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Fica evidente que é pouco provável que uma fotografia seja um registro cena importante ou não. Por exemplo, a fotografia de um pelicano morto
de laboratório quando pensamos sobre como é produzida. A maioria dos boiando entre algas e pedaços de madeira, de 1945, de Weston, é para mim,
fotógrafos são pessoas de entusiasmos intensos cujo trabalho envolve como para muitos, inesquecível porque é verdade. Ela registra precisamente
muitas escolhas - parar o carro, apanhar o filtro amarelo ao invés do verde, um mistério ao final de todo terror - a sobrevivência da Forma.
esperar que a nuvem se afaste e, no momento em que tudo parece Não surpreendentemente, muitos fotógrafos admiraram jardins, aqueles
inexplicavelmente perfeito, disparar o obturador. Atrás dessas decisões está lugares que Leonard Woolf uma vez descreveu como “o último refúgio da
a bagagem individual do fotógrafo, de lembranças e meditações sobre como desilusão”. Jardins são de fato impressionantemente semelhantes a imagens
percebeu esse lugar ou, no passado, lugares como esse. Sem tal experiência de paisagem, refúgios, não contra, mas da verdade. Um detalhe etimológico
não haveria discernimento sobre se a cena no visor era característica da que Kenneth Clark levanta em sua discussão da paisagem - paraíso é a
geografia e de sua experiência e intuição sobre ela - em resumo, se era palavra persa significando “um jardim cercado” - permanece, penso, como
verdadeira. talvez a melhor sinopse possível do que um fotógrafo vê através do visor de
Fazer fotografias tem de ser, então, uma questão pessoal; quando não o é sua câmera exatamente antes de disparar o obturador. Sua vista é a de uma
os resultados não são convincentes. Apenas a presença do artista no margem de caminho tranqüila para viajantes, construída a partir da
trabalho pode nos convencer de que sua afirmação resultou da e tem sido geografia local, mas calma e elucidativa.
testada pela experiência humana. A vista, sem o fotógrafo na fotografia,
não é mais comovente que o produto de alguma anônima câmera de Dag Hammarskjöld, secretário geral das Nações Unidas de 1953 até sua
registro, uma máquina capaz, talvez, de acidentes felizes mas não de morte em 1961, estava se preparando, quando faleceu, para aposentar e
resposta à forma. viver em uma fazenda na costa ao sul da Suécia. A casa, uma parte da qual
A arte afirma que nada é banal, o que é o mesmo que dizer que uma está hoje aberta ao público, é de um pavimento e construída de madeira e
imagem séria de paisagem é metáfora. Se uma vista da geografia não estuque e que, como muitas sedes de fazenda escandinavas, circunda um
implica em algo mais duradouro do que um pedaço específico de terreno jardim. Quando a visitei, em julho de 1968, os paralelepípedos estavam
então a imagem nos atrairá apenas brevemente; nós, provavelmente, iremos quentes ao sol, hollyhocks floresciam contra uma parede e o cheiro era do
preferir o próprio local que podemos cheirar e sentir e ouvir, bem como ver oceano e de feno recentemente cortado.
- embora nós também iremos, provavelmente, sair da cena real esperando Na casa, dois cômodos contêm os objetos pessoais de Hammarskjöld,
encontrá-la na arte algum dia. Isso é assim porque a geografia, por si só, é incluindo sua coleção de pinturas e esculturas. A diversidade é
difícil de ser precisamente avaliada - o que esperamos do artista é ajuda na impressionante - imagens rurais da Suécia por artistas regionais estão
descoberta do significado de um lugar. Nesse sentido nós, em muitos dispostas entre trabalhos de Picasso, Georges Braque e Barbara Hepworth.
aspectos, escolheríamos trinta minutos com a tela Sunday Morning, de É, fui informado, uma instalação concebida por amigos de acordo com sua
Edward Hooper à trinta minutos na rua que foi seu sujeito; com a visão de convicção de que se alguém amava a própria paisagem seria então, e apenas
Hooper nós vemos mais. O que é que ele nos ajuda a ver, precisamente, então, possível amar outras paisagens.
deve ser cuidadosamente discutido mas o pintor Robert Henri chegou muito Hammarskjöld era, e isso me agrada, um ávido fotógrafo. Muitas fotos da
próximo disso na sua descrição da descoberta a ser feita com o auxílio de mídia mostraram-no, quando em visita pelas Nações Unidas a países da
pinturas bem-sucedidas; em tais imagens, ele observou, “Parece haver Ásia e da África, sorrindo e vendo através de sua Hasselblad. Um dia,
momentos de revelação quando vemos a transição de uma parte para outra, quando estava em missão diplomática na Índia, de fato, seu anfitrião
a unificação do todo. Há um sentido de abrangência.” observou seu entusiasmado fotografar e lhe ofereceu para levá-lo em um
Dependemos da fotografia de paisagem, penso, para tornar inteligível para vôo ao longo do costado do Evereste (ele era também alpinista). Embora o
nós aquilo que já conhecemos. É a conformidade de uma paisagem à avião fosse um DC3 despressurizado, ele fez uso efetivo da oportunidade e,
experiência da condição de vida e suas possibilidades que, afinal, torna uma
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