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NOTAS PREPARATÓRIAS cultura distorcida enquanto empregando as mesmas


palavras daquela cultura?1
Em Letter to a Teacher os estudantes camponeses da colônia de
Barbiana – escrevendo de uma doposcuola para evadidos A maioria de nós tem mais em comum com os
mantida pelo pastor da vila – critica o sistema de escola pública estudantes de Barbiana do que com seus professores
e as autoridades que estabeleceram as políticas que rebaixam, e fracassados ou seu parlamento, sua sociedade discursantes, ou
evadem, eles e seu tipo. Eles fantasiam que “se os pobres se representantes designados. Correntemente, na província da
bandeiam juntos na universidade, eles poderiam gerar uma ‘cultura’ somos anulados pelos teóricos pós-estruturalistas e
marca significativa.” Mas os poucos pobres que realmente vanguardas pósmodernistas, independente de profissão política,
chegam à universidade “são recebidos como irmãos pelos ricos falando uma linguagem uniformemente abafada atrás de uma
e logo são premiados com todos os seus defeitos.” E o que é ou outra parede institucional. Uma parede que, embora não
mais, “os homens que compõem os diversos partidos opaca, é socialmente concreta – uma sufocante, distanciamento
políticos ... são sólidos bacharéis universitários. Os partidos obscurecido como uma folha de um velho acrílico. E mais, à
proletários não são diferentes nesta quesdtão. ... Há um partido parte da imaginação e recursos dos movimentos e organizações
bem maior que todos os outros partidos: O Partido dos políticas de massa , é praticamente impossível romper as
Graduados Universitários.” Os estudantes concluem: limitações do (a)prisionamento institucional. As tentativas
históricas de destruir as piedades monumentais do humanismo
Quando o novo intermediário estava sendo debatido no burguês estão confiadas às inteligentes, respeitáveis, silenciosas
Parlamento, nós, os mudos, mantivemos silenciosos governantas mantendo a tampa fechada sobre os fatos sociais
porque não estávamos lá. Os camponeses da Itália tais como exploração, classe e raça.
foram deixados de fora quando uma escola para eles Eu entendo que os locais quase inacessíveis da atividade
estava sendo planejada. literária teórica e crítica não têm muita influência sobre o
Eternas discussões aconteceram entre duas mundo no geral. Para imaginá-los devemos escorregar no ralo
facções, aparentemente opostas, mas de fato iguais. idealista de professores que acreditam que os ‘Clássicos’ são
Todos eles era bacharéis do liceo, incapazes de “os livros que moldam o mundo ocidental.” Não obstante, a
ver uma polegada além da escola que os trouxe à vida. crítica e a teoria crítica têm realmente conseqüência – mesmo
Como poderia um jovem cavalheiro discutir com sua que, às vezes, ela seja apenas uma oleosa envernizada
própria sombra, cuspir em si mesmo e em sua própria complacência assegurando que nada acontece no vai-e-vem
misturar daquilo que passa por cultura.

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Colegiais de Barbiana, Letter to a Teacher (Nova Iorque: Random House,
1970), pgs. 89-90.
2

Não é necessário que seja assim. Há a mais saudável, então definido em termos de conformidade com os critérios
produtiva “teoria” descrita por Foucault quando estava estabelecidos e a proficiência na execução do exercício.”3
realizando trabalho de apoio com prisioneiros: a teoria que não Somos por isto alertados de que não há conhecimento
é apenas despertar de consciência, e que “não expressa, traduz, ou realização anterior, ao isolada da, prática. E a prática
ou presta para aplicar prática: ela é prática. ... Esta é uma luta encompassa malajeitamento, trabalhando “no limite.”
contra o poder, uma luta objetivada para revelar e enfraquecer Obviamente, os ensaios a seguir nada têm em comum
poder onde ele é mais invisível e insidioso. Não é ‘para com Matisse exceto malajeitamento e uma inclinação para a
despertar a consciência’ que lutamos ... mas para debilitar ‘prática.’ Mas como os colegiais de Barbiana, eles também
poder, para tomar poder; ela é uma atividade conduzida ao lado trazem as cicatrizes de suas confecções: condicionamento de
daqueles que lutam por poder, e não sua iluminação de uma raça e gênero, a ênfase ímpar que decorre de trabalhar em um
distância segura.”2 ambiente criticamente deflacionado, e hesitação concernente a
Victor Burgin comentou sobre a diferença entre posição e aparência de classe. Talvez isto tenha coerência com
“imagens inspiradas em Mattise” e uma pintura particular de o território. Em muitos eventos minha intenção não é de
Matisse. resumir ou acomodar mas de reabrir questões consideradas
resolvidas. Em 1934 Walter Benjamin intimou escritores
[Eu foi] afligido pela diferença de realização entre aquele antifascistas a produzir e promover literatura que é um meio de
Matise e as ‘novas’ imagens inspiradas em Matisse que produção ao invés de um artigo de consumo, uma literatura que
enchiam as revistas e galerias de arte da época – os últimos é uma “razão compelidora para decisão” ao invés de “um
eram muito mais bem-sucedidos. O próprio Matisse eram bem objeto de contemplação confortável.” Isto ainda parece ser o
maljeitoso. Eu tive a impressão de alguém que não sabia que é mais útil de se fazer. Questões estéticas são questões
exatamente o que estavam fazendo, alguém trabalhando ‘no políticas. É tentador acrescentar que questões estéticas são
limite’ do que era possível e aceitável. Precisamente o que políticas em última instância, mas isto seria apenas um modo
define um academia é que ela sabe um sucesso quando depara de contemplar, e pretender preterir, o político neles inscritos.
com um, os critérios estão sempre ordenados – o sucesso é
[ ...]
2
Michel Foucault, Linguagem, Counter-Memory, Practice (Ithaca, N.I.:
Cornell University Press, 1977), pg. 208. Fiucault acusa que intelectuais Extraído de James Scully, Line break – poetry as social
“são agentes [do] sistema de poder – a idéia de suas responsabilidades pela practice (Seattle: Bay Press, 1988).
‘consciência’ e discurso fazem parte do sistema. “Conseqüentemente “o
papel do intelectual não é mais se colocar ‘algo à frente e ao lado’ para
expressar a verdade reprimida da coletividade; ao contrário, é de lutar contra 3
“The Absence of Presence: Conceptualism and Postmodernisms,” The End
as formas de poder que o transformam em seu objeto e instrumento na of Art Theory: Criticism and Postmodernity (Atlantic Highlands, N. J.:
esfera do ‘conhecimento’, ‘verdade’, ‘consciência,’ e ‘discurso.’” Humanities Press International, 1986), pgs. 44-45.
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Traduzido por RUI CEZAR DOS SANTOS

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