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Filipe Gonçalves
T1
2022/2023
Desde a descorberta da fotografia, estivemos sempre em busca de uma forma fiel de
nos representarmos com o máximo de detalhe possível, com a preocupação da preservação da
imagem nas nossas mentes, mas sem o cuidado de nos perguntarmos a nós mesmos se o corpo
que acabou de ser fotografado é, de facto, o espelho para a nossa consciência identitária. Parte-
se do princípio de que sim, somos a perfeita representação física do que acabou de ser captado
por uma caixa mecânica. Será que nos restringimos a essa resposta por ser a saída mais fácil?
Pois, assim não temos que nos deslocar do nosso pedestal e procurar pela nossa melhor versão.
A fotografia enquanto processo técnico não tem a função de espelhar a nossa essência, no
entanto, enquanto processo artístico, e por vezes até mesmo de cura, tem o dever de ser capaz
de traduzir em imagem uma infinidade de códigos que deixamos indecifráveis nas conexões que
fazemos com o mundo exterior.
Porque é que será que raramente gostamos das fotografias que alguém faz de nós sem
que estejamos a prestar atenção? Talvez porque não estávamos prontos e portanto,
desarmados – despidos de qualquer proteção que estamos habituados a colocar quando
queremos ser representados. Somos dependentes do nosso aspeto, da forma como queremos
ser percecionados e, como consequência de tal, damos por nós a alterarmo-nos em prol de uma
boa imagem, seja lá o que isso for para cada um. A angústia que sentimos por não sermos
capazes de encontrar o nosso melhor lado, o que melhor nos representa, faz com que entremos
num ciclo vicioso e problemático ao nosso ser. Ao invés de tentarmos mostrar o melhor de nós
às mentes alheias, não deveríamos utilizar a fotografia como reflexo para nos vermos e
encontrarmos? É aqui que o poder da Imagem é questionado, quando duvidamos de tal forma
do seu poder, que entregamos à Fotografia o papel secundário na história da nossa
representação.