos essenciais, que realmente estimulem os estu- dantes. Com demasiada freqiiéncia confundimosa = de desenhar com a capacidade de produzir capacidade o desigr. criativo. A destreza de desenho bem como a destreza artesanal constituem apenas valioso meio auxi- liar para exprimir representagbes espaciais. O virtuo- sismo e a habilidade manuais não geram ainda a arte. Apenas a formação artistica alimenta a imaginação e as forças criativas. Para tanto, uma “atmosfera intensiva” é a coisa mais preciosa que o estudante pode receber. Mas tal fluidum surge apenas se um certo niimero de personalidades trabalha para um objetivo comum, o que ndo se pode conseguir através da simples orga- nização. O motivo pelo qual a sementeira de idéias Bau- 3. EXISTE UMA CIENCIA DO “DESIGN”?* haus não vingou mais depressa talvez resida no fato de quanto à capacidade de mudança da Por miuitos anos me ocupei sistematicamente com as pretensões natureza humana terem sido demasiado grandes, du- os fatos cientificos atinentes à capacidade visual e sua relagdo com os outros sentidos, e em conexdo a isso, rante a geração passada. A natural inércia humana também experiéncias psicol6gicas relativas à forma, a0 não podia manter o passo com o impetuoso desenvolvi- espago e & cor. Estes colocam problemas tdo profun- mento, tanto material quanto espiritual, em todos os dos quanto os do m: da construção, da economia; domínios de atividade. sim, pósso até mesm "problemas psi-| Um novo campo cultural de idéias não pode ex- pandir-se e desenvolver-se mais rapidamente do que a nova sociedade em si, à qual deve servir. Creio foda- via poder afirmar sem exagero que a comunidadeda Bauhaus contribuiu, pela inteireza de sua tentativa, para ancorar novamente a arquitetura e o design con- temporâneos no domínio social. 44