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NÍVEL: DOUTORADO
O Kosmos de Humboldt.....................................................................................24
O Cosmo de Humboldt......................................................................................43
O Kosmos e a Geografia.....................................................................................47
A Abstração Real...............................................................................................83
Bibliografia específica...................................................................................134
Bibliografia Geral..........................................................................................135
Anexos...........................................................................................................149
I- Cronologia...................................................................................................149
An Dieter.
“Ele aproveita essa oportunidade para extrair uma época
determinada do curso homogêneo da história; do mesmo modo, ele extrai
da época uma vida determinada e, da obra composta durante essa vida,
uma obra determinada. Seu método resulta em que na obra o conjunto da
obra, no conjunto da obra a época e na época a totalidade do processo
histórico são preservados e transcendidos.”
Para Humboldt.
APRESENTAÇÃO: Paisagem, teoria e lembrança.
A festa foi anunciada pelo professor Carlos Augusto. Disse ele: Se eu fosse
vocês, estudaria menos e aproveitaria mais a vida. Para quem começava um
curso universitário era um conselho estranho. Só pude imaginar que a Geografia
era a madrasta e nós as cinderelas interditadas. Se havia, como se podia
suspeitar naquelas palavras, uma oposição entre viver e estudar geografia, para
qual Orco estávamos sendo levados? Das duas, três. Ou sairíamos correndo para
o parque do povo, como um boi em legítimo estouro, ou resignar-nos-íamos, tal e
qual o novilho na rampa do altar, ou vestidos á el Silverio, teríamos en el toro o
sentido da vida. Só o contato com o fazer geográfico permitiu-me encontrar a
possibilidade do terceiro termo da metáfora. Aí, muito contribuiu o sonho
chamado AGB. Enfim, a Geografia é um convite para a festa. Em tempo, a
metáfora bovina é tributária das colinas de capinzais do interior de São Paulo.
Hoje, esse lugar já não existe para mim. Tornou-se um amontoado de casas
com o vermelho dos blocos cerâmicos e o cinza da fibra de amianto das telhas.
Mas o fato do lugar já não existir para mim, não quer dizer que o lugar não
exista. Seria um conservadorismo impor ao mundo o meu estado de coisas. Que o
mundo já tenha de produzir-se em museus de lugares não é novidade, afinal para
onde iriam as musas? Mas fica sempre a pergunta: e as crianças, onde estão?
1
A figura que foi utilizada como capa da Tese é de W. von Kaulbach. Staatsbibliothek. Berlín Ocidental.
Fonte: BOTTING, op. cit.
2
Yeats, numa bela figura, pergunta-se: “como separar da dança o dançarino?”.
recebem o mesmo tratamento e devem ser cotejadas com a bibliografia
específica.
"Hast du Verstand und ein Herz, so zeige nur eines von beiden;
"A las dos de la tarde iba a la vela el Pizarro". Assim Humboldt inicia o relato
da partida de sua viagem e de Bonpland para a América. A bordo da pequena
corveta, a ansiedade misturava-se à curiosidade sem tamanho gestada durante
muitos anos na fértil imaginação de um dos maiores cientistas vivos do século
que logo se abriria e que, em outros termos, apresentaria a consolidação do
processo de modernização. Nesses vários termos iniciais, temos, já, a
preocupação de alinhar alguns elementos do documento aqui apresentado.
abreviatura. O K maiúsculo indica tratar-se da versão alemã. Optamos, nesse caso, por utilizar para os dois
primeiros tomos a edição mais recente. No caso da edição traduzida de Giner, as referências aparecem com a
indicação do C maiúsculo e seu correspondente tomo e paginação. Outra obras citadas de Humboldt 3 "A
primeira é a maneira como entendo o trabalho em história da filosofia, isto é, mostrando que uma filosofia
interroga a experiência de seu tempo, é constituída por essa experiência e é também constitutiva dela, de sorte
que a história não é um mero contexto externo à obra, e sim que ela precisa emergir da própria obra,
esclarecendo-se nela e a esclarecendo também." ( Chauí, Marilena: Folha de São Paulo. 1999. op. cit.
(...) Después de responder la pregunta del cómo, surge una segunda pregunta, de
enorme interés para o historiador de la ciencia: la cuestión del por qué, que personalmente
considero que es la más importante”4
4
BÜTTNER. 1977. p. 5. op. cit.
para a análise do fato que investigamos. Em particular, Humboldt coloca-nos, ao
ser firmado como um dos "pais" da Geografia moderna, a tarefa específica de
situar a produção do conhecimento geográfico no mesmo fato investigado.
Certamente, desde suas primeiras obras sobre os basaltos e sobre a flora até a
consolidação final no Kosmos é possível acompanhar a extrema diversidade de
interesses, como o próprio Humboldt afirmaria muitas vezes, a que sua
curiosidade o levava. Essa sua intenção e necessidade de estudar várias frentes
de expansão do conhecimento científico não impediram que suas preferências se
manifestassem e perdurassem na obra como as áreas, nas quais Humboldt se
sentia mais seguro, como por exemplo, nos estudos sobre o magnetismo terrestre.
5 Acompanhamos aqui, em mesmo sentido, o uso dos termos que Marilena Chauí utiliza no estudo da obra de
Espinoza: "Os leitores observarão que, no correr desse livro, empregamos três termos para nos referirmos ao
pensamento de Espinosa: espinosismo, espinosista, espinosano/espinosana. Espinosismo e espinosista são
empregados para significar: 1) as críticas e as imagens pejorativas realtivas à obra de Espinosa; 2) as
referências, também pejorativas, que autores fazem a outros para indicar sua suposta filiação ao pensamento
de Espinosa, seja do ponto de vista teórico, seja do prático; 3) a caracterização da obra de Espinosa como
doutrina. Espinosano/espinosana são empregados para indicar o que consideramos expressão do próprio
pensamento do filósofo, suas idéia e seus discursos." (CHAUÍ: 1999. p. 21. op. cit)
Além da diversidade de "conteúdo", pode-se afirmar uma variedade de gêneros
literários na exposição humboldtiana, indo desde o apurado relato de suas
viagens até os textos de divulgação científica sistematizados a partir de suas
conferências públicas. Nesse percurso, no qual os gêneros, muitas vezes,
misturam-se, chamou-nos a atenção a presença, quase sempre explícita, de um
estilo característico7 que acompanha todos os gêneros utilizados.
"He ideado una descripción física del mundo. Del mismo modo que soy consciente de que
cada vez es más necessaria, también observo cuán pocos fundamentos existen para
semejante edificio.”9
Dessa idéia inicial difusa, ainda demarcada pelo contato com os gêneros da
literatura de seu aprendizado, o fundamental ficaria e só seria consolidado ao
longo de suas pesquisas: a convicção da necessidade de uma exposição síntese do
conteúdo e forma da dinâmica da natureza.
Tal projeto só começaria a ganhar a forma que nos chegou a partir das
conferências de Berlim, consideradas aqui o segundo marco na definição da obra
às quais nos referimos no anexo III. No processo de exposição da produção
científica, Humboldt convenceu-se, ainda mais, da necessidade de uma
divulgação para fora dos muros dos experts daquilo que para ele configurava-se
em conquistas para o homem. À medida em que os produtos da ciência e da
técnica começavam a fazer parte do cotidiano das pessoas, a justificação dessa
produção fazia-se urgente. Ainda mais, Humboldt convenceu-se da necessidade,
como ele afirmaria a partir de Bacon, da ampliação da produção científica para o
desenvolvimento de uma nação, que no seu caso, postava-se ainda na retaguarda
do contexto europeu.
O terceiro marco dessa produção pode ser assinalado com a própria redação
final da peça, cujo percurso10 e análise mais pormenorizada encontra-se no
9
Humboldt, in BOTTING. 1985. p. 234-235. op. cit.
10
"Puede asegurarse que el germen del Cosmos, el estímulo de su publicación, fueran las dos series de
lecciones y conferencias dichas. En el año 1845 se publica el primer volumen; los tres siguientes, en los años
1847, 1850 y 1859, respectivamente. Al año que sucede a la muerte de Humboldt se publica un quinto
volumen, que non es outra cosa que extenso registro de materias redactado por el doctor Buschmann."
MELON. p.417. op.cit.
capítulo I. Assim é que nos chega a obra: completa na “intenção” e fragmentada
no “gesto” de ampliação do que pôde ser consolidado, como não é de todo
estranho ao conhecimento científico.
11
BOTTING. 1985. p. 235. op. cit.
natural, no interior da própria transformação da forma como compreendemos a
natureza, não por acaso imbicando-se mutuamente.
Sauer constata que, como outros, Humboldt parece ter descoberto uma
qualidade sinfônica na contemplação da cena de uma área, desenvolvida a partir
de um completo noviciado em estudos científicos, mas afastando-se, depois,
desse campo para outros. Devemos poder compreender que esse afastamento, no
caso de Humboldt, significa em paralelo, aproximação ao empírico. Aproximação
essa que se qualifica em vários níveis, isto é, objetiva-se na paisagem cumprindo
um percurso que vai, por exemplo, no seu posicionamento escalar, do
microscópico ao descrever detalhadamente espécies vegetais e animais ao
macroscópico ao descrever planetas e constelações, passando pela escala
humana da paisagem geográfica ou da arte pictórica.
A paisagem pode ser considerada uma construção teórica para o olhar que se
lança de encontro ao mundo para contemplá-lo. Aqui, podemos fazer uma
indicação de que a palavra teoria, em um dos seus usos mais antigos, significava
também contemplação. Assim a paisagem que surge para nós, homens modernos,
equivale também à separação entre contemplação e teoria. Quando a paisagem
torna-se um objeto a ser contemplado, sua relação com o pensamento já está
cindida e deve ser apreendida apenas por uma parcialidade. O estabelecimento
da paisagem como referência escalar para o homem dá-lhe a dimensão que
Humboldt espera poder construir cientificamente, ou seja, a posição entre homem
e o mundo com o fim último da contemplação, logo, da teoria. Se podemos pensar
que o mundo moderno forma-se como representação através de uma estética
teórica, podemos pensar, num paralelismo, que a própria teoria tornou-se
estética. Para nós, a paisagem torna-se possível apenas na confluência do mundo
destacado esteticamente com o homem destacado teoricamente, portanto um
encontro do duplo destacado na forma da paisagem.
12
"Trata-se, em suma, de uma história da semelhança: sob que condições o pensamento clássico pôde refletir,
entre as coisas, relações de similaridade ou de equivalência que fundam e justificam as palavras, as
classificações e as trocas? A partir de qual a priori histórico foi possível definir o grande tabuleiro das
identidades distintas que se estabelece sobre o fundo confuso, indefinido, sem fisionomia e como que
indiferente, das diferenças?"(FOUCAULT. 1999. p. XXI-XXII. op. cit.)
CAPÍTULO I: A tradição Cosmológica no Kosmos de Humboldt.
“Parece-nos que o melhor conceito para designar o que Mannheim chama de ‘a ideologia
total’, quer dizer, a perspectiva de conjunto, a estrutura categorial, o estilo de pensamento
socialmente condicionado – que pode ser ideológico ou utópico – é o de visão social de
mundo. É permitido considerar arcaico, em desuso, ‘historicista’, ‘humanista’ maculado de
idealismo hegeliano, de filosofia do sujeito ou de outras heresias maiores, o conceito de
Weltanschauung. Em nossa opinião, ele constitui, em sua formulação ‘clássica’, através do
historicismo alemão (Dilthey), o instrumento conceitual mais apto a dar conta da riqueza e
da amplitude do fenômeno sócio-cultural em questão. Contrariamente ao termo ‘ideologia
total’, este não contém nenhuma implicação pejorativa e nenhuma ambigüidade conceitual:
o que ele designa não é, por si só, nem ‘verdadeiro’ nem ‘falso’, nem ‘idealista’ nem
‘materialista’ (mesmo sendo possível que tome uma ou outra destas formas), nem
conservador nem revolucionário. Ele circunscreve um conjunto orgânico, articulado e
estruturado de valores, representações, idéias e orientações cognitivas, internamente
unificado por uma perspectiva determinada, por um certo ponto de vista socialmente
condicionado. Acrescentando o termo social- visão social de mundo – queremos insistir em
dois aspectos: a) trata-se da visão de mundo social, isto é, de um conjunto relativamente
coerente de idéias sobre o homem, a sociedade, a história, e suas relações com a natureza
(e não sobre o cosmos ou a natureza enquanto tais); b) esta visão de mundo está ligada a
certas posições sociais (Standortgebundenheit) – o termo de Mannheim – isto é, aos
interesses e à situação de certos grupos e classes sociais.” 13
“E que, por conseguinte, a verdade objetiva sobre a sociedade é antes concebida como
uma paisagem pintada por um artista e não como uma imagem de espelho independente do
sujeito; e que, finalmente, tanto mais verdadeira será a paisagem, quanto mais elevado o
observatório ou belvedere onde estará situado o pintor, permitindo-lhe uma vista mais
ampla e de maior alcance do panorama irregular e acidentado da realidade social.” 14
“É evidente – para ficar no quadro de nossa ‘alegoria do mirante’ – que a paisagem como
painel não depende somente do observatório, mas também do próprio pintor, de sua forma
de olhar e de sua arte de pintar.”15
13
LÖWY, 1988. p. 12-3. op. cit.
14
LÖWY, 1988. p. 13-4. op. cit.
15
LÖWY, 1988. p. 204. op. cit.
com um alto promontório, o da própria história, e uma exuberante
capacidade de pintá-la.
O Kosmos de Humboldt.
16
As referências para a caracterização do Kosmos estão contidas nas edições analisadas e citadas na
bibliografia específica e cotejadas com o "comentário" da edição alemã de 1993 preparada pelo professor
Hanno Beck.
17
Há uma edição original completa, em excelente estado de conservação, na biblioteca do IAG/USP.
18
"Naturae vero rerum vis atque majestas in omnibus momentis fide caret, si quis modo partes ejus ac non
totam complectatur animo. (Plínio, o velho. Historia Naturalis, livro VII, capítulo 1.). "
Na versão alemã, mais recente aparece a tradução: "Das Wesen und die Hoheit der Natur offenbaren sich,
wenn alle ihre Teile auch als Ganzes begriffen werden"
A essência e a grandeza da Natureza manifestam-se, quando todas suas partes são compreendidas também
como totalidade".
A segunda preocupação refere-se à exposição do principio da unidade e
totalidade da Natureza, objetivo mais elevado e declarado dos estudos de
Humboldt:"el de compreender el mundo de los fenómenos y de las formas físicas
en su conexion y mútua influencia". Trata-se, no momento, de ultrapassar
[übergehen] a descrição fisica da Terra [physische Erdbeschreibung] para uma
descrição física do Mundo [physische Weltbeschreibung).
19
Para uma vista geral, indicamos a referências contidas no anexo I.
Tempo dos descobrimentos oceânicos.
O quarto volume do Kosmos foi publicado em 1858, com 650 páginas e volta-
se para a parte telúrica do cosmo, abordando em duas partes suas
características. A primeira trata da magnitude, forma, densidade, magnetismo e
outros fenômenos corrrelatos. A segunda parte examina "A reação do interior da
Terra sobre sua superfície". Compreende, também, setecentas e noventa e três
notas.
O quinto volume do Kosmos foi publicado em 1862 com 1297 páginas, três
anos após a morte de Humboldt, e foi preparado pelo Prof. Dr. Eduard
Buschmann, bibliotecário da Biblioteca Real e membro da Academia de Ciência,
através da reunião de vários fragmentos escritos por Humboldt e algumas notas
do próprio compilador assim dispostos:
20
Tal é o caso da edição em um volume da Editorial GLEM de Buenos Aires, de 1944. Nesta edição,
provavelmente preparada pelo próprio tradutor ( J. A. P), de 604 páginas aparecem fragmentos dos quatro
volumes sem indicação da edição utilizada para a tradução, nem os critérios da contração.
21
A edição francesa foi acompanhada por Humboldt que sugeriu os tradutores para os dois primeiros
volumes.
Não foi necessário muito tempo para o reconhecimento da obra. Em vida,
Humboldt já colheria a fama e as críticas. O primeiro volume esgotou-se em dois
meses e até 1851, já havia 80.000 exemplares publicados. A penetração nos
círculos científicos da época foi imediato e de várias partes do mundo chegaram
sugestões, contribuições e críticas. O Kosmos já nascia destinado a marcar uma
época.
Levanta-se perante nós, portanto, aquela que será descrita como uma das
principais características do Kosmos: seu caráter compilatório de uma época. E
podemos acrescentar com Capel e Melon:
"Precisamente por este carácter ambicioso e integrador que posee, el Cosmos es una obra
importante de la ciencia europea del siglo XIX. Es la obra del que ha sido considerado el
último hombre enciclopédico de la cultura universal. En ella rebasó su antigua concepción
de una geografía física de la Tierra para abordar una descripción física del universo
(physische Weltbeschreibung), com la que de hecho culmina y se reformula la vieja línea de
la cosmografia".22
E:
El primer tomo del Cosmos, com su introducción y tres partes, com sus cuatrocientas
notas y muchas más referencias bibliográficas, es un libro concluso en su totalidad, lo
mismo en contenido que como sistema; así lo considera su autor, que en ninguna de sus
páginas hace ilusión a los que le sieguen. Es el logro pleno del programa que se impuso
Humboldt al concebir la obra. Hasta tal punto es perfecta singularidad, hasta tal punto se
perfila su contenido en el trato de hechos y fuerzas de todo lo creado, que el lector non
prevenido, de antemano no puede suponer que el tomo dicho sea tan sólo la pieza inicial de
una obra más extensa. Non creo sea atrevida hipótesis la de considerar el primer tomo del
Cosmos como la decantación impresa de los dos ciclos de conferencias a que antes nos
referimos; por su sistematización y desarrollo completo del tema tiene la fisonomía de una
obra académica y formativa de orientación y estímulo. Los tomos segundo, tercero y cuarto
22
CAPEL. 1981: p. 27, Op. cit.
non son outra cosa que ampliación y expansión del tomo primero. Pero como esta
ampliación no afecta a todas sus partes, como esta circunstancia no conviene al cuadro del
mundo orgánico, se dá con el Cosmos esta curiosa paradoja: si sólo se hubiera publicado el
tomo primero, no dudaríamos en afirmalo como obra conclusa; con los cuatros que lo
constituyen no puede aseverarse lo mismo, ya que lo referido al cuadro de la vida vegetal,
animal y humana non es objeto de ampliación, a diferencia de lo que atañe a los fenómenos
celestes e fisicoterrestres."24
"En cualquier caso, dirigirse hacia esse objetivo tratando de conocer la naturaleza exigía
desarrolar por igual todas las ramas de las ciencias matemáticas, físicas y naturales, y a la
vez suponías valorar la ciencia pura frente a la ciencia aplicada, una ciencia pura cuyo
objeto sería 'el ensanchar y fecundizar la inteligencia' y que también sería 'el término hacia
el cual deben tender las ciencias directamente, el descubrimiento de las leys, del principio
de unidade que se revela en la vida universal de la naturaleza. Este fue el objetivo que
Humboldt se trazó y al que trató de dar forma en su cosmos."25
23
MELON. p.425. op.cit.
24
MELON. p.420-21. op.cit.
papel dessas aproximações para a consolidação do estatuto que a paisagem
ganha na obra.
“Ese conjunto de dogmas incompletos que un siglo lega a otro, esa física que se compone
de preocupaciones populares, no es solamente prejudicial porque perpetúa el error, con la
obstinacion que lleva siempre el testimonio de los hechos imperfectamente observados; sino
que tambien prohibe al espíritu elevarse á los grandes horizontes de la naturaleza”. (C. T.I.
p.15)27.
25
CAPEL. 1981: p. 32, op. cit.
26
"Dentro de esa totalidad concebida como un organismo, la actividad científica de Humboldt, y su misma
concepción del mundo, no tienen cabida. La obra humbolditiana no es uno de esos libros múltiples con los
que se integra la biblia romántica. Por el contrário, cremos que, en lo esencial, Humboldt se opone a la
desmesura romántica, a su amor por lo ilimitado, la oscuridad, el vitalismo energético, la idea de un Dios
animado de fuerza." LABASTIDA. 1983. p.136. op. cit
27
Optamos por diferenciar as citações do Cosmos de outras presentes no texto. Elas apresentam um recuo em
ambas as margens e vem acompanhadas da indicação do tomo e da página entre parenteses. Ainda acerca
dessas citações, aparecem, em alguns casos, expressões entre colchetes que referem-se à expressão como
aparecem no texto em alemão.
“Si se considera el estudio de los fénomenos físicos, no en sus relaciones con las
necesidades materiales de la vida, sino en su influencia general sobre los progressos
intelectuales de la humanidad, es el mas elevado é importante resultado de esta
investigacion, el conocimiento de la conexion que existe entre las fuerzas de la naturaleza, y
el sentimiento íntimo de su mútua dependencia. La intuicion de estas relaciones es la que
engrandece los puntos de vista, y ennoblece nuestros goces. Este ensanche de horizontes
es obra de la observacion, de la meditacion y de el espíritu del tiempo en el cual se
concentran las direcciones todas del pensamiento.” (C. T.I. p. 2).
“Lo que en la vaguedad de las sensaciones se confunde, por falta de contornos bien
determinados, lo que queda envuelto por ese vapor brumoso [Bergluft], que en el paisaje[?]
oculta á la vista de altas cimas, el pensamiento lo desarrolla y resuelve en sus diversos
elementos, desentrañando las causas de los fenómenos, asignando á cada uno de dichos
elementos, que concurrem á formar la impression total, un carácter individual. De aquí
resulta que en la esfera de la ciencia como en la de la poesía [Landschaftsdichtung] y la
pintura de paisaje [Landschaftsmalerei], las descripcion [Darstellung] de los parajes y los
cuadros que hablan á la imaginacion tienen tanta mayor verdad(Klarheit) y vida,
[Lebendigkeit] cuanto mas determinados están sus rasgos característicos".(C. T.I. p. 9-10).
El crisitianismo preparó los espiritus para que buscasen en el órden del mundo y en las
bellezas naturales, el testimonio de la grandeza y escelencia del Creador” .(C. T.II. p. 25).
Ou:
Essa mesma busca conduz Humboldt para outros campos, tais como Camões e
Shakspeare:
“Camöes es inimitable cuando pinta el cambio perpetuo que se verifica entre ele aire y el
mar, las armonías que reinan en la forma de las nubes, sus transformaciones sucesivas y
los diversos estados por que pasa la superficie del Oceáno.” .(C. T.II. p. 55).
E:
“Asi es, que parece que respiramos em medio de los bosques al leer el Sueño de una
noche de verano. En las últimas escenas del Mercader de Venecia, vemos el claro del
bosque iluminado por la luna en una tibia noche, sin que se hable en ellas ni de lunas ni de
bosque. Hay, sin embargo, en el Rey Lear una verdadera descripción de la montaña de
Douvres, cuando fingiéndose loco Edgardo y conduciendo á su padre ciego, el conde de
Glocester, por la llanura, le hace cleer que suben por la montaña.” .(C. T.II. p. 60).
"No es menos á propósito la pintura de paisaje que una descripcion fresca y animada
para difundir el estudio de la Naturaleza; pone tambien de manifesto el mundo esterior en
la rica variedad de sus formas, y, segun que abrace mas ó menos felizmente o objeto que
reproduce, puede ligar el mundo visible al invisible, cuya union es el último esfuerzo y el fin
mas elevado de las artes de la imitacion. Mas para conservar el carácter científico de este
libro, debo sujetarme á otro punto de vista. Si de la pintura de paisaje há de tratar-se aquí,
es unicamente en el sentido que nos auxilia en la contempalcion de la fisionomía de las
plantas en los diferentes espacios de la tierra; porque favorece la afcion á los viajes lejanos,
y nos invita de una manera tan instructiva como agadable á entrar en comunicacion com la
naturaleza libre." (C. T.II. p. 72).
"En las obras maestras de Ticiano es donde aparece la Naturaleza por vez primera e
amplamente compreendida y representada á grandes rasgos" (C. T.II. p. 77).
“En mi obra, la palabra Cosmos está tomada como la prescriben el uso helénico,
posterior á Pitágoras, y la definicion muy exacta dada en el Tratado del mundo que
falsamente se ha atribuido á Aristóteles; es el conjunto de cielo y de la tierra, la
universalidad de las cosas que componen el mundo sensible. Si desde largo tiempo los
nombres de las ciencias no hubieran sido apartados de su verdadera significacion
lingüistica, la obra que publico deberia llevar el título de Cosmografía, y dividerse en
28
Capel. 1995. p.248. op. cit. "Es sin duda en las cronicas de Indias, y mas concretamente en obras como las
de Fernández de Oviedo y Acosta donde se encuentra, según reconoció el mismo A. Humboldt 'el fundamento
de la física del globo'. Esta rama de la ciencia que muchos geógrafos há considerado en los últimos cien o
ciento cincuenta años como el origen de la geografia contemporánea."
29
“La parte terrestre de la física del mundo, á la que conservaria de buen grado la antigua y perfectamente
espresiva denominacion de Geografia física, trata de la distribuicion del magnetismo en nuestro planeta,
segun las relaciones de intensidad y de direccion; pero no se ocupa de las leyes que ofrecen las atracciones ó
repulsiones de los polos, ni de los medios de producir corrientes electro-magnéticas, permanentes ó pasageras.
La geografia física traza á mas á grandes rasgos la configuracion compacta ó articulada de los Continentes, la
estension de su litoral comparado con su superficie, la division de las masas continentales en los dos
hemisferios, division que ejérce una influencia poderosa sobre la diversidad de clima, y las modificaciones
metereológicas de la atmósfera; señala el carácter de las cadenas de montañas, que, levantadas en diferentes
épocas, forman sistemas particulares, ya paralelos entre sí, ya divergentes y cruzados; examina la altura media
de los Continentes sobre el nivel de los mares y la posicion del centro de gravedad de su volúmen, la relacion
entre el punto culminante de una cadena de montañas y la altura media de su cresta ó su proximidad á un
litoral cercano.” (C. T. I. p. 42-43)
Uranografia y Geografía. Los romanos, imitadores de los griegos, en sus débiles ensayos de
filosofía, han concluido tambien por transportar al Universo la significacion de sus mundos,
que no indicaba primitivamente mas que las compostura, el adorno, y no el órden ó la
regularidad en la disposicion de las partes. Es probable que la introduccion de este término
técnico en el idioma del Lacio, la importacion de un equivalente de la palabra Cosmos, en su
doble significacion, se deba á Ennio30, partidario de la escuela itálica, traductor de los
filosofemas pitagóricos compuestos por Epicarmo ó por alguno de sus adeptos.” (C. T. I. p.
53)
30
Humboldt acrescenta aí uma nota:
“Véanse, sobre Ennio, las ingeniosas invertigaciones de Leopoldo Krahner, en la disertacion titulada:
Grundlinien zur Geschichte des Verfalls der römischen Stadts-Religion, 1837, p. 41-45. Segun toda
probabilidad, Ennio no ha tomado nada de los fragmentos de Epicarmo, aunque si de los poemas compuestos
bajo el nombre de este filósofo, y concebidos en el sentido de su sistema” (C. T. I. p. 360)
"Tomada en acepcion mas restringida, la palabra Cosmos se há empleado tambien en
plural para designar la estrella, ó los innumerables sistemas diseminados como otras
tantas islas en la inmensidad de los cielos, y formados cada uno de un sol y una luna. (...)
Ya hemos indicado esta singular division de los espacios celestes en tres partes, el
Olimpo,el Cosmos y el Uranos (...) la cual se aplica á las diversa regiones que rodean este
foco misterioso del universo, ' ' de los Pitagóricos. En el fragmento que nos
há conservado esta division, el nombre de Uranos designa la region mas interior situada
entre la luna y la tierra; este es el dominio de las cosas variables. La region media, en la
que los planetas circulan com órden inmutable y armonioso, se llama esclusivamente
Cosmos, segun concepciones mui particulares sobre el universo. En cuanto al Olimpo, es la
region esterior, la region ígnea." (C. T. I, p. 358-9)
"la palabra mundus, que tiene en su orígen la significacion primera de la palabra
(adorno de mujer), sirvió para designar el mundo y el universo." (...) Por lo demás, la raiz
sanscrita mand, de la cual Pott hace derivar la palabra latina mundus, reune el doble
significado de brillar e adornar". (C. T. I, p. 359-60)
"En cuanto á palabra de se sirven hoy los alemanes (welt, antiguo aleman wëralt, en
antiguo sajon worold y wëruld en anglo-saxon), su significacion fué, segun Jacob Grimm, la
de un intervalo de tiempo, una edad de hombre (saeculum), y no la de mundus en el
espacio." (C. T. I, p. 360)
Após recuperar a origem do termo e seu uso com o sentido aproximado do que
faz, Humboldt indica, precisamente que ouso que fez, de Kosmos está no pseudo
Aristóteles:
"La definicion del Cosmos que he citado anteriormente en el texto, está tomado do
Pseudo-Aristóteles, de Mundo”. (C. T. II, p. 391)
Parece-nos que não precisamos ir muito além do que Humboldt nos deixou
para compreender que o fundamento de seu Kosmos está na tradição clássica da
Ordem e na respectiva ordenação. Tata-se de uma “geodernidade”, como aparece
no pseudo Aristóteles. Constata-se que cosmos é diacosmese ou processo de
constituição do cosmo, o qual implica numa necessária separação (dia). Podemos,
atendo-nos ao texto humboldtiano, compreender que sua discosmese moderna
filia-se ao movimento tenso entre observação e contemplação, ou seja uma
possibilidade teórica de mundar Mundos. Não é de se estranhar que a postura
teórica de Humboldt trafegue amplamente pelas linhas da harmonia. É que teoria
aí, ainda pode ser entendida diversamente do processo abstrato da
indução/dedução. A palavra teoria deriva de theoria (olhar, contemplar - thea =
espetáculo – theoris = espectador, assistência). Mas no uso órfico, theoria veio a
significar um estado de fervente contemplação religiosa, no qual o espectador se
identifica ao deus sofredor, morre na morte dele, e ressurge na sua ressureição.
31
Algumas dessas características podem ser observadas, de forma resumida, no anexo III.
“(...) Mas, aqui, achamo-nos, mais uma vez, diante de uma daquelas subitâneas
contenções do Caos, a que de Grande em Grande Ano se dá o nome de Kósmos, - o que, em
suma, faz parte de uma criação positiva, e não de uma criação negativa.” 32
32
SOUZA. 1995. p. 52. op.cit.
La Historia Natural o descripción de la naturaleza de Plinio era, en efecto, además de lo
que su título habitual proclama, una verdadera enciclopedia geográfica e cosmográfica, una
auténtica Historia Mundi tal como correctamente se le tituló tamibén en algumas ediciones
del Renacimiento. Los primeros libros de la obra están dedicados directamente a la
cosmografia y geografia y constituyen modelos que fueron indudablemente tenidos en
cuenta ne la redacción de las geografias medievales y renacentistas, com influencia hasta
el siglo XVIII. El libro segundo sobre el mundo, los elementos y las estrellas, presenta el
cosmos y constituye a la vez un tratado de la esfera terrestre, estudiando las
consecuencias que la forma de la Tierra tiene en cuanto a la disposición de los climas
astrnómicos y de las regiones u su influencia en los habitnates, además de incluir nociones
sobre meteoros y terremotos. Los libros tercero a sexto tratan de las tres partes del mundo
dedicando especial atención a Europa, continente 'sustentador del pueblo vencedor' y el
mas hermoso de todos; trata de la orografia, las divisiones administrativas, las ciudades,
describe los pueblos qye habitan las diferentes regiones, se preocupa siempre de su latitud,
longitud e extensión, y ocasionalmente debate las razones geográficas de la grandeza de
una nación. La inclusión del hombre como ser creador, e inventor dentro de la obra, en el
libro séptimo, supone, finalmente, una atención hacia el campo de la moral y acaba de dar
a la Historia de Plinio un alcance que rebasa ampliamento de lo puramente natural” 33
O Cosmo de Humboldt.
33
CAPEL, 199. p. :252-53.
Mas, sob que condições foi possível idealizar e realizar tal empreendimento?
Como se realizaria a síntese entre um pensador que viveu seu próprio cosmo
como tal e realizou uma representação desse?
"A era revolucionária, portanto, fez crescer o número de cientistas e eruditos e estendeu
a ciência em todos os seus aspectos. E ainda mais, viu o universo geográfico das ciências
se alargar em duas direções. Em primeiro lugar, o progresso do comércio eo processo de
exploração abriram novos horizontes do mundo ao estudo científico e estimularam o
pensamento sobre eles. Um dos maiores gênios científicos de nosso período, Alexander von
Humboldt (1769-1859), contribuiu primordialmente desta forma para o progresso da
ciência: como um incansável viajante, observador e teórico nos campos da geografia,
etnografia e história natural, embora sua nobre síntese de todo os conhecimentso, a obra
Cosmos (1845-59), não possa ser definida dentro dos limites das disciplinas particulares.” 34
A primeira coisa a observar sobre o mundo na década de 1780 é que ele era ao mesmo
tempo menor e muito maior que o nosso. Era menor geograficamente, porque até mesmo os
homens mais instruídos e bem-informados da época - digamos, um homem como o cientista
e viajante Alexander von Humboldt (1769-1859) - conheciam somente pedaços do mundo
habitado".35
34
HOBSBAWM. 1981. p.304 .op.cit.
35
HOBSBAWM. 1981. p.23 .op.cit.
Esse "pequeno mundo" que Hobsbawm caracteriza, também, com a população,
diminuta em relação ao presente era, em contraste, maior que o nosso. Realizava-
se ainda como lonjura, tais as distâncias e meios de transporte existentes para
transpô-las. Essa lonjura e lentidão constituem o fio da meada de um mundo
rural, entranhado aqui e ali por algumas grandes cidades 36 e pelas pequenas
cidades e vilas, muita vezes encaixadas, quase isoladas, em seus vales.
Esse pequeno mundo, como uma criança perplexa, interroga-se sobre suas
condições de existência na busca das origens. A questão primordial do processo
intala-se nas mentes e torna-se fundamento do pensamento ocidental.
"A quem jamais ocorreu furtar-se ao gosto de perguntar, decerto não deixou adiada a
questão e averiguar por que motivo a história ostenta, em certo ponto o início de uma época,
da qual, um dos traços mais vincados, é o fervor ansioso com que investiga o passado mais
remoto. Com efeito, desde algures, na vereda do tempo que passa por fins do século XVII e
início do século XIX, move-se aceleradamente a pesquisa e a especulação acerca das
'origens': a cosmologia, a geologia, a biologia, a antropologia não cessam de desenvolver o
que, antes, mais não foram do que capítulos prefaciais ou apendiculares, em disciplinas
especializadas na reconstituição do passado do universo, da terra, da vida e do homem"37
36
"O mundo em 1789 era essencialmente rural e é impossível entendê-lo sem assimilar esse fato fundamental
(...) A palavra 'urbano' é certamente ambígua. Ela inclui as duas cidades européias que por volta de 1789
podem ser chamadas de genuinamente grandes segundo os nossos padrões - Londres, com cerca de um milhão
de habitantes, e Paris, com cerca de meio milhão - e umas 20 outras com uma população de mais de 100 mil
ou mais: duas na França, duas na Alemanha, talvez quatro na Espanha, talvez cinco na Itália (o Mediterrâneo
era tradicionalmente o berço das cidades), duas na Rússia, e apenas uma em Portugal, na Polônia, na Holanda,
na Áustria, na Irlanda, na Escócia e na Turquia Européia. Mas o temor 'urbano' também inclui a multidão de
pequenas cidades de província, onde se encontrava realmente a maioria dos habitantes urbanos; aquelas onde
o homem podia, a pé e em poucos minutos, vencer a distância entre a praça da catedral, rodeada pelos
edifícios públicos e as casas das celebridades e o campo" HOBSBAWM. 1981. p. 304. op. cit
37
SOUZA.1995. p. 1. op. cit..
geomorfologia são impensáveis fora do evolucionismo, deverá, portanto, como maior razão,
admitir que as condições de nascimento de uma e de outra devem ser procuradas, antes
demais nada, na história das ciências históricas e sociais do séc. XVIII, iluministas, ou
então na 'revolução historiográfica' do Renascimento. 38
"É este o projeto de uma nova história natural que foi fundada pelo iluminismo,
integrando historicidade social e historicidade natural e partindo do pressuposto da
centralidade do homem."39
"... desenvolvimento daquela história natural do homem que nada mais é do que o
estudo positivo e experimental do homem em sua unidade de ser natural e social". 40
38
HOBSBAWM. 1981. p. 70. op. cit.
39
QUAINI. 1983. p. 60. op. cit.
do pressuposto da perspectiva e do ponto de fuga, que não são outra coisa, senão
a representação do infinito e do eterno.
O Kosmos e a Geografia.
40
QUAINI. 1983. p. 71. op. cit.
O apriori das influências, fundamentalmente a mesma questão das referências,
persegue, com razão, o percurso das idéias no desenvolvimento do conhecimento.
Porém, justifica-se a partir de um equívoco. Trata-se da armadilha da fidelidade.
Também não nos cabe essa opção.
41
“A representação tradicional de teoria é abstraída do funcionamento da ciência, tal como este ocorre a um
nível dado da divisão do trbalho. Ela corresponde à atividade científica tal como é executada ao lado de todas
as as mais demais atividades sociais, sem que as conexões entre as atividades individuais se torne
imediatamente transparentes.”HORKHEIMER, 1989. p. 37. op. cit.
Acerca da leituras que se originam no conjunto nacional, com as quais
travamos contatos, permanece ainda um distanciamento compreensivo das idéias
de Humboldt, o qual merece um rápido comentário. Ainda está por ser feita uma
leitura adequada dos pensamentos de Humboldt no Brasil, embora possamos
identificar importantes contribuições esparsas. A maioria delas, como afirmamos,
são fragmentárias ou laudatórias e situa-se no campo da generalidade o que
impede uma aproximação de fato aos termos das formulações humboldtianas.
Mesmo entre as investidas mais alentadas,43 nota-se esse distanciamento. São
características desse conjunto as formulações que procuram associar Humboldt
ao romantismo alemão, de Schiller ou Goethe e ao idealismo alemão, de Kant,
Fichte e Hegel. Não há, em nossa leitura, indicações seguras para tais afirmações.
Pode-se dizer que há relações de mútuas influências, mas que, no caso, partem
mais de Humboldt para outros, do que o contrário, como é o caso da relação
Goethe-Humboldt. Isso se explica, em parte, pelo próprio excepcionalismo de
Humboldt no contexto alemão do período.
Pensamos poder dizer que em Humboldt não se encontra uma geografia como
genericamente se comprende esse termo no presente, apenas aspectos aqui e ali
42
“A consideração que isola as atividades particulares e os ramos de atividade juntamente com seus
conteúdos e objetos necessita, para ser verdadeira, da consciência concreta da sua limitação”
HORKHEIMER, 1989. p. 38. op. cit.
43
Entre essas, destacamos MORAES, 1983. op. cit., que apresenta um interessante panorama das
apropriações de Humboldt nas discussões internas à Geografia. Tal panorama, pautado pela busca dos
fundamentos da Geografia moderna, reconstitui o embate entre vários comentadores acerca das interpretações
de Humboldt e permite situar os rumos que tal discussão ganhou no século XX.
fixados. Logo, toda pergunta sobre a fixação dos aspectos deve ser dirigida ao
movimento que o determinou e não ao pressuposto que o possibilitou.
44
"Man kann es kurz als eine Philosophie der Erde bezeichnen. Nur in Humboldt sind Geographie
Philosophie und Philosophie Geographie geworden." MEYER-ABICH, 1969. p. 155. op. cit.
Indicamos como tradução: "Pode-se, suscintamente, denominar como uma Filosofia da Terra. Apenas em
Humboldt, transformaram-se a Geografia em Filosofia e a Filosofia em Geografia."
45
“Diríase, valiéndonos de una bella frase de Lavoisier, que se renueva sin cesar á nuestra vista la antigua
maravilla del mito de Prometeo.” (C. T. I. p. 46)
46
BOTTING. 1985,. p. 162. op. cit.
CAPÍTULO II – Paisagem e Ciência no Kosmos de Humboldt: a
Abstração Sensível.
"Mas na próxima vez, vindo aqui procurar-me
Entenderás melhor! REDUZIR é iniciar.
Depois muito te empenha em bem classificar.”
(Goethe – Fausto)
Essa vivência num mundo em transição aparece, por vezes, como ambigüidade
no Kosmos. Ao mesmo tempo em que Humboldt é um adepto praticante da
ciência moderna e sua história iluminista, convive em sua obra, também, aquela
necessidade pedagógica de fazer do saber o encontro do homem com o mundo.
Essa tensão entre o movimento da abstração moderna e as formas de contato
com o mundo é reconhecida amplamente por Humboldt, o que impede que a
ambigüidade transforme-se em contradição. Trata-se do esforço, ainda possível
como projeto naquele momento, de impedir que o fazer científico se descolasse
totalmente de um sentido humano.
“Pois o limiar de nossa modernidade não está situado no momento em que se pretendeu
aplicar ao estudo do homem métodos objetivos, mas no dia em que se constituiu um duplo
empírico-transcendental a que se chamou homem. Viu-se então aparecer duas espécies de
análises: as que se alojaram no espaço do corpo e que, pelo estudo da percepção, dos
mecanismos sensoriais, dos esquemas neuromotores, da articulação comum ás coisas e ao
organismo, funcionaram como uma espécie de estética transcental; aí se descobria que o
conhecimento tinha condições anatomofisiológicas, que ele se formava pouco a pouco na
nervura do corpo, que ele tinha talvez uma sede privilegiada, que suas formas, em todo o
caso, não podiam ser dissociadas das singularidades de seu funcionamento; em suma, que
havia uma natureza do conhecimento humano que lhe determinava as formas e que podia,
47
Um bom exemplo dessas ilusões está assinalado por Humboldt: “(...) el ingenioso Leslie se ha visto en la
necesidad de presentarno el interior del globo terrestre como una caverna esférica ‘llena por un fluido
imponderable, pero dotada de una fuerza de espansion enorme.’ Tan aventuradas concepciones dieron origen
bien pronto á ideas aun mas fantásticas, en espíritus verdaderamente estraños á las ciencias. Llegóse á suponer
que crecian plantas en aquella esfera hueca; poblósela de animales; y para disipar las tinieblas, díjose que
circulaban en ella dos astros: Pluton y Prosepina. Estas regiones subterráneas fueron dotadas de una
temperatura casi igual, y de un aire siempre luminoso á causa de la presion que esperimenta (olvidóse sin
duda la existencia de dos soles colocados allí para iluminarlas); por último, imaginóse que á los 82º de latitud
cerca del Polo Norte, se hallaba una inmensa abertura por donde debia salir la luz de las auroras boreales, y
que permitia bajar á la esfera hueca. Sir Humphry Davy y yo fuimos invitados públicamente por el capitan
Symmes para emprender esta espedicion subterránea.” (C. T. I. p. 154-5)
ao mesmo tempo ser-lhe manifestada nos seus própriso conteúdos empíricos. Houve
também as análises que, pelo estudo das ilusões da humanidade, mais ou menos antigas,
mais ou menos difíceis de vencer, funcionaram como espécie de dialética transcendental;
mostrava-se assim que o conhecimento tinha condições históricas, sociais ou econômicas,
que ele se formava no interior das relações tecidas entre os homens e que não era
independente da figura particular que elas poderiam assumir aqui ou ali, em suma que
havia uma história do conhecimento humano que podia ao mesmo tempo ser dada ao saber
empírico e prescrever-lhes suas formas.”48
Portanto, o homem moderno, nessa figura do duplo entre o século XVIII e XIX,
intensifica a busca das determinações da forma de conhecer. Pensamos que o
Kosmos, pelas suas características, permite perceber esse movimento do
conhecimento, pois alí está presente de forma clara e sólida a rede que Foucault
indica ser o elemento definidor para a análise da “arqueologia do conhecimento”.
Duas importantes questões devem servir como eixos para esse movimento.
Qual o papel da forma paisagem no modus operandis da ciência do século XIX?
Qual a relação da forma paisagem com o processo moderno de pensamento?
48
FOUCAULT. 1999. p. 339-40. op. cit.
49
FOUCAULT. 1999. p. 103. op. cit.
Pode-se situar a produção científica de Humboldt entre vários marcos. Seu
interesse temático pelo conhecimento levou-o, como assinala o Kosmos, ao
contato com inúmeras obras e autores de sua época e da Antigüidade. Para os
fins da discussão da paisagem em sua obra, parece-nos conveniente demarcar o
trajeto entre dois marcos da ciência, com uma permissão de pausa no percurso
para uma olhadela ao redor: Galileu Galilei com o seu Diálogos de 1632 e Darwin
com A Evolução das Espécies de 1859. Pouco mais de duzentos anos que
poderiam ser um “século”: o século da transformação radical do homem e da
natureza. A breve suspensão é nas proximidades de Linnaeu com o seu Systema
Naturae de 1735.
50
“¿Existirá quizás algun centro de accion magnética en los espacios interplanetarios, ó en cierta polaridad
del Sol y de la Luna? Estas últimas hipótesis nos recuerdan que Galileo en su célebre Diálogo, esplica la
direccion constante del eje de la Tierra por medio de un centro de accion magnética situado en los espacios
celestes.” (C. T. I. p. 170)
51
“Cuéntase que Galileu en su niñez, hallándose un dia en los divinos oficios, que indudablemente no debian
interesarle, reconoció la posibilidad de medir la elevacion de la cúpula de la iglesia por la duracion de las
oscilaciones de las lámparas suspendidas en la bóveda á alturas desiguales.” (C.T. I. p. 151-2)
52
“El poder de las sociedades humanas, Bacon lo ha dicho, es la inteligencia; este poder se eleva y se hunde
con ella. Pero el saber que resulta del libre trabajo del pensamiento no es únicamente un de los goces del
hombre, es tambien el antiguo é indestructible derecho de la humanidad; figura entre sus riquezas, y es
movimento, do papel da experiência e do experimento, do uso da
matemática geométrica, do papel da ciência em relação à fé, entre outras
contribuições, estão já amplamente debatidas e comparecem aqui
implícitas nas formulações de Humboldt como participante do movimento
de constituíção da ciência.
Nesse movimento, elegemos em Galileu a formulação sobre a
simplicidade e a ordem da natureza e desta para a reorientação do
pensamento científico, principalmente na redefinição do conhecimento
empírico. O postulado da simplicidade cumpre importante papel no jogo da
formação do pensamento moderno. Pode-se compará-lo ao
desenvolvimento da perspectiva para a pintura ao produzir um principio
de redução para a observação.
Colocar tal discussão requer alguns cuidados quanto ao
distanciamento entre o debate original e o debate atual, separados por
quase quatrocentos anos e, também, quanto aos possíveis problemas em
recortar de Galileu um aspecto de sua obra perpassado por elaborações de
várias matrizes.
Requer cuidados, também, e principalmente, ao fazer uso de um
conceito permeado de tantas controvérsias como o de simplicidade. Não
são poucas, e, é Popper53 quem afirma, nem claras. Vai desde a negação
completa da importância desse conceito para a epistemologia da ciência
até o seu uso de forma indiscriminada, imprecisa e pouco produtiva.
Ao falarmos de simplicidade, estamos referindo-nos a quê
precisamente? As possibilidades de respostas colocadas referem-se a um
conjunto plural formado por expressões de cunho pragmático, lógico,
estético e, mesmo, prático. Aqui, tomaremos como referencial de análise o
uso do termo em um determinado contexto, ou seja, o seu significado.
Portanto, a discussão, pertinente, que Popper coloca, não nos posiciona ,
frecuentemente la compensacion de los bienes que naturaleza ha repartido con parsimonia sobre la tierra.”
(C.T. I. p. 34-5)
53
POPPER. 1975. op. cit.
uma vez que o que estará em discussão é o uso que Galileu fez do conceito
de simplicidade e não, diretamente, uma ou outra análise do conceito.
A tentativa de elaborar essa discussão a partir de Galileu nos leva à
necessidade de estabelecermos, prioritariamente, em que bases ele faz uso
desse termo. Podemos formular em Galileu dois usos diferenciados para a
simplicidade: o primeiro, de uso ontológico, refere-se ao posicionamento de
Galileu em relação ao materialismo, que o conduz a considerar a
possibilidade de compreender a natureza em suas propriedades mais
íntimas e a aceitar, por exemplo, o sistema copernicano como a forma
verdadeira do movimento dos astros. O segundo, de uso metodológico,
refere-se à opção que Galileu faz, no estudo do movimento uniformemente
acelerado, em favor do isolamento de uma forma de movimento, o
uniforme, para demonstrar o comportamento de outros movimentos
acelerados, evitando, dessa forma, o problema da complexidade que
envolve cada um dos movimentos qualitativamente diferenciados. Objetiva-
se, então, demonstrar, apenas de forma exemplificativa, como Galileu fez
uso desse termo, sem a pretensão do esgotamento dessa discussão, o que
está além das possibilidades dessa exposição.
De início, podemos ficar com as palavras de Popper sobre a
importância de Galileu:
“Um dos elementos mais importantes de nossa civilização ocidental é o que posso
chamar de ‘tradição racionalista’ que herdamos dos gregos. É a tradição da discussão
crítica - não por si mesma, mas nos interesses da procura da verdade. A ciência grega,
como a filosofia grega, foi um dos produtos dessa tradição, e da urgência de entender o
mundo em que vivemos; e a tradição fundada por Galileu foi seu renascimento.”54
Portanto, discutir Galileu significa tomar contato com os
fundamentos da ciência moderna. Essa colocação remete-nos diretamente
para as bases do pensamento de Galileu e para os pontos que o tornaram
imprescindível para o conhecimento do mundo.
54
POPPER. 1975. p. 390. op.cit.
“Vale a pena, então, a pergunta: em que se baseia objetivamente este juízo? na obra
de Galileu como físico, isto é, na importância das leis físicas descobertas por ele ou, ao
contrário - como querem alguns, em sua obra metodológica, isto é, na contribuição dada por
ele à renovação do método científico? Creio podermos responder que a fama de Galileu se
baseia, a rigor, em ambos os aspectos de sua obra acima mencionados, aspectos esses
que, de resto, não podem ser compreendidos, em seu valor pleno, isoladamente um do
outro.”55
Dono de um interesse amplo pelas questões de seu tempo, Galileu,
como ele próprio afirmava, navegava no campo da filosofia, das
matemáticas, da astronomia, da engenharia, etc. Tal múltiplo interesse,
devia-se, em primeiro lugar, às próprias características do período no qual
viveu, marcado pelo imbricamento dessas temáticas e, em segundo lugar,
pelo caráter ainda muito tênue da especialização do conhecimento,
Desse amplo conjunto, resta-nos saber em que medida as
contribuições metodológicas e os estudos físicos de Galileu aparecem no
redesenhamento da concepção de natureza nos séculos XVI ao XIX, mais
precisamente, em Humboldt. Dito em outras palavras, qual o significado
da compreensão e da defesa da simplicidade da natureza para a destruição
do cosmos medieval e para a consolidação do novo cosmo defendido por
Galileu e depois, no Kosmos? A posição de Humboldt pode ser assim
resumida:
55
GEYMONAT. 1997. p. 287-8. op. cit.
lucha de la ciencia[Wissen] y de la fé[Glauben], ante esas imágenes[Gestalten]
amenazadoras que pueblan ciertas regiones[Regionen] de la ciencia esperimental
[Erfahrungswissenschaft] como si quisieran cerrarnos sus portas.” (C. T. II. p. 240-1)
Não é outro, como sabemos, o enfrentamento de Galileu. Sabemos,
também, que a discussão a respeito da simplicidade ou da complexidade
da natureza e também da simplicidade ou da complexidade da exposição
científica aparece com o próprio conhecimento e precede Galileu.
Precede, por exemplo, com as formulações de Ockham e sua
“navalha da simplicidade”, afirmando que, entre duas hipóteses
igualmente plausíveis, mas de complexidade diferente, o cientista escolhe
necessariamente a mais simples, até que ela seja contrariada pela
observação ou pela experiência.
Portanto, é pertinente considerar que essa questão perpassa a
formação intelectual de Galileu:
“El ideal clásico del orden y la sencillez dominaba tanto la imaginación artística de
Galileo como su pensamiento científico.”56
Podemos, então, concordar com Shea sobre os compromissos de
Galileu com uma visão estética do mundo que implicava em concebê-lo
dotado de unidade, regularidade e perfeição.
“...pero no puede haber ninguna duda de su firme adhesión, desde el principio, a las
ideas de orden y sencillez.”57
Assim, Galileu herda e acolhe um postulado metodológico de
investigação pautado na busca da opção mais simples de demonstração do
conhecimento, que virá a ser, também, fundamental para a sua concepção
do mundo físico.
Mas a postura de Galileu não pode se reduzida à uma filiação
metafísica ou artística. Galileu recoloca o problema da simplicidade em
outro patamar. Trata-se do fundamento da razão, reiterado por Humboldt.
“En el órden mismo de los progresos científicos está, que hechos por largo tiempo
aislados y sin enlace vengan sucesivamente á ligarse con el conjunto, sometiéndose á las
56
SHEA. 1983. p. 164. op. cit.
57
SHEA. 1983. p. 89. op. cit.
leyes generales. Solamente indico aquí la via de la observacion y de la esperiencia, por
donde camino como otros muchos, esperando que llegue un dia en que realizándose los
votos de Sócrates, ‘sea la razon el único intérprete de la naturaleza.’” (C. T. I. p. 149)
Um dos muitos pontos em que Galilleu demonstra a adesão ao
princípio da simplicidade da natureza é o da defesa do sistema
copernicano contra o sistema ptolomaico, aliás, no qual comparece como
defesa, tanto para um quanto para o outro, o princípio de simplicidade.
A defesa de Galileu é bem conhecida e traduz-se no raciocínio
exposto aqui por Shea:
“Quién Creerá que la naturaleza (que, según acuerdo general , no hace mediante
muchas cosas lo que puede hacer con pocas) haya elegido que un inmenso número de
cuerpos vastísimos se muevan a velocidades incalculables para hacer lo mismo que se
hubiera conseguido con el movimiento moderado de un solo cuerpo cobre su propio eje?”58
Porém essa postura não é, ainda, conclusiva, pois dessa mesma
postura emerge, também, a defesa do sistema ptolomaico. O caso a seguir
torna-se interessante:
“Ou seja, estaria ele disposto a aceitar os princípios da própria dinâmica somente com
base nesta correspondência com os fatos ou as aceitava por outros motivos (por exemplo,
58
SHEA. 1983. p. 155. op. cit.
por sua simplicidade e pela hipótese metafísica de que a natureza faz sempre uso dos
meios ‘mais imediatos, mais simples, mais fáceis’)?”60
Daí, a importância de Galileu ter demonstrado, com seu telescópio, a
unidade e similitude entre o mundo supralunar e o mundo sublunar. Essa
é uma grande contribuição à destruição de qualquer tentativa, passada ou
futura, de construção de um mundo fora dos parâmetros da ciência. Não é
por acaso que muitos se recusavam a olhar pelo telescópio. O medo da
destruição de um mundo é algo a se considerar. Mas é isso que temos
colocado nessa polêmica. A simplicidade defendida por Galileu não é do
mesmo teor da simplicidade defendida pelo cônego Bézian, mesmo
utilizando-se do mesmo princípio lógico e estético. O argumento da
simplicidade, desenvolvido por Galileu neste caso, está fundamentado
num precioso trabalho de observação e investigação da natureza. E, nesse
ponto, reside a crucialidade do pensamento de Galileu, isto é, o de dar ao
seu discurso um estatuto de verdade de fato e não apenas o de verdade ex
suppositione, de natureza dedutiva:
“Creio que, observando bem as coisas, esta distinção entre verdade ex
suppositione e verdade de facto, já presente em outros trabalhos de Galileu, nos fornece
em última instância, a verdadeira chave para compreender o sentido profundo de toda a
obra que estamos examinando.”61
Esse posicionamento de Galileu frente ao mundo ficará melhor
explicitado na discussão sobre o movimento na terceira jornada dos
Discursos62. Galileu desenvolve e expõe, através de um conjunto de 22
teoremas, 38 proposições, 16 problemas, 3 escólios, 4 lemas e 9 corolários,
a teoria do movimento uniformemente acelerado e sua aplicações no
entendimento do fenômeno da queda dos corpos.
O significado dessa discussão para a apresentação do uso da
simplicidade está dado pela possibilidade de constatarmos em Galileu a
confirmação de sua busca pela correspondência entre suas formulações e
59
LENOBLE. 1990. p. 272. op. cit
60
GEYMONAT. 1997. p. 316-7. op. cit.
61
GEYMONAT. 1997. p. 252. op. cit.
a realidade, ou seja, a simplicidade não é apenas um recurso metodológico
(embora também o seja para Galileu) mas, a forma de existência da
natureza. Geymonat acentua apropriadamente essa questão:
“Consideremos, por exemplo, a definição do movimento naturalmente acelerado,
como movimento de um ponto cuja velocidade instantânea varia proporcionalmente ao
tempo. Sem dúvida, é verdade também que Galileu não a apresenta como definição
elaborada por via puramente convencional, como poderia fazer um moderno cultor de
mecânica racional: afirma, ao contrário, ter sido conduzido quase pela mão (“nos quasi
manu duxit”) a estudar justamente este e não um outro tipo de movimento pela
observação da natureza: natureza que, em todas as suas obras, faz uso dos meios mais
imediatos, mais simples, mais fáceis (“primis, simplicissimis, facillimis”). Alguém poderia
objetar que a hipótese de uma natureza que segue, em suas obras, o caminho mais
simples é, ela mesma uma hipótese matemática, não empírica. É fato, porém que Galileu
acredita ter constatado em milhares de casos esta simplicidade. Não lhe passa pela
cabeça que se trate de uma hipótese puramente teórica: o critério da simplicidade era,
para ele, um critério que se origina na própria observação da natureza e que é sempre
aceito pelos técnicos quando querem construir dispositivos capazes de dominar e
controlar as forças da natureza.”63
A partir da análise de Geymonat é possível destacar o uso
epistemológico da simplicidade em Galileu. A natureza é, para Galileu,
dotada de propriedades que o pensamento humano deve reconhecer. Uma
dessas propriedades da natureza seria a busca dos meios mais simples
para se realizar. Mesmo constatando a imensa diversidade do universo,
Galileu aponta o seu foco para a essência da natureza, isto é, aquilo que
ele afirma - suas teorias - deve estar referendado, mesmo contra as
evidências contrárias da superfície dos sentidos, no movimento da
realidade. Esse debate com os sentidos, já travado na defesa do sistema
copernicano, é também recolocado no debate com as evidências do
fenômeno da queda livre dos corpos graves. O trecho abaixo, dos
Discursos, já discutido por Geymonat, sintetiza essa posição.
62
GALILEI, 1988. op. cit.
63
GEYMONAT. 1997. p. 299-300. op. cit.
“Tendo tratado, no livro anterior, das propriedades do movimento uniforme, examinemos
minuciosamente o movimento acelerado. Antes de tudo, convém investigar e explicar a
definição que corresponde convenientemente a esse movimento, tal como a natureza o
utiliza. Sem dúvida, ainda que seja lícito imaginar arbitrariamente alguma forma de
movimento e investigar a seguir as propriedades que dela derivam (de fato, é assim que
alguns, imaginando hélices ou concóides originadas por determinados movimentos que a
natureza não faz uso, têm conseguido demonstrar admiravelmente suas propriedades com
argumentos ex suppositione), todavia, visto que a natureza se serve de uma forma
determinada de aceleração na queda dos graves, não é inconveniente estudar suas
propriedades, fazendo com que nossa definição do movimento acelerado corresponda á
essência do movimento naturalmente acelerado. O que acreditamos ter finalmente
descoberto depois de longas reflexões; principalmente se levarmos em conta que as
propriedades por nós demonstradas parecem corresponder e coincidir com os resultados da
experiência. finalmente, no estudo do movimento naturalmente acelerado, fomos, por assim
dizer, conduzidos pela mão graças à observação das regras seguidas habilmente pela
própria natureza em todas as suas outras manifestações nas quais ela faz uso de meios
mais imediatos, mais simples e mais fáceis. Pois penso que na verdade nenhuma pessoa
acredite poder nadar e voar com maior simplicidade e maior facilidade que os peixes ou as
aves, que se servem do instinto natural.” 64
Como na defesa do sistema copernicano, Galileu apoia-se numa
certa “sapiência” (instinto natural) intrínseca da natureza. Observando
peixes e aves, isto é, conduzido pela mão pela natureza, conclui que estes
possuem uma extrema aptidão para executar determinadas atividades.
Para Galileu não só aves e peixes seriam dotados dessa condição, mas
toda a natureza. Ao pensar o mundo pelo próprio movimento do mundo e
compreendê-lo Galileu inaugura um novo universo.
“En la naturaleza física, para los astros como para los séres organizados, el movimiento
parece ser una condicion esencial de la produccion, de la conservacion y del desarrollo.” (C.
T. I. p. 155)
Suas observações e raciocínio levam-no para um mundo organizado,
extremamente funcional e previsível, no qual o acaso, a espontaneidade e o
finalismo não existem mais.
64
GALILEI. 1998. p. 159-60. op. cit.
Aí reside a origem da idéia mecânica do Universo, somos todos,
peças de uma engrenagem que funciona sem um fim qualquer, que não
seja a ordem do movimento. Por isso Galileu foi tão combatido pela Igreja.
Soltos no universo sem um sentido qualquer a que se agarrar, cabe ao
homem, agora imerso em seu próprio destino, dar um sentido para todo o
universo. A tarefa é gigantesca. É isso, precisamente o que Galileu inicia: -
podemos até datar, 1632 - uma gigantesca odisséia humana65.
No que se refere à simplicidade metodológica de Galileu, parece não
haver a mesma tranquilidade, pois, concordando com Geymonat, é
possível afirmar a extrema complexidade das filiações metodológicas de
Galileu:
São prova disso as inegáveis oscilações de Galileu entre o recurso
ao mais puro método dedutivo (ex suppositione) e ao não menos enérgico
e freqüente recurso à observação empírica, confirmadas as atuais entre
seus intérpretes que encontram nos escritos de Galileu motivos
65
Humboldt acompanha atentamente o desenvolvimento do conhecimento científico e situa-se no conjunto
das questões que emergem desse percurso. A Ordem e as Leis físicas são um dos seus princiapais interesses
nesse movimento:
“Si las leyes de los movimientos planetarios fueron descobertas á principios del siglo XVII; si Newton reveló
primero que nadie la fuerza de que eran consecuencia inmediata las leyes de Keplero, á los fines del siglo
XVIII pertenece el honor de haber demostrado la estabilidad del sistema planetario, gracias á los nuevos
recursos que suministraba para a investigacion de las verdades astronómicas, el perfeccionamiento del cálculo
infinitesimal. Los principales elementos de esta estabilidad, son: la invariabilidad de eje mayor de las órbitas
planetarias, demonstrada por Laplace, por Lagrange y por Poisson; las lentas y periódicas variaciones que
esperimenta en estrechos límites la escentricidad de dos planetas poderosos y muy apartados del Sol, Júpiter
y Saturno; la distribuicion de las masas repartidas de tal manera, que la masa de Júpiter no escende en 1/1048
de la del cuerpo central, al cual se subordinan todas las demás; por último, esse órden en virtud de cual todos
los planetas conforme su orígen y al plan primordial de la Creacion, verifican en una direccion única su doble
movimiento de rotacion y de revolucion, describen órbitas cuya escentricidad poco considerable está sometida
á pequeños cabios, se mueven en planos próximamente igualmente inclinados, y verifican su revolucion en
tiempos que no tienem entre si medida comun. Esos motivos de estabilidad, que son la salvaguardia de los
planetas, dependen de una accion recíproca, que se efectúa en el interior de un círculo circunscrito. Si esta
condicion dejase de cunplirse por la llegada de un cuerpo celeste procedente de afuera y estraño á nuestro
sistema, ya determinara un choque, ya introdujera nuevas fuerzas atractivas, esta interrupcion podria ser fatal
al conjunto de las cosas que existen en la actualidad, hasta que al fin, despues de un largo conflicto se
restableciese un nuevo equilíbrio. Pero la llegada posible de un cometa, describiendo á través de los espacios
inmensos su órbita hiperbólica no podria, aunque la escesiva velocidad suplia á la insuficiencia de la massa,
levar la inquietud sino á una imaginacion rebelde á las consideraciones consoladoras del cálculo de las
probabilidades. Las nubes viajeras de los cometas de corto período no presentan mas peligros para el provenir
de nuestro sistema solarque las grandes inclinaciones de las órbitas, descritas por los pequeños planetas
comprendidos entre Marte y Júpter. Lo que no puede fijarse como posible debe quedar fuera de una
abundantes para atribuir-lhe concepções quase que antitéticas, como a
platônica e a materialista.66
Conjugando tais orientações, é de se esperar que Galileu apresente
ambigüidades e contradições quanto ao desenvolvimento metodológico.
Mas se essa característica pode ser vista negativamente, também pode ser
entendida como um grande esforço em busca da compreensão do mundo
num contexto marcado pela insegurança, própria dos momentos de
mudanças paradigmáticas. Assim, o mérito de Galileu, além de sedimentar
diversos elementos do método científico moderno, pode ser visto, também,
como um grande inovador no plano do pensamento, ao criar desde
experimentos muito simples até experimentos mentais muito sofisticados
que chegaram ao nossos dias com uma vitalidade surpreendente.
Além dessa importante característica da orientação do trabalho
intelectual de Galileu, é possível constatar, nesse mesmo rumo, a
valorização da simplicidade, nem sempre atingida, da exposição e clareza
dos argumentos.
“Sagredo - V. Sª. nos revela conclusões ocultas com muita evidência e facilidade. Esta
extrema facilidade faz que pareçam ter menor valor do que teriam, se fossem apresentadas
de maneira mais complicada. Penso que os homens estimam menos um conhecimento
alcançado com tão pouco esforço, do que aquele obtido mediante longas e incompreensíveis
discussões.
Salviati - Para os que demonstram com brevidade e clareza os erros de proposições que
foram tidas como verdadeiras por todo o mundo, seria um dano suportável serem tratados
com desprezo, ao invés de agradecimento, contudo, é muito mais desagradável e perigoso
verificar uma certa atitude que nasce em alguns que, pretendendo equiparar-se a outros no
mesmo campo de estudos, têm como verdadeiras conclusões que, posteriormente, vêm a ser
descobertas e declaradas falsas por outro com um raciocínio simples e fácil.” 67
Partindo da constatação e confirmação de que a natureza é
essencialmente simples, nosso método, para expressar essa simplicidade,
Descripcion física do Mundo: no es permitido á la ciencia el perderse en las regiones nebulosas de las
fantasías cosmológicas. (C. T. III. p.430-431)
66
GEYMONAT. 1997. p. 259. op. cit.
67
GALILEI. 1986. p.166. op. cit.
deveria também ser simples e, da mesma forma, nosso discurso deveria
ser o discurso da simplicidade.
Recoloca-se o papel fundamental da ciência para a formulação de
uma nova visão do universo e da natureza. Ainda, poderíamos citar o
importante papel de Galileu na introdução da instrumentação do
conhecimento. As observações telescópicas, ou seja, mediadas por um
instrumento auxiliar, fundam a intangível característica da crescente
tecnificação na produção do conhecimento. A análise do Kosmos e de
outras obras permite constatar que Humboldt fazia uso intensivo dos
instrumentos disponíveis em seu tempo e desenvolvia experimentos
constantes para a obtenção de dados.
“El hombre se pone en relacion con la naturaleza por medio de sus órganos. Así la
existencia de la materia en las profundidades del cielo, se nos revela por los fenómenos
luminosos; y puede decirse que la vista es el órgano de la contemplacion del Universo, y que
el descubrimiento de la vision telescópica, que data apenas de dos siglos y medio, ha
dotado á las generaciones actuales de una potencia de la cual todavía se ignoran los
límites.” (C. T. I. p. 69-70)
Uma segunda característica da filiação científica de Humboldt pode
ser destacada a partir de sua apropriação do sistema classificatório de
Linneu, um outro passo gigantesco na ordenação de um outro Mundo.
“E talvez a unidade recuada, mas insistente de uma Taxonomia universalis apareça com
toda a clareza em Lineu, quando ele projeta encontrar, em todo os domínios concretos da
natureza ou da sociedade, as mesmas distribuições e a mesma ordem. O limite do saber
seria a transparência perfeita das representações nos signos que as ordenam” 68
Essa fundamental característica, apontada por Foucault, reitera, em
nosso percurso, a posição que Humboldt ocupa. Herda a disposição, quase
unânime de seu tempo, da prática maciça das pesquisas e viagens
taxonômicas. Desde suas primeiras publicações, a Mineralogische
Beobachtungen über einige Basalte am Rhein e a Florae Fribergensis
Specimen até o Kosmos, passando pela viagem à América, a obra
Humboldtiana participa, em parte, desse movimento. A constante
preocupação com a coleta de espécimens, a formação de coleções de
plantas, rochas, animais, termos, etc., compõe a tarefa do conjunto dos
viajantes científicos do período na execução do grande projeto 69 ordenador
da ciência.
“Projeto de uma ciência geral da ordem; teoria dos signos analisando a representação;
disposição em quadros ordenados das identidades e das diferenças: assim se constituiu na
idade clássica um espaço de empiricidade que não existira até o fim do Renascimento e que
estava condenado a desaparecer desde o início do século XIX.” 70
68
FOUCAULT, 1999. p. 105. op. cit.
69
A influência da prática da herborização a partir do sistema classificatório de Lineu é tão onipresente que
torna-se procedimento universal da ciência e prática cotidiana de muitas pessoas, como por exemplo, o velho
Rousseau. Um exemplo chave pode ser o aparato linneano da expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira,
considerado o”Humboldt brasileiro”.
SIMON. 1983. op. cit. Apendix II: 2. Museu Bocage (MB), maço 5, nº 7, inventory list of equipament for
Ferreira's expedition to Pará, wich departed Lisbon 14-vii-1783.
Expedição Filosofica do Pará de que hé Naturalista o Doutor Alexandre Rodrigues Ferreira, os Riscadores
José Codina, e José Joaquim Freire, e Agostinho do Cabo, Jardineiro Botanico, o qual partio aos 14 de julho
de 1783.
Relação do que Levou o ditto Naturalista deste Real Gabinete da Ajuda: a saber"
(Segue lista dos utensílios, instrumentos, ferramentas, armas, substâncias, etc. )
"Livros
Flora Guyana [Jean Baptiste Flora Guyana [ Jean Baptiste Aublet, Histoire des plantes de la Guiane
Française 4 vols (Paris, 1775)]
Margrav et Pison [Willem Piso, Historia Natvralis Brasiliae ... (Lvgdvn, Batavorvm apud Franciscum
Hackium et Amstelodami, apud Lud. Elzevirium, 1648]
Linnaeu-. Systema Naturae;Genera Plantarum; Especie Plantarum
Valério –
Chimica de Baumé [Antoine Baumé. Chymie expérimentale et raissonée, Paris 1773)]
Scopoli [Giovanni Antonio Scopoli, Principia Mineralogiae Systematicae et practicae, sucincte
exhibenltia...(Pragae, 1772)
Govan. Historia de Poison
Historia des Insectes
Fonte: Diario de Capitania de S. José do Rio Negro [Francisco Xavier Ribeiro Sampaio, Diario da Viagem
Philosophica da Capitania do São José do Rio Negro, (Lisboa, 1825)]"
70
FOUCAULT. 1999. p. 99. op. cit.
“A natureza desqualificada torna-se a matéria caótica para uma simples classificação, e
o eu todo-poderoso torna-se o mero ter, a identidade abstrata”.71
“Humboldt não aceita o recorte estabelecido no cenário natural, visto e pensado por um
observador situado externamente a ele. Cria uma concepção paisagística de botânica.
Goethe, que reconhece a relevância da contribuição de Lineu critica a sistematicidade de
sua obra classificatória, que achava equivocada por fixar a forma e abstraí-la do Todo, por
negar a dinâmica e transformação da vida; saúda a circunstância que o teria feito viver no
tempo de Humboldt (Eckermann, s.d.; p. 123) Em ambos, o realce é dado à vida orgânica e
aos aspectos dinâmicos e vitalistas da existência. Goethe e Humboldt especulam sobre o
sentimento de conexão elementar do ser com o todo”. 72
71
ADORNO e HORKHEIMER. 1985. p. 24. op. cit..
72
BELLUZO. 1999. Parte II. P. 21. op. cit.
73
“Háse intentado con frecuencia, y casi siempre en vano, sustituir á las denominaciones antiguas, vagas
indudablemente, pero en general comprendidas hoy, nuevos y mas adecuados nombres. Estos cambios han
sido propuestos sobre todo por los que se han ocupado en la clasificacion general de los conocimientos
humanos, desde la gran Enciclopédia (Margarita philosóphica) de Gregorio Reisch (19), prior de la Cartuja
de Friburgo, á fines del siglo XV, hasta el canciller Bacon, desde Bacon hasta D’Alembert, y en estos últimos
tiempos, hasta el físico sagacísimo André María Ampere (20). La eleccion de una nomenclatura griega, poco
apropiada, ha podido ser quizás mas perjudicial aun á esta última tentativa, que el abuso de las divisiones
binarias y la escesiva multiplicidad de los grupos.” (C. T. I. p. 41-2)
“(19) Pág. 41. – La Margarita philosophica del prior de la Cartuja de Friburgo, Gregorio Reisch, apareció
primeramente bajo el siguiente título: Æpitome omnis philosophiœ, alias Margarita philosophica, tractans de
omini gennere scibili. La edicion de Heidelberg (1486), y la de Strasburgo (1504) llevan tambien este título;
pero su primera parte fué suprimida en la edicion de Friburgo del mismo año y en las doce ediciones
posteriores que se sucedieron en cortos intervalos hasta 1535. Esta obra ejerció gran influencia en la difusion
de los conocimientos matemáticos y físicos á principios del siglo XVI y Chasles, el distinguido autor del
Apercu historique des méthodes en géométrie (1837), hizo ver cuán importante es la enciclopedia de Reisch
sistema lineano. O encontro empírico com o mundo pressupõe e põe outras
disposições para o pensamento. A noção de Geografia das Plantas é uma dessas
disposições. Além da idéia abstrata de espécime e gênero interessa a Humboldt
compreender a situação de cada ser, mesmo abstrato, nas relações com o mundo
físico. A distribuição territorial horizontal e vertical, as relações entre os seres, o
movimento que anima estes seres no tempo e no território, Enfim, a existência
concreta das qualidades e das relações é o fundamento que permite colocar em
movimento o sistema de Lineu.
“No se trata en este ensayo de la física del mundo, de reducir el conjunto de los
fenómenos sensibles á un pequeño número de principios abstractos, sin mas base que la
razon pura. La física del mundo que yo intento esponer, no tiene la pretension de elevarse á
las peligrosas abstracciones de una ciencia meramente racional de la naturaleza; es una
geografia física reunida á la descripcion de los espacios celestes y de los cuerpos que
llenan esos espacios. Estraño á las profundidades de la filosofía puramente especulativa,
mi ensayo sobre el Cosmos es la contemplacion del Universo, fundada en un empirismo
razonado; es decir, sobre el conjunto de hechos registrados por la ciencia y sometidos á las
operaciones del entendimiento que compara y combina.” (C. .T. I. p. 29)
Não por acaso, será esse, um dos principais fundamentos da teoria da origem
das espécies de Darwin.
para la historia de las matemáticas en la edad media. He sacado partido de un pasaje de la Margarita
philosophica que se encuentra solo en la edicion de 1513, para esclarecer la importante cuestion de las
relaciones de geógrafo de Saint-Dié, Hylacomilo (Martin Waldseemüller, el primero que dió al Nuevo
Continente el nombre de América), con Amerigo Vespucio, con el rey René de Jerusalem, duque de Lorena y
las célebres ediciones de Ptolomeo de 1513 y 1522. Véase mi Examen critique de la géographie du Nouveau
Continent et des progrés de l’astronomie nautique aux XVe et XVIe siécles, t. IV, p. 99-125.” (C. T. I. p. 355-
356)
“(20) Pág. 41 – Ampère, Essai sur la Philos. des Sciences, 1834, p. 25: Whewel, Induct. Philos., t. II, p. 277;
Parck, Pantology, p.87” (C. T. I. p. 356)
"Abandonando por algum tempo a costa, novamente penetramos na floresta. As árvores
que se viam eram de grande altura e bastante notáveis pela brancura do tronco, quando
comparadas às da Europa. Vejo pelo meu livro de apontamentos que os ‘maravilhosos
parasitos de belíssimas flores, invariavelmente me pareceram ser a nota culminante da
grandiosidade destas paisagens. Prosseguindo na nossa excursão, atravessamos extensas
pastagens que grande dano sofriam com a presença de enormes formigueiros cônicos
atingindo uma altura de quase quatro metros. Davam à planície a aparência exata dos
vulcões de barro em Jorullo, mencionado por Humboldt.”75
Essa relação se faz por duas aproximações que nos indica a terceira
característica da produção científica do Kosmos. A primeira está no ímpeto
humbodtiano pela exploração científica de campo. Darwin decide-se a viajar após
ler os relatos de Humboldt. Apaixona-se, literalmente, pelos escritos sobre o
mundo americano e obtém dessa paixão os termos de seu olhar: as conexões
entre os termos da análise. Quem tem Darwin apenas como o teórico da evolução
das espécies esquece-se de constatar que o seu relato de viagens aproxima-se
daquele “olhar em trânsito” 77 consolidado por Humboldt. Suas observações e
registros compreendem fundamentalmente o que se vê. Toda a qualidade resulta
74
DARWIN. 2002. p.364. op. cit.
75
DARWIN. 1937. p.364. op. cit.
76
A relação é recíproca:
“Con una superficie menos variada que la de los continentes, encierra, sin embargo, el mar en su seno una
exhuberancia de vida, de la que ninguna otra region del globo basta á darnos idea. Cárlos Darwin nota con
razon en su interesante Diario de viaje, que nuestros bosques terrestres no abrigan, ni con mucho, tantos
animales como los del Océano.” (C. T. I. p. 291-2)
77
Essa abordagem está consolidada nas análises de Mary Louise Pratt n’ “Olhos do Império – Relatos de
Viagem e Transculturação op. cit; de Flora Süssekind n’ “O Brasil não é Longe Daqui”. Op. cit. e de
Luciana Martins “Cabe salientar que os momentos de ‘abertura’da América do Sul para os viajantes
estrangeiros com dois momentos essenciais da fundação da modernidade européia: a revolução nas
tecnologias visuais e de observação, acompanhada pelo que Michel Foucault, Jonathan Crary e outros,
identificaram como a emergência de um ‘observador moderno’, ou, como prefiro um ‘observador-em-
trânsito’, e o surgimento de um novo discurso sobre a paisagem baseado na medição, no mapeamento e em
ciências em formação com a Geologia, a Geografia e a Botânica que Susan Cannon denominou ‘ciência
humbolditiana”. MARTINS, Luciana: 1999 p. 122 op. cit
da capacidade de ver e compor o relato nos termos do registro da viagem
científica cujas características apenas tangenciam nossos interesses.
78
Para uma visão de conjunto, consultar HAGEN. 1985. op. cit.
sucesivamente com instrumentos de diferentes construcciones, hacía mi elección en los que
me parecían a la vez los más precisos y menos sujetos a quebrarse en el transporte; y tuve
la oportunidad de repetir mediciones que habían sidu hechas según los métodos más
rigurosos, aprendiendo a conocer por mí mismo el limite de los errores a los que podia
exporme."(V. T. I. p.37-8).
“La zona templada del hemisfério austral, cuyas innumerables islas, abundantes aguas
y maravillosa vejetacion que participa á la vez de la flora de los trópicos y de los países
79
KRETSCHMER. 1926. p. 172. op. cit.
frios, ha descrito Darwin con tanto arte [schönen], es la que ofrece ejemplares [Beispiele]
mas instructivos para la geografia de las plantas [Pflanzengeographie] modernas y para la
de las plantas primitivas, rama muy importante de la historia del reino vegetal
[Pflanzengeschichte].”(C. T. I. p. 261)
“Los catálogos de los séres organizados, á que se daba otra veces el pomposo título de
Sistemas de la Naturaleza, nos ponen de manifesto un admirable enlace de analogías de
estructura, ya en el desarrollo muy completo de esos séres, ya en las diferentes fases que
recorren segun una evolucion en espiral,(...).pero todos estos pretendidos sistemas de la
naturaleza, ingeniosos en sus classificaciones, no nos hacen ver los séres distribuidos por
grupos en el espacio(...)”(C. T. I. p. 44-5)
Portanto, pensamos que no Kosmos, enquanto síntese do movimento do
pensamento de Humboldt, encontram-se dispostas as possiblidades da
compreensão do percurso histórico da formação da disposição para a teoria
evolucionista. Que Humboldt não tenha chegado a ela, parece-nos apenas uma
questão de explicitação.
“Las capas fosilíferas son las catacumbas donde yacen los faunos y las floras de las
anteriores épocas. Cuando descendemos de capa en capa estudiando sus relaciones de
superposicion, mundos sepultados de animales y vegetales se presentan á nuestra vistas y
retrocedemos realmente en la série de las edades. Cada cataclismo del globo, cada
levantamiento de esas cadenas de montañas cuya antigüedad relativa podemos
determinar, ha sido señalado por la destruccion de antiguas especies y por la aparicion de
nuevas organizaciones, quedando durante algun tiempo para indicar la transicion, algunas
especies antíguas entre las creaciones mas recientes.” (C.T. I. p. 249-50)
80
FOUCAULT; 1999. p.XIX. op. cit.
“La tentativa de descomponer en sus diversos elementos la magia del mundo físico
[Sinnenwelt], llena está de temeridad; porque el gran carácter de un paisaje [Charakter
einer Gegend], y de toda escena imponente de la naturalez[ [Naturerscheinungen], depende
de la simultáneidad[Fülle] de ideas [Ideen] y de sentimientos [Gefühlen] que agitan al
observador [Seele]. El poder [Kraft], de la naturaleza se revela, por decirlo así, en la
conexion de impresiones, en la unidad de emociones [Gemüt] y de efectos que se producen
en cierto modo de una sola vez [Totalgefühls].. Si se quieren indicar sus fuentes parciales,
es preciso descender por medio del análisis á la individualidad de las formas y á la
diversidad de las fuerzas. Los mas ricos y variados elementos [Stoff] de este género de
análisis se ofrecen á la vista de los viajeros en el paisaje [landschaftliche Natur] del Asia
austral, en el gran archipiélago de la India, y sobre todo en el Nuevo Continente, donde los
vértices de las altas Cordilleras forman los bajíos del Océano aéreo, y donde las mismas
fuerzas subterráneas que en otros tiempos levantaron cadenas de montañas, las
conmueven aun hoy, amenazan sepultarlas.” (C. T. I. p. 7)
El aspecto de estas nubes, la brillante constelacion del navío Argos, la via láctea que se
estiende entre el Escorpion, el Centauro y la Cruz, y aun me atrevo á decir, el aspecto tan
pintoresco[landschaftliche Anmut] de todo el cielo austral, han producido en mi alma una
impresion que no se borrará jamás.” (C.T. I. p. 72-73)
“La zona del cielo, situada entre 50º y 80º de latitud Sud, donde se juntan en número
tan grande las nebulosas y los grupos estrellados, debe á la distribucion desigual de las
masas luminosas un caráter particular81[landschaften Charakter], un aspecto que puede
llamarse pintoresco, un encanto[Reiz] infinito debido al agrupamionto de las estrellas de
primera y segunda magnitud, yá su separacion por regiones que á la simple vista parecen
desiertas y sin luz. Estos contrastes singulares, el resplandor mas vivo con que brilla la via
láctea en muchos puntos de su desarrollo, las nubes luminosas y redondeadas de
Magallanes que describen aisladamente su órbita, y por último, aquelas manchas oscuras,
de las cuales la mayor está tan próxima á una bella constelacion, aumentan la variedad del
cuadro de la Naturaleza [Naturbildes], y encadenan la atencion de los observadores
[Beschauer] conmovidos á las regiones estremas que limitan el hemisferio meridional de la
bóveda celeste. (C. T. II. p. 284)
81
Nesse ponto a tradução de Giner não consegue, novamente, dar ao texto a posição e a importância que
assume o termo landschaftlichen, apesar de usar o termo pintoresco. Humboldt parece querer dizer que o céu
do Sul assume um caráter paisagístico. Alí, o contraste e posições das estrelas, as Nuvens de Magalhães e a
presenças dos “sacos de carvão”, principalmente o localizado na constelação do Cruzeiro do Sul, combinam-
se em uma visão em profundidade do céu, uma sensação de perspectiva tridimensional.
Portanto, uma aproximação permitida pelo texto é a de que paisagem é um
aspecto do mundo, no caso, do cosmo. Por isso não é de se estranhar que
Humboldt reconheça tal aspecto tanto nos céus82 quanto na Terra. Mas nem
todo aspecto é paisagem. O mundo expressa-se em múltiplos aspectos.
“Si es cierto que el verdadero carácter de cada region [Erdräume] depende á la vez de
todos los detalles esteriores; si los contornos de las montañas, la fisonomía de las plantas y
de los animales, el azul del cielo, la figura de las nubes, la trasparencia de la atmósfera,
concurren á produzir lo que puede llamarse la impresion total [Totaleindruck], es preciso
reconocer tambien que el adorno vegetal [Pflanzendecke] de que se cubre el suelo es la
determinante principal de esta impresion.” (C. T. I. p. 331)
82
Sobre essa cosntelação, a do Cruzeiro do Sul, Humboldt informa-nos:
“La encuentro mencionada por primera vez como una cruz maravilhosa (croce maravigliosa) ‘mas bella que
todas las constelaciones que brilan en la bóveda del cielo’, por el Florentino Andrés Corsali en 1517, y algo
mas tarde, en 1520, por Pigafetta.Corsali, que habia leido mas que Pigafetta, admira el espíritu profético del
Dante, sin conocer que aquel gran poeta daba pruebas en ello de tanta erudicion como imaginacion. Dante
habia visto los globos celestes de los Arabes, y habia mantenido relaciones con gran número de Pisanos de los
que tenian visitadas las regiones orientales.” (C.T. II. p. 286)
Tal é o caráter da paisagem que se descobre desde o alto do monte de Manimi, não
descrito ainda por nenhum viajante. Não temo repeti-lo: nem o tempo, nem a vista das
cordilheiras, nem a permanência nos vales temperados do México, tem apagado em mim a
viva impressão do aspecto das cataratas. Quando leio a descrição de lugares da Índia
embelezados por águas correntes e uma vigorosa vegetação, suplanta-me a imaginação um
mar de espuma e palmeiras cuja cima aparece sobre um estrato de vapores. Ocorre com as
cenas majestosas da natureza como com as obras sublimes da poesia e das artes: deixam
recordações que sem cessar despertam, e que durante a vida inteira se acrescentam a
todos os sentimentos do grande e do belo.”(V. capítulo XXI- livro sétimo)83
83
Optamos por apresentar uma versão da tradução apresentada na bibliografia para o cotejamento com uma
outra passagem da tradução brasileira do “Quadros da Natureza”.
Portanto, dados os pressupostos, a paisagem pode ocorrer como relação entre
observador e o lugar, porém não necessariamente. Com isso, afirmamos que a
paisagem é uma forma visual de determinada relação entre um determindado
homem e um determinado mundo em um determinado momento de tempo.
Diferentemente do estatuto ontológico dos seus elementos, tais como homens,
montanhas, árvores, céus, rios, luz, etc. a paisagem não se referencia ao mesmo
nível do ontológico. Sua definição, nesse nível, dá-se no plano da efêmera relação.
Portanto, trata-se de um fenômeno da esfera da representação, no caso,
possibilitada por uma determinada forma social.
“Hier ist der Punkt, wo man eines wundervollen Amblicks genieβt. Eine meilenlange
Schäumende Fläche bietet sich auf einmal dem Auge dar. Eisenschwarze Felsmassen ragen
ruinen – und burgartig aus derselben hervor. Jede Insel, jeder Stein, ist mit üppig
anstrebenden Waldbäumen geschmückt. Dichter Nebel schwebt ewig über dem
Wasserspiegel. Duch die dampfende Schaumwolke dringen die Gipfel der hohen Palmen.
Wenn sich im feuchten Dufte der Strahl der glühenden Abendsonne bricht, so beginnt ein
optischer Zauber. Farbige Bögen verschwinden und kehren wieder. Ein Spiel der Lüfte,
schwankt das ätherische Bild.“(AN. p. 47)84
84 Há ali um ponto do qual se descobre um horizonte maravilhoso. A vista abraça uma superfície de duas
léguas, cobertas de espuma. Do centro das ondas levantam-se rochas negras como o ferro, que parecem torres
já arruinadas: cada ilha, cada pedra, ostenta grande número de árvores de vigorosa produção; uma espessa
nuvem flutua constantemente sobre o cristal das águas e, através desse vapor espumante, assomam as altas
copas das palmeiras mauritia. Quando, já pela tarde, os raios ardentes do sol vem quebrar-se na névoa
húmida, tais efeitos de luz produzem um espetáculo mágico. Arcos coloridos aparecem e desaparecem
sucessivamente e as suas imagens vaporosas agitam-se ao impulso dos ventos. (QN; V. I. p. 226-227)
Podemos, a partir desse exemplo, apresentar dois movimentos diferenciados da
presença da paisagem na obra de Humboldt, mais especificamente, no Kosmos. O
primeiro abrange as passagens, nas quais Humboldt destaca determinados
aspectos de um fenômeno querendo indicar que o mesmo possui uma qualidade
estética que poderia, por hora, denominar-se de bela. Entre outros tipos, o prazer
da contemplação do belo natural, seria um dos mais intensos. Discutiremos esse
ponto, com mais detalhes, no capítulo III.
“Si me fuese permitido abandonarme á los recuerdos de lejanas correrías, entre los
goces que presentan las escenas de la naturaleza, señalaria, la calma y magestad de esas
noches tropicales, en que las estrellas privadas, de centelleo, arrojan una dulce luz
planetaria sobre la superficie blandamente agitada del Océano; recordaria esos profundos
valles de las Cordilleras, donde los esbeltos troncos de las palmeras agitan sus cabezas em
penachadas, atraviesan las bóvedas vegetales, y forman en largas columnatas, ‘un bosque
sobre el bosque’;85 describiría el vértice del pico de Tenerife, en el momento en que una
capa horizontal de nubes, deslumbrante de blancura, separa el cono de cenizas de la
llanura inferior, y súbitamente, por efecto de una corrientes ascendente, deja que desde el
borde mismo del cráter, pueda la vista dominar las viñas del Orotava, los jardines de
naranjas y los grupos espesos de los plátanos del litoral. No es ciertamente, lo repito, el
dulce encanto uniformemente esparcido en la naturaleza, lo que nos conmueve ya en estas
escenas; es la fisonomía del suelo, su propia configuracion, la mezcla de las nuber, de las
islas vecinas y del horizonte del mar, que confunden sus formas indecisas en los vapores
de la mañana. Todo cuanto nuestros sentidos perciben vagamente, todo cuanto los parajes
románticos presentan de mas horrible, puede llegar á ser para el hombre manantial de
goces; su imaginacion encuentra en todo medios de ejercer libremente un poder creador. En
la vaguedad de las sensaciones, cambian las impresiones com los movimientos del alma, y,
por una ilusion tan dulce como fácil creemos recibir del mundo exterior lo que nosotros
mismos sin saberlo hemos depositado en él.” (C.T. I. p. 5-6)
85
A frase em destaque, segundo Humboldt foi “tomada de la preciosa descripcion de un bosque que se hace
en Pablo y Virginia, de Bernardino de Saint-Pierre” (C.T. I. p. 350).
Devemos, enfim, ressaltar que a paisagem ocupa apenas uma das
possibilidades dessas formas superiores de contato com o mundo. Para
Humboldt, os fenêmenos do cosmo revestem-se, a todo momento, dessa
possibilidade. É o caso das evidências da força da natureza, como por exemplo, a
demonstrada pelos vulcões, um dos seus temas mais caros.
“Del mismo modo que, en las elevadas esferas del pensamiento y del sentimiento, en la
filosofía, la poesía y las bellas artes, es el primer fin de todo estudio un objeto interior, el de
ensanchar y fecudizar la inteligencia, es tambien el término hácia el cual deben tender las
ciencias directamente, el descubrimiento de las leyes, del principio de unidad que se revela
en la vida universal de naturaleza. Siguiendo la senda que acabamos de trazar, los
estudios físicos no serán menos útiles á los progresos de la industria, que tambien es una
noble conquista de la inteligencia del hombre sobre la materia.” (C. T. I. p. 35)
Logo, não se trata, apenas de uma admiração pelo vísivel na forma da estética
ou do espetáculo, mas da possibilidade de um encontro entre homem e mundo
permeado, não pela genuflexão religiosa à natureza, mas pela elevação, sobre as
próprias pernas, ao próprio homem.
“Esta doble aspiracion hácia lo que desea y hácia lo que ha perdido, viene á ser
indudablemente lo mas bello [Schöne] y sublime [Rührende] que en el hombre [Menschen] se
dá, lo que le libra del riesgo de apegarse á la muerte de una manera esclusiva.” (C. T. I. p.
345)
A Abstração Real
Entendemos que o processo que produziu a possibilidade da ciência moderna,
na qual inserimos o Kosmos, pode ser, em termos amplos, definido pelo termo
modernização. Esse processo, novamente em termos amplos, pode ser
caracterizado pelos determinantes da sociedade produtora de mercadorias que,
na atualidade, define a totalidade da forma social. Para os interesses de nosso
argumento, tomaremos, dessa totalidade, o determinante, que pode ser o
elemento explicativo para a compreensão da existência da forma paisagem. Nesse
sentido, atribuímos à abstração86 um papel determinante.
“O que se deve estabelecer na análise da forma a seguir são os critérios pelos quais se
possam decidir quais dentre as abstrações que vivem na consciência remontam à abstração
real da troca e quais não. (...) Para provar a conexão de fundamentação deve-se poder
indicar de que modo a abstração real torna-se pensamento, qual papel ela joga no pensar e
qual tarefa socialmente necessária lhe cabe.”87
“De alguns anos para cá, é cada vez mais freqüente, sobretudo entre os sociólogos e
economistas marxistas, uma concepção da abstração que constitui o trabalho abstrato e o
86
Abstrãhõ, is, ère, trâxi, trãtum, - verbo transitivo
I- Sentido Próprio: 1) Levar puxando, arrancar, retirar: ab matris amplexu (Cícero) "Arrancar dos braços da
Mãe) II - Sentido figurado: 2) Desviar, distrair, separar (Cícero).
87 SOHN-RETHEL. 1989. p. 17. op. cit.
88
“À primeira vista, o trabalho parece sempre ser concreto, pensando-se em determinada atívidade útil e no
caso do substantivo abstrato, na generalização dessa atividade. Mas nos sistemas produtores de mercadorias, o
‘trabalho’ como tal, sem conteúdo específico, torna-se como abstração real um poder material direto. O
abstrato nascido na mente, aparece frente a essa mente, na forma de dinheiro, como fenômeno real externo. O
dinheiro, a encarnação do trabalho abstrato não deixa transparecer nenhum conteúdo concreto; apresenta
sempre a mesma qualidade, sendo um fenômeno insensível com forma sensível, um paradoxo. Ali onde o
dinheiro, como imperativo social de fazer mais dinheiro (lucro absoluto), passa a trazer em si sua própria
finalidade, a abstração real, estende-se também ao próprio processo de trabalho material. Os homens, antes de
qualquer determinação concreta e substancial, transforma-se em mônadas do dispêndio de força de trabalho
abstrata. Em agregados altamente diferenciados cooperam de forma diretamente social, porém no grau mais
alto de indiferença e alienação recíprocas. Podem satisfazer suas necessidades apenas indireta e
posteriormente, mediante o processo abstrato de automovimento do dinheiro. Os projetos cada vez mais
valor, que rompe com a interpretação dada por certas leituras tradicionais. Ao contrário
dessas leituras vulgares, que identificavam ingenuamente trabalho abstrato e trabalho em
geral, o que nos remete ao nível fisiológico (o trabalho abstatro como gasto fisiológico de
músculos, nervos, etc) ou nos condena a uma subjetivação do conceito(o trabalho abstrato
como a representação abstrata do trabalho em geral), esses autores consideram com razão
o trabalho abstrato e o valor, como uma abstração (social) real.” 89
“Ora, nem o trabalho é abstrato por naureza, nem sua abstração para ‘trabalho humano
abstrato’ é seu próprio produto. O trabalho não se abstrai a si mesmo. O lugar da abstração
está fora do trabalho, na forma social de relacionamento própria da relação de troca”.91
Que isso ponha a abstração como realidade das coisas e dos homens, parece-
nos, já, amplamente consolidada pela literatura marxiana. O que nos parece
monstruosos de exploração do ‘trabalho sans phrase’ apresentam-se como algo que se independentizou de
seus autores.”(KURZ. 1996. p. 239. op. cit)
89
.FAUSTO, 1987. T. I. p.89. op. cit.
90
.FAUSTO, 1987. T. I. p.92. op. cit.
91
SOHN-RETHEL. 1989. p. 12. op. cit.
ainda mais notável é que a abstração real torne-se o fundamento e a forma das
representações e, particularmente, do próprio pensamento 92.
92
“A sociedade burguesa está dominada pelo equivalente. Ela torna o heterogêneo comparável, reduzindo-o a
grandezas abstratas.” ADORNO e HORKHEIMER. 1985. p.23 op. cit.
93
SOHN-RETHEL. 1989. p. 8. op. cit.
94
SOHN-RETHEL. 1989. p. 16. op. cit.
95
HORKHEIMER. 1989. p. 38. op. cit.
Assim, a forma da totalidade apresenta-se distanciada da capacidade cognitiva e
sensorial do indivíduo.
"A oposição entre passividade e atividade que na gnosiologia surge como dualismo da
sensibilidade e do entendimento não é válida para a sociedade na mesma medida em que é
válida para o indivíduo.(...)Esta diferença na existência do homem e da sociedade é uma
expressão da cisão que no passado e no presente tem sido própria às formas sociais da
vida social"96
96
HORKHEIMER. 1989. p. 38. op. cit.
97
ADORNO e HORKHEIMER. 1985. P.47 op. cit.
apenas suas relações espaço-temporais abstratas, com as quais se possa agarrá-las, mas
ao contrário pensá-las como a superfície, como aspectos mediatizados do conceito, que só
se realizam no desdobramento de seu sentido social, histórico, humano – toda a pretensão
do conhecimento é abandonada. Ela não consiste no mero perceber, classificar, calcular,
mas precisamente na negação determinante de cada dado imediato.” 98
“Os sentidos já estão condicionados pelo aparelho conceitual antes que a percepção
ocorra, o cidadão vê a priori o mundo com a matéria com a qual ele o produz para sí
próprio. Kant antecipou intuitivamente Hollywood realizou conscientemente: as imagens já
são pré-censuradas por ocasião de sua própria produção segundo os padrões de
entendimento que decidirá depois como devem ser vistas.” 99
“E livre, enfim, dessa relação que a acorrentava, a representação pode se dar como pura
representação”.100
Não por acaso, Foucault inicia seu livro analisando um quadro, “Las Meninas”
de Velásquez. Trata-se de uma nova forma de ver o mundo.
“Se a realidade é o domínio do impreciso, das sombras e das coisas ocultas, por que a
ciência – ou a precisão científica – passou a ter soberania tão absoluta sobre os sentidos? E
98
ADORNO e HORKHEIMER. 1985. P.38-9 op. cit.
99
ADORNO e HORKHEIMER. 1985. p. 83 op. cit.
100
FOUCAULT. 1999. p.21 op. cit.
por que, dentre os sentidos, ‘a vista é o que nos faz adquirir mais conhecimentos, nos faz
descobrir mais diferenças’? Ou é em virtude do prestígio que a visão passou a ter em nossa
cultura, concentrado em si a inteligência e as paixões? Por que o olhar ignora e é ignorado
na experiência ambígua de imagens que não cessam de convidá-lo a ver? Como o geômetra
que, despojando os corpos das qualidades sensíveis, tenta apagar as ‘imperfeições’ do
mundo real, a visão científica domina as coisas à distância, e, se cai sobre os homens,
‘transforma-os em manequins movidos unicamente por molas’”.101
101
NOVAES. 1993. p. 9. op. cit.
CAPÍTULO III - Paisagem e Arte no Kosmos de Humboldt: a
Sensibilidade Abstrata.
"Com o céu todo, vista longe e ar claro - da estrada
suspensa no planalto - grandes horas do dia e horizonte:
campo e terras, várzea, vale, árvores, lajeados, verde e
cores, rotas sinuosas e manchas extensas de mato - o
sem-fim da paisagem dentro do globo de um olho
gigante, azul-espreitante, que esmiúça: posto no dorso da
mão da serrania, um brinquedo feito, pequeno, pequeno:
engenhoca minúscula de carro, recortado; e um palito de
vara segura no corpo de um boneco homem-polegar, em
pé, soldado-de-chumbo com lança, plantado, de um lado;
e os boizinhos-de-carro de presépio, de caixa de festa"
(Guimarães Rosa: Conversa de Bois - Sagarana
A segunda, define-se como documento pessoal, que por sua vez remonta – em
parte - à primeira, isto é, ao percurso que todos nós fazemos do conjunto que a
constituição do mundo nos dá.
“La historia del conocimiento del mundo(...] que llamaré, ya historia del Cosmos
[Geschichte des Kosmos], ya historia de la contemplacion física del Mundo [Geschichte der
physischen Weltanschauung](...]” .(C. T. II. p. 102)
Nesse percurso, que toca o início das civilizações do vale do rio Nilo, Humboldt
transita do mito 103 à ciência com igual desenvoltura recolhendo contribuições
para construir o desenvolvimento das visões de mundo e sua própria visão de
mundo. Inicia, talvez pela ocidentalidade iluminista, pela civilização grega,
102
Também Poincaré poderia ser citado aqui: “Isso nos mostra que a lógica não basta; que a ciência da
demonstração não é ciência inteira, e que a intuição deve conservar seu papel como complemento, quase se
poderia dizer como contrapeso ou como antídoto da lógica”. POINCARÉ. 1995. p. 20 op. cit.
103
Um exemplo: “El poeta que bajo el nombre de Orfeo ha cantado la espedicions de los Argonautas (...)
habla de la division de la antigua Lyctonia en islas separadas, y dice cómo ‘Neptuno [Poseidon], el de negra
cabellera, irritado contra su padre Saturno [Kronion], hirió á la Lyctonia con su tridento de oro’.(...) Que el
desmembramiento de la Atlántide haya sido en Occidente un reflejo lejano del mito de la Lyctonia, opinion
que creo haber espuesto en otra parte con alguna verosimilitud (...)”.(C. T. II. p. 118)
tomada aí mais como centro de um processo territorial do que por uma pretensa
gênese civilizatória. Estabelece as relações com o mundo antigo e próximo que
produziu o “fato grego” para em seguida pensar o foco europeu do mundo.
“De tal suerte está organizada la inteligencia, que no puede sin estas dobles relaciones
del tiempo y del espacio, formar una idea clara y satisfactoria de los acontecimientos
históricos” .(C. T. II. p. 122]
“No únicamente por su mediacion y por el impulso que comunicaron han suministrado los
Fenícios nuevos elementos á la contemplacion del mundo; sino que tambien ensancharon en
algunas direcciones particulares el círculo de la ciencia con sus proprios descubrimientos.
Su prosperidad industrial, fundada en el desarrollo de su marina y en la actividad con que
fabricaban los habitantes de Sidon objetctos de cristal blanco y de color, tejian las telas y
las teñian de púrpura,los condujo, como sucede siempre, á progressos en las ciencias
[Wissen] matemáticas y químicas, y sobre todo en las artes de aplicacion. (C. T. II. p. 126]
“Estrabon dice de estos pueblos: ‘Son los mas civilizados de los Iberos; están
familiarizados con la escritura y tienen libros que se remontan á una alta antigüedad.
Poseen tambien poesías y leis redactadas en verso, que datan, segun ellos, de seis mil
años.’ Me he detenido en este ejemplo con el fin de indicar qué parte de la antigua
civilizacion, aun entre las naciones europeas, ha desaparecido sin dejar senãl aguna; y
cuán estrecho es el círculo de la contemplacion del mundo.” .(C. T. II. p. 135]
104
“En la época de Aristóteles comenzó á usarse por primera vez esta menera de investigacion, si bien todavía
se limitaba por lo comun á la naturaleza orgánica. Hay ademas en el conocimiento progressivo de los hechos
físicos un tercer grado mas elevado que los otros dos, y es el estudio profundizado de las fuerzas de la
naturaleza, de la trnaformacion que operan estas fuerzas y de las sustancias primeras que la ciencia
descompone para hacerlas entrar en combinaciones nuevas. El medio de ralizarse esta disolucion es provocar
uno mismo á su arbitrio los fenómenos [Erscheinungen] en una palabra, es la esperimentacion [das
experimentieren].” (C. T. II. p. 211).
físicos algunas relaciones con la naturaleza del hombre; todos ellos debian suministrar
puntos de semejanza con su forma esterior ó con su actividad moral.” (C: T. II. p. 8]
Seria possível ao homem grego não se maravilhar com semelhante terra? Aqui,
a resposta pede novamente a explicitação da confusão em Humboldt e na ciência
em geral, sobre uma suposta objetividade da paisagem, tomando-a como
identidade ontológica do lugar105. As formas da representação que o mundo
antigo concebeu e nos legou não alcançaram a paisagem e é essa a dificuldade
que Humboldt tem em analisar essas visões de mundo. Não é diferente a
constatação para o mundo romano:
105
Pode-se dizer que não só a Geografia confunde-se com a paisagem. É o caso, também , de Fernando
Pessoa: “...entendendo por paisagem, para conveniência de frases, tudo o que forma o mundo exterior num
determinado momento de nossa percepção.” PESSOA. 1980. p. 73. op. cit.
106
“El nombre de Macio, amigo de Augusto, há llegado precisamente hasta nosotros, porque muy aficionado
á todo lo que era artificial y contrario á la naturaleza, fué el primero que introdujo el uso de podar com
simetria los árboles segun formas tomadas de la arquitectura ó de las artes plásticas.” ”(C. T. II. p. 23).
Esse cuidado com a estética do lugar é, para Humboldt, uma das provas, mesmo
com a preferência pelas artes, que os romanos cultuavam o gosto pela
Natureza107, podendo, em termos atuais, enquadradar-se na denominação de
“paisagismo”
Esta busca pelo “belo” e pelo conforto poderia ajudar a explicar a total
indiferença dos romanos para a paisagem suíça. Humboldt chama a atenção, algo
indignado, com essa falta de sensibilidade para o espetáculo de cores e formas
dos Alpes nevados:
“Todos estos viajeros limítanse solo a quejarse del mal estado de los caminos, sin
distrairse nunca com el romántico aspecto de las escenas de la naturaleza..(...]Sílio Itálico
[...] representa la region de los Alpes como um horrible desierto falto de vegetacion”. (C. T.
II. p. 24]
Para Humboldt, esse hiato histórico teria algumas exceções no mundo romano
e no mundo árabe, ambos marcados por expansões territoriais importantes.
“En todo el largo período en que el imperio romano conservó su integridad, durante un
espacio(?] de cuatro siglos, no vemos aparecer como observadores de la Naturaleza sino a
Dioscórides de Cilicia y á Galeno de Pérgamo.” (...]
Al lado de Dioscórides y de Galeno, hay un otro nombre, pero uno solo, de cierto
esplendor, y es el de Tolomeo. No le citamos aquí como geógrafo, ó como inventor de un
sistema nuevo de astronomía, sino que no vemos él ahora mas que al físico que por sus
esperimentos ha llegado á medir la refraccion de la luz, y puede se reputado como el
fundador de una parte considerable de la Optica.”.(C. T. II. p. 179]
A constatação feita por Humboldt indica que o grau de interesse pelos estudos
sistemáticos da Natureza e dos lugares não apareciam com suficiente
destacamento capaz de conferir-lhe autonomia nas formas de representação. Os
interesses expansionistas de Roma e sua geometria de poder burocrático
confinavam os interesses em círculos restritos e a representação em níveis
igualmente confinados. Tal é o que se pode observar, por exemplo, na obra de
107
Nesse ponto, a tradução de Bernard Giner, introduz, sem muitos cuidados, a palavra paisagem: (“Sentian el
encanto del paisaje” – p. 23) que não aparece no original, indicando uma tradução da plavra alemã “Natur”,
natureza na língua portuguesa.
Caio Valério Catulo 108. Nela, mesmo numa leitura superficial, constatam-se os
limites desse círculo: as peripécias das relações íntimas, o mundo burocrático, a
vida durante o momento do õtium e o entremeio da mitologia grego-romana. Não
se constata, por exemplo, preocupação com os “lugares sem homens”.
108
Catulo nasceu e viveu em Verona no primeiro século a.C. Uma importante visão de sua obra está na edição
da edusp “O livro de Catulo” com a tradução, introdução e notas de João Angelo Oliva Neto.
“Podeis chorar, ó Vênus, ó Cupidos
e quantos mais sensíveis vivam:
morreu o pássaro de minha amiga,
o pássoro, delícias da menina,
que bem mais que seus olhos ela amava,
pois era mel e tanto a conhecia
quantoa filha conhece a própria mãe
e de seu colo nunca se movia
mas saltitando em torno aqui e ali
somente a ela sempre pipiava.
Agora vai por via escura lá
de onde, dizem, ninguém voltou jamais.
Ah! Malditas, vós trevas má do Orco
que devorais as belas coisas todas:
um pássaro tão belo me roubastes.
Ah, que maldade! Ah, pobre passarinho!
Por tua culpa os olhilhos dela estão
vermelhos e inchados de chorar.
(Catulo)
109
Seita cristã condenada como herética pelo Concílio de Éfeso em 431. A Doutrina do século V, ligada ao
monge de Antioquia chmado Nestório, distinguia em Cristo as duas naturezas: divina e humana, sem a
deificação da humanidade. Ambas eram unidas pela vontade de Cristo. A teoria redundava na negação da
maternidade divina de Maria
Esse ressentimento pela ausência da contemplação dos romanos, mais
interessados em seu comércio e na vida íntima e política só encontrará, segundo
Humboldt, uma superação afirmativa na presença da contemplação cristã do
mundo. A exposição de uma carta de São Basílio à Gregório de Nacianzo é
exemplar da forma como o mundo exterior começa a ganhar forma na mente do
observador.
“Creo, en fin, haber hallado el término de mis errantes peregrinaciones. Renunciando con
pena á la esperanza de volver a reunirnos, mas exacto seria decir á mis suemos, porque
estoy conforme com el que llama á la esperanza el sueño de um hombre despierto, he salido
para el Ponto em busca de la vida que me conviene. Dios me ha hecho encontrar aqui110 un
lugar á propósito para mis gustos. Puedo ver em realidad todo lo que nos representaba la
imaginacion em nuestros juegos y em nuestros momentos de reposo. Una alta montana
rodeada de frondoso bosque, se vé regada por su parte Norte de aguas límpidas y frescas.
A sus pies se estiende uma llanura inclinada que fecundizan los húmedos vapores que se
exhalan de las alturas. El bosque que rodea á la montana y en donde se apiñan árboles de
formas y espécies diferentes, parece establecer um muro de defensa á su alrededor... Dos
barrancos profundos limitan mi soledad. De un lado, el rio que se Lanza de la cima opone
una barrera contínua y difícil de franquear; del outro, cierra su estrada um ancho pico de la
montana. La habitacion esá situada sobre la cresta de otro pico, de manera que consiente
abarcar la llanura en toda su estension, y contemplar desde lo alto la caída y el curso de
Íris, mas agradable para mi que el Strymon para los habitantes de Amphipolis. Este rio, el
mas rápido que conozco, se rompe contra una roca próxima y se precipita arremolinado en
un abismo, ofreciéndome como á todos los viajeros, un aspecto lleno de encanto; y es,
además, para los habitantes de la comarca útil recurso, por el infinito número de peces que
alimenta en sus espumosas ondas. Debo describirte los vapores que se exhalan de la tierra
ó las brisas que se levantan de sa superficie de las aguas? Admire otro la abundancia de
las flores y el canto de las aves; yo no tengo espacio de tiempo para aplicar mi espíritu á
tales objetos. Lo que me encanta sobre todo es la tranquilidad de la comarca; no la visitan
sino algunos cazadores, porque mi desierto da pasto á ciervos y rebaños de cabras
monteses; pero no á vuestros osos y leones. Como podria cambiar este sitio por otro alguno?
Cuando Alcmeon encontró las Echinades no quiso ir mas allá” .(C. T.II. p. 26-7].
110
O lugar, onde São Basílio está ao escrever a carta, localiza-se às margens do rio Íris, na Armênia, no século
IV.
Para Humboldt, está presente na carta de São Basílio, mesmo havendo a falta
de interesse por alguns objetos por falta de espaço de tempo, uma descrição da
paisagem (Schilderung der Landschaft] e da vida dos bosques.
“(...) sentimientos mas en armonía com los sentimientos modernos que todo lo que nos
queda de la antiguidad griega y latina.”.(C. T. II. p. 27]
“Cualquiera que contemple este espetáculo con los ojos del alma, compreenderá la
pequeñez del hombre comparado con la grandeza del Universo” .(C. T. II. p. 28].
De passagem, Humboldt assinala, agora com Jacob Grimm, que, também nas
fábulas, a paisagem permanece colocada no plano menos importante :
“Las bestias (...] forman un elemento siempre activo destinado á animar el paisaje” [die
Landschaft belebendes Prinzip] . ”.(C. T. II. p. 35]
111
Uma antologia importante dessa produção pode ser consultada em “Oito Séculos de Poesia Alemã” de
Olívio Caeiro. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa. 1983. Humboldt assinala vários desse poetas, entre
eles, pela sensibilidade e por ter viajado muito, Walther von der Vogelweide (1170-1230), o qual, segundo
Caeiro, introduziu uma autêntica poesia da natureza, sem continuação até ser recuperada e desenvolvida por
Goethe.
Esse renascimento do século XIII é destacado no Kosmos nas figuras de Ibn
Sina (Avicena], Ibn Roschd (Averroés], Alberto, o grande e Roger Bacon. A partir
da obra de Bacon, Opus Majus, abre-se um conjunto de interesses que indicam o
movimento do pensamento para o sensível do mundo e sua possibilidade de
representação112, principalmente a questão do foco e da perspectiva:
“Los trabajos [Versuchen] mas importantes de Bacon, son los que hizo sobre la teoría del
Optica, sobre la perspectiva y sobre la posicion del foco en los espejos cóncavos, juntamente
con sus esperiencias químicas sobre las mezclas inflamables y esplosibles.” (C. T. II. p.
244)
112
Outro movimento interessante desse renascimento é o aparecimento das obras enciclopédicas, entre as
quais, “De Rerum Natura” de Tomás de Cambridge (1230), “Speculum naturale” de Vicente de Beauvais
(1250).
113
Essa afirmação é correta e está assim desenvolvida no Kosmos: “Por lo demás, si este primer
descubrimiento de la América, hecho en el siglo XI ó quizás antes, no tuvo la grande y duradera influencia
que ejerció en los progressos de la ciencia del mundo(physischen Weltanschauung) el mismo descubrimiento,
renovado á fines del siglo XV por Cristóbal Colon, esplicase esto por poca cultura [Unkultur] de los pueblos
primeros que descubrieron este continente y por la naturaleza de los lugares [Natur der Gegenden] en que se
encerró su esploracion. Ninguna educacion científica [wissenschaftliche Kenntnis] habia preparado á los
Escandinavos para estender sus investigaciones en el país que ocupaban, mas allá de lo que exigia la
satisfaccion de las necessidades mas apremiantes.” (C. T. II. p. 235)
implicou em outros momentos consequências como as do século XV. Isso, porém,
não deve servir para subestimar o impacto dessa nova possibilidade.
“Una cosa que contribuyó tambien de una manera notable al progresso de los
conocimientos acerca del mundo [Weltansichten], en esta época agitada, fue el contacto
inmediato[unmittelbare Kontakt] de un número considerable de europeos con la naturaleza
exótica que desarrollaba libremente sus magnificencias en los dos hemisferios. Es
espectáculo[?] que ofrecian las llanuras y las regiones montanhosas [Ebenen und
Gebirgsländern] de América, pudo á seguida de la espedicion de Vasco de Gama
contemplarse en las costas orientales del Africa y en la India Meridional.” [C. T. II. p. 271]
“Si insisto nuevamente en hacer resaltar el atractivo que prestan á la imaginacion los
paises montañosos de la zona equinoccial, válgame de escusa la observacion ya indicada
muchas veces de que los habitantes de aquellas regiones [Länder] son los únicos á quienes
es dable contemplar [schauen] todos los astros del firmamento y casi todas las familias del
reino vegetal; pero contemplar [schauen] no es observar[ [beobachten], es decir, comparar y
combinar [vergleichend kombinieren].” (C. T. II. p. 269]
“A partir de esta época crítica es desde cuando el espíritu [Geistes] y el corazon [Gefühle]
ha vivido una vida nueva y mas activa, y atrevidos deseos y tenaces esperanzas han
penetrado poco a poco en todas las clases de la sociedad civil [bürgerlichen Gesellschaft].”
(C. T. II. p. 293]
Não é outro movimento senão aquele que será considerado uma ruptura
drástica com o passado histórico. Humboldt define o momento específico
como Revolução Científica.
“La revolucion científica [Die wissenschaftliche Revolution] que Nicolás Copérnico
produjo, ha tenido la rara fortuna, si esceptuamos la corta suspension que ocasionó la
hipótesis retrógrada de Tycho, de haber tendido constantemente al objeto [Ziel], es decir,
hácia el descubrimiento e la verdadera estructura del Mundo [Weltbaus]. El rico conjunto de
observaciones exactas que suministró el mimso Tycho, ardiente adversario de Copérnico, ha
servido tambien para descubrir esas leyes eternas del sistema planetario que han dado
mas tarde al nombre de Keplero imperecedero brillo, y que, interpretadas y demonstradas
por Newton, pasaron teóricamente, y como un resultado necessario, á la esfera luminosa
del pensamiento, fundando el conocimiento racional de la Naturaleza [eines denkenden
Erkennens der Natur]. Háse dicho ingeniosamente, aunque quizás sin hacer todavái
bastante justicia al libre genio que ha creado por sus proprias fuerzas la teorái de la
gravitacion: ‘Keplero ha escrito un Código [Gesetsbuch] y Newton El Espírito de las Leyes’
[Geist der Gesetze]. (C. T. II. p. 303).
“Si he citado Keplero con preferencia en estas consideraciones sobre os efectos sobre los
efectos de la contemplacion física [Sinnesanschauung], es con le fin de recordar cuán unida
se encontraba en este grande hombre, dotado de tan maravillosas facultades, la tendencia
hácia las combinaciones de la fantasía, con un talento notable de observacion, con un
método de induccion severa, con una fuerza de cálculo casi sin ejemplo, y finalmente, con
una profundidad matemática tal como manifestada en la Stereometria Doliorum, que influyó
felizmente sobre Fermat, y por medio de él en el descubrimiento del cálculo infinitesimal.
Por la riqueza y la rapidez de sus ideas, por lo atrevido de sus advinaciones [Ahnungen]
cosmológicas, un espirítu [Geist] como el suyo estaba formado principalmente para esparcir
la vida á su alredor y para acelerar el movimiento que empujaba sin descanso al siglo XVII
114
“Las conjeturas [Meinungen] propuestas por los alquimistas de la edad media acerca de la composicion de
los metales y de la alteracion producida en su brillo por la combustion al contacto del aire, es decir, por la
tranformacion en cenizas, en tierra ó en cales, dieron la idea de investigar las circunstancias que acompañan á
este fenómeno, y los cambios que esperimentan en ese caso los metales y el aire que se combina con ellos. Ya
Gerónimo Cardaño habia observado en 1553 el aumento de peso que recibe el plomo ao oxidarse, y penetrado
de la fabulosa teoría(Mythe) del flogístico, lo atribuyó al desprendimiento de una materia ígnea y celeste que
deberia tener la propriedad de aligerar los cuerpos”. .(C. T. II. p. 335)
hácia el noble objeto de la contemplacion y engrandencimiento del Mundo.” [C. T. II. p.
315].
Não por acaso, instala-se aí o novo paradigma técnico para o olhar e para sua
representação. A invenção de instrumentos ópticos, como o microscópio e o
telescópio,115 pertence ao processo técnico e intelectual no qual o ver torna-se o
centro do conhecimento. Experiência e observação confundem-se no plano da
visão além do olho. O “invisível” começa a ganhar status de realidade e impor à
realidade do humanamente visível um contínuo sobressalto.
El arte reside en medio del círculo mágico trazado por la imaginacion, y tiene su fuente
en lo mas íntimo del alma; en la ciencia, por el contrario, el principio del progresso está en
contacto con el mundo esterior. A medida que se estienden las relaciones de los pueblos, la
ciencia gana á la par en variedad y en profundidad. L acreacion de nuevos órganos, porque
así puden llamarse los instrumentos de observacion, aumenta la fuerza intelectual del
hombre y tambien á veces su fuerza física. Mas rápida que la luz, la corriente eléctrica
encerrada en un circuito lleva el pensamiento y la voluntad á las mas apartadas regiones.
Dia llegará en que fuerzas que se ejercen tranquilamente en la naturaleza elemental, como
en las celdas delicadas del tejido orgánico, sin que hasta ahora hayan podido descubrirlas
nuestros sentidos, reconocidas por fin, aprovechadas y llevadas al mas alto grado de
actividad, tomarán puesto en la série indefinida de los medios, en cuya virtud haciendónos
115
Segundo Humboldt, apesar de controvérsias, o microscópio foi inventado, provavelmente, por Zacarías
Jansen y seu pai Hans Jansen em 1590. Já o telescópio foi conhecido pela primeira vez na Holanda no ano de
1608 e sua invenção pode-se atribuir à Hans Lippershey e Jacob Adriaansz.
dueños de cada dominio particular de el imperio de la Naturaleza, nos vamos elevando á un
conocimiento mas inteligente y animado del conjunto del Mundo.” .(C. T. II. p. 350]
“La descripcion del paisaje [Schilderung der Landschaft] rara vez interrumpe la
narracion en la epopeya nacional ó Libro de los Heroes de Firdusi. ”.(C: T. II. p. 40].
116
“En la Fassathal, la dolomia se eleva verticalmente á muchos miles de pies, formando paredes de blancura
deslumbradora que terminan en multitud de cimas agudas y muy próximas entre sí, aun que nunca llegan á
tocarse. Su aspecto (Gestaltung) recuerda el gracioso paisaje de montañas (Berglandschaft) fantásticas, con
que ha adornado Leonardo da Vinci el fondo del retrato de Monna Lisa.” (C. T. I. p. 242). Para esse aspecto
da formação da paisagem, vide figuras 16 e 17 do anexo IV.
pintura de paisaje, desligada del elemento histórico, ha tomado importancia y llegado á
formar un genero á parte;(...]
Háse observado con razon que lo que principalmente faltó á los antiguos(...] fué el
sentimiento del encanto particular [Gefühl für die lanschaftliche Schönheit] que vá unido á
la reproducion de las escenas de la Naturaleza por medio del pincel: este goce estaba
reservado á los modernos” (C. T. I. p. 72-3].
“Las composiciones en forma de arabescos, contra las cuales protestaba el gusto severo
de Vitrubio, contenian plantas y animales dispuestos armónicamente manifestando alguna
originalidad; mas para valerme de las espresiones de Ofredo Muller, ‘no creyeron los
antiguos que el arte pudiese nunca producir la presdisposicion melancólica ó la especie de
presentimiento en que nos sumerje la vista de un paisaje; [die Landschftliche un anspricht];
al pintar la Naturaleza [Landschaft], mas bien se propusieron esparcir el ánimo, que no
inspirar una séria emocion.”(C. T. II. P.75] 117
“Si bien el siglo XV [Cinquecento] fué la época mas brillante de la pintura histórica
[Historienmalerei], hasta el siglo XVII no florecieron los grandes pintores de paisaje
[Landschafter]. A medida que se conocian mejor y se observaban con mas atencion las
riquezas de la Naturaleza, el domínio del arte iba ensanchándose; y por otra parte se
perfeccionaban de dia en dia los procedimientos materiales[technischen Darstellungsmittel].
Poníase mas cuidado en dejar aparecer al esterior las disposiciones del alma, llegando á
darse de esta manera á la bellezas naturalles una espresion mas dulce y mas tierna, á
medida que se iba aumentando la seguridad de la influencia que el mundo esterior ejerce
sobre nuestros sentimientos. El efecto de esta escitacion es producir lo que constituye el fin
de todas las artes, ó sea, la transformacion de los objetos reales[wirklichen Gegenstände]
en imágenes ideales [Objekt der Phantasie]; y es engendrar en nuestro interior una calma
armoniosa que sin embargo no carece de espresion.” (C. T. II. p. 78]
“Hay, sin embargo, un artista que debe distinguirse de todos los demas, por la variedad
de sus facultades y la liberdad de su genio: Rubens, que sumido en el seno mismo de la
Naturaleza, abraza todos sus aspectos, representando con una verdad inimitable, en sus
grandes cazas, la naturaleza salvaje de los animales del bosque, al mismo tiempo que
117
A nota de Humboldt destacando a obra de Otfried Müller, Archäologie der Kunst, 1830. p. 609 ressalva
“algunas raras escepciones, que son paisajes en el sentido moderno de la palavra (...) paisajes que sirven de
fondo á encantadoras conposiciones históricas.”
118
Humboldt elenca na nota 121 do tomo II os principais paisagistas desse período:
“El gran siglo de la pintura de paisaje reunió: Johann Breuguel 1569-1625, Rubens 1577-1640, Domenichino
1581-1641, Philippe de Champaigne 1602-1674, Nicolas Poussin 1594-1655, Gaspard Poussin 1613-1675,
Claude Lorrain 1600-1682, Albert Cuyp 1606-1672, Jan Both 1610-1650, Salvator Rosa 1615-1673,
Everdingen 1621-1675, Nicolaus Berghem 1624-1683, Swanevelt 1620-1690, Ruysdael 1635-1681,
Minderhoot Hobbema, Jan wynants, Adriaan van de Velde 1639-1672, Carl Dujardin 1644-1687.”(C. T. II. p.
375.) Optamos por elencar os nomes como aparecem no original e não na tradução de Giner.
haciéndose paisagista, reproduce con raro acierto la meseta árida y enteramente desierta
donde se destaca en medio de las rocas el palacio del Escorial.” .(C. T. II. p. 79-80]
119
“Estudios característicos hechos en las laderas escarpadas do Himalaya y de las Cordilleras, ó en medio de
los rios que surcan las comarcas interiores de la India y de la América meridional, producirian un efecto
mágico si se cuidase sobre todo de rectificarlos segun imágenes sacadas al daguerreotipo, escelente para
reproducir; no la espesura del follage, sino los troncos gigantescos de los árboles y la direccion de sus ramas.”
.(C. T. II. p. 88)
120
Post e Eckhout acompanharam Mauricio de Nassau durante a ocupação do Brasil pelos Holandeses no
século XVII (1637-1644).
121
“Em cuanto a las ilustraciones para su obra, la misma formación artística de Humboldt le permitió
controlar la calidad de las mismas, todas en la técnica que mejor conocía: el grabado em cobre, as veces
coloreado a mano.” (Esteva-Grillet. 1999. p. 205 op. cit).
Apresentamos, no anexo IV, algumas das ilustrações de Humboldt.
pelas autoridades portuguesas122. Naquele momento, só o desenho ou a pintura
poderiam trazer aos olhos o conjunto das paisagens tropicais.
Esse mundo em aberto para os olhos dos paisagístas deveria ser amplamente
observado e registrado com competência, pois até então, salvo algumas exceções,
os pintores “careciam” da capacidade técnica do olhar objetivo capaz de observar
e distinguir espécies vegetais e animais. Era preciso que os artistas viajantes
treinassem o olhar para as formas e cores tropicais. E mais. Era preciso a
disposição de um naturalista para penetrar nas florestas, montanhas, caminhos,
rios. Enfim, Humboldt pretendeu formar artistas naturalistas capazes de
sair/entrar pelo mundo recolhendo, nas telas, os aspectos das terras distantes 123.
“El único medio de poder fijar el carácter de las comarcas lejanas [Weltgegenden] en
paisages [Landschaften] concluidos, ´la vuelta de un viaje, es bosquejar luego de
observadas las escenas de la Naturaleza [Naturszenen]. Los esfuerzos del artista serán
mas provechosos aun si poseido de emocion sobre los lugares mismos, hace un gran
número de estudios parciales, si ha dibujado ó pintado al aire libre, copas de árboles,
ramas frondosas cargadas frutos y de flores, troncos derribados cubiertos de photos ó de
orquideas, rocas, un precipicio, cualquiera parte de un bosque en fin. Trayendo así
imágenes exactas de las cosas podrá el pintor, de vuelta á su patria, dispensarse de acudir
ao triste recurso de las plantas conservadas en las estufas y de figuras reproducidas en las
obras de botánica.” .(C. T. II. p. 82-3]
122
A carta das autoridades portuguesas solicitando a prisão de Humboldt está no anexo II.
123
Incluímos, no anexo IV, alguns exemplos dessas obras.
momento de sua obra, Charles Baudelaire. Tal posição nega qualquer utilitarismo
da arte, a não ser a sua própria utilidade para o homem.124
“Todos estos medios [Mittel], cuya enumeracion no podemos omitir en un libro tal como el
Cosmos, son muy apropósito para propagar el estudio de la Naturaleza; é indudablemente
se conoceria [Kenntnis] y sentiria [Gefühl] mejor la grandeza sublime de la creacion, si en
las grandes ciudades junto á los museos, se abriesen libremente á la poblacion panoramas
con cuadros circulares que representasen [darstellten] sucesivamente paisajes sacados en
diferentes grados de longitud [Höhezonen] y latitud [geographischen Breiten]. Multiplicando
los medios con cuyo auxilio se reproduce bajo imágens espresivas el conjunto de los
fenómenos naturales, es como mejor se familiariza á los hombres con la unidad del mundo,
haciéndoles sentir mas vivamente el armonioso concierto de la Naturaleza”125. .(C. T. II. p.
88-9]
124
Tal posição é defendida, por exemplo, por Fiódor Dostoiévski em um texto do final do século XIX –
“Acerca da Questão da Arte pela Arte ou G... bov e a Questão da Arte – do qual destacamos o seguinte
argumento: “Dizem e mantêm uns que a arte tem o seu fim em si mesma e que deve achar a sua justificação
na sua própria existência. Assim, não será já necessário falar da utilidade da arte, no verdadeiro sentido da
palavra, no momento atual. A Criação... princípio fundamental de tôda a arte, é uma propriedade íntegra,
orgânica, da natureza humana e desenvolve-se unicamente devido ao fato de ser uma faculdade indispensável
ao espiríto humano. É tão legítima no homem como a inteligência, como todas as faculdades morais, e pode
até dizer-se que como as duas mãos, os dois pés ou o estômago. É inseparável do homem, formando um todo
com ele. É certo que a razão, por exemplo, é útil, pois nós mal passaríamos sem ela. Também as mãos e os
pés são úteis ao homem. Neste sentido também a criação é útil ao homem.
Mas, como algo completo, orgânico, a criação desenvolve-se por si, independente, e exige desenvolvimento
pleno; sobretudo... exige plena liberdade no seu desenvolvimento. Por isso todo freio, toda coação, toda
missão subalterna, todo fim exclusivo que lhe imponham serão ilegítimos e absurdos. Se limitarmos a criação
e se proibimos aos anelos criadores e artísticos do homem que se consagrem... a quê, diremos? Pois a
exprimir certas sensações; Se vedamos ao homem tôda a atividade criadora que nele suscitam certas
manifestações da natureza: o nascer do sol, as tempestades marítimas, etc., etc., isso equivalerá a restringir de
uma maneira estúpida e ilegítima o espiríto humano na sua atuação e desenvolvimento.” DOSTOIÉVSKI,
1964. p.1242. op. cit.
125
“Der Begriff eines Naturganzen, das Gefüll der Einheit und des harmonischen Einklangs im Kosmos
werden um so lebendiger unter den Menschen...“ .(K. T. II. p. 80)
se não for vivificado pelos sentimentos de respeito e prazer. Os conceitos de
unidade, harmonia e totalidade estão no âmago dessa síntese múltipla entre
homem e mundo, entre conhecimento e sentimento, entre a essência e aparência,
entre o ínfimo e o infinito, entre o orgânico e o inorgânico, entre arte e ciência.
Todos os meios são assim justificados.
“Uno de los mas hermosos frutos de la civilizacion europea es el de haber hecho hoy
posible al hombre satisfacer, aun en las regiones menos favorecidas, y merced á las
colecciones de plantas exóticas, á la mágia de la pintura de paisaje y al poder de la
espresion pintoresca[Kraft des begeisterten Worts], una parte de los goces [Naturgenusses]
que va á buscar el viajero, á costa de grandes peligros muchas veces, en la contemplacion
inmediata[wirkliche Anschauung] de la Nauraleza.” .(C. T. II. p. 98].
126
SÜSSEKIND. 2000. p. 120. op. cit.
Mas, insistindo, a paisagem não encontra-se apenas pressuposta no sujeito.
Ela manifesta-se como mundo. E, só nessa relação específica, o homem e o
mundo transformam-se em paisagem.
“Mas algo costuma realmente se alterar depois de tais ‘revelações’. Porque epifanias
e sensação de passagem rápida e irreversível do tempo parecem andar juntas. Se, por um
instante, sujeito e paisagem se redimensionam, alterada a luz, fica a impressão do
instante, do tempo que não pára de passar e modificar as tonalidades e sombras. E, assim,
não é só o observador que parece sujeito à movimentação, também a paisagem adquire
repentina mobilidade, imersa não no moto-contínuo das expedições, mas junto às demais
‘coisas do mundo’, no fluxo temporal. Capaz igualmente de, por alguns instantes, invadir o
vaivém espacial de um viajante.”127
127
SÜSSEKIND. 2000. p. 122. op. cit.
128
CLARK. 1949.p. 164. op.cit.
humano tenta mais uma vez criar harmonia com aquilo que o rodeia. O ciclo precedente, o
da Antiguidade mediterrânica, estivera tão profundamente impregnado do sentido grego de
valores humanos, que este conceito de natureza tinha desempenhado um papel secundário.
O pintor helenístico, com sua visão penetrante dirigida para o mundo visível, desenvolveu
uma escola de pintura da paisagem; mas até onde podemos julgar, pelos poucos
fragmentos que chegaram até nós, a sua habilidade para registrar efeitos de luz era usada
principalmente para fins decorativos. Apenas a série de Odisseu, no Vaticano, sugere que a
paisagem se tinha tornado um meio de expressão poética, e até nesse caso os elementos de
paisagem são simples cenários, como o é a paisagem na própria Odisseia.”129
130
Rilke compartilha dessa diferença entre nós e a Antiguidade:
“Man wei so wenig von der Malerei des Altertums; aber es wird nicht zu
gewagt sein anzunehmen, da sie die Menschen sah wie spätere Maler die
Landschaft gesehen haben”.RILKE. 1965. p.516. op. cit.
“Sabe-se tão pouco sobre a pintura da Antiguidade, mas não constitui uma
aventura supor, que ela viu o homem como, posteriormente, o pintor viu a
paisagem.”
matemáticas da perspectiva, em Fra Angelico e nos iluministas do Norte. E então está
combinado com outro meio unificador a luz.”131
CLARK.
131 . 1949. p. 3
4. op. cit.
estrela, um sol, o esconderijo de uma fada, ou uma donzela abandonada. E finalmente, vem
o homem cuja percepção é correcta apesar dos seus sentimentos e para quem um miosótis
não é mais que um miosótis: uma pequena flora apanhada numa campina e elemento dela,
quaisquer que sejam as associações e paixões que possa sugerir’”133.
Para que essa misteriosa conexão estética das coisas tomasse corpo na
mente do homem foi preciso que a nova sensibilidade ganhasse forma
estética também. A contemplação estética do mundo exige que o homem se
produza como possibilidade estética e isso impõe uma profunda
transformação na forma de pensar e sentir. Podemos tentar, então,
estabelecer uma correlação entre a noção do belo natural e da paisagem.
132
SOHN-RETHEL. 1989. p. 61. op. cit.
133
CLARK. 1949. p. 45. op.cit
134
“Ninguém havia ainda pintado uma paisagem que fosse toda paisagem e, ainda mais,
confissão e voz própria. como aquela profundidade atrás da Mona Lisa. Como se toda
humanidade em sua ilimitada figuração fosse contida e acalmada, mas, sobretudo, tudo o
que estava perante o homem e além dele, nessas misteriosas conexões da montanhas,
árvores, pontes, céu e água. Essa paisagem não é uma imagem de impressão, não uma
opinião do homem sobre as coisas silenciadas, ela é a natureza que surge, mundo que
torna-se ao homem tão estranho como a floresta impenetrável de uma ilha misteriosa.”
RILKE. 1965. p. 520. op. cit.
“O que na natureza surge como subtraído e rebelde à história pertence
polemicamente a uma fase histórica em que a trama social era tecida de modo tão denso
que os vivos temiam a morte por asfixia. Nos períodos em que a natureza se contrapõe com
sua omnipotência aos homens, não há nenhum lugar para o belo natural; as ocupações
agrícolas, para as quais a natureza presente é objecto imediato de acção, têm, como se
sabe, pouca sensibilidade para a paisagem. O belo natural, pretensamente a-histórico,
possui o seu núcleo histórico; isso legitima-o tanto como o relativiza o seu conteúdo. Onde a
natureza não era relmente dominada, a imagem da sua não-dominação suscitava o terror.
Daí, a predilecção durante muito tempo surpreendente pelas ordenações simétricas da
natureza.”135
137
ADORNO. 1982. p. 86. op. cit.
138
ADORNO. 1982. p. 87. op. cit.
139
ADORNO. 1982. p. 87. op. cit.
interstícios dos resíduos da forma social moderna, isto é, numa forma produzida
só capturada, plenamente, como redução da representação. Trata-se de uma
relação que permanece difusa no movimento da história e resiste à tentativa de
domesticação que suas próprias possibilidades pressupunham. Daí sua
existência aparecer como raridade e potência inconclusa.
“No entanto, não se condena sem mais a categoria do belo natural. A tendência para
falar da natureza é mais forte onde sobrevive o amor por ela. A expressão ‘Que Belo’
perante uma paisagem fere a sua linguagem muda e diminui a sua beleza; a natureza
fenomenal quer silêncio, enquanto este impele aquele que é capaz da sua experiência a
proferir palavras que, momentaneamente, libertam da prisão monadológica. A imagem da
natureza sobrevive, porque a sua perfeita negação no artefacto, a qual salva esta imagem,
torna-se necessariamente cega quanto ao que estaria para lá da sociedade burguesa, do
seu trabalho e das suas mercadorias. O belo natural permanece alegoria deste para-lá,
apesar da sua mediação através da imanência social. Mas, se esta alegoria for
erradamente considerada como o estado de reconciliação alcançado, degrada-se em meio
de emergência para mascarar e justificar o estado irreconciliado em que, no entanto, tal
beleza é possível”140
140
ADORNO. 1982. p. 85. op. cit.
141
ADORNO. 1982. p. 82. op. cit.
belo natural enquanto fenómeno é ele próprio imagem. A sua representação tem algo de
tautológico que, ao objetivar o fenómeno, o faz simultaneamente desaparecer.”142
142
ADORNO. 1982. p. 83. op. cit.
143
“mas o verdadeiro domínio da especialização era evidentemente a ciência. Tomemos um exemplo da
própria ciência. Até cerca de 1820 os livros científicos eram belamente impressos e as suas ilustrações
destinavam-se tanto a agradar à vista como a esclarecer o texto. Então, gradualmente, à medida que os
problemas da ciência se tornavam mais rigorosos, as gravuras transformaram-se em diagramas. A decoração,
que agrgadava à vista, era supérflua e portanto inútil nas considerações científicas.” CLARK. 1949. p.
173. op. cit.
144
CLARK. 1949. p. 122. op.cit.
145
CLARK. 1949. p. 172. op.cit.
exemplo, com o surgimento das técnicas de uma forma geral e da
fotografia, como técnica da produção de imagens.
“Características estruturais, tecidos celulares, com os quais operam a técnica e a
medicina, tudo isso tem mais afinidades originais com a câmara que a paisagem
impregnada de estados afetivos, ou o retrato que exprime a alma do seu modelo.” 146
146
BENJAMIN. 1993. p. 94. op. cit.
147
BENJAMIN. 1993. p. 97. op. cit.
148
CLARK. 1949. p. 167. op.cit.
149
“Antes de baixar dessas magnificas alturas para o lago e a cidade graciosamente situada, devo fazer
ainda alguns comentários sobre as minhas tentativas de tirar proveito daquelas paragens mediante desenhos
e esboços. O hábito, que eu tinha desde a infância, de encarar a paisagem como um quadro, levava-me – já
que, na natureza, eu percebia uma região sob a forma de imagens – a procurar fixá-las e guardar uma
lembrança exata desses instantes. Mas, como até então só me exercitara em temas limitados, não tardei a
sentir a minha insuficiência em face de um mundo como aquele.”(Goethe: 1986, 2º vol. p. 566.op. cit.)
encontrar-se com uma paisagem que não essa. A observação terna torna-se
contemplação que torna-se teoria que torna-se paisagem.
150
Ver as pinturas Zavagli no anexo IV.
151
BASBAUM.1999. p. 5. op. cit.
152
Ver, no anexo IV, a obra “Asteróide #3, de Coimbra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Paisagem e Geografia.
153
Nesse sentido, Humboldt compartilha das aspirações, por exemplo, de seu irmão Wilhelm em promover
o ensino científico na Alemanha. Wilhelm von Humboldt criou, em 1810, a Universidade de Berlim, em que
se realçava a importância da investigação científica.
representação fenomênica. Como formas do processo cindido, participam
do movimento moderno de formação do sujeito e do mundo.
154
"Nada conseguirá apagar jamais a emoção que me fizeram sentir as noites serenas dos trópicos, nas
margens do mar do sul, quando, do azul vaporoso do céu, a alta constelação Argus e a Cruz, inclinada
paisagem significa a ausência de sua primeira representação. Portanto, a
paisagem é irredutível e só pode se constituir como relação e movimento
da efêmera contemplação. Pode-se pintá-la, descrevê-la, cantá-la, analisá-
la, mas não, torná-la presente. As formas da segunda representação são de
caráter pedagógico ou de caráter metafórico e tornam-se mais próximas ou
não da forma da primeira representação na medida da conveniência e do
suporte da linguagem.
relativamente ao horizonte, despediam a sua luz doce e planetária, ao mesmo tempo em que os delfins
traçavam a sua esteira brilhante nas ondas do mar espumante."( QN – v. II. p.278)
155
“Empíreo. [do gr.empeirikós, do lat. empiricu.] S. m.
Mitol. 1. Morada dos deuses. 2. A morada dos Santos e Bem-aventurados; o Céu; adj. 3. Pertencente ou
relativo ao Céu; celeste. 4. Supremo, superior.
Se observarmos a definição usual e atual de empírico 156, notamos que a
forma terrena ocupa o conteúdo do termo e mais, não como se os deuses e
santos resolvessem, de repente, migrar para estas plagas, mas pela
consideração de um nível da realidade sem qualidades importantes, pelo
menos para a ciência. Daí, comportar, entre outros, o significado de
charlatanice.
156
Empírico. [do gr. Empeirikó, pelo lat. empiricu.] Adj.
1. Relativo ao, ou próprio empirismo. 2. Baseado apenas na experiência e, pois, sem caráter científico. 3.
Filos. Diz-se do conhecimento que provém, sob perspectivas diversas, da experiência. 4. Indivíduo empírico
(2); charlatão.
sensibilidade igualmente abstrata. E se formos decididamente rigorosos,
havemos de decidir que a segunda formulação funda a primeira. Isso só foi
possível quando uma forma cultural se desenvolveu contra si mesma
tornando-se forma social.
157
Um quadro resumido desses usos pode ser observado n'A Natureza do Espaço, de Milton Santos:
“Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento,
exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza. O espaço
são essas formas mais a vida que as anima.(...)
A palavra paisagem é freqüentemente utilizada em vez da expressão configuração territorial. Esta é o
conjunto de elementos naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma área. A rigor, paisagem é
apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão. (...) A paisagem é, pois, um
sistema material e, nessa condição, relativamente imutável; o espaço é um sistema de valores, que se
transfoma permanentemente.”(SANTOS:1997. p. 83. op. cit.)
termos modernos, tal elevação torna-se abstração, isto é, reunem-se
conceito e realidade na figura do observador. A hegemonia do olhar aponta
para isso.
158
Uma perspectiva dessa posição pode ser observada em HOLZER, W.; Um Estudo Fenomenológico da
da observação e estabelecido a centralidade do conceito de co-
emergência159 para essa reflexão.
Paisagem e do Lugar: A Crônica dos Viajantes no Brasil do Século XVI. Tese de Doutorado. USP. 1997.
159
“Para a crítica de uma epistemologia que confere ao observador externo a autoridade de ‘impor’ sua
própria visão do mundo dos objetos, para o nosso movimento intelectual, por assim dizer, longe do
observador, foi sintomático que nos tenhamos concentrado, desde o começo, em uma possível transição entre
o conceito de ‘emergência’ e o conceito que representa a posição oposta à do observador, ou seja, o conceito
grego antigo de ‘fenômeno’ (de ‘phaineim’ que significa ‘aparecer, mostrar’). Que processos, perguntamos,
estão em ação quando sentimos que um fenômeno se nos demonstra? Pode-se de fato dizer que um fenômeno
é por definição algo emergente, no sentido de que adquire aparência e emerge como presença material e
espacial? E será que isso implicaria que o processo de produção do conhecimento, ao contrário de nossa
posição atual predominante, começa na ponta do objeto e se desenrola a seguir como processo de emergência,
e não de produção? Alguns de nós queríamos chegar ao ponto de dizer, talvez, que os fenômenos pelos quais
nos deixamos fascinar sempre nos elegeram, em lugar de nós os termos construído. Mas havia um consenso
muito mais amplo quanto à premissa de que os fenômenos têm tanto impacto sobre seus observadores quanto
a observação, por estes, inevitavelmente altera o fenômeno. Isso significa, no entanto, que qualquer produção
de conhecimento ocorre como uma co-emergência do fenômeno em questão e de seu observador.” McLEOD.
2002. p. 6. op. cit.
160
‘”Necessidade é uma categoria abstrata que indica uma relação necessária e essencial entre dois termos”.
(Hegel: 1966. p.86 op. cit.)
Sexta consideração: A presença da paisagem.
161
“Considerando o gênero de investigações a que se dedicara com preferência antes de ingressar no Instituto,
e inclusive antes de sair de França, nota-se, antes de mais nada, uma grande predileção por tudo que é
referente à refração, isto é, a tragetória dos raios luminosos e às causas que alteram sua velocidade. A origem
dessa predileção – disse-me muitas vezes o senhor Arago – está na assídua leitura das obras sobre ótica de
Bourguer, Lambert e de Thomas Smith, que ainda muito jovem, cairam-lhe nas mãos. Poderia, por acaso,
passar despercebido, durante os três anos empregados em operações geodésicas, o aspecto da natureza,
fecunda nas planícies selvagens e freqüentemente grandiosa nas montanhas; o colorido das agitadas águas do
oceano, a variável altura das nuvens, a miragem nas praias áridas e nas camadas atmosféricas, cujos sinais
pela noite se multiplicam e oscilam verticalmente? Enfim, a vida ao ar livre, benéfica sob tantos aspectos,
deve ter ampliado seu pensamento, comovido sua imaginação, e excitado, ainda mais, sua curiosidade em
meio às continuas pertubações que, apesar de tudo, se produzem na sucessão regular dos fenômenos. Um
viajante cuja vida está consagrada às ciências, se tem uma alma sensível ás grandes cenas da Natureza, traz de
uma viagem tão grande e aventureira, não somente um tesouro de recordações, como também um bem ainda
mais precioso, uma disposição de alma para alargar os horizontes e contemplar, em suas múltiplas relações,
uma grande quantidade de objetos ao mesmo tempo.”(Humboldt: Arago. p. 3-4. op. cit.)
Ainda poderíamos dizer que viajar e construir um relato dessa
experiência é parte constituinte da própria experiência humana, como a
ampla bibliografia que se espraia pelos relatos de viagens nos indica. Não
são poucos os pensadores que colocaram em algum momento de sua
existência a necessidade de empreender uma viagem pelo mundo, muitas
vezes tendo como meio de transporte, as próprias pernas. Dessas
experiências tomamos contato com relatos, diários, poesias que procuram,
em ato, dar expressão aos momentos da vivência.
162
“O fundador da seita dos estilistas, Simeão Sisanites, filho de um pastor sírio, passou, diz-se trinta e sete
anos da sua vida abismado numa contemplação mística e sucessivamente sobre ofuste de cinco colunas ia em
progressão ascendente. A última, sobre a qual se estabeleceu, tinha 80 pés de altura. Morreu em 461. Durante
700 anos, houve fanáticos, chamados sancticolumnares, que seguiram esse género de vida. Na própria
Alemanha, no país de Treveris, intentou-se o estabelecimento de claustros aéreos, mas os bispos opuseram-se
a estes excessos perigosos”.( QN. p. 192. op. cit)
A compreensão da paisagem como um fato empírico moderno da relação
homem-mundo qualifica o entendimento da posição humana frente a seu
produto. A paisagem esconde-se na noite do moderno. Somos, em algum
momento, possibilidades da paisagem. A possibilidade da paisagem, para o
ser que não a encontra, pode ser a possibilidade do sensível e do visível
para o Mundo que se estranhou como humanidade. Dizemos, em fatos,
que o visível de toda existência é produto. Tal produção renuncia ao
humano e coloca-se junto ao fato da humanidade produzida como relação
dissolvida da existência. Audãcter, commite, viam vorabit!
BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA
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Cronologia163
1777 – 1779 - Chega a Tegel o principal preceptor dos irmãos Humboldt: Gottlob
Johan Christian Kunth, que os ensinou latim, francês, teologia, filosofia e
história.
1779 - Morre em Berlim na idade de 59 anos seu pai Alexander Georg von
Humboldt; o magistrado do Tribunal Supremo, Weisbeck, se encarrega
inicialmente da administração da fortuna familiar e depois dispõe que essa
tarefa será confiada ao preceptor Kunth.
163
A composição dessa cronologia teve como base as informações da obra “Imagenes de Humboldt”
preparada por Oscar Rodrígues Ortiz. Optamos por ampliar, suprimir e corrigir algumas informações baseadas
em algumas biografias sobre Humboldt, entre elas :
Meyr-Abich, Adolf.; Alexander von Humboldt. Rowohlt Taschenbuch Verlag. Hamburg. 1967.
Botting, Douglas; Humboldt y el Cosmos. Ediciones del Serbal. Barcelona. 1985.
1780 – 1781 - O médico Ernst Ludwig Heim explica aos irmãos as 24 classes do
sistema das plantas de Lineu.
1788 - Vive em Berlim, onde recebe aulas de botânica de Carl Ludwig Wildenow;
estuda também a tecnologia aplicada para a indústria. Presencia (27/ 09) a
ascensão de Jean Pierre Blanchard num balão.
1790 - Em companhia de seu amigo Georg Forster realiza sua primeira viagem
fora das fronteiras alemãs (25/03 – 02/07): Reihn inferior, Holanda,
Inglaterra e França; reside uma semana em Paris (07), se mostra
profundamente impressionado pelo entusiasmo revolucionário dos
franceses; presencia os preparativos da Festa da Federação: “O espetáculo
dos parisienses, sua reunião nacional, do seu Templo da liberdade, ainda
inacabado, e para o qual eu transportei areia, tudo aquilo tremula em
minha alma como uma sonho” ( carta a Fritz Jacobi 03/01/1791). Estuda
na Academia de Comércio de Büsc, em Hamburg, onde trabalha em Direito
Comercial, estatísticas econômicas e legislação financeira. Faz seus
primeiros contatos com muitos estudantes estrangeiros, principalmente
ingleses e espanhóis. Publica seus primeiros trabalhos científicos no
Magazin für Botanik e no Chemische Annalen. Publica o Tratado:
Mineralogische Beobachtungen über einige Basalte am Rhein ( Observações
Mineralógicas sobre alguns basaltos do Reno).
1794 - Visita seu irmão Wilhelm em Jena; é nomeado Conselheiro de Minas; viaja
(12/07 – 10), acompanhado de Hardenberg ao Reihn e a Brabante. Se
encontra com Goethe em jena. Publica Aphorismen aus der chemische
Physiologie der Pflanzen.
1795 - Não aceita a nomeação de Diretor Geral das Minas de Silesia (03/02); é
nomeado Conselheiro Superior de Mineração (05). Viaja (17/07 – 20/11), ao
norte da Itália e à Suíça acompanhado de Reinhard von Haeften e J. K.
Freisleben. Realiza com seu irmão Wilhelm, em Jena, experiências sobre
galvanismo. Publica Die Lebenskraft oder der rhodische Genius (A força vital
ou o Gênio de Rodhes).
1804 - Saída para Veracruz (20/01); itinerário: Puebla (22-25/01), onde estima a
altura real do Popocatépetl e do Iztaccihuatl, visita a pirâmide de Cholula e
sobe ao Cofre de Petoté. Humboldt é nomeado correspondente da Section de
Physique générale de I classe do l’Institut de France. Chegam a Veracruz
(19/03); Humboldt realiza um quadro dos climas e da fitogeografia desde o
México até Veracruz (geografia tridimensional); saem para Cuba (07/03)
onde chegam em 29/03 e residem até 29/04. Humboldt redige uma breve
nota à Sociedade Econômica Amigos do País, avaliando se, no Cerro de
Guanabacoa, haveria ouro e outros metais preciosos; conclui
negativamente; só encontrou cobre e pirita de ferro; finaliza declarando: “Os
montes não me haviam parecido dignos de maiores investigações; em um
país cuja a verdadeira riqueza consiste na agricultura, e no qual o trabalho
nas minas convidaria à preguiça de buscar o que se deve produzir” (Informe
apresentado a Sociedade em 31/04, dois dias depois da saída de H.). Saem
de Havana para os Estados Unidos no correio “La Concepción”, chegam a
Filadélfia (20/05) e partem para Washington (29/05); itinerário: Chester,
Wilmington, Charleston, Baltimore e Blandensburg; chegam a Washington
(01/06). Freqüentes encontros com o presidente Jefferson; regressam a
Filadélfia (18/06) e saem para França n”A Favorita”; chegam a Burdeos
(03/08) e continuam até Paris (25/08). Humboldt se encontra com Simón
Bolívar nos salões parisienses. Lê várias conferências científicas no Institut
de France; colabora com os trabalhos de Gay-Lussac; em outubro é recebido
por Napoleão.
1805 - Segue colaborando com Institutos científicos e sábios franceses, enquanto
prepara a edição de sua viagem; é nomeado membro da Academia de
Ciências de Berlim (19/02); viaja para a Itália com Gay-lussac e Leopold von
Buch (02/03) para visitar seu irmão, embaixador em Roma; itinerário: Lyon,
Chambéry, Saint-Michel, Madame, Mt. Cenis, Turim, Gênova, etc.; em Roma
residirá até 12/07. Viaja a Nápoles e sobe o Vesúvio (20-28/07 e 04/08):
observa a erupção do vulcão (12 e 13/08). É eleito Dr. Em Filosofia pela
Universidade de Frankfurt am der Oder. Sai de Roma com Gay-Lussac e
Buch com destino a Berlim; itinerário: Florencia, Bolônia, Parma, Milão,
onde encontra Bonpland; San Gotardo, Zurich, Basilea, Tübingen, Heiilbron
e Gotinga, onde visita Blumenbach, chegando a Berlim (16/11), onde recebe
uma pensão de 2500 táleros por ordem do Rei, como membro da Academia
de Ciências de Berlim (19/11), é nomeado Camareiro do Rei da Prússia (12);
cai doente.
1808 - Reside em Paris até o outono de 1809; participa das negociações de paz
com o Príncipe Wilhelm da Prussia; apresenta várias conferências científicas
no Institut de France; projeta uma viagem ao Tibet. Pública “Ansichten der
Natur (Quadros da Natureza).
1809 - Inicia sua grande amizade com François Arago, encontros freqüentes com
este, Bonpland e Gay- Lussac; não aceita o cargo de Ministro de Cultos que
lhe propõe o Ministro Hardenberg; projeta viagens a Samarcanda e ao Cabo
de Boa Esperança para o ano de 1811.
1812 - Continua planejando uma viagem à Índia e à Ásia Central, seja por mar
pelo Cabo de Boa Esperança ou via terrestre passando por Constantinopla
até chegar a Bombay. Apresenta várias conferências no Institut de France
(4-25/05 e 23/11).
1813 – 1814 - Intervêm diante do Comandante Chefe das tropas coligadas que
entram em Paris para a proteção do Musseum d’Histoire naturelle; se reúne
com seu irmão Wilhelm e são apresentados na Corte de Luís XVIII; partem
para Londres no séquito do Rei da Prússia Federico Wilhelm III (04);Wilhelm
ficará um tempo em Londres, Alexander regressa a Paris e apresenta várias
conferências no Institut de France (3 e 10/10).
1819 - Prepara sua obra Ensaio sobre a física do mundo. Recebe a quantidade de
12000 táleros para sua viagem à Ásia; apresenta conferências no Institut de
France sobre o sistema numérico dos mexicanos, dos egípcios e de outros
povos (09).
1823 - Chega a Berlim (03/01) depois de 15 anos de ausência e reside com seu
irmão no castelo de Tegel. Retorna a Paris (10/02) e segue trabalhando na
edição da Viagem americana; colabora com o botânico Carl Sigismund
Kunth, sobrinho de seu preceptor.
1828 - Aceita o convite do Ministro russo, Conde de Cacrin, para fazer uma
viagem à Rússia e à Ásia Central no ano seguinte (26/02); acompanha o
Gran Duque Carl August Weimar que reside em Potsdam e Berlim (31/05 a
13/06); acompanha o Rei Friedrich Wilhelm III aos banhos de Teplitz (07) e
realiza uma curta viagem a Praga; visita a Academia de Minas de Freiberg
(30/07); regressa a Berlim (05/08) onde preside a sétima reunião da
sociedade dos naturalistas e médicos alemães; pronuncia o discurso
inaugural (18/09); recebe em sua casa o matemático C. F. Gauss.
1831 - Retorna a Berlim (17/01) passando por Weimar onde visita Goethe (26-
27/01). Novamente em Paris (21/02), continua colaborando com o Institut
de France.
1832 - Retorna a Berlim (07); acompanha o Rei da Prússia aos banhos de Teplitz
onde fica até 16/10.
1835 - Morre seu irmão Wilhelm em Tegel (08/04); realiza uma nova viagem a
Teplitz com o Rei da Prússia (30/06), vai a Paris em uma missão diplomática
(08) e regressa a Berlim (28/12) passando por Frankfurt.
1836 - Novamente em Teplitz com o rei da Prússia (07); assiste o XIV Congresso
da Sociedade de Naturalistas e Médicos Alemães, que se realiza em Jena
(09) e apresenta uma conferência sobre “a variedade dos prazeres que a
Natureza proporciona, e o desenvolvimento científico das leis do mundo
físico”. É publicado em Paris, em francês, Examen critique de l’histoire de la
géographie du Nouveau Continent et des progres de l’astronomie nautique aux
XV et XVI siécles, 5 vol, 1836-1839.
1839 - Retorna a Berlim (03/01); nova estadia em Teplitz com o Rei (08). Ë
consultado a propósito de uma excursão inglesa ao Antártico (10). Apresenta
na Academia de Ciências uma conferência sobre o terremoto de Riobamba
de 1797 (28/02).
1840 - Viaja a Könisberg. Participa das festa de coroação do novo Rei da Prússia
Friedrich Wilhelm IV (25/08); reside por uns dias em Dantzig (13-17/09). É
nomeado Conselheiro de Estado (08/12).
1845 - Chega a Paris (04/01) havendo passado por Bruxelas onde lhe recebeu o
Rei Leopoldo I; reside em Paris até o dia 19/05; assiste aos cursos de seu
amigo F. Arago. Retorna a Berlim (26/05). Se reúne com Friedrich Wilhelm
IV em Stettin (16/07). E lhe acompanha em sua visita a Copenhague.
Participa, na presença da Rainha Vitória da Inglaterra, da inauguração da
estátua de Beethoven em Bonn (12/08). É eleito Dr. Ph. H. C. pela
Universidade de Tübingen (31/10). Começa a publicação do Cosmos, Ensaio
de uma descrição física do mundo edição alemã, Stuttgart (1845-1862), 5
vol.
1849 - Celebra seus oitenta anos em Tegel, na presença da família real (14/09). É
nomeado Membro de Honra da Royal Irish Academy (30/11).
1850 - A Academia de Berlim celebra os oitenta anos de Humboldt (4/08). Viaja
com o rei a Paretz (15/10).
1852 - Viaja com o Rei da Prússia para visitar a Duquesa Dorotea von Sagan.
Reside em Paretz (10). É condecorado pela Royal Society de Londres e
nomeado membro de honra da Academia Austríaca (31/12).
1854 -Já não participa nos trabalhos do Conselho de Estado. Acompanha o Rei
em nova viagem a Paretz.
1857 - Sofre um ataque de apoplexia (24/02). Apoia com força a lei que declara
livre todo escravo que pise em solo prussiano (24/03). Redige instruções
para a expedição austríaca de Novara ao redor do mundo (07/04).