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Doutoramento em Arquitetura
Teoria e Prática do Projeto – FAUL
Projeto de Arquitetura e Urbanismo – PROPAR - UFRGS
Orientação:
Doutor Hugo José Abranches Teixeira Lopes Farias. FAUL
Doutor Edson da Cunha Mahfuz. PROPAR-UFRGS
Doutor Fernando José Carneiro Moreira da Silva. FAUL
2022
DA CIDADE À CASA: Princípios e Elementos de projeto para a promoção da
qualidade urbanística e arquitetônica do espaço em áreas residenciais
Doutoramento em Arquitetura
Teoria e Prática do Projeto – FAUL
Projeto de Arquitetura e Urbanismo – PROPAR - UFRGS
Júri:
Presidente:
Doutor João Pedro Teixeira de Abreu Costa, Professor Associado com Agregação da
Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa
Vogais:
Doutora Cláudia Piantá Costa Cabral, Professora Titular da Faculdade de Arquitetura da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Doutora Cristiane Rose de Siqueira Duarte, Professora Titular da Faculdade de Arquitetura
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Doutor Edson da Cunha Mahfuz, Professor Titular da Faculdade de Arquitetura da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – orientador
Doutor João Gabriel Viana de Sousa Morais, Professor Catedrático da Faculdade de
Arquitetura da Universidade de Lisboa
Doutor Hugo José Abranches Teixeira Lopes Farias, Professor Associado com Agregação
da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa – orientador
Doutor Luiz Carlos Schneider, Professor Ajdunto do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de Santa Cruz do Sul.
À minha Mãe, ao meu marido e aos meus Filhos, Bruno, André e Lucas
IV
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
Building cities, not just units, favoring collective over individual, means all elements that
create the urban environment - from the city scale to the house scale – must be integrated as
an indivisible whole. It is thereby established, as a goal, the achievement of project integrity,
comprehended as a key attribute in the promoting of urban and architectural quality of a
constructed area. In this regard, this doctoral thesis aims to identify essential principles and
design elements that promote spatial quality in residential areas. Starting with the reading
and analysis of ideas and instructions from reference authors, it’s sought through residential
architecture – neighborhoods and housing complexes – to contribute to the conception and
construction of cities, neighborhoods and integrated communities based on sustainability
principles. In this approach, the acknowledgement of design elements and principles is held
in the first part of this thesis, covering four planning scales: starting from the scale of the city,
comprising aspects related to location and connections; then to the neighborhood scale,
approaching topics about subdivision of sectors (zoning districts), city block grids, following
the block scale, in which the type, configuration and location of the blocks and their uses are
introduced; finally, the building scale, focusing on the interrelation between public, collective
and private areas. In the second part of the thesis, with the goal of validating the relation
between principles and essential elements of the design, the reading and thorough review of
a case study takes place: The project Novo Urbitá neighborhood, in Brasilia - DF, an ongoing
initiative. The project stands out for presenting progressive objectives, as it aims beyond real
estate interests, to rethink urban model and to break paradigms. It is a challenge in the
construction of sustainable neighborhoods/communities in Brazil as it presents inseparability
between architecture and urbanism, for being focused on collective, on the relations of
neighborhood and developing of appropriate environments to human scale. In light of that,
the study analyzes and assesses the new neighborhood, putting forth a final synthesis,
highlighting both the least and most positive aspects identified for each indicator and design
elements. Based on this analysis and evaluation a set of essential recommendations is
presented which, going through the scales of dwelling – from the city scale to the house scale
– are efficient to promote urban and architectural quality of a project for new residential
districts. Such contribution has a generic nature, constituting itself as a set “strong rules”, i.
e., a skeleton or structure upon which an infinite variety of design iteration – urbanistic and
architectural – can occur.
Keywords: Scales of dwelling; Principles and design elements; Urbanistic and architectural
quality; Residential Districts.
VII
ÍNDICE GERAL
Resumo I palavras-chave................................................................................................... V
Abstract I Keywords.......................................................................................................... VI
Introdução....................................................................................................................... 020
Justificativa............................................................................................................ 023
Problematização.................................................................................................. 027
Objetivos............................................................................................................. 031
Hipótese............................................................................................................... 032
Metodologia......................................................................................................... 032
Parte I
I.3 Quarteirão: relação do conjunto com a rua e com a cidade .......................... 122
Estacionamento............................................................................ 219
Parte II
Estacionamento........................................................................... 384
Referências...................................................................................................................... 434
Bibliografia.................................................................................................................... 463
LISTA DE QUADROS
QUADRO 14 Tipo, modelos e localização dos quarteirões – estudo para Bairro fazenda
Paranoazinho – Brasília.................................................................................... 127
QUADRO 19 Nós de recepção. Famílias de entrada. Átrio (ponto focal) e relação entre
espaço público e semipúblico. Núcleos de circulação vertical visíveis desde
o primeiro acesso ao edifício (Torre de apartamentos LSD, Conjunto Infante
Santo – Lisboa, Portugal, 1952-55 e Bloco das Águas Livres – Lisboa,
Portugal, 1953-56). Acesso por elevador localizado na fachada do edifício
(Edifícios do bairro Trinitat – Barcelona, Espanha, 1994).................................. 162
QUADRO 21 Contato entre edifícios e a rua (até cinco andares). Espaços de circulação –
espaços de estar e terraços de uso comum (Kassel – Alemanha, 1979-82).
Rua-galeria. Caminho vertical – “rua externa” (Spangen Quarter, Rotterdam,
Holanda, 1921 e Cité Napoléon – Paris, França, 1849)..................................... 169
QUADRO 30 Razão entre a altura do edifício e a largura da rua / espaço aberto. Bisseção
do ângulo de visão em duas partes sensivelmente iguais. Estratégias de
visibilidade entre espaços externos e edifícios. Cones na camada
fotorreceptora dos olhos. Aqui e Além. Praça Stroget Copenhague – espaço
angular. Praça del Campo, em Siena – dimensões na escala humana.............. 211
XIV
QUADRO 35 Relação e conexões da Área de Estudo com o Plano Piloto – Brasília (acima).
Área de Estudo com marcação do sistema viário estruturante proposto para
o novo bairro (abaixo)...................................................................................... 246
QUADRO 47 Localização dos quarteirões especiais para usos especiais (ateliê Gehl
Architects). Agrupamento de equipamentos institucionais (ateliê SOM).
Masterplan atual e demarcação da Centralidade, zona parque e dos
equipamentos públicos comunitários para a Etapa 1 – Urbanizadora
Paranoazinho (UP)............................................................................................ 312
QUADRO 49 Localização do Parque Oeste. Proposta para o Parque Oeste conforme ateliê
Benedito Abbud – SP e DPZ – EUA.................................................................. 319
QUADRO 51 Proposta para a praça Paranoazinho conforme ateliê DPZ – EUA e Benedito
Abbud – SP...................................................................................................... 323
QUADRO 54 Graus de acesso – proposta ateliê Esquadra – piso térreo (primeira planta);
e proposta ateliê Zoom – piso térreo (segunda planta). Detalhe – nós de
recepção: ateliê Esquadra e Zoom................................................................... 341
QUADRO 55 Tipologias adotadas pelo ateliê Zoom. Planta tipo ateliê Zoom e relação
entre as circulações verticais e os espaços públicos e/ou semipúblicos.
Primeira proposta para o bloco S2: circulação vertical autonomizada do
XVI
QUADRO 56 Tipo e organização dos edifícios: Ateliê Esquadra – DF, Ideia 1 – POA e
Zoom – SP (de baixo para cima)....................................................................... 350
QUADRO 57 Relação entre tipologia dos edifícios e caráter da rua interna – simulação de
espelhamento: ateliê Esquadra – DF (esquerda) e Ideia 1 – POA (direita) –
plantas, cortes e perspectivas. Galeria externa aberta – bloco H, ateliê Ideia
1 – POA............................................................................................................ 351
QUADRO 59 Relação plantas fachada: piso térreo com entradas ao nível da rua; corpo
dos edifícios independentes e associados ao sistema de circulação e
cobertura habitada – proposta ateliê Esquadra- DF......................................... 361
QUADRO 60 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade.
Proposta ateliê Zoom – SP............................................................................... 365
QUADRO 61 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade.
Simulação de um cruzamento conformado por quatro edifícios com o térreo
recuado nas esquinas. Proposta ateliê Esquadra – DF..................................... 366
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS
Introdução
Rue Saint-Honore, Paris (1898)
Camille Pissarro
20
INTRODUÇÃO
Tema de investigação
De acordo com Rossi (2001 [1960], p. 96), a residência é, e sempre foi, um fato urbano
residenciais bem conformadas1, é possível construir cidades, desde que haja uma estreita
relação de intercâmbio com os demais elementos primários que compõem a sua estrutura
hospitais) e espaços públicos abertos (parques, praças, jardins de vizinhança, área de lazer e
desporto), além dos equipamentos comerciais e serviços locais – estes menos fixos e de
com a vocação de cada lugar. No presente estudo as circulações são denominadas como
elo entre as pessoas e a cidades, através do vínculo direto com a estrutura urbana.
Esse vínculo com a estrutura urbana é aqui enfatizado através do encadeamento entre
atual. Este encadeamento depende de uma sucessão de quadros do habitar, que constituem
1
Bem conformadas, isto é, bairros / cidades formadas por um conjunto de elementos determinados
que funcionam como núcleo de agregação: as residências, as atividades fixas e a circulação, que são
chamadas por Rossi (2001 [1960], p. 124) de elementos primários, visto que participam da evolução
da cidade no tempo de modo permanente, identificando-se frequentemente com os fatos constituintes
da cidade.
21
uma sequência de cenários de vida: sendo a cidade o primeiro cenário, depois o bairro, a
cenários em que cada um deve conseguir constituir um fundo positivo e ativo onde outro
afirmação bastante conhecida de Aldo van Eyck (1962)3 apud Herzberger (2015 [1991], p.
193): “Faça de cada coisa um lugar, faça de cada casa e de cada cidade uma porção de
lugares, pois uma casa é uma cidade em miniatura e uma cidade é uma casa enorme”.
genius loci, ou seja, compreender a vocação do lugar a partir das suas dimensões físicas e
ou privado, gera lugares mais humanos em conexão com a natureza e que adquirem
significado e sentido.
No que se refere a lugares mais humanos é pertinente referenciar Alvar Aalto (1950)5,
campo psicofisiológico, e destaca: “[...] a arquitetura, não é uma ciência. É ainda, o mesmo
2
Raquel Barros, “Habitação Coletiva: a inclusão de conceitos humanizadores no processo de projeto”.
Tese de Doutorado, São Paulo, 2008, p.85. Para a autora, os espaços positivos e ativos significam a
configuração de espaços adversos à setorização excessiva de usos, à segregação social e à dificuldade
de locomoção. Referem-se à percepção de um sentido de lugar em sintonia com o entorno, a partir
da conformação e articulação dos espaços externos, das funções psicológicas de orientação e
identificação.
3
Expressões semelhantes relativas às “cidades como as casas” aparecem também por meio de outros
autores, como: Alberti “a cidade é [...] uma casa em ponto grande”; Vilanova Artigas “A cidade é uma
casa. A casa é uma cidade”.
4
SCHULZ, Norberg, Espaço, Existência e Arquitetura (1975) e em Genius Loci, Towards a
Phenomenology of Architecture (1976).
5
Texto publicado em 1950 na Revista Arquitectura, Lisboa.
22
integração entre a casa e a cidade, numa ação recíproca entre os conceitos de público e de
privado (em especial de seus limiares), pode ser entendida como “casas que atingem um
São aquelas que, para além de ser um bom abrigo, acolhem e estimulam o mundo
pessoal e o mundo familiar de cada um; mais ainda, casas que abrigam e estimulam, com
toda a naturalidade, o mundo vicinal e o mundo cívico, que também em nós habitam, das
formas mais diversas; e aqui recordamos que a cidade é uma casa grande e que a casa que
Este conceito, das “casas que atingem um significado social”, é equiparado aos
desenvolvimento sustentável – Agenda 2030. São 17 objetivos com metas específicas a serem
sustentáveis.
Nesse âmbito, das cidades e comunidades sustentáveis, a meta – até 2030 – é tornar
importância da “boa densidade” e das cidades compactas, uma vez que, quanto mais se
6
UN-HABITAT: Programa de Assentamentos Humanos das Nações Unidas. É determinado pela
Assembleia Geral da ONU para promover cidades socialmente e ambientalmente sustentáveis com o
objetivo de fornecer abrigo adequado para todos.
23
comerciais e comunitárias locais, onde o objetivo seja sempre criar lugares, e que a escala
para o desenvolvimento das potencialidades de cada uma das escalas (da maior para a menor
– desde a rua aos espaços comuns dos edifícios e aos espaços domésticos) viabilizando o
Justificativa
Segundo Frampton (in Nesbitt et al., 2013 p. 22), no texto “Objeções ao Movimento
significado.
significado vem merecendo destaque cada vez maior nos estudos sobre a cidade, numa
7
Livros e artigos emblemáticos que tratam da crise pós-moderna – críticas ao modernismo e novas
propostas e categorias de analise e atuação sobre a forma urbana: Arquitetura da cidade – Aldo Rossi
(1966); Complexidade e contradições em arquitetura – Robert Venturi (1966); The Death and Life of
Great American Cities – Jane Jacobs (1961); A Imagem da Cidade – Kevin Lynch (1960); Intentions in
architecture – Cristhian Norberg-Schulz (1962); Notes on the Synthesis of form – Christopher Alexander
(1964) e Pattern Language (1977); Collage City – Colin Rowe e Fred Koetter (1978); Paisagem Urbana
– Gordon Cullen (1971); História crítica da arquitetura moderna – Kenneth Frampton (1980)
8
Críticas oriundas da adoção do receituário urbanístico da Carta de Atenas, principalmente pela
separação das atividades urbanas, pela combinação de baixa densidade com verticalização, pelas
errôneas intervenções em centros históricos, pelos problemas de conforto ambientais apresentados
por edifícios que eram modernos apenas na aparência, mas não na sua concepção.
24
espaço na Europa e Estados Unidos a partir dos anos 1950, com uma série de propostas
contradições em arquitetura (1966). Neste livro, Venturi expõe sobre o rompimento, por parte
Nesbitt et al., 2013, p. 324)9, as teorias modernas do urbanismo e suas aplicações tenderam
a desvalorizar a cidade tradicional uma vez que, por um lado, é respeitada e admirada a graça
através da obsolescência econômica que passa por cima de todos os demais critérios – se
em massa criam um fosso entre o novo e o que existe, impedindo um e outro de proporcionar
lucro do que com a necessidade. Consequência disso são as estruturas urbanas que não se
relacionam nem com o ser humano nem com a vizinhança, cuja vida elas interrompem.
9
[Contextualism: Urban Ideals and Deformations, publicado em Casabella n. 359-60, 1971, pp. 79-86].
Schumacher fez parte do grupo de investigadores de Colin Rowe sobre os problemas da construção
no contexto da cidade.
25
“qualidade do habitar”. Nada mais falso: são construções com muros e cercas que se isolam,
ao invés de se abrir para a cidade; produzem uma malha urbana segmentada e pouco fluida,
onde os moradores são remetidos a um exilio forçado em sua própria cidade, dependendo
Este modelo de crescimento urbano no Brasil – chamado pela WRI Brasil10 de modelo
grande monta de produção habitacional no país (entre os anos 1950 e os 1980) deu-se sob
Conforme Rubano apud Vigliecca, 2014, 07) “[...] foi reduzido ao mínimo necessário,
não das teses da modernidade, mas da lógica do capital e do setor da construção civil – com
o apoio do estado”. Com a expressão “foi reduzido ao mínimo necessário”, a autora refere
que, mesmo quando o tema do habitar ganhou proporções reconhecidas, com a inclusão de
tipologias de edifícios coletivos, foi traduzido a partir das lógicas dos núcleos habitacionais
isolados (com casas unifamiliares no lote), segmentados, negando, aos seus moradores, o
direito à cidade.
de integridade11 entre o que é a CASA e sua relação com a CIDADE. Esta carência, de acordo
10
WRI Brasil, Guia: Guia para inclusão do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável
(DOTS) no planejamento urbano – WRI-Brasil (2018).
11
Integridade aqui entendida como tendo relação com ser íntegro, inteiro ou completo e que além
disso, deve ser sincero e verdadeiro, percebendo que a “boa arquitetura” e o “bom urbanismo”
podem intensificar o bem-estar de uma sociedade. Segundo Wright (1954), p. 28 apud Tagliari (2011,
p. 57), todos os elementos que formam os ambientes devem ser considerados parte integrantes de
um todo único e indivisível.
26
com Mies van der Rohe (1923) 12 invalida a “arte de construir”, entendida como a forma de
construir, que ultrapassa a mera construção pois é aquele construir que guarda em si o
sobre a função da arquitetura e reconhece que arquitetura é a arte de nos reconciliar com o
De acordo com Pallasmaa, esta declaração enfática de Wright é ainda mais urgente
nos dias de hoje do que quando foi escrita, há mais de 60 anos. Esta visão exige um
entendimento total da condição humana: uma arquitetura que permite cumprir a finalidade
e amados pelos seus habitantes, isto é, lugares com significado, sentido e identidade, através
para com as pessoas, objetivando-se identificar quais são princípios e elementos de projeto
12
Texto publicado em Berlim, por Mies van der Rohe, 1923: “o ato de construir”, aqui fazendo
referência à Baukunst (“a arte de construir”), no sentido germânico, profundo, original, expressivo e
cultural, que deve ser entendido como a forma de construir que ultrapassa a “mera construção”, pois
é aquele construir que guarda em si o sentido profundo da cultura (da arte) de um povo”. (RAMOS,
2013).
13
Livro: Os olhos da pele: arquitetura dos sentidos – Parte II – A função da arquitetura.
14
Declaração de Frank Lloyd Wright sobre a missão da arquitetura há 60 anos.
27
Problematização
[...] somos cada vez mais citadinos, cada vez mais somos e seremos
habitantes de cidades; tudo bem, ou tudo menos bem, quando neste último
caso vivemos mal, portanto, com má qualidade na cidade, em más condições
habitacionais específicas e virando as costas ao que pode ser e é a qualidade
do viver citadino. (COELHO, 2007, p. 359).
são ilustrados desafios urbanos que dizem respeito, não somente aos aspetos demográficos,
urbano que, em muitos casos, inclusive na atualidade, ainda não se afastaram do conforto
ilusório das vontades, das superstições conhecidas, do simplismo e dos símbolos. Por
conforto ilusório das vontades, das superstições conhecidas, do simplismo e dos símbolos,
os problemas da cidade com simplicidade elementar tanto na sua análise, como no seu
15
Pseudociência: Expressão utilizada por Jane Jacobs (2011 [1961]) quando expõe sobre teorias da
cidade pouco complexas e que não tratam da difícil atividade de reunir, usar e comprovar descrições
verdadeiras da realidade. Em oposição a isso, a autora propõe a decifrar o que ocorre no
comportamento, aparentemente misterioso e indomável das cidades, por meio da observação das
cenas e dos acontecimentos mais comuns e, através disso, tentar entender o que significam e ver se
surgem explicações entre eles.
28
Tais fatores, sobretudo em cidades em desenvolvimento, ainda nos dias atuais têm
ofuscado16 o ofício dos urbanistas que, em grande parte, ainda não se lançaram na aventura
cidades (da natureza peculiar das cidades) – desde o uso dos bairros, dos parques de
situações que geram lugares inclusivos, seguros, saudáveis, resilientes, vivos e diversificados
e, para este último item, entender quais as condições que criam combinações de usos
economicamente eficazes.
sensibilidade dos arquitetos e urbanistas para com as matérias do campo humano, no âmbito
material e afetivo. Por vezes, parecem estar mais atentos e preocupados com o resultado
E, nessa matéria, pode-se dizer, ainda, embora não seja o ponto central do presente
trabalho, sobre a contradição existente na forma como a maioria das pessoas se dispõe a
enfrentar seu cotidiano, vivendo em qualquer “gaveta” habitacional17, sem qualquer sentido
único, não é tão oneroso como o valor que se paga pela arquitetura de baixa qualidade;
apenas exige maior dedicação do profissional arquiteto, pois precisará alargar seu
conhecimento, exigindo-se mais horas de trabalho para uma melhor realização de projetos
construção de cidades, como Jacobs (2011 [1961]); Lefevbre (2012 [1968]); Duany et al.
(2000); Speck (2012); Gehl (2013); Coelho (2007) e Karssenberg (2015), os estudos da
16
Ofuscado em dois sentidos: no sentido da falta de entendimento, por parte dos projetistas, das
necessidades da cidade real; e no sentido do capitalismo, das pressões económicas, interesses
políticos e distribuição desigual da riqueza.
17
A noção de “gaveta” habitacional integra o título de um artigo de Isabel Guerra, “As pessoas não
são Coisas que se ponham em Gavetas”. (Revista Sociedade e Território nº 20, 1994).
29
e suas relações com a sociedade civil, na percepção da saúde (vida ou morte) das cidades,
são tópicos que, há décadas, vêm sendo tratados de forma superficial, principalmente nos
dignas.
Frampton (in Nesbitt et al., 2013, p. 476), no texto “Uma leitura de Heidegger”, chama
todo apelo ao artesanato; a terceira é a busca de uma prática autônoma, que se opõe à
efetiva, persistente e implacável destruição dos recursos naturais pela tecnologia, reduzindo
O referido autor afirma que, atualmente, os arquitetos parecem ser incapazes de criar
lugares, “[...] uma incapacidade que prevalece em nossas escolas de arquitetura e nos
monumentos de elite, assim como na ‘motopia’19 em geral. Hoje, o lugar parece inimigo do
paradigma mental que recebemos, não só como arquitetos, mas também como uma
A problemática urbana e do habitar até aqui descrita foca-se mais na atuação dos
sociais, coletivas, que envolvem grande número de agentes, e têm como um de seus pontos
18
Lembrando que se entende o habitar como uma dimensão múltipla do concatenamento entre
espaços privados, coletivos e públicos.
19
Termo utilizado por Frampton (in Nesbitt et al., 2013, p. 474), que tem origem na palavra motopic,
que vem de ‘motopia’, isto é, projetos urbanísticos e arquitetônicos voltados a construir uma cidade
baseada no predomínio do automóvel particular.
30
No Brasil, o Plano Diretor (sob a luz do Estatuto das Cidades) é o principal instrumento
cuidadosa, para o bem das gerações futuras e, da forma como vem sendo a expansão urbana
periferias pobres, mas também nos novos bairros para as classes médias e altas – o pseudo
direito à cidade20.
Necessita-se, portanto, aprimorar a cultura do urbanismo ou, até mesmo – para alguns
segmentos –, uma mudança de paradigma que retifique o modelo de produzir cidades que,
uma “nova cultura do urbanismo”, a exemplo do trabalho de Carlos Nelson Ferreira dos
Neste livro, o autor versa sobre um estudo para o bairro Catumbi no Rio de Janeiro,
sob a ótica de que “[...] tudo deve ser pensado na escala conveniente, a do bairro, a da rua,
carência da integridade dos projetos – da escala da cidade à escala da casa, sob a ótica da
20
O errôneo direito à cidade, isto é, quando são construídos conjuntos residenciais isolados,
monofuncionais, distantes dos equipamentos e do trabalho, desprovidos de transporte público
coletivo gerando excessivas dependências do automóvel particular.
21
O crescimento inadequado das cidades brasileiras pode verificar-se, por exemplo, na implantação
de moradias localizadas em bairros distantes da área central e da oferta de empregos. No dia-a-dia da
cidade, o fluxo casa – trabalho – casa obrigou a construção de avenidas expressas, viadutos, ou seja,
toda uma infraestrutura que facilitasse o transporte com a rapidez demandada pelas tarefas diárias.
(Elisabete França, “Habitação social na área central da cidade de São Paulo”. AU no282, 2017:56-59).
31
Questões de Investigação
de investigação:
estabelecidos:
• Quais são os elementos e critérios de projeto vitalizadores do bairro / da cidade? O que são
lugares vivos?
Objetivos
residenciais.
Para contribuir para a efetivação do objetivo principal desta pesquisa e para dar
mais sustentáveis.
• Perceber princípios de projeto que contribuem para a integridade dos projetos, através da
Hipótese
Também sugere que a integridade dos projetos, entendida como tendo relação com
ser íntegro, inteiro ou completo – da escala da cidade à escala da casa – pode contribuir
residenciais.
Metodologia
Este trabalho de Revisão da Literatura foi realizado sobre o tema e objetivo geral da
Revisão de Literatura
realizou-se uma revisão de literatura – uma pesquisa da base teórica bibliográfica – a fim de
construir uma síntese das ideias dos autores considerados essenciais na fundamentação
clássicas até obras mais contemporâneas, conforme uma breve descrição (por ordem
qualidade urbanística e arquitetônica, são os mais citados na tese (ver Tabela 01: Base teórica
e sua relação com as escalas, princípios, indicadores e elementos de projeto), sendo eles:
• Alexander (2013 [1977]) – Uma linguagem de Padrões: Utilizou-se esta obra como referência
• Duany et al. (2000) – Suburban nation: the rise of sprawl and the decline of the American
dream: Utilizou-se esta obra como referência para a construção de parâmetros de qualidade
urbanística e arquitetônica do projeto, com mais ênfase nas escalas da cidade, bairro e
quarteirão, e com menor grau na escala do edifício. É uma das obras com maior relevância e
sucesso do grupo DPZ (Andrés Duany, Elizabeth Plater-Zyberk e Jeff Speck). Traz na sua
essência uma análise inovadora dos efeitos ecológicos prejudiciais e dos custos sociais dos
percorrida a pé), para serem utilizados pelos projetistas em suas práticas de desenvolvimento
• Gehl (2006) – La humanización del espacio urbano: la vida social entre los edifícios: Utilizou-
del espacio urbano: la vida social entre los edifícios auxiliou nos estudos e reflexões sobre a
altos; sobre o que torna uma rua atraente para caminhar; sobre como devem ser os espaços
públicos numa cidade saudável e que a cidade deve ter características que promovam o
contato uns com os outros. A obra explora as necessidades que nós, humanos, temos, além
da sobrevivência e propõe uma maneira melhor de viver, uma maneira de viver mais feliz.
Este livro é uma mensagem para os arquitetos e lembra que seu propósito não é ganhar
prêmios, mas aprimorar o ser humano. Na cidade bem projetada, a estrela é o cidadão
• Gehl (2013) – Cidade para pessoas: Utilizou-se esta obra como referência para a construção
até a escala do edifício. Este livro contribuiu na compreensão de como usamos os espaços
públicos, oferece um rol de ferramentas para melhorar o desenho dos espaços públicos e,
em consequência, a qualidade de vida nas cidades. Traz o tema da cidade compacta como
contexto, Gehl apresenta relações entre os espaços públicos e a sociedade civil e de como
os dois estão inextrincavelmente entrelaçados. Foca naquilo que a cidade tem de mais
importante: sua dimensão humana, as oportunidades de encontro que ocorrem nos espaços
de vivência das relações cotidianas, e como esses territórios precisam ser estruturados para
• Carmona (2010 [2003]) – Public Places - Urban Spaces: the dimensions of urban design:
urbanística e arquitetônica do projeto, com mais ênfase nas escalas do bairro e do quarteirão,
e com menor grau na escala da cidade e do edifício. Esta obra enriqueceu os estudos dos
princípios da teoria prática do desenho urbano como uma parte importante dos processos
no que se refere à sustentabilidade, vista como fator impulsionador nos projetos de novos
bairros. Fornece uma exposição das diferentes, mas intimamente relacionadas dimensões do
cerne desta obra é a preocupação em criar lugares para as pessoas, considerando o desenho
urbano uma atividade ética: primeiro, em um sentido axiológico (porque está intimamente
caracterização dos níveis físicos residenciais: Utilizou-se esta obra como referência para a
ênfase nas escalas da cidade, do bairro e do quarteirão, e com menor grau na escala do
edifício. Este livro contribui para a compreensão da associação dos quadros do habitar, desde
a escala da cidade até a escala do edifício. Serviu como catalizador de ideias e considerações
sobre o grande conjunto dos espaços do habitat humano ao longo de uma espiral contínua
dos níveis físicos residenciais. Nesse enquadramento, a obra percorre grandes temas
• Hertzberger (2015) – Lições de arquitetura: Utilizou-se esta obra como referência para a
ênfase nas escalas do quarteirão e do edifício, e com menor grau na escala do bairro e da
cidade. Este livro apresenta exemplos e influências de arquitetura que expressam o conceito
Transmite lições sobre o fazer arquitetônico na atualidade e contribuiu para os estudos dos
• Karssenberg (2015) – A cidade ao nível dos olhos: lições para os Plinths: Utilizou-se esta
arquitetônica do projeto, com mais ênfase nas escalas do quarteirão e do edifício, e com
menor grau na escala do bairro e da cidade. A cidade ao nível dos olhos: lições para os Plinths
espaços públicos e as fachadas dos edifícios no andar térreo (os plinths). Enfatiza o papel de
36
ruas e espaço publico como uma matriz que conecta, sobre a qual as cidades saudáveis e
• Speck (2016) – Cidade caminhável: Utilizou-se esta obra como referência para a construção
escalas da cidade, do bairro e do quarteirão, e com menor grau na escala do edifício. A obra
o elemento que melhor funciona nas melhores cidades, uma vez que contribui, além das
demonstrar que a vitalidade dos centros urbanos está diretamente ligada à assunção do
e interesse, e inclui recomendações sobre cidades boas para pedalar e para criar boas
• Monteys (2017) – La calle y la casa: Utilizou-se esta obra como referência para a construção
escalas do quarteirão e do edifício, e com menor grau na escala do bairro e da cidade. Xavier
Monteys, nesta obra, se propõe a refletir sobre nossos modos de habitar o espaço, dando-
nos uma visão multifacetada, rica e complexa da rua. Nesse contexto, contribuiu para os
• Birkbeck, D, Kruczkowski, S (2018) – Building for life: 12 the sign of a good place to live:
urbanística e arquitetônica do projeto, com mais ênfase nas escalas do bairro e do quarteirão,
e com menor grau na escala da cidade e do edifício. A publicação foca-se no valor do bom
desenho para viver e na qualidade de vida das cidades. É estruturado em três partes:
Integração com a vizinhança; Criação de lugares e Rua e a casa. Dessa forma, auxiliou
livres públicos) e seus raios de influência no tamanho ideal para os pedestres e na diversidade
Ainda a publicação Building for life: 12 the sign of a good place to live serviu como
Center for Applied Transect Studies (CATS); WRI - Brasil; City of Boston – Boston Complete
Streets, design guidelines; City of the London – Pedestrian Comfort Guidance for London –
Offcials (NACTO); Congress for the New Urbanism (CNU); Project for Públic Spaces (PPS);
Form-Based Codes Institute (FBCI); Cabe no Design Council, Home Builders Federation e
Design for Homes e Nottingham Trent University – Building for life 12: the sign of a good
place to live.
conjunto com uma sequência de orientações de projeto – sob a ótica dos autores –,
Contextualização Teórica
traçado urbano mais contínuo e compacto, com centralidade, com multiplicidade de usos,
38
Esta “nova” cartografia – que é oriunda de mudanças dos hábitos urbanos – deve
oferecer diferentes modos de vida. Seja para quem deseja viver no centro mais denso, onde
os serviços ganham com economia de escala, seja para quem prefere morar mais longe da
área central, em áreas menos densas e com um caráter mais residencial, desde que estejam
Nesse âmbito, das alterações dos hábitos urbanos, é possível afirmar que sempre há
uso da internet na transição para o século XXI, que prometia a possibilidade de trabalhar em
apenas de um laptop.
que o fator mais relevante para o desenvolvimento de criatividade era a proximidade com
outros criativos, levando a uma ainda maior concentração das populações em cidades
compactas.
Esta “nova” cartografia é entendida como uma nova forma de olhar, identificar,
compreender e intervir no novo, ou sobre o que já é ou foi construído, voltando a dar atenção
às características próprias de cada rua, de cada quarteirão, de cada espaço aberto, de cada
esquina ou de cada edifício, com objetivos mais destinados à produção do bem comum do
Este modelo de cidade / bairro sustentável que se busca hoje, é recorrente na história
das cidades, desde o século XIX. Nesse aspecto, sem a pretensão de esgotar o assunto,
reinterpretado na atualidade, reconhecendo que muitos dos seus princípios possuem valores
22
O modelo para as cidades-jardins é sintetizado por Ebenezer Howard, no livro: Cidades-jardins de
amanhã (1898).
39
Como exemplo, pode citar-se a temática do Transect23 – teoria que estuda o controle
das transições entre diferentes zonas urbano-rurais, sob um prisma da proteção ambiental e
Elizabeth Plater-Zyberk e seus colegas do Novo Urbanismo no final do século XX, tendo como
imperativo ecológico.
como um todo24.
23
O Transect, surge da reinterpretação dos princípios da Cidade Jardim de Howard (Duany et al, 2014),
é uma ferramenta na análise da expansão urbana proposta pelo Centro de Estudos Transectos
Aplicados (CATS) que tem como missão promover a descoberta dos diferentes habitats humanos de
uma região e compreender o ambiente construído como parte do ambiente natural. Ver mais sobre
Transect no item I. 2.1 – T-zones e Smart Code.
24
Iára Regina Castelo, no livro: Bairros, Loteamentos e Condomínios: Elementos para o projeto de
Novos Territórios Habitacionais (2010, p. 48)
25
CIAM – Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna: CIAM I (1928), na Suíça – Fundação;
CIAM II (1929), na Alemanha – Focado no trabalho de habitação de Ernest May e a casa mínima
(existenzminimum); CIAM III (1930), na Bélgica – Sobre o desenvolvimento racional do espaço; CIAM
IV (1933), em Atenas– Publicação da Carta de Atenas; CIAM V (1937), na França – Sobre habitação e
reconstrução; CIAM VI (1947), na Inglaterra – A reconstrução das cidades devastadas pela II Guerra
Mundial; CIAM VII (1949), na Itália – A arquitetura como arte; CIAM VIII (1951), na Inglaterra – Sobre o
coração da cidade; CIAM IX (1953), na França – Publicação da Carta da habitação; CIAM X (1956), na
Iugoslávia – Sobre o Habitat.
40
eram demonstradas preocupações com a questão da identidade dos espaços da cidade, nos
Nesse cenário internacional, vale lembrar que o VIII CIAM, de 1951, realizado em
Hoddesdon, Inglaterra, teve como tema “O coração da cidade: por uma vida mais humana
manifesta-se uma preocupação central com a questão da identidade dos espaços da cidade.
A relação entre a forma física e as necessidades de ordem social e psicológica tornou-se tema
O grupo responsável pela sua organização, conhecido como Team X26, opunha-se aos
Nesse contexto, o Team X foi buscar no resgate das categorias da cidade tradicional, um
maior sentido de comunidade e identidade, uma construção de relações mais imediatas entre
Aldo Van Eyck, ao referir-se ao resgate da cidade tradicional, propõe ampliar as fontes
retorno à origem como fonte de legitimação da arquitetura. Van Eyck se expressa assim:
26
Também conhecido como Team Ten ou Team 10 – Grupo de arquitetos, de formações distintas,
encarregados de preparar o X CIAM. Cinco arquitetos mais fixados no grupo eram: Jabob. B. Bakema,
Georges Candilis, Aldo van Eyck e Alison & Peter Smithson
27
Fenomenologia pode ser entendida como um método, uma reflexão sobre a aproximação do ser
humano com o seu ambiente. Segundo Heidegger, habitar é definido como um permanecer (ou estar)
com as coisas. Cristhian Norberg Schulz interpreta o conceito de habitar como estar em paz num lugar
protegido e defende a arquitetura como um potencial de fazer um mundo visível concretizando o
espaço existencial (NESBITT et al., 2013, p. 31).
28
Sandra Mara Ortegosa – Versão revisada do segundo capítulo da tese de doutorado: O Lugar do
Centro nas Metrópoles Contemporâneas: O Caso de São Paulo, PUC-SP, 2000.
41
homem sempre soube fazer sua morada neste mundo desde mil anos. (Van
Eyck apud MONTANER, 2001, p. 33).
busca de maiores densidades, à ocupação do solo urbano com atividades de uso misto e
O Novo Urbanismo emerge nos anos 1970, inspirado nos pensamentos e críticas às
da Carta de Atenas (1933), principalmente pela separação das atividades urbanas, pelo não
alinhamento das habitações ao longo das vias, pela combinação de baixa densidade com
conforto ambiental apresentados por edifícios que eram modernos apenas na aparência, mas
(CNU), realizado em Charlestown, Carolina do Sul, foi assinada a Carta do Novo Urbanismo30
a qual tem como ênfase o desenho neotradicional das unidades de vizinhança a fim de
Por este ângulo, Duany et al. (2000) no livro Suburban nation: the rise of sprawl and
the decline of the American dream descrevem uma listagem de qualidades que distinguem
29
O modelo da teoria da vizinhança é apresentado por Clarence Perry, no documento: Neighborhood
and community planning (1929), publicado como volume VII do Regional Plan of New York and its
Environs, Regional Survey.
30
Uma analogia à Carta de Atenas, que definiu novos princípios para a formulação de políticas e
práticas de planejamento e desenho urbano em regiões, comunidades residenciais, quarteirões, ruas
e edifícios. No entanto, é em relação à estrutura do espaço residencial que é realizada a maior parte
dos estudos, investigações, planos, projetos e esforços do grupo. O Novo Urbanismo reconhece que
somente através da implantação de comunidades residenciais adequadas, estrategicamente
localizadas e bem conectadas a distritos funcionais operantes, será possível a reversão da observada
tendência de desconstituição do urbano.
42
com as especificidades de cada sítio, tem muito a contribuir no que concerne à qualidade de
Estes princípios do TND, que confluem com os princípios do Novo Urbanismo31 ,são
associados à estrutura regional articulada com áreas urbanizadas centrais e com setores
por transportes públicos coletivos; favorecem a superposição de uso do solo como forma de
reduzir percursos e criar comunidades compactas; preveem espaços de domínio público para
possível dizer que foram experimentos e reflexões pioneiros que deixaram legados
expansão urbana as influências trazidas pela nova forma de ver a cidade e sua área
residencial. De acordo com Castello (2008, p. 62), no Brasil, e até no mais recôndito sul do
país, a nova ordem estava sendo acompanhada, e não tardou para que fosse posta em
prática, em projetos de categorias bem diversas, como por exemplo: Vila Assunção, Porto
Alegre (1937), por Ruy de Viveiros Leiria e a Vila do IAPI (Institutos de Aposentadorias e
Nesse cenário, sob a luz dos modelos das cidades tradicionais, atualmente há variados
conceitos, métodos, programas e boas práticas, em cidades europeias, nos Estados Unidos
Urbanismo DIY (Do It Yourself, em português: Faça Você Mesmo); Pop-Up Urbanism; Privately
31
Princípios do Novo Urbanismo: 1. caminhabilidade, 2. conectividade, 3. uso misto e diversidade, 4.
mix de habitação, 5. arquitetura de qualidade e design urbano, 6. estrutura tradicional de vizinhança,
a qual inclui as transições das áreas mais densas para as menos densas e seus elementos que se
reforçam mutuamente na construção de lugares, 7. aumento da densidade, 8. transporte inteligente,
9. sustentabilidade e 10. qualidade de vida. Fonte:
http://www.newurbanism.org/newurbanism/principles.html.
43
Owned Public Spaces (POPS); The Power of 10+; 15-minute city; Human Smart City, la Living
urbano – que preconiza ligar mais as cidades às pessoas nos projetos contemporâneos de
no Brasil: Bairro Pedra Branca, Palhoça – SC (2013) – a primeira iniciativa no Brasil; Granja
Marileusa, Uberlândia – MG (2014), Bairro Quartier e Bairro Parque Una, Pelotas – RS (2015);
Bairro Prado, Porto Alegre – RS (2017) e Parque Global – São Paulo – SP (2019).
urbanas: a cidade, o bairro, a vizinhança, o edifício e a casa. De acordo com Gehl (2013, p.
objeto de análise da presente tese. Esta busca, num primeiro momento, deu-se a partir da
que tenham sido construídos e publicados em, pelo menos, uma das duas principais revistas
Para as revistas AU, foram efetuadas consultas nas últimas três décadas (1986 – 2017)
– ver apêndice 01, e para a revista Projeto as recolhas focaram-se no período de 2005 – 2012,
a fim de formatar uma lista cronológica (linha do tempo) dos projetos de conjuntos de
44
entanto, não foi possível, nesse universo, englobar todos os critérios que interessavam para
nomeadamente:
Pinheirinho do Vale, Rio Grande do Sul, Brasil, artigo apresentado e publicado no PNUM
mencionados não atendiam aos critérios estabelecidos, foi escolhido, para o Estudo de Caso,
45
o projeto do Bairro Urbitá – Brasília – DF, pela riqueza de informações que oferece, o que
projetos – desde a concepção urbanística geral (o masterplan), até aos projetos menores (na
projeto: Escritório Skidmore, Owings and Merrill – SOM (2013); Ideia Urbanismo – São Paulo
-SP, arquiteto Jorde Wilheim – São Paulo – SP (2013); equipe de consultoria da PPS – Project
for Public Spaces (2013); o escritório Gehl Architects – Urban Quality Consultants (2014); o
escritório Duany Plater-Zyberk & Company – DPZ (2017); Ateliê Benedito Abbud – Arquitetura
2018): Ateliê Ideia 1, de Porto Alegre – RS; Ateliê Esquadra de Brasília – DF; Ateliê Rua, do
O projeto do Bairro Urbitá – Brasília – DF possui uma área de 658,70 hectares, estima-
32
A área privada total da antiga Fazenda Paranoazinho possui 1.600 ha, no entanto o projeto para o
novo bairro Urbitá contempla 658,70 ha.
46
urbano, e (a escala do quarteirão), verificando características das parcelas e sua relação com
o edificado; e, por fim, na microescala (escala do edifício), analisando itens relativos aos
acessos, aos tipos e forma dos edifícios e aos espaços entre os edifícios.
Este compósito está organizado numa grelha analítica (Tabela 06), formada por sete
indicadores e vinte e um critérios e elementos de projeto contidos nas quatro escalas: cidade,
grelha avaliativa (com a inserção de uma métrica – Tabela 07) a qual é apresentada ao final
compartilhada, à rede de espaços públicos aberta (praças e parques), aos estudos das
aos estudos das localizações das instalações comunitárias (equipamento de ensino, pontos
Na sequência, também através da UP, fez-se a recolha dos projetos arquitetônicos dos
edifícios, desde os estudos conceituais até os projetos mais completos, em nível de estudo
33
Visita à Urbanizadora Paranoazinho e à Área de Estudo, dias 12 e 13 de setembro de 2019.
47
perspectivas, tipologias das unidades de habitação, entre outros detalhes de acordo com
cada proposta.
decorrer do ano de 2020 e início de 2021, foram realizadas sete videoconferências34 com
04/12/2020 e 13/04/2021.
escala do edifício, foram realizadas quatro videoconferências com Filipe B. Mont Serrat –
pertinentes à análise e avaliação do novo bairro – Urbitá. As respostas, que se fundiram com
34
Videoconferências realizadas através de videochamadas utilizando a plataforma de Google Meet,
designado no decorrer da tese como: G-meet.
48
realizadas com o auxílio da ferramenta do redesenho, o que permitiu entrar em contato com
o objeto de análise, por meio da representação gráfica digital35. Tanto o processo (do
de forma sintetizada.
O redesenho aqui referido relaciona-se com o que Helio Piñón chama de (re)
das próprias obras referenciais36. A proposta de Piñón (2005), no livro El Proyecto como (re)
35
As ferramentas de gráfica digital mais utilizadas para a confecção dos desenhos foram a partir dos
softwares: CorelDraw, Photoshop, Autocad e SketchUp. Para a produção de figuras a partir de imagens
de satélite, as bases foram exportadas do Google Earth e tratadas em Photoshop; para os estudos de
áreas de implantação e quarteirões as bases foram extraídas do Autocad e trabalhadas em CorelDraw;
para as imagens de análise de insolação foram produzidas e extraídas do SketchUp e finalizadas em
Photoshop.
36
Vale lembrar que o método gráfico, na tentativa de estabelecer preceptivas, ocorreu há mais de
duzentos anos, a partir do Tratado de Jean-Nicolas-Louis Durand, Précis des leçons d’architecture
donnéss à l’École royale polytecchnique, publicado em 1802 em Paris. (TAGLIARRI, 2011).
49
contato direto com ela e que a melhor arquitetura em todos os tempos nunca saiu do nada,
sempre da própria arquitetura. Exemplifica, de modo análogo, que é preciso ter repertório,
como acontece em outras áreas criativas como a música, a pintura, a literatura, etc.
A métrica de avaliação anexada à grelha analítica teve como referência o Building for
live: 12 the sign of a good place to live (Bfl 12)38 – documento que consta também como
que os critérios e elementos de projeto foram bem resolvidos diante dos parâmetros
estabelecidos.
Para a tese, este sistema de semáforo é mostrado em forma de barras, nas quais o
projeto. Esses percentuais são estabelecidos com o auxílio de uma régua com intervalos de
0 – 25% (vermelho); 25 – 50% (laranja); 50 – 75% (amarelo) e 75 – 100% (verde). Ver tabela
Conforme o Bfl 12, o selo de qualidade dos projetos e/ou empreendimentos, que
37
Edson Mahfuz: Canal do You Tube onde apresenta vídeos com análises monográficas de obras
exemplares e aborda estratégias de projeto relevantes. Site: https://www.mahfuz.arq.br/links
38
Building for live: 12 the sign of a good place to live: uma ferramenta reconhecida na Inglaterra e em
todo Reino Unido. Serve para as autoridades avaliarem a qualidade dos empreendimentos
habitacionais propostos, bem como é utilizada para orientar as discussões e aumentar a qualidade dos
projetos a fim de acomodar comunidades novas e existentes.
50
como “verdes”.
Nesse enquadramento, cada indicador é medido por meio dos critérios e elementos
de projeto, na mesma sistemática (da obtenção dos 75% dos indicadores apontados como
elementos de projeto que precisam ser revisados (no caso dos “vermelhos” e “amarelos”) é
apresentada uma breve descrição (ver apêndice 03) embasada nos Parâmetros de qualidade
adequados para cada elemento de projeto, assim como para cada indicador e suas escalas,
menos positivos (com percentuais de 50 - 75%), identificados para cada um dos indicadores
e elementos de projeto nas quatro escalas (da cidade, do bairro, do quarteirão e do edifício).
como suporte as orientações provenientes da síntese das ideias dos autores estudados (Parte
residenciais.
39
Nesse contexto, dos instrumentos de planejamento em nível nacional, podem-se citar as Normas
Brasileiras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): NBR ISO 37.120:2021 –
Desenvolvimento sustentável de comunidades – Indicadores para serviços urbanos e qualidade de vida
e a NBR ISO 37.122:2020 – Cidades e comunidades sustentáveis – Indicadores para cidades
inteligentes.
51
Estrutura do documento
residenciais, construídos com base numa síntese das ideias e recomendações de autores
quatro tópicos que correspondem às escalas de leitura e análise determinadas para a tese: a
e critérios de projeto são organizados e apresentados nas Tabelas 01, 02, 03, 04, 05 e 0640 e
nas análises textuais, amplamente ilustradas por 263 imagens – acomodadas em 33 quadros.
Para cada um dos princípios é apresentada uma breve descrição sobre sua definição
elementos: habitação na área central, habitação ao longo dos eixos de transporte e habitação
individual e alternativo.
quarteirões.
40
Tabela 01: Base teórica e sua relação com as escalas, princípios, indicadores e elementos de projeto;
e Tabela 02, 03, 04, 05 e 06: Grelha de análise: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício.
53
indicador tipo e forma dos edifícios desmultiplica-se nos seguintes elementos: tipo e
organização dos edifícios, composição formal dos edifícios e a relação com o solo – piso
Urbitá –, assim como sobre a análise e avaliação do Estudo de Caso, sobretudo, no que diz
na Tabela 06: Grelha de análise: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício. Para cada
Para cada indicador de análise, é apresentada uma síntese da análise dos elementos
que integram o indicador. Nesta síntese, procura-se expor os aspectos do projeto positivos
e os menos positivos (que precisam ser revistos), identificados para cada um dos elementos
de projeto.
bairro Urbitá. São apresentadas 186 imagens – acomodadas em 34 quadros42, o que elucida
41
Sobre o redesenho, ver item metodologia – O Redesenho como instrumento de análise.
42
A leitura das imagens nos quadros deve ser feita de baixo para cima e da esquerda para direita.
54
Ao final da Parte II da tese é exibida a avaliação do Estudo de Caso: Tabela 07: Grelha
avaliativa: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício. Esta grelha é resultado de uma
conversão da grelha analítica, com a inserção de uma métrica, possibilitando seguir a mesma
Juntamente a esta grelha, apresenta-se uma síntese final da análise e avaliação, onde
indicadores e elementos de projeto, nas quatro escalas (da cidade, do bairro, do quarteirão
e do edifício).
escalas do habitar – da escala da cidade à escala da casa – são eficientes para a promoção
da qualidade urbanística e arquitetônica de projeto para novos bairros (ver item II.6 e quadro
67).
A tese conclui-se com as considerações finais: uma síntese final da parte I e II da tese,
.
55
Parte I
Parâmetros de qualidade urbanística e arquitetônica
Terraço à noite na Place du Forum (1888)
Vicent van Gogh
56
A primeira parte da tese apresenta a síntese das ideias dos autores estudados a
Esta síntese das ideias dos autores é apresentada na forma de recomendações, onde,
qualidade do espaço em áreas residenciais, são expostas, por meio de textos e ilustrações,
na Tabela 01. Essa tabela tem o objetivo de apresentar a relação entre a base teórica –
expondo os dez autores mais citados na tese43 – com as escalas, princípios, indicadores,
critérios e elementos de projeto estabelecidos: Tabela 01: Base teórica e sua relação com as
05 – possuindo a mesma estruturação, porém sem a referência aos autores – com a finalidade
de ilustrar o conjunto de critérios e elementos de projeto para cada uma das quatro escalas
43
Com base nestes autores construiu-se a síntese das suas ideias e as recomendações.
57
Tabela 01: Base teórica e sua relação com as escalas, princípios, indicadores e elementos de projeto
*DPZ: Livros e manuais criados pela equipe do Congresso para o Novo urbanismo (CNU). * LNEC: Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Publicações
ligadas a temática do habitar; *12 BFL: Building for life 12: the sign of a good place to live - Guia utilizado na Inglaterra para orientar sobre a qualidade dos
projetos e avaliar a qualidade dos empreendimentos habitacionais.
Fonte: Elaborado pela autora.
58
publicado há 50 anos, é hoje uma das frases mais citadas como slogan, em conjunto com a
no país.
Entende-se que ter direito à cidade é ter direito a uma estrutura que possibilite as
em comunidade. Tais elementos são estabelecidos no Estatuto das Cidades46 como o “direito
bairro, está intimamente relacionada com seu comprometimento em construir cidades e não
44
O Estatuto das Cidades (Lei 10.257/2001) regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal
Brasileira – estabelece parâmetros e diretrizes da política urbana no Brasil. Oferece instrumentos para
que cada município possa intervir no processo de planejamento e gestão urbana e territorial, e garantir
a realização do direito à cidade.
45
Cidadania é a prática dos direitos e deveres de um indivíduo em um Estado, (estrutura própria,
politicamente organizado), que andam sempre juntos, uma vez que o direito de um cidadão implica
necessariamente uma obrigação de outro cidadão.
46
Direito garantido pela Lei Federal 10.257/2001 – Estatuto das Cidades (artigo 2º - Das Diretrizes
Gerais).
59
projeto urbano, ou seja, a boa arquitetura não existe sem boa urbanização.
impactados por ele, que se resumem, no mínimo, em habitar, trabalhar, estudar, recrear-se e
circular, além da garantia de continuidade para permitir a fluidez necessária entre o espaço
público e o privado, eliminando barreiras e dissolvendo guetos. Ademais, sua virtude deve
ser fortificada pela variedade das unidades habitacionais a fim de atender à multiplicidade
critérios e elementos de projeto que foram organizados a partir de dois indicadores: a sua
I.1.1 Localização
deve estar relacionada, sempre, com algum tipo de centro formado por serviços e atividades,
de acordo com o porte do município ou região onde se insere. Assim, a localização deve ser
em áreas centrais ou, se mais afastada dos centros, ao longo dos eixos de transportes; não
bairro completo, cuja implantação apresente uma estrutura coerente na articulação com a
das Cidades, como uma das formas de cumprir com a função social da propriedade47 – pode
contribuir significativamente para preencher os vazios centrais das cidades que estão, em
À vista disso, Coelho (2007, p. 346) cita o livro “Construir no construído”48 e faz uma
reflexão da necessária sensibilidade do arquiteto e urbanista para entender e atuar nesta teia
centrais, onde as características estruturais do lugar são, na maioria das vezes, mais
complexas.
Segundo Vigliecca (2014, p. 49), referindo-se à cidade de São Paulo49, retomar a área
densidades importantes e, mais que isso, conceber o morar no centro da maior metrópole
da América do Sul50.
O autor ainda completa dizendo que, para além das questões necessárias – numéricas,
e equipamentos, mas também do lugar, das pequenas distâncias, dos serviços do cotidiano,
da vida diária.
47
O Estatuto das Cidades estabelece que a propriedade urbana precisa cumprir uma função social, ou
seja, a terra urbana deve servir para o benefício da coletividade.
48
Francisco de Gracia, “Construir em lo construído – la arquitetura como modificación”, 1992.
49
São Paulo tem alguns bons exemplos de programas específicos para reabilitação da área central,
como o Procentro (2009); Programa Urbanização de Favelas e cidades inclusivas (2005-12); Programa
de recuperação Urbana e Ambiental nos Mananciais e Recuperação de Cortiços (2005-12).
50
Construir moradias de interesse social em área central é um desafio à nossa (brasileira) maneira
histórica (desde 1970) de fazer habitação como política pública. Tanto a centralidade como a
coletividade são questões novas à “cultura de projeto” que se constituiu em relação às habitações em
periferias.
61
Nesse âmbito, o projetista tem que ter a compreensão da interface com a diversidade
como bairros e comunidades, a área, mais compacta, prospera na diversidade, já que serão
mais pessoas nas calçadas utilizando serviços de transporte, comércio local e áreas de lazer.
Esta proposição tem grande pertinência, posto que permite a vivência mais inclusiva
das nossas cidades, favorece a habitação social a baixo custo e, consequentemente, inibe a
gentrificação que tem como resultado a especulação imobiliária, o aumento do preço dos
Habitação na área central é uma proposta que vem ainda ao encontro do conceito de
planejamento regulado pelas leis de zoneamento, uma vez que se utiliza de um vazio urbano
em meio a uma área mais densa, com infraestruturas de transportes existentes e uma
dependência do automóvel.
62
QUADRO 2 Casarão do Carmo. Héctor Vigliecca. Vinte e cinco unidades habitacionais propostas na
área central em sítio histórico, a partir de uma demanda de cortiço. São Paulo-SP – Brasil (2003).
63
constelação de áreas difusas de território51, que, no Brasil, necessitam evoluir para novos
padrões de uso do solo, aumentando a densidade linear gerada pelos embarques contínuos
Pesquisas realizadas nos Estados Unidos52 mostram que, ao proporem mais opções
mercado imobiliário, uma vez que existe uma forte demanda, principalmente entre os
solteiros, casais sem filhos, idosos e minorias de baixa renda, que são, também, o tipo de
a grande porcentagem de empregos se concentra nas áreas centrais dos bairros e/ou das
cidades e que, mais que os bairros completos, são os corredores de transportes que, à escala
urbana, conciliam trabalho e habitação. No entanto, é preciso assegurar-se de que estes eixos
cuidado particular para com os tipos e mescla de atividades e serviços que ali se estabelecem,
em relação à escala e caráter do lugar. Nessa perspectiva, baseado na teoria das zonas de
51
Lei Federal 6.766/1979, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano – estabelece uma faixa
não edificável de 15 (quinze) metros de cada lado, ao longo de águas correntes e dormentes e das
faixas de domínio público de rodovias e ferrovias.
52
Reconnecting America’s é uma organização sem fins lucrativos que desenvolve pesquisas inovadoras
no que tange à integração de transporte e desenvolvimento comunitário e faz parte do Center for
transit-Oriented Development (CTOD).
53
Tipos de famílias incluindo-se também os diversos níveis de renda, tipos de proprietários e locadores
– CTOD.
54
As zonas de Transect (T-zones), são uma teoria desenvolvida pelo Centro de Estudos Aplicados
(CATS), que promove a compreensão do ambiente construído como parte do ambiente natural, através
da metodologia de planejamento do Transect rural-urbano. Ver mais no item I 2.1 – Morfologia e
Tecido Urbano – T-zones e Smart Code.
64
estações a fim de integrar-se aos arranjos de vida das comunidades à sua volta, em
o corredor desempenha, além da conexão, a função de estimular o uso misto das atividades
cotidianas ali existentes, o que auxilia a formar comunidades urbanas mais sustentáveis.
medidas isoladas de incentivo urbanístico não devem ser propostas, uma vez que se cria o
risco de elaborar projetos que sejam economicamente viáveis, mas que não tragam os
estações) –, está sendo incorporado à Lei dos Planos Diretores Municipais, a fim de
de transporte.
ociosidade do uso do solo em áreas com oferta de transporte coletivo; a terceira, diversificar
o padrão social de moradia57 evitando a elitização das áreas providas de infraestrutura e sua
verdes; a sexta ação foca em desestimular o uso do automóvel junto aos eixos de transporte
55
O DOTS foi inspirado no modelo norte-americano de planejamento urbano Transit Oriented
Development (TOD) concebido por Peter Calthorpe através da publicação The Next American
Metropolis (1993).
56
Ações recomendadas no Guia para inclusão do Desenvolvimento Orientado ao Transporte
Sustentável (DOTS) no planejamento urbano – WRI-Brasil (2018).
57
No Brasil, o instrumento que facilita a aplicabilidade desta ação é a instituição de ZEIS (Zonas
Especiais de Interesse Social), inclusas no Plano Diretor, para a produção de habitação de interesse
social (HIS) e equipamentos sociais.
65
transporte coletivo e, por fim, a oitava ação fomenta espaços de suporte ao transporte
cicloviário.
Nesse quadro, é possível mencionar a cidade de Curitiba - Paraná, BR, a qual tratou o
urbano, através do Plano Diretor, que propôs o crescimento urbano da cidade a partir da
estruturação de eixos de BRT (Bus Rapid Transit), com princípios semelhantes ao conceito de
do Plano Diretor, foram definidos eixos de transformação urbana, adotando uma estratégia
de planejamento que segue os princípios dos DOTS. Está prevista a integração e articulação
relação de densidade urbana, isto é, do número de unidades de habitação por hectare, a fim
serviço básico de ônibus, até um serviço de metrô ou ônibus elétrico. Ver mais no item I.1.2
58
Conforme Plano Diretor de São Paulo – Lei 16.050 de 31 de julho de 2014.
66
A ideia da Habitação formando novos bairros inicia por eleger áreas aptas para a
determinar o sentido que condicionou seu desenvolvimento e que, literalmente, lhe deu
forma, e compreender os elementos físicos que a regulam: as linhas e polos que organizam
Dessa forma, estes bairros devem ser consistentes com um plano urbano mais
abrangente60 que possua, na sua estrutura, as projeções dos eixos conectores, capazes de
ligar diferentes áreas da cidade, bem como um propósito de criação de novos polos de
Nesse particular, é pertinente citar o TOD (ou DOTS, no Brasil)61, que é um modelo
viagens diárias. Esta interação torna oportuno o crescimento econômico, social, cultural e a
trabalho, à escola e aos espaços de lazer através de deslocamentos a pé, o transporte ativo,
59
Sobre conceitos de linhas, polos, limites e barreiras: Kevin Lynch, A imagem da cidade, (2011 [1960]),
p.52 e 53; Philippe Panerai, Análise urbana, (2006 [1999]), p.60-66; Aldo Rossi, A arquitetura da cidade,
(2001 [1960]) p.124.
60
No caso do Brasil é o Plano Diretor (Lei municipal que, no seu papel estratégico, estabelece diretrizes
para o crescimento e planejamento do território, bem como do uso eficiente das infraestruturas).
61
Transit-Oriented Development (TOD) e Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável
(DOTS).
62
No que se refere a fazer novos bairros e cidades embasados em precedentes históricos, é pertinente
citar CityMakers Lab (uma comunidade que procura inspiração in situ em cidades exemplares de todo
o mundo a fim de aprender com as boas práticas, como é o caso do Barcelona CityMakers Lab 2019 –
evento que objetivou, através de visitas e estudos por uma semana, conhecer as estratégias e
dinâmicas urbanas da cidade de Barcelona – um sucesso urbano.
68
incluindo instalações comerciais e comunitárias locais, onde o objetivo seja sempre criar
ser alcançada com a eficiência no uso das infraestruturas urbanas, a continuidade do tecido
E, por fim, a gestão coordenada nas cidades ocorre por meio da adoção de medidas
De acordo com David Sim (2013)63, as cidades compactas devem ter suas referências
nos espaços menores, que abrigam um ritmo mais lento de vida e, a partir disso, usar a nossa
criatividade para encontrar maneiras de trazer a escala humana a todos os lugares – até
mesmo numa metrópole. “Tóquio, uma das cidades mais populosas do mundo, é um grande
exemplo. As pessoas desfrutam do prazer social e sensorial em quase toda parte”. (SIM, 2013,
p.11).
Nesse norte, é pertinente citar a experiência do Bairro Pedra Branca, Estado de Santa
Catarina no Brasil64, que une a este conceito – da cidade “3C”, o conceito das cidades
criativas, como aquela que se reinventa permanentemente por meio da inovação, da conexão
63
Entrevista à Revista Pedra Branca – Cidade Criativa (2013, p.11). David Sim é diretor da Gehl
Architects e atua, mais especificamente, em Masterplanning Frameworks e urban design aplicando as
teorias de Jan Gehl a projetos de grande escala. David também é renomado como um educador e
professor inspirador, e lecionou em escolas de arquitetura e design em todo o mundo.
64
Bairro Pedra Branca localiza-se no estado de Santa Catarina, na grande Florianópolis – Brasil. É uma
referência nacional na construção de bairro que prioriza a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas.
Iniciou sua construção no ano de 2010, possui uma área de projeto de 250 ha e uma centralidade de
40 ha. A população, atualmente que reside no bairro, é de 10.000 pessoas, e um número equivalente
de 10.000 pessoas que trabalham no bairro. A meta é chegar a 40.000 pessoas nos próximos 20 ou 30
anos.
69
e da cultura. A inovação que deve ser variada e entendida como novos produtos, serviços,
Quanto à conexão, essa refere-se à relação entre público e privado, entre áreas da
cidade, entre sua história e sua visão de futuro, entre cidade e cidades vizinhas e o resto do
mundo. E, por fim, a conexão relaciona-se à cultura, em três dimensões: pela identidade
simbólica que carrega, por seu impacto econômico e por ajudar a formar um ambiente
propício à criatividade.
Nesse contexto, considera-se pertinente citar Carlo Ratti em entrevista à revista Pedra
2014, p. 57).
Ainda sobre o conceito das cidades “3C”, Pedra Branca – SC, acrescenta mais dois
compactas e estímulo ao convívio. Esta convicção é pautada nas melhores referências dos
Branca: o escritório DPZ – Latin America, realizando o desenho do tecido urbano (masterplan)
que interagiu com palestras e “foi como um palpiteiro”65 no projeto, em especial dos espaços
públicos; o arquiteto paisagista Benedito Abbud, para o projeto dos espaços externos; Jaime
Lerner Arquitetos Associados, na participação das charretes e nos projetos do centro cultural
e do plano de mobilidade; o grupo PPS (Project for Públic Spaces), na conceituação dos
espaços públicos; H-8 Arquitetos e Engenheiros Humanistas, para o projeto das ciclovias;
65
Expressão utilizada por Dilnei Bittencourt – ex-diretor da construtora e atual consultor –, em
entrevista realizada no dia 30 de julho de 2019, Pedra Branca - SC.
66
Além destes nomes, outros vários escritórios locais (das mais diversas áreas) participaram da
construção deste projeto de bairro sustentável.
70
QUADRO 4 Diagramas: (PERRY, 1929), Bairro urbano tradicional (DPZ, 2010) e Bairro para o
Urbanismo Sustentável (FARR, 2013). Diagramas DPZ ilustrando bairros interconectados com centros
e bordas definidas. Exemplo do Bairro Pedra Branca - SC, Brasil.
71
I.1.2 Conexões
urbano devem ser intimamente relacionadas, na sua estrutura funcional, com os traçados
Lembrando que é ao longo das vias que outros elementos se organizam e relacionam,
abertos e espaço construído com suas especificidades de usos, tipologias, acessos, entre
outros elementos que estruturam o espaço urbano em conformidade com o caráter do lugar.
Estas ligações devem ser viabilizadas através da rede viária, das calçadas e caminhos
para pedestres, das ciclovias e do transporte público, que garantam a mobilidade urbana de
planejamento e a regulação do transporte público, e adota uma visão sistêmica que objetiva
Rede viária
A nova rede viária tem que ser compreensível e deve manter e conectar-se à estrutura
do entorno, reforçando as linhas existentes, criando novas e evitando ruas sem saída a fim de
67
Lei 12.587 de janeiro de 2012 institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Está
fundamentada em princípios como o desenvolvimento sustentável das cidades, a equidade no acesso
dos cidadãos ao transporte público coletivo e o uso do espaço público de circulação. Necessita a
construção de um Plano de Mobilidade Urbana para cada cidade, que para o Brasil, tem como
referência o Guia Sete passos, como construir um plano de mobilidade urbana, de autoria da WRI-
Brasil, entre outros manuais.
68
Caminhabilidade: termo utilizado por Jeff Speck no livro Cidade Caminhável (2016, p. 20), que
significa que uma cidade deve ter qualidades muito além de “ruas para pedestres” com espaços
bonitos e seguros. Caminhabilidade, segundo Speck, refere-se à reunião de quatro condições
principais: a caminhada proveitosa, segura, confortável e interessante; estas condições desmembram-
se numa série de regras específicas que o autor denomina de “os dez passos da caminhabilidade.”
72
dispersar o tráfego, reduzir a duração das viagens de automóvel e garantir uma rede
Nesse aspecto, as ligações podem e devem ser feitas a fim de planejar a melhor forma
ruas locais que atravessem o novo conjunto / novo bairro, o que ajuda a criar vínculos entre
Este plano de hierarquia das vias deverá reunir um conjunto de propriedades que
estão associadas ao seu papel no movimento: dimensões das calçadas, das ciclovias ou
ciclofaixas e das faixas de rolagem; e, ainda, qualidades relativas à sua relação com os
espaços e edifícios (privados e púbicos): no térreo, em primeiro lugar, através dos usos
diversificados (geralmente lojas e cafés), bem como um cuidado com o desenho dos espaços
através dos usos (comercial, escritórios, residenciais) e por meio do desenho da fachada que
permita um nexo com a rua, seja mediante a materialidade, o uso de floreiras, de varandas /
Entendendo-se que a relação dos edifícios com a rua é um fator determinante, uma
vez que as edificações são consideradas partes de um todo, desenvolveu-se com mais
detalhes este tema no item I.1.2 – Conexões - Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias,
Retornando à rede viária e seus atributos físicos, as faixas veiculares (vias principais69)
que se aproximam do novo conjunto habitacional devem passar nas suas laterais; no caso de
atravessarem o conjunto, devem assumir geometria de baixa velocidade (em média 24km/h
69.
Vias principais (arteriais) que contornam a área residencial: Padrão proposto na Unidade de
Vizinhança de Clarence Perry (1929) para proteger a unidade do tráfego. Vias que, geralmente,
assumem um caráter de ruas mais largas e assegurem a extensão entre os distritos e bairros, como
uma “espinha dorsal”. (Boston Complete Streets, design guidelines, 2013, p.9). Conforme Panerai
(2006 [1999], p. 60-61), as vias principais são as linhas de crescimento, as quais funcionam entre polos
por meio das tensões existentes. O autor denomina as vias principais de tensores entre polos.
70
Recomendações de largura de ruas locais (faixa de tráfego): 6 a 10 m, produzindo uma velocidade
entre 20 mph e 25 mph (24Km – 40Km por hora) e tempo de travessia entre 5 e 10 segundos.
73
Este modo de desenhar ruas evoca a estratégia utilizada no Reino Unido para o
controle de velocidade, intitulada de “Zona 20” (20’s Plenty for Us)72, onde a velocidade
máxima permitida é de 20 milhas por hora (32Km/h) para ruas locais nos bairros. Após a
implementação desta medida, verificou-se uma queda de 80% de mortes oriundas das
sendo monitorada por câmeras, definindo 25 milhas por hora (40Km/h) e, para "zonas
seguras", 15 milhas por hora (24Km/h). Também em Lisboa (2009 - 2011), se implementou
30 quilômetros por hora, especialmente em zonas residenciais. No Brasil, as “Zonas 30” foram
implantadas em algumas capitais, como Rio de janeiro - RJ (2009), São Paulo -SP (2013),
permanência no exterior, por meio do compartilhamento deste espaço entre carros, ciclistas
e pedestres. Nesse ponto, deve-se ainda selecionar ruas estratégicas nos centros de bairro
Recomendação baseada nas referências: Neighborhood Conservation Code, 2010, p.10-11; Boston
Complete Streets, Design Guidelines, 2013, p.99; Guia Global de Desenho de Ruas (2018, p.132-135
e 232-249); O desenho das cidades seguras – WRIcidades, 2015, p. 31-41.
71
Manuais criados pela equipe do Congresso para o Novo urbanismo (CNU) que visam a projeto de
vias caminháveis e mais seguras para Bairros residenciais: Duany, A., Speck, J. and Lydon, M. The Smart
Growth Manual (2009) e Neighborhood Conservation Code (2010).
72
20’s Plenty for Us – Organização sem fins lucrativos criada em 2007 que promoveu uma campanha
e um debate democrático acerca deste tema e, atualmente, são 400 filiais de campanha em todo o
Reino Unido.
73
Zonas 30 ou zonas 20 são, usualmente, implementadas através do conceito “traffic calming” –
medidas (táticas, eficientes e econômicas) para moderar o trânsito motorizado que forçam o motorista
a reduzir a velocidade através do desenho das vias, como deflexões horizontais e verticais (desvios e
obstáculos planejados como canteiros, floreiras, estreitamentos, prolongamentos de calçadas em
esquinas, marcação de pavimentos, placas, entre outras tantas estratégias). Conforme Guia global de
desenho de ruas (2018, p. 132).
74
Vias locais: denominadas de “ruas de bairro” segundo Guia Global de Desenhos de Ruas (2018, p.
232-249). Estas ruas podem ser categorizadas como ruas residenciais – espaços onde as comunidades
são criadas, são a porta de entrada dos lares, das escolas e das lojas locais – e ruas principais de bairro
que estão no centro da vida cotidiana, oferecendo a possibilidade de acesso a pé a destinos como
restaurantes, lojas, serviços e paradas de transporte coletivo.
74
Ruas nuas referem-se ao conceito de retirar das ruas toda sinalização, incluindo faixas
informações visuais e barreiras, tais como meios-fios, e materiais distintos para ruas e
calçadas. O objetivo é criar um ambiente de completa ambiguidade de tal forma que carros,
Esta alternativa pode ser aplicada, de acordo com o contexto urbano, nas vias de um
conjunto habitacional ou bairro, delineando que a rua cumpra o propósito, para além da
rua: todos somos donos do espaço e de qualquer maneira; todos podemos usar a rua.
75
Conforme Manual de Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável –
EMBARQ_Brasil (2015).
76
Jeff Speck, em A apoteose da Segurança – A caminhada segura, 2016, p. 160.
77
Conceito de Hans Monderman (1982) inspirado nas woonerf (ruas vivas) – conceito que nasceu em
Delft na Holanda no final dos anos 60.
75
protegida do tráfego intenso, dispondo as vias principais que são, possivelmente, eixos de
caso, estratégias de projeto deverão ser pensadas para ligar o novo bairro aos demais79,
passando por esta via arterial, as quais poderão ser através de uma passagem subterrânea,
por uma ponte / passarela que se integre na paisagem e no contexto e crie um ambiente
Nesse ponto, Gehl (2013, p. 131) alerta que o uso de passarelas elevadas e
passagens subterrâneas para o pedestre deve ser concebido como último recurso, vez que
Estes elementos (passarelas e pontes), utilizados para fazer a conexão, poderão ter
percepção pelos usuários. Se pudermos identificar, quer ao longe quer ao perto, tornar-se-á
um ponto de apoio para a percepção do complexo e mutável mundo urbano. (LYNCH, 2011
[1960], p.105).
residencial, é necessária uma atenção exclusiva para com os acessos que, após uma avaliação
do caráter das ruas adjacentes, podem ser definidos pelas vias secundárias com menor
rotatórias que oferecem oportunidades para incluir uma área permeável e verde ao espaço,
78
Velocidade de projeto – termo utilizado por Douglas Farr no livro Urbanismo Sustentável: Desenho
Urbano com a Natureza (2013, p.123), por Andres Duany et al. (2000, p.250) no livro Suburban Nation:
The rise of sprawl and the decline of the American dream e pelos autores do Guia Global de Desenho
de Ruas (2018, p.178). Significa o número essencial que os engenheiros de trânsito usam para
configurar as vias para que o movimento do trânsito seja organizado.
79
Segundo Lynch (2011[1960], p.104), os limites podem ser barreiras mais ou menos penetráveis que
mantêm uma região isolada das outras, bem como podem ser “costuras”, linhas ao longo das quais
os setores se relacionam e se encontram mantendo unidas áreas diversas.
77
crescimento, esculturas, murais e outras formas de arte pública, sempre com a cautela de não
bloquear o triangulo de visão do motorista. Este elemento urbanístico torna-se um local ideal
dos quais o observador pode nela entrar, e constituem focos intensivos para os quais e dos
quais ele se desloca. Podem ser essencialmente junções, locais de interrupção num
para a outra.
Dessa forma, devido seu caráter de núcleo, que, por sua vez, é o foco intensivo, o
centro polarizador do bairro, pode-se dizer que os cruzamentos estão diretamente ligados
ao conceito de bairro e, conforme Lynch (2011 [1960], p. 75), “em qualquer caso ou imagem,
encontram-se pontos focais e, em alguns casos, eles são até a característica dominante”.
Nessa conjuntura, da rede viária (vias principais, vias locais e seus cruzamentos), é
pertinente mencionar uma característica importante, em especial sob a percepção dos seus
medida em que pode fornecer matéria-prima para símbolos e memórias coletivas, dando um
Esta qualidade pode ainda ser reforçada através de um olhar atento às principais
vias que podem ter propriedades particulares, conformando-se num elemento contínuo e
unificado dentro do complexo urbano. Estas propriedades podem ser uma regularidade
rítmica, uma repetição de aberturas espaciais, uma textura especial do pavimento ou das
uma rua fortalecerá esta imagem contínua. Ver mais sobre continuidade no item I.2.1 –
80
Kevin Lynch, A Imagem da Cidade (2011[1960]), p. 52-53.
81
Ibid., p. 10-20. Sobre legibilidade como conceito crucial para a estrutura citadina.
78
sempre que possível, os cul-de-sacs82. Estes podem revelar-se bastante negativos do ponto
de vista físico e social, uma vez que podem forçar a interação, podem constituir espaços
claustrofóbicos e pouco seguros, pois têm somente uma entrada. Quando, em último caso,
o tráfego de automóveis formar uma rua sem saída, deve garantir-se a existência de um
82
Cul-de-sacs permitem, de forma eficiente, acesso ao maior número de lotes por metro de rua, e a
ausência de vielas reduz a pavimentação per capita. Contudo, por formarem ruas sem saída e
reduzirem a conectividade, os cul-de-sacs aumentam a quilometragem por veículo, e a ausência de
vielas leva à necessidade de acessos para os automóveis em pátios frontais e ao acúmulo de lixo,
comprometendo a circulação de pedestres. Portanto, somente são aceitos em condições específicas,
quando as condições naturais os exigem.
79
QUADRO 6 Gateways de transição (acessos demarcados) – Rio de Janeiro, Porto Alegre e Brasília.
Limites, cruzamentos e travessias. Vias principais e ligações entre os bairros.
80
deve-se considerar que as pessoas que vivem dentro de um novo conjunto e as pessoas que
vivem nas proximidades devem poder caminhar pelo conjunto para chegar a outro lugar.
Desta forma, deve pensar-se cuidadosamente como a nova área pode contribuir para a
O adjetivo “caminhável” está associado a uma série de condições e regras que visam
configurações das calçadas e ruas e elementos que fazem parte do contexto das vias de
pedestres; a mescla de usos das atividades que se encontram no trajeto, em especial nos
térreos, que tendem a formar lugares de interesse, e fachadas mais ativas através da
orientação dos edifícios que permitem uma relação entre o interior e o exterior. (SPECK, 2016,
p. 21).
Este olhar completo para o universo das calçadas e caminhos de pedestres é o rumo
Sobre segurança, é pertinente lembrar que a calçada deve estar protegida por algum
elemento que forme uma barreira entre o pedestre e a via pública, podendo ser através do
83
Gehl, no livro Cidade para as pessoas (2013), em A cidade viva, segura, sustentável e saudável (2013,
p.91), mostra que muitas atividades acontecem nos espaços de transição de uma calçada (permanecer,
ficar em pé ou sentado) em razão de ser um espaço que dá a sensação de segurança, uma vez que as
costas ficam protegidas e o aparelho sensor frontal confortavelmente pode dominar a situação, tendo
uma visão de tudo que acontece.
81
ou frontage zone84 – espaço utilizado por pessoas que estão entrando e saindo dos prédios,
bem como permanecendo, se houver mobiliários e atividades para tal fim. Nesse sentido,
esta faixa da calçada caracteriza-se pelo “efeito borda”85, que se refere à preferência das
pessoas de ficarem nas bordas do espaço, onde sua presença é mais discreta, suas costas
são protegidas quando estão sentadas, onde há o melhor clima e onde elas dispõem de uma
espaço de transição, que através do desenho de sua forma e disposição podem converter-se
mesmo alpendres e toldos – sempre tão agradáveis e confortáveis – que ativos, abertos e
vivos têm grande impacto na vida e atração exercida pelo espaço da cidade86.
pontos de parada de transporte coletivo. No âmbito das interseções, o desenho das esquinas
travessia, com a extensão do meio-fio e redução do raio de curvatura, sendo estes os dois
Ainda, para maior conforto, sugere-se que as calçadas próximas às entradas dos
edifícios devem ser largas o suficiente para acomodar pessoas que estão de pé, socializando
e caminhando, bem como ter espaços adicionais, baseados em volumes de pedestres, que
84
Conforme Boston Complete Streets, Design Guidelines, 2013, p. 22, a frontage zone, sempre que
possível, deve ser maximizada para fornecer espaços para cafés, praças e elementos com vegetação
ao longo dos edifícios, mas nunca à custa de reduzir a zona de pedestre (pedestrian zone) para além
das larguras mínimas recomendadas para cada sítio.
85
“Efeito borda”: Termo utilizado pelos autores do Manual 8 Princípios da calçada: construindo
cidades mais ativas – WRI-Brasil (2017, p. 34).
86
Gehl, no livro La humanización del Espaçio Urbano: la vida social entre los edifícios (2006), destaca
que os edifícios devem ser considerados como um fim em si mesmos para, através do desenho de sua
forma e disposição no espaço, converterem-se em um instrumento potencializador da vida social na
cidade através de atrativos do espaço público, lugar onde se desenvolvem inúmeras atividades sociais.
87
Pesquisas realizadas na Cidade do México, Guadalajara, Bogotá e Porto Alegre conduzidas por
Duduta et at. (2015) mostram a redução de atropelamentos após a implementação dessas medidas de
segurança. Duduta, N., Adriazola, C., Hidalgo, D., Lindau, L.A., & Jaffe, R. (2015). Traffic safety in
surface public transport systems: a synthesis of research. Public Transport, v. 7, (2), p. 121-137.
82
pista transversal de forma a não aumentar o trajeto do pedestre. Ainda devem atender a uma
calçadas.
podendo ser escolhido tanto o sistema comum quanto o sistema de embarque em nível, com
deve-se à redução ao máximo de guias rebaixadas, as quais permitem que os carros invadam
entradas de serviço na rua de trás, utilizando becos e/ou ruas secundárias, e entradas
estabelecimentos.
Ainda sobre segurança, acautelando que as calçadas são espaços públicos sempre
abertos para as pessoas, de dia ou de noite, todos os dias da semana, é indispensável uma
88
A faixa elevada para travessia de pedestres no Brasil deve atender às diretrizes da Resolução do
CONTRAN 495, de 2004.
89
Acessibilidade significa ter a possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para
utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações,
transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros
serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona
urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida. ABNT NBR 9050 (2015).
83
foram criadas para reunir uma diversidade social e uma pluralidade de atividades, portanto,
quanto melhor fizerem isso, mais bem-sucedidas serão. Nesse ponto, os edifícios precisam
criar vida nas calçadas e incentivar a atividade dos pedestres através das fachadas ativas91
(que permitam conexões visuais dentro e fora, com janelas voltadas para a rua e com
pela diversidade de atividades existentes dentro de uma distância possível de ser completada
valoriza a relação do edifício com a rua auxilia a criar vida nas ruas, aumenta a complexidade
caminhada. Ambientes assim são convidativos e contribuem para que as pessoas andem mais
ter em torno de 60%92 de suas fachadas principais transparentes, ocupadas por janelas,
vitrines ou portas recuadas com abrigo (podendo ser toldos), que conectem o interior da loja
à calçada, promovendo, desta forma, a indefinição do limite entre público e privado, bem
90
A fotometria das luminárias para iluminação pública brasileira é tratada na ABNT NBR 5101 (2012) e
NBR 15129 (2012).
91
Sobre fachadas ativas e fachadas transparentes: Jeff Speck, em A Caminhada Interessante, 2016, p.
211, livro Cidade Caminhável. Hans Karssenberg et al., em História da Cidade, rua e andar térreo,
2015, p.43, livro A Cidade ao Nível dos Olhos: lições para os Plinths. Manual 8 Princípios da calçada:
construindo cidades mais ativas – WRI-Brasil (2017, p. 98).
92
O Plano Diretor Estratégico de São Paulo - SP estabelece parâmetros urbanísticos para incentivar a
construção de fachadas ativas, o plano prevê a não tributação da área do lote destinada a esse fim,
até o limite de 50% do terreno (Gestão Urbana SP, 2016).
84
como dando a sensação de segurança através dos “olhos na rua”: as pessoas que estão
“Olhos na rua” é um conceito de Jane Jacobs (2014 [1960], p. 32-34) no que diz
manutenção da segurança não é feita pela polícia (ou pelo menos não apenas por ela, que
também é necessária), mas pela rede intrincada, quase inconsciente, de controles e padrões
Allan Jacobs, no livro Great Streets (1995, p.297) apud Karssenberg, H. (2015, p. 53),
escreve sobre áreas térreas e arquitetura de encontros imediatos e afirma que enxergar o
pessoal, então o ritmo das oportunidades oferecidas é crucial para a riqueza da experiência
do pedestre. O número de portas, janelas, recuos, colunas, as janelas das lojas, detalhes das
Jan Gehl, no livro Cidades para as pessoas (2013, p.149-151) e no texto Encontro
imediatos com prédios (2006), escreve sobre o impacto dos andares térreos na vida urbana
convidativos e enriquecedores e sugere que, a cada 100m, seja garantida uma média de 10
interior e cita, como exemplo, a cidade de Melbourne, onde é obrigatório que 60% das
fachadas dos novos prédios nas ruas principais sejam abertas e convidativas, e destaca que
muitas cidades já implantaram políticas semelhantes, de áreas térreas ativas, com bons
resultados.
forma de janelas, portas ou grades. Ainda, para melhorar a transição entre espaço privado e
o público, as cercas dos prédios nas ruas residenciais devem ter altura inferior a 3m.
85
QUADRO 7 Zonas da calçada. Frontage zone (faixa de transição e de permanência - Boston). Faixas
de travessias de pedestres e cuidados nas intersecções (visibilidade). Fachadas ativas e
transparência para a conexão visual.
86
segura, e considerando que ao caminhar nas ruas as pessoas interagem constantemente com
e cative as pessoas para se locomoverem a pé. A qualidade deste espaço pode ser medida
pela sua ambiência, pela possibilidade de permanência e pelo significado que é criado no
lugar.
bem selecionados, podem tornar as calçadas locais de interação social, proporcionando mais
cidade, como os bancos, que incentivam a permanência nos espaços públicos; as lixeiras,
Nesse contexto, dois pontos são fundamentais para assegurar a sua qualidade: um
segurança; e sua organização na calçada (fora da faixa livre de circulação, ocupando a faixa
Em relação à sua localização, deve-se ter prudência para que nenhum mobiliário seja
instalado nas esquinas, exceto sinalização viária, placas com nomes de logradouros94, postes
alocados a uma distância mínima de 15m das esquinas. Ainda sobre localização, deve-se
considerar que a alocação dos bancos e cadeiras deve prever um espaço com microclima
93
Estacionamento para bicicletas em espaços públicos, equipados com dispositivos capazes de mantê-
las ordenadas, com possibilidade de amarração para garantia mínima de segurança contra furto. Por
ser estacionamento de curta ou média duração, ter pequeno porte e número reduzido de vagas, sem
controle de acesso e de projeto simples, difere substancialmente do bicicletário.
94
Logradouro, no Brasil, é um sinônimo comumente utilizado para a rua. Um espaço livre destinado à
circulação pública de veículos e pedestres (são as ruas, travessas, becos, avenidas, praças, pontes,
etc.). Aurélio (1999, p.1231).
87
sem poluição.
e o ambiente construído. A ideia de ocupar a área da faixa de serviço das calçadas com
muros95.
Uma cobertura arbórea consistente pode fazer muito para aprimorar uma caminhada.
Dessa forma, as árvores de rua têm sido associadas a melhorias significativas, tanto no valor
impostos.
Além do mais, pesquisas mostram que a exposição visual a ambientes com árvores
produz uma significativa redução da pressão arterial e tensão muscular, o que diminui o
estresse dos usuários, e, principalmente, daqueles que todos os dias viajam para ir e vir do
trabalho, no qual o trajeto com árvores poderá ser percebido como um percurso menos
longo96.
0,60m de afastamento do meio fio e 2,40m das fachadas das edificações) e os espaçamentos
(mínimo de 5m entre árvores de pequeno porte, 8m para as de médio porte e 12m para as
de grande porte), a fim de atingir os benefícios de ruas arborizadas e mais, dispor de ruas
95
É necessário um instrumento técnico com diretrizes aplicadas às características de cada cidade – um
plano de arborização urbana que especifique todos os dimensionamentos de acordo com a espécie
vegetal a ser plantada em relação ao tipo e dimensões das calçadas.
96
Pesquisas realizadas na Universidade Texas A&M, por Dr. Roger Ulrich e publicadas no livro Green
Metropolis: Why Living Smaller, Living Closer, and Driving Less are the Keys to Sustainability. (SPECK,
2016, p.198).
88
com personalidades diferentes com base no uso consistente de uma espécie de árvore, e não
de uma mistura – chamada de regra tutti-frutti por alguns autores – e plantadas com
espaçamento regular97.
de todos os elementos que a compõem98 (faixa livre, faixa de serviço e faixa de transição),
pavimentos apropriados.
97
Manual 8 Princípios da calçada: construindo cidades mais ativas – WRI-Brasil (2017), Manual técnico
de arborização urbana – SP (2014), Street tree planting standards for New York city, (2016) e
Neighborhood Conservation Code, (2010).
98
A faixa livre é a área da calçada destinada exclusivamente à livre circulação de pedestres, isenta de
interferência e obstáculos que reduzam sua largura. A dimensão mínima recomendada é entre 1,20 -
1,50m de largura (permitindo a manobra de uma cadeira de rodas). A faixa de serviço é localizada
entre o meio-fio e a faixa livre. Destina-se a acomodar mobiliários urbanos e serviços, e sua largura
deve ter 0,70m a 0,80m. A faixa de transição aos imóveis localiza-se entre a faixa livre e as edificações
ou lotes, e sua largura mínima recomendada é de 0,45m. Conforme Guia da WRI_Brasil – 8 Princípios
da calçada: construindo cidades mais ativas (2017); Pedestrian Comfort Guidance for London (2010);
Boston Complete Streets: Design Guidelines (2013) e Guia Global de Desenho de Ruas (2018, p.78-
83).
89
QUADRO 8 Benefícios das árvores de rua (ambiental, social e econômico). Permeabilidade do solo
(pavimentos, canteiros – Boston e grandes vasos – Londres). Uso consistente de uma espécie de
árvore conferindo personalidades às ruas: Boston.
90
Ciclovias
Acolher as bicicletas é, atualmente, elemento obrigatório dos desenhos das vias, que
devem idealizar redes urbanas cicloviárias. Estudos mostram que jovens da geração Y citam
morar e, hoje, quem tem dezessete anos tem um terço a menos de probabilidade de tirar
As ciclovias e/ou ciclofaixas100 existentes junto à rua, ou a muitas ruas, trazem uma
mensagem: ambas informam aos moradores e potenciais moradores que a cidade defende
transporte alternativo, estilo de vida saudável e uma cultura ciclística, e apoia o estilo de vida
As vias com mais ciclistas, desde que os motoristas estejam acostumados com eles,
são consideradas mais seguras, uma vez que os motoristas dirigem com mais cuidado, o que
implica diminuição de acidentes e ferimentos aos pedestres. Este fenômeno é chamado, por
que existe102. Com a mesma quantidade de energia usada para caminhar, a bicicleta leva três
vezes mais longe, além de ser uma deslocação divertida. Ainda, as exigências espaciais da
bicicleta são mínimas, posto que dez bicicletas ocupam o espaço de um único carro, e uma
99
Jeff Speck, em A caminhada segura. Passo 6: Acolher as bicicletas (2016, p. 170).
100
Conforme manual de projetos e programa para incentivar o uso de bicicletas em comunidades-
EMBARQ_Brasil (2014) e Caderno de Referência de Plano de Mobilidade por bicicletas nas Cidades
(2007). Ciclovia: parte da pista de rolamento destinada exclusivamente para bicicletas, sendo separada
fisicamente por um desnível e pode seguir traçados independentes da malha viária urbana ou
rodoviária. Ciclofaixa: faixa (verde ou vermelha) posicionada na calcada ou contígua à pista de
rolamento de veículos, sendo dela separada por pintura e/ou dispositivos delimitadores.
101
Segundo Jane Jacobs (2014[1960]), quanto mais espaços são destinados aos pedestres e ciclistas,
maior será a funcionalidade dos espaços públicos e a segurança pública, pelo fato de ter mais pessoas
“vigiando as ruas”.
102
Segundo Jeff Speck, em A caminhada segura. Passo 6: acolher as bicicletas (2016, p. 171), esta
forma de transporte é um passo importante rumo a uma maior sustentabilidade.
91
ciclofaixa típica aceita cinco a dez vezes o volume de uma faixa de automóveis com o dobro
da largura103.
À vista disso, os desenhos das vias devem ser voltados para acolher as bicicletas, a
itens que irão favorecer a implantação de uma rede de vias para bicicletas e instaurar uma
cultura ciclística.
Neste aspecto da cultura ciclística, é oportuno citar Jeff Mapes104, autor do livro
Pedaling Revolution, que demonstra a inserção das bicicletas nas ruas, e como a crescente
cultura da bicicleta urbana está mudando a aparência das cidades dos EUA. O autor inspira-
um resultado importante dos muitos anos de trabalho de estímulo às pessoas para pedalar.
para cada sentido em vias adjacentes, protegidas por uma área de amortecimento de 1,0 m
elementos físicos somente são necessárias para vias com velocidades de projeto superiores
103
De acordo com Jan Gehl, em A cidade sustentável (2013, p.105), duas calçadas de 3,5m, ou uma
rua de pedestres de 7metros de largura podem acomodar 20.000 pessoas por hora. Duas ciclovias de
2 metros de largura são suficientes para 10.000 ciclistas por hora. Uma rua de duas mãos e duas faixas
suporta entre 1.000 e 2.000 carros por hora (horário de pico).
104
Jornalista político experiente e viajante de bicicleta de longa data, explora o crescimento da defesa
de bicicletas enquanto aborda questões como os aspectos ambientais, de segurança e de saúde do
ciclismo para viagens urbanas curtas.
105
Movimento popular no qual as pessoas se ajudam e se incentivam a sair de casa através do uso
exclusivo do poder de pedalar. Reivindicam mais investimentos na infraestrutura e ações que
fortalecem o uso das bicicletas com segurança.
106
Pesquisas mostram que mais de 50% dos habitantes de Copenhague pedalam todos os dias para
o transporte pessoal diário. City of Copenhagen, Copenhagen City of Cyclists: Bicycle Account, 2008.
107
Conforme manual de projetos e programa para incentivar o uso de bicicletas em comunidades –
EMBARQ-Brasil (2014); Conforme Guia Boston Complete Streets: Design Guidelines (2013) e Caderno
de Referência de Plano de Mobilidade por bicicletas nas Cidades (2007). Guia global de desenho de
ruas (2018, p. 93-105).
92
para seu caráter, sugerir um desenho mais simplificado com contrafluxo (para ruas de mão
pedalada.
Algumas estratégias podem ser utilizadas para esta rota compartilhada, como as
sharrows, que são pinturas nas faixas que anunciam a presença de bicicletas e seu fluxo,
Dentre inúmeras formas de pensar uma ciclovia, o maior objetivo deverá ser o de
endereços da cidade. Alguns desses trajetos seriam em vias separadas, outros, em ciclofaixas
O plano ciclístico pode iniciar pela integração entre sistemas de transportes, inclusive
mobiliário da parada/estação de transporte público. Este plano deve conter uma rede de
rotas cicloviárias que interligue os centros de bairro entre si, das origens aos destinos-chave
para a comunidade.
(durante a noite) para residentes, funcionários e estudantes, deve ser oferecido junto às
108
Sobre rota compartilhada, relativa às vias cicláveis, entende-se que são ruas calmas que comportam
grande fluxo de bicicletas acompanhadas de tráfego muito baixo de veículos motorizados. Também
conhecidas como Boulevares Cicláveis, Cycle Streets ou Cycle Boulevares em inglês, Fahrradstrabe em
alemão e Fietsstraat em holandês. Guia global de desenho de ruas (2018, p. 101).
109
Conforme o Guia global de desenho de ruas (2018, p. 104), a distância entre estações de bicicletas
num sistema de compartilhamento deve ser de 300m.
110
Conforme Guia Boston Complete Streets: design guidelines (2013, p.80).
93
Ainda fazem parte dos elementos de projeto de um plano ciclístico: uma iluminação
permitam cruzar pontos críticos como grandes corredores de transportes, entre outros.
94
QUADRO 9 Sistema de ciclovia eficaz e segura. Rota compartilhada – sharrows. Estratégia global de
transporte – integração entre modais: Copenhague, Dinamarca. Aluguel de bicicletas (e-bike) para
o uso diário: São Francisco, Baldwin Park - CA, Copenhague, Dinamarca.
95
conectando bairros com distritos e outros destinos regionais. Como já mencionado no item
com densidade suficiente e distribuídos de modo apropriado para possibilitar uma grande
leve.
A nova área residencial necessita ter acesso a um bom sistema de transporte público
a fim de assegurar esta forma de mobilidade urbana, que deve ser integrada ao Plano Diretor
transporte – metrô, bonde, ônibus – com o tipo e o propósito específico, com a densidade e
a distribuição dos usos do solo adjacente, uma vez que a densidade urbana e os níveis de
111
Smart Growth (Crescimento Inteligente): termo utilizado pela primeira vez em 1995 pelo então
governador do Estado do Colorado, Roy Romer. O Crescimento Urbano Inteligente tem suas raízes no
movimento ambiental dos anos 1970 nos EUA, quando é proposta uma Lei Nacional da Política do
Uso do Solo que, embora não tenha sido aprovada pelo Congresso Nacional, foi adotada por vários
governantes com o intuito da conservação de bairros compactos, caminháveis e de uso misto. FARR,
Douglas, (2013, p.16).
112
Conforme Jan Gehl, em A cidade sustentável (2013, p.107), desenvolver o tráfego de bicicletas
alivia a sobrecarga dos transportes públicos e contribui para a qualidade da cidade e do meio
ambiente.
113
Somente nas cidades onde dirigir é opcional, com bom transporte público, táxis, caminhadas e
bicicletas é que o compartilhamento de carros pode se desenvolver.
96
serviços de transporte público possuem uma eminente correlação. Ou, melhor dizendo, uma
concentração de pessoas que vive ou trabalha próximo a uma parada de transporte cria um
mercado estável de pessoas que percorrem uma distância curta a pé até ao serviço de
sustentabilidade do serviço.
pesquisas realizadas por Jeffrey Zupan, John Holtzclaw e Reid Ewing114: até 37,5 UH/ha -
ônibus local com uma periodicidade que dependerá do tamanho do centro e distâncias da
área residencial e do centro; acima de 37,5 – 50 UH/ha sustenta ônibus expresso, ônibus
elétrico, metrô.
coletivo, de maior porte, devem ser intensificados de modo que a concentração populacional
Nesse seguimento, é necessário pensar que os grandes ônibus não circulam, e nem
devem circular, nas vias locais. Assim, Alexander (2013 [1977], p. 67) recomenda que seja
baixa velocidade e de baixo custo, como por exemplo um micro-ônibus e/ou vans que,
porta.
Este sistema funciona de modo similar aos aplicativos de transportes tão utilizados
atualmente, exceto pelo fato que pega/tomada e larga/largada outros passageiros ao longo
do seu percurso. Por meio da tecnologia, à medida que chegam as chamadas, o programa
existentes em cada um deles, e decide qual é o ônibus ideal para pegar o novo passageiro,
Boris Pushkarev e Jeffrey Zupan M. Jeffrey em: Modais de transporte público relacionados com a
114
além de ocuparem menos espaço nas cidades, não contribuem para a emissão de gás
carbônico, e são mais saudáveis por exigirem alguma atividade física, deixando os usuários
num contato mais íntimo uns com os outros e também com o seu meio ambiente.
Considera-se pertinente frisar que estes serviços devem ser regulamentados para
evitar problemas entre oferta e demanda. Na China, por exemplo, houve um excesso de
oferta de bicicletas que gerou um impacto negativo de grandes proporções; pelo contrário,
na Holanda, o uso das bicicletas tornou-se um grande sucesso. Isso revela que não existe um
gabarito ou um modelo em mobilidade urbana, nem todas as soluções são efetivas em todas
uma margem, e contenham uma variedade de atividades próximas, com uma estrutura viária
de ruas e espaços públicos favoráveis aos pedestres. Caso contrário, mesmo em áreas de alta
densidade, o transporte público não poderá florescer, já que é sua natureza nodal e favorável
Por isso, as cidades em melhores condições para fazer bom uso de um novo sistema
(SPECK, 2016, p.135). Da mesma forma, Jan Gehl define que cidades construídas em torno
pelo Transporte objetiva mais que simplesmente um projeto próximo a uma estação de
projetos de empreendimentos múltiplos, maiores densidades, usos mistos, uma rede viária
onde se possa caminhar e pedalar e um desenho que permita vida urbana, preservando as
início do século XX, onde os subúrbios acessados por bondes serviam como mecanismo para
conduzidos de maneira integrada não é nova; no entanto, este conceito foi enfraquecendo à
Embora se possa visualizar uma mudança desse padrão em muitas cidades do mundo,
ambiente e a habitação, ainda é relativamente nova. Prova disso são as cidades com forma
115
Conforme Guias do Center for Transit-Oriented Development (CTOD): TOD 203 – Transit corridors
and TOD; TOD 205 – Families And Transit-Oriented Development – Creating Complete Communities
For All; TOD 202 – Station area planning – How to make great transit-oriented places; TOD 101 – Why
transit-oriented development and why now?; TOD 201 – Mixed-income Housing near Transit –
Increasing Affordability with location efficiency.
116
DOTS nos Planos Diretores – Guia para inclusão do Desenvolvimento Orientado ao Transporte
Sustentável no planejamento urbano – WRI-Brasil (2018) e Manual de Desenvolvimento Urbano
Orientado ao Transporte Sustentável – EMBRAQ-Brasil (2015).
117
O uso de transporte público nos Estados Unidos aumentou em 25% no período entre 1995 a 2005
– Guia para inclusão do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável no planejamento
urbano – WRI-Brasil (2018).
99
integrem o transporte público aos bairros e ajudem a sustentar comunidades de renda mista
e ativas em bairros urbanos e suburbanos. Deste modo, busca resolver, ao mesmo tempo, o
problema das habitações e do transporte público enquanto expande o acesso aos empregos,
o cidadão e a cidade por meio de seus deslocamentos, pelas rotas entre casa e paradas e
pedalando121.
118
Ver item I.1.1 – Localização - Habitação ao longo dos eixos de transporte sobre algumas ações no
Brasil de aplicação do DOTS.
119
TOD de renda mista é uma expressão utilizada pelos autores da Reconnecting America (organização
sem fins lucrativos que desenvolve pesquisas inovadoras no que tange à integração de transporte e
desenvolvimento comunitário).
120
Convergindo com Farr (2013), Duany, A., Plater-zyberk, E. and Co. (2003). Na publicação The
Lexicon of the New Urbanism (2018, p. 62), estabelecem parâmetros de “typical TOD pedestrian
sheds” de ½ mile, bem como mostram uma relação entre o tipo de sistema de transporte e seus
respectivos pontos de embarque.
121
Conforme Manual de Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável – EMBRAQ-
Brasil (2015, p. 32).
100
conveniência dos pedestres. Estes ‘nós’ de transporte devem garantir que os pedestres
as pessoas que dirigem até a estação, seja considerado o equilíbrio de funções que cada
No que diz respeito à localização das paradas de ônibus, estas devem estar,
a fim de atender às características do lugar, bem como ter o encargo de criar uma atmosfera
Nesse ponto, a Project for Public Spaces (PPS), ao tratar dos serviços de transporte,
salienta que, mais que levar pessoas aonde elas precisam ir, é necessário aprimorar e apoiar
os destinos que elas atendem. Dessa forma, destaca que as paradas/estações são ótimas
Por exemplo, um sistema como um semáforo, um meio-fio e uma esquina podem ser
melhorados se forem vistos como um ‘nó’ distinto da vida pública onde os pontos de ônibus
estejam ordenados em conjunto com uma banca de revistas, uma marquise, mercearias de
esquina, tabacarias, cafés, árvores com bancos, banheiros públicos, entre outras atividades
relacionadas.
narrativas sobre o bairro ou pontos de interesse do local – informações físicas, digitais e braile
transporte deve ser conceituado como conveniência e não apenas como simples veículo de
sociais, como assentos virados para dentro e nunca para as costas do outro, janelas grandes,
sem películas e que abram amplamente, wi-fi e, claro, oferecer um serviço frequente, e que
QUADRO 10 Área de influência da estratégia TOD / DOTS para eixos e estações de transporte
coletivo. Parada interativa mostrando a visão de um inseto – Victoria ZOO – Canada. Integração,
variedade e tecnologia dos modais e Tags digitais e painéis de informações
103
[...] bairros/distritos não podem ser cópias uns dos outros; são extremamente
diferentes, e devem ser. Uma cidade não é um conjunto de cidadezinhas
repetitivas. Um distrito atraente tem características próprias e especialidades
próprias. (JACOBS, 2014 [1960], p. 96).
O conceito de bairro/setor/distrito escrito por Rossi (2001 [1966]), bem como por
outros autores como Lynch (2011 [1960]), Panerai (2001 [1999]) e Jacobs (2014 [1960]),
discursa sobre o caráter distinto de uma determinada área – síntese de funções e valores – e
propiciam a interação de usos, e que esta interação também depende da integração física
entre setores, evitando obstáculos, como grandes artérias de tráfego, parques muito
temático com uma fisionomia particular, que preserve sua constituição e seu processo
histórico. Para isso, é preciso que os planos diretores e códigos de obras das cidades122
urbanas existentes.
planejamento urbano, cerne dos princípios do Novo Urbanismo, são vitais para a construção
“planos territoriais programáticos” (VENUTI apud PORTAS, 2011 [1969], p. 85), aos quais
122
Referindo-se principalmente às cidades em desenvolvimento, como é o caso do Brasil.
104
territorial.
comunidade (do quarteirão, do edifício), com instruções para os tipos de vias e a relação com
abertos e flexíveis.
ocupação dos lotes, os recuos e alturas máximas permitidas – como os planos diretores em
geral. Estas normas carecem de conter diretrizes ao nível da arquitetura do edifício, o que
é atribuído.
123
“Arquitetura Urbana” e “Programa-em-forma”: termos utilizados por Nuno Portas quando explica
sobre projeto e cidade no livro A cidade como Arquitetura (2011 [1969], p. 77). Tais termos expressam
a busca pelo planejamento de uma arquitetura de um nível de plano geral urbano, ou diretor, ao nível
de arquitetura do edifício – o desenho da cidade como obra.
105
Segundo Portas (2011 [1969], p. 78), estas informações dadas ao projeto arquitetônico
local servem como uma base justa para a coletividade e auxiliam na garantia de que a obra
irá contribuir para dar forma a uma imagem e vida na cidade, influenciando, positivamente,
Outro fator relevante é o ‘controle das transições’ entre diferentes zonas urbanas e
distritos, e uma ordenada conexão ao meio natural, através do “código baseado na forma”126,
a substituição do zoneamento convencional das cidades, que tem como foco a forma física
do edifício; “como o edifício encontra o chão, a rua e o céu” (SPECK, 2016, p. 212) e mostra,
também, como lidar com a transição do domínio público para a esfera privada.
Desta forma, optou-se pelos temas mais essenciais a fim de encorajar o “bom
124
O trabalho de Rossi, no livro A Arquitetura da Cidade, teve uma importância decisiva no
estabelecimento da arquitetura como um corpus teórico, como uma disciplina científica. O significado
da arquitetura não está na "solução de problemas" experimental do profissionalismo, mas em seu
conteúdo cognitivo como um ato intelectual e cultural de uma disciplina que a define precisamente
em seu valor de síntese de relações mais gerais do fato urbano. (SOLÀ-MORALES, 1974).
125
A permanência, definida por Poète como persistência, combina elementos tomados da geografia,
da história e da arquitetura e, através da sua análise e compreensão, torna-se a geratriz do plano de
intervenção e pode ser aplicada aos edifícios, às ruas e aos monumentos urbanos (ROSSI, 2001 [1966],
p. 65).
126
Código “baseado na forma”, também chamado de Smart Code (código inteligente), tem a
capacidade de moldar regiões e é baseado no Transecto (um espectro de tipos de lugares). O Smart
Code é organizado de acordo com o tipo de lugar que se quer criar, diferentemente do zoneamento
convencional que focaliza no uso do solo.
127
“Bom desenho”: termo utilizado por Vicente Del Rio (1990, p. 109) quando faz referência à
BARNETT (1987, p. 115) e descreve acerca do desafio de desenhar a cidade sem projetar edifícios –
garantir a maximização do potencial de desenho urbano de um sítio enquanto se controla a arquitetura
o menos possível.
106
Distritos de Zoneamento
vizinhança, com as tipologias dos edifícios já existentes (correntes ou não), em nível funcional
que permita uma posterior evolução e/ou reformulação das ligações com sua área
envolvente.
Para estabelecer esta diversidade, é aconselhável que o sítio (quando for o caso de
quais tenham seus limites demarcados a fim de manter o caráter próprio e distinto de cada
setor129. Os setores necessitam ter características físicas que os distinguem, como: espaço,
forma, cor, textura, detalhe, símbolo, tipo de edifício, utilização, atividades, habitantes,
topografia, entre outras variantes que contribuam para a formação de um setor identificável
e contínuo.
feito por meio de análise de cada lote e/ou quarteirão individualmente e é promovido em
128
Neste âmbito, é pertinente evidenciar que o conceito de distritos de zoneamento aqui proposto
possui o intuito, diferentemente da teoria funcionalista do zoneamento, de que as partes/distritos
sejam relativamente autônomas, subordinadas umas às outras e que consideram, na sua gênese, o
processo histórico através da estrutura de fatos urbanos e que suas relações sejam reportadas à inteira
estrutura urbana.
129
Setor (district): para a morfologia social, o bairro é uma unidade morfológica e estrutural; é
caracterizado por uma certa paisagem urbana, por um certo conteúdo social e por uma função própria;
logo, a transformação de um destes elementos é suficiente para fixar o limite do bairro. (ROSSI, 2001
[1966], p. 88). É uma porção do território urbano identificada como uma totalidade. Um setor pode
corresponder a uma zona homogênea do ponto de vista morfológico. (PANERAI, 2001 [1999], p. 33).
São setores identificáveis que podem servir como ponto de referência e auxiliar na orientação do
usuário. É uma área de caráter homogênea traduzida por características espaciais, sociais e de hábitos.
(LYNCH, 2011 [1960], p.70 e 107).
107
códigos baseados na forma, onde os tipos de vias são desenvolvidos de acordo com os tipos
Esta subdivisão deve ponderar o sítio ou locus, termo utilizado por Rossi, a fim de
singularizar cada espaço, e se refere à preocupação com o local, seu entorno e suas futuras
sentido físico, como também e, sobretudo, no sentido da escolha daquele lugar e da unidade
indissolúvel que foi estabelecida entre o lugar e a obra.” (ROSSI, 2001 [1966], p. 165).
exemplo das ampliações realizadas no século XIX em Mataró, Vilanova, Terrassa, Sabadel e
cidade aberta, flexível e homogênea. Segundo Morales (1975), este entendimento, tão
simples, mas cheio de significado – que objetivava manter a continuidade espacial máxima –
Nesse contexto, é preciso um olhar atento aos processos de mudanças do lugar, onde
os usos atuais já sobrescreveram com o intuito de evitar que não sejam apagadas por
culturais que lhe dão identidade. Del Rio (1990, p. 119) comenta que, em níveis sociocultural
fronteiras entre os distritos. Estas são geralmente constituídas de vias principais (tensores131),
as quais, associadas com seu papel no sistema viário, oportunizem incluir locais de encontro
relacionamento entre os setores, bem como entre o novo conjunto habitacional ou bairro
130
Manuel Solà-Morales e Julio Esteban, no texto: Nuevas Ciudades em el siglo XIX: Notas de
investigación sobre los ensanches de las ciudades menores del área de Barcelona, e el sempiterno
lamento de que cualquier tempo trazado fue mejos (1975). Revista Arquiteturas: información gráfica
de actualidad.
131
Segundo Panerai (2001 [1999], p. 61), as vias principais (vias de crescimento) são consideradas
tensores entre polos.
108
lugar (rios, canais, parques, estradas arteriais ou viadutos) podem fornecer a definição que
contribui para um sentido de lugar (através destas estruturas, visíveis a longa distância), o que
não quer dizer que não sejam perfurados ou estendidos para evitar a separação e aumentar
cruzamento entre vias e limites, “portas urbanas”132, as quais devem ser tratadas como
Conforme Alexander (2013 [1977], p. 278), muitas partes de uma cidade têm limites
bem definidos em seu contorno. Estes limites geralmente estão na mente das pessoas e
limite existente na mente das pessoas também estiver presente no mundo físico.
exemplo: uma massa vertical dos edifícios de esquina com maior altura que o conjunto na
sua totalidade e com usos especiais, um portal que atravessa um edifício, uma ponte, um
grande portão, criando a sensação de transição, podendo incluir esculturas, murais e outras
132
“Portas urbanas”: termo utilizado por Antônio Batista Coelho e João Branco Pedro ao explicar sobre
a relevância de demarcar as entradas de agrupamentos de edificações num bairro nos pontos onde as
principais vias cruzam os limites. Livro Do bairro e da vizinhança à habitação: tipologias e caracterização
dos níveis físicos residenciais, (2013, p. 40 e 41).
133
Conceito de gateway já mencionado no item I.1.2 Conexões – Rede viária.
109
formas de arte urbana, alturas variadas de árvores, dispositivos especiais de iluminação, entre
Os portais ou portas urbanas podem, nem sempre no sentido literal da palavra, incluir
uma variedade de sinais visuais – alguns estão localizados na superfície da pista e nas
calçadas, enquanto outros são elementos verticais que podem ser reconhecidos à distância.
Esta forma de desenho das ruas nos espaços de transição, através de indicações
QUADRO 11 Distritos de zoneamento e ligações com as áreas envolventes. Caráter distinto de cada
setor – bairro. Fronteiras/limites entre os bairros e marcação dos polos de acesso (físicos e sinais
visuais): Londres, Londres e Lisboa.
111
total da vida cotidiana, é pertinente incluir nesta análise a teoria das zonas de Transect134. As
zonas de Transect possuem uma classificação e variam de acordo com o nível e a intensidade
estruturas formais da paisagem (rios ou lagos, montes ou vales, matas e clima) e as estruturas
formais da história (a arte urbana de aglomerados pré-existentes, na escala das ruas, das
• T1 é a zona natural, com áreas abertas, vegetadas ou preservadas, que podem estar sujeitas
• T2 define a zona rural, com áreas abertas para a produção de alimentos, com pequenas
propriedades rurais e setores de crescimento restrito. Tal área caracteriza-se pela existência
134
As zonas de Transect são uma teoria desenvolvida pelo Centro de Estudos de Transectos Aplicados
(CATS), que promove a compreensão do ambiente construído como parte do ambiente natural, através
da metodologia de planejamento do transect rural-urbano. Estas zonas são agrupadas num esquema
de zoneamento integrado, sendo (CLD) Clustered Land Developmen; (TND) Traditional Neighborhood
Development e (RCD) Regional Center Development. O Transect objetiva que o urbanismo evolua sem
perder seus fundamentos de história e do caráter do lugar, ordem e equilíbrio, e respeitando os
princípios ambientais (DUANY et al, 2014).
135
Que as comunidades devem fornecer escolhas significativas nos arranjos de vida, conforme
manifestado por ambientes físicos distintos, através do dispositivo taxônomico, a fim de colocar em
ordem útil todos os elementos componentes do design urbano. Como uma regra de montagem das
partes num todo. Taxônomico, por sua vez, nas ciências biológicas, estuda a classificação dos seres
vivos, considerando o conjunto de suas características.
136
O CATS (Centro de Estudos de Transectos Aplicados) segue as premissas da Carta do Novo
Urbanismo (1996), que enfatiza o desenho neo-tradicional, i.é., busca uma reconciliação dos modelos
atuais de urbanização com a tradicional Unidade de Vizinhança de Perry (1929), que tem, no seu
conceito, a vizinhança como elemento fundamental do planejamento. Desta fusão, originou a zona
TND – Traditional Neighborhood Development – expressão utilizada atualmente no contexto do New
Urbanism.
112
de florestas, pastagens, terras agrícolas com edificações como galpões, cabanas e moradias
de camponeses;
baixa densidade residencial. As quadras podem ser grandes e as ruas/estradas podem ser
• T4 é a zona geral urbana que consiste em uso misto com predomínio de residências,
quarteirões apresentam tamanho médio e são definidos pelas ruas, meios-fios e calçadas, e
• T5 é a zona central urbana, marcada pela grande densidade populacional, com usos
pela arborização que é constante na paisagem, os edifícios são mais próximos das calçadas;
com aumento da altura das edificações, variedade de usos (edifícios cívicos de importância
Como já foi referido, a partir desta classificação, proposta pelo CATS, é possível a
criação de uma codificação dos elementos de projeto urbano e arquitetônico que auxilia no
ambiente.
lugar nas relações mútuas entre espaços públicos e privados, num esforço para sustentar e
137
Ambientes urbanos apropriados à escala humana significam ambientes, sejam públicos ou privados,
que foram planejados a partir do reconhecimento das características e necessidades humanas.
138
Conhecida atualmente como Smart Code, é baseada no Transect e no Smart Grrow, e aborda todas
as escalas do planejamento, da região à comunidade, ao quarteirão e ao edifício.
113
Nessa perspectiva, o código (smart code) enfatiza a forma das edificações e como
elas afetam os espaços públicos, definindo normas139 para cada tipo de edificação. Assim,
são detalhadas desde a implantação das edificações no quarteirão e/ou lotes (posição dos
as alturas das edificações e a relação com os tipos de vias; a forma dos térreos e sua interface
do bairro (ruas, praças, parques, playground) para que se constituam em locais de uso
compartilhado e, por ter na sua essência os princípios do Novo Urbanismo, tem como
propósito constituir bairros completos, compactos e de uso misto, de modo que os padrões
da definição das atividades –, regulando muito além do que os planos diretores em geral
estabelecem. O smart code é organizado de acordo com o tipo de lugar que se quer criar e
estéticos, influência, positivamente, para dar forma a uma imagem e vida na cidade, atuando
num conjunto de aspectos de natureza social, econômica e ambiental. Ter um código que
urbanísticas e administrativas para que atinja seus objetivos na totalidade: tornar-se uma
ferramenta mais prescritiva do que restritiva, onde as orientações sejam articuladas desde a
escala de projeto urbano até a escala do edifício, num esforço integrado de diferentes
especialistas.
139
Tais normas incluem algumas modificações aceitáveis para que os empreendimentos tenham
flexibilidade de acordo com as preferências da comunidade e a natureza de cada lugar. Também, a
complexidade de cada código deve ser delineada de acordo com cada situação específica. Nem todos
precisam tentar antecipar todas as variações possíveis.
114
a comunidade, bem como acertar na escolha do local (uma área pequena e central) a fim de
demonstrar, através do primeiro projeto catalisador, que outros projetos semelhantes são
viáveis.
arquitetônicos), pode ser um instrumento (um manual de diretrizes para cada novo
Este manual, que deve estar de acordo com o Plano Diretor, deve ser escrito e
ilustrado, a fim de assegurar que as exigências fiquem claras, principalmente para os vários
escritórios de arquitetura que irão projetar, ao longo dos anos, soluções arquitetônicas que
Sul. O Smart Code142 foi lançado pelos arquitetos Duany Plater-Zyberk & Company (DPZ) em
2003 e hoje, após quase duas décadas de pesquisa e implementação, mostra-se eficaz na
Estas diretrizes, que contemplam desde a escala de projeto urbano até a escala do
imagem da “boa forma urbana”, onde, sempre, a escala humana esteja no centro de todas
as resoluções.
140
Entrevista ao jornal Public square (2017) - 25 great ideas of the New Urbanism. O jornal Public square
é editado por Robet Steuteville, consultor de comunicações do Congresso do Novo Urbanismo (CNU).
https://www.cnu.org/publicsquare/category/great-ideas.
141
Sem qualquer pretensão de esgotar o assunto sobre a Teoria das Zonas Transect e do Smart Code,
ficam aqui registradas algumas fontes de pesquisa sobre estes temas: http://transect.org;
http://dpz.com; http://newurbanism.org; https://www.cnu.org; http://smartcodecentral.com;
http://formbasedcodes.org; além dos livros já referenciados neste tópico.
142
O Smart Code é um software aberto, porque permite uma flexibilidade de acordo com as condições
locais, e disponível para download gratuito.
115
Planos que contemplam as diversas escalas de desenho para cada zona da cidade, nessa
que estão sendo concebidos sob esta ótica, da codificação de elementos urbanos e
Novo Urbanismo.
Contudo, estes planos pilotos no Brasil são, na sua grande maioria, criados por uma
Nesse âmbito, nota-se uma lacuna, tanto para os empreendimentos públicos como
arquitetura do edifício.
planos e códigos que sejam menos generalistas e mais específicos no que tange aos
143
Câmara Municipal de Lisboa: http://www.cm-lisboa.pt.
144
De acordo com o Form-Based Codes: A Step-by-Step Guide Form Communities (2013), lugares
habitáveis são saudáveis, seguros e tranquilos. Comunidades habitáveis oferecem opções de
transporte e acesso oportuno a escolas, ao trabalho, serviços e necessidades básicas. As comunidades
habitáveis estão imbuídas de força e vitalidade, características que emergem da preservação das
características únicas que dão às nossas diversas comunidades um senso de lugar.
116
QUADRO 12 Zonas de Transect ilustradas através das pinturas de Norman Rockwell. Modelo
transect rural-urbano – CATS. O Transect de Ronda-Itália. Codificação de elementos de projeto
(Smart Code).
117
Malha de quarteirões
Dado que, no tópico anterior (item I.1.2 – Conexões – Rede viária), se dissertou sobre
as vias principais que conformam os distritos e suas propriedades, de acordo com os tipos
Estas vias deverão seguir uma hierarquia de espaços abertos e ruas para apoiar uma
função, vocação e caráter que exercem, aliados ao planejando de locais que conformem
sistemas de atividades que darão conteúdo, coerência e vitalidade aos espaços urbanos.
As via locais devem ser traçadas para que se obtenha, como resultado, uma malha de
quarteirões, com desenhos regulares, sempre que possível, dependendo das condições do
No que concerne ao tamanho dos quarteirões, há duas principais razões pelas quais
devemos atentar: a primeira, em relação à segurança, uma vez que estudos146 mostram que
quarteirões maiores significam menos ruas e, portanto, ruas maiores, com múltiplas faixas de
tráfego e mais velozes, o que as torna menos seguras; e, em segundo, quanto à conveniência:
quanto mais quarteirões por quilômetro quadrado, mais escolhas o pedestre poderá fazer e
mais oportunidades ele terá para alterar seu trajeto e chegar a um endereço útil. Estas
escolhas também tornam a caminhada mais interessante, ao mesmo tempo que diminuem as
É possível afirmar que evidências históricas mostram como as grelhas médias (cerca
construída. Da mesma forma, o comprimento das fachadas por área também se torna mais
o domínio público.
145
Recomendações de tamanhos de quarteirões: comprimento de 80m-150m (Gehl, 2014) – sugere a
subdivisão, com ruas internas (de pedestres) para os quarteirões maiores; comprimento 140m e
perímetro 450m (Farr, 2013); comprimento máximo 180 e perímetro 600m (DPZ, 2000).
146
Jeff Speck, em A caminhada segura (2016, p. 151), e Jane Jacobs, em Condições indispensáveis
para gerar uma diversidade e vitalidade (2014[1960], p.107).
118
80m–100m fornece uma rede ideal para as necessidades de pedestres e veículos na maioria
de 50m a 70m fornece uma ótima rede de circulação. Deste modo, o autor recomenda que,
em bairro de uso misto, deve ocorrer uma variedade de tamanhos de quarteirões para
p.124), é considerada, pelo referido autor, como um modelo que, existindo um equilíbrio
variações a partir de uma regra geral que é por demais flexível quanto ao detalhamento de
cada sítio.
O autor afirma que, como uma base objetiva, a grelha delineia o layout do espaço
das inúmeras decisões isoladas. Além disso, a sua simplicidade vem ao encontro da economia
contemporâneo.
quarteirões pequenos para maior urbanidade e assim se expressa: "Se a principal causa de
o mesmo motivo que criou o caráter íntimo de um ambiente urbano. Tal ambiente é a base
O papel desta rede de vias locais não é apenas de fornecer um traçado sobre o qual
61). Outrossim, a rede de ruas deve pertencer a uma rede de diversos espaços públicos
147
MAHFUZ, Edson da Cunha. Reflexões sobre a construção da forma pertinente. In: Projetar 2001:
desafios e conquistas da pesquisa e do ensino de projeto (2003, p. 32-48).
148
Hélio Piñon, Teoria do projeto (2006, p. 54). Interpretação do Texto Après le cubisme, de Le
Corbusier e Amédée Ozenfant (1918) que propunha, como atributos da nova arte, a economia, a
precisão, o rigor e a universalidade.
119
(parques, praças cívicas, jardins de vizinhança, áreas de lazer e desporto) com o propósito de
não necessitam seguir um único padrão e nem uma repetição149. É oportuno aqui lembrar,
novamente, as lições de Leon Krier (1990) apud Carmona et al., 2003, p. 71 sobre os tipos e
sistemas de espaços urbanos: a) os quarteirões urbanos são o resultado dos padrões de ruas
formais precisos (as “salas públicas” são tipologicamente identificáveis); e d) os edifícios são
tipos formais precisos, e existe uma distribuição aleatória de edifícios situados no espaço150.
lembrar, outra vez, Leon Krier, que buscou a recriação ativa de valores urbanos clássicos
encontrados no centro urbano, quarteirões que tendem a crescer maiores e mais simples são
independentes) e afirma que a boa cidade se forma por “multiplicações”, quarteirões que
149
Mais relevante que a regularidade ou a formação de uma grelha cartesiana é a garantia de uma
rede conectada de vias que ofereçam alternativas de rotas para caminhar, andar de bicicleta ou dirigir.
150
Os primeiros três são tipos de espaços urbanos tradicionais. Na quarta definição, Krier refere-se a
uma forma do espaço urbano modernista com espaços fragmentados que negam a cidade existente.
151
Quarteirões maiores (em direção à periferia) podem ter dimensões maiores a fim de se adaptar e
estruturar a forma da paisagem urbana. Por exemplo, os blocos urbanos maiores podem ter mais de
200 metros, em qualquer dimensão, atravessados por pequenas ruas transversais e trilhas.
152
Tecelagem urbana: termo utilizado por Carmona et al. (2003, p. 82), quando explicam a
configuração de quarteirões em sítios onde é necessário trabalhar com padrões remanescentes, onde
os quarteirões são determinados pelo contexto local a fim de restabelecer a integração da nova área
residencial com o seu contexto circundante.
120
Já, em sítios com áreas mais abertas, zonas mais rurais, geralmente há menos
dos tamanhos e forma pode-se dar pela análise dos requisitos de usos específicos do solo
(habitação, escritórios, lojas, escolas, etc.) e/ou pelo uso de precedentes históricos que
longo do tempo.
obtida através de alguns fatores como: a largura das ruas, o comprimento dos quarteirões,
outras qualidades.
funcional das vias, a qual deve estar em sintonia com a hierarquia visual e de significados e
hábitos de cada setor. Assim, uma distinção das ruas mais significativas e a sua unificação
Estudos realizados por Kevin Lynch sobre a imagem da cidade e os seus elementos nas cidades de
153
QUADRO 13 Espaço urbano tradicional (Paris). Malha de quarteirões (com tamanho médio,
integrados e determinados pelo contexto local). Exemplo do bairro Pedra Branca - SC, Brasil.
122
[...] o bloco urbano não é uma forma arquitetônica, mas um grupo de parcelas
(lotes) independentes. Só tem significado adequado quando são
organizados a partir da rua, relacionando-se com a rede viária. (PANERAI,
2004, apud CARMONA et al, 2003, p. 93).
Mais do que tamanho e regularidade dos quarteirões, o que mais importa é a relação
entre espaço construído e o espaço aberto, a qual se dá através da organização das partes,
de modo que o todo (domínio público) seja maior do que a soma de seus edifícios e
desenvolvimentos individuais.
positivos.
e cultural na história urbana de Barcelona – o caso de Gracia –, aponta que são as parcelas
(os lotes) que compõem o quarteirão que deverão ser o material de projeto. Estas, em
Assim, o desenho do quarteirão deve priorizar a definição da rua; pode dispor de uma
praça central (espaço positivo) permeável aos eixos primários de acesso; e os lotes devem
ser constantes e com dimensionamentos modestos – com pouca largura (6m a 10m) a fim de
propiciar, por um lado, uma continuidade espacial e, por outro, uma variedade de entradas
Nesse cenário, além da tipologia dos quarteirões e a coesão entre as partes e a relação
do conjunto com a rua e a cidade, ainda é pertinente acautelar para com os quarteirões
especiais, com equipamentos e serviços, que possam servir tanto o bairro como a vizinhança,
154
Edifícios como ‘fundos’: consideração de Colin Rowe (1978) em seus estudos sobre o projeto do
espaço urbano onde usava diagramas figura-fundo para reconhecer a relação entre os espaços vazios
e os maciços edificados, percebendo a conformação de espaços positivos (fixação do espaço) ou o
edifício positivo (fixação do objeto).
155
Manuel Solà-Morales, Eduard Brú e Enric Serra, no texto Gracia: Diseño del suelo y forma urbana
em los origenes de la Barcelona moderna (1976). Revista Arquiteturas: información gráfica de
actualidad.
123
ao bairro, que devem ser interconectadas a fim de que o bairro nunca fique “voltado para
si”156, e sim contribua com a mobilidade e fluidez dos usos urbanos consolidados, sem
Jacobs (2014 [1960], p. 86), a falta de autonomia tanto econômica quanto social dos bairros
é natural e necessária a eles, simplesmente porque eles são partes integrantes das cidades.
Dessa forma, partindo dos elementos constitutivos do tecido urbano, foi definido um
indicador: Parcelas e Edificado, no que se refere ao arranjo dos quarteirões com a finalidade
De acordo com Panerai (2006 [1999], p. 88), as massas edificadas que ocupam as
parcelas (lotes) do quarteirão devem, sempre, ter a rua como referência. Essa submissão do
construído ao espaço público permite que haja uma solidariedade entre os edifícios, mesmo
O autor explica que essa solidariedade entre os edifícios permite a sua substituição
(portanto a entrada e o endereço) em relação à rua e os vínculos dos lotes e edifícios vizinhos.
oposição entre a frente – orientada para a rua – e os fundos – onde soluções mais livres não
Expressão utilizada por Jane Jacobs (2014[1960], p. 86), ao referir-se aos bairros em forma de ilhas
156
construção de ambientes urbanos que resultem na “boa forma urbana”, através da criação
de uma continuidade espacial (sobretudo nos térreos), por meio do alinhamento dos
edifícios.
estabelecer a relação entre as parcelas e o edificado, bem como entre este conjunto com os
espaços públicos abertos, como segue: a configuração dos quarteirões, com diferentes
implantação dos usos especiais (Quais? Onde? Como?) a fim de comprometer-se com a
Zones, da demarcação dos seus acessos, da cautela para com suas margens e da definição
quarteirões que serão usadas na nova área residencial, sugerindo a localização para cada tipo
correta relação entre as vias, as parcelas e as edificações, tanto na forma como nas funções
estabelecidas.
diversidade dos locais e suas atividades. Esta variedade de abordagens explora e incentiva a
157
Vocação do lugar: são propriedades do lugar que são identificadas após o estudo do conteúdo
sociocultural, político, físico, arquitetônico, econômico e histórico.
125
de quarteirões.
partir dos quais, uma gama de modelos poderá ser criada –, apoiado nas condições do local,
a relação edifícios cidade. Os diferentes tipos e escalas de edifícios e sua relação com as
individuais (mais convencional, com regras normativas do desenho urbano159) ou, numa nova
um conjunto de edifícios, seja com volumetrias retangulares, em forma de “L”, de “U”, entre
outras possibilidades, desde que construam território urbano a partir de elementos de sua
Nesse âmbito, dos blocos de perímetro, o layout dos quarteirões (em especial os de
maiores dimensões) deve prever ainda a permeabilidade física e/ou visual161, dispondo de um
ambiente que permite ao usuário a escolha da rota através do quarteirão, gerando caminhos
atividades. Quanto à permeabilidade visual, o alcance óptico pode ser obtido por meio de
transparências (vidros ou edifícios sobre pilotis), das sobreposições (quando uma estrutura
158
Rossi (2001[1966], p. 63) evidencia que a estrutura fundiária está intimamente ligada às influências
econômicas e históricas-sociais e que sua formação e evolução representa a longa história da
propriedade urbana e a história das classes profundamente ligadas à cidade.
159
Segundo Rossi (2001[1966], p.100), o desenho do parcelamento em lotes e do edifício unitário e
isolado na parcela gera uma degeneração da forma urbana que o fragmento no lote acaba por causar.
160
O termo “blocos de perímetro ou blocos urbanos” significa uma forma de organização dos edifícios
no quarteirão, os quais são adjacentes uns aos outros, ao menos nos dois primeiros pavimentos,
definindo a borda do espaço urbano. Podem conformar-se em fita, desde a linha reta ao polígono
fechado ou semifechado – se atravessados por ruas internas –, com formato em “L” ou “U”.
161
Permeabilidade física: prever passagens entre as quadras de 6 a 7m – Coelho, A.B. e Pedro, J.B.
(2013, p. 133).
126
aparece atrás de outra), de elementos articuladores, entre outros, que aumentam e/ou
Esta permeabilidade é gerada, na maior parte dos casos, por vias internas162 (privadas),
trânsito e sem meios-fios e com o mesmo material de superfície), criando um ambiente que
retoma o conceito da rua enquanto espaço público tanto por sua extensão, como pela sua
acessibilidade e atividades que contém, bem como pela correlação entre rua e edifício.
concebidos com o conceito de blocos de perímetro que, além de ser uma reação à atitude
pela continuidade dos lugares, juntamente com a disposição de examinar e aprender com os
precedentes.
desenvolvimento subsequente. É criada como uma rede espacial pública que abre
de fornecer coerência e “boa forma”163 urbana, sem necessariamente ser determinista sobre
a forma arquitetônica ou conteúdo. Ou seja, seria semelhante a projetar cidades sem projetar
a vantagem de, através dos edifícios: assegurar a continuidade espacial (sobretudo nos
térreos); manter a linearidade com a via pública (construindo na borda da rua ou seguindo
uma uniformidade de recuos, em consonância com cada zona); viabilizar pátios – no centro
do quarteirão –, que propiciam mais segurança e contato com o verde – e configurar ruas
162
Segundo Gehl (2014, p. 26), a largura recomendada para vias internas (entre edifícios) é de 6m a
10m.
163
Teoria para a boa forma urbana, escrita por Kevin Lynch (1985), em oposição ao trabalho normativo
sobre desenho urbano, onde apresenta o que denominou “dimensões de performa-se”, ou seja,
grandes valores ou metas para o desenho urbano que, se respeitados e perseguidos, semeiam o
caminho para ambientes urbanos de qualidade.
127
QUADRO 14 Tipo, modelos e localização dos quarteirões – estudo do ateliê Gehll (2014) para Bairro
Urbitá - Brasília.
128
para fins especiais, em geral de utilidade pública – escolas e afins; pontos de referência, como
marcos paisagísticos, galerias e museus; espaços livres, como praças e parques de lazer;
Estas funções variadas, que podem ser implantadas nos quarteirões especiais,
devem ser compatíveis entre si e de intensa utilização, se possível, 24 horas por dia164, a fim
de gerar uma área urbana com maior vitalidade. Nesse ponto, sugere-se o uso de atividades
Conforme Alexander (2013 [1977], p. 165), os “nós de atividades” têm que reunir
as principais vias de pedestres da comunidade que os cerca, os quais devem convergir numa
comunitários e as praças é vital e, por isso, deve ser considerado um dos principais elementos
da cidade.
da rede viária (malha de quarteirões), com a intenção de prever espaços abertos (largos e
praças) nos locais de cruzamentos das vias. Estas praças deverão ter predominância em
Segundo Lynch (2011 [1960], p. 52), estes “nós”, que acontecem nos cruzamentos
importância, por serem a condensação de alguns hábitos, com a categoria social, ou pelo seu
164
Vicente Del Rio, em Implementando o desenho urbano (1990, p. 107), e Jane Jacobs, em As quatro
condições indispensáveis para gerar uma diversidade exuberante nas ruas e nos distritos, livro Morte
e vida de grandes cidades (2014[1960], p. 33).
165
Um ambiente público ao ar livre que dá as boas-vindas e estimula a reunião como uma “sala de
estar ao ar livre”, que pode definir e identificar o centro de um bairro e/ou de distritos.
129
caráter físico, tais como esquina de uma rua ou um largo rodeado de outros elementos
capacidade de oferecer suporte uns aos outros. A intensidade de uso será maior e mais bem-
mutuamente.
Sempre que possível, no núcleo de cada “nó”, deve propor-se uma pequena praça
pública, que pode incluir atividades temporárias e outras possibilidades de animação urbana,
circundada por edifícios que contenham esta mistura de equipamentos (ex.: escolas,
bibliotecas, parques e jardins, estabelecimentos comerciais, entre outros), desde que haja
Dessa forma, a localização destes usos especiais (quarteirões de usos especiais) nos
distritos deve considerar dois critério essenciais: o posicionamento dos núcleos onde
onde as pessoas possam ser obrigadas a tomar decisões acerca de qual percurso a seguir; e
nas fronteiras dos distritos, a fim de criar espaços de relacionamento com a área envolvente
caminhada e nas opções de viagem das pessoas. Desta forma, o layout da nova área
residencial deve ser pensado para que os equipamentos e serviços do cotidiano estejam a
(1929) e assim se expressam: “Um bairro genuíno é compacto, orientado para o pedestre e
166
Estes elementos marcantes podem ser isolados ou combinados em escalas diferentes, constituindo
uma rede hierarquizada de referência espacial, que controla e orienta o todo, desde as instâncias
locais, até as instâncias mais globais.
130
de uso misto”, e seus parâmetros devem ser muito variados para refletir os costumes
Ainda, o autor destaca cinco convenções básicas de desenho urbano que conferem
um caráter comum aos bairros: centro identificável e limite do bairro; o tamanho ideal para o
oportunidades para comércio de uso diário e locais de trabalhos próximos das moradias; rede
integrada de vias orientadas para o pedestre; e reservar os terrenos especiais para propósitos
Segundo Andres Duany et al. (2010, p. 200), uma vez que o centro e a borda do
densidade e urbanidade cercam o centro, que é a localização das lojas, do espaço livre
público, das paradas de transportes coletivos com propriedades que dependerão da tradição
local. Do centro para fora, as densidades dos edifícios diminuem, e ocorre uma mudança
Nessa conjuntura, entre conceito de bairro e sua relação com quarteirões e edifícios
edifícios comuns e excepcionais. Esta reflexão ocupa-se tanto do edifício como um elemento
da forma urbana, quanto em relação ao seu uso, que, como já foi referido, devem cooperar
entre si.
têm, eles são um dos elementos mais significativos da forma urbana e, talvez, o mais visível
desses elementos. Em geral, a cidade é feita de dois tipos diferentes de edifícios: edifícios
cidade: os edifícios que, pela sua forma – e eventualmente pelo seu uso –, são claramente
167
De acordo com David Birbeck e Stefan Kruckowski, autores da publicação Building for life 12: the
sign of a good place to live, o raio de influência indicado é de 500 m (equivalente a cinco minutos de
caminhada). De acordo com a unidade de vizinhança de Perry (1929), da unidade de vizinhança de
Duany Plater-Zyberk & Company (2010), o raio de influência equivalente a cinco minutos de caminhada
é de 400 m, e da Unidade de bairro sustentável de Douglas Farr et al. (2013), o raio de influência
equivalente a dez minutos de caminhada, equivalente à 1km.
131
conjunto muito especial de edifícios excepcionais, cuja forma se torna indistinguível da forma
da cidade da qual fazem parte. Este é o caso, por exemplo, da Opera House em Sydney168.
Nesse âmbito, considera-se indicado citar Lynch (2011 [1960], p. 81), que conceitua
constituição.
O autor ressalta que os elementos marcantes são parte de um todo numa inter-
relação e num esforço de construir uma estrutura urbana com identidade, e assim se expressa:
Nesse contexto, como já dito, a localização dos quarteirões especiais deve estar em
locais estratégicos – nos pontos centrais e nos limites dos bairros/distritos. Esta consciência,
Segundo o autor, a partir daí, se o habitante conhecer esse ambiente por meio dos
notável e inconfundível.
importância para o caráter da paisagem urbana. Na maioria das cidades, no final do século
posição dos edifícios dentro das parcelas, questionando a definição tradicional de rua.
pontos de referência considerados exteriores ao observador, são simples elementos físicos variáveis
em tamanho.
132
QUADRO 15 Localização dos quarteirões especiais em cada distrito. Edifícios comuns e excepcionais
conformam a praça central (nó de atividade): Lier - Bélgica. Modelos de quarteirões de usos
especiais. Nós de atividades.
133
instalações comunitárias, dos locais de trabalho e dos serviços e comércio do uso diário a fim
espaços livres públicos (parques, praças, jardins de vizinhança, área de lazer e desporto).
Essas qualidades podem ser alcançadas agrupando tais equipamentos (desde que se
apoiem mutuamente) em locais estratégicos (nós de atividades, num percurso central ou nas
margens) com o propósito de idealizar uma urbanização mais compacta e acessível a pé. Uma
boa estratégia de agrupamento pode dar-se através da implantação dos equipamentos sob
maiores como galerias, museus e teatros) na área central ou nas margens de cada bairro e/ou
Ainda, sobre a relevância da mistura de usos num bairro, em especial na esfera social,
porque as crianças que crescem em ambientes tão homogêneos têm menos probabilidade
desenvolver um senso de empatia por pessoas de outras esferas da vida e para com uma
sociedade diversificada.
170
Ver conceito item I.1.3 Parcelas e Edificado - Configuração dos quarteirões.
134
Vizinhança, que foi um diagrama e uma descrição do primeiro plano regional de Nova York
pessoas se têm assentado ao longo dos séculos: a maioria dos bairros anteriores à Segunda
Guerra Mundial tinha uma distância de 400 metros entre seu centro e os limites.
atmosfera e tamanho razoáveis e com orientação inerente para o pedestre em cinco minutos
Farr (2013) e Duany et al. (2000) recomendam que o raio seja entre 400m e 1.600m,
comunidade171, identidade e equilíbrio social. Tais qualidades são essenciais na busca por
atualidade.
171
Sabe-se que, na sociedade contemporânea, a interação social não depende mais unicamente das
comunidades locais, uma vez que foram complementadas, tanto pelo aumento da mobilidade como
pelas comunicações eletrônicas. No entanto, mesmo nesta era altamente móvel e tecnologicamente
conectada, é dever do projetista oferecer oportunidades para ambos – rede de contatos espacialmente
próxima e espacialmente difusa – e permitir que as pessoas encontrem seu próprio equilíbrio.
135
esportivas, campos de futebol, espaços para recreio e demais itens de acordo com a etapa
Segundo Coelho e Pedro, (2013, p. 65), os equipamentos locais mais essenciais à área
residencial são a escola (s) primária (s) e outros estabelecimentos de apoio à criança pequena
• Ensino Infantil - Creche (0 a 3 anos) e jardim da infância (3 a 6 anos), servindo cerca de 15.000
da criança até a escola. De acordo com Susan Chira174 (1993), caminhar para a escola, em vez
forma, estes quarteirões de usos especiais deverão ter, em alguns casos, maior dimensão que
os demais quarteirões e deverão ser configurados de forma que o espaço construído fique
em torno da borda da rua a fim de criar áreas internas seguras. (GEHL, 2014, p. 47).
172
No Brasil, a educação básica é dividida em três etapas: 1- Educação infantil (creche 0 a 3 anos) e
Pré-escola (4 a 5 anos); 2- Ensino Fundamental (anos iniciais 1º ao 4º ano – 6 a 9 anos de idade) e (anos
finais 5ª ao 9º ano – 10 a 14 anos de idade); 3- Ensino Médio (1ª a 3ª série – 15 a 17 anos de idade).
173
Segundo Andres Duany et al (2000, p.250) no livro: Suburban Nation: the rise of sprawl and the
decline of the American dream.et al (2000, p.248), as escolas primárias, creches e estruturas recreativas
devem estar localizadas a uma distância máxima de uma milha (1,6Km) da maioria das habitações,
dimensionadas de acordo e facilmente acessíveis a pé.
174
Susan Chira, “Ïs Smaller Better? Educators Now Say Yes for High School”. The New York Times, July
14, 1993 : A1, B8.
136
campos “mini”175 (minibasquetebol, paredes para treinar tênis, campinhos de futebol com
habitacionais, não se posicionando diretamente na frente das moradias, de forma que sejam
evitados conflitos em virtude dos ruídos gerados e o possível incômodo que poderá ser
Uma escolha prudente de sítios especiais176 para usos especiais é uma poderosa
Cabe aqui salientar que, além das vias, são os edifícios cívicos, institucionais e
geralmente, estão intrínsecos à sua função (o interior do edifício tem significado para a cidade
e seu povo) e a sua forma arquitetônica icônica, na qual traduz o significado, a cultura e a
Nessa perspectiva, é pertinente lembrar que, antes do período moderno, alguns tipos
de edifícios públicos (igrejas, prefeituras, palácios, monumentos, etc.) usavam esse meio para
hierárquico. Kevin Lynch177 afirma que a associação histórica ou outros significados são
175
Termo utilizado por Coelho, A.B. e Pedro, J.B. (2013, p. 68), ao expor sobre equipamentos
desportivos na unidade de vizinhança.
176
Ver item I.3.1 – Parcelas e Edificado - Configuração dos quarteirões, onde é sugerido que a
localização dos blocos especiais seja nos núcleos centrais (praças e nós) e/ou, conforme sua
peculiaridade, nas fronteiras dos distritos.
177
Kevin Lynch, A Imagem da Cidade, (2011 [1960] p. 53, 84 e 105). Sobre elementos marcantes e sua
importância como referência na imagem urbana.
137
reforços poderosos a partir do momento que se ligam a um objeto físico, aumentando seu
Desta forma, para além da sua importância simbólica, estes espaços e edifícios atuam
como pontos de referência e ajudam as pessoas a “encontrar o seu caminho”178. Kevin Lynch
(2011[1960]) denomina estes marcos como referências radiais ou locais que também (além
dos grandes marcos como torres isoladas, cúpulas douradas ou colinas extensas)
de marcos existentes ou propostos tanto dentro como fora do sítio; considerar pontos de
vistas importantes dentro do conjunto e valorizá-los (como a vista para o final da rua, uma
edifícios de esquina com maior altura e usos especiais, espaços públicos combinados com
Conforme Gehl (2013, p. 19-29), devemos planejar os espaços públicos de forma que
natureza e o clima. Ainda, o autor descreve que estes espaços somente serão bem-sucedidos
se forem organizados e fizerem parte de uma rede de espaços públicos que os conectem nas
diferentes escalas do espaço público, desde grandes parques, praças e espaços cívicos até
Os espaços públicos abertos podem ser classificados de acordo com seu tamanho e
Zones. Como já comentado nos itens anteriores, no núcleo dos bairros (nós de atividades) e
perto das comunidades de trabalho, deve haver praças de pequeno porte. Já, praças e
178
Termo utilizado por David Birbeck e Stefan Kruckowski, autores da publicação Building for life 12:
the sign of a good place to live (2018).
138
parques de maior dimensão deverão ser implantadas nos limites das vizinhanças,
seguinte forma:
• Parque: uma reserva natural disponível para recreação não estruturada. Um parque pode ser
caminhos e trilhas, prados, lagoas, bosques e abrigos abertos, todos naturalmente dispostos.
Os parques podem ser vias verdes lineares, seguindo as trajetórias dos corredores naturais.
O tamanho mínimo será de 8 acres (32.374 m2). A recomendação de localização é para T1,
T2 e T3;
• Área verde: um espaço aberto disponível para recreação não estruturado. Uma área verde
pode ser espacialmente definida pelo paisagismo, em vez das fachadas das edificações, de
espaço. O tamanho mínimo será de 1/2 acre (2.023 m2), e o máximo será de 8 acres (32.374
• Praça: um espaço aberto disponível para fins cívicos e atividades comerciais. Uma praça deve
ser espacialmente definida e emoldurada pelas fachadas das construções. Sua paisagem
importantes. O tamanho mínimo será de 1/2 (2.023 m2) acre, e o máximo será de 5 acres
• Parque infantil: um espaço aberto projetado e equipado para a recreação das crianças. Um
parque infantil deve ser cercado e pode incluir um abrigo aberto. Devem ser intercalados
dentro de áreas residenciais, bem como podem ser incluídos em parques, áreas verdes e
O Código de Conservação de Vizinhança foi baseado no modelo Smart Code da versão 9.5 da DPZ
179
como o largo e o terreiro, que são espaços acidentais (vazios ou alargamentos da estrutura
urbana que, com o tempo, foram apropriados e usados), podem ser considerados elementos
acumulam várias destas atividades que estão classificadas pelo Neighborhood Conservation
Code. Nesse contexto, podem-se citar vários autores, no que se refere aos estudos dos
espaços livres públicos, como: Jan Gehl, em especial no livro Novos espaços urbanos (2002);
Carmona et al. (2003, p. 142), no livro Public places urban spaces: the dimensions of urban
design, onde expõem sobre o valor das ideias de Camilo Sitte e Paul Zucker180 em relação às
qualidades das praças e, em particular, seus efeitos estéticos e as ideias de Rob Krier181 sob
Não é objetivo do presente trabalho esgotar o tema sobre espaços livres públicos, e
sim, interessa recomendar, dentre estas categorias de áreas livres, quais são indispensáveis
Desta forma, entende-se que uma área residencial deve, particularmente, atender à
implantação de parques infantis e praças182 com grande variedade das brincadeiras e dos
É aconselhável que estes espaços abertos sejam divididos em espaços verdes passivos
e mais silenciosos e espaços com uso mais ativo, como áreas esportivas e de atividades físicas,
180
Zucker, no livro In Town and Square (1959), apresentou cinco tipologias de praças urbanas
artisticamente relevantes, e Sitte (1965), no livro City Planning According to Artistic Principles, mostra
resultados de pesquisas sobre os motivos do sucesso da utilização das praças.
181
Rob Krier (1980), no livro Espaço da Cidade, tenta uma coleção de formas geométricas (inesgotável),
que podem ser sistematizadas. KRIER, Robert, L’Espace de la Ville, Theorie et pratique. Bruxelas, 1980.
Ed. A.A.M.
182
Estas pequenas praças são chamadas por Jan Gehl (2014) de “jardins de bairro” e/ou “parques de
vizinhança”.
183
Sobre espaços exteriores: os autores Coelho e Pedro (2013, p. 73-76), no livro Do bairro e da
vizinhança à habitação: tipologias e caracterização dos níveis físicos residenciais, classificam os tipos
de espaços exteriores sugerindo áreas, dimensões e equipamentos. Também, no livro Espaços
exteriores em novas áreas residenciais, os autores Coelho e Cabrita (2003) salientam exigências e
critérios essenciais, qualitativos, úteis para a concepção e desenvolvimento de espaços exteriores em
novas áreas residenciais.
140
área.
Esta determinação de espaços ativos e passivos poderá ser através da análise das
atividades mais apreciadas pelos habitantes da área residencial e suas faixas etárias. Desta
Estas “praças” devem estar distribuídas de modo que todas as moradias e locais de
trabalho não fiquem a mais de três minutos de caminhada da mais próxima (200 a 300m –
duas a três quadras)184. Em relação ao tamanho, Coelho e Pedro (2013, p. 69) recomendam
respectivamente; Alexander (2013 [1977], p. 310), na sua orientação para praças (incluindo
parque infantil e áreas de descanso em contato com a natureza), estabelece entre 5 a 6 mil
Neste aspecto, é essencial um cuidado para com os três elementos definidores do espaço:
No entanto, se o espaço livre não for delimitado por construções e suas respectivas
fachadas contínuas, que formam as “paredes” do espaço urbano, outros elementos poderão
184
Christopher Alexander (2013 [1977], p. 310) apresenta este parâmetro – no padrão: praças acessíveis
–, que é resultado de pesquisas sobre a utilização das praças e a relação das distâncias das moradias
e locais de trabalho. Duany et al (2001, p. 248) apresenta recomendações sobre (TND) Traditional
Neighborhood Development e orienta que parques infantis e praças devem estar distribuídos
igualmente para cada bairro, a cerca de 1,5 km de cada habitação.
185
Termo utilizado por Christopher Alexander (2013 [1977], p.518), que significa quando um espaço
externo apresenta uma forma distinta e bem definida. São espaços parcialmente fechados, pois
sempre há percursos que levam para fora.
186
Sitte e Zucker defendem que as praças devem ser proporcionais ao edifício principal e relacionam
que a sua profundidade deve ser entre uma e duas vezes a altura do edifício principal (não mais que
três para um).
141
planos verticais, ou a combinação dos dois (fileiras de colunas, pérgolas, pequenas muretas
e cercas – até 1m de altura – recurso paisagístico formal como limitadores vegetais (cercas-
A rede de comércio e serviços deve ser vista como parte das necessidades da
comunidade e não somente como uma maneira de gerar lucro. A proposta é que o comércio
homogênea.
É recomendada188 uma loja (com 28/56m²) por cada 100 habitantes. Um conjunto de
16 unidades de uso diário (11 comércios + 5 serviços, como armazéns de alimentos e/ou
minimercados – que deve marcar sempre sua presença em cada vizinhança, farmácias,
para 2.000/4.000 habitantes, com raio de influência de 200m a 300m. O mesmo conjunto,
complementando com lojas de uso especial (não diário), para 10.000/20.000 habitantes, raio
Sobre a área das lojas (28/56 m²), Christopher Alexander (2013 [1977], p. 179)
posiciona-se da mesma forma e recomenda que seja promovido o número máximo de lojas
pequenas, de propriedade individual, espalhadas pelo bairro. Jan Gehl (2013, p.129) observa
que a geometria das fachadas tem grande influência para centros urbanos bem sucedidos, e
afirma: “fachadas com orientação vertical, aparentemente, tornam a caminhada mais curta e
fachadas com cinco ou seis metros de comprimento indicam que, a cada cinco segundos, há
estúdios, etc.). Tais instalações devem estar integradas no tecido do conjunto residencial e
187
Christopher Alexander em Rede de comércio e serviços, livro Uma linguagem de Padrões (2013
[1977], p. 104).
188
Recomendações de Coelho e Pedro (2013, p. 151).
142
no entorno urbano para evitar a criação de um ambiente de comércio isolado, dominado por
Nesse aspecto, um plano de rede de ruas deve ser pensado, exclusivamente para o
públicos189. Dessa forma, este plano mostrará quais os sítios mais convenientes para o uso
O comércio, preferencialmente, deve ser instalado nas vias principais que localizam-
se, em geral, nas margens dos distritos e nas vias principais de pedestres (em geral mais
bairro/conjunto (em especial nas esquinas) e na área central (nós de atividades que
configuram o final de uma rua e podem terminar numa praça/largo com cafés, lojas e outros
à vista disso, é preciso pensar cuidadosamente sobre como os espaços podem ser usados e
projetá-los com flexibilidade, considerando onde os espaços mais ativos devem ser
adjacentes191.
mapeamento dos comércios e serviços já existentes num raio entre 200m (ideal) e 600m
189
Plano de hierarquia de vias - ver item I.1.2 Conexões – Rede viária.
190
Conforme Coelho e Pedro (2013, p. 67), é necessária uma população mínima de 5 a 10 mil
habitantes para suportar um grupo comercial vitalizado. Convergindo com esta afirmação, Douglas
Farr (2013, p. 136) explica que os centros dos bairros exigem que haja de 6 mil a 8 mil moradias para
ser viável. Christopher Alexander (2013 [1977], p. 442) apresenta resultados de pesquisas sobre
quantas pessoas precisam para sustentar (manter) uma mercearia e recomenda mil pessoas em um raio
de três a quatro quarteirões.
191
É recomendado a instalações de comércio local (de uso diário), o que facilita a combinação com
usos residenciais a fim de evitarem-se conflitos futuros. No Brasil os usos são classificados, para cada
zona, no Plano Diretor como sendo: conformes, desconformes e admitidos.
192
Inquérito realizado pela National Board of Urban Planning, “Bostadens grannskap (Housing
Environment), Recomendations for Planning”, mostrou que entre 200 e 600m de distância a satisfação
admitida pelos utentes decresce regularmente à medida que a distância aumenta; para 200m – 70%
143
externa, ao longo da rua, ser toda de vidro, e o interior mostrar atividades convidativas; outra
forma pode ser através de uma grande porta que deixe toda a fachada, ao longo da rua,
aberta, de modo que o envolvimento seja mais ativo; e, a situação mais envolvente, conforme
Alexander (2013 [1977], p. 773), é fazer com que a atividade interna envolva a calçada, de
Nessa sequência, Gehl (2013, p. 77), faz uma observação que, no mundo todo, lojas
e barracas em ruas comerciais ativas e prósperas, geralmente, têm uma fachada de cinco ou
de 80 segundos/100 metros, o ritmo das fachadas indica que, a cada 5 segundos, há novas
Local de Trabalho
Como já referido no item anterior, faz parte da completude e saúde de um bairro ter
locais de trabalho distribuídos junto às áreas residenciais. Esta qualidade pode ser obtida
institucionais.
Nessa perspectiva, conforme Alexander (2013 [1977], p. 53), toda moradia deve estar
de trabalho. Estes podem ser agrupados (grupos entre oito e 20 estabelecimentos) em volta
consideraram situação muito boa, enquanto a distância atinge os 600m, apenas 10% das pessoas
continuam a manter o mesmo juízo. Coelho e Pedro (2013, p. 67).
193
Ver conceito de caminhabilidade: item I.1.2 – Conexões.
144
almoçar e praticar esportes individuais e coletivos (tênis de mesa, ginástica, voleibol, entre
outros).
Este espaço de uso comum atua como um imã que amarra as casas, oficinas, lojas e
escritórios individuais entre si, ajudando no contato e na formação de uma comunidade entre
trabalhadores. É recomendável que a distância até este largo/praça seja entre 200 a 300m
(associadas à vida familiar)194, as quais sejam suficientemente pequenas para que uma pessoa
possa conhecer a maioria dos indivíduos que nela trabalham, ao menos de vista – e
que fomentem este conceito, muitas vezes fazendo parcerias com novas empresas, gerando
Nesse sentido, é possível citar, mais uma vez, o Bairro Pedra Branca, no Brasil, o qual,
Sobre a relação entre habitação e local de trabalho, Jaime Lerner expressa-se assim:
Quanto aos locais de trabalho prejudiciais, que geram elevado tráfego ou ruídos, ou
necessitam ocupar uma metragem quadrada muito elevada (de dois a 10 hectares), devem
194
Evitar grandes concentrações de trabalho dissociadas da vida familiar, bem como opor-se a grandes
concentrações de locais de moradia que estejam dissociados dos locais de trabalho, características
que tornam os bairros sem vida.
195
Texto: Quem é empreendedor não espera a crise passar, 2015, publicado na revista Best Home,
São Paulo, 2015.
145
QUADRO 16 Funções básicas do urbanismo por Jaime Lerner. Mixed-use neighbourhood – Urban
Task Force. Zoneamento segregado e zoneamento integrado e compacto das atividades.
Demarcação dos usos cívicos (fechados e abertos) e dos comércios e serviços – Bairro Pedra Branca
– SC – Brasil.
146
[...] o primeiro passo deve ser a destruição de uma falsa escolha, a escolha:
“individualismo ou coletivismo”. (BUBER, 1948 apud HERTZBERGER, 2015,
p. 13).
como parte; nenhum deles apreende o todo da humanidade, a humanidade como um todo.
Nesse ponto, importa perceber que não existe uma única relação humana que se
pessoas e grupos em uma inter-relação e compromisso mútuo, isto é, é sempre uma questão
de coletividade e indivíduo, um em face do outro. Caso contrário, de acordo com Buber, “[...]
desamparo cósmico e social, de uma angústia diante do mundo e da vida, por um estado
oposição extrema, procedente das veias do modernismo, entre o público e o privado, como
a oposição entre coletivo e individual, tornou-se um “clichê” falso como a suposta oposição
desintegração das relações humanas básicas onde há, no nosso mundo, uma polarização
relativos, como uma série de qualidades espaciais que, diferindo gradualmente, referem-se
unidades espaciais específicas. Nesse aspecto, o autor contrapõe o conceito mais absoluto,
de que uma área pública, que denota o coletivo, é acessível a todos, a qualquer momento, e
196
BUBER M. no livro “Das Problem des Menschen” (1984), onde escreve sobre o indivíduo e como
reconhecê-lo como ser humano de acordo com sua possibilidade de relacionamento e sobre olhar
para o todo e reconhecer seres humanos de acordo com o seu relacionamento.
147
que denota o individual, tem seu acesso determinado por um pequeno grupo ou por uma
Esta relação entre o espaço público e o privado deve ser assimilada como uma relação
ativa e recíproca, marcada pela redescoberta da importância dos limiares, que se distribuem
da rua à porta de casa, interagindo com espaços públicos acolhendo e estimulando, além do
mundo pessoal e familiar, o mundo contíguo que também em nós habita, das mais diversas
formas.
que se deve estabelecer a integração entre o ambiente físico e as atividades sociais entre as
pessoas. Embora seja sabido que é necessário mais do que a arquitetura para que estas
interações se desenvolvam, um desenho que seja contundente a tal interação irá, contudo,
encorajá-la.
Desta forma, ambicionando que a nova área residencial contribua para o espaço
público, e vice-versa, com o objetivo maior de que o espaço da cidade e os edifícios devem
conversar e, assim, dissolver as fronteiras entre os dois, e que ambos contribuam para a
• o tipo e forma dos edifícios que, embora sejam, na grande maioria, privados, tenham um
I.4.1 Acessos
Os acessos são espaços que estabelecem o limite entre o público e privado. Esta
zona de transição entre ruas e edifícios são espaços que devem ser compreendidos e
projetados com uma dualidade funcional que permita a sobreposição de dois mundos
diferentes, em vez de estarem rigidamente demarcados. Esta qualidade espacial pode ser
obtida através da cautela para com o intervalo/espaço de transição, com condições espaciais
para o encontro e diálogo entre áreas de ordens distintas, com os graus de acessos entre
horizontais e verticais –, com a finalidade de manter, de alguma forma, a relação com a rua.
Entrar!
Portais, vestíbulos, portarias, escadas, portões, coberturas, alpendres,
varandas...; todos esses elementos estão de um jeito ou de outro na rua, são
o primeiro gesto, dão as boas-vindas e acolhem a primeira ação ao entrar.
Na direção oposta, eles são a última fronteira da casa antes de sair e
determinam a aparência de uma parte muito importante da rua. (MONTEYS,
2017, p.16).
varandas e muitas outras formas, fornecem uma oportunidade para a acomodação entre
Intervalo é o termo utilizado por Herman Hertzberger no livro Lições de arquitetura (2015), quando
197
se refere ao espaço com demarcações territoriais divergentes – o espaço púbico e o privado. Também
explica que o significado do conceito de Intervalo foi introduzido em Forum 7, 1959 (La plus grande
réalité du seuil) e em Forum 8, 1959 (Das Gestalt gewordense Zwischen: the concretization of the in-
between). Espaço de transição é o termo utilizado por Jan Gehl, nos livros Cidades para pessoas (2013)
e La humanización del Espaço Urbano: la vida social entre los edifícios (2006), e por Christopher
Alexander no livro Uma linguagem de Padrões (2013 [1977].
149
mundos contíguos. Para Hertzberger (2015, p. 35), a concretização da soleira como intervalo
O intervalo é a chave para eliminar a divisão rígida entre áreas com diferentes
elemento que permite a fusão do território estritamente privado com áreas públicas,
criação de ambientes que forneçam muito mais oportunidades para que as pessoas deixem
suas marcas e identificações pessoais ou de um grupo. Assim, estes ambientes poderão ser
apropriados e anexados por todos como um lugar que realmente lhes pertença, bem como
propor ambientes acolhedores, povoados por elementos que favoreçam tanto as boas-vindas
entre a rua, de um lado, e o domínio privado, de outro, como o espaço de entrada com
algum tipo de conforto (lugares para sentar), áreas cobertas através da saliência da cobertura,
ou outros meios (lugar para dizer olá ou adeus aos visitantes), e indicar, para as portas de
interior e o exterior.
Nesse cenário, torna-se pertinente discorrer, mesmo que de forma breve, sobre a
demarcação da entrada, que de preferência deve ser visível de todas as direções de chegada
vez que tem a função de causar a sensação de transição e contribuir significativamente para
isolado controla todo o arranjo posterior, nos demais níveis de circulação. Por isso, é
própria edificação, a fim de permitir que defina seu percurso. O posicionamento das entradas
150
deve considerar as rotas principais de chegada ao terreno, isto é, as entradas devem fornecer
agudo onde as entradas ficam muito pouco visíveis. Nesse sentido, pode-se dar à entrada
Para esta qualidade ser obtida, uma ampla variedade de tipologias de entradas pode
ser projetada, seja em casas isoladas ou em outros tipos de moradias, incluindo edifícios de
inserção de uma pérgola e/ou outro elemento que exprima a escala humana198) deve compor
Ainda, conforme sugestão de Alexander (2013 [1977], p. 552), mais um fator é vital a
este espaço: a mudança de vistas. Segundo o autor, são as mudanças de vistas que criam a
transição psicológica em nossas mentes e, nesse sentido, sugere, se possível, criar, ao longo
saída.
198
Conforme Coelho (2013, p. 193), uma consideração fundamental para a boa qualificação de edifícios
residenciais é o desenvolvimento de elementos fundamentais de referência e ligação à “pequena
escala/escala humana”, integrando-se de forma protagonista a composição dos acessos, das fachadas
e da própria solução funcional/formal do edifício.
151
posterior.
Sendo assim, estas zonas, onde as edificações e a cidade se encontram, são vitais, não
somente nas áreas mais comerciais e centrais da cidade, onde a ênfase é dada ao tratamento
dos andares mais baixos dos edifícios (pisos térreos), como também nas áreas residenciais,
edificação, em especial habitação, for abrupta demais (abrindo-se diretamente para a rua)199,
sagrado e protegido. Segundo Alexander (2013 [1977], p. 549), esta área intermediária tem
espaço privado.
De acordo com Gehl (2013, p. 82), este espaço, se bem concebido, será a parte mais
ativa da residência200, dado que é onde se encontra a porta de entrada da casa e é aí – zona
de intercâmbio entre esfera pública e privada – que as atividades das áreas residenciais se
mudam para o terraço, sacadas ou recuo ajardinado, num bom contato com o espaço
público.
Este espaço, entre a habitação e a calçada, deve servir para atividades que objetivem
acompanhar a vida na rua que, aliada aos espaços de transição suaves das habitações, se
intensifica, tornando-a mais viva e segura – porque é a zona que os pedestres veem e
A definição desta área – o quintal privado201 – deve ser clara e fisicamente indicada,
porém comedida, podendo ter demarcações como muretas, taludes, cercas vivas e outros
elementos, com alturas até 1 metro, a fim de permitir a costura e interação entre diferentes
escalas físicas e sociais (entre a rua e o espaço semipúblico) na escala humana. Estes espaços
199
Conforme Coelho (2013, p. 138), a dimensão mínima para a zona de transição é de 1,50/2,00 metros
de profundidade.
200
Claudio Secci et Estelle Thibault. Espace intermédiaire. Formation de cette notion chez les
architectes. In: BERNARD HAUMONT e ALAIN MOREL. La Société des Voisins: partager un habitat
collectif (2005, p. 23-35).
201
Conforme Coelho (2013, p. 138), estes pátios privados deverão ter entre 3,00 a 5,00 metros de
profundidade.
152
podem ainda ser caracterizados por terraços, nos quais a privacidade se dá por posição
elevada.
para que a edificação se torne parte de seu entorno, em virtude de as plantas crescerem livres
por cima dela, como ocorre quando estão no solo – contribuindo para uma transição sutil
Além do mais, funcionam como uma contribuição ao espaço público, deixando-o mais
projetados como propõe Ralph Erskine apud Gehl (2013): "Se o conjunto for interessante e
estimulante ao nível dos olhos, toda a área será interessante. Portanto, tente fazer uma zona
superiores, que têm muito menos importância, tanto funcional quanto visualmente".
A esse respeito, do desenho das áreas exteriores frontais, bem como de todas as
se sucesso no espaço proposto, qualidade que pode ser medida pela apropriação dos
Essas dimensões devem ser compreendidas pelo arquiteto, bem como se deve ter em
mente o conceito original das ruas e sua situação atual, a fim de não repetir práticas que
desvalorizaram a rua. Grande parte dos empreendimentos habitacionais, nos últimos 50 anos,
no Brasil, não possuem um espaço de transição e são desconectados com a rua por conta da
moradias; da anulação da rua como espaço comunitário, da insegurança, entre outros fatores.
Assim sendo, mesmo sabendo que o arquiteto seja incapaz de fazer mais do que
exercer uma influência nos aspectos fundamentais de mudança social há pouco mencionados,
deve-se tentar lidar com esses fatores criando condições para uma área mais viável de rua. E
isso deve ser feito no âmbito da organização espacial, isto é, por meios arquitetônicos.
153
Grau de acesso
que são de acesso mais privado, como por exemplo, um quarto pode-se dizer que é um
espaço privado, que é cuidado e mantido por quem o utiliza, em comparação com a sala
planejamento e de desenho urbano, a relação entre espaços públicos e privados deve ser
recíproca, onde as qualidades espaciais dos edifícios promovam o enriquecimento das áreas
de relevância da delimitação territorial e das formas sincrônicas e dos possíveis acessos aos
consciência quanto à composição do edifício, no que diz respeito ao acesso, bem como
cor, entre outros. Todos estes elementos devem ser incorporados no projeto, de forma a
conferir a sensação de acesso aos usuários na escala humana, colaborando também para a
artísticas localizadas pontualmente nos limiares dos espaços das circulações e áreas de
convívio que, se bem escolhidas de acordo com o caráter do conjunto de edifícios, podem
Conforme Coelho (2007, p. 142), a arte tem uma capacidade múltipla, através dos
Ainda, reforça o autor, que a arte pública, desde que cuidadosamente utilizada, é um
precioso elemento visual202 de reforço das comunidades locais e das cidades. O autor cita
também Yi-Fu Tuan (2004)203, o qual evidencia que, tal como uma pintura, uma fotografia, um
poema, uma novela, um filme, uma dança ou uma peça musical, um sítio pode conter fontes
de força e de identidade.
Nesse cenário, Tuan refere qua há muito em comum entre lugar, arte e identidade.
Tal como aponta, um lugar pode conter fontes de dinamização de identidade, tal como uma
nossa identidade.
acompanhar e, quem sabe, até inspirar do quotidiano, uma vez que a afetividade e a relação,
forte e contínua, com os espaços que habitamos diariamente, faz parte da cultura de cada
um, seja no ponto de ônibus (nós de transportes), nas fachadas dos edifícios, nas praças,
enfim estão sempre “falando-nos, pelas mãos dos artistas que são humanizadores
privilegiados”204.
áreas e partes de um edifício, deve funcionar como um mapa e mostrar claramente que
quem se destinam, e que espécie de divisão de responsabilidades pode ser esperada no que
diz respeito aos cuidados e à manutenção dos diferentes espaços, de modo que essas forças
Neste enfoque, Alexander (2013 [1977], p. 481) expõe sobre os níveis legíveis de
circulação e ressalta o cuidado que se deve ter para com a orientação dos usuários e
visitantes, tanto aos que conhecem a edificação ou o complexo de edificações, quanto para
os que a desconhecem. O autor afirma que uma pessoa deve ter a possibilidade de explicar
um destino qualquer dentro de um complexo de edificações para qualquer outra pessoa que
202
Sobre o mundo visual, o autor Richard Sennet (1990), no livro The Conscience of the Eye: The design
and social life of cities. O autor busca interpretar visualidade e espaço em suas interconexões com o
poder, a produção e o regime visual.
203
Yi-Fu Tuam (2004), no livro Place, art and Selfie.
204
Termo utilizado por Coelho (2007, p. 144) no livro Habitação Humanizada.
156
Esta frase é uma sequência, composta de várias etapas, cada uma com um alvo
espaciais. Conforme Alexander, se este mapa for fácil de construir, a circulação dentro do
complexo será fácil; se o mapa não for fácil, a circulação será difícil, e o local, como um todo,
Nessa conjuntura, é pertinente citar Gehl (2006, p.59), que explica que o
a outros maiores, e de espaços mais privados para espaços gradualmente mais públicos,
dando um maior sentimento de proteção e um mais forte sentido de pertença às áreas fora
tanto para com o espaço público, como para com as residências ou espaços mais privados.
Ainda, tal enquadramento físico, se desenhado de modo correto, pode ser um fator
considerado quando o arquiteto propõe espaços possíveis de influência pessoal dos usuários,
reforçando sua identidade e seu sentimento de personalização, bem como colaboram para
De acordo com Alexander (2013 [1977], p. 502), esta identificação pode ser atingida
que pode exprimir-se de variados modos: através da denominação das casas ou dos edifícios
Por este ângulo, cabe aqui citar Farias (2017)205, que escreve sobre o repensar da
transformar fisicamente o espaço, para que ele responda, de modo mais rico e variado, às
a capacidade que o espaço deve possuir para se poder adequar a diferentes usos e formas
de quem zela e de quem é ou se sente responsável por ele, tornando, deste modo, referindo-
Nesse ângulo, um espaço concebido à nossa volta, que nos provoque a sensação de
enredo, pode-se citar, mais uma vez, Hertzberger (2015, p. 28): “[...] se você não tem um
lugar que possa chamar de seu, você não sabe onde está”.
Igualmente, Coelho (2007, p. 295) expõe sobre exigências de base para o desenho
espírito e as forças do lugar, visando a concretizar lugares vivos e “amados”206 pelos seus
saudáveis.
205
Hugo L. Farias, no texto Repensar Habitação de Interesse Social: Aplicação de estratégias de
flexibilidade e adaptabilidade a dois casos de estudo, de Portugal e do Brasil. (2017). Anais 4 CIHEL –
A Cidade Habitada.
206
Termo utilizado por Batista Coelho no livro: Habitação Humanizada: uma apresentação geral (2007,
p. 09).
158
zonas de transição e dos graus de acesso, para que se figurem e complementem a legítima
forma de relação entre o espaço público e o privado – entre o coletivo e individual –, através
da dedicação e atenção aos acessos dos andares mais altos, a fim de dar a cada residência
uma porta de entrada – “porta de casa”207, com o máximo de acesso possível pela rua.
Iniciando pela circulação entre o exterior público para o interior (mais) privado, por
e/ou semiprivado, ou uma série desses, que funcionam como um nó de recepção208 no térreo,
Os nós de recepção devem ser arranjados de modo a permitir uma visão panorâmica
de todo o conjunto de entradas, as quais devem estar compostas de maneira similar209, por
fazerem parte de um grupo, porém com especificidades que auxiliem na sua legibilidade e
identificação.
relação à sua posição, quanto à sua composição, é o ponto-chave para o bom funcionamento
dos demais graus de fluxo, uma vez que, num primeiro momento, conduz usuários e visitantes
O átrio (hall), que é de uso comum, deve ser concebido como um ponto focal do
pavimento térreo do edifício. Para além do seu papel já descrito – como um nó de recepção
–, deve exercer ainda a função de dinamizador para o contato social, que pode ser: através
207
Termo utilizado por Antônio Batista Coelho, no livro Do bairro e da vizinhança à habitação:
tipologias e caracterização dos níveis físicos residenciais (2013, p. 190) quando se refere ao edifício
como um espaço de ligação entre dois polos de um binômio mínimo de qualificação residencial.
208
Este espaço – nó de recepção – deve ser claramente definido, do qual também fica visível as
entradas subsequentes. Pode servir ainda como um ponto de encontro – ver item I.4.3 – Espaço entre
Edifícios – Espaços de uso comum.
209
Conforme Christopher Alexander, no livro Uma linguagem de Padrões (2013 [1977], p. 502), a
distribuição de entradas num complexo deve ser de maneira a constituir uma “família de entradas”,
i.é., que formam um grupo, no entanto cada uma delas pode ser visível das demais.
160
bancos, assentos, da colocação de jardins, sendo que estes servem como um elemento de
integração entre o exterior e o interior, uma vez que as plantas são elementos comuns e bem
edifício, devem ser elementos de caráter distinto que se abrem ao pavimento inferior. E, se
for o caso, a cada patamar, criando uma unidade indissolúvel com esses cômodos (átrio e
Nesse cenário, do caráter social, Alexander (2013 [1977], p. 639) aconselha que a base
da escada seja composta por degraus mais largos por dois motivos: o primeiro, para que as
pessoas que estão descendo se sintam no ambiente inferior antes mesmo de descer da
escada; e, o segundo, para que as pessoas usem naturalmente os últimos degraus como lugar
Hertzberger no livro “Lições de arquitetura” (2015, p. 35), que são escadas de edifícios
multifamiliares, uma atenção especial deve ser dada em particular à disposição espacial, que
pode conduzir aos contatos sociais esperados entre vários moradores de um mesmo
edifício210, bem como superar a distância entre a rua e a porta da frente num prédio
Nesse aspecto, Kevin Lynch apud Coelho (2013, p. 119) considera que os edifícios
Pesquisa realizadas por Maureen Taylor, User Nedds or Exploiter Needs apud Coelho (2013, p. 224),
210
Com esta preocupação, da transitoriedade desde o espaço público até o meio privado
pelo Grupo de Investigação Habitar, coordenado por Xavier Monteys: no contexto do projeto
Um dos “episódios” de Rehabitar, “Entrar por el balcón” (entrar pela varanda), traz
Monteys, tanto no documento acima citado, como no seu livro: La calle y la casa211,
Sugere que esta solução seja apenas considerada em casos de reparos e reabilitações –
“cuando los ascensores no han tenido más remédio”212, uma vez que altera tanto a operação
adjacentes à rua com o acesso aos apartamentos direto da fachada – através da varanda – o
que, em alguns casos, percebe-se uma melhoria do edifício como um todo, como ocorre em
O melhor mecanismo para poder realizar este acesso é, sem dúvida, através
de uma varanda na fachada. Portanto a habitação, se não tem, deverá incluí-
la ou modificar a que existe, poderíamos dizer que a partir dessa ideia
convidamos a projetar as novas habitações como se fossem habitações
reabilitadas. (MONTEYS, et al. (2011, p. 9). (tradução livre da autora).
Dessa forma, a entrada pela varanda, como resultado das instalações de elevadores
o que representa uma oportunidade de ver as varandas dos elevadores como uma extensão
211
Monteys et al. (2011, p. 3) e Monteys (2017, p. 22).
212
Xavier Monteys, no livro: La calle y la casa – urbanismo de interiores (2017, p.22).
162
QUADRO 19 Nós de recepção. Famílias de entrada. Átrio (ponto focal) e relação entre espaço
público e semipúblico. Núcleos de circulação vertical visíveis desde o primeiro acesso ao edifício
(Torre de apartamentos LSD, Conjunto Infante Santo – Lisboa, Portugal, 1952-55 e Bloco das Águas
Livres – Lisboa, Portugal, 1953-56). Acesso por elevador localizado na fachada do edifício (Edifícios
do bairro Trinitat – Barcelona, Espanha, 1994).
163
de emergência – em função das alturas dos edifícios – e do seu número e posição – em função
compreensão, pelos habitantes e outros utentes, da chegada do espaço público aos espaços
verticais numa, ou nas duas extremidades214 da galeria, liberando o corpo principal do edifício
aos seus volumes adjacentes; c) núcleo de acessos verticais divididos pela galeria, usando
parede das UH – uma vez que este espaço tem que crescer para acomodar escadas e
213
No caso do Brasil, a regulamentação é efetivada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT): NBR 9077/2001 – Saídas de Emergência em edifícios e NBR 15575/2013 – Desempenho de
edificações habitacionais.
214
A necessidade de um núcleo de acessos verticais (numa extremidade da galeria) ou dois (em ambos
os lados) vai depender do comprimento do edifício (e consequentemente da galeria), visto que as
regulamentações de segurança contra riscos de incêndio obrigam a distâncias mínimas entre as portas
das unidades habitacionais e as escadas de evacuação para o exterior.
164
elevadores aparecem integrados no corpo das UH, abrindo-se para o espaço da galeria.
(FARIAS, 2003).
circulação vertical é autonomizado do corpo principal do edifício são mais eficazes, no que
Nesse cenário, sempre que possível, devem escolher-se tipos de edifícios que
marcação da entrada onde pode comunicar seus usos, bem como exercer a função que estas
unidades habitacionais diretamente ao solo mesmo que estejam nos pavimentos superiores
das edificações. Isso pode ser feito, propondo escadas externas acessadas diretamente da
215
No caso do Brasil, a estratégia de que as escadas, com conexão direta para a rua, devem estar
abertas no ponto em que alcançam o pavimento térreo não não é possível, na maioria dos casos, em
razão da falta de segurança em relação à criminalidade.
165
QUADRO 20 Tipos de núcleos de acessos verticais. Relação dos núcleos de acesso vertical com os
espaços de circulação – públicos ou semipúblicos. Conexão de cada patamar do edifício com o solo
(Apartamentos dos carteiros Rue de l'Ourcq – Paris, França,1994 e Conjunto Heliópolis, gleba G – São
Paulo, Brasil, 2011).
166
Nesse seguimento, da relação entre o espaço público (rua) e privado (as unidades
é pertinente lembrar que para os edifícios com mais do que cinco pavimentos a conexão com
a rua é perdida216.
interface de contato passando para vistas, nuvens e aviões, como se expressa Gehl (2017
[1971], 98): “[...] qualquer coisa e qualquer um acima do quinto piso estão definitivamente
Leon Krier (1992) apud Coelho (2007, p.311), afirma que as cidades mais belas e mais
cinco andares.
A relação entre a rua e a porta de entrada de cada habitação pode ser obtida, ao
este espaço como uma rua externa (escada e patamares/galerias de distribuição), com
iluminação natural, através de aberturas na cobertura, com aberturas de janelas das unidades
privadas para esta “rua”, com previsão de terraços que possibilitem, sem descuidar da
216
Estudos sobre os sentidos humanos realizados por Jan Gehl e apresentados nos livros Cidades para
as pessoas (2013, p. 33-46); La humanización del Espaço Urbano: la vida social entre los edifícios (2006,
p. 110 e 111) e no livro A vida na cidade: como estudar (2018, p. 108 e 109). Ainda, Alexander (2013
[1977], p. 115) recomenda, para habitação, que seja estabelecido um limite de altura em quatro
pavimentos com o objetivo de baixar custos e fazer com que os usuários se sintam parte da paisagem
urbana; Coelho (2013, p. 216) mostra também pesquisas sobre o uso vital do exterior residencial pelas
crianças que habitam os edifícios relacionado com as respectivas alturas dos edifícios.
217
Termo utilizado por Hermam Hertzberger, no livro Lições de arquitetura (2015, p. 38-39), quando
faz analogia de um espaço interior de um edifício residencial, com escadas, patamares e passarelas,
com as edificações de vários andares de uma aldeia nas montanhas.
218
Ao nível dos patamares, terraços e das galerias de distribuição, todos de acesso comum, deve haver
um cuidado extremo quanto ao boqueio das potenciais vistas no interior doméstico, tanto em relação
à distância entre portas de unidades habitacionais e à sua disposição mútua, como relativamente às
relações entre utentes das galerias comuns e nas janelas das demais unidades contíguas.
167
conectada, de alguma forma, à rua, Hertzberger (2015, p. 51) explica que as soluções que
adota nos seus vários projetos são apenas uma variação do conceito antigo da escadaria
externa de ferro que conduz a um patamar no primeiro andar, onde fica a porta da frente da
moradia do andar de cima; daí a escadaria continua por dentro do edifício, passando pelos
quando quiserem, mas que possam também procurar contato com os outros, isto é, devem
estar separadas adequadamente, mas não de modo excessivo. Nesse ponto, o espaço à volta
da porta da frente tem uma importância crucial – o lugar onde a casa termina e onde começa
Relativamente aos terraços, estes podem ser considerados como ‘varandas públicas’,
uma passagem com vista para a rua. Estas varandas podem originar-se da associação entre a
219
Recomendação de Coelho (2013, p. 202) para edifícios multifamiliares. Ainda considera a
possibilidade, para edifícios maiores, a subdivisão da grande unidade em subunidades ou
“alas”menores, respeitando a mesma dimensão.
220
No caso do Brasil, as distâncias entre circulações verticais são dadas pela NBR 9077 – Saídas de
Emergência em edifícios.
168
Além dos níveis de acesso descritos, é necessário ainda definir claramente os demais
seguros (ausência de riscos por acesso indevido ou por ações de vandalismo) e com boa
edifício multifamiliar, como: monta cargas – para o abastecimento periódico das UH, entradas
acesso a quadro de contadores das redes públicas ou comuns de gás, eletricidade, água,
Técnicas (ABNT).
exigíveis que as edificações devem possuir, a fim de que a sua população possa abandoná-
las, em caso de incêndio, completamente protegida em sua integridade física, bem como fixa
exigências para permitir o fácil acesso de auxílio externo (bombeiros) para combater o fogo
e a retirada da população.
tanto para com o espaço público, como para com as residências ou espaços mais privados.
221
Sobre acessibilidade, Coelho (2013, p. 218 e 219) escreve recomendações sobre as diversas
categorias de utentes dos edifícios e seus diversos níveis de capacidade e liberdade de movimentação
para acesso e dentro do edifício.
222
NBR 9050/2015 (item 6.1 (da norma) – rotas acessíveis). Pessoa com mobilidade reduzida: aquela
que, temporária ou permanentemente, tem limitada sua capacidade de relacionar-se com o meio e de
utilizá-lo. Entende-se, por pessoa com mobilidade reduzida, a pessoa com deficiência, idosa, obesa,
gestante, entre outros.
223
NBR 9077/2001. Esta norma fixa requisitos para edifícios novos, podendo, entretanto, servir como
exemplo de situação ideal que deve ser buscada em adaptações de edificações em uso, consideradas
suas devidas limitações.
169
QUADRO 21 Contato entre edifícios e a rua (até cinco andares). Espaços de circulação – espaços de
estar e terraços de uso comum (Kassel – Alemanha, 1979-82). Rua-galeria. Caminho vertical – “rua
externa” (Spangen Quarter, Rotterdam, Holanda, 1921 e Cité Napoléon - Paris, França, 1849).
170
residencial deve ser fiel intérprete de vários fatores que, além do tipo e dimensões das
unidades habitacionais, devem enfatizar os tipos de relações, tanto dos acessos e das
visto no item anterior –, quanto das unidades habitacionais com o solo, assim como os tipos
Outra condição é para com sua forma, a qual deve estar de acordo com o espaço
envolvente, uma vez que, conforme Rossi (2001[1966], p. 100), a forma como se realizam os
ligados à forma urbana. Assim, os territórios habitacionais devem ser pensados como
estruturas participantes do lugar, gerando interfaces, ainda que, com conformações outras,
residencial precisa ser organizada com a finalidade de reforçar a trama urbana, a fim de
ao tipo e organização do (s) edifício (s), a fim de definir um princípio de organização espacial
de organização espacial, uma estrutura que contribua com esta finalidade, a de priorizar o
coletivismo ao individualismo.
171
deve repetir tal qual é; o tipo é, pelo contrário, um objeto segundo o qual qualquer pessoa
pode conceber obras que não se assemelharam em nada entre si. Tudo é exato e dado no
de cada modelo (o fato construído), com toda a sua caracterização arquitetônica específica.
Assim, dentro do tema edifícios habitacionais, segundo Farias (2003, p. 08) os tipos
estes podem dividir-se nos edifícios que organizam as unidades habitacionais verticalmente,
224
Particularidades do lugar – Denominado para o presente trabalho como vocação do lugar: são
propriedades do lugar que são identificadas após o estudo do conteúdo sociocultural, político, físico,
arquitetônico, econômico e histórico.
225
Quatremère de Quincy, Antoine – “Dictinnarire Historique de I’Architecture”. A tradução adotada
é a apresentada por Rossi em Arquitetura da Cidade, p. 53. O texto, na sua versão original e integral,
pode ser consultado em “De I’Imitation”, reedição de 1980 das Edições Archives d’Architecture
Moderne.
226
ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e destino. Tradução de Nanos Bagno. 1 ed. São Paulo: Atica, 2000.
p. 65-70.
227
Vários autores, na procura de alternativas ao movimento moderno, retomaram estudos sobre
tipologia edilícia: Rossi, Aymonino, Muratore, Caniggia, Panerai, entre outros.
172
os edifícios de acesso vertical múltiplo (com uma unidade habitacional por piso, com duas
unidades habitacionais, estando estas dispostas, em cada piso, ao longo de uma galeria que
manipulações das características básicas que o definem, uma série de subtipos, cuja
diversidade e riqueza são significativas. Existe uma variedade de bons exemplos resultantes
lote e com a rua e promovendo, desta forma, valores positivos para a cidade, bem como
na relação entre porta de casa e a rua, bem como promover usos coletivos. Dessa forma, as
proporcionando as entradas para estas unidades dos dois lados do seu desenvolvimento
longitudinal. Ainda, com dois alinhamentos de UH, as galerias podem ser organizadas de dois
228
Bloco Pedregulho. Rio de Janeiro (1952), Afonso Reidy; Unité d’Habitation de Marselha (1952), Le
Corbusier; Bloco Gifu Katagata. Japão (1999), K. Sejima; Spangen Quarter, Rotterdam, Holanda.
(1921), Michiel Brinkma; Bloco das Águas Livres. Lisboa. (1956), Nuno Teotónio Pereira, Bartolomeu
Costa Cabral; Bloco na Av. Infante Santo. Lisboa. (1958), Alberto Pessoa, Hernâni Gandra e Abel Manta;
Bloco na Av. Estados Unidos da América. Lisboa. (1955), Vasconcelos Esteves, Pedro Cid e Mário
Laginha; Bloco na Av. Estados Unidos da América/Av. De Roma. Lisboa. (1952), Filipe Figueiredo e
Jorge Segurado; Bloco nos Olivais Norte. Lisboa. (1959), Pires Martins e Palma de Melo; Bloco nos
Olivais Sul. Lisboa. (1962), Costa Martins, Hernâni Gandra, C. Raposo, N. Galhoz; Bloco nos Olivais Sul.
Lisboa. (1962), Vítor Figueiredo e V. Costa Lobo; Conjunto em Chelas. Lisboa. (1974), Vítor Figueiredo
e Eduardo Trigo de Sousa; Conjunto em Chelas. Lisboa. (1974), G. Byrne e A. Reis Cabrita; Conjunto
em Chelas. Lisboa. (1978), Tomás Taveira; Conjunto Heliópolis – gleba G. São Paulo (2011),
Katchborian e Mario Biselli; Conjunto Jardim Edite. São Paulo (2012), MMBB arquitetos & H+ F
arquitetos; Conjunto Heliópolis – gleba A. São Paulo (2004), Héctor Vigliecca; entre muitos outros.
229
A alternativa de organizar as unidades habitacionais (UH) duplex sobre ou sob as galerias tem a
vantagem de melhorar a insolação e as visuais uma vez que a organização das UH com uma galeria
por piso só permite insolação e vistas no lado oposto da galeria.
175
habitações simplex com habitações duplex; duas habitações duplex com dupla orientação e
UH, diversas variantes podem ser utilizadas a fim de garantir o contato com o exterior: a
galeria pode ser aberta ao exterior – se o clima permitir – ou envidraçada, para a proteção
Para as galerias abertas, numerosas soluções podem ser propostas: como galerias
galeria se apresenta como elemento adicionado à volumetria do edifício, com uma estrutura
Neste caso, das galerias em balanço, podem ser niveladas com a laje da UH ou num
nível mais baixo para fins de privacidade230 entre o espaço semiprivado da circulação e os
espaços interiores da casa. Este desnível pode ser utilizado para permitir a abertura de vãos
na fachada que abre sobre a galeria, sem que o interior dos compartimentos seja devassado,
Outra opção são as galerias separadas do edifício, com pontes ou passarelas para as
UH. Neste caso, a posição da galeria fica afastada da parede de delimitação das UH,
Essas pontes podem ser abertas ou protegidas – como uma galeria envidraçada.
galeria, podem-se citar os tipos que, a partir de uma só galeria, têm acesso às UH em pisos
diferentes, lançando-se escadas, para cima ou para baixo, para esse efeito. Nesse âmbito,
também existe a galeria dupla, que consiste em dar acesso por escadas, a partir de uma
galeria principal a um nível, a outra galeria, geralmente de menores dimensões, que serve
230
Sobre privacidade, algumas estratégias de projeto devem ser utilizadas para evitar incômodos de
ruídos gerados pelas galerias exteriores, uma vez que o ruído penetrará sempre pelas janelas dos
compartimentos adjacentes à galeria, particularmente, no verão em que há que promover a ventilação
cruzada para arrefecer a habitação. Ainda, um cuidado especial com a questão da vizinhança entre
zonas domésticas de preparação de refeições ou de higiene pessoal e galerias exteriores de acesso
comum, implica a privacidade e qualidade destes espaços.
176
conjunto deles, é quem vai dar a forma às cidades ou parte delas. Os edifícios, como já
referimos, são um dos elementos mais importantes da forma urbana e, talvez, o mais visível.
Via de regra, a cidade é composta por dois tipos diferentes de edifícios, os comuns e os
econômicas e histórico-sociais de acordo com sua localização no tecido urbano. Esta posição
urbana.
pensamento de Sennett (2018, p. 12), o qual afirma que os prédios raramente são fatos
isolados, e que as formas urbanas têm sua própria dinâmica interna; por exemplo, na maneira
como os prédios se relacionam uns com os outros, com os espaços abertos, com as
Estes tipos, como define o termo (visto no item anterior), devem ser compreendidos
como indicadores mais genéricos do projeto de arquitetura do edifício vez que, a partir
231
Edifícios comuns (correntes) e edifícios excepcionais (não correntes). Ver conceito item I.3.1-Parcelas
e Edificado – Configuração dos quarteirões.
232
Similar à um Smarte Code – ver item I.2.1 Morfologia/Tecido Urbano – Tzones e Smart Code. Estas
diretrizes são como convenções morfológicas e parâmetros de projeto: um conjunto de regras de
tipologias edilícias, implantação, volumetria, desenho das fachadas, entre outras características que
orientem, porém não impeçam a diversidade arquitetônica, dentro de parâmetros formais e
morfológicos, com o intuito da não homogeneização e padronização.
178
urbano coeso, contínuo, compacto e coerente, onde os edifícios não devem tentar impor-se
aos seus vizinhos, mas sim dialogar com eles, valorizando, dessa forma, o conjunto urbanístico
e beneficiando-se dessa relação sinérgica, “tal qual músicos em uma orquestra, trabalhando
elementares: a volumetria, idealizando uma forte unidade formal entre edifícios e espaços
abertos exteriores; e as fachadas, que devem visar à criação de ritmo e diversidade em cada
quarteirão, bem como a cautela com a materialidade, com as aberturas (esquadrias) e com
assumir um dos três tipos – o pavilhão, a barra e a torre –, sendo a sua diferenciação dada
pelas proporções: o pavilhão não mostra predominância de qualquer uma das três
Nesse enquadramento, pode-se dizer que a articulação desses volumes básicos entre
uma, resultará num arranjo de formas construídas geminadas e, se forem duas, o resultado
Acerca da posição dos edifícios dentro das parcelas, é pertinente nomear Hélio Piñon,
que evidencia que não tem sentido, nos dias atuais, recriar a cidade histórica. Porém, o autor
233
Manual de Diretrizes Arquitetônicas do bairro Urbitá – Brasília (2016, p. 07).
234
Conforme DPZ Latin America – Guidelines: General Design Principles (2006) elaborado para o Bairro
Pedra Branca – SC – Brasil.
235
A palavra francesa para quadra, îlot, conforme etmologia, significa ilhota, uma pequena ilha e,
portanto, seria parte do território urbano “isolado” da vizinhança pelas ruas. (Panerai et al., 2013, p.
204). Segundo o autor, a quadra fechada a priori não garante a urbanidade.
236
Partindo desses modos básicos de agrupamentos dos lotes, Antônio Batista Coelho e João Branco
Pedro, no livro Do bairro e da vizinhança à habitação: tipologias e caracterização dos níveis físicos
residenciais, p. 103, apresentam uma variedade de articulações da forma e fazem a relação da inserção
direta do edifício e a imagem urbana.
179
sugere propor uma cidade descontínua (em termos de contiguidade de altura e alinhamento
Com a expressão “ciudad discontínua, pero ordenada”, Piñon refere-se aos edifícios
baseados em “torre e plataforma” (ou caixa), onde o corpo baixo (uma plataforma de dois
andares que ocupa toda a largura do terreno) dá a continuidade aos edifícios adjacentes, e o
alto, a “torre”, se ergue sobre esta base, com identidade própria: a planta de transição
Piñon explica que este modelo, que recua em relação às divisas, tornando a “torre”
isenta pela separação das superfícies laterais, e balança pouco mais de um metro sobre a rua,
é inspirado na Lever House (1952) e deve ser adaptado às escalas mais modestas,
Piñon entende este modelo como uma “solução”, um “critério” de valor universal,
uma vez que se consegue que a “aleatoriedade fortuita” da cidade real se converta numa
QUADRO 24 Tipos de formas – pavilhão, barra e torre. Composição tripartida do edifício. Edifícios
organizados em torre e plataforma (Ciudad discontínua, pero ordenada – projetos didáticos Hélio
Piñon, 2018 e Lever House – Nova Iorque, 1951). Exemplo de organização de vários tipos de
edifícios – casas geminadas, sobrados, edifícios de baixa altura, edifícios de grande altura. (Lafayette
Park - Detroit, EUA,1956).
181
adjacências –, um cuidado especial deve ser tomado para com a inserção de mais de um tipo
de forma construída e sua distribuição nos quarteirões, a fim de evitar a descontinuidade tipo-
número limitado de tipos, combinados segundo as mesmas regras tipológicas, mas sim, de
propor que esta regularidade deixe de ser trivial, através do aumento do número de tipos,
dentro de cada categoria e admitindo alguma variação nas regras de articulação tipológica,
têm impactos negativos sobre a forma urbana. Coelho (2007, p. 296) afirma que: “a
continuidade urbana não pode ser prejudicada com intervenções constituídas por
Nesse universo, é pertinente citar Mahfuz (2008)238, que, em alguns casos, chama a
resultando em objetos que têm pouca semelhança com edifícios e pouca relação com as
237
Termo utilizado por Krafta (2014, p. 60) ao referir-se ao arcabouço compositivo. Assim, temática
passa a ser o mesmo que arcabouço compositivo, visto que quanto maior o conjunto de tipos e regras,
mais elaborado será o arcabouço compositivo, dentro de uma temática, i.é., edificações próprias
inseridas no tecido de forma também própria.
238
Texto A Arquitetura entre o espetáculo e o ofício, 2008, publicado na revista Arquitetura e
Urbanismo, São Paulo, Pini, n. 178, jan. 2009.
182
edificação principal, que exercerá uma função de alma funcional do complexo, estimulando
níveis de legibilidade.
terceiro elemento, no caso, excepcional239, é possível criar uma estrutura urbana – um tecido
urbano –, que tem, na sua gênese240, o conceito fundamental relativo à unidade morfológica.
em diferentes níveis: a lógica das vias, dentro do seu papel duplo de movimento e
Nesse enfoque, deve-se ter como meta a construção de um tecido urbano contínuo
através dos edifícios, os quais, independentes da sua tipologia (desde casas isoladas até
quarteirão. Este arranjo pode também formar espaços externos positivos que garantam a
permeabilidade nos e entre os quarteirões – formando ruas internas –, itens estes vitais à
demais edifícios, a calçada, as praças e espaços públicos, sem pretender atingir posição de
protagonismo.
239
Sobre edifícios excepcionais: Rossi (2001[1966]) afirma que monumentos funcionam como controles
ou âncoras da forma urbana e que, juntos, estabelecem uma rede de referenciamento e de unidade
urbana. Entretanto, somente podem existir exatamente na contraposição a um entorno de
regularidades. Com isso, tecido (temático) e monumentos (ou edificações excepcionais) são
complementares e indispensáveis para a forma urbana
240
Conceito de tecido urbano é proveniente dos estudos (nos países da Itália, França e Inglaterra) dos
tipos arquitetônicos, de um lado, e análise de plantas urbanas, de outro, que se iniciaram de forma
independente e, a partir de meados do século XX, passaram a ser tratados conjuntamente.
241
Ver conceito da boa forma urbana no item I.3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos
quarteirões.
183
com diferentes tipologias e densidades: casas unifamiliares; casas geminadas, casas em fita,
altura média (até cinco pavimentos) e edifícios em altura (até oito pavimentos)242.
Sabe-se que a combinação dos tipos apresentados por Farr (2013), articulados no
âmbito dos seus respectivos domínios e interdomínios, resulta no tecido urbano, o qual
envolve a regra que busca articular os diferentes domínios do público, privado e forma
construída, uma vez que, através da disposição da forma construída, esses domínios podem
ser modificados.
público, cria-se um espaço intermediário que poderá assumir um caráter privado (murado),
Nesse sentido, da escolha dos tipos dos edifícios, é possível afirmar que a densidade
que se programa para cada quarteirão e para cada distrito/setor poderá torná-los mais
demasiadas alturas que, além de coibir a relação com a rua, aumentam os custos de
construção, o que, por conseguinte, aumentará os preços dos aluguéis e vendas posteriores.
Ainda, sobre altura dos edifícios, deve-se considerar sua relação com a largura da rua
onde serão localizados. A variação dessas duas medidas pode introduzir mudanças
significativas na paisagem urbana. Se a altura dos edifícios é muito menor do que a largura
da rua, teremos pouca noção de recinto. No entanto, se a altura dos edifícios for maior que
Assim, observando a T-zone de cada sítio, a busca de níveis mais altos de densidade
é fator indispensável do New Urbanism, uma vez que tende a minimizar o consumo de
recursos (como energia, solo e água), bem como ampara o desenvolvimento de uso misto,
242
Sobre altura dos edifícios, o autor refere-se como média altura, entre 4 – 5 pavimentos e edifícios
altos, até 8 pavimentos. Explica também que acima de 8 pavimentos deve-se ter uma especial atenção
às zonas em que serão inseridos estes edifícios, bem como às legislações relativas à segurança e
circulação vertical (FARR, 2013, p. 96 e 97). Sobre altura dos edifícios, sua conexão com a rua e a
influência nos sentidos humanos, ver item I.4.1 – Acessos – Circulação horizontal e vertical.
184
em que é necessária uma densidade mínima de habitação para sustentar usos não
residenciais.
Conforme Davies et al. (2000, p. 46), são muitos os benefícios das densidades mais
altas: a proximidade social que incentiva a interação e a diversidade, bem como melhora a
proporção que se relacione com a composição formal dos edifícios, e que esteja ordenada
grandes conjuntos e/ou bairros residenciais, atender a uma variedade de estilos de vida,
propondo uma mistura de densidades, o que exige uma escolha de tipos de ambientes
construídos.
Este ambiente construído pode ser composto por edifícios médios e de alta
positivos, tenham capacidade de orientação para ganho solar passivo, e permitam os acessos
privados, ao nível do solo. Enfim, elementos que tornem o empreendimento residencial com
atributos visuais e ambientais típicos de uma propriedade residencial, ou seja, criando uma
243
Town cramming: termo utilizado por Davies et al. (2007, p. 47), no livro Urban Design Compendium,
quando escreve sobre a densidades urbanas e suas vantagens.
244
Domesticidade ou residencialidade: Termo utilizado por Antônio Batista Coelho no livro Qualidade
arquitetônica residencial: rumos e fatores de análise (2000, p. 351 e 385). É um fator que é responsável
pela criação e afirmação de um caráter residencial através da marcação de escalas, designadamente
em relação com o homem/habitante.
185
Nessa conjuntura, pode ser útil articular diferentes formas de unidades habitacionais
menor densidade e com menor altura no meio do quarteirão, podendo ser as townhouses –
unidades com dois ou três pavimentos com pé-direito duplo, no meio do quarteirão –, o que
e outros locais, conforme necessário para satisfazer o programa ou para marcar vistas
importantes. Estas torres devem ser espaçadas de modo a não interferir nas vistas ou
realce –, através da afirmação de esquinas – dos limites verticais laterais (empenas, cantos,
extremidades). As esquinas devem ser demarcadas, com espacialidade e uso, pelos quatro
edifícios que a compõem, de forma a criar um nódulo interessante e rico da malha urbana,
No que se refere aos edifícios de esquina, é primordial uma atenção com as entradas.
Os edifícios de esquina devem ter suas entradas pelas esquinas, as quais possuem linhas de
visão em três ou mais direções, proporcionando o acesso mais direto do pedestre ao edifício,
aos locais naturais de encontro que ali se estabelecem, a melhor acessibilidade ao domínio
Nesse aspecto, o Guia Boston Street (2013, p. 155) enfatiza sobre as entradas dos
edifícios de esquina, recomendando que devem ser colocadas na diagonal para otimizar e
ajudar a separar os fluxos dos pedestres que entram no edifício com aqueles que estão
passando.
245
De modo geral, é desejável colocar edifícios mais altos (torres) em locais importantes, como nas
esquinas, nas principais vias – em corredores lineares ao longo das rotas de transporte público, no final
das vistas ou nos parques.
246
Não se incluem aqui os “Landmarks” – pontos de referência (marcos visuais), ver item I.3.1 – Parcelas
e edificado – Localização dos quarteirões.
186
123) que, já no desenho dos quarteirões, estabelece de maneira clara a definição das
esquinas, e na maneira como esses edifícios de esquina voltam-se regularmente com uma
fachada diagonal para as ruas que se cruzam. As quatro diagonais ampliam cada interseção,
formando, desse modo, uma pequena praça, capaz de fornecer um alívio bem-vindo à
rua terminada em “T” – que exige uma vista de terminação – (muitas vezes longa), podendo
características da rua, uma vez que, segundo Louis Kahn, “as fachadas dos edifícios ao longo
das ruas pertencem-lhes, são as paredes da rua, espaço sem teto” (Kahn, apud Coelho, 2013,
p. 126).
187
requisitos construtivos determinados. Ela fala sobre a situação cultural no momento em que
A raiz da palavra “fachada” deriva da facies latina, que é sinônimo das palavras face e
tudo, a frente voltada para a rua. Em contraste, as costas são atribuídas a espaços exteriores
verso relacionam-se, grosso modo, por um lado, à responsabilidade pública e, por outro, à
climática, deve exprimir uma organização superficial e volumétrica coerente com o uso
Norberg-Schulz apud Coelho (2013, p. 126) defende que o significado de uma forma
construída reside na maneira como ela é fundada, se eleva e se abre, isto é, no seu estar entre
terra e céu. Ela encarna e aparece no mundo, esta encarnação tem lugar nos limites que
luz no interior do edifício, deverão ser sempre a melhor escolha. Estas aberturas,
especialmente as janelas, são o meio de composição mais importante do edifício uma vez
que, pela sua distribuição na fachada, efeitos específicos podem ser enfatizados ou
suspensos.
247
Conforme Krier R. (1992, p. 60), a fachada ainda é a maior parte do elemento arquitetônico possível
de comunicar uma função.
248
Paulo Portoghesi, “Depois da arquitetctura moderna” (2002, p. 99).
189
(janelas e parapeitos, portas, proteção solar, telhado), tem a ver essencialmente com a criação
Nesse universo, uma variedade de estratégias projetuais pode ser utilizada, tais como:
selecionar e ressaltar as partes mais importantes – partes do edifício podem ser expostas pelo
qual o primeiro plano e o fundo da fachada são determinados; gerar jogos de sombras através
especial e, no mínimo, entre o piso térreo, os andares normais (correntes) e o último piso250;
independência –, num cuidado com seu contorno e lintéis; os beirais – proteção do telhado
rebuscados).
Sobre a distinção dos andares, o piso térreo deve exprimir a aproximação e a relação
deve haver detalhes, de pequena e média escala, envolvendo as pessoas que se aproximam
249
Para a distinção entre elementos horizontais e verticais, aspecto de grande importância na
estruturação da fachada, cada um dos elementos pode, por si próprio, criar um efeito geral adequado
desde que as proporções dos elementos (tanto horizontais, quanto verticais) correspondam ao todo.
250
Segundo Claire e Michel Duplay, “Methode Ilistrée de Création Architecturale” (p.167–172, apud
Coelho, 2013, p. 232), denomina os limites horizontais como as transições com o céu (continuidade de
rebordas e silhuetas), e com o solo, onde a continuidade pode ser assegurada em boa parte pelo
emprego diferenciado dos mesmos materiais. Conforme Coelho (2013, p. 125) a fachada, no seu
conjunto manifesta assim: “o entre céu e terra”.
251
É recomendado que as esquadrias e/ou caixilharia, dentro de uma variedade de modelos, devam
ser escolhidos de forma a oferecer uma referência unitária em termos de cor e material.
252
Termo utilizado por Rob Krier no livro Elements of Architecture (1992), quando discorre sobre os
elementos de arquitetura da fachada.
190
Nos pisos térreos, a fachada, como “borda construída”, atua de maneira semelhante
ao portal: em alemão, a palavra muro é wand, que tem a ver com wendn (virar) ou com
vice-versa. Esta zona de transição253 tem a função de troca, tornando-se viva se a superfície
for evidente.
Nos pisos intermediários, deve-se ter um cuidado na escolha das tipologias a fim de
que permitam marcar, claramente, no edifício, a presença de cada unidade habitacional por
meio de elementos que devem ser pensados no seu detalhe. Estes detalhes incluem a
janelas e seus componentes, bem como a cautela com a unificação de elementos funcionais
tradicional nos quais os construtores não usaram algum detalhe de cobertura para dar
acabamento à edificação: os frontões das edificações gregas, as coberturas cônicas dos trulli
“contato com o céu”, como é o caso da Villa Savoye e da Unité d’Habitation de Le Corbusier;
as obras de Mies van der Rohe e de Wright, com os seus remates claríssimos no encontro
Esses elementos têm um efeito poderoso na edificação, uma vez que agregam um
detalhe, tornando a cobertura menos homogênea; conferem à cobertura o status que ela
o céu, uma característica que talvez tivesse conotações religiosas no passado. Assim como
253
Sobre zonas de transição ver item I.4.1 – Acessos – Intervalo/espaço de transição.
191
um edifício precisa ter um senso de conexão com o chão, uma cobertura precisa ter uma
edifício, que é constituída pela borda da edificação – a fachada, é fator elementar para o
passa a fazer parte da malha social, da cidade e da vida de todas as pessoas que moram no
O piso térreo faz parte da chamada “esfera pública”254, que tem um significado maior
do que somente espaço público: inclui as fachadas dos edifícios e tudo que pode ser visto
ao nível dos olhos. Assim, o andar térreo é parte crucial à cidade ao nível dos olhos, uma vez
Karssenberg et al. (2015, p. 15) denominam este espaço de plinth, que no seu
significado literal quer dizer plinto, ou seja, a base do edifício (a primeira camada da
organização tripartida) – o andar térreo ou, em muitos casos, os dois primeiros andares255,
distritos/bairros), deve-se considerar o piso térreo dos edifícios como uma oportunidade de
Isso porque pesquisas mostram257 que, para os próximos anos, mais 30% do setor de
comércio desaparecerá, como consequência de compras feitas via internet. Ainda, outros
fatores contribuem para o declínio desses espaços que se apresentam vagos ou com
complexos multifuncionais para lazer, centro de atenção à saúde e campus –, que, em muitos
Essas tendências requerem uma nova perspectiva, para programar os pisos térreos
com funções diferentes e flexíveis, com usos temporários e provisórios que podem mudar de
254
Esfera pública: termo utilizado por Hans Karssenberg et al., no livro A Cidade ao Nível dos Olhos:
uma lição para os Plinths (2015).
255
Conforme recomenda Piñon (ver item I.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Composição formal dos
edifícios), que os dois primeiros pavimentos (que chama de plataforma) tenham a função de ordenar a
continuidade espacial nesta interface com a rua.
256
Sobre áreas comerciais, ver item I.3.1 – Parcela e Edificado – Usos especiais – Equipamentos
comerciais e serviços locais.
257
Pesquisa apresentadas no livro A Cidade ao Nível dos Olhos: uma lição para os Plinths (2015, p.
17).
258
Desenhar funções internas é o termo utilizado por Karssenberg e Laven no livro A Cidade ao Nível
dos Olhos: uma lição para os Plinths (2015), que significa direcionar a atenção do projeto de arquitetura
mais para o mundo interior e não ao entorno urbano.
194
acordo com novos usos, inclusive inserindo habitação neste andar. Essa estratégia objetiva
Nessa perspectiva, Karssenberg et al. (2015, p. 18) expõem que novas tendências
podem melhorar a qualidade dos pisos térreos, bem como comércio autêntico (ex.:
alimentação, roupa, design e lojas étnicas), a necessidade de bares novos para co-working,
funções criativas temporárias e lojas pop-up. Em qualquer caso, uma boa estratégia de pisos
térreos terá que abraçar uma grande variedade de funções, inclusive funções sociais e
Nessa lógica, é necessário perceber que “bons pisos térreos”259 devem ser compostos
por uma mistura de funções sociais, comerciais, de serviços, de lazer e residenciais, este
último, em especial, na busca do viver urbano, onde a relação entre a rua e a casa seja
entre o interior e o exterior, com portas e janelas voltadas para a rua e com frequência de
Sobre terraços e a relação entre a habitação e a rua, Monteys, 2017, p. 47 e 48, expõe
sobre “los palcos de la calle” e sobre “la terraza: entre la casa y la calle”. Refere-se, quando
259
Bons plinths significam andares térreos com funções variadas e distribuídas a cada 8 – 10m criando
uma esfera pública melhor.
260
Lembrando do conceito de plinths, conforme Karssenberg et al. (2015, p. 15): por fazer parte da
esfera pública, os plinths têm um significado maior do que somente espaço público: incluem as
fachadas dos edifícios e tudo que pode ser visto ao nível dos olhos.
261
Na organização tripartida do edifício, a base é designada também, por vários autores, de: caixa,
plataforma ou embasamento.
262
Escala pequena das unidades possibilitam muitas portas (no mínimo 10 a cada 100 metros). Método
usual do século 19 que, além disso, ainda nos ensina sobre plinths com espaços de varejo transferíveis,
i.é., os espaços se adaptavam facilmente e rapidamente às demandas mutantes da economia e da
sociedade.
263
Sobre áreas térreas e arquitetura de encontros imediatos com prédios, ver item I.1.2 Conexões –
Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias.
195
a casa se transforma em uma varanda contínua que geralmente ocupa toda a largura da
Esses terraços têm a função de articular as massas dos edifícios e atenuar o horizonte
a fim de expressar o espaço de pedestres ao longo do nível do solo. O objetivo é criar uma
forte e contínua vedação para a rua – as paredes do espaço público urbano na escala humana.
Esta escala é, entre outros aspectos, alcançada através das alturas que, em geral,
regulam com o pé-direito do piso térreo (3,5m a 4,5m265), a fim de proporcionar melhores
(2015, p. 104) alertam que a altura do piso térreo deve ser um reflexo do bairro/cidade. Não
Nesse contexto, outras estratégias podem ser utilizadas, em especial nas ruas
comerciais, através de uma sequência de coberturas podendo ser marquises, toldos de lona
ou de metal (não translúcidos) que acentuem a borda superior das janelas e portas do piso
atrativas.
deverão estar incorporadas à escala do edifício e/ou conjunto de edifícios com design
integrado à fachada.
Dessa forma, pode-se citar Gehl et al. (2006)268, que assim se expressam: “Prédios e
espaços urbanos devem ser vistos e tratados como um ser unificado que respira como um só.
264
O autor destaca que estes terraços são um exercício de alguma ambiguidade. Pode-se dizer que
foram feitos com a intenção de relacionar-se com a rua, bem como no sentido de proteção –
privacidade da unidade habitacional. (MONTEYS, 2017, p. 48).
265
Segundo Gehl (2014, p.22). Karssenberg et al. (2015, p. 35) recomendam 3,5 - 4m (no mínimo) de
pé-direito no andar térreo.
266
Versatilidade entendido como uma qualidade do espaço, neste caso o piso térreo, em proporcionar
facilidade de conversão entre escritório, loja ou habitação.
267 É necessário um instrumento (regulamentação) com diretrizes aplicadas às características de cada
T-zones ou distritos de zoneamento que regule este tema – Sinalizações comerciais. No caso do Brasil,
pode estar contido no Código de Posturas.
268
Gehl (2006) apud Karssenberg (2015, p. 35). Artigo publicado primeiramente em 2006 em Urban
Design International.
196
E os andares térreos, mantendo a tradição e com bons argumentos sensoriais, devem ter um
Esse nexo entre edifícios e espaço público urbano – em especial a rua – corresponde
também às áreas residenciais, onde estratégias projetuais, entre o andar térreo da habitação
e o espaço público, são utilizadas a fim de se obter uma combinação entre domínio público
e privado.
Esse ajuste diz respeito, principalmente, à privacidade. Uma estratégia que auxilia na
privacidade das unidades habitacionais que se situam no piso térreo, em especial quando há
presença de janelas, é fazer com que a pavimentação da calçada termine um pouco antes da
fachada, deixando uma estreita faixa livre ao lado da parede – espaço para pequenos jardins
frontais –, e, se for o caso de paredes cegas, pode-se utilizar trepadeiras amenizando a rigidez
da fachada.
Ainda, sobre a cautela com a privacidade nos pisos térreos, em particular para edifícios
residenciais, Coelho (2000, p. 268) recomenda a elevação dos pisos, relativamente às zonas
públicas e comum contíguas de modo a que os peitoris das janelas estejam praticamente ao
Nesse âmbito, do vínculo entre edifício e o espaço público, deve-se ter um cuidado
especial com as janelas. Karssenberg (2015, p. 323) escreve que é um erro usar demasiado
vidro nas janelas do andar térreo porque a transparência esperada é, geralmente, eliminada
Alexander (2013 [1977], p. 768) expõe sobre a janela para a rua como a única conexão
entre a vida que está dentro das edificações e a rua e, nesse sentido, cita Franz Kafka (1972,
p. 384):
Aquele que leva uma vida solitária de vez em quando quer se conectar com
outra pessoa ou algum lugar e, de acordo com o clima lá fora, seu humor
pessoal e outros fatores, ele de repente tem vontade de olhar para um braço
qualquer, ao qual poderia se agarrar – e não conseguira resistir por muito
tempo antes de ir para a janela voltada para a rua... (KAFKA apud
ALEXANDER 2013 [1977], p. 768).
197
Essa conexão pode ser aprimorada através do desenho de janelas que configuram
janelas por todo o lado –, com a proposta de bancos e poltronas junto a elas.
São estes detalhes, chamados por Ton Schaap de desenho sofisticado/refinado, que
irão favorecer a satisfação mútua para os residentes e para as pessoas que passam na calçada.
O mesmo autor alerta que os arquitetos devem começar a desenhar do ponto de vista da
rua, não do edifício. “Arquitetos devem desenhar boas entradas e andares térreos com boa
aparência, assim geram-se boas ruas.” (SCHAAP apud KARSSENBERG et al., 2015, p. 104).
Ainda o mesmo autor (2015, p. 321) reitera que o processo de projeto deve ser de
fora para dentro, da rua para a zona de transição e desta para o edifício. É preciso de olhos
para a rua, na medida em que as fachadas ativas e interessantes ativam os usuários urbanos.
“Pense em estar em pé, sentar-se ou engajar-se em atividades ao lado dos edifícios, em olhar
Boas entradas e pisos térreos com boa aparência – entradas diretas para a rua270;
Dentre estes recursos (os quais já foram mais desenvolvidos em outros itens), convém
discorrer mais sobre a materialidade. A base do edifício deve estar fortemente entrelaçada
269
Janelas que configuram lugares é um termo utilizado por Christopher Alexander (2013 [1977], p.
832) onde explica que lugares junto às janelas não são um mero luxo, e sim uma situação orgânica,
baseada no desejo natural que uma pessoa tem de deixar que as forças que ela sente se expressem à
vontade.
270
Sobre entradas ver item I.4.1 – Acessos – Intervalo/espaço de transição.
271
Contato visual entre exterior e interior ver item I.1.2 Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres
e ciclovias.
272
Passagens entre quarteirões ver item I.3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos quarteirões.
273
Ver item I.4.1 Acessos – Intervalo/espaço de Transição.
274
O uso de árvores, arbustos, cercas-vivas, até certas esculturas, auxiliam na absorção dos ruídos, bem
como a sua difusão pode ser obtida ao evitar superfícies lisas e duras.
198
ambiente confortável, e que atuem para a qualificação, tanto da habitação, quanto do espaço
púbico.
deve ser de materiais intermediários: mais naturais do que os pisos internos da casa – e ao
caráter mais urbanas, segundo Duany Plater-Zyberk e seus colaboradores276: os usos dos
materiais e das cores nas fachadas dos edifícios devem ser combinados tomando o cuidado
para utilizar o mais pesado e escuro abaixo do mais claro; os materiais de acabamentos
275
Christopher Alexander (2013 [1977], 785) afirma que a criação de raízes ocorre com as edificações
quando elas são circundadas, ao menos em parte do seu perímetro, por terraços, passeios, escadas,
superfícies com cascalho ou terra, os quais levam os pisos internos a se conectarem com o terreno.
276
Livro: Suburban Nation: The rise of sprawl and the decline of the American dream, 2000.
199
QUADRO 27 Plinths – Esfera Pública. Elementos da fachada de edifícios urbanos. Orientação vertical
e horizontal da fachada. Sucessão de coberturas. Estratégias de privacidade para edifícios residenciais.
Ponto de vista do projeto: da rua para o edifício e do edifício para a rua.
200
população idosa – que tem dez, vinte ou trinta anos para desfrutar após a aposentadoria –, a
novo enquadramento físico dos espaços abertos para satisfazer essas novas exigências.
Esses espaços abertos – entre edifícios – podem ser entendidos desde a pequena rua
ou um centro comunitário de uma área residencial até a praça principal de uma cidade. O
objetivo é que se desenvolva uma vasta vida social e recreativa nestes espaços através da
proposição criativa de passatempos e atividades que possibilitem uma utilização ativa por
os espaços públicos são mais usados quando têm a qualidade requisitada, isto é, que
Nesse aspecto, o autor aconselha que seja observado e tomado como conceito de projeto a
Este conceito é expresso pelo autor por três requisitos: condições desejáveis para
recreativas e condições desejáveis para as atividades sociais. Estes requisitos apontam para
valiosa que deve ser pré-requisito para o processo de projeto. Desse modo, os elementos de
projeto considerados cruciais para a qualidade dos espaços entre edifícios são: a implantação
Jan Gehl (2017 [1971], p. 51) escreve sobre a Vida entre Edifícios – em situações sociais atuais.
277
278
Conforme Estudos da vida da rua em Melboure, demonstrados por Gehl no livro: A vida entre
Edifícios (2017 [1971], p. 11).
201
sentido de uma unidade na qual as partes e o todo se determinam reciprocamente. Para isso,
cidade conforme expressa-se Van Eyck apud Hertzberger (2015, p. 126): “Faça de cada coisa
um lugar, faça de cada casa e de cada cidade uma porção de lugares, pois uma casa é uma
Nesse sentido, entendendo que cada edificação deve seguir a premissa de que faz
da estrutura, que organiza tanto os espaços interiores quanto os espaços exteriores abertos,
(grelha, faixas paralelas com circulações transversais, sistema pente, etc.) com o objetivo de
das decisões projetuais, uma vez que favorece a disciplina e a lógica formal.
279
Edson Mahfuz, Sistematicidade, 2009. Artigo publicado em Arquitetura e Urbanismo, 182, São
Paulo, maio/2009.
280
Termo utilizado por Edson Mahfuz ao referir-se que os sistemas ordenadores regulam as relações
entre as partes de um projeto de arquitetura e entre o artefato e seu contexto.
202
pavimentadas, zonas com sombra vegetal, superfícies plantadas, zonas de estar e caminhos)
especial quando esta se estende à estrutura do edifício e suas dimensões, deve ser cauteloso,
não se torne neutra a ponto de perder sua identidade, e seja, sim, uma arquitetura que
ofereça incentivo para que seus usuários a influenciem sempre que possível, não apenas para
reforçar a sua identidade, mas especialmente para realçar e afirmar a identidade de seus
usuários.
O autor fala também sobre a polivalência e afirma que uma forma que se preste a
diversos usos, sem que ela própria tenha que sofrer mudanças, de maneira que uma
flexibilidade mínima possa produzir uma solução ótima, é o que a arquitetura do século XXI
em que as diversas funções possam ser sublimadas e que se tornem formas arquetípicas, que
sua capacidade de acomodar, absorver e de induzir cada uma das funções e das alternativas
desejadas.
O uso do método das organizações reticulares pode ser qualificado como universal
por duas principais razões: a primeira, porque possibilita que o objeto se estenda
como solução espacial lhe confere a possibilidade de servir de base para muitos outros
Sobre a polivalência dos objetos, Mahfuz (2003, p.11) escreve sobre o conceito de universalidade e
281
explica que é a condição de que algo seja reconhecido por si mesmo e que possa servir para outros
propósitos sem perder sua qualidade intrínseca. Objetos dotados de universalidade adquirem uma
qualidade de permanência que permite que atravessem os tempos com dignidade e utilidade.
203
palavras de Alexander (2013 [1977], p. 471), “o grau em que uma edificação é dividida em
partes visíveis afeta as relações humanas que ocorrem entre seus usuários. Assim, uma
edificação deve, por razões psicológicas, ser subdividida – ela deve ser tratada como um
complexo de edificações”.
edificações cujas partes manifestem os fatos sociais da situação, formando uma coletânea de
pequenas edificações conectadas por arcadas, passeios, passarelas, jardins de uso comum e
muros.
No que se refere a esta conexão, volta-se ao sistema regulador que, somado aos eixos
– que devem estar numa sequência hierarquizada a cada nível espacial –; e à tipologia e
composição formal dos edifícios283 – com seus vários modos de se articularem –, auxiliam na
organização do sítio.
pessoas que ali moram e/ou trabalham, através dessa conexão entre os edifícios (em geral
Exemplos desta malha social efetiva são a maneira como antigamente as edificações
eram conectadas entre si, como mostra Camillo Sitte284, numa pesquisa sobre a implantação
das igrejas na Itália, onde concluiu que, de 255 igrejas, somente seis apresentavam
implantação isolada, e 249 tinham como objetivo a integração com outras edificações.
282
Sobre níveis legíveis de circulação: item I.4.1 – Acessos – Circulações horizontais e verticais.
283
Sobre articulação dos volumes: item I.4.2 Tipo e forma das edificações – Composição formal dos
edifícios.
284
Camillo Sitte apud Alexander (2013 [1977], p. 534) no livro City planning According to Artistic
Priciples (1965).
205
numa posição proeminente, deixando-a mais alta que as demais, e os caminhos tangentes à
parte principal da edificação devem possibilitar uma vista direta para esse equipamento.
indispensável referir os espaços externos positivos, que são formados a partir da disposição
dos edifícios no sítio – geralmente conectados uns aos outros – dentro de um complexo.
apresenta uma forma distinta e bem definida, tão definida quanto se fosse um recinto interno,
e quando sua forma é tão importante quanto as formas das edificações que o circundam e
exemplifica:
Nesse universo, Gehl (2017 [1971], p. 57) afirma que a estrutura física do complexo de
edifícios reflete e apoia a estrutura social. Este apoio à estrutura social expressa-se através da
O autor explica que a função principal dos espaços comunitários é propiciar um palco
para a vida entre edifícios, para as atividades diárias não planejadas, tráfego pedonal,
permanências curtas, jogos e simples atividades sociais, a partir das quais uma vida
pessoas não se sentirão confortáveis em suas casas a menos que um conjunto de moradias
285
Sobre hierarquia como princípio de ordem, Ching (2008 [1998], p. 321) escreve que a articulação
da importância ou do significado de uma forma ou espaço pode ser comunicada através de seu
tamanho, formato ou localização, relativamente a outras formas e espaços da organização.
206
forme um agrupamento, com o solo público entre elas sendo de propriedade comum a todos
os moradores.
gradual para o uso fundiário da vizinhança e é foco natural da interação do bairro e, nesse
O segredo íntimo do ser humano é que ele deseja ser confirmado em sua
vida e existência por seus companheiros e que ele deseja que os
companheiros permitam-no confirmar uns aos outros... não apenas na
família, na convenção partidária ou no bar, mas também ao longo de seus
encontros com os vizinhos, talvez quando ele ou outra pessoa sai pela porta
de casa ou vai à janela e que o cumprimenta por meio do qual eles se
reconhecem seja acompanhado de um olhar simpático, um vislumbre no qual
a curiosidade, a desconfiança e a rotina sejam superadas por uma simpatia
mútua: um permite ao outro a afirmação de sua presença. Isso é o mínimo
de humanidade indispensável. (BUBER apud ALEXANDER 2013 [1977], p.
203).
conjuntos identificáveis em torno de vias e áreas externas de uso comum. Esta distribuição
deve ser de tal modo que qualquer pessoa possa passar por entre eles sem se sentir uma
invasora.
Além disso, é relevante frisar o cuidado com o final das vias. Deve ser proposta a
possibilidade de uma vista (um ponto focal), seja de uma característica natural, um ponto de
QUADRO 29 Complexo de edificações. Espaços externos positivos (convexos) – malha social efetiva.
Seis grupos de 15 unidades habitacionais. (Tinggarden – Copenhague, Dinamarca,1977 – 79).
208
necessário incluir a apreciação visual por parte dos usuários, vez que, conforme Carmona et.
al. (2003, p. 170), a apreciação visual dos ambientes urbanos é um produto da percepção e
emoções.
como nos sentimos sobre o ambiente. Nesse cenário, é pertinente citar Coelho e Pedro (2013,
p.117) que elencam, entre outros princípios da morfologia urbana pormenorizada, os perfis
transversais que integram edifícios e vias. Segundo os autores, se a rua é demasiada estreita,
faixa central da rua, o visitante sentir-se-á desamparado, sem indicações direcionais claras e
Nesse contexto, é oportuno citar Carmona (2013), p. 183 que apresenta uma relação
(razão) entre a altura do edifício e a largura deste espaço aberto: a) se as paredes são baixas
em relação à largura da via (1:4), as vistas externas não são suficientemente contidas para
fornecer uma sensação de espaço fechado; b) se a proporção for entre 1:2 ou 1:2,5 os
vislumbres periféricos do céu são iguais à quantidade de campo visual dedicada à parede da
rua, fator este que aumenta a sensação de fechamento; c) se a altura da parede da rua for
igual à largura da rua, a vista do céu fica limitada severamente e fornece uma forte sensação
urbanas confortáveis; d) se a altura dos edifícios exceder a largura do espaço, os topos dos
edifícios não serão mais visíveis sem olhar para cima. Essas taxas reduzem a penetração da
via, em especial na relação que é estabelecida com os edifícios e, no caso dos espaços
209
abertos, na relação estabelecida entre edifícios. Dessa forma, o conjunto de edificações pode
estar disposto ao longo da via – no mesmo nível –, como pode estar separado, através de
Nesse cenário, da articulação dos espaços exteriores – entre os edifícios – com suas
Aqui e um Além286. Esta divisão – Aqui e o Além –, segundo Cullen (2015 [1971], p. 43), se
Essas duas metades – duas partes do espaço projetado –, podem ser pensadas, na
exterior por meio da expressão exterior de volumes interiores287; a relação entre público e
cor, caráter, escala, etc.) – ex.: um Aqui público (uma rua) e um Além privado ou semiprivado
pode ser expressado por meio do espaço e infinito, no entendimento que a sensação de
infinito não é normalmente aparente no céu que se vê sobre os telhados. Mas, quando
subitamente se vê céu aonde normalmente seria de esperar que se andasse, isto é, ao nível
ainda somos animais pedestres com uma altura média de 1,75m de altura e com um campo
de visão predominantemente horizontal, com claras limitações sobre o que podemos ver, a
O autor também afirma que nossa visão nos permite detectar movimentos humanos
286
Aqui e Além são conceitos definidos por Cullen (2015 [1971] p. 184 e 185), onde explica a
importância do tratamento e jogo destes dois conceitos espaciais para a boa expressividade urbana.
287
Sobre relação entre interior e exterior ver item I.1.2 Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres
e ciclovias
288
Conforme Gehl (2013, p. 34), podemos reconhecer pessoas como seres humanos em vez de
arbustos ou animais a uma distância de 300 a 500 metros. Com 100 metros de distância, podemos ver
movimentos e linguagem corporal em linhas gerais. A distância de 50 a 70 metros é possível
210
uma distância muito menor. Isso influencia a forma como organizamos nosso entorno – seja
no espaço público, no pátio, num teatro, na sala de aula ou em casa, na mesa de jantar.
emoções e expressões faciais, sendo estas duas distâncias a chave de muitas situações físicas
em consideração os limites do campo social de visão de tal forma que uma vasta gama de
reconhecer gênero, idade, cor do cabelo e linguagem corporal. A uma distância de 22 a 25 metros,
podemos ler corretamente expressões faciais e emoções dominantes, e é possível trocar mensagens
curtas, mas uma conversa de verdade só é possível quando se está a menos de 7metros um do outro.
211
QUADRO 30 Razão entre a altura do edifício e a largura da rua/espaço aberto. Bisseção do ângulo de
visão em duas partes sensivelmente iguais. Estratégias de visibilidade entre espaços externos e
edifícios. Cones na camada fotorreceptora dos olhos. Aqui e Além. Praça Stroget Copenhague –
espaço angular. Praça del Campo, em Siena – dimensões na escala humana.
212
Nesse enquadramento, da distância entre edifícios e sua relação com o espaço aberto,
é apropriado referir sobre a orientação solar. De acordo com Alexander (2013 [1977], p. 515),
as pessoas usam os espaços externos se eles forem ensolarados e não os utilizam se estiverem
vento se reduz pela fricção com o terreno e com a paisagem. Ao longo do terreno, a
velocidade do vento é ainda mais reduzida se houver muitas árvores e prédios baixos
agrupados. Essa combinação muitas vezes cria tal fricção e os ventos rápidos e frios são
desviados acima dos prédios, de modo que praticamente não há vento entre eles.
até mesmo a neblina, afetam outro fator considerável para o desenho da implantação das
edificações, o som. Segundo Romero (2001, p. 61), estas condições climáticas podem
Nesse âmbito, alguns cuidados podem ser tomados a fim de minimizar a intensidade
do som: o paralelismo da fachada favorece a reflexão dos sons e sua penetração – quando
uma das fachadas é convexa, o som é produzido pela reflexão e o amortecimento é mais
rápido –, os ruídos são refletidos pelas fachadas planas e pelo chão; eles são absorvidos pelas
aberturas dos portais, pelas entradas abertas e são difundidos pela fachada quando convexa,
pelo mobiliário externo dos bares e restaurante e pelos toldos dos comércios.
Delgado (1989) apud Romero (2001, p. 66) escreve que os edifícios dão aos sons
densidade e texturas. Os balcões, por exemplo, fazem que os sons adquiram as seguintes
balcão para outro. Sob as arcadas, os sons usam auréolas para resguardarem-se dos estalos
repentinos. Os balcões podem diminuir o ruído que golpeiam a fachada com mais ou menos
planejamento climático em áreas externas, é importante aqui frisar que a permanência das
pessoas nas áreas externas somente acontecerá se houver conforto e se o espaço for
Por este motivo, deve-se otimizar a disposição dessas áreas, bem como dos percursos
opcionais, recreativas e sociais. Além disso, os esforços devem ser feitos à pequena escala,
espaços externos e percursos caminháveis, dado que, entre os diversos fatores que
contribuem para a qualidade desses ambientes, sua unificação e coesão, o pavimento é dos
mais importantes.
De acordo com Cullen 2015 [1971], p. 130, o pavimento deve contribuir com seu
próprio caráter e personalidade. Assim, vários materiais, se codificados, podem ser instituídos
QUADRO 31 Articulação dos espaços livres abertos. Lugares externos ensolarados – Conjunto
Cônego Vicente Miguel Marino. Héctor Vigliecca. São Paulo (2004). Fachada Sul – cascata gradual
até o solo e parede reflexiva. Proteção climática (vento e som).
215
No item anterior, implantação das edificações, vimos que a boa estrutura física de
Além desses fatores físicos, esses espaços comunais devem oferecer uma
De acordo com Gehl (2017 [1971], p. 73), a vida nestes espaços – entre os edifícios
coisa, há uma clara tendência para outros ajudarem, tanto para eles próprios participarem,
influenciar e estimular mutuamente. Assim que o processo se tenha iniciado, a atividade total
é quase sempre maior e mais complexa do que a soma das atividades originalmente
envolvidas que a compõem. Nesse âmbito, Van Klingeren290assim se expressa: “um mais um
atividades que tenham maior duração. Dessa forma, incrementando-as, o tempo médio diário
psicológicas e dos diversos hábitos e desejos dos futuros utentes, bem como da comunidade
289
Coelho e Cabrita (2003, p 01) destacam a importância da participação e identificação dos utentes
no processo de arranjo e gestão dos espaços exteriores na fase de planejamento.
290
Van Klingeren apud Gehl (2017 [1971], p. 73), no livro - A vida entre edifícios, apresenta pesquisas
que comprovam a relação positiva entre o nível de atividades das cidades e o processo
autorreforçante.
291
Por ex.: uma atividade que o tempo médio passado no exterior aumente de dez para vinte minutos,
o nível de atividades nessas áreas duplicará.
216
Coelho e Cabrita (2003, p. 18) sugerem que sejam definidos agrupamentos de conjuntos de
Coelho e Pedro (2013, p. 70), recomendam que esses agrupamentos devem ser
previstos de diversos modos, mais integrados ou mais recatados – ex., uns isolados dos
Os autores recomendam que esses espaços sejam claramente identificáveis, devendo cada
espaço ser caracterizado pela (s) atividade (s) específica (s) que assegura, facilitando-se a sua
sua pormenorização e equipamento, quer ainda pela existência, nesses espaços ou próximo
Esses espaços, conforme Coelho e Pedro (2013, p. 66) podem ser: espaços de jogos
que privilegiem um “leque” amplo de níveis etários e grupos sociais; espaços para estar com
quando afirma que os idosos precisam uns dos outros, mas também necessitam dos jovens,
os quais, por sua vez, têm de estar em contato com os idosos. Essa integração fortifica os
vínculos dos idosos com seus passados pessoais e, a juventude, uma vez presente na sua
idade, favorece a associação dos períodos da vida e não a dissociação de suas vidas –
partindo-as em duas.
pensado para que os relacionamentos preferenciais aconteçam, como por exemplo: com os
atividades que comporão este espaço. Nesse ângulo, é recomendável que cada atividade
habitacional, Alexander (2013 [1977], p. 340) esclarece que as áreas têm de ser suficientes
para serem úteis para atender aos jogos infantis e a pequenas reuniões. As áreas de uso
coletivo também devem ser suficientes para que as áreas privadas não dominem
psicologicamente. Para isso, recomenda 25%294 da área do solo para áreas de uso coletivo
coletivas têm duas funções sociais específicas. A primeira delas é que estas áreas permitam
que as pessoas se sintam confortáveis fora de suas edificações e de seus territórios privativos
e, portanto, que elas permitam que as pessoas se sintam conectadas ao sistema social maior
interna de um conjunto habitacional, sempre que possível, a qualidade de uma sala de estar,
não só para a interação cotidiana, como também para as ocasiões especiais, de modo que
as atividades comunitárias importantes para a comunidade local possam ser realizadas ali.
Nesse universo, Gehl (2017 [1971] p. 107) apresenta a sala de estar privada do lar
como modelo que pode servir para a integração de atividades em qualquer outra escala. O
autor exemplifica que numa sala de estar, todos os membros da família podem estar
292
Bolsões de atividades, expressão utilizada por Alexander (2013 [1977], p. 600) ao referir-se aos
espaços adequados para alocar e distribuir as atividades num espaço externo objetivando construir
um espaço vivo e animado.
293
Esta recomendação é válida tanto para espaços maiores, como uma praça pública, tanto para
espaços externos num conjunto de moradias.
294
Nesta porcentagem (25% no mínimo), as ruas podem ser computadas se forem tratadas como ruas
verdes – rua gramada com algumas pedras de pavimentação sobre a grama –, onde apenas passam
os automóveis que precisem chegar até suas casas.
218
QUADRO 32 Conformação dos espaços externos. Diversidade de espaços de tempos livres – espaço
de jogos, de estar, espaços que permitam a intervenção dos habitantes (jardins e hortas). Brittgarden.
Ralph Erskine. Tibro – Suécia (1960) e Conjunto de moradias LiMa. Hermam Hertzberger. Berlin –
Alemanha (1984 – 1986).
219
Estacionamento
que, em aproximadamente todas as circunstâncias, o tráfego para e a partir das casas ser a
Como já escrito, no item I.2.1 – Conexões – Rede viária, sobre vias locais de tráfego
lento e Shared Space295, neste item volta-se a enfatizar a importância desse princípio –
Woonerf – princípio Holandês que teve seu início nas cidades dos Países Baixos onde as áreas
Nas áreas Woonerf, permite-se que os automóveis se dirijam mesmo até às portas da
frente das casas, mas as ruas são claramente desenhadas como áreas pedonais, nas quais os
carros são forçados a circular em baixa velocidade entre as áreas estabelecidas para estar e
brincar. De acordo com Gehl (2017 [1971] p. 111), os carros são hóspedes no domínio dos
peões.
tráfego de automóveis lentos, bem como para tráfego ciclável e pedonal, é importante que
Assim, para os que estão no trânsito, para as crianças a brincar e para os que estão
envolvidos em atividades à volta das casas, uma política de integração do tráfego consentirá
“modos suaves”296.
Nesse sentido, o caráter desta via local297 depende do atendimento de vários fatores,
alguns já mencionados no item I.1.2 – Conexões – Rede viária; no entanto, enfatiza-se aqui a
295
Ver nota de rodapé n. 34 - Shared Space é um conceito de Hans Monderman (1982) inspirado nas
Woonerf (ruas vivas).
296
Termo utilizado por Gehl (2017 [1971], p. 112) aos espaços externos onde o tráfego consiste em
peões ou em carros deslocando-se a baixa velocidade.
297
Vias locais ou Ruas de Bairro – ver conceito e parâmetros de dimensionamento – nota de rodapé
n. 28 e 32.
220
pavimentação da superfície. Conforme Alexander (2013 [1977] p. 268), uma via local, que
apenas dá acesso às edificações, precisa de umas poucas pedras para os pneus dos
automóveis298, nada mais. A maior parte da rua pode ser coberta com vegetação.
isto é, cada unidade de habitação possui sua respectiva área de estacionamento contíguo ao
estacionamentos compartilhados nas extremidades das ruas, evitando o fluxo constante nesta
via local299.
p. 15), que seja prevista pelo menos uma quantidade igual alocada para jardim frontal e
Para o caso das T-zones T4, T5 e T6 – com caráter mais urbano –, é aconselhável que
o estacionamento esteja localizado atrás dos edifícios. De acordo com as diretrizes do Novo
urbanas, tornam a caminhada desagradável em razão das interrupções causadas pela entrada
e saída de veículos.
vibração da área, o que é altamente prejudicial às áreas de comércio e serviços que estão
localizadas nos pisos térreos dos edifícios. Para resolver esse impasse, recomenda-se que os
acessos sejam feitos por uma rua lateral e os estacionamentos – de fundos – se conectem
298
Os pisos externos podem ser compostos com juntas largas (2 a 3 centímetros entre as lajotas) de
modo que a grama, o musgo e as pequenas flores possam crescer entre as lajotas.
299
Conforma Coelho e Pedro (2013, p.146), citando John Noble e Barbara Adams (1968), para
densidades normais, considera-se um número de estacionamentos igual ao número de unidades
habitacionais, mais cerca de metade desse número para estacionamentos destinados, nomeadamente,
e em partes iguais, a pessoas com dificuldade de locomoção a pé e a visitantes.
300
Ver sobre T-zones no item I.2.1 – Morfologia/Tecido Urbano – T-zones e Smart Code.
301
Enabling better places: users guide to zoning reform (2018, p. 22) – Guia elaborado pelo Congresso
do Novo Urbanismo em conjunto com órgão de planejamento de Michigam destinado às orientações
para a alterações nos códigos visando a condições urbanas vibrantes e habitáveis.
221
– para as T-zones T2, T3 e T4, tem o objetivo de tornar as vias locais, de acesso às edificações
movimento de pessoas e animais. Neste espaço, é possível mesclar a vegetação com árvores
frutíferas e flores, o que tornará a rua mais bela, proporcionando aos usuários a conexão com
comum, é essencial, sempre, levar em conta que um automóvel é muito maior que uma
De acordo com Alexander (2013 [1977] p. 505), é difícil definir exatamente a partir de
estacionamentos com seis vagas são aceitáveis; mas qualquer área de estacionamento com
um circundado por muros, floreiras elevadas, cercas vivas, cercas de madeira, taludes de
previstos, desde que estejam distribuídos a pelo menos 30 metros de distância um dos
outros.
coletivas, em geral subterrâneas, as quais têm um menor impacto no desenho dos espaços
exteriores de uso comum. Nesse caso, os cuidados devem ser voltados aos acessos exteriores
302
Alexander (2013 [1977] p. 505) cita G. Miller (1956), “The Mágic Number Seven, Plus or Minus Two:
Some limits on Our Capacity for Processing Information”, relaciona este fator perceptivo com o número
sete. Uma coletânea de, no máximo, cinco ou sete objetos pode ser percebida como uma única coisa,
e os objetos desse conjunto podem ser vistos como individuais. Já um conjunto maior do que cinco
ou sete objetos é visto como “muitas coisas”.
303
Estacionamentos camuflados – Expressão utilizada por Christopher Alexander (2013 [1977], p. 477)
quando demonstra estratégias para construir barreiras visuais (anteparos) às áreas de estacionamentos.
222
e das portas de entrada/saída, no que diz respeito às dimensões, às inclinações das rampas,
entre outros itens que devem atender aos códigos específicos de cada lugar.
Habitação ao longo dos eixos de transporte, onde é explicada a relação entre habitação e
(DOTS)304.
Nesse universo, para os locais atendidos pelo transporte público e que priorizem o
Conforme Farr (2013, p. 132), a prática comum de vender unidades de habitação com vagas
anos, os municípios começaram a aceitar que os mínimos de estacionamento não eram uma
304
DOTS – É uma estratégia de planejamento urbano que busca integrar o uso e a ocupação do solo
e a infraestrutura de transporte público (eixos e estações) incorporado à Lei dos Planos Diretores
Municipais, a fim de estabelecer ações, em diferentes escalas, a serem realizadas no entorno de eixos
e estações de transporte. Ver mais conceitos nota de rodapé n. 13 e 75.
305
Enabling better places: users guide to zoning reform (2018, p. 22) – Parking.
306
Habitação livre de automóveis: Termo utilizado por Farr (2013, p. 132) ao referir-se à prática de
criação de edificações residenciais que não oferecem estacionamento particular.
223
pode ser desenvolvido juntamente com o automóvel compartilhado – que substitui de cinco
vagas de estacionamento em novas construções, tanto para áreas residenciais, quanto para
Essa iniciativa teve como finalidade tornar os bairros e a cidade mais humanizada, bem
como qualificar a vida urbana através da liberação dos pisos térreos para usos comerciais e
empreendimentos em áreas centrais que, até então, não conseguiam atender o número
mínimo de vagas exigidas, sendo empurrados para terrenos maiores em áreas distantes308.
Do mesmo modo, na cidade de São Paulo, em março de 2019, a lei de Uso e Ocupação
do Solo passou a vigorar na sua essência, após um período de três anos de transição, e já não
prevê o número mínimo de vagas de estacionamento, antes exigido. Ainda, para as áreas bem
servidas de infraestrutura de transporte, além de não haver exigência de número mínimo de vagas,
a legislação urbana vai além: há um número máximo de uma vaga por unidade habitacional, para
que a área de estacionamento não entre na conta de quanto é possível construir naquele
terreno309.
307
O Plano Diretor exigia, por exemplo, uma vaga para cada 75 metros quadrados de área residencial, ou
uma vaga para cada quatro lugares em auditórios, teatros ou cinemas. Esta regra trazia consequências
negativas para o urbanismo da cidade. Um efeito de primeira ordem era que usuários e moradores que
usavam outros meios de transporte eram obrigados a pagar pelo valor da entrada do seu carro – o espaço
para guardá-lo – encarecendo o acesso à moradia.
308
Texto Fim da obrigatoriedade de vagas de estacionamento torna Porto Alegre mais humana.
11/11/2019 – Jornal Zero Hora – POA, por Anthony Ling - Arquiteto e Urbanista.
309
Texto Novos edifícios em São Paulo terão menos vagas de estacionamento. 23/03/2019. Jornal
Estadão – SP. Por Hannah Arcuschin Machado - Arquiteta e Urbanista
224
QUADRO 33 Integração do tráfego e das atividades nas áreas externas. Espaço compartilhado entre
automóveis e pessoas, com prioridade ao pedestre. Estratégias para estacionamentos pequenos e
camuflados. Parque das Nações, Lisboa. Plano de Pormenor da autoria dos Arquitetos Duarte Cabral
de Melo e Maria Manuel Godinho de Almeida, 1998.
225
o que permite construir mais vagas; no entanto, essas vagas passam a entrar junto no cômputo
Partindo do pressuposto que todo percurso de carro começa e termina em uma vaga de
estacionamento, quanto maior a oferta e mais acessíveis e de valor irrisório as vagas forem, maior o
incentivo ao transporte por carro. E quanto maior a quantidade de carros circulando, maiores os
impactos negativos compartilhados com toda a sociedade. Esses impactos são de ordem tanto
mortes no trânsito.
de bairros e cidades mais sustentáveis, tanto quanto melhorar calçadas e ampliar a rede de
Nesse sentido, na última década, várias estratégias, em inúmeras cidades do mundo – com
diferentes contextos –, como Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, implementaram políticas que
310
Precificação: esta prática é uma tendência mundial que é conhecida como “desvinculação do
estacionamento” – unbundled parking –, que significa deixar de diluir os custos do estacionamento em
outros bens e serviços ou na própria construção, o que leva a uma menor demanda por vagas e, em última
análise, pelo próprio uso do automóvel.
311
Parking Best Practices: A Review of zoning regulations and policies in select US and international cities (2011).
Apresenta práticas recomendadas para estacionamentos nas cidades de: New York, NY; Boston, MA; Chicago,
IL; Milwaukee, WI; Minneapolis, MN; Philadelphia, PA; Portland, OR; Diego, CA; San Franscisco, CA; Seattle,
WA; Washington, DC e London, UK.
226
Essa primeira parte da tese teve, como objetivo, identificar os princípios e os elementos
Esta pesquisa de base teórica consistiu numa síntese das ideias dos autores estudados
A partir desta síntese das ideias dos autores, foi construída uma sequência de
do Estudo de Caso, foi conformada uma grelha de análise, organizada por meio de
da síntese das ideias dos autores estudados, eficazes para a promoção da qualidade
Parte II
Análise e avaliação do Estudo de Caso: Bairro Urbitá, Brasília
Bulevar Montmartre, Paris (1897).
Camille Pissarro
229
O projeto do Bairro Urbitá – Brasília – DF possui uma área de 658,70 hectares, estima-
sítio escolhido para a implantação do novo bairro corresponde a uma parcela de terra – da
Grande Colorado, Distrito Federal, distanciando-se cerca de dez quilômetros do Plano Piloto.
classes e funções. Será provedor de serviços, emprego, comércio e renda, através da criação
global, de forte imageabilidade; e criticada pela sua desconsideração pela escala humana,
De acordo com Del Rio (1990), o Plano Piloto (1956) é reconhecidamente rígido na
árvore (tão criticada por Alexander (1965)). Em busca de sua utopia nacional-
322
Conforme Plano de Urbanização (PDU, 2018).
323
A área privada total da antiga Fazenda Paranoazinho possui 1.600 ha, no entanto, o projeto para o
novo bairro Urbitá contempla 658,70 ha.
324
Ricardo Birmann, no texto: Projeto da Nova Cidade (2017) – livro: No Coração do Brasil – Onde o
mar é o céu e o horizonte é infinito (2017).
325
Mais autonomia no tocante à realidade atual dos núcleos urbanos que, além de dependerem, em
grande porcentagem, do Plano Piloto para garantirem seus empregos, não possuem acessibilidade a
um transporte público coletivo de qualidade.
326
A separação dos usos residencial e comercial e a baixa densidade confirmam as limitações do
modelo de Cidade-Jardim e mostram a reinterpretação do conceito de Unidade de Vizinhança e a
reversão da cidade tradicional (Castello, 2008, p.73).
230
citando Gehl (2013, p. 197), Brasília é uma catástrofe ao nível dos olhos, a escala que – em
Segundo o autor, os espaços são muito grandes e amorfos, as ruas muito largas, e as
calçadas e passagens, muito longas e retas. As grandes áreas verdes são atravessadas por
caminhos abertos pela passagem das pessoas, mostrando como os habitantes protestam,
com os pés, contra o rígido plano formal da cidade. “Se você não estiver em um avião ou
helicóptero ou carro – e a maioria dos moradores de Brasília não está – não há muito que
Ainda, Brasília compreende, além do Plano Piloto, outras 29 “cidades satélites” – hoje
especulação imobiliária e transporte público precário, sendo, hoje, uma das vinte cidades
contrapartida, 70% dos empregos são oferecidos no Plano Piloto, o que obriga milhares de
trabalhadores, que vêm das regiões administrativas, a sofrerem, todos os dias, com esses
deslocamentos.
Após este sucinto comentário sobre Brasília, volta-se ao novo bairro – Urbitá, objeto
327
Textos de análises teóricas sobre a capital do Brasil – Brasília: O Centro Urbano de Brasília
mimeografado (1975) por Frederico de Hollanda e A morfologia da Capital por Hollanda, in Paviani
(1985); Brasília, ideologia e realidade: espaço urbano em questão (1985) por Ricardo Farret; A cidade
modernista: uma crítica de Brasília e sua utopia (1993).
231
O Plano de Urbanização para o bairro Urbitá (PDU, 2018)328, em razão da sua grande
escala – 658,70 ha – e longo prazo de implantação – previsão de 30 anos para ser consolidado
–, está estruturado através de uma concepção geral urbanística (um masterplan) e, dentro de
Por sua vez, os projetos urbanísticos menores estão, até ao momento, organizados
bairro e dão início à configuração de uma centralidade, mediante a criação de uma área de
múltiplos usos (áreas destinadas ao comércio, serviços e lazer), onde as pessoas possam
Nesse sentido, das funções básicas do urbanismo (habitar, trabalhar, estudar, circular
e recrear-se), cabe salientar que, dentre os princípios que nortearam o projeto do Urbitá,
destaca-se a busca pela inversão da lógica, hoje estabelecida, de cidade dormitório nos
onde as atividades existentes não são suficientes para empregar e fixar a sua população ativa,
o que leva a maioria dos moradores a se deslocarem diariamente para o Plano Piloto, para aí
328
O Plano de Urbanização (PDU) segue e é compatível com os conceitos, premissas e condicionantes
impostos pelo Plano Diretor de Sobradinho (PDL ,1995), pelo Plano Diretor de Ordenamento Territorial
do Distrito Federal (PDOT, 2009) e pelas Diretrizes Urbanísticas da Região de Sobradinho e Grande
Colorado (DIUR, 2018).
329
O bairro é segmentado em distritos de zoneamento, que ordenam o planejamento urbano, sendo:
Distrito Mangueiras (zona A); Distrito Central (zona Centralidade); Distrito Capão Grande (zona B e D)
e Distrito de áreas remanescentes (livres e ocupadas).
232
Além disso, o fato das Políticas Públicas estarem, após 1945, consolidando os
bicicleta ou a pé, e, acabando por criar verdadeiros obstáculos aos moradores dessas cidades
Nessa perspectiva, numa linha oposta à cidade dita moderna, o projeto do Urbitá
espacial, a relação com a rua, o uso misto – com o objetivo de oferecer moradias, serviços e
empregos, de maneira a reduzir o número de viagens para fora da região. Ainda, o Plano de
parte do território a ser ocupado pelo empreendimento, na qual haverá estímulo à geração
de empregos e de renda. Também está prevista uma rede de espaços públicos abertos que
preservação ambiental, bem como internalizar mais uma atribuição urbana, o entretenimento.
mostrar as áreas que possuem: Etapa 1, com área de 28,26 ha; Etapa 2, com área de 22,99
ha; Etapa 3, com área de 21,72 ha e Etapa 4, com 16,93 ha. As quatro etapas somam uma
área de 89,90 ha. Atualmente, existem projetos definitivos e aprovados331 relativos à Etapa
330
Conforme Colin Rowe e Fred Koetter, (in Nesbitt et al., 2013, p. 293), no texto “A teoria urbana
depois do modernismo: contextualismo, Main street e outras ideias”, a Cidade moderna – quando
surge o abandono do urbanismo formal, a aplicação da urbanística operacional e o fascínio pelos
edifícios isolados (privilegiando a construção de objetos) – cria espaços urbanos sem vida e
descaracterizados à escala humana. Conveniente para os automóveis, inverte a proporção entre
espaço “livre” e espaço construído, produzindo resultados desastrosos no nível da rua.
331
O projeto de urbanização da Etapa 1 foi desenvolvido com base no Plano de Urbanização – Urbitá
(PDU), o qual foi elaborado em consonância com o Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT
(Lei Complementar nº 803/2009) e com as Diretrizes Urbanísticas – Região de Sobradinho e Grande
Colorado (DIUR 08/2018). Foi aprovado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e
Habitação do Distrito Federal – Parecer Técnico n°238/2019.
233
grelha de análise, da seguinte forma: para as análises dos critérios e elementos de projeto na
em seguida – num nível mais detalhado – se fará uma incursão dentro das quatro etapas –
quarteirão e do edifício.
Dessa forma, notar-se-á que, dependendo da escala, é apresentada uma análise mais
completa – para elementos estruturais do bairro – e uma análise com menor quantidade de
informações para os demais elementos de projeto que compõem as escalas de análise. Isso
é reflexo do avanço do trabalho da UP, tanto nos estudos de projetos de arquitetura, como
nos planos urbanísticos, no decorrer dos anos, no seguimento das etapas de aprovação e
implantação do bairro.
Dentre estas referências, citam-se: o escritório Skidmore, Owings and Merrill – SOM
com o Plano Piloto. O escritório Gehl Architects – Urban Quality Consultants, produziu um
caderno de conceitos para o Urbitá, guiado por cinco princípios para o sucesso da vida nos
Cabe aqui salientar que esta concepção urbanística geral (elaborada pelo escritório
de Gehl, em 2014) foi resultado de um trabalho realizado por várias mãos. Em 2013, foi
escritórios: Ideia Urbanismo – São Paulo -SP, arquiteto Jorde Wilheim – São Paulo - SP, GEHL
Arquitects e equipe da PPS (Project for Public Spaces). Foi a partir deste workshop que,
empreendimento (Etapa 1), em especial no cruzamento entre a rua Curitiba e rua Sobradinho
uma Oficina de Concepção Arquitetônica com quatro escritórios contratados pela UP: Ideia
1, de Porto Alegre - RS; Esquadra, de Brasília - DF; Rua, do Rio de janeiro - RJ e Zoom, de
arquitetura para os edifícios do novo bairro (na escala do quarteirão) que dialogassem com o
urbanismo apresentado332.
externos (para as quatro primeiras etapas) de arborização urbana, projeto paisagístico focado
para a praça Paranoazinho, para a rua Curitiba e para os parques que a rua conecta.
332
Sobre os quatro projetos de arquitetura para os edifícios apresentados pelos escritórios brasileiros,
ver item II.4 – Edifício: do público ao privado.
235
Análise e avaliação
de projeto, construídos a partir da síntese das ideias dos autores estudados (Parte I da tese),
residenciais.
conexões; depois, numa escala intermediária (a escala do bairro), abordam-se tópicos sobre
parcelas e sua relação com o edificado; e, por fim, na microescala (escala do edifício),
analisando itens relativos aos acessos, aos tipos e forma dos edifícios e aos espaços entre os
edifícios.
Este compósito está organizado numa grelha analítica formada por sete indicadores
e vinte e um critérios e elementos de projeto contidos nas quatro escalas: cidade, bairro,
Caso.
avaliação: Tabela 06: Grelha de análise: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício.
avaliação –, denominada como Tabela 07: Grelha avaliativa: Escala da cidade, bairro,
quarteirão e edifício.
333
Sobre métrica e seus valores, ver item Introdução – Metodologia – .
236
II.1.1 Localização
de Sobradinho e Grande Colorado, Distrito Federal. Conta com uma área privada de 658,70
hectares e tem, como principal eixo de conexão com o Plano Piloto e entre bairros, a BR 020
No que diz respeito às zonas urbanas do Distrito Federal, a área eleita para a
qual, conforme o PDOT (2009)336, é aquela composta por áreas propensas à ocupação
implantadas.
A partir do exposto, fica claro que é uma área apta à instalação de um bairro
334
A área privada total da antiga Fazenda Paranoazinho possui 1.600 ha, no entanto o projeto para o
novo bairro Urbitá contempla 658,70 ha.
335
A área distancia-se cerca de dez quilômetros do centro de Brasília. Ver mais sobre conexões e a
existência de eixos de transporte público no item II 1.2 – Conexões – Transporte público, coletivo,
individual e alternativo.
336
Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT, 2009).
337
Diretrizes Urbanísticas da Região de Sobradinho e Grande Colorado (DIUR, 2018).
338
Sobre diretrizes de uso e ocupação do solo, em especial do zoneamento, ver item II 2.1 – Morfologia
/ Tecido Urbano – Distrito de zoneamento.
238
Para isso, o Plano de Uso e Ocupação do Solo (PUOS, 2014), para a área do novo
Nesse âmbito, no projeto realizado para o Urbitá, verifica-se que o modelo proposto
vem ao encontro das premissas estabelecidas no PUOS pela UP. Tais ideias têm, na sua
acessíveis a todos os moradores do futuro bairro, bem como aos moradores dos núcleos
339
Independência no sentido de possuir serviços e equipamentos do cotidiano reduzindo a
dependência do automóvel individual lembrando, conforme Jacobs (2014 [1960], p. 86), que a falta
de autonomia, tanto econômica quanto social, nos bairros, é natural e necessária, simplesmente
porque eles são integrantes da cidade.
340
A proposta inicial do Projeto Urbanístico para o novo bairro – Urbitá foi elaborada pelo escritório
Gehl Architects – Urban Quality Consultants (2014) e, na sequência, a Urbanizadora Paranoazinho (UP)
vem ajustando / propondo algumas alterações no projeto inicial a fim de adaptar ao contexto do lugar,
inclusive às legislações que necessitam ser cumpridas para a aprovação do projeto na Secretaria do
Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal (SEDUH).
341
Sobre sistema de vias do projeto do bairro Urbitá, ver próximo item II. 1.2 – Conexões – Rede viária
e sobre o sistema de diversos espaços públicos, ver item II. 3.1 – Parcela e Edificado – Usos Especiais
– Espaços públicos abertos.
342
Sobre Calçada, caminhos de pedestres e ciclovias do projeto do bairro Urbitá, ver próximo item II.
1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias.
239
• O desenho de uma rede cicloviária343, a qual objetiva aliviar a sobrecarga dos transportes
dos usos especiais nas margens, possibilitando incluir funções comuns compartilhadas.
sítio e as segmentações das zonas do bairro, bem como nas intensidades dos parâmetros
urbanísticos.
• A intenção da criação dos Espaços Privativos de Uso Coletivo (EPUC)349 – junto às vias
343
Sobre a rede cicloviária, ver próximo item II. 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e
ciclovias.
344
Sobre sistema de transporte apresentado no projeto do bairro Urbitá, ver próximo item II. 1.2 –
Conexões – Transporte público coletivo, individual e alternativa.
345
Sobre a organização dos setores proposta para o bairro Urbitá, ver item II. 2.1 – Morfologia e Tecido
Urbano – Distrito de zoneamento.
346
Sobre transição entre setores e condicionantes naturais do sítio, ver item II. 2.1 – Morfologia e
Tecido Urbano – T-zones e Smart Code.
347
Sobre o desenho dos quarteirões propostos para o bairro Urbitá, ver item II. 2.1 – Morfologia e
Tecido Urbano – Malha de quarteirões.
348
Sobre a tipologia do quarteirão, ver item II. 3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos
quarteirões.
349
Sobre EPUCs ver item II. 3.1 - Parcelas e Edificado – Configuração dos quarteirões.
240
referência, espaços institucionais e cívicos e espaços públicos abertos) distribuídos nas zonas,
de acesso, circulações horizontais e verticais), na busca de uma relação ativa entre os espaços
acessos coletivos e edifícios unifamiliares (barras e blocos) com acesso privado – assim como
a mistura de habitações (desde T0 até T4) no mesmo conjunto, criando uma dinâmica tanto
nos valores dos imóveis, quanto nos tipos de posses futuras (diversidade de níveis de renda).
(torres, blocos e barras) que ocupam o solo, na busca da não padronização do conjunto e
•O desenho do piso térreo,354 que busca a maximização da interação dos edifícios com a rua
entre os moradores.
350
Sobre localização dos usos especiais, ver item II. 3.1 – Parcelas e Edificado – Usos especiais.
351
Sobre tipo de sistema de circulação, ver item II. 4.1 – Acessos.
352
Sobre tipos de edifícios propostos para o bairro Urbitá, ver item II. 4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios
– Tipo e organização do edifício.
353
Sobre forma dos edifícios e a relação com a densidade, ver item II. 4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios
– Composição formal dos edifícios.
354
Sobre pisos térreos, ver item II. 4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Relação com o solo – pisos térreos.
355
Sobre externos positivos propostos para os quarteirões do bairro Urbitá, ver item II. 4.3 – Espaço
Entre Edifícios – Implantação das edificações e Espaços de uso comum.
356
Sobre estacionamentos, ver item II. 4.3 – Espaço Entre Edifícios – Estacionamento.
241
habitação. A cidade sempre foi amplamente caracterizada pela residência e, por isso, reporta
estudos da área-residência à teoria geral dos factos urbanos, entendendo que a habitação é
Assim, num sítio distante dez quilômetros do Plano Piloto, a habitação formando
novos bairros – objetivo do Urbitá, verifica-se que a UP estabelece premissas que objetivam
idealizar um bairro compacto, completo e conectado – o modelo das cidades “3C” –, usando
a expressão da WRI-Brasil (2018) ou o modelo “5C”, que acrescenta mais dois adjetivos –
cidade criativa e o estímulo ao convívio357. Este modelo (3C e/ou 5C) tem as suas referências
(em especial as físicas) nas Unidades de Vizinhança (1929), as quais são adaptadas às
demandas da contemporaneidade.
tipologias e lugares, com iniciativas inovadoras tanto no comércio, no setor empresarial e nas
Nessa perspectiva, é pertinente citar o sociólogo Richard Sennett (2018), que defende
uma cidade que abrace a diferença, um lugar de membranas porosas358 e convites especiais.
A esse ideal, chama de “cidade aberta”, um lugar com riqueza e complexidade da vida
pública, que, para ele, significa vida urbana – onde reside o germe da criatividade e inovação.
Na mesma linha, cita-se Steven Johnson: “Nas cidades, as pessoas dividem espaços.
Há um fluxo de ideias porque as pessoas estão muito perto umas das outras. E, como há
muita diversidade, as ideias são emprestadas de uma área de especialização para a outra.
Esta diversidade torna a cidade mais criativa” (JOHSON apud revista Cidade Criativa Pedra
357
Conceito da cidade “5C” adotado na construção da cidade Pedra Branca – SC – Brasil, ver item I.
1.1 – Localização – Habitação formando novos bairros.
358
Membranas porosas: Espaços de encontro e fricção entre as fronteiras dos bairros.
242
Do mesmo modo, Edward Glaeser (2019)359 comenta que, num bairro para as pessoas,
estar conectadas. “[...] Este é o ambiente propício para o surgimento de novos negócios. É
Este foi o modelo usado por países como a Colômbia e, mais especificamente, a
cidade de Medellin, assim como o estado de Santa Catarina no Brasil e, mais recentemente
cidade e do território, gerando a transformação social e econômica necessária para uma nova
sociedade que responda aos desafios e oportunidades do novo tempo em que vivemos.
Nesse contexto, observa-se que o projeto para o novo bairro – Urbitá possui, como já
Estes desafios têm a ver com o planejamento e sua governança, numa reinvenção
359
Edward Glaeser, 2019, p. 32 – Revista CIDADE CRIATIVA PEDRA BRANCA: melhorar as cidades
para as pessoas. Disponível em: <http://cidadepedrabranca.com.br/>. Acesso em: 14 set. 2019.
243
QUADRO 34 Contextualização geográfica: Distrito Federal (DF), Plano Piloto de Brasília e Fazenda
Paranoazinho (acima). Foto aérea da Área de Estudo – uma porção da Fazenda Paranoazinho, 658,70
ha – (abaixo).
244
II.1.2 Conexões
Rede viária
rede interconectada de ruas e espaços público abertos360 foram os princípios que nortearam
Tais princípios têm, como intuito, a integração do novo bairro ao tecido existente,
criando vínculos entre o novo lugar e os lugares circundantes. Esses vínculos dão-se através
de uma hierarquia de vias e espaços públicos que apoiam uma ampla gama de atividades de
dentro e fora do novo local são pontos centrais para tornar a área acessível a todos. Nesse
aspecto, percebe-se a proposição de uma hierarquia das vias com diferentes dimensões e
Assim, de acordo com a função social e urbana empregada por cada uma das vias,
quatro tipologias viárias para o sistema estrutural foram estabelecidas: Via de Circulação
360
Sobre o sistema de espaços públicos abertos, ver item II.3.1 – Parcelas e Edificado – Usos especiais.
361
Região aqui entendida como o somatório de distritos e bairros determinados no Macrozoneamento
do Distrito Federal (divisão administrativa). Esta região onde está inserida a área de estudo é
denominada Região Colorado-Sobradinho.
362
Dados retirados do Plano de Urbanização (PDU, 2018) e do Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana
– volume I e II (2018).
363
De acordo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) – Manual de
Projeto Geométrico de Travessias Urbanas (DNIT, 2009), a classificação hierárquica das vias dá-se em
quatro sistemas básicos: sistema arterial principal; sistema arterial secundário; sistema coletor e sistema
local.
245
• Vias de Circulação Expressa (BR 020 e DF 425)364 possuem o caráter de vias principais
(tensores), têm a função de assegurar a extensão entre os bairros – polos –, localizam-se nas
Sobradinho II;
• Vias de Atividades (avenida Barcelona) têm função, além de ligação, de caracterizar-se como
• Vias Parque (avenida Genebra) têm o objetivo de garantir acesso da população às terras
364
BR 020 – Nomenclatura para rodovias federais, definida pelo Plano Nacional de Viação do Brasil,
significando: BR – rodovia federal, seguida por três algarismos que indicam a categoria e posição
relativa à capital federal e os limites do País (Norte, Sul, Leste e Oeste). DF 425 – Nomenclatura para
rodovias estaduais – no caso Distrito Federal – DF.
246
QUADRO 35 Relação e conexões da Área de Estudo com o Plano Piloto – Brasília (acima). Área de
Estudo com marcação do sistema viário estruturante proposto para o novo bairro (abaixo).
247
cada uma das quatro tipologias de vias propostas. Estas vias, que possuem propriedades
avenidas Barcelona e Sobradinho, com forte legibilidade – formadas por múltiplos planos,
estabelecida pelas vias (plano de base horizontal) para com os edifícios (plano vertical –
fachadas366) e o céu (o plano superior – a esfera imaginária sobre a cabeça). Tal nexo é
A Avenida Barcelona é a espinha dorsal do projeto, uma vez que cruza o maior trecho
do novo bairro, permite a conexão com outros bairros da região, é distinta na sua função –
para a avenida Barcelona: Proibidos usos exclusivamente residenciais nos lotes voltados para
público ao longo da avenida Barcelona; Promover fachadas ativas entre os usos comerciais
térreos e o logradouro público; As fachadas ativas voltadas para o logradouro público devem
ter, no mínimo, 70% de permeabilidade visual; Restringir cercamento com altura superior a
1,25 metros.
365
Sobre vias locais e malha de quarteirão – item II.2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Malha de
quarteirões.
366
Sobre a relação das fachadas dos edifícios com a rua ver no próximo item – II.1.2 – Calçadas,
caminhos de pedestres e ciclovias.
248
Estas diretrizes, relativas à relação da rua (pública) com os edifícios (privados), aliam
usos diversificados e das fachadas ativas – relação interior e exterior –, criar vida nas calçadas,
A Avenida Sobradinho, bem como as avenidas Ushuaia e Quito – essas duas últimas
deve ser caracterizada através de usos e atividades diversas, ainda que em menor intensidade
tem a função de ligar estados e cidades, conurbadas ou separadas por áreas rurais, dentro
do país369. Possui uma geometria de alta velocidade em razão do número e largura das faixas
de rolamento.
Urbitá, o qual fica localizado às margens da rodovia, destaca-se a mobilidade urbana, uma
vez que está prevista, pelas instâncias governamentais, a construção da quarta ponte sobre
o Lago Paranoá – possibilitando a projeção de uma via de ligação a esta ponte –, e o projeto
367
O conceito de “caminhável” encontra-se no item I.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de
pedestres e ciclovias.
368
Conforme o DNIT, as avenidas Ushuaia e Quito classificam-se como vias coletoras – as quais têm a
função de coletar o tráfego das ruas locais e transferi-lo às vias arteriais e vice-versa.
369
BR 020 é uma rodovia federal que dá continuidade à DF 003, sentido nordeste do Distrito Federal
(DF), cujo início se dá na interseção com DF 001. É a principal rota de ligação com o Nordeste do
Brasil, e liga o DF às cidades de Planaltina de Goiás e Formosa.
249
do BRT (Bus Rapid Transit), na BR-020, o qual deverá dar suporte à implantação de um
transporte local370.
novo bairro às regiões vizinhas, bem como ao tecido urbano contíguo. Atualmente é, em
Sua ampliação e remodelação, proposta pelo PDU, tem como objetivo qualificar estas
A Avenida Genebra (Via Parque), como o próprio nome já diz, compõe o sistema de
demarcação que contorna as zonas de parques – no caso do bairro Urbitá, delimita o Parque
Estas vias possuem caráter de vias locais, com tráfego mais lento, incentivado por
percursos sinuosos, por uma geometria que privilegie o pedestre e o ciclista e pelo emprego
do bairro. Este limite visível é uma expressão / demarcação que contribui na manutenção do
caráter próprio e distinto do parque a fim de singularizar este lugar. Este parque integra uma
rede de diversos espaços públicos abertos – tema mais desenvolvido no item II.2.2 – Parcelas
370
A análise mais aprofundada sobre sistema de transportes está descrita no item II.1.2 – Conexões –
Transporte público, coletivo, individual e alternativo.
250
QUADRO 36 Perfis do sistema viário estruturante conforme Gehl Architects (2014) – acima; e
Urbanizadora Paranoazinho (UP) – abaixo.
251
se, nos perfis apresentados, um conjunto de atributos físicos propostos que colaboram na
ciclista; Na Via de Atividade – Barcelona e na Via Parque, constata-se um cuidado, ainda mais
apurado pelo ateliê UP, no que diz respeito à conceituação da divisão do espaço da via entre
automóveis e pessoas. Os perfis mostram, na ordem – 60% e 64% do espaço destinado para
igualmente às demais vias, um desenho que prioriza o pedestre, sendo que na proposta do
ateliê Gehl Architects aparece um percentual maior – 70% do espaço determinado aos
pedestres e ciclistas.
seu papel de movimento, entre espaço destinado aos pedestres e ciclistas e espaços
vias, uma vez que inclui: canteiro central, ciclovias, paradas de transporte coletivo e
dimensionamento adequado das faixas (faixa livre, faixa de serviço e faixa de transição) que
compõem a calçada.
371
Caminhabilidade, segundo Speck (2016), refere-se à reunião de quatro condições principais: a
caminhada proveitosa, segura, confortável e interessante; estas condições desmembram-se numa série
de regras específicas que serão apresentadas no próximo Item II.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos
de pedestres e ciclovias.
372
A proposta inicial do Projeto Urbanístico para o novo bairro – Urbitá foi elaborada pelo escritório
Gehl Architects – Urban Quality Consultants (2014) e, na sequência, a Urbanizadora Paranoazinho (UP)
vem ajustando / propondo algumas alterações no projeto inicial a fim de adaptar ao contexto do lugar,
inclusive às legislações que necessitam ser cumpridas para a aprovação do projeto na Secretaria do
Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal (SEDUH).
252
Barcelona, que possuem duas faixas de rolamento por sentido, são interrompidas pela
proposição de um canteiro central, o qual tem a função de “ilha de refúgio”373, que auxilia
Interseções
Sobre vias principais (sistema viário estruturante) do novo bairro e suas ligações com
vários modelos – objetos de avaliações futuras a serem detalhados à medida que os projetos
Esses modelos seguem a ideia do tipo de travessia ao mesmo nível das vias, sempre
–, canteiros centrais e ilhas elevadas de refúgio de pedestres que, em conjunto com a faixa
pedestre.
Nesse cenário, das vias principais e suas interseções, é pertinente demonstrar as três
ligações (avenida Sobradinho, Ushuaia e Quito) previstas, do novo bairro com os núcleos
Sobradinho e Sobradinho II, por meio de pontes, atendendo a um fator geográfico (elemento
linear que define o limite do novo bairro, a noroeste, determinado pelo curso de água –
córrego Ribeirão Sobradinho – e por uma Área de Preservação Permanente (APP) que o
contorna).
urbanístico, o cuidado com a ligação da avenida Sobradinho, através de uma ponte, com a
373
Ilha de refúgio: Termo utilizado por Gehl (2014) na descrição da sua proposta para Urbitá. Também
o termo é utilizado no Guia Global de Desenho de Ruas – Estratégias de moderação de tráfego –
(2018, p. 133). Neste guia, é destacado que a medida da área de refúgio deve ser de, no mínimo, 1,8
metros.
253
via comercial existente em Sobradinho (núcleo urbano existente), estimulando o seu fluxo e
Outros dois notáveis pontos de cruzamento são: entre a avenida Barcelona e a BR-
020, onde está previsto um futuro viaduto, e entre a DF-425 e a BR-020, o qual possui
atualmente uma interseção mais complexa – em dois níveis. Estes dois cruzamentos têm o
conectando o novo bairro ao Plano Piloto e ao setor de Capão Grande – ao Sul do bairro
Urbitá.
Este viaduto servirá como uma estratégia para minimizar o impacto e a barreira que a
rodovia BR-020 impõe. Também – através da sua arquitetura – será um elemento marcante
do BRT Norte, prevê-se a implantação de uma estação de integração com o BRT. Para isso,
infraestrutura necessária. Sobre este ponto, ver mais no item II.1.2 – Conexões – Transporte
QUADRO 37 Principais interseções entre o sistema viário do novo bairro e os núcleos urbanos
adjacentes.
255
Na sequência do sistema viário e sua hierarquia, são propostas, para o novo bairro,
outras três tipologias viárias374: Vias locais, Vias internas e Via compartilhada.
Vias locais
As vias locais correspondem a todas as demais vias que recebem o fluxo do sistema
estruturante e compõem a malha de quarteirões. As vias locais projetadas para o bairro Urbitá
ciclistas375.
confiança pelas ruas. Com pouca largura, incentivam uma velocidade de projeto376 entre
Ruas de bairro são classificadas como: ruas com caráter residencial – espaço onde as
comunidades são criadas, são a porta de entrada dos lares, das escolas e das lojas locais – e
com caráter de ruas principais de bairro – que estão no centro da vida cotidiana, oferecendo
transporte coletivo.
Equivalente à categorização feita pelo Guia Global de Ruas – que as ruas de bairro
têm caráter residencial e caráter de ruas principais de bairro –, o projeto do Urbitá classifica,
conforme orientações do DNIT, estas vias em locais e coletoras. Cabe aqui salientar que esta
374
Dados retirados do Plano de Urbanização (PDU, 2018) do Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana
– volume I e II (2018) e do Relatório da Oficina de concepção arquitetônica: definições e critérios para
as alamedas internas, 2016.
375
Apesar da geometria de baixa velocidade, todas as ciclofaixas, inclusive das vias locais, estão
desenhadas sobre a calçada.
376
O conceito de “velocidade de projeto” encontra-se no item I.1.2 – Conexões – Rede viária.
377
Ruas de bairro – expressão utilizada no livro: Guia Global de Desenhos de Ruas (2018, p. 232).
256
classificação dada pelo DNIT é focada no fluxo e tráfego motorizado e que não é o foco do
presente estudo.
Quanto aos atributos físicos das vias locais, em especial suas dimensões e layout –
Vias internas
As vias internas projetadas para o novo bairro decorrem do tipo, tamanho e forma de
arranjo de um conjunto de edifícios lineares à via pública, cria naturalmente a vocação para
Estas divisões serão implementadas por meio da criação de travessias pelo quarteirão
a fim de facilitar a acessibilidade física e visual, podendo aumentar o dinamismo urbano dos
A estratégia adotada pela UP prevê a criação desses espaços de uso público, porém
do bairro381. Além disso, por serem áreas privadas, esses espaços não serão limitados por
378
Esta porcentagem é ainda maior em determinados trechos da via em razão da grande largura
destinada à faixa de serviço e sua flexibilidade no uso – ora é ocupada por estacionamentos paralelos,
ora destina-se a acomodar mobiliários urbanos, vegetação e paradas de transporte público.
379
Ver conceito de blocos de perímetro ou blocos urbanos no item I. 3.1 – Parcelas e Edificados –
Configuração dos quarteirões e no item II. 3.1 – Parcelas e Edificados – Configurações dos quarteirões.
380
A etapa de loteamento segue regras normativas de desenho urbano (Lei de Parcelamento de Solo
Urbano – Lei 6766/79), a qual estabelece algumas poucas e rasas orientações para a subdivisão de
gleba em lotes (parcelas) unitários e isolados destinados à edificação. A UP prevê a unificação dos
lotes para a conformação de quarteirões através de um conjunto de edifícios – blocos de perímetro ou
blocos urbanos.
381
Sobre espaços de uso público, porém de dominialidade privada, ver conceito de EPUC no item II.
3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos quarteirões.
257
regulamentações relativas aos espaços públicos (tais como exigência de geometria para o
sistema viário, padronização de mobiliário nas praças, etc.), além de poderem ser mais
fechadas (ou talvez apenas em certas ocasiões ou horários), de uso público, semipúblico,
privado, exclusivas a pedestres e ciclistas ou com acesso veicular383, além de poder ter
Ainda assim, tendo caráter público, isto é, abertas ao fluxo de terceiros não residentes,
estas vias deverão ser pensadas e incorporadas no projeto como ruas, com fachadas ativas,
382
Manual de Diretrizes Arquitetônicas: um manual de diretrizes locais estabelecidas pela Urbanizadora
Paranoazinho (UP), em elaboração, para o projeto de desenvolvimento urbano do bairro Urbitá. O
regramento contido neste documento é compatível, porém mais detalhado, com o Plano Diretor de
Ordenamento Territorial do Distrito Federal, bem como com as demais legislações referentes à região
onde o novo bairro se localiza. No entanto, possui um caráter privado e pontual para este
empreendimento e não tem valia de lei.
383
Algumas ruas internas serão de caráter público (abertas a veículos externos) e, outras, somente para
moradores e trabalhadores do quarteirão ou autorizados. Isso irá depender da demanda a ser avaliada
ao longo dos anos – em cada etapa de implantação.
258
QUADRO 38 Vias locais – malha de quarteirões conforme Gehl (à esquerda) e UP (à direita). Perfis
do sistema viário complementar conforme Gehl Architects – acima – e Urbanizadora Paranoazinho
(UP) – abaixo. Possibilidades de desenhos de praças e vias internas aos quarteirões.
259
Via compartilhada
Foi selecionada uma rua estratégica, no centro384 do novo bairro, com caráter de via
sua geometria e a sua relação com demais espaços públicos abertos386 que possuem ligação
direta para com a rua – como a praça central e os dois parques nas extremidades da rua
Curitiba.
A metodologia utilizada pela equipe da DPZ, em conjunto com a UP, foi de comparar
tecidos urbanos bem-sucedidos com a nova área de estudo – o Urbitá. Esta metodologia
consiste na sobreposição das pegadas do local do estudo sobre as vistas aéreas dos
possíveis para o novo projeto e ajudando na identificação dos recursos que podem ser
do centro da cidade na Itália, Espanha e Dinamarca, com praças públicas de destaque e ruas
comerciais de pedestres: Piazza Delle Erbe, Verona - Itália; Ramblas, Barcelona - Espanha; e
384
Sobre centralidade – ver item II 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento.
385
Sobre conceito de Shared Space, ver item I 1.2 – Conexões – Rede Viária.
386
Ver, sobre rede de espaços públicos abertos: Item II 3.1 – Parcelas e Edificados – Usos especiais.
387
Esta metodologia utilizada pela DPZ baseia-se no envolvimento direto com projetos exemplares.
Nesse sentido, é pertinente citar Mahfuz (2013, p. 06), que ampara este método de projeto e afirma
que o trabalho constante sobre projetos exemplares (de reconhecida qualidade) fornece materiais de
projeto – elementos e critérios de ordenação – que permitem a elaboração posterior dos mesmos
materiais em situações variadas.
260
condicionantes locais, o projeto inicial388 da rua central – chamada de rua Curitiba – dispõe
ciclistas e pedestres.
âmbito de rua enquanto espaço público –, é configurada como superfície, onde é possível
transitar sem obstáculos, gerando mais lugares para as pessoas, maior acessibilidade, mais
uma vez que coloca os veículos motorizados no mesmo nível389 – superfície única e contínua
– que os outros modos (mesmo nível de superfície e sob a mesma dinâmica de circulação),
ombrelones, entre outros) que definem e diversificam os deslocamentos das pessoas, a rua
Curitiba provoca a sensação de que os veículos motorizados estão invadindo o espaço e não
o contrário.
Verona, criou um colar de quadrados e uma série de salas pequenas e discretas, 391
” em
ângulos que conformam espaços públicos abertos (como largos392) ao longo da rua,
388
Ainda será elaborado o projeto final da rua Curitiba pela UP. No entanto, esses conceitos e
princípios serão mantidos. Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP –, realizada
em14 de maio de 2020, Brasília, DF (via G-meet).
389
Não existem pistas, nem tempos de ciclo de semáforo, nem sinalizações. A rua se transforma em
um lugar para estar e não apenas para transitar.
390
Em alguns trechos, este desenho da rua altera o ângulo da parede da rua – plano vertical (fachadas
dos edifícios). Isto também contribui para a moderação de velocidade dos automóveis que
compartilham este espaço.
391
Conforme descrição do memorial da charrete entre ateliê DPZ e UP (2017, p. 38).
392
Esses largos (conforme sua conceituação – ver item I 3.1 – Parcelas e Edificados – Usos especiais –
Espaços públicos abertos) fazem parte da estrutura da rua Curitiba como um elemento morfológico
identificável.
261
A ideia é que, da rua Curitiba, se tenha uma imagem clara e identificável como rua
Central, no entanto discreta393. Alguns elementos estão sendo propostos como: vegetação e
Assim, visando à identidade da rua central – como o coração do bairro (uma área
arranjo da rua394.
Segundo Ricardo Birmann, desde o início da concepção do projeto, a rua Curitiba foi
baseada em premissas de que os modais têm que compartilhar os espaços. Salienta que as
foram, por um período muito longo, ruas abertas aos carros, com estabelecimentos
– e explica que a ideia inicial para as ruas comerciais entre as quadras (que seriam abastecidas
pelas vias – acessando com os veículos – e que as pessoas consumiriam nesses comércios
pelo interior das superquadras – acessando a pé) nunca funcionou de acordo com o plano de
Lúcio Costa395.
393
“O bom urbanismo deve ser invisível. Então, a rua Curitiba... quanto menos ela “aparecer”, melhor!
Queremos que nada chame a atenção em especial e, sim, um contexto coerente – onde tudo esteja
no seu lugar”. Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – entrevista realizada em 14 de maio de
2020, Brasília, DF (via G-meet).
394
Esta relação entre a rua Curitiba e as atividades – usos e zonas – é apresentada com mais detalhes
no item II 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento.
395
Isso deve-se ao fato de que as pessoas priorizam o acesso às áreas comerciais, por fora (ao longo
da rua) – acessando e estacionando os veículos, uma vez que é mais cômodo, principalmente para
quem vem das outras quadras.
262
QUADRO 39 Sobreposição da área central – rua Curitiba – sobre as imagens dos precedentes
eleitos para servirem de referência. Projeto inicial para a rua Curitiba – planta e perspectivas.
263
Urbitá. Nesse sentido, verifica-se uma série de qualidades referentes ao desenho das
calçadas e aos caminhos de pedestres que se ajustam às condições necessárias a esta ideia
inicial.
o conforto, é possível observar medidas adequadas de acordo com a escala e zona onde se
encontram.
Tais medidas permitem desenhos mais detalhados, para as etapas futuras, que
configurem elementos físicos e pontuais, tanto nas faixas de serviço397 – arborização, jardim
de chuva, mobiliários urbanos, sinalizações, etc., como na faixa de transição – com elementos
que se relacionem com o edifício como: colunatas, marquises, toldos, varandas, mobiliários,
entre outros.
viário (ruas e calçadas) do novo bairro, para com as faixas de pedestres nas interseções.
travessias de pedestres, bem como a presença de semáforos398. Estas faixas, com algumas
396
Adjetivo “caminhável” – termo utilizado por Speck, 2016, p. 21. Segundo Speck, refere-se à reunião
de quatro condições principais: a caminhada segura, confortável, proveitosa e interessante. Este
conceito aparece mais detalhado no item I 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e
ciclovias.
397
São previstas faixas de serviço com dimensão de 3m, compondo ambos os lados da calcada, à
exceção das vias de circulação expressa. Nesse espaço, pode ocorrer o uso flexível, como vagas de
estacionamento paralelo à via para automóveis, estacionamento de bicicletas, parklets e mobiliário
urbano, elementos de infiltração de drenagem, espaço verde e indicação dos pontos de paradas de
ônibus. Nesta faixa, está previsto, entre o meio-fio e a faixa livre, um espaço de 80cm – para a
passagem de infraestrutura e iluminação pública.
398
O uso de semáforos, proposto para o novo bairro, é uma mudança de matriz dos modos de projetar
o sistema viário, bem como de ordenar o tráfego em Brasília, onde sempre foi visto como um
“problema” para o automóvel.
399
Conforme relatos da UP, esta decisão ainda não é definitiva. Parte das faixas de travessia de
pedestres poderá ser elevada, em especial nos cruzamentos com a rua Curitiba.
264
Esta medida, que não privilegia o pedestre – aumentando seu trajeto –, dá-se em
pedestres.
dos pisos térreos – em especial suas vitrines) também é percebida na busca da redução de
guias rebaixadas, através da estratégia das Ruas A/B. As ruas do empreendimento seguem
uma malha A/B, onde alternam-se ruas tipo “A”, que proporcionam excelente experiência
aos pedestres, com fachadas mais intensas e menor número de interrupções, e ruas do tipo
“B”400, onde são acomodados serviços de “fundos” tais como coleta de lixo, abastecimento
de lojas e rampas de garagem, sendo estes usos vetados nas ruas tipo “A”.
especial, da mescla de usos das atividades que se encontram no trajeto, sobretudo nos
térreos, e da relação do edifício com a rua, verificou-se uma sequência de itens, descritos no
calçadas:
Afastamentos
segurança do empreendimento deve ser a própria fachada e não cercas ou muros. Quando
exigidos afastamentos mínimos pela legislação ou normas edilícias, estes devem ser tratados,
• Nas fachadas não residenciais, tal integração deve ser feita no mesmo nível e sem
obstruções e que não possam ser facilmente removidas. Encoraja-se, nesses casos, que tal
área seja utilizada pela loja ou unidade imobiliária adjacente para contribuir com a ativação
e vitalidade da calçada – por exemplo, mediante colocação de bancos, mesas e cadeiras, etc.
• Nas fachadas residenciais não é obrigatória a integração com a calçada em nível, podendo
400
As ruas tipo “B” são as ruas internas entre os quarteirões. Ver item II 1.2 Rede viária – Vias internas.
265
• Não devem ser previstos muros ou cercas em afastamentos ou recuos. Ainda, a solução
edifício. A solução de segurança apresentada deve ser robusta, para que os residentes não
Pisos térreos
• Quando permitidos pelas normas edilícias, andares superiores do edifício poderão avançar
sobre recuo existente nos pavimentos inferiores. Nesses casos, deve-se dar grande atenção
• No caso de usos não residenciais, deve-se avaliar a forma e posição das colunas de
inclusive eventuais letreiros – que devem ser projetados a fim de ter sua visibilidade
em fachadas residenciais externas, e devem ser endereçadas pela solução arquitetônica. Tal
uma unidade térrea depende da colocação de grade metálica nas suas janelas, é preferível
que tal equipamento seja considerado e desenhado durante o projeto. Ignorar tal
necessidade significa tão somente deixar a solução para o comprador da unidade, que então
adotará a solução que lhe for particularmente mais conveniente, barata, etc.
Fachadas ativas
• São vetadas fachadas cegas ou muros com mais de 10 metros de extensão ao nível do piso
• Sobre o contato visual entre exterior e interior, a NGB 022-2016401 determina que as
fachadas dos pavimentos voltados para o espaço público, quando não residenciais, devem
ter pelo menos 50% de sua área composta por aberturas (portas, janelas, vitrines, etc.).
• Em nenhuma das fachadas térreas do empreendimento pode haver trecho com mais de 50
fachadas – sem linhas verticais, com ausência de entradas, o que vem ao desencontro das
recomendações sobre o impacto positivo dos andares térreos na vida urbana. Gehl (2006)
Conforme entrevista com Ricardo Birmann da UP402, essa característica de projeto para
tem percebido nas diversas interfaces já acontecidas quando das oficinas de concepção
Ele cita duas principais causas que motivaram o estabelecimento de 50 metros para
esta diretriz: a primeira é o uso mais comedido da recomendação de Jan Gehl, considerando
uma escala maior e a realidade local e, assim, apoiando-se nas recomendações do Novo
intenciona evitar impor um ritmo de fachada vertical muito maior, a fim de preservar-se de
um ambiente mais vibrante e para o sucesso de áreas comerciais, diz respeito à forma como
401
Normas de Edificação, Uso e gabarito relativo à Etapa 1, 2016.
402
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em14 de maio de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
267
Urbanismo403: para edifícios com mais de 30 metros de largura, é recomendável propor uma
entrada de pedestres para cada 20 metros de fachada do edifício ao longo da calçada. (CNU,
2018).
Arborização urbana
bairro que proporcione qualidade de vida através dos projetos em escala humana e da
O projeto atual (elaborado em 2019) traz consigo uma diretriz inicial – a utilização de
sombreamento, como uma cobertura arbórea consistente que, além de contribuir com
Numa fase inicial, o conceito do projeto era de que cada rua e avenida tivesse uma
espécie de árvore como elemento marcador da paisagem: no entanto, no projeto atual (em
Segundo Ricardo Birmann, este conceito inicial – de dispor ruas com personalidades
diferentes –, não está suprimido, “apenas estamos estudando uma forma de associar esta
403
Guia: Habilitando lugares melhores: Guia do Usuário para Reformas de Códigos de Zoneamento
(2018), Michigan.
404
A UP contratou o ateliê Benedito Abbud – Arquitetura paisagística – SP, que realizou duas propostas
de arborização para o Urbitá: a primeira em 2016 e a segunda em 2019.
405
O Cerrado ou Savana Tropical é bioma típico da região Centro-Oeste do Brasil, englobando os
estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Sua vegetação abrange 20% do território
brasileiro, que são, aproximadamente, 203 milhões de hectares, sendo composta por 200 mil
variedades de espécies. Instituto Brasileiro de Florestas. Fonte: https://www.ibflorestas.org.br.
406
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em14 de maio de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
268
Ciclovias
Smart Growth407, que incluem o tráfego de bicicletas através de uma rede cicloviária, a qual
que o novo bairro será habitado e vivido por gerações Z e Alpha (potenciais moradores)408, o
que reforça, ainda mais, a previsão de um projeto integrado de mobilidade urbana, que inclua
abrangendo todas as vias componentes do sistema viário (ver item Rede viária e quadro 36 –
Perfis do sistema viário estruturante). Nesse contexto, são previstos também paraciclos ao
de transportes.
Este plano ciclístico está sendo pensado de forma que permita, às bicicletas, o acesso
a todos os endereços do bairro, bem como a sua integração com os sistemas de transportes
a comunidade.
A rede cicloviária está projetada junto às calçadas, isto é, faz parte do programa da
407
Sobre Smart Growt, ver item I. 1.2 – Rede viária.
408
Conforme Jeff Speck, em “A caminhada segura”. Passo 6: Acolher as bicicletas (2016, p. 170)
apresenta estudos que mostram que jovens da geração Y citam a possibilidade de pedalar como um
importante motivador na escolha do lugar onde vão morar e, hoje, quem tem dezessete anos tem um
terço a menos de probabilidade de tirar carteira de motorista do que alguém da geração do pós-
guerra possuía nessa idade. No caso do novo bairro, seus potenciais moradores são da Geração Z
(nascidos entre 1997 – 2010) e Geração Alpha (nascidos a partir de 2010). Fonte: sãopaulo.com.br -
Jovens paulistanos trocam carro por outras opções de transporte, revela pesquisa (2019).
409
O projeto da rede cicloviária é apoiado em legislações existentes no Distrito Federal que asseguram
a política de mobilidade urbana cicloviária de incentivo ao uso da bicicleta.
269
Conforme Ricardo Birmann da UP410, essa escolha se deu, principalmente, por duas
Neste contexto, é pertinente acrescentar ainda que, diferentemente dos países mais
desenvolvidos, no Brasil, a cultura ciclística está numa fase inicial e, por isso, a UP tomou o
cuidado para não criar um sistema que, parecendo arriscado ou inseguro, pudesse
etapa em que ainda haverá poucas pessoas morando, e a utilização da ciclofaixa será muito
baixa. Nesse cenário, esta faixa – destinada para as bicicletas – servirá como uma ampliação
riscos de conflito com a abertura de portas de veículos que estão estacionados em paralelo.
preocupação com a segurança do pedestre (em relação às bicicletas), está sendo estudado
o acréscimo de uma guia para a divisão destas faixas, conforme pode ser visualizado nos
perfis das avenidas Barcelona e Sobradinho (ver item Rede viária e quadro 36 – Perfis do
410
Entrevista com Ricardo Birmann - Diretor-Presidente da UP - realizada em14 de maio de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
270
QUADRO 40 Modelo de faixas de travessia (pedestres e ciclistas) adotado pela UP. Estudos para
faixas de transição em diferentes zonas do Urbitá. Relação do edifício com a calcada – pisos térreos
e interrupção da calçada – Rua tipo B (internas ao quarteirão).
271
integrado ao uso e ocupação do solo, uma tendência maior de viagens com caráter local e,
coletivo atual do Distrito Federal ineficiente, com grande quantidade de linhas que
Sobre os modos não motorizados – por meio da rede de ciclovias, das calçadas, dos
mobilidade para o novo bairro. Ver item II 1.2 – Conexões – Rede viária e Calçadas, caminhos
de pedestres e ciclovias.
411
Além do Plano Piloto, a cidade de Brasília se expandiu num modelo de ocupação diferente do
projeto inicial de Lúcio Costa. Dentre várias características destas expansões, os usos – com alta
predominância residencial – são, atualmente, um dos principais responsáveis pelo caráter de
“dormitório “que estas áreas têm. Hoje, são, aproximadamente,1.300.000 pessoas que trabalham no
Plano Piloto e apenas 200.000 moram nesta área central. Ricardo Birmann, Diretor-Presidente da UP,
Webinar: O pensar e o fazer das cidades caminháveis no Brasil, 07 de maio de 2020.
412
Deslocamento pendular refere-se ao movimento diário de pessoas entre municípios/distritos
distintos para fins de trabalho e / ou estudo. Em Brasília, isso acontece diariamente entre o Plano Piloto
e seu entorno e vice-versa.
272
Acerca do projeto de linhas de transporte coletivo para o novo bairro, o qual incorpora
têm origem e destinos nos terminais de integração ou nos pontos de controle. Estas linhas416
região417. E, por fim, as linhas circulares e de ligação que transitarão internamente e entre as
Para a BR-020 – linha troncal –, está prevista a implantação de faixas exclusivas para
transporte coletivo – BRT (Bus Rapid Transit)418. Dessa forma, o sistema de transporte coletivo
local do Urbitá será ancorado neste corredor Eixo Norte – BR-020, o qual irá integrar o novo
bairro às áreas consolidadas dos arredores, bem como ao Plano Piloto – Brasília-DF, criando
413
DOTS (no Brasil) – Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável e TOD (nos EUA)
– Transit-Oriented Development. É um modelo de maior acessibilidade entre habitação e transporte.
Ver mais definições no item I 1.1 – Localização – Habitação ao longo dos eixos de transporte e no item
I 1.2 – Conexões – Transporte público, coletivo, individual e alternativo.
414
Tronco-alimentador: Termo utilizado no documento: Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana –
volume I e II (2018).
415
O modelo tronco-alimentador está fundamentado no Plano Diretor de Transporte Urbano e
Mobilidade do Distrito Federal – PDTU (2011), no Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT
(2009); nas Diretrizes Urbanísticas da Região de Sobradinho e Grande Colorado – DIUR (2018) e no
Plano de Urbanização – Urbitá – PDU (2018).
416
Ver Perfis viários do sistema estruturante – a previsão da faixa para o transporte coletivo.
417
Região administrativa de Sobradinho e Grande Colorado – área de influência direta de 2.000 metros
estabelecida para o Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana, 2018, p.41.
418
Projeto proposto pelas instâncias governamentais, o projeto do BRT (Bus Rapid Transit) consiste
num sistema de transporte coletivo de passageiros entre as cidades de Planaltina, Sobradinho e o
Plano Piloto – corredor Eixo Norte – Brasília-DF.
273
Urbitá, o Estudo de tráfego e mobilidade urbana (2018) sugere que sua localização seja junto
à avenida Barcelona, em interseção com a BR-020, a fim de criar uma conexão direta do novo
bairro com a via de ligação com a quarta ponte sobre o Lago Paranoá, sem interferência na
Sendo assim, devido às suas características relativas à integração com o BRT e tendo
em vista esta interseção420 entre a avenida Barcelona e a BR-020, como uma porta de entrada
para o novo bairro, é sugerida a destinação de um lote específico421 – a criação de uma área
pública – do novo bairro para a execução da infraestrutura necessária para esta estação que
Esta proposta de transporte coletivo para o bairro Urbitá foi elaborada com base em
para o novo bairro, uma densidade bruta423 de 52 UH/ha424, o que, segundo parâmetros
estabelecidos no item I 1.2, significa uma densidade que comporta e sustenta diferentes
linhas e modais.
419
Esta interseção, em dois níveis, que é referida no documento de Estudo de Tráfego e Mobilidade
Urbana (2018), será, possivelmente, um viaduto, que terá, no futuro, seu projeto detalhado. Ver item
II 1.2 – Rede viária – interseções.
420
Nessa interseção, associando aos distritos de zoneamento, é previsto o estabelecimento de um
polo multifuncional, parte de um sistema de centralidades – Conforme DIUR (2018, p. 16), dentre várias
diretrizes urbanísticas, é pretendida a implantação de um Sistema de Centralidades para a Região de
Sobradinho e Grande Colorado. Ver item II 2.1 – Distritos de zoneamento.
421
A área deste lote deverá ser estipulada, através do estudo do BRT, com base na capacidade para
atendimento à população hoje em circulação, juntamente com a estimada para o novo bairro.
422
Estudos realizados estimaram a produção e atração de viagens em cada área do empreendimento,
proporcionalmente a seu uso, porte e características socioeconômicas de sua população, podendo
produzir e/ou atrair viagens.
423
O cálculo da densidade bruta considera, além das características dos lotes privados, as áreas dos
espaços públicos (ruas, praças e parques), áreas de comércio e serviço, áreas institucionais
(equipamentos de ensino, cívicos, de saúde), entre outras.
424
A densidade bruta de 52 UH/ha é calculada considerando 3,47 habitantes por unidade habitacional.
Assim, 118.607 habitantes / 658,70 ha / 3,47 = 51,89 = 52 UH/ha.
274
de linhas e modais, tem como consequência boas rotas entre casa e paradas / pontos de
embarque, com distâncias adequadas à escala do pedestre, entre 400m e 800m, conforme
alternativo.
275
hierarquia de traçado pertinente, bem relacionada com a área envolvente, com caráter e
públicos abertos, o que qualifica o bairro, cumprindo – neste quesito – com o propósito de
originou a partir das curvas. Tal estratégia é relevante, uma vez que as vias curvas impelem a
Nesse quadro, da moderação do tráfego, nota-se um cuidado nos desenhos das vias
circulares –, canteiros centrais e ilhas elevadas de refúgio de pedestres que, em conjunto com
segurança do pedestre.
Sobre as interseções, que conectam o novo bairro aos demais, verifica-se uma
proposta coerente com a escala e formato dos diversos cruzamentos que são propostos.
Entretanto, não há projetos detalhados que permitam uma análise de elementos menores,
bem como não há, até o momento, desenhos que mostrem como serão os caminhos de
nas vias internas – entre os edifícios (atravessando o quarteirão). No entanto, ainda não há
definições claras do sistema viário, incluindo trechos dedicados apenas a pedestres, assim
como de uma rede de caminhada conectada – uma rede de pedestres que inclua faixas de
pedestres e alamedas internas – que poderia passar a compor o sistema viário no conjunto
do bairro
física, quanto da gestão, do sistema operacional), no que diz respeito ao acesso condicionado
deverá ser construído um regulamento específico que defina as condições de acesso para
Sobre a rua Curitiba, esta segue um desenho coerente com a construção de um bairro
que busca a conveniência tanto para o tráfego de veículos como para o tráfego de pedestres,
ao longo da via e, ao mesmo tempo, se abrir para uma ou duas vias principais (que cruzam
em ângulo reto), auxilia na mobilidade das pessoas, ao mesmo tempo que as áreas de
Diretrizes Arquitetônicas. Sabe-se que, em especial nas zonas centrais e ruas principais de
bairro, esta medida é considerada exagerada e não contribui para a vibração da calçada e
dos pedestres e ciclistas. Todavia, como já mencionado no item II.1.2 – Rede viária – Vias
internas, carece de um estudo de uma rede (de caminhos de pedestres e ciclovias) que
integre as faixas de travessia de pedestres nos cruzamentos com as alamedas internas – que
atravessam os quarteirões.
Sobre estas vias serem abertas, alguns selos de certificação – como é o caso do LEED Neighborhood
425
Development – a exigência é de fruição pública 24 horas por dia em 90% das vias internas aos
quarteirões.
278
clima tropical de Brasília. É importante ressaltar, nesse aspecto, que inúmeros outros ganhos
(ambientais, sociais e econômicos) são consequências desta conexão com o mundo natural,
podendo-se citar, como alguns exemplos, além da redução da temperatura do ar, a melhoria
amigável para pedestres, como visto no item das calçadas e caminhos para o pedestre –
revela-se compatível com os princípios de projeto do novo bairro que, na sua essência,
Cabe aqui salientar que este projeto da rede cicloviária está desenhado nos perfis
um conjunto de componentes desta rede, como: suporte para as bicicletas (racks) e vestiários
das linhas de transporte que circundam, em praticamente todo o perímetro do novo bairro,
viagens dos usuários. A propriedade da compacidade contribui também com os modos não
Destaca-se que o sistema de transporte público coletivo tem, por si só, seu mérito,
uma vez que transporta quatro ou cinco vezes mais pessoas que um automóvel particular,
relação à capacidade.
Mobilidade Urbana, ainda há uma longa caminhada, não somente no contexto do bairro
poluentes.
baixo consumo, assim como vagas preferenciais para carros compartilhados, não há previsão
nem no contexto do bairro, nem na escala dos edifícios. Também não foi identificada
localizações, nem projetos de arquitetura que permitam sua análise. Conforme entrevista com
elaborados à medida que o empreendimento for sendo implantado – para cada Etapa426 do
Projeto Urbanístico.
Por fim, é pertinente ressaltar que se trata de um cenário com previsão de 30 anos
empreendimento, o qual liga a via de circulação expressa, a DF-425 com a avenida Sobradinho, e a
DF-425 com a BR-020.
280
Distritos de Zoneamento
conexão com a via de ligação com a quarta ponte sobre o Lago Paranoá.
Além destes fatores, faz parte das características do sítio, a legislação urbanística.
Dessa forma, foram levadas em conta as diretrizes de uso e ocupação do solo já existentes
Federal.
• Nas centralidades, deve-se reforçar sua destinação para atividades que promovam a
427
Esta premissa destina-se à construção de setores no bairro que possuam características próprias –
que possam estar na mente das pessoas, que marcam o término de um tipo de atividade, um tipo de
lugar, e o início de outro.
428
Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT, 2009) e Diretrizes Urbanísticas
da Região de Sobradinho e Grande Colorado (DIUR, 2018) – região onde está inserido o novo bairro.
281
• Os usos previstos para as centralidades devem estar associados a uma ocupação mais densa
uma vez que promove a vitalidade desses espaços em todas as horas do dia. Nesses casos,
• Nas Zonas B, é admitido o uso residencial associado a uso institucional. Nesses casos,
BR-020.
Assim, ponderando tais fatores e visando ao caráter próprio para cada zona, o projeto
de diretrizes, desde a escala urbana até a escala do edifício430, para cada distrito-chave431,
Nessa sequência, os setores foram assim definidos: Zona A – Distrito Central, onde
429
O conceito de Distrito de zoneamento encontra-se no item I 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano –
Distritos de zoneamento.
430
O plano de subdivisão dos distritos serve como um guia para sugerir diversidades na configuração
de cada quarteirão, na decisão dos usos e suas localizações e, na escala do edifício, permite a
construção de diretrizes arquitetônicas detalhadas que venham ao encontro do urbanismo pretendido.
431
Distritos-chave: termo usado por Gehl no Caderno de Conceitos, 2014, p. 05. O autor refere-se à
localização apropriada de diferentes usos e atividades de cada distrito e seu importante papel na
construção de comunidades diversificadas, aproveitando os desafios e oportunidades que o sítio
oferece.
282
margens sul da BR-020; Zona D – Distrito empresarial – faixa adjacente à rodovia BR-020, em
Cabe destacar que a definição final do zoneamento do Urbitá segue, em maior parte,
as ideias iniciais sugeridas pelo escritório Gehl – Architects (2014). A principal alteração foi a
retirada do distrito empresarial, faixa ao sul, não tanto pelos usos e morfologia – que se
mantêm parecidos –, mas pela inserção de um eixo transversal – avenida Sobradinho, que
Essa alteração, proposta pela UP, permitiu um incremento na Centralidade que tem,
por objetivo, reunir atividades que promovam o convívio social, constituindo-se como um
lugar de referência urbana432 tanto para o novo bairro, quanto para os núcleos urbanos
Essas atividades são, em geral, relacionadas aos usos comerciais (lojas, centros
ser previstos espaços urbanos abertos ao uso público, mesmo de domínio privado, a fim de
centro urbano como uma área urbana de grande vitalidade. Para o alcance da vitalidade, é
Parque. Nessa lógica, de transição, a zona A privilegia o uso residencial multifamiliar, com
usos não residenciais restritos a atividades de menor grau de incomodidade (em comparação
com os usos permitidos na zona Centralidade, mais compatíveis com o uso residencial).
Embora o uso residencial predomine para a zona A, o PDU (2018) prevê a instalação
432
A exemplo da rua Curitiba, que tem o propósito de ser um elemento marcante do bairro, onde o
layout da rua é compatível com a diversidade de atividades.
283
Da mesma forma que na zona Centralidade, são previstos, para a zona A, espaços
não residenciais. Por estar localizada entre a zona D e a zona Parque (com restrições impostas
pelo zoneamento da Área de Proteção Ambiental (APA) do rio São Bartolomeu), a zona é
universitário.
pequenos pontos de comércio local e serviços de vizinhança, que lhes deem suporte e
viabilidade.
numa faixa de aproximadamente 100 metros, fazendo parte do Distrito Central e Capão
lotes privados em seu interior e regular seus usos urbanos permitidos. Segundo o PDU (2018),
433
A dispersão de pontos de comércio local, de vizinhança, é fundamental para incentivar a mobilidade
ativa (pedestres e ciclistas) no interior do bairro, uma vez que permitirá que os moradores supram suas
necessidades corriqueiras sem precisar recorrer a transportes motorizados. O mesmo vale para escola
e creches.
284
Com a ideia de criar um atrativo para o parque, com atividades que envolvessem
compostagem, etc.; sedes ou escritórios de entidades que tenham objeto social relacionado
Entende-se que o conceito de fronteiras entre zonas urbanas é relativo ao caráter das
vias principais (na grande maioria das vezes) – que constituem as margens dos setores – e
que, pelo seu caráter e aspectos físicos, viabiliza incluir funções comuns compartilhadas,
com a zona Parque, em grande extensão, exerce o papel de demarcação das fronteiras entre
os distritos de zoneamento Mangueiras e Central (zona A) e entre estes dois com parque
linear.
que os contornam, os quais insinuam / determinam sobre a vocação desta zona Parque.
Conforme Ricardo Birmann434, a ideia é que este parque seja muito pouco denso435, com
434
Entrevista com Ricardo Birmann - Diretor-Presidente da UP - realizada em 11 de junho de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
435
Possui área de aproximadamente 2 milhões de metros quadrados (duas vezes o Parque do
Ibirapuera, em São Paulo) para uma população de aproximadamente 300.000 pessoas (novos
moradores mais áreas adjacentes). Uma das propostas da UP é que, no futuro, consigam fazer a
administração desse Parque, inclusive, foi oferecido para o governo que seja colocado um
285
sua margem.
legislações ambientais brasileiras quando busca-se propor algo que esteja próximo às APP:
sendo adotadas pela UP, a fim de garantir estes espaços ao longo da margem da zona
Parque. Para isso, foram demarcados, no PDU (2018) e no Plano de Urbanização das quatro
primeiras etapas, lotes comerciais e áreas de reservas privadas para que possam, no futuro,
Dando sequência à análise das fronteiras entre distritos, outra via que cumpre esta
função é a avenida Dublin, a qual institui a borda entre a zona Central e a Centralidade.
Segundo Ricardo Birmann, esta decisão teve influência mais normativa – um componente
relativo à localização das Centralidades na Região prescrito nas Diretrizes de Uso e Ocupação
condicionante ambiental, a obrigação da UP em gerir e manter o parque sem fins lucrativos até sua
consolidação. Lembrando da experiência existente em administração de parque, através da fundação
Aron Birmann, que administra, há 25 anos, o parque Burle Marx em São Paulo – primeiro parque
público com administração privada no Brasil.
436
Conforme Ricardo Birmann, referindo-se ao Emerald Necklace de Olmsted em Boston (1878 –
1895), denomina estes pontos como a estratégia do “colar de pérolas": Ao longo da borda do parque
vai pondo algumas pérolas (restaurantes, atividades de lazer, quadras esportivas, etc.), a fim de criar
possiblidades de ativação, concentrando as pessoas em poucos pontos.
437
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP, realizada em 11 de junho de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
286
adequada ao seu papel de via que acomode funções comuns compartilhadas nos limites dos
setores.
Dessa forma, está previsto, na esfera do projeto de arquitetura440, que os edifícios com
fachadas para avenida Dublin cumpram exigências relativas à relação dos edifícios com a rua
Nesse universo, das fronteiras entre distritos, as vias de circulação expressas – BR-020
e a DF-425 – também desempenham este papel. A BR-020 define a zona D (em ambos os
lados) e tem interferência direta na acessibilidade da zona B – Distrito Capão Grande. A DF-
425 faz a marcação do limite da zona A, que inclui parte do Distrito Mangueiras e a
Centralidade.
articulação com os núcleos urbanos adjacentes – Sobradinho e Sobradinho II) onde é prevista
Este ponto de entrada (gateway) está sendo pensado, por parte da UP, de modo a
438
Ver item II 1.2 – Conexões – Rede Viária. Classificação das vias pelo Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT).
439
Com concentração de comércio, prestação de serviços, indústria de baixa incomodidade e
instituições, a fim de reforçar a sua vocação para atividades que promovam o encontro social e a
vitalidade urbana.
440
Manual de Diretrizes Arquitetônicas estabelecido pela Urbanizadora Paranoazinho (UP).
287
Na questão funcional, segundo Ricardo Birmann441, para este “nó”, está sendo
“sede” (um centro do Urbitá), como um ponto de destino para quem estiver indo visitar e
Sobre os quesitos formais, a ideia é que seja criado um ponto focal neste espaço –
uma estrutura facilmente identificável. Conforme Ricardo Birmann, até este momento, não há
um projeto para a marcação dessa entrada, somente alguns estudos realizados pelos
escritórios DPZ e de Benedito Abbud, mas há a aspiração de que este cruzamento se afirme
Paranoazinho443, foi proposto, pelo ateliê DPZ, um possível programa para um centro de
conformação de um ponto de interesse que funcionaria como âncora, com comércio, serviço,
avenida Sobradinho), oferecendo mais razões para as pessoas passarem nessa via.
linhas angulares. De acordo com Ricardo Birmann, a intenção é que estas caixas (pavilhões)
441
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP –, realizada em19 de agosto de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
442
Sobre a localização desta “sede” – um centro do Urbitá –, existem outras alternativas sendo
consideradas, como por exemplo: junto à praça Paranoazinho (em uma das quatro caixas) ou junto ao
parque Oeste. Ambas alternativas com a ideia de, conjuntamente com a implementação deste ponto
de destino, construir espaços públicos para gerar identidade e criação de um endereço ativo para o
bairro.
443
Sobre a praça Paranoazinho, ver item II.3.1 – Parcelas e Edificado – Usos especiais – Espaços
públicos abertos.
444
Nessa perspectiva, da criatividade e da mistura de usos, Ricardo Birmann, em entrevista realizada
em 13 de março de 2021, via G-meet, cita, como um modelo inspirador de lugar público e
experimentação urbana e social significativa, o Granville Island em Vancouver – Canadá. Uma
combinação de usos: mercado público, lojas, locais destinados à arte e festivais culturais.
288
sejam obras simples, de baixo custo e de rápida construção, a fim de viabilizar esse endereço
em até um ano.
lugar diversificado, com equipamentos de destino445, por exemplo: um cinema, uma loja de
artigos para a casa, uma academia, um supermercado. A intenção é que este “nó de
atividades”, por ora, atenda à população dos núcleos urbanos adjacentes (com
uma vez que este ambiente pensado para a fase inicial do empreendimento, com grandes
445
Equipamentos de destino são os que constituem uma venda programada, diferente daquele serviço
ou comércio que gera vendas por impulso. Entrevista com Ricardo Birmann – entrevista realizada em13
de março de 2021, Brasília, DF (via G-meet).
446
Conforme Ricardo Birmann, durante a construção dos edifícios, será feita a realocação dos
comércios e serviços ali estabelecidos “temporariamente” e, após a conclusão, poderão retornar para
este mesmo lugar, ocupando o térreo dos edifícios ou permanecerem no novo local – o da realocação.
289
LEGENDA:
1 - Supermarket
2 – Home improvement
3 – Cinema
4 – Fitness center
Sobre a teoria das zonas de Transect, verificou-se, tanto nas segmentações das zonas
no bairro, quanto nas intensidades dos parâmetros urbanísticos447, uma coerência com as
formal da paisagem natural – os cursos de água e suas devidas áreas de proteção. Partindo
zoneamento.
Esses distritos de zoneamento podem ser classificados sob a óptica do Transect – das
T-zones448:
e diversidade, deve ser a referência – o centro do bairro. O tamanho médio dos quarteirões
é de 100m de comprimento e 90m de largura, e a altura dos edifícios pode variar entre cinco
zona T6, no entanto mantém o caráter de zona central urbana e desempenha o papel de zona
de transição entre Centralidade e zona Parque e entre zona Central e o Distrito Mangueiras.
100m de largura, e a altura dos edifícios pode variar entre cinco e doze andares.
No Distrito Mangueiras (que faz parte da Zona A), os quarteirões têm maiores
pode variar entre cinco e doze andares. No entanto, por possuir um caráter mais residencial
e com menor densidade, a tendência é que, para o distrito Mangueiras, as alturas variem
447
Parâmetros urbanísticos estabelecidos no PDU, 2018: Usos e atividades; coeficiente de
aproveitamento máximo; altura máxima; taxa de permeabilidade mínima e tratamento das divisas.
448
O conceito de “T-zones” encontra-se no item I.2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – T-zones e Smart
Code.
449
Para o distrito Mangueiras, a UP tem definido, no masterplan atual, apenas os eixos primários da
malha. O desenho mais detalhado da malha de quarteirões para este setor consta nos estudos
apresentados pela assessoria do Gehl.
291
entre 16 e 23 metros, equivalentes a cinco e sete andares. Nesse sentido, esta porção da
comprimento e 70m de largura, e altura máxima dos edifícios é de cinco andares, equivalente
a 16 metros.
transição entre a zona D e a zona Parque. O tamanho médio dos quarteirões é de 100m de
comprimento e 80 de largura, e altura dos edifícios pode variar entre cinco e sete andares,
equivalentes a 16m e 23 metros. Nesta zona, são reservados alguns quarteirões maiores para
Zona Parque – corresponde à T-zone (T1) – composta pelas áreas verdes, unidades de
posicionamento dos edifícios para cada zona do novo bairro, com a finalidade de garantir
uma adequada transição espacial entre zonas, em equilíbrio com os fatores naturais pré-
450
Ver item II. 3.1 – Parcelas e Edificado – Usos Especiais, onde é apresentado um estudo do ateliê
Skidmore, Owings and Merrill – SOM (2013), de um agrupamento de equipamentos de saúde e
educação para este setor – nos quarteirões maiores.
451
Semelhantemente a um Smart Code, a UP desenvolveu, em 2016, Normas de Edificação, Uso e
Gabarito (NGBs) relativo à Etapa 1, a qual foi substituída, em 2019, pela Lei de Uso e Ocupação do
Solo (LUOS, 2019) estabelecendo parâmetros convencionais e uniformizados que ocasionam perda de
conteúdos importantes relacionados ao conceito do bairro Urbitá.
292
Malha de quarteirões
Partindo das análises da Rede viária e dos Distritos de zoneamento452 do Urbitá, fica
visível a precaução, desde o início, em criar uma comunidade concatenada, porém em setores
distintos. Ambas as diretrizes são viabilizadas pelo sistema de vias estruturantes – que
quarteirões.
Permanente (APP) que os contornam, que conduzem o desenho das vias Parque na zona
bairro, que serve como eixo compositivo para as demais vias que atravessam o bairro no
sentido transversal.
materiais) no sítio, que serviram como estímulos para o projeto urbanístico como um todo e,
lugares que estabelecem uma simbiose com o contexto. O resultado é uma grelha que é
É possível mencionar duas principais qualidades no desenho final desta trama – malha
de quarteirões: a primeira é que, mesmo não sendo uma malha ortogonal, existe uma
Ver conceito sobre economia de meios no item I. 2.1 – Morfologia / Tecido Urbano – Malha de
453
quarteirões.
294
humana.
Nesse âmbito, o traçado das vias segue as curvas de nível da topografia do sítio,
gerando vias curvas e com pouco desnível. As ondulações das vias tornam-nas mais atrativas
zoneamento.
bem como dentro das próprias zonas, o que favorece a promoção da pluralidade de usos.
considerada conveniente, visto que, além de facilitar a acessibilidade física (e visual) dos
pedestres (e dos automóveis), é uma ação estratégica para o bairro, podendo constituir-se
454
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em19 de agosto de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
455
Ver conceito de caminhabilidade no item II. 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e
ciclovias.
456
Sobre a Norma Brasileira de Acessibilidade (ABNT NBR 9050, 2015), ver item I. 1.2 Conexões –
Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias e item II. 4.1 – Circulação – horizontal e vertical.
457
Conforme mostrado no item II. 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento e T-
Zones.
295
A partir destas medidas, com a totalidade dos quarteirões com mais de 100 metros
Diretrizes Arquitetônicas458, são propostas vias internas aos quarteirões que auxiliam na
malha mais fina –, com diversidade de dimensões e caráter de vias, e também no critério de
De acordo com Carmona et.al. (2003, p. 65), os tecidos urbanos com malha fina
oferecem muitas maneiras diferentes de ir de um lugar para outro. Tecidos mais grosseiros
recomendações de Jane Jacobs (2014 [1960]), Solà-Morales (1976), Leon Krier (1990), DPZ
(2000), Farr (2013) e Gehl (2014) – ver descrição no item I. 2.1– Morfologia e Tecido Urbano
– Malha de Quarteirões.
458
Para os quarteirões que possuem maiores dimensões (maiores que 100m), as vias internas, para
pedestres, são obrigatórias.
459
Sobre vias internas, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede viária e item II. 1.2 – Calçadas, caminhos de
pedestres e ciclovias.
296
no Distrito Federal, (ver item II.1.2 – Conexões – Transporte público, coletivo, individual e
econômico e social do bairro e da região onde está inserido, por meio da miscigenação de
Este zoneamento proposto e já aprovado para o novo bairro, por ser mais genérico460,
está alinhado a uma premissa do Urbitá – de que o bairro irá se desenvolver ao longo dos
anos (previsão de 30 anos) e não há como hoje prever, com exatidão, onde será a melhor
fatores essenciais para conferir caráter a um bairro, verifica-se acertada a zona definida para
tal fim no bairro Urbitá. Nesse aspecto, é pertinente citar Lefebvre (1999, p. 110), que se
refere à centralidade como espaços gregários – que por sua arquitetura e urbanismo, sua
Lefebvre, não existe realidade urbana sem um centro comercial, simbólico, de informação e
de decisão.
Da mesma forma, Montaner (2001, p.30) afirma que cada área ou bairro necessita um
centro ou núcleo, e cada cidade deve possuir seu “coração” ou centro cívico moderno, onde
estudo preliminar das estratégias para a fase inicial do empreendimento são válidas,
Development, por exemplo, deve-se propor, no mínimo, vinte usos para o projeto –
Conforme Ricardo Birmann, esses usos livres – mais genéricos –, aprovados no governo (PDU, 2018),
460
permitirão planejar o bairro ao longo do tempo através dos projetos urbanísticos de cada etapa.
298
considera-se relevante, uma vez que é um espaço de transição de uma estrutura para outra.
Este espaço de transição, com funções estabelecidas e marcação visual, auxilia na orientação
dos usuários e contribui para o senso de lugar na comunidade do novo bairro residencial.
cruzamentos que fazem parte da Zona Central: entre a DF – 425 e a avenida Ushuaia e entre
a DF – 425 e a avenida Quito, ambas vias estruturais de circulação que preveem a ligação do
sempre são geradoras de controvérsias, pois, para alguns, os comandos legais serão
um projeto ambiental, o qual terá que respeitar as características locais, bem como eventuais
entraves jurídicos, haja vista que o interesse social, para proteção ambiental, bem de uso
comum do povo, ainda terá que enfrentar eventuais entraves políticos, permeados pelo
Por isso, pode-se afirmar que não há uma objetividade interpretativa que ampare uma
das vezes, além da qualidade do projeto, da capacidade jurídica de bem conciliar este às
normas em vigor.
observar que, no modelo desenvolvido pelo CATS, a altura recomendada dos edifícios para
a T-zone (T6) é de oito andares (máximo) e, para a T-zone (T5), cinco andares. No Urbitá, a
altura máxima está estipulada em doze andares para a Centralidade e Distrito Central, sete
andares para a zona B e cinco andares para a zona D, sendo esta a menor para todo o bairro.
Ainda que as alturas sejam mais elevadas que o modelo propõe, nota-se uma
coerência entre a compreensão do ambiente construído como parte do ambiente natural nos
299
projetos para o bairro Urbitá. Isso evidencia-se na relação estabelecida entre os distritos de
a fim de enfatizar a forma das edificações, prevendo um resultado físico – a forma do bairro
e sua relação com o caráter de cada zona, sendo flexível e maleável quanto às especificações
de usos.
Esta flexibilidade é essencial, uma vez que se deve considerar – além desta fase de
projeto – futuras escolhas individuais, por exemplo: das pessoas que preferem morar longe
do “burburinho urbano”, adquirindo, por via de regra, imóveis com preços mais acessíveis.
Neste caso, o bairro Urbitá terá, como alternativa, o Distrito Mangueiras, menos denso e com
um caráter residencial.
caminhada.
possível da implantação do bairro. Explica que vender terrenos, hoje, é a última opção, e
pública, o que tornará o novo bairro um empreendimento privado de caráter público, a fim
461
No Brasil, na esfera pública, não existem planos reguladores mais específicos (que regulam assuntos
arquitetônicos). O Manual criado pela UP é semelhante ao Smart code, no entanto, possui caráter
privativo e local, para este empreendimento, sem valia de lei.
462
Entrevista com Ricardo Birmann realizada em13 de março de 2021, Brasília, DF (via G-meet).
300
adjacentes por dois principais motivos: o primeiro é relativo à malha estabelecida para os
núcleos Sobradinho e Sobradinho II, que é composta por quarteirões uniformes, com grandes
oportunidades para o pedestre, fatores que constituem um território monótono e com pouca,
O segundo motivo, ao lado sul do bairro, por não haver referências de tecido urbano,
dado que se encontra um condomínio fechado que fragmentou e negou a cidade existente
que são o resultado dos padrões de vias e espaços públicos em diferentes escalas. Outro
proporciona, utilizando as palavras de Cullen (2015 [1971], p. 48), “o prazer de coisas tão
Central e na Centralidade, fato considerado positivo, uma vez que se tenciona conformar
estas zonas como zonas mais compactas, com maior densidade de ocupação e diversidade
de usos. De acordo com Lefebvre (1999, p. 110), na sua concepção, o centro deveria ser a
expressão mais característica da variedade da vida social na cidade, o lugar, por excelência,
do encontro.
A malha capilar, mais fina – consequência das dimensões moderadas dos quarteirões
463
Conforme relato de Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP – Entrevista realizada em14
de agosto de 2020, Brasília, DF (via G-meet).
464
Sobre Espaços públicos abertos, ver item II.3.1 – Parcela e Edificado – Usos especiais.
301
quarteirões que compõem o novo bairro, qualidade que possibilita a miscigenação de usos
de acordo com a vocação de cada lugar. Somado a isso, e tendo como princípio de projeto
a estreita relação dos futuros edifícios com a rua, a UP propõe tipologias de quarteirões de
“blocos de perímetro”465.
fundamentais), na relação entre a altura dos edifícios e a largura das ruas, e na conformação
Nesse quadro, Ricardo Birmann explica que, na busca deste enquadramento, somado
No entanto, é sabido que existem muitas outras formas de integrar as fachadas dos
edifícios com a rua / calçada, sem que o desenho do quarteirão se conforme numa
465
Conceito de “blocos de perímetro” já mencionado no item I. 3.1 – Parcelas e Edificado –
Configuração dos quarteirões.
466
Estudos e análises apresentadas pela equipe da DPZ na Oficina de Concepção Arquitetônica com
os quatro escritórios brasileiros contratados pela UP em Brasília, 2017.
467
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em19 de agosto de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
302
“rosquinha” – “donut”468. Como por exemplo, Brooklin e Manhattan, em Nova Iorque, que,
de formas distintas, são exemplos de boa relação entre edifícios e calçada; Leblon e Ipanema,
no Rio de Janeiro, os quais tiveram, inicialmente, essa “integração dos edifícios com a rua”,
que infelizmente foi interrompida pela colocação de grades, tomando a responsabilidade dos
Arquitetônicas469 desenvolvido pela UP, que o partido volumétrico escolhido para o Urbitá
será a “rosquinha”. Esta tipologia poderá ser formada por um ou mais edifícios alinhados
opções de duas, três ou mais “rosquinhas” por quarteirão, separadas por ruas privadas
internas470.
Voltando aos estudos dos referenciais, foram realizados, a partir deles, alguns ensaios
interno, com uniformização de alturas, com torres nas bordas ou somente nas esquinas, com
um só pátio ou com dois pátios –, a fim de definir um quarteirão típico para o bairro.
volumetria dos quarteirões resultarem de tal forma que os edifícios sejam os elementos de
seja com volumetrias retangulares – em forma de “L”, de “U”, entre outras possibilidades,
desde que construam território urbano a partir de elementos de sua morfologia e assegurem
468
Termo utilizado por John Ellis apud Farr (2013, p. 97) no livro Urbanismo Sustentável: desenho
urbano com a natureza, texto: Ilustrando a densidade.
469
Sobre o Manual de Diretrizes Arquitetônicas, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede viária. No que
interessa o uso e ocupação do solo, o Manual é instrumento prescritivo de orientação no sentido de
induzir um ambiente construído desejável e previsível.
470
Sobre ruas internas, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede viária – Vias Internas.
303
A essa estratégia, de manter uma margem favorável aos pedestres, incluem-se formas
de ocultar aspectos do ambiente construído que são hostis aos pedestres, como entrada de
estacionamentos e garagens, no interior do quarteirão, ver item II. 1.2 – Conexões – Calçadas,
caminhos de pedestre e ciclovias e item II. 4.1 – Acessos – Intervalo / espaço de transição.
assegurar a continuidade espacial e a boa forma urbana – na escala humana. Nesse contexto,
são indicados, pela UP critérios, para a divisão dos quarteirões que viabilizem, se necessário,
a unificação futura de lotes, bem como a criação de alamedas e pequenas praças internas
critérios para as alamedas internas (2016), que ao unificar parte dos lotes do quarteirão
(porém não todos) e, havendo interesse de criar a alameda interna, a mesma deve ser alocada
corresponde à tipologia de quarteirão que inclui lotes de 20m de frente. Segundo Ricardo
Birmann472, essa tipologia foi desenhada, justamente, para possibilitar a criação das
alamedas. Estes lotes de 20m de frente são lotes “coringas”, podendo ser unificados com os
lotes de qualquer de seus lados. É uma forma flexível de unificar lotes, dando opção de incluir
471
Segundo Ricardo Birmann, em manifestação encaminhada à Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal, em abril de 2020, a Lei de Uso e Ocupação
do Solo (LUOS, 2019) do Distrito Federal estabelece parâmetros convencionais e uniformizados que
ocasionam perda de conteúdos importantes relacionados ao conceito do bairro Urbitá.
472
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em 11 de junho de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
305
pequenas praças internas aos quarteirões473, foram criados os Espaços Privativos de Uso
Os EPUC foram inspirados nos Privately Owned Public Spaces (POPS) de Nova Iorque,
que são espaços internos ou externos oferecidos para uso público por proprietários privados
A criação dos EPUC, junto aos quarteirões, teve como principal objetivo acrescentar
pequenos espaços públicos abertos ao sistema de parques e praças planejados para o novo
bairro.
privados. Esse estímulo seria baseado na ideia dos proprietários de determinados lotes477
designarem uma parte do seu terreno ao uso público, criando pequenas pracinhas e
parquinhos, na escala da vizinhança. Esse incentivo seria feito pelo governo através do ganho
473
Sobre a criação de alamedas e pequenas praças internas aos quarteirões, ver item II. 1.2 – Conexões
– Rede viária – Vias internas.
474
Os EPUCs estão descritos em Normas de Edificação, Uso e Gabarito (NGBs) relativo à Etapa 1. Esta
norma foi aprovada em 2016 e substituída, em 2019, pela Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS,
2019). Em razão disso, conforme Ricardo Birmann, no projeto atual – compatibilizado com a LUOS –,
para fins de aprovação, não estão mais previstos os EPUCs. Pretendemos retomar este assunto mais
adiante e encontrar uma forma de viabilizar esta ideia.
475
NYC. Informações obtidas no site do Departamento de Urbanismo de NYC:
https://www1.nyc.gov/site/planning/index.page.
476
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – realizada em19 de agosto de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
477
Lotes a serem especificados no masterplan de cada etapa de implantação.
306
QUADRO 46 Lotes coringas (20m de frente) na Etapa 1 e 2 do projeto urbanístico. Cenário desejado
para as quatro primeiras etapas. Critérios para a divisão dos quarteirões e possibilidade de
unificação dos lotes.
307
Além dessas tipologias, foram propostos, para o novo bairro, pelo ateliê Gehl
cada uma. Conforme o caderno de conceitos desenvolvido para o Urbitá (2014)478, os usos
zona, percebe-se, no masterplan apresentado pelo ateliê Gehl Architects, que estes
quarteirões estão posicionados nos núcleos centrais – formando nós de atividades –, ou nas
– 400m / 1.600m – de tamanho ideal para o pedestre, equivalente a cinco a quinze minutos
de caminhada.
públicos para fins especiais: na Centralidade do novo bairro – incluindo a rua Curitiba e os
dois parques nas suas extremidades, bem como a praça Central – praça Paranoazinho e em
proposta da estrutura de usos especiais do novo bairro – Urbitá. A relação estabelecida entre
A proposta inicial do Projeto Urbanístico para o novo bairro – Urbitá foi elaborada pelo escritório
478
Gehl Architects – Urban Quality Consultants (2014), o qual produziu um caderno de conceitos para o
novo bairro.
308
Com base nestes dados, foram elaboradas algumas propostas481, as quais consideram
a essência do design de vizinhança ao bairro que, além de sugerir o tamanho ideal para o
Ainda, ponderando a demanda dos moradores do novo bairro, bem como dos
instalações comunitárias.
locais, bem como pelo estímulo na implantação de locais de trabalho, distribuídos junto às
de modo que estas instalações comunitárias sejam acessíveis a todos. À vista disso, foram
479
Consideram-se instalações comunitárias: funções de utilidade pública como equipamentos de
ensino (escolas e afins), pontos de referência (galerias, museus, marcos paisagísticos), espaços
institucionais e cívicos (edifícios cívicos, universidades, hospitais) e espaços públicos abertos (parques,
praças, jardins de vizinhança, área de lazer e desporto).
480
Conforme o Plano de Urbanização – Urbitá (PDU, 2018), a densidade populacional máxima
determinada para a região onde o projeto está inserido é de 150 habitantes por hectare. Assim, com
uma área de 658,70 ha, estima-se uma população de 118.607 habitantes para o novo bairro, que
utilizará as instalações comunitárias. Ainda, considerou-se a demanda por equipamentos, por parte
dos moradores dos núcleos urbanos adjacentes, com aproximadamente 180.000 habitantes, e das
áreas remanescentes da fazenda Paranoazinho, com 19.657 habitantes.
481
Propostas realizadas pelas assessorias e consultorias contratadas pela UP, conforme descrito na
apresentação da Parte II da tese.
482
O parâmetro para a criação de uma Unidade de Vizinhança é de um raio de 400m, com orientação
inerente para o pedestre em cinco minutos de caminhada. Nesse aspecto, conforme definido para a
presente análise, evitando a aplicação excessivamente rígida dos princípios, Farr (2013) e Duany et al.
(2000) recomendam que o raio seja entre 400m e 1.600m, correspondendo ao tempo de caminhada
entre 5 a 15 minutos.
483
Sobre a estrutura de movimento, ver: Sistema viário estrutural e complementar no item II. 1.2 –
Conexões – Rede viária.
309
e localização adequada484 destes equipamentos, embora não haja, ainda, uma definição em
relação às etapas de ensino (ensino infantil, fundamental e médio) em cada uma destas áreas
pré-estabelecidas.
600m, comprovando o acesso, por todos os moradores do novo bairro, aos equipamentos
Sobre a localização desses equipamentos, ainda é útil observar que todos estão
alocados nas margens – entre distritos de zoneamento e entre o novo bairro e sua vizinhança
– podendo atender às demandas dos núcleos vizinhos, bem como oportunizando a criação
circundante.
Nesse sentido, num olhar inverso – do entorno para o bairro –, verifica-se a existência
de escolas localizadas, a uma média de 600 a 1000 metros das margens do Urbitá, nos
núcleos urbanos vizinhos (Sobradinho e Sobradinho II), que poderão auxiliar no atendimento
estão determinadas, sendo definidas à medida que os projetos urbanísticos, das respectivas
484
Adequada em termos de análise da dimensão física do bairro, no entanto será prudente, no decorrer
da sua implantação, levar em conta outros indicadores de cunho social e econômicos.
485
A UP tem, como premissa de projeto, evitar um zoneamento de usos que defina, desde o início,
onde cada equipamento deva estar. Concentra-se num zoneamento mais amplo, onde a demarcação
para estes usos se dê, ao longo dos anos, considerando o caráter de cada setor.
310
II. 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento e item II. 3.1 – Parcelas e
[...] o que não queremos é um plano autoritário – de nós com nós mesmos –
, onde esteja definido exatamente onde cada equipamento vai estar.
Queremos deixar isso mais livre e, ao longo do desenvolvimento do projeto,
naturalmente, conforme o caráter de cada setor, os usos serão destinados.
(BIRMANN, 2020, s.p.).
Sobre espaços cívicos e institucionais, verifica-se que existem alguns estudos iniciais
sobre a localização e sugestões de atividades para alguns setores do bairro. Esses esboços
iniciais foram elaborados pelos escritórios Skidmore, Owings and Merrill – SOM (2013) e Gehl
Architects (2014).
quarteirões para estes usos. Nota-se que a escolha da localização dos quarteirões para usos
cívicos / institucionais considerou o caráter das vias e priorizou o posicionamento nas margens
do bairro e entre as zonas, como é o caso do D3 – entre zona Central e Distrito Mangueiras.
Esta estratégia de locar os espaços institucionais e cívicos nas margens dos distritos
de zoneamento é conveniente, uma vez que possibilita, como já mencionado na análise dos
existentes.
Outra vantagem desta localização (onde termina a vista da rua), é que esses
com um potencial de atratividade (seja pela sua forma, pelo seu tamanho, pela sua função
Edifícios cívicos (prefeituras, igrejas, escolas, bibliotecas, museus, etc.) podem transformar-se em
486
Além disso, por estarem localizados no limite, funcionam como “âncoras”, fazendo
com que se amplie o fluxo das principais vias487 que ligam os equipamentos ao centro do
bairro, bem como permitindo a conexão, aos três espaços propostos, por meio das vias
Parque.
O ateliê SOM (2013), por sua vez, expõe um estudo baseado na premissa do
sul da rodovia BR-020, o qual integra-se à zona Parque através da proposição de um espaço
vem ao encontro da ideia de constituir um grande “nó”, uma vez que o ateliê SOM também
II.1.2. – Conexões.
Entendendo que a cautela na escolha dos sítios para fins cívicos e institucionais, bem
como dos pontos de referência, é uma estratégia eficiente de desenho urbano, entendem-
se relevantes as diretrizes projetuais, tanto nos estudos apresentados pelo ateliê Gehl, quanto
487
As principais vias de conexão aos espaços propostos para os equipamentos Institucionais e cívicos
são vias de circulação com usos e atividades diversas. As características destas vias estão apresentadas
no item II. 1.2 – Rede viária.
312
QUADRO 47: Localização dos quarteirões especiais para usos especiais (ateliê Gehl Architects).
Agrupamento de equipamentos institucionais (ateliê SOM). Masterplan atual e demarcação da
Centralidade, zona parque e dos equipamentos públicos comunitários para a Etapa 1 – Urbanizadora
Paranoazinho (UP).
313
pela UP, uma vez que estão organizados e fazem parte de uma rede que os conecta nas
diferentes escalas, desde grandes e pequenos parques, praças e espaços cívicos, até jardins
complementar – como visto no item II. 1.2 – Rede viária e Calçadas, caminhos de pedestres
e ciclovias –, o qual prevê, na calçada (na faixa de serviço), o plantio de árvores nativas do
Esta interconexão entre ruas e espaços públicos abertos, bem como a sua grande
a justificativa, entre tantas outras, de cunho do conforto ambiental e dos benefícios para a
Assim, o projeto dos espaços públicos abertos incentivará os aspectos sociais da vida nestes
Esta subdivisão dos espaços abertos (em espaços passivos e mais silenciosos e
espaços com usos mais ativos – áreas esportivas e atividades físicas) contribui para a
um condicionante que auxiliou, tanto na determinação dos tamanhos e natureza dos espaços
Parque Linear Urbano – um grande parque489– tem a função, além de proteger áreas
488
Jardins de bairro e/ou parques de vizinhança são chamados por Jan Gehl (2014) para pequenas
praças distribuídas no bairro, num raio de 400m.
489
Grande parque com 200 ha (conforme PDU, 2018) – possui abrangência regional, alongando-se
pela Região de Sobradinho e Grande Colorado. Esta abrangência está em consonância com a
estratégia de conectores ambientais do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal
314
que constituem o limite do novo bairro, a noroeste com os núcleos urbanos Sobradinho e
Também, o parque estende-se ao Sul da via de circulação expressa BR-020, delineando o rio
São Bartolomeu.
dentro do bairro são definidos. Estas fronteiras que se formam entre os distritos geram
o parque491.
paisagem do novo bairro, o PDU (2018) estabelece algumas diretrizes específicas relativas à
ocupação do solo:
• Todas as áreas verdes e parques urbanos deverão ser delimitados por ciclovias e amplas
(PDOT, 2009) e pelas Diretrizes Urbanísticas da Região de Sobradinho e Grande Colorado (DIUR,
2018). Dentro da área de estudo, são aproximadamente 125ha de zona parque.
490
Conforme diretrizes gerais sobre os parques ecológicos para o novo bairro – Urbitá. PDU, 2018.
Quanto ao zoneamento interno do parque, o Plano de Urbanização rege que serão necessários
projetos urbanísticos específicos que se refiram às leis de preservação ambiental – com restrições
crescentes na direção do corpo hídrico e concentração dos usos mais intensos em bolsões – chamados
de colar de pérolas ao longo da borda –, ver item II.2.1 – Distrito de zoneamento.
491
Sobre as possibilidades de usos do parque, ver item II.2.1 – Distritos de zoneamento.
315
• No interior do parque, podem ser acomodados usos e atividades que proporcionem lazer
• A localização exata dos equipamentos que serão propostos no interior do parque ficará a
atividades mais intensas em pontos estratégicos para o lazer e encontro, espaçados entre si,
na borda do parque.
Este último item, relativo à estratégia do colar de pérolas (já mencionado no item II.2.1
– Distritos de zoneamento) para o parque linear, entende-se pertinente, uma vez que, além
proporciona uma maior densidade de pessoas e um fluxo mais intenso nesses locais,
Por fim, sobre o parque linear, entende-se que dois instrumentos serão fundamentais
pertinente com a vocação e potencialidades de cada uma das áreas que o compõem; e uma
integrador entre o meio natural e o meio urbano, o projeto do novo bairro contém dois
parques urbanos localizados no Distrito Central (na Centralidade), nos extremos – leste e
constituindo-se como referências espaciais, uma vez que estão combinados – no ponto inicial
e final de um eixo singular (a rua central – rua Curitiba – de uso compartilhado – o coração
do bairro).
492
Sobre gestão eficiente, segundo Karssenberger, 2015, p. 315, entendem-se duas camadas: o
software e o hardware, onde o software corresponde ao programa de uso, a função e ao zoneamento.
E o hardware diz respeito à escala menor – parte do usuário e tem seu foco nas pessoas.
316
Desse modo, fica evidente o posicionamento dos dois parques urbanos com o intuito
dos usuários.
Parque Oeste – Existem, até o momento, dois estudos para este parque. O primeiro,
elaborado pelo ateliê Benedito Abbud – Arquitetura paisagística – SP, e o segundo, pelo
Foi apresentado, pela equipe da DPZ, um desenho para o parque, feito a partir dos
estudos de alguns precedentes, sendo o parque Bryant, em Nova York, eleito para ser o
referencial adotado, especialmente pelo seu enquadramento urbano, caráter e função que
diversificada – com uma fonte, estátuas, espaço de leitura, espaços para sentar, espaços de
alimentação, jardins com uma variedade de espécies e um grande gramado livre, onde são
Com base neste estudo, adaptando-se às realidades locais, o desenho final do parque
apresenta um anfiteatro ao ar livre – uma área livre gramada de 70m x 30m –, com seu
fim de criar uma paisagem que alude ao paisagismo de Brasília, simbolizando as Cores da
Cidade Parque494.
Para a entrada do parque, pela rua Curitiba, existem duas propostas: a primeira,
idealizada pela DPZ, norteia-se na inserção de um espelho de água no eixo central deste
acesso, o qual tem, em suas extremidades, dois totens que o enquadram, bem como
493
Flamboyant não é uma espécie nativa do Brasil e quaresmeira-roxa é nativa do Brasil, mas não é
nativa do Cerrado.
494
Cores da Cidade Parque: vídeo de Frederico de Holanda (2020), que apresenta uma diversidade
de espécies da arborização existente em Brasília com dados sobre seus florescimentos.
317
desenho e textura do pavimento. Neste ponto (marco referencial), Abbud sugere a colocação
de totens, tal qual a equipe da DPZ, os quais apoiam lonas tensionadas que configuram uma
opção de sombreamento.
Parque Leste – Para este parque, existem, até ao momento, apenas diretrizes
projetuais macro – junto à concepção urbanística geral (o masterplan), uma vez que a sua
para o novo bairro. O parque situado no extremo leste da rua Curitiba tem um papel – que
também é feito pelo parque Oeste, no sentido oposto – de servir como um arremate à rua
Ainda, pelo seu caráter misto – espaços com propósito cívico e comunitário –, vem
contemplar uma das convenções básicas de desenho urbano, conferindo caráter ao novo
bairro.
318
QUADRO 49 Localização do Parque Oeste. Proposta para o Parque Oeste conforme ateliê Benedito
Abbud – SP e DPZ – EUA.
320
Praça Paranoazinho
Nessa sequência, da rede de espaços públicos abertos e da sua relação com o sistema
viário, junto à rua Curitiba, é apresentada uma praça central – praça Paranoazinho –, no
cruzamento entre a avenida Sobradinho e a rua Curitiba –, como um importante nó, tanto na
sua função de estimular a reunião de pessoas, como de ser um ponto identificador do centro
do novo bairro.
Assim, numa forma elíptica, que define o espaço (através do desenho dos edifícios
que a contornam e do pavimento), propõe-se uma fonte de água que, em conjunto com uma
torre de luz, fortalecem este nó como um ponto focal – num conceito de torre de luz para
escultura de fonte496.
No entanto, é notável que, neste domínio espacial, o elemento marcante (torre de luz)
não se caracteriza como um landmark, ao menos durante o dia497. O que se pode considerar
é que o conjunto – fonte de água, escultura e torre de luz – criam um contraste com os
um ponto focal.
pavimento – plano de base definindo um campo de espaço – verifica-se que é repetida nos
demais espaços públicos abertos que integram a rua central, principalmente nos acessos aos
495
Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP – Entrevista realizada em17 de julho de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
496
A proposta foi feita em conjunto, entre o ateliê Benedito Abbud – Arquitetura paisagística – SP e o
ateliê DPZ (Duany Plater-Zyberk & Company) – EUA, numa oficina em Brasília em setembro de 2017.
497
A previsão de altura da torre de luz é de aproximadamente 6 a 7 metros de altura e, em
contrapartida, os edifícios que irão compor este setor terão entre 16m e 37,50 metros, ou seja, 6 a 12
pavimentos (PDU, 2018).
321
Percebe-se, desse modo, que – para esse cruzamento, pelo seu caráter de núcleo e
centro polarizador do bairro – a marcação da praça, somada ao ponto focal, têm o propósito
verificou-se que uma das intenções é chamar a atenção das pessoas e de atrair, conforme
relato da Lahys Rocha Miranda498: “O canhão de luz terá a função de atrair a população de
Nesse sentido, de atrair pessoas para o novo bairro, é pretendida, para o futuro, a
outros). Desse modo, o destaque à noite, em dias de eventos, teria especial função, uma vez
especial nos primeiros anos de lançamento dos imóveis, bem como propiciar a oportunidade
498
Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP – Entrevista realizada em17 de julho de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
499
Criatividade entendida como parte do desenvolvimento e sustentabilidade do bairro. Ver mais
sobre o conceito no item II. 1.1– Localização – Habitação formando novos bairros.
322
QUADRO 51 Proposta para a praça Paranoazinho conforme ateliê DPZ – EUA e Benedito Abbud –
SP, Brasil.
324
mistura de usos, com pouquíssimas restrições, é uma forte diretriz do projeto. Isso é notado,
principalmente, nas análises do zoneamento do bairro – item II. 2.1 – Morfologia e Tecido
Nesse ponto, verifica-se, com exceção das zonas próximas às vias de circulação
expressa (zona D) – as quais têm prevalência para atividades de grande porte –, para as
fato é positivo, uma vez que projeta uma homogeneidade, espalhando esse tipo de
Esta distribuição mais homogênea dependerá das escolhas das localizações de cada
comércio e/ou serviço no futuro. No entanto, e de acordo com Andrés Duany et al. (2010, p.
200), uma vez que as principais zonas de um bairro forem definidas (em especial centro500 e
residenciais, integra os princípios do Novo Urbanismo, que visa, por meio dessa diversidade
de usos, a uma diversidade de pessoas, com diferentes culturas, idades e níveis de renda.
perímetros dos quarteirões, a fim de oferecer uma experiência aos pedestres, em escala
500
Sobre Centralidade e sua relação com os usos comerciais, ver item II. 2.1 – Morfologia e Tecido
Urbano – Distrito de zoneamento.
501
Essa distribuição natural alinha-se às premissas da UP já citadas, de que o Urbitá irá se desenvolver
ao longo dos anos (previsão de 30 anos), através dos projetos urbanísticos de cada etapa. Ver item
II.2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento e item II. 3.1 – Parcelas e Edificado –
Configuração dos quarteirões.
502
A previsão de densidade média dos distritos de zoneamento do novo bairro é de 180 habitantes
por hectare, considerando uma área de 658,70 hectares e uma população de 118.607 habitantes.
325
compras na atualidade, bem como as projeções futuras para o comércio nas cidades.
Nota-se uma tendência de mescla entre loja física e virtual onde, na loja física, a venda
não é mais o único objetivo e, sim, exerce uma função de mostruário, bem como da
valorização da marca. Essa dinâmica permite que o cliente possa estar na rua e comprar o
produto na loja, ou passar por ele e depois decidir comprá-lo pelo aplicativo do celular.
Dessa forma, a tendência para os espaços físicos, de usos comerciais, nas áreas
urbanas, passa a ter uma necessidade de áreas menores. Este cenário, decorrente da
Local de trabalho
econômicas de médio e grande porte (Zona D), bem como áreas destinadas aos usos
novo bairro (118.607 mil), bem como para a população que reside nos núcleos urbanos
Nesse sentido, constata-se que, num raio de abrangência entre 1.500 e 2.000m505,
grande porte) são facilmente acessadas, tanto pelos moradores do bairro, como pelos
Ainda, a mobilidade entre casa e trabalho será garantida pelo modelo de transporte
público coletivo adotado, ver item II. 1.2 – Conexões – Transporte público, coletivo, individual
Distrito Federal.
503
As transformações digitais e as relações entre compra e venda dão-se atualmente de vários modos:
pela venda, onde o cliente compra pela internet e retira seu pedido numa loja física; pelo sistema,
onde as lojas ficam disponíveis dentro das redes sociais permitindo que clientes interajam com
atendentes virtuais, entre outras muitas possibilidades.
504
Ver item II. 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distrito de zoneamento
505
Aproximadamente 20 minutos de caminhada
326
Sobre este tema e refletindo sobre estratégias para a fase inicial do empreendimento,
acomodasse outras empresas e também um “inquilino âncora”, como por exemplo o Serviço
promover a contratação de mão de obra das pessoas da região para a construção do novo
bairro.
Esta ação objetiva, além de prover o emprego em si, pode conter efeitos positivos no
que se refere ao sentimento de pertencimento destas pessoas com relação ao bairro, uma
vez que irão, também, usufruir dos equipamentos comunitários e espaços públicos abertos
do Urbitá. Acredita-se, nesse cenário, num potencial de qualificação dos espaços públicos
urbanos.
compatível com o modelo de bairro que se propõe, que tem, como alguns de seus princípios:
506
Sobre o gateway do bairro, ver item II. 2.1 – Morfologia / Tecido Urbano – Distrito de zoneamento.
507
O SESI foi criado no Brasil em 1946 e atende indústrias e trabalhadores no que diz respeito à gestão
da segurança e na promoção da saúde e educação dos trabalhadores, seus dependentes e
comunidade. Em geral, acomoda atividades relacionadas ao ensino (cursos técnicos), às atividades
esportivas, eventos, entre outras.
508
Segundo Ricardo Birmann, a primeira etapa de implantação do Urbitá irá gerar, aproximadamente,
25.000 empregos.
327
se refere ao uso residencial. Existe uma expectativa de ter, no seu imóvel, uma série de usos
– a preservação de usos dentro da vida privada –, como por exemplo: áreas de lazer, piscina,
churrasqueiras, playground, etc. Nesse sentido, segundo Ricardo Birmann, o pátio interno foi
uma forma de acomodar esses usos através da área de uso comum, restrita aos moradores.
Sobre alguns pátios de centro de quarteirão serem convertidos, no futuro, para o uso
Nestes miolos, poderiam ter uma série de funções, como uma sala de reuniões ao ar livre
compartilhada, espaços de cafés, um auditório, entre outros espaços que fossem abertos ao
uso público.
É possível afirmar também que a ideia das EPUC, que são espaços privativos de uso
coletivo voltados para a via pública, vem ao encontro das lições para os plinths de
Karssenberg et. al (2015, p.323), em que se afirma que as zonas híbridas – espaço entre, ou
bairro, a UP criou o Manual de Diretrizes Arquitetônicas como uma alternativa, já que não
existem planos e códigos mais específicos no Distrito Federal, bem como no Brasil, que
Segundo Ricardo Birmann, este Manual está longe de ser um “Form Based Code”510;
509
Esse diálogo do edifício com a rua está também evidenciado nas indicações relativas à qualidade
das calçadas no item II. 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias.
510
O foco na forma é muito comum em outros países e excepcionalmente raro no Brasil. A regulação
da forma construída é a principal ferramenta de zoneamento em diversas cidades europeias, mas as
abordagens são diversas e heterogêneas. Já, nos Estados Unidos da América, como é típico dos norte-
328
seu conteúdo, privilegiam-se parâmetros urbanísticos voltados à forma resultante, tais como
máxima de ocupação.
estabelece, no Plano de Urbanização (PDU, 2018), os principais espaços livres abertos (parque
linear urbano, os parques Oeste, Leste, praça Paranoazinho e rua Curitiba) que compõem os
para completar o caráter residencial da área (escolas, edifícios institucionais e cívicos, galerias,
museus, entre outros), não estão definidos e, segundo Ricardo Birmann511, serão planejados
4.825m2 e lote B, com área de 3.823,72 m2. Esta definição – a escolha destes dois lotes –, de
acordo com Ricardo Birmann, não levou em consideração as diretrizes de localização dos
assim se expressa:
americanos, o método tem sido sistematizado e, com isso, posto a serviço de cidades com forte
demanda por crescimento. Há cerca de duas décadas, utiliza-se o termo “Form Based Code” para
designar esse tipo de abordagem.
511
Conforme entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP –, realizada em 11 de junho
de 2020, Brasília, DF (via G-meet). Ver item: II 2.1 – Morfologia e Tecido urbano – Distrito de
zoneamento.
512
Conforme o Plano Diretor de Ordenamento Territorial – PDOT (2009), deve ser assegurado o
percentual de 15% da área da gleba para equipamentos públicos comunitários. No caso da Etapa 1,
o percentual reservado é de 29,24% (8.649 m2).
329
“[...] receamos sobre os edifícios públicos que serão inseridos no Bairro – nos
lotes “doados”, dado que, em geral, os projetos para os equipamentos
públicos comunitários no Brasil são “um carimbo”. Nosso objetivo futuro é
conseguirmos discutir arquitetura com as secretarias do DF, utilizando
instrumentos legais que nos amparem a propor compensações urbanísticas
doando projetos e até construindo esses equipamentos”. (BIRMANN, 2020,
s.p.).
Entende-se, nesse ponto, que o planejamento dos quarteirões ou lotes especiais deve
estar previamente pensado no plano urbanístico geral – mesmo que com uma ou duas
hipóteses –, a fim de que os cruzamentos das vias, as fronteiras dos distritos, as distâncias
entre as instalações comunitárias, entre outros fatores que estruturam o bairro, possam servir
Acerca dos estudos apresentados, tanto pelo ateliê Gehl, quanto pelo ateliê SOM,
entende-se que são relevantes e deverão ser incorporados pela UP nos futuros projetos, em
conjunto com outros fatores de natureza social e econômica. Nessa lógica, conforme
e/ou um colégio para a área – sugerido pelo ateliê SOM –, entendendo que este é um dos
primeiros, senão o primeiro fator de decisão de onde a família irá morar – a existência de
parques Oeste e Leste, a praça Paranoazinho e a rua Curitiba. Estes espaços compõem um
513
Conforme o LEED Neighborhood Development, o LEED for Cities and Communities e o Fitwel
Community que exigem uma distância das unidades habitacionais, de 800m caminháveis, as escolas
de ensino fundamental e 1600m de escolas do ensino médio.
330
ocupação urbana de toda a região, oferecendo espaços de lazer, esporte, arte, eventos
Nesse ponto, na escala do bairro, é importante enfatizar que esta rede de espaços
públicos abertos – pela sua extensão e abrangência – servirá como espaços de refúgios (ao
ar livre) também para as zonas de trabalho. Dessa forma, cumpre-se com o quesito de
usos institucionais.
região), entende-se que esta rede de espaços públicos abertos auxilia a compor um ciclo
virtuoso (com a preservação ambiental desejada dessas áreas), uma vez que a população, ao
utilizar e se relacionar diariamente com estes espaços, passa a atuar como sua principal
defensora.
Destaca-se, aqui, a boa relação entre o projeto da rede viária do Urbitá e os demais espaços
514
públicos abertos (parques e praças) como apresentado no item II 1.2 – Conexões – Rede viária.
331
2016, uma Oficina de Concepção Arquitetônica, coordenada pela UP, com o objetivo de
bairro515.
A oficina teve, como objetivo, identificar os ateliês de arquitetura que poderiam ser
bairro Urbitá. Assim, em setembro de 2017, quatro escritórios foram contratados pela UP:
Ideia 1, de Porto Alegre - RS, Esquadra Arquitetos, de Brasília -DF, Rua, do Rio de janeiro -
Conforme Filipe B. Monte Serrat516, esta oficina, que foi denominada de charrete, teve
Sobre esta oficina, Guilherme Gambier Ortenblad518 expõe que a participação dos
entendimento que há, no projeto do bairro Urbitá, muitos princípios de projeto à frente do
515
Nesta primeira oficina, participaram treze escritórios de arquitetura do Brasil. O resultado desta
experiência está registrado na forma de um livro: No coração do Brasil, 2017.
516
Entrevista com Filipe B. Mont Serrat – Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos,
realizada em12 de setembro de 2019, Brasília, DF.
517
Segundo Filipe B. Monte Serrat, neste dia, ficou evidente um perfil conservador e “pé atrás” por
parte destes atores do setor imobiliário, sobretudo no quesito da diversidade de tipologias das
unidades habitacionais que estavam sendo apresentadas pela consultoria da DPZ, numa visão do
empreendedor voltado ao que “é vendável e o que não é”.
518
Entrevista com Guilherme Gambier Ortenblad – Arquiteto e Diretor-Presidente da Zoom –
urbanismo, arquitetura e design, realizada em 19 de março de 2021 (via G-meet).
519
Os ateliês tiveram que entender os parâmetros de projeto que vendem e os que não vendem em
Brasília – que são diferentes de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.
332
Foram escolhidas quatro áreas, sendo duas localizadas na zona A – Central (zona entre
a Centralidade e a zona Parque), com um caráter mais residencial; e outros dois meios
Essas áreas – quatro meios quarteirões – são constituídas por quatro lotes – incluindo
o lote coringa520 – para a criação de alamedas internas aos quarteirões, somando uma média
e, sim, alguns percentuais de áreas residenciais e não residenciais (em especial no piso
térreo). A ideia era que, a partir das diretrizes colocadas e dos condicionantes do sítio, fossem
feitos estudos de viabilidade, baseando-se numa proporção entre área vendável mínima e
área computável. Dessa forma, estes estudos foram mostrando os potenciais, tanto
econômicos, como de composição da paisagem urbana nas zonas em que estavam inseridas.
tipologias das unidades de habitação, entre outros detalhes de acordo com cada proposta).
Acessos, ao Tipo e Forma dos Edifícios e aos Espaços entre Edifícios – serão relativas à(s)
proposta(s) que representa(m) a melhor solução e as que mais condizem com o indicador ou
elemento a ser analisado. As ilustrações que se apresentam foram redesenhadas a partir dos
520
Sobre conceito de lotes coringas e a unificação de lotes ver item II.3.1 – Parcela e Edificado –
Configuração dos quarteirões.
521
O projeto do ateliê Rua - RJ não foi escolhido como objeto de estudo para as análises apresentadas
neste trabalho, na medida em que se considerou a sua proposta menos pertinente, relativamente às
premissas do presente trabalho e do Urbitá.
333
QUADRO 52 Contexto e localização das quatro áreas escolhidas: Ateliê Esquadra – DF e Zoom
– SP (zona A – Central) e Ateliê Ideia 1 – POA e Rua – RJ (zona A – Centralidade).
334
II.4.1 Acessos
relação ativa e recíproca entre espaços públicos e privados foram os princípios de projeto
as fronteiras entre o espaço público e privado através do desenho das áreas de transição,
entre o conjunto de edifícios com a rua e com os espaços abertos, como as praças e pátios
internos.
Nesse ponto, é pertinente destacar que não faz parte da cultura arquitetônica no
segurança. Motivo pelo qual levou, por parte dos quatro escritórios contratados, que
divisão rígida entre áreas com diferentes demarcações territoriais, verifica-se a proposição de
alguns elementos que, conforme descreve Monteys (2017), estão, de um jeito ou de outro,
na rua e são o primeiro gesto, dão as boas-vindas e acolhem a primeira ação ao entrar.
522
Sobre bloco de perímetro ou partido volumétrico “donut”, ver item II. 3.1 – Parcelas e Edificado –
Configuração dos quarteirões, e no item II.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Composição formal dos
edifícios.
523
Sobre gradações de acessos, ver próximo item: Grau de acesso.
524
Sobre soluções de fechamento para a via interna e pátios internos, ver item II. 4.3 – Espaço Entre
Edifícios – Espaços de uso comum.
335
espaços de transição, foi escolhida, para a análise, a proposta do ateliê Esquadra – DF, por
corpo do edifício acima do piso térreo, proporcionando uma área coberta; o desenho
inclinado das paredes dos acessos525, criando um ângulo de visão mais aberto em relação à
nível, gerando dois ou três degraus em relação à calçada, o que propicia também a mudança
circulação que se funde à calçada (recuo de 2,5m - 5m desde o início e fim do quarteirão na
avenida Sobradinho).
No que diz respeito à “pequena escala / escala humana” dos acessos aos edifícios,
citando Coelho (2013, p.193), identifica-se a falta de uma cobertura mais baixa, o que
Conforme Filipe B. Mont Serrat, existe a ideia de adicionar uma pérgola metálica para
cada acesso. Isso, além de criar uma cobertura nos acessos principais, teria a função de
colaborar com a conexão dos cinco blocos ao nível do piso térreo, proporcionado maior
interior e exterior, nota-se que, para os edifícios de esquina (blocos B e D), poderiam ter sido
apresentadas propostas com entradas pelas esquinas, concedendo linhas de visão em três
525
Conforme Filipe B. Mont Serrat: “Criamos estas inflexões, com esta forma de cunha, para poder
abrir um pouco o hall externo e proporcionar mais contato entre exterior e interior. Somamos, a isso,
a transparência dos planos verticais na entrada”. Entrevista com Filipe B. Mont Serrat – Arquiteto do
ateliê Esquadra realizada em14 de maio de 20, Brasília, DF (via G-meet).
526
As três entradas pela rua Sobradinho possuem acesso em nível (vindo da direção leste) e também
por degraus (vindo da direção oeste). Essas duas possibilidades tornaram-se viáveis em razão da
organização da implantação do conjunto em platôs, distribuindo a diferença de nível de 2,70m em seis
platôs.
336
ou mais direções para vários componentes do sistema de circulação (hall externo, hall interno,
ao conjunto adequadas, uma vez que levam em conta o caráter das vias e as rotas principais
de chegada – avenida Sobradinho, avenida Dublin e avenida Estocolmo –, bem como através
Ainda, as entradas relativas aos blocos de esquina localizam-se próximo aos locais de
encontro, nas áreas de transição de domínio público, possíveis pelo afastamento e formato
QUADRO 53 Tipo e modelo de quarteirões conforme Gehl (2014). Partido volumétrico – bloco de
perímetro, estudo ateliê Esquadra. Acessos e espaços de transição – proposta ateliê Esquadra –
piso térreo.
338
Grau de acesso
cautela com o grau de relevância territorial e dos possíveis acessos aos espaços adjacentes
do edifício.
entrada principal dos edifícios até as unidades residenciais, por meio da hierarquização entre
ateliês Esquadra - DF e Zoom - SP, por apresentarem aspectos mais significativos neste
critério.
circulação (na esfera do domínio semipúblico), a presença de um hall interno para cada um
dos acessos. Este espaço funciona, utilizando a nomenclatura de Alexander (2013, p. 500),
como um “nó de recepção”, a fim de dar sentido de direção aos usuários e visitantes.
Esta legibilidade e identificação, a partir deste nó, torna-se mais eficiente, uma vez
que os núcleos de circulação vertical são visíveis desde a entrada aos edifícios, bem como
permitem a visão direta dos acessos às áreas de uso comum (salão de festas, academia,
brinquedoteca, espaço lounge, entre outros), ao pátio interno (no miolo do quarteirão) e às
proposta do ateliê Esquadra, que não há uma demarcação física mais específica entre o
habitacionais do piso térreo que acontecem através de uma galeria interna com ligação direta
a galeria que serve de ligação às unidades habitacionais e o hall interno do edifício, onde
339
localiza-se o núcleo de circulação vertical, a fim de criar mais um nível legível de circulação
mais vendável ou não, e também da segurança dos moradores do piso térreo, comenta sobre
a ideia de criar um controle entre estes dois espaços (hall do edifício – espaço semipúblico –
e a galeria interna de acesso às unidades habitacionais do piso térreo – espaço privado) 527.
intermediários para cada uma das entradas das unidades habitacionais do piso térreo, por
meio de pequenos recuos, a fim de criar um ambiente, além da porta da frente, que também
poderia ter uma segunda porta com ligação mais direta à galeria interna de uso coletivo.
Hertzberger, a segunda porta poderia ser de vidro, e o espaço intermediário entre as duas
portas poderia ser interpretado de formas diferentes. Assim, esse ambiente seria capaz de
ganhar um caráter mais individualizado e fazer parte da extensão da casa, o que contribuiria
para que esta galeria interna perdesse a sua característica de “terra de ninguém”528 e
visitantes –, o hall interno deve desempenhar também o papel de dinamizador para o contato
social. Nesse sentido, verifica-se, nas duas propostas (ateliê Zoom e Esquadra), a composição
de mobiliários nestes espaços que poderão favorecer as relações sociais entre os moradores.
Na proposta do ateliê Esquadra, nota-se um espaço desta natureza para cada um dos
blocos de edifícios (cinco blocos), compostos por três, quatro e seis unidades habitacionais
que é previsto um recinto, junto aos halls internos, para acomodar um espaço de estar. Nesse
527
Filipe B. Mont Serrat comenta sobre esta ideia em entrevista realizada em14 de maio de 2020 (via
G-meet), no entanto, não aparece no desenho esta possível solução.
528
Termo utilizado por Herman Hertzberger no livro: Lições de Arquitetura (2015, p. 38).
529
Proposta ateliê Esquadra: Bloco A: quatro apartamentos por andar (do 1º - 4º) e um apartamento
no 5º andar, somando 17UH; Bloco B: três apartamentos por andar (1º - 8º) e um apartamento no 9º
andar, somando 25 UH; Bloco C: seis apartamentos por andar (1º - 4º) e um apartamento no 5º andar,
somando 25 UH; Bloco D: quatro apartamentos por andar (do 1º - 7º) e dois apartamentos no 8º andar,
somando 30 UH e Bloco E: quatro apartamentos por andar (1º - 4º) e um apartamento no 5º andar,
somando 17 UH.
340
caso, existem dois halls internos para o bloco S1e para o bloco S2, e um hall interno para
Dessa forma, prevê-se uma média de 23 unidades habitacionais (UH) por bloco, na
proposta do ateliê Zoom. Isso quer dizer uma média de 23 e 25 famílias podendo encontrar-
Ainda, em relação às duas propostas (ateliê Zoom e Esquadra), outro ponto positivo
do hall interno é a transparência nos planos verticais que fazem relação com os espaços
externos (tanto para a rua, quanto para o jardim interno), concedendo visuais entre o exterior
e o interior. No entanto, o núcleo de acesso vertical possui pouca possibilidade de ser visto
a partir do hall externo, pela sua posição – paralelo ao acesso ao edifício, conformando um
No que diz respeito ao grau de acesso, é indispensável citar os espaços frontais que
conformam jardins – direcionados para o pátio interno – nas unidades habitacionais térreas
dos blocos P1 e P2 – na proposta do ateliê Zoom. Estas áreas (nas entradas das unidades
530
Proposta ateliê Zoom: Bloco S1: quatro apartamentos por andar e sete pavimentos (28UH); Bloco
S2: quatro apartamentos por andar (do 1º - 5º ) e dois apartamentos por andar (6º - 9º), somando 28
UH; Bloco D: seis apartamentos por andar (do 1º - 6º) e dois apartamentos no 7º andar, somando 38
UH; Bloco P2: três apartamentos por andar e quatro pavimentos (12UH); Bloco P1: seis apartamentos
por andar e dois pavimentos (3º - 4º) e cinco apartamento no 5º andar, somando 17 UH; Bloco E: cinco
apartamentos por andar e cinco pavimentos (1º - 5º) e três apartamentos no 6º andar, somando 28UH.
531
Ver mais detalhes sobre estes espaços frontais no item II. 4.3 – Espaços Entre Edifícios – Espaços
de uso comum.
341
QUADRO 54 Graus de acesso – proposta ateliê Esquadra – piso térreo (primeira planta); e proposta
ateliê Zoom – piso térreo (segunda planta). Detalhe – nós de recepção: ateliê Zoom e Esquadra.
342
o espaço público e o privado, em especial nos andares acima do piso térreo, verificou-se uma
Os acessos possíveis pela rua, nos andares acima do piso térreo, têm o sentido de,
patamares, promover o contato dos usuários com a rua (espaço público) e ou pátio interno
(espaço semipúblico); isto é, conectar, mesmo que apenas visualmente, o patamar que acessa
O pátio interno é aqui referido como espaço semipúblico porque, num primeiro
momento – nos primeiros anos de implantação dos empreendimentos no bairro –, terá que
consolidação do bairro (com a vivacidade que se espera), os pátios internos dos quarteirões
sejam acessíveis ao uso público532, como é o caso de Barcelona – uma das referências usadas
semipúblicos, foram escolhidas, para análise, as propostas do ateliê Zoom 533, posto que
Esta escolha, por parte do ateliê Zoom, viabilizou um desenho de patamares e galerias
que propõem, parcialmente, um elo entre a rua e a porta de entrada de cada habitação.
Parcialmente, porque nos blocos S1 e S2 a conexão com a rua não é estabelecida, tanto pelo
532
Ver item II. 3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos quarteirões onde é apresentada a ideia
da criação dos Espaços Privativos de Uso Coletivo (EPUC).
533
Das quatro propostas, percebeu-se que o ateliê Zoom – SP mostrou melhores soluções no que se
refere ao nexo entre as circulações verticais e os espaços públicos e semipúblicos. Os demais ateliês
apresentaram estudos sugerindo núcleos de circulação vertical enclausurados no corpo do edifício.
343
Sendo assim, o vínculo com o solo acontece somente com o pátio interno – espaço
semipúblico534. Já, nos blocos D, E, P1 e P2, a relação com a rua e com o pátio interno é
constituída, tanto pela localização das escadas e elevadores (na parte externa dos blocos),
como pela relação entre altura dos edifícios e o contato com solo, tendo seis pavimentos
com transparência), criam-se visuais de dentro para fora e vice-versa, propiciando uma
sensação de segurança tanto aos usuários do conjunto, como aos transeuntes. Nesse ponto,
é pertinente citar Santos (1985, p. 78)535, que reconhece a importância de um lugar vivo, o
qual é responsável pela elevada taxa de pessoas circulando nos espaços, o que gera muitos
incorporados ao edifício, no meio da galeria e divididos por ela (blocos S1 e S2); e núcleos
(blocos D, P2 e P1 e E).
estudo, anterior a este apresentado (pelo mesmo ateliê), o qual organizava o bloco S1 por
meio da circulação vertical autonomizada do corpo do edifício. Esta hipótese viabilizava, por
meio desta autonomização, a relação entre a escada e a rua (tanto para a rua Estocolmo,
como para a rua interna), bem como assegurava, através do patamar/galeria, a relação da
Ortenblad536, tais apontamentos têm a ver com o mercado imobiliário de Brasília, que não
534
Este vínculo, conforme Gehl (2013, p.33 – 46); Gehl (2006, p.110 e 111); Gehl (2018, p.108 e 109)
e Alexander (2013, p.115), é perdido a partir do quinto pavimento e os blocos S1 e S2 possuem 8 e
10 pavimentos respectivamente.
535
Carlos Nelson Ferreira dos Santos, livro: Quando a rua vira casa (1985). Santos utiliza a referência
de Jane Jacobs (2014 [1960], p. 35), que, através do conceito “olhos na rua”, recomenda que os
edifícios de uma rua devem ser orientados para a rua e nunca virarem as costas ou laterais inexpressivas
sobre ela e deixá-la cega.
536
Entrevista com Guilherme Gambier Ortenblad – Arquiteto e Diretor-Presidente da Zoom –
urbanismo, arquitetura e design - realizada em 19 de março de 2021, São Paulo, SP (via G-meet).
344
dos banheiros e cozinhas; bem como não são adeptos da localização dos setores íntimos
voltados para a avenida principal (Sobradinho) – que terá um caráter mais intenso, com mais
ruídos e contribui menos para a fachada principal, de que se espera uma composição
íntimo dos apartamentos, de forma que os ambientes sociais fiquem voltados para a avenida
áreas molhadas passam a ter ventilação natural, bem como, com esta nova configuração, a
auxiliado na organização dos espaços das unidades privadas, em especial, dos aspectos
relacionados à ventilação natural, não colaboraram com o princípio da conexão dos pisos
Igualmente, é possível afirmar que esta decisão (a segunda proposta) anula o conceito
da conexão entre a porta de entrada de cada habitação e o solo (através dos patamares), tal
como, encerra a ideia de fazer desses patamares espaços ambientados para o encontro e o
Ainda, sobre circulações verticais, conforme Lahys Rocha Miranda538, nas próximas
piso (máximo de seis unidades) e a localização dos núcleos de circulação vertical em relação
às habitações são compatíveis com a fácil evacuação para o exterior do edifício (a maior
17,5 metros)
537
Referente ao projeto do ateliê Zoom: os edifícios possuem, em média, quatro a seis unidades
habitacionais por andar, o que significaria quatro a seis famílias podendo encontrar-se e apropriar-se
diariamente deste espaço.
538
Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP – Entrevista realizada em 04 de dezembro de
2020, Brasília, DF (via G-meet).
345
QUADRO 55 Tipologias adotadas pelo ateliê Zoom. Planta tipo ateliê Zoom e relação entre as
circulações verticais e os espaços públicos e/ou semipúblicos. Primeira proposta para o bloco S2:
circulação vertical autonomizada do corpo do edifício e segunda proposta para o bloco S2: núcleo
de acessos verticais, incorporado ao edifício, no meio da galeria.
346
elementos diferentes que qualificam a forma física dos espaços entre a rua e as entradas do
conjunto de edifícios.
calçada, incorporando-os ao espaço público. Através desta solução de projeto, que aumenta
caminhabilidade e ativação do espaço público, bem como contribui para a melhor relação
Verificou-se, na proposta do ateliê Esquadra, nos acessos aos blocos e torres, a falta
de alguns elementos na escala humana a fim de minimizar a forma gerada pelo avanço do
volume do corpo do edifício acima do piso térreo. O balanço apresentado tem uma altura de
aproximadamente 4,5m (em razão do pé-direito do piso térreo), o que não exprime a escala
humana e vem ao desencontro do que recomenda Coelho e Pedro (2013, p. 193), que os
do ateliê Esquadra, uma baixa demarcação física (falta do espaço semiprivado) entre o hall
Reativamente aos halls internos dos edifícios, tanto na proposta do ateliê Esquadra,
núcleo vertical de circulação, o qual não é possível ser visto a partir do hall externo.
539
Sobre relação entre altura dos edifícios e largura das ruas, ver item II. 4.3 – Espaços Entre Edifícios
– Implantação das edificações.
347
Quanto aos acessos privados das unidades habitacionais no térreo, conclui-se que a
melhor solução é proposta pelo ateliê Esquadra, dispondo as entradas privadas das
townhouses pela via interna. Esta decisão de projeto tem, como consequência positiva, a
Nesse ponto, observa-se que este espaço ainda não está detalhado a ponto de
mostrar quais serão os elementos que o comporão, como por exemplo: lugares ao ar livre
para se sentar, uma pérgola, um jardim, entre outros elementos ativos que incrementarão o
De forma geral, nos seis blocos propostos pelo ateliê Zoom, identifica-se um
P1 e E.
Sobre a solução final da tipologia adotada para os núcleos de circulação vertical (nos
blocos S1 e S2), observou-se uma perda no que se refere à construção de passagens com
vista para os jardins internos e para o conjunto dos edifícios. Também, houve perda,
relativamente à ideia inicial de ter, para cada bloco, uma galeria aberta com potencial de
sociais.
circulações verticais na parte externa e saliente em relação ao plano vertical do edifício (ao
menos em um dos lados). Esta solução tem três principais vantagens: a primeira é a marcação
das entradas dos blocos, podendo comunicar seu uso através da fachada, delineando a
das recomendações de Jane Jacobs (2014 [1960], p. 35) sobre a teoria dos “olhos na rua”.
348
circulações (externas e internas – verticais e horizontais) dos edifícios com o solo. Esta
conexão, dos usuários com a rua e/ou com jardins internos ao quarteirão no piso térreo, é
com os tipos e organização dos edifícios, foram escolhidas, para a análise, as propostas dos
edifícios plurifamiliares (compostos por blocos e torres) de acessos coletivos que circundam
blocos menores – edifícios unifamiliares com acesso privado voltados para a via interna.
unidades habitacionais como segue: três, quatro e seis apartamentos por piso, incluindo o
piso térreo – que possui unidades de habitação do tipo T0 e T1, na proposta do ateliê
Esquadra; dois, três, quatro e seis apartamentos por piso, com exceção do piso térreo onde
não há unidades residenciais na proposta do ateliê Ideia 1; e um, dois, três, quatro, cinco e
seis apartamentos por piso, incluindo o piso térreo – que possui unidades de habitação do
de duas maneiras diferentes: o ateliê Esquadra apresenta tipologia de seis casas unifamiliares
em fita com três pavimentos com acessos privados diretos a partir da via interna; já o ateliê
Ideia 1 propõe seis unidades habitacionais com acesso privado, (também diretos da via
interna), mais três pavimentos acima, sendo: dois pisos com três apartamentos por meio de
acesso coletivo horizontal (por galeria externa aberta), mais um terraço de uso coletivo.
Nesse ponto – relativo à proposta do ateliê Ideia 1–, é pertinente salientar que,
unidades habitacionais com o solo (o pátio interno), promovendo valores positivos para o
unifamiliares com acessos privados. Estes acessos possuem uma área de transição ajardinada,
que tem, em si inúmeros, benefícios540, porém, no que condiz à integração com a via interna
e com a outra parte do quarteirão, deixa a desejar, uma vez que as entradas se voltam para
o pátio interno. Assim, as casas unifamiliares relacionam-se com a rua interna apenas
Além das tipologias de edifícios apresentadas, destaca-se, por parte dos três ateliês
esforço de adequação da habitação aos novos modos de vida na era atual541. Verificam-se
apartamentos, desde T0 até T4, nos blocos, torres e barras que compõem o meio quarteirão.
nível de renda e de culturas, o que vem ao encontro dos princípios do Novo Urbanismo, dos
novos modos de vida e das mudanças nos arranjos familiares da sociedade atual.
540
Através da criação destas áreas de transição ajardinadas, possibilitam-se possíveis influências
pessoais dos usuários reforçando sua identidade, assim como, colabora para uma imagem menos
uniformizada do conjunto, estimula a animação e o convívio. Sobre áreas de transição ver item II. 4.1
– Acessos – Intervalo / espaço de transição.
541
Sobre atualidade, Gausa (2000, p. 263) explica que habitar situa-se em um prelúdio que permite a
criação de uma nova ideia de mundo numa interpretação do que há “ahí fuera”, isto é, perceber uma
nova dimensão múltipla, reivindicada pelas aceleradas mudanças das atividades humanas nos dias de
hoje. Manuel Gausa e outros autores no livro: Diccionario Metapolis de Arquitectura Avanzada: Ciudad
y Tecnologia en la Sociedad de la Informacion, apresentam conceitos, ideias, técnica e termos
relacionados à arquitetura e às futuras questões estratégicas no habitat, na cidade e no meio ambiente.
350
QUADRO 56 Tipo e organização dos edifícios: Ateliê Esquadra – DF, Ideia 1 – POA e Zoom – SP (de
baixo para cima).
351
QUADRO 57 Relação entre tipologia dos edifícios e caráter da rua interna – simulação de
espelhamento: ateliê Esquadra – DF (esquerda) e Ideia 1 – POA (direita) – plantas, cortes e
perspectivas. Galeria externa aberta – bloco H, ateliê Ideia 1 – POA.
352
com a vocação de cada setor do novo bairro, são premissas da UP no que tange à composição
formal dos edifícios. Objetiva-se, com isso, “[...] construir ambientes urbanos onde as
fachadas dos edifícios ao longo das ruas pertencem-lhes, como as paredes da rua, espaço
sem teto”, empregando as palavras de Louis Kahn (apud COELHO, 2013, p. 126).
pela UP, que nessa correspondência – entre edifícios e destes para com a rua –, deve-se
edifícios devem contribuir para o ambiente da rua e para o tecido urbano, valorizando o
conjunto urbanístico.
ateliês de arquitetura contratados pela UP, algumas diretrizes projetuais545 no que se refere à
• Valorização da verticalidade dos edifícios, com elementos contínuos que chegam ao solo.
• Proporção vertical e horizontal entre altura dos edifícios e largura das vias.
quarteirão e do empenho para a estruturação de uma sólida unidade formal entre edifícios e
542
Manual de Diretrizes Arquitetônicas do bairro Urbitá – Brasília (2016). Traz convenções morfológicas
e parâmetros de projeto que nortearam a elaboração das propostas por parte dos quatro escritórios
contratados.
543
Ver item II.3.1 – Parcelas e edificado – Configuração dos quarteirões e item II. 3.4 – Acessos –
Intervalo / espaço de transição
544
Termo utilizado por Mahfuz no texto: Ensaio sobre a razão compositiva (1995, p. 16), quando explica
sobre aspectos referentes à etimologia do termo parti.
545
Diretrizes postas na Oficina de Concepção Arquitetônica organizada pela DPZ (Duany Plater-Zyberk
& Company) em conjunto com a UP, 2017.
353
espaços abertos exteriores, foram escolhidas, para a análise, as propostas dos ateliês
Observa-se, num plano geral das três propostas, que embora o Plano de Urbanização
do Urbitá (PDU) preveja alturas máximas de 37,5m para edifícios localizados no distrito
Central e na Centralidade, as maiores alturas propostas foram de 31,5m (térreo mais nove
Centralidade) do bairro, assim como então em conformidade com o caráter destas vias, de
vistas para pontos de referência do bairro, como: para a praça Paranoazinho e para a rua
Urbitá e para o parque linear urbano, ao Norte, no final da avenida Sobradinho, e a Oeste,
Ainda, esses edifícios cumprem com a função de realçar pontos singulares da malha
Todavia, nesse enquadramento – das esquinas –, o resultado formal não parece o mais
adequado, uma vez que os limites verticais laterais do corpo dos edifícios seguem ângulos
horizontalidade que marca cada andar. Nesse ponto, é possível afirmar que dois dos projetos
analisados (dos ateliês Zoom e Esquadra) poderiam estar num terreno de meio de quadra.
aparece mais aprimorada por meio de elementos verticais contínuos que chegam até o solo
e também através das aberturas que formam – no conjunto – um prisma transparente vertical,
recuado em relação aos volumes adjacentes, o que contribui com a ideia de acentuar a
Sobre vias Sobradinho e Barcelona, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede viária; e sobre a avenida
546
Dublin, ver item II. 2.1 – Morfologia e Tecido Urbano – Distritos de zoneamento.
354
Apesar disso, não é possível considerar esta proposta (ateliê Ideia 1) compatível com
as diretrizes e o modelo propostos pela UP e pela assessoria da DPZ, uma vez que há tantos
elementos diferentes próximos à esquina que dificultam a leitura do que seria um ‘gesto’ do
Ainda, nesse aspecto, observa-se, nas três propostas, que o volume do corpo do
dos edifícios que compõem o meio quarteirão são blocos (térreo mais cinco e seis
pavimentos) e barra (casas com três pavimentos em fita), este último, destacando-se do bloco
A respeito deste último tipo (a barra547), verificou-se que, como já referido no item
anterior (acessos), foi muito bem inserida (nos projetos dos ateliês Esquadra e Ideia), junto e
com o acesso pela via interna, ocasionando a quebra de escala e fortificando o caráter
Zoom que, mesmo não optando pela tipologia da barra, propõe, junto à via interna, volumes
Nessa perspectiva, das escolhas dos tipos dos edifícios que compõem o quarteirão
237UH/ha – ateliê Zoom e 285 UH/ha – ateliê Ideia. Esta relação entre número de unidades
objetivos almejados para a Centralidade do Urbitá, que é tornar-se um lugar onde as forças
547
O modelo estabelecido para a tipologia da barra foram as townhouses.
548
Cálculo de densidade líquida (razão entre número de UH e área privada do meio quarteirão).
549
Forças construtivas aqui entendidas como a utilização dos Coeficientes de Aproveitamento ao
máximo (ou quase ao máximo), com o intuito de atender ao mercado imobiliário e, ao mesmo tempo,
moldar a forma urbana da zona da Centralidade – com caráter misto e denso.
550
Uma densidade suficiente de atividades e pessoas tem sido frequentemente considerada como um
pré-requisito para a vitalidade e para a criação e manutenção de um uso misto viável. Jane Jacobs
(2014 [1960], p. 163) argumentou que a vida na cidade tem muito a ver com densidade. Para ela, o
Greenwich Village de Nova York, com densidades variando de 310 a 500 moradias por hectare líquido,
355
‘Adequada’ pelo fato que se entende que a densidade deve ser considerada em
determinante do design. Nesse aspecto, é pertinente referenciar Jane Jacobs (2014 [1960],
p. 221), que distingue densidade como uma questão de desempenho e que não pode ser
pessoas.
Central do Urbitá deverá levar em consideração, além das características dos lotes privados,
as áreas dos espaços públicos (ruas, praças e parques), áreas de comércio e serviço, áreas
institucionais (equipamentos de ensino, cívicos, de saúde), entre outras, assim como uma
escala do edifício e às formas de arranjo no meio quarteirão. Assim, notou-se um esforço, por
parte dos três ateliês, em conciliar densidades habitacionais com uma variedade de tipos de
edifícios que ocupam o solo, na busca da não padronização do conjunto, tendo – por ora552
Plano de Urbanização (PDU, 2018), que estipula, para a Centralidade do novo bairro, um valor
máximo de 3,5. Nesse âmbito, verifica-se um CA de 3,18 na proposta do ateliê Zoom; 3,25
era o ambiente ideal (p. 216). Da mesma forma, a Urban Task Force do Reino Unido (1999, p. 59 apud
CARMONA, 2003) observou que Barcelona – descrita como a “cidade mais compacta e vibrante da
Europa” – tem uma densidade média de cerca de 400 moradias por hectare.
551
De acordo com recomendações do Density Atlas do MIT (Massachusetts Institute of Technology), é
necessário utilizar três medidas quantitativas diferentes de densidade para se obter uma representação
precisa da densidade de um bairro / cidade (densidade de construção, densidade da unidade
habitacional e densidade populacional).
552
Conforme Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – estes projetos serão revisados e adequados
antes da sua aprovação. Entrevista realizada em 26 de outubro de 2020, Brasília, DF (via G-meet).
356
Esse cenário que se desenha para o novo bairro, com densidade média alta553 – na
escala do quarteirão –, possui dois pontos positivos determinantes: o primeiro é que o nível
mais elevado de densidade vem ao encontro dos princípios do Urbitá, que é constituir um
é relativo as dimensões e viabilidade econômica, uma vez que bairros mais concentrados
da densidade urbana e seus benefícios são locais, regionais e globais. Isso porque, citando
um dos benefícios, bairros densos, que contêm uma mistura ampla de bens e serviços, geram
menos deslocamentos per capita que lugares dependentes de automóveis, o que contribui
553
Segundo Farr (2013, pp.94-95), ao ilustrar uma gama de densidades e seus respectivos custos:
Densidade baixa (25 - 35 UH/ha); Densidade média baixa (62 – 75 UH/ha); Densidade média (125 –
375 UH/ha); Densidade média alta (187 -375 UH/ha); Densidade alta (mais de 375 UH/ha).
357
QUADRO 58 Localização dos quatro meios quarteirões. Tipo e modelo de quarteirões conforme
Gehl (2014). Disposição dos volumes no meio quarteirão e simulação de espelhamento: volumetria
e relação com a esquina – propostas ateliês: Esquadra- DF, Ideia 1- POA e Zoom – SP (de baixo para
cima).
358
geral, coerentes. Assim, por meio do ordenamento desses volumes, tem-se, como resultado,
uma base contínua, que faz a ligação dos edifícios, os quais se erguem sobre esta, como
Nesse quadro, do cuidado para com o perímetro dos quarteirões no piso térreo, nas
três propostas analisadas, observa-se – nas vias principais que contornam o meio quarteirão
isto é, calçadas que propiciem uma caminhada confortável, proveitosa, interessante e segura,
não horizontalidade das fachadas dos edifícios, ao menos no piso térreo, – voltadas às três
vias públicas que contornam o meio quarteirão. Nesse aspecto, observa-se, por parte das
propostas, um programa variado para o piso térreo556, o que resulta num número elevado de
cuidado com a composição dos elementos que formam o corpo dos edifícios a fim de dar-
lhes uma aparência de edifícios de habitação, assim como, na escala do conjunto urbanístico,
horizontalidade, a partir do 1º pavimento. Tal efeito poderia ser minimizado à medida que o
Da mesma forma, dando sequência na análise das partes que compõem os edifícios,
554
Com exceção do projeto do ateliê Ideia 1, que propõe uma continuidade dos edifícios nas frentes
do quarteirão.
555
Sobre conceito de caminhabilidade, ver Item I.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres
e ciclovias.
556
Sobre os pisos térreos, ver mais no próximo item – Relação com o solo – pisos térreos.
359
Nesse âmbito, do topo dos edifícios, consideram-se adequados (no que compete ao
seu significado) os remates propostos que são constituídos557 por apartamentos e terraços-
jardim (privados e coletivos) que proporcionam o uso para desfrutar do sol, da vida ao ar livre
articulação entre o corpo e o topo do edifício no bloco B (na esquina da avenida Sobradinho
e avenida Dublin), o qual apresenta uma pequena caixa saliente – no topo – de um volume
muito maior (bloco B – torre com nove pavimentos), transmitindo a ideia (do ângulo da
avenida Sobradinho) de que ali existe uma sala de serviço ou algo dessa ordem e, sob a ótica
estabilidade.
Para minimizar este efeito, algumas estratégias projetuais podem ser aplicadas, como
mais pesados e escuros deve estar abaixo dos mais claros; e a adição de um ou mais planos
Nesse enquadramento, da composição formal dos edifícios, além da análise, até aqui
realizada – das três propostas –, entendeu-se pertinente mencionar alguns elementos mais
• a clareza na marcação dos blocos e das torres residenciais, os quais erguem-se e avançam
sobre o piso térreo no perímetro do lote e a consequente segmentação das fachadas que se
557
Composição das coberturas: Ateliê Ideia 1: apartamentos duplex com terraço-jardim de uso
privativo (blocos e townhouse), apartamentos sem terraços (duas torres) e terraço-jardim de uso
comum (bloco G). Ateliê Esquadra: apartamentos duplex com terraço de uso privativo nas torres e
coberturas com terraços de uso coletivo nos três blocos. Ateliê Zoom: coberturas com terraços de uso
coletivo nos blocos e na torre S1; apartamentos sem terraços (torre S2) e blocos P1 e P2 (blocos baixos
voltados para a via interna).
558
Alexander (2013, p.471) explica os benefícios sociais de subdividir uma edificação em uma
coletânea de edifício menores.
360
• o uso do último andar, composto por apartamentos e terraços – coletivos nos blocos e
privativos nas duas torres, proporciona (ou poderia proporcionar)560 um acabamento aos
•a forma recuada das aberturas que, além de proteger contra as intempéries, criam um jogo
• a organização das aberturas dentro de cada plano, por meio do agrupamento por
559
Em relação às esquinas, cabe salientar que a boa solução se deu mais especificamente no piso
térreo e não no corpo do edifício.
560
Conforme descrito no texto sobre o “topo dos edifícios”, existem alguns reparos importantes para
serem feitos nos topos dos projetos dos edifícios.
361
QUADRO 59 Relação plantas fachada: piso térreo com entradas ao nível da rua; corpo dos edifícios
independentes e associados ao sistema de circulação e cobertura habitada – proposta ateliê
Esquadra- DF.
362
Nos itens anteriores, que trataram do tipo e forma dos edifícios, foram expostos
2017). Estes preceitos convergem na premissa inicial do novo bairro, que é a maximização da
interação dos edifícios com a rua e com a cidade, através do cuidado da forma como o
Por este ângulo, nota-se uma diversidade de elementos de arquitetura que mais
realçam este princípio em duas das propostas apresentadas – ateliê Zoom e ateliê Esquadra.
Assim sendo, optou-se por apresentar soluções (de cada ateliê), consideradas distintas e mais
devido à incorporação de uma rua pública – exclusiva para pedestres, transversal ao meio
quarteirão. Criou-se, a partir disso, uma oportunidade de estratégia social e econômica por
público (uma creche), áreas de usos comuns – como brinquedoteca e espaços gourmet e um
calçadas da avenida Sobradinho e com a via interna. Evidencia-se essa intenção através de
três principais elementos: o primeiro diz respeito à ocupação dos dois primeiros andares (café
e creche), conformando a base dos edifícios nesta “esquina” (avenida Sobradinho com a rua
561
Lembrando que, como já observado no item anterior, os pisos térreos (das propostas apresentadas)
não são tratados como um embasamento de fato – o qual deveria ser composto pelos dois primeiros
andares, ao menos nas zonas mais centrais.
562
Ver conceito de “plinths” no Item I. 4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Relação com o solo – pisos
térreos.
563
Estas diretrizes – relativas aos afastamentos entre edifício e a rua e às fachadas ativas – estão escritas
no item II. 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias.
363
exclusiva para pedestres); o segundo elemento tem a ver com a proposição de uma área de
embarque e desembarque, junto à via interna (sobretudo para a demanda da creche), que
(pela sua imponência, cor e textura), configura-se como um marco visual e um cuidado com
encontro da avenida Sobradinho e a rua transversal – que possa assumir a função de uma
vias internas564 –, foi necessário pensar uma solução para o fechamento dos acessos públicos
de pedestres aos miolos de quarteirão. Para tanto, foi proposto um controle de acesso entre
circulação vertical dos blocos onde residem. No entanto, todos os moradores do quarteirão,
A proposta do ateliê Zoom tenciona que estes pátios internos sejam semipúblicos e
que possam ter uma abrangência maior que somente atender às demandas dos moradores
do meio quarteirão. O propósito é que, por exemplo, o setor esportivo566 possa ganhar um
Outro destaque, que aparece somente na proposta do ateliê Zoom, são as colunatas.
564
Sobre as vias internas e seu gerenciamento, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede Viária – Vias internas.
565
Entrevista com Guilherme Gambier Ortenblad – Arquiteto e Diretor-Presidente da Zoom –
urbanismo, arquitetura e design, realizada em 19 de março de 2021(via G-meet).
566
Sobre o programa do setor esportivo ver item II. 1.4 – Espaço entre Edifícios – Espaço de uso
comum.
567
Guilherme G. Ortenblad expõe que, na sua compreensão, a distribuição do programa nas áreas de
uso comum de forma mais coletiva contribui para estimular mais a circulação de pessoas entre estes
quarteirões. Por exemplo: se um meio quarteirão tem uma grande área esportiva, com piscinas e pistas
de corrida, o outro poderá ter áreas pensadas para atividades de estar, mais calmo e assim
consecutivamente.
364
importância das colunatas no piso térreo que é, acima de tudo, conectar os edifícios entre si,
de modo que uma pessoa possa caminhar de um lugar ao outro sob a sua proteção.
Tal engano dá-se no momento em que as colunas ali dispostas não são contínuas e,
como consequência, não cumprem com o que, aparentemente, prometem – que seria a
pelo seu formato e usos. Servindo-se de elementos simples – chanfros a 45º, avanço do
volume do corpo do edifício, colunas circulares e transparência nos planos verticais dos
dimensão urbana.
Entende-se por legítimo, na dimensão urbana, o sentido das esquinas (em ângulo de
45º), que permite boa visibilidade junto às faixas de travessia, aumentando a segurança do
movimento dos pedestres que entram no edifício dos que passam, assim como comporta e
acomoda pessoas que estejam à espera para atravessar a rua e outras que estão em pé ou
esquina – ao nível dos olhos –, que poderá ser gerada a partir da reprodução deste desenho
568
Espaços flexíveis / versáveis que podem ser pequenos comércios e serviços, espaços de co-working,
entre outros usos diversos. Possuem 46 a 67 m2 e podem ser conjugados.
569
Sobre espaço de transição, gerado pelo afastamento dos edifícios em relação à calçada, ver item
II. 4.1 – Acessos – Intervalo / espaço e transição.
365
QUADRO 60 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade. Proposta ateliê
Zoom – SP.
366
QUADRO 61 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade. Simulação de um
cruzamento conformado por quatro edifícios com o térreo recuado nas esquinas. Proposta ateliê
Esquadra – DF.
367
somando 76,57% de área não residencial (2.564 m2) na proposta do ateliê Zoom e 72,74%
(em média), para os flex spaces, mais a creche e o café, que ocupam áreas maiores, na
portas de entrada para os pedestres, criando linhas verticais na fachada destes pisos. A
grande quantidade de portas – ao nível do térreo – é vista como um fator positivo, uma vez
que auxiliam na criação de um ritmo (enquanto critério de ordem), assim como exprimem o
uso interior deste pavimento que é voltado à criação de um ambiente vibrante e variado ao
Zoom. Tal característica possibilita uma nova unidade, com diferentes funções, acontecendo
a uma média de 10m de distância entre si na proposta do ateliê Esquadra e uma média de
do piso térreo de ambas as propostas, posto que são elementares para criar “vida e variação
570
Gehl (2006) recomenda a existência de 10 entradas de pedestres a cada 100 metros. CNU (2018)
recomenda uma entrada a cada 20 metros de fachada do edifício ao longo da calçada.
368
blocos e torres plurifamiliares de acesso coletivo, os quais distribuem de dois a seis unidades
Nota-se, nestes agrupamentos dos apartamentos por piso, que a maior parte dos
acessos é feita através de um patamar fechado e com dimensões reduzidas, o que não
contribui em nada na interação entre o exterior e interior, e muito menos para criar condições
lembrar que, no Brasil, existe uma grande resistência, por parte do setor imobiliário, em
propor esta diversidade num mesmo conjunto residencial. Contudo, é pertinente aqui
destacar que este é um tema já incorporado nas premissas do Novo Urbanismo e incluso,
pelo seu componente social, nas avaliações de fundos imobiliários571, por exemplo.
implantação dos primeiros empreendimentos –, planeja que esta mistura aconteça por blocos
e não nos blocos ou torres, adotando uma postura mais conservadora em relação às
que esta premissa seja mais evidenciada nas incorporações, segurando seu pertencimento
Ideia 1, a quebra de escala, através do arranjo e forma dos edifícios – um conjunto de blocos
e torres que circundam uma barra (as townhouses). Nesta composição, fica evidente o caráter
de residencialidade, utilizando uma expressão de Batista Coelho (2000, p. 351), que será
571
Fundos imobiliários recebem investimentos, muitas vezes internacionais, os quais buscam investir
em projetos e empreendimentos que apresentam padrões de ocupação e/ou estejam comprometidos
com o ESG (Environmental, Social & Governance).
572
Entrevista realizada em 13 de março de 2021, via G-meet.
369
formado junto às vias internas no momento que forem, por exemplo, espelhadas as propostas
Nesse âmbito, sobre as vias internas – área pública de domínio privado, pode-se
afirmar que, entre outras funções relativas à conexão, ao acesso aos estacionamentos e
garagens dos moradores e ao aumento da dinâmica urbana573, exercem uma função principal
no Urbitá, que é de estabelecer lugares entre os edifícios, onde a vida comunitária possa se
desenvolver574.
Conforme Ricardo Birmann575, a ideia é que as vias internas, contornadas por edifícios
mais baixos – com tipologias de “vilas” (seis casas de cada lado com acessos privados de
frente para a rua) –, transformem-se em um espaço quase privativo576 destas casas, onde as
Nessa perspectiva, a via interna pode integrar-se aos pátios internos dos conjuntos de
blocos e torres habitacionais numa mistura de diversidade de atividades que podem ser
(blocos) e de grande altura (torres), e suas disposições nos sítios demonstraram-se, nas três
propostas, coerentes com o caráter das zonas em que se inserem, com as vias que o
Dessa forma, objetiva-se que estes primeiros edifícios sirvam de parâmetro para o
573
Sobre vias internas: Item II. 1.2 – Rede viária – vias internas; Item II. 1.2 – Calçadas, caminhos de
pedestres e ciclovias e item II. 3.1 – Parcelas e Edificado – Configuração dos quarteirões.
574
Ver sobre praças e alamedas internas no item II. 1.2 Conexões – Rede Viária – Vias internas.
575
Entrevista com Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP –, realizada em19 de agosto de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
576
Com a expressão “quase privativo”, Ricardo refere-se à possibilidade das vias internas (de alguns
quarteirões) terem um fechamento / controle de acesso somente aos moradores e/ou em
determinadas horas do dia. Ver mais sobre este tema no item II. 1.2 – Conexões – Rede Viária – Vias
internas.
370
proposto pelo ateliê Esquadra – blocos e torres residenciais, os quais erguem-se e avançam
sobre uma ‘base’ contínua (piso térreo) – é o mais adequado, uma vez que os edifícios se
O modelo proposto pelo ateliê Esquadra traz uma combinação das qualidades dos
permeabilidade visual.
Em relação aos limites dos edifícios, onde acontece a interface entre o interior e o
ateliê Esquadra, uma incoerência no uso estipulado para a principal esquina – torre D – entre
andar.
as essenciais: a ampliação da base – dois andares ou piso térreo e/ou mais um pavimento de
embasamento a partir de uma determinada altura e maior cautela com as arestas e vértices,
materiais e elementos dentro do próprio edifício. Isso torna-se ainda mais relevante, ao
menos heterogênea do bairro e evitar que cada edifício se torne uma coleção de estímulos
visuais.
371
em que suporta o desenvolvimento do uso misto, o qual necessita de uma densidade mínima
238 UH/ha) conferida nas propostas analisadas, ainda há condições de aumentá-la, sobretudo
bairro, isto é, à redução de tráfego individual, ao estímulo dos destinos a pé, à proximidade
outros benefícios.
Tendo em conta que o piso térreo faz parte da “esfera pública”, e que esta tem um
significado maior de que espaço público, incluindo as fachadas dos edifícios e tudo que pode
ser visto ao nível dos olhos – utilizando as palavras de Hans Karssenberg et al. (2015, p. 15),
para bons plinths, com variedade de funções que serão desenvolvidas nos compartimentos
do piso térreo, com a integração dos espaços internos aos espaços externos públicos (através
Conforme Filipe B. Mont Serrat578, nesse ponto, é pertinente lembrar que, num
577
A previsão de densidade bruta média relativa à centralidade (Etapa 01) é de 202 UH/ha. A previsão
de densidade bruta média total do novo bairro é de 180 habitantes por hectare, considerando uma
área de 658,70 hectares e uma população de 118.607 habitantes. Ver item II.3.1 – Parcelas e Edificado
– Usos especiais.
578
Entrevista com Filipe B. Mont Serrat – Diretor-Presidente da Esquadra Arquitetos – realizada em 03
de dezembro de 2020, Brasília, DF (via G-meet).
372
instalar toda a variedade de comércio e serviços que se almeja. Assim, foi pensado que estes
espaços possam servir (inicialmente) como áreas de usos comuns para os moradores até que,
(compartimentos) que compõem o piso térreo (de ambas as propostas) possuem um desenho
imobiliário, assim como responder, de modo mais rico e variado, às necessidades dos
usuários.
Como um ponto negativo, observa-se que os pisos térreos não são tratados como um
embasamento de fato – o qual deveria ser composto pelos dois primeiros andares, ao menos
nas zonas mais centrais. Ainda, entre o embasamento e o corpo do edifício, poderia ter um
pavimento de uso coletivo (terraço), com o propósito de evitar lajes que aparecem no projeto
do ateliê Esquadra, por exemplo – entre blocos e torre – que, aparentemente, não beneficiam
nenhum apartamento579.
Como já visto nos tópicos anteriores, a organização dos edifícios em cada meio
modo que os edifícios sejam os elementos de modelagem dos espaços abertos. Nesse
sentido, um ou mais pátios internos fazem parte da composição dos espaços entre os
579
Conforme Filipe B. Mont Serrat, a ideia é que estas lajes sejam ajardinadas, melhorando o aspecto
visual dos apartamentos que estão nos pavimentos superiores, assim como auxilia na redução do calor.
373
Optou-se por realizar a análise das implantações apresentadas pelos ateliês Esquadra
e Zoom, dado que suas tipologias e organização dos edifícios no meio quarteirão favorecem
ordenamento e uma associação entre eixos de circulações, espaços livres abertos e edifícios,
Verifica-se, na proposta do ateliê Zoom, que esta organização tem sua origem, e parte
de sua definição, nas características da posição do sítio (zona A), o qual está localizado entre
a zona Parque e a zona Centralidade, atuando como elemento de transição entre essas duas
Nesse sentido, propõe a divisão do lote em dois “donuts”, criando uma rua de
pedestre entre os dois conjuntos de volumes, reforçando o caráter de área mais calma e
residencial na parte Norte (em direção à zona Parque) e um caráter mais ativo – com
equipamento, comércio e serviço – para o lado Sul (em direção à zona Central), que possam,
Consideram-se pertinentes as premissas utilizadas pelo ateliê Zoom, que derivam dos
recorrências, de forma que tanto os edifícios quanto os espaços abertos sejam partes
indissociáveis de um todo582.
Assim sendo, nota-se algum desequilíbrio583 (sobretudo nos eixos de acesso ao miolo
do meio quarteirão) no que condiz às proporções entre espaço livre e espaço construído.
580
Sobre as características da zona Parque, zona A e zona Centralidade, ver item II. 2.1 – Morfologia /
Tecido urbano – Distritos de zoneamento.
581
Percebe-se uma repetição na modulação 8m x 8m, que coincide com o tamanho de algumas
unidades habitacionais, mas não existe uma regra que seja seguida em todo o conjunto.
582
O uso de sistemas ordenadores tem grande relevância, na medida em que possibilita o
entendimento do observador, permite resolver problemas arquitetônicos com a mesma estrutura
formal e ajuda a reduzir a margem de arbitrariedade das decisões projetuais, favorecendo a disciplina
e a lógica formal – usando as palavras de Mahfuz no texto: Sistematicidade, 2009.
583
Esse desequilíbrio, aqui referindo-se à largura da brecha entre os edifícios S1 e S2, que tem um
potencial de ser uma entrada principal – mas que não está tratada como tal (ao menos no corpo do
edifício).
374
no perímetro do lote (meio quarteirão), sendo resultado da intenção de ativação das fachadas
seis platôs (no sentido longitudinal) que vencem um desnível total de 2,70 metros entre eles.
Tal estratégia possibilita percursos acessíveis aos pedestres que chegam da calçada para
acessar as portarias dos edifícios e às fachadas voltadas para a rua, sempre em nível.
A partir daí, observa-se que a organização da implantação segue (em parte585) uma
ordenação que é identificada através da fácil percepção da recorrência de medidas (5m x 5m)
e suas localizações, as quais formam um sistema compositivo que auxilia a orientar e definir
(com mais rigor), desde as partes maiores, até as partes menores do projeto, em especial dos
espaços abertos.
584
Sobre o pátio interno, ver próximo item – Espaços de uso comum.
585
Em parte, porque a modulação acontece na organização dos espaços abertos, mas não nos volumes
(espaços construídos).
375
internos – presentes nas duas propostas – formados a partir da disposição dos edifícios. Esta
de criar espaços externos positivos – utilizando as palavras de Alexander (2013 [1977], pp.
518-523).
Verifica-se a conformação desses espaços positivos, nas duas implantações, visto que
criam ambientes externos com formas distintas e bem definidas, contornadas por blocos,
torres e barras. Esta constituição tem sua gênese, como já dito, na ideia inicial para os tipos
que os pátios internos, estabelecidos pelo ateliê Zoom, possuem um desenho mais
pertinente, visto que a razão entre largura e comprimento é de 1:2,5 e 1:2, bem como
aproximadamente, 1:5587, e a conexão física (com ligação direta para a rua) dá-se somente
para a via interna. Para minimizar este eixo dominante no desenho do pátio interno, é
apresentada uma subdivisão do pátio em dois níveis diferentes conectados por uma rampa,
interno, acontece por meio de espaços livres entre os blocos e torres. Essa ideia dos vãos
partir do primeiro andar – de fazer estender o ângulo de visão em um “aqui” (no pátio) e um
Além da comunicabilidade física e visual, percebe-se – nas duas propostas – que estas
abertos – no miolo do quarteirão –, bem como do conjunto construído, pelo fato de cada
586
Ver mais sobre pátios internos no item – Espaços de uso comum.
587
De acordo com Carmona (2013), p. 179, quando a relação largura-comprimento dos espaços
urbanos positivos no plano for maior que 1:3, um eixo começa a dominar, possibilitando um sentido
de movimento, numa perspectiva mais dinâmica de configuração de rua do que de praça.
377
bloco e torre possuir quatro fachadas. No caso do ateliê Esquadra, é ainda mais interessante
observou-se, por meio de perfis transversais dos quarteirões, uma boa relação (razão) entre
largura dos espaços externos abertos e as alturas dos edifícios, sendo: proporção de 1:1,47
interna e as alturas dos edifícios adjacentes a estas, uma vez que permitem vistas externas
contidas propiciando uma sensação de fechamento. De acordo com Carmona (2013, p. 183),
a relação 1:1 é frequentemente adotada e considerada como mínima para ruas urbanas
confortáveis.
No que diz respeito aos pátios internos, foram verificadas razões de 1:1,5 e 1:0,67 na
proposta do ateliê Esquadra e 1:1,45 e 1:2,5 na proposta do ateliê Zoom. Isso demonstra um
cuidado e esforço, por parte dos projetistas, com a escala e seus efeitos na combinação da
entanto, observando as orientações de Gehl (2014, p. 55), que recomenda que a proporção
entre altura dos edifícios e a largura dos pátios internos não deve ser inferior a 1:1, percebe-
se algum desacerto na proposta do ateliê Esquadra (no pátio interno – na relação com o
bloco C), e na proposta do ateliê Zoom (na relação entre os blocos S1 e S2 com a rua interna).
É importante destacar que mesmo com boas relações entre largura e comprimento
dos espaços abertos, e entre largura e as alturas dos edifícios, a implantação apresentada
pelo ateliê Zoom é menos favorecida do que a proposta desenvolvida pelo ateliê Esquadra,
no que diz respeito à orientação solar. No caso do ateliê Zoom, os edifícios de maior altura
oposto da avenida Sobradinho –, a relação da implantação das torres e pátio interno é mais
378
favorável (no que interessa à boa orientação solar), uma vez que se localizam a Sudeste,
Identifica-se, também, nesse contexto, que os ângulos formados pela razão entre a
largura dos pátios internos e as alturas dos edifícios variam entre 29º e 43º na proposta do
ateliê Esquadra e 33º e 47º na proposta do ateliê Zoom. Estes valores apresentam-se mais
adequados na proposta do ateliê Zoom, uma vez que ultrapassam a relação de 1:1 - 45º (a
Aqui, importa salientar que se faz uma análise ambígua, uma vez que, para aumentar
Nessa perspectiva, Ricardo Birmann588 esclarece que o estudo da insolação dos pátios
internos não foi preponderante, ficando mais em segundo plano no rol de diretrizes
da insolação torna-se complexo porque, por vezes, choca-se com certos objetivos, como por
exemplo: os edifícios com maior altura e de maior densidade devem estar voltados para a
avenida principal (Sobradinho), o que gera, como consequência, melhor ou pior orientação
588
Ricardo Birmann – Diretor-Presidente da UP – Entrevista realizada em 26 de outubro de 2020,
Brasília, DF (via G-meet).
589
Considerado o clima tropical de Brasília, onde as temperaturas são elevadas: as temperaturas
podem variar de 35º C nos meses mais quentes e cerca de 15º C nos meses mais frios –
https://www.ibge.gov.br/geociencias/informacoes-ambientais/climatologia.html.
379
QUADRO 63 Pátios internos – proporção entre largura e comprimento. Razão entre larguras de ruas
e largura do pátio interno com as alturas dos edifícios. Estudo da insolação. Proposta ateliê Zoom.
380
QUADRO 64 Pátios internos – proporção entre largura e comprimento. Razão entre larguras de ruas
e largura do pátio interno com as alturas dos edifícios. Estudo da insolação. Proposta ateliê Esquadra
381
No primeiro item desta seção, foram apresentados alguns fatores físicos das
de ambientes e atividades que serão previstas a fim de que, no futuro, aconteça uma
abertas foi abordado de duas formas distintas: a proposta do ateliê Esquadra partiu da ideia
públicos590 e, nesse sentido, o tratamento dado aos pátios internos traz um caráter de praça.
Já, na proposta de ateliê Zoom, observa-se que o programa dos pátios se volta às
necessidades dos moradores – que é, como já dito, uma cultura do adquirente de imóveis no
Brasil –, com a expectativa de ter, no seu imóvel, uma série de usos, como por exemplo: áreas
dos moradores, a ideia do ateliê Zoom é que esse atendimento possa ter uma abrangência
importa mais que o número de pessoas ou o número de eventos, foi apresentada, pelos dois
ateliês, uma variedade de possíveis atividades que corroborem com esta premissa – de
590
Conforme Filipe B. Mont Serrat, a partir das tipologias de quarteirões estabelecidas pela UP, um
modelo que serviu como inspiração para o projeto foi Barcelona – com pátios internos servindo como
praças públicas.
591
Sobre usos dos pátios de centro do quarteirão, ver mais no item II 3.1 Parcelas e Edificado –
Configuração dos quarteirões.
382
pessoas. Nesse âmbito, identifica-se que as atividades foram organizadas por agrupamentos
sendo:
academia e piscina de uso coletivo, localizadas no piso térreo; E uma segunda área equipada
com churrasqueiras, áreas de estar, playground, jardins e hortas comunitárias junto ao pátio
da creche. Esta segunda área tem um caráter mais variado e possibilita a integração entre
A área destes espaços (dois pátios) de uso comum é de 657 m2. Somam-se, a esta
vivo e animado (com equipamentos motivadores); e um outro espaço mais recatado – num
nível mais elevado (possibilitando a vista para o primeiro espaço) –, pensado para atividades
A área destinada para este espaço aberto é de 405 m2. Além desta área, ainda fazem
parte dos espaços de uso comum as circulações e os recuos frontais das townhouses –
adjacentes à rua interna, perfazendo (em conjunto com os afastamentos frontais) 39,11% de
592
A Taxa de Ocupação (TO) é de 53,59%.
593
Quanto aos equipamentos e mobiliários, sua disposição no espaço, seus dimensionamentos e
detalhes em geral, não é possível a análise, pois serão objeto de futuros projetos, mais
pormenorizados.
594
A Taxa de Ocupação (TO) é de 60,89%.
383
Estacionamento
bairro motiva a subdivisão dos quarteirões em duas ou mais parcelas – as quais serão
concretizadas mediante travessias (vias internas). Nesse universo, das alamedas internas, foi
estabelecido pela UP que os desenhos para estas áreas priorizassem a escala humana, e que
À vista disso, assim como pela localização dos meios quarteirões – T-zone (T5),
dando a continuidade à análise dos espaços de uso comum, optou-se por apresentar a análise
Nesse universo, e como ponto positivo da posição dos acessos dos automóveis pelas
vias internas (nas duas propostas), é útil lembrar o que já foi escrito sobre a estratégia da UP
– para todo o empreendimento –, em ter uma malha de ruas A/B, onde as ruas “A” devam
as ruas do tipo “B” (vias internas ao quarteirão), onde são acomodados os serviços de
conceito de rua compartilhada597 –, verifica-se uma cautela, por parte dos projetistas dos dois
que os automóveis se dirijam até as casas – como é o caso da proposta do ateliê Esquadra,
595
Sobre as vias internas, ver item II. 1.2 Conexões – Rede viária – Vias internas.
596
Sobre ruas A/B, ver item II. 1.2 – Conexões – Rede viária – Calçadas, caminhos de pedestres e
ciclovias.
597
Sobre conceito de ruas compartilhadas, ver item I. 1.2 – Conexões – Rede viária e II. 1.2 – Conexões
– Rede viária – Via compartilhada.
385
estar situado na extremidade da via interna. Tal configuração mostra-nos que o fluxo de
automóveis junto aos espaços de uso comum – onde as crianças poderão brincar – será
irrisório, considerando que entram apenas os moradores de seis598 UH, as quais possuem
No caso da proposta do ateliê Zoom, é notável que o fluxo de automóveis será maior
por três motivos: o primeiro, é relativo ao fluxo estabelecido da entrada e saída (em
extremidades opostas) das garagens no subsolo599 – utilizando dois espaços da rua interna; o
segundo, pelo fato de que a rua interna conecta a rua transversal ao quarteirão – área de
presença de vagas de estacionamento paralelo na rua interna, o que poderá atrair, inclusive,
No que tange ao número de vagas previstas, é constatada uma relação de 1,7 vagas
para automóveis por unidade habitacional (194 vagas / 114 UH600) na proposta do ateliê
Esquadra, e 2 vagas por unidade habitacional (332 vagas / 164 UH) na proposta do ateliê
Zoom.
de vagas para automóveis deve ser igual ao número de unidades habitacionais, mais cerca
de metade desse número para estacionamentos destinados a pessoas com dificuldades nas
condizente que a proposta do ateliê Zoom (que apresenta um número elevado de vagas).
Também, é importante destacar que esta relação, em Brasília, é regida pelo Código
598
Sobre o número seis, é pertinente citar as recomendações de Alexander (2011 [1977] p. 505),
quando escreve sobre “a partir de quantas vagas um estacionamento se torna grande demais” e
explica que uma coletânea de, no máximo, cinco ou sete objetos pode ser percebida como uma única
coisa, e os objetos desse conjunto podem ser vistos como individuais. Já um conjunto maior do que
cinco ou sete objetos é visto como “muitas coisas”.
599
O subsolo possui 332 vagas, isso significa um número elevado de automóveis entrando e saindo
diariamente.
600
Correspondente às unidades habitacionais (UH) distribuídas nos edifícios plurifamiliares.
601
Código de Obras e Edificações – COE do território do Distrito Federal – Lei nº 6.138, de 26 de abril
de 2018.
386
habitacionais com área superior a 60m2. Assim sendo, as necessidades de vagas para os
Contudo, importante lembrar que, para além dos condicionantes legais, o novo bairro
integrados ao uso e ocupação do solo, o que encoraja afirmar que as vagas para
custo de cada unidade habitacional (se comercializadas em conjunto com a UH), assim como
sistema de transporte, provavelmente, não estará funcionando na sua plenitude. Por esse
sustentável604.
Além das vagas para automóveis, e de acordo com a premissas do novo bairro – de
acolher as bicicletas – são previstas, nos edifícios, vagas para bicicletas, sendo estas
localizadas na garagem (42 vagas no projeto do ateliê Zoom), e 58 vagas (localizadas no piso
602
Sobre sistema de transporte público coletivo para o Urbitá, ver item II. 1.2 – Conexões – Transporte
público, coletivo, individual e alternativo.
603
Sobre ciclovias para o Urbitá, ver item II. 1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e
ciclovias.
604
Urbanismo sustentável sob a ótica da integração do uso do solo e as redes de infraestrutura e
serviços, aproximando pessoas e seus destinos e atividades principais, promovendo a mobilidade
sustentável (deslocamento a pé, o uso de bicicletas e do transporte público) e diminuindo distâncias e
os tempos de viagens diárias.
387
QUADRO 66 Garagens subterrâneas – Proposta ateliê Zoom -SP (plantas) e Esquadra – DF (plantas
e perspectiva mostrando acesso à garagem subterrânea).
388
de uma organização embasada no partido volumétrico básico escolhido para o novo bairro –
o bloco de perímetro (edifícios que privilegiam a ocupação dos perímetros dos quarteirões
ao seu centro). Essa premissa tem sua essência na correlação do edifício com a rua, bem
Por esse ângulo, e considerando que a qualificação dos espaços de uso comum
depende, entre outros fatores, de uma clareza de ordenamento, adequação à escala humana
e conforto ambiental, nota-se uma solução mais pertinente na proposta do ateliê Esquadra.
Quanto à ordenação, embora não tenha sido usado um sistema ordenador mais
Esquadra – uma disposição maior (por parte dos arquitetos) em integrar a soluções de
sistematicidade605.
propostas do ateliê Esquadra e Zoom. Isso, porque leva-se em consideração que quanto mais
claras e visíveis são as partes que compõem um conjunto, maior será a sensação de
Somam-se a isso os ganhos sociais no conjunto de habitações, visto que estas partes
(torres, blocos e barras) se conectam por meio do pátio interno – de um modo mais privativo
Ainda, esta divisão do conjunto em partes, nas duas propostas, com blocos e torres
não contínuos, favorece melhores condições climáticas ao pátio central. No caso do ateliê
605
De acordo com Mahfuz (2003), o conceito de sistematicidade deve ser incorporado no pensamento
projetual contemporâneo através do uso de um sistema ordenador que contribui para alcançar a
autenticidade do projeto.
606
Sobre legibilidade – cada parte do conjunto está associada à um acesso e, portanto, a um núcleo
de circulação vertical –, ver item II. 4.2 – Tipo e Forma dos edifícios – Composição formal dos edifícios.
389
Zoom, a existência da permeabilidade (física e visual) – a partir dos pátios centrais aos eixos
partes e com variedade de tipologias de edifícios, a proposta do ateliê Zoom apresenta uma
escassa insolação dos espaços externos. Isso deve-se ao arranjo dos edifícios no sítio em
dos conjuntos serão parte de um plano urbanístico maior, o qual propõe607 uma rede de
espaços públicos abertos que os conectam nas diferentes escalas, propiciando a vida ao ar
livre para os moradores, considera-se menos relevante a escassa insolação do pátio interno
Relativamente à concepção geral das áreas abertas propostas pelos dois ateliês,
embora ainda com poucos elementos de projeto detalhados, consideram-se positivas, tanto
pela diversidade, pela acessibilidade (para e entre os espaços abertos), pelas superfícies
verdes permeáveis e pela legibilidade, uma vez que – pelas suas características – mostram-
se claramente identificáveis.
funcional do pátio interno, é pertinente notar que ambas as propostas têm pertinência no
que interessa ao apoio à futura estrutura social do conjunto, na medida em que a ordenação
e composição das áreas abeciartas modelam-se em torno desses objetivos (do encontro e da
permanência).
proposta do ateliê Esquadra e 46,41% na proposta do ateliê Zoom. Este percentual colabora
607
Sobre rede de espaços públicos abertos, ver item II. 3.1 – Parcela e Edificado – Usos especiais.
390
para que as áreas privadas não dominem psicologicamente o conjunto, utilizando a expressão
do ateliê Esquadra, e 150 UH na proposta do ateliê Zoom, é possível concluir que os espaços
Sobre Estacionamento
vagas atrás dos edifícios – acessados pela rua interna – é considerada adequada, uma vez
que auxilia na construção de lugares mais humanos e com um menor impacto no desenho
Essa solução também colabora com a boa caminhabilidade nas calçadas públicas,
contribuindo para uma caminhada mais agradável, em razão da não interrupção (ao menos
e mais segurança para a via interna e para o conjunto em geral, bem como não configuram
um território dominado pelo automóvel, pelo pequeno percentual que corresponde a este
tipo de estacionamento.
Sobre o caráter das vias compartilhadas, tanto no projeto do ateliê Esquadra, quanto
no do ateliê Zoom, não há elementos de projeto suficientes para uma análise mais detalhada,
como por exemplo: texturas dos pavimentos, níveis, arborização e vegetação, mobiliários,
iluminação, entre outros. Segundo Ricardo Birmann, hoje, os projetos das vias internas estão
num nível conceitual; no entanto, serão ainda revistos e, assim que aprovados, desenvolvidos
A zona T5, por ser a área da centralidade, necessita da continuidade no fluxo de pedestres, sendo
608
benéfico às áreas de comércio e serviço localizadas nos pisos térreos dos edifícios.
391
novo bairro e que, muito provavelmente, a rede de transportes públicos não estará ainda
implantada em sua totalidade, nem outros meios de locomoção, entende-se que o automóvel
A respeito das vagas para bicicletas, observou-se que, tanto o Manual de Diretrizes
preveem uma vaga de estacionamento de bicicletas por unidade residencial. Entende-se que
ND609, que estabelece um número menor de vagas para as bicicletas nos edifícios.
O LEED Neighborhood Development (LEED – ND) estabelece a quantidade de vagas para bicicletas
609
de 2,5% da população de pico a curto prazo, e a quantidade de vagas de bicicletas de 30% dos
usuários a longo prazo.
392
na grelha avaliativa através de uma barra – semelhante a um termômetro – que deriva das
cores do semáforo (com quatro cores) e das medidas de uma régua (com quatro partes).
cada indicador e/ou elementos de projeto. Esses percentuais são assim estabelecidos: 0 –
sugere que um ou mais aspectos do projeto precisam ser considerados e revistos; “amarelo”
dos elementos que o compõem; e “verde” preconiza que os critérios e elementos de projeto
foram bem resolvidos diante dos parâmetros estabelecidos610. Para os elementos de projeto
que precisam ser revisados (no caso dos “vermelhos”, “laranjas” e “amarelos”), é
apresentada uma breve descrição (ver apêndice 03) embasada nos Parâmetros de qualidade
610
Ver tabela 07 - Grelha avaliativa: Escala da cidade, bairro, quarteirão e edifício.
393
resultados de uma equação simples (com média aritmética) para cada indicador, a partir de
seus elementos de projeto, e seus subitens (ver apêndice 03). No entanto, fica evidente, na
leitura da grelha avaliativa, que todos os indicadores e elementos de projeto alcançaram uma
avaliação que corresponde a 75% ou mais – ilustrados com a cor verde –, o que demonstra a
pertinência do projeto do novo bairro Urbitá, na busca da qualidade dos espaços em áreas
bairro Urbitá, Brasília – realizar uma síntese final desta avaliação, sobretudo salientando os
aspectos menos positivos identificados para cada um dos indicadores e elementos de projeto
• Ao nível do sistema viário complementar se pode apontar que por um lado, não há um
quarteirões; por outro, não há uma solução definida, tanto no âmbito do desenho da
estrutura física, quanto da gestão – do sistema operacional, no que diz respeito ao acesso
quarteirões.
que diz respeito às fachadas ativas, na proposta de um intervalo de 50 metros entre portas
também, no quesito das calçadas seguras, considera-se que a distância da faixa de travessia
• Ao nível da rede cicloviária, percebe-se a intenção nos desenhos dos perfis das vias, no
abertos).
395
• Ao nível da mobilidade sustentável é possível apontar que não há, até ao momento, um
• Aos gateways, na medida que se notou a necessidade de integrar esta ideia aos demais
cruzamentos que fazem parte da Zona Central: entre a DF - 425 e a avenida Ushuaia e entre
a DF - 425 e a avenida Quito, ambas vias estruturais de circulação que prevêem a ligação do
Manual de Diretrizes Arquitetônicas que possui um caráter privativo e local, para este
falta especificar, no projeto, quais são os quarteirões / lotes destinados aos equipamentos de
humana a fim de minimizar a forma gerada pelo avanço do volume do corpo do edifício acima
do piso térreo. Identifica-se a falta de uma cobertura mais baixa, o que proporcionaria uma
especialmente na proposta do ateliê Esquadra – DF: verifica-se uma baixa demarcação física
•A conexão dos pisos mais altos com a rua através do sistema de circulações – notadamente
na proposta do ateliê Zoom – SP: Existe uma baixa conexão entre a porta de entrada de cada
habitação e o solo (através dos patamares), encerrando a ideia de fazer desses patamares
• Na escala do Edifício, a avaliação do indicador tipo e forma dos edifícios não se encontra
Esquadra - DF e Ideia 1 – POA: Nota-se, nos conjuntos dos apartamentos por piso, que a
maior parte dos acessos são feitos através de um patamar fechado e com dimensões
reduzidas, o que não contribui em nada na interação entre o exterior e interior, e muito menos
• Na composição tripartida dos edifícios – nas propostas dos ateliês Esquadra – DF, Ideia 1 –
andares ou piso térreo e/ou mais um pavimento de transição (um terraço de uso coletivo); o
e maior cautela com as arestas e vértices, particularmente nas esquinas. Sobre o topo e
do próprio edifício. Isso torna-se ainda mais relevante, ao prospectarmos o cenário futuro -
• Na composição formal das esquinas – nas propostas dos ateliês Esquadra – DF, Ideia 1 –
POA e Zoom – SP: O resultado formal não parece o mais adequado, uma vez que os limites
verticais laterais do corpo dos edifícios seguem ângulos ortogonais, sem maiores
cada andar. Nesse ponto é possível afirmar que, dois dos projetos analisados (dos ateliês
• Na interface entre interior e exterior – nas propostas dos ateliês Esquadra – DF, Ideia 1 –
POA e Zoom – SP: Nota-se que, em relação aos limites dos edifícios (fachadas) – onde
acontece a interface entre o interior e o exterior – uma incoerência no uso estipulado para a
• Nos blocos de perímetro (embasamento ininterrupto) – nas propostas dos ateliês Esquadra
– DF e Zoom – SP: Verifica-se que os pisos térreos não são tratados como um embasamento
de fato - o qual deveria ser composto pelos dois primeiros andares, ao menos nas zonas mais
uso coletivo (terraço) – como já comentado no item da composição tripartida dos edifícios –
com o proposito de evitar lajes que aparecem no projeto do ateliê Esquadra, por exemplo –
Não apresenta um sistema de modulação facilmente identificável que possa decorrer por
recorrências, de forma que, tanto os edifícios quanto os espaços abertos sejam partes
que a organização da implantação segue (em parte) uma ordenação que é identificada
através da fácil percepção da recorrência de medidas (5m x 5m) e suas localizações, as quais
formam um sistema compositivo que auxilia a orientar e definir (com mais rigor) desde as
partes maiores até as partes menores do projeto, em especial dos espaços abertos.
público e da rede cicloviária integrados ao uso e ocupação do solo, é possível afirmar que as
dos técnicos-especialistas
ideias dos autores estudados (Parte I da tese), o Estudo de Caso demonstrou-se eficaz na
ideias dos autores estudados (Parte I da tese), no resultado das entrevistas realizadas ao longo
da análise do Estudo de Caso – no período de 2019, 2020 e 2021 – com Ricardo Birmann,
e com os arquitetos de dois escritórios, os quais tiveram seus projetos mais explorados e
apresentados na tese, nos aspectos relativos à escala do edifício: Filipe B. Mont Serrat –
Paulo – SP.
elaboração dos projetos urbanísticos e arquitetônicos do novo bairro Urbitá, assim como à
sua implementação. Foram extraídas, a partir dessas entrevistas, linhas orientadoras, nas
2021, intitulada: UrbLab 2021 – Melhores práticas urbanas e ambientais para as cidades do
399
bairro Urbitá, feita pelo Centro de Tecnologia de Edificações (CTE)612, com o objetivo de
Sustainable SITES, Fitwel Community, LEED Cities & Communities e LEED Neighborhood
Development (LEED-ND)613.
Junto a este diagnóstico, a CTE apresentou uma simulação da pontuação para cada
colocado – que os incentivos, no Brasil, são incipientes, tanto no que se refere aos estudos e
pesquisas nesta área, quanto ao que compete aos incentivos fiscais para os
611
Participaram desta reunião: Myriam Tschiptschin, Arquiteta e Urbanista, Gerente da Unidade de
Smart Cities e Infraestrutura Sustentável do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) e
Coordenadora do curso de Smart Cities do Instituto Europeu de Design (IED); Patricia Eiko Aguchiku,
Arquiteta e Urbanista, Consultora Start Cities do CTE; Mirella Glajchman, Bióloga, Gestora Meio
Ambiente da UP; Lahys Rocha Miranda, Arquiteta e Urbanista, Gestora Urbanização da UP,Ricardo
Birmann, Diretor-Presidente da UP, Filipe B. Mont Serrat, Arquiteto e Diretor-Presidente da Esquadra
Arquitetos, Brasília – DF e Gabriel Grandó, Arquiteto e Diretor do Ideia 1 Arquitetura – POA.
612
Centro de Tecnologia de Edificações (CTE) - SP: Empresa de consultoria e gerenciamento em
qualidade, tecnologia, gestão, sustentabilidade e inovação para o setor da construção.
613
O sistema LEED-ND é uma colaboração entre o Gren Building Council dos Estados Unidos da
América, o Congresso para o Novo Urbanismo e o Conselho de Defesa de Recursos Naturais. O LEED-
ND reconhece projetos de bairros e comunidades residenciais que protegem e melhoram o ambiente
urbano e a qualidade de vida. O sistema de classificação incentiva o crescimento inteligente e as
melhores práticas do Novo Urbanismo, assemelhando-se aos indicadores estabelecidos na tese.
400
escalas do habitar – da escala da cidade à escala da casa – são eficientes para a promoção
recomendações essenciais
p.88) – por uma certa paisagem urbana, por um certo conteúdo social e por uma função
própria. Embora seja determinado por um caráter distinto de uma determinada área,
necessita estar integrado à cidade, assim como – na sua organização interna – deve incorporar
e integrar (física e socialmente) os componentes da estrutura urbana nas demais escalas (da
tendo relação com ser íntegro, inteiro ou completo, a obtenção da integridade dos projetos
Dessa forma, para a obtenção dessa qualidade (da integridade), considera-se, como
estabelecimento de um vínculo físico e social entre as pessoas e a estrutura urbana. Este nexo
– físico e social – é atingido por meio da integração planejada, inovadora e inclusiva entre os
quais são as situações que criam lugares relacionais, identitários, inclusivos, seguros,
Essas propriedades – tanto as de caráter mais físico, quanto as de caráter mais abstrato
cidade, em uma relação mútua, ativa e recíproca entre espaços privados, semiprivados,
semipúblicos e públicos.
recomendações dá-se por meio de quatro tópicos: O bairro compacto; O bairro completo;
arquitetônico – pode ocorrer. Entende-se que é através dessas ‘regras fortes’ que se pode
garantir o alcance da qualidade urbanística e arquitetônica de projeto para novos bairros sob
contemporâneo.
elementos de projeto, dos princípios de projeto e da relação que se estabelece entre eles.
Dessa forma, os seis elementos essenciais de projeto que colaboram de forma mais direta
com cada princípio têm um dos lados tangenciando o ‘hexágono’ relativo ao princípio a que
participam, enquanto outros estão num segundo nível. Também, existem alguns elementos
de projeto que tangenciam com mais do que um princípio, pois contribuem para o alcançar
de ambos os princípios.
402
O bairro COMPACTO
Considera-se um bairro compacto quando:
urbano, uma extensão urbana ou uma regeneração) esteja em conformidade com as diretrizes
Sobre a localização do novo bairro aconselha-se ainda que a área escolhida para a
implantação do projeto esteja próxima a serviços diversos existentes, assim como esteja
demanda. Ver item I.3.1 e II.3.1– Parcela e edificado – Usos especiais: Quais? Quando?
transporte público (eixos e estações). Ver item I.1.1 Localização – Habitação ao longo dos
alternativo.
cada setor – caráter próprio e distinto. Sobre a identidade de cada setor, recomenda-se
aplicar a teoria das zonas de Transect – T-zones a qual apoia a criação de um sentido de lugar
– desde a zona mais urbana até a zona menos urbana –, assim como auxilia na integração, na
ordem e no equilíbrio entre setores através da configuração das fronteiras dos distritos. Ver
614
DOTS (no Brasil) – Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável e TOD (nos EUA)
– Transit-Oriented Development.
404
sobretudo nos pavimentos dos térreos, contribuindo significativamente para os bons plinths,
os espaços internos aos espaços externos públicos (através das transparências e das zonas
que os torna lugares convidativos, enriquecedores e vivos. Ver item I.3.1 e II.3.1– Parcela e
/ atividades); e nas fronteiras dos distritos, a fim de criar espaços de relacionamento entre
setores, bem como entre o novo bairro com o território circundante, possibilitando o
I.3.1 e II.3.1– Parcela e edificado – Usos especiais: Quais? Onde? Como? – Espaços cívicos /
conjuntos de residências, o tamanho ideal para o pedestre, por meio de raios de 400m -
615
Consideram-se instalações comunitárias: funções de utilidade pública como equipamentos de
ensino (escolas e afins), pontos de referência (galerias, museus, marcos paisagísticos), espaços
institucionais e cívicos (edifícios cívicos, universidades, hospitais) e espaços públicos abertos (parques,
praças, jardins de vizinhança, área de lazer e desporto).
405
equipamento. Esta referência à escala humana é considerada uma das decisões mais
para a instalação de usos diversos –, entre outros benefícios de ordem social que estão
comunidade616, identidade e significado social e humano. Ver item I.3.1 e II.3.1 – Parcela e
lojas virtuais) – especialmente nas zonas centrais –, a fim de favorecer a compacidade, assim
como oferecer uma experiência aos pedestres, em escala humana, de uma ampla gama de
atividades e atrações num intervalo de 10m. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas,
caminhos de pedestres e ciclovias – Fachadas ativas e item II.3.1 – Parcela e Edificado – Usos
Propõe uma densidade bruta média alta – média: 187 a 375 UH/ha e alta mais de 375
616
Sabe-se que, na sociedade contemporânea, a interação social não depende mais unicamente das
comunidades locais, uma vez que foram complementadas, tanto pelo aumento da mobilidade como
pelas comunicações eletrônicas. No entanto, mesmo nesta era altamente móvel e tecnologicamente
conectada, é dever do projetista oferecer oportunidades para ambos – rede de contatos
espacialmente próxima e espacialmente difusa – e permitir que as pessoas encontrem seu próprio
equilíbrio.
406
diversos, entre outros benefícios. Ver item I.4.2 e II.4.2 – Tipo e forma dos edifícios –
O bairro COMPLETO
Considera-se um bairro completo quando:
econômico, social e cultural do bairro e da região onde está inserido, por meio da diversidade
sustentável e autossuficiente617 ao nível do bairro. Ver item I.2.1 e II.2.1 Morfologia / Tecido
A mistura de usos e funções dá-se através dos usos especiais: das instalações
comunitárias, do comércio, dos serviços e dos locais de trabalho – a distâncias ideais para o
pedestre –, as quais objetivam gerar menos deslocamentos per capita que lugares
promovendo o desenvolvimento urbano local. Ver item I.3.1 e II.3.1– Parcela e edificado –
plurifamiliares (compostos por blocos e torres) de acessos coletivos que se relacionam com
blocos menores – edifícios unifamiliares com acesso privado. Esta composição formal dos
617
Autossuficiente no sentido de possuir serviços e equipamentos do cotidiano reduzindo a
dependência do automóvel individual, lembrando, conforme Jacobs (2014 [1960], p. 86), que a falta
de autonomia, tanto econômica quanto social, nos bairros, é natural e necessária, simplesmente
porque eles são integrantes da cidade.
407
edifícios colabora também na correlação – entre edifícios e destes para com a rua –,
urbanístico. Ver item I. 4.2 e II.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Tipo e organização do
edifício.
habitação, que se referem a mistura de tipos de habitações (desde T0 até T4) no mesmo
que coexistem na área urbana. Ver item II.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Tipo e
organização do edifício.
Estabelece um plano de hierarquia de vias que, além de estar associado ao seu papel
(privados e púbicos): no térreo, em primeiro lugar, através dos usos diversificados e o cuidado
com o desenho dos espaços de transição; em segundo lugar, nos andares subsequentes,
também através dos usos (comercial, escritórios, residenciais) e por meio do desenho da
fachada que permita um nexo com a rua, seja mediante a materialidade, o uso de floreiras,
de varandas / sacadas que permitam compor espaços ao ar livre. Ver item I.1.2 e II.1.2–
Conexões – Rede viária. Ver item I.3.1 e II.3.1 – Parcela e Edificado – Equipamentos
Sobre a relação do edifício com a rua nos andares acima do térreo, recomenda-se que
a interface entre o interior e o exterior do edifício, que é constituída pela borda da edificação
setor. Ao se relacionar com o mundo exterior, o edifício passa a fazer parte da malha social,
da cidade e da vida de todas as pessoas que moram no local ou passam por ali. Ver item I.4.2
Sobre a relação do edifício com a rua nos pisos térreos (plinth), entende-se que uma
boa estratégia de projeto deve abraçar uma grande variedade de funções sociais, comerciais,
pequenas)618 e suas aberturas. Estas devem permitir conexões visuais entre o interior e o
exterior, com portas e janelas voltadas para a rua e com frequência de acessos, oportunizando
a relação entre ambientes fechados e abertos. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas,
caminhos de pedestres e ciclovias – Fachadas ativas e item I.4.3 e II.4.3 – Tipo e forma dos
âncora, com comércio, serviço, arte e cultura, assim como um ponto referencial no bairro,
tendo a função de atrair pessoas para uma experimentação urbana e social significativa. Este
carros, ciclistas e pedestres se respeitem numa grande mistura de humanidade e que cumpra
resgatando o significado mais puro e poderoso da rua: todos somos donos do espaço e de
qualquer maneira; todos podemos usar a rua. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Rede viária
– ruas compartilhadas.
O bairro CONECTADO
Considera-se um bairro conectado quando:
de uma rede interconectada de ruas e espaços público abertos por meio de uma
hierarquização de vias: sistema viário estruturante e sistema viário complementar, ambos com
Sobre hierarquia das vias, aconselha-se considerar uma razão entre largura das ruas e
altura dos edifícios, entre 1:1 (rua) e 1:2 ou 1:2,5 (via interna), visando à criação de perfis
transversais confortáveis à apreciação visual por parte dos usuários, proporcionando uma
sensação de espaço mais contido, evitando a sensação de desamparo, assim como, por outro
618
Escala pequena das unidades possibilita muitas portas (no mínimo 10 a cada 100 metros). Método
usual do século 19 que, além disso, ainda nos ensina sobre plinths com espaços de varejo transferíveis,
i.é., os espaços se adaptavam facilmente e rapidamente às demandas mutantes da economia e da
sociedade.
409
lado, evitando a criação de espaços urbanos claustrofóbicos com reduzida penetração da luz.
Ver item I.4.3 e II.4.3 Espaço entre Edifícios – Implantação das edificações.
Apresenta uma malha de quarteirões com dimensões médias de 120m x 90m, qualidade
vias internas que auxiliam na formação de uma rede de circulação com dimensões mais
que deverão estar em conformidade com o caráter de cada setor–, a pluralidade de usos, a
fim de conformar lugares vivos, isto é, espaços variados e complexos que intensifiquem a
vida urbana. Ver item I.2.1 e II.2.1 Morfologia / Tecido urbano – Malha de quarteirões.
nova área residencial, sugerindo a localização para cada tipo de quarteirão nos respectivos
distritos ou T-Zones, com a finalidade de estabelecer uma correta relação entre as vias, as
Organiza, em conjunto com o sistema viário, uma rede de espaços públicos abertos que
os conectem nas diferentes escalas do bairro, desde grandes parques, praças e espaços
cívicos até jardins de bairros e parques de vizinhança. É aconselhável que sejam previstos, no
projeto, espaços que propiciem a vida ao ar livre o ano todo, a fim de contribuir para uma
No que se refere aos tamanhos e natureza dos espaços públicos abertos e suas
especificidades de cada sítio, em cada distrito de zoneamento ou nas T-zones. Ver item I.3.1
e II.3.1 – Parcela e edificado – Usos especiais: Quais? Onde? Como? – Espaços públicos
abertos.
410
dos desenhos das calçadas e caminhos de pedestres, das faixas de travessia de pedestres e
da relação do edifício com a rua. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de
pedestres e ciclovias.
Para este último item – da relação do edifício com a rua –, salientam-se as interrupções
serviços de “fundos”, tais como coleta de lixo, abastecimento de lojas e rampas de acesso a
segurança e conforto da calçada, assim como qualificar os pisos térreos – em especial suas
vitrines. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres e ciclovias.
Ainda, sobre a relação do edifício com a rua, e objetivando contribuir para a vibração
como colunatas, arcadas, varandas e mesmo alpendres e toldos – sempre tão agradáveis e
confortáveis –, que ativos, abertos e vivos, têm grande impacto na vida e atração exercida
pelo espaço da cidade. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de pedestres
e ciclovias.
através de uma rede cicloviária – integrada aos demais sistemas de transporte e abrangendo
todos endereços do novo bairro –, a qual objetiva aliviar a sobrecarga dos transportes
cidade e do meio ambiente. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Calçadas, caminhos de
pedestres e ciclovias.
da mobilidade urbana sustentável por meio do modelo DOTs, que objetiva integrar as
entre 400m e 1.000m. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Transporte público coletivo,
individual e alternativo.
estratégias que, além de ocuparem menos espaço nas cidades, não contribuem para a
emissão de gás carbônico e são mais saudáveis, por exigirem alguma atividade física,
deixando os usuários num contato mais íntimo uns com os outros e também com o seu meio
ambiente. Ver item I.1.2 e II.1.2 – Conexões – Transporte público coletivo, individual e
alternativo.
O bairro CONCATENADO
Considera-se um bairro concatenado quando:
oferecem uma organização espacial capaz de criar espaços (ao nível do solo) que permitam
conjuntamente e, desta forma, tornando o espaço comunitário uma extensão da vida pública.
domínio privado com vistas a criar ambientes que sustentem e reforcem a identidade no
sustentem e reforcem a vida urbana nas cidades. Ver item I.4.1 e II.4.1 – Acessos – Intervalo
/ espaço de transição.
412
delimitação territorial e das formas sincrônicas e dos possíveis acessos aos espaços contíguos,
quanto à composição do edifício, no que diz respeito aos níveis legíveis de acessos. Ver item
entrada principal dos edifícios até às unidades residenciais) pode contribuir para uma melhor
para o contato social, bem como colaborando para uma imagem urbana do conjunto menos
legítima forma de relação entre o espaço público e o privado – entre o coletivo e individual
–, através da dedicação e atenção aos acessos dos andares mais altos, a fim de dar, a cada
residência, uma porta de entrada, com o máximo de acesso possível pela rua. Ver item I.4.1
Para isso, recomenda-se que o cuidado essencial seja para com o local de acesso às
o local em que se encerram, no piso térreo, importa, sobretudo, que sejam visíveis desde o
primeiro acesso ao edifício, favorecendo a marcação de entrada. Ver item I.4.1 e II.4.1 –
O arranjo das galerias de distribuição / patamares dos edifícios garanta, além do elo
entre a rua e/ou pátios internos e a porta de entrada de cada habitação, alternativas de
dos moradores no edifício. Ver item I.4.1 e II.4.1 – Acessos – Circulação – horizontal e vertical
e item I. 4.2 e II.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Tipo e organização do edifício.
413
responsabilidade e de vigilância natural coletiva, tanto para com o espaço público, como
para com as unidades habitacionais ou espaços mais privados. Ver item I.4.1 e II.4.1 – Acessos
– Circulação – horizontal e vertical e item I. 4.2 e II.4.2 – Tipo e Forma dos Edifícios – Tipo e
organização do edifício.
diretriz tende a cooperar, além da boa continuidade do tecido urbano, com as relações
humanas que ocorrem entre seus usuários, possibilitando o envolvimento das pessoas que
ali moram e/ou trabalham, através dessa conexão entre os edifícios (em geral áreas externas
maneira física. Ver item I.4.3 e II.4.3 Espaço entre Edifícios – Implantação das edificações.
perímetro ou blocos urbanos –, espaços de uso comum semipúblicos – entre edifícios – que,
por meio da sua conformação física incentive a estruturação social da comunidade através de
direção a outros maiores, e de espaços mais privados para espaços gradualmente mais
áreas fora das residências privadas. O estabelecimento desta estrutura evidente (espaços
vigilância natural coletiva, tanto para com o espaço público, como para com as residências
ou espaços mais privados. Ver item I.4.1 e II.4.1 – Acessos – Graus de acesso.
414
áreas de uso comum, estes sejam determinados por cinco a sete veículos e sejam, ainda,
circundados por muros, floreiras elevadas, cercas vivas, cercas de madeira, taludes de
árvores, de maneira que do lado de fora os veículos fiquem praticamente invisíveis. Ver item
preferenciais para veículos de baixa emissão de gases de efeito estufa, para veículos de baixo
deve-se prever estações de recarga para veículos elétricos em 2% das vagas públicas.
menos não uma para cada unidade habitacional. Essa prática é chamada de ‘habitação livre
de automóveis’, a qual tem, como finalidade, tornar os bairros e a cidade mais humanizados;
qualificar a vida urbana através da liberação dos pisos térreos para usos comerciais e serviços,
e ambiental, tais como: congestionamentos, poluição atmosférica e mortes no trânsito. Ver item
a conexão e a concatenação.
415
construtivo) para novos bairros, sob o enfoque da arquitetura urbana619: firmada num
arquitetura do edifício – o desenho da cidade como obra. Dessa forma, é preciso que este
documento seja escrito e ilustrado, a fim de assegurar que as exigências fiquem claras,
principalmente para os vários escritórios de arquitetura que irão projetar, ao longo dos
anos, soluções arquitetônicas para um novo bairro. Ver item I.2.1 e II.2.1 Morfologia / Tecido
619
Sobre Arquitetura Urbana: SANTOS, Alessandra. Aplicação da metodologia do Transect e
construção código baseado na forma, publicado em um capítulo do livro: Diferentes abordagens em
morfologia urbana. Contributos luso-brasileiros, 2º ed., 2020, Porto – Portugal.
416
Considerações finais
Rue Saint-Lazare, Paris (1897)
Camille Pissarro
417
Considerações finais
Parte I.
sobretudo em áreas / bairros residenciais, que incorporam, além dos aspectos físicos, a
peculiar de cada bairro / comunidade e incluir a dimensão humana nos projetos), assim como
perceber estratégias que contribuam para a integridade dos projetos (da escala da cidade à
Trata-se de uma síntese das ideias dos autores estudados (considerados essenciais a esse
do quarteirão e do edifício. Para cada uma das escalas são estabelecidos princípios,
em áreas residências.
Na escala da cidade:
a inserção urbana, e possui, como critérios e elementos de projeto: habitação na área central,
habitação ao longo dos eixos de transporte e habitação formando novos bairros (objetivo do
bairro Urbitá).
individual e alternativo.
Na escala do bairro:
• indicador morfologia / tecido urbano: os princípios de projeto são relacionados aos bairros
Na escala do quarteirão:
partes e a relação do conjunto com a rua e com a cidade, e possui, como critérios e elementos
Na escala do edifício:
• indicador tipo e forma dos edifícios: os princípios de projeto centralizam-se na relação entre
o interior e o exterior dos edifícios, e possui, como critérios e elementos de projeto: tipo e
organização dos edifícios, composição formal dos edifícios e a relação com o solo – piso
térreo.
dos arquitetos e urbanistas para com as matérias do campo humano e social, elegeu-se para
o Estudo de Caso, uma iniciativa em curso (o projeto de um novo bairro – o Urbitá em Brasília
- DF), que é apresentada na Parte II da tese: Análise e avaliação do Estudo de Caso: Bairro
Urbitá, Brasília.
419
Parte II.
Tanto no que se refere aos princípios, aos indicadores e aos critérios e elementos de
analisados e avaliados. Percebe-se o novo bairro como um modelo inovador, pelos objetivos
que apresenta, buscando, além dos interesses imobiliários, um repensar de modelo urbano
inicialmente estabelecidas. Ainda, notou-se uma resistência, por parte dos escritórios de
estabelecidas para o novo bairro, o que se retrata nos projetos de arquitetura, deixando
aspectos menos positivos nos projetos que necessitam de algum refinamento. No entanto é
avaliação inferior a 75%, o que demonstra a pertinência do projeto do novo bairro Urbitá, na
de bairro / comunidade mais sustentável. Ver item II.5 - Síntese final da análise e avaliação.
que foi concebido e idealizado com o propósito de validar a relação dos princípios,
da arquitetura urbana que regulem muito além do que os planos diretores em geral: uma
legislação, com seções e subseções, dedicadas ao controle e uso do solo. Nessa perspectiva,
bairro expresso pela sintaxe entre edifício e cidade, pelos edifícios que interpretam a cidade
bairro será implementado. Estes desafios têm a ver com o planejamento e sua governança,
numa reinvenção permanente do bairro, evoluindo ao longo do tempo, tanto nos aspectos
inovadoras que reúnam e potencializem energia física, intelectual e criativa dos seus
moradores.
421
Sobre o Estudo de Caso, o bairro Urbitá: Embora tenham sido verificados alguns
pontos menos positivos na análise e avaliação dos projetos do bairro, assim como algumas
bairro, como na criação de um centro urbano alternativo ao Plano Piloto – mais inclusivo (que
no Distrito Federal.
laboratório a céu aberto, de cujos experimentos espera-se poder tirar muitas lições para o
restante do País.
Do sonho surgiu a paixão
pela ideia de uma nova cidade.
Com a paixão veio a determinação
para transformá-la em realidade.
Ricardo Birmann
422
QUESTÃO PRINICPAL: Quais são os princípios e elementos essenciais de projeto para a promoção
planejada, inovadora e inclusiva entre os vários níveis da escala urbana: a cidade, o bairro, o
bairro e do quarteirão).
acessos, os tipos e forma dos edifícios e os espaços entre os edifícios) –, estes, mais
mais sustentáveis, que venham ao encontro dos conceitos, orientações e diretrizes do New
620
Lembrando que se entende, no desenvolvimento da tese, o termo habitar, equitativamente à área
residencial, como um conceito amplo, o qual transmite a ideia da essencialidade do elo entre as
pessoas e a cidades, através do vínculo direto com a estrutura urbana – do concatenamento entre
espaços públicos, coletivos e privados.
423
incorporam, além dos aspectos físicos, uma dimensão social e humana: uma compreensão
completa sobre quais são as situações que criam lugares relacionais, identitários, inclusivos,
Desse modo – sob a óptica dos bairros / comunidades urbanas sustentáveis –, conclui-
se que é por meio desses elementos que se compõe os princípios de projeto: a compacidade,
entre as pessoas e a cidade. Ver quadro 67: Relação entre os princípios e elementos
bairros residenciais.
OBJETIVO ESPECÍFICO 01: Reconhecer os principais vetores que favorecem a construção de bairros
QUESTÃO 01: Quais são os principais vetores na construção de bairros e comunidades mais
sustentáveis?
traçado urbano mais contínuo e compacto, com centralidade, com multiplicidade de usos,
humana (considerando o tamanho ideal para o pedestre: 400m / 1.600m); aos distritos de
621
Dispersão territorial, causada pela expansão urbana (fenômeno da segunda metade do século XX)
–com casas isoladas, espalhadas pelo território – a qual separa as residências dos locais de trabalho,
lojas e escolas, favorecem o automóvel em detrimento do pedestre, (ocasionando engarrafamentos),
tornando a caminhada e o ciclismo desagradáveis e perigosos entre tantos outros prejuízos à qualidade
de vida nas cidades.
424
de edifícios e a correlação entre edifícios e destes para com a rua, de acordo com o caráter
de cada rua.
• para a conectividade: elementos relativos à conexão / mobilidade (em especial a rede viária
estacionamentos e garagens.
OBJETIVO ESPECÍFICO 02: Perceber princípios de projeto que contribuem para a integridade dos
público).
viabilize o vínculo entre as pessoas e a cidade por meio de uma sucessão de quadros do
habitar, que constituem uma sequência de cenários de vida: sendo a cidade o primeiro
Nesse âmbito, os princípios de projeto que, organizados da escala maior para a menor
•a coesão entre as partes (parcelas e edificado) – e a relação do conjunto com a rua e com a
cidade;
•a relação (tipo e forma dos edifícios) – entre o interior e o exterior dos edifícios;
construção de lugares que sejam capazes de adquirir significado e sentido – lugares com
identidade.
setor – desde a zona mais urbana até à menos urbana – e contribuir para o senso de lugar na
comunidade.
• criar ambientes apropriados à escala e a condição corporal humana, atendendo aos critérios
matéria da reciprocidade entre os espaços públicos e privados por meio da ordenação dos
acessos, dos tipos e formas dos edifícios e dos espaços entre os edifícios.
426
• ainda, no que diz respeito a criar lugares indentitários, relacionais e com significado social
organização espacial e a suas relações com a rua e com os espaços abertos exteriores, a fim
• promover uma relação de reciprocidade entre espaço público e privado – da rua à porta de
casa –, buscando reforçar e sustentar a identidade no espaço privado e a vida urbana nas
cidades.
cooperem com a identidade do bairro, nas dimensões da sua estrutura física (por meio da
residências, atividades fixas e das circulações) e na dimensão social e humana através das
precisamente na escala do edifício, através das relações mais imediatas entre o núcleo familiar
entre os edifícios; ainda, na dimensão social e humana, criar ambientes que tenham um
que poderão auxiliar para o desenvolvimento de uma arquitetura que intensifique a vida
QUESTÃO 04: Quais são os elementos e critérios de projeto vitalizadores do bairro / da cidade?
Lugares vivos são entendidos como lugares com vida. Espaços que possibilitam que
as pessoas tenham contato direto com a sociedade em torno delas. Os lugares vivos emitem
sinais amistosos e acolhedores com a promessa de interação social e, para isso, necessitam
de uma vida urbana variada e complexa, o que, consequentemente, os torna mais seguros.
• a rede viária interconectada aos espaços púbicos abertos, o que qualifica o bairro,
cumprindo com o propósito de criar um bairro vivo (oferecendo espaços de lazer, esporte,
• as vias internas aos quarteirões que facilitam a acessibilidade física e visual e permitem a
criação de pequenas praças e uma mistura de atividades que podem ser desenvolvidas ao
nível da rua.
dimensionamento e configuração, assim como suas relações com os edifícios, sobretudo nos
interessante.
à altura dos olhos do pedestre, assim como através das entradas (número e distâncias)
• o caráter misto e denso dos bairros, dos quarteirões e dos edifícios e a diversidade de
• uma centralidade que expressa a variedade da vida social, por meio do reforço à destinação
conformar-se em nós interessantes – como é o caso dos quatro edifícios que compõem as
verticais), a fim de minimizar a divisão rígida entre áreas com diferentes demarcações
territoriais, assim como cooperar com a segurança, tanto dos usuários do conjunto, como dos
transeuntes.
• a construção de bons plinths – maximização da interação dos edifícios com a rua e com a
cidade –, através do cuidado da forma como o edifício “toca” o chão e do uso que lhe é
• a conformação dos espaços entre edifícios – à escala do quarteirão – que sejam espaços
positivos, na sua configuração física e social, nos quais o programa contenha uma variedade
de possíveis atividades (espaços passivos – mais silenciosos e espaços com usos mais ativos
Confirmação da hipótese
da tese que tem como suposição: que é possível definir um conjunto de princípios e
residenciais, uma vez que essa integridade é obtida no momento em que a totalidade dos
elementos que formam os ambientes do novo bairro – organizados da escala maior para a
menor e de forma recíproca – seja parte integrante de um todo único e indivisível, formando
avaliação de um Estudo de Caso: Bairro Urbitá, Brasília – DF, o qual apresenta objetivos
• Aprimorar a cultura do desenho urbano nos projetos de áreas e bairros residenciais no Brasil,
ou até mesmo – para alguns segmentos –, promover uma mudança de paradigma que
• Contribuir para a reciprocidade entre espaços públicos e privados, à escala do edifício – nas
• Contribuir para a construção de uma sucessão de cenários positivos da estrutura urbana aos
através da relação sinérgica entre todos os elementos que o compõem, trabalhando juntos
capitalista atual, mas persistindo que a dimensão humana esteja – sempre – no centro de
todas as decisões.
• Contribuir para a inserção dos atributos da identidade e do significado social e humano aos
projetos de áreas / bairros residenciais, por meio do entendimento de que a cidade e/ou o
bairro, mais que a expressão física do conjunto dos seus edifícios, é vida social, sensorial e
emotiva, que deve garantir o direito à vida urbana por meio de ação coletiva e compromisso
• Contribuir na criação de uma grelha analítica e avaliativa, a qual poderá ser útil também
como uma ferramenta didática no processo inicial de planejamento – funcionando como uma
• Contribuir com a criação de uma síntese das recomendações essenciais de projeto para
novos bairros, por meio da representação dos elementos de projeto, dos princípios de
Desenvolvimentos futuros
análises do Estudo de Caso e as avaliações, estas últimas, com a inserção da métrica à grelha
comunidades residenciais. Assim, estas grelhas, para além da sua dimensão analítica e
Sustainable SITES, Fitwel Community, LEED Cities & Communities e o LEED Neighborhood
Development (LEED-ND)622.
O sistema LEED-ND é uma colaboração entre o Gren Building Council dos Estados Unidos da
622
América, o Congresso para o Novo Urbanismo e o Conselho de Defesa de Recursos Naturais. O LEED-
432
Esse objetivo futuro, de integrar os requisitos exigidos para obtenção dos selos de
iniciativa relevante. Salienta-se que, no Brasil, ainda são escassos os empreendimentos que
colocado – que os incentivos, no Brasil, são incipientes, tanto no que se refere aos estudos e
pesquisas nesta área, quanto ao que compete aos incentivos fiscais para os
Nesse contexto, é pertinente destacar que os projetos (da Etapa 1) do bairro Urbitá
Junto a este diagnóstico, a CTE apresenta uma simulação da pontuação para cada
Paranoazinho (UP), nesta revisão – oriunda do diagnóstico realizado pela CTE –, na aprovação
contratados pela UP, em especial o ateliê Ideia 1 – POA, com o qual não foi possível
estabelecer uma comunicação no decorrer da tese. Também, espera-se – num cenário pós-
pandemia – realizar mais visitas, pessoalmente, ao Urbitá, assim como aos ateliês de
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ENTREVISTAS
Lahys Rocha Miranda – Arquiteta e Urbanista da UP, em 17 de julho de 2020, Brasília, DF (via
G-meet).
QUADRO 4 Diagramas: Unidade de Vizinhança (Perry, 1929), Bairro urbano tradicional (DPZ,
2010) e Bairro para o Urbanismo Sustentável (FARR, 2013). Diagramas DPZ ilustrando bairros
interconectados com centros e bordas definidas. Exemplo do Bairro Pedra Branca – SC –
Brasil.
445
FARR, Douglas. Urbanismo Sustentável: Desenho Urbano com a natureza. Porto Alegre:
4.1
Bookman, 2013. p.119.
4.2 e 3.3 DUANY MIAMI / DPZ Partners. Urban Planning. Disponível em:
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CIDADE criativa pedra branca. Disponível em: https://www.cidadepedrabranca.com.br/.
4.4
Acesso em: 14 set. 2019.
4.5Adaptado pelo autor, a partir da imagem de satélite do google earth e PEDRA branca: um
novo urbanismo. Morar, trabalhar, estudar e se divertir num mesmo lugar. Revista Pedra
Branca: um novo urbanismo, Palhoça, n. 1, p. 22, out. 2014.
4.6PEDRA branca: cidade criativa. Melhorar a cidade para as pessoas. Revista Pedra Branca:
Cidade Criativa, Palhoça, n. 1, p. 36 e 37, out. 2014.
9.4WRI Brasil, WRI Cidades. 8 Princípios da Calçada: construindo cidades mais ativas. São
Paulo, 2017.
9.5 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p.184.
9.6 FGV Projetos. Cidades Inteligentes e mobilidade urbana. Rio de Janeiro, 2015. p. 156.
9.7 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013, p.10.
National Association of City Transportation Officiais. Urban Bikeway Design Guide.
9.8
Washington, DC, 2011. p. 05.
EMBARQ BRASIL. Manual de projetos e programas para incentivar o uso de bicicletas em
9.9
comunidades. Rio de Janeiro, 2014. p. 62.
9.10 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p.10.
QUADRO 13 Espaço urbano tradicional (Paris). Malha de quarteirões (com tamanho médio,
integrados e determinados pelo contexto local). Exemplo do bairro Pedra Branca – SC –
Brasil.
13.1CARMONA, Matthew et al. Public Places - Urban Spaces: the dimensions of urban design,
2. ed. Routledge, 2010 [2003]. p. 101.
13.2GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho Brasília. Brasília: Gehl
Architects, 2014. p. 18.
DUANY, A.; PLATER-ZYBERK, E. The lexicon of the new urbanism. Miami: DPZ Partners,
13.3
2003. p.26 e 27.
13.4CARMONA, Matthew et al. Public Places - Urban Spaces: the dimensions of urban design,
2. ed. Routledge, 2010 [2003]. p. 100.
13.5.Autora, adaptado de PEDRA BRANCA: UM NOVO URBANISMO. Morar, trabalhar,
estudar e se divertir num mesmo lugar. Revista Pedra Branca: Um Novo Urbanismo, Palhoça,
SC, n. 1, p. 22, out. 2014.
13.6Autora, adaptado de PEDRA BRANCA: UM NOVO URBANISMO. Morar, trabalhar,
estudar e se divertir num mesmo lugar. Revista Pedra Branca: Um Novo Urbanismo, Palhoça,
SC, n. 1, p. 56, out. 2014.
449
QUADRO 14 Tipo, modelos e localização dos quarteirões – estudo para Bairro fazenda
Paranoazinho – Brasília.
14.1Adaptado pelo autor. GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho
Brasília. Brasília: Gehl Architects, 2014, p. 40-46.
14.2GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho Brasília. Brasília: Gehl
Architects, 2014. p. 39.
18.5 Built for Life. Disponível em: http://builtforlifehomes.org/. Acesso em: out. 2019.
FARIAS, Hugo. Palestra: Arquitectura da Habitação Colectiva Moderna em Lisboa: Casos
18.6
notáveis da década de 1950. Data: 01 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura da
Universidade da UFRGS, 2017. Notas de Aula.
18.7 COELHO, António Baptista. Habitação Humanizada. Lisboa: LNEC, 2007. p. 402.
QUADRO 19 Nós de recepção. Famílias de entrada. Átrio (ponto focal) e relação entre espaço
público e semipúblico. Núcleos de circulação vertical visíveis desde o primeiro acesso ao
edifício (Torre de apartamentos LSD, Conjunto Infante Santo – Lisboa, Portugal, 1952-55 e
Bloco das Águas Livres – Lisboa, Portugal, 1953-56). Acesso por elevador localizado na
fachada do edifício (Edifícios do bairro Trinitat – Barcelona, Espanha, 1994).
Autora, adaptado de ALEXANDER, Christopher; ISHIKAWA, Sara; SILVERSTEIN, Murray.
19.1
Uma Linguagem de Padrões: Porto Alegre: Bookman, 2013 [1977]. p.500-502.
19.2 PIÑON, Hélio. Disponível em: http://helio-pinon.org/proyectos. Acesso em: out. 2019.
FARIAS, Hugo. Palestra: Arquitectura da Habitação Colectiva Moderna em Lisboa:
19.3 e 19.4
Casos notáveis da década de 1950. Data: 01 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura da
Universidade da UFRGS, 2017. Notas de Aula.
MONTEYS, Xavier. La calle y la casa: urbanismo de interiores. Barcelona: Gustavo Gili,
19.5
2017. p. 23.
QUADRO 20 Tipos de núcleos de acessos verticais. Relação dos núcleos de acesso vertical
com os espaços de circulação – públicos ou semipúblicos. Conexão de cada patamar do
edifício com o solo (Apartamentos dos carteiros Rue de l'Ourcq - Paris, França,1994 e
Conjunto Heliópolis, gleba G - São Paulo, Brasil, 2011).
20.1FARIAS, Hugo. Edifício de habitação coletiva em galeria: contribuições para a tipologia
da arquitetura da habitação. Local: Editora, 2003. p. 30-40.
BERNARD Leupen; HARALD Mooij. Housing Design: a manual. Delft: Nai
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MONTEYS, Xavier. La calle y la casa: urbanismo de interiores. Barcelona: Gustavo Gili,
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2017. p. 17.
QUADRO 21 Contato entre edifícios e a rua (até cinco andares). Espaços de circulação –
espaços de estar e terraços de uso comum (Kassel – Alemanha, 1979-82). Rua-galeria.
Caminho vertical – “rua externa” (Spangen Quarter, Rotterdam, Holanda, 1921 e Cité
Napoléon – Paris, França, 1849).
21.1 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 40.
452
21.2 HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2015. p. 36 e
37.
21.3FARIAS, Hugo. IV Ciclo de Palestras. Arquitectura da Habitação: Questões Actuais -
Versatilidade e Hibridez Tipológica. Data: 05 - 08 de junho de 2017. Faculdade de Arquitetura
da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI, 2017. Notas de
Aula.
21.4 HERTZBERGER, Herman. Lições de Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2015. p. 39.
de vários tipos de edifícios – casas geminadas, sobrados, edifícios de baixa altura, edifícios
de grande altura. (Lafayette Park – Detroit, EUA,1956).
Autora, adaptado de KRAFTA, Romulo. Notas de aula de Morfologia Urbana. UFRGS,
24.1
2014. p. 49
DPZ Latin America. Charrete: Diretrizes para o Bairro Pedra Branca. Data: 20 de
24.2 e 24.3
agosto de 2016. Pedra Branca, Santa Catarina, Brasil, 2016. Notas de Aula.
24.4 e 24.5 PIÑON, Hélio. Disponível em: http://helio-pinon.org/proyectos. Acesso em: out.
2019.
MAHFUZ, Edson da Cunha. A Arquitetura entre o espetáculo e o ofício, 2008. Arquitetura
24.6
e Urbanismo, São Paulo, Pini, n. 178, jan. 2009.
QUADRO 30 Razão entre a altura do edifício e a largura da rua / espaço aberto. Bisseção do
ângulo de visão em duas partes sensivelmente iguais. Estratégias de visibilidade entre
espaços externos e edifícios. Cones na camada fotorreceptora dos olhos. Aqui e Além. Praça
Stroget Copenhague – espaço angular. Praça del Campo, em Siena – dimensões na escala
humana.
Autora, adaptado de CARMONA, Matthew et al. Public Places - Urban Spaces: the
30.1
dimensions of urban design, 2. ed. Routledge, 2010 [2003]. p. 183.
30.2 CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana: Lisboa: Edições 70, 2015 [1971]. p. 43.
30.3COELHO, António Baptista. Qualidade Arquitectónica Residencial. Lisboa: LNEC, 2000.
p. 43.
30.4 GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 39.
30.5 CULLEN, Gordon. Paisagem Urbana: Lisboa: Edições 70, 2015 [1971]. p.38 e 43.
DPZ Latin America. Charrete: Diretrizes para o Bairro Urbitá. Data: 10 de agosto de 2017.
30.6
Urbitá, Brasília - DF, Brasil, 2016. Notas de Aula.
30.7GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013, p. 238 Id. A vida entre
edifícios. Lisboa, 2013 [1971]. p.40.
455
QUADRO 35 Relação e conexões da Área de Estudo com o Plano Piloto – Brasília (acima).
Área de Estudo com marcação do sistema viário estruturante proposto para o novo bairro
(abaixo).
35.1 e 35.2 Elaborado pela autora a partir da imagem de satélite do Google Earth. 2020.
QUADRO 36 Perfis do sistema viário estruturante conforme Gehl Architects (2014) - acima; e
Urbanizadora Paranoazinho (UP) – abaixo.
36.1GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho Brasília. Brasília: Gehl
Architects, 2014, p. 20 - 27.
36.2Autora, adaptado de Urbanizadora Paranoazinho (UP). Memorial Descritivo: Projeto de
Parcelamento do Solo – Urbitá – Etapa 01. Brasília: UPSA, 2016, p. 49 – 55.
QUADRO 37 Principais interseções entre o sistema viário do novo bairro e os núcleos urbanos
adjacentes.
37.1 Elaborada pela autora a partir da imagem de satélite do Google Earth. 2020.
RHUMB, Infraestrutura urbana. Estudo de Tráfego e Mobilidade Urbana (vídeo). Brasília,
37.2
2018.
QUADRO 39 Sobreposição da área central - rua Curitiba - sobre as imagens dos precedentes
eleitos para servirem de referência. Projeto inicial para a rua Curitiba – planta e perspectivas.
39.1 DPZ Co Design. Charrete: New Town Center Brasília – DF, Brazil. Miami – EUA, 2017. p.
33.
39.2 Ibid. p. 39 e 40.
QUADRO 40 Modelo de faixas de travessia (pedestres e ciclistas) adotado pela UP. Estudos
para a faixas de transição em diferentes zonas do Urbitá. Relação do edifício com a calcada –
pisos térreos.
40.1Autora, adaptado de Urbanizadora Paranoazinho (UP). Estudo preliminar: Desenho dos
cruzamentos. Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.
40.2 DPZ Co Design. Charrete: Urban Block Composition. Brasília, 2017. p. 29 - 34.
40.3URBANIZADORA PARANOAZINHO. No Coração do Brasil – onde o mar é o céu e o
horizonte é infinito. Brasília: UPSA, 2017, p.23
QUADRO 47: Localização dos quarteirões especiais para usos especiais (ateliê Gehl
Architects). Agrupamento de equipamentos institucionais (ateliê SOM). Masterplan atual e
demarcação da Centralidade, zona parque e dos equipamentos públicos comunitários para
a Etapa 1 - Urbanizadora Paranoazinho (UP).
459
QUADRO 49 Localização do Parque Oeste. Proposta para o Parque Oeste conforme ateliê
Benedito Abbud - SP e DPZ – EUA.
49.1Autora, adaptado de: Urbanizadora Paranoazinho (UP). Masterplan (2019) – Urbitá.
Brasília: UPSA, 2016.
49.2DPZ Co Design. Charrete: New Town Center Brasília – DF, Brazil. Miami – EUA, 2017. p.
44 e ABBUD Urbanismo Sustentável. Charrete: Parques Urbanos – Urbitá. Brasília, 2017, p.
04.
QUADRO 51 Proposta para a praça Paranoazinho conforme ateliê DPZ – EUA e Benedito
Abbud – SP.
DPZ Co Design. Charrete: New Town Center Brasília – DF, Brazil. Miami – EUA, 2017. p.
51.1
33 e 41 e ABBUD Urbanismo Sustentável. Charrete DPZ + ABBUD – Urbitá. Brasília, 2017.
52.2 Urbanizadora
Paranoazinho (UP). Áreas escolhidas para cada ateliê e Memorial Descritivo:
Plano de Urbanização – Proposta de zoneamento, Urbitá. Brasília: UPSA, 2016.
QUADRO 53 Tipo e modelo de quarteirões conforme Gehl (2014). Partido volumétrico - bloco
de perímetro, estudo ateliê Esquadra. Acessos e espaços de transição – proposta ateliê
Esquadra – piso térreo.
53.1Autora, adaptado de: GEHL Architects. Fazenda Paranoazinho, Colorado-Sobradinho
Brasília. Brasília: Gehl Architects, 2014, p. 41 - 43.
Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
53.2 e 53.3
pavimento térreo e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018
QUADRO 54 Graus de acesso - proposta ateliê Esquadra – piso térreo (primeira planta); e
proposta ateliê Zoom – piso térreo (segunda planta). Detalhe - nós de recepção: ateliê
Esquadra e Zoom.
54.1Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento térreo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018
54.2Autora, adaptado de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar: Planta
pavimento térreo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018
54.3Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília e Zoom urbanismo, arquitetura e
design. Estudo preliminar: Planta pavimento térreo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018
QUADRO 55 Tipologias adotadas pelo ateliê Zoom. Planta tipo ateliê Zoom e relação entre
as circulações verticais e os espaços públicos e/ou semipúblicos. Primeira proposta para o
bloco S2: circulação vertical autonomizada do corpo do edifício e segunda proposta para o
bloco S2: núcleo de acessos verticais, incorporado ao edifício, no meio da galeria.
Autora, adaptado FARIAS, Hugo. Edifício de habitação coletiva em galeria: contribuições
55.1
para a tipologia da arquitetura da habitação. Lisboa, 2003. p. 30-40.
Autora, adaptado de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar: Planta
55.2
pavimento tipo – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018
Autora, adaptado de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo conceitual: Planta
55.3
pavimento tipo – Bloco S2 – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018
QUADRO 56 Tipo e organização dos edifícios: Ateliê Esquadra – DF, Ideia 1 – POA e Zoom
– SP.
56.1 Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento tipo; e de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar: Planta
pavimento tipo e de Ideia 1 Arquitetura. Estudo preliminar: Planta pavimento tipo – Urbitá.
Brasília: UPSA, 2018.
461
QUADRO 57 Relação entre tipologia dos edifícios e caráter da rua interna – simulação de
espelhamento: ateliê Esquadra – DF (esquerda) e Ideia 1 – POA (direita) - plantas, cortes e
vistas. Galeria externa aberta – bloco H, ateliê Ideia 1 – POA.
57.1Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento tipo, cortes e perspectivas; de Ideia 1 Arquitetura. Estudo preliminar: Planta
pavimento tipo, cortes e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
57.2Autora, adaptado de Ideia 1 Arquitetura. Estudo preliminar: Planta pavimento 3º, 4º e 5º,
corte e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
QUADRO 59 Relação plantas fachada: piso térreo com entradas ao nível da rua; corpo dos
edifícios independentes e associados ao sistema de circulação e cobertura habitada -
proposta ateliê Esquadra- DF.
59.1 Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento térreo, pavimento tipo, pavimento de cobertura, corte longitudinal e perspectivas
– Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
QUADRO 60 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade. Proposta
ateliê Zoom – SP.
60.1Autora, adaptado de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar: Planta
pavimento térreo e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
QUADRO 61 Estratégias de interação dos pisos térreos com a rua e com a cidade. Simulação
de um cruzamento conformado por quatro edifícios com o térreo recuado nas esquinas.
Proposta ateliê Esquadra – DF.
61.1Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
pavimento térreo, pavimento tipo e perspectivas – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
462
QUADRO 63 Pátios internos – proporção entre largura e comprimento. Razão entre larguras
de ruas e largura do pátio interno com as alturas dos edifícios. Estudo da insolação. Proposta
ateliê Zoom.
Autora, adaptado de Zoom urbanismo, arquitetura e design. Estudo preliminar:
63.1 e 63.2
Planta pavimento térreo e cortes – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
QUADRO 64 Pátios internos – proporção entre largura e comprimento. Razão entre larguras
de ruas e largura do pátio interno com as alturas dos edifícios. Estudo da insolação. Proposta
ateliê Esquadra.
Autora, adaptado de Esquadra Arquitetos de Brasília. Estudo preliminar: Planta
64.1 e 64.2
pavimento térreo e cortes – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
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2018.
______. Estudo preliminar: Planta pavimento térreo e cortes – Urbitá. Brasília: UPSA, 2018.
477
ENTREVISTAS
APENDICE 1
Outubro / nov. / 1991 Parque Eduardo Guinle (1954) 2,4 ha 328 Lúcio Costa Rio de Janeiro - RJ
N° 225, dezembro /2012 Parque Novo Amaro 5 (2009) 5,4 ha 200 Vigliecca e Associados São Paulo - SP
N° 228, março / 2013 Conjunto Habitacional Real Parque 3,6 ha 1.251 Escritório Paulistano de Arquitetura São Paulo - SP
Nº 235, outubro / 2013 Residencial Prefeito Mendes de Morais - 5,2 ha 328 Affonso Eduardo Reidy Rio de Janeiro - RJ
Pedregulho (1947)
N° 236, novembro / 2013 Residencial Corruíras (2008) 1,1 ha 244 Boldarini Arquitetura e Urbanismo São Paulo - SP
N° 244, julho / 2014 Conjunto Habitacional Heliópolis – gleba G 3,1 ha 420 Arthur Katchborian, Mario Biselli São Paulo - SP
APENDICE 2
N°396, fevereiro de 2013 Residencial Diogo Pires (2011) 1,1 ha 240 Boldarini Arquitetura e Urbanismo São Paulo - SP
Nº407, janeiro de 2014 Granja Marileusa (2012) 75 ha 1.500 De Fournier & Associados Uberlândia - MG
N° 412, julho de 2014 Cidade Aberta (não construído) 5,6 ha 1.736 Jirau arquitatura Pernambuco - PE
Nº 436, março de 2017 Complexo Júlio Prestes 9,6 ha 1.200 Biselli Katchborian Arquitetos Associados São Paulo - SP
APENDICE 3
Métrica:
_____ 0 – 25%
_____ 25 – 50%
_____ 50 – 75%
_____ 75 – 100%
ESCALA DA CIDADE
LOCALIZAÇÃO = 100%
- Localização 100%
- Zoneamento 100%
- Sustentabilidade do desenho urbano 100%
Vias internas:
. Não há uma solução definida, tanto no âmbito do desenho da estrutura física, quanto
85%
Diretrizes Arquitetônicas.
Conexão - Transporte público, coletivo, individual e alternativo (100 + 100 + 100 +75) =
93,8%
ESCALA DO BAIRRO
482
Morfologia / tecido urbano – Distrito de zoneamento (100 + 100 + +100 + 90 +80 + 75) =
90,83%
- Zoneamento (zona A, zona B e zona D) 100%
- Zona Central e Centralidade 100%
- Fronteiras 100%
- Zona Parque 90%
- Usos 80%
- Gateway 75%
Gateway
avenida Quito, ambas vias estruturais de circulação que preveem a ligação do novo
- T-zones 100%
- Smart code 70 %
Smart code
possui um caráter privativo e local, para este empreendimento, sem valia de lei.
ESCALA DO QUARTEIRÃO
Equipamentos de ensino
ESCALA DO EDIFÍCIO
Escala humana
. Ateliê Esquadra: Falta de alguns elementos na escala humana a fim de minimizar a forma
gerada pelo avanço do volume do corpo do edifício acima do piso térreo. Identifica-se a
falta de uma cobertura mais baixa, o que proporcionaria uma sensação de chegada e,
proteção.
484
. Ateliê Esquadra: É verificado uma baixa demarcação física (inexistência do espaço semi-
privado) entre o hall interno dos edifícios e os acessos as unidades habitacionais do piso
térreo.
. Ateliê Zoom: Baixa conexão entre a porta de entrada de cada habitação e o solo
Tipo e forma dos edifícios - Tipo e organização do edifício (100 + 90 + 95 + 75) = 90%
. Ateliê Esquadra e Ideia 1: Nota-se, nos agrupamentos dos apartamentos por piso,
que a maior parte dos acessos são feitos através de um patamar fechado e com
interior, e muito menos para criar condições para o encontro e convívio – qualidades
conjuntos residenciais.
485
60) =75%
- Continuidade morfológica, em especial no piso térreo do edifício 100%
- Densidade 85%
- Composição tripartida dos edifícios (base, corpo e coroamento) 70%
- Composição formal das esquinas 60%
- Interface entre interior e exterior 60%
resguardar uma imagem menos heterogênea do bairro e evitar que cada edifício se
. Ateliês Esquadra, Ideia 1 e Zoom: O resultado formal não parece o mais adequado,
uma vez que os limites verticais laterais do corpo dos edifícios seguem ângulos
de horizontalidade que marca cada andar. Nesse ponto é possível afirmar que, dois
dos projetos analisados (dos ateliês Zoom e Esquadra), poderiam estar num terreno
de meio de quadra.
. Ateliê Esquadra: Em relação aos limites dos edifícios, onde acontece a interface entre
Tipo e forma dos edifícios - Relação com o solo – pisos térreos: (100 + 100 + 75) =
91,7%
- Interação do edifício com a rua 100%
- Diversidade e densidade no piso térreo 100%
- Blocos de perímetro (embasamento ininterrupto) 75%
. Ateliês Esquadra e Zoom: Os pisos térreos não são tratados como um embasamento
de fato - o qual deveria ser composto pelos dois primeiros andares, ao menos nas
zonas mais centrais. Ainda, entre o embasamento e o corpo do edifício poderia ter
um pavimento de uso coletivo (terraço) com o proposito de evitar lajes que aparecem
Espaço entre edifícios – Implantação das edificações (95 +95 + 95 + 75) =90%
medidas (5m x 5m) e suas localizações, as quais formam um sistema compositivo que
487
auxilia a orientar e definir (com mais rigor) desde as partes maiores até as partes
Espaço entre edifícios - Espaços de uso comum (100 + 100 + 90) = 96,7%