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DA CIDADE À CASA: Princípios e Elementos de projeto para a promoção da

qualidade urbanística e arquitetônica do espaço em áreas residenciais

Doutoramento em Arquitetura
Teoria e Prática do Projeto – FAUL
Projeto de Arquitetura e Urbanismo – PROPAR - UFRGS

Alessandra Gobbi Santos

Orientação:
Doutor Hugo José Abranches Teixeira Lopes Farias. FAUL
Doutor Edson da Cunha Mahfuz. PROPAR-UFRGS
Doutor Fernando José Carneiro Moreira da Silva. FAUL

Tese especialmente elaborada para a obtenção do grau de doutor

2022
DA CIDADE À CASA: Princípios e Elementos de projeto para a promoção da
qualidade urbanística e arquitetônica do espaço em áreas residenciais

Doutoramento em Arquitetura
Teoria e Prática do Projeto – FAUL
Projeto de Arquitetura e Urbanismo – PROPAR - UFRGS

Júri:
Presidente:
Doutor João Pedro Teixeira de Abreu Costa, Professor Associado com Agregação da
Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa

Vogais:
Doutora Cláudia Piantá Costa Cabral, Professora Titular da Faculdade de Arquitetura da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Doutora Cristiane Rose de Siqueira Duarte, Professora Titular da Faculdade de Arquitetura
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Doutor Edson da Cunha Mahfuz, Professor Titular da Faculdade de Arquitetura da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – orientador
Doutor João Gabriel Viana de Sousa Morais, Professor Catedrático da Faculdade de
Arquitetura da Universidade de Lisboa
Doutor Hugo José Abranches Teixeira Lopes Farias, Professor Associado com Agregação
da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa – orientador
Doutor Luiz Carlos Schneider, Professor Ajdunto do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Santa Cruz do Sul.

Tese especialmente elaborada para a obtenção do grau de doutor


2022
III

À memória do meu Pai.

À minha Mãe, ao meu marido e aos meus Filhos, Bruno, André e Lucas
IV

AGRADECIMENTOS

O desenvolvimento da presente tese de doutoramento não teria sido possível sem o


suporte, apoio e a contribuição de uma lista de pessoas e instituições, às quais eu gostaria
de expressar os meus agradecimentos.
As primeiras palavras de reconhecimento e agradecimento são dirigidas à minha
família. Ao meu marido, Rogério, e aos meus filhos, Bruno, André e Lucas – companheiros
para todas as horas – pelo suporte, carinho, amor e compreensão. Participaram comigo de
toda esta caminhada, muitas vezes abrindo mão de nossos momentos juntos para que eu
pudesse me dedicar inteiramente a esta tese.
À minha mãe, pelo incentivo, encorajamento, ajuda e preocupação ao longo da
realização do curso de doutoramento.
Aos meus orientadores, Professor Hugo José Abranches Teixeira Lopes Farias,
Professor Edson da Cunha Mahfuz e Professor Fernando Moreira da Silva.
Ao professor Hugo, pelo entusiasmo que demonstrou e me transmitiu, desde o início,
pelo tema; pelo apoio e acompanhamento constante – na leitura atenta de cada capítulo da
tese, nos vários encontros de orientação (presenciais e via zoom) –, pelos imensuráveis
ensinamentos, críticas e sugestões ao longo do desenvolvimento da tese.
Ao professor Edson, que aceitou fazer parte da equipe de orientação, viabilizando a
realização do doutorado em regime de cotutela entre a Faculdade de Arquitetura da
Universidade do Rio Grande do Sul e Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa –
bem como por compartilhar, com toda a disposição, seu vasto conhecimento na construção
e no andamento do trabalho.
Ao professor Fernando, que confiou no meu trabalho e que, de um modo dedicado,
conduziu, deu suporte e auxiliou para a concretização da convenção da cotutela entre a
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Rio Grande do Sul e Faculdade de Arquitetura
da Universidade de Lisboa, assim como pela sua inspiração e alegria contagiante.
À Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, instituição que
sempre me apoiou, agradeço aos períodos de dispensas de serviço docente concedidos, que
permitiram assistir às aulas em Pblocos dorto Alegre, no PROPAR - UFRGS, assim como a
permanência de alguns períodos em Lisboa – PT.
A todo o corpo docente do Curso de Doutoramento da Faculdade de Arquitetura da
Universidade de Lisboa, que ministraram excelentes aulas, abordando uma diversidade de
temas. À coordenação do curso de doutorado, inicialmente o professor João Souza Morais
e, atualmente, o professor Hugo Lopes Farias, pelo sempre acolhimento e suporte nas
questões voltadas aos procedimentos administrativos.
À Urbanizadora Paranoazinho, Brasília – DF, pela receptividade e atenção, pela
disponibilização de materiais e pelas entrevistas concedidas. Fatos que me prestaram valiosas
informações sobre o projeto do novo Bairro (Urbitá), propiciando avançar com a investigação.
Agradeço, também, as colegas e amigas arquitetas Bruna Cristina Lermen e Thatiane
Carvalho Rocha, pela colaboração na confecção dos desenhos da tese.
V

RESUMO

Construir cidades e não apenas unidades, priorizando a composição em detrimento do


destaque individual, significa que todos os elementos que formam os ambientes urbanos –
desde a escala da cidade à escala da casa – devem ser integrantes de um todo único e
indivisível. Estabelece-se assim, como desígnio, a obtenção da integridade dos projetos,
entendida como atributo essencial na promoção da qualidade urbanística e arquitetônica do
espaço construído. Nesse sentido, a presente tese de doutoramento tem como objetivo
identificar princípios e elementos de projeto essenciais que promovam a qualidade do
espaço em áreas residenciais. A partir da leitura e análise de ideias e recomendações de
autores de referência, procura-se, através da arquitetura residencial – bairros e conjuntos
habitacionais –, contribuir para a concepção e construção de cidades, bairros e comunidades
íntegras e alicerçadas em princípios da sustentabilidade. Nessa abordagem, realiza-se, numa
primeira parte da tese, um reconhecimento dos princípios e elementos essenciais de projeto,
percorrendo quatro escalas do planejamento: parte-se da escala da cidade, contendo
aspectos relativos à localização e conexões; depois, na escala do bairro, abordam-se tópicos
sobre a subdivisão de setores (distritos de zoneamento) e a malha de quarteirões; na
sequência, na escala do quarteirão, apresentam-se o tipo, configuração e seus usos;
finalmente, à escala do edifício, desenvolve-se a inter-relação entre espaço público, coletivo
e privado. Na segunda parte da tese, com o propósito de validar a relação dos princípios e
elementos essenciais de projeto, realiza-se uma leitura e análise aprofundada de um Estudo
de Caso: o projeto do novo bairro Urbitá, em Brasília – DF, uma iniciativa em curso. O projeto
evidencia-se por ser inovador pelos objetivos que apresenta, na medida em que busca, para
além dos interesses imobiliários, um repensar de modelo urbano propondo um novo
paradigma. Constitui-se num desafio na construção de bairros / comunidades sustentáveis
no Brasil, por apresentar uma indissociabilidade entre arquitetura e urbanismo, por focar no
coletivo, nas relações de vizinhança e na criação de ambientes apropriados à escala humana.
À vista disso, o estudo analisa e avalia o novo bairro, apresentando uma síntese final,
salientando os aspectos mais e menos positivos identificados para cada um dos indicadores
e elementos de projeto. A partir desta análise e avaliação é apresentado um conjunto de
recomendações essenciais que, percorrendo as escalas do habitar – da escala da cidade à
escala da casa –, são eficientes para a promoção da qualidade urbanística e arquitetônica de
projeto para novos bairros residenciais. Tal contribuição tem caráter genérico, constituindo-
se como um conjunto de ‘regras fortes’, isto é, um esqueleto ou estrutura sobre a qual uma
variedade infinita de respostas de projeto – urbanístico e arquitetônico – pode ocorrer.

Palavras-chave: Escalas do habitar; Princípios e elementos de projeto; Qualidade urbanística


e arquitetônica; Bairros residenciais.
VI

ABSTRACT

Building cities, not just units, favoring collective over individual, means all elements that
create the urban environment - from the city scale to the house scale – must be integrated as
an indivisible whole. It is thereby established, as a goal, the achievement of project integrity,
comprehended as a key attribute in the promoting of urban and architectural quality of a
constructed area. In this regard, this doctoral thesis aims to identify essential principles and
design elements that promote spatial quality in residential areas. Starting with the reading
and analysis of ideas and instructions from reference authors, it’s sought through residential
architecture – neighborhoods and housing complexes – to contribute to the conception and
construction of cities, neighborhoods and integrated communities based on sustainability
principles. In this approach, the acknowledgement of design elements and principles is held
in the first part of this thesis, covering four planning scales: starting from the scale of the city,
comprising aspects related to location and connections; then to the neighborhood scale,
approaching topics about subdivision of sectors (zoning districts), city block grids, following
the block scale, in which the type, configuration and location of the blocks and their uses are
introduced; finally, the building scale, focusing on the interrelation between public, collective
and private areas. In the second part of the thesis, with the goal of validating the relation
between principles and essential elements of the design, the reading and thorough review of
a case study takes place: The project Novo Urbitá neighborhood, in Brasilia - DF, an ongoing
initiative. The project stands out for presenting progressive objectives, as it aims beyond real
estate interests, to rethink urban model and to break paradigms. It is a challenge in the
construction of sustainable neighborhoods/communities in Brazil as it presents inseparability
between architecture and urbanism, for being focused on collective, on the relations of
neighborhood and developing of appropriate environments to human scale. In light of that,
the study analyzes and assesses the new neighborhood, putting forth a final synthesis,
highlighting both the least and most positive aspects identified for each indicator and design
elements. Based on this analysis and evaluation a set of essential recommendations is
presented which, going through the scales of dwelling – from the city scale to the house scale
– are efficient to promote urban and architectural quality of a project for new residential
districts. Such contribution has a generic nature, constituting itself as a set “strong rules”, i.
e., a skeleton or structure upon which an infinite variety of design iteration – urbanistic and
architectural – can occur.

Keywords: Scales of dwelling; Principles and design elements; Urbanistic and architectural
quality; Residential Districts.
VII

ÍNDICE GERAL

Resumo I palavras-chave................................................................................................... V

Abstract I Keywords.......................................................................................................... VI

Introdução....................................................................................................................... 020

Tema de investigação.......................................................................................... 020

Justificativa............................................................................................................ 023

Problematização.................................................................................................. 027

Questões de Investigação.................................................................................... 031

Objetivos............................................................................................................. 031

Hipótese............................................................................................................... 032

Metodologia......................................................................................................... 032

Revisão de Literatura................................................................................. 032

Contextualização teórica........................................................................... 037

Recolha de casos de estudo e seleção de um para Estudo de Caso....... 043

Estudo de caso: análise e avalição........................................................... 045

Síntese da análise e avaliação.................................................................. 050

Resultados, interpretações e recomendações.......................................... 050

Estrutura do documento...................................................................................... 052

Parte I

Parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica..................................................... 056

I.1 Cidade: integração urbana............................................................................. 058

I.1.1 Localização....................................................................................... 059

Habitação na área central............................................................. 060

Habitação ao longo dos eixos de transporte................................ 063

Habitação formando novos bairros............................................... 067

I.1.2 Conexões.......................................................................................... 071

Rede viária..................................................................................... 071


VIII

Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias............................... 080

Transporte público coletivo, individual e alternativo..................... 095

I.2 Bairro: conectividade, compacidade e diversidade........................................ 103

I.2.1 Morfologia / tecido urbano.............................................................. 104

Distritos de Zoneamento............................................................... 106

T-Zones e Smart Code.................................................................. 111

Malha de quarteirões..................................................................... 117

I.3 Quarteirão: relação do conjunto com a rua e com a cidade .......................... 122

I.3.1 Parcelas e Edificado.......................................................................... 123

Configurações dos quarteirões..................................................... 124

Localização dos quarteirões.......................................................... 129

Usos especiais: Quais? Onde? Como?.......................................... 133

I.4 Edifício: do público ao privado....................................................................... 146

I.4.1 Acessos............................................................................................. 148

Intervalo / espaço de transição...................................................... 148

Grau de acesso............................................................................. 154

Circulações - horizontais e verticais.............................................. 159

I.4.2 Tipo e Forma dos Edifícios............................................................... 170

Tipo e organização do edifício..................................................... 170

Composição formal dos edifícios................................................. 177

Relação com o solo – pisos térreos.............................................. 193

I.4.3 Espaço entre Edifícios...................................................................... 200

Implantação das edificações......................................................... 201

Espaços de uso comum................................................................ 215

Estacionamento............................................................................ 219

I.5 Princípios e elementos essenciais de projeto para a promoção da

qualidade urbanística e arquitetônica do espaço em áreas residenciais.............. 226

Parte II

Análise e avaliação do Estudo de Caso: Bairro Urbitá, Brasília........................................ 229

II.1 Cidade: integração urbana.............................................................................. 237


IX

II.1.1 Localização........................................................................................ 237

Habitação formando novos bairros................................................ 237

Síntese da análise da Localização...................................................241

II.1.2 Conexões.......................................................................................... 244

Rede viária...................................................................................... 244

Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias................................. 263

Transporte público coletivo, individual e alternativo.................... 271

Síntese da análise das Conexões.................................................. 276

II.2 Bairro: conectividade, compacidade e diversidade....................................... 280

II.2.1 Morfologia e Tecido Urbano........................................................... 280

Distritos de Zoneamento.............................................................. 280

T-Zones e Smart Code.................................................................. 290

Malha de quarteirões.................................................................... 293

Síntese da análise da Morfologia e Tecido Urbano..................... 297

II.3 Quarteirão: relação do conjunto com a rua e com a cidade......................... 301

II.3.1 Parcelas e Edificado........................................................................ 301

Configurações dos quarteirões.................................................... 301

Localização dos quarteirões......................................................... 307

Usos especiais: Quais? Onde? Como?........................................ 307

Síntese da análise da Parcela e Edificado .................................... 326

II.4 Edifício: do público ao privado....................................................................... 331

II.4.1 Acessos........................................................................................... 334

Intervalo / espaço de transição..................................................... 334

Grau de acesso............................................................................. 338

Circulação – horizontal e vertical.................................................. 342

Síntese da análise dos Acessos.................................................... 346

II.4.2 Tipo e Forma dos Edifícios.............................................................. 348

Tipo e organização do edifício..................................................... 348

Composição formal dos edifícios................................................. 352

Relação com o solo – pisos térreos.............................................. 362

Síntese da análise do Tipo e Forma dos Edifícios ....................... 368


X

II.4.3 Espaço entre Edifícios..................................................................... 372

Implantação das edificações........................................................ 372

Espaços de uso comum............................................................... 381

Estacionamento........................................................................... 384

Síntese da análise dos Espaços entre Edifícios............................ 388

II.5 Síntese final da análise e avaliação............................................................... 392

Resultados e interpretações da análise e avaliação do Estudo de

Caso: a contribuição dos técnicos-especialistas............................ 398

II.6 Qualidade urbanística e arquitetônica de projeto para novos bairros:

algumas recomendações essenciais......................................................................400

Considerações finais....................................................................................................... 417

Parte I................................................................................................................... 417

Parte II.................................................................................................................. 419

Referências...................................................................................................................... 434

Fontes dos Quadros....................................................................................................... 444

Bibliografia.................................................................................................................... 463

Apêndice 1..................................................................................................................... 478

Apêndice 2..................................................................................................................... 479

Apêndice 3..................................................................................................................... 480


XI

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 Organograma do processo investigativo......................................................... 051

QUADRO 2 Casarão do Carmo. Héctor Vigliecca. Vinte e cinco unidades habitacionais


propostas na área central em sítio histórico, a partir de uma demanda de
cortiço. São Paulo -SP – Brasil (2003) .............................................................. 062

QUADRO 3 Corredor de sustentabilidade (TOD e TND). Crescimento urbano em


corredores lineares ao longo das rotas de transporte público – Curitiba –
Brasil. Exemplos de empreendimentos residenciais próximo aos eixos e
estações de transporte público coletivo. São Francisco, São Francisco,
Charlotte, Los Angeles, São Francisco............................................................. 066

QUADRO 4 Diagramas: Unidade de Vizinhança (Perry, 1929), Bairro urbano tradicional


(DPZ, 2010) e Bairro para o Urbanismo Sustentável (Farr, 2013). Diagramas
DPZ ilustrando bairros interconectados com centros e bordas definidas.
Exemplo do Bairro Pedra Branca – SC – Brasil.................................................. 070

QUADRO 5 Estratégias de moderação de tráfego (esquerda, direta e duas inferiores,


Boston). Ruas compartilhadas: Exhibition Road, Londres. Stroget,
Copenhague. New Road, Brighton………………………………………………. 075

QUADRO 6 Gateways de transição (acessos demarcados) – Rio de Janeiro, Porto Alegre


e Brasília. Limites, cruzamentos e travessias. Vias principais e ligações entre
os bairros......................................................................................................... 079

QUADRO 7 Zonas da calçada. Frontage zone (faixa de transição e de permanência –


Boston). Faixas de travessias de pedestres e cuidados nas intersecções
(visibilidade). Fachadas ativas e transparência para a conexão visual............... 085

QUADRO 8 Benefícios das árvores de rua (ambiental, social e econômico).


Permeabilidade do solo (pavimentos, canteiros – Boston e grandes vasos –
Londres). Uso consistente de uma espécie de árvore conferindo
personalidades às ruas: Boston........................................................................ 089

QUADRO 9 Sistema de ciclovia eficaz e segura. Rota compartilhada – sharrows.


Estratégia global de transporte – integração entre modais: Copenhague,
Dinamarca. Aluguel de bicicletas (e-bike) para o uso diário: São Francisco,
Baldwin Park – CA, Copenhague, Dinamarca................................................... 094

QUADRO 10 Área de influência da estratégia TOD / DOTS para eixos e estações de


transporte coletivo. Parada interativa mostrando a visão de um inseto –
Victoria ZOO – Canada. Integração, variedade e tecnologia dos modais e
Tags digitais e painéis de informações............................................................ 102

QUADRO 11 Distritos de zoneamento e ligações com as áreas envolventes. Caráter


distinto de cada setor – bairro. Fronteiras/limites entre os bairros e marcação
dos polos de acesso (físicos e sinais visuais): Londres, Londres e
Lisboa.............................................................................................................. 110
XII

QUADRO 12 Zonas de Transect ilustradas através das pinturas de Norman Rockwell.


Modelo transect rural-urbano – CATS. O Transect de Ronda-Itália.
Codificação de elementos de projeto (Smart Code)........................................ 116

QUADRO 13 Espaço urbano tradicional (Paris). Malha de quarteirões (com tamanho


médio, integrados e determinados pelo contexto local). Exemplo do bairro
Pedra Branca – SC – Brasil................................................................................ 121

QUADRO 14 Tipo, modelos e localização dos quarteirões – estudo para Bairro fazenda
Paranoazinho – Brasília.................................................................................... 127

QUADRO 15 Localização dos quarteirões especiais em cada distrito. Edifícios comuns e


excepcionais conformam a praça central (nó de atividade): Lier – Bélgica.
Modelos de quarteirões de usos especiais. Nós de atividades........................ 132

QUADRO 16 Funções básicas do urbanismo por Jaime Lerner. Mixed-use neighbourhood


– Urban Task Force. Zoneamento segregado e zoneamento integrado e
compacto das atividades. Demarcação dos usos cívicos (fechados e abertos)
e dos comércios e serviços – Bairro Pedra Branca – SC – Brasil........................ 145

QUADRO 17 Acessos. Espaços de transição/intervalo. Demarcação da entrada (casa


Schroder – Holanda, 1924; Torre no Olivais Norte – Lisboa, Portugal,1958 e
Conjunto Jardim Edite -São Paulo, Brasil, 2010). Recuos frontais – zonas de
encontro (áreas exteriores frontais) entre a habitação e a calçada (Bloco das
Águas Livres – Lisboa, Portugal, 1953-56 e Conjunto Habitacional Parque
Sibelius – Copenhague, Dinamarca). Linhas de visão entre interior e exterior;
oportunidade de marcar o local onde se vive e atividades ao ar livre (Almere-
Holanda e Conjunto Habitacional Frankfurt-Heddernheim, 1920.).................. 153

QUADRO 18 Organização hierárquica entre espaço público, semipúblico, semiprivado e


privado, segundo Hertzberger, Gehl e Alexander. Níveis legíveis de
circulação (Byker – Newcastle, Inglaterra, 1968). Identificação das unidades
habitacionais. (Tinggarden. Tegnestuen Vandkunsten – Copenhague,
Dinamarca,1977 – 79). Adaptabilidade dos espaços de entrada (Conjunto
Habitacional – Heddernheim, Frankfurt, Alemanha, 1920 e Conjunto Delacy
Court – Castle Donnington, Inglaterra). Intervenções artísticas nos limites
dos espaços de circulação (Conjunto Infante Santo – Lisboa, Portugal, 1952-
55 e Edifício residencial Olivais Sul – Lisboa, Portugal, 1965)........................... 158

QUADRO 19 Nós de recepção. Famílias de entrada. Átrio (ponto focal) e relação entre
espaço público e semipúblico. Núcleos de circulação vertical visíveis desde
o primeiro acesso ao edifício (Torre de apartamentos LSD, Conjunto Infante
Santo – Lisboa, Portugal, 1952-55 e Bloco das Águas Livres – Lisboa,
Portugal, 1953-56). Acesso por elevador localizado na fachada do edifício
(Edifícios do bairro Trinitat – Barcelona, Espanha, 1994).................................. 162

QUADRO 20 Tipos de núcleos de acessos verticais. Relação dos núcleos de acesso


vertical com os espaços de circulação – públicos ou semipúblicos. Conexão
de cada patamar do edifício com o solo (Apartamentos dos carteiros Rue de
l’Ourcq – Paris, França,1994 e Conjunto Heliópolis, gleba G – São Paulo,
Brasil, 2011)..................................................................................................... 165
XIII

QUADRO 21 Contato entre edifícios e a rua (até cinco andares). Espaços de circulação –
espaços de estar e terraços de uso comum (Kassel – Alemanha, 1979-82).
Rua-galeria. Caminho vertical – “rua externa” (Spangen Quarter, Rotterdam,
Holanda, 1921 e Cité Napoléon – Paris, França, 1849)..................................... 169

QUADRO 22 Tipos de edifícios de habitação: edifícios unifamiliares, de acesso privado e


edifícios plurifamiliares, de acesso coletivo. Interação entre exterior e interior
(Donnybrook Quarter – Londres, 2006, Nexus World housing – Japão, 1991
e Conjunto Heliópolis, gleba A – São Paulo, Brasil, 2011) ............................... 173

QUADRO 23 Subtipos de edifícios em galeria (externa e interna). Estabelecimento da


relação com a rua/solo. Galeria separada do edifício, com pontes para as
unidades habitacionais (Edifício habitacional Schwitter – Basileia, 1985).
Galeria exterior em balanço, desnivelada (Bloco das Águas Livres – Lisboa,
Portugal, 1953-56). Galeria exterior em balanço (Nemausus -Nimes, França,
1987)................................................................................................................ 176

QUADRO 24 Tipos de formas – pavilhão, barra e torre. Composição tripartida do edifício.


Edifícios organizados em torre e plataforma (Ciudad discontínua, pero
ordenada – projetos didáticos Hélio Piñon, 2018 e Lever House – Nova
Iorque, 1951)). Exemplo de organização de vários tipos de edifícios – casas
geminadas, sobrados, edifícios de baixa altura, edifícios de grande altura.
(Lafayette Park – Detroit, EUA, 1956)............................................................... 180

QUADRO 25 Relação entre densidade e forma urbana – combinações diferentes de


tipologias – mesma densidade. Articulação dos edifícios no quarteirão,
diferentes tipologias e diversidade de densidades segundo Farr (2013).
Esquinas enfatizadas (Clarendon Center – Virgínia, EUA, 2010 e The Harrison
– Nove Iorque, EUA, 2009)............................................................................... 187

QUADRO 26 Composição da fachada através da proporção geométricas. Efeitos


compositivos através da distribuição das janelas e portas na fachada.
Exemplo de relação entre planta e fachada (Casa Rustici, Milão, Itália, 1935
- Terragni)........................................................................................................ 192

QUADRO 27 Plinths – Esfera Pública. Elementos da fachada de edifícios urbanos.


Orientação vertical e horizontal da fachada. Sucessão de coberturas.
Estratégias de privacidade para edifícios residenciais. Ponto de vista do
projeto: da rua para o edifício e do edifício para a rua..................................... 199

QUADRO 28 Configuração reticular. Cento e oitenta e quatro unidades habitacionais.


(Kasbah – Hengelo, Holanda ,1973)................................................................. 203

QUADRO 29 Complexo de edificações. Espaços externos positivos (convexos) – malha


social efetiva. Seis grupos de 15 unidades habitacionais. (Tinggarden –
Copenhague, Dinamarca, 1977 – 79)............................................................... 207

QUADRO 30 Razão entre a altura do edifício e a largura da rua / espaço aberto. Bisseção
do ângulo de visão em duas partes sensivelmente iguais. Estratégias de
visibilidade entre espaços externos e edifícios. Cones na camada
fotorreceptora dos olhos. Aqui e Além. Praça Stroget Copenhague – espaço
angular. Praça del Campo, em Siena – dimensões na escala humana.............. 211
XIV

QUADRO 31 Articulação dos espaços livres abertos. Lugares externos ensolarados –


Conjunto Cônego Vicente Miguel Marino. Héctor Vigliecca. São Paulo
(2004). Fachada Sul - cascata gradual até o solo e parede reflexiva. Proteção
climática (vento e som)..................................................................................... 214

QUADRO 32 Conformação dos espaços externos. Diversidade de espaços de tempos


livres – espaço de jogos, de estar, espaços que permitam a intervenção dos
habitantes (jardins e hortas). Brittgarden. Ralph Erskine. Tibro - Suécia (1960)
e Conjunto de moradias LiMa. Hermam Hertzberger. Berlin – Alemanha
(1984 – 1986)................................................................................................... 218

QUADRO 33 Integração do tráfego e das atividades nas áreas externas. Espaço


compartilhado entre automóveis e pessoas, com prioridade ao pedestre.
Estratégias para estacionamentos pequenos e camuflados. Parque das
Nações, Lisboa. Plano de Pormenor da autoria dos Arquitetos Duarte Cabral
de Melo e Maria Manuel Godinho de Almeida, 1998....................................... 224

QUADRO 34 Contextualização geográfica: Distrito Federal (DF), Plano Piloto de Brasília e


Fazenda Paranoazinho (acima). Foto aérea da Área de Estudo – uma porção
da Fazenda Paranoazinho, 658,70 ha – (abaixo)............................................... 243

QUADRO 35 Relação e conexões da Área de Estudo com o Plano Piloto – Brasília (acima).
Área de Estudo com marcação do sistema viário estruturante proposto para
o novo bairro (abaixo)...................................................................................... 246

QUADRO 36 Perfis do sistema viário estruturante conforme Gehl Architects (2014) –


acima; e Urbanizadora Paranoazinho (UP) – abaixo.......................................... 250

QUADRO 37 Principais interseções entre o sistema viário do novo bairro e os núcleos


urbanos adjacentes.......................................................................................... 254

QUADRO 38 Vias locais – malha de quarteirões conforme Gehl (à esquerda) e UP (à


direita). Perfis do sistema viário complementar conforme Gehl Architects –
acima – e Urbanizadora Paranoazinho (UP) – abaixo. Possibilidades de
desenhos de praças e vias internas aos quarteirões......................................... 258

QUADRO 39 Sobreposição da área central – rua Curitiba – sobre as imagens dos


precedentes eleitos para servirem de referência. Projeto inicial para a rua
Curitiba – planta e perspectivas....................................................................... 262

QUADRO 40 Modelo de faixas de travessia (pedestres e ciclistas) adotado pela UP.


Estudos para faixas de transição em diferentes zonas do Urbitá. Relação do
edifício com a calcada – pisos térreos e interrupção da calçada – Rua tipo B
– internas ao quarteirão................................................................................... 270

QUADRO 41 Linhas e paradas de transporte público coletivo existente na área de


abrangência (abaixo). Linhas (troncais e alimentadoras) de transporte público
coletivo proposta (acima)................................................................................. 275

QUADRO 42 Particularidades físicas e legais da área. Proposta de zoneamento do ateliê


Gehl Architects. Proposta de zoneamento da Urbanizadora Paranoazinho
(UP). Fronteiras entre setores e funções comuns.............................................. 289
XV

QUADRO 43 Modelo transect rural-urbano – CATS. Corte longitudinal do bairro e


percepção da lógica entre os distritos de zoneamento e as alturas pré-
estabelecidas no PDU (2018) pela UP. Tabela mostrando a relação entre
distritos de zoneamento e alturas.................................................................... 292

QUADRO 44 Fatores geográficos pré-existentes (ambientais e materiais). Malha de


quarteirões proposta pela UP. Tamanho e formato dos quarteirões – Etapa
1. Rede de circulação de pedestres (vias internas e faixas de travessia de
pedestres)........................................................................................................ 296

QUADRO 45 Precedentes: Valência e Barcelona – Espanha. Estudos de volumetria e


definição de um quarteirão típico para bairro, DPZ (2017)............................... 303

QUADRO 46 Lotes coringas (20m de frente) na Etapa 1 e 2 do projeto urbanístico. Cenário


desejado para as quatro primeiras etapas. Critérios para a divisão dos
quarteirões e possibilidade de unificação dos lotes......................................... 306

QUADRO 47 Localização dos quarteirões especiais para usos especiais (ateliê Gehl
Architects). Agrupamento de equipamentos institucionais (ateliê SOM).
Masterplan atual e demarcação da Centralidade, zona parque e dos
equipamentos públicos comunitários para a Etapa 1 – Urbanizadora
Paranoazinho (UP)............................................................................................ 312

QUADRO 48 Rede de espaços públicos abertos – proposta da Urbanizadora Paranoazinho


– UP. Precedente estudado para o parque Oeste: Parque Bryant – Nova York 318

QUADRO 49 Localização do Parque Oeste. Proposta para o Parque Oeste conforme ateliê
Benedito Abbud – SP e DPZ – EUA.................................................................. 319

QUADRO 50 Rede de espaços públicos abertos – proposta da Urbanizadora Paranoazinho


– UP (masterplan e etapas iniciais). Precedente estudado para a praça
Paranoazinho: Piazza Campidoglio, Roma e na Kopenhagen Stroget,
Copenhagen, Dinamarca................................................................................. 322

QUADRO 51 Proposta para a praça Paranoazinho conforme ateliê DPZ – EUA e Benedito
Abbud – SP...................................................................................................... 323

QUADRO 52 Contexto e localização das quatro áreas escolhidas: Ateliê Esquadra – DF e


Zoom – SP (zona A – Central) e Ateliê Ideia 1 – POA e Rua – RJ (zona A –
Centralidade)................................................................................................... 333

QUADRO 53 Tipo e modelo de quarteirões conforme Gehl (2014). Partido volumétrico –


bloco de perímetro, estudo ateliê Esquadra. Acessos e espaços de transição
– proposta ateliê Esquadra – piso térreo.......................................................... 337

QUADRO 54 Graus de acesso – proposta ateliê Esquadra – piso térreo (primeira planta);
e proposta ateliê Zoom – piso térreo (segunda planta). Detalhe – nós de
recepção: ateliê Esquadra e Zoom................................................................... 341

QUADRO 55 Tipologias adotadas pelo ateliê Zoom. Planta tipo ateliê Zoom e relação
entre as circulações verticais e os espaços públicos e/ou semipúblicos.
Primeira proposta para o bloco S2: circulação vertical autonomizada do
XVI

corpo do edifício e segunda proposta para o bloco S2: núcleo de acessos


verticais, incorporado ao edifício, no meio da galeria...................................... 345

QUADRO 56 Tipo e organização dos edifícios: Ateliê Esquadra – DF, Ideia 1 – POA e
Zoom – SP (de baixo para cima)....................................................................... 350

QUADRO 57 Relação entre tipologia dos edifícios e caráter da rua interna – simulação de
espelhamento: ateliê Esquadra – DF (esquerda) e Ideia 1 – POA (direita) –
plantas, cortes e perspectivas. Galeria externa aberta – bloco H, ateliê Ideia
1 – POA............................................................................................................ 351

QUADRO 58 Localização dos quatro meios quarteirões. Tipo e modelo de quarteirões


conforme Gehl (2014). Disposição dos volumes no meio quarteirão e
simulação de espelhamento: volumetria e relação com a esquina – propostas
ateliês: Esquadra- DF, Ideia 1- POA e Zoom – SP (de baixo para cima)............ 357

QUADRO 59 Relação plantas fachada: piso térreo com entradas ao nível da rua; corpo
dos edifícios independentes e associados ao sistema de circulação e
cobertura habitada – proposta ateliê Esquadra- DF......................................... 361

QUADRO 60 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade.
Proposta ateliê Zoom – SP............................................................................... 365

QUADRO 61 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade.
Simulação de um cruzamento conformado por quatro edifícios com o térreo
recuado nas esquinas. Proposta ateliê Esquadra – DF..................................... 366

QUADRO 62 Implantação: Relação com a localização e condicionantes do sítio – ateliê


Zoom (à esquerda) e Esquadra (à direita). Análise de eixos ordenadores –
ateliê Zoom e Esquadra................................................................................... 375

QUADRO 63 Pátios internos – proporção entre largura e comprimento. Razão entre


largura dos espaços externos abertos e as alturas dos edifícios – Proposta
ateliê Zoom – SP.............................................................................................. 379

QUADRO 64 Pátios internos – proporção entre largura e comprimento. Razão entre


larguras de ruas e largura do pátio interno com as alturas dos edifícios.
Proposta ateliê Esquadra................................................................................. 380

QUADRO 65 Espaços de uso comum. Ambientes e atividades – Proposta ateliê Zoom -


SP e Esquadra - DF........................................................................................... 383

QUADRO 66 Garagens subterrâneas – Proposta ateliê Zoom -SP (planta) e Esquadra – DF


(planta e perspectiva mostrando acesso à garagem subterrânea).................... 387

QUADRO 67 Relação entre os princípios e elementos essenciais de projeto eficazes à


promoção da qualidade urbanística e arquitetônica de novos bairros
residenciais...................................................................................................... 402
XVII

LISTA DE TABELAS

TABELA 01 Base teórica e sua relação com as escalas, princípios, indicadores e


elementos de projeto...................................................................................... 057

TABELA 02 Princípios, indicadores e elementos de projeto: Escala da cidade................ 059

TABELA 03 Princípios, indicadores e elementos de projeto: Escala do bairro................. 104

TABELA 04 Princípios, indicadores e elementos de projeto: Escala do quarteirão.......... 123

TABELA 05 Princípios, indicadores e elementos de projeto: Escala do edifício............... 148

TABELA 06 Grelha de análise: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício................. 227

TABELA 07 Grelha avaliativa: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício.................... 393


XVIII

LISTA DE ABREVIATURAS

APP Áreas de Preservação Permanente


ARUP Sustainable Infrastructure Masterplan
AU Arquitetura e Urbanismo
BRT Bus Rapid Transit
CATS Centro de Estudos de Transectos Aplicados
CLD Clustered Land Developmen
CNU Congresso para o Novo Urbanismo
COE Código de Obras e Edificações
CTOD Center for transit-Oriented Development
CTE Centro de Tecnologia de Edificações
DNIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
DOTS Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável
DPZ Duany Plater-Zyberk & Company
EPUC Espaços Privativos de Uso Coletivo
HIS Habitação de Interesse Social
IPTU Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana
ODS Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
POPS Privately Owned Public Spaces
PPS Project for Públic Spaces
RCD Regional Center Development
SEDUH Secretaria do Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação
SESI Serviço Social da Indústria
TND Traditional Neighborhood Development
TO Taxa de Ocupação
TOD Transit Oriented Development
UH Unidade Habitacional
UH/ha Unidades de Habitação por hectare
UP Urbanizadora Paranoazinho
WRI-Brasil Workd Resources Institute – Brasil
19

Introdução
Rue Saint-Honore, Paris (1898)
Camille Pissarro
20

INTRODUÇÃO

Tema de investigação

De acordo com Rossi (2001 [1960], p. 96), a residência é, e sempre foi, um fato urbano

proeminente na composição da cidade. Assim sendo, entende-se que, através de áreas

residenciais bem conformadas1, é possível construir cidades, desde que haja uma estreita

relação de intercâmbio com os demais elementos primários que compõem a sua estrutura

física: as atividades fixas e as circulações.

As atividades fixas, utilizando o termo de Rossi (2001 [1960], p. 124), compreendem o

que é chamado, na presente tese, de instalações comunitárias: funções de utilidade pública

como equipamentos de ensino (escolas e afins), pontos de referência (galerias, museus,

marcos paisagísticos), espaços institucionais e cívicos (edifícios cívicos, universidades,

hospitais) e espaços públicos abertos (parques, praças, jardins de vizinhança, área de lazer e

desporto), além dos equipamentos comerciais e serviços locais – estes menos fixos e de

caráter menos público / coletivo.

Tanto quanto as atividades fixas, a circulação é elemento essencial no

desenvolvimento de um bairro / cidade, uma vez que promove as ligações em conformidade

com a vocação de cada lugar. No presente estudo as circulações são denominadas como

conexões, integrando a rede viária, as calçadas, caminhos de pedestres, ciclovias e transporte

público, coletivo, individual e alternativo.

Nesse enquadramento, da relação entre os elementos urbanos preponderantes,

utiliza-se também, no desenvolvimento da tese, o termo habitar, entendido, equitativamente

à área residencial, como um conceito amplo, o qual transmite a ideia da essencialidade do

elo entre as pessoas e a cidades, através do vínculo direto com a estrutura urbana.

Esse vínculo com a estrutura urbana é aqui enfatizado através do encadeamento entre

os espaços públicos, coletivos e privados dentro de uma composição dinâmica, diversa e

atual. Este encadeamento depende de uma sucessão de quadros do habitar, que constituem

1
Bem conformadas, isto é, bairros / cidades formadas por um conjunto de elementos determinados
que funcionam como núcleo de agregação: as residências, as atividades fixas e a circulação, que são
chamadas por Rossi (2001 [1960], p. 124) de elementos primários, visto que participam da evolução
da cidade no tempo de modo permanente, identificando-se frequentemente com os fatos constituintes
da cidade.
21

uma sequência de cenários de vida: sendo a cidade o primeiro cenário, depois o bairro, a

seguir a vizinhança, depois o edifício e, finalmente, a casa. Trata-se de uma associação de

cenários em que cada um deve conseguir constituir um fundo positivo e ativo onde outro

cenário do habitar, mais “pormenorizado”, pode cumprir, satisfatoriamente, as suas funções

e seus objetivos, nas melhores condições.

Este cumprimento satisfatório, no sentido de conceber um fundo positivo e ativo2 das

escalas do habitar, segundo Coelho (2007, p. 126), é entendido como um catalizador do

“fazer arquitetura”, que é correspondente a “compor lugares”.

Sobre compor lugares através da articulação dos espaços, é pertinente lembrar da

afirmação bastante conhecida de Aldo van Eyck (1962)3 apud Herzberger (2015 [1991], p.

193): “Faça de cada coisa um lugar, faça de cada casa e de cada cidade uma porção de

lugares, pois uma casa é uma cidade em miniatura e uma cidade é uma casa enorme”.

Compor lugares, conforme Norberg-Schulz (1975 e 1976)4 significa concretizar o

genius loci, ou seja, compreender a vocação do lugar a partir das suas dimensões físicas e

simbólicas, as quais derivam de fenômenos naturais, humanos e espirituais. Assim, essa

finalidade existencial de construir arquitetura, seja na dimensão do espaço público, coletivo

ou privado, gera lugares mais humanos em conexão com a natureza e que adquirem

significado e sentido.

No que se refere a lugares mais humanos é pertinente referenciar Alvar Aalto (1950)5,

no texto “A humanização da Arquitetura”, onde expõe que um caminho para humanizar a

arquitetura é propor um alargamento dos métodos racionais, no que tange à adição e

combinação de milhares de funções humanas determinadas, e que possa abranger até o

campo psicofisiológico, e destaca: “[...] a arquitetura, não é uma ciência. É ainda, o mesmo

2
Raquel Barros, “Habitação Coletiva: a inclusão de conceitos humanizadores no processo de projeto”.
Tese de Doutorado, São Paulo, 2008, p.85. Para a autora, os espaços positivos e ativos significam a
configuração de espaços adversos à setorização excessiva de usos, à segregação social e à dificuldade
de locomoção. Referem-se à percepção de um sentido de lugar em sintonia com o entorno, a partir
da conformação e articulação dos espaços externos, das funções psicológicas de orientação e
identificação.
3
Expressões semelhantes relativas às “cidades como as casas” aparecem também por meio de outros
autores, como: Alberti “a cidade é [...] uma casa em ponto grande”; Vilanova Artigas “A cidade é uma
casa. A casa é uma cidade”.
4
SCHULZ, Norberg, Espaço, Existência e Arquitetura (1975) e em Genius Loci, Towards a
Phenomenology of Architecture (1976).
5
Texto publicado em 1950 na Revista Arquitectura, Lisboa.
22

grande processo de síntese, das combinações de milhares de funções humanas

determinadas, e continua a ser ...arquitetura”. (AALTO, 1950, p. 07).

Nesse âmbito, a conexão da vivência humana com o ambiente construído e da

integração entre a casa e a cidade, numa ação recíproca entre os conceitos de público e de

privado (em especial de seus limiares), pode ser entendida como “casas que atingem um

significado social”, conforme afirma Coelho (2007, p. 36).

São aquelas que, para além de ser um bom abrigo, acolhem e estimulam o mundo

pessoal e o mundo familiar de cada um; mais ainda, casas que abrigam e estimulam, com

toda a naturalidade, o mundo vicinal e o mundo cívico, que também em nós habitam, das

formas mais diversas; e aqui recordamos que a cidade é uma casa grande e que a casa que

é uma pequena cidade.

Este conceito, das “casas que atingem um significado social”, é equiparado aos

princípios de sustentabilidade – frequentemente buscados na atualidade. É um conceito

imprescindível para o desenvolvimento de lugares mais humanizados e saudáveis que

atendam aos diversos interesses, necessidades e aspirações das comunidades envolvidas.

Sobre sustentabilidade é pertinente citar a UN-HABITAT6, que adotou, em 2015, os

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como parte de uma nova agenda de

desenvolvimento sustentável – Agenda 2030. São 17 objetivos com metas específicas a serem

alcançadas até 2030, e o objetivo número 11 diz respeito às cidades e comunidades

sustentáveis.

Nesse âmbito, das cidades e comunidades sustentáveis, a meta – até 2030 – é tornar

as cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis. Alerta ainda o documento sobre a

importância da “boa densidade” e das cidades compactas, uma vez que, quanto mais se

espalharem as populações, maior será a necessidade de consumir recursos.

Assim, nessa perspectiva da “boa densidade”, estas novas comunidades necessitam

satisfazer os critérios de desenvolvimento de unidades de vizinhança e bairros urbanos

sustentáveis, garantir a qualidade da vida nos espaços públicos, a menor dependência do

automóvel, o acesso ao trabalho, à escola e aos espaços de lazer através de deslocamentos

6
UN-HABITAT: Programa de Assentamentos Humanos das Nações Unidas. É determinado pela
Assembleia Geral da ONU para promover cidades socialmente e ambientalmente sustentáveis com o
objetivo de fornecer abrigo adequado para todos.
23

a pé, o acesso ao transporte coletivo público, a diversidade de distritos, de quarteirões, de

tipologias de construções, de unidades habitacionais, de usos, incluindo instalações

comerciais e comunitárias locais, onde o objetivo seja sempre criar lugares, e que a escala

humana esteja no centro de todas as decisões.

Nesse cenário, priorizar a integração – DA CIDADE À CASA, entendendo que habitar

possui uma dimensão múltipla de concatenamento entre espaços privados, coletivos e

públicos é fundamental para a qualidade do espaço em áreas residenciais. Propicia condições

para o desenvolvimento das potencialidades de cada uma das escalas (da maior para a menor

– desde a rua aos espaços comuns dos edifícios e aos espaços domésticos) viabilizando o

verdadeiro e amplo exercício do habitar.

Justificativa

Segundo Frampton (in Nesbitt et al., 2013 p. 22), no texto “Objeções ao Movimento

Moderno na Arquitetura”, em meados dos anos 1960 a crítica pós-moderna presente em

livros e artigos emblemáticos7 enfatiza a arquitetura moderna degradada e banalizada8 e

preconiza a importância de ligar mais as cidades às pessoas, de levar em conta e aplicar a

história da arquitetura no projeto contemporâneo a dar atenção ao contexto, à cultura e ao

significado.

Segundo Ortegosa (2009), desde os anos 1960, o tema da memória, da cultura e do

significado vem merecendo destaque cada vez maior nos estudos sobre a cidade, numa

perspectiva de abordagem que se contrapõe ao pensamento e prática do Movimento

7
Livros e artigos emblemáticos que tratam da crise pós-moderna – críticas ao modernismo e novas
propostas e categorias de analise e atuação sobre a forma urbana: Arquitetura da cidade – Aldo Rossi
(1966); Complexidade e contradições em arquitetura – Robert Venturi (1966); The Death and Life of
Great American Cities – Jane Jacobs (1961); A Imagem da Cidade – Kevin Lynch (1960); Intentions in
architecture – Cristhian Norberg-Schulz (1962); Notes on the Synthesis of form – Christopher Alexander
(1964) e Pattern Language (1977); Collage City – Colin Rowe e Fred Koetter (1978); Paisagem Urbana
– Gordon Cullen (1971); História crítica da arquitetura moderna – Kenneth Frampton (1980)
8
Críticas oriundas da adoção do receituário urbanístico da Carta de Atenas, principalmente pela
separação das atividades urbanas, pela combinação de baixa densidade com verticalização, pelas
errôneas intervenções em centros históricos, pelos problemas de conforto ambientais apresentados
por edifícios que eram modernos apenas na aparência, mas não na sua concepção.
24

Moderno Internacional, especialmente no que se refere ao desfasamento e desadequação

em relação às características históricas, geográficas e culturais que dão identidade ao lugar.

Para a autora, essa contraposição à concepção modernista de cidade começa a ganhar

espaço na Europa e Estados Unidos a partir dos anos 1950, com uma série de propostas

baseadas numa visão crítica sobre a paisagem funcionalista e os espaços desérticos

resultantes da estandardização na sociedade de massas, numa perspectiva de revalorização

dos elementos vernaculares e tradicionais da cidade.

A primeira tendência importante, no sentido da crítica à supremacia da corporação

modernista e de resgatar os antecedentes históricos, foi a publicação de Complexidade e

contradições em arquitetura (1966). Neste livro, Venturi expõe sobre o rompimento, por parte

dos arquitetos modernos ortodoxos, com a tradição e a idealização do primitivo e do

elementar às custas do multiforme e do refinado.

Segundo Schumacher, no texto “Contextualismo: Ideais Urbanos e Deformações”, (in

Nesbitt et al., 2013, p. 324)9, as teorias modernas do urbanismo e suas aplicações tenderam

a desvalorizar a cidade tradicional uma vez que, por um lado, é respeitada e admirada a graça

sedutora e a escala humana da pitoresca cidade medieval, mas, ao mesmo tempo, é

destruído, em nome do progresso, o pouco de urbanismo tradicional que ainda temos,

através da obsolescência econômica que passa por cima de todos os demais critérios – se

um edifício não compensa mais os custos, é abandonado.

O autor acrescenta, ainda, que os projetos de renovação que envolvem demolições

em massa criam um fosso entre o novo e o que existe, impedindo um e outro de proporcionar

um meio ambiente de alguma qualidade, sendo que o preço da terra e as necessidades

econômicas de juntar pessoas em grandes aglomerados urbanos limitam muito a flexibilidade

da cidade capitalista. As pressões econômicas e as preferências dos arquitetos induzem à

padronização da habitação em pacotes infinitamente repetitivos, mais preocupados com o

lucro do que com a necessidade. Consequência disso são as estruturas urbanas que não se

relacionam nem com o ser humano nem com a vizinhança, cuja vida elas interrompem.

9
[Contextualism: Urban Ideals and Deformations, publicado em Casabella n. 359-60, 1971, pp. 79-86].
Schumacher fez parte do grupo de investigadores de Colin Rowe sobre os problemas da construção
no contexto da cidade.
25

Exemplos deste cenário na atualidade, principalmente em cidades norte-americanas

e, a partir dos anos 1970, também no Brasil, são as edgecities, os shopping-centers,

hipermercados, parques empresariais, os condomínios fechados e os conjuntos habitacionais

isolados, fragmentando e negando a cidade existente.

Nas cidades brasileiras – em especial as de maior porte –, é comum encontrarmos

condomínios fechados abastados, distantes do centro das cidades que apresentam

“qualidade do habitar”. Nada mais falso: são construções com muros e cercas que se isolam,

ao invés de se abrir para a cidade; produzem uma malha urbana segmentada e pouco fluida,

onde os moradores são remetidos a um exilio forçado em sua própria cidade, dependendo

do automóvel individual para mobilizar-se, e, em alguns casos, ficam também imobilizados,

tais os congestionamentos provocados pela deficiência das conexões.

Este modelo de crescimento urbano no Brasil – chamado pela WRI Brasil10 de modelo

3D: distante, disperso e desconectado, foi e é, atualmente, reproduzido nos

empreendimentos econômicos – em grandes conjuntos habitacionais – onde vê-se que a

grande monta de produção habitacional no país (entre os anos 1950 e os 1980) deu-se sob

uma política urbana dispersa, abstraindo-se a complexidade e a diversidade.

Conforme Rubano apud Vigliecca, 2014, 07) “[...] foi reduzido ao mínimo necessário,

não das teses da modernidade, mas da lógica do capital e do setor da construção civil – com

o apoio do estado”. Com a expressão “foi reduzido ao mínimo necessário”, a autora refere

que, mesmo quando o tema do habitar ganhou proporções reconhecidas, com a inclusão de

tipologias de edifícios coletivos, foi traduzido a partir das lógicas dos núcleos habitacionais

isolados (com casas unifamiliares no lote), segmentados, negando, aos seus moradores, o

direito à cidade.

Esta insuficiência ou inconsistência na formulação de lugares é entendida como a falta

de integridade11 entre o que é a CASA e sua relação com a CIDADE. Esta carência, de acordo

10
WRI Brasil, Guia: Guia para inclusão do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável
(DOTS) no planejamento urbano – WRI-Brasil (2018).
11
Integridade aqui entendida como tendo relação com ser íntegro, inteiro ou completo e que além
disso, deve ser sincero e verdadeiro, percebendo que a “boa arquitetura” e o “bom urbanismo”
podem intensificar o bem-estar de uma sociedade. Segundo Wright (1954), p. 28 apud Tagliari (2011,
p. 57), todos os elementos que formam os ambientes devem ser considerados parte integrantes de
um todo único e indivisível.
26

com Mies van der Rohe (1923) 12 invalida a “arte de construir”, entendida como a forma de

construir, que ultrapassa a mera construção pois é aquele construir que guarda em si o

sentido da cultura (da arte) de um povo.

Convergindo com o pensamento de Mies, Pallasmaa (2011 [1996] p. 67)13, escreve

sobre a função da arquitetura e reconhece que arquitetura é a arte de nos reconciliar com o

mundo, e esta mediação se dá por meio dos sentidos.

[...] assim como o ser humano, a integridade é a mais profunda qualidade de


uma edificação... Se tivermos sucesso, teremos prestado um grande serviço
à nossa natureza moral – a psique – de nossa sociedade democrática...
Defenda a integridade de sua edificação como você defende a integridade
não apenas na vida daqueles que a fizeram, mas, em termos sociais, pois uma
relação recíproca é inevitável. (WRIGHT, 1954, apud PALLASMAA, 2011, p.
68)14”.

De acordo com Pallasmaa, esta declaração enfática de Wright é ainda mais urgente

nos dias de hoje do que quando foi escrita, há mais de 60 anos. Esta visão exige um

entendimento total da condição humana: uma arquitetura que permite cumprir a finalidade

existencial de construir arquitetura onde estejam presentes os sentimentos de lugares vivos

e amados pelos seus habitantes, isto é, lugares com significado, sentido e identidade, através

dos meios e com a marca do seu tempo.

Diante do exposto, justifica-se a proposta de investigação, na medida em que se

procura encontrar um ponto de equilíbrio, afastando-se do extremo da falta de preocupação

para com as pessoas, objetivando-se identificar quais são princípios e elementos de projeto

que promovam a qualidade do espaço em áreas residenciais, sem descurar da importância

do mundo capitalista atual, visando proporcionar a integridade dos projetos – DA CIDADE À

CASA – que legitimam o interesse da proposta de estudo.

12
Texto publicado em Berlim, por Mies van der Rohe, 1923: “o ato de construir”, aqui fazendo
referência à Baukunst (“a arte de construir”), no sentido germânico, profundo, original, expressivo e
cultural, que deve ser entendido como a forma de construir que ultrapassa a “mera construção”, pois
é aquele construir que guarda em si o sentido profundo da cultura (da arte) de um povo”. (RAMOS,
2013).
13
Livro: Os olhos da pele: arquitetura dos sentidos – Parte II – A função da arquitetura.
14
Declaração de Frank Lloyd Wright sobre a missão da arquitetura há 60 anos.
27

Problematização

[...] somos cada vez mais citadinos, cada vez mais somos e seremos
habitantes de cidades; tudo bem, ou tudo menos bem, quando neste último
caso vivemos mal, portanto, com má qualidade na cidade, em más condições
habitacionais específicas e virando as costas ao que pode ser e é a qualidade
do viver citadino. (COELHO, 2007, p. 359).

[...] construímos conjuntos habitacionais de baixa renda que se tornaram


núcleos de delinquência, vandalismo e desesperança social generalizada,
piores do que os cortiços que pretendiam substituir; conjunto habitacionais
de renda média que são verdadeiros monumentos à monotonia e à
padronização, fechados a qualquer tipo de vivacidade da vida urbana;
conjuntos habitacionais de luxo que atenuam sua vacuidade, ou tentam
atenuá-la, com uma vulgaridade insípida; centros culturais incapazes de
comportar uma boa livraria; centros cívicos evitados por todos, exceto
desocupados, que têm menos opção de lazer do que outras pessoas; centros
comerciais que são fracas imitações das lojas de rede suburbanas
padronizadas; passeios públicos que vão do nada a lugar nenhum e nos quais
não há gente passeando; vias expressas que evisceram as grandes cidades.
Isso não é reurbanizar as cidades, é saqueá-las. (JACOBS, 2011 [1961], p. 15).

Na perspectiva das citações de entrada, de António Baptista Coelho e Jane Jacobs,

são ilustrados desafios urbanos que dizem respeito, não somente aos aspetos demográficos,

mas, e principalmente, à pseudociência15 do planejamento urbano e à arte do desenho

urbano que, em muitos casos, inclusive na atualidade, ainda não se afastaram do conforto

ilusório das vontades, das superstições conhecidas, do simplismo e dos símbolos. Por

conforto ilusório das vontades, das superstições conhecidas, do simplismo e dos símbolos,

entende-se um planejamento urbano ortodoxo. Um planejamento convencional que visualiza

os problemas da cidade com simplicidade elementar tanto na sua análise, como no seu

tratamento, desconsiderando que as cidades reais não são de fato assim.

15
Pseudociência: Expressão utilizada por Jane Jacobs (2011 [1961]) quando expõe sobre teorias da
cidade pouco complexas e que não tratam da difícil atividade de reunir, usar e comprovar descrições
verdadeiras da realidade. Em oposição a isso, a autora propõe a decifrar o que ocorre no
comportamento, aparentemente misterioso e indomável das cidades, por meio da observação das
cenas e dos acontecimentos mais comuns e, através disso, tentar entender o que significam e ver se
surgem explicações entre eles.
28

Tais fatores, sobretudo em cidades em desenvolvimento, ainda nos dias atuais têm

ofuscado16 o ofício dos urbanistas que, em grande parte, ainda não se lançaram na aventura

de investigar o mundo real: perceber a importância de conhecer o funcionamento das

cidades (da natureza peculiar das cidades) – desde o uso dos bairros, dos parques de

vizinhança, até ao uso da calçada e suas relações com os edifícios.

Esta compreensão necessita ser completa no sentido de perceber quais são as

situações que geram lugares inclusivos, seguros, saudáveis, resilientes, vivos e diversificados

e, para este último item, entender quais as condições que criam combinações de usos

economicamente eficazes.

Somadas a isso, incluem-se a dimensão humana, a necessidade de uma maior

sensibilidade dos arquitetos e urbanistas para com as matérias do campo humano, no âmbito

material e afetivo. Por vezes, parecem estar mais atentos e preocupados com o resultado

plástico e financeiro das intervenções a preocupar-se com a integridade.

E, nessa matéria, pode-se dizer, ainda, embora não seja o ponto central do presente

trabalho, sobre a contradição existente na forma como a maioria das pessoas se dispõe a

enfrentar seu cotidiano, vivendo em qualquer “gaveta” habitacional17, sem qualquer sentido

urbano e paisagístico, enquanto, a fim de compensar o ‘sofrimento’ vivenciado e, muitas

vezes, não percebido, sonham com ‘oásis’ residenciais em momentos de férias.

Nessa perspectiva, portanto, cabe a reflexão de que fazer espaços de habitar

arquitetonicamente bem qualificados e marcados por um caráter humanizado, atraente e

único, não é tão oneroso como o valor que se paga pela arquitetura de baixa qualidade;

apenas exige maior dedicação do profissional arquiteto, pois precisará alargar seu

conhecimento, exigindo-se mais horas de trabalho para uma melhor realização de projetos

que respeitem o lugar sob a ótica da identidade e significado social e humano.

Segundo alguns autores, seriamente preocupados com a renovação e com a

construção de cidades, como Jacobs (2011 [1961]); Lefevbre (2012 [1968]); Duany et al.

(2000); Speck (2012); Gehl (2013); Coelho (2007) e Karssenberg (2015), os estudos da

16
Ofuscado em dois sentidos: no sentido da falta de entendimento, por parte dos projetistas, das
necessidades da cidade real; e no sentido do capitalismo, das pressões económicas, interesses
políticos e distribuição desigual da riqueza.
17
A noção de “gaveta” habitacional integra o título de um artigo de Isabel Guerra, “As pessoas não
são Coisas que se ponham em Gavetas”. (Revista Sociedade e Território nº 20, 1994).
29

dimensão humana, do verdadeiro conceito de habitar18, da qualificação dos espaços públicos

e suas relações com a sociedade civil, na percepção da saúde (vida ou morte) das cidades,

são tópicos que, há décadas, vêm sendo tratados de forma superficial, principalmente nos

países em desenvolvimento, e a consequência disso é, a cada ano, condições de vida menos

dignas.

Frampton (in Nesbitt et al., 2013, p. 476), no texto “Uma leitura de Heidegger”, chama

a atenção para quatro condições contemporâneas que diminuem a contribuição da

arquitetura para o habitar. A primeira, a impossibilidade de distinguir entre arquitetura e

construção; a segunda, a aceitação passiva da construção industrializada em detrimento de

todo apelo ao artesanato; a terceira é a busca de uma prática autônoma, que se opõe à

produção do lugar; e a quarta é a perda de contato com a natureza, que se evidencia na

efetiva, persistente e implacável destruição dos recursos naturais pela tecnologia, reduzindo

a possibilidade de uma vida plenamente satisfatória.

O referido autor afirma que, atualmente, os arquitetos parecem ser incapazes de criar

lugares, “[...] uma incapacidade que prevalece em nossas escolas de arquitetura e nos

monumentos de elite, assim como na ‘motopia’19 em geral. Hoje, o lugar parece inimigo do

paradigma mental que recebemos, não só como arquitetos, mas também como uma

coletividade”. (FRAMPTON in Nesbitt et al., 2013, p. 477).

A problemática urbana e do habitar até aqui descrita foca-se mais na atuação dos

arquitetos e urbanistas. Entretanto, existem outras variáveis, de ordem social, econômica e

política, que têm, na mesma importância, e em muitos casos, a responsabilidade por um

cenário do território urbano segregado, desigual e insustentável.

Nestes muitos casos, encaixam-se a maioria das cidades brasileiras onde,

apresentando as marcas de sua ocupação – que são o resultado de dinâmicas históricas e

sociais, coletivas, que envolvem grande número de agentes, e têm como um de seus pontos

cruciais a questão fundiária –, tem-se, continuamente, um acesso à terra controlado pelos

segmentos dominantes e dificultado aos grupos sociais mais vulneráveis.

18
Lembrando que se entende o habitar como uma dimensão múltipla do concatenamento entre
espaços privados, coletivos e públicos.
19
Termo utilizado por Frampton (in Nesbitt et al., 2013, p. 474), que tem origem na palavra motopic,
que vem de ‘motopia’, isto é, projetos urbanísticos e arquitetônicos voltados a construir uma cidade
baseada no predomínio do automóvel particular.
30

No Brasil, o Plano Diretor (sob a luz do Estatuto das Cidades) é o principal instrumento

de implementação de políticas de desenvolvimento e expansão urbana municipal. Desde

2001 – completando 20 anos – o Estatuto das Cidades – Lei 10.257/2001 –, estabeleceu o

“direito à cidade sustentável”, elencando princípios e diretrizes com o objetivo de construir

territórios que promovam, ao mesmo tempo, justiça social, desenvolvimento econômico e

preservação do meio ambiente.

No entanto, questões relativas à cidade e à realidade urbana não são ainda

plenamente conhecidas e reconhecidas e, até o momento, não adquiriram politicamente

importância e sentido. Há uma falta de consciência da necessidade de urbanização mais

cuidadosa, para o bem das gerações futuras e, da forma como vem sendo a expansão urbana

brasileira, parece continuar a produzir-se o oposto de cidades sustentáveis, não só nas

periferias pobres, mas também nos novos bairros para as classes médias e altas – o pseudo

direito à cidade20.

Necessita-se, portanto, aprimorar a cultura do urbanismo ou, até mesmo – para alguns

segmentos –, uma mudança de paradigma que retifique o modelo de produzir cidades que,

desde o período moderno têm gerado um crescimento inadequado21, e colocar em ênfase

uma “nova cultura do urbanismo”, a exemplo do trabalho de Carlos Nelson Ferreira dos

Santos, através do seu livro “Quando a rua vira casa “(1985).

Neste livro, o autor versa sobre um estudo para o bairro Catumbi no Rio de Janeiro,

sob a ótica de que “[...] tudo deve ser pensado na escala conveniente, a do bairro, a da rua,

a do quarteirão, a da casa, a da gente de verdade, praticando, a nível material e simbólico,

as suas possibilidades efetivas de vida cotidiana” (SANTOS, 1985, p. 07).

Nesse contexto, percebe-se que a problematização da investigação se concentra na

carência da integridade dos projetos – da escala da cidade à escala da casa, sob a ótica da

identidade e significado social e humano, num contexto contemporâneo global.

20
O errôneo direito à cidade, isto é, quando são construídos conjuntos residenciais isolados,
monofuncionais, distantes dos equipamentos e do trabalho, desprovidos de transporte público
coletivo gerando excessivas dependências do automóvel particular.
21
O crescimento inadequado das cidades brasileiras pode verificar-se, por exemplo, na implantação
de moradias localizadas em bairros distantes da área central e da oferta de empregos. No dia-a-dia da
cidade, o fluxo casa – trabalho – casa obrigou a construção de avenidas expressas, viadutos, ou seja,
toda uma infraestrutura que facilitasse o transporte com a rapidez demandada pelas tarefas diárias.
(Elisabete França, “Habitação social na área central da cidade de São Paulo”. AU no282, 2017:56-59).
31

Questões de Investigação

Considerando o tema da tese – habitar: DA CIDADE À CASA – a justificativa e a

problematização, que se estruturam em torno do nexo entre a carência da integridade dos

projetos e a qualidade do espaço em áreas residências, consideram-se as seguintes questões

de investigação:

Questão principal: Quais são os princípios e elementos essenciais de projeto para a

promoção da qualidade do espaço em áreas residenciais?

A partir desta questão inicial, outros questionamentos, mais específicos, foram

estabelecidos:

• Quais são os principais vetores na construção de bairros e comunidades mais sustentáveis?

• Que princípios de projeto auxiliam no estabelecimento de um arranjo positivo entre as

escalas do habitar (espaços públicos, coletivos e privados)?

• Quais as características da arquitetura que geram a construção de lugares indentitário,

relacionais e com significado social e humano?

• Quais são os elementos e critérios de projeto vitalizadores do bairro / da cidade? O que são

lugares vivos?

Objetivos

O presente trabalho de investigação tem como objetivo principal identificar princípios

e elementos essenciais de projeto que promovam a qualidade do espaço em áreas

residenciais.

Para contribuir para a efetivação do objetivo principal desta pesquisa e para dar

respostas às questões de investigação, definem-se os seguintes objetivos secundários:

• Reconhecer os principais vetores que favorecem a construção de bairros e comunidades

mais sustentáveis.

• Perceber princípios de projeto que contribuem para a integridade dos projetos, através da

correlação da cadeia de quadros do habitar (espaço privado, coletivo e público).

• Verificar as características da arquitetura que contribuem para a construção de lugares que

sejam capazes de adquirir significado e sentido – lugares com identidade.


32

• Averiguar os elementos e critérios de projeto vitalizadores do espaço que poderão auxiliar

para o desenvolvimento de uma arquitetura que intensifique a vida urbana, promovendo

lugares vivos, diversificados e seguros.

Hipótese

A presente Tese de Doutoramento propõe, como hipótese principal, que é possível

definir um conjunto de princípios e elementos de projeto que, percorrendo as escalas do

habitar – da escala da cidade à escala da casa – podem contribuir de forma determinante

para a promoção da qualidade do espaço urbano e arquitetônico em áreas residenciais.

Também sugere que a integridade dos projetos, entendida como tendo relação com

ser íntegro, inteiro ou completo – da escala da cidade à escala da casa – pode contribuir

precisamente para a promoção da qualidade urbanística e arquitetônico em áreas

residenciais.

Metodologia

A investigação apoiou-se em diferentes fontes, leituras e materiais. Em uma primeira

etapa, procedeu-se a uma compilação e seleção de informações bibliográficas em bibliotecas

públicas, designadamente, na biblioteca da Faculdade de Arquitetura da Universidade de

Lisboa e na biblioteca da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Rio Grande do Sul.

Este trabalho de Revisão da Literatura foi realizado sobre o tema e objetivo geral da

investigação e converteu-se, no âmbito da tese, na primeira parte, denominada: Parte I:

Parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica.

Revisão de Literatura

Com o objetivo de identificar os princípios e os elementos essenciais de projeto para a

promoção da qualidade do espaço em áreas residenciais – objetivo geral da investigação –,

realizou-se uma revisão de literatura – uma pesquisa da base teórica bibliográfica – a fim de

construir uma síntese das ideias dos autores considerados essenciais na fundamentação

teórica pertinente ao tema de investigação, Habitar: da cidade à casa.


33

O estudo desenvolveu-se a partir da seleção de autores e obras em consonância com

as premissas relativas à construção do novo bairro: um novo polo de crescimento inteligente

– um bairro compacto, completo, conectado e concatenado – que assegure a

sustentabilidade, a integridade, a identidade e a vitalidade. A seleção contém desde obras

clássicas até obras mais contemporâneas, conforme uma breve descrição (por ordem

cronológica) dos principais autores e suas obras que se apresenta em seguida.

Esses autores e obras, considerados indispensáveis na construção dos parâmetros de

qualidade urbanística e arquitetônica, são os mais citados na tese (ver Tabela 01: Base teórica

e sua relação com as escalas, princípios, indicadores e elementos de projeto), sendo eles:

• Alexander (2013 [1977]) – Uma linguagem de Padrões: Utilizou-se esta obra como referência

para a construção de parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica do projeto, desde

a escala da cidade até a escala do edifício. Uma linguagem de Padrões contribuiu

fundamentalmente nas reflexões de fatores do projeto arquitetônico e da relação entre

ambiente construído e comportamento humano, desde a escala urbana até a arquitetura (a

escala do edifício). Os patterns apresentados nesta obra incorporam um profundo conteúdo

humanizador, derivado da observação de atributos espaciais de lugares bem sucedidos e

demonstram uma conexão direta com a vivência humana no ambiente construído.

• Duany et al. (2000) – Suburban nation: the rise of sprawl and the decline of the American

dream: Utilizou-se esta obra como referência para a construção de parâmetros de qualidade

urbanística e arquitetônica do projeto, com mais ênfase nas escalas da cidade, bairro e

quarteirão, e com menor grau na escala do edifício. É uma das obras com maior relevância e

sucesso do grupo DPZ (Andrés Duany, Elizabeth Plater-Zyberk e Jeff Speck). Traz na sua

essência uma análise inovadora dos efeitos ecológicos prejudiciais e dos custos sociais dos

padrões e políticas de assentamentos baseados no automóvel do final do século XX. Alguns

capítulos do livro estabelecem, com clareza, elementos do Novo Urbanismo e descrevem as

qualidades de um bairro tradicional (apresentadas como um checklist do desenvolvimento

de unidades de vizinhança tradicionais evidenciando a escala de vizinhança que pode ser

percorrida a pé), para serem utilizados pelos projetistas em suas práticas de desenvolvimento

de uma nova cidade e/ou bairro.

• Gehl (2006) – La humanización del espacio urbano: la vida social entre los edifícios: Utilizou-

se esta obra como referência para a construção de parâmetros de qualidade urbanística e


34

arquitetônica do projeto, desde a escala da cidade até a escala do edifício. La humanización

del espacio urbano: la vida social entre los edifícios auxiliou nos estudos e reflexões sobre a

qualidade urbana e o uso do automóvel; sobre a inconveniência de edifícios residenciais

altos; sobre o que torna uma rua atraente para caminhar; sobre como devem ser os espaços

públicos numa cidade saudável e que a cidade deve ter características que promovam o

contato uns com os outros. A obra explora as necessidades que nós, humanos, temos, além

da sobrevivência e propõe uma maneira melhor de viver, uma maneira de viver mais feliz.

Este livro é uma mensagem para os arquitetos e lembra que seu propósito não é ganhar

prêmios, mas aprimorar o ser humano. Na cidade bem projetada, a estrela é o cidadão

comum e não o arquiteto brilhante.

• Gehl (2013) – Cidade para pessoas: Utilizou-se esta obra como referência para a construção

de parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica do projeto, desde a escala da cidade

até a escala do edifício. Este livro contribuiu na compreensão de como usamos os espaços

públicos, oferece um rol de ferramentas para melhorar o desenho dos espaços públicos e,

em consequência, a qualidade de vida nas cidades. Traz o tema da cidade compacta como

uma forma de cidade ambientalmente sustentável, se bem relacionada à quantidade e à

qualidade de espaços públicos agradáveis, bem planejados e na escala do homem. Nesse

contexto, Gehl apresenta relações entre os espaços públicos e a sociedade civil e de como

os dois estão inextrincavelmente entrelaçados. Foca naquilo que a cidade tem de mais

importante: sua dimensão humana, as oportunidades de encontro que ocorrem nos espaços

de vivência das relações cotidianas, e como esses territórios precisam ser estruturados para

que essa dimensão não se perca.

• Carmona (2010 [2003]) – Public Places - Urban Spaces: the dimensions of urban design:

Utilizou-se esta obra como referência para a construção de parâmetros de qualidade

urbanística e arquitetônica do projeto, com mais ênfase nas escalas do bairro e do quarteirão,

e com menor grau na escala da cidade e do edifício. Esta obra enriqueceu os estudos dos

princípios da teoria prática do desenho urbano como uma parte importante dos processos

de desenvolvimento, renovação, gestão, planejamento e conservação urbana, em especial

no que se refere à sustentabilidade, vista como fator impulsionador nos projetos de novos

bairros. Fornece uma exposição das diferentes, mas intimamente relacionadas dimensões do

desenho urbano: dimensão social, visual, funcional, temporal, morfológica e perceptual. O


35

cerne desta obra é a preocupação em criar lugares para as pessoas, considerando o desenho

urbano uma atividade ética: primeiro, em um sentido axiológico (porque está intimamente

preocupado com questões de valores); e, em segundo, porque está – ou deveria estar –

preocupado com valores particulares como justiça social e equidade.

• Coelho, A. B. e Pedro, J. B. (2013) – Do bairro e da vizinhança à habitação: tipologias e

caracterização dos níveis físicos residenciais: Utilizou-se esta obra como referência para a

construção de parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica do projeto, com mais

ênfase nas escalas da cidade, do bairro e do quarteirão, e com menor grau na escala do

edifício. Este livro contribui para a compreensão da associação dos quadros do habitar, desde

a escala da cidade até a escala do edifício. Serviu como catalizador de ideias e considerações

sobre o grande conjunto dos espaços do habitat humano ao longo de uma espiral contínua

dos níveis físicos residenciais. Nesse enquadramento, a obra percorre grandes temas

predominantemente residenciais: da envolvente da área residencial à vizinhança alargada; da

vizinhança alargada à vizinhança próxima; da vizinhança próxima ao edifício habitacional; do

edifício habitacional à habitação; da habitação aos espaços e compartimento habitacionais e

dos espaços e compartimentos habitacionais à pormenorização.

• Hertzberger (2015) – Lições de arquitetura: Utilizou-se esta obra como referência para a

construção de parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica do projeto, com mais

ênfase nas escalas do quarteirão e do edifício, e com menor grau na escala do bairro e da

cidade. Este livro apresenta exemplos e influências de arquitetura que expressam o conceito

de humanidades, e que servem como instrumentos na resolução dos problemas de projeto.

Transmite lições sobre o fazer arquitetônico na atualidade e contribuiu para os estudos dos

temas relativos à reciprocidade entre espaços públicos e privados; as demarcações e

diferenciações territoriais, os acessos, o intervalo, os espaços de transição e demarcações

privadas nos espaços públicos.

• Karssenberg (2015) – A cidade ao nível dos olhos: lições para os Plinths: Utilizou-se esta

obra como referência para a construção de parâmetros de qualidade urbanística e

arquitetônica do projeto, com mais ênfase nas escalas do quarteirão e do edifício, e com

menor grau na escala do bairro e da cidade. A cidade ao nível dos olhos: lições para os Plinths

colaborou sobretudo nas reflexões sobre a interação e a multifuncionalidade entre ruas,

espaços públicos e as fachadas dos edifícios no andar térreo (os plinths). Enfatiza o papel de
36

ruas e espaço publico como uma matriz que conecta, sobre a qual as cidades saudáveis e

prósperas devem crescer, abraçando as exigências essenciais de ser inclusivas, seguras,

acessíveis, multifuncionais e habitáveis.

• Speck (2016) – Cidade caminhável: Utilizou-se esta obra como referência para a construção

de parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica do projeto, com mais ênfase nas

escalas da cidade, do bairro e do quarteirão, e com menor grau na escala do edifício. A obra

colaborou sobre o entendimento e conceituação da ‘caminhabilidade’, vista pelo autor como

o elemento que melhor funciona nas melhores cidades, uma vez que contribui, além das

compensações físicas e sociais, para a vitalidade urbana e para a interação social e

econômica. Apresenta experiências de grandes e médias cidades norte-americanas para

demonstrar que a vitalidade dos centros urbanos está diretamente ligada à assunção do

pedestre – o cidadão a pé. Caracteriza a cidade caminhável estabelecendo parâmetros

fundamentais de atração de pessoas pedestres para o centro – utilidade, segurança, conforto

e interesse, e inclui recomendações sobre cidades boas para pedalar e para criar boas

condições para a fluidez do transporte público.

• Monteys (2017) – La calle y la casa: Utilizou-se esta obra como referência para a construção

de parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica do projeto, com mais ênfase nas

escalas do quarteirão e do edifício, e com menor grau na escala do bairro e da cidade. Xavier

Monteys, nesta obra, se propõe a refletir sobre nossos modos de habitar o espaço, dando-

nos uma visão multifacetada, rica e complexa da rua. Nesse contexto, contribuiu para os

estudos da correlação entre moradias, edifícios e a rua; para os acessos, em especial os

espaços de transição; para as circulações verticais e horizontais dos edifícios multifamiliares e

para as varandas e terraços.

• Birkbeck, D, Kruczkowski, S (2018) – Building for life: 12 the sign of a good place to live:

Utilizou-se esta obra como referência para a construção de parâmetros de qualidade

urbanística e arquitetônica do projeto, com mais ênfase nas escalas do bairro e do quarteirão,

e com menor grau na escala da cidade e do edifício. A publicação foca-se no valor do bom

desenho para viver e na qualidade de vida das cidades. É estruturado em três partes:

Integração com a vizinhança; Criação de lugares e Rua e a casa. Dessa forma, auxiliou

especialmente nos estudos e análises dos usos especiais de equipamentos e serviços

(equipamentos de ensino, pontos de referência, espaços institucionais e cívicos e espaços


37

livres públicos) e seus raios de influência no tamanho ideal para os pedestres e na diversidade

de habitações, criando uma dinâmica nos valores dos imóveis.

Ainda a publicação Building for life: 12 the sign of a good place to live serviu como

referência na construção da métrica anexada à grelha analítica – ver item – Métrica de

avaliação do Estudo de Caso (ao final da Metodologia).

Também, se utilizaram, para a construção dos parâmetros de qualidade urbanística e

arquitetônica, em especial para os indicadores associados à rede viária, calçadas, ciclovias,

ao transporte público e ao zoneamento, guias e manuais publicados por organizações

governamentais e não governamentais a fim de complementar as recomendações numa

perspectiva atual. Citam-se os principais: Center for transit-Oriented Development (CTOD);

Center for Applied Transect Studies (CATS); WRI - Brasil; City of Boston – Boston Complete

Streets, design guidelines; City of the London – Pedestrian Comfort Guidance for London –

City of Copenhagen, Copenhagen City of Cyclists National Association of City Transportation

Offcials (NACTO); Congress for the New Urbanism (CNU); Project for Públic Spaces (PPS);

Form-Based Codes Institute (FBCI); Cabe no Design Council, Home Builders Federation e

Design for Homes e Nottingham Trent University – Building for life 12: the sign of a good

place to live.

Como resultado desta Revisão da Literatura, foi construída a grelha analítica em

conjunto com uma sequência de orientações de projeto – sob a ótica dos autores –,

apresentadas por meio de textos e ilustrações. A grelha de análise expõe os princípios,

indicadores e elementos de projeto, respectivamente às quatro escalas do planejamento: da

cidade, do bairro, do quarteirão e do edifício – Tabela 02, 03, 04, 05 e 06.

Contextualização Teórica

Essas referências, mencionadas no item anterior, estabelecem uma base teórica no

que tange aspectos relacionados a uma urbanização alicerçada em princípios de

sustentabilidade, de integridade, de identidade e de vitalidade. Dessa forma, entende-se que

os principais vetores, na construção de cidades / bairros, são a compacidade, a completude

e a conectividade, em oposição à dispersão territorial, impondo uma “nova” cartografia de

traçado urbano mais contínuo e compacto, com centralidade, com multiplicidade de usos,
38

com espaços públicos abertos, em escala humana, com preferência ao pedestre e ao

transporte coletivo público.

Esta “nova” cartografia – que é oriunda de mudanças dos hábitos urbanos – deve

oferecer diferentes modos de vida. Seja para quem deseja viver no centro mais denso, onde

os serviços ganham com economia de escala, seja para quem prefere morar mais longe da

área central, em áreas menos densas e com um caráter mais residencial, desde que estejam

garantidas de transporte para deslocamentos pontuais.

Nesse âmbito, das alterações dos hábitos urbanos, é possível afirmar que sempre há

uma inovação tecnológica promotora dessas alterações, seja de mobilidade ou de

comunicação. Aconteceu com a massificação do automóvel individual no século XX, que

prometia a democratização da liberdade de circulação; e aconteceu com a generalização do

uso da internet na transição para o século XXI, que prometia a possibilidade de trabalhar em

qualquer parte do mundo, gerando uma comunidade de nômades digitais dependentes

apenas de um laptop.

Nesse ponto, é pertinente lembrar que recentemente os nômades digitais concluíram

que o fator mais relevante para o desenvolvimento de criatividade era a proximidade com

outros criativos, levando a uma ainda maior concentração das populações em cidades

compactas.

Esta “nova” cartografia é entendida como uma nova forma de olhar, identificar,

compreender e intervir no novo, ou sobre o que já é ou foi construído, voltando a dar atenção

às características próprias de cada rua, de cada quarteirão, de cada espaço aberto, de cada

esquina ou de cada edifício, com objetivos mais destinados à produção do bem comum do

que em valores privados.

Este modelo de cidade / bairro sustentável que se busca hoje, é recorrente na história

das cidades, desde o século XIX. Nesse aspecto, sem a pretensão de esgotar o assunto,

citam-se as Cidades - Jardins (1898) – um modelo22 que vem sendo recuperado e

reinterpretado na atualidade, reconhecendo que muitos dos seus princípios possuem valores

que podem ser renovados e aplicados na contemporaneidade e serem considerados, pelos

projetistas, critérios de qualidade arquitetônica e urbanística.

22
O modelo para as cidades-jardins é sintetizado por Ebenezer Howard, no livro: Cidades-jardins de
amanhã (1898).
39

Como exemplo, pode citar-se a temática do Transect23 – teoria que estuda o controle

das transições entre diferentes zonas urbano-rurais, sob um prisma da proteção ambiental e

dos princípios humanistas da era atual. A utilização da teoria do Transect na análise e,

principalmente, no desenho de assentamentos humanos foi sugerida por Andres Duany,

Elizabeth Plater-Zyberk e seus colegas do Novo Urbanismo no final do século XX, tendo como

contexto de debate e aplicação a América do Norte.

Esta teoria permite uma aplicabilidade tanto em novos conjuntos residenciais na

contemporaneidade, como em intervenções num sítio antigo, trazendo consigo as premissas

da cidade-jardim, um argumento ético que hoje é manifestado como a estrutura profunda do

imperativo ecológico.

Ainda, antecipando em vários anos alguns elementos importantes da Unidade de

Vizinhança, as ideias de Howard (1898) englobam a facilidade de acesso a serviços e

equipamentos de todas as partes da área residencial evitando, porém, o tráfego de

passagem; a localização dos equipamentos comunitários junto às áreas residenciais, servindo

aos moradores e a localização de equipamentos de uso coletivo – comércio, administração e

cultura – junto às áreas centrais, servindo ao conjunto de unidades residenciais e à cidade

como um todo24.

Da mesma forma, essa indissociabilidade entre arquitetura e urbanismo, as relações

de vizinhança e a criação de ambientes apropriados à escala humana, buscadas nos dias

atuais na construção de bairros/comunidades sustentáveis, incorporam também ideologias

dos CIAM25, essencialmente o VIII, IX e X, de 1951, 1953 e 1955, respetivamente, onde já

23
O Transect, surge da reinterpretação dos princípios da Cidade Jardim de Howard (Duany et al, 2014),
é uma ferramenta na análise da expansão urbana proposta pelo Centro de Estudos Transectos
Aplicados (CATS) que tem como missão promover a descoberta dos diferentes habitats humanos de
uma região e compreender o ambiente construído como parte do ambiente natural. Ver mais sobre
Transect no item I. 2.1 – T-zones e Smart Code.
24
Iára Regina Castelo, no livro: Bairros, Loteamentos e Condomínios: Elementos para o projeto de
Novos Territórios Habitacionais (2010, p. 48)
25
CIAM – Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna: CIAM I (1928), na Suíça – Fundação;
CIAM II (1929), na Alemanha – Focado no trabalho de habitação de Ernest May e a casa mínima
(existenzminimum); CIAM III (1930), na Bélgica – Sobre o desenvolvimento racional do espaço; CIAM
IV (1933), em Atenas– Publicação da Carta de Atenas; CIAM V (1937), na França – Sobre habitação e
reconstrução; CIAM VI (1947), na Inglaterra – A reconstrução das cidades devastadas pela II Guerra
Mundial; CIAM VII (1949), na Itália – A arquitetura como arte; CIAM VIII (1951), na Inglaterra – Sobre o
coração da cidade; CIAM IX (1953), na França – Publicação da Carta da habitação; CIAM X (1956), na
Iugoslávia – Sobre o Habitat.
40

eram demonstradas preocupações com a questão da identidade dos espaços da cidade, nos

seus projetos, identificando, na questão habitacional, um componente fundamental para a

constituição da cidade moderna.

Nesse cenário internacional, vale lembrar que o VIII CIAM, de 1951, realizado em

Hoddesdon, Inglaterra, teve como tema “O coração da cidade: por uma vida mais humana

da comunidade”, entendendo-o mais como o centro cívico e representativo da cidade

moderna do que como centro histórico especificamente.

Na sequência, em 1953, no CIAM IX, realizado em Aix-en-Provence, França,

manifesta-se uma preocupação central com a questão da identidade dos espaços da cidade.

A relação entre a forma física e as necessidades de ordem social e psicológica tornou-se tema

do CIAM X, último encontro dos CIAM, realizado em Dubrovnik, Iugoslávia, em 1955.

O grupo responsável pela sua organização, conhecido como Team X26, opunha-se aos

esquemas cartesianos derivados do zoneamento da cidade funcional, contrapondo as

categorias mais fenomenológicas27 de casa, rua, bairro e cidade. (ORTEGOSA, 2009)28..

Nesse contexto, o Team X foi buscar no resgate das categorias da cidade tradicional, um

maior sentido de comunidade e identidade, uma construção de relações mais imediatas entre

o núcleo familiar e o grupo social, entre a residência e os espaços coletivos.

Aldo Van Eyck, ao referir-se ao resgate da cidade tradicional, propõe ampliar as fontes

de validação e inspiração através de estudos de povoamentos primitivos, defendendo o

retorno à origem como fonte de legitimação da arquitetura. Van Eyck se expressa assim:

É necessário olhar para os arquétipos do passado para recuperar a dimensão


humana, cultural e simbólica das formas arquitetônicas e tentar de maneira
idealista recriar formas geométricas desalinhadas, selvagens, desnudas e
puras, distantes do consumo contemporâneo de formas e imagens (...). O

26
Também conhecido como Team Ten ou Team 10 – Grupo de arquitetos, de formações distintas,
encarregados de preparar o X CIAM. Cinco arquitetos mais fixados no grupo eram: Jabob. B. Bakema,
Georges Candilis, Aldo van Eyck e Alison & Peter Smithson
27
Fenomenologia pode ser entendida como um método, uma reflexão sobre a aproximação do ser
humano com o seu ambiente. Segundo Heidegger, habitar é definido como um permanecer (ou estar)
com as coisas. Cristhian Norberg Schulz interpreta o conceito de habitar como estar em paz num lugar
protegido e defende a arquitetura como um potencial de fazer um mundo visível concretizando o
espaço existencial (NESBITT et al., 2013, p. 31).
28
Sandra Mara Ortegosa – Versão revisada do segundo capítulo da tese de doutorado: O Lugar do
Centro nas Metrópoles Contemporâneas: O Caso de São Paulo, PUC-SP, 2000.
41

homem sempre soube fazer sua morada neste mundo desde mil anos. (Van
Eyck apud MONTANER, 2001, p. 33).

Seguindo a mesma tendência, o movimento do Novo Urbanismo (1970), nos Estados

Unidos da América, vem a reafirmar e atualizar a teoria da Unidade de Vizinhança de Clarence

Perry (1929)29 para a definição de um bairro sustentável. Estabelece princípios associados à

busca de maiores densidades, à ocupação do solo urbano com atividades de uso misto e

diversificado, privilegia a circulação de pedestre, a integração harmônica da edificação com

o entorno e valoriza o urbanismo na escala humana.

O Novo Urbanismo emerge nos anos 1970, inspirado nos pensamentos e críticas às

técnicas de planejamento modernista. Críticas oriundas da adoção do receituário urbanístico

da Carta de Atenas (1933), principalmente pela separação das atividades urbanas, pelo não

alinhamento das habitações ao longo das vias, pela combinação de baixa densidade com

verticalização, pelas errôneas intervenções em centros históricos, pelos problemas de

conforto ambiental apresentados por edifícios que eram modernos apenas na aparência, mas

não na sua concepção.

Em 1996, após uma sucessão de encontros, no IV Congresso para o Novo Urbanismo

(CNU), realizado em Charlestown, Carolina do Sul, foi assinada a Carta do Novo Urbanismo30

a qual tem como ênfase o desenho neotradicional das unidades de vizinhança a fim de

fornecerem um conjunto de princípios para o planejamento que auxiliam na criação de uma

atmosfera amigável e um senso de lugar para os usuários de um bairro.

Por este ângulo, Duany et al. (2000) no livro Suburban nation: the rise of sprawl and

the decline of the American dream descrevem uma listagem de qualidades que distinguem

o desenvolvimento de um bairro tradicional – Traditional Neighborhood Development (TND),

29
O modelo da teoria da vizinhança é apresentado por Clarence Perry, no documento: Neighborhood
and community planning (1929), publicado como volume VII do Regional Plan of New York and its
Environs, Regional Survey.
30
Uma analogia à Carta de Atenas, que definiu novos princípios para a formulação de políticas e
práticas de planejamento e desenho urbano em regiões, comunidades residenciais, quarteirões, ruas
e edifícios. No entanto, é em relação à estrutura do espaço residencial que é realizada a maior parte
dos estudos, investigações, planos, projetos e esforços do grupo. O Novo Urbanismo reconhece que
somente através da implantação de comunidades residenciais adequadas, estrategicamente
localizadas e bem conectadas a distritos funcionais operantes, será possível a reversão da observada
tendência de desconstituição do urbano.
42

da expansão suburbana. Embora o checklist apresentado necessite de adaptações de acordo

com as especificidades de cada sítio, tem muito a contribuir no que concerne à qualidade de

bairros e sua relação entre escala urbana e do habitar.

Estes princípios do TND, que confluem com os princípios do Novo Urbanismo31 ,são

associados à estrutura regional articulada com áreas urbanizadas centrais e com setores

menores delimitados no território, evitando a ocupação dispersa; valorizam a acessibilidade

por transportes públicos coletivos; favorecem a superposição de uso do solo como forma de

reduzir percursos e criar comunidades compactas; preveem espaços de domínio público para

instalação de equipamentos comunitários e retomam os tipos do urbanismo tradicional

relativos ao arranjo dos quarteirões e dos edifícios.

Sobre os modelos acima apresentados (Cidade-Jardim e Unidade de Vizinhança), é

possível dizer que foram experimentos e reflexões pioneiros que deixaram legados

referenciais importantes para o embasamento do que veio a constituir o corpo teórico do

urbanismo e do planejamento contemporâneo.

Nesse âmbito, não só cidades da Europa e EUA aplicavam em seus projetos de

expansão urbana as influências trazidas pela nova forma de ver a cidade e sua área

residencial. De acordo com Castello (2008, p. 62), no Brasil, e até no mais recôndito sul do

país, a nova ordem estava sendo acompanhada, e não tardou para que fosse posta em

prática, em projetos de categorias bem diversas, como por exemplo: Vila Assunção, Porto

Alegre (1937), por Ruy de Viveiros Leiria e a Vila do IAPI (Institutos de Aposentadorias e

Pensões dos Industriários), Porto Alegre (1946), por Marcos Kruter.

Nesse cenário, sob a luz dos modelos das cidades tradicionais, atualmente há variados

conceitos, métodos, programas e boas práticas, em cidades europeias, nos Estados Unidos

da América e no Brasil, que servem de fonte de inspiração para a implementação de soluções

sustentáveis. Cita-se alguns: Urbanismo open-source; Acupuntura Urbana; Urbanismo tático,

Urbanismo DIY (Do It Yourself, em português: Faça Você Mesmo); Pop-Up Urbanism; Privately

31
Princípios do Novo Urbanismo: 1. caminhabilidade, 2. conectividade, 3. uso misto e diversidade, 4.
mix de habitação, 5. arquitetura de qualidade e design urbano, 6. estrutura tradicional de vizinhança,
a qual inclui as transições das áreas mais densas para as menos densas e seus elementos que se
reforçam mutuamente na construção de lugares, 7. aumento da densidade, 8. transporte inteligente,
9. sustentabilidade e 10. qualidade de vida. Fonte:
http://www.newurbanism.org/newurbanism/principles.html.
43

Owned Public Spaces (POPS); The Power of 10+; 15-minute city; Human Smart City, la Living

City; Ville du Quart d’Heure, Territoire de la ½ Heure, ente outras.

No contexto do repensar humanístico, da revalorização dos elementos vernaculares e

tradicionais da cidade, do estreitamento entre a qualidade do habitar vinculada ao projeto

urbano – que preconiza ligar mais as cidades às pessoas nos projetos contemporâneos de

bairros / comunidades sustentáveis – destacam-se, na atualidade, algumas (poucas) iniciativas

no Brasil: Bairro Pedra Branca, Palhoça – SC (2013) – a primeira iniciativa no Brasil; Granja

Marileusa, Uberlândia – MG (2014), Bairro Quartier e Bairro Parque Una, Pelotas – RS (2015);

Bairro Prado, Porto Alegre – RS (2017) e Parque Global – São Paulo – SP (2019).

Estas iniciativas são planejadas a partir da combinação de vários níveis de escalas

urbanas: a cidade, o bairro, a vizinhança, o edifício e a casa. De acordo com Gehl (2013, p.

195), o objetivo é o tratamento total, no qual a cidade se harmonizasse em sua completude

– a linha do horizonte, a implantação dos edifícios e as proporções do espaço urbano –

combinados a partir de um cuidadoso tratamento da sequência de espaços, detalhes e

equipamentos ao nível dos olhos.

[...] a qualidade do habitar está estreitamente vinculada ao projeto urbano e


terá êxito quando este for pensado na seguinte ordem: primeiro, a vida
social; depois, o espaço público; e, finalmente, o edifício, e adverte: esta é
uma ordem sequencial que nunca funciona quando se inverte. (GEHL, 2006,
p.11).

Recolha de casos de estudo e seleção de um para Estudo de Caso

Na sequência, efetuou-se a recolha e seleção de casos de estudo a fim de eleger o

objeto de análise da presente tese. Esta busca, num primeiro momento, deu-se a partir da

identificação de conjuntos habitacionais e/ou bairros residenciais planejados, que afirmam

seguir os princípios da sustentabilidade, da identidade e do significado social e humano, e

que tenham sido construídos e publicados em, pelo menos, uma das duas principais revistas

de Arquitetura e Urbanismo do Brasil: Revista Arquitetura e Urbanismo (AU) e Revista Projeto.

Para as revistas AU, foram efetuadas consultas nas últimas três décadas (1986 – 2017)

– ver apêndice 01, e para a revista Projeto as recolhas focaram-se no período de 2005 – 2012,

a fim de formatar uma lista cronológica (linha do tempo) dos projetos de conjuntos de
44

habitação em São Paulo, período em que se destacam as produções habitacionais paulistanas

– ver apêndice 02.

Nesse universo, vários conjuntos de reconhecida qualidade foram identificados, no

entanto, não foi possível, nesse universo, englobar todos os critérios que interessavam para

a análise e avaliação, especialmente no que tange às diversas escalas do habitar – da cidade

à casa – e seus encadeamentos

Apesar disso, esta recolha e seleção foi proveitosa, na medida em que se

desenvolveram análises sobre alguns desses conjuntos e bairros de habitação – equivalentes

a ‘estudos piloto’ –, utilizando os parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica,

identificados a partir da Revisão de Literatura, Parte I da tese.

Estes trabalhos, realizados ao longo do desenvolvimento da tese, tiveram, como

resultado, publicações de artigos em eventos científicos e um capítulo de livro,

nomeadamente:

• As Humanidades e o Habitar: rumos para humanizar a arquitetura com um olhar para a

atualidade, artigo apresentado e publicado no 4º CIHEL / 2017, Porto e Covilhã- Portugal.

• Construir cidades e não unidades: novos modos de organização espacial de conjuntos

habitacionais (2005-12), em São Paulo – SP – Brasil, artigo apresentado e publicado no 56º

IAC / 2018, Salamanca – Espanha.

• Aplicação da metodologia do transecto para análise urbana: um estudo a partir do caso de

Pinheirinho do Vale, Rio Grande do Sul, Brasil, artigo apresentado e publicado no PNUM

2018, Porto – Portugal.

• Elementos de integração no bairro: uma análise do conjunto Habitacional Jardim Edite –

SP, artigo apresentado e publicado no VI SBQP 2019, Uberlândia – MG, Brasil.

• Aplicação da metodologia do Transect e construção código baseado na forma, publicado

em um capítulo do livro: Diferentes abordagens em morfologia urbana. Contributos luso-

brasileiros, 2º ed., 2020, Porto – Portugal.

Esses estudos e, especialmente a possibilidade de comunicar e discutir, com demais

pesquisadores e estudantes, pontos importantes sobre o tema de investigação, contribuíram

na complementação da grelha analítica, aprimorando-a.

Retornando à seleção do Estudo de Caso e considerando que os conjuntos acima

mencionados não atendiam aos critérios estabelecidos, foi escolhido, para o Estudo de Caso,
45

o projeto do Bairro Urbitá – Brasília – DF, pela riqueza de informações que oferece, o que

permitiu aplicar muitos dos conceitos anteriormente desenvolvidos na Parte I: Parâmetros de

qualidade urbanística e arquitetônica, e realizar análises e avaliações produtivas diante das

questões, dos objetivos e da hipótese da investigação, as quais são apresentadas na Parte II

– Análise e avaliação do Estudo de Caso: Bairro Urbitá, Brasília.

Outro critério da escolha diz respeito às autorias, consultorias e assessorias dos

projetos – desde a concepção urbanística geral (o masterplan), até aos projetos menores (na

escala do quarteirão e do edifício). Nessa conjuntura, o Bairro Urbitá apresenta planos e

projetos realizados por arquitetos com influências relevantes na área da arquitetura e do

urbanismo, particularmente no que se refere à construção de bairros residenciais sustentáveis

sob o prisma dos princípios humanistas.

Destacam-se as assessorias e consultorias, por ordem cronológica de atuação no

projeto: Escritório Skidmore, Owings and Merrill – SOM (2013); Ideia Urbanismo – São Paulo

-SP, arquiteto Jorde Wilheim – São Paulo – SP (2013); equipe de consultoria da PPS – Project

for Public Spaces (2013); o escritório Gehl Architects – Urban Quality Consultants (2014); o

escritório Duany Plater-Zyberk & Company – DPZ (2017); Ateliê Benedito Abbud – Arquitetura

paisagística – SP (2016 e 2019) e, na escala menor, para os projetos arquitetônicos (2017 e

2018): Ateliê Ideia 1, de Porto Alegre – RS; Ateliê Esquadra de Brasília – DF; Ateliê Rua, do

Rio de janeiro – RJ e Ateliê Zoom, de São Paulo – SP.

O projeto do Bairro Urbitá – Brasília – DF possui uma área de 658,70 hectares, estima-

se uma população de 118.607 habitantes, e sua previsão de implantação é de 30 anos. É

elaborado pela UP (Urbanizadora Paranoazinho): uma sociedade privada, constituída com o

propósito específico de promover a urbanização e readequação urbana das áreas de sua

propriedade na poligonal da antiga Fazenda Paranoazinho32. A descrição completa do Estudo

de Caso apresenta-se n início da Parte II da tese.

Estudo de caso: análise e avalição

A análise e avaliação do Estudo de Caso transpassa quatro escalas, que se desdobram

num conjunto de indicadores, critérios e elementos de projeto: parte-se da macroescala

32
A área privada total da antiga Fazenda Paranoazinho possui 1.600 ha, no entanto o projeto para o
novo bairro Urbitá contempla 658,70 ha.
46

(escala da cidade), analisando aspectos relativos à localização e conexões; depois, numa

escala intermediária (a escala do bairro), abordam-se tópicos sobre a morfologia e o tecido

urbano, e (a escala do quarteirão), verificando características das parcelas e sua relação com

o edificado; e, por fim, na microescala (escala do edifício), analisando itens relativos aos

acessos, aos tipos e forma dos edifícios e aos espaços entre os edifícios.

Este compósito está organizado numa grelha analítica (Tabela 06), formada por sete

indicadores e vinte e um critérios e elementos de projeto contidos nas quatro escalas: cidade,

bairro, quarteirão e edifício. Esta grelha de análise é, posteriormente, convertida em uma

grelha avaliativa (com a inserção de uma métrica – Tabela 07) a qual é apresentada ao final

da Parte II da tese: Análise e avaliação do Estudo de Caso: Bairro Urbitá, Brasília.

Leitura dos projetos, visitas e videoconferências

Num primeiro momento, se efetuou, junto à Urbanizadora Paranoazinho (UP) –

Brasília33, uma coleta de materiais em relação ao objeto de estudo. Foram compiladas

informações escritas e iconográficas.

Recolheram-se informações escritas, desde normas e regulamentações de

ordenamento territorial do Distrito Federal, percorrendo os documentos específicos do bairro

Urbitá – como o Plano de Urbanização e o Manual de Diretrizes Arquitetônicas – até

memoriais descritivos e projetos urbanísticos relativos aos projetos urbanísticos menores,

denominados na tese de etapas 1, 2, 3, e 4. Sobre as informações iconográficas, juntou-se

um conjunto de fotografias aéreas da área de estudo e do entorno próximo.

Esses projetos urbanísticos menores referem-se à centralidade do novo bairro, à via

compartilhada, à rede de espaços públicos aberta (praças e parques), aos estudos das

calçadas e ciclovias, às possibilidades de parcelamentos e unificação dos lotes no quarteirão,

aos estudos das localizações das instalações comunitárias (equipamento de ensino, pontos

de referência, espaços institucionais e cívicos) e dos locais de trabalho, comércio e serviço.

Na sequência, também através da UP, fez-se a recolha dos projetos arquitetônicos dos

edifícios, desde os estudos conceituais até os projetos mais completos, em nível de estudo

preliminar, contendo: plantas de situação, implantação, plantas baixas, cortes, fachadas,

33
Visita à Urbanizadora Paranoazinho e à Área de Estudo, dias 12 e 13 de setembro de 2019.
47

perspectivas, tipologias das unidades de habitação, entre outros detalhes de acordo com

cada proposta.

No prosseguimento, após a visita in loco, que aconteceu em setembro de 2019, no

decorrer do ano de 2020 e início de 2021, foram realizadas sete videoconferências34 com

Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP e Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista

da UP, nas respectivas datas: 14/05/2020; 11/06/2020; 17/07/2020; 19/08/2020; 26/10/2020,

04/12/2020 e 13/04/2021.

Também, com o intuito de coletar materiais relativos aos projetos de arquitetura à

escala do edifício, foram realizadas quatro videoconferências com Filipe B. Mont Serrat –

Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos e Guilherme Gambier Ortenblad –

Arquiteto e Diretor-Presidente da Zoom – urbanismo, arquitetura e design, nas respectivas

datas: 03/12/2020; 14/05/2020; 12/09/2020 e 19/03/2021.

Nesses encontros remotos, por videoconferência, foram colocadas diversas perguntas

pertinentes à análise e avaliação do novo bairro – Urbitá. As respostas, que se fundiram com

as análises e avaliações e serviram como linhas orientadoras, nas diversas escalas do

planejamento, estão descritas e devidamente referenciadas no decorrer da Parte II da tese –

Análise e avaliação do Estudo de Caso: Bairro Urbitá, Brasília e concisamente e

diagramaticamente, apresentadas como recomendações ao final da Parte II da tese.

O Redesenho como instrumento de análise

Assim como não há arquitetura sem desenhos, não há interpretação da


arquitetura sem redesenho.
(Fernando G. Vázquez Ramos)

Para a melhor compreensão do Estudo de Caso, em suas diversas escalas, utilizou-se

o redesenho (método de análise gráfica) da maioria dos planos e projetos – urbanísticos e

arquitetônicos. Essa prática facilitou o entendimento, análise e avaliação sobre os indicadores

de análise que estão sendo avaliados em cada escala.

34
Videoconferências realizadas através de videochamadas utilizando a plataforma de Google Meet,
designado no decorrer da tese como: G-meet.
48

Dessa forma, desde a escala da cidade à escala do edifício, as análises foram

realizadas com o auxílio da ferramenta do redesenho, o que permitiu entrar em contato com

o objeto de análise, por meio da representação gráfica digital35. Tanto o processo (do

redesenhar), quanto o material gerado permitiram um pensamento reflexivo, sobre os

critérios de projeto determinados para a presente investigação.

Sobre o material gerado (uma porção de ilustrações), salientam-se os diagramas – que

partiram dos desenhos existentes e demonstraram-se extremamente úteis e eficazes para a

extração de informações ocultas / discretas nos projetos, complementando a análise textual

de forma sintetizada.

O redesenho aqui referido relaciona-se com o que Helio Piñón chama de (re)

construção de materiais da arquitetura, que o autor propõe implantar no aprendizado do

projeto: a prática da concepção e da definição da arquitetura guiada por critérios extraídos

das próprias obras referenciais36. A proposta de Piñón (2005), no livro El Proyecto como (re)

construcción, baseia-se na ascensão visual da arquitetura como modo de identificar seus

valores e critérios a salvo de tópicos conceituais ou preconceitos ideológicos que inibam o

reconhecimento da sua coerência formal e sentido histórico.

A noção de “material de projeto” que conduz à ideia de projeto como re(construção),

quer dizer, a construção de algo novo a partir da matéria-prima arquitetônica verificada

empiricamente. Assim, a identidade da obra reside na relação da estrutura formal com o

sentido da matéria prima utilizada. Nesse contexto Piñón afirma:

A identidade específica de um novo artefato, construído com matéria prima


extraída da própria arquitetura, pressupõe ter transcendido tanto a
consistência formal como o sentido histórico, características da arquitetura
de referência, de modo que o resultado – se é arquitetura – é totalmente
distinto da realidade tomada no projeto como matéria prima (PIÑÓN, 2006,
p. 21).

35
As ferramentas de gráfica digital mais utilizadas para a confecção dos desenhos foram a partir dos
softwares: CorelDraw, Photoshop, Autocad e SketchUp. Para a produção de figuras a partir de imagens
de satélite, as bases foram exportadas do Google Earth e tratadas em Photoshop; para os estudos de
áreas de implantação e quarteirões as bases foram extraídas do Autocad e trabalhadas em CorelDraw;
para as imagens de análise de insolação foram produzidas e extraídas do SketchUp e finalizadas em
Photoshop.
36
Vale lembrar que o método gráfico, na tentativa de estabelecer preceptivas, ocorreu há mais de
duzentos anos, a partir do Tratado de Jean-Nicolas-Louis Durand, Précis des leçons d’architecture
donnéss à l’École royale polytecchnique, publicado em 1802 em Paris. (TAGLIARRI, 2011).
49

De acordo com Piñón, Edson Mafhuz37 explica que só se aprende arquitetura em

contato direto com ela e que a melhor arquitetura em todos os tempos nunca saiu do nada,

sempre da própria arquitetura. Exemplifica, de modo análogo, que é preciso ter repertório,

como acontece em outras áreas criativas como a música, a pintura, a literatura, etc.

Nesse enfoque, de entender os melhores modos de aprender arquitetura, de jeito

análogo utiliza-se na presente tese, o redesenho como método de investigação a fim de

obter-se um melhor entendimento e interpretação dos planos e projetos e,

consequentemente, a construção de uma análise e avaliação autêntica.

Métrica de avaliação do Estudo de Caso

A métrica de avaliação anexada à grelha analítica teve como referência o Building for

live: 12 the sign of a good place to live (Bfl 12)38 – documento que consta também como

referência na revisão de literatura da presente tese.

Usa-se um sistema de semáforo simples em que um indicador “vermelho” sugere que

um ou mais aspectos do projeto precisam ser considerados e revistos. Os indicadores

“amarelos” e “laranjas” indicam a necessidade de uma discussão ou um refinamento do

projeto a respeito dos elementos que o compõem, e os indicadores “verdes” preconizam

que os critérios e elementos de projeto foram bem resolvidos diante dos parâmetros

estabelecidos.

Para a tese, este sistema de semáforo é mostrado em forma de barras, nas quais o

preenchimento demonstra os percentuais considerados adequados para cada elemento de

projeto. Esses percentuais são estabelecidos com o auxílio de uma régua com intervalos de

0 – 25% (vermelho); 25 – 50% (laranja); 50 – 75% (amarelo) e 75 – 100% (verde). Ver tabela

07. – Grelha avaliativa: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício).

Conforme o Bfl 12, o selo de qualidade dos projetos e/ou empreendimentos, que

deve estar em conformidade com as políticas de design contidas no quadro de políticas de

37
Edson Mahfuz: Canal do You Tube onde apresenta vídeos com análises monográficas de obras
exemplares e aborda estratégias de projeto relevantes. Site: https://www.mahfuz.arq.br/links
38
Building for live: 12 the sign of a good place to live: uma ferramenta reconhecida na Inglaterra e em
todo Reino Unido. Serve para as autoridades avaliarem a qualidade dos empreendimentos
habitacionais propostos, bem como é utilizada para orientar as discussões e aumentar a qualidade dos
projetos a fim de acomodar comunidades novas e existentes.
50

planejamento nacional39, é alcançado quando obtém-se 75% de indicadores classificados

como “verdes”.

Nesse enquadramento, cada indicador é medido por meio dos critérios e elementos

de projeto, na mesma sistemática (da obtenção dos 75% dos indicadores apontados como

“verdes”), independentemente do número de itens que conformam cada indicador. Para os

elementos de projeto que precisam ser revisados (no caso dos “vermelhos” e “amarelos”) é

apresentada uma breve descrição (ver apêndice 03) embasada nos Parâmetros de qualidade

urbanística e arquitetônica contidos na Parte I da tese.

Síntese da análise e avaliação

A partir da análise e avaliação do Estudo de Caso do bairro Urbitá, Brasília, construiu-

se uma grelha avaliativa que apresenta, em barras horizontais, os percentuais considerados

adequados para cada elemento de projeto, assim como para cada indicador e suas escalas,

respectivamente. Na sequência, apresenta-se uma descrição a respeito de todos os aspectos

menos positivos (com percentuais de 50 - 75%), identificados para cada um dos indicadores

e elementos de projeto nas quatro escalas (da cidade, do bairro, do quarteirão e do edifício).

Resultados, interpretações e recomendações

O resultado da análise e avaliação do Estudo de Caso do bairro Urbitá, Brasília, tendo

como suporte as orientações provenientes da síntese das ideias dos autores estudados (Parte

I da tese), assim como, da reunião de ideias de profissionais especialistas ligados diretamente

à temática da tese, tem, como produto, um conjunto de recomendações que, percorrendo

as escalas do habitar – da escala da cidade à escala da casa – contribuem positivamente para

a promoção da qualidade urbanística e arquitetônica de projeto para novos bairros

residenciais.

39
Nesse contexto, dos instrumentos de planejamento em nível nacional, podem-se citar as Normas
Brasileiras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): NBR ISO 37.120:2021 –
Desenvolvimento sustentável de comunidades – Indicadores para serviços urbanos e qualidade de vida
e a NBR ISO 37.122:2020 – Cidades e comunidades sustentáveis – Indicadores para cidades
inteligentes.
51

QUADRO 1 Organograma do processo investigativo


52

Estrutura do documento

A tese organiza-se em duas partes.

A primeira parte, constituída por quatro tópicos, é denominada Parâmetros de

qualidade urbanística e arquitetônica. Nesta seção são apresentados os princípios e os

elementos essenciais de projeto para a promoção da qualidade do espaço em áreas

residenciais, construídos com base numa síntese das ideias e recomendações de autores

referenciais ao tema da tese.

Esta síntese dos princípios e elementos de projeto encontram-se organizadas em

quatro tópicos que correspondem às escalas de leitura e análise determinadas para a tese: a

cidade, o bairro, o quarteirão e o edifício. Nessa ordem, os princípios, indicadores, elementos

e critérios de projeto são organizados e apresentados nas Tabelas 01, 02, 03, 04, 05 e 0640 e

nas análises textuais, amplamente ilustradas por 263 imagens – acomodadas em 33 quadros.

Para cada um dos princípios é apresentada uma breve descrição sobre sua definição

e, após, dentro de cada princípio, expõe-se o indicador e os elementos de projeto,

procurando definir parâmetros urbanísticos e arquitetônicos:

Na escala da cidade, o indicador localização desmultiplica-se nos seguintes

elementos: habitação na área central, habitação ao longo dos eixos de transporte e habitação

formando novos bairros (objetivo do bairro Urbitá).

Na escala da cidade, o indicador conexão desmultiplica-se nos seguintes elementos:

rede viária, calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias e o transporte público, coletivo,

individual e alternativo.

Na escala do bairro, o indicador morfologia/tecido urbano desmultiplica-se nos

seguintes elementos: distritos de zoneamento, T-zones e smart code e a malha de

quarteirões.

Na escala do quarteirão, o indicador parcelas e edificado desmultiplica-se nos

seguintes elementos: configuração dos quarteirões, localização dos quarteirões e os usos

especiais: quais? onde? como?

40
Tabela 01: Base teórica e sua relação com as escalas, princípios, indicadores e elementos de projeto;
e Tabela 02, 03, 04, 05 e 06: Grelha de análise: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício.
53

Na escala do edifício: o indicador acessos desmultiplica-se nos seguintes elementos:

intervalo / espaço de transição, grau de acesso e as circulações (horizontais e verticais); o

indicador tipo e forma dos edifícios desmultiplica-se nos seguintes elementos: tipo e

organização dos edifícios, composição formal dos edifícios e a relação com o solo – piso

térreo e o indicador espaço entre os edifícios desmultiplica-se nos seguintes elementos:

implantação das edificações, espaço entre os edifícios e os estacionamentos.

A segunda parte, também constituída por quatro tópicos – denominada Análise e

avaliação do Estudo de Caso: Bairro Urbitá, Brasília –, concentra-se na análise e avaliação do

Estudo de Caso, mediante os parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica para áreas

residenciais, estabelecidos na Parte I.

Inicia-se com uma introdução acerca do Estudo de Caso e sua contextualização – em

especial, sobre as premissas, as referências e as consultorias pertinentes ao projeto do bairro

Urbitá –, assim como sobre a análise e avaliação do Estudo de Caso, sobretudo, no que diz

respeito à estruturação e à ordenação das grelhas, tanto a analítica, quanto a avaliativa –

Tabela 06 (analítica) e Tabela 07 (avaliativa).

Na sequência, analisam-se os elementos de projeto (que estão contidos nos

indicadores), desde a escala da cidade até a escala do edifício – na ordem pré-estabelecida

na Tabela 06: Grelha de análise: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício. Para cada

elemento, pré-determinado na grelha, incluem-se subitens que auxiliam no detalhamento e

esclarecimento da análise, bem como na sistematização da avaliação.

Para cada indicador de análise, é apresentada uma síntese da análise dos elementos

que integram o indicador. Nesta síntese, procura-se expor os aspectos do projeto positivos

e os menos positivos (que precisam ser revistos), identificados para cada um dos elementos

de projeto.

Ainda, semelhantemente à Parte I da tese, a análise do Estudo de Caso é largamente

ilustrada, através do redesenho41 dos planos e projetos – urbanísticos e arquitetônicos do

bairro Urbitá. São apresentadas 186 imagens – acomodadas em 34 quadros42, o que elucida

o entendimento das análises.

41
Sobre o redesenho, ver item metodologia – O Redesenho como instrumento de análise.
42
A leitura das imagens nos quadros deve ser feita de baixo para cima e da esquerda para direita.
54

Ao final da Parte II da tese é exibida a avaliação do Estudo de Caso: Tabela 07: Grelha

avaliativa: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício. Esta grelha é resultado de uma

conversão da grelha analítica, com a inserção de uma métrica, possibilitando seguir a mesma

ordem da análise – percorrendo as quatro escalas do Estudo de Caso.

Juntamente a esta grelha, apresenta-se uma síntese final da análise e avaliação, onde

se abordam, sobretudo, os aspectos menos positivos identificados para cada um dos

indicadores e elementos de projeto, nas quatro escalas (da cidade, do bairro, do quarteirão

e do edifício).

No prosseguimento, apresentam-se o resultado e interpretações, relativos à análise e

avaliação do Estudo de Caso, organizados em forma de recomendações que, percorrendo as

escalas do habitar – da escala da cidade à escala da casa – são eficientes para a promoção

da qualidade urbanística e arquitetônica de projeto para novos bairros (ver item II.6 e quadro

67).

A tese conclui-se com as considerações finais: uma síntese final da parte I e II da tese,

que procura, através de um conjunto de conclusões finais, responder às questões da

investigação, enunciar o alcance dos objetivos, a confirmação das hipóteses e indicar

desenvolvimentos futuros de investigação do tema de trabalho.

.
55

Parte I
Parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica
Terraço à noite na Place du Forum (1888)
Vicent van Gogh
56

I. Parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica

A primeira parte da tese apresenta a síntese das ideias dos autores estudados a

respeito dos elementos essenciais para a promoção da qualidade urbanística e arquitetônica

do habitar com o propósito de, através da arquitetura residencial – bairros e conjuntos

habitacionais –, construir cidades e fortalecer o que é comum a todas as pessoas – o espaço

urbano, construído pelo Homem.

Esta síntese das ideias dos autores é apresentada na forma de recomendações, onde,

além da identificação dos princípios e elementos essenciais de projeto que promovam a

qualidade do espaço em áreas residenciais, são expostas, por meio de textos e ilustrações,

orientações de projeto para cada um dos elementos identificados como essenciais.

A leitura percorre quatro escalas, que se desdobram num conjunto de elementos e

critérios de projeto: parte-se da escala da cidade, contendo aspectos relativos à localização

e conexões; depois, na escala do bairro, abordam-se tópicos sobre a subdivisão de setores

e a malha de quarteirões; na sequência, na escala do quarteirão, apresentam-se o tipo,

configuração e localização dos quarteirões e seus usos; finalmente, chegamos à escala do

edifício, onde é mostrada a inter-relação entre espaço público, coletivo e privado.

Nessa ordem – da escala maior para a escala menor – os princípios, indicadores,

critérios e elementos de projeto, considerados essenciais para a promoção da qualidade

urbanística e arquitetônica do espaço em áreas residenciais, são organizados e apresentados,

na Tabela 01. Essa tabela tem o objetivo de apresentar a relação entre a base teórica –

expondo os dez autores mais citados na tese43 – com as escalas, princípios, indicadores,

critérios e elementos de projeto estabelecidos: Tabela 01: Base teórica e sua relação com as

escalas, princípios, indicadores e elementos de projeto.

No decorrer desta parte da tese, a Tabela 01 desmembra-se em Tabela 02, 03, 04 e

05 – possuindo a mesma estruturação, porém sem a referência aos autores – com a finalidade

de ilustrar o conjunto de critérios e elementos de projeto para cada uma das quatro escalas

– da cidade, do bairro, do quarteirão e do edifício. Cada tabela é seguida de orientações de

projeto que estão expressas por meio de textos e ilustrações.

43
Com base nestes autores construiu-se a síntese das suas ideias e as recomendações.
57

Tabela 01: Base teórica e sua relação com as escalas, princípios, indicadores e elementos de projeto

*DPZ: Livros e manuais criados pela equipe do Congresso para o Novo urbanismo (CNU). * LNEC: Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Publicações
ligadas a temática do habitar; *12 BFL: Building for life 12: the sign of a good place to live - Guia utilizado na Inglaterra para orientar sobre a qualidade dos
projetos e avaliar a qualidade dos empreendimentos habitacionais.
Fonte: Elaborado pela autora.
58

I.1 Cidade: integração urbana

[...] o direito à cidade só pode formular-se como direito à vida urbana... o


‘urbano’, lugar de encontro, prioridade do valor de uso, inscrição no espaço
de um tempo promovido ao nível de bem supremo entre outros bens,
encontre a sua base morfológica, a sua realização prático-sensível. Isto supõe
uma teoria integral da cidade e da sociedade urbana. (LEFEVBRE, 2012
[1968], p.120).

O título do livro de Henri Lefebvre (1901-1991), Le droit à la ville (O direito à cidade),

publicado há 50 anos, é hoje uma das frases mais citadas como slogan, em conjunto com a

expressão “A função social da cidade”, da principal Lei Federal brasileira, batizada de

Estatuto das Cidades44, que regulamenta a política de desenvolvimento e expansão urbana

no país.

Entende-se que ter direito à cidade é ter direito a uma estrutura que possibilite as

relações necessárias para o exercício da cidadania45. Em termos mais concretos, significa

usufruir de terra urbanizada, da habitação, do saneamento ambiental, da infraestrutura

urbana, do transporte e dos serviços públicos, de oportunidades de trabalho e de lazer,

mantendo, se possível, os vínculos adquiridos ao longo do tempo e que caracterizam a vida

em comunidade. Tais elementos são estabelecidos no Estatuto das Cidades46 como o “direito

a cidades sustentáveis” para as presentes e futuras gerações.

A qualidade de um novo empreendimento, seja um conjunto habitacional ou um novo

bairro, está intimamente relacionada com seu comprometimento em construir cidades e não

somente unidades, isto é, o empreendimento deve contribuir para o processo de

urbanização, integrando-se na cidade pré-existente, de forma que as soluções provenham da

44
O Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001) regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal
Brasileira – estabelece parâmetros e diretrizes da política urbana no Brasil. Oferece instrumentos para
que cada município possa intervir no processo de planejamento e gestão urbana e territorial, e garantir
a realização do direito à cidade.
45
Cidadania é a prática dos direitos e deveres de um indivíduo em um Estado, (estrutura própria,
politicamente organizado), que andam sempre juntos, uma vez que o direito de um cidadão implica
necessariamente uma obrigação de outro cidadão.
46
Direito garantido pela Lei Federal 10.257/2001 – Estatuto das Cidades (artigo 2º - Das Diretrizes
Gerais).
59

própria cidade, entendendo que a qualidade do habitar está estreitamente vinculada ao

projeto urbano, ou seja, a boa arquitetura não existe sem boa urbanização.

Dessa forma, a qualidade desta relação depende da viabilidade desse novo

empreendimento em atender às necessidades básicas dos moradores e dos demais cidadãos

impactados por ele, que se resumem, no mínimo, em habitar, trabalhar, estudar, recrear-se e

circular, além da garantia de continuidade para permitir a fluidez necessária entre o espaço

público e o privado, eliminando barreiras e dissolvendo guetos. Ademais, sua virtude deve

ser fortificada pela variedade das unidades habitacionais a fim de atender à multiplicidade

de grupos humanos e subculturas que coexistem na área urbana.

A garantia da correta inserção e integração de um conjunto habitacional ou novo

bairro na cidade pode ser medida, fundamentalmente, a partir da análise de um conjunto de

critérios e elementos de projeto que foram organizados a partir de dois indicadores: a sua

Localização no contexto urbano e as Conexões que se estabelecem entre o novo

empreendimento e a sua envolvente.

Tabela 02: Princípios, indicadores e elementos de projeto: Escala da cidade.

Fonte: Elaborado pela autora.

I.1.1 Localização

A seleção da área para a implantação de um conjunto habitacional ou novo bairro

deve estar relacionada, sempre, com algum tipo de centro formado por serviços e atividades,

de acordo com o porte do município ou região onde se insere. Assim, a localização deve ser

em áreas centrais ou, se mais afastada dos centros, ao longo dos eixos de transportes; não

se enquadrando em nenhumas das alternativas anteriores, o conjunto deve formar um novo

bairro completo, cuja implantação apresente uma estrutura coerente na articulação com a

cidade pré-existente, e ser pensada sob as direções lógicas do processo de urbanização.


60

Habitação na área central

A proposta da promoção de Habitação na área central – tal como referido no Estatuto

das Cidades, como uma das formas de cumprir com a função social da propriedade47 – pode

contribuir significativamente para preencher os vazios centrais das cidades que estão, em

muitos casos, em processo de deterioração do patrimônio construído e do território urbano,

resultando na diminuição da população vivendo nestas áreas e, em decorrência disso, a

subutilização das redes de infraestrutura já existentes.

À vista disso, Coelho (2007, p. 346) cita o livro “Construir no construído”48 e faz uma

reflexão da necessária sensibilidade do arquiteto e urbanista para entender e atuar nesta teia

de tensões – referindo-se a qualquer obra ou intervenção na cidade, em especial nas áreas

centrais, onde as características estruturais do lugar são, na maioria das vezes, mais

complexas.

Segundo Vigliecca (2014, p. 49), referindo-se à cidade de São Paulo49, retomar a área

central com o propósito de se viabilizarem territórios habitacionais significa trabalhar

inserções, reconhecer pré-existências significativas, sistemas urbanos consolidados, buscar

densidades importantes e, mais que isso, conceber o morar no centro da maior metrópole

da América do Sul50.

O autor ainda completa dizendo que, para além das questões necessárias – numéricas,

de repovoamento e utilização de patrimônio material abandonado – propor habitação na

área central significa pensar em possibilidades de apropriação, reconhecimento, uso e

atribuição de sentido em diferentes escalas: do quarteirão, da rua, das grandes infraestruturas

e equipamentos, mas também do lugar, das pequenas distâncias, dos serviços do cotidiano,

da vida diária.

47
O Estatuto das Cidades estabelece que a propriedade urbana precisa cumprir uma função social, ou
seja, a terra urbana deve servir para o benefício da coletividade.
48
Francisco de Gracia, “Construir em lo construído – la arquitetura como modificación”, 1992.
49
São Paulo tem alguns bons exemplos de programas específicos para reabilitação da área central,
como o Procentro (2009); Programa Urbanização de Favelas e cidades inclusivas (2005-12); Programa
de recuperação Urbana e Ambiental nos Mananciais e Recuperação de Cortiços (2005-12).
50
Construir moradias de interesse social em área central é um desafio à nossa (brasileira) maneira
histórica (desde 1970) de fazer habitação como política pública. Tanto a centralidade como a
coletividade são questões novas à “cultura de projeto” que se constituiu em relação às habitações em
periferias.
61

Nesse âmbito, o projetista tem que ter a compreensão da interface com a diversidade

de usos, tipologias, intensidades e significações urbanas pré-existentes, além da tentativa de

gerar conexões e continuidades e, ao mesmo tempo, viabilizar espaços de vida coletiva na

moradia em área central.

Outro fator relevante é que através da existência de habitações na área central,

restabelece-se, com mais facilidade, um equilíbrio adequado entre as diversas atividades e,

como bairros e comunidades, a área, mais compacta, prospera na diversidade, já que serão

mais pessoas nas calçadas utilizando serviços de transporte, comércio local e áreas de lazer.

Esta proposição tem grande pertinência, posto que permite a vivência mais inclusiva

das nossas cidades, favorece a habitação social a baixo custo e, consequentemente, inibe a

gentrificação que tem como resultado a especulação imobiliária, o aumento do preço dos

aluguéis e o encarecimento do custo de vida a ponto de as pessoas serem forçadas a

migrarem para outros bairros.

Habitação na área central é uma proposta que vem ainda ao encontro do conceito de

urbanismo sustentável, que busca recuperar os espaços centrais arruinados pelo

planejamento regulado pelas leis de zoneamento, uma vez que se utiliza de um vazio urbano

em meio a uma área mais densa, com infraestruturas de transportes existentes e uma

urbanização mais compacta, conservando os materiais físicos necessários e reduzindo a

dependência do automóvel.
62

QUADRO 2 Casarão do Carmo. Héctor Vigliecca. Vinte e cinco unidades habitacionais propostas na
área central em sítio histórico, a partir de uma demanda de cortiço. São Paulo-SP – Brasil (2003).
63

Habitação ao longo dos eixos de transporte

A oferta de Habitação ao longo dos eixos de transporte permite trabalhar em uma

constelação de áreas difusas de território51, que, no Brasil, necessitam evoluir para novos

padrões de uso do solo, aumentando a densidade linear gerada pelos embarques contínuos

permitidos em um corredor de transporte público.

Pesquisas realizadas nos Estados Unidos52 mostram que, ao proporem mais opções

de habitação, sejam conjuntos habitacionais ou bairros residenciais, próximos às estações de

transporte público (com acessibilidade pedonal), têm se tornado parte significativa do

mercado imobiliário, uma vez que existe uma forte demanda, principalmente entre os

solteiros, casais sem filhos, idosos e minorias de baixa renda, que são, também, o tipo de

família53 que deve ter o maior crescimento nos próximos 25 anos.

Esta conexão, viabilizada pelo transporte público, estabelece um vínculo de maior

equilíbrio, principalmente entre os temas habitação, mobilidade e trabalho, entendendo que

a grande porcentagem de empregos se concentra nas áreas centrais dos bairros e/ou das

cidades e que, mais que os bairros completos, são os corredores de transportes que, à escala

urbana, conciliam trabalho e habitação. No entanto, é preciso assegurar-se de que estes eixos

estejam nas margens das áreas residenciais e que não as transpassem.

Ainda, nestas margens, onde se situa o corredor de transporte público, é preciso um

cuidado particular para com os tipos e mescla de atividades e serviços que ali se estabelecem,

em relação à escala e caráter do lugar. Nessa perspectiva, baseado na teoria das zonas de

Transect54, é possível determinar os tipos de empreendimentos próximos aos eixos e às

51
Lei Federal 6.766/1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano – estabelece uma faixa
não edificável de 15 (quinze) metros de cada lado, ao longo de águas correntes e dormentes e das
faixas de domínio público de rodovias e ferrovias.
52
Reconnecting America’s é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve pesquisas inovadoras
no que tange à integração de transporte e desenvolvimento comunitário e faz parte do Center for
transit-Oriented Development (CTOD).
53
Tipos de famílias incluindo-se também os diversos níveis de renda, tipos de proprietários e locadores
– CTOD.
54
As zonas de Transect (T-zones), são uma teoria desenvolvida pelo Centro de Estudos Aplicados
(CATS), que promove a compreensão do ambiente construído como parte do ambiente natural, através
da metodologia de planejamento do Transect rural-urbano. Ver mais no item I 2.1 – Morfologia e
Tecido Urbano – T-zones e Smart Code.
64

estações a fim de integrar-se aos arranjos de vida das comunidades à sua volta, em

conformidade com os ambientes físicos distintos.

Dessa forma, enriquecendo e diversificando funções em densidades adequadas,

propicia-se o desenvolvimento de comunidades através do transporte público, uma vez que

o corredor desempenha, além da conexão, a função de estimular o uso misto das atividades

cotidianas ali existentes, o que auxilia a formar comunidades urbanas mais sustentáveis.

Considera-se relevante destacar aqui que esta sustentabilidade somente será

alcançada se o nível de integração de políticas e de elementos urbanísticos considerarem as

dimensões do desenho, do financiamento, da legislação e da governança. Nesse espectro,

medidas isoladas de incentivo urbanístico não devem ser propostas, uma vez que se cria o

risco de elaborar projetos que sejam economicamente viáveis, mas que não tragam os

benefícios de uma urbanização sustentável.

Nessa perspectiva, no Brasil, desde 2002, através da WRI-Brasil, o Desenvolvimento

Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS)55 – uma estratégia de planejamento urbano que

busca integrar o uso e a ocupação do solo e a infraestrutura de transporte público (eixos e

estações) –, está sendo incorporado à Lei dos Planos Diretores Municipais, a fim de

estabelecer ações, em diferentes escalas, a serem realizadas no entorno de eixos e estações

de transporte.

A primeira destas ações56 diz respeito a intensificar o adensamento e uso do solo ao

longo dos eixos e entorno de estações de transporte coletivo; a segunda, combater a

ociosidade do uso do solo em áreas com oferta de transporte coletivo; a terceira, diversificar

o padrão social de moradia57 evitando a elitização das áreas providas de infraestrutura e sua

consequente gentrificação; a quarta diz respeito à integração do espaço privado ao espaço

publico em favor do pedestre; a quinta, a promover espaços públicos de permanência e áreas

verdes; a sexta ação foca em desestimular o uso do automóvel junto aos eixos de transporte

55
O DOTS foi inspirado no modelo norte-americano de planejamento urbano Transit Oriented
Development (TOD) concebido por Peter Calthorpe através da publicação The Next American
Metropolis (1993).
56
Ações recomendadas no Guia para inclusão do Desenvolvimento Orientado ao Transporte
Sustentável (DOTS) no planejamento urbano – WRI-Brasil (2018).
57
No Brasil, o instrumento que facilita a aplicabilidade desta ação é a instituição de ZEIS (Zonas
Especiais de Interesse Social), inclusas no Plano Diretor, para a produção de habitação de interesse
social (HIS) e equipamentos sociais.
65

coletivo; a sétima busca articular e conectar os equipamentos sociais a infraestruturas de

transporte coletivo e, por fim, a oitava ação fomenta espaços de suporte ao transporte

cicloviário.

Nesse quadro, é possível mencionar a cidade de Curitiba - Paraná, BR, a qual tratou o

tema da mobilidade urbana articulada de maneira estratégica com a política de planejamento

urbano, através do Plano Diretor, que propôs o crescimento urbano da cidade a partir da

estruturação de eixos de BRT (Bus Rapid Transit), com princípios semelhantes ao conceito de

Desenvolvimento Orientado pelo Transporte Sustentável.

Também, mais recentemente (2014), em São Paulo - SP58, na oportunidade de revisão

do Plano Diretor, foram definidos eixos de transformação urbana, adotando uma estratégia

de planejamento que segue os princípios dos DOTS. Está prevista a integração e articulação

entre diferentes meios de transporte, incluindo os meios de transporte não motorizados e

menos poluentes. O documento reconhece, também, novos componentes do sistema de

mobilidade urbana (sistema de logística hidroviário e compartilhamento de automóveis).

É importante lembrar que os níveis de serviço de transporte público dependerão da

relação de densidade urbana, isto é, do número de unidades de habitação por hectare, a fim

de assegurar uma quantidade suficiente de usuários para sustentar os serviços, desde um

serviço básico de ônibus, até um serviço de metrô ou ônibus elétrico. Ver mais no item I.1.2

– Conexões – Transporte público, coletivo, individual e alternativo.

58
Conforme Plano Diretor de São Paulo – Lei 16.050 de 31 de julho de 2014.
66

QUADRO 3 Corredor de sustentabilidade (TOD e TND). Crescimento urbano em corredores lineares


ao longo das rotas de transporte público – Curitiba- Brasil. Exemplos de empreendimentos residenciais
próximos aos eixos e estações de transporte público coletivo. São Francisco, São Francisco, Charlotte,
Los Angeles, São Francisco.
67

Habitação formando novos bairros

A ideia da Habitação formando novos bairros inicia por eleger áreas aptas para a

expansão urbana, o que significa considerar o crescimento histórico da cidade a fim de

determinar o sentido que condicionou seu desenvolvimento e que, literalmente, lhe deu

forma, e compreender os elementos físicos que a regulam: as linhas e polos que organizam

sua expansão, e as barreiras e limites que a contêm59.

Dessa forma, estes bairros devem ser consistentes com um plano urbano mais

abrangente60 que possua, na sua estrutura, as projeções dos eixos conectores, capazes de

ligar diferentes áreas da cidade, bem como um propósito de criação de novos polos de

crescimento inteligente que sejam completos e compactos, e que assegurem a

sustentabilidade, a identidade e a independência.

Nesse particular, é pertinente citar o TOD (ou DOTS, no Brasil)61, que é um modelo

de planejamento e desenho urbano voltado ao transporte público, que constrói comunidades

urbanas sustentáveis onde o território, o uso do solo e as redes de infraestrutura e serviços

são planejados de forma íntegra, aproximando pessoas e seus destinos e atividades

principais, promovendo a mobilidade sustentável e diminuindo as distâncias e os tempos de

viagens diárias. Esta interação torna oportuno o crescimento econômico, social, cultural e a

melhoria na qualidade de vida da população.

Para isso, estas novas comunidades necessitam satisfazer os critérios de

desenvolvimento de unidades de vizinhança e bairros urbanos sustentáveis62, garantir a

qualidade da vida nos espaços públicos, a menor dependência do automóvel, o acesso ao

trabalho, à escola e aos espaços de lazer através de deslocamentos a pé, o transporte ativo,

59
Sobre conceitos de linhas, polos, limites e barreiras: Kevin Lynch, A imagem da cidade, (2011 [1960]),
p.52 e 53; Philippe Panerai, Análise urbana, (2006 [1999]), p.60-66; Aldo Rossi, A arquitetura da cidade,
(2001 [1960]) p.124.
60
No caso do Brasil é o Plano Diretor (Lei municipal que, no seu papel estratégico, estabelece diretrizes
para o crescimento e planejamento do território, bem como do uso eficiente das infraestruturas).
61
Transit-Oriented Development (TOD) e Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável
(DOTS).
62
No que se refere a fazer novos bairros e cidades embasados em precedentes históricos, é pertinente
citar CityMakers Lab (uma comunidade que procura inspiração in situ em cidades exemplares de todo
o mundo a fim de aprender com as boas práticas, como é o caso do Barcelona CityMakers Lab 2019 –
evento que objetivou, através de visitas e estudos por uma semana, conhecer as estratégias e
dinâmicas urbanas da cidade de Barcelona – um sucesso urbano.
68

o sistema de automóveis compartilhados, o acesso ao transporte público, a diversidade de

distritos, de quarteirões, de tipologias de construções, de unidades habitacionais, de usos,

incluindo instalações comerciais e comunitárias locais, onde o objetivo seja sempre criar

lugares, e que a escala humana esteja no centro de todas as decisões.

Conforme a WRI-Brasil (2018), é necessário promover modelos de cidades “3C”:

cidade compacta, conectada e coordenada. Compacta, através do adensamento no entorno

da infraestrutura de transporte coletivo, combate aos vazios urbanos, a diversificação do

padrão social e o controle do perímetro urbano. A desejada conectividade do território pode

ser alcançada com a eficiência no uso das infraestruturas urbanas, a continuidade do tecido

e redução da necessidade de deslocamentos motorizados, promovendo a mescla de usos e

a criação de centralidades distribuídas em toda a área urbana.

E, por fim, a gestão coordenada nas cidades ocorre por meio da adoção de medidas

normativas que promovam a gestão social da valorização da terra, o aumento da densidade

populacional e construtiva e a reversão, para a coletividade, da valorização imobiliária gerada

por essas ações.

De acordo com David Sim (2013)63, as cidades compactas devem ter suas referências

nos espaços menores, que abrigam um ritmo mais lento de vida e, a partir disso, usar a nossa

criatividade para encontrar maneiras de trazer a escala humana a todos os lugares – até

mesmo numa metrópole. “Tóquio, uma das cidades mais populosas do mundo, é um grande

exemplo. As pessoas desfrutam do prazer social e sensorial em quase toda parte”. (SIM, 2013,

p.11).

Nesse norte, é pertinente citar a experiência do Bairro Pedra Branca, Estado de Santa

Catarina no Brasil64, que une a este conceito – da cidade “3C”, o conceito das cidades

criativas, como aquela que se reinventa permanentemente por meio da inovação, da conexão

63
Entrevista à Revista Pedra Branca – Cidade Criativa (2013, p.11). David Sim é diretor da Gehl
Architects e atua, mais especificamente, em Masterplanning Frameworks e urban design aplicando as
teorias de Jan Gehl a projetos de grande escala. David também é renomado como um educador e
professor inspirador, e lecionou em escolas de arquitetura e design em todo o mundo.
64
Bairro Pedra Branca localiza-se no estado de Santa Catarina, na grande Florianópolis – Brasil. É uma
referência nacional na construção de bairro que prioriza a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas.
Iniciou sua construção no ano de 2010, possui uma área de projeto de 250 ha e uma centralidade de
40 ha. A população, atualmente que reside no bairro, é de 10.000 pessoas, e um número equivalente
de 10.000 pessoas que trabalham no bairro. A meta é chegar a 40.000 pessoas nos próximos 20 ou 30
anos.
69

e da cultura. A inovação que deve ser variada e entendida como novos produtos, serviços,

processos e olhares para a resolução de problemas e aproveitamento de oportunidades.

Quanto à conexão, essa refere-se à relação entre público e privado, entre áreas da

cidade, entre sua história e sua visão de futuro, entre cidade e cidades vizinhas e o resto do

mundo. E, por fim, a conexão relaciona-se à cultura, em três dimensões: pela identidade

simbólica que carrega, por seu impacto econômico e por ajudar a formar um ambiente

propício à criatividade.

Nesse contexto, considera-se pertinente citar Carlo Ratti em entrevista à revista Pedra

Branca: Cidade criativa: “A melhor forma de direcionar o potencial de criatividade e inovação

de uma cidade é aumentar o número de pessoas conectadas e deixá-las à vontade”. (RATTI,

2014, p. 57).

Ainda sobre o conceito das cidades “3C”, Pedra Branca – SC, acrescenta mais dois

adjetivos e fundamenta-se no conceito das cidades “5 Cs” – criativas, completas, complexas,

compactas e estímulo ao convívio. Esta convicção é pautada nas melhores referências dos

conceitos de urbanidade buscados pela equipe de projeto do bairro Pedra Branca.

Dentre estas referências, trabalham como consultores do projeto do bairro Pedra

Branca: o escritório DPZ – Latin America, realizando o desenho do tecido urbano (masterplan)

e coordenando as charretes e todo o processo de implantação; O escritório Gehl Architects

que interagiu com palestras e “foi como um palpiteiro”65 no projeto, em especial dos espaços

públicos; o arquiteto paisagista Benedito Abbud, para o projeto dos espaços externos; Jaime

Lerner Arquitetos Associados, na participação das charretes e nos projetos do centro cultural

e do plano de mobilidade; o grupo PPS (Project for Públic Spaces), na conceituação dos

espaços públicos; H-8 Arquitetos e Engenheiros Humanistas, para o projeto das ciclovias;

Vigliecca & Associados, na concepção do bairro; ARUP – Sustainable Infrastructure

Masterplan, na elaboração do Plano Diretor de Sustentabilidade, dentre outros.66

65
Expressão utilizada por Dilnei Bittencourt – ex-diretor da construtora e atual consultor –, em
entrevista realizada no dia 30 de julho de 2019, Pedra Branca - SC.
66
Além destes nomes, outros vários escritórios locais (das mais diversas áreas) participaram da
construção deste projeto de bairro sustentável.
70

QUADRO 4 Diagramas: (PERRY, 1929), Bairro urbano tradicional (DPZ, 2010) e Bairro para o
Urbanismo Sustentável (FARR, 2013). Diagramas DPZ ilustrando bairros interconectados com centros
e bordas definidas. Exemplo do Bairro Pedra Branca - SC, Brasil.
71

I.1.2 Conexões

O novo conjunto habitacional ou bairro deve integrar-se nos seus arredores,

reforçando as conexões existentes e criando novas. A conformação e estrutura do traçado

urbano devem ser intimamente relacionadas, na sua estrutura funcional, com os traçados

contíguos, salvaguardando a hierarquia viária, o caráter específico, a segurança e a

funcionalidade no uso das residências e dos seus espaços exteriores adjacentes.

Lembrando que é ao longo das vias que outros elementos se organizam e relacionam,

formando os distritos e a malha de quarteirões onde se distribuem os espaços públicos

abertos e espaço construído com suas especificidades de usos, tipologias, acessos, entre

outros elementos que estruturam o espaço urbano em conformidade com o caráter do lugar.

Estas ligações devem ser viabilizadas através da rede viária, das calçadas e caminhos

para pedestres, das ciclovias e do transporte público, que garantam a mobilidade urbana de

qualidade, a qual depende da sua acessibilidade e confiabilidade a ponto de as pessoas

decidirem mudar seu estilo de vida – reduzir a dependência do automóvel particular.

Mobilidade urbana67, num conceito mais contemporâneo, é entendida como um

instrumento que vai além da maneira tradicional de tratar, isoladamente, o trânsito, o

planejamento e a regulação do transporte público, e adota uma visão sistêmica que objetiva

impulsionar o uso de transporte multimodal e, sobretudo, a “caminhabilidade”68.

Rede viária

A nova rede viária tem que ser compreensível e deve manter e conectar-se à estrutura

do entorno, reforçando as linhas existentes, criando novas e evitando ruas sem saída a fim de

67
Lei 12.587 de janeiro de 2012 institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Está
fundamentada em princípios como o desenvolvimento sustentável das cidades, a equidade no acesso
dos cidadãos ao transporte público coletivo e o uso do espaço público de circulação. Necessita a
construção de um Plano de Mobilidade Urbana para cada cidade, que para o Brasil, tem como
referência o Guia Sete passos, como construir um plano de mobilidade urbana, de autoria da WRI-
Brasil, entre outros manuais.
68
Caminhabilidade: termo utilizado por Jeff Speck no livro Cidade Caminhável (2016, p. 20), que
significa que uma cidade deve ter qualidades muito além de “ruas para pedestres” com espaços
bonitos e seguros. Caminhabilidade, segundo Speck, refere-se à reunião de quatro condições
principais: a caminhada proveitosa, segura, confortável e interessante; estas condições desmembram-
se numa série de regras específicas que o autor denomina de “os dez passos da caminhabilidade.”
72

dispersar o tráfego, reduzir a duração das viagens de automóvel e garantir uma rede

interconectada de ruas e espaços públicos (parques, espaços cívicos e institucionais, parques

de vizinhança, jardins e playground).

Nesse aspecto, as ligações podem e devem ser feitas a fim de planejar a melhor forma

de integrar o novo conjunto no tecido existente, buscando preservar a estrutura pré-existente

através do cuidado em não bloquear ou redirecionar rotas presentes, e propor desenho de

ruas locais que atravessem o novo conjunto / novo bairro, o que ajuda a criar vínculos entre

o novo lugar e os lugares circundantes.

Este plano de hierarquia das vias deverá reunir um conjunto de propriedades que

estão associadas ao seu papel no movimento: dimensões das calçadas, das ciclovias ou

ciclofaixas e das faixas de rolagem; e, ainda, qualidades relativas à sua relação com os

espaços e edifícios (privados e púbicos): no térreo, em primeiro lugar, através dos usos

diversificados (geralmente lojas e cafés), bem como um cuidado com o desenho dos espaços

de transição nas edificações residenciais; em segundo, nos andares subsequentes, também

através dos usos (comercial, escritórios, residenciais) e por meio do desenho da fachada que

permita um nexo com a rua, seja mediante a materialidade, o uso de floreiras, de varandas /

sacadas e telas ajustáveis que permitam compor espaços ao ar livre.

Entendendo-se que a relação dos edifícios com a rua é um fator determinante, uma

vez que as edificações são consideradas partes de um todo, desenvolveu-se com mais

detalhes este tema no item I.1.2 – Conexões - Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias,

onde se desenvolve e aprofunda o assunto sobre térreos e fachadas ativas e transparentes.

Retornando à rede viária e seus atributos físicos, as faixas veiculares (vias principais69)

que se aproximam do novo conjunto habitacional devem passar nas suas laterais; no caso de

atravessarem o conjunto, devem assumir geometria de baixa velocidade (em média 24km/h

a 40km/h)70, que permitam a travessia do pedestre em curto espaço de tempo,

69.
Vias principais (arteriais) que contornam a área residencial: Padrão proposto na Unidade de
Vizinhança de Clarence Perry (1929) para proteger a unidade do tráfego. Vias que, geralmente,
assumem um caráter de ruas mais largas e assegurem a extensão entre os distritos e bairros, como
uma “espinha dorsal”. (Boston Complete Streets, design guidelines, 2013, p.9). Conforme Panerai
(2006 [1999], p. 60-61), as vias principais são as linhas de crescimento, as quais funcionam entre polos
por meio das tensões existentes. O autor denomina as vias principais de tensores entre polos.
70
Recomendações de largura de ruas locais (faixa de tráfego): 6 a 10 m, produzindo uma velocidade
entre 20 mph e 25 mph (24Km – 40Km por hora) e tempo de travessia entre 5 e 10 segundos.
73

proporcionando segurança aos pedestres e possibilitando às pessoas se locomoverem com

total confiança pelas ruas71.

Este modo de desenhar ruas evoca a estratégia utilizada no Reino Unido para o

controle de velocidade, intitulada de “Zona 20” (20’s Plenty for Us)72, onde a velocidade

máxima permitida é de 20 milhas por hora (32Km/h) para ruas locais nos bairros. Após a

implementação desta medida, verificou-se uma queda de 80% de mortes oriundas das

colisões com pedestres.

Esta estratégia de moderação de velocidade é estabelecida também em Boston,

sendo monitorada por câmeras, definindo 25 milhas por hora (40Km/h) e, para "zonas

seguras", 15 milhas por hora (24Km/h). Também em Lisboa (2009 - 2011), se implementou

uma política semelhante, denominada “Zonas 30”73, determinando a velocidade máxima de

30 quilômetros por hora, especialmente em zonas residenciais. No Brasil, as “Zonas 30” foram

implantadas em algumas capitais, como Rio de janeiro - RJ (2009), São Paulo -SP (2013),

Vitória - ES (2014), Curitiba - PR (2015) e Porto Alegre - RS (2016).

As vias locais74 devem ter um caráter que, além de viabilizar às pessoas o

deslocamento a pé, incentive o agrupamento de pessoas, os acontecimentos e a

permanência no exterior, por meio do compartilhamento deste espaço entre carros, ciclistas

e pedestres. Nesse ponto, deve-se ainda selecionar ruas estratégicas nos centros de bairro

Recomendação baseada nas referências: Neighborhood Conservation Code, 2010, p.10-11; Boston
Complete Streets, Design Guidelines, 2013, p.99; Guia Global de Desenho de Ruas (2018, p.132-135
e 232-249); O desenho das cidades seguras – WRIcidades, 2015, p. 31-41.
71
Manuais criados pela equipe do Congresso para o Novo urbanismo (CNU) que visam a projeto de
vias caminháveis e mais seguras para Bairros residenciais: Duany, A., Speck, J. and Lydon, M. The Smart
Growth Manual (2009) e Neighborhood Conservation Code (2010).
72
20’s Plenty for Us – Organização sem fins lucrativos criada em 2007 que promoveu uma campanha
e um debate democrático acerca deste tema e, atualmente, são 400 filiais de campanha em todo o
Reino Unido.
73
Zonas 30 ou zonas 20 são, usualmente, implementadas através do conceito “traffic calming” –
medidas (táticas, eficientes e econômicas) para moderar o trânsito motorizado que forçam o motorista
a reduzir a velocidade através do desenho das vias, como deflexões horizontais e verticais (desvios e
obstáculos planejados como canteiros, floreiras, estreitamentos, prolongamentos de calçadas em
esquinas, marcação de pavimentos, placas, entre outras tantas estratégias). Conforme Guia global de
desenho de ruas (2018, p. 132).
74
Vias locais: denominadas de “ruas de bairro” segundo Guia Global de Desenhos de Ruas (2018, p.
232-249). Estas ruas podem ser categorizadas como ruas residenciais – espaços onde as comunidades
são criadas, são a porta de entrada dos lares, das escolas e das lojas locais – e ruas principais de bairro
que estão no centro da vida cotidiana, oferecendo a possibilidade de acesso a pé a destinos como
restaurantes, lojas, serviços e paradas de transporte coletivo.
74

para convertê-las em calçadões de pedestres ou em espaços de uso compartilhado com

mobilidade não motorizada75.

Sobre “Shared Space” – Espaços Compartilhados - é relevante citar Hans Monderman

(1945-2008), engenheiro de tráfego holandês, pioneiro em dois conceitos notáveis e inter-

relacionados: ruas nuas e espaços compartilhados76.

Ruas nuas referem-se ao conceito de retirar das ruas toda sinalização, incluindo faixas

de travessias e, a partir deste conceito, o espaço compartilhado77 inclui a eliminação de

informações visuais e barreiras, tais como meios-fios, e materiais distintos para ruas e

calçadas. O objetivo é criar um ambiente de completa ambiguidade de tal forma que carros,

ciclistas e pedestres, todos se respeitem e ajudem numa grande mistura de humanidade.

Esta alternativa pode ser aplicada, de acordo com o contexto urbano, nas vias de um

conjunto habitacional ou bairro, delineando que a rua cumpra o propósito, para além da

circulação, de espaços de convivência, resgatando o significado mais puro e poderoso da

rua: todos somos donos do espaço e de qualquer maneira; todos podemos usar a rua.

75
Conforme Manual de Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável –
EMBARQ_Brasil (2015).
76
Jeff Speck, em A apoteose da Segurança – A caminhada segura, 2016, p. 160.
77
Conceito de Hans Monderman (1982) inspirado nas woonerf (ruas vivas) – conceito que nasceu em
Delft na Holanda no final dos anos 60.
75

QUADRO 5 Estratégias de moderação de tráfego (imagens da coluna da esquerda, da coluna da


direta e duas imagens inferiores). Ruas compartilhadas: Exhibition Road, Londres. Stroget,
Copenhague. New Road, Brighton (acima).
76

Relativamente às vias principais (arteriais), a nova área residencial deve estar

protegida do tráfego intenso, dispondo as vias principais que são, possivelmente, eixos de

transportes e permitem “velocidade de projeto”78 superior a 60 Km/h, nas margens. Neste

caso, estratégias de projeto deverão ser pensadas para ligar o novo bairro aos demais79,

passando por esta via arterial, as quais poderão ser através de uma passagem subterrânea,

por uma ponte / passarela que se integre na paisagem e no contexto e crie um ambiente

amigável para os pedestres.

Nesse ponto, Gehl (2013, p. 131) alerta que o uso de passarelas elevadas e

passagens subterrâneas para o pedestre deve ser concebido como último recurso, vez que

apenas funcionam corretamente se os pedestres forem fisicamente impedidos de atravessar

a rua no mesmo nível.

Estes elementos (passarelas e pontes), utilizados para fazer a conexão, poderão ter

caraterísticas marcantes e possuírem uma predominância espacial a fim de contrastar com o

contexto. O domínio do elemento marcante deve ter clareza de forma, facilitando a

percepção pelos usuários. Se pudermos identificar, quer ao longe quer ao perto, tornar-se-á

um ponto de apoio para a percepção do complexo e mutável mundo urbano. (LYNCH, 2011

[1960], p.105).

Ainda, nessa perspectiva da melhor conformação das margens de um setor

residencial, é necessária uma atenção exclusiva para com os acessos que, após uma avaliação

do caráter das ruas adjacentes, podem ser definidos pelas vias secundárias com menor

movimento ou por vias principais, utilizando entroncamentos ou cruzamentos. Estes acessos

podem ligar-se às estruturas exteriores e interiores, tanto por um prolongamento de vias,

como por uma ação afirmada de entrada demarcada.

Os cruzamentos, dependendo da sua escala e formato, podem ser efetuados por

rotatórias que oferecem oportunidades para incluir uma área permeável e verde ao espaço,

78
Velocidade de projeto – termo utilizado por Douglas Farr no livro Urbanismo Sustentável: Desenho
Urbano com a Natureza (2013, p.123), por Andres Duany et al. (2000, p.250) no livro Suburban Nation:
The rise of sprawl and the decline of the American dream e pelos autores do Guia Global de Desenho
de Ruas (2018, p.178). Significa o número essencial que os engenheiros de trânsito usam para
configurar as vias para que o movimento do trânsito seja organizado.
79
Segundo Lynch (2011[1960], p.104), os limites podem ser barreiras mais ou menos penetráveis que
mantêm uma região isolada das outras, bem como podem ser “costuras”, linhas ao longo das quais
os setores se relacionam e se encontram mantendo unidas áreas diversas.
77

absorvendo as águas pluviais e reduzindo o calor, com tratamento paisagístico de baixo

crescimento, esculturas, murais e outras formas de arte pública, sempre com a cautela de não

bloquear o triangulo de visão do motorista. Este elemento urbanístico torna-se um local ideal

para a arte, podendo afirmar-se como o gateway do bairro.

Lynch80 conceitua os cruzamentos como locais estratégicos de uma cidade, através

dos quais o observador pode nela entrar, e constituem focos intensivos para os quais e dos

quais ele se desloca. Podem ser essencialmente junções, locais de interrupção num

transporte, um entrecruzar ou convergir de vias, momentos de mudança de uma estrutura

para a outra.

Dessa forma, devido seu caráter de núcleo, que, por sua vez, é o foco intensivo, o

centro polarizador do bairro, pode-se dizer que os cruzamentos estão diretamente ligados

ao conceito de bairro e, conforme Lynch (2011 [1960], p. 75), “em qualquer caso ou imagem,

encontram-se pontos focais e, em alguns casos, eles são até a característica dominante”.

Nessa conjuntura, da rede viária (vias principais, vias locais e seus cruzamentos), é

pertinente mencionar uma característica importante, em especial sob a percepção dos seus

usuários: a legibilidade81. A imagem clara e identificável das ruas permite ao indivíduo

deslocar-se facilmente, podendo servir também como estrutura envolvente de referência, o

que proporciona um senso de orientação, assim como desempenha um papel social na

medida em que pode fornecer matéria-prima para símbolos e memórias coletivas, dando um

sentido de segurança emocional.

Esta qualidade pode ainda ser reforçada através de um olhar atento às principais

vias que podem ter propriedades particulares, conformando-se num elemento contínuo e

unificado dentro do complexo urbano. Estas propriedades podem ser uma regularidade

rítmica, uma repetição de aberturas espaciais, uma textura especial do pavimento ou das

fachadas ou lojas de esquina. A própria concentração de percursos habituais ao longo de

uma rua fortalecerá esta imagem contínua. Ver mais sobre continuidade no item I.2.1 –

Morfologia/Tecido Urbano – Distritos de Zoneamento.

80
Kevin Lynch, A Imagem da Cidade (2011[1960]), p. 52-53.
81
Ibid., p. 10-20. Sobre legibilidade como conceito crucial para a estrutura citadina.
78

Ainda, com o objetivo da garantir a continuidade da rede viária, devem evitar-se,

sempre que possível, os cul-de-sacs82. Estes podem revelar-se bastante negativos do ponto

de vista físico e social, uma vez que podem forçar a interação, podem constituir espaços

claustrofóbicos e pouco seguros, pois têm somente uma entrada. Quando, em último caso,

o tráfego de automóveis formar uma rua sem saída, deve garantir-se a existência de um

caminho de pedestre que complete o percurso, levando ao cul-de-sac em uma direção e se

afastando dele em outra.

82
Cul-de-sacs permitem, de forma eficiente, acesso ao maior número de lotes por metro de rua, e a
ausência de vielas reduz a pavimentação per capita. Contudo, por formarem ruas sem saída e
reduzirem a conectividade, os cul-de-sacs aumentam a quilometragem por veículo, e a ausência de
vielas leva à necessidade de acessos para os automóveis em pátios frontais e ao acúmulo de lixo,
comprometendo a circulação de pedestres. Portanto, somente são aceitos em condições específicas,
quando as condições naturais os exigem.
79

QUADRO 6 Gateways de transição (acessos demarcados) – Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília.
Limites, cruzamentos e travessias. Vias principais e ligações entre os bairros.
80

Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias

Andar a pé é, antes de mais nada, é um meio de transporte, uma maneira de circular,

mas também uma garantia de uma possibilidade informal e descomplicada de se estar

presente no ambiente público, ou semipúblico, no caso de um conjunto habitacional. Assim,

deve-se considerar que as pessoas que vivem dentro de um novo conjunto e as pessoas que

vivem nas proximidades devem poder caminhar pelo conjunto para chegar a outro lugar.

Desta forma, deve pensar-se cuidadosamente como a nova área pode contribuir para a

criação de um bairro mais “caminhável”.

O adjetivo “caminhável” está associado a uma série de condições e regras que visam

a uma integralidade entre elementos mais físicos e pontuais, como: dimensionamento e

configurações das calçadas e ruas e elementos que fazem parte do contexto das vias de

pedestres; a mescla de usos das atividades que se encontram no trajeto, em especial nos

térreos, que tendem a formar lugares de interesse, e fachadas mais ativas através da

orientação dos edifícios que permitem uma relação entre o interior e o exterior. (SPECK, 2016,

p. 21).

Este olhar completo para o universo das calçadas e caminhos de pedestres é o rumo

para planejar os caminhos pedonais em novos conjuntos habitacionais ou bairros, com o

objetivo de criar uma rede de caminhos que estimulem os deslocamentos a pé e

proporcionem uma caminhada segura, proveitosa, interessante e confortável, como

preconiza a teoria geral da “caminhabilidade” escrita por Jeff Speck.

Sobre segurança, é pertinente lembrar que a calçada deve estar protegida por algum

elemento que forme uma barreira entre o pedestre e a via pública, podendo ser através do

paisagismo, de árvores, de estacionamentos ao longo do meio-fio, de protetores metálicos

ou de outra materialidade, a fim de oportunizar ao transeunte a perspectiva e o refúgio, isto

é, vistas distantes e passeio ao ar livre com a sensação de proteção83.

83
Gehl, no livro Cidade para as pessoas (2013), em A cidade viva, segura, sustentável e saudável (2013,
p.91), mostra que muitas atividades acontecem nos espaços de transição de uma calçada (permanecer,
ficar em pé ou sentado) em razão de ser um espaço que dá a sensação de segurança, uma vez que as
costas ficam protegidas e o aparelho sensor frontal confortavelmente pode dominar a situação, tendo
uma visão de tudo que acontece.
81

Este binômio (perspectiva e refúgio) é viabilizado, comumente, na faixa de transição

ou frontage zone84 – espaço utilizado por pessoas que estão entrando e saindo dos prédios,

bem como permanecendo, se houver mobiliários e atividades para tal fim. Nesse sentido,

esta faixa da calçada caracteriza-se pelo “efeito borda”85, que se refere à preferência das

pessoas de ficarem nas bordas do espaço, onde sua presença é mais discreta, suas costas

são protegidas quando estão sentadas, onde há o melhor clima e onde elas dispõem de uma

vista particularmente boa do ambiente.

Nesse sentido, outros elementos arquitetônicos e urbanísticos são evocativos desse

espaço de transição, que através do desenho de sua forma e disposição podem converter-se

em um instrumento potencializador da vida social, como colunatas, arcadas, varandas e

mesmo alpendres e toldos – sempre tão agradáveis e confortáveis – que ativos, abertos e

vivos têm grande impacto na vida e atração exercida pelo espaço da cidade86.

Também, inclui-se no item segurança, o cuidado com as interseções, travessias e

pontos de parada de transporte coletivo. No âmbito das interseções, o desenho das esquinas

é crucial, tanto em relação à visibilidade, evitando interferências, quanto ao tempo de

travessia, com a extensão do meio-fio e redução do raio de curvatura, sendo estes os dois

elementos de maior responsabilidade quando se trata de riscos de atropelamentos87.

Ainda, para maior conforto, sugere-se que as calçadas próximas às entradas dos

edifícios devem ser largas o suficiente para acomodar pessoas que estão de pé, socializando

e caminhando, bem como ter espaços adicionais, baseados em volumes de pedestres, que

esperam para atravessar a rua.

84
Conforme Boston Complete Streets, Design Guidelines, 2013, p. 22, a frontage zone, sempre que
possível, deve ser maximizada para fornecer espaços para cafés, praças e elementos com vegetação
ao longo dos edifícios, mas nunca à custa de reduzir a zona de pedestre (pedestrian zone) para além
das larguras mínimas recomendadas para cada sítio.
85
“Efeito borda”: Termo utilizado pelos autores do Manual 8 Princípios da calçada: construindo
cidades mais ativas – WRI-Brasil (2017, p. 34).
86
Gehl, no livro La humanización del Espaçio Urbano: la vida social entre los edifícios (2006), destaca
que os edifícios devem ser considerados como um fim em si mesmos para, através do desenho de sua
forma e disposição no espaço, converterem-se em um instrumento potencializador da vida social na
cidade através de atrativos do espaço público, lugar onde se desenvolvem inúmeras atividades sociais.
87
Pesquisas realizadas na Cidade do México, Guadalajara, Bogotá e Porto Alegre conduzidas por
Duduta et at. (2015) mostram a redução de atropelamentos após a implementação dessas medidas de
segurança. Duduta, N., Adriazola, C., Hidalgo, D., Lindau, L.A., & Jaffe, R. (2015). Traffic safety in
surface public transport systems: a synthesis of research. Public Transport, v. 7, (2), p. 121-137.
82

Em relação às faixas de travessia de pedestres, que podem ser construídas ao nível

da rua – adicionadas a rebaixamentos das calçadas –, ou elevadas88 – permitindo a travessia

no nível –, devem ser demarcadas a partir de, no mínimo, 1m de distância do alinhamento da

pista transversal de forma a não aumentar o trajeto do pedestre. Ainda devem atender a uma

largura mínima de 3m, sendo recomendado 4m para acomodar o fluxo de pedestres em

ambos os sentidos, com o propósito de indicar um caminho de conexão segura entre

calçadas.

Relativamente aos pontos de parada e estações de transporte coletivo, a segurança

será mais eficaz se as calçadas forem dimensionadas de forma que a infraestrutura e os

passageiros à espera do ônibus não interfiram na faixa livre de circulação de pedestres,

podendo ser escolhido tanto o sistema comum quanto o sistema de embarque em nível, com

calçadas elevadas e acessadas por rampas laterais, atendendo às normas de acessibilidade89.

Conjuntamente à existência de tais estratégias, a qualidade da segurança da calçada

deve-se à redução ao máximo de guias rebaixadas, as quais permitem que os carros invadam

a calçada para o desembarque de passageiros, abastecimento e armazenagem de

mercadorias e drive-thrus, comprometendo os pisos térreos e suas vitrines contínuas.

Para economizar na concessão de rebaixamento de guias, deve-se incentivar as

entradas de serviço na rua de trás, utilizando becos e/ou ruas secundárias, e entradas

separadas para moradias localizadas acima. Em caso de hotéis ou situações semelhantes,

onde chegadas e partidas de hóspedes ocorrem continuamente, devem estipular-se

pequenas zonas de “proibido estacionar” com guias rebaixadas, na frente destes

estabelecimentos.

Ainda sobre segurança, acautelando que as calçadas são espaços públicos sempre

abertos para as pessoas, de dia ou de noite, todos os dias da semana, é indispensável uma

iluminação adequada, isto é, luminária e lâmpada conforme o tipo e função da calçada, e

88
A faixa elevada para travessia de pedestres no Brasil deve atender às diretrizes da Resolução do
CONTRAN 495, de 2004.
89
Acessibilidade significa ter a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para
utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações,
transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros
serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona
urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. ABNT NBR 9050 (2015).
83

altura e espaçamentos entre postes em concordância com as normas específicas90, que

priorize os pedestres e forneça requisitos de visibilidade do caminho, da presença de

obstáculos fixos na superfície e da existência de intersecções e travessias.

Acerca da caminhada proveitosa e interessante, é pertinente lembrar que as cidades

foram criadas para reunir uma diversidade social e uma pluralidade de atividades, portanto,

quanto melhor fizerem isso, mais bem-sucedidas serão. Nesse ponto, os edifícios precisam

criar vida nas calçadas e incentivar a atividade dos pedestres através das fachadas ativas91

(que permitam conexões visuais dentro e fora, com janelas voltadas para a rua e com

frequência de acessos oportunizando a relação entre ambientes fechados e ao ar livre).

As pessoas optam por caminhar se a caminhada tiver um propósito; este é atingido

pela diversidade de atividades existentes dentro de uma distância possível de ser completada

a pé. A existência de comércios, serviços e espaços culturais estimula a convivência (como

restaurantes e expositores nas calçadas da vizinhança) e qualifica a relação do espaço público

com o edifício, promovendo mais interação social.

Nesse contexto da experiência de relação com a cidade, o projeto arquitetônico que

valoriza a relação do edifício com a rua auxilia a criar vida nas ruas, aumenta a complexidade

dos pisos térreos, completando a escala humana e evitando a monotonia ao longo da

caminhada. Ambientes assim são convidativos e contribuem para que as pessoas andem mais

a pé e permaneçam mais tempo nas ruas.

Para tanto, os pisos térreos comerciais que tangenciam/ladeiam as calçadas devem

ter em torno de 60%92 de suas fachadas principais transparentes, ocupadas por janelas,

vitrines ou portas recuadas com abrigo (podendo ser toldos), que conectem o interior da loja

à calçada, promovendo, desta forma, a indefinição do limite entre público e privado, bem

90
A fotometria das luminárias para iluminação pública brasileira é tratada na ABNT NBR 5101 (2012) e
NBR 15129 (2012).
91
Sobre fachadas ativas e fachadas transparentes: Jeff Speck, em A Caminhada Interessante, 2016, p.
211, livro Cidade Caminhável. Hans Karssenberg et al., em História da Cidade, rua e andar térreo,
2015, p.43, livro A Cidade ao Nível dos Olhos: lições para os Plinths. Manual 8 Princípios da calçada:
construindo cidades mais ativas – WRI-Brasil (2017, p. 98).
92
O Plano Diretor Estratégico de São Paulo - SP estabelece parâmetros urbanísticos para incentivar a
construção de fachadas ativas, o plano prevê a não tributação da área do lote destinada a esse fim,
até o limite de 50% do terreno (Gestão Urbana SP, 2016).
84

como dando a sensação de segurança através dos “olhos na rua”: as pessoas que estão

dentro dos prédios enxergam o que acontece na via pública.

“Olhos na rua” é um conceito de Jane Jacobs (2014 [1960], p. 32-34) no que diz

respeito à segurança urbana. Segundo Jacobs, as calçadas desempenham um papel

fundamental para a manutenção da segurança na cidade. A autora defende que a

manutenção da segurança não é feita pela polícia (ou pelo menos não apenas por ela, que

também é necessária), mas pela rede intrincada, quase inconsciente, de controles e padrões

de comportamentos espontâneos presentes em meio ao próprio povo e por ele aplicados.

Allan Jacobs, no livro Great Streets (1995, p.297) apud Karssenberg, H. (2015, p. 53),

escreve sobre áreas térreas e arquitetura de encontros imediatos e afirma que enxergar o

interior e o exterior de prédios conecta atividades visualmente de um modo próximo e

pessoal, então o ritmo das oportunidades oferecidas é crucial para a riqueza da experiência

do pedestre. O número de portas, janelas, recuos, colunas, as janelas das lojas, detalhes das

vitrinas, letreiros das lojas e decorações é importante.

Jan Gehl, no livro Cidades para as pessoas (2013, p.149-151) e no texto Encontro

imediatos com prédios (2006), escreve sobre o impacto dos andares térreos na vida urbana

e afirma que andares térreos interessantes e variados significam ambientes urbanos

convidativos e enriquecedores e sugere que, a cada 100m, seja garantida uma média de 10

entradas com atividades diversificadas.

O autor descreve também sobre a importância do contato visual entre exterior e

interior e cita, como exemplo, a cidade de Melbourne, onde é obrigatório que 60% das

fachadas dos novos prédios nas ruas principais sejam abertas e convidativas, e destaca que

muitas cidades já implantaram políticas semelhantes, de áreas térreas ativas, com bons

resultados.

No que se refere às edificações residenciais, é recomendado que todas as moradias

tenham em torno de 40% de suas fachadas principais ou muros perimetrais transparentes, na

forma de janelas, portas ou grades. Ainda, para melhorar a transição entre espaço privado e

o público, as cercas dos prédios nas ruas residenciais devem ter altura inferior a 3m.
85

QUADRO 7 Zonas da calçada. Frontage zone (faixa de transição e de permanência - Boston). Faixas
de travessias de pedestres e cuidados nas intersecções (visibilidade). Fachadas ativas e
transparência para a conexão visual.
86

Complementando as propriedades de uma caminhada proveitosa, interessante e

segura, e considerando que ao caminhar nas ruas as pessoas interagem constantemente com

o ambiente urbano, é recomendável compor um espaço atraente e confortável que estimule

e cative as pessoas para se locomoverem a pé. A qualidade deste espaço pode ser medida

pela sua ambiência, pela possibilidade de permanência e pelo significado que é criado no

lugar.

Assim, como elementos fundamentais, podem-se citar a existência e a disposição do

mobiliário urbano, que constitui um tópico significativo para o conforto e bem-estar no

espaço urbano; a vegetação e o tipo de pavimento associado a locais de descanso que, se

bem selecionados, podem tornar as calçadas locais de interação social, proporcionando mais

vida – e, consequentemente, segurança – para a cidade.

Os mobiliários urbanos têm função e benefício específicos para a população e para a

cidade, como os bancos, que incentivam a permanência nos espaços públicos; as lixeiras,

que auxiliam na limpeza urbana; a iluminação, que aumenta a segurança pública; os

paraciclos93, que estimulam o transporte por bicicletas, entre outros.

Nesse contexto, dois pontos são fundamentais para assegurar a sua qualidade: um

mobiliário que tenha um desenho universal e garanta a utilização com autonomia e

segurança; e sua organização na calçada (fora da faixa livre de circulação, ocupando a faixa

de serviço), a fim de não constituírem barreiras físicas prejudiciais ao deslocamento de

pedestres e à visibilidade entre usuários da via.

Em relação à sua localização, deve-se ter prudência para que nenhum mobiliário seja

instalado nas esquinas, exceto sinalização viária, placas com nomes de logradouros94, postes

de rede elétrica e iluminação, e hidrantes. Os mobiliários de grande porte devem estar

alocados a uma distância mínima de 15m das esquinas. Ainda sobre localização, deve-se

considerar que a alocação dos bancos e cadeiras deve prever um espaço com microclima

93
Estacionamento para bicicletas em espaços públicos, equipados com dispositivos capazes de mantê-
las ordenadas, com possibilidade de amarração para garantia mínima de segurança contra furto. Por
ser estacionamento de curta ou média duração, ter pequeno porte e número reduzido de vagas, sem
controle de acesso e de projeto simples, difere substancialmente do bicicletário.
94
Logradouro, no Brasil, é um sinônimo comumente utilizado para a rua. Um espaço livre destinado à
circulação pública de veículos e pedestres (são as ruas, travessas, becos, avenidas, praças, pontes,
etc.). Aurélio (1999, p.1231).
87

agradável, vista ampla do ambiente ao redor – preferencialmente com as costas cobertas – e

sem poluição.

A inclusão de vegetação confere texturas e cores à rua em meio às áreas pavimentadas

e o ambiente construído. A ideia de ocupar a área da faixa de serviço das calçadas com

vegetação contribui para a preservação da paisagem, o aumento da permeabilidade do solo

e da qualidade do ar, além de estimular a “caminhabilidade”. Entretanto, quando nos

referimos à arborização urbana, é importante contornar problemas causados pelo conflito

com equipamentos urbanos como postes de iluminação, fiação elétrica, encanamentos e

muros95.

Sobre as árvores, ressalta-se que, além da função de proteção, desempenham um

papel fundamental no conforto do pedestre e na habitabilidade urbana. Oferecem sombra,

reduzem a temperatura ambiente no calor, absorvem água da chuva e emissões de

escapamentos de veículos, fornecem proteção UV e limitam os efeitos do vento.

Uma cobertura arbórea consistente pode fazer muito para aprimorar uma caminhada.

Dessa forma, as árvores de rua têm sido associadas a melhorias significativas, tanto no valor

dos imóveis como na viabilidade do comércio, traduzindo em maiores rendas advindas de

impostos.

Além do mais, pesquisas mostram que a exposição visual a ambientes com árvores

produz uma significativa redução da pressão arterial e tensão muscular, o que diminui o

estresse dos usuários, e, principalmente, daqueles que todos os dias viajam para ir e vir do

trabalho, no qual o trajeto com árvores poderá ser percebido como um percurso menos

longo96.

Nesse quadro, é preciso estabelecer a espécie das árvores, o posicionamento (0,30 -

0,60m de afastamento do meio fio e 2,40m das fachadas das edificações) e os espaçamentos

(mínimo de 5m entre árvores de pequeno porte, 8m para as de médio porte e 12m para as

de grande porte), a fim de atingir os benefícios de ruas arborizadas e mais, dispor de ruas

95
É necessário um instrumento técnico com diretrizes aplicadas às características de cada cidade – um
plano de arborização urbana que especifique todos os dimensionamentos de acordo com a espécie
vegetal a ser plantada em relação ao tipo e dimensões das calçadas.
96
Pesquisas realizadas na Universidade Texas A&M, por Dr. Roger Ulrich e publicadas no livro Green
Metropolis: Why Living Smaller, Living Closer, and Driving Less are the Keys to Sustainability. (SPECK,
2016, p.198).
88

com personalidades diferentes com base no uso consistente de uma espécie de árvore, e não

de uma mistura – chamada de regra tutti-frutti por alguns autores – e plantadas com

espaçamento regular97.

Nessa conjuntura da caminhada segura, proveitosa, interessante e confortável,

necessita-se um dimensionamento adequado, dependendo do tipo de via de acordo com as

peculiaridades e escala da zona onde se encontra, a fim de proporcionar uma organização

de todos os elementos que a compõem98 (faixa livre, faixa de serviço e faixa de transição),

sem se descuidar da acessibilidade universal, da drenagem e da superfície qualificada com

pavimentos apropriados.

97
Manual 8 Princípios da calçada: construindo cidades mais ativas – WRI-Brasil (2017), Manual técnico
de arborização urbana – SP (2014), Street tree planting standards for New York city, (2016) e
Neighborhood Conservation Code, (2010).
98
A faixa livre é a área da calçada destinada exclusivamente à livre circulação de pedestres, isenta de
interferência e obstáculos que reduzam sua largura. A dimensão mínima recomendada é entre 1,20 -
1,50m de largura (permitindo a manobra de uma cadeira de rodas). A faixa de serviço é localizada
entre o meio-fio e a faixa livre. Destina-se a acomodar mobiliários urbanos e serviços, e sua largura
deve ter 0,70m a 0,80m. A faixa de transição aos imóveis localiza-se entre a faixa livre e as edificações
ou lotes, e sua largura mínima recomendada é de 0,45m. Conforme Guia da WRI_Brasil – 8 Princípios
da calçada: construindo cidades mais ativas (2017); Pedestrian Comfort Guidance for London (2010);
Boston Complete Streets: Design Guidelines (2013) e Guia Global de Desenho de Ruas (2018, p.78-
83).
89

QUADRO 8 Benefícios das árvores de rua (ambiental, social e econômico). Permeabilidade do solo
(pavimentos, canteiros – Boston e grandes vasos – Londres). Uso consistente de uma espécie de
árvore conferindo personalidades às ruas: Boston.
90

Ciclovias

Acolher as bicicletas é, atualmente, elemento obrigatório dos desenhos das vias, que

devem idealizar redes urbanas cicloviárias. Estudos mostram que jovens da geração Y citam

a possibilidade de pedalar como um importante motivador na escolha do lugar onde vão

morar e, hoje, quem tem dezessete anos tem um terço a menos de probabilidade de tirar

carteira de motorista do que alguém da geração do pós-guerra possuía nessa idade99.

As ciclovias e/ou ciclofaixas100 existentes junto à rua, ou a muitas ruas, trazem uma

mensagem: ambas informam aos moradores e potenciais moradores que a cidade defende

transporte alternativo, estilo de vida saudável e uma cultura ciclística, e apoia o estilo de vida

de pessoas que se deslocam de bicicleta.

As vias com mais ciclistas, desde que os motoristas estejam acostumados com eles,

são consideradas mais seguras, uma vez que os motoristas dirigem com mais cuidado, o que

implica diminuição de acidentes e ferimentos aos pedestres. Este fenômeno é chamado, por

alguns autores, da teoria da “força numérica”101, e reforça a relação entre segurança e a

quantidade de pessoas que estão pedalando.

A bicicleta é a forma de transporte mais eficiente, saudável, libertadora e sustentável

que existe102. Com a mesma quantidade de energia usada para caminhar, a bicicleta leva três

vezes mais longe, além de ser uma deslocação divertida. Ainda, as exigências espaciais da

bicicleta são mínimas, posto que dez bicicletas ocupam o espaço de um único carro, e uma

99
Jeff Speck, em A caminhada segura. Passo 6: Acolher as bicicletas (2016, p. 170).
100
Conforme manual de projetos e programa para incentivar o uso de bicicletas em comunidades-
EMBARQ_Brasil (2014) e Caderno de Referência de Plano de Mobilidade por bicicletas nas Cidades
(2007). Ciclovia: parte da pista de rolamento destinada exclusivamente para bicicletas, sendo separada
fisicamente por um desnível e pode seguir traçados independentes da malha viária urbana ou
rodoviária. Ciclofaixa: faixa (verde ou vermelha) posicionada na calcada ou contígua à pista de
rolamento de veículos, sendo dela separada por pintura e/ou dispositivos delimitadores.
101
Segundo Jane Jacobs (2014[1960]), quanto mais espaços são destinados aos pedestres e ciclistas,
maior será a funcionalidade dos espaços públicos e a segurança pública, pelo fato de ter mais pessoas
“vigiando as ruas”.
102
Segundo Jeff Speck, em A caminhada segura. Passo 6: acolher as bicicletas (2016, p. 171), esta
forma de transporte é um passo importante rumo a uma maior sustentabilidade.
91

ciclofaixa típica aceita cinco a dez vezes o volume de uma faixa de automóveis com o dobro

da largura103.

À vista disso, os desenhos das vias devem ser voltados para acolher as bicicletas, a

fim de propiciar condições seguras e infraestrutura ampla atrelada a um urbanismo de

comunidades de usos mistos, maiores densidades, viabilizando deslocamentos mais curtos,

itens que irão favorecer a implantação de uma rede de vias para bicicletas e instaurar uma

cultura ciclística.

Neste aspecto da cultura ciclística, é oportuno citar Jeff Mapes104, autor do livro

Pedaling Revolution, que demonstra a inserção das bicicletas nas ruas, e como a crescente

cultura da bicicleta urbana está mudando a aparência das cidades dos EUA. O autor inspira-

se na pedalada cotidiana de Amsterdã e é defensor do “pedalpower” 105– o poder do pedalar.

Conforme Gehl (2013, p. 10), referindo-se a Copenhague, o desenvolvimento de uma

cultura diferente (para as atividades cotidianas – trabalho e escola)106 do uso da bicicleta é

um resultado importante dos muitos anos de trabalho de estímulo às pessoas para pedalar.

Em relação às dimensões das ciclovias, é recomendada uma largura mínima de 1,50m

para cada sentido em vias adjacentes, protegidas por uma área de amortecimento de 1,0 m

e localizadas entre o meio-fio e a faixa de estacionamento paralelo. Ainda, a largura poderá

variar em função do volume de bicicletas numa determinada rota (bicicletas/hora x largura).107.

Neste cenário, é essencial destacar que as ciclovias separadas por numerosos

elementos físicos somente são necessárias para vias com velocidades de projeto superiores

103
De acordo com Jan Gehl, em A cidade sustentável (2013, p.105), duas calçadas de 3,5m, ou uma
rua de pedestres de 7metros de largura podem acomodar 20.000 pessoas por hora. Duas ciclovias de
2 metros de largura são suficientes para 10.000 ciclistas por hora. Uma rua de duas mãos e duas faixas
suporta entre 1.000 e 2.000 carros por hora (horário de pico).
104
Jornalista político experiente e viajante de bicicleta de longa data, explora o crescimento da defesa
de bicicletas enquanto aborda questões como os aspectos ambientais, de segurança e de saúde do
ciclismo para viagens urbanas curtas.
105
Movimento popular no qual as pessoas se ajudam e se incentivam a sair de casa através do uso
exclusivo do poder de pedalar. Reivindicam mais investimentos na infraestrutura e ações que
fortalecem o uso das bicicletas com segurança.
106
Pesquisas mostram que mais de 50% dos habitantes de Copenhague pedalam todos os dias para
o transporte pessoal diário. City of Copenhagen, Copenhagen City of Cyclists: Bicycle Account, 2008.
107
Conforme manual de projetos e programa para incentivar o uso de bicicletas em comunidades –
EMBARQ-Brasil (2014); Conforme Guia Boston Complete Streets: Design Guidelines (2013) e Caderno
de Referência de Plano de Mobilidade por bicicletas nas Cidades (2007). Guia global de desenho de
ruas (2018, p. 93-105).
92

a 50Km/h. Caso contrário, pode-se, percebendo a natureza da rua e do equilíbrio necessário

para seu caráter, sugerir um desenho mais simplificado com contrafluxo (para ruas de mão

única), ou uma rota compartilhada108, na qual se cria um ambiente de movimentação lenta de

veículos, de modo que bicicletas e carros se misturem confortavelmente na velocidade da

pedalada.

Algumas estratégias podem ser utilizadas para esta rota compartilhada, como as

sharrows, que são pinturas nas faixas que anunciam a presença de bicicletas e seu fluxo,

alertando os que dirigem para a necessidade de compartilhar a via. Este recurso de

sinalização horizontal deve estar, preferencialmente, no início da via compartilhada, antes e

depois de interseções, após curvas e espaçado a cada 30 metros ou menos.

Dentre inúmeras formas de pensar uma ciclovia, o maior objetivo deverá ser o de

constituir um plano de ciclismo inteligente que permita às bicicletas o acesso a todos os

endereços da cidade. Alguns desses trajetos seriam em vias separadas, outros, em ciclofaixas

e, a maioria, misturado com o tráfego em ruas locais mais lentas.

O plano ciclístico pode iniciar pela integração entre sistemas de transportes, inclusive

localizando as estações de bicicletas próximo aos pontos de embarque ou inclusas no

mobiliário da parada/estação de transporte público. Este plano deve conter uma rede de

rotas cicloviárias que interligue os centros de bairro entre si, das origens aos destinos-chave

para a comunidade.

Assim, os estacionamentos para bicicletas/paraciclos109 devem estar localizados na

calçada ou em praças próximas às entradas dos prédios. Estacionamento de longa duração

(durante a noite) para residentes, funcionários e estudantes, deve ser oferecido junto às

edificações. Recomenda-se que os paraciclos sejam simples, permanentemente fixados ao

solo, adequadamente dimensionados e, se possível, instalados a 45°, a fim de maximizar a

capacidade e manter uma aparência ordenada110.

108
Sobre rota compartilhada, relativa às vias cicláveis, entende-se que são ruas calmas que comportam
grande fluxo de bicicletas acompanhadas de tráfego muito baixo de veículos motorizados. Também
conhecidas como Boulevares Cicláveis, Cycle Streets ou Cycle Boulevares em inglês, Fahrradstrabe em
alemão e Fietsstraat em holandês. Guia global de desenho de ruas (2018, p. 101).
109
Conforme o Guia global de desenho de ruas (2018, p. 104), a distância entre estações de bicicletas
num sistema de compartilhamento deve ser de 300m.
110
Conforme Guia Boston Complete Streets: design guidelines (2013, p.80).
93

Ainda fazem parte dos elementos de projeto de um plano ciclístico: uma iluminação

apropriada em termos de suficiência, posicionamento e qualidade, podendo melhorar

significativamente uma experiência urbana noturna; sinalização; elevadores para bicicletas e

canaletas junto às escadarias, possibilitando a subida de ladeiras íngremes; passarelas que

permitam cruzar pontos críticos como grandes corredores de transportes, entre outros.
94

QUADRO 9 Sistema de ciclovia eficaz e segura. Rota compartilhada – sharrows. Estratégia global de
transporte – integração entre modais: Copenhague, Dinamarca. Aluguel de bicicletas (e-bike) para
o uso diário: São Francisco, Baldwin Park - CA, Copenhague, Dinamarca.
95

Transporte público coletivo, individual e alternativo

Os corredores de transporte público são a espinha dorsal do urbanismo sustentável,

conectando bairros com distritos e outros destinos regionais. Como já mencionado no item

I.1.1 – Localização – Habitação ao longo de eixos de transportes, o novo conjunto

habitacional ou bairro deve ocorrer em corredores de transportes já existentes ou propostos,

com densidade suficiente e distribuídos de modo apropriado para possibilitar uma grande

quantidade de serviços de ônibus, corredores de ônibus, bondes, ônibus elétrico ou metrô

leve.

A nova área residencial necessita ter acesso a um bom sistema de transporte público

a fim de assegurar esta forma de mobilidade urbana, que deve ser integrada ao Plano Diretor

e incorporar os princípios da mobilidade sustentável, que pressupõem a acessibilidade

universal, a variedade de escolhas de transportes e a equidade no acesso dos cidadãos, com

o propósito de encorajar as pessoas a usá-los e, assim, reduzir a dependência do automóvel.

Entende-se por um bom sistema de transporte público aquele que, conforme é

indicado entre os dez princípios do movimento de crescimento urbano inteligente (Smart

Growth)111, bem como pelas premissas do Novo Urbanismo, proporcione a variedade de

escolhas de transportes, permeáveis ao ciclista112 e ao pedestre, somado à possibilidade de

deslocamento a pé, do carro compartilhado113 e outras opções com combustíveis alternativos,

com o intuito de baixar a emissão de gases de efeito estufa.

Esta variedade decorre do comprometimento em integrar fortemente a tecnologia de

transporte – metrô, bonde, ônibus – com o tipo e o propósito específico, com a densidade e

a distribuição dos usos do solo adjacente, uma vez que a densidade urbana e os níveis de

111
Smart Growth (Crescimento Inteligente): termo utilizado pela primeira vez em 1995 pelo então
governador do Estado do Colorado, Roy Romer. O Crescimento Urbano Inteligente tem suas raízes no
movimento ambiental dos anos 1970 nos EUA, quando é proposta uma Lei Nacional da Política do
Uso do Solo que, embora não tenha sido aprovada pelo Congresso Nacional, foi adotada por vários
governantes com o intuito da conservação de bairros compactos, caminháveis e de uso misto. FARR,
Douglas, (2013, p.16).
112
Conforme Jan Gehl, em A cidade sustentável (2013, p.107), desenvolver o tráfego de bicicletas
alivia a sobrecarga dos transportes públicos e contribui para a qualidade da cidade e do meio
ambiente.
113
Somente nas cidades onde dirigir é opcional, com bom transporte público, táxis, caminhadas e
bicicletas é que o compartilhamento de carros pode se desenvolver.
96

serviços de transporte público possuem uma eminente correlação. Ou, melhor dizendo, uma

concentração de pessoas que vive ou trabalha próximo a uma parada de transporte cria um

mercado estável de pessoas que percorrem uma distância curta a pé até ao serviço de

transporte público, e a quantificação desta relação é que irá apontar a capacidade de

sustentabilidade do serviço.

Assim, os modais de transporte público estão relacionados com a densidade

residencial (unidades de habitação por hectares – UH/ha). Conforme um conjunto de

pesquisas realizadas por Jeffrey Zupan, John Holtzclaw e Reid Ewing114: até 37,5 UH/ha -

ônibus local com uma periodicidade que dependerá do tamanho do centro e distâncias da

área residencial e do centro; acima de 37,5 – 50 UH/ha sustenta ônibus expresso, ônibus

elétrico, metrô.

Nesse caso, o adensamento e o uso do solo ao longo dos eixos de transporte

coletivo, de maior porte, devem ser intensificados de modo que a concentração populacional

e construtiva próxima desses corredores e estações sejam maiores através do

estabelecimento de gabaritos de altura máxima, coeficientes de aproveitamentos máximos e

demais regras que fazem parte do Plano Diretor.

Nesse seguimento, é necessário pensar que os grandes ônibus não circulam, e nem

devem circular, nas vias locais. Assim, Alexander (2013 [1977], p. 67) recomenda que seja

integrado à rede de transporte público, o transporte local para deslocamentos pequenos, de

baixa velocidade e de baixo custo, como por exemplo um micro-ônibus e/ou vans que,

chamados por aplicativo de celular, possam funcionar recolhendo as pessoas de porta a

porta.

Este sistema funciona de modo similar aos aplicativos de transportes tão utilizados

atualmente, exceto pelo fato que pega/tomada e larga/largada outros passageiros ao longo

do seu percurso. Por meio da tecnologia, à medida que chegam as chamadas, o programa

examina os movimentos atuais de todos os vários micro-ônibus e o número de passageiros

existentes em cada um deles, e decide qual é o ônibus ideal para pegar o novo passageiro,

fazendo desvio o menos possível.

Boris Pushkarev e Jeffrey Zupan M. Jeffrey em: Modais de transporte público relacionados com a
114

densidade residencial, apud FARR, Dougas (2013, p.104).


97

Ainda, relativamente ao transporte local, outras alternativas devem ser

disponibilizadas, como estações de compartilhamento de bicicletas, patinetes, triciclos

(elétricos ou não), e as boas condições de “caminhabilidade”. Trata-se de estratégias que,

além de ocuparem menos espaço nas cidades, não contribuem para a emissão de gás

carbônico, e são mais saudáveis por exigirem alguma atividade física, deixando os usuários

num contato mais íntimo uns com os outros e também com o seu meio ambiente.

Considera-se pertinente frisar que estes serviços devem ser regulamentados para

evitar problemas entre oferta e demanda. Na China, por exemplo, houve um excesso de

oferta de bicicletas que gerou um impacto negativo de grandes proporções; pelo contrário,

na Holanda, o uso das bicicletas tornou-se um grande sucesso. Isso revela que não existe um

gabarito ou um modelo em mobilidade urbana, nem todas as soluções são efetivas em todas

as cidades, e por isso devem se adaptar à cultura e dimensões de cada uma.

Além destes parâmetros de densidade e sua relação com a rede de transportes

público, é essencial avaliar a ‘estrutura do bairro’, que se refere a bairros tecnicamente

definidos como compactos, diversificados e caminháveis. Bairros que tenham um centro e

uma margem, e contenham uma variedade de atividades próximas, com uma estrutura viária

de ruas e espaços públicos favoráveis aos pedestres. Caso contrário, mesmo em áreas de alta

densidade, o transporte público não poderá florescer, já que é sua natureza nodal e favorável

ao pedestre que permite aos usuários caminhar até o ponto de ônibus.

Por isso, as cidades em melhores condições para fazer bom uso de um novo sistema

de transporte são as que cresceram em torno de eixos de transportes, em primeiro lugar

(SPECK, 2016, p.135). Da mesma forma, Jan Gehl define que cidades construídas em torno

de sistemas de transportes, circundadas por empreendimentos de densidade relativamente

alta com um número suficiente de moradias e locais de trabalho, garantem inúmeras

vantagens ambientais, como linhas de abastecimento curtas e reduzido consumo de áreas

(GEHL, 2013, p.105).


98

Este modelo, de maior acessibilidade entre habitação e transporte, é chamado de

Transit-Oriented Development (TOD)115 e DOTS116 (no Brasil). O Desenvolvimento Orientado

pelo Transporte objetiva mais que simplesmente um projeto próximo a uma estação de

transporte público. Ele inclui o bairro ou distrito em torno da estação, compreendendo

projetos de empreendimentos múltiplos, maiores densidades, usos mistos, uma rede viária

onde se possa caminhar e pedalar e um desenho que permita vida urbana, preservando as

qualidades intrínsecas de uma área residencial.

O TOD interpreta de forma racional o padrão vernacular de assentamentos humanos

da sociedade, principalmente norte-americana, onde cada geração criou novas comunidades

em áreas tornadas acessíveis pelos investimentos em transporte, no final do século XIX e

início do século XX, onde os subúrbios acessados por bondes serviam como mecanismo para

os empreendedores imobiliários atraírem a classe crescente de novos proprietários de

moradias para os bairros suburbanos.

A ideia de que os modais de transporte e o desenvolvimento urbano devem ser

conduzidos de maneira integrada não é nova; no entanto, este conceito foi enfraquecendo à

medida que os automóveis aceleraram o desenvolvimento suburbano, fraquejando as

relações entre transporte público e a cidade.

Embora se possa visualizar uma mudança desse padrão em muitas cidades do mundo,

em especial entre os norte-americanos117, no Brasil, esta estratégia baseada na integração de

diferentes dimensões do planejamento urbano, como o uso do solo, a mobilidade, o meio

ambiente e a habitação, ainda é relativamente nova. Prova disso são as cidades com forma

115
Conforme Guias do Center for Transit-Oriented Development (CTOD): TOD 203 – Transit corridors
and TOD; TOD 205 – Families And Transit-Oriented Development – Creating Complete Communities
For All; TOD 202 – Station area planning – How to make great transit-oriented places; TOD 101 – Why
transit-oriented development and why now?; TOD 201 – Mixed-income Housing near Transit –
Increasing Affordability with location efficiency.
116
DOTS nos Planos Diretores – Guia para inclusão do Desenvolvimento Orientado ao Transporte
Sustentável no planejamento urbano – WRI-Brasil (2018) e Manual de Desenvolvimento Urbano
Orientado ao Transporte Sustentável – EMBRAQ-Brasil (2015).
117
O uso de transporte público nos Estados Unidos aumentou em 25% no período entre 1995 a 2005
– Guia para inclusão do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável no planejamento
urbano – WRI-Brasil (2018).
99

urbana dispersa, consequência de um planejamento do território que não direcionou o

crescimento de maneira adequada nos últimos 60 anos118.

O Transit-Oriented Development tem como propósito a criação de lugares que

integrem o transporte público aos bairros e ajudem a sustentar comunidades de renda mista

e ativas em bairros urbanos e suburbanos. Deste modo, busca resolver, ao mesmo tempo, o

problema das habitações e do transporte público enquanto expande o acesso aos empregos,

às oportunidades educacionais e à prosperidade para os diferentes grupos de renda. O “TOD

de renda mista”119 tem a capacidade de resolver problemas aparentemente insolúveis, como

o aumento do congestionamento, o preço proibitivo dos imóveis e a crescente diferença

entre os moradores de baixa e de alta renda.

Os modos coletivos de transporte público tornam-se mais econômicos para as famílias

e aumentam a viabilidade econômica das comunidades, reduzem os estresses causados pelos

congestionamentos, possibilitam o estabelecimento de uma relação entre os usuários e entre

o cidadão e a cidade por meio de seus deslocamentos, pelas rotas entre casa e paradas e

mediante as paradas-pontos de embarque – que devem estar alocadas a cada 400m-800m

no máximo. (FARR, 2013 p. 104)120.

A distância máxima entre uma comunidade urbana, desde qualquer moradia, e os

pontos de embarque deve ser de 1.000 metros de deslocamento de pedestres e ciclistas,

equivalente a 15 minutos de caminhada ou 5 minutos de bicicleta. O ideal é que essa

distância seja de 500 metros de deslocamentos para pedestres e ciclistas, diminuindo os

tempos de deslocamento para 7 a 8 minutos caminhando, ou menos de 3 minutos

pedalando121.

118
Ver item I.1.1 – Localização - Habitação ao longo dos eixos de transporte sobre algumas ações no
Brasil de aplicação do DOTS.
119
TOD de renda mista é uma expressão utilizada pelos autores da Reconnecting America (organização
sem fins lucrativos que desenvolve pesquisas inovadoras no que tange à integração de transporte e
desenvolvimento comunitário).
120
Convergindo com Farr (2013), Duany, A., Plater-zyberk, E. and Co. (2003). Na publicação The
Lexicon of the New Urbanism (2018, p. 62), estabelecem parâmetros de “typical TOD pedestrian
sheds” de ½ mile, bem como mostram uma relação entre o tipo de sistema de transporte e seus
respectivos pontos de embarque.
121
Conforme Manual de Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável – EMBRAQ-
Brasil (2015, p. 32).
100

As paradas devem ser adequadamente localizadas e dimensionadas para a

conveniência dos pedestres. Estes ‘nós’ de transporte devem garantir que os pedestres

tenham precedência e que, se necessário introduzir algum espaço de estacionamento para

as pessoas que dirigem até a estação, seja considerado o equilíbrio de funções que cada

parada/estação atende, a fim de guardar a sensação de lugar, a segurança, a vivacidade de

modo a ser um continuum da vida das pessoas do bairro.

No que diz respeito à localização das paradas de ônibus, estas devem estar,

preferencialmente, próximas das interseções e não no meio da quadra, sendo mais

conveniente para os usuários porque estão próximas às faixas de pedestres e a outras

conexões, se for o caso.

Assim sendo, cada estação/parada deve conter particularidades na sua configuração,

a fim de atender às características do lugar, bem como ter o encargo de criar uma atmosfera

especial à experiência de aguardar pelo transporte por meio de estratégias simples de

ordenação de elementos arquitetônicos e urbanísticos.

Nesse ponto, a Project for Public Spaces (PPS), ao tratar dos serviços de transporte,

salienta que, mais que levar pessoas aonde elas precisam ir, é necessário aprimorar e apoiar

os destinos que elas atendem. Dessa forma, destaca que as paradas/estações são ótimas

oportunidades de fazer placemaking, a fim de promover lugares vibrantes que induzam o

aumento de passageiros e, por consequência, o aumento nas vendas dos comércios

existentes, agregando valor a uma comunidade.

Por exemplo, um sistema como um semáforo, um meio-fio e uma esquina podem ser

melhorados se forem vistos como um ‘nó’ distinto da vida pública onde os pontos de ônibus

estejam ordenados em conjunto com uma banca de revistas, uma marquise, mercearias de

esquina, tabacarias, cafés, árvores com bancos, banheiros públicos, entre outras atividades

que transformem a experiência de esperar pelo transporte em um complexo de atividades

relacionadas.

Ainda, elementos básicos de um ponto de embarque devem ser previstos, como um

mapa da cidade e painéis de informações sobre o itinerário e frequência do transporte,

narrativas sobre o bairro ou pontos de interesse do local – informações físicas, digitais e braile

–, proteção contra as intempéries que não podem reduzir-se apenas a cobertura,

dependendo do clima, Wi-fi, pontos de recarga USB, entre outros.


101

Nesse âmbito, do estabelecimento de relações, é oportuno mencionar que o

transporte deve ser conceituado como conveniência e não apenas como simples veículo de

recolhimento de pessoas. O sistema precisa se concentrar em oportunidades de experiências

sociais, como assentos virados para dentro e nunca para as costas do outro, janelas grandes,

sem películas e que abram amplamente, wi-fi e, claro, oferecer um serviço frequente, e que

seus horários possam ser consultados através de aplicativos de smartphones.


102

QUADRO 10 Área de influência da estratégia TOD / DOTS para eixos e estações de transporte
coletivo. Parada interativa mostrando a visão de um inseto – Victoria ZOO – Canada. Integração,
variedade e tecnologia dos modais e Tags digitais e painéis de informações
103

I.2 Bairro: conectividade, compacidade e diversidade

O bairro é um momento, um setor da forma da cidade, intimamente ligado


à sua evolução e à sua natureza, constituído por partes e à sua imagem.
Destas partes temos uma experiência concreta. (ROSSI, 2001 [1966], p. 88).

[...] bairros/distritos não podem ser cópias uns dos outros; são extremamente
diferentes, e devem ser. Uma cidade não é um conjunto de cidadezinhas
repetitivas. Um distrito atraente tem características próprias e especialidades
próprias. (JACOBS, 2014 [1960], p. 96).

O conceito de bairro/setor/distrito escrito por Rossi (2001 [1966]), bem como por

outros autores como Lynch (2011 [1960]), Panerai (2001 [1999]) e Jacobs (2014 [1960]),

discursa sobre o caráter distinto de uma determinada área – síntese de funções e valores – e

sua importância na legibilidade física da cidade e na vida urbana.

Além disso, os autores sublinham que as diferenças entre bairros/distritos/setores

propiciam a interação de usos, e que esta interação também depende da integração física

entre setores, evitando obstáculos, como grandes artérias de tráfego, parques muito

extensos, conjuntos institucionais enormes, entre outros.

Esta cidade distinta em partes diferenciadas sugere um desenho de um tecido urbano

temático com uma fisionomia particular, que preserve sua constituição e seu processo

histórico. Para isso, é preciso que os planos diretores e códigos de obras das cidades122

incorporem parâmetros de qualidade da forma urbana e suas relações com as texturas

urbanas existentes.

Tais parâmetros, tanto em relação à construção de tecidos urbanos mais contínuos,

compactos e mistos, como na ênfase e prioridade do papel humano no design e

planejamento urbano, cerne dos princípios do Novo Urbanismo, são vitais para a construção

de ambientes urbanos de qualidade, isto é, de lugares habitáveis.

Conforme Campos-Venuti, orientador do desenvolvimento urbano de Bolonha, é

urgente e necessária a substituição de “planos urbanos executivos” pela concepção de

“planos territoriais programáticos” (VENUTI apud PORTAS, 2011 [1969], p. 85), aos quais

122
Referindo-se principalmente às cidades em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
104

cabem propostas de especialização na utilização do solo, de forma a enriquecer todo o tecido

territorial.

Esta especialização na utilização do solo diz respeito a um regulamento na escala da

comunidade (do quarteirão, do edifício), com instruções para os tipos de vias e a relação com

os lotes e com os tipos de espaços abertos públicos; os usos do solo; a tipologia de

parcelamento dos quarteirões; os tipos de edifícios; a posição e altura da edificação; os tipos

de fachadas e a relação do piso térreo com a calçada.

Considerando o conceito de bairro na sua totalidade, definiu-se um indicador:

Morfologia / tecido Urbano, no que tange à construção de bairros completos, identificáveis,

abertos e flexíveis.

Tabela 03: Princípios, indicadores e elementos de projeto: Escala do bairro

Fonte: Elaborado pela autora.

I.2.1 Morfologia / Tecido urbano

A morfologia do novo conjunto habitacional ou bairro deverá resultar num cenário

corporificado, consequência de códigos e regras de zoneamento que possuam conteúdos de

projetos de “arquitetura urbana” que proponham “programa-em-forma”123 e sugestões à

distribuição territorial das atividades específicas para cada zona-chave.

Estas regras de zoneamento devem ir além de regular os usos, os coeficientes de

ocupação dos lotes, os recuos e alturas máximas permitidas – como os planos diretores em

geral. Estas normas carecem de conter diretrizes ao nível da arquitetura do edifício, o que

equivale a comparar o tipo de definição de atividades e de conformação do espaço que lhe

é atribuído.

123
“Arquitetura Urbana” e “Programa-em-forma”: termos utilizados por Nuno Portas quando explica
sobre projeto e cidade no livro A cidade como Arquitetura (2011 [1969], p. 77). Tais termos expressam
a busca pelo planejamento de uma arquitetura de um nível de plano geral urbano, ou diretor, ao nível
de arquitetura do edifício – o desenho da cidade como obra.
105

Segundo Portas (2011 [1969], p. 78), estas informações dadas ao projeto arquitetônico

local servem como uma base justa para a coletividade e auxiliam na garantia de que a obra

irá contribuir para dar forma a uma imagem e vida na cidade, influenciando, positivamente,

um conjunto de aspectos de natureza social, econômica e ambiental.

Ainda, lembrando Rossi124 e seus ensinamentos sobre a arquitetura da cidade, é

essencial, à prática do planejamento e desenho urbano, olhar para o passado ‘histórico’ e

perceber a evolução da cidade (ou parte dela) que compreende um processo de

permanência125 e transformação, numa contínua aprendizagem e adaptação das formas

urbanas às necessidades humanas (ROSSI, 2001 [1966], p. 34).

Outro fator relevante é o ‘controle das transições’ entre diferentes zonas urbanas e

distritos, e uma ordenada conexão ao meio natural, através do “código baseado na forma”126,

a substituição do zoneamento convencional das cidades, que tem como foco a forma física

do edifício; “como o edifício encontra o chão, a rua e o céu” (SPECK, 2016, p. 212) e mostra,

também, como lidar com a transição do domínio público para a esfera privada.

Desta forma, optou-se pelos temas mais essenciais a fim de encorajar o “bom

desenho” urbano127. Assim sendo, as relações morfológicas da nova área residencial

dependem essencialmente das regras de zoneamento ou T-zones, com conteúdo de

arquitetura urbana e da malha de quarteirões, conformadas pelo sistema de vias.

124
O trabalho de Rossi, no livro A Arquitetura da Cidade, teve uma importância decisiva no
estabelecimento da arquitetura como um corpus teórico, como uma disciplina científica. O significado
da arquitetura não está na "solução de problemas" experimental do profissionalismo, mas em seu
conteúdo cognitivo como um ato intelectual e cultural de uma disciplina que a define precisamente
em seu valor de síntese de relações mais gerais do fato urbano. (SOLÀ-MORALES, 1974).
125
A permanência, definida por Poète como persistência, combina elementos tomados da geografia,
da história e da arquitetura e, através da sua análise e compreensão, torna-se a geratriz do plano de
intervenção e pode ser aplicada aos edifícios, às ruas e aos monumentos urbanos (ROSSI, 2001 [1966],
p. 65).
126
Código “baseado na forma”, também chamado de Smart Code (código inteligente), tem a
capacidade de moldar regiões e é baseado no Transecto (um espectro de tipos de lugares). O Smart
Code é organizado de acordo com o tipo de lugar que se quer criar, diferentemente do zoneamento
convencional que focaliza no uso do solo.
127
“Bom desenho”: termo utilizado por Vicente Del Rio (1990, p. 109) quando faz referência à
BARNETT (1987, p. 115) e descreve acerca do desafio de desenhar a cidade sem projetar edifícios –
garantir a maximização do potencial de desenho urbano de um sítio enquanto se controla a arquitetura
o menos possível.
106

Distritos de Zoneamento

O ordenamento do novo conjunto habitacional ou novo bairro deve seguir princípios

de desenvolvimento que propiciem a criação de uma comunidade em harmonia com a

vizinhança, com as tipologias dos edifícios já existentes (correntes ou não), em nível funcional

e formal, com o propósito de assegurar a continuidade espacial evitando a ruptura causada,

muitas vezes, pela intromissão de sistemas formais ou linguagens alheias ao contexto.

Esses princípios devem contemplar regras próprias de articulação que estabeleçam

variedades de propostas de desenvolvimentos que deverão ocorrer no sítio. Para tanto, e

considerando um provável crescimento futuro, deve-se propor um layout com flexibilidade

que permita uma posterior evolução e/ou reformulação das ligações com sua área

envolvente.

Para estabelecer esta diversidade, é aconselhável que o sítio (quando for o caso de

grandes conjuntos ou bairros) seja subdividido em distritos de zoneamento128 ou T-zones, os

quais tenham seus limites demarcados a fim de manter o caráter próprio e distinto de cada

setor129. Os setores necessitam ter características físicas que os distinguem, como: espaço,

forma, cor, textura, detalhe, símbolo, tipo de edifício, utilização, atividades, habitantes,

topografia, entre outras variantes que contribuam para a formação de um setor identificável

e contínuo.

Nesse contexto, semelhante a um código convencional, os distritos são criados e

mapeados no Plano Diretor, similar ao mapa de zoneamento convencional; porém, isso é

feito por meio de análise de cada lote e/ou quarteirão individualmente e é promovido em

128
Neste âmbito, é pertinente evidenciar que o conceito de distritos de zoneamento aqui proposto
possui o intuito, diferentemente da teoria funcionalista do zoneamento, de que as partes/distritos
sejam relativamente autônomas, subordinadas umas às outras e que consideram, na sua gênese, o
processo histórico através da estrutura de fatos urbanos e que suas relações sejam reportadas à inteira
estrutura urbana.
129
Setor (district): para a morfologia social, o bairro é uma unidade morfológica e estrutural; é
caracterizado por uma certa paisagem urbana, por um certo conteúdo social e por uma função própria;
logo, a transformação de um destes elementos é suficiente para fixar o limite do bairro. (ROSSI, 2001
[1966], p. 88). É uma porção do território urbano identificada como uma totalidade. Um setor pode
corresponder a uma zona homogênea do ponto de vista morfológico. (PANERAI, 2001 [1999], p. 33).
São setores identificáveis que podem servir como ponto de referência e auxiliar na orientação do
usuário. É uma área de caráter homogênea traduzida por características espaciais, sociais e de hábitos.
(LYNCH, 2011 [1960], p.70 e 107).
107

códigos baseados na forma, onde os tipos de vias são desenvolvidos de acordo com os tipos

de edificação e de espaço aberto (FARR, 2013, p. 81).

Esta subdivisão deve ponderar o sítio ou locus, termo utilizado por Rossi, a fim de

singularizar cada espaço, e se refere à preocupação com o local, seu entorno e suas futuras

construções: “O entendimento da cidade consiste no lugar que determina uma obra, no

sentido físico, como também e, sobretudo, no sentido da escolha daquele lugar e da unidade

indissolúvel que foi estabelecida entre o lugar e a obra.” (ROSSI, 2001 [1966], p. 165).

De acordo com Solà-Morales (1975)130, a expansão urbana (ensanches) deve seguir, a

exemplo das ampliações realizadas no século XIX em Mataró, Vilanova, Terrassa, Sabadel e

Badalono – que compõem atualmente a área metropolitana de Barcelona –, a ideia de uma

cidade aberta, flexível e homogênea. Segundo Morales (1975), este entendimento, tão

simples, mas cheio de significado – que objetivava manter a continuidade espacial máxima –

, gerou a combinação certa de layout e topografia, de plantas e ordenação da malha territorial

entre a velha e a nova cidade.

Nesse contexto, é preciso um olhar atento aos processos de mudanças do lugar, onde

os usos atuais já sobrescreveram com o intuito de evitar que não sejam apagadas por

completo as marcas de usos anteriores, sobretudo se possuírem significados históricos e

culturais que lhe dão identidade. Del Rio (1990, p. 119) comenta que, em níveis sociocultural

e de conforto psicológico, o Homem necessita se identificar com um território e um grupo

social imediato à sua residência.

Tornando aos distritos de zoneamento ou T-zones, é pertinente referir sobre as

fronteiras entre os distritos. Estas são geralmente constituídas de vias principais (tensores131),

as quais, associadas com seu papel no sistema viário, oportunizem incluir locais de encontro

para as funções comuns compartilhadas por vários distritos, criando espaços de

relacionamento entre os setores, bem como entre o novo conjunto habitacional ou bairro

com o território circundante.

130
Manuel Solà-Morales e Julio Esteban, no texto: Nuevas Ciudades em el siglo XIX: Notas de
investigación sobre los ensanches de las ciudades menores del área de Barcelona, e el sempiterno
lamento de que cualquier tempo trazado fue mejos (1975). Revista Arquiteturas: información gráfica
de actualidad.
131
Segundo Panerai (2001 [1999], p. 61), as vias principais (vias de crescimento) são consideradas
tensores entre polos.
108

Conforme Davis (2000, p.36), os elementos lineares que definem os limites de um

lugar (rios, canais, parques, estradas arteriais ou viadutos) podem fornecer a definição que

contribui para um sentido de lugar (através destas estruturas, visíveis a longa distância), o que

não quer dizer que não sejam perfurados ou estendidos para evitar a separação e aumentar

a dinâmica espacial através da conectividade.

Estas funções comuns compartilhadas, que se desenvolvem nestes espaços

arquitetônicos de interpenetração, podem ser polos de equipamentos urbanos (escolas,

bibliotecas, quadras esportivas); pontos referenciais (monumentos, marcos institucionais,

marcos paisagísticos como zoológico, jardim botânico, galerias e museus); espaços

institucionais/cívicos (universidades, hospitais, complexo do governo, agências bancárias);

parques, terminais de transportes públicos, entre outros serviços de centro que, em

conformidade com a lógica de uso e a densidade de cada lugar, atuem como

potencializadores à aglomeração de pessoas.

Ainda sobre as margens dos distritos, é aconselhável desenvolver, entre os pontos de

cruzamento entre vias e limites, “portas urbanas”132, as quais devem ser tratadas como

espaços positivos e ativos, dotadas de atividades comuns a diversas vizinhanças, possuindo

características próprias, tornando-se, por vezes, um símbolo do bairro, potencializando os

seus usos próprios e/ou usos vizinhos.

Conforme Alexander (2013 [1977], p. 278), muitas partes de uma cidade têm limites

bem definidos em seu contorno. Estes limites geralmente estão na mente das pessoas e

marcam o término de um tipo de atividade, um tipo de local, e o início de outro. Em muitos

casos, as próprias atividades são ressaltadas e se tornam mais animadas e marcantes se o

limite existente na mente das pessoas também estiver presente no mundo físico.

A demarcação de entrada (gateway)133 pode assumir muitas formas, como por

exemplo: uma massa vertical dos edifícios de esquina com maior altura que o conjunto na

sua totalidade e com usos especiais, um portal que atravessa um edifício, uma ponte, um

grande portão, criando a sensação de transição, podendo incluir esculturas, murais e outras

132
“Portas urbanas”: termo utilizado por Antônio Batista Coelho e João Branco Pedro ao explicar sobre
a relevância de demarcar as entradas de agrupamentos de edificações num bairro nos pontos onde as
principais vias cruzam os limites. Livro Do bairro e da vizinhança à habitação: tipologias e caracterização
dos níveis físicos residenciais, (2013, p. 40 e 41).
133
Conceito de gateway já mencionado no item I.1.2 Conexões – Rede viária.
109

formas de arte urbana, alturas variadas de árvores, dispositivos especiais de iluminação, entre

outras estratégias de projeto.

Os portais ou portas urbanas podem, nem sempre no sentido literal da palavra, incluir

uma variedade de sinais visuais – alguns estão localizados na superfície da pista e nas

calçadas, enquanto outros são elementos verticais que podem ser reconhecidos à distância.

Esta forma de desenho das ruas nos espaços de transição, através de indicações

visuais, ajuda a alertar os usuários sobre uma mudança no ambiente e é característica

importante que contribui para o senso de lugar na comunidade.


110

QUADRO 11 Distritos de zoneamento e ligações com as áreas envolventes. Caráter distinto de cada
setor – bairro. Fronteiras/limites entre os bairros e marcação dos polos de acesso (físicos e sinais
visuais): Londres, Londres e Lisboa.
111

T-Zones e Smart Code

Ainda nesse contexto da continuidade morfológica e do desejo pelo ambiente físico

total da vida cotidiana, é pertinente incluir nesta análise a teoria das zonas de Transect134. As

zonas de Transect possuem uma classificação e variam de acordo com o nível e a intensidade

de suas características físicas e sociais, auxiliando, desta forma, a sistematizar a codificação

de elementos urbanos e arquitetônicos que devem ser seguidos no planejamento.

Esta codificação, que é feita a partir do Transect, deve considerar as grandes

estruturas formais da paisagem (rios ou lagos, montes ou vales, matas e clima) e as estruturas

formais da história (a arte urbana de aglomerados pré-existentes, na escala das ruas, das

praças, na coerência das tipologias residenciais ou monumentais) a fim de enriquecer todo o

tecido territorial, pondo em ordem os elementos componentes do desenho urbano135.

Esta classificação, de acordo com a pesquisa desenvolvida pelo Centro de Estudos

Transectos Aplicados (CATS)136, e fazendo uso das palavras de Duany et al (2009),

caracterizam-se do seguinte modo – T1, T2, T3, T4, T5 e T6:

• T1 é a zona natural, com áreas abertas, vegetadas ou preservadas, que podem estar sujeitas

à desertificação, devido às condições do uso do solo, vegetação, hidrografia ou topografia;

• T2 define a zona rural, com áreas abertas para a produção de alimentos, com pequenas

propriedades rurais e setores de crescimento restrito. Tal área caracteriza-se pela existência

134
As zonas de Transect são uma teoria desenvolvida pelo Centro de Estudos de Transectos Aplicados
(CATS), que promove a compreensão do ambiente construído como parte do ambiente natural, através
da metodologia de planejamento do transect rural-urbano. Estas zonas são agrupadas num esquema
de zoneamento integrado, sendo (CLD) Clustered Land Developmen; (TND) Traditional Neighborhood
Development e (RCD) Regional Center Development. O Transect objetiva que o urbanismo evolua sem
perder seus fundamentos de história e do caráter do lugar, ordem e equilíbrio, e respeitando os
princípios ambientais (DUANY et al, 2014).
135
Que as comunidades devem fornecer escolhas significativas nos arranjos de vida, conforme
manifestado por ambientes físicos distintos, através do dispositivo taxônomico, a fim de colocar em
ordem útil todos os elementos componentes do design urbano. Como uma regra de montagem das
partes num todo. Taxônomico, por sua vez, nas ciências biológicas, estuda a classificação dos seres
vivos, considerando o conjunto de suas características.
136
O CATS (Centro de Estudos de Transectos Aplicados) segue as premissas da Carta do Novo
Urbanismo (1996), que enfatiza o desenho neo-tradicional, i.é., busca uma reconciliação dos modelos
atuais de urbanização com a tradicional Unidade de Vizinhança de Perry (1929), que tem, no seu
conceito, a vizinhança como elemento fundamental do planejamento. Desta fusão, originou a zona
TND – Traditional Neighborhood Development – expressão utilizada atualmente no contexto do New
Urbanism.
112

de florestas, pastagens, terras agrícolas com edificações como galpões, cabanas e moradias

de camponeses;

• T3 é a zona suburbana, que possui loteamentos residenciais e comunidades fechadas, com

baixa densidade residencial. As quadras podem ser grandes e as ruas/estradas podem ser

irregulares para se ajustarem às condições naturais;

• T4 é a zona geral urbana que consiste em uso misto com predomínio de residências,

apresenta uma diversidade de tipos de habitação (unifamiliares e multifamiliares). Os

quarteirões apresentam tamanho médio e são definidos pelas ruas, meios-fios e calçadas, e

as ruas apresentam faixas de pedestres junto aos cruzamentos;

• T5 é a zona central urbana, marcada pela grande densidade populacional, com usos

comerciais, residenciais e institucionais. As ruas são estreitas e as calçadas largas, marcadas

pela arborização que é constante na paisagem, os edifícios são mais próximos das calçadas;

• T6 é a zona considerada o coração urbano. Amplia as características presentes na zona T5,

com aumento da altura das edificações, variedade de usos (edifícios cívicos de importância

regional) e maior densidade, caracterizando grandes cidades ou metrópoles.

Como já foi referido, a partir desta classificação, proposta pelo CATS, é possível a

criação de uma codificação dos elementos de projeto urbano e arquitetônico que auxilia no

estabelecimento de padrões, para novos empreendimentos, baseados nas pré-existências;

no restabelecimento da conexão entre edificações, vias, espaços abertos e instalações

comunitárias; na construção de ambientes urbanos mais apropriados à escala humana137; no

retorno à arte da construção urbana do planejamento tradicional, e da proteção ao meio

ambiente.

Esta codificação138 é efetivada através da interseção entre lei e design prevendo um

resultado físico – a forma da região, da comunidade, do quarteirão e do edifício. Ainda, por

fundamentar-se nos princípios do Novo Urbanismo, incorpora a criação de um sentido de

lugar nas relações mútuas entre espaços públicos e privados, num esforço para sustentar e

reforçar a identidade no espaço privado e a vida urbana nas cidades.

137
Ambientes urbanos apropriados à escala humana significam ambientes, sejam públicos ou privados,
que foram planejados a partir do reconhecimento das características e necessidades humanas.
138
Conhecida atualmente como Smart Code, é baseada no Transect e no Smart Grrow, e aborda todas
as escalas do planejamento, da região à comunidade, ao quarteirão e ao edifício.
113

Nessa perspectiva, o código (smart code) enfatiza a forma das edificações e como

elas afetam os espaços públicos, definindo normas139 para cada tipo de edificação. Assim,

são detalhadas desde a implantação das edificações no quarteirão e/ou lotes (posição dos

edifícios, estacionamentos, circulações e espaços abertos); os usos (indicação das atividades),

as alturas das edificações e a relação com os tipos de vias; a forma dos térreos e sua interface

com a calçada; as exigências de fachadas (locais de entradas, transparência, diferenciações

horizontais (base, corpo e coroamento), cor, beirais/marquises.

Também, o código coordena, definindo fisicamente, os espaços abertos públicos

do bairro (ruas, praças, parques, playground) para que se constituam em locais de uso

compartilhado e, por ter na sua essência os princípios do Novo Urbanismo, tem como

propósito constituir bairros completos, compactos e de uso misto, de modo que os padrões

tradicionais de vizinhança sejam contemplados.

Esta postura vem ao encontro do conceito, já descrito, da “arquitetura urbana” que

alega o planejamento de uma arquitetura ao nível do edifício – da conformação do espaço e

da definição das atividades –, regulando muito além do que os planos diretores em geral

estabelecem. O smart code é organizado de acordo com o tipo de lugar que se quer criar e

não uma legislação, com seções e subseções, dedicadas ao uso do solo.

Regular assuntos arquitetônicos, através da codificação, vai além de seus efeitos

estéticos, influência, positivamente, para dar forma a uma imagem e vida na cidade, atuando

num conjunto de aspectos de natureza social, econômica e ambiental. Ter um código que

contenha padrões básicos da arquitetura permite regular, através de princípios

organizadores, o tipo, a escala, a forma e o caráter de cada bairro/distrito.

Assim sendo, o código necessita fazer parte de um conjunto de normas e posturas

urbanísticas e administrativas para que atinja seus objetivos na totalidade: tornar-se uma

ferramenta mais prescritiva do que restritiva, onde as orientações sejam articuladas desde a

escala de projeto urbano até a escala do edifício, num esforço integrado de diferentes

especialistas.

139
Tais normas incluem algumas modificações aceitáveis para que os empreendimentos tenham
flexibilidade de acordo com as preferências da comunidade e a natureza de cada lugar. Também, a
complexidade de cada código deve ser delineada de acordo com cada situação específica. Nem todos
precisam tentar antecipar todas as variações possíveis.
114

Ainda, para sua implementação, seguindo os conselhos de Dyer e Dover (2018, p.

94)140, é preciso encontrar empreendedores interessados em construir lugares (locais de

sucesso) e incentivá-los a fazer algo diferente. Em seguida é necessário educar e sensibilizar

a comunidade, bem como acertar na escolha do local (uma área pequena e central) a fim de

demonstrar, através do primeiro projeto catalisador, que outros projetos semelhantes são

viáveis.

Este código, dependendo da sua amplitude e variedade de conteúdos (urbanos e

arquitetônicos), pode ser um instrumento (um manual de diretrizes para cada novo

empreendimento) de convenções morfológicas e de parâmetros arquitetônicos ao invés de

ser uma legislação.

Este manual, que deve estar de acordo com o Plano Diretor, deve ser escrito e

ilustrado, a fim de assegurar que as exigências fiquem claras, principalmente para os vários

escritórios de arquitetura que irão projetar, ao longo dos anos, soluções arquitetônicas que

dialoguem com o urbanismo apresentado141.

Essa prática é largamente utilizada nos Estados Unidos da América, em especial no

Sul. O Smart Code142 foi lançado pelos arquitetos Duany Plater-Zyberk & Company (DPZ) em

2003 e hoje, após quase duas décadas de pesquisa e implementação, mostra-se eficaz na

construção de diretrizes locais.

Estas diretrizes, que contemplam desde a escala de projeto urbano até a escala do

edifício, têm, na sua gênese, os princípios do Novo Urbanismo assegurando a conectividade,

a compacidade, a diversidade de usos e a construção de espaços urbanos que resultem numa

imagem da “boa forma urbana”, onde, sempre, a escala humana esteja no centro de todas

as resoluções.

140
Entrevista ao jornal Public square (2017) - 25 great ideas of the New Urbanism. O jornal Public square
é editado por Robet Steuteville, consultor de comunicações do Congresso do Novo Urbanismo (CNU).
https://www.cnu.org/publicsquare/category/great-ideas.
141
Sem qualquer pretensão de esgotar o assunto sobre a Teoria das Zonas Transect e do Smart Code,
ficam aqui registradas algumas fontes de pesquisa sobre estes temas: http://transect.org;
http://dpz.com; http://newurbanism.org; https://www.cnu.org; http://smartcodecentral.com;
http://formbasedcodes.org; além dos livros já referenciados neste tópico.
142
O Smart Code é um software aberto, porque permite uma flexibilidade de acordo com as condições
locais, e disponível para download gratuito.
115

Similarmente, Lisboa possui, como política pública urbana, uma sequência de

Planos que contemplam as diversas escalas de desenho para cada zona da cidade, nessa

ordem: Plano Geral de Urbanização e Expansão; Plano Diretor Municipal; Planos de

urbanização e Planos de Pormenor143.

Nesse universo, no Brasil, é possível citar algumas iniciativas de empreendimentos

que estão sendo concebidos sob esta ótica, da codificação de elementos urbanos e

arquitetônicos, sobretudo em bairros residenciais, e que estão seguindo os princípios do

Novo Urbanismo.

Contudo, estes planos pilotos no Brasil são, na sua grande maioria, criados por uma

só incorporadora (um promotor privado), o que permite a implementação do projeto

urbanístico e arquitetônico de acordo com as diretrizes estabelecidas, atingindo o resultado

esperado, em relação ao caráter, forma e tipo do bairro.

Nesse âmbito, nota-se uma lacuna, tanto para os empreendimentos públicos como

para intervenções isoladas, devido à falta de planos reguladores e códigos (legislações

municipais) mais específicos – contendo diretrizes ao nível da morfologia urbana e da

arquitetura do edifício.

O modelo convencional de planejamento urbano no Brasil, proveniente do

urbanismo moderno, que propõe um zoneamento elementar, planificado e abstrato em

relação às pré-existências ambientais e históricas, constrói cidades que são um acúmulo de

zoneamentos e loteamentos, deixando em segundo plano princípios vitais para a construção

de ambientes urbanos de qualidade, i.é., de lugares habitáveis144.

Este é um obstáculo a ser superado, o Brasil necessita um avanço na construção de

planos e códigos que sejam menos generalistas e mais específicos no que tange aos

parâmetros de qualidade da morfologia urbana e suas relações com as texturas existentes.

143
Câmara Municipal de Lisboa: http://www.cm-lisboa.pt.
144
De acordo com o Form-Based Codes: A Step-by-Step Guide Form Communities (2013), lugares
habitáveis são saudáveis, seguros e tranquilos. Comunidades habitáveis oferecem opções de
transporte e acesso oportuno a escolas, ao trabalho, serviços e necessidades básicas. As comunidades
habitáveis estão imbuídas de força e vitalidade, características que emergem da preservação das
características únicas que dão às nossas diversas comunidades um senso de lugar.
116

QUADRO 12 Zonas de Transect ilustradas através das pinturas de Norman Rockwell. Modelo
transect rural-urbano – CATS. O Transect de Ronda-Itália. Codificação de elementos de projeto
(Smart Code).
117

Malha de quarteirões

Dado que, no tópico anterior (item I.1.2 – Conexões – Rede viária), se dissertou sobre

as vias principais que conformam os distritos e suas propriedades, de acordo com os tipos

de lugares, aqui, apresentam-se, dando continuidade à composição da área residencial, as

demais vias que instituem a malha de quarteirões: as vias locais.

Estas vias deverão seguir uma hierarquia de espaços abertos e ruas para apoiar uma

gama diversificada de atividades de seus moradores, trabalhadores e visitantes, baseados na

função, vocação e caráter que exercem, aliados ao planejando de locais que conformem

sistemas de atividades que darão conteúdo, coerência e vitalidade aos espaços urbanos.

As via locais devem ser traçadas para que se obtenha, como resultado, uma malha de

quarteirões, com desenhos regulares, sempre que possível, dependendo das condições do

sítio e do contexto, e preferencialmente sem excessivos comprimentos145, permitindo que os

pedestres se movimentem com conforto, segurança e orientação.

No que concerne ao tamanho dos quarteirões, há duas principais razões pelas quais

devemos atentar: a primeira, em relação à segurança, uma vez que estudos146 mostram que

quarteirões maiores significam menos ruas e, portanto, ruas maiores, com múltiplas faixas de

tráfego e mais velozes, o que as torna menos seguras; e, em segundo, quanto à conveniência:

quanto mais quarteirões por quilômetro quadrado, mais escolhas o pedestre poderá fazer e

mais oportunidades ele terá para alterar seu trajeto e chegar a um endereço útil. Estas

escolhas também tornam a caminhada mais interessante, ao mesmo tempo que diminuem as

distâncias entre os destinos.

É possível afirmar que evidências históricas mostram como as grelhas médias (cerca

de 60m aproximadamente) dão as maiores proporções de vias públicas em relação à área

construída. Da mesma forma, o comprimento das fachadas por área também se torna mais

adequado no esforço da obtenção de um layout unitário, que contribua positivamente para

o domínio público.

145
Recomendações de tamanhos de quarteirões: comprimento de 80m-150m (Gehl, 2014) – sugere a
subdivisão, com ruas internas (de pedestres) para os quarteirões maiores; comprimento 140m e
perímetro 450m (Farr, 2013); comprimento máximo 180 e perímetro 600m (DPZ, 2000).
146
Jeff Speck, em A caminhada segura (2016, p. 151), e Jane Jacobs, em Condições indispensáveis
para gerar uma diversidade e vitalidade (2014[1960], p.107).
118

Conforme Llewelyn-Davies (2000, p. 38), o espaçamento da malha de quarteirões de

80m–100m fornece uma rede ideal para as necessidades de pedestres e veículos na maioria

das circunstâncias. Em áreas centrais, com atividades de pedestres intensivas, o espaçamento

de 50m a 70m fornece uma ótima rede de circulação. Deste modo, o autor recomenda que,

em bairro de uso misto, deve ocorrer uma variedade de tamanhos de quarteirões para

promover a pluralidade de usos.

Quanto à regularidade da malha ou grelha, como é chamada por Hertzberger (2015,

p.124), é considerada, pelo referido autor, como um modelo que, existindo um equilíbrio

entre as regulamentações e a liberdade de escolha, poderá expandir as possibilidades de

variações a partir de uma regra geral que é por demais flexível quanto ao detalhamento de

cada sítio.

O autor afirma que, como uma base objetiva, a grelha delineia o layout do espaço

urbano, e essa disposição reduz, a proporções aceitáveis, o efeito inevitavelmente caótico

das inúmeras decisões isoladas. Além disso, a sua simplicidade vem ao encontro da economia

de meios que, conforme Mahfuz (2014)147, é um conceito, em conjunto com a sistematicidade,

rigor, precisão e universalidade148, que deve estar incorporado no pensamento projetual

contemporâneo.

Sobre economia de meios, é apropriado citar Krier, que reconhece a importância de

quarteirões pequenos para maior urbanidade e assim se expressa: "Se a principal causa de

propormos quarteirões pequenos e densos for principalmente econômica, é exatamente esse

o mesmo motivo que criou o caráter íntimo de um ambiente urbano. Tal ambiente é a base

da cultura urbana, de intenso intercâmbio social e econômico." (KRIER, 1990, p.198).

O papel desta rede de vias locais não é apenas de fornecer um traçado sobre o qual

irão se alinhar os elementos edificados, mas, principalmente, de ordenar o tecido urbano em

suas laterais, de regular os crescimentos secundários e os adensamentos (PANERAI, 2001, p.

61). Outrossim, a rede de ruas deve pertencer a uma rede de diversos espaços públicos

147
MAHFUZ, Edson da Cunha. Reflexões sobre a construção da forma pertinente. In: Projetar 2001:
desafios e conquistas da pesquisa e do ensino de projeto (2003, p. 32-48).
148
Hélio Piñon, Teoria do projeto (2006, p. 54). Interpretação do Texto Après le cubisme, de Le
Corbusier e Amédée Ozenfant (1918) que propunha, como atributos da nova arte, a economia, a
precisão, o rigor e a universalidade.
119

(parques, praças cívicas, jardins de vizinhança, áreas de lazer e desporto) com o propósito de

criar um conjunto de distritos e/ou bairros permeáveis e acessíveis.

Nessa conjuntura, é importante enfatizar que os tamanhos e formatos dos quarteirões

não necessitam seguir um único padrão e nem uma repetição149. É oportuno aqui lembrar,

novamente, as lições de Leon Krier (1990) apud Carmona et al., 2003, p. 71 sobre os tipos e

sistemas de espaços urbanos: a) os quarteirões urbanos são o resultado dos padrões de ruas

e espaços públicos; b) o padrão de ruas e espaços públicos é o resultado da posição dos

quarteirões (quarteirões tipologicamente identificáveis); c) as ruas e as praças são tipos

formais precisos (as “salas públicas” são tipologicamente identificáveis); e d) os edifícios são

tipos formais precisos, e existe uma distribuição aleatória de edifícios situados no espaço150.

Sobre a relação entre espaço construído e os espaços urbanos, é conveniente aqui,

lembrar, outra vez, Leon Krier, que buscou a recriação ativa de valores urbanos clássicos

tradicionais (quarteirões menores e tipologicamente mais complexos são geralmente

encontrados no centro urbano, quarteirões que tendem a crescer maiores e mais simples são

em direção à periferia151, antes de finalmente se dissolverem em objetos individuais

independentes) e afirma que a boa cidade se forma por “multiplicações”, quarteirões que

facilitam a aproximação, o diálogo e possam ser percorridos a pé, verdadeiras “comunidades

completas” (CARMONA et al, 2003, p. 82).

Ainda, o tamanho e a forma dos quarteirões devem ser estabelecidos considerando

conexões existentes e as peculiaridades do contexto local, as quais formarão a base para os

quarteirões urbanos e, consequentemente, conforme o caso, implementam uma “tecelagem

urbana”152, contribuindo significativamente para a qualificação da área circundante.

149
Mais relevante que a regularidade ou a formação de uma grelha cartesiana é a garantia de uma
rede conectada de vias que ofereçam alternativas de rotas para caminhar, andar de bicicleta ou dirigir.
150
Os primeiros três são tipos de espaços urbanos tradicionais. Na quarta definição, Krier refere-se a
uma forma do espaço urbano modernista com espaços fragmentados que negam a cidade existente.
151
Quarteirões maiores (em direção à periferia) podem ter dimensões maiores a fim de se adaptar e
estruturar a forma da paisagem urbana. Por exemplo, os blocos urbanos maiores podem ter mais de
200 metros, em qualquer dimensão, atravessados por pequenas ruas transversais e trilhas.
152
Tecelagem urbana: termo utilizado por Carmona et al. (2003, p. 82), quando explicam a
configuração de quarteirões em sítios onde é necessário trabalhar com padrões remanescentes, onde
os quarteirões são determinados pelo contexto local a fim de restabelecer a integração da nova área
residencial com o seu contexto circundante.
120

Já, em sítios com áreas mais abertas, zonas mais rurais, geralmente há menos

indicações contextuais para sugerir tamanhos de quarteirões apropriadas. Assim, a definição

dos tamanhos e forma pode-se dar pela análise dos requisitos de usos específicos do solo

(habitação, escritórios, lojas, escolas, etc.) e/ou pelo uso de precedentes históricos que

servem como parâmetro, por já terem suportado e acomodado crescimentos e mudanças ao

longo do tempo.

Nessa perspectiva, é pertinente mencionar a qualidade da continuidade, (das vias e

quarteirões), que confere a sensação de segurança e orientação153 ao usuário e pode ser

obtida através de alguns fatores como: a largura das ruas, o comprimento dos quarteirões,

as fachadas dos edifícios (imagem, composição, tipos de materiais), o sistema de

denominação das edificações, a vegetação (em grandes quantidades, da mesma espécie e

espaçadas regularmente), o tipo de construção, a harmonia na superfície do pavimento, entre

outras qualidades.

A qualidade da segurança e orientação depende, em grande parte, da hierarquia

funcional das vias, a qual deve estar em sintonia com a hierarquia visual e de significados e

hábitos de cada setor. Assim, uma distinção das ruas mais significativas e a sua unificação

como elementos perceptuais contínuos será obtida propiciando um percurso de maior

significado e, por si só, uma verdadeira experiência. “Este é o esqueleto da imagem da

cidade” (LYNCH, 2011 [1960], p. 10).

Estudos realizados por Kevin Lynch sobre a imagem da cidade e os seus elementos nas cidades de
153

Boston, Jersey City e Los Angeles (2011, p. 54- 66).


121

QUADRO 13 Espaço urbano tradicional (Paris). Malha de quarteirões (com tamanho médio,
integrados e determinados pelo contexto local). Exemplo do bairro Pedra Branca - SC, Brasil.
122

I.3 Quarteirão: relação do conjunto com a rua e com a cidade

[...] o bloco urbano não é uma forma arquitetônica, mas um grupo de parcelas
(lotes) independentes. Só tem significado adequado quando são
organizados a partir da rua, relacionando-se com a rede viária. (PANERAI,
2004, apud CARMONA et al, 2003, p. 93).

Mais do que tamanho e regularidade dos quarteirões, o que mais importa é a relação

entre espaço construído e o espaço aberto, a qual se dá através da organização das partes,

de modo que o todo (domínio público) seja maior do que a soma de seus edifícios e

desenvolvimentos individuais.

Assim, toma-se, como referência, o espaço urbano tradicional de quarteirões

formados pela massa conectada de edifícios individuais de ‘fundo’154, definindo espaços

positivos.

Nesse aspecto, Solà-Morales (1976)155, escrevendo sobre a importância metodológica

e cultural na história urbana de Barcelona – o caso de Gracia –, aponta que são as parcelas

(os lotes) que compõem o quarteirão que deverão ser o material de projeto. Estas, em

conjunto com os edifícios, formarão um todo eficiente.

Assim, o desenho do quarteirão deve priorizar a definição da rua; pode dispor de uma

praça central (espaço positivo) permeável aos eixos primários de acesso; e os lotes devem

ser constantes e com dimensionamentos modestos – com pouca largura (6m a 10m) a fim de

propiciar, por um lado, uma continuidade espacial e, por outro, uma variedade de entradas

com atividades diversificadas.

Nesse cenário, além da tipologia dos quarteirões e a coesão entre as partes e a relação

do conjunto com a rua e a cidade, ainda é pertinente acautelar para com os quarteirões

especiais, com equipamentos e serviços, que possam servir tanto o bairro como a vizinhança,

e que facilitem a aproximação e o diálogo, e possam ser percorridos a pé.

154
Edifícios como ‘fundos’: consideração de Colin Rowe (1978) em seus estudos sobre o projeto do
espaço urbano onde usava diagramas figura-fundo para reconhecer a relação entre os espaços vazios
e os maciços edificados, percebendo a conformação de espaços positivos (fixação do espaço) ou o
edifício positivo (fixação do objeto).
155
Manuel Solà-Morales, Eduard Brú e Enric Serra, no texto Gracia: Diseño del suelo y forma urbana
em los origenes de la Barcelona moderna (1976). Revista Arquiteturas: información gráfica de
actualidad.
123

O conceito da vizinhança é, aqui, entendido como as áreas adjacentes/envolventes

ao bairro, que devem ser interconectadas a fim de que o bairro nunca fique “voltado para

si”156, e sim contribua com a mobilidade e fluidez dos usos urbanos consolidados, sem

enfraquecer economicamente e socialmente a cidade de que fazem parte. Segundo Jane

Jacobs (2014 [1960], p. 86), a falta de autonomia tanto econômica quanto social dos bairros

é natural e necessária a eles, simplesmente porque eles são partes integrantes das cidades.

Dessa forma, partindo dos elementos constitutivos do tecido urbano, foi definido um

indicador: Parcelas e Edificado, no que se refere ao arranjo dos quarteirões com a finalidade

de construir território urbano contínuo e ordenado, a partir do edificado.

Tabela 04: Princípios, indicadores e elementos de projeto: Escala do quarteirão

Fonte: Elaborado pela autora.

I.3.1 Parcelas e Edificado

De acordo com Panerai (2006 [1999], p. 88), as massas edificadas que ocupam as

parcelas (lotes) do quarteirão devem, sempre, ter a rua como referência. Essa submissão do

construído ao espaço público permite que haja uma solidariedade entre os edifícios, mesmo

quando estes pertençam a épocas ou tipos diferentes. Outra vantagem é a criação de

características diferenciadas no interior da parcela, que ocorrem em todos os lotes edificados.

O autor explica que essa solidariedade entre os edifícios permite a sua substituição

gradual, preservando, mesmo assim, as disposições concernentes ao status da fachada

(portanto a entrada e o endereço) em relação à rua e os vínculos dos lotes e edifícios vizinhos.

Quanto às características diferenciadas no interior da parcela, têm origem na

oposição entre a frente – orientada para a rua – e os fundos – onde soluções mais livres não

seguem as convenções do espaço público.

Expressão utilizada por Jane Jacobs (2014[1960], p. 86), ao referir-se aos bairros em forma de ilhas
156

que transformam a cidade numa porção de territórios – de cidadezinhas.


124

Sobre a correlação entre os edifícios, o Novo Urbanismo tem, como premissa, a

construção de ambientes urbanos que resultem na “boa forma urbana”, através da criação

de uma continuidade espacial (sobretudo nos térreos), por meio do alinhamento dos

edifícios.

À vista disso, definiram-se elementos de projeto considerados fundamentais para

estabelecer a relação entre as parcelas e o edificado, bem como entre este conjunto com os

espaços públicos abertos, como segue: a configuração dos quarteirões, com diferentes

tipologias, a localização dos quarteirões, particularmente os de usos especiais, e critérios de

implantação dos usos especiais (Quais? Onde? Como?) a fim de comprometer-se com a

construção de uma comunidade e não apenas de um produto isolado.

Configurações dos quarteirões

Partindo do princípio da subdivisão do sítio em distritos de zoneamento ou em T-

Zones, da demarcação dos seus acessos, da cautela para com suas margens e da definição

da malha de quarteirões (tecido urbano), estabelecidos com base na vocação do lugar157 e

na sua conexão com a área envolvente, é necessário idealizar quais as tipologias de

quarteirões que serão usadas na nova área residencial, sugerindo a localização para cada tipo

de quarteirão nos respectivos distritos ou T-Zones, com a finalidade de estabelecer uma

correta relação entre as vias, as parcelas e as edificações, tanto na forma como nas funções

estabelecidas.

A determinação dos tipos de quarteirões (configuração física e usos) deve visar à

diversidade dos locais e suas atividades. Esta variedade de abordagens explora e incentiva a

inovação no mercado imobiliário, a pluralidade de proprietários, de estratégias urbanas, de

múltiplas arquiteturas e de habitantes de vários extratos sociais, a fim de conformar um

ambiente urbano mais inclusivo, seguro, resiliente e sustentável.

Os tipos de quarteirões deverão indicar um conjunto de subdivisões que permitirá

uma grande variedade de opções de desenvolvimento (edifícios para futuros residentes,

inquilinos e investidores comerciais). Essas subdivisões e suas devidas localizações devem

157
Vocação do lugar: são propriedades do lugar que são identificadas após o estudo do conteúdo
sociocultural, político, físico, arquitetônico, econômico e histórico.
125

levar em consideração aspectos das características físicas, econômicas, e histórico-sociais158,

de acordo com as especificidades dos distritos de zoneamentos ou das T-Zones e da malha

de quarteirões.

O sistema de parcelas dos quarteirões – os quais poderão ser mais genéricos e, a

partir dos quais, uma gama de modelos poderá ser criada –, apoiado nas condições do local,

requer consciência do diálogo de regulação entre o espaço público e o privado, preservando

a relação edifícios cidade. Os diferentes tipos e escalas de edifícios e sua relação com as

instalações (comerciais, de serviço e comunitárias) próximas são fundamentais para ajudar a

moldar o crescimento e a evolução do novo conjunto habitacional ou do novo bairro.

Assim, o arranjo dos quarteirões pode incluir tipologias divididas em parcelas

individuais (mais convencional, com regras normativas do desenho urbano159) ou, numa nova

apreciação e adaptação das qualidades do espaço urbano tradicional, conceber os

quarteirões em termos de blocos de perímetro160, isto é, conformar os quarteirões através de

um conjunto de edifícios, seja com volumetrias retangulares, em forma de “L”, de “U”, entre

outras possibilidades, desde que construam território urbano a partir de elementos de sua

morfologia, que o caracterizem.

Nesse âmbito, dos blocos de perímetro, o layout dos quarteirões (em especial os de

maiores dimensões) deve prever ainda a permeabilidade física e/ou visual161, dispondo de um

ambiente que permite ao usuário a escolha da rota através do quarteirão, gerando caminhos

de pedestres que devem convergir, preferencialmente, para um centro de ação – os nós de

atividades. Quanto à permeabilidade visual, o alcance óptico pode ser obtido por meio de

transparências (vidros ou edifícios sobre pilotis), das sobreposições (quando uma estrutura

158
Rossi (2001[1966], p. 63) evidencia que a estrutura fundiária está intimamente ligada às influências
econômicas e históricas-sociais e que sua formação e evolução representa a longa história da
propriedade urbana e a história das classes profundamente ligadas à cidade.
159
Segundo Rossi (2001[1966], p.100), o desenho do parcelamento em lotes e do edifício unitário e
isolado na parcela gera uma degeneração da forma urbana que o fragmento no lote acaba por causar.
160
O termo “blocos de perímetro ou blocos urbanos” significa uma forma de organização dos edifícios
no quarteirão, os quais são adjacentes uns aos outros, ao menos nos dois primeiros pavimentos,
definindo a borda do espaço urbano. Podem conformar-se em fita, desde a linha reta ao polígono
fechado ou semifechado – se atravessados por ruas internas –, com formato em “L” ou “U”.
161
Permeabilidade física: prever passagens entre as quadras de 6 a 7m – Coelho, A.B. e Pedro, J.B.
(2013, p. 133).
126

aparece atrás de outra), de elementos articuladores, entre outros, que aumentam e/ou

organizam uma possibilidade de visão, quer real, quer simbólica.

Esta permeabilidade é gerada, na maior parte dos casos, por vias internas162 (privadas),

as quais poderão ter um caráter de zona compartilhada (sem dispositivos de controle de

trânsito e sem meios-fios e com o mesmo material de superfície), criando um ambiente que

retoma o conceito da rua enquanto espaço público tanto por sua extensão, como pela sua

acessibilidade e atividades que contém, bem como pela correlação entre rua e edifício.

Segundo Carmona et al (2003, p. 69), muitos projetos contemporâneos estão sendo

concebidos com o conceito de blocos de perímetro que, além de ser uma reação à atitude

modernista em relação ao passado, demonstra também um novo interesse e preocupação

pela continuidade dos lugares, juntamente com a disposição de examinar e aprender com os

precedentes.

A composição da estrutura de blocos de perímetro é importante tanto na

determinação do padrão de movimento quanto no estabelecimento de parâmetros para o

desenvolvimento subsequente. É criada como uma rede espacial pública que abre

possibilidades, em conjunto com a tipologia/códigos/regras básicas sobre parâmetros físicos,

de fornecer coerência e “boa forma”163 urbana, sem necessariamente ser determinista sobre

a forma arquitetônica ou conteúdo. Ou seja, seria semelhante a projetar cidades sem projetar

edifícios (BARNETT, 1982, apud DEL RIO, 1990, p. 59).

Em síntese, organizar os quarteirões utilizando a tipologia de blocos de perímetro tem

a vantagem de, através dos edifícios: assegurar a continuidade espacial (sobretudo nos

térreos); manter a linearidade com a via pública (construindo na borda da rua ou seguindo

uma uniformidade de recuos, em consonância com cada zona); viabilizar pátios – no centro

do quarteirão –, que propiciam mais segurança e contato com o verde – e configurar ruas

internas (entre os edifícios) que facilitam a acessibilidade física e visual.

162
Segundo Gehl (2014, p. 26), a largura recomendada para vias internas (entre edifícios) é de 6m a
10m.
163
Teoria para a boa forma urbana, escrita por Kevin Lynch (1985), em oposição ao trabalho normativo
sobre desenho urbano, onde apresenta o que denominou “dimensões de performa-se”, ou seja,
grandes valores ou metas para o desenho urbano que, se respeitados e perseguidos, semeiam o
caminho para ambientes urbanos de qualidade.
127

QUADRO 14 Tipo, modelos e localização dos quarteirões – estudo do ateliê Gehll (2014) para Bairro
Urbitá - Brasília.
128

Além das tipologias demonstradas, as quais entende-se incorporarem grande parte

das premissas fundamentais do habitat humano, acrescentam-se os quarteirões especiais

para fins especiais, em geral de utilidade pública – escolas e afins; pontos de referência, como

marcos paisagísticos, galerias e museus; espaços livres, como praças e parques de lazer;

prédios institucionais e cívicos – com o propósito de tornar o bairro/conjunto habitacional

sustentável e dotado de espaços sociais, a fim de complementar o caráter residencial da área,

aumentar a atratividade e, consequentemente, seu valor imobiliário.

Estas funções variadas, que podem ser implantadas nos quarteirões especiais,

devem ser compatíveis entre si e de intensa utilização, se possível, 24 horas por dia164, a fim

de gerar uma área urbana com maior vitalidade. Nesse ponto, sugere-se o uso de atividades

de apoio organizados a partir da alocação de fortes “nós de atividades”.

Conforme Alexander (2013 [1977], p. 165), os “nós de atividades” têm que reunir

as principais vias de pedestres da comunidade que os cerca, os quais devem convergir numa

pequena praça165. O relacionamento entre as vias de pedestres, os equipamentos

comunitários e as praças é vital e, por isso, deve ser considerado um dos principais elementos

da cidade.

Nessa perspectiva, estes “nós” precisam estar em mente já no momento do traçado

da rede viária (malha de quarteirões), com a intenção de prever espaços abertos (largos e

praças) nos locais de cruzamentos das vias. Estas praças deverão ter predominância em

proporção às outras partes em relação ao seu tamanho, intensidade e/ou interesse,

dependendo da distinção de sua característica principal no todo.

Estes “nós” devem ser distribuídos pela comunidade, facilitando o deslocamento a

pé e gerando um contraste, em pequena escala, entre áreas “movimentadas” e “tranquilas”,

evitando grandes áreas sem vida. (ALEXANDER, 2013 [1977], p. 167).

Segundo Lynch (2011 [1960], p. 52), estes “nós”, que acontecem nos cruzamentos

das principais vias da comunidade, funcionam como concentrações que se revestem de

importância, por serem a condensação de alguns hábitos, com a categoria social, ou pelo seu

164
Vicente Del Rio, em Implementando o desenho urbano (1990, p. 107), e Jane Jacobs, em As quatro
condições indispensáveis para gerar uma diversidade exuberante nas ruas e nos distritos, livro Morte
e vida de grandes cidades (2014[1960], p. 33).
165
Um ambiente público ao ar livre que dá as boas-vindas e estimula a reunião como uma “sala de
estar ao ar livre”, que pode definir e identificar o centro de um bairro e/ou de distritos.
129

caráter físico, tais como esquina de uma rua ou um largo rodeado de outros elementos

(LYNCH, 2011 [1960], p. 52 e 106).

Ainda, revela-se fundamental atentar para os equipamentos que estarão em volta

de um “nó”. A escolha deve ser em função de seus relacionamentos simbólicos e da

capacidade de oferecer suporte uns aos outros. A intensidade de uso será maior e mais bem-

sucedida se as funções ali determinadas funcionarem de maneira cooperativa e se apoiarem

mutuamente.

Sempre que possível, no núcleo de cada “nó”, deve propor-se uma pequena praça

pública, que pode incluir atividades temporárias e outras possibilidades de animação urbana,

circundada por edifícios que contenham esta mistura de equipamentos (ex.: escolas,

bibliotecas, parques e jardins, estabelecimentos comerciais, entre outros), desde que haja

uma relação de sintonia entre estas atividades e o caráter do lugar.

Localização dos quarteirões

Dessa forma, a localização destes usos especiais (quarteirões de usos especiais) nos

distritos deve considerar dois critério essenciais: o posicionamento dos núcleos onde

concentram-se as vias (nós de junções), a fim de reforçar-se como um elemento marcante166,

onde as pessoas possam ser obrigadas a tomar decisões acerca de qual percurso a seguir; e

nas fronteiras dos distritos, a fim de criar espaços de relacionamento com a área envolvente

e possibilitar o compartilhamento de funções entre os distritos.

A localização destes usos especiais causa um impacto significativo nas distâncias de

caminhada e nas opções de viagem das pessoas. Desta forma, o layout da nova área

residencial deve ser pensado para que os equipamentos e serviços do cotidiano estejam a

pouca distância das casas das pessoas.

Nesse aspecto, é apropriado citar a definição de bairro por Duany Plater-Zyberk

(2010), os quais reafirmam e atualizam a teoria da unidade de vizinhança de Clarence Perry

(1929) e assim se expressam: “Um bairro genuíno é compacto, orientado para o pedestre e

166
Estes elementos marcantes podem ser isolados ou combinados em escalas diferentes, constituindo
uma rede hierarquizada de referência espacial, que controla e orienta o todo, desde as instâncias
locais, até as instâncias mais globais.
130

de uso misto”, e seus parâmetros devem ser muito variados para refletir os costumes

regionais, o clima e as condições dos terrenos (FARR, 2013, p. 120).

Ainda, o autor destaca cinco convenções básicas de desenho urbano que conferem

um caráter comum aos bairros: centro identificável e limite do bairro; o tamanho ideal para o

pedestre (400m / 500m)167; composição de usos do solo e tipos de habitação com

oportunidades para comércio de uso diário e locais de trabalhos próximos das moradias; rede

integrada de vias orientadas para o pedestre; e reservar os terrenos especiais para propósitos

cívicos e comunitários, equipamentos de ensino e parques (FARR, 2013, p.123).

Segundo Andres Duany et al. (2010, p. 200), uma vez que o centro e a borda do

bairro forem definidos, a distribuição de usos segue naturalmente. As áreas de maior

densidade e urbanidade cercam o centro, que é a localização das lojas, do espaço livre

público, das paradas de transportes coletivos com propriedades que dependerão da tradição

local. Do centro para fora, as densidades dos edifícios diminuem, e ocorre uma mudança

correspondente nos desenhos das ruas.

Nessa conjuntura, entre conceito de bairro e sua relação com quarteirões e edifícios

especiais e suas localizações, é significativo descrever, mesmo que brevemente, sobre

edifícios comuns e excepcionais. Esta reflexão ocupa-se tanto do edifício como um elemento

da forma urbana, quanto em relação ao seu uso, que, como já foi referido, devem cooperar

entre si.

Embora os edifícios não tenham a estabilidade no tempo que ruas e quarteirões

têm, eles são um dos elementos mais significativos da forma urbana e, talvez, o mais visível

desses elementos. Em geral, a cidade é feita de dois tipos diferentes de edifícios: edifícios

comuns (correntes) e edifícios excepcionais (não correntes).

No que se refere aos edifícios excepcionais, incluem-se apenas alguns edifícios da

cidade: os edifícios que, pela sua forma – e eventualmente pelo seu uso –, são claramente

distinguíveis na paisagem urbana. Dentro deste segundo tipo há um conjunto menor, um

167
De acordo com David Birbeck e Stefan Kruckowski, autores da publicação Building for life 12: the
sign of a good place to live, o raio de influência indicado é de 500 m (equivalente a cinco minutos de
caminhada). De acordo com a unidade de vizinhança de Perry (1929), da unidade de vizinhança de
Duany Plater-Zyberk & Company (2010), o raio de influência equivalente a cinco minutos de caminhada
é de 400 m, e da Unidade de bairro sustentável de Douglas Farr et al. (2013), o raio de influência
equivalente a dez minutos de caminhada, equivalente à 1km.
131

conjunto muito especial de edifícios excepcionais, cuja forma se torna indistinguível da forma

da cidade da qual fazem parte. Este é o caso, por exemplo, da Opera House em Sydney168.

Nesse âmbito, considera-se indicado citar Lynch (2011 [1960], p. 81), que conceitua

os pontos/elementos marcantes169 como pontos de referência na cidade, que auxiliam no

sentido de direção do usuário. Apresenta duas formas de o domínio espacial causar

elementos marcantes: tornando um elemento visível de muitos pontos, ou criando um

contraste com os elementos circundantes, isto é, sendo uma variante de altura ou

constituição.

O autor ressalta que os elementos marcantes são parte de um todo numa inter-

relação e num esforço de construir uma estrutura urbana com identidade, e assim se expressa:

“as vias exporiam e preparariam os bairros e ligariam os vários cruzamentos. Os cruzamentos

ligariam e separariam as ruas, enquanto os limites separariam os bairros e os elementos

marcantes indicariam os seus centros importantes.” (LYNCH, 2011 [1960], p. 112).

Nesse contexto, como já dito, a localização dos quarteirões especiais deve estar em

locais estratégicos – nos pontos centrais e nos limites dos bairros/distritos. Esta consciência,

juntamente com os demais elementos que formam a imagem da cidade, sustenta a

construção de um meio ambiente visivelmente organizado e nitidamente identificado.

Segundo o autor, a partir daí, se o habitante conhecer esse ambiente por meio dos

seus próprios significados e relações – nesse momento, tornar-se-á um verdadeiro lugar

notável e inconfundível.

Desse modo, reafirma-se que a posição de cada edifício é de fundamental

importância para o caráter da paisagem urbana. Na maioria das cidades, no final do século

XIX, o alinhamento contínuo de diferentes edifícios estabelecia a forma de rua. No entanto,

várias teorias da cidade, desenvolvidas ao longo do século XX, questionaram esse

alinhamento tradicional de edifícios e houve a introdução de uma variação crescente na

posição dos edifícios dentro das parcelas, questionando a definição tradicional de rua.

Sydney Opera House (1973). Jorn Utzan.


168

Elementos marcantes – Landmarks: conforme Lynch (2011[1960], p.81), os elementos marcantes,


169

pontos de referência considerados exteriores ao observador, são simples elementos físicos variáveis
em tamanho.
132

QUADRO 15 Localização dos quarteirões especiais em cada distrito. Edifícios comuns e excepcionais
conformam a praça central (nó de atividade): Lier - Bélgica. Modelos de quarteirões de usos
especiais. Nós de atividades.
133

Usos especiais: Quais? Onde? Como?

O novo conjunto habitacional ou bairro deve fornecer, ou estar próximo das

instalações comunitárias, dos locais de trabalho e dos serviços e comércio do uso diário a fim

de conferir caráter, compacidade e completude.

Entende-se por instalações comunitárias funções de utilidade pública, como

equipamentos de ensino (escolas e afins), pontos de referência (galerias, museus, marcos

paisagísticos), espaços institucionais e cívicos (edifícios cívicos, universidades, hospitais) e

espaços livres públicos (parques, praças, jardins de vizinhança, área de lazer e desporto).

Essas qualidades podem ser alcançadas agrupando tais equipamentos (desde que se

apoiem mutuamente) em locais estratégicos (nós de atividades, num percurso central ou nas

margens) com o propósito de idealizar uma urbanização mais compacta e acessível a pé. Uma

boa estratégia de agrupamento pode dar-se através da implantação dos equipamentos sob

a forma de blocos urbanos ou blocos de perímetro170, os quais conformam o quarteirão

através de um conjunto de edifícios.

Também se destaca, na escala de bairro, a importância de prever espaços

cívicos/institucionais (universidades, hospitais, complexo do governo, edifícios cívicos

maiores como galerias, museus e teatros) na área central ou nas margens de cada bairro e/ou

distrito dependendo da sua particularidade.

Bairros mistos também proporcionam maior diversidade de formas e escalas de

construção, tornando a área visualmente mais interessante, com maior possibilidade de

distinção e caráter local.

Ainda, sobre a relevância da mistura de usos num bairro, em especial na esfera social,

Duany et al. (2000, p. 45) argumentam que o padrão segregacionista é autoperpetuado

porque as crianças que crescem em ambientes tão homogêneos têm menos probabilidade

de desenvolver estilos de vida e estão mal preparadas, sendo menos propensas a

desenvolver um senso de empatia por pessoas de outras esferas da vida e para com uma

sociedade diversificada.

170
Ver conceito item I.1.3 Parcelas e Edificado - Configuração dos quarteirões.
134

Estas premissas do “habitat humano fundamental e do design da vizinhança” nascem

de modelos mais remotos que incorporam os atributos da vizinhança como a Unidade de

Vizinhança, que foi um diagrama e uma descrição do primeiro plano regional de Nova York

(1929), o qual conceituava a vizinhança como elemento fundamental do planejamento.

Conforme Carmona (2003, p. 119), hoje, qualificando estes modelos, um conjunto de

princípios é resgatado e adaptado à luz do contexto local e das realidades sociais,

econômicas e políticas. Assim, no que se refere às distâncias ideais entre os equipamentos

comunitários e os conjuntos de residências, baseiam-se numa constante na forma como as

pessoas se têm assentado ao longo dos séculos: a maioria dos bairros anteriores à Segunda

Guerra Mundial tinha uma distância de 400 metros entre seu centro e os limites.

O raio de 400m é um parâmetro para a criação de uma unidade de vizinhança com

atmosfera e tamanho razoáveis e com orientação inerente para o pedestre em cinco minutos

de caminhada. Nesse aspecto, evitando a aplicação excessivamente rígida dos princípios,

Farr (2013) e Duany et al. (2000) recomendam que o raio seja entre 400m e 1.600m,

correspondendo ao tempo de caminhada entre 5 a 15 minutos.

No entanto, é necessária uma atenção para que a Unidade de Vizinhança seja

sobreposta a uma estrutura de movimento – denominada, no presente estudo, como

conexões: a rede viária, as calçadas, caminhos de pedestres, ciclovias e transporte público,

coletivo, individual e alternativo – integrada e concebida como parte da cidade cujas

atividades e formas se justapõem.

A essência do design de vizinhança de Perry incorpora, ao design físico e ao layout da

vizinhança, objetivos sociais, com interação com vizinhos, criação de um senso de

comunidade171, identidade e equilíbrio social. Tais qualidades são essenciais na busca por

modos de desenvolvimento mais sustentáveis e mais autossuficientes dos bairros na

atualidade.

171
Sabe-se que, na sociedade contemporânea, a interação social não depende mais unicamente das
comunidades locais, uma vez que foram complementadas, tanto pelo aumento da mobilidade como
pelas comunicações eletrônicas. No entanto, mesmo nesta era altamente móvel e tecnologicamente
conectada, é dever do projetista oferecer oportunidades para ambos – rede de contatos espacialmente
próxima e espacialmente difusa – e permitir que as pessoas encontrem seu próprio equilíbrio.
135

Instalação comunitária: Equipamentos de ensino

Entende-se por equipamentos de ensino: escolas, bibliotecas, ginásios, quadras

esportivas, campos de futebol, espaços para recreio e demais itens de acordo com a etapa

de ensino172 e a demanda local.

Segundo Coelho e Pedro, (2013, p. 65), os equipamentos locais mais essenciais à área

residencial são a escola (s) primária (s) e outros estabelecimentos de apoio à criança pequena

e escola de ensino fundamental:

• Ensino Infantil - Creche (0 a 3 anos) e jardim da infância (3 a 6 anos), servindo cerca de 15.000

a 25.000 habitantes, área de ocupação 1.500/2.500m², raio de influência, 400m173.

• Ensino Fundamental - Escola do Ensino Básico, 1º ao 4º ano (6 a 9 anos) e 5º ao 9º ano (10 a

14 anos), raio de influência, 400m.

• Ensino Médio - Escola secundária, raio de influência, 1000m.

Considera-se importante acentuar aqui mais alguns argumentos a favor da caminhada

da criança até a escola. De acordo com Susan Chira174 (1993), caminhar para a escola, em vez

de ser conduzido, pode contribuir significativamente para o desenvolvimento físico e

emocional da criança, bem como para eliminar os custos com transporte.

Algumas das atividades descritas (ginásios, quadras esportivas, campos de futebol)

necessitam de edifícios específicos e de espaços abertos com dimensões específicas. Desta

forma, estes quarteirões de usos especiais deverão ter, em alguns casos, maior dimensão que

os demais quarteirões e deverão ser configurados de forma que o espaço construído fique

em torno da borda da rua a fim de criar áreas internas seguras. (GEHL, 2014, p. 47).

Os equipamentos esportivos nas zonas residenciais devem ser previstos, mesmo em

condições espaciais exíguas, propondo pequenas e simples instalações esportivas como:

172
No Brasil, a educação básica é dividida em três etapas: 1- Educação infantil (creche 0 a 3 anos) e
Pré-escola (4 a 5 anos); 2- Ensino Fundamental (anos iniciais 1º ao 4º ano – 6 a 9 anos de idade) e (anos
finais 5ª ao 9º ano – 10 a 14 anos de idade); 3- Ensino Médio (1ª a 3ª série – 15 a 17 anos de idade).
173
Segundo Andres Duany et al (2000, p.250) no livro: Suburban Nation: the rise of sprawl and the
decline of the American dream.et al (2000, p.248), as escolas primárias, creches e estruturas recreativas
devem estar localizadas a uma distância máxima de uma milha (1,6Km) da maioria das habitações,
dimensionadas de acordo e facilmente acessíveis a pé.
174
Susan Chira, “Ïs Smaller Better? Educators Now Say Yes for High School”. The New York Times, July
14, 1993 : A1, B8.
136

campos “mini”175 (minibasquetebol, paredes para treinar tênis, campinhos de futebol com

balizas simplificadas, percursos de corridas e caminhadas aproveitando as diversas zonas de

pedestres, entre outras possibilidades de espaços para a prática de esportes).

A localização destas áreas deve levar em consideração a distância das unidades

habitacionais, não se posicionando diretamente na frente das moradias, de forma que sejam

evitados conflitos em virtude dos ruídos gerados e o possível incômodo que poderá ser

causado entre moradores de diferentes grupos de idades.

Espaços cívicos / institucionais e pontos de referência

Uma escolha prudente de sítios especiais176 para usos especiais é uma poderosa

estratégia de desenho urbano, tanto na funcionalidade de uma comunidade, na medida que

atende às necessidades do cotidiano (como já visto nos itens anteriores), quanto na

complementação do caráter de uma área, através de edifícios e paisagens icônicas, os quais

aumentam a atratividade e o potencial turístico.

Cabe aqui salientar que, além das vias, são os edifícios cívicos, institucionais e

monumentos (elementos marcantes) que formam parte relativamente permanente de um

bairro e de uma cidade; mesmo sujeitos a mudanças, alguma essência da identidade é

mantida. Essa permanência é resultado dos valores, significados e hierarquia, os quais,

geralmente, estão intrínsecos à sua função (o interior do edifício tem significado para a cidade

e seu povo) e a sua forma arquitetônica icônica, na qual traduz o significado, a cultura e a

época em formas espaciais.

Nessa perspectiva, é pertinente lembrar que, antes do período moderno, alguns tipos

de edifícios públicos (igrejas, prefeituras, palácios, monumentos, etc.) usavam esse meio para

obter distinção e integravam-se ao tecido urbano na ciência do seu papel público e

hierárquico. Kevin Lynch177 afirma que a associação histórica ou outros significados são

175
Termo utilizado por Coelho, A.B. e Pedro, J.B. (2013, p. 68), ao expor sobre equipamentos
desportivos na unidade de vizinhança.
176
Ver item I.3.1 – Parcelas e Edificado - Configuração dos quarteirões, onde é sugerido que a
localização dos blocos especiais seja nos núcleos centrais (praças e nós) e/ou, conforme sua
peculiaridade, nas fronteiras dos distritos.
177
Kevin Lynch, A Imagem da Cidade, (2011 [1960] p. 53, 84 e 105). Sobre elementos marcantes e sua
importância como referência na imagem urbana.
137

reforços poderosos a partir do momento que se ligam a um objeto físico, aumentando seu

valor como elemento marcante.

Desta forma, para além da sua importância simbólica, estes espaços e edifícios atuam

como pontos de referência e ajudam as pessoas a “encontrar o seu caminho”178. Kevin Lynch

(2011[1960]) denomina estes marcos como referências radiais ou locais que também (além

dos grandes marcos como torres isoladas, cúpulas douradas ou colinas extensas)

desempenham a função constante de símbolo de direção.

Neste enquadramento, outras características de legibilidade podem ser mencionadas

como setores/distritos distintos (identificáveis) de caráter homogêneo, seja por

particularidades físicas, espaciais, sociais ou de hábitos; enquadramento de pontos de vista

de marcos existentes ou propostos tanto dentro como fora do sítio; considerar pontos de

vistas importantes dentro do conjunto e valorizá-los (como a vista para o final da rua, uma

curva); a hierarquia lógica de ruas favorecendo a orientação dos usuários; a implantação de

edifícios de esquina com maior altura e usos especiais, espaços públicos combinados com

detalhes menores como cores, e variedade de materiais.

Espaços públicos abertos

Conforme Gehl (2013, p. 19-29), devemos planejar os espaços públicos de forma que

o ambiente construído encoraje os aspectos sociais da vida ao ar livre e a conexão com a

natureza e o clima. Ainda, o autor descreve que estes espaços somente serão bem-sucedidos

se forem organizados e fizerem parte de uma rede de espaços públicos que os conectem nas

diferentes escalas do espaço público, desde grandes parques, praças e espaços cívicos até

jardins de bairros e parques de vizinhança.

Os espaços públicos abertos podem ser classificados de acordo com seu tamanho e

natureza a fim de nortear a melhor localização em cada distrito de zoneamento ou nas T-

Zones. Como já comentado nos itens anteriores, no núcleo dos bairros (nós de atividades) e

perto das comunidades de trabalho, deve haver praças de pequeno porte. Já, praças e

178
Termo utilizado por David Birbeck e Stefan Kruckowski, autores da publicação Building for life 12:
the sign of a good place to live (2018).
138

parques de maior dimensão deverão ser implantadas nos limites das vizinhanças,

possibilitando a partilha deste espaço entre os distritos.

De acordo com o Neighborhood Conservation Code179, esta classificação é dada da

seguinte forma:

• Parque: uma reserva natural disponível para recreação não estruturada. Um parque pode ser

independente das fachadas dos edifícios circundantes, a sua paisagem consistirá em

caminhos e trilhas, prados, lagoas, bosques e abrigos abertos, todos naturalmente dispostos.

Os parques podem ser vias verdes lineares, seguindo as trajetórias dos corredores naturais.

O tamanho mínimo será de 8 acres (32.374 m2). A recomendação de localização é para T1,

T2 e T3;

• Área verde: um espaço aberto disponível para recreação não estruturado. Uma área verde

pode ser espacialmente definida pelo paisagismo, em vez das fachadas das edificações, de

forma que a sua paisagem consistirá de relva e árvores, dispostas sistematicamente no

espaço. O tamanho mínimo será de 1/2 acre (2.023 m2), e o máximo será de 8 acres (32.374

m2). A recomendação de localização é para T3, T4 e T5;

• Praça: um espaço aberto disponível para fins cívicos e atividades comerciais. Uma praça deve

ser espacialmente definida e emoldurada pelas fachadas das construções. Sua paisagem

deve consistir-se de caminhos – principalmente pavimentados – gramados e árvores

(formalmente dispostas). As praças devem estar localizadas na intersecção de ruas

importantes. O tamanho mínimo será de 1/2 (2.023 m2) acre, e o máximo será de 5 acres

(20.234 m2). A recomendação de localização é para T4, T5 e T6;

• Parque infantil: um espaço aberto projetado e equipado para a recreação das crianças. Um

parque infantil deve ser cercado e pode incluir um abrigo aberto. Devem ser intercalados

dentro de áreas residenciais, bem como podem ser incluídos em parques, áreas verdes e

praças. Não há um tamanho mínimo ou máximo para este equipamento. A recomendação de

localização é para T1, T2, T3, T4, T5 e T6.

O Código de Conservação de Vizinhança foi baseado no modelo Smart Code da versão 9.5 da DPZ
179

& Company e do Centro de Estudos de Transectos Aplicados (CATS). https://transect.org/codes.html.


O Smart Code é um código baseado em transecto e em formulários que incorpora os princípios do
Smart Growth e New Urbanism. Disponível em: https://smartcodecentral.com/
139

Ainda, dando sequência à conceituação de espaços púbicos abertos, outros espaços,

como o largo e o terreiro, que são espaços acidentais (vazios ou alargamentos da estrutura

urbana que, com o tempo, foram apropriados e usados), podem ser considerados elementos

morfológicos identificáveis na forma da cidade e utilizados na concepção arquitetônica.

Esta catalogação de espaços abertos não é absoluta, e muitos espaços públicos

acumulam várias destas atividades que estão classificadas pelo Neighborhood Conservation

Code. Nesse contexto, podem-se citar vários autores, no que se refere aos estudos dos

espaços livres públicos, como: Jan Gehl, em especial no livro Novos espaços urbanos (2002);

Carmona et al. (2003, p. 142), no livro Public places urban spaces: the dimensions of urban

design, onde expõem sobre o valor das ideias de Camilo Sitte e Paul Zucker180 em relação às

qualidades das praças e, em particular, seus efeitos estéticos e as ideias de Rob Krier181 sob

a ótica da estruturação morfológica baseada em padrões geométricos.

Não é objetivo do presente trabalho esgotar o tema sobre espaços livres públicos, e

sim, interessa recomendar, dentre estas categorias de áreas livres, quais são indispensáveis

aos conjuntos habitacionais na escala do bairro.

Desta forma, entende-se que uma área residencial deve, particularmente, atender à

implantação de parques infantis e praças182 com grande variedade das brincadeiras e dos

equipamentos propostos183, tornando o parque identificável entre os seus congêneres e com

acessos conectados aos caminhos de pedestres.

É aconselhável que estes espaços abertos sejam divididos em espaços verdes passivos

e mais silenciosos e espaços com uso mais ativo, como áreas esportivas e de atividades físicas,

180
Zucker, no livro In Town and Square (1959), apresentou cinco tipologias de praças urbanas
artisticamente relevantes, e Sitte (1965), no livro City Planning According to Artistic Principles, mostra
resultados de pesquisas sobre os motivos do sucesso da utilização das praças.
181
Rob Krier (1980), no livro Espaço da Cidade, tenta uma coleção de formas geométricas (inesgotável),
que podem ser sistematizadas. KRIER, Robert, L’Espace de la Ville, Theorie et pratique. Bruxelas, 1980.
Ed. A.A.M.
182
Estas pequenas praças são chamadas por Jan Gehl (2014) de “jardins de bairro” e/ou “parques de
vizinhança”.
183
Sobre espaços exteriores: os autores Coelho e Pedro (2013, p. 73-76), no livro Do bairro e da
vizinhança à habitação: tipologias e caracterização dos níveis físicos residenciais, classificam os tipos
de espaços exteriores sugerindo áreas, dimensões e equipamentos. Também, no livro Espaços
exteriores em novas áreas residenciais, os autores Coelho e Cabrita (2003) salientam exigências e
critérios essenciais, qualitativos, úteis para a concepção e desenvolvimento de espaços exteriores em
novas áreas residenciais.
140

contribuindo, em conjunto com os demais equipamentos e instalações, para a vitalidade da

área.

Esta determinação de espaços ativos e passivos poderá ser através da análise das

atividades mais apreciadas pelos habitantes da área residencial e suas faixas etárias. Desta

forma, espaços multifuncionais poderão ser sugeridos servindo-se de recursos de

afastamentos, demarcações físicas e interposições estratégicas.

Estas “praças” devem estar distribuídas de modo que todas as moradias e locais de

trabalho não fiquem a mais de três minutos de caminhada da mais próxima (200 a 300m –

duas a três quadras)184. Em relação ao tamanho, Coelho e Pedro (2013, p. 69) recomendam

uma área entre 500 m² a 1.000 m² para cerca de 15 a 30 crianças e adolescentes

respectivamente – 1.620m² - 1.010 m² para cerca de 50 - 40 crianças e adolescentes

respectivamente; Alexander (2013 [1977], p. 310), na sua orientação para praças (incluindo

parque infantil e áreas de descanso em contato com a natureza), estabelece entre 5 a 6 mil

metros quadrados e largura não inferior a 45 metros.

A forma deste espaço ao ar livre deve ser, de preferência, oriunda da ordem e

composição dos edifícios agrupados de forma a conceber “espaços externos positivos”185.

Neste aspecto, é essencial um cuidado para com os três elementos definidores do espaço:

as estruturas circundantes, o chão e a esfera imaginária do céu sobre a cabeça. O

enclausuramento e a contenção espacial devem, portanto, ser considerados tanto no plano

quanto na seção vertical186.

No entanto, se o espaço livre não for delimitado por construções e suas respectivas

fachadas contínuas, que formam as “paredes” do espaço urbano, outros elementos poderão

ser utilizados como definidores de espaço: elementos retilíneos verticais ou horizontais e

184
Christopher Alexander (2013 [1977], p. 310) apresenta este parâmetro – no padrão: praças acessíveis
–, que é resultado de pesquisas sobre a utilização das praças e a relação das distâncias das moradias
e locais de trabalho. Duany et al (2001, p. 248) apresenta recomendações sobre (TND) Traditional
Neighborhood Development e orienta que parques infantis e praças devem estar distribuídos
igualmente para cada bairro, a cerca de 1,5 km de cada habitação.
185
Termo utilizado por Christopher Alexander (2013 [1977], p.518), que significa quando um espaço
externo apresenta uma forma distinta e bem definida. São espaços parcialmente fechados, pois
sempre há percursos que levam para fora.
186
Sitte e Zucker defendem que as praças devem ser proporcionais ao edifício principal e relacionam
que a sua profundidade deve ser entre uma e duas vezes a altura do edifício principal (não mais que
três para um).
141

planos verticais, ou a combinação dos dois (fileiras de colunas, pérgolas, pequenas muretas

e cercas – até 1m de altura – recurso paisagístico formal como limitadores vegetais (cercas-

vivas), mudança nos materiais de superfície, entre outros.

Equipamentos comerciais e serviço local

A rede de comércio e serviços deve ser vista como parte das necessidades da

comunidade e não somente como uma maneira de gerar lucro. A proposta é que o comércio

e serviços sejam “voltados para as pessoas”187, espalhados e distribuídos de uma forma

homogênea.

É recomendada188 uma loja (com 28/56m²) por cada 100 habitantes. Um conjunto de

16 unidades de uso diário (11 comércios + 5 serviços, como armazéns de alimentos e/ou

minimercados – que deve marcar sempre sua presença em cada vizinhança, farmácias,

padarias, açougue, bancas de jornal, café/pastelaria, cabeleireiro, lavanderias, entre outros)

para 2.000/4.000 habitantes, com raio de influência de 200m a 300m. O mesmo conjunto,

complementando com lojas de uso especial (não diário), para 10.000/20.000 habitantes, raio

de influência de 400m a 600m (aceitando até 800m).

Sobre a área das lojas (28/56 m²), Christopher Alexander (2013 [1977], p. 179)

posiciona-se da mesma forma e recomenda que seja promovido o número máximo de lojas

pequenas, de propriedade individual, espalhadas pelo bairro. Jan Gehl (2013, p.129) observa

que a geometria das fachadas tem grande influência para centros urbanos bem sucedidos, e

afirma: “fachadas com orientação vertical, aparentemente, tornam a caminhada mais curta e

fachadas com cinco ou seis metros de comprimento indicam que, a cada cinco segundos, há

novas atividades e atrações para serem vistas”.

As instalações comerciais e de serviços favorecem a criação de lugares vibrantes

quando combinados às acomodações residenciais (térreo comercial e apartamento no

segundo pavimento, ou os pavimentos superiores com usos como: escritórios, ateliês,

estúdios, etc.). Tais instalações devem estar integradas no tecido do conjunto residencial e

187
Christopher Alexander em Rede de comércio e serviços, livro Uma linguagem de Padrões (2013
[1977], p. 104).
188
Recomendações de Coelho e Pedro (2013, p. 151).
142

no entorno urbano para evitar a criação de um ambiente de comércio isolado, dominado por

estacionamentos e infraestrutura viária.

Nesse aspecto, um plano de rede de ruas deve ser pensado, exclusivamente para o

quesito comércio, em conformidade com o plano de hierarquia de vias e da rede de espaços

públicos189. Dessa forma, este plano mostrará quais os sítios mais convenientes para o uso

comercial, apresentando tipos e intensidade.

O comércio, preferencialmente, deve ser instalado nas vias principais que localizam-

se, em geral, nas margens dos distritos e nas vias principais de pedestres (em geral mais

centrais); nos pontos de entrada (gateway/portas urbanas) mais movimentados do

bairro/conjunto (em especial nas esquinas) e na área central (nós de atividades que

configuram o final de uma rua e podem terminar numa praça/largo com cafés, lojas e outros

interessantes elementos de referência), que são locais de maior concentração de pessoas,

observando a estreita relação entre atividades comerciais e densidades190.

A variedade de instalações que abrange a categoria ‘comércio e serviços’ é imensa e,

à vista disso, é preciso pensar cuidadosamente sobre como os espaços podem ser usados e

projetá-los com flexibilidade, considerando onde os espaços mais ativos devem ser

localizados, de modo a evitar criar conflitos potenciais entre usuários e residentes

adjacentes191.

A variedade e os tipos de comércio e serviços deverão ser definidos através da

identificação das necessidades do conjunto habitacional e/ou bairro por meio do

mapeamento dos comércios e serviços já existentes num raio entre 200m (ideal) e 600m

(máximo)192 a fim de garantir o deslocamento a pé. Estes caminhos, além de atenderem às

189
Plano de hierarquia de vias - ver item I.1.2 Conexões – Rede viária.
190
Conforme Coelho e Pedro (2013, p. 67), é necessária uma população mínima de 5 a 10 mil
habitantes para suportar um grupo comercial vitalizado. Convergindo com esta afirmação, Douglas
Farr (2013, p. 136) explica que os centros dos bairros exigem que haja de 6 mil a 8 mil moradias para
ser viável. Christopher Alexander (2013 [1977], p. 442) apresenta resultados de pesquisas sobre
quantas pessoas precisam para sustentar (manter) uma mercearia e recomenda mil pessoas em um raio
de três a quatro quarteirões.
191
É recomendado a instalações de comércio local (de uso diário), o que facilita a combinação com
usos residenciais a fim de evitarem-se conflitos futuros. No Brasil os usos são classificados, para cada
zona, no Plano Diretor como sendo: conformes, desconformes e admitidos.
192
Inquérito realizado pela National Board of Urban Planning, “Bostadens grannskap (Housing
Environment), Recomendations for Planning”, mostrou que entre 200 e 600m de distância a satisfação
admitida pelos utentes decresce regularmente à medida que a distância aumenta; para 200m – 70%
143

distâncias recomendadas, de atender aos quesitos físicos (calçadas, faixas de travessia,

iluminação pública e a disposição de lixeiras), devem corresponder ao conceito de

“caminhabilidade”193 a fim de convencer as pessoas a caminhar.

Nesse contexto da caminhada nas calçadas, é oportuno citar as diversas estratégias

de exposição, do comércio ou do serviço, aos transeuntes. A forma mais óbvia é a parede

externa, ao longo da rua, ser toda de vidro, e o interior mostrar atividades convidativas; outra

forma pode ser através de uma grande porta que deixe toda a fachada, ao longo da rua,

aberta, de modo que o envolvimento seja mais ativo; e, a situação mais envolvente, conforme

Alexander (2013 [1977], p. 773), é fazer com que a atividade interna envolva a calçada, de

maneira que os transeuntes se encontrem passando pelo meio da atividade.

Nessa sequência, Gehl (2013, p. 77), faz uma observação que, no mundo todo, lojas

e barracas em ruas comerciais ativas e prósperas, geralmente, têm uma fachada de cinco ou

seis metros de comprimento, o que corresponde a 15 - 20 lojas, ou outras opções que

despertem a atenção, em um trecho de 100 metros. Em ritmo normal de caminhada, cerca

de 80 segundos/100 metros, o ritmo das fachadas indica que, a cada 5 segundos, há novas

atividades e atrações para serem vistas.

Local de Trabalho

Como já referido no item anterior, faz parte da completude e saúde de um bairro ter

locais de trabalho distribuídos junto às áreas residenciais. Esta qualidade pode ser obtida

através da organização e da combinação entre locais de trabalho, comércio, recreação e usos

institucionais.

Nessa perspectiva, conforme Alexander (2013 [1977], p. 53), toda moradia deve estar

situada a aproximadamente 20 ou 30 minutos de caminhada (2.000 m) de dezenas de locais

de trabalho. Estes podem ser agrupados (grupos entre oito e 20 estabelecimentos) em volta

de um pátio/praça pública no qual as pessoas possam se sentar, tomar um café ao ar livre,

consideraram situação muito boa, enquanto a distância atinge os 600m, apenas 10% das pessoas
continuam a manter o mesmo juízo. Coelho e Pedro (2013, p. 67).
193
Ver conceito de caminhabilidade: item I.1.2 – Conexões.
144

almoçar e praticar esportes individuais e coletivos (tênis de mesa, ginástica, voleibol, entre

outros).

Este espaço de uso comum atua como um imã que amarra as casas, oficinas, lojas e

escritórios individuais entre si, ajudando no contato e na formação de uma comunidade entre

trabalhadores. É recomendável que a distância até este largo/praça seja entre 200 a 300m

(três a cinco minutos de caminhada).

O propósito é que os locais de trabalho possam funcionar como comunidades

(associadas à vida familiar)194, as quais sejam suficientemente pequenas para que uma pessoa

possa conhecer a maioria dos indivíduos que nela trabalham, ao menos de vista – e

suficientemente grandes para sustentar o número máximo possível de atrações.

Para materializar este princípio, é necessário que as comunidades criem programas

que fomentem este conceito, muitas vezes fazendo parcerias com novas empresas, gerando

empregos locais e fixando, dessa forma, investimentos, pessoas e conhecimento.

Nesse sentido, é possível citar, mais uma vez, o Bairro Pedra Branca, no Brasil, o qual,

partindo de critérios adotados para a localização de moradias, comércio, serviços, lazer,

trabalho e educação, a distâncias confortáveis para serem percorridas a pé ou de bicicleta,

acomoda atualmente 10.000 moradores, 10.000 empregos e 7.000 estudantes.

Sobre a relação entre habitação e local de trabalho, Jaime Lerner expressa-se assim:

Uma cidade sustentável para mim, além de cumprir com as prioridades


normais, como educação, saúde e atenção à criança, tem que dar atenção à
sociodiversidade. Já passou o tempo de os empreendimentos serem guetos
de gente rica, guetos de gente pobre, de haver separações em função de
trabalhar aqui, morar lá. Morar perto do trabalho ou trabalhar perto de casa
é um dos princípios da sustentabilidade. (LERNER, 2015).195

Quanto aos locais de trabalho prejudiciais, que geram elevado tráfego ou ruídos, ou

necessitam ocupar uma metragem quadrada muito elevada (de dois a 10 hectares), devem

estar situados nas áreas limítrofes das comunidades.

194
Evitar grandes concentrações de trabalho dissociadas da vida familiar, bem como opor-se a grandes
concentrações de locais de moradia que estejam dissociados dos locais de trabalho, características
que tornam os bairros sem vida.
195
Texto: Quem é empreendedor não espera a crise passar, 2015, publicado na revista Best Home,
São Paulo, 2015.
145

QUADRO 16 Funções básicas do urbanismo por Jaime Lerner. Mixed-use neighbourhood – Urban
Task Force. Zoneamento segregado e zoneamento integrado e compacto das atividades.
Demarcação dos usos cívicos (fechados e abertos) e dos comércios e serviços – Bairro Pedra Branca
– SC – Brasil.
146

I.4 Edifício: do público ao privado

[...] o primeiro passo deve ser a destruição de uma falsa escolha, a escolha:
“individualismo ou coletivismo”. (BUBER, 1948 apud HERTZBERGER, 2015,
p. 13).

Na perspectiva da citação de entrada, de Martin Buber196, o individualismo

compreende apenas parte da humanidade, o coletivismo só compreende a humanidade

como parte; nenhum deles apreende o todo da humanidade, a humanidade como um todo.

O individualismo vê a humanidade apenas na relação consigo mesmo, mas o coletivismo não

vê o homem de maneira nenhuma, vê apenas a ‘sociedade’. (HERTZBERGER, 2015).

Nesse ponto, importa perceber que não existe uma única relação humana que se

concentre exclusivamente em um indivíduo ou em um grupo. É sempre uma questão de

pessoas e grupos em uma inter-relação e compromisso mútuo, isto é, é sempre uma questão

de coletividade e indivíduo, um em face do outro. Caso contrário, de acordo com Buber, “[...]

a escolha entre o individualismo ou o coletivismo caracterizar-se-á pela confluência de um

desamparo cósmico e social, de uma angústia diante do mundo e da vida, por um estado

existencial de solidão.” (BUBER, 1948 apud HERTZBERGER, 2015, p.13).

Nesse enfoque, as Lições de Arquitetura de Hertzberger (2015, p.13) alertam que a

oposição extrema, procedente das veias do modernismo, entre o público e o privado, como

a oposição entre coletivo e individual, tornou-se um “clichê” falso como a suposta oposição

entre o geral e o específico, o objetivo e o subjetivo. Tais oposições são sintomas da

desintegração das relações humanas básicas onde há, no nosso mundo, uma polarização

entre individualidade exagerada, de um lado, e a coletividade exagerada, de outro.

Os conceitos de ‘público’ e ‘privado’ podem ser vistos e compreendidos em termos

relativos, como uma série de qualidades espaciais que, diferindo gradualmente, referem-se

ao acesso, à responsabilidade, à relação entre a propriedade privada e à supervisão de

unidades espaciais específicas. Nesse aspecto, o autor contrapõe o conceito mais absoluto,

de que uma área pública, que denota o coletivo, é acessível a todos, a qualquer momento, e

a responsabilidade por sua manutenção é assumida coletivamente, enquanto a área privada,

196
BUBER M. no livro “Das Problem des Menschen” (1984), onde escreve sobre o indivíduo e como
reconhecê-lo como ser humano de acordo com sua possibilidade de relacionamento e sobre olhar
para o todo e reconhecer seres humanos de acordo com o seu relacionamento.
147

que denota o individual, tem seu acesso determinado por um pequeno grupo ou por uma

pessoa, que tem a responsabilidade de mantê-la.

Esta relação entre o espaço público e o privado deve ser assimilada como uma relação

ativa e recíproca, marcada pela redescoberta da importância dos limiares, que se distribuem

da rua à porta de casa, interagindo com espaços públicos acolhendo e estimulando, além do

mundo pessoal e familiar, o mundo contíguo que também em nós habita, das mais diversas

formas.

Além do mais, é nos espaços entre o público e o privado, em especial os exteriores,

que se deve estabelecer a integração entre o ambiente físico e as atividades sociais entre as

pessoas. Embora seja sabido que é necessário mais do que a arquitetura para que estas

interações se desenvolvam, um desenho que seja contundente a tal interação irá, contudo,

encorajá-la.

Desta forma, ambicionando que a nova área residencial contribua para o espaço

público, e vice-versa, com o objetivo maior de que o espaço da cidade e os edifícios devem

conversar e, assim, dissolver as fronteiras entre os dois, e que ambos contribuam para a

fortificação das relações sociais, acolhendo e estimulando o mundo vicinal e a vida em

comunidade, selecionou-se uma série de qualidades espaciais que, diferindo gradualmente,

buscam a relação entre espaços públicos e privados de modo pleno.

Estas qualidades podem ser alcançadas através de critérios e elementos de projeto

essencialmente no que se relaciona com:

• os acessos, desde o exterior (público) até a unidade habitacional (privada);

• o tipo e forma dos edifícios que, embora sejam, na grande maioria, privados, tenham um

caráter e uma integração com o espaço público;

• e os espaços entre os edifícios que, se bem conformados – através da implantação dos

edifícios – podem apoiar a vida social da área residencial.


148

Tabela 05: Princípios, indicadores e elementos de projeto: Escala do Edifício.

Fonte: Elaborado pela autora.

I.4.1 Acessos

Os acessos são espaços que estabelecem o limite entre o público e privado. Esta

zona de transição entre ruas e edifícios são espaços que devem ser compreendidos e

projetados com uma dualidade funcional que permita a sobreposição de dois mundos

diferentes, em vez de estarem rigidamente demarcados. Esta qualidade espacial pode ser

obtida através da cautela para com o intervalo/espaço de transição, com condições espaciais

para o encontro e diálogo entre áreas de ordens distintas, com os graus de acessos entre

demarcações territoriais, delineando níveis de privacidade, e para com as circulações –

horizontais e verticais –, com a finalidade de manter, de alguma forma, a relação com a rua.

Intervalo / espaço de transição

Entrar!
Portais, vestíbulos, portarias, escadas, portões, coberturas, alpendres,
varandas...; todos esses elementos estão de um jeito ou de outro na rua, são
o primeiro gesto, dão as boas-vindas e acolhem a primeira ação ao entrar.
Na direção oposta, eles são a última fronteira da casa antes de sair e
determinam a aparência de uma parte muito importante da rua. (MONTEYS,
2017, p.16).

O intervalo ou espaço de transição197, também conhecidos como entradas, alpendre,

varandas e muitas outras formas, fornecem uma oportunidade para a acomodação entre

Intervalo é o termo utilizado por Herman Hertzberger no livro Lições de arquitetura (2015), quando
197

se refere ao espaço com demarcações territoriais divergentes – o espaço púbico e o privado. Também
explica que o significado do conceito de Intervalo foi introduzido em Forum 7, 1959 (La plus grande
réalité du seuil) e em Forum 8, 1959 (Das Gestalt gewordense Zwischen: the concretization of the in-
between). Espaço de transição é o termo utilizado por Jan Gehl, nos livros Cidades para pessoas (2013)
e La humanización del Espaço Urbano: la vida social entre los edifícios (2006), e por Christopher
Alexander no livro Uma linguagem de Padrões (2013 [1977].
149

mundos contíguos. Para Hertzberger (2015, p. 35), a concretização da soleira como intervalo

significa, em primeiro lugar e acima de tudo, criar um espaço para as boas-vindas e as

despedidas, e, portanto, é a tradução em termos arquitetônicos da hospitalidade.

O intervalo é a chave para eliminar a divisão rígida entre áreas com diferentes

demarcações territoriais e, neste cenário, o autor conceitua a zona intermediária como

elemento que permite a fusão do território estritamente privado com áreas públicas,

promovendo a apropriação conjuntamente e, desta forma, tornando o espaço comunitário

uma extensão da vida pública.

Estas demarcações privadas no espaço público podem ser constituídas através da

criação de ambientes que forneçam muito mais oportunidades para que as pessoas deixem

suas marcas e identificações pessoais ou de um grupo. Assim, estes ambientes poderão ser

apropriados e anexados por todos como um lugar que realmente lhes pertença, bem como

propor ambientes acolhedores, povoados por elementos que favoreçam tanto as boas-vindas

como as despedidas entre anfitriões e convidados.

Para tanto, recomenda-se criar elementos que promovam o encontro e a reconciliação

entre a rua, de um lado, e o domínio privado, de outro, como o espaço de entrada com

algum tipo de conforto (lugares para sentar), áreas cobertas através da saliência da cobertura,

ou outros meios (lugar para dizer olá ou adeus aos visitantes), e indicar, para as portas de

entrada, as meias-portas, abertas e fechadas ao mesmo tempo, ou portas de entrada com

painéis transparentes (semitransparentes, opacos ou meia-porta), permitindo o contato

interior e o exterior.

Nesse cenário, torna-se pertinente discorrer, mesmo que de forma breve, sobre a

demarcação da entrada, que de preferência deve ser visível de todas as direções de chegada

– o que depende da escolha da sua localização. A entrada é um elemento indispensável, uma

vez que tem a função de causar a sensação de transição e contribuir significativamente para

a orientação dos usuários e visitantes.

A posição da entrada principal de um complexo de edificações ou de um edifício

isolado controla todo o arranjo posterior, nos demais níveis de circulação. Por isso, é

aconselhável que a entrada fique claramente visível imediatamente quando o indivíduo vê a

própria edificação, a fim de permitir que defina seu percurso. O posicionamento das entradas
150

deve considerar as rotas principais de chegada ao terreno, isto é, as entradas devem fornecer

acesso da e para a calçada.

Conforme Alexander (2013 [1977], p. 543), esta chegada à edificação, geralmente, se

dá caminhando pela calçada, paralelamente ao acesso e, portanto, com um ângulo de visão

agudo onde as entradas ficam muito pouco visíveis. Nesse sentido, pode-se dar à entrada

uma forma marcante e visível que se destaque na fachada, na rua, ou no conjunto.

Este destaque, visando à legibilidade externa, pode ser concebido através da

acentuação das cores nas zonas de entrada e da volumetria, em conformidade com o

conjunto e com o entorno, assim como através do tratamento do pavimento, afirmando a

presença de um acontecimento ao mesmo tempo que define um local de encontro; o

pavimento materializa um potencial direcionamento dos caminhantes.

Para esta qualidade ser obtida, uma ampla variedade de tipologias de entradas pode

ser projetada, seja em casas isoladas ou em outros tipos de moradias, incluindo edifícios de

apartamentos. Assim, uma combinação de elementos diferentes (mudança de nível e direção,

mudança de iluminação, mudança de textura (superfície do piso e dos planos verticais),

inserção de uma pérgola e/ou outro elemento que exprima a escala humana198) deve compor

a forma física de cada um dos espaços – entre a rua e a porta de entrada.

Ainda, conforme sugestão de Alexander (2013 [1977], p. 552), mais um fator é vital a

este espaço: a mudança de vistas. Segundo o autor, são as mudanças de vistas que criam a

transição psicológica em nossas mentes e, nesse sentido, sugere, se possível, criar, ao longo

de caminhos de entrada, pontos de visuais – patamares, janelas e/ou fendas, com o

posicionamento, dimensões e forma necessários para emoldurar a vista desejada, entre

outras estratégias projetuais que promovam vistas sequenciais de penetração interior ou de

saída.

Tornando aos espaços de transição e entendendo que estas zonas intermediárias

definem o espaço individual, e, como as paredes de uma casa, protegem as atividades,

transmitem uma sensação de bem-estar, oferecem um sentido de organização, de conforto

198
Conforme Coelho (2013, p. 193), uma consideração fundamental para a boa qualificação de edifícios
residenciais é o desenvolvimento de elementos fundamentais de referência e ligação à “pequena
escala/escala humana”, integrando-se de forma protagonista a composição dos acessos, das fachadas
e da própria solução funcional/formal do edifício.
151

e de segurança, é indispensável sua correta previsão, na fase do projeto, e seu tratamento

posterior.

Sendo assim, estas zonas, onde as edificações e a cidade se encontram, são vitais, não

somente nas áreas mais comerciais e centrais da cidade, onde a ênfase é dada ao tratamento

dos andares mais baixos dos edifícios (pisos térreos), como também nas áreas residenciais,

visto que colaboram para a qualidade da habitação e dos espaços públicos.

Esta qualidade é influenciada na medida em que, se a experiência da entrada numa

edificação, em especial habitação, for abrupta demais (abrindo-se diretamente para a rua)199,

não há a sensação de chegada, e o interior da edificação não consegue ser um espaço

sagrado e protegido. Segundo Alexander (2013 [1977], p. 549), esta área intermediária tem

a função, também, de adaptar o usuário, e consequentemente seu comportamento, ao

espaço privado.

De acordo com Gehl (2013, p. 82), este espaço, se bem concebido, será a parte mais

ativa da residência200, dado que é onde se encontra a porta de entrada da casa e é aí – zona

de intercâmbio entre esfera pública e privada – que as atividades das áreas residenciais se

mudam para o terraço, sacadas ou recuo ajardinado, num bom contato com o espaço

público.

Este espaço, entre a habitação e a calçada, deve servir para atividades que objetivem

o permanecer dos moradores e visitantes ao ar livre – tomar café, aproveitar o sol e

acompanhar a vida na rua que, aliada aos espaços de transição suaves das habitações, se

intensifica, tornando-a mais viva e segura – porque é a zona que os pedestres veem e

vivenciam quando caminham pela área.

A definição desta área – o quintal privado201 – deve ser clara e fisicamente indicada,

porém comedida, podendo ter demarcações como muretas, taludes, cercas vivas e outros

elementos, com alturas até 1 metro, a fim de permitir a costura e interação entre diferentes

escalas físicas e sociais (entre a rua e o espaço semipúblico) na escala humana. Estes espaços

199
Conforme Coelho (2013, p. 138), a dimensão mínima para a zona de transição é de 1,50/2,00 metros
de profundidade.
200
Claudio Secci et Estelle Thibault. Espace intermédiaire. Formation de cette notion chez les
architectes. In: BERNARD HAUMONT e ALAIN MOREL. La Société des Voisins: partager un habitat
collectif (2005, p. 23-35).
201
Conforme Coelho (2013, p. 138), estes pátios privados deverão ter entre 3,00 a 5,00 metros de
profundidade.
152

podem ainda ser caracterizados por terraços, nos quais a privacidade se dá por posição

elevada.

Outro elemento bem-vindo no espaço de transição são as trepadeiras, que colaboram

para que a edificação se torne parte de seu entorno, em virtude de as plantas crescerem livres

por cima dela, como ocorre quando estão no solo – contribuindo para uma transição sutil

entre o meio construído e o natural.

Além do mais, funcionam como uma contribuição ao espaço público, deixando-o mais

confortável. É como se as plantas fossem um presente que os moradores oferecem às pessoas

que estão na rua (ALEXANDER, 2013 [1977], p. 1138).

Nesse contexto, os recuos frontais, semiprivados, devem ser minuciosamente

projetados como propõe Ralph Erskine apud Gehl (2013): "Se o conjunto for interessante e

estimulante ao nível dos olhos, toda a área será interessante. Portanto, tente fazer uma zona

de transição convidativa e rica em detalhes, e economize seus esforços nos andares

superiores, que têm muito menos importância, tanto funcional quanto visualmente".

A esse respeito, do desenho das áreas exteriores frontais, bem como de todas as

outras, revela-se fundamental incluir dimensões culturais e socioeconômicas a fim de obter-

se sucesso no espaço proposto, qualidade que pode ser medida pela apropriação dos

lugares – na zona intermediária (área semiprivada) - e na rua (área pública) - através da

sensação de segurança para os transeuntes, constituindo-se, desta forma, como um elemento

simples e valioso da arquitetura da cidade.

Essas dimensões devem ser compreendidas pelo arquiteto, bem como se deve ter em

mente o conceito original das ruas e sua situação atual, a fim de não repetir práticas que

desvalorizaram a rua. Grande parte dos empreendimentos habitacionais, nos últimos 50 anos,

no Brasil, não possuem um espaço de transição e são desconectados com a rua por conta da

prioridade ao tráfego motorizado; da organização sem critérios de áreas de acesso às

moradias; da anulação da rua como espaço comunitário, da insegurança, entre outros fatores.

Assim sendo, mesmo sabendo que o arquiteto seja incapaz de fazer mais do que

exercer uma influência nos aspectos fundamentais de mudança social há pouco mencionados,

deve-se tentar lidar com esses fatores criando condições para uma área mais viável de rua. E

isso deve ser feito no âmbito da organização espacial, isto é, por meios arquitetônicos.
153

QUADRO 17 Acessos. Espaços de transição/intervalo. Demarcação da entrada (casa Schroder -


Holanda, 1924; Torre no Olivais Norte – Lisboa, Portugal,1958 e Conjunto Jardim Edite – São Paulo,
Brasil, 2010). Recuos frontais – zonas de encontro (áreas exteriores frontais) entre a habitação e a
calçada (Bloco das Águas Livres – Lisboa, Portugal, 1953-56 e Conjunto Habitacional Parque Sibelius
– Copenhague, Dinamarca). Linhas de visão entre interior e exterior; oportunidade de marcar o local
onde se vive e atividades ao ar livre (Almere-Holanda e Conjunto Habitacional Frankfurt –
Heddernheim, 1920).
154

Grau de acesso

O grau de acesso auxilia na distinção de espaços que são de acesso público e os

que são de acesso mais privado, como por exemplo, um quarto pode-se dizer que é um

espaço privado, que é cuidado e mantido por quem o utiliza, em comparação com a sala

de estar e a cozinha da casa, onde o cuidado e manutenção são basicamente uma

responsabilidade compartilhada por todos que ali moram.

No entanto, como já dito, e principalmente referindo-se aos processos de

planejamento e de desenho urbano, a relação entre espaços públicos e privados deve ser

recíproca, onde as qualidades espaciais dos edifícios promovam o enriquecimento das áreas

urbanas e ambos se apoiem respetivamente, observando sempre o grau de privacidade.

Nesse enfoque, ao projetar cada espaço e segmento, é necessário perceber o grau

de relevância da delimitação territorial e das formas sincrônicas e dos possíveis acessos aos

espaços contíguos, a fim de conceder aos moradores e visitantes a compreensão e a

consciência quanto à composição do edifício, no que diz respeito ao acesso, bem como

qualificar estes territórios de transição para a melhor integração da comunidade humana.

Para tanto, as gradações de demarcações territoriais fornecem padrões para o projeto

através de inúmeros elementos arquitetônicos: como a articulação da forma, os materiais, luz,

cor, entre outros. Todos estes elementos devem ser incorporados no projeto, de forma a

conferir a sensação de acesso aos usuários na escala humana, colaborando também para a

sequência e ordenação das circulações e demais acessos.

Somadas aos elementos arquitetônicos, há pouco citados e ilustrados, que apoiam as

gradações de demarcações territoriais, é importante referir as contribuições de intervenções

artísticas localizadas pontualmente nos limiares dos espaços das circulações e áreas de

convívio que, se bem escolhidas de acordo com o caráter do conjunto de edifícios, podem

constituir-se como elementos polarizadores e salutares para a apropriação e identificação dos

edifícios ou de um conjunto deles.

Conforme Coelho (2007, p. 142), a arte tem uma capacidade múltipla, através dos

inúmeros possíveis elementos (monumento, pintura, escultura, baixos-relevos, vitrais, grafite,

dentre outros) imersos no, ou associados ao habitar, como captadores de atenção e

orientadores/estimuladores de percursos e de estadas.


155

Ainda, reforça o autor, que a arte pública, desde que cuidadosamente utilizada, é um

precioso elemento visual202 de reforço das comunidades locais e das cidades. O autor cita

também Yi-Fu Tuan (2004)203, o qual evidencia que, tal como uma pintura, uma fotografia, um

poema, uma novela, um filme, uma dança ou uma peça musical, um sítio pode conter fontes

de força e de identidade.

Nesse cenário, Tuan refere qua há muito em comum entre lugar, arte e identidade.

Tal como aponta, um lugar pode conter fontes de dinamização de identidade, tal como uma

qualquer peça de arte, e o lugar e arte podem cooperar no apoio ao desenvolvimento da

nossa identidade.

A arte urbana pode servir como presença e símbolo da beleza e da cultura no

acompanhar e, quem sabe, até inspirar do quotidiano, uma vez que a afetividade e a relação,

forte e contínua, com os espaços que habitamos diariamente, faz parte da cultura de cada

um, seja no ponto de ônibus (nós de transportes), nas fachadas dos edifícios, nas praças,

enfim estão sempre “falando-nos, pelas mãos dos artistas que são humanizadores

privilegiados”204.

Este desenrolamento das circulações do edifício, desde o acesso público às diferentes

áreas e partes de um edifício, deve funcionar como um mapa e mostrar claramente que

aspectos de acesso existem na arquitetura, quais as demarcações de áreas específicas e a

quem se destinam, e que espécie de divisão de responsabilidades pode ser esperada no que

diz respeito aos cuidados e à manutenção dos diferentes espaços, de modo que essas forças

possam ser intensificadas (ou atenuadas) na elaboração posterior da planta.

Neste enfoque, Alexander (2013 [1977], p. 481) expõe sobre os níveis legíveis de

circulação e ressalta o cuidado que se deve ter para com a orientação dos usuários e

visitantes, tanto aos que conhecem a edificação ou o complexo de edificações, quanto para

os que a desconhecem. O autor afirma que uma pessoa deve ter a possibilidade de explicar

um destino qualquer dentro de um complexo de edificações para qualquer outra pessoa que

não sabe aonde ir, em uma única frase.

202
Sobre o mundo visual, o autor Richard Sennet (1990), no livro The Conscience of the Eye: The design
and social life of cities. O autor busca interpretar visualidade e espaço em suas interconexões com o
poder, a produção e o regime visual.
203
Yi-Fu Tuam (2004), no livro Place, art and Selfie.
204
Termo utilizado por Coelho (2007, p. 144) no livro Habitação Humanizada.
156

Esta frase é uma sequência, composta de várias etapas, cada uma com um alvo

intermediário, que se configura como um mapa mental de sistemas hierárquicos de níveis

espaciais. Conforme Alexander, se este mapa for fácil de construir, a circulação dentro do

complexo será fácil; se o mapa não for fácil, a circulação será difícil, e o local, como um todo,

pode ser considerado como confuso.

Nessa conjuntura, é pertinente citar Gehl (2006, p.59), que explica que o

estabelecimento de uma estrutura social e de uma estrutura física correspondente, com

espaços a vários níveis, permite um movimento de pequenos grupos e espaços em direção

a outros maiores, e de espaços mais privados para espaços gradualmente mais públicos,

dando um maior sentimento de proteção e um mais forte sentido de pertença às áreas fora

das residências privadas.

O estabelecimento desta estrutura evidente (espaços privados, semiprivados,

semipúblicos e públicos) fortalece o grau de responsabilidade e de vigilância natural coletiva,

tanto para com o espaço público, como para com as residências ou espaços mais privados.

Ainda, tal enquadramento físico, se desenhado de modo correto, pode ser um fator

importante para a construção de relações sociais, a fim de tomarem decisões de grupo a

respeito de problemas comuns.

Ainda, é oportuno enfatizar que o grau de acesso é um critério importante a ser

considerado quando o arquiteto propõe espaços possíveis de influência pessoal dos usuários,

possibilitando a adaptabilidade dos espaços (hall, recepções, patamares, galerias de

distribuição e entrada das unidades habitacionais).

Com esta particularidade, a de possibilitar a influência dos usuários, dá-se condições

para que estes ambientes sejam passíveis de autorrepresentação de seus habitantes,

reforçando sua identidade e seu sentimento de personalização, bem como colaboram para

uma imagem urbana do conjunto menos uniformizada e consequentemente incentivam a

animação e o convívio num cenário mais vivo.

De acordo com Alexander (2013 [1977], p. 502), esta identificação pode ser atingida

utilizando recursos projetuais como cor, mudança na materialidade, a presença de um

alpendre e, se necessário, um sistema de sinalização (com algarismos numéricos e/ou letras),

que pode exprimir-se de variados modos: através da denominação das casas ou dos edifícios

nos pavimentos exteriores e nas paredes verticais contíguas.


157

Por este ângulo, cabe aqui citar Farias (2017)205, que escreve sobre o repensar da

habitação através da aplicação de estratégias de flexibilidade e adaptabilidade, e assim

conceitua: flexibilidade (ou flexibilidade ativa) – entendida como a possibilidade de

transformar fisicamente o espaço, para que ele responda, de modo mais rico e variado, às

necessidades dos usuários; e de adaptabilidade (ou flexibilidade passiva) – entendida como

a capacidade que o espaço deve possuir para se poder adequar a diferentes usos e formas

de apropriação, sem que se altere fisicamente.

Segundo Hertzberger (2015), o caráter de cada área dependerá, em grande parte, de

quem determina o guarnecimento e o ordenamento do espaço, de quem está encarregado,

de quem zela e de quem é ou se sente responsável por ele, tornando, deste modo, referindo-

se aos edifícios residenciais, usuários em moradores.

Nesse ângulo, um espaço concebido à nossa volta, que nos provoque a sensação de

pertencimento e identidade, qualifica o habitar no seu significado social e humano, e nesse

enredo, pode-se citar, mais uma vez, Hertzberger (2015, p. 28): “[...] se você não tem um

lugar que possa chamar de seu, você não sabe onde está”.

Igualmente, Coelho (2007, p. 295) expõe sobre exigências de base para o desenho

de uma arquitetura urbana humanizada e destaca que as sequências de acessibilidade e de

imagens, que definem e delimitam visualmente territórios, devem ser claramente

identificadas e vinculadas aos habitantes a ponto de estes reconhecerem o que é “seu”.

Nesse contexto, é adequado dizer que a identidade do lugar, em especial do habitar,

depende da habilidade do projetista, dos arquitetos e urbanistas, de entender o caráter, o

espírito e as forças do lugar, visando a concretizar lugares vivos e “amados”206 pelos seus

habitantes, garantindo, assim, a permanência e a construção de ambientes enriquecedores e

saudáveis.

205
Hugo L. Farias, no texto Repensar Habitação de Interesse Social: Aplicação de estratégias de
flexibilidade e adaptabilidade a dois casos de estudo, de Portugal e do Brasil. (2017). Anais 4 CIHEL –
A Cidade Habitada.
206
Termo utilizado por Batista Coelho no livro: Habitação Humanizada: uma apresentação geral (2007,
p. 09).
158

QUADRO 18 Organização hierárquica entre espaço público, semipúblico, semiprivado e privado,


segundo Hertzberger, Gehl e Alexander. Níveis legíveis de circulação (Byker – Newcastle, Inglaterra,
1968). Identificação das unidades habitacionais. (Tinggarden. Tegnestuen Vandkunsten –
Copenhague, Dinamarca,1977- 79). Adaptabilidade dos espaços de entrada (Conjunto Habitacional
- Heddernheim, Frankfurt, Alemanha, 1920 e Conjunto Delacy Court – Castle Donnington,
Inglaterra). Intervenções artísticas nos limites dos espaços de circulação (Conjunto Infante Santo –
Lisboa, Portugal, 1952-55 e Edifício residencial Olivais Sul – Lisboa, Portugal, 1965).
159

Circulações - horizontais e verticais

As circulações horizontais e verticais devem apoiar-se nos conceitos já descritos, das

zonas de transição e dos graus de acesso, para que se figurem e complementem a legítima

forma de relação entre o espaço público e o privado – entre o coletivo e individual –, através

da dedicação e atenção aos acessos dos andares mais altos, a fim de dar a cada residência

uma porta de entrada – “porta de casa”207, com o máximo de acesso possível pela rua.

Iniciando pela circulação entre o exterior público para o interior (mais) privado, por

exemplo: um espaço comunal, se for o caso de um conjunto residencial; ou o caminho da

calçada até aos edifícios ou a um complexo de edifícios, forma-se um espaço semipúblico

e/ou semiprivado, ou uma série desses, que funcionam como um nó de recepção208 no térreo,

a fim de dar o sentido de direção aos usuários e visitantes.

Os nós de recepção devem ser arranjados de modo a permitir uma visão panorâmica

de todo o conjunto de entradas, as quais devem estar compostas de maneira similar209, por

fazerem parte de um grupo, porém com especificidades que auxiliem na sua legibilidade e

identificação.

Na sequência dos níveis físicos de circulação, a demarcação da entrada, tanto em

relação à sua posição, quanto à sua composição, é o ponto-chave para o bom funcionamento

dos demais graus de fluxo, uma vez que, num primeiro momento, conduz usuários e visitantes

ao destino pretendido e, num segundo momento e imediatamente, através do átrio, faz a

distribuição e organização para os demais compartimentos.

O átrio (hall), que é de uso comum, deve ser concebido como um ponto focal do

pavimento térreo do edifício. Para além do seu papel já descrito – como um nó de recepção

–, deve exercer ainda a função de dinamizador para o contato social, que pode ser: através

207
Termo utilizado por Antônio Batista Coelho, no livro Do bairro e da vizinhança à habitação:
tipologias e caracterização dos níveis físicos residenciais (2013, p. 190) quando se refere ao edifício
como um espaço de ligação entre dois polos de um binômio mínimo de qualificação residencial.
208
Este espaço – nó de recepção – deve ser claramente definido, do qual também fica visível as
entradas subsequentes. Pode servir ainda como um ponto de encontro – ver item I.4.3 – Espaço entre
Edifícios – Espaços de uso comum.
209
Conforme Christopher Alexander, no livro Uma linguagem de Padrões (2013 [1977], p. 502), a
distribuição de entradas num complexo deve ser de maneira a constituir uma “família de entradas”,
i.é., que formam um grupo, no entanto cada uma delas pode ser visível das demais.
160

da transparência, possibilitando visuais externos e vice-versa, da composição do mobiliário –

bancos, assentos, da colocação de jardins, sendo que estes servem como um elemento de

integração entre o exterior e o interior, uma vez que as plantas são elementos comuns e bem

evidentes num e noutro.

Em conjuntos de residências coletivas verticais, acrescentam-se, ao hall de entrada, as

escadas e elevadores. As escadas, visíveis desde o primeiro momento que se acessa ao

edifício, devem ser elementos de caráter distinto que se abrem ao pavimento inferior. E, se

for o caso, a cada patamar, criando uma unidade indissolúvel com esses cômodos (átrio e

patamares) e formando, assim, espaços socialmente conectados.

Nesse cenário, do caráter social, Alexander (2013 [1977], p. 639) aconselha que a base

da escada seja composta por degraus mais largos por dois motivos: o primeiro, para que as

pessoas que estão descendo se sintam no ambiente inferior antes mesmo de descer da

escada; e, o segundo, para que as pessoas usem naturalmente os últimos degraus como lugar

para sentar, o que o autor chama de “escada com papel social”.

Para as escadas comunitárias residenciais, assim denominadas por Herman

Hertzberger no livro “Lições de arquitetura” (2015, p. 35), que são escadas de edifícios

multifamiliares, uma atenção especial deve ser dada em particular à disposição espacial, que

pode conduzir aos contatos sociais esperados entre vários moradores de um mesmo

edifício210, bem como superar a distância entre a rua e a porta da frente num prédio

residencial de muitos andares.

Nesse aspecto, Kevin Lynch apud Coelho (2013, p. 119) considera que os edifícios

multifamiliares com escadas encerram os espaços exteriores de modo bastante contínuo e

flexível, proporcionando maior variedade espacial e liberdade de implantação do que os

edifícios com elevador.

No entanto, sabe-se que a instalação de elevadores melhora consideravelmente o

desempenho do edifício no quesito de acessibilidade. Assim, o cuidado essencial é para com

o local de acesso às unidades habitacionais e o local em que se encerram, no piso térreo.

Pesquisa realizadas por Maureen Taylor, User Nedds or Exploiter Needs apud Coelho (2013, p. 224),
210

mostra resultados sobre o grau de convivialidade relacionado ao adequado número de unidades


habitacionais agrupadas por pavimento.
161

Com esta preocupação, da transitoriedade desde o espaço público até o meio privado

– através da circulação vertical por elevadores, é pertinente mencionar estudos realizados

pelo Grupo de Investigação Habitar, coordenado por Xavier Monteys: no contexto do projeto

de pesquisa Rehabitar (2011, p. 3).

Um dos “episódios” de Rehabitar, “Entrar por el balcón” (entrar pela varanda), traz

indicações e mostra-nos soluções de acessibilidade para os edifícios residenciais através da

implantação de elevadores como uma oportunidade para o projeto de arquitetura.

Monteys, tanto no documento acima citado, como no seu livro: La calle y la casa211,

alerta sobre os usos de elevadores em fachadas, em especial para edifícios residenciais.

Sugere que esta solução seja apenas considerada em casos de reparos e reabilitações –

“cuando los ascensores no han tenido más remédio”212, uma vez que altera tanto a operação

da casa tanto da rua (espaço público), dependendo da sua localização.

No entanto, Monteys observa que são especialmente interessantes os elevadores

adjacentes à rua com o acesso aos apartamentos direto da fachada – através da varanda – o

que, em alguns casos, percebe-se uma melhoria do edifício como um todo, como ocorre em

edifícios no bairro de Trinitat Vella em Barcelona, Espanha, e assim se expressa:

O melhor mecanismo para poder realizar este acesso é, sem dúvida, através
de uma varanda na fachada. Portanto a habitação, se não tem, deverá incluí-
la ou modificar a que existe, poderíamos dizer que a partir dessa ideia
convidamos a projetar as novas habitações como se fossem habitações
reabilitadas. (MONTEYS, et al. (2011, p. 9). (tradução livre da autora).

Dessa forma, a entrada pela varanda, como resultado das instalações de elevadores

na fachada e, portanto, na rua, envolve ocupar o espaço público (embora temporariamente),

o que representa uma oportunidade de ver as varandas dos elevadores como uma extensão

da rua – uma extensão do privado à esfera pública.

211
Monteys et al. (2011, p. 3) e Monteys (2017, p. 22).
212
Xavier Monteys, no livro: La calle y la casa – urbanismo de interiores (2017, p.22).
162

QUADRO 19 Nós de recepção. Famílias de entrada. Átrio (ponto focal) e relação entre espaço
público e semipúblico. Núcleos de circulação vertical visíveis desde o primeiro acesso ao edifício
(Torre de apartamentos LSD, Conjunto Infante Santo – Lisboa, Portugal, 1952-55 e Bloco das Águas
Livres – Lisboa, Portugal, 1953-56). Acesso por elevador localizado na fachada do edifício (Edifícios
do bairro Trinitat – Barcelona, Espanha, 1994).
163

Nesse quadro, do núcleo de acessos verticais nos edifícios de habitação, é preciso

mencionar sobre sua localização e constituição, que vai depender da regulamentação

construtiva que obriga a dimensionamentos mínimos, tanto ao nível de cada elemento,

quanto na necessidade de introdução de um ou mais núcleos de acessos verticais, a partir de

determinado número de pisos e Unidades Habitacionais (UH).

Somada a isso, a regulamentação relativa à segurança contra riscos de incêndio

implica também a resolução de questões de dimensionamento e características das escadas

de emergência – em função das alturas dos edifícios – e do seu número e posição – em função

das distâncias a percorrer entre habitações e as saídas para as escadas213.

Nessa conjuntura, e levando-se em consideração as regulamentações necessárias,

interessa enfatizar a relação entre as circulações verticais e os espaços públicos ou

semipúblicos, com a galeria de distribuição/patamares e com o edifício, delineando a

compreensão, pelos habitantes e outros utentes, da chegada do espaço público aos espaços

privados das UH.

Nessa perspectiva, existem múltiplas possibilidades de soluções: a) núcleo de acessos

verticais numa, ou nas duas extremidades214 da galeria, liberando o corpo principal do edifício

unicamente para circulações horizontais e habitação; b) núcleo de acessos verticais ao meio

da galeria, para o exterior do edifício (afastado ou não do edifício) atendendo o dobro de

comprimento da galeria; no entanto, pode constituir-se numa barreira visual e de insolação

aos seus volumes adjacentes; c) núcleo de acessos verticais divididos pela galeria, usando

parte do espaço da galeria como patamar de chegada de elevadores e escadas, estando

cada um destes elementos dispostos em oposição, de um lado e outro da galeria; d) núcleo

de acessos verticais entre galeria e o edifício aumentando a distância entre a galeria e a

parede das UH – uma vez que este espaço tem que crescer para acomodar escadas e

elevadores – garantindo uma privacidade maior às habitações e introduzindo a possibilidade

de abrir vãos sobre este espaço vazado; e) escadas e elevadores posicionados

213
No caso do Brasil, a regulamentação é efetivada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT): NBR 9077/2001 – Saídas de Emergência em edifícios e NBR 15575/2013 – Desempenho de
edificações habitacionais.
214
A necessidade de um núcleo de acessos verticais (numa extremidade da galeria) ou dois (em ambos
os lados) vai depender do comprimento do edifício (e consequentemente da galeria), visto que as
regulamentações de segurança contra riscos de incêndio obrigam a distâncias mínimas entre as portas
das unidades habitacionais e as escadas de evacuação para o exterior.
164

separadamente, as escadas interrompem o desenvolvimento horizontal da galeria, e os

elevadores aparecem integrados no corpo das UH, abrindo-se para o espaço da galeria.

(FARIAS, 2003).

Percebe-se, nas tipologias apresentadas, que as soluções em que o núcleo de

circulação vertical é autonomizado do corpo principal do edifício são mais eficazes, no que

concerne à demarcação das entradas, como já visto no item intervalo/espaço de transição, a

qual deve ser visível de todas as direções de chegada, dentro de um complexo de

edificações, com o propósito de causar a sensação de transição e contribuir para a orientação

dos usuários e visitantes.

Nesse cenário, sempre que possível, devem escolher-se tipos de edifícios que

possibilitem localizar o núcleo de circulações verticais na parte exterior, favorecendo a

marcação da entrada onde pode comunicar seus usos, bem como exercer a função que estas

circulações têm, especialmente as escadas, de integração entre os edifícios, entre as

unidades habitacionais e com a rua adjacente.

Mesmo considerando questões de ordem cultural e social215 como um forte

condicionante a esta recomendação, deve-se tentar, na medida do possível, conectar as

unidades habitacionais diretamente ao solo mesmo que estejam nos pavimentos superiores

das edificações. Isso pode ser feito, propondo escadas externas acessadas diretamente da

rua (público) ou do espaço externo comum (semipúblico).

215
No caso do Brasil, a estratégia de que as escadas, com conexão direta para a rua, devem estar
abertas no ponto em que alcançam o pavimento térreo não não é possível, na maioria dos casos, em
razão da falta de segurança em relação à criminalidade.
165

QUADRO 20 Tipos de núcleos de acessos verticais. Relação dos núcleos de acesso vertical com os
espaços de circulação – públicos ou semipúblicos. Conexão de cada patamar do edifício com o solo
(Apartamentos dos carteiros Rue de l'Ourcq – Paris, França,1994 e Conjunto Heliópolis, gleba G – São
Paulo, Brasil, 2011).
166

Nesse seguimento, da relação entre o espaço público (rua) e privado (as unidades

habitacionais) e do esforço para o estabelecimento deste elo, mesmo em edifícios em altura,

é pertinente lembrar que para os edifícios com mais do que cinco pavimentos a conexão com

a rua é perdida216.

A possibilidade de distinguir fisionomias e entabular conversas, através das janelas e

sacadas, torna-se impossível, e o contato com a cidade rapidamente se dissipa com a

interface de contato passando para vistas, nuvens e aviões, como se expressa Gehl (2017

[1971], 98): “[...] qualquer coisa e qualquer um acima do quinto piso estão definitivamente

fora de contato com os acontecimentos do rés-do-chão”.

Relativamente às influências, nos sentidos humanos, do número de pavimentos dos

edifícios e o limiar de quebra da relação com o solo, em especial em edifícios residenciais,

Leon Krier (1992) apud Coelho (2007, p.311), afirma que as cidades mais belas e mais

agradáveis para viver no mundo desenvolvem-se em alturas compreendidas entre dois e

cinco andares.

A relação entre a rua e a porta de entrada de cada habitação pode ser obtida, ao

menos em parte, através do “princípio do caminho vertical para pedestre”217, concebendo

este espaço como uma rua externa (escada e patamares/galerias de distribuição), com

iluminação natural, através de aberturas na cobertura, com aberturas de janelas das unidades

privadas para esta “rua”, com previsão de terraços que possibilitem, sem descuidar da

privacidade218, o encontro e convívio entre as crianças e moradores do edifício através do

fácil acesso e ambientação destes espaços.

216
Estudos sobre os sentidos humanos realizados por Jan Gehl e apresentados nos livros Cidades para
as pessoas (2013, p. 33-46); La humanización del Espaço Urbano: la vida social entre los edifícios (2006,
p. 110 e 111) e no livro A vida na cidade: como estudar (2018, p. 108 e 109). Ainda, Alexander (2013
[1977], p. 115) recomenda, para habitação, que seja estabelecido um limite de altura em quatro
pavimentos com o objetivo de baixar custos e fazer com que os usuários se sintam parte da paisagem
urbana; Coelho (2013, p. 216) mostra também pesquisas sobre o uso vital do exterior residencial pelas
crianças que habitam os edifícios relacionado com as respectivas alturas dos edifícios.
217
Termo utilizado por Hermam Hertzberger, no livro Lições de arquitetura (2015, p. 38-39), quando
faz analogia de um espaço interior de um edifício residencial, com escadas, patamares e passarelas,
com as edificações de vários andares de uma aldeia nas montanhas.
218
Ao nível dos patamares, terraços e das galerias de distribuição, todos de acesso comum, deve haver
um cuidado extremo quanto ao boqueio das potenciais vistas no interior doméstico, tanto em relação
à distância entre portas de unidades habitacionais e à sua disposição mútua, como relativamente às
relações entre utentes das galerias comuns e nas janelas das demais unidades contíguas.
167

Relativamente à preocupação para que a porta de entrada de cada habitação esteja

conectada, de alguma forma, à rua, Hertzberger (2015, p. 51) explica que as soluções que

adota nos seus vários projetos são apenas uma variação do conceito antigo da escadaria

externa de ferro que conduz a um patamar no primeiro andar, onde fica a porta da frente da

moradia do andar de cima; daí a escadaria continua por dentro do edifício, passando pelos

dormitórios da moradia do andar térreo até a moradia do andar de cima.

Sobre os patamares/galerias de distribuição e a integração das áreas de

agrupamentos de unidades habitacionais – de 8 até cerca de 15/20 unidades habitacionais219

– é fundamental considerar o dimensionamento220, que deve ser adequado ao número de

utentes provável, a fim de garantir alternativas de passagens e paradas que favoreçam as

condições agradáveis e naturais (não impostas) para a socialização no edifício.

Estes espaços de passagens e de paradas podem ser projetados como um percurso

imbuído no habitat – como um convite à descoberta –, à exploração que se exprime ao

atravessar de diferentes passagens, ligações, escadas, galerias, atalhos e caminhos,

proporcionando aos habitantes e visitantes emoções na percepção de cada espaço.

Relativamente à disposição das UH nos patamares/galerias, deve-se achar um ponto

de equilíbrio capaz de fazer com que os moradores possam refugiar-se na privacidade

quando quiserem, mas que possam também procurar contato com os outros, isto é, devem

estar separadas adequadamente, mas não de modo excessivo. Nesse ponto, o espaço à volta

da porta da frente tem uma importância crucial – o lugar onde a casa termina e onde começa

o espaço semiprivado – o espaço-corredor.

Relativamente aos terraços, estes podem ser considerados como ‘varandas públicas’,

na medida em que as entradas para os moradores se localizam nestas varandas, tornando-as

uma passagem com vista para a rua. Estas varandas podem originar-se da associação entre a

interrupção do contínuo construído das unidades habitacionais à galeria de distribuição,

garantindo iluminação natural chegada das laterais.

219
Recomendação de Coelho (2013, p. 202) para edifícios multifamiliares. Ainda considera a
possibilidade, para edifícios maiores, a subdivisão da grande unidade em subunidades ou
“alas”menores, respeitando a mesma dimensão.
220
No caso do Brasil, as distâncias entre circulações verticais são dadas pela NBR 9077 – Saídas de
Emergência em edifícios.
168

Além dos níveis de acesso descritos, é necessário ainda definir claramente os demais

espaços de acessos comuns (acessibilidade funcional) ao edifício, a fim de serem

adequadamente localizados, apropriados (no seu dimensionamento), de fácil gerenciamento,

seguros (ausência de riscos por acesso indevido ou por ações de vandalismo) e com boa

aparência e aspecto agradável.

A acessibilidade funcional refere-se aos acessos de serviço mais frequentes num

edifício multifamiliar, como: monta cargas – para o abastecimento periódico das UH, entradas

e saídas de mobiliários e de equipamentos domésticos, o acesso aos contentores de lixos, o

acesso a quadro de contadores das redes públicas ou comuns de gás, eletricidade, água,

monitorização centralizada, entre outros.

Além disso, sobre acessibilidade221, é indispensável mencionar os acessos por rampas,

elevadores ou zonas niveladas até aos níveis habitacionais, tornando adequado o

deslocamento de crianças, idosos e pessoas com mobilidade reduzida – como são

denominadas na Norma Brasileira – NBR 9050/2015222 – da Associação Brasileira de Normas

Técnicas (ABNT).

Suplementarmente à norma de acessibilidade, é necessário incluir a NBR

9077/2001223– da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que fixa condições

exigíveis que as edificações devem possuir, a fim de que a sua população possa abandoná-

las, em caso de incêndio, completamente protegida em sua integridade física, bem como fixa

exigências para permitir o fácil acesso de auxílio externo (bombeiros) para combater o fogo

e a retirada da população.

O estabelecimento desta estrutura evidente (espaços privados, semiprivados,

semipúblicos e públicos) fortalece o grau de responsabilidade e de vigilância natural coletiva,

tanto para com o espaço público, como para com as residências ou espaços mais privados.

221
Sobre acessibilidade, Coelho (2013, p. 218 e 219) escreve recomendações sobre as diversas
categorias de utentes dos edifícios e seus diversos níveis de capacidade e liberdade de movimentação
para acesso e dentro do edifício.
222
NBR 9050/2015 (item 6.1 (da norma) – rotas acessíveis). Pessoa com mobilidade reduzida: aquela
que, temporária ou permanentemente, tem limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e de
utilizá-lo. Entende-se, por pessoa com mobilidade reduzida, a pessoa com deficiência, idosa, obesa,
gestante, entre outros.
223
NBR 9077/2001. Esta norma fixa requisitos para edifícios novos, podendo, entretanto, servir como
exemplo de situação ideal que deve ser buscada em adaptações de edificações em uso, consideradas
suas devidas limitações.
169

QUADRO 21 Contato entre edifícios e a rua (até cinco andares). Espaços de circulação – espaços de
estar e terraços de uso comum (Kassel – Alemanha, 1979-82). Rua-galeria. Caminho vertical – “rua
externa” (Spangen Quarter, Rotterdam, Holanda, 1921 e Cité Napoléon - Paris, França, 1849).
170

I.4.2 Tipo e Forma dos Edifícios

A escala de um edifício residencial ou de um conjunto de edifícios num bairro

residencial deve ser fiel intérprete de vários fatores que, além do tipo e dimensões das

unidades habitacionais, devem enfatizar os tipos de relações, tanto dos acessos e das

circulações – externas e internas, verticais e horizontais (dos andares superiores) – como já

visto no item anterior –, quanto das unidades habitacionais com o solo, assim como os tipos

de relações do piso térreo com o espaço público.

Outra condição é para com sua forma, a qual deve estar de acordo com o espaço

envolvente, uma vez que, conforme Rossi (2001[1966], p. 100), a forma como se realizam os

tipos construtivos residenciais e o aspecto tipológico que os caracterizam estão intimamente

ligados à forma urbana. Assim, os territórios habitacionais devem ser pensados como

estruturas participantes do lugar, gerando interfaces, ainda que, com conformações outras,

com a experiência da cidade.

Deste modo, a estrutura espacial de um conjunto habitacional ou de um bairro

residencial precisa ser organizada com a finalidade de reforçar a trama urbana, a fim de

construir cidades, em contraponto aos empobrecidos layouts modernos, em especial no

Brasil, nos grandes conjuntos habitacionais.

Assim, os critérios fundamentais a serem cuidadosamente observados são em relação

ao tipo e organização do (s) edifício (s), a fim de definir um princípio de organização espacial

a partir do acesso e circulações; a composição formal dos edifícios, através da volumetria e

do design das fachadas, e a relação com o solo, através do piso térreo.

Tipo e organização do edifício

O tipo ou os tipos de edifícios que compõem um conjunto habitacional ou um bairro

residencial, sob o enfoque da interação entre exterior (público) e interior (privado),

considerando o programa proposto e demais condicionantes, necessitam ter, como princípio

de organização espacial, uma estrutura que contribua com esta finalidade, a de priorizar o

coletivismo ao individualismo.
171

A partir da definição, da escolha do tipo de edifício – ou um conjunto deles, que será

utilizado para atender ao programa dado e, logicamente, ao que melhor se adapte às

particularidades do lugar224 e às questões de ordem histórica, fundiária, organizativa,

construtiva, estrutural, econômica, entre outras, constituir-se-á o modelo com suas

especificidades arquitetônicas e identidade própria e única.

Na definição de tipo e modelo apresentada por Quatremère de Quincy225, assim se

expressa:[...] o modelo, entendido segundo a execução prática da arte, é um objeto que se

deve repetir tal qual é; o tipo é, pelo contrário, um objeto segundo o qual qualquer pessoa

pode conceber obras que não se assemelharam em nada entre si. Tudo é exato e dado no

modelo; tudo é mais ou menos vago no tipo [...].

Convergindo com a definição proposta por Quatremere de Quincy, Argan226 defende

que o tipo é um esquema reduzido de um conjunto de variantes formais a uma forma-base

comum, um fundamento constante, histórico, suscetível a variantes, que resulta em um

caráter particular e pode ser identificado por funções práticas.

Nesse contexto, o tipo227 é constante – como princípio elementar (regra construtiva) –

e vital no modo constitutivo da arquitetura, uma vez que permite a classificação, a

comparação e a separação/agrupamento, independentemente das peculiaridades próprias

de cada modelo (o fato construído), com toda a sua caracterização arquitetônica específica.

Assim, dentro do tema edifícios habitacionais, segundo Farias (2003, p. 08) os tipos

de edifícios de habitação, de um modo geral, assim se classificam: primeira categoria:

edifícios unifamiliares ou de acesso privado (moradia isolada, geminada, em fita, duplamente

geminada e em pátio). Segunda categoria: edifícios plurifamiliares ou de acesso coletivo;

estes podem dividir-se nos edifícios que organizam as unidades habitacionais verticalmente,

224
Particularidades do lugar – Denominado para o presente trabalho como vocação do lugar: são
propriedades do lugar que são identificadas após o estudo do conteúdo sociocultural, político, físico,
arquitetônico, econômico e histórico.
225
Quatremère de Quincy, Antoine – “Dictinnarire Historique de I’Architecture”. A tradução adotada
é a apresentada por Rossi em Arquitetura da Cidade, p. 53. O texto, na sua versão original e integral,
pode ser consultado em “De I’Imitation”, reedição de 1980 das Edições Archives d’Architecture
Moderne.
226
ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e destino. Tradução de Nanos Bagno. 1 ed. São Paulo: Atica, 2000.
p. 65-70.
227
Vários autores, na procura de alternativas ao movimento moderno, retomaram estudos sobre
tipologia edilícia: Rossi, Aymonino, Muratore, Caniggia, Panerai, entre outros.
172

os edifícios de acesso vertical múltiplo (com uma unidade habitacional por piso, com duas

unidades habitacionais – edifício esquerdo-direito –, com três unidades habitacionais –

edifício esquerdo-direito-frente, e torre habitacional); e os que organizam as unidades

habitacionais horizontalmente, chamados de edifícios de acesso horizontal múltiplo, isto é, o

edifício em galeria, o qual pode ter inúmeras variações.

Esta última categoria, dos edifícios em galeria, permite a acomodação de várias

unidades habitacionais, estando estas dispostas, em cada piso, ao longo de uma galeria que

possui um espaço-corredor semiprivado de ligação entre os núcleos de acesso vertical

(incluindo escadas e elevadores) e as unidades habitacionais, servindo de entrada para estas.


173

QUADRO 22 Tipos de edifícios de habitação: edifícios unifamiliares, de acesso privado e edifícios


plurifamiliares, de acesso coletivo. Interação entre exterior e interior (Donnybrook Quarter – Londres,
2006, Nexus World housing – Japão, 1991 e Conjunto Heliópolis, gleba A - São Paulo, Brasil, 2011).
174

A partir deste tipo, do edifício em galeria, consegue-se, através de algumas

manipulações das características básicas que o definem, uma série de subtipos, cuja

diversidade e riqueza são significativas. Existe uma variedade de bons exemplos resultantes

de diferentes autorias, tempos, lugares, contextos culturais, opções estruturais, construtivas,

materiais e compositivas que partiram deste esquema de organização228.

Estes edifícios possibilitam associações dos acessos principais às circulações, verticais

(escadas e elevadores) e horizontais (galerias/patamares), estabelecendo uma relação com o

lote e com a rua e promovendo, desta forma, valores positivos para a cidade, bem como

apoiam a diversidade e a compacidade, qualidade oposta das moradias unifamiliares de

acesso privado, utilizadas para T-zones menos urbanas.

A galeria – o espaço-corredor semiprivado –, a qual tem a função principal de agrupar

as unidades habitacionais, ainda pode possuir um conjunto de características que contribuam

na relação entre porta de casa e a rua, bem como promover usos coletivos. Dessa forma, as

galerias podem ser internas ou externas, junto à fachada.

As galerias internas possibilitam o sistema com dois alinhamentos de UH,

proporcionando as entradas para estas unidades dos dois lados do seu desenvolvimento

longitudinal. Ainda, com dois alinhamentos de UH, as galerias podem ser organizadas de dois

em dois pisos articulando, respectivamente, duas UH duplex229 com orientação única e UH

de dois níveis com UH simples; ou de três em três pisos articulando, respectivamente,

228
Bloco Pedregulho. Rio de Janeiro (1952), Afonso Reidy; Unité d’Habitation de Marselha (1952), Le
Corbusier; Bloco Gifu Katagata. Japão (1999), K. Sejima; Spangen Quarter, Rotterdam, Holanda.
(1921), Michiel Brinkma; Bloco das Águas Livres. Lisboa. (1956), Nuno Teotónio Pereira, Bartolomeu
Costa Cabral; Bloco na Av. Infante Santo. Lisboa. (1958), Alberto Pessoa, Hernâni Gandra e Abel Manta;
Bloco na Av. Estados Unidos da América. Lisboa. (1955), Vasconcelos Esteves, Pedro Cid e Mário
Laginha; Bloco na Av. Estados Unidos da América/Av. De Roma. Lisboa. (1952), Filipe Figueiredo e
Jorge Segurado; Bloco nos Olivais Norte. Lisboa. (1959), Pires Martins e Palma de Melo; Bloco nos
Olivais Sul. Lisboa. (1962), Costa Martins, Hernâni Gandra, C. Raposo, N. Galhoz; Bloco nos Olivais Sul.
Lisboa. (1962), Vítor Figueiredo e V. Costa Lobo; Conjunto em Chelas. Lisboa. (1974), Vítor Figueiredo
e Eduardo Trigo de Sousa; Conjunto em Chelas. Lisboa. (1974), G. Byrne e A. Reis Cabrita; Conjunto
em Chelas. Lisboa. (1978), Tomás Taveira; Conjunto Heliópolis – gleba G. São Paulo (2011),
Katchborian e Mario Biselli; Conjunto Jardim Edite. São Paulo (2012), MMBB arquitetos & H+ F
arquitetos; Conjunto Heliópolis – gleba A. São Paulo (2004), Héctor Vigliecca; entre muitos outros.
229
A alternativa de organizar as unidades habitacionais (UH) duplex sobre ou sob as galerias tem a
vantagem de melhorar a insolação e as visuais uma vez que a organização das UH com uma galeria
por piso só permite insolação e vistas no lado oposto da galeria.
175

habitações simplex com habitações duplex; duas habitações duplex com dupla orientação e

habitações de dois níveis com habitações simplex.

Na galeria externa, mais comumente utilizada nos edifícios de alinhamento único de

UH, diversas variantes podem ser utilizadas a fim de garantir o contato com o exterior: a

galeria pode ser aberta ao exterior – se o clima permitir – ou envidraçada, para a proteção

dos utentes e garantir sua conservação.

Para as galerias abertas, numerosas soluções podem ser propostas: como galerias

dentro dos limites da sua volumetria (reentrante na fachada), usufruindo de iluminação e

ventilação natural; galerias exteriores em balanço, o que corresponde à situação em que a

galeria se apresenta como elemento adicionado à volumetria do edifício, com uma estrutura

portante própria, da qual se tira partido formal e expressivo.

Neste caso, das galerias em balanço, podem ser niveladas com a laje da UH ou num

nível mais baixo para fins de privacidade230 entre o espaço semiprivado da circulação e os

espaços interiores da casa. Este desnível pode ser utilizado para permitir a abertura de vãos

na fachada que abre sobre a galeria, sem que o interior dos compartimentos seja devassado,

e sem que a galeria interfira na iluminação natural e ventilação.

Outra opção são as galerias separadas do edifício, com pontes ou passarelas para as

UH. Neste caso, a posição da galeria fica afastada da parede de delimitação das UH,

proporcionando maior independência, proteção e privacidade para o interior das habitações.

Essas pontes podem ser abertas ou protegidas – como uma galeria envidraçada.

Ainda, na subdivisão dos tipos de edifícios plurifamiliares de acesso coletivo em

galeria, podem-se citar os tipos que, a partir de uma só galeria, têm acesso às UH em pisos

diferentes, lançando-se escadas, para cima ou para baixo, para esse efeito. Nesse âmbito,

também existe a galeria dupla, que consiste em dar acesso por escadas, a partir de uma

galeria principal a um nível, a outra galeria, geralmente de menores dimensões, que serve

novo conjunto de UH.

230
Sobre privacidade, algumas estratégias de projeto devem ser utilizadas para evitar incômodos de
ruídos gerados pelas galerias exteriores, uma vez que o ruído penetrará sempre pelas janelas dos
compartimentos adjacentes à galeria, particularmente, no verão em que há que promover a ventilação
cruzada para arrefecer a habitação. Ainda, um cuidado especial com a questão da vizinhança entre
zonas domésticas de preparação de refeições ou de higiene pessoal e galerias exteriores de acesso
comum, implica a privacidade e qualidade destes espaços.
176

QUADRO 23 Subtipos de edifícios em galeria (externa e interna). Estabelecimento da relação com


a rua/solo. Galeria separada do edifício, com pontes para as unidades habitacionais (Edifício
habitacional Schwitter – Basileia, 1985). Galeria exterior em balanço, desnivelada – descendo a cota
altimétrica da galeria (Bloco das Águas Livres - Lisboa, Portugal, 1953-56). Galeria exterior em
balanço (Nemausus -Nimes, França,1987).
177

Composição formal dos edifícios

A composição formal dos edifícios, ou seja, a forma construtiva do edifício ou de um

conjunto deles, é quem vai dar a forma às cidades ou parte delas. Os edifícios, como já

referimos, são um dos elementos mais importantes da forma urbana e, talvez, o mais visível.

Via de regra, a cidade é composta por dois tipos diferentes de edifícios, os comuns e os

excepcionais231, os quais se distinguem através da forma e da utilização.

Os tipos dos edifícios (comuns e excepcionais) que irão compor os quarteirões de

cada distrito/setor devem levar em consideração os aspectos das características físicas,

econômicas e histórico-sociais de acordo com sua localização no tecido urbano. Esta posição

de cada edifício dentro da malha é de fundamental importância para o caráter da paisagem

urbana.

Nesse ponto, tornando-se relevante ponderar as condições do lugar, destaca-se o

pensamento de Sennett (2018, p. 12), o qual afirma que os prédios raramente são fatos

isolados, e que as formas urbanas têm sua própria dinâmica interna; por exemplo, na maneira

como os prédios se relacionam uns com os outros, com os espaços abertos, com as

infraestruturas e com a natureza.

Estes tipos, como define o termo (visto no item anterior), devem ser compreendidos

como indicadores mais genéricos do projeto de arquitetura do edifício vez que, a partir

destes, os projetistas – arquitetos e urbanistas – irão desenhar soluções arquitetônicas

diversas de acordo com o urbanismo e morfologia de cada conjunto ou bairro residencial.

Nessa conjuntura, importa compreender as características da arquitetura e modos de

a propor, embasados em diretrizes urbanísticas e arquitetônicas232, com a finalidade de guiar

os futuros trabalhos na direção da qualidade urbana, tanto morfológica quanto da relação

entre espaços públicos e privados, que se pretende atingir.

231
Edifícios comuns (correntes) e edifícios excepcionais (não correntes). Ver conceito item I.3.1-Parcelas
e Edificado – Configuração dos quarteirões.
232
Similar à um Smarte Code – ver item I.2.1 Morfologia/Tecido Urbano – Tzones e Smart Code. Estas
diretrizes são como convenções morfológicas e parâmetros de projeto: um conjunto de regras de
tipologias edilícias, implantação, volumetria, desenho das fachadas, entre outras características que
orientem, porém não impeçam a diversidade arquitetônica, dentro de parâmetros formais e
morfológicos, com o intuito da não homogeneização e padronização.
178

Desse modo, e em particular referindo-se a bairros residenciais e conjuntos

habitacionais, o primeiro e principal objetivo da arquitetura deve ser compor um tecido

urbano coeso, contínuo, compacto e coerente, onde os edifícios não devem tentar impor-se

aos seus vizinhos, mas sim dialogar com eles, valorizando, dessa forma, o conjunto urbanístico

e beneficiando-se dessa relação sinérgica, “tal qual músicos em uma orquestra, trabalhando

juntos pela qualidade do conjunto.”233

Além disso, outras características, na articulação da tipologia e forma urbana, são

elementares: a volumetria, idealizando uma forte unidade formal entre edifícios e espaços

abertos exteriores; e as fachadas, que devem visar à criação de ritmo e diversidade em cada

quarteirão, bem como a cautela com a materialidade, com as aberturas (esquadrias) e com

as diferenciações horizontais (base, middle e cap234), isto é, a base, o corpo e coroamento.

Quanto à volumetria, parte-se do princípio de que as formas construídas podem

assumir um dos três tipos – o pavilhão, a barra e a torre –, sendo a sua diferenciação dada

pelas proporções: o pavilhão não mostra predominância de qualquer uma das três

dimensões, a barra mostra uma das dimensões planimétricas claramente predominante, e a

torre tem obviamente a altura predominante. (Krafta, 2014, p. 49).

Nesse enquadramento, pode-se dizer que a articulação desses volumes básicos entre

si oferece duas alternativas: de postar isoladamente ou de manter adjacências, que se for

uma, resultará num arranjo de formas construídas geminadas e, se forem duas, o resultado

será um quarteirão formado por um agregado de edificações em fita, da linha reta ao

polígono fechado235 (uma quadra) ou semifechado (em forma de “L” ou de “U”)236.

Acerca da posição dos edifícios dentro das parcelas, é pertinente nomear Hélio Piñon,

que evidencia que não tem sentido, nos dias atuais, recriar a cidade histórica. Porém, o autor

233
Manual de Diretrizes Arquitetônicas do bairro Urbitá – Brasília (2016, p. 07).
234
Conforme DPZ Latin America – Guidelines: General Design Principles (2006) elaborado para o Bairro
Pedra Branca – SC – Brasil.
235
A palavra francesa para quadra, îlot, conforme etmologia, significa ilhota, uma pequena ilha e,
portanto, seria parte do território urbano “isolado” da vizinhança pelas ruas. (Panerai et al., 2013, p.
204). Segundo o autor, a quadra fechada a priori não garante a urbanidade.
236
Partindo desses modos básicos de agrupamentos dos lotes, Antônio Batista Coelho e João Branco
Pedro, no livro Do bairro e da vizinhança à habitação: tipologias e caracterização dos níveis físicos
residenciais, p. 103, apresentam uma variedade de articulações da forma e fazem a relação da inserção
direta do edifício e a imagem urbana.
179

sugere propor uma cidade descontínua (em termos de contiguidade de altura e alinhamento

de fachadas), mas ordenada.

Com a expressão “ciudad discontínua, pero ordenada”, Piñon refere-se aos edifícios

baseados em “torre e plataforma” (ou caixa), onde o corpo baixo (uma plataforma de dois

andares que ocupa toda a largura do terreno) dá a continuidade aos edifícios adjacentes, e o

alto, a “torre”, se ergue sobre esta base, com identidade própria: a planta de transição

contribui para a identidade do corpo alto visualmente autônomo.

Piñon explica que este modelo, que recua em relação às divisas, tornando a “torre”

isenta pela separação das superfícies laterais, e balança pouco mais de um metro sobre a rua,

é inspirado na Lever House (1952) e deve ser adaptado às escalas mais modestas,

dependendo da especificidade de cada lugar.

Piñon entende este modelo como uma “solução”, um “critério” de valor universal,

uma vez que se consegue que a “aleatoriedade fortuita” da cidade real se converta numa

aleatoriedade regulada e precisa, capaz de tornar compatível o caráter liberal da cidade

norte-americana com precisão desejada.


180

QUADRO 24 Tipos de formas – pavilhão, barra e torre. Composição tripartida do edifício. Edifícios
organizados em torre e plataforma (Ciudad discontínua, pero ordenada – projetos didáticos Hélio
Piñon, 2018 e Lever House – Nova Iorque, 1951). Exemplo de organização de vários tipos de
edifícios – casas geminadas, sobrados, edifícios de baixa altura, edifícios de grande altura. (Lafayette
Park - Detroit, EUA,1956).
181

Nessa continuidade, da composição de elementos da forma urbana - isoladas ou com

adjacências –, um cuidado especial deve ser tomado para com a inserção de mais de um tipo

de forma construída e sua distribuição nos quarteirões, a fim de evitar a descontinuidade tipo-

morfológica, que no conjunto, revelar-se-á como a imagem e característica do todo, seja de

um conjunto habitacional ou de um bairro.

Torna-se pertinente aqui ressaltar que não se trata de planejar um padrão

morfológico, revelado pela sua regularidade e determinado pela aplicação recursiva de um

número limitado de tipos, combinados segundo as mesmas regras tipológicas, mas sim, de

propor que esta regularidade deixe de ser trivial, através do aumento do número de tipos,

dentro de cada categoria e admitindo alguma variação nas regras de articulação tipológica,

sem perder seu caráter de tecido temático237.

O que se objetiva é evitar falhas de padrões morfológicos que, em diferentes escalas,

têm impactos negativos sobre a forma urbana. Coelho (2007, p. 296) afirma que: “a

continuidade urbana não pode ser prejudicada com intervenções constituídas por

megaedifícios centrados em si mesmos, isolados, e, por vezes, estigmatizados”.

Nesse universo, é pertinente citar Mahfuz (2008)238, que, em alguns casos, chama a

estas intervenções de arquitetura do espetáculo, isto é, a arquitetura que se caracteriza pela

complicação formal – que é muito diferente de complexidade –, que possui excesso de

elementos, gratuidade, uso de referências não arquitetônicas e geométricas obscuras,

resultando em objetos que têm pouca semelhança com edifícios e pouca relação com as

atividades neles realizadas.

Segundo Norberg-Schulz (1985) apud Coelho (2013, p. 111), a composição dos

elementos urbanísticos tem princípios gerais que abrangem a diferenciação entre

verticalidade e horizontalidade, concebendo formas por ritmos e tensões, em termos de

proporções; a hierarquização de elementos constituintes dominantes ou subordinados, isto

é, o contraste entre elementos protagonistas e panos de fundo e uma identidade estrutural.

237
Termo utilizado por Krafta (2014, p. 60) ao referir-se ao arcabouço compositivo. Assim, temática
passa a ser o mesmo que arcabouço compositivo, visto que quanto maior o conjunto de tipos e regras,
mais elaborado será o arcabouço compositivo, dentro de uma temática, i.é., edificações próprias
inseridas no tecido de forma também própria.
238
Texto A Arquitetura entre o espetáculo e o ofício, 2008, publicado na revista Arquitetura e
Urbanismo, São Paulo, Pini, n. 178, jan. 2009.
182

Do mesmo modo, na escala de conjuntos habitacionais, a hierarquia das edificações

é fundamental na identificação do núcleo ou do centro do complexo, o qual poderá ser uma

edificação principal, que exercerá uma função de alma funcional do complexo, estimulando

o senso de comunidade; será também o ponto de referência que ajudará a completar os

níveis de legibilidade.

Nesse quadro, da escolha do tipo da edificação ou de um conjunto delas, da

distribuição e articulação e da hierarquia entre tecidos temáticos por intermédio de um

terceiro elemento, no caso, excepcional239, é possível criar uma estrutura urbana – um tecido

urbano –, que tem, na sua gênese240, o conceito fundamental relativo à unidade morfológica.

Esta unidade morfológica é revelada pela sobreposição de várias estruturas agindo

em diferentes níveis: a lógica das vias, dentro do seu papel duplo de movimento e

distribuição; a lógica do parcelamento do solo, que define as questões fundiárias e onde se

manifestam as iniciativas privadas e públicas, e a lógica das edificações (comuns e

excepcionais), que acomodam diferentes atividades.

Nesse enfoque, deve-se ter como meta a construção de um tecido urbano contínuo

através dos edifícios, os quais, independentes da sua tipologia (desde casas isoladas até

blocos habitacionais), relacionam-se com a rua num arranjo sucessivo, compondo o

quarteirão. Este arranjo pode também formar espaços externos positivos que garantam a

permeabilidade nos e entre os quarteirões – formando ruas internas –, itens estes vitais à

constituição da boa forma urbana241.

É pertinente aqui enfatizar que, em termos gerais, os edifícios deverão, sempre,

buscar a composição harmoniosa com os elementos urbanos e a ele adjacentes, inclusive os

demais edifícios, a calçada, as praças e espaços públicos, sem pretender atingir posição de

protagonismo.

239
Sobre edifícios excepcionais: Rossi (2001[1966]) afirma que monumentos funcionam como controles
ou âncoras da forma urbana e que, juntos, estabelecem uma rede de referenciamento e de unidade
urbana. Entretanto, somente podem existir exatamente na contraposição a um entorno de
regularidades. Com isso, tecido (temático) e monumentos (ou edificações excepcionais) são
complementares e indispensáveis para a forma urbana
240
Conceito de tecido urbano é proveniente dos estudos (nos países da Itália, França e Inglaterra) dos
tipos arquitetônicos, de um lado, e análise de plantas urbanas, de outro, que se iniciaram de forma
independente e, a partir de meados do século XX, passaram a ser tratados conjuntamente.
241
Ver conceito da boa forma urbana no item I.3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos
quarteirões.
183

Para tanto, Farr (2013, p. 96-97) apresenta uma variedade de padrões de

assentamento humano, isto é, várias possibilidades de articulação dos edifícios no quarteirão,

com diferentes tipologias e densidades: casas unifamiliares; casas geminadas, casas em fita,

blocos habitacionais baixos no meio da quadra (townhouses), edifícios de apartamentos de

altura média (até cinco pavimentos) e edifícios em altura (até oito pavimentos)242.

Sabe-se que a combinação dos tipos apresentados por Farr (2013), articulados no

âmbito dos seus respectivos domínios e interdomínios, resulta no tecido urbano, o qual

envolve a regra que busca articular os diferentes domínios do público, privado e forma

construída, uma vez que, através da disposição da forma construída, esses domínios podem

ser modificados.

Assim, se a forma construída for disposta recuada em relação ao limite do espaço

público, cria-se um espaço intermediário que poderá assumir um caráter privado (murado),

semiprivado (separado do público, porém visualizável), ou público (incorporando-se ao

espaço público propriamente dito).

Nesse sentido, da escolha dos tipos dos edifícios, é possível afirmar que a densidade

que se programa para cada quarteirão e para cada distrito/setor poderá torná-los mais

compactos e, consequentemente, mais sustentáveis; contudo, não se pode descuidar das

demasiadas alturas que, além de coibir a relação com a rua, aumentam os custos de

construção, o que, por conseguinte, aumentará os preços dos aluguéis e vendas posteriores.

Ainda, sobre altura dos edifícios, deve-se considerar sua relação com a largura da rua

onde serão localizados. A variação dessas duas medidas pode introduzir mudanças

significativas na paisagem urbana. Se a altura dos edifícios é muito menor do que a largura

da rua, teremos pouca noção de recinto. No entanto, se a altura dos edifícios for maior que

a largura da rua, a sensação de fechamento aumentará (Carmona, 2003, p. 183).

Assim, observando a T-zone de cada sítio, a busca de níveis mais altos de densidade

é fator indispensável do New Urbanism, uma vez que tende a minimizar o consumo de

recursos (como energia, solo e água), bem como ampara o desenvolvimento de uso misto,

242
Sobre altura dos edifícios, o autor refere-se como média altura, entre 4 – 5 pavimentos e edifícios
altos, até 8 pavimentos. Explica também que acima de 8 pavimentos deve-se ter uma especial atenção
às zonas em que serão inseridos estes edifícios, bem como às legislações relativas à segurança e
circulação vertical (FARR, 2013, p. 96 e 97). Sobre altura dos edifícios, sua conexão com a rua e a
influência nos sentidos humanos, ver item I.4.1 – Acessos – Circulação horizontal e vertical.
184

em que é necessária uma densidade mínima de habitação para sustentar usos não

residenciais.

Conforme Davies et al. (2000, p. 46), são muitos os benefícios das densidades mais

altas: a proximidade social que incentiva a interação e a diversidade, bem como melhora a

possibilidade de acesso a serviços comunitários; a viabilidade econômica, tanto das unidades

habitacionais como da infraestrutura do conjunto residencial/bairro; a viabilidade do

transporte público, reduzindo as viagens e estacionamentos individuais e, por fim, os ganhos

ambientais: aumentando a eficiência energética, reduzindo a poluição atmosférica e, na

macro escala – da cidade, a compacidade subsidia a manutenção dos espaços públicos

abertos e restringe a expansão urbana.

Lembrando que densidade urbana não significa “cidade amontoada”243 e sim um

parâmetro, uma medida em consonância com o lugar. O desafio é estabelecer uma

proporção que se relacione com a composição formal dos edifícios, e que esteja ordenada

com os princípios do Traditional Neighborhood Development (TND), ideia descrita no item

I.1.1 – Localização – Habitação formando novos bairros.

Ainda, nesse contexto da densidade, é importante mencionar a necessidade de, em

grandes conjuntos e/ou bairros residenciais, atender a uma variedade de estilos de vida,

propondo uma mistura de densidades, o que exige uma escolha de tipos de ambientes

construídos.

Este ambiente construído pode ser composto por edifícios médios e de alta

densidade (até 5 andares), ordenados de maneira que conformem espaços externos

positivos, tenham capacidade de orientação para ganho solar passivo, e permitam os acessos

privados, ao nível do solo. Enfim, elementos que tornem o empreendimento residencial com

atributos visuais e ambientais típicos de uma propriedade residencial, ou seja, criando uma

escala doméstica – domesticidade244.

243
Town cramming: termo utilizado por Davies et al. (2007, p. 47), no livro Urban Design Compendium,
quando escreve sobre a densidades urbanas e suas vantagens.
244
Domesticidade ou residencialidade: Termo utilizado por Antônio Batista Coelho no livro Qualidade
arquitetônica residencial: rumos e fatores de análise (2000, p. 351 e 385). É um fator que é responsável
pela criação e afirmação de um caráter residencial através da marcação de escalas, designadamente
em relação com o homem/habitante.
185

Nessa conjuntura, pode ser útil articular diferentes formas de unidades habitacionais

em torno de uma “pirâmide de densidade”. Isso requer o posicionamento de formas de

menor densidade e com menor altura no meio do quarteirão, podendo ser as townhouses –

unidades com dois ou três pavimentos com pé-direito duplo, no meio do quarteirão –, o que

auxilia a criar passagens mais íntimas e orientadas para o pedestre.

As formas de maior densidade e de maior altura (torres)245 devem ocupar as esquinas

e outros locais, conforme necessário para satisfazer o programa ou para marcar vistas

importantes. Estas torres devem ser espaçadas de modo a não interferir nas vistas ou

bloquear a luz solar.

É recomendável, no conjunto de esquinas de cada cruzamento entre as vias públicas,

por serem pontos especiais da malha urbana, que os empreendimentos empreguem

elementos arquitetônicos que as valorizem, seja pela verticalidade, forma, materialidade,

usos de janelas proeminentes, entre outros recursos.

Os edifícios de esquinas podem ser considerados pontos singulares246 – pontos de

realce –, através da afirmação de esquinas – dos limites verticais laterais (empenas, cantos,

extremidades). As esquinas devem ser demarcadas, com espacialidade e uso, pelos quatro

edifícios que a compõem, de forma a criar um nódulo interessante e rico da malha urbana,

estabelecendo relações com os espaços exteriores e os outros edifícios.

No que se refere aos edifícios de esquina, é primordial uma atenção com as entradas.

Os edifícios de esquina devem ter suas entradas pelas esquinas, as quais possuem linhas de

visão em três ou mais direções, proporcionando o acesso mais direto do pedestre ao edifício,

aos locais naturais de encontro que ali se estabelecem, a melhor acessibilidade ao domínio

público, encorajando os usuários a realizarem a travessia das vias nos cruzamentos.

Nesse aspecto, o Guia Boston Street (2013, p. 155) enfatiza sobre as entradas dos

edifícios de esquina, recomendando que devem ser colocadas na diagonal para otimizar e

ajudar a separar os fluxos dos pedestres que entram no edifício com aqueles que estão

passando.

245
De modo geral, é desejável colocar edifícios mais altos (torres) em locais importantes, como nas
esquinas, nas principais vias – em corredores lineares ao longo das rotas de transporte público, no final
das vistas ou nos parques.
246
Não se incluem aqui os “Landmarks” – pontos de referência (marcos visuais), ver item I.3.1 – Parcelas
e edificado – Localização dos quarteirões.
186

Sobre diagonais, evoca-se o plano de Cerdá para Barcelona (Hertzberger, 2015, p.

123) que, já no desenho dos quarteirões, estabelece de maneira clara a definição das

esquinas, e na maneira como esses edifícios de esquina voltam-se regularmente com uma

fachada diagonal para as ruas que se cruzam. As quatro diagonais ampliam cada interseção,

formando, desse modo, uma pequena praça, capaz de fornecer um alívio bem-vindo à

monotonia das ruas compridas.

Da mesma forma que os edifícios de esquina, os edifícios localizados em frente à uma

rua terminada em “T” – que exige uma vista de terminação – (muitas vezes longa), podendo

determinar eixos de composição ou pontos de referência; ou em ruas com traçados

angulosos, ou diante de vielas e pátios de passagens, é necessário uma atenção exclusiva na

combinação de diferentes elementos, os quais devem estar em conformidade com as

características da rua, uma vez que, segundo Louis Kahn, “as fachadas dos edifícios ao longo

das ruas pertencem-lhes, são as paredes da rua, espaço sem teto” (Kahn, apud Coelho, 2013,

p. 126).
187

QUADRO 25 Relação entre densidade e forma urbana – combinações diferentes de tipologias –


mesma densidade. Articulação dos edifícios no quarteirão, diferentes tipologias e diversidade de
densidades segundo Farr (2013). Esquinas enfatizadas (Clarendon Center - Virgínia, EUA, 2010 e
The Harrison – Nove Iorque, EUA, 2009).
188

Em relação à fachada, é conveniente notar que ela nunca preenche apenas os

requisitos construtivos determinados. Ela fala sobre a situação cultural no momento em que

o edifício foi construído, revela critérios de ordem e mostra as possibilidades da

ornamentação e da engenhosidade. Uma fachada também nos fala dos habitantes de um

edifício, dando-lhes uma identidade coletiva enquanto comunidade.

A raiz da palavra “fachada” deriva da facies latina, que é sinônimo das palavras face e

aparência. Portanto, se falarmos da face de um edifício, a fachada, queremos dizer, acima de

tudo, a frente voltada para a rua. Em contraste, as costas são atribuídas a espaços exteriores

semipúblicos ou privados (pátio, jardim e a paisagem). Ambos esses fenômenos de frente e

verso relacionam-se, grosso modo, por um lado, à responsabilidade pública e, por outro, à

autorrepresentação privada dos habitantes (KRIER, R. 1992, p. 60).

O desenho das fachadas, além de ser o lugar de expressão construtiva e de adaptação

climática, deve exprimir uma organização superficial e volumétrica coerente com o uso

interior da edificação247 – em especial para edifícios residenciais – onde deve-se considerar a

aparência de um edifício de habitação – um “efeito tranquilizador do que é familiar”, assim

denominado por Charles Moore248 citado por Coelho (2013, p. 228).

Norberg-Schulz apud Coelho (2013, p. 126) defende que o significado de uma forma

construída reside na maneira como ela é fundada, se eleva e se abre, isto é, no seu estar entre

terra e céu. Ela encarna e aparece no mundo, esta encarnação tem lugar nos limites que

definem os espaços onde a vida se realiza e, sobretudo, na fachada, em particular a fachada

da habitação privada, como reflexo relativamente uniforme de um “aqui” muito particular.

Nesse âmbito, em especial para as fachadas de prédios residenciais, a fachada sólida

– parede maciça e protetora –, perfurada por aberturas, que permitam a entrada do ar e da

luz no interior do edifício, deverão ser sempre a melhor escolha. Estas aberturas,

especialmente as janelas, são o meio de composição mais importante do edifício uma vez

que, pela sua distribuição na fachada, efeitos específicos podem ser enfatizados ou

suspensos.

247
Conforme Krier R. (1992, p. 60), a fachada ainda é a maior parte do elemento arquitetônico possível
de comunicar uma função.
248
Paulo Portoghesi, “Depois da arquitetctura moderna” (2002, p. 99).
189

A composição de uma fachada, levando-se em consideração os requisitos funcionais

(janelas e parapeitos, portas, proteção solar, telhado), tem a ver essencialmente com a criação

de uma entidade harmoniosa por meio de boas proporções, estruturação vertical e

horizontal249, materiais, cores, contrastes (que produzem um efeito de profundidade causado

pela luz e pela sombra), e elementos decorativos.

Nesse universo, uma variedade de estratégias projetuais pode ser utilizada, tais como:

selecionar e ressaltar as partes mais importantes – partes do edifício podem ser expostas pelo

qual o primeiro plano e o fundo da fachada são determinados; gerar jogos de sombras através

de elementos proeminentes e reentrantes, inclusive com diferenciações horizontais, em

especial e, no mínimo, entre o piso térreo, os andares normais (correntes) e o último piso250;

como já referido no início deste item – as diferenciações horizontais (base, meio e

coroamento), através do tratamento cromático e ligações entre os diversos materiais,

considerando, sempre, os fundos onde irão contrastar.

Além destas estratégias, ainda podemos elencar outras: as janelas251 – e sua

independência –, num cuidado com seu contorno e lintéis; os beirais – proteção do telhado

que proporcionam sombra; a materialidade – materiais/revestimentos que enfatizam a massa

(rústico) e os que “soltam”252 (acabamentos com propriedades de aparência e tamanhos mais

rebuscados).

Sobre a distinção dos andares, o piso térreo deve exprimir a aproximação e a relação

com a terra, a solidez do alicerce, o encerramento, e também a acessibilidade. Na sua fachada

deve haver detalhes, de pequena e média escala, envolvendo as pessoas que se aproximam

e caminham nos seus arredores.

249
Para a distinção entre elementos horizontais e verticais, aspecto de grande importância na
estruturação da fachada, cada um dos elementos pode, por si próprio, criar um efeito geral adequado
desde que as proporções dos elementos (tanto horizontais, quanto verticais) correspondam ao todo.
250
Segundo Claire e Michel Duplay, “Methode Ilistrée de Création Architecturale” (p.167–172, apud
Coelho, 2013, p. 232), denomina os limites horizontais como as transições com o céu (continuidade de
rebordas e silhuetas), e com o solo, onde a continuidade pode ser assegurada em boa parte pelo
emprego diferenciado dos mesmos materiais. Conforme Coelho (2013, p. 125) a fachada, no seu
conjunto manifesta assim: “o entre céu e terra”.
251
É recomendado que as esquadrias e/ou caixilharia, dentro de uma variedade de modelos, devam
ser escolhidos de forma a oferecer uma referência unitária em termos de cor e material.
252
Termo utilizado por Rob Krier no livro Elements of Architecture (1992), quando discorre sobre os
elementos de arquitetura da fachada.
190

Nos pisos térreos, a fachada, como “borda construída”, atua de maneira semelhante

ao portal: em alemão, a palavra muro é wand, que tem a ver com wendn (virar) ou com

wandlung (mudar). A parede é, portanto, o local onde o exterior se transforma no interior e

vice-versa. Esta zona de transição253 tem a função de troca, tornando-se viva se a superfície

for evidente.

Nos pisos intermediários, deve-se ter um cuidado na escolha das tipologias a fim de

que permitam marcar, claramente, no edifício, a presença de cada unidade habitacional por

meio de elementos que devem ser pensados no seu detalhe. Estes detalhes incluem a

materialidade, o cromatismo, a vegetação na fachada (apoios para plantas trepadeiras), as

janelas e seus componentes, bem como a cautela com a unificação de elementos funcionais

(ex.: tubos de queda) no controle do desenho.

O último andar, pelo contrário, deveria revelar a proximidade do céu e proporcionar

uma vista panorâmica (pequenos belvederes abertos). Há poucos casos na arquitetura

tradicional nos quais os construtores não usaram algum detalhe de cobertura para dar

acabamento à edificação: os frontões das edificações gregas, as coberturas cônicas dos trulli

de Alberobello, as coberturas íngremes dos templos japoneses, os ventiladores dos celeiros,

entre outros exemplos.

Também, na arquitetura moderna, edifícios notáveis refletem esta preocupação, do

“contato com o céu”, como é o caso da Villa Savoye e da Unité d’Habitation de Le Corbusier;

as obras de Mies van der Rohe e de Wright, com os seus remates claríssimos no encontro

com o céu, por exemplo.

Unindo a necessidade de resolver questões ligadas ao sistema construtivo, deve-se

propor um acabamento às coberturas e completar o edifício – um “coroamento” – com

elementos adequados ao tipo de construção e ao significado da edificação.

Esses elementos têm um efeito poderoso na edificação, uma vez que agregam um

detalhe, tornando a cobertura menos homogênea; conferem à cobertura o status que ela

merece – a cobertura é importante, e os coroamentos enfatizam isso; criam um vínculo com

o céu, uma característica que talvez tivesse conotações religiosas no passado. Assim como

253
Sobre zonas de transição ver item I.4.1 – Acessos – Intervalo/espaço de transição.
191

um edifício precisa ter um senso de conexão com o chão, uma cobertura precisa ter uma

conexão como céu (ALEXANDER, 2013 [1977], p. 1086).

Nessa conjuntura, pode-se afirmar que a interface entre o interior e o exterior do

edifício, que é constituída pela borda da edificação – a fachada, é fator elementar para o

êxito do espaço em torno da edificação. Ao se relacionar com o mundo exterior, o edifício

passa a fazer parte da malha social, da cidade e da vida de todas as pessoas que moram no

local ou passam por ali.


192

QUADRO 26 Composição da fachada através da proporção geométrica. Efeitos compositivos


através da distribuição das janelas e portas na fachada. Exemplo de relação entre planta e fachada
(Casa Rustici, Milão, Itália, 1935 – Terragni).
193

Relação com o solo – pisos térreos

O piso térreo faz parte da chamada “esfera pública”254, que tem um significado maior

do que somente espaço público: inclui as fachadas dos edifícios e tudo que pode ser visto

ao nível dos olhos. Assim, o andar térreo é parte crucial à cidade ao nível dos olhos, uma vez

que os utentes experimentam as cidades no contexto da esfera pública.

Karssenberg et al. (2015, p. 15) denominam este espaço de plinth, que no seu

significado literal quer dizer plinto, ou seja, a base do edifício (a primeira camada da

organização tripartida) – o andar térreo ou, em muitos casos, os dois primeiros andares255,

quer em áreas residenciais ou comerciais, de serviços, culturais e de lazer.

No que concerne áreas com vocação comercial e de serviços256 (geralmente em vias

principais, vias de pedestres, em esquinas, nos pontos de entrada e em áreas centrais de

distritos/bairros), deve-se considerar o piso térreo dos edifícios como uma oportunidade de

estratégias, tanto social, como econômica das cidades.

Isso porque pesquisas mostram257 que, para os próximos anos, mais 30% do setor de

comércio desaparecerá, como consequência de compras feitas via internet. Ainda, outros

fatores contribuem para o declínio desses espaços que se apresentam vagos ou com

discrepância de usos: a equivocada intervenção do governo e dos atores de mercado com

políticas fracas de alocação, fracasso de desenho de arquitetura – a exemplo de shoppings,

complexos multifuncionais para lazer, centro de atenção à saúde e campus –, que, em muitos

casos, são o reflexo do movimento de “desenhar funções internas”258.

Essas tendências requerem uma nova perspectiva, para programar os pisos térreos

com funções diferentes e flexíveis, com usos temporários e provisórios que podem mudar de

254
Esfera pública: termo utilizado por Hans Karssenberg et al., no livro A Cidade ao Nível dos Olhos:
uma lição para os Plinths (2015).
255
Conforme recomenda Piñon (ver item I.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Composição formal dos
edifícios), que os dois primeiros pavimentos (que chama de plataforma) tenham a função de ordenar a
continuidade espacial nesta interface com a rua.
256
Sobre áreas comerciais, ver item I.3.1 – Parcela e Edificado – Usos especiais – Equipamentos
comerciais e serviços locais.
257
Pesquisa apresentadas no livro A Cidade ao Nível dos Olhos: uma lição para os Plinths (2015, p.
17).
258
Desenhar funções internas é o termo utilizado por Karssenberg e Laven no livro A Cidade ao Nível
dos Olhos: uma lição para os Plinths (2015), que significa direcionar a atenção do projeto de arquitetura
mais para o mundo interior e não ao entorno urbano.
194

acordo com novos usos, inclusive inserindo habitação neste andar. Essa estratégia objetiva

conceder mais oportunidades para o mercado imobiliário, buscando consolidar a área ao

longo dos anos e aumentar a durabilidade e o valor global do empreendimento.

Nessa perspectiva, Karssenberg et al. (2015, p. 18) expõem que novas tendências

podem melhorar a qualidade dos pisos térreos, bem como comércio autêntico (ex.:

alimentação, roupa, design e lojas étnicas), a necessidade de bares novos para co-working,

funções criativas temporárias e lojas pop-up. Em qualquer caso, uma boa estratégia de pisos

térreos terá que abraçar uma grande variedade de funções, inclusive funções sociais e

habitação no andar térreo.

Nessa lógica, é necessário perceber que “bons pisos térreos”259 devem ser compostos

por uma mistura de funções sociais, comerciais, de serviços, de lazer e residenciais, este

último, em especial, na busca do viver urbano, onde a relação entre a rua e a casa seja

estabelecida através do piso térreo, seu espaço de transição e seu acesso.

Ainda, contribuem para “bons plints”260, o tamanho e a composição formal dos

edifícios, como a organização vertical e horizontal da fachada onde fica estabelecido,

horizontalmente, o embasamento do edifício261 e, verticalmente, no ritmo de novas unidades

(preferencialmente pequenas)262 e suas aberturas. Estas devem permitir conexões visuais

entre o interior e o exterior, com portas e janelas voltadas para a rua e com frequência de

acessos, oportunizando a relação entre ambientes fechados e abertos263.

Sobre terraços e a relação entre a habitação e a rua, Monteys, 2017, p. 47 e 48, expõe

sobre “los palcos de la calle” e sobre “la terraza: entre la casa y la calle”. Refere-se, quando

259
Bons plinths significam andares térreos com funções variadas e distribuídas a cada 8 – 10m criando
uma esfera pública melhor.
260
Lembrando do conceito de plinths, conforme Karssenberg et al. (2015, p. 15): por fazer parte da
esfera pública, os plinths têm um significado maior do que somente espaço público: incluem as
fachadas dos edifícios e tudo que pode ser visto ao nível dos olhos.
261
Na organização tripartida do edifício, a base é designada também, por vários autores, de: caixa,
plataforma ou embasamento.
262
Escala pequena das unidades possibilitam muitas portas (no mínimo 10 a cada 100 metros). Método
usual do século 19 que, além disso, ainda nos ensina sobre plinths com espaços de varejo transferíveis,
i.é., os espaços se adaptavam facilmente e rapidamente às demandas mutantes da economia e da
sociedade.
263
Sobre áreas térreas e arquitetura de encontros imediatos com prédios, ver item I.1.2 Conexões –
Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias.
195

a casa se transforma em uma varanda contínua que geralmente ocupa toda a largura da

fachada264 e, por vezes, conforma um terraço que se projeta sobre a calçada.

Esses terraços têm a função de articular as massas dos edifícios e atenuar o horizonte

a fim de expressar o espaço de pedestres ao longo do nível do solo. O objetivo é criar uma

forte e contínua vedação para a rua – as paredes do espaço público urbano na escala humana.

Esta escala é, entre outros aspectos, alcançada através das alturas que, em geral,

regulam com o pé-direito do piso térreo (3,5m a 4,5m265), a fim de proporcionar melhores

condições de luz, ventilação e de versatilidade266 de usos. Schaap apud Karssenberg et al.

(2015, p. 104) alertam que a altura do piso térreo deve ser um reflexo do bairro/cidade. Não

é o tamanho absoluto que importa, mas as proporções da edificação e a sua fachada em

relação ao perfil da rua.

Nesse contexto, outras estratégias podem ser utilizadas, em especial nas ruas

comerciais, através de uma sequência de coberturas podendo ser marquises, toldos de lona

ou de metal (não translúcidos) que acentuem a borda superior das janelas e portas do piso

térreo conformando o espaço de pedestres auxiliando na conformação de fachadas ativas e

atrativas.

Ainda, em conjunto com a sucessão de coberturas (marquises e toldos), deve-se

prever o local de fixação, tamanho e materialidade das sinalizações comerciais267, as quais

deverão estar incorporadas à escala do edifício e/ou conjunto de edifícios com design

integrado à fachada.

Dessa forma, pode-se citar Gehl et al. (2006)268, que assim se expressam: “Prédios e

espaços urbanos devem ser vistos e tratados como um ser unificado que respira como um só.

264
O autor destaca que estes terraços são um exercício de alguma ambiguidade. Pode-se dizer que
foram feitos com a intenção de relacionar-se com a rua, bem como no sentido de proteção –
privacidade da unidade habitacional. (MONTEYS, 2017, p. 48).
265
Segundo Gehl (2014, p.22). Karssenberg et al. (2015, p. 35) recomendam 3,5 - 4m (no mínimo) de
pé-direito no andar térreo.
266
Versatilidade entendido como uma qualidade do espaço, neste caso o piso térreo, em proporcionar
facilidade de conversão entre escritório, loja ou habitação.
267 É necessário um instrumento (regulamentação) com diretrizes aplicadas às características de cada

T-zones ou distritos de zoneamento que regule este tema – Sinalizações comerciais. No caso do Brasil,
pode estar contido no Código de Posturas.
268
Gehl (2006) apud Karssenberg (2015, p. 35). Artigo publicado primeiramente em 2006 em Urban
Design International.
196

E os andares térreos, mantendo a tradição e com bons argumentos sensoriais, devem ter um

desenho unicamente detalhado e acolhedor”.

Esse nexo entre edifícios e espaço público urbano – em especial a rua – corresponde

também às áreas residenciais, onde estratégias projetuais, entre o andar térreo da habitação

e o espaço público, são utilizadas a fim de se obter uma combinação entre domínio público

e privado.

Esse ajuste diz respeito, principalmente, à privacidade. Uma estratégia que auxilia na

privacidade das unidades habitacionais que se situam no piso térreo, em especial quando há

presença de janelas, é fazer com que a pavimentação da calçada termine um pouco antes da

fachada, deixando uma estreita faixa livre ao lado da parede – espaço para pequenos jardins

frontais –, e, se for o caso de paredes cegas, pode-se utilizar trepadeiras amenizando a rigidez

da fachada.

Ainda, sobre a cautela com a privacidade nos pisos térreos, em particular para edifícios

residenciais, Coelho (2000, p. 268) recomenda a elevação dos pisos, relativamente às zonas

públicas e comum contíguas de modo a que os peitoris das janelas estejam praticamente ao

nível da cabeça de quem passa no exterior.

Nesse âmbito, do vínculo entre edifício e o espaço público, deve-se ter um cuidado

especial com as janelas. Karssenberg (2015, p. 323) escreve que é um erro usar demasiado

vidro nas janelas do andar térreo porque a transparência esperada é, geralmente, eliminada

por meio de cortinas, em razão da defesa da privacidade.

Alexander (2013 [1977], p. 768) expõe sobre a janela para a rua como a única conexão

entre a vida que está dentro das edificações e a rua e, nesse sentido, cita Franz Kafka (1972,

p. 384):

Aquele que leva uma vida solitária de vez em quando quer se conectar com
outra pessoa ou algum lugar e, de acordo com o clima lá fora, seu humor
pessoal e outros fatores, ele de repente tem vontade de olhar para um braço
qualquer, ao qual poderia se agarrar – e não conseguira resistir por muito
tempo antes de ir para a janela voltada para a rua... (KAFKA apud
ALEXANDER 2013 [1977], p. 768).
197

Essa conexão pode ser aprimorada através do desenho de janelas que configuram

“lugares”269: janelas salientes – uma leve protuberância no perímetro de um ambiente, com

janelas por todo o lado –, com a proposta de bancos e poltronas junto a elas.

São estes detalhes, chamados por Ton Schaap de desenho sofisticado/refinado, que

irão favorecer a satisfação mútua para os residentes e para as pessoas que passam na calçada.

O mesmo autor alerta que os arquitetos devem começar a desenhar do ponto de vista da

rua, não do edifício. “Arquitetos devem desenhar boas entradas e andares térreos com boa

aparência, assim geram-se boas ruas.” (SCHAAP apud KARSSENBERG et al., 2015, p. 104).

Ainda o mesmo autor (2015, p. 321) reitera que o processo de projeto deve ser de

fora para dentro, da rua para a zona de transição e desta para o edifício. É preciso de olhos

para a rua, na medida em que as fachadas ativas e interessantes ativam os usuários urbanos.

“Pense em estar em pé, sentar-se ou engajar-se em atividades ao lado dos edifícios, em olhar

para dentro e para fora, conectando as atividades visualmente”.

Boas entradas e pisos térreos com boa aparência – entradas diretas para a rua270;

permeabilidade visual entre interior e exterior271; ligação entre o pátio interno e a

rua/passagens entre os quarteirões272; espaços de transição273 (tanto em edifícios residenciais,

quanto comerciais); materialidade, entre outros elementos –, significam estabelecer uma

conexão entre edifícios e seus arredores.

Dentre estes recursos (os quais já foram mais desenvolvidos em outros itens), convém

discorrer mais sobre a materialidade. A base do edifício deve estar fortemente entrelaçada

com a terra envolvente, através de caminhos, jardins, cercas-vivas274, terraços, varandas,

269
Janelas que configuram lugares é um termo utilizado por Christopher Alexander (2013 [1977], p.
832) onde explica que lugares junto às janelas não são um mero luxo, e sim uma situação orgânica,
baseada no desejo natural que uma pessoa tem de deixar que as forças que ela sente se expressem à
vontade.
270
Sobre entradas ver item I.4.1 – Acessos – Intervalo/espaço de transição.
271
Contato visual entre exterior e interior ver item I.1.2 Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres
e ciclovias.
272
Passagens entre quarteirões ver item I.3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos quarteirões.
273
Ver item I.4.1 Acessos – Intervalo/espaço de Transição.
274
O uso de árvores, arbustos, cercas-vivas, até certas esculturas, auxiliam na absorção dos ruídos, bem
como a sua difusão pode ser obtida ao evitar superfícies lisas e duras.
198

escadas, entre outros elementos que colaborem para a criação do enraizamento275 e de um

ambiente confortável, e que atuem para a qualificação, tanto da habitação, quanto do espaço

púbico.

Nesse contexto, por se tratar de espaços de transição, a materialidade das superfícies

deve ser de materiais intermediários: mais naturais do que os pisos internos da casa – e ao

mesmo tempo mais artificiais do que a terra ou a grama.

Nesse universo, convém citar os padrões arquitetônicos indicados para as T-Zones de

caráter mais urbanas, segundo Duany Plater-Zyberk e seus colaboradores276: os usos dos

materiais e das cores nas fachadas dos edifícios devem ser combinados tomando o cuidado

para utilizar o mais pesado e escuro abaixo do mais claro; os materiais de acabamentos

exteriores em todas as fachadas devem ser limitados, considerando especificidades dos

locais; as telas de fechamento ou gradis, se utilizados, devem ser construídos de um material

correspondente ao edifício adjacente à fachada.

275
Christopher Alexander (2013 [1977], 785) afirma que a criação de raízes ocorre com as edificações
quando elas são circundadas, ao menos em parte do seu perímetro, por terraços, passeios, escadas,
superfícies com cascalho ou terra, os quais levam os pisos internos a se conectarem com o terreno.
276
Livro: Suburban Nation: The rise of sprawl and the decline of the American dream, 2000.
199

QUADRO 27 Plinths – Esfera Pública. Elementos da fachada de edifícios urbanos. Orientação vertical
e horizontal da fachada. Sucessão de coberturas. Estratégias de privacidade para edifícios residenciais.
Ponto de vista do projeto: da rua para o edifício e do edifício para a rua.
200

I.4.3 Espaço entre edifícios

A situação social atual, com as mudanças dos padrões familiares, o aumento da

população idosa – que tem dez, vinte ou trinta anos para desfrutar após a aposentadoria –, a

situação do local de trabalho que, em razão do desenvolvimento tecnológico277, reduz o seu

tempo de permanência, entre outras transformações das sociedades urbanas, requer um

novo enquadramento físico dos espaços abertos para satisfazer essas novas exigências.

Esses espaços abertos – entre edifícios – podem ser entendidos desde a pequena rua

ou um centro comunitário de uma área residencial até a praça principal de uma cidade. O

objetivo é que se desenvolva uma vasta vida social e recreativa nestes espaços através da

proposição criativa de passatempos e atividades que possibilitem uma utilização ativa por

parte dos usuários.

Em conjuntos habitacionais ou bairros residenciais, segundo Gehl (2017 [1971], p. 51),

os espaços públicos são mais usados quando têm a qualidade requisitada, isto é, que

atendam às necessidades do cotidiano de acordo com o modo de vida de cada comunidade.

Nesse aspecto, o autor aconselha que seja observado e tomado como conceito de projeto a

vida quotidiana – as situações comuns e os espaços em que a vida diária é vivida.

Este conceito é expresso pelo autor por três requisitos: condições desejáveis para

atividades exteriores necessárias; condições desejáveis para atividades opcionais e

recreativas e condições desejáveis para as atividades sociais. Estes requisitos apontam para

um melhor e mais útil enquadramento das atividades quotidianas278.

Complementarmente a essas condições, um bom enquadramento físico para a vida

entre os edifícios e para as atividades comuns é, em todas as circunstâncias, uma qualidade

valiosa que deve ser pré-requisito para o processo de projeto. Desse modo, os elementos de

projeto considerados cruciais para a qualidade dos espaços entre edifícios são: a implantação

das edificações, na medida em que a arquitetura pode dificultar ou facilitar as formas de

contatos desejáveis; o desenho e composição dos espaços abertos de uso comum, em

Jan Gehl (2017 [1971], p. 51) escreve sobre a Vida entre Edifícios – em situações sociais atuais.
277

278
Conforme Estudos da vida da rua em Melboure, demonstrados por Gehl no livro: A vida entre
Edifícios (2017 [1971], p. 11).
201

conformidade com as características e modos de vida dos usuários e os pátios para

estacionamentos a fim de não se conformarem superfícies dominadas pelo automóvel.

Implantações das edificações

Um complexo de edifícios deve possuir um ordenamento na sua implantação, no

sentido de uma unidade na qual as partes e o todo se determinam reciprocamente. Para isso,

é necessário estabelecer associações entre as circulações, espaços livres abertos (espaços

comunitários) e unidades de construção independentes (os edifícios) como uma pequena

cidade conforme expressa-se Van Eyck apud Hertzberger (2015, p. 126): “Faça de cada coisa

um lugar, faça de cada casa e de cada cidade uma porção de lugares, pois uma casa é uma

cidade minúscula e uma cidade é uma casa enorme”.

Nesse sentido, entendendo que cada edificação deve seguir a premissa de que faz

parte de um grupo, de um conjunto de edifícios, para implantação de edificações num sítio,

seja num conjunto habitacional ou num bairro residencial, é recomendada a utilização de um

sistema regulador, uma unidade modular, capaz de responder às exigências do programa e

da estrutura, que organiza tanto os espaços interiores quanto os espaços exteriores abertos,

tanto das partes maiores como das partes menores do projeto.

O uso de um esquema regulador contribuiu, para além de outras variantes, para

alcançar a autenticidade do projeto que, segundo Mahfuz (2009)279, o atributo da

sistematicidade pode ser entendido como o uso de critérios ordenadores perceptíveis

(grelha, faixas paralelas com circulações transversais, sistema pente, etc.) com o objetivo de

garantir: a possibilidade de entendimento do observador, permitir resolver problemas

arquitetônicos com a mesma estrutura formal, e ajudar a reduzir a margem de arbitrariedade

das decisões projetuais, uma vez que favorece a disciplina e a lógica formal.

Este sistema regulador é, comumente, empregado através de uma malha que

contribui para “amarrar”280 as edificações, principalmente em relação às edificações

279
Edson Mahfuz, Sistematicidade, 2009. Artigo publicado em Arquitetura e Urbanismo, 182, São
Paulo, maio/2009.
280
Termo utilizado por Edson Mahfuz ao referir-se que os sistemas ordenadores regulam as relações
entre as partes de um projeto de arquitetura e entre o artefato e seu contexto.
202

existentes no entorno próximo, ordenar as zonas de uso do espaço aberto (zonas

pavimentadas, zonas com sombra vegetal, superfícies plantadas, zonas de estar e caminhos)

e, inclusive, organizar o arranjo dos mobiliários.

O uso de uma malha como um critério ordenador na implantação das edificações, em

especial quando esta se estende à estrutura do edifício e suas dimensões, deve ser cauteloso,

de forma a incorporar os ajustes que se fizerem necessários com o propósito de obterem-se

edifícios e espaços flexíveis e polivalentes, ou seja, com a capacidade de absorver mudanças.

Sobre flexibilidade, Hertzberger (2015, p. 147) alerta para que a arquitetura,

procurando servir a vários usos e abrigar a influência de épocas e situações de mudanças,

não se torne neutra a ponto de perder sua identidade, e seja, sim, uma arquitetura que

ofereça incentivo para que seus usuários a influenciem sempre que possível, não apenas para

reforçar a sua identidade, mas especialmente para realçar e afirmar a identidade de seus

usuários.

O autor fala também sobre a polivalência e afirma que uma forma que se preste a

diversos usos, sem que ela própria tenha que sofrer mudanças, de maneira que uma

flexibilidade mínima possa produzir uma solução ótima, é o que a arquitetura do século XXI

deve almejar (HERTZBERGER, 2015, p. 147).

Na esfera da habitação, o autor destaca que é necessária uma diversidade de espaço

em que as diversas funções possam ser sublimadas e que se tornem formas arquetípicas, que

tornem as interpretações individuais do padrão de moradia coletiva possíveis em virtude de

sua capacidade de acomodar, absorver e de induzir cada uma das funções e das alternativas

desejadas.

O uso do método das organizações reticulares pode ser qualificado como universal

por duas principais razões: a primeira, porque possibilita que o objeto se estenda

infinitamente, se as circunstâncias do sítio o permitirem; e a segunda, porque a generalidade

como solução espacial lhe confere a possibilidade de servir de base para muitos outros

projetos, aceitando mudanças de escala, material e cultura281.

Sobre a polivalência dos objetos, Mahfuz (2003, p.11) escreve sobre o conceito de universalidade e
281

explica que é a condição de que algo seja reconhecido por si mesmo e que possa servir para outros
propósitos sem perder sua qualidade intrínseca. Objetos dotados de universalidade adquirem uma
qualidade de permanência que permite que atravessem os tempos com dignidade e utilidade.
203

QUADRO 28 Configuração reticular. Cento e oitenta e quatro unidades habitacionais. (Kasbah –


Hengelo, Holanda ,1973).
204

Retornando ao modo de implantar um conjunto de edificações, e fazendo uso das

palavras de Alexander (2013 [1977], p. 471), “o grau em que uma edificação é dividida em

partes visíveis afeta as relações humanas que ocorrem entre seus usuários. Assim, uma

edificação deve, por razões psicológicas, ser subdividida – ela deve ser tratada como um

complexo de edificações”.

Para esse fim, deve-se traduzir o programa de necessidades em um conjunto de

edificações cujas partes manifestem os fatos sociais da situação, formando uma coletânea de

pequenas edificações conectadas por arcadas, passeios, passarelas, jardins de uso comum e

muros.

No que se refere a esta conexão, volta-se ao sistema regulador que, somado aos eixos

compositivos – geralmente oriundos das características do lugar –; aos eixos de circulação282

– que devem estar numa sequência hierarquizada a cada nível espacial –; e à tipologia e

composição formal dos edifícios283 – com seus vários modos de se articularem –, auxiliam na

organização do sítio.

Em relação ao complexo de edificações, como já descrito no item I.4.2 – Tipo e forma

dos edifícios – Composição formal do edifício, sua vantagem, em comparação às edificações

isoladas que geram espaços residuais, a fragmentação psicossocial da sociedade e, em

muitos casos, a desintegração do tecido urbano, é a possibilidade de envolvimento das

pessoas que ali moram e/ou trabalham, através dessa conexão entre os edifícios (em geral

espaços de circulações e transições) onde as edificações contatam de maneira física.

Exemplos desta malha social efetiva são a maneira como antigamente as edificações

eram conectadas entre si, como mostra Camillo Sitte284, numa pesquisa sobre a implantação

das igrejas na Itália, onde concluiu que, de 255 igrejas, somente seis apresentavam

implantação isolada, e 249 tinham como objetivo a integração com outras edificações.

282
Sobre níveis legíveis de circulação: item I.4.1 – Acessos – Circulações horizontais e verticais.
283
Sobre articulação dos volumes: item I.4.2 Tipo e forma das edificações – Composição formal dos
edifícios.
284
Camillo Sitte apud Alexander (2013 [1977], p. 534) no livro City planning According to Artistic
Priciples (1965).
205

Ainda, se for o caso, em termos de hierarquização285, a edificação principal deve estar

numa posição proeminente, deixando-a mais alta que as demais, e os caminhos tangentes à

parte principal da edificação devem possibilitar uma vista direta para esse equipamento.

Dando sequência às estratégias e métodos de implantação das edificações, é

indispensável referir os espaços externos positivos, que são formados a partir da disposição

dos edifícios no sítio – geralmente conectados uns aos outros – dentro de um complexo.

Alexander (2013 [1977], p. 518-523) demonstra a mais adequada configuração geométrica às

áreas externas, a fim de se obterem “espaços positivos” entre as edificações.

A expressão “espaço positivo”, utilizada pelo autor, relaciona-se a um espaço que

apresenta uma forma distinta e bem definida, tão definida quanto se fosse um recinto interno,

e quando sua forma é tão importante quanto as formas das edificações que o circundam e

exemplifica:

Se olhares para a planta de uma área na qual os espaços externos são


negativos, verá as edificações como figura e os espaços externos como um
fundo. Não há uma imagem invertida – somente uma leitura é possível. Em
outras palavras, é impossível ver o espaço externo como uma figura e as
edificações como um fundo. No entanto, se observares a planta de uma área
na qual os espaços externos são positivos, verás as edificações como figura
e os espaços como fundo – mas, também poderás ver os espaços externos
como figuras e as edificações como fundo. ALEXANDER 2013 [1977], p. 518).

Nesse universo, Gehl (2017 [1971], p. 57) afirma que a estrutura física do complexo de

edifícios reflete e apoia a estrutura social. Este apoio à estrutura social expressa-se através da

disposição dos moradores em torno de agrupamentos de praças ou ruas.

O autor explica que a função principal dos espaços comunitários é propiciar um palco

para a vida entre edifícios, para as atividades diárias não planejadas, tráfego pedonal,

permanências curtas, jogos e simples atividades sociais, a partir das quais uma vida

comunitária suplementar se pode desenvolver, tal como desejado pelos moradores.

Na mesma linha de pensamento, Alexander (2013 [1977], p. 199) afirma que as

pessoas não se sentirão confortáveis em suas casas a menos que um conjunto de moradias

285
Sobre hierarquia como princípio de ordem, Ching (2008 [1998], p. 321) escreve que a articulação
da importância ou do significado de uma forma ou espaço pode ser comunicada através de seu
tamanho, formato ou localização, relativamente a outras formas e espaços da organização.
206

forme um agrupamento, com o solo público entre elas sendo de propriedade comum a todos

os moradores.

O autor explica que a ideia de conjunto de terrenos e moradias imediatamente em

volta da casa própria de cada um é de importância especial. Ele é a fonte de diferenciação

gradual para o uso fundiário da vizinhança e é foco natural da interação do bairro e, nesse

contexto, cita Martin Buber (1969).

O segredo íntimo do ser humano é que ele deseja ser confirmado em sua
vida e existência por seus companheiros e que ele deseja que os
companheiros permitam-no confirmar uns aos outros... não apenas na
família, na convenção partidária ou no bar, mas também ao longo de seus
encontros com os vizinhos, talvez quando ele ou outra pessoa sai pela porta
de casa ou vai à janela e que o cumprimenta por meio do qual eles se
reconhecem seja acompanhado de um olhar simpático, um vislumbre no qual
a curiosidade, a desconfiança e a rotina sejam superadas por uma simpatia
mútua: um permite ao outro a afirmação de sua presença. Isso é o mínimo
de humanidade indispensável. (BUBER apud ALEXANDER 2013 [1977], p.
203).

Dessa forma, recomenda-se, para as novas comunidades – novos conjuntos

habitacionais e bairros residenciais –, a distribuição das moradias de maneira a configurar

conjuntos identificáveis em torno de vias e áreas externas de uso comum. Esta distribuição

deve ser de tal modo que qualquer pessoa possa passar por entre eles sem se sentir uma

invasora.

Além disso, é relevante frisar o cuidado com o final das vias. Deve ser proposta a

possibilidade de uma vista (um ponto focal), seja de uma característica natural, um ponto de

referência, uma deflexão da rua ou um edifício cuidadosamente posicionado, que estimule e

oriente os usuários, com significado, tornando-se um lugar singular.


207

QUADRO 29 Complexo de edificações. Espaços externos positivos (convexos) – malha social efetiva.
Seis grupos de 15 unidades habitacionais. (Tinggarden – Copenhague, Dinamarca,1977 – 79).
208

Ainda, sobre a organização da estrutura física de um complexo residencial, é

necessário incluir a apreciação visual por parte dos usuários, vez que, conforme Carmona et.

al. (2003, p. 170), a apreciação visual dos ambientes urbanos é um produto da percepção e

cognição - ou seja, quais estímulos percebemos, como os percebemos, como processamos,

interpretamos e julgamos as informações coletadas e como elas atraem nossa mente e

emoções.

Essas informações são inseparáveis e significativamente influenciadas pelo modo

como nos sentimos sobre o ambiente. Nesse cenário, é pertinente citar Coelho e Pedro (2013,

p.117) que elencam, entre outros princípios da morfologia urbana pormenorizada, os perfis

transversais que integram edifícios e vias. Segundo os autores, se a rua é demasiada estreita,

os edifícios comprimem-se mutuamente e ao espaço entre eles; mas, quando a rua é

excessivamente larga, ultrapassando os campos visuais criados pelos edifícios, cria-se um

vazio, um espaço desestruturado e, não existindo configurações auxiliares que articulem a

faixa central da rua, o visitante sentir-se-á desamparado, sem indicações direcionais claras e

sem capacidade para avaliar/apreciar a distância a que está dos edifícios.

Nesse contexto, é oportuno citar Carmona (2013), p. 183 que apresenta uma relação

(razão) entre a altura do edifício e a largura deste espaço aberto: a) se as paredes são baixas

em relação à largura da via (1:4), as vistas externas não são suficientemente contidas para

fornecer uma sensação de espaço fechado; b) se a proporção for entre 1:2 ou 1:2,5 os

vislumbres periféricos do céu são iguais à quantidade de campo visual dedicada à parede da

rua, fator este que aumenta a sensação de fechamento; c) se a altura da parede da rua for

igual à largura da rua, a vista do céu fica limitada severamente e fornece uma forte sensação

de fechamento. Este índice, de 1:1, é frequentemente considerado o mínimo para ruas

urbanas confortáveis; d) se a altura dos edifícios exceder a largura do espaço, os topos dos

edifícios não serão mais visíveis sem olhar para cima. Essas taxas reduzem a penetração da

luz no espaço e podem resultar em espaços urbanos claustrofóbicos.

Ainda, sobre os perfis transversais que integram edifícios e vias/espaços abertos, é

essencial citar a comunicabilidade visual – uma importante ferramenta para a possibilidade

de fazer estender, física ou aparentemente, certos espaços sobre os outros.

O suporte da observação e da orientação do usuário é uma das funções urbanas da

via, em especial na relação que é estabelecida com os edifícios e, no caso dos espaços
209

abertos, na relação estabelecida entre edifícios. Dessa forma, o conjunto de edificações pode

estar disposto ao longo da via – no mesmo nível –, como pode estar separado, através de

um desnível, formando elementos da paisagem distintos, porém visíveis.

Nesse cenário, da articulação dos espaços exteriores – entre os edifícios – com suas

partes identificáveis (fluxos, atividades, lazer, praça-mercado e largo), é necessário criar um

Aqui e um Além286. Esta divisão – Aqui e o Além –, segundo Cullen (2015 [1971], p. 43), se

estabelece pela bisseção do ângulo de visão em duas partes sensivelmente iguais.

Essas duas metades – duas partes do espaço projetado –, podem ser pensadas, na

prática, através de algumas estratégias de projeto: o prolongamento do interior para o

exterior por meio da expressão exterior de volumes interiores287; a relação entre público e

privado – através das várias características ligadas a setores do ambiente (características de

cor, caráter, escala, etc.) – ex.: um Aqui público (uma rua) e um Além privado ou semiprivado

(um edifício excepcional);

A apropriação – o espaço ocupável – mediante a cessão do espaço para uso público

e, para os casos de um lugar proeminente dentro do complexo residencial, o Aqui e o Além

pode ser expressado por meio do espaço e infinito, no entendimento que a sensação de

infinito não é normalmente aparente no céu que se vê sobre os telhados. Mas, quando

subitamente se vê céu aonde normalmente seria de esperar que se andasse, isto é, ao nível

do chão, surge então uma situação de choque, e uma sensação de infinito.

Para projetar o Aqui e o Além, é necessário ter conhecimento sobre os sentidos

humanos. Segundo Gehl (2018, p. 108), apesar do desenvolvimento tecnológico e social,

ainda somos animais pedestres com uma altura média de 1,75m de altura e com um campo

de visão predominantemente horizontal, com claras limitações sobre o que podemos ver, a

que distância e em quais ângulos.

O autor também afirma que nossa visão nos permite detectar movimentos humanos

a uma distância de 100m288, mas só podemos interagir socialmente e determinar detalhes a

286
Aqui e Além são conceitos definidos por Cullen (2015 [1971] p. 184 e 185), onde explica a
importância do tratamento e jogo destes dois conceitos espaciais para a boa expressividade urbana.
287
Sobre relação entre interior e exterior ver item I.1.2 Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres
e ciclovias
288
Conforme Gehl (2013, p. 34), podemos reconhecer pessoas como seres humanos em vez de
arbustos ou animais a uma distância de 300 a 500 metros. Com 100 metros de distância, podemos ver
movimentos e linguagem corporal em linhas gerais. A distância de 50 a 70 metros é possível
210

uma distância muito menor. Isso influencia a forma como organizamos nosso entorno – seja

no espaço público, no pátio, num teatro, na sala de aula ou em casa, na mesa de jantar.

Este fato deve ser incorporado no ponto de partida da implantação de um complexo

de edifícios, considerando, de forma genérica, o limite do campo social de visão de 100

metros e, outro limiar significativo, o de 25 metros, quando podemos começar a decodificar

emoções e expressões faciais, sendo estas duas distâncias a chave de muitas situações físicas

em que o objeto seja observar pessoas.

Assim, na definição de distâncias entre observador e objeto, deve-se, sempre, levar

em consideração os limites do campo social de visão de tal forma que uma vasta gama de

atividades possa estar à vista de qualquer um que use o espaço.

reconhecer gênero, idade, cor do cabelo e linguagem corporal. A uma distância de 22 a 25 metros,
podemos ler corretamente expressões faciais e emoções dominantes, e é possível trocar mensagens
curtas, mas uma conversa de verdade só é possível quando se está a menos de 7metros um do outro.
211

QUADRO 30 Razão entre a altura do edifício e a largura da rua/espaço aberto. Bisseção do ângulo de
visão em duas partes sensivelmente iguais. Estratégias de visibilidade entre espaços externos e
edifícios. Cones na camada fotorreceptora dos olhos. Aqui e Além. Praça Stroget Copenhague –
espaço angular. Praça del Campo, em Siena – dimensões na escala humana.
212

Nesse enquadramento, da distância entre edifícios e sua relação com o espaço aberto,

é apropriado referir sobre a orientação solar. De acordo com Alexander (2013 [1977], p. 515),

as pessoas usam os espaços externos se eles forem ensolarados e não os utilizam se estiverem

na sombra, exceto em climas áridos.

É sabido que o vento age livremente em paisagens abertas, mas a velocidade do

vento se reduz pela fricção com o terreno e com a paisagem. Ao longo do terreno, a

velocidade do vento é ainda mais reduzida se houver muitas árvores e prédios baixos

agrupados. Essa combinação muitas vezes cria tal fricção e os ventos rápidos e frios são

desviados acima dos prédios, de modo que praticamente não há vento entre eles.

A fricção ao longo do terreno é a chave na minimização do efeito do vento. Um terreno

plano dá ao vento mais campo de ação. Em contraste, a velocidade e efeito de resfriamento

do vento se reduzem dramaticamente, se o terreno for irregular, como no caso de matas ou

cidades com muitas árvores e construções baixas.

Ademais, o vento, bem como a umidade, a temperatura, a topografia, a vegetação e

até mesmo a neblina, afetam outro fator considerável para o desenho da implantação das

edificações, o som. Segundo Romero (2001, p. 61), estas condições climáticas podem

influenciar enormemente na propagação do ruído ou na sua absorção.

Nesse âmbito, alguns cuidados podem ser tomados a fim de minimizar a intensidade

do som: o paralelismo da fachada favorece a reflexão dos sons e sua penetração – quando

uma das fachadas é convexa, o som é produzido pela reflexão e o amortecimento é mais

rápido –, os ruídos são refletidos pelas fachadas planas e pelo chão; eles são absorvidos pelas

aberturas dos portais, pelas entradas abertas e são difundidos pela fachada quando convexa,

pelo mobiliário externo dos bares e restaurante e pelos toldos dos comércios.

Delgado (1989) apud Romero (2001, p. 66) escreve que os edifícios dão aos sons

densidade e texturas. Os balcões, por exemplo, fazem que os sons adquiram as seguintes

características: as notas baixas flutuam para cima, e as vozes saltam confortavelmente de um

balcão para outro. Sob as arcadas, os sons usam auréolas para resguardarem-se dos estalos

repentinos. Os balcões podem diminuir o ruído que golpeiam a fachada com mais ou menos

eficácia. Essa qualidade depende do desempenho da superfície total da fachada e da

superfície de abertura livre.


213

Assim, sem pretensão de aprofundar-me neste tópico da análise ambiental e do

planejamento climático em áreas externas, é importante aqui frisar que a permanência das

pessoas nas áreas externas somente acontecerá se houver conforto e se o espaço for

agradável em todos os aspectos.

Por este motivo, deve-se otimizar a disposição dessas áreas, bem como dos percursos

caminháveis para que se tornem ambientes adequados ao desenvolvimento de atividades

opcionais, recreativas e sociais. Além disso, os esforços devem ser feitos à pequena escala,

acautelando a situação através da provisão de quebra-ventos, árvores, sebes e áreas cobertas

precisamente onde forem mais necessárias.

Nesse enquadramento, do detalhe, é relevante referir sobre o pavimento destes

espaços externos e percursos caminháveis, dado que, entre os diversos fatores que

contribuem para a qualidade desses ambientes, sua unificação e coesão, o pavimento é dos

mais importantes.

De acordo com Cullen 2015 [1971], p. 130, o pavimento deve contribuir com seu

próprio caráter e personalidade. Assim, vários materiais, se codificados, podem ser instituídos

contribuindo para um código visual das vias, estabelecendo convenções, comportamentos e

limites através da clareza de funções.


214

QUADRO 31 Articulação dos espaços livres abertos. Lugares externos ensolarados – Conjunto
Cônego Vicente Miguel Marino. Héctor Vigliecca. São Paulo (2004). Fachada Sul – cascata gradual
até o solo e parede reflexiva. Proteção climática (vento e som).
215

Espaço de uso comum

No item anterior, implantação das edificações, vimos que a boa estrutura física de

um conjunto de edifícios – com clareza de ordenamento, adequação à escala humana e

conforto ambiental –, é qualidade vital na conformação de espaços de uso comum e,

consequentemente, contributo decisivo para o êxito da estrutura social da comunidade.

Além desses fatores físicos, esses espaços comunais devem oferecer uma

adequação sociocultural289 das atividades e tipos de espaços propostos, visando à real

apropriação do espaço exterior pelos habitantes da área residencial. Também, é essencial

presumir o número e duração dos acontecimentos individuais.

De acordo com Gehl (2017 [1971], p. 73), a vida nestes espaços – entre os edifícios

– é, potencialmente, um processo autorreforçante. Quando alguém começa a fazer alguma

coisa, há uma clara tendência para outros ajudarem, tanto para eles próprios participarem,

bem como para apenas experimentarem o que os outros estão fazendo.

Segundo o autor, desta maneira, os indivíduos e os acontecimentos podem se

influenciar e estimular mutuamente. Assim que o processo se tenha iniciado, a atividade total

é quase sempre maior e mais complexa do que a soma das atividades originalmente

envolvidas que a compõem. Nesse âmbito, Van Klingeren290assim se expressa: “um mais um

é igual a três – pelo menos”.

Nesse contexto, é importante propor, nos espaços exteriores em áreas residenciais,

atividades que tenham maior duração. Dessa forma, incrementando-as, o tempo médio diário

passado no exterior aumentará291.

Para isso, é necessário compreender os diversos grupos socioculturais, etários e

econômicos; as diversas composições familiares; as várias capacidades físicas, mentais e

psicológicas e dos diversos hábitos e desejos dos futuros utentes, bem como da comunidade

onde se insere a nova área residencial.

289
Coelho e Cabrita (2003, p 01) destacam a importância da participação e identificação dos utentes
no processo de arranjo e gestão dos espaços exteriores na fase de planejamento.
290
Van Klingeren apud Gehl (2017 [1971], p. 73), no livro - A vida entre edifícios, apresenta pesquisas
que comprovam a relação positiva entre o nível de atividades das cidades e o processo
autorreforçante.
291
Por ex.: uma atividade que o tempo médio passado no exterior aumente de dez para vinte minutos,
o nível de atividades nessas áreas duplicará.
216

A partir desse entendimento, deve-se caracterizar e equipar os espaços exteriores

de modo que, além de responderem a diversos anseios e preferências, proporcionem o

exercício de diversas atividades e comportamentos próprios dos usuários. Nesse aspecto,

Coelho e Cabrita (2003, p. 18) sugerem que sejam definidos agrupamentos de conjuntos de

atividades e comportamentos, em espaços fisicamente definidos.

Coelho e Pedro (2013, p. 70), recomendam que esses agrupamentos devem ser

previstos de diversos modos, mais integrados ou mais recatados – ex., uns isolados dos

ruidosos espaços de recreio e desporto, outros proporcionando o prazer de a eles assistir.

Os autores recomendam que esses espaços sejam claramente identificáveis, devendo cada

espaço ser caracterizado pela (s) atividade (s) específica (s) que assegura, facilitando-se a sua

utilização como elemento de ordenamento de arranjo urbano.

O uso dos espaços de recreio, lazer, estar e atividades de tempos livres é

condicionado, quer pela qualidade da sua concepção geral, do seu dimensionamento e da

sua pormenorização e equipamento, quer ainda pela existência, nesses espaços ou próximo

deles, de atividades e equipamentos geradores de convivência natural e de vitalidade urbana.

Esses espaços, conforme Coelho e Pedro (2013, p. 66) podem ser: espaços de jogos

que privilegiem um “leque” amplo de níveis etários e grupos sociais; espaços para estar com

conforto funcional e ambiental; espaços com equipamentos dirigidos para a motivação da

permanência no exterior e da socialização; espaços que permitam o contato com o solo e a

intervenção dos habitantes – hortas sociais; entre outros.

Relativamente às faixas etárias, é pertinente citar Alexander (2013 [1977], p. 217),

quando afirma que os idosos precisam uns dos outros, mas também necessitam dos jovens,

os quais, por sua vez, têm de estar em contato com os idosos. Essa integração fortifica os

vínculos dos idosos com seus passados pessoais e, a juventude, uma vez presente na sua

idade, favorece a associação dos períodos da vida e não a dissociação de suas vidas –

partindo-as em duas.

Quanto ao posicionamento destes espaços externos, deve ser cuidadosamente

pensado para que os relacionamentos preferenciais aconteçam, como por exemplo: com os

equipamentos coletivos e comunitários servindo um conjunto de residências, com elementos

de encerramento e de delimitação, com as entradas e janelas das residências e com os locais

de tempos livres no interior dos edifícios.


217

Sobre posicionamento, é essencial pensar onde estarão alocadas as várias

atividades que comporão este espaço. Nesse ângulo, é recomendável que cada atividade

esteja intercalada com os pontos de acesso e posicionada na periferia do espaço – formando

“bolsões de atividades”292, projetando-se em direção ao centro do espaço/praça293.

Quanto à área necessária destinada aos espaços externos num conjunto

habitacional, Alexander (2013 [1977], p. 340) esclarece que as áreas têm de ser suficientes

para serem úteis para atender aos jogos infantis e a pequenas reuniões. As áreas de uso

coletivo também devem ser suficientes para que as áreas privadas não dominem

psicologicamente. Para isso, recomenda 25%294 da área do solo para áreas de uso coletivo

que estejam contíguas ou ao menos muito próximas das habitações beneficiadas.

Em suma, e de acordo com Alexander (2013 [1977], p. 338), as áreas externas

coletivas têm duas funções sociais específicas. A primeira delas é que estas áreas permitam

que as pessoas se sintam confortáveis fora de suas edificações e de seus territórios privativos

e, portanto, que elas permitam que as pessoas se sintam conectadas ao sistema social maior

– embora não necessariamente a uma comunidade específica. Em segundo lugar, as áreas

externas coletivas devem agir como local de encontro para as pessoas.

Hertzberger (2015, p. 59), ao evidenciar os bairros residenciais, aconselha dar à rua

interna de um conjunto habitacional, sempre que possível, a qualidade de uma sala de estar,

não só para a interação cotidiana, como também para as ocasiões especiais, de modo que

as atividades comunitárias importantes para a comunidade local possam ser realizadas ali.

Nesse universo, Gehl (2017 [1971] p. 107) apresenta a sala de estar privada do lar

como modelo que pode servir para a integração de atividades em qualquer outra escala. O

autor exemplifica que numa sala de estar, todos os membros da família podem estar

simultaneamente ocupados com diversas atividades, mas as atividades e as pessoas podem,

individualmente, funcionar em conjunto.

292
Bolsões de atividades, expressão utilizada por Alexander (2013 [1977], p. 600) ao referir-se aos
espaços adequados para alocar e distribuir as atividades num espaço externo objetivando construir
um espaço vivo e animado.
293
Esta recomendação é válida tanto para espaços maiores, como uma praça pública, tanto para
espaços externos num conjunto de moradias.
294
Nesta porcentagem (25% no mínimo), as ruas podem ser computadas se forem tratadas como ruas
verdes – rua gramada com algumas pedras de pavimentação sobre a grama –, onde apenas passam
os automóveis que precisem chegar até suas casas.
218

QUADRO 32 Conformação dos espaços externos. Diversidade de espaços de tempos livres – espaço
de jogos, de estar, espaços que permitam a intervenção dos habitantes (jardins e hortas). Brittgarden.
Ralph Erskine. Tibro – Suécia (1960) e Conjunto de moradias LiMa. Hermam Hertzberger. Berlin –
Alemanha (1984 – 1986).
219

Estacionamento

Ainda, relativamente aos espaços de uso comum, entre os edifícios, é necessário

planejar a integração do tráfego do automóvel e seus locais de estacionamentos, uma vez

que, em aproximadamente todas as circunstâncias, o tráfego para e a partir das casas ser a

mais abrangente de todas as atividades exteriores em áreas residenciais.

Como já escrito, no item I.2.1 – Conexões – Rede viária, sobre vias locais de tráfego

lento e Shared Space295, neste item volta-se a enfatizar a importância desse princípio –

Woonerf – princípio Holandês que teve seu início nas cidades dos Países Baixos onde as áreas

locais foram desenhadas ou remodeladas para um tráfego lento do automóvel.

Nas áreas Woonerf, permite-se que os automóveis se dirijam mesmo até às portas da

frente das casas, mas as ruas são claramente desenhadas como áreas pedonais, nas quais os

carros são forçados a circular em baixa velocidade entre as áreas estabelecidas para estar e

brincar. De acordo com Gehl (2017 [1971] p. 111), os carros são hóspedes no domínio dos

peões.

Para implementar o princípio holandês – Woonerf –, com ruas multifuncionais para o

tráfego de automóveis lentos, bem como para tráfego ciclável e pedonal, é importante que

sejam empreendidos esforços no sentido de integrar o tráfego e as atividades relacionadas

com permanência no exterior.

Assim, para os que estão no trânsito, para as crianças a brincar e para os que estão

envolvidos em atividades à volta das casas, uma política de integração do tráfego consentirá

que diferentes atividades se apoiem e se estimulem umas às outras através de um desenho

pormenorizado que indique claramente o seu status como áreas predominantemente de

“modos suaves”296.

Nesse sentido, o caráter desta via local297 depende do atendimento de vários fatores,

alguns já mencionados no item I.1.2 – Conexões – Rede viária; no entanto, enfatiza-se aqui a

295
Ver nota de rodapé n. 34 - Shared Space é um conceito de Hans Monderman (1982) inspirado nas
Woonerf (ruas vivas).
296
Termo utilizado por Gehl (2017 [1971], p. 112) aos espaços externos onde o tráfego consiste em
peões ou em carros deslocando-se a baixa velocidade.
297
Vias locais ou Ruas de Bairro – ver conceito e parâmetros de dimensionamento – nota de rodapé
n. 28 e 32.
220

pavimentação da superfície. Conforme Alexander (2013 [1977] p. 268), uma via local, que

apenas dá acesso às edificações, precisa de umas poucas pedras para os pneus dos

automóveis298, nada mais. A maior parte da rua pode ser coberta com vegetação.

Dessa forma, a área de estacionamento é apenas a necessária para seus moradores,

isto é, cada unidade de habitação possui sua respectiva área de estacionamento contíguo ao

edifício, o que proporciona uma vigilância natural, a partir das casas/apartamentos. Já as

vagas para visitantes e para trabalhadores do local têm de estar em pequenos

estacionamentos compartilhados nas extremidades das ruas, evitando o fluxo constante nesta

via local299.

O estacionamento contíguo, em T-zones T2, T3 e T4300, preferencialmente deve estar

posicionado na frente da propriedade e recomenda-se, segundo Birbeck e Kruckowski (2018,

p. 15), que seja prevista pelo menos uma quantidade igual alocada para jardim frontal e

paisagismo, evitando, desta forma, a dominação do veículo na paisagem.

Para o caso das T-zones T4, T5 e T6 – com caráter mais urbano –, é aconselhável que

o estacionamento esteja localizado atrás dos edifícios. De acordo com as diretrizes do Novo

Urbanismo301, os estacionamentos localizados entre os edifícios e a calçada, nas áreas centrais

urbanas, tornam a caminhada desagradável em razão das interrupções causadas pela entrada

e saída de veículos.

Essa descontinuidade no fluxo de pedestres reduz, além da caminhabilidade, a

vibração da área, o que é altamente prejudicial às áreas de comércio e serviços que estão

localizadas nos pisos térreos dos edifícios. Para resolver esse impasse, recomenda-se que os

acessos sejam feitos por uma rua lateral e os estacionamentos – de fundos – se conectem

com os edifícios vizinhos.

298
Os pisos externos podem ser compostos com juntas largas (2 a 3 centímetros entre as lajotas) de
modo que a grama, o musgo e as pequenas flores possam crescer entre as lajotas.
299
Conforma Coelho e Pedro (2013, p.146), citando John Noble e Barbara Adams (1968), para
densidades normais, considera-se um número de estacionamentos igual ao número de unidades
habitacionais, mais cerca de metade desse número para estacionamentos destinados, nomeadamente,
e em partes iguais, a pessoas com dificuldade de locomoção a pé e a visitantes.
300
Ver sobre T-zones no item I.2.1 – Morfologia/Tecido Urbano – T-zones e Smart Code.
301
Enabling better places: users guide to zoning reform (2018, p. 22) – Guia elaborado pelo Congresso
do Novo Urbanismo em conjunto com órgão de planejamento de Michigam destinado às orientações
para a alterações nos códigos visando a condições urbanas vibrantes e habitáveis.
221

A recomendação de posicionar pequenos estacionamentos nas extremidades das ruas

– para as T-zones T2, T3 e T4, tem o objetivo de tornar as vias locais, de acesso às edificações

– fechadas ao trânsito de passagem –, tão agradáveis que tendem naturalmente a atrair o

movimento de pessoas e animais. Neste espaço, é possível mesclar a vegetação com árvores

frutíferas e flores, o que tornará a rua mais bela, proporcionando aos usuários a conexão com

o chão – sentirem o solo sob seus pés.

Ainda, relativamente aos estacionamentos, em especial de superfície em áreas de uso

comum, é essencial, sempre, levar em conta que um automóvel é muito maior que uma

pessoa. Assim, estacionamentos, adequados para os automóveis, têm características

completamente inadequadas para os seres humanos.

De acordo com Alexander (2013 [1977] p. 505), é difícil definir exatamente a partir de

quantas vagas um estacionamento se torna grande demais. O autor apresenta o resultado de

algumas pesquisas, sugerindo que os estacionamentos para quatro automóveis ainda

mantêm um caráter essencialmente apropriado para o pedestre e seres humanos;

estacionamentos com seis vagas são aceitáveis; mas qualquer área de estacionamento com

oito302 veículos já é claramente identificado como um “território dominado pelo automóvel”.

Portanto, para conjuntos habitacionais ou bairros residenciais, a orientação é que se

proponham estacionamentos pequenos para, no máximo, cinco ou sete automóveis, cada

um circundado por muros, floreiras elevadas, cercas vivas, cercas de madeira, taludes de

árvores, de maneira que do lado de fora os veículos fiquem praticamente invisíveis303.

Dependendo do porte da área residencial, vários pequenos estacionamentos podem ser

previstos, desde que estejam distribuídos a pelo menos 30 metros de distância um dos

outros.

Outra possibilidade, especialmente para T-zones T4, T5 e T6, são as garagens

coletivas, em geral subterrâneas, as quais têm um menor impacto no desenho dos espaços

exteriores de uso comum. Nesse caso, os cuidados devem ser voltados aos acessos exteriores

302
Alexander (2013 [1977] p. 505) cita G. Miller (1956), “The Mágic Number Seven, Plus or Minus Two:
Some limits on Our Capacity for Processing Information”, relaciona este fator perceptivo com o número
sete. Uma coletânea de, no máximo, cinco ou sete objetos pode ser percebida como uma única coisa,
e os objetos desse conjunto podem ser vistos como individuais. Já um conjunto maior do que cinco
ou sete objetos é visto como “muitas coisas”.
303
Estacionamentos camuflados – Expressão utilizada por Christopher Alexander (2013 [1977], p. 477)
quando demonstra estratégias para construir barreiras visuais (anteparos) às áreas de estacionamentos.
222

e das portas de entrada/saída, no que diz respeito às dimensões, às inclinações das rampas,

entre outros itens que devem atender aos códigos específicos de cada lugar.

Nesse enquadramento, das áreas destinadas aos estacionamentos em conjuntos

habitacionais e/ou bairros residenciais, torna-se pertinente precaver-se, em primeiro lugar,

da localização destas áreas residenciais, como já citado no item I.1.1 – Localização –

Habitação ao longo dos eixos de transporte, onde é explicada a relação entre habitação e

eixos de transporte público – Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável

(DOTS)304.

Nesse universo, para os locais atendidos pelo transporte público e que priorizem o

pedestre, as vagas de estacionamento para moradores não são necessariamente previstas.

Conforme Farr (2013, p. 132), a prática comum de vender unidades de habitação com vagas

de estacionamento privativas resulta em um excesso de área de estacionamento, bem como

aumenta o custo das habitações e estimula a compra do automóvel com a vaga de

estacionamento “gratuita” que o proprietário da moradia comprou.

Conforme relatam documentos do Congresso do Novo Urbanismo305, nos últimos

anos, os municípios começaram a aceitar que os mínimos de estacionamento não eram uma

ferramenta eficaz, nem na previsão precisa das necessidades de estacionamento nem na

produção bem-sucedida de ótimos lugares.

Dessa forma, os municípios devem concentrar-se mais em onde esse estacionamento

está localizado, e não na quantidade de estacionamento existente. Assim, a “habitação livre

de automóveis”306 – uma estratégia do urbanismo sustentável – é uma ação visível para

reduzir o custo das habitações e aumentar a densidade urbana, e promover o deslocamento

a pé, o uso de bicicletas e do transporte público.

Para isso, é preciso coordenação e integração entre a implantação de um

empreendimento, as normas municipais que o orientam, e o interesse de bancos e

empreendedores de promover projetos livres de automóveis. Ainda, o empreendimento

304
DOTS – É uma estratégia de planejamento urbano que busca integrar o uso e a ocupação do solo
e a infraestrutura de transporte público (eixos e estações) incorporado à Lei dos Planos Diretores
Municipais, a fim de estabelecer ações, em diferentes escalas, a serem realizadas no entorno de eixos
e estações de transporte. Ver mais conceitos nota de rodapé n. 13 e 75.
305
Enabling better places: users guide to zoning reform (2018, p. 22) – Parking.
306
Habitação livre de automóveis: Termo utilizado por Farr (2013, p. 132) ao referir-se à prática de
criação de edificações residenciais que não oferecem estacionamento particular.
223

pode ser desenvolvido juntamente com o automóvel compartilhado – que substitui de cinco

a oito automóveis particulares –, fornecido pelo empreendedor.

Nesse âmbito, além dos critérios de implantação (localização da área, existência de

eixos de transporte público, rede de equipamentos para pedestres e ciclistas e a presença

de um bairro completo), são necessárias políticas públicas que regulamentem as vagas de

estacionamento particulares, os estacionamentos na rua, na frente do empreendimento, bem

como da venda de vagas separadamente.

No contexto da “habitação livre de automóveis”, é pertinente citar que a cidade de

Porto Alegre – Rio Grande do Sul, em novembro de 2019, eliminou a obrigatoriedade de

vagas de estacionamento em novas construções, tanto para áreas residenciais, quanto para

áreas de usos especiais, como auditórios, teatros e cinemas307.

Essa iniciativa teve como finalidade tornar os bairros e a cidade mais humanizada, bem

como qualificar a vida urbana através da liberação dos pisos térreos para usos comerciais e

serviços, ao invés de vagas de estacionamentos. A iniciativa viabiliza, ainda,

empreendimentos em áreas centrais que, até então, não conseguiam atender o número

mínimo de vagas exigidas, sendo empurrados para terrenos maiores em áreas distantes308.

Do mesmo modo, na cidade de São Paulo, em março de 2019, a lei de Uso e Ocupação

do Solo passou a vigorar na sua essência, após um período de três anos de transição, e já não

prevê o número mínimo de vagas de estacionamento, antes exigido. Ainda, para as áreas bem

servidas de infraestrutura de transporte, além de não haver exigência de número mínimo de vagas,

a legislação urbana vai além: há um número máximo de uma vaga por unidade habitacional, para

que a área de estacionamento não entre na conta de quanto é possível construir naquele

terreno309.

307
O Plano Diretor exigia, por exemplo, uma vaga para cada 75 metros quadrados de área residencial, ou
uma vaga para cada quatro lugares em auditórios, teatros ou cinemas. Esta regra trazia consequências
negativas para o urbanismo da cidade. Um efeito de primeira ordem era que usuários e moradores que
usavam outros meios de transporte eram obrigados a pagar pelo valor da entrada do seu carro – o espaço
para guardá-lo – encarecendo o acesso à moradia.
308
Texto Fim da obrigatoriedade de vagas de estacionamento torna Porto Alegre mais humana.
11/11/2019 – Jornal Zero Hora – POA, por Anthony Ling - Arquiteto e Urbanista.
309
Texto Novos edifícios em São Paulo terão menos vagas de estacionamento. 23/03/2019. Jornal
Estadão – SP. Por Hannah Arcuschin Machado - Arquiteta e Urbanista
224

QUADRO 33 Integração do tráfego e das atividades nas áreas externas. Espaço compartilhado entre
automóveis e pessoas, com prioridade ao pedestre. Estratégias para estacionamentos pequenos e
camuflados. Parque das Nações, Lisboa. Plano de Pormenor da autoria dos Arquitetos Duarte Cabral
de Melo e Maria Manuel Godinho de Almeida, 1998.
225

O Plano Diretor de São Paulo implementou a prática da precificação310 do estacionamento,

o que permite construir mais vagas; no entanto, essas vagas passam a entrar junto no cômputo

das áreas comerciais ou residenciais do empreendimento.

Partindo do pressuposto que todo percurso de carro começa e termina em uma vaga de

estacionamento, quanto maior a oferta e mais acessíveis e de valor irrisório as vagas forem, maior o

incentivo ao transporte por carro. E quanto maior a quantidade de carros circulando, maiores os

impactos negativos compartilhados com toda a sociedade. Esses impactos são de ordem tanto

econômica, quanto social e ambiental, tais como: congestionamentos, poluição atmosférica e

mortes no trânsito.

Esta política pública, das vagas de estacionamentos, é essencial na busca da construção

de bairros e cidades mais sustentáveis, tanto quanto melhorar calçadas e ampliar a rede de

ciclovias e de transporte público coletivo.

Nesse sentido, na última década, várias estratégias, em inúmeras cidades do mundo – com

diferentes contextos –, como Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, implementaram políticas que

objetivam fornecer uma quantidade adequada de espaços para carros, promovendo

comunidades passíveis de andar a pé e incentivando o uso de modos de transporte alternativos.311

310
Precificação: esta prática é uma tendência mundial que é conhecida como “desvinculação do
estacionamento” – unbundled parking –, que significa deixar de diluir os custos do estacionamento em
outros bens e serviços ou na própria construção, o que leva a uma menor demanda por vagas e, em última
análise, pelo próprio uso do automóvel.
311
Parking Best Practices: A Review of zoning regulations and policies in select US and international cities (2011).
Apresenta práticas recomendadas para estacionamentos nas cidades de: New York, NY; Boston, MA; Chicago,
IL; Milwaukee, WI; Minneapolis, MN; Philadelphia, PA; Portland, OR; Diego, CA; San Franscisco, CA; Seattle,
WA; Washington, DC e London, UK.
226

I.5 Princípios e elementos essenciais de projeto para a promoção da qualidade urbanística e

arquitetônica do espaço em áreas residenciais

Essa primeira parte da tese teve, como objetivo, identificar os princípios e os elementos

essenciais de projeto para a promoção da qualidade do espaço em áreas residenciais – objetivo

geral da presente tese –, através de uma pesquisa da base teórica.

Esta pesquisa de base teórica consistiu numa síntese das ideias dos autores estudados

(considerados essenciais ao tema), com o propósito de, através da arquitetura residencial –

bairros e conjuntos habitacionais –, construir comunidades alicerçadas em princípios de

sustentabilidade física, social e econômica.

A partir desta síntese das ideias dos autores, foi construída uma sequência de

orientações de projeto, apresentadas por meio de textos e ilustrações, que percorreram as

quatro escalas do planejamento: da cidade, do bairro, do quarteirão e do edifício.

Estas orientações de projeto seguiram a ordem estabelecida na Tabela 01, a qual

desmembrou-se em Tabela 02, 03, 04 e 05, que expõem os princípios, indicadores e

elementos de projeto, respectivamente às escalas da cidade, bairro, quarteirão e edifício.

Com base nesta organização e com o propósito de desenvolver a análise e avaliação

do Estudo de Caso, foi conformada uma grelha de análise, organizada por meio de

indicadores, que se desmultiplicam em elementos de projeto. A Tabela 06 é denominada

Grelha de análise: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício.

Com base nesta grelha analítica, na Parte II da tese, desenvolve-se e apresenta-se a

análise e avaliação de um Estudo de Caso exemplar, com a finalidade de validar a relação

dos princípios, indicadores, critérios e elementos essenciais de projeto, construídos a partir

da síntese das ideias dos autores estudados, eficazes para a promoção da qualidade

urbanística e arquitetônica dos espaços em áreas residenciais.


227

Tabela 06: Grelha de análise: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício.

Fonte: Elaborado pela autora.


228

Parte II
Análise e avaliação do Estudo de Caso: Bairro Urbitá, Brasília
Bulevar Montmartre, Paris (1897).
Camille Pissarro
229

II Análise e avaliação do Estudo de Caso: Bairro Urbitá, Brasília

Sobre o Bairro Urbitá

O projeto do Bairro Urbitá – Brasília – DF possui uma área de 658,70 hectares, estima-

se uma população de 118.607 habitantes322, e sua previsão de implantação é de 30 anos. O

sítio escolhido para a implantação do novo bairro corresponde a uma parcela de terra – da

antiga Fazenda Paranoazinho323 – localizada na Região Administrativa de Sobradinho e

Grande Colorado, Distrito Federal, distanciando-se cerca de dez quilômetros do Plano Piloto.

Segundo Ricardo Birmann324 – Diretor-Presidente da UP – o conceito do novo bairro

– Urbitá – será voltado à experiência do pedestre, à promoção da miscigenação de usos,

classes e funções. Será provedor de serviços, emprego, comércio e renda, através da criação

de uma nova centralidade, catalisando o desenvolvimento econômico, constituindo mais

autonomia325 em relação ao Plano Piloto de Brasília.

Cabe, aqui, uma breve interpelação sobre Brasília, de indiscutível importância

histórica – elogiada em diversas de suas soluções urbanísticas e arquitetônicas e seu desenho

global, de forte imageabilidade; e criticada pela sua desconsideração pela escala humana,

pela sua pouca eficiência na utilização do solo, encarecendo a infraestrutura e os serviços e

diminuindo a mobilidade e acessibilidade.

De acordo com Del Rio (1990), o Plano Piloto (1956) é reconhecidamente rígido na

distribuição compartimentada de funções e atividades326, reproduzindo uma estrutura em

árvore (tão criticada por Alexander (1965)). Em busca de sua utopia nacional-

desenvolvimentista, a ótica de Lúcio Costa privilegiou o formalismo como síntese.

322
Conforme Plano de Urbanização (PDU, 2018).
323
A área privada total da antiga Fazenda Paranoazinho possui 1.600 ha, no entanto, o projeto para o
novo bairro Urbitá contempla 658,70 ha.
324
Ricardo Birmann, no texto: Projeto da Nova Cidade (2017) – livro: No Coração do Brasil – Onde o
mar é o céu e o horizonte é infinito (2017).
325
Mais autonomia no tocante à realidade atual dos núcleos urbanos que, além de dependerem, em
grande porcentagem, do Plano Piloto para garantirem seus empregos, não possuem acessibilidade a
um transporte público coletivo de qualidade.
326
A separação dos usos residencial e comercial e a baixa densidade confirmam as limitações do
modelo de Cidade-Jardim e mostram a reinterpretação do conceito de Unidade de Vizinhança e a
reversão da cidade tradicional (Castello, 2008, p.73).
230

Nesse contexto, Del Rio cita Hollanda (1975) e Paviani (1985)327:

Nesta nova cidade, rompendo com as tradições que o urbanista não


considerou dignas de permanecerem reproduzidas, não existe a
possibilidade para ambientes urbanos mais semelhantes ao que a população
espera de vantajoso em uma cidade normal: variedade, flexibilidade,
oportunidades múltiplas, distâncias fáceis para o pedestre, tipologias
arquitetônicas variadas e elementos sócio-culturalmente vitais, como
esquinas, botequins, praças e ruas com usos mistos e animação urbana
(Hollanda e Paviani apud DEL RIO, 1990, p. 41).

Nesse âmbito, e consequência de um planejamento exclusivamente na maior escala,

citando Gehl (2013, p. 197), Brasília é uma catástrofe ao nível dos olhos, a escala que – em

muitos casos – os urbanistas ignoram.

Segundo o autor, os espaços são muito grandes e amorfos, as ruas muito largas, e as

calçadas e passagens, muito longas e retas. As grandes áreas verdes são atravessadas por

caminhos abertos pela passagem das pessoas, mostrando como os habitantes protestam,

com os pés, contra o rígido plano formal da cidade. “Se você não estiver em um avião ou

helicóptero ou carro – e a maioria dos moradores de Brasília não está – não há muito que

comemorar” (GEHL 2013, p 197).

Ainda, Brasília compreende, além do Plano Piloto, outras 29 “cidades satélites” – hoje

denominadas regiões administrativas, onde moram 2,6 milhões de habitantes. Trata-se de

uma cidade com problemas de ocupações irregulares, loteamentos mal concebidos,

especulação imobiliária e transporte público precário, sendo, hoje, uma das vinte cidades

mais desiguais do mundo, segundo as Nações Unidas.

Deste total de habitantes, somente 220 mil moram no Plano Piloto e, em

contrapartida, 70% dos empregos são oferecidos no Plano Piloto, o que obriga milhares de

trabalhadores, que vêm das regiões administrativas, a sofrerem, todos os dias, com esses

deslocamentos.

Após este sucinto comentário sobre Brasília, volta-se ao novo bairro – Urbitá, objeto

de estudo da presente Tese.

327
Textos de análises teóricas sobre a capital do Brasil – Brasília: O Centro Urbano de Brasília
mimeografado (1975) por Frederico de Hollanda e A morfologia da Capital por Hollanda, in Paviani
(1985); Brasília, ideologia e realidade: espaço urbano em questão (1985) por Ricardo Farret; A cidade
modernista: uma crítica de Brasília e sua utopia (1993).
231

A estruturação do Plano de Urbanização Geral é elaborada pela UP (Urbanizadora

Paranoazinho) – uma sociedade privada – fundada em 2008, constituída com o propósito

específico de promover a urbanização e readequação urbana das áreas de sua propriedade

na poligonal da antiga Fazenda Paranoazinho.

O Plano de Urbanização para o bairro Urbitá (PDU, 2018)328, em razão da sua grande

escala – 658,70 ha – e longo prazo de implantação – previsão de 30 anos para ser consolidado

–, está estruturado através de uma concepção geral urbanística (um masterplan) e, dentro de

uma concepção, desdobra-se em projetos urbanísticos menores.

A estruturação deste plano – Plano de Urbanização Geral – elaborado pela UP,

permite, tanto ao empreendedor / proprietário quanto ao poder público, o estabelecimento

de um direcionamento urbanístico integral, norteador de todo o processo de urbanização

subsequente, que ocorrerá em diversas etapas.

Por sua vez, os projetos urbanísticos menores estão, até ao momento, organizados

em etapas – denominadas etapas 1,2,3 e 4, as quais compõem a região Central329 do novo

bairro e dão início à configuração de uma centralidade, mediante a criação de uma área de

múltiplos usos (áreas destinadas ao comércio, serviços e lazer), onde as pessoas possam

morar, trabalhar e se divertir – um dos princípios de projeto do bairro Urbitá.

Nesse sentido, das funções básicas do urbanismo (habitar, trabalhar, estudar, circular

e recrear-se), cabe salientar que, dentre os princípios que nortearam o projeto do Urbitá,

destaca-se a busca pela inversão da lógica, hoje estabelecida, de cidade dormitório nos

arredores do Distrito Federal.

Esse fato deve-se, principalmente, à separação das atividades urbanas e ao uso

predominantemente residencial (casas unifamiliares em lotes isolados) do entorno de Brasília,

onde as atividades existentes não são suficientes para empregar e fixar a sua população ativa,

o que leva a maioria dos moradores a se deslocarem diariamente para o Plano Piloto, para aí

sim, exercer a sua profissão.

328
O Plano de Urbanização (PDU) segue e é compatível com os conceitos, premissas e condicionantes
impostos pelo Plano Diretor de Sobradinho (PDL ,1995), pelo Plano Diretor de Ordenamento Territorial
do Distrito Federal (PDOT, 2009) e pelas Diretrizes Urbanísticas da Região de Sobradinho e Grande
Colorado (DIUR, 2018).
329
O bairro é segmentado em distritos de zoneamento, que ordenam o planejamento urbano, sendo:
Distrito Mangueiras (zona A); Distrito Central (zona Centralidade); Distrito Capão Grande (zona B e D)
e Distrito de áreas remanescentes (livres e ocupadas).
232

Além disso, o fato das Políticas Públicas estarem, após 1945, consolidando os

conceitos da cidade moderna330, voltadas aos programas de incentivo à construção de

rodovias (negligenciando o transporte coletivo), fato gerador de grandes transtornos

relacionados ao transporte (congestionamentos, poluição do ar e sonora), envolvendo a

excessiva dependência do automóvel, dificuldades de opções para o deslocamento de

bicicleta ou a pé, e, acabando por criar verdadeiros obstáculos aos moradores dessas cidades

dormitórios, as quais tornaram-se vítimas dessa expansão monofuncional.

Nessa perspectiva, numa linha oposta à cidade dita moderna, o projeto do Urbitá

prevê a construção majoritária de tipologias de edifícios que resguardem a continuidade

espacial, a relação com a rua, o uso misto – com o objetivo de oferecer moradias, serviços e

empregos, de maneira a reduzir o número de viagens para fora da região. Ainda, o Plano de

Urbanização (PDU) presume distâncias de deslocamentos casa-trabalho de maneira que

possam ser realizados por modais não motorizados.

Além disso, o PDU estabelece uma área de geração de atividades econômicas, em

parte do território a ser ocupado pelo empreendimento, na qual haverá estímulo à geração

de empregos e de renda. Também está prevista uma rede de espaços públicos abertos que

irá aproximar o lazer das outras atividades cotidianas e, consequentemente, garantir a

preservação ambiental, bem como internalizar mais uma atribuição urbana, o entretenimento.

Retomando as etapas do projeto urbanístico, é pertinente, nesta apresentação,

mostrar as áreas que possuem: Etapa 1, com área de 28,26 ha; Etapa 2, com área de 22,99

ha; Etapa 3, com área de 21,72 ha e Etapa 4, com 16,93 ha. As quatro etapas somam uma

área de 89,90 ha. Atualmente, existem projetos definitivos e aprovados331 relativos à Etapa

1, a qual tem previsão de início de implantação para o ano de 2022.

330
Conforme Colin Rowe e Fred Koetter, (in Nesbitt et al., 2013, p. 293), no texto “A teoria urbana
depois do modernismo: contextualismo, Main street e outras ideias”, a Cidade moderna – quando
surge o abandono do urbanismo formal, a aplicação da urbanística operacional e o fascínio pelos
edifícios isolados (privilegiando a construção de objetos) – cria espaços urbanos sem vida e
descaracterizados à escala humana. Conveniente para os automóveis, inverte a proporção entre
espaço “livre” e espaço construído, produzindo resultados desastrosos no nível da rua.
331
O projeto de urbanização da Etapa 1 foi desenvolvido com base no Plano de Urbanização – Urbitá
(PDU), o qual foi elaborado em consonância com o Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT
(Lei Complementar nº 803/2009) e com as Diretrizes Urbanísticas – Região de Sobradinho e Grande
Colorado (DIUR 08/2018). Foi aprovado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e
Habitação do Distrito Federal – Parecer Técnico n°238/2019.
233

Nesse sentido, a análise do bairro se dará – seguindo as escalas desenvolvidas na

grelha de análise, da seguinte forma: para as análises dos critérios e elementos de projeto na

escala da cidade e do bairro serão utilizados os materiais de concepção urbanística geral e,

em seguida – num nível mais detalhado – se fará uma incursão dentro das quatro etapas –

1,2,3 e 4 do bairro Urbitá, onde serão apresentadas as análises referentes às escalas do

quarteirão e do edifício.

Dessa forma, notar-se-á que, dependendo da escala, é apresentada uma análise mais

completa – para elementos estruturais do bairro – e uma análise com menor quantidade de

informações para os demais elementos de projeto que compõem as escalas de análise. Isso

é reflexo do avanço do trabalho da UP, tanto nos estudos de projetos de arquitetura, como

nos planos urbanísticos, no decorrer dos anos, no seguimento das etapas de aprovação e

implantação do bairro.

Assim, na sequência da apresentação e análise do bairro, explorar-se-ão projetos das

diversas assessorias e consultorias fornecidas, tanto na macroescala (cidade e bairro), quanto

na microescala (quarteirão e edifício), que auxiliaram e serviram como referência para a

elaboração do projeto final pela Urbanizadora Paranoazinho – UP.

Dentre estas referências, citam-se: o escritório Skidmore, Owings and Merrill – SOM

(2013), no estabelecimento de princípios orientadores gerais – nas diversas escalas do bairro

– e diretrizes mais específicas voltadas à conectividade com os núcleos urbanos adjacentes e

com o Plano Piloto. O escritório Gehl Architects – Urban Quality Consultants, produziu um

caderno de conceitos para o Urbitá, guiado por cinco princípios para o sucesso da vida nos

espaços públicos e realizou o desenho do masterplan do bairro em 2014.

Cabe aqui salientar que esta concepção urbanística geral (elaborada pelo escritório

de Gehl, em 2014) foi resultado de um trabalho realizado por várias mãos. Em 2013, foi

realizado em Brasília, sob a coordenação da UP, um workshop em conjunto com os

escritórios: Ideia Urbanismo – São Paulo -SP, arquiteto Jorde Wilheim – São Paulo - SP, GEHL

Arquitects e equipe da PPS (Project for Public Spaces). Foi a partir deste workshop que,

posteriormente, David Sim, do escritório Gehl Arquitects, elaborou o material, acima

mencionado, que norteou o masterplan atual, adotado pela UP.

O escritório DPZ (Duany Plater-Zyberk & Company) coordenou duas charretes: a

primeira, em junho de 2017, em Miami, com o foco no início da implantação do


234

empreendimento (Etapa 1), em especial no cruzamento entre a rua Curitiba e rua Sobradinho

e suas conexões. E a segunda, em setembro de 2017, em Brasília, onde a DPZ coordenou

uma Oficina de Concepção Arquitetônica com quatro escritórios contratados pela UP: Ideia

1, de Porto Alegre - RS; Esquadra, de Brasília - DF; Rua, do Rio de janeiro - RJ e Zoom, de

São Paulo - SP – com a finalidade de desenvolver propostas e soluções de projeto de

arquitetura para os edifícios do novo bairro (na escala do quarteirão) que dialogassem com o

urbanismo apresentado332.

O arquiteto paisagista Benedito Abbud elaborou projetos iniciais dos espaços

externos (para as quatro primeiras etapas) de arborização urbana, projeto paisagístico focado

para a praça Paranoazinho, para a rua Curitiba e para os parques que a rua conecta.

332
Sobre os quatro projetos de arquitetura para os edifícios apresentados pelos escritórios brasileiros,
ver item II.4 – Edifício: do público ao privado.
235

Análise e avaliação

Objetiva-se, com a análise e avaliação deste Estudo de Caso, considerado

paradigmático, validar a relação dos princípios, indicadores, critérios e elementos essenciais

de projeto, construídos a partir da síntese das ideias dos autores estudados (Parte I da tese),

eficazes para a promoção da qualidade urbanística e arquitetônica dos espaços em áreas

residenciais.

Tal como já referido anteriormente, a análise do Estudo de Caso transpassa quatro

escalas, que se desdobram num conjunto de indicadores, critérios e elementos de projeto:

parte-se da macroescala (escala da cidade), analisando aspectos relativos à localização e

conexões; depois, numa escala intermediária (a escala do bairro), abordam-se tópicos sobre

a morfologia e o tecido urbano, e (a escala do quarteirão), verificando características das

parcelas e sua relação com o edificado; e, por fim, na microescala (escala do edifício),

analisando itens relativos aos acessos, aos tipos e forma dos edifícios e aos espaços entre os

edifícios.

Este compósito está organizado numa grelha analítica formada por sete indicadores

e vinte e um critérios e elementos de projeto contidos nas quatro escalas: cidade, bairro,

quarteirão e edifício. Esta grelha de análise é convertida, posteriormente, em uma grelha

avaliativa (com a inserção de uma métrica333) – apresentada ao final da análise do Estudo de

Caso.

A grelha analítica – já apresentada na Parte I da tese (Tabela 06) – é, aqui, novamente

exposta, a fim de recapitular os tópicos e suas devidas ordens estabelecidas na análise e na

avaliação: Tabela 06: Grelha de análise: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício.

A grelha avaliativa é apresentada ao final desta Parte II da tese – Síntese da análise e

avaliação –, denominada como Tabela 07: Grelha avaliativa: Escala da cidade, bairro,

quarteirão e edifício.

333
Sobre métrica e seus valores, ver item Introdução – Metodologia – .
236

Tabela 06: Grelha de análise: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício.

Fonte: Elaborado pela autora.


237

II.1 Cidade: integração urbana

II.1.1 Localização

Habitação formando novos bairros

O sítio escolhido para a implantação do novo bairro – Urbitá – corresponde a uma

parcela de terra – da antiga Fazenda Paranoazinho334 – localizada na Região Administrativa

de Sobradinho e Grande Colorado, Distrito Federal. Conta com uma área privada de 658,70

hectares e tem, como principal eixo de conexão com o Plano Piloto e entre bairros, a BR 020

– localizada na sua adjacência335.

No que diz respeito às zonas urbanas do Distrito Federal, a área eleita para a

implantação do novo bairro é enquadrada como Zona Urbana de Expansão e Qualificação, a

qual, conforme o PDOT (2009)336, é aquela composta por áreas propensas à ocupação

urbana, predominantemente habitacional, e que possuem relação direta com áreas já

implantadas.

No contexto da DIUR (2018)337, a parcela delimitada para o novo bairro situa-se na

Zona A – destinada, preferencialmente, ao uso residencial, sendo admitidos usos

institucionais, comércio e serviço e indústria compatível com a escala residencial. É vetado o

uso residencial unifamiliar em lotes isolados.338.

A partir do exposto, fica claro que é uma área apta à instalação de um bairro

residencial, vez que contempla os parâmetros e diretrizes de planejamento urbano

determinados para a Região. Assim sendo, a UP propõe a criação de um novo polo de

334
A área privada total da antiga Fazenda Paranoazinho possui 1.600 ha, no entanto o projeto para o
novo bairro Urbitá contempla 658,70 ha.
335
A área distancia-se cerca de dez quilômetros do centro de Brasília. Ver mais sobre conexões e a
existência de eixos de transporte público no item II 1.2 – Conexões – Transporte público, coletivo,
individual e alternativo.
336
Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT, 2009).
337
Diretrizes Urbanísticas da Região de Sobradinho e Grande Colorado (DIUR, 2018).
338
Sobre diretrizes de uso e ocupação do solo, em especial do zoneamento, ver item II 2.1 – Morfologia
/ Tecido Urbano – Distrito de zoneamento.
238

crescimento inteligente – um bairro compacto, completo e conectado – que assegure a

sustentabilidade, a identidade e a independência339.

Para isso, o Plano de Uso e Ocupação do Solo (PUOS, 2014), para a área do novo

bairro – Urbitá –, fundamenta-se no desenvolvimento de um bairro ambientalmente

sustentável, de traçado urbano em escala humana, com prevalência do pedestre e do

transporte público, assim como objetiva tornar-se promotor do desenvolvimento regional,

mediante a oferta de emprego, serviço e lazer.

Nesse âmbito, no projeto realizado para o Urbitá, verifica-se que o modelo proposto

vem ao encontro das premissas estabelecidas no PUOS pela UP. Tais ideias têm, na sua

essência, os critérios de desenvolvimento de unidades de vizinhança e bairros urbanos

sustentáveis, incorporando os princípios do New Urbanism, do Smart Growth e da

sustentabilidade. Nesse aspecto, observa-se, no masterplan apresentado340, que há uma

integralidade de elementos de projeto acertadamente propostos, tais como:

• A escolha da localização do novo bairro – adjacente aos núcleos urbanos existentes –

Sobradinho e Sobradinho II –, os quais, sobretudo o bairro Sobradinho, possuem comércios

e serviços variados a uma distância de 400m da área central do Urbitá.

• A criação de uma rede de ruas e diversos espaços públicos abertos341 – hierarquizada –

acessíveis a todos os moradores do futuro bairro, bem como aos moradores dos núcleos

urbanos adjacentes – Sobradinho e Sobradinho II.

• A constituição de calçadas e caminhos de pedestres342 que seguem os preceitos do bairro

caminhável (uma caminhada segura, confortável, proveitosa e interessante).

339
Independência no sentido de possuir serviços e equipamentos do cotidiano reduzindo a
dependência do automóvel individual lembrando, conforme Jacobs (2014 [1960], p. 86), que a falta
de autonomia, tanto econômica quanto social, nos bairros, é natural e necessária, simplesmente
porque eles são integrantes da cidade.
340
A proposta inicial do Projeto Urbanístico para o novo bairro – Urbitá foi elaborada pelo escritório
Gehl Architects – Urban Quality Consultants (2014) e, na sequência, a Urbanizadora Paranoazinho (UP)
vem ajustando / propondo algumas alterações no projeto inicial a fim de adaptar ao contexto do lugar,
inclusive às legislações que necessitam ser cumpridas para a aprovação do projeto na Secretaria do
Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal (SEDUH).
341
Sobre sistema de vias do projeto do bairro Urbitá, ver próximo item II. 1.2 – Conexões – Rede viária
e sobre o sistema de diversos espaços públicos, ver item II. 3.1 – Parcela e Edificado – Usos Especiais
– Espaços públicos abertos.
342
Sobre Calçada, caminhos de pedestres e ciclovias do projeto do bairro Urbitá, ver próximo item II.
1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias.
239

• O desenho de uma rede cicloviária343, a qual objetiva aliviar a sobrecarga dos transportes

públicos, reduzir a dependência do automóvel e contribuir para a qualidade do bairro, da

cidade e do meio ambiente.

•A proposta de um sistema de transporte público coletivo344 vinculado à estrutura do espaço

urbano e à promoção da mobilidade urbana sustentável – que inclua o transporte multimodal

e escolhas de deslocamentos com combustíveis alternativos.

• A organização dos setores (distritos de zoneamento)345 com caráteres distintos e

diversificados – com uma variedade de usos e relações morfológicas combinados à proposta

dos usos especiais nas margens, possibilitando incluir funções comuns compartilhadas.

•A coerência e equilíbrio nas zonas de transição346 entre as características físicas (naturais) do

sítio e as segmentações das zonas do bairro, bem como nas intensidades dos parâmetros

urbanísticos.

• A diversidade do desenho e tamanhos dos quarteirões347, relacionados aos distritos de

zoneamento, favorecendo a promoção da pluralidade de usos.

• A tipologia de quarteirão348 – blocos perimetrais – oportunizando maior interação entre os

edifícios, a calçada e a rua, bem como a construção de fachadas ativas, garantindo um

ambiente mais favorável ao pedestre. E, também, através da tipologia escolhida, a

configuração de pátios internos, oportunizando a implantação de diversas atividades neste

espaço de uso comum.

• A intenção da criação dos Espaços Privativos de Uso Coletivo (EPUC)349 – junto às vias

internas (que cortam o quarteirão) ou junto ao seu perímetro (nos afastamentos) –,

possibilitando a implantação de pequenas pracinhas, na escala da vizinhança.

343
Sobre a rede cicloviária, ver próximo item II. 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e
ciclovias.
344
Sobre sistema de transporte apresentado no projeto do bairro Urbitá, ver próximo item II. 1.2 –
Conexões – Transporte público coletivo, individual e alternativa.
345
Sobre a organização dos setores proposta para o bairro Urbitá, ver item II. 2.1 – Morfologia e Tecido
Urbano – Distrito de zoneamento.
346
Sobre transição entre setores e condicionantes naturais do sítio, ver item II. 2.1 – Morfologia e
Tecido Urbano – T-zones e Smart Code.
347
Sobre o desenho dos quarteirões propostos para o bairro Urbitá, ver item II. 2.1 – Morfologia e
Tecido Urbano – Malha de quarteirões.
348
Sobre a tipologia do quarteirão, ver item II. 3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos
quarteirões.
349
Sobre EPUCs ver item II. 3.1 - Parcelas e Edificado – Configuração dos quarteirões.
240

•A localização estratégica dos quarteirões especiais350, (equipamentos de ensino, pontos de

referência, espaços institucionais e cívicos e espaços públicos abertos) distribuídos nas zonas,

a distâncias ideais para o pedestre e bem conformados ao caráter de cada setor.

• As soluções de arquitetura, referentes aos acessos351 (espaços de transição, intervalos, graus

de acesso, circulações horizontais e verticais), na busca de uma relação ativa entre os espaços

públicos e privados, assim como entre o interior e o exterior.

• A variedade de tipos dos edifícios352 – plurifamiliares (compostos por blocos e torres) de

acessos coletivos e edifícios unifamiliares (barras e blocos) com acesso privado – assim como

a mistura de habitações (desde T0 até T4) no mesmo conjunto, criando uma dinâmica tanto

nos valores dos imóveis, quanto nos tipos de posses futuras (diversidade de níveis de renda).

• A conciliação entre densidades habitacionais353 com uma variedade de tipos de edifícios

(torres, blocos e barras) que ocupam o solo, na busca da não padronização do conjunto e

priorizando composição em detrimento do destaque individual.

•O desenho do piso térreo,354 que busca a maximização da interação dos edifícios com a rua

e com a cidade, através do cuidado da forma como o edifício “toca” o chão.

•A existência de espaços externos positivos (entre os edifícios),355 viabilizando a conexão dos

usuários com os pátios internos ao quarteirão – qualidade essencial em conjuntos

residenciais, a fim de estabelecer a integração entre o ambiente físico e as atividades sociais

entre os moradores.

• A proposição de garagens subterrâneas356, evitando impactos no desenho dos espaços

exteriores de uso comum, combinadas à oferta de estacionamentos de superfícies (em menor

proporção) para os edifícios unifamiliares.

350
Sobre localização dos usos especiais, ver item II. 3.1 – Parcelas e Edificado – Usos especiais.
351
Sobre tipo de sistema de circulação, ver item II. 4.1 – Acessos.
352
Sobre tipos de edifícios propostos para o bairro Urbitá, ver item II. 4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios
– Tipo e organização do edifício.
353
Sobre forma dos edifícios e a relação com a densidade, ver item II. 4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios
– Composição formal dos edifícios.
354
Sobre pisos térreos, ver item II. 4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Relação com o solo – pisos térreos.
355
Sobre externos positivos propostos para os quarteirões do bairro Urbitá, ver item II. 4.3 – Espaço
Entre Edifícios – Implantação das edificações e Espaços de uso comum.
356
Sobre estacionamentos, ver item II. 4.3 – Espaço Entre Edifícios – Estacionamento.
241

Síntese da análise da Localização

De acordo com Rossi (2001 [1960], p. 96), o grande designo da arquitetura é a

habitação. A cidade sempre foi amplamente caracterizada pela residência e, por isso, reporta

estudos da área-residência à teoria geral dos factos urbanos, entendendo que a habitação é

a razão de ser de uma cidade.

Assim, num sítio distante dez quilômetros do Plano Piloto, a habitação formando

novos bairros – objetivo do Urbitá, verifica-se que a UP estabelece premissas que objetivam

idealizar um bairro compacto, completo e conectado – o modelo das cidades “3C” –, usando

a expressão da WRI-Brasil (2018) ou o modelo “5C”, que acrescenta mais dois adjetivos –

cidade criativa e o estímulo ao convívio357. Este modelo (3C e/ou 5C) tem as suas referências

(em especial as físicas) nas Unidades de Vizinhança (1929), as quais são adaptadas às

demandas da contemporaneidade.

Entende-se que a criatividade tem um papel primordial na construção de cidades,

bairros ou comunidades na atualidade. Tem a ver, além da mescla de usos, da variedade de

tipologias e lugares, com iniciativas inovadoras tanto no comércio, no setor empresarial e nas

instituições de ensino, numa oportunidade do encontro e do fluxo de ideias.

Nessa perspectiva, é pertinente citar o sociólogo Richard Sennett (2018), que defende

uma cidade que abrace a diferença, um lugar de membranas porosas358 e convites especiais.

A esse ideal, chama de “cidade aberta”, um lugar com riqueza e complexidade da vida

pública, que, para ele, significa vida urbana – onde reside o germe da criatividade e inovação.

Na mesma linha, cita-se Steven Johnson: “Nas cidades, as pessoas dividem espaços.

Há um fluxo de ideias porque as pessoas estão muito perto umas das outras. E, como há

muita diversidade, as ideias são emprestadas de uma área de especialização para a outra.

Esta diversidade torna a cidade mais criativa” (JOHSON apud revista Cidade Criativa Pedra

Branca, 2019, p. 03).

357
Conceito da cidade “5C” adotado na construção da cidade Pedra Branca – SC – Brasil, ver item I.
1.1 – Localização – Habitação formando novos bairros.
358
Membranas porosas: Espaços de encontro e fricção entre as fronteiras dos bairros.
242

Do mesmo modo, Edward Glaeser (2019)359 comenta que, num bairro para as pessoas,

o convívio e a troca de ideias devem ser abundantes, e as diferentes especializações devem

estar conectadas. “[...] Este é o ambiente propício para o surgimento de novos negócios. É

assim que nasce uma cidade criativa”.

Sobre criatividade e inovação, é pertinente citar o Projeto 22@ – Barcelona (2000),

que é baseado na articulação efetiva entre os atores da quádrupla hélice – universidades,

empresas, governo e sociedade. Hoje, Barcelona e o Projeto 22@ são benchmarks

internacionais de transformação urbana, social e econômica, tendo por base os valores

próprios da Sociedade do Conhecimento, tornando-se um modelo para áreas de inovação e

parques científicos e tecnológicos em todo o mundo.

Este foi o modelo usado por países como a Colômbia e, mais especificamente, a

cidade de Medellin, assim como o estado de Santa Catarina no Brasil e, mais recentemente

a cidade de Porto Alegre, no território do 4º Distrito, também no Brasil. É um modelo que

coloca universidades, governos, empresas e sociedade em articulação plena, em torno de

um pacto pela inovação, desafiando-os a gerar as condições para o desenvolvimento da

cidade e do território, gerando a transformação social e econômica necessária para uma nova

sociedade que responda aos desafios e oportunidades do novo tempo em que vivemos.

Nesse contexto, observa-se que o projeto para o novo bairro – Urbitá possui, como já

mencionado, princípios convenientes que norteiam seu desenvolvimento. No entanto, tem,

como desafio, incorporar, gradativamente, a dimensão econômica, social e tecnológica – que

envolvem a criatividade –, na medida em que o bairro será implementado.

Estes desafios têm a ver com o planejamento e sua governança, numa reinvenção

permanente do bairro, tanto nos aspectos físicos, na geração de empregos e na instalação

de empresas, com implementações de ações inovadoras que reúnam e potencializem energia

física, intelectual e criativa dos seus moradores.

359
Edward Glaeser, 2019, p. 32 – Revista CIDADE CRIATIVA PEDRA BRANCA: melhorar as cidades
para as pessoas. Disponível em: <http://cidadepedrabranca.com.br/>. Acesso em: 14 set. 2019.
243

QUADRO 34 Contextualização geográfica: Distrito Federal (DF), Plano Piloto de Brasília e Fazenda
Paranoazinho (acima). Foto aérea da Área de Estudo – uma porção da Fazenda Paranoazinho, 658,70
ha – (abaixo).
244

II.1.2 Conexões

Rede viária

A conexão à estrutura do entorno, o reforço às linhas existentes e a criação de uma

rede interconectada de ruas e espaços público abertos360 foram os princípios que nortearam

a proposta da rede viária do novo bairro – Urbitá.

Tais princípios têm, como intuito, a integração do novo bairro ao tecido existente,

criando vínculos entre o novo lugar e os lugares circundantes. Esses vínculos dão-se através

de uma hierarquia de vias e espaços públicos que apoiam uma ampla gama de atividades de

seus moradores – novos e existentes –, trabalhadores e visitantes.

Nesse contexto, a escala humana e a compreensão do acesso e do movimento para

dentro e fora do novo local são pontos centrais para tornar a área acessível a todos. Nesse

aspecto, percebe-se a proposição de uma hierarquia das vias com diferentes dimensões e

qualidades associadas ao seu papel.

Essa hierarquia, apresentada para o Urbitá, mediante um sistema viário estruturante,

proporciona mobilidade à população, se caracterizando através da permeabilidade, fluidez e

integração ao conjunto do espaço urbano da região361, bem como ordena a estruturação da

malha urbana subsequente, formada pelas vias locais.

Assim, de acordo com a função social e urbana empregada por cada uma das vias,

quatro tipologias viárias para o sistema estrutural foram estabelecidas: Via de Circulação

Expressa; Via de Circulação; Via de Atividades e Via Parque362. Esta hierarquização

corresponde, no Brasil, às vias arteriais (primárias e secundárias), coletoras e locais363.

360
Sobre o sistema de espaços públicos abertos, ver item II.3.1 – Parcelas e Edificado – Usos especiais.
361
Região aqui entendida como o somatório de distritos e bairros determinados no Macrozoneamento
do Distrito Federal (divisão administrativa). Esta região onde está inserida a área de estudo é
denominada Região Colorado-Sobradinho.
362
Dados retirados do Plano de Urbanização (PDU, 2018) e do Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana
– volume I e II (2018).
363
De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) – Manual de
Projeto Geométrico de Travessias Urbanas (DNIT, 2009), a classificação hierárquica das vias dá-se em
quatro sistemas básicos: sistema arterial principal; sistema arterial secundário; sistema coletor e sistema
local.
245

• Vias de Circulação Expressa (BR 020 e DF 425)364 possuem o caráter de vias principais

(tensores), têm a função de assegurar a extensão entre os bairros – polos –, localizam-se nas

margens do novo bairro;

• Vias de Circulação (avenida Sobradinho, Ushuaia e Quito) têm a função de circulação,

ligações internas e de articulação com os núcleos urbanos adjacentes – Sobradinho e

Sobradinho II;

• Vias de Atividades (avenida Barcelona) têm função, além de ligação, de caracterizar-se como

eixos de comércio, serviço e instituições.

• Vias Parque (avenida Genebra) têm o objetivo de garantir acesso da população às terras

com sensibilidade ambiental e valorizá-las como elemento da paisagem urbana.

364
BR 020 – Nomenclatura para rodovias federais, definida pelo Plano Nacional de Viação do Brasil,
significando: BR – rodovia federal, seguida por três algarismos que indicam a categoria e posição
relativa à capital federal e os limites do País (Norte, Sul, Leste e Oeste). DF 425 – Nomenclatura para
rodovias estaduais – no caso Distrito Federal – DF.
246

QUADRO 35 Relação e conexões da Área de Estudo com o Plano Piloto – Brasília (acima). Área de
Estudo com marcação do sistema viário estruturante proposto para o novo bairro (abaixo).
247

Sobre o caráter das vias

O sistema viário estruturante do Urbitá apresenta uma imagem clara e identificável de

cada uma das quatro tipologias de vias propostas. Estas vias, que possuem propriedades

particulares, em conjunto com a malha de quarteirões365 e a borda de seus edifícios,

constituem uma estrutura de referência que proporcionam um senso de orientação ao

indivíduo que se locomove pelo bairro.

Dessa forma, partindo do sistema viário estruturante mostrado, destacam-se as

avenidas Barcelona e Sobradinho, com forte legibilidade – formadas por múltiplos planos,

como principais potenciais na integração, permeabilidade e coesão do tecido urbano –

elemento que se organiza e se estrutura a partir das vias principais.

Estes planos – elementos definidores do espaço – dizem respeito à relação

estabelecida pelas vias (plano de base horizontal) para com os edifícios (plano vertical –

fachadas366) e o céu (o plano superior – a esfera imaginária sobre a cabeça). Tal nexo é

percebido nos perfis das vias.

A Avenida Barcelona é a espinha dorsal do projeto, uma vez que cruza o maior trecho

do novo bairro, permite a conexão com outros bairros da região, é distinta na sua função –

um eixo de comércio e prestação de serviço –, além de servir de ponto de concentração de

atividades institucionais de diferentes portes.

Conforme o Plano de Urbanização (PDU), as seguintes diretrizes devem ser seguidas

para a avenida Barcelona: Proibidos usos exclusivamente residenciais nos lotes voltados para

a avenida Barcelona; Vedadas unidades residenciais no térreo voltadas para logradouro

público ao longo da avenida Barcelona; Promover fachadas ativas entre os usos comerciais

térreos e o logradouro público; As fachadas ativas voltadas para o logradouro público devem

ter, no mínimo, 70% de permeabilidade visual; Restringir cercamento com altura superior a

1,25 metros.

365
Sobre vias locais e malha de quarteirão – item II.2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Malha de
quarteirões.
366
Sobre a relação das fachadas dos edifícios com a rua ver no próximo item – II.1.2 – Calçadas,
caminhos de pedestres e ciclovias.
248

Estas diretrizes, relativas à relação da rua (pública) com os edifícios (privados), aliam

qualidades indiscutíveis na criação de um bairro mais caminhável367 e tendem, através dos

usos diversificados e das fachadas ativas – relação interior e exterior –, criar vida nas calçadas,

formar lugares de interesse e estimular o deslocamento a pé – na escala humana.

A Avenida Sobradinho, bem como as avenidas Ushuaia e Quito – essas duas últimas

com menor dimensão368 –, conferem a conectividade do Urbitá aos núcleos urbanos

circunvizinhos – Sobradinho e Sobradinho II – e estabelecem ligações com a avenida

Barcelona, articulando internamente a ocupação urbana da região, pela distribuição dos

fluxos nas duas direções – transversal e longitudinal.

Tais avenidas complementam a ligação Norte-Sul, possibilitada pela avenida

Barcelona, conectando o novo bairro às malhas urbanas de Sobradinho e Sobradinho II e

integrando o tecido urbano no sentido Leste-Oeste, função atualmente desempenhada

exclusivamente pela rodovia BR-020 (Via de Circulação Expressa).

Conforme o Plano de Urbanização (PDU), a avenida Sobradinho (via de Circulação)

deve ser caracterizada através de usos e atividades diversas, ainda que em menor intensidade

e de menor porte e abrangência que aqueles propostos para a avenida Barcelona.

Ainda, compõem o sistema viário estruturante do novo bairro as Vias de Circulação

Expressa (BR-020 e DF-425) e as Vias Parque, como segue:

A BR-020 (Via de Circulação Expressa) integra o sistema rodoviário federal, portanto

tem a função de ligar estados e cidades, conurbadas ou separadas por áreas rurais, dentro

do país369. Possui uma geometria de alta velocidade em razão do número e largura das faixas

de rolamento.

No que tange ao trecho em que a BR-020 tem influência no Plano de Urbanização do

Urbitá, o qual fica localizado às margens da rodovia, destaca-se a mobilidade urbana, uma

vez que está prevista, pelas instâncias governamentais, a construção da quarta ponte sobre

o Lago Paranoá – possibilitando a projeção de uma via de ligação a esta ponte –, e o projeto

367
O conceito de “caminhável” encontra-se no item I.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de
pedestres e ciclovias.
368
Conforme o DNIT, as avenidas Ushuaia e Quito classificam-se como vias coletoras – as quais têm a
função de coletar o tráfego das ruas locais e transferi-lo às vias arteriais e vice-versa.
369
BR 020 é uma rodovia federal que dá continuidade à DF 003, sentido nordeste do Distrito Federal
(DF), cujo início se dá na interseção com DF 001. É a principal rota de ligação com o Nordeste do
Brasil, e liga o DF às cidades de Planaltina de Goiás e Formosa.
249

do BRT (Bus Rapid Transit), na BR-020, o qual deverá dar suporte à implantação de um

sistema de transporte coletivo de alto desempenho, integrado a circuitos internos de

transporte local370.

A DF-425 é uma via de característica estruturante responsável pela articulação do

novo bairro às regiões vizinhas, bem como ao tecido urbano contíguo. Atualmente é, em

conjunto com a BR-020, o principal acesso à região.

Sua ampliação e remodelação, proposta pelo PDU, tem como objetivo qualificar estas

conectividades através da proposta de um traçado na escala humana, de maneira a priorizar

o pedestre, o transporte público e os modais não motorizados.

A Avenida Genebra (Via Parque), como o próprio nome já diz, compõe o sistema de

demarcação que contorna as zonas de parques – no caso do bairro Urbitá, delimita o Parque

Linear Urbano promovendo a acessibilidade, tanto ao parque, quanto a outros equipamentos

/ lotes inseridos ou adjacentes ao mesmo.

Estas vias possuem caráter de vias locais, com tráfego mais lento, incentivado por

percursos sinuosos, por uma geometria que privilegie o pedestre e o ciclista e pelo emprego

de medidas moderadoras de tráfego.

Ainda, as Vias Parque configuram um limite visível ao Parque Linear Urbano,

conferindo-lhe papel de destaque na percepção dos moradores, trabalhadores e visitantes

do bairro. Este limite visível é uma expressão / demarcação que contribui na manutenção do

caráter próprio e distinto do parque a fim de singularizar este lugar. Este parque integra uma

rede de diversos espaços públicos abertos – tema mais desenvolvido no item II.2.2 – Parcelas

e Edificado – Usos Especiais.

370
A análise mais aprofundada sobre sistema de transportes está descrita no item II.1.2 – Conexões –
Transporte público, coletivo, individual e alternativo.
250

QUADRO 36 Perfis do sistema viário estruturante conforme Gehl Architects (2014) – acima; e
Urbanizadora Paranoazinho (UP) – abaixo.
251

Sobre a dimensão física das vias

Dando sequência à análise do sistema viário estruturante do novo bairro, identifica-

se, nos perfis apresentados, um conjunto de atributos físicos propostos que colaboram na

caminhabilidade371 do bairro Urbitá. Estas propriedades dizem respeito a dimensões e layout

das vias - calçadas, ciclovias ou ciclofaixas e das faixas de rolagem.

Relativamente ao dimensionamento: Na Via de Circulação Expressa – DF-425, nota-

se uma preocupação, em ambas as propostas372, com a relação de bisseção (50%) entre o

dimensionamento das vias e o dimensionamento de espaços destinados ao pedestre e

ciclista; Na Via de Atividade – Barcelona e na Via Parque, constata-se um cuidado, ainda mais

apurado pelo ateliê UP, no que diz respeito à conceituação da divisão do espaço da via entre

automóveis e pessoas. Os perfis mostram, na ordem – 60% e 64% do espaço destinado para

atividades relativas ao pedestre e ciclista; Na Via Circulação – Sobradinho, percebe-se,

igualmente às demais vias, um desenho que prioriza o pedestre, sendo que na proposta do

ateliê Gehl Architects aparece um percentual maior – 70% do espaço determinado aos

pedestres e ciclistas.

Esta relação mediana ou ainda mais alargada em benefício do pedestre, associada ao

seu papel de movimento, entre espaço destinado aos pedestres e ciclistas e espaços

destinados ao automóvel, acontece pelo ‘programa na escala humana’ que é estabelecido às

vias, uma vez que inclui: canteiro central, ciclovias, paradas de transporte coletivo e

dimensionamento adequado das faixas (faixa livre, faixa de serviço e faixa de transição) que

compõem a calçada.

Outro fator importante de observar é em relação ao tempo de travessia do pedestre.

Conforme Duany et. al. (2010), o tempo de travessia do pedestre é estabelecido,

aproximadamente, em um segundo por metro. Assim, a avenida DF-425 e a avenida

371
Caminhabilidade, segundo Speck (2016), refere-se à reunião de quatro condições principais: a
caminhada proveitosa, segura, confortável e interessante; estas condições desmembram-se numa série
de regras específicas que serão apresentadas no próximo Item II.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos
de pedestres e ciclovias.
372
A proposta inicial do Projeto Urbanístico para o novo bairro – Urbitá foi elaborada pelo escritório
Gehl Architects – Urban Quality Consultants (2014) e, na sequência, a Urbanizadora Paranoazinho (UP)
vem ajustando / propondo algumas alterações no projeto inicial a fim de adaptar ao contexto do lugar,
inclusive às legislações que necessitam ser cumpridas para a aprovação do projeto na Secretaria do
Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal (SEDUH).
252

Barcelona, que possuem duas faixas de rolamento por sentido, são interrompidas pela

proposição de um canteiro central, o qual tem a função de “ilha de refúgio”373, que auxilia

na travessia dos pedestres com maior segurança.

O canteiro central proposto para as duas vias diminui o intervalo de tempo de

travessia de 14 segundos para 6 segundos, aproximando-se da recomendação para vias

locais, que é de 5 a 10 segundos. Esta estratégia proporciona segurança aos pedestres

possibilitando às pessoas se locomoverem com confiança pela via.

Interseções

Sobre vias principais (sistema viário estruturante) do novo bairro e suas ligações com

os demais núcleos urbanos circunvizinhos, o PDU (2018) prevê estratégias de interseções de

vários modelos – objetos de avaliações futuras a serem detalhados à medida que os projetos

urbanísticos das etapas 1, 2, 3 e 4 se desenvolverem.

Esses modelos seguem a ideia do tipo de travessia ao mesmo nível das vias, sempre

que as condições do local permitirem, isto é, evita-se, ao máximo, passarelas elevadas e

passagens subterrâneas. Nesse sentido, utilizar-se-ão semáforos, rotatórias – ilhas circulares

–, canteiros centrais e ilhas elevadas de refúgio de pedestres que, em conjunto com a faixa

de travessia de pedestres, auxiliam tanto na organização do tráfego como na segurança do

pedestre.

Nesse cenário, das vias principais e suas interseções, é pertinente demonstrar as três

ligações (avenida Sobradinho, Ushuaia e Quito) previstas, do novo bairro com os núcleos

Sobradinho e Sobradinho II, por meio de pontes, atendendo a um fator geográfico (elemento

linear que define o limite do novo bairro, a noroeste, determinado pelo curso de água –

córrego Ribeirão Sobradinho – e por uma Área de Preservação Permanente (APP) que o

contorna).

Nesse contexto, da conectividade, destaca-se, na Etapa 1 da implantação do projeto

urbanístico, o cuidado com a ligação da avenida Sobradinho, através de uma ponte, com a

373
Ilha de refúgio: Termo utilizado por Gehl (2014) na descrição da sua proposta para Urbitá. Também
o termo é utilizado no Guia Global de Desenho de Ruas – Estratégias de moderação de tráfego –
(2018, p. 133). Neste guia, é destacado que a medida da área de refúgio deve ser de, no mínimo, 1,8
metros.
253

via comercial existente em Sobradinho (núcleo urbano existente), estimulando o seu fluxo e

ampliando sua dinâmica e caráter de usos e atividades diversas.

Outros dois notáveis pontos de cruzamento são: entre a avenida Barcelona e a BR-

020, onde está previsto um futuro viaduto, e entre a DF-425 e a BR-020, o qual possui

atualmente uma interseção mais complexa – em dois níveis. Estes dois cruzamentos têm o

objetivo de, além de estabelecer os acessos ao Urbitá, ampliar a mobilidade urbana,

conectando o novo bairro ao Plano Piloto e ao setor de Capão Grande – ao Sul do bairro

Urbitá.

Este viaduto servirá como uma estratégia para minimizar o impacto e a barreira que a

rodovia BR-020 impõe. Também – através da sua arquitetura – será um elemento marcante

pela sua predominância espacial, tornando-se um ponto de apoio para a percepção do

acesso ao novo bairro.

Para o cruzamento entre a avenida Barcelona e a BR-020, considerando a implantação

do BRT Norte, prevê-se a implantação de uma estação de integração com o BRT. Para isso,

estuda-se a destinação de um lote específico do empreendimento para a execução da

infraestrutura necessária. Sobre este ponto, ver mais no item II.1.2 – Conexões – Transporte

público, coletivo, individual e alternativo.


254

QUADRO 37 Principais interseções entre o sistema viário do novo bairro e os núcleos urbanos
adjacentes.
255

Sistema viário complementar

Na sequência do sistema viário e sua hierarquia, são propostas, para o novo bairro,

outras três tipologias viárias374: Vias locais, Vias internas e Via compartilhada.

Vias locais

As vias locais correspondem a todas as demais vias que recebem o fluxo do sistema

estruturante e compõem a malha de quarteirões. As vias locais projetadas para o bairro Urbitá

possuem uma geometria de baixa velocidade, o que permite o compartilhamento com os

ciclistas375.

Seu desenho tem o propósito de possibilitar, às pessoas, se locomoverem com

confiança pelas ruas. Com pouca largura, incentivam uma velocidade de projeto376 entre

20Km/h – 40 km/h, o que facilita a travessia do pedestre em curto espaço de tempo.

Ainda, elementos como calçadas bem desenhadas, instalações para bicicletas,

arborização de sombreamento e medidas de moderação de tráfego asseguram que as

pessoas se sintam convidadas a caminhar ou pedalar em direção a destinos locais através

dessas “ruas de bairro377”.

Ruas de bairro são classificadas como: ruas com caráter residencial – espaço onde as

comunidades são criadas, são a porta de entrada dos lares, das escolas e das lojas locais – e

com caráter de ruas principais de bairro – que estão no centro da vida cotidiana, oferecendo

a possibilidade de acesso a pé a destinos como restaurantes, lojas, serviços e paradas de

transporte coletivo.

Equivalente à categorização feita pelo Guia Global de Ruas – que as ruas de bairro

têm caráter residencial e caráter de ruas principais de bairro –, o projeto do Urbitá classifica,

conforme orientações do DNIT, estas vias em locais e coletoras. Cabe aqui salientar que esta

374
Dados retirados do Plano de Urbanização (PDU, 2018) do Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana
– volume I e II (2018) e do Relatório da Oficina de concepção arquitetônica: definições e critérios para
as alamedas internas, 2016.
375
Apesar da geometria de baixa velocidade, todas as ciclofaixas, inclusive das vias locais, estão
desenhadas sobre a calçada.
376
O conceito de “velocidade de projeto” encontra-se no item I.1.2 – Conexões – Rede viária.
377
Ruas de bairro – expressão utilizada no livro: Guia Global de Desenhos de Ruas (2018, p. 232).
256

classificação dada pelo DNIT é focada no fluxo e tráfego motorizado e que não é o foco do

presente estudo.

Quanto aos atributos físicos das vias locais, em especial suas dimensões e layout –

calçadas, ciclovias ou ciclofaixas e das faixas de rolagem –, percebe-se, à semelhança do que

foi já visualizado no sistema viário estruturante, um desenho que privilegia o pedestre e

ciclista; aparecendo 50%378 do espaço da via destinado à caminhada e à pedalada, na

proposta do ateliê Gehl Architects, e 60% na proposta do ateliê UP.

Vias internas

As vias internas projetadas para o novo bairro decorrem do tipo, tamanho e forma de

organização dos quarteirões. A tipologia adotada – de blocos de perímetro379 –, baseada no

arranjo de um conjunto de edifícios lineares à via pública, cria naturalmente a vocação para

a subdivisão dos quarteirões.

Estas divisões serão implementadas por meio da criação de travessias pelo quarteirão

a fim de facilitar a acessibilidade física e visual, podendo aumentar o dinamismo urbano dos

quarteirões e das ruas públicas.

A estratégia adotada pela UP prevê a criação desses espaços de uso público, porém

de dominialidade privada. Essa escolha é, acima de tudo, uma estratégia de manutenção de

flexibilidade no traçado viário e urbano para além da etapa de loteamento380.

A ideia é permitir que a arquitetura de cada quarteirão proponha a criação de

pequenas praças ou alamedas locais, conforme a demanda do mercado e desenvolvimento

do bairro381. Além disso, por serem áreas privadas, esses espaços não serão limitados por

378
Esta porcentagem é ainda maior em determinados trechos da via em razão da grande largura
destinada à faixa de serviço e sua flexibilidade no uso – ora é ocupada por estacionamentos paralelos,
ora destina-se a acomodar mobiliários urbanos, vegetação e paradas de transporte público.
379
Ver conceito de blocos de perímetro ou blocos urbanos no item I. 3.1 – Parcelas e Edificados –
Configuração dos quarteirões e no item II. 3.1 – Parcelas e Edificados – Configurações dos quarteirões.
380
A etapa de loteamento segue regras normativas de desenho urbano (Lei de Parcelamento de Solo
Urbano – Lei 6766/79), a qual estabelece algumas poucas e rasas orientações para a subdivisão de
gleba em lotes (parcelas) unitários e isolados destinados à edificação. A UP prevê a unificação dos
lotes para a conformação de quarteirões através de um conjunto de edifícios – blocos de perímetro ou
blocos urbanos.
381
Sobre espaços de uso público, porém de dominialidade privada, ver conceito de EPUC no item II.
3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos quarteirões.
257

regulamentações relativas aos espaços públicos (tais como exigência de geometria para o

sistema viário, padronização de mobiliário nas praças, etc.), além de poderem ser mais

eficientemente geridos com recursos do proprietário.

Conforme orientações da UP382, as alamedas (vias internas) poderão ser abertas ou

fechadas (ou talvez apenas em certas ocasiões ou horários), de uso público, semipúblico,

privado, exclusivas a pedestres e ciclistas ou com acesso veicular383, além de poder ter

qualquer tipo de traçado, largura, geometria, pavimentação, mobiliário, etc. – o desenho

destas vias ficará a cargo do projeto de cada quarteirão.

Ainda assim, tendo caráter público, isto é, abertas ao fluxo de terceiros não residentes,

estas vias deverão ser pensadas e incorporadas no projeto como ruas, com fachadas ativas,

calçadas, sinalizações, rede de iluminação, mobiliário urbano, etc., a fim de integrarem-se ao

sistema viário do bairro.

382
Manual de Diretrizes Arquitetônicas: um manual de diretrizes locais estabelecidas pela Urbanizadora
Paranoazinho (UP), em elaboração, para o projeto de desenvolvimento urbano do bairro Urbitá. O
regramento contido neste documento é compatível, porém mais detalhado, com o Plano Diretor de
Ordenamento Territorial do Distrito Federal, bem como com as demais legislações referentes à região
onde o novo bairro se localiza. No entanto, possui um caráter privado e pontual para este
empreendimento e não tem valia de lei.
383
Algumas ruas internas serão de caráter público (abertas a veículos externos) e, outras, somente para
moradores e trabalhadores do quarteirão ou autorizados. Isso irá depender da demanda a ser avaliada
ao longo dos anos – em cada etapa de implantação.
258

QUADRO 38 Vias locais – malha de quarteirões conforme Gehl (à esquerda) e UP (à direita). Perfis
do sistema viário complementar conforme Gehl Architects – acima – e Urbanizadora Paranoazinho
(UP) – abaixo. Possibilidades de desenhos de praças e vias internas aos quarteirões.
259

Via compartilhada

Foi selecionada uma rua estratégica, no centro384 do novo bairro, com caráter de via

compartilhada385. Esta seleção foi baseada no contexto do projeto urbanístico, inserida no

centro urbano do bairro com usos mistos – de serviços, comerciais e de entretenimento –, o

que garante a presença significativa de pessoas caminhando e andando de bicicleta – fatores

essenciais para a construção de uma rua compartilhada.

O projeto apoiou-se numa diversidade de estudos de precedentes que serviram como

referências na tomada de decisões dos diversos elementos que o compõem, em especial a

sua geometria e a sua relação com demais espaços públicos abertos386 que possuem ligação

direta para com a rua – como a praça central e os dois parques nas extremidades da rua

Curitiba.

A metodologia utilizada pela equipe da DPZ, em conjunto com a UP, foi de comparar

tecidos urbanos bem-sucedidos com a nova área de estudo – o Urbitá. Esta metodologia

consiste na sobreposição das pegadas do local do estudo sobre as vistas aéreas dos

precedentes aplicáveis, oferecendo informações adicionais sobre a escala e a capacidade

possíveis para o novo projeto e ajudando na identificação dos recursos que podem ser

utilizados como “material de projeto”387 – um material a ser adaptado e transformado –,

definindo-o como um guia do projeto.

Foram eleitos – considerados aplicáveis para o referido estudo – os núcleos densos

do centro da cidade na Itália, Espanha e Dinamarca, com praças públicas de destaque e ruas

comerciais de pedestres: Piazza Delle Erbe, Verona - Itália; Ramblas, Barcelona - Espanha; e

Kopenhagen Stroget, Copenhagen – Dinamarca.

384
Sobre centralidade – ver item II 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento.
385
Sobre conceito de Shared Space, ver item I 1.2 – Conexões – Rede Viária.
386
Ver, sobre rede de espaços públicos abertos: Item II 3.1 – Parcelas e Edificados – Usos especiais.
387
Esta metodologia utilizada pela DPZ baseia-se no envolvimento direto com projetos exemplares.
Nesse sentido, é pertinente citar Mahfuz (2013, p. 06), que ampara este método de projeto e afirma
que o trabalho constante sobre projetos exemplares (de reconhecida qualidade) fornece materiais de
projeto – elementos e critérios de ordenação – que permitem a elaboração posterior dos mesmos
materiais em situações variadas.
260

Desse modo, fundamentado nos estudos referenciais, e considerando premissas e

condicionantes locais, o projeto inicial388 da rua central – chamada de rua Curitiba – dispõe

de um desenho que prioriza os modais não motorizados. Possui pavimentação e mobiliários

diferenciados, onde o tráfego é compartilhado entre motoristas (em baixa velocidade),

ciclistas e pedestres.

Pela sua característica de rua compartilhada – uma maneira concreta e positiva ao

âmbito de rua enquanto espaço público –, é configurada como superfície, onde é possível

transitar sem obstáculos, gerando mais lugares para as pessoas, maior acessibilidade, mais

segurança e menos segregação.

Esta configuração como superfície é uma estratégia para a redução de velocidade,

uma vez que coloca os veículos motorizados no mesmo nível389 – superfície única e contínua

– que os outros modos (mesmo nível de superfície e sob a mesma dinâmica de circulação),

fazendo com que aconteça, automaticamente, a necessidade de negociação do espaço, bem

como diminui o poder de evidência do automóvel.

Com largura de 20 metros, geometria angular390 – inspiração na Piazza Delle Erbe,

Verona –, texturas diferenciadas de pavimento e elementos (mobiliários, bollards, iluminação,

ombrelones, entre outros) que definem e diversificam os deslocamentos das pessoas, a rua

Curitiba provoca a sensação de que os veículos motorizados estão invadindo o espaço e não

o contrário.

Ainda, “[...] este desenho, adaptado da forma da histórica praça do mercado em

Verona, criou um colar de quadrados e uma série de salas pequenas e discretas, 391
” em

ângulos que conformam espaços públicos abertos (como largos392) ao longo da rua,

favorecendo a implantação de atividades diversas que promovam o acesso à vida pública.

388
Ainda será elaborado o projeto final da rua Curitiba pela UP. No entanto, esses conceitos e
princípios serão mantidos. Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP –, realizada
em14 de maio de 2020, Brasília, DF (via G-meet).
389
Não existem pistas, nem tempos de ciclo de semáforo, nem sinalizações. A rua se transforma em
um lugar para estar e não apenas para transitar.
390
Em alguns trechos, este desenho da rua altera o ângulo da parede da rua – plano vertical (fachadas
dos edifícios). Isto também contribui para a moderação de velocidade dos automóveis que
compartilham este espaço.
391
Conforme descrição do memorial da charrete entre ateliê DPZ e UP (2017, p. 38).
392
Esses largos (conforme sua conceituação – ver item I 3.1 – Parcelas e Edificados – Usos especiais –
Espaços públicos abertos) fazem parte da estrutura da rua Curitiba como um elemento morfológico
identificável.
261

Nesse contexto, nestas salas pequenas ao ar livre, intenciona-se a instalação de

elementos, além da vegetação, que proporcionem sombreamento (lonas tensionadas,

pergolados, ombrelones, etc.), conforme o desenho, estrutura e usos estabelecidos dos

edifícios que as contornam.

A ideia é que, da rua Curitiba, se tenha uma imagem clara e identificável como rua

Central, no entanto discreta393. Alguns elementos estão sendo propostos como: vegetação e

tipo de pavimento, associados a locais de maior permanência.

Assim, visando à identidade da rua central – como o coração do bairro (uma área

animada de uso misto, de diversos negócios e comércio, num ambiente residencial) –, o

layout da rua central determina as atividades do lugar, e as atividades refletem o desenho e

arranjo da rua394.

Segundo Ricardo Birmann, desde o início da concepção do projeto, a rua Curitiba foi

baseada em premissas de que os modais têm que compartilhar os espaços. Salienta que as

ruas exclusivas de pedestres, como é o caso da Stroget em Copenhague, e a rua 15 de

Novembro, em Curitiba – citando um exemplo brasileiro, que são um sucesso atualmente,

foram, por um período muito longo, ruas abertas aos carros, com estabelecimentos

comerciais, entretenimento, serviços, etc., até adquirirem a pujança, procura e força

necessária para serem transformadas em ruas de pedestres.

Nesse quadro, Ricardo Birmann dá o exemplo do plano das superquadras de Brasília

– e explica que a ideia inicial para as ruas comerciais entre as quadras (que seriam abastecidas

pelas vias – acessando com os veículos – e que as pessoas consumiriam nesses comércios

pelo interior das superquadras – acessando a pé) nunca funcionou de acordo com o plano de

Lúcio Costa395.

393
“O bom urbanismo deve ser invisível. Então, a rua Curitiba... quanto menos ela “aparecer”, melhor!
Queremos que nada chame a atenção em especial e, sim, um contexto coerente – onde tudo esteja
no seu lugar”. Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – entrevista realizada em 14 de maio de
2020, Brasília, DF (via G-meet).
394
Esta relação entre a rua Curitiba e as atividades – usos e zonas – é apresentada com mais detalhes
no item II 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento.
395
Isso deve-se ao fato de que as pessoas priorizam o acesso às áreas comerciais, por fora (ao longo
da rua) – acessando e estacionando os veículos, uma vez que é mais cômodo, principalmente para
quem vem das outras quadras.
262

QUADRO 39 Sobreposição da área central – rua Curitiba – sobre as imagens dos precedentes
eleitos para servirem de referência. Projeto inicial para a rua Curitiba – planta e perspectivas.
263

Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias

A criação de um bairro caminhável396 está entre as premissas do projeto do bairro

Urbitá. Nesse sentido, verifica-se uma série de qualidades referentes ao desenho das

calçadas e aos caminhos de pedestres que se ajustam às condições necessárias a esta ideia

inicial.

Nesse universo, em relação aos dimensionamentos e configurações desses espaços,

e às propriedades que favorecem a implantação de elementos que viabilizam a segurança e

o conforto, é possível observar medidas adequadas de acordo com a escala e zona onde se

encontram.

Tais medidas permitem desenhos mais detalhados, para as etapas futuras, que

configurem elementos físicos e pontuais, tanto nas faixas de serviço397 – arborização, jardim

de chuva, mobiliários urbanos, sinalizações, etc., como na faixa de transição – com elementos

que se relacionem com o edifício como: colunatas, marquises, toldos, varandas, mobiliários,

entre outros.

Ainda, em relação à segurança, observa-se um cuidado nos desenhos do sistema

viário (ruas e calçadas) do novo bairro, para com as faixas de pedestres nas interseções.

O Plano de Urbanização (PDU, 2018) prevê, em todos os cruzamentos, faixas de

travessias de pedestres, bem como a presença de semáforos398. Estas faixas, com algumas

particularidades – dependendo da localização399 –, serão rebaixadas ao nível da rua e sua

localização será a 3,30m do ponto de concordância da curva das esquinas.

396
Adjetivo “caminhável” – termo utilizado por Speck, 2016, p. 21. Segundo Speck, refere-se à reunião
de quatro condições principais: a caminhada segura, confortável, proveitosa e interessante. Este
conceito aparece mais detalhado no item I 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e
ciclovias.
397
São previstas faixas de serviço com dimensão de 3m, compondo ambos os lados da calcada, à
exceção das vias de circulação expressa. Nesse espaço, pode ocorrer o uso flexível, como vagas de
estacionamento paralelo à via para automóveis, estacionamento de bicicletas, parklets e mobiliário
urbano, elementos de infiltração de drenagem, espaço verde e indicação dos pontos de paradas de
ônibus. Nesta faixa, está previsto, entre o meio-fio e a faixa livre, um espaço de 80cm – para a
passagem de infraestrutura e iluminação pública.
398
O uso de semáforos, proposto para o novo bairro, é uma mudança de matriz dos modos de projetar
o sistema viário, bem como de ordenar o tráfego em Brasília, onde sempre foi visto como um
“problema” para o automóvel.
399
Conforme relatos da UP, esta decisão ainda não é definitiva. Parte das faixas de travessia de
pedestres poderá ser elevada, em especial nos cruzamentos com a rua Curitiba.
264

Esta medida, que não privilegia o pedestre – aumentando seu trajeto –, dá-se em

razão da colocação da faixa de travessia da ciclofaixa em frente à faixa de travessia de

pedestres.

A qualidade das calçadas (que englobam o item de segurança, conforto e qualificação

dos pisos térreos – em especial suas vitrines) também é percebida na busca da redução de

guias rebaixadas, através da estratégia das Ruas A/B. As ruas do empreendimento seguem

uma malha A/B, onde alternam-se ruas tipo “A”, que proporcionam excelente experiência

aos pedestres, com fachadas mais intensas e menor número de interrupções, e ruas do tipo

“B”400, onde são acomodados serviços de “fundos” tais como coleta de lixo, abastecimento

de lojas e rampas de garagem, sendo estes usos vetados nas ruas tipo “A”.

Sobre a caminhada proveitosa e interessante, duas condições que dependem, em

especial, da mescla de usos das atividades que se encontram no trajeto, sobretudo nos

térreos, e da relação do edifício com a rua, verificou-se uma sequência de itens, descritos no

Manual de Diretrizes Arquitetônicas, pertinentes de serem apresentados nesta análise – das

calçadas:

Afastamentos

• Os afastamentos entre os edifícios e a rua devem ser minimizados. O perímetro de

segurança do empreendimento deve ser a própria fachada e não cercas ou muros. Quando

exigidos afastamentos mínimos pela legislação ou normas edilícias, estes devem ser tratados,

no projeto de arquitetura, como extensão da calcada a fim de contribuir para a ativação e

qualificação do espaço público.

• Nas fachadas não residenciais, tal integração deve ser feita no mesmo nível e sem

obstruções e que não possam ser facilmente removidas. Encoraja-se, nesses casos, que tal

área seja utilizada pela loja ou unidade imobiliária adjacente para contribuir com a ativação

e vitalidade da calçada – por exemplo, mediante colocação de bancos, mesas e cadeiras, etc.

• Nas fachadas residenciais não é obrigatória a integração com a calçada em nível, podendo

ser instalados elementos paisagísticos ou de integração com a unidade residencial (inclusive

varandas elevadas e similares).

400
As ruas tipo “B” são as ruas internas entre os quarteirões. Ver item II 1.2 Rede viária – Vias internas.
265

• Não devem ser previstos muros ou cercas em afastamentos ou recuos. Ainda, a solução

arquitetônica deve dificultar a instalação deste tipo de equipamento após a entrega do

edifício. A solução de segurança apresentada deve ser robusta, para que os residentes não

sintam necessidade de um muro no futuro.

Pisos térreos

• Quando permitidos pelas normas edilícias, andares superiores do edifício poderão avançar

sobre recuo existente nos pavimentos inferiores. Nesses casos, deve-se dar grande atenção

ao detalhamento das fachadas térreas, levando-se em consideração a integração do recuo à

calçada, acima determinado.

• No caso de usos não residenciais, deve-se avaliar a forma e posição das colunas de

sustentação em relação às fachadas, garantindo visibilidade a todas as unidades e lojas,

inclusive eventuais letreiros – que devem ser projetados a fim de ter sua visibilidade

averiguada ainda durante a fase de concepção.

• As necessidades de segurança e privacidade não devem ser subestimadas, especialmente

em fachadas residenciais externas, e devem ser endereçadas pela solução arquitetônica. Tal

solução deve, simultaneamente, garantir a visibilidade da rua a partir da unidade imobiliária

e a privacidade e segurança de seus ocupantes. Por exemplo: se a viabilidade comercial de

uma unidade térrea depende da colocação de grade metálica nas suas janelas, é preferível

que tal equipamento seja considerado e desenhado durante o projeto. Ignorar tal

necessidade significa tão somente deixar a solução para o comprador da unidade, que então

adotará a solução que lhe for particularmente mais conveniente, barata, etc.

Fachadas ativas

• São vetadas fachadas cegas ou muros com mais de 10 metros de extensão ao nível do piso

térreo. Consideram-se “fachadas cegas” aquelas onde não há aberturas ou transparências à

altura dos olhos do pedestre – 1,60 m, contados do piso da calçada.


266

• Sobre o contato visual entre exterior e interior, a NGB 022-2016401 determina que as

fachadas dos pavimentos voltados para o espaço público, quando não residenciais, devem

ter pelo menos 50% de sua área composta por aberturas (portas, janelas, vitrines, etc.).

• Em nenhuma das fachadas térreas do empreendimento pode haver trecho com mais de 50

metros sem uma porta de acesso para pedestres.

Percebe-se, nesta diretriz, a tendência de uma horizontalidade para o desenho das

fachadas – sem linhas verticais, com ausência de entradas, o que vem ao desencontro das

recomendações sobre o impacto positivo dos andares térreos na vida urbana. Gehl (2006)

propõe a existência de 10 entradas de pedestres a cada 100 metros de fachada do edifício

para criar vida e variação ao nível dos olhos.

Conforme entrevista com Ricardo Birmann da UP402, essa característica de projeto para

o piso térreo (a horizontalidade) é dominante nos escritórios de arquitetura do Brasil, como

tem percebido nas diversas interfaces já acontecidas quando das oficinas de concepção

arquitetônica para o novo bairro.

Ele cita duas principais causas que motivaram o estabelecimento de 50 metros para

esta diretriz: a primeira é o uso mais comedido da recomendação de Jan Gehl, considerando

uma escala maior e a realidade local e, assim, apoiando-se nas recomendações do Novo

Urbanismo, que trabalham com medidas maiores.

A segunda razão é a dificuldade do enfrentamento a este “padrão”, que se consolidou

no Brasil como produto imobiliário e como cultura arquitetônica. Dessa forma, a UP

intenciona evitar impor um ritmo de fachada vertical muito maior, a fim de preservar-se de

um enfrentamento radical junto aos ateliês de arquitetura que estão trabalhando na

concepção dos edifícios para o Urbitá.

Contrapondo às justificativas da UP, e entendendo que o regulamento mais

importante, particularmente no coração de um bairro – na centralidade –, para a criação de

um ambiente mais vibrante e para o sucesso de áreas comerciais, diz respeito à forma como

o edifício encontra a rua, apresenta-se a seguinte orientação do Congresso do Novo

401
Normas de Edificação, Uso e gabarito relativo à Etapa 1, 2016.
402
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em14 de maio de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
267

Urbanismo403: para edifícios com mais de 30 metros de largura, é recomendável propor uma

entrada de pedestres para cada 20 metros de fachada do edifício ao longo da calçada. (CNU,

2018).

Arborização urbana

Relativamente à arborização urbana, a UP, comprometida com a construção de um

bairro que proporcione qualidade de vida através dos projetos em escala humana e da

ambiência, estuda um projeto de arborização urbana404 para o Urbitá.

O projeto atual (elaborado em 2019) traz consigo uma diretriz inicial – a utilização de

árvores nativas do Brasil, em particular as espécies do Cerrado405. Seguindo essa diretriz,

foram escolhidas espécies que pudessem proporcionar texturas e cores às ruas, e um

sombreamento, como uma cobertura arbórea consistente que, além de contribuir com

inúmeros benefícios ambientais, auxiliassem a caminhada, dando mais conforto ao pedestre

e melhorando a habitabilidade urbana.

Numa fase inicial, o conceito do projeto era de que cada rua e avenida tivesse uma

espécie de árvore como elemento marcador da paisagem: no entanto, no projeto atual (em

construção), consta a ideia de uma possível miscigenação de espécies.

Segundo Ricardo Birmann, este conceito inicial – de dispor ruas com personalidades

diferentes –, não está suprimido, “apenas estamos estudando uma forma de associar esta

ideia – de proporcionar identidade às ruas do bairro – à escolha de espécies do Cerrado que

ofereçam sombra durante a maior parte do ano” (BIRMANN, 2020, s.p.)406.

403
Guia: Habilitando lugares melhores: Guia do Usuário para Reformas de Códigos de Zoneamento
(2018), Michigan.
404
A UP contratou o ateliê Benedito Abbud – Arquitetura paisagística – SP, que realizou duas propostas
de arborização para o Urbitá: a primeira em 2016 e a segunda em 2019.
405
O Cerrado ou Savana Tropical é bioma típico da região Centro-Oeste do Brasil, englobando os
estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Sua vegetação abrange 20% do território
brasileiro, que são, aproximadamente, 203 milhões de hectares, sendo composta por 200 mil
variedades de espécies. Instituto Brasileiro de Florestas. Fonte: https://www.ibflorestas.org.br.
406
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em14 de maio de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
268

Ciclovias

O bairro Urbitá incorpora, no seu projeto, princípios de mobilidade sustentável do

Smart Growth407, que incluem o tráfego de bicicletas através de uma rede cicloviária, a qual

objetiva aliviar a sobrecarga dos transportes públicos, reduzir a dependência do automóvel

e contribuir para a qualidade do bairro, da cidade e do meio ambiente.

Com o prazo de consolidação do bairro estimado em algumas décadas, entende-se

que o novo bairro será habitado e vivido por gerações Z e Alpha (potenciais moradores)408, o

que reforça, ainda mais, a previsão de um projeto integrado de mobilidade urbana, que inclua

a possibilidade de se deslocarem, com segurança, de bicicleta pelo bairro.

Dessa forma, é proposta uma rede cicloviária409 em todo o empreendimento,

abrangendo todas as vias componentes do sistema viário (ver item Rede viária e quadro 36 –

Perfis do sistema viário estruturante). Nesse contexto, são previstos também paraciclos ao

longo do percurso e, principalmente, próximos às estações e terminais dos diferentes modos

de transportes.

Este plano ciclístico está sendo pensado de forma que permita, às bicicletas, o acesso

a todos os endereços do bairro, bem como a sua integração com os sistemas de transportes

coletivos, viabilizando a interligação com os outros bairros e destinos-chave, essenciais para

a comunidade.

A rede cicloviária está projetada junto às calçadas, isto é, faz parte do programa da

calçada, conforme mostram os perfis do sistema viário. O posicionamento da ciclofaixa, no

ponto de vista horizontal, é adjacente à faixa de serviço da calçada e, quanto ao

posicionamento vertical, é no mesmo nível da calçada.

407
Sobre Smart Growt, ver item I. 1.2 – Rede viária.
408
Conforme Jeff Speck, em “A caminhada segura”. Passo 6: Acolher as bicicletas (2016, p. 170)
apresenta estudos que mostram que jovens da geração Y citam a possibilidade de pedalar como um
importante motivador na escolha do lugar onde vão morar e, hoje, quem tem dezessete anos tem um
terço a menos de probabilidade de tirar carteira de motorista do que alguém da geração do pós-
guerra possuía nessa idade. No caso do novo bairro, seus potenciais moradores são da Geração Z
(nascidos entre 1997 – 2010) e Geração Alpha (nascidos a partir de 2010). Fonte: sãopaulo.com.br -
Jovens paulistanos trocam carro por outras opções de transporte, revela pesquisa (2019).
409
O projeto da rede cicloviária é apoiado em legislações existentes no Distrito Federal que asseguram
a política de mobilidade urbana cicloviária de incentivo ao uso da bicicleta.
269

Conforme Ricardo Birmann da UP410, essa escolha se deu, principalmente, por duas

razões: a primeira é a segurança, entendendo que a ciclofaixa posicionada antes da faixa de

serviço da calçada – onde os elementos como as árvores, os postes de iluminação,

estacionamentos paralelos, entre outros, funcionam como um mecanismo de segurança ao

ciclista e, ao criar segurança, incentivam o uso das ciclovias.

Neste contexto, é pertinente acrescentar ainda que, diferentemente dos países mais

desenvolvidos, no Brasil, a cultura ciclística está numa fase inicial e, por isso, a UP tomou o

cuidado para não criar um sistema que, parecendo arriscado ou inseguro, pudesse

desencorajar o uso da bicicleta.

A segunda razão diz respeito à fase inicial de implantação do empreendimento, numa

etapa em que ainda haverá poucas pessoas morando, e a utilização da ciclofaixa será muito

baixa. Nesse cenário, esta faixa – destinada para as bicicletas – servirá como uma ampliação

da calçada, enquanto não existir uma demanda pela circulação de bicicletas.

A geometria da ciclovia escolhida é adequada, uma vez que proporciona um grau de

segurança elevado ao ciclista – pela faixa de amortecimento –, a qual, inclusive, reduz os

riscos de conflito com a abertura de portas de veículos que estão estacionados em paralelo.

Relativamente ao compartilhamento da calçada entre pedestre e ciclista, e à

preocupação com a segurança do pedestre (em relação às bicicletas), está sendo estudado

o acréscimo de uma guia para a divisão destas faixas, conforme pode ser visualizado nos

perfis das avenidas Barcelona e Sobradinho (ver item Rede viária e quadro 36 – Perfis do

sistema viário estruturante).

410
Entrevista com Ricardo Birmann - Diretor-Presidente da UP - realizada em14 de maio de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
270

QUADRO 40 Modelo de faixas de travessia (pedestres e ciclistas) adotado pela UP. Estudos para
faixas de transição em diferentes zonas do Urbitá. Relação do edifício com a calcada – pisos térreos
e interrupção da calçada – Rua tipo B (internas ao quarteirão).
271

Transporte público, coletivo, individual e alternativo

O acesso a um bom sistema de transporte público coletivo, vinculado à estrutura do

espaço urbano e à promoção da mobilidade urbana sustentável – que inclua o transporte

multimodal e escolhas de deslocamentos com combustíveis alternativos –, são diretrizes

primárias que conduziram o projeto de transporte coletivo do bairro Urbitá.

Ainda, dentre as principais características do projeto, destaca-se a busca pelo

enfraquecimento da lógica de cidade dormitório411 existente no Distrito Federal. Nessa

perspectiva, em relação à mobilidade, pretende-se, através do projeto de transporte coletivo

integrado ao uso e ocupação do solo, uma tendência maior de viagens com caráter local e,

consequentemente, uma tendência, em menor intensidade, de deslocamentos pendulares412.

Segundo o Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana (2018, p. 52), a característica

pendular das viagens e as grandes distâncias percorridas tornam o sistema de transporte

coletivo atual do Distrito Federal ineficiente, com grande quantidade de linhas que

demandam manutenção constante e que, fora do horário de pico, se tornam ociosas.

Conforme o Plano de Urbanização (PDU, 2018) do bairro Urbitá, a promoção da

mobilidade urbana busca proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, de

forma segura, socialmente inclusiva e ambientalmente sustentável, por meio da priorização

dos modos não motorizados e coletivos.

Sobre os modos não motorizados – por meio da rede de ciclovias, das calçadas, dos

caminhos de pedestres e dos espaços compartilhados –, o projeto apresenta um conjunto de

princípios e elementos que tencionam proporcionar uma variedade de escolhas de

mobilidade para o novo bairro. Ver item II 1.2 – Conexões – Rede viária e Calçadas, caminhos

de pedestres e ciclovias.

411
Além do Plano Piloto, a cidade de Brasília se expandiu num modelo de ocupação diferente do
projeto inicial de Lúcio Costa. Dentre várias características destas expansões, os usos – com alta
predominância residencial – são, atualmente, um dos principais responsáveis pelo caráter de
“dormitório “que estas áreas têm. Hoje, são, aproximadamente,1.300.000 pessoas que trabalham no
Plano Piloto e apenas 200.000 moram nesta área central. Ricardo Birmann, Diretor-Presidente da UP,
Webinar: O pensar e o fazer das cidades caminháveis no Brasil, 07 de maio de 2020.
412
Deslocamento pendular refere-se ao movimento diário de pessoas entre municípios/distritos
distintos para fins de trabalho e / ou estudo. Em Brasília, isso acontece diariamente entre o Plano Piloto
e seu entorno e vice-versa.
272

Acerca do projeto de linhas de transporte coletivo para o novo bairro, o qual incorpora

as orientações e diretrizes do Smart Growth e do Novo Urbanismo, em especial o DOTS413,

propõe-se um modelo de transporte tronco-alimentador414 com o objetivo de integrar as

diferentes dimensões do planejamento, como o uso do solo, a mobilidade, o meio ambiente,

a habitação e a infraestrutura de transporte público (eixos e estações).

Este modelo415 é formado por corredores estruturantes – linhas troncais –, as quais

têm origem e destinos nos terminais de integração ou nos pontos de controle. Estas linhas416

serão alimentadas por um grupo de linhas alimentadoras e distribuidoras, através da

utilização de veículos de pequena e média capacidade, circulando pelas vias internas da

região417. E, por fim, as linhas circulares e de ligação que transitarão internamente e entre as

regiões administrativas, operando com veículos de pequena capacidade – veículos micro.

Para a BR-020 – linha troncal –, está prevista a implantação de faixas exclusivas para

transporte coletivo – BRT (Bus Rapid Transit)418. Dessa forma, o sistema de transporte coletivo

local do Urbitá será ancorado neste corredor Eixo Norte – BR-020, o qual irá integrar o novo

bairro às áreas consolidadas dos arredores, bem como ao Plano Piloto – Brasília-DF, criando

circuitos de transporte interligados aos polos multifuncionais, terminais e estações.

Ainda, o novo sistema incorpora novos ramais de corredores para os usuários de

Sobradinho e Sobradinho II, oferecendo um deslocamento numa velocidade mais atrativa, a

via de ligação com a 4ª ponte sobre o Lago Paranoá e o terminal intermodal.

413
DOTS (no Brasil) – Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável e TOD (nos EUA)
– Transit-Oriented Development. É um modelo de maior acessibilidade entre habitação e transporte.
Ver mais definições no item I 1.1 – Localização – Habitação ao longo dos eixos de transporte e no item
I 1.2 – Conexões – Transporte público, coletivo, individual e alternativo.
414
Tronco-alimentador: Termo utilizado no documento: Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana –
volume I e II (2018).
415
O modelo tronco-alimentador está fundamentado no Plano Diretor de Transporte Urbano e
Mobilidade do Distrito Federal – PDTU (2011), no Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT
(2009); nas Diretrizes Urbanísticas da Região de Sobradinho e Grande Colorado – DIUR (2018) e no
Plano de Urbanização – Urbitá – PDU (2018).
416
Ver Perfis viários do sistema estruturante – a previsão da faixa para o transporte coletivo.
417
Região administrativa de Sobradinho e Grande Colorado – área de influência direta de 2.000 metros
estabelecida para o Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana, 2018, p.41.
418
Projeto proposto pelas instâncias governamentais, o projeto do BRT (Bus Rapid Transit) consiste
num sistema de transporte coletivo de passageiros entre as cidades de Planaltina, Sobradinho e o
Plano Piloto – corredor Eixo Norte – Brasília-DF.
273

Este terminal servirá, potencialmente, como ponto de conexão e transição entre

diferentes modais de transporte, especificamente, entre aqueles utilizados localmente

(sistemas coletivos de menor capacidade, veículos individuais, bicicletas, etc.) e sistema

expresso (BRT) de ligação com o Plano Piloto de Brasília, pela BR-020.

Considerando que esta estação terá importância fundamental na implantação do

Urbitá, o Estudo de tráfego e mobilidade urbana (2018) sugere que sua localização seja junto

à avenida Barcelona, em interseção com a BR-020, a fim de criar uma conexão direta do novo

bairro com a via de ligação com a quarta ponte sobre o Lago Paranoá, sem interferência na

BR-020, onde se faz necessária, no mínimo, uma interseção em dois níveis419.

Sendo assim, devido às suas características relativas à integração com o BRT e tendo

em vista esta interseção420 entre a avenida Barcelona e a BR-020, como uma porta de entrada

para o novo bairro, é sugerida a destinação de um lote específico421 – a criação de uma área

pública – do novo bairro para a execução da infraestrutura necessária para esta estação que

será construída, futuramente, pelo governo.

Esta proposta de transporte coletivo para o bairro Urbitá foi elaborada com base em

estudos de densidade residencial (unidades de habitação por hectare – UH/ha) e estimativas

de produção e atração de viagens422. No que se refere à densidade residencial, verifica-se,

para o novo bairro, uma densidade bruta423 de 52 UH/ha424, o que, segundo parâmetros

estabelecidos no item I 1.2, significa uma densidade que comporta e sustenta diferentes

linhas e modais.

419
Esta interseção, em dois níveis, que é referida no documento de Estudo de Tráfego e Mobilidade
Urbana (2018), será, possivelmente, um viaduto, que terá, no futuro, seu projeto detalhado. Ver item
II 1.2 – Rede viária – interseções.
420
Nessa interseção, associando aos distritos de zoneamento, é previsto o estabelecimento de um
polo multifuncional, parte de um sistema de centralidades – Conforme DIUR (2018, p. 16), dentre várias
diretrizes urbanísticas, é pretendida a implantação de um Sistema de Centralidades para a Região de
Sobradinho e Grande Colorado. Ver item II 2.1 – Distritos de zoneamento.
421
A área deste lote deverá ser estipulada, através do estudo do BRT, com base na capacidade para
atendimento à população hoje em circulação, juntamente com a estimada para o novo bairro.
422
Estudos realizados estimaram a produção e atração de viagens em cada área do empreendimento,
proporcionalmente a seu uso, porte e características socioeconômicas de sua população, podendo
produzir e/ou atrair viagens.
423
O cálculo da densidade bruta considera, além das características dos lotes privados, as áreas dos
espaços públicos (ruas, praças e parques), áreas de comércio e serviço, áreas institucionais
(equipamentos de ensino, cívicos, de saúde), entre outras.
424
A densidade bruta de 52 UH/ha é calculada considerando 3,47 habitantes por unidade habitacional.
Assim, 118.607 habitantes / 658,70 ha / 3,47 = 51,89 = 52 UH/ha.
274

Esse cenário, de um bairro com densidade relativamente elevada, com diversidade

de linhas e modais, tem como consequência boas rotas entre casa e paradas / pontos de

embarque, com distâncias adequadas à escala do pedestre, entre 400m e 800m, conforme

parâmetros descritos no item I 1.2 Conexões – Transporte público, coletivo, individual e

alternativo.
275

QUADRO 41 Linhas e paradas de transporte público coletivo existente na área de abrangência


(abaixo). Linhas (troncais e alimentadoras) de transporte público coletivo proposta pela UP (acima).
276

Síntese da análise das Conexões

Sobre Rede viária

Sobre o sistema viário estruturante e complementar, identifica-se uma estrutura e

hierarquia de traçado pertinente, bem relacionada com a área envolvente, com caráter e

dimensões apropriadas na conformação de uma rede interconectada de ruas e espaços

públicos abertos, o que qualifica o bairro, cumprindo – neste quesito – com o propósito de

criar um bairro vivo, baseado na escala humana favorável ao pedestre a ao ciclista.

Outra observação positiva é que os eixos de circulação possuem um desenho que se

originou a partir das curvas. Tal estratégia é relevante, uma vez que as vias curvas impelem a

redução da velocidade, enquanto as vias retas estimulam o usuário a aumentar a velocidade.

Nesse quadro, da moderação do tráfego, nota-se um cuidado nos desenhos das vias

com a implementação de estratégias de traffic camling como: semáforos, rotatórias – ilhas

circulares –, canteiros centrais e ilhas elevadas de refúgio de pedestres que, em conjunto com

a faixa de travessia de pedestres, auxiliam tanto na organização do tráfego como na

segurança do pedestre.

Sobre as interseções, que conectam o novo bairro aos demais, verifica-se uma

proposta coerente com a escala e formato dos diversos cruzamentos que são propostos.

Entretanto, não há projetos detalhados que permitam uma análise de elementos menores,

bem como não há, até o momento, desenhos que mostrem como serão os caminhos de

pedestres e as ciclovias que farão parte destes espaços.

Em relação às vias internas, verifica-se uma preocupação e um desenho inicial

referente às travessias de pedestres – tanto no sistema viário (faixas de pedestres), quanto

nas vias internas – entre os edifícios (atravessando o quarteirão). No entanto, ainda não há

definições claras do sistema viário, incluindo trechos dedicados apenas a pedestres, assim

como de uma rede de caminhada conectada – uma rede de pedestres que inclua faixas de

pedestres e alamedas internas – que poderia passar a compor o sistema viário no conjunto

do bairro

Também, não há uma solução definida (tanto no âmbito do desenho da estrutura

física, quanto da gestão, do sistema operacional), no que diz respeito ao acesso condicionado

ao tráfego do automóvel e pedestres nas vias internas aos quarteirões. Provavelmente,


277

deverá ser construído um regulamento específico que defina as condições de acesso para

moradores, visitantes e serviços gerais necessários à área residencial425.

Sobre a rua Curitiba, esta segue um desenho coerente com a construção de um bairro

que busca a conveniência tanto para o tráfego de veículos como para o tráfego de pedestres,

ambos conectados à malha do entorno urbano. O conceito do projeto, de distribuir as lojas

ao longo da via e, ao mesmo tempo, se abrir para uma ou duas vias principais (que cruzam

em ângulo reto), auxilia na mobilidade das pessoas, ao mesmo tempo que as áreas de

estacionamentos (posterior ou subterrâneas) ficam isoladas da rua central.

Sobre Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias

Sobre a criação de um bairro caminhável, com qualidades que assegurem uma

caminhada segura, confortável, interessante e proveitosa, o projeto das calçadas e caminhos

de pedestres do bairro Urbitá revela-se pertinente.

Observou-se um equívoco, no que diz respeito às fachadas ativas, na proposta de um

intervalo de 50 metros entre portas de acesso para o pedestre, descrita no Manual de

Diretrizes Arquitetônicas. Sabe-se que, em especial nas zonas centrais e ruas principais de

bairro, esta medida é considerada exagerada e não contribui para a vibração da calçada e

para o incentivo à caminhabilidade.

Com relação às faixas de travessias, percebe-se um desenho que favorece a segurança

dos pedestres e ciclistas. Todavia, como já mencionado no item II.1.2 – Rede viária – Vias

internas, carece de um estudo de uma rede (de caminhos de pedestres e ciclovias) que

integre as faixas de travessia de pedestres nos cruzamentos com as alamedas internas – que

atravessam os quarteirões.

Sobre a faixa de travessia de pedestres nos cruzamentos, verificou-se que a distância

da faixa de travessia em relação à esquina – de 3,30m – não segue as recomendações, que

são de 1m – 1,5m de distância do alinhamento da pista transversal.

Acerca da arborização, o objetivo primordial da UP é compor uma cobertura arbórea

contínua para o bairro, essencialmente para reduzir a temperatura do ar, considerando o

Sobre estas vias serem abertas, alguns selos de certificação – como é o caso do LEED Neighborhood
425

Development – a exigência é de fruição pública 24 horas por dia em 90% das vias internas aos
quarteirões.
278

clima tropical de Brasília. É importante ressaltar, nesse aspecto, que inúmeros outros ganhos

(ambientais, sociais e econômicos) são consequências desta conexão com o mundo natural,

podendo-se citar, como alguns exemplos, além da redução da temperatura do ar, a melhoria

na passagem dos pedestres, a valorização imobiliária, a melhoria na qualidade do ar, enfim,

resumidamente, potencializa a melhor relação das pessoas com o lugar.

Sobre formas de transporte mais sustentável, o projeto da rede cicloviária –

abrangendo todos os endereços do novo bairro –, a integração entre modais e o design

amigável para pedestres, como visto no item das calçadas e caminhos para o pedestre –

revela-se compatível com os princípios de projeto do novo bairro que, na sua essência,

seguem os princípios do Novo Urbanismo.

Cabe aqui salientar que este projeto da rede cicloviária está desenhado nos perfis

viários e já possui definições importantes. No entanto, ainda faltam desenhos mais

detalhados – que serão desenvolvidos no decorrer das etapas de implantação do bairro – de

um conjunto de componentes desta rede, como: suporte para as bicicletas (racks) e vestiários

próximos aos edifícios não residenciais, paraciclos, estações de compartilhamento de

bicicletas, sinalizações, semáforos para bicicletas, demarcações no piso, etc.

Sobre Transporte público, coletivo, individual e alternativo

Verifica-se que há uma boa integração às políticas de transporte coletivo existentes,

favorecendo a qualificação do sistema como um todo. Nesse sentido, destaca-se o desenho

das linhas de transporte que circundam, em praticamente todo o perímetro do novo bairro,

tornando-o altamente acessível; e as várias possibilidades de circuitos de transporte e

migração modal que o modelo tronco-alimentador proporciona.

Observa-se que, pela compacidade do bairro, atributo que potencializa o aumento

da cobertura espacial, as linhas são curtas, reduzindo os custos e o tempo de espera e de

viagens dos usuários. A propriedade da compacidade contribui também com os modos não

motorizados, propiciando deslocamentos a pé e de bicicleta, patinetes, triciclos, entre outros

modos, em curtas distâncias.

Quanto aos quesitos de sustentabilidade, vê-se o modelo proposto como um

dinamizador da acessibilidade universal, no sentido de disponibilizar variedade de escolhas


279

de transportes públicos coletivos, reduzindo a dependência do automóvel, e a possibilidade

da integração entre os modais, através do incentivo aos modos não motorizados.

Destaca-se que o sistema de transporte público coletivo tem, por si só, seu mérito,

uma vez que transporta quatro ou cinco vezes mais pessoas que um automóvel particular,

reduzindo a emissão de gás carbônico no ambiente e ocupando menos espaço na cidade em

relação à capacidade.

Entretanto, embora o modelo possua qualidades e caminhe na direção dos objetivos

da Organização das Nações Unidas (ONU – Agenda 2030) e da Política Nacional de

Mobilidade Urbana, ainda há uma longa caminhada, não somente no contexto do bairro

Urbitá, mas no território brasileiro como um todo, no alcance da sustentabilidade do

transporte, através do uso de energias renováveis, com combustíveis alternativos, menos

poluentes.

Sobre as vagas preferenciais de estacionamento para veículos de baixa emissão e de

baixo consumo, assim como vagas preferenciais para carros compartilhados, não há previsão

nem no contexto do bairro, nem na escala dos edifícios. Também não foi identificada

nenhuma estação de recarga para veículos elétricos.

Relativamente às paradas / terminais, não há, por ora, previsão de todas as

localizações, nem projetos de arquitetura que permitam sua análise. Conforme entrevista com

Ricardo Birmann, os futuros pontos de parada de ônibus terão particularidades, na sua

localização e configuração, a fim de atender às necessidades e caráter de cada lugar, e serão

elaborados à medida que o empreendimento for sendo implantado – para cada Etapa426 do

Projeto Urbanístico.

Por fim, é pertinente ressaltar que se trata de um cenário com previsão de 30 anos

para sua consolidação, período em que inúmeras transformações conceituais e tecnológicas

poderão acontecer e, certamente, virão a somar a essas premissas iniciais de mobilidade

urbana sustentável para o Urbitá.

Para a Etapa 1, existe um estudo do sistema de transporte coletivo, visando à implantação do


426

empreendimento, o qual liga a via de circulação expressa, a DF-425 com a avenida Sobradinho, e a
DF-425 com a BR-020.
280

II.2 Bairro: conectividade, compacidade e diversidade

II.2.1 Morfologia e Tecido urbano

Distritos de Zoneamento

A criação de uma comunidade diversificada, em nível funcional e formal – com uma

variedade de usos e relações morfológicas –, organizada em setores com caráteres

distintos427, bem como a previsão de um crescimento futuro, foram as premissas basilares de

desenvolvimento do novo bairro – Urbitá.

Para a definição do zoneamento, foram consideradas, além dos aspectos que

conferem o caráter às zonas, as particularidades do sítio numa dimensão física. Um conjunto

de fatores geográficos pré-existentes, que incorporaram o desenho do zoneamento,

contribuindo para a criação de um bairro inspirado localmente de forma distintiva, como

segue: os córregos e as Área de Preservação Permanente (APP) que os contornam; a

topografia; as vias de Circulação Expressa (BR-020 e DF-425); os acessos ao bairro, e a

previsão do terminal intermodal (na interseção da avenida Barcelona com a BR-020); e a

conexão com a via de ligação com a quarta ponte sobre o Lago Paranoá.

Além destes fatores, faz parte das características do sítio, a legislação urbanística.

Dessa forma, foram levadas em conta as diretrizes de uso e ocupação do solo já existentes

no PDOT e nas DIUR428, conforme segue:

• Deve-se evitar a segregação de usos, promovendo-se a sua flexibilização, de modo a reduzir

os deslocamentos e equilibrar a distribuição dos locais de emprego e trabalho no Distrito

Federal.

• Nas centralidades, deve-se reforçar sua destinação para atividades que promovam a

atratividade de pessoas e o encontro social.

427
Esta premissa destina-se à construção de setores no bairro que possuam características próprias –
que possam estar na mente das pessoas, que marcam o término de um tipo de atividade, um tipo de
lugar, e o início de outro.
428
Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT, 2009) e Diretrizes Urbanísticas
da Região de Sobradinho e Grande Colorado (DIUR, 2018) – região onde está inserido o novo bairro.
281

• Os usos previstos para as centralidades devem estar associados a uma ocupação mais densa

e verticalizada, com diversidade urbanística, arquitetônica e paisagística, e as fachadas das

edificações devem ser ativas, garantindo a vitalidade urbana.

• O uso misto (comercial/serviços e/ou institucional, associado ao uso residencial) é permitido,

uma vez que promove a vitalidade desses espaços em todas as horas do dia. Nesses casos,

o uso residencial multifamiliar deve ocorrer, preferencialmente, nos pavimentos superiores

da edificação, para garantir atividades comerciais/serviços e institucionais no pavimento

térreo, em contato com o espaço público aberto.

• As Zonas A são destinadas, preferencialmente, ao uso residencial, sendo admitidos usos

institucionais, comércio e serviço e indústria compatível com a escala residencial. É vetado o

uso residencial unifamiliar em lotes isolados.

• Nas Zonas B, é admitido o uso residencial associado a uso institucional. Nesses casos,

deverão ser previstas atividades de comércio e serviços locais e equipamentos comunitários

de apoio à população residente da região, de forma a evitar deslocamentos vinculados às

suas demandas cotidianas. É vetado o uso residencial unifamiliar em lotes isolados.

• As Zonas D são destinadas, preferivelmente, a atividades econômicas (comércio, serviço,

indústria e institucional ou comunitário) de médio e grande porte em lotes voltados para a

BR-020.

Assim, ponderando tais fatores e visando ao caráter próprio para cada zona, o projeto

urbanístico do novo bairro é dividido em setores – distritos de zoneamento429, a fim de

ordenar o seu planejamento. Este fracionamento tem a função de facilitar o estabelecimento

de diretrizes, desde a escala urbana até a escala do edifício430, para cada distrito-chave431,

que formarão as novas comunidades do Urbitá.

Nessa sequência, os setores foram assim definidos: Zona A – Distrito Central, onde

inclui-se a zona Centralidade e o Distrito Mangueiras; Zona B – Distrito Capão Grande, às

429
O conceito de Distrito de zoneamento encontra-se no item I 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano –
Distritos de zoneamento.
430
O plano de subdivisão dos distritos serve como um guia para sugerir diversidades na configuração
de cada quarteirão, na decisão dos usos e suas localizações e, na escala do edifício, permite a
construção de diretrizes arquitetônicas detalhadas que venham ao encontro do urbanismo pretendido.
431
Distritos-chave: termo usado por Gehl no Caderno de Conceitos, 2014, p. 05. O autor refere-se à
localização apropriada de diferentes usos e atividades de cada distrito e seu importante papel na
construção de comunidades diversificadas, aproveitando os desafios e oportunidades que o sítio
oferece.
282

margens sul da BR-020; Zona D – Distrito empresarial – faixa adjacente à rodovia BR-020, em

ambas as suas margens e a zona Parque.

Cabe destacar que a definição final do zoneamento do Urbitá segue, em maior parte,

as ideias iniciais sugeridas pelo escritório Gehl – Architects (2014). A principal alteração foi a

retirada do distrito empresarial, faixa ao sul, não tanto pelos usos e morfologia – que se

mantêm parecidos –, mas pela inserção de um eixo transversal – avenida Sobradinho, que

possibilitou a criação de uma porta de entrada para o bairro (gateway) – na intersecção da

avenida Sobradinho com a DF-425 –, que se estende em direção à praça Central.

Essa alteração, proposta pela UP, permitiu um incremento na Centralidade que tem,

por objetivo, reunir atividades que promovam o convívio social, constituindo-se como um

lugar de referência urbana432 tanto para o novo bairro, quanto para os núcleos urbanos

adjacentes – Sobradinho e Sobradinho II, os quais não possuem um núcleo central.

Essas atividades são, em geral, relacionadas aos usos comerciais (lojas, centros

comerciais, restaurantes, lanchonetes), prestação de serviços e institucionais ou comunitários

(públicos ou privados, especialmente atividades culturais e de entretenimento, tais como:

centros culturais, casas de cultura, cinemas, teatros, museus e bibliotecas).

Conforme o Plano de Urbanização (PDU, 2018), nesta zona – Centralidade –, devem

ser previstos espaços urbanos abertos ao uso público, mesmo de domínio privado, a fim de

servir como espaços de congregação e permanência, contribuindo para a caracterização do

centro urbano como uma área urbana de grande vitalidade. Para o alcance da vitalidade, é

sugerida uma diversidade de atividades fixas e temporárias, voltadas a todos os públicos e

em diferentes horários do dia e da noite.

A zona A serve como um elemento de transição entre a zona Centralidade e zona

Parque. Nessa lógica, de transição, a zona A privilegia o uso residencial multifamiliar, com

usos não residenciais restritos a atividades de menor grau de incomodidade (em comparação

com os usos permitidos na zona Centralidade, mais compatíveis com o uso residencial).

Embora o uso residencial predomine para a zona A, o PDU (2018) prevê a instalação

de usos não residenciais em qualquer ponto do projeto, de modo que a localização de

432
A exemplo da rua Curitiba, que tem o propósito de ser um elemento marcante do bairro, onde o
layout da rua é compatível com a diversidade de atividades.
283

equipamentos comerciais e institucionais possa ser otimizada433, de acordo com a demanda

futura, inclusive na forma de empreendimentos exclusivamente não residenciais.

Da mesma forma que na zona Centralidade, são previstos, para a zona A, espaços

urbanos abertos ao uso público (playground, pontos de encontro comunitários, pequenas

praças, pequenas quadras esportivas), como oportunidade para o desenvolvimento de

atividades de comércio, lazer, gastronomia e similares, podendo ser propostos espaços de

domínio privado com uso público.

Na zona B, o uso residencial tem papel coadjuvante, e o predomínio são atividades

não residenciais. Por estar localizada entre a zona D e a zona Parque (com restrições impostas

pelo zoneamento da Área de Proteção Ambiental (APA) do rio São Bartolomeu), a zona é

destinada a atividades de comércio, serviço, indústrias de baixo impacto e não poluentes e

atividades institucionais de médio e grande porte, como centro cultural ou campus

universitário.

O uso residencial ocorrerá quando associado às áreas institucionais, como centros

educacionais, culturais ou centros de saúde, devendo, nesse caso, vir acompanhado de

pequenos pontos de comércio local e serviços de vizinhança, que lhes deem suporte e

viabilidade.

A zona D consiste na faixa contígua à rodovia BR-020, em ambas as suas margens,

numa faixa de aproximadamente 100 metros, fazendo parte do Distrito Central e Capão

Grande. O uso residencial é proibido, e estimula-se a alocação de equipamentos de serviço,

comerciais e institucionais de maior porte, que podem proporcionar oferta de emprego à

população residente na região.

A zona Parque é instituída pelo PDU, a fim de contemplar a implantação de alguns

lotes privados em seu interior e regular seus usos urbanos permitidos. Segundo o PDU (2018),

no interior da zona Parque ou em lotes adjacentes, são permitidos estabelecimentos

comerciais e de serviços de apoio às atividades esportivas, recreativas, culturais e

gastronômicas, usos institucionais ou comunitários, bem como atividades administrativas do

parque e/ou unidades de conservação.

433
A dispersão de pontos de comércio local, de vizinhança, é fundamental para incentivar a mobilidade
ativa (pedestres e ciclistas) no interior do bairro, uma vez que permitirá que os moradores supram suas
necessidades corriqueiras sem precisar recorrer a transportes motorizados. O mesmo vale para escola
e creches.
284

Com a ideia de criar um atrativo para o parque, com atividades que envolvessem

experiência natural, é prevista uma reserva de gleba, de aproximadamente dois hectares,

para instalação de um Centro de Práticas Sustentáveis.

Nesse Centro de Práticas Sustentáveis, serão permitidas e incentivadas: atividades

relacionadas à preservação ambiental e à promoção do desenvolvimento sustentável,

inclusive as indústrias – como centro de reciclagem, usinas de geração de energia a partir de

fontes renováveis –; práticas de educação ambiental; atividades acadêmicas e de pesquisa;

atividades rurais relacionadas ao desenvolvimento sustentável, como promoção de mudas,

compostagem, etc.; sedes ou escritórios de entidades que tenham objeto social relacionado

à sustentabilidade e à preservação do equilíbrio ecológico do meio ambiente, especialmente

as públicas ou sem fins lucrativos; atividades administrativas e pequenos pontos de comércio

de apoio às atividades anteriores.

Fronteiras entre distritos e funções comuns compartilhadas

Entende-se que o conceito de fronteiras entre zonas urbanas é relativo ao caráter das

vias principais (na grande maioria das vezes) – que constituem as margens dos setores – e

que, pelo seu caráter e aspectos físicos, viabiliza incluir funções comuns compartilhadas,

criando espaços de relacionamentos entre setores.

Na proposta final do zoneamento do bairro, percebe-se que a via Parque, em conjunto

com a zona Parque, em grande extensão, exerce o papel de demarcação das fronteiras entre

os distritos de zoneamento Mangueiras e Central (zona A) e entre estes dois com parque

linear.

A zona Parque é atrelada a um conjunto de elementos componentes da estrutura

ambiental do lugar, em especial os córregos e as Áreas de Preservação Permanente (APP)

que os contornam, os quais insinuam / determinam sobre a vocação desta zona Parque.

Conforme Ricardo Birmann434, a ideia é que este parque seja muito pouco denso435, com

434
Entrevista com Ricardo Birmann - Diretor-Presidente da UP - realizada em 11 de junho de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
435
Possui área de aproximadamente 2 milhões de metros quadrados (duas vezes o Parque do
Ibirapuera, em São Paulo) para uma população de aproximadamente 300.000 pessoas (novos
moradores mais áreas adjacentes). Uma das propostas da UP é que, no futuro, consigam fazer a
administração desse Parque, inclusive, foi oferecido para o governo que seja colocado um
285

pouca intensidade; no entanto, planejam-se alguns pontos de concentração436, ao longo da

sua margem.

Ricardo Birmann437 destaca sobre a incompatibilidade e os impasses relativos às

legislações ambientais brasileiras quando busca-se propor algo que esteja próximo às APP:

“Fizemos um exercício de propor um espaço de compartilhamento de


funções, ... um quadrilátero, conformado pela via Parque – do lado do
Distrito Mangueiras, via Parque – do lado Central, via Barcelona e via DF-
425, que seria uma dessas pérolas – um parque urbano. Uma ideia de um
centro de lazer, comércio e serviço, que pudesse atender a demanda dos
dois distritos,...inclusive tinha a ideia, do ateliê do Gehl, de represar um
lago... uma ideia fantástica no nosso ponto de vista, mas quando falamos em
represar um lago aqui em Brasília é um pânico – como tem APP, as pessoas
não podem nem entrar nesta área, pedem para por cercas e placas que
proíbem a entrada numa faixa de 50 metros de cada lado ao longo dos
córregos de água,...muito difícil, será um desafio!”. (BIRMANN, 2020, s.p.).

Nesse cenário, das limitações da legislação ambiental, algumas estratégias estão

sendo adotadas pela UP, a fim de garantir estes espaços ao longo da margem da zona

Parque. Para isso, foram demarcados, no PDU (2018) e no Plano de Urbanização das quatro

primeiras etapas, lotes comerciais e áreas de reservas privadas para que possam, no futuro,

servir como ativos urbanos.

Dando sequência à análise das fronteiras entre distritos, outra via que cumpre esta

função é a avenida Dublin, a qual institui a borda entre a zona Central e a Centralidade.

Segundo Ricardo Birmann, esta decisão teve influência mais normativa – um componente

relativo à localização das Centralidades na Região prescrito nas Diretrizes de Uso e Ocupação

do Solo (DIUR, 2018) – do que influências oriundas das especificidades do sítio.

condicionante ambiental, a obrigação da UP em gerir e manter o parque sem fins lucrativos até sua
consolidação. Lembrando da experiência existente em administração de parque, através da fundação
Aron Birmann, que administra, há 25 anos, o parque Burle Marx em São Paulo – primeiro parque
público com administração privada no Brasil.
436
Conforme Ricardo Birmann, referindo-se ao Emerald Necklace de Olmsted em Boston (1878 –
1895), denomina estes pontos como a estratégia do “colar de pérolas": Ao longo da borda do parque
vai pondo algumas pérolas (restaurantes, atividades de lazer, quadras esportivas, etc.), a fim de criar
possiblidades de ativação, concentrando as pessoas em poucos pontos.
437
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP, realizada em 11 de junho de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
286

No entanto, pela sua classificação, de via coletora438, a avenida Dublin tem

características de usos, intensidade e variedade de maior abrangência439, o que a torna

adequada ao seu papel de via que acomode funções comuns compartilhadas nos limites dos

setores.

Dessa forma, está previsto, na esfera do projeto de arquitetura440, que os edifícios com

fachadas para avenida Dublin cumpram exigências relativas à relação dos edifícios com a rua

no que concerne aos pisos térreos e fachadas ativas e transparentes.

Nesse universo, das fronteiras entre distritos, as vias de circulação expressas – BR-020

e a DF-425 – também desempenham este papel. A BR-020 define a zona D (em ambos os

lados) e tem interferência direta na acessibilidade da zona B – Distrito Capão Grande. A DF-

425 faz a marcação do limite da zona A, que inclui parte do Distrito Mangueiras e a

Centralidade.

Nesse sentido, considerando o caráter e condições físicas destas vias de circulação

expressa, é prevista, no PDU (2018), a alocação de equipamentos de serviço e comércio de

maior porte – como supermercados, grandes lojas – e de equipamentos comunitários – como

escolas, espaços cívicos e institucionais.

Também, é nesta margem – na DF-425 – que está um importante ponto de

cruzamento (com a avenida Sobradinho, a qual tem a função de ligações internas e de

articulação com os núcleos urbanos adjacentes – Sobradinho e Sobradinho II) onde é prevista

uma demarcação para a entrada do bairro.

Este ponto de entrada (gateway) está sendo pensado, por parte da UP, de modo a

integrar quesitos funcionais, para as várias etapas da implementação do bairro, e quesitos

formais, visando à legibilidade da paisagem, entendendo este cruzamento como um local

estratégico do novo bairro.

438
Ver item II 1.2 – Conexões – Rede Viária. Classificação das vias pelo Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT).
439
Com concentração de comércio, prestação de serviços, indústria de baixa incomodidade e
instituições, a fim de reforçar a sua vocação para atividades que promovam o encontro social e a
vitalidade urbana.
440
Manual de Diretrizes Arquitetônicas estabelecido pela Urbanizadora Paranoazinho (UP).
287

Na questão funcional, segundo Ricardo Birmann441, para este “nó”, está sendo

estudada a implantação de construções temporárias que pudessem funcionar como uma

“sede” (um centro do Urbitá), como um ponto de destino para quem estiver indo visitar e

obter informações referentes ao bairro442.

Sobre os quesitos formais, a ideia é que seja criado um ponto focal neste espaço –

uma estrutura facilmente identificável. Conforme Ricardo Birmann, até este momento, não há

um projeto para a marcação dessa entrada, somente alguns estudos realizados pelos

escritórios DPZ e de Benedito Abbud, mas há a aspiração de que este cruzamento se afirme

como uma porta urbana para o novo bairro.

Estratégia para a fase inicial do empreendimento

Pensando na fase inicial do empreendimento, em conjunto com o gateway e a praça

Paranoazinho443, foi proposto, pelo ateliê DPZ, um possível programa para um centro de

vendas e serviços com estacionamentos de superfície na interseção da avenida Sobradinho

com a rua Curitiba.

Valendo-se do caráter de núcleo polarizador deste cruzamento, a ideia é baseada na

conformação de um ponto de interesse que funcionaria como âncora, com comércio, serviço,

arte e cultura444, e teria a função de atrair pessoas em deslocamento (principalmente pela

avenida Sobradinho), oferecendo mais razões para as pessoas passarem nessa via.

Para isso, o esboço inicial do projeto prevê a implantação de quatro pavilhões

(temporários), nas quatro esquinas, conformando a interseção e a praça Paranoazinho com

linhas angulares. De acordo com Ricardo Birmann, a intenção é que estas caixas (pavilhões)

441
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP –, realizada em19 de agosto de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
442
Sobre a localização desta “sede” – um centro do Urbitá –, existem outras alternativas sendo
consideradas, como por exemplo: junto à praça Paranoazinho (em uma das quatro caixas) ou junto ao
parque Oeste. Ambas alternativas com a ideia de, conjuntamente com a implementação deste ponto
de destino, construir espaços públicos para gerar identidade e criação de um endereço ativo para o
bairro.
443
Sobre a praça Paranoazinho, ver item II.3.1 – Parcelas e Edificado – Usos especiais – Espaços
públicos abertos.
444
Nessa perspectiva, da criatividade e da mistura de usos, Ricardo Birmann, em entrevista realizada
em 13 de março de 2021, via G-meet, cita, como um modelo inspirador de lugar público e
experimentação urbana e social significativa, o Granville Island em Vancouver – Canadá. Uma
combinação de usos: mercado público, lojas, locais destinados à arte e festivais culturais.
288

sejam obras simples, de baixo custo e de rápida construção, a fim de viabilizar esse endereço

em até um ano.

Na expressão viabilizar esse endereço, Ricardo Birmann refere-se à construção de um

lugar diversificado, com equipamentos de destino445, por exemplo: um cinema, uma loja de

artigos para a casa, uma academia, um supermercado. A intenção é que este “nó de

atividades”, por ora, atenda à população dos núcleos urbanos adjacentes (com

aproximadamente 180.000 habitantes) e, no decorrer da implantação dos edifícios do Urbitá,

possa ir se consolidando como o coração do bairro.

A pretensão é que estes pavilhões sejam, posteriormente, substituídos pelos

edifícios446, de acordo com as tipologias estabelecidas para o Urbitá, alinhando o projeto,

uma vez que este ambiente pensado para a fase inicial do empreendimento, com grandes

pavilhões, com poucas entradas e estacionamentos de superfície de grande escala, está em

total desacordo com as premissas do projeto do novo bairro.

445
Equipamentos de destino são os que constituem uma venda programada, diferente daquele serviço
ou comércio que gera vendas por impulso. Entrevista com Ricardo Birmann – entrevista realizada em13
de março de 2021, Brasília, DF (via G-meet).
446
Conforme Ricardo Birmann, durante a construção dos edifícios, será feita a realocação dos
comércios e serviços ali estabelecidos “temporariamente” e, após a conclusão, poderão retornar para
este mesmo lugar, ocupando o térreo dos edifícios ou permanecerem no novo local – o da realocação.
289

LEGENDA:
1 - Supermarket
2 – Home improvement
3 – Cinema
4 – Fitness center

QUADRO 42 Particularidades físicas e legais da área. Proposta de zoneamento do ateliê Gehl


Architects. Proposta de zoneamento da Urbanizadora Paranoazinho (UP). Fronteiras entre setores e
funções comuns compartilhadas. Ideias iniciais para as quatro caixas junto à praça Paranoazinho e
estudo da marcação da entrada por DPZ e Benedito Abbud.
290

T-Zones e Smart Code

Sobre a teoria das zonas de Transect, verificou-se, tanto nas segmentações das zonas

no bairro, quanto nas intensidades dos parâmetros urbanísticos447, uma coerência com as

características físicas (naturais e materiais) do sítio.

Recebendo o nome de zona Parque, percebe-se a relevância dada a esta estrutura

formal da paisagem natural – os cursos de água e suas devidas áreas de proteção. Partindo

desta premissa, somados aos condicionantes materiais (as rodovias DF e BR), os

componentes do projeto urbano foram colocados em ordem compondo os distritos de

zoneamento.

Esses distritos de zoneamento podem ser classificados sob a óptica do Transect – das

T-zones448:

Zona A – Centralidade, corresponde a T-zone (T6) – marcada pela grande densidade

e diversidade, deve ser a referência – o centro do bairro. O tamanho médio dos quarteirões

é de 100m de comprimento e 90m de largura, e a altura dos edifícios pode variar entre cinco

e doze andares, equivalente à 16m – 37,5m.

Zona A – Distrito Central, corresponde a T-zone (T5) – atenua as características da

zona T6, no entanto mantém o caráter de zona central urbana e desempenha o papel de zona

de transição entre Centralidade e zona Parque e entre zona Central e o Distrito Mangueiras.

O tamanho médio dos quarteirões, na porção mais central, é de 134m de comprimento e

100m de largura, e a altura dos edifícios pode variar entre cinco e doze andares.

No Distrito Mangueiras (que faz parte da Zona A), os quarteirões têm maiores

dimensões (média de 126m de comprimento e 95m de largura449) e a altura dos edifícios

pode variar entre cinco e doze andares. No entanto, por possuir um caráter mais residencial

e com menor densidade, a tendência é que, para o distrito Mangueiras, as alturas variem

447
Parâmetros urbanísticos estabelecidos no PDU, 2018: Usos e atividades; coeficiente de
aproveitamento máximo; altura máxima; taxa de permeabilidade mínima e tratamento das divisas.
448
O conceito de “T-zones” encontra-se no item I.2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – T-zones e Smart
Code.
449
Para o distrito Mangueiras, a UP tem definido, no masterplan atual, apenas os eixos primários da
malha. O desenho mais detalhado da malha de quarteirões para este setor consta nos estudos
apresentados pela assessoria do Gehl.
291

entre 16 e 23 metros, equivalentes a cinco e sete andares. Nesse sentido, esta porção da

Zona A (Distrito Mangueiras corresponde a T-zone (T4).

Zona D – corresponde à T-zone (T5) – compõe as margens da via de circulação

expressa BR-020 em ambos os lados. O tamanho médio dos quarteirões é de 180m de

comprimento e 70m de largura, e altura máxima dos edifícios é de cinco andares, equivalente

a 16 metros.

Zona B – corresponde à T-zone (T5) – semelhante à zona A, tem a função de zona de

transição entre a zona D e a zona Parque. O tamanho médio dos quarteirões é de 100m de

comprimento e 80 de largura, e altura dos edifícios pode variar entre cinco e sete andares,

equivalentes a 16m e 23 metros. Nesta zona, são reservados alguns quarteirões maiores para

futuros usos institucionais450.

Zona Parque – corresponde à T-zone (T1) – composta pelas áreas verdes, unidades de

conservação e parques urbanos. As edificações realizadas no interior dessas áreas não

poderão ultrapassar 10 metros ou dois pavimentos de altura.

Embora perceba-se uma ordem no estabelecimento dos setores e suas características,

identifica-se a necessidade de diretrizes mais detalhadas em relação às alturas e

posicionamento dos edifícios para cada zona do novo bairro, com a finalidade de garantir

uma adequada transição espacial entre zonas, em equilíbrio com os fatores naturais pré-

existentes e com a escala humana.

Para isso é necessário que a UP desenvolva um Smart Code (regulamento construtivo)

contendo os parâmetros edilícios em conformidade com as estratégias Smart Cities para os

futuros projetos dos edifícios nos lotes451.

450
Ver item II. 3.1 – Parcelas e Edificado – Usos Especiais, onde é apresentado um estudo do ateliê
Skidmore, Owings and Merrill – SOM (2013), de um agrupamento de equipamentos de saúde e
educação para este setor – nos quarteirões maiores.
451
Semelhantemente a um Smart Code, a UP desenvolveu, em 2016, Normas de Edificação, Uso e
Gabarito (NGBs) relativo à Etapa 1, a qual foi substituída, em 2019, pela Lei de Uso e Ocupação do
Solo (LUOS, 2019) estabelecendo parâmetros convencionais e uniformizados que ocasionam perda de
conteúdos importantes relacionados ao conceito do bairro Urbitá.
292

ZONA ALTURAS DIAGRAMA ESQUEMÁTICO


Zona A (Mangueiras e Central) 16m - 37,5m
Zona A (Centralidade) 16m - 37,5m
Zona B 16m - 23m
Zona D 16m

QUADRO 43 Modelo transect rural-urbano – CATS. Corte longitudinal do bairro e percepção da


lógica entre os distritos de zoneamento e as alturas pré-estabelecidas no PDU (2018) pela UP. Tabela
mostrando a relação entre distritos de zoneamento e alturas.
293

Malha de quarteirões

Partindo das análises da Rede viária e dos Distritos de zoneamento452 do Urbitá, fica

visível a precaução, desde o início, em criar uma comunidade concatenada, porém em setores

distintos. Ambas as diretrizes são viabilizadas pelo sistema de vias estruturantes – que

conformam os distritos – e o sistema de vias complementares – que instituem a malha de

quarteirões.

Nota-se, na dimensão física, que o traçado da malha de quarteirões do novo bairro

origina-se de três eixos norteadores principais: a DF-425, de onde nasce o desenho da

avenida Barcelona – principal eixo conector longitudinal; os rios e as Áreas de Preservação

Permanente (APP) que os contornam, que conduzem o desenho das vias Parque na zona

Central e Mangueiras – com semelhança de curvatura; e a BR-020, no sentido norte-sul do

bairro, que serve como eixo compositivo para as demais vias que atravessam o bairro no

sentido transversal.

Estes três eixos são oriundos de fatores geográficos pré-existentes (ambientais e

materiais) no sítio, que serviram como estímulos para o projeto urbanístico como um todo e,

de um modo mais evidente – nesta análise –, no desenho da malha de quarteirões.

Esta estratégia, de empregar um conjunto de características do sítio nos traços iniciais

do projeto (eixos norteadores) do novo bairro, tem notável relevância na construção de

lugares que estabelecem uma simbiose com o contexto. O resultado é uma grelha que é

transformada para acomodar-se ao seu contexto.

É possível mencionar duas principais qualidades no desenho final desta trama – malha

de quarteirões: a primeira é que, mesmo não sendo uma malha ortogonal, existe uma

regularidade que, ao mesmo tempo em que controla o projeto na totalidade – não

permitindo decisões isoladas –, possibilita uma diversidade de desenho dos quarteirões; a

segunda, é relativa à sua simplicidade – com o número de elementos reduzidos, o que

contribui, citando Mahfuz (2014), para a economicidade de meios453.

Rede viária – item: II 1.2 e Distritos de zoneamento, item II. 2.1.


452

Ver conceito sobre economia de meios no item I. 2.1 – Morfologia / Tecido Urbano – Malha de
453

quarteirões.
294

Conforme Ricardo Birmann454, esta associação, entre o desenho da malha de

quarteirões e o contexto geográfico pré-existente, considerou a construção de um bairro

apropriado à escala humana, tendo, com elemento norteador do projeto, a experiência

humana.

Nesse âmbito, o traçado das vias segue as curvas de nível da topografia do sítio,

gerando vias curvas e com pouco desnível. As ondulações das vias tornam-nas mais atrativas

e estimulantes, já que geram mais possibilidades de perspectivas (próximas) e apreciação de

visuais por parte dos usuários.

Quanto às vias planas, é possível mencionar que estas colaboram para a

caminhabilidade455 do bairro, em especial no que diz respeito à acessibilidade, favorecendo

a segurança e autonomia, às edificações, mobiliários, espaços e equipamentos comunitários

urbanos, para as pessoas com deficiência ou mobilidade condicionada456.

Quanto à diversidade do desenho dos quarteirões, é notada em dois pontos mais

específicos: o primeiro, nos seus formatos – que se originam de condicionantes naturais e

materiais pré-existentes – relacionando-se ao caráter de cada zona, com propriedades

intrínsecas, como visto no item II.2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de

zoneamento.

O segundo é relativo à variedade de tamanhos. Verificou-se uma diversidade de

tamanhos de quarteirões relacionados aos distritos de zoneamentos457 em que se encontram,

bem como dentro das próprias zonas, o que favorece a promoção da pluralidade de usos.

Outro aspecto positivo, relacionado aos tamanhos dos quarteirões, é o elevado

número de cruzamentos resultantes dessa malha. Essa situação – de maior conectividade – é

considerada conveniente, visto que, além de facilitar a acessibilidade física (e visual) dos

pedestres (e dos automóveis), é uma ação estratégica para o bairro, podendo constituir-se

como “nós” de atividades.

454
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em19 de agosto de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
455
Ver conceito de caminhabilidade no item II. 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e
ciclovias.
456
Sobre a Norma Brasileira de Acessibilidade (ABNT NBR 9050, 2015), ver item I. 1.2 Conexões –
Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias e item II. 4.1 – Circulação – horizontal e vertical.
457
Conforme mostrado no item II. 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento e T-
Zones.
295

A partir destas medidas, com a totalidade dos quarteirões com mais de 100 metros

(medidos para a etapa 1), e seguindo as orientações que a UP estabelece no Manual de

Diretrizes Arquitetônicas458, são propostas vias internas aos quarteirões que auxiliam na

formação de uma rede de circulação com dimensões mais apropriadas ao pedestre459.

Esta estratégia de inserir vias internas aos quarteirões de maiores dimensões é

coerente às recomendações, em especial, no quesito de segurança – conformando uma

malha mais fina –, com diversidade de dimensões e caráter de vias, e também no critério de

conveniência – ampliando as escolhas do pedestre para chegar ao seu destino.

De acordo com Carmona et.al. (2003, p. 65), os tecidos urbanos com malha fina

oferecem muitas maneiras diferentes de ir de um lugar para outro. Tecidos mais grosseiros

oferecem menos maneiras. Se a malha se tornar descontínua, através do corte de conexões

e da criação de becos sem saída, a permeabilidade será reduzida. Semelhante são as

recomendações de Jane Jacobs (2014 [1960]), Solà-Morales (1976), Leon Krier (1990), DPZ

(2000), Farr (2013) e Gehl (2014) – ver descrição no item I. 2.1– Morfologia e Tecido Urbano

– Malha de Quarteirões.

458
Para os quarteirões que possuem maiores dimensões (maiores que 100m), as vias internas, para
pedestres, são obrigatórias.
459
Sobre vias internas, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede viária e item II. 1.2 – Calçadas, caminhos de
pedestres e ciclovias.
296

QUADRO 44 Fatores geográficos pré-existentes (ambientais e materiais). Malha de quarteirões


proposta pela UP. Tamanho e formato dos quarteirões – Etapa 1. Rede de circulação de pedestres
(vias internas e faixas de travessia de pedestres).
297

Síntese da análise da Morfologia e Tecido Urbano

Sobre Distritos de zoneamento

O PDU, de 2018, buscando fugir do modelo de cidades dormitórios, preponderante

no Distrito Federal, (ver item II.1.2 – Conexões – Transporte público, coletivo, individual e

alternativo), propõe um zoneamento que corrobore na promoção do desenvolvimento

econômico e social do bairro e da região onde está inserido, por meio da miscigenação de

usos e funções, a fim de criar um centro urbano alternativo ao Plano Piloto.

Este zoneamento proposto e já aprovado para o novo bairro, por ser mais genérico460,

está alinhado a uma premissa do Urbitá – de que o bairro irá se desenvolver ao longo dos

anos (previsão de 30 anos) e não há como hoje prever, com exatidão, onde será a melhor

localização para a instalação de um colégio, ou de hospital, entre outros equipamentos. Ver

item II.3.1 – Parcelas e Edificado – Usos especiais.

Em relação à Centralidade, considerando que ter um centro identificável é um dos

fatores essenciais para conferir caráter a um bairro, verifica-se acertada a zona definida para

tal fim no bairro Urbitá. Nesse aspecto, é pertinente citar Lefebvre (1999, p. 110), que se

refere à centralidade como espaços gregários – que por sua arquitetura e urbanismo, sua

escala e diversidade de usos, caracterizam-se pelo elevado grau de urbanidade. Para

Lefebvre, não existe realidade urbana sem um centro comercial, simbólico, de informação e

de decisão.

Da mesma forma, Montaner (2001, p.30) afirma que cada área ou bairro necessita um

centro ou núcleo, e cada cidade deve possuir seu “coração” ou centro cívico moderno, onde

a comunidade urbana possa desenvolver atividades e intercâmbios culturais e comerciais.

Nesse conjunto de ideias, é possível afirmar que os usos previstos e apresentados no

estudo preliminar das estratégias para a fase inicial do empreendimento são válidas,

havendo, no entanto, a necessidade de ampliar esta lista. Conforme o LEED Neighborhood

Development, por exemplo, deve-se propor, no mínimo, vinte usos para o projeto –

considerando a Etapa 1 –, dividido em categorias: alimentação, lojas de varejo, serviços em

geral e equipamentos para a comunidade.

Conforme Ricardo Birmann, esses usos livres – mais genéricos –, aprovados no governo (PDU, 2018),
460

permitirão planejar o bairro ao longo do tempo através dos projetos urbanísticos de cada etapa.
298

Sobre a ideia do gateway, no cruzamento entre a DF – 425 e a avenida Sobradinho,

considera-se relevante, uma vez que é um espaço de transição de uma estrutura para outra.

Este espaço de transição, com funções estabelecidas e marcação visual, auxilia na orientação

dos usuários e contribui para o senso de lugar na comunidade do novo bairro residencial.

No entanto, há a necessidade de integrar essa ideia do gateway aos demais

cruzamentos que fazem parte da Zona Central: entre a DF – 425 e a avenida Ushuaia e entre

a DF – 425 e a avenida Quito, ambas vias estruturais de circulação que preveem a ligação do

novo bairro com os núcleos Sobradinho e Sobradinho II.

Sobre a zona Parque e as questões relativas à legislação ambiental, sabe-se que

sempre são geradoras de controvérsias, pois, para alguns, os comandos legais serão

entendidos como demasiadamente restritivos, enquanto, para outros, serão extremamente

liberais. Achar o ponto de equilíbrio é, sem dúvida, o grande desafio.

A premissa básica do desenvolvimento sustentável, certamente, não passa apenas por

um projeto ambiental, o qual terá que respeitar as características locais, bem como eventuais

entraves jurídicos, haja vista que o interesse social, para proteção ambiental, bem de uso

comum do povo, ainda terá que enfrentar eventuais entraves políticos, permeados pelo

subjetivismo dos órgãos licenciadores.

Por isso, pode-se afirmar que não há uma objetividade interpretativa que ampare uma

segurança na concretização das propostas apresentadas, dependendo, na grande maioria

das vezes, além da qualidade do projeto, da capacidade jurídica de bem conciliar este às

normas em vigor.

Sobre T-zones e Smart Code

Sobre a classificação dos distritos de zoneamento no enfoque do Transect, é possível

observar que, no modelo desenvolvido pelo CATS, a altura recomendada dos edifícios para

a T-zone (T6) é de oito andares (máximo) e, para a T-zone (T5), cinco andares. No Urbitá, a

altura máxima está estipulada em doze andares para a Centralidade e Distrito Central, sete

andares para a zona B e cinco andares para a zona D, sendo esta a menor para todo o bairro.

Ainda que as alturas sejam mais elevadas que o modelo propõe, nota-se uma

coerência entre a compreensão do ambiente construído como parte do ambiente natural nos
299

projetos para o bairro Urbitá. Isso evidencia-se na relação estabelecida entre os distritos de

zoneamento e alturas máximas permitidas.

Entretanto, há a necessidade de constituírem-se regras de planejamento mais

específicas, ao nível do edifício. Estas regras de planejamento devem estar contidas em

normas específicas, que, no caso do Urbitá, estão no Manual de Diretrizes Arquitetônicas461,

a fim de enfatizar a forma das edificações, prevendo um resultado físico – a forma do bairro

e sua relação com o caráter de cada zona, sendo flexível e maleável quanto às especificações

de usos.

Esta flexibilidade é essencial, uma vez que se deve considerar – além desta fase de

projeto – futuras escolhas individuais, por exemplo: das pessoas que preferem morar longe

do “burburinho urbano”, adquirindo, por via de regra, imóveis com preços mais acessíveis.

Neste caso, o bairro Urbitá terá, como alternativa, o Distrito Mangueiras, menos denso e com

um caráter residencial.

Ainda, sobre as futuras escolhas individuais, estão em fase de projeto – também de

propriedade da UP – loteamentos com parcelas de lotes isolados para a construção de casas

unifamiliares isoladas. Estes loteamentos situam-se próximos ao Urbitá, possibilitando que os

moradores usufruam dos serviços e equipamentos do bairro em 10 a 15 minutos de

caminhada.

Sobre a regulamentação, Ricardo Birmann462 comenta que, ao menos na fase inicial –

para a Zona Central (etapas 1, 2, 3 e 4) –, a ideia é que a UP mantenha todo o controle

possível da implantação do bairro. Explica que vender terrenos, hoje, é a última opção, e

pretendem incorporar, com ou sem parceiros, a fim de executar os projetos já aprovados e

de acordo com os princípios do bairro Urbitá.

Essa alternativa dá-se pela ausência de planos reguladores específicos na esfera

pública, o que tornará o novo bairro um empreendimento privado de caráter público, a fim

de garantir um cenário futuro ordenado pelas premissas do Urbitá: um bairro compacto,

completo, conectado e concatenado.

461
No Brasil, na esfera pública, não existem planos reguladores mais específicos (que regulam assuntos
arquitetônicos). O Manual criado pela UP é semelhante ao Smart code, no entanto, possui caráter
privativo e local, para este empreendimento, sem valia de lei.
462
Entrevista com Ricardo Birmann realizada em13 de março de 2021, Brasília, DF (via G-meet).
300

Sobre a Malha de quarteirões

A malha de quarteirões proposta para o novo bairro demonstra uma perfeita

associação aos condicionantes do sítio e ao valor da escala humana. Não leva em

consideração os padrões de desenho de quarteirões existentes nos núcleos urbanos

adjacentes por dois principais motivos: o primeiro é relativo à malha estabelecida para os

núcleos Sobradinho e Sobradinho II, que é composta por quarteirões uniformes, com grandes

comprimentos, baixa densidade, pouca diversidade de usos e, portanto, poucas

oportunidades para o pedestre, fatores que constituem um território monótono e com pouca,

ou nenhuma, vivacidade urbana.

O segundo motivo, ao lado sul do bairro, por não haver referências de tecido urbano,

dado que se encontra um condomínio fechado que fragmentou e negou a cidade existente

– condomínios unifamiliares, fechados com muros, que foram implantados irregularmente463.

A malha de quarteirões proposta pela UP, ao originar-se, essencialmente dos fatores

geográficos ambientais, propicia a formação de um sistema de espaços públicos abertos464

que são o resultado dos padrões de vias e espaços públicos em diferentes escalas. Outro

ponto positivo relativo à malha de quarteirões é a sua sinuosidade, qualidade que

proporciona, utilizando as palavras de Cullen (2015 [1971], p. 48), “o prazer de coisas tão

elementares e vitais como a proximidade e distância (o oposto do paralelismo)”.

Quanto aos tamanhos dos quarteirões, verificam-se as menores dimensões na área

Central e na Centralidade, fato considerado positivo, uma vez que se tenciona conformar

estas zonas como zonas mais compactas, com maior densidade de ocupação e diversidade

de usos. De acordo com Lefebvre (1999, p. 110), na sua concepção, o centro deveria ser a

expressão mais característica da variedade da vida social na cidade, o lugar, por excelência,

do encontro.

A malha capilar, mais fina – consequência das dimensões moderadas dos quarteirões

e da inserção das vias internas – contribui, além da compacidade, para a permeabilidade

física, visual e conforto ambiental, concedendo mais oportunidades de pensar, na forma

construída, maneiras de aproveitar o potencial da ventilação natural e da insolação.

463
Conforme relato de Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP – Entrevista realizada em14
de agosto de 2020, Brasília, DF (via G-meet).
464
Sobre Espaços públicos abertos, ver item II.3.1 – Parcela e Edificado – Usos especiais.
301

II.3 Quarteirão: relação do conjunto com a rua e com a cidade

II.3.1 Parcelas e Edificado

Configurações dos quarteirões

No item anterior, observou-se uma diversidade nos formatos e tamanhos dos

quarteirões que compõem o novo bairro, qualidade que possibilita a miscigenação de usos

de acordo com a vocação de cada lugar. Somado a isso, e tendo como princípio de projeto

a estreita relação dos futuros edifícios com a rua, a UP propõe tipologias de quarteirões de

“blocos de perímetro”465.

Numa nova perspectiva, de adaptação das qualidades do espaço urbano tradicional,

o tipo de quarteirões de blocos de perímetro fundamenta-se em estudos de precedentes466

que serviram como referências na tomada de decisões quanto à caracterização dos

quarteirões do novo bairro.

A escolha dos referenciais baseou-se, em primeiro plano (como aspectos

fundamentais), na relação entre a altura dos edifícios e a largura das ruas, e na conformação

de ambientes urbanos emoldurados por edifícios de alturas uniformes. Conforme Ricardo

Birmann467, para a UP, o que mais importa é o estabelecimento deste “emolduramento” – a

integração da fachada dos edifícios com a calçada.

Nesse quadro, Ricardo Birmann explica que, na busca deste enquadramento, somado

ao formato “mais quadrado” dos quarteirões do Urbitá, o resultado é a tipologia de

quarteirões de “blocos de perímetro” conformando pátios no centro do quarteirão.

No entanto, é sabido que existem muitas outras formas de integrar as fachadas dos

edifícios com a rua / calçada, sem que o desenho do quarteirão se conforme numa

465
Conceito de “blocos de perímetro” já mencionado no item I. 3.1 – Parcelas e Edificado –
Configuração dos quarteirões.
466
Estudos e análises apresentadas pela equipe da DPZ na Oficina de Concepção Arquitetônica com
os quatro escritórios brasileiros contratados pela UP em Brasília, 2017.
467
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em19 de agosto de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
302

“rosquinha” – “donut”468. Como por exemplo, Brooklin e Manhattan, em Nova Iorque, que,

de formas distintas, são exemplos de boa relação entre edifícios e calçada; Leblon e Ipanema,

no Rio de Janeiro, os quais tiveram, inicialmente, essa “integração dos edifícios com a rua”,

que infelizmente foi interrompida pela colocação de grades, tomando a responsabilidade dos

edifícios de serem o perímetro de segurança.

A partir disso, da tipologia dos quarteirões, consta, no Manual de Diretrizes

Arquitetônicas469 desenvolvido pela UP, que o partido volumétrico escolhido para o Urbitá

será a “rosquinha”. Esta tipologia poderá ser formada por um ou mais edifícios alinhados

com o perímetro do quarteirão, configurando um pátio interno. Podem ser exploradas

opções de duas, três ou mais “rosquinhas” por quarteirão, separadas por ruas privadas

internas470.

Voltando aos estudos dos referenciais, foram realizados, a partir deles, alguns ensaios

de volumetria – uma série de edifícios organizados ao longo do perímetro de um pátio

interno, com uniformização de alturas, com torres nas bordas ou somente nas esquinas, com

um só pátio ou com dois pátios –, a fim de definir um quarteirão típico para o bairro.

Este quarteirão tipo – com o partido volumétrico “donut” – refere-se à premissa da

volumetria dos quarteirões resultarem de tal forma que os edifícios sejam os elementos de

modelagem do espaço público e induzam sua forma a partir da forma desejada.

Nesse sentido, percebe-se que os tipos sugeridos de parcelamento dos quarteirões

pela UP sugestionam a conformação dos quarteirões através de um conjunto de edifícios,

seja com volumetrias retangulares – em forma de “L”, de “U”, entre outras possibilidades,

desde que construam território urbano a partir de elementos de sua morfologia e assegurem

a continuidade espacial (especialmente no piso térreo).

468
Termo utilizado por John Ellis apud Farr (2013, p. 97) no livro Urbanismo Sustentável: desenho
urbano com a natureza, texto: Ilustrando a densidade.
469
Sobre o Manual de Diretrizes Arquitetônicas, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede viária. No que
interessa o uso e ocupação do solo, o Manual é instrumento prescritivo de orientação no sentido de
induzir um ambiente construído desejável e previsível.
470
Sobre ruas internas, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede viária – Vias Internas.
303

QUADRO 45 Precedentes: Valência e Barcelona – Espanha. Estudos de volumetria e definição de


um quarteirão típico para bairro, DPZ (2017).
304

Além do tipo, tamanho e formato de organização dos quarteirões, percebe-se uma

preocupação com o perímetro dos quarteirões. Através dos princípios da caminhada

confortável, proveitosa, interessante e segura, e das estratégias de ordenação das fachadas

em toda a margem do quarteirão, é garantido um ambiente mais favorável ao pedestre.

A essa estratégia, de manter uma margem favorável aos pedestres, incluem-se formas

de ocultar aspectos do ambiente construído que são hostis aos pedestres, como entrada de

estacionamentos e garagens, no interior do quarteirão, ver item II. 1.2 – Conexões – Calçadas,

caminhos de pedestre e ciclovias e item II. 4.1 – Acessos – Intervalo / espaço de transição.

Para este fim, são definidas regras específicas no Manual de Diretrizes

Arquitetônicas471 , que regulam a forma construída do novo bairro com a finalidade de

assegurar a continuidade espacial e a boa forma urbana – na escala humana. Nesse contexto,

são indicados, pela UP critérios, para a divisão dos quarteirões que viabilizem, se necessário,

a unificação futura de lotes, bem como a criação de alamedas e pequenas praças internas

aos quarteirões, em especial os de maiores dimensões.

Está, no documento resultante da Oficina de Concepção Arquitetônica: definições e

critérios para as alamedas internas (2016), que ao unificar parte dos lotes do quarteirão

(porém não todos) e, havendo interesse de criar a alameda interna, a mesma deve ser alocada

no lote de maior dimensão.

Observa-se que 70% da área relativa às Etapas 1 e 2 do projeto urbanístico

corresponde à tipologia de quarteirão que inclui lotes de 20m de frente. Segundo Ricardo

Birmann472, essa tipologia foi desenhada, justamente, para possibilitar a criação das

alamedas. Estes lotes de 20m de frente são lotes “coringas”, podendo ser unificados com os

lotes de qualquer de seus lados. É uma forma flexível de unificar lotes, dando opção de incluir

ou não uma rua interna.

471
Segundo Ricardo Birmann, em manifestação encaminhada à Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal, em abril de 2020, a Lei de Uso e Ocupação
do Solo (LUOS, 2019) do Distrito Federal estabelece parâmetros convencionais e uniformizados que
ocasionam perda de conteúdos importantes relacionados ao conceito do bairro Urbitá.
472
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em 11 de junho de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
305

Juntamente com a possibilidade de unificação de lotes e a criação de alamedas e

pequenas praças internas aos quarteirões473, foram criados os Espaços Privativos de Uso

Coletivo (EPUC), o que permite a formação de espaços de convivência e permanência de

pedestres, voltados para a via pública474.

Os EPUC foram inspirados nos Privately Owned Public Spaces (POPS) de Nova Iorque,

que são espaços internos ou externos oferecidos para uso público por proprietários privados

em troca de bônus ou isenções. Um incentivo introduzido nos regulamentos de zoneamento

da cidade de Nova Iorque, em 1961.475

A criação dos EPUC, junto aos quarteirões, teve como principal objetivo acrescentar

pequenos espaços públicos abertos ao sistema de parques e praças planejados para o novo

bairro.

De acordo com Ricardo Birmann476, “[...] a ideia é criar, através da NGB, um

mecanismo de incentivo para a implantação destes pequenos espaços abertos em lotes

privados. Esse estímulo seria baseado na ideia dos proprietários de determinados lotes477

designarem uma parte do seu terreno ao uso público, criando pequenas pracinhas e

parquinhos, na escala da vizinhança. Esse incentivo seria feito pelo governo através do ganho

de um coeficiente adicional ou um desconto no Imposto sobre a Propriedade Predial e

Territorial Urbana (IPTU), entre outras possibilidades.

473
Sobre a criação de alamedas e pequenas praças internas aos quarteirões, ver item II. 1.2 – Conexões
– Rede viária – Vias internas.
474
Os EPUCs estão descritos em Normas de Edificação, Uso e Gabarito (NGBs) relativo à Etapa 1. Esta
norma foi aprovada em 2016 e substituída, em 2019, pela Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS,
2019). Em razão disso, conforme Ricardo Birmann, no projeto atual – compatibilizado com a LUOS –,
para fins de aprovação, não estão mais previstos os EPUCs. Pretendemos retomar este assunto mais
adiante e encontrar uma forma de viabilizar esta ideia.
475
NYC. Informações obtidas no site do Departamento de Urbanismo de NYC:
https://www1.nyc.gov/site/planning/index.page.
476
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em19 de agosto de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
477
Lotes a serem especificados no masterplan de cada etapa de implantação.
306

QUADRO 46 Lotes coringas (20m de frente) na Etapa 1 e 2 do projeto urbanístico. Cenário desejado
para as quatro primeiras etapas. Critérios para a divisão dos quarteirões e possibilidade de
unificação dos lotes.
307

Localização dos quarteirões

Além dessas tipologias, foram propostos, para o novo bairro, pelo ateliê Gehl

Architects, quarteirões especiais distribuídos nas zonas, em conformidade com o caráter de

cada uma. Conforme o caderno de conceitos desenvolvido para o Urbitá (2014)478, os usos

apropriados em sítios importantes ou desejáveis podem aumentar a atratividade da área,

tornando estas zonas mais vibrantes.

Além de localizar os usos especiais em conformidade com as propriedades de cada

zona, percebe-se, no masterplan apresentado pelo ateliê Gehl Architects, que estes

quarteirões estão posicionados nos núcleos centrais – formando nós de atividades –, ou nas

fronteiras, a fim de criar espaços de relacionamento com a área envolvente e possibilitar o

compartilhamento de funções entre os setores.

Outro ponto positivo dessa proposta relaciona-se ao raio de caminhabilidade, entre

os usos especiais, onde constataram-se distâncias apropriadas conforme as recomendações

– 400m / 1.600m – de tamanho ideal para o pedestre, equivalente a cinco a quinze minutos

de caminhada.

Entretanto, na proposta da UP, verifica-se apenas a demarcação de alguns espaços

públicos para fins especiais: na Centralidade do novo bairro – incluindo a rua Curitiba e os

dois parques nas suas extremidades, bem como a praça Central – praça Paranoazinho e em

alguns lotes no interior da zona parque.

Usos especiais: Quais? Onde? Como?

A diversidade e completude são princípios de projeto que estão conduzindo a

proposta da estrutura de usos especiais do novo bairro – Urbitá. A relação estabelecida entre

A proposta inicial do Projeto Urbanístico para o novo bairro – Urbitá foi elaborada pelo escritório
478

Gehl Architects – Urban Quality Consultants (2014), o qual produziu um caderno de conceitos para o
novo bairro.
308

quantidade de instalações comunitárias479 e a necessidade futura do novo bairro deu-se com

base em dados populacionais480 e diretrizes urbanísticas.

Com base nestes dados, foram elaboradas algumas propostas481, as quais consideram

a essência do design de vizinhança ao bairro que, além de sugerir o tamanho ideal para o

pedestre482, incorporam, ao design físico e ao layout da vizinhança, objetivos sociais, com

interação entre vizinhos, criação de um senso de comunidade, identidade e equilíbrio social.

Ainda, ponderando a demanda dos moradores do novo bairro, bem como dos

moradores dos núcleos urbanos adjacentes, o planejamento da localização dos usos

especiais considera um sistema de variedade de atividades e serviços necessários além das

instalações comunitárias.

Este sistema de variedade de atividades é contemplado pelos serviços e comércios

locais, bem como pelo estímulo na implantação de locais de trabalho, distribuídos junto às

áreas residenciais, aumentando as oportunidades de emprego no próprio bairro.

Além disso, esse conjunto de elementos de usos especiais apresenta-se conectado483,

de modo que estas instalações comunitárias sejam acessíveis a todos. À vista disso, foram

convencionados espaços públicos, destinados às instalações comunitárias, distribuídos no

bairro de acordo com a categoria de usos, sendo: equipamentos de ensino, equipamentos

479
Consideram-se instalações comunitárias: funções de utilidade pública como equipamentos de
ensino (escolas e afins), pontos de referência (galerias, museus, marcos paisagísticos), espaços
institucionais e cívicos (edifícios cívicos, universidades, hospitais) e espaços públicos abertos (parques,
praças, jardins de vizinhança, área de lazer e desporto).
480
Conforme o Plano de Urbanização – Urbitá (PDU, 2018), a densidade populacional máxima
determinada para a região onde o projeto está inserido é de 150 habitantes por hectare. Assim, com
uma área de 658,70 ha, estima-se uma população de 118.607 habitantes para o novo bairro, que
utilizará as instalações comunitárias. Ainda, considerou-se a demanda por equipamentos, por parte
dos moradores dos núcleos urbanos adjacentes, com aproximadamente 180.000 habitantes, e das
áreas remanescentes da fazenda Paranoazinho, com 19.657 habitantes.
481
Propostas realizadas pelas assessorias e consultorias contratadas pela UP, conforme descrito na
apresentação da Parte II da tese.
482
O parâmetro para a criação de uma Unidade de Vizinhança é de um raio de 400m, com orientação
inerente para o pedestre em cinco minutos de caminhada. Nesse aspecto, conforme definido para a
presente análise, evitando a aplicação excessivamente rígida dos princípios, Farr (2013) e Duany et al.
(2000) recomendam que o raio seja entre 400m e 1.600m, correspondendo ao tempo de caminhada
entre 5 a 15 minutos.
483
Sobre a estrutura de movimento, ver: Sistema viário estrutural e complementar no item II. 1.2 –
Conexões – Rede viária.
309

cívicos, equipamentos institucionais, pontos de referência e espaços públicos abertos, além

de equipamentos comerciais e serviço local.

Instalações comunitárias: equipamentos de ensino

Verifica-se, no projeto do ateliê Gehl Architects (2014), uma sugestão de distribuição

e localização adequada484 destes equipamentos, embora não haja, ainda, uma definição em

relação às etapas de ensino (ensino infantil, fundamental e médio) em cada uma destas áreas

pré-estabelecidas.

Esta adequação fundamenta-se nas distâncias ideais entre estes equipamentos e os

conjuntos de residências do bairro. Mediu-se, a partir da sobreposição do raio de influência

(400m / 1.600m – tamanho ideal para o pedestre) à estrutura de movimento, um raio de

600m, comprovando o acesso, por todos os moradores do novo bairro, aos equipamentos

de ensino, mediante cinco a sete minutos de caminhada.

Sobre a localização desses equipamentos, ainda é útil observar que todos estão

alocados nas margens – entre distritos de zoneamento e entre o novo bairro e sua vizinhança

– podendo atender às demandas dos núcleos vizinhos, bem como oportunizando a criação

de espaços de relacionamento entre setores e entre o novo bairro com o território

circundante.

Nesse sentido, num olhar inverso – do entorno para o bairro –, verifica-se a existência

de escolas localizadas, a uma média de 600 a 1000 metros das margens do Urbitá, nos

núcleos urbanos vizinhos (Sobradinho e Sobradinho II), que poderão auxiliar no atendimento

desta demanda do novo bairro.

Todavia, na proposta atual da UP, as localizações dos equipamentos de ensino não

estão determinadas, sendo definidas à medida que os projetos urbanísticos, das respectivas

etapas, irão sendo elaborados.

Conforme Ricardo Birmann, nessa perspectiva do desenvolvimento natural da cidade

e no esforço do não “engessamento”485, o zoneamento aprovado no governo, hoje, (ver item

484
Adequada em termos de análise da dimensão física do bairro, no entanto será prudente, no decorrer
da sua implantação, levar em conta outros indicadores de cunho social e econômicos.
485
A UP tem, como premissa de projeto, evitar um zoneamento de usos que defina, desde o início,
onde cada equipamento deva estar. Concentra-se num zoneamento mais amplo, onde a demarcação
para estes usos se dê, ao longo dos anos, considerando o caráter de cada setor.
310

II. 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento e item II. 3.1 – Parcelas e

Edificado – Configurações dos quarteirões), permite que as definições mais específicas –

sobre usos especiais – sejam tomadas ao longo do desenvolvimento do projeto.

[...] o que não queremos é um plano autoritário – de nós com nós mesmos –
, onde esteja definido exatamente onde cada equipamento vai estar.
Queremos deixar isso mais livre e, ao longo do desenvolvimento do projeto,
naturalmente, conforme o caráter de cada setor, os usos serão destinados.
(BIRMANN, 2020, s.p.).

Espaços cívicos / institucionais e pontos de referência

Sobre espaços cívicos e institucionais, verifica-se que existem alguns estudos iniciais

sobre a localização e sugestões de atividades para alguns setores do bairro. Esses esboços

iniciais foram elaborados pelos escritórios Skidmore, Owings and Merrill – SOM (2013) e Gehl

Architects (2014).

O ateliê Gehl Architects (2014) apresentou uma ideia de localização de três

quarteirões para estes usos. Nota-se que a escolha da localização dos quarteirões para usos

cívicos / institucionais considerou o caráter das vias e priorizou o posicionamento nas margens

do bairro e entre as zonas, como é o caso do D3 – entre zona Central e Distrito Mangueiras.

Esta estratégia de locar os espaços institucionais e cívicos nas margens dos distritos

de zoneamento é conveniente, uma vez que possibilita, como já mencionado na análise dos

equipamentos de ensino, atender às demandas do território circundante, favorecendo a

criação de espaços de relacionamento entre o novo bairro e os núcleos urbanos pré-

existentes.

Outra vantagem desta localização (onde termina a vista da rua), é que esses

equipamentos, pela sua natureza, poderão transformar-se em elementos marcantes no bairro,

com um potencial de atratividade (seja pela sua forma, pelo seu tamanho, pela sua função

e/ou significado486), exercendo um papel importante de referências na imagem do bairro.

Edifícios cívicos (prefeituras, igrejas, escolas, bibliotecas, museus, etc.) podem transformar-se em
486

marcos no bairro, reforçando sua importância simbólica e cultural.


311

Além disso, por estarem localizados no limite, funcionam como “âncoras”, fazendo

com que se amplie o fluxo das principais vias487 que ligam os equipamentos ao centro do

bairro, bem como permitindo a conexão, aos três espaços propostos, por meio das vias

Parque.

O ateliê SOM (2013), por sua vez, expõe um estudo baseado na premissa do

agrupamento de tais equipamentos, em especial os institucionais, formando um “nó de

atividades”. Dessa forma, apresenta um conceito para um centro de saúde e educação, ao

sul da rodovia BR-020, o qual integra-se à zona Parque através da proposição de um espaço

livre aberto – possivelmente uma praça pública aberta.

Observa-se que a escolha do local para a instalação dos equipamentos institucionais

vem ao encontro da ideia de constituir um grande “nó”, uma vez que o ateliê SOM também

propõe, no lado oposto da rodovia BR-020, outros equipamentos de grande porte e

significado: um centro de escritórios e um terminal multimodal, como já descrito no item

II.1.2. – Conexões.

Entendendo que a cautela na escolha dos sítios para fins cívicos e institucionais, bem

como dos pontos de referência, é uma estratégia eficiente de desenho urbano, entendem-

se relevantes as diretrizes projetuais, tanto nos estudos apresentados pelo ateliê Gehl, quanto

pelo ateliê SOM.

487
As principais vias de conexão aos espaços propostos para os equipamentos Institucionais e cívicos
são vias de circulação com usos e atividades diversas. As características destas vias estão apresentadas
no item II. 1.2 – Rede viária.
312

QUADRO 47: Localização dos quarteirões especiais para usos especiais (ateliê Gehl Architects).
Agrupamento de equipamentos institucionais (ateliê SOM). Masterplan atual e demarcação da
Centralidade, zona parque e dos equipamentos públicos comunitários para a Etapa 1 – Urbanizadora
Paranoazinho (UP).
313

Espaços públicos abertos

Constata-se um ordenamento efetivo na proposição dos espaços públicos abertos

pela UP, uma vez que estão organizados e fazem parte de uma rede que os conecta nas

diferentes escalas, desde grandes e pequenos parques, praças e espaços cívicos, até jardins

de bairros / parques de vizinhança488.

Esta hierarquização e conexão é concebida a partir do sistema viário estruturante e

complementar – como visto no item II. 1.2 – Rede viária e Calçadas, caminhos de pedestres

e ciclovias –, o qual prevê, na calçada (na faixa de serviço), o plantio de árvores nativas do

Cerrado, as quais farão também a composição dos espaços públicos abertos.

Esta interconexão entre ruas e espaços públicos abertos, bem como a sua grande

quantidade – perfazendo, aproximadamente, 18,54% do uso do solo do novo bairro –, têm

a justificativa, entre tantas outras, de cunho do conforto ambiental e dos benefícios para a

saúde, de propiciar a vida ao ar livre o ano todo.

Nesse contexto, é pertinente mencionar que o clima da savana tropical de Brasília é

extremamente favorável para a vida ao ar livre, conectando o indivíduo com a natureza.

Assim, o projeto dos espaços públicos abertos incentivará os aspectos sociais da vida nestes

espaços – distribuindo-os e equipando-os de acordo com o caráter de cada local.

Esta subdivisão dos espaços abertos (em espaços passivos e mais silenciosos e

espaços com usos mais ativos – áreas esportivas e atividades físicas) contribui para a

vitalidade de cada área, de acordo com suas particularidades.

A especificidades de cada sítio, em cada distrito de zoneamento ou nas T-zones, foi

um condicionante que auxiliou, tanto na determinação dos tamanhos e natureza dos espaços

públicos abertos, quanto da sua localização no bairro, conforme segue:

Parque Linear Urbano – um grande parque489– tem a função, além de proteger áreas

ambientalmente sensíveis, de servir como um conector ecológico entre as unidades de

conservação do entorno e de aliar a oferta de áreas para uso múltiplo.

488
Jardins de bairro e/ou parques de vizinhança são chamados por Jan Gehl (2014) para pequenas
praças distribuídas no bairro, num raio de 400m.
489
Grande parque com 200 ha (conforme PDU, 2018) – possui abrangência regional, alongando-se
pela Região de Sobradinho e Grande Colorado. Esta abrangência está em consonância com a
estratégia de conectores ambientais do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal
314

Por conseguinte, o parque tem, por finalidade, proporcionar lazer e recreação;

estimular o desenvolvimento de atividades de educação ambiental; promover a recuperação

de áreas degradadas e sua revegetação (com espécies nativas do Cerrado); possibilitar

espaços para a prática de esportes e para a realização de eventos culturais; e incentivar o

desenvolvimento de ações socioeducativas e de comércio de bens e serviços490.

Sua extensão se dá juntamente aos cursos de água – córrego Ribeirão Sobradinho –,

que constituem o limite do novo bairro, a noroeste com os núcleos urbanos Sobradinho e

Sobradinho II, e atravessa – contornando o córrego Paranoazinho –, em dois momentos, na

direção sudoeste: no centro do distrito Mangueiras e entre o distrito Mangueiras e Central.

Também, o parque estende-se ao Sul da via de circulação expressa BR-020, delineando o rio

São Bartolomeu.

Percebe-se que, a partir destes condicionantes ambientais, não somente o limite (a

norte e nordeste) do novo bairro é delimitado, como também os distritos de zoneamento

dentro do bairro são definidos. Estas fronteiras que se formam entre os distritos geram

espaços de relacionamento entre os setores, possibilitando a partilha deste espaço – no caso,

o parque491.

Considerando que o parque linear urbano é um elemento de diferenciação na

paisagem do novo bairro, o PDU (2018) estabelece algumas diretrizes específicas relativas à

ocupação do solo:

• Todas as áreas verdes e parques urbanos deverão ser delimitados por ciclovias e amplas

calçadas, acessíveis aos portadores de mobilidade reduzida.

• Os empreendimentos imobiliários nas quadras adjacentes às áreas verdes e parques

deverão ter sua frente preferencialmente voltada para esses espaços.

(PDOT, 2009) e pelas Diretrizes Urbanísticas da Região de Sobradinho e Grande Colorado (DIUR,
2018). Dentro da área de estudo, são aproximadamente 125ha de zona parque.
490
Conforme diretrizes gerais sobre os parques ecológicos para o novo bairro – Urbitá. PDU, 2018.
Quanto ao zoneamento interno do parque, o Plano de Urbanização rege que serão necessários
projetos urbanísticos específicos que se refiram às leis de preservação ambiental – com restrições
crescentes na direção do corpo hídrico e concentração dos usos mais intensos em bolsões – chamados
de colar de pérolas ao longo da borda –, ver item II.2.1 – Distrito de zoneamento.
491
Sobre as possibilidades de usos do parque, ver item II.2.1 – Distritos de zoneamento.
315

• No interior do parque, podem ser acomodados usos e atividades que proporcionem lazer

e recreação para a população, bem como equipamentos de infraestrutura urbana compatíveis

com o local, sendo recomendada a preservação da vegetação nativa existente.

• As edificações realizadas no interior das áreas verdes, parques urbanos e áreas de

conservação não poderão exceder dois pavimentos na sua altura.

• A localização exata dos equipamentos que serão propostos no interior do parque ficará a

cargo de projetos urbanísticos específicos; no entanto, o PDU sugere a concentração de

atividades mais intensas em pontos estratégicos para o lazer e encontro, espaçados entre si,

na borda do parque.

Este último item, relativo à estratégia do colar de pérolas (já mencionado no item II.2.1

– Distritos de zoneamento) para o parque linear, entende-se pertinente, uma vez que, além

de concentrar o esforço de ativação do parque em pontos menores e específicos,

proporciona uma maior densidade de pessoas e um fluxo mais intenso nesses locais,

favorecendo a vitalidade e gerando valorização para o parque como um todo.

Por fim, sobre o parque linear, entende-se que dois instrumentos serão fundamentais

para o seu sucesso futuro: o desenvolvimento de um zoneamento interno adequado,

pertinente com a vocação e potencialidades de cada uma das áreas que o compõem; e uma

estrutura de gestão eficiente492.

Parques urbanos – Oeste e Leste

Na continuidade do sistema de espaços públicos abertos, como um elemento

integrador entre o meio natural e o meio urbano, o projeto do novo bairro contém dois

parques urbanos localizados no Distrito Central (na Centralidade), nos extremos – leste e

oeste – da rua Curitiba.

Estes parques atuam como atrativos paisagísticos, para o bairro e região,

constituindo-se como referências espaciais, uma vez que estão combinados – no ponto inicial

e final de um eixo singular (a rua central – rua Curitiba – de uso compartilhado – o coração

do bairro).

492
Sobre gestão eficiente, segundo Karssenberger, 2015, p. 315, entendem-se duas camadas: o
software e o hardware, onde o software corresponde ao programa de uso, a função e ao zoneamento.
E o hardware diz respeito à escala menor – parte do usuário e tem seu foco nas pessoas.
316

Desse modo, fica evidente o posicionamento dos dois parques urbanos com o intuito

de indicarem a Centralidade do bairro, assim como, através da criação do contraste com os

elementos circundantes – pela sua forma e constituição –, colaborarem no sentido de direção

dos usuários.

Parque Oeste – Existem, até o momento, dois estudos para este parque. O primeiro,

elaborado pelo ateliê Benedito Abbud – Arquitetura paisagística – SP, e o segundo, pelo

ateliê DPZ (Duany Plater-Zyberk & Company) – EUA.

Foi apresentado, pela equipe da DPZ, um desenho para o parque, feito a partir dos

estudos de alguns precedentes, sendo o parque Bryant, em Nova York, eleito para ser o

referencial adotado, especialmente pelo seu enquadramento urbano, caráter e função que

exerce na cidade atualmente.

Os materiais de projeto deste referencial, retirados e adaptados, foram,

principalmente: o arranjo do parque, proporções entre setores, o programa e a infraestrutura

diversificada – com uma fonte, estátuas, espaço de leitura, espaços para sentar, espaços de

alimentação, jardins com uma variedade de espécies e um grande gramado livre, onde são

promovidos espetáculos, peças teatrais, cinema ao ar livre, entre outras atrações.

Com base neste estudo, adaptando-se às realidades locais, o desenho final do parque

apresenta um anfiteatro ao ar livre – uma área livre gramada de 70m x 30m –, com seu

contorno sombreado por árvores nativas do Brasil, em especial do Cerrado – premissa

colocada pela UP.

Relativamente às espécies das árvores que circundam o anfiteatro, o ateliê Benedito

Abbud propôs flamboyant e quaresmeira-roxa493. Estes tipos de árvores foram escolhidos a

fim de criar uma paisagem que alude ao paisagismo de Brasília, simbolizando as Cores da

Cidade Parque494.

Para a entrada do parque, pela rua Curitiba, existem duas propostas: a primeira,

idealizada pela DPZ, norteia-se na inserção de um espelho de água no eixo central deste

acesso, o qual tem, em suas extremidades, dois totens que o enquadram, bem como

possuem a função de robustecer este “nó” como um marco paisagístico.

493
Flamboyant não é uma espécie nativa do Brasil e quaresmeira-roxa é nativa do Brasil, mas não é
nativa do Cerrado.
494
Cores da Cidade Parque: vídeo de Frederico de Holanda (2020), que apresenta uma diversidade
de espécies da arborização existente em Brasília com dados sobre seus florescimentos.
317

A segunda proposta, criada pelo ateliê Benedito Abbud, consiste na estratégia

projetual de um plano de base definindo um campo de espaço, por meio da marcação do

desenho e textura do pavimento. Neste ponto (marco referencial), Abbud sugere a colocação

de totens, tal qual a equipe da DPZ, os quais apoiam lonas tensionadas que configuram uma

opção de sombreamento.

É pertinente citar que o parque Oeste conforma um quarteirão especial, pré-

estabelecido no masterplan, devido à sua localização central, onde concentram-se múltiplas

vias – configurando um nó de junção. Por conseguinte, este nó – o parque – reforça-se como

um elemento marcante dentro da hierarquia da rede de espaços públicos abertos do Urbitá.

Parque Leste – Para este parque, existem, até ao momento, apenas diretrizes

projetuais macro – junto à concepção urbanística geral (o masterplan), uma vez que a sua

localização faz parte da quarta fase de implantação.

Todavia, percebe-se a sua importância na rede de espaços públicos abertos propostos

para o novo bairro. O parque situado no extremo leste da rua Curitiba tem um papel – que

também é feito pelo parque Oeste, no sentido oposto – de servir como um arremate à rua

Curitiba – como um fecho ao eixo da rua Central.

Ainda, pelo seu caráter misto – espaços com propósito cívico e comunitário –, vem

contemplar uma das convenções básicas de desenho urbano, conferindo caráter ao novo

bairro.
318

QUADRO 48 Rede de espaços públicos abertos – proposta da Urbanizadora Paranoazinho – UP.


Precedente estudado para o parque Oeste: Parque Bryant – Nova York.
319

QUADRO 49 Localização do Parque Oeste. Proposta para o Parque Oeste conforme ateliê Benedito
Abbud – SP e DPZ – EUA.
320

Praça Paranoazinho

Nessa sequência, da rede de espaços públicos abertos e da sua relação com o sistema

viário, junto à rua Curitiba, é apresentada uma praça central – praça Paranoazinho –, no

cruzamento entre a avenida Sobradinho e a rua Curitiba –, como um importante nó, tanto na

sua função de estimular a reunião de pessoas, como de ser um ponto identificador do centro

do novo bairro.

Equitativamente ao projeto do parque Oeste, o desenho da praça também se

fundamentou em estudos de precedentes, e é baseado na ideia de uma praça de entrada,

com linhas angulares nos edifícios – inspiração na Piazza Campidoglio, em Roma e na

Kopenhagen Stroget, em Copenhagen, Dinamarca.

Conforme Lahys Rocha Miranda, “Esses precedentes orientaram o projeto em relação

à sua forma final, no uso de monumentos emblemáticos e na pavimentação especial para

fortalecer os pontos focais e ajudar a organizar o espaço de formas irregulares”495.

Assim, numa forma elíptica, que define o espaço (através do desenho dos edifícios

que a contornam e do pavimento), propõe-se uma fonte de água que, em conjunto com uma

torre de luz, fortalecem este nó como um ponto focal – num conceito de torre de luz para

escultura de fonte496.

No entanto, é notável que, neste domínio espacial, o elemento marcante (torre de luz)

não se caracteriza como um landmark, ao menos durante o dia497. O que se pode considerar

é que o conjunto – fonte de água, escultura e torre de luz – criam um contraste com os

elementos circundantes pela sua composição e localização, constituindo um marco local –

um ponto focal.

Quanto à estratégia de demarcar o espaço através do desenho e textura do

pavimento – plano de base definindo um campo de espaço – verifica-se que é repetida nos

demais espaços públicos abertos que integram a rua central, principalmente nos acessos aos

parques Oeste e Leste, situados nas extremidades da rua Curitiba.

495
Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP – Entrevista realizada em17 de julho de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
496
A proposta foi feita em conjunto, entre o ateliê Benedito Abbud – Arquitetura paisagística – SP e o
ateliê DPZ (Duany Plater-Zyberk & Company) – EUA, numa oficina em Brasília em setembro de 2017.
497
A previsão de altura da torre de luz é de aproximadamente 6 a 7 metros de altura e, em
contrapartida, os edifícios que irão compor este setor terão entre 16m e 37,50 metros, ou seja, 6 a 12
pavimentos (PDU, 2018).
321

Percebe-se, desse modo, que – para esse cruzamento, pelo seu caráter de núcleo e

centro polarizador do bairro – a marcação da praça, somada ao ponto focal, têm o propósito

de exercer a função constante de símbolo de direção e marcar o centro do bairro Urbitá.

Em relação à simbologia destes elementos que compõem a praça Paranoazinho,

verificou-se que uma das intenções é chamar a atenção das pessoas e de atrair, conforme

relato da Lahys Rocha Miranda498: “O canhão de luz terá a função de atrair a população de

Brasília: Ei! Está nascendo o novo bairro Urbitá!”.

Nesse sentido, de atrair pessoas para o novo bairro, é pretendida, para o futuro, a

organização de uma agenda de eventos culturais (estreia de filmes no cinema ao ar livre,

planejar um centro de entretenimento, preparar eventos importantes na comunidade, entre

outros). Desse modo, o destaque à noite, em dias de eventos, teria especial função, uma vez

que os holofotes iluminariam o céu noturno.

Essa ideia vem ao encontro da necessidade de incorporar a criatividade499, através da

promoção de eventos culturais que estimulem as pessoas a conhecerem o novo bairro, em

especial nos primeiros anos de lançamento dos imóveis, bem como propiciar a oportunidade

de frequentarem a praça Paranoazinho, a rua Curitiba e os parques Oeste e Leste, que

conformam o coração do bairro.

498
Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP – Entrevista realizada em17 de julho de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
499
Criatividade entendida como parte do desenvolvimento e sustentabilidade do bairro. Ver mais
sobre o conceito no item II. 1.1– Localização – Habitação formando novos bairros.
322

QUADRO 50 Rede de espaços públicos abertos – proposta da Urbanizadora Paranoazinho – UP


(masterplan e etapas iniciais). Precedente estudado para a praça Paranoazinho: Piazza Campidoglio,
Roma e na Kopenhagen Stroget, Copenhagen, Dinamarca.
323

QUADRO 51 Proposta para a praça Paranoazinho conforme ateliê DPZ – EUA e Benedito Abbud –
SP, Brasil.
324

Equipamentos comerciais e serviço local

No que se refere aos equipamentos comerciais e serviço local, percebe-se que a

mistura de usos, com pouquíssimas restrições, é uma forte diretriz do projeto. Isso é notado,

principalmente, nas análises do zoneamento do bairro – item II. 2.1 – Morfologia e Tecido

Urbano – Distritos de zoneamento.

Nesse ponto, verifica-se, com exceção das zonas próximas às vias de circulação

expressa (zona D) – as quais têm prevalência para atividades de grande porte –, para as

demais zonas, o incentivo da instalação de equipamentos comerciais e de serviço local. Este

fato é positivo, uma vez que projeta uma homogeneidade, espalhando esse tipo de

equipamento pelo bairro.

Esta distribuição mais homogênea dependerá das escolhas das localizações de cada

comércio e/ou serviço no futuro. No entanto, e de acordo com Andrés Duany et al. (2010, p.

200), uma vez que as principais zonas de um bairro forem definidas (em especial centro500 e

bordas), a distribuição dos usos segue naturalmente501.

As localizações das futuras instalações deverão observar aspectos relacionados à

densidade populacional de cada setor502, aspectos econômicos e parâmetros de medidas de

raio de abrangência de 200m – 600m dos núcleos residenciais.

Esta mescla de funções, entre instalações comerciais e de serviços com usos

residenciais, integra os princípios do Novo Urbanismo, que visa, por meio dessa diversidade

de usos, a uma diversidade de pessoas, com diferentes culturas, idades e níveis de renda.

Ainda, o Novo Urbanismo preconiza um padrão de conveniência através da

implantação de uma variedade de lojas, com tamanhos pequenos, conformando os

perímetros dos quarteirões, a fim de oferecer uma experiência aos pedestres, em escala

humana, de uma ampla gama de atividades e atrações.

500
Sobre Centralidade e sua relação com os usos comerciais, ver item II. 2.1 – Morfologia e Tecido
Urbano – Distrito de zoneamento.
501
Essa distribuição natural alinha-se às premissas da UP já citadas, de que o Urbitá irá se desenvolver
ao longo dos anos (previsão de 30 anos), através dos projetos urbanísticos de cada etapa. Ver item
II.2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento e item II. 3.1 – Parcelas e Edificado –
Configuração dos quarteirões.
502
A previsão de densidade média dos distritos de zoneamento do novo bairro é de 180 habitantes
por hectare, considerando uma área de 658,70 hectares e uma população de 118.607 habitantes.
325

Nessa perspectiva, é importante destacar a maneira como as pessoas realizam suas

compras na atualidade, bem como as projeções futuras para o comércio nas cidades.

Nota-se uma tendência de mescla entre loja física e virtual onde, na loja física, a venda

não é mais o único objetivo e, sim, exerce uma função de mostruário, bem como da

valorização da marca. Essa dinâmica permite que o cliente possa estar na rua e comprar o

produto na loja, ou passar por ele e depois decidir comprá-lo pelo aplicativo do celular.

Dessa forma, a tendência para os espaços físicos, de usos comerciais, nas áreas

urbanas, passa a ter uma necessidade de áreas menores. Este cenário, decorrente da

tecnologia e do mundo digital503, é favorável ao planejamento de bairros e cidades mais

compactas – uma das premissas para o urbanismo sustentável.

Local de trabalho

Adicionalmente ao item anterior, e na busca da construção de um bairro completo,

verificou-se, no zoneamento do Urbitá, a definição de setores destinados às atividades

econômicas de médio e grande porte (Zona D), bem como áreas destinadas aos usos

institucionais e equipamentos comunitários (Zona B).504

Essas atividades ampliam as oportunidades de emprego para a futura população do

novo bairro (118.607 mil), bem como para a população que reside nos núcleos urbanos

adjacentes – Sobradinho e Sobradinho II (180 mil habitantes).

Nesse sentido, constata-se que, num raio de abrangência entre 1.500 e 2.000m505,

estas atividades (comércio, serviço, indústria e institucional ou comunitário de médio e

grande porte) são facilmente acessadas, tanto pelos moradores do bairro, como pelos

residentes dos núcleos vizinhos.

Ainda, a mobilidade entre casa e trabalho será garantida pelo modelo de transporte

público coletivo adotado, ver item II. 1.2 – Conexões – Transporte público, coletivo, individual

e alternativo, que visa a diminuir os deslocamentos pendulares – prática corrente hoje no

Distrito Federal.

503
As transformações digitais e as relações entre compra e venda dão-se atualmente de vários modos:
pela venda, onde o cliente compra pela internet e retira seu pedido numa loja física; pelo sistema,
onde as lojas ficam disponíveis dentro das redes sociais permitindo que clientes interajam com
atendentes virtuais, entre outras muitas possibilidades.
504
Ver item II. 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distrito de zoneamento
505
Aproximadamente 20 minutos de caminhada
326

Sobre este tema e refletindo sobre estratégias para a fase inicial do empreendimento,

Ricardo Birmann comenta sobre a possibilidade de implantação de um edifício de escritórios

– no cruzamento entre a DF-425 e a avenida Sobradinho – que, além da sede do Urbitá506,

acomodasse outras empresas e também um “inquilino âncora”, como por exemplo o Serviço

Social da Indústria (SESI)507.

Ainda, nesta ideia – da criação de locais de trabalho e do incentivo ao emprego –, há

a possibilidade da UP implantar uma agência de empregos local508 que ajude a qualificar e

promover a contratação de mão de obra das pessoas da região para a construção do novo

bairro.

Esta ação objetiva, além de prover o emprego em si, pode conter efeitos positivos no

que se refere ao sentimento de pertencimento destas pessoas com relação ao bairro, uma

vez que irão, também, usufruir dos equipamentos comunitários e espaços públicos abertos

do Urbitá. Acredita-se, nesse cenário, num potencial de qualificação dos espaços públicos

urbanos.

Síntese da análise da Parcela e Edificado

Sobre a configuração dos quarteirões

A configuração dos quarteirões proposta pela UP – blocos de perímetro – afirma-se

compatível com o modelo de bairro que se propõe, que tem, como alguns de seus princípios:

a valorização do espaço público em conformidade com a escala humana, a utilização de um

adensamento como forma de conferir sustentabilidade ao novo desenvolvimento e a boa

relação dos edifícios com a rua.

506
Sobre o gateway do bairro, ver item II. 2.1 – Morfologia / Tecido Urbano – Distrito de zoneamento.
507
O SESI foi criado no Brasil em 1946 e atende indústrias e trabalhadores no que diz respeito à gestão
da segurança e na promoção da saúde e educação dos trabalhadores, seus dependentes e
comunidade. Em geral, acomoda atividades relacionadas ao ensino (cursos técnicos), às atividades
esportivas, eventos, entre outras.
508
Segundo Ricardo Birmann, a primeira etapa de implantação do Urbitá irá gerar, aproximadamente,
25.000 empregos.
327

Com essa premissa, a UP objetiva que os projetos arquitetônicos para os futuros

edifícios privilegiem a ocupação dos perímetros do quarteirão ao seu centro, maximizando

sua interação com a rua e com a cidade.509

Conforme Ricardo Birmann, o partido volumétrico “donut”, com o pátio interno,

ajusta-se às demandas do mercado e da cultura do adquirente de imóveis no Brasil, no que

se refere ao uso residencial. Existe uma expectativa de ter, no seu imóvel, uma série de usos

– a preservação de usos dentro da vida privada –, como por exemplo: áreas de lazer, piscina,

churrasqueiras, playground, etc. Nesse sentido, segundo Ricardo Birmann, o pátio interno foi

uma forma de acomodar esses usos através da área de uso comum, restrita aos moradores.

Sobre alguns pátios de centro de quarteirão serem convertidos, no futuro, para o uso

público – junto aos espaços de trabalho (edifícios de escritórios) –, considera-se propícia.

Nestes miolos, poderiam ter uma série de funções, como uma sala de reuniões ao ar livre

compartilhada, espaços de cafés, um auditório, entre outros espaços que fossem abertos ao

uso público.

É possível afirmar também que a ideia das EPUC, que são espaços privativos de uso

coletivo voltados para a via pública, vem ao encontro das lições para os plinths de

Karssenberg et. al (2015, p.323), em que se afirma que as zonas híbridas – espaço entre, ou

melhor, onde encontram-se a esfera privada e pública – contribuem significativamente para

a experiência da rua, para os contatos sociais e para a segurança.

Em relação ao regramento necessário para que estes valores urbanos e arquitetônicos,

pretendidos e delineados desde a origem do bairro, sejam garantidos na implantação do

bairro, a UP criou o Manual de Diretrizes Arquitetônicas como uma alternativa, já que não

existem planos e códigos mais específicos no Distrito Federal, bem como no Brasil, que

estabeleçam prescrições e abordem todas as escalas do planejamento, do bairro à

comunidade, ao quarteirão e ao edifício.

Segundo Ricardo Birmann, este Manual está longe de ser um “Form Based Code”510;

no entanto, tem valor como elemento de experimentação e possibilidade de inovação. No

509
Esse diálogo do edifício com a rua está também evidenciado nas indicações relativas à qualidade
das calçadas no item II. 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias.
510
O foco na forma é muito comum em outros países e excepcionalmente raro no Brasil. A regulação
da forma construída é a principal ferramenta de zoneamento em diversas cidades europeias, mas as
abordagens são diversas e heterogêneas. Já, nos Estados Unidos da América, como é típico dos norte-
328

seu conteúdo, privilegiam-se parâmetros urbanísticos voltados à forma resultante, tais como

alinhamentos da edificação, densidade de aberturas na fachada e proporções verticais e

horizontais em detrimento de parâmetros puramente numéricos não correlacionáveis à

qualidade urbana resultante, como coeficiente de aproveitamento, gabarito máximo e taxa

máxima de ocupação.

Sobre localização dos quarteirões de usos especiais

Relativamente aos quarteirões especiais para usos especiais, verifica-se que a UP

estabelece, no Plano de Urbanização (PDU, 2018), os principais espaços livres abertos (parque

linear urbano, os parques Oeste, Leste, praça Paranoazinho e rua Curitiba) que compõem os

pontos de referência da Centralidade.

Contudo, os demais equipamentos de utilidade pública, considerados indispensáveis

para completar o caráter residencial da área (escolas, edifícios institucionais e cívicos, galerias,

museus, entre outros), não estão definidos e, segundo Ricardo Birmann511, serão planejados

ao longo dos anos, através dos projetos urbanísticos de cada etapa.

A exemplo disso, na Etapa 1, é apresentada a demarcação de dois lotes destinados

para as futuras instalações de equipamentos públicos comunitários512: lote A, com área de

4.825m2 e lote B, com área de 3.823,72 m2. Esta definição – a escolha destes dois lotes –, de

acordo com Ricardo Birmann, não levou em consideração as diretrizes de localização dos

usos especiais no bairro, previamente colocadas pelas assessorias, e aconteceu devido à

necessidade do cumprimento da legislação para aprovação do projeto da primeira Etapa, e

assim se expressa:

americanos, o método tem sido sistematizado e, com isso, posto a serviço de cidades com forte
demanda por crescimento. Há cerca de duas décadas, utiliza-se o termo “Form Based Code” para
designar esse tipo de abordagem.
511
Conforme entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP –, realizada em 11 de junho
de 2020, Brasília, DF (via G-meet). Ver item: II 2.1 – Morfologia e Tecido urbano – Distrito de
zoneamento.
512
Conforme o Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT (2009), deve ser assegurado o
percentual de 15% da área da gleba para equipamentos públicos comunitários. No caso da Etapa 1,
o percentual reservado é de 29,24% (8.649 m2).
329

“[...] receamos sobre os edifícios públicos que serão inseridos no Bairro – nos
lotes “doados”, dado que, em geral, os projetos para os equipamentos
públicos comunitários no Brasil são “um carimbo”. Nosso objetivo futuro é
conseguirmos discutir arquitetura com as secretarias do DF, utilizando
instrumentos legais que nos amparem a propor compensações urbanísticas
doando projetos e até construindo esses equipamentos”. (BIRMANN, 2020,
s.p.).

Entende-se, nesse ponto, que o planejamento dos quarteirões ou lotes especiais deve

estar previamente pensado no plano urbanístico geral – mesmo que com uma ou duas

hipóteses –, a fim de que os cruzamentos das vias, as fronteiras dos distritos, as distâncias

entre as instalações comunitárias, entre outros fatores que estruturam o bairro, possam servir

como elementos na tomada de decisão dos devidos posicionamentos.

Somados a isso, se forem levados em consideração pré-requisitos para uma futura

certificação do Urbitá513, através de selos de qualidade, os lotes especiais (mais

especificamente os equipamentos de ensino) necessitam estar contemplados no projeto de

forma a atender distâncias mínimas caminháveis das residências.

Sobre espaços cívicos e institucionais

Acerca dos estudos apresentados, tanto pelo ateliê Gehl, quanto pelo ateliê SOM,

entende-se que são relevantes e deverão ser incorporados pela UP nos futuros projetos, em

conjunto com outros fatores de natureza social e econômica. Nessa lógica, conforme

comentário de Ricardo Birmann, a UP está muito empenhada em trazer uma universidade

e/ou um colégio para a área – sugerido pelo ateliê SOM –, entendendo que este é um dos

primeiros, senão o primeiro fator de decisão de onde a família irá morar – a existência de

equipamentos de ensino no bairro.

Sobre os espaços públicos abertos

Os espaços públicos abertos do Urbitá compreendem o parque linear urbano, os

parques Oeste e Leste, a praça Paranoazinho e a rua Curitiba. Estes espaços compõem um

513
Conforme o LEED Neighborhood Development, o LEED for Cities and Communities e o Fitwel
Community que exigem uma distância das unidades habitacionais, de 800m caminháveis, as escolas
de ensino fundamental e 1600m de escolas do ensino médio.
330

conjunto de elementos interligados514 e desempenham a função, entre outras, de ambiência

– favorecendo o microclima e a qualidade do ar – para os parcelamentos, criando elementos

de diferenciação na paisagem urbana.

Do ponto de vista social, este sistema proposto contribui com a qualificação da

ocupação urbana de toda a região, oferecendo espaços de lazer, esporte, arte, eventos

culturais, gastronomia e educação à população.

Nesse ponto, na escala do bairro, é importante enfatizar que esta rede de espaços

públicos abertos – pela sua extensão e abrangência – servirá como espaços de refúgios (ao

ar livre) também para as zonas de trabalho. Dessa forma, cumpre-se com o quesito de

proporcionar ao bairro a combinação entre locais de trabalho, comércio, lazer, recreação e

usos institucionais.

Nesse aspecto, da geração de qualidade de vida para a população (do bairro e da

região), entende-se que esta rede de espaços públicos abertos auxilia a compor um ciclo

virtuoso (com a preservação ambiental desejada dessas áreas), uma vez que a população, ao

utilizar e se relacionar diariamente com estes espaços, passa a atuar como sua principal

defensora.

Destaca-se, aqui, a boa relação entre o projeto da rede viária do Urbitá e os demais espaços
514

públicos abertos (parques e praças) como apresentado no item II 1.2 – Conexões – Rede viária.
331

II.4 Edifício: do público ao privado

A Urbanizadora Paranoazinho – UP – realizou, no período de outubro a dezembro de

2016, uma Oficina de Concepção Arquitetônica, coordenada pela UP, com o objetivo de

desenvolver estudos e propostas arquitetônicas conceituais para os edifícios do futuro

bairro515.

A oficina teve, como objetivo, identificar os ateliês de arquitetura que poderiam ser

convidados a trabalhar nos empreendimentos imobiliários a serem desenvolvidos pela UP no

bairro Urbitá. Assim, em setembro de 2017, quatro escritórios foram contratados pela UP:

Ideia 1, de Porto Alegre - RS, Esquadra Arquitetos, de Brasília -DF, Rua, do Rio de janeiro -

RJ e Zoom, de São Paulo – SP.

A partir da contratação dos quatro escritórios de arquitetura, foi realizada a segunda

oficina – Oficina de Concepção Arquitetônica –, a qual foi organizada e estruturada pela

equipe da DPZ (Duany Plater-Zyberk & Company), em conjunto com a UP.

Conforme Filipe B. Monte Serrat516, esta oficina, que foi denominada de charrete, teve

a participação dos quatro escritórios contratados, mais as equipes multidisciplinares de

consultores, empresas de infraestrutura, empresas de paisagismo – num determinado

momento – e, num dos dias, a participação de representantes e proprietários das principais

imobiliárias de Brasília, com a finalidade de discutir, em especial, as questões relativas às

tipologias e as áreas de uso comum abertas.517.

Sobre esta oficina, Guilherme Gambier Ortenblad518 expõe que a participação dos

corretores de imóveis de Brasília foi determinante na definição do projeto519. Houve um

entendimento que há, no projeto do bairro Urbitá, muitos princípios de projeto à frente do

515
Nesta primeira oficina, participaram treze escritórios de arquitetura do Brasil. O resultado desta
experiência está registrado na forma de um livro: No coração do Brasil, 2017.
516
Entrevista com Filipe B. Mont Serrat – Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos,
realizada em12 de setembro de 2019, Brasília, DF.
517
Segundo Filipe B. Monte Serrat, neste dia, ficou evidente um perfil conservador e “pé atrás” por
parte destes atores do setor imobiliário, sobretudo no quesito da diversidade de tipologias das
unidades habitacionais que estavam sendo apresentadas pela consultoria da DPZ, numa visão do
empreendedor voltado ao que “é vendável e o que não é”.
518
Entrevista com Guilherme Gambier Ortenblad – Arquiteto e Diretor-Presidente da Zoom –
urbanismo, arquitetura e design, realizada em 19 de março de 2021 (via G-meet).
519
Os ateliês tiveram que entender os parâmetros de projeto que vendem e os que não vendem em
Brasília – que são diferentes de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.
332

que o mercado imobiliário costuma produzir no Brasil, entretanto, há, também,

condicionantes de ordem cultural que – em especial nos primeiros empreendimentos –

deverão ser conciliados para que atendam às demandas imobiliárias.

Foram escolhidas quatro áreas, sendo duas localizadas na zona A – Central (zona entre

a Centralidade e a zona Parque), com um caráter mais residencial; e outros dois meios

quarteirões na zona A – Centralidade, motivando a constituição de propostas com caráter

mais intenso de centro urbano, com grande vitalidade.

Essas áreas – quatro meios quarteirões – são constituídas por quatro lotes – incluindo

o lote coringa520 – para a criação de alamedas internas aos quarteirões, somando uma média

de 6.198 m2 – 6.920 m2 para cada área.

Relativamente ao programa dado, segundo Filipe B. Mont Serrat, não houve a

especificação de um número de unidades residenciais e comerciais que deveria ser atendido

e, sim, alguns percentuais de áreas residenciais e não residenciais (em especial no piso

térreo). A ideia era que, a partir das diretrizes colocadas e dos condicionantes do sítio, fossem

feitos estudos de viabilidade, baseando-se numa proporção entre área vendável mínima e

área computável. Dessa forma, estes estudos foram mostrando os potenciais, tanto

econômicos, como de composição da paisagem urbana nas zonas em que estavam inseridas.

Foram entregues, pelos quatro escritórios521, um volume de estudos preliminares

completos (plantas de situação, implantação, plantas baixas, cortes, fachadas, perspectivas,

tipologias das unidades de habitação, entre outros detalhes de acordo com cada proposta).

Considerando o processo descrito, as análises que se apresentam – referentes aos

Acessos, ao Tipo e Forma dos Edifícios e aos Espaços entre Edifícios – serão relativas à(s)

proposta(s) que representa(m) a melhor solução e as que mais condizem com o indicador ou

elemento a ser analisado. As ilustrações que se apresentam foram redesenhadas a partir dos

estudos, conforme acima mencionados, recebidos pela UP.

520
Sobre conceito de lotes coringas e a unificação de lotes ver item II.3.1 – Parcela e Edificado –
Configuração dos quarteirões.
521
O projeto do ateliê Rua - RJ não foi escolhido como objeto de estudo para as análises apresentadas
neste trabalho, na medida em que se considerou a sua proposta menos pertinente, relativamente às
premissas do presente trabalho e do Urbitá.
333

QUADRO 52 Contexto e localização das quatro áreas escolhidas: Ateliê Esquadra – DF e Zoom
– SP (zona A – Central) e Ateliê Ideia 1 – POA e Rua – RJ (zona A – Centralidade).
334

II.4.1 Acessos

Intervalo / espaço de transição

A criação de um bairro urbano com edifícios na escala humana e a busca de uma

relação ativa e recíproca entre espaços públicos e privados foram os princípios de projeto

que orientaram as soluções de arquitetura para as propostas do conjunto de edifícios,

procurando-se que estes pudessem dialogar com o desenho urbano apresentado.

Como já demonstrado no item II.3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos

quarteirões, o partido volumétrico básico escolhido para o Urbitá foi o “bloco de

perímetro”522. Isso posto, foram desenvolvidos projetos de arquitetura que priorizassem a

relação do edifício com a rua e com a cidade.

Nesse contexto, percebe-se, nas propostas apresentadas, um esforço para dissolver

as fronteiras entre o espaço público e privado através do desenho das áreas de transição,

entre o conjunto de edifícios com a rua e com os espaços abertos, como as praças e pátios

internos.

Nesse ponto, é pertinente destacar que não faz parte da cultura arquitetônica no

Brasil, em especial nos empreendimentos habitacionais, esta integração entre espaços de

uso público, semipúblicos, semiprivados e privados523, em razão, acima de tudo, da

segurança. Motivo pelo qual levou, por parte dos quatro escritórios contratados, que

indicassem soluções de fechamento ao jardim e à via interna524.

Contudo, voltando à análise das áreas de transição, e na perspectiva de minimizar a

divisão rígida entre áreas com diferentes demarcações territoriais, verifica-se a proposição de

alguns elementos que, conforme descreve Monteys (2017), estão, de um jeito ou de outro,

na rua e são o primeiro gesto, dão as boas-vindas e acolhem a primeira ação ao entrar.

522
Sobre bloco de perímetro ou partido volumétrico “donut”, ver item II. 3.1 – Parcelas e Edificado –
Configuração dos quarteirões, e no item II.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Composição formal dos
edifícios.
523
Sobre gradações de acessos, ver próximo item: Grau de acesso.
524
Sobre soluções de fechamento para a via interna e pátios internos, ver item II. 4.3 – Espaço Entre
Edifícios – Espaços de uso comum.
335

Como elementos de reconciliação entre a rua e o domínio privado, através dos

espaços de transição, foi escolhida, para a análise, a proposta do ateliê Esquadra – DF, por

apresentar algumas estratégias mais relevantes, conforme segue: o avanço do volume do

corpo do edifício acima do piso térreo, proporcionando uma área coberta; o desenho

inclinado das paredes dos acessos525, criando um ângulo de visão mais aberto em relação à

calçada (de onde geralmente se dá a chegada do pedestres à edificação); a mudança de

nível, gerando dois ou três degraus em relação à calçada, o que propicia também a mudança

de vistas526; a adição de floreiras na borda – entre as lojas do piso térreo e o espaço de

circulação que se funde à calçada (recuo de 2,5m - 5m desde o início e fim do quarteirão na

avenida Sobradinho).

No que diz respeito à “pequena escala / escala humana” dos acessos aos edifícios,

citando Coelho (2013, p.193), identifica-se a falta de uma cobertura mais baixa, o que

proporcionaria uma sensação de chegada e, consequentemente, uma adaptação dos

usuários ao espaço mais privado, além da proteção.

Conforme Filipe B. Mont Serrat, existe a ideia de adicionar uma pérgola metálica para

cada acesso. Isso, além de criar uma cobertura nos acessos principais, teria a função de

colaborar com a conexão dos cinco blocos ao nível do piso térreo, proporcionado maior

continuidade espacial do embasamento do conjunto.

Esta continuidade espacial, através destes planos de cobertura (pérgolas metálicas),

formaria, ao longo da avenida Sobradinho, um escalonamento, de acordo com cada platô –

na escala humana. Também, auxiliariam na demarcação da entrada deste espaço

intermediário, o que contribuiria para a orientação dos usuários e visitantes.

Por fim, relativamente ao posicionamento dos acessos e na busca da relação entre

interior e exterior, nota-se que, para os edifícios de esquina (blocos B e D), poderiam ter sido

apresentadas propostas com entradas pelas esquinas, concedendo linhas de visão em três

525
Conforme Filipe B. Mont Serrat: “Criamos estas inflexões, com esta forma de cunha, para poder
abrir um pouco o hall externo e proporcionar mais contato entre exterior e interior. Somamos, a isso,
a transparência dos planos verticais na entrada”. Entrevista com Filipe B. Mont Serrat – Arquiteto do
ateliê Esquadra realizada em14 de maio de 20, Brasília, DF (via G-meet).
526
As três entradas pela rua Sobradinho possuem acesso em nível (vindo da direção leste) e também
por degraus (vindo da direção oeste). Essas duas possibilidades tornaram-se viáveis em razão da
organização da implantação do conjunto em platôs, distribuindo a diferença de nível de 2,70m em seis
platôs.
336

ou mais direções para vários componentes do sistema de circulação (hall externo, hall interno,

nó de recepção, espaço de estar e núcleo de circulação vertical).

No entanto, considera-se as escolhas dos posicionamentos dos acessos de pedestres

ao conjunto adequadas, uma vez que levam em conta o caráter das vias e as rotas principais

de chegada – avenida Sobradinho, avenida Dublin e avenida Estocolmo –, bem como através

da via interna – que dá acesso às townhouses.

Ainda, as entradas relativas aos blocos de esquina localizam-se próximo aos locais de

encontro, nas áreas de transição de domínio público, possíveis pelo afastamento e formato

em diagonal, tornando-as mais seguras.


337

QUADRO 53 Tipo e modelo de quarteirões conforme Gehl (2014). Partido volumétrico – bloco de
perímetro, estudo ateliê Esquadra. Acessos e espaços de transição – proposta ateliê Esquadra –
piso térreo.
338

Grau de acesso

No intuito da criação de reciprocidade entre os espaços públicos e privados, além dos

espaços de transição (entre a rua e a esfera privada ou semiprivada), ainda é essencial a

cautela com o grau de relevância territorial e dos possíveis acessos aos espaços adjacentes

do edifício.

Nesse enfoque, dos cuidados na sequência e ordenação das circulações, desde a

entrada principal dos edifícios até as unidades residenciais, por meio da hierarquização entre

espaço público, semipúblico, semiprivado e privado, optou-se analisar as propostas dos

ateliês Esquadra - DF e Zoom - SP, por apresentarem aspectos mais significativos neste

critério.

Observa-se, em ambos os conjuntos, como um primeiro componente do sistema de

circulação (na esfera do domínio semipúblico), a presença de um hall interno para cada um

dos acessos. Este espaço funciona, utilizando a nomenclatura de Alexander (2013, p. 500),

como um “nó de recepção”, a fim de dar sentido de direção aos usuários e visitantes.

Esta legibilidade e identificação, a partir deste nó, torna-se mais eficiente, uma vez

que os núcleos de circulação vertical são visíveis desde a entrada aos edifícios, bem como

permitem a visão direta dos acessos às áreas de uso comum (salão de festas, academia,

brinquedoteca, espaço lounge, entre outros), ao pátio interno (no miolo do quarteirão) e às

demais circulações que acessam às unidades habitacionais existentes no piso térreo.

Nesse ponto, do acesso às unidades habitacionais no piso térreo, observa-se, na

proposta do ateliê Esquadra, que não há uma demarcação física mais específica entre o

espaço semipúblico para o semiprivado, como é o caso dos acessos às unidades

habitacionais do piso térreo que acontecem através de uma galeria interna com ligação direta

ao núcleo de circulação vertical e hall interno (nó de recepção) do edifício.

Embora, neste caso, a diferença de larguras das circulações estabeleça uma

graduação nas circulações, constata-se, em especial nos blocos C, D e E, uma proximidade

acentuada entre a porta da unidade habitacional (espaço privado) e o hall interno.

Nesta circunstância, recomenda-se o desenho de um pequeno espaço (um hall) entre

a galeria que serve de ligação às unidades habitacionais e o hall interno do edifício, onde
339

localiza-se o núcleo de circulação vertical, a fim de criar mais um nível legível de circulação

(um intervalo) e propiciar mais privacidade aos moradores destas unidades.

Nessa hipótese, Filipe B. Monte Serrat, considerando a cultura imobiliária do que é

mais vendável ou não, e também da segurança dos moradores do piso térreo, comenta sobre

a ideia de criar um controle entre estes dois espaços (hall do edifício – espaço semipúblico –

e a galeria interna de acesso às unidades habitacionais do piso térreo – espaço privado) 527.

Outra possibilidade, num pensamento mais comunitário, seria de criar espaços

intermediários para cada uma das entradas das unidades habitacionais do piso térreo, por

meio de pequenos recuos, a fim de criar um ambiente, além da porta da frente, que também

poderia ter uma segunda porta com ligação mais direta à galeria interna de uso coletivo.

A exemplo do projeto habitacional Kassel na Alemanha (1979 – 82), de Herman

Hertzberger, a segunda porta poderia ser de vidro, e o espaço intermediário entre as duas

portas poderia ser interpretado de formas diferentes. Assim, esse ambiente seria capaz de

ganhar um caráter mais individualizado e fazer parte da extensão da casa, o que contribuiria

para que esta galeria interna perdesse a sua característica de “terra de ninguém”528 e

ganhasse uma atmosfera mais comunitária.

Voltando ao nó de recepção, além da principal função – de orientar os usuários e

visitantes –, o hall interno deve desempenhar também o papel de dinamizador para o contato

social. Nesse sentido, verifica-se, nas duas propostas (ateliê Zoom e Esquadra), a composição

de mobiliários nestes espaços que poderão favorecer as relações sociais entre os moradores.

Na proposta do ateliê Esquadra, nota-se um espaço desta natureza para cada um dos

blocos de edifícios (cinco blocos), compostos por três, quatro e seis unidades habitacionais

por pavimento529. Igualmente ao ateliê Esquadra, observa-se, na proposta do ateliê Zoom,

que é previsto um recinto, junto aos halls internos, para acomodar um espaço de estar. Nesse

527
Filipe B. Mont Serrat comenta sobre esta ideia em entrevista realizada em14 de maio de 2020 (via
G-meet), no entanto, não aparece no desenho esta possível solução.
528
Termo utilizado por Herman Hertzberger no livro: Lições de Arquitetura (2015, p. 38).
529
Proposta ateliê Esquadra: Bloco A: quatro apartamentos por andar (do 1º - 4º) e um apartamento
no 5º andar, somando 17UH; Bloco B: três apartamentos por andar (1º - 8º) e um apartamento no 9º
andar, somando 25 UH; Bloco C: seis apartamentos por andar (1º - 4º) e um apartamento no 5º andar,
somando 25 UH; Bloco D: quatro apartamentos por andar (do 1º - 7º) e dois apartamentos no 8º andar,
somando 30 UH e Bloco E: quatro apartamentos por andar (1º - 4º) e um apartamento no 5º andar,
somando 17 UH.
340

caso, existem dois halls internos para o bloco S1e para o bloco S2, e um hall interno para

cada um dos blocos D e E530.

Dessa forma, prevê-se uma média de 23 unidades habitacionais (UH) por bloco, na

proposta do ateliê Esquadra, e uma média de 25 unidades de habitação por bloco, na

proposta do ateliê Zoom. Isso quer dizer uma média de 23 e 25 famílias podendo encontrar-

se, no decorrer do dia a dia, no hall interno de cada bloco.

Ainda, em relação às duas propostas (ateliê Zoom e Esquadra), outro ponto positivo

do hall interno é a transparência nos planos verticais que fazem relação com os espaços

externos (tanto para a rua, quanto para o jardim interno), concedendo visuais entre o exterior

e o interior. No entanto, o núcleo de acesso vertical possui pouca possibilidade de ser visto

a partir do hall externo, pela sua posição – paralelo ao acesso ao edifício, conformando um

ângulo agudo, o qual fica pouco visível.

No que diz respeito ao grau de acesso, é indispensável citar os espaços frontais que

conformam jardins – direcionados para o pátio interno – nas unidades habitacionais térreas

dos blocos P1 e P2 – na proposta do ateliê Zoom. Estas áreas (nas entradas das unidades

habitacionais) têm um potencial de adaptabilidade no que tange à possibilidade de

autorrepresentação de seus usuários, componente que reforça a identidade e o sentimento

de personalização, como também contribuem para o convívio e animação do conjunto531.

530
Proposta ateliê Zoom: Bloco S1: quatro apartamentos por andar e sete pavimentos (28UH); Bloco
S2: quatro apartamentos por andar (do 1º - 5º ) e dois apartamentos por andar (6º - 9º), somando 28
UH; Bloco D: seis apartamentos por andar (do 1º - 6º) e dois apartamentos no 7º andar, somando 38
UH; Bloco P2: três apartamentos por andar e quatro pavimentos (12UH); Bloco P1: seis apartamentos
por andar e dois pavimentos (3º - 4º) e cinco apartamento no 5º andar, somando 17 UH; Bloco E: cinco
apartamentos por andar e cinco pavimentos (1º - 5º) e três apartamentos no 6º andar, somando 28UH.
531
Ver mais detalhes sobre estes espaços frontais no item II. 4.3 – Espaços Entre Edifícios – Espaços
de uso comum.
341

QUADRO 54 Graus de acesso – proposta ateliê Esquadra – piso térreo (primeira planta); e proposta
ateliê Zoom – piso térreo (segunda planta). Detalhe – nós de recepção: ateliê Zoom e Esquadra.
342

Circulações - horizontais e verticais

Na sequência da análise da graduação dos acessos e na busca da efetiva relação entre

o espaço público e o privado, em especial nos andares acima do piso térreo, verificou-se uma

preocupação, por parte de algumas propostas, em proporcionar o máximo de acessos

possíveis pela rua.

Os acessos possíveis pela rua, nos andares acima do piso térreo, têm o sentido de,

através da disposição espacial do núcleo de circulação vertical e dos seus respectivos

patamares, promover o contato dos usuários com a rua (espaço público) e ou pátio interno

(espaço semipúblico); isto é, conectar, mesmo que apenas visualmente, o patamar que acessa

às unidades habitacionais diretamente ao solo.

O pátio interno é aqui referido como espaço semipúblico porque, num primeiro

momento – nos primeiros anos de implantação dos empreendimentos no bairro –, terá que

haver elementos de controle em seus acessos. No entanto, anseia-se que, a partir da

consolidação do bairro (com a vivacidade que se espera), os pátios internos dos quarteirões

sejam acessíveis ao uso público532, como é o caso de Barcelona – uma das referências usadas

na caracterização dos quarteirões.

À vista da relação entre as circulações verticais e os espaços públicos e/ou

semipúblicos, foram escolhidas, para análise, as propostas do ateliê Zoom 533, posto que

apresenta soluções mais pertinentes no que tange ao posicionamento dos núcleos de

acessos verticais na parte exterior dos edifícios.

Esta escolha, por parte do ateliê Zoom, viabilizou um desenho de patamares e galerias

que propõem, parcialmente, um elo entre a rua e a porta de entrada de cada habitação.

Parcialmente, porque nos blocos S1 e S2 a conexão com a rua não é estabelecida, tanto pelo

posicionamento do núcleo de circulação vertical, como pela organização espacial das

unidades habitacionais que contornam o núcleo de acessos verticais.

532
Ver item II. 3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos quarteirões onde é apresentada a ideia
da criação dos Espaços Privativos de Uso Coletivo (EPUC).
533
Das quatro propostas, percebeu-se que o ateliê Zoom – SP mostrou melhores soluções no que se
refere ao nexo entre as circulações verticais e os espaços públicos e semipúblicos. Os demais ateliês
apresentaram estudos sugerindo núcleos de circulação vertical enclausurados no corpo do edifício.
343

Sendo assim, o vínculo com o solo acontece somente com o pátio interno – espaço

semipúblico534. Já, nos blocos D, E, P1 e P2, a relação com a rua e com o pátio interno é

constituída, tanto pela localização das escadas e elevadores (na parte externa dos blocos),

como pela relação entre altura dos edifícios e o contato com solo, tendo seis pavimentos

(bloco D e E) e cinco e quatro pavimentos, respectivamente (blocos P1 e P2).

Ainda, com o núcleo de circulação vertical posicionado para o exterior do edifício, (e

com transparência), criam-se visuais de dentro para fora e vice-versa, propiciando uma

sensação de segurança tanto aos usuários do conjunto, como aos transeuntes. Nesse ponto,

é pertinente citar Santos (1985, p. 78)535, que reconhece a importância de um lugar vivo, o

qual é responsável pela elevada taxa de pessoas circulando nos espaços, o que gera muitos

olhares vigilantes que asseguram que nada passará despercebido.

As tipologias adotadas pelo ateliê Zoom foram: núcleos de acessos verticais,

incorporados ao edifício, no meio da galeria e divididos por ela (blocos S1 e S2); e núcleos

de acessos verticais incorporados ao edifício de um lado da galeria, para o exterior do edifício

(blocos D, P2 e P1 e E).

Sobre os tipos de núcleos de acessos verticais, é pertinente mencionar que houve um

estudo, anterior a este apresentado (pelo mesmo ateliê), o qual organizava o bloco S1 por

meio da circulação vertical autonomizada do corpo do edifício. Esta hipótese viabilizava, por

meio desta autonomização, a relação entre a escada e a rua (tanto para a rua Estocolmo,

como para a rua interna), bem como assegurava, através do patamar/galeria, a relação da

porta de entrada de cada habitação com o pátio interno.

Entretanto, estas galerias, propostas no estudo inicial, sofreram alterações e foram

eliminadas devido a apontamentos, por parte da UP. Conforme Guilherme Gambier

Ortenblad536, tais apontamentos têm a ver com o mercado imobiliário de Brasília, que não

dispensa, por exemplo, a ventilação cruzada em todos os apartamentos; a ventilação natural

534
Este vínculo, conforme Gehl (2013, p.33 – 46); Gehl (2006, p.110 e 111); Gehl (2018, p.108 e 109)
e Alexander (2013, p.115), é perdido a partir do quinto pavimento e os blocos S1 e S2 possuem 8 e
10 pavimentos respectivamente.
535
Carlos Nelson Ferreira dos Santos, livro: Quando a rua vira casa (1985). Santos utiliza a referência
de Jane Jacobs (2014 [1960], p. 35), que, através do conceito “olhos na rua”, recomenda que os
edifícios de uma rua devem ser orientados para a rua e nunca virarem as costas ou laterais inexpressivas
sobre ela e deixá-la cega.
536
Entrevista com Guilherme Gambier Ortenblad – Arquiteto e Diretor-Presidente da Zoom –
urbanismo, arquitetura e design - realizada em 19 de março de 2021, São Paulo, SP (via G-meet).
344

dos banheiros e cozinhas; bem como não são adeptos da localização dos setores íntimos

voltados para a avenida principal (Sobradinho) – que terá um caráter mais intenso, com mais

ruídos e contribui menos para a fachada principal, de que se espera uma composição

formatada por grandes aberturas e amplas varandas contínuas.

Dessa forma, na segunda proposta, inverte-se a organização dos setores social e

íntimo dos apartamentos, de forma que os ambientes sociais fiquem voltados para a avenida

Sobradinho, possibilitando grandes aberturas e varandas contínuas na fachada. Também, as

áreas molhadas passam a ter ventilação natural, bem como, com esta nova configuração, a

ventilação cruzada nos apartamentos é beneficiada.

Verifica-se que, embora as alterações apresentadas na segunda proposta tenham

auxiliado na organização dos espaços das unidades privadas, em especial, dos aspectos

relacionados à ventilação natural, não colaboraram com o princípio da conexão dos pisos

mais altos com a rua através do sistema de circulações.

Igualmente, é possível afirmar que esta decisão (a segunda proposta) anula o conceito

da conexão entre a porta de entrada de cada habitação e o solo (através dos patamares), tal

como, encerra a ideia de fazer desses patamares espaços ambientados para o encontro e o

convívio entre os moradores do edifício537, atribuindo um caráter de espaços de passagem

apenas – enclausurados e desprovidos de qualquer experiência, emoção ou descoberta.

Ainda, sobre circulações verticais, conforme Lahys Rocha Miranda538, nas próximas

etapas de projeto (os complementares), serão detalhados alguns elementos correspondentes

à segurança contra riscos de incêndio; como shafts de pressurização, elementos necessários

às escadas de emergência, entre outros, seguindo as regulamentações de saídas de

emergência em edifícios. Contudo, observa-se que o número de Unidades Habitacionais por

piso (máximo de seis unidades) e a localização dos núcleos de circulação vertical em relação

às habitações são compatíveis com a fácil evacuação para o exterior do edifício (a maior

distância identificada a percorrer entre habitações e as escadas (saídas de emergência) é de

17,5 metros)

537
Referente ao projeto do ateliê Zoom: os edifícios possuem, em média, quatro a seis unidades
habitacionais por andar, o que significaria quatro a seis famílias podendo encontrar-se e apropriar-se
diariamente deste espaço.
538
Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP – Entrevista realizada em 04 de dezembro de
2020, Brasília, DF (via G-meet).
345

QUADRO 55 Tipologias adotadas pelo ateliê Zoom. Planta tipo ateliê Zoom e relação entre as
circulações verticais e os espaços públicos e/ou semipúblicos. Primeira proposta para o bloco S2:
circulação vertical autonomizada do corpo do edifício e segunda proposta para o bloco S2: núcleo
de acessos verticais, incorporado ao edifício, no meio da galeria.
346

Síntese da análise dos acessos

Sobre os espaços de transição

Para a demarcação das entradas, considerando o partido volumétrico de bloco de

perímetro escolhido para o bairro Urbitá, nota-se a inclusão de uma combinação de

elementos diferentes que qualificam a forma física dos espaços entre a rua e as entradas do

conjunto de edifícios.

Dentre estes elementos, destacam-se os afastamentos dos edifícios em relação à

calçada, incorporando-os ao espaço público. Através desta solução de projeto, que aumenta

a largura da calçada – de 8 metros para até 13 metros, ampliam-se as condições para a

caminhabilidade e ativação do espaço público, bem como contribui para a melhor relação

entre a altura dos edifícios e largura das vias539.

Verificou-se, na proposta do ateliê Esquadra, nos acessos aos blocos e torres, a falta

de alguns elementos na escala humana a fim de minimizar a forma gerada pelo avanço do

volume do corpo do edifício acima do piso térreo. O balanço apresentado tem uma altura de

aproximadamente 4,5m (em razão do pé-direito do piso térreo), o que não exprime a escala

humana e vem ao desencontro do que recomenda Coelho e Pedro (2013, p. 193), que os

elementos fundamentais de referência à escala humana devem integrar-se de forma

protagonista na composição dos acessos dos edifícios.

Sobre o grau de acessos

De modo geral, há uma tentativa de hierarquização entre espaço público,

semipúblico, semiprivado e privado nas duas propostas analisadas. É verificada, na proposta

do ateliê Esquadra, uma baixa demarcação física (falta do espaço semiprivado) entre o hall

interno dos edifícios e os acessos às unidades habitacionais do piso térreo.

Reativamente aos halls internos dos edifícios, tanto na proposta do ateliê Esquadra,

quanto na proposta do Zoom, observou-se que cumprem a função de orientar os usuários e

visitantes, no entanto, somente após a entrada no edifício. Isso em razão da posição do

núcleo vertical de circulação, o qual não é possível ser visto a partir do hall externo.

539
Sobre relação entre altura dos edifícios e largura das ruas, ver item II. 4.3 – Espaços Entre Edifícios
– Implantação das edificações.
347

Quanto aos acessos privados das unidades habitacionais no térreo, conclui-se que a

melhor solução é proposta pelo ateliê Esquadra, dispondo as entradas privadas das

townhouses pela via interna. Esta decisão de projeto tem, como consequência positiva, a

criação de espaços de transição, assim como amplia as possibilidades de integração com a

via interna e com a outra parte do quarteirão.

Nesse ponto, observa-se que este espaço ainda não está detalhado a ponto de

mostrar quais serão os elementos que o comporão, como por exemplo: lugares ao ar livre

para se sentar, uma pérgola, um jardim, entre outros elementos ativos que incrementarão o

potencial desta área frontal, tornando-a mais viva e segura.

Sobre circulações - horizontais e verticais

De forma geral, nos seis blocos propostos pelo ateliê Zoom, identifica-se um

entusiasmo em relacionar o núcleo de circulação vertical aos espaços públicos e

semipúblicos. Isso evidencia-se no posicionamento escolhido para os núcleos de acesso

verticais incorporados ao edifício de um lado da galeria, para o exterior dos blocos D, P2 e

P1 e E.

Sobre a solução final da tipologia adotada para os núcleos de circulação vertical (nos

blocos S1 e S2), observou-se uma perda no que se refere à construção de passagens com

vista para os jardins internos e para o conjunto dos edifícios. Também, houve perda,

relativamente à ideia inicial de ter, para cada bloco, uma galeria aberta com potencial de

transformar-se em uma “varanda semipública” colaborando para a construção das relações

sociais.

Mesmo assim, permanece, como ponto positivo, a localização dos núcleos de

circulações verticais na parte externa e saliente em relação ao plano vertical do edifício (ao

menos em um dos lados). Esta solução tem três principais vantagens: a primeira é a marcação

das entradas dos blocos, podendo comunicar seu uso através da fachada, delineando a

compreensão dos graus de acesso pelos habitantes e outros utentes; a segunda é de

propiciar a integração entre os edifícios do complexo e entre os espaços públicos e

semipúblicos ao nível da rua; e a terceira é relativa à segurança, reconhecendo a relevância

das recomendações de Jane Jacobs (2014 [1960], p. 35) sobre a teoria dos “olhos na rua”.
348

II.4.2 Tipo e Forma dos Edifícios

Tipo e organização do edifício

No tópico anterior, foram analisados os tipos de relações dos acessos e das

circulações (externas e internas – verticais e horizontais) dos edifícios com o solo. Esta

conexão, dos usuários com a rua e/ou com jardins internos ao quarteirão no piso térreo, é

entendida como uma qualidade essencial em edifícios residenciais.

Nessa perspectiva, da interação entre exterior (público) e interior (privado) e a relação

com os tipos e organização dos edifícios, foram escolhidas, para a análise, as propostas dos

ateliês Esquadra, Ideia 1 e Zoom.

Seguindo o partido volumétrico básico escolhido para o Urbitá que é o “bloco de

perímetro”, os tipos de edifícios, de um modo geral, assim se apresentam: um conjunto de

edifícios plurifamiliares (compostos por blocos e torres) de acessos coletivos que circundam

blocos menores – edifícios unifamiliares com acesso privado voltados para a via interna.

Para os edifícios plurifamiliares de acesso coletivo, foi definida a organização das

unidades habitacionais como segue: três, quatro e seis apartamentos por piso, incluindo o

piso térreo – que possui unidades de habitação do tipo T0 e T1, na proposta do ateliê

Esquadra; dois, três, quatro e seis apartamentos por piso, com exceção do piso térreo onde

não há unidades residenciais na proposta do ateliê Ideia 1; e um, dois, três, quatro, cinco e

seis apartamentos por piso, incluindo o piso térreo – que possui unidades de habitação do

tipo T1 e T2, na proposta do ateliê Zoom.

Para os edifícios unifamiliares com acesso privado, foram propostas as townhouses,

de duas maneiras diferentes: o ateliê Esquadra apresenta tipologia de seis casas unifamiliares

em fita com três pavimentos com acessos privados diretos a partir da via interna; já o ateliê

Ideia 1 propõe seis unidades habitacionais com acesso privado, (também diretos da via

interna), mais três pavimentos acima, sendo: dois pisos com três apartamentos por meio de

acesso coletivo horizontal (por galeria externa aberta), mais um terraço de uso coletivo.

Nesse ponto – relativo à proposta do ateliê Ideia 1–, é pertinente salientar que,

embora compondo uma pequena porcentagem do projeto (doze unidades habitacionais), as

galerias externas formam corredores semiprivados e, no caso da galeria que acessa ao


349

terraço, espaços semipúblicos. Estes corredores oportunizam a relação dos acessos às

unidades habitacionais com o solo (o pátio interno), promovendo valores positivos para o

conjunto no que tange à priorização do coletivismo ao individualismo, citando Buber (1948

apud HETZBERGER, 2015, p. 13).

O ateliê Zoom não propõe a tipologia de townhouse; entretanto, desenha casas

unifamiliares com acessos privados. Estes acessos possuem uma área de transição ajardinada,

que tem, em si inúmeros, benefícios540, porém, no que condiz à integração com a via interna

e com a outra parte do quarteirão, deixa a desejar, uma vez que as entradas se voltam para

o pátio interno. Assim, as casas unifamiliares relacionam-se com a rua interna apenas

visualmente, através das janelas.

Além das tipologias de edifícios apresentadas, destaca-se, por parte dos três ateliês

estudados, a grande diversidade de habitações projetadas com diferentes densidades num

esforço de adequação da habitação aos novos modos de vida na era atual541. Verificam-se

apartamentos, desde T0 até T4, nos blocos, torres e barras que compõem o meio quarteirão.

Essa mistura de tipos de habitação – com tamanhos e valores diferentes – tem o

objetivo de auxiliar na construção de um bairro com diversidade de pessoas, de idades, de

nível de renda e de culturas, o que vem ao encontro dos princípios do Novo Urbanismo, dos

novos modos de vida e das mudanças nos arranjos familiares da sociedade atual.

540
Através da criação destas áreas de transição ajardinadas, possibilitam-se possíveis influências
pessoais dos usuários reforçando sua identidade, assim como, colabora para uma imagem menos
uniformizada do conjunto, estimula a animação e o convívio. Sobre áreas de transição ver item II. 4.1
– Acessos – Intervalo / espaço de transição.
541
Sobre atualidade, Gausa (2000, p. 263) explica que habitar situa-se em um prelúdio que permite a
criação de uma nova ideia de mundo numa interpretação do que há “ahí fuera”, isto é, perceber uma
nova dimensão múltipla, reivindicada pelas aceleradas mudanças das atividades humanas nos dias de
hoje. Manuel Gausa e outros autores no livro: Diccionario Metapolis de Arquitectura Avanzada: Ciudad
y Tecnologia en la Sociedad de la Informacion, apresentam conceitos, ideias, técnica e termos
relacionados à arquitetura e às futuras questões estratégicas no habitat, na cidade e no meio ambiente.
350

QUADRO 56 Tipo e organização dos edifícios: Ateliê Esquadra – DF, Ideia 1 – POA e Zoom – SP (de
baixo para cima).
351

QUADRO 57 Relação entre tipologia dos edifícios e caráter da rua interna – simulação de
espelhamento: ateliê Esquadra – DF (esquerda) e Ideia 1 – POA (direita) – plantas, cortes e
perspectivas. Galeria externa aberta – bloco H, ateliê Ideia 1 – POA.
352

Composição formal dos edifícios

A correlação entre edifícios, em especial na continuidade espacial, e suas relações

com a vocação de cada setor do novo bairro, são premissas da UP no que tange à composição

formal dos edifícios. Objetiva-se, com isso, “[...] construir ambientes urbanos onde as

fachadas dos edifícios ao longo das ruas pertencem-lhes, como as paredes da rua, espaço

sem teto”, empregando as palavras de Louis Kahn (apud COELHO, 2013, p. 126).

Nesse universo, é ressaltado, no Manual de Diretrizes Arquitetônicas542, desenvolvido

pela UP, que nessa correspondência – entre edifícios e destes para com a rua –, deve-se

sempre priorizar a composição em detrimento do destaque individual, isto é, todos os

edifícios devem contribuir para o ambiente da rua e para o tecido urbano, valorizando o

conjunto urbanístico.

À vista disso, como já mencionado, foi estabelecido para o bairro o partido

volumétrico de bloco de perímetro543. A partir desta “pegada544”, foram colocadas, aos

ateliês de arquitetura contratados pela UP, algumas diretrizes projetuais545 no que se refere à

composição formal dos edifícios, como segue:

• Continuidade morfológica, em especial no embasamento do edifício.

• Valorização da verticalidade dos edifícios, com elementos contínuos que chegam ao solo.

• As esquinas como protagonista da composição volumétrica.

• Evitar a horizontalidade excessiva.

• Proporção vertical e horizontal entre altura dos edifícios e largura das vias.

• Composição tripartida dos edifícios (base, corpo e coroamento).

Nessa sequência, da composição formal dos edifícios, da disposição dos volumes no

quarteirão e do empenho para a estruturação de uma sólida unidade formal entre edifícios e

542
Manual de Diretrizes Arquitetônicas do bairro Urbitá – Brasília (2016). Traz convenções morfológicas
e parâmetros de projeto que nortearam a elaboração das propostas por parte dos quatro escritórios
contratados.
543
Ver item II.3.1 – Parcelas e edificado – Configuração dos quarteirões e item II. 3.4 – Acessos –
Intervalo / espaço de transição
544
Termo utilizado por Mahfuz no texto: Ensaio sobre a razão compositiva (1995, p. 16), quando explica
sobre aspectos referentes à etimologia do termo parti.
545
Diretrizes postas na Oficina de Concepção Arquitetônica organizada pela DPZ (Duany Plater-Zyberk
& Company) em conjunto com a UP, 2017.
353

espaços abertos exteriores, foram escolhidas, para a análise, as propostas dos ateliês

Esquadra, Ideia 1 e Zoom.

Observa-se, num plano geral das três propostas, que embora o Plano de Urbanização

do Urbitá (PDU) preveja alturas máximas de 37,5m para edifícios localizados no distrito

Central e na Centralidade, as maiores alturas propostas foram de 31,5m (térreo mais nove

pavimentos) nos edifícios de esquinas – na interseção da avenida Sobradinho com a avenida

Barcelona, e nas esquinas entre avenida Sobradinho e a avenida Dublin.

Considera-se adequada a decisão de posicionar os edifícios mais altos (torres) nestas

esquinas, visto que conformam as principais interseções da Zona A (Distrito Central e

Centralidade) do bairro, assim como então em conformidade com o caráter destas vias, de

maior intensidade e vitalidade urbana546.

Os edifícios mais altos, nestes cruzamentos, oferecem aos moradores agradáveis

vistas para pontos de referência do bairro, como: para a praça Paranoazinho e para a rua

Curitiba – coração do bairro; para a porta de entrada do bairro – outro importante nó do

Urbitá e para o parque linear urbano, ao Norte, no final da avenida Sobradinho, e a Oeste,

entre os distritos de zoneamento de Mangueiras e Central.

Ainda, esses edifícios cumprem com a função de realçar pontos singulares da malha

urbana, podendo conformar-se em nós interessantes e conectados aos espaços exteriores,

por meio da consolidação dos quatro edifícios que compõem as esquinas.

Todavia, nesse enquadramento – das esquinas –, o resultado formal não parece o mais

adequado, uma vez que os limites verticais laterais do corpo dos edifícios seguem ângulos

ortogonais, sem maiores preocupações com a aresta – consequência de um excesso de

horizontalidade que marca cada andar. Nesse ponto, é possível afirmar que dois dos projetos

analisados (dos ateliês Zoom e Esquadra) poderiam estar num terreno de meio de quadra.

Entretanto, é possível apontar que, na proposta do ateliê Ideia 1, a extremidade

aparece mais aprimorada por meio de elementos verticais contínuos que chegam até o solo

e também através das aberturas que formam – no conjunto – um prisma transparente vertical,

recuado em relação aos volumes adjacentes, o que contribui com a ideia de acentuar a

verticalização e marcação da esquina – ampliando-a.

Sobre vias Sobradinho e Barcelona, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede viária; e sobre a avenida
546

Dublin, ver item II. 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento.
354

Apesar disso, não é possível considerar esta proposta (ateliê Ideia 1) compatível com

as diretrizes e o modelo propostos pela UP e pela assessoria da DPZ, uma vez que há tantos

elementos diferentes próximos à esquina que dificultam a leitura do que seria um ‘gesto’ do

projeto de arquitetura para a enfatizar.

Ainda, nesse aspecto, observa-se, nas três propostas, que o volume do corpo do

edifício de esquina segue o mesmo alinhamento – avançado em relação à base – em todos

os pavimentos, trazendo consequências negativas na composição formal da “esquina”. O

recomendado é que, a partir de uma determinada altura, ou quando se aproxima do topo,

haja um recuo a fim de não manter o alinhamento com o piso térreo.

Dando continuidade à análise da composição formal, as demais escolhas dos tipos

dos edifícios que compõem o meio quarteirão são blocos (térreo mais cinco e seis

pavimentos) e barra (casas com três pavimentos em fita), este último, destacando-se do bloco

por ter uma de suas dimensões claramente visíveis.

A respeito deste último tipo (a barra547), verificou-se que, como já referido no item

anterior (acessos), foi muito bem inserida (nos projetos dos ateliês Esquadra e Ideia), junto e

com o acesso pela via interna, ocasionando a quebra de escala e fortificando o caráter

residencial do conjunto. Nesse sentido, e como também já mencionado, a proposta do ateliê

Zoom que, mesmo não optando pela tipologia da barra, propõe, junto à via interna, volumes

com alturas menores.

Nessa perspectiva, das escolhas dos tipos dos edifícios que compõem o quarteirão

(lotes privados), identificam-se densidades líquidas548 de: 194UH/ha – ateliê Esquadra;

237UH/ha – ateliê Zoom e 285 UH/ha – ateliê Ideia. Esta relação entre número de unidades

habitacionais e área do meio quarteirão é considerada ‘adequada’ à localização e aos

objetivos almejados para a Centralidade do Urbitá, que é tornar-se um lugar onde as forças

construtivas549 possam atuar e a vida urbana autêntica possa surgir550.

547
O modelo estabelecido para a tipologia da barra foram as townhouses.
548
Cálculo de densidade líquida (razão entre número de UH e área privada do meio quarteirão).
549
Forças construtivas aqui entendidas como a utilização dos Coeficientes de Aproveitamento ao
máximo (ou quase ao máximo), com o intuito de atender ao mercado imobiliário e, ao mesmo tempo,
moldar a forma urbana da zona da Centralidade – com caráter misto e denso.
550
Uma densidade suficiente de atividades e pessoas tem sido frequentemente considerada como um
pré-requisito para a vitalidade e para a criação e manutenção de um uso misto viável. Jane Jacobs
(2014 [1960], p. 163) argumentou que a vida na cidade tem muito a ver com densidade. Para ela, o
Greenwich Village de Nova York, com densidades variando de 310 a 500 moradias por hectare líquido,
355

‘Adequada’ pelo fato que se entende que a densidade deve ser considerada em

termos de configuração da forma urbana, isto é, como um produto e não como um

determinante do design. Nesse aspecto, é pertinente referenciar Jane Jacobs (2014 [1960],

p. 221), que distingue densidade como uma questão de desempenho e que não pode ser

baseada em abstrações sobre a quantidade de terra necessária para um número ‘x’ de

pessoas.

As densidades são muito baixas, ou muito altas, quando impedem a


diversidade urbana, em vez de a promover. Essa falta de funcionalidade é a
razão de serem muito baixas ou muito altas. Deveríamos encarar as
densidades da mesma maneira que encaramos as calorias e as vitaminas. As
doses corretas são corretas por causa da eficácia delas. E o que é de acordo
com as circunstâncias. (JACOBS, (2014 [1960], p. 145).

Nesse âmbito, é pertinente destacar que a determinação da densidade para o distrito

Central do Urbitá deverá levar em consideração, além das características dos lotes privados,

as áreas dos espaços públicos (ruas, praças e parques), áreas de comércio e serviço, áreas

institucionais (equipamentos de ensino, cívicos, de saúde), entre outras, assim como uma

série de variáveis correspondentes às premissas do novo bairro551.

Importa aqui, considerando a análise da composição formal dos edifícios, um olhar à

escala do edifício e às formas de arranjo no meio quarteirão. Assim, notou-se um esforço, por

parte dos três ateliês, em conciliar densidades habitacionais com uma variedade de tipos de

edifícios que ocupam o solo, na busca da não padronização do conjunto, tendo – por ora552

– uma densidade média líquida de 238 UH/ha.

Aliado à densidade, está o Coeficiente de Aproveitamento (CA) estabelecido pelo

Plano de Urbanização (PDU, 2018), que estipula, para a Centralidade do novo bairro, um valor

máximo de 3,5. Nesse âmbito, verifica-se um CA de 3,18 na proposta do ateliê Zoom; 3,25

na proposta do ateliê Esquadra e 2,24 na proposta do ateliê Ideia 1.

era o ambiente ideal (p. 216). Da mesma forma, a Urban Task Force do Reino Unido (1999, p. 59 apud
CARMONA, 2003) observou que Barcelona – descrita como a “cidade mais compacta e vibrante da
Europa” – tem uma densidade média de cerca de 400 moradias por hectare.
551
De acordo com recomendações do Density Atlas do MIT (Massachusetts Institute of Technology), é
necessário utilizar três medidas quantitativas diferentes de densidade para se obter uma representação
precisa da densidade de um bairro / cidade (densidade de construção, densidade da unidade
habitacional e densidade populacional).
552
Conforme Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – estes projetos serão revisados e adequados
antes da sua aprovação. Entrevista realizada em 26 de outubro de 2020, Brasília, DF (via G-meet).
356

Esse cenário que se desenha para o novo bairro, com densidade média alta553 – na

escala do quarteirão –, possui dois pontos positivos determinantes: o primeiro é que o nível

mais elevado de densidade vem ao encontro dos princípios do Urbitá, que é constituir um

bairro compacto, completo e caminhável – menos dependente do automóvel; e o segundo

é relativo as dimensões e viabilidade econômica, uma vez que bairros mais concentrados

permitem reduções indiscriminadas no uso per capita de recursos.

Segundo Farr (2013, p. 94), estas reduções ocorrem proporcionalmente ao aumento

da densidade urbana e seus benefícios são locais, regionais e globais. Isso porque, citando

um dos benefícios, bairros densos, que contêm uma mistura ampla de bens e serviços, geram

menos deslocamentos per capita que lugares dependentes de automóveis, o que contribui

para a sustentabilidade das comunidades urbanas.

553
Segundo Farr (2013, pp.94-95), ao ilustrar uma gama de densidades e seus respectivos custos:
Densidade baixa (25 - 35 UH/ha); Densidade média baixa (62 – 75 UH/ha); Densidade média (125 –
375 UH/ha); Densidade média alta (187 -375 UH/ha); Densidade alta (mais de 375 UH/ha).
357

QUADRO 58 Localização dos quatro meios quarteirões. Tipo e modelo de quarteirões conforme
Gehl (2014). Disposição dos volumes no meio quarteirão e simulação de espelhamento: volumetria
e relação com a esquina – propostas ateliês: Esquadra- DF, Ideia 1- POA e Zoom – SP (de baixo para
cima).
358

No que se refere ao partido volumétrico inicial – bloco de perímetro –, verifica-se que

a disposição e articulação dos volumes, (torres, blocos e barras), encontram-se, de modo

geral, coerentes. Assim, por meio do ordenamento desses volumes, tem-se, como resultado,

uma base contínua, que faz a ligação dos edifícios, os quais se erguem sobre esta, como

blocos e torres independentes – com as superfícies laterais livres554.

Nesse quadro, do cuidado para com o perímetro dos quarteirões no piso térreo, nas

três propostas analisadas, observa-se – nas vias principais que contornam o meio quarteirão

– um potencial de ordenação das fachadas que possam vir a favorecer a caminhabilidade,

isto é, calçadas que propiciem uma caminhada confortável, proveitosa, interessante e segura,

conforme aconselha Jeff Speck (2016, p. 21) 555.

Esta relação entre edifícios e calçada beneficia o atendimento à orientação sobre a

não horizontalidade das fachadas dos edifícios, ao menos no piso térreo, – voltadas às três

vias públicas que contornam o meio quarteirão. Nesse aspecto, observa-se, por parte das

propostas, um programa variado para o piso térreo556, o que resulta num número elevado de

entradas ao nível da rua.

Nessa continuidade, da ordenação das fachadas, nota-se, nas três propostas, um

cuidado com a composição dos elementos que formam o corpo dos edifícios a fim de dar-

lhes uma aparência de edifícios de habitação, assim como, na escala do conjunto urbanístico,

dar-lhes uma identidade coletiva enquanto comunidade.

Entretanto, nota-se (nas propostas dos ateliês Esquadra e Zoom) um excesso de

horizontalidade, a partir do 1º pavimento. Tal efeito poderia ser minimizado à medida que o

corpo baixo (embasamento) ocupasse dois andares e fosse, ainda, acrescentado um

pavimento de transição – um terraço de uso comum – que contribuiria para a identidade do

corpo alto visualmente autônomo, usando palavras de Hélio Piñon (2018).

Da mesma forma, dando sequência na análise das partes que compõem os edifícios,

verifica-se a proposição de elementos que formam o acabamento às coberturas com o intuito

de criar um vínculo com o céu.

554
Com exceção do projeto do ateliê Ideia 1, que propõe uma continuidade dos edifícios nas frentes
do quarteirão.
555
Sobre conceito de caminhabilidade, ver Item I.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres
e ciclovias.
556
Sobre os pisos térreos, ver mais no próximo item – Relação com o solo – pisos térreos.
359

Nesse âmbito, do topo dos edifícios, consideram-se adequados (no que compete ao

seu significado) os remates propostos que são constituídos557 por apartamentos e terraços-

jardim (privados e coletivos) que proporcionam o uso para desfrutar do sol, da vida ao ar livre

e das vistas panorâmicas.

Contudo, percebe-se, em especial na proposta do ateliê Esquadra, uma falta de

articulação entre o corpo e o topo do edifício no bloco B (na esquina da avenida Sobradinho

e avenida Dublin), o qual apresenta uma pequena caixa saliente – no topo – de um volume

muito maior (bloco B – torre com nove pavimentos), transmitindo a ideia (do ângulo da

avenida Sobradinho) de que ali existe uma sala de serviço ou algo dessa ordem e, sob a ótica

formal, um desequilíbrio deste componente espacial causando a sensação de falta de

estabilidade.

Para minimizar este efeito, algumas estratégias projetuais podem ser aplicadas, como

por exemplo: o recuo desta “caixa” em face do alinhamento do corpo do edifico,

conformando um pequeno terraço frontal; a inserção de aberturas e transparência para

atenuar a “caixa de madeira”, considerando a escolha e aplicabilidade dos materiais onde os

mais pesados e escuros deve estar abaixo dos mais claros; e a adição de um ou mais planos

horizontais como elementos de expressão do coroamento do bloco na sua totalidade.

Nesse enquadramento, da composição formal dos edifícios, além da análise, até aqui

realizada – das três propostas –, entendeu-se pertinente mencionar alguns elementos mais

significativos, de acordo com as premissas iniciais do bairro, relativos ao projeto do ateliê

Esquadra, como segue:

• a clareza na marcação dos blocos e das torres residenciais, os quais erguem-se e avançam

sobre o piso térreo no perímetro do lote e a consequente segmentação das fachadas que se

apresentam suficientemente distintas para que sejam percebidas como edifícios

independentes, evitando a homogeneização horizontal e a edificação monolítica558.

557
Composição das coberturas: Ateliê Ideia 1: apartamentos duplex com terraço-jardim de uso
privativo (blocos e townhouse), apartamentos sem terraços (duas torres) e terraço-jardim de uso
comum (bloco G). Ateliê Esquadra: apartamentos duplex com terraço de uso privativo nas torres e
coberturas com terraços de uso coletivo nos três blocos. Ateliê Zoom: coberturas com terraços de uso
coletivo nos blocos e na torre S1; apartamentos sem terraços (torre S2) e blocos P1 e P2 (blocos baixos
voltados para a via interna).
558
Alexander (2013, p.471) explica os benefícios sociais de subdividir uma edificação em uma
coletânea de edifício menores.
360

• a associação de cada fachada dos edifícios a um endereçamento e, portanto, a um ponto

de acesso / núcleo de circulação vertical, agregando legibilidade e identidade;

• o modo de proposição das townhouse, assentadas diretamente no terreno e com frente e

acesso para a rua interna;

•o formato em diagonal do piso térreo, valorizando a esquina559;

• número elevado de entradas ao nível da rua (blocos e lojas);

• a legibilidade da fachada, através das diferenciações horizontais (base, corpo e

coroamento), embora pudessem existir ajustem importantes nas três partes;

• o uso do último andar, composto por apartamentos e terraços – coletivos nos blocos e

privativos nas duas torres, proporciona (ou poderia proporcionar)560 um acabamento aos

topos dos edifícios, assim como vistas panorâmicas.

•a forma recuada das aberturas que, além de proteger contra as intempéries, criam um jogo

de luz e sombra na fachada;

• a organização das aberturas dentro de cada plano, por meio do agrupamento por

proximidade e similaridade, e a referência unitária do material das esquadrias.

559
Em relação às esquinas, cabe salientar que a boa solução se deu mais especificamente no piso
térreo e não no corpo do edifício.
560
Conforme descrito no texto sobre o “topo dos edifícios”, existem alguns reparos importantes para
serem feitos nos topos dos projetos dos edifícios.
361

QUADRO 59 Relação plantas fachada: piso térreo com entradas ao nível da rua; corpo dos edifícios
independentes e associados ao sistema de circulação e cobertura habitada – proposta ateliê
Esquadra- DF.
362

Relação com o solo – pisos térreos

Nos itens anteriores, que trataram do tipo e forma dos edifícios, foram expostos

tópicos relativos ao arranjo dos edifícios alinhados com o perímetro do quarteirão e à

estruturação de um corpo baixo ininterrupto. Este embasamento’561, além de fornecer uma

continuidade aos edifícios adjacentes, contribui significativamente para os bons plinths562.

Nessa perspectiva, de modo geral, percebe-se, nas propostas apresentadas, um

atendimento às diretrizes arquitetônicas563 colocadas pela UP (através do Manual de Diretrizes

Arquitetônicas) e pela DPZ (oriundas da Oficina de Concepção Arquitetônica, realizada em

2017). Estes preceitos convergem na premissa inicial do novo bairro, que é a maximização da

interação dos edifícios com a rua e com a cidade, através do cuidado da forma como o

edifício “toca” o chão.

Por este ângulo, nota-se uma diversidade de elementos de arquitetura que mais

realçam este princípio em duas das propostas apresentadas – ateliê Zoom e ateliê Esquadra.

Assim sendo, optou-se por apresentar soluções (de cada ateliê), consideradas distintas e mais

pertinentes à construção de bons plinths.

Nota-se, na proposta do ateliê Zoom, uma distinção em relação às outras propostas,

devido à incorporação de uma rua pública – exclusiva para pedestres, transversal ao meio

quarteirão. Criou-se, a partir disso, uma oportunidade de estratégia social e econômica por

meio da inserção, no programa do piso térreo, de um equipamento comunitário de uso

público (uma creche), áreas de usos comuns – como brinquedoteca e espaços gourmet e um

café em frente à creche.

Esta rua foi cuidadosamente projetada, em particular na sua confluência com as

calçadas da avenida Sobradinho e com a via interna. Evidencia-se essa intenção através de

três principais elementos: o primeiro diz respeito à ocupação dos dois primeiros andares (café

e creche), conformando a base dos edifícios nesta “esquina” (avenida Sobradinho com a rua

561
Lembrando que, como já observado no item anterior, os pisos térreos (das propostas apresentadas)
não são tratados como um embasamento de fato – o qual deveria ser composto pelos dois primeiros
andares, ao menos nas zonas mais centrais.
562
Ver conceito de “plinths” no Item I. 4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Relação com o solo – pisos
térreos.
563
Estas diretrizes – relativas aos afastamentos entre edifício e a rua e às fachadas ativas – estão escritas
no item II. 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias.
363

exclusiva para pedestres); o segundo elemento tem a ver com a proposição de uma área de

embarque e desembarque, junto à via interna (sobretudo para a demanda da creche), que

configura-se como um ponto de encontro e, também, mediante a colocação de um jacarandá

(pela sua imponência, cor e textura), configura-se como um marco visual e um cuidado com

o final desta rua; e o terceiro elemento refere-se à ideia da colocação de um quiosque – no

encontro da avenida Sobradinho e a rua transversal – que possa assumir a função de uma

pequena loja de flores, ou uma banca de jornal, ou um quiosque de comida, visando à

construção de um “nó de junção”, contribuindo como um espaço de relacionamentos, assim

como na ativação do lugar.

Com a inclusão desta rua pública (transversal), de domínio privado – igualmente às

vias internas564 –, foi necessário pensar uma solução para o fechamento dos acessos públicos

de pedestres aos miolos de quarteirão. Para tanto, foi proposto um controle de acesso entre

os blocos S1 e P1 e entre a creche e o bloco P2.

Conforme Guilherme Gambier Ortenblad565, a ideia é que os moradores acessem (por

sistema de reconhecimento facial, com um ‘tag’, ou outro método) as respectivas caixas de

circulação vertical dos blocos onde residem. No entanto, todos os moradores do quarteirão,

e também dos arredores, poderão ter acesso aos pátios internos.

A proposta do ateliê Zoom tenciona que estes pátios internos sejam semipúblicos e

que possam ter uma abrangência maior que somente atender às demandas dos moradores

do meio quarteirão. O propósito é que, por exemplo, o setor esportivo566 possa ganhar um

caráter de miniclube, atendendo uma escala maior – de quatro quarteirões567.

Outro destaque, que aparece somente na proposta do ateliê Zoom, são as colunatas.

Estes elementos, em geral, conformam um passeio coberto contíguo aos edifícios,

qualificando o espaço de transição, tornando-o mais agradável e confortável ao pedestre.

564
Sobre as vias internas e seu gerenciamento, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede Viária – Vias internas.
565
Entrevista com Guilherme Gambier Ortenblad – Arquiteto e Diretor-Presidente da Zoom –
urbanismo, arquitetura e design, realizada em 19 de março de 2021(via G-meet).
566
Sobre o programa do setor esportivo ver item II. 1.4 – Espaço entre Edifícios – Espaço de uso
comum.
567
Guilherme G. Ortenblad expõe que, na sua compreensão, a distribuição do programa nas áreas de
uso comum de forma mais coletiva contribui para estimular mais a circulação de pessoas entre estes
quarteirões. Por exemplo: se um meio quarteirão tem uma grande área esportiva, com piscinas e pistas
de corrida, o outro poderá ter áreas pensadas para atividades de estar, mais calmo e assim
consecutivamente.
364

No entanto, percebe-se um equívoco no que diz respeito ao real significado e

importância das colunatas no piso térreo que é, acima de tudo, conectar os edifícios entre si,

de modo que uma pessoa possa caminhar de um lugar ao outro sob a sua proteção.

Tal engano dá-se no momento em que as colunas ali dispostas não são contínuas e,

como consequência, não cumprem com o que, aparentemente, prometem – que seria a

possibilidade de dar a volta ao quarteirão sob uma galeria coberta.

Quanto à proposta do ateliê Esquadra, verificou-se notável a valorização das esquinas

– no piso térreo – (entre avenida Sobradinho e Estocolmo e avenida Sobradinho e Dublin),

pelo seu formato e usos. Servindo-se de elementos simples – chanfros a 45º, avanço do

volume do corpo do edifício, colunas circulares e transparência nos planos verticais dos

espaços do piso térreo568 – atribui o verdadeiro sentido às esquinas, fundamentalmente na

dimensão urbana.

Entende-se por legítimo, na dimensão urbana, o sentido das esquinas (em ângulo de

45º), que permite boa visibilidade junto às faixas de travessia, aumentando a segurança do

pedestre; a formação de um espaço que otimiza a utilização da calçada e ajuda a separar o

movimento dos pedestres que entram no edifício dos que passam, assim como comporta e

acomoda pessoas que estejam à espera para atravessar a rua e outras que estão em pé ou

sentadas, socializando nos locais de encontro569; e, por fim, a marcação / afirmação da

esquina – ao nível dos olhos –, que poderá ser gerada a partir da reprodução deste desenho

pelos quatro edifícios que a compõem (no piso térreo).

568
Espaços flexíveis / versáveis que podem ser pequenos comércios e serviços, espaços de co-working,
entre outros usos diversos. Possuem 46 a 67 m2 e podem ser conjugados.
569
Sobre espaço de transição, gerado pelo afastamento dos edifícios em relação à calçada, ver item
II. 4.1 – Acessos – Intervalo / espaço e transição.
365

QUADRO 60 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade. Proposta ateliê
Zoom – SP.
366

QUADRO 61 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade. Simulação de um
cruzamento conformado por quatro edifícios com o térreo recuado nas esquinas. Proposta ateliê
Esquadra – DF.
367

Em comum, observou-se um evidente e característico piso térreo misto e denso –

somando 76,57% de área não residencial (2.564 m2) na proposta do ateliê Zoom e 72,74%

(2.745,9 m2) na proposta do ateliê Esquadra.

Este percentual é composto por compartimentos de diferentes dimensões – 40 a 80

m2 – na proposta do ateliê Esquadra, podendo ser conjugados, e compartimentos de 50 m2

(em média), para os flex spaces, mais a creche e o café, que ocupam áreas maiores, na

proposta do ateliê Zoom.

Em decorrência deste número de salas no piso térreo, tem-se uma sequência de

portas de entrada para os pedestres, criando linhas verticais na fachada destes pisos. A

grande quantidade de portas – ao nível do térreo – é vista como um fator positivo, uma vez

que auxiliam na criação de um ritmo (enquanto critério de ordem), assim como exprimem o

uso interior deste pavimento que é voltado à criação de um ambiente vibrante e variado ao

nível dos olhos.

Verificaram-se 10 entradas de pedestres em 84 metros na fachada Sul (frente para

avenida Sobradinho) da proposta do ateliê Esquadra; e 5 entradas, mais a rua transversal, em

93 metros, na fachada Noroeste (frente para a avenida Sobradinho) da proposta do ateliê

Zoom. Tal característica possibilita uma nova unidade, com diferentes funções, acontecendo

a uma média de 10m de distância entre si na proposta do ateliê Esquadra e uma média de

15m na proposta do ateliê Zoom.

Consideram-se apropriadas as entradas (números e distâncias)570 existentes no projeto

do piso térreo de ambas as propostas, posto que são elementares para criar “vida e variação

ao nível dos olhos”, citando Gehl (2006, p. 35 apud KARSSENBERG, 2015).

570
Gehl (2006) recomenda a existência de 10 entradas de pedestres a cada 100 metros. CNU (2018)
recomenda uma entrada a cada 20 metros de fachada do edifício ao longo da calçada.
368

Síntese da análise dos Tipos e Forma dos Edifícios

Sobre tipo e organização do edifício

Verifica-se que a tipologia de edifícios adotada se centra, na sua grande maioria, em

blocos e torres plurifamiliares de acesso coletivo, os quais distribuem de dois a seis unidades

habitacionais por andar, dependendo dos agrupamentos e forma de organização de cada

uma das propostas.

Nota-se, nestes agrupamentos dos apartamentos por piso, que a maior parte dos

acessos é feita através de um patamar fechado e com dimensões reduzidas, o que não

contribui em nada na interação entre o exterior e interior, e muito menos para criar condições

para o encontro e convívio – qualidades consideradas relevantes no princípio de organização

espacial de edifícios em conjuntos residenciais.

Sobre a mistura de tipos de habitação nos conjuntos – desde T0 até T4 –, é importante

lembrar que, no Brasil, existe uma grande resistência, por parte do setor imobiliário, em

propor esta diversidade num mesmo conjunto residencial. Contudo, é pertinente aqui

destacar que este é um tema já incorporado nas premissas do Novo Urbanismo e incluso,

pelo seu componente social, nas avaliações de fundos imobiliários571, por exemplo.

Nesse aspecto, Ricardo Birmann572 comenta que, num primeiro momento – da

implantação dos primeiros empreendimentos –, planeja que esta mistura aconteça por blocos

e não nos blocos ou torres, adotando uma postura mais conservadora em relação às

demandas imobiliárias. Contudo, no decorrer da implantação do novo bairro, a tendência é

que esta premissa seja mais evidenciada nas incorporações, segurando seu pertencimento

ao rol de critérios de desenho de bairros sustentáveis.

Como ponto positivo percebe-se, especialmente nas propostas do ateliê Esquadra e

Ideia 1, a quebra de escala, através do arranjo e forma dos edifícios – um conjunto de blocos

e torres que circundam uma barra (as townhouses). Nesta composição, fica evidente o caráter

de residencialidade, utilizando uma expressão de Batista Coelho (2000, p. 351), que será

571
Fundos imobiliários recebem investimentos, muitas vezes internacionais, os quais buscam investir
em projetos e empreendimentos que apresentam padrões de ocupação e/ou estejam comprometidos
com o ESG (Environmental, Social & Governance).
572
Entrevista realizada em 13 de março de 2021, via G-meet.
369

formado junto às vias internas no momento que forem, por exemplo, espelhadas as propostas

destas townhouses, com a mesma configuração, para a outra metade do quarteirão.

Nesse âmbito, sobre as vias internas – área pública de domínio privado, pode-se

afirmar que, entre outras funções relativas à conexão, ao acesso aos estacionamentos e

garagens dos moradores e ao aumento da dinâmica urbana573, exercem uma função principal

no Urbitá, que é de estabelecer lugares entre os edifícios, onde a vida comunitária possa se

desenvolver574.

Conforme Ricardo Birmann575, a ideia é que as vias internas, contornadas por edifícios

mais baixos – com tipologias de “vilas” (seis casas de cada lado com acessos privados de

frente para a rua) –, transformem-se em um espaço quase privativo576 destas casas, onde as

crianças possam brincar com segurança.

Nessa perspectiva, a via interna pode integrar-se aos pátios internos dos conjuntos de

blocos e torres habitacionais numa mistura de diversidade de atividades que podem ser

desenvolvidas ao nível da rua.

Sobre composição formal dos edifícios

A variedade de volumes, (casas geminadas – townhouses), edifícios de baixa altura

(blocos) e de grande altura (torres), e suas disposições nos sítios demonstraram-se, nas três

propostas, coerentes com o caráter das zonas em que se inserem, com as vias que o

circundam e com o parcelamento dos quarteirões – com critérios de divisão e unificação.

Estes fatores contribuem para a construção de uma unidade morfológica do novo

bairro, por meio da similaridade tipo-morfológica – complementando-se uns aos outros.

Dessa forma, objetiva-se que estes primeiros edifícios sirvam de parâmetro para o

desenvolvimento desta zona Central, tanto no aspecto formal – guardando proporções em

573
Sobre vias internas: Item II. 1.2 – Rede viária – vias internas; Item II. 1.2 – Calçadas, caminhos de
pedestres e ciclovias e item II. 3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos quarteirões.
574
Ver sobre praças e alamedas internas no item II. 1.2 Conexões – Rede Viária – Vias internas.
575
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP –, realizada em19 de agosto de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
576
Com a expressão “quase privativo”, Ricardo refere-se à possibilidade das vias internas (de alguns
quarteirões) terem um fechamento / controle de acesso somente aos moradores e/ou em
determinadas horas do dia. Ver mais sobre este tema no item II. 1.2 – Conexões – Rede Viária – Vias
internas.
370

torno de uma “pirâmide de densidade” –, quanto na imagem e no caráter de um bairro

residencial, criando espaços na escala humana.

Todavia, considerando a cultura arquitetônica no Brasil, entende-se que o modelo

proposto pelo ateliê Esquadra – blocos e torres residenciais, os quais erguem-se e avançam

sobre uma ‘base’ contínua (piso térreo) – é o mais adequado, uma vez que os edifícios se

erguem independentes e com identidade própria, associados ao sistema de circulação,

conferindo legibilidade e orientação aos usuários.

O modelo proposto pelo ateliê Esquadra traz uma combinação das qualidades dos

quarteirões perimetrais, mais fechado – tradicionais antes da arquitetura moderna, com

algumas qualidades de natureza do conforto ambiental, possibilitando – através da não

continuidade do corpo dos edifícios – a passagem do ar e do sol, assim como da

permeabilidade visual.

Em relação aos limites dos edifícios, onde acontece a interface entre o interior e o

exterior, verificou-se, em maior quantidade na proposta das tipologias de apartamentos do

ateliê Esquadra, uma incoerência no uso estipulado para a principal esquina – torre D – entre

Avenida Sobradinho e Avenida Estocolmo, onde é composta por dormitórios do 1º ao 7º

andar.

Sobre as diferenciações horizontais, pode-se afirmar que houve algumas tentativas,

por meio da organização tripartida dos edifícios; todavia, verifica-se a necessidade de

aprimoramento da organização dessas três partes que compõem os edifícios, considerando

as essenciais: a ampliação da base – dois andares ou piso térreo e/ou mais um pavimento de

transição (um terraço de uso coletivo); o recuo do volume do corpo em relação ao

embasamento a partir de uma determinada altura e maior cautela com as arestas e vértices,

particularmente nas esquinas.

Sobre o topo e elementos de fachada em geral, espera-se um maior equilíbrio e

articulação para com as demais partes do edifício, reduzindo o excesso de variação de

materiais e elementos dentro do próprio edifício. Isso torna-se ainda mais relevante, ao

prospectarmos o cenário futuro – do conjunto construído –, a fim de resguardar uma imagem

menos heterogênea do bairro e evitar que cada edifício se torne uma coleção de estímulos

visuais.
371

Quanto à densidade, vista como fator indispensável do Novo Urbanismo, nota-se a

futura construção de um bairro compacto, em especial nos quarteirões da zona Central e da

Centralidade577. Tal característica tende a favorecer a sustentabilidade do bairro, na medida

em que suporta o desenvolvimento do uso misto, o qual necessita de uma densidade mínima

de unidades e habitação para se manter.

Dessa forma, embora considere-se um fator positivo a densidade líquida (média de

238 UH/ha) conferida nas propostas analisadas, ainda há condições de aumentá-la, sobretudo

na zona Central e Centralidade, conforme parâmetros estudados, que indicam densidades

entre 310 – 500 UH/ha (JACOBS, 2014 [1960], p. 163).

A densidade mais elevada se encaminha aos princípios da compacidade do novo

bairro, isto é, à redução de tráfego individual, ao estímulo dos destinos a pé, à proximidade

social, à viabilidade econômica com a infraestrutura, à instalação de usos diversos, entre

outros benefícios.

Sobre relação com o solo – pisos térreos

Tendo em conta que o piso térreo faz parte da “esfera pública”, e que esta tem um

significado maior de que espaço público, incluindo as fachadas dos edifícios e tudo que pode

ser visto ao nível dos olhos – utilizando as palavras de Hans Karssenberg et al. (2015, p. 15),

verificam-se algumas boas estratégias adotadas pelos ateliês Zoom e Esquadra.

Os mecanismos apresentados pelos dois ateliês, em sua grande maioria, colaboram

para bons plinths, com variedade de funções que serão desenvolvidas nos compartimentos

do piso térreo, com a integração dos espaços internos aos espaços externos públicos (através

das transparências e das zonas de transição) e da conformação de locais de encontro –

contribuindo com as relações sociais –, o que os torna lugares habitados e vivos.

Conforme Filipe B. Mont Serrat578, nesse ponto, é pertinente lembrar que, num

primeiro momento da implantação do empreendimento, não haverá demanda imediata para

577
A previsão de densidade bruta média relativa à centralidade (Etapa 01) é de 202 UH/ha. A previsão
de densidade bruta média total do novo bairro é de 180 habitantes por hectare, considerando uma
área de 658,70 hectares e uma população de 118.607 habitantes. Ver item II.3.1 – Parcelas e Edificado
– Usos especiais.
578
Entrevista com Filipe B. Mont Serrat – Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos – realizada em 03
de dezembro de 2020, Brasília, DF (via G-meet).
372

instalar toda a variedade de comércio e serviços que se almeja. Assim, foi pensado que estes

espaços possam servir (inicialmente) como áreas de usos comuns para os moradores até que,

de forma gradual, a consolidação do bairro aconteça de forma integral.

Observa-se, ainda, como uma qualidade e ponto positivo, que as áreas

(compartimentos) que compõem o piso térreo (de ambas as propostas) possuem um desenho

flexível, que possibilitará usos futuros, temporários e provisórios. Esta versatilidade é

considerada indispensável na atualidade, a fim de ofertar mais oportunidades para o mercado

imobiliário, assim como responder, de modo mais rico e variado, às necessidades dos

usuários.

Como um ponto negativo, observa-se que os pisos térreos não são tratados como um

embasamento de fato – o qual deveria ser composto pelos dois primeiros andares, ao menos

nas zonas mais centrais. Ainda, entre o embasamento e o corpo do edifício, poderia ter um

pavimento de uso coletivo (terraço), com o propósito de evitar lajes que aparecem no projeto

do ateliê Esquadra, por exemplo – entre blocos e torre – que, aparentemente, não beneficiam

nenhum apartamento579.

II.4.3 Espaço Entre Edifícios

Implantação das edificações

Este item dá sequência às análises relativas à reciprocidade entre os espaços públicos

e privados em áreas residenciais. Compreende-se que é em meio a esses espaços, em

especial os exteriores (entre os edifícios), que se estabelece a integração entre o ambiente

físico e as atividades sociais entre as pessoas.

Como já visto nos tópicos anteriores, a organização dos edifícios em cada meio

quarteirão deriva da premissa volumétrica inicial para o bairro – blocos de perímetro –, de

modo que os edifícios sejam os elementos de modelagem dos espaços abertos. Nesse

sentido, um ou mais pátios internos fazem parte da composição dos espaços entre os

edifícios, apresentados pelos ateliês.

579
Conforme Filipe B. Mont Serrat, a ideia é que estas lajes sejam ajardinadas, melhorando o aspecto
visual dos apartamentos que estão nos pavimentos superiores, assim como auxilia na redução do calor.
373

Optou-se por realizar a análise das implantações apresentadas pelos ateliês Esquadra

e Zoom, dado que suas tipologias e organização dos edifícios no meio quarteirão favorecem

alguns critérios úteis à qualidade dos espaços entre os edifícios.

Deste modo, percebe-se, nas duas propostas analisadas, a existência de um

ordenamento e uma associação entre eixos de circulações, espaços livres abertos e edifícios,

com o objetivo de que as partes e o todo se determinem mutuamente.

Verifica-se, na proposta do ateliê Zoom, que esta organização tem sua origem, e parte

de sua definição, nas características da posição do sítio (zona A), o qual está localizado entre

a zona Parque e a zona Centralidade, atuando como elemento de transição entre essas duas

zonas580 previstas para o novo bairro.

Nesse sentido, propõe a divisão do lote em dois “donuts”, criando uma rua de

pedestre entre os dois conjuntos de volumes, reforçando o caráter de área mais calma e

residencial na parte Norte (em direção à zona Parque) e um caráter mais ativo – com

equipamento, comércio e serviço – para o lado Sul (em direção à zona Central), que possam,

futuramente, servir de apoio às habitações das imediações.

Consideram-se pertinentes as premissas utilizadas pelo ateliê Zoom, que derivam dos

condicionantes de localização e zoneamento do bairro. Contudo, não há – à escala do

quarteirão – um sistema de modulação facilmente identificável581 que possa decorrer, por

exemplo, do tamanho das unidades habitacionais, da modulação estrutural, ou de outras

recorrências, de forma que tanto os edifícios quanto os espaços abertos sejam partes

indissociáveis de um todo582.

Assim sendo, nota-se algum desequilíbrio583 (sobretudo nos eixos de acesso ao miolo

do meio quarteirão) no que condiz às proporções entre espaço livre e espaço construído.

580
Sobre as características da zona Parque, zona A e zona Centralidade, ver item II. 2.1 – Morfologia /
Tecido urbano – Distritos de zoneamento.
581
Percebe-se uma repetição na modulação 8m x 8m, que coincide com o tamanho de algumas
unidades habitacionais, mas não existe uma regra que seja seguida em todo o conjunto.
582
O uso de sistemas ordenadores tem grande relevância, na medida em que possibilita o
entendimento do observador, permite resolver problemas arquitetônicos com a mesma estrutura
formal e ajuda a reduzir a margem de arbitrariedade das decisões projetuais, favorecendo a disciplina
e a lógica formal – usando as palavras de Mahfuz no texto: Sistematicidade, 2009.
583
Esse desequilíbrio, aqui referindo-se à largura da brecha entre os edifícios S1 e S2, que tem um
potencial de ser uma entrada principal – mas que não está tratada como tal (ao menos no corpo do
edifício).
374

Essa disparidade é mais evidente no acesso entre os blocos S1 e S2 e entre os blocos S2 e D

– os três edifícios com maior altura.

Quanto à proposta do ateliê Esquadra, nota-se que a implantação dos edifícios se dá

no perímetro do lote (meio quarteirão), sendo resultado da intenção de ativação das fachadas

confrontantes com as calçadas, e assim configurando uma praça interna de convivência584.

Nesse sentido, o começo do desenho da implantação deu-se a partir da definição de

seis platôs (no sentido longitudinal) que vencem um desnível total de 2,70 metros entre eles.

Tal estratégia possibilita percursos acessíveis aos pedestres que chegam da calçada para

acessar as portarias dos edifícios e às fachadas voltadas para a rua, sempre em nível.

A partir daí, observa-se que a organização da implantação segue (em parte585) uma

ordenação que é identificada através da fácil percepção da recorrência de medidas (5m x 5m)

e suas localizações, as quais formam um sistema compositivo que auxilia a orientar e definir

(com mais rigor), desde as partes maiores, até as partes menores do projeto, em especial dos

espaços abertos.

584
Sobre o pátio interno, ver próximo item – Espaços de uso comum.
585
Em parte, porque a modulação acontece na organização dos espaços abertos, mas não nos volumes
(espaços construídos).
375

QUADRO 62 Implantação: Relação com a localização e condicionantes do sítio – ateliê Zoom (à


esquerda) e Esquadra (à direita). Análise de eixos ordenadores – ateliê Zoom e Esquadra.
376

Na sequência da análise das implantações dos edifícios, evidenciam-se os pátios

internos – presentes nas duas propostas – formados a partir da disposição dos edifícios. Esta

configuração geométrica, para espaços abertos, é considerada a mais adequada em razão

de criar espaços externos positivos – utilizando as palavras de Alexander (2013 [1977], pp.

518-523).

Verifica-se a conformação desses espaços positivos, nas duas implantações, visto que

criam ambientes externos com formas distintas e bem definidas, contornadas por blocos,

torres e barras. Esta constituição tem sua gênese, como já dito, na ideia inicial para os tipos

de quarteirões – blocos de perímetro –, e tem consequências positivas na importância e

significado dos espaços coletivos / comunitários aos moradores586.

Relativamente à forma e proporção (largura x comprimento) destes espaços, nota-se

que os pátios internos, estabelecidos pelo ateliê Zoom, possuem um desenho mais

pertinente, visto que a razão entre largura e comprimento é de 1:2,5 e 1:2, bem como

apresentam mais opções – em lados alternados – de conexão com as ruas laterais –

proporcionando permeabilidade física e visual.

Já, no projeto do ateliê Esquadra, a razão entre largura e comprimento é de,

aproximadamente, 1:5587, e a conexão física (com ligação direta para a rua) dá-se somente

para a via interna. Para minimizar este eixo dominante no desenho do pátio interno, é

apresentada uma subdivisão do pátio em dois níveis diferentes conectados por uma rampa,

a qual “quebra” essa sensação de movimento ao longo deste eixo.

Ainda sobre a proposta do ateliê Esquadra, a permeabilidade visual, a partir do pátio

interno, acontece por meio de espaços livres entre os blocos e torres. Essa ideia dos vãos

entre os edifícios é considerada positiva porque traz a possibilidade – embora somente a

partir do primeiro andar – de fazer estender o ângulo de visão em um “aqui” (no pátio) e um

“além”, através das aberturas.

Além da comunicabilidade física e visual, percebe-se – nas duas propostas – que estas

lacunas entre os edifícios trazem um incremento na ventilação e insolação dos espaços

abertos – no miolo do quarteirão –, bem como do conjunto construído, pelo fato de cada

586
Ver mais sobre pátios internos no item – Espaços de uso comum.
587
De acordo com Carmona (2013), p. 179, quando a relação largura-comprimento dos espaços
urbanos positivos no plano for maior que 1:3, um eixo começa a dominar, possibilitando um sentido
de movimento, numa perspectiva mais dinâmica de configuração de rua do que de praça.
377

bloco e torre possuir quatro fachadas. No caso do ateliê Esquadra, é ainda mais interessante

o movimento do ar por entre os edifícios, porque os edifícios possuem alturas diferentes e

são intercalados com áreas abertas.

Nesse âmbito, da qualidade dos espaços abertos conformados pelos edifícios,

observou-se, por meio de perfis transversais dos quarteirões, uma boa relação (razão) entre

largura dos espaços externos abertos e as alturas dos edifícios, sendo: proporção de 1:1,47

na proposta do ateliê Esquadra e 1:1,12 na proposta do ateliê Zoom – em relação à avenida

Sobradinho; e proporção 1:1,5 na proposta do ateliê Esquadra e 1:0,90 na proposta do ateliê

Zoom, no que diz respeito à rua interna.

Julgam-se adequadas as relações entre largura da avenida Sobradinho e da rua

interna e as alturas dos edifícios adjacentes a estas, uma vez que permitem vistas externas

contidas propiciando uma sensação de fechamento. De acordo com Carmona (2013, p. 183),

a relação 1:1 é frequentemente adotada e considerada como mínima para ruas urbanas

confortáveis.

No que diz respeito aos pátios internos, foram verificadas razões de 1:1,5 e 1:0,67 na

proposta do ateliê Esquadra e 1:1,45 e 1:2,5 na proposta do ateliê Zoom. Isso demonstra um

cuidado e esforço, por parte dos projetistas, com a escala e seus efeitos na combinação da

disposição dos volumes em relação aos espaços abertos.

Consideram-se positivas as proporções encontradas em ambas as propostas. No

entanto, observando as orientações de Gehl (2014, p. 55), que recomenda que a proporção

entre altura dos edifícios e a largura dos pátios internos não deve ser inferior a 1:1, percebe-

se algum desacerto na proposta do ateliê Esquadra (no pátio interno – na relação com o

bloco C), e na proposta do ateliê Zoom (na relação entre os blocos S1 e S2 com a rua interna).

É importante destacar que mesmo com boas relações entre largura e comprimento

dos espaços abertos, e entre largura e as alturas dos edifícios, a implantação apresentada

pelo ateliê Zoom é menos favorecida do que a proposta desenvolvida pelo ateliê Esquadra,

no que diz respeito à orientação solar. No caso do ateliê Zoom, os edifícios de maior altura

e densidade ficam à Noroeste e, possivelmente, serão reesposáveis por boa parte do

sombreamento dos pátios centrais – tanto no verão quanto no inverno.

No desenho do ateliê Esquadra, inclusive pela localização do quarteirão – do lado

oposto da avenida Sobradinho –, a relação da implantação das torres e pátio interno é mais
378

favorável (no que interessa à boa orientação solar), uma vez que se localizam a Sudeste,

propiciando a insolação durante a maior parte do dia ao pátio interno.

Identifica-se, também, nesse contexto, que os ângulos formados pela razão entre a

largura dos pátios internos e as alturas dos edifícios variam entre 29º e 43º na proposta do

ateliê Esquadra e 33º e 47º na proposta do ateliê Zoom. Estes valores apresentam-se mais

adequados na proposta do ateliê Zoom, uma vez que ultrapassam a relação de 1:1 - 45º (a

mínima recomendada por Gehl (2014, p. 55)).

Aqui, importa salientar que se faz uma análise ambígua, uma vez que, para aumentar

a penetração da luz natural, deve-se expandir a distância entre os edifícios – reduzindo as

densidades e enfraquecendo o fechamento do pátio interno, o que consequentemente

poderá descaracterizar a ideia inicial do bloco perimetral.

Nessa perspectiva, Ricardo Birmann588 esclarece que o estudo da insolação dos pátios

internos não foi preponderante, ficando mais em segundo plano no rol de diretrizes

colocadas aos escritórios de arquitetura, e afirma:

A insolação do pátio é importante, mas outras questões fazem parte das


premissas iniciais do projeto, como por exemplo: a relação entre a largura
do pátio interno e altura dos edifícios, a fim de construir espaços abertos
delimitados por estes; incluir torres nas esquinas e edifícios mais altos
voltados para a avenida principal, que além da fundamentação do ponto de
vista de desenho urbano, têm um valor importante no mercado imobiliário.
Dessa forma, sugerimos escolher atividades para estes espaços as quais
sejam convenientemente desenvolvidas em áreas mais sombreadas589.
(BIRMANN, 2020, s.p.).

Destaca-se que, no contexto do projeto urbanístico e das premissas do Urbitá, o tema

da insolação torna-se complexo porque, por vezes, choca-se com certos objetivos, como por

exemplo: os edifícios com maior altura e de maior densidade devem estar voltados para a

avenida principal (Sobradinho), o que gera, como consequência, melhor ou pior orientação

solar, dependendo da localização de cada quarteirão.

588
Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – Entrevista realizada em 26 de outubro de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
589
Considerado o clima tropical de Brasília, onde as temperaturas são elevadas: as temperaturas
podem variar de 35º C nos meses mais quentes e cerca de 15º C nos meses mais frios –
https://www.ibge.gov.br/geociencias/informacoes-ambientais/climatologia.html.
379

QUADRO 63 Pátios internos – proporção entre largura e comprimento. Razão entre larguras de ruas
e largura do pátio interno com as alturas dos edifícios. Estudo da insolação. Proposta ateliê Zoom.
380

QUADRO 64 Pátios internos – proporção entre largura e comprimento. Razão entre larguras de ruas
e largura do pátio interno com as alturas dos edifícios. Estudo da insolação. Proposta ateliê Esquadra
381

Espaços de uso comum

No primeiro item desta seção, foram apresentados alguns fatores físicos das

implantações e suas possíveis influências na futura estruturação social dos moradores do

conjunto, por meio dos espaços abertos entre os edifícios.

Somam-se, a estes aspectos, a adequação e caráter destes espaços, mediante os tipos

de ambientes e atividades que serão previstas a fim de que, no futuro, aconteça uma

apropriação dos espaços pelos habitantes.

Nesse ponto, dando continuidade às análises da implantação e considerando algumas

características positivas do desenho dos ‘espaços de uso comum’, serão explorados e

apresentados os desenhos das propostas dos ateliês Esquadra e Zoom.

Numa primeira abordagem, salienta-se que o programa estabelecido para as áreas

abertas foi abordado de duas formas distintas: a proposta do ateliê Esquadra partiu da ideia

de que, no futuro, quando da consolidação do bairro, estes espaços sejam semipúblicos ou

públicos590 e, nesse sentido, o tratamento dado aos pátios internos traz um caráter de praça.

Já, na proposta de ateliê Zoom, observa-se que o programa dos pátios se volta às

necessidades dos moradores – que é, como já dito, uma cultura do adquirente de imóveis no

Brasil –, com a expectativa de ter, no seu imóvel, uma série de usos, como por exemplo: áreas

de lazer, piscina, churrasqueiras, playground, etc591.

Nesse ponto de vista, do programa dos pátios internos voltarem-se às necessidades

dos moradores, a ideia do ateliê Zoom é que esse atendimento possa ter uma abrangência

maior; isto é, residentes da vizinhança próxima – um agrupamento de quarteirões adjacentes

– poderão usufruir destes espaços.

Ainda, levando em consideração que o tempo de duração de cada acontecimento

importa mais que o número de pessoas ou o número de eventos, foi apresentada, pelos dois

ateliês, uma variedade de possíveis atividades que corroborem com esta premissa – de

aumentar o tempo passado no exterior e, consequentemente, ampliar as relações entre as

590
Conforme Filipe B. Mont Serrat, a partir das tipologias de quarteirões estabelecidas pela UP, um
modelo que serviu como inspiração para o projeto foi Barcelona – com pátios internos servindo como
praças públicas.
591
Sobre usos dos pátios de centro do quarteirão, ver mais no item II 3.1 Parcelas e Edificado –
Configuração dos quarteirões.
382

pessoas. Nesse âmbito, identifica-se que as atividades foram organizadas por agrupamentos

sendo:

Ateliê Zoom: um setor equipado para a prática de esportes localizado junto à

academia e piscina de uso coletivo, localizadas no piso térreo; E uma segunda área equipada

com churrasqueiras, áreas de estar, playground, jardins e hortas comunitárias junto ao pátio

da creche. Esta segunda área tem um caráter mais variado e possibilita a integração entre

diversas faixas etárias.

Na proposta do ateliê Zoom, destacam-se as hortas comunitárias, posto que –

segundo Coelho e Cabrita (2003, p. 67) – é comprovada a importância de oferecer aos

habitantes, ou a parte deles, oportunidades de contato e intervenção no solo. Essa prática

implica, ainda, na participação e organização dos moradores, servindo como um catalizador

do convívio espontâneo, da entreajuda, da comunicação e da integração gradual entre

diversos grupos socioculturais, reunidos em torno de interesses comuns.

A área destes espaços (dois pátios) de uso comum é de 657 m2. Somam-se, a esta

área, a rua transversal, o quarteirão e os recuos frontais, correspondendo a 46,41% de área

destinada a espaços livres de uso comum592.

Ateliê Esquadra: um espaço destinado às crianças e atividades de integração, mais

vivo e animado (com equipamentos motivadores); e um outro espaço mais recatado – num

nível mais elevado (possibilitando a vista para o primeiro espaço) –, pensado para atividades

de estar, sombreado por árvores.593

A área destinada para este espaço aberto é de 405 m2. Além desta área, ainda fazem

parte dos espaços de uso comum as circulações e os recuos frontais das townhouses –

adjacentes à rua interna, perfazendo (em conjunto com os afastamentos frontais) 39,11% de

áreas livres (não edificadas) 594.

592
A Taxa de Ocupação (TO) é de 53,59%.
593
Quanto aos equipamentos e mobiliários, sua disposição no espaço, seus dimensionamentos e
detalhes em geral, não é possível a análise, pois serão objeto de futuros projetos, mais
pormenorizados.
594
A Taxa de Ocupação (TO) é de 60,89%.
383

QUADRO 65 Espaços de uso comum. Ambientes e atividades – Proposta ateliê Zoom - SP e


Esquadra - DF.
384

Estacionamento

Na continuidade da análise dos espaços entre edifícios, verificam-se os

estacionamentos, seus acessos e o tráfego de automóveis que é gerado nas proximidades

das áreas abertas de uso comum.

Como já apontado595, a forma de organização dos quarteirões definida para o novo

bairro motiva a subdivisão dos quarteirões em duas ou mais parcelas – as quais serão

concretizadas mediante travessias (vias internas). Nesse universo, das alamedas internas, foi

estabelecido pela UP que os desenhos para estas áreas priorizassem a escala humana, e que

o espaço para o automóvel, mesmo permitido, tivesse menor evidência.

À vista disso, assim como pela localização dos meios quarteirões – T-zone (T5),

percebe-se, nas propostas apresentadas, que as vagas de estacionamento estão, na sua

grande maioria, localizadas em garagens coletivas no subsolo. Nesse enquadramento, e

dando a continuidade à análise dos espaços de uso comum, optou-se por apresentar a análise

das propostas dos ateliês Zoom e Esquadra.

Nesse universo, e como ponto positivo da posição dos acessos dos automóveis pelas

vias internas (nas duas propostas), é útil lembrar o que já foi escrito sobre a estratégia da UP

– para todo o empreendimento –, em ter uma malha de ruas A/B, onde as ruas “A” devam

proporcionar excelentes experiências aos pedestres, com menor número de interrupções, e

as ruas do tipo “B” (vias internas ao quarteirão), onde são acomodados os serviços de

“fundos”, entre eles os portões e as rampas de garagens596.

Relativamente à integração do tráfego de automóveis, bicicletas e pedestres – num

conceito de rua compartilhada597 –, verifica-se uma cautela, por parte dos projetistas dos dois

ateliês, na preservação de um desenho de área pedonal da via interna, mesmo permitindo

que os automóveis se dirijam até as casas – como é o caso da proposta do ateliê Esquadra,

e ao acesso à rua transversal, no caso do ateliê Zoom.

595
Sobre as vias internas, ver item II. 1.2 Conexões – Rede viária – Vias internas.
596
Sobre ruas A/B, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede viária – Calçadas, caminhos de pedestres e
ciclovias.
597
Sobre conceito de ruas compartilhadas, ver item I. 1.2 – Conexões – Rede viária e II. 1.2 – Conexões
– Rede viária – Via compartilhada.
385

Essa preservação pedonal dá-se, em maior grau, na proposta do ateliê Esquadra, em

razão do acesso às garagens subterrâneas (pertencente às UH dos edifícios multifamiliares)

estar situado na extremidade da via interna. Tal configuração mostra-nos que o fluxo de

automóveis junto aos espaços de uso comum – onde as crianças poderão brincar – será

irrisório, considerando que entram apenas os moradores de seis598 UH, as quais possuem

acesso privativo pela via interna.

No caso da proposta do ateliê Zoom, é notável que o fluxo de automóveis será maior

por três motivos: o primeiro, é relativo ao fluxo estabelecido da entrada e saída (em

extremidades opostas) das garagens no subsolo599 – utilizando dois espaços da rua interna; o

segundo, pelo fato de que a rua interna conecta a rua transversal ao quarteirão – área de

embarque e desembarque –, sobretudo para a demanda da creche; e o terceiro fator é a

presença de vagas de estacionamento paralelo na rua interna, o que poderá atrair, inclusive,

pessoas que não sejam moradores do conjunto.

No que tange ao número de vagas previstas, é constatada uma relação de 1,7 vagas

para automóveis por unidade habitacional (194 vagas / 114 UH600) na proposta do ateliê

Esquadra, e 2 vagas por unidade habitacional (332 vagas / 164 UH) na proposta do ateliê

Zoom.

Considerando as recomendações de Coelho e Pedro (2013, p.146), onde o número

de vagas para automóveis deve ser igual ao número de unidades habitacionais, mais cerca

de metade desse número para estacionamentos destinados a pessoas com dificuldades nas

deslocações e a visitantes, é possível concluir que a proposta do ateliê Esquadra é mais

condizente que a proposta do ateliê Zoom (que apresenta um número elevado de vagas).

Também, é importante destacar que esta relação, em Brasília, é regida pelo Código

de Obras e Edificações601, o qual determina uma vaga de estacionamento para unidades

598
Sobre o número seis, é pertinente citar as recomendações de Alexander (2011 [1977] p. 505),
quando escreve sobre “a partir de quantas vagas um estacionamento se torna grande demais” e
explica que uma coletânea de, no máximo, cinco ou sete objetos pode ser percebida como uma única
coisa, e os objetos desse conjunto podem ser vistos como individuais. Já um conjunto maior do que
cinco ou sete objetos é visto como “muitas coisas”.
599
O subsolo possui 332 vagas, isso significa um número elevado de automóveis entrando e saindo
diariamente.
600
Correspondente às unidades habitacionais (UH) distribuídas nos edifícios plurifamiliares.
601
Código de Obras e Edificações – COE do território do Distrito Federal – Lei nº 6.138, de 26 de abril
de 2018.
386

habitacionais com área superior a 60m2. Assim sendo, as necessidades de vagas para os

conjuntos analisados são ainda menores, em virtude de que há um percentual de UH com

área inferior a 60m2 em ambas as propostas.

Contudo, importante lembrar que, para além dos condicionantes legais, o novo bairro

possui um bom planejamento do sistema de transporte público602 e da rede cicloviária603,

integrados ao uso e ocupação do solo, o que encoraja afirmar que as vagas para

estacionamento privativas poderiam ser, em parte, dispensadas.

Esta redução no número de vagas teria uma consequência positiva na diminuição do

custo de cada unidade habitacional (se comercializadas em conjunto com a UH), assim como

na construção de um bairro mais sustentável e humanizado – com um número menor de

deslocamentos individuais com automóveis particulares.

Por outro lado, verifica-se uma necessidade do uso de automóveis, sobretudo, no

início do empreendimento – quando os quatro primeiros conjuntos estiverem concluídos e o

sistema de transporte, provavelmente, não estará funcionando na sua plenitude. Por esse

ângulo, torna-se pertinente a previsão de mais vagas de estacionamento de automóveis

nestes empreendimentos iniciais (quatro meios quarteirões), considerando que os demais

conjuntos, futuramente, possam se desenvolver de acordo com as premissas do urbanismo

sustentável604.

Além das vagas para automóveis, e de acordo com a premissas do novo bairro – de

acolher as bicicletas – são previstas, nos edifícios, vagas para bicicletas, sendo estas

localizadas na garagem (42 vagas no projeto do ateliê Zoom), e 58 vagas (localizadas no piso

térreo) na proposta do ateliê Esquadra.

602
Sobre sistema de transporte público coletivo para o Urbitá, ver item II. 1.2 – Conexões – Transporte
público, coletivo, individual e alternativo.
603
Sobre ciclovias para o Urbitá, ver item II. 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e
ciclovias.
604
Urbanismo sustentável sob a ótica da integração do uso do solo e as redes de infraestrutura e
serviços, aproximando pessoas e seus destinos e atividades principais, promovendo a mobilidade
sustentável (deslocamento a pé, o uso de bicicletas e do transporte público) e diminuindo distâncias e
os tempos de viagens diárias.
387

QUADRO 66 Garagens subterrâneas – Proposta ateliê Zoom -SP (plantas) e Esquadra – DF (plantas
e perspectiva mostrando acesso à garagem subterrânea).
388

Síntese da análise dos Espaços entre Edifícios

Sobre implantação das edificações

Nota-se, na implantação das edificações, nas duas propostas analisadas, a existência

de uma organização embasada no partido volumétrico básico escolhido para o novo bairro –

o bloco de perímetro (edifícios que privilegiam a ocupação dos perímetros dos quarteirões

ao seu centro). Essa premissa tem sua essência na correlação do edifício com a rua, bem

como na conformação de espaços de uso comum (pátios internos) com o intuito de

potencializar as relações sociais e a vida entre os edifícios.

Por esse ângulo, e considerando que a qualificação dos espaços de uso comum

depende, entre outros fatores, de uma clareza de ordenamento, adequação à escala humana

e conforto ambiental, nota-se uma solução mais pertinente na proposta do ateliê Esquadra.

Quanto à ordenação, embora não tenha sido usado um sistema ordenador mais

rigoroso nas duas propostas analisadas, nota-se – no desenho da implantação do ateliê

Esquadra – uma disposição maior (por parte dos arquitetos) em integrar a soluções de

problemas setoriais a um sistema global – similarmente ao que Mahfuz chama de

sistematicidade605.

Sobre o grau de divisão do complexo em partes, consideram-se relevantes as

propostas do ateliê Esquadra e Zoom. Isso, porque leva-se em consideração que quanto mais

claras e visíveis são as partes que compõem um conjunto, maior será a sensação de

orientação606 e, por consequência, mais humano será o complexo.

Somam-se a isso os ganhos sociais no conjunto de habitações, visto que estas partes

(torres, blocos e barras) se conectam por meio do pátio interno – de um modo mais privativo

–, oportunizando mais possibilidades de envolvimento entre as pessoas que ali moram.

Ainda, esta divisão do conjunto em partes, nas duas propostas, com blocos e torres

não contínuos, favorece melhores condições climáticas ao pátio central. No caso do ateliê

605
De acordo com Mahfuz (2003), o conceito de sistematicidade deve ser incorporado no pensamento
projetual contemporâneo através do uso de um sistema ordenador que contribui para alcançar a
autenticidade do projeto.
606
Sobre legibilidade – cada parte do conjunto está associada à um acesso e, portanto, a um núcleo
de circulação vertical –, ver item II. 4.2 – Tipo e Forma dos edifícios – Composição formal dos edifícios.
389

Zoom, a existência da permeabilidade (física e visual) – a partir dos pátios centrais aos eixos

primários de acesso, fortalece também a relação com a rua.

É importante destacar que, embora utilizando estratégias de divisão do conjunto em

partes e com variedade de tipologias de edifícios, a proposta do ateliê Zoom apresenta uma

escassa insolação dos espaços externos. Isso deve-se ao arranjo dos edifícios no sítio em

relação à orientação solar, o qual segue princípios de configuração do quarteirão

estabelecidos pela UP como: a compacidade, o adensamento, a continuidade espacial e a

relação do edifício com a rua.

Nesse sentido, considerando um equilíbrio de valores e entendendo que os projetos

dos conjuntos serão parte de um plano urbanístico maior, o qual propõe607 uma rede de

espaços públicos abertos que os conectam nas diferentes escalas, propiciando a vida ao ar

livre para os moradores, considera-se menos relevante a escassa insolação do pátio interno

verificado na proposta do ateliê Zoom.

Sobre espaços de uso comum

Relativamente à concepção geral das áreas abertas propostas pelos dois ateliês,

embora ainda com poucos elementos de projeto detalhados, consideram-se positivas, tanto

pela diversidade, pela acessibilidade (para e entre os espaços abertos), pelas superfícies

verdes permeáveis e pela legibilidade, uma vez que – pelas suas características – mostram-

se claramente identificáveis.

Embora os ateliês possuam entendimentos diferentes em relação à dimensão

funcional do pátio interno, é pertinente notar que ambas as propostas têm pertinência no

que interessa ao apoio à futura estrutura social do conjunto, na medida em que a ordenação

e composição das áreas abeciartas modelam-se em torno desses objetivos (do encontro e da

permanência).

A quantidade de área destinada aos espaços abertos de uso comum é considerada

adequada e condizente às densidades habitacionais dos conjuntos. Verifica-se 39,11% na

proposta do ateliê Esquadra e 46,41% na proposta do ateliê Zoom. Este percentual colabora

607
Sobre rede de espaços públicos abertos, ver item II. 3.1 – Parcela e Edificado – Usos especiais.
390

para que as áreas privadas não dominem psicologicamente o conjunto, utilizando a expressão

de Alexander (2013, p. 340).

Nesse sentido, e considerando uma estimativa populacional de 120 UH na proposta

do ateliê Esquadra, e 150 UH na proposta do ateliê Zoom, é possível concluir que os espaços

abertos entre os edifícios dispõem de dimensões capazes de abrigar um programa variado e

que permitirá, no futuro, que as pessoas se conectem a um sistema social maior.

Sobre Estacionamento

Considerado que os edifícios se inscrevem numa T-zone (T5608), a decisão de alocar a

grande maioria dos estacionamentos em garagens coletivas subterrâneas e propor algumas

vagas atrás dos edifícios – acessados pela rua interna – é considerada adequada, uma vez

que auxilia na construção de lugares mais humanos e com um menor impacto no desenho

dos espaços exteriores de uso comum.

Essa solução também colabora com a boa caminhabilidade nas calçadas públicas,

contribuindo para uma caminhada mais agradável, em razão da não interrupção (ao menos

nas ruas do tipo A) causada pelas entradas e saídas dos automóveis.

Em relação às garagens abertas, junto às casas, como é o caso da proposta do ateliê

Esquadra, entende-se que ocasionam mais movimento e, consequentemente, mais vigilância

e mais segurança para a via interna e para o conjunto em geral, bem como não configuram

um território dominado pelo automóvel, pelo pequeno percentual que corresponde a este

tipo de estacionamento.

Sobre o caráter das vias compartilhadas, tanto no projeto do ateliê Esquadra, quanto

no do ateliê Zoom, não há elementos de projeto suficientes para uma análise mais detalhada,

como por exemplo: texturas dos pavimentos, níveis, arborização e vegetação, mobiliários,

iluminação, entre outros. Segundo Ricardo Birmann, hoje, os projetos das vias internas estão

num nível conceitual; no entanto, serão ainda revistos e, assim que aprovados, desenvolvidos

em escala maior, com mais detalhes e especificações.

Sobre o número de vagas de estacionamento para automóveis nos conjuntos

residenciais analisados, nota-se um número elevado, especialmente na proposta do ateliê

A zona T5, por ser a área da centralidade, necessita da continuidade no fluxo de pedestres, sendo
608

benéfico às áreas de comércio e serviço localizadas nos pisos térreos dos edifícios.
391

Zoom. No entanto, e levando em consideração que estes conjuntos serão os primeiros do

novo bairro e que, muito provavelmente, a rede de transportes públicos não estará ainda

implantada em sua totalidade, nem outros meios de locomoção, entende-se que o automóvel

será indispensável, num primeiro momento.

A respeito das vagas para bicicletas, observou-se que, tanto o Manual de Diretrizes

Arquitetônicas do bairro Urbitá quanto o Código de Obras e Edificações do Distrito Federal,

preveem uma vaga de estacionamento de bicicletas por unidade residencial. Entende-se que

esta exigência é excessiva, e que os edifícios estariam atendendo – da maneira como

apresentam-se – a outros parâmetros, como, por exemplo, do selo de cerificação LEED-

ND609, que estabelece um número menor de vagas para as bicicletas nos edifícios.

O LEED Neighborhood Development (LEED – ND) estabelece a quantidade de vagas para bicicletas
609

de 2,5% da população de pico a curto prazo, e a quantidade de vagas de bicicletas de 30% dos
usuários a longo prazo.
392

II.5 Síntese final da análise e avaliação

Conforme exposto na metodologia – ver item Introdução –, a grelha avaliativa foi

anexada à grelha analítica, possibilitando seguir a mesma ordem da análise – percorrendo as

quatro escalas do Estudo de Caso (da cidade, do bairro, do quarteirão e do edifício).

Os indicadores e elementos de projeto contidos em cada escala estão representados

na grelha avaliativa através de uma barra – semelhante a um termômetro – que deriva das

cores do semáforo (com quatro cores) e das medidas de uma régua (com quatro partes).

Assim, cada barra é preenchida demonstrando os percentuais considerados adequados para

cada indicador e/ou elementos de projeto. Esses percentuais são assim estabelecidos: 0 –

25% (vermelho); 25 – 50% (laranja); 50 – 75% (amarelo) e 75 – 100% (verde).

Nesse enquadramento, cada cor e medida, corresponde a uma situação: “vermelho”

sugere que um ou mais aspectos do projeto precisam ser considerados e revistos; “amarelo”

e “laranja” indicam a necessidade de uma discussão ou um refinamento do projeto a respeito

dos elementos que o compõem; e “verde” preconiza que os critérios e elementos de projeto

foram bem resolvidos diante dos parâmetros estabelecidos610. Para os elementos de projeto

que precisam ser revisados (no caso dos “vermelhos”, “laranjas” e “amarelos”), é

apresentada uma breve descrição (ver apêndice 03) embasada nos Parâmetros de qualidade

urbanística e arquitetônica – Parte I da tese.

610
Ver tabela 07 - Grelha avaliativa: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício.
393

Tabela 07: Grelha avaliativa: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício

Fonte: Elaborado pela autora.


394

Os percentuais que definem o grau de adequação – apresentados na Tabela 07 – são

resultados de uma equação simples (com média aritmética) para cada indicador, a partir de

seus elementos de projeto, e seus subitens (ver apêndice 03). No entanto, fica evidente, na

leitura da grelha avaliativa, que todos os indicadores e elementos de projeto alcançaram uma

avaliação que corresponde a 75% ou mais – ilustrados com a cor verde –, o que demonstra a

pertinência do projeto do novo bairro Urbitá, na busca da qualidade dos espaços em áreas

residenciais e, consequentemente, de um modelo de bairro / comunidade mais sustentáveis.

Nesse âmbito, interessa aqui – finalizando a análise e avaliação do Estudo de Caso do

bairro Urbitá, Brasília – realizar uma síntese final desta avaliação, sobretudo salientando os

aspectos menos positivos identificados para cada um dos indicadores e elementos de projeto

nas quatro escalas (da cidade, do bairro, do quarteirão e do edifício).

• Na Escala da Cidade, o indicador localização obteve avaliação máxima. O indicador

Conexões não está completamente resolvido, na medida em que:

• Ao nível do sistema viário complementar se pode apontar que por um lado, não há um

projeto/estudo de uma rede de caminhos de pedestres e ciclovias que inclua as faixas de

travessia de pedestres (nos cruzamentos) com as alamedas internas – que atravessam os

quarteirões; por outro, não há uma solução definida, tanto no âmbito do desenho da

estrutura física, quanto da gestão – do sistema operacional, no que diz respeito ao acesso

condicionado ao tráfego do automóvel e pedestres nas vias internas (alamedas) aos

quarteirões.

• Ao nível das calçadas proveitosas, interessantes e seguras, observou-se um equívoco, no

que diz respeito às fachadas ativas, na proposta de um intervalo de 50 metros entre portas

de acesso para o pedestre no piso térreo, descrita no Manual de Diretrizes Arquitetônicas;

também, no quesito das calçadas seguras, considera-se que a distância da faixa de travessia

de pedestres em relação à esquina – de 3,30m, não segue as recomendações, que são de

1m - 1,5m de distância do alinhamento da pista transversal.

• Ao nível da rede cicloviária, percebe-se a intenção nos desenhos dos perfis das vias, no

entanto carece de um masterplan, com as especificações de ciclovias mostrando suas

conexões no bairro, sobretudo, com os quarteirões de usos especiais (equipamentos de

ensino, equipamentos cívicos e institucionais, pontos de referência e espaços públicos

abertos).
395

• Ao nível da mobilidade sustentável é possível apontar que não há, até ao momento, um

plano de sustentabilidade do transporte público, através do uso de energias renováveis, com

combustíveis alternativos, menos poluentes.

• Na Escala do Bairro, o indicador morfologia / tecido urbano apresenta a necessidade de

algumas complementações e aperfeiçoamentos, no que diz respeito aos seguintes tópicos:

• Aos gateways, na medida que se notou a necessidade de integrar esta ideia aos demais

cruzamentos que fazem parte da Zona Central: entre a DF - 425 e a avenida Ushuaia e entre

a DF - 425 e a avenida Quito, ambas vias estruturais de circulação que prevêem a ligação do

novo bairro com os núcleos Sobradinho e Sobradinho II.

• Ao Smart Code, uma vez que se percebe a necessidade de se constituírem regras de

planejamento mais específicas, ao nível do edifício (regulamento construtivo), além do

Manual de Diretrizes Arquitetônicas que possui um caráter privativo e local, para este

empreendimento, sem valia de lei.

• Na Escala do Quarteirão, o indicador parcelas e edificado não se apresenta integralmente

solucionado, dado que:

• Ao nível dos equipamentos comunitários, particularmente aos equipamentos de ensino,

falta especificar, no projeto, quais são os quarteirões / lotes destinados aos equipamentos de

ensino - item considerado indispensável no que corresponde um caráter compacto e

completo de uma área residencial.

• Na escala do Edifício, a avaliação do indicador acessos demonstra que carece de pequenas,

mas significativas adequações, relativas aos seguintes itens:

• Ao tratamento dos acessos aos edifícios à pequena escala / escala humana –

especificamente na proposta do ateliê Esquadra - DF: falta de alguns elementos na escala

humana a fim de minimizar a forma gerada pelo avanço do volume do corpo do edifício acima

do piso térreo. Identifica-se a falta de uma cobertura mais baixa, o que proporcionaria uma

sensação de chegada e, consequentemente, uma adaptação dos usuários ao espaço mais

privado, além da proteção.

• A hierarquização entre espaço público, semi-público, semi-privado e privado –

especialmente na proposta do ateliê Esquadra – DF: verifica-se uma baixa demarcação física

(inexistência do espaço semi-privado) entre o hall interno dos edifícios e os acessos as

unidades habitacionais do piso térreo.


396

•A conexão dos pisos mais altos com a rua através do sistema de circulações – notadamente

na proposta do ateliê Zoom – SP: Existe uma baixa conexão entre a porta de entrada de cada

habitação e o solo (através dos patamares), encerrando a ideia de fazer desses patamares

espaços ambientados para o encontro e o convívio entre os moradores do edifício atribuindo

um caráter de espaço de passagem apenas – enclausurados e desprovidos de qualquer

experiência, emoção ou descoberta.

• Na escala do Edifício, a avaliação do indicador tipo e forma dos edifícios não se encontra

completamente resolvido, na medida em que:

No agrupamento das unidades habitacionais – particularmente nas propostas dos ateliês

Esquadra - DF e Ideia 1 – POA: Nota-se, nos conjuntos dos apartamentos por piso, que a

maior parte dos acessos são feitos através de um patamar fechado e com dimensões

reduzidas, o que não contribui em nada na interação entre o exterior e interior, e muito menos

para criar condições para o encontro e convívio – qualidades consideradas relevantes no

princípio de organização espacial de edifícios em conjuntos residenciais.

• Na composição tripartida dos edifícios – nas propostas dos ateliês Esquadra – DF, Ideia 1 –

POA e Zoom – SP: Verifica-se a necessidade de aprimoramento da organização dessas três

partes que compõem os edifícios, considerando as essenciais: a ampliação da base - dois

andares ou piso térreo e/ou mais um pavimento de transição (um terraço de uso coletivo); o

recuo do volume do corpo em relação ao embasamento a partir de uma determinada altura

e maior cautela com as arestas e vértices, particularmente nas esquinas. Sobre o topo e

elementos de fachada em geral, espera-se um maior equilíbrio e articulação para com as

demais partes do edifício, reduzindo o excesso de variação de materiais e elementos dentro

do próprio edifício. Isso torna-se ainda mais relevante, ao prospectarmos o cenário futuro -

do conjunto construído -, a fim de resguardar uma imagem menos heterogênea do bairro e

evitar que cada edifício se torne uma coleção de estímulos visuais.

• Na composição formal das esquinas – nas propostas dos ateliês Esquadra – DF, Ideia 1 –

POA e Zoom – SP: O resultado formal não parece o mais adequado, uma vez que os limites

verticais laterais do corpo dos edifícios seguem ângulos ortogonais, sem maiores

preocupações com a aresta – consequência de um excesso de horizontalidade que marca

cada andar. Nesse ponto é possível afirmar que, dois dos projetos analisados (dos ateliês

Zoom e Esquadra), poderiam estar num terreno de meio de quadra.


397

• Na interface entre interior e exterior – nas propostas dos ateliês Esquadra – DF, Ideia 1 –

POA e Zoom – SP: Nota-se que, em relação aos limites dos edifícios (fachadas) – onde

acontece a interface entre o interior e o exterior – uma incoerência no uso estipulado para a

principal esquina – em maior quantidade na proposta das tipologias de apartamentos

apresentadas pelo ateliê Esquadra, –torre D – entre Avenida Sobradinho e Avenida

Estocolmo, onde é composta por dormitórios do 1º ao 7º andar.

• Nos blocos de perímetro (embasamento ininterrupto) – nas propostas dos ateliês Esquadra

– DF e Zoom – SP: Verifica-se que os pisos térreos não são tratados como um embasamento

de fato - o qual deveria ser composto pelos dois primeiros andares, ao menos nas zonas mais

centrais. Ainda, entre o embasamento e o corpo do edifício poderia ter um pavimento de

uso coletivo (terraço) – como já comentado no item da composição tripartida dos edifícios –

com o proposito de evitar lajes que aparecem no projeto do ateliê Esquadra, por exemplo –

entre blocos e torre – que, aparentemente, não beneficiam nenhum apartamento.

• Na escala do Edifício, na avaliação do indicador espaço entre edifícios não se encontra

totalmente solucionado, dado que:

• O sistema de organização da implantação – relativamente à proposta do ateliê Zoom- SP:

Não apresenta um sistema de modulação facilmente identificável que possa decorrer por

exemplo, do tamanho das unidades habitacionais, da modulação estrutural, ou de outras

recorrências, de forma que, tanto os edifícios quanto os espaços abertos sejam partes

indissociáveis de um todo; e, relativamente à proposta do ateliê Esquadra – DF: Observa-se

que a organização da implantação segue (em parte) uma ordenação que é identificada

através da fácil percepção da recorrência de medidas (5m x 5m) e suas localizações, as quais

formam um sistema compositivo que auxilia a orientar e definir (com mais rigor) desde as

partes maiores até as partes menores do projeto, em especial dos espaços abertos.

• Os estacionamentos de veículos – nas propostas dos ateliês Esquadra – DF e Zoom – SP:

Considerando que o novo bairro possui um bom planejamento do sistema de transporte

público e da rede cicloviária integrados ao uso e ocupação do solo, é possível afirmar que as

vagas para estacionamento privativas poderiam ser, em parte, dispensadas.

Percebe-se, nessa síntese final da análise e avaliação, que os indicadores relativos à

escala da cidade e do bairro alcançaram uma avaliação superior à dos indicadores

relacionados à escala do quarteirão e do edifício.


398

Resultados e interpretações da análise e avaliação do Estudo de Caso: a contribuição

dos técnicos-especialistas

Concebido e idealizado com o propósito de validar a relação dos princípios,

indicadores, critérios e elementos essenciais de projeto, construídos a partir da síntese das

ideias dos autores estudados (Parte I da tese), o Estudo de Caso demonstrou-se eficaz na

determinação de um conjunto de diretrizes que, percorrendo as escalas do habitar – da escala

da cidade à escala da casa – são eficientes para a promoção da qualidade urbanística e

arquitetônica de projeto para novos bairros residenciais.

Esta determinação de um conjunto de diretrizes fundamenta-se, além da síntese das

ideias dos autores estudados (Parte I da tese), no resultado das entrevistas realizadas ao longo

da análise do Estudo de Caso – no período de 2019, 2020 e 2021 – com Ricardo Birmann,

Diretor-Presidente da UP; com Lahys Rocha Miranda, Arquiteta e Urbanista, Gestora de

Urbanização da UP, nos aspectos condizentes à escala da cidade, do bairro e do quarteirão;

e com os arquitetos de dois escritórios, os quais tiveram seus projetos mais explorados e

apresentados na tese, nos aspectos relativos à escala do edifício: Filipe B. Mont Serrat –

Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos, Brasília – DF e Guilherme Gambier

Ortenblad – Arquiteto e Diretor-Presidente da Zoom – urbanismo, arquitetura e design, São

Paulo – SP.

Estas entrevistas tiveram o intuito de reunir as ideias de profissionais especialistas que

estão diretamente ligados à temática da tese e, principalmente, ligados diariamente à

elaboração dos projetos urbanísticos e arquitetônicos do novo bairro Urbitá, assim como à

sua implementação. Foram extraídas, a partir dessas entrevistas, linhas orientadoras, nas

diversas escalas do planejamento, as quais foram levadas em conta na avaliação do Estudo

de Caso, assim como na construção das recomendações / diretrizes para a qualidade

urbanística e arquitetônica de projeto para novos bairros, expostas no próximo item.

Ainda, contribuiu com a construção deste conjunto de diretrizes, a participação na

reunião de trabalho sobre o desenvolvimento do bairro Urbitá realizada em 22 de abril de

2021, intitulada: UrbLab 2021 – Melhores práticas urbanas e ambientais para as cidades do
399

futuro611. Tratou-se de uma apresentação, diagnóstico e diretrizes da análise da Etapa 1 do

bairro Urbitá, feita pelo Centro de Tecnologia de Edificações (CTE)612, com o objetivo de

realizar um diagnóstico de potencial de certificação, utilizando quatro selos de qualidade –

Sustainable SITES, Fitwel Community, LEED Cities & Communities e LEED Neighborhood

Development (LEED-ND)613.

Junto a este diagnóstico, a CTE apresentou uma simulação da pontuação para cada

categoria de sustentabilidade, analisando os pré-requisitos referentes aos selos de qualidade,

verificando os créditos, traçando metas e sugerindo estratégias de projeto (para alguns

indicadores) que necessitam de revisão a fim de alcançar um melhor resultado.

Salienta-se que, no Brasil, ainda são escassos os empreendimentos que se preocupam

com projetos estratégicos – focados na qualidade e que coloquem as pessoas e a saúde em

primeiro plano – na produção de novos territórios habitacionais, sob a ótica da

sustentabilidade, da integridade, da identidade e da vitalidade

Ainda, é pertinente mencionar – e talvez seja um dos motivos do problema acima

colocado – que os incentivos, no Brasil, são incipientes, tanto no que se refere aos estudos e

pesquisas nesta área, quanto ao que compete aos incentivos fiscais para os

empreendimentos que possuírem o selo de certificação de qualidade, como por exemplo:

redução de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), cota ambiental, empréstimos

bancários, taxas de juros menores, entre outros.

Nesse universo, com base nestes olhares de técnicos-especialistas, sobretudo para a

realidade brasileira, foi possível definir um conjunto de recomendações que, percorrendo as

611
Participaram desta reunião: Myriam Tschiptschin, Arquiteta e Urbanista, Gerente da Unidade de
Smart Cities e Infraestrutura Sustentável do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) e
Coordenadora do curso de Smart Cities do Instituto Europeu de Design (IED); Patricia Eiko Aguchiku,
Arquiteta e Urbanista, Consultora Start Cities do CTE; Mirella Glajchman, Bióloga, Gestora Meio
Ambiente da UP; Lahys Rocha Miranda, Arquiteta e Urbanista, Gestora Urbanização da UP,Ricardo
Birmann, Diretor-Presidente da UP, Filipe B. Mont Serrat, Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra
Arquitetos, Brasília – DF e Gabriel Grandó, Arquiteto e Diretor do Ideia 1 Arquitetura – POA.
612
Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) - SP: Empresa de consultoria e gerenciamento em
qualidade, tecnologia, gestão, sustentabilidade e inovação para o setor da construção.
613
O sistema LEED-ND é uma colaboração entre o Gren Building Council dos Estados Unidos da
América, o Congresso para o Novo Urbanismo e o Conselho de Defesa de Recursos Naturais. O LEED-
ND reconhece projetos de bairros e comunidades residenciais que protegem e melhoram o ambiente
urbano e a qualidade de vida. O sistema de classificação incentiva o crescimento inteligente e as
melhores práticas do Novo Urbanismo, assemelhando-se aos indicadores estabelecidos na tese.
400

escalas do habitar – da escala da cidade à escala da casa – são eficientes para a promoção

da qualidade urbanística e arquitetônica de projeto para novos bairros residenciais.

II.6 Qualidade urbanística e arquitetônica de projeto para novos bairros: algumas

recomendações essenciais

Entende-se o conceito de bairro como sendo um setor da forma da cidade; uma

unidade morfológica e estrutural, caracterizado – utilizando as palavras de Rossi (2001 [1966],

p.88) – por uma certa paisagem urbana, por um certo conteúdo social e por uma função

própria. Embora seja determinado por um caráter distinto de uma determinada área,

necessita estar integrado à cidade, assim como – na sua organização interna – deve incorporar

e integrar (física e socialmente) os componentes da estrutura urbana nas demais escalas (da

maior para a menor): o quarteirão, o edifício e a casa.

Nessa conjuntura, toma-se, como fator essencial para a qualidade urbanística e

arquitetônica de projetos para novos bairros residenciais, a integridade. Entendida como

tendo relação com ser íntegro, inteiro ou completo, a obtenção da integridade dos projetos

é percebida quando todos os elementos que formam os ambientes – da cidade à casa –

devem ser considerados partes integrantes de um todo único e indivisível.

Dessa forma, para a obtenção dessa qualidade (da integridade), considera-se, como

componente fundamental, a adequada relação entre a casa e a cidade, através do

estabelecimento de um vínculo físico e social entre as pessoas e a estrutura urbana. Este nexo

– físico e social – é atingido por meio da integração planejada, inovadora e inclusiva entre os

vários níveis da escala urbana: a cidade, o bairro, o quarteirão, o edifício e a casa.

Incorporam, ainda, a essa associação – da cidade à casa –, a dimensão social, a

dimensão humana e o entendimento do mundo real: uma compreensão completa sobre

quais são as situações que criam lugares relacionais, identitários, inclusivos, seguros,

saudáveis, vivos, diversificados, atraentes, habitáveis, justos e mais humanos.

Essas propriedades – tanto as de caráter mais físico, quanto as de caráter mais abstrato

– podem ser equiparadas aos princípios de sustentabilidade física e social de bairros /

comunidades –, frequentemente buscados na atualidade.


401

Desse modo – sob a óptica dos bairros / comunidades urbanas sustentáveis –,

infere-se que os princípios essenciais de projeto eficazes à promoção da qualidade

urbanística e arquitetônica de novos bairros são: a compacidade, a completude, a

conectividade e, numa dimensão mais social e humana, a concatenação entre as pessoas e a

cidade, em uma relação mútua, ativa e recíproca entre espaços privados, semiprivados,

semipúblicos e públicos.

Dessa forma, expõem-se algumas recomendações essenciais de projeto para novos

bairros, que contemplem os princípios acima descritos, apoiadas nos indicadores e

elementos de projetos identificados e estabelecidos na Parte I e II da tese. Essa sucessão de

recomendações dá-se por meio de quatro tópicos: O bairro compacto; O bairro completo;

O bairro conectado e O bairro concatenado.

Essas recomendações essenciais são consideradas ‘regras fortes’, isto é, um esqueleto

ou estrutura sobre a qual uma variedade infinita de respostas de projeto – urbanístico e

arquitetônico – pode ocorrer. Entende-se que é através dessas ‘regras fortes’ que se pode

garantir o alcance da qualidade urbanística e arquitetônica de projeto para novos bairros sob

a ótica da sustentabilidade, da identidade e do significado social e humano, num contexto

contemporâneo.

O quadro 67 expõe a síntese destas recomendações, por meio da representação dos

elementos de projeto, dos princípios de projeto e da relação que se estabelece entre eles.

Dessa forma, os seis elementos essenciais de projeto que colaboram de forma mais direta

com cada princípio têm um dos lados tangenciando o ‘hexágono’ relativo ao princípio a que

participam, enquanto outros estão num segundo nível. Também, existem alguns elementos

de projeto que tangenciam com mais do que um princípio, pois contribuem para o alcançar

de ambos os princípios.
402

QUADRO 67 Relação entre os princípios e elementos essenciais de projeto eficazes à promoção da


qualidade urbanística e arquitetônica de novos bairros residenciais.
403

O bairro COMPACTO
Considera-se um bairro compacto quando:

A localização escolhida para a implantação de um novo bairro (seja um preenchimento

urbano, uma extensão urbana ou uma regeneração) esteja em conformidade com as diretrizes

de crescimento e planejamento do território a fim de criar / impulsionar um polo viável de

crescimento inteligente, compacto e completo. Ver item I.1.1 e II.1.1 – Localização –

Habitação formando novos bairros.

Sobre a localização do novo bairro aconselha-se ainda que a área escolhida para a

implantação do projeto esteja próxima a serviços diversos existentes, assim como esteja

próxima dos equipamentos comunitários existentes, sobretudo, os equipamentos de ensino,

seguindo os parâmetros de distâncias estabelecidos relacionados às etapas de ensino e

demanda. Ver item I.3.1 e II.3.1– Parcela e edificado – Usos especiais: Quais? Quando?

Onde? – Instalações comunitárias: Equipamentos de ensino.

Incorpora as orientações do Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte

Sustentável - DOTS614, com o objetivo de integrar as diferentes dimensões do planejamento,

como o uso do solo, a mobilidade, o meio ambiente, a habitação e a infraestrutura de

transporte público (eixos e estações). Ver item I.1.1 Localização – Habitação ao longo dos

eixos de transporte, I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Transporte público coletivo, individual e

alternativo.

Considera princípios de desenvolvimento, através da subdivisão do bairro em setores

(distritos de zoneamento e/ou T-zones), capazes de controlar seus perímetros e dar-lhes – a

cada setor – caráter próprio e distinto. Sobre a identidade de cada setor, recomenda-se

aplicar a teoria das zonas de Transect – T-zones a qual apoia a criação de um sentido de lugar

– desde a zona mais urbana até a zona menos urbana –, assim como auxilia na integração, na

ordem e no equilíbrio entre setores através da configuração das fronteiras dos distritos. Ver

item I.2.1 e II.2.1 Morfologia / Tecido urbano – Distrito de zoneamento e T-zones.

614
DOTS (no Brasil) – Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável e TOD (nos EUA)
– Transit-Oriented Development.
404

Relativamente à configuração das fronteiras, salienta-se que esta organização (das

bordas entre setores) terá a finalidade de criar espaços de relacionamento – possibilitando o

compartilhamento de funções comuns entre distritos.

Indica uma configuração de quarteirões que coopera com a continuidade espacial,

através da tipologia adotada – a exemplo dos blocos de perímetro ou blocos urbanos –,

sobretudo nos pavimentos dos térreos, contribuindo significativamente para os bons plinths,

tornando mais eficientes os usos dos serviços e recursos, aproximando as atividades –

acessíveis a pé – , possibilitando uma caminhada mais proveitosa e interessante, integrando

os espaços internos aos espaços externos públicos (através das transparências e das zonas

de transição) e conformando locais de encontro – contribuindo com as relações sociais –, o

que os torna lugares convidativos, enriquecedores e vivos. Ver item I.3.1 e II.3.1– Parcela e

edificado – Configuração dos quarteirões.

Considera, para a localização dos quarteirões especiais – onde serão alocadas as

instalações comunitárias615 –, o posicionamento onde concentram-se as vias (nós de junções

/ atividades); e nas fronteiras dos distritos, a fim de criar espaços de relacionamento entre

setores, bem como entre o novo bairro com o território circundante, possibilitando o

compartilhamento de funções comuns. Ver item I.3.1 e II.3.1– Parcela e Edificado –

Localização dos quarteirões.

Ainda, a localização estratégica dos quarteirões especiais no bairro contribui, em nível

formal, com a legibilidade e imagem da cidade, assim como apoia a diversidade,

aumentando a atratividade e, consequentemente o valor imobiliário do novo bairro. Ver item

I.3.1 e II.3.1– Parcela e edificado – Usos especiais: Quais? Onde? Como? – Espaços cívicos /

institucionais e pontos de referência.

Sugere, entre os usos especiais (instalações comunitárias, comércio e serviços) e os

conjuntos de residências, o tamanho ideal para o pedestre, por meio de raios de 400m -

615
Consideram-se instalações comunitárias: funções de utilidade pública como equipamentos de
ensino (escolas e afins), pontos de referência (galerias, museus, marcos paisagísticos), espaços
institucionais e cívicos (edifícios cívicos, universidades, hospitais) e espaços públicos abertos (parques,
praças, jardins de vizinhança, área de lazer e desporto).
405

1.600m – equivalentes a cinco a quinze minutos de caminhada –, dependendo do

equipamento. Esta referência à escala humana é considerada uma das decisões mais

importantes na compreensão do movimento, contribuindo para a compacidade e,

consequentemente, para a redução de tráfego individual (viagens e estacionamentos), com

o estímulo dos destinos a pé, para a viabilidade econômica – sobretudo da infraestrutura e

para a instalação de usos diversos –, entre outros benefícios de ordem social que estão

relacionados à proximidade social, à interação entre vizinhos, à criação de um senso de

comunidade616, identidade e significado social e humano. Ver item I.3.1 e II.3.1 – Parcela e

Edificado – Usos especiais: Quais? Onde? Como?

Sobre usos especiais, sobretudo os comerciais, recomenda-se a instalação de uma

variedade de equipamentos, em espaços físicos pequenos (considerando a tendência das

lojas virtuais) – especialmente nas zonas centrais –, a fim de favorecer a compacidade, assim

como oferecer uma experiência aos pedestres, em escala humana, de uma ampla gama de

atividades e atrações num intervalo de 10m. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas,

caminhos de pedestres e ciclovias – Fachadas ativas e item II.3.1 – Parcela e Edificado – Usos

especiais: Quais? Onde? Como? – Equipamentos comerciais e serviço local.

Propõe uma densidade bruta média alta – média: 187 a 375 UH/ha e alta mais de 375

UH/ha –, que é estabelecida, em especial da zona Central e Centralidade, favorecendo a

sustentabilidade física, social e econômica do bairro, na medida em que suporta o

desenvolvimento do uso misto, o qual necessita de uma densidade mínima de unidades de

habitação para se manter.

Oportuniza, ainda, através da densidade (média alta), a construção de um bairro mais

caminhável – gerando a redução de tráfego individual, estimulando os destinos a pé, a

proximidade social, a viabilidade econômica com a infraestrutura, a instalação de usos

616
Sabe-se que, na sociedade contemporânea, a interação social não depende mais unicamente das
comunidades locais, uma vez que foram complementadas, tanto pelo aumento da mobilidade como
pelas comunicações eletrônicas. No entanto, mesmo nesta era altamente móvel e tecnologicamente
conectada, é dever do projetista oferecer oportunidades para ambos – rede de contatos
espacialmente próxima e espacialmente difusa – e permitir que as pessoas encontrem seu próprio
equilíbrio.
406

diversos, entre outros benefícios. Ver item I.4.2 e II.4.2 – Tipo e forma dos edifícios –

Composição formal dos edifícios.

O bairro COMPLETO
Considera-se um bairro completo quando:

Os distritos de zoneamento ou T-zones corroboram na promoção do desenvolvimento

econômico, social e cultural do bairro e da região onde está inserido, por meio da diversidade

de distritos, da miscigenação de usos e funções – incluindo instalações comerciais e

comunitárias locais –, e de uma variedade de opções de tipos de edifícios e habitação, a fim

de criar um centro urbano alternativo às zonas centrais da cidade, tornando-se mais

sustentável e autossuficiente617 ao nível do bairro. Ver item I.2.1 e II.2.1 Morfologia / Tecido

urbano – Distrito de zoneamento e T-zones.

A mistura de usos e funções dá-se através dos usos especiais: das instalações

comunitárias, do comércio, dos serviços e dos locais de trabalho – a distâncias ideais para o

pedestre –, as quais objetivam gerar menos deslocamentos per capita que lugares

dependentes de automóveis, o que contribui para a construção de lugares mais justos e

saudáveis – no momento em que se buscam soluções para as desigualdades socioespaciais

(beneficiando todas as pessoas, independentemente de sua posição social, econômica e/ou

estilo de vida) –, e sustentáveis – na medida em que impulsionam a criação de oportunidades,

promovendo o desenvolvimento urbano local. Ver item I.3.1 e II.3.1– Parcela e edificado –

Usos especiais: Quais? Onde? Como? – Local de Trabalho.

Define, para os quarteirões, uma variedade de opções de tipos de edifícios:

plurifamiliares (compostos por blocos e torres) de acessos coletivos que se relacionam com

blocos menores – edifícios unifamiliares com acesso privado. Esta composição formal dos

617
Autossuficiente no sentido de possuir serviços e equipamentos do cotidiano reduzindo a
dependência do automóvel individual, lembrando, conforme Jacobs (2014 [1960], p. 86), que a falta
de autonomia, tanto econômica quanto social, nos bairros, é natural e necessária, simplesmente
porque eles são integrantes da cidade.
407

edifícios colabora também na correlação – entre edifícios e destes para com a rua –,

priorizando a composição em detrimento do destaque individual, isto é, todos os edifícios

contribuem para o ambiente da rua e para o tecido urbano, valorizando o conjunto

urbanístico. Ver item I. 4.2 e II.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Tipo e organização do

edifício.

Relativamente às vantagens do zoneamento e da variedade de opções de tipos de

edifício descritas no parágrafo anterior, destaca-se a variedade de opções de tipos de

habitação, que se referem a mistura de tipos de habitações (desde T0 até T4) no mesmo

conjunto / no mesmo quarteirão – a fim de atender à multiplicidade de grupos e subculturas

que coexistem na área urbana. Ver item II.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Tipo e

organização do edifício.

Estabelece um plano de hierarquia de vias que, além de estar associado ao seu papel

de movimento, incorpore qualidades relativas à sua relação com os espaços e edifícios

(privados e púbicos): no térreo, em primeiro lugar, através dos usos diversificados e o cuidado

com o desenho dos espaços de transição; em segundo lugar, nos andares subsequentes,

também através dos usos (comercial, escritórios, residenciais) e por meio do desenho da

fachada que permita um nexo com a rua, seja mediante a materialidade, o uso de floreiras,

de varandas / sacadas que permitam compor espaços ao ar livre. Ver item I.1.2 e II.1.2–

Conexões – Rede viária. Ver item I.3.1 e II.3.1 – Parcela e Edificado – Equipamentos

comerciais e serviço local.

Sobre a relação do edifício com a rua nos andares acima do térreo, recomenda-se que

a interface entre o interior e o exterior do edifício, que é constituída pela borda da edificação

– a fachada, seja considerada um fator elementar em consonância com o caráter de cada

setor. Ao se relacionar com o mundo exterior, o edifício passa a fazer parte da malha social,

da cidade e da vida de todas as pessoas que moram no local ou passam por ali. Ver item I.4.2

e II.4.2 – Tipo e forma dos edifícios – Composição formal dos edifícios.

Sobre a relação do edifício com a rua nos pisos térreos (plinth), entende-se que uma

boa estratégia de projeto deve abraçar uma grande variedade de funções sociais, comerciais,

de serviços, de lazer e, inclusive, de habitação. Ainda, contribuem para “bons plints” o

tamanho e a organização vertical, através do ritmo de novas unidades (preferencialmente


408

pequenas)618 e suas aberturas. Estas devem permitir conexões visuais entre o interior e o

exterior, com portas e janelas voltadas para a rua e com frequência de acessos, oportunizando

a relação entre ambientes fechados e abertos. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas,

caminhos de pedestres e ciclovias – Fachadas ativas e item I.4.3 e II.4.3 – Tipo e forma dos

edifícios – Reação com o solo – pisos térreos.

Prevê, na zona Central e na Centralidade, um espaço propício a constituir-se como

âncora, com comércio, serviço, arte e cultura, assim como um ponto referencial no bairro,

tendo a função de atrair pessoas para uma experimentação urbana e social significativa. Este

espaço pode ser um calçadão de pedestres ou um espaço de uso compartilhado, onde

carros, ciclistas e pedestres se respeitem numa grande mistura de humanidade e que cumpra

o propósito, para além da circulação, de espaços de convivência e de oportunidades,

resgatando o significado mais puro e poderoso da rua: todos somos donos do espaço e de

qualquer maneira; todos podemos usar a rua. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Rede viária

– ruas compartilhadas.

O bairro CONECTADO
Considera-se um bairro conectado quando:

Propõe uma conexão à estrutura do entorno, o reforço às linhas existentes e a criação

de uma rede interconectada de ruas e espaços público abertos por meio de uma

hierarquização de vias: sistema viário estruturante e sistema viário complementar, ambos com

caráter e dimensões apropriadas e baseadas na escala humana, qualificando o bairro. Ver

item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Rede viária.

Sobre hierarquia das vias, aconselha-se considerar uma razão entre largura das ruas e

altura dos edifícios, entre 1:1 (rua) e 1:2 ou 1:2,5 (via interna), visando à criação de perfis

transversais confortáveis à apreciação visual por parte dos usuários, proporcionando uma

sensação de espaço mais contido, evitando a sensação de desamparo, assim como, por outro

618
Escala pequena das unidades possibilita muitas portas (no mínimo 10 a cada 100 metros). Método
usual do século 19 que, além disso, ainda nos ensina sobre plinths com espaços de varejo transferíveis,
i.é., os espaços se adaptavam facilmente e rapidamente às demandas mutantes da economia e da
sociedade.
409

lado, evitando a criação de espaços urbanos claustrofóbicos com reduzida penetração da luz.

Ver item I.4.3 e II.4.3 Espaço entre Edifícios – Implantação das edificações.

Apresenta uma malha de quarteirões com dimensões médias de 120m x 90m, qualidade

que colabora com a compacidade e com a conectividade (incrementando o número de

cruzamentos). Ainda, para os quarteirões com maiores dimensões, é recomendável prever

vias internas que auxiliam na formação de uma rede de circulação com dimensões mais

convenientes ao pedestre, contribuindo para a permeabilidade física, visual e de conforto

ambiental das formas construídas.

Promove, ainda, por meio da variedade de tamanhos e formatos dos quarteirões –

que deverão estar em conformidade com o caráter de cada setor–, a pluralidade de usos, a

fim de conformar lugares vivos, isto é, espaços variados e complexos que intensifiquem a

vida urbana. Ver item I.2.1 e II.2.1 Morfologia / Tecido urbano – Malha de quarteirões.

Relativamente às vantagens da variedade dos quarteirões descritas no parágrafo

anterior, é recomendável estabelecer quais as tipologias de quarteirões que serão usadas na

nova área residencial, sugerindo a localização para cada tipo de quarteirão nos respectivos

distritos ou T-Zones, com a finalidade de estabelecer uma correta relação entre as vias, as

parcelas e as edificações, tanto na forma como nas funções estabelecidas.

Organiza, em conjunto com o sistema viário, uma rede de espaços públicos abertos que

os conectem nas diferentes escalas do bairro, desde grandes parques, praças e espaços

cívicos até jardins de bairros e parques de vizinhança. É aconselhável que sejam previstos, no

projeto, espaços que propiciem a vida ao ar livre o ano todo, a fim de contribuir para uma

melhor habitabilidade urbana.

No que se refere aos tamanhos e natureza dos espaços públicos abertos e suas

localizações no bairro, aconselha-se que sejam definidas em conformidade com as

especificidades de cada sítio, em cada distrito de zoneamento ou nas T-zones. Ver item I.3.1

e II.3.1 – Parcela e edificado – Usos especiais: Quais? Onde? Como? – Espaços públicos

abertos.
410

Cria a possibilidade de ser caminhável, viabilizando a caminhada segura, confortável,

proveitosa e interessante (à escala humana) – com caráter e dimensões apropriadas – através

dos desenhos das calçadas e caminhos de pedestres, das faixas de travessia de pedestres e

da relação do edifício com a rua. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de

pedestres e ciclovias.

Para este último item – da relação do edifício com a rua –, salientam-se as interrupções

na calçada em razão das entradas de veículos para os estacionamentos e garagens. Para

economizar na concessão de rebaixamento de guias, deve-se incentivar as entradas de

serviços de “fundos”, tais como coleta de lixo, abastecimento de lojas e rampas de acesso a

garagem e estacionamentos na rua de trás, utilizando ruas secundárias, a fim de auxiliar na

segurança e conforto da calçada, assim como qualificar os pisos térreos – em especial suas

vitrines. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias.

Ainda, sobre a relação do edifício com a rua, e objetivando contribuir para a vibração

da calçada, recomenda-se propor um desenho adequado de calçadas, sobretudo na faixa de

transição ou frontage zone, objetivando a boa caminhabilidade e a permanência das pessoas.

Para isso, pode-se utilizar de elementos arquitetônicos e urbanísticos evocativos desse

espaço de transição, a fim de converter-se em um instrumento potencializador da vida social,

como colunatas, arcadas, varandas e mesmo alpendres e toldos – sempre tão agradáveis e

confortáveis –, que ativos, abertos e vivos, têm grande impacto na vida e atração exercida

pelo espaço da cidade. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres

e ciclovias.

Incorpora princípios de mobilidade sustentável que incluem o tráfego de bicicletas

através de uma rede cicloviária – integrada aos demais sistemas de transporte e abrangendo

todos endereços do novo bairro –, a qual objetiva aliviar a sobrecarga dos transportes

públicos, reduzir a dependência do automóvel e contribuir para a qualidade do bairro, da

cidade e do meio ambiente. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de

pedestres e ciclovias.

Prevê o acesso a um bom sistema de transporte público coletivo, vinculado à estrutura

do espaço urbano – em especial à acessibilidade entre habitação e transporte – e à promoção


411

da mobilidade urbana sustentável por meio do modelo DOTs, que objetiva integrar as

diferentes dimensões do planejamento, como o uso do solo, a densidade, a mobilidade, o

meio ambiente, a habitação e a infraestrutura de transporte público.

Aponta-se, novamente, a referência à escala humana, uma vez que, além da

diversidade de linhas e modais, o sistema de transporte público coletivo deve possuir

distâncias adequadas – entre casa e paradas / pontos de embarque – à escala do pedestre,

entre 400m e 1.000m. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Transporte público coletivo,

individual e alternativo.

Em conjunto com o transporte público coletivo prevê uma variedade de escolhas de

transportes, permeáveis ao ciclista e ao pedestre, somadas à possibilidade de deslocamento

a pé, do carro compartilhado e outras opções com combustíveis alternativos. Trata-se de

estratégias que, além de ocuparem menos espaço nas cidades, não contribuem para a

emissão de gás carbônico e são mais saudáveis, por exigirem alguma atividade física,

deixando os usuários num contato mais íntimo uns com os outros e também com o seu meio

ambiente. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Transporte público coletivo, individual e

alternativo.

O bairro CONCATENADO
Considera-se um bairro concatenado quando:

Os edifícios, por meio da tipologia adotada e modos de implantação nos quarteirões,

oferecem uma organização espacial capaz de criar espaços (ao nível do solo) que permitam

a fusão do território estritamente privado com áreas públicas, promovendo a apropriação

conjuntamente e, desta forma, tornando o espaço comunitário uma extensão da vida pública.

Para tanto, recomenda-se prever zonas intermediárias (semiprivadas) – onde as

edificações e a cidade se encontram –, a fim de promover a reconciliação entre a rua e o

domínio privado com vistas a criar ambientes que sustentem e reforcem a identidade no

espaço privativo, impulsionando as atividades e relações sociais e, simultaneamente,

sustentem e reforcem a vida urbana nas cidades. Ver item I.4.1 e II.4.1 – Acessos – Intervalo

/ espaço de transição.
412

A organização do sistema de circulação dos edifícios considera o grau de relevância da

delimitação territorial e das formas sincrônicas e dos possíveis acessos aos espaços contíguos,

a fim de conceder, aos moradores e visitantes, a compreensão, a orientação e a consciência

quanto à composição do edifício, no que diz respeito aos níveis legíveis de acessos. Ver item

I.4.1 e II.4.1 – Acessos – Graus de acesso.

Também, o estabelecimento desta estrutura evidente dos graus de acesso (desde a

entrada principal dos edifícios até às unidades residenciais) pode contribuir para uma melhor

integração da comunidade humana, por meio da qualificação desses espaços, reforçando a

sua identidade e o sentimento de pertencimento, desempenhando o papel de dinamizador

para o contato social, bem como colaborando para uma imagem urbana do conjunto menos

uniformizada e, consequentemente, incentivando a animação e o convívio num cenário mais

vivo. Ver item I.4.1 e II.4.1 – Acessos – Graus de acesso.

A circulação vertical (escadas e elevadores) dos edifícios se figure e complemente a

legítima forma de relação entre o espaço público e o privado – entre o coletivo e individual

–, através da dedicação e atenção aos acessos dos andares mais altos, a fim de dar, a cada

residência, uma porta de entrada, com o máximo de acesso possível pela rua. Ver item I.4.1

e II.4.1 – Acessos – Circulação – horizontal e vertical.

Para isso, recomenda-se que o cuidado essencial seja para com o local de acesso às

unidades habitacionais e o local em que se encerram no piso térreo. Sobre o acesso às

unidades habitacionais, importa a relação entre o núcleo de circulação vertical (autonomizado

ou incorporado ao corpo principal do edifício) e as galerias de distribuição / patamares. Sobre

o local em que se encerram, no piso térreo, importa, sobretudo, que sejam visíveis desde o

primeiro acesso ao edifício, favorecendo a marcação de entrada. Ver item I.4.1 e II.4.1 –

Acessos – Circulação – horizontal e vertical.

O arranjo das galerias de distribuição / patamares dos edifícios garanta, além do elo

entre a rua e/ou pátios internos e a porta de entrada de cada habitação, alternativas de

passagens e paradas que favoreçam as condições agradáveis e naturais para a socialização

dos moradores no edifício. Ver item I.4.1 e II.4.1 – Acessos – Circulação – horizontal e vertical

e item I. 4.2 e II.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Tipo e organização do edifício.
413

Salienta-se que a relação do núcleo de circulação vertical e das galerias / patamares

com os espaços públicos (ruas) e semipúblicos (pátios internos) fortalece o grau de

responsabilidade e de vigilância natural coletiva, tanto para com o espaço público, como

para com as unidades habitacionais ou espaços mais privados. Ver item I.4.1 e II.4.1 – Acessos

– Circulação – horizontal e vertical e item I. 4.2 e II.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Tipo e

organização do edifício.

A implantação dos edifícios no quarteirão segue a premissa de um complexo de

edificações conectadas, as quais sejam a tradução visível do programa de necessidades. Tal

diretriz tende a cooperar, além da boa continuidade do tecido urbano, com as relações

humanas que ocorrem entre seus usuários, possibilitando o envolvimento das pessoas que

ali moram e/ou trabalham, através dessa conexão entre os edifícios (em geral áreas externas

de uso comum, espaços de circulações e transições) onde as edificações contatam de

maneira física. Ver item I.4.3 e II.4.3 Espaço entre Edifícios – Implantação das edificações.

Propõe, na estruturação física dos quarteirões, a exemplo de tipologias de blocos de

perímetro ou blocos urbanos –, espaços de uso comum semipúblicos – entre edifícios – que,

por meio da sua conformação física incentive a estruturação social da comunidade através de

funções específicas (em áreas específicas – bolsões de atividades –, claramente identificáveis)

que, além de responderem a diversos anseios e preferências, sejam espaços passíveis de

apropriação, permanência, e, consequentemente lugares de encontro para os habitantes. Ver

item I.4.3 e II.4.3 Espaço entre Edifícios – Espaços de uso comum.

Ainda, recomenda-se que a organização da estrutura física dos quarteirões seja

correspondente à estrutura social, a partir das corretas gradações de demarcações territoriais,

com espaços a vários níveis, permitindo um movimento de pequenos grupos e espaços em

direção a outros maiores, e de espaços mais privados para espaços gradualmente mais

públicos, dando um maior sentimento de proteção e um mais forte sentido de pertença às

áreas fora das residências privadas. O estabelecimento desta estrutura evidente (espaços

privados, semiprivados, semipúblicos e públicos) fortalece o grau de responsabilidade e de

vigilância natural coletiva, tanto para com o espaço público, como para com as residências

ou espaços mais privados. Ver item I.4.1 e II.4.1 – Acessos – Graus de acesso.
414

Prevê entradas para garagens e estacionamentos na rua de trás, utilizando ruas

secundárias a fim de auxiliar na segurança e conforto das calçadas. Recomenda-se também,

tencionando adequar à escala humana, que, se houver estacionamentos de superfície em

áreas de uso comum, estes sejam determinados por cinco a sete veículos e sejam, ainda,

circundados por muros, floreiras elevadas, cercas vivas, cercas de madeira, taludes de

árvores, de maneira que do lado de fora os veículos fiquem praticamente invisíveis. Ver item

I.4.3 e II.4.3 Espaço entre Edifícios – Estacionamentos.

Sobre estacionamentos ou garagens públicas, recomenda-se prever vagas

preferenciais para veículos de baixa emissão de gases de efeito estufa, para veículos de baixo

consumo e para carros compartilhados (3% do total de vagas do estacionamento). Também

deve-se prever estações de recarga para veículos elétricos em 2% das vagas públicas.

Ainda, sobre estacionamentos, é pertinente destacar que, para os locais atendidos

pelo transporte público coletivo e que priorizem o pedestre e o ciclista, as vagas de

estacionamento, habitualmente previstas por unidades habitacionais, não são necessárias, ao

menos não uma para cada unidade habitacional. Essa prática é chamada de ‘habitação livre

de automóveis’, a qual tem, como finalidade, tornar os bairros e a cidade mais humanizados;

qualificar a vida urbana através da liberação dos pisos térreos para usos comerciais e serviços,

ao invés de vagas de estacionamentos, assim como desincentivar o uso do automóvel

particular e, consequentemente, minimizar impactos de ordem tanto econômica, quanto social

e ambiental, tais como: congestionamentos, poluição atmosférica e mortes no trânsito. Ver item

I.4.3 e II.4.3 Espaço entre Edifícios – Estacionamentos.

O bairro compacto, completo, conectado e concatenado: uma ferramenta de apoio –


o Smart Code

Concluindo este item, das recomendações, interessa ainda apresentar algumas

orientações no que toca à construção de um Smart Code, entendendo que é um instrumento

que tem o potencial de abordar todas as escalas do planejamento, transpassando, dessa

forma, os princípios e elementos de projeto acima elencados: a compacidade, a completude,

a conexão e a concatenação.
415

É conveniente lembrar que o Smart Code se fundamenta nos princípios do Novo

Urbanismo e do Smart Growth e, dessa forma, deve auxiliar no estabelecimento de padrões

(regulamentos / normas) baseados nos princípios da compacidade, da completude, da

conectividade, do restabelecimento da conexão entre edificações, vias e espaços abertos; na

construção de ambientes urbanos mais apropriados à escala humana e na criação de lugares

que contenham forma, imagem e vida.

Nessa conjuntura, orienta-se a elaboração de um Smart Code (regulamento

construtivo) para novos bairros, sob o enfoque da arquitetura urbana619: firmada num

planejamento de uma arquitetura de um nível de plano geral urbano, ou diretor, ao nível de

arquitetura do edifício – o desenho da cidade como obra. Dessa forma, é preciso que este

documento seja escrito e ilustrado, a fim de assegurar que as exigências fiquem claras,

principalmente para os vários escritórios de arquitetura que irão projetar, ao longo dos

anos, soluções arquitetônicas para um novo bairro. Ver item I.2.1 e II.2.1 Morfologia / Tecido

urbano – Distrito de zoneamento e T-zones e Smart code.

619
Sobre Arquitetura Urbana: SANTOS, Alessandra. Aplicação da metodologia do Transect e
construção código baseado na forma, publicado em um capítulo do livro: Diferentes abordagens em
morfologia urbana. Contributos luso-brasileiros, 2º ed., 2020, Porto – Portugal.
416

Considerações finais
Rue Saint-Lazare, Paris (1897)
Camille Pissarro
417

Considerações finais

Parte I.

O aprimoramento da cultura do urbanismo e da arquitetura das cidades brasileiras,

sobretudo em áreas / bairros residenciais, que incorporam, além dos aspectos físicos, a

complexidade da cidade real na contemporaneidade e priorizam a integração dos projetos –

da escala da cidade à escala da casa –, é visto como um tema essencial e improrrogável.

Nesse contexto, visando a reconhecer elementos de projeto que contemplem, além

dos aspectos físicos, o mundo real (perceber o comportamento, o funcionamento, a natureza

peculiar de cada bairro / comunidade e incluir a dimensão humana nos projetos), assim como

perceber estratégias que contribuam para a integridade dos projetos (da escala da cidade à

escala da casa), buscou-se identificar princípios e elementos de projeto que promovam a

qualidade do espaço em áreas residenciais – objetivo principal da presente tese.

Esta identificação, fruto de uma pesquisa da base teórica bibliográfica, é apresentada

na Parte I da tese e é nomeada como Parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica.

Trata-se de uma síntese das ideias dos autores estudados (considerados essenciais a esse

tema) com o propósito de, através da arquitetura residencial – bairros e conjuntos

habitacionais –, construir bairros / comunidades alicerçadas em princípios de sustentabilidade

física, social e econômica.

Esta síntese dos princípios e elementos de projeto – apresentados nas Tabelas 01 –

06 e nas análises textuais – percorre quatro escalas do planejamento: da cidade, do bairro,

do quarteirão e do edifício. Para cada uma das escalas são estabelecidos princípios,

indicadores, critérios e elementos de projeto capazes de promover a qualidade dos espaços

em áreas residências.

Na escala da cidade:

• indicador localização: os princípios de projeto focam-se na integração com a cidade e com

a inserção urbana, e possui, como critérios e elementos de projeto: habitação na área central,

habitação ao longo dos eixos de transporte e habitação formando novos bairros (objetivo do

bairro Urbitá).

• indicador conexões: os princípios de projeto concentram-se na fluidez urbana, nas conexões

sustentáveis, funcionais, seguras e atraentes, e possui, como critérios e elementos de projeto:


418

rede viária, calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias e o transporte público, coletivo,

individual e alternativo.

Na escala do bairro:

• indicador morfologia / tecido urbano: os princípios de projeto são relacionados aos bairros

compactos, completos e identificáveis – setores com caráter distinto, com malha

interconectada –, e possui, como critérios e elementos de projeto: distritos de zoneamento,

T-zones e smart code e a malha de quarteirões.

Na escala do quarteirão:

• indicador parcelas e edificado: os princípios de projeto são direcionados à coesão entre as

partes e a relação do conjunto com a rua e com a cidade, e possui, como critérios e elementos

de projeto: configuração dos quarteirões, localização dos quarteirões e os usos especiais:

quais? onde? como?

Na escala do edifício:

• indicador acessos: os princípios de projeto evidenciam a reciprocidade entre os espaços

públicos e privados, e possui, como critérios e elementos de projeto: intervalo / espaço de

transição, grau de acesso e as circulações (horizontais e verticais).

• indicador tipo e forma dos edifícios: os princípios de projeto centralizam-se na relação entre

o interior e o exterior dos edifícios, e possui, como critérios e elementos de projeto: tipo e

organização dos edifícios, composição formal dos edifícios e a relação com o solo – piso

térreo.

• indicador espaço entre os edifícios: os princípios de projeto destacam a correlação entre

moradias, edifícios e a rua, e possui, como critérios e elementos de projeto: a implantação

das edificações, espaço entre os edifícios e os estacionamentos.

Nesse enquadramento, de uma urbanização alicerçada em princípios de

sustentabilidade, na busca da percepção do mundo real, por meio da maior sensibilidade

dos arquitetos e urbanistas para com as matérias do campo humano e social, elegeu-se para

o Estudo de Caso, uma iniciativa em curso (o projeto de um novo bairro – o Urbitá em Brasília

- DF), que é apresentada na Parte II da tese: Análise e avaliação do Estudo de Caso: Bairro

Urbitá, Brasília.
419

Parte II.

Tanto no que se refere aos princípios, aos indicadores e aos critérios e elementos de

projeto, seja à macroescala (da cidade, do bairro e do quarteirão) ou à microescala (do

edifício) –, é verificado que a UP (Urbanizadora Paranoazinho) estabelece premissas para o

projeto do bairro Urbitá em Brasília – DF que objetivam idealizar um bairro compacto,

completo, conectado e concatenado – princípios que buscam assegurar a sustentabilidade,

a integridade, a identidade e a vitalidade do novo bairro.

Essas premissas repercutem de forma propícia na grande maioria dos projetos

analisados e avaliados. Percebe-se o novo bairro como um modelo inovador, pelos objetivos

que apresenta, buscando, além dos interesses imobiliários, um repensar de modelo urbano

no Brasil e de quebra de paradigmas.

Nesse enquadramento, de quebra de paradigma, verificaram-se alguns entraves

jurídicos e políticos, sobretudo na temática relativa ao meio ambiente e às normas de

edificação, uso e gabarito que influenciam negativamente na efetivação das premissas

inicialmente estabelecidas. Ainda, notou-se uma resistência, por parte dos escritórios de

arquitetura que estão trabalhando na concepção dos edifícios, sobre as premissas

estabelecidas para o novo bairro, o que se retrata nos projetos de arquitetura, deixando

explícita a dificuldade de um enfrentamento ao padrão estabelecido no Brasil sobre produto

imobiliário e a cultura arquitetônica.

Nesse sentido, foram identificados, no decorrer da análise e avaliação, alguns

aspectos menos positivos nos projetos que necessitam de algum refinamento. No entanto é

importante destacar que nenhum dos indicadores e elementos de projeto obtiveram

avaliação inferior a 75%, o que demonstra a pertinência do projeto do novo bairro Urbitá, na

busca da qualidade dos espaços em áreas residenciais e, consequentemente, de um modelo

de bairro / comunidade mais sustentável. Ver item II.5 - Síntese final da análise e avaliação.

Salienta-se que, destes aspectos menos positivos, a grande maioria enquadra-se na

escala do Edifício, refletindo o que se mencionou anteriormente: a questão do obstáculo

cultural – urbano e arquitetônico – que está, aos poucos, incorporando princípios da

indissociabilidade entre arquitetura e urbanismo, do coletivismo, das relações de vizinhança

e da criação de ambientes apropriados à escala humana.


420

Os resultados e interpretações feitas a partir do Estudo de Caso – o bairro Urbitá - DF,

que foi concebido e idealizado com o propósito de validar a relação dos princípios,

indicadores, critérios e elementos essenciais de projeto, construídos na Parte I da tese,

viabilizaram a construção de um conjunto de diretrizes consideradas eficientes para a

promoção da qualidade urbanística e arquitetônica de projetos para novos bairros. Este

conjunto de diretrizes, escritos em forma de recomendações, estão alicerçados sob a ótica

dos bairros sustentáveis e, nessa perspectiva, organizados em quatro princípios: a

compacidade, a completude, a conectividade e, numa dimensão mais social e humana, a

concatenação. Ver item II.6 e QUADRO 67.

Sobre sustentabilidade, é pertinente refletir que além de enquadrar tais princípios e a

série de recomendação de projeto subsequentes – desde a escala da cidade à escala da casa

–, a qualidade da sustentabilidade somente será efetivamente alcançada se houver

integração entre políticas públicas e os elementos urbanísticos e arquitetônicos, os quais

considerarem as dimensões do desenho, do financiamento, da legislação e da governança.

Nesse âmbito, da legislação, evidencia-se a necessidade de criar códigos no âmbito

da arquitetura urbana que regulem muito além do que os planos diretores em geral: uma

legislação, com seções e subseções, dedicadas ao controle e uso do solo. Nessa perspectiva,

é necessário a elaboração de regulamentos construtivos que coloquem em evidência a

importância da dimensão arquitetônica para qualificação do espaço urbano, a fim de criar um

bairro expresso pela sintaxe entre edifício e cidade, pelos edifícios que interpretam a cidade

a partir da dimensão urbana da escala arquitetônica, lembrando os ensinamentos sobre

arquitetura urbana de Nuno Portas e Solá-Morales.

Outro componente relevante, de tendência futura, que importa mencionar é a

dimensão econômica e tecnológica – que envolvem a criatividade –, na medida em que o

bairro será implementado. Estes desafios têm a ver com o planejamento e sua governança,

numa reinvenção permanente do bairro, evoluindo ao longo do tempo, tanto nos aspectos

físicos, na geração de empregos e na instalação de empresas, com implementação de ações

inovadoras que reúnam e potencializem energia física, intelectual e criativa dos seus

moradores.
421

Sobre o Estudo de Caso, o bairro Urbitá: Embora tenham sido verificados alguns

pontos menos positivos na análise e avaliação dos projetos do bairro, assim como algumas

adversidades a serem superadas, considera-se uma proposta inovadora e próspera na

medida em que assume um compromisso com a cidade, tanto na concepção interna do

bairro, como na criação de um centro urbano alternativo ao Plano Piloto – mais inclusivo (que

estimule a coexistência) –, buscando fugir do modelo de cidades dormitórios, preponderante

no Distrito Federal.

Urbitá – no coração do Brasil - configura-se como um desafio urbano e como um

laboratório a céu aberto, de cujos experimentos espera-se poder tirar muitas lições para o

restante do País.
Do sonho surgiu a paixão
pela ideia de uma nova cidade.
Com a paixão veio a determinação
para transformá-la em realidade.

É uma história de vários autores,


uns que passaram, outros que aqui estão.
São muitas almas empenhadas
nessa enorme transformação.

Com estima e respeito pela grande capital,


que mudou a vida da nossa gente,
em sua sombra simétrica e monumental,
ousamos fazer diferente.

No planalto central da arquitetura,


virá um novo capítulo urbano.
Onde a rua vai ser praça e a praça vai ser cheia de
vida, de afeto e de jeito humano.
Humana na escala, humana no desenho.
Humana na proposta e também no tamanho.
Humana na ideia e mais ainda na ação.
Humana em sentimento e no aperto de mão.

Sorrisos, olhares e faróis que se cruzam.


Tudo com a intensidade urbana,
do caminhar, do pedalar, do contemplar.
Qualidade de vida na cidade serrana.

E assim, no coração do Brasil,


onde o mar é o céu e o horizonte é infinito,
temos a chance e o desafio de escrever um novo
capítulo onde a cidade é o fim,
mas as pessoas são o princípio.

Ricardo Birmann
422

Alcance dos objetivos e resposta às questões de investigação

A produção da Parte I da tese, intitulada de Parâmetros de qualidade urbanística e

arquitetônica, e da Parte II da tese – Análise e avaliação do Estudo de Caso: Bairro Urbitá,

Brasília, é resultado de uma sequência de ações desenvolvidas ao longo da investigação que

visaram a atender aos objetivos e responder às questões da investigação.

Assim sendo, as respostas às questões de investigação estão intimamente ligadas à

efetivação de cada objetivo pré-definido, conforme segue:

OBJETIVO GERAL: Identificar princípios e elementos essenciais de projeto que promovam a

qualidade do espaço em áreas residenciais.

QUESTÃO PRINICPAL: Quais são os princípios e elementos essenciais de projeto para a promoção

da qualidade do espaço em áreas residenciais?

A qualidade do espaço em áreas residenciais depende, essencialmente, da integração

planejada, inovadora e inclusiva entre os vários níveis da escala urbana: a cidade, o bairro, o

quarteirão, o edifício e a casa.

Essa associação – da cidade à casa – é obtida, sobretudo, por meio da correlação

entre os elementos urbanos preponderantes (as residências, as instalações comunitárias e as

circulações) num arranjo positivo entre as escalas do habitar620. Os elementos

preponderantes, aqui destacados, correspondem aos indicadores da tese de localização,

conexões, morfologia / tecido urbano e parcelas e edificado, na macroescala (da cidade, do

bairro e do quarteirão).

Além destes elementos primários, integram-se outros elementos de projeto (os

acessos, os tipos e forma dos edifícios e os espaços entre os edifícios) –, estes, mais

especificamente, à escala do edifício – considerados significativos para a promoção da

qualidade do espaço em áreas residenciais, ou seja, para a construção de bairros residenciais

mais sustentáveis, que venham ao encontro dos conceitos, orientações e diretrizes do New

Urbanism e do Smart Growth.

620
Lembrando que se entende, no desenvolvimento da tese, o termo habitar, equitativamente à área
residencial, como um conceito amplo, o qual transmite a ideia da essencialidade do elo entre as
pessoas e a cidades, através do vínculo direto com a estrutura urbana – do concatenamento entre
espaços públicos, coletivos e privados.
423

Estes conceitos, orientações e diretrizes do New Urbanism e do Smart Growth

incorporam, além dos aspectos físicos, uma dimensão social e humana: uma compreensão

completa sobre quais são as situações que criam lugares relacionais, identitários, inclusivos,

seguros, saudáveis, vivos, diversificados, atraentes, habitáveis, justos e mais humanos.

Desse modo – sob a óptica dos bairros / comunidades urbanas sustentáveis –, conclui-

se que é por meio desses elementos que se compõe os princípios de projeto: a compacidade,

a completude, a conectividade e, numa dimensão mais social e humana, a concatenação

entre as pessoas e a cidade. Ver quadro 67: Relação entre os princípios e elementos

essenciais de projeto eficazes à promoção da qualidade urbanística e arquitetônica de novos

bairros residenciais.

OBJETIVO ESPECÍFICO 01: Reconhecer os principais vetores que favorecem a construção de bairros

e comunidades mais sustentáveis.

QUESTÃO 01: Quais são os principais vetores na construção de bairros e comunidades mais

sustentáveis?

Entende-se que os principais vetores, na construção de bairros /comunidades mais

sustentáveis, são a promoção da compacidade, da completude, da conectividade e da

concatenação, em oposição à dispersão territorial621, impondo uma “nova” cartografia de

traçado urbano mais contínuo e compacto, com centralidade, com multiplicidade de usos,

com espaços públicos abertos, em escala humana, com preferência ao pedestre e ao

transporte coletivo público.

Os elementos essenciais de projeto que promovem a qualidade do espaço em áreas

residências identificadas na presente tese e que contribuem, mais especificamente – porque

todos são corresponsáveis –, para a promoção destes vetores são:

• para a compacidade: elementos relativos ao transporte público (em especial os DOTs); à

localização; à “boa densidade”, em consonância com cada zona; a referência à escala

humana (considerando o tamanho ideal para o pedestre: 400m / 1.600m); aos distritos de

621
Dispersão territorial, causada pela expansão urbana (fenômeno da segunda metade do século XX)
–com casas isoladas, espalhadas pelo território – a qual separa as residências dos locais de trabalho,
lojas e escolas, favorecem o automóvel em detrimento do pedestre, (ocasionando engarrafamentos),
tornando a caminhada e o ciclismo desagradáveis e perigosos entre tantos outros prejuízos à qualidade
de vida nas cidades.
424

zoneamento e às T-zones (controle dos perímetros) e às parcelas e edificado (tamanho e

configuração dos quarteirões).

• para a completude: elementos relativos à morfologia / tecido urbano (distritos de

zoneamento, as T-zones); aos usos especiais (equipamentos de ensino, pontos de referência,

espaços institucionais e cívicos e espaços públicos abertos); à variedade de opções de tipos

de edifícios e a correlação entre edifícios e destes para com a rua, de acordo com o caráter

de cada rua.

• para a conectividade: elementos relativos à conexão / mobilidade (em especial a rede viária

e cicloviária, a caminhabilidade, a arborização – formando corredores verdes junto às vias –

o transporte público coletivo) e a rede de espaços públicos abertos organizado em conjunto

com o sistema viário.

• para a concatenação: elementos relativos ao vínculo entre as pessoas e a cidade, em uma

relação mútua, ativa e recíproca entre espaços privados, semiprivados, semipúblicos e

públicos: ao acesso (espaços de transição, graus de acesso e circulações horizontais e

verticais); à implantação dos edifícios; à conformação de espaços de usos comum e aos

estacionamentos e garagens.

O quadro 67 apresenta a relação entre os elementos de projeto que contribuem mais

especificamente para a promoção destes vetores.

OBJETIVO ESPECÍFICO 02: Perceber princípios de projeto que contribuem para a integridade dos

projetos, através da correlação da cadeia de quadros do habitar (espaço privado, coletivo e

público).

QUESTÃO 02: Que princípios de projeto auxiliam no estabelecimento de um arranjo positivo

entre as escalas do habitar (espaços públicos, coletivos e privados)?

Entende-se, por um arranjo positivo, uma organização da estrutura urbana que

viabilize o vínculo entre as pessoas e a cidade por meio de uma sucessão de quadros do

habitar, que constituem uma sequência de cenários de vida: sendo a cidade o primeiro

cenário, depois o bairro, a seguir o quarteirão, depois o edifício e, finalmente, a casa.

Nesta associação de cenários, cada um deve conseguir constituir um fundo positivo e

ativo, onde outro cenário do habitar, mais “pormenorizado”, possa cumprir,

satisfatoriamente, as suas funções e seus objetivos, nas melhores condições.


425

Nesse âmbito, os princípios de projeto que, organizados da escala maior para a menor

e, de forma recíproca, auxiliam no estabelecimento de um arranjo positivo entre as escalas

do habitar (espaços públicos, coletivos e privados), são:

•a inserção urbana (localização) – a integração do novo bairro com a cidade;

• fluidez urbana (as conexões) – sustentáveis, funcionais, seguras e atraentes;

• a constituição de bairros (morfologia / tecido urbano) – compactos, completos e

identificáveis – setores com caráter distinto, com malha interconectada;

•a coesão entre as partes (parcelas e edificado) – e a relação do conjunto com a rua e com a

cidade;

•a reciprocidade (acessos) – entre os espaços públicos e privados;

•a relação (tipo e forma dos edifícios) – entre o interior e o exterior dos edifícios;

•a correlação (espaço entre edifícios) – entre moradias, edifícios e a rua.

OBJETIVO ESPECÍFICO 03: Verificar as características da arquitetura que contribuem para a

construção de lugares que sejam capazes de adquirir significado e sentido – lugares com

identidade.

QUESTÃO 03: Quais as características da arquitetura que geram a construção de lugares

identitários relacionais e com significado social e humano?

Lugares indenitários e relacionais e, portanto, com significado social e humano,

consistem no agrupamento de uma diversidade de características (físicas e sociais) entre as

várias escalas do planejamento, sendo as seguintes imprescindíveis:

•o estabelecimento de setores (distritos de zoneamento) identificáveis (com caráter distintos)

e transições controladas – através do Transect – objetivando reforçar a identidade de cada

setor – desde a zona mais urbana até à menos urbana – e contribuir para o senso de lugar na

comunidade.

• criar ambientes apropriados à escala e a condição corporal humana, atendendo aos critérios

de desenvolvimento de unidades de vizinhança e bairros urbanos sustentáveis, desde as

decisões relativas ao tema da mobilidade (conexões), da setorização (morfologia / tecido

urbano), do parcelamento (parcelas e edificado), como também – na escala do edifício – na

matéria da reciprocidade entre os espaços públicos e privados por meio da ordenação dos

acessos, dos tipos e formas dos edifícios e dos espaços entre os edifícios.
426

• relativamente às características descritas no parágrafo anterior, recomenda-se incorporar

aos projetos – sobretudo a escala do quarteirão e do edifício – elementos que viabilizem a

criação de ambientes que possuam um caráter de residencialidade / domesticidade, isto é,

lugares conectados à vizinhança próxima, acolhedores, intimistas e, sobretudo, com

referências de escala humana.

• ainda, no que diz respeito a criar lugares indentitários, relacionais e com significado social

e humano, destaca-se a importância da correlação entre a tipologia dos edifícios, sua

organização espacial e a suas relações com a rua e com os espaços abertos exteriores, a fim

de constituir uma estrutura que contribua e priorize o coletivismo ao individualismo.

• promover uma relação de reciprocidade entre espaço público e privado – da rua à porta de

casa –, buscando reforçar e sustentar a identidade no espaço privado e a vida urbana nas

cidades.

• compreender a vocação do lugar, isto é, entender um conjunto de aspectos socioculturais,

físicos, políticos, econômicos, históricos, arquitetônicos – de linguagem e de hábitos – que

cooperem com a identidade do bairro, nas dimensões da sua estrutura física (por meio da

residências, atividades fixas e das circulações) e na dimensão social e humana através das

relações de vizinhança, criando o senso de comunidade, como, por exemplo, e mais

precisamente na escala do edifício, através das relações mais imediatas entre o núcleo familiar

e o grupo social, entre a residência e os espaços coletivos, sejam estes pertencentes ao

sistema de circulação (acessos, entradas, circulações horizontais e verticais) ou aos espaços

entre os edifícios; ainda, na dimensão social e humana, criar ambientes que tenham um

potencial de autorrepresentação / personalização dos usuários, componente que reforça o

sentimento de pertencimento, garantindo, assim, a permanência – característica que deduz-

se pela qualidade e significado social e humano do lugar.

OBJETIVO ESPECÍFICO 04: Averiguar os elementos e critérios de projeto vitalizadores do espaço

que poderão auxiliar para o desenvolvimento de uma arquitetura que intensifique a vida

urbana, promovendo lugares vivos, diversificados e seguros.

QUESTÃO 04: Quais são os elementos e critérios de projeto vitalizadores do bairro / da cidade?

O que são lugares vivos?


427

Lugares vivos são entendidos como lugares com vida. Espaços que possibilitam que

as pessoas tenham contato direto com a sociedade em torno delas. Os lugares vivos emitem

sinais amistosos e acolhedores com a promessa de interação social e, para isso, necessitam

de uma vida urbana variada e complexa, o que, consequentemente, os torna mais seguros.

Os elementos e critérios vitalizadores do bairro podem e devem estar manifestados

em todas as escalas do planejamento, sendo os essenciais:

• a rede viária interconectada aos espaços púbicos abertos, o que qualifica o bairro,

cumprindo com o propósito de criar um bairro vivo (oferecendo espaços de lazer, esporte,

arte, eventos culturais, gastronomia e educação à população), baseado na escala humana

favorável ao pedestre a ao ciclista;

• as vias internas aos quarteirões que facilitam a acessibilidade física e visual e permitem a

criação de pequenas praças e uma mistura de atividades que podem ser desenvolvidas ao

nível da rua.

• as calçadas, que viabilizam a segurança e o conforto, por meio do adequado

dimensionamento e configuração, assim como suas relações com os edifícios, sobretudo nos

térreos e com seus usos, oportunizando, ao pedestre, uma caminhada proveitosa e

interessante.

• os Espaços Privativos de Uso Coletivo (EPUC), que permitem a formação de espaços de

convivência e permanência de pedestres, voltados para a via pública e contribuem

significativamente para a experiência da rua, para os contatos sociais e para a segurança.

• as fachadas ativas, em todo o perímetro do quarteirão, através da relação interior e exterior

à altura dos olhos do pedestre, assim como através das entradas (número e distâncias)

existentes no projeto do piso térreo.

• a relação estabelecida entre os edifícios e a as vias, conformando, como é o caso da rua

compartilhada, espaços públicos abertos favorecendo a implantação de atividades diversas

que promovam o acesso à vida pública.

• o caráter misto e denso dos bairros, dos quarteirões e dos edifícios e a diversidade de

pessoas (de idades, níveis de renda e culturas).

• uma centralidade que expressa a variedade da vida social, por meio do reforço à destinação

para atividades que promovam a atratividade de pessoas e o encontro – em diferentes

horários do dia e da noite.


428

• a diversidade de desenho dos quarteirões (formato e tamanhos), o que favorece a

pluralidade de usos e, por consequência, o aumento da vivacidade urbana.

•a variedade de tipologias de edifícios e a forma como são dispostos no quarteirão, podendo

conformar-se em nós interessantes – como é o caso dos quatro edifícios que compõem as

esquinas –, a fim de criar pontos singulares na malha urbana.

• os usos especiais localizados em núcleos centrais – formando nós de atividades – ou nas

fronteiras, a fim de criar espaços de relacionamento com a área envolvente e possibilitar o

compartilhamento de funções entre os setores.

• a utilização de elementos – à escala do edifício – de reconciliação entre a rua e o domínio

privado, através dos espaços de transição, grau de acesso e circulações (horizontais e

verticais), a fim de minimizar a divisão rígida entre áreas com diferentes demarcações

territoriais, assim como cooperar com a segurança, tanto dos usuários do conjunto, como dos

transeuntes.

• a construção de bons plinths – maximização da interação dos edifícios com a rua e com a

cidade –, através do cuidado da forma como o edifício “toca” o chão e do uso que lhe é

atribuído a fim de contribuir para a ativação do lugar.

• a conformação dos espaços entre edifícios – à escala do quarteirão – que sejam espaços

positivos, na sua configuração física e social, nos quais o programa contenha uma variedade

de possíveis atividades (espaços passivos – mais silenciosos e espaços com usos mais ativos

– com equipamentos motivadores) que visem a aumentar o tempo passado no exterior e,

consequentemente, ampliar o envolvimento entre as pessoas

Confirmação da hipótese

Nesse enquadramento, dos princípios, indicadores e elementos de projeto,

identificados e estabelecidos na Parte I e II da tese, é possível confirmar a hipótese principal

da tese que tem como suposição: que é possível definir um conjunto de princípios e

elementos de projeto que, percorrendo as escalas do habitar – da escala da cidade à escala

da casa – podem contribuir determinantemente para a promoção da qualidade do espaço

urbano e arquitetônico em áreas residenciais.

Também, confirma-se a hipótese de que a integridade dos projetos contribui

precisamente para a promoção da qualidade do espaço urbano e arquitetônico em áreas


429

residenciais, uma vez que essa integridade é obtida no momento em que a totalidade dos

elementos que formam os ambientes do novo bairro – organizados da escala maior para a

menor e de forma recíproca – seja parte integrante de um todo único e indivisível, formando

uma sucessão de cenários (positivos) da estrutura urbana.

Contribuições principais ao tema em estudo

A tese parte da identificação de princípios e elementos de projeto que promovam a

qualidade do espaço em áreas residenciais, fundamentada em ideias e recomendações de

autores estudados (considerados essenciais a esse tema). Na sequência – mediante os

parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica identificados –, realiza-se a análise e

avaliação de um Estudo de Caso: Bairro Urbitá, Brasília – DF, o qual apresenta objetivos

projetuais inovadores na busca da sustentabilidade, da integridade, da identidade e da

vitalidade para este novo território habitacional.

Nesse enquadramento, procura-se dar as seguintes contribuições para o

desenvolvimento da área disciplinar da arquitetura, em particular, para a arquitetura da

habitação e para o tema em estudo, os bairros e áreas residenciais:

• Enriquecer o conhecimento acerca do tema bairros e comunidades residenciais sob o

enfoque da sustentabilidade – física, social e econômica – e dos conceitos humanizadores

num contexto contemporâneo.

• Aprimorar a cultura do desenho urbano nos projetos de áreas e bairros residenciais no Brasil,

ou até mesmo – para alguns segmentos –, promover uma mudança de paradigma que

retifique o modelo de produzir cidades no Brasil, a fim de conceber bairros e comunidades

reconhecidas e legitimadas, num contexto atual.

• Contribuir para o inter-relacionamento das configurações espaciais, por meio do

aprimoramento da atividade projetual (arquitetônica e urbanística), no que concerne à relação

entre espaço público, semipúblico, semiprivado e privado, resultantes entre a cidade e os

objetos arquitetônicos em áreas residenciais.

• Contribuir para a reciprocidade entre espaços públicos e privados, à escala do edifício – nas

propostas de arquitetura –, através da compreensão de princípios de projeto relativos aos

acessos, aos espaços de transição e à ordenação das circulações.


430

• Contribuir para a construção de uma sucessão de cenários positivos da estrutura urbana aos

projetos, mediante o entendimento de princípios de projeto que facilitam o estabelecimento

de um arranjo favorável entre as escalas de planejamento, ou seja, da escala da cidade ao

bairro, transpassando pelo quarteirão, depois o edifício e, finalmente a casa.

• Contribuir para o entendimento do conceito da integridade dos projetos de bairros e

comunidades, por meio da compreensão do conceito da integridade dos projetos,

considerando que um conjunto urbanístico, harmônico, resiliente e sustentável, só se obtém

através da relação sinérgica entre todos os elementos que o compõem, trabalhando juntos

pela qualidade do conjunto.

• Contribuir para o estímulo à incorporação de uma perspectiva humanista aos projetos de

áreas e bairros residenciais, encontrando um ponto de equilíbrio, afastando-se do extremo

da falta de preocupação para com as pessoas, sem descurar da importância do mundo

capitalista atual, mas persistindo que a dimensão humana esteja – sempre – no centro de

todas as decisões.

• Contribuir para a inserção dos atributos da identidade e do significado social e humano aos

projetos de áreas / bairros residenciais, por meio do entendimento de que a cidade e/ou o

bairro, mais que a expressão física do conjunto dos seus edifícios, é vida social, sensorial e

emotiva, que deve garantir o direito à vida urbana por meio de ação coletiva e compromisso

mútuo entre pessoas e grupo.

• Contribuir para a sustentabilidade física, social e econômica de novos bairros, através da

compreensão e promoção dos principais vetores na construção de bairros e comunidades

mais sustentáveis – a compacidade, a completude, a conectividade e a concatenação.

• Contribuir para a compreensão e aplicação de elementos vitalizadores aos projetos de

cidades / bairros / comunidades, mediante a identificação de elementos capazes de auxiliar

para o desenvolvimento de uma arquitetura que intensifique a vida urbana, promovendo

lugares vivos, diversificados e, consequentemente mais seguros.

• Contribuir na criação de uma grelha analítica e avaliativa, a qual poderá ser útil também

como uma ferramenta didática no processo inicial de planejamento – funcionando como uma

checklist de princípios, critérios e elementos de projeto qualitativos para a concepção e

construção de conjuntos ou bairros residenciais.


431

• Contribuir com a criação de uma síntese das recomendações essenciais de projeto para

novos bairros, por meio da representação dos elementos de projeto, dos princípios de

projeto e da relação que se estabelece entre eles.

Desenvolvimentos futuros

Diante da investigação realizada – a base teórica, a construção da grelha analítica, as

análises do Estudo de Caso e as avaliações, estas últimas, com a inserção da métrica à grelha

inicial –, é possível afirmar que a definição de um conjunto de princípios e elementos de

projeto podem contribuir determinantemente para a promoção da qualidade do espaço

urbano e arquitetônico em áreas residenciais.

Somado a isso, é pertinente mencionar que as premissas que conduziram a

investigação – tanto na construção da base teórica, quanto na análise e avaliação do Estudo

de Caso – são provenientes do Novo Urbanismo, relativas à construção de um novo polo de

crescimento inteligente – um bairro compacto, completo e conectado – que possibilite a

sustentabilidade, a integridade, a identidade e a vitalidade.

Importa, aqui, destacar que este conjunto de princípios e elementos de projeto,

definidos e organizados em grelhas, tem aplicação na análise e avaliação de bairros e

comunidades residenciais. Assim, estas grelhas, para além da sua dimensão analítica e

avaliativa, poderão ser utilizadas como ferramentas, no início do processo de planejamento,

de diretrizes projetuais, funcionando como uma checklist de princípios e elementos de

projeto qualitativos para a concepção e construção de conjuntos ou bairros residenciais.

Nesse âmbito – pela sua característica transformacional e sua capacidade de

generalização –, objetiva-se, para desenvolvimentos futuros, adaptar os princípios,

indicadores, critérios e elementos de projeto, bem como a forma de avaliação, às diretrizes

do Environmental, Social and Governance (ESG) e da certificação de bairros – através de selos

de qualidade que focam no desenvolvimento de Smart Cities e do crescimento inteligente, a

partir dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, como, por exemplo:

Sustainable SITES, Fitwel Community, LEED Cities & Communities e o LEED Neighborhood

Development (LEED-ND)622.

O sistema LEED-ND é uma colaboração entre o Gren Building Council dos Estados Unidos da
622

América, o Congresso para o Novo Urbanismo e o Conselho de Defesa de Recursos Naturais. O LEED-
432

Esse objetivo futuro, de integrar os requisitos exigidos para obtenção dos selos de

certificação de qualidade aos bairros e comunidades residenciais, é entendido como uma

iniciativa relevante. Salienta-se que, no Brasil, ainda são escassos os empreendimentos que

se preocupam com projetos estratégicos – focados na qualidade e que coloquem as pessoas

e a saúde em primeiro plano623 – na produção de novos territórios habitacionais, sob a ótica

da sustentabilidade, da integridade, da identidade e da vitalidade

Ainda, é pertinente mencionar – e talvez seja um dos motivos do problema acima

colocado – que os incentivos, no Brasil, são incipientes, tanto no que se refere aos estudos e

pesquisas nesta área, quanto ao que compete aos incentivos fiscais para os

empreendimentos que possuírem o selo de certificação de qualidade, como por exemplo:

redução de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), cota ambiental, empréstimos

bancários, taxas de juros menores, entre outros.

Nesse contexto, é pertinente destacar que os projetos (da Etapa 1) do bairro Urbitá

estão sob a análise do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE)624, com o objetivo de

realizar um diagnóstico de potencial de certificação, utilizando quatro selos de qualidade –

citados no parágrafo anterior.

Junto a este diagnóstico, a CTE apresenta uma simulação da pontuação para cada

categoria de sustentabilidade, analisando os pré-requisitos referentes aos selos de qualidade,

verificando os créditos, traçando metas e sugerindo estratégias de projeto (para alguns

indicadores) que necessitam de revisão a fim de alcançar um melhor resultado.

Nesse universo, e com o objetivo de adaptar as grelhas construídas a partir da tese às

listas de verificação utilizadas pelos selos de qualidade voltados a bairros e comunidades

residenciais, pretende-se prosseguir no acompanhamento, junto à Urbanizadora

ND reconhece projetos de bairros e comunidades residenciais que protegem e melhoram o ambiente


urbano e a qualidade de vida. O sistema de classificação incentiva o crescimento inteligente e as
melhores práticas do Novo Urbanismo, assemelhando-se aos indicadores estabelecidos na tese.
623
Numa breve olhada nas categorias de qualidade e sustentabilidade aplicadas aos selos de
certificação, verificam-se outros temas que não foram abordados na sua plenitude na tese, e que
deverão ser inseridos, como por exemplo: infracities, conforto térmico na escala urbana, obra
sustentável, certificações das edificações, monitoramento de clima e qualidade do ar, proteção da
fauna e da flora, recuperação de ecossistemas, conservação hídrica, gestão de efluentes e reuso,
eficiência energética, redução da pegada de carbono, uso consciente de materiais e gestão
sustentável de resíduos e, por fim, governança e desenvolvimento local.
624
Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) - SP: Empresa de consultoria e gerenciamento em
qualidade, tecnologia, gestão, sustentabilidade e inovação para o setor da construção.
433

Paranoazinho (UP), nesta revisão – oriunda do diagnóstico realizado pela CTE –, na aprovação

e na implementação dos projetos do bairro Urbitá, a fim de presenciar, participar e

testemunhar a concretização do novo bairro.

Ainda, nesse passo, pretende-se ampliar os contatos com os ateliês de arquitetura

contratados pela UP, em especial o ateliê Ideia 1 – POA, com o qual não foi possível

estabelecer uma comunicação no decorrer da tese. Também, espera-se – num cenário pós-

pandemia – realizar mais visitas, pessoalmente, ao Urbitá, assim como aos ateliês de

arquitetura (Zoom – RJ, Ideia 1 – POA e Esquadra – Brasília).


434

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Brasília, 2016. Cedido pela UP.

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Fontes, 2004.

VIGLIECCA, Héctor. O Terceiro Território: Habitação Coletiva e Cidade. São Paulo:


Vigliecca e Associados, 2014.
443

ENTREVISTAS

Filipe B. Mont Serrat – Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos, em 03 de


dezembro de 2020, Brasília, DF (via G-meet).

Filipe B. Mont Serrat – Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos, em 14 de maio


de 2020, Brasília, DF (via G-meet).

Filipe B. Mont Serrat – Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos, em 12 de


setembro de 2019, Brasília, DF.

Guilherme Gambier Ortenblad – Arquiteto e Diretor-Presidente da Zoom – urbanismo,


arquitetura e design, em 19 de março de 2021 (via G-meet).

Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP, em 04 de dezembro de 2020, Brasília,


DF (via G-meet).

Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP, em 14 de agosto de 2020, Brasília, DF


(via G-meet).

Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP, em 17 de julho de 2020, Brasília, DF (via
G-meet).

Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP, em 26 de outubro de 2020, Brasília, DF (via G-


meet).

Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP, em11 de setembro de 2019, Brasília, DF.

Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP, em 19 de agosto de 2020, Brasília, DF (via G-


meet).

Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP, em 11 de junho de 2020, Brasília, DF (via G-


meet).

Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP, em 14 de maio de 2020, Brasília, DF (via G-


meet).

Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP, em13 de março de 2021, Brasília, DF (via


G-meet).
444

FONTES DOS QUADROS

QUADRO 1 Organograma do processo investigativo


1.1 Elaborado pela autora.

QUADRO 2 Casarão do Carmo. Héctor Vigliecca. Vinte e cinco unidades habitacionais


propostas na área central em sítio histórico, a partir de uma demanda de cortiço. São Paulo -
SP – Brasil (2003).
VIGLIECCA, Héctor. O terceiro território: habitação coletiva e cidade. São Paulo: Arquiteto
2.1
Héctor Vigliecca e Associados Ltda, 2014. p. 49 – 62.

QUADRO 3 Corredor de sustentabilidade (TOD e TND). Crescimento urbano em corredores


lineares ao longo das rotas de transporte público – Curitiba - Brasil. Exemplos de
empreendimentos residenciais próximo aos eixos e estações de transporte público coletivo.
São Francisco, São Francisco, Charlotte, Los Angeles, São Francisco.
3.1Adaptado pelo autor. FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável: Desenho Urbano com a
natureza. Porto Alegre: Bookman, 2013. p.105.
3.2 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 220
3.3 Center for transit-oriented development - CTOD. Station Area Planning Manual.
Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA: 2007, p. 02. Disponível em:
http://www.reconnectingamerica.org. Acesso em: 03 mar. 2019.
3.4 Center for transit-oriented development - CTOD Station Area Planning Manual.
Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA: 2007. capa. Disponível em:
http://www.reconnectingamerica.org. Acesso em: 03 mar. 2019.
3.5Center for transit-oriented development - CTOD. Realizing the Potential: Expanding
Housing Opportunities Near Transit. Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA: 2007. p. 07.
Disponível em: http:// www.reconnectingamerica.org. Acesso em: 03 mar. 2019.
3.6Center for transit-oriented development – CTOD. Mixed-income Housing near Transit –
TOD 201. Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA: 2007. p. 13. Disponível em:
http://www.reconnectingamerica.org. Acesso em: 03 mar. 2019.
3.7Center for transit-oriented development – CTOD. Mixed-income Housing near Transit –
TOD 201. Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA: 2007. capa. Disponível em:
http://www.reconnectingamerica.org. Acesso em: 03 mar. 2019.

QUADRO 4 Diagramas: Unidade de Vizinhança (Perry, 1929), Bairro urbano tradicional (DPZ,
2010) e Bairro para o Urbanismo Sustentável (FARR, 2013). Diagramas DPZ ilustrando bairros
interconectados com centros e bordas definidas. Exemplo do Bairro Pedra Branca – SC –
Brasil.
445

FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável: Desenho Urbano com a natureza. Porto Alegre:
4.1
Bookman, 2013. p.119.
4.2 e 3.3 DUANY MIAMI / DPZ Partners. Urban Planning. Disponível em:
https://www.dpz.com/Services/UrbanPlanning. Acesso em: 19 mai. 2019.
CIDADE criativa pedra branca. Disponível em: https://www.cidadepedrabranca.com.br/.
4.4
Acesso em: 14 set. 2019.
4.5Adaptado pelo autor, a partir da imagem de satélite do google earth e PEDRA branca: um
novo urbanismo. Morar, trabalhar, estudar e se divertir num mesmo lugar. Revista Pedra
Branca: um novo urbanismo, Palhoça, n. 1, p. 22, out. 2014.
4.6PEDRA branca: cidade criativa. Melhorar a cidade para as pessoas. Revista Pedra Branca:
Cidade Criativa, Palhoça, n. 1, p. 36 e 37, out. 2014.

QUADRO 5 Estratégias de moderação de tráfego (esquerda, direta e duas inferiores, Boston).


Ruas compartilhadas: Exhibition Road, Londres. Stroget, Copenhague. New Road, Brighton.
5.1GLOBAL DESIGNING CITIES INITIATIVE, National association of City Transportation
Officials. Guia global de desenho de ruas. São Paulo: Senac, 2018. p. 132 – 133.
5.2 BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete Streets: Design
Guidelines. Boston, 2013. p. 104.
GEHL architects. Projetcts. Disponível em: https://gehlpeople.com/projects/new-
5.3, 5.4 e 5.5
road-brighton-uk/. Acesso em: 16 ago. 2019.

QUADRO 6 Gateways de transição (acessos demarcados) – Rio de Janeiro, Porto Alegre e


Brasília. Limites, cruzamentos e travessias. Vias principais e ligações entre os bairros.
6.1 DEL RIO, Vicente. Introdução ao Desenho Urbano no processo de planejamento. São
Paulo: Pini, 1990. p. 119.BONDUKI, N. Origens da habitação social no Brasil: arquitetura
moderna, lei do inquilinato e difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.
URBANIZADORA PARANOAZINHO. No Coração do Brasil – onde o mar é o céu e o horizonte
é infinito. Brasília:UPSA, 2017. p. 49.
6.2GLOBAL DESIGNING CITIES INITIATIVE. National association of City Transportation
Officials. Guia global de desenho de ruas. São Paulo: Senac, 2018. p. 341. Autora, adaptado
de ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray. Uma Linguagem de
Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977].
BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete Streets: Design
6.3
Guidelines. Boston, 2013. p.156.
DEPARTMENT OF TRANSPORTATION. New York City. Street Design Manual. New
6.4 e 6.5
York: DOT, 2015. p. 210. Disponível em: http: www.nyc.gov/streetdesignmanual. Acesso em:
22 abr. 2019.
DEPARTMENT OF TRANSPORTATION. New York City. Street Design Manual. New
6.6 e 6.7
York: DOT, 2015. p.223. Disponível em: http: www.nyc.gov/streetdesignmanual. Acesso em
22 abr. 2019.
446

QUADRO 7 Zonas da calçada. Frontage zone (faixa de transição e de permanência - Boston).


Faixas de travessias de pedestres e cuidados nas intersecções (visibilidade) Fachadas ativas
e transparência para a conexão visual.
7.1WRI Brasil, WRI Cidades. 8 Princípios da Calçada: construindo cidades mais ativas. São
Paulo, 2017. p. 25.
Boston Transportation Department. Boston Complete Streets: Design Guidelines. Boston,
2013. p. 20.
7.2 BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete Streets: Design
Guidelines. Boston, 2013. p. 30.
7.3Adaptado pelo autor. BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete
Streets: Design Guidelines. Boston, 2013. p. 153.
SÃO PAULO. Lei Municipal n° 16.050/2014. Plano Diretor Estratégico do município de São
7.4
Paulo. São Paulo, 2014.
7.5 BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete Streets: Design
Guidelines. Boston, 2013. p. 24.
7.6 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 149.

QUADRO 8 Benefícios das árvores de rua (ambiental, social e econômico). Permeabilidade


do solo (pavimentos, canteiros - Boston e grandes vasos - Londres). Uso consistente de uma
espécie de árvore conferindo personalidades às ruas: Boston.
8.1 BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete Streets: Design
Guidelines. Boston, 2013. p. 48-49.
8.2 BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete Streets: Design
Guidelines. Boston, 2013. p. 16.
8.3TRANSPORT FOR LONDON. Walking action plan: Making London the world’s most
walkable city. Londres, 2018. p. 48.
BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete Streets: Design
8.4, 8.5 e 8.6
Guidelines. Boston, 2013. p. 54.

QUADRO 9 Sistema de ciclovia eficaz e segura. Rota compartilhada – sharrows. Estratégia


global de transporte – integração entre modais: Copenhague, Dinamarca. Aluguel de
bicicletas (e-bike) para o uso diário: São Francisco, Baldwin Park - CA, Copenhague,
Dinamarca.
9.1GLOBAL DESIGNING CITIES INITIATIVE. National association of City Transportation
Officials. Guia global de desenho de ruas. São Paulo: Senac, 2018. p. 98.
9.2 BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete Streets: Design
Guidelines. Boston, 2013. p.134.
9.3 Ibid. p. 236.
447

9.4WRI Brasil, WRI Cidades. 8 Princípios da Calçada: construindo cidades mais ativas. São
Paulo, 2017.
9.5 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p.184.
9.6 FGV Projetos. Cidades Inteligentes e mobilidade urbana. Rio de Janeiro, 2015. p. 156.
9.7 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013, p.10.
National Association of City Transportation Officiais. Urban Bikeway Design Guide.
9.8
Washington, DC, 2011. p. 05.
EMBARQ BRASIL. Manual de projetos e programas para incentivar o uso de bicicletas em
9.9
comunidades. Rio de Janeiro, 2014. p. 62.
9.10 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p.10.

QUADRO 10 Área de influência da estratégia TOD / DOTS para eixos e estações de


transporte coletivo. Integração, variedade e tecnologia dos modais. Tags digitais e painéis
de informações Parada interativa mostrando a visão de um inseto – Victoria ZOO – Canada e
vans e micro-ônibus.
DUANY, A; PLATER-ZYBERK, E. The lexicon of the new urbanism. Miami: DPZ Partners,
10.1
2003. p. 33.
10.2WRI Brasil, WRI Cidades. DOTS nos Planos Diretores: Guia para inclusão do
Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável no planejamento urbano. São Paulo,
2018. p. 52.
10.3 LE BLOG DU MARKETING ALTERNATIF. Disponível em: http://www.marketing-
alternatif.com/2009/06/08/victoria-zoo-yeux-dinsecte/. Acesso em: 05 jun. 2019.
10.4BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete Streets: Design
Guidelines. Boston, 2013, p. 214-15.
10.5 Ibid. p. 214-226.
10.6 PROMOBIT. Opções de serviços de mobilidade urbana. Disponível em:
https://www.promobit.com.br/blog/opcoes-servicos-mobilidade-urbana/. Acesso em: 05 jun.
2019.

QUADRO 11 Distritos de zoneamento e ligações com as áreas envolventes. Caráter distinto


de cada setor – bairro. Fronteiras/limites entre os bairros e marcação dos polos de acesso
(físicos e sinais visuais): Londres, Londres e Lisboa.
Adaptado pelo autor. GEHL ARCHITECTS. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho
11.1
Brasília. Brasília: Gehl Architects, 2014. p. 18 e 38.
11.2 LYNCH, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2011 [1960]. p. 52.
11.3URBANIZADORA PARANOAZINHO. No Coração do Brasil – onde o mar é o céu e o
horizonte é infinito. Brasília: UPSA, 2017, p.23.
448

11.4BOSTON TRANSPORTATION DEPARTMENT. Boston Complete Streets: Design


Guidelines. Boston, 2013. p. 154.
11.5COELHO, António Baptista; PEDRO, João Branco. Do Bairro e da Vizinhança à Habitação:
tipologias e características dos níveis físicos residenciais. Lisboa: LNEC, 3. ed., 2013. p. 41
11.6GLOBAL DESIGNING CITIES INITIATIVE. National association of City Transportation
Officials. Guia global de desenho de ruas. São Paulo: Senac, 2018. p. 132.
COLEÇÃO TRANSECT. Fotografias de ambientes naturais e construídos. Disponível
11.7 e 11.8
em: https://transect-collection.org/p1019564755. Acesso em: 22 jul. 2019.
11.9 FARIAS, Hugo José Abranchs Teixeira Lopes. Aula Disciplina de Arquitetura da Habitação:
Arquitetura da Habitação Coletiva Moderna em Lisboa: casos notáveis da década de 1950.
Data: 01 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, 2017. Notas
de Aula.

QUADRO 12 Zonas de Transect ilustradas através das pinturas de Norman Rockwell. O


Transect de Ronda-Itália. Codificação de elementos de projeto (Smart Code).
12.1COLEÇÃO TRANSECT. Biblioteca de imagens: Transect da cultura pop. Disponível em:
https://transect.org/pop_img.html. Acesso em: 22 jul. 2019.
12.2COLEÇÃO TRANSECT. Biblioteca de imagens: Transectos Internacionais. Disponível em:
https://transect.org/pop_img.html. Acesso em: 22 jul. 2019.
12.3DUANY, A.; PLATER-ZYBERK, E.; SPECK, J. Neighborhood Conservation Code. DPZ
Parterns: Miami, 2010. p. 33.

QUADRO 13 Espaço urbano tradicional (Paris). Malha de quarteirões (com tamanho médio,
integrados e determinados pelo contexto local). Exemplo do bairro Pedra Branca – SC –
Brasil.
13.1CARMONA, Matthew et al. Public Places - Urban Spaces: the dimensions of urban design,
2. ed. Routledge, 2010 [2003]. p. 101.
13.2GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho Brasília. Brasília: Gehl
Architects, 2014. p. 18.
DUANY, A.; PLATER-ZYBERK, E. The lexicon of the new urbanism. Miami: DPZ Partners,
13.3
2003. p.26 e 27.
13.4CARMONA, Matthew et al. Public Places - Urban Spaces: the dimensions of urban design,
2. ed. Routledge, 2010 [2003]. p. 100.
13.5.Autora, adaptado de PEDRA BRANCA: UM NOVO URBANISMO. Morar, trabalhar,
estudar e se divertir num mesmo lugar. Revista Pedra Branca: Um Novo Urbanismo, Palhoça,
SC, n. 1, p. 22, out. 2014.
13.6Autora, adaptado de PEDRA BRANCA: UM NOVO URBANISMO. Morar, trabalhar,
estudar e se divertir num mesmo lugar. Revista Pedra Branca: Um Novo Urbanismo, Palhoça,
SC, n. 1, p. 56, out. 2014.
449

13.6 e 13.7 CIDADE CRIATIVA PEDRA BRANCA. Disponível em:


http://cidadepedrabranca.com.br/. Acesso em: 14 set. 2019.

QUADRO 14 Tipo, modelos e localização dos quarteirões – estudo para Bairro fazenda
Paranoazinho – Brasília.
14.1Adaptado pelo autor. GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho
Brasília. Brasília: Gehl Architects, 2014, p. 40-46.
14.2GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho Brasília. Brasília: Gehl
Architects, 2014. p. 39.

QUADRO 15 Localização dos quarteirões especiais em cada distrito. Edifícios comuns e


excepcionais conformam a praça central (nó de atividade): Lier - Bélgica. Modelos de
quarteirões de usos especiais. Nós de atividades.
15.1Adaptado pelo autor. GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho
Brasília. Brasília: Gehl Architects, 2014. p. 39.
15.2GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho Brasília. Brasília: Gehl
Architects, 2014. p. 46.
15.3, 15.4, 15.5 e 15.6 DPZ Co Design. Paranoazinho, Sobradinho Brasília. Brasília. UPSA, 2017. p.
42.
15.7Adaptado pelo autor. GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho
Brasília. Brasília: Gehl Architects, 2014. p. 46.
ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray. Uma Linguagem de
15.8
Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977]. p. 168.

QUADRO 16 Funções básicas do urbanismo por Jaime Lerner. Mixed-use neighbourhood –


Urban Task Force. Zoneamento segregado e zoneamento integrado e compacto das
atividades. Demarcação dos usos cívicos (fechados e abertos) e dos comércios e serviços –
Bairro Pedra Branca – SC – Brasil.
16.1 LERNER, Jaime. Jaime Lerner Associated Architects. Disponível em:
http://jaimelerner.com.br/en/home-page/. Acesso em:14 ago. 2019.
16.2 NEWCASTLE UNIVERSITY. Disponível em: http://2017-
2018.nclurbandesign.org/2018/01/dynamic-neighbourhoods-social-mixing-building-
communities. Acesso em: 28 ago. 2019.
Adaptado pelo autor. ROGER, Richard. Cidades para um Pequeno Planeta. Londres:
16.3
Ed.GG, 2001 [1997]. p. 39.
Adaptado pelo autor. DPZ Co Design. Pedra Branca Guidelines. Palhoça. Pedra
16.4, 16.5 e 16.6
Branca, 2006. p. 1-10.
16.7 e 16.8 CIDADE CRIATIVA PEDRA BRANCA. Disponível em:
https://www.cidadepedrabranca.com.br/ Acesso em: 14 set. 2019.
450

QUADRO 17 Acessos. Espaços de transição/intervalo. Demarcação da entrada (casa Schroder


- Holanda, 1924; Torre no Olivais Norte – Lisboa, Portugal,1958 e Conjunto Jardim Edite –
São Paulo, Brasil, 2010). Recuos frontais – zonas de encontro (áreas exteriores frontais) entre
a habitação e a calçada (Bloco das Águas Livres – Lisboa, Portugal, 1953-56 e Conjunto
Habitacional Parque Sibelius – Copenhague, Dinamarca). Linhas de visão entre interior e
exterior; oportunidade de marcar o local onde se vive e atividades ao ar livre (Almere-Holanda
e Conjunto Habitacional Frankfurt-Heddernheim, 1920.)
Autora, adaptado de ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray.
17.1
Uma Linguagem de Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977]. p. 552.
17.2 HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2015. p. 34.
17.3COELHO, António Baptista; PEDRO, João Branco. Do bairro e da vizinhança à habitação:
tipologias e características dos níveis físicos residenciais. Lisboa: LNEC, 3a ed., 2013. p. 273.
17.4 MMBB arquitetos. Disponível em: http://www.mmbb.com.br/. Acesso em: set. 2019.
FARIAS, Hugo. Palestra: Arquitectura da Habitação Colectiva Moderna em Lisboa: Casos
17.5
notáveis da década de 1950. Data: 01 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura da
Universidade da UFRGS, 2017. Notas de Aula.
17.6 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013, p.150
17.7 Ibid., p.103.
17.8 Ernest May. Disponível em: http://ernst-may-gesellschaft.de/mayhaus.html. Acesso em:
set. 2019.

QUADRO 18 Organização hierárquica entre espaço público, semipúblico, semiprivado e


privado, segundo Hertzberger, Gehl e Alexander. Níveis legíveis de circulação (Byker -
Newcastle, Inglaterra, 1968). Identificação das unidades habitacionais. (Tinggarden.
Tegnestuen Vandkunsten - Copenhague, Dinamarca,1977-79). Adaptabilidade dos espaços
de entrada (Conjunto Habitacional - Heddernheim, Frankfurt, Alemanha, 1920 e Conjunto
Delacy Court - Castle Donnington, Inglaterra). Intervenções artísticas nos limites dos espaços
de circulação (Conjunto Infante Santo - Lisboa, Portugal, 1952-55 e Edifício residencial Olivais
Sul - Lisboa, Portugal,1965).
Autora, adaptado de HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins
18.1
Fontes, 2015. p.20.
GEHL, Jan. La Humanización del ESPACIO URBANO: La vida social entre los edificios.
Barcelona: Reverté, 2006. p.69.
ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray. Uma Linguagem de
Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977]. p. 482.
18.2 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 57.
18.3 Id. A vida entre edifícios. Lisboa, 2013 [1971]. p.56.
18.4 Ernest May. Disponível em: http://ernst-may-gesellschaft.de/mayhaus.html. Acesso em:
set. 2019.
451

18.5 Built for Life. Disponível em: http://builtforlifehomes.org/. Acesso em: out. 2019.
FARIAS, Hugo. Palestra: Arquitectura da Habitação Colectiva Moderna em Lisboa: Casos
18.6
notáveis da década de 1950. Data: 01 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura da
Universidade da UFRGS, 2017. Notas de Aula.
18.7 COELHO, António Baptista. Habitação Humanizada. Lisboa: LNEC, 2007. p. 402.

QUADRO 19 Nós de recepção. Famílias de entrada. Átrio (ponto focal) e relação entre espaço
público e semipúblico. Núcleos de circulação vertical visíveis desde o primeiro acesso ao
edifício (Torre de apartamentos LSD, Conjunto Infante Santo – Lisboa, Portugal, 1952-55 e
Bloco das Águas Livres – Lisboa, Portugal, 1953-56). Acesso por elevador localizado na
fachada do edifício (Edifícios do bairro Trinitat – Barcelona, Espanha, 1994).
Autora, adaptado de ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray.
19.1
Uma Linguagem de Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977]. p.500-502.
19.2 PIÑON, Hélio. Disponível em: http://helio-pinon.org/proyectos. Acesso em: out. 2019.
FARIAS, Hugo. Palestra: Arquitectura da Habitação Colectiva Moderna em Lisboa:
19.3 e 19.4
Casos notáveis da década de 1950. Data: 01 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura da
Universidade da UFRGS, 2017. Notas de Aula.
MONTEYS, Xavier. La calle y la casa: urbanismo de interiores. Barcelona: Gustavo Gili,
19.5
2017. p. 23.

QUADRO 20 Tipos de núcleos de acessos verticais. Relação dos núcleos de acesso vertical
com os espaços de circulação – públicos ou semipúblicos. Conexão de cada patamar do
edifício com o solo (Apartamentos dos carteiros Rue de l'Ourcq - Paris, França,1994 e
Conjunto Heliópolis, gleba G - São Paulo, Brasil, 2011).
20.1FARIAS, Hugo. Edifício de habitação coletiva em galeria: contribuições para a tipologia
da arquitetura da habitação. Local: Editora, 2003. p. 30-40.
BERNARD Leupen; HARALD Mooij. Housing Design: a manual. Delft: Nai
20.2, 20.3 e 20.4
Publisher, 2011. p.158.
20.5, 20.6 e BISELLI, Mauro; KATCHBORIAN,
20.7 Arthur. Disponível em:
http://www.bkweb.com.br/about/. Acesso set. 2019.
MONTEYS, Xavier. La calle y la casa: urbanismo de interiores. Barcelona: Gustavo Gili,
20.8
2017. p. 17.

QUADRO 21 Contato entre edifícios e a rua (até cinco andares). Espaços de circulação –
espaços de estar e terraços de uso comum (Kassel – Alemanha, 1979-82). Rua-galeria.
Caminho vertical – “rua externa” (Spangen Quarter, Rotterdam, Holanda, 1921 e Cité
Napoléon – Paris, França, 1849).
21.1 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 40.
452

21.2 HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2015. p. 36 e
37.
21.3FARIAS, Hugo. IV Ciclo de Palestras. Arquitectura da Habitação: Questões Actuais -
Versatilidade e Hibridez Tipológica. Data: 05 - 08 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura
da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, 2017. Notas de
Aula.
21.4 HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2015. p. 39.

QUADRO 22 Tipos de edifícios de habitação: edifícios unifamiliares, de acesso privado e


edifícios plurifamiliares, de acesso coletivo. Interação entre exterior e interior (Donnybrook
Quarter – Londres, 2006, Nexus World housing – Japão, 1991 e Conjunto Heliópolis, gleba
A - São Paulo, Brasil, 2011).
FARIAS, Hugo. Edifício de Habitação Coletiva em Galeria: Contribuições para a Tipologia
22.1
da Arquitetura da Habitação. Lisboa, 2003. p. 10 – 15.
FARIAS, Hugo. IV Ciclo de Palestras. Arquitectura da Habitação: Questões Actuais -
22.2 e 22.3
Versatilidade e Hibridez Tipológica. Data: 05 - 08 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura
da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, 2017. Notas de
Aula.
22.4VIGLIECCA, Héctor. O Terceiro Território: Habitação Coletiva e Cidade. Vigliecca e
Associados, 2014. p.146.

QUADRO 23 Subtipos de edifícios em galeria (externa e interna). Estabelecimento da relação


com a rua/solo. Galeria separada do edifício, com pontes para as unidades habitacionais
(Edifício habitacional Schwitter – Basileia, ano). Galeria exterior em balanço, desnivelada
(Bloco das Águas Livres – Lisboa, Portugal, 1953-56). Galeria exterior em balanço (Nemausus
-Nimes, França,1987).
FARIAS, Hugo. Edifício de Habitação Coletiva em Galeria: Contribuições para a Tipologia
23.1
da Arquitetura da Habitação. Lisboa, 2003. p. 15-40.
23.2 Ibid., p.28.
Id. Palestra: Arquitectura da Habitação Colectiva Moderna em Lisboa: Casos notáveis da
23.3
década de 1950. Data: 01 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura da Universidade da
UFRGS, 2017. Notas de Aula.
23.4Id. IV Ciclo de Palestras: Arquitectura da Habitação: Questões Actuais - Versatilidade e
Hibridez Tipológica. Data: 05 - 08 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura da
Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, 2017. Notas de Aula.

QUADRO 24 Tipos de formas - pavilhão, barra e torre. Composição tripartida do edifício.


Edifícios organizados em torre e plataforma (Ciudad discontínua, pero ordenada – projetos
didáticos Hélio Piñon, 2018 e Lever House – Nova Iorque, 1951)). Exemplo de organização
453

de vários tipos de edifícios – casas geminadas, sobrados, edifícios de baixa altura, edifícios
de grande altura. (Lafayette Park – Detroit, EUA,1956).
Autora, adaptado de KRAFTA, Romulo. Notas de aula de Morfologia Urbana. UFRGS,
24.1
2014. p. 49
DPZ Latin America. Charrete: Diretrizes para o Bairro Pedra Branca. Data: 20 de
24.2 e 24.3
agosto de 2016. Pedra Branca, Santa Catarina, Brasil, 2016. Notas de Aula.
24.4 e 24.5 PIÑON, Hélio. Disponível em: http://helio-pinon.org/proyectos. Acesso em: out.
2019.
MAHFUZ, Edson da Cunha. A Arquitetura entre o espetáculo e o ofício, 2008. Arquitetura
24.6
e Urbanismo, São Paulo, Pini, n. 178, jan. 2009.

QUADRO 25 Relação entre densidade e forma urbana – combinações diferentes de tipologias


– mesma densidade. Articulação dos edifícios no quarteirão, diferentes tipologias e
diversidade de densidades segundo Farr (2013). Esquinas enfatizadas (Clarendon Center -
Virgínia, EUA, 2010 e The Harrison - Nove Iorque, EUA, 2009)
Autora, adaptado de CARMONA, Matthew et al. Public Places - Urban Spaces: the
25.1
dimensions of urban design, 2. ed. Routledge, 2010 [2003]. p. 225.
25.2Autora, adaptado de Farr, Douglas. Urbanismo Sustentável: desenho urbano com a
natureza. São Paulo, 2013. p.96 e 97.
25.3 Llewelyn – Davies. Urban Design Compendium. Londres, 2000. p.94.
25.4 e CNU, Disponível em: https://www.cnu.org/what-we-do/build-great-
25.5
places/clarendon-center. Acesso em: set. 2019.

QUADRO 26 Composição da fachada através da proporção geométrica. Efeitos compositivos


através da distribuição das janelas e portas na fachada. Exemplo de relação entre planta e
fachada (Casa Rustici, Milão, Itália, 1935 – Terragni).
Autora, adaptado de KRIER, Rob. Elements of Architecture. Academy Editions.
26.1 e 26.2
Londres, 1992, p. 62 e 63.
26.3Autora. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/tag/giuseppe-terragni. Acesso
em: nov. 2019.

QUADRO 27 Plinths – Esfera Pública. Elementos da fachada de edifícios urbanos. Orientação


vertical e horizontal da fachada. Sucessão de coberturas. Estratégias de privacidade para
edifícios residenciais. Ponto de vista do projeto: da rua para o edifício e do edifício para a
rua.
27.1KARSSENBERG, H. (Org.). A cidade ao nível dos olhos: lições para os plinths. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2015. p. 15.
DPZ Latin America. Charrete: Diretrizes para o Bairro Urbitá. Data: 10 de agosto de
27.2 e 27.3
2017. Urbitá, Brasília - DF, Brasil, 2016. Notas de Aula.
454

27.4, 27.5 e 27.6 Ibid.


27.7 A cidade ao nível dos olhos, disponível em:
https://thecityateyelevel.com/stories/designing-from-the-street/. Acesso em: nov. 2019.
27.8 e 27.9 COELHO, António Baptista. Habitação Humanizada. Lisboa: LNEC, 2000. p. 281
ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray. Uma Linguagem de
27.10
Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977]. p. 831

QUADRO 28 Configuração reticular. Cento e oitenta e quatro unidades habitacionais.


(Kasbah – Hengelo, Holanda ,1973).
BERNARD Leupen; HARALD Mooij. Housing Design: a manual. Delft: Nai Publisher,
28.1 – 28.7
2011. p.152.

QUADRO 29 Complexo de edificações. Espaços externos positivos (convexos) – malha social


efetiva. Seis grupos de 15 unidades habitacionais. (Tinggarden – Copenhague,
Dinamarca,1977-79).
Autora, adaptado de ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray.
29.1
Uma Linguagem de Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977]. p.472.
29.2 e 29.3 Ibid. p.522.
29.4, 29.5, 29.6, 29.7 e 29.8 GEHL, Jan. A vida entre edifícios. Lisboa, 2013 [1971]. p.56.

QUADRO 30 Razão entre a altura do edifício e a largura da rua / espaço aberto. Bisseção do
ângulo de visão em duas partes sensivelmente iguais. Estratégias de visibilidade entre
espaços externos e edifícios. Cones na camada fotorreceptora dos olhos. Aqui e Além. Praça
Stroget Copenhague – espaço angular. Praça del Campo, em Siena – dimensões na escala
humana.
Autora, adaptado de CARMONA, Matthew et al. Public Places - Urban Spaces: the
30.1
dimensions of urban design, 2. ed. Routledge, 2010 [2003]. p. 183.
30.2 CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana: Lisboa: Edições 70, 2015 [1971]. p. 43.
30.3COELHO, António Baptista. Qualidade Arquitectónica Residencial. Lisboa: LNEC, 2000.
p. 43.
30.4 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 39.
30.5 CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana: Lisboa: Edições 70, 2015 [1971]. p.38 e 43.
DPZ Latin America. Charrete: Diretrizes para o Bairro Urbitá. Data: 10 de agosto de 2017.
30.6
Urbitá, Brasília - DF, Brasil, 2016. Notas de Aula.
30.7GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 238 Id. A vida entre
edifícios. Lisboa, 2013 [1971]. p.40.
455

QUADRO 31 Articulação dos espaços livres abertos. Lugares externos ensolarados –


Conjunto Cônego Vicente Miguel Marino. Héctor Vigliecca. São Paulo (2004). Fachada Sul -
cascata gradual até o solo e parede reflexiva. Proteção climática (vento e som).
Autora, adaptado de ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray.
31.1
Uma Linguagem de Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977]. p. 515.
VIGLIECCA, Héctor. O Terceiro Território: Habitação Coletiva e Cidade. São
31.2, 31.3, 31.4 e 31.5
Paulo: Vigliecca e Associados, 2014. p.116, 125 e 126.
Autora, adaptado de ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray.
31.6
Uma Linguagem de Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977]. p.759 – 761.
31.7 GEHL, Jan. A vida entre edifícios. Lisboa, 2013 [1971]. p. 176.
ROMERO, Marta Adriana Bustos. A arquitetura bioclimática do espaço público. Brasília:
31.8
UnB, 2001. p. 22.
31.9DEL RIO, Vicente. Introdução ao Desenho Urbano no Processo de Planejamento. São
Paulo: Pini, 1990. p. 37.
31.10 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p.170
ROMERO, Marta Adriana Bustos. A arquitetura bioclimática do espaço público. Brasília:
31.11
UnB, 2001. p. 60 e 61.

QUADRO 32 Conformação dos espaços externos. Diversidade de espaços de tempos livres


– espaço de jogos, de estar, espaços que permitam a intervenção dos habitantes (jardins e
hortas). Brittgarden. Ralph Erskine. Tibro - Suécia (1960) e Conjunto de moradias LiMa.
Hermam Hertzberger. Berlin – Alemanha (1984 – 1986).
Autora, adaptado de CARMONA, Matthew et al. Public Places - Urban Spaces: the
32.1
dimensions of urban design, 2. ed.: Nova Iorque: Routledge, 2010 [2003]. p. 178.
COELHO, António Baptista; CABRITA, António Reis. Espaços Exteriores em Novas Áreas
32.2
Residencias. Lisboa: LNEC, 3a ed., 2003. p. 70 e 71.
32.3TIBROBYGGEN. Disponível em: https://tibrobyggen.se/vara-omraden/brittgarden/ .
Acesso em: set. 2019.
32.4 HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2015. p. 42.

QUADRO 33 Integração do tráfego e das atividades nas áreas externas. Espaço


compartilhado entre automóveis e pessoas, com prioridade ao pedestre. Estratégias para
estacionamentos pequenos e camuflados. Parque das Nações, Lisboa. Plano de Pormenor da
autoria dos Arquitetos Duarte Cabral de Melo e Maria Manuel Godinho de Almeida, 1998.
33.1 e 33.2 GEHL, Jan. A vida entre edifícios. Lisboa, 2013 [1971]. p. 101 e 110.
33.3 Built for Life. Disponível em: http://builtforlifehomes.org/. Acesso em: out. 2019.
ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray. Uma Linguagem de
33.4
Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977]. p. 506, 1135 e 1141.
456

33.5 Fotos da autora, fevereiro de 2020.

QUADRO 34 Contextualização geográfica: Distrito Federal (DF), Plano Piloto de Brasília e


Fazenda Paranoazinho (acima). Foto aérea da Área de Estudo - uma porção da Fazenda
Paranoazinho – (abaixo).
34.1 Elaborado pela autora a partir da imagem de satélite do Google Earth, 2020.
34.2 ALVES, Jotta / J. Helicóptero. Fotografias aéreas. Brasília, 2019.

QUADRO 35 Relação e conexões da Área de Estudo com o Plano Piloto – Brasília (acima).
Área de Estudo com marcação do sistema viário estruturante proposto para o novo bairro
(abaixo).
35.1 e 35.2 Elaborado pela autora a partir da imagem de satélite do Google Earth. 2020.

QUADRO 36 Perfis do sistema viário estruturante conforme Gehl Architects (2014) - acima; e
Urbanizadora Paranoazinho (UP) – abaixo.
36.1GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho Brasília. Brasília: Gehl
Architects, 2014, p. 20 - 27.
36.2Autora, adaptado de Urbanizadora Paranoazinho (UP). Memorial Descritivo: Projeto de
Parcelamento do Solo – Urbitá – Etapa 01. Brasília: UPSA, 2016, p. 49 – 55.

QUADRO 37 Principais interseções entre o sistema viário do novo bairro e os núcleos urbanos
adjacentes.
37.1 Elaborada pela autora a partir da imagem de satélite do Google Earth. 2020.
RHUMB, Infraestrutura urbana. Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana (vídeo). Brasília,
37.2
2018.

QUADRO 38 Vias locais – malha de quarteirões conforme Gehl (a esquerda) e UP (a direita).


Perfis do sistema viário complementar conforme Gehl Architects - acima e Urbanizadora
Paranoazinho (UP) – abaixo. Possibilidades de desenhos de praças e vias internas.
38.1GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho Brasília. Brasília: Gehl
Architects, 2014, p. 18.
Autora, adaptado de Urbanizadora Paranoazinho (UP). Memorial Descritivo: Plano de
38.2
Urbanização - Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
38.3GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho Brasília. Brasília: Gehl
Architects, 2014, p. 20 - 27.
38.4 Autora, adaptado de Urbanizadora Paranoazinho (UP). Oficina de Concepção
arquitetônica: definições e critérios para as alamedas internas. Brasília: UPSA, 2016.
457

QUADRO 39 Sobreposição da área central - rua Curitiba - sobre as imagens dos precedentes
eleitos para servirem de referência. Projeto inicial para a rua Curitiba – planta e perspectivas.
39.1 DPZ Co Design. Charrete: New Town Center Brasília – DF, Brazil. Miami – EUA, 2017. p.
33.
39.2 Ibid. p. 39 e 40.

QUADRO 40 Modelo de faixas de travessia (pedestres e ciclistas) adotado pela UP. Estudos
para a faixas de transição em diferentes zonas do Urbitá. Relação do edifício com a calcada –
pisos térreos.
40.1Autora, adaptado de Urbanizadora Paranoazinho (UP). Estudo preliminar: Desenho dos
cruzamentos. Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.
40.2 DPZ Co Design. Charrete: Urban Block Composition. Brasília, 2017. p. 29 - 34.
40.3URBANIZADORA PARANOAZINHO. No Coração do Brasil – onde o mar é o céu e o
horizonte é infinito. Brasília: UPSA, 2017, p.23

QUADRO 41 Linhas e paradas de transporte público coletivo existente na área de


abrangência (abaixo). Linhas (troncais e alimentadoras) de transporte público coletivo
proposta (acima).
Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Memorial Descritivo: Plano de
41.1
Urbanização - Urbitá. Brasília: UPSA, 2018, p. 27.
Fare Arquitetura + Urbanismo. Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana – Urbitá. Brasília,
41.2
2018, p. 51.

QUADRO 42 Particularidades físicas e legais da área. Proposta de zoneamento do ateliê Gehl


Architects. Proposta de zoneamento da Urbanizadora Paranoazinho (UP). Fronteiras entre
setores e funções comuns compartilhadas. Ideias iniciais para as quatro caixas junto a praça
Paranoazinho e estudo da marcação da entrada.
Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Memorial Descritivo: Plano de
42.1
Urbanização - Urbitá. Brasília: UPSA, 2018, p. 74.
42.2Autora, adaptado de: GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho
Brasília. Brasília: Gehl Architects, 2014, p. 20 - 27.
Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Memorial Descritivo: Plano de
42.3
Urbanização - Urbitá. Brasília: UPSA, 2018, p. 40.
42.4 Ibid., p.71.
42.5 DPZ
Co Design. Paranoazinho, Sobradinho Brasília. Brasília: UPSA, 2017, p. 39 e ABBUD
Urbanismo Sustentável. Arquitetura paisagística – Urbitá. Brasília: USPA, 2017, p. 02.
458

QUADRO 43 Modelo transect rural-urbano – CATS. Corte longitudinal do bairro e percepção


da lógica entre os distritos de zoneamento e as alturas pré-estabelecidas no PDU (2018) pela
UP. Tabela mostrando a relação entre distritos de zoneamento e alturas.
43.1Duany, A., Plater-Zyberk, E. e Speck, Neighborhood Conservation Code. Miami: DPZ
Parterns, 2010.
43.2 e 43.3 Elaborado pela autora, 2020.

QUADRO 44 Fatores geográficos pré-existentes (ambientais e materiais). Malha de


quarteirões proposta pela UP. Tamanho e formato dos quarteirões – Etapa 1. Rede de
circulação de pedestres (vias internas e faixas de travessia de pedestres).
Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Memorial Descritivo: Plano de
44.1
Urbanização - Urbitá. Brasíla: UPSA, 2018, p. 52.
44.2 Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Masterplan- Urbitá. Brasília: UPSA,
2019.
44.3Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Malha de quarteirões - Urbitá.
Brasília: UPSA, 2019.
44.4 Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Oficina de Concepção
arquitetônica: definições e critérios para as alamedas internas. Brasília: UPSA, 2016.

QUADRO 45 Precedentes: Valência e Barcelona – Espanha. Estudos de volumetria e definição


de um quarteirão típico para bairro, DPZ (2017).
45.1 DPZ Co Design. Charrete: New Town Center Brasília – DF, Brazil. Miami – EUA, 2017. p.
61.
45.2 Ibid., p. 66 - 72.

QUADRO 46 Lotes coringas (20m de frente) na Etapa 1 e 2 do projeto urbanístico. Cenário


desejado para as quatro primeiras etapas. Critérios para a divisão dos quarteirões e
possibilidade de unificação dos lotes.
46.1Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Malha de quarteirões (2019) e
Estudo da divisão dos lotes – Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.
Urbanizadora Paranoazinho (UP). Estudo preliminar: Cenário desejado. Urbitá. Brasília:
46.2
UPSA, 2016.
46.3 Urbanizadora Paranoazinho (UP). Estudo da divisão dos lotes. Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.

QUADRO 47: Localização dos quarteirões especiais para usos especiais (ateliê Gehl
Architects). Agrupamento de equipamentos institucionais (ateliê SOM). Masterplan atual e
demarcação da Centralidade, zona parque e dos equipamentos públicos comunitários para
a Etapa 1 - Urbanizadora Paranoazinho (UP).
459

47.1Autora, adaptado de: GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho


Brasília. Brasília: Gehl Architects, 2014, p. 46 - 47.
47.2SOM - Skidmore, Owings and Merrill. Workshop: Guiding Principles – Fazenda
Paranoazinho. Brasília, 2013, p. 4 e 11.
Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Masterplan (2019) e Memorial
47.3
Descritivo: Plano de Urbanização - Urbitá. Brasília: UPSA, 2018, p. 40.

QUADRO 48 Rede de espaços públicos abertos – proposta da Urbanizadora Paranoazinho -


UP. Precedente estudado para o parque Oeste: Parque Bryant – Nova York.
Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Masterplan (2019) e Memorial
48.1
Descritivo: Projeto de Parcelamento do Solo – Urbitá – Etapa 01. Brasília: UPSA, 2016.
Autora, adaptado de: DPZ Co Design. Charrete: New Town Center Brasília – DF, Brazil.
48.2
Miami – EUA, 2017. p. 45.

QUADRO 49 Localização do Parque Oeste. Proposta para o Parque Oeste conforme ateliê
Benedito Abbud - SP e DPZ – EUA.
49.1Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Masterplan (2019) – Urbitá.
Brasília: UPSA, 2016.
49.2DPZ Co Design. Charrete: New Town Center Brasília – DF, Brazil. Miami – EUA, 2017. p.
44 e ABBUD Urbanismo Sustentável. Charrete: Parques Urbanos – Urbitá. Brasília, 2017, p.
04.

QUADRO 50 Rede de espaços públicos abertos – proposta da Urbanizadora Paranoazinho –


UP (masterplan e etapas iniciais). Precedente estudado para a praça Paranoazinho: Piazza
Campidoglio, Roma e na Kopenhagen Stroget, Copenhagen, Dinamarca.
Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Masterplan (2019) e Memorial
50.1
Descritivo: Projeto de Parcelamento do Solo – Urbitá – Etapa 01. Brasília: UPSA, 2016.
DPZ Co Design. Charrete: New Town Center Brasília – DF, Brazil. Miami – EUA, 2017. p.
50.2
33 e 41.

QUADRO 51 Proposta para a praça Paranoazinho conforme ateliê DPZ – EUA e Benedito
Abbud – SP.
DPZ Co Design. Charrete: New Town Center Brasília – DF, Brazil. Miami – EUA, 2017. p.
51.1
33 e 41 e ABBUD Urbanismo Sustentável. Charrete DPZ + ABBUD – Urbitá. Brasília, 2017.

QUADRO 52 Contexto e localização das quatro áreas escolhidas: Ateliê Esquadra – DF e


Zoom – SP (zona A – Central) e Ateliê Ideia 1 – POA e Rua – RJ (zona A – Centralidade).
52.1 Elaborado pela autora a partir da imagem de satélite do Google Earth. 2020.
460

52.2 Urbanizadora
Paranoazinho (UP). Áreas escolhidas para cada ateliê e Memorial Descritivo:
Plano de Urbanização – Proposta de zoneamento, Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.

QUADRO 53 Tipo e modelo de quarteirões conforme Gehl (2014). Partido volumétrico - bloco
de perímetro, estudo ateliê Esquadra. Acessos e espaços de transição – proposta ateliê
Esquadra – piso térreo.
53.1Autora, adaptado de: GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho
Brasília. Brasília: Gehl Architects, 2014, p. 41 - 43.
Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
53.2 e 53.3
pavimento térreo e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018

QUADRO 54 Graus de acesso - proposta ateliê Esquadra – piso térreo (primeira planta); e
proposta ateliê Zoom – piso térreo (segunda planta). Detalhe - nós de recepção: ateliê
Esquadra e Zoom.
54.1Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento térreo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018
54.2Autora, adaptado de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar: Planta
pavimento térreo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018
54.3Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília e Zoom urbanismo, arquitetura e
design. Estudo preliminar: Planta pavimento térreo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018

QUADRO 55 Tipologias adotadas pelo ateliê Zoom. Planta tipo ateliê Zoom e relação entre
as circulações verticais e os espaços públicos e/ou semipúblicos. Primeira proposta para o
bloco S2: circulação vertical autonomizada do corpo do edifício e segunda proposta para o
bloco S2: núcleo de acessos verticais, incorporado ao edifício, no meio da galeria.
Autora, adaptado FARIAS, Hugo. Edifício de habitação coletiva em galeria: contribuições
55.1
para a tipologia da arquitetura da habitação. Lisboa, 2003. p. 30-40.
Autora, adaptado de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar: Planta
55.2
pavimento tipo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018
Autora, adaptado de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo conceitual: Planta
55.3
pavimento tipo – Bloco S2 – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018

QUADRO 56 Tipo e organização dos edifícios: Ateliê Esquadra – DF, Ideia 1 – POA e Zoom
– SP.
56.1 Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento tipo; e de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar: Planta
pavimento tipo e de Ideia 1 Arquitetura. Estudo preliminar: Planta pavimento tipo – Urbitá.
Brasília: UPSA, 2018.
461

QUADRO 57 Relação entre tipologia dos edifícios e caráter da rua interna – simulação de
espelhamento: ateliê Esquadra – DF (esquerda) e Ideia 1 – POA (direita) - plantas, cortes e
vistas. Galeria externa aberta – bloco H, ateliê Ideia 1 – POA.
57.1Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento tipo, cortes e perspectivas; de Ideia 1 Arquitetura. Estudo preliminar: Planta
pavimento tipo, cortes e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
57.2Autora, adaptado de Ideia 1 Arquitetura. Estudo preliminar: Planta pavimento 3º, 4º e 5º,
corte e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.

QUADRO 58 Localização dos quatro meio quarteirões. Tipo e modelo de quarteirões


conforme Gehl (2014). Disposição dos volumes no meio quarteirão e simulação de
espelhamento: volumetria e relação com a esquina – propostas ateliês: Esquadra- DF, Ideia
1- POA e Zoom – SP (de baixo para cima).
58.1Autora, adaptado de Urbanizadora Paranoazinho (UP). Áreas escolhidas para cada ateliê
e Proposta de zoneamento, Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.
58.2GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho Brasília. Brasília: Gehl
Architects, 2014, p. 41 – 43 e 55.
58.3 Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento tipo e perspectiva da esquina; de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo
preliminar: Planta pavimento tipo e perspectiva da esquina e Ideia 1 Arquitetura. Estudo
preliminar: Planta pavimento tipo e perspectiva da esquina. Brasília: UPSA, 2018.

QUADRO 59 Relação plantas fachada: piso térreo com entradas ao nível da rua; corpo dos
edifícios independentes e associados ao sistema de circulação e cobertura habitada -
proposta ateliê Esquadra- DF.
59.1 Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento térreo, pavimento tipo, pavimento de cobertura, corte longitudinal e perspectivas
– Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.

QUADRO 60 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade. Proposta
ateliê Zoom – SP.
60.1Autora, adaptado de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar: Planta
pavimento térreo e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.

QUADRO 61 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade. Simulação
de um cruzamento conformado por quatro edifícios com o térreo recuado nas esquinas.
Proposta ateliê Esquadra – DF.
61.1Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento térreo, pavimento tipo e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
462

QUADRO 62 Implantação: Relação com a localização e condicionantes do sítio – ateliê Zoom


(à esquerda) e Esquadra (à direita). Análise de eixos ordenadores – ateliê Zoom e Esquadra.
Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
62.1 e 62.2
pavimento térreo e pavimento tipo e de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo
preliminar: Planta pavimento térreo e pavimento tipo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.

QUADRO 63 Pátios internos – proporção entre largura e comprimento. Razão entre larguras
de ruas e largura do pátio interno com as alturas dos edifícios. Estudo da insolação. Proposta
ateliê Zoom.
Autora, adaptado de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar:
63.1 e 63.2
Planta pavimento térreo e cortes – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.

QUADRO 64 Pátios internos – proporção entre largura e comprimento. Razão entre larguras
de ruas e largura do pátio interno com as alturas dos edifícios. Estudo da insolação. Proposta
ateliê Esquadra.
Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
64.1 e 64.2
pavimento térreo e cortes – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.

QUADRO 65 Espaços de uso comum. Ambientes e atividades – Proposta ateliê Zoom - SP e


Esquadra - DF.
Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
65.1 e 65.2
pavimento térreo e perspectivas e de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo
preliminar: Planta pavimento térreo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.

QUADRO 66 Garagens subterrâneas – Proposta ateliê Zoom -SP (planta) e Esquadra – DF


(planta e perspectiva mostrando acesso à garagem subterrânea).
Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta do
66.1 e 66.2
sub solo e perspectivas e de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar: Planta
do sub solo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.

QUADRO 67 Relação entre os princípios e elementos essenciais de projeto eficazes à


promoção da qualidade urbanística e arquitetônica de novos bairros residenciais.
67.1 Elaborada pela autora.
463

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______. Áreas escolhidas para cada ateliê e Proposta de zoneamento, Urbitá. Brasília: UPSA,
2016.

______. Estudo da divisão dos lotes. Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.

______. Estudo preliminar: Cenário desejado. Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.

______. Estudo preliminar: Desenho dos cruzamentos. Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.

______. Malha de quarteirões - Urbitá. Brasília: UPSA, 2019.

______. Malha de quarteirões (2019) e Estudo da divisão dos lotes – Urbitá. Brasília: UPSA,
2016.

______. Masterplan (2019) – Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.

______. Masterplan (2019) e Memorial Descritivo: Plano de Urbanização - Urbitá. Brasília:


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Urbitá – Etapa 01. Brasília: UPSA, 2016.

_______. Masterplan- Urbitá. Brasília: UPSA, 2019.

_______. Memorial Descritivo: Plano de Urbanização - Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.

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UPSA, 2016.

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_____. Manual de Diretrizes Arquitetônicas do bairro Urbitá – Brasília, 2016. Cedido pela
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ZOOM URBANISMO, ARQUITETURA E DESIGN. Estudo conceitual: Planta pavimento tipo –


Bloco S2 – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018

______. Estudo preliminar: Planta pavimento térreo e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA,
2018.

______. Estudo preliminar: Planta pavimento térreo e cortes – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
477

ENTREVISTAS

BIRMANN, Ricardo. Diretor-Presidente da UP, em 11 de junho de 2020, Brasília, DF (via G-


meet).

______. Diretor-Presidente da UP, em 14 de maio de 2020, Brasília, DF (via G-meet).

______. Diretor-Presidente da UP, em 19 de agosto de 2020, Brasília, DF (via G-meet).

______. Diretor-Presidente da UP, em 26 de outubro de 2020, Brasília, DF (via G-meet).

______. Diretor-Presidente da UP, em11 de setembro de 2019, Brasília, DF.

______. Diretor-Presidente da UP, em13 de março de 2021, Brasília, DF (via G-meet).

MIRANDA, Lahys Rocha. Arquiteta e Urbanista da UP, em 04 de dezembro de 2020,


Brasília, DF (via G-meet).

______. Arquiteta e Urbanista da UP, em 14 de agosto de 2020, Brasília, DF (via G-meet).

______. Arquiteta e Urbanista da UP, em 17 de julho de 2020, Brasília, DF (via G-meet).

MONT SERRAT, Filipe B. Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos, em 03 de


dezembro de 2020, Brasília, DF (via G-meet).

______. Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos, em 14 de maio de 2020,


Brasília, DF (via G-meet).

______. Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos, em 12 de setembro de


2019, Brasília, DF.

ORTENBLAD, Guilherme Gambier– Arquiteto e Diretor-Presidente da Zoom – urbanismo,


arquitetura e design, em 19 de março de 2021 (via G-meet).
478

APENDICE 1

REVISTA AU NOME ARQUITETO (s) LOCALIZAÇÃO


nome e ano m² nº UH
Vilanova Artigas (Fábio Penteado, Paulo Mendes
Novembro /1985 e fev. / Conjunto Zezinho Magalhães Prado (1967
178 ha 2.340 da Rocha, Renato Nunes, Arnaldo Martino e Ruy Guarulhos – SP
2014 – 1973)
Gama)

Novembro /1985 e dez. /


Conjunto Padre Manoel da Nóbrega (1973) 6 ha 672 Joaquim Guedes Campinas – SP
jan. / 1996

Copromo – Cooperativa Pró Moradia de


Nº 71, abril / maio 1997 5,4 ha 1.000 USINA_ctah Osasco – SP
Osasco (1992 – 1998)

Outubro / nov. / 1991 Parque Eduardo Guinle (1954) 2,4 ha 328 Lúcio Costa Rio de Janeiro - RJ

Nº 218, maio 2012 e fev. /


Complexo Cantinho do Céu (2008) 150 ha 12.000 Boldarini Arquitetura e Urbanismo São Paulo - SP
2013 e nov. / 2013

N° 225, dezembro /2012 Parque Novo Amaro 5 (2009) 5,4 ha 200 Vigliecca e Associados São Paulo - SP

N° 228, março / 2013 Conjunto Habitacional Real Parque 3,6 ha 1.251 Escritório Paulistano de Arquitetura São Paulo - SP

Nº 235, outubro / 2013 Residencial Prefeito Mendes de Morais - 5,2 ha 328 Affonso Eduardo Reidy Rio de Janeiro - RJ
Pedregulho (1947)

N° 236, novembro / 2013 Residencial Corruíras (2008) 1,1 ha 244 Boldarini Arquitetura e Urbanismo São Paulo - SP

N° 244, julho / 2014 Conjunto Habitacional Heliópolis – gleba G 3,1 ha 420 Arthur Katchborian, Mario Biselli São Paulo - SP

Nº 276 e 282, março /


Complexo Júlio Prestes 9,6 ha 1.200 Biselli Katchborian Arquitetos Associados São Paulo - SP
2017 e setembro de 2017
479

APENDICE 2

REVISTA PROJETO NOME ARQUITETO (s) LOCALIZAÇÃO


nome e ano m² nº UH
Nº 392, outubro de 2012 Heliópolis e concurso renova SP - - Ruy Ohtake São Paulo - SP

N°396, fevereiro de 2013 Residencial Diogo Pires (2011) 1,1 ha 240 Boldarini Arquitetura e Urbanismo São Paulo - SP

Conjunto Residencial e de Serviços


N° 401, julho de 2013 1,8 ha 252 MMBB Arquitetos e H+F Arquitetos São Paulo - SP
Jardim Edite (2008)

Nº407, janeiro de 2014 Granja Marileusa (2012) 75 ha 1.500 De Fournier & Associados Uberlândia - MG

N° 412, julho de 2014 Cidade Aberta (não construído) 5,6 ha 1.736 Jirau arquitatura Pernambuco - PE

Nº 436, março de 2017 Complexo Júlio Prestes 9,6 ha 1.200 Biselli Katchborian Arquitetos Associados São Paulo - SP

Consultorias: Jaime Lerner; Vigliecca e


Nº 448, nov/ dez de 2017 Bairro Pedra Branca – Cidade Criativa 44 ha 1.300 Palhoça - SC
Associados; Jan Gehl, DPZ-LA.
480

APENDICE 3

Métrica:
_____ 0 – 25%
_____ 25 – 50%
_____ 50 – 75%
_____ 75 – 100%

ESCALA DA CIDADE

LOCALIZAÇÃO = 100%

Habitação formando novos bairros

- Localização 100%
- Zoneamento 100%
- Sustentabilidade do desenho urbano 100%

CONEXÕES: (93,7 + 85 + 93,8) = 90,8%

Conexões - Rede viária: (100 + 100 + 100 + 75) = 93,7%


- Sistema viários estruturante 100%
- Interseções 100%
- Rua compartilhada 100%
- Sistema viário complementar (vias locais e vias internas) 75%

Vias internas:

. Não há um projeto / estudo de uma rede de caminhos de pedestres e ciclovias que

inclua as faixas de travessia de pedestres (nos cruzamentos) com as alamedas internas –

que atravessam os quarteirões.

. Não há uma solução definida, tanto no âmbito do desenho da estrutura física, quanto

da gestão – do sistema operacional, no que diz respeito ao acesso condicionado ao

tráfego do automóvel e pedestres nas vias internas (alamedas) aos quarteirões.


481

Conexões - Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias (100 + 100 + 90 + 75 + 70 + 75) =

85%

- Bairro Caminhável – caminhada confortável 100%


- Arborização urbana 100%
- Rede cicloviária 90%
- Bairro Caminhável – caminhada interessante 75%
- Bairro Caminhável – caminhada segura 70%
- Bairro Caminhável – caminhada proveitosa 75%

Caminhada interessante e proveitosa: Fachada ativa

. Observou-se um equívoco, no que diz respeito às fachadas ativas, na proposta de um

intervalo de 50 metros entre portas de acesso para o pedestre, descrita no Manual de

Diretrizes Arquitetônicas.

Caminhada segura: Faixa de travessia de pedestre

. A faixa de travessia de pedestres nos cruzamentos, verificou-se que a distância da faixa

de travessia em relação à esquina - de 3,30m, não segue as recomendações, que são de

1m – 1,5m de distância do alinhamento da pista transversal.

Conexão - Transporte público, coletivo, individual e alternativo (100 + 100 + 100 +75) =

93,8%

- Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS) 100%


- Diversidade de linhas e modais 100%
- Pontos de ônibus ou estações com distâncias adequadas a escala do pedestre 100%
- Mobilidade sustentável 75%

Escolhas de deslocamentos com combustíveis alternativos

. Não há um plano de sustentabilidade do transporte, através do uso de energias

renováveis, com combustíveis alternativos, menos poluentes.

. Não há previsão de vagas preferenciais de estacionamento para veículos de baixa

emissão e baixo consumo e vagas preferenciais para carros compartilhados / carona.

Também não há, até o momento previsão de estação de recarga.

ESCALA DO BAIRRO
482

MORFOLOGIA / TECIDO URBANO: (90,8 + 85 +100) = 91,25%

Morfologia / tecido urbano – Distrito de zoneamento (100 + 100 + +100 + 90 +80 + 75) =

90,83%
- Zoneamento (zona A, zona B e zona D) 100%
- Zona Central e Centralidade 100%
- Fronteiras 100%
- Zona Parque 90%
- Usos 80%
- Gateway 75%

Gateway

. Há a necessidade de integrar a ideia do gateway aos demais cruzamentos que fazem

parte da Zona Central: entre a DF – 425 e a avenida Ushuaia e entre a DF – 425 e a

avenida Quito, ambas vias estruturais de circulação que preveem a ligação do novo

bairro com os núcleos Sobradinho e Sobradinho II.

Morfologia/tecido urbano - T-zones e Smart Code (100 + 80) = 85%

- T-zones 100%
- Smart code 70 %

Smart code

. Há a necessidade de constituir-se regras de planejamento mais específicas, ao nível do

edifício (um regulamento construtivo), além do Manual de Diretrizes Arquitetônicas que

possui um caráter privativo e local, para este empreendimento, sem valia de lei.

Morfologia/tecido urbano - Malha de quarteirões = 100%

- Malha de quarteirões 100%


- Variedade, tamanho e formato dos quarteirões 100%
- Cruzamentos 100%

ESCALA DO QUARTEIRÃO

PARCELAS E EDIFICADO: (100 +80 + 78) = 86%

Parcelas e edificado - Configuração dos quarteirões = 100%


483

- Tipologia dos quarteirões 100%


- Divisão dos quarteirões 100%
- Perímetro dos quarteirões 100%

Parcelas e edificado - Localização dos quarteirões = 80%

- Demarcação de quarteirões especiais para usos especiais 80%


- Demarcação dos equipamentos comerciais e serviço local 80%
- Locais de trabalho 80%

Parcelas e edificado – Usos especiais (100 +90 +75 + 50) =78%

- Para espaços públicos abertos 100%


- Para pontos de referência 90%
- Para equipamentos cívicos e institucionais 75%
- Para equipamentos de ensino 50%

Equipamentos de ensino

. Falta especificar, no projeto, quais são os quarteirões / lotes destinados aos

equipamentos de ensino - item considerado indispensável no que corresponde um

caráter compacto e completo de uma área residencial.

ESCALA DO EDIFÍCIO

ACESSOS: (82,5 +83,3 + 82,5) = 82,7%

Acessos – Intervalo / espaço de transição (90 + 75) = 82,5%

- Relação do edifício com a rua 90%


- Tratamento dos acessos aos edifícios à pequena escala / escala humana 75%

Escala humana

. Ateliê Esquadra: Falta de alguns elementos na escala humana a fim de minimizar a forma

gerada pelo avanço do volume do corpo do edifício acima do piso térreo. Identifica-se a

falta de uma cobertura mais baixa, o que proporcionaria uma sensação de chegada e,

consequentemente, uma adaptação dos usuários ao espaço mais privado, além da

proteção.
484

Acessos – Grau de acesso (90 + 85 + 75) = 83,3%

- Sequência e ordenação das circulações 90%


- Orientação dos usuários e visitantes 85%
- Hierarquização entre espaço público, semi-público, semi-privado e privado 75%

Demarcação física entre o espaço semi-público para o semi-privado,

. Ateliê Esquadra: É verificado uma baixa demarcação física (inexistência do espaço semi-

privado) entre o hall interno dos edifícios e os acessos as unidades habitacionais do piso

térreo.

Acessos - Circulações - horizontais e verticais - (90 + 75) = 82,5%

- Acessos possíveis pela rua – horizontais e verticais 90%


- Conexão dos pisos mais altos com a rua através do sistema de circulações 75%

Elo entre a rua e a porta de entrada de cada habitação

. Ateliê Zoom: Baixa conexão entre a porta de entrada de cada habitação e o solo

(através dos patamares), encerrando a ideia de fazer desses patamares espaços

ambientados para o encontro e o convívio entre os moradores do edifício atribuindo

um caráter de espaço de passagem apenas – enclausurados e desprovidos de qualquer

experiência, emoção ou descoberta.

TIPO E FORMA DOS EDIFÍCIOS: (90 +75 + 91,7) = 86%

Tipo e forma dos edifícios - Tipo e organização do edifício (100 + 90 + 95 + 75) = 90%

- Tipologia dos edifícios 100%


- Variedade de tipos de edifícios e de habitações 90%
- Tipos de acessos aos edifícios (coletivos e privados) 95%
- Agrupamento das unidades habitacionais 75%

Agrupamento das unidades habitacionais

. Ateliê Esquadra e Ideia 1: Nota-se, nos agrupamentos dos apartamentos por piso,

que a maior parte dos acessos são feitos através de um patamar fechado e com

dimensões reduzidas, o que não contribui em nada na interação entre o exterior e

interior, e muito menos para criar condições para o encontro e convívio – qualidades

consideradas relevantes no princípio de organização espacial de edifícios em

conjuntos residenciais.
485

Tipo e forma dos edifícios - Composição formal dos edifícios (100 + 85 + 70 + 60 +

60) =75%
- Continuidade morfológica, em especial no piso térreo do edifício 100%
- Densidade 85%
- Composição tripartida dos edifícios (base, corpo e coroamento) 70%
- Composição formal das esquinas 60%
- Interface entre interior e exterior 60%

Composição tripartida dos edifícios (base, corpo e coroamento)

. Ateliês Esquadra, Ideia 1 e Zoom: Verifica-se a necessidade de aprimoramento da

organização dessas três partes que compõem os edifícios, considerando as essenciais:

a ampliação da base - dois andares ou piso térreo e/ou mais um pavimento de

transição (um terraço de uso coletivo); o recuo do volume do corpo em relação ao

embasamento a partir de uma determinada altura e maior cautela com as arestas e

vértices, particularmente nas esquinas.

. Sobre o topo e elementos de fachada em geral, espera-se um maior equilíbrio e

articulação para com as demais partes do edifício, reduzindo o excesso de variação

de materiais e elementos dentro do próprio edifício. Isso torna-se ainda mais

relevante, ao prospectarmos o cenário futuro - do conjunto construído -, a fim de

resguardar uma imagem menos heterogênea do bairro e evitar que cada edifício se

torne uma coleção de estímulos visuais.

Composição formal das esquinas

. Ateliês Esquadra, Ideia 1 e Zoom: O resultado formal não parece o mais adequado,

uma vez que os limites verticais laterais do corpo dos edifícios seguem ângulos

ortogonais, sem maiores preocupações com a aresta – consequência de um excesso

de horizontalidade que marca cada andar. Nesse ponto é possível afirmar que, dois

dos projetos analisados (dos ateliês Zoom e Esquadra), poderiam estar num terreno

de meio de quadra.

Interface entre interior e exterior

. Ateliê Esquadra: Em relação aos limites dos edifícios, onde acontece a interface entre

o interior e o exterior, verificou-se, em maior quantidade na proposta das tipologias


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de apartamentos do ateliê Esquadra, uma incoerência no uso estipulado para a

principal esquina – torre D – entre Avenida Sobradinho e Avenida Estocolmo, onde é

composta por dormitórios do 1º ao 7º andar.

Tipo e forma dos edifícios - Relação com o solo – pisos térreos: (100 + 100 + 75) =

91,7%
- Interação do edifício com a rua 100%
- Diversidade e densidade no piso térreo 100%
- Blocos de perímetro (embasamento ininterrupto) 75%

Blocos de perímetro (embasamento ininterrupto)

. Ateliês Esquadra e Zoom: Os pisos térreos não são tratados como um embasamento

de fato - o qual deveria ser composto pelos dois primeiros andares, ao menos nas

zonas mais centrais. Ainda, entre o embasamento e o corpo do edifício poderia ter

um pavimento de uso coletivo (terraço) com o proposito de evitar lajes que aparecem

no projeto do ateliê Esquadra, por exemplo – entre blocos e torre – que,

aparentemente, não beneficiam nenhum apartamento

ESPAÇO ENTRE EDIFÍCIOS (90 + 96,7 + 88) = 92%

Espaço entre edifícios – Implantação das edificações (95 +95 + 95 + 75) =90%

- Reciprocidade entre os espaços públicos e privados 95%


- Relação entre edifícios e espaços abertos 95%
- Proporção entre altura dos edifícios e largura dos espaços abertos 95%
- Sistema de organização da implantação 75%

Sistema de organização da implantação e sua relação com a estrutura

. Ateliê Zoom: Não há um sistema de modulação facilmente identificável que possa

decorrer por exemplo, do tamanho das unidades habitacionais, da modulação

estrutural, ou de outras recorrências, de forma que, tanto os edifícios quanto os

espaços abertos sejam partes indissociáveis de um todo.

. Ateliê Esquadra: Observa-se que a organização da implantação segue (em parte)

uma ordenação que é identificada através da fácil percepção da recorrência de

medidas (5m x 5m) e suas localizações, as quais formam um sistema compositivo que
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auxilia a orientar e definir (com mais rigor) desde as partes maiores até as partes

menores do projeto, em especial dos espaços abertos.

Espaço entre edifícios - Espaços de uso comum (100 + 100 + 90) = 96,7%

- Espaços abertos e estruturação social 100%


- Tamanho e caráter das áreas abertas 100%
- Programa dos pátios internos (variado) 95%

Espaço entre edifícios – Estacionamento (100 + 90 + 75) = 88%

- Garagens subterrâneas e estacionamentos de superfície 100%


- Relação entre estacionamentos, garagens subterrâneas, seus acessos e o tráfego de
automóveis gerado nas proximidades das áreas abertas de uso comum 90%
- Número de vagas para automóveis 75%

Número de vagas para automóveis

. Ateliês Esquadra e Zoom: Considerando que o novo bairro possui um bom

planejamento do sistema de transporte público e da rede cicloviária integrados ao

uso e ocupação do solo, é possível afirmar que as vagas para estacionamento

privativas poderiam ser, em parte, dispensadas.

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